Volume 17 – número 3 Julho – Setembro 2010
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Volume 17 – número 3 Julho – Setembro 2010
ISSN: 1809-2950 FISIOTERAPIA e PESQUISA REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL Volume 17 – número 3 Julho – Setembro 2010 Fisioterapia e Pesquisa Fisioterapia e Pesquisa em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Fofito/FMUSP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor Prof. Dr. João Grandino Rodas Vice-Reitor Prof. Dr. Hélio Nogueira da Cruz SECRETARIA Sarah Rúbia Ferreira de Meneses INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP e-mail: [email protected] Faculdade de Medicina Diretor Prof. Dr. Marcos Boulos EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho Pixeletra ME Depto. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional IMPRESSÃO Chefe Profa. Dra. Selma Lancman Gráfica UNINOVE Tiragem: 500 exemplares Curso de Fisioterapia Coordenadora Profa. Dra. Carolina Fu FISIOTERAPIA E PESQUISA Fisioterapia e Pesquisa v.17, n.3, jul/set. 2010 Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005. v. : il. Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. Semestral: 1994-2004 Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005 Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008 Sumários em português e inglês ISSN 1809-2950 Curso de Fisioterapia Fofito/FM/USP R. Cipotânea 51 Cidade Universitária 05360-160 São Paulo SP Brasil e-mail: [email protected] http://www.fm.usp.br/fofito → Periódicos Telefone: 55 xx 11 3091 8416 INSTITUIÇÕES COLABORADORAS INSTITUIÇÕES PARCEIRAS FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO / USP ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL APOIO 1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Filiada à FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ISSN: 1809-2950 FISIOTERAPIA e PESQUISA REVISTA DO CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL Volume 17 – número 3 Julho – Setembro 2010 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 193 Fisioterapia e Pesquisa Publicação trimestral do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP Fisioterapia e Pesquisa visa disseminar conhecimento científico rigoroso de modo a subsidiar tanto a docência e pesquisa na área quanto a fisioterapia clínica. Publica, além de artigos de pesquisa originais, revisões de literatura, relatos de caso/s, bem como cartas ao Editor. Indexada em: LILACS – Latin American and Caribbean Health Sciences; LATINDEX – Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientifícas de Américas; CINAHL – Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature; e SportDiscus. A revista está disponível na íntegra no portal http://www.revistasusp.sibi.usp.br. EDITORES ESPECIALISTAS Ana Cláudia Mattiello-Sverzut – RAL / FMRP / USP Amélia Pasqual Marques Isabel de Camargo Neves Sacco – Fofito / FMUSP Fofito / FMUSP – Depto. Fisioterapia, Jefferson Rosa Cardoso – Depto. Fisioterapia / Univ. Estadual de Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Londrina Faculdade de Medicina / USP Raquel Simoni Pires – Laboratório de Neurociências / Univ. Cidade Rinaldo Roberto de J. Guirro de São Paulo RAL/FMRP/USP – Depto. Biomecânica, Rosângela Corrêa Dias – EEFFTO – Escola Educ. Física, Fisioterapia e Medicina e Reabilitação do Aparelho Terapia Ocupacional / Univ. Federal de Minas Gerais Locomotor, Faculdade de Medicina de Sílvia Maria Amado João – Fofito / FMUSP Ribeirão Preto / USP EDITORES-CHEFES Simone Dal Corso – Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho CORPO EDITORIAL Anamaria Siriani de Oliveira RAL, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP Ribeirão Preto SP Brasil Depto. Engenharia Telecomunicações e Controle Andre Fabio Kohn São Paulo SP Brasil Escola Politécnica / USP Anke Bergmann Curso de Fisioterapia / Centro Univ. Augusto Motta Rio de Janeiro RJ Brasil Armèle Dornelas de Andrade Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de Pernambuco Recife PE Brasil Barbara M. Quaney Medical Center / University of Kansas Kansas City KA EUA Clarice Tanaka São Paulo SP Brasil Fofito / Faculdade de Medicina / USP Cláudia R. Furquim de Andrade Fofito / Faculdade de Medicina / USP São Paulo SP Brasil School of Allied Health and Life Sciences / New York Chukuka S. Enwemeka Nova Iorque NY EUA Institute of Technology École de Réadaptation et GRIS, Faculté de Médecine / Debbie Feldman Montréal QC Canadá Univ. de Montréal Dirceu Costa Brasil Faculdade Ciências da Saúde/ Univ. Metodista de Piracicaba Piracicaba SP Fátima A. Caromano São Paulo SP Brasil Fofito / Faculdade de Medicina / USP Fay B. Horak EUA Neurological Science Institute/ Oregon Health & Science Univ. Portland OR Laboratoire d’Automatique, de Méchanique et d’Informatique, Franck Barbier Le Mont Houy França Industrielles et Humaines / Univ. de Valenciennes Helenice Jane C. Gil Coury São Carlos SP Brasil Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos Jan Magnus Bjordal Noruega Dept. Public Health and Primary Health Care / Univ. of Bergen Bergen HD João Carlos Ferrari Corrêa São Paulo SP Brasil Depto. Ciências da Saúde / Univ. Nove de Julho Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais Belo Horizonte MG Brasil Marcelo Bigal Dept. of Neurology, Albert Einstein College of Medicine Bronx NY EUA Marco Aurélio Vaz Brasil Escola de Educação Física / Univ. Federal do Rio Grande do Sul Porto Alegre RS Marcos Duarte Escola de Educação Fisica e Esportes / USP São Paulo SP Brasil Maria Ignêz Zanetti Feltrim São Paulo SP Brasil Instituto do Coração, Faculdade de Medicina/ USP Mariano Rocabado Facultad de Odontología / Univ. Andres Bello Santiago RMS Chile Raquel A. Casarotto São Paulo SP Brasil Fofito / Faculdade de Medicina / USP Ricardo Oliveira Guerra Brasil Depto. Fisioterapia / Univ. Federal Rio Grande do Norte Natal RN Sérgio Teixeira da Fonseca Belo Horizonte MG Brasil EEFFTO / Univ. Federal de Minas Gerais Tânia de Fátima Salvini São Carlos SP Brasil Depto. Fisioterapia / Univ. Federal de São Carlos Vera Lúcia Israel Curso Fisioterapia / Univ. Federal do Paraná – Litoral Matinhos PR Brasil 194 Fisioter Pesq. 2010;17(3) SUMÁRIO CONTENTS Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197 Editorial PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH Preferência manual de crianças ao alcançar objetos de tamanho e rigidez diferentes . . . . . . . . . . 198 Infants’ and toddlers’ hand preference in reaching objects of different size and rigidity Suellen A. Bottesini, Fernanda P. dos Santos Silva, Eloisa Tudella Desempenho motor e sensorial de lactentes com e sem síndrome de Down: estudo piloto . . . . . 203 Motor and sensory performance of infants with and without Down syndrome: a pilot study Ana Carolina de Campos, Maria Cristina Coelho, Nelci A. C. Ferreira Rocha Influência do treinamento da musculatura respiratória e de membros inferiores no desempenho funcional de indivíduos com DPOC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209 Influence of respiratory and lower limb muscle training on functional performance of subjects with COPD Maria Elaine Trevisan, Andressa Silva Porto, Thiely Machado Pinheiro Capacidade funcional de hemiparéticos crônicos submetidos a um programa de fisioterapia em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 214 Functional status of hemiparetic subjects submitted to group physical therapy Caroline Háruka Giriko, Raquel A. Napolitano Azevedo, Heloyse Uliam Kuriki, Augusto Cesinando de Carvalho Avaliação antropométrica e do ângulo quadricipital na osteoartrite de joelho em mulheres obesas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220 Anthropometric and Q angle assessment in obese women with knee osteoarthritis Eduardo Paul Chacur, Luciana Oliveira e Silva, Gabriela C. Pontes Luz, Fábio Diodi Kaminice, Nadia Carla Cheik Desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral participantes de tratamento multidisciplinar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 Functional performance of children with cerebral palsy undergoing multidisciplinary treatment Alex Carrer B. Dias, Joyce Cristina Freitas, Cibelle Kayenne M. R. Formiga, Fabiana Pavan Viana Desempenho do membro não-acometido em pacientes com reconstrução do ligamento cruzado anterior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 230 Performance of uninjured lower limb after anterior cruciate ligament reconstruction Maria Isabel de N. Neta, Nícia Farias Braga, Denise Dal'Ava Augusto, Ariane Emerenciano da Câmara, Jamilson Simões Brasileiro Lesões e desvios posturais na prática de futebol em jogadores jovens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 236 Injuries and postural deviations in young players’ soccer practice Julio Francisco Kleinpaul, Luana Mann, Saray Giovana dos Santos Fisioter Pesq. 2010;17(3) 195 Comparação entre indivíduos hemiparéticos com e sem histórico de quedas com base nos componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde . . . 242 Comparison between post-stroke hemiparetic subjects with and without history of falls on the basis of the International Classification of Functioning, Disability and Health Christina D. C. de Morais Faria, Viviane Amaral Saliba, Luci F. Teixeira-Salmela, Sylvie Nadeau Função pulmonar em mulheres com câncer de mama submetidas à radioterapia: um estudo piloto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 248 Pulmonary function in women with breast cancer undergoing radiotherapy: a pilot study Renata de Carvalho Schettino, Lícia M. G. Nogueira Jotta, Geovanni Dantas Cassali Predição da força de reação do solo durante a corrida na água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 Prediction of ground reaction force during water immersion running Alessandro Haupenthal, Heiliane de Brito Fontana, Caroline Ruschel, Helio Roesler, Adriano Ferreti Borgatto Eficácia de tratamento fisioterapêutico no equilíbrio estático e dinãmico de pacientes com doença de Parkinson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 259 Effectiveness of a physical therapy treatment on static and dynamic balance of subjects with Parkinson’s disease Gustavo Christofoletti, Rosana Tannus Freitas, Evandro Rocha Cândido, Clariany Soares Cardoso RELATO DE CASOS CASE REPORT Efeito das terapias associadas de imagem motora e de movimento induzido por restrição na hemiparesia crônica: estudo de caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 264 Effects of associated therapies of motor imagery and constraint-induced movement in chronic hemiparesis: a case study Claudia Morais Trevisan, Vanessa Trintinaglia REVISÃO REVIEW Características biomecânicas, ergonômicas e clínicas da postura sentada: uma revisão. . . . . . . . . . 270 Biomechanic, ergonomic, and clinical features of the sitting posture: a review Nise Ribeiro Marques, Camilla Zamfolini Hallal, Mauro Gonçalves Efeitos dos exercícios resistidos sobre o equilíbrio e a funcionalidade de idosos saudáveis: artigo de atualização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277 Effects of resistance training on balance and functional ability in healthy elderly: an update Marina L. Monteiro de Araújo, Claudia Marina Fló, Sabrina Michels Muchale Errata ......................................................................................................................................................................................... 284 Instruções para os autores .................................................................................................................................................... 285 Ficha de assinatura ................................................................................................................................................................ 287 196 Fisioter Pesq. 2010;17(3) EDITORIAL EDITORIAL PEDro, a Base de Dados de Evidência em Fisioterapia A prática clínica baseada em evidências é considerada um dos principais elementos da prática fisioterapêutica. O uso consistente de recomendações terapêuticas fundamentadas em evidências pode proporcionar melhores resultados, assim como reduzir custos para o sistema de saúde em geral. Revisões sistemáticas e estudos controlados aleatorizados (ECA) são considerados as melhores fontes de evidência para verificar se uma determinada intervenção é eficaz ou não. Portanto, fisioterapeutas precisam ter acesso livre e fácil a esses tipos de estudo. O grande problema é que o número de ECA e revisões sistemáticas em Fisioterapia vem crescendo rapidamente, cerca de 100% a cada três anos e meio: um fisioterapeuta formado em 2010 tem acesso a três vezes mais artigos relacionados à eficácia de intervenções em fisioterapia durante sua formação do que um colega que se formou em 2003. Diante de tão avolumada produção, como, então, se atualizar? Além disso, como distinguir estudos com alta qualidade metodológica de outros com menor qualidade? A Base de Dados de Evidência em Fisioterapia PEDro (Physiotherapy Evidence Database) foi criada há 10 anos por pesquisadores da Escola de Fisioterapia da Universidade de Sydney, Austrália. PEDro é a mais completa base de estudos que versam exclusivamente sobre o arsenal terapêutico da fisioterapia. Indexa três tipos de estudo: diretrizes para a prática clínica, revisões sistemáticas e ECA. E todos os ECA são avaliados por três revisores independentes, que os classificam segundo a qualidade metodológica. A PEDro pode ser acessada gratuitamente pelo site www.pedro.org.au/portuguese, onde o fisioterapeuta encontra instruções sobre como fazer buscas, interpretar os escores da escala de qualidade PEDro, assim como links para ferramentas e informações úteis para aqueles interessados em prática baseada em evidência. Ao realizar uma busca na PEDro, o leitor terá acesso ao resumo do artigo, seu escore de qualidade metodológica na escala PEDro e link para encontrar o artigo na íntegra. No momento a PEDro está em um processo de desmembramento de atividades: a coordenação dos artigos publicados em língua portuguesa e espanhola encontra-se sob a responsabilidade do Centro Brasileiro de Prática Baseada em Evidência em Fisioterapia (sediado na Universidade Cidade de São Paulo), que se propõe a gerenciar a PEDro no Brasil, além de promover pesquisas na área de prática baseada em evidência, ações de melhoria de qualidade em pesquisas em Fisioterapia e estimular fisioterapeutas a utilizar cada vez mais dados científicos de alta qualidade em beneficio de seus pacientes. Espera-se que oportunidades de colaboração entre a PEDro e outras entidades, como a revista Fisioterapia & Pesquisa, melhore ainda mais a qualidade e eficiência de atendimentos de fisioterapia no Brasil. Leonardo Oliveira Pena Costa Prof. Dr. do Programa de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo Fisioter Pesq. 2010;17(3) 197 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.198-202, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Preferência manual de crianças ao alcançar objetos de tamanho e rigidez diferentes Infants’ and toddlers’ hand preference in reaching objects of different size and rigidity Suellen A. Bottesini1, Fernanda Pereira dos Santos Silva2, Eloisa Tudella3 Estudo desenvolvido no Laboratório de Pesquisa em Análise do Movimento do Nenem/UFSCar - Núcleo de Estudos em Neuropediatria e Motricidade da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil 1 Fisioterapeuta especialista em Intervenção em Neuropediatria 2 Fisioterapeuta Ms. 3 Fisioterapeuta; Profa. Dra. do Depto. de Fisioterapia da UFSCar ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Suellen A. Bottesini R. Dr. Lauro Pimentel 714 Cidade Universitária 13083-250 Campinas SP e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO out. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO abr. 2010 198 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):198-7 2010;17(3):198-202 RESUMO: O estudo teve por objetivo analisar a preferência manual de crianças ao alcançar objetos de diferentes tamanhos nas idades de 4, 6, 8 e 36 meses. Para tanto, nove crianças saudáveis foram posicionadas em uma cadeira reclinada para trás a 50º com a horizontal e a elas foram apresentados quatro objetos de rigidez e tamanhos distintos. Foram coletados longitudinalmente 524 alcances aos 4, 6, 8 e 36 meses, sendo analisadas as variáveis mão preferida no alcance e índice de contribuição para os alcances bimanuais. Constatou-se que a mão preferida no alcance no decorrer dos meses foi a direita e que somente aos 6 meses o tamanho dos objetos influenciou a preferência manual: as crianças fizeram preferencialmente alcances com a mão direita para objetos pequenos, e mão esquerda para os grandes. Nos alcances bimanuais, constatou-se que, em geral, a mão que primeiro toca o objeto é a mão mais ativa durante todo o movimento de alcançar. Provavelmente porque a rigidez seja menos visualmente percebida do que o tamanho, só este influencia o alcance aos 6 meses, idade em que o lactente refina o movimento de alcance. O tamanho o influencia aos 6 meses, idade em que o movimento de alcançar se encontra em fase de refinamento: objetos pequenos que exigem maior precisão foram alcançados com a mão direita (mão preferida); e objetos grandes, que não exigem precisão para serem apreendidos, foram alcançados com a mão esquerda. DESCRITORES: Atividade motora; Lactente e criança pré-escolar; Lateralidade funcional; Movimento de alcance ABSTRACT: The purpose of this study was to analyse infants’ and toddlers’ manual preference in reaching objects of different sizes and rigidity at the ages of 4, 6, 8, and 36 months. Four objects of different size and stiffness were presented to nine healthy infants leaning on a chair at 50º. A total of 524 reaching movements were analysed longitudinally to verify manual preference and the index of contribution of each hand for bimanual reaching. Results showed preference of the right hand for reaching objects; only at the age of 6 months the object size influenced manual preference: infants used preferably the right hand to reach small objects and the left one for large objects. The hand that first touched the object in bimanual reaching was the most active during reaching trajectory. These findings suggest that the size of the object – and not rigidity, which is less visually perceptible – influenced infants‘ reaching at the age of 6 months, that is, when reaching movement is being refined; small objects, which require more accuracy to be grasped, were reached with the right hand (preferred one)), whereas large objects which do not require accuracy to be grasped were reached with the left hand. KEY WORDS: Functional laterality; Infants and toddlers; Motor activity; Movement, reaching Bottesini et al. Mão preferencial para alcance em crianças INTRODUÇÃO Preferência manual pode ser definida pela escolha de uma das mãos ou pelo uso preferido desta em situações nas quais apenas uma pode ser utilizada para determinada tarefa1. Essa preferência pode estar relacionada a fatores genéticos que produzem assimetrias estruturais no sistema nervoso central, estabelecendo-se precocemente durante o desenvolvimento2,3, o que favorecerá o processo de aprendizagem e a consolidação de praxias, permitindo que a criança organize suas atividades motoras4. Também pode estar relacionada com a tarefa realizada pelo lactente que está desenvolvendo a apreensão de objetos e pelo ambiente no qual está inserido5. Estudos apontam, como fatores que influenciam essa preferência, a posição do feto no útero, a orientação preferencial da cabeça em recém-nascidos para a direita ou para a esquerda6 e o tamanho dos objetos a serem alcançados7. Embora se saiba que esses fatores podem influenciar o desenvolvimento da preferência manual, não se sabe precisamente quando ela se estabelece. A preferência manual pode ser observada pelo uso freqüente da mão direita em movimentos habituais após o sexto mês de vida8. No entanto, verificou-se que apenas aos 3 anos de idade essa preferência surge claramente, pois é quando o controle da postura e dos movimentos dos membros superiores estão estabelecidos6. Nesse intervalo entre o sexto mês e os três anos de vida, podem existir flutuações na preferência manual que, segundo Corbetta e Thelen6, estão relacionadas às mudanças nas trocas posturais, como o arrastar e engatinhar. Rocha7 também observou essa flutuação, porém em lactentes mais jovens, constatando que aos 4 meses os lactentes usaram mais a mão esquerda, enquanto que aos 5 e 6 meses passaram a usar a mão direita no alcance dos objetos, sugerindo que, quando o alcance requer maior precisão, a variabilidade na preferência manual diminui e o uso de uma das mãos pode ser melhor observado. No entanto, Morange-Majoux et al.9 não verificaram essa flutuação; observaram que lactentes com idades entre 4 meses e meio a 6 meses e meio realizaram os movimentos com o braço direito em me- nor tempo, melhor orientados em direção ao objeto e apresentaram maior número de mudanças corretivas na trajetória em comparação ao desempenho com o braço esquerdo. Hinojosa et al.5 também não observaram tal flutuação em lactentes mais velhos (de 7 e 11 meses), verificando que crianças com preferência direita no alcance mostraram aumento no uso da mão direita para ações unimanuais de manipulação, e que crianças com preferência manual esquerda para o alcance mostraram aumento no uso da mão esquerda. No entanto, crianças que não apresentavam preferência para o alcance mostraram um pequeno aumento no uso da mão direita nas atividades de manipulação. Mesmo no estudo de Petrie e Peters10, que avaliaram lactentes muito jovens (duas e três semanas de vida), os resultados mostraram desempenho favorável da mão direita tanto para o tempo de preensão do objeto quanto para a força aplicada na preensão, portanto sem demonstrar flutuação, e ainda deixando dúvidas sobre a idade em que a preferência manual se estabelece. Diante do exposto, observa-se que existe uma preferência manual à direita, porém não foi verificado se houve alteração no desempenho da preferência manual em relação à demanda da tarefa, ou seja, se diferentes objetos podem influenciar essa preferência. Assim, no presente estudo foram escolhidas as idades de 4, 6, 8 e 36 meses, dadas as evidências de que aos 4 meses os lactentes passaram pela fase de aquisição, aos 6 meses ainda estão na fase de refinamento do alcance, e aos 8 meses mostram componentes de movimento que se assemelham aos movimentos de adultos, sendo portanto capazes de revelar a preferência manual, o que se confirmará aos 36 meses, quando detêm o controle completo dos movimentos dos membros superiores. Por conseguinte, o presente estudo teve por objetivo analisar longitudinalmente a preferência manual de crianças ao alcançar objetos de diferentes tamanhos e rigidez nas idades de 4, 6, 8 e 36 meses. METODOLOGIA O estudo foi realizado de acordo com as normas regulamentadoras e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos; os pais ou responsáveis pelas crianças assinaram previamente o termo de consentimento livre e esclarecido. Participaram do estudo nove crianças saudáveis, três meninos e seis meninas, nascidos a termo com idade gestacional média de 39 semanas (±1,11), com índice de Apgar de 8,44 (±0,72) no primeiro minuto e de 10 (±0,0) no quinto minuto. As crianças nasceram com peso médio adequado (3410±0,52 g) e foram avaliadas longitudinalmente nas idades médias de 4 meses e 2 dias (±0,85), 6 meses e 1 dia (±2,55), 8 meses e 2 dias (±3 dias) e aos 3 anos e 18 dias de idade (±14 dias). com tolerância de 5 dias anteriores ou posteriores à data do aniversário. Materiais e procedimentos Foram afixados marcadores esféricos (0,5 cm de diâmetro) com fita dupla-face hipoalérgica na região dorsal do carpo dos lactentes, para posterior análise cinemática. Os participantes foram posicionados em uma cadeira infantil com inclinação posterior de 50º. Após sua adaptação à postura, foram apresentados quatro objetos esféricos, atrativos e coloridos (laranja, verde e amarelo), aqui denominados rígido grande (RG), rígido pequeno (RP), maleável grande (MG) e maleável pequeno (MP). Os objetos maleáveis foram confeccionados com lã antialérgica no formato de pompom e os objetos rígidos foram confeccionados com bolas de isopor pintadas nas mesmas cores dos pompons de lã. Os objetos pequenos mediam 5 cm de diâmetro e os grandes, 12,5 cm de diâmetro. Cada objeto foi apresentado a uma distância correspondente ao comprimento do membro superior do lactente, na linha média do corpo e na altura dos ombros, por um período de 1 minuto11,12; a cada alcance efetivo, o objeto era gentilmente retirado e reapresentado. O estudo foi filmado por três câmeras filmadoras digitais (1 Sony miniDV DCRTRV30, 2 JVC DY DV300) uma posicionada póstero-superiormente à cadeira onde estava reclinada a criança e as outras duas antero-diagonalmente, uma localizada à direita e a outra à esquerda12. Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):198-202 2010;17(3):198-7 2010;17(3) 199 • Adobe Premier 6.3, para transformar as imagens das fitas de vídeo em arquivos com formato AVI, permitindo assim a visualização no sistema Dvideow; • o sistema Dvideow 5.0, por meio do qual foram realizadas duas análises: identificação visual do membro superior que primeiro tocou o objeto, proporcionando dados para cálculo da mão preferida; e reconstrução tridimensional da trajetória de ambos os membros superiores, fornecendo dados para o cálculo do índice de contribuição, no caso dos alcances bimanuais; • e o programa Matlab (6.1), para filtrar os dados e calcular a variável índice de contribuição. As imagens foram analisadas por dois examinadores experientes no manejo de todos os programas utilizados; a fim de garantir a confiabilidade das análises, alguns alcances foram avaliados por ambos e foi verificada a coerência entre os resultados, o que foi amplamente alcançado. As variáveis dependentes analisadas foram a mão preferida (direita ou esquerda) e o índice de contribuição de cada mão. A mão preferida indica aquela que primeiro tocou o objeto. Foi considerada usando a pontuação obtida na fórmula abaixo, sendo computados todos os alcances realizados: (Σ alcances_mão_direita – Σ alcances_mão_esquerda) (Σ alcances_mão_direita + Σ alcances_mão_esquerda ) O índice de contribuição indica o quanto uma mão contribui mais que a outra naquele movimento, ou seja, o quanto uma mão é mais ativa do que a outra, ou se o comportamento de ambas as mãos foi semelhante. Esse índice é calculado pela diferença entre a velocidade do membro superior direito e do esquerdo, dividida pela velocidade to- 2010;17(3):198-202 200 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 120 Número de alcances Três programas foram utilizados para análise dos alcances: tal (somatória das velocidades das mãos direita e esquerda), sendo encontrados valores que variam de –1 a + 1; –1 indica que a mão esquerda foi mais ativa durante o alcance, enquanto +1 indica que a mão direita foi mais ativa durante o movimento; valores próximos a zero indicam que não houve tendência a lateralização naquele alcance, pois ambos os lados apresentaram velocidades similares. Essa variável foi calculada apenas para os alcances bimanuais, para analisar o braço com melhor desempenho no alcance – teoricamente o da mão preferida, principalmente nos casos em que as mãos alcançavam com uma diferença muito pequena, de 0,01 segundo, por exemplo. Direita Esquerda 100 80 60 40 20 0 4 meses 6 meses 8 meses 36 meses Idade Gráfico 1 Mão preferida para os alcances (n=524) de todos os objetos segundo a idade Número de alcances Para a análise da mão direita usaram-se as imagens das câmeras superior e à direita da criança; para análise da mão esquerda foram utilizadas as imagens das câmeras superior e à esquerda13. 200 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Direita Rígido Maleável Esquerda Grande Pequeno Propriedades físicas dos objetos Gráfico 2 Mão preferida para os alcances (n=524) segundo as propriedades físicas dos objetos Análise estatística crianças em cada idade para os quatro objetos apresentados. O teste de Kolmogorov-Smirnov foi usado para verificar a distribuição dos dados, sendo rejeitada a hipótese de normalidade de todas as variáveis. Para a análise da significância foram utilizados testes não-paramétricos: o teste do qui–quadrado, para testar a condição idade (quatro níveis: 4, 6, 8 e 36 meses) e objeto (quatro níveis: RG, RP, MG, MP); e o teste McNemar para comparar a condição índice de contribuição e toque nos alcances bimanuais, dado que são duas amostras, pareadas e nominais dicotômicas. Para todas as análises foi considerado um nível de significância de 5%. Dos 524 alcances analisados, constatou-se que a mão preferida para alcançar foi a direita aos 4 meses [χ 2 (1)=2,7931; p=0,0947], aos 6 [χ2 (1)=15,0347; p=0,001], aos 8 [χ2 (1)=13,7205; p=0,0002) e aos 36 meses [χ2(1)=4,2250; p=0,0398], como pode ser observado no Gráfico 1. RESULTADOS Um total de 524 alcances uni e bimanuais foram coletados nas idades de 4, 6, 8 e 36 meses dos lactentes, sendo que 314 alcances foram unimanuais e 210 bimanuais. A Tabela 1 apresenta o número de alcances realizados pelas Em relação ás propriedades físicas dos objetos apresentados (Gráfico 2), constatou-se que foi feito um número maior Tabela 1 Número de alcances realizados aos 4, 6, 8 e 36 meses para os objetos: rígido grande (RG), rígido pequeno (RP), maleável grande (MG) e maleável pequeno (MP) Alcance de objetos RP MG MP Total Idade (meses) RG 4 6 8 36 Total 5 3 9 12 44 42 45 42 44 39 40 39 40 40 40 40 133 124 134 133 29 173 162 160 524 Bottesini et al. Mão preferencial para alcance em crianças 4 meses Número de alcances 35 6 meses 8 meses 36 meses 30 25 20 15 10 5 0 RG RP MG MP Direita RG RP MG MP Esquerda Gráfico 3 Preferência manual para o alcance de cada objeto – rígido grande (RG), rígido pequeno (RP), maleável grande (MG) e maleável pequeno (MP) – segundo a idade de alcances com a mão direita para os objetos maleáveis e com a mão esquerda para os rígidos, mas essa diferença não foi significativa [χ 2 (1)=1,8656; p=0,1720]. Em relação ao tamanho, tanto a mão direita quanto a esquerda fizeram mais alcances para objetos grandes, não havendo diferença significativa [χ2(1)=0,1086; p=0,7417]. terminada pelo índice de contribuição aos 4, 6, 8 e 36 meses (p>0,05). Isso indica que a mão que primeiro tocou o objeto foi a mais ativa durante toda a trajetória do movimento – no caso, a esquerda (Gráfico 4). Em relação à idade (Gráfico 3), os achados do presente estudo mostram que apenas aos 6 meses houve diferença significativa em relação ao tamanho dos objetos (χ2 (1)= 4,4406; p=0,0351), quando os objetos pequenos são preferivelmente alcançados com a mão direita, enquanto os grandes o são com a mão esquerda. Os achados do presente estudo revelaram que houve preferência manual à direita ao longo dos meses e que o tamanho dos objetos influenciou a preferência manual somente aos 6 meses de idade. Verificou-se também que nos alcances bimanuais a mão que primeiro toca o objeto, em geral, é a mão mais ativa, com melhor desempenho no alcance em direção ao objeto. Em relação aos alcances bimanuais, foram analisados 210 alcances; no entanto, foram excluídos 35, pois não houve toque da outra mão no objeto, ao final do movimento. Constatou-se que não houve diferença significativa em relação à mão que tocou primeiro no objeto e a mão mais ativa durante o alcance, de- DISCUSSÃO Número de alcances Em relação à preferência manual, a direita em todas as idades avaliadas era um dado esperado, uma vez que, segundo a literatura, a relação entre destros e canhotos é de 9:1, ou seja, 90% da população é destra3,6. Além disso, com o aumento da idade a preferência pela mão direita torna-se Esquerda Direita mais estável14. No entan100 95 to, a literatura relata que 90 existe uma variabilidade, 85 ou seja, uma flutuação 80 75 na preferência manual 70 dos lactentes ao longo 65 dos meses6,7. Os resulta60 55 dos do presente estudo 50 não corroboram esses Toques Contribuição manual estudos, pois não houve flutuação na preferência Gráfico 4 Preferência manual nos alcances bimanuais (n=175): mão que tocou primeiro o objeto (toque) manual dos lactentes no decorrer dos 4, 6, 8 e 36 e índice de contribuição da mão no movimento meses. Acredita-se que a diferença de tamanho e rigidez dos objetos possa ter imposto uma demanda de precisão na tarefa, levando a criança a usar, na maioria dos alcances, a mão preferida (mão direita), não se apresentando assim flutuações. Também pôde-se inferir que a preferência manual está estabelecida antes até do oitavo mês de vida, conforme previsto. Em relação às propriedades dos objetos, apenas o tamanho influenciou aos 6 meses de idade, provavelmente devido ao fato de essa idade corresponder a um período de refinamento do movimento de alcance, quando os lactentes estão explorando para verificar as melhores estratégias no alcançar. Konzack e Dichgans15 relataram que aos 6 meses os lactentes são capazes de alcançar e apreender objetos, porém o processo de refinamento continua devido às alterações biomecânicas e desenvolvimento da visão binocular, fornecendo melhor informação sobre o tamanho e localização espacial do objeto. Assim, pode-se inferir que os lactentes perceberam visualmente o tamanho do objeto e isso gerou uma necessidade de ajustes, pois objetos pequenos exigem alcances com maior precisão, maior controle e coordenação dos braços, para o quê é relevante o uso da mão preferida16. Além disso, segundo Newman et al.17 nessa idade os lactentes apresentam preferência por objetos pequenos, por apresentarem melhora no controle dos movimentos finos, melhora da cognição e maturação das vias neurais na preensão, o que pode estimular ainda mais o uso da mão preferida – diferentemente dos 4 meses de idade, por ser uma fase de aquisição do alcance manual e dos 8 meses, quando os lactentes já apresentam características de movimentos semelhantes às de adultos 17, bem como dos 36 meses, quando as crianças apresentam controle total dos membros superiores6. Aos 6 meses a rigidez dos objetos não interferiu na preferência manual dos lactentes, provavelmente por duas razões: a primeira deve-se à possibilidade de os lactentes não terem percebido visualmente a diferença entre objetos maleáveis e rígidos, pois nessa idade a acuidade e atenção visual ainda estão em desenvolvimento, conforme mostrado por Rochat e Goubet18 e Fallang et al.19. Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):198-202 2010;17(3) 201 A segunda seria o fato de que a rigidez dos objetos não constituiu um fator complicador a exigir maior precisão, e conseqüentemente o uso da mão com melhor desempenho (a preferida). Aos 36 meses não se observou influência das propriedades de tamanho e rigidez na preferência manual neste estudo; no entanto, se objetos apresentados fossem ainda menores, talvez pudessem ter influenciado a preferência manual, pois objetos pequenos exigem maior precisão na trajetória do alcance12. Os resultados do presente estudo relacionados à mão preferida ser a mais ativa durante o movimento não corroboram o estudo de Teixeira20, segundo o qual existe uma simetria na lateralidade relacionada ao tempo do movimento, indicando que a capacidade de controle motor para a velocidade de movimen- to é similar entre os lados preferidos e nãopreferidos. Acredita-se que se os objetos fossem ainda maiores talvez a velocidade do movimento fosse a mesma, pois exigiria uma coordenação bimanual sincrônica para serem apreendidos adequadamente, assim existiria uma simetria entre os lados, sem evidenciar preferência manual. Apesar de o estudo ter sido feito com um número limitado de crianças, vale ressaltar sua relevância clínica. A lateralidade tem um papel importante no processo de aprendizagem e organização motora das crianças, sendo aqui evidenciado o estabelecimento precoce da preferência manual, influenciada pelo tamanho dos objetos. Assim, sugere-se que a preferência manual seja trabalhada e explorada durante a intervenção, para que a criança futuramente possa direcionar de forma melhor suas tarefas motoras. CONCLUSÃO Os resultados mostram que as crianças apresentam preferência manual – pela direita – em idades precoces, mesmo nos alcances bimanuais. Sugere-se que o tamanho do objeto influencia o alcance aos 6 meses, quando as crianças ainda estão refinando esse movimento. Acredita-se que a propriedade de tamanho dos objetos seja mais visualmente percebida do que a rigidez e, por isso, influenciou a preferência manual. Além disso, os objetos pequenos, que exigem maior precisão para serem apreendidos, foram alcançados em sua maioria com a mão direita, a mão preferida, e os grandes, que não exigem precisão para serem apreendidos, foram alcançados com a mão esquerda, não-preferida. REFERÊNCIAS 11 Carvalho RP, Tudella E, Barros RML. Utilização do sistema Dvideow na análise cinemática do alcance manual de lactentes. Rev Bras Fisioter. 2005;9:41-7. 1 Vasconcelos O. Aprendizagem motora, transferência bilateral e preferência manual. Rev Bras Educ Fis. 2006;20:37-40. 2 Teixeira LA. Controle motor. Barueri: Manole; 2006. 3 Willems RM, Haggort P. Hand preference influences neural correlates of action observation. Brain Res. 2009;90-104. 12 Rocha NACF, Silva FPS, Tudella E. Influência do tamanho e rigidez dos objetos nos ajustes proximais e distais do alcance de lactentes. Rev Bras Fisioter. 2006;10:263-9. 4 Rosa Neto F. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed; 2002. 13 Rocha NACF, Silva FPS, Tudella E. Alcance em lactentes saudáveis: desenvolvimento linear? Fisioter Pesq. 2006;13:30-7. 5 Hinojosa T, Sheu CF, Michel GF. Infant hand-use preferences for grasping objects contributes to the development of a hand-use preference for manipulating objects. Dev Psychobiol. 2003;43:328-34. 14 Fagard J, Lockman JJ. The effect of task constraints on infants’ (bi)manual strategy for grasping and exploring objects. Infant Behav Dev. 2005;28:305-15. 6 Corbetta D, Thelen E. Lateral biases and fluctuations in infants’ spontaneous arm movements and reaching. Dev Psychobiol. 1999;34:237-55. 7 Rocha NACF. Impacto das propriedades físicas dos objetos nos movimentos de alcance em lactentes saudáveis de 4 a 6 meses de idade [tese]. São Carlos: Depto de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos; 2006. 8 Teixeira LA, Paroli R. Assimetrias laterais em ações motoras: preferências versus desempenho. Motriz. 2000;6:1-8. 9 Morange-Majoux F, Peze A, Bloch H. Organisation of left and right hand movement in a prehension task: a longitudinal study from 20 to 32 weeks. Laterality. 2000;4:351-62. 10 Petrie BF, Peters M. Handedness: left/rigth differences in intensity of grasp response and duration of rattle holding in infants. Infant Behav Dev. 1980;3:215-21. 2010;17(3):198-202 202 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 15 Konczak J, Borutta M, Dichgans J. The development of goal-directed reaching in infants, II: learning to produce task-adequate patterns of joint torque. Exp Brain Res. 1997;113:465-74. 16 Pryde KM, Roy EA, Campbell K. Prehension in children and adults: the effects of object size. Hum Mov Sci. 1998;17:743-52. 17 Newman C, Atkinson J, Braddick O. The development of reaching and looking preferences in infants to objects of different sizes. Dev Psychol. 2001;37:561-72. 18 Rochat P, Goubet N. Development of sitting and reaching in 5- to 6-month-old infants. Infant Behav Dev. 1995;18:53-68. 19 Fallang B, Saugstard OD, Hadders-Algra M. Goal directed reaching and postural control in supine position in healthy infants. Behav Brain Res. 2000;115:9-18. 20 Teixeira LA. Avanços em comportamento motor. Rio Claro: Movimento; 2001. Cap. Assimetrias laterais de performance motora, v.1, p.248-64. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.203-8, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Desempenho motor e sensorial de lactentes com e sem síndrome de Down: estudo piloto Motor and sensory performance of infants with and without Down syndrome: a pilot study Ana Carolina de Campos1, Maria Cristina Coelho2, Nelci Adriana Cicuto Ferreira Rocha3 Estudo desenvolvido no Ladi/ UFSCar – Laboratório de Análise do Movimento Infantil da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP, Brasil 1 Fisioterapeuta Ms. doutoranda no Programa de PósGraduação em Fisioterapia da UFSCar 2 Terapeuta ocupacional Especialista do Núcleo de Apoio à Saúde da Família da Casa de Saúde Santa Marcelina, São Paulo, SP 3 Fisioterapeuta; Profa. Dra. do Depto. de Fisioterapia da UFSCar ENDEREÇO PARA RESUMO: O estudo visou avaliar o desempenho motor e sensorial de lactentes com e sem síndrome de Down (SD) aos seis meses de vida. Foram avaliados oito lactentes, sendo quatro com SD e quatro típicos, com 24 semanas de vida. Para verificar o desempenho motor foi utilizada a escala motora infantil de Alberta (AIMS), nas posturas supina, prona, sentada e em pé. O desempenho sensorial foi avaliado por meio de entrevista com o cuidador da criança utilizando o perfil sensorial infantil ITSP (infant/toddler sensory profile), que classifica comportamentos sensoriais como de “baixo registro” (dificuldade em registrar estímulos sensoriais), busca de estímulos, excessiva sensibilidade a estímulos e comportamentos de evitar estímulos. Os resultados no ITSP mostram que os lactentes com SD obtiveram piores escores em baixo registro, possivelmente por apresentarem altos limiares neurológicos, demorando mais para responder aos estímulos. Na AIMS os lactentes com SD tiveram um desempenho inferior quando comparados aos típicos na subescala prono, o que pode advir de dificuldades no controle postural e antigravitacional. Não foi encontrada correlação entre os escores do ITSP e da AIMS. Os resultados sugerem que os lactentes com SD podem se engajar com menos freqüência em atividades de interação com o ambiente, tanto por dificuldade em registrar estímulos cotidianos (como diferentes sons e pessoas), quanto por dificuldade em explorar o meio utilizando habilidades motoras. DESCRITORES: Desempenho psicomotor; Lactente; Limiar sensorial; Síndrome de Down CORRESPONDÊNCIA Ana Carolina de Campos R. Capitão Alberto Mendes Jr. 269 Vila Costa do Sol 13566-010 São Carlos SP e-mail: [email protected] O estudo contou com apoio financeiro da Fapesp – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo. APRESENTAÇÃO nov. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO abr. 2010 ABSTRACT: The study aimed at assessing motor and sensory performance of infants with Down syndrome (DS) comparing them to typical infants at the age of six months. Eight infants – 4 with typical development, 4 with DS – were assessed as to motor performance by the Alberta infant motor scale (AIMS) at supine, prone, sitting, and standing positions. Sensory performance was assessed by using the Infant/toddler sensory profile (ITSP), which classifies sensorial behaviours as “low registration” (difficulty in detecting sensory stimuli), sensation seeking, excessive sensitivity to stimuli, and sensation avoiding behaviours. Results show that infants with DS had significantly lower scores in low registration when compared to typical infants, suggesting that their higher sensory threshold lead to longer reaction times. At the AIMS, infants with DS had lower performance when compared to typical infants at the prone subscale, which may be due to deficits in postural and antigravity control. No correlation was found between ITSP and AIMS scores. Results then suggest that infants with Down syndrome may less frequently engage in environmental interactions, probably due both to difficulty in perceiving day-today stimuli (like diverse sounds or people’s) and difficulty to explore the environment by using their limited motor abilities. KEY WORDS: Down syndrome; Infant; Psychomotor performance; Sensory thresholds Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):203-8 2010;17(3) 203 INTRODUÇÃO A síndrome de Down (SD) é uma das anomalias cromossômicas autossômicas mais freqüentes, com incidência no Brasil de aproximadamente 1:600 nascidos vivos1. Caracteriza-se por alterações nos sistemas neuromotor, cognitivo e sensorial2-4, dentre outras, que resultam em prejuízos ao desempenho em atividades funcionais. Algumas das características neuromotoras presentes na SD são hipotonia muscular5, longo tempo de reação a estímulos6, e problemas de equilíbrio que podem ser causados por deficit no sistema de controle postural7. Ao comparar o desenvolvimento motor de crianças com SD com o de crianças típicas, observa-se atraso na aquisição de habilidades motoras nas crianças com SD4,8,9. As habilidades de rolar, alcançar e sentar independentemente emergem por volta dos 64, 710 e 12 meses4, respectivamente. A marcha surge com um atraso de aproximadamente um ano quando comparada a seu aparecimento em crianças típicas e tem características imaturas, como base alargada, rotação externa do quadril e ausência de balanço recíproco dos braços11,12. Além das alterações motoras, dificuldades em aspectos sensoriais e perceptuais também foram descritos em crianças com SD. De acordo com Case-Smith e Rogers13, os problemas de equilíbrio e atraso na marcha podem ser atribuídos a limitações no processamento vestibular, ou a um pobre reconhecimento de estímulos proprioceptivos. Achados como diminuição da sensitividade da criança com SD à informação proprioceptiva de peso adicional nos membros inferiores3, menor resposta postural mediante estimulação visual14 e dificuldades na percepção tátil de diferentes formas 15 mostram que a síndrome tem implicações importantes no desenvolvimento dos sistemas perceptivo e sensorial. A integridade do sistema sensorial é essencial para o adequado desenvolvimento da função motora, visto que habilidades motoras são refinadas por meio das experiências sensoriais vivenciadas16. Segundo Ayres17, o processamento sensorial adequado nos primeiros meses de vida é essencial para o desenvolvimento das reações posturais e do bem- 2010;17(3):203-8 204 Fisioter Pesq. 2010;17(3) estar emocional, sendo crucial para o posterior desenvolvimento do planejamento motor, coordenação olho-mão, atenção e aprendizagem. Por isso, a identificação precoce de alterações sensoriais constitui uma etapa importante na avaliação e determinação de estratégias de intervenção direcionadas a indivíduos com síndrome de Down. Respostas alteradas diante de estímulos sensoriais incluem excessiva sensibilidade a estímulos sensoriais (hiperresponsividade), ou resposta diminuída (hiporresponsividade)17,18. Quando esses sinais persistem além do sexto mês de vida, podem constituir desordem regulatória, com sérios agravamentos para o desenvolvimento como um todo19. Aos seis meses de vida muitas mudanças acontecem no desenvolvimento da criança, por exemplo, a criança passa de um estado autocêntrico, em que se interessa primariamente pelas sensações proporcionadas pela exploração do próprio corpo para o estado alocêntrico, em que adquire maior capacidade e interesse na exploração do ambiente, ganha maior mobilidade nas posturas prona e supina, melhora seu controle antigravitacional, além de iniciar o controle postural na posição sentada20,21. Diante disso, considera-se que avaliar lactentes nessa idade pode fornecer informações importantes para identificar como os lactentes modulam seu comportamento diante dos estímulos externos recebidos, e assim conhecer melhor os fatores que afetam o desempenho funcional da criança com SD e nortear a escolha de estratégias de intervenção. Estudos investigam o desempenho motor de lactentes com SD segundo diversos instrumentos de avaliação, como a medida de função motora grossa (gross motor function measure)4 e a escala motora infantil de Alberta (AIMS, Alberta infant motor scale)22. Não foram encontrados estudos que empregassem instrumentos para avaliar aspectos específicos do sistema sensorial em tais lactentes, como as habilidades de registrar e processar informações provenientes das diferentes modalidades sensoriais. Tais habilidades se encontram bem desenvolvidas em lactentes típicos por volta dos 6 meses de vida, que utilizam informações de diferentes sistemas para guiar ações adaptativas23,24. Além de não serem conhecidas essas características de processamento sensorial, não foram identificadas se as mesmas estão relacionadas com défices motores. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil motor e sensorial de lactentes com síndrome de Down em comparação com lactentes típicos aos 6 meses de idade, por meio da escala motora infantil de Alberta e do perfil sensorial infantil (ITPS, infant/ toddler sensory profile). E, ainda, com base nos estudos segundo os quais a organização do processamento sensorial seria requisito para o desempenho motor adequado, este estudo visou também investigar a relação entre os perfis motor e sensorial dos lactentes. METODOLOGIA Para o presente estudo piloto, de caráter transversal, os responsáveis por 46 lactentes foram convidados a participar. Tais lactentes foram selecionados com base em prontuários disponíveis em Unidades Básicas de Saúde e por encaminhamento de pediatras e geneticistas do município de São Carlos. Em razão de recusa ou desistência dos responsáveis, ou de não atendimento dos critérios de inclusão, oito lactentes concluíram o estudo, sendo quatro com diagnóstico de síndrome de Down do tipo trissomia pura do cromossomo 21 (grupo SD) e quatro lactentes com desenvolvimento típico (grupo LT). Foram incluídos no estudo os lactentes cujos responsáveis aceitaram o convite de participação no estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, tendo sido o estudo previamente aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. Do grupo de SD, foram excluídos os lactentes que apresentaram alterações cardíacas graves, bem como diagnóstico de alterações visuais e/ou auditivas. Dentre os lactentes com SD, três eram do sexo masculino e um do sexo feminino, sendo todos nascidos a termo (entre 37 e 41 semanas de idade gestacional), com peso médio ao nascimento de 2.862,5±353 g e índice de Apgar varian- Campos et al. Perfil motor e sensorial na síndrome de Down do entre 7 e 10 no primeiro e quinto minutos de vida. Todos foram avaliados aos 6 meses de idade (25,3±1 semanas) e estavam incluídos, desde os 2 meses, em um mesmo programa de intervenção precoce. Dentre os latentes típicos, todos eram do sexo masculino, nascidos a termo (entre 37 e 41 semanas e 6 dias de idade gestacional), com peso ao nascimento igual ou maior a 2.500g (M=3163,75g; ±362g) e índice de Apgar variando entre sete e dez no primeiro minuto de vida e com 24 semanas de idade (M=25,1 semanas; ± 0,7 semana). Procedimentos Os participantes foram avaliados com 24 semanas de vida, com tolerância de sete dias antes ou após essa idade. As condições ambientais e de iluminação da sala eram apropriadas e controladas, e os lactentes deveriam estar em estado de alerta25 para a aplicação da AIMS. O instrumento utilizado para avaliar o desempenho sensorial foi o Perfil sensorial infantil (ITSP, Infant/toddler sensory profile)26. Trata-se de um instrumento validado e confiável que mede comportamentos funcionais associados a respostas atípicas a um determinado estímulo sensorial por meio de entrevista com o cuidador26. O instrumento foi validado para a população norte-americana, não existindo tradução e validação para a população brasileira. Para o presente estudo, como não se identificou necessidade de adaptação cultural, o grupo de pesquisa em que o estudo foi conduzido fez a tradução do questionário para o português; após a tradução e estudo do manual, os pesquisadores foram treinados para aplicação do questionário. O ITSP é composto de 36 itens divididos nas seguintes categorias de processamento de sensações: geral, auditivo, visual, tátil e vestibular. Em cada item, os pais indicam a freqüência com que a criança apresenta um determinado comportamento (Quadro 1). O questionário foi respondido pelo cuidador da criança e as dúvidas sanadas pelo pesquisador no momento do preenchimento do questionário. As respostas são pontuadas conforme indica o Quadro 1. Quadro 1 Pontuação da freqüência dos comportamentos avaliados pelo Perfil sensorial infantil (Infant/toddler sensory profile) Quase sempre (1 ponto) Freqüentemente (2 pontos) Ocasionalmente (3 pontos) Raramente (4 pontos) Quase nunca (5 pontos) Quando tem a oportunidade, a criança quase sempre responde dessa maneira, 90% ou mais das vezes Quando tem a oportunidade, a criança freqüentemente responde dessa maneira, cerca de 75% das vezes Quando tem a oportunidade, a criança ocasionalmente responde dessa maneira, cerca de 50% das vezes Quando tem a oportunidade, a criança raramente responde dessa maneira, cerca de 25% das vezes Quando tem a oportunidade, a criança quase nunca responde dessa maneira, cerca de 10% das vezes Após preenchimento do questionário, a pontuação em cada item foi somada gerando um escore bruto que, por sua vez, foi convertido em pontuações equivalentes a quatro tipos de comportamento: baixo registro (dificuldade em registrar estímulos sensoriais), procura sensorial (comportamentos de busca por estímulos), sensibilidade sensorial (comportamento de excessiva sensibilidade a estímulos) e aversão sensorial (comportamentos de rejeição de estímulos). Quanto mais elevados o escore, menor a freqüência do comportamento correspondente. O instrumento utilizado para avaliar o desempenho motor dos lactentes foi a escala motora infantil de Alberta AIMS (Alberta infant motor scale), desenvolvida por Piper e Darrah27. É uma escala observacional criada que avalia as aquisições motoras dos lactentes desde o nascimento até os 18 meses. É composta por 58 itens distribuídos em 4 subescalas que descrevem a seqüência do desenvolvimento da movimentação espontânea e de habilidades motoras nas posições prono, supino, sentado e em pé. No decorrer da avaliação, o avaliador observa os movimentos da criança em cada uma das posições básicas, considerando aspectos do desempenho motor como sustentação de peso, postura e movimentos antigravitacionais. Quando a criança não realizava a mudança de decúbito de maneira independente, foi colocada na posição de teste com auxílio do examinador. O tempo para a aplicação do teste foi de 20 a 30 minutos. Toda a avaliação foi registrada por uma filmadora digital (Sony, modelo HDR-SR12) e, posteriormente, dois examinadores treinados pontuaram o desempenho do lactente. O escore é atribuído pela avaliação de cada item como observado (escore 1) ou não-observado (escore zero). Os escores dos itens observados nas quatro subescalas foram somados e resultaram em quatro subtotais. A soma dos quatro subtotais gera o escore bruto do teste. Valores mais elevados indicam que o lactente apresenta repertório motor mais variado e aprimorado. Análise estatística Na análise dos dados foi aplicado o teste U de Mann-Whitney para comparar os grupos quanto às pontuações obtidas em cada fator do ITSP e em cada postura da AIMS. Para verificar a correlação entre os escores da AIMS e do ITSP foi aplicado o teste de correlação de Spearman, sendo considerado um nível de significância igual a 5% em todas as análises. RESULTADOS Diante do reduzido número de lactentes na amostra, foi realizado o cálculo do poder da amostra em detectar diferenças significativas, sendo verificado um valor de 99% para o instrumento ITSP, e de 92% para a AIMS, ambos a um nível de significância de 5%. Comparando-se os escores no ITSP, constatou-se que o grupo SD apresentou significativamente menor pontuação do que o grupo típico nos comportamentos indicativos de baixo registro (p=0,02), ou seja, o grupo com SD apresentou, em média, maior freqüência de comportamentos de não responder a estímulos sensoriais do que o grupo típico (Gráfico 1). Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):203-8 2010;17(3) 205 9 60 50 LT 8 LT SD 7 SD 6 Escore Escore 40 30 5 4 3 20 2 10 1 0 0 Baixo registro Sensibilidade sensorial Gráfico 1 Escores obtidos por lactentes típicos (LT) e com síndrome de Down (SD) nos fatores do Perfil sensorial infantil (ITSP, Infant/toddler sensory profile) (n=8) O Gráfico 2 mostra os escores em cada uma das subescalas da AIMS para ambos os grupos. Em todas as posturas, a pontuação dos lactentes com SD foi inferior à dos lactentes típicos, mas a diferença só foi significativa na subescala prono (p=0,03) o que mostra que os lactentes com SD tiveram um desempenho inferior. O teste de correlação de Spearman não revelou associação significativa entre a pontuação no ITSP e na AIMS. DISCUSSÃO O presente estudo teve como objetivo caracterizar o perfil motor e sensorial de lactentes típicos e com síndrome de Down aos 6 meses de idade. Para tal, foram utilizadas duas escalas, o ITPS, que avalia o perfil sensorial, e a AIMS, que avalia o perfil motor. Com relação ao perfil sensorial, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos quanto aos comportamentos de buscar ou evitar estímulos, nem de excessiva sensibilidade a estímulos; os lactentes com síndrome de Down apresentaram significativamente menor pontuação no baixo registro, indicando maior limiar sensorial que lactentes típicos. Essa pontuação foi baixa porque houve entre os cuidadores de lactentes com SD alta freqüência da resposta “Quase sempre” aos comportamentos ligados ao baixo registro (por exemplo, “tenho de falar alto para chamar a atenção da minha criança”, ou “tenho de tocá-la para chamar sua atenção”, ou “ela parece indiferente a baru- 2010;17(3):203-8 206 Fisioter Pesq. 2010;17(3) Prono Supino Sentado Em pé Gráfico 2 Escores obtidos por lactentes típicos (LT) e com síndrome de Down (SD) nas posturas da escala motora infantil de Alberta (AIMS) (n=8) lhos contínuos no ambiente”). Segundo Dunn18,26, os itens que correspondem ao fator baixo registro no questionário do ITSP são responsáveis por medir a consciência da criança em relação a todos os tipos de sensações disponíveis (táteis, visuais, proprioceptivas e auditivas); dificuldades nesse fator podem fazer com que o lactente não note os estímulos apresentados. Assim, os lactentes com SD que obtiveram uma pontuação menor do que os típicos nesse fator apresentam limiares neurológicos altos, ou seja, são hiporresponsivos e levam um tempo maior para responder a um determinado estímulo. O menor engajamento de lactentes com SD em atividades diárias como acompanhar visualmente objetos e pessoas e interagir com outras pessoas, habilidades que são avaliadas pelo ITSP, relaciona-se com prejuízos no desenvolvimento da atenção e, conseqüentemente, da cognição, tendo em vista que percepção e cognição influenciam-se mutuamente16,28. Assim, é possível que os resultados do presente estudo reflitam não apenas dificuldades para processar as informações sensoriais, mas também as cognitivas. Entretanto, o instrumento utilizado não mensura tal aspecto, mas sim a adaptabilidade da criança perante os estímulos do ambiente, com ênfase à quantidade de estímulo necessária para gerar uma resposta26. A interação entre limiares neurológicos e respostas comportamentais apresenta características individuais, ou seja, cada indivíduo desenvolve estratégias de auto-regulação diferentes, de forma que um mesmo estímulo sensorial pode ser agradável ou desagradável para diferentes crianças26. Apesar do caráter individual, a tendência a altos limiares sensoriais nos lactentes com SD está de acordo com registros da literatura, segundo os quais indivíduos com SD podem ser hiporresponsivos para discriminar e integrar estímulos táteis, visuais e somatossensoriais29. Como conseqüência, tendem a procurar estímulos sensoriais, o que resulta em movimentos com respostas exageradas, no desenvolvimento de padrões de postura e habilidades manipulatórias pobres, isolamento social, baixo alerta, atenção e motivação29. A identificação de tais características nos lactentes estudados enfatiza a importância de detectar e intervir nos aspectos sensoriais o mais precocemente possível. Quanto ao desempenho motor, os lactentes com SD apresentaram pontuação inferior aos lactentes típicos na postura prona. Tal resultado é similar aos achados de Campos et al.20, que verificaram menor pontuação total na AIMS em tais lactentes aos 4 e 6 meses de idade. No presente estudo, a diferença entre grupos restringiu-se à postura prona, o que pode ser atribuído ao deficit no controle postural e antigraviacional dos lactentes com SD7. Aos seis meses de idade a postura prona é extremamente funcional para a criança típica, sendo observadas habilidades variadas como o pivoteio e o rolar de prono para supino, as quais não foram observadas nos lactentes com SD. Assim, explica-se que o deficit do controle antigravitacional Campos et al. nos lactentes com SD foi mais marcante e evidente na postura prona. Não foi encontrada correlação entre as pontuações do ITPS e da AIMS entre os grupos, sendo rejeitada a hipótese inicial de que lactentes com melhor desempenho sensorial teriam melhor desempenho motor. No entanto, é possível que na faixa etária estudada as alterações no processamento sensorial ainda não tenham afetado de maneira impactante o desempenho motor, podendo vir a fazêlo mais tarde, com o desenvolvimento de novas habilidades, especialmente as que demandem maior ação dos receptores visuais, vestibulares e somatossensoriais durante o controle antigravitacional. Especificamente com relação à maior freqüência de comportamentos de baixo registro nos lactentes com SD, é possível que a baixa responsividade a estímulos, no desenvolvimento posterior, leve a um pobre desenvolvimento do esquema corporal e controle motor30. Perfil motor e sensorial na síndrome de Down Diversos autores têm ressaltado que avaliações do processamento sensorial por meio de entrevista com cuidadores auxiliam de forma relevante a compreensão do comportamento infantil nas atividades cotidianas, na seleção ou rejeição de atividades, intenção de se movimentar, organização de respostas e respostas adaptativas durante interações com o cuidador13,31. Acrescenta-se a isso a importância de tais instrumentos para educar e orientar cuidadores. Especialmente no caso de cuidadores de crianças com síndrome de Down, estudos relatam que a forma como a mãe interage com o filho pode contribuir para aumentar seu nível de alerta e o tempo de engajamento em brincadeiras32. Por outro lado, a utilização do ITSP constitui uma limitação do estudo, visto que o instrumento se baseia no julgamento subjetivo do cuidador, que pode subestimar ou superestimar o desempenho do lactente. Ainda, a falta de validação do instrumento para a população brasileira e o reduzido número de lactentes limitam a ampliação das inferências. Tais limitações, aliadas à escassez de instrumentos que forneçam informações clinicamente relevantes sobre aspectos sensoriais de crianças com incapacidades, apontam para a necessidade de mais estudos relacionados a este tema. CONCLUSÃO Os resultados demonstram que os lactentes com SD podem se engajar com menos freqüência em atividades de interação com o ambiente, tanto por dificuldade em registrar estímulos cotidianos, como diferentes sons e pessoas, quanto por dificuldade em explorar o meio utilizando capacidades motoras. Tais diferenças devem ser consideradas ao orientar cuidadores e elaborar estratégias de intervenção direcionadas a essa população. REFERÊNCIAS 1 Schwartzman JS, organizador. Síndrome de Down. 2a ed. São Paulo: Memnon; 2003. 2 Mancini MC, Silva PC, Gonçalves SC, Martins, SM. 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Benjamin Constant 670 301 97050-022 Santa Maria RS e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO jan. 2010 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO abr. 2010 RESUMO: A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) caracteriza-se pela obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo, gerando uma desvantagem mecânica, causando fraqueza muscular e recrutamento da musculatura inspiratória acessória. A disfunção muscular esquelética é uma importante manifestação extrapulmonar, que leva à diminuição da capacidade funcional. O objetivo do estudo foi verificar a eficácia de um treinamento da musculatura respiratória e de quadríceps no desempenho funcional de indivíduos com DPOC. De nove indivíduos com idades entre 49 e 76 anos foram avaliadas as pressões respiratórias máximas (por manovacuometria), força muscular de membros inferiores (por repetição máxima), capacidade funcional (pelo teste de caminhada com carga progressiva, shuttle test) e qualidade de vida (pelo questionário de qualidade de vida SF-36), antes e depois da aplicação de protocolo de fortalecimento da musculatura inspiratória, dos músculos quadríceps e abdominais. As sessões de exercícios foram realizadas duas vezes por semana durante dois meses. Foi verificada melhora em todas as variáveis avaliadas, com diferença significativa na pressão inspiratória máxima (p<0,05). O treinamento da musculatura respiratória e de quadríceps proposto mostrou-se benéfico ao desempenho funcional de indivíduos com DPOC, sugerindo a utilização do fortalecimento muscular respiratório e periférico como recurso coadjuvante no tratamento desses indivíduos. DESCRITORES: Doença pulmonar obstrutiva crônica; Força muscular; Qualidade de vida; Terapia por exercício ABSTRACT: Chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is a clinical condition characterized by chronic airflow obstruction or limitation, which generates mechanical disadvantage, causing muscle weakness and recruitment of accessory inspiratory muscles. Skeletal muscle dysfunction is one of the most important extrapulmonary manifestations, leading to decrease in functional capacity. The aim of this study was to verify the effectiveness of respiratory and quadriceps femoris muscle training on functional performance of patients with COPD. Nine subjects aged between 49 and 76 years old were assessed as to maximal respiratory pressures (by spirometry), lower limb muscle strength (by maximal repetition test), functional capacity (by the shuttle walk test) and quality of life (by the SF-36 questionnaire), before and after the protocol of muscle strengthening for inspiratory muscles, quadriceps femoris and abdominal muscles. Exercise program sessions took place twice a week for two months. Results showed improvement in all assessed variables, with significant difference (p<0.05) in maximal inspiratory pressure values. The proposed respiratory and quadriceps muscle training has thus proved beneficial for the functional performance of patients with COPD, suggesting the use of respiratory and peripheral muscle strengthening as co-adjuvant resource in the treatment of these individuals. KEY WORDS: Exercise therapy; Muscle strength; Pulmonary disease, chronic obstructive; Quality of life Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):209-13 2010;17(3) 209 INTRODUÇÃO A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma condição clínica que se caracteriza pela obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo, de forma lenta e irreversível1. Tem repercussão em outros órgãos e sistemas, estando associada com inflamação sistêmica e disfunção muscular esquelética, entre outros fatores2-4. A DPOC é uma das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo, resultando em grande impacto econômico e social5,6, sendo a crescente morbimortalidade atribuída especialmente a manifestações extrapulmonares da DPOC7,8 que contribuem para a limitação da capacidade física e declínio funcional. Uma das mais importantes manifestações extrapulmonares da DPOC é a disfunção muscular esquelética2, com perda de massa muscular, principalmente em coxas e braços9, culminando com a diminuição da capacidade de exercício e queixas de fadiga e dispnéia ao mínimo esforço10. Esses sintomas levam à diminuição crescente do nível de atividade física diária, redução da capacidade de realizar exercícios e da função cardíaca e limitação da tolerância ao exercício, criando um círculo vicioso decrescente que pode, eventualmente, levar à debilidade e imobilidade generalizada11. A DPOC atinge também os músculos respiratórios, que são os responsáveis pelo adequado funcionamento do sistema ventilorrespiratório12. A hiperinsuflação pulmonar põe os músculos respiratórios em desvantagem mecânica, causando fraqueza e recrutamento da musculatura acessória da inspiração12,13. O diafragma é o músculo inspiratório mais comprometido, tornando-se retificado, o que diminui a zona de aposição e, conseqüentemente, restringe sua excursão14. Além disso, o indivíduo passa a respirar muito próximo da capacidade pulmonar total, o que pode ser também uma possível limitação ventilatória ao exercício15,16. A associação de todos esses fatores leva o sujeito com DPOC ao sedentarismo crônico que, por sua vez, se torna mais um favorecedor de dispnéia e intolerância ao exercício17. O descondicionamento como fator de intolerância ao exercício foi evidenciado por Casaburi18 e Storer19, se- 210 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):209-13 gundo os quais, mesmo após transplante pulmonar, os pacientes ainda manifestavam intolerância ao exercício, apesar da melhora na função pulmonar. Diferentes programas de reabilitação pulmonar têm sido propostos nos últimos anos. Observa-se que a fisioterapia tem um papel importante no acompanhamento de pacientes com DPOC e, para isso, conta com várias estratégias para reduzir o trabalho ventilatório, melhorar a ventilação e diminuir a sensação de dispnéia17. Este estudo justifica-se pela necessidade de verificar a contribuição de cada recurso terapêutico abordado nesses programas quanto a sua eficácia específica e sua repercussão na funcionalidade de indivíduos com DPOC. Assim, o objetivo é verificar se o treinamento da musculatura respiratória e de quadríceps influencia o desempenho funcional de pacientes com DPOC. METODOLOGIA O protocolo da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Dos 15 indivíduos inicialmente selecionados, 10 preencheram os critérios de inclusão deste estudo, ou seja, sem delimitação de faixa etária e sexo, apresentar diagnóstico clínico de DPOC e estar clinicamente estável. Foram excluídos os indivíduos fumantes e/ou portadores de comorbidades tais como doenças ortopédicas, reumatológicas, neurológicas ou cardíacas que limitassem a realização das atividades propostas. Desses dez indivíduos que iniciaram o treinamento, um não realizou a reavaliação final e foi excluído. Os indivíduos foram encaminhados com o diagnóstico de DPOC por médicos pneumologistas.. Os participantes já realizavam fisioterapia respiratória convencional para higiene brônquica e exercícios de expansão e desinsuflação pulmonar, que se manteve durante o estudo, sendo que nenhum individuo teve necessidade de modificação no tratamento medicamentoso durante o período de acompanhamento. A coleta de dados iniciou-se com uma entrevista, registrando-se dados de iden- tificação e informações sobre a saúde dos participantes. As variáveis mensuradas foram a qualidade de vida, pelo questionário de qualidade de vida SF36 (versão brasileira)20; as pressões respiratórias máximas, por manovacuômetro digital (Microhard MVD 500); a força muscular do quadríceps no membro inferior dominante, pelo teste de repetição máxima (RM) proposto por DeLorme21, que consiste em erguer o máximo de peso de uma só vez; e a capacidade de exercício, pelo teste de caminhada com carga progressiva (shuttle walk test)22. A mensuração das pressões inspiratória e expiratória máximas (PImáx e PEmáx) foi efetuada na posição sentada, de acordo com o método preconizado por Black e Hyatt23. Foram efetuadas, no mínimo, cinco manobras, com intervalo de um minuto de descanso entre os esforços, e registrado o maior valor de três manobras aceitáveis e reprodutíveis, que foi comparado aos valores previstos para a população brasileira utilizando a equação de Neder et al.24. O teste de caminhada com carga progressiva foi realizado em dia posterior à avaliação inicial. Consiste em 12 níveis de caminhadas seguidas em um percurso plano de 10 metros de ida e 10 metros de volta, em velocidade crescente. A distância é definida por dois cones, a meio metro do final de cada percurso. O aumento na velocidade é determinado pelo número de idas-e-vindas em um minuto: a primeira caminhada é de 30 metros (velocidade de meio metro por segundo), na última o sujeito deveria fazer 14 idas e 14 vindas em um minuto (velocidade de 2,37 m/s). Um sinal sonoro indica quando o sujeito devia estar próximo ao cone e trocar de direção22. Os participantes foram orientados a caminhar até sentir que não seriam capazes de manter a velocidade requerida, ou seja, estar três metros antes do cone quando tocasse o sinal. Mede-se a distância total (em metros) caminhada pelo sujeito. Foram monitoradas as freqüências cardíaca, respiratória e a pressão arterial, além da saturação de O2 antes e após o teste. A percepção de dispnéia e esforço foi quantificada pelas escalas de Borg25. A intervenção consistiu de exercícios realizados duas vezes por semana durante dois meses, totalizando 16 atendimentos: exercícios de fortalecimento Trevisan et al. Treinamento muscular na DPOC da musculatura inspiratória usando o aparelho Threshold IMT (Respironics), em que o sujeito respira em um bocal que oferece resistência inspiratória ajustável de -7 a -41 cmH2O; e exercícios para fortalecimento dos músculos abdominais e quadríceps, adicionados ao tratamento convencional que visava a higiene brônquica, expansão e desinsuflação pulmonar e alongamento muscular. Com base em dados da literatura13,21,26 adaptados pelos pesquisadores, os músculos inspiratórios foram treinados inicialmente com uma carga de 30% da PImáx, com aumento de 10% a cada quatro atendimentos, até atingir 60% da carga máxima. Os músculos abdominais foram fortalecidos com o sujeito posicionado em decúbito dorsal, com os joelhos fletidos, braços em flexão e mãos atrás da cabeça, elevando o tronco até a região escapular realizando três séries de dez repetições, que aumentavam de acordo com a capacidade individual para até três séries de 20 repetições. Para o fortalecimento de quadríceps foi utilizada a tábua de quadríceps, sendo efetuada extensão da perna por três séries de dez repetições. A carga aplicada inicialmente correspondeu a 30% da carga atingida no teste de RM, progredindo 10% a cada quatro atendimentos, alcançando o máximo de 60%. Os dados foram analisados por estatística descritiva e a normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk. Para análise dos resultados foi utilizado o teste nãoparamétrico de Wilcoxon, ao nível de significância de 5%. As análises foram realizadas por meio do pacote estatístico computacional SAS (versão 8.2). RESULTADOS A série de casos foi composta por nove indivíduos (três homens e seis mulheres) com idade entre 49 e 76 anos (61,44±10,86), massa corporal entre 52 e 92 kg (72,02±13,34) e altura entre 152 e 174 cm (163±0,09). No Gráfico 1 são apresentadas as médias das pressões respiratórias máximas, antes e depois da int e r ve n ç ã o . No teste de caminhada a média da distância percorrida passou de 348±80 metros para 403±96 metros (p=0,23) após o treinamento; e a força muscular do quadríceps, de 9,9±3,5 kg para 13,0±3,3 kg (p=0,072), após a intervenção. * 120 100 * Antes Depois 80 A qualidade de vida 60 apresentou melhora, principalmente nos do40 mínios dor, vitalidade e 20 limitação por aspectos 0 emocionais. Todos os PI máx obtida PImáx % PEmáx obtida PEmáx % participantes referiram prevista prevista maior facilidade na reaGráfico 1 Médias das pressões máximas inspiratória lização das atividades de (PImáx) e expiratória (PEmáx), obtidas e % da vida diária, maior resisprevista, antes e depois do treinamento (n=9); tência durante caminha* diferença significativa das, menor sensação de cansaço e melhora na força dos mem- embora não tenha sido realizado treinamento aeróbio especifico. Resultados bros inferiores. semelhantes foram obtidos por Neder et al.31 quando observaram ganho aeróbio efetivo que foi relacionado ao aumento da PImáx e à redução significante da O treinamento muscular inspiratório dispnéia no exercício máximo. Outros e expiratório, realizado neste estudo, estudos também evidenciaram repercusmostrou ser benéfico na melhora da força são positiva do treinamento muscular específica desses músculos em pacientes periférico 32,33, de músculos inspiracom DPOC. Ocorreu aumento na força tórios34 e de músculos expiratórios25 sodos músculos respiratórios, evidencia- bre a capacidade de exercício32,34,35 e da pelo acréscimo na PImáx e na PEmáx. qualidade de vida33. Diferentemente dos O aumento da PImáx foi mais evidente, presentes resultados, Mador et al.36 não mostrando diferença estatística signifi- observaram vantagem adicional do treicativa (p<0,05) entre as medições antes no de força sobre a capacidade aeróbia e após a intervenção. Isso também foi quando compararam um grupo que reaevidenciado por Ramirez-Sarmiento et lizou treino aeróbio e de força com o al.27, que mostraram que o treinamento que realizou apenas aeróbio. dos músculos respiratórios induz uma Quanto ao treinamento da musculamelhora funcional e mudanças adapta- tura abdominal, apesar da melhora evitivas nas estruturas desses músculos. Es- denciada pelo aumento da PEmáx, contudos que compararam programas de rea- sidera-se que a carga estipulada tenha bilitação com e sem associação de treino sido insuficiente, necessitando ser revista de força muscular inspiratória mostraram em estudos posteriores. Acredita-se que melhores resultados na PImáx28,29, na dis- o tempo de treinamento não tenha sido tância caminhada e na resistência do dia- um fator limitante, pois foi possível mosfragma28 nos grupos que realizaram trata- trar que o protocolo utilizado repercutiu mento combinado. beneficamente no grupo estudado. DISCUSSÃO A melhora da capacidade aeróbia, avaliada pelo teste de caminhada, foi evidenciada pelo aumento da distância percorrida e menor sensação de dispnéia durante o exercício, embora sem diferença significativa. O aumento das distância caminhada é considerado clinicamente importante, de acordo com Redelmeier et al.30 A melhora da força de quadríceps, observada em todos os participantes do estudo, pode ter contribuído para o incremento da distância caminhada. Estes resultados mostram que o treinamento de força de quadríceps e dos músculos respiratórios repercutiram na capacidade de exercício, Houve evidências de que o treinamento de força muscular foi favorável à melhora na qualidade de vida relacionada à saúde, concordando com os achados de Kunikoshita et al.37 e Beckerman et al.38. CONCLUSÃO O treinamento da musculatura respiratória e do quadríceps aqui proposto revelou-se benéfico, melhorando o desempenho funcional dos pacientes com DPOC, sugerindo a utilização do fortalecimento muscular respiratório e periférico como coadjuvante no tratamento desses indivíduos. Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):209-13 2010;17(3) 211 REFERÊNCIAS 1 Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. 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Pesq. 2010;17(3):209-13 2010;17(3) 213 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.214-9, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Capacidade funcional de hemiparéticos crônicos submetidos a um programa de fisioterapia em grupo Functional status of hemiparetic subjects submitted to group physical therapy Caroline Háruka Giriko1, Raquel Aparecida Napolitano Azevedo2, Heloyse Uliam Kuriki3, Augusto Cesinando de Carvalho4 Estudo desenvolvido no Centro de Estudos e Atendimento em Fisioterapia e Reabilitação do Depto. de Fisioterapia da FCT/ Unesp – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente, SP, Brasil 1 Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia neurológica 2 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da FCT/Unesp 3 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Interunidades Bioengenharia, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP 4 Prof. Dr. assistente do Depto. de Fisioterapia da FCT/Unesp ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Caroline Háruka Giriko R. Primeiro de Maio 20 Monte Castelo 12215-230 São José dos Campos SP e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO jul. 2010 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 214 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):214-9 RESUMO: Este estudo tem como objetivos analisar a eficácia da fisioterapia em grupo sobre a marcha, o equilíbrio corporal e o risco de queda, e verificar se há correlação entre a capacidade funcional da marcha e o equilíbrio em indivíduos com hemiparesia crônica. Participaram do estudo 21 adultos hemiparéticos, com idade média de 58,9±10,6 anos, com seqüela de no mínimo 1 ano após acidente vascular encefálico isquêmico ou hemorrágico. Os sujeitos foram submetidos a um programa de 1 hora de fisioterapia em grupo duas vezes por semana durante seis meses. Foram avaliados por meio da escala de equilíbrio de Berg (EEB) e do teste de levantar e caminhar cronometrado TLCC (TUG, na sigla em inglês de timed up & go) antes do programa, após 13 e ao fim de 26 semanas. Os resultados mostram uma redução progressiva, embora não-significativa, no tempo de execução do TLCC e aumento progressivo, também não-significativo, do escore na EEB. Foi observada forte correlação entre as duas escalas (r=0,7, p<0,05). Assim, a terapia não foi efetiva para produzir melhora nos escores dos testes, mas contribuiu para manter a mobilidade. DESCRITORES: Acidente cerebral vascular; Equilíbrio; Marcha; Terapia por exercício ABSTRACT: The purpose of this study was to assess the effectiveness of a group therapy program on gait, body balance and risk of falling, and to search for a correlation between functional gait and balance in subjects with chronic hemiparesis. A total of 21 hemiparetic adults, mean aged 58.9±10.6 years, with sequelae (at least 1 year after stroke) of ischemic or hemorrhagic stroke, underwent a program of onehour group therapy twice a week, for six months. They were assessed using the Berg balance scale (BBS) and the timed up-and-go test (TUGT) at baseline, after 13 weeks, and at the end of six months. Results show a progressive, though nonsignificant, reduction in TUGT times, and an also non-significant increase in BBS scores. A strong correlation (r=0.7, p<0.05) was found between the two scales. The therapy was then not effective in providing improvement in subjects’ gait or balance, but allowed for maintaining them. KEY WORDS: Balance; Exercise therapy; Gait; Stroke Giriko et al. Capacidade funcional de hemiparéticos INTRODUÇÃO O acidente vascular encefálico (AVE) é considerado a terceira maior causa de morte e o maior problema de saúde pública no mundo1-4; dentre as neuropatias, é a mais comum5. É causa líder de incapacidade em adultos, ocupando grande parte dos serviços de reabilitação3,6,7. Devido ao aperfeiçoamento do tratamento na fase aguda, a maioria dos pacientes sobrevive8, exibindo alterações na função motora como fraqueza muscular, tônus anormal, ajustes posturais anormais e falta de mobilidade3,5-10 associada a variados graus de distúrbio sensitivo e ou perceptual, que dificultam o movimento5,11. A hemiparesia, sinal mais evidente de um AVE, é uma condição de comprometimento motor de um hemicorpo e pode manifestar variados sinais neurológicos, correspondentes à área do cérebro afetada12. Assim, essa população apresenta um equilíbrio deficiente e um risco aumentado para ocorrência de quedas1,9,13,14. Estudos relatam que a incidência de quedas varia de 20% a 50% em hemiparéticos crônicos1,9,13,14 (considerando “crônica” essa condição com mais de 6 meses após o AVE)15. Tal incidência é muito maior que a observada em pessoas idosas, que varia de 11% a 30%1,9,13,14. Uma das principais preocupações das quedas é que 26% das pessoas que sofreram uma queda começam a evitar situações que exijam melhor equilíbrio, levando a declínios adicionais nas capacidades de andar e de se equilibrar16,17. Muitos são os fatores que levam à deficiência do equilíbrio nos indivíduos hemiparéticos. A diminuição da força muscular e da informação sensorial do hemicorpo afetado, associada aos movimentos compensatórios, gera um equilíbrio funcional deficiente. Por isso, indivíduos hemiparéticos apresentam uma instabilidade postural e grande parte desloca seu centro de gravidade para o lado sadio, assumindo uma postura assimétrica9,18-20. Estudos mostram que as quedas na maioria das vezes ocorrem durante a marcha. Harris et al.13 relatam que mais da metade das quedas ocorrem durante alguma atividade associada ao andar, porém Belgen et al.1 relataram uma porcentagem ainda maior (90%). A marcha é a função mais afetada pelo AVE, sendo que 80% dos indivíduos inicialmente perdem essa habilidade21. Mesmo após a recuperação, a marcha é geralmente lenta, com equilíbrio e resistência deficitários, e alterações na capacidade de adaptação4,21-24. Este trabalho teve como objetivo principal analisar a eficácia da terapia em grupo realizada no âmbito do Projeto Hemiplegia sobre a marcha, o equilíbrio corporal e o risco de queda em indivíduos com hemiparesia crônica e, como objetivo secundário, verificar se há correlação entre a capacidade funcional da marcha e o equilíbrio. Atualmente estão à disposição muitos instrumentos para avaliação do paciente hemiparético. Dentre estes, destaca-se o teste de levantar e caminhar cronometrado (TLCC – TUGT, na sigla em inglês, Timed up and go test) e a escala de equilíbrio de Berg (EEB). O TLCC e a EEB oferecem descrições quantitativas de mobilidade e equilíbrio, monitoramento do progresso do paciente e previsão da eficácia de intervenções aplicadas na prática clínica e em pesquisas16,18. METODOLOGIA O TLCC é um teste quantitativo simples e rápido para avaliar a mobilidade, equilíbrio e a capacidade funcional durante a marcha4,16,25,26. Shumway-Cook et al.26 concluíram que é um teste fidedigno quando mensura a diferença entre indivíduos hemiparéticos e saudáveis, da mesma faixa etária: segundo eles, o tempo médio gasto pelos indivíduos com hemiparesia foi de 22,6±8,6 segundos e, pelos saudáveis, 9,1±1,6 segundos. Considera-se que pacientes que realizam a tarefa em menos de 20 segundos apresentam uma marcha suficiente para deambular na comunidade25-27. A EEB é muito utilizada em avaliações clínicas para testar o equilíbrio em pacientes pós-AVE18, incluindo tarefas que exigem ajustes posturais durante posturas estáticas, transferências e descarga de peso entre os hemicorpos13,28. Além disso, é capaz de discriminar indivíduos propensos a quedas16,22. As quedas são relatos freqüentes nos centros de reabilitação. Isso tem sido observado em pacientes encaminhados para o Projeto Hemiplegia da FCT/Unesp – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista. A prevenção das quedas pode ser considerada um meio eficaz para evitar maiores perdas funcionais nesse grupo de pacientes que já apresentam limitações de mobilidade. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da FCT. Participaram do estudo pacientes hemiparéticos crônicos que realizam fisioterapia em grupo no projeto de extensão universitária Projeto Hemiplegia realizado no Centro de Estudos e Atendimento em Fisioterapia e Reabilitação da FCT/Unesp. Todos eram capazes de deambular, com ou sem apoio de órtese, e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram incluídos 21 indivíduos portadores de hemiparesia direita ou esquerda, 6 mulheres e 15 homens, com idade média de 58,9±10,6 anos e tempo médio de lesão há 5,01±3,7 anos. Todos tinham feito fisioterapia individual por um ou mais anos e na época da pesquisa participavam do Projeto Hemiplegia. Foram excluídos pacientes com doenças cardiovasculares graves, ortopédicas ou com deficit cognitivo que impedisse o entendimento das atividades propostas. Os indivíduos foram avaliados pelo TLCC e pela EEB em três momentos: primeira avaliação (1aAv) no início da pesquisa, segunda avaliação (2aAv) 13 semanas após a primeira, e terceira avaliação (3aAv), 26 semanas após a primeira avaliação. O TLCC inicia-se com o indivíduo sentado numa cadeira confortável, com apoio para as costas e braços, utilizando seus calçados usuais e seu dispositivo de auxílio à marcha. Solicita-se que se levante, ande 3 metros em linha reta, dê a volta em torno de um cone colocado a 3 metros da cadeira e retorne, sentando-se novamente 4,21,27. O tempo requerido para completar a tarefa é mensurado em segundos por um cronômetro e anotado numa planilha. Os pacientes realizaram a tarefa três vezes a fim de obter um número amostral adequado, com intervalo de descanso de 3 minutos. Foi Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):214-9 2010;17(3) 215 Após a primeira avaliação e no intervalo entre a segunda e a última avaliação, os pacientes foram submetidos a atividades fisioterapêuticas em grupo no âmbito do Projeto Hemiplegia, duas vezes por semana, em sessões de 60 minutos. Cada sessão iniciava-se com uma série de exercícios na posição sentada, depois na posição ortostática e sentada novamente. Os exercícios consistiam em uma seqüência de alongamentos gerais de membros superiores e inferiores, de exercícios de movimentação ativa, autoassistida ou ativo-assistida, finalizando-se com exercícios de relaxamento ou recreativos. Os alongamentos foram efetuados ativamente ou de forma autoassistida (ex: flexo-extensão de pescoço, flexão de ombro, flexão de tronco e dorsiflexão e plantiflexão dos pés), acompanhados de exercícios respiratórios. Os exercícios de movimentação foram feitos tanto na posição sentada como em ortostatismo, enfatizando o equilíbrio, a coordenação, a simetria, a distribuição de peso e a marcha. Exercícios de sentar e levantar, agachamento, flexo-extensão de quadril e joelho, ante e retroversão da pelve, andar para frente e na lateral são alguns dos exercícios propostos. As sessões eram supervisionadas por fisioterapeutas e graduandos em Fisioterapia, que auxiliavam os pacientes apenas quando necessário. 216 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):214-9 Tabela 1 Escores (média ± desvio padrão) no teste de levantar e caminhar cronometrado (TLCC, em segundos) e na escala de equilíbrio de Berg (EEB, pontos) nas três avaliações (Av); p>0,05 entre as três avaliações Teste 1a Av 2a Av 3a Av TLCC EEB 22,2±9,67 42,5±10,92 20,6±8,63 44,6±10,03 20,4±9,30 45,2±8,92 RESULTADOS Dos 21 pacientes avaliados, 11 obtiveram pontuações médias abaixo de 20 segundos, ou seja, 52,4% dos indivíduos estudados apresentaram uma marcha com velocidade suficiente para deambular na comunidade. Quanto aos resultados de EEB, foi observado um aumento na média da pontuação entre cada avaliação, passando de 42,52 pontos na 1aAv a 45,19 na 3aAv (Tabela 1 e Gráfico 2). Novamente, as diferenças encontradas não foram estatisticamente significativas (p=0,728). Considerando o ponto de corte de 52 para a EEB, na 1aAv apenas cinco (23,8%) indivíduos pontuaram acima; e, na 2a e 3a, seis (28,6%) indivíduos não apresentaram risco de queda. A correlação encontrada entre os escores nos dois testes foi considerada forte29 e significativa (p<0,05): r= -0,762 na 1aAv, r= -0,801 na 2a e r= -0,764 na 3a. 40 Tempo (segundos) no TLCC A capacidade funcional da marcha, quantificada pelo TLCC, sofreu uma redução progressiva do tempo médio requerido para completar a tarefa ao longo do tempo, como se pode ver na Tabela 1 e Gráfico 1. As diferenças de escore entre as avaliações não foram estatisticamente significativas (p=0,546). 45 35 30 25 20 15 10 5 0 0 (1ªAv) 13 (2ªAv) Semana 26 (3ªAv) Gráfico 1 Escores médios (em segundos) no teste de levantar e caminhar cronometrado (TLCC) nas três avaliações (Av) 60 Escore (pontos) na EEB A EEB é composta de 14 itens que consistem na manutenção de posições ou realização de tarefas estáticas ou em movimento, incluindo tarefas com nível de dificuldade variável. Todos os itens são tarefas comuns da vida cotidiana. Os itens recebem uma pontuação de 0 a 4 com base na habilidade para atingir o tempo específico ou a distância requeridos: zero representa inabilidade para completar a tarefa e 4 corresponde à habilidade de completá-la independentemente. A pontuação total varia de 0 a 56 pontos. Foi utilizada a nota de corte de 52 seguindo Belgen et al.1, que estudaram indivíduos hemiparéticos crônicos para avaliar o risco de queda e concluíram que, abaixo desse limite, os indivíduos apresentam risco de queda. Com o intuito de verificar a existência de diferença significativa entre os períodos de coleta, foi aplicado o teste de Kruskal-Wallis; para verificar a presença de correlações entre as avaliações, foi utilizado o teste de correlação de Spearman. 50 40 30 20 10 0 0 (1ªAv) 13 (2ªAv) Semana 26 (3ªAv) Gráfico 2 Escore médio na escala de equilíbrio de Berg obtido nas três avaliações (Av) Segundos no TLCC utilizado o escore limite de 20 segundos25-27 para discriminar indivíduos com marcha funcional daqueles que não a apresentam. 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 Escore (pontos) na EEB Gráfico 3 Correlação dos valores obtidos na primeira avaliação entre os escores no teste de levantar e caminhar cronometrado (TLCC) e na escala de equilíbrio de Berg (EEB); r=-0,762 Giriko et al. Capacidade funcional de hemiparéticos DISCUSSÃO O tratamento proposto no Projeto Hemiplegia objetivou melhorar a capacidade funcional da marcha, a coordenação motora e o equilíbrio, para que as atividades de vida diária (AVD) possam ser realizadas da forma mais independente possível. Diversos estudos utilizam seis a oito semanas de exercícios em hemiparéticos agudos3,8,21,30,31. É conhecido que os exercícios terapêuticos são benéficos em qualquer fase da hemiparesia, entretanto pouco se sabe se os benefícios são sustentados após o final do tratamento7. Neste estudo foram avaliadas as alterações ocorridas após 48 sessões de fisioterapia em um período de 26 semanas. Observa-se que a melhora dos escores no TLCC e na EEB, com a intervenção, não foi considerada significante. Estudos que utilizaram terapia baseada em exercícios funcionais associados a fortalecimento de músculos específicos encontraram melhores resultados1,3,8,9. Belgen et al.1 sugerem que as reações de equilíbrio requerem força muscular dos membros inferiores, importantes na prevenção das quedas. A força contribui positivamente para a capacidade de equilibrar, a mobilidade funcional e a prevenção das quedas, sugerindo que o fortalecimento seja um aspecto importante para a fisioterapia de hemiparéticos crônicos. Segundo o estudo de Leroux et al.9, quando se observa melhora no desempenho no TLCC pode-se inferir que o paciente adquiriu uma habilidade contrátil mais eficiente e um aumento na força muscular da perna parética, sugerindo que os resultados variam com o nível de fraqueza muscular e espasticidade. A fraqueza muscular e a espasticidade dificultam o recrutamento coordenado de fibras e a força suficiente para a execução de uma tarefa funcional, o que explicaria o tempo mais longo requerido para o TLCC em pacientes pós AVE4. Estudos25,26,28 com o TLCC revelam que indivíduos que levam menos de 10 segundos para realizar a tarefa são capazes e independentes na realização das AVD. Nenhum indivíduo avaliado neste estudo realizou o TLCC em menos de 10 segundos; porém, dos 21 participantes, 11 (52,4%) obtiveram pontuações médias abaixo de 20 segundos, o que, para outros autores, significa que são relativamente capazes de realizar tarefas de transferência nas AVD e deambulam numa velocidade condizente com as necessidades da vida em comunidade25,26,28,32. Os que levam mais de 30 segundos são considerados dependentes na maioria das AVD e na capacidade de mobilidade4,21,26,28; na amostra estudada, este foi o caso de apenas quatro indivíduos (19%). Escores no TLCC abaixo de 30 segundos expressam a capacidade dos pacientes de se apresentarem ao tratamento sem acompanhante e se dirigirem ao setor desacompanhados de terapeuta; dos quatro que tiveram escores acima de 30 segundos, três necessitavam de acompanhante para ir à terapia e auxílio dos terapeutas. Estudos futuros poderiam avaliar a independência nas AVD desses pacientes e compará-la com os escores obtidos no TLCC. capaz de realizar a marcha e atividades de mobilidade em menos tempo1,4,8. O Projeto Hemiplegia utiliza exercícios funcionais sem focalizar a força muscular, o que poderia justificar a falta de melhora no desempenho funcional. Kim et al.34 concluíram que a marcha depende do treinamento da musculatura adequada, mas a ênfase apenas no fortalecimento não foi suficiente para melhorar a função dos hemiparéticos, pois não se observaram diferenças na velocidade da marcha entre grupo experimental e grupo controle. Portanto, uma proposta de tratamento que utilize a funcionalidade associada ao fortalecimento muscular deve ser mais eficaz para melhorar a capacidade funcional da marcha e o equilíbrio dos pacientes8,34. Quanto ao risco de queda apontado pela EEB, na atual literatura são utilizados vários pontos de corte, variando de 36 a 52 pontos1,13,14,33. Essas variadas pontuações refletem os diferentes subgrupos testados e levantam a questão de que apenas um limite de pontuação não é adequado para se caracterizar grupos com características diversas1. Segundo Belgen et al.1, para melhor discriminar pacientes com queixa de múltiplas quedas e apontar risco para quedas em uma população de hemiparéticos crônicos, o ponto de corte de 52 é o mais adequado. Neste estudo, na 1aAv apenas 5 (23,8%) indivíduos pontuaram acima de 52 e, na 2a e 3aAv, 6 (28,6%) indivíduos não apresentam risco de queda. Apesar de os resultados de TLCC sugerirem que os indivíduos avaliados são eficientes na marcha, os resultados de EEB não descartam o risco de queda para a maioria deles. O programa de exercícios do Projeto Hemiplegia pode não ter sido suficiente para aumentar a mobilidade funcional e o equilíbrio, mas foi capaz de mantêlos. A amostra do presente estudo incluiu pacientes crônicos, todos com um tempo de AVE superior a um ano, diferentemente de estudos anteriores, que utilizaram grupos de pessoas com um tempo de AVE menor que um ano. Tais estudos relatam tratamentos na fase aguda do hemiparético e por um curto período de tempo, interrompendo o tratamento após observar algum ganho funcional3,9,21,30,31, não se mencionando a atuação no paciente crônico. Esse programa cumpre a função de promover uma oportunidade ao paciente crônico, que já apresenta limitações em suas capacidades funcionais devido à doença, e passa pelo processo natural do envelhecimento, de manter sua função, evitar o sedentarismo e suas complicações. Além disso, o Projeto Hemiplegia provê um espaço de vínculo social e acompanhamento especializado. A forte correlação obtida no presente estudo entre os escores obtidos nos dois testes (de -0,762, -0,801 e -0,764 nas três avaliações) concorda com os valores encontrados por outros estudos. Os pesquisadores que desenvolveram o TLCC relatam uma correlação alta com a EEB (r=-0,81)27; Thorbahn e Newton15 encontraram uma correlação de -0,76; e Shumway-Cook et al.16, de -0,72. Podese pois inferir que quando há melhora no equilíbrio do indivíduo, ele necessita de menos tempo para se ajustar, sendo As limitações do estudo referem-se ao tamanho e à heterogeneidade da amostra. O número limitado da amostra dificulta o ajuste estatístico. Os pacientes do Projeto Hemiplegia apresentam grande diversidade de idade, tempo de lesão, comprometimento motor e grau de independência, o que pode ter implicações em seus ganhos motores. Estudos posteriores devem atentar para isso, estabelecendo critérios de seleção de modo a obter amostras mais homogêneas e poder comparar indivíduos de mesmo Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):214-9 2010;17(3) 217 grau de lesão ou capacidade funcional, podendo obter resultados mais consistentes. CONCLUSÃO O programa de exercícios proposto neste estudo não se mostrou efetivo, uma vez que não houve melhora nos escores do TLCC e EEB ao fim de seis meses de seguimento. Uma terapia baseada em exercícios funcionais associados ao fortalecimento de músculos específicos poderia apresentar melhores resultados. Embora a marcha apresentada pelos pacientes seja suficiente para atender às necessidades do dia-a-dia, isso não os exclui de apresentarem risco para quedas. A forte correlação encontrada entre os resultados na EEB e no TLCC pode sugerir que, quando um indivíduo apresenta bom equilíbrio, requer menos tempo para ajustar-se, sendo capaz de mover-se mais rapidamente. REFERÊNCIAS 1 Belgen B, Beninato M, Sullivan PE, Narielwalla K. The association of balance capacity and falls self-efficacy with history of falling in community-dwelling people with chronic stroke. Arch Phys Med Rehabil. 2006;87:554-61. 2 Carr JH, Shepherd RB. Reabilitação neurológica: otimizando o desempenho motor. São Paulo: Manole; 2008. 3 Duncan P, Studenski S, Richards L, Gollub S, Lai SM, Reker D, et al. Randomized clinical trial of therapeutic exercise in subacute stroke. Stroke. 2003;34:2173-80. 4 Ng SS, Hui-Chan CW. 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Pesq. 2010;17(3):214-9 2010;17(3) 219 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.220-4, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Avaliação antropométrica e do ângulo quadricipital na osteoartrite de joelho em mulheres obesas Anthropometric and Q angle assessment in obese women with knee osteoarthritis Eduardo Paul Chacur1, Luciana Oliveira e Silva2, Gabriela Costa Pontes Luz2, Fábio Diodi Kaminice2, Nadia Carla Cheik3 Estudo desenvolvido no Programa de Mestrado em Fisioterapia do Unitri – Centro Universitário do Triângulo, Uberlândia, MG, Brasil 1 Fisioterapeuta; Prof. Ms. do Unitri 2 Fisioterapeutas 3 Profa. Dra. adjunta da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Nadia C. Cheik Faculdade de Educação Física / UFU R. Benjamin Constant 1286 Bairro Aparecida 38400-678 Uberlândia MG e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] APRESENTAÇÃO set. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 2010;17(3):220-4 220 Fisioter Pesq. 2010;17(3) RESUMO: A osteoartrite (OA) é uma doença articular degenerativa, caracterizada por processo inflamatório, dor e deformidades; um de seus fatores preditivos é a obesidade. O objetivo deste estudo foi verificar possíveis correlações entre medidas antropométricas, o ângulo quadricipital (Q) e a osteoartrite de joelho. A amostra foi composta por 50 voluntárias obesas (30 com OA de joelho e 20 sem OA), com idade entre 40 e 60 anos. Foram mensurados, além do IMC (índice de massa corporal), circunferência abdominal (CA), perímetros de cintura e quadril para cálculo da relação cintura-quadril e o ângulo Q; a osteoartrite foi diagnosticada clinicamente e por meio de radiografia da articulação do joelho. Foram encontradas correlações positivas fracas entre IMC e ângulo Q e entre tempo de obesidade e grau de degeneração articular. A CA apresentou correlação positiva fraca com o grau de degeneração articular e o de gravidade da OA. O cálculo da razão de chance (OR) indica que as voluntárias com IMC>34 kg/m2 e CA>110 cm tiveram 3,7 e 7 vezes, respectivamente, mais chance de apresentarem OA. A obesidade central, seu grau e duração possivelmente contribuem para a incidência da OA de joelhos em mulheres obesas. A circunferência abdominal foi a medida que melhor se correlacionou com a presença e grau de OA em obesas, o que aponta para a relevância de sua mensuração na avaliação clínica. DESCRITORES: Antropometria; Mulheres; Obesidade; Osteoartrite do joelho ABSTRACT: Osteoarthritis (OA) is a degenerative joint disease characterized by inflammatory process, pain, and deformity; one of its main predictive factors is obesity. The aim of this study was to search for possible correlations between anthropometric measures, the Q angle and knee osteoarthritis. A sample of 50 obese women (30 with knee osteoarthritis and 20 with no joint disease), aged between 40 to 60 years, were assessed as to BMI (body mass index), abdominal circumference (AC), waist and hip perimeters (so as to calculate waist-hip ratio), and the Q angle; osteoarthritis was diagnosed by clinical exam and knee joint radiography. Results showed a positive, poor correlation between BMI and Q angle, as well as between time of obesity onset and degree of joint degeneration. AC was found to positively, though weakly, correlate with the degree of joint degeneration and of OA severity. Adjusted odds ratio for OA showed that women with BMI>34 kg/m2 and AC>110 cm were respectively 3.7 and 7 times more likely to develop OA. The degree and duration of central obesity possibly contribute to incidence of knee OA in obese women. Abdominal circumference was the measure that most correlated with the degree of joint degeneration and of OA severity, which suggests it should be used in clinical evaluation. KEY WORDS: Anthropometry; Obesity; Osteoarthritis, knee; Women Chacur et al. Antropometria e ângulo Q na obesidade INTRODUÇÃO A osteoartrite (OA) é uma doença degenerativa que atinge as articulações sinoviais, provocando degeneração da cartilagem articular, alterações inflamatórias, dor, deformidades, comprometimento da marcha e da funcionalidade nas atividades de vida diária; apresenta como um dos principais fatores de risco a obesidade1,2. No Brasil, a prevalência de osteoartrite é de 16,9%, responsável por 30 a 40% das consultas em ambulatórios de reumatologia e por 7,5% de todos os afastamentos de trabalho, sendo a quarta doença a determinar aposentadoria (6,2%)3. Estudos clínicos e radiológicos mostram que a incidência da osteoartrite aumenta de forma significativa entre a quarta e a quinta década de vida, no período da menopausa em mulheres e a partir dos 50 anos nos homens, afetando 60% das pessoas com 65 anos ou mais e 80% daquelas com 75 anos ou mais4, sendo a articulação do joelho a mais acometida5. A OA do joelho contribui de forma significativa para incapacidade funcional6,7. A relação entre OA e obesidade é explicada por fatores genéticos, metabólicos, endócrinos e mecânicos3. A quantidade e a distribuição de gordura corporal também podem estar relacionadas com a OA, variáveis estas que podem ser facilmente quantificadas por meio de avaliações antropométricas indiretas, como a razão cintura-quadril (RCQ) e a circunferência abdominal (CA). Essas mensurações são procedimentos de baixo custo e alta aplicabilidade4, além de serem classicamente utilizadas para determinar a relação entre obesidade e doenças crônico-degenerativas1. O excesso de sustentação de peso em um compartimento do joelho induz à degeneração da cartilagem e à OA precoce, prejudicando o alinhamento do joelho conforme aumenta a destruição da cartilagem8 – o que aponta para a importância de avaliar o ângulo quadricipital (ângulo Q) nessa população. As modificações antropométricas e metabólicas relacionadas à obesidade podem influenciar a gravidade da OA. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar possíveis correlações entre características antropométricas, ângulo Q e osteoartrite de joelho em mulheres obesas. METODOLOGIA O estudo foi realizado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos do Centro Universitário do Triângulo. As voluntárias foram orientadas sobre as etapas e procedimentos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Para este estudo foram selecionadas 50 voluntárias (30 obesas com osteoartrite de joelho e 20 obesas sem osteoartrite), com idade entre 40 e 60 anos. As voluntárias com diagnóstico de osteoartrite de joelho procederam do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia e da Clínica Escola do Centro Universitário do Triângulo; foram selecionadas aquelas com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 kg/ m2, bom nível de entendimento e estabilidade clínica no momento da avaliação, sendo reunidas no grupo experimental (OA). O grupo controle foi constituído por mulheres obesas sem OA indicadas pelas voluntárias do grupo experimental. Foram critérios de exclusão a presença de lesões musculoesqueléticas em membros inferiores (MMII) que não a OA de joelhos, discrepância entre membros inferiores maior que 1,5 cm, presença de doenças imunológicas, deficit neurológico, cadeirantes, mulheres eutróficas ou que já tivessem sofrido fratura nos MMII. O critério utilizado para o diagnóstico da obesidade foi o índice de massa corporal, resultado da divisão do peso corporal pela altura ao quadrado, conforme estabelecido pela Organização Mundial de Saúde9. A relação cinturaquadril (RCQ) e a circunferência abdominal (CA) foram mensuradas para classificar a obesidade em central ou periférica. A RCQ foi calculada pela divisão da circunferência abdominal pelo perímetro dos quadris, com as voluntárias em posição ortostática. RCQ superior a 0,8 indica distribuição de gordura central. A CA foi mensurada no ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca superior, por meio de uma fita métrica inelástica; valores abaixo de 80 cm foram considera- dos normais; superiores a 80 cm caracterizam aumento da CA, que é um indicador de obesidade central10. Após esses procedimentos, mediu-se o ângulo Q, posicionando o eixo do goniômetro no centro da patela, com o braço fixo ao longo do fêmur em direção à espinha ilíaca ântero-superior e o braço móvel na tuberosidade tibial. Foi considerado fisiológico o ângulo quadricipital entre 14º e 20º: acima desse valor considerou-se a presença de valgismo e, abaixo de 14º, varismo11. O diagnóstico de osteoartrite foi obtido clinicamente e por meio de radiografia em perfil e ântero-posterior da articulação do joelho, realizada por dois ortopedistas que, com vasta experiência clinica, classificaram o grau de osteoartrite de acordo com a escala de Kellgren e Lawrence12. Nessa classificação os graus de comprometimento articular variam de 1 a 4: no grau 1 o indivíduo apresenta diminuição do espaço articular duvidosa e possível labiação das bordas; no grau 4 apresenta ampla osteofitose, diminuição articular bem marcada, esclerose severa das bordas articulares e deformidades ósseas angulares já bem definidas. O índice de Lequesne, composto por 11 questões sobre dor, desconforto e função, foi usado para classificar subjetivamente a gravidade da OA de joelhos: são seis questões sobre dor e desconforto específicas para a articulação do joelho, uma sobre distância máxima de caminhada e quatro específicas sobre atividades de vida diária. As pontuações variam de 0 a 24 (de sem acometimento a extremamente grave)13. Foi analisado também o comprometimento funcional das obesas com osteoartrite de joelho pelo questionário de Gordon14, que classifica a osteoartrite em quatro categorias, de acordo com a capacidade do indivíduo em executar as atividades de vida diária (AVD) como autocuidado, deslocamento e atividades instrumentais (AVI). Para avaliar o nível de atividade física habitual das voluntárias utilizou-se o questionário de Baecke et al.15: esse instrumento fornece três escores de atividade física realizada nos últimos doze meses, incluindo atividades ocupacionais, exercícios físicos e atividades de lazer e locomoção16. Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):220-4 2010;17(3) 221 Análise estatística Os dados foram analisados usando o programa SPSS (v.12.0). Na análise descritiva aplicou-se o teste de KolmogorovSmirnov para verificar se os dados apresentavam distribuição normal. Para a comparação entre os grupos utilizou-se o teste de Mann-Whitney para amostras independentes; posteriormente foi usada a correlação de Spearman (r) para os dados não-paramétricos: r<0,25 correlação ausente; 0,25<r<0,5 fraca a moderada; 0,5<r<0,75 moderada a boa; r>0,75 boa a excelente. Foi também utilizado o programa BioEstat (v.4.0) para aplicar o teste de razões de chance (odds ratio, OR). O nível de significância foi estabelecido em p<0,05. RESULTADOS O grupo osteoartrite (OA), com 30 voluntárias, tinha idade média de 52 anos; no grupo controle (GC), composto por 20 obesas sem osteoartrite, a idade média foi 48 anos (Tabela 1). As voluntárias do grupo OA apresentaram valores maiores de idade, IMC e CA (p<0,05), mas não houve diferença estatisticamente significante na RCQ entre os grupos. Todas as voluntárias apresentaram circunferência abdominal aumentada e 23% apresentaram RCQ>0,9. Quanto ao nível de atividade física e ao ângulo quadricipital, o grupo OA apresentou menor nível de atividade física, não havendo diferenças significativas entre os grupos em relação ao ângulo quadricipital (Tabela 1). Não foi observada correlação entre os valores do ângulo Q e o grau, gravidade ou funcionalidade da OA. As medidas antropométricas do grupo OA segundo a classificação do grau de OA são apresentadas na Tabela 2. Nesse grupo, foi encontrada correlação positiva fraca entre IMC e ângulo quadricipital (Tabela 3), sugerindo que o aumento da massa corporal está associado à alteração do ângulo quadricipital (>20º). Relembre-se que as voluntárias desse grupo foram classificadas quanto ao grau de OA (escala de Kellgren & Lawrence), gravidade da OA (índice de Lequesne) e funcionalidade (questionário de Gordon), sendo testadas correlações 2010;17(3):220-4 222 Fisioter Pesq. 2010;17(3) Tabela 1 Valores médios (± desvio padrão) da idade, medidas antropométricas, tempo de obesidade (TO), nível de atividade física (NAF) e ângulo Q dos grupos controle (GC) e osteoartrite (OA) e valor de p da comparação entre os grupos; n=50 Característica GC (n=20) OA (n=30) Idade (anos) 48,0r5,7 IMC(kg/m2) 34,18r3,60 RCQ 0,87r0,07 CA (cm) 106,4r11,1 TO (anos) 15,5r11,1 NAF 4,5r0,4 Ângulo Q (D) 18,8r3,6 Ângulo Q (E) 18,9r4,4 Maior ângulo Q 19,8r3,8 52,0r5,3 39,66r5,10 0,88r0,06 113,4r9,5 17,9r11,1 3,4r0,9 19,9r4,4 19,7r4,6 21,4r4,2 p 0,04 0,02 0,55 0,03 0,42 0,04 0,14 0,55 0,12 IMC = índice de massa corporal; RCQ = relação cintura quadril; CA = circunferência abdominal; D = direito; E = esquerdo Tabela 2 Variáveis antropométricas do grupo OA (média ± desvio padrão) segundo o grau de osteoartrite; n=30 2 Grau IMC (kg/m ) CA (cm) 1 32,4r1,1 102,0r9,0 2 37,0r5,0 112,1r9,6 3 38,2r5,5 116,1r8,6 4 37,5r0,1 117,0r0,1 RCQ 0,93r0,1 0,89r0,1 0,88r0,1 0,90r0,1 IMC = índice de massa corporal; RCQ = relação cintura quadril; CA = circunferência abdominal Tabela 3 Correlações (r) das variáveis antropométricas com grau de OA e ângulo Q no grupo OA Variável 2 IMC (kg/m ) RCQ CA (cm) TO (anos) Grau de OA 0,12 -0,09 0,38 0,44 Ângulo Q 0,44 0,08 0,23 0,00 IMC = índice de massa corporal; RCQ = relação cintura quadril; CA = circunferência abdominal; TO = tempo de obesidade; * p<0,05 entre as variáveis antropométricas, tempo de obesidade (TO) e essas classificações. Correlações positivas fracas foram encontradas do grau de OA com CA e TO (Tabela 3). Ao serem testadas correlações das variáveis IMC, RCQ e TO com gravidade, funcionalidade da OA e o nível de atividade física, não foram encontrados dados significantes; apenas a CA correlacionou-se fracamente (r=0,27; p<0,05) com a gravidade de OA. Após análise da razão de chance, observouse que as voluntárias com IMC>34 kg/ m2 e CA>110 cm tiveram 3,7 e 7 vezes respectivamente mais chance de apresentarem OA (Tabela 4). DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A pertença ao sexo feminino e a idade crescente são considerados fatores de risco para a OA. Além disso, estudos mostram que a maior prevalência de sobrepeso e obesidade resultam em alta incidência da OA de joelho nessa população12,13,17. Justifica-se ainda a amostra feminina do presente estudo pelo fato de os sintomas da OA ocorrerem antecipadamente em mulheres17. Ismail et al.18, examinando mais de 200 pacientes com OA de joelhos, encontraram que mais de 90% eram obesos ou com sobrepeso, sendo maior a prevalência no sexo feminino, em uma relação de 2,4:1 para o sexo masculino. A maior idade das voluntárias do grupo OA em relação às do GC pode ser um fator de confusão. Embora na análise intragrupo tenha-se observado que a idade apresentou correlação positiva somente com o grau da OA, teria sido importante parear os grupos por idade. Entretanto, como o grupo controle Tabela 4 Prevalência e razão de chance (OR, intervalo de confiança IC 95%) segundo valores selecionados das medidas antropométricas, tempo de obesidade (TO) e ângulo Q, nos grupos controle (GC) e com osteoartrite (OA) Variável Prevalência (%) Razão de chance GC OA GC OA CA > 110 cm 30 70 0,14 (0,03–0,51) 7,00 (1,94–25,13) RCQ > 0,88 45 30 1,90 (0,58–6,19) 0,52 (0,16–1,69) TO t 5 anos 30 18 0,72 (0,11–4,37) 1,38 (0,22–8,38) Ângulo Q >20q 60 76,6 0,45 (0,13–1,56) 2,19 (0,63–7,50) IMC > 34 35 66,6 0,26 (0,08–0,81) 3,71 (1,12–12,2) IMC = índice de massa corporal; RCQ = relação cintura quadril; CA = circunferência abdominal * p<0,05 Chacur et al. foi recrutado dentro do convívio do grupo com OA, foram priorizados outros fatores de risco para a OA de joelho. A obesidade é conhecida como um fator de risco para inúmeras doenças crônicas que têm como base a inflamação sistêmica. Evidências indicam que a obesidade tem repercussão negativa em estruturas como tendões, fáscias e cartilagens19, o que pode estar associado às alterações antropométricas. A maior prevalência de OA de joelho em mulheres e sua correlação com o aumento do IMC20,21 corroboram os resultados do presente estudo, onde mulheres com IMC>34 kg/m2 apresentaram chance 3,7 vezes maior de desenvolverem OA22-24. Estudos mostram que, além do IMC, a CA também apresenta correlação positiva com a OA10,19, o que corrobora nossos resultados. Apesar de a correlação encontrada ter sido fraca, possivelmente devido ao tamanho da amostra, a análise de razão de chance indicou que as mulheres do grupo OA com CA >110 cm apresentavam 7 vezes mais chance de serem acometidas por OA de joelhos. Também foi observado que todas as voluntárias do grupo OA apresentaram CA aumentada, indicando aumento do risco de complicações associadas à obesidade central. Uma das hipóteses que poderia explicar a ligação da OA com a obesidade, especialmente a obesidade central, é a de que fatores metabólicos e circulantes relacionados com o tecido adiposo visceral afetariam adversamente a cartilagem e outras estruturas articulares, favorecendo assim o desenvolvimento da OA25; tais fatores pró-inflamatórios poderiam ser fator de necrose tumoral alfa (TNF-a), proteína C reativa (PCR) e interleucinas (IL-1, IL- Antropometria e ângulo Q na obesidade 6, IL-17)25,26. A IL-1, uma citocina próinflamatória importante na instalação do foco inflamatório, tem a função de induzir os condrócitos e os sinoviócitos a produzirem as metaloproteases e prostaglandinas, além de deprimir a síntese do colágeno tipo II e dos proteoglicanos (reparadores da cartilagem) e as somatomedinas que impedem a proliferação dos condrócitos. A IL-1 também aumenta a produção do óxido-nítrico, o qual induz o desarranjo estrutural dos condrócitos27. Concomitantemente, a liberação aumentada de TNF-a e IL-6 pelo tecido adiposo central resulta em elevados níveis circulantes de PCR e de fibrinogênio. O aumento da PCR tem sido associado à osteoartrite de joelho no sexo feminino26. Ainda, alguns achados sugerem que níveis elevados de TNFa plasmático contribuem para a susceptibilidade aumentada à inflamação28,29. Uma das limitações do presente estudo é, diante dos achados antropométricos, não ter efetuado a dosagem de citocinas pró-inflamatórias. Além de fatores metabólicos, fatores mecânicos também estão relacionados à osteoartrite. Sharma et al.30 afirmam que a rápida progressão da OA de joelho, devido ao mau alinhamento, predispõe ao declínio na função física. Neste estudo esse achado é confirmado, pois o nível de atividade física do grupo OA foi inferior ao do GC e, pelo questionário Gordon, pôde-se observar que 80% do grupo OA relataram dificuldade nas atividades recreativas e esportivas. O ângulo quadricipital excessivo (valgismo) aumenta o contato lateral da articulação fêmuro-patelar31 e proporciona melhor tolerância à sobrecarga articular imposta pela obesidade, quando comparado ao varismo30; isso justifica a alta prevalência de valgismo (83%) neste estudo. O excesso de sustentação de peso em um compartimento do joelho induz à degeneração da cartilagem e à OA precoce, e o alinhamento piora à medida que aumenta a destruição da cartilagem32. Possivelmente o maior tempo de obesidade e circunferência abdominal aumentada tenham influenciado o grau de comprometimento da OA. Para avaliar o grau da OA foi realizada análise radiográfica da articulação do joelho. Entretanto, o diagnóstico clínico da radiografia nem sempre se coaduna com a sintomatologia32. Assim, foi de grande valia a aplicação do questionário Lequesne, que contempla dor, disfunção da marcha e AVD para avaliação do estadiamento da doença32. Observou-se que as voluntárias que apresentavam OA muito grave (37%) possuíam maior CA e IMC (dados não apresentados). Sugere-se pois que os questionários que avaliam a gravidade da OA e o comprometimento da funcionalidade devam ser utilizados no diagnóstico e na estimativa do risco de progressão da OA de joelho em mulheres obesas. Estes achados confirmam que a obesidade, principalmente central, está relacionada à OA, o que resulta em redução do nível de atividade física e pode contribuir para o estabelecimento de ciclo vicioso entre obesidade, OA e sedentarismo. Foi observada fraca correlação entre o IMC e o ângulo Q. A circunferência abdominal foi a variável antropométrica que melhor se correlacionou com a presença e grau de OA. Assim, destaca-se a importância da mensuração da CA na avaliação clínica de pacientes com osteoartrite de joelho. REFERÊNCIAS 1 Botha-Scheepers S, Watt I, Rosendaal FR, Breedveld FC, Hellio-le-Graverand MP, Kloppenburg M. 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Dra. do Curso de Fisioterapia da Universidade Estadual de Goiás, Goiânia 3 Fisioterapeuta; Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da PUCGoiás ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA R. Mamoré Qd F-6 Lt 12 Residencial Araguaia Alphaville Flamboyant 74883-015 Goiânia GO e-mail: [email protected] O estudo recebeu apoio da Fapeg – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás; os autores 1 foram bolsistas de iniciação científica do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. APRESENTAÇÃO RESUMO: A paralisia cerebral (PC) é um conjunto de desordens posturais e do movimento que causam limitações funcionais; é atribuída a distúrbios nãoprogressivos, porém mutáveis, decorrentes de lesão do cérebro imaturo. Os objetivos do estudo foram identificar as dimensões funcionais comprometidas e observar a evolução da função motora grossa de crianças com PC submetidas a tratamento multidisciplinar em um intervalo de quatro meses. A amostra foi composta por 27 crianças com PC (média de idade 7,6 anos) que freqüentavam a Associação Pestalozzi de Goiânia, GO. O nível de comprometimento das crianças foi atribuído segundo o sistema de classificação da função motora grossa GMFCS (Gross motor function classification system); a medida de função motora grossa GMFM (Gross motor function measure) foi aplicada no início do estudo e após quatro meses. Os resultados mostram que 55,6% das crianças estavam nos níveis IV e V do GMFCS; foi verificada evolução da função motora grossa em todas as dimensões avaliadas pela GMFM, exceto na postura sentada – sugerindo que as transferências de postura e a locomoção devem ser focalizadas no tratamento multidisciplinar dessas crianças com CP. DESCRITORES: Atividade motora/fisiologia; Crianças com deficiência/crescimento e desenvolvimento; Paralisia cerebral ABSTRACT: Cerebral palsy (CP) is described as a set of postural and movement disorders that cause functional limitations; it is assigned to non-progressive, changeable disorders due to immature brain injury. The purpose of the study was to assess functional dimensions affected and the evolution over a four-month period of gross motor function of children with CP undergoing multidisciplinary treatment. The sample was made up by 27 children (mean age 7.6 years) who attended the Pestalozzi Association of Goiania, GO. Severity level was assessed by the Gross Motor Function Classification System (GMFCS); the Gross Motor Function Measure (GMFM) was applied at study onset and four months later. Results show that 55.6% of children were in GMFCS levels IV and V; children showed a positive gross motor function evolution in all GMFM dimensions, except in the skills at the sitting position – suggesting that position changes and locomotion should be focussed in multidisciplinary treatment of these children with CP. KEY WORDS: Cerebral palsy; Disabled children/growth & development; Motor activity/physiology out. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):225-9 2010;17(3) 225 INTRODUÇÃO As lesões neurológicas ocorridas na infância acarretam comprometimentos diversos ao sistema nervoso, sendo a paralisia cerebral (PC) um dos problemas neurológicos mais freqüentes e importantes, que ocorre na fase de desenvolvimento encefálico1. A PC é atribuída a um grupo de distúrbios não-progressivos decorrentes de lesão do cérebro em maturação, e descrita como um conjunto de desordens posturais e de movimento que acabam levando à limitação funcional da criança. O atraso motor, na maioria das vezes, pode vir acompanhado de alterações de comunicação, cognição, percepção, comportamento, funções sensoriais e crises convulsivas2. A etiologia da PC é multifatorial e pode ser desencadeada nos períodos pré, peri ou pósnatal3. Em países desenvolvidos observa-se um aumento na incidência de PC nas últimas duas décadas, com incidência documentada de 2,7 em cada 1.000 nascimentos. Esse aumento é atribuído à melhoria nos cuidados médicos, com conseqüente aumento da sobrevivência de crianças prematuras e com baixo peso4,5. O quadro clínico da PC é caracterizado por anormalidades motoras, posturais e alterações no tônus muscular, de modo que um movimento voluntário que normalmente é complexo, coordenado e variado torna-se descoordenado, estereotipado e limitado. As crianças com essas características neuropatológicas apresentam deficit no desenvolvimento das habilidades funcionais quando comparadas às crianças normais6. O prognóstico da função motora grossa de crianças com PC é variável. Já foi demonstrado que a avaliação do nível de funcionalidade tem valor preditivo para quantificar as habilidades motoras grossas7. Assim, para atender à necessidade de um sistema padronizado de classificação baseado nas habilidades e limitações da função motora grossa, foi desenvolvido o sistema de classificação da função motora grossa GMFCS (Gross motor function classification system)8. O GMFCS é uma escala ordinal de avaliação de cinco níveis, amplamente utilizada na classificação do comprome- 2010;17(3):225-9 226 Fisioter Pesq. 2010;17(3) timento motor de crianças portadoras de PC. Seus níveis variam de acordo com as limitações funcionais apresentadas pela criança e com a necessidade de equipamentos para locomoção, sendo a criança classificada no nível I quando apresenta deambulação independente sem restrição em ambientes externos e, no nível V, quando apresenta mobilidade gravemente limitada, mesmo com o uso de tecnologia assistida9. Essa classificação está sujeita a mudança durante o desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Estudo realizado com 610 crianças com PC com idade média de 6,9 anos, avaliadas várias vezes a intervalos de 6 a 12 meses, verificou que 73% das crianças permaneceram no mesmo nível funcional em todas as avaliações; e aquelas classificadas nos níveis I e V do GMFCS foram menos propensas a serem reclassificadas7. Atualmente, aplicam-se testes e escalas de avaliação do desenvolvimento motor em associação com o GMFCS para avaliar e mensurar a capacidade motora de crianças com PC e detectar alterações. A medida de função motora grossa GMFM (Gross motor function measure) é um exemplo de instrumento usado para quantificar a função motora grossa em crianças portadoras de distúrbios neuromotores, particularmente aquelas com PC10. A GMFM é utilizada por vários autores para avaliar a evolução motora ou como comparação com outros instrumentos de avaliação. Ao comparar a curva da função motora grossa com os níveis do GMFCS em cada idade específica, foi verificado que a evolução da função motora grossa tem implicações significativas nas decisões sobre a intervenção a ser realizada11. Estudos anteriores documentaram a associação entre o nível funcional da criança com paralisia cerebral e o resultado do desempenho obtido na avaliação da função motora grossa12,13. Torna-se necessário verificar a evolução da função motora ao longo do tratamento, considerando a diversidade de metodologias de intervenção adotadas na reabilitação de crianças com paralisia cerebral. Sabese que o trabalho com essas crianças pode durar anos e envolver o trabalho de uma equipe multidisciplinar. Nesse sentido, verificar a evolução a curto pra- zo do tratamento é uma ferramenta de interesse dos profissionais e pesquisadores que lidam com a avaliação e tratamento na PC. Os objetivos do presente estudo foram avaliar a evolução da função motora grossa e identificar as dimensões funcionais mais e menos comprometidas de crianças com PC submetidas a tratamento multidisciplinar em um intervalo de quatro meses. METODOLOGIA O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Os pais ou responsáveis que autorizaram a participação das crianças no estudo assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A amostra foi composta por 27 crianças (15 meninos, 12 meninas) com idade média de 7,6±2,7 anos que freqüentavam a Associação Pestalozzi de Goiânia. Foram incluídas no estudo todas as crianças com idade entre 0 a 12 anos, de ambos os sexos, com diagnóstico clínico de PC (independente do tipo de quadro motor e cognitivo) e que estivessem em tratamento multidisciplinar (fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e pedagogia) na instituição. Foi utilizada uma ficha de avaliação neurológica infantil, elaborada para o presente estudo, contento dados de identificação, anamnese, questionário socioeconômico e exame físico das crianças. As crianças foram avaliadas pela GMFM, que consiste em um instrumento de observação padronizado para medir mudanças na função motora grossa. Esse teste contém uma seqüência de 88 itens com descrições de movimentos, agrupados em cinco dimensões: A – deitar e rolar (17 itens); B – sentar (20 itens); C – engatinhar e ajoelhar (14 itens); D – em pé (13 itens); E – andar, correr e pular (24 itens). A cada item é atribuída pontuação de zero a 3: 0 – não inicia o movimento; 1 – inicia o movimento; 2 – completa parcialmente o movimento; 3 – completa o movimento11. Ao final da avaliação somam-se os pontos obtidos pela criança em cada dimensão, convertendo-se em porcentagem em rela- Dias et al. ção ao escore máximo na dimensão. Por exemplo, na dimensão A (deitar e rolar), com 17 itens, a pontuação máxima é 51; se a criança tiver obtido 34 pontos, seu escore percentual nessa dimensão será 66,7%. Para classificação do desempenho funcional da criança foi utilizada a escala do sistema GMFCS, que classifica o grau de limitação que a criança apresenta em cinco níveis: no nível I a criança apresenta deambulação independente, sem restrição em ambientes externos; no II, demonstra dificuldades mínimas para correr e pular; no nível III necessita de aparelhos auxiliares da marcha; no IV, troca passos com andador; e no nível V apresenta mobilidade gravemente limitada, mesmo com assistência. O instrumento é adaptado à idade da criança, avaliando-se separadamente menores de 2 anos, de 2 a 4 anos, de 4 a 6 anos e de 6 a 12 anos10. Para classificar o nível socioeconômico das famílias das crianças do estudo utilizou-se o questionário padrão da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, que classifica as famílias nas classes A1, A2, B1, B2, C e D. Por ocasião da anamnese, registrada na ficha de avaliação neurológica infantil, os pais também foram questionados sobre o desenvolvimento da criança e sua independência nas atividades de vida diária (AVD). Dentre as questões relacionadas às AVD, perguntou-se aos pais se consideravam as crianças como dependentes, parcialmente dependentes ou independentes na alimentação e higiene pessoal. No exame físico foram avaliados os sinais vitais, os reflexos primitivos, as reações posturais, as mudanças de decúbito, as aquisições posturais, a avaliação postural e a marcha. As crianças foram classificadas segundo o GMFCS de acordo com suas limitações funcionais e posteriormente avaliadas pela equipe de fisioterapia previamente orientada e treinada, com o manual de aplicação da GMFM. Durante a avaliação as crianças vestiam roupas confortáveis que permitiam total liberdade dos movimentos. Todas foram colocadas sobre o colchonete Desempenho funcional na paralisia cerebral para a avaliação fisioterapêu- Tabela 1 Caracterização das crianças estudadas (n=27) tica e foram utilizados brinquedos para estimular as mudanCaracterística n % ças de decúbito e aquisição de Sexo Masculino 15 55,5 posturas específicas. Feminino 12 44,5 Após a avaliação inicial, to- Tipo de parto Normal 16 59,3 das as crianças continuaram a Cesáreo 11 40,7 receber o tratamento multidis- Tipo de PC ciplinar (fisioterapia, fonoaudioHemiplegia espástica leve 4 14,8 logia, terapia ocupacional e Hemiplegia espástica grave 1 3,7 psicopedagogia) na instituição, Diplegia espástica leve 4 14,8 duas vezes por semana, em sesDiplegia espástica moderada 1 3,7 sões de 35 minutos cada. Todas Diplegia atáxica leve 1 3,7 as crianças recebiam o mesmo Quadriplegia coreo-atetóide leve 2 7,4 tratamento, com o mesmo temQuadriplegia coreo-atetóide grave 4 14,8 po e a mesma freqüência semanal. As avaliações realizadas no Quadriplegia espástica moderada 1 3,7 presente estudo não interferiQuadriplegia espástica grave 8 29,7 ram na rotina de atendimento Quadriplegia hipotônica leve 1 3,7 da instituição. Após quatro meGrau de incapacidade Leve 12 44,5 ses de tratamento, as crianças Moderado 3 11 foram novamente avaliadas Grave 12 44,5 pela equipe de fisioterapia para Independência na alimentação e higiene pessoal o registro das pontuações da Totalmente dependente 15 55,6 avaliação motora final. Parcialmente dependente 11 40,7 Os dados coletados foram Independente 1 3,7 analisados com auxílio do programa estatístico SPSS (Statistical Tabela 2 Distribuição das crianças segundo o nível funcional do package for the social sciences, v.15.0). GMFCS (n=27) Inicialmente foi realizada análise descritiva dos dados da amostra, para o cálNível do GMFCS n % culo das médias, desvios padrões, freNível I 5 18,5 qüências e porcentagens. Em seguida foi 6 22,2 aplicado o teste de correlação de Nível II Nível III 1 3,7 Spearman entre as pontuações obtidas (total e em cada dimensão) da GMFM e Nível IV 5 18,5 os níveis funcionais do GMFCS. Por fim, Nível V 10 37,1 foi utilizado o teste t de Student para comparação de grupos pareados, consideran- espástica grave; predominaram crianças do a pontuação obtida pela criança nas com comprometimento motor classificaduas avaliações nas cinco dimensões e do como moderado a grave e totalmente no escore total da GMFM. Em todas as dependentes nas atividades de alimenanálises foi adotado o nível de signifi- tação e higiene pessoal. Quanto à classificação econômica, 74% das famílias cância estatística de 5% (p=0,05). das crianças pertenciam às classes C e D; apenas uma criança provinha de família da classe B1 e as seis restantes, da classe B2. A Tabela 1 apresenta algumas caracA classificação do desempenho funcioterísticas das crianças participantes do nal das crianças pelo GMFCS é apresentaestudo. A maior parte delas nasceram de da na Tabela 2. A maioria das crianças foi parto normal, com peso médio ao nasclassificada nos níveis IV e V, revelando cer de 3 kg (desvio padrão de 830 graimportante comprometimento motor. mas). A idade mínima na amostra foi de Os resultados da análise da evolução da 3 anos e a máxima de 13 anos. O tipo de PC mais freqüente foi a quadriplegia função motora grossa das crianças entre a RESULTADOS Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):225-9 2010;17(3) 227 Tabela 3 Escores (%) nas dimensões da GMFM (média ± desvio padrão) das crianças nas avaliações inicial e final, evolução (Ev, em %) e valor de p da comparação entre ambas (n=27) Dimensões Inicial Final Ev A (deitar e rolar) B (sentar) C (engatinhar, ajoelhar) D (em pé) E (andar, correr , pular) 58±39 49±42 32±36 23±29 21±29 62±39 52±43 37±41 28±35 27±33 4 3 5 5 6 avaliação inicial e final encontram-se na Tabela 3. As crianças revelaram evolução motora em todas as dimensões avaliadas pela GMFM, exceto nas habilidades motoras na postura sentada. Nas demais posturas, relativas às dimensões engatinhar e ajoelhar, ficar em pé, andar, correr e pular, as crianças atingiram maior evolução. Foi possível confirmar que quanto maior a pontuação obtida pela criança na avaliação da função motora grossa, melhor o desempenho funcional, em todas as dimensões avaliadas e na pontuação total da GMFM9,12. DISCUSSÃO Os resultados deste estudo mostram que as crianças apresentaram evolução positiva em praticamente todas as dimensões avaliadas, exceto na postura sentada. Ou seja, tendo atingido a postura sentada, as crianças mantiveram-se estáveis nas habilidades motoras referentes a essa posição; nas demais posturas, que envolvem habilidade de deslocamento e locomoção, as crianças tiveram maior evolução. A classificação subjetiva (leve, moderado e grave) do grau de comprometimento da motricidade é utilizada para determinar a gravidade das alterações motoras presentes, sendo que esse método depende basicamente da percepção do observador14. Como a maioria das crianças apresentavam grande dependência na alimentação e higiene pessoal, justifica-se a percepção do grau de comprometimento moderado a elevado. 2010;17(3):225-9 228 Fisioter Pesq. 2010;17(3) Ao relacionar a avaliação subjetiva do grau de comprometimento motor com os níveis do GMFCS, pôde-se observar que as crianças classificadas p com limitação leve pertenciam 0,004 aos níveis I e II, e as com limi0,112 tação moderada ficaram distri0,007 buídas entre os níveis III e IV, 0,045 sendo que este último abrangeu tanto crianças com com0,043 prometimento moderado quanto grave. Nesse sentido, verifica-se confiabilidade no uso do GMFCS na rotina clínica, uma vez que fornece informação precisa a respeito do desenvolvimento e do prognóstico da função motora grossa nessas crianças7,9. Crianças com comprometimento moderado se assemelham às de comprometimento leve no que se refere ao repertório de habilidades motoras, enquanto que as gravemente afetadas apresentam desempenho funcional inferior em todas as dimensões avaliadas15. O grau de comprometimento neuromotor interfere funcionalmente no desempenho motor; quanto maior a gravidade do comprometimento, maior será a presença de fatores limitantes que podem restringir a capacidade funcional das crianças portadoras de PC16. Um dos pressupostos clínicos que permeiam a atuação dos profissionais que trabalham com esses pacientes é justamente o de uma relação direta entre o grau de comprometimento e expectativas de desempenho funcional15. No presente estudo, o fato de 40,7% das crianças se inserirem nos níveis I e II do GMFCS justifica os bons resultados obtidos nas dimensões D e E da GMFM, uma vez que as referidas crianças já apresentavam controle de tronco suficiente para permanecerem na postura sentada sem apoio e realizar transferências posturais, incluindo aquisições motoras mais complexas, como levantar da cadeira e andar. Por outro lado, mais da metade delas estavam nos níveis IV e V, ou seja, apresentavam importantes limitações do movimento, necessitando cadeira de rodas para locomoção, com auxílio do cuidador. Além do tratamento multidisciplinar da PC, alguns fatores ambientais como as atitudes do cuidador também podem ter influenciado o desempenho dessas crianças nas habilidades funcionais e na independência funcional quanto a autocuidado, mobilidade e socialização15. Características intrínsecas e extrínsecas são aspectos que vão limitar as possibilidades funcionais, ampliando as situações de desvantagem no desempenho da atividade motora17. A evolução motora também é determinada pelas experiências que a criança estabelece com seu meio, a família e as demandas impostas pelas atividades de vida diária18. As ações terapêuticas devem extrapolar mudanças exclusivamente voltadas para os componentes intrínsecos ou estruturais do corpo, incluindo orientações e conscientização dos cuidadores para que eles estimulem a participação ativa de suas crianças em atividades funcionais da rotina diária15. Como limitações do presente estudo, destacam-se a questão do tamanho e das características heterogêneas da amostra estudada. A dificuldade de utilizar uma amostra maior e com características clínicas semelhantes é um fator limitante freqüente nos estudos com crianças com PC, considerando a diversidade clínica e os problemas que podem estar associados ao diagnóstico de PC, como comprometimento cognitivo e sensorial. CONCLUSÃO Considerando a evolução da função motora grossa entre as avaliações inicial e final, os resultados sugerem que o tratamento multidisciplinar pode potencializar a função motora grossa e o desempenho funcional da criança com paralisia cerebral. Os dados revelam que as crianças melhoraram em todas as dimensões, exceto na postura sentada. Os resultados podem trazer implicações para o foco do tratamento multidisciplinar voltado para as habilidades de transferências de postura e locomoção, visando maior independência funcional das crianças e menor dependência dos cuidadores nas suas atividades de vida diária. Dias et al. 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Pesq. 2010;17(3):225-9 2010;17(3) 229 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.230-5, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Desempenho do membro não-acometido em pacientes com reconstrução do ligamento cruzado anterior Performance of uninjured lower limb after anterior cruciate ligament reconstruction Maria Isabel de Noronha Neta1, Nícia Farias Braga2, Denise Dal'Ava Augusto2, Ariane Emerenciano da Câmara3, Jamilson Simões Brasileiro4 Estudo desenvolvido no Laboratório de Análise de Performance Neuromuscular do PPG-Ft/UFRN – Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil 1 Fisioterapeuta Ms. 2 Mestrandas em Fisioterapia no PPG-Ft da UFRN 3 Graduanda em Fisioterapia na UFRN 4 Prof. Dr. do PPG-Ft da UFRN ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Jamilson S. Brasileiro Av. Jaguarari 5250 Condomínio Green Towers Bl A, apto 801 Candelária 59.064-500 Natal RN e-mail: [email protected] Este estudo foi apoiado pelo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – e pela Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior APRESENTAÇÃO nov. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 230 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):230-5 RESUMO: Défices sensoriais persistentes após a reconstrução do ligamento cruzado anterior (LCA) podem causar alterações como fraqueza muscular e comprometimento do equilíbrio e do desempenho funcional. Diversos estudos discutem se essas alterações também estão presentes no membro inferior nãoacometido e se esse membro pode ser utilizado como referência nas avaliações desses pacientes. O objetivo do presente estudo foi comparar o torque extensor e flexor do joelho, o equilíbrio unipodal e o desempenho funcional sobre o membro não-acometido de pacientes submetidos à reconstrução do LCA, com membros inferiores de sujeitos saudáveis. Participaram do estudo 23 indivíduos submetidos à reconstrução do LCA e 22 sujeitos saudáveis, que foram avaliados quanto ao torque extensor e flexor do joelho durante contração isocinética concêntrica a 60 graus/s no dinamômetro isocinético, à velocidade média de oscilação do centro de pressão em apoio unipodal no baropodômetro, e submetidos a dois testes de salto para avaliar o desempenho funcional. Os resultados não revelaram diferenças entre o membro não-acometido e os membros inferiores do grupo controle em todas as variáveis estudadas (p>0,05). Esses resultados sugerem que o membro não-acometido de pacientes submetidos à reconstrução do LCA pode ser utilizado como referência nos estudos de avaliação desses pacientes. DESCRITORES: Força muscular; Ligamento cruzado anterior; Torque; Traumatismos do joelho ABSTRACT : Persistent sensorial deficits after anterior cruciate ligament (ACL) reconstruction might lead to muscle weakness, balance and functional performance disorders. Several studies inquire whether these alterations also appear in the uninjured limb and whether the latter could be used as reference for patient assessment. The aim of the present study was to compare knee extensor and flexor torque, balance and functional performance of non-injured lower limb, after contralateral ACL reconstruction, with lower limbs of healthy subjects. Twentythree male patients who had had ACL reconstruction, and 22 control subjects were assessed as to knee flexor and extensor torque during concentric isokinetic contraction at 60o/s with an isokinetic dynamometer, mean speed of centre of pressure swing during single-limb stance, and submitted to two hop tests to assess functional performance. Results showed no significant differences between uninjured side and healthy subjects lower limbs at all assessed variables (p>0.05). These findings suggest that the uninjured limb may be safely used as reference in studies to assess post-ACL patients. KEY WORDS: Anterior cruciate ligament; Knee injuries; Muscle strength; Torque Neta et al. Função e equilíbrio após reconstrução do LCA INTRODUÇÃO A ruptura do ligamento cruzado anterior (LCA) é reconhecida como uma das lesões traumáticas mais freqüentes entre atletas e sujeitos fisicamente ativos, compreendendo cerca de 50% de todas as lesões nos ligamentos dos joelhos1,2. Técnicas de reconstrução após a ruptura do LCA têm sido aperfeiçoadas e mostram bons resultados na estabilização mecânica do joelho. Porém, mesmo com maior estabilização, há grandes possibilidades de não ocorrer a recuperação completa de função após a cirurgia, o que pode estar relacionado não somente a défices motores, mas também à diminuição sensorial3. Défices sensoriais poderiam persistir após a cirurgia, pois o trauma imposto pela cirurgia a determinadas estruturas (mecanorreceptores e conexões nervosas) não podem ser facilmente restauradas3. Essa condição pode levar a alterações como fraqueza do músculo quadríceps4,5, comprometimento do equilíbrio em apoio unipodal e no desempenho funcional6. Diversos estudos discutem se tais alterações também estão presentes no membro inferior não-acometido após a lesão e a cirurgia de reconstrução desse ligamento7,8,9. Estudos que avaliaram a diminuição na ativação do músculo quadríceps femoral do membro inferior submetido à reconstrução do LCA sugerem que tal deficit é decorrente da perda de informações aferentes dos mecanorreceptores do LCA para a alça gama10. Estudos encontraram esse deficit no membro não-acometido de indivíduos com ruptura e submetidos à reconstrução de LCA7,11. A similaridade entre diferentes estudos aponta para um mecanismo neurofisiológico comum. Porém, pesquisas que avaliaram força7,12,13, equilíbrio12-14 e desempenho funcional13,15 mostraram diferentes resultados quando o membro não-acometido era comparado a um grupo controle de sujeitos saudáveis. Esses achados não são consensuais pelo emprego do membro não-acometido como referência para as comparações. O objetivo do presente estudo foi comparar o torque, o equilíbrio e o desempenho funcional do membro não-acometido de pacientes submetidos à reconstrução do LCA com membros inferiores de sujeitos saudáveis. METODOLOGIA Este estudo foi inicialmente aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e um termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelos participantes, confirmando sua participação voluntária na pesquisa. A amostra foi composta por 45 sujeitos do sexo masculino; 23 foram selecionados dentre os pacientes de duas clínicas de fisioterapia que haviam se submetido à reconstrução do LCA cerca de 5 meses antes (147±34 dias); esses sujeitos (29,8±9,6 anos; IMC 25,7±3,4 kg/ m2) compuseram o grupo de reconstrução do LCA (GR); 22 sujeitos (26,5±7,4 anos; IMC 24,1±2,9 kg/m2) fisicamente ativos (prática de atividade física de 2 a 3 vezes por semana) e que não apresentavam lesão osteomioarticular nos membros inferiores, voluntariaram para compor o grupo controle (GC). O tamanho da amostra foi calculado com o auxílio do programa EpiInfo 3.5.1. O intervalo de confiança foi de 95%, o poder do teste de 80%, o tamanho da amostra de 1:1 (controle/caso) e a freqüência esperada da exposição nos controles foi 30/100000. O número amostral do presente estudo se aproximou do resultado encontrado pelo cálculo amostral, que foi de 24 sujeitos. Os critérios de inclusão para o GR foram: ter sido submetido a um procedimento cirúrgico unilateral de reconstrução do LCA com a técnica de enxerto de duplos tendões dos músculos semitendíneo e grácil e estar em tratamento fisioterapêutico entre o terceiro e sexto mês pós-operatório. Esse intervalo de tempo foi delimitado porque, nessa fase do protocolo fisioterapêutico de reabilitação, os pacientes realizam atividades de força, treino neuromuscular e equilíbrio em suas rotinas de recuperação. Ambos os grupos deveriam: ter idade entre 18 e 45 anos; não usar drogas ou medicamentos que comprometam o equilíbrio; não apresentar patologias ou derrame articular; não ter histórico de cirurgias associadas nos membros inferiores nem de disfunção neurológica, vestibular ou visual. Os sujeitos foram excluídos do estudo caso referissem dor durante os procedimentos de coleta ou se não executassem os procedimentos de avaliação de forma correta, de modo a impossibilitar a captação de quaisquer dos dados investigados. Um sujeito de cada grupo foram excluídos, pois referiram dor ou desconforto durante a coleta de dados. Procedimentos Os sujeitos realizaram num mesmo dia os testes na seguinte ordem: (1) avaliação do equilíbrio postural; (2) determinação do pico de torque isocinético; (3) avaliação do desempenho funcional. Foi estabelecido um intervalo de 5 minutos entre as avaliações. Os instrumentos de avaliação utilizados foram: um baropodômetro computadorizado Eclipse 3000 (Guy-Capron SA, França) para registrar o equilíbrio em apoio unipodálico; um dinamômetro isocinético computadorizado (Multi-Joint System 3, Biodex, USA) para registrar os torques extensor e flexor do joelho. Antes de serem iniciadas as avaliações foi determinado o membro dominante (MD) e o não-dominante (MND), mediante pergunta sobre o membro de preferência para a execução de um chute (ex.: “com qual perna você chutaria uma bola?”). No GR, foi avaliado o membro não submetido à reconstrução do ligamento, denominado MNA. Durante as três avaliações (de equilíbrio, força e desempenho funcional) foi predeterminado que os participantes do GC iniciassem os procedimentos com o MD. Para a coleta dos dados referentes ao equilíbrio postural, os sujeitos foram posicionados em pé, com os olhos abertos e em apoio unipodal no membro testado. O mesmo foi mantido a 20º de flexão16, utilizando um goniômetro universal (Carci, BR). O membro inferior nãoapoiado permaneceu com o quadril a 0º e o joelho a 90º de flexão16. Os sujeitos foram instruídos a permanecer com as mãos apoiadas na crista ilíaca durante a coleta dos dados, como ilustra a Figura 1. A escolha da avaliação do equilíbrio dos sujeitos apenas com os olhos abertos seguiu o protocolo proposto por Chmielewski et al.16: como as atividades Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):230-5 2010;17(3) 231 Figura 1 Posicionamento do sujeito para o teste no baropodômetro funcionais e de vida diária são executadas com os olhos abertos, foi objetivo do presente estudo realizar as atividades de avaliação com os olhos abertos, e não fechados. A captação da velocidade média de oscilação do centro de pressão (VmCP) foi realizada alternando os membros. Cada condição de teste foi repetida por três vezes em cada membro, sendo considerada para análise a média das três medidas. Os testes foram anulados caso houvesse perda de equilíbrio ou se o joelho testado não mantivesse os 20º de flexão (visualmente monitorados). O tempo de aquisição dos dados foi de 10 segundos, com o mesmo período de repouso entre cada avaliação16. Antes do início dos testes, o sujeito foi familiarizado com o procedimento de avaliação, repetindo-o uma vez com cada um dos membros. A variável VmCP é registrada pelo programa Podosat do baropodômetro computadorizado, com superfície de 40 x 40 (cm), que permite informações da velocidade de oscilação do centro de pressão do corpo (distância média percorrida pelo centro de pressão em mm/s) para deslocamento nos planos lateral e 232 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):230-5 Figura 2 Posicionamento do sujeito para o teste no dinamômetro isocinético sagital. A relação entre a VmCP e o equilíbrio é dada por uma razão inversa, onde quanto maior a velocidade de oscilação do centro de pressão do sujeito, menor é o seu equilíbrio17. O estudo do equilíbrio postural por meio de um baropodômetro computadorizado é um método de avaliação objetivo que pode ser utilizado em sujeitos de ambos os sexos, independentemente de peso ou idade18. A avaliação do torque isocinético foi realizada com o encosto do dinamômetro reclinado em 5º em relação à posição vertical. Quatro cintos estabilizaram a coxa, pelve e tronco dos sujeitos. Foram feitos ajustes para a fixação do braço de alavanca, onde a resistência foi aplicada a três cm acima do maléolo lateral, para permitir a dorsiflexão do tornozelo. O eixo mecânico do dinamômetro foi alinhado com o epicôndilo lateral do fêmur (Figura 2). Para a estabilização dos demais segmentos corporais, os sujeitos foram orientados a segurar firmemente o apoio lateral do assento19. O torque flexor e extensor do joelho foram avaliados concentricamente na velocidade de 60º/s com movimentos entre os ângulos de 0 e 90 graus. Os sujeitos foram instruídos a realizar cinco repetições submáximas para a familiarização com o teste20. Após dois minutos de intervalo, os sujeitos foram verbalmente encorajados a realizar as cinco repetições com a força máxima de contração e os dados do pico de torque extensor e flexor foram coletados20. O desempenho funcional foi avaliado por meio de dois testes de salto, o de salto único e o teste de salto triplo20. Uma fita adesiva com 6 m de comprimento foi fixada ao solo para medição da distância dos saltos. Inicialmente os sujeitos foram familiarizados com os testes, repetindo cada teste uma vez com cada um dos membros, com um tempo de repouso de 30 s entre cada membro. Nenhuma informação foi dada com relação ao posicionamento das mãos ou para onde os sujeitos deveriam fixar o olhar durante os saltos21. Após a familiarização com os testes, cada condição foi repetida duas vezes em cada membro, alternando-os, sendo considerada para análise a média das duas medidas. Para o salto ser considerado válido, o sujeito Neta et al. Função e equilíbrio após reconstrução do LCA Análise estatística Inicialmente foi utilizado o teste Kolmogorov-Smirnov, que confirmou a normalidade dos dados. Foi aplicada estatística descritiva (média e desvio padrão) para as variáveis idade, IMC, tempo de lesão e tempo pós-cirurgia. O teste t de Student não-pareado foi aplicado para o cálculo das diferenças entre os grupos quanto a idade e IMC. Para verificar as diferenças entre os grupos, entre o membro não-acometido do GR e o membro dominante e não-dominante do GC, foi utilizado o teste Anova unidirecional, seguido do teste post-hoc de Tukey. A análise dos dados foi feita com auxílio do programa SPSS (Statistical package for social sciences, v.15.0) atribuindo-se o nível de significância de 5%. Pico de torque (Nm) MD 200 MND 150 100 50 0 Extensor PText Flexor PTfle Figura 3 Pico de torque (média ± desvio padrão) extensor e flexor a 60 º/s nos membros não-acometido (MNA), dominante (MD) e não-dominante (MND) MNA MD MND 20 Velocidade média (mm/s) No primeiro teste (salto único), os sujeitos foram instruídos a realizar um único salto máximo sobre o membro testado e a medida utilizada foi a distância entre o ponto onde o hálux estivesse posicionado após o salto e o ponto de partida. No segundo teste (salto triplo) os sujeitos foram instruídos a realizar três saltos consecutivos máximos sobre o membro testado, finalizando o salto com esse membro, e a distância total dos três saltos consecutivos foi aferida21. MNA 250 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 CentroVmCp de pressão Figura 4 Velocidade média (média ± desvio padrão) de oscilação do centro de pressão nos membros nãoacometido (MNA), dominante (MD) e não-dominante (MND) 6 5 Distância (m) deveria manter-se equilibrado por dois segundos após a finalização do salto, o membro contralateral ao avaliado ou os membros superiores não deveriam tocar o solo e não poderia ser realizado qualquer salto adicional. Caso qualquer uma dessas condições ocorresse o teste era repetido21, sendo necessários geralmente um ou dois saltos extras. 4 MNA MD MND 3 2 1 0 RESULTADOS Os testes não revelaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos quanto à idade ou ao IMC (p=0,23 e 0,09, respectivamente). Em nenhuma das variáveis estudadas foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o MNA do grupo reconstrução e o MD e MND do grupo controle. Valores de p=0,98 e p=0,66 foram encontrados nos registros do pico de torque extensor e flexor a 60º/s respectivamente, quando comparado o Su St Figura 5 Distância alcançada (média ± desvio padrão) no salto único (Su) e no salto triplo (St) pelos membros não-acometido (MNA), dominante (MD) e não-dominante (MND) MNA o MD; e p=0,64 e p=0,06, quando o MNA foi comparado ao MND. Os dados são observados na Figura 3. A velocidade média de oscilação do centro de pressão foi empregada para quantificar o equilíbrio postural em apoio unipodal, não sendo encontrada diferença entre o MNA e MD (p=0,91) e o MNA e MND (p=0,99) (Figura 4). Quando comparados os valores para o MNA e o MD nos testes de salto único (Su) e salto triplo (St), foram obtidos p=0,69 para o Su e p=0,52 para o St. Quando comparados o MNA e o MND, foram encontrados p=0,39 para o Su e p=0,74 para o St, não sendo encontradas diferenças entre os membros, como mostra a Figura 5. DISCUSSÃO Os dados revelaram que não houve diferença entre o membro não-acometido e os membros inferiores do grupo controle para qualquer das variáveis analisadas (pico de torque, equilíbrio e desempenho funcional). Esses dados contradizem a idéia de alguns estudos7,10,11,15,22,23 segundo os quais o MNA não poderia ser utilizado como referência nas avaliações do membro acometido após reconstrução do LCA. Alguns autores10,23 sugerem que a diminuição das informações sensoriais após a lesão do LCA não teria um impacto direto sobre a função dos motoneurônios alfa, mas sobre a função dos motoneurônios gama. Esse sistema possibilita um ajuste no encurtamento das fibras intrafusais e permite a regulagem da sensibilidade, a qual afeta a capacidade de produzir contração muscular. Esse mecanismo é explicado por estudos como o de Konish et al.7, para quem a disfunção na alça gama é responsável pela diminuição das informações aferentes dos mecanorreceptores no LCA para os motoneurônios gama em ambos os membros inferiores, após a reconstrução unilateral do LCA. O pico de torque extensor e flexor do joelho aqui medido foi similar ao encontrado em outros estudos que compararam o pico de torque do MNA de pacientes após reconstrução do LCA com um grupo controle12,13,24. Hoffman et al.12 avaliaram 20 sujeitos saudáveis e 20 pacientes a partir do terceiro mês de reconstrução do LCA e também não encontraram diferenças no pico de torque extensor a 60°/s entre o MNA e os dois membros do grupo controle. Mattacolla et al.13 também referem que o MNA gerou um torque extensor de joelho maior que o membro acometido e que os valores de torque foram similares quando Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):230-5 2010;17(3) 233 o MNA foi comparado com o grupo controle. Recentemente, Landes et al.24 avaliaram a média do pico de torque isométrico flexor do joelho em pacientes submetidos a reconstrução do LCA utilizando os tendões do semitendíneo e grácil e também não encontraram diferenças entre o MNA e o grupo controle. Os resultados do presente estudo confirmam a idéia de que, embora haja uma clara evidência de conexões neurais contralaterais (disfunção na alça gama) que afetariam a função do MNA após a cirurgia de reconstrução do LCA, essa anormalidade não afeta a produção de força do MNA. O equilíbrio postural em apoio unipodal (aferido pela velocidade média de oscilação do centro de pressão) também não diferiu entre o MNA e o MD e MND do grupo controle. Esse achado pode ser explicado através dos argumentos de Freeman e Wyke25. Esses autores afirmam que os danos nos mecanorreceptores presentes em cápsulas e ligamentos podem alterar as informações oriundas da articulação para o sistema nervoso central. Essa alteração causaria mudanças no controle postural devido ao dano localizado nos receptores do ligamento do membro submetido à reconstrução (unilateralmente), limitando o deficit de equilíbrio a este membro, não para o MNA. Os resultados do presente estudo corroboram outros que não encontraram diferenças entre o MNA e o grupo controle13,16,26 e não estão de acordo com estudos 12,27 que encontram deficit de equilíbrio no MNA de pacientes após reconstrução do LCA, quando este foi comparado aos membros inferiores de grupos controles, e que defendem a idéia de que danos nos mecanorreceptores da articulação do joelho após a lesão ou reconstrução do LCA interrompem o mecanismo de controle postural central, o que afetaria ambos os membros inferiores. Um ponto que deve ser levado em consideração é que o equipamento utilizado nesse estudo para a avaliação do equilíbrio postural (baropodômetro computadorizado) permitiu avaliar apenas o equilíbrio estático dos pacientes. Embora esse protocolo seja utilizado em muitos estudos6,12,28,29, a avaliação em condições dinâmicas poderia fornecer mais informações sobre o estado do equilíbrio postural dos pacientes, como situações de desequilíbrio durante a marcha ou quando o sujeito é desestabilizado, ou ao subir um degrau. Quanto ao desempenho funcional, os resultados fortalecem a idéia de que não haveria comprometimento funcional no MNA após a reconstrução do LCA. Muitos estudos utilizam o MNA como controle quando realizam avaliações do desempenho funcional por testes de salto, pois estabelecem um índice de simetria entre o MNA e o membro acometido, calculando a razão da distância saltada do membro acometido e do MNA multiplicado por 10016,20,21,30,31. Mattacola et al.13 não utilizaram o índice de simetria entre os membros, mas avaliaram o desempenho funcional do MD e o MND de um grupo controle com relação ao MNA de pacientes após a reconstrução do LCA e também não encontraram déficits nesse membro ao realizar o teste de salto único. Indivíduos do grupo reconstruído foram capazes de saltar uma distância maior com o MNA do que os indivíduos do grupo controle, sugerindo que pode ter ocorrido uma compensação para a perda de função do membro reconstruído. É importante ressaltar que todos os participantes do estudo realizaram o mesmo protocolo de reabilitação, iniciando o treino neuromuscular (exercícios na cama elástica e prancha de equilíbrio, ativida- des em solo com obstáculos e saltos verticais bipodais) e equilíbrio a partir do segundo mês de reabilitação. Esse protocolo enfatizava tanto o membro acometido como o MNA. Acredita-se que essas atividades podem ser responsáveis pelo bom desempenho do MNA quando comparado ao grupo controle. O presente estudo apresenta limitações como a falta de uma avaliação do equilíbrio dinâmico dos pacientes que poderia completar a análise de seu equilíbrio. Embora o equipamento de baropodometria computadorizado seja utilizado na avaliação das oscilações posturais do indivíduo, não existe na literatura estudos de confiabilidade e reprodutibilidade para a população estudada. A realização da avaliação em períodos distintos da reabilitação (a amostra foi composta tanto por pacientes tanto no terceiro quanto no sexto mês de reabilitação) também é uma limitação, já que se sabe que o quadro funcional do paciente varia dependendo do estágio da recuperação. Porém, essa condição foi minimizada, pois todos os pacientes já realizavam atividades de força, treino neuromuscular e equilíbrio. Os resultados encontrados limitam-se ao tempo pós-cirúrgico estudado e não devem ser estendidos a pacientes em outras fases de recuperação, devido às características inerentes a cada fase. CONCLUSÃO No presente estudo, não foi encontrado deficit funcional, de torque ou de equilíbrio estático, no membro não-acometido de sujeitos submetidos à reconstrução do LCA. Esse achado permite afirmar que esse membro pode ser utilizado como referência nos estudos de avaliação de sujeitos submetidos à reconstrução do LCA. REFERÊNCIAS 1 Bollen S. Ligament injuries of the knee: limping forward?. Br J Sports Med. 1998;32(1):82-4. 2 Noyes FR, Mooar PA, Matthews DS, Butler DL. The symptomatic anterior cruciate-deficient knee, part I: the long-term functional disability in athletically active individuals. J Bone Joint Surg Am. 1983;65:154-62. 2010;17(3):230-5 234 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 3 Bonfim TR, Paccola CAJ, Barela JA. 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Dr. Malheiros 31 ap 07 Centro 69020-610 Manaus AM e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO jan. 2010 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 2010;17(3):236-41 236 Fisioter Pesq. 2010;17(3) RESUMO: O objetivo deste estudo foi verificar a incidência de lesões, os principais desvios posturais e a possível associação entre lesões e desvios posturais em jogadores de futebol. Foram avaliados 21 voluntários do sexo masculino tendo entre 17 e 19 anos, jogadores de futebol de uma equipe profissional, que foram divididos em dois grupos: G1 formado por 15 jogadores que sofreram lesões relacionadas à prática de futebol; e G2 composto por 6 atletas que não tiveram lesões. Foram coletados dados sobre características antropométricas, posição de jogo, tempo de prática de futebol, freqüência de prática e histórico de lesões relacionadas à prática de futebol. O alinhamento postural foi verificado utilizando um protocolo específico para detectar alterações. Os resultados mostram alterações no alinhamento corporal em ambos os grupos. Os maiores desvios posturais encontrados foram assimetria das escápulas, no alinhamento horizontal da cabeça e no da pelve, em ambos os grupos. Considerando as lesões no G1, a mais comum foi no tornozelo (35%) e a segunda mais freqüente, no joelho (23%). Embora não tenha sido encontrada associação entre desvios posturais e ocorrência de lesões, a incidência de ambos é importante, sugerindo a necessidade de intervenções de prevenção na formação de jogadores de futebol. DESCRITORES: Atletas; Futebol/lesões; Postura ABSTRACT: The purpose of this study was to assess the incidence of injuries, deviations in postural alignment, and possible associations between injuries and postural deviations in soccer players. Twenty-one male professional soccer players, aged 17 to 19 years old, were assessed as to anthropometric features, playing position, length and frequency of soccer practice, and history of injuries linked to soccer practicing. Athletes were divided into two groups: G1 made up by 15 players who had suffered soccer-related injuries; and G2 composed by 6 players with no such injuries. Postural alignment was assessed using a specific protocol. Both groups showed changes in body alignment; the greatest postural deviations found in both groups were scapulae asymmetry, head horizontal deviation and pelvis deviation. As to G1 injuries, the most common were in ankles (35%) and knees (23%). Though no association could be found between postural deviations and injuries, high incidence of both was found, thus suggesting the need to prevention programs in soccer players training. KEY WORDS: Athletes; Posture; Soccer/injuries Kleinpaul et al. Desvios posturais e lesões no futebol INTRODUÇÃO O futebol é um dos esportes mais populares do mundo, sendo praticado por mais de 240 milhões de pessoas em mais de 186 países, com praticantes em todas as faixas etárias e em diferentes níveis; destes, 30 milhões encontram-se no Brasil1. O esporte tem sofrido mudanças nos últimos anos, principalmente em função das exigências físicas cada vez maiores, o que obriga os atletas a trabalhar perto de seus limites máximos de exaustão, com maior predisposição às lesões2. O futebol é responsável pelo maior número de lesões desportivas do mundo3, sendo responsável por 50 a 60% das lesões esportivas na Europa e por até 10% dos traumas físicos3. Aproximadamente 85% dessas lesões aconteceram em atletas com média de idade de 23 anos, sendo que aproximadamente 45% acometeram jogadores com idade inferior a 15 anos. Fatores como nível da competição, nível de exposição e a definição de lesão resultaram em grandes variações na incidência de lesões no futebol, dificultando análises comparativas4. Embora a incidência de lesões aumente com a idade, atletas tendo entre 16 e 18 anos apresentam incidência de lesões similar à de atletas adultos5. Alguns tipos de lesões podem ser prevenidos na formação, com exercícios apropriados e programas de condicionamento físico, a fim de diminuir os fatores de risco6. O estudo epidemiológico é o primeiro passo para a elaboração de um programa preventivo7, sendo indispensável estabelecer diagnóstico precoce correto e prognóstico de tempo para voltar às atividades após alguma lesão. Além de alta incidência de lesões, as exigências do treinamento intenso e repetitivo nos esportes de rendimento conduzem à hipertrofia muscular e diminuição da flexibilidade, desequilibrando as capacidades físicas dos músculos agonistas e antagonistas, favorecendo a ocorrência de mudanças posturais, dores lombares e até mesmo fraturas7,8. Quando isso ocorre, o atleta sofre um processo de adaptação orgânica: alterações musculoesqueléticas resultam em efeitos deletérios para a postura, o que, adicionado a gestos específicos da moda- lidade e erros na técnica de execução dos movimentos, pode aumentar a prevalência de lesões durante os exercícios9,10. A incidência de lesões e seus fatores de risco em adultos praticantes de futebol são objetos de muitos estudos7,11-13, mas poucos trabalhos têm investigado as lesões em jovens atletas1,11, tampouco os desvios posturais mais característicos dessa modalidade9, nem se existe relação entre ocorrência de lesões e desvios posturais. Assim, o objetivo deste estudo foi verificar a incidência de lesões, os principais desvios posturais em jovens jogadores de futebol e possíveis relações entre as lesões e os desvios posturais. METODOLOGIA Participaram deste estudo 21 jogadores da categoria sub-20 (com menos de 20 anos) de uma equipe profissional de futebol da cidade de Florianópolis, selecionados de forma não-probabilística intencional. Adotou-se como critério de inclusão o tempo de treinamento mínimo de um ano na referida equipe. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Catarina. Para obter informações sobre o histórico de lesões foi utilizado um questionário, adaptado do formulado por Santos et al.14, o qual foi aplicado diretamente aos atletas, após assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A análise retrospectiva foi referente à temporada de 2008 do futebol brasileiro (entre os meses de maio e dezembro). A definição de lesão utilizada no estudo foi proposta por Schmidt-Olsen et al.5 e por Junge et al.15: qualquer evento físico ocorrido durante jogos ou treinos do clube que tenha levado à redução ou afastamento completo da participação do atleta nas atividades esportivas, ou que tenha requerido tratamento especial para que continuasse jogando. As lesões foram classificadas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças e foram descritas em relação ao mecanismo que provocou a lesão, localização e gravidade (dada pelo tempo de afastamento de jogos ou treinos). Os atletas foram divididos em dois grupos: o grupo 1 (G1) foi formado por 15 jogadores que sofreram lesões relacionadas à prática de futebol; e o grupo 2 (G2) composto por 6 atletas que não tinham sofrido lesões. A coleta dos dados posturais foi feita por fotografia digital, com câmera PowerShot (A590 IS, Canon) com resolução de 8.0 megapixels com flash e sem utilização de zoom. A câmera foi posicionada a dois metros de distância do sujeito e a um metro de altura do chão, ficando paralela ao indivíduo para evitar erros de paralaxia; as fotos foram tiradas no plano frontal (vista posterior) e plano sagital (vista lateral direita). Um fio de prumo foi pendurado perpendicular ao chão, para a calibração da foto. A postura foi avaliada por meio de análise computadorizada de fotografias baseada no protocolo de avaliação SAPO – Software de avaliação postural da Fapesp16. Foram afixados por palpação marcadores semi-esféricos nos pontos anatômicos, sendo que o pesquisador que realizou as marcações anatômicas não foi o mesmo que analisou as imagens; a avaliação seguiu a seqüência preestabelecida pelo programa. Para as análises estatísticas foi utilizado o pacote estatístico SPSS (para Windows v.15). A fim de verificar se os dados apresentavam distribuição normal, aplicou-se o teste de Shapiro-Wilk, que comprovou a normalidade. O teste t de Student foi aplicado para comparar os desvios posturais entre os grupos. Para verificar a associação entre desvios posturais e ocorrência de lesões, utilizouse o teste do qui-quadrado. O nível de significância de todos os testes foi de 5%. RESULTADOS Os atletas avaliados caracterizavam-se por ser praticantes de futebol há um tempo médio de 3,73±2,69 anos, com volume de treino diário médio de 2,43±0,9 h, todos com preferência podal destra. A média de idade era de 17,7±0,8 anos, massa corporal de 73,5±6,8 kg e estatura de 1,79±0,1 m. Os 15 integrantes do G1 apresentaram uma ou mais lesões, sendo predominantemente lesões agudas, com ocorrência principalmente no tornozelo (35%) e joelho (23%); 8 dentre eles pre- Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):236-41 2010;17(3) 237 Quadro 1 Lesões nos jogadores do G1: local e freqüência de ocorrência, mecanismo que as causou Sujeito* 1 2 3 4 5 6 8 9 10 11 12 13 14 15 17 Tipo de lesão Entorse Entorse Fratura Estiramento Contratura Lesão labral Torção Ruptura ligamentar Tendinite Lesão no Menisco Entorse Fratura Esporão Distensão muscular Tendinite Luxação Entorse Entorse Tendinite Entorse Torção Distensão muscular Ruptura ligamentar Estiramento Torção Tendinite N vezes Local 2 5 1 1 1 1 2 1 Crônica 1 1 1 Crônica 1 1 1 1 1 Crônica 1 2 1 1 1 2 Crônica Tornozelo Tornozelo Tórax Perna Coxa ant. Quadril Tornozelo Joelho Joelho Joelho Tornozelo Clavícula Calcanhar Coxa post Joelho Joelho Tornozelo Tornozelo Joelho Tornozelo Tornozelo Virilha Ombro Coxa ant. Tornozelo Joelho cisaram ser afastados dos treinos, um por duas semanas, cinco por um mês, um por dois meses e um por quatro meses. Os atletas mais acometidos por lesões foram os que jogam nas posições de lateral (26%), volante (26%) e meio campo (20%), enquanto que os menos acometidos foram dois que jogam nas posições de goleiro, um zagueiro e um atacante. A Tabela 1 apresenta os dados de avaliação postural dos sujeitos com e sem lesão, respectivamente. O protocolo considera valores positivos como sendo desvios no sentido anti-horário (na horizontal significa que a esquerda está mais alta que a direita ou que a porção anterior está mais alta que a posterior; na vertical indica uma rotação para o lado direito). Todos os valores deveriam ser zero para o alinhamento ser considerado ideal, com exceção do alinhamento horizontal da cabeça em relação a C7 (AHC-C7), cujo padrão de normalidade é de 47,06º±4,7717; valores superiores a estes evidenciam protrusão da cabeça. 238 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):236-41 D E x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x Mecanismo que causou Chute Chute Drible Chute Marcação Treino Deslocamento c/ e s/ bola Deslocamento c/ e s/ bola Treino Finta Deslocamento c/ e s/ bola Marcação Treino Deslocamento c/ e s/ bola Condicionamento aeróbio Deslocamento c/ e s/ bola Deslocamento c/ e s/ bola Marcação Condicionamento aeróbio Deslocamento c/ e s/ bola Finta Chute Saída de gol Passe Finta Treino Informações dos valores percentuais que representam o equilíbrio muscular se encontram disponíveis na literatura18,19, sugerindo-se que até 10% de diferença pode ser considerada normal no que diz respeito ao deficit de um segmento em relação ao seu contralateral. Os principais desvios posturais encontrados foram na assimetria horizontal da escápula em relação à T3, no alinhamento horizontal da cabeça em relação à C7 e no alinhamento horizontal da pelve, em ambos os grupos. Todos os jogadores avaliados apresentam desvio horizontal da pelve para a esquerda (ângulo negativo) e desvio da cabeça para o lado oposto (Tabela 1). Foram encontrados desvios do alinhamento vertical da cabeça em relação ao acrômio (AVC-acrômio) também em ambos os grupos. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas quando foram comparados os grupos com e sem lesão para todas as variáveis posturais analisadas. Na Tabela 2 pode-se observar que não foi encontrada associação entre desvio no alinhamento da pelve e ocorrência de lesões nos membros inferiores. Tabela 1 Ângulos (em graus), alinhamento da escápula (AHE, em %) e freqüência de desvios posturais (n, %) encontrados nos jogadores dos grupos 1 (com lesão) e 2 (sem lesão); n=21 Grupo 1 (n=15) Grupo 2 (n=6) Ângulo Desvios Ângulo Média Máx Mín n % Média Máx Mín AHEIPS 1,4 3,8 0 0 0 0,6 1,8 0 AHC (C7) 53,6 59,3 45 11 73,3 54,3 59,3 47,3 AVC-acrômio 15,7 34,6 4,4 9 60 7,5 16,4 0 1,6 3,9 0 0 0 2,4 3,8 0,4 Alinhamento vertical do tronco -1,4 -1,8 -0,9 0 0 0 0 0 2,3 1,5 0 0 1,7 2,6 0,8 Ângulo do quadril 1,8 (tronco/coxa) -3,5 -9,7 -0,4 0 0 -2,5 -7,1 -0,4 AVCorpo 3,1 5,5 1 0 0 3,8 4,7 2,6 AHPelve -9,7 -22,4 -3,4 6 40 -9,5 -12,9 -6,1 4,3 14,9 0 1 10 5,3 9,1 2,2 Ângulo do joelho -2,1 -2,9 -0,8 0 0 -3,9 -5,3 -2,4 Ângulo (q) AHE em relação à T3 (%) 24,8 43,5 8 -18,6 -46,2 -5,1 5 83,3 13,1 5 55,6 -20,6 19,4 -47,6 8 -5,4 Desvios n % 0 0 4 66,7 2 33,3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 50 0 0 0 0 2 66,7 1 33,3 Máx = máximo; Mín = mínimo; A = Alinhamento; H= horizontal; V = vertical; EIPS = das espinhas ilíacas póstero-superiores; C(C7) = da cabeça em relação à C7; C-acrômio = da cabeça em relação ao acrômio; Valores positivos = desvio para a direita; no caso do joelho, ângulo negativo indica hiperextensão Kleinpaul et al. Desvios posturais e lesões no futebol Tabela 2 Associação entre desvio no alinhamento da pelve e histórico de lesões nos membros inferiores Desvio pelve Total Ȥ2 p Não n % n % n % Sim 6 40 9 60 15 100 0,0 1,00 Não 3 50 3 50 6 100 Lesão Sim DISCUSSÃO Considerando as lesões, as mais comuns foram no tornozelo e joelho. Ambos os grupos avaliados apresentam mudanças no alinhamento corporal, embora os desvios posturais não tenham apresentado associação com a ocorrência de lesões. A localização das lesões registradas foi similar à encontrada em outros estudos1,2,9,12,15,20-22, afetando predominantemente as articulações do tornozelo e joelho e os músculos da coxa. As lesões mais freqüentes no futebol ocorrem nos membros inferiores, sem contato, predominando as contusões23. A desproporção entre os segmentos corporais pode ser atribuída à maior demanda dos membros inferiores no futebol e especificidades do esporte1,9,22. Quanto ao tipo de lesão, as entorses foram as lesões mais comuns, resultados também similares aos de outros estudos20,21,24. A taxa de entorses aqui encontrada foi ligeiramente inferior às registradas por Ribeiro e Costa12 em jogadores de futebol de salão e semelhantes às registradas por Junge et al.21 e Junge et al.15 em torneios da Fifa. Ainda analisando o tipo de lesão, observa-se que as fraturas e rupturas ligamentares são as menos freqüentes, concordando com Kibler 25 , porém correspondem às lesões que requerem tempo mais prolongado de afastamento2; as fraturas ocorrem com mais freqüência na extremidade superior do corpo5. As contusões (contraturas e estiramentos) e entorses em sua grande maioria não impossibilitaram o atleta de retornar ao futebol em menos de uma semana. A gravidade das lesões tem sido definida pela duração do afastamento da prática esportiva e classificada em três categorias: leve (1 a 7 dias), moderada (8 a 21 dias) e grave (mais de 21 dias de afastamento)13. Neste estudo, dentre os atletas que precisaram de afastamento, um pode ser classificado como acometido por lesão moderada (duas semanas) e sete classificados na categoria grave (1 a 4 meses de afastamento). Ruptura ligamentar e fratura foram as lesões que necessitaram de maior tempo de afastamento. A análise do número de lesões de acordo com a posição do jogador demonstrou menor incidência em zagueiros e atacantes. Quando se comparam jogadores de defesa e ataque, observase, em geral, uma predominância de lesões nas posições do meio-campo e ataque (volantes e laterais), o que concorda parcialmente com Cohen et al.2, pois em seu estudo foram os goleiros que apresentaram menor incidência de lesões enquanto os meias e atacantes foram os mais acometidos. Segundo a Academia Americana de Pediatria4, o risco de lesão não varia consistentemente de acordo com a posição de jogo. A grande ocorrência de lesões nos membros inferiores pode estar diretamente relacionada com o grande número de desvios posturais: 42,4% dos jogadores avaliados apresentaram desvio maior que 10º no alinhamento horizontal da pelve (AHP), o que provoca maior sobrecarga em um dos membros inferiores. Estudos sugerem que há relações entre mudanças posturais e aumento no risco de lesões, uma vez que um desalinhamento postural causa sobrecarga extra e exige mais esforço das articulações; há uma ação biomecânica prejudicial na articulação, criando uma tensão desnecessária sobre ela, e um estiramento dos tecidos moles do sujeito, diminuindo a eficiência muscular e ligamentar que mantém o equilíbrio articular9,26. Embora não seja possível estabelecer uma correlação direta entre esses fatores, pode-se sugerir a existência de uma relação entre esses parâmetros 9. Essa assimetria gerada pelos membros inferiores pode ser um importante fator no aumento do risco de fadiga prematura ou lesões por esforço excessivo, e sua identificação serve para planejar um programa de treinamento com o objetivo de corrigir esse problema18,27. No entanto, neste estudo, ao verificar a associação entre esses desvios e as lesões, a mesma não foi significativa, provavelmente porque metade dos sujeitos do G2 apresentam desvio maior que 10º no AHP, ou seja, apresentam uma quantidade significativa de desvios sem apresentar tipo algum de lesão. A mesma relação não pode ser adotada para o tronco e membros superiores, já que as lesões características dessas regiões são provocadas principalmente por contato com outros jogadores e não por algum tipo de desvio postural23. Um fator interessante a ser observado é que todos os jogadores avaliados no presente estudo apresentam desvio horizontal da pelve para a esquerda (ângulo negativo) e desvio da cabeça para o lado oposto, como forma de compensação (Tabela 1). Essa assimetria pode estar relacionada ao fato de todos terem preferência podal destra 18, utilizando esse membro para o chute e, conseqüentemente, elevar freqüentemente a pelve desse lado do corpo, que é uma característica específica desse esporte1,9,22. Esse desvio para o lado esquerdo em jogadores destros pode ser devido à ocorrência de uma flexão do tronco e uma rotação pélvica para o lado oposto, influenciando o aumento desse ângulo no lado contralateral da perna dominante, durante o movimento do chute. Mudanças no tornozelo são muito comuns em sujeitos que sofreram qualquer tipo de lesão nessa articulação, evidenciando a relação entre lesões e a ocorrência de adaptações posturais, encontrada por Watson28. O autor investigou a relação entre lesões esportivas e desvios posturais em jogadores de futebol, rúgbi e futebol americano com idade entre 18 e 24 anos e observou que apenas 26,5% dos jogadores tiveram seu alinhamento lombar preservado. Ribeiro et al.9, avaliando jogadores de futsal, encontraram número maior de desvios lombares no grupo que apresentava lesões relacionadas à prática desse esporte. Quanto à coluna, no presente estudo, foram encontradas escoliose (alinhamento horizontal da escápula em relação à C7), lordose (pelo alinhamento horizontal da pelve, AHP) e desvios cervicais (protrusão da cabeça) em ambos os grupos, Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):236-41 2010;17(3) 239 sendo que o grupo com lesão (G1) apresentou esses desvios com maior freqüência, com exceção do AHP (Tabela 1). Uma baixa incidência (menos que 5%) de hiperextensão de joelho em jogadores de futebol, rúgbi e futebol americano foi evidenciada em outro estudo de Watson29. Relacionando essas mudanças com a incidência de lesões musculotendíneas, o grupo de atletas com lesões teve alta incidência de mudanças no alinhamento do joelho. Nos presentes resultados houve maior incidência (33%) de hiperextensão de joelho – e, desses 5 jogadores, 3 também sofreram algum tipo de lesão de joelho. Foi possível observar pela avaliação postural computadorizada que todos os atletas de ambos os grupos apresentaram pelo menos um tipo de desvio postural. A protrusão da cabeça foi encontrada em dois terços dos jogadores do G1 e em metade dos do G2. Detanico et al.10 afirmam que o encurtamento da cadeia posterior em decorrência de mecanismos compensatórios pode estar associado com essa protrusão. Outro desvio importante encontrado no presente estudo foi no alinhamento horizontal da pelve, apresentado por 40% dos atletas do G1 e 50% do G2, concordando com os achados de Ribeiro et al.9. A assimetria horizontal das escápulas estava presente na mesma proporção que a protrusão da cabeça (em 66% do G1 e 50% do G2). Estudo realizado com atletas de natação encontrou alta incidência de escoliose, relatando ainda que 94,6% dos judocas e 100% dos atletas de basquete apresentaram essa alteração30, o que concorda com os achados do presente estudo, de altos índices de assimetria horizontal da escápula em relação à T3. Não foi possível estabelecer uma relação estatística entre os dados de alterações posturais e lesões sofridas, tal como ocorreu no estudo de Ribeiro et al.9. Outras pesquisas corroboram isso, não tendo verificado correlação entre desvios posturais e lesões sofridas pelos atletas de hóquei e handebol, respectivamente10,31. Entretanto, mais estudos são necessários para assegurar que tal relação não se verifica. Modificações no sistema de treinamento de jovens atletas, focalizando a técnica e habilidade além da parte física, podem minimizar a incidência de lesões esportivas 22 . A análise da prevalência e dos fatores de risco das lesões esportivas, o desenvolvimento de programas preventivos e o aperfeiçoamento técnico e tático são de extrema importância para reduzir a incidência de lesões durante a prática do esporte e podem reduzir a prevalência de lesões ao longo do tempo. Um atleta de alto nível, exposto a qualquer negligência de diagnóstico, certamente aumentará seu período de reabilitação e retardará seu retorno às atividades habituais de competição. CONCLUSÃO Ocorreram com maior freqüência lesões nos membros inferiores, sendo as entorses de tornozelo as mais encontradas. A maior incidência de lesões ocorreu nos laterais e volantes. O desalinhamento horizontal da pelve (para a esquerda) e da cabeça (para a direita) foram os mais freqüentes desvios posturais encontrados, em ambos os grupos. Não pôde ser estabelecida uma relação entre desvios posturais e incidência de lesões nos jogadores de futebol de campo avaliados. No entanto, o alto índice de lesões encontrado sugere que programas de prevenção de lesões devem envolver técnicas multidisciplinares e devem fazer parte do treinamento desde as categorias de base. REFERÊNCIAS 1 Ribeiro RN, Vilaça F, Oliveira HU, Vieira LS, Silva AA. Prevalência de lesões no futebol em atletas jovens: estudo comparativo entre diferentes categorias. Rev Bras Educ Fis Esporte. 2007;21(3):189-94. 2 Cohen M, Abdalla RJ, Ejnisman B, Amaro JT. Lesões ortopédicas no futebol. Rev Bras Ortop. 1997;32(12):940-4. 3 Keller CS, Noyes FR, Bunche, CR. The medical aspects of soccer injury epidemiology. 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Pesq. 2010;17(3):236-41 2010;17(3) 241 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.242-7, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Comparação entre indivíduos hemiparéticos com e sem histórico de quedas com base nos componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde Comparison between post-stroke hemiparetic subjects with and without history of falls on the basis of the International Classification of Functioning, Disability and Health Christina Danielli Coelho de Morais Faria1, Viviane Amaral Saliba2, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela1, Sylvie Nadeau3 Estudo desenvolvido no Depto. de Fisioterapia da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil 1 Profas. Dras. do Depto. de Fisioterapia da UFMG 2 Fisioterapeuta Ms. 3 Profa. Dra. da Université de Montréal, QC, Canadá ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Christina D. C. M. Faria Depto. de Fisioterapia/ UFMG Av. Antônio Carlos 6627 31270-901 Belo Horizonte MG e-mail: [email protected] O estudo recebeu apoio da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Fapemig – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, ISB – International Society of Biomechanics, e Governo do Canadá. APRESENTAÇÃO jan. 2010 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 2010;17(3):242-7 242 Fisioter Pesq. 2010;17(3) RESUMO: O objetivo deste estudo foi comparar hemiparéticos com e sem histórico de quedas nos últimos seis meses (caidores e não-caidores) segundo os componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Dezesseis hemiparéticos não-caidores (62,3±16,6 anos), com tempo de acidente vascular encefálico (AVE) de 38,0±48,3 meses, e 16 caidores (61,0±17,0 anos), tempo de AVE de 48,0±50,7 meses, de ambos os sexos, comunitários e deambuladores, foram avaliados quanto a funções e estruturas do corpo (torque do músculo quadríceps do lado parético e escala de depressão geriátrica), atividade – velocidade de marcha (VM) natural e máxima, teste de levantar e caminhar cronometrado (timed up & go) e escala de equilíbrio de Berg – e participação (pelo perfil de saúde de Nottingham e escala de qualidade de vida específica para AVE). Os dados foram tratados estatisticamente, com nível de significância α<0,05. Não houve diferença significativa entre os grupos quanto à idade, sexo e tempo de AVE (0,56≤p≤0,82), nem quanto às demais caracteristicas medidas (torque, depressão, VM, equilíbrio e qualidade de vida (0,12≤p≤0,60). Portanto, hemiparéticos caidores apresentaramse semelhantes aos não-caidores nos domínios funções e estruturas do corpo, atividades e participação. Fatores contextuais ambientais, não analisados, podem estar mais relacionados a episódio(s) de queda nesses indivíduos. DESCRITORES: Acidente cerebral vascular; Acidentes por quedas; Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde ABSTRACT: The aim of this study was to compare post-stroke hemiparetic subjects with and without history of falls over the last six months by using the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) components. Sixteen community-dwelling hemiparetic subjects without history of falls (62.3±16.6 years, time since stroke 38±48.3 months), and 16 with history of fall(s) (60.9±17 years, time since stroke 47.9±50.8 months) of both sexes and able to walk, with or without assistive devices, were assessed as to ICF components body functions and structures (torque of the paretic limb quadriceps muscle and depression, by the geriatric depression scale), activities (natural and maximal gait speed, timed up-and-go test and Berg balance scale), and participation (by the Nottingham health profile and the stroke-specific quality of life scale). Groups were statistically compared at significance level α<0.05. No statistically significant differences were found between the groups as to age, gender or time since stroke (0.56≤p≤0.82), neither as to all measured features (torque, depression, gait speed, balance, health-related quality of life (0.12≤p≤0.60). Therefore, stroke subjects with history of falls were similar to those without history of falls in all measures related to the ICF, suggesting that nonanalysed environmental factors might be more related to falls of hemiparetic poststroke subjects. KEY WORDS: Accidental falls; International Classification of Functioning, Disability and Health; Stroke Faria et al. CIF e quedas em hemiparéticos INTRODUÇÃO O acidente vascular encefálico (AVE) é definido como uma disfunção neurológica aguda de origem vascular com início rápido dos sintomas, que variam segundo a região afetada do cérebro1. Os indivíduos acometidos por AVE desenvolvem incapacidades diversas, que comprometem significativamente os três componentes da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)2-7 – quais sejam, funções e estruturas do corpo, atividade e participação social. O AVE apresenta elevada prevalência e comumente está associado a elevados índices de morbidade e incapacidade3 que resultam em diferentes problemas de saúde pública, dentre os quais as quedas, intercorrências freqüentes, com causas multidimensionais e que geram aumento das co-morbidades e dos riscos de mortalidade8-10. Quando comparada à dos idosos, a maior incidência de quedas nos indivíduos acometidos por AVE está ligada a alterações funcionais especificas dessa condição de saúde, como as advindas da hemiparesia 8,11. Nos hemiparéticos, as quedas comumente ocorrem durante atividades diárias comuns8,10-14. Mesmo que alguns desses episódios de quedas não resultem em fraturas, o medo de novas quedas pode restringir a realização de atividades, comprometendo ainda mais a funcionalidade8-10 e gerando conseqüências tão ou até mais prejudiciais do que as fraturas. Apesar de alguns estudos terem identificado fatores associados ao risco de quedas em hemiparéticos8,10-12,14, ainda não foi claramente estabelecido quais são estes fatores e como estão relacionados. Além disso, há pouca informação sobre quedas na população de hemiparéticos brasileiros. Para estes, ainda não foi realizada uma identificação de tais fatores segundo um modelo teórico padronizado e válido, que permita o entendimento mais abrangente de um problema de saúde tão complexo e de causas e conseqüências multidimensionais como as quedas. Nesse contexto, a CIF2 oferece uma estrutura conceitual para a identificação e relação desses fatores, inclusive em hemiparéticos3-5 e em idosos com história de quedas15. Portanto, o objetivo deste estudo foi comparar hemiparéticos com e sem história de quedas (“caidores” e “não-caidores”, respectivamente), considerando os diferentes componentes da CIF. METODOLOGIA Foi desenvolvido um estudo transversal, exploratório, tendo sido recrutados, na comunidade da metrópole de Belo Horizonte, indivíduos com seqüela motora devido ao AVE caracterizando hemiparesia, de ambos os sexos, idade igual ou superior a 20 anos e capacidade de deambulação com ou sem dispositivos de auxílio. Todos já haviam sido tratados ou estavam em tratamento em ambulatórios de reabilitação e/ou hospitais conveniados com universidades ou centros universitários de Belo Horizonte. Foram excluídos indivíduos que não foram capazes de seguir as orientações para a realização dos testes e medidas. A amostra final foi composta de 32 indivíduos. Aqueles que relataram um ou mais episódios de queda nos últimos seis meses foram considerados “caidores”2,4,6. Todos assinaram o termo de consentimento aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais. Foram coletados dados antropométricos e clínico-demográficos e, em seguida, a história de quedas foi determinada indagando ao indivíduo e a seu acompanhante a ocorrência de alguma queda nos últimos seis meses. Antes dessa indagação, foi-lhes apresentada uma definição de queda, como recomendado16, para evitar interpretações ou significados distintos, o que poderia comprometer a validade dos dados coletados16. Os testes e medidas utilizados fornecem desfechos já identificados como fatores de risco para quedas4,5, tendo sido selecionados com base em estudos prévios4,5 que apontaram instrumentos específicos e com propriedades psicométricas adequadas para a avaliação dos componentes da CIF em indivíduos com história de AVE. No que se refere ao componente funções e estruturas do corpo da CIF, o torque isométrico do músculo quadríceps no membro inferior parético foi avaliado devido à sua importância para a realização de atividades funcionais como a marcha, o passar de sentado para em pé e de em pé para sentado17-19, em que as quedas comumente ocorrem8,10-14. Foi utilizado um dinamômetro manual digital (Microfetz, USA), segundo protocolo proposto por Andrews et al.20 e Bohannon21, que apresenta validade e confiabilidade adequadas21. A depressão foi avaliada pela escala de depressão geriátrica EDG22, de 15 itens, dicotômica (respostas sim/não), em que 0 representa possível ausência de depressão e 15 presença. Pontuações totais de 5/6 (nãocaso/caso) são ponto de corte para rastreio de depressão; apresenta adequada validade e confiabilidade e a versão adaptada para o português do Brasil22 foi aplicada por entrevista. Quanto ao componente atividades, a velocidade de marcha (VM) natural e máxima23 foi aferida por ser uma importante medida de desempenho funcional, com adequada confiabilidade em hemiparéticos5,24. Foi utilizado o protocolo proposto por Flansbjer et al.24 e calculada a VM (m/s). Se necessário, foi permitido o uso de órteses ou dispositivo de auxílio à marcha. Foram realizadas três repetições em cada velocidade e análise da média24. O teste de levantar e sentar cronometrado TLCC (TUG, na sigla em inglês de timed up & go)13 apresenta adequadas propriedades psicométricas em indivíduos com história de AVE e abrange importantes atividades do dia-a-dia que são consideradas de grande risco de quedas13,19; consiste em levantar-se de uma cadeira, andar 3 m e retornar à cadeira. Para aplicar o TLCC foi utilizado o protocolo proposto por Podsiadlo et al.13. Foi medido o tempo médio (s) de três repetições com cronômetro digital24. Tempo no TLCC igual ou superior a 14 segundos é um indicativo de maior risco de quedas13,25. A escala de equilíbrio de Berg (EEB)26 avalia o equilíbrio durante o desempenho de tarefas funcionais, como alcance e transferências. É constituída por 14 itens pontuados numa escala de 0 a 4 (máximo de 56 pontos), na qual 0 representa inabilidade ou necessidade de máxima assistência para completar a tarefa, e 4 indica independência e segurança na realização da tarefa. Foi utilizada a versão adaptada Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):242-7 2010;17(3) 243 para o português do Brasil, com adequadas propriedades psicométricas26. Tabela 1 Características clínico-demográficas dos grupos de caidores e nãocaidores e valores de p da comparação entre os grupos Finalmente, para avaliar o componente participação, foram administrados dois instrumentos de avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS), sob a forma de entrevista. O perfil de saúde de Nottingham (PSN)27, instrumento genérico de QVRS, válido e confiável, é constituído por 38 itens dicotômicos (respostas sim/não). Para a pontuação do instrumento foi considerado o número de respostas “não”, com pontuação máxima de 38 referente à melhor, e a mínima de 0, à pior percepção de qualidade de vida. Foi utilizada a versão adaptada para o português do Brasil27. A escala de qualidade de vida específica para AVE (EQVE-AVE)28 é um instrumento específico e válido de avaliação da QVRS de indivíduos que sofreram AVE, constituída por 49 itens. Em cada item há cinco opções de respostas, sendo a pontuação mínima igual a 49 (maior dependência e dificuldade nas tarefas diárias) e máxima igual a 245 (melhor percepção de qualidade de vida). Foi utilizada a versão adaptada para o português do Brasil28. Característica Estatística descritiva e testes de normalidade foram realizados para todas as variáveis pelo programa SPSS (v.15.0), seguindo as orientações de Portney e Watkins29. O teste t de Student para amostras independentes, ou o de MannWhitney, ou o do qui-quadrado, ou o teste exato de Fisher foram utilizados para comparar quanto às medidas selecionadas para avaliar os componentes da CIF. Considerando o número de comparações realizadas entre os grupos, foi aplicada a correção de Bonferroni29 (α=0,006). RESULTADOS Foram avaliados 32 indivíduos hemiparéticos cujas características clínicodemográficas, de acordo com a história de quedas, são apresentadas na Tabela 1. Dezesseis deles, com média de idade de 62,3 anos e com tempo médio de AVE de 38 meses, não relataram episódio de queda nos seis meses anteriores, constituindo o grupo de não-caidores. Outros 16, 2010;17(3):242-7 244 Fisioter Pesq. 2010;17(3) Idade (anos) Sexo Caidores (n=16) 60,9±17 8 8 9 7 Masculino Feminino Tempo de AVE (meses) Classificação Não-caidores (n=16) 62,3±16,6 38,0±48,3 Subagudo (<6 meses) Crônico (t6 meses) Número de AVE Tipo de AVE Reabilitação motora Teste estatístico p t de Student 0,82 Quiquadrado 0,73 47,9±50,8 Mann-Whitney 0,56 6 10 7 9 Exato de Fisher 0,72 1 + de 1 Isquêmico Hemorrágico 16 0 11 5 14 2 12 4 Exato de Fisher 0,48 Exato de Fisher 0,50 Já fez/faz Nunca fez 15 1 10 6 Exato de Fisher 0,50 AVE = acidente vascular encefálico com média de idade de 60,9 anos e tempo médio de AVE de 47,9 meses, relataram algum episódio de queda nos últimos seis meses, constituindo o grupo de caidores. Como mostra a Tabela 1, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos para qualquer das variáveis clínico-demográficas. Os valores de tendência central e dispersão das variáveis relacionada aos componentes da CIF estão apresentadas na Tabela 2. Novamente, como mostra a tabela, para todas as variáveis dos componentes da CIF não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. DISCUSSÃO Esse estudo comparou diferentes variáveis com potencial de estarem relacionadas com episódios de queda em hemiparéticos, divididos em grupos com ou sem história de queda(s) nos últimos seis meses, considerando componentes da CIF. Segundo os resultados, os hemiparéticos com história de queda(s) apresentaram-se semelhantes àqueles sem história de queda(s) nos últimos seis meses tanto nas características clínicodemográficas quanto nas medidas e escores de características dos componentes da CIF. Tabela 2 Torque do quadriceps, velocidade da marcha (VM), tempo no TLCC (média ± desvio padrão) e escores dos grupos não-caidores e caidores nos testes de equilíbrio, depressão e qualidade de vida (mediana e diferença interquartis); valor de p da comparação entre os grupos Medidas / Escores Não-caidores (n=16) Caidores (n=16) p Torque do quadríceps (N.m) VM natural (m/s) VM máxima (m/s) TLCC (s) 70,36±28,28 0,82±0,29 1,08±0,41 21,5±20,8 Mediana z quartis 52 5 5 7 32 13 195 56 60,81±27,59 0,65±0,31 0,86±0,45 25,4±19,0 Mediana z quartis 50 6 8 8 26 11 180 51 0,34 0,12 0,15 0,37 Equilíbrio (EEB: mín 0; máx 56) Depressão (EDG: mín 0; máx 10) PSN (mín 0; máx 38) EQVE-AVE (mín 49; máx 245) 0,38 0,13 0,13 0,6 TLCC = teste de levantar e caminhar cronometrado; EEB = escala de equilíbrio de Berg; mín = mínimo; máx =máximo; EDG = escala de depressão geriátrica; PSN = perfil de saúde de Nottingham; EQVE-AVE= Escala de qualidade de vida específica para acidente vascular encefálico Faria et al. O torque do músculo quadríceps do membro parético3,30 é uma medida importante do componente de funções e estruturas do corpo e para o desempenho de atividades comuns de ocorrência das quedas8,10-14,19. Entretanto, o resultado da medida do torque não foi diferente entre os grupos. Resultados semelhantes foram reportados por Pang et al.31, que ao compararem hemiparéticos caidores e não caidores (um ou mais episódio de queda e nenhum episódio de queda nos últimos 12 meses, respectivamente) e não encontraram diferença estatisticamente significativa para a força isométrica dos músculos extensores de joelho do membro inferior parético. Como ressaltado por Pang et al.31, apesar da força muscular dos extensores do joelho ser uma medida clínica importante e demonstrar correlação significativa com a realização de diversas atividades funcionais em hemiparéticos30, a mesma não parece ser uma medida que diferencie hemiparéticos com e sem história de queda(s). A depressão também é apontada como associada a um risco maior de quedas, pois pode levar à redução da atenção e/ ou da mobilidade32. Neste estudo não foi encontrada diferença entre os grupos na pontuação da EDG. Resultados semelhantes foram reportados por Hyndman et al.33, ao compararem a depressão entre indivíduos caidores (uma ou repetidas histórias de quedas em um período de 12 meses) e não-caidores (sem história de queda no mesmo período), pela escala de ansiedade e depressão hospitalar (hospital anxiety and depression scale); só foi encontrada diferença significativa para a depressão quando compararam aqueles que tinham histórico de múltiplas quedas com os não-caidores33. No presente estudo, ambos os grupos foram, em média, classificados no ponto de corte positivo para depressão segundo a EDG22. Provavelmente, as incapacidades advindas com o AVE, independente da história ou não de queda, sejam suficientes para gerar os sintomas de depressão avaliados pela EDG, fazendo com que esta não seja uma variável que diferencie os indivíduos com ou sem história de queda em um período de seis meses. Como sugerido por Hyndman et al.33, a depressão pode ser importante para diferenciar hemiparéticos com história de CIF e quedas em hemiparéticos quedas recorrentes, mas incapaz de diferenciar indivíduos que tenham sofrido apenas uma queda. É importante destacar que, apesar de a EDG ter sido desenvolvida para a avaliação de indivíduos idosos, sua utilização em indivíduos hemiparéticos devido ao AVE, mesmo que não sejam idosos, não compromete a informação obtida4. Considerando o componente de atividades, um desfecho importante são as velocidades de marcha natural e máxima, utilizadas para caracterizar o nível funcional de hemiparéticos e refletir mudanças fisiológicas e funcionais24. Entretanto, as VM natural e máxima não diferenciaram os grupos. Resultados semelhantes foram reportados por Harris et al.11: a VM natural e máxima não apresentaram diferenças significativas quando indivíduos acometidos pelo AVE sem história de quedas foram comparados àqueles que tinham um ou mais episódios de quedas durante os últimos seis meses. Por outro lado, essa medida pode ser importante para diferenciar indivíduos hemiparéticos com quedas recorrentes4. O TLCC é uma medida de mobilidade funcional envolvendo quatro atividades diferentes e relacionadas a quedas12,13. Apesar disso, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos. Belgen et al.14 também não reportaram diferença significativa no mesmo teste entre os grupos de hemiparéticos caidores e não-caidores, assim como Pang et al.31, que investigaram hemiparéticos caidores (um ou mais episódio de quedas em um período de 12 meses) e não-caidores. Considerando o tempo médio no TLCC neste estudo, ambos os grupos seriam classificados com problemas de mobilidade13 e com um risco mais elevado de quedas25. Apear de o TLCC ser considerado um teste sensível para diferenciar indivíduos com história de AVE com e sem história de quedas6, isto não foi observado neste e em outros estudos14,31. O equilíbrio, desfecho mais associado a quedas11,14, também não apresentou diferença significativa entre os grupos. Estudos que investigaram o equilíbrio em associação com a queda em hemiparéticos reportam resultados divergentes. Jorgensen et al.32 compararam o equilíbrio (oscilação corporal) entre indivíduos com e sem história de AVE e não encontraram diferenças significativas. Igualmente, Harris et al.11, ao avaliarem o equilíbrio pela escala de equilíbrio de Berg, não encontraram diferenças entre indivíduos hemiparéticos que caíram uma ou mais vezes em um período de seis meses e aqueles que não caíram. Finalmente, Pang et al.31 afirmaram que o equilíbrio avaliado pela EEB não foi um determinante significativo para explicar queda(s) em um período de 12 meses em hemiparéticos caidores (um ou mais episódio de quedas) quando comparados àqueles sem história de quedas. Por outro lado, Belgen et al.14 reportaram que indivíduos na fase crônica do AVE e com múltiplas histórias de quedas apresentaram pontuação na EEB significativamente menor que indivíduos com apenas um episódio de queda, e que estes últimos foram semelhantes a indivíduos sem história de queda. Segundo a escala de Berg, em idosos, pontuações menores que 45 indicam alterações do equilíbrio25. Nos resultados deste estudo, em média, ambos os grupos tiveram pontuação acima de 49, o que pode justificar a ausência de diferença significativa no equilíbrio de hemiparéticos caidores e não-caidores. Apesar de qualidade de vida e participação serem conceitos diferentes, há uma inter-relação entre os mesmos4,5, sendo os questionários de QVRS as ferramentas disponíveis e utilizadas para avaliar a participação segundo a CIF4,5. Foster et al.9 relataram que indivíduos com história de AVE que tiveram repetidas quedas em um período de seis meses apresentaram menor atividade social, avaliada pelo PSN, e uma possível explicação foi a de que indivíduos com histórias de quedas restringem sua participação para diminuir o risco de novas quedas. Neste estudo, a participação avaliada tanto pelo PSN quanto pelo EQVE-AVE não diferenciou indivíduos com ou sem história de quedas. No presente estudo, os indivíduos não foram agrupados quanto ao número de episódio de quedas, mas apenas em dois grupos segundo a ocorrência ou não de queda(s) em um período de seis meses. Provavelmente, variáveis investigadas como a depressão, a VM máxima, o equilíbrio e a participação sejam importantes para diferenciar hemiparéticos Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):242-7 2010;17(3) 245 com história de múltiplas quedas daqueles com apenas uma queda, como demonstrado por estudos prévios9,14,33. Entretanto, é necessário identificar fatores associados até mesmo a um único episódio de queda para estabelecer programas de saúde assistenciais e preventivos, uma vez que um único episódio parece imputar vulnerabilidade a novos episódios34. Masud et al.35 apontaram mais de 400 fatores de risco potenciais para quedas, divididos em intrínsecos e extrínsecos. Os fatores intrínsecos são os mais investigados e dentre eles alguns apresentaram forte correlação com as quedas, como idade elevada, sexo feminino, história de quedas precedentes, fraqueza muscular dos membros inferiores, marcha lenta, equilíbrio diminuído e imobilidade. Apesar dessa forte relação, Fa- brício et al.36 reportaram que 54% das quedas relatadas tinham tido como causa o ambiente inadequado, fator extrínseco. Provavelmente, fatores contextuais ambientais, não avaliados no presente estudo, podem ser as variáveis em potencial para diferenciar hemiparéticos com história de queda(s) em um período de seis meses daqueles sem história de queda. Em idosos, os fatores ambientais já foram associados a quedas36,37 e o AVE foi descrito como uma das principais disfunções relacionada com menor capacidade funcional em idosos caidores37. Entretanto, em hemiparéticos, esses fatores contextuais ambientais ainda não foram investigados. Os fatores contextuais ambientais não analisados podem estar mais relacionados a quedas nesses indivíduos, devendo ser considerados em estudos futuros. Também é necessário determinar as particularidades associadas à ausência de quedas, ao episódio isolado e aos episódios recorrentes em diferentes períodos de análise com hemiparéticos, o que não foi possível neste estudo devido ao tamanho da amostra. CONCLUSÃO Os hemiparéticos com história de queda(s) nos seis meses anteriores ao estudo apresentaram-se semelhantes aos indivíduos sem história de queda, em medidas relacionadas a funções e estruturas do corpo, atividades e participação, assim como em medidas clínicodemográficas, sugerindo-se que fatores contextuais ambientais poderiam ser potenciais diferenciadores. REFERÊNCIAS 1 World Health Organization. Recommendations on stroke prevention, diagnosis, and therapy. Stroke. 1989;20:1407-31. 9 2 Organização Mundial de Saúde. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. São Paulo: Edusp; 2003. 3 Geyh S, Cieza A, Schouten J, Dickson H, Frommelt P, Omar Z, et al. ICF core sets for stroke. 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Pesq. 2010;17(3):242-7 2010;17(3) 247 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.248-52, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Função pulmonar em mulheres com câncer de mama submetidas à radioterapia: um estudo piloto Pulmonary function in women with breast cancer undergoing radiotherapy: a pilot study Renata de Carvalho Schettino1, Lícia Maria Garcia Nogueira Jotta2, Geovanni Dantas Cassali3 Estudo desenvolvido no Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte, MG, Brasil 1 Mestranda em Patologia Geral na Faculdade de Medicina da UFMG 2 Fisioterapeuta especialista em Fisioterapia Respiratória do Hospital Felício Rocho 3 Prof. Dr. associado do Depto. de Patologia Geral da UFMG ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Renata C. Schettino R. Matipó 177 apto 202 Santo Antônio 30350-210 Belo Horizonte MG e-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected] APRESENTAÇÃO jan. 2010 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 2010;17(3):248-52 248 Fisioter Pesq. 2010;17(3) RESUMO: O câncer de mama é a forma de câncer que mais causa mortes entre mulheres no Brasil. O tratamento consiste em intervenção cirúrgica, quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia, esta última responsável por uma significativa diminuição na taxa de recorrência local do câncer, mas que pode afetar a função pulmonar. O objetivo deste estudo foi detectar alterações pulmonares funcionais decorrentes da radioterapia no tratamento do câncer de mama. Participaram do estudo 10 mulheres submetidas a tratamento do câncer de mama, avaliadas quanto à função pulmonar antes e após a radioterapia. Foram mensuradas capacidade inspiratória e capacidade vital forçada, por espirômetro de incentivo, e pressões inspiratória e expiratória máximas, por manovacuômetro. Embora tenha havido redução, em vários casos, dos valores medidos antes e depois da radioterapia, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa. Nas pacientes avaliadas, pois, a radioterapia não parece ter prejudicado a função pulmonar. DESCRITORES: Neoplasias da mama; Radioterapia adjuvante/efeitos adversos; Sistema respiratório/efeitos de radiação ABSTRACT: Breast cancer is the cancer that most causes death among women in Brazil. The treatment consists in surgery, chemotherapy, hormontherapy, and radiotherapy, the latter being responsible for important decrease in recurrence rates, though it may affect pulmonary function. The aim of this study was to detect lung function changes due to radiotherapy in breast cancer treatment. Ten women who were undergoing breast cancer treatment were assessed as to pulmonary function before and after radiotherapy. Measurements taken were inspiratory capacity and forced vital capacity, by means of incentive spirometer, and maximum inspiratory and expiratory pressures, using a pressure meter. Though in many cases measures found after radiotherapy were lower, no significant difference could be found. Thus radiotherapy did not seem to affect lung function in the assessed sample of women with breast cancer. KEY WORDS: Breast neoplasms; Radiotherapy, adjuvant/adverse effects; Respiratory system/radiation effects Schettino et al. Função pulmonar e radioterapia no câncer de mama INTRODUÇÃO O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, devido à sua alta freqüência e, sobretudo pelos seus efeitos psicológicos que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal. É relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima dessa idade sua incidência cresce rápida e progressivamente1. Esse tipo de câncer representa nos países ocidentais uma das principais causas de morte entre as mulheres. As estatísticas indicam o aumento de sua freqüência tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 1960 e 1970 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos registros de câncer de base populacional de diversos continentes1. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. De acordo com a estimativa de incidência de câncer no Brasil para 2010, o câncer de mama será o segundo mais incidente, com 49.240 casos1. Em Minas Gerais a taxa estimada é de 88,3 casos para cada 100.000 mulheres2. O tratamento do câncer de mama consiste em: intervenção cirúrgica, podendo ser radical, mioconservadora ou conservadora; quimioterapia, tratamento sistêmico que reduz a taxa de progressão da doença e é geralmente oferecido às pacientes com maior risco de metástase3; hormonioterapia, recomendada para mulheres pré e pós-menopausa desde que hormônio-responsivas durante 5 anos4; e radioterapia, responsável por uma significativa diminuição na taxa de recorrência local do câncer de mama5. A correta associação de cirurgia, tratamentos sistêmicos e radioterapia desempenha um importante papel no controle local do câncer de mama e na sobrevida6. A radioterapia é utilizada com o objetivo de destruir as células remanescentes após a cirurgia ou para reduzir o tamanho do tumor antes da mesma. Após cirurgias conservadoras, deve ser aplicada em toda a mama da paciente, independente do tipo histológico, idade, uso de quimioterapia ou hormoniote- rapia ou mesmo com margens cirúrgicas livres de comprometimento neoplásico7. Sintomas pulmonares decorrentes da radioterapia ocorrem em aproximadamente 1 a 8% das pacientes irradiadas devido ao câncer de mama8. Durante a irradiação na mama, uma porção do pulmão é afetada, podendo ocasionar prejuízos irreversíveis tanto radiológicos como funcionais, sem associação com sintomas clínicos9. Lesões pulmonares induzidas pela radioterapia são comuns após o tratamento de tumores torácicos ou próximos ao tórax10. Algumas das alterações pulmonares decorrentes são anormalidades radiológicas como aumento da densidade, pneumonite radioativa sintomática (tosse, febre e dispnéia), aumento da depuração (clearance) pulmonar e redução quantitativa nos testes de função pulmonar9,10-13. Não é possível predizer acuradamente as mudanças na função pulmonar decorrentes da radioterapia. Avaliações de toda a função pulmonar devem ser relevantes à paciente, assim como a da tolerância ao exercício. Dessa forma, Fan et al. consideram a modificação de protocolos para incluir medidas fisiológicas e funcionais10. Assim, a radioterapia torácica para o câncer de mama pode causar diminuição da capacidade inspiratória e da capacidade vital, interferindo no volume pulmonar e na força muscular respiratória. Nesse sentido, cumpre detectar alterações pulmonares funcionais, por meio de instrumentos de uso rotineiro e acessível. Tal análise das alterações pulmonares funcionais em resposta à radioterapia decorrente do tratamento do câncer de mama pode subsidiar a prática clínica de fisioterapeutas envolvidos na reabilitação dessa clientela, auxiliando na determinação de novos protocolos, complementando o acompanhamento dessas pacientes. Este estudo teve pois como objetivo detectar, por instrumentos de uso rotineiro, alterações pulmonares funcionais decorrentes da radioterapia no tratamento do câncer de mama. METODOLOGIA Este estudo piloto foi realizado no hospital privado Felício Rocho (HFR, Belo Horizonte, MG) no período de junho a setembro de 2007. Foram selecionadas inicialmente 15 adultas com diagnóstico documentado de câncer de mama, já submetidas a mastectomia, encaminhadas pelo serviço de Radioterapia do HFR para possível recrutamento; tinham prescrição de radioterapia para tratamento adjuvante, nenhuma evidência clínica de passado ou presente de doença pulmonar e capacidade cognitiva para a compreensão e execução das atividades solicitadas nos testes. Foram excluídas do estudo aquelas que fizeram tratamentos neoadjuvantes. Das 15 mulheres submetidas ao questionário clínico, 5 não puderam participar: duas foram excluídas por apresentarem patologias pulmonares, outras duas por terem iniciado a quimioterapia concomitante à radioterapia e a última por não ter finalizado a coleta, retornando a sua cidade de origem. Assim, a amostra deste estudo foi de 10 pacientes. Durante o estudo, as participantes não foram submetidas a terapias para promoção de melhoras no desempenho pulmonar. O consentimento livre e esclarecido foi obtido no momento do encaminhamento da paciente, antes da realização de qualquer teste, após leitura e esclarecimento de eventuais dúvidas. O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HFR. Os dados foram coletados antes do início da radioterapia e após a realização das sessões; essa reavaliação ocorreu até no máximo uma semana após o término da radioterapia, cuja duração variou de 30 a 50 sessões. Foram coletados dados de capacidade inspiratória, capacidade vital forçada e força muscular respiratória. Além disso, foi aplicado um questionário clínico antes do início da radioterapia para avaliar a situação e a inclusão de cada paciente. Todas as coletas do estudo foram realizadas no setor de fisioterapia respiratória do HFR. Cada variável foi avaliada por um mesmo examinador durante todo o período do estudo. A capacidade inspiratória corresponde ao volume corrente somado ao volume de reserva inspiratória; foi medida pelo espirômetro de incentivo (EI) a volume (Voldyne, Temecula, CA, USA), que pode ser usado como uma forma sim- Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):248-52 2010;17(3) 249 A força muscular respiratória foi avaliada medindo-se as pressões inspiratória (PImáx) e expiratória (PEmáx) máximas por meio de um manovacuômetro (Comercial Médica, SP, BR), utilizando um bocal e clipe nasal. As pressões foram registradas, respectivamente, a partir do volume residual e da capacidade pulmonar total, com a participante sentada confortavelmente, com encosto e pés apoiados16. O aparelho mede pressões positivas PEmáx e negativas PImáx com o intervalo operacional de 0 a 240 cmH2O. O adaptador do bocal tem um pequeno orifício, de aproximadamente 250 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):248-52 Na analise estatística, por serem as variáveis quantitativas e não apresentarem distribuição normal, foi aplicado o teste não-paramétrico de Wilcoxon para dados pareados. A significância estatística dos resultados foi considerada quando p<0,05. RESULTADOS A idade das mulheres variou de 48 a 84 anos (64,1±11,7) e a média de sessões de radioterapia foi de 33,1±1,4. Sete das dez participantes foram submetidas a tratamento conservador e as outras três à mastectomia à Maden; destas, somente uma foi submetida à reconstrução mamária imediata, com prótese de silicone. As demais não realizaram reconstrução mamária (90%). A maioria das pacientes (70%) apresentou tumor do lado esquerdo da mama. Metade das pacientes submeteu-se a quimioterapia antes da radioterapia; 40% estavam usando tamoxifeno ou semelhante. Capacidade inspiratória Capac Antes Depois Capac Volume (ml) 2500 2000 1500 1000 500 0 1 2 3 4 5 6 7 Participantes 8 9 10 Gráfico 1 Capacidade inspiratória de cada participante, antes e depois da radioterapia (p=0,06) Volume (ml) Capacidade vital forçada Cap Antes Depois Cap 4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 1 2 3 4 5 6 7 Participantes 8 9 10 Gráfico 2 Capacidade vital forçada de cada participante, antes e depois da radioterapia (p=0,053) Pressão inspiratória máxima PImáx (cmH2O) A capacidade vital forçada (CVF) corresponde à soma do volume de reserva expiratória, volume corrente e volume de reserva inspiratória. É uma medida bastante reprodutível quando realizada em indivíduos cooperativos. Para aferi-la, solicita-se ao paciente uma inspiração máxima, seguida por uma expiração máxima15. Em indivíduos saudáveis seu valor é acima de 10 ml/kg. Também foi coletada pelo EI: após uma expiração forçada até o volume de reserva expiratória (expiração máxima), solicitava-se uma inspiração lenta e profunda no bocal até atingir o volume de reserva inspiratória (inspiração máxima). Para garantir a expiração máxima forçada, solicitava-se à participante que exalasse todo o ar do pulmão e a contração abdominal decorrente era avaliada pelo examinador por palpação. 1,5 mm, para evitar a contribuição indesejada da pressão gerada pela musculatura da cavidade oral na PImáx. Para medir a Pimáx, solicitava-se que, após expirar todo o ar dos pulmões, a participante realizasse uma inspiração máxima no bocal; e, para a medida da PEmáx, que, após uma inspiração máxima, fizesse uma expiração máxima no bocal, sustentando o esforço por pelo menos 1 segundo. Para garantir uma expiração máxima forçada era solicitado exalar todo o ar do pulmão – e a contração abdominal decorrente era avaliada pelo examinador por palpação. O melhor valor de três medidas reprodutíveis (variação menor que 10%) foi considerado16. Pi máx Antes Depois Pi máx 160 140 120 100 80 60 40 20 0 1 2 3 4 5 6 7 Participantes 8 9 10 Gráfico 3 Pressão inspiratória máxima (PImáx) de cada participante, antes e depois da radioterapia (p=0,22) Pressão expiratória máxima 100 PEmáx (cmH2O) ples de acompanhar a função pulmonar em indivíduos com respiração espontânea14. A participante era orientada a sentar-se confortavelmente, com encosto e pés apoiados e, após uma expiração até a capacidade residual funcional, era instruída a realizar uma inspiração lenta e o mais profunda possível no bocal do EI. Para atingir uma expiração até capacidade residual funcional era-lhe solicitado que exalasse o ar dos pulmões sem contrair o abdome; essa não-contração abdominal foi garantida pelo avaliador, por palpação. Durante a inspiração, foi incentivada a manter o sinalizador amarelo entre duas marcas para garantir um fluxo constante. O valor da capacidade inspiratória (em mililitros, ml) usado para análise foi o melhor de três medidas consecutivas, com variação menor que 10%14. 80 60 40 Antes Pe máx Depois Pe máx 20 0 1 2 3 4 5 6 7 Participantes 8 9 10 Gráfico 4 Pressão expiratória máxima (PEmáx) de cada participante, antes e depois da radioterapia (p=0,09) Schettino et al. Função pulmonar e radioterapia no câncer de mama Nenhuma das pacientes era tabagista. As pacientes foram submetidas a uma média de 33,1 sessões de radioterapia, todas pelo processo extranuclear (acelerador linear). Os parâmetros de função pulmonar avaliados, antes e após a radioterapia, foram respectivamente: capacidade inspiratória, 1575±426 ml e 1268±536 ml; capacidade vital forçada, 2425±528 ml e 2350±555 ml; pressão inspiratória máxima, 96,8±44,8 cmH2O e 93±45 cmH2O; pressão expiratória máxima, 62,6+±24,0 cmH 2 O e 57,6±23,0 cmH2O. As diferenças nas quatro variáveis estudadas entre os momentos antes e depois da radioterapia não foram significativas (p>0,05). Os resultados estão representados nos Gráficos 1 a 4. DISCUSSÃO Este estudo avaliou variáveis da função pulmonar, verificando redução dos valores depois da radioterapia na maioria das participantes. No entanto, essa diminuição não foi estatisticamente significante. Sabe-se que o tabagismo é um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de mama17 e causa de afecções pulmonares. Como neste estudo nenhuma das pacientes era tabagista, o fumo não pôde ser considerado um fator interveniente na indução de disfunções pulmonares durante a radioterapia. Nove das dez pacientes avaliadas não se submeteram à reconstrução mamária. Essa alta taxa pode ser explicada pelo fato de que 70% delas foram submetidas à cirurgia conservadora, que preserva a estética mamária. Tal tratamento cirúrgico é possível principalmente quando o tamanho do tumor a ser retirado é compatível com o tamanho da mama a ser tratada. Considerando a reconstrução mamária e as cirurgias conservadoras, 80% das pacientes avaliadas tiveram preservada a estrutura mamária, o que poderia conferir certa proteção pulmonar. A maioria (7) das pacientes foram operadas e irradiadas no lado esquerdo; estudos mostram que, ao se comparar os efeitos pulmonares da radioterapia entre pacientes irradiadas dos dois lados, não há diferença estatisticamente significativa9,18. Sabe-se que a radioterapia é um tratamento ambulatorial e diário, realizado nos cinco dias úteis da semana por cinco a seis semanas7; a média de sessões de radioterapia deste estudo, de 33,1 está de acordo com a indicada pela literatura. O tratamento adjuvante sistêmico, que pode ser quimioterapia ou hormonioterapia, é recomendado quando há risco de recorrência da doença. Das pacientes avaliadas, apenas metade delas submeteram-se à quimioterapia, antes da radioterapia; nenhuma delas realizou quimioterapia concomitante à radioterapia, tendo sido este um dos critérios de exclusão, pois ao se associarem quimioterápicos à radiação esperam-se efeitos aditivos, não permitindo avaliar devidamente alterações pulmonares decorrentes da radioterapia19. Alguns estudos sugerem que a hormonioterapia potencializa a fibrose pulmonar decorrente da radioterapia, enquanto outros não confirmam tal afirmação12,20,21; neste estudo,40% das pacientes estavam usando tamoxifeno ou semelhante. Assim, dentre as variáveis analisadas, somente o uso de tamoxifeno por 40% delas poderia ser um fator de confusão na análise das alterações pulmonares decorrentes da radioterapia, considerando a corrente que relaciona o tamoxifeno à fibrose pulmonar durante a radioterapia20,21. No entanto, para que este estudo pudesse confirmar ou não tal afirmação, seria necessária uma amostra maior e a divisão da amostra em grupos de pacientes submetidas ou não à hormonioterapia, além de um acompanhamento pós radioterapia mais longo. Estudos indicam que a pneumonite actínica é uma complicação pulmonar precoce e a fibrose pulmonar, tardia. A pneumonite actínica classicamente ocorre de 4 a 16 semanas após a finalização das sessões de radioterapia e a fibrose pulmonar, de 24 a 48 semanas após a mesma22. Assim, este estudo piloto deve ser continuado tanto no intuito de aumentar a amostra como acompanhar essas mulheres periodicamente por um período de tempo maior. A capacidade vital forçada é uma medida de função pulmonar comumente utilizada em estudos que avaliam alterações pulmonares funcionais decorrentes da radioterapia no tratamento do câncer de mama. Dois desses estudos9,23 encontraram uma redução significativa desse parâmetro, ao contrário do presente estudo, em que a redução média após a radioterapia foi de apenas 4%. Não foram encontrados na literatura estudos que avaliassem as medidas de capacidade inspiratória, pressões inspiratória e expiratória máximas em pacientes submetidas à radioterapia para tratamento do câncer de mama. No entanto, a avaliação dessas variáveis é importante tendo em vista a facilidade de avaliálas e a relação que estabelecem com as demais variáveis. A redução da capacidade inspiratória está associada à redução da capacidade pulmonar total23, sendo esta avaliada de uma maneira menos dispendiosa. A avaliação das pressões respiratórias é importante tendo em vista que a capacidade vital só começa a reduzir quando há declínio da força dos músculos respiratórios de pelo menos 50% do valor previsto. Além disso, é necessária uma pressão expiratória máxima de pelo menos 40 cmH2O para promover tosse efetiva e eliminação de secreções15. Limitações deste estudo: o reduzido tamanho da amostra e o pouco tempo de acompanhamento das participantes podem ter contribuído para os resultados não terem mostrado significância estatística. CONCLUSÃO Embora a literatura indique que a radioterapia no tratamento do câncer de mama pode causar alterações pulmonares funcionais, como a redução da capacidade inspiratória e da capacidade vital interferindo no volume pulmonar, bem como diminuição da força muscular respiratória, nas pacientes avaliadas neste estudo a radioterapia não parece ter prejudicado a função pulmonar, sugerindo a necessidade de novos estudos. Fisioter Fisioter Pesq. 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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.253-8, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Predição da força de reação do solo durante a corrida na água Prediction of ground reaction force during water immersion running Alessandro Haupenthal1, Heiliane de Brito Fontana2, Caroline Ruschel1, Helio Roesler3, Adriano Ferreti Borgatto4 Estudo desenvolvido no Laboratório de Biomecânica Aquática do Cefid/Udesc – Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil 1 Doutorandos em Ciências do Movimento Humano no Laboratório de Biomecânica Aquática do Cefid/Udesc 2 Mestrando em Ciências do Movimento Humano no Laboratório de Biomecânica Aquática do Cefid/Udesc 3 Prof. Dr. Coordenador do Laboratório de Biomecânica Aquática do Cefid/Udesc 4 Professor Dr. adjunto do Depto. de Informática e Estatística da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Alessandro Haupenthal Laboratório de Pesquisas em Biomecânica Aquática R. Pascoal Simone 358 Coqueiros 88080-350 Florianópolis SC e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO out. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO RESUMO: Este estudo visou desenvolver um modelo para a predição da força de reação do solo na corrida subaquática. Participaram 20 sujeitos (9 homens e 11 mulheres), que realizaram corrida subaquática em dois níveis de imersão e três velocidades. Para cada sujeito foram coletadas seis passagens válidas em cada condição, com a utilização de uma plataforma subaquática de força. O modelo para predição da força foi construído por regressão linear múltipla. Foram consideradas variáveis dependentes a componente vertical e a componente ântero-posterior da força de reação do solo. As variáveis imersão, sexo, velocidade, massa corporal, densidade corporal e percentual de gordura foram consideradas independentes. Permaneceu no modelo final de regressão para a componente vertical a velocidade (p<0,001), enquanto no modelo da componente ântero-posterior permaneceram a velocidade, a imersão e a massa corporal (todas com p<0,001). O modelo preditivo para a componente ântero-posterior da força de reação do solo pode ser considerado satisfatório (o coeficiente de determinação ajustado foi 0,79). Entretanto, o modelo para a componente vertical não pode ser recomendado para a predição dessa variável durante a corrida na água (coeficiente encontrado 0,18). Ressalva-se que o modelo preditivo criado aplica-se a sujeitos com características semelhantes (idade e medidas antropométricas) às dos participantes do estudo. DESCRITORES: Ambiente aquático; Corrida; Hidoterapia; Movimento (Física); Natação ABSTRACT: This study aimed at developing a model to predict ground reaction force during deep-water running. A total of 20 subjects ((9 men, 11 women) ran in water at two immersion levels and three different speeds. Each subject performed six valid trials in each condition, data being captured by an underwater force plate. The force prediction model was build by multiple linear regression. Dependent variables were the vertical and anteroposterior components of the ground reaction force; independent variables were runners’ immersion, sex, speed, body mass, body density, and percentage of fat. At the final regression model for the vertical component, only speed remained (p<0.001), while for the anteroposterior component, speed, immersion, and body mass were maintained (all at p<0.001). The obtained model for the anteroposterior component of ground reaction force may be found satisfactory, as adjusted determination coefficient was 0.79. However, the prediction model for the vertical component cannot be recommended for prediction during deep-water running, since that coefficient was 0.18. It must be noted that the proposed prediction model applies to subjects provided that they have similar characteristics to those who took part in this study. KEY WORDS: Aquatic environment; Hydrotherapy; Motion; Running; Swimming jun. 2010 Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):253-8 2010;17(3) 253 INTRODUÇÃO A terapia e o exercício aquático ganharam popularidade e aceitação1-3. A hidroginástica, por exemplo, é uma escolha comum por parte de pessoas que procuram uma atividade para melhora do condicionamento físico, e com isso vem a cada ano adquirindo mais adeptos. A procura por essa modalidade provém geralmente de indivíduos de populações com restrições ao suporte de peso do corpo no solo, como por exemplo aqueles acometidos por atrite, dores nas costas ou outras disfunções ortopédicas2. Em se tratando de processos de reabilitação funcional terapêutica, o fisioterapeuta se vale da redução (pelo empuxo) do impacto do peso corporal nas articulações, durante a imersão, preparando o paciente para posteriormente realizar atividades em terra4,5. Apesar de atenuada pelo empuxo, a força de reação do solo (FRS) durante a execução de exercícios aquáticos deve ser considerada para a prescrição. Nesse contexto, estudos vêm sendo realizados para a análise da FRS durante a caminhada6,7 e o salto8,9 na água, com a utilização de plataformas subaquáticas de força. Entretanto, o equipamento necessário para essa análise é de alto custo, sendo inviável sua aplicação na rotina de clínicas e clubes esportivos. Além do alto custo, a utilização de plataformas de força e a interpretação dos dados requerem conhecimento técnico especializado, dificultando a prescrição individualizada com base em informações quantitativas sobre as forças que agem sobre as estruturas musculoesqueléticas dos indivíduos. Assim, na prática diária torna-se difícil a manipulação dessas informações pelos profissionais, que acabam por negligenciar o controle da força para a prescrição desse exercício. Para mudar esse quadro, acredita-se que é possível oferecer maior fundamentação para a prescrição individualizada da corrida na água, a partir de um modelo preditivo para a força de reação do solo. Para a marcha humana, por exemplo, alguns estudos propuseram modelos para a predição dos valores da componente vertical da FRS10-12. O modelo, além de ser uma maneira fácil para a estimação da carga a partir de variáveis que podem ser mensuradas na prática diária, é 2010;17(3):253-8 254 Fisioter Pesq. 2010;17(3) uma ferramenta importante para o a compreensão da realidade13. Alexander14 alerta para a importância de se criar um modelo o mais simples possível, para que as variáveis que produzem os efeitos sejam facilmente observadas e medidas, promovendo assim sua ampla utilização. Nesse contexto, o objetivo deste estudo é verificar quais variáveis estão associadas à força de reação do solo e construir um modelo para a predição dessa força a partir de dados obtidos durante a realização da corrida subaquática. METODOLOGIA Os sujeitos foram selecionados com base nos seguintes critérios: não relatar queixa de comprometimento musculoesquelético; saber nadar; ter estatura entre 1,60 e 1,85 m (devido à profundidade da piscina); ter idade entre 18 a 30 anos; e conseguir realizar a corrida na água. A partir desses critérios, participaram do estudo 20 sujeitos, 9 do sexo masculino (24,0±3,0 anos de idade e 1,80±0,05 m de estatura) e 11 do sexo feminino (23,0±2,5 anos de idade e 1,67±0,05 m de estatura). Para a criação de um modelo de regressão múltipla recomenda-se que o número de dados de entrada seja, no mínimo, 30 vezes maior que a quantidade de variáveis independentes15. Assim, como são seis as variáveis neste caso, o número necessário de dados de entrada deve ser igual ou maior que 180. Atualmente, autores obtêm essa quantidade de dados pela análise de repetições de um número reduzido de sujeitos, por exemplo, cinco16. Acredita-se porém que esse número reduzido de sujeitos não representa bem a variabilidade do movimento humano, o que é um dos principais problemas encontrados na criação de um modelo preditivo10. Outros autores analisaram um número maior de sujeitos para a construção de modelo, como é o caso de Keller et al.12 e Stansfield et al.13. Nesse contexto, acreditamos que a análise de 20 sujeitos, cada qual realizando seis execuções da corrida em três diferentes velocidades e em dois níveis de imersão, totalizando 720 dados de entrada, seja suficiente para a construção do modelo. Procedimentos Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina, a coleta foi realizada em uma piscina térmica (30±1oC), na qual foi posicionada uma plataforma subaquática de força, em meio a uma passarela de 8 m de comprimento (Figura 1). A plataforma e a passarela foram recobertas de piso antiderrapante. A passarela foi posicionada de acordo com a estatura de cada sujeito, de modo que o nível da água permanecesse na altura da estrutura anatômica de referência em cada situação analisada: ápice da crista ilíaca e processo xifóide. A B Figura 1 Ilustração: passarela no fundo da piscina (A) e detalhe da plataforma de força (B) Haupenthal et al. Antes dos participantes entrarem na piscina foram obtidas as medidas antropométricas: massa corporal, estatura e dobras cutâneas (do tríceps, suprailíaca e coxa para mulheres17 e peitoral, abdominal e coxa para homens18). Em seguida solicitou-se aos sujeitos que efetuassem um teste de corrida fora da água, percorrendo por três vezes a distância de 10 metros em velocidade auto-selecionada. Esse teste visava verificar se o sujeito apresentava alguma dificuldade ou impedimento na realização do exercício. Posteriormente, os sujeitos entraram na piscina e foi então randomizada a ordem das imersões da corrida. Depois do sorteio da imersão (crista ilíaca ou processo xifóide), os sujeitos realizavam a corrida nas velocidades lenta, autoselecionada e rápida. Os sujeitos tiveram o tempo que consideraram necessário para a familiarização com o equipamento. Durante essa familiarização, os pesquisadores instruíram os sujeitos sobre o movimento a ser executado e, quando o padrão se apresentou estável, a coleta de dados foi iniciada. Em cada nível de imersão foram adquiridas seis execuções válidas nas três velocidades: lenta, auto-selecionada e rápida. Considerou-se lenta a velocidade de 0,6 m/s, respeitando-se uma variação de 10%. A velocidade auto-selecionada correspondeu à velocidade confortável para o sujeito (0,7 a 0,95 m/s) e a velocidade rápida foi a máxima que o sujeito conseguiu atingir mantendo um padrão de movimento estável (0,78 a 1,11 m/s). Para que a execução fosse considerada válida, o participante deveria realizar o contato com o pé na plataforma de força sem desequilibrar-se, sem propulsionar-se com os membros superiores e sem olhar para baixo. Pela análise dinamométrica foram obtidas as seguintes variáveis dependentes: 1 máximo na componente vertical (Fymáx): valor máximo da componente vertical da FRS durante o contato com a plataforma. Optou-se por normalizar os valores da FRS, em N, pelo peso corporal dos indivíduos, também em N. Apesar de o resultado da normalização ser adimensional, optou-se por expressá-lo em unidades de peso corporal (PC), como Predição da força na corrida subaquática em outros estudos relativos à marcha e corrida; 2 máximo na componente ântero-posterior (Fxmáx): valor máximo da componente ântero-posterior da FRS durante o contato com a plataforma. Assim como para a componente vertical, a Fxmáx é expressa em PC. Foram incluídas no estudo as seguintes variáveis independentes: 1 densidade corporal: é calculada a partir das dobras cutâneas, de acordo com as equações propostas por Jackson et al.17 para as mulheres e por Jackson e Pollock18 para homens. É expressa em g/ml; 2 percentual de gordura: corresponde à gordura corporal relativa e é calculado a partir da densidade corporal, pela equação de Siri19. É expressa em porcentagem (%); 3 velocidade: trata-se da velocidade de deslocamento do sujeito durante a corrida na água. É expressa em m/s; 4 massa corporal: é a massa corporal dos sujeitos medida fora da água, expressa em kg. 5 sexo: o sexo dos participantes foi incluído como uma variável categórica nominal, sendo caracterizada no banco de dados como zero (0) para os homens e um (1) para as mulheres; 6 imersão: representa a profundidade em que o corpo estava imerso na água. Optou-se por incluí-la na análise na condição de variável categórica nominal, sendo caracterizada no banco de dados como zero (0) para a imersão no processo xifóide e um (1) para a imersão no ápice da crista ilíaca. Para a seleção das variáveis independentes foram considerados aspectos que podem estar relacionados a alterações nas forças de reação do solo durante a execução da corrida, como é o caso da velocidade10,11. Além disso, tendo em vista que o movimento é executado na água, optou-se por considerar variáveis que possivelmente influenciariam a FRS (nível de imersão, densidade corporal e percentual de gordura corporal), considerando-se as propriedades físicas da água. Embora se saiba que a densidade corpo- ral e o percentual de gordura sejam correlacionados, optou-se por selecionar ambos para verificar qual geraria um maior poder preditivo quando em conjunto com as demais variáveis do modelo. Por fim, o sexo foi incluído devido às diferenças antropométricas entre homens e mulheres, que poderiam influenciar a realização da corrida, como já verificado por outros estudos dos movimentos humanos20,21. Instrumentos de medida Sistema de aquisição: para a coleta das componentes da FRS foi utilizado um sistema de aquisição composto por uma plataforma subaquática de força (dimensões de 500x500 mm, carga máxima/sensibilidade de 4000/2 N, freqüência natural de 60 Hz e erro menor que 1%), ligada a um conversor analógico digital de 16 bits e 60 kHz (Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda, São Paulo) e ao software Aqdados 7.02 (Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda, São Paulo). Sistema de medição da velocidade: para medição e controle da velocidade de corrida foi utilizado um sistema de fotocélulas acopladas a um cronômetro, posicionado na borda da piscina; o cronômetro foi acionado e parado automaticamente, conforme o deslocamento do sujeito desde o início até o final do percurso. Balança: para medir a massa corporal dos participantes do estudo foi utilizada uma balança eletrônica com escala de 0,1 kg (Plenna, São Paulo, modelo MEA-08128). Adipômetro: para a aferição das dobras cutâneas foi utilizado um adipômetro científico com escala de 0,1 mm (Cescorf, Equipamentos Antropométricos Ltda, Porto Alegre). Processamento dos dados Após a aquisição, os dados foram exportados para serem tratados no programa livre Scilab v.5.2.1 (Scientific Laboratory, INRIA – Institut National de Recherche en Informatique et en Automatique, Paris, França). Nesse software foram criadas rotinas de programação para a análise dos dados na seqüência: (1) aplicação Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):253-8 2010;17(3) 255 do coeficiente de calibração; (2) filtragem (passa-faixa tipo Butterworth na freqüência de corte 20 Hz); (3) normalização pelo peso corporal fora da água (para visualização da redução dos valores de força e comparação com os valores fora da água); (4) aquisição das variáveis a serem analisadas em cada passagem do sujeito; (5) cálculo da média para cada componente da FRS; e (6) exportação dos valores. Após a exportação dos valores das variáveis, os dados foram agrupados em um banco de informações construído no programa SPSS versão 17.0. Tratamento estatístico: para a caracterização dos dados foi utilizada a estatística descritiva, com a identificação dos valores de média e desvio padrão das seis execuções de cada sujeito em cada situação analisada. Pelo teste de Kolmogorov-Smirnov verificou-se que os dados têm distribuição normal, possibilitando a aplicação dos testes a seguir. Para a criação do modelo de predição, primeiramente procedeu-se à regressão linear múltipla pelo método enter. Esse passo foi realizado para analisar a associação entre as variáveis dependentes e cada variável independente, para então selecionar as variáveis que entrariam no modelo final. Foram consideradas variáveis candidatas a entrar no modelo de regressão múltipla todas aquelas que apresentaram significância estatística menor que 0,10 (p≤0,10) no teste t. O modelo final por regressão linear múltipla foi construído pelo método stepwise. As variáveis foram incluídas a partir da análise anterior e permaneceram no modelo final segundo a correlação parcial controlada pelas variáveis que já estão no modelo, considerando-se uma significância de p≤0,05 no teste t. A fim de verificar a qualidade do modelo, foi calculado o coeficiente de determinação ajustado (R2). Além disso, foi efetuada a análise dos resíduos com o objetivo de checar as suposições do modelo de regressão linear e identificar outliers. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores (média e desvio padrão) das variáveis independentes analisadas 256 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 2010;17(3):253-8 Tabela 1 Características (média ± desvio padrão) dos sujeitos mulheres (n=11) e homens (n=9) (variáveis independentes) Variáveis Mulheres Homens Velocidade (m/s) 0,72±0,13 0,78±0,17 Massa corporal (kg) 56,9±3,7 73,9±8,5 Densidade corporal (g/ml) 1,050±0,006 1,071±0,010 Percentual de gordura (%) 21,4±2,7 13,0±4,5 podem ser visualizados na Tabela 1. Para a primeira parte da caracterização do modelo, foi utilizada a regressão múltipla pelo método enter, considerando-se todas as variáveis independentes. O resultado desse procedimento pode ser visto na Tabela 2. Pode-se observar que foram selecionadas, nesse primeiro procedimento, as variáveis imersão, sexo e velocidade para o modelo da componente vertical da FRS e as variáveis imersão, velocidade e massa para o modelo da componente ântero-posterior. Quando o nível de imersão foi alterado, as maiores modificações foram observadas para a componente vertical da FRS. Como a variação do nível de imersão altera diretamente a força de sustentação do sujeito (que é a resultante entre o peso corporal e o empuxo), e a componente vertical é uma resposta à ação da gravidade, essas modificações já eram esperadas6,7, assim como a associação significativa entre as duas variáveis. Ocorre uma redução nos valores das componentes de força quando imersos na água 6,7, com conseqüente diminuição da magnitude das forças internas nas estruturas musculoesqueléticas 22. Além da imersão, outros dois fatores apresentaram associação com a força vertical, o sexo e a velocidade, corroborando relatos da literatura que apontam a influência dessas variáveis nessa componente 10,11,20,21. Em relação ao modelo inicial para a força ântero-posterior, já era esperado que a maior associação seria encontrada com a velocidade, uma vez que esta é diretamente ligada às ações propulsivas durante o deslocamento. Nesse contexto, é importante considerar que a água é cerca de 800 vezes mais densa que o ar e que a resistência ao movimento varia proporcionalmente ao quadrado da velocidade de deslocamento. Assim, para a prescrição de exercícios nesse meio viscoso, além de analisar o nível de imersão (que também apresentou associação significativa com a força ânteroposterior), deve-se considerar a velocidade do movimento5,7; e, ainda, a massa Tabela 2 Resultados da regressão linear múltipla (método enter) para as componentes da força de reação do solo (FRS) Componentes Variáveis da FRS independentes Coeficiente de regressão Erro padrão 2 p Constante Imersão Sexo Velocidade Massa corporal Densidade Percentual de gordura -95,66 0,10 -0,22 0,69 0,001 87,79 0,18 0,05 0,11 0,18 0,004 161,52 0,37 0,053* 0,050* <0,001* 0,99 0,58 0,62 Constante Imersão Sexo Força ânteroVelocidade posterior Massa corporal Densidade Percentual de gordura -7,85 -0,05 0,007 0,60 -0,002 7,10 0,01 0,01 0,02 0,03 0,01 28,22 0,06 0,001* 0,72 <0,001* 0,006* 0,80 0,78 Força vertical * Dentro do critério de entrada no modelo final, p≤0,10 R ajustado 0,25 0,79 Haupenthal et al. Predição da força na corrida subaquática Tabela 3 Resultados da regressão linear múltipla (método stepwise) para a construção do modelo final de predição das componentes da força de reação do solo (FRS) Componentes da FRS Força vertical Força ânteroposterior Variáveis independentes Coeficiente regressão 0,18 capacidade preditora, apresentando um coeficiente de determinação ajustado de 0,79. Além disso, o modelo final satisfez os critérios de análise de resíduos, que apresentaram distribuição normal pelo teste Kolmogorov-Smirnov (p=0,20). 0,79 O modelo para a força ântero-posterior seria o da equação 2. 2 Erro padrão p Constante Velocidade Constante 0,33 0,79 -0,009 0,16 Velocidade Imersão 0,60 -0,056 0,03 0,01 <0,001* <0,001* Massa corporal -0,002 0,01 <0,001* R ajustado <0,001* * Critério de permanência no modelo final, p<0,05 corporal também apresentou associação com a componente ântero-posterior. Na Tabela 3 podem ser observados os resultados da composição final do modelo para predição das componentes da FRS. Pode ser visto que, para a força vertical, somente permaneceu no modelo a velocidade; foram excluídas as variáveis imersão e sexo (associadas anteriormente). Ainda, para este modelo, o coeficiente de determinação encontrado é considerado muito baixo (0,18); isso significa que 82% da variação dos dados não pode ser explicada pelo modelo. Com base nesses pressupostos deve-se rejeitar o modelo para a força vertical. Acredita-se que esse resultado está relacionado com a limitada variação do nível de imersão – ápice da crista ilíaca e processo xifóide; além disso, esses níveis entraram no modelo como variáveis categóricas. Mesmo que o modelo não tenha sido satisfatório, a associação da força vertical com as variáveis velocidade, imersão e sexo é um fato que deve ser explorado de melhor forma em estudos futuros, de modo a melhorar a capacidade de predição do modelo. A criação de um modelo preditivo em biomecânica não é tarefa fácil13, e fica ainda mais difícil quando o objetivo é construir um modelo baseado em variáveis de fácil manipulação para os profissionais. Seria possível, por exemplo, construir um modelo para predição da componente vertical no nível de imersão da crista ilíaca, conforme a equação 1. Infelizmente não foi encontrado na literatura estudo semelhante, acerca da predição da força de corrida na água, para a comparação dos resultados. Equação 1 Fymax=-14,275+0,6822×[velocidade(m/s)]+ 2040,9 +3,5291 [massa(kg)] ×log[empuxo(N)]-9,3262×[densidadecorporal(g/ml)]+ 8,1640 [% gordura] Equação 2 Fxmax=-0,009+0,6×[velocidade(m/s)]-0,056×[imersão(crista=1;xifóide=0)] -0,002×[massa(kg)] O modelo teria validade, perfazendo todos os pré-requisitos necessários, com um coeficiente de determinação ajustado de 0,66. Mas o problema desta equação é que, além conter muitas variáveis, supõe a utilização dos valores do empuxo, variável esta que não foi incluída neste estudo tendo em vista a dificuldade em mensurá-la na prática diária. Além disso, é um modelo mais complexo, que exige a transformação de variáveis, dificultando a compreensão da relação das mesmas com o fenômeno. Por fim, envolve processos logarítmicos, com os quais nem todos os profissionais se sentem confortáveis durante a manipulação das equações. Recomenda-se a continuidade de estudos visando modelos simples para que os profissionais os utilizem na prática diária de prescrição. Assim, o principal ganho com esta tentativa é de esclarecer quais variáveis deverão entrar em estudos futuros, fomentando o interesse da comunidade científica em desenvolver modelos úteis para os profissionais que lidam com exercícios aquáticos. Para a componente ântero-posterior obteve-se um modelo final com boa É importante ressalvar algumas limitações no processo de criação de um modelo por regressão múltipla: os resultados encontrados aplicam-se à população analisada (as características devem ser semelhantes às dos sujeitos deste estudo) e às situações que entraram na criação do modelo. Logo, o modelo gerado neste estudo aplica-se aos níveis de imersão da crista ilíaca e do processo xifóide e à faixa de velocidade utilizada no estudo (0,6 a 0,93 m/s). CONCLUSÃO Tanto a componente vertical como a componente ântero-posterior estão associadas à imersão e a velocidade. O modelo preditivo para a componente ântero-posterior de força de reação do solo pode ser considerado satisfatório. Entretanto, o modelo para a componente vertical apresentou um poder preditivo baixo e não pode ser recomendado para a predição dessa variável. Isso sugere que outros fatores (além daqueles investigados neste estudo) influenciam a componente vertical da força de reação do solo e deveriam ser utilizados para sua predição. Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):253-8 2010;17(3) 257 REFERÊNCIAS 1. Kaneda K, Wakabayashi H, Sato D, Uekusa T, Nomura T. Lower extremity muscle activity during deep-water running on self-determined pace. J Electromyogr Kinesiol. 2008;18:965-72. 11. Stansfield BW, Hillman SJ, Hazlewood ME, Robb JE. Regression analysis of gait parameters with speed in normal children walking at self-selected speeds. Gait Posture. 2006;23:288-94. 2. Masumoto K, Takasugi S, Hotta N, Fujishima K, Iwamoto Y. Electromyographic analysis of walking in water in healthy humans. J Physiol Anthropol Appl Human Sci. 2004;23:119-27. 12. Racic V, Pavic A, Brownjohn JMW. Experimental identification and analytical modeling of human walking forces: literature review. J Sound Vib. 2009;326:1-49. 3. 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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.259-63, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Eficácia de tratamento fisioterapêutico no equilíbrio estático e dinâmico de pacientes com doença de Parkinson Effectiveness of a physical therapy treatment on static and dynamic balance of subjects with Parkinson’s disease Gustavo Christofoletti1, Rosana Tannus Freitas2, Evandro Rocha Cândido2, Clariany Soares Cardoso2 Estudo desenvolvido na Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia da UEG – Universidade Estadual de Goiás, Goiânia, GO, Brasil 1 Prof. Adjunto do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS 2 Fisioterapeutas ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Gustavo Christofoletti DTA/CCBS/UFMS Caixa Postal 549 Cidade Universitária 79070-900 Campo Grande MS e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO nov. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO jun. 2010 RESUMO: Distúrbios de equilíbrio são um dos sinais mais prevalentes na doença de Parkinson (DP), que contribuem para a perda da independência funcional dos sujeitos acometidos. O objetivo deste trabalho foi verificar a eficácia de um programa de treinamento fisioterapêutico específico sobre o equilíbrio estático e dinâmico de pacientes com DP. Vinte e três pacientes com DP idiopática, divididos em dois grupos, experimental e controle, foram avaliados pela escala de equilíbrio funcional de Berg e pelo teste de levantar e caminhar cronometrado (timed up & go). O grupo experimental foi submetido a uma seqüência de exercícios fisioterapêuticos de estimulação motora e cognitiva, com freqüência de três atendimentos semanais durante seis meses. Após o tratamento, foi constatada uma melhora significativa do equilíbrio dos pacientes do grupo experimental em relação ao controle (p<0,05) em ambos os instrumentos. O protocolo fisioterapêutico proposto, de estimulação motora e cognitiva, foi pois eficaz ao promover importante melhora no equilíbrio estático e dinâmico dos sujeitos com doença de Parkinson. DESCRITORES: Doença de Parkinson; Equilíbrio; Terapia por exercício ABSTRACT: Balance disorders are one of the most prevalent signs in Parkinson’s disease (PD) and are commonly associated to loss of independence. The aim of this study was to assess the effectiveness of a specific physical therapy training program on PD patients’ static and dynamic balance. This controlled clinical trial assessed 23 patients with idiopathic PD, divided into experimental and control groups, by means of the Berg balance scale and the timed up-&-go test. The experimental group was submitted to a six-month protocol of physiotherapy exercises emphasising motor and cognitive function at the rate of three one-hour sessions per week. After treatment, results showed a significant improvement (p<0.05) in PD subjects’ balance as compared to control group in both tests. The proposed physical therapy protocol of associated motor and cognitive stimuli thus proved effective in improving static and dynamic balance in subjects with Parkinson’s disease. KEY WORDS: Balance; Exercise therapy; Parkinson’s disease Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):259-63 2010;17(3) 259 INTRODUÇÃO A doença de Parkinson (DP) é uma das doenças neurodegenerativas mais prevalentes no mundo1. Sua condição debilitante e progressiva é preocupante devido à perda motora, que leva à deterioração da qualidade de vida dos pacientes e, nos estágios mais avançados, à exclusão social. A etiopatogenia da DP ocorre devido à degeneração progressiva de neurônios da pars compacta da substância negra mesencefálica, local específico da produção de dopamina2. No entanto, a doença não se restringe apenas a uma deficiência do neurotransmissor catecolaminérgico – fato este que explica o porquê de alguns sintomas clínicos não serem responsivos à levodopa3. Pahapill e Lozano4 argumentam que há, também, degeneração de neurônios glutamatérgicos dos núcleos pedunculopontinos, lembrando que a pars dissipatus desses núcleos recebe aferências da medula espinhal e dos núcleos da base e projeta conexões eferentes ao cerebelo e à medula espinhal. No cerebelo, informações corticais da área de associação são transmitidas, formando-se, assim, a via córtico-ponto-cerebelar relacionada com o planejamento do movimento. O deficit de equilíbrio é um dos sintomas mais comuns em indivíduos com DP, devido aos danos motores causados pela degeneração da via nigro-estriatopalidal5,6. A atrofia e degeneração dos núcleos da base geram um padrão inibitório exacerbado, fazendo com que o paciente encontre dificuldades em modular as estratégias de equilíbrio7. O “parkinsoniano” apresenta um conflito constante de processamento sensitivo central, pois entra em contato com informações visuais e somatossensoriais íntegras e com reações vestíbulo-galvânicas exacerbadas. A maior parte dos pacientes com DP apresenta uma interação deficitária dos sistemas responsáveis pelo equilíbrio corporal e, por conseguinte, tende a deslocar o centro de gravidade para frente8. Além disso, os sujeitos acometidos se tornam incapazes de realizar movimentos compensatórios para readquirir a estabilidade estática e dinâmica do corpo, gerando, com certa freqüência, situações de quedas. O objetivo deste trabalho foi verificar os efeitos de um tratamento fisiote- 2010;17(3):259-63 260 Fisioter Pesq. 2010;17(3) rapêutico específico sobre o equilíbrio estático e dinâmico de pacientes com DP, por meio da aplicação de um protocolo de atividades que promove estimulação das funções motoras e cognitivas. METODOLOGIA O desenho deste estudo foi um ensaio clínico controlado. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital de Goiânia; os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A amostra foi formada por 26 pacientes com DP, divididos em dois grupos: 13 no grupo experimental (GE) e 13 no grupo controle (GC). A distribuição amostral ocorreu por conveniência, seguindo a disponibilidade dos participantes em comparecer semanalmente ao local de tratamento. Ao final de seis meses de tratamento, tendo ocorrido três perdas amostrais, a amostra ficou com 23 pacientes, 12 no GE e 11 no GC. No que se refere aos critérios de inclusão, foram admitidos sujeitos diagnosticados com DP idiopática, com idade mínima de 40 anos, de ambos os sexos, diferentes credos e graus de escolaridade, e que se encontravam nos estágios de 2 a 4 na escala de HoehnYarh9, e no estágio moderado no subescore motor da escala unificada de classificação da doença de Parkinson (Unified Parkinson's disease rating scale)10. Foram excluídos do estudo os pacientes que apresentavam distúrbios de equilíbrio secundários a outras condições patológicas, como amaurose, síndromes vertiginosas (associadas ou não ao uso de medicamentos), claudicações de diferentes etiologias e deficit cognitivo relacionado a quadro demencial. Os indivíduos que faziam uso de neurolépticos, bem como aqueles que não apresentavam marcha independente, também foram excluídos do trabalho. Todos os participantes foram avaliados na fase on da medicação. Os dados foram coletados no ambulatório de Fisioterapia da Universidade Estadual de Goiás, em Goiânia, GO. Dois avaliadores, “cegos” quanto aos grupos em que os participantes se encontravam, foram treinados para aplicação dos testes e questionários utilizados. Para avaliação dos sujeitos, foram aplicados a escala de equilíbrio funcional de Berg (EEFB)11 e o teste de levantar e caminhar cronometrado TLCC (TUG, na sigla em inglês de timed up-and-go)12. A EEFB é uma escala composta por 14 itens envolvendo tarefas funcionais específicas em diferentes situações e bases de apoio. Cada tarefa é subdividida e pontuada de acordo com o grau de dificuldade. O escore varia entre 0 e 56, com pontuações inferiores caracterizando um maior risco de quedas13. Esta foi traduzida para a língua portuguesa14 e apresenta correlação satisfatória com medidas laboratoriais de oscilação na plataforma de equilíbrio, além de ter demonstrado boa correlação com a escala de Barthel (r=0,67). A confiabilidade entre observadores (ICC=0,98), intraobservador (ICC=0,98), bem como a consistência interna (alfa de Cronbach = 0,96), também foram satisfatórias14. O TLCC também é um instrumento importante para avaliar o equilíbrio. Nele são registrados o tempo para se levantar de uma cadeira com braços, deambular por uma distância de 3 metros e retornar à cadeira, bem como o número de passos. Maiores valores de tempo e número de passos representam maior risco de quedas. Tratamento O tratamento proposto aos pacientes do grupo experimental consistiu em assistência promovida por uma equipe de fisioterapeutas (docentes e discentes) durante 6 meses. Em sessões de uma hora com freqüência de três dias por semana, o grupo de participantes foram submetidos a exercícios que estimulassem o equilíbrio, a força, a coordenação motora, a cognição e a flexibilidade. Os materiais utilizados consistiram em bolas suíças de todos os tamanhos, além de bolas esportivas (futebol, basquete e voleibol – cada qual com seu peso específico), tábuas de equilíbrio, bastões, fitas adesivas e colchonetes. A terapia foi dividida de forma que fossem realizados trabalhos específicos em cada dia da semana. Em todos os dias, a sessão era iniciada com alongamentos de membros superiores, membros inferiores e tronco. O alongamen- Christofoletti et al. Em relação ao grupo controle, não houve nenhuma alteração nas atividades motoras basais dos sujeitos. A medicação administrada aos participantes foi mantida nos dois grupos, sendo registrada no início e no final do estudo. RESULTADOS Este estudo envolveu inicialmente 26 indivíduos diagnosticados com DP idiopática, divididos em dois grupos, experimental e controle. Transcorridos Escore na escala de equilíbrio funcional de Berg GE 55 GC 50 Pontos A parte principal de cada sessão era subdividida da seguinte forma: na primeira sessão da semana, o tratamento enfatizava exercícios de facilitação neuromuscular proprioceptiva. Os exercícios eram alternados, visando estimular as posturas decúbito, sentado e ortostatismo. No meio da semana, eram trabalhadas atividades “bobatianas” – com bola suíça e rolos, enfatizando a rotação de tronco e transferências. Na última sessão da semana, o objetivo era estimular a marcha e o equilíbrio estático e dinâmico dos pacientes; os exercícios consistiam em percorrer circuitos específicos que exigissem a deambulação em linha reta e em curvas, com e sem obstáculos. O equilíbrio era trabalhado em circuitos cada vez mais complexos, com atividades realizadas com bolas suíças, tábuas de equilíbrio, subindo e descendo degraus com distratores cognitivos (contagens, memorizações etc.). Em todas as sessões havia músicas variadas, com o objetivo de promover ativação sensorial auditiva. A estatística descritiva (média e erropadrão) foi utilizada para caracterização dos resultados. Foram aplicados testes de análise de variância para medidas repetidas (Anova bidirecional), tendo como fatores “grupo” e “momento” (antes e depois do tratamento). O teste t de Student para amostras independentes também foi utilizado, para verificar as características iniciais dos grupos. Em todas as análises foi considerado um nível de significância de 5%. 45 40 35 30 Inicial Final Escore (s) no TLCC GE GC 25 15 10 5 Inicial 25 Tabela 1 Sexo, idade, escolaridade e grau de disfunção motora (média ± erro padrão) dos sujeitos dos grupos experimental (GE, n=12) e controle (GC, n=11) Característica GE GC Sexo (masc: fem) 8:5 6:7 Idade (anos) 68,2±11,4 62,5±9,6 Anos de estudo 5,7±2,4 4,8±1,1 Disfunção * 3,2±0,8 3,0±0,7 * pontos na escala de Hoenh-Yahr os seis meses de tratamento, ocorreram perdas amostrais nos dois grupos. No grupo experimental houve a desistência de um participante, permanecendo 12 sujeitos; e, no grupo controle, ocorreram duas desistências, restando 11 participantes. Os motivos relacionados às perdas amostrais envolvem mudança de cidade (dois casos) e impossibilidade de transporte do participante ao local de tratamento (um caso). A amostra final foi pois de 23 sujeitos. A Tabela 1 apresenta as características dos grupos em relação à idade, sexo, grau de escolaridade e grau de acometimento da doença. Por meio do teste t para amostras independentes, foi possível constatar similaridade dos grupos em relação às variáveis acima, indicando que estas não interferiram nos resultados da pesquisa (p>0,05). Em relação ao equilíbrio, foi constatado um benefício importante da abordagem fisioterapêutica pelos escores da EEFB e do TLCC. A Figura 1 mostra os valores iniciais e finais dos grupos nos dois testes. 20 Tempo Ao final de cada sessão realizavamse atividades recreativas que estimulassem de forma lúdica o equilíbrio, a dissociação de cinturas escapular e pélvica, a propriocepção e a cognição – em especial a memória, por exemplo: passar a bola em roda falando substantivos iniciados com determinadas letras do alfabeto, ou o nome da pessoa ao lado; passar a bola por cima da cabeça ou por baixo das pernas, para o participante seguinte; jogar a bola na cesta de basquete ou por cima da rede de vôlei etc. Análise dos dados Final Escore (passos) no TLCC GE GC 20 Passos to era realizado de forma passiva, ativa e ativo-assistida. Uma contagem de 30 segundos era realizada nessa atividade, sendo feita sempre em voz alta pelos participantes, para estimular as funções cognitivas15. Tal contagem sofria uma variação em cada exercício, alternando para contagem progressiva, regressiva, numeração par, ímpar, e assim por diante. Fisioterapia na doença de Parkinson 15 10 5 Inicial Por meio do cálculo da análise de variâncias para medidas repetidas (interação “grupo” X “momento”), foram constatadas diferenças significativas tanto em relação à EEBF (p<0,05) quanto ao TLCC (número de passos e tempo, p<0,05) na comparação entre os dois grupos, com vantagem para as medidas pós-tratamento. Final Figura 1 Escores dos grupos experimental (GE n=12) e controle (GC, n=11) na escala de equilíbrio de Berg e no teste de levantar e caminhar cronometrado (TLCC – em segundos e número de passos) nas avaliações inicial e final DISCUSSÃO Os resultados obtidos neste trabalho indicaram um benefício considerável em sujeitos com DP idiopática, submetidos ao protocolo de exercícios de 3 sessões semanais de 60 minutos durante 6 meses, Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):259-63 2010;17(3) 261 em comparação aos sujeitos do grupo controle. Conforme mencionado, a DP é um distúrbio subcortical que afeta diversas conexões dos núcleos da base. Essas estruturas são classificadas como controladoras, e não ordenadoras, de movimento, isto é, não participam diretamente do comando motor, mas sim da preparação e harmonia do movimento. Assim os pacientes acometidos pela DP apresentam maior risco de quedas e complicações associadas. Para Canning et al.16, 68% das pessoas com DP sofrem quedas recorrentes, que poderiam ser minimizadas por exercícios simples que “ativassem” a força muscular dos pacientes. Jacobs et al.17, no entanto, argumentam que as alterações motoras na DP não estão associadas a distúrbios do sistema musculoesquelético. Analisando situações de instabilidade corporal, os autores explicam que, apesar de haver coativação de músculos antagonistas, a atividade muscular de sujeitos com DP encontra-se preservada e similar à de indivíduos controles. A dificuldade na aquisição de estabilidade postural na DP, concluem os autores, refere-se a alteração na ordenação do movimento, em sua origem subcortical, e não no músculo propriamente dito. Outros artigos indicam ainda que a deterioração frontal, comumente vista em pacientes com demência do tipo Parkinson, também afeta o equilíbrio. Segundo Morris18, isso acaba por dificultar a capacidade de aprendizagem do sujeito. Stella et al.19 constataram declínio da função nigroestriatro-frontal já nos estágios iniciais da DP. Diante do exposto, é possível sugerir que a natureza do protocolo terapêutico aplicado, promovendo estimulação das funções cognitiva e motora, pode ter sido responsável pela melhora do equilíbrio dos pacientes do grupo experimental em relação aos do grupo controle. A natureza do exercício realizado neste protocolo, bem como o tempo de assistência terapêutica – equivalendo a um total de 70 sessões – pode ter estimulado a capacidade de aprendizagem do sujeito e auxiliado a melhora motora. O protocolo também promoveu diversos estímulos aos pacientes, repetidos em diferentes 2010;17(3):259-63 262 Fisioter Pesq. 2010;17(3) circunstâncias e eventos. As seqüências de movimentos realizados exigiram constantes ajustes posturais dos participantes, com variação de velocidade (cadência e ritmo) e intensidade do estímulo. Com tal atividade, pretendeu-se evitar acomodações sensoriais, promovendo estímulos sensoriais gerais e especiais, como forma de estimular o equilíbrio recuperado do paciente20,21. Os resultados do presente estudo podem indicar, ainda, uma melhora das respostas antecipatórias dos indivíduos, evidenciadas pelos escores finais da EEFB e do TLCC. Com o progresso da DP, um dos distúrbios do movimento mais amplamente acometido é a marcha, onde o paciente apresenta passos curtos, arrastados, com interrupções e acelerações involuntárias (marcha conhecida como petit pas). O desempenho mensurado indica uma melhora da marcha e das reações de equilíbrio e de endireitamento dos pacientes22. A análise da marcha também poderia ter sido melhor interpretada, caso tivesse sido avaliada em um laboratório de movimento humano. Porém, devido à impossibilidade de locomoção de alguns pacientes até o laboratório de marcha da universidade, é possível supor que tal avaliação acarretaria um aumento significativo na perda amostral, levando a vieses metodológicos. Optou-se por conseguinte em utilizar a EEFB e o TLCC, sabendo que apresentam adequada confiabilidade e validade inter e intraavaliadores23. Alguns estudos relatam efeitos positivos propiciados pela intervenção fisioterapêutica em períodos menores de acompanhamento 24,25 . No entanto, como neste estudo houve limitação no tamanho amostral (não foi possível alcançar um poder estatístico de 80%), optou-se por aplicar um protocolo longitudinal com maior número de sessões, na expectativa de constatar resultados significativos. A prescrição da fisioterapia como complemento ao tratamento medicamentoso não é unânime entre os autores. Alguns afirmam que a intervenção locomotora precoce consegue preservar, ainda que temporariamente, a função motriz dos sujeitos com DP. Mas Keus et al.26 refutam essa idéia, argumentando que a fisioterapia tem sido freqüentemente prescrita concomitante ao tratamento medicamentoso porque a abordagem motora per se não consegue melhorar o deficit de mobilidade da DP. No presente trabalho, acredita-se que é inadequado dicotomizar ambas as abordagens, tendo a fisioterapia ocorrido em conjunto com a assistência medicamentosa. Além disso, como a comprovação científica do benefício da assistência medicamentosa já está estabelecido, não seria ético propor ao grupo experimental de ser dela privado. Christofoletti et al.27, ao avaliar a qualidade de vida de sujeitos com DP, enfatizam a importância de abordagens combinando estímulos motores, sensoriais e cognitivos, destacando o sofrimento psíquico gerado pela doença e pelo estigma de que é alvo. No presente estudo, o fato de o tratamento fisioterapêutico ter sido realizado em grupo, assistido por familiares e amigos cuidadores, possibilitou a ampliação das redes sociais dos pacientes, o que certamente repercutiu em benefícios neuropsíquicos. A atuação da fisioterapia não deve se restringir à ativação da função motriz do sujeito. Mesmo na DP, doença eminentemente motora, a estimulação cognitiva deve ser potencializada. A ativação das estruturas neurais hierárquicas e paralelas é importante, tendo em vista que promove a ação de sinapse nervosa de vias aferentes, eferentes e associativas. Esperase que este estudo tenha colaborado para a ampliação do conhecimento sobre o equilíbrio humano nas condições degenerativas do sistema nervoso, ressaltando os diferentes mecanismos envolvidos no controle locomotor. Ainda assim, novos estudos são importantes, visando analisar diversas terapias para a população em questão. CONCLUSÃO O tratamento fisioterapêutico proposto neste estudo, em três sessões semanais de uma hora durante seis meses, aliando estímulos motores e cognitivos, promoveu melhora significativa no equilíbrio de sujeitos com DP. Christofoletti et al. Fisioterapia na doença de Parkinson REFERÊNCIAS 1 2 3 Wickremaratchi MM, Perera D, O'Loghlen C, Sastry D, Morgan E, Jones A, et al. Prevalence and age of onset of Parkinson’s disease in Cardiff: a community-based cross sectional study and meta-analysis. 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Pesq. 2010;17(3):259-63 2010;17(3) 263 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.264-9, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Efeito das terapias associadas de imagem motora e de movimento induzido por restrição na hemiparesia crônica: estudo de caso Effects of associated therapies of motor imagery and constraint-induced movement in chronic hemiparesis: a case study Claudia Morais Trevisan1, Vanessa Trintinaglia2 Estudo desenvolvido no Depto. de Fisioterapia e Reabilitação da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil 1 Fisioterapeuta; Profa. Dra. do Depto. de Fisioterapia e Reabilitação da UFSM 2 Fisioterapeuta ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Claudia M. Trevisan Av. Rodolfo Behr 1410 Bairro Camobi 97105-440 Santa Maria RS e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO set. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 2010;17(3):264-9 264 Fisioter Pesq. 2010;17(3) RESUMO: Este estudo analisa os efeitos da associação das terapias de imagem motora e de movimento induzido por restrição na reeducação funcional do membro superior (MS) de um paciente com deficit sensorial e motor determinado por acidente vascular encefálico (AVE). A terapia de imagem motora (IM) consistiu em: 1o, estimulo visual do espelho, em 3 sessões semanais de 30 a 60 minutos por 4 semanas; e 2o, IM com prática mental, em 3 sessões semanais de 15 minutos por 3 semanas. Por último foi aplicada a terapia de indução ao movimento por restrição do membro superior não-afetado por 14 dias, em 10 dos quais foi feita atividade funcional do membro parético por 6 horas diárias. Além da avaliação clinica da sensibilidade e medida da força de preensão palmar, antes do tratamento e após cada modalidade de terapia foi medida a amplitude de movimentos de ombro, cotovelo e punho e aplicada a escala de avaliação motora (EAM). Os escores dos quatro momentos da coleta foram comparados estatisticamente. Após o tratamento os resultados mostraram diferença significativa (p<0,05) com aumento da amplitude de movimentos em todas as articulações do MS e na força de preensão palmar; redução no tempo de execução de tarefas da função de braço e mão na EAM; e recuperação clinica da sensibilidade, especialmente tátil e sensação de pressão. No paciente estudado a associação da IM e da terapia de movimento induzido por restrição foi eficaz na recuperação funcional do membro superior parético pós-AVE. DESCRITORES: Acidente cerebral vascular; Cura mental; Modalidades de fisioterapia; Paresia ABSTRACT: This study assessed the efficacy of the association of motor imagery and constraint-induced movement therapies in functional rehabilitation of the upper limb in a patient with somatosensory and motor deficits following stroke. Motor imagery (MI) therapy, i.e., mental simulation of body image, consisted in: 1st, mirror visual stimulus, at three 30-60-minute weekly sessions for four weeks; and 2nd, MI with mental practice, at three 15-minute sessions per week for three weeks. Lastly, constraint-induced movement therapy was applied for 14 days, in 10 of which the patient underwent 6 hours daily of paretic limb functional training. The patient was assessed at baseline and at the end of each therapy modality as to clinical examination of sensation; hand grip strength; shoulder, elbow and wrist range of motion; and the motor assessment scale (MAS) was applied. Scores obtained at the four assessment moments were statistically compared. Results showed significant differences (p<0.05) after treatment: increased range of motion at all upper limb joints, increased hand grip strength, decrease in time of task performance at MAS, and recovery of clinical sensation, especially tactile detection and pressure sense. The association of IM and constraint-induced therapies thus proved effective in functional rehabilitation of the upper limb of the poststroke patient with chronic hemiparesis. KEY WORDS: Mental healing; Paresis; Physical therapy modalities; Stroke Trevisan & Trintinaglia INTRODUÇÃO As doenças cerebrovasculares são a terceira causa mais comum de óbito em países em desenvolvimento, sendo precedidas somente pelas doenças cardiovasculares e neoplasias 1. O controle motor encontra-se particularmente afetado após o acidente vascular encefálico (AVE); a hemiparesia é o deficit motor mais freqüente, com modificações no tônus muscular e dispraxias2. A recuperação após o AVE é amplamente estudada quanto à melhora funcional, geralmente obtida nos três primeiros meses, enquanto o maior ganho na recuperação da sensibilidade tem sido observado nos primeiros seis meses pós-AVE3. No membro superior (MS), a reduzida recuperação funcional associada à perda sensorial explica-se, ao menos em parte, pelo mecanismo de “não-uso” aprendido, documentado em estudos com modelos humanos e animais com comprometimento somatossensorial4. Dentre as intervenções propostas para o MS parético após o AVE, revisões5,6 apontam que os treinamentos sensóriomotor e de reaprendizagem motora – o qual inclui o recurso à imagem mental, estimulação elétrica isolada ou em combinação com retroalimentação –, a participação do paciente em movimentos repetitivos, a introdução de novas tarefas e o treinamento motor no ambiente real podem ser efetivas na redução do comprometimento motor. Na terapia de imagem mental, quando o processo de imaginar o movimento de um objeto ou pessoa se refere ao movimento corporal, tem sido utilizado o termo imagem motora (IM)7. Na estratégia somatomotora, o sujeito sente a si próprio executando uma determinada ação: considera-se esse efeito uma retroalimentação (feedback) intrínseca, como a utilizada na pratica mental8. Liu et al.9 mostraram que o uso da IM na hemiparesia crônica propiciou maior (re)aprendizagem de tarefas treinadas e não-treinadas, aumento na habilidade de reter as tarefas treinadas e transferência destas para outras não-treinadas. Quando a simulação da imagem corporal se baseia na percepção visual do movimento imaginado8, considera-se como uma estratégia de imaginação externa, um feedback externo, como o efeito obtido Imagem motora e indução por restrição na hemiparesia pelo estímulo visual do espelho. Altschuler et al.10 referem que a terapia do espelho influenciou a recuperação motora da amplitude, velocidade e precisão dos movimentos do MS afetado na hemiparesia crônica. Esse efeito ocorreu por propiciar ao paciente um estímulo visual apropriado, possivelmente substituindo a propriocepção, a qual, com freqüência, se encontra diminuída ou mesmo ausente11. A hipótese subjacente é a de que o uso da IM pode consistir em uma estratégia de “cópia motora” para o MS parético, por um feedback externo com o uso do espelho, e um feedback interno com a prática mental de atividades funcionais. Na terapia de movimento induzido por restrição (MIR), o desenvolvimento da habilidade motora com aumento no uso do MS afetado após o AVE foi obtido 5,12 tanto por imobilização do MS intacto como por treinamento do MS afetado, procedimento baseado em pesquisas com primatas4,12. Este estudo teve por objetivo investigar o efeito da associação das terapias que recorrem à imagem motora e ao movimento induzido por restrição na reeducação funcional do MS afetado de paciente hemiparético crônico com deficit sensório-motor devido a AVE. METODOLOGIA Este é um estudo de sujeito único, aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Maria; o paciente assinou o termo de consentimento livre e esclarecido. Foram contatados por conveniência os pacientes com hemiparesia por seqüela de AVE que freqüentavam os serviços de reabilitação públicos e privados da cidade de Santa Maria, RS. Para compor a amostra foi selecionado o primeiro voluntário que preencheu os critérios de seleção: idade entre 40 e 60 anos; ausência de deficit cognitivo14; episódio de AVE há no mínimo 6 meses; comprometimento sensorial em, no mínimo, uma das modalidades sensoriais avaliadas; capacidade de realizar ativamente os movimentos de flexão de punho, extensão ativa metacarpofalangeana e interfalangeana de 10º e extensão de punho de 20º, necessárias a MIR4. O paciente do sexo masculino, com 43 anos, lateralidade esquerda, e AVE hemorrágico no córtex parietal direito, ocorrido há 30 meses, apresentava como seqüela hemiparesia esquerda com comprometimento predominantemente sensorial; somente a sensibilidade tátil encontrava-se preservada, na palma das mãos e ponta dos dedos, e a sensação de pressão no ombro. Essa condição clínica desenvolveu um deficit motor decorrente do evento e da imobilidade nas fases aguda e subaguda da recuperação, sendo ele completamente dependente da visão para realizar as atividades de vida diária. Apresentava fraqueza na musculatura intrínseca da mão, incoordenação e dificuldade de executar tarefas manuais. Não apresentava deficit de equilíbrio que pudesse ser agravado pela imobilização do MS não-afetado, não havia sido submetido a cirurgias no MS nem usava medicações que interferissem na função motora. Durante o estudo, o paciente não foi submetido a quaisquer outras modalidades de terapia voltadas para a reabilitação do MS. O estudo consistiu em avaliação inicial, intervenção e avaliação final após o tratamento13, além de duas avaliações durante a fase de intervenção. O estudo durou nove semanas: a terapia de IM foi executada no Laboratório de Cinesioterapia da instituição, sendo a terapia do espelho aplicada por quatro semanas e a prática mental, por três semanas; e a MIR foi aplicada por duas semanas no domicilio do paciente. Os procedimentos de avaliação do MS afetado consistiram em medir a amplitude de movimentos e a preensão palmar, bem como aplicar uma escala de funcionalidade. A sensibilidade (tátil, dolorosa, proprioceptiva, térmica, a pressão, discriminação de dois pontos, estereognosia, grafestesia e barognosia) e o tônus do hemicorpo afetado foi testado clinicamente. Foi mensurada a amplitude dos movimentos (ADM) ativo e passivo de ombro (flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa); cotovelo (flexão, extensão, pronação e supinação) e punho (flexão dorsal e palmar, desvio radial e ulnar), com flexímetro Sanny (American Medical do Brasil, São Bernardo do Campo, BR), de acordo com Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):264-9 2010;17(3) 265 as normas constantes no manual de utilização do equipamento (www.sanny.com.br/ downloads/manual_ flex.pdf). A funcionalidade do MS foi avaliada pela escala de avaliação motora15-17 (EAM) para a função de braço. Trata-se de um rol de três blocos de seis atividades cada, aos quais se atribui pontuação de zero a seis segundo o paciente realiza ou não a atividade; como o paciente realizava todas as atividades testadas, à exceção das atividades avançadas de mão 3 e 4, elas foram cronometradas para verificar sua evolução. Atividades para o braço: 1 protração de escápula com o braço em flexão de 90º; 2 - manter o MS em flexão de ombro em 90º durante 2 segundos; 3 - manter o braço em flexão de ombro em 90º, flexionando e estendendo o cotovelo para colocar a palma da mão na testa (todas na posição supino); 4 manter o MS estendido em flexão de avanço em 90º durante 2 segundos; 5 erguer o MS para a posição do item 4 e mantê-la por 10 segundos, ambas em posição sentada; e 6 - em pé, apoiar a mão na parede, fazendo abdução de ombro a 90º girando o corpo na direção da parede). Para avaliação da função da mão: 1 - sentado, levantar um objeto cilíndrico da mesa, estendendo o punho; 2 - levantar um objeto da mesa, fazendo desvio radial de punho; 3 pronar e supinar o antebraço com o cotovelo ao lado do corpo, sem apoio; 4 estender o corpo para frente, pegar uma bola de 14 cm de diâmetro com ambas as mãos e colocá-la sobre a mesa; 5 pegar um copo de isopor da mesa, transferir para a outra mão e colocá-lo de volta à mesa; e 6 - executar oposição continua do polegar com cada dedo. O terceiro bloco é de atividades avançadas da mão: 1 - pegar a tampa de uma caneta e colocá-la na mesa; 2 - pegar bolas de gude de uma xícara e colocar em outra; 3 - desenhar linhas horizontais até uma linha vertical; 4 - fazer pontos rápidos e consecutivos em uma folha de papel; 5 - colocar uma colher de sobremesa cheia de água na boca; e 6 pentear os cabelos na parte posterior da cabeça. A medida da força de preensão palmar foi tomada com esfigmomanômetro aneróide Missouri (Missouri Ind. Com., Embu, BR), cujo manguito se encontrava enrolado em uma espiral de 5 cm e inflado com 5 mmHG, documen- 2010;17(3):264-9 266 Fisioter Pesq. 2010;17(3) tando a força da pegada pela variação da pressão aferida17. O programa de tratamento consistiu na execução de exercícios ativos para o MS afetado utilizando inicialmente a terapia com IM usando espelho. O paciente realizava atividades bimanuais na postura sentada, com adequada altura da cadeira e mesa, sobre a qual foi posicionado um espelho (45 cm x 60 cm), interposto entre seus membros superiores10,18 estendidos. Na primeira semana foram executados movimentos bilaterais, no sentido próximo-distal, de acordo com suas possibilidades. A estratégia de aprendizagem reside na identificação da mão não-afetada refletida no espelho como sendo seu próprio MS afetado movendo-se livremente A movimentação era facilitada pelo terapeuta quando o paciente não conseguia executá-la ativamente. Nas três semanas subseqüentes, foram realizados movimentos bilaterais de MS isolados (extensão, abdução, rotações externa e interna de ombro etc.), seguidos de movimentos conjugados de todas as articulações do MS, com complexidade crescente, levando-se ainda em consideração as possibilidades de variabilidade de prática18. As sessões variaram de 30 a 60 minutos, conforme a evolução do paciente, três vezes por semana durante quatro semanas19. Na segunda etapa da IM foi utilizada a prática mental, na qual o paciente ouvia um CD de 12 minutos de duração com sugestões de imagens mentais, em ambiente silencioso, na posição supina, de olhos fechados, com supervisão do terapeuta nas duas primeiras sessões20. O tratamento consistiu em 2 a 3 minutos de relaxamento, sendo solicitado ao paciente que se imaginasse em um local tranqüílo e calmo, enquanto contraía e relaxava seus músculos (relaxamento progressivo) do pé, pernas, braços e mãos. Seguiam-se 5 a 7 minutos de sugestões de imagens internas cognitivovisuais, relacionadas ao uso do MS afetado em posição funcional. Durante a sugestão mental das tarefas, solicitavase ao paciente que recrutasse todos os seus sentidos, por exemplo; “sinta seus dedos em torno da borda do copo”, “imagine seu MS estendendo-se para frente e para cima em direção à pratelei- ra”. Após 2 minutos de concentração nas sensações percebidas de seu corpo, iniciava-se a contagem regressiva de 10 até 1, quando o paciente abria os olhos. O paciente recebeu um CD idêntico ao usado no laboratório para uso domiciliar duas vezes por semana21. Essa fase teve duração de três semanas21, utilizando dois protocolos de atividades diferentes, simulando mentalmente os movimentos de braço, mão e atividades funcionais com a mão, as quais faziam parte de sua rotina16,17, como movimentos de pegar objetos de diferentes tamanhos, desenho, atividades de alimentação e higiene. O paciente também continuou a prática da terapia com o espelho10,18 no domicílio, sendo instruído quanto aos exercícios que poderia realizar, mas sem supervisão profissional. Por fim, foi aplicada a MIR utilizando um equipamento (tala) que restringiu o uso do MS não-afetado durante 90% do tempo de vigília (pois o paciente utilizava dispositivo auxiliar de marcha, bengala) por 2 semanas; e a prática intensa de exercícios com o MS afetado por aproximadamente 6 horas diárias, além das atividades normais, por 10 dentre os 14 dias de restrição4. Durante essa fase do tratamento foram utilizados os mesmos roteiros de atividades para o membro afetado sugeridos na prática mental16,17. Os dados coletados foram analisados estatisticamente pelo teste de KruskalWallis, com nível de significância de 5% quanto às variações na média da amplitude articular e força de preensão palmar. Os tempos de execução das atividades na escala de avaliação motora e modificações na sensibilidade foram analisados por freqüência simples. RESULTADOS Na primeira avaliação clinica da sensibilidade, o paciente apresentou apenas sensibilidade tátil (em quatro das cinco regiões testadas) no MS parético. O número de respostas positivas às diferentes modalidades de sensibilidade começou a crescer após a IM. Os melhores resultados ocorreram no final do tratamento: após a MIR, a sensibilidade proprioceptiva, tátil, sensação de pressão e estereognosia foram referidas em Trevisan & Trintinaglia Imagem motora e indução por restrição na hemiparesia todas as regiões avaliadas. Não foram obtidas respostas quanto à discriminação de dois pontos; a sensibilidade térmica só não foi referida na palma da mão; e as respostas da grafestesia apresentaram-se mais proximais, ao contrário das de sensibilidade nociceptiva, que foram mais distais. da mão notou-se redução no tempo de execução, à exceção da 6, de oposição continua do polegar com cada dedo. Dentre as atividades avançadas de mão, merece menção a 6 (pentear os cabelos na parte posterior da cabeça), cujo tempo de execução reduziu-se em 91% após a intervenção. Quanto aos resultados obtidos na escala de avaliação motora EAM, em que apenas as atividades avançadas demão 3 e 4 não foram realizadas, verifica-se em geral uma redução no tempo de execução das tarefas, após as terapias realizadas. Esse efeito na recuperação da funcionalidade do paciente quanto a coordenação, agilidade e precisão do MS pode ser observado de forma incipiente após a terapia do espelho, sendo maior depois da prática mental, seguida pela MIR (Tabela 1). Dentre as tarefas do braço, foi encontrada redução no tempo de execução nas atividades 1, 3 e 6 – sendo nesta última, de apoiar a mão na parede enquanto girava o corpo em direção à parede, a redução mais notável (de 89%). Em todas as atividades referentes aos movimentos A ADM dos movimentos executados ativa e passivamente mostrou diferenças significativas com o tratamento. Na ADM ativa do ombro foi encontrado pós-IM (terapia do espelho) um maior ganho de amplitude (p<0,05), mantida ao longo do tratamento, na flexão, rotações externa e interna. Após a IM (prática mental) constatou-se diferença significativa (p<0,05) na ADM nos movimentos de abdução e rotação externa,bem como de abdução e flexão após a MIR. Foi observado aumento de ADM (p<0,05) do cotovelo pós-IM (terapia do espelho) na pronação e supinação, tendo-se mantido este último até o final do tratamento. Os movimentos de extensão e flexão de punho mostraram pós-IM (terapia do espelho) diferença significativa (p< 0,05), Tabela 1 Tempo (em segundos) de execução das atividades da escala de avaliação motora ao longo das quatro avaliações (Av) e percentual de redução (Red) da 1a para a última avaliação Função Atividade 1a Av 2a Av 3a Av 4a Av Red (%) Braço Mão Mão – atividades avançadas 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1,4 0,3 2,4 0,3 0,3 4,4 1,8 0,9 2,3 4,8 7,0 7,4 5,5 80,8 N N 18 9 0,8 0,3 1,3 0,3 0,3 2,5 0,5 0,7 1,3 3,1 6,0 8,4 4,1 63 N N 32 5 0,3 0,3 1,3 0,3 0,3 0,6 0,7 0,4 0,5 4,4 5,5 9,0 2,7 40,8 N N 13,4 1,8 0,3 0,3 1,5 0,3 0,3 0,5 0,3 0,4 0,5 1,2 3,7 8,0 2,4 32,5 N N 4,3 0,8 78,67 0,0 37,5 0,0 0,0 88,6 83,3 55,6 78,3 75,0 47,1 -8,1 56,4 59,8 76,1 91,1 2a Av = após a técnica de IM - espelho; 3a Av = após IM - prática mental; N = não realizou a atividade bem como o desvio radial e ulnar após a prática mental. Ao final da MIR, no desvio radial e flexão do punho notaram-se diferenças significativas (p< 0,05). Quanto à força da preensão palmar, avaliada apenas antes e após as terapias, foi observado um aumento significativo com o tratamento proposto (Tabela 2). Tabela 2 Força de preensão palmar (em mmHG) do MS afetado antes e depois da terapia Momento Antes Depois Medições Média p 10-11-18 15,66 0,05 51-56-59 55,33 p da comparação entre os dois momentos DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Este estudo teve por objetivo investigar o efeito da associação das terapias por IM e MIR na reeducação funcional do MS afetado de paciente hemiparético com deficit sensorial e motor devido a AVE crônico. Referências apontam que a percepção sensorial é essencial para o controle motor, pois garante o feedback necessário à precisão do movimento, evitando o “não-uso” do MS devido à diminuição ou perda somatossensorial5,17. Na IM, a terapia com o espelho proporcionou ao paciente visualizar a imagem de seu MS afetado movimentandose de maneira similar ao lado não-afetado. Esse feedback visual, junto com os constantes estímulos verbais, garantiu o início de um processo de “redescoberta” do feedback interno, favorecendo o ganho de mobilidade e coordenação10,21. Conforme os resultados das medidas de ADM, essa terapia proporcionou significativamente maior amplitude nos movimentos do MS afetado, como flexão anterior, rotações interna e externa do ombro, supinação, pronação e flexão do cotovelo e extensão do punho. Achados semelhantes para os movimentos de ombro21, cotovelo e punho19 foram referidos na literatura. Esse ganho na ADM também pode ser explicado pelo aumento da força e resistência muscular, decor- Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):264-9 2010;17(3) 267 rentes da prática de movimentos, pois a excitabilidade do córtex motor ipsilateral aumenta com o aumento da força de contração22,23. A etapa de IM com prática mental continuou a propiciar estímulos externos, motivando o paciente a recrutar todos os sentidos do corpo, contribuindo para a formação de um feedback intrínseco23, por meio de comandos externos de autopercepção corporal e de precisão na sensação do movimento, promovendo a reaprendizagem de tarefas funcionais que requerem integração sensorial e motora9, bem como da cognição24. Essa terapia também contribuiu para o ganho de ADM e a reaprendizagem ocorrida pode ser devida à melhora na atenção, decorrente de uma evolução no planejamento e execução das tarefas e da capacidade de processamento de informações, resultante da execução mental de imagens motoras das tarefas propostas9. A redução no tempo de execução das tarefas relacionadas à função de braço, mão e atividades avançadas da EAM16 sugere que a prática mental de tarefas que proporcionam feedback, na ausência parcial ou total deste devido a lesão, amenizam, ao menos em parte, o comprometimento sensorial. Isso propicia uma alternativa de reabilitação eficaz nesses pacientes. Os resultados positivos nas tarefas da EAM provavelmente ocorreram pelo fato de que todas as atividades mentais faziam parte da rotina do paciente, corroborando achados de Iestwaart et al. 24 . As informações cinestésicas fornecidas pela geração das imagens são mais facilmente processadas quando o paciente se encontra familiarizado com o movimento. Se isso não ocorre, os parâmetros necessários à precisão do movimento em nível central são insuficientes ou desconhecidos, de forma que o córtex motor minimiza a informação25. O processo de reeducação funcional continuou com a terapia do movimento induzido por restrição (MIR), que proporcionou um feedback intrínseco, na medida em que o paciente conseguiu executar tarefas “esquecidas” após o AVE, como recortar, empilhar objetos, abrir garrafas, entre outras. Esse avanço foi incrementado com a inclusão de atividades de reconhecimento tátil sem o auxílio visual e com mínimas instruções verbais, levando-o a reconhecer texturas e aumentando sua confiança em reconhecer os estímulos do ambiente. Referências12,26 descrevem ótimos resultados na recuperação do MS pós-AVE com aplicação da MIR, como o aumento do uso do MS afetado, melhora da coordenação e funcionalidade, mas esses estudos foram realizados em pacientes com comprometimento predominantemente motor. Estudos com estimulação magnética transcraniana sugerem que as áreas de representação cortical do MS parético, diminuídas de tamanho antes da intervenção, conseguiram ser modificadas por conexões intracorticais. Esse efeito foi transitório, de forma que um tempo maior de fortalecimento da atividade sináptica induzida pela terapia25 contribui de maneira mais significativa para o aumento da excitabilidade cortical. Sugerem-se duas razões para a recuperação na sensibilidade após a MIR: a neuroplasticidade induzida pela terapia e comprovada pela literatura4 e o fato de o protocolo utilizado incluir tarefas funcionais de agilidade, precisão e reconhecimento de objetos (forma, textura, temperatura). Revisões apontam que um grave deficit sensorial constitui uma das contra-indicações para a realização da MIR; no entanto, neste estudo de caso foi observada uma sensível modificação nas diferentes modalidades sensoriais, com exceção da discriminação de dois pontos. Os achados deste estudo não são generalizáveis devido à limitação de caso único, ausência de grupo controle e falta de investigação a respeito da manutenção dos resultados, fatores que devem ser controlados em estudos futuros. Os resultados satisfatórios em relação à sensibilidade, movimentação ativa, coordenação, agilidade, precisão e força de preensão encontrados neste paciente permitem recomendar a associação da terapia de imagem motora (espelho e prática mental) à terapia de movimento induzido por restrição, para sujeitos com MS parético pós-AVE, em especial com comprometimento sensorial. REFERÊNCIAS 1 Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares. Primeiro consenso brasileiro do tratamento da fase aguda do acidente vascular cerebral. Arq Neuropsiquiatr. 2001;59:972-80. 2 Teixeira INDAO. O envelhecimento cortical e a reorganização neural após o acidente vascular encefálico (AVE): implicações para a reabilitação. Cienc Saude Coletiva. 2008;13(Supl 2):2171-8. 3 Jørgensen HS, Hirofumi N, Raaschou HO, Jørgen VL, Søtoier M, Olsen T. Outcome and time course of recovery in stroke, part II: time course of recovery; the Copenhagen stroke study. 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Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):264-9 2010;17(3) 269 Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.17, n.3, p.270-6, jul/set. 2010 ISSN 1809-2950 Características biomecânicas, ergonômicas e clínicas da postura sentada: uma revisão Biomechanic, ergonomic, and clinical features of the sitting posture: a review Nise Ribeiro Marques1, Camilla Zamfolini Hallal1, Mauro Gonçalves2 Estudo desenvolvido no Laboratório de Biomecânica do Depto. de Educação Física da Unesp – Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro, RioClaro, SP, Brasil 1 Fisioterapeutas; mestrandas no PPG-Ft – Programa de PósGraduação em Fisioterapia, Depto. de Fisioterapia da Unesp – campus de Presidente Prudente, SP 2 Fisioterapeuta; Prof. Dr. do PPG-Ft, Depto. de Educação Física da Unesp Rio Claro ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Nise R. Marques Depto. de Educação Física/ Unesp Av. 24-A n. 1515 13506-900 Rio Claro SP e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO nov. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO abr. 2010 2010;17(3):270-6 270 Fisioter Pesq. 2010;17(3) RESUMO: A posição sentada é a mais adotada nos ambientes de trabalho, na escola e nas atividades de lazer. Porém, a manutenção prolongada dessa posição ocasiona a adoção de posturas inadequadas e sobrecarrega as estruturas do sistema musculoesquelético, o que pode acarretar dor e lesão na coluna lombar. A presente revisão teve como objetivo identificar os fatores biomecânicos, ergonômicos e clínicos envolvidos na sustentação da postura sentada. Para isso, foram consultadas as bases de dados ISI Web of Knowledge, Medline, Pubmed e EBSCO Host, sendo selecionados 72 artigos publicados entre 1965 e 2010. Foi possível identificar que na posição sentada não existe uma postura ideal a ser sustentada, mas algumas posturas são mais recomendadas do que outras, tal como a postura sentada ereta e a postura lordótica. As cadeiras influenciam o padrão da posição sentada: conforme seu design, pode permitir maior variedade de posturas. Modificações na cadeira e a utilização de exercícios para o aumento da resistência muscular e da propriocepção, bem como a reeducação postural, são intervenções úteis para reduzir o impacto causado pela posição sentada prolongada no sistema musculoesquelético. DESCRITORES: Biomecânica; Dor lombar; Engenharia humana; Fisioterapia (Especialidade); Postura ABSTRACT: The sitting posture is the most adopted in work environment, at school and in leisure activities. However, prolonged maintenance of this position causes the adoption of inadequate postures and overloads skeletal muscle structures, which may lead to spine pain and injuries. The purpose of the present review was to identify biomechanic, ergonomic, and clinical features involved in maintenance of the sitting position. The search in ISI Web of Knowledge, Medline, Pubmed and EBSCOHost data bases led to selecting 72 articles published between 1965 and 2010. Results show that there is not an ideal posture to be kept, but some postures are more recommended than others, like the upright sitting and the lordotic postures. Chairs influence the pattern of sitting, and their design allows for posture diversity. Changes in the chair, exercises to improve endurance and proprioception, as well as postural re-education, are useful interventions to reduce the impact of prolonged sitting position on the skeletal muscle system. KEY WORDS: Biomechanics; Human engineering; Low back pain; Physical therapy (Specialty); Posture Marques et al. Características da postura sentada INTRODUÇÃO O rápido desenvolvimento tecnológico nos países industrializados, a automação e a informatização dos postos de trabalho, que ocorreu a partir da segunda metade do século XX, foram grandes responsáveis pela adoção cada vez mais freqüente da posição sentada nos postos de trabalho1-3. Quando mantida por longos períodos, a posição sentada leva a prolongada sustentação da flexão lombar, redução da lordose nessa região e sobrecarga estática nos tecidos osteomioarticulares da coluna, fatores esses que estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da dor lombar4-7. A relação entre a posição sentada e a dor lombar estimulou o desenvolvimento de diferentes tipos de cadeiras para uma melhor adequação ergonômica. Alguns pesquisadores introduziram a idéia da utilização de cadeiras mais flexíveis e de bolas de exercícios, que permitiriam maior movimentação e auxiliariam na redução da sobrecarga estática na coluna vertebral8-10. Outros pesquisadores preferiram, no entanto, investir na modernização e adequação de assentos, encostos e suportes, que proveriam melhor estabilidade à coluna e diminuiriam a ocorrência de fadiga muscular11-14. Entretanto, apesar do desenvolvimento da ergonomia no que tange à confecção de cadeiras e móveis utilizados nos postos de trabalho, esses instrumentos foram pouco eficazes para a prevenção de dores lombares. Assim, atualmente, o principal foco para a redução da ocorrência desse sintoma musculoesquelético é a introdução da prática de exercícios e a adoção de programas de reeducação postural15. A presente revisão teve como objetivo identificar os fatores biomecânicos, ergonômicos e clínicos envolvidos na sustentação da postura sentada. METODOLOGIA Foi realizada busca de estudos científicos em inglês nas bases de dados ISI Web of Knowledge, Medline, Pubmed e EBSCOHost utilizando as palavras-chave: seat, electromyography and seat, intradiscal pressure and seat, prolonged sitting, anthropometr y and sitting posture, anthropometry and chair, sitting posture and biomechanics, sitting posture and chair, sitting posture and EMG, sitting posture and low back pain, sitting posture and human engineering e sitting posture and backache. Foram encontrados 72 artigos publicados entre 1965 e 2010, dos quais a maior parte, os mais significativos, são comentados e discutidos a seguir. A POSTURA SENTADA A Academia Americana de Ortopedia define postura como o estado de equilíbrio entre músculos e ossos com capacidade para proteger as demais estruturas do corpo humano de traumatismos, seja na posição em pé, sentado ou deitado. A postura também pode indicar a posição relativa dos segmentos corporais durante o repouso ou atividade. Assim, a manutenção de uma boa postura durante uma atividade específica depende de uma interação complexa entre as funções biomecânicas e neuromusculares16. Uma boa postura deve ser aquela que previne movimentos compensatórios, distribui adequadamente as cargas e conserva energia. Entretanto, apesar da grande aceitação clínica dos aspectos que influenciam a formação de uma boa postura, pouco se sabe acerca de métodos quantitativos para caracterizá-la17. A posição sentada, por sua vez, é definida como a situação na qual o peso corpóreo é transferido para o assento da cadeira por meio da tuberosidade isquiática, dos tecidos moles da região glútea e da coxa, bem como para o solo por meio dos pés15. No entanto, sentar é uma ação dinâmica que deve ser vista como um comportamento e não somente como uma condição estática18. A posição sentada é estudada há vários séculos e os conceitos acerca de uma postura ideal nessa posição se alteraram ao longo de décadas. No século XIX a crença na necessidade de sentar-se com as costas retas refletiu-se no design do mobiliário escolar da época, que apresentava encostos verticais e assentos horizontais planos. No século XX, o foco na adequação ergonômica das cadeiras aumentou, sendo desenvolvidos assentos e encostos com formatos que se adéquam melhor ao corpo humano. As cadeiras passaram a possuir molas e amortecedores para aumentar a possibilidade de movimentação e o conforto11. Para entender melhor a posição sentada, vários pesquisadores classificaram essa posição de acordo com diferentes pontos de referência. Harrison et al.19 utilizou o posicionamento do centro de massa (CM) e classificou a posição sentada em três diferentes posturas: a anterior, caracterizada pelo posicionamento do CM à frente da tuberosidade isquiática e obtida quando a pelve é antevertida; a posterior, caracterizada pela posição posteriorizada do CM em relação à tuberosidade isquiática e obtida com o movimento de retroversão da pelve; e a medial, que é caracterizada pelo posicionamento do CM coincidente com a tuberosidade isquiática e ocorre quando a coluna lombar está em posição neutra. Pynt et al.15 classificaram a posição sentada de acordo com as curvaturas da coluna em: postura sentada flexionada, que ocorre quando há inversão da curvatura normal da coluna lombar, o que gera uma cifose nessa região; e postura lordótica, que ocorre com a manutenção da curvatura lombar normal. O’Sullivan et al.20 e Callaghan e Dunk21 também classificaram a posição sentada conforme as curvaturas da coluna em: postura lombo-pélvica sentada ereta, definida como a postura na qual a pelve, a lordose lombar e a cifose torácica estão em posição neutra (Figura 1A); em postura sentada em relaxamento (slump), caracterizada pela retroversão da pelve, o que reduz a lordose lombar (Figura 1B); e em postura torácica ereta, com a anteversão da pelve, que gera um aumento da curvatura lombar (Figura 1C). Além da postura, outro aspecto importante ao analisar a posição sentada é o tempo em que esta é sustentada22. Várias mudanças na postura são recomendáveis para não gerar desconforto ou fadiga e o tempo médio de intervalo entre duas trocas consecutivas deveria ser de 5 minutos23. Além disso, a permanência nessa posição por mais de quatro horas re- Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):270-6 2010;17(3) 271 A Figura 1 B C (A) Postura sentada lombo-pélvica ereta ou lordótica, com pelve e coluna lombar em posição neutra; (B) postura sentada relaxada (slump), com retroversão pélvica e redução da curvatura lombar; (C) postura torácica ereta, com anteversão pélvica e aumento da curvatura da coluna lombar15,21,22 presenta um risco para o desenvolvimento de dor lombar24. Variáveis biomecânicas O posicionamento das curvaturas da coluna está relacionado com a distribuição das cargas. A postura sentada reta, na qual os ângulos dos quadris, tronco, joelhos e tornozelos são mantidos em 90º, cria tensão nos isquiotibiais e nos glúteos, o que causa retroversão da pelve, horizontaliza o ângulo sacral e retifica a lordose lombar. Isso gera um aumento das cargas compressivas no disco intervertebral, além de acarretar fadiga dos eretores espinhais (músculos que devem estar ativos para manter a postura sentada ereta)15. A postura sentada cifótica da coluna lombar, caracterizada quando o ângulo entre as vértebras S1 e L1 é menor ou igual a 22º, aumenta em 85% a pressão intradiscal (PID). A carga compressiva e a manutenção por mais de seis horas na postura cifótica reduz a altura do disco em 2,1 mm25,26. Essa redução na altura do disco intervertebral pode acarretar degeneração discal27,28. A postura sentada lordótica, caracterizada pela manutenção de um ângulo de aproximadamente 47º de lordose lombar, apresenta redução da PID, quando comparada à postura cifótica. Essa redução na PID é resultado da baixa tensão nos ligamentos posteriores e redução da atividade dos músculos extensores da 2010;17(3):270-6 272 Fisioter Pesq. 2010;17(3) coluna29. No entanto, estudos recentes mostraram que esta apresenta valores semelhantes na posição em pé e sentada. Isso está relacionado com o tipo de método utilizado na mensuração da PID30. Na década de 1960, os valores encontrados por Nachemsom30, que utilizou transdutor líquido de polietileno, foram de 1,24 MPa na posição sentada, enquanto Wilke et al.31, no final da década de 1990, que utilizaram transdutores piezoresistivos, encontraram valores de 0,5 MPa para a postura em pé e 0,6 MPa para a postura sentada. Além disso, um estudo que mediu a PID por meio de transdutores de agulha identificou uma ampla variação nos valores médios entre os sujeitos, além de verificar valores menores de PID na posição sentada em relação à posição em pé32. Assim, se a posição sentada é um fator causal da dor lombar, isso não pode ser diretamente relacionado aos efeitos dessa posição na PID32. Estudos eletromiográficos também demonstraram que as posturas com aumento ou redução na curvatura lombar, quando comparadas a postura com essa curvatura em posição neutra, apresentam menor atividade dos músculos oblíquo interno e multífidos lombares superficiais33,34. Além disso, a manutenção da postura neutra também auxilia o controle neuromuscular dessa região17. Aspectos ergonômicos Na posição sentada, a maior parte do peso do corpo é transferida para uma área de suporte na tuberosidade isquiática e tecidos moles. Assim, se não houver um apoio correto na região lombar, a pressão intradiscal pode ser elevada em até 35%35,36. Para reduzir a pressão intradiscal é necessária a inclinação para trás do encosto e a presença de suporte lombar adequado37,38. Os suportes lombares, apoios de braços, inclinação do assento e do encosto, a liberdade para movimentação, as cadeiras com regulagem de altura e o assento curvado anteriormente têm sido apontados como componentes ergonômicos redutores da sobrecarga no sistema musculoesquelético na posição sentada e estão associados à elevação das taxas de conforto39,40. Os suportes lombares de até 3 cm promovem maior apoio para essa região e previnem a diminuição da curvatura lombar. Nesse sentido, Goossens et al.41 utilizaram eletromiografia para verificar a influência do suporte escapular no efeito do suporte lombar. Para isso utilizaram cinco diferentes distâncias (0, 2, 4, 6 e 8 cm) entre a tangente do apoio lombar e a tangente paralela do apoio escapular (Figura 2), sendo essas distâncias chamadas de espaço livre para o ombro. Os autores concluíram que o espaço livre para o ombro deve ser de pelo menos 6 cm para permitir melhor adaptação ao contorno da coluna e fornecer apoio lombar41. A Figura 2 representa os efeitos do suporte lombar na maior distância (A), na intermediária (B) e na menor distância Marques et al. Características da postura sentada B A dA=8 cm C dB=4 cm dC=0 Figura 2 Diferentes distâncias de espaço livre para ombro na postura sentada41 (C) de espaço livre para os ombros. Resultados de estudos sobre a atividade eletromiográfica e das pressões intradiscais revelaram que o ângulo de inclinação assento/encosto deve ser de aproximadamente 120º horizontalmente, considerando a região posterior do assento no máximo 10º inclinada para trás. A altura correta do assento deve ser menor que a distância do joelho ao pé, o que elimina a pressão na fossa poplítea42. Os encostos devem estar um pouco abaixo dos ombros (pelo menos 6 cm) para evitar que ocorra extensão na coluna lombar com um conseqüente aumento na lordose dessa região, gerando assim anteriorização da vértebra L5 (Figura 3)42. 10º 120º Figura 3 Adaptações ergonômicas na cadeira de escritório42 As cadeiras dinâmicas, que têm molas e amortecedores, aumentam a possibilidade de movimentação do indivíduo na posição sentada. Isso contribui para a difusão dos nutrientes através da placa vertebral terminal, o que promove a nutrição do disco intervertebral9,10,43. O uso de bolas de exercícios em comparação ao uso de cadeiras de escritório convencionais não apresenta diferenças significativas na atividade eletromiográfica dos músculos do tronco10,44. Entretanto, sentar-se em uma bola de exercícios gera coativação dos músculos flexores e extensores de quadril, o que possibilita maior estabilidade da coluna lombar e melhor controle neuromuscular44. A antropometria também é outro fator que deve ser levado em consideração. Vários estudos recentes sugerem que existe uma incompatibilidade entre as medidas antropométricas e o mobiliário encontrado em escolas e postos de trabalho. Nesse sentido, são recomendadas a utilização de mesas e cadeiras equipadas com mecanismos ajustáveis de altura e largura45-47. Efeitos no sistema musculoesquelético A estabilidade da região lombopélvica ocorre pela ação interdependente de três subsistemas: o passivo, composto pelas estruturas articulares da coluna; o ativo, composto pelos músculos do tronco; e o neural, formado pelas estruturas do sistema nervoso. Assim, quando algum desses subsistemas apresenta falha, os demais operam de modo compensatório para manter a estabilidade48. No entanto, se essas compensações ultrapassarem os limiares fisiológicos das estruturas, gerando sobrecarga mecânica, ocorrerá lesão48. A adoção de posturas inadequadas na posição sentada altera a atividade muscular e desencadeia mecanismos que põem em risco a integridade do sistema musculoesquelético. Snidjers et al.49 documentaram uma redução na atividade eletromiográfica do músculo oblíquo interno quando compararam a posição sentada ereta à posição sentada com as pernas cruzadas, sugerindo que isso reflete o maior recrutamento das estruturas passivas para estabilizar a articulação sacroilíaca49. O funcionamento do subsistema neural, composto por mecanorreceptores e nervos, também é afetado pela sobrecarga das estruturas passivas. Segundo Gedalia et al.50, quando as estruturas viscoelásticas se apresentam sobrecarregadas e deformadas, a sensibilidade dos mecanorreceptores diminui e há perda na resposta reflexa dos multífidos, comprometendo a estabilidade e propriocepção local. Para tentar reduzir o impacto da postura sentada nas estruturas osteomioarticulares, algumas posturas são apontadas como mais saudáveis, como a postura lordótica, que diminui a pressão intradiscal, a degeneração do disco e exibe menores níveis de lesão por tensão ligamentar15. Além disso, movimentos como estender as pernas e colocar um tornozelo sobre o outro contribuem para prover estabilidade à pelve e coluna lombar19. No entanto, apenas a adoção de uma boa postura e a utilização de mobiliário correto não são medidas suficientes para reduzir a sobrecarga nos tecidos osteomioarticulares. Um bom condicionamento do sistema muscular também é necessário para prover estabilidade à coluna15. Nesse sentido, Pelham et al.51 e Womersley et al.52 sugeriram que no tratamento da dor lombar de origem postural as condutas mais indicadas seriam a interrupção de longos períodos na posição sentada, adequação do mo- Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):270-6 2010;17(3) 273 biliário e a realização de exercícios e técnicas manipulativas, como por exemplo o método McKenzie. Além da dor lombar, outros sintomas e doenças musculoesqueléticas estão presentes em indivíduos que mantêm a postura sentada por longo tempo. Dores no pescoço, costas, joelhos e coxas são comuns entre os motoristas de ônibus (entre 35 e 60%) com jornada de trabalho de 9 a 10 h por dia durante cinco dias na semana53. Portanto, intervenções com exercícios que aprimorem a resistência muscular e a propriocepção, bem como a reeducação postural, são atualmente utilizadas para diminuir os efeitos negativos da posição sentada prolongada15. CONCLUSÃO O sentar é uma situação dinâmica que deve ser vista como um comportamento e não somente como uma condição estática. Assim, na posição sentada não existe uma determinada postura a ser sustentada. Entretanto, algumas posturas são mais recomendadas do que outras, tais como a postura sentada ereta e a postura lordótica. Além disso, um tempo de manutenção da postura sentada maior que quatro horas pode representar um risco para o sistema musculoesquelético. As cadeiras também influenciam o comportamento de sentar, sendo que algumas permitem maior troca de posturas. Acessórios como suportes lomba- res e apoios para braços, bem como a inclinação e a altura do encosto e do assento são componentes ergonômicos que reduzem a carga mecânica na coluna durante a posição sentada. Posturas inadequadas, fadiga muscular, baixa propriocepção e sobrecarga nas estruturas osteomioarticulares causadas pela posição sentada prolongada são fatores de risco para o aparecimento de dor e lesão lombar. Dessa forma, um conjunto de medidas como modificações no mobiliário, exercícios para o aumento da resistência muscular e propriocepção, bem como a reeducação postural são intervenções importantes para reduzir o impacto do sentar no sistema musculoesquelético. REFERÊNCIAS 1 Graf M, Guggenbühl U, Krueger H. An assessment of seated activity and postures at five workplaces. Int J Ind Ergon. 1995;15(2):81-90. 2 Li G, Haslegrave CM. Seated work postures for manual, visual and combined tasks. Ergonomics. 1999;42(8):1060-86. 3 4 5 Hartivigsen J, Lebouf-Yde C, Lings S, Corder EH. 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Pesq. 2010;17(3):270-6 2010;17(3) 275 Referências (cont.) 43 Van Deurseir DL, Lengsfeld M, Snidjers CJ, Goossens RH. Mechanical effects of continuous passive motion on the lumbar spine in seating. J Biomech. 2000;33:695-9. 44 Gregory DE, Dunk NM, Callaghan JP. Stability ball versus office chair: comparison of muscle activation and lumbar spine posture during prolonged sitting. Hum Factors. 2006;48(1):142-53. 45 Saarni L, Nygård CH, Kaukiainen A, Rimpelä A. Are the desks and chairs at school appropriate? Ergonomics. 2007;50(10):1561-70. 49 Snidjers CJ, Slagter AHE, van Striker R. Why leg crossing? The influence of common postures on abdominal muscle activity. Spine. 1995;20:1989-93. 50 Gedalia U, Solomonow M, Zhou BH, Baratta RV, Lu Y, Harris M. Biomechanics of increased exposure to lumbar injury caused by cyclic loading, part 2: recovery of reflexive muscular stability with rest. Spine. 1999;24:2461-7. 46 Agha SR. School furniture match to students' anthropometry in the Gaza Strip. 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Henrique Monteiro 135 apto 81 Pinheiros 05423-020 São Paulo SP e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO fev. 2009 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2010 RESUMO: A diminuição da força muscular com o envelhecimento e os baixos níveis de atividade física contribuem para défices funcionais e de equilíbrio. Esta revisão sistemática teve como objetivo analisar os estudos que correlacionaram o treino resistido (TR) isolado, o equilíbrio e a função de idosos saudáveis. A busca nas bases do Google Acadêmico e na BVS levou à seleção de 35 estudos controlados. O TR isolado mostrou ser relevante para a função dos idosos (90% dos estudos) devido sobretudo ao ganho de força e mobilidade. Exercícios de baixa e moderada intensidade tiveram melhores resultados sobre a função de idosas, frágeis e sedentários. Em relação ao equilíbrio, apesar da inconsistência dos dados, o TR parece exercer efeitos positivos, sobretudo devido a fatores neuromusculares. Estudos com parâmetros de treino e amostra uniformes são necessários para melhor comparação dos resultados, sobretudo em idosos com padrão funcional elevado. DESCRITORES: Equilíbrio postural; Força muscular; Idoso; Treinamento de resistência ABSTRACT: Muscle strength decrease in aging and low physical activity levels may be an indicator of balance deficits and functional limitations. The purpose of this systematic review was to assess the effects of resistance training (RT) alone on balance performance and functional capacity in healthy elderly. The search in Google Scholar and BVS led to selecting 35 controlled trials. The RT alone showed to have positive effects (90% of the studies) on functional tasks in elderly, associated with increases in strength and mobility. Moderate and low-intensity exercise could produce functional capacity benefits in older women, frail and sedentary elderly. Despite the inconsistency of data, resistance training appears to exert positive effects on balance, especially through neuromuscular factors. Standardization of methodology and homogeneity of sampling may ensure greater comparability of results, especially among elderly with high physical functional level. KEY WORDS: Aged; Muscle strength; Postural balance; Resistance training Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):277-83 2010;17(3) 277 INTRODUÇÃO O envelhecimento é um processo inexorável e multifatorial1, que inclui fatores genéticos e ambientais influenciados por doenças e hábitos deletérios à saúde2. No mundo, estima-se que o número de idosos atinja 2 bilhões em 2050, mas sabe-se que o envelhecimento pode cursar com perdas de capacidades que repercutem negativamente nas atividades de vida diária (AVD)3. A OMS definiu incapacidade funcional como a dificuldade de realizar atividades típicas e pessoalmente desejadas4. A função, um dos parâmetros de qualidade de vida dos idosos5, pode beneficiar aspectos físicos, psicológicos e cognitivos6. A avaliação da funcionalidade incide sobre o desempenho de atividades e funções em diferentes áreas, dentre as quais as tarefas da vida cotidiana, as interações sociais, as atividades de lazer e outras requisições do dia-a-dia3. Os idosos apresentam decréscimo da força muscular oriundo de mecanismos musculares, neurológicos ou ambientais7. A hipotrofia e o enfraquecimento decorrem, em parte, da redução do número e tamanho das fibras musculares, principalmente do tipo II b (sarcopenia)8. O envelhecimento saudável é resultante da interação entre saúde física e mental9. Assim, a atividade física tornase relevante para a autonomia e interação social10. Dentre os tipos de atividade física encontra-se o treino resistido, definido como uma modalidade de exercícios na qual são executados movimentos contra uma força de oposição11. A força e a potência se manifestam na maioria das AVD, sendo primordiais para a função, independência e qualidade de vida12. Os défices funcionais podem estar associados à diminuição e baixos níveis de atividade física13. Os exercícios com sobrecarga podem compensar a redução de força dos idosos e proporcionar ganhos funcionais14. O treino resistido (TR) pode aumentar a força mesmo em curtos períodos devido, supostamente, a adaptações neurais15. O deficit de força pode ocasionar redução da velocidade da marcha e aumentar o risco de quedas16,17. O equilíbrio também é relevante para as AVD18. 2010;17(3):277-83 278 Fisioter Pesq. 2010;17(3) Os sistemas responsáveis pelo equilíbrio são alterados com o envelhecimento, vulnerabilizando os idosos a défices funcionais19. Cerca de 65% dessa população tem alguma sensação de perda de equilíbrio20. Os efeitos de diferentes tipos de exercícios sobre equilíbrio e função são alvo de diversos estudos21-26, mas sem um desfecho concludente sobre muitos aspectos. Com base na importância da qualidade de vida, esta revisão teve como objetivo analisar os estudos que correlacionaram o fortalecimento muscular isolado (por meio de qualquer modalidade de TR), o equilíbrio e a função de idosos saudáveis. O estudo justifica-se pelas lacunas existentes na literatura, visto que não há consenso expresso sobre os benefícios dos exercícios exclusivamente resistidos sobre as variáveis supracitadas. METODOLOGIA Efetuou-se uma revisão sistemática mediante a busca de estudos no site http:/ /scholar. google.com.br e na Biblioteca Virtual em Saúde (http://www.bireme.br), pelos descritores: strength, weight e resistance training, postural balance, functional ability e aged (só em inglês). As bases de dados resultantes e pertinentes ao estudo foram: Medline, Lilacs, Biblioteca Cochrane, Scielo, MedCaribe e PubMed. Os ensaios controlados e estudos que preencheram os subseqüentes critérios de inclusão foram considerados estudos experimentais, observacionais, revisões sistemáticas e metanálises, que incluíram força ou TR exclusivo, com o objetivo de analisar sua influência sobre o equilíbrio e/ou função; trabalhos cuja população-alvo era de idosos com 60 anos ou +, de ambos os sexos e saudáveis pela ausência de senilidade sistêmica sintomática. Estudos que associaram outro tipo de treino, mas que tinham o TR isolado como uma de suas intervenções, foram incluídos. Excluíram-se os trabalhos com objetivos ou desfechos que não consideraram força, equilíbrio, TR ou função. Utilizou-se a escala da PEDro como medida de avaliação qualitativa dos artigos selecionados (pontuação de 0 a 10)27. RESULTADOS No período de 1966 a 1997 foram encontrados 169 artigos, e de 1997 a 2008, 193, totalizando 362 artigos. Após aplicação dos critérios de inclusão, 35 estudos foram selecionados. Outros 22 foram discriminados para a introdução e discussão. Os resultados são resumidos a seguir, agrupando os estudos por analogia temática e tipo de estudo. Os estudos referentes ao TR isolado, função e força de idosos saudáveis23,2836 estão sintetizados no Quadro 1 (10 estudos). Aqueles referentes ao TR isolado, equilíbrio, marcha e quedas de idosos saudáveis37-55 (19) estão agrupados no Quadro 2. Dois estudos observacionais foram selecionados. Iverson et al.56, ao avaliarem a força em 54 idosos com idade média de 75 anos, concluíram que há uma relação positiva entre força dos membros inferiores, equilíbrio e prevenção de quedas. O torque dos extensores de quadril foi o único que se relacionou com as variáveis analisadas. Keskin et al.57 avaliaram a força flexora e extensora do joelho dominante e a capacidade física de 31 idosas, concluindo que a força flexora e extensora de joelho não interfere nas quedas, sobretudo em idosas com alto padrão funcional. Finalmente, outros quatro estudos consistiam em revisões sistemáticas ou metanálises. Province et al.25, em uma metanálise, observaram que as intervenções que continham treino de equilíbrio foram as únicas capazes de reduzir as quedas. Dias et al.15 concluíram que a força pode ser aprimorada com poucas semanas de treino e que o treino com pesos beneficia a flexibilidade, a resistência aeróbia e a prevenção de quedas. Lathan et al.14 revisaram 62 estudos controlados que focalizavam os efeitos do TR como intervenção primária em idosos. Concluíram que o TR é eficaz no aumento da força e velocidade da marcha (14 estudos), e levemente benéfico para limitações funcionais. Orr et al.22 efetuaram a primeira metanálise sobre o efeito isolado do TR no equilíbrio de idosos. Selecionaram 29 trabalhos controlados e randomizados que examinavam TR e equilíbrio em idosos; após o Araújo et al. Efeitos do treino resistido em idosos Quadro 1 Estudos sobre o treinamento resistido (TR) isolado, função e força de idosos saudáveis Autoria, ano Skelton et al. 1995 28 Chandler et al. 1998 29 Brandon et al. 2000 30 Carmeli et al. 2000 23 Westhoff et al. 2000 31 Brandon et al. 2004 32 De Vreede et al. 2005 33 Sousa e Sampaio 2005 34 Capodaglio et al. 2007 35 Henwood et al. 2008 36 Sujeitos: N total, controles (C), TR: duração, frequência, modalidade; intensidade randomizados (R); idade média (Im); sexo (F% de mulheres) Im Duração e Modalidade Intensidade (I) N, C e R (anos) F (%) frequência 12 sem; Elásticos e sacos 70% RM, 4-8 rep, 3 N=47 C=23 79, 5 100 3 x/sem de arroz séries R=24 Benefícios* Pontos na escala Sim (S), PEDro Não (N) S 5 N=100 R=50 77,6 C=50 50 10 sem; 3 x/sem Faixas elásticas I moderada, 6-10 rep, 3 séries S 6 N=85 R=43 C=42 72 NI 16 sem NI “TR progressivo”; séries, rep NI S 6 N=57 R=28 C=29 82,7 57,1 12 sem NI NI S 5 N=26 C=12 R=14 76,5 “> F” 10 sem; 3 x/sem Faixas elásticas I baixa, 4-8 rep, 1 a 3 séries S 5 N=55 R=30 C=25 71,6 71 I moderada; 50 a 70% RM; 12 rep, 3 séries S 5 N=98 R=34 C=31 74 100 12 sem; 3 x/sem Elásticos e peso livre I moderada, 10 rep, 3 séries N (Função) 6 N=20 R e C NI 74 0 14 sem; 3 x/sem Musculação I moderada; 50 a 80 de RM; 12 rep, 2-3 séries S 3 N= 58 R=38 C=20 77 50 48 sem; 3 x/sem Musculação e faixas elásticas I moderada; 60% RM; séries, rep NI S 6 N=67 R e C NI 74,5 NI 24 sem; 2 x/sem TR com velocidade; NI I NI; 6 exercícios; séries, rep NI S 3 104 sem; 2-3 x/sem Musculação * Benefícios sobre força muscular e função; Sem = semanas; x/sem = vezes por semana; NI = não informado; Rep = repetições; RM = resistência máxima; >= “maioria” TR, em cerca de 22% estudos observouse melhora do equilíbrio maior que nos controles; referem que, apesar de o TR ser usado para melhorar a sarcopenia e o equilíbrio, há uma inconsistência de dados. DISCUSSÃO Os estudos consultados são aqui brevemente discutidos focalizando a funcionalidade e o equilíbrio. Funcionalidade O TR isolado demonstrou ser relevante para a função de idosos (90% dos estudos)23,28-32,34-36, sobretudo por seu decorrente ganho de força e mobilidade. O TR a longo prazo demonstrou ser desnecessário para ganhos funcionais. Todavia, a brevidade dos programas pode inviabilizar contribuições adicionais sobre a saúde, qualidade de vida e autonomia funcional. Sob esse ponto de vista, a educação sobre a importância da atividade física é inerente ao envelhecimento saudável. Os TR de baixa31 e moderada intensidade29,32,34,35 também beneficiaram o desempenho funcional, especialmente nas idosas, frágeis e sedentários29,31,35,45. Isso sugere que a função não está ligada integralmente aos efeitos isolados da força, fato justificado pela observação em alguns casos, de um desempenho funcional satisfatório, mesmo com um ganho de força limitado. Acredita-se que benefícios adicionais só serão viabilizados por outros fatores requeridos para a função, como o treino sensório-motor. Em idosos com elevado grau de independência, o impacto e os parâmetros do TR não são consensuais, mas acredita-se que o treino de alta intensidade pode ser eficaz. Há carência de estudos discriminando os grupos musculares requisitados para a estabilidade postural em diversas atividades. Equilíbrio A interdependência do TR com o equilíbrio é um tema controverso, assim como os parâmetros de treino e as modificações do equilíbrio após a prática do TR isolado. A intensidade do trei- no14,46-48,51 parece exercer mais efeito do que o volume, tempo e freqüência. O TR de baixa intensidade parece ser ineficaz41,54, mas o TR de baixa e alta intensidade realizados com velocidade elevada52 e o TR moderado37,38 foram capazes de melhorar o equilíbrio em alguns estudos, sobretudo nos idosos frágeis50 e do sexo feminino38,51. Em idosos com um alto padrão funcional, os resultados são controversos14. Alguns autores sugerem que o TR de alta intensidade, por ser relevante para o controle postural em situações variadas, pode diminuir o risco de quedas44,48. Em relação à velocidade da marcha, os TR de alta, moderada e baixa intensidade foram benéficos14,42-44,47,49. Alguns trabalhos que agregaram o TR aos treinos de equilíbrio, potência ou função tiveram bons resultados, assim como o treino de equilíbrio isolado25,51,53. A posição e a estabilidade durante o TR parecem influenciar o ganho de equilíbrio, uma vez que os exercícios realizados em pé demandam uma ativação contínua dos músculos antigravitacionais, podendo produzir melhores efeitos15,21,39. O monitoramento dos treinos Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):277-83 2010;17(3) 279 Quadro 2 Estudos sobre o treinamento resistido (TR) isolado, equilíbrio, marcha e quedas de idosos saudáveis Sujeitos: N total, controles (C), Benefícios* Pontos TR: duração, frequência, modalidade; intensidade randomizados (R); idade ména Autoria, ano dia (Im); sexo (F% de mulheres) escala Sim (S), PEDro Im Duração e Modalidade Intensidade (I) N, C e R Não (N) (anos) F (%) frequência I moderada (TRP); 10 rep, 12 sem; Elástico cirúrgico N=63 R=31 Topp et al. S (Equi) 6 71 55 2-3 séries 3 x/sem C=32 1993 37 Skelton & McLaughlin, 1996 38 N=20 R=10 C=10 Elásticos e bolas 62 14 sem; 3x/sem 12 sem; 3 x/sem I moderada (TRP); 10 rep, N (Equi) 1 a 3 séries Musculação e sacos de 70 – 75 % RM; 8 rep, 2 N (Equi) areia séries 6 N =105 R=25 75 C=30 51 24 sem; 3 x/sem Musculação 50 - 60% RM e 75 % RM; N (Equi) 10 rep, 2 séries 7 N=131 R=40 73,6 C=51 65 40 sem; 3 x/sem Peso livre; musculação; I NI (infere-se baixa); 3 cinturão com pesos séries S (Mar) 5 77,7 24 sem; 3 x/sem Faixas elásticas I baixa; 10 rep, séries NI S (Mar) 6 60 e 80% RM; 8 rep, 3 séries S (Mar e Que) 6 N=61 R=32 71,5 C=29 Wolfson et al. N=110 R=27 79 C=27 1996 40 Topp, 199639 Buchner et al. 1997 41 Rooks et al. 1997 42 Jette et al. 1999 43 Taaffe et al. 1999 44 Schlicht et al. 2001 45 Barret e Smerdely, 2002 46 Bean et al. 2004 47 I moderada; 4-8 rep, 3 séries 8 sem; 3 x/sem 81 N=215 R=107 C=108 75 100 55 S (Equi) Theraband 24 sem; de N=53 R=39 69,5 35,8 1 a 3 x/sem Musculação C=14 5 4 58 8 sem, 3 x/sem Musculação 75% RM; 10 rep, 2 séries N (Equi) 5 N=44 R=22 66,6 C=22 75 10 sem; 2 x/sem Peso livre I alta; 6 rep, 2-3 séries S (Equi) 8 N=21 R=11 C=10 78 100 12 sem; 3 x/sem “Weightened vest” (roupa com pesos) S (Mar) 6 Liu-Ambrose N=104 R=34 C=? et al. 2004 48 79 100 25 sem; 2 x/sem Musculação I moderada; 10 rep, 3 séries I alta: 50 a 60% RM (1015 rep) e 75 a 85% RM (6-8 rep); 2 séries S (Equi e Que) 6 N=72 R=50 78,8 91,8 C=22 10 sem; 3 x/sem Faixas elásticas I baixa; 4-8 rep, 3 séries S (Mar) 4 N=27 R=13 C=14 10 sem NI Holviala et al. N=48 R=26 63,8 100 C=22 2006 51 21 sem; 2x/sem Musculação N=112 R=84 Orr et al. 68,5 C=28 2006 52 N=30 R=15 Krebs et al. 73,5 C=15 2007 53 N=180 R=120 Woo et al. 69,5 C=60 2007 54 Shigematsu et N=39 R-20 69,5 C=19 al. 2008 55 10 sem; 2 x/sem Musculação TR em MMII; I, séries, rep S (Equi) NI I alta ( força isométrica máxima e rep de RM na S (Equi) mesa extensora; rep NI 50 a 70% RM e 50 a 80% S (Equi) RM; 8 rep, 3 séries 8 TRP N (Equi) 6 Boshuizen et al. 2005 49 Hess et al. 2006 50 N=24 R=12 C=12 72 NI NI 61 NI 6 sem; 3-5 x/sem Faixas elásticas 7 4 50 48 sem; 3 x/sem Theraband I baixa; 6 exercícios, 1 série cada; 30 rep N (Equi e Que) 6 NI 12 sem; 2 x/sem Agachamento NI S (Que) 4 * Benefícios sobre marcha (Mar), quedas (Que) ou equilíbrio (Equi); Sem = semanas; x/sem = vezes por semana; NI = não informado; Rep = repetições; RM = resistência máxima; >= “maioria”; TRP = Treino resistido progressivo por profissionais também mostrou ser relevante38,49. Apesar das referidas limitações e lacunas, acredita-se que o TR possa ser uma boa ferramenta para o equilíbrio, fato supostamente advindo de aspectos neuromusculares como a melhora da freqüência de disparos de unidades motoras e do recrutamento de fibras musculares. 2010;17(3):277-83 280 Fisioter Pesq. 2010;17(3) CONCLUSÃO A função, o equilíbrio e a qualidade de vida são resultados da interação de fatores psíquicos, socioculturais, físicos e ambientais. A intensidade do TR deve ser criteriosamente definida quando o objetivo é a melhora do equilíbrio, pois este parece ser influenciado pela magnitude dos treinos. É indiscutível que o TR, além de seguro, é capaz de melhorar a sarcopenia e a força. Além disso, tem fácil aplicabilidade e baixo custo. O TR isolado se mostrou eficaz para a função de idosos e alguns aspectos da marcha. Já em relação ao equilíbrio, os dados são inconsistentes, corroborando Araújo et al. a metanálise de Orr et al.22. A subjetividade do termo “idosos saudáveis” pode sugerir a existência de resultados falsopositivos. Há necessidade de estudos adicionais sobre o equilíbrio, a fim de determinar a relação dose-resposta ideal Efeitos do treino resistido em idosos para os benefícios psicológicos e clínicos em idosos de diferentes níveis funcionais e de independência. Os reais efeitos do TR isolado sobre o equilíbrio e função poderão ser alcançados com uma amostra populacional separada em faixas etárias e sexo, uniformização dos parâmetros de treino e distinção dos principais grupos musculares necessários para seu controle. Isso se torna pertinente sobretudo em idosos com um padrão elevado de desempenho funcional. REFERÊNCIAS 1 Jacob-Filho W, Fló C, Santarém JM, Monaco T. Atividade física e envelhecimento saudável. São Paulo: Atheneu; 2006. 2 Silva MM, Silva VH. Envelhecimento: importante fator de risco para o câncer. Arq Med ABC. 2005;33(1):11-8. 3 Duarte YAO, Andrade CL, Lebrão ML. 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Aust J Physiother. 2002;48(3):215-9. 47 Bean JF, Herman S, Kiely DK, Frey IC, Leveille SG, Fielding RA, et al. Increased velocity exercise specific to task (InVEST) training: a pilot study exploring effects on leg power, balance, and mobility in communitydwelling older women. J Am Geriatr Soc. 2004;52(5):799-804. 48 Liu-Ambrose T, Khan KM, Eng JJ, Janssen PA, Lord SR, McKay HA. Resistance and agility training reduce fall risk in women aged 75 to 85 with low bone mass: a 6month randomized, controlled trial. J Am Geriatr Soc. 2004;52(5):657-65. Araújo et al. Efeitos do treino resistido em idosos Referências (cont.) 49 Boshuizen HC, Stemmerik L, Westhoff MH, HopmanRock M. The effects of physical therapists guidance on improvement in a strength-training program for the frail elderly. J Aging Phys Act. 2005;13(1):5-22. 50 Hess JA, Woollacott M, Shivitz N. Ankle force and rate of force production increase following high-intensity strength training in frail older adults. Aging Clin Exp Res. 2006;18(2):107-15. 51 Holviala JH, Sallinen JM, Kraemer WJ, Alen MJ, Hakkinen KK. Effects of strength training on muscle strength characteristics, functional capabilities and balance in middle-aged and older women. J Strength Cond Res. 2006;20(2):336-44. 52 Orr R, de Vos NJ, Singh NA, Ross DA, Stavrinos TM, Fiatarone-Singh MA. Power training improves balance in healthy older adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2006;61A(1):78-85. 53 Krebs DE, Scarborough DM, McGibbon CA. Functional x strength training in disabled elderly outpatients. Am J Phys Med Rehabil. 2007;86(2):93-103. 54 Woo J, Hong A, Lau E,Lynn H. A randomised controlled trial of Tai Chi and resistance exercise on bone health, muscle strength and balance in community-living elderly people. Age Ageing. 2007;36:262-8. 55 Shigematsu R, Okura T, Sakai T, Rantanen T. Squarestepping exercise versus strength and balance training for fall risk factors. Aging Clin Exp Res. 2008;20(1):1924. 56 Iverson BD, Gossman MR, Shaddeau SA, Turner ME. Balance performance, force production and activity levels in non-institutionalized men 60 to 90 years. Phys Ther. 1990;70:348-55. 57 Keskin D, Borman P, Ersoz M, Kurtaran A, Bodur H, Akyuz M. The risk factors related to falling in elderly females. Geriatr Nurs. 2008;29(1):58-63. Fisioter Fisioter Pesq. Pesq. 2010;17(3):277-83 2010;17(3) 283 ERRATA No artigo Influência do treinamento excêntrico nas razões de torque de flexores/extensores de joelho de autoria de Fábio J. Lanferdini, Clarice S. dos Santos Rocha, Viviane B. Frasson e Marco Aurélio Vaz, publicado em Fisioterapia e Pesquisa v.17, n.1, p.40-5, jan/mar. 2010, por falha na produção, não foi publicada a Tabela 1, mencionada à p.42: “A Tabela 1 mostra os valores de torque absoluto, as razões Iexc:Qexc, a variação absoluta e a variação relativa ou percentual das razões Iexc:Qexc do GE em relação à primeira avaliação...” Tabela 1 Torque (em Nm, média ± desvio padrão) de flexores e extensores do joelho do grupo experimental (n=11) nas quatro avaliações, aumento absoluto e relativo em relação à primeira avaliação, e razão Iexc:Qexc Aval. Torque Aumento Torque Aumento Razão Flex (Nm) Absol (Nm) Rel (%) Ext (Nm) Absol (Nm) Rel (%) Iexc:Qexc 1a 136±45 2a 145±32 9 7 303 ±84 *59 24 *0,49±0,05 3a 150±31 14 10 313 ±65 *69 28 *0,49±0,10 - - 244 ±89 - - 0,56±0,09 4a 155±41 18 14 327 ±74 *83 34 *0,47±0,06 Aval = avaliação; Flex = flexores; Ext = extensores; Absol = absoluto; Rel = relativo; Iexc:Qexc = razão de torque entre isquiotibiais e quadríceps; * p<0,05 284 Fisioter Pesq. 2010;17(3) INSTRUÇÕES PARA AUTORES A revista FISIOTERAPIA E PESQUISA, editada pelo Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, prioriza a publicação de pesquisas originais, cujos resultados possam ser replicados, publicando também ensaios de revisão sistemática ou crítica de literatura, relatos de casos e cartas ao editor. Os manuscritos apresentados à Revista devem ser originais, redigidos em português. Caso uma versão semelhante, em qualquer língua, já tiver sido publicada ou enviada a outro veículo, essa informação deve constar da folha de rosto, para que o Conselho Editorial possa ponderar sobre a pertinência de sua publicação. Processo de julgamento Todo manuscrito enviado para FISIOTERAPIA E PESQUISA é examinado pelo Conselho Editorial, para consideração de sua adequação às normas e à política editorial da Revista. Os manuscritos que não estiverem de acordo com estas normas serão devolvidos aos autores para adequação antes de serem submetidos à apreciação dos pares. Em seguida, o manuscrito é apreciado por dois pareceristas de reconhecida competência na temática abordada, garantindo-se o anonimato de autores e pareceristas. Dependendo dos pareceres recebidos, os autores podem ser solicitados a fazer ajustes (no prazo de um mês), que serão examinados para aceitação. Uma vez aceito, o manuscrito é submetido à edição de texto, podendo ocorrer nova solicitação de ajustes formais – nesse caso, os autores têm o prazo máximo de duas semanas para efetuá-los. O não-cumprimento dos prazos de ajuste será considerado desistência, sendo o artigo retirado da pauta da Revista. Os manuscritos aprovados são publicados de acordo com a ordem cronológica do aceite na secretaria da Revista. Responsabilidade e ética O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsabilidade de seus autores. Artigos de pesquisa envolvendo sujeitos humanos devem indicar, na seção Metodologia, sua expressa concordância com os padrões éticos e com o devido consentimento livre e esclarecido dos participantes (de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata do Código de Ética para Pesquisa em Seres Humanos). As pesquisas com humanos devem trazer na folha de rosto o número do parecer de aprovação pela respectiva Comissão de Ética em Pesquisa, que deve estar registrada no Conselho Nacional de Saúde. Estudos envolvendo animais devem explicitar o acordo com os princípios éticos internacionais e instruções nacionais (Leis 6638/79, 9605/98, Decreto 24665/34) que regulamentam pesquisas com animais. A menção a instrumentos, materiais ou substâncias de propriedade privada deve ser acompanhada da indicação de seus fabricantes. A reprodução de imagens ou outros elementos de autoria de terceiros, que já tiverem sido publicados, deve vir acompanhada da autorização de reprodução pelos detentores dos direitos autorais; se não acompanhados dessa indicação, tais elementos serão considerados originais do/s autor/es do manuscrito. Autoria Deve ser feita explícita distinção entre autor/es e colaborador/es. O crédito de autoria deve ser atribuído a quem preencher os três requisitos: (1) deu contribuição substantiva à concepção, desenho ou coleta de dados da pesquisa, ou à análise e interpretação dos dados; (2) redigiu ou procedeu à revisão crítica do conteúdo intelectual; e (3) deu sua aprovação final à versão a ser publicada. No caso de trabalho realizado por um grupo ou em vários centros, devem ser identificados os indivíduos que assumem inteira responsabilidade pelo manuscrito (que devem preencher os três critérios acima e serão considerados autores). Os nomes dos demais integrantes do grupo serão listados como colaboradores. A ordem de indicação de autoria é decisão conjunta dos co-autores. Em qualquer caso, deve ser indicado o endereço para correspondência do autor principal. A carta que acompanha o envio dos manuscritos deve ser assinada por todos os autores, tal como acima definidos. Envio dos manuscritos Os manuscritos devem ser submetidos por via eletrônica pelo site www.mdpesquisa.com.br/RFP. Ao submeter um manuscrito para publicação os autores devem enviar: Declaração de responsabilidade, de conflitos de interesse e de autoria do conteúdo do artigo. Os autores devem declarar a existência ou não de eventuais conflitos de interesse (profissionais, financeiros e benefícios diretos e indiretos) que possam influenciar os resultados da pesquisa e a responsabilidade do(s) autor(es) pelo conteúdo do manuscrito. Declaração de transferência de direitos autorais (copyright) para Fisioterapia e Pesquisa, assinada por todos os autores, com os respectivos números de CPF, caso o artigo venha a ser aceito para publicação. No caso de ensaio clínico, informar o número de registro validado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), cujos endereços estão disponíveis no site do ICMJE: www.icmje.org/faq.pdf. Preparação dos manuscritos 1 Apresentação – O texto deve ser digitado em processador de texto Word ou compatível, em tamanho A4, com espaçamento de linhas e tamanho de letra que permitam plena legibilidade. O texto completo, incluindo páginas de rosto e de referências, tabelas e legendas de figuras, deve conter no máximo 25 mil caracteres com espaços. Fisioter Pesq. 2010;17(3) 285 2 A página de rosto deve conter: a) título do trabalho (preciso e conciso) e sua versão para o inglês; b) título condensado (máximo de 50 caracteres) c) nome completo dos autores, com números sobrescritos remetendo à afiliação institucional e vínculo; d) instituição que sediou, ou em que foi desenvolvido o estudo (curso, laboratório, departamento, hospital, clínica etc.), faculdade, universidade, cidade, estado e país; e) afiliação institucional dos autores (com respectivos números sobrescritos); no caso de docência, informar título; se em instituição diferente da que sediou o estudo, fornecer informação completa, como em “d)”; no caso de não-inserção institucional atual, indicar área de formação e eventual título (a Revista não indica em quê nem em qual instituição o título foi obtido); d) endereços postal e eletrônico do autor principal; e) indicação de órgão financiador de parte ou todo o estudo, se for o caso; f) indicação de eventual apresentação em evento científico; g) no caso de estudos com seres humanos, indicação do parecer de aprovação pelo comitê de ética; no caso de ensaio clínico, o número de registro internacional. 3 Resumo, abstract, descritores e key words – A segunda página deve conter os resumos do conteúdo em português e inglês. O resumo em português deve ocupar o máximo de 1.500 caracteres com espaços (cerca de 220 a 230 palavras). Resumo e abstract devem ser redigidos em um único parágrafo, buscando-se o máximo de precisão e concisão; seu conteúdo deve seguir a estrutura formal do texto, ou seja, indicar objetivo, procedimentos básicos, resultados mais importantes e principais conclusões. São seguidos, respectivamente, da lista de até cinco descritores e key words (sugerese a consulta aos DeCS – Descritores em Ciências da Saúde da Biblioteca Virtual em Saúde do Lilacs (http://decs.bvs.br) e ao MeSH – Medical Subject Headings do Medline (www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html). 4 Estrutura do texto – Sugere-se que os trabalhos sejam organizados mediante a seguinte estrutura formal: a) Introdução, estabelecendo o objetivo do artigo, justificando sua relevância frente ao estado atual em que se encontra o objeto investigado; b) em Metodologia, descrever em detalhe a seleção da amostra, os procedimentos e materiais utilizados, de modo a permitir a reprodução dos resultados, além dos métodos usados na análise estatística – lembrando que apoiar-se unicamente nos testes estatísticos (como no valor de p) pode levar a negligenciar importantes informações quantitativas; c) os Resultados são a sucinta exposição factual da observação, em seqüência lógica, em geral com apoio em tabelas e gráficos – cuidando tanto para não remeter o leitor unicamente a estes quanto para não repetir no texto todos os dados dos elementos gráficos; d) na Discussão, comentar os achados mais importantes, discutindo os resultados alcançados comparando-os com os de estudos anteriores; e) a Conclusão sumariza as deduções lógicas e fundamentadas dos Resultados e Discussão. 286 Fisioter Pesq. 2010;17(3) 5 Tabelas, gráficos, quadros, figuras, diagramas – são considerados elementos gráficos. Só serão apreciados manuscritos contendo no máximo cinco desses elementos. Recomenda-se especial cuidado em sua seleção e pertinência, bem como rigor e precisão nos títulos. Note que os gráficos só se justificam para permitir rápida apreensão do comportamento de variáveis complexas, e não para ilustrar, por exemplo, diferença entre duas variáveis. Todos devem ser fornecidos no final do texto, mantendo-se neste marcas indicando os pontos de sua inserção ideal. As tabelas (títulos na parte superior) devem ser montadas no próprio processador de texto e numeradas (em arábicos) na ordem de menção no texto; decimais são separados por vírgula; eventuais abreviações devem ser explicitadas por extenso, em legenda. Figuras, gráficos, fotografias e diagramas trazem os títulos na parte inferior, devendo ser igualmente numerados (em arábicos) na ordem de inserção. Abreviações e outras informações vêm em legenda, a seguir ao título. 6 Remissões e referências bibliográficas – Para as remissões no texto a obras de outros autores adota-se o sistema de numeração seqüencial, por ordem de menção no texto. Assim, a lista de referências ao final não vem em ordem alfabética. Visando adequar-se a padrões internacionais de indexação, para apresentação das referências a Revista adota a norma conhecida como de Vancouver, elaborada pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, disponível em http:// www.icmje.org/index.html#references. Alguns exemplos: Forattini OP. Ecologia, epidemiologia e sociedade. São Paulo: Edusp; 1992. Laurenti R. A medida das doenças. In: Forattini OP, editor. Epidemiologia geral. São Paulo: Artes Médicas; 1996. p.64-85. Simões MJS, Farache Filho A. Consumo de medicamentos em região do Estado de São Paulo (Brasil), 1988. Rev Saude Publica. 1988;32:71-8. Riera HS, Rubio TM, Ruiz FO, Ramos PC, Castillo DD, Hernandez TE, et al. Inspiratory muscle training in patients with COPD: effect on dyspnea and exercise performance. Chest. 2001;120:748–56. [nomear até seis autores antes de “et al”] Rocha JSY, Simões BJG, Guedes GLM. Assistência hospitalar como indicador da desigualdade social. Rev Saude Publica [periódico on-line] 1997 [citado 23 mar 1998];31(5). Disponível em: http://www.fsp.usp.br/ ~rsp. Correia FAS. Prevalência da sintomatologia nas disfunções da articulação temporomandibular e suas relações com idade, sexo e perdas dentais [dissertação]. São Paulo: Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo; 1991. Sacco ICN, Costa PHL, Denadai RC, Amadio AC. Avaliação biomecânica de parâmetros antropométricos e dinâmicos durante a marcha em crianças obesas. In: VII Congresso Brasileiro de Biomecânica, Campinas, 2830 maio 1997. Anais. Campinas: Ed. Unicamp; 1997. p.447-52. 7 Agradecimentos – Quando pertinentes, dirigidos a pessoas ou instituições que contribuíram para a elaboração do trabalho, são apresentados ao final das referências. Apresentação eletrônica da versão final Após a comunicação do aceite do artigo, o autor deverá proceder aos eventuais ajustes sugeridos pelos pareceristas, para o quê terá o prazo de quatro semanas (findo esse prazo, se a versão final não tiver sido enviada à Revista, será considerada desistência). A versão final será ainda editada, ocasião em que o editor poderá solicitar novos ajustes e esclarecimentos – e, nesse caso, o prazo para os ajustes será de apenas duas semanas. Solicita-se que, na preparação da versão final, o autor: • use fonte comum, simples; use itálico apenas para títulos de obras e palavras em língua estrangeira; o negrito é reservado a títulos e intertítulos, claramente diferenciados; • não use a barra de espaço para recuos nem a tecla “tab”, apenas recursos de formatação do processador de texto; • não separe parágrafos com sinal de parágrafo adicional; • use o próprio processador de texto (e não planilhas) para elaborar tabelas; • use o próprio processador de texto (recurso “Desenho”) para elaborar diagramas simples, organogramas etc. (não insira figuras ou organogramas do Microsoft PowerPoint®); • inversamente, use programa apropriado (como Microsoft® Excel) para elaborar gráficos, e não o recurso “Gráficos” do processador de texto; • no caso de gráficos ou diagramas elaborados por softwares específicos, devem ser convertidos (exportados) em formatos que possam ser abertos por programas de uso comum (verifique os tipos de arquivos que podem ser aber- tos no Adobe Photoshop®, para figuras em escala de cinza, no CorelDraw®, para desenhos, ou no Excel® ou Origin®, para gráficos), para permitir eventuais ajustes, adequação de fonte etc.; • forneça fotografias ou outras ilustrações com resolução mínima de 300 dpi, e em tamanho compatível; • em qualquer caso, forneça simultaneamente um arquivo em TIFF do elemento gráfico, para permitir visualização e conferência. Envio dos arquivos Os dados de texto (em Word ou compatível) e de ilustrações devem ser enviados em arquivos separados. Os dados devem ser acompanhados da informação precisa de todos os programas utilizados, inclusive de compressão, se for o caso; sugere-se que os nomes dos arquivos sejam curtos e permitam rápida identificação (por exemplo, “sobrenome do autor fig1....”). Exemplares dos autores Será enviado ao autor principal um exemplar do número da Revista em que seu artigo for publicado, mais um exemplar para cada co-autor. *** No bojo do processo de aprimoramento de FISIOTERAPIA E PESQUISA, estas normas estão em construção, podendo sofrer alterações. Para informação atualizada, sugere-se a consulta ao site da Revista (http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php) ou às instruções do último número publicado. Para contato com a secretaria da Revista, use [email protected]. O endereço completo da Revista encontra-se na terceira capa, a seguir. Assinatura Para assinar Fisioterapia e Pesquisa, preencha o cupom abaixo e envie-o à revista, junto com um cheque nominal à Fundação Faculdade de Medicina (ver endereço ao lado, na 3a capa) no valor de R$ 64,00 ou recibo de depósito no Banespa (banco 033), agência 0201, cc 13004086-7. A ficha de assinatura está disponível no site da revista: <http://www.fm.usp.br/fofito/ mostrahp.php?origem=fofito&xcod=Revista%20FISIOTERAPIA%20e%20PESQUISA&dequem=Paginas%20Internas>. Números anteriores solicitar à revista. Valor unitário: R$ 16,00. FICHA DE ASSINATURA Assinatura anual (quatro números) de Fisioterapia e Pesquisa a contar de (data) _________________________ Nome: _______________________________________________________________________________________ Endereço: _____________________________________________________________________________________ CEP: ______________ Cidade: ___________________________________________________ Estado: _______ e-mail: _______________________________________________________________________________________ Instituição (opcional): __________________________________________________________________________ Fisioter Pesq. 2010;17(3) 287 O que é PEDro? PEDro, Phisiotherapy Evidence Database, é uma base de dados eletrônica gratuita de evidências relevantes em fisioterapia. PEDro permite acesso rápido a mais de 16.500 estudos clínicos aleatorizados, revisões sistemáticas e diretrizes de prática clínica em fisioterapia, fornecendo, quando possível, resumo e link para o texto completo de cada documento indexado. Todos os estudos clínicos na PEDro são avaliados para fins de classificação de qualidade. Esses critérios de qualidade permitem aos usuários identificar de forma rápida os estudos que mais possivelmente contenham informações válidas e úteis para guiar a prática clínica. PEDro é gratuita. E PEDro está disponível em português: www.pedro.org.au/portuguese PHYSIOTHERAPY EVIDENCE DATABASE CONHEÇA VISITE CONSULTE CONTRIBUA 288 Fisioter Pesq. 2010;17(3) Fisioterapia e Pesquisa Fisioterapia e Pesquisa em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. Revista do Curso de Fisioterapia do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Fofito/FMUSP UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor Prof. Dr. João Grandino Rodas Vice-Reitor Prof. Dr. Hélio Nogueira da Cruz SECRETARIA Sarah Rúbia Ferreira de Meneses INDEXAÇÃO E NORMALIZAÇÃO BIBLIOGÁFICA Serviço de Biblioteca e Documentação da FMUSP e-mail: [email protected] Faculdade de Medicina Diretor Prof. Dr. Marcos Boulos EDIÇÃO DE TEXTO, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Tina Amado, Alba A. G. Cerdeira Rodrigues e Daniel Carvalho Pixeletra ME Depto. Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional IMPRESSÃO Chefe Profa. Dra. Selma Lancman Gráfica UNINOVE Tiragem: 500 exemplares Curso de Fisioterapia Coordenadora Profa. Dra. Carolina Fu FISIOTERAPIA E PESQUISA Fisioterapia e Pesquisa v.17, n.3, jul/set. 2010 Fisioterapia e Pesquisa / (publicação do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) v.1, n.1 (1994). – São Paulo, 2005. v. : il. Continuação a partir de v.12, n.1, 2005 de Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. Semestral: 1994-2004 Quadrimestral: a partir do v.12, n.1, 2005 Trimestral: a partir do v.15, n.1, 2008 Sumários em português e inglês ISSN 1809-2950 Curso de Fisioterapia Fofito/FM/USP R. Cipotânea 51 Cidade Universitária 05360-160 São Paulo SP Brasil e-mail: [email protected] http://www.fm.usp.br/fofito → Periódicos Telefone: 55 xx 11 3091 8416 INSTITUIÇÕES COLABORADORAS INSTITUIÇÕES PARCEIRAS FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO / USP ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL APOIO 1. FISIOTERAPIA/periódicos I. Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Filiada à FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ISSN: 1809-2950 FISIOTERAPIA e PESQUISA REVISTA DE FISIOTERAPIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ÓRGÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS DO BRASIL Volume 17 – número 3 Julho – Setembro 2010
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