Pelos caminhos da história - UNIDADES 4 E 5
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Pelos caminhos da história - UNIDADES 4 E 5
CAPÍTULO 16 O Primeiro Reinado, 246 CAPÍTULO 17 O turbulento Período Regencial, 262 CAPÍTULO 18 O início do Segundo Reinado, 280 Frei Caneca? Revolu;’ao Na imagem acima, Frei Caneca Revolução de 1824. Painel de Cícero Dias, 1981. Na imagem maior, paisagem de Debret. 245 O Primeiro Reinado O processo de formação do Estado Nacional brasileiro se deu de maneira bastante peculiar. Segundo o historiador Evaldo Cabral de Mello, a emancipação política do Brasil não foi resultado de movimentos nacionalistas. Para ele, o Estado exerceu função central na formação social e politica do país. Diferentemente do dinamismo contemporâneo, o surgimento do Estado Brasileiro ocorreu antes do aparecimento dos movimentos nacionalistas e, particularmente, precedendo a sociedade brasileira. Portanto, Evaldo Cabral concluiu que “o Brasil fez-se império antes de se fazer nação”. O período que vai da proclamação da Independência em 1822 à proclamação da República em 1889 ficou conhecido como Brasil Império. A designação império deve-se à imensa extensão territorial, e não ao fato de corresponder o domínio de várias nações, como, por exemplo, o Império Russo. Alguns historiadores dividem o período em primeiro e segundo império, uma vez que a maneira mais adequada é Primeiro e Segundo Reinado, em referência aos governos, respectivamente, de D. Pedro I e D. Pedro II. Debret, Cerimônia de coroação de dom Pedro I como imperador do Brasil. Vale salientar também, que a independência não foi um simples “presente” de Portugal. Alguns historiadores defendem que embora tenha existido um “comprometimento” com o governo português, a emancipação gerou despesas exorbitantes para o Brasil, devido ao pagamento de indenização a Coroa Portuguesa e aos mercenários europeus que desempenharam relevante papel nas lutas de reconhecimento da independência nas províncias da Bahia, Piauí, Pará, Maranhão e Cisplatina (atual Uruguai). Essas regiões se recusavam a reconhecer a o governo de D. Pedro I. “A Independência não foi, portanto, uma vitória incruenta, nem se limitou à guerra da Bahia, pois havia que contar com as forças estacionadas no Sul, especialmente em Montevidéu; todas, exceto as do Maranhão, foram pagas e sustentadas com as rendas do Rio de Janeiro. A Independência é o fruto de uma guerra não é dádiva de Portugal, nem um presente da Casa de Bragança”. José Honório Rodrigues 246 Ser brasileiro O que existia antes da emancipação na América portuguesa eram sentimentos antilusitanos e noções de identidade regional, ou seja, as pessoas ficavam contra os portugueses em linhas gerais e se identificavam com o local que haviam nascido, isto é, consideravam-se pernambucanos, paulistas, mineiros. De maneira geral, não havia a noção do que era ser brasileiro. Os regionalismos e a dificuldade da formação de uma identidade nacional foram reforçados pela dimensão territorial, os problemas de comunicação que contribuía para o isolamento entre a população. A Independência do Brasil não foi procedida de um projeto de integração nacional. O Estado brasileiro surgiu com o propósito de atender os privilégios das elites, que enxergaram na Monarquia um meio de proteger seus interesses e manter os grupos mais radicais afastados. “A ideia de pátria manteve-se ambígua até mesmo depois da independência. Podia ser usada para denotar o Brasil ou as províncias. Um deputado mineiro, Bernardo Pereira de Vasconcelos, insuspeito de separatismo, falando a seus conterrâneos referia-se a Minas Gerais como ‘minha pátria’, em contraste com o Brasil, que seria o ‘Império’. A distinção é reveladora: a identificação emotiva era com a província, o Brasil era uma construção política, um ato de vontade movido antes pela mente que pelo coração”. CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. p.77. Divergências entre as elites No decorrer do Primeiro Reinado, as diferentes facções políticas, representando diversos grupos elitistas, iniciaram uma acirrada disputa pelo poder, uma vez que mesmo alcançando a autonomia político, foi mantida no Brasil estrutura estatal montada pelos portugueses. Apesar das divergências políticas e dos interesses em jogo, de modo geral o objetivo comum era implantar um Estado forte que pudesse afastar qualquer ameaça revolucionária, conforme analisou a historiadora Maria Odila Dias: “(...) pânico de uma revolta escrava incontrolável, as profundas disparidades entre os vários setores da população, homens livres e escravos, homens de ascendência europeia, outros de origem africana e indígena, levaram os proprietários rurais a protegerem-se sob o manto de um Estado capaz de manter o controle através da força, garantindo a dominação da elite branca. Elite que se espelhava nas sociedades europeias e sonhava em criar um país à sua imagem e semelhança, a despeito da sociedade escravocrata e mestiça”. Após a culminação da independência surgiram dois “partidos”, o português e o brasileiro que tiveram importante atuação ao longo dos acontecimentos posteriores à emancipação política. A rigor, esses grupos consistiam em correntes de opiniões, não podendo, desse modo, ser classificados ideologicamente como partidos políticos. O “partido português” era formado por comerciantes portugueses, por burocratas e membros do alto escalão do Exército. Os integrantes desse grupo pretendiam manter os privilégios concedidos durante o período colonial, eram favoráveis o retorno de D. Pedro a Portugal e a implantação de medidas recolonizadoras. Já o “partido brasileiro” era composto essencialmente por comerciantes, burocratas, grandes proprietários de terras, investidores urbanos e advogados, nascidos em Portugal ou no Brasil. Esse grupo expressava os desejos dos que se beneficiaram com a chegada da família real em 1808. Suas principais reivindicações iam desde a liberdade comercial até o reconhecimento e respeito a igualdade política e jurídica alcançada em 1815 pela elevação do Brasil a Reino Unido. Posteriormente, dissidentes dessa facção formaram o Partido Liberal Radical, que não era efetivamente nem “partido”, nem “liberal” e muito menos “radical”. Os atritos entre os grupos políticos portugueses e brasileiros se estenderam até as Cortes de Lisboa, onde os reinóis eram muito mais favorecidos. Das 205 vagas na Assembleia, apenas 75 pertenciam ao Brasil, sendo que destas, 25 permaneciam desocupadas. Entre os principais representantes brasileiros estavam Cipriano Barata, Antônio Carlos Andrada, padre Diogo Antônio Feijó e Nicolau de Campos Vergueiro. Eles tiveram que entrar em choque com os “liberais” portugueses, que pretendiam reconduzir o Brasil à condição de colônia e restabelecer o monopólio comercial. Entretanto, em outubro de 1822, alguns parlamentares brasileiros se recusaram a jurar a Constituição portuguesa. 247 O reconhecimento da independência Os Estados Unidos, em 1824, foram os primeiros a reconhecerem a independência brasileira. Os norte-americanos seguiam os princípios da Doutrina Monroe e pregavam o critério da não-intervenção das potências europeias na América. Segundo alguns historiadores, tratava-se de uma reposta às medidas da Santa Aliança de intervenção no continente americano apoiando a Espanha e Portugal em suas pretensões de manter seus domínios coloniais. Em contrapartida, a Doutrina Monroe também foi avaliada por muitos historiadores como uma medida inicial para o futuro imperialismo dos Estados Unidos em relação aos países americanos. Em 1825, com mediação da Inglaterra, Portugal reconheceu a emancipação do Brasil por intermédio de uma série de exigências, aceitas por D. Pedro I. Nesse contexto, os ingleses também fizeram várias reivindicações, entre elas a renovação dos Tratados de 1810 e o comprometimento do governo brasileiro de extinguir o tráfico de escravos em curto prazo. Em seguida, outros países passaram a reconhecer a independência do Brasil. “Na Europa, o liberalismo era uma ideologia burguesa voltada contra as instituições do Antigo Regime, os excessos do poder real, os privilégios da nobreza, os entraves do feudalismo ao desenvolvimento da economia. No Brasil, as idéias liberais teriam um significado mais restrito, não se apoiariam nas mesmas bases sociais, nem teriam exatamente a mesma função. Os princípios liberais não se forjaram, no Brasil, na luta da burguesia contra os privilégios da aristocracia e da realeza. Foram importados da Europa. Não existia no Brasil da época uma burguesia dinâmica e ativa que pudesse servir de suporte a essas ideias. Os adeptos das ideias liberais pertenciam às categorias rurais e sua clientela. As camadas senhoriais empenhadas em conquistar e garantir a liberdade de comércio e a autonomia administrativa e judiciária não estavam, no entanto, dispostas a renunciar ao latifúndio ou à propriedade escrava. A escravidão constituiria o limite do liberalismo no Brasil”. COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: Momentos Decisivos. São Paulo: Grijalbo. p.27-28. A constituição de 1824 A organização do Estado brasileiro foi acompanhada de intensos debates na Assembleia Constituinte reunida em maio de 1823 (convocada antes mesmo da independência). O objetivo dessas reuniões era elaborar e promulgar, pautado no ideário liberal, a primeira Constituição do Brasil. Para alguns historiadores, o projeto constitucional de 1823 representava as aspirações e os interesses das classes dominantes. Nesse momento, torna-se fundamental analisar os limites evidentes do liberalismo no Brasil, pois de acordo com a teoria liberal “todos os homens nascem livres e iguais”, porém, a escravidão foi mantida até 1888. Sob os aspectos gerais, o projeto de 1823, composto por 272 artigos, ficou conhecido como a “Constituição da Mandioca”, em referência ao seu caráter censitário que concedia direitos políticos somente aqueles que possuíssem determinada renda líquida anual, tendo como base a produção de mandioca. As principais características dessa carta foram: existência de três poderes (executivo, do juramento da Constituição de 1824. judiciário e legislativo), eleições censitárias, ampliação das Alegoria D. Pedro salva a índia (que representa o Brasil) funções atribuídas ao poder legislativo e limitação do poder da ameaça do absolutismo. do Imperador. D. Pedro I ficou insatisfeito com o projeto constitucional, uma vez que lhe limitava poderes e numa ação autoritária e absolutista, ele dissolveu a Assembleia Constituinte em novembro de 1823. Após a dissolução da Constituinte, o imperador outorgou, em 1824, a primeira Constituição do Brasil. Composto por 179 artigos, o documento possuía as seguintes características: monarquia constitucional hereditária; unitarismo, que provocou a subordinação das províncias às decisões do poder central; sufrágio censitário masculino para maiores de 25 248 anos; eleições indiretas; liberalismo moderado, que pretendia conciliar o ideal liberal com o absolutismo; estabelecimento do catolicismo como religião oficial do Estado; Igreja submetida ao Estado (regime de Padroado – os clérigos eram pagos pelo Estado e o imperador nomeava os sacerdotes aos diversos cargos clericais); o direito do Beneplácito que dava autonomia ao imperador para aprovar previamente os decretos papais; estabelecimento de quatro poderes: Executivo (exercido pelo Conselho de Ministros chefiados e escolhidos pelos Imperador), Legislativo (bicameral, com senado vitalício e pela Câmara dos Deputados), Judiciário (exercido pelo Supremo Tribunal, sendo os magistrados nomeados pelo Imperador) e Moderador (exercido exclusivamente pelo Imperador). De acordo com o artigo 98 da Constituição de 1824: “o poder moderador é a chave de toda a organização política, e é delegado privativamente ao Imperador (...) para que incessantemente vale sobre a manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos”. Constituição outorgada de 1824 concentrava plenos poderes nas mãos de D. Pedro I, o que torna evidente as limitações do liberalismo político e o problema de inserção das camadas populares nas decisões políticas. Em relação a esse aspecto, o historiador Raymundo Faoro, escreveu: “O Brasil entrou no processo constitucionalista pela porta que a Revolução do Porto abriu (24 de agosto de 1820) sempre retardado não só em relação aos Estados Unidos e à Europa sacudida pela Revolução Francesa, senão com referência à própria Península Ibérica. (...) Os sublevados do Porto, no momento ainda sem a solidariedade de Lisboa, juristas e letrados com o estímulo ostensivo dos comerciantes, apoiados pela guarnição local, exigiam uma constituição, capaz de fixar as relações entre os cidadãos e o governo (...) Pela primeira vez na história, os brasileiros elegeram e enviaram a Lisboa representantes a uma constituinte, que, embora extremada no seu colonialismo, teve relevante papel indireto e involuntário na independência do Brasil. O ingresso no caminho constitucional seria, porém, irreversível, ainda que, sempre segundo o modelo contemporizador e conciliador, a soberania nacional e popular fosse negada, freada, mutilada e, mais tarde, golpeada.” FAORO, Raymundo. Assembleia Constituinte: a Legitimidade Recuperada. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. p.7-9. A Confederação do Equador A dissolução da Constituinte e a Carta constitucional outorgada contribuíram para a eclosão, em 1824, no nordeste da Confederação do Equador de caráter liberal, republicano, federalista, antilusitano e separatista que, de certo modo, resgatava os ideais e o projeto da Revolução Pernambucana de 1817. Os confederados combatiam o centralismo monárquico e as ações autoritárias do Imperador. Reunião da Junta Revolucionária da Confederação do Equador. Gravura de Joham Moritz Rugendas, Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo. 249 O movimento contou com a participação de amplos setores da aristocracia agrária nordestina, de perfil “liberal”, que sofria também com a crise da agricultura canavieira exportadora. O estopim para a deflagração do movimento foi à nomeação de um presidente para a Pernambuco, que era indesejado pelos habitantes da província. Para alguns historiadores, a Confederação do Equador é tida como a extensão da Revolução de 1817, pois as propostas liberais influenciaram fortemente os insurretos. Um de seus principais líderes, Manuel de Carvalho, ex-revolucionário de 1817, devido a repressão exilou-se nos Estados Unidos, onde foi impactado ainda mais pelos ideais federalistas, republicanos e liberais. O fervor revolucionário dos pernambucanos atraiu a adesão das províncias da Paraíba, do Ceará e do Rio Grande do Norte. Os principais pontos propostos pelos confederados foram: união de diversas províncias do Nordeste (Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco) num sistema representativo; criação de um novo Estado sem ligação com o Império brasileiro; adoção momentânea da Constituição da Colômbia até a convocação de uma Constituinte; criação de uma Junta Provisória sob a presidência de Manuel de Carvalho; implantação de um governo republicano, representativo e federativo, visando garantir a autonomia das províncias confederadas. A imprensa teve um papel de extrema importância na difusão dos ideais revolucionários. O jornal Liberdade na Guarita de Pernambuco, dirigido por Cipriano Barata, desempenhou um exímio papel na propagação das ideias revolucionárias do movimento em Pernambuco. A inserção das camadas populares e a proibição de tráfico de escravos para o Recife levaram o afastamento da elite agrária. Enfraquecidos, os insurretos não conseguiram resistir à violenta repressão do governo imperial, contando, inclusive, com o aparato de mercenários ingleses. Além disso, o governo central contraiu empréstimos com os banqueiros da Inglaterra para reprimir o movimento nordestino. Os últimos focos de resistência foram derrotados no final de 1824. Os principais líderes foram presos, julgados e condenados à morte, entre eles o frei do Amor Divino Careca, o frei Caneca. Entretanto, a repressão imperial não pôs fim ao sentimento de autonomia das elites locais. Eles foram manifestados em outras situações, como a Revolução Praieira, em 1848. A Guerra da Cisplatina A situação política e econômica durante o governo de D. Pedro foi ainda mais agravada com eclosão da Guerra Cisplatina. A região fazia parte da América hispânica, que foi anexada ao Brasil em 1820 devido às pressões de Carlota Joaquina, que almejava se tornar a “Rainha da Prata”, ao seu marido D. João VI. Sob o comando do general Juan Antonio Lavalleja, os guerrilheiros cisplatinos estavam decididos em lutar pela separação da província do Império Brasileiro. Em 1825, os insurretos cisplatinos se organizaram na República das Províncias do Rio da Prata (atual Argentina), frustrando os interesses do governo do Brasil. Buscando uma ofensiva, D. Pedro I declarou guerra à Argentina. O conflito foi travado até 1828 quando houve a intervenção da Inglaterra, desejosa no equilíbrio de forças na Bacia Platina. Nesse mesmo ano, foi criada a República Oriental do Uruguai. Detalhe do quadro do pintor uruguaio Juan Manuel Blane intitulada O Juramento d trinta e três orientais (1877). A tela representa a união dos moradores da região leste do rio Uruguai, que começaram uma revolta contra a dominação brasileira na região em 1825. 250 A impopularidade do imperador O ascendente desgaste de imagem do imperador somado aos problemas econômicos sociais e políticos conduziu o primeiro reinado a uma crise irreversível. A situação econômica era bastante grave, uma vez que com a renovação do tratado de 1810, os ingleses tinham plena liberdade de viajar, negociar e utilizar os portos brasileiros, introduzindo diversos produtos importados nas regiões brasileiras. Apenas em 1826, as tarifas alfandegárias são padronizadas entre todos os países. Devido aos elevados investimentos ingleses, as exportações brasileiras caíram vertiginosamente, dificultando a criação de renda nacional. Quando houve a elevação de produção e da exportação os preços de gêneros agrícolas como cacau, fumo e café não aumentaram significativamente por causa da concorrência dos produtos industrializados ingleses. Somente em 1824, o Brasil contraiu um empréstimo de 3 milhões de libras com a finalidade de adotar medidas para resolver os problemas econômicos surgidos com a fundação do Estado. Assim, a crise financeira foi aprofundada em grande parte pelo crescente déficit público, pois as arrecadações encontravam empecilhos nas baixas tarifas alfandegárias e nos seguidos empréstimos internacionais que consumiam as receitas com a efetuação de pagamentos das taxas de juros e amortizações. Outro problema enfrentado por D. Pedro I foi a dificuldade de gerenciar o Banco do Brasil que sofreu uma forte sangria, em 1821, quando D. João ao retornar à Lisboa levou consigo todo o ouro ali depositado. Com o propósito de aliviar a crise, o imperador aumentou os juros e emitiu moeda, o que provocou o desgaste da mesma. Em 1829, o Banco do Brasil faliu o que contribuiu ainda mais para o desgaste do prestígio e autoridade de D. Pedro I, já instável devido aos problemas políticos. A abdicação de D. Pedro I Diante do cenário crítico e desfavorável da década de 1820, repleto de problemas sociais, econômicos e políticos, a autoridade de D. Pedro foi bastante enfraquecida. No fim dessa década, a fragmentação no campo governista ficou mais nítida. Os brasileiros aproximaram-se do grupo liberal e os portugueses reuniram-se aos conservadores. Paulatinamente, os liberais foram se afastando do imperador, o que potencializou a posição dos conservadores perante o governo. Outro fato que influenciou no governo de D. Pedro I foi a questão sucessória do trono português em razão da morte de D. João VI, em 1826, o dava a possibilidade do imperador do Brasil assumir o governo de Portugal. No entanto, D. Pedro I preferiu abdicar em nome da sua filha Maria da Glória, menor de idade, eliminando, assim, temores de um possível restabelecimento das relações políticas entre os dois países. Em 1828, D. Miguel, irmão de D. Pedro I, deu um golpe e tornou-se rei de Portugal, o que desencadeou um intenso conflito sucessório. D. Pedro se envolveu nessa disputa, gastando volumosas verbas dos cofres estatais. O objetivo do imperador era ao mesmo tempo, fortalecer-se internamente e adquirir apoio do “partido português”. No entanto, essa estratégia política só fez aumentar ainda mais o sentimento antilusitano. Abdicação de dom Pedro I, tela de Aurélio de Figueiredo , obra de 1890. Dom Pedro entrega o documento de sua abdicação que continha: “Quando o direito que a Constituição me concede, declaro que irei mui voluntariamente abdicado na pessoa de meu amado e prezado filho, D. Pedro de Alcântara”. 251 A considerável oposição liberal foi manifestada por vários jornais, entre eles O Observador Constitucional, dirigido por Líbero Badaró, assassinato em 1830 por simpatizante do imperador. Em visita a Minas no mesmo ano, D. Pedro I foi recebido sob protestos do assassinato do jornalista Líbero Badaró, o que desgastou ainda mais o governo imperial. Em resposta aos protestos, os portugueses que moravam no Rio de Janeiro preparam uma recepção calorosa para o imperador. Na noite seguinte portugueses e brasileiros travaram um conflito aberto. Esse evento ficou conhecido como Noite das Garrafadas. Tentando solucionar esses problemas políticos, D. Pedro nomeou um novo ministério, mas tal tentativa fracassou. Diante desse quadro político insustentável, em 7 de abril de 1831, D. Pedro I abdicou o trono em favor do seu filho, que tinha apenas 5 anos de idade e partiu para a Europa com o objetivo de recuperar o trono português, usurpado pelo seu irmão, o que realmente aconteceu. Charge do confronto entre D. Pedro I e D. Miguel nas Guerras Liberais (1831-1834). A abdicação de D. Pedro I significou o término da primeira fase de consolidação do Estado brasileiro. Além disso, representou a vitória dos setores agrários e outros grupos sociais que se auto-proclamaram seguidores do “liberalismo”. Durante as regências, os problemas sociais e políticos permaneceram, demonstrando, dessa forma, que a emancipação política não foi suficiente para construir um país, organizar uma sociedade e acabar com os interesses preexistentes. “Com a abdicação de D. Pedro I chega a revolução da Independência ao termo natural de sua evolução: a consolidação do ‘estado nacional’. O primeiro reinado não passara de um período de transição em que a reação portuguesa, apoiada no absolutismo precário do soberano, se conservara no poder. Situação absolutamente instável que se tinha de resolver ou pela vitória da reação – a recolonizarão do país (...) – ou pela consolidação definitiva da autonomia brasileira, noutras palavras, do ‘estado nacional’. É este o resultado a que chegamos com a revolta de 7 de abril”. PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e outros Estudos. 9 ed. São Paulo: Brasiliense. p. 58. 252 TEXTO COMPLEMENTAR A difícil construção de nossa nacionalidade “É difícil determinar em que momento de nossa história começa a nascer a ideia de nacionalidade brasileira, ou a consciência nacional. Até o início do século XIX os colonos viam a si mesmos como portugueses; mesmo os nascidos aqui pensavam dessa forma porque as terras brasileiras eram consideradas território português. Quando Pedro I pronuncia a conhecida frase do Dia do Fico (“Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que eu fico.”), a nação a que ele se referia era a nação portuguesa e não a brasileira, uma vez que ele próprio afirmaria, posteriormente, que Brasil e Portugal eram duas pátrias com uma só nação (a portuguesa). Portanto, os movimentos emancipacionistas ocorridos no final do século XVIII e início do século XIX não visavam a tornar independente toda a colônia portuguesa. Analisando essas rebeliões o professor Boris Fausto escreveu: ‘podemos mesmo dizer que foram movimentos de revolta regional e não revoluções nacionais. (...) as conspirações e revoluções ocorridas nos últimos decênios do século XVIII e nos dois primeiros do século XIX são frequentemente apontadas como exemplos afirmativos da consciência nacional. Se é possível dizer que eles indicam essa direção, devemos lembrar que até a independência, e mesmo depois, a consciência nacional passa pela regional. Os rebeldes do período se afirmam como mineiros, baianos, pernambucanos e, em alguns casos, como pobres, tanto ou mais do que como brasileiros’.” FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Edusp/FDE, 1997. p.113-114. In: Sistema Uno de Ensino. p.34. Analisando o texto 1. Comente as principais ideias contidas no texto em relação as dificuldades de construir identidade nacional. 2. Em sua opinião, atualmente, podemos afirmar que existe uma identidade brasileira? Por quê? Justifique. 253 FAZENDO HISTÓRIA 1. (UFU-MG) A independência e a organização do Estado Brasileiro se processaram de acordo com os interesses e as aspirações da aristocracia rural, principal beneficiário do 7 de setembro. Quais eram os interesses e as aspirações dessa aristocracia? Cite três. 2. “Odeio cordialmente as revoluções (...) Nas reformas deve haver muita prudência (...) Nada se deve fazer aos saltos, mas tudo por graus como manda a natureza (...) Nunca fui nem serei absolutista, mas nem por isso me alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica democracia.” José Bonifácio de Andrada e Silva, Diário da Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil – 1823. Sessão de 21 de maio de 1823, v.1, p.97. Analise em texto, associando-o ao processo de independência do Brasil no que se refere à forma assumida pela monarquia no Brasil. 3. Considere as informações contidas na tabela abaixo. EMPRÉSTIMOS EXTERNOS BRASILEIROS Ano Valor (libras) Taxa de juros (%) Finalidade 1824 1.332 300 5 Cobrir dívidas 1825 2.352 900 5 Cobrir dívidas, juros e amortizações 1829 769.200 5 Cobrir dívidas, juros e amortizações Fonte: NORMANO, J. F. evolução econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1939. a) Que conclusões podem ser tiradas da tabela acima? b) Comente as causas do desequilíbrio financeiro da economia brasileiro após a emancipação política. 4. (UFRN) A Inglaterra teve influência significativa no difícil processo de reconhecimento externo do Brasil como nação soberana, após a independência. Analise um dos interesses da Inglaterra no reconhecimento da independência do Brasil. 5. (UFG-GO) A história do Brasil só pode ser bem compreendida se relacionada com os acontecimentos que marcaram a história mundial. O entrelaçamento entre os processos históricos nacionais e internacionais constitui elemento fundamental do trabalho do historiador. A partir da relação estabelecida – nação e mundo -, analise o processo de emancipação política do Brasil ocorrido nas primeiras décadas do século XIX. 254 6. (Vunesp-SP) “Brasileiros! Salta aos olhos a (...) perfídia, são patentes os reiterados perjuros do imperador, e está conhecida a nossa ilusão ou engano em adotarmos um sistema de governo defeituoso em sua origem e mais defeituoso ainda em suas partes componentes. As constituições, as leis e todas as instituições humanas são feitas para os povos e não os povos para elas. Eis, pois, brasileiros, tratemos de constituir-nos de um modo análogo às luzes do século em que vivemos (...), desprezemos as instituições oligárquicas, só cabidas na encanecida Europa”. Manifesto dos Revolucionários da Confederação do Equador, 1824. Com base no texto, indique: a) O tipo de governo qualificado como defeituoso. b) O sistema de governo proposto pelos revoltosos. 7. (Unicamp-SP) Em 1824, Frei Caneca criticou a Constituição outorgada por D. Pedro I, dizendo que o poder Moderador era a chave mestra da opressão da nação brasileira e que a Constituição não garantia a independência do Brasil, ameaçava sua integridade e atacava a soberania da nação. Baseado em Frei Caneca, “Crítica da Constituição outorgada”In Ensaios políticos. Rio de Janeiro, Editora Documentário. p.70-75. a) Defina o poder Moderador. b) O que foi a Confederação do Equador, da qual Frei Caneca participou? 8. (UFU-MG) Em 3/5/1823 instalou-se no Brasil a Assembleia Constituinte, que contava com uma maioria ligada aos interesses da aristocracia rural. Esta Assembleia designou uma comissão de seis deputados para redigir o anteprojeto constitucional, que ficou conhecido como “Constituição da mandioca”. a) Dê três princípios defendidos por este anteprojeto. b) Explique por que ele ficou conhecido como “Constituição da mandioca”. 9. (Fuvest-SP) A Constituição imperial de 1824 estabelece que o governo é monárquico hereditário, constitucional e representativo (artigo 3) e que a pessoa do Imperador é inviolável e sagrada, não estando sujeita a responsabilidade alguma (artigo 99). Comente esses textos constitucionais, definidores da monarquia brasileira. 10.Faça uma relação entre o texto constitucional de 1824 e 1988. Acesse em um site digitando “Constituição de 1824 – Constituição de 1988. Estabeleçam comparação avaliando os seguintes aspectos: a) Direitos políticos e sociais. b) Forma de governo; c) Direitos e garantias fundamentais. d) Direitos da criança, do adolescente e do idoso. 255 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (CESGRANRIO) No contexto da Independência do Brasil, os dirigentes políticos, atentos ao processo de fragmentação dos Vice-Reinados da América espanhola em várias nações independentes, preocuparam-se com a manutenção da unidade política e territorial da excolônia portuguesa na América. As estratégias para manter a unidade política e territorial do Brasil, nesse contexto, foram: I. A criação do Poder Moderador, de atribuição exclusiva do imperador, possibilitando a dissolução da Assembleia Geral e a nomeação de cargos no poder judiciário. II. A instituição, na Constituição de 1824, do unitarismo, restringindo as propostas de descentralização da administração estatal. III. A repressão militar dos revoltosos da Confederação do Equador, da Farroupilha e da Balaiada, adeptos de propostas separatistas e/ou federalistas. IV. A flexibilização das relações escravistas para evitar movimentos de fragmentação, insuflados por quilombolas e seguidores da Revolução do Haiti. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e II são corretas. b) Somente as afirmativas III e IV são corretas. c) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. d) Somente a afirmativa II, III e IV são corretas. e) Todas as afirmativas são corretas. 2. (UFPE) Apesar da conquista da Independência do Brasil, não havia a liberdade política que grupos mais radicais desejavam. A administração de D. Pedro I provocava rebeldias e constantes inquietações. Na Confederação do Equador, em 1824, os rebeldes: a) consideravam a Constituição de 1824 como autoritária e conservadora, combatendo as medidas políticas do governo central. b) conseguiram ajudas expressivas das províncias do sul do Brasil, interessadas em afirmar o domínio do liberalismo radical. c) adotaram idéias socialistas, embora seguissem o modelo da Constituição norteamericana no seu conteúdo maior. d) fizeram alianças com as províncias do Norte, mas se limitaram à assinatura de um manifesto político contra a escravidão. e) defenderam o liberalismo, propondo mudanças na Constituição de 1824, sem, contudo, almejar a radicalização política. 3. (PUC-RS) A Confederação do Equador (Pernambuco, 1824) foi um movimento regional de grande relevância na crise política do Primeiro Reinado. O movimento pernambucano radicalizou-se de forma notável, incluindo reivindicações de caráter popular no confronto com o poder imperial. É correto afirmar que esse processo de radicalização foi condicionado a) pela influência do movimento operário europeu, que começava a organizar-se segundo a perspectiva revolucionária do socialismo científico. b) pelo fortalecimento do movimento abolicionista na região, devido ao processo de modernização da lavoura canavieira, que então se verificava. c) pelo apoio material dos comerciantes portugueses às frações radicais do movimento, objetivando o não-reconhecimento internacional da independência. d) pela liderança de imigrantes europeus, que pretendiam alterar a estrutura fundiária da região, baseada no latifúndio. e) pela necessidade dos grupos dominantes locais de mobilizar o apoio das camadas populares para sustentar o confronto com o poder central. 4. (UEM) O período da história brasileira que vai de 1822 a 1831 é conhecido como Primeiro Reinado. Sobre esse período histórico, assinale o que for correto. a) É no início desse período, em 1823, que se reúne a primeira Assembleia Nacional Constituinte do Brasil independente. Porém, antes do encerramento dos trabalhos, essa assembleia é dissolvida por D. Pedro I, temeroso de que os deputados constituintes aprovassem uma constituição limitadora de seus poderes monárquicos. 256 b) Nesse período, não eclodiu movimento político separatista algum que ameaçasse o poder de D. Pedro I e a integridade territorial e política do Brasil. c) Durante o Primeiro Reinado, em razão da inexistência de uma Carta constitucional para regular a vida política nacional, D. Pedro I governou os brasileiros de maneira totalmente pessoal e arbitrária. d) No Primeiro Reinado, diante da menoridade de D. Pedro I, o Brasil foi governado pela chamada Regência Trina Provisória. e) O Primeiro Reinado foi o período mais liberal do Império, com extensa descentralização política do Estado e ampla e irrestrita participação de negros libertos, brancos pobres e mestiços na vida política nacional. 5. (UEPG-Alt.) Sobre o I Império (1822 – 1831) e a formação do Estado no Brasil, avalie as proposições a seguir. I. Esse período, além de marcar a organização do Estado, caracterizou-se pela disputa pelo controle político nacional entre o Imperador e a aristocracia rural brasileira. II. Em 1824, em Pernambuco, eclodiu a Confederação do Equador, um movimento de protesto contra o autoritarismo de D. Pedro I e que pretendia separar as províncias do norte e do nordeste do restante do país. III. A Constituição de 1824 estabeleceu o voto censitário que exigia que o eleitor e/ou candidatos tivessem uma renda mínima permanente, o que excluiu a maior parte da população brasileira do cenário político ao longo de todo o Império. IV.Na prática, o Poder Moderador, instituído pela Constituição de 1824, dava grandes poderes ao Imperador. V. A presença de um considerável grupo de portugueses ocupando cargos importantes no Estado brasileiro produziu um grande desgaste entre D. Pedro I e a aristocracia rural brasileira. 6. (UFPE) No governo de D. Pedro I, a situação do Brasil: a) era de prosperidade econômica, com o crescimento da lavoura cafeeira na região de São Paulo. b) era alvo de constantes conflitos políticos provocados pelos adversários do imperador, na defesa de mais liberdade. c) era de estabilidade, depois da Constituição de 1824, com a defesa das idéias liberais. d) assistia a dificuldades diplomáticas, devido à não aceitação da Inglaterra, de considerar o Brasil como um país independente. e) era de estabilidade política, em face do apoio da maior parte da população, e devido ao fato de o imperador ter decidido permanecer no Brasil. 7. (SELECT) A Guerra da Cisplatina ocorreu de 1825 a 1828, entre Brasil e Argentina, pela posse da Província de Cisplatina, atual Uruguai. Localizada numa área estratégica, a região sempre foi disputada pela Coroa Portuguesa e Espanhola. Observando as assertivas abaixo, avalie as proposições a seguir. I. Os brasileiros não apoiaram este conflito, pois sabiam que o governo aumentaria impostos para financiar a guerra. Este episódio desgastou ainda mais a imagem de Dom Pedro I. II. No ano de 1825, um novo movimento surgiu em prol da libertação da província. Mas os moradores de Cisplatina se recusam a fazer parte do Brasil, e João Antonio Lavalleja, organiza um movimento para declarar independência da região. A Argentina por interesse no território da Cisplatina, ajuda no movimento, ofertando, força política, armas, alimentos, etc. O Brasil se revoltou declarando guerra à Argentina e ao revoltosos da região de Cisplatina. III. Foram muitos conflitos entre os combatentes, e com tudo isso muito dinheiro público foi gasto, desequilibrando a economia brasileira. E além de tudo, o Brasil foi vencido na batalha. IV. No ano de 1828, sob interferência da Inglaterra, foi firmado um acordo entre Brasil e Argentina, que foi marcado pela incorporação da Província da Cisplatina ao território Argentino. Sendo assim, marque a alternativa correta: a) FVVV. b) VVVF. c) FVFV. 257 d) VVVF. e) VFVV 8. (MACK) Carlos Eduardo Novaes e César Lobo, História do Brasil para Principiantes: 500 anos de idas e vindas pág. 43 A charge se refere à: a) promulgação do Ato Adicional de 1834, quando D. Pedro I estabeleceu a criação do Poder Moderador, de uso exclusivo do imperador. b) promulgação da Constituição de 1824 por D. Pedro I, estabelecendo o Poder Moderador, de uso tanto do imperador quanto do Conselho de Ministros. c) outorga da Constituição de 1824, por D. Pedro II, estabelecendo o Poder Moderador, de uso tanto do imperador quanto do Conselho de Ministros. d) outorga da Constituição de 1824 por D. Pedro I, estabelecendo o Poder Moderador, de uso exclusivo do imperador. e) A Constituição Imperial de 1824 estabeleceu a divisão dos poderes em Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. O poder Moderador era exercido pelo imperador e tinha caráter centralizador e que oficializou ao Legislativo o exercício de controlar o Estado. 9.(UPE-Alt.) A Confederação do Equador foi um movimento de contestação do poder central, revelando insatisfações políticas importantes. Os rebeldes procuraram evitar os erros cometidos no movimento de 1817, mas: I. foram derrotados e duramente reprimidos pelo governo, sendo Frei Caneca fuzilado. II. não contaram com a participação das elites liberais. III. não conseguiram empolgar a população, ficando totalmente isolados. IV. suas divergências com D. Pedro I foram contornadas através de negociações políticas. V. não contaram com a participação de lideranças liberais expressivas, entre elas Manuel de Carvalho e Cipriano Barata. 10.(UPE-Alt.) A Independência do Brasil trouxe uma reorganização política, mas as desigualdades sociais continuaram evidentes. A instalação do governo imperial não evitou que rebeldias políticas acontecessem em várias províncias. A sociedade continuou hierarquizada com a permanência da escravidão, e a economia continuou, tendo como suporte fundamental a produção agrícola, com destaque para a cafeicultura. O texto acima: I.faz uma síntese correta dos anos do império, não cometendo nenhum equívoco histórico. II. apesar de não cometer equívocos, não faz menção a processos importantes, como a luta contra a escravidão. III. comete um equívoco ao afirmar que a cafeicultura foi o destaque da produção econômica, esquecendo-se da importância da cana-de-açúcar, ainda o produto mais rentável. 258 IV. está incorreto com relação à política, pois com a independência, houve acordos entre as elites que esvaziaram as tentativas de rebeldias. V. destaca a continuidade das desigualdades sociais, mas se esquece de ressaltar que elas só existiam devido ao escravismo. 11.(ENEM) Constituição de 1824: “Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização política, e é delegado privativamente ao Imperador (...) para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independência, equilíbrio, e harmonia dos demais poderes políticos (...) dissolvendo a Câmara dos Deputados nos casos em que o exigir a salvação do Estado.” Frei Caneca: “O Poder Moderador da nova invenção maquiavélica é a chave mestra da opressão da nação brasileira e o garrote mais forte da liberdade dos povos. Por ele, o imperador pode dissolver a Câmara dos Deputados, que é a representante do povo, ficando sempre no gozo de seus direitos o Senado, que é o representante dos apaniguados do imperador.” Voto sobre o juramento do projeto de Constituição. Para Frei Caneca, o Poder Moderador definido pela Constituição outorgada pelo imperador em 1824 era: a) Adequado ao funcionamento de uma monarquia constitucionais, pois os senadores eram escolhidos pelo Imperador. b) Eficaz e responsável pela liberdade dos povos porque garantia a representação da sociedade nas duas esferas do poder legislativo. c) Arbitrário, porque permitia ao Imperador dissolver a Câmara dos Deputados, o poder representativo da sociedade. d) Neutro e fraco, especialmente nos momentos de crise, pois era incapaz de controlar os deputados representantes da Nação. e) Capaz de responder ás exigências políticas da nação, pois supria as deficiências da representação política. 12.(UFRB-Alt.) Com base na leitura da tira, associada aos conhecimentos sobre as diferentes instituições políticas, em variados momentos da história da humanidade, pode-se afirmar: I. A tira é representativa de um Estado monárquico marcado pela centralização dos poderes. II. O Estado liberal, surgido com o movimento iluminista, foi estruturado com base na separação dos três poderes, com diferentes atribuições. III. O Estado republicano, ao contrário do Estado monárquico absolutista, tem garantido, na prática, a separação entre o público e o privado. IV. A existência do Poder Moderador, no Brasil Império, assegurou a intervenção do Imperador nos demais poderes estabelecidos pela Constituição de 1824. V. As constantes medidas provisórias editadas pelo governo brasileiro representam o reconhecimento das atribuições constitucionais conferidas ao Poder Legislativo. 13.(CESGRANRIO) A concretização da emancipação política do Brasil, em 1822, foi seguida de divergências entre os diversos setores da sociedade, em torno do projeto constitucional, culminando com o fechamento da Assembléia Constituinte. Assinale a opção que relaciona corretamente os preceitos da Constituição imperial com as características da sociedade brasileira. a) A autonomia das antigas capitanias atendia aos interesses das oligarquias agrárias. 259 b) O Poder Moderador conferia ao imperador a proeminência sobre os demais poderes. c) A abolição do padroado, por influência liberal, assegurou ampla liberdade religiosa. d) A abolição progressiva da escravidão, proposta de José Bonifácio foi uma das principais razões da oposição ao imperador Dom. Pedro I. e) A introdução do sufrágio permitiu a participação política das camadas populares, provocando rebeliões em várias partes do País. 14.(UFPE-Alt.) Na manhã de 13 de fevereiro de 1825, na porta da Igreja do Pátio do Terço, em Recife, Frei Caneca foi despojado de suas ordens e executado. Considera(m) – se atividade(s) revolucionária(s) do Frei: I.jornalista, redator de O Diário Novo, jornal praieiro, responsável pela agitação intelectual da Revolução de 1848 em Pernambuco. II.Frei Caneca participou da revolução de 1817 cujo ideário republicano era semelhante ao da Revolução de 1824. III. Frei Caneca dirigiu, durante o Primeiro Reinado, um período revolucionário intitulado “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”. IV. Frei Caneca insurge-se contra a Constituição Outorgada, logo após a dissolução da Constituinte em 1823. V. Dirigiu e foi redator principal do jornal o Tífis Pernambucano que combatia o absolutismo do Imperador Pedro I e incitava à rebelião. 15.(UFAL/COVEST) Apesar da conquista da Independência do Brasil, não havia a liberdade política que grupos mais radicais desejavam. A administração de D. Pedro I provocava rebeldias e constantes inquietações. Na Confederação do Equador, em 1824, os rebeldes: a) consideravam a Constituição de 1824 como autoritária e conservadora, combatendo as medidas políticas do governo central. b) conseguiram ajudas expressivas das províncias do sul do Brasil, interessadas em afirmar o domínio do liberalismo radical. c) adotaram idéias socialistas, embora seguissem o modelo da Constituição norteamericana no seu conteúdo maior. d) fizeram alianças com as províncias do Norte, mas se limitaram à assinatura de um manifesto político contra a escravidão. e) defenderam o liberalismo, propondo mudanças na Constituição de 1824, sem, contudo, almejar a radicalização política. 16.(UPE) Sobre Frei Caneca, um dos líderes da Confederação do Equador, analise as afirmativas abaixo. I. Defendia a instituição do federalismo, era contra o mandato vitalício dos senadores e condenava a existência de um poder moderador, que lhe parecia a chave-mestra da opressão. II. Opunha-se ao direito do imperador de outorgar a constituição do país, roubando do povo o direito de expressar sua vontade por seus representantes na assembleia legislativa. III. Condenou o regime do padroado, que, instituído pelo imperador, dava autonomia política à Igreja Católica. IV. Propunha a criação da República Juliana que tinha como base constitucional a Carta Magna da Colômbia. Estão corretas. a) somente I e II. b) somente I e III. c) somente II e IV. d) somente I, II e III. e) I, II, III e IV. 260 OLHARES HISTÓRICOS • Livros O processo de independência do Brasil. BAGNO, M. São Paulo: Ática, 2000. (História do Brasil através dos viajantes) 7 de setembro, Independência: até onde se chegou? BOULOS JÚNIOR, Alfredo. São Paulo: FTD, 1996. A confederação do Equador. LEITE, G. L. São Paulo: Ática, 1996. 7 de setembro de 1822: a independência do Brasil. OLIVEIRA, C. H. de. S. São Paulo: Nacional, 2005. • Cinema Independência ou morte Direção de Carlos Coimbra. Brasil, 1972. 108 min. Faz uma abordagem do movimento de independência do Brasil, segundo uma visão oficial da ditadura militar em vigor no país nos anos 70. • Sites Museu Paulista www.mp.usp.br O famoso Museu do Ipiranga, foi construído às margens do riacho Ipiranga, local onde foi proclamada a independência política do Brasil. Ao navegar pelo site, o internauta terá acesso ao histórico da instituição e parte do seu acervo. • Músicas É pra rir ou pra chorar? O cantor e compositor Gabriel, o Pensador aborda de forma criativa as limitações da independência política do Brasil. A letra da música faz uma análise crítica e reflexiva das várias fases da História do país, marcadas por contradições e problemas de inclusão social. 261 O turbulento Período Regencial O período compreendido entre a abdicação de D. Pedro I (1831), acontecimento que ficou conhecido como a Revolução do Sete de Abril, até a antecipação da maioridade de D. Pedro II (1840) denomina-se de Período Regencial. Foi a fase mais instável e turbulenta do Brasil Imperial. As discussões giravam em torno da centralização ou descentralização, da unidade política, da formação das Forças Armadas e patamar de autonomia das províncias. Diante desse cenário, instalou-se, dadas as circunstâncias políticas, a confluência de interesses envolvendo as elites que tinham a pretensão de manter a ordem e garantir a realização de seus projetos sem nenhuma participação popular. Segundo a Constituição de 1824, a idade legal para que o novo imperador pudesse assumir o governo era de dezoito anos. Todavia, como Pedro de Alcântara tinha somente cinco anos, o comando do país seria entregue a pessoas escolhidas pelo Congresso. Em abril de 1831, foi estabelecido um governo provisório de três regentes em decorrência do recesso dos parlamentares. Em junho do mesmo ano, formou-se a Regência Trina Permanente, que permaneceu até 1835. As dificuldades políticas enfrentadas por essa regência impulsionou a sua dissolução em favor da criação da Regência Una. A partir de então, a nação passou a ser governada por um único regente. Houve duas regências com essa característica: a do padre Feijó (1835-1837) e a de Araújo Lima (18371840). D. Pedro II criança. D. Pedro I nomeou José Bonifácio de Andrada e Silva para ficar como tutor do seu filho, o pequeno Pedro de Alcântara. O Capítulo V da Constituição de 1824 previa a possibilidade do império ser governado por uma Regência: “(...) Art. 121. O imperador é menor até a idade de dezoito anos completos. Art. 122. Durante a sua menoridade, o Império será governado por uma Regência, a qual pertencerá ao Parente mais chegado do Imperador, segundo a Ordem de Sucessão, e que seja maior de vinte e cinco anos. Art. 123. Se o Imperador não tiver Parente algum que reúna estas qualidades, será o Império governado por uma Regência permanente, nomeada pela Assembleia Geral, composta de três membros, dos quais o mais velho em idade será o Presidente.” Artigos da Constituição de 1824 – Cap. V – Da Regência na menoridade, ou impedimento do Imperador. Diante da impossibilidade de uma criança com apenas cinco anos assumir o governo, a Contituição previa a formação de regências até que o sucessor do trono atingisse a maioridade. Formaria-se, assim, uma Regência Trina, ou seja, composta por trê políticos escolhidos pela Assembleia Geral. Entretatnto, os deputados estavam de recesso e, portanto, 262 não tinha como cumprir as determinações constitucionais. Devido a esse impasse, decidiu-se pela composição de uma Regência Trina Provisória, que seria subtituída por uma permanente assim que a Assembleia Geral retomasse suas atividades. As Regências Regência Trina Provisória (abril de 1831 a junho de 1831) Regência Trina Permanente: Francisco de Lima e Silva, João Bráulio Muniz e José Costa Carvalho (junho de 1831 a outubro de 1835) Decretou anistia a todos os envolvidos em crises políticas anteriores e aprovou a indissolubilidade da Câmara dos Deputados. Nessa regência houve a aprovação do Ato Adicional, que determinou, entre outras medidas, a substituição para a Regência Una; ficou estabelecido que o regente seria eleito, por meio de eleições indiretas, a cada quatro anos, pelos “eleitores de província” (aproximadamente cinco mil pessoas, o equivalente a 0,1% da população brasileira) Regência Una de Feijó (outubro de 1835 a setembro de 1837) Em razão da grande pressão dos “regressistas”, Feijó renunciou ao cargo. Para alguns historiadores, o fato de o regente ter exercido o poder executivo e ser eleito para cumprir período de governo pode ser entendido com uma “experiência republicana” Regência Una de Araújo Lima (setembro de 1837 a julho de 1840) Essa regência se estendeu até a Lei da Maioridade, a qual antecipou a idade legal do herdeiro, que assumiu o poder com 14 anos e 7 meses, em vez dos 18 estabelecido no Ato Adicional de 1834. Porém, a coroação de D. Pedro II só ocorreu em 1841, ao completar 15 anos. As tendências políticas A saída de D. Pedro I do poder representou a consolidação do processo de emancipação política do Brasil. Vários portugueses que ocupavam cargos públicos foram destituídos de suas funções e substituídos por brasileiros. Tornou-se comum nessa época, reuniões da elite nacional e membros da classe médias urbanas que discutiam os projetos para o país. Desses encontros surgiram três tendências políticas que disputaram as eleições regenciais: os liberais moderados, os liberais exaltados e os restauradores. Conhecido também como “chimangos”, os liberais moderados consistia numa espécie de direita liberal e defendiam os interesses dos grandes proprietários de terras e escravos do centro-sul do Brasil. Esse grupo político era a favor da monarquia, pois via na pessoa do imperador a proteção para os seus interesses. Além disso, defendia o aumento do poder legislativo, a manutenção da ordem através de um governo constitucional e centralizado. Os principais representantes dessa corrente foram, entre outros, Bernardo Pereira de Vasconcelos, o jornalista Evaristo da Veiga e o padre Diogo Antônio Feijó. Com a renúncia regencial de Feijó, em 1837, houve a dissidência dos chimangos entre progressistas e regressistas. 263 Diogo Antônio Feijó, regente único de 1834 a 1837. Era integrante do clero. Entretanto, seus retratos o representam com trajes civis, como na imagem acima, gravura de Sébastian Auguste Sison. Os liberais exaltados eram formados essencialmente por profissionais liberais, pequenos e médios comerciantes. Devido a sua forte ligação com as camadas populares urbanas, esse grupo também era conhecido como “farroupilhas” (farrapos). Suas principais reivindicações eram a liberdade de manifestação e a realização de reformas políticas, que variavam desde uma monarquia descentralizada até a instauração de um governo republicano. Além disso, defendiam o federalismo, o fim do Poder Moderador, a extinção do Conselho de Estado e da vitaliciedade do Senado. As medidas políticas pregadas pelos liberais exaltados se expandiram por várias regiões impulsionando insatisfações contra a administração central. Entre os principais seguidores dessa tendência foi Antônio Borges da Fonseca, responsável pela redação do Manifesto ao Mundo da Rebelião Praieira de Pernambuco, em 1848. Os restauradores ou “caramurus” representavam a alta burocracia estatal e os grandes exportadores e comerciantes portugueses. Eram o grupo político mais conservador do cenário político regencial. Almejavam restaurar a monarquia sob o governo de D. Pedro I. Eram defensores de poder centralizado, forte e nacionalista. Suas ideais e críticas eram veiculadas em jornais como Carijó e Caramuru. A figura mais importante dessa corrente foi José Bonifácio de Andrada. Após a morte de D. Pedro I, em 1834, a tendência enfraquece e seus membros migram para outras bases políticas. Alguns se aproximaram dos liberais moderados, dando origem a uma nova tendência política: os regressistas. Já outros setores dos liberais moderados uniram-se aos liberais exaltados, dando origem aos progressistas. Os partidos políticos durante o Império Liberais moderados (divisão em 1837) Liberais exaltados (correntes moderadas) Restauradores Progressistas Regressistas (fim da regência de Feijó) (regência uma de Araújo Lima Partido Liberal Partido Conservador Fonte: MORAES, José Geraldo Vinci de. História Geral e do Brasil. 1. Ed. São Paulo: Atual, 2003. Na fase final da regência, essas novas tendências políticas foram alicerces dos primeiros partidos políticos no Brasil: o Liberal (progressista) e o Conservador (regressista). Todavia, vale salientar, as contradições existentes entre essas correntes. Quanto as suas propostas, ambos defendiam a permanência das estruturas socioeconômicas, ou seja, a manutenção de privilégios para aristocracia e a não-participação de camadas populares nas importantes esferas do poder. As primeiras agitações político-sociais e a criação da Guarda Nacional O início do Período Regencial foi marcado por intensas e constantes agitações sociais e políticas. Nos dias 12 e 13 de junho de 1831 eclodiu um movimento popular no Rio de Janeiro que contou também com a adesão de grupos sublevados. Instigados pelos exaltados, esse movimento exigiam várias medidas a fim da implantação de reformas na sociedade: proibição 264 da imigração portuguesa por dez anos, reforma constitucional, expulsão de alguns senadores, funcionários públicos e militares portugueses e, por fim, afastamento do Ministro da Justiça, padre Feijó. O governo regencial rejeitou tais reivindicações, o que levou a desmobilização do movimento. Em 1832 e 1833 houve tentativas de golpes restauradores, porém fracassaram. Outro problema enfrentado pelo governo regencial foi a resistência da aristocracia rural de diversas regiões em obedecer as determinações do poder central. Visando conter os vários conflitos sociais e políticos, o governo da Regência Trina Permanente criou a Guarda Nacional, aprovou o Ato Adicional e promulgou o Código do Processo Criminal. A Guarda Nacional, supervisionada pelo Estado, consistia numa milícia civil formada por homens livres, maior parte oficiais do Exército, proprietários de terras e comerciantes. Criada pelo ministro da Justiça Diogo Feijó, a Guarda Nacional rapidamente aumentou seus efetivos. Para alguns historiadores, a nova corporação tratou-se num verdadeiro instrumento de controle social cujo maior objetivo seria manter a “ordem” escravista e reprimir as manifestações populares. “Artigo 1º - As Guardas Nacionais são criadas para defender a Constituição, a Liberdade, a Independência e a Integridade do Império; para manter a obediência às leis. Conservar, ou estabelecer a ordem e a tranqüilidade pública, e auxiliar o Exército de Linha na defesa das fronteiras, e costa. (...) Artigo 10 – Serão alistados para o Serviço das Guardas Nacionais nas cidades do rio de Janeiro, Bahia, Recife, Maranhão e seus respectivos termos: § 1º Todos os cidadãos brasileiros que possam ser Eleitores, contanto que tenham menos de 60 anos de idade e mais de 21. § 2º Os cidadãos filhos de famílias que têm a renda necessária para serem Eleitores, contanto que tenham 21 anos de idade para cima.” Coleção de Leis do Império do Brasil de 1831: 1ª parte. Rio de Janeiro: Typ. Nacional, 1875. A Lei Orgânica que implantou a Guarda Nacional foi influenciada por uma lei francesa, aprovada também 1831. O recrutamento para compor a Guarda Nacional era obrigatório, o que provocava desfalque no Exército, cujo ingresso era facultativo. A corporação mobilizou milhares de homens livres na ocasião em que o quadro do exército sofreu grande desfalque (formado por cerca de 10 mil homens). Os elementos recrutados da Guarda Nacional estavam subordinados à autoridade dos juízes de paz, dos juízes criminais, do ministro da justiça e dos presidentes das províncias. Vários fazendeiros e chefes políticos regionais receberam o título de coronel da Guarda Nacional, fortalecendo assim seu poder e influência em suas localidades (coronelismo). Os coronéis, figura representativa de autoridade local, sobreviveram ao fim do Batalhão de Fuzileiros da Guarda Nacional (1840–1845). Império e tiveram grande presença durante a República Velha. O Código de Processo Criminal foi aprovado em 1832 e estabelecia que cabiam aos municípios elegerem as autoridades judiciárias locais (juízes e promotores), que até, então, eram nomeadas pelo governo central. Participavam das eleições os cidadãos ativos, ou seja, os que possuíam uma renda mínina por ano de 100 mil réis. A partir deste Código, os juízes de paz receberam mais poderes, uma vez que passaram a ter direito de julgar e prender pessoas acusadas de cometer delitos. Implantado como um meio de consolidar as reivindicações dos liberais exaltados em relação à autonomia local, a descentralização judiciária acabou contribuindo para o fortalecimento da elite agrária. Nessa perspectiva, apesar, do caráter liberal, o documento reforçou o poder da aristocracia rural, pois o Código se transformou num instrumento de impunidade criminal, abrindo possibilidade para a formação de bandos armados a disposição do coronelismo. 265 O Ato Adicional de 1834: um “ensaio republicano”? Em agosto de 1834 foi homologado o Ato Adicional que propunha relevantes mudanças à Constituição de 1824. A nova legislação confirmou a tendência descentralizadora e atribuiu significativas concessões às províncias. A partir de então, cada província tinha a permissão de criar uma Assembleia, o que poderia desse modo controlar os tributos e as despesas locais, bem como escolher seus próprios funcionários. As medidas do Ato Adicional procurou conciliar as diferentes forças políticas atuantes na época, porém, os maiores beneficiados foram os moderados. A considerável autonomia das províncias provocou uma sensação de vitória política aos liberais exaltados. No entanto, as assembleias eram instituições ligadas ao poder central e o governo da província não poderia prejudicar as determinações da administração imperial. Em linhas gerais, as medidas mais importantes do Ato Adicional foram: supressão do Conselho de Estado; preservação do Poder Moderador; substituição da Regência Trina pela Regência Una; criação das Assembleia Legislativas Provinciais; criação do “município neutro” que separou a cidade do Rio de Janeiro da província do Rio de Janeiro, em razão de sua condição especial de capital do Império. Ao analisar alguns pontos da nova lei percebe-se o seu caráter ambíguo. Por exemplo, houve a extinção do Conselho do Estado, órgão que assessorava o imperador, equilibrou-se com permanência da vitaliciedade do Senado (formado por muitos caramurus), o que beneficiou os restauradores. Na verdade, o Ato Adicional foi resultado de um “arranjo político” marcado por várias concessões às diversas correntes da época. Apesar dessas dualidades, alguns historiadores afirmam que o Ato Adicional representou um “ensaio republicano”, mesmo ficando depois muito aquém das pretensões dos exaltados. Em relação a esse aspecto, o historiador Luiz Roberto Lopez comentou: “Os liberais moderados, isto é, o governo, sofriam ataques à direita (restauradores) e à esquerda (liberais exaltados). Tudo funcionava ao máximo como fonte de tensões: crise das exportações, privilégios da Inglaterra, falta de dinheiro nos cofres públicos, centralismo opressivo, antilusitanismo, custo de vida, males decorrentes da monocultura e da concentração da propriedade, falta de terra no campo e de empregos na cidade, etc. Foi diante desse quadro, que, em 1834, os liberais moderados resolveram fazer um acordo a partir de certas concessões políticas a fim de amenizar o radicalismo federalista dos exaltados, mantendo, assim, o controle geral sobre a situação nacional. Enfim, uma variante da tática de ‘dar alguns anéis antes que peçam os dedos’. Nascia o Ato Adicional, primor de acomodação e compromisso. Este documento mudou algumas coisas na Constituição de 1824, coisas acessórias, evidentemente, conservando o essencial. O Ato Adicional consagrou o estilo das classes dominantes daquele momento e do futuro, um estilo conciliador, largamente utilizado sempre em soluções políticas foram exigidas com urgência. (...) É de se notar que as revoltas ocorridas nas províncias na fase da Regência Una mostram muito bem com as concessões do Ato Adicional ficaram aquém de muitas expectativas.” LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Imperial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. p.52-53. As Revoltas Regenciais Muitas contradições no Período Regencial provocaram tensões entre o governo central e algumas regiões do país. A partir de 1835, uma série de movimentos sociais se alastrou por diversas províncias. A eclosão desses conflitos foi resultado dos problemas econômicos, exclusões sociais e instabilidades políticas acentuados naquela época, que colocou em risco a manutenção da unidade territorial do Brasil. Revelaram também os anseios das camadas populares urbanas (negros, mulatos, brancos e pobres), dos escravos, dos sertanejos, todos inconformados com o exclusivismo da aristocracia rural. Essas rebeliões possuíam peculiaridades e especificidades históricas, que marcaram a efervescência e ações de cada um dos levantes. Por exemplo, muitas dessas lutas tinham um caráter popular, como foram os casos da Cabanagem, Balaiada e Revolta dos Malês. Já, a Farroupilha foi um movimento que visava solucionar entraves econômicos entre criadores brasileiros e as políticas fiscais praticadas em benefícios dos produtos importados. 266 LOCALIZAÇÃO DAS PROVÍNCIAS ONDE OCORRERAM AS REVOLTAS REGENCIAIS Cabanagem Balaiada Sabinada e Malês Farroupilha Fonte de ésquisa: IstoÉ Brasil 500 anos: Atlas Histórico. São Paulo: Ed. Três, 1998. p.57 Sob os aspectos gerais, em todas as revoltas foram discutidas projetos separatistas, no entanto, tais propostas se diferenciavam quanto ao conteúdo e forma de implantação que variava de levante para levante. Algumas manifestavam a separação como algo essencial, já outras o desejo era efêmero. As formas de composição da administração também foram distintas. Verificou-se que algumas revoltas defendiam a república, enquanto que outras optaram pela monarquia. “A proliferação de rebeliões nas províncias na época da Regência exprimiu um desejo de autonomia na medida em que na sua base estavam atos políticos que pretendiam resolver a questão da opressão econômica e fiscal. Os presidentes de província eram nomeados pelo centro e tinham amplo controle sobre as Assembleias Legislativas provinciais, únicos órgãos políticos que representavam as oligarquias locais. Tamanha limitação de espaço político incomodava, já que não tinham como lutar contra as exações fiscais do centro via presidente da província. O centro arrecadava os impostos e os distribuía a seu bel-prazer, não se interessando em realizar as obras de infraestrutura que a província reclamava. Essa questão e outros elementos de ordem fiscal permitem entender especificamente a Revolução Farroupilha, que não foi, sob nenhum aspecto, um movimento popular. No caso do Nordeste, outros fatores ainda interferiram: a existência de massas pobres e livres, os deserdados do sistema; a escravidão; o declínio das principais exportações como algodão, fumo e açúcar; a estagnação econômico-social da região; (...)”. LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Imperial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. p.54-56. Guerra dos Cabanos (1832-1835) A Cabanada ou Guerra dos Cabanos ocorreu nas pronvíncias de Pernambuco e Alagoas, entre 1832 e 1835. Essa revolta apresenta certas particularidades em relação aos outros movimentos que aconteceram durante a regência. Segundo o historiador Marcus Carvalho “Diferente de todas as outras, a Cabanada não foi uma contestação ao regime 267 imperial autoritário, nem ambicionava a independência regional. Foi uma guerra das ‘gentes do mato’ – índios, escravos, posseiros – em defesa de sua porção de terra.” As motivações que desencadearam a cabanada tem conotação política. Em abril de 1832, no Recife, houve um conflito entre militares e proprietários rurais. Eles não estavam satisfeitos com as mudanças geradas após a renúncia de D. Pedro I. O retorno do imperador à Lisboa provocou o perdão de alguns participantes da Confederação do Equador, os quais lutaram pela emancipação da região em 1824. O cenário político se encontrava assim: os que haviam combatido contra os confederados e garantiram a manutenção do regime estavam, agora, perdendo poder para seus opositores. Alguns membros da elite local amotinou-se contra a nova administração provincial, porém não obtiveram êxito. Preocupados o fortalecimento A cabanada. O movimento recebeu esse nome em referência às pequenas dos adversários, os senhores de cabanas, localizadas no meio do mato, em que viviam a chamada “gentes do engenhos entregaram armas aos mato”. índios e aos escravos, num possível confronto com os dissidentes. Diante desse contexto, o governo decidiu enviar mais de mil soldados em direção à fronteira de Alagoas para reprimir as denominadas “gentes das matas”, moradores das florestas, que sobreviviam por meio de uma economia local e pautada na de cana-de-açúcar e plantio de algodão. A repressão à cabanada foi rápida e cruel. Os soldados do exército passaram a chamar os insurretos de “cabanos” em alusão às cabanas que viviam. Quando os rebeldes passaram a alcançar algumas vantagens com as tropas militares, a partir do final de 1832, destacou-se a figura de Vicente de Paula, líder do movimento. Ele tinha o hábito de assinar “General” ou “Comandante de Todas as Matas”. Em alguns momento proclamou-se “Comandante Geral do Imperial Exército de Sua Majestade Imperial Dom Pedro I”. Os cabanos desejavam o retorno de D. Pedro I e lutavam contra os privilégios dos “Jacubinos” (acusados de se apropriarem do poder após a derrubada do imperador). De acordo Marcus Carvalho o que os rebeldes pretendiam “era manter suas terras contra os proprietários rurais que passaram a invadir as florestas, cuja madeira era antes reservada à Marinha Imperial. Muitos habitantes das matas haviam sido recompensados por sua participação na repressão às revoltas contra o imperador, e agora temiam represálias. Era o caso dos índios de Jacuípe. Os escravos envolvidos, por sua vez, tinham outra demanda específica: lutavam pela nova condição adquirida (...).” Com a morte de D. Pedro I, em 1834, o grande objetivo dos cabanos não poderia mais ser realizado. Todavia a luta permaneceu. Com intenção de reprimir de uma vez com o movimento, naquele mesmo ano, os presidentes de Alagoas (Antonio Pinto Chichorro da Gama) e Pernambuco (Manoel de carvalho Paes de Andrade) fizeram uma reunião para elaborar uma estratégia unificada. Com mais de quatro mil homens, o comandante das operações, coronel Joaquim José Luíz de Souza, afirmava que a única maneira de prender os cabanos era fazer tocaia, como as “gentes do mato” faziam. O plano deu certo. Todas as plantações e cabanas encontradas foram destruídas. O clero pernambucano também ajudou na repressão dos cabanos. O bispo de Pernambuco mobiblizou um grupo de padres para fazer pregações no perímetro do conflito, confirmando a morte de D. Pedro I e que a Regência não era ruim para o cristianismo. Aos poucos, os cabanos e os índios de Jacuípe foram se entregando. Todos receberam a anistia, com exceção do líder Vicente de Paula. Autoridades queriam vê-los preso ou morto, porém não conseguiram sua captura. Provavelmente, conseguiu escapar na companhia de algumas dezenas de seus leais “papas-méis”. Porém, acabou sendo preso em 1848, sendo levado para Fernando de Noronha, quando ainda liderou um rebelião em 1853. 268 Carrancas (1833) A revolta ocorreu, em 1833, no município de Carrancas, região de Minas Gerais. Esse movimento foi liderado pelo escravo africano Ventura Mina, que pertencia ao deputado Gabriel Francisco Junqueira. Ventura junto com vários outros escravos assassinaram o filho do deputado e mais nove outras pessoas. Alguns escravos ficaram na fazenda, enquanto os demais foram para outra proriedade, possivelmente com o propósito de alcançar a adesão de mais escravos. Entretanto, se depararam com forte resistência dos proprietários e até mesmo de escravos, os quais mataram Ventura Mina e outro integrantes rebeldes. A repressão a revolta de Carrancas foi exemplar, uma vez que o governo deixou bem nítido de como seriam tratadas as sublevações dessa categoria. No total, foram 17 escravos condenados à pena de morte por enforcamento. Para alguns historiadores, esse motim colaborou para o decreto de 10 de junho de 1835, que continha a punição de pena de morte para os atos de rebeldia escrava. Cabanagem (1835-1840) A Província do Grão-Pará, entre 1835 e 1840, foi palco da sublevação popular, conhecida como a Cabanagem, que se alastrou até a região do Amazonas. Os principais fatores que motivaram os permanentes levantes foram às precárias condições de trabalho e de vida, a exclusão social e o declínio das atividades econômicas locais, que se pautava basicamente, na exploração das drogas do sertão (tabaco, cacau, algodão, arroz), na pesca e no comércio que era monopolizado virtualmente pelos portugueses. A força de trabalho era composta por escravos negros, mestiços e indígenas (semi-escravidão) que eram violentamente explorados e viviam em situação de extrema miséria, habitando em “cabanas” nas beiras dos rios. Daí a origem do nome da revolta, em decorrência das moradias. A revolta reuniu amplos setores sociais: camponeses, índios, mestiços, escravos foragidos, trabalhadores independentes e até mesmo parte da elite local, comerciantes ingleses e portugueses. Entretanto, a maior parcela dos integrantes da insurreição era oriundos das camadas mais pobres. Após a renúncia de D. Pedro I, o quadro político, social e econômico foi agravado. Esse cenário impulsionou disputas políticas entre membros da aristocracia local. O clima ficou mais acirrado em 1832, quando se realizou um levante armado visando impedir a posse de um governador escolhido pelo governo central e reivindicando a expulsão dos portugueses, atribuindo-os pela pobreza predominante na região. Em 1833, o novo presidente provincial, Bernardo Lobo de Sousa, administrou com rigidez, reprimindo e deportando os insurretos. Essas medidas aumentaram a tensão no Pará, incentivando outros conflitos políticos e levantes populares. No ano de 1835, os rebelados se organizaram em tropas formadas por mestiços, índios e negros tomaram a cidade de Belém e executaram o governador da província. Nesse momento, começaram a emergir lideranças dos cabanos, como os irmãos Vinagre e o jovem cearense Eduardo Angelim, que instigaram as camadas populares e abriram caminho para a radicalização do levante. A Regência enviou tropas para conter os sublevados, mas não conseguiram. Um dos líderes dos revoltosos, o proprietário Félix Antônio Malcher, assumiu o governo provincial. As disputas internas entre as lideranças dos revoltosos enfraqueceram o governo cabano. Em razão da radicalização, a elite começou a abandonar o movimento. Isso porque, a aristocracia temia que a popularização da insurreição viesse a prejudicar seus interesses e passou a apoiar as forças repressivas do governo. Dada a debilidade do processo revolucionário, as tropas do governo central, sob o comando do almirante inglês John Taylor, conseguiram derrotar os cabanos em Belém. Os sublevados, no entanto, sob a direção de Eduardo Angelim, ocuparam novamente a capital. O jovem líder proclamou a república, separando a província do Pará da administração regencial. O governo de Angelim possuía caráter tipicamente revolucionário, o que gerou boas expectativas entre as camadas mais carentes. Porém, a expectativa da realização das propostas radicais e democráticas foi frustrada. Por causa do isolamento com outras províncias, o que dificultava uma boa articulação governamental, a república dos cabanos não resistiu por muito tempo as ofensivas das tropas da Regência. Os últimos rebeldes foram 269 vencidos em março de 1840 no território do Amazonas. Aproximadamente mais de 30 mil pessoas morreram nos incêndios, na destruição e nos assassinatos anos da revolta. Concernente à Cabanagem, o historiador Caio Prado Júnior analisou: “É ela um dos mais, se não o mais notável movimento popular do Brasil. É o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de sua desorientação, apesar da falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe contudo a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou da simples agitação para uma tomada efetiva do poder”. PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. 9. ed. São Paulo: Brasiliense. p. 69. A historiografia avalia a Cabanagem como a mais importante rebelião do Período Regencial, devido a sua diversificada composição e a ampla participação dos setores populares. Foi o único em que as camadas mais humildes tomaram o poder de uma província, mesmo de forma temporária. A Revolta do Malês (1835) Em janeiro de 1835 eclodiu em Salvador um movimento liderado por negros escravos, conhecida como a Revolta dos Malês. O termo era usado na Bahia na época colonial para designar o escravo, que independentemente da etnia, seguisse as crenças islâmicas, soubesse ler e escrever árabe. O movimento dos malês era essencialmente antiescravista, mesmo que os revoltosos hostilizassem os negros nascidos no país (crioulos e mulatos). A principal proposta dos rebeldes era transformar a Bahia numa região unicamente para os africanos. Diversos escravos e negros libertos das mais variadas etnias, lutaram contra as tropas armadas repressivas. Em relação ao significado desse movimento, o historiador João José Reis, observou: “Na noite do dia 24 para o dia 25 de janeiro de 1835, um grupo de africanos escravos e libertos ocupou as ruas de Salvador, Bahia, e durante mais de três horas enfrentou soldados e civis armados. Os organizadores do levante eram malês, termo pelo qual eram conhecidos na Bahia da época os africanos muçulmanos. Embora durasse pouco tempo, apenas algumas horas, foi o levante de escravos urbanos mais sério ocorrido nas Américas e teve efeitos duradouros para o conjunto do Brasil escravista. Centenas de insurgentes participaram, cerca de setenta morreram e mais de quinhentos, numa estimativa conservadora, foram depois punidos com penas de morte, prisão, açoites e deportação. (...)” REIS, João José. Rebelião no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. O levante contou com a participação de mais de 1500 negros que se articulavam em uma sociedade secreta. A rebelião estava planejada para ocorrer no dia 25 de janeiro. Entretanto, uma escrava liberta, em troca de favores, vazou as informações, e autoridades conseguiram reprimir preventivamente o movimento. No final, os malês foram derrotados e submetidos a punições severas: deportações, açoites e torturas. Mais de setenta escravos foram mortos. Sabinada (1837(1837-1838) Sob a liderança do médico e jornalista Francisco Sabino (daí o derivado do nome da revolta), a Sabinada ocorreu na Bahia tendo uma trajetória um pouco distinta da Cabanagem e a Revolta dos Malês, uma vez que estas foram lideradas por camadas populares. Diferente, da Sabinada que foi promovida por membros das classes medias da sociedade. Desde a emancipação política, a Bahia foi cenário de vários movimentos sociais, alguns simpatizantes, outros desfavoráveis à Monarquia, como era o caso da Sabinada. Ao término de 1837, Sabino proclamou a República Bahiense, que iria permanecer até D. Pedro de Alcântara atingir a maioridade legal. Desse modo, a revolta não tinha um intenso sentimento separatista ou social. Suas discussões estavam relacionadas com questões políticas do momento. 270 Na imagem, artesãos confeccionando balaios. Litogravia de L. Laurens. No começo de 1838, as tropas governistas reprimiram o movimento, retomaram Salvador e prenderam mais 3 mil rebeldes foram presos. Aproximadamente mil pessoas morreram nos enfrentamentos. A Balaiada (1838-1841) A Balaiada ocorreu, na pobre província do Maranhão, sob as lideranças do vaqueiro Raimundo Gomes, do fazedor de balaios Manuel dos Anjos Ferreira, o Cara Preta e o quilombola negro Cosme. O Maranhão passava por sérios problemas sociais e econômicos, agravados ainda mais com a crise na produção algodoeira, principal produto da região. As desavenças entre as os segmentos dirigentes e o isolamento das decisões políticas do governo central determinaram o início do levante em 1838. Em pouco tempo, as camadas populares aderiram ao movimento, chegando os rebeldes a tomar a cidade de Caxias em 1839. A princípio, houve uma aliança entre os populares e a elite para combater o governo provincial e central. Porém, os distintos interesses e os desentendimentos internos fragilizaram o movimento. Em 1840, os rebeldes foram reprimidos pelas tropas de Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias. Parte dos insurretos foi anistiado e outros punidos. Em 1842, o negro Cosme foi enforcado. A Revolta dos Farrapos (1835-1845) A Revolta dos Farrapos ou Farroupilha ocorreu no Rio Grande do Sul, entre 1835 e 1845, se estendendo por Santa Catarina. Os motivos dos conflitos remontam os atritos entre os grandes pecuaristas gaúchos e o governo central. Essa província, devido sua localização geográfica, tinha forte contato com a região platina. Sua principal atividade economia era a criação de gado destinada para a produção de carne seca ao sol (charque), que abastecia o mercado interno do país. A mão de obra utilizada na pecuária era livre, havendo um pequeno número de escravos. Sob os aspectos políticos, os produtores gaúchos se manifestaram contra as medidas alfandegárias implantadas pelo governo central, que diminuía os impostos para a entrada no mercado brasileiro de artigos dos países platinos, similares e mais baratos do que os produzidos no Rio Grande do Sul. A justificativa usada pelo governo para tal atitude se fundamentou nas reclamações dos consumidores do sudeste quanto aos elevados preços dos produtos sulistas. Diante disso, os criadores brasileiros e os charqueadores sentiram-se prejudicados por tais procedimentos. Essa situação gerou tensão e as lideranças gaúchas começaram a lançar ideias em relação à autonomia política e a formação de uma república, que permaneceria mantendo laços com o Império. Em tese, o separatismo representaria a perda de amplo mercado consumidor. Contudo, os trabalhadores pobres engajados na rebelião vislumbravam a instauração de um autogoverno republicano, um meio para a resolução dos problemas enfrentados por eles. Foi nesse projeto republicano, e não pelas tarifas do comércio da charque, que o italiano Giuseppe Garibaldi participou do movimento dos farrapos. Cena de uma das batalhas da Guerra de Farroupilha. Quadro de Wasth Rodrigues. 271 A rebelião teve início em 1835, quando o estancieiro e militar Bento Gonçalves comandou tropas de particulares com o propósito de derrubar o presidente provinciano escolhido pelo poder regencial. Em setembro do mesmo ano, os farrapos ocuparam Porto Alegre e proclamaram a República Rio-Grandense ou República de Piratini, sendo o seu primeiro presidente Bento Gonçalves. Em julho de 1839, sob a liderança de Garibaldi e David Canabarro, Santa Catarina foi invadida pelos rebeldes e proclamaram a República Catarinense ou República Juliana, integrada à República Rio-Grandense. Os confrontos tornaram-se extensos, desgastantes e sem vencedores. Esse impasse não era bom para ninguém. Apenas em março de 1845, as tropas comandadas por Luís Alves de Lima e Silva contiveram o movimento. No final, o governo agiu de maneira cautelosa e estabeleceu a tarifa de importação de 25%, como reivindicavam os produtores gaúchos, sobre os produtos dos países da Prata. No acordo assinado entre os revoltosos e o governo, ficou também deliberado a concessão de anistia geral aos estancieiros, a integração dos soldados e oficiais rebelados ao Exército Nacional e a devolução das áreas confiscadas. Muito diferente do que ocorreu com os cabanos e os malês, o governo brasileiro negociou, cedeu e reprimiu brandamente os estancieiros gaúchos. 272 TEXTO COMPLEMENTAR “O governo regencial alegava que a violenta repressão à Balaiada e à Cabanagem era necessária porque aquelas revoltas provocavam as anarquias no país, o que poderia levar a nação a se dividir. Na realidade, o governo percebia nessas revoltas a insatisfação das camadas mais pobres da população em relação às suas más condições de vida e a uma realidade social injusta, e temia as conseqüências de um movimento popular. A preocupação maior do governo era quanto ao fato de as classes oprimidas estarem participando ativamente do processo político, com armas na mão. Para a classe dominante, a participação popular, por si só, era o grande perigo, o mal que precisava ser evitado a qualquer custo. Mas então, por que o governo precisava dizer que reprimia esses movimentos para manter o país unido? Ora, isso ocorria pelas mesmas razões de hoje: os governantes sempre querem convencer a todos que agem de acordo com a vontade e os interesses da nação, quando, na verdade, governam para atender as exigências de um grupo ou de uma classe de privilegiados que controla a nação. Na época da Regência, você já sabe quem controlava a nação. E hoje? OLIVEIRA, Roberson. As rebeliões regenciais. São Paulo: FTD, 1996. p.51 (Para melhor conhecer o mundo). Analisando o texto 1. Diversos fatores contribuíram para a eclosão das rebeliões no período Regencial. Entre as inúmeras causas, podem ser citadas a insatisfação das elites provinciais, o sentimento antiportuguês e os protestos das camadas populares contra a exclusão e injustiças sociais e econômicas da época. Nessa perspectiva, responda: a) De acordo com o texto, qual a justificava usada pelas Regências para reprimir as rebeliões populares? Comente. b) Faça uma rápida análise quanto à opinião do autor. 273 FAZENDO HISTÓRIA 1. O que significou a criação da Guarda Nacional e do Código Criminal de 1830 para o momento político do Brasil? 2. A Lei do Império do Brasil de 10 de Juno de 1835 previa a pena de morte para os escravos que assassinassem ou ferissem gravemente seus senhores, feitores, administradores e familiares, sem recurso algum. Explique as condições históricas que levaram a essa lei repressora. 3. (UFPI) Leia o texto a seguir. “As revoltas do período regencial não enquadram em uma moldura única. Elas tinham a ver com as dificuldades da vida cotidiana e as incertezas da organização política, mas cada uma delas resultou de realidades específicas, província ou locais.” (FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2001. p.164.) A partir desse texto e dos seus conhecimentos, comente os principais motivos que impulsionaram os principais movimentos durante as regências. 4. Comente os aspectos gerais da Revolta dos Cabano ocorrida entre Pernambuco e Alagoas. 5. (UNICAMP-SP) “Dois partidos lutam hoje em nossa pátria: o Restaurador e o Moderado. O primeiro foi leal ao monarca que abdicou e defende os inquestionáveis direitos do Sr. Pedro II. O segundo é partidário do sistema republicano e que reduzir o Brasil a inúmeras Repúblicas ‘fracas’ e ‘pequenas’, e assim seus membros poderiam tornar-se seus futuros ditadores”. Adaptado do Jornal o Caramuru de 12 de abril de 1832, citado por Arnaldo Contier, Imprensa e Ideologia em São Paulo, 1979. A partir do texto, responda: a) Em que período da história política do Brasil o texto foi escrito? b) Qual o regime político defendido pelos partidos citados no texto? c) Quais são as críticas que o jornal O Caramuru faz ao Partido Moderado? 274 6. (PUC-RJ) “Rebeldes verdadeiros ou suposto eram procurados por toda parte e perseguido como animais ferozes! Metidos em troncos e amarrados, sofriam suplícios bárbaros que muita vezes lhes ocasionavam a morte. Houve até quem considerasse como padrão de glória trazer rosários de orelhas secas de cabanos.” Relato de Domingos Raiol acerca da repressão à Cabanagem. “Reverendo! Precedeu a este triunfo derramamento de sangue brasileiro. Não conto como troféu desgralas de concidadãos meus, guerreiros dissidentes, mas sinto as suas desditas e choro pelas vítimas como um pai pelos seus filhos. Vá, Reverendo, vá! Em lugar de Te Deum, celebre uma missa de defuntos, que eu, com meu Estado-Maior e a tropa que na sua Igraja couber, irei amanhã ouvi-la, por alma dos nossos irmãos iludidos que pereceram no combate.” Pronunciamento do barão de Caxias acerca da comemoração da vitória sobre as farroupilhas. Os textos apresentam testemunhos sobre a repressão empreendida pelos dirigentes do governo a duas revoltas ocorridas no Império do Brasil: a Cabanagem (Grão-Pará, 18351840) e a Farroupilha (Rio Grande do Sul, 1835-1845). A partir da análise desses testemunhos: a) Identifique os segmentos sociais predominantes na Cabanagem e na Farroupilha. b) Explique por que os dirigentes do estado Imperial trataram de forma diferenciada os rebeldes envolvidos na Cabanagem e na Farroupilha. 7. Identifique os grupos políticos existentes no Brasil durante o período regencial e as principais ideias que defendiam. 8. Elabore uma síntese das quatro revoltas regenciais principais. Para isso, desenvolva um quadro com os seguintes dados: nome, data, local, grupos sociais participantes, razões do conflito, como se desenrolou o conflito e o desfecho. 275 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UERJ) “Fui liberal; então a liberdade era nova no país (...) o poder era tudo; fui liberal. Hoje (...) os princípios democráticos tudo ganharam (...) a sociedade, que então corria o risco pelo poder, corre o risco pela desorganização e pela anarquia.” Bernardo Pereira de Vasconcelos. In: TORRES, João Camilo de Oliveira. Os construtores do Império. São Paulo: Nacional, 1968. p.55. O discurso acima, preferido pelo deputado regressista em 1838, demonstra o temor dos representantes da elite quanto aos rumos do Período Regencial (1831-1840). Pode ser considerada como causa desta preocupação: a) A supressão da Guarda Nacional. b) A política regencial de protecionismo alfandegário. c) As rebeliões ocorridas durante todo o período regencial. d) A possibilidade de nova união entre as coroas portuguesa e brasileira. e) A intenção do Partido Progressista em antecipar a maioridade de D. Pedro II. 2. (FUVEST-SP) Sobre a Guarda Nacional, é correto afirmar que ela foi criada: a) Pelo imperador, D. Pedro II, era por ele diretamente comandada, razão pela qual tornou-se a principal força durante a Guerra do Paraguai. b) Para atuar unicamente no Sul, a fim de assegurar a dominação do Império na Província Cisplatina. c) Segundo o modelo da Guarda Nacional Francesa, o que fez dela o braço armado de diversas rebeliões no Período Regencial e início do Segundo Reinado. d) Para substituir o exército extinto durante a menoridade, o qual era composto, em sua maioria, por portugueses e ameaçava restaurar os laços coloniais. e) No Período Regencial como instrumento dos setores conservadores destinado a manter e restabelecer a ordem e a tranqüilidade públicas. 3. (SEPLAG/CESGRANRIO-RJ) “Os grupos de escravos egressos da Costa da Mina, sob diferentes identidades (Nagô, Hauçá, Jeje, Tapa), promoveram o maior ciclo de revoltas escravas africanas de que se tem notícia na história do Brasil. O caráter de resistência sistêmica à escravidão só teve equivalente, antes, na Guerra dos Palmares e, depois, no movimento abolicionista da década de 1880. Com efeito, entre 1807 e 1835, a Bahia viveu um período de rebeliões contínuas dos escravos africanos, cujo ápice foi a Revolta dos Malês.” REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil, a História do Levante dos Malês em 1835. Cia. das Letras. Completando 176 anos em 2011, a Revolta dos Malês, na Bahia, embora não tenha conseguido modificar a ordem escravista brasileira, teve um aspecto bastante representativo, uma vez que: a) foi o levante de escravos urbanos, na sua grande maioria de religião muçulmana, mais sério ocorrido no Brasil. b) foi um levante de escravos com objetivos claros e definidos, o que justifica a sua longa duração. c) foi, por meio dessa Revolta, que, pela primeira vez, um grupo de escravos ocupou, ainda que por curto período, o poder em Salvador. d) precipitou a assinatura da Lei Eusébio de Queirós, que extinguiu o tráfico negreiro. e) acelerou a introdução de imigrantes para substituir a mão de obra escrava negra. 4. (SELECT) “Sabinada” e “Malês” na Bahia, “Balaiada” no Maranhão e “Farroupilha” no Rio Grande do Sul, foram algumas das lutas que ocorreram no Brasil em um período caracterizado: a) Por um regime centralizado na figura do imperador, impedindo a constituição de partidos políticos e transformações sociais na estrutura agrária. b) Pelo estabelecimento de um sistema monárquico descentralizado, o qual delegou às Províncias o encaminhamento da “questão servil”. c) Por mudanças na organização partidária, o que facilitava o federalismo, e por transformações na estrutura fundiária de base escravista. 276 d) Pela redefinição do poder monárquico e pela formação dos partidos políticos(Restauradores, Liberais Exaltados e Liberais Moderados), sem que se alterassem as estruturas sociais e econômicas estabelecidas. e) Por uma fase de transição política, decorrente da abdicação de Dom Pedro I, fortemente marcada por um surto de industrialização, estimulado pelo Estado. 5. (UFPR) Sobre a Crise Regencial, afirma-se que os principais elementos que a caracterizam são: I. o franco declínio das relações escravistas de produção, com a crescente entrada de imigrantes e as pressões inglesas para a extinção do tráfico negreiro. II. as lutas de facções políticas pelo poder central, após a abdicação de D.Pedro I, as disputas entre grupos de grandes proprietários dentro de cada província e os levantes da população pobre em vários pontos do Império. III. a imposição do domínio da facção da classe dominante ligada ao café do Vale do Paraíba sobre as demais. IV. o agravamento da situação econômico-Financeira do Império: prática livre-cambista adotada na política de reconhecimento da independência, queda dos preços dos produtos tradicionais de nossa exportação. V. a criação de novos corpos armados de pouca ou nenhuma eficiência, como a Guarda Nacional, e reformas políticas que radicalizavam as posições dos grupos opostos, como a promulgação do Ato Adicional de 1834. Dentre as afirmativas são verdadeiras: a) somente I e II. b) somente I, III e V. c) somente II e IV. d) somente I, II, III e IV. e) todas elas. 6. (TJ-PE) Madrugada de 07 de abril de 1831, O Imperador e primeiro mandatário do Estado brasileiro, D. Pedro I abdica do Trono. Economia fragilizada, elevados gastos com a organização do Estado, inexistência de fonte nacional de recursos, hostilidades políticas, são alguns argumentos que explicam o afastamento do governante. Com a abdicação, seguese: a) O período Regencial compreendido entre 1831 até 1840, considerado como um dos mais agitados da história brasileira. b) O período regencial, marcado por profundas mudanças na vida do jovem estado brasileiro com muitos entendimentos entre as várias facções das elites políticas. c) O período regencial, diante da não aceitação imediata do príncipe herdeiro, que tinha identificação com as forças que queriam a volta ao colonialismo. d) O período regencial, solução política em completa discordância com o que estabelecia a constituição brasileira de 1824. e) O período regencial instituído para poder apaziguar os interesses conflitantes entre grupos que discordavam do herdeiro do trono. 7. (UEL-PR) No governo do regente Araújo Lima (1837-1840) foi aprovada a Lei de Interpretação ao Ato Adicional. Esta lei: a) Modificava alguns pontos centrais da Constituição vigente, extinguindo o Conselho de Estado, mas conservando o Poder Moderador e a vitaliciedade do Senado. b) Buscava a centralização como forma de enfrentar os levantes provinciais que ameaçavam a ordem estabelecida, limitando os poderes das Assembleias Legislativas Provinciais. c) Criava o Município Neutro do Rio de Janeiro, território independente da Província, como sede da administração central, propiciando a centralização política. d) Revelava o caráter liberal dos regentes, suspendendo o exercício do Poder Moderador pelo governo, eixo da centralização política no Primeiro Reinado. e) Restabelecia os poderes legislativos dos Conselhos Municipais, colocando nas mãos dos conselheiros o direito de governar as províncias. 8. (UNIR) Camaradas! Nós, que compomos a 1ª brigada do exército liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como proclamamos, a independência desta província, a qual fica 277 desligada das demais do império, e forma um estado livre e independente, com o título de República rio-grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente. (Mensagem de um comandante das tropas republicanas gaúchas enviada em 11 de set. de 1836 aos seus soldados. Citado por SPALDING, Walter. A revolução Farroupilha. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1943, pp.190-1.) Sobre a Revolução Farroupilha, assinale a afirmativa correta. a) Foi um movimento das províncias do Norte do Brasil contrárias aos privilégios concedidos às províncias do Sul. b) Fez parte de um conjunto de revoltas contra as elites locais e favoráveis à permanência do imperador no trono. c) Foi um movimento insuflado pelos Estados do Rio da Prata preocupados com o nascimento de um império forte em sua fronteira. d) Fez parte de um conjunto de movimentos que consolidaram a autonomia provincial e a descentralização política que marcaram o império brasileiro até 1889. e) Fez parte de um conjunto de revoltas que contestava o poder central de D. Pedro I e buscava maior autonomia política. 9. (COMVEST) Considerando as rebeliões regenciais, analise as proposições a seguir: I. O descontentamento com o centralismo político foi deflagrador da Sabinada que ocorreu na Bahia e teve a participação ativa de líderes urbanos que se manifestaram abertamente em jornais, panfletos e se reuniam em lojas maçônicas. II. No interior do Nordeste eclodiu uma rebelião, Guerra dos Cabanos, movimento restaurador, ocorrido entre 1832 e 1835 nas regiões da Zona da Mata pernambucana e no Norte de Alagoas. De âmbito rural, teve a participação de vários segmentos sociais. Lutavam pela restauração de D. Pedro I e pela defesa da religião católica. III. A Guerra dos Farrapos aconteceu no Sul do país e se estendeu por dez anos. Tinha como reivindicação a autonomia federativa e a implementação de uma república separatista. Está(ão) correta(s) a(s) proposição(ões): a) II, apenas. b) I, apenas. c) I e III, apenas. d) I, II e III. e) III, apenas. 10.(UFPE-Alt.) Não basta a emancipação formal dos laços de dependência para a construção de uma sociedade com ideais de liberdade social. No Brasil, depois de 1822, muitos problemas permaneceram, provocando revoltas políticas. Uma delas, A Cabanagem, aconteceu na província do Grão Pará, com: I.a participação de membros da elite local, que desejava mais liberdade política e contava com o apoio dos mais pobres. II. a forte colaboração de outras províncias em ações militares que incomodaram o governo central. III. a indiferença do governo, devido a sua falta de estrutura militar e à pouca participação dos grupos da elite política. IV. a morte de boa parte dos rebeldes, devido à forte repressão utilizada pelo governo e à resistência encontrada na população. V. a derrubada do governo provincial e a libertação dos escravos, durante toda a década de 1830, que resultaram na expulsão dos grandes latifundiários. 11.(UPE) Sobre a Revolta dos Cabanos, analise as afirmativas abaixo. I. Ocorreu logo após a abdicação de D. Pedro I, nas províncias de Pernambuco e Alagoas. II. Era objetivo dos rebeldes criar uma província exclusiva dos africanos. III. Os cabanos reivindicavam a volta de D. Pedro I. IV. Os rebeldes constituíram e conservaram, durante dez anos, um governo republicano. Estão corretas. a) somente I e II. b) somente I e III. c) somente II, III e IV. d) somente I, II e IV. e) I, II, III e IV. 9 278 OLHARES HISTÓRICOS • LIVROS A Guerra dos Cabanos. ANDRADE, Manuel Correia de. Rio de Janeiro:1965; Recife: Editora da Ufpe, 2005. A revolução farroupilha (1835-1845). ALBUQUERQUE, E. S. São Paulo: Saraiva, 2003. A Balaiada. JANOTTI, Maria de Lourdes M. São Paulo: Brasiliense, 2005. O Império em construção: Primeiro Reinado e Regências. LYRA, Maria de Lourdes Viana. São Paulo: Atual, 2000. “Um exército de índios, quilombolas e senhores de engenho contra os ‘jacubinos’: A Cabanada, 1832-1835”, in Mônica Dantas (org.), Revoltas, motins, revoluções Marcus J. M. de Carvalho. (São Paulo: Alameda, 2008, no prelo). O Império da boa sociedade: a consolidação do Estado Imperial brasileiro. MATTOS, I. R. de; GONÇALVES, M. de. A. 10. ed. São Paulo: Atual, 1994. As rebeliões regenciais. OLIVEIRA, R. São Paulo: FTD, 1996. • CINEMA Anahy das Missões Direção de Sergio Silva. Brasil, 1996. 134 min. Épico gaúcho que retrata a Guerra dos Farrapos por meio da história de Anahy que, para sobreviver, pilha os cadávares dos soldados. • SÉRIES TELEVISIVAS A Casa das sete mulheres, de Jayme Monjardim, baseada no livro homônimo de Letícia Wierzchowski, conta a história de Bento Gonçalves. 10 279 O início do Segundo Reinado (1840-1850) O Segundo Reinado (1840-1889) teve início com o Golpe Parlamentar da Maioridade, que encerrou o governo das Regências. Como foi visto no capítulo anterior, a chegada ao poder de D. Pedro II, tinha como pretensão acabar com tensões e as revoltas regências. Todavia, o Golpe não conseguiu produzir os resultados desejados e o começo desse período foi caracterizado também por grandes turbulências. As dificuldades apresentadas no decorrer do Segundo Reinado foram solucionadas à custa das forças repressivas e negociações políticas. O signo de uma sociedade tradicional, latifundiária e escravocrata ainda permanecia evidente no Império. Mesmo assim, as diversas modificações sociais e econômicas ocorridas comprometeram as bases do regime imperial, fundamentado numa forte estratificação social. Sob esse aspecto, a historiadora Lilia Schwarcz, em seu livro As barbas do imperador, observou: “Afinal, como explicar a permanência, por quase sessenta anos, de uma monarquia rodeada de repúblicas por todos os lados? Como entender o enraizamento de uma realeza Bragança, mas também Bourbon e Habsburgo, em um ambiente tropical, cercado de indígenas, negros e mestiços? A resposta é estranhar o que parece tão natural em nossos compêndios de história. Longe das luxuosas cortes europeias, a capital da monarquia brasileira, em 1838, possuía cerca de 37 mil escravos numa população total de 97 mil habitantes (38% da população), e em 1849, em uma população de 206 mil pessoas, 79 mil cativos (mesmos 38%). Além disso, 75% dos escravos eram, em média, africanos, dado que indica a importância da população de cor na cidade do Rio de Janeiro. Por outro lado, os grupos indígenas, tão afastados da corte e dizimados de forma bastante sistemática, eram convertidos, porém, em símbolo da monarquia. Distantes enquanto realidade, ganhavam vida na representação: nos quadros e alegorias, nas esculturas e nos títulos de nobreza.” SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. O Golpe da Maioridade Após a saída de Feijó, em 1837, assumiu o governo interino Araújo Lima que conseguiu expressiva vitória nas eleições realizadas em 1838. O seu governo tinha o apoio do Partido Conservador. A principal meta do novo regente uno era conter as convulsões sociais e as revoltas provinciais. Os regressistas acreditavam que tal desordem foi resultado das prerrogativas do Ato Adicional de 1834 e o Código de Processo Criminal. Nesse sentido, o governo central publicou um documento denominado de Lei de Interpretação do Ato Adicional, que anulava a autonomia legislativa cedida às províncias em 1834, devolvendo à Câmara e ao Senado, no Rio de Janeiro, os atributos de legislar. A aproximação do poder Executivo e Legislativo foi fundamental para reprimir as revoltas provinciais. Porém, as dificuldades políticas conduziram a uma nova configuração política. Em 1840, surgiram os partidos Conservador e Liberal, os dois representavam os interesses aristocráticos. Os conservadores eram defensores de um Estado forte e 11 280 D. Pedro II em 1840, com 12 anos por Felix Émile Taunay, 1837. centralizador, enquanto que os liberais defendiam uma ampla autonomia para as províncias, ou seja, um Estado descentralizado. Entretanto, levando-se em consideração as propostas e os anseios políticos de ambos os grupos eram bastante semelhantes, como analisou o escritor Francisco de Oliveira Viana: “Nada mais conservador que uma liberal no poder. Nada mais liberal que um conservador na oposição”. As pressões comandadas pelos liberais ao governo centralizador do regente Araújo Lima tornaram-se mais intensas. Muitos integrantes das classes políticas havia a necessidade de encontrar uma imediata solução que pudesse acabar com as instabilidades vivenciadas pelo Brasil. “É neste ambiente que nasce a ideia da Maioridade. A redução do prazo legal em que ela se tinha de naturalmente operar impõe-se pela ânsia de sair deste período de transição, de consolidar as instituições com o desaparecimento dessa forma, passageira por natureza, qual a Regência; pela esperança, enfim, de encontrar na ascensão do menino imperador ao trono, a tranquilidade do país. Os governos que se seguem à Maioridade têm todos o mesmo caráter. Se bem que diferenciados no rótulo com as designações de ‘liberal’ e ‘conservador’, todos evoluíram em igual sentido, sem que esta variedade de nomenclatura tivesse maior significação. Por isso mesmo é comum, e mal se estranha, a passagem de um político de uma para outro grupo. O liberalismo – e liberalismo era então sinônimo de democracia – entra por esta época, nas rodas oficiais, em franco declínio. Os poucos políticos que por suas tendências se aproximavam das aspirações populares, ou são segregados para o ostracismo, ou se englobam na reação dominante”. PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. 9. ed. São Paulo: Brasiliense. p. 78. É nesse cenário que no final de 1839, os liberais começaram a defender o projeto de antecipação da maioridade de D. Pedro I, possível alternativa para finalizar as crises e tensões sociais, restabelecendo a ordem definitiva. Para muitos historiadores, os liberais visavam na verdade, ao derrubar o regente Araújo Lima, assumir o poder e manipular o imperador adolescente. Em 1840 houve a fundação do Clube da Maioridade, presidido pelo liberal Antônio Carlos de Andrade e Silva. Em julho do mesmo ano, por meio do Golpe da Maioridade aprovado pela Câmara, D. Pedro II assumiu o governo com apenas 14 anos de idade, numa tentativa de resolver as instabilidades políticas e sociais do império. Liberais e conservadores O chamado Gabinete da Maioridade era constituído, em sua maior parte, por liberais, liderados pelas famílias Cavalcanti e Andrada. Antônio Holanda de Cavalcanti ocupava o ministério da Marinha, seu irmão Francisco de Paula Cavalcanti, a pasta da Guerra, e os irmãos Antônio Carlos e Martim Francisco de Andrada, as do Império e da Fazenda, na ordem. Por esse fato, ficou conhecido como “Ministério dos Irmãos”. A Câmara dos Deputados, de maioria de tendência conservadora, não apoiava o gabinete. Os atritos políticos tornaram-se intensos, principalmente após os conservadores rejeitarem as nomeações dos presidentes provinciais indicados pelo ministério. Atendendo ao pedido dos liberais, o imperador dissolveu o Congresso. Visando garantir as aprovações das medidas políticas e garantir a maior quantidade de parlamentares, o governo imperial usou de vários instrumentos fraudulentos e repressivos. O uso desses expedientes abusivos transformaram essas eleições em uma das mais violentas de todo o Segundo Reinado. Devido a esse fato, elas ficaram conhecidas como as “eleições do cacete”. Conservadores e Liberais contratavam grupos armados para violentar os adversários políticos. Após fraudes e pancadarias os liberais saíram vitoriosos. Em 1841, D. Pedro II dissolveu novamente o Congresso, antes mesmos das atividades iniciarem. O imperador organizou outro ministério que tinha como maioria conservadores. Nesse mesmo ano, o Conselho de Estado, extinto em 1834, foi restabelecido. Outros projetos constitucionais foram aprovadas: reforma da Lei do Processo Criminal(1841), pela qual centralizou as decisões nas mãos do governo central, tirando poder dos juízes de paz; e, restauração do Poder Moderador. Essas reformas contribuíram para o fortalecimento da autoridade política do imperador. 12 281 As normas para recrutamento de pessoas para a Guarda Nacional também foram alteradas. A partir de então, o imperador escolhia os oficiais. Além disso, com o objetivo de evitar atritos envolvendo jurisdição e Exército, as atribuições de ambos os órgãos foram estabelecidas pelo imperador: o Exército ficaria responsável pelas questões externas, a preservação das fronteiras e a manutenção da ordem social no país; enquanto que a Guarda Nacional defenderia os anseios das elites locais. Charge de Ângelo Agostini publicada no jornal Cabrião em fevereiro de 1867. Nela Agostini satiriza as fraudes nas eleições. Agostini teve participação ativa na imprensa humorística e crítica do século XIX, favorável aos ideais abolicionistas e republicanos. Em 1847, foi introduzido um estranho parlamentarismo no Brasil. Esse modelo de “parlamentarismo à brasileira” se distingue bastante do modelo implantado na GrãBretanha. No caso inglês, o monarca tinha função meramente decorativa, pois quem governa na verdade é o primeiro ministro, integrante do partido que obteve na eleições a maioria na Câmara. Entretanto, no Brasil, cabia ao imperador demitir ou nomear o ministério, ignorando, assim, o Parlamento. Como afirmam os historiadores, consistia num “parlamentarismo às avessas”, no qual o monarca reinava e governava verdadeiramente. Amparado pelo Poder Moderador, D. Pedro II possuía poder para fechar o Parlamento e convocar novas eleições. No decorrer da Monarquia brasileira não houve de fato o parlamentarismo. Permitiu-se, na verdade, a alteração no governo de liberais e conservadores, não resultando em mudanças significativas na ordem política e social do país. Durante os mais de quarenta anos de experiência “parlamentarista”, compreendido entre 1847 e 1889, foi constituído 36 Gabinetes (21 liberais e 15 conservadores. Entre 1853 e 1857), houve a consolidação do denominado “Ministério da Conciliação”, composto, até mesmo, por membros de ambos os partidos. Liberais e conservadores na Europa e no Brasil No decorrer da primeira metade do século XIX, diversos países da Europa vivenciaram movimentos revolucionários liberais. Na época, a luta foi desencadeada contra o absolutismo monárquico e pela afirmação dos direitos individuais. Os revolucionários, reivindicavam, entre outras coisas, a diminuição do poder real, ou seja, que o povo verdadeiramente tivesse uma maior representatividade parlamentar. Cobrava-se, também, o sufrágio universal, por meio do qual o voto seria o instrumento que faria prevalecer a vontade da população em detrimento de qualquer governo tirânico. Os conservadores, todavia, enxergavam a ampliação dos direitos dos cidadãos como uma ameaça a ordem política e social. Com o intuito de manter seus privilégios políticos, recorreram várias vezes aos regimes antidemocráticos como meio de impedir os radicalismos revolucionários. 13 282 Diferente do contexto europeu, havia poucas distinções entre liberaos e conservadores. Os dois “partidos” eram monarquistas, favoráveis à escravidão e defensores dos latifúndios rurais. Além disso, suas plataformas políticas eram praticamente iguais: representavam variados segmentos da oligarquia agrária e camadas médias urbanas. Contudo, havia uma distinção entre os dois grupos nessa época. Diferente dos conservadores, os liberais eram defensores da descentralização política. Cobravam maior autonomia provincial e eram seguidores do federalismo, que se manifestará intensamente na década de 1870 no movimento republicano. Em 1842, nas províncias de Minas Gerais e São Paulo, eclodiram as revoltas liberais, sob as lideranças, de Teófilo Ottoni e o ex-regente Feijó, respectivamente. Esses movimentos se manifestaram contra a forte centralização e as fraudes nas eleições, chamadas de “eleições do cacete”. Houve intensas lutas armadas nas duas regiões, porém, os rebeldes foram controlados pelas tropas de Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias. É importante salientar, que essas manifestações representavam, essencialmente, o inconformismo dos liberais em razão da perda das eleições da Câmara para os conservadores. Revolução em São Paulo (17 de maio a 20 de junho) Alguns dias após o anúncio da dissolução da Câmara, liberais de São Paulo afirmaram que não iriam mais ficar sujeitos às ordens do presidente da província, o qual havia sido escolhido pelo Rio de Janeiro. Recusando essa nomeação, os liberais paulistas aclamaram à presidência Rafael Tobias de Aguiar. Inciava-se, assim, o movimento da Revolução de 1842. Apesar de não aceitação a principal autoridade imperial na província, os liberais paulistas não tinham a intenção de declarar a independência de São Paulo com relação ao Brasil, muito menos implantar o republicanismo. Buscavam, na verdade, obter o controle sobre importante parte territorial da província para, em seguida, começar uma série de negociações com o governo imperial, que estava sendo comadado pelos conservadores. Outros prestigiados líderes liberais se destacaram, entre eles Nicolau de Campos Vergueiro e Diogo Feijó. Sob o comando do barão de Caxias, as tropas imperiais conseguiram sufocar o movimento. Tobias de Aguiar e o ex-regente Digo Feijó foram presos e encaminhandos, respectivamente, para o Rio de Janeiro e Espírito Santo. Revolução em Mina Gerais (10 de junho a 20 de agosto) Dias antes da vitória imperial em São Paulo, liberais mineiros, sob a liderança de Teófilo Ottoni, declararam à presidência da província, em Barbacema, a João Pinto Coelho Cunha. Fazendo o mesmo ato dos pauslitas. Entretanto, em Minas Gerais houve uma maior adesão de vilas ao movimento em comparação ao que sucedeu em São Paulo. Porém, o fim foi semelhante. Os mineiros foram derrotados pelas forças imperiais no dia 20 de agosto de 1842, na região de Santa Luzia. A partir desse acontecimento, para recordá-los da derrota, os conservadores passaram a chamar os liberais de luzias. A Revolta da Praieira (1848) Em 1848, ocorreu em Pernambuco um movimento liberal, denominado de Revolta da Praieira. O termo que resigna revolta é originário de um jornal que divulgava o pensamento liberal (Diário Novo), localizado na Rua da Praia. Essa rebelião retoma as concepções já vistas na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador de 1824. No plano da ideias, os praieiros foram influenciados pelas concepções dos socialistas utópicos Proudhon, Robert Owen e Charles Fourier. No entanto, essa rebelião não pode ser analisada como um movimento socialista, e sim, num confronto armado entre facções 14 283 políticas que pertenciam ao mesmo quadro aristocrático. Esses proprietários pernambucanos estavam organizados no Partido Conservador (Guabiru) e no Partido da Praia. A revolta contou também com a participação de mestiços, escravos libertos e índios. No entanto, a revolta teve como principais líderes (tendências liberais) senhores de engenho, militares e intelectuais, que não faziam alusão a abolição da escravidão. Os pontos básicos do programa dos praieiros foram: liberdade de imprensa, abolição do recrutamento militar obrigatório, sufrágio universal, fim do Poder Moderador, expulsão dos portugueses, autonomia provincial por meio da adoção do federalismo e nacionalização do comércio local. Essas reivindicações estavam contidas num documento escrito em 1849, chamado de “Manifesto ao Mundo”. EXTENSÃO DOS CONFLITOS DA REVOLUÇÃO PRAIEIRA Fonte de pesquisa, Antonio Paulo Rezende. A revolução Praieira. São Paulo: Ática, 1995. O começo da revolta está relacionado com as insatisfações das elites locais devido a política de benefícios para o centro-sul e a crise econômica regional, provocada, principalmente, em decorrência do declínio da produção açucareira. Outro objetivo dos praieiros era proibir a atuação dos comerciantes estrangeiros (portugueses) na área. Os praieiros assumiram o poder, em 1845, quando Antônio Pinto Chichorro da Gama foi nomeado presidente da província. Porém, em 1847, o governo central determinou o afastamento do cargo do líder praieiro, o que provocou muitas insatisfações. Todavia, os enfretamentos armados iniciaram-se em Olinda, quando teve a nomeação do mineiro Herculano Ferreira Pena para presidir a província, em 7 de novembro de 1848. Esse novo presidente era avesso aos praieiros. Além disso, os militantes do Partido da Praia foram progressivamente sendo afastados de cargos administrativos. No início de 1849, os rebeldes invadiram Recife, mas as forças imperiais com o apoio da Guarda Nacional detiveram reprimiram o movimento. Os combates se estenderam até 1850, quando os praieiros foram definitivamente derrotados. Entre governistas e insurretos, a Revolta da praieira deixou mais de 800 mortos. As principais lideranças da Praia, que conseguiram sobreviver ao conflito e não fugiram para o exterior, foram condenados à prisão perpétua no arquipélego de Fernando de Noronha. Porém, em 1851, o governo central anistiou todos os participantes. Após esse acontecimento, o Império viveu um período de relativa estabilidade política e social, estremecidas, posteriormente, pelas questões abolicionistas, militares, religiosas e republicanas. 15 284 TEXTO COMPLEMENTAR Revolução à européia com toque tropical Era 1848, conhecido como “o ano das revoluções”. A multidão corria pelas ruas centrais da cidade. Desordem geral. Aflita, a polícia apreendia panfletos que defendiam o direito ao trabalho e melhores condições de vida. Chamada às pressas, investiu contra a multidão espalhada pelo principal bairro da cidade. Um inglês, ao ser atacado pela turba, conseguiu segurar um homem, que tentou fugir quando viu um delegado de polícia se aproximando. Mas, ao chegar, o delegado disse que não podia fazer nada naquelas circunstâncias. E o inglês teve que soltar o homem. No dia seguinte, uma passeata saiu em direção à Assembléia Provincial, levando uma petição assinada por artesãos, por gente do povo e por alguns deputados. Mas onde foi isso? Na revolucionária Paris de 1848? Não, foi no Recife, em julho do mesmo ano. Em novembro explodia a Insurreição Praieira, um movimento com muitas faces e significados. Em Pernambuco, ainda na primeira metade da década de 1840, surge o chamado “Partido Praieiro”, uma dissidência do Partido Liberal. O “racha” ocorreu por influência de três irmãos, os Cavalcanti, que se tornaram senadores – caso único na história do Brasil. A família praticamente comandava os dois partidos em Pernambuco. No Partido Liberal despontava Holanda Cavalcanti, que mais tarde foi o visconde de Albuquerque. No Conservador estavam Pedro Francisco e Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, o futuro visconde de Suassuna, um eterno vice-presidente da Província, que chegou a assumir o governo pernambucano sete vezes entre 1826 e 1844. Somados aos primos e aliados diretos, como o ex-regente Araújo Lima (marquês de Olinda), formavam uma bancada de quinze senadores em meados do século XIX. (...) (...) Em fevereiro de 1849, o líder praieiro Pedro Ivo articulou uma manobra ousada. Simulou uma retirada, atraindo para o interior os batalhões do exército imperial, e marchou rapidamente para um Recife desguarnecido. Ao chegar, encontrou resistência das tropas de segunda linha e da Guarda Nacional. O ataque fracassou. Dali em diante, os praieiros foram capturados ou mortos até a derrocada do movimento, praticamente extinto em abril de 1849. A Praieira encerrou uma era de grandes rebeliões que, embora inteiramente distintas, tiveram em comum o fato de ameaçarem a ordem imperial, ou mesmo a unidade territorial brasileira. Junto com a Insurreição Pernambucana de 1817 e a Confederação do Equador em 1824, ela compõe o “ciclo das insurreições liberais do Nordeste”. No entanto, o que mais chama a atenção na Praieira é a mobilização das massas urbanas em torno de um discurso liberal radical que defendia o direito ao emprego e à representação popular, beirando as idéias igualitárias pregadas pelos chamados “socialistas utópicos” na Europa na mesma época. O historiador Caio Prado Júnior considerava a Praieira como o último dos movimentos de caráter popular e democrático que acompanharam o processo de Independência. Para ele, os rebeldes tinham uma ideologia reformista, sintetizada no conteúdo do manifesto “Ao Mundo”, escrito pelo liberal radical Borges da Fonseca, que pregava o voto livre e universal para todos os homens, emprego para todos e o fim do recrutamento forçado para o serviço militar. A discussão continua, mas numa coisa todos concordam hoje em dia: os rebeldes de 1848. Marcus de Carvalho é professor de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autor de Liberdade, Rotinas e Rupturas do Escravismo, Recife, 1822-1850. (UFPE, 1998). Comente os principais aspectos desenvolvido pelo autor em relação à Revolta Praieira. 16 285 FAZENDO HISTÓRIA 1. A campanha pela emancipação da maioridade ganhou a Câmara, o Senado e as praças. Manifestações populares em versos e em quadrinhos podiam ser ouvidas nos salões e na ruas. Algumas a favor como: “Queremos Pedro II Ainda que não tenha idade. A nação dispensa lei. Viva a Maioridade!” Em que contexto se deu o movimento pela Maioridade? Explique-o e justifique a sua resposta. 2. O Clube da Maioridade foi fundado pelos liberais, em 1840. Explique qual era o objetivo dessa entidade. 3. Quais os motivos gerais que levaram os integrantes dos partidos liberais de São Paulo e Minas Gerais a se rebelarem em 1842? Comente-os. 4. Em janeiro de 1849, o jornalista Borges da Fonseca, um dos envolvido na Revolução Praieira, publicou o Manifesto ao Mundo. Leia um trecho desse documento e responda às questões propostas. Manifesto ao mundo Protestamos só largar as armas quando virmos instalada uma Assembleia Contituinte. Esta Assembleia deve realizar os seguintes princípio. 1º O voto livre e universal do povo brasileiro. 2º A plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa. 3º O trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro. 4º o comércio de retalho só para os cidadãos brasieiro. 5º Inteira e efetiva independência dos poderes constituídos. 6º A extinção do Poder Moderador e do direito de agraciar. 7º O elemento federal na nova organização. Disponível em www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/praieira.html; Acesso em 06 de maio de 2011. a) Após a leitura, qua a relação pode-se fazer entre os parágrafos 5º e o 6º do Manifesto. b) De que grupo político os revoltosos se aproximaram ao propor o federalismo? 5. (Fuvest-SP) Dentre as rebeliões ocorridas no Brasil durante o Segundo Reinado, qual o sentido social que se atribui à Revolução Praieira? 17 286 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (Mackenzie–SP) O Golpe da Maioridade que colocou Pedro II no trono em 1840 representou: a) o enfraquecimento do regime monárquico e o crescimento do republicano. b) o declínio da aristocracia rural, já que o novo governo não apoiava a manutenção de seus privilégios. c) o fortalecimento da democracia, fato comprovado na primeira eleição do Segundo Reinado,a “eleição do cacete”. d) a vitória dos liberais que retornaram ao governo, convidados para formar o primeiro ministério do Segundo Reinado. e) a ascensão dos conservadores, afastados do poder desde o Avanço liberal. 2. (PUC-RS) O Golpe da Maioridade (1841), que permitiu que D. Pedro II subisse ao trono, a) provocou a formação do Partido Republicano. b) impediu a consolidação de partidos em âmbito nacional. c) assinalou o fim do período de hegemonia dos partidários do escravismo. d) permitiu a reatamento das relações diplomáticas com Portugal. e) abriu caminho para a pacificação interna e para a estabilidade política. 3. (UFPI) Sobre o sistema parlamentarista brasileiro na época do Império, pode-se afirmar: I. As eleições para a Assembleia geral eram diretas e o sufrágio, universal. II. O imperador detinha o poder de dissolver a Câmara dos Deputados e convocar novas eleições. III. O imperador detinha o poder de designar o Presidente do Conselho de Ministros. IV. O Presidente do Conselho de Ministros nomeava os Presidentes das Províncias. Estão corretas as afirmativas a) I, III e IV, apenas. b) II e IV, apenas. c) II e III, apenas. d) I e II, apenas. e) Apenas I. 4. (UFPE) O segundo reinado no Brasil ocorreu sem as muitas instabilidades políticas que marcaram os primeiros anos da independência. Pernambuco, que mantinha uma tradição liberal, decorrente de movimentos, como a Revolução de 1817 e a Confederação do Equador, mostrou seu descontentamento com o governo central na Revolução Praieira de 1848. Com relação ao movimento praieiro, podemos afirmar que: a) tinha a liderança das elites políticas liberais e expressava também o radicalismo político dos grupos socialistas pernambucanos. b) foi cenário de confrontos militares, que obrigaram o governo a reforçar suas tropas e a julgar os rebeldes presos com rigor. c) foi um movimento político socialista, que expressou ideais de liberdade e de socialização das riquezas. d) ameaçou o governo central, pois contou com o apoio militar de várias províncias do Norte e do Nordeste. e) não passou de uma rebelião local, sem grandes repercussões políticas, restringindose a uma disputa por cargos administrativos. 5. (UFAL/COVEST) As instabilidades políticas não cessaram com a instalação do Segundo Reinado no Brasil. Apesar do maior controle do Estado sobre as províncias, as insatisfações e as inquietudes políticas continuavam com menos intensidade, mas a Rebelião Praieira de 1848 marcou politicamente a época de D. Pedro II. Os rebeldes tiveram: 18 287 a) b) c) d) e) um apoio militar de todas as províncias situadas no Norte e no Sul. um ideário político influenciado pelas obras de Marx e Saint-Simon. um forte sentimento antilusitano, com conflitos chamados “mata-marinheiros”. uma organização militar exemplar, com ajuda de mercenários ingleses. uma propaganda política bem organizada, liderada por uma elite socialista. 6. (COMVEST) A Revolução Praieira foi um levante armado, autonomista e federalista e, para muitos, republicano. Acontecido entre 1848 e 1849 na província de Pernambuco, foi um movimento com objetivos claros que ameaçavam a ordem social do Império brasileiro. Assinale a única alternativa incorreta. a) Mesmo irrompendo no reinado de Pedro II, a Praieira pertence ao ciclo das agitações da minoridade e reflete inquietações sentidas em outros Estados, onde, em geral pelas armas, se buscavam soluções não monárquicas para problemas institucionais do país. b) Longe das influências dos movimentos de 1817 e 1824, os praieiros descartavam a mobilização das massas, preferindo as operações de assalto ao poder. Foi assim que conseguiram sublevar várias províncias pernambucanas e invadir e tomar a capital, Recife. c) A Praieira repercutiu, no Brasil, ideias de revoluções acontecidas na Europa em 1848. No “Manifesto ao Mundo”, se reivindica o voto livre e universal, a liberdade de imprensa, a autonomia dos poderes constituídos, além da extinção do Poder Moderador. d) A Praieira lutava pela Convenção Nacional, uma espécie de Assembléia Constituinte, que soberanamente tomaria decisões como substituir o sistema monárquico pelo republicano. e) Ao longo da década de 1840, os radicais do Partido Liberal Recifense usavam o Jornal Diário Novo, localizado na Rua da Praia, para veicularem suas ideias liberais e a necessidade de um ato revolucionário. Em pouco tempo, passaram a ser chamados de “praieiros”. 7. (COTEC) “(...) à medida que avançamos na evolução do Império, vai a agitação democrática e popular perdendo em intensidade. Como as demais revoltas que se seguem à abdicação de Dom Pedro I, não passou a revolta da Praia [Praieira] de um impulso dado pela revolução da Independência. Mas, então, já era vigorosa a contramarcha. Tinha cessado aquele impulso, e era agora a reação que dominava.” (PRADO JÚNIOR, Caio. Evolução Política do Brasil. Citado por FERREIRA, Olavo Leonel. História do Brasil. 17ª. ed. São Paulo: Ática, 1995, p. 241) Assinale a alternativa historicamente correta à qual o texto se refere. a) Ao fim da Revolução Praieira, o mais radical movimento popular imperial, que pregava, entre outras medidas, a supressão do trabalho escravo. b) À centralização política, durante o chamado Segundo Reinado, período em que a “União” se fortaleceu em detrimento da autonomia das províncias e municípios. c) À vitória do Partido Conservador, que assumiu o poder após a abdicação de D. Pedro I, aniquilando as chances de uma descentralização democrática. d) À indiferenciação ideológica dos Partidos Conservador e Liberal, aspecto que permitiu ao Governo Central reprimir, indistintamente, as revoltas do período. e) À forma pela qual os revoltosos firmaram uma alianação com os conservadores para se manterem conjuntamente no poder. 8. (IPAD) A Rebelião Praieira trouxe inquietações políticas para o governo imperial e agitou a província de Pernambuco. Os praieiros defendiam: a) a existência de um governo republicano e descentralizado. b) a autonomia de Pernambuco e o fim da monarquia. c) a divulgação do socialismo nas escolas da época. d) a expulsão dos portugueses da província de Pernambuco. e) o combate à administração dos governos do Partido Conservador. 19 288 OLHARES HISTÓRICOS • LIVROS Sua majestade o café. 2003. GANCHO, C. V.; TOLEDO, V. V.. 2. ed. São Paulo: Moderna, O império do café: a grande lavoura no Brasil (1850 a 1890). MARTINS, A. L. São Paulo: Atual, 1990. A fazenda de café. MORAES, A. C. R. 13 ed. São Paulo: Ática, 2003. Revolta praieira. MORAES, E. R. São Paulo: Ática, 1995. • CINEMA Mauá – O Imperador e o Rei Direção de Sérgio Rezende. Brasil, 1999. 1332 min. O diretor Sérgio Rezende leva às telas a biografia de Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, um dos principais homens de negócios do 2º Reinado. 20 289 CAPÍTULO 19 As ondas revolucionárias do século XIX, 291 CAPÍTULO 20 CAPÍTULO 21 Nacionalismo e unificações, 303 As utopias revolucionárias, 315 CAPÍTULO 22 Os EUA no século XIX, 352 CAPÍTULO 23 A Era dos Impérios, 344 CAPÍTULO 24 Ideias, novas tecnologias e cultura no século XIX, 363 21 “A Liberdade iluminando o mundo”. A Estátua da Liberdade se transformou em um dos ícones dos Estados Unidos. As ondas revolucionários do século XIX O século XIX caracterizou-se por diversas modificações que impactaram vários continentes. O avanço técnico-científico, engendrado ao desenvolvimento capitalista, contribuiu para a formação de um ambiente cada vez mais intenso e complexo. A paisagem rural passa a dar lugar as novas configurações urbanísticas. A figura do trabalhador rural e dos latifundiários, cede lugar para o operário e os donos das fábricas. A partir de então, o trabalho livre e assalariado prevalece. Essas transformações, entretanto, geraram muitos movimentos revolucionários. Muitas revoluções liberais transfiguraram o cenário do continente europeu a partir de 1820. Aglutinado à afirmação do modelo do capitalismo industrial, esses conflitos sacudiram a Europa, com ressonância em outras regiões do mundo. Cena da revolução de 1830 na Bélgica. Obra de Gustave Wappers, Museu de Royaux, 1834. A partir de 1820 várias revoluções de caráter liberal eclodiram na Europa. Devido ao forte processo de exclusão e injustiças sociais, emergiram movimentos que lançaram novas plataformas ideológicas em oposição ao capitalismo. Foi o caso, por exemplo, do socialismo. Nessa mesma época, as nações industrializadas, implementaram ações imperialistas sob o argumento de propagar a cultura europeia para os continentes asiáticos e africanos. A intenção genuína, porém, era adquirir vantagens econômicas. Esse contexto intensificou uma fase de ocidentalização planetária, fundamentada em preconceitos e imposições políticas. Toda essa situação gerou muitas resistências dos povos dominados, deixando claro que a expansão do capitalismo enfretaria muitas tensões e trágicas consequências. 22 291 Romantismo e a luta política na Europa Os ideiais preconizados pela Revolução Francesa influenciou muitos movimentos revolucionários no século XIX. As transformações geradas pelas revoluções lideradas pela burguesia afugentaram os grupos conservadores no continente europeu, que tentaram ainda uma contra-ofesinva. Muitas vertentes surgiram para criticar o projeto iluminista. Entre esses movimentos temos o romantismo que pregava um regresso à natureza e aos costumes, enaltecendo o exótico, o maravilhoso e o selvagem. Os princípios românticos tiveram bastante repercussão nos movimentos nacionalistas e libertários no decorrer do século XIX. O romantismo voltou-se para o passado com o objetivo de recuperar, na cultura popular, as referências sentimentais que foram colocadas em segundo plano pela racionalidade iluminista. O romantismo criticou o padrão do classicismo e do neocolonialismo. As principais caractirísticas do romanstimo foram: subjetivismo, liberdade na abordagem das temáticas, retorno ao passado, valorização das tradições autênticas, exaltação da imaginação e da sensibilidade, sentimento nacionalista e busca de referências para a construção da identidade nacional. Sob o aspecto estético, os românticos defendia a liberdade de criação do artista. No campo da pintura, a imaginação adquiriu muita relevância, merecendo destaque os percepções dramática, melancólicas e diferentes. Os pinturas do romantismo privilegiava as cores e elevados contrastes entre o sombrio e a luminosidade. Entre os principais românticos merece destaque: poetas como Byron, Keats, Shelley; compositores como Chopin, Tchaikovsky, Wagner, Verdi, Schubert e Beethoven; escritores como Victor Hugo; pensadores como Schiller e Schelling. Representação da Barca de Dante (1822), obra Eugène Delacroix, considerado um das maiores expressões do romantismo francês. As ondas revolucionárias Ao processo revolucionário francês direcionou várias alternativas que fragilizaram as estruturas do Antigo Regime. As ideias iluministas apontaram para grandes alterações nos cenários econômicos, políticos e sociais. Na França, houve a deposição da Monarquia que abriu caminhos para o combate às benesses da aristocracia, o enaltecimento dos princípios de igualdade jurídica de todos e o estabelecimento de governos democráticos. Os valores da 23 292 Revolução de 1789 foram difundidos no continente europeu, primeiramente por Napoleão, que teve seu governo encerrado em 1815. As transformações posteriores às Revoluções Industrial e Francesa incontornáveis. Ambas, foram decisivas para a consolidação do poder econômico da burguesia e pelas profundas mudanças nas relações sociais. No início do século XIX, as massas urbanas faziam oposição aos governos autoritários, que ainda persistiam em alguns países europeus. Nesse momento, torna-se interessante perceber a aproxição, mesmo que por alguns instantes, de capitalistas e operários. Eles tinham em comum a oposição às forças estatais opressoras. Dessas convergências de interesses se propagaram as ondas revolucioárias do século XIX. “Houve três ondas revoluciorárias principais no mundo ocidental entre 1815 e 1848. A primeira ocorreu em 1820-4. Na Europa ela ficou limitada principalmente ao Mediterrãneo, com a Espanha(1820), Nápoles (1820) e a Grécia (1821). Fora a grega, todas as insurreições foram sufocadas. A segunda onda revolucionária ocorreu em 1829-34, e afetou toda a Europa a oeste da Rússia e o continente norte-americano. (...) Na Europa, a derrubada dos Bourbon na França estimulou várias outras insurreições. (...) A terceira e maior das ondas revolucionárias, a de 1848, (...) explodiu e venceu (temporariamente) na França, em toda a Itália, nos Estados alemães, na maior parte do império dos Habsburgo e na Suíça (1847). (...) Nunca houve nada tão próximo da revolução mundial com que sonhavam os insurretos do que esta configuração espontânea e geral. (...). O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora, assim parecia, ‘a primavera dos povos’ de todo um continente.” HOBASBAWN, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. p.127-130 A Revolução de 1830 Por volta de 1814, após a queda de Napoleão Bonaparte houve reação dos conservadores que tinham o intuito de restaurar o absolutismo na Europa. Os países europeus se reuniram, em 1815, no Congresso de Viena com o objetivo de retomar os privilégios do clero e da nobreza, reorganizar as delimitações territoriais modificadas com a expansão napoleônica, reconduzir ao poder às monarquias depostas e adotar uma postura de pleno combate aos anseios revolucionários. Na França, em 1814, os Bourbon voltou ao trono. Devido à morte de Luís XVI na guilhotina, em 1793, assumiu o cargo, o duque de Anjou, que recebeu o título de Luís XVIII. Ao longo do seu governo surgiu três facções políticas em permanentes divergências: os ultrarrealistas, que eram favoráveis a restauração do modelo do Antigo Regime e a devolução das propriedades confiscadas da aristocracia; os constitucionalistas, compotos por realistas moderados que eram defensores da implantação da Carta de 1814, que, apesar de afirmar a existência do poder divino do rei, era composta também de cláusulas que limitavam o poder monárquico; os independentes ou liberais, formados pelo bonapartistas e burgueses que lutavam por mais espaço político. O reinado de Luís XVIII, entretanto, adotou um perfil moderado e implantou a Mornaquia Constitucional, fato este que não agradou a ala conservadora. Com esse desagravo, os absolutistas franceses apoiaram o conde de Artois, futuro Carlos X, que assumiu o trono, em 1824, após a morte de Luís XVIII. O novo rei era o líder dos ultrarrealistas. Como chegou ao poder com o incentivo dos grupos conservadores, Carlos X adotou medidas com a intenção de restabelecer o absolutismo, entre elas, a defesa da Igreja (concessão para ensinar), censura da imprensa e ordenou que a nobreza fosse indenizada devido o confisco de seus bens. Essas ações autoritárias desegradaram as camadas populares, estudantes, trabalhadores e os burgueses. Tal impopularidade, também contribuíram para que nas eleições de 1830 para escolha dos integrantes do Parlamento, os liberais saíssem vitoriosos. Carlos X, por meio da publicação da Ordenações de Julho, dissolveu o Parlamento, alterando a lei eleitoral e intensificando a censura. O golpe absolutista foi o estopim para a eclosão de reações populares que levou Carlos X à renúncia e, posterior exílio na Inglaterra. 24 293 A alta burguesia passou a controlar o movimento revolucionário, pois estava temerosa que a rebelião alcançasse aspectos mais radicais, como, por exemplo, a instauração de uma república. Para evitar tal situação, os burgueses oferecem o trono a Luís Felipe de Orleans, primo de Carlos X. Os três dias de tensões do mês de julho (27 a 29), que levaram a abdicação de Carlos X e a condução de Luís Felipe ao poder, receberam o nome de “Três Dias Gloriosos”. Com essa atitude, evitou-se a Revolução Liberal, que teve início com a pequena burguesia e os trabalhadores urbanos, que conclamavam a igualdade social. Luís Felipe extinguiu a os resquícios do absolutismo francês, respeitou a Constituição e a Assembleia. Por suas manobras que combateram a aristocracia e por forte aproximação com os burgueses, recebeu o título de o “rei burguês”. O governo de Luís Felipe deu estabilidade ao projeto da burguesia e motivou a ocorrência de outros movimentos, como a independência da Bélgica e os processos de unificações dos Estados Alemães e Italiano. Os levantes também ocorreram na Espanha, em Portugal e na Polônia. Maior parte dessas dessas revoluções foram duramente reprimidas pela Santa Aliança. O rei Felipe fez uma associação entre conservadorismo político e liberalismo econômico. Fez adoção à bandeira tricolor em referência à Revolução e usou a educação com o propósito de contrinbuir para o crescimento da economia Francesa. Todas essas medidas, entretanto, não evitou a formação de grupos opositores que eram constituídos por: legitimistas (nobreza que defendia o retorno de Carlos X), bonapartistas (formada pela pequena burguesia e liderados por Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão), republicanos (desejavam implantar o direito universal do voto e a anulação do direito hereditário dos reis) e socialistas (movimentos liderados pelos trabalhadores Imagem de Luís Felipe, monarca da França (1830urbanos influenciados pelas ideias socialistas). 1848), por Franz Xaver Winterhalter, 1841. Em 1847 diversos fatores (crise de abastecimento, baixos salários, desemprego) ampliou a o clima de tensão. A oposição passou a promover muitos encontros políticos (Campanha dos Banquetes), algo que não eram permitidos. Para driblar a proibição monárquica, o revoltosos organizaram “barricadas”, onde eram divulgados os princípios do movimento que exigia a minimização do censo eleitoral e mudanças no quadro enconômico. A Primavera dos Povos Mais uma vez os eventos que eclodiram na França tiveram repercussão em outros países europeus. Em 1848, muitas revoltas se espalharam em toda a Europa, deixando evidente que as movimentações conservadoras, que persistiam em restaurar as bases do Antigo Regime desde o Congresso de Viena, não encontraria mais ambiente. Essas revoluções compõe uma fase de muitas expectativas e a ascensão de vários projetos fundamentados no nacionalismo, socialismo e nos ideias liberais. Essa fase de convulsões revolucionárias ficaram conhecidas como Primavera dos Povos. A revolução na França O quadro sócioeconômico europeu permaneceu tenso durante a década de 1840. Na França, os republicanos tentaram realizar um grande banquete no dia 22 de fevereiro de 1848, em Paris. O governo, todavia, proibiu sua realização. Mesmo a burguesia respeitando a proibição, o proletariado parisiense manifestou-se. Várias barricadas foram levantadas contra o governo. Percebendo que a revolta da população não cessaria a curto prazo, o rei decidiu renunciar. A partir de então foi instaurada a Segunda República e instituído um governo provisório composto por vários segmentos políticos, com destaque para os republicanos 25 294 socialistas. As primeiras decisões desse governo republicano foram: redução da jornada de trabalho, reintrodução da liberdade de imprensa e reunião, estabelecimento do voto universal masculino e criação dos Ateliers (Oficinas Nacionais). Essas oficinas consistiam numa espécie de agência de obras públicas e foram criadas com objetivo de acabar com o desemprego, uma vez que o Estado passou a reconhecer o direito ao trabalho e à garantia de um vida digna aos cidadãos. Os Ateliers ofereciam empregos em aterros, construções estatais e fábricas. O governo provisório marcou eleições para os dias 23 e 24 de abril de 1848. Os republicanos moderados saíram vitoriosos do processo eleitoral. Apoiado pela burguesia e pelos pequenos proprietários rurais, o governo eleito assume o poder em maio e adota medidas impopulares, entre elas, o fechamento das oficinas nacionais. Essas medidas não agradou ao proletrariado urbano-industrial. O novo gorveno foi acusado de atender aos desejos burgueses. Em junho de 1848, os operários organizaram várias barricadas nas ruas de Paris e reivindicavam a implantação de uma república social e democrática. A revolta foi brutalmente reprimida: mais de 1500 rebeldes mortos, 12 mil presos e outros 4 mil foram levados para a Argélia. Após o esmagamento do movimento, uma nova Constituição foi promulgada em 4 de novembro de 1848. Ela previa que a composição dos poderes se daria através de uma república presidensialista e o voto universal. Com o apoio dos camponeses e trabalhadores, Luís Napoleão Bonaparte venceu as eleições (dezembro de 1848) com grande margem de votos. Três anos depois de eleito, Luís Nonaparte desferiu um golpe, que Karl Marx denominou de “Golpe de 18 Brumário”, porque o sobrinho parecia tentar seguir o percurso do seu tio Napoleão Bonaparte. Nesse momento, estabeleceu-se um forte aparelho repressor: opositores foram presos e jornais Representação da revolução de junho de 1848 em paralarizaram suas circulações. Em dezembro de Paris. Esses movimentos ficaram conhecidos como as 1853, Luís Bonaparte autoproclamou-se Napoleão III, Jornadas de Junho. Quadro Barricada na rua de La Mortellerie, de Ernest Meissonier, 1849. inaugurando, assim, o Segundo Império e finalizando o ciclo convulsionado na França. A Expansão das Revoltas PRINCIPAIS REBELIÕES NA EUROPA EM 1848 Após o sufocamento dos movimentos rebeldes na França, outros países tornaram-se palcos de muitos focos revolucionários, entre eles, Hungria, Polônia, Dinamarca e Áustria. Na Hungria houve lutas contra a dominação austríaca, enquanto que na Croácia, na Sérvia e na Romênia ocorreram insurreições contra o domínio húngaro. Por sua vez, os poloneses insurgiram-se contra os prussianos, russos e autríacos. Já na Áustria, movimentos estudantis e populares obrigaram o rei Fernando I adotar a Monarquia Parlamentar. Porém, o absolutismo monárquico foi restabelecido em 1848. Na Dinamarca, os enfrentamentos foram para a instauração do modelo de monarquia constitucional ou parlamentarista. 26 295 TEXTO COMPLEMENTAR Um dos mais renomados historiadores contemporâneos, o inglês Eric Hobsbawn, avaliou as ações revolucionárias de 1848 no seu livro A era das revoluções: Europa 1789-1848. Leia atentamente um dos trechos retirado dessa obra e, sem seguida, responda as questões requisitadas. Quase simultaneamente, a revolução explodiu e venceu (temporariamente) na França, em toda a Itália, nos Estados Alemães, na maior parte do Império Habsburgo e na Suíça (1847). De forma menos aguda, a intranquilidade também afetou a Espanha, a Irlanda, a Grécia e a Grã-Bretanha. Nunca houve algo tão próximo da revolução mundial com que sonhavam os insurretos do que esta conflagração espontânea geral (...) O que em 1789 fora o levante de um só nação era agora, assim parecia, ‘a primavera dos povos’ de todo um continente. HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções: Europa 1789-1848. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. p.130. Analisando o texto 1. De acordo com o historiador, a revolução de 1848 obteve pleno sucesso na França? Por quê? Jutifique. 2. Qual correlação feita pelo autos entre os movimentos revolucionários do século XIX e a Revolução Francesa? 3. Qual o objetivo do autor ao desenvolver a expressão “a primavera dos povo”? O que esse fenômeno possibilitou criarna nações impactadas pelas rebeliões? 27 296 FAZENDO HISTÓRIA 1. Quais as principais características do movimento romântico? Quais as influências do romantismo em relação aos movimentos rebeldes na Europa no século XIX? 2. Comente duas razões que levaram a continuidade as tensões sociais e políticas na França ao longo do século XIX. 3. Aponte as particularidades e os pontos em comuns entre as revoltas de 1830 e 1848. 4. Quais os motivos que levaram Luís Filipe de Orleans ficouconhecido com o “rei burguês”? 5. Numa perspectiva global, o termo Privamera dos Povos faz referência ao processo revolucionário que se propagou no continente europeu em 1848. O nacionalismo foi um dos principais movitadores desses movimentos. Comente outras razões presentes nessas revoluções. 6. Mesmo em sua maioria reprimidas, as revoluções de 1848 possibilitaram algumas conquistas. Comente-as. 7. Respeitando as proporcionalidades e o contexto histórico específico, faça uma comparação entre o golpe de estado promovido por Napoleão Bonaparte, em 1799, com o seu sobrinho Luís Bonaparte, em 1851. 28 297 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFPE) O Romantismo, como movimento cultural do século XIX, merece destaque pelas críticas que já fazia à forte presença do racionalismo na sociedade ocidental da época e pela sua ampla e rica produção intelectual e artística. Sobre o Romantismo, podemos afirmar que foi um movimento: a) de nostalgia cultural, que buscou a recuperação das regras do Classicismo, as quais dominavam a arte conservadora do século XVIII. b) de grande diversidade cultural, com obras de artistas e pensadores, como Schiller, Chopin, Byron e Goethe, importantes filósofos, compositores e escritores. c) que, no século XIX, esteve na base das grandes revoluções que combatiam o capitalismo; foi amplamente renovador, no contexto mundial, pelas suas utopias exclusivamente socialistas. d) restrito à pintura e à música, sem expressões de destaque na poesia e na literatura em prosa, pois as via com perspectivas bastante acadêmicas. e) de convergência das forças conservadoras da época, com valor histórico secundário; foi um movimento bastante mistificado pelos políticos alheios às mudanças. 2. (UPE) O movimento romântico foi um protesto contra certos caminhos que a sociedade burguesa estava tomando e uma maneira de se colocar contra as mudanças trazidas pelo capitalismo. Havia a defesa de certos valores do passado, um grande interesse pela história e uma crítica ao racionalismo cartesiano. No Brasil, ele apresentou certas singularidades, mas manteve suas afinidades com o romantismo europeu, no qual podemos destacar figuras como Victor Hugo, Chopin, Goethe entre tantos outros. O texto acima: a) aproxima erradamente o romantismo europeu do brasileiro. b) destaca figuras pouco expressivas do romantismo europeu. c) equivoca-se ao afirmar que o romantismo tinha um apego ao passado. d) está correto, pois o romantismo buscou o resgate do passado, apesar de ser movimento apenas literário na Europa. e) apresenta uma análise sintética do romantismo, não cometendo qualquer erro histórico. 3. (UFPE-Alt.) O Romantismo trouxe críticas à sociedade capitalista, colocando questões sobre a felicidade e o apego aos bens materiais. Na sua visão de mundo, marcada pela diversidade de pensadores, criticou o Iluminismo e defendeu: I. com equilíbrio, a liberdade individual, exaltando os ensinamentos do racionalismo grego. 29 298 II. a possibilidade de viver a emoção, procurando se libertar das censuras feitas pelas regras sociais mais rígidas. III. em muitos dos seus aspectos, as teorias vindas de Rousseau, um dos iniciadores do Romantismo. IV. a liberdade para viver as paixões e emoções humanas e concedeu importância à capacidade de imaginação. V. o respeito a todos os limites da sociedade tradicional, para recuperar a liberdade, primeira fundadora do social. 4. (CESGRANRIO) A gravura abaixo foi difundida pelos revolucionários franceses das barricadas de 1848 e simbolizava a sua principal reivindicação. França 1848 - O voto ou o fuzil, gravura de M. -L. Bosredon (B.N., Paris). http://www.histoire-image.org Considerando a gravura e o debate político no qual se insere, é possível concluir que: a) a urna eleitoral representa o sufrágio universal defendido pela burguesia liberal que reconhecia o papel das classes trabalhadoras nas guerras anti-absolutistas. b) a ampliação do voto é apresentada como uma conquista dos setores militares positivistas, idéia reforçada pela presença simultânea da urna e do fuzil. c) a defesa do sufrágio universal era um meio de os liberais franceses restaurarem a ordem social após as agitações da Revolução de 1789, como indica a deposição das armas. d) os democratas eram a favor da soberania popular e a identificavam com o voto universal, masculino e feminino, tal como o demonstra a imagem. e) a República e a revolução social eram reivindicações de socialistas, democratas e trabalhadores urbanos, como é ilustrado pelo acesso ao voto por parte de um operário. 5. (UFPE-Alt.) Sobre as revoluções de 1848 na Europa, pode-se afirmar: I. tentaram impor o retorno do absolutismo, anulando as conquistas da Revolução Francesa. 30 299 II. foram caracterizadas pelo nacionalismo e pelo liberalismo, incluindo propostas socialistas. III. provocaram a união das tropas de Bismark e Napoleão III, para destruir o governo revolucionário. IV. conduziram Luís Felipe ao trono da França e deram origem à Bélgica como Estado independente. V. foram vitoriosas e completaram as unificações nacionais na Itália e na Alemanha. 6. (UFPE-Alt.) Sobre os movimentos revolucionários ocorridos na França, durante o século XIX, a historiografia dá ênfase às condições da pequena burguesia e do proletariado. Sobre estes movimentos podemos afirmar: I. As medidas que Carlos X adotou, em 1830, atingiam a pequena burguesia e o proletariado: dissolveu a Câmara, restringiu o direito ao voto e promulgou lei contra a imprensa. II. A insatisfação da pequena burguesia e do proletariado, que trabalhava quatorze horas por dia, o apoio da Guarda Nacional e de republicanos radicais possibilitaram, após lutas cruentas em Paris, a instalação do governo republicano provisório, em 1848. III. Na disputa para presidente da república francesa entre o General Cavagnac e Luís Bonaparte (sobrinho de Napoleão), venceu este último. Apoiado pelo exército e pelos pequenos proprietários de terras faz uma política favorável à pequena burguesia e ao operariado francês, culminando com o golpe de estado conhecido como 18 BRUMÁRIO. IV. O governo de Carlos X desgostava a nobreza por não indenizá-la das perdas territoriais e apoiava as reivindicações do proletariado quanto à diminuição das horas diárias de trabalho. V. A reação ao governo de Luís Felipe resultou na Revolução de 1848 na França, que fracassou por causa da aliança do proletariado com os grupos mais conservadores. 7. (PUC-RS) Na Europa da primeira metade do século XIX, como reação às forças conservadoras que formavam a Santa Aliança, eclodiram, em 1830, revoluções nas quais os ideais da Revolução Francesa articulavamse aos princípios do ________ e do ________. A essas correntes doutrinárias viria a acrescentar-se, a partir dos movimentos de 1848, o ________. a) Liberalismo, imperialismo e comunismo. b) iluminismo, nacionalismo e comunismo. c) Liberalismo, nacionalismo e socialismo. d) Iluminismo, imperialismo e socialismo. e) Liberalismo, federalismo e comunismo. 8. (UFPE-Alt.) Durante o século XIX, uma onda revolucionária varreu a Europa, ora a favor da derrubada das monarquias, ora pela volta da aristocracia ao poder. Sobre estas mudanças, identifique as proposições verdadeiras e falsas. I. Após a queda de Napoleão, a dinastia dos Bourbons retornou ao poder, na França, através dos reinados de Luís XVIII e Carlos X. II. Na região onde atualmente reconhecemos a Itália, a revolução pretendeu expulsar o domínio estrangeiro e unificar todos os Estados independentes. III. Na Alemanha, a onda revolucionária provocou a cisão no Cristianismo, possibilitando o aparecimento da Reforma. IV.A situação sócio – econômica européia, entre 1845 e 1848, foi crise e fome provocadas pela falta de alimentos e pela presença de constantes guerras. V. A burguesia urbana e o proletariado, durante esse período, realizaram alianças temporárias e dessas alianças surgiram idéias nacionalistas, liberais e socialistas. 9. (UFPE-Alt.) A onda revolucionária de 1848 varreu a Europa e teve repercussão no Brasil. Sobre este tema, analise as proposições abaixo. I.O liberalismo esteve presente nessas revoluções, contrariando as limitações impostas pela monarquia absoluta. II. O nacionalismo foi uma bandeira utilizada pelos revolucionários, tanto na Europa quanto no Brasil. III.A nacionalização do comércio a retalho estava entre as reivindicações dos revolucionários da Praieira – 1848, em Pernambuco. IV.A igualdade social e econômica também esteve na mira dos revolucionários europeus. 31 300 V. Com a miséria dos camponeses e proletários, a organização dos partidos socialistas, na Europa e no Brasil, antecedeu e preparou as revoluções de 1848. 10.(PUC-RS) Entre 1820 e 1848, enfrentaram-se, em ondas revolucionárias na Europa, as forças sociopolíticas partidárias do conservadorismo restauracionista e dos princípios liberais. São exemplos de Estados nos quais triunfaram, no final daquele período, as forças conservadoras, com governos altamente centralizadores, fundados na aristocracia agrária: a) a Inglaterra, a França e a Prússia. b) a França, a Rússia e a Alemanha. c) a Áustria, a Prússia e a Rússia. d) a Itália, a Bélgica e a Áustria. e) a Alemanha, a Inglaterra e a Turquia. 11.(SEPLAG/CESGRANRIO-RJ) Obedecendo às mesmas razões das Revoluções de 1830 (crise econômica, propaganda das ideias liberais e nacionais, descontentamento da burguesia e do proletariado), as Revoluções de 1848, na Europa, tiveram como novidade a entrada em cena do Socialismo. Era o “socialismo utópico” ou “romântico”, pregado por vários pensadores que discutiam os problemas do proletariado. No Brasil, desde o Período Colonial, passando pelo Período Joanino e pelo 1º Reinado, havia, em Pernambuco, uma forte tradição revolucionária. No Período Regencial, o clima de agitação se alastrou por todo o país e alcançou também essa Província. As pequenas rebeliões que eclodiram entre 1831 e 1834 revelaram o descontentamento popular e prepararam uma revolta mais profunda. Tal movimento, ocorrido em 1848, foi o último grito do liberalismo radical contra o domínio conservador que iria se estender por todo o Império e parte da República. Qual a revolta liberal radical ocorrida em 1848, no Brasil, que apresenta semelhança com as Revoluções Liberais que aconteceram na França e em outros locais da Europa, no mesmo ano? a) b) c) d) e) Sabinada. Revolução Praieira. Cabanagem. Balaiada. Guerra dos Farrapos. 12.(COVEST) O Romantismo fez críticas ao Racionalismo do século XVIII e buscou outras alternativas para se encontrar com a felicidade. De fato, os românticos: a) defenderam uma sociedade de homens iguais e livres, lembrando os caminhos da Revolução Francesa. b) combateram o capitalismo e o desejo de lucros, sendo solidários com todos os sindicatos operários ingleses. c) enfatizaram o valor do passado e das tradições, mas foram inimigos do clero e do cristianismo católico. d) destacaram a importância da sensibilidade e da emoção e desconfiaram das certezas iluministas. e) tiveram um pensamento homogêneo, com utopias que defendiam a vida rural e o sentimento de coletividade. 13.(IPAD) O século XIX foi importante para fundamentar o ofício do historiador. Nesse sentido, a contribuição dos pensadores românticos: a) b) c) d) e) reforçou a perspectiva objetiva e neutra de Escola Metódica. fez ressaltar o valor dos sentimentos para vida social. consolidou a luta de classes com chave do conhecimento histórico. defendeu as utopias que estavam relacionadas com o feudalismo. consolidou as filosofias de Hegel e Rousseau, defendendo o socialismo. 32 301 OLHARES HISTÓRICOS • Livros O século XIX (1815-1914). René Rémond. São Paulo: Cutrix. Utopias românticas. E. T. 2 ed. São Paulo: Etação Liberdade, 2003. • Cinema Oliver Twist Inglaterra, 1948. Direção de David Lean. O filme é baseado no romance homônimo de Charles Dickens, em que um garoto órfão foge para Londres na época da Revolução Industrial. 116 minutos. Os miseráveis (Estados Unidos, 1978). Direção de Glenn Jordan. Baseado no romance homônimo de Victor Hugo, o filme, ambientado na França do século XIX, retrata a história de um trabalhador desempregado que é preso após roubar um pedaço de pão para alimentar a família. 123 minutos. 33 302 Nacionalismo e unificações O nacionalismo Um dos temas mais importantes da historiografia contemporânea é a constituição do Estado-nação ou Estado Nacional, que surgiu no século XIX. De acordo com os historiadores, a percepção de soberania enaltecida ao longo da Revolução da Francesa e pelos movimentos posteriores deram grande impulso para a definição de nação. Este conceito designava a um processo de fusão de aspectos geográficos (grupos de pessoas nascidos numa mesma área), políticos (tipos de associação ou organização), culturais (hábitos, costumes, tradições) e históricos (retorno ao passado em busca de referenciais) para formar uma identidade coletiva. O desenvolvimento do Estado-nação implicou na necessidade de projetar o dsenvolvimento de uma cultura nacional homogênea, a organização de poder estatal legítimo, defesa de interesses comuns para o país, a existência de um monopolólio legal da “repressão” do Estado (aparelho policial e jurídico), sistema de tributação e a prática do exercício juridiscional com o propósito de garantir o bem-estar social. Conflitos populares nas ruas de Paris, em 26 de fevereito de 1848. As bandeiras sendo elevadas projetam uma das marcas de nacionalismo. Obra de Felix Philipoteaux. (Musée Du Petit Palais, Paris, França). Desde o século XVIII, o aparato de sustentação do Estado estava adquirindo novos nuances, entre eles, a introdução das ideias liberais. Segundo o liberalismo, o homem livre antecede ao Estado, o qual existe para preservar a ordem consentida e pactuada através das leis, fazendo as míninas intervenções da vida dos indivíduos e nas práticas econômicas. Além disso, a ideia de soberania popular adquiriu muita força entre as correntes liberais. “Associar a soberania com a nação é um critério político que designava que cada nação deveria organizar a sua vida política em um Estado. Esse processo é bastante dinâmico: uma nação é construída historicamente, ou seja, por mais que as pessoas possam supor vinculações remotas, a associação ou separação entre os povos e comunidades tem as marcas de um tempo específico. Por que isso era importante no contexto das revoluções do século XIX? Ao criar uma associação entre nação e Estado, por exemplo, é mais fácil obter a adesão e participação da população que será integrada por esse Estado. As vinculações que difundiam com a soberania exercida pelos franceses criavam mecanismos de contestação ao monarca e privilegiavam a população que se identificava com a nacionalidade supostamente comum. As diferenças entre os grupos sociais (burgueses, camponeses, trabalhadores urbanos) desapareciam diante de uma característica comum: ser francês.” FREITAS, José Alves de Freitas. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2011. p.580-581. 34 303 Apesar de possuir suas raízes nas ideias liberais, o nacionalismo se fortaleceu com movimento romântico. Os românticos defendiam a coletividade, ou seja, a relevância do homem compartilhar a língua, a cultura, a unidade territorial, as tradições e hábitos pertecentes historicamente ao país. Há duas correntes principais que faz um rico debate sobre o nacionalismo: a orgânica e a liberal. Para os defensores da primeira vertente, a nação é formada ao decorrer de um processo histórico que precede a construção do Estado burocrático e político. É só a partir da formação da identidade coletiva e do sentimento pleno de pertencimento da nação, que o Estado Nacional se desenvolve. Essa corrente foi influenciada pelos filósofos alemães românticos Johann Gottlieh Fichte e Gotfried Von Herder, que rearfimavam que a nação designa a unidade orgânica e cultural de um povo através do compartilhamento de seus costumes e tradições. Já a corrente liberal defendia que a nação só se afirmaria pela ação voluntária e consciência individual. A coletividade somente seria constituída pelo individualismo. Os filósofos liberais, dessa forma, discordavam com os românticos. Os movimentos nacionalistas se expandiram por diversas formas e adquiriram variados aspectos políticos no decorrer do século XIX. Por exemplo, nos Estados Unidos e na França, os partidos políticos, as escolas e as tropas militares desempenharam importante papel para a afirmação do nacionalismo. Além disso, o florescimento da literatura, do folclore, da arte e dos símbolos nacionais também foram decisivos. Todavia, em territórios em que não havia situações políticas definidas, os levantes nacionais se encaminharam para duas perspectivas: fragmentação política (Bélgica, Grécia, Polônia e Irlanda) e unificação do Estado Nacional ou unidades políticas menores (Espanha, Alemanha e Itália). Há vários pontos em comuns entre o proceso de constituição do Estado centralizado entre da Alemanha e da Itália: ambos se encontravam fragmentados em diversos Estados independentes; forte intereferência da Áustria nos territórios dos dois países; unifcação com a participação da burguesia; o processo de unificação gerou a expectativa para a introdução de reformas econômicas e sociais. Unificação Italiana Em meados do século XIX, duas importantes regiões européias (Estados Germânicos e península Itálica) estavam fragmentadas politicamente em diversos territórios, mesmo constituindo costumes e tradições comuns. UNIFICAÇÃO ITALIANA A partir da segunda metade do século XIX, houve um crescimento do nascionalismo nessas áreas. As relações de interesses econômicos e políticos, associadas aos ideais nacionalistas, foram decisivos para a formação de novos países: a Itália e a Alemanha. Até os meados do século XIX, a Itália estava dividida em muitas regiões independentes. Boa parte do território, entretanto, era governado por Estados estrangeiros. Veneza e Milão eram administradas pelo Império Romano Germânico. Já o sul, a próspera Nápoles e a ilha da Sicília estava sob o domínio da Espanha. A região central era ocupada pelos Estados Pontifícios, sediados em Roma. Os italianos controlavam dois Estados apenas: O Reino da Sardenha e a República de Veneza. Durante a era napoleônico, as tropas francesas conquistaram muitas áreas italianas, extinguindo vantagens clericais e 35 304 taxações feudais. As concepções liberais da Revolução Francesa difundidas na dominação de Napoleão incentivaram a população italiana a combater a opressão estrangeira e a lutar pela unidade política da península. A queda de Napoleão Bonaparte restaurou na região as antigas estruturas políticas, as quais eram defensoras do Absolutismo. Resoluções aprovadas no Congresso de Viena (1815) aprovaram que as regiões de Vêneto, Lombardia e Toscana pertencenriam aos austríacos. Nesse mesmo decreto, as duas Sicílias retornariam para a Dinastia Bourbon (Espanha). Ao papa foram devolvidos os Estados Pontifícios. Somente o reino de PemonteSardenha permaneceu sob a tutela italiana. Motivados por outros movimentos revolucionários de 1848, os italianos insurgiram-se contras os seus opressores externos e os dilemas internos. De forma convergente, os rebeldes objetivavam expulsar os autríacos, franceses e o papado. As revoltas foram iniciadas na Sicília e se propagaram pelo norte. A repressão, todavia, coneguiu conter os italianos. O projeto de unificação italiana, porém, não foi homogêneo, pois houve muitos aspectos discordantes entre os líderes dos movimentos. O movimento Risorgimento (Ressurgimento: periódico criado em 1847, tornando-e sinônimo movimento patriótico) que defendia a criação de um Estado nacional italiano dividia-se entre os moderados e revolucionários. Os principais líderes dos revolucionários foram Giuseppe Mazzini (1805-1872) e Giuseppe Garibaldi (1807-1882). Eles fundaram um movimento, denominado de Jovem Itália, criado em 1831. Desejavam implantar uma república democrática que permitisse ampliar os direitos e o poder político dos trabalhadores. Já os nacionalistas italianos moderados pretendiam fundar uma Monarquia Constitucional, sob o comando dos monarcas do Piemonte-Sardenha. Essa proposta recebeu a adesão dos burgueses, uma vez que expandia o mercado consumidor e eliminava os tributos alfandegários, sem resultar em transformações radicais para a Itália. Camilo Benso de Cavour (1810-1861), primeiro ministro peimontês, era a principal liderança desse movimento revolucionário. Por volta de 1859, com o auxílio francês, Cavour deu início a guerra de unificação contra a Áustria, dominando parte da Lombardia. Pragmático em suas ações, Cavour desempenhou um exímio papel diplomático. O diferencial de Cavour se deu na sua admirável habilidade de conseguir apoio externo e derrotar os adversários internos ao longo as lutas pela unificação. Com o triunfo de Piemonte, outras regiões italianas aderiram ao movimento de libertação. O conflito atingiu proporções inesperadas por Cavour. Em 1860, Garibaldi levantou um exército de mil soldados da cidade de Gênova que acabou dominando o reino das Duas Sicílias, posteriormente, Nápoles. Grupos da CAMPANHAS DA UNIFICAÇÃO ITALIANA Sardenha foram conduzidas para o sul. As expressivas conquistas dos “camisas vermelhas” (tropas de Garibaldi) causaram certo receio entre os mais conservadores, entre eles, Cavour que fez ameaças para ocupar os Estados Pontifícios. Ao perceber os possíveis riscos de fracasso e as inviabilidades que poderiam ser criadas no projeto de unificação, Garibaldi abriu mão do republicanismo e transferiu, as regiões dominadas por suas tropas a Vítor Emanuel II, rei Piemonte-Sardenha. O projeto moderado saiu vitorioso, e no ano de 1861 Vítor Emanuel II tornou-se o principal chefe político da Itália. O processo de unificação, todavia, não havia sido completado: ainda faltavam Veneza e Roma. A conquista de Veneza ocorreu em 1866, quando os italianos entraram no conflito entre prussianos e austríacos. A Prússia saiu vitoriosa, sendo a Itália recompensada com o território de Veneza. Restava apenas Roma, que representava o antigo brilhantismo da glória italiana. 36 305 O papado romano contava com a ajuda dos franceses, os quais estavam travando uma guerra com a Prússia. Devido a isso, o exército francês abandonou Roma, deixando-a vulnerável a ocupação dos revolucionários. Depois de diversas tentativas, Roma foi incorporada em 1870, transformando-se na capital do Estado Italiano. A anexação de Roma provoucou tensões entre a Igreja e o governo da Itália, pois o papado não reconhecia a unificação. Esse acontecimento ficou conhecido como a “Questão Romana”, sendo solucionada, em 1929, com o estabelecimento do Tratado de Latrão, assinados pelo governo italiano Benito Mussolini e o papa Pio IX. Segundo o acordo, o Vaticano se tornaria uma região independente, apesar de encontrar dentro da circunscrição da capital italiana. A unificação Alemã Desde a Baixa Idade Média, a Alemanha estava fragmentada em variados Estados ou até mesmo cidades-estados. Havia também reinos poderosos, entre os mais importantes merecem destaque a Prússia e a Áustria. No começo do século XIX, grande parte dos Estados Germânicos estavam sob o domínio do Império Napoleônico. Porém, com o fim da Era Napoleão Bonaparte o Congresso de Viena aprovou a criação da Confederaçao Germânica, formada por 38 Estados independentes e 4 cidades livres, sob a liderança dos austríacos e prussianos. Essas regiões possuíam uma especificidades econômica em relação, a saber, formaram unidade econômica alcançada em 1834 com a criação da União Aduaneira, chamada de Zollverein (espécie de união aduaneira) que englobavam vários Estados alemães. Esta extinguia as taxas e os entraves internos, além de padronizar as tarifas e estimular o comércio interregional da Confederação. Alguns historiadores, concebem esse processo como uma primeira forma de unificação, pois integravam a economia de graus distintos de desenvolvimento do Estados alemãs. Essa união motivou o surgimento de movimentos que se interessaram em estender a unidade para outros horizontes. No cenário de ampliação das ideias nacionalitas e o desejo dos Estados mais ricos em expandir seus negócios, a Prússia e a Áustria iniciam uma disputa para decidir quem comanda o processo de reunificação. UNIFICAÇÃO ALEMÃ (1815-1971) Ao longo das revoltas burguesas e populares da Primavera dos Povos, os alemães marcaram uma reunião na cidade de Frankfurt e aprovaram uma constituição para a Alemanha. Percebe-se, assim, a relevância política e econômica da Prússia, e consequentemente, nas etapas de unificação alemã. A experiência política de Otto Von Bimarck (1815), chanceler prussiano do rei Guilherme I, impulsionou a região a três conflitos que resultlaram em ações fundamentais para a unidade política da Alemanha. A Prússia liderou três grandes conflitos que foram 37 306 decisivos para o processo de unificação alemã. Em linhas gerais, sob o comando de Bismarck, a Prússia desenvolveu um projeto expansionista pautado numa política diplomática e em confrontos militares. Para Bismarck era fundamental mobilizar os prussianos em prol do projeto de centralização da Alemanha. Nessa perspectiva, concedeu direitos aos grandes proprietários de terras, aristocratas chamados de junkers. Além disso, esses nobres também passaram a compor as mais elevadas funções militares. Simultaneamente, Bismarck agradou aos anseios burgueses, dinamizando a economia industrial prussiana por meio de estímulos estatais nos setores bélico, siderúrgico e de trnasportes. Bismarck, entretanto, acreditava que a unidade política só seria viabilizada com a ausência dos austríacos. Porém, antes de enfrentá-los era necessário criar um pretexto para excluir a Áustria da Confederação Germânica. Dessa forma, em 1864, a Prússia apoiou os austríacos no triunfo contra os dinamarqueses, que possibilitou a influência política sobre os Estados germânicos de menor porte. Com o término da guerra, os austríacos perceberam a verdadeira intenção de Bismarck e não chegaram a um consenso sobre a divisão dos territórios conquistados. Inicia-se, assim, a guerra entre a Prússia e a Áustria. Os prussianos derrotaram os austríacos, em 1866, não anexando nenhum território da Áustria, mas a excluiu do novo agrupamento político que originou a Confederação do Norte. A relevância do comando de Bismarck tornou-se inquestionável, conseguindo canalizar os desejos nacionalistas no processo de expansão prussiano. Porém, para completar a unidade política, faltava apenas a adesão dos Estados do sul, especialmente, a Baviera. Essa região, por possuir a maioria católica, se opunha ao predomínio prostentante do governo prussiano. Só mesmo uma guerra seria capaz, segundo Bimarck, de incorporar a Baviera. E foi isso que aconteceu. A expansão da Prússia não foi vista com bons olhos pelos franceses, pois temiam a ascensão desse poderoso vizinho. Um fator externo arregimentou as tensões e motivou a Guerra franco-prussiana de 1870. Na época a Espanha atravessava uma crise sucessória, o que criou a possibilidade do primo de Guilherme I, o príncipe prussiano Leopoldo, assumir o governo espanhol. Tal situação desagradou à França, o que levou Napoleão III a exigir a retirada da Representação da proclamação do Império Alemão, liderado por Bismarck (ao centro do quadro, de branco). Pintura de Anton candidatura prussiana. Alexander Von Werner, 1885. Em mais uma ação manipulada por Bismarck, houve a divulgação de um documento secreto que forjava insultos entre franceses e alemães. A França caiu na armadilha e declarou guerra à Prússia em 1870. As investidas francesas provocaram a cooperação dos estados germânicos do norte e do sul em defesa da Prússia. Até a Baviera participou do conflito. A Alemanha conseguiu uma vitória esmagadora. Motivados pelo sentimento nacionalista, os germânicos comemoraram no palácio de Versalhes, em 1871, o surgimento de um Estado unficado e centralizado sob a liderança do Kaiser Guilherme I. Iniciava-se, dessa forma, o Império Alemão, o chamado II Reich. O governo de Guilherme I foi marcado pelo autoritarismo e pela não-inserção de práticas liberais ou democráticas. Os franceses também perderam as regiões da Alsácio e Lorena, que serão ainda discutidas em outros conflitos, como, por exemplo, na Primeira Guerra Mundial. Após a derrota, o governo de Napoleão III entrou em decadência e os franceses restauraram a República, depois de intensas tensões, dava início a Comuna de Paris, tema do nosso próximo capítulo. 38 307 TEXTO COMPLEMENTAR A questão do nacionalismo “Como maioria dos estudiosos rigorosos, não considere a ‘nação’ como uma entidade social originária ou imutável. A ‘nação’ pertence exclusivamente a um período particular e historicamente recente. (...) A ‘questão nacional’ (...) está situada na intersecção da política, da tecnologia e da transformação social. As nações existem não apenas como funções de um tipo particular de Estado territorial ou da aspiração em assim se estabelecer (...), como também no contexto de um estágio particular de desenvolvimento econômico e tecnológico. A maioria dos estudiosos, hoje, concordaria que línguas padronizadas nacionais, faladas ou escritas, não podem emergir nessa forma antes da imprensa e da alfabetização em massa e, portanto, da escolarização em massa. Já foi, inclusive, mostrado que a capacidade de o italiano popular falado ser um idioma capaz de expressar toda a extensão das necessidades de uma língua do século XX, fora da esfera da comunização doméstica e pessoal, está sendo construída hoje apenas como uma função das necessidade de programação de televisão nacional. As nações e seus fenômenos associados devem, portanto, ser analisados em termos de condições econômicas, administrativas, técnicas, políticas e outras exigências. Por essa razão as nações são, do meu ponto de vista, fenômenos duais, construídos essencialmente pelo alto, mas que, no entanto, não podem ser compreendidas sem ser analisados de baixo, ou seja, em termos de suposições, esperanças, necessidades, aspirações e interesses das pessoas comuns, as quais não são necessariamente nacionais e menos ainda nacionalistas. (...) Essa visão de baixo, isto é, a nação vista não por governos, porta-vozes ou ativistas, mas sim pelas pessoas comuns que são o objeto de sua ação e propaganda, é extremamente difícil de ser descoberta.” HOBSBAWN, E. J. Nações e Nacionalismo desde 1780. 3. Ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. p.19-20. In: FREITAS, José Alves de Freitas. História Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2011. p.583. Analisando os textos 1. O historiador Eric Hobsbawn é um dos maiores historiadores contemporâneos. Um dos temas estudados por ele é o conceito de nação e de nacionalismo. Com base no texto, qual o conceito de nação para Hobasbwn? 2. Comente a tese defendida pelo o autor. Você concorda? Por quê? Justifique. 39 308 FAZENDO HISTÓRIA 1. Leia o texto a seguir, escrito por Karl Renner, no final do século XIX. “Uma vez tendo sido alcançado um certo grau de desenvolvimento europeu, as comunidades de povos, lingüísticas e culturais, tendo maturado silenciosamente através dos séculos, emergem do mundo da existência passiva como povos. Tornam-se conscientes de si mesmas como uma força que possui destino histórico. Demandam o controle do Estado como o mais alto instrumento de poder disponível, e lutam pela sua autodeterminação política. O aniversário da ideia política de nação e o ano em que nasceu esta nova consciência é 1789, o ano da Revolução Francesa.” K. Renner. Staart und Nation. Apude: Eric Hobasbawn. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p.125. a) Identifique os argumentos usadaos pelo autor que revelam o processo de construção do Estado-nação e seu conceito ao longo do século XIX. b) De acordo com o texto, pode-se afirmar que o autor acredita que o Estado é o destino de todos os povos? Justifique. c) O autor afirma que a Revolução Francesa deu início a todo esse processo. Comente tal afirmação. 2. Para o historiador René Rémond, o nacionalismo: “(...) não conta como força, não se torna um fator de mudança senão a partir do momento em que passa a se integraar no modo de penar, de sentir, em que passa a ser percebido como um fato de consciência, um fato de cultura. (...) O movimento toca também a sensibilidade (...) e é como tal que ele se transforma numa força irresistível (...) (...) na origem desse movimento das nacionalidades, confluem a reflexão, a força dos sentimentos e o papel dos interesses. Política e economia interferem estreitamente, e é justamente essa interação que constitui a força de atração da ideia nacional pois, dirigindo-se ao homem em sua integridade, ela pode mobilizar todas as suas faculdades ao serviço de uma grande obra a ser realizada, de um projeto capaz de despertar energias e de inflamar os espíritos.” René Remond. O século XIX: 1815-1914: introdução à história de nosso tempo. São Paulo: Cultrix, 1983. p.150. a) De acordo com o texto e os seus conhecimentos, qual o papel desempenhado do nacionalismo no século XIX. b) Qual de categoria de sensibilidade o nacionalismo deve mobilizar? Comente. 3. Defina o contexto histórico da Primavera dos Povos. 4. Faça um comentário sobre a importância do Conde de Cavour e de Otto Von Bismarck no processo de de unificação italiana e alemã? 40 309 5. Comente as principais consequências da unidade política da Itália e da Alemanha para cenário político e conômico da Europa. 6. Indique as principais diferenças entre os processos de unificação italiana e alemã. 7.Por que o nacionalismo é importante elemento político para explicar os processos do século XIX? Em quais áreas ele foi decisivo para a constituição de novos Estados? 8.Com as articulações políticas usadas por Bismarck na condução do processo de Unificação alemã? 9.Defina e explique o Zollverein. Identifique, no mundo atual, os principais blocos que se assemelham ao Zollverein. 10.Leia atentamente o texto a seguir. “Para uma nação que ofre de contínua superprodução e envia, anualmente, 200 mil dos seus filhos para o estrangeiro, a questão da colonização é vital. A emigração alemã será, por muito tempo, uma necessidade inevitável, e é dever da mãe-pátria cuidar para que seus filhos errantes continuem fiéis à sua nacionalidade e abram novos canais para seu comércio, isto é mais importante do que nosso controle político sobre as terra colonizadas. Portanto, é justificável dirigir a corrente de emigrantes alemães para terras onde eles não correm perigo de perder sua nacionalidade. Tal território já foi encontrado no Sul do Brasil. Ali, a nacionalidade alemã permanece intacta, e o nosso comércio exportador crescente com essa área mostra os lucros proporcionados para a velha pátria pela lealdade de seus filhos emigrados.” TREITSCHKE, H. Von. Primeiras tentativas de colonização alemã, 1884-1885. In: Coletânea de documentos históricos. São Paulo: Secretaria de Estado da Educação, 1980. p.91. De acordo com o autor, a região sul do Brasil era um bom lugar para os alemães emigrarem? Comente sua resposta. 41 310 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFRN) Sobre a unificação alemã no séc. XIX, Marionilde Magalhães afirma: Desde o final do século XVIII, a criação de inúmeras associações resultou num determinado patriotismo cultural e popular, num território dividido em estados feudais dominados por uma aristocracia retrógrada. Tais associações se dirigem à nação teuta, enfatizando o idioma, a cultura e as tradições comunitárias, elementos para a elaboração de uma identidade coletiva, independentemente do critério territorial. E, de fato, esse nacionalismo popular, romântico-ilustrado (uma vez que pautado no princípio da cidadania e no direito à autodeterminação dos povos), inspirará uma boa parcela dos revolucionários de 1848. Mas não serão eles a unificar a Alemanha. Seus herdeiros precisarão aguardar até 1871, quando Bismarck realiza uma revolução de cima, momento em que, em virtude do poderio econômico e da força militar da Prússia, a Alemanha se unifica como Estado forte, consolidando-se a sua trajetória rumo à modernização. [adaptação] MAGALHÃES, Marionilde D. B. de. A reunificação: enfim um país para a Alemanha? Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH/Marco Zero, v.14, n. 28,1994. p.102. Tendo-se como referência essas considerações, pode-se concluir que: a) o principal fator que possibilitou a unificação alemã foi o desenvolvimento econômico e social dos Estados germânicos, iniciado com o estabelecimento do Zollverein - liga aduaneira que favoreceu os interesses da burguesia. b) a unificação alemã atendeu aos interesses de uma aristocracia rural desejosa de formar um amplo mercado nacional para seus produtos, alicerçando-se na idéia do patriotismo cultural e do nacionalismo popular. c) na Alemanha, a unificação nacional ocorreu, principalmente, em virtude da formação de uma identidade coletiva baseada no idioma, na cultura e nas tradições comuns. d) na Alemanha, a unificação política pôde ultrapassar as barreiras impostas pela aristocracia territorial, que via no desenvolvimento industrial o caminho da modernização. 2.(UFRS) A Unificação Alemã, habilmente arquitetada por Otto Von Bismarck, realizou-se em torno de guerras bem-sucedidas contra potências vizinhas. Assinale a alternativa correta em relação às motivações e aos acontecimentos que desencadearam esse processo de unificação. a) A fragmentação política obstaculizava o pleno desenvolvimento comercial e industrial da região. A unificação promoveria um mercado ágil e ampliado, com condições de enfrentar a concorrência inglesa através da proteção governamental. b) A unificação foi liderada pela Áustria, o mais poderoso dos Estados germânicos e sucessora do extinto Sacro-Império, capaz de eliminar as pretensões da Prússia. Aliado da França, o país austríaco contou com o seu apoio para vencer as resistências germânicas do sul. c) A constituição, redigida por Bismarck, inaugurou uma era democrática nos estados alemães, sob influência dos ideais da Revolução Francesa, baseados na soberania e na participação popular. d) As decisões do Congresso de Viena, ao reconhecerem o direito de independência da Alemanha, foram fundamentais para a consolidação da unificação, pois inibiram as pretensões italianas aos territórios do sul da Alemanha. e) O processo de unificação alemã contou com o apoio da França, que, acossada pela supremacia britânica, via no novo Estado um importante aliado na corrida imperialista. 3. (UNESP) Nas últimas décadas do século XIX, na Europa, dois países ainda lutavam pela unidade e pela consolidação de um Estado Nacional. Esses países são: a) França e Alemanha. b)França e Itália. e) Alemanha e Itália. c) Itália e Espanha. d)Espanha e França. 42 311 4. (UERJ) Em 1860, um contemporâneo da unificação da Itália afirmou "Fizemos a Itália; agora precisamos fazer os italianos." (D’AZEGLIO, Massimo (1792-1866). Apud HOBSBAWM, E. A era do capital: 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.) Essa frase traduz uma particularidade da construção da unidade italiana, que é identificada na: a) divergência entre nacionalismo e nação-estado. b) fusão entre nacionalismo de massa e patriotismo. c) adoção da língua italiana no dia a dia da população. d) união entre os interesses dos partidários da Igreja e da República. e) cooperação entre as regiões prussianas e as austríacas. 5. (UTFPR) Sobre a unificação italiana, é correto afirmar que: I. Após o Congresso de Viena, a Itália foi dividida e transformada numa simples “expressão geográfica”, motivando o “Risorgimento”. II. A liderança na luta pela unificação coube ao reino do Piemonte-Sardenha, sob orientação de Benito Mussolini. III. Foi na década de 1870 que os italianos conquistaram Roma e completaram a unificação. IV. A conquista da unidade deu origem à Questão Romana, monarquia italiana versus Papa, que só foi resolvida com o tratado de Latrão, em 1929, quando foi criado o Estado do Vaticano. Das proposições acima, são corretas somente: a) II, III e IV. b) I, III e IV. c) I, II e III. d) I e IV. e) I e II. 6. (UEL) Sobre a unificação da Itália (1870) e da Alemanha (1871), analise as afirmativas abaixo: I. Os movimentos liberais, que nesses países assumiram um aspecto fortemente nacionalista, tiveram importante participação no processo de unificação. II. A ausência de guerras ou revoltas marcou a unificação italiana e alemã. III. O processo de unificação acelerou o desenvolvimento do capitalismo na Alemanha e na Itália, o que resultou em disputas que desembocaram na Primeira Guerra Mundial. a) b) c) d) e) Assinale a alternativa correta. Apenas a afirmativa II é verdadeira. Apenas a afirmativa III é verdadeira. Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras. Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras. 7. (UFRS) Dentre as alternativas a seguir, assinale aquela que está correta em relação ao processo de unificação italiana, concluída na segunda metade do século XIX. a) O Congresso de Viena concluiu o processo de integração nacional italiano na medida em que este veio ao encontro dos interesses das elites locais. b) O processo de unificação nacional resultou das fortes pressões da burguesia do sul do país, cuja economia demandava um mercado interno homogêneo, dinâmico e integrado para a colocação da sua moderna produção industrial. c) A construção do Estado Nacional implicou enfrentar e expulsar as tropas de ocupação pertencentes aos impérios britânico, russo e espanhol, estabelecidas na Península Itálica desde os acontecimentos de 1848. d) O movimento de unificação partiu das áreas mais industrializadas, teve forte presença de uma burguesia interessada na ampliação do mercado interno e foi sustentado pela ideologia do nacionalismo. e) A consolidação da formação do Estado nacional italiano ocorreu com a anuência do papa Pio IX e o reconhecimento, pelo primeiro-ministro Cavour, da existência e da soberania do Estado do Vaticano, após as negociações da Questão Romana. 43 312 8. (UEL) Sobre a unificação da Itália (1870) e da Alemanha (1871), analise as afirmativas abaixo: I. Os movimentos liberais, que nesses países assumiram um aspecto fortemente nacionalista, tiveram importante participação no processo de unificação. II. A ausência de guerras ou revoltas marcou a unificação italiana e alemã. III. O processo de unificação acelerou o desenvolvimento do capitalismo na Alemanha e na Itália, o que resultou em disputas que desembocaram na Primeira Guerra Mundial. Assinale a alternativa correta. a) Apenas a afirmativa II é verdadeira. b) Apenas a afirmativa III é verdadeira. c) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. d) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras. e) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras. 9. (UFG) A unificação italiana, no final do século XIX, ameaçou a integridade territorial da Igreja. Esse impasse resultou: a) no reforço dos sentimentos nacionalistas na Itália, provocando a expropriação das terras da Igreja. b) no envolvimento da Igreja em lutas nacionais, criando congregações para a expansão do catolicismo. c) na adoção de atitudes liberais pelo Papa Pio IX, como forma de deter as forças fascistas. d) na assinatura do Tratado de Latrão, em 1929, quando Mussolini criou o Estado do Vaticano. e) no "Risorgimento", processo em que segmentos ligados à Igreja defenderam a Itália independente. 10. (UNESP) As unificações políticas da Alemanha e da Itália, ocorridas na segunda metade do século XIX, alteraram o equilíbrio político e social europeu. Entre os acontecimentos históricos desencadeados pelos processos de unificações, encontram-se: a) b) c) d) e) a a o a o ascensão do bonapartismo na França e o levante operário em Berlim. aliança da Alemanha com a Inglaterra e a independência da Grécia. nacionalismo revanchista francês e a oposição do Papa ao Estado italiano. derrota da Internacional operária e o início da União Européia. fortalecimento do Império austríaco e a derrota dos fascistas na Itália. 11.(PUC-RS) Em 1871, alterava-se profundamente o quadro geopolítico europeu com a conclusão do processo de unificação da Alemanha sob hegemonia prussiana e a criação do "Segundo Reich". É correto afirmar que um componente político fundamental da estratégia prussiana de unificação foi o _____, tendo como base social decisiva ______ . a) republicanismo a alta burguesia. b) nacional-socialismo os operários fabris. c) militarismo a aristocracia fundiária. d) nacional-socialismo a alta burguesia. e) militarismo os operários fabris 12.(FUVEST-SP) “Fizemos a Itália, agora temos que fazer os italianos”. “Ao invés da Prússia se fundir na Alemanha, a Alemanha se fundiu na Prússia”. Estas frases, sobre as unificações italiana e alemã, a) aludem às diferenças que as marcaram, pois, enquanto a alemã foi feita em benefício da Prússia, a italiana, como demonstra a escolha de Roma para capital, contemplou todas as regiões. b) apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter autoritário e incompleto de ambas, decorrentes do passado fascista, no caso italiano, e nazista, no alemão. c) chamam a atenção para o caráter unilateral e autoritário das duas unificações, impostas pelo Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha. d) escondem suas naturezas contrastantes, pois a alemã foi autoritária e aristocrática e a italiana foi democrática e popular. e) tratam da unificação da Itália e da Alemanha, mas nada sugerem quanto ao caráter impositivo do processo liderado por Cavour, na Itália, e por Bismarck, na Alemanha. 44 313 OLHARES HISTÓRICOS • Livros Bismarck e seu tempo. George Kent. Brasília: UnB, 2007. 18 Brumário de Luís Bonaparte. Karl Marx. São Paulo: Martin Claret, 2008. A unificação da Itália. John Gooch. São Paulo: Ática, 1995. Garibaldi: realidade e mito. Lotario Neuberger. São Paulo: Ediplat, 2007. • Cinema O Leopardo (Itália, 1963). Dir eção de Luchino Visconti. Centrado na história de uma aristocrática família siciliana no período da unificação da Itália, o filme retrata as tranformações sociais decorrentes desse processo. 185 minutos. A casa dos Rothchild (EUA, 1934). Direção de Alfred Werker. Clássico sobre a história da famosa família alemã, de origem judaica, que fundou a principal rede bancária inglesa no século XIX. 94 minutos. • Sites Site da Embaixada Italiana no Brasil http://www.ambbrasilia.esteri.it/Ambasciata_Brasilia. Acesso em 22 de maio de 2011. 45 314 As Utopias Revolucionárias A partir do século XIX, a industrialização propagou-se no continente europeu, no Japão e nos EUA. Depois da participação em vários movimentos em defesa de seus interesses, a burguesia transformou-se na classe dominante e teve muita influência nas decisções políticas dos países. Com a consolidação do ideal burguês, os países procuraram ampliar seus mercados e elevar sua dominação nas regiões fora da Europa, consideradas economicamente frágeis. A expansão de mercados segmentou o mundo em grandes áreas de fluxos de produtos industrializados. Essas regiões não sofreram apenas pela exploração econômica, mas também pela imposição cultural dos países industrializados. Todavia, a numerosa massa de trabalhadores se organizaram e promoveram revoluções em combate aos malefícios provocados pelo modelo capitalista. Trabalhadores vão à luta. No século XIX houve várias manifestações operárias, além do surgimento de um novo pensamento social, o Socialismo. Na xilogravura, trabalhadores articulam uma greve. Cosson Smeeton, França, 1870. Sociedade Industrial As sociedades industriais consituídas no século XIX foram marcadas por uma intensa dinâmica demográfica. Sob o aspecto geral, a população mundial cresceu rapidamente nessa fase, obviamente, em ritmos particulares e distintos. O novo ciclo de crescimento demográfico caracterizou-se pela elevada taxa de natalidade e reduzido índice de mortalidade, contribuindo dessa forma para o aumento da expectativa de vida. Essa acelerada dinâmica social resultou em fluxos migratórios diversificados e em vários sentidos: das pequenas para as grandes cidades, devido ao desenvolvimento da urbanização; do campo para os principais centros industriais; de regiões mais pobres para as mais prósperas economicamente. Ao longo do século XIX, o universo industrial e urbano impulsiona para um novo modo de vida. Hábitos e costumes são alterados pelo fenômeno da industrialização. Avanços técnicos, novas redes de transportes e de comunicação tornam a cidade mais atraente. De certa forma, a paisagem urbana sinalizou promessas de emprego, cultura, educação e melhorias de vida. 46 315 O cotidiano nas grandes cidades gerou necessidades especiais, às quais tecnologia e ciência buscaram suprir através do desenvolvimento da iluminação pública, melhorias no saneamento, abastecimento, transporte coletivo e calçamento das ruas. Nesse contexto, o poder estatal praticamente viu-se obrigado a desenvolver políticas de incentivos a geração de empregos como meio de atender a demanda população. O setor da economia que mais cresceu nesse momento foi o terciário, ou seja, o setor de serviços. Inegavelmente, a vida mas cidades modificou as relações sociais. Lazer, trabalho, economia, literatura, enfim, o mundo cultural dos homens foram profundamente impactados pela urbanização. Jovens e velhos, pobres e ricos, patrões e empregados, todos foram afetados por essas mudanças. “O processo de crescimento urbano foi repleto de contradições, tendo um lado perverso e caótico, que se tornaria característico da nova realidade. De modo geral, a população urbana aumentou significativamente, mas as estruturas e os serviços das cidades não conseguiram acompanhar esse crescimento, para o qual não havia controle ou planejamento. Nem todos, portanto, podiam usufruir plenamente os avanços e benefícios dos serviços urbanos. A pobreza, a miséria e os flagelos sociais cresciam mais rapidamente que as estruturas urbanas, e os poderes públicos e privados neglenciavam esse fato. Esse contraditório modo de desenvolvimento urbano se manifestou inicialmente nas cidades européias, mas logo se reproduziu nos grandes centros urbanos em geral, sobretudo nos países pobres”. MORAES, José Vinci de. História: Geral e Brasil: ensino médio. Volume único. 3 ed. São Paulo: Atual, 2009. p.362. O Proletariado A Revolução Industrial causou vários impactos sociais, especialmente, ao longo do século XIX. Essas alterações trouxe benefícios para uns e transtornos para outros. Enquanto a burguesia se afirmava como principal classe social, os trabalhadores das fábricas (o proletariado) viviam em situação de penúria. Esses dois grupos sociais, entretanto, ocupavam o mesmo espaço de produção: as fábricas. Os patrões eram os donos das unidades de produção e exerciam atividades administrativas. Por sua vez, os operários desenvolviam atividades produtivas em troca de baixíssimos salários e condições insalubres de trabalho. Na ausência de leis trabalhistas ou regulamentatórias, o proletariado era vítima de fortes espoliações por parte da burguesia. Elavadíssimo período de trabalho, ausência de direitos de férias, aposentadoria e descanso semanal remunerado. Havia crianças e mulheres que acompanhavam os homens na linha de produção. Os seus salários eram piores ainda. Além disso, em caso Sistema capitalista. Capa da revita Industrial Worker (1911), pirâmide ilustra o sistema capitalista. Na parte superior, as de ferramenta danificada ou máquina quabrada, uma classes sociais dominantes, enquanto base, os trabalhadores. o operário era obrigado a pagar multas. Os patrões não ofereciam nenhum tipo de seguro caso o trabalhador se machucasse. Outro problema pela industrialização foi a questão do desemprego devido a crescente introdução de máquinas espaço fabril. À medida que o capitalismo avançava ficava bem perceptível as contradições entre burgueses e operários. A burguesia ostentava luxo e riqueza. Por outro lado, a probreza do operariado. 47 316 As lutas operárias Os desdobramentos sociais gerados pelo capitalismo industrial e urbano impulsionaram os movimentos organizados pelos trabalhadores. As primeiras manifestações ocorreram no começo do século XIX e reivindicavam, entre outras coisas, melhores salários e redução na jornada de trabalho. Essas organizações se desenvolveram no contexto da ampliação do processo industrial. O movimento operário teve forte magnitude nos grandes centros urbanos. A classe operária era desprovida de leis trabalhistas. Os trabalhadores cumpriam extenuantes jornadas, que duravam até 16 horas diárias ou mais. Sofriam com a falta de segurança e condições higiênico-sanitárias precárias. Além disso, sofriam vários tipos de abusos e exploração. No final do século XVIII, irromperam na Inglaterra os primeiros movimentos operários que que questionavam essa situação. Movimento Ludista No final do século XVIII e início do XIX, a classe de trabalhadores protestaram contra as precárias condições sociais através do movimento ludista ou quebradores de máquinas que era caracterizado por ações de quebra de máquinas, vistas como responsáveis pelos baixas remunerações e elevados desempregos. Os movimentos ludistas tiveram grandes êxitos na Inglaterra, nos condados de Lancashire e Yorkshire. Vale salientar, que o processo de resistência dos trabalhadores não significou um ato impensado ou uma ação contra o desenvolvimento tecnológico. Na verdade, foram iniciativas em combate a alienação do trabalho e reinvidicavam melhores salários e melhores condições trabalhistas. Dessa forma, a destruição das máquinas consistiu no último recurso em defesa dos modos de vida mais digno e decente. Desenho publicado em 1812 mostrando trabalhadores comandados pelo lendário general Ned Lud destruindo uma tecelagem. O ludismo ou luditismo grandes dificuldades. Em 1812, o parlamento inglês homologou uma lei penalizando com prisões, deportações e mortes aos participantes do movimento “quebradores de máquinas”. Em relação aos ludistas, o historiador Edward Thompson fez a seguinte referência: “Os principais distúrbios começaram em Nottingham em 1811. Uma grande manifestação de malharistas, gritando por trabalho e um preço mais liberal, foi dissolvida pelo exército. Naquela noite, sessenta armações de malha foram destruídas na grande vila de Arnold por amotinados que não tomaram nenhuma preocupação em se disfarçar e foram aplaudidos pela multidão. Por várias semanas os distúrbios continuaram, principalmente à noite, por todas as vilas de malharias do noroeste de Nottinghamshire. Embora policiais e tropas patrulhassem as vilas, não se conseguiu fazer nenhuma prisão.” THOMPSON, E. P. A formação da Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. v. III, p. 125. Os ludistas surgiram na cidade de Nottingham, quando o operário denominado de Ned Ludd se convenceu de que as maquinarias eram as responsáveis pela miséria entre os proletários, passando a destruir os teares. Em suas rebeliões, os ludistas cantavam canções como “De pé ficaremos todos/ E com firmeza juramos/ Quebrar tesouras e válvulas/ E pôr fogo às fábricas daninhas”. 48 317 A Carta ao povo Os ideais de democracia, liberdade e coletivismo foram bastante difundidos entre os movimentos trabalhistas na Inglaterra, entre as décadas de 1830 e 1840. Os primeiros movimentos teve suas raízes no Reform Act, que concedeu o direito de voto à maior parte dos homens adultos da classe média, aos pequenos e médios proprietários rurais. No entanto, a maioria dos trabalhadores do campo e urbano não foram contemplados com o sufrágio. A classe dos operários da Grã-Bretanha reivindicava sua participação efetiva no processo eleitoral, mas teve que enfrentar grande resistência do Parlamento. Diante disso, vários trabalhadores participaram com bastante motivação ao movimento que ficou conhecido como cartista. Liderado por Feargus O’connor e William Lovett, o cartismo teve suas origens numa petição publicada em A gravura representa o gigantismo da classe 1837, denominada de Carta ao Povo. Na época, o trabalhadora e do movimento cartista diante de um parlamentar assutado. Cartum da Punch Magazine, de documento foi considerado ilegal pelas autoridades 1848. inglesas. Em linhas gerais, o programa da Carta consistia exigia o sufrágio universal masculino, fim do trabalho infantil, jornada de trabalho de oito horas, salário mínimo, folga semanal, voto secreto, abolição do censo eleitoral, legislaturas anuais, remuneração aos parlamentares e representação política dos trabalhadores. Após o movimento cartista, diversas agitações e ondas de greves perduraram ao longo de aproximadamente dez anos. “Em 1836, a crise industrial e comercial que acabava de estalar deixou no meio da rua e sem trabalho milhares de trabalhadores. Em Londresm agruparam-se formando a ‘Associação dos Operários’ que devia lutar pela obtenção do sufrágio universal. No ano seguinte, essa mesma Associação redigiu o programa de Carta do Povo, que devia ser apresentada ao Parlamento. A Carta deu origem ao movimento cartista. (...) Em maio de 1842, tendo-se agravado ainda mais a crise e a diminuição do trabalho operário, a petição foi apresentada ao Parlamento. Era apoiada por mais de três milhões de assinatura. Mas o Parlamento recusou a petição. Para apoiar as suas reivindicações, os cartistas declararam greve geral (‘o mês sagrado’), que de fato não chegou a ser geral. Os organizadores da greve fracassada foram presos e julgados. Os anos de 1840, 1841, 1842, que marcam o ponto culminante do movimento cartista, foram seguidos pela sua decadência.” Adaptado de: EFÍVOV; GALKINE; ZUBOK. As Revoluções de 1848. 2. ed. Lisboa: Editorial Estampa. P. 32-36. Em 1848, a Europa vivenciou uma onda de movimentos revolucionários (a “Primavera dos Povos”). Nesse ano, os cartistas organizaram uma marcha em Londres que contou com a participação de 500 mil homens, para exigir a aprovação da Carta ao Parlamento. Os organizadores pensavam que pela quantidade de participantes nas manifestações, o parlamento aprovaria as reformas. No entanto, em 10 de abril de 1848, dia marcado para apresentação o movimento foi esvaziado por uma forte chuva. O protesto fracassou, participando apenas, um número bem inferior dos inscritos para a marcha. Todavia, os anseios do cartismo prevaleceu. Excluindo a exigência de legislaturas, outros pontos do programa foram inseridos posteriormente pelo governo inglês, como a extinção do trabalho de crianças menores de 9 anos e o estabelecimento de dez horas no horário de trabalho para homens e mulheres. Apesar da repressão, o movimento cartista representou o embrião dos sindicatos na Grã-Bretanha que teve grande desenvolvimento na segunda metade do século XIX, tanto na Europa (Inglaterra, Alemanha e França) quanto nos Estados Unidos. Mais organizado que as trade-union, o sindicalismo apresentou amplas propostas, mobilizou a classe trabalhadora e criticou a ordem capitalista e burguesa. As greves se tornaram um dos principais instrumentos de reivindicações dos operários. 49 318 A Internacional O movimento sindical ganhou expressiva força e se propagou pelos países industrializados depois das ações dos operários. As reivindicações do proletariado por uma legislação trabalhista foram influenciadas politicamente por várias correntes políticas, como os trabalhistas, os anarquistas e os socialistas de diversas tendências. As reivindicações dos operários tiveram repercussão extraodinária, o que contribiu para o surgimento de organizações internacionais de trabalhadores. Em 1864, surgiu em Londres a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), ou a Primeira Internacional, que perdurou até 1872. No final do século XIX, houve a organização das Centrais Gerais dos Trabalhadores (CGTs). O Objetivo da Internacional era somar forças em prol dos trabalhadores de todo o planeta. Dela participaram variadas correntes de pensamento - cartistas ingleses, blanquistas franceses, socialistas, republicanos e sindicalistas – e lideranças como PierreJoseph Produdhon, Karl Marx e Mikhail Bakunin. O principal embate político interno aconteceu entre marxistas e anarquistas. Em 1889 foi criada a II Internacional, a qual ficou conhecida como Internacional Socialista, encontro esse que não contou com a participação dos anarquistas. Os confrontos políticos e ideológicos entre os segmentos socialistas foram intensos nesses encontros. Em síntese, da II Internacional foi formada duas vertentes de pensamento: uma que defendia no caminho democrático-parlamentar com perspectiva reformista e outra que acreditava que a única maneira de implantar o socialismo seria através de uma revolução radical. No contexto de modificações que se deu no decorrer da Primeira Guerra Mundial, os trabalhadores se ramificaram ainda mais, pondo fim a II Internacional. A III Internacional ou a Internacional Comunista, organizada pelos Bolcheviques, ocorreu em Moscou, 1919, na calorosa atmosfera da Revolução da Russa. O pensameno social Os paradoxos expostos pelo capitalismo industrial conduziram grande número de pessoas em condições de miseralabilidade. Com a finalidade de refletir e acabar com as injustiças sociais advindas com o capitalismo, várias correntes de pensamento enalteceram a instauração de uma nova ordem, mais igualitária e justa. Sob os aspectos gerais, essas ideias propagaram um um incerto socialismo, termo usado desde o século XVIII. Inserido no contexto das mudanças políticas na França, em 1796, ocorreu um movimento liderado por François Noel Babeuf, conhecido como Conspiração os Iguais, o qual defendia o estabelecimento de um governo republicano e o fim da propriedade privada. Fortemente reprimido pelo governo francês, Babeuf foi condenado a guilhotina. A partir da segunda década do século XIX, entretanto, o termo socialismo passou a ganhar uma percepção mais moderna. Isso se deu, a princípio, pelas propostas de programas de cooperação operária e de gerência comum dos meios de produção, elaboradas por Robert Owen (1771-1858). Owen defendia que o socialismo se realizaria pela associações cooperativas. Já Pierre Leroux afirmava que o socialismo consiste num sistema que se opõe ao individualismo. Outros intelectuais definia o socialimo como comunitarismo. Ao decorrer das décadas de 1830 e 1840, o conceito adquiriu consistência na França e na Inglaterra, onde teve grande repercussão. A partir da segunda metade do século XIX, os socialistas sistematizaram suas críticas ao capitalismo, ao individualismo liberal e a sociedade industrial. Das críticas houve uma extensão para possíveis alternativas para superar o capitalismo ou fragilizá-lo, com o intuito de formar uma sociedade igualitária. Socialismo Utópico O pensamento socialista surgiu como resposta às desigualdades sociais e a ascensão política, econômica e intelectual dos burgueses. As primeiras ideias socialistas que 50 319 defendiam uma sociedade igualitária foram desenvolvidas pelos franceses Claude SaintSimon (1760-1825), Charles Fourier (1772-1837) e Louis Blanc (1811-1882) bem como pelo empresário inglês Robert Owen. As reformulações elaboradas por esses teóricos receberam o nome de Socialismo Utópico. Segundo Karl Marx, as críticas feitas por esses intelectuais eram até bem-intencionadas, porém, fugia um pouco da realidade. Desse modo, o termo Socialismo utópico era favorável ao estabelecimento de uma sociedade idealizada, construída pela ação dos indivíduos bons. Para os críticos, entretanto, os utópicos se comprometiam com a ordem burguesa, uma vez que sonhavam com uma transição lenta e pacífica para um modelo socialista. Já para Friedrich Engels, os pensadores utópicos esqueceram que a “luta de classes” e, essencialmente, procuraram destruir o capitalismo pelo próprio sistema capitalista. Saint-Simon defendia a transformação da sociedade por meio do fim da propriedade privada e o estabelecimento do coletivismo. Acreditava que uma reforma moral era fundamental para gerar as mudanças sociais. Segundo Saint-Simon, a sociedade deveria transformar-se numa grande fábrica, regulamentada pelo progressismo e anti-parasitismo, uma vez que o mundo para ele era formado por trabalhadores e ociosos. Charles Fourier foi um dos criadores do cooperativismo. Projetou a ideia das unidades socialistas, os falanstérios, comunidades nas quais a não haveria distinção de grupos de classes e os indivíduos se dedicariam às atividades agrícolas e industriais. Fourier afirmava que a agricultura era o principal recurso que garantiria a subsistência e o bem-estar humano. Para viverem de forma harmoniosa, as pessoas deveriam e dedicar a mais de uma atividade produtiva. A administração, a produção e os bens consumidos nos falanstérios eram distribuídos entre todos os cooperados. Semelhante a Fourier, Robert Owen também era defensor do cooperativismo.Buscou implantar suas ideias socialistas em comunidades criadas nos Estados Unidos (New Harmony) e na Escócia (New Lanarck). Em suas fábricas propiciou melhores condições de trabalho e de vida para os operários. Nessas colônias-modelo, houve a redução da jornada de trabalho para dez horas, aumento salarial, construção de habitações e escolas para os trabalhadores e seus filhos, pois segundo Fourier a educação influenciaria diretamente numa melhor produção. Além disso, cada operário recebia um bônus proporcional a carga horária de trabalho. Instalações das indústrias de Robert Owen em New Lanark, Escócia, declarado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. Fotografia de 2007. Louis Blanc pertencia à corrente socialista francesa reformista, a qual pleiteava o direito de participação das classes dos trabalhadores no processo eleitoral. Participou da Revolução de 1848 na França e afirmava que a igualdade social entre os homens só seria possível com a desapropriação de todos os meios de produção, que deveria ser realizada pelo Estado. Nessas perspectiva, Blanc defendia que o Estado era o responsável pela organização dos bens de produção e, consequentemente, o grande gerador de trabalho. O Socialismo científico O Socialismo Científico foi desenvolvido pelos teóricos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), os quais criaram conceitos basilares dessa corrente socialista. Eles buscaram alternativas mais concretas como meio de contrapor ao pensamento dos utópicos. Segundo declaravam, estes não cnoseguiram analisar a sociedade com olhar científico, pois enalteciam meios irreais para suplantar o capitalismo. “Em suma, acusai-nos de abolir a vossa propriedade. Pois bem, é exatamente isso o que temos em mente. (...) Os comunistas não se rebaixam em dissimular suas ideias e seus objetivos. Declaram abertamente que seus fins só poderão ser alcançados pela derrubada violenta das condições sociais existentens. Que as classes dominantes tremam diante da revolução comunista! Os proletários nada têm a perder senão seus grilhões. Tem um mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos!” MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto Comunista. 2. Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. p.124. 51 320 Marx e Engels formularam ideias sobre o homem, a sociedade, a natureza e a história sedimentadas essencialmente nas seguintes concepções: a história da humanidade é marcada pela permanente lutas de classes entre os detentores das riquezas (burguesia) e as classes deprovidas desses recursos (o operariado); desenvolvimento do conceito de materialismo histórico ou dialético; abolição da propriedade privada, considerada o fundamento da dominação burguesa; o sistema capitalista explora o proletariado, levando-o a alienação e a espoliação nos meios de produção através da mais-valia; vários modelos de produção permearam a História, entre eles, modo de produção comunal, asiático, escravista, feudal e capitalista; para Marx as injustiças e desigualdades típicas do capitalismo seriam superadas com instalação do socialismo e, posteriormente, do comunismo, fase máxima da evolução da História; o comunismo só seria alcançado através do movimento operário via Revolução; por fim, Marx fez um análise do capitalismo sob as perspectivas filosóficas, econômicas e históricas. Antes de divulgar a tese do socialismo científico, em 1848, no famoso Manifesto Comunista, Marx (à direita) e Engels (à esquerda) fizeram um denso estudo das relações econômicas no decorrer da HistóriaLitogragia, século XIX. Ao realizar um rigoroso estudo crda sociedade capitalista, Marx e Engels afirmavam que as condições materiais eram os principais eixos evolutivos das sociedades ao longo da história. Concluíram, dessa forma, que a existência humana era determinadas pelas condições materiais. As ideias marxistas foram publicadas na França, em 1848, no conhecido Manifesto do Partido Comunista. Em sua mais importante obra, O Capital, publicado em 1867, Marx aborda procura mostrar os fatores de desenvolvimento e contradições do capitalismo, as configurações desse sistema e seus mecanismos de exploração. Os dois pensadores perceberam que a força política em potencial preparada para romper com as estruturas capitalistas seria a classe dos trabalhadores ou o proletariado. A união desse grupo era fundamental no processo de transformações sociais e no estabelecimento da igualdade social entre os homens. Para alcançar tal feito, a organização da classe operária era essencial, como mesmo convocou Marx:”proletários de todo mundo, uni-vos”. O Marxismo passou a se tornar num relevante movimento intelectual e político na História do século XX, principalmente a partir de 1917, quando foi instaurado, após a Revolução Russa, o primeiro Estado socialista. A Social-Democracia Inspirada pelo ideal marxista, a social-democracia surgiu na Alemanha, em 1875, no Congresso de Gotha. Essa corrente defendia era possível implantar as propostas socialistas pela conquista do governo via processo eleitoral. Aos poucos, as distinções entre os socialistas e os social-democratas ficaram mais evidentes. A trágica crise do capitalismo em 1929 obrigou muitos países liberais a repensarem nas suas políticas governamentais. Vários Estados adotaram, a partir de então, medidas oriundas da social-democracia, entre elas, leis trabalhistas mais aperfeiçoadas, que dava mais garantia e assistência ao trabalhador. A teoria keynesiana, vertente econômica criada por John Maynard Keynes (18831946), pregava a necessidade da interferência estatal na economia por meio de ações fiscais e monetárias, as quais seriam importantes para controlar as periódicas crises, recessões ou e grandioso crescimento econômico. A economia keynesiana se opunha a escola neoclássica que defendia a liberdade de mercado. Nesse contexto, sob a influência da social-democracia, alguns estados liberais passaram a reorientar e reformar o capitalismo, surgia, assim, o welfare state (Estado de bem-estar social). 52 321 O Anarquismo Simultâneo a difusão do socialismo, surgiu no século XIX o anarquismo. Para os seguidores desse movimento, o verdadeiro fundamento da luta se encontra na permanente defesa da liberdade. Diferente das ideias liberais clássicas, os anarquistas afirmavam que a liberdade deveria vir engendrada com a igualdade social. Desse modo, uma sociedade não podia fazer nenhuma restrição à liberdade do indivíduo. Por isso, os anarquistas também são conhecidos como libertários. A expressão anarquismo, termo de origem grega significa “sem governo”. Para os anarquistas, qualquer tipo de autoridade e hierarquia é opressora. Portanto, os membros dessa corrente condena e repudia toda forma de governo. Até mesmo a organização partidária formada por trabalhadores era rejeitada, pois os anarquistas a consideravam como o embrião de uma estrutura de poder. Os anarquistas afirmavam que os poderes políticos (governos, partidos e burocracia), ideológicos (políticas, religião, doutrinas filosóficas), jurídicas (leis, decretos, normas) e sociais (dominação de uma classe sobre a outra) tinham que ser comabatidas, pois essas relações de poder eram permeadas pela sujeição, e, deviam ser rejeitadas. Para eles, acima de tudo estava a total e irrestrita liberdade humana. O Anarquismo condenava também o clericalismo. Segundo os anarquistas, a hierarquia eclesiástica era uma reprodução da dominação do Estado. Apesar da defender a liberdade religiosa, o anarquismo observou que os princípios dogmáticos legitimavam a subordinação. Violenta repressão policial aos anarquismo. Xilogravura de 19893, Félix Valloton. Os principais mecanismos de luta dos anarquistas consistiram em: realização de greves gerais, desobediência civil, sabotagem, boicote e ações violentas. Em meados do século XIX, surgiram duas grandes vertentes anarquistas. A primeira teve o destaque do francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), precursor do movimento e o primeiro a usar a palavra anarquismo. Já na segunda corrente, as ideias anarquistas foram desenvolvidas pelos russos Mikhail Bakunin (1814-1876) e Pior Kropotkin (1842-1921). Ambos defendiam o fim da propriedade privada e do aparelho burocrático estatal. Proudhon Prodhon afirmava que a propriedade consituia um roubo, uma vez que era o produto de espoliação do homem pelo homem. Sua proposta consistia em implantar um modelo de 53 322 sociedade fundamentado nas cooperativas de ajuda mútua. Essas organizações seriam compostas por trabalhadores que passariam a possuir bens de produção. Dessa forma, o anarquismo mutualista rejeitava a coletivização ou socialização de todas os meios de produção. Percebe-se, nesse momento, as críticas de Proudhon perpassavam o capitalismo. Para ele, o comunismo seria um tipo de organização autoritária. Proudhon considerava a liberdade individual como uma condição inalterável. Ela estaria acima de qualquer coisa ou situação. Nessas perspectiva, Proudhon era contrário a qualquer força burguesa e do Estado, incluisive, o comunista. Bakunim Bakunin é o criador do anarquismo coletivista. Para ele, os meios de produção deveriam socializadas e gerenciadas coletivamente, ou seja, pelos trabalhadores. Diferente de Proudhon, Bakunin enaltecia a revolução como maneira de pulverizar o capitalismo. Ele também afirmava que a revolução deveria extinguir ao mesmo tempo o Estado e a propriedade privada. No seu lugar se instauraria a autogestão, uma espécie de democracia direta, sem representatividade escolhida. O anarcossindicalismo No século XIX também surgiu uma extensão do movimento anarquista, o anarcossindicalismo, o qual era favorável a implementação de medidas educativas e políticas coordenadas pelos sindicatos. Nesse sentido, o sindicato se transformaria no instrumento político e social que substituiria o Estado capitalista. Os teóricos mais influentes dessa variante anarquista foram Antonio Labrionla (18431904) e Georges Sorel (1847-1922). A Comuna de Paris A derrota da França, em 1870, na guerra contra a Prússia trouxe resultados desastrosos, como invasão e ocupação do território francês por tropas inimigas. Paris virou palco de muitas tensões. A população não admitia o fracasso na guerra franco-prussiana e era irredutível aos possíveis acordos de paz assinados pelo governo-provisório, o qual havia ocupado o governo no lugar da frágil administração de Napoleão III. Diante dessas incertezas, a Assembleia Nacional proclamou a Terceira República. Conservadores e republicanos não chegavam a uma definição em comum concernente ao futuro da França. A depender da vontade dos republicanos, a guerra deveria continuar, mesmo com a exaustão do exército. Já os conservadores eram favoráveis a celebração de um acordo de paz e posterior restauração do regime monárquico. Havia também grupos socialistas que projetavam outros rumos, como o estabelecimento de uma república socialista francesa. As tensões, entretanto, permaneceram durante quatro meses, quando foi assinado um armistício em janeiro de 1871. Instantes depois, Guilherme I seria conclamado imperador da Alemanha, em plena Paris. O processo de reorganização da frança parecia cada vez mais complexo. Em fevereiro houve a eleição de uma nova Assembleia Nacional sob a liderança do conservador Adolfo Thiers, designado para chefiar o poder executivo. Thiers negociou o acordo de paz na cidade Frankfurt, pelo qual comprometeu-se em pagar elevadas indenizações ao governo alemão e o repasse das áreas de Alsácia e Lorena. Os franceses ficaram indignados com tais cláusulas aceitas, consideradas humilhantes, e manifestaram-se contra o governo francês. Nesse clima de instabilidades ocorreu um movimento revolucionário formado por socialistas e anarquistas conhecio como Comuna de Paris. O governo socialista permaneceu no poder durante 72 dias. Tal acontecimento é considerado por muitos historiadores como a primeira experiência de um governo constituído pelo Proletariado. Os operários assumiram o poder em 18 de março de 1871, quando a Guarda Nacional se negou em sufocar a revolta. Ao perceber o descontrole da situação, as autoridades francesas fugiram para Versalhes, enquanto que os revoltosos instalaram, em Paris, um governo com caráter popular. O governo socialista decretou a diminuição da jornada de trabalho, a desapropriação de bens imóveis desocupados, o estabelecimento da liberdade de imprensa, a garantia do 54 323 ensino público, laico e gratuito, proibição do trabalho infantil e feminino. No plano político, a Comuna adotou o sufrágio universal para preencher, via processo eleitoral, todos os cargos judiciais, educacionais e administrativos da França. A derrota na guerra franco-prussiana (1870) desmantelou o Segundo Império de Napoleão III. As mudanças poteriores a esse conflito contribuíram para o estabelecimento da terceira República na França. Anúncio da Abolição do Regime Imperial em frente ao palácio do Legislativo. Óleo sobre tela de Jules Didier e Jacques Gauiaud, Museu Carnalet, Paris. A ação da Comuna, todavida, retrinsgiu-se a Paris. Depois de dois meses de governo, o exército de Versalhes reprimiu violentamente o communards (expressão usada para designar os integrantes da Comuna). O contigente de soldados do governo central aumentou de 30 mil para 130 mil soldados. A Comuna estava seriamente ameaçada. Sob o comando de Thiers, o governo francês atacou violentamente Paris. A Comuna foi massacrada. Aproximadamente 40 mil pessoas foram detidas, cerca de 15 mil mortos e milhares foram deportadas. A repercussão dessa repressão sangrenta estimulou os governantes a usar de truculência para manifestações organizadas pelos operários ou ações partidárias inspirados no ideal de revolução social. Nas eleições seguintes, os monarquistas Thiers e Mac-Mahon saíram vitoriosos, assumiram o novo govenro com a incubência de liderar a reestruturação da República francesa por meio de políticas conservadoras e da homologação da Constituição de 1875. 55 324 TEXTO COMPLEMENTAR A Igreja e a questão social: a Rerum Novarum “Em 1891, a Igreja católica tomou posição sobre vários aspectos da formação das sociedades industriais e dos movimentos operários na encíclica Rerurm Novarum (que significa “das coisas novas”), do papa Leão XIII. Nessa encíclica, além de tratar das relações entre patrões e empregados, do Estado e da Igreja, o papa rejeitou o socialismo, por seu caráter materialista e contrário a qualquer forma de religião, defendendo a propriedade priva e o capital. Em contrapartida, condenou as desigualdades sociais e criticou os patrões por não darem a seus empregados remuneração justa. Leia o trecho do documento: O primeiro é que o Homem deve aceitar com paciência a sua condição: é impossível que na sociedade civiltodos sejam levados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas; mas, contra a natureza, todos os esforços são vãos. Foi ela, realmente, que estabeleceu entre os homen diferenças tão múltiplas como profundas; diferenças de inteligência, de talento, de habilidade, de saú, de força; diferenças necessárias, de onde nasce espontaneamentea desigualdde das condições. (...) O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. Elas têm imperiosa necessidade uma da outra: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho em capital. A concórdia traz consigo a ordem e a beleza; ao contrário, dum conflito perpétuo só podem resultar confusão e lutas selvagens. Ora, para dirimir este conflito e cortar o mal na sua raiz, as instituições possuem uma virtude admirável e múltipla. E, primeiramente, toda a economia das verdades religiosas, de que a Igreja é guarda e intérprete, é de natureza a aproximar e reconciliar os ricos e os pobres, lembrando às duas classes os seus deveres mútuos e, primeiro que todos os outros, os que derivam da justiça. Dada em Roma, junto de S. Pedro, a 15 de Maio de 1891, no décimo quarto ano do Nosso Pontificado. PAPA LEÃO XIII. (LEÃO XIII. Carta Encíclica Rerum Novarum. Sobre a condição doss operários. São Paulo: Edições Loyola, 1991. p. 16. IN: História: volume único/Ronaldo Vainfas. São Paulo: Saraiva, 2010. p.444. 1. Comente os principais pontos apresentados no texto, que a Igreja Católica defendiam. 2. Na Encíclica Rerum Novarum, como a Igreja analisa a relação entre burguesia e operariado? 56 325 FAZENDO HISTÓRIA 1. (Unicamp-SP) “De pé ficaremos todos E com firmeza juramos Quebrar tesouras e válvulas E pôr fogo às fábricas daninhas.” Canção dos quebradores de máquinas do século XIX, citada por HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: LCT, 1986. a) A partir do texto, caracterize o tipo de ação dos quebradores de máquinas. b) Explique os motivos desse movimento. 2. Faça um paralelo entre o movimento ludista e o cartista? 3. Quais as principais diferenças e as possíveis semelhanças entre os ideais socialistas e os princípios anarquistas? 4. Por que os socialistas científicos consideravam romântica ou reformista ação dos socialistas utópicos Fourier, Owen e Saint-Simon? 5. De acordo com o abordado no capítulo, pode-se afimar que com o desenvolvimento da social-democracia no século XIX, houve um abandono do movimento revolucionário em defesa dos direitos dos trabalhadores? Comente. 6. Explique a frase a seguir. “o motor da história da humanidade reside na luta de classes”. Marx e Engels 7. As teorias de Karl Marx e Friedrich Engels, contidas no Manifesto do Partido Comunista, combatem não apenas o liberalismo, mas também os princípios do nacionalismo. Comente essa afirmação. 57 326 8. Qual a principal finalidade da Primeira Internacional, criada em 1864? 9. “A propriedade é um roubo.” Pierre Proudhon, 1809-1865. A frase de um dos principais teóricos anarquistas ataca um dos pilares da sociedade capitalista. Explique por que a propriedade contraria os princípios anarquistas. 10.(UNESP) (...) Considerando que para os senhores não é possível Nos pagarem um salário justo Tomaremos nós mesmos as fábricas Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós. Considerando que os senhores nos ameaçam Com fuzis e canhões Nós decidimos: de agora em diante Temeremos mais a miséria que a morte. Considerando que o que o governo nos promete sempre Está muito longe de nos inspirar confiança Nós decidimos tomar o poder Para podermos levar uma vida melhor. Considerando: vocês escutam os canhões Outra linguagem não conseguem compreender Deveremos então, sim, isso valerá a pena Apontar os canhões contra os senhores! (Bertolt Brecht, "Os dias da Comuna".) a) Esse poema de Brecht refere-se à chamada Comuna de Paris, de 1871. Como pode ser definida a inspiração política dos revolucionários de 1871? b) Quais as principais medidas políticas e sociais tomadas pelos participantes da Comuna de Paris durante os cerca de três meses em que ela existiu? 11.(UFF-RJ) Escrito em 1880, o livro de Friedrich Engels, Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, buscou discutir os limites do chamado Socialismo Utópico. Os filósofos do Socialismo Utópico acreditavam que a partir da compreensão e da boa vontade da burguesia se poderia transformar a sociedade capitalista, eliminando o individualismo, a competição, a propriedade individual e os lucros excessivos, todos responsáveis pela miséria dos trabalhadores. Como alternativa àquela corrente, Engels e Marx propunham o Socialismo Científico. Com base nessa informação. a) Caracterize a alternativa proposta por Engels e Marx - o Socialismo Científico – em relação ao papel dos trabalhadores na transformação da sociedade. b) Mencione uma proposta levada a efeito pelos socialistas utópicos. 58 327 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UFPB) “A quebra de máquinas e a destruição de mercadorias estão entre as primeiras reações coletivas de trabalhadores [...]. Esses grupos de operários ingleses destruíam as máquinas (segundo eles, o principal motivo dos baixos salários) que permitiam a economia de mão de obra, atentando, ao mesmo tempo, contra o patrimônio dos proprietários”. CATELLI JUNIOR, Roberto. História: texto e contexto. Ensino Médio, volume único. Colaboração de Maria Soledad Más Gondim e Renata Lima Aspis. São Paulo: Scipione, 2006, p. 307. Considerando o contexto histórico e os motivos políticos do movimento trabalhista referido no texto, é correto afirmar: a) Os participantes do movimento de quebra de máquinas ficaram conhecidos como Luditas. b) Os trabalhadores representavam as máquinas como menos trabalho e mais salários. c) A Revolução Industrial instalou ambientes de trabalho adequados à saúde. d) Os empresários recusavam a mão de obra composta por mulheres e crianças. e) A jornada de trabalho atendia as necessidades de descanso do trabalhador. 2. (UEAP) “O século XIX produziu ainda o Socialismo, ‘a mais original e, por momentos, a mais vigorosa das ideologias da nossa época. A expressão, empregada em seu sentido moderno nos anos de 1830, significa: reforma da sociedade beneficiando as classes mais numerosas, os mais pobres, ou seja, o proletariado” (DUROSELE , J. B.; GERBET, P. Histoire: 18481914. Citado por AQUINO, Rubens S. L de et all. História das Sociedades: das sociedades modernas às sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, p.217). Com base no texto e em seus conhecimentos sobre as doutrinas socialistas do século XIX, é correto afirmar: a) As doutrinas socialistas estão ligadas à Revolução Industrial, já que o surgimento e desenvolvimento dessas doutrinas se deram no contexto dos problemas econômicosociais criados pelo capitalismo, a chamada Questão Social. b) O socialismo Utópico propunha os fundamentos de uma sociedade futura ideal, defendendo a necessidade de se suprimir qualquer forma de governo. c) O socialismo romântico desenvolveu-se dentro do catolicismo, que pregava a aplicação dos ensinamentos cristãos para corrigir os males criados pela industrialização no mundo capitalista. d) O socialismo científico pregava que a sociedade estava dividida entre ociosos e produtores e que necessitava de um governo de trabalhadores, industriais, banqueiros e comerciantes. ceitava o lucro dos capitalistas, desde que eles assumissem certas responsabilidades sociais. e) O socialismo marxista propunha mudanças para a sociedade a partir de uma organização baseada na associação e no cooperativismo, que permitisse aos homens o desenvolvimento pleno de seus talentos. 3. (UFPE-Alt.) Mudar a sociedade, remover práticas injustas, buscar a igualdade são metas presentes nas ideias de muitos intelectuais favoráveis à renovação e ao fim de tradições ditas conservadoras. Saint-Simon foi um desses intelectuais franceses que criticou a dominação capitalista. Com suas críticas, Saint-Simon: I.conseguiu adesão de outros intelectuais, liderando revoltas importantes na Europa, no início do século XIX, e assegurando a expansão do Socialismo. II. defendia uma sociedade que tivesse um planejamento, onde fosse marcante a participação de cientistas na sua elaboração. III. influenciou as formulações socialistas do século XIX, sendo considerado um utópico, apesar das críticas que sofreu dos marxistas e anarquistas. IV. tinha propostas semelhantes às de Fourier, imaginando uma sociedade harmônica com a criação de pequenas comunidades agrícolas. V. foi respeitado por afirmar o valor dos direitos humanos e ressaltar que a propriedade privada é ilegítima. 59 328 4. (UPE) Os progressos científicos e tecnológicos e os movimentos culturais tiveram lugar, em crescente escala, no século XIX. Foi um período, também, em que a sociedade experimentou novas formas ideológicas de lutas políticas e utopias revolucionárias. Nesse sentido, é incorreto afirmar que: a) em termos de tecnologia industrial, a presença do ferro superou a do aço, facilitando os progressos na construção de maquinarias pesadas, naval e eletro-mecânica, responsáveis pelo aumento da produção em larga escala. b) a energia elétrica para fins industriais, comerciais e domésticos representou um avanço significativo, pois podia ser transmitida à longa distância e transformada em outras fontes de energia. c) o sistema capitalista foi questionado teoricamente, principalmente pelas ideias de Karl Max, que acreditava numa fase socialista com bases na ditadura do proletariado, na remuneração do trabalho, de acordo com o trabalho executado, e na propriedade e operação pelo Estado de todos os meios de produção. d) as descobertas científicas de Robert Koch e Louis Pasteur favoreceram intervenções planejadas nas áreas da saúde pública e saneamento, a partir do momento em que eles provaram que todas as formas de vida, por menores que sejam, só são reproduzidas por seres vivos. e) houve uma reação da Igreja Católica Romana ao pensamento moderno, condenado através do Syllabus Errorum, espécie de bula papal que não admitia o materialismo, o livre-pensamento e o indiferentismo. 5.(UPE) O crescimento da produção industrial favoreceu à burguesia europeia, embora aumentando a concentração de riquezas e as injustiças sociais. Surgiram muitas idéias contra o capitalismo, dentre elas as defendidas por Karl Marx, ainda hoje presentes nas discussões políticas. O marxismo: a) defendeu o fim do capitalismo com a imediata instauração de uma sociedade socialista, sem classes sociais. b) influenciou muito pouco os movimentos contra as desigualdades sociais, sobretudo nos países da Europa mais industrializados. c) combateu o capitalismo, mas não negou a sua importância histórica para mudanças econômicas e renovação social. d) foi uma concepção de mundo original e revolucionária, deslocada historicamente devido aos seus princípios utópicos. e) permaneceu politicamente importante só até a metade do século XX, sendo a base dos movimentos favoráveis à descolonização dos países asiáticos. 6.(UFCE) “A maneira como os indivíduos manifestam sua vida reflete exatamente o que são. O que eles são coincide, pois, com sua produção, isto é, tanto com o que eles produzem quanto com a maneira como produzem. O que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais da sua produção.” MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 13. Com base nessa citação do livro A ideologia alemã, que trata da teoria marxista para a interpretação da sociedade, é correto afirmar que: a) o capitalismo teve origem no modo de produção socialista, a partir de uma revolução burguesa. b) o capitalismo teve origem em ideias religiosas, a partir do Renascimento, e no crescimento da burguesia. c) a produção de ideias na vida social, no decorrer da história, está separada da produção da vida material. d) a perspectiva de análise marxista examina a sociedade levando em consideração as relações sociais estabelecias no modo de produção. e) o pensamento marxista surgiu no início da revolução francesa, com a defesa da igualdade e da fraternidade entre todos os seres humanos. 7. (UFPE) O século XIX foi cenário de movimentos políticos que criticaram o capitalismo. Pensadores como Karl Marx defendeu alternativas políticas diferentes e formularam utopias. Sobre as ideias de Marx, podemos afirmar que elas: 60 329 a) ressaltaram a necessidade política de fazer reformas no capitalismo, contudo, sem grandes radicalizações. b) restringiram-se ao mundo europeu e ao catolicismo da época, marcados pelo conservadorismo. c) denunciaram, de forma apaixonada, as injustiças sociais e políticas do capitalismo, sem construir utopias. d) sofreram influências de algumas idéias do liberalismo, embora construíssem outra concepção de mundo. e) fortaleceram a crítica à classe dominante, sem contudo, oferecer alternativas políticas para mudar. 8. (UFJF – PISM ) Leia, atentamente, a citação abaixo a respeito da Comuna de Paris e, em seguida, assinale a alternativa correta. “Os homens e mulheres que fizeram a Comuna de Paris, em 1870, eram de extração social operária e vinham se organizando em torno de idéias que tendiam ao socialismo. (...) Dois terços da população economicamente ativa da cidade eram compostos de assalariados, (...) e mais da metade desta mesma população ativa trabalhava na indústria. Paris converterase, ao longo do Segundo Império (1852-1870) numa cidade de assalariados e industrial.” (BOITO Jr., A. Comuna Republicana ou Operária? In: A Comuna de Paris na História.) a) Uma de suas causas foi o atraso industrial da França, onde o processo de industrialização só eclodiu no último quartel do século XIX. b) Influenciou outros movimentos de operários anarquistas que defendiam a instituição de uma república com sufrágio universal. c) Foi um movimento organizado, em sua maioria, por trabalhadores influenciados pelo ideário socialista. d) Conseguiu, ao longo de duas décadas, manter sua estrutura de poder e fundar as bases da nova república na França. e) Influenciou movimentos de libertação colonial na segunda metade do século XIX, conclamando a união dos trabalhadores. 9. (UPE-Alt.) As utopias, no século XIX, progressivamente foram se distanciando dos projetos iniciais até chegar ao mundo atual, ficando longe das promessas da modernidade, como a de acabar as desigualdades sociais. Essas desigualdades sociais afirmam: I. o fim das utopias e a impossibilidade de se viver num mundo efetivamente mais justo, com o fim da História. II. a presença do conflito e das diferenças na História que dificultam a harmonia entre os povos e as culturas. III. as fragilidades de vários aspectos do processo de globalização. IV. a expansão capitalista que, apesar das ilusões, não consegue promover o equilíbrio social. V. o fim definitivo de culturas seculares que provocam a desesperança e o retorno das religiões para o mundo. 10.(UFPE) Os caminhos do capitalismo não eram tão sem obstáculos como muitos dos liberais europeus pensavam. Havia oposições, descontentamentos, condições de vida amplamente desfavoráveis. O movimento revolucionário intitulado A Comuna de Paris representou um momento de resistência ao projeto da burguesia francesa, pois: a) inspirado nas ideias socialistas de Marx e Engels, teve uma longa atuação, ameaçando os governos liberais da Europa. b) foi uma revolução marcada por uma forte repressão do governo, defensor de ideias conservadoras. c) derrubou o imperador e colocou a classe operária no poder por um longo período, divulgando idéias socialistas radicais. d) criou uma ampla rede de articulação com forças estrangeiras socialistas e abalou as forças conservadoras da Europa. e) expressou ideias contrárias ao capitalismo, mas não conseguiu adesão popular, restringindo-se apenas à divulgação dos manifestos libertários. 61 330 OLHARES HISTÓRICOS • Livros Anarquistas graças a Deus. GATTAI, Zélia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. Marxismo. LEFEBVRE, Henri. Porto Alegre, L&PM Editores, 2009. O que é anarquismo. COSTA, Caio Túlio. São Paulo: Brasiliense, 1983. Socialismo: caminhos e alternativas. MARTINEZ, Paulo. São Paulo: Sciopione, 1999. O que é o marxismo. PAULO NETTO, José. São Paulo: Brasiliense, 2006. A formação da classe operária. SINGER, Paul. São Paulo: Atual, 1986. • Cinema A Comuna (Inglaterra/frança, 2000). Direção de Peter Watkins. Primeiro filme sobre a Comuna de Paris instalada em 1871, no contexto da queda de Napoleão III. Duração: 5h40 min. Daens, um grito de justiça (Bélgica/Holanda/Itália, 1992). Na cidade de Aalst, norte da Bélgica, um grupo de trabalhadores é vítima da exploração da indústria de tecidos onde estão empregados. Mas a situação começa a mudar quando um padre revolucionário é transferido para a cidade. Duração: 136 min. Os acompanhantes (Itália, 1963) Direção de Mario Monicelli. Filme clássico sobre o movimento operário italiano no século XIX. Duração: 126 min. 62 331 Os Estados Unidos no século XIX Ao longo do século XIX vários acontecimentos foram determinantes para a ascensão dos Estados Unidos, entre eles a consolidação do modelo institucional republicano e o processo de expansão das fronteiras. Com o encerramento da Guerra de Secessão, o governo norteamericano criou mecanismos para impedir a fragmentação nacional, aboliu o trabalho escravo, avançou para o oeste e industrializou-se. Esse conjunto de fatores, contribuíram para que os Estados Unidos transforma-se numa das potências mundiais. Marcha para o oeste. Após a consolidação da Independência, os EUA iniciaram um movimento conhecido como a conquista do oeste. A consquista dessas áreas foram impulsionados pelo desejo de encontrar ouro, obter posse de terras férteis e explorar outras inúmeras riquezas. Desenho de William Henry Jackson, 1880. O século XIX também foi marcado por muitos conflitos latino-americanos. Nesse período, os países das Américas criam ou redefinem seus projetos nacionais. Alguns impasses são solucionados, outros, todavia, permanecem até os dias atuais, como a pobreza e os problemas políticos. Afirmação da República Os norte-americanos procuram desenvolver o país, consolidando suas instituições democráticas e republicanas, os ideais políticos e nacionais. Internamente, os Estados Unidos no decorrer de determinado tempo passaram por uma fase de relativa estabilidae política, diferente do continente europeu que enfretava convulsões revolucionárias. Esse ambiente impulsionou a criação dos dois mais importantes partidos políticos: o Federalista e o Republicano. Além disso, houve uma ampliação dos direitos e garantias 63 332 fundamentais inerentes aos indivíduos. Quanto ao quadro social, as elites do leste (industriais, comerciantes, banqueiros) e os tradicionais latifundiários sulistas (proprietários de escravos) formavam os grupos hegemônicos politicamente, os quais escolhiam e elegiam os presidentes através de acordos firmados. Na política externa, os norte-americanos mantiveram relativo distanciamento das tensões europeias, provacadas pelo desejo de Napoleão em dominar a Europa. Os Estados Unidos, porém, após o decreto do Bloqueio Continental em 1806, acompanhada das pressões da Inglaterra, não conseguiu ficar mais isento desses conflitos. Nesse contexto, em 1812, teve início a Segunda Guerra de Independência, qua colocou mais uma vez em contronto os ingleses e os norte-americanos. A vitória dos Estados Unidos foi essencial para o fortalecimento do poder central e união entre os estados. Mesmo com a queda de Napoleão Bonaparte, os desdobramentos políticos europeus continuaram tendo repercussão no continente americano. A formação de um acordo político-militar entre as nações absolutistas, conhecida como a Santa Aliança, que tinha o propósito de recolonizar os países da América, desagradaram aos norte-americanos. Para conter essa pretensão, os Estados Unidos lançaram, em 1823, a Doutrina Monroe. O presidente estadounidense James Monroe (1817-1825) fez o anúncio dessa doutrina num discurso proferido no congresso. A essência do documento consistia em rejeitar a criação de novas colônias americanas e a defender a soberania dos países da América, pois como afirmava o lema dessa doutrina “A América para os americanos”. Nas próprias palavras do presidente Monroe: “julgamos propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afeta os direitos e interesses dos Estados Unidos, que os continentes americanos, em virtude da condição livre e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no futuro, como suscetíveis de colonização por nenhuma potência européia […] (Mensagem do Presidente James Monroe ao Congresso dos EUA, 1823) Como sequência dessa diplomacia pautada na cooperação entre os países americanas, ocorreu nos Estados Unidos, em 1889, o Primeiro Congresso Pan-americano, reunindo 18 nações em Washington. Posteriormente, outros encontros foram promovidos até a instituição da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1948. Essas alianças favoreceram à hegemonia econômica e política dos Estados Unidos sobre o continente americano. Charge política do início do século XX, a qual faz representação da Doutrina Monroe. De um lado, o Tio Sam (EUA) exibe sua hegemonia na América aos países europeus, representados no outro lado do globo. A conquista do oeste Com relativa estabilidade política nacional e internacional, os norte-americanos iniciaram um projeto de expansão territorial, cujas aquisições ocorreram através de acordos diplomáticos, compra de extensas áreas, guerras contra os indígenas e os mexicanos. O crescimento populacional, impulsionado pela ondas migratórias (ingleses, franceses, eslavos), ajudou na necessidade de adoção de políticas de conquista de novas fronteiras. O processo de expansão começou, 1803, quando o presidente Thomas Jefferson (18011809) comprou o estado da Louisiana pertencente à França. Devido aos preços baixos das terras, houve uma intensa marcha para ocupação do oeste. Em 1819, aproveitando da crise espanhola, a Flórida foi comprada pelos EUA. Na década de 1840, muitos imigrantes europeus chegram aos Estados Unidos com o desejo de enriquecer rapidamente. Esse fato acelerou a ocupação de Oregon (1840), que mais tarde os norte-americanos adquiriram do governo britânico. Após a guerra contra os 64 333 mexicanos (1846-1848), foram anexados as regiões do Texas, de Utah, da Califórnia, do Novo México, do Colorado, de Arizona e de Nevada. A incorporação de milhões de quilômetros do oeste, deu-se à custa da dizimação de milhares de indígenas provocada pela guerra, desnutrição e por dissiminação de doenças. Em 1830, foi aprovada a Lei de Remoção dos Índios, que obrigou o deslocamento das populações indígenas para reservas de terras do oeste. Em 1853, os EUA compraram do México o território de Gadsden e do Império Russo, em 1867, adquiriram o Alasca. Dessa forma, os Estados Unidos iam ganhando nova configuração territorial com proporções continentais e transformando-se num país hegemônico no continente. A EXPANSÃO TERRITORIAL DOS ESTADOS UNIDOS ATÉ 1853 ARRUDA, José Jbson de A. Atlas histórico básico. 17 ed. São Paulo: Ática, 2007. P.23. A Guerra de Secessão O processo de expansão das fronteiras contribuiu para a abertura de novas regiões agrícolas e a formação de extenso mercado consumidor, o qual beneficiou a economia industrial dos estados do Norte. Foi criado uma rede de transportes (ferrovias, barcos a vapor) para escoamento de mercadorias e produtos industrializados. Em contrapartida, a economia dos estados sulistas continuavam agroexportadora, ou seja, pautavam-se na produção de trigo, cana-de-açúcar, tabaco e algodão. As divergências políticas entre sulistas e nortistas vão ser ampliadas ainda mais com a questão das distribuição de terras. A burguesia industrial do norte, percebeu que os minifúndios do Oeste favoreceu à elevação do consumo e à oferta itens alimetícios. Por isso, eram favoráveis à política de barateamento das terras estatais. Enquanto, os sulistas discordavam com essa política, uma vez que observavam que as pequenas propriedades constituíam um obstáculo à escravidão. Esses entraves colaboraram para a eclosão da Guerra de Secessão (1861-1865). 65 334 Na década de 1860, o expansionismo foi paralisado por um intenso conflito civil, resultado das contradições de dois modelos de desenvolvimento. Os interesses econômicos, sociais e políticos dos estados do sul confrontavam-se com os anseios da burguesia nortista. Os nortistas defendiam uma política alfandegária fundamentada na elevação de tarifas com objetivo de proteger os produtos de suas indústrias, já os sulistas defendiam a redução das taxas para deixar mais baratos as mercadorias importadas. A aristocracia agrária do sul também reclamava que o governo federal investia mais nos estados do Norte, através de construção de ferrovias, portos e estradas. A questão da abolição do trabalho escravidão consituiu outro sério impasse entre o Norte e o Sul. Os fazendeiros defendiam a mão de obra escrava e o desenvolvimento da plantation. Já os nortistas eram favoráveis à pequena propriedade e ao trabalho livre. O embate político entre dois modelos socioeconômicos ficaram mais nítidos nas eleições presidenciais de 1860, quando os cadidatos Abraham Lincoln (Partido Republicano, defensor da abolição e política protecionista), e o escravocrata John Breckinridge (Partido Democrata), confrotaram-se na campanha eleitoral. A vitória de Lincoln desencadeou o conflito civil. A Carolina do Sul, Alabama, Texas, Flórida, Geórgia e Mississípi retiram-se da União e formaram os Estados Confederados da América. Outros estados integraram-se ao grupo: Louisiana, Virgínia, Arkansas, Carolina do Norte e Tennessee. Os separatistas elegeram Jefferson Davis como presidente dos confederados. A guerra começou, em 1861, quando os Confederados atacaram o Forte Sumter. Em resposta, sob o comando de Lincoln, os estados da União que possuíam um número de soldados quatro vezes maior, contra-ataca. Com o objetivo de fragilizar os sulistas, Lincoln aboliu a escravidão, em 1863. Além disso, estabeleceu a Lei do Confisco, que permitia aos nortistas apreender os bens usados em benefício dos confederados. Dada a superioridade econômica e populacional, o norte derrotou os confederados, encerrando a guerra civil em 1865. O resultado da guerra foi cruel: aproximadamente 600 mil americanos mortos. Os invetimentos bélicos arruinaram a economia do Sul. A Batalha de Gettysburg, de James Ives e Nathaniel Courrier. (Biblioteca do Congresso Washington, EUA). O desafio dos EUA agora consistia em reconstruir o país. Abraham Lincoln, reeleito presidente, não chegou a cumprir esse projeto, pois foi assassanido em 1865. Os estados sulistas foram reintegrados à União e foram obrigados a aceitar o direito de voto aos afro- 66 335 descendentes, o fim do trabalho escravo e supremacia política do Norte. Assim, a guerra fortaleceu a economia dos nortistas, consolidando o setor industrial e tornando o país numa das maiores potências capitalistas do mundo. A hegemonia militar nortista e a questão da abolição instigaram reações entre os conservadores sulistas. Esse ressentimento motivou o surgimento da Ku klux Klan ou KKK, organização racista e segregacionista que pregava a violência, o terror e a perseguição contra os afro-americanos. O objetivo era impedir a integração social dos negros após a abolição. Em 1872, essa associação racista foi banida dos Estados Unidos. Porém, ainda atuou até meados do século XX. A KKK defendia a prevalência dos brancos protestantes sobre os católicos, os judeus, os imigrantes e os negros. O grupo chegou a possuir na década de 1920, 4 milhões de integrantes, entre eles delegados, políticos e policiais. Desenvolvimento econômico e o Big Stick Com o término da Guerra da Secessão e reorganização nacional, os Estados Unidos entraram numa fase de grande crescimento econômico. A enorme área conquistada transformou-se numa extensa produtora agrícola, suficiente para manter em dia a demanda de mercado interno e direcionando também para o exterior. O setor industrial teve elevados índices de lucros. O eficiente sistema ferroviário e de comunicação foram essenciais para que esse quadro de desenvolvimento industrial e agrícola fosse mantido. Além disso, as políticas protecionista, a grande quantidade de matérias-primas e a instalação de um sistema bancário norte-americano. A existência de um amplo mercado consumidor, modernização agrícola, recursos naturais disponíveis em abundância, mão de obra barata, terras disponíveis e as políticas financeiras contribuíram para que os Estados Unidos entrassem no rol das nações mais poderosas do planeta. No final do século XIX, a política externa dos Estados Unidos dedica-se às questões da América Central e da América do Sul, buscando motivar a economia interamericano e se colocar como potência imperialista no cenário mundial. Fundamentados na Doutrina Monroe e na política do presidente Theodore Roosevelt (1901-1909), os norte-americanos promoveram articulações com o intuito de alcançar o domínio na América Central. A política internacional de Roosevelt teve como base a interferência nos assuntos econômicos e políticos internos das nações latino-americanas, apoiando os governos aliados e derrubando os oponentes estadunidense. Essas medidas intervencionistas foram cahamadas, a partir de 1904, de big stick (“grande porrete”). As intervenções dos Estados Unidos na América Latina solidificaram-se ao longo do século XX. A forte influência militar e política norte-americana nas questões internas dos países caribenhos foram nomeadas de República das bananas (bananas republics). Esse termo faz referência aos produtos primários exportados (bananas, café) e por essas repúblicas estarem subjugadas aos interesses dos Estados Unidos. Os norte-americanos envolveram-se no processo de independência cubana (1898), quando houve a assinatura da Ementa Platt que permitia os Estados Unidos interferirem em Cuba a fim de manter a “estabilidade e a independência”. Houve também a instalação de uma base naval em Guantánamo. Em 1903, os Estados Unidos apoiaram os Charge publicada na revista norte-americana Judge panamenhos na separação da Colômbia, o que Magazine representa o presidente Roosevelt trajado como um jogador de beisebol, sustentando o big stick, que garantiu a construção do Canal do Panamá. No metaforiza sua política internacional para a América final de 1999, o canal passou a ser administrado central. pelo governo do Panamá. 67 336 TEXTO COMPLEMENTAR Uma nova liberdade nas palavras de Lincoln O Discurso de Gettysburg é um dos grandes discursos proferidos na língua inglesa, o mais conhecido discurso de Lincoln, possivelmente o mais importante presidente americano, e um discurso político essencial para a história americana e da democracia ocidental. O assunto principal do discurso é a nova Democracia a instituir após a Guerra Civil, com a participação dos negros libertos da escravatura, não sendo preciso mais do que reafirmar os objectivos do sistema político criado com a Revolução Americana de 1777: Um governo do povo, pelo povo e para o povo, consagrado ao princípio de que todos os homens nascem iguais. Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos os homens nascem iguais. Encontramo-nos atualmente empenhados numa grande guerra civil, pondo à prova se essa Nação, ou qualquer outra Nação assim concebida e consagrada, poderá perdurar. Eis-nos num grande campo de batalha dessa guerra. Eis-nos reunidos para dedicar uma parte desse campo ao derradeiro repouso daqueles que, aqui, deram a sua vida para que essa Nação possa sobreviver. É perfeitamente conveniente e justo que o façamos. Mas, numa visão mais ampla, não podemos dedicar, não podemos consagrar, não podemos santificar este local. Os valentes homens, vivos e mortos, que aqui combateram já o consagraram, muito além do que nós jamais poderíamos acrescentar ou diminuir com os nossos fracos poderes. O mundo muito pouco atentará, e muito pouco recordará o que aqui dissermos, mas não poderá jamais esquecer o que eles aqui fizeram. Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram. Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que esta Nação com a graça de Deus venha gerar uma nova Liberdade, e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desaparecerá da face da terra. Abraham Lincoln, 19 de novembro de 1863, Pensivânea, Estados Unidos Discurso disponível em http://www.arqnet.pt. Acesso em 04 de junho de 2011. Após a leitura do discurso proferido por Abraham Lincoln, comente a relação entre a Nação e Liberdade feita pelo presidente norte-americano. 68 337 FAZENDO HISTÓRIA 1. Comente os mais importante desdobramentos da Conquista do Oeste para os EUA? 2. Leia atentamente os textos a seguir. Texto 01 “Cada conquista territorial foi antecipada pela ocupação de colonos. A marcha para o Oeste ete imbuída de um sentimento religioso-nacionalista, que considerava ecolha divina fazer dos Estados Unidos uma nação poderosa, capaz de levar seus ideais de liberdade e democracia a regiões inóspitas, a outros Estados e demais povos. Tal concepção recebeu o nome de Destino Manifesto”. NOGUEIRA, Fauto Henrique Gomes; CAPELLARI, Marcos Alexandre. História: Ensino Médio. São Paulo: Edições SM, 2010. (Coleção ser protagonista). p.498. Texto 02 “A expansão territotiral dos Estados Unidos não causava (...) maior alvoroço nas chancelarias europeias. (...) (Contudo) A maior parte do mundo, e especialmente a Europa, estava aos Estados Unidos, porque neste período (1848-75) vários milhões de europeus haviam emigrado para lá, e porque sua grande expansão territorial e extraordinário progresso fizeram-no rapidamente o milagre técnico do planeta. (...) E dentro dos Estados Unidos, o sonho revolucionário estava longe de desaparecer. A imagem da república era a de uma terra de igualdade, democracia, talvez de liberdade anárquica, oportunidade ilimitada, tudo isto mais tarde chamado de “destino manifesto” da nação. (...)” Eric Hobsbawn. A era do capital: 1848-1875. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. p.154-155. a) Quais os interesses que impulsionaram os Estados Unidos expandir as fronteiras para o oeste? b) Em que consiste o Destino Manifesto? 3. Explique as principais causas e consequencias da Guerra de Secessão para os Estados norte-americanos. 4. O general Philip Sheridan (1831-1888), que participou da Guerra de Secessão norteamericana, afirmou: “Os únicos índios bons que vi estavam mortos”. Comente o sentido dessa dessa frase no contexto do processo de conquista do oeste no século XIX. 69 338 5. Indique pelos menos dois pontos em que os sulistas e os nortistas divergiam, fatores que provocaram a Guerra de Secessão. 6. Aponte as medidas tomadas por Abraham Lincoln que acabaram contribuindo para a vitória dos estados do Norte contra os Confederados do Sul. 7. Explique o que era a política externa do big stick. Que países mais foram atingidos por essas medidas? 8. Leia o trecho a seguir, extraído do discurso do presidente dos Estados Unidos norteamericano James Monroe proferido no Congresso em 1823. “É impossível que as potência aliadas estendam seu sistema político a qualquer porção de qualquer continente sem pôr perido nossa paz e nossa felicidade; niniguém tampouco acreditará que nossos irmãos do sul, entregues a si mesmos, o adotem voluntariamente. É também impossível, portanto, que consideremos tal intervenção com indiferença.” MONROE, James. Citado por KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Undiso: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2008. p.106. a) Segundo o trecho acima, que assunto é abordado no discurso de James Monroe? b) De acordo com o documento, qual o posicionamento dos Estados Unidos perante a intervenção dos países europeus nas repúblicas hispânicas? c) O Discurso de Monroe era direcionado às potências estrangeiras. Que motivo levou os norte-americanos a se colocarem como “protetores” da América? Comente. 70 339 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (FATEC-SP) Sobre a Guerra de Secessão, ocorrida em meados do século XIX, nos Estados Unidos, é correto afirmar: a) com a vitória dos estados do Norte sobre os estados do Sul, a servidão foi abolida e foi adotada uma política protecionista. b) Abraham Lincoln, eleito a presidente pelos sulistas, tentou evitar a guerra com o Norte, que era totalmente contrário à abolição da escravatura no país. c) os estados do Norte, predominantemente agrícolas, defendiam uma política de livre comércio, enquanto os estados do Sul, industrializados, reivindicavam uma política protecionista. d) os estados do Norte, por não fabricarem armas ou navios, foram bloqueados pelos estados do Sul e impedidos de exportar seus produtos e de receber ajuda externa. e) os nortistas obtiveram alguns êxitos iniciais nessa guerra, mas, graças à superioridade populacional, industrial e financeira dos sulistas, terminaram derrotados. 2. (UFMG) Leia este trecho de documento: Odeio-a porque impede a nossa República de influenciar o mundo pelo exemplo da liberdade; oferece possibilidade aos inimigos das instituições livres de taxar-nos, com razão, de hipocrisia e faz com que os verdadeiros amigos da liberdade nos olhem com desconfiança. Mas, sobretudo, porque obriga tantos entre nós, realmente bons, a uma guerra aberta contra os princípios da liberdade civil. Discurso de Abraham Lincoln, em 1859. Nesse trecho de discurso, Abraham Lincoln, que seria eleito Presidente dos Estados Unidos no ano seguinte, faz referência: a) à política de segregação racial existente nos estados do sul dos Estados Unidos, que gerou a formação de organismos voltados ao extermínio dos negros, à destruição de suas propriedades e a atentados constantes contra suas comunidades. b) à posição dos estados do sul de defesa intransigente de tarifas protecionistas, o que levava os Estados Unidos a comprometer a crença na liberdade de mercado, numa conjuntura de predomínio do capitalismo liberal. c) à questão da escravidão, que levou a uma guerra civil, nos Estados Unidos, entre o Norte, industrializado, e o Sul, que lutava para preservar a mão de obra escrava nas suas plantações de produtos para a exportação. d) à defesa, pelos imigrantes, do extermínio dos índios nas terras conquistadas a oeste, especialmente após a edição do "Homestead Act", visando ao desenvolvimento da agricultura e da pecuária naquelas áreas. 3. (UFPE-Alter.) "O sistema político dos poderes aliados é essencialmente diferente do vigente na América. (…) Nós devemos, portanto, declarar com simplicidade em vista das relações amistosas existentes entre os Estados Unidos e aqueles poderes, que consideraremos qualquer tentativa se sua parte para estender seu sistema a qualquer parte deste hemisfério como perigosa para nossa paz e segurança". Monroe, 02-12-1823. Analise as proposições apresentadas, no que se refere aos fatores que levaram o Presidente James Monroe a enunciar esta mensagem. I. Havia uma preocupação dos EUA com a sua própria segurança, devido à política defendida pela Santa Aliança em relação aos regimes republicanos. II. O governo norte-americano concordava com Bolívia que defendia uma América unida, forte e solidária, capaz de enfrentar futuros colonialismos. III. Existiam projetos expansionistas, nos EUA e interesse em garantir um comércio livre com os demais países independentes da América, ameaçados pelas antigas metrópoles. IV. Norte-americanos e ingleses tinham interesses comuns na América e, por isto, formularam nota conjunta contra a Santa Aliança, tendo a Inglaterra prestado apoio à mensagem de Monroe. 71 340 V. Países da América Latina pediram aos EUA proteção contra a Inglaterra que planejava o total controle do comércio externo e interno desses países. 4. (UFMS-Alter.) Sobre a conquista territorial do Oeste dos Estados Unidos da América, conhecida como a expansão para o Far West (Extremo Oeste), pode-se afirmar que: I. ocorreu paralelamente à Guerra da Secessão. II. esteve ligada, entre outros fatores, à exploração de minérios e à expansão da agropecuária. III. esteve ligada a uma intensa imigração e ao crescimento das estradas de ferro. IV. foi nesse período que todos os povos indígenas que viviam no território estadunidense, os povos nativos, consolidaram definitivamente a posse sobre suas terras. V. ocorreu imediatamente após a independência das 13 colônias inglesas, ainda no final do século XVIII. 5. (FUVEST-SP) A incorporação de novas áreas, entre 1820 e 1850, que deu aos Estados Unidos sua atual conformação territorial, estendendo-se do Atlântico ao Pacífico, deveuse fundamentalmente: a) a um avanço natural para o oeste, tendo em vista a chegada de um imenso contingente de imigrantes europeus. b) aos acordos com as lideranças indígenas, Sioux e Apache, tradicionalmente aliadas aos brancos. c) à vitória na guerra contra o México que, derrotado, foi obrigado a ceder quase a metade de seu território. d) à compra de territórios da Inglaterra e Rússia que assumiram uma posição pragmática diante do avanço norte-americano para o oeste. e) à compra de territórios da França e da Espanha que estavam, naquele período, atravessando graves crises econômicas na Europa. 6. (UFF) Imbuídos da moral protestante e movidos pelo sonho de uma nova vida proveniente das transformações industriais européias, os pioneiros da marcha para o oeste iniciaram a grande obra de povoamento do território norte-americano e de reconhecimento de suas riquezas. Considerando-se o aspecto histórico do alargamento de fronteiras nos Estados Unidos, pode-se dizer que a marcha para o oeste: a) foi o marco inicial da expansão da economia norte-americana, uma vez que os pioneiros eram organizados pelo Estado e deveriam auxiliá-lo na eliminação dos índios. b) significou a abertura de um conflito entre os vários tipos de pioneiros e teve como conseqüências a Guerra de Secessão e a autonomia dos Estados da federação norteamericana. c) teve como repercussões, apenas, a matança dos índios e a fabricação de heróis dos filmes de far-west. d) revelou um território rico que teve condições de ser ocupado graças à aliança entre os pioneiros e os índios. e) constituiu um dos marcos da identidade homem-terra na construção da nação norteamericana, possibilitando o alargamento do território. 7. (UEL) Sobre os Estados Unidos no século XIX, considere as afirmativas: I.A “Marcha para o Oeste” efetuou-se com conflitos com os povos nativos das regiões ocupadas, empurrando-os mais para oeste ou mesmo exterminando-os. II. Após a independência, a maior fonte de controvérsia política foi a definição do alcance do poder do Estado Nacional (União), em relação aos poderes dos estados da federação. III.A expansão territorial dos Estados Unidos efetuou-se através da aquisição de terras de outros países (Louisiana, Flórida), pela guerra (Texas, Califórnia, Novo México) e acordo diplomático (Oregon). IV.Os governos dos Estados Unidos combateram a imigração estrangeira, exigindo vistos de entrada e punindo severamente os que entravam ilegalmente no país. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas. 72 341 c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. 8.(UEM) Ao longo do século XIX, os Estados Unidos da América viveram um grande crescimento populacional e uma expansão territorial. Tais fatos conduziram a uma “marcha para o Oeste”, imortalizada no cinema pelos filmes de “faroeste”. Sobre os Estados Unidos da América no século XIX, assinale a alternativa incorreta. a) As disputas entre o Norte, industrialista e protecionista, e o Sul, livre-cambista e escravista, desencadearam conflitos que conduziram à Guerra de Secessão. b) A distribuição de terra a estrangeiros, autorizada em 1862, acelerou a ocupação rumo ao Pacífico e a conquista de terras indígenas. c) Ao longo da segunda metade século XIX, os EUA viveram um grande crescimento econômico. Entre os ramos industriais que mais cresceram, destacam-se as indústrias têxtil, siderúrgica e metalúrgica. d) A incorporação do Texas conduziu a uma guerra contra o México. Após a guerra, os EUA anexaram Nevada, Califórnia, Utah, Arizona e Novo México. e) A vitória da União (estados do Norte) sobre os Estados Confederados (Sul) colocou fim aos conflitos raciais nos Estados Unidos e possibilitou a construção de uma “Democracia Racial” na América. 9.(UFCE) Com a adoção da política do Big Stick, os EUA, no governo de Theodore Roosevelt, inauguraram uma prática de intervenção, inclusive armada, em especial nos países latinoamericanos, onde o capital estadunidense tornou-se hegemônico. Em decorrência desta política, é correto afirmar que: a) a intervenção dos EUA na América Central foi rejeitada pelos movimentos populares, como as revoluções sandinista e mexicana. b) a política do Big Stick foi amplamente rechaçada pelo governo brasileiro graças ao apoio político e financeiro da Inglaterra e da França. c) o governo estadunidense favoreceu o Paraguai na guerra contra a Argentina pelo controle da região petrolífera do Chaco, onde atuava a Standard Oil Co. d) os movimentos populares apoiados na luta e no pensamento político de José Martí evitaram que Cuba, logo após a independência, se tornasse um protetorado dos EUA. e) a República do Panamá proclamou sua independência da Colômbia em 1903, tornando-se um protetorado dos EUA, e, em 1914, foi inaugurado um canal ligando o Atlântico ao Pacífico. 10.(FGV) A Ku Klux Klan representa, entre as organizações de segregação racial, uma das mais conhecidas. Surgida e proibida na segunda metade do século XIX, ainda hoje tem adeptos que a fazem ressurgir em atos isolados e, muitas vezes, apenas simbólicos. Sobre a KKK é correto afirmar que: a) foi uma resposta de intimidação à vitória do Sul na Guerra de Secessão e à abolição dos escravos nos EUA. b) é uma organização que se inicia no norte dos EUA, após o assassinato de Lincoln, representando o interesse dos republicanos feridos pela derrota na Guerra de Secessão. c) sua criação está relacionada ao repúdio se setores segregadores sulistas à aprovação de 138 e da 148 Emendas Constitucionais, que buscaram definir as relações interraciais nos EUA, após a Guerra de Secessão. d) constituiu uma organização secreta, de segregação racial, responsável pela campanha e pela vitória de Lincoln nas eleições presidenciais de 1860, pelo partido republicano. e) foi uma resposta, dos negros sulistas, a uma política de interação racial, autoritária e desigual, proposta pelos Estados Confederados. 73 342 OLHARES HISTÓRICOS • Livros Estados Unidos: a formação da nação. KARNAL, Leandro. São Paulo, Contexto, 2002. (Coleção Repensando a História) A guerra civil norte-americana. EISENBERG, Peter Louis. São Paulo: Brasiliense, 1998. A formação dos Estados Unidos. NARO, Nancy Priscilla Smith. São Paulo, Atual. 2000. (Coleção Discutindo História) A guerra da Secessão dos Estados Unidos. CLARK, Philip. São Paulo: Ática, 1991. Os índios norte-americanos. Cinco séculos de luta e opressão. SOLA, José Antônio. São Paulo: Moderna, 2000. • Cinema Dança com Lobos (1990, EUA, Direção de Kevin Costner) Filme sobre os dilemas de um oficial norte-americano num posto avançado da fronteira, nos anos de 1860. O personagem acaba se encantando com a cultura indígena e passa a viver entre os indígena. Duração de 180 minutos. ... E o vento levou (1939, EUA, Direção de Vitor Flemming) A guerra de Secessão, no sul dos Estados Unidos, contada de maneira épica pelo envolvimento de uma sulina com um conquistador. Butch Cassidy (1969, EUA, Direção de George Roy Hill) Dois bandidos no Velho Oeste dos EUA são perseguidos pelas forças da lei e fogem para a Bolívia. Cold Mountain (2003, EUA, Direção de Abthony Minghella) Filme sobre o fim da Guerra civil norte-americana, mostrando a desagregação do exército confederado. Duração de 155 minutos. 74 343 A Era dos Impérios Entre o final do século XIX até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o mundo foi impactado por densas alterações. Nessa época, as nações industrializadas deram início a uma nova etapa do capitalismo, denominada de imperialismo, política de partilha de territórios entre as potências capitalistas. Enquanto os italianos e os alemães lutavam em prol de sua unificação, alguns países do continente europeu, o Japão e os Estados Unidos colocavam em prática uma política denominada de imperialismo. As regiões africanas, asiáticas e latino-americanas foram subjugadas aos interesses militares, econômicos, políticos e culturais dos estados imperialistas. Ilustração de uma propaganda de Sabão da década de 1890, na Inglaterra, que repassa a ideia de que os brancos seriam os reponsáveis pela limpeza e higiene de outros de outros grupos sociais, no caso, os africanos. A Revolução Técnico-científico Para maior parte dos estudiosos, a expansão do capitalismo foi impulsionada pelas profundas mudanças tecnológicas que nortearam a Segunda Revolução Industrial, conhecida também como Revolução Técnico-científica, devido as profundas transformações desencadeadas a partir de 1870. As moficações proporcionadas pela Segunda Revolução Industrial alterou consideralvelmente o ritmo de produção, pois houve a introdução de novos recursos energéticos, como a eletricidade e o petróleo. Houve também várias pesquisas tecnológicas que visavam dinamizar a produção de bens, permitindo o aceleramento econômico. A união entre ciência e tecnologia foram fundamentais para o avanço do capitalismo e para implementação de novidades no cotidiano da sociedade industrializada. 75 344 Inúmeras inovações tecnológicas foram introduzidas nas potências capitalistas ocidentais, entre o motor de explosão, o telefone, os corantes sintéticos, a produção de aço, desenvolvimento nos transportes (locomotivas e trens mais eficientes), aperfeiçoamento dos navios transoceânicos, melhoria e ampliação na automatização das máquinas, novas indústrias nas áreas de siderurgia e metalurgia, melhorias consideráveis nos serviços públicos, como o fornecimento de energia elétrica. Nos grandes centros urbanos, a iluminação pública tornou-se o símbolo da modernidade. Os bondes e as locomotivas elétricas dinamizou enormente o deslocamento das pessoas. Outros meios de comunicação evoluíram ligeiramente, como o telégrafo, o linotipo e o cinema. No campo da medicina, desenvolveram-se novas vacinas e o tratamento para muitas endemias. Essas descobertas reduziu as taxas de mortalidade, o que contribuiu para o crescimento demográfico. Assim, o mundo tornava-se cada vez mais dinâmico, as distâncias iam se reduzindo, o homem criou técnicas e mecanismos com objetivo de garantir seu bem-estar, enfim, as incríveis transformações impuseram novos hábitos e cotumes, era consolidação do modelo capitalista. No texto a seguir, o autor elenca uma série de inovações tecnológicas e produtos desenvolvidos no final do século XIX e começo do XX. “(...) o veículos automotores, os transatlânticos, os aviões, o telégrafo, o telefone, a iluminação elétrica e ampla gama de utensílios eletrodomésticos, a fotografia, o cinema, a radiofusão, a televisão, os arranha-céus e seus elevadores, as escadas-rolantes eos sistemas metroviários, os parques de diversões elétricas, as rodas-gigantes, as montanhas-russas, a seringa hipodérmica, a anestesia, a penicilina, o estetoscópio, o medidor de pressão arterial, os processos de pausterização e esterilização, os adubos artificiais, os vasos sanitários como descarga automática e o papel higiênico, a escova de dente e o dentifrício, o sabão em pó, os refrigerantes gasosos, o fogão a gás, o aquecedor elétrico, o refrigerador e os sorvetes, as comida enlatadas, as cervejas engarrafadas, a Coca-Cola, a aspirina, o Sonrisal e, mencionada por último mas não menos importante, a caixa registradora.” Nicolau Sevcenko. Introdução. In _____ (org.). História da vida privada no Brasil: da Belle Époque à era do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 198. V. 3, p. 9-10. O intenso ritmo de produção, entretanto, gerou duas necessidades essenciais: a busca por mercado consumidor e a permanente procura por matérias-primas. A partir de então, foi instaurada uma divisão econômica internacional entre as nações produtoras de bens de consumo e os estados consumidores dos materiais industrializados e fornecedores básicos de matérias-primas. Foram essas determinantes, que contribuiu para a “partilha do planeta” entre as potências industrializadas. Capitalismo monopolista O processo de expansão industrial fundamentou-se na aquisição de matérias-primas para suprir as fábricas em pleno desenvolvimento e, simultaneamente, após industrializados, os produtos e bens seriam disponibilizados para que as pessoas adquirissem, aumentando, dessa forma, o mercado consumidor. As grandes empresas que investiram em novas tecnologias passaram a produzir mercadorias em larga escala. As empresas de pequeno porte não tinham condições de competir com o grau de produtividade das maiores, pois detinham poderosas máquinas e avançadas técnicas de produção. Por isso, muitas fábricas decretaram falências e outras foram vendidas a grupos de investidores maiores. Originam-se, desse modo, o conglomerados ou fusão de empresas. O processo de concentração empresarial contribuiu para a formação de trustes, holdings e cartéis. O truste consiste na fusão de várias empresas, as quais são comandadas por um mesmo administrador. A Holding coonstitui numa grande empresa criada para administrar as subsidiárias com a detenção majoriárias das ações. Nesse caso as empresas não se fundem. Essa prática resultou no domínio de todas as etapas de produção e comercialização, desde a captação de matérias-prima até a fase de distribuição e venda dos produtos, como o objetivo de monopolizar o mercado. O cartel é formado 76 345 quando empresas autônomas (donos diferentes) de um mesmo setor se reúnem ou estabelecem um acordo, tais como o tabelamento de preços, os meios de pagamentos das mercadorias, a segmentação estratégica do mercado e os preços de compras das matériasprimas. Todos esses procedimentos eram executados para eliminar a concorrência. As grandes empresas passaram a depender de enormes quantias de capital para investir cada vez mais em seus negócios. Os bancos, nesse momento, surgem com os grandes financiadores. De acordo com os historiadores, os interesses industriais e bancários se convergiram, impulsionando o surgimento do capitalismo monopolista ou financeiro. Ideologia do “progresso” Paulatinamente, o dia a dia das pessoas, especialmente as que moravam nos centros urbanos, começou a modificar. O impacto dessas alterações se deu em vários aspectos: o dinamismo cotidiano, pautado na instaneidade e na permanente tensão; mudanças substanciais nos hábitos e costumes, entre os mais destacados: a frequência ao cinema, conversa ao telefone e ouvir os fonógrafos; inserção de novas práticas de consumo, como comprar móveis sofisticados e tomar café; hábitos higiênicos passaram a ser valorizados e as pessoas criaram padrões de limpeza individual; variadas atividades esportivas foram desenvolvidaas, como futebol e as regatas. Toda essa modernidade se propagou nos principais centros urbano, irradiando para as várias regiões os referenciais e valores de saúde, serviços, trabalho, cultura, educação e inovações tecnológicas. As mudanças foram tão impactantes que o ideal de civilização e progresso se vinvularam fortemente às zonas urbanas, enquanto que as símbolos do tradicionalismo e “atraso” continuaram associadas às regiões rurais. Nesse contexto, houve um rápido crescimento exagerado da população urbana. Nessa época foi criada a utopia de que o homem caminhava permanentemente para o sucesso material, trilhando um contínuo caminho de progresso tecnológico e científico. Essa percepção foi usada para justificar às ocupações feitas pelas potências europeias nos continentes africano e asiático. Difundia-se, assim, a ideologia do “fardo do homem branco” que consistia na necessidade de levar o ideal civilizatório a todos os cantos do mundo. As ideias evolucionistas de Charles Darwin foram aplicadas como ideologia pelos países imperialistas, contribuindo para alcerçar o denominado darwinismo social. Na imagem, missionários belgas no Congo. “Assim sendo, a sensação de superioridade que uniu os brancos ocidentais – rico, classe média e pobres – não se deveu apenas ao fato de todos eles desfrutarem de privilégios de governante, sobretudo quando efetivamente estavam nas colônias. Em Dacar ou Mombaça, o mai modesto funcionário era um amo e era aceito como gentleman pó rpessoas que nem teriam notado sua existência em Paris ou Londres.” HOBSBAWN, Eric. A Era dos Impérios: 1875-1914.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p.107. 77 346 Conceitos de imperialismo e Neocolonialismo O termo imperialismo é originário do latim e significa “possuir o poder de controlar”. Historicamente, correspondeu a um processo de expansão, consquista e exploração econômica de várias regiões africanas e asiáticas. Essa etapa alcançou maturidade entre 1875 e 1914, quando o capitalismo encontra-se plenamente consolidado. Nessa época, houve, também, imposições políticas e culturais promovidas pelos Estados dominantes. Para o historiador Heinz Gollwitzer, o imperialismo pode ser definido como uma extensão da política nacional num âmbito internacional, dessa forma ele comentou: “Por volta de 1900, o Imperialismo era coniderado como um prolongamento da política nacional no quadro da política internacional. A palavra tinha acabado por significar construir um império como base em aquisições coloniais; deenvolver a marinha e o exército como instrumentos desta política. O Imperialismo consistia, também, em desenvolver as exportações e os invetimentos no estrangeiro em proveito da economia nacional.” GOLLWITZER, Heiz. O Imperialismo Europeu: 1880-1914.Liboa: Verbo, 1969. p.11-12. Sob o aspecto geral, o imperialismo adquiriu o sentido de opressão, intolerância e etnocentrismo. Pode-se acrescentar outros elementos, tais como: a subjugação de vários povos, espoliação econômica e deseorganização de culturas seculares. Já o termo neocolonialismo faz referência a fixação dos europeus nas regiões africanas e asiáticas, comumente estabelecendo relações econômicas, políticas e administraticas nas áreas ocupadas. Vários historiadores traçam um paralelo entre o colonialismo da época moderna e a colonização do século XIX. O primeiro fundamentava-se no amadurecimento dos Estados absolutistas, no tráfico de escravos, nos intensos mercados de especiarias, nas atividades agrárias e no extrativismo mineral. Já o neocolonialismo foi deenvolvido a fim de contemplar os interesses da burguesia industrial-financeira, sequiosa por novos mercados consumidores, matéria-prima e obtenção de novas áreas de aplicação de capitais excedentes. O Imperialismo situa-se numa fase de grande euforia nacionalista e forte concorrência entre as potências industrializadas. O extremo dessa política impulsionou os países europeus a formarem grandes impérios. O apogeu da política imperialista foi atingido nas últimas décadas do século XIX, quando houve a multiplicação de empresas que concentravam enorme capital, instaurava-se, assim, a etapa do capitalismo monopolista, como vimos anteriormente. Na tabela, a seguir, podese perceber como ficou distribuídas as colônicas nessa época. País Inglaterra França Alemanha Portugal EUA Japão Turquia Rússia Espanha Dinamarca Países Baixos Itália Império Austro-Húngaro Colônias 50 33 13 9 6 5 4 3 3 3 3 2 2 Fonte: “Pelos Caminhos da História”.Adhemar Campos. Positivo: Paraná. p.306. Nesse quadro geral, os franceses e os ingleses detinham mais colônias, pois suas ações imperiais tiveran início no século XVIII. No caso de Portugal, apenas mantiveram as antigas posses. Os norte-americanos possuíam áreas de influências na América Central e alguma 78 347 colônias no Pacífico. Alemanha e Itália foram as últimas a entrarem na corrida imperialista devido ao processo de unificação e afirmação na Revolução Industrial. Diante disso, esses países ficaram com fragmentos territoriais no continente africano, o que gerou uma política de insatisfação por parte do governo alemão, o que o levou a ocupar algumas regiões próxima ao domínio francês e inglês. O Imperialismo fundamentou-se em ideais racistas e preconceituosos, uma vez que houve desprezos às culturas dos povos dominados, que eram considerados “selvagens”, “atrasados” e “inferiores”. No final do século XIX surgiram vários paladinos ideológicos que serviu como suporte para as práticas imperialistas, entre eles, a teoria evolucionista de Charles Darwin. Essa visão que os europeus detinham uma “cultura e povos superiores” legitimou os interesses imperialistas. O Darwinismo social deu base científica às ações violentas e de dominação imperialista. Ideologicamente, seus seguidores acreditavam que existiam raças humanas mais superiores ou capacitadas que outras. O darwinismo social constituiu na antropologia biológica, que marcou fortemente o século XIX. As fases do Imperialismo, segundo Vladimir Lênin I.A concentração de produção e capital, em tão alto grau de desenvolvimento, que cria monopólios que desempenham um papel decisivo na vida econômica; II. a fusão do capital do bancário com o capital industrial, originando o “capital financeiro” e uma oligarquia financeira; III. a exportação do capital, diferente da exportação de mercadorias, torna-se de fundamental importância; IV. a formação de consórcio de monopólios internacionais de capitalistas, que dividem o mundo; V. O término da divisão territorial do mundo pelas maiores potências capitalistas LÊNIN, Vladimir Ilitch. “O Imperialismo, fase superior do capitalismo”. In: Obras escolhidas. São Paulo:Alfa-ômega, 1979. p.641-642. A difusão das conquistas europeias pelo planeta significou o produto das mudanças que começaram no final do século XVIII (primeira Revolução Industrial), e se expandiram com muita intensidade na segunda metade do século XIX (segunda Revolução Industrial). Diversos elementos contribuíram para isso, como vimos no início do capítulo: as imensas transformações técnico-científicas, aumento populacional, a expansão das indústrias, a consolidação do capitalismo financeiro e expansão das atividades comerciais que estruturaram uma econômica munidalizada. A Partilha da África A exploração promovida pelas potências europeias em regiões coloniais não denotava algo novo como vimos anteriormente, uma vez que desde a época da Expansão Marítima, Portugal e Espanha desenvolveram esse tipo de dominação. A maior parte das colônias, porém, localizavam-se na América, que foi impactada pelo processo de indenpendência política no decorrer do século XIX. Já a dominação europeia no contexto da expansão de mercados na África e na Ásia ficou conhecida como neocolonialimo. Antes do imperialismo do século XIX, o imaginário europeu sobre os povos africanos era marcado por esteriótipos: doenças, densas florestas, muitos animais selvagens e muitos mistérios. Na verdade, havia uma grande articulação entre as regiões econômicas no 79 348 Religiosos alemães com um grupo de africanos na região que correspondem atualmente a Camarões. As expediões religiosas católicas e protestantes tiveram forte presença na África. Fotografia de autor desconhecido, 1891. deserto do Saara e seus limítrofes, que comprovam a exitência de muitas comunidades históricas próprias, antes da ocupação europeia, especificamente durante o processo de colonização do século XVI. A sintonia econômica das áreas africanas ocorria pelas rotas comerciais das caravanas que percorriam vastas regiões do continente, estendendo-se à Ásica e Europa. Desse modo, a percepção de um continente exótico foi se desfazendo aos pouco, principalmente, no bojo da cobiça e ambição dos países europeus durante a etapa da partilha da África. O médico ecocês David Livingstone, missionário protestante e explorador, cruzou o continente africano, a partir de 1853, e fez denúncias da escravidão na atual Zâmbia: “Nossa expedição é a primeira que o tráfico em todas as suas fases em seu local de origem. Eu me sinto cada vez mais disposto a não permitir o comércio de escravos nas regiões que tenho percorrido”. A exploração na África teve começou a ser desenvolvida na primeira metade do século XIX. Com o suporte da Legião Estrangeira (tropa de mercenários), os franceses iniciaram suas conquistas no norte africano, ocupando, em 1830, a Argélia. Em 1844, foi a vez de Marrocos e, em 1854, o Sengal. Depois houve avanço para as regiões do Gabão e Guiné. Já os ingleses dominaram os territórios que correspondiam desde o norte do Egito até a África do Sul. Ao longo da década de 1880, foram anexados Sudão, Costa do Ouro, Nigéria Quênia, Somália e Uganda. Portugal praticamente manteve suas antigas colônias conquistadas nos séculos XV e XVI. Os demais países europeus ainda conseguiram ocupar outras áreas. A Alemanha ocupou parte da África oriental (atual Tanzânia), Namíbia e Camarões. A Itália invadiu a Líbia e parte da Somália. A Bélgica dominou o Congo. Os espanhóis ficaram com o pequeno território do Rio do Ouro. Entre os anos de 1884 e 1885 realizou-se a Conferência de Berlim, sugestão do chanceler alemão, Otto Von Bimarck. A pretensão dessa conferência era resolver alguns impasses e oficializar a partilha da África. O objetivo seria definir acordos para evitar possíveis litígios posteriormente quanto a divisão do continente africano. As 14 principais potências europeias participaram desse encontro, além dos Estados Unidos, que não tinham colônias na África, mas que constituía um país em plena ascensão. Visando traçar regulamentações da expansão colonial na África, a divisão foi extremanente arbitrária. Não foi levado em consideração os aspecto étnicos ou culturais dos povos, o que impulsionou a desorganização de sociedades lá estabelecidas, o que contribuiu diretamente para os múltiplos conflitos atuais em regiões africanas. Entre 1870 e 1914, o continente africano se transformou em praticamente um “patrimônio” europeu. Em 1900, mais de 90% do território africano estavam nas mãos dos países europeus. Na divisão das terras, a maior parte ficou com a Inglaterra e a França, como foi analisado no início deste capítulo. 80 349 Segundo vários historiadores, a partilha da África contribuiu para o estabelecimento de um clima de tensão entre os países europeus, o que fica bem evidente em um trecho da Ata Geral da Conferência: “Art. 34 – A Potência que, de futuro, tome posse de um território nas costas do continente africano situado fora das suas possessões atuais, ou que, não as tendo então, venha a adquiri-las, e do mesmo modo uma potência que assuma um protetorado, acompanhará a Ata respectiva duma notificação dirigida às outras potências signatárias da presente Ata, a fim de as pôr em condições de valer, se disso for caso, as suas reclamações. (...)” Ata Geral, elaborada em Berlim a 26 de fevereiro de 1885, entre a França, Alemanha, Áustria-Hungria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Itália, Países Baixos, Portugal, Rússia, Suécia, Noruega e Turquia. FREITAS, Gustavo de. 900 textos e Documentos de História. 2 ed. Liboa: plátano, s.d. v. III, p.170. Um dos mecanismos utilizados pelos europeus para dominar os africanos foi o incentivo aos atritos entre os grupos locais que, ao brigarem entre si, fragmentavam-se, facilitando a subjugação. A colonização, ao instalar novas formas administrativas e políticas contribuiu para o colapso das tradições africanas. Além dos interesses em matérias-primas e exploração de minérios, os estados europeus contruíram estradas de ferro que faziam conexões com portos localizados no litoral. Os trabalhadores eram submetidos a condições desumanas. ÁFRICA ANTES DA CONFERÊNCIA DE BERLIM (1880) ÁFRICA DEPOIS DA CONFERÊNCIA DE BERLIM (1914) A resistência africana Os africanos não aceitaram facilmente a dominação imperialista. Houve lutas e enfretamentos contra a subordinação colonial. Vale salientar, que as rebeliões anticoloniais objetivavam restaurar a identidade tribal ou nacional, desconfigurada pela violência dos conquistadores. 81 350 Um desses movimentos ocorreu em 1899, conhecido como Guerra dos Boêres (18991902), ocorrida na África do Sul. Os ingleses dominavam a região mais central, enquanto o interior era controlado pelos bôeres ou africâners, descendentes de holandeses que tinham ocupado a região desde o século XVII. Os bôeres se estabeleceram no território interessados em utilizar a rota comercial para a Índia. Com o rápido avanço da Inglaterra, os colonos foram obrigados a se deslocarem cada vez mais para o interior, onde organizaram as repúblicas de Transvaal e de Orange. A descoberta de diamante e ouro na região dos bôeres alterou substancialmente o cenário, pois os britânicos ampliaram sua cobiça e iniciaram uma guerra aberta com o objetivo de controlar o território. Os africanos resistiram à penetração inglesa, porém, depois de uma sangrenta luta foram derrotados, em 1902. Muitos bôeres foram encacerados em campos de concentração. Dessa forma, as áreas anexadas pela Inglaterra constituíram em 1910 a União Sul-Africana. Em 1911, os brancos na União Sul-Africana, africâners e ingleses, formavam a menor parte da população diante da maioria absoluta dos negros. Com receio que os negros ameaçassem a dominação dos brancos foram instauradas medidas segragacionistas contra a população negra. A política de preconceito racial foi oficializada em 1948, com a instalação do apartheid, que siginifica em africâner “separação”. Com essa lei, os cerca de 29 milhões de negros foram submetidos à dominação dos 5 milhões dos brancos. O apartheid proibia o acesso dos negros à propriedade privada e à participação política. Além disso, eram impedidos de se casarem e estabelecer relações sexuais com pessoas de outras etnias. Durante esse períoro, os negros na África do Sul, foram confinados em guetos e sofreram todo tipo de humilhação. O imperialismo da Ásia As relações comerciais entre o Oriente (especialmente a Índia) e os europeus eram bastante antigas. Algumas regiões forneciam especiarias, tecidos e outros variados produtos, que atraíam interesses da Europa. Nesse sentido, durante a era das grandes navegações (séculos XV e XVI), os portugueses colonizaram Damão, Goa e Diu (Índia), e outras áreas asiáticas, como Timor Leste (Indonésia) e Macau (China). Em seguida vieram os espanhóis, que se apossaram da Filipinas e o holandeseses, que dominaram Java (Indonésia), transformando-a em sua colônia. A partir do século XVIII, os ingleses já tinham forte influência no território indiano, impondo regras e subjugando a população local, exercendo rígido controle administrativo e político. Enquanto isso, os franceses se apropriaram da Indochina, localizada no sudesde asiático. Já os alemães tomaram uma parte da Nova Guiné, no Oceano Índico, dividindo-a com a Inglaterra. Há duas diferenças básicas entre a exploração colonialista africana e o equivalente na Ásia. A primeira distinção: o território asiático já era parcialmente conhecido no século XIX. Assim, não estabeleceu, no sentido mais real do termo, a instauração de uma fase épica de grandes aventuras. A segunda distinção: a região asiática era povoada por civilizações milenares, as quais os europeus já conheciam há algum tempo, especialmente os ingleses, que dominavam o subcontinente indiano. O Imperialismo provocou grandes tragédias, isso fica bem perceptível nessa foto de 1877, na qual percebese as dimensões subumanas e cruéis que os indianos viviam. 82 351 A conquista da Índia A Índia era constituída por um conjunto de domínios, administrados por alguns marajás que impunham sua autoridade a milhares de miseráveis. A partir do século XVIII, porém, através da Companhia das Índias Orientais, a Inglaterra estabelece sua hegemonia na região. Os britânicos detinham o monopóçio comercial sobre seda, tecidos de algodão, jóias e outros produtos tipicamente indiano. Politicamente, essa empresa beneficiava-se das rivalidades e atritos entre inúmeras casta e etnias para alcançar o poder. Do ponto de vista administrativo, os britânicos assumiam os cargos de confiança, porém, as atividades subalternas eram destinadas aos nativos. Em relação aos marajás, os ingleses preferiu não mexer na estrutura social, o que consistiu num modo de cooptar as elites locais, mantendo-as, com uma relativa autonomia. A instalação do governo inglês na Índia alterou substancialmente as relações de trabalho. Nessa perspectiva, os historiadores José Alves de Freitas Neto e Célio Ricardo comentam: “A concorrência entre os sistemas de produção industrializados dos ingleses e os trabalho manufatureiros dos indianos alterou a vida dos indianos. Muitas pessoas não tinham como manter seus antigos trabalhos. A chegada das estradas de ferro, entre os anos de 1840 e 1850, permitiu a integração territorial e acelerou as grandes plantações visando ao mercado externo, com produtos como trigo, algodão e tabaco. As pequena propriedades e a variedade de cultivos eram substituídas por grandes faixas de produção voltadas para a exportação. Com isso, o preço da terra se elevou e muitas pessoas perderam suas terras.” História geral e do Brasil. NETO, Joe Alves de Freitas; TASINAFO, Célio Ricardo. 2ª Ed. São Paulo: HARBRA, 2011. p.602. A introdução de mercadorias industrializadas modificou constumes e hábitos dos indianos, que passaram a consumir os produtos metropolitanos. Seguindo a ótica imperialista, os indianos forneciam matérias-primas e, em seguida, consumiam os produtos industrializados. Este qaudro provocou insatisfação entre as elites e na população em geral. Em 1857, os cipaios, soldados mercenários indianos que prestavam serviços à Companhia inglesa, rebelaram-se. A Revolta dos Cipaios ou a Grande Rebelião foi resultado da insastifação indiana e caracterizou-se por uma onda de rebeliões que se propagaram nas áreas centrais e norte da Índia. O estopim para eclosão do conflito foi a divulgação de que o novo rifle utilizado pelos exérctiro seria lubrificado com banha bovina e suína. Essa notícia gerou descontentamento entre os hinduítas e islâmicos. Para seguidores do hinduísmo, as vacas são animais sagrados e para os seguidores do islamismo, os suínos são considerados impuros. Com o apoio da população local, os rebeldes assassinaram muitos súditos ingleses. Essa tentativa de resistência contra a dominação britânica foi reprimida em 1859, todavia, tornou um símbolo de luta, uma vez que contribuiu para alterar a estrutura administrativa britânica. Com dificuldades para administrar os conflitos internos entre os indianos, a Companhia das Índias foi extinta e o controle foi transferido para a coroa inglesa, que passou a escolher um representante da rainha, um Vice-Rei. Escolhido pelo parlamento inglês, o vice-rei, nomeado em 1876, podia aceitar, em cargos de confiança, habitantes locais. A rainha Vitória foi conclamada a “Imperatriz das Índias”. O Império nipônico O processo de ocupação da China e do Japão possui algumas peculiaridades. No imperialismo no século XIX, as potências capitalistas impuseram práticas e costumes que alteraram profundamente essas duas civilizações. Os primeiros contatos dos japoneses com os ocidentais ocorreram no século XVI, no contexto da expansão marítima quando os portugueses e espanhóis pretendiam instalar missões na região. Os nipônicos reagiram, e fecharam os portos aos estrangeiros em 1648. Sustentando por uma estrutura feudal, o Japão manteve-se isolado até a era dos impérios. No século XVII, os japoneses alcançaram a unidade política, passando a viver sob o domínio de um xogum (líder militar e político), mas, hierarquicamente, estavava subordinado ao imperador que possuía poderes praticamente simbólico. Em fins do século 83 352 XVII, o isolacionismo aumentou com a chegada ao poder da dinastia do xogunato Togunawa, também conhecida como feudalismo de Togunawa. Nessa época, a economia japonesa era essencialmente agrária e a estrutura social marcada pela existência de grandes latifundiários. Apesar das dificuldades existentes, o comércio interno desenvolveuse. A sede de poder do xogum era a cidade de Edo, enquanto o imperador fica instalado na cidade de Kyoto. A política de isolamento só termina em meados do século XIX. Em virtude de vários problemas internos, o xogunato entre em derrocada. A partir de então, o Japão passará por uma série de transformações. No período de sua expansão, os Estados Unidos necessitavam de bases de apoio no Pacífico para seus navios. Assim, em 1854, os norte-americanos ameaçaram bombardear a capital japonesa caso o governo não liberasse alguns portos ao comércio internacional. Apesar das pressões dos Estados Unidos, os japoneses foram inflexíveis. Depois de alguns pedidos e bajulações feitas às autoridades nipônicas, houve a assinatura de tratados comerciais que oficializou a abertura dos portos às nações estrangeiras (Estados Unidos, França, Inglaterra e Rússia). Esse ato promoveu o começo da europeização do Japão. Após a queda da dinastia Togunawa, em 1867, o poder foi transferido para um grupo de samurais (nobreza guerreira). O restabelecimento do poder imperial foi comandado pelo Imperador Matsuhito, que implantou uma série de reformas na sociedade japonesa. Investimentos em educação (abertura de escolas), nas forças armadas (serviço militar obrigatório) e adoção do calendário cristão ocidental e outras As intensas modificações sociais (crise das estruturas feudais), econômicas (processo de industrialização) e políticas (instauração de regime parlamentar bicameral, modelo germânico) redefiniram os rumos do Japão. Tais transformações receberam o nome de Revolução ou Era Meiji, em referência aos 45 anos de governo do imperador Mutsuhito, conhecido como o “imperador iluminado”. Diante desse quadro de mudanças, já nas últimas décadas do século XIX, o Japão despontava como uma potência industrial. Semelhante aos países industrializados ocidentais, o Japão desenvolveu uma política imperialista no continente asiático. Devido à pobreza de recursos minerais e fontes energéticas, além da busca de mercado consumidor, os japoneses lançaram-se na corrida imperialista no extremo oriente. A população do Japão saltou de 39,5 milhões de habitantes em 1888 para 55 milhões na segunda década do século XX. Com um poderoso exército e frota naval, o Japão declarou guerra à China em 1894. A guerra sinojaponesa (1894-1895) foi vencida pelo Japão, que no final anexou a ilha de Taiwan (atual Formosa) e a região da Manchúria. O forte Império Russo, que também tinha interesses sobre a Manchúria, não se conformou e declarou guerra aos japoneses. Em 1904, teve início a Guerra RussoJaponesa. A guerra acabou em A industrialização japonesa implicou numa série de transformações, entre elas a expressa construação de ferrovias. 1905, com a vitória dos japoneses. Na imagem, a primeira estrada de ferro, qua fazia a ligação entre Tal acontecimento demonstrou o Tóquio e Yokohama, inaugurada em 1872. Xilogravura de autoria poderio do Japão e ao mesmo tempo desconhedida, século XIX. a falência do czarismo na Rússia. A China Atualmente a China é uma das principais potências econômicas do planeta e conta com uma população que ultrapassa 1,3 bilhão de habitantes. Na época do imperialismo, a China já chamava atenção pela sua densidade demográfica e, obviamente, suas fascinantes riquezas. Os chineses ficaram fechados por muito tempo para o Ocidente. 84 353 No início do séxulo XIX, a China era governada pela Dinastia Manchu, que estava debilitada devido às rebeliões camponesas e conflitos políticos internos. A China constituía um mercado consumidor em potencial, além disso possuía um subsolo rico em minerais. Esses fatores atraíram a cobiça dos países ocidentais. As transações comerciais entre chineses e os europeus eram realizados através de Hong Kong. Através desse porto a Companhia das Índias Orientais contrabandeava o ópio, produzido pelos britânicos na Índia e na Birmânia. Apesar da proibição em vários países, o governo inglês aprovou a comercialização do ópio. Diante dessa intensificação do tráfico ilegal, os chineses reagiram com a apreensão de 20 mil caixas da droga, no Porto de Cantão, em 1839. Era o início da Guerra do Ópio (1839-1842). Insatisfeitos com atitude e com o comprometimento do promissor comércio, os ingleses enviaram tropas para combatê-los. Derrotados em 1842, o chineses foram tiveram que aceitar o Tratado de Nanquim, o qual obrigou o governo chinês abrir seus cinco portos ao comércio britânico, ceder Hong Kong (devolvido à China em 1997) e tratamento jurídico especial aos cidadãos ingleses que não podiam ser punidos por leis chinesas. Posteriomente, os norte-americanos e os franceses também alcançarão vantagens comerciais. Em contestação aos governantes manchus que flexibilizaram o mercado A ilustração faz referência ao Imperialismo na China. As chinês ao imperialismo, nacionalistas da principais potências (Grã-Bretanha, Alemanha, França, China promoveram, em 1853, na região Japão e Rússia) dividem a China em zonas de influência. de Yang Tsé, a Revolta dos Taipings Edição de 16 de janeiro de 1898 do Le Petit Journal. (1851-1864). Os Taipings chegaram a dominar importante áreas chinesas. Para sufocar os rebeldes, os líderes manchus pediram apoio das forças estrangeiras, ampliando ainda mais a presença internacional no território chinês. Outras revoltas aconteceram, entre elas, a Guerra dos Boxers (1900-1901). No decorrer da Guerra Sino-japonesa (1894-1895), a China foi dividida entre Alemanha, França, Japão, Inglaterra e Rússia. O território chinês ficou distribuído por áreas de influências. Essa situação só chegou ao fim em 1912, com o estabelecimento da República. As conquistas europeias não se limitaram à China e à índia, diversas outras regiões foram também apossadas. Os franceses dominaram parte do sudeste asiático (Vietnã e Camboja), e os ingleses anexaram a Birmânia, o Oriente Médio e o Afeganistão. A Oceania A Oceania foi dominada pelas potências europeias e pelos Estados Unidos. A espoliação do continente teve início em 1815, quando os ingleses conquistaram a Nova Zelândia, a Austrália e outras diversas ilhas. Já a Nova Guiné, ficou dividida entre holandeses, alemães e ingleses. Os franceses se apossaram das ilhas de Taiti e Nova Caledônia. A Holanda conquistou os territórios de Java, Sumatra e Bornéu. Os norte-americanos dominaram regiões estratégicas para suas pretensões imperialistas, tais como as ilhas de Guam, O Havaí e Mamila (Filipinas). A América Latina No continente americano, mesmo sem haver novas incursões territoriais, a hegemonia imperialista ocorreu através da influência econômica e política. Depois do processo de emancipação das colônicas hispânica e portuguesa na primeira metade do século XIX, a América Latina sofreu dupla influência, ou seja, os Estados Unidos e da Inglaterra. 85 354 No decorrer do século XIX, os ingleses manteviveram forte controle econômico nos países sul-americanos, explorando muitas riquezas naturais e vendendo produtos industrializados. Na virada do século, entretanto, os Estados Unidos passam a encarar com os ingleses a hegemonia na região. Como vimos no capítulo 22, os norte-americanos exerceram grande influência na América Central, que veio a fomentar a Doutrina Monroe nessas regiões. Sob o uso do discurso de auto-determinação dos povos, no século XIX, os norte-americanos realizaram intervenções militares no Panamá, na Nicarágua e em Cuba. Tal postura teve continuidade ao longo século XX. 86 355 TEXTO COMPLEMENTAR O Imperialismo e o pensamento racial no século XIX Até o período da “corrida para a África”, o pensamento racista competia com muitas ideias livremente expressas que, dentro do ambiente geral de liberalismo, disputavam entr e si a aceitação da opinião pública. Somente algumas delas chegaram a tornar-se ideologias plenamente desenvolvidas, isto é, sistemas baseados numa única opinião suficientemente forte para atrair e persuadir um grupo de pessoas e bastante ampla para orientá-las nas experiências e situações da vida moderna. Pois a ideologia difere da simples opinião na medida em que se pretende detentora da chave da história, e em que julga poder apresentar a solução dos “enimas do universo” e dominar o conhecimento íntimo das leis universais “ocultas”, que supostamente regem a natureza e o homem. Poucas ideologia granjearam suficiente proeminência para sobreviver à dura concorrência da persuasão racional. Somente duas sobressaíram-se e praticamente derrotaram toda as outras: a ideologia que interpreta a hitória como uma luta econômica de classes, e que interpreta a história como uma luta natural entre raças. Ambas atraíram as massas de tal forma que puderam arrolar o apoio do Estado e se estabelecer como doutrinas nacionais oficiais. Mas, mesmo além das fronteiras dentro das quais a ideologia racial e a ideologia de classes formaram moldes obrigatórios de pensamento, a opinião pública livre as adotou de tal modo que não apenas os intelectuais, mas até grances massas, rejeitam apresentações de fato, passados ou presentes, que não se ajustem a uma delas. A extraordinária força de persuasão decorrente das principais ideologias do nosso tempo não é acidental. A persuasão não é possível sem que o seu apelo corresponda às nossas experiências ou desejos ou, em outras palavras, a necessidades imediatas. Nossas questões, a plausibilidade não advém nem de fatos científicos, como vários cientistas gostariam que acreditássemo, nem de leis históricas, como pretendem os historiadores em seus esforços de descobrir a lei que leva as civilizações ao surgimento e ao declínio. Toda ideologia que se preza pe criada, mantida e aperfeiçoada como arma política e não como doutrina teórica. (...). Seu aspecto científico é secundário. Resulta da necessidade de proporcionar argumentos aparentemente coesos, e assume características reais, porque seu poder persuasório fascina também a cientistas, desinteressados pela pesquisa propriamente dita e atraídos pela possibilidade de pregar à multidão as novas interpretações da vida e do mundo. É graças a esses pregadores “científicos”, e não a quaisquer descobertas científicas, que não há praticamente uma única ciência cujo sistema não tenha tido profundamente afetado por cogitações raciais. (...) E, se, para dar (um exemplo), a teoria (...) que dizia serem as tribo selvagens resíduos em decomposição dos antigos povos, se houvesse ajustado tão bem aos mecanismos políticos do século XIX quanto a teoria do progresso, provavelmente pouco teríamos ouvido falar de “seres primitivos”, e nenhum cientista teria perdido seu tempo à procura do “elo que faltava” entre o macaco e o homem. A culpa não da ciência em si, mas de certos cientistas não menos hipnotizados pela ideologias que o seus concidadãos (...). ARENDT, Hanna. Origens do Totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo. São Paulo: Comanhia das Letras, 1989. p. 189-190. 1. Comente os principais pontos abordados pela autora sobre o processo de expansão do capitalismo no século XIX. Qual o perfil argumentativo desenvolvido por ela? 87 356 FAZENDO HISTÓRIA 1. “O Imperialismo não só deixou um sabor amargo onde se instalou, como também queimou com ácido e perfumou com enxofre três continentes. Chegou como um vendaval, destruindo sociedades milenares e construindo um mundo de angústias sobre as ruínas de milhões de seres humanos. (...) O efeito foi demolidor e a fome assassinoumilhões de pessoas.” (BRUIT, Héctor H. O Imperialismo. São Paulo: Atual, 1986. p.58 e 63) Com base no texto, comente as principais razões que contribuíram para o surgimento do imperialismo no final do século XIX e quais as seqüelas deixadas nas regiões espoliadas. 2. (UNICAMP) No século XIX, surgiu um novo modo de explicar as diferenças entre os povos: o racismo. No entanto, os argumentos raciais encontravam muitas dificuldades: se os arianos originaram tanto os povos da Índia quanto os da Europa, o que poderia justificar o domínio dos ingleses sobre a Índia, ou a sua superioridade em relação aos indianos? A única resposta possível parecia ser a miscigenação. Em algum momento de sua história, os arianos da Índia teriam se enfraquecido ao se misturarem às raças aborígenes consideradas inferiores. Mas ninguém podia explicar realmente por que essa ideia não foi aplicada nos dois sentidos, ou seja, por que os arianos da Índia não aperfeiçoaram aquelas raças em vez de se enfraquecerem. (Adaptado de Anthony Pagden, Povos e Impérios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 188-194.) a) Segundo o texto, quais as incoerências presentes no pensamento racista do século XIX? b) O que foi o imperialismo? 3. Leia o texto abaixo. “(...) o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do mundo, uma rede cada vez mais densa de tranações econômicas e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando os países desenvolvido entre si e ao mundo não desenvolvido (...). Sem isso, não haveria um motivo especial para que os Estados europeus tivessem um interesse algo mais que fugaz nas questões, digamos, da bacia do rio Congo, ou tivesem se empenhado em disputas diplomáticas em torno de algum atol do Pacífico. (...)” Eric Hobsbawn. A era dos impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. P.95. a) Que elementos impulsionaram à expansão do capitalismo e à industrialização mundial? b) Qual a relevância da exportação de capitais para a organização das empresas da Europa. 4. (UNICAMP) Ao exaltar o imperialismo inglês, Rudyard Kipling escreveu em um de seus poemas: "Aceitai o fardo do homem branco, Enviai os melhores dos vossos filhos, Condenai vossos filhos ao exílio, Para que sejam os servidores de seus cativos." a) Como esses versos de Kipling explicam o imperialismo inglês? b)Quais as áreas mais cobiçadas pelo imperialismo inglês e por quê? 88 357 5. (UNICAMP-SP) A biologia era essencial para uma ideologia burguesa teoricamente igualitária, pois deslocava a culpa das desigualdades humanas da sociedade para a natureza. As vinculações entre biologia e ideologia são evidentes no intercâmbio entre a eugenia e a genética. A eugenia era essencialmente um movimento político, que acreditava que as condições do homem e da sociedade só poderiam melhorar através do incentivo à reprodução de tipos humanos valorizados e da eliminação dos indesejáveis. A eugenia só passou a ser considerada científica após 1900, com o surgimento da genética, que parecia sugerir que o cruzamento seletivo dos seres humanos segundo o processo mendeliano era possível. (Adaptado de Eric Hobsbawm, A Era dos Impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 351-353.) a) Quais as implicações políticas do desenvolvimento da genética, no início do século XX? b) Relacione a ciência do final do século XIX e a política externa européia do período. 6. (UNICAMP-SP) Mapas extraídos de H. L. Wesseling. Dividir para dominar: a partilha da África, 1880-1914. São Paulo: Revan/Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1998, p. 462-463. (Adaptado). a) A que processo histórico os mapas acima se referem? b) Quais os interesses dos europeus pela África, nesse período? c) Caracterize o processo de descolonização da África. 7. A “superioridade” branca está clara no poema The White Man´s Burden, de Rudyard Kipling, escrito em 1898 como um apelo aos EUA, então apenas no início de sua afirmação como potência expansionista, mas essa ideologia também se encaixa perfeitamente aos europeus. “Tomai o fardo do Homem Branco, enviai os teus melhores filhos – Ao exílio entrelaçados para servir às faltas de teus cativos; Para esperar em duro ofício, gentes agitadas e selvagens – Vossos recém-conquistados, fastientos povos Meio demônios, meio crianças. (...) Comente a percepção desenvolvida pelos imperialistas em relação aos povos dominados. 89 358 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (FUVEST) Arthur de Gobineau, no seu Ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, de 1853, defendia a tese de que a decadência da humanidade era inevitável e a atribuía à degeneração provocada pela mistura entre raças superiores e inferiores. Mais tarde, teorias raciais, como as de Gobineau, associadas à compreensão simplificada e deturpada das teses biológicas de Charles Darwin (1859) sobre a evolução das espécies, ganharam força, em nome do chamado Darwinisno Social, para explicar desigualdades sociais e entre os povos. Assim, o “racismo científico” servia como uma das justificativas, no final do século XIX e início do XX, ao neocolonialismo, ou seja, às conquistas europeias de territórios habitados por raças consideradas inferiores. A partir do texto, pode-se afirmar que a) a evolução das espécies de Charles Darwin indicava que a desigualdade entre os homens era decorrente de suas raças. b) o neocolonialismo foi a fase de conquistas territoriais que correspondeu às grandes descobertas. c) o Darwinismo Social serviu de base para práticas de conquista territorial e de exclusão social, justificadas pela ciência. d) as conquistas territoriais pelos europeus permitiram aos pobres de diversas sociedades ascenderem economicamente. e) a sobrevivência dos menos capazes era a grande motivação para as conquistas territoriais europeias do final do século XIX. 2.Leia atentamente o documento a seguir. Ata Geral da Conferência de Berlim – 26 de fevereiro de 1885. “Capítulo I – Declaração referente a liberdade de comércio na Bacia do Congo. ........................................... Artigo 6.o – Todas as Potências que exercem direitos de soberania, ou uma influência nos referidos territórios, comprometem-se a velar pela conservação dos aborígenes e pela melhoria de suas condições morais e materiais de existência, bem como a cooperar na supressão da escravatura e sobretudo do tráfico de negros; elas protegerão e favorecerão, sem distinção de nacionalidade ou de culto, todas as instituições e empresas religiosas, científicas ou de caridade, criadas e organizadas para esses fins, ou que tendam a instruir os indígenas e a lhes fazer compreender e apreciar as vantagens da Civilização.” A Conferência de Berlim estabeleceu normas para a partilha e a exploração da África Negra pelas potências colonialistas. A leitura do trecho transcrito: a) demonstra que os interesses voltados para investimentos financeiros foram a tônica da Conferência. b) evidencia o fascínio que o exotismo da África exercia sobre os europeus. c) explicita as intenções religiosas do imperialismo, reveladas na proteção à ação dos missionários. d) revela a ideologia do neocolonialismo ao se referir às “vantagens da Civilização”. e) reflete a preocupação das potências capitalistas em manter a escravidão negra como força de trabalho. 3.(UFTM) Assinale a alternativa que apresenta fatores que explicam as práticas imperialistas, a partir da segunda metade do século XIX, pelas potências capitalistas. a) Buscava-se controlar as regiões fornecedoras de mão de obra escrava e ampliava-se a exploração de regiões mais afastadas com o objetivo de descobrir novas fontes energéticas e comprar metais preciosos. b) Precisava-se de mão de obra da África e da Ásia para trabalhar como colonos na zona rural das potências europeias e realizar investimentos em áreas de urbanização, como transporte, saneamento e ferrovias. 90 359 c) Diante da existência de capitais excedentes na Europa, procuravam-se novos mercados consumidores, buscavase controlar regiões produtoras de matérias-primas e direcionar para as áreas coloniais excedentes populacionais europeus. d) Em função de um crescimento econômico sem precedentes na Europa, os capitais excedentes precisavam ser aplicados em áreas que necessitavam de investimentos humanitários, daí a escolha da África e da Ásia. e) A Europa necessitava com urgência de metais preciosos, abundantes na África, e conflitos religiosos obrigaram os governos da França e da Inglaterra a mandarem para a Ásia parte dos religiosos mais radicais. 4.(VUNESP) O imperialismo colonial europeu do final do século XIX e início do século XX mudou a geopolítica do continente africano, fragmentando-o em fronteiras representadas pelo aparecimento de novos espaços linguísticos e novas dinâmicas espaciais e econômicas. Analisando o mapa, pode-se afirmar que: a) em 1895, França, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha, Alemanha e Itália fizeram um acordo de divisão da totalidade do continente africano. b) os impérios coloniais, a partir da Conferência de Berlim, dominaram a África para instalar indústrias, visto que era algo inexistente na Europa. c) os países envolvidos nesse processo necessitavam de mercados exteriores, matériasprimas agrícolas e minerais para compensar o declínio da industrialização na Europa. d) a repartição da África foi um projeto civilizador europeu, que, para ser estabelecido, exigiu a destruição social das oligarquias locais. e) o imperialismo apoiou-se também nas rivalidades nacionalistas britânica, francesa e alemã, que originaram novos espaços linguísticos na África. 5. (UFPE) A expansão capitalista no século XIX ficou conhecida como imperialismo, e o domínio dos países europeus sobre a África e a Ásia foi denominado neocolonialismo. Sobre o resultado da junção desses dois fenômenos – o imperialismo e o colonialismo – na África e na Ásia, assinale abaixo a alternativa correta. a) O imperialismo e o neocolonialismo ajudaram os povos africanos e asiáticos a saírem de seu atraso secular, possibilitando-lhes o acesso ao progresso tecnológico. b) A segunda revolução industrial, o capitalismo monopolista e os ideais de progresso estão associados ao imperialismo, ao neocolonialismo e ao completo domínio dos Estados Unidos, no final do século XIX. 91 360 c) Os maiores beneficiários de todo o domínio imperialista e do neo-colonialismo na Ásia e África foi a classe operária européia, em face do pleno emprego da indústria. d) Através do imperialismo e do neocolonialismo, as elites econômicas e políticas inglesas construíram a imagem de que eram o modelo de cultura e civilização, a ser imitado em todo o mundo. e) Entre as nações da África, as que transferiram maiores quantidades de pedras preciosas para a Inglaterra foram Angola e Moçambique, em razão do neocolonialismo. 6. (CESGRANRIO) Com a Conferência de Berlim em 1885, o Continente africano foi partilhado entre as potências européias como França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Bélgica, Portugal e Espanha. O interesse pela matéria-prima que a África poderia oferecer para abastecer a indústria europeia despertou o interesse dos empresários e comerciantes da época. Esses agentes fragmentaram arbitrariamente o Continente, impondo sua dominação. Essa forma de dominação foi acrescida do discurso ideológico, segundo o qual: a) o Continente africano recebia ajuda monetária dos países europeus em troca de lealdade e de submissão. b) o Continente africano produzia manufaturados e cultura exportável, enquanto, a Europa fornecia mão de obra assalariada. c) o paganismo africano seria substituído pela fé cristã que lhes proporcionaria o saber próprio dos países desenvolvidos. d) o ‘laissez faire, laissez passer’ deveria ser difundido pelo Continente, estimulando os projetos industrializantes liberais e fomentando revolução industrial no território africano para ampliar as relações capitalistas no mundo. e) os países europeus contribuíam com a civilização, enquanto o Continente africano partilhado oferecia matéria-prima e mercado consumidor aos produtos industrializados europeus. 7. (PUC-RJ) “…Nós conquistamos a África pelas armas…temos direito de nos glorificarmos, pois após ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência no século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora temos outra missão não menos meritória, de fazer penetrar a civilização num continente que ficou para trás…” (“ Da influência civilizadora das ciências aplicadas às artes e às indústrias”. Revue Scientifique, 1889) A partir da citação acima e de seus conhecimentos acerca do tema, examine as afirmativas abaixo. II. A idéia de levar a civilização aos povos considerados bárbaros estava presente no discurso dos que defendiam a política imperialista. III. Aquela não era a primeira vez que o continente africano era alvo dos interesses europeus. IV. Uma das preocupações dos países, como a França, que participavam da expansão imperialista, era justificar a ocupação dos territórios apresentando os melhoramentos materiais que beneficiariam as populações nativas. V. Para os editores da Revue Scientifique (Revista Científica), civilizar consistia em retirar o continente africano da condição de atraso em relação à Europa. Assinale a alternativa correta: a) Somente a afirmativa IV está correta. b) Somente as afirmativas II e IV estão corretas. c) Somente as afirmativas I e III estão corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas. e) Todas as afirmativas estão corretas. 92 361 OLHARES HISTÓRICOS • Livros Explorando a África. IBAZEBO, Isimeme. São Paulo: Ática. 1993. Explorando a China. TAO, Wang de. São Paulo: Ática, 2001. Explorando a Índia. GANERI, Anita de. São Paulo: Ática, 2002. No tempo das certezas: 1890-1914. SCHWARCZ, Lilia; COSTA, Ângela. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. (Col. Virando séculos) • Cinema As montanhas da Lua (Estados Unidos, 1990). Direção de Bob Rafelson. O filme conta a história de uma disputa entre um explorador e um oficial militar para encontrar a nascente do rio Nilo, no final do século XIX. 135 minutos. Kim (Inglaterra, 1984). Direção de John Davies. Baseado no romance homônimo de Rudyard Kipling, o filme narra a história de um garoto mestiço na índia no final do século XIX, durante a dominação inglesa. 135 minutos. Passagem para a Índia (Inglaterra, 1984). Direção de David Lean. O filme trata do cotidiano de britânicos que passaram a morar na Índia e do choque entre as culturas de colonizados e colonizadores. 163 minutos. • Sites O portal disponibiliza mapa de conceitos fundamentais relativos ao imperialismo no mundo. De forma objetiva, o site faz uma abrodagem global do imperialismo. Disponível em: http://www.claseshistoria.com/c-maps/mapa-imperialismo.html. Acesso em 28 de junho de 2011. 93 362 Ideias, novas tecnologias e cultura no século XIX As reordanções econômicas, sociais e políticas no século XIX, a consolidação da burguesa, as emancipações das Américas (Hispânica e Portuguesa), o intenso processo de industrialização, as lutas por direitos políticos e civis no continente europeu, as diversas teorias científicas e a expansão do capitalismo associados a outros fatores contribuíram para uma série de transformações no jeito de agir e pensar o mundo naquela época. O quadro cultural e do século XIX foi decisivo para a introdução de um novo tempo no continente europeu, com desdobramentos que se estenderam também no século XX. Desse modo, concepções liberais e socialistas tiveram fortes evidências no processo revolucionário e nos processos políticos como o confronto entre os blocos capitalistas e socialistas, a chamada Guerra Fria. Os preconteitos, ainda presentes nos dias atuais em vários países, fundamentam muitos argumentos defendidos no século XIX. Le conservatoire, pintura de Adouard Manet, considerado um das maiores expoentes do Impressionismo. As teorias de intelectuais e criações desenvolvidas na época redefiniram os hábitos e costumes de vida. Além disso, houve um aumento nos movimentos de reivindicações da igualdade entre homens e mulheres, um intenso processo de urbanização, movimentos artísiticos e literários, surgimento de novas tecnologias, variadas pesquisas científicas, e a afirmação do ideal burguês, entre eles, o individualismo, novos modos de viver e questionamentos dos de pensadores no século XIX. O conhecimento científico O Positivismo consistiu em uma das maiores correntes de penamento do século XIX. O seu precursor, Augusto Comte (1798-1857), defendia que o saber científico só seria obtido por meio de regras e métodos comprovados. Essas medidas seriam utilizadas para evitar as possíveis abstrações ou falsas noções. O método positivista dava estímulo a obervação 94 363 empírica, a organização dessa pesquisa e, finalmente, a definição de leis gerais. Comte, desse modo, estudou o percurso pelo qual a ciência passou e defendeu o permanente progresso da ciência. A teoria comteana repercutiu amplamente em diveras áreas do saber humano (História, Filosofia). As descobertas científicas foram bastante intensas no século XIX, com variadas teorias e trabalhos em diversificados ramos do saber. O resultado dessas inovações resultaram em melhorias nas condições de vida dos indivíduos. No campo da Física, em 1896, Henri Becquerel (1852-1908) descobriu a radiotividade, que criou perspetivas de pesquisas posteriores que contribuíram para o aperfeiçoamento de métodos diagnósticos. Na Biologia, devido ao avanço científico do século XIX, a ciência médica toma novos rumos. O biólogo e químico francês Louis Pasteur (1822-1895) elaborou estudos nas áreas da microbiologia e da bacteriologia. A partir de 1864, Pasteur pesquisou os motivos pelos quais determinados líquido, como o vinagre e a cerveja, se modificavam, processo que até então a Química não havia desvendado. Pasteur, no entanto, percebeu que as razões dessas alterações residiam nos microrganismos. Nesses estudos, Pasteur também concluiu que a temperatura elevada de um componente líquido até certo grau, acompanhado de rápido resfriamento, eliminavam os micróbios. Em sua homenagem, o sistema recebeu o nome de pasteurização. As descobertas de Pasteur acabou definitivamente com a teoria dos miasmas (partículas invisíveis oriundas da putrefação de vegetais e de animais). Segundo Pasteur, grande parte das doenças eram provinientes de microrganismo. Definia-se, assim, nova interpretação sobre as causas das doenças. As maiores medidas, entretanto, ocorreu nas tentativas de controlar os micróbios e bactérias, pautadas em técnicas antissépticas e de esterilização advindas das pesquisas de Pausteur. Além disso, os estudos de Pasteur foram essenciais para a adoção de ações profiláticas e tratamento através de vacinas. Nessa mesma época, Gregor Mendel (1822-1884) desenvolveu os primeiros trabalhos no campo da genética. Suas pesquisas, no entanto, foram publicadas apenas no começo do século XX. Os conceitos fundamentais criados por Mendel em contidas na lei de segregação ou pureza dos gametas e na lei da segregação independente dos genes. O inglês Charles Darwin (1809-1882) foi outro grande expoente nos estudos biológicos. Em sua obra A Origem das espécies, publicada em 1859, utilizou a ideia de seleção natural. Darwin fez viagens de observação a algumas ilhas da costa sul americana, e, fazendo análises sobre as espécie da região, concluiu que várias tinham sido extintas e outras readaptadas. Para ele, a evolução das espécies ocorre através de um processo de seleção natural, ou seja, os mais fortes e os que conseguem se adaptarem melhor ao meio natural tem mais chances de sobrevivência. Em 1871, Darwin publicou A origem do homem cujo texto defende a ideia de que exisitiria um ancestral em comum entre os seres humanos e algumas O jovem Charles Darwin. Tela de George Richmond, 1830. espécies de pongídeos. Essa teoria evolucionista provocou forte repercussão em várias áreas do conhecimento. Em sociologia, surgiu uma corrente, denominada de darwinismo social, que defendia o individualismo e a competição como mecanismos que determinariam a prevalência dos mais evoluídos. O eurocentrismo, o racismo, a expansão capistalista em direção aos continentes africanos e asiáticos, a crença na superioridade do homem branco e a hierarquização dos povos, foram sutentados por esse pensamento. As ideias darwinistas também contribuíram para a realização de pesquisas relacionadas à eugenia, que consistia no estudo genético das raças, com a finalidade de preservar os mais evoluídos e eliminar os considerados inferiores . O primo de Darwin, Francis Galton, por exemplo, defendia a realização de uma seleção artificial, ou seja, que fosse desenvolvida uma ciência específica para identificar os membros com melhores condições biológicas (não-portadores de doenças degenerativas), para a procriação. 95 364 Na área de humanas, destacou-se Émile Durkheim (1858-1917) que criou contribuiu enomermente para a afirmação da Sociologia como ciência. Sua teoria fundamenta-se no conceito de fato social, que caracteriza-se por um acontecimento marcado pela generalidade, coerção social e exterioridade. Em sua obra, O Suicídio (1897), avaliou os índices e as pré-condições que levariam a prática de suicídios. Outro sociólogo importante foi Max Weber (1864-1920), que aplicou métodos inovadores em suas pesquisas sociais. Afirmava que era necessário analisar a sociedade por meio do método compreensivo, também conhecido como tipo ideial. Weber desenvolve o conceito de ação social e elenca as formas de dominação (legal, carismática e tradicional). Em sua obra mais conhecida, A ética protestante e o espírito do capitalismo (1904), faz uma análise da relação entre capitalismo e religião. Na psicanálise, o médico austríaco, Sigmund Freud (1856-1939) formulou uma importante teoria que teve ampla repercussão nos estudos educacionais, nas ciências humanas e nas artes. Freud observou vários pacientes e concluiu que havia nelas uma área no interior da vida psíquica que nem sempre são recordados ou manifestados conscientementes, que ele denonominou de inconsciente. Avanço na medicina e as inovações tecnológicas As teorias desenvolvidas no século XIX foram fundamentais para as melhorias higiênicasanitárias. A partir de então, várias medidas preventivas aplicaram-se ao combate das doenças. Os governos passaram a criar departamentos de saúde pública, os quais procuraram fazer um trabalho de limpeza urbana e de saneamento, como formas de conter os surtos epidêmicos. Os órgãos públicos também investiram em outros meios preventivos: a vacina. No começo do século XX, o médico britânico Edward Jenner, criou a vacina contra a varíola, considerada uma das epidemias mais devastadora da história. Jenner observou que a secreção das erupções das vacas contagiadas pela varíola bovina poderia imunizar os homens, ao concluir que as pessoas que ordenhavam o animal infectado não contraíram a enfermidade. O método usado por Jenner ficou conhecido de “inoculação de braço em braço”. A Cena do momento em que o médico inglês Edward Jenner retira a secreção imunização contra varíola, entretanto, de uma vaca com cowpox (nome dado a varíola bovina na época), para em ser enjetada no braço de uma mulher. Imagem de autoria acabou implicando a transmissão de outras seguida deconhecida, publicada no Le Petit Journal, Paris, 1905. doenças, como sífilis. No decurso do século XIX ocorreram amplas e significativas transformações tecnológicas. Inventos e descobertas impactaram o cotidiano das pessoas. Entre as novidades podemos enumerar alguns, como: o telefone, inventado em 1876, cuja patente consta no nome do norte-americano Alexander Graham Bell; o aprimoramento da lâmpada elétrica e a criação da lâmpada encandescente (1878), resultados das experiências de Thomas Edison; a difusão da iluminação pública; o sistema de códigos transmitidos por um fio condutor, desenvolvido por Samuel Morse, daí o nome código de Morse; o surgimento do telégrafo; ampliação dos meios de comunicação com a invenção do rádio (1896), feito atribuído ao italiano Guglielmo Marconi. O seu aperfeiçoamento, todavia, ocorre somente na década de 1920. Literatura No começo do século XIX, o romantismo constituiu a principal escola literária. Esse movimento valorizou o sentimentalismo, o apego ao passado e a busca de referenciais. Numa sociedade cada vez mais industrializada, o romantismo representou um contraponto à realidade material vigente da época. Os escritores dessa escola, associaram a idealização de um passado e um nascente nacionalismo. Os romancistas, ambientalizaram sua histórias na época medieval, abordando atitudes míticas e heroicas. Como foi visto no capítulo 19, o 96 365 romantismo influenciou no processo de unificações italiana e alemã, na perspectiva que contribuiu para a contrução da identidade nacional. Os principais autores do romantismo foram: Alexandre Dumas, com o clássico da literatura Os três mosqueteiros, publicado em 1844; Jacob e Wilhelm Grimm, com a literatura de contos populares, destaque para o livro Contos de Fadas para as crianças e o lar (1812); o dinamarquês Hans Christian Andersen que publicou diversos contos, dando vida aos objetos inanimados; por fim, o historiador romântico Jules Michelet, que escreveu o livro A feiticeira, em 1862. Outros movimentos literários que surgiram em meados do século XIX foram o realismo e o naturalismo. O realismo valorizava a realidade concreta e do tempo presente, em oposição as subjetividades e o apego ao passado. O realismo opõe-se, desse modo, ao sentimentalismo e imaginação literária dos românticos. Os realistas preferem elaborar uma narrativa mais objetiva e reflexiva, preocupados em retratar o cotidiano e os dilemas psicológicos e sociais dos homens. Os escritores realistas sofreram influências das concepções científicas e filosóficas, como as ideias deterministas, o evolucionismo e até mesmo o pensamento socialista. Os mais importantes intelectuais foram os franceses Honoré de Balzac (1799-1850) e Gustave Flaubert(18211902), Stendhal (1783-1842), o russo Ivan Turgueniev (1818-1883), o português Eça de Queirós(1845-1900), os ingleses Charles Dickens (1812-1870) e Thomas Émile Zola, óleo sobre tela de Édouard Manet, Hardy (1840-1928). em 1868. O movimento naturalista, de certo modo, radicalizou com o realismo. O principal escritor foi o francês Émile Zola (1840-1902), que teve repercussão pela forma que detalhava em suas obras a vida cotidiana dos pobres. Sua obra mais conhecida foi Germinal, publicada em 1885, descreve as dificuldades vivenciadas pelos mineiros. O livro O Vermelho e o negro foi a principal obra escrita por Stendhal. Já a Balzac produziu uma obra com marcas peculiares da literatura realista, conhecida como A comédia humana, a qual fazia descrições dos ambientes e os desejos ambiciosos dos homens, mostrando os principais comportamentos da sociedade da época. O romance mais conhecido de Flaubert foi Madame Bovary, classificado como imoral para os críticos da época. Na Inglaterra, Charles Dickens escreveu romances que faziam denúncias contra as desigualdades sociais, como David Copperfield e Oliver Twist. Na Rússia, Dostoiewski (1821-1881) e Tolstoi (1828-1910) são considerados figuras expressas da literatura realista. Os romances de Dostoiewski possuem forte densidade psicológica. Suas principais obras foram Crime e castigo e os Irmãos Karamazov. Tolstoi defendia as propostas do anarquismo. Escreveu dois clássicos do romance moderno: Ana Karenina e Guerra e paz. Esta última foi adaptada para o cinema e recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro, em 1957. Na Alemanha, a referência foi Thomas Mann (18751955), autor de Buddenbrooks, uma narrativa detalhada do cotidiano de uma tradicional família de comerciantes germânicos. Artes plásticas Surgido no final do século XIX, o Impressionismo consistiu num movimento artístico, cujas obras caracterizaram-se por um inconformismo e oposição aos padrões acadêmicos. O impressionismo é considerado como a primeira manifestação do Modernismo. As pinturas impressionistas tiveram início na França, por volta de 1830, com artistas oriundos de várias regiões francesas. Com relativa influência do neoclassicismo, o artistas pintavam ao livre, com a finalidade de captar as percepções imediatas e tonalidades claras da natureza, em contraste com obras acadêmicas da época. Os mais expressivos artistas do impressionismo foram Alfred Sisley, Camille Pissarro, Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir, Adouard Manet e Edgard Degas. Posteriomente, 97 366 artistas como Cézame, Van Gogh, Seurat e Gauguin trouxeram inovadas concepções na arte impressionista, causando forte repercussão com suas ousadas pinturas. Eles introduziram novos conceitos de cor, sombra, luz e forma em suas obras. Paul Gauguin questionou as verdadeiras benesses da civilização, que, segundo ele, impedia o indivíduo experimentar toda intensidade dos sentimentos. A sua mudança para o Taiti, marcou fortemente a sua obra. Gostava de pintar a exuberância da natureza, assim como as paiagens exóticas e selvagens são aboardados frequentemente em suas telas. Nessa obra O Filho de um Deus nascido (1896, Munique), percebe-se facilmente a fusão da cultura ocidental com os hábitos taitianos. A situação das mulheres Os direitos relativos às mullheres passaram por impoertantes debates ao longo do século XIX. O desempenho da mulher nas sociedades industriais impulsionaram o surgimento de vários movimentos que exigiam igualdade jurídica entre as pessoas. Esses fatores foram fundamentais na redefinição da função das mulheres no contexto da época. A padrão tradicional de sistema patriarcal, era aos poucos discutido entre os grupos urbanos e as manifestações trabalhistas. O movimento das sufragistas, ocorrido na Inglaterra, defendia o direito do voto feminino. Participaram dessa manifestação as mulheres de classe média e poucas mulheres operárias. Apesar da maior parte das mulheres conquistarem direitos políticos e sociais mais amplos no século XX, fica evidente os movimentos do século XIX representaram um relevante papel na concretização dos direitos feminino. A Belle Époque O termo Belle Époque (Época Bela) faz referência às transformações culturais, sociais e tecnológicas ocorridas entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do XX. A expressão surgiu na França, após a Primeira Guerra, para caracterizar o período marcado pelo intenso desenvolvimento material, artíticos e científicos. Paris tornou-se cenário principal da Belle Époque, com seus hábitos requintados e estilos refinados, concertos, cafés, salões, banquetes, intelectuais e artistas. A vida boêmia atingiu seu apogeu nos famosos cabarés, como o Moulin Rouge, que o pintor francês Toulouse- 98 367 Lautrec(1864-1901) registrou com maestria em suas obras. A capital francesa transformouse na cidade dos teóricos, escritores, boêmios, centros culturais, passando a ser vista como a cidade modelo para as demais cidades do planeta. Salão na Rue dês Moulins, de Paris, óleo sobre tela pintado por Henri de Toulouse-Lautre em 1894. O artista pósimpressionista Lautrec viveu autenticamente como um boêmio. Ele frequentou assiduamente o Moulin Rouge e outros cabarés. Suas obras retrata muito bem a vida boêmia parisiense. Morreu precocemente, em 1901, aos 36 anos de idade vítima de alcoolismo e sífilis. O artista deixou centenas de pinturas, desenhos, gravuras e cartazes. A Belle Époque criou muitas utopias e euforia entre os burgueses. Esse entusiasmo foi impulsionado pelas invenções tecnológicas e descobertas científicas. Diante desse cenário de prosperidade, propaga-se a ilusão de que as novas tecnologias solucionariam todos os problemas humanos. Nesse período, surgiram o cinema, a bicicleta, telégrafo sem fio, o avião, o telefone e o automóvel. Nas decorações arquitetônicas e no design gráfico, destacaram-se o Art Nouveau (Nova Arte), inaugurada, em 1895, pelo comerciante Siegfried Bing. Esse movimento teve ressonância internacional, marcado pela inserção de ondulações e curvas, valorização de elementos da natureza, como peixes, árvores e animais. Os desvaneios da Belle Époque foram abalados com a início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que gerou incertezas e desconfianças no ideal de permanente progresso defendido pela burguesia. 99 368 TEXTO COMPLEMENTAR A fotografia e os novos hábitos (...) A fotografia (...) permitirá a democratização do retrato. Pela primeira vez a fixação, a posse e o consumo em série de sua própria imagem estão ao alcance do homem do povo. Tegistrada em 1841, a patente deste novo processo ofre uma série de melhorias técnicas, ao longo dos dez anos subseqüentes. O tempo da pose vai se reduzindo aos poucos, até a descoberta, em 1851, do registro espontâneo. (...) Os fotógrafos se instalam até nas menores cidades; artistas forasteiros instalam até barracas na rua e oferecem fotografias a um franco. Ascender à representação e posse de sua própria imagem é algo que instiga o sentimento de autoestima, que democratiza o desejo do atestado social. Os fotógrafos o percebem muitíssimo bem. No interior do estúdio-teatro, abarrotado de acessórios, de colunas, de cortinas, mesinhas, é o corpo inteiro que eles passam a registrar. Exageram a ênfase, etimulam a distensão interior do fotografado; algun chegam a lançar, a partir de 1861, a moda do retrato eqüestre. Esta teatralização das atitudes, dos gestos e das expressões faciais, em uma palavra, da pose (...) invade pouco a pouco a vida cotidiana. Milhões de retratos fotográficos difundidos e cuidadosamente inseridos em álbuns impõem gestuais que renovam a cena privada; ensinam a olhar com novos olhos para o corpo, especialmente as mãos. (...) A arte de ser avô, assim como o gesto de reflexão do pensador, obedecem a partir de agora a uma banal encenação. (...) O álbum de fotografias da família delimita a configuração da parentela e conforta a coesão do grupo, então ameaçado pela evolução econômica. A irrupção do retrato no seio de vastas camadas da sociedade modifica a visão das idades da vida, e, portanto, o sentimento do tempo. (...) Esteio da rememoração, a foto renova a nostalgia. Pela primeira vez, a maior parte da população tem possibilidade de representar antepassados desaparecidos e parentes desconhecidos. A juventude dos ascendentes com quem se convive no dia a dia torna-se perceptível. Opera-se no mesmo processo uma mudança das referências da memória familiar. De uma maneira geral, a possessão simbólica de outra pessoa tende a canalizar os fluxos sentimentais, valoriza a relação visual em detrimento da relação orgânica, modifica as condições psicológicas da ausência. A foto dos defuntos atenua a angústia de sua perda e contribui para desarmar o remorso causado pelo desaparecimento. CORBIN, A. O segredo do indivíduo. In: PERROT, M. (Org.). História da Vida Privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. v.4, p. 425-426. Uma das mais importantes invenções do século XIX foi a fotografia. Esta pretendia a pricípio reproduzir as imagens das pessoas mais ricas, mas com o tempo ela se popularizou. Comente os principais aspectos apresentados pelo autor do texto quanto à relação entre a fotografia e os novos hábitos introduzidos por essa nova criação. 100 369 FAZENDO HISTÓRIA 1. Leia atentamente o texto a seguir. “O primeiro grau de riqueza de um salão é ter cortinas de veludo, de uma só cor ou pintadas, um espelho de alto a baixo nas paredes, um CE pintado no teto, belo divãs de seda descobertos, assoalho avermelhado et. O segundo é ter afrescos, com colunas e espelhos recortando-os, emoldurados por cavalho decorado, duas, quatro ou eis banquetas e poltronas recobertas de seda. O terceiro grau consiste em uma tapeçaria de parede aveludada e tapetes otomanos ou caucasianos em cashmere ou com um selo identificando sua recente fabricação. O quarto grau são tapeçarias pintadas, poltronas e cadeiras recobertas em veludo. (...) Um piano é mais do que obrigatório.” Mme. Celnart. Manual da senhora da caa. Enciclopédia Roret, 1839. O texto apresentou algumas caracteríticas essenciais do “parecer burguês”. Cite as principais práticas sociais de etiqueca consideradas tipicamentes burguesas 2. Explique como as descobertas e as teorias surgidas na Biologia, como a evolucionista, de Charles Darwin, influenciaram os diversos campos do conhecimento. 3. Comente a principais características da Belle Époque. 4. Qual a importância da fotografia, para a preservação da memória? 5. Quais os principais inventos ou descobertas do século XIX ainda hoje são fortemente utilizados? 6. Quais os mais destacados romancistas realistas europeu e suas principais obras? 7. Pesquise e escreva as semelhanças e as diferenças entre os estilos: impressionismo, expressionismo e cubismo. Comente aspectos em relação às cores, técnicas e temáticas. 8. Quais as principais propostas da Art nouveau? 101 370 QUESTÕES DE VESTIBULARES 1. (UNESP) "É difícil acreditar na guerra terrível, mas silenciosa, que os seres orgânicos travam em meio aos bosques serenos e campos risonhos". ("C. Darwin, anotação no Diário de 1839".) Na segunda metade do século XIX, a doutrina sobre a seleção natural das espécies, elaborada pelo naturalista inglês Charles Darwin, foi transferida para as relações humanas, numa situação histórica marcada: a) pela concórdia universal entre povos de diferentes continentes. b) pela noção de domínio, supremacia e hierarquia racial. c) pelos tratados favoráveis aos povos colonizados. d) pelas concepções de unificação européia e de paz armada. e) pela fundação de instituições destinadas a promover a paz. 2. (UPE) A “Origem das Espécies”, obra de Charles Darwin, já foi considerada uma das mais revolucionárias da história das ciências. Suas idéias básicas são: I. “O processo de evolução das espécies é gradual e contínuo”. II. “O que diferencia o ser humano das demais criaturas vivas é a espiritualidade e a semelhança divina”. III. “O senso de moralidade, sentimentos e fé tornam o homem superior aos outros animais”. IV. “Todos os seres vivos descendem, em última instância, de um ancestral comum”. V. “O mecanismo pelo qual os seres vivos mudam e evoluem é a seleção natural”. Estão corretas a) apenas I, II e III. b) apenas II, IV e V. c) apenas I, IV e V. d) apenas II, III, IV e V. e) I, II, III, IV e V. 3. (FUVEST) Das três seguintes formulações – primeiro, a de Copérnico, a terra não é o centro do mundo, depois a de Darwin, não nascemos de Deus mas viemos do macaco, e, por último, a de Freud, não somos senhores de nossa própria consciência – pode-se dizer que: a) contribuem para tornar o homem cada vez mais confiante e orgulhoso de sua infalibilidade e perfeição. b) constituem os fundamentos da modernidade e desfecham golpes profundos na pretensão do homem de ser o centro do universo. c) fortalecem a posição científica dos que criticam esses pressupostos, tendo em vista sua falta de fundamentação empírica. d) perdem cada vez mais credibilidade com o avanço científico proporcionado pela astronomia, biologia e psicologia. e) harmonizam-se com as concepções dos que defendem a tese criacionista, ou que propõem um desenho inteligente sobre a criação do universo. 4. (UFPE-Alt.) As mudanças nas concepções de mundo trouxeram perspectivas estéticas diferentes que fundamentaram as vanguardas modernistas. O Impressionismo foi importante na construção dessas concepções estéticas, pois: I. fortaleceu as tradições vindas da cultura clássica. II. incentivou a autonomia criativa do artista. III. contou, já no seu início, com um mercado de arte receptivo e economicamente favorável. IV. tinha a participação de artistas defensores de uma representação geométrica do mundo. V. contribuiu com uma nova técnica para se trabalhar as formas e as cores. 102 371 5.(FAAP-SP) Biólogo e químico francês, que lançou as bases da ciência da bacteriologia em seu ataque à teoria da geração espontânea. Acreditava que todas as formas existentes de vida são reproduzidas somente por seres vivos. É a lei da biogênese (toda vida vem de uma vida preexistente). Estamos falando de: a) Lavoisier. b) Claude Bernard. c) Louis Pasteur. d) Jean Lamarck. e) Charles Darwin. 6.(COVEST-Alt.) A história é uma construção surpreendente, que não cessa de apresentar concepções diferentes de mundo. Na primeira metade do século XIX, o movimento romântico foi de grande importância para se pensar as mudanças que estavam ocorrendo em razão do fortalecimento da burguesia. Em suas análises, os românticos: I. negavam a importância da razão, subestimando a força do individual e desprezando as conquistas da religião. II. enfatizavam a fragilidade do Iluminismo, criticando a emoção e a imaginação, conforme definidas nas obras de Rousseau. III. não se apegavam às tradições do passado, considerando as religiões como vazias de conteúdo humanista. IV. destacavam o valor da liberdade de criação, buscando muitas vezes, nas tradições do passado, suas referências. V. admitiam o significado da subjetividade para a arte, embora não costumassem admitir a importância da sensibilidade humana. 7.(UFMG) Ao longo do século XIX, ocorreram, no mundo, diversas pesquisas, inovações e publicações que contribuíram para o desenvolvimento da técnica e da ciência. É correto firmar que, entre elas, se incluem: a) a descoberta de novos elementos químicos, as pesquisas de Pasteur na microbiologia e a publicação da "Origem das espécies", de Darwin. b) a invenção do telescópio, o desenvolvimento do descaroçador de algodão e a publicação da "De humani corporis fabrica", de Andrea Vesálio. c) a invenção do microscópio, a construção de containers para transporte a longa distância e a publicação da "Nova Atlântida", de Bacon. d) a descoberta da circulação sangüínea, a utilização do carvão mineral como combustível e a publicação da "Ótica", de Newton. 8.(UNIFESP) “... o mestre que eu tive foi a natureza que me envolve... desse livro secular e imenso, é que eu tirei as páginas de O Guarani , as de Iracema ... Daí, e não das obras de [Renée de] Chateaubriand, e menos das de [Fenimore] Cooper, que não eram senão a cópia do original sublime que eu havia lido com o coração." (Do romancista José de Alencar.) Sobre o texto, pode-se sustentar que o autor: a) confessa ter seguido modelos externos para compor seus livros. b) nega ter se inspirado no sentimento para compor suas obras. c) segue uma das fontes de inspiração do romantismo. d) acusa Cooper de ter copiado Chateaubriand. e) apresenta uma espécie de manifesto nacionalista. 9. (UFU) No final do século XVIII e durante o século XIX, a cultura européia sofreu importantes transformações, sobretudo no campo da pintura e da literatura. A respeito deste contexto, podemos afirmar que I. II. O Romantismo, marcado pela emoção, pelo sentimento e pela individualidade, criticava as regras acadêmicas e propunha a liberdade de expressão e a espontaneidade, nele se destacando o poeta inglês Lord Byron e o romancista e poeta francês Victor Hugo. o Realismo pretendia realizar uma volta ao classissismo e ao barroco, retratando a imponência das fábricas, a riqueza das cidades e o progresso da civilização, por meio do avanço tecnológico, nele se destacando os pintores Pablo Picasso e Eugene Delacroix. 103 372 III. os seguidores do Impressionismo defendiam uma reprodução da realidade conforme as impressões recolhidas pelos sentidos, enfatizando o uso da luz e das cores, nele se destacando os pintores Monet e Renoir. IV. o Naturalismo, cujos maiores representantes foram Charles Dickens e Dostoievski, promovia a identidade nacional e a valorização da cultura burguesa, em contraposição ao multiculturalismo pregado pelos realistas. Assinale a alternativa correta. a) Apenas I e III são corretas. b) Apenas I e IV são corretas. c) Apenas III e IV são corretas. d) Apenas II e III são corretas. e) Apenas I está correta. 10.(UFPE-Alt.) Alguns movimentos intelectuais, inovações técnicas e científicas bem como obras artísticas literárias e políticas são considerados representativos do século XIX. A este respeito, analise as proposições a seguir. I. O Romantismo foi um movimento literário e artístico desenvolvido pela aristocracia e outros conservadores, em oposição aos burgueses que passaram a dominar a nova sociedade. II. Gauss inventou o telégrafo elétrico; Braille criou um alfabeto para os deficientes visuais; e Daguerre desenvolveu trabalhos que possibilitaram o aparecimento da fotografia. III. Na literatura, alguns autores se colocaram contra as condições sub-humanas de trabalho, criando uma oposição ao Romantismo: Víctor Hugo (Os Miseráveis), Stendhal (O Vermelho e o Negro) e Balzac (A Comédia Humana). IV. Na pintura, são nomes de expressão para o século XIX, Claude Monet e Renoir. Na escultura, Auguste Rodin e Camile Claudel. V. No Brasil, nomes como o de Joaquim Nabuco, abolicionista e monarquista, Machado de Assis, escritor, e Carlos Gomes, compositor, revelam para o mundo a expressão da cultura do Brasil. 104 373 OLHARES HISTÓRICOS • Livros Darwin: a vida de um evolucionista atormentado. MOORE, James & DESMOND, Adrian. São Paulo: Geração, 2007. A ciência através do tempo. CHASSOT, Attico. São Paulo: Moderna, 1994. Médicos e assassinos na Belle Èpoque. DARMON, Pierre. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. Louis Pasteur e Oswaldo Cruz. LIMA, N. & MARCHAND, M. H. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005. • Cinema Moulin rouge – Amor em vermelho (Direção de Bazmark Luhrman. EUA, 2001) Christian é um jovem escritor que possui um dom para a poesia e que enfrenta seu pai para poder se mudar para o bairro boêmio de Montmartre, em Paris. Lá ele recebe o apoio de Henri de ToulouseLatrec, que o ajuda a participar da vida social e cultural do local, que gira em torno do Moulin Rouge, uma boate que possui um mundo próprio de sexo, drogas, adrenalina e Can-Can. Ao visitar o local, Christian logo se apaixona por Satine, a mais bela cortesã de Paris e estrela maior do Moulin Rouge. Duração de 126 minutos. Titanic (EUA, 1998. Direção de James Cameron) O filme conta a história do transatlântico Titanic, que partiu do porto inglês de Southampton rumo a Nova York em 14 de abril de 1912, mas naufragou no dia seguinte. O filme expõe os valores do mundo burguês na Belle Èpoque, contrastando os diferentes costumes de cada grupo de passageiros, segundo as classes do navio. Duração de 194 minutos. A vida de Louis Pasteur (EUA, 1936. Direção de William Dieterle) Clássico sobre a biografia de Pasteur, mostrando os problemas que enfrentou no meio científico francês no ano de 1860. Duração de 87 minutos. Madame Bovary (França, 1991. Direção de Claude Chabrol) Filme baseado no romance homônimo de Gutave Flaubert, publicado em 1856, exemplo do estilo literário realista do século XIX. Retrata os desejos e alfições de uma mulher burguesa envolvida em adultério. Duração de 136 minutos. Sites http://www.ricci-arte.biz. Acessada em 04 de junho de 2011. A página contém obras de inúmeros artistas impressionistas, cubistas, expressionistas e outros movimentos artísticos. De modo criativo e dinâmico, o site expõe pinturas e dados gerais de cada obra. 105 374 Bibliografia ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial: 1500-1800. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Publifolha, 2000. ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et alii. Atlas histórico escolar. 8 ed. Rio de Janeiro, FAE, 1991. ALENCASTRO, Luiz Felipe de. A economia política dos descobrimentos. In: NOVAES, Adauto org. A descoberta do homem e do mundo. São Paulo, Companhia das Letras, 1998. _______________________. 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