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ANO 2 | n 0 01 | VOL.02 EDITORIAL A i m po r t â nc i a d o Co m i t ê de Ética em Pesquisa. AT U A L I Z A Ç Ã O D O T E M A Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. R E L AT O D E C A S O Herpes Zóster na infância. | MARÇO ISSN 235777903 R E V I S TA D E S A Ú D E 2015 RESUMO DE ARTIGO Tr a t a m e n t o c i r ú r g i c o d o c â n c e r co lo r re t a l: s é r i e h i st ó r i c a d e t rê s anos de um serviço e m S a l v a d o r, B a h i a . SUPERVISORES DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA 1. ANESTESIOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Jedson dos Santos Nascimento 10. MEDICINA INTENSIVA Supervisor: Prof. Dr. Edson Marques Filho 2. CANCEROLOGIA CLÍNICA Supervisor: Prof. Dr. Dálvaro de Oliveira Castro Júnior 11. NEONATOLOGIA (Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto) Supervisora: Profa. Dra. Rosana Pellegrini Pessoa 3. CARDIOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Gilson Soares Feitosa 4. CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Supervisora: Profa. Dra. Anabel Góes Costa 5. CLÍNICA MÉDICA Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho 6. CIRURGIA GERAL Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire 7. CIRURGIA DO APARELHO DIGESTÓRIO Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire 8. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto) Supervisor: Prof. Dr. Rone Peterson Cerqueira Oliveira 12. NEUROLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Pedro Antônio Pereira de Jesus 13. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Rogério Meira Barros 14. OTORRINOLARINGOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Nilvano Alves de Andrade 15. PNEUMOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho 16. REUMATOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Mittermayer Barreto Santiago 17. UROLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Luiz Eduardo Café 9. HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA Supervisor: Prof. Dr. José Carlos Raimundo Brito COEDITORES DA REVISTA DE SAÚDE DO HSI ANESTESIOLOGIA Jedson dos Santos Nascimento HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA José Carlos Raimundo Brito ÁREA MULTIPROFISSIONAL Patrícia Alcântara Doval de Carvalho Viana MEDICINA INTENSIVA Edson Marques Silva Filho CANCEROLOGIA CLÍNICA Dálvaro Oliveira de Castro Júnior NEONATOLOGIA Rosana Pellegrini Pessoa CARDIOLOGIA Gilson Soares Feitosa NEUROLOGIA Jamary Oliveira Filho CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Anabel Góes Costa ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA Marcos Antônio Almeida Matos CIRURGIA GERAL André Ney Menezes Freire OTORRINOLARINGOLOGIA Nilvano Alves Andrade CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO André Ney Menezes Freire PNEUMOLOGIA Jamocyr Moura Marinho CLÍNICA MÉDICA Alina Coutinho Rodrigues Feitosa REUMATOLOGIA Mittermayer Barreto Santiago GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Rone Peterson Cerqueira Oliveira UROLOGIA Luiz Eduardo Café 3 CONSELHO EDITORIAL EXPEDIENTE EDITOR-CHEFE Gilson Soares Feitosa SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA PROVEDOR Roberto Sá Menezes Hospital Santa Izabel - Santa Casa de Misericórdia da Bahia Adriano Santana Fonseca Adriano Dias Dourado Oliveira Adson Roberto Santos Neves Alex Guedes Alina Coutinho Rodrigues Feitosa Ana Lúcia Ribeiro de Freitas Anabel Góes Costa André Ney Menezes Freire Angele Azevedo Alves Mattoso Anita Perpétua Carvalho Rocha de Castro Antônio Carlos de Sales Nery Antônio Fernando Borba Fróes Júnior Antônio Moraes de Azevedo Júnior Aline Nunes de Araújo Gomes Alinne de Souza Bernardes Reis Augusto José Gonçalves de Almeida Áurea Angélica Paste Bruno Aguiar Cristiane de Brito Magalhães Cristiane Abbhusen Lima Castelo Branco Dálvaro Oliveira de Castro Júnior Daniela Barros Darci Malaquias de Oliveira Barbosa Daniel Santana Farias Daniele Leal Braga da Silva David Greco Varela Diana Lessa Fernandes Edson Marques Silva Filho Elves Anderson Pires Maciel Fábio Luís de Jesus Soares Flávio Robert Sant’ana Gilson Soares Feitosa-Filho Giovanna Lúcia Oliveira Bonina Costa Guilhardo Fontes Ribeiro Gustavo Almeida Fortunato Heitor Ghissoni de Carvalho Humberto Ferraz França de Oliveira Iana Conceição da Silva Ilana D´Andrade Souza Jamary Oliveira Filho Jamile Seixas Fukuda Jamocyr Moura Marinho Jayme Fagundes dos Santos Filho Jeany de Oliveira Barreto Jedson Nascimento dos Santos Joberto Pinheiro Sena Joel Alves Pinho Filho Jorge Bastos Freitas Júnior Jorge Eduardo de Schoucair Jambeiro José Alves Rocha Filho Laís Matos Rebouças Matos Lígia Beatriz Wanke de Azevedo Liliana D’Almeida Galrão Lívia Maria Quirino da Silva Andrade Luciane Souza Coutinho Luís Fernando Pinto Jonhson Luiz Eduardo Fonteles Ritt Marcos Vinícius Santos Andrade Maria do Socorro Albuquerque Miranda Maria Lúcia Duarte Matheus Tannus dos Santos Maura Alice Santos Romeo Melba Moura Lobo Moreira Nilzo Augusto Mendes Ribeiro Paulo José Bastos Barbosa Pedro Antônio Pereira de Jesus Pepita Bacelar Borges Patrícia Falcão Pitombo Rajaná Regina Moura Itaparica Reinaldo da Silva Santos Júnior Renato Ribeiro Gonçalves Ricardo Eloy Pereira Rogério Meira Barros Rone Peterson Cerqueira Oliveira Rosalvo Abreu Silva Rosana Pellegrini Sandra Oliveira Silva Sérgio Tadeu Lima Fortunato Pereira Sheldon Perrone de Menezes Ubirajara de Oliveira Barroso Júnior Verusca de Matos Ferreira Viviane Sampaio Boaventura Oliveira 4 VICE-PROVEDOR Luiz Fernando Studart Ramos de Queiroz ESCRIVÃO Renato Augusto Ribeiro Novis TESOUREIRA Ana Elisa Ribeiro Novis HOSPITAL SANTA IZABEL SUPERINTENDENTE DE SAÚDE Eduardo Queiroz DIRETOR DE ENSINO E PESQUISA Gilson Soares Feitosa DIRETOR TÉCNICO-ASSISTENCIAL Ricardo Madureira DIRETORA ADMINISTRATIVA E DE MERCADO Mônica Bezerra EXPEDIENTE AG EDITORA Ana Lúcia Martins Caroline de Carvalho 5 EDITORIAL A importância do Comitê de Ética em Pesquisa SUMÁRIO Autor: Gilson Soares Feitosa 1 7 Editorial 8 Atualização de Tema: Cardiologia A importância do Comitê de Ética em Pesquisa. Gilson Soares Feitosa Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Cátia Moura Galvão 39 41 20 Atualização de Tema: Pneumologia Novas terapias para tratamento da asma grave de difícil controle. Camila Melo Coelho Loureiro 27 44 Atualização de Tema: Reumatologia Alguns aspectos práticos sobre artropatias por cristais: gotas, doença por pirofosfato de cálcio e fosfato básico de cálcio. Anna Paula Duque Sousa 32 Relato de Caso: Neurologia 35 Relato de Caso: Dermatologia 38 Relato de Caso: Oncologia Paraganglioma não-secretor e metastático do retoperitônio. Melba Moura Moreira Tratamento cirúrgico do câncer colorretal: série histórica de três anos de um serviço em Salvador, Bahia. Luciano Santana de Miranda Ferreira Resumo de Artigo: Ortopedia Avaliação de cinco casos de condromalácia patelar bilateral tratados com fisioterapia convencional e colágeno tipo II, não desnaturado. Marcos Almeida Matos Resumo de Artigo: Nefrologia Insuficiência renal aguda após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea – Incidência, fatores de risco e mortalidade. Fernando Oliveira Santos 47 Artigo Multiprofissional: Nutrição 55 Protocolo de Atendimento 61 Eventos Fixos 62 Instruções aos Autores Síndrome de Sneddon associada à Endocardite de Libman-Sacks: relato de caso. Mateus Santana do Rosário Herpes Zóster na infância. Enio Ribeiro Maynard Barreto Resumo de Artigo: Coloproctologia Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Lucimar Soares Garcia Rosa O Comitê de Ética em Pesquisa é uma entidade constituída por membros voluntários, autônomos, e que cumpre um papel de extraordinária relevância para a comunidade de saúde, preservando, acima de qualquer consideração, a integridade física, psicológica e moral dos indivíduos que sejam sujeitos de uma pesquisa científica. Este Comitê tem o poder de aprovar o projeto de pesquisa, ou requerer modificações que o torne adequado aos princípios estabelecidos de ética em pesquisa, ou rejeitá-lo. Seu parecer é francamente democrático, benemérito e, em caso de rejeição, deverá igualmente apresentar as razões para tal, geralmente concedendo a oportunidade de uma contra-argumentação ao proponente do projeto de pesquisa. Quando o parecer exarado do CEP for por não-aprovação, assume um caráter irrevogável. Isto é: se o CEP diz não, ninguém poderá dizer sim! Como surge tão bem-vinda autoridade? Nos Estados Unidos da América, a preocupação de desenvolver uma atividade regulatória se iniciou com a percepção de que produtos patenteados e distribuídos ao público poderiam ser danosos à saúde: narcóticos poderosos para suprimir a tosse, por exemplo. Constatações dessa natureza levaram à criação, pelo Congresso, da Pure Food and Drug Act no início dos anos 1900, que evoluiu para a FDC (Federal Food, Drugs and Cosmetics) em 1938, com a exigência de que novos produtos fossem comprovadamente seguros. Tais fatos marcam o início da agência regulatória FDA (Food and Drug Administration), que, como tal, é uma das mais fortes do mundo. Havendo a Europeia – EMEA e, entre nós, a ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. A necessidade de fazer progresso no conhecimento médico à procura de soluções para os diversos problemas de saúde existentes, apresentou um crescimento significativo na primeira metade do século XX e foi exponencial na segunda metade. As atrocidades de experimentação humana em campos de concentração, ao lado de outras em vida civil, como a de Tuskegee, nos EUA – onde portadores de sífilis, de origem humilde, foram objeto de uma comparação sobre um tratamento ativo com penicilina ou placebo, para ter-se uma ideia da magnitude do benefício, quando este já era vislumbrado em outras observações –, motivaram a Sociedade Médica, e a comunidade em geral, ao estabelecimento de normas. A primeira delas, o Código de Nuremberg (1948), que estabelecia: a)necessidade do consentimento do objeto da pesquisa; b) experimentação animal prévia para determinar risco e c)realização por médicos qualificados. O progresso maior se fez quando se concebeu a necessidade de que um comitê devesse julgar de antemão se o projeto estava eivado de princípios éticos, convenientemente observados, o que se deu com a Declaração de Helsinki em 1964. Por fim, os princípios de Bioética se lançam com o Documento de Belmont, nos EUA, em 1979, onde se destacam os princípios de autonomia, beneficência e não-maleficência e justiça e estabelecidos como norma em 1981, obrigando a que todos os projetos de pesquisas em seres humanos sejam revistos por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob essas normas. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP foi criada pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), tem um papel coordenador da rede de Comitês de Ética (CEPs) criados nas instituições, com os quais forma o Sistema CEP-CONEP. Tem por finalidade exercer o papel de órgão de controle social, para analisar e acompanhar os aspectos éticos das pesquisas em seres humanos, desenvolver regulamentação sobre proteção dos sujeitos da pesquisa e constituir uma instância final de recursos para qualquer das partes interessadas. O CEP tem um caráter multidisciplinar, com médicos e outros profissionais da saúde, de ambos os sexos e com a obrigatória participação de um representante da comunidade ou de usuários. Esse é um trabalho voluntário, abnegado e digno dos mais altos elogios. O HSI tem a felicidade de possuir um CEP desde os anos 90 e que muito acertadamente leva o nome do seu fundador e primeiro presidente, o professor Celso Figueiroa. Seus sucessores têm realizado um notável trabalho de qualidade e dedicação e muito contribuem para a aura de excelência que estereotipa este hospital. 1- Editor RSHSI Endereço para correspondência: [email protected] 7 Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. Atualização em Cardiologia Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis Cátia Moura Galvão Eloy Pereira 1, Nila Orrico Costa 1, Cristiano Ourives 2, Christian Macedo 2, Ricardo Eloy Pereira 2 Descritores: marcapasso, infecção, dispositivo eletrônico implantável Key words: pacemaker, infection, implantable electronic device INTRODUÇÃO Infecção relacionada a dispositivos cardíacos implantáveis (IRDCI) é uma séria complicação, às vezes com curso devastador. A despeito dos avanços nas técnicas de implante, do alto volume de procedimentos e do uso de terapia antibiótica profilática, a incidência destas infecções vem aumentando de forma desproporcional à taxa de implantes. Esses processos infecciosos estão associados a elevado custo financeiro, a grande morbidade e mortalidade, principalmente, se não rapidamente diagnosticados e devidamente tratados. O manejo continua sendo um desafio para cardiologistas, infectologistas, eletrofisiologistas e cirurgiões cardíacos. Este artigo fará uma revisão da literatura sobre o assunto para nos auxiliar na conduta desta importante complicação em estimulação cardíaca artificial. aos 43 anos de idade, que morreu aos 86 anos. Este primeiro dispositivo implantado funcionou por apenas 03 horas (Fig.1D). Um segundo idêntico ao primeiro foi implantado durando um pouco mais. Durante a segunda metade de sua vida, ele usou 22 geradores de pulsos e 05 sistemas de eletrodos. Seu coração funcionou bem até sua morte, por um processo neoplásico maligno, exemplificando o que é comum hoje em dia, mas que era completamente desconhecido na época, que a estimulação cardíaca surgiu não só para preservar a vida, mas preservá-la com a melhor qualidade possível. lares (DCV), melhorando a qualidade de vida, aumentando a sobrevida ou ambos. Com a evolução técnica, envelhecimento populacional e o surgimento de novas indicações, houve um aumento considerável na taxa de implantes destes dispositivos, principalmente em relação às indicações, baseadas em grandes estudos1-8, de implantes de CDI em profilaxia primária de morte súbita cardíaca. Proporcionalmente, a taxa de implantes de CDI tem crescido mais que a de implante de MP (Fig. 2). Em uma revisão feita por Zham e col. sobre a taxa de implantes de MP nos EUA, no período de 1997 a 2004, houve um aumento de 19% para MP e 60% para CDI. Também foi visto que 70% dos pacientes tinham idade ≥ 65 anos e que a maioria deles tinha uma ou mais doença coexistente. Anos após o implante inicial, a troca de gerador por depleção da bateria ou upgrades para marcapassos mais complexos ou CDIs se faz necessária. Desta forma, cada vez mais fazemos procedimentos complexos em pacientes idosos, com comorbidades associadas. Embora a estimulação cardíaca prolongue a vida de inúmeros pacientes, complicações tanto a curto como em longo prazo são esperadas, incluindo infecções. 1993 2008 MCD 12% MP 88% INCIDÊNCIA A incidência de IRDCI relatada na literatura varia de 0,13% a 19,9%, embora usualmente inferior a 5%. Na maioria das vezes, essas infecções estão limitadas à loja do gerador, sendo a taxa de infecções mais sérias, como endocardite, aproximadamente de 10% a 23% destas infecções10. Cabell e col., em um estudo retrospectivo, relatou o aumento na taxa de IRDCI nos beneficiários Medicare, no período de 1990-1999. A taxa de implantes aumentou de 3,26 por 1000 beneficiários em 1990 para 4,64 em 1999, o que representa um aumento de 42% em 10 anos. A taxa de infecção mostrou um aumento desproporcional e alarmante, de 0.94 por 1.000 beneficiários em 1990 para 2,11 em 1999, o que representa um aumento de 124%. Neste estudo, a taxa de endocardite permaneceu inalterada (0.26 a 0.39 casos por 1.000 beneficiários, respectivamente)11. Dados do trabalho de Andrew Voight e col.12 sobre a incidência de IRDCI nos EUA, no período de 1993 a 2003, revelam aumento de 49% na taxa de implantes (160% para CDI X 31% para MP), embora o número absoluto de MP permaneça muito maior (180.284 MP X 57.436 CDI). Neste mesmo período, o número de hospitalizações por IRDCI aumentou 3,1 vezes (2,8 vezes para MP e 6 vezes para CDI). Esta tendência continuou a ser observada nos anos de 2004 a 200613 (Fig. 3). MCD 35% MP 65% HISTÓRICO A estimulação cardíaca artificial é uma das áreas da medicina que mais evoluiram nas últimas décadas. Data de 1932 o primeiro marcapasso artificial construído pelo fisiologista americano Albert Hyman, um gerador de estímulos que funcionava através de uma manivela, testado em animais (Fig.1A). Naquela época, o uso deste dispositivo era controverso para estender a vida em humanos, com muito debate ético, não havendo publicação do uso deste marcapasso com este propósito. Após a Segunda Guerra Mundial, inovadores como Paul Zoll e Earl Bakken mostraram novos rumos com marcapassos menores (para a época), externos e muitas vezes usados como um colar (Figs. 1B, 1C). Foi na Suécia, em 1958, o primeiro implante de um dispositivo, realizado pelo cirurgião Ake Senning, no paciente Arne Larsson, Figura 2 - MP e CDI em percentagem de todos os dispositivos cardíacos implantáveis: 1993 versus 2008. J Am Coll Cardiol 2011;58:1001-2006. Figura 1 - Early History of Cardiac Pacing and Defibrillation. Indian Pacing. Nas últimas 05 décadas, o uso destes dispositivos cardíacos implantáveis (DCI), sejam eles marcapassos convencionais (MP), cardiodesfibriladores (CDI) e/ ou ressincronizadores cardíacos (RC), tem se tornado peça fundamental no manejo das doenças cardiovascu- 2015|8 Em 2003, a American Heart Association (AHA) publicou uma revisão sobre infecções em dispositivos cardiovasculares não valvares, incluindo dispositivos diversos: intracardíacos, venosos e arteriais9. Alguns anos se passaram, havendo avanços no entendimento em relação aos aspectos clínicos das infecções dos dispositivos cardíacos, principalmente os dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis, e em 2010 a AHA publica diretrizes para pacientes com suspeita de IRDCI10 . Figura 3 - Aumento proporcional no número de dispositivos cardíacos implantáveis (linha azul) e aqueles que foram infectados (linha lilás) pelo ano de hospitalização. Dados apresentados neste gráfico incorporam dados prévios de Voigt e col. de 19962003, assim como dados do presente estudo de 2004-2006. Observe o aumento dramático na taxa de infecções comparado à taxa de implantes, particularmente após o ano 2000. Note também a continuação de aumento nos anos mais recentes. PACE 2010;33:414-19. 2015|9 Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. Mais recentemente em 2011, Arnold e col. publicaram a tendência de IRDCI em 16 anos nos EUA (19932008). Durante o período deste estudo, aproximadamente 69.000 pacientes foram tratados para IRDCI (incidência de 1,61%). A incidência aumentou em 210% (de 2.660 casos em 1993 para 8.230 casos em 2008). A taxa anual permaneceu estável até 2004, quando um importante acréscimo foi observado. A taxa de infecção subiu significativamente, de 1,53% em 2004 para 2,41% em 2008, o que coincidiu com aumento na incidência de comorbidades (Fig. 4). Isso foi associado a grande elevação na mortalidade e no custo financeiro. Como nos estudos anteriores, a desproporcionalidade entre a taxa de implantes versus a de infecção também foi observada (96% X de 210%)14. e procedimentos intervencionistas de explante e provavelmente de novo implante, além do custo das próteses. O custo estimado no ano de 2004 de um paciente com IRDCI, nos EUA, foi de 35.000 dólares15. Em nosso sistema de saúde, esta repercussão é ainda mais séria, por conhecidas dificuldades econômicas. Dados estatísticos institucionais são importantes para conhecimento do problema em cada hospital, e com base nessas informações poder-se-á implantar e fiscalizar o uso de medidas profiláticas adequadas. FATORES DE RISCO Alguns fatores de risco para IRDCI têm sido relatados na literatura10 . Eles podem estar relacionados ao paciente, ao procedimento e à experiência do operador. No paciente, a presença de comorbidades (Diabetes Mellitus, neoplasias malignas, insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca), idade avançada, uso de corticosteroides, podendo levar a algum grau de imunossupressão, anticoagulação com probabilidade maior na formação de hematoma na loja, febre nas últimas 24 horas que antecederam o implante, presença de catéteres venosos centrais (como catéter para hemodiálise), presença de mais de dois eletrodos parecem aumentar o risco de infecção. Fatores que aumentam este risco relacionados ao procedimento são: 1) uso de marcapasso profilático pré-implante; 2) recente manipulação prévia (revisão de loja ou reposicionamento de eletrodo); 3) não uso ou uso inadequado da profilaxia antibiótica pré-implante. Como já relatado anteriormente, o implante de CDI apresenta risco maior de infecção em relação ao de MP, pela maior complexidade do procedimento, maior tempo cirúrgico e também frequentemente tratar-se de pacientes mais graves. Figura 4 - Taxa de IRDCI - Incidência de comorbidades em pacientes com IRDC. J Am Coll Cardiol 2011;58:1001-1006. A terapia de estimulação cardíaca não é considerada uma terapia de baixo custo, assim como o tratamento de suas complicações. Esses dados estatísticos mostram um cenário preocupante, com alto custo financeiro, devido a internações prolongadas, necessidade de terapia antibiótica endovenosa, exames diagnósticos Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. 60 a 80% dos agentes, principalmente espécies de Staphylococcicoagulase negativo (SCoN). Normalmente, espécies SCoN vivem em harmonia com a nossa pele, compondo a maior parte da microflora cutânea e, por conta deste fato, eles também são reconhecidos como microrganismos que comumente causam contaminação em culturas, mas o isolamento repetido da mesma espécie com o mesmo padrão de sensibilidade antibiótica suporta o papel dele como agente infeccioso. Espécies de StaphylococciMeticilina resistentes estão mais frequentemente relacionados a infecções hospitalares, sua incidência varia muito entre os estudos e sua prevalência hospitalar deve ser levada em conta e influenciar a decisão na hora em que uma terapia empírica precise ser utilizada. Infecções recentes (até 02 semanas de implante) são principalmente causadas por S aureus. Bactérias gram negativas incluindo pseudômonas e espécies de cândida são responsáveis pela minoria dos agentes causadores. Esses dados foram confirmados em revisão retrospectiva realizada por Muhammad e col. de 189 pacientes que preencheram critérios para IRDCI, S coagulase-negative e S aureus e, foram responsáveis, respectivamente, por 42% e 29% do total de agentes infecciosos, seguido por bacilos gram negativos (9%), incluindo: Klebsiella pneumoniae, Serratia marcescens, Pseudomonas aeruginosa, Stenotrophomonas, maltophilia, Acinetobacter xylosoxidans, Acinetobacter baumanii, Citrobacter Koseri, Moerganella morganii, Hemophilus influenzae, e Moraxella catarrhalis (Fig.5). Dois pacientes tiveram infecção por fungos (Candida albicans e Aspergillus fumigatus). Infecção polimicrobiana esteve presente em 7% dos casos17. Experiência médica durante o implante tem importante papel para o desenvolvimento de infecções subsequentes. Dados de um estudo conduzido por Al-Khatib e col. encontraram risco significativo de IRDCI e de complicações mecânicas, no período de 90 dias pós-implante, em pacientes nos quais os operadores tinham menor volume de procedimentos realizados16 . 2015|10 PATOGÊNESE A contaminação do gerador ou dos eletrodos com a flora da pele no momento do implante é o mecanismo mais provável de infecção na maioria dos casos32. Isto explica o fato de espécies de estafilococos como preponderantes agentes causadores. Algumas vezes, o patógeno pode ser veiculado pelas mãos do operador. Uma vez que a loja ou o gerador estejam colonizados, bactérias podem migrar ao longo dos eletrodos, contaminando-os, podendo promover bacteremia ou vegetações infectadas nos eletrodos e/ou nas válvulas cardíacas. IRDCI é resultado de uma interação entre dispositivo, o microrganismo e o paciente. A habilidade desses microrganismos em aderir a materiais e promover a formação de biofilme é uma importante característica envolvida na patogenicidade destas infecções. Biofilme é definido como uma camada de bactérias na superfície de um dispositivo implantado, uma comunidade de uma ou mais espécies bacterianas fortemente ligadas umas às outras e à superfície sólida, envolta em uma matriz polimérica extracelular. O processo de formação de biofilme ocorre em dois estágios: uma rápida adesão à superfície do dispositivo implantado, que é seguida de uma fase acumulativa mais prolongada, que envolve proliferação e adesão intercelular (Fig. 6). Figura 6 - Ilustração da formação de biofilme. MICROBIOLOGIA Espécies de estafilococos são os microrganismos responsáveis pela maioria das IRDCI, respondendo por Estes microrganismos podem ter origem tanto endogenamente da flora da pele do paciente ou exogenamente de materiais hospitalares ou das mãos dos agentes de saúde. A teoria endógena é suportada pela associação existente entre a flora pré-axilar e agentes isolados nas culturas de marcapassos com infecção18. Figura 5 - Microbiologia de infecções MP-CDI em 189 pacientes. J Am Coll Cardiol 2007;49:1851-1859. Microrganismos em biofilmes são mais resistentes aos antibióticos e às defesas do hospedeiro, talvez como resultado da proteção da densa matriz extrace- 2015|11 Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. lular ou pelo fato das bactérias aí localizadas apresentarem alterações fenotípicas, levando a um decréscimo de atividades metabólicas que as tornam menos susceptíveis aos antimicrobianos. Essas variações fenotípicas podem justificar a persistência da infecção nos dispositivos33. A aderência microbiana a corpos estranhos depende de características da superfície celular dos microrganismos e da natureza do material usado. Fatores envolvidos incluem forças físico-químicas como polaridade e interações hidrofóbicas. Fatores relacionados aos dispositivos como tipo de polímero plástico, irregularidades em sua superfície e sua forma podem afetar a aderência bacteriana. Polímeros plásticos que envolvem os dispositivos médicos, assim como patógenos que aderem a eles, são hidrofóbicos. Quanto maior o grau de hidrofobicidade, maior a aderência. Uma superfície irregular do dispositivo favorece mais a aderência microbiana do que uma superfície lisa33 . Outra forma de infecção é a contaminação secundária à exposição do gerador após extrusão por erosão da pele, por tensão em geradores implantados muito superficialmente ou em pacientes muito magros. Menos frequentemente, o gerador e os eletrodos podem ser infectados como resultado de disseminação hematogênica durante bacteremia ou fungemia de um foco à distância. QUADRO CLÍNICO Infecção pode estar presente tanto com envolvimento local na loja do gerador e/ou como uma síndrome sistêmica associada à infecção sanguínea, com ou sem endocardite de eletrodos e/ou válvulas nativas. Na maioria dos casos, a infecção envolve o tecido subcutâneo contendo o gerador e o segmento extravascular do(s) eletrodo(s), observando-se alterações inflamatórias na loja, incluindo dor local, calor, edema, eritema, deiscência da ferida, às vezes com drenagem de secreção purulenta e em alguns casos pode haver erosão da pele com extrusão de parte do gerador e/ou eletrodos. Febre e outras alterações sistêmicas estão usualmente ausentes. Alguns pacientes apresentam sintomas vagos, como mal-estar, fadiga e anorexia. Essas alterações são incômodas, levando o paciente a procurar assistência médica, mas, em nosso meio, às vezes por dificuldade de acesso à assistência médica especializada ou por desconhecimento da gravidade, os pacientes retardam, chegando com quadro clínico infeccioso avançado, com extrusão quase que completa do gerador (Fig. 7). Figura 7 - Formas de apresentação clínica em infecções de loja. Retirado de Ellenbogen, Kay, Lau, Wilkoff. Quarta edição. Clinical Cardiac Pacing, Defibrillation and Resyncronization Therapy Infecções profundas envolvem o segmento intravascular do eletrodo, estão usualmente associadas à bacteremia e a infeções endovasculares. Infecções profundas podem ocorrer com ou sem envolvimento da loja do gerador e podem evoluir com endocardite e vegetações no segmento intracardíaco do eletrodo e/ ou válvulas cardíacas. É importante ter em mente que a extensão do processo infeccioso em pacientes com infecção localizada normalmente é subestimada. Alguns autores sugerem que a colonização distal é quase inevitável. Logo, clinicamente não é útil considerar infecções de loja separadamente de infecções endovasculares, mas sim todo um sistema infectado, em contato com o endocárdio e a corrente circulatória. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de IRDCI é mais claro em pacientes com achados inflamatórios na loja consistentes com processo infeccioso. Em contraste, o diagnóstico de IRDCI é difícil e desafiador em pacientes com infecção sanguínea, mas sem outras evidências clínicas ou ecocardiográficas do envolvimento do sistema de estimulação cardíaca. Pacientes portadores destes dispositivos precisam ser instruídos a procurar avaliação de cardiologistas e/ou infectologistas, caso desenvolvam febre ou apresentem culturas sanguíneas positivas sem uma condição clínica aparente. Em menos da metade dos casos podemos observar alterações laboratoriais como: leucocitose, anemia, aumento da velocidade de hemossedimentação ou da proteína C reativa, logo a ausência dessas alterações não afastam o diagnóstico. Febre é mais frequente quando há envolvimento intracardíaco. 2015|12 Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. Enquanto o diagnóstico é claro em pacientes com infecção de loja, ele pode ser retardado em pacientes com febre, calafrios e bacteremia, mas com a loja intacta. Os pacientes portadores de diabetes, insuficiência renal, cirurgia valvar prévia e catéteres endovenosos são mais propensos a cursarem com infecção endovascular20. Os critérios de Duke modificados, utilizados para diagnóstico de endocardite valvar, podem também ser usados para o diagnóstico de endocardite relacionada ao eletrodo (ERE), com algumas limitações conhecidas. Alguns autores propõem que outros critérios clínicos, como sintomas locais e infecções pulmonares, poderiam ser adicionados a este grupo de pacientes23. Hemoculturas positivas e presença de vegetações nos eletrodos e/ou nas válvulas cardíacas estabelecem como definitivo o diagnóstico. Pacientes com febre e hemoculturas positivas de etiologia não determinada e que têm seu problema solucionado com a retirada do sistema também são diagnosticados como portadores de ERE. A incidência de endocardite em IRDCI na literatura é de 10 a 23%22. Em pacientes com suspeita de IRDCI devem ser colhidas pelo menos duas amostras para hemocultura, antes que a antibioticoterapia empírica seja iniciada. Punção da loja deve ser sempre evitada, pois, além de não ser um método muito sensível, há o risco de contaminação.Se houver drenagem de secreção na loja, esta também deve ser colhida para cultura. Culturas de pedaços dos eletrodos são frequentemente usadas na confirmação diagnóstica, entretanto eles podem ser contaminados durante a remoção, quando extraídos percutaneamente. Com a técnica cirúrgica aberta, essas culturas são mais confiáveis.Coloração de gram é um método simples e deve ser sempre realizado. Caso negativo, culturas para fungos e microbactérias devem ser solicitadas.A sensibilidade de cultura de tecido da loja é maior do que a cultura da secreção. Em bacteremia ou fungemia sem outra evidência de infecção, deve-se pensar em infecção relacionada a dispositivos. Em pacientes com bacteremia por S. aureus (BSA), portadores de dispositivos cardíacos implantáveis, IRDCI está presente em até 50% dos casos, e este risco é especialmente alto até o primeiro ano pós-implante. Quando a bacteremia é por gram negativo, esta incidência é menor (4 a 6%)34 . A ecocardiografia é o elemento-chave para o diagnóstico de ERE. O ecocardiograma transtorácico apresenta sensibilidade limitada (30 a 40%) e baixo valor preditivo negativo, logo, frequentemente, não é útil em afastar ERE, particularmente em adultos. O ecocardiograma transesofágico (ETE) se faz mandatório como principal exame diagnóstico, pois apresenta sensibilidade muito maior (90 a 95%)22. A não visualização de vegetações não exclui o diagnóstico. O ETE é mais sensível para avaliação de vegetações no lado esquerdo, na avaliação de extensão perivalvar e na visualização do segmento proximal do eletrodo na cava superior. Este exame é fundamental em pacientes com BSA, porque a taxa de endocardite é alta nesta situação.Ecocardiografia intracardíaca, a despeito do custo, pode ser efetiva quando outros métodos não são diagnósticos24. Uma massa aderente ao eletrodo visto na ecocardiografia pode corresponder a trombo ou vegetação infectada, sendo impossível distingui-las com este exame. Brian e col. avaliaram, retrospectivamente, por 02 anos, todos os ETE de portadores de DCI com eletrodos endovenosos. Massas associadas aos eletrodos foram observadas em 14% dos pacientes. Em contraste com outros trabalhos publicados que focaram a sensibilidade do ETE em pacientes com suspeita de endocardite, este estudo incluiu todos os pacientes com MP ou CDI e eletrodos tranvenosos submetidos à ETE por qualquer indicação, logo focando a especificidade de massas aderidas aos eletrodos. De 125 pacientes avaliados, 15 apresentavam massas, nove deles estavam em investigação para endocardite, enquanto nos outros 6 as massas foram descobertas incidentalmente. Durante o seguimento, em nenhum destes 6 pacientes foram encontrados sinais de endocardite. Logo, a especificidade e o valor preditivo positivo de massas descobertas incidentalmente em ETE são baixos, em relação à IRDCI.19 Em 2010, a AHA publicou diretrizes10 em IRDCI e em relação ao diagnóstico eles orientam: Classe I Todos os pacientes devem ter pelo menos 2 hemoculturas antes do início do antibiótico Cultura e gram do tecido da loja e cultura do eletrodo devem ser obtidas no momento do explante Pacientes com suspeita de IRDCI com culturas positivas ou culturas negativas, mas que tenham feito uso de antibióticos recente antes da coleta, devem ser submetidos a ETE para afastar endocardite. 2015|13 Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. Todos os adultos com suspeita de IRDCI devem ser submetidos à ETE para avaliar o lado esquerdo do coração, mesmo que no ETT encontre massas aderentes ao eletrodo. Em pacientes pediátricos com boa janela, o ETT pode ser suficiente. Classe II Classe III complicações associadas com o envolvimento valvular, tromboflebite séptica ou osteomielite. A AHA nos orienta a duração do tratamento, segundo este algoritmo A10. • Abcessos em loja, erosão da pele pelo gerador, aderência da pele, drenagem crônica sem evidência clínica de envolvimento da porção transvenosa do eletrodo. Aspiração percutânea da loja deve ser evitada para exame diagnóstico. • Endocardite valvar sem definitivo envolvimento dos eletrodos e/ou de gerador. • Bacteremia oculta persistente por gram positivo. (Obs.: se a bacteremia persistente for por gram negativo, passa a ser Classe IIa com nível de evidência B). CONDUTA CLÍNICA E DURAÇÃO DA TERAPIA ANTIBIÓTICA Terapia antibiótica deve ser iniciada imediatamente e a completa remoção do dispositivo não deve ser retardada, independentemente do tempo de início da antibioticoterapia. Devido ao fato da maioria das infecções serem causadas por espécies de estafilococos e alguns deles serem Oxacilina resistentes, Vancomicina deve ser administrada inicialmente como antibiótico empírico até que os resultados das hemoculturas com antibiograma sejam conhecidos. Não há estudos clínicos que determinem a duração ótima do tratamento antibiótico ou quando devemos mudar a via de administração de endovenosa para oral. Fatores que influenciam nesta decisão são: a extensão do processo infeccioso, o organismo causador, a presença e duração da infecção sanguínea, além de Em maio de 2008, especialistas desta área foram convocados para fazer uma revisão crítica das diretrizes publicadas em 2006. Houve uma importante mudança em relação à IRCDI, passando a ser classe I de indicação, nível de evidência B, a retirada completa do sistema de pacientes com: • Infecção sistêmica relacionada a dispositivos cardíacos implantáveis, evidenciada através de endocardite valvular, endocardite de eletrodos ou sepsis. Pacientes devem procurar avaliação de cardiologista e/ou infectologista se cursar com febre e/ou infecção sanguínea sem explicação inicial. O tratamento efetivo das IRDCI, tanto com manifestações locais quanto sistêmicas, requer remoção de todo o sistema de estimulação cardíaca associado a curso prolongado de antibioticoterapia. Infecção em qualquer parte do dispositivo cardíaco implantável implica em contaminação de todo o sistema. Na verdade, muitos estudos têm relatado taxa inaceitavelmente alta de falha com tratamento conservador (antibioticoterapia + desbridamento da loja sem remoção do gerador) e alta taxa de recorrência com retirada parcial do sistema (retirada do gerador + retirada parcial do eletrodo). Falha no tratamento é definida como retorno da infecção com o mesmo microrganismo, baseado na sensibilidade antimicrobiana. Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. Pacientes com bacteremia oculta, mas sem evidências clínicas do sítio infeccioso na loja ou nos eletrodos representam um grupo de difícil decisão terapêutica. Embora a detecção sanguínea de microrganismos possa estar relacionada à infecção nos dispositivos, ela pode ocorrer por outros motivos. Algumas características clínicas quando presentes sugerem maior probabilidade da infecção estar relacionada aos dispositivos: bacteremia até 03 meses pós-implante, quando o dispositivo é um CDI, na presença de próteses valvares e retorno da bacteremia após antibioticoterapia apropriada. Nestes casos será necessária a remoção de todo o sistema (Fig.8). Quando a bacteremia é por gram negativo, a probabilidade de IRDCI é bem menor e a retirada do sistema não está indicada. Mas, se esta bacteremia é persistente ou retorna, mesmo com o uso de antibioticoterapia adequada sem nenhum outro foco aparente, o sistema deverá ser retirado. CONDUTA CIRÚRGICA Como dito anteriormente, o tratamento efetivo requer a retirada completa do sistema em todos os quadros clínicos de IRDCI, exceto quando há infecção superficial da ferida operatória sem comprometimento da loja, mas essa conduta mudou com o tempo. Em maio de 1997 foi realizada uma conferência de especialistas em extração de eletrodos em New Orleans. A conclusão deste encontro resultou em um consenso de diretrizes publicado em 200025. Neste documento, eles orientavam como classe I de indicação a retirada completa do sistema, em casos de sepsis (incluindo endocardite) secundária, a infecção documentada na porção intravascular do eletrodo ou em infecções de loja, quando a porção intravascular do eletrodo não poderia ser assepticamente separada da loja. Como classe II (condições para as quais os eletrodos são frequentemente removidos, mas havia alguma divergência de opiniões a respeito do benefício versus o risco da retirada do eletrodo) incluíram pacientes com infecção de loja, erosão ou drenagem crônica que não envolvia a porção endovenosa do eletrodo. Nestes pacientes, eles orientavam a secção do eletrodo através de incisão em uma área limpa, totalmente separada da área infectada, com retirada do gerador e retirada parcial do eletrodo. 2015|14 Figura 8 - Retirado da Expert Review of Anti-infective Therapy. 2010 SAB – Bacteremia por S aureus Após a noção que todo o sistema tenha que ser explantado, será que o tratamento conservador, com retirada parcial dos eletrodos e irrigação antimicrobiana com sistema fechado, em infecções de loja sem evidências de comprometimento sistêmico, poderia ser uma opção viável? Enquanto a taxa de sucesso de retirada total em mãos experientes atualmente é alta, resultados na vida real são menos favoráveis, especialmente em pacientes idosos com múltiplas comorbidades. É nesta população que se procura por alternativas à extração do eletrodo, principalmente em infecções de baixo grau na loja, além do que estas comorbidades limitam a expectativa de vida em alguns destes pacientes e podem fazer da conduta 2015|15 Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. conservadora, mesmo que temporária, uma interessante opção. Segundo Michael Glikson, a resposta é sim, mas vale ressaltar que este tipo de conduta só deve ser avaliada em um grupo limitado e seleto de pacientes muito doentes, em que o risco da extração excede o benefício potencial31. IMPLANTE DE NOVO DISPOSITIVO É imperativo que haja uma avaliação da necessidade de implante de um novo dispositivo. Cerca de 1/3 dos pacientes em algumas séries não irão requerer implante de um novo dispositivo10,21. Alguns fatores explicam esta percentagem como: reversão do processo patológico que precipitou o implante, mudança de circunstâncias clínicas e falta de indicação apropriada, principalmente em pacientes com doença do nó sinusal. A remoção de um dispositivo infectado não deve ser realizada até que uma avaliação cuidadosa de implante de novo sistema tenha sido pensada, principalmente naqueles pacientes totalmente dependentes por bloqueio atrioventricular total. Quando um novo dispositivo é necessário, este deve ser realizado contra lateralmente, se possível, inicialmente de forma temporária, até que o processo infeccioso esteja resolvido e possa ser realizado o implante definitivo. É intuitivo que haja um controle adequado dos sítios infecciosos por desbridamento antes de um novo implante. Eletrodos com fixação ativa é uma estratégia muito interessante para evitar deslocamentos no implante do marcapasso provisório. extração, novas culturas devem ser colhidas após a remoção e devem estar negativas pelo menos 72 horas antes do reimplante (nível de evidência: C). - Novo implante transvenoso deve ser retardo por 14 dias após remoção, quando há evidência de infecção valvular (nível de evidência: C). Essas diretrizes estão sumarizadas no algoritmo B10. PROGNÓSTICO IRDCI é uma séria complicação da estimulação cardíaca artificial com substancial morbidade e mortalidade. Taxas de mortalidade variam amplamente e tendem a ser maior em pacientes com endocardite confirmada (14% a 21%) comparados com aqueles sem (<5%) e naqueles tratados sem remoção completa do sistema (32). Com a terapia moderna agressiva, a mortalidade hospitalar para ERE varia de 4 a 7%. Mortalidade em parte se deve ao agente causador, endocardite por S. aureus é associada ao pior prognóstico, quando comparado a SCoN. A mortalidade tardia, em 06 meses, entre 210 pacientes avaliados com IRCDI, foi de 18%(10). Variáveis como embolização sistêmica, insuficiência tricúspide moderada a severa, disfunção do ventrículo direito e disfunção renal estão associadas ao aumento da mortalidade. O tempo ideal para implante de novo dispositivo é desconhecido. Alguns autores têm advogado curtos períodos como 24 horas após ou até mesmo implante simultâneo. Não há estudos prospectivos neste tema. Entretanto, tem sido recomendado culturas negativas por pelo menos 72 horas para novo implante. Diretrizes da AHA aconselham: Pereira, CMGE et al. Infecções em pacientes com dispositivos cardíacos implantáveis. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 08-19. PROFILAXIA Para que IRDCI, que como vimos pode ter alta morbidade e mortalidade, diminua sua incidência, medidas de prevenção podem ser endereçadas para antes, durante e depois do procedimento de implante. Antes do implante devemos assegurar que os pacientes não apresentem nenhum processo infeccioso adjacente e que estejam com adequadas condições de higiene. O uso de antibióticos profiláticos é recomendado como Classe I de indicação, nível de evidência A10.Metanálise publicada em 1998, quando foram analisados todos os estudos randomizados,concluiu que a antibioticoterapia sistêmica profilática reduz significativamente a incidência de complicações infecciosas pós-procedimento30. Está indicado o uso endovenoso de 02g de Cefazolina, que deverá ser administrada 01 hora antes da incisão, para que haja níveis tissulares adequados no momento da incisão cirúrgica. Caso haja alergia à Penicilina, o uso de Clindamicina está indicado. A Vancomicina não deve ser usada de rotina, devendo seguir orientações do serviço de controle de infecção hospitalar quando há suspeita de colonização no paciente por Estafilococos Meticilina resistente. É importante lembrar que, quando for usada Vancomicina, está deverá ser iniciada 02 horas antes do procedimento. Preparação antisséptica da pele no sítio cirúrgico deve ser feita com rigor. Atenção compulsiva às técnicas de esterilização intraoperatória são mandatórias. Se o paciente tem pouco tecido subcutâneo devido à desnutrição, por exemplo, haverá um maior risco de erosão cutânea e instalação retropeitoral deve ser aventada. Atenção especial deve ser dada também à hemostasia para evitar hematomas no pós-operatório que são identificados como fator de risco isolado para ocorrência de infecção. Abordagem do hematoma só deve ser realizada quando houver tensão da pele, desta forma deveremos observar estes pacientes de perto e sempre ter em mente que a punção aspirativa deve ser evitada para que não propicie contaminação da loja. Revisão cirúrgica em torno de 15 dias é importante não só para avaliação e programação adequada do dispositivo, mas também para verificar as condições da loja e da incisão cirúrgica. Até o presente momento não há evidências que justifiquem o uso de rotina de antibióticos no pós-operatório. • Classe I - Cada paciente deve ser cuidadosamente avaliado para determinar a necessidade de novo implante (nível de evidência: C). - O reimplante não deve ser isolateral ao lado da extração. O lado contralateral ou implante epicárdico são opções (nível de evidência: C). • Classe II Embora haja opiniões variadas, até o momento não há justificativa científica para o uso de antibióticos pro- - Quando as hemoculturas são positivas antes da 2015|16 filáticos para procedimentos invasivos outros, sendo considerada Classe III de indicação10 . O fato de as espécies de estafilococos serem de longe os agentes etiológicos mais comuns e da flora oral ter pouca incidência nas IRDCI, sugere que a profilaxia para procedimentos dentários sejam de pouco valor. REFERÊNCIAS 1. Goldberg Z, Lampert R. Implantable cardioverter-defibrillators: expanding indications and Technologies. JAMA 2006;295:809-818. 2. A comparison of antiarrhythmics drug therapy with implantable defibrillators in patients resuscitaded from near-fatal ventricular arrhythmias: the Antiarrhythmics Versus Implantable Defibrillators (AVID) Investigators. N Engl J Med. 1997;337:1576-1583. 3. 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Até 15% dos pacientes são classificados como portadores de asma grave e um terço destes têm asma de difícil controle(ADC), acarretando o uso prolongado e recorrente de corticosteroides orais. Novas terapias têm sido desenvolvidas como alternativas para o tratamento da asma grave, direcionadas aos diferentes fenótipos, objetivando-se melhor controle da doença e minimizar os efeitos da terapia crônica com glicocorticoides orais. DESCRITORES: Asma. Terapêutica. Fármacos Antiasmáticos. KEY WORDS: Asthma.Therapeutics. Anti-Asthmatic Agents. INTRODUÇÃO A asma é uma doença crônica inflamatória das vias aéreas associada à hiperresponsividade aos antígenos ambientais ou ao exercício, com consequente remodelamento brônquico. Caracteriza-se por episódios recorrentes de dispneia, sibilância, tosse, opressão torácica e até mesmo angústia respiratória e morte. É considerada a quarta principal causa de absenteísmo ao trabalho para os adultos, o que resulta em quase 15 milhões de dias de trabalho perdidos ou menos produtivos por ano1,2. A fisiopatologia da asma inicia-se com a produção de imunoglobulina E (IgE) específica, desencadeada por exposição a estímulo ambiental, cuja regulação encontra-se relacionada à maior ativação da resposta imune do tipo Th2 em relação à Th1. Esta IgE ativa os mastócitos, com subsequente degranulação e liberação de mediadores como histamina, prostaglandinas e leu- cotrienos, que levam à broncoconstrição e edema das vias aéreas. Por vezes, após algumas horas, a reação precoce (hipersensibilidade imediata) é seguida por uma fase tardia de recorrência da broncoconstrição, na qual ocorre o influxo de células inflamatórias tanto da resposta inata (monócitos, células dendríticas e neutrófilos) como da resposta adaptativa (linfócitos T, eosinófilos e basófilos). Seus mediadores estimulam a produção excessiva de muco, inflamação e lesão da parede das vias aéreas, além de hiper-responsividade da musculatura lisa, que pode ser reversível com o uso de beta-agonistas (Figura 1)1,2. A doença é classificada, de acordo com a gravidade, em intermitente, persistente leve, persistente moderada e persistente grave. O controle dos sintomas deve ser avaliado periodicamente para guiar o tratamento, o qual é dividido em cinco estágios, conforme a gravidade1,2. Nesse contexto, existe uma entidade denominada “asma de difícil controle”(ADC), na qual o indivíduo apresenta sintomas persistentes e exarcebações frequentes, a despeito do uso da terapia com corticoide inalatório em altas doses, beta-2 agonistas de longa duração, antileucotrienos ou teofilina e/ou do uso frequente de corticoides orais (degraus 4 e 5 do Global Initiative for Asthma; Tabela 1)2,3. Estima-se que entre 5 e 15% dos pacientes têm asma grave, podendo corresponder até a 50% dos custos com a doença. Aproximadamente, um terço destes são classificados como portadores de ADC, necessitando, muitas vezes, do uso prolongado de corticoterapia sistêmica com inúmeros efeitos colaterais (hiperglicemia, obesidade, osteoporose, glaucoma, entre outros). Sendo a asma grave uma condição heterogênea que consiste de múltiplos mecanismos, novas terapias têm sido desenvolvidas para tratamento dos seus diferentes fenótipos (Tabela 2)3. Dentre as novas opções terapêu- 2015|20 O Omalizumabe é um anticorpo monoclonal recombinante, humanizado, que se liga seletivamente à IgE livre e inibe a liberação de mediadores inflamatórios em resposta à exposição aos alérgenos. Pacientes que associaram o Omalizumabe à terapia com altas doses de corticoide inalatório e beta-2 agonistas de longa duração tiveram menos exacerbações e melhora da qualidade de vida4,5,6. Liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA) para tratamento de indivíduos a partir dos seis anos, com asma alérgica persistente, moderada a grave, IgE sérica entre 30-1.500 UI/mL e teste cutâneo positivo ou reatividade in vitro a aeroalérgenos perenes, e cujos sintomas estão inadequadamente controlados com o uso de corticoides inalatórios1,2,3. Considerando que um percentual relevante de pacientes são erroneamente estratificados para o tratamento da asma, é de fundamental importância, antes de indicar a terapia anti-IgE, verificar se o paciente fez uso de terapia otimizada para os degraus 4/5 do Global Initiative for Asthma. A dose de 150 a 375 mg é administrada, por via subcutânea, a cada duas a quatro semanas para atingir a dose mensal, que é calculada considerando o peso e os níveis séricos de IgE (Tabelas 3 e 4). Um mínimo de 12 semanas de tratamento é necessário para determinar a eficácia da terapia anti-IgE. 2. TERMOPLASTIA BRÔNQUICA A técnica consiste na aplicação de energia de radiofrequência na parede da via aérea que gera aquecimento controlado do tecido, objetivando reduzir a espessura da musculatura lisa em brônquios segmentares e subsegmentares e, consequentemente, redução da capacidade de broncoconstrição e da frequência e gravidade dos sintomas da asma. O procedimento é feito sob sedação moderada, geralmente em três broncoscopias com cerca de três semanas de intervalo, sendo tratadas as vias aéreas distais ao brônquio principal com 3 a 10 mm de diâmetro, exceto as do lobo médio direito, devido à dificuldade de acesso7,8,9. Liberada para uso pela ANVISA e pelo FDA, sendo recomendada para tratamento de adultos com asma persistente grave, inadequadamente controlada com corticoides inalatórios e beta-agonistas de longa duração e que preencham os seguintes critérios: façam uso contínuo ou intermitente de glicocorticoides orais; tenham VEF1 ≥50% do previsto; sem história de exacerbação com risco de vida no passado; e estejam dispostos a aceitar o risco de uma exacerbação grave da asma, requerendo hospitalização em consequência do procedimento. A escolha dos pacientes, desse modo, deve ser cautelosa, considerando o pequeno número de estudos e que a segurança e eficácia da técnica é desconhecida em pacientes com sinusopatia crônica, exacerbações frequentes ou VEF1 <60% do previsto, os quais foram excluídos dos ensaios clínicos1. É aconselhável a realização da termoplastia brônquica no contexto de um ensaio clínico ou registro sistemático independente1,3. 3. METOTREXATE Vários mecanismos têm sido propostos para explicar o efeito deste imunomodulador na redução da dose de corticosteroides sistêmicos no tratamento da asma10, incluindo a redução nos níveis de imunoglobulinas séricas e possível aumento da sensibilidade dos linfócitos para os efeitos inibidores dos glicocorticoides. Apesar dos possíveis benefícios como agente poupador de corticoide, o metotrexate não deve ser utilizado em adultos e crianças com asma grave, a fim de evitar seus efeitos adversos2,3. Se necessário, limitar o uso a centros especializados e apenas em pacientes que necessitem do uso de corticoterapia sistêmica diária. Além disso, devem ser realizados exames complementares, tais como radiografia de tórax, hemograma completo, função hepática, dosagem de creatinina sérica e capacidade de difusão de CO2, antes e após o início do tratamento com metotrexate3. 4. BIOLÓGICOS Nos últimos anos, diversos ensaios clínicos testaram a eficácia e a segurança do uso de diferentes medicamentos biológicos no tratamento da asma grave, tais como: Infliximabe, Golimumabe, Etanercept (agentes anti-TNF alfa)11,12, Daclizumabe (anticorpo anti- receptor de IL-2)13, Mepolizumabe, Reslizumabe, Benralizumabe (anticorpos anti-IL-514,15,16,17/anti-receptor de IL-518), Lebrikizumabe, Tralokinumabe (anticorpos anti- IL-13)19,20; Dupilumabe (anti- receptor de IL-4)21. Em alguns trabalhos, foram demonstrados efeitos benéficos em pequenos subgrupos de pacientes, entretanto, não são aprovados pelo FDA e não estão prontamente disponíveis. Novos estudos estão em andamento ou sendo planejados para 2015|21 Loureiro, CMC et al. Novas terapias para tratamento da asma grave de difícil controle. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 20-26. avaliar o perfil risco-benefício para uso no tratamento dos diferentes fenótipos da ADC (Tabela 2)2,3. 5. MACROLÍDEOS Alguns pacientes com asma grave têm infecção persistente das vias aéreas por bactérias atípicas, levando à inflamação neutrofílica e pior controle da doença. Devido às ações antimicrobiana e anti-inflamatória dos macrolídeos, foi aventado que estes antibióticos poderiam contribuir com a erradicação da infecção, além de atuar como agentes poupadores de corticoide. Estudos envolvendo pacientes com asma refratária,dependentes do uso de corticoide oral, e com evidência de infecção por Chlamydia pnuemoniae mostraram algum efeito positivo do uso em relação aos sintomas e marcadores de inflamatórios22,23.Considerando os benefícios clínicos incertos e a fim de evitar o desenvolvimento de resistência a esta classe de antibióticos, não é recomendável o uso de macrolídeos para tratamento da asma grave em adultos e crianças de forma rotineira1,2,3. ram liberadas pela ANVISA e pelo FDA para tratamento da asma grave. Não é recomendável o uso rotineiro do metotrexate ou antimicrobianos. Estudos adicionais são necessários para comprovar os potenciais benefícios clínicos dos medicamentos biológicos no controle da asma grave, sobretudo para o tratamento de pacientes com fenótipos específicos. FIGURA TABELAS Tabela 1 -Degraus para tratamento da asma DEGRAU 1 Medicação controladora de escolha Outras opções Medicação para alívio DEGRAU 2 CEI em dose baixa Considerar CEI em dose baixa ARLT Teofilina em dose baixa* DEGRAU 3 DEGRAU 4 DEGRAU 5 CEI em dose baixa/ CEI em dose Encaminhamento ABAP média/ alta/ ABAP para tratamento adjuvante (p. ex. anti-IgE) CEI em dose média/ alta CEI em dose alta + ATRL (ou teofilina*) CEI em dose baixa + ATRL (ou teofilina*) ABAC, conforme necessário Adicionar CEO em dose baixa ABAC ou CEI em dose baixa/ formoterol** CEI: Corticosteroide inalatório; ABAC: Agonista beta 2 de ação curta; ARLT: Antagonistas dos receptores dos leucotrienos; ABAP: Agonistas beta 2 de ação prolongada; CEO: Corticosteroide oral; *: Para crianças de 6-11 anos, a teofilina não é recomendada e o tratamento preferido do Degrau 3 é CEI em dose média; **: CEI em dose baixa/ formoterol é a medicação de alívio para doentes aos quais foi receitado budesonida em dose baixa/ formoterol ou beclometasona em dose baixa/ formoterol. Adaptado: GINA report. Global Strategy for Asthma Management and Prevention, Global Initiative for Asthma (GINA), 2014. www.ginasthma.org 6. ANTIFÚNGICOS Muitos pacientes com asma são sensibilizados para diferentes fungos e a exposição por inalação possivelmente leva à colonização das vias aéreas inferiores, desencadeando uma reação alérgica. Ensaios clínicos, no entanto, não demonstraram melhoria sustentada do controle da asma com o uso da terapia antifúngica24,25. Por conseguinte, não deve ser utilizada no tratamento da asma grave em adultos e crianças, independentemente da presença de IgE específica para fungos no soro ou positividade de teste cutâneo. As diretrizes da ERS/ATS sobre asma grave sugerem o uso de antifúngicos apenas em adultos com asma grave e exacerbações recorrentes de aspergilose broncopulmonar alérgica resistentes ao uso de corticoide sistêmico3. Loureiro, CMC et al. Novas terapias para tratamento da asma grave de difícil controle. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 20-26. Tabela 2 - Potenciais terapias direcionadas aos fenótipos da asma grave. Figura 1 - Fisiopatologia da asma e mecanismo de ação das novas terapias: 1. Terapia anti-IgE; 2. Termoplastia Brônquica; 3. Metotrexate; 4. Biológicos; 5. Macrolídeos; 6. Antifúngicos. Adaptado: 2007 NAEPP Expert Panel Report 3: Guidelines for the Diagnosis and Management of Asthma. CONCLUSÃO As novas terapias para tratamento da asma, portanto, surgem como alternativas para pacientes com asma crônica que não são satisfatoriamente controlados com o uso da terapia farmacológica otimizada; àqueles com asma recorrente que são incapazes de aderir a esquemas terapêuticos ao longo da vida; e para minimizar os efeitos adversos da terapia crônica com glicocorticoides orais. A terapia anti-IgE e a termoplastia brônquica fo- Característica Associações Tratamentos específicos Asma alérgica grave Eosinofilia periférica e do escarro; IgE sérica e FeNO elevadas Anti-IgE (adultos e crianças) Anti- IL-4/IL-13 Anti- receptor de IL-4 Asma eosinofílica Eosinofilia periférica e do escarro; exacerbações recorrentes; FeNO elevada Anti- IL-5 Anti- IL-4/IL-13 Anti- receptor de IL-4 Asma neutrofílica* Insensibilidade aos corticosteroides; infecções bacterianas Anti- IL-8 Antagonistas de CXCR2 Antileucotrienos (adultos e crianças) Macrolídeos (adultos e crianças) Obstrução crônica das vias aéreas Remodelamento das vias aéreas com aumento da espessura da parede brônquica Anti- IL-13 Termoplastia brônquica Exacerbações recorrentes Eosinofilia do escarro; resposta reduzida aos corticoides inalatórios e/ou orais Anti- IL-5 Anti-IgE (adultos e crianças) Insensibilidade aos corticosteroides Neutrofilia do escarro* Inibidores da proteíno-kinase p38 Teofilina (adultos e crianças) Macrolídeos (adultos e crianças) FeNO: fração de excreção de óxido nítrico; IL- interleucina; *: asma neutrofílica é rara em crianças. Adaptado: International ERS/ATS guidelines on definition, evaluation and treatment of severe asthma. EurRespir J 2014; 43: 343–373. 2015|22 2015|23 Loureiro, CMC et al. Novas terapias para tratamento da asma grave de difícil controle. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 20-26. TABELA 3.Doses do Omalizumabe (mg/ dose) para administração a cada TABELA 3.Doses do Omalizumabe (mg/ dose) para administração a cada quatro semanas. Tabela 3 - Doses do Omalizumabe (mg/ dose) para administração a cada quatro semanas. quatro semanas. Nível de Peso corpóreo (kg) Nível de Peso c> orpóreo (kg) > 20-‐25 > 25-‐30 > 30-‐40 > 40-‐50 > 50-‐60 60-‐70 > 70-‐80 > 80-‐90 > 90-‐125 > 125-‐150 IgE basal > 20-‐25 > 25-‐30 > 30-‐40 > 40-‐50 > 50-‐60 > 60-‐70 > 70-‐80 > 80-‐90 > 90-‐125 > 125-‐150 (UI/ bm L) IgE asal > 30-‐100 75 75 75 150 150 150 150 150 300 300 (UI/ mL) >100-‐200 150 150 150 300 > 30-‐100 75 75 75 150 300 150 300 150 300 150 300 150 300 300 > 200-‐300 150 150 >100-‐200 150 150 225 150 300 300 300 300 300 300 > 3200-‐400 225 225 > 00-‐300 150 150 300 225 300 > 4 00-‐500 225 300 a cada duas semanas (vide tabela abaixo) > 300-‐400 225 225 300 Administração > 5 00-‐600 300 300 > 400-‐500 225 300 Administração a cada duas semanas (vide tabela abaixo) > 6 00-‐700 300 > 500-‐600 300 300 ® Fonte: Bula300 XOLAIR > 600-‐700 Novartis Pharma Stein AG, Stein, Suíça. ® Fonte: Fonte: Bula XOLAIR® Novartis Pharma Stein AG, Stein, Suíça. Bula XOLAIR Novartis Pharma Stein AG, Stein, Suíça. TABELA 4.Doses do Omalizumabe (mg/ dose) para administração a cada duas semanas. Tabela 4 - Doses4.Doses do Omalizumabe (mg/ dose) para administração a cada duas semanas. TABELA do Omalizumabe (mg/ dose) para administração a cada duas semanas. Nível de IgE Peso corpóreo (kg) basal (UI/ > 20-‐ > 25-‐30 > 30-‐40 > 40-‐50 > 50-‐60 > 60-‐70 > 70-‐80 > 80-‐90 > 90-‐ > 125-‐ Nível Peso corpóreo (kg) mL) de IgE 25 125 150 basal (UI/ > 20-‐ > 25-‐30 > 30-‐40 > 40-‐50 > 50-‐60 > 90-‐ > 125-‐ > 30-‐100 > 60-‐70 > 70-‐80 > 80-‐90 mL) 25 > 100-‐200 Administração a cada quatro semanas (vide tabela acima) 225 125 300 150 225 225 225 300 375 > 2300-‐300 0-‐100 225 quatro 225 300 450 225 525 300 > 3100-‐400 00-‐200 Administração a cada semanas 225 (vide tabela acima) 300 225 225 300 300 225 375 225 375 225 525 300 600 375 > 4200-‐500 00-‐300 > 5 00-‐600 225 300 300 > 300-‐400 225 225 375 225 450 300 450 300 600 450 525 > 6 00-‐700 225 225 300 375 > 400-‐500 225 225 300 450 300 450 375 525 375 525 600 > 7 00-‐800 225 225 300 375 450 450 525 600 > 500-‐600 225 300 300 375 450 450 600 > 800-‐900 225 225 300 375 > 600-‐700 225 225 300 450 375 525 450 600 450 525 > 900-‐1000 225 300 375 450 525 600 > 700-‐800 225 225 300 375 450 450 525 600 > 1000-‐1100 225 300 375 450 600 NÃO ADMINISTRAR > 800-‐900 225 225 300 375 450 525 600 (não há dados disponíveis para > 1100-‐1200 300 300 450 525 600 > 900-‐1000 225 300 375 450 525 600 > 1200-‐1300 300 375 450 525 recomendação de dose) > 1 000-‐1100 225 300 375 450 600 NÃO ADMINISTRAR > 1300-‐1500 300 375 525 600 (não há dados disponíveis para > 1100-‐1200 300 ® 300 450 525 600 Fonte: Bula XOLAIR Novartis Pharma Stein AG, Stein, Suíça. Fonte: Bula XOLAIR® Novartis Pharma Stein AG, Stein, Suíça. > 1200-‐1300 300 375 450 525 > 1300-‐1500 300 375 525 600 ® Fonte: Bula XOLAIR Novartis Pharma Stein AG, Stein, Suíça. recomendação de dose) Loureiro, CMC et al. Novas terapias para tratamento da asma grave de difícil controle. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 20-26. REFERÊNCIAS 1. GINA report. Global Strategy for Asthma Management and Prevention, Global Initiative for Asthma (GINA), 2014.www.ginasthma.org. 2. National Asthma Education and Prevention Program: Expert panel report III: Guidelines for the diagnosis and management of asthma. Bethesda, MD: National Heart, Lung, and Blood Institute, 2007. (NIH publication no. 08-4051) www.nhlbi.nih.gov/guidelines/asthma/asthgdln.htm. 3. Chung KF, Wenzel SE, Brozek JL, Bush A, Castro M, Sterk PJ, et al. International ERS/ATS guidelines on definition, evaluation and treatment of severe asthma. EurRespir J. 2014;43(2):343. 4. 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Descritores: Gota, Artropatia, Cristais de Cálcio. Key words: Gout, Artropathy, Calcium Crystal. 24. Agbetile J, Bourne M, Fairs A, Hargadon B, Desai D, Broad C, et al. Effectiveness of voriconazole in the treatment of Aspergillusfumigatus-associated asthma (EVITA3 study). J Allergy ClinImmunol. 2014;134(1):33. As artropatias relacionadas a cristais são compostas principalmente pela Gota e artrites por cristais de cálcio – pirofosfato de cálcio e fosfato de cálcio básico. Essas condições representam uma importante causa de morbidade para os pacientes, pois são causas comuns de dor e limitação articular. O presente estudo visa rever os conceitos básicos e atuais dessas condições e ilustrar situações curiosas observadas e publicadas pelo Serviço de Reumatologia do Hospital Santa Izabel (HSI). 25. Denning DW, O’Driscoll BR, Powell G, Chew F, Atherton GT, Vyas A,et al. Randomized controlled trial of oral antifungal treatment for severe asthma with fungal sensitization: The Fungal Asthma Sensitization Trial (FAST) study.Am J RespirCrit Care Med. 2009;179(1):11. 1- Serviço de Pneumologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] ARTROPATIA POR GOTA Gota é uma doença clínica associada à hiperuricemia e causada pela deposição de cristais de urato monossódico dentro e ao redor dos tecidos articulares. Tipicamente, a doença progride de um período inicial prolongado de hiperuricemia assintomática, seguida de uma fase de episódios agudos e autolimitados de mono ou oligoartrite, até uma fase final poliartrite crônica, deformante, debilitante, associada à presença de tofos. A duração dessas fases varia entre os indivíduos, dependendo de múltiplos fatores endógenos e exógenos, mas principalmente dos níveis de hiperuricemia. A grande maioria do pacientes são homens entre a quarta e sexta década de vida. Eles frequentemente sofrem de obesidade e outras comorbidades como hipertensão arterial, doença renal crônica, doença cardiovascular ou síndrome metabólica. As mulheres representam 5% da população de pacientes com Gota, principalmente na pós-menopausa, devido à ação uricosúrica do estrógeno. As mulheres são mais propensas a desenvolverem doença avançada no início da apresentação, inclusive maior envolvimento dos membros superiores. Na Gota aguda intermitente, a dor pode alcançar seu ápice em 4 a 12 horas. Usualmente, o ataque é 2015|26 monoarticular e em metade dos casos atinge a primeira metatarsofalangeana. Outras articulações atingidas são médio pé, tornozelos, joelhos. Aproximadamente, após 5 a 8 episódios, articulações como dedos, punhos, cotovelos são afetadas. A pele sobre a região afetada torna-se vermelha, quente e extremamente dolorosa. Menos frequentemente, febre, tremores e astenia podem acompanhar o quadro de Gota, levando à confusão diagnóstica com artrite séptica. Fatores precipitantes da crise incluem cirurgia, dieta (aumento de ingestão de carne, frutos do mar, álcool), medicações (início de tratamento de hiperuricemia). A doença é marcada por crises de artrite aguda, transitórios, separados por períodos em que o paciente fica totalmente assintomático. Conforme os anos passam, as crises tornam-se mais duradouras e os períodos intercrises, mais curtos. Usualmente, esse estágio dura 10 anos ou mais (podendo variar de 3 a 20 anos) até a fase crônica sintomática de Gota avançada. Embora o tofo seja a mais característica lesão da artrite gotosa avançada, nem sempre ele está presente. Os locais mais comuns para sua localização são dedos, punhos, orelhas, joelhos, bursa do olecrano, pontos de pressão como a face posterior do antebraço. As crises podem recorrer sobrepostas ao quadro crônico doloroso. Nessa fase, o envolvimento poliarticular é mais frequente, podendo ser confundido com artrite reumatoide. Uma minoria de pacientes pode iniciar os sintomas da doença antes dos 25 anos de idade. Estes têm um curso clínico mais acelerado, possuem história familiar positiva e requerem um tratamento clínico mais agressivo. Pode ocorrer associação com defeitos enzimáticos na via das purinas, doenças de armazenamento de glicogênio, erros de transporte de urato no rim, assim como hemoglobinopatias e leucemias. 2015|27 Sousa, APD. Alguns aspectos práticos sobre artropatias por cristais: gotas, doença por pirofosfato de cálcio e fosfato básico de cálcio. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 27-31. O tratamento da Gota e hiperuricemia envolve 3 pilares: 1) tratamento anti-inflamatório da artrite gotosa aguda; 2) redução dos níveis de ácido úrico sérico; 3) tratamento das comorbidades. A típica resposta da Gota aguda ao uso de antiinflamatórios não-hormonais (AINEs), glicocorticoides ou colchicina é rápida e ocorre nos primeiros dias. Os AINHs são a primeira escolha. A colchicina pode ser utilizada e tem reconhecida eficácia de longa data, mas os efeitos colaterais, particularmente diarreia e dor abdominal, têm limitado o seu uso na Gota aguda. Porém, quando há disfunção renal significativa e AINES e colchicina não podem ser utilizados, os corticoides tornam-se a primeira opção terapêutica. O tratamento da hiperuricemia assintomática não tem indicação clara e consensual, sendo tema de controvérsia. No tratamento da Gota, o alvo do ácido úrico sérico é mantê-lo abaixo de 6 mg/dL, o que pode prevenir ou reverter as consequências dos depósitos de cristais. Embora medidas não-farmacológicas possam reduzir o risco de crise de Gota nos pacientes, a maioria deles requer uma terapia farmacológica associada à mudança dos hábitos de vida. A terapia farmacológica de primeira linha é o inibidor da atividade da xantina-oxidase, ou seja, inibidor da síntese de ácido úrico cujo clássico representante é o alopurinol. Deve ser iniciado fora do período da crise aguda e, uma vez em uso, não deve ser suspenso durante o ataque de Gota aguda. A dose inicial deve ser 100 mg por dia, devendo ser reajustada a cada 2 a 4 semanas, acompanhando-se os níveis de ácido úrico e possíveis efeitos colaterais. Geralmente, a dose suficiente para controle da doença é em torno de 400 mg por dia. Os efeitos colaterais principais são a precipitação de crise de gota, alterações da função hepática, febre, diarreia, citopenias, rash cutâneo e farmacodermia, como a síndrome de Stevens-Johnson. É importante lembrar que grande parte dos pacientes não tem resposta satisfatória à monoterapia com alopurinol devido a má-aderência, e não à ineficácia da medicação. Mais recentemente surgiu o febuxostate – um inibidor alternativo da xantina-oxidase, porém ainda não comercializado no Brasil, usado especialmente em pacientes com toxicidade ou refratários ao alopurinol, em monoterapia ou associados ao alopurinol1. Como alternativa, existe a benzobromarona, um uricosúrico – inibidor da reabsorção de ácido úrico no túbulo renal proximal. Os agentes uricosúricos em geral são utilizados em pacientes hipoexcretores de ácido úrico (80 a 90 % dos casos de Gota) e não devem ser usados em pacientes com urolitíase ou insuficiência renal. Em pacientes hipertensos e aqueles com dislipidemia, a losartana e o fenofibrato, respectivamente, mostraram propriedades uricosúricas modestas, contribuindo para a redução do ácido úrico sérico. Para pacientes com Gota tofácea grave e refratária, a pegloticase – uma uricase recombinante modificada – é uma medicação terapêutica biológica que deve ser considerada, porém o seu uso está frequentemente associado a reações infusionais e também não é disponível no Brasil2. ARTROPATIAS POR DEPÓSITOS DE CRISTAIS DE CÁLCIO As artrites por cristais de cálcio são causas comuns de artrites e periartrites, porém pouco reconhecidas. Podem ser secundárias à deposição de pirofosfato de cálcio (CPPD) ou fosfato básico de cálcio (BCP): esses dois subtipos de cristal são considerados separadamente, entretanto muitas vezes pode ocorrer a superposição destes na população atingida. DOENÇA DE DEPÓSITO DE PIROFOSFATO DE CÁLCIO Os cristais de CPP depositam-se mais frequentemente nos tecidos articulares, podendo associar-se a diferentes manifestações clínicas. A presença destes cristais é sugerida pela presença de condrocalcinose (ou calcificação de cartilagem) nas radiografias das articulações, revelando, por exemplo, uma fina linha de calcificação da fibrocartilagem do menisco do joelhos. Na maior parte das vezes, esses depósitos são assintomáticos, representando um achado incidental em radiografias. Quando sintomáticos, podem provocar um quadro de artrite aguda ou crônica ou serem associados a um quadro degenerativo de osteoartrite (OA), o que deve ser avaliado no contexto clínico do paciente. Destas, a mais comumente reconhecida é a forma aguda de mono ou oligoartrite inflamatória, frequentemente do joelho, a qual era antigamente chamada de pseudogota, devido à semelhança de apresentação com a Gota. Devido à resposta inflamatória intensa, esse quadro pode vir acompanhado de febre e alterações do estado mental em idosos. Quando está associada à OA, a qual também é um fator de risco para a doença, a CPPD atinge articulações incomuns no contexto de OA isolada: ombros, punhos, metacarpofalangeanas, tornozelos. O padrão de poliartrite inflamatória 2015|28 Sousa, APD. Alguns aspectos práticos sobre artropatias por cristais: gotas, doença por pirofosfato de cálcio e fosfato básico de cálcio. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 27-31. crônica na CPPD assemelha-se à artrite reumatoide (AR) e assim conhecida como a forma “pseudoAR”. A CPPD deve ser lembrada principalmente quando estamos diante de um idoso, população de maior risco, com monoartrite aguda, pois a CPPD idiopática é rara em indivíduos menores de 60 anos. Outras associações menos frequentes são as formas familiares de CPPD e doenças metabólicas, dentre elas hiperpatireoidismo, hemocromatose, hipomagneseia e hipofosfatasia. Embora o quadro clínico e epidemiologia positiva associados a estudos de imagem evidenciando condrocalcinose sejam altamente sugestivos de CPPD, o diagnóstico de certeza só pode ser realizado com a pesquisa do cristal no líquido sinovial, após punção intra-articular ou avaliação histopatológica em tecido biopsiado. O líquido sinovial é caracteristicamente hemorrágico e evidencia cristais romboides, com birrefringência positiva. Além das radiografias convencionais, a ultrassonografia pode demonstrar os depósitos hiperecóicos de cristais, sendo uma ferramenta adicional possível de ser efetuada à beira-leito, além de poder guiar a punção articular3. O tratamento da CPPD depende do tipo de manifestação clínica. Entretanto, as terapias utilizadas para CPPD são baseadas no tratamento de Gota aguda, ou seja, uso de AINHs e colchicina. DOENÇA DE DEPOSIÇÃO DE FOSFATO BÁSICO DE CÁLCIO Os principais cristais básicos de cálcio são hidroxiapatita, fosfato octacálcico e fosfato tricálcico. Eles se depositam em vários tecidos, incluindo tecidos músculo-esqueléticos: cartilagem, fluido sinovial e estruturas periarticulares, gerando diversos tipos de manifestações clínicas. Eles podem ser assintomáticos, como ocorre na maioria dos casos, terem um curso agudo ou evoluírem como dor crônica e limitação de movimento. A periartrite calcífica é ocasionada por depósitos de hidroxiapatita tipicamente no ombro, manifestando-se como um quadro agudo e limitante de tendinite e bursite. Ocorre principalmente em mulheres, de 30 a 40 anos, e pode envolver outros locais como o quadril, joelho, cotovelo, punho, tornozelo ou mais de um sítio simultaneamente. Os depósitos cálcicos são vistos como imagens densas e grosseiras em radiografias simples. A forma melhor caracterizada, porém não a mais comum, de doença intra-articular associada a depósito de BCP é a síndrome do ombro de Milwaukee. É uma síndrome caracterizada pela destruição de estruturas articulares e tendões do manguito rotador, acompanhada por volumosos derrames articulares. Metade dos pacientes podem ter cristais de CCP associados. O tratamento atual das doenças relacionadas a BCP difere pouco do tratamento da OA coexistente ou das tendinopatias. Entretanto, procedimentos específicos melhoram a evolução de pacientes com tendinite calcífica refratária, como terapia com ultrassom, terapia extracorpórea com ondas de choque, lavagem por punção com agulha. Na minoria dos casos, é necessário cirurgia para desbridamento e descompressão subacromial. Terapias promissoras para bloquear a formação dos cristais incluem magnésio, colchicina e componentes de fosfocitrato. SITUAÇÕES ESPECIAIS Condrocalcinose familiar ou hereditária: esta é uma forma muito menos comum de condrocalcinose. Deve ser suspeitada em casos de pacientes jovens, com história familiar positiva. As manifestações articulares podem ser agudas, através de quadros intermitentes de artrite, principalmente de joelhos ou punhos, ou crônicas, com formas semelhantes à AR. A prevalência de condrocalcinose pode chegar a 26% em parentes de primeiro grau de pacientes com condrocalcinose familiar. Estudos apontam para o gene ANKH como responsável pela doença. Esse gene codifica a proteína transmembrana que parece regular o transporte de pirofosfato inorgânico e postula-se que a perda da função desse gene levaria a elevados níveis de pirofosfato inorgânico extracelular e à deposição de cristais de pirofosfato de cálcio. A primeira descrição de condrocalcinose familiar no Brasil ocorreu no Serviço de Reumatologia do HSI, com dois membros apresentando a forma aguda intermitente e outro membro portador da forma poliarticular crônica4. A avaliação radiológica em nada difere daquela da condrocalcinose de outra origem (figura 1). Essa condição parece ser subdiagnosticada, devendo ser buscada ativamente em parentes de primeiro grau de pacientes com condrocalcinose interpretada como “idiopática”. 2015|29 Sousa, APD. Alguns aspectos práticos sobre artropatias por cristais: gotas, doença por pirofosfato de cálcio e fosfato básico de cálcio. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 27-31. Sousa, APD. Alguns aspectos práticos sobre artropatias por cristais: gotas, doença por pirofosfato de cálcio e fosfato básico de cálcio. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 27-31. Em 2014, foi publicado um caso de um homem de 59 anos, internado no HSI com história de poliartrite simétrica crônica e nódulos subcutâneos, que vinha sendo erroneamente tratado como AR e que posteriormente desenvolveu uma grave cervicobraquialgia secundária a depósito tofáceo na coluna cervical, confirmado em análise anatomopatológica. O diagnóstico correto e tratamento precoce poderiam ter prevenido complicações como esta6. Figura 1 - Depósito de material radiopaco ao nível dos meniscos do joelhos de um dos pacientes com calcinose articular familiar Condrocalcinose na “forma sistêmica”: como citado acima, alguns casos de CPPD podem ocorrer associados a sinais e sintomas sistêmicos, como febre, tremores, astenia, anorexia, taquicardia e leucocitose, podendo ser facilmente confundido com um quadro séptico. Identificamos e relatamos recentemente o caso de um paciente de 70 anos, internado no HSI com um quadro de poliartrite aguda febril, associado a taquicardia, queda do estado geral e leucocitose, posteriormente identificado como CPPD5. Esse paciente, além da calcinose observada em partes moles de diversas articulações, apresentava também alterações radiológicas sugestivas do “ombro de Milwaukee (figura 2). O uso de colchicina foi responsável por uma resposta clínica rápida e atualmente o paciente encontra-se totalmente assintomático. Assim, a CPPD deve ser lembrada como importante causa de poliartrite aguda em idosos e sua possível associação com febre e sinais de alarme. Gota mimetizando AR: embora classicamente a Gota seja clinicamente caracterizada por episódios de monoartrite, se não tratada precocemente, pode evoluir para poliartrite crônica, que pode eventualmente mimetizar AR e pode levar a um tratamento inadequado. O diagnóstico dessa condição se faz pelas alterações típicas observadas nas radiografias e pela ausência dos anticorpos anti-CCP e do fator reumatoide (figura 3). Figura 2 - Radiografia do ombro direito mostrando alterações estruturais degenerativas compatíveis com “ombro de Milwaukee” num paciente com a forma sistêmica de CPPD Gota levando a artropatia de Jaccoud: a artropatia de Jaccoud (AJ) é frequentemente observada em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, entretanto diversos relatos de caso têm mostrado associação entre AJ e Síndrome de Sjogren, dermatomiosite, esclerodermia, sarcoidose, infecção por HIV ou uma variação anatômica de indivíduos normais. A AJ é caracterizada por deformidades semelhantes àquelas vistas em AR, mas com um caráter “reversível”. Tais deformidades são resultado de lesão de partes moles, com frouxidão ligamentar, fibrose capsular, fraqueza muscular, sinovite e tenossinovite7. Recentemente foi relatado o primeiro caso de Gota poliarticular associado a deformidades típicas de AJ. O paciente apresentava história clínica compatível com Gota, além de febre e elevação de provas inflamatórias. O diagnóstico de Gota foi confirmado após biópsia de nódulo subcutâneo que mostrou-se compatível com tofo gotoso. O paciente apresentou melhora clínica após início de prednisona, colchicina e posterior introdução de alopurinol, embora as deformidades tenham persistido8. crystal-associated arthropathy mimicking a systemic inflammatory disease. Case reports in rheumatology. Submitted. 6. Nunes EA, Rosseti AG, Jr., Ribeiro DS, Santiago M. Gout initially mimicking rheumatoid arthritis and later cervical spine involvement. Case reports in rheumatology. 2014;2014:357826. 7. Santiago MB. Miscellaneous non-inflammatory musculoskeletal conditions. Jaccoud’s arthropathy. Best practice & research Clinical rheumatology. 2011;25(5):715-25. 8. Donato Alves T, Oliveira IS, Fadul LC, Santiago MB. Jaccoud’s Arthropathy in Gout: An Unusual Association. Case reports in rheumatology. 2014;2014:873189. 1- Serviço de Reumatologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] REFERÊNCIAS 1. Frampton JE. Febuxostat: A Review of Its Use in the Treatment of Hyperuricaemia in Patients with Gout. Drugs. 2015. 2. Reinders MK, Jansen TL. New advances in the treatment of gout: review of pegloticase. Therapeutics and clinical risk management. 2010;6:543-50. Figura 3 - Erosões grandes e bem definidas em matatarsofalangeanas em um paciente com Gota crônica que estava sendo erroneamente tratado como artrite reumatoide 3. Grassi W, Okano T, Filippucci E. Use of ultrasound for diagnosis and monitoring of outcomes in crystal arthropathies. Current opinion in rheumatology. 2015;27(2):147-55. 4. Santiago MG, L.; Lima, I.; Prado, L.; Moura, M. Condrocalcinose Articular Familiar. Rev. Bras. Reumatol. 2004;44(4):305-7. 5. Mota AM, C.; Ribeiro, D.; Santiago,M. Calcium 2015|30 2015|31 Rosário, MS et al. Síndrome de Sneddon associada à Endocardite de Libman-Sacks: relato de caso. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 32-34. Rosário, MS et al. Síndrome de Sneddon associada à Endocardite de Libman-Sacks: relato de caso. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 32-34. Relato de Caso – Neurologia Síndrome de Sneddon associada à Endocardite de Libman-Sacks: relato de caso Mateus Santana do Rosário1; Renan Carvalho Castello Branco1; Davidson França Pereira1; Daniel Santana Farias1; Pedro Antônio Pereira de Jesus1; Jamary Oliveira-Filho1 INTRODUÇÃO A primeira descrição de livedo reticular (LR) associado a manifestações cerebrovasculares foi em 1959, por Kimming(1). Em 1960, Champion e Rook descreveram um caso de diversas oclusões arteriais e LR(2). Sneddon, em 1965, descreveu 6 casos com a associação entre acidente vascular cerebral isquêmico (AVCi) e LR, mais detalhadamente, sendo a maioria dos casos ocorridos em mulheres em idade reprodutiva, alcunhando assim o nome da síndrome(3). A síndrome de Sneddon caracteriza-se pela associação entre LR e AVCi. O LR, que corresponde a uma alteração da pele secundária a distúrbios circulatórios, pode ocorrer juntamente ou precedendo o AVC em 55% dos casos, bem como logo após a ocorrência do mesmo(1,4,5). O quadro clínico neurovascular é semelhante a outros casos de AVCi, com instalação aguda de um défice neurológico focal como hemiparesia, hemi-hipoestesia ou hamianopsia. Crises epilépticas podem ocorrer na instalação. Uma história clínica minuciosa e exames complementares como anticorpos antifosfolípides; tomografia computadorizada de crânio (TCC), ressonância magnética (RM) e angiografia cerebral (AC) são a base do diagnóstico(1,6). Acredita-se que anticorpos antifosfolípides em níveis elevados sejam fatores importantes para a gênese desta doença, mas sua etiologia precisa ainda é desconhecida(1,4). APRESENTAÇÃO DO CASO JSF, 35 anos, sexo feminino, destra, procedente de Salvador. Apresentou-se na emergência com quadro de parestesia e paresia em membro superior esquerdo (MSE) e parestesia em hemiface esquerda há 24 horas. Há um ano, percebeu alteração de pele caracterizada como manchas roxas claras, distribuídas em membros superiores, inferiores e tronco. Houve quadro de dormência em face e MSE, porém sem fraqueza nesta época. Nos antecedentes ginecológicos e obstétricos referia perda fetal em sua 1ª gestação. Refere ter cursado com pré-eclâmpsia na 2ª gestação com antecipação do parto para 37 semanas. Não foram identificados fatores de risco para doenças cardiovasculares ou trombofilias. Ao exame físico, havia lesões arroxeadas de padrão irregular, entremeadas por pele sã em coxas, face extensora dos braços e região plantar próxima ao hálux, bilateralmente, caracterizadas como LR (Figura 1). Ao exame neurológico havia disartria e paresia facial do tipo central à esquerda, hipoestesia dolorosa e tátil em hemiface esquerda e em MSE. Notava-se pronação em MSE na manobra dos braços estendidos. RM de crânio demonstrava infarto cerebral agudo em lobo parietal direito, além de microangiopatia crônica difusa subcortical (Figura 2). No ecocardiograma transesofágico foram notadas em valva mitral espessamento discreto de ambas as cúspides e prolapso da cúspide anterior, além de pequenas imagens em face atrial de ambas as cúspides sugestivas de vegetações; septo atrial com fluxo transeptal sugestivo de forame oval patente (Figura 2). A velocidade de hemossedimentação foi de 120 mm/1 hora. Os anticorpos antifosfolípides anticardiolipina IgG e IgM foram negativos e o anticoagulante lúpico (ACL) foi positivo. FAN, fator reumatoide, AntiSSa, AntiSSb, CH50, C3, C4, ANCA, perfil tireoidiano e sorologias infecciosas resultaram negativas. Não houve febre no decorrer do internamento e, mesmo assim, devido à presença de trombos em valva mitral, foram colhidas 8 hemoculturas, todas resultando negativas. Houve melhora importante da disartria e da paresia facial, entretanto sem resolução do quadro cutâneo. 2015|32 A paciente fora liberada em uso de anticoagulação com warfarina, orientada a permanecer com RNI entre 2,5-3,5 e acompanhamento ambulatorial com neurologista e cardiologista. Teve alta sem comprometimento funcional importante. DISCUSSÃO A síndrome de Sneddon é considerada uma síndrome rara, com uma estimativa de incidência anual de quatro casos em um milhão. A população caracteristicamente acometida são mulheres entre 20 e 42 anos, entretanto já foram descritos casos em homens e em mulheres mais jovens1,6–8. Esta síndrome é fortemente associada à presença de anticorpos antifosfolípides (AAF) e pode ser classificada como primária, síndrome de Sneddon associada ao AAF ou lúpus eritematoso sistêmico (LES), autoimune, ou doenças LES-like com forma trombótica1,4. O LR resulta de trombose de arteríolas subcutâneas e da dilatação capilar compensatória, que causa estagnação do sangue, o que, por sua vez, causa descoloração da mancha. A organização vascular da pele foi descrita em 1894 por Unna. Este modelo consegue explicar o padrão reticular nesta manifestação cutânea. As manifestações neurológicas da síndrome de Sneddon podem variar desde sintomas focais, como hemiparesia, afasia, disartria, alterações sensitivas, até sintomas cognitivos, como demência e distúrbios psiquiátricos. Há também uma associação com enxaqueca descrita em diversos relatos1,7. Foi optado por manutenção de terapia anticoagulante com warfarina, objetivando RNI entre 2,5-3,5, devido à positividade para o anticoagulante lúpico e associação com AVCi, a despeito dos sintomas leves. A escolha da terapia ainda é baseada em opinião de especialistas e séries controladas de casos, devido à raridade da doença. Muitos autores advogam que a melhor escolha para pacientes com positividade para AAF positivos seja manutenção de anticoagulação com alta dose de warfarina (RNI >3), incluindo a força-tarefa do 13º congresso internacional em anticorpos antifosfolípides (2011)1,10. Entretanto, a análise de cortes de grandes centros tende a mostrar que a terapia antitrombótica (AAS ou clopidogrel) é semelhante à terapia anticoagulante e oferece menor risco de complicações hemorrágicas4. CONCLUSÃO Relatado, portanto, um caso raro de AVCI em paciente jovem, associado à LR, além de positividade para ACL e endocardite de Libman-Sacks, caracterizando a síndrome de Sneddon. Tal entidade é rara, porém denota um bom prognóstico quando reconhecido precocemente e iniciada terapia antitrombótica adequada. FIGURAS Manifestações cardíacas como espessamento de valvas e vegetações assépticas (endocardite de Libman-Sacks) são encontradas frequentemente associadas à síndrome de Sneddon (15-65%). Outras manifestações como alterações miocárdicas segmentares e associadas à hipertensão arterial também podem ser encontradas1,4,5,8. A paciente em questão apresentava sintomas neurológicos leves e não incapacitantes. Fora acometida por AVCi cortical parietal demonstrada por RNM de crânio (Figura 2). Tal característica foi descrita inicialmente por Sneddon e as séries subsequentes mostram a repetição deste padrão prognóstico1,3. Também foram encontradas outras características típicas da síndrome, como oLR (Figura 1), positividade para o ACL e a presença de endocardite asséptica (Libman-Sacks) (Figura 2). Figura 1 - Livedo reticular em membros superiores e inferiores 2015|33 Rosário, MS et al. Síndrome de Sneddon associada à Endocardite de Libman-Sacks: relato de caso. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 32-34. Barreto, ERM et al. Herpes Zóster na infância. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 35-37 Relato de Caso – Dermatologia Herpes Zóster na infância Relationship with Antiphospholipid Syndrome and Systemic Lupus Erythematosus. J Autoimmun. 2000;15:139– 43. 8. Faustino A, Paiva L, Morgadinho A, Trigo E, Botelho A, Costa M, et al. Síndroma antifosfolipídica associada à síndroma de Sneddon com envolvimento cardíaco: um diagnóstico desafiante. Port J Cardiol. 2014;33(2):115.e1–115.e7. 9. Benaye J El, Hsaini Y, Zoobo T, Ghfir M, Bourazza A, Sedrati O. Le syndrome de Sneddon. Presse Med [Internet]. Elsevier Masson SAS; 2013;42(2):138–44. 10. Ruiz-Irastorza G, Cuadrado MJ, Ruiz-Arruza I, Brey R, Crowther M, Derksen R, et al. Evidence-based recommendations for the prevention and long-term management of thrombosis in antiphospholipid antibody-positive patients: report of a task force at the 13th International Congress on antiphospholipid antibodies. Lupus [Internet]. 2011 Feb [cited 2015 Jan 22];20(2):206–18. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21303837 Figura 2 - RNM de crânio - A. Sequência FLAIR e B. Sequência DWI mostrando infarto recente em região cortical parietal direita. C. Pequenas vegetações em cúspides de valva mitral no ECOTE 1- Serviço de Neurologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] Enio Ribeiro Maynard Barreto1, Clarissa Félix Almeida1, Itana Cirino Araujo Oliveira dos Santos1, Clarissa Iole Souza Guia de Britto1, Jussamara Brito Santos1 INTRODUÇÃO Herpes zóster ocorre pela reativação da infecção primária pelo vírus varicela-zóster, que permanece latente nos gânglios paravertebrais.4 Caracteriza-se por um exantema vesicular distribuído segundo o dermátomo sensorial afetado.7,9 Rara na população pediátrica, é mais comum em crianças imunossuprimidas.1-4, 7,9 Está relacionada à imaturidade da imunidade celular nessa faixa etária.2 CASO CLÍNICO FBSO, masculino, 18 meses, apresentou, há 04 dias da admissão, bolha dolorosa na paroníquia do 1º quirodáctilo esquerdo, dias após história de trauma local que lesou a unha. A lesão sofreu extensão progressiva para a mão esquerda, com dor importante no local. Procurou, então, a unidade de emergência do Hospital Santa Izabel, no 4º dia de evolução. REFERÊNCIAS 1. Wu S, Xu Z, Liang H. Sneddon ’ s syndrome : a comprehensive review of the literature. Orphanet J Rare Dis. 2014;9(215):1–7. 2. CHAMPION, R.H. ROOK A. Livedo Reticularis. Proc R Soc Med. 1960;53(1941):961–3. Paciente nascido a termo, de parto normal, desenvolvimento neuropsicomotor normal desde o nascimento. Previamente hígido, sem doenças prévias. Curvas de peso, estatura e perímetro cefálico dentro da faixa da normalidade. Cartão vacinal completo. 3. Sneddon IB. Cerebro-vascular lesions and livedo reticularis. Br J Dermatol. 1965;77:180–5. 4. Bottin L, Francès C, De Zutture D, Boelle P-Y, Muresan I, Alamowitch S. Strokes in Snnedon Syndrome Without Antiphospholipid Antibodies. Ann Neurol. 2015;(Jan 27):Epub Ahead of Print. tigação diagnóstica e iniciada antibioticoterapia com oxacilina. Manteve febre baixa intermitente (temperatura máxima: 38,5ºC) e, após 48 horas, evoluiu com remissão da febre, porém apresentava piora das lesões, com progressão das mesmas até o ombro esquerdo, o que levou à substituição da oxacilina por teicoplanina. Neste momento, foi solicitada interconsulta com a dermatologia, que constatou, durante o exame físico, presença de vesículas tensas agrupadas, que coalesciam formando bolhas, sobre base eritematosa. As lesões iam da mão até o ombro esquerdo do paciente e havia presença de crostas nas lesões no ombro. Quando questionada sobre história de varicela, a genitora negou que a criança tenha tido a doença ou contato com doentes, mas referiu que ela mesma contraíu varicela durante o quarto mês de gestação. Foi feito, então, diagnóstico de herpes zóster e instituída terapia antiviral endovenosa com aciclovir, além de compressas locais com permanganato de potássio 1:40.000, havendo cura das lesões em poucos dias. Na admissão (14/08/2014), o paciente encontrava-se em bom estado geral, apresentando-se choroso e febril (38ºC), com extremidades bem perfundidas e presença de edema, eritema e bolhas na mão esquerda, com dor importante no local. 5. Duval A, Pouchot J. Livedo : de la physiopathologie au diagnostic Livedo : From pathophysiology to diagnosis. La Rev médecine interne. 2008;29:380–92. Os exames da admissão mostravam leucograma de 7.330 (bastões:0, segmentados:54,1 e linfócitos:33,7); VHS: 42; PCR: 0,09; hemocultura negativa, cultura de secreção de ferida negativa. 6. Dutra LA, Braga-neto P, Graziani O, Barsottini P. Síndrome de Sneddon : relato de caso e revisão sobre a relação com a síndrome do anticorpo antifosfolipídio antiphospholipid syndrome. Einstein. 2012;10(11):230–2. A suspeita diagnóstica foi de piodermite secundária à lesão na unha ou dermatite herpetiforme com infecção secundária. O paciente foi internado para inves- 7. Piette JC. The Mystery of Sneddon Syndrome : 2015|34 Figura 1 - Vesículas tensas agrupadas que coalescem formando bolhas, sobre base eritematosa. 2015|35 Barreto, ERM et al. Herpes Zóster na infância. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 35-37 A hipótese da patogênese da síndrome da varicela congênita é que ocorra devido ao herpes zóster intra-útero e não pela infecção fetal primária pela varicela. O curto período de latência entre a infecção fetal primária e a reativação em herpes zóster deve-se, provavelmente, à falta ou imaturidade da imunidade celular no primeiro e segundo trimestres. Evidências disso seriam as lesões de pele, que mostram uma peculiar distribuição por dermátomo, similar ao herpes zóster, deficiências segmentares do sistema músculo esquelético e a disfunção segmentar do sistema nervoso autônomo e/ou somático.5 Na infância, a doença é geralmente autolimitada, com apresentação clínica similar à do adulto e tendência a ser mais suave. Dor no dermátomo atingido não é frequente como no adulto. Neuralgia pós-herpética não ocorre, enquanto no adulto está presente em 8-15% e seu risco aumenta com a idade.1,9 Os dermátomos mais afetados na criança vão de T1 a L2 e o ramo V1 do nervo trigêmeo.6 Complicações de herpes zóster em pacientes sem doença de base podem incluir meningite asséptica, paralisia facial e disseminação cutânea.1 Figura 2 - Evolução das lesões durante o tratamento com aciclovir, muitas já apresentando crostas. As lesões iam da mão até o ombro esquerdo do paciente, em regiões de pele que correspondem aos dermátomos C6 e C7. DISCUSSÃO A ocorrência de herpes zóster é rara na infância, sendo mais comum em crianças imunossuprimidas.1-4, 7,9 Contudo, mesmo em crianças imunocompetentes, a imunidade celular específica diminuída pode ter um importante papel no mecanismo de reativação viral. 2 A primoinfeccção pelo vírus varicela zóster intraútero ou antes do primeiro ano de vida é importante fator de risco para que essa afecção ocorra na faixa etária pediátrica.1,8 A doença pode manifestar-se na infância após varicela clássica ou subclínica, após vacina para varicela (14:100.000) ou após primoinfecção pelo vírus varicela zóster intra-útero, como foi o caso do paciente relatado. Quanto mais cedo a primoinfecção, menor o intervalo de tempo para o desenvolvimento do herpes zóster.7 Não há consenso sobre terapia antiviral, geralmente não necessária para herpes zóster não complicada.1 O tratamento reduz a formação de novas vesículas e a duração da doença. Aciclovir é a droga de escolha. O impacto clínico do tratamento com aciclovir está diretamente relacionado ao seu uso precoce.10 CONCLUSÃO Herpes zóster na infância é rara, principalmente em paciente imunocompetentes, mas pode ocorrer mesmo em crianças que nunca apresentaram manifestação clínica de varicela, surgindo após varicela subclínica, varicela intra-útero, como no caso supracitado, ou em indivíduos que foram vacinados contra a varicela. A história de trauma que os familiares relataram não tem qualquer relação com a doença e atuou inicialmente como fator que confundiu o diagnóstico. Não há consenso sobre terapia antiviral, que geralmente não é necessária para casos não complicados. Barreto, ERM et al. Herpes Zóster na infância. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 35-37 G. E., Revisiting Childhood Herpes Zoster, Pediatric Dermatology 2004; 21: 18-23. 2. Terada K, Tanaka H, Kawano S, Kataoka N. Specific cellular immunity in immunocompetent children with herpes zoster. Acta Paediatr 1998;87:692–694. 3. Ganga Devi, N. P., Rathinam, S. N., Ramachandran, R., Swaminathan, S., Recurrent Herpes Zoster in Early Childhood, Indian Journal of Pediatrics 2007; 74: 774-776. 4. Leung A.K., Robson W.L., Leong A.G., Herpes zoster in childhood, J. Pediatr Health Care 2006; 20: 300–303. 5. Tan MP, KorenG,Chickenpox in pregnancy: revisited, ReprodToxicol. 2006; 21:410-420. 6. Jumaan A. O., Yu O., Jackson L.A., et al., Incidence of herpes zoster, before and after varicella-vaccination-associated decreases in the incidence of varicella, J Infect Dis 2005; 191: 2002–2007. 7. Feder HM Jr, Hoss DM, Herpes zoster in otherwise healthy children,Pediatr Infect Dis J. 2004 May;23(5):451-7; quiz 458-60. 8. Baba K, Yabuuchi H, Takahashi M, Ogra PL. Increased incidence of herpes zoster in normal children infected with varicella zoster virus during infancy: community-based follow-up study. J Pediatr 1986;108:372– 377. 9. Terada K, Kawano S, Yoshihiro K, Morita T. Characteristics of herpes zoster in otherwise normal children. PediatrInfectDis J 1993;12:960–961. 10. Arvin AM, Antiviral therapy for varicella and herpes zoster, SeminPediatr Infect Dis. 2002 Jan;13(1):12-21. 1- Serviço de Dermatologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] REFERÊNCIAS 1. Nikkels, A. F., NazliNikkels-Tassoudji, Piérard, 2015|36 2015|37 Moreira, MM et al. Paraganglioma não-secretor e metastático do retoperitônio. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 38. Relato de Caso – Oncologia Ferreira, LSM et al. Tratamento cirúrgico do câncer colorretal: série histórica de três anos de um serviço em Salvador, Bahia. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 39-40. Resumo de Artigo – Coloproctologia Paraganglioma não-secretor e metastático do retroperitônio Tratamento cirúrgico do câncer colorretal: série histórica de três anos de um serviço em Salvador, Bahia Melba Moura Moreira1, Adriano Teixeira1, Felipe Dantas1 Luciano Santana de Miranda Ferreira1, Carlos Ramon Silveira Mendes1, Ricardo Aguiar Sapucaia1, Meyline de Andrade Lima1 Artigo Original: Mendes, CRS2; Ferreira, LSM; Sapucaia, RS. Tratamento cirúrgico do câncer colorretal: série histórica de três anos de um serviço em Salvador, Bahia, Rev. Bras. Coloproc, Out/Dez, 2010 INTRODUÇÃO Paraganglioma é um tumor raro de células cromafins, derivado de células neuroectodérmicas do sistema nervoso autônomo. Alguns podem secretar catecolaminas, gerando sintomas como hipertensão ou cefaleia, denominados tumores secretores. Os tumores não secretores são os mais raros. Descrevemos o caso de um paciente com diagnóstico de paraganglioma retroperitoneal não secretor e metastático. DISCUSSÃO RESUMO DO ARTIGO A caracterização do paraganglioma em maligno ou benigno não se dá através de características patológicas, mas na presença ou não de metástases à distância ou recorrência local após ressecção completa. Normalmente apresenta crescimento lento ao longo de meses. Dados observacionais sugerem que quimioterapia pode paliar sintomas, mas seu benefício na sobrevida global é incerto. REFERÊNCIAS RELATO DE CASO G.S.S., masculino, 53 anos, com história de lombalgia há dois meses da data da primeira consulta, com irradiação para membros inferiores e redução da força muscular que culminou em restrição total ao leito. A ressonância de coluna evidenciou múltiplas lesões metastáticas em coluna torácica, lombar e sacral, com compressão medular em L3. Tomografias de tórax e abdome evidenciaram formação expansiva (17,0 X 13,0 X 12,0 cm) no hemiabdome esquerdo, com predominância em retroperitôneo, além de lesões osteoblásticas em corpos vertebrais e esterno. O paciente foi submetido à descompressão medular. Biópsia e imuno-histoquímica: Ki-67(20%), S100 (focal), positividade para cromogranina e sinaptofisina, compatíveis com paraganglioma. Houve recuperação da força muscular, passando a deambular sem auxílio. Realizou 06 ciclos de quimioterapia com esquema CVD (Ciclofosfamida, Vincristina e Dacarbazina), havendo discreta redução da massa abdominal; manteve-se assintomático, com doença estável durante alguns meses, porém o paciente faleceu após 18 meses desde o diagnóstico por infecção. 1. Babaoruri R, Delmas J. Management of a retroperitoneal paraganglioma. Rev. Med. Interne 2011. May;32(5) 2. Brankovic B,Radisavljevic M. Nonfunctional retroperitoneal paraganglioma presenting as acute upper gastrointestinal hemorrage. Hepatogastroenterology. 2010;57(98): 288-91. 3. Osaka K, Yokonishi T. A case of giant retroperitoneal paraganglioma . A case of giant retroperitoneal paraganglioma. Review- Japanese. 2010; 56(7):377-8 4. Wen J, Lihz A. A decade of clinical experience with extra adrenal paragangliomas of retroperitoneum: report of 67 cases and a literature review. Urol. Ann. 2010. Jan; 2(1):12-6. 1 - Serviço de Oncologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] O câncer colorretal é uma questão de saúde pública, sendo a quarta neoplasia maligna mais incidente em nosso meio, com mortalidade em números absolutos de 32.600 casos em 2014, sendo 15.070 homens e 17.530 mulheres (2014 - INCA). Devido à carência de dados regionais, torna-se difícil seu adequado conhecimento local, bem como propor políticas preventivas mais eficazes. O tipo histológico mais frequente foi o adenocarcinoma moderadamente diferenciado, com predomínio de tumores no estádio III. Foi identificado uma média de 19 linfonodos por peça pelo patologista. Estadiamento anatomopatológico 40,4% 37,3% O objetivo deste estudo foi apresentar a casuística do nosso serviço e analisá-los sob a luz de demais serviços de referência. Foram avaliados, retrospectivamente, no banco de dados da equipe, os casos no período de junho de 2006 a junho de 2009, com os seguintes resultados: De um total de 67 casos, observou-se uma maior incidência no sexo feminino (53,7%; n=36). A média de idade foi de 57 anos, sendo que 19,7% dos pacientes tinham menos de 40 anos. 10-20 21-30 1,4% 4,4% 0% Estádio I Estádio II Estádio III Estádio IV 14,9% 31-40 41-50 COMENTÁRIOS 13,4% 19,4% 51-60 28,3% 71-80 81-90 20,9% Uma observação muito importante foi a determinação do antígeno carcinoembrionário (CEA) na fase de estadiamento, com a maioria da população apresentando valores menores que 3, com utilidade na avaliação prognóstica e sem valor para diagnóstico. Distribuição por faixa etária 61-70 2015|38 A localização mais comum foi o retossigmoide, seguido pelo cólon esquerdo, reto baixo e cólon direito, com 3% dos casos apresentando neoplasia sincrônica. 14,9% 2,9% Os achados na nossa casuística são compatíveis com os dados publicados de demais serviços no Brasil. O câncer colorretal é tratável na maioria dos casos e curável quando, no momento do diagnóstico, não há doença metastática, porém a observação de uma elevada incidência de casos avançados no momento do 2015|39 Ferreira, LSM et al. Tratamento cirúrgico do câncer colorretal: série histórica de três anos de um serviço em Salvador, Bahia. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 39-40. Matos, MA. Avaliação de cinco casos de condromalácia patelar bilateral tratados com fisioterapia convencional e colágeno tipo II, não desnaturado. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 41-43. Resumo de Artigo – Ortopedia Avaliação de cinco casos de condromalácia patelar bilateral tratados com fisioterapia convencional e colágeno tipo II, não desnaturado. diagnóstico corrobora a necessidade de implementar de modo mais contundente uma política de prevenção, visto que a maioria dos casos se origina em pólipos adenomatosos, lesões facilmente diagnosticadas pela colonoscopia e que podem ser retirados por polipectomia durante este exame. Marcos Almeida Matos 1 1- Serviço de Coloproctologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] RESUMO O objetivo deste estudo é apresentar os resultados de cinco casos de um protocolo para tratamento conservador da condromalácia patelar do serviço de ortopedia do Hospital Santa Izabel. Cinco casos de condromalácia patelar em adolescentes tratados exclusivamente com fisioterapia e colágeno tipo II, não desnaturado, são apresentados e analisados. Todos os pacientes apresentaram-se com queixas de dor na articulação dos joelhos bilateralmente, especialmente ao agachar, subir escadas ou andar de bicicleta. Os pacientes foram encaminhados para tratamento fisioterapêutico convencional e tratamento farmacológico padrão que incluiu unicamente o colágeno tipo II em doses de 40mg diárias por período de 90 dias. Os resultados evidenciaram que houve melhora da média da EAD de 6,5 no momento pré-tratamento para 0,7, no momento pós-tratamento. Os pacientes também referiram melhora ou supressão da dor quando sentados por muito tempo, ao subir e descer escadas e também em atividades de lazer. Nossos achados ilustram a utilidade clínica e a eficácia do protocolo nesta pequena amostra, corroborando com inúmeros artigos, incluindo ensaios clínicos, que evidenciam os bons resultados do colágeno tipo II, não desnaturado, quando comparado com outros medicamentos. PALAVRAS-CHAVE: condromalácia patelar; tratamento; cartilagem articular; colágeno. KEY WORDS: chondromalacia patellar, treatment, articular cartilage, collagen. INTRODUÇÃO A condromalácia patelar ou artropatia degenerativa fêmoro-patelar é uma condição degenerativa crônica 2015|40 da articulação entre a patela e os côndilos femorais. Esta doença apresenta características biomecânicas e inflamatórias1,2. Entre as alterações que podem interferir na biomecânica, encontramos a forma e altura da patela, a forma da tróclea femoral e os distúrbios de desalinhamento do joelho. Acredita-se que a alteração biomecânica leva à sobrecarga, originando desequilíbrio entre formação e degradação do colágeno tipo II, que reveste as superfícies articulares1,2. O processo inflamatório, portanto, seria secundário ao estresse mecânico e ocorre por causa da secreção de citocinas inflamatórias e enzimas proteolíticas necessárias ao catabolismo do colágeno tipo II3. Atualmente, uma nova hipótese que vem ganhando maior aceitação para esclarecer a degradação do colágeno tipo II nas doenças articulares degenerativas propõe que este desequilíbrio entre formação e degradação está diretamente ligado a uma reação autoimune contra o colágeno articular3. A sobrecarga mecânica levaria à maior degradação do colágeno tipo II e a quantidade aumentada desta proteína no espaço articular, com a intermediação de linfócitos e citocinas, causaria um desequilíbrio da imunidade, levando à produção de uma resposta autoimune ao próprio colágeno tipo II. A partir da reação autoimune, a degradação do colágeno poderia ser perpetuada e amplificada3. A partir destes novos achados, o tratamento das doenças degenerativas articulares, dentre elas a condromalácia patelar, passou a ser realizado com fisioterapia convencional, associada ao acréscimo de novas medicações que poderiam inibir a degradação do colágeno, tais como a condroitina e a glicosamina4,5. O colágeno tipo II, não desnaturado, também entrou neste cenário, com a proposta de induzir a tolerância oral e suprimir a resposta autoimune5,6,7. Essas drogas mais recentes também têm se mostrado como promis- 2015|41 Matos, MA. Avaliação de cinco casos de condromalácia patelar bilateral tratados com fisioterapia convencional e colágeno tipo II, não desnaturado. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 41-43. soras no tratamento das lesões da cartilagem articular. A despeito de múltiplos estudos e ensaios clínicos confirmarem a efetividade do uso destas drogas, ainda continuam necessários mais estudos clínicos em cenários reais que consolidem o papel destes medicamentos no dia a dia dos ortopedistas6,7. O objetivo deste estudo é apresentar e discutir os resultados de cinco casos de pacientes que utilizaram um protocolo para tratamento conservador da condromalácia patelar do serviço de ortopedia do Hospital Santa Izabel, que inclui tratamento fisioterapêutico associado à utilização do colágeno tipo II, não desnaturado. RELATO DOS CASOS Cinco casos de condromalácia patelar em adolescentes tratados exclusivamente com fisioterapia e colágeno tipo II, não desnaturado, são apresentados e analisados em busca de evidências de melhora clínica com a utilização deste medicamento. Os cinco pacientes encontravam-se na faixa de 15 a 20 anos de idade e somente um era do sexo masculino. Nenhum paciente era obeso e também ninguém tinha prática esportiva de alta performance. Todos os pacientes apresentaram-se com queixas de dor na articulação dos joelhos bilateralmente, especialmente ao agachar, subir escadas ou andar de bicicleta. Não havia queixa de crépitos, ressaltos, estalidos ou instabilidade. A dor era referida como anterior, mas apresentava também repercussões na fossa poplítea. Quando avaliados pela escala analógica de dor (EAD), dois pacientes referiram dor nível oito em ambos os joelhos, um referiu nível cinco no joelho esquerdo e seis no direito, outro referiu EAD quatro no esquerdo e sete no direito e, finalmente, um paciente referiu EAD sete em ambos os joelhos. O paciente masculino apresentava discreto varo enquanto que as quatros pacientes do sexo feminino apresentavam leve valgo: não havia ângulos femorotibiais maiores que cinco graus, tanto de varo como de valgo. O ângulo Q (medido clinicamente) variou de 12 a 20 graus2. Não havia sinais de instabilidade patelar ou teste de apreensão positivo em nenhum dos cinco pacientes. Todos os pacientes apresentaram teste de Zohlen positivo bilateralmente. Na avaliação radiográfica, quatro apresentavam patela tipo II e um apresentava o tipo III2. Os exames laboratoriais encontravam-se dentro do padrão de normalidade em todos os aspectos, inclusive no que se refere às provas inflamatórias, tais como VHS, PCR, fator reumatoide, fator antinúcleo. LDH e alfaglicoproteínas. Não havia sinais de patologias associadas de qualquer ordem. Os pacientes foram, então, considerados portadores de condromalácia patelar secundária a fatores mecânicos. Não foram realizados exames de ressonância magnética, tomografia ou artroscopia, sendo o diagnóstico baseado inteiramente no quadro clínico, exames laboratoriais e na radiografia simples. Após o diagnóstico, todos os pacientes foram encaminhados para tratamento fisioterapêutico, com orientação de realizar alongamento de musculatura ísquiotibial e reforço do músculo vasto medial oblíquo; também foram realizadas sessões de diatermia (crio e termoterapia) associadas à eletroterapia4. As sessões de fisioterapia foram realizadas por período de três meses na frequência de três vezes por semana. Além do tratamento fisioterapêutico, os pacientes também iniciaram tratamento farmacológico com droga única, sendo desaconselhado o uso de anti-inflamatórios não esteroidais e aconselhados tomarem cetorolaco, caso apresentassem episódios de dores importantes durante o tratamento, caracterizados por EAD maior que sete. O regime de tratamento farmacológico padrão incluiu unicamente o colágeno tipo II em doses de 40mg diárias, por período de 90 dias6,7. O tratamento descrito acima já é universalmente padronizado e aceito por muitos serviços clínicos de ortopedia, não caracterizando tratamento experimental ou ensaio clínico aberto. Trata-se do registro científico dos resultados de cinco casos para corroborar com a hipótese da eficiência terapêutica deste protocolo aplicado no serviço de ortopedia do Hospital Santa Izabel. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após 90 dias de tratamento, os pacientes foram reavaliados. Todos os pacientes realizaram integralmente o tratamento proposto, sem necessidade de interrupções, e também todos compareceram às revisões periódicas de 30 em 30 dias. Não houve relato de efeitos colaterais e, portanto, não houve impedimento à continuidade do tratamento. Os resultados evidenciaram que nenhum paciente teve necessidade de utilização de outra medicação para alívio da dor. Também os exames laboratoriais de rotina, incluindo as provas inflamatórias mostraram-se dentro dos limites da normalidade. 2015|42 Matos, MA. Avaliação de cinco casos de condromalácia patelar bilateral tratados com fisioterapia convencional e colágeno tipo II, não desnaturado. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 41-43. Três pacientes referiram melhora total (EAD igual a zero) para dor espontânea nos joelhos e dois outros apresentaram, respectivamente, EAD de nível um em ambos os joelhos (um paciente), de nível dois no direito e três no esquerdo (um paciente). Esses dados evidenciam que houve melhora da média da EAD de 6,5 no momento pré-tratamento para 0,7 no momento pós-tratamento. Os pacientes também referiram melhora ou supressão da dor quando sentados por muito tempo, ao subir e descer escadas e também em atividades de lazer. No entanto, todos ainda apresentaram teste de Zohlen positivo para dor femoropatelar. Os resultados permitem inferir que o protocolo de tratamento utilizado é bem tolerado pelos pacientes durante todo o período. Houve segurança e não se registrou problemas ou efeitos colaterais importantes. A fisioterapia associada ao uso do colágeno tipo II, não desnaturado, mostrou-se eficiente no controle da dor dos pacientes e aparentemente também na melhora das suas atividades. Outros autores também estudaram a utilização do colágeno tipo II, não desnaturado, para tratamento de doenças degenerativas crônicas, onde a degradação do colágeno tipo II da cartilagem articular apresenta papel patológico importante à semelhança do que ocorre na condromalácia patelar6,7. A hipótese fundamental apresentada por todos esses estudos é que o colágeno tipo II, não desnaturado, administrado por via oral apresenta a capacidade de estimular a tolerância oral, ao colágeno da cartilagem articular e assim suprimir parcialmente a resposta autoimune que ocorre na articulação5. Desta forma, o processo inflamatório, a ação de citocinas e de enzimas proteolíticas apresentariam diminuição com consequente melhora clínica do paciente5,6,7. Este relato, entretanto, apresenta inúmeras limitações, que impedem a extrapolação dos resultados para a população em geral. Em primeiro lugar, trata-se de estudo de cinco casos, sendo insuficiente para inferências clínicas com poder estatísticas. Em segundo lugar, embora já seja um protocolo em uso em muitos serviços de ortopedia, resultados mais sólidos só poderiam advir de outros modelos de estudo, tais como os ensaios clínicos controlados. Nossos achados, entretanto, ilustram a utilidade clínica e a eficácia do protocolo nesta pequena amostra, corroborando com inúmeros artigos, incluindo ensaios clínicos, que evidenciam os bons resultados do colá- geno tipo II, não desnaturado, quando comparado com outros medicamentos também utilizados na osteoartrite e na degeneração da cartilagem articular, tais como a condroitina, os anti-inflamatórios, a glicosamina, os corticoides etc5,6,7. Desta forma, acreditamos que mais estudos e com desenhos de pesquisa mais adequados possam consolidar ainda mais o protocolo de tratamento apresentado. REFERÊNCIAS 1. Pompeo KD, Mello MO, Vaz MA. Inibição muscular dos extensores do joelho em sujeitos acometidos por condromalácia patelar e osteoartrite do joelho – um estudo de revisão sistemática. Fisioter. Pesq. 2012;19(2):185-90. 2. Melo WAJ, Penteado PCF, Brito WE, Stump X. Joelho do adulto. In: Ortopedia e Traumatologia. Hebert S e cols. Editora Artmed, 4ᵃ edição, Porto Alegre, 2009. 3. Trentham DE, Townes AS, Kang AS. Autoimmunity to type II collagen: an experimental model of arthritis. J Exp Med 1977; 146:857 – 868. 4. Monnerat E, Nunes-Júnior PC, Fontenele G, Pereira JS. Physiotherapeutic approach in patients with chondromalacia patellae. Fisioterapia Ser 2010; 5:57-60. 5. Cazzola M, Antivalle M, Sarzi-Puttini P, Dell’Acqua D, Panni B,Caruso I: Oral type II collagen in the treatment of rheumatoid arthritis. A six-month double blind placebo-controlled study. Clin Exp Rheumatol 2000, 18:571-57 6. Meyer O: Oral immunomodulation therapy in rheumatoid arthritis. Joint Bone Spine 2000, 67:384-392. 7. Bagchi D, Misner B, Bagchi M, Kothari SC, Downs BW, Fafard RD, Preuss HG. Effects of orally administered undenatured type II collagen against arthritic inflammatory diseases: a mechanistic exploration. Int J Clin Pharmacol Res. 2002;22(3-4):101-10. 1- Serviço de ortopedia do Hospital Santa Izabel E-mail: [email protected] 2015|43 Santos, FO. Insuficiência renal aguda após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea – incidência, fatores de risco e mortalidade. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 44-46. Santos, FO. Insuficiência renal aguda após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea – incidência, fatores de risco e mortalidade. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 44-46. Resumo de Artigo – Nefrologia Insuficiência renal aguda após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea – incidência, fatores de risco e mortalidade. Fernando Oliveira Santos1 Artigo original: Insuficiência renal aguda após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea – incidência, fatores de risco e mortalidade. Arq. Bras. Cardiol. vol. 83 no.2, São Paulo, Aug. 2004. 145-49. Fernando Oliveira Santos; Marco Antonio Silveira; Roberto Barreto Maia; Marcelo Dantas Cerqueira Monteiro; Reinaldo Martinelli. RESUMO OBJETIVO: identificar a incidência, fatores de risco e mortalidade de insuficiência renal aguda (IRA) em pacientes submetidos à cirurgia para revascularização miocárdica com circulação extracorpórea. MÉTODOS: estudados prospectivamente todos os pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica e as variáveis clínicas e laboratoriais analisadas através de métodos uni e multivariado (regressão logística). RESULTADOS: insuficiência renal aguda ocorreu em 16,1% dos 223 pacientes estudados, diálise foi necessária em 4,9% dos pacientes. Os fatores de risco associados à IRA na análise univariada foram: idade > 63 anos OR 3,6 (95% IC=1,6 a 8,3), creatinina sérica pré-operatória > 1,2 mg/dl OR 5,9 (95% IC=2,4 a 14,6), duração da circulação extracorpórea > 90 min OR 2,1 (95% IC=1,0 a 4,4), uso de balão intra-aórtico OR 2,6 (95% IC=1,2 a 5,5); necessidade de drogas inotrópicas OR 4,4 (95% IC=1,9 a 10,2) e, na análise multivariada, foram fatores independentes, associados à IRA idade > 63 anos OR 3,0 (95% IC=1,3 a 7,2), creatinina sérica pré-operatória > 1,2 mg/dl OR 4,3 (95% IC=1,6 a 11,4), necessidade de drogas inotrópicas OR 3,2 (95% IC=1,3 a 8,0). A mortalidade nos pacientes com IRA foi de 25,0%, em comparação com 1,1% entre os sem IRA e 63,6% entre os que necessitaram de diálise. CONCLUSÃO: insuficiência renal aguda em cirurgia de revascularização miocárdica é uma complicação frequente e está associada à alta mortalidade. Sendo fatores de risco independentes: idade, insuficiência renal prévia e necessidade de drogas inotrópicas. PALAVRAS-CHAVE: insuficiência renal aguda, cirurgia de revascularização miocárdica, cirurgia cardía- ca, circulação extracorpórea. KEY WORDS: acute kidney injury, coronary artery bypass grafting surgery, cardiac surgery, cardiopulmonary bypass. COMENTÁRIOS Em agosto de 2004 publicamos um artigo com dados do Hospital Santa Izabel sobre insuficiência renal aguda (IRA) após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea, analisando a sua incidência, os fatores de risco e a mortalidade. Àquela época, em concordância com outros trabalhos, a IRA era uma complicação frequente (16,1%) e associada à alta taxa de mortalidade (25%). Uma década depois vemos que a incidência de IRA neste contexto mantém-se, elevada (18%)1 e alguns trabalhos a descrevem com percentuais mais elevados ainda (28,1%)2. A IRA continua sendo um importante fator que aumenta significativamente a morbimortalidade em cirurgia cardíaca, elevando a incidência de disfunção neurológica, o tempo em ventilação mecânica, a permanência na unidade de terapia intensiva e o tempo de internamento hospitalar3,4. A definição de IRA varia em muitos trabalhos científicos dificultando a comparação dos dados entre estes, assim o uso da classificação de RIFLE e AKIN tem se tornado um critério mais efetivo para definição de IRA nos trabalhos mais recentes5,6, possibilitando uma melhor análise do impacto da IRA na cirurgia cardíaca. A IRA com necessidade de terapia de reposição renal (TRR), presente em 1-5% dos pacientes, aumenta mais ainda a mortalidade, como demonstrado em nosso trabalho, e por isso esforços na identificação e controle de determinantes para necessidade de TRR podem impac- 2015|44 tar na redução da morbimortalidade7, sendo que a presença de disfunção renal pré-existente, disfunção miocárdica no pós-operatório e a idade permanecem como principais fatores de risco para o desenvolvimento de IRA nesta população de pacientes. No tocante à idade como fator de risco para IRA, vemos que a sobrevida de nossa população vem aumentando e, com isso, a idade média dos pacientes submetidos à revascularização miocárdica tem sido cada vez maior. E nos pacientes idosos, a incidência de IRA após revascularização miocárdica é alta (40%)8 e com isso maior é o impacto na morbimortalidade destes pacientes, visto que também há a coexistência de outras comorbidades. Tem-se demonstrado que a IRA não impacta apenas na morbimortaldade relativa ao período de internamento para a cirurgia, mas também tardiamente, no seguimento a longo prazo9-11. E, por isso, a possibilidade do uso de biomarcadores renais como detectores precoces de IRA na cirurgia cardíaca tem ganhado espaço na intenção de assim instituir intervenções mais precoces para limitar a incidência da IRA clinicamente significativa no pós-operatório, podendo impactar assim na redução da morbimortalidade12. Esses biomarcadores são a NGAL, interleucina-18, KIM-1, cistatina-C, L-FABP, NAG, netrina-1, vanina-1 e MCP-1. O NGAL é o mais utilizado em estudos clínicos, NGAL e L-FABP são os mais precoces, sendo KIM-1 e IL-18 tardiamente detectados com melhor especificidade13. Atentemos, entretanto, que a patogênese da IRA é multifatorial, envolvendo aspectos hemodinâmicos, inflamatórios, metabólicos e nefrotóxicos. E abordá-los de forma efetiva permanece um enorme desafio, pois poucos estudos randomizados têm dado suporte para intervenções específicas que consigam efetivamente proteger ou prevenir a IRA em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, onde a utilização de procedimentos menos invasivos, a hidratação e a otimização da anemia no pré-operatório e a TRR precoce têm demonstrado perspectivas promissoras neste sentido14. 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Insuficiência renal aguda após cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea – incidência, fatores de risco e mortalidade. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 44-46. Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. Artigo Multiprofissional – Nutrição Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA CardiovascThorac Ann. 2014 Feb;22(2):234-41. 13-Peres LA, Júnior AD, Schäfer AJ, Silva AL, Gaspar AD,Scarpari DF,Alves JB, Neto RF, Oliveira TF, Biomarcadores da injúria renal aguda, J BrasNefrol 2013;35(3):229-236 Lucimar Soares Garcia Rosa1, Giovanna Lúcia Oliveira Bonina Costa2, Darci Malaquias de Oliveira Barbosa1,2, André Ney Menezes Freire2 14-Vives M, Wijeysundera D, Marczin N, Monedero P, Rao V, Cardiac surgery-associated acute kidney injury, 2014 May;18(5):637-45. 1 - Serviço de Nefrologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] RESUMO O câncer é uma doença crônica, não transmissível, que provoca, anualmente, 7 milhões de óbitos em todo o mundo, segundo o Instituto Americano de Câncer. A avaliação nutricional de pacientes oncológicos é de suma importância, dada a grandeza dos problemas nutricionais que essa enfermidade pode ocasionar, interferindo de modo impactante no prognóstico da doença. Objetivo: avaliar o perfil nutricional de pacientes adultos, portadores de neoplasias, internados na Enfermaria de Oncologia do Hospital Santa Izabel, Santa Casa de Misericórdia da Bahia, Salvador, relacionando-o com o tipo de neoplasia. Método: trata-se de um estudo transversal, realizado com 52 pacientes adultos. O estado nutricional foi verificado por meio do índice de massa corporal (IMC), dobra cutânea tricipital (DCT), área muscular do braço corrigida (AMBc), dosagem de albumina e transferrina séricas. Resultados: 39 (75%) dos pacientes possuíam tumor sólido, enquanto 13 (25%) possuíam tumor hematológico. Com relação ao IMC, 11 (21,2%) apresentaram diagnóstico de magreza. Destes, 9 pacientes (17,3%) apresentavam tumor sólido (p=0,9). Foi observado um maior percentual de pacientes com perda de peso severa (38,4%, n=20), dentre os que tiveram tumor sólido (p=0,7). Quando avaliado o IMC com as dosagens de albumina, observou-se que os pacientes com diagnóstico de magreza apresentaram menores valores de albumina (p<0,05). Não houve diferença estatística entre a reserva adiposa e de massa muscular com o tipo de tumor (p=0,5 e p=0,4, respectivamente), porém pacientes considerados eutróficos (31), 18 (47,3%) estavam com depleção de massa muscular e 16 (42%) com depleção da reserva adiposa. Conclusão: diante da frequência de desnutrição observada pelos diferentes métodos de avaliação empregados neste estudo, sugere-se a ne- 2015|46 cessidade da utilização de vários indicadores para que haja uma intervenção nutricional adequada em tais pacientes. PALAVRAS-CHAVE: câncer, desnutrição, avaliação nutricional. INTRODUÇÃO O câncer é definido como uma enfermidade multicausal crônica, caracterizada pelo crescimento descontrolado das células e a disseminação de células anormais, que continuam a se reproduzir até que formem uma massa de tecido conhecida como tumor1. Mesmo com tantos avanços nas pesquisas e novas possibilidades de cura e tratamento, o câncer responde por 20% das mortes por DCNT no Brasil. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) mostraram que, no Brasil, para o ano de 2012, prenunciaram-se quase 520 mil novos casos da doença. Cerca de 7 milhões de pessoas morrem anualmente com essa doença. E para 2020, espera-se atingir os 16 milhões de óbitos2. Acredita-se que este resultado está relacionado, entre outros aspectos, com a industrialização e a urbanização ocorridos no período3. A relação entre câncer e estado nutricional tem sido estudada desde a década de 20, quando Shields Warren propôs que a má nutrição era a principal causa de morte por câncer4. O estado nutricional é um importante preditor de morbimortalidade e está associado a maiores índices de infecção, maior tempo de hospitalização, menor resposta à quimioterapia e/ou radioterapia e maior custo hospitalar4. Segundo Mello, a desnutrição gera impacto financeiro na saúde, tanto para o paciente quanto para as instituições afins, pois o custo 2015|47 Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. para tratar indivíduos desnutridos é quatro vezes maior do que é necessário para tratar os bem nutridos 5. A avaliação nutricional é o primeiro passo para a identificação da desnutrição6. Ela pode ser realizada através das medidas antropométricas, dosagem dos catabólitos da proteína muscular provenientes da excreção urinária, nitrogênio corporal total, balanço nitrogenado, turnover de várias proteínas e concentração plasmática de algumas proteínas7. Em pacientes com câncer pode haver dificuldades na interpretação dos parâmetros nutricionais, em virtude de alterações fisiológicas, retenção hídrica, aumento da massa tumoral, alterações hormonais, devido ao tratamento ou síndromes paraneoplásicas, efeitos do tratamento antineoplásico e da doença sobre o metabolismo e composição corporal. Muitos estudos têm reportado a prevalência da desnutrição em pacientes com câncer. Num estudo multicêntrico, com mais de 3.000 pacientes, foi constatada perda de peso em mais de 50% dos pacientes. (18) Estudo do IBRANUTRI (Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional) com 4.000 doentes na rede pública em 25 hospitais de 12 estados e do Distrito Federal identificaram que 20,1% dos pacientes internados eram portadores de câncer. Desses, 66,4% apresentavam desnutrição, sendo 45,1% de grau moderado e 21,3%, grave8. Há muito tempo que a desnutrição é reconhecida como fator de mau prognóstico no paciente com câncer. A partir de estudos retrospectivos, em sua maioria, concluiu-se que fatores como perda de peso, baixos níveis de albumina sérica e baixos índices na avaliação nutricional aumentam as taxas de morbimortalidade em diferentes tipos de câncer. Apesar disso, poucos são os estudos prospectivos sobre o assunto9. A desnutrição protéico-energético no paciente com câncer ocorre como consequência de um desequilíbrio entre as necessidades nutricionais, a demanda do tumor e a disponibilidade de nutrientes no corpo, resultando em fraqueza progressiva, comprometimento da função imune, redução da qualidade de vida e potencial intolerância terapêutica10. Em pacientes com diferentes tipos de câncer, a perda de peso foi associada com menor tempo de vida, quando comparada aos que mantinham o peso próximo habitual. No instante do diagnóstico, 25 a 50% dos pacientes oncológicos encontram-se desnutridos e cerca de 20% dos indivíduos com neoplasia maligna vêm a óbito em decorrência exclusiva da desnutrição 11. A avaliação nutricional adequada é fundamental para identificação desses pacientes e estratégias de tratamento devem ser instituídas tão logo seja diagnosticada alteração do estado nutricional, objetivando reverter o quadro. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o perfil nutricional de pacientes oncológicos submetidos à quimioterapia e/ou radioterapia, em um hospital de Salvador-BA, relacionando-o com o tipo de neoplasia. Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. Para realização da análise estatística foi utilizado o programa SPSS, versão 13.0. Utilizou-se a análise descritiva das variáveis mediante frequências, médias e desvio-padrão. A associação entre as variáveis categóricas foi avaliada usando os testes Qui Quadrado ou Exato de Fisher. O nível de significância adotado foi inferior a 5%. RESULTADOS METODOLOGIA Estudo de caráter transversal, desenvolvido no período de abril a agosto de 2005, na unidade de oncologia da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, envolvendo 52 pacientes adultos (19 a 59 anos), admitidos para realizar quimioterapia e/ou radioterapia. Como cuidados éticos, todos os pacientes foram instruídos sobre a pesquisa e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) antes do início da coleta de dados. Foram colhidos dados sociais, clínicos e laboratoriais em prontuário médico e aplicado um questionário para obtenção de informações a respeito de mudança de hábitos alimentares, peso habitual e alterações de peso em período inferior a 6 meses. Foi realizada avaliação antropométrica através da aferição de peso e altura, circunferência do braço (CB) e dobra cutânea tricipital (DCT). Todos os pacientes foram pesados em balança Filizola Personal Line (PL150), disponível no posto de enfermagem onde se encontravam internados esses pacientes. O estadiômetro utilizado foi o da própria balança disponível. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado utilizando a divisão do peso (massa corporal em quilos) pelo quadrado da altura (em metros). Os pontos de corte utilizados para o diagnóstico nutricional a partir do IMC foram os preconizados pela Organização Mundial de Saúde12. A circunferência braquial (CB) foi aferida com fita métrica flexível e inelástica e a dobra cutânea triciptal (DCT), com o auxílio do calibrador de pregas (marca Lange), segundo técnicas propostas por Lohman13. A partir dessas medidas foi calculada a área muscular do braço corrigida (AMBc). Os resultados encontrados de PCT e AMBc foram comparados ao percentil cinquenta (P50), de acordo com o sexo e a idade preconizados por Frisancho14. A coleta dos exames laboratoriais foi realizada pelo laboratório da unidade hospitalar e foram considerados desnutridos os pacientes que apresentaram valores de albumina menores que 3,5g/dL e transferrina menor que 200mg/dL. 2015|48 Foram avaliados 52 pacientes portadores de neoplasias com idade média de 46,2 ± 10 anos. Destes, 24 (46,2%) eram do sexo feminino e 28 (53,8%), do sexo masculino. Quanto ao tipo de tumor, 39 (75%) possuíam tumor sólido, enquanto 13 (25%) possuíam tumor hematológico. A média do IMC foi de 21,8 ± 5,0 kg/m2. Destes, 11 (21,2%) apresentaram diagnóstico de magreza, 31 (59,6%) foram identificados como eutróficos e 10 (19,3%) apresentaram sobrepeso/obesidade. De acordo com a tabela 1, pode-se observar que, dentre os pacientes com magreza, 9 pacientes (17,3%) apresentavam tumor sólido, não havendo diferença estatística entre o IMC e tipo de tumor neste estudo. Do total de pacientes, 45 (86,5%) tiveram perda de peso, sendo que 27 (50,9%) apresentaram perda ponderal severa, 18 (34,6%) tiveram perda ponderal leve e 10 pacientes (13,5%) apresentaram ganho ponderal. Quando estratificado para o tipo de tumor, observa-se um maior percentual de pacientes com perda de peso severa (38,4%, n=20) dentre os que tiveram tumor sólido (p=0,7) (Tabela 2). O estudo mostra que a média da albumina sérica foi de 3,26 ± 3,2mg/dL. 32 (61,5%) pacientes apresentaram valores de albumina menores ou iguais a 3,5%, caracterizando hipoalbuminemia. Quando avaliado o IMC com as dosagens de albumina, observou-se que os pacientes com diagnóstico de magreza apresentaram menores valores de albumina (p<0,05). Não houve associação ente o tipo de tumor e a albumina sérica. Quanto à dosagem de transferrina, a média foi de 35,1 ± 21,32mg/dL, todos os pacientes apresentaram valores de transferrina menores do que o preconizado como ponto de corte de normalidade (Tabela 3). O estudo mostra que dos pacientes acompanhados, 27 (53,4%) relataram mudança de hábitos alimentares relacionados a doença. Todos os participantes relataram mudança de peso após acometimento pela doença. Quanto à reserva de massa muscular avaliada pela AMBc, 34 (65,3%) pacientes apresentaram depleção deste compartimento. Com relação à reserva adiposa, 29 (55,7%) pacientes foram identificados com depleção quando avaliados pela DCT. Conforme a Tabela 4, não houve diferença estatística entre a reserva adiposa e de massa muscular com o tipo de tumor (p=0,5 e p=0,4, respectivamente), porém é importante ressaltar que dos pacientes considerados eutróficos (31), 18 (47,3%) estavam com depleção de massa muscular e 16 (42%), com depleção da reserva adiposa. DISCUSSÃO No câncer, o estado nutricional, principalmente no que tange a desnutrição, tem se revelado um potente fator interferente e a prevalência desse déficit nutricional em pacientes oncológicos tem sido tão significante que, hoje, ele é visto como parte inerente à patologia15. No presente estudo, a avaliação antropométrica permitiu identificar uma prevalência de 21,1% de desnutrição, de acordo com o IMC. Em estudo desenvolvido por Brito e colaboradores16 em pacientes com câncer, a prevalência de desnutrição foi de 21,8%. Tais dados corroboram o fato de, pelo menos, um em cada cinco pacientes já se encontrarem desnutridos no ato do diagnóstico da doença11. Isto configura um agravo à saúde do paciente oncológico, pois o déficit nutricional é capaz de reduzir a resposta terapêutica, transformar sua autoimagem, predispor a maiores riscos infecciosos pós-operatórios e elevar a morbimortalidade, reduzindo, assim, sua qualidade de vida15,17-18. Geralmente, os tumores que mais causam desnutrição são aqueles localizados no trato digestivo (principalmente, estômago, pâncreas e esôfago), nas regiões de cabeça e pescoço e no pulmão18, ou seja, tumores sólidos. De maneira semelhante, o presente trabalho demonstrou que tais tipos de tumores foram os que mais se associaram à desnutrição, tanto avaliados pelo IMC quanto em relação à depleção de tecido adiposo e massa muscular, apesar de tal associação não ser significativa. Na presente pesquisa, 47,3% dos eutróficos pelo IMC encontravam-se com déficit de massa magra pela AMBc, sugerindo que esses pacientes estejam desnutridos por apresentarem massa magra depletada apesar do peso normal. Quando relacionado o IMC ao tipo 2015|49 Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. de tumor, a massa magra se apresentou depletada, em maior percentual entre os pacientes com tumor sólido. Apesar de não haver associação estatisticamente significativa entre a AMBc e o tipo de tumor e o IMC, o déficit do estado nutricional, principalmente quando evidenciado pela perda de massa corporal magra, está associado ao aumento no tempo de hospitalização e na morbimortalidade. Tal associação decorre do fato de que um aumento percentual na perda de massa magra está diretamente associado ao aumento de fatores de comorbidade. Entre eles, redução da imunidade, com aumento de infecções, prejuízos nos processos de cicatrização e fraqueza muscular15. Através da medida da DCT, verificou-se que houve prevalência de déficit da reserva adiposa em 55,7% (29) dos pacientes avaliados, valor maior do que quando avaliada desnutrição pelo IMC com uma prevalência de 21,1%. No estudo de Garófolo et al.19 também foi vista essa diferença, sugerindo que a DCT demonstra maior percentual de déficit nutricional, quando comparada ao IMC. Segundo Ikemori5, apenas o peso não indica claramente o segmento corporal que está em déficit nutricional, e por meio das pregas e circunferências é possível verificar a quantidade de reserva muscular e adiposa. A utilização dos parâmetros nutricionais em conjunto é de extrema importância para analisar o real estado nutricional dos pacientes e a eficiência do tratamento. Dias et al.20 encontraram uma prevalência de 55% de perda de peso em seu estudo, sendo que metade dos pacientes avaliados apresentou, junto à perda de peso, manifestações gastrintestinais e diminuição da ingestão energética, tornando ainda maior o risco de desnutrição5. No presente estudo foi possível observar a perda de peso em 86,5% dos pacientes avaliados, prevalência maior do que a encontrada por Dias et al. Quando avaliado por tipo de tumor, o maior percentual observado foi entre os pacientes com tumor sólido, com uma prevalência de 38,4% de perda de peso severa. Jamnik et al.21 afirmaram que a perda de peso nos pacientes com câncer tem etiologia multifatorial, citando como possíveis causas o aumento do consumo de energia, anorexia secundária à alteração do paladar e ainda a resistência à terapia. Neste sentido, o trabalho de Gevaerd et al.22, realizado com 95 pacientes oncológicos em terapia nutricional enteral, evidenciou perda de peso em 52,64% destes. Na literatura, já foi observado associação da perda de peso com uma pobre performance status, redução da ingestão alimentar e elevados valores de proteína creativa, demonstrando maiores níveis de inflamação no paciente em risco nutricional22. Além disso, Hess et al.23, ao estudar a alteração de peso durante o tratamento, observaram que a perda de peso, por si só, no tratamento quimioterápico primário, já é um indicador de pobre prognóstico. Os testes laboratoriais, entre os quais as proteínas de transporte sintetizadas pelo fígado contribuem para o diagnóstico de desnutrição subclínica. Nos pacientes estudados, verificaram-se concentrações séricas diminuídas de albumina (59,6%) e transferrina (100%). Foi possível observar uma associação significativa (p<0,05) entre os níveis de alumina sérica e o IMC, ou seja, pacientes com magreza apresentaram menores valores de albumina. Concentrações sanguíneas de albumina menores que 3,5g/dL sugerem início de desnutrição, todavia, deve-se considerar a carcinogênese como um todo antes de se diagnosticar a desnutrição crônica, uma vez que se trata de uma doença que, por si só e também devido ao tratamento quimioterápico, modifica o estado de hidratação do paciente e infere em distúrbios renais e hepáticos, limitando a dosagem desses marcadores de desnutrição 23. Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. Não houve associação significativa entre o tipo de tumor e o IMC, a perda de peso, a AMBc e DCT, porém o estudo mostrou que os pacientes com tumores sólidos apresentam maior percentual de casos de desnutrição para os parâmetros citados, quando comparados aos tumores não sólidos. Os pacientes desnutridos apresentaram menores valores de albumina em relação aos indivíduos com peso normal e sobrepeso/ TABELAS obesidade. Diante dos dados apresentados, ressalta-se a importância do acompanhamento e da interpretação da avaliação nutricional completa dos pacientes oncológicos, a fim de conhecer e manter o estado nutricional, melhorar a recuperação e preservar a qualidade de vida destes pacientes. TABELAS Tabela 1. Associação entre classificação do IMC e tipo de tumor. Salvador, 2005 Classificação do IMC p-valor Variáveis Magreza Eutrofia Sobrepeso/obesidade Número de pacientes 11 (21,1%) 31 (59,6%) 10 (19,3%) Tumor sólido 9 (17,3%) 23 (44,3%) 7 (13,5%) Vários estudos têm demonstrado a relação dos níveis baixos de transferrina sérica com morbimortalidade23-25. Apesar dos níveis de transferrina serem afetados por diversos fatores, ela parece ser o indicador mais sensível de adequação do suporte nutricional do que outros parâmetros mais comumente usados 25. Tumor não sólido 2 (3,8%) 9 (17,3%) 2 (3,8%) É importante ressaltar que, no presente estudo, podem ter ocorrido limitações quanto à metodologia, no que diz respeito ao tamanho da amostra e à diferença apresentada quanto aos tipos de tumor. Tabela 2: Distribuição da variável . Mudança de peso e associação com o tipo de tumor. Salvador , 2005. Variável CONCLUSÃO Diante do que foi encontrado, destaca-se que a desnutrição é um aspecto de extrema importância a ser considerado no tratamento oncológico, visto que pode interferir diretamente no prognóstico da doença. Pacientes eutróficos pelo IMC apresentaram déficit de massa magra e de tecido adiposo. Essas alterações possuem relevância tamanha, tal que a realização de uma antropometria incompleta, baseada somente no IMC, poderia ter omitido a desnutrição aqui evidenciada pela AMBc e DCT. 2015|50 p=0,9 Total de pacientes Tipo de tumor Sólido Não sólido Perda leve 18 (34,6%) 16 (30,8%) 2 (3,8%) Perda severa 27 (50,9%) 20 (38,4%) 7 (13,5%) Ganho de peso 7 (13,5%) 3 (5,8%) 4 (7,7%) p-valor p=0,7 2015|51 Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. Tabela 3: Associação entre a classificação do IMC e os níveis de Transferrina e Albumina. Salvador, 2005 Classificação do IMC Variáveis p-valor Magreza Eutrofia Sobrepeso/obesidade Albumina (g/dL) <3,5 9 (17,3%) 21 (40,4%) 1 (1,9%) >3,5 2 (3,8%) 10 (19,3%) 9 (17,3%) p<0,05 11 (21,1%) 31 (59,6%) 10 (19,3%) ≥200 0 0 0 REFERÊNCIAS 1 Tartari RF, Busnello FM, Nunes. 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AMBc 11 World Health Organization. Physical Status: The use and interpretation of anthropometry. Geneva; 1995. (WHO TechnicalReport Series, 854). DCT 12 Lohman TG, Roche AF, Martorell R. Anthropometric standardization reference manual.Champaign: Human KineticsBooks, 1988. P=0,4 13 Frisancho AR. New norms of upper limb fat and muscle are for assessment of nutritional status. Am J ClinNutr 1981;34: 2540-5. 2015|52 14 Ulsenheimer A, Silva ACP, Fortuna FV. Perfil nutricional de pacientes com câncer segundo diferentes indicadores de avaliação. Rev. Bras. nutr clin. 2007;22(4):292-7. 15 Brito LF et al. Perfil Nutricional de Pacientes com Câncer Assistidos pela Casa de Acolhimento ao Paciente Oncológico do Sudoeste da Bahia. Revista Brasileira de Cancerologia 2012; 58(2): 163-171 16 Guerra MR, Moura Gallo CV, Mendonça GAS. Risco de câncer no Brasil: tendências e estudos epidemiológicos mais recentes. Rev. Bras. Cancerol. 2005;51(3):227-34. 17 Silva MPN. 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Weight change during chemotherapy as a potential prognostic factor for stage III epithelial ovarian carcinoma: a Gynecologic Oncology Group study. Gynecol Oncol. 2007; 107(2): 260-5. 23 Deans DA; Tan BH; Wigmore SJ; Ross JA; de Beaux AC; Paterson-Brown S et al. The influence of systemic inflammation, dietary intake and stage of disease on rate of weight loss in patients with gastro-oesophageal cancer. Br J Cancer 2009; 100(1): 63-9. 24 Pittoni G, Davia G, Duse G, Segatto A, De Bianchi E, Valenti S. TSF, RBP and TBPA as a nutritional índices in surgical patients with gynecological câncer. Clin Exp Pbst Gyn 1989; 16 (1): 48-51. 2015|53 PROTOCOLO DE ATENDIMENTO Rosa, LSG et al. Perfil nutricional de pacientes com câncer em um hospital de Salvador-BA. Rev. Saúde HSI. 2015; 2 MAR (1): 47-54. Medidas preventivas das infecções do trato urinário (ITU) 1. OBJETIVO 25 Celaya S, Laguens G, Elosegui LM, Queralt C, Sagredo A, Jimenez A, et al. Evolucion de parâmetros nutricionales y bioquímicos em pacientes sépticos bajo NPT. Su relacion com la mortalidad. Nutr Hosp 1990; 5 (5): 311-16 Orientar medidas preventivas de infecção do trato urinário e, mediante o caso, diagnosticar precocemente a infecção, definindo as condutas terapêuticas. 2. TERMOS E DEFINIÇÕES Infecções do trato urinário (ITU) compreendem uma terminologia bastante abrangente, envolvendo ampla variedade de processos e entidades clínicas, podendo acometer desde o meato uretral até o córtex renal, além de estruturas adjacentes às vias urinárias, como próstata e glândulas uretrais, cujo denominador comum é a invasão por micro-organismos de quaisquer desses tecidos. No ambiente hospitalar estão associadas principalmente à cateterização. 1- Serviço de Nutrição Clínica do Hospital Santa Izabel 2 - Serviço de Nutrição Enteral e Parenteral - SENEP do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] 2.1.FATORES DE RISCO PARA ITU • Presença de sonda vesical de demora (SVD). • Instrumentação do trato urinário. • Idade avançada. • Sexo feminino. • Doença de base grave. 3. DESCRIÇÃO DO PROCESSO 3.1. TERAPIA DE INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO 3.1.1 Bacteriúria assintomática Caracteriza-se pela presença de bactérias na urocultura (> 100.000 UFC/ml) e pela ausência de sinais e sintomas clínicos de infecção. Indicações de tratamento (apenas naqueles pacientes com alto risco de desenvolvimento de bacteremia): • transplante de órgãos sólidos; • granulocitopenia; • gravidez; • pré-operatório de cirurgias urológicas; • pré-operatório de colocação de próteses. Tratamento: de acordo com o antibiograma. Duração: 5 dias. 3.1.2 Infecção do trato urinário baixo (cistite) • Mulher grávida, puérpera ou nutriz Realizar urina tipo 1 e urocultura. Tratamento: de acordo com o antibiograma, considerar os potenciais efeitos colaterais fetais na escolha do antimicrobiano. Duração: 07 dias. Urina tipo I alterada. 2015|54 55 Iniciar antibioticoterapia empírica: a - Cefalosporina de 1ª geração (Cefalexina/Cefadroxil) b - Amoxicilina Reavaliar com resultado da urocultura e antibiograma e adequar esquema de tratamento, se necessário. • Mulher não grávida A infecção do trato urinário não complicada em mulheres dispensa a realização de exames laboratoriais. Iniciar antibioticoterapia empírica VO: • SMX-TMP (800/160 mg) 12/12 h; ou • Norfloxacina 400 mg 12/12 h; ou • Nitrofurantoína 100 mg 06/06 h Tratar por 3 dias Ausência de melhora clínica: realizar urina tipo I e urocultura Melhora clínica 3.2 . INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO ALTO (PIELONEFRITE AGUDA) Na presença de sintomas clínicos sugestivos de infecção do trato urinário alto, solicitar: - urina do tipo I; - urocultura; - hemocultura. Iniciar antibioticoterapia VO, IV ou IM, de acordo com o estado geral do paciente, e reavaliar em 72 horas, a fim de modificar para terapêutica oral. Investigar alterações do trato urinário: obstrução/cálculos. Opções de tratamento: a- Gentamicina 5 mg/kg/dia ou Amicacina 15 mg/kg/dia EV; b- Ciprofloxacina 400 mg IV ou 500 mg VO de 12/12h; c- Ceftriaxone 1 g IV de 12/12h: - gestantes; - idade > 65 anos; - pacientes com insuficiência renal ou maior risco de adquiri-la. Duração: 14 dias. 3.3 . INFECÇÃO EM PACIENTES COM CATETER URINÁRIO Urocultura (+) Agente resistente à droga utilizada Urocultura (+) Agente sensível à droga utilizada Urocultura (-) Repetir cultura em 48 horas Novo tratamento por 3 dias, de acordo com antibiograma Reavaliar o caso Urocultura (-) O principal fator de risco para infecção do trato urinário hospitalar é a presença de cateter urinário. Infecção em pacientes com cateter urinário Chlamydia trachomatis Ureaplasma urealitycum Gardnerella vaginalis e Mycoplasma hominis Doxiciclina 100mg VO de 12/12h por 7 dias ou Azitromicina 1g VO em D. U Ausência de sintomas clínicos de infecção Suspeita clínica de ITU Urocultura Alteração da urina I e urocultura + Reavaliar a necessidade da sonda + retirar a sonda assim que possível Tratamento não indicado Exceção: presentes de alto risco 1. Transplantados 2. Neutropênicos 3. Gestantes 4. Pré-operatório de cirurgias urológicas 5. Pré-operatório de cirurgia de colocação de prótese 3.1.3 Homem A ITU nos pacientes do sexo masculino está frequentemente associada à hiperplasia prostática. Realizar: - urina do tipo 1; - urocultura; - exame clínico da próstata. Tratamento: de acordo com antibiograma. Duração: 7 dias. Piúria franca Trocar cateter vesical Iniciar antibiótico de acordo com antibiograma 56 57 3.4. PROFILAXIA DE INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO RECORRENTE • Calçar luva estéril. Mais de três ITUs por ano, relacionadas ao coito: • Procede a limpeza do meato uretral com PVPI tópico (não utilizar soluções alcoólicas em mucosas). - Realizar profilaxia pós-coito. • Testa o balão para verificar bom funcionamento e conecta a bolsa coletora, mantendo o sistema fechado. - Opções de profilaxia: • Lubrificar a sonda com lubrificante estéril e introduzir o gel lubrificante na uretra em homens. a- SMX-TMP (800 mg/160 mg) - 1 comprimido em dose única; • Procede a instalação do cateter seguindo técnica asséptica. b- Cefalexina – 500 mg VO em dose única. • Fixar o cateter em mulheres na face anterior da raiz da coxa, em homens no hipogástrio. Mais de três ITUs por ano, não relacionadas com coito: • Fixar o coletor no extremo oposto da cabeceira, mantendo-o sempre abaixo do nível da pelve e livre de obstrução. Realizar profilaxia contínua com dose única diária por 6 meses a 1 ano. • Higienizar as mãos. Opções de profilaxia: 6.2.MANUTENÇÃO a - SMX-TMP (400 mg/80 mg); • Usar a cateterização apenas quando indispensável. b - Nitrofurantoína (100 mg); • Avaliar constantemente a necessidade de manutenção do cateter. Remover logo que possível. c - Norfloxacina (400 mg). • Realizar higiene íntima com água e sabão a cada período, observando a higiene do meato urinário e atentar para higiene mais frequente em pacientes com diarreia. 4. CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE DE INCLUSÃO • Pacientes internados nas unidades de internação e/ou UTI com cateter urinário inseridos nas unidades de internação, terapia intensiva e centro cirúrgico. • Drenar a bolsa coletora constantemente para não ultrapassar 2/3 da bolsa coletora. • Não desconectar a sonda da bolsa coletora. • Tempo de cateter maior ou igual que 48 horas e menor ou igual a 7 dias. • Manter sonda fixa durante todo o período de uso da sonda. • Sondagem vesical de demora inclusivamente para drenagem de urina. • Manter a sonda livre de obstrução. • Idade maior ou igual a 18 anos. • Manter a sonda abaixo do nível da bexiga. • Antes de abrir a bolsa coletora para drenagem, realizar desinfecção com álcool a 70%. 5. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO • Trocar o sistema inteiro, quando o mesmo for violado. • Pacientes de cuidados paliativos. 6.3. COLETA DE MATERIAL • Pacientes com infecção do trato urinário. • Pacientes transferidos de outros serviços com cateter urinários. • Usar técnica asséptica para obtenção de espécimes para análises. Realizar fricção com álcool a 70% no local para coleta. • Cateter de demora com período maior de 7 dias. • Em caso de coleta de urocultura, em pacientes com mais de 7 dias de uso, a sonda deverá ser trocada. • Cateter intermitente. • Idade < 18 anos. OBSERVAÇÃO • Usar alternativas a cateter de demora, tais como cateterização intermitente e uso de dispositivo urinário. 6. PRINCIPAIS MEDIDAS PREVENTIVAS PARA ITU • Não trocar periodicamente a sonda vesical. 6.1. CUIDADOS NA INSTALAÇÃO OU INSERÇÃO DE SONDAGEM • Não usar rotineiramente técnicas de irrigação vesical contínua ou intermitente. • Reunir todo material necessário. Escolher sonda vesical de calibre adequado ao paciente. • Evitar manipulação diária do cateter ou anti-sepsia do meato, com soluções anti-sépticas ou cremes bactericidas. • Higiene das mãos. • Quando da necessidade de disjunção cateter/coletor, no local de junção deve ser feita a desinfecção com álcool a 70%. • Realizar higiene íntima da área genital e perineal do paciente, com PVPI degermante. 7. RESPONSABILIDADES • Remover o excesso do degermante com soro fisiológico ou água destilada. 7.1.MÉDICO • Higienizar as mãos. • Atentar para a possibilidade diagnóstica de ITU. • Montar o campo estéril. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 58 59 EVENTOS FIXOS • Solicitação de sumário de urina, uroculturas. • Instituir terapia precocemente, monitorando a resposta. • Ajustar antibióticos conforme o resultado de culturas e a evolução clínica. • Atentar para as medidas preventivas. • Avaliar diariamente a possibilidade de suspensão de sonda vesical de demora, caso o paciente esteja em uso. • Atentar para precauções específicas, caso indicadas. 7.2. ENFERMAGEM • Observar os sinais vitais e exames laboratoriais, como o comportamento da temperatura, FC e leucograma, com atenção para a possibilidade de infecção. • Atentar para sinalizações de medida de precaução, caso indicadas. 7.3. FISIOTERAPIA • Higienizar as mãos antes e após o contato com o paciente. • Atentar para as precauções de isolamento. 7.4. SCIH • Avaliar e intervir junto à assistência para garantir o cumprimento de ações preventivas. • Notificação dos casos confirmados, gerando indicadores epidemiológicos. NOME DO EVENTO SESSÃO DE HEMODINÂMICA SESSÃO DE CASOS CLÍNICOS E ARTIGOS EM CLÍNICA MÉDICA SESSÃO DE ATUALIZAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA SESSÃO MULTIDISCIPLINAR DE ONCOLOGIA SESSÕES DE OTORRINOLARINGOLOGIA SESSÃO DE TERAPIA INTENSIVA SESSÃO DE RADIOLOGIA TORÁCICA (PNEUMOLOGIA) SESSÕES DE NEUROLOGIA SESSÕES DE UROLOGIA 8. REFERÊNCIA NORMATIVA IRAS: Infecção Relacionada à Assistência em Saúde: orientações práticas/ Edwal Aparecido Campos Rodrigues, Rosana Ritchmann. São Paulo: SARVIER, 2008. Guia de utilização de anti-infecciosos e recomendações para prevenção de infecções hospitalares – HC/ FMUSP – 2012-2014. CAMARGO, L F A; COUTINHO, A N; GUERRA, C M; WEY, S B. Prevenção de Infecções em Unidade de Terapia Intensiva: módulo 4 do curso Infecção Relacionada à Assistência à Saúde. ANVISA, 2004. Medidas de prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde: Trato Urinário. ANVISA, 2013. AUTORES • Dinalva Bastos • Paula Sacramento • Dra. Margarete Barreto • Maria das Graças Gonsalves • Dr. Edson Marques • Dr. Enio Santana • Dr. Daniel Peres SESSÃO DE CIRURGIA GERAL SESSÕES DE ANESTESIOLOGIA SESSÃO DE PNEUMOLOGIA SESSÕES DE CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA LOCAL AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA DIA DA SEMANA HORÁRIO 2ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 3ª FEIRA 10 ÀS 12 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 5ª FEIRA 11 ÀS 12 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 5ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 3ª E 6ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 4ª FEIRA 11 ÀS 13 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 4ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS AUDITÓRIO DO SENEP SALA DE TREINAMENTO 04 AUDITÓRIO DO SENEP AUDITÓRIO DO SENEP AUDITÓRIO DO SENEP 4ª FEIRA 5ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª A 6ª FEIRA 3ª FEIRA 17 ÀS 19 HORAS 16 ÀS 19 HORAS 07 ÀS 08 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 08 ÀS 10 HORAS SALA DE TREINAMENTO 01 2ª A 6ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS 5ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 08 ÀS 10 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 13 ÀS 15 HORAS 07:30 ÀS 09:00 HORAS 09:00 ÀS 10:30 HORAS AUDITÓRIO DO SENEP SALA DE TREINAMENTO 02 SALA DE TREINAMENTO 03 SESSÃO DE ARRITMOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 03 SESSÕES DE SALA DE TREINAMENTO 02 REUMATOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 01 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 60 61 INSTRUÇÕES AOS AUTORES Índice remissivo do Ano 1 da RSHSI Especificações do Editorial - Normatização Geral Classificação manuscritos Nº máximo de autores TÍTULO: Nº máximo de caracteres com espaço RESUMO: Nº máximo de palavras Editorial Atualização de tema: Resumo de artigos publicados pelo HSI Relato de casos 2 4 10 100 100 100 0 250 250 6 80 0 Continuação: Classificação manuscritos Nº máximo de palavras com referência Nº máximo de referências Nº máximo de tabelas ou figuras Editorial 1.000 10 2 Atualização de tema: 6.500 80 8 Resumo de artigos publicados pelo HSI 1.500 10 2 Relato de casos 1.500 10 2 62 AUTOR Albuquerque, Iana Verena Sampaio Almeida Filho, Paulo Plessin Almeida, Augusto José Gonçalves Almeida, Pâmela Andrade, Lívia Andrade, Marcus Vinícius Andrade, Nilvano Araújo, Rodrigo Gomes Brandão Azevedo Júnior, Antônio Barbosa, Darci Malaquias de Oliveira Barbosa, Márcio Henrique Lopes Barbosa, Márcio Henrique Lopes Barros, Daniela Barros, Daniela Galvão Barros, Rogério Meira Barros, Rogério Meira Bastos, Augusto Júnior Azevedo Batista, Renata Bispo Bernardes, Aline Bispo, Carine Matos Boaventura, Viviane Branco, Ranan Carvalho Castello Brito, José Carlos Brito, José Carlos Raimundo Café, Eduardo Carneiro, Camila Carvalho, Heitor G. Carvalho, Paulo Ricardo Santana Castro Júnior, Dálvaro Oliveira de Castro Júnior, Dálvaro Oliveira de Castro Júnior, Dálvaro Oliveira de Castro, Luiz Eduardo Lago de Cavalcante, Viviane Machicado Costa, Giovanna Lúcia Oliveira Bonina Cumming, Camila Cumming, Camila Cumming, Camila Vol. Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Nº (nº04) (nº02) (nº01) (nº01) (nº01) (nº01) (nº02) (nº02) (nº04) (nº03) (nº04) (nº02) (nº01) (nº04) (nº01) (nº02) (nº01) (nº04) (nº02) (nº02) (nº02) (nº03) (nº01) (nº02) (nº03) (nº02) (nº01) (nº01) (nº03) (nº03) (nº02) (nº04) (nº03) (nº03) (nº03) (nº04) (nº01) PÁG. pg. 46 pg. 18 pg. 32 pg. 44 pg. 44 pg. 32 pg. 34 pg. 46 pg. 42 pg. 37 pg. 08 pg. 42 pg. 44 pg. 39 pg. 31 pg. 46 pg. 38 pg. 46 pg. 50 pg. 08 pg. 34 pg. 30 pg. 09 pg. 39 pg. 8 pg. 50 pg. 32 pg. 48 pg. 8 pg. 34 pg. 08 pg. 30 pg. 34 pg. 37 pg. 47 pg. 53 pg. 52 Índice remissivo do Ano 1 da RSHSI AUTOR Cumming, Camila Detoni, Pablo Britto Dias, Jadeilton Jipso de Sousa Dourado, Stella Duarte, Maria Lúcia Duarte, Maria Lúcia Farias, Daniel Santana Farias, Daniel Santana Feitosa Filho, Gilson Soares Feitosa, Alina Coutinho Rodrigues Feitosa, Alina Coutinho Rodrigues Feitosa, Gilson Soares Feitosa, Gilson Soares Feitosa, Gilson Soares Feitosa, Gilson Soares Feitosa, Gilson Soares Feitosa, Gilson Soares Fernandes, Diana Lessa Flores, Murilo Pereira Franco, Samir Nahass Gouveia Freire, André Ney Menezes Freire, André Ney Menezes Freire, André Ney Menezes Freire, André Ney Menezes Fukuda, Jamile Seixas Fukuda, Thiago Gonçalves Góes, Anabel Itaparica, Rajaná Jesus, Pedro Antonio Pereira de Jesus, Pedro Antônio Pereira de Johnson, Luis Fernando Pinto Kimachi, Pedro Paulo Ladeia, Daniela Lisle, Luanne Lopes, Alfredo Rogério Carneiro Lopes, Mayanna Maciel, Elves Anderson Pires Vol. Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Nº (nº02) (nº02) (nº04) (nº01) (nº03) (nº02) (nº03) (nº01) (nº01) (nº01) (nº02) (nº04) (nº01) (nº01) (nº01) (nº02) (nº02) (nº04) (nº02) (nº04) (nº01) (nº03) (nº04) (nº02) (nº03) (nº01) (nº03) (nº02) (nº03) (nº01) (nº02) (nº04) (nº03) (nº03) (nº04) (nº01) (nº04) Índice remissivo do Ano 1 da RSHSI PÁG. pg. 54 pg. 42 pg. 39 pg. 44 pg. 27 pg. 39 pg. 30 pg. 38 pg. 09 pg. 20 pg. 37 pg. 07 pg. 08 pg. 09 pg. 32 pg. 07 pg. 39 pg. 46 pg. 42 pg. 35 pg. 34 pg. 37 pg. 30 pg. 18 pg. 30 pg. 38 pg. 27 pg. 50 pg 30 pg. 38 pg. 18 pg. 08 pg. 27 pg. 14 pg. 30 pg. 44 pg. 21 AUTOR Maia, Roberto Barreto Marinho, Jamocyr Moura Marques Filho, Edson Mathias, Isadora Sande Matos, Marcos Almeida Matos, Marcos Almeida Matos, Marcos Almeida Matos, Marcos Almeida Mattos, Ana Carolina Viana Menezes, Carlos Wagner Souza Menezes, Roberto Sá Mota, Fábio Frias Moura, Marcela Araújo de Muccini, Paulo Henrique Cerqueira Nascimento, Jedson dos Santos Nascimento, Jedson dos Santos Nery, Antonio Carlos Sales Neto, Fleury Oliveira Filho, Jamary Oliveira, Adriano Dias Dourado Oliveira, Adriano Dourado Oliveira, Carla Pereira, Afonso Janones Silva Pereira, Davidson França Pereira, Davidson França Pessoa, Rosana Pellegrini Pinho Filho, Joel Alves Pinto, Luiz Eduardo Café Cardoso Pitombo, Patrícia Falcão Ramos Júnior, Almir Ribeiro, Nilzo Augusto Mendes Ritt, Luiz Eduardo Rocha Filho, José Rocha Filho, José A. Rosário, Matheus Santana do Sanjuan, Isadora Teles Santana, Flávio Robert Vol. Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Nº (nº02) (nº03) (nº01) (nº03) (nº03) (nº04) (nº01) (nº02) (nº02) (nº01) (nº01) (nº02) (nº04) (nº04) (nº04) (nº02) (nº02) (nº01) (nº04) (nº02) (nº01) (nº02) (nº01) (nº03) (nº01) (nº04) (nº01) (nº02) (nº04) (nº03) (nº03) (nº02) (nº03) (nº02) (nº03) (nº04) (nº01) PÁG. pg. 46 pg. 34 pg. 41 pg. 37 pg. 14 pg. 45 pg. 31 pg. 46 pg. 37 pg. 38 pg. 07 pg. 42 pg. 46 pg. 30 pg. 08 pg. 42 pg. 39 pg. 48 pg. 17 pg. 39 pg. 32 pg. 50 pg. 41 pg. 30 pg. 38 pg. 35 pg. 32 pg. 08 pg. 08 pg. 34 pg. 20 pg. 31 pg. 34 pg. 23 pg. 30 pg. 30 pg. 31 Índice remissivo do Ano 1 da RSHSI AUTOR Santana, Tamara Santiago, Mittermayer Santiago, Mittermayer B. Santos Júnior, Reinaldo da Silva Santos, Clísia Maria Lobo dos Sena, Joberto Pinheiro Silva Filho, Edson Marques Silva, Álvaro Fernando Pereira Silva, Iana Conceição da Silva, Maisa Silva, Robson Rocha da Souza Filho, Laudelino de Tapparelli, Yuri de Araújo Torreão, Jorge A. Viana, Patrícia Alcântara Doval Carvalho Vilas-Boas, Fábio Vol. Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Vol. 01 Nº (nº01) (nº03) (nº01) (nº01) (nº02) (nº02) (nº04) (nº04) (nº03) (nº02) (nº03) (nº03) (nº01) (nº02) (nº04) (nº01) PÁG. pg. 44 pg. 07 pg. 15 pg. 41 pg. 42 pg. 39 pg. 21 pg. 30 pg. 37 pg. 50 pg. 24 pg. 27 pg. 48 pg. 23 pg. 46 pg. 32