IESP/UERJ – Departamento de Estudos Sociais Casa e Moradia

Transcrição

IESP/UERJ – Departamento de Estudos Sociais Casa e Moradia
IESP/UERJ – Departamento de Estudos Sociais
Casa e Moradia: leituras etnográficas
Mariana Cavalcanti, Eugênia Motta e Luiz Antônio Machado da Silva
2016 / 1
EMENTA
Casa, moradia, domicílio, habitação, unidade habitacional são apenas algumas das categorias
por meio das quais a casa é nomeada pelas ou nas ciências sociais. Cada um desses termos – e
outros que também serão trabalhados ao longo do curso – delimita escalas e perspectivas
analíticas diversas, e põe em relevo atores, fronteiras e espaços distintos. Na antropologia
social britânica, por exemplo, a casa muitas vezes foi lida como a expressão material de
cosmologias e cosmogonias, descrita como modo de tornar legível princípios estruturais das
sociedades ditas primitivas. Tanto na sociologia quanto na antropologia, leituras mais clássicas
da moradia – funcionalistas, estruturalistas, marxistas – tendem a reforçar essas
analiticamente fronteiras, entre a produção e a reprodução social, o publico e o privado, o
feminino e o masculino, o fora e o dentro. Como metáfora ou modelo, e particularmente no
Brasil, a casa também foi objeto de grandes sínteses, reforçando essas dicotomias entre
publico e privado, ou como heurística para explicar ou descrever as desigualdades sociais no
país.
O curso pretende revisitar alguns desses textos e problemáticas, à luz de estudos etnográficos
da casa em que esta figura menos como espaço de delimitação de fronteiras e mais como
espaço de problematização dos dualismos embutidos nas categorias que a nomeiam. O curso
se encontra estruturado em cinco partes, organizadas em torno de cinco temas/questões: uma
introdução sobre o tema da casa em geral, a partir de diferentes perspectivas analíticas; a
questão da maison em Levi-Strauss e suas implicações para estudos de família e parentesco; a
casa como lugar de problematização de relações de gênero e a partir de suas relações com o
corpo; como tema a partir da qual é possível se pensar e problematizar a dicotomia
público/privado; e, finalmente, a casa como metáfora, modelo, e processo, com especial
ênfase no Brasil.
PROGRAMA (sujeito a alterações)
Parte I – Sentidos da casa e do morar
Sessão 1: Apresentação do curso
Sessão 2: Panorama
BACHELARD, Gaston. 1994. “Introduction.” The Poetics of Space. Boston: Beacon Press. [pp. xvxxxix. + Capítulos 1 e 2 (p. 3 - 38)]
HEIDEGGER, Martin. 1971. “Building, Dwelling, Thinking.” Poetry, Language, Thought.
translated by Albert Hofstadter, Harper Colophon Books, New York.
CARSTEN, Janet; Hugh-Jones, Stephen. 1995. “Introduction”. In: CARSTEN, Janet; HUGH-JONES,
Stephen (Eds.). About the house. Levi-Strauss and beyond. Cambridge University Press. [p. 146]
Sessão 3: Espaço e tempo
DOUGLAS, Mary. 1991. “The idea of a home: a kind of space”. Social research, 287-307.
INGOLD, Tim. 2011. “The Shape of the Earth” and “Against Space.” Pp 99-114; 145-155 in
Being Alive: Essays on Movement, Knoweldge, and Description. Routledge.
Parte II – Interpretações a partir da casa
Sessão 4: Arquitetura da casa, ordem do mundo
BOURDIEU, Pierre. 1970. "The Berber House, or the World Reversed." Social Science
Information 9: 151-70.
CUNNINGHAM, CLARK E.. “Order in the atoni house”. Bijdragen tot de Taal-, Land- en
Volkenkunde 120.1 (1964): 34–68.
MILLER, Daniel. 2001. “Behind closed doors”. In MILLER, Daniel (Ed.). Home possessions.
Material culture behind closed doors. Oxford, New York: Berg. [p.1‐19]
Sessão 5: Família e parentesco
CARSTEN, Janet. 2004. After Kinship. Cambridge: Cambridge University Press. [Cap 2, p .37-56].
LEVI-STRAUSS, Claude. 1991. “Maison”. In: P. Bonté; M. Izard (orgs.), Dictionnaire de
L’Ethnologie et de L’Anthropologie. Paris: PUF. [p. 434-436]
MACCALLUM & Bustamante. 2012. "Parentesco, gênero e individuação no cotidiano da casa
em um bairro popular de Salvador da Bahia". Etnográfica 16(2):221-246.
Sessão 6: Economia
GUDEMAN, Stephen. 2001.The Antropology of Economy. Community, Market and Culture.
London:Blackwell. [Cap1, p.1‐24]
MOTTA, Eugênia. 2014. “Houses and economy in the favela”. Vibrant, 11(1): 118-158.
ZELIZER, Viviana. 2005. The Purchase of Intimacy. Princeton and Oxford: Princeton University
Press. [Cap 1 “Encounters of Intimacy and Economy”; p 7-46]
Sessão 7: Gênero
YOUNG, Iris Marion. 2002. "House and home: Feminist variations on a theme." Gender
Struggles: Practical approaches to contemporary feminism (2002): 314-346.
STRATHERN, Marilyn. 1988. “Domains: Male and Female.” The Gender of the Gift: Problems
with Women and Problems with Society in Melanesia. Studies in Melanesian Anthropology.
Berkeley: University of California Press.
MADIGAN, Ruth; MUNRO, Moira. 1991. “Gender, house and ‘home’: social meanings and
domestic architecture in Britain”. Journal of Architectural and Planning Research, Vol. 8, No. 2,
Special Issue: The Meaning and Use of Home (Summer, 1991), pp. 116-132.
PAULI, Julia. 2008. “A house of one's own: Gender, migration, and residence in rural Mexico”.
American ethnologist, v. 35, n. 1, p. 171-187.
Sessão 8: Casas em relação. Configuração, maissonnée e vicinalidade
MARCELIN, Louis Herns. 1999. “A linguagem da casa entre os negros do Recôncavo Baiano”,
Mana, 5 (2): 31-60.
WEBER, Florence. 2002. “Pour penser la parenté contemporaine. Maisonnée et parentèle, des
outils de l’anthropologie.” In Danièle Debordeaux et Pierre Strobel, Les solidarités familiales en
questions: entraide et transmission, Paris, France: L.G.D.J.
DE PINA-CABRAL, João. 2014. "Agnatas, vizinhos e amigos: variantes da vicinalidade em África,
Europa e América". Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 57 nº2.
Sessão 9: Público / privado
COMAROFF, J., COMAROFF. J. L. 1992. Home-made hegemony: Modernity, domesticity, and
colonialism in South Africa. In: Hansen, K.T. (Ed) African Encounters with Domesticity. Rutgers
University Press, New Brunswick.
GAL, Susan. 2002. “A Semiotics of the Public/Private Distinction.” differences: A Journal of
Feminist Cultural Studies, 13 (1): 77 95.
HERTZFELD, Michael. 2009. “The performance of secrecy: Domesticity and privacy in public
spaces”. Semiotica 175–1/4, 135–162.
Parte III - Casas brasileiras
Sessão 10: Interpretações do Brasil
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da
economica patriarcal. Vol. 1. J. Olympio, 1933.
[capítulos a indicar]
_____ Sobrados e mucambos. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2013.
[capítulos a indicar]
_____ Oh de casa. Vol. 13. Inst. Joaquim Nabuco de Pesquisas sociais, 1979.
[capítulos a indicar]
DA MATTA, Roberto. 1997. "A casa e a rua." Rio de Janeiro: Rocco (1997).
[capítulos a indicar]
Sessão 11: Casas e a construção da cidade
CAVALCANTI, Mariana. "Do barraco à casa: tempo, espaço e valor (es) em uma favela
consolidada." Revista Brasileira de Ciências Sociais 24.69 (2009): 69-80.
Holston, James. "Autoconstruction in working‐class Brazil." Cultural Anthropology 6.4 (1991):
447-465.
Moura, Cristina Patriota de. 2010. "Condomínios horizontais em Brasília: elementos e
composições”. Antropolítica, n.28: 47:68.
Sessão 12: Casa e trabalho
PALMEIRA, Moacir. 1977. “Casa e trabalho: notas sobre as relações sociais na plantation
tradicional”. Contraponto, II (2): 103-114.
WOORTMANN, Klaas. 1980. “Casa e família operária”. Anuário Antropológico, 80: 119-150.
GUEDES, André Dumans. 2013. "Na estrada e na lama com Jorge, um brasileiro: trabalho e
moradia nas fronteiras do desenvolvimento." Horizontes Antropológicos 19.39 (2013): 319345.
Sessão 13: Casa e política
BORGES, Antonádia. 2003. Tempo de Brasília: etnografando lugares-eventos da política. Vol.
21. Relume Dumará
LAGÜENS, João. Casa e Política: amizade, alianças e interesses. 2014. Tese de Doutorado,
PPGAS, MN/UFRJ.
[capítulos a indicar]
Sessão 14: Direito, direito e propriedade. Favelas cariocas
WEBER, Alexandre. 2012. Transmissão de patrimônio habitacional em Favelas. Neterói: Editora
da UFF.
[capítulos a indicar]
CORRÊA, Claudia. 2012. Controvérsias: entre o “direito de moradia” e o direito de propriedade
imobiliária na cidade do Rio de Janeiro. O “direito de laje” em questão. Rio de Janeiro:
Topbooks.
[capítulos a indicar]
GONÇALVES, Rafael. 2012. “Da política da ‘contenção’ à remoção: aspectos jurídicos das
favelas cariocas”. In MELLO, Marco Antonio et al. (org). Favelas cariocas ontem e hoje. Rio de
Janeiro: Garamond.
Sessão 15: Avaliação e discussão dos trabalhos finais