o centro histórico, o porto e a cidade
Transcrição
o centro histórico, o porto e a cidade
SÃO PAULO - BRASIL SÃO PAULO - BRASIL SANTOS O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE THE HISTORICAL CENTER, THE PORT AND THE CITY cínio base.indd 1 01/03/2013 18:43:01 EXPEDIENTE/STAFF Coordenação Editorial/Editorial Coordinator Peter Milko Editora Executiva/Executive Editor Martha San Juan França Diretor de Arte/Art Director Marco Cançado Texto/Text Sérgio Vilas Boas Arte/Art Luciana Huber, Renato Canonico Fotografias/Photographs João Correia Filho Mapas/Maps Sirio Cançado Ilustrações/Illustrations Sirio Cançado Pesquisa/Research Elisa Rojas Revisão/Proofreading Marcos Thadeu Fernandes Imagem do satélite Landsat5 mostra a ilha de São Vicente no litoral do Estado de São Paulo. Cor vermelha aponta áreas urbanizadas Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio sem a permissão por escrito da Audichromo Editora Ltda. Image from the Landsat 5 satellite shows the São Vicente Island, on the coast of São Paulo state. Urban areas are shown in red Santos: Centro Histórico, Porto e Cidade São Paulo/São Paulo – Brasil Copyright Audichromo Editora Ltda. 2005 Editora Horizonte Geográfico Av. Arruda Botelho, 684 – 5º andar CEP 05466-000 – São Paulo, SP, Brasil Tel.: 55-11-3022-5599. Fax: 55-11-3022-3751 e-mail: horizonte@horizontegeografico.com.br Internet: www.horizontegeografico.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Vilas Boas, Sérgio Santos: Centro Histórico, Porto, Cidade / Sérgio Vilas Boas; tradução Kátia Pereira, ilustrador Sirio Cançado, fotografias João Correia Filho. — São Paulo: Audichromo Editora, 2005 Ed. bilíngüe: português/inglês. 1. Fotografias - Santos (SP) 2. Locais históricos - Santos (SP) 3. Monumentos - Santos (SP) 4. Patrimônio histórico - Santos (SP) 5. Prédios históricos - Santos (SP) 6. Santos (SP) - Descrição 7. Santos (SP) - História I. Cançado, Sirio. II. Correia Filho, João. III. Título. 05-6221 CDD-981.612 Sumário/Summary Índices para catálogo sistemático 1. Santos: São Paulo: Estado: Patrimônio histórico 981.612 Versão para o inglês/English Version Kátia Pereira Limongi França Projeto Gráfico/Graphic Design Chico Max Produção Gráfica/Graphic Production Mauro de Melo Jucá Bureau/Bureau Augusto Associados Páginas 6/7 Deque do porto, de onde se pode ver a passagem de navios de carga e passageiros Deck of the port, from where one can observe cargo and passenger ships Impressão/Printing Prol Página 8 Vista de Santos: cidade tem 418.255 habitantes, segundo dados do IBGE em 2004 View of Santos: the city has 418,255 inhabitants, according to the 2004 census 00_ABERTURA ORIGINAL.indd 4 Vila do açúcar/Sugar village 14 A capital do café/Coffee capital 36 Trilhos e trilhas/Rails and trails 54 Cais e canais/Docks and canals 72 Cidade-porto/City-port 90 Versão em inglês/English version 112 Referências bibliográficas/Bibliographic references 128 Agradecimentos/Acknowledgements 129 Apoio Institucional 21/10/2005 10:42:57 00_ABERTURA ORIGINAL.indd 5 21/10/2005 10:43:40 00_ABERTURA ORIGINAL.indd 6 base.indd 2-3 21/10/2005 10:44:38 00_ABERTURA ORIGINAL.indd 7 21/10/2005 10:46:22 01/03/2013 18:43:02 SÃO SÃO PAULO PAULO -- BRASIL BRASIL SANTOS O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE SANTOS THE THE HISTORICAL HISTORICAL CENTER, CENTER, THE THE PORT PORT AND AND THE THE CITY CITY Apoio Realização 00_ABERTURA ORIGINAL.indd 8 base.indd 4-5 21/10/2005 10:46:41 00_ABERTURA ORIGINAL.indd 9 Patrocínio 21/10/2005 10:47:01 01/03/2013 18:43:03 Engenho São Jorge dos Erasmos marítimos e minas de cobre e praO mais antigo vestígio do período ta na Alemanha. Por volta de 1525, do açúcar na Capitania de São Erasmos estendeu seus negócios Vicente é o Engenho dos Erasmos, à Antuérpia, Bruxelas e Amsterdã. cuja construção começou em 1534. Além dos alemães e belgas, os Este é um dos três primeiros (histoSchetz tinham relações comerriadores divergem a esse respeito) ciais com italianos, holandeses, engenhos de açúcar do Brasil, e franceses, portugueses e até com funcionou até o século 18. Produziu os jesuítas. Entre 1593 e 1612, os também rapadura e aguardente Schetz tentaram vender o Engenho para consumo local. várias vezes. Nos primórdios, era chamado de Segundo pesquisadores, as ruíEngenho do Governador ou Engenas deste engenho, que aproveitava nho de São Jorge. Logo se tornou as quedas d’água do rio São Jorge propriedade da família Schetz, da no atual bairro da Caneleira ou Antuérpia (Bélgica), por intermédio As ruínas do Engenho dos Erasmos foram tombadas pelo Patrimônio Histórico Morro da Cachoeira, não oferecem do flamengo Johan Van Hielst (os (atual Iphan) em 1963 e integradas ao acervo da Universidade de São Paulo. O engenho é considerado um dos três mais antigos do Brasil condições para formulações de portugueses o chamavam de João The ruins of the Erasmos Mill were declared a Historic Landmark in 1963 and hipóteses consistentes sobre sua Veniste ou João Visnat). Vaniste integrated with the collection of the University of São Paulo. It is one of the forma original. Atualmente, o local ou Visnat montou sociedade com three oldest mills in Brazil parece um sítio arqueológico intriMartim Afonso de Souza, Pero Lopes gante. Escavações e prospecções de Souza, Francisco Lobo e Vicente Gonçalves em 1533. Os acionistas desta compa- apogeu do Engenho de São Jorge dos Erasmos indicaram a existência de um cemitério que foi sob a direção da família Schetz”, escreveu pode ser do século 16. nhia eram chamados “Armadores do Trato”. Pesquisadores também fizeram compaA sociedade se desfez quando Martim Afonso a arqueóloga Margarida Andreatta. Originários da Francofonia ou Achen (Aquis- rações do Erasmos com outros engenhos do viajou para as Índias e seus sócios se negaram a dar recursos para a continuidade do em- grania), atual área de fronteira entre Holanda, litoral paulista da mesma época. Uma evidênpreendimento. Só Van Hielst permaneceu no Bélgica e Alemanha, os Schetz iniciaram suas cia importante, em termos comparativos, é a negócio. Erasmos Schetz comprou a parte dos atividades por volta de 1500, por iniciativa do instalação do engenho sobre um planalto do demais em 1540 e, anos depois, incorporou patriarca Coenraedt Schetz. Erasmos Schetz, terreno ampliado pela construção de muros também a parte de Van Hielst. “Sem dúvida, o o filho, possuía uma casa bancária, seguros de arrimo. FUI A0 ITORORÓ/BEBER ÁGUA E NÃO ACHEI/ADEUS BELA MORENA/ QUE NO ITORORÓ DEIXEI... A música cantada pelas crianças em todo o Brasil tem origem santista. Segundo o escritor Olavo Rodrigues, a fonte, situada no sopé do Monte Serrat, era “servida por água límpida e cristalina, que brotava da rocha a meio caminho do lendário morro” e era usada para uso doméstico, quando a cidade não dispunha de rede abastecedora. O nome Itororó denominava a fonte e um riozinho junto aos quais, desde 1532, foram estabelecidas roças e moradias dos principais povoadores da primitiva vila de Santos. A atual Biquinha de Itororó, situada no início da escadaria que dá acesso ao alto do Monte Serrat, recebeu placa alusiva em anos recentes. incendiaram engenhos de cana. Roubaram praticamente todo o dinheiro encontrado na Vila, levaram armas e jogaram a imagem de Santa Catarina no mar. Em segundo ataque, houve luta entre os moradores e os corsários e quase todos os piratas que desembarcaram foram mortos. Outro inimigo de Santos foi o corsário holandês Joris van Spilbergen, que comandava cinco navios. Em 1615, este corsário invadiu os engenhos da região, incluindo o São Jorge dos Erasmos. Spilbergen queria obter alimentos frescos. Os piratas então seqüestraram um navio português para trocar por suprimentos. Como nada conseguiram, incendiaram o Engenho dos Erasmos. Os combate entre os moradores e os holandeses foram intensos. Vencido, Spilbergen soltou quatro prisioneiros que fizera e seguiu para o Sul levando um refém brasileiro, que só seria libertado no Chile. Defesa a toda prova A Baixada Santista é rica em fortes, mas pouca coisa restou especificamente no atual território do município de Santos, onde existiu o Forte da Vila, construído por volta de 1543, demolido na época da construção do cais pela Companhia Docas de Santos, no final do século 19. O Forte da Vila ficava nas proximidades da alfândega de hoje (na atual Praça da República). 30 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 01_CAPITULO 01_REV2.indd 30 base.indd 8-9 SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 31 21/10/2005 11:15:49 01_CAPITULO 01_REV2.indd 31 21/10/2005 11:16:10 01/03/2013 18:43:04 3 Bonde na praia do Gonzaga, Praça das Bandeiras: posto de informações turísticas Streetcar on Gonzaga Beach, Bandeiras Plaza: tourist information A Estrada de Ferro Santos-Jundiaí galga a Serra do Mar e passa por São Paulo The Santos-Jundiaí Railway climbs the Serra do Mar coastal mountains and runs through São Paulo Trilhos e trilhas Um porto sem trilhos e estradas conectadas aos centros de produção é como uma cidade sem ruas. Antes da inauguração da primeira ferrovia paulista, em 1867, que ligou Santos a São Paulo e Jundiaí, muitos caminhos foram abertos a facão e machado na Serra do Mar. Quando descemos hoje a Rodovia dos Imigrantes em carro confortável não imaginamos os 350 anos de dureza que era essa viagem. O Padre José de Anchieta (1534-1597) descreveu assim as dificuldades de se transpor “a muralha da Serra do Mar”: “A quarta vila na Capitania de São Vicente é Piratininga, que está dez ou doze léguas pelo sertão e terra adentro. Vão por lá umas serras tão altas que dificultosamente podem subir nenhuns animais e os homens sobem com trabalho e às vezes de gatinhas por não se desempenharem, e por ser o caminho tão mau e ter tão ruim serventia padecem os moradores e os nossos grandes trabalhos”. Os caminhos de Cubatão a São Paulo, que galgavam a Serra de Paranapiacaba, na segunda metade do século 18, achavam-se em condições de quase intransitabilidade, tanto para viajantes quanto para tropas que conduziam mercadorias. As reclamações dos interessados no tráfego por aquelas bandas chocavam-se contra a habitual inércia dos governantes. A metrópole portuguesa, sequiosa pelo ouro das Minas Gerais, simplesmente abandonara a Capitania de São Vicente à 54 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 03_CAPITULO 03_REV2.indd 54 base.indd 10-11 SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 55 21/10/2005 11:25:46 03_CAPITULO 03_REV2.indd 55 21/10/2005 11:26:30 01/03/2013 18:43:06 Palacete do Real Centro Português de Santos ostenta estilo neomanuelino do começo do século 20. O prédio foi tombado pelo Patrimônio Histórico. Possui portas e janelas em arcos redondos, entre colunas com formato de troncos Além disso, os fazendeiros temiam que os imigrantes se dispersassem antes de assinar os contratos. Portugueses e espanhóis, principalmente, desciam em Santos com ocupações urbanas definidas e sustentadas, em muitos casos, por redes de relações familiares e pessoais. Segundo historiadores, a maioria dos portugueses vinha com “cartas de chamada” de parentes ou amigos que se tornavam responsáveis pela instalação e inserção social dos recém-chegados. Os estrangeiros pobres residentes em Santos eram trabalhadores portuários, carroceiros, pedreiros, alfaiates, caixeiros, vendedores de leite, empregados de barbearias, de lojas de secos e molhados, de charutarias, etc. Suas presenças na cidade eram marcantes, e uma boa parte deles vivia sistematicamente envolvida em “agitações ruidosas”, no trabalho ou em casa. Centenárias instituições, como o Real Centro Português, o Centro Español e Repatriación e a Società Italiana di Santos, surgiram na época do boom da imigração. A Hospedaria dos Imigrantes santista, um prédio grande (Rua Silva Jardim, 95), acabou servindo de armazém para café e bananas, além de garagem da Secretaria de Segurança Pública. O imóvel foi tombado em 1998 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Santos (Condepasa) e, ao longo das últimas décadas, serviu a várias atividades, como academia de boxe, funilaria e oficina mecânica de empresas vinculadas aos serviços da estiva. Em agosto de 2005, foi assinado pelo governo do Estado de São Paulo um termo de cessão do edifício para abrigar o campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Santos. The mansion of the Royal Portuguese Center in Santos is in the neo-Manuelino style of the early 20th century. The building was declared a historic landmark by the Historic Patrimony. It has doors and windows with rounded arches, between slender columns in the shape of trunks KASATO MARU No dia 18 de junho de 1908, aportava em Santos o navio Kasato Maru, construído por um estaleiro inglês, tendo a bordo um total de 781 japoneses. Era o início de uma saga que resultaria na presença hoje de quase 1,5 milhão de nikkeis no Estado. Segundo comentou o jornalista Amândio Sobral no “Correio Paulistano”, jornal da época: “Essa primeira leva de imigrantes japoneses entrou nesta terra com bandeiras brasileiras de seda, feitas no Japão, trazidas de propósito para nos serem amáveis. Delicadeza fina, reveladora de boa educação”. 70 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 03_CAPITULO 03_REV2.indd 70 base.indd 12-13 A Hospedaria dos Imigrantes, prédio em estilo eclético de tijolos aparentes, será utilizada como campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Santos The Immigrants Inn, with its eclectic style and brick face, will be a part of the Federal University of São Paulo campus SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 71 21/10/2005 11:34:37 03_CAPITULO 03_REV2.indd 71 21/10/2005 11:38:50 01/03/2013 18:43:09 Canais Em 1844, ocorrera em Santos a primeira epidemia de febre amarela. Desde então, essa e outras moléstias passaram a aterrorizar a cidade permanentemente. Em 1889, às vésperas da inauguração do primeiro trecho de 260 metros de cais pela Companhia Docas de Santos (CDS), a febre amarela vitimou 4% da população residente. Construída sobre terrenos de antigos mangues e rodeada por áreas pantanosas, de clima quente e úmido e calores prolongados, Santos tinha todas as condições favoráveis à malária, varíola, febre amarela, febre tifóide e peste bubônica. Contribuía para isso a enorme quantidade de cortiços, a falta de uma rede de esgotos e de um sistema de abastecimento de água. Entre 1890 e 1900, registraram-se oficialmente 22.588 mortos por causa dessas doenças. Não custa lembrar que a população de Santos era relativamente pequena na época: 13,5 mil habitantes em 1890, 50 mil em 1900. As taxas de mortalidade eram altíssimas. “Morria-se em Santos mais do que nascia-se. Entre 1889 e 1897, a natalidade foi sempre inferior à mortalidade”, lembra Alcindo Gonçalves em seu “Lutas e Sonhos”. Combater as epidemias era prioritário, uma questão humanista mais do que sanitária, mas também econômica. Em situação de calamidade, os navios ancorados tinham de fazer quarentena, afetando o comércio, única fonte de renda de Santos. A própria CDS tinha interesse em resolver o problema. Paralelamente à construção e expansão do cais do porto, então, empreendeu-se um vigoroso trabalho de saneamento da cidade. O caos seria contornado com vacinações, demolição de cortiços e cocheiras e com um projeto de saneamento geral, entre outras medidas. Criou-se uma Comissão Sanitária, chefiada por Saturnino de Brito, para enfrentar as epidemias. A primeira conclusão da Comissão foi de que a cidade de Santos precisava ser totalmente repensada e reordenada urbanisticamente. Neste ponto, o arquiteto Ruy Debs Franco, professor da Unisantos, pede um parêntese: “Porque esse foi um dos projetos mais importantes para a cidade de 78 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 04_CAPITULO 04_REV3.indd 78 base.indd 14-15 Cerimônia de inauguração do Canal 1: cimento armado e extensas avenidas arborizadas. Inicialmente, os canais estavam previstos para serem navegáveis, como uma alternativa ao transporte urbano e ao turismo Inauguration ceremony of Canal 1: reinforced concrete and long tree-lined avenues. At first, the canals were supposed to be navigable, as an option to urban transportation and tourism Até hoje, os canais de Santos drenam águas pluviais, que são renovadas também pela força das marés por um sistema de comportas Until now, pluvial waters are drained by the canals of Santos. The waters are renovated by the tides too, in a system of floodgates SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 79 21/10/2005 11:46:14 04_CAPITULO 04_REV3.indd 79 21/10/2005 11:46:32 01/03/2013 18:43:11 5 Cidade-Porto Lazer em Santos: a partir dos anos 1990, tudo convergiu novamente para o mar Leisure in Santos: from the 1990s on, everything returned to the sea 5.335 metros ao longo de 7 quilômetros de praias: o maior jardim frontal de praia 5,335 meters along seven kilometers of beaches: the world’s largest beach garden No final da década de 1940, com a inauguração da Via Anchieta, o prefeito Aristides Bastos Machado já havia pavimentado várias avenidas e realizado o primeiro trecho do jardim à beira-mar, que entraria para o Guinness Book of Records. À beira-mar ficavam as mansões. Marapé, Campo Grande, Jabaquara, Macuco, Embaré e Ponta da Praia eram bairros quase descampados. Em linhas gerais, Santos era uma cidade calma e aprazível, agora com água encanada e rede de esgoto. O Centro Histórico, do Outeiro de Santa Catarina ao Santuário do Valongo, ficava cada vez mais distante das atenções. Os olhos dos santistas se voltavam para a praia. Depois da recessão decorrente da Segunda Guerra (1939-1945), Santos conheceu sua grande explosão demográfica, turística e urbanística. A febre imobiliária acabaria com as grandes mansões das avenidas da praia, ocupando suas áreas com grandes e sofisticados prédios de apartamentos de vários tamanhos. Os paulistanos, especialmente, procuravam kitchenettes para os períodos de férias e fins de semana. “Esse fenômeno imobiliário à beira-mar fez com que as famílias mais abastadas e mais tradicionais de Santos se concentrassem num bairro que floresceu com muito luxo, conhecido como Vila Rica, que compreendia da Avenida Ana Costa à Conselheiro Nébias, a partir da segunda e terceira 90 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 05_CAPITULO 05_REV2.indd 90 base.indd 16-17 SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 91 21/10/2005 11:52:59 05_CAPITULO 05_REV2.indd 91 21/10/2005 11:53:14 01/03/2013 18:43:14 14 11 15 13 5 2 1 22 17 18 19 21 4 3 20 23 12 6 7 16 8 9 10 1 2 3 4 5 6 7 8 9 TERMINAIS PARA ARMAZENAR E EMBARCAR AÇÚCAR EM SACOS E A GRANEL TERMINAL ARRENDADO À VOTORANTIM PARA EXPORTAÇÃO DE CELULOSE TERMINAIS PARA ARMAZENAR E EMBARCAR TRIGO E SÓLIDOS A GRANEL TERMINAL DE CARGAS GERAIS CHAMADO DE CAIS DE OUTEIRINHOS ILHA BARNABÉ ARMAZENA E MOVIMENTA PETRÓLEO E SEUS DERIVADOS TERMINAL DE CONTÊINER 1E2 ÁREA DE EXPANSÃO EM CONSTRUÇÃO (118 MIL M2 E 250M DE CAIS) TERMINAL MOVIMENTA 1,5 MILHÃO DE TON. DE FERTILIZANTES POR ANO TERMINAL ARRENDADO PARA A CARGILL PARA EMBARQUE DE SOJA E AÇÚCAR 10 TERMINAL DE SUCOS CÍTRICOS E GRANÉIS SÓLIDOS DA CUTRALE 11 TERMINAIS MARÍTIMOS PRIVATIVOS DA COSIPA E DA FOSFÉRTIL 12 13 14 15 16 PRAIA DO GÓES, COLÔNIA DE PESCADORES BAÍA DE SANTOS PRAIA GRANDE SÃO VICENTE CORREDOR DE EXPORTAÇÃO DE SOJA, FARELO E TRIGO 100 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 05_CAPITULO 05_REV2.indd 100 base.indd 18-19 17 SILOS DE TRIGO EM CONSTRUÇÃO VERTICAL ARRENDADO À MULTICARGO 18 TERMINAL DE SUCOS CÍTRICOS A GRANEL 19 TERMINAL DO SAL 20 21 22 23 TERMINAL DE PASSAGEIROS PONTE FERROVIÁRIA PRAIAS DE SANTOS VICENTE DE CARVALHO, DISTRITO DE GUARUJÁ SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 101 21/10/2005 11:56:01 05_CAPITULO 05_REV2.indd 101 21/10/2005 11:56:16 01/03/2013 18:43:15 como cidade da Aids nos anos 1980. A cultura da boemia, da valentia, da prostituição e das drogas cedia lugar à cultura do medo. Além de mercadorias, pela zona do porto transitava diariamente o vírus HIV. De 1994 a 2003, vários projetos de prevenção foram desenvolvidos nas imediações do porto. Um exemplo foi o Projeto Porto Seguro, destinado exclusivamente a portuários. Esse projeto ajudou a aumentar a consciência dos portuários em relação ao uso de camisinhas e seringas descartáveis. Juntamente com outros programas, o tema seria alvo de reportagens internacionais, como uma no “The Wall Street Journal”, de julho de 1996, que louvava o fato de Santos ter sido uma das “poucas cidades do mundo a assumir o compromisso de fornecer o coquetel de medicamentos regularmente”. Insalubridades e glórias são “amostras sociológicas”, que revelam as íntimas relações cidade-porto, apesar dos muros e cercas que os dividem. Fisicamente, aliás, o porto de fato se encaminhou para o isolamento máximo, como todos os portos brasileiros, aliás. Todos estão implementando o ISPS Code (sigla em inglês para Código Internacional para Segurança de Navios e Instalações Portuárias). Significa separar porto e cidade na medida do possível. Atualmente, a população ainda consegue acessar ou mesmo atravessar o cais em alguns pontos. As catraias, por exemplo, pequenas embarcações com capacidade para 17 pessoas, navegam por estreitos canais que vazam o cais na MONTE SERRAT Os santistas elegeram o Monte Serrat como uma das mais importantes atrações turísticas da cidade. O acesso ao Monte é feito por um bonde elétrico funicular (tracionado por cabos) ou escadas, que escalam 242 metros pela face frontal ao cais. No topo do monte funcionou o Cassino Monte Serrat, fechado em 1946, quando decreto do então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu o jogo no Brasil. O edifício da Alfândega foi construído em 1934 pela Codesp e restaurado recentemente. O térreo é revestido de granito e os quatro pavimentos contam com mais de 90 janelas. No primeiro andar, as janelas estão protegidas por 66 grades de ferro com desenhos que simulam folhas de café The Customs: building was built in 1934 by Codesp and has been recently restored. The ground floor is covered by granite and the four floors have over 90 windows. On the first floor, the windows are protected by 66 iron bars shaped like coffee leaves Estudos Socioeconômicos (Nese) da Universidade Santa Cecília (Unisanta), de Santos, revelou o seguinte: “Em linhas gerais, as transformações institucionais e operacionais do porto, na década de 1990, produziram o seguinte efeito para os trabalhadores vinculados à Codesp: enquanto em 1º de janeiro de 1990 o número total era de 10.621, em 31 de dezembro de 1999 havia sido reduzido para 1.967. A diminuição de 8.654 trabalhadores com vínculo empregatício correspondeu a 81,5% do contingente de uma década atrás. No ano 2000, esse processo teve prosseguimento, de tal modo que em janeiro de 2001 o número total de trabalhadores com vínculo empregatício com a Codesp era de apenas 1.300”. Mas até atingir essa diminuição implacável do contingente, outras mudanças insinuavam-se. Enquanto o porto dava sinais de decadência e obsolescência nos anos 1980, a cidade sofria com a poluição mortífera das indústrias e refinarias de Cubatão, que chocou o país e revoltou ambientalistas. A situação só melhoraria com leis, manifestações públicas e cobertura intensiva da imprensa. Fronteiras Em meio a uma atmosfera sinistra, irradiada por Cubatão, Santos se tornava refém de seu próprio contexto. A cidade que se orgulhava de seus recordes – com o porto, com os jardins da orla, com o Santos Futebol Clube – se tornaria campeã em outros campos. Em vez de Capital do Café, passou a ser lembrada 102 - SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE 05_CAPITULO 05_REV2.indd 102 base.indd 20-21 SANTOS: O CENTRO HISTÓRICO, O PORTO E A CIDADE - 103 21/10/2005 11:56:38 05_CAPITULO 05_REV2.indd 103 21/10/2005 11:56:52 01/03/2013 18:43:17 e long history of Santos – alst five centuries – can be mixed h the History of Brazil. The city vely participated in the most imtant mobilizations that led to the ependence of Brazil, the Abolition lavery, the Proclamation of the Reblic and the sttruggle for democracy. ause of all that, the people from tos take pride in some superlatives heir hometown: having the Latin erica´s largest port; having projecan international king, Pelé; and still ng the world coffee capital, without ing ever grown the plant. Santos is rently undergoing a revitalization ject, started in the 1990s, involving sanitation of beaches, the recoy and restoration of its historical dmarks, a strategic tourist project, d reconfiguration of its port system. s book navigates through some damental episodes of the history Santos. The main character is the t; the backstage, the urbanistic lution. Among other things, this k aims at telling, in a narrative and ual way, the story – from foundation evitalization – of one of the most portant cities in Brazil. Esse livro sobre Santos compõe um painel narrativo e visual de uma das mais importantes cidades brasileiras . O fio condutor é o porto; o pano de fundo, a evolução urbanística da cidade. This book on Santos is a narrative and visual panel of one of the most important brazilian cities. The main character is the port; the backstage, the urbanist evolution. Vista aérea do jardim frontal das praias de Santos: 5.335 metros ao longo de 7 quilômetros de praia An aerial view of the garden facing the beach in Santos: 5,335 meters along 7 kilometers of beach Realização Apoio Patrocínio RNAV2.indd 3 base.indd 22 01/03/2013 18:43:20