110 1. INTRODUÇÃO A leitura é de suma importância para
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110 1. INTRODUÇÃO A leitura é de suma importância para
110 A CONTRIBUIÇÃO DAS DIVERSAS PRÁTICAS DE LEITURA PARA A CRIANÇA COM DÉFICIT DE ATENÇÃO Deuzeli Guimarães Nolêta1 Elaine Cristina Navarro2 RESUMO:O presente artigo tem por objetivo mostrar a importância que a leitura tem na vida de crianças com TDAH e como utilizar métodos e técnicas específicas para se trabalhar com essas crianças de forma a contribuir para o seu desenvolvimento. A leitura propicia à criança o uso da imaginação, a criatividade, a oralidade, a aquisição de conhecimentos, o senso crítico e as diversas outras habilidades, devendo ser inserida desde os primeiros anos de escolaridade. O trabalho também busca explicar os tipos de leitura e as diversas metodologias para desenvolver as devidas habilidades em crianças com dificuldades de aprendizagem. Palavras-chave: Criança; Leitura; Desenvolvimento. ABSTRACT:This article aims to show the importance that reading has in the lives of children with ADHD and how to use specific methods and techniques for working with these children in order to contribute to its development. Reading gives the child the use of imagination, creativity, orality, the acquisition of knowledge, critical thinking and the various other skills, and must be inserted from the early years of schooling. The work also seeks to explain the types of reading and the various methodologies to develop the necessary skills in children with learning difficulties. Keywords: Child; Reading; Development. 1 Autora do Artigo. Pós-graduanda em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia. email:[email protected] 2 Orientadora. Graduação em Letras pela UFMT e Pedagogia pela UNIVAR, com especialização em Docência Multidisciplinar da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Mestre em Educação pela Universidad de La Empresa. e-mail:[email protected]. 1. INTRODUÇÃO A leitura é de suma importância para o aprendizado global de um indivíduo. Com ela a criança adquire conhecimentos, informações e a interação necessária ao ato de ler e compreender as informações do mundo. Ao longo dos anos, a educação preocupou-se em contribuir para a formação de um cidadão crítico, responsável e atuante na sociedade, e para que isso acontecesse foi preciso ter conhecimento sobre a importância de valorizar o conhecimento de mundo e da escrita intrínseco na criança. Quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma, através da leitura a criança adquire uma postura crítico-reflexiva, extremamente relevante a sua formação cognitiva, isso sem falar que ela estimula a imaginação, aguça a curiosidade e ajuda no desenvolvimento da linguagem, tanto escrita quanto oral. Assim, o estudo realizado tem por objetivo mostrar as diversas práticas de leituras para se trabalhar com crianças portadoras de TDAH, sendo esta uma realidade muito comum em nossas salas de aula na atualidade. Essas práticas precisam ser diárias e devem envolver tanto a criança, quanto a família e a escola. Esta pesquisa buscou explicitar a importância que a leitura tem na vida de uma criança com Déficit de Atenção, trazendo explicações significativas sobre o Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X tema. O texto apresentará os tipos de leitura e como trabalhar com crianças portadoras de TDAH, de forma diferenciada, utilizando técnicas e métodos apropriados a fim de amenizar esse problema de aprendizagem e o consequente fracasso escolar. Esse artigo foi elaborado por meio de uma pesquisa de revisão bibliográfica, desenvolvida com base na análise de livros e artigos científicos, além da realização de uma pesquisa que apresentará relato de experiência e de observação que aconteceram na prática de estágio em psicopedagogia institucional. A observação que deu base aos relatos foi realizada em uma escola pública municipal de Barra do Garças, onde o público alvo foram os professores e duas crianças portadoras de Déficit de Atenção. 2. DIFICULDADE DE RELACIONADA AO TDAH APRENDIZAGEM As Dificuldades de Aprendizagem estão relacionadas de uma forma típica por diversos fatores e distúrbios. Um desses fatores é o cérebro. Quando o cérebro possui alguma dificuldade, afeta várias habilidades causando sérios problemas na vida de uma pessoa. As habilidades afetadas com maior frequência são as relacionadas à leitura, à escrita, à matemática, ao processamento auditivo, à fala e à de compreensão das atividades propostas. Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 110 –116. 111 Um transtorno muito encontrado nas nossas escolas é o TDAH. De acordo com a Associação Brasileira de Déficit de Atenção: O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparecem na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude, e impulsividade. Ele é chamado às vezes de DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção). O TDAH se apresenta sob três formas distintas: 1º - Pela combinação de três sintomas: hiperatividade, impulsividade e desatenção; 2° - Pela predominância de dois sintomas: hiperatividade e impulsividade; 3° - Pela predominância de um único sintoma: a desatenção. A TDAH do tipo hiperativo/impulsivo tem a maior dificuldade relacionada às atividades de alto nível. Já na TDAH do tipo desatento, a principal dificuldade é manter a atenção. Dentre essas três formas distintas, a mais comum é a desatenção. A desatenção é também conhecida como Déficit de Atenção onde a criança não consegue se concentrar nas atividades propostas e muitas vezes são tarjadas de “preguiçosa” ou “burra”. Elas parecem ser menos capazes de controlar os impulsos que outras crianças da mesma faixa etária, a sua capacidade de atenção é menor e ficam nervosas com tarefas tediosas e repetitivas. Segundo Helen Bee e Denise Boys (2011, p.426) para uma criança ser diagnosticada como portadora de transtorno de Déficit de Atenção é necessário que ela apresente seis(ou mais) sintomas dos relacionados abaixo: Frequentemente não presta atenção a detalhes ou comete erros por omissão em atividades escolares. Frequentemente tem dificuldade para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas. Frequentemente parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra. Frequentemente não segue instruções e não termina seus deveres escolares e tarefas domésticas. Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades. Frequentemente evita, demonstra, ojeriza ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental constante. Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (brinquedos, tarefas escolares, lápis...) Frequentemente é distraído por estímulos alheios à tarefa. Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X Frequentemente apresenta esquecimento das atividades diárias. A maioria das crianças portadoras da TDAH é tratada com um medicamento chamado Ritalina, que funciona estimulando a parte do cérebro que mantém a atenção. Com a utilização desse remédio as crianças prestam mais atenção na aula por diminuir a agressividade e manter a calma. Mas não se deve confundir déficit de atenção com preguiça, pois se a criança for diagnosticada errada e não possuir esse transtorno, ao tomar a Ritalina poderá desenvolver um transtorno psicológico sério. De acordo com Sam Goldstein em seu artigo Hiperatividade: Compreensão, Avaliação e Atuação: Uma Visão Geral sobre o TDAH há uma grande variedade de intervenções específicas que o professor pode fazer para ajudar a criança com TDAH a se ajustar melhor à sala de aula, entre elas citam-se: proporcionar estrutura, organização e constância; colocar a criança perto de colegas que não a provoque, perto da mesa do professor; encorajar frequentemente; elogiar e ser afetuoso; das responsabilidades para que ele possa cumprir, proporcionar trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e favorecer oportunidades sociais; ir devagar com os trabalhos, dosar tarefas de 5 a 10 minutos para a criança não se cansar; mudar o ritmo ou o tipo da tarefa com frequência; preparar com antecedência a criança para novas situações; desenvolver um repertório de atividades físicas; desenvolver métodos variados utilizando apelos sensoriais diferentes (som, visão, tato) para ser bem sucedido e nunca expor a criança por sua dificuldade. Cláudia Machado Siqueira (2010) em seu artigo “Mau desempenho escolar: uma visão atual” diz que: Um importante problema atual, em alguns grupos sociais, são as expectativas pedagógicas acima das capacidades, habilidades e interesses da criança. Expor a criança a situações de aprendizagem extremamente difíceis ou muito fáceis (além ou aquém da sua capacidade) levam a desinteresse, desmotivação e distração. Tal situação tem graves consequências, acarretando frustração, fracasso, insucesso, baixa autoestima, além de estresse familiar e escolar. 3. A LEITURA E SUA IMPORTÂNCIA A leitura é de suma importância para o aprendizado, pois ao experiênciá-lo o leitor executa um ato de compreender o mundo sob diversas formas. Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 110 –116. 112 [...] refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Na proposta a que me referi acima, este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas percebida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevêlo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente”.(PAULO FREIRE,2011, p.29 30) A aprendizagem da criança é desenvolvida a partir da sua leitura de mundo. Desde pequenas as crianças aprendem a “ler”, não necessariamente a escrita, a decodificação de sons ou até mesmo a compreensão de palavras, mas sim, as situações de vida como o fato de entenderem que a mamadeira ao ser sugada acabará com sua fome. Ao ingressar na escola, muitas crianças não têm dificuldades com a leitura, mas outras vêm nela um “bicho de sete cabeças”. Pesquisas do mundo inteiro mostram que as crianças que leem desde pequenos têm um futuro promissor. Esse contato com a leitura estimula a comunicação de forma geral e o desenvolvimento na pronúncia e na escrita. Por meio da leitura a criança desenvolve a criatividade, a imaginação, a fantasia e adquire cultura e conhecimentos novos. A leitura frequente ajuda a criar familiaridade com o mundo da escrita, pois facilita a alfabetização e consequentemente as boas notas em todas as disciplinas. Ler também é importante para a fixação da grafia correta da palavra. A atividade de leitura se faz presente em todos os níveis educacionais das sociedades letradas. Tal presença, sem dúvida marcante e abrangente, começa no período de alfabetização, quando a criança passa a compreender o significado potencial de mensagens registradas através da escrita. Após esta fase de iniciação, o aluno continua a se encontrar com livros-textos (materializados na prática escolar, sob a forma de livro adotado, texto base, bibliografia obrigatória, leitura suplementar, apostila, etc...) ao longo de toda a sua trajetória acadêmica. (EZEQUIEL THEODORO DA SILVA, 2002, p.31). A escola tem o papel fundamental de estimular a leitura com as crianças. É na escola que a maioria delas Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X tem o primeiro contato com os livros. Os professores devem estimular no aluno o gosto pela leitura, planejar ações para desenvolvam o trabalho com a leitura em sala de aula e fazer com que a criança desperte a curiosidade e a imaginação ao ler um livro. Um texto para ser lido é um texto para ser estudado. Um texto para ser estudado é um texto para ser interpretado. Não podemos interpretar um texto se o lemos sem atenção, sem curiosidade, se desistimos da leitura quando encontramos a primeira dificuldade. (PAULO FREIRE, 2011, p.73) 3.1 TIPOS DE LEITURA A leitura deve ser uma prática constante para um indivíduo. Quando criança, este gosto de ler deve ser estimulado para assim que atingir a fase adulta essa prática continue. O professor deve ser criativo ao oferecer uma leitura à criança, onde essa tarefa deve chamar a atenção, além de ser prazerosa. O aluno deve entender que não se estuda apenas na escola. Estuda-se no trabalho, em casa, no lazer, a fim de assumir uma atitude séria e curiosa diante de um problema. Existem cinco tipos diferentes de leitura: A leitura passatempo que é aquela que se lê sem preocupação alguma; a leitura crítica onde se fazem indagações e investigações; a leitura edificante onde os personagens ganham vida e vivem a vida real; a leitura filosófica em que o autor se preocupa em ensinar a arte de bem viver e por último, a leitura garimpo onde o leitor deve ler o livro e garimpar com muita atenção somente o que lhe é importante. Não importa qual o tipo de leitura que se vai escolher, o que se importa mesmo é o aprendizado que ela vai proporcionar. Além desses tipos de leitura, encontram-se também os diferentes gêneros textuais que despertam a vontade de ler e escrever de forma mais atraente. Para as crianças, o trabalho com os gêneros textuais são de suma importância, porque a criança começa a desenvolver a leitura através da compreensão voltada para o cotidiano. Gêneros textuais muito utilizados nas salas de alfabetização são: cartas, bilhetes, contos, parlendas, trocadilhos, rimas, livros literários, receitas, símbolos, reportagens com jornais e outros. Não importa qual gênero textual será utilizado e sim qual a realidade em que essa criança vive, pois não adianta ensinar algo que a criança não conheça, que não faz parte da sua cultura, porque ela não vai aprender se não compreender. Desde a época da pré - história as pessoas já se comunicavam através de gravuras. E hoje não é muito diferente porque desde pequeninos as crianças já usam a leitura para se comunicar não pela leitura escrita, mas sim pela leitura de figuras, de objetos, de símbolos. Se mostrar uma garrafa de refrigerante para uma criança de Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 110 –116. 113 um ano ela logo falará: é coca, sem nem se quer saber como se escreve a palavra coca. Se passar com uma criança de três ou quatro (podendo até ser com menos idade) em frente a uma placa de PARE, ela logo falará: tem que parar papai, sem ao menos saber o que está escrito. A figura é um instrumento básico para o conhecimento, pois através dela o aluno “lê” e se sente feliz por saber ler, mesmo não sabendo escrever. Leitura é uma atividade essencial a qualquer área do conhecimento e mais essencial ainda à própria vida do Ser Humano. O patrimônio simbólico do homem contém uma herança cultural registrada pela escrita. Estar com e no mundo pressupõe, então, atos de criação e recriação direcionados a essa herança, é uma das formas do Homem se situar com o mundo de forma a dinamizá-lo. (EZEQUIEL THEODORO DA SILVA, 2002, p.42) 3.2 TÉCNICAS DE APRENDIZAGEM E DE LEITURA PARA TRABALHAR COM CRIANÇAS PORTADORAS DE DÉFICIT DE ATENÇÃO Um dos maiores desafios sociais da educação deste século é a integração e a socialização das crianças com problemas de aprendizagem. Muitas medidas estão sendo tomadas para a inclusão dessas crianças nas escolas, mas muitas delas são excluídas por apresentarem muitas dificuldades levando as mesmas ao fracasso escolar. Dessa forma, é no contexto escolar que a inquietude e a impulsividade são interpretadas como falta de disciplina e a desatenção, como negligência, já que esses sintomas do TDAH são possíveis de serem observados desde cedo, ainda em fases anteriores à pré-escola. As dificuldades de atenção e de hiperatividade apresentadas por essas crianças podem comprometer seu desempenho acadêmico, pois o déficit de linguagem apresentado pode comprometer a aprendizagem do sistema de escrita alfabético, haja vista que habilidades subjacentes a esse processo, como as habilidades metalinguísticas, prejudicam essa aquisição. (VERA LÚCIA ORLANDI CUNHA, 2012, p. 02). De acordo com Alicia Fernández (1991) o fracasso escolar, em uma primeira aproximação, responde a duas ordens de causas (ainda que em geral achem-se sobrepostas na história de um indivíduo em particular) externas à estrutura familiar e individual do Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X que fracassa em aprender, ou internas à estrutura familiar e individual. Para resolver o fracasso escolar, quando provém de causas ligadas a estrutura individual e familiar da criança (problema de aprendizagem-sintoma ou inibição) vai ser requerida uma intervenção psicopedagógica especializada: grupo de tratamento psicopedagógico á criança, grupo de orientação paralelo de mães, tratamento individual psicopedagógico, oficina de trabalho, recreação e expressão com objetivos terapêuticos, entrevistas familiares, etc. Também vamos encontrar uma percentagem menos de crianças cujo fracasso vai responder à construção de uma modalidade de pensamento derivada de uma estrutura psicótica, e uma ainda muito menor proporção que se deve a fatores de deficiência orgânica. Em ambas as situações, em geral, ainda que por diferentes causas, não pode a criança estabelecer uma comunicação compreensível com a realidade, quer dizer que terá dificuldades para aprender. (ALICIA FERANDEZ, 1991, p.81 - 82) Se houver uma união entre aluno, pais, escola e especialistas, o fracasso escolar de uma criança pode ser amenizado. O professor em sua sala de aula pode usar várias técnicas para melhor o estágio de fracasso escolar de seu aluno entre eles exemplificam-se: olhar sempre nos olhos da criança ao falar com ela; sempre elogie e incentive; divida as tarefas ou troque por tarefas mais fáceis e compreensíveis; procure avaliá-la todos os dias observando tudo o que faz; faça-a recontar a história, mesmo que pule algumas partes; ajude sempre a criança a imaginar a história, a capacidade para isso é bem pouca; utilize dinâmicas lúdicas para prender a atenção; incentive os pais a lerem para seu filho; ajude e incentive a organização do caderno e dos materiais escolares; trabalhe muito com jogos lúdicos e com peças de montar; use muitas figuras nas atividades, pois se tornará mais fácil concluí-las; Pergunte sempre os nomes das cores e faça várias atividades com pinturas; na leitura faça a criança contar a história de sua maneira e depois desenvolva a confecção de seu próprio livro; utilize dramatizações envolvendo leitura; faça também teatro e rodas de conversa e de dança. 4. RELATO DE EXPERIÊNCIA As experiências realizadas com crianças que possuem TDAH foram feitas em uma escola municipal da cidade de Barra do Garças/MT. Foram realizadas várias atividades especificas para essas crianças a fim de Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 110 –116. 114 mostrar as suas dificuldades e buscar caminhos e estratégias diferenciadas para amenizar esse problema. A pesquisa aconteceu com dois alunos desta instituição. O aluno E. tem oito anos, está cursando o 2º ano pela segunda vez, e tem muitas dificuldades de comunicação e de aprendizagem. Demonstrou no Estágio ser uma criança que necessita de uma atenção especial, pois não consegue assimilar e concretizar muitas das atividades propostas. Em diversos momentos apresentou impulsividade e desatenção. Teve muita agitação nos pés e nas mãos, instabilidade emocional, muita dificuldade em manter atenção e em ter sequência nas ações. No primeiro contato foi dado espaço para a criança falar sobre a família, ele relatou que mora com a mãe, com o pai e com os irmãos e que tem um bom convívio com todos. Contou que gosta se assistir TV e filmes com pinguins e explicou que sua casa é verde, tem muro e quatro cômodos e muitas vezes a casa fica cheia porque seus avós e tios vão para lá. No jogo “cada nome em sua figura” o aluno deveria formar pares de figuras com os seus nomes. Havia várias cartas com figuras e o mesmo total com os nomes. Colocou as palavras (uva-coca-gatopato-abacaxi-tatu-dado-bola e sapato) no local correto e nas palavras macaco e vaca necessitou de ajuda. O aluno nomeou as figuras de acordo com a letra que a palavra começa como exemplo ele percebeu que uva começa com u. O aluno conhece apenas as letras soltas e não consegue ainda formar sílabas e palavras, mas tem a noção de como começam algumas palavras através dos sons. Já o ”jogo dos cubos” consistia em enfileirar do menor para o maior e vice e versa, os cubos que na ocasião foram substituídos por garrafas Peti de diversos tamanhos. Foram colocadas sobre a mesa seis garrafas de tamanhos diferentes e o aluno as arrumou da maior para a menor sem nenhuma dificuldade, mas na hora de fazer o inverso teve muita dificuldade e precisou de ajuda. Quando começou a atividade relacionada ao ditado, ele ficou meio inquieto. O aluno conhece todas as letras do alfabeto, mas não consegue colocá-las em sequência. O jogo “garrafas coloridas” chamou muito a atenção do aluno. Havia oito garrafas Peti com as bordas coloridas com adesivos e o aluno deveria em primeiro momento encaixá-las dentro uma da outra formando uma pirâmide. Ele começou colocando-as de qualquer jeito e elas iam caindo, mas quando ele percebeu que se colocasse todas da mesma forma a pirâmide seria montada corretamente, ficou muito feliz com sua descoberta e terminou o jogo. Depois foi pediu ao aluno que as colocasse da menor para a maior e ele conseguiu com muita facilidade, mas na hora de recolocar do maior para o menor teve certa dificuldade. O “jogo das fitas” foi um jogo meio confuso para o aluno. Ele conseguiu separar todas as fitinhas por largura, mas teve muita dificuldade em enfileirar as fitas por tamanho e não conseguiu entender o que é menor e maior. Demorou muito tempo nesse jogo e em alguns momentos Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X confundiu as cores. No jogo “agora é minha vez” havia um saco com várias cartas com figuras diferentes, como exemplo: pipoca, tartaruga, morango, árvore, bolo, passarinho, pessoas e outras. O jogo deveria ocorrer com a criação de uma história com sequência. O aluno foi pegando carta por carta e criando a história. Percebeu-se que o aluno teve muita dificuldade em dar sequência na história. Falava poucas palavras, somente a da figura, e não conseguia criar frases para as figuras. Em alguns momentos saíram algumas palavras a mais e quando recebia ajuda e a história criava sentido dava risadas e achava muita graça coma história inventada. O jogo “adição com tampinhas” envolve muito a atenção e o raciocínio lógico. O aluno deveria juntar duas tampinhas de garrafa Peti que tinham um numeral por cima, somar e achar a tampinha com o resultado correto. Nas contas simples como 1+2, 3+3, 3+2 realizou com muita facilidade utilizando os dedos, mas nas contas com os números maiores se confundia e não conseguiu terminar o jogo. No jogo “cartão = cartela” o aluno mostrou-se mais atencioso. O jogo era composto de cartelas azuis e amarelas. Nas cartelas azuis havia continhas de adição e subtração com números naturais e nas cartelas amarelas o resultado dessas continhas. Conseguiu fazer continhas simples como 1+1, 2+2, 3+3, mas nas contas maiores como 5+5,6+2 teve dificuldade na hora de achar o resultado porque confunde a sequência dos números. Já as contas de subtração como 8-1, 7-3 não conseguiu fazer sozinho. Foram realizados mais sete jogos com essa a criança, todos sem aproveitamento porque não conseguia assimilar as coisas e não conseguia se concentrar. Já a aluna H estuda no 3° ano e tem dificuldades maiores ainda porque além de não manter a atenção, não para quieta um minuto. Anda pela sala, grita, briga com os amiguinhos e tem o material desorganizado. Para trabalhar com essa criança os professores utilizam muitas atividades impressas, pois ela não gosta de utilizar os livros e nem de copiar do quadro. Mostrou ser uma criança muito mimada pelos pais e não gosta de estudar. No início dos trabalhos ela relatou que mora com a mãe e com o pai e que tem tudo o que ela quer. No jogo das três rimas o aluno deveria fazer uma trinca com três cartelas que continham o mesmo som (rimas), ele reconheceu todas as figuras, mas teve muita dificuldade em juntar as cartas e fazer as rimas, com minha ajuda conseguiu juntar somente 3 jogos (bola, mola, cola/dente, pente, presente/gato, rato, pato) e não conseguiu entender sobre rimas confundindo palavras como anel e janela dizendo que elas se pareciam. Na parlenda “nome dos dedinhos” apresentou em primeiro momento muita facilidade, desenhou a sua mão em uma folha e fez caretinhas na ponta dos dedos falando o nome de cada um deles. O que mais chamou a atenção é que no dedo ”pai de todos” colocou um chapéu e uma gravata no pai e no dedo “mata piolho” desenhou Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 110 –116. 115 um piolho na ponta do dedo mostrando o tamanho da sua criatividade, pena que no outro dia não lembrava mais do nome dos dedinhos. Depois foi proposto o jogo dominó das palavras onde a aluna não conseguiu concluir o jogo devido a sua falta de atenção. O jogo consistia em ir formando um dominó com palavras e figuras montando um jogo. Em alguns momentos ela acertava as figuras devido à primeira letra das palavras, mas sempre perguntava se estava certo mostrando dúvidas e por fim não conseguiu terminar o jogo e o deixou de lado. Quando passamos a atividade envolvendo o livro infantil “Branca de neve e os sete anões” seus olhinhos brilharam, pois ela gosta muito de histórias infantis. O livro foi lido para a aluna por duas vezes e ela ficou parada prestando atenção. Depois da leitura foi proposto à aluna recontar a história com suas próprias palavras e a dificuldade aumentou, pois pensou muito e só saíram poucas palavras como: branca de neve, floresta, anões, casa pequena, maçã e beijo. Logo após foi entregue um desenho com a branca de neve e vários anões, onde eles deveriam pintar somente o total que havia na história e aos poucos ela foi pintando e recontando de novo os sete anões até concluir. Já na outra atividade deveria falar o nome dos anões, tendo muita dificuldade em realizá-la, pois não conseguia memorizar os nomes e acabava confundindo os anões. Foram realizados mais seis jogos com essa criança e em todos os momentos ela mostrava-se interessada, mas quando o tempo ia passando e ela não conseguia concluir a atividade, ficava inquieta e olhando para as paredes. Essa criança está sendo acompanhada por especialistas e tem todo o apoio da escola. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A aprendizagem é um processo contínuo onde cada indivíduo possui seu próprio ritmo. Por se tratar de um processo individual, alguns alunos aprendem com mais facilidade e outros precisam de um pouco mais de e atenção e tempo. O processo de aprendizagem envolve o conhecimento prévio do educando, autoestima, motivação, linguagem, sua história de vida, dentre outros fatores. Para se aprender o aluno precisa primeiramente estar motivado e gostar do que está aprendendo, e a escola é a principal responsável por esse processo de aquisição de conhecimentos. A leitura ajuda a criança a construir sua identidade, a sua relação com o mundo e a tornar-se um ser ativo e pensante. Para que isso aconteça o ato de leitura deve ser introduzido desce cedo, onde a criança está passando por um processo de construção de conhecimentos. A leitura deve ser prazerosa e atrativa para que o leitor se sinta interessado. Para que o hábito da leitura de concretize é necessário primeiramente que o professor e os pais gostem de ler, porque as crianças se espelham nas pessoas mais próximas e Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar. On-line http://revista.univar.edu.br ISSN 1984-431X consequentemente serão bons leitores no futuro. Na conclusão desse trabalho percebe-se que muitas mudanças estão sendo feitas para se trabalhar com crianças com TDAH, mas muita coisa ainda deve ser realizada. Na escola em que essas crianças foram observadas, os professores usam técnicas diferenciadas para trabalhar com esses alunos, mas nenhum deles têm formação específica na área da psicopedagogia e por isso fazem o melhor que podem. Essas crianças, além da escola, necessitam de atendimento especializado, porque o grau de dificuldade em que elas se encontram é muito grande e por isso os professores sozinhos não conseguirão amenizar totalmente essas barreiras. Durante a pesquisa mesmo percebeu-se essa grande dificuldade, tanto em manter a atenção quando em concluir as atividades propostas. A leitura seja ela escrita ou visual contribui para o processo de aprendizagem, e quando bem reforçada e atrativa colhe bons frutos, como é o caso dessas crianças que adoraram trabalhar com o concreto e com figuras relacionadas ao seu cotidiano. Sempre que se ia começar uma atividade com essas crianças era necessária revisar o que se havia feito antes, reforçando a memória e tornando tudo mais simples, porque quando a criança passa por uma sequência didática, onde revisa o conteúdo anterior, fica a impressão de se conhecer do assunto e tudo se torna mais fácil principalmente se forem atividades relacionadas à leitura de livros infantis, pois a oralidade e a sequência dos fatos é muito importante no processo de ensino-aprendizagem. Nos casos dos jogos, quando se realizava por duas, três ou mais vezes, os alunos mostravam mais interesse e apresentava menos medo, por já conhecerem o jogo, e com isso a dificuldade de aprendizagem era menor. Por fim, vale ressaltar que as diversas práticas de leitura, quando bem aplicadas, fazem com que os alunos com TDAH se desenvolvam melhor e tomem gosto pela leitura aprimorando o aprendizado em sua visa, basta apenas serem incentivados e praticar sempre o ato de ler, pois é praticando que se aprende e se aprende para melhor praticar. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 51 ed. São Paulo: Cortez,2011. ASSOCIAÇÃO Brasileira do Déficit de Atenção. O que é TDAH? Disponível em: http://www.tdah.org.br/index.php?option=com_k2&vie w=item&layout=item&id=11&Itemid=116&lang=br. Acesso em 19 de Setembro de 2013 BEE, Helen. BOYD, Denise. A criança em desenvolvimento. 12 ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. Ago 2013, n.º 10, Vol – 2, p. 110 –116. 116 SIQUEIRA, Cláudia Machado. Mau desempenho escolar: uma visão atual. 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