Museu do Som Regional_FIGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e
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Museu do Som Regional_FIGTF - Instituto Gaúcho de Tradição e
Museu do Som Regional: História e Constituição do Acervo Claudio Knierim 1 Drª. Dilza Porto Gonçalves 2 Giovanni Mesquita 3 Resumo: Este texto consiste numa breve apresentação da história do Museu do Som Regional e a constituição do seu acervo a partir dos anos 2000. O Museu do Som Regional está integrado à Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore e mantêm um acervo de aúdio/imagem com mais de trinta mil títulos incluindo fitas K7, CD’S, LPs (discos de vinil) e DVDs. O acervo está dividido em coleções de obras referentes a musicalidade riograndense; uma hemeroteca especializada em música regional e, por um grande número de documentos produzidos nos mais de quarenta anos de festivais de música no Rio Grande do Sul. Este trabalho está inserido nos estudos da História Cultural com ênfase em Patrimônio Cultural. Palavras-chave: identidade, música regional, patrimônio cultural Abstract: This text is a brief presentation of the history of the Museum of Regional Sound and your collection since 2000s. The Regional Museum of Sound integrates the Gaucho of Tradition and Folklore Foundation Institute and maintain a collection of audio / image over thirty thousand titles including K7 tapes, CD'S, LPs (vinyl records) and DVDs. The collection is divided into collections works relating to riograndense musicality, a newspaper library specializing in regional music, and a large number of documents produced in over forty years of music festivals in Rio Grande do Sul. This work is part of the studies of Cultural History with an emphasis on cultural heritage. Keywords: regional music, identity, Cultural Heritage INTRODUÇÃO O Museu do Som Regional é uma instituição museal que está em formação. Faz parte da Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore. A FIGTF por sua vez está ligada a SEDAC (Secretaria de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul). É um museu de imagem, som e documentação, voltado para a pesquisa e divulgação da música regional do Rio Grande do Sul. A instituição também desenvolve estudos sobre história e cultura do Estado. Esse estudo sobre o Museu do Som Regional está inserido na História Cultural com ênfase em Patrimônio Cultural. De certa forma, o medo do desaparecimento desperta nas pessoas um sentimento de proteção, daí talvez a ideia de criação do Museu do Som. Embora a constituição do Museu do Som Regional pareça estar inserida no processo de construção de uma 1 Historiador, Diretor técnico do FIGTF e idealizador do Museu do Som Regional ([email protected] – telefone: 3228-1711). 2 Historiadora, pesquisadora do Comitê da Transversalidade SEDUC/SEDAC-FIGTF ( telefone :3228-1711 [email protected]). 3 Historiador, museólogo, pesquisador do Comitê da Transversalidade SEDUC/SEDAC-FIGTF ( telefone :3228-1711 [email protected] ). identidade gaúcha, a transformação em patrimônio cultural também está ligada ao medo que se tem do desaparecimento dessa musicalidade identificada com o Rio Grande do Sul, assim acentua-se a necessidade de projetos de valorização desse patrimônio cultural. No entanto, se sabe que não é um monumento ou objeto que “recupera” ou “mantém” uma memória. Os monumentos e objetos nada mais são do que representações dessas memórias, e que tem valor para o grupo no qual estão inseridos e os reconhecem como tal. Fazem parte da cultura de cada grupo, mas sempre constituídos, inventados para dar ideia de continuidade, mas principalmente de pertencimento. A importância pela conservação do acervo do Museu do Som Regional não é dada somente pela sua materialidade, mas também pelo que representa na construção das identidades dos gaúchos. Para se entender um pouco da importância desse acervo faz-se um breve histórico de sua constituição. Embora, tenha sido fundado em outubro de 1999 a ideia de criar um museu do som regional, confunde-se com a origem o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, na década de 1960. A tentativa de valorização da música regional está vinculada ao surgimento da Comissão Estadual de Folclore (1948). Dante Laytano, um dos membros dessa comissão, estava tentando colocar em prática no Rio Grande do Sul, a ideia de um movimento nacional de defesa e conservação da cultura brasileira. Apesar de constar formalmente como de 1947 (criação da Comissão Nacional de Folclore), o movimento começou com os modernistas de 1922, principalmente com Mário de Andrade. Em 1954, a Assembleia Legislativa aprova a lei que reformava a Secretaria de Educação e Cultura do Estado, a qual criava uma divisão da Secretaria, o Instituto de Tradição e Folclore (ITF) sob a direção de Galvão Krebs. Além disso, o museu do IGTF estava previsto desde 1974, no decreto de fundação n. 23613 de 27 de dezembro de 1974, e estava no seu organograma. No artigo IX parágrafo único, do estatuto da instituição, diz que: “fica incluída, entre as finalidades básicas da Fundação, a criação de um Museu Gauchesco e de uma biblioteca especializada” 4 . Entretanto, nos termos desse documento, o Museu nunca se efetivou. Seu acervo estava até 1998 na Fazenda de Águas Claras, em Viamão. O acervo era composto por objetos ligados à história do Rio Grande do Sul. E, hoje não existe mais. Ou seja, a ideia de preservar e valorizar as várias culturas regionais brasileiras estava sendo discutida desde a década de 1920, entre elas a música regionalista. Material e métodos 4 Rio Grande do Sul (Estado). Decreto no 23.613, de 27 de dezembro de 1974 disponível no site: http://www.al.rs.gov.br Em relação à música regional no Rio Grande do Sul, havia dentro da Fundação IGTF a partir de 1980, uma preocupação com os rumos que essa musicalidade tomava com a criação dos primeiros festivais nativistas em 1971, a Califórnia da Canção Nativa. Até então, a identidade regional vinha se consolidando com o sucesso de músicos regionalistas como Teixerinha, Gildo de Freitas e José Mendes. Nos anos oitenta surge um novo movimento cultural, organizado por poetas, músicos e intelectuais que participavam dos festivais. E a FIGTF organizou encontros e debates para discutir esse movimento da música regional. Foi reunido na instituição um dossiê de cada festival de música nativista realizado no Estado, composto de fichas de inscrição de todas as músicas que concorreram nesses festivais. Junto a elas, o nome dos músicos que as “defenderam” e os compositores e demais materiais distribuídos no festival, além de notícias e fotos de jornais locais sobre a cobertura desses eventos. Como a FIGTF acompanhava a realização desses festivais já na década de setenta, fato que possibilitou a constituição dessa coleção intitulada “Decênio dos Festivais”. Levando-se em conta que as identidades são construídas social e coletivamente, constituiu-se o acervo do Museu do Som Regional através de uma campanha de doação de discos realizada no início do ano 2000, através de uma grande campanha em conjunto com a juventude do MTG - Movimento Tradicionalista Gaúcho, que estabeleceu como meta daqueles dois anos coletar em todo o interior do Estado Long Plays (LPs), fitas magnéticas K 7, suportes sonoros que estavam sendo substituídos pelo Compact Disc (CDs). O balanço geral da campanha de doação de discos revela que antes o total de mídias discográficas existentes na Instituição era de apenas 638 unidades e, o total geral com o término da campanha, era de 9.515. Todo esse acervo coletado está dividido em coleções, tais como: festivais, bandinhas alemãs, duplas, trios, grupos e conjuntos, músicos e intérpretes solos, música italiana, portuguesa e espanhola. O acervo está acondicionado em armários de ferro, tipo de escritório, e dividido por coleções: coleção dos festivais, coleção de Bandinhas Alemãs, duplas, trios, grupos e conjuntos, coleção dos músicos e intérpretes solos, música italiana, portuguesa e espanhola. Os itens com mais de duas cópias estão encaixotados com etiquetas indicando a qual coleção pertence. O Museu ainda não sabe se estas cópias irão compor uma reserva técnica ou irão para o descarte. Os discos estão na vertical que é a maneira correta de acondicioná-los. Entretanto não há uma rotina de higienização e o processo de digitalização está parado desde 2004. Já os dossiês dos festivais estão acondicionados em caixas, tipo arquivo, em estantes de Ferro e são divididas por festivais. Esse material não está higienizado e os textos possuem clips de arame de ferro que estão enferrujando. Os arquivos não estão devidamente organizados e há trabalho de pesquisa incipiente com esse material. Resultados e discussão Hoje a equipe que trabalha com esse acervo tem como sua meta estratégica a regularização institucional do Museu. Existe o temor com o advento de novas gestões o projeto seja outra vez abandonado. Para isso a equipe está trabalhando na elaboração de um calendário de discussões. Esse processo prevê a elaboração de uma “missão”, de um regimento do Museu e do pedido ao Governador que decrete a criação do Museu nos termos das decisões tomadas. É previsto a constituição de um Livro Tombo. Atualmente os registros do acervo estão concentrados numa ficha catalográfica eletrônica. Considerações finais Embora, o Museu do Som Regional esteja enfrentando problemas estruturais, como a maioria dos museus estaduais, o acervo se for digitalizado (acessibilidade) tem um enorme potencial e poderá qualificar os programas de rádio e TV que tratam da música regional. Com o acervo organizado poderá ser disponibilizado para pesquisa ou busca de músicas que tratam de temas como: o meio-ambiente, o trabalhador rural, a mulher , o negro, o índio, entre outros. Além disso, a mudança estética ou visual observada através das capas dos discos desse acervo pode ser tema para uma exposição ou para um trabalho acadêmico. A mudança de ritmos e poesias observada nesses 40 anos de festivais nativistas pode ser também outra grande questão a ser estudada. A existência e permanência desse acervo só faz sentido se pudermos possibilitar o acesso a todos os sentidos que ele pode nos proporcionar para a compreensão da nossa regionalidade, ou na forma como esse acervo se encontra, não tem sentido algum. "um amontoado de coisas velhas e em desuso" Referências CHARTIER, Roger. A história cultural. Entre práticas e representações. Lisboa: Difusão Editorial, 1988. CHARTIER, Roger. O mundo como Representação. Estudos avançados 11(5), 1991. GONÇALVES, José Reginaldo. 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