biomotriz - Cefid
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BIOMOTRIZ REVISTA CIENTÍFICA DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA UNIVERSIDADE DE CRUZ ALTA Gráfica UNICRUZ Cruz Alta-RS 2011 Universidade de Cruz Alta Campus Universitário Dr. Ulisses Guimarães Rodovia Municipal Jacob Della Méa, Km 5.6 Caixa Postal 858 Distrito Parada Benito 98.020-290 Cruz Alta - RS Fone (55) 33211500 http://www.unicruz.edu.br Coordenação e Editoração Carine Cristina Callegaro Maria Denise Justo Panda Marilia de Rosso Krug Patrícia Dall’Agnol Bianchi Diagramação Thiego Yukiu Maeda Capa Núcleo Integrado de Comunicação da Unicruz Tiragem: 200 Exemplares Biomotriz: Revista Científica da Universidade de Cruz Alta/ Universidade de Cruz Alta. V.1 , n.1 (Nov 2011). Cruz Alta: UNICRUZ, 2011. 118p. Semestral Inclui sumário e bibliografia ISSN 1679-8074 1.Ciências da Saúde 2.Educação Física I.Título Catalogação: Paulo Cesar de Lima Gonçalves Junior. CRB 10/2018 São reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução, ou tradução em outras línguas, desse volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou quaisquer meios (mecânico, eletrônico, fotocópia, gravação, ou outros), sem permissão expressa da editora. São de exclusiva responsabilidade de seus autores, as opiniões e conceitos emitidos nos trabalhos. Reitora Elizabeth Fontoura Dorneles Vice-Reitora de Graduação Sirlei de Lourdes Lauxen Vice-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Cléia Rosani Baiotto Vice-Reitor de Administração Fábio Dal-Soto Diretor do Centro de Ciências da Saúde - CCS Elbio Nallen Jorgens Comissão Editorial do CCS Ângela Vieira Brunelli Dinara Hansen Lucas Carvalho Siqueira Maria Denise Justo Panda Nara da Silva Marisco Roberta Cattaneo Valeska Martins da Silva Comissão Editorial da Revista BIOMOTRIZ Carine Cristina Callegaro Maria Denise Justo Panda Marilia de Rosso Krug Patrícia Dall’ Agnol Bianchi Revisão Técnica de Portugues Ieda Márcia Donati Linck Organizadoras Marilia de Rosso Krug Carine Cristina Callegaro CONSELHO CONSULTIVO Profª. Drª Adriana Kessler (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS; Universidade FEEVALE/RS e Centro Universitário La Salle - UNILASALLE/RS). Prof. Dr. Airton José Rombaldi (Universidade Federal de Pelotas - UFPEL/RS). Profª. Drª. Angelita Alice Jaeger (Universidade Federal de Santa Maria – UFSM/RS). Profª. Drª. Carine Cristina Callegaro (Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ/RS). Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes (Universidade Estadual de Londrina - UEL/PR). Profª. Drª. Elizara Carolina Marim (Universidade Federal de Santa Maria – UFSM/RS). Profª. Drª. Evelise Moraes Berlezi (Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI/RS. Prof. Dr. Flávio Medeiros Pereira (Universidade Federal de Pelotas - UFPEL/RS). Profª. Drª. Giovana Zaperllon Mazo (Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC/SC). Prof. Dr. Hugo Norberto Krug (Universidade Federal de Santa Maria- UFSM/RS). Profª. Drª. Isabella Martins de Albuquerque (Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC/RS). Profª. Drª. Joana Pinto Guedes (Universidade Estadual de Londrina - UEL/PR). Profª. Drª. Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela (Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/MG). Prof. Dr. Luis Ulisses Signori (Universidade Federal do Rio Grande – FURG/RS). Prof. Dr. Luiz Fernando Martins Kruel (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS/RS). Prof. Dr. Marcelo Cozzensa da Silva (Universidade Federal de Pelotas - UFPEL/RS). Prof. Dr. Marcos Garcia Neira (Universidade de São Paulo – USP/SP). Profª. Drª Maria Denise Justo Panda (Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ/RS). Profª. Drª. Mariângela da Rosa Afonso (Universidade Federal de Pelotas - UFPEL/RS). Profª. Drª Patrícia Dall’ Agnol Bianchi (Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ/RS). Prof. Dr. Rodrigo Della Méa Plentz (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre UFCSPA/RS). Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes (Universidade Federal de Pelotas - UFPEL/RS). APRESENTAÇÃO A Revista Biomotriz foi criada no ano de 2003 pela Faculdade de Educação Física da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, tendo como objetivo servir de instrumento para divulgação e discussão entre professores, acadêmicos e especialistas na área das Ciências da Saúde e Sociais, enquanto veículo de difusão científica e cultural. Até o momento, foram publicadas quatro edições, sendo a última em 2007. Com a reorganização administrativa da Universidade de Cruz Alta e criação dos Centros, incluindo o de Ciências da Saúde, entendemos como prioridade a retomada da publicação da Revista BIOMOTRIZ, motivo pelo qual estamos lançando a sua 5ª edição, com seis importantes artigos dirigidos às áreas de Educação Física e Fisioterapia. A Revista BIOMOTRIZ continua com seu objetivo de investigação científica, valorizando a pesquisa, como um processo eficaz de informação aos profissionais da área, tornando-se um canal de comunicação e expressão, sempre voltada para a saúde e desenvolvimento humano. Para a execução deste trabalho, deve-se ressaltar a importante participação da coordenação e editoração da revista, unindo esforços dos envolvidos e consequentemente do Centro de Ciências da Saúde. Agradecemos também aos avaliadores e revisores pela colaboração prestada, com brilhantismo, sem a qual seria impossível a publicação da revista. Desta maneira, a Revista BIOMOTRIZ passa a ser uma publicação do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Cruz Alta, CCS-UNICRUZ, destinando-se à divulgação de trabalhos científicos originais na área da Saúde, especialmente nas subáreas de Educação Física e Fisioterapia em interface com as Ciências Humanas e Sociais, priorizando estudos científicos nas áreas de pesquisa básica, preventiva e de reabilitação. Compartilhamos a nossa alegria com os leitores, avaliadores, autores e dirigentes da UNICRUZ, pelo fato da Revista BIOMOTRIZ ter atingido, Conceito B4 no QualisCAPES, Educação Física. Prof. Elbio Nallen Jorgens Diretor do Centro de Ciências da Saúde SUMÁRIO ARTIGOS Idosos praticantes de atividades físicas: relação entre gênero e idade. Elderly physically activite: relationship between gender and age. Rodrigo de Rosso Krug; Julio César Rodrigues da Conceição; Guilherme da Silva Garcia; Inês Amanda Streit; Giovana Zarpellon Mazo ..................... 9 O videogame como atividade motivadora na aula de educação física. The video game as a motivating activity in physical education class. Phillip Vilanova Ilha; Giliane Bernardi ............................................................................ 25 A experiência docente nos estágio curriculares supervisionados I-II-III dos acadêmicos da licenciatura em educação física do CEFD/UFSM. The experience in teacher training curriculum supervised I-II-III of the academic degree in physical education CEFD/UFSM. Ana Paula Facco Mazzocato; Fabiana Ritter Antunes; Hugo Norberto Krug . ..................................................................................................... 41 Impacto da reabilitação cardiorrespiratória aquática e terrestre associada ao treinamento muscular inspiratório em pacientes com insuficiência cardíaca: resultados preliminares. Impact of aquatic cardiac rehabilitation and terrestrial associated with inspiratory muscle training in patients with heart failure: preliminary results. Camila de Vargas Selaimen; Stella de Andrade Schirmer; Bárbara Hermes; Dannuey Machado Cardoso; Dulciane Nunes Paiva; Isabella Martins de Albuquerque ................................................................................... 59 A influência de um programa de exercícios físicos no estado emocional dos indivíduos cadastrados no ESF/Primavera. The influence of an exercise program physical and emotional state of individuals registered at ESF / Primavera. Maria Denise Justo Panda . ........................................................................................... 73 ENSAIO Procedimentos de ensino de conteúdos cognitivos em aulas de educação física escolar. Teaching procedures of cognitive contents in school physical education classes. Flávio Medeiros Pereira ................................................................................................. 87 IDOSOS PRATICANTES DE ATIVIDADES FÍSICAS: RELAÇÃO ENTRE GÊNERO E IDADE Elderly physically activite: relationship between gender and age Rodrigo de Rosso Krug1, Julio César Rodrigues da Conceição2, Guilherme da Silva Garcia2, Inês Amanda Streit1, Giovana Zarpellon Mazo3 RESUMO O nível de atividade física das pessoas pode ser influenciado por vários fatores intervenientes, dentre eles o gênero e o aumento da idade. Desta forma este estudo objetiva relacionar a atividade física com o gênero e a idade de idosos participantes de um programa de extensão universitária. Participaram deste estudo 72 idosos (17 homens e 55 mulheres). Aplicou-se o formulário de identificação e o Questionário Internacional de Atividade Física, forma longa, semana normal, adaptado para idosos. Utilizou-se estatística descritiva e inferencial por meio do teste t de Student. A maioria dos idosos era muito ativo fisicamente (70), sendo as mulheres mais ativas que os homens (p=0,04), contudo elas permaneciam mais tempo sentadas (p=0,05). Os homens foram mais ativos que as mulheres nas atividades laborais (p<0,001). A maioria dos idosos era idoso-jovem (60 a 74 anos). A média de tempo gasto com atividades físicas dos idosos-jovens foi de 1132,83 minutos/semana (DP=740,73), e dos idososidosos (75 a 85 anos) foi de 827,37 minutos/semana (DP=613,37), porém não houve diferença estatisticamente significativa (p=0,62) entre os grupos. Os idosos-jovens permaneciam mais tempo sentados que os idosos-idosos (p=0,05), porém realizavam menos atividades de lazer (p<0,001). Conclui-se que há relação entre o nível de atividade física, gênero e idade de idosos participantes de um programa de extensão universitária. Os homens idosos fazem mais atividades relacionadas ao trabalho e as mulheres são mais ativas fisicamente no total de atividades físicas. Os idosos-idosos realizam mais atividades de lazer que os idosos-jovens. Palavras-chave: Atividade Motora. Idoso. Gênero. Idade. Alunos do Curso de Mestrado em Ciências do Movimento Humano da Universidade do Estado de Santa Catarina, membros do Laboratório de Gerontologia (LAGER/UDESC) 2 Licenciados em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina, membros do Laboratório de Gerontologia (LAGER/UDESC); 3 Doutora em Educação Física pela Universidade do Porto, professora do Curso de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade do Estado de Santa Catarina, Coordenadora do Laboratório de Gerontologia (LAGER/UDESC). 1 9 ABSTRACT The level of physical activity people can be influenced several intervening factors, including sex and increasing age. To relate the physical activity level with sex and age stratum of elderly participants in a university extension program. A group of 72 elderly (17 men and 55 women). We applied the identification form and the International Physical Activity Questionnaire, long form, typical week, adapted for the elderly. We used descriptive and inferential statistics using the Student t test. Most of the elderly was very physically active (70), with women being more active than men (p = 0.04), but they remained more time sitting (p = 0.05). Men were more active than women in labor activities (p <0.001). Most of the elderly was old-young (60 to 74 years). The average time spent on physical activities of elderly-young was 1132.83 minutes/week (SD = 740.73), and older-aged (75 to 85 years) was 827.37 minutes/week (SD = 613.37), but there was no statistically significant difference (p = 0.62) between groups. The elderly, young people spend more time sitting than the older-aged patients (p = 0.05), but reported fewer leisure activities (p <0.001). In conclusion there was no relationship between the level of physical activity, sex and age stratum of elderly participants in a university extension program. Older men are more work-related activities and women are more physically active in all physical activities. The elderly-elderly perform more leisure activities that the young-elderly. Keywords: Motor Activity. Elderly. Sex. Age. INTRODUÇÃO Com o aumento da idade as pessoas se tornam menos ativas, suas capacidades físicas diminuem e, com as alterações psicológicas que geralmente ocorrem, existe diminuição do nível de atividade física (AF). Tal aspecto facilita o surgimento de doenças crônicas, que contribuem para acelerar o processo de envelhecimento (MATSUDO; MATSUDO; BARROS NETO, 2000). A inatividade física assume relevância neste ponto, uma vez que, mesmo em um tempo relativamente curto, gera efeitos negativos para a saúde, representando custo econômico para o indivíduo, para a família e para a sociedade (MATSUDO et al., 2002). Ao investigar os fatores de risco e proteção para doenças crônicas na população adulta nas capitais dos estados brasileiros e do Distrito Federal, foi verificada alta frequência de inatividade física em todas as cidades estudadas, predominando na faixa etária de 65 ou mais anos de idade (BRASIL, 2009). 10 Alguns autores (MAZO et al., 2005; MATSUDO et al., 2002) corroboram com o fato de que o avanço da idade esta associado à diminuição da AF e, consequentemente da aptidão funcional. A inatividade física da população idosa brasileira fica evidenciada nos dados do VIGITEL de 2008, onde 53,2% das mulheres e 51,5% dos homens brasileiros acima dos 65 anos são inativos fisicamente (BRASIL, 2009). O nível de AF das pessoas idosas pode ser influenciado por diversos fatores como o gênero (CARDOSO et al., 2008), as condições de saúde, o estado civil (HALLAL et al., 2003), os aspectos sociodemográficos (MATSUDO et al., 2002), a escolaridade (BOFFETTA; BARONE; WYNDER, 1990), entre outros. Nesta perspectiva, a comunidade científica especializada em estudos nessa área, busca elucidar a influência da AF como estratégia para melhorar a qualidade de vida do idoso ao retardar os efeitos deletérios do envelhecimento, aumentando o contato social, reduzindo os problemas psicológicos, mantendo a capacidade funcional e prolongando os anos de independência e autonomia (MATSUDO; MATSUDO; BARROS NETO, 2000). Assim este estudo objetivou relacionar a AF (nível e domínios) com o gênero e a idade de idosos participantes de um programa de extensão universitária. MÉTODO A presente pesquisa descritiva observacional teve como população 220 idosos participantes do programa de extensão Grupo de Estudos da Terceira Idade (GETI) da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). A amostra foi do tipo não probabilística, constituída por 72 idosos de ambos os gêneros (17 homens e 55 mulheres) com idade entre 60 e 86 anos praticantes de AF no GETI. O GETI oferece AF (musculação, hidroginástica, natação, caminhada, pilates, ginástica e dança), educacionais (informática e universidade aberta), culturais (canto e teatro), fisioterapêuticas (hidroterapia e atendimento a pessoas com parkinson) e atendimento psicológico. As AF ocorrem duas vezes semanais, as educacionais e culturais uma vez semanal e as fisioterapêuticas e o atendimento psicológico conforme agendamento. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da UDESC (nº 185/2007). Para caracterizar a amostra foi utilizado um formulário contendo dados de identificação (nome, gênero, idade e AF praticada no GETI). Para verificar o nível de 11 AF, utilizou-se o Questionário Internacional de AF (IPAQ) forma longa e semana normal, adaptado para idosos. Este instrumento faz um recordatório em minutos por semana (min/sem) das AF desenvolvidas pelos idosos na rotina diária de uma semana normal (domínios trabalho, transporte, atividades domésticas e lazer), considerando AF toda atividade contínua que envolva, no mínimo, gasto moderado de energia com tempo igual ou superior a 10 minutos (BENEDETTI; MAZO; BARROS, 2004). Os instrumentos foram aplicados em forma de entrevista individual. Anteriormente a aplicação da entrevista, foi esclarecido para os idosos o objetivo da pesquisa e o sigilo de identificação. Ao concordarem em participar do estudo, eles assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em duas vias, ficando uma via de posse dos mesmos e outra do pesquisador. Os dados foram coletados pelos pesquisadores e por entrevistadores previamente treinados. Aplicou-se primeiramente o formulário de identificação e, após, o IPAQ. Para a interpretação do nível de AF dos idosos pelo IPAQ adotou-se o critério baseado em recomendações de limiares de AF que resultam em benefícios para a saúde, classificando como “ativos” os indivíduos que praticam, pelo menos, 150 min/ sem de AF moderada. Com base neste critério, a amostra deste estudo foi dividida em dois níveis: pouco ativo (<150 min/sem) e muito ativo (≥150 min/sem). Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS 17.0 para Windows. Utilizou-se estatística descritiva (frequência simples, média, desvio-padrão e percentagem) e o teste t de Student para comparação do nível de AF segundo as variáveis gênero e a idade. RESULTADOS Considerando as recomendações de limiares de AF que resultam em benefícios para a saúde, que classifica como “muito ativo” o indivíduo que realiza algum tipo de AF, com gasto moderado de energia, por no mínimo 150 min/sem (30 minutos, 5 vezes semanais), somente duas pessoas neste estudo foram consideradas “pouco ativas”. A Tabela 1 demonstra à média, desvio padrão, frequência e percentual do tempo (min/sem) gasto pelos idosos em cada domínio de AF avaliado pelo IPAQ. 12 Tabela 1 - Frequência (f), percentagem (%), média ( ) e desvio padrão (σ) da amostra, relativos aos minutos por semana (min/sem), nos domínios do IPAQ (n=72). Domínios do IPAQ AF no Trabalho Não faz AF no trabalho Trabalho moderado Caminhada no trabalho moderada AF no Transporte Não faz AF no transporte Caminhada vigorosa Caminhada moderada Caminhada leve AF Doméstica Não faz AF doméstica Em casa vigorosa Em casa Moderada AF Lazer Não faz caminhada no lazer Caminhada vigorosa Caminhada moderada Caminhada leve Lazer vigoroso Lazer moderado Total IPAQ Tempo Sentado No transporte Durante a semana Fim-de-semana F % σ (min/sem) 57 9 6 74,0 18,2 7,8 (min/ sem) 138,33 35,28 - 14 3 43 12 19,5 4,2 59,7 16,6 173,33 149,05 144,58 179,25 112,39 154,47 2 5 65 2,9 6,9 90,2 246,00 561,62 287,28 474,44 33 7 28 4 6 66 - 45,8 9,7 38,9 5,6 8,3 91,7 - 173,57 195,89 80,00 121,43 171,59 1052,22 86,54 89,83 28,28 26,72 178,56 718,07 68 72 72 94,4 100,0 100,0 141,97 1112,85 510,97 145,49 588,94 263,24 432,15 143,60 - O domínio AF no trabalho inclui as atividades que os idosos executam no seu trabalho remunerado ou voluntário. Neste estudo, 19,2% (9) dos idosos realizam trabalho remunerado e/ou voluntário, de forma moderada, do tipo fazer renda, pintura, artesanato, tricô, entre outras e nenhum idoso realiza atividades vigorosas. O IPAQ não considera o trabalho leve. Os idosos deste estudo fazem trabalho com intensidade moderada, em média de 138,33 min/sem A caminhada, durante o trabalho, com intensidade vigorosa e leve não é realizada, mas a moderada acontece em 7,85% dos idosos, em média de 35,28 min/sem. No domínio AF no transporte, que se relaciona com o deslocamento de um lugar para o outro, nenhum idoso se desloca de bicicleta. O deslocamento através da caminhada é o mais executado pelos idosos, sendo que 16,6% (12) o fazem com intensidade leve ( =144,58 min/sem), 59,7% (43) com intensidade moderada ( 13 =149,05 min/sem) e 4,2% (3) de forma vigorosa ( =173,33 min/sem). Na AF doméstica, que inclui as atividades que os idosos executam em sua residência, 90,2% (65) realizam esta atividade com intensidade moderada ( =561,62 min/sem), 6,9% (5) com intensidade vigorosa ( =246 min/sem) e nenhum com intensidade leve. Em relação à AF de lazer, que se refere às AF de recreação, desporto, exercício ou lazer que os idosos executam em uma semana normal, os idosos em sua maioria, 45,8%, não realizam caminhada, 38,9% ( =195,89 min/sem) a realizavam de forma moderada, 9,7% ( =173,57 min/sem) com intensidade vigorosa e 5,6% ( =80 min/ sem) com intensidade leve. Referente a qualquer tipo de lazer, 91,7% o fazem com intensidade moderada ( =171,59 min/sem), 8,3% com intensidade vigorosa ( =121,43 min/sem) e nenhum com intensidade leve. Na soma total dos quatro domínios do IPAQ a média de tempo gasto fazendo AF durante a semana foi de 171,59 min/sem (σ= 718,07). O domínio tempo sentado relaciona-se com o tempo que os idosos permanecem sentados em diferentes locais, durante a semana e no fim de semana. Também se incluiu neste domínio o tempo gasto sentado durante o transporte em ônibus, carro e outros veículos. Todos os idosos do estudo despendem tempo na posição sentada durante a semana e no fim de semana, destacando-se com maior tempo os dias de semana ( =1112,85 min/sem) em relação ao final de semana ( =510,97 min/sem). Destes, 94,4% (68) gastam, em média, 141,97 min/sem do tempo sentados durante o transporte em veículos, para se deslocar de um lugar para o outro. Neste sentido os idosos deste estudo, mesmo sendo muito ativos fisicamente, ficam mais tempo sentados do que fazendo alguma outra atividade. Por outro lado, tais idosos apresentam um período de tempo em min/sem de atividades moderadas e vigorosas nas diferentes formas de AF, conforme o gráfico 1. 9% 35% 22% AF AF AF AF Trabalho Transporte Doméstica Lazer 34% Figura 1 - Distribuição percentual das diferentes formas de AF em min/sem (períodos mínimos de 10 minutos contínuos). 14 Na Figura 1, observa-se que o domínio com maior percentual de tempo gasto com AF foi o de atividades domésticas (35%), seguido das atividades de lazer (34%). Dos 72 idosos estudados, 65 praticavam atividades moderadas em casa, 5 (cinco) idosos realizavam atividades vigorosas e apenas 7 (sete) não realizam atividades domésticas. As AF referentes ao transporte são as menos realizadas (9%) pelos idosos deste estudo. A média de tempo de AF praticada pelos idosos nos diferentes domínios do IPAQ de acordo com o gênero foi analisada na Tabela 2. Evidenciou-se que nas médias de AF de trabalho, no total e no tempo sentado obteve-se diferença estatisticamente significativa, em que a média das mulheres idosas ( =101,82 min/sem) foi menor do que a dos homens idosos ( =405,88 min/sem) nas atividades laborais (p<0,001). Já na média total do IPAQ as mulheres tiveram médias maiores ( =1064,09 min/sem) que os homens ( =1013,82 min/sem) (p=0,04), no entanto as mulheres ( =1068,09 min/sem) ficavam mais tempo sentadas do que os homens ( =1008,53 min/sem) (p=0,05). Sendo assim os homens idosos são mais ativos que as mulheres idosas nas AF referentes ao trabalho, e as mulheres apesar de ficarem mais tempo sentadas que os homens, são mais ativas. Tabela 2 – Média ( ) e desvio padrão (σ) do tempo (min/sem) gasto de AF praticada pelos idosos nos diferentes domínios de acordo com o gênero. Domínios do IPAQ Feminino (min/sem) Masculino (min/sem) σ σ t p Trabalho 101,82 381,29 405,88 780,22 2,18 <0,001** Transporte 94,09 118,19 94,41 115,27 0,10 0,90 Doméstica 613,36 494,91 235,29 301,53 2,97 0,16 Lazer 258,82 201,41 272,94 307,44 0,22 0,31 Total 1064,09 660,81 1013,82 901,26 0,25 0,04* Tempo sentado 1068,09 672,09 1008,53 892,37 0,29 0,05* *p≤0,05; **p<0,001 Em relação ao tempo médio gasto nas AF no transporte e no lazer os homens idosos também tiveram maiores médias que as mulheres idosas, mas não significativas. Em contrapartida as mulheres idosas tiveram médias maiores de tempo gasto com AF 15 relacionadas às atividades domésticas e no tempo total do IPAQ. Com relação aos grupos etários, a maior parte dos idosos desse estudo (74,00%) era idoso-jovem, sendo que 76,36% das mulheres e 64,70% dos homens estavam enquadrados neste grupo etário. A média de tempo gasto com AF no total do IPAQ dos idosos-jovens foi de 1132,83 min/sem, e dos idosos-idosos de 827,37 min/sem, porém não houve diferença estatisticamente significativa (p=0,62) entre os idosos-jovens e os idosos-idosos. Observou-se que, apesar de serem mais ativos, os idosos-jovens ( =1136,23 min/ sem) permanecem mais tempo sentados que os idosos-idosos ( =824,74 min/sem) (p=0,05). Os idosos-jovens também têm médias maiores que os idosos-idosos nas atividades relacionadas ao trabalho e nos afazeres domésticos. Porém estas médias também não apresentaram diferenças estatisticamente significativas. A Tabela 3 demonstra a média do tempo gasto com AF por domínio (min/sem) divididos por idade. Tabela 3 – Média ( ) e desvio padrão (σ) do tempo (min/sem) gasto de AF praticada pelos idosos nos diferentes domínios de acordo com a idade. Domínios do IPAQ Idoso Jovem (min/sem) Idoso Idoso (min/sem) σ σ t p Trabalho 199,06 538,13 102,63 447,36 0,69 0,22 Transporte 89,72 118,27 106,58 114,40 0,53 0,76 Doméstica 591,79 518,56 335,26 301,28 2,03 0,12 Lazer 255,66 169,32 280,26 350,11 0,40 0,001** Total do IPAQ 1132,83 740,73 827,37 613,42 1,60 0,62 Tempo Sentado 1136,23 746,63 824,74 616,22 0,29 0,05* *p≤0,05; **p<0,001. Já os idosos-idosos têm maior média de tempo gasto em AF no lazer ( =280,26 min/sem) se comparados aos idosos jovens ( =255,66 min/sem). Estas médias apresentaram diferença estatisticamente significativa (p<0,001) e nas AF de transporte os idosos-idosos também apresentaram valores médios mais altos, porém sem diferença estatisticamente significativa. 16 DISCUSSÃO Os resultados desse estudo demonstram que a maior parte dos idosos avaliados são muito ativos (70), corroborando com diversos estudos (MAZO et al., 2005; BINOTTO; BORGATTO; FARIAS, 2010; CARDOSO et al., 2008) que avaliaram o nível de AF de indivíduos idosos, principalmente os participantes de grupos de convivência. Segundo Mazo et al. (2005), há uma tendência dos idosos pertencentes a grupos de convivência serem mais ativos. Esta conclusão baseou-se na literatura e em uma pesquisa realizada na cidade de Florianópolis/SC, com 198 mulheres idosas, no qual 66,2% foram classificadas pelo IPAQ como muito ativas. Cardoso et al. (2008) também utilizou o IPAQ ao avaliar o nível de AF de 262 idosos de grupos de convivência do município de São José/SC, verificando que 86,7% dos idosos eram classificados como muito ativos. Conte (2004) em estudo com 320 idosas residentes na cidade de Marechal Cândido Rondon/PR, participantes de grupos de convivência, observou o alto nível de AF das idosas (76,5%). Nesse sentido, Leite, Capellari e Soneto (2002) afirmam em seu estudo que um dos objetivos dos idosos ao ingressarem em grupos de convivência é a realização de AF em companhia de outras pessoas idosas, no qual parece ser também um objetivo dos idosos da amostra selecionada que participava do GETI/UDESC, o qual parece cumprir o mesmo papel dos grupos de convivência proporcionando aos idosos o convívio social, sociabilização e a prática regular de atividades físicas. Quanto ao nível de AF realizado no domínio trabalho, os participantes deste estudo em sua maioria (74%) não trabalham. Jardim (2007) menciona que o mercado de trabalho é o primeiro a excluir o velho por considerá-lo defasado e com menor capacidade produtiva. Benedetti et al. (2008), ao estudarem idosos de Florianópolis/ SC, também constataram que 93% destes não trabalham. Assim como no presente estudo, Benedetti (2004) verificou que a maioria (57,6%) dos idosos de Florianópolis/SC realizava AF relacionadas ao deslocamento. Porém, apesar de grande número de sujeitos da pesquisa alegarem a utilização da caminhada como meio de transporte, a média do tempo gasto por semana com esta atividade foi baixa, sendo menor que o tempo gasto sentado no ônibus ou no carro para deslocamento. Pode-se dizer que uma das atividades que mais contribuem para a manutenção de uma vida mais ativa pelos idosos está relacionada às tarefas domésticas, sendo 17 essas atividades as que mais ocupam o tempo dos idosos. Grande parte as realiza com intensidade moderada mantendo-se, desta forma, ativos em seu cotidiano. Os resultados corroboram com diversas pesquisas que abordaram o tema (MAZO et al., 2005; CARDOSO et al., 2008). Rydwik, Kerstin e Akner (2005) reforçam a importância das atividades domésticas, sugerindo que elas auxiliam na manutenção e na melhora da capacidade física dos idosos. Contudo, esse tipo de atividade parece estar mais associado às mulheres. Cardoso et al. (2008) verificaram diferença significativa no alto tempo despendido com atividades domésticas pelas mulheres em comparação com a dos homens, sugerindo que esse fato pode estar relacionado a uma construção histórica e social ainda muito presente nos idosos, segundo a qual a mulher deveria cuidar do lar e o homem trabalhar para o sustento da família. Entre os idosos do presente estudo, a grande maioria pratica alguma AF como prática de lazer, sendo este o domínio com maior número de idosos (haja vista que a amostra foi selecionada de um programa específico de AF para idosos). Alguns autores (GOMES; SIQUEIRA; SICHIERI, 2001; AARTSEN et al., 2002) elegem a AF praticada no lazer como indicador adequado para estimar a prevalência de idosos ativos ou fisicamente inativos, por considerarem estas informações mais diretas e de fácil obtenção. No entanto, o nível de AF dos idosos está relacionado às atividades cotidianas, para além do esporte ou lazer. Atividades essas relativas ao exercício ocupacional, ao trabalho doméstico, ou ainda, aos deslocamentos para afazeres cotidianos. Tais fatores podem ajudar os idosos a se tornarem mais ativos em seu cotidiano. Ainda, a média do tempo gasto sentado foi maior que as demais. Esses períodos sentados causam problemas posturais, queixas de dor e complicações advindas da pressão exercida sobre os discos intervertebrais, sendo um grande fator de risco para a coluna vertebral. Quando se permanece sentado por muito tempo os músculos modificam seu estado de tensão, a posição de toda a coluna vertebral é alterada resultando em acúmulo de resíduos, dor e sensação de cansaço muscular (VIEL; ESNAULT, 2000). Em mulheres idosas de baixa renda, as principais atividades cotidianas consistiam em ver televisão, ouvir rádio, receber e fazer visitas, sugerindo que tais atividades sejam realizadas em sedestação, acarretando riscos à saúde tanto pela posição quanto pela inatividade (SOUZA, 2001). As atividades de lazer (35%) e as tarefas domésticas (34%) foram as atividades 18 mais realizadas pelos idosos do GETI. Binotto, Borgatto e Farias (2010) ao realizarem um estudo com idosos, mostraram que há predominância das AF de lazer (42,01%) sobre os demais domínios. Os dados desta pesquisa corroboram também com os estudos de Mazo et al. (2005) que encontraram uma prevalência de 91,5% de idosos ativos nas atividades domésticas e Cardoso, Mazo e Japiasú (2008) que, ao avaliarem 198 idosos, evidenciaram que as atividades domésticas correspondem a 40% do total de AF praticadas de forma moderada e vigorosa. Zaitune et al. (2007) verificaram uma prevalência de 70,9% de inatividade física ao avaliar 426 idosos do Município de Campinas/SP, considerando sedentário o indivíduo que afiormaram não praticar qualquer esporte ou exercício físico pelo menos uma vez por semana. No estudo supracitado, a prevalência de mulheres sedentárias mostrou-se superior ao dos homens, dados semelhantes ao observado por Pitanga e Lessa (2005) em idosos com 60 anos ou mais. Embora que alguns estudos (SEEMAN et al., 2001; RIBEIRO et al., 2009) demonstrem maior incidência de inatividade física em mulheres idosas e menor nível de AF em relação aos homens, não foi observado diferença no nível de AF entre os gêneros. Tal aspecto também foi encontrado no estudo de Cardoso et al. (2008), com idosos participantes de grupos de convivência, no qual não houve diferença significativa entre o nível de AF de homens e de mulheres. Entretanto, o presente estudo verificou que os homens idosos possuem um tempo de prática semanal de AF relacionado às tarefas de trabalho superior ao das mulheres idosas (p=0,001). Estes resultados são conflitantes com os do estudo de Cardoso et al. (2008) que ao estudarem 262 idosos frequentadores de grupos de convivência do Município de São José/SC evidenciaram que homens e mulheres não apresentam diferenças significativas (p=0,91) nas atividades relativas ao trabalho, apesar das médias de tempo gasto com essas atividades dos homens idosos ( =107,3 min/sem) ser maior que a das mulheres idosas ( =19,86 min/sem). No tempo total do IPAQ constatou-se neste estudo que as mulheres são mais ativas que os homens. Cardoso et al. (2008) também verificaram que as mulheres idosas da cidade de São José/SC são mais ativas fisicamente que os homens. Isto pode ser explicado pelo fato de essa amostra ser retirada de idosos que frequentam um grupo de AF para a terceira idade, no qual a maioria é do gênero feminino. No entanto Matsudo et al. (2002), relatam que geralmente homens idosos são mais ativos fisicamente que mulheres da mesma idade. 19 Entretanto, observou-se que as mulheres idosas pesquisadas permanecem mais tempo sentadas que os homens. Cardoso et al. (2008) também evidenciaram que as mulheres idosas permanecem mais tempo sentadas que os homens. Ao estudar mulheres idosas, Souza (2001) verificou que as principais atividades do dia a dia, para a maioria delas, consistiam em assistir televisão, ouvir rádio, receber e fazer visitas. A inatividade física ainda hoje tem sido fortemente associada ao aumento da idade, essa é uma tendência observada em estudos realizados no Brasil (HALLAL et al., 2003; MATSUDO; MATSUDO; BARROS NETO, 2000). Hallal et al. (2003) verificou o nível de AF em idosos da cidade de Pelotas/RS, e encontrou a proporção de 41,1% de sedentários. Dentre as mulheres entrevistadas de 60 a 69 anos, 43,2% (n = 183) eram insuficientemente ativas e, com o avançar da idade, esses valores foram ainda superiores, atingindo 69,1% naquelas com mais de setenta anos. Estes dados estão de acordo com os levantados nesse estudo, no qual os idosos-jovens apresentaram uma média de tempo gasto com AF maior do que os idosos-idosos. No entanto, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre os a idade e o nível de AF. Cabe destacar que, apesar do menor número de idosos-idosos, eles apresentaram média estatisticamente significativa maior que os idosos-jovens nas atividades relacionadas ao lazer. Tais achados contrapõem os resultados encontrados por Aartsen et al. (2002) em um estudo desenvolvido em Amsterdam na Holanda, em que foram pesquisados 2.076 indivíduos, com idade entre 55-85 anos, sendo avaliado a participação destes indivíduos em atividades como serviços religiosos, associações de bairros, organizações de ajuda, cursos educacionais, esportes e atividades de lazer. Os autores constataram que há uma significativa diminuição da participação dos idosos nessas atividades com o passar dos anos. Este fato pode ser justificado pela população deste estudo ter sido retirada de um programa de AF para idosos, o que influencia na grande participação dos idosos-idosos em atividades de lazer. Os idosos-jovens estudados permanecem mais tempo sentados que os idososidosos, assim como observou Benedetti (2004), ao estudar idosos que residem em Florianópolis/SC, que os idosos menos ativos ficam mais tempo por semana sentados assistindo televisão, ouvindo rádio e recebendo visitas quando comparados aos mais ativos. Esse fato se explica pela relação dos idosos-idosos serem mais ativos nas atividades de lazer que os idosos-jovens. 20 CONCLUSÃO Os resultados do presente estudo indicam que a maioria dos participantes foi classificada, quanto ao nível de AF, como muito ativos. Dentre as atividades que influenciaram nesta classificação, destacam-se as domésticas e as de lazer. Pode-se atribuir, também, essa classificação ao fato de os idosos estarem inseridos em um programa que proporciona a prática regular de AF. Contrapondo aos resultados de diversos estudos, as mulheres idosas apresentaram-se mais ativas que os homens idosos, quando comparado o tempo médio gasto com AF em uma semana habitual, porém estas mulheres permanecem mais tempo sentadas que os homens. No entanto, os homens obtiveram maior média de tempo gasto que as mulheres nas atividades relacionadas ao trabalho. Da mesma forma, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa entre a idade e o nível de AF dos idosos havendo um declínio no tempo médio gasto com AF à medida que a idade avança, apresentando-se os idosos-jovens mais ativos que os idosos-idosos. Mas em contrário os idosos-idosos apresentaram significativamente médias mais elevadas que os idosos-jovens nas atividades de lazer, porém os idososjovens permanecem mais tempo sentados. Conclui-se, então, que os homens idosos gastam mais tempo realizando atividades relativas ao trabalho que as mulheres idosas. Porém as mulheres são mais ativas fisicamente no total e permanecem mais tempo sentadas que os homens, Ainda que os idosos-idosos realizam mais atividades de lazer que os idosos-jovens e os idosos mais novos ficam mais tempo sentados que os mais velhos. Sugere-se que outros estudos sejam realizados, respeitando uma homogeneidade da amostra com relação à quantidade de idosos de ambos os gêneros e a idade, uma vez que foi percebida a escassez de pesquisas que abordem a relação do nível de AF com o aumento da idade após os 60 anos. REFERÊNCIAS AARTSEN, M. J. et al. Activity in older adults: cause or consequence of cognitive functioning? A longitudinal study on everyday activities and cognitive performance in older adults. Journal of gerontology:psychological sciences. Oxford, v. 57 B, n. 2, p.153- 162, 2002. BENEDETTI, T. R. B. Atividade física: uma perspectiva de promoção da saúde 21 do idoso no município de Florianópolis. Tese (Doutorado em Enfermagem) 2004, 238p. 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Na análise qualitativa, constatou-se que as locuções do pós-teste são mais ricas em aspectos que permitem maiores oportunidades para a manutenção da motivação, pois trabalham com novas habilidades, desafios e mídias. Constatou-se que, através da utilização de atividades rítmicas do videogame, houve o aumento das relações positivas de afeto, a aceitação do aluno pelo grupo e pelo professor, o gosto de aprender novas habilidades e enfrentar novos desafios. Palavras-chave: Motivação. Educação Física. Materiais de Ensino. ABSTRACT The present study has as objective to verify if the games of rhythmic activities of the videogame Play Station 2, motivates the pupils to the practical one of Physical Education. Verifying itself quantitatively if significant differences between the levels of intrinsic and extrinsical motivation exist, and qualitatively analyzing the reasons pointed for the pupils in liking or not them lessons. The results had shown that, in the extrinsical motivation, 10 of the 16 alternatives of reply statistical present significant differences between the daily pay and after-test. And in the intrinsic motivation it has significant difference in 08 of the 16 alternatives of answers. In the qualitative Mestrando em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS. 2 Doutora em Informática em Educação, Professora do Departamento de Eletrônica e Computação da Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria/RS. 1 25 analyzes, one evidenced that the locutions of the after-test are richer in aspects that allow to greater chances for the maintenance of the motivation, therefore work with new abilities, challenges and medias. One evidenced that, through the use of rhythmic activities of the videogame, it had the increase of the positive relations of affection, the acceptance of the pupil for the group and teacher, the taste to learn new abilities and new challenges. Keywords: Motivation. Physical Education.Teaching Materials. INTRODUÇÃO A Educação Física é uma disciplina que possibilita espaços em que se pode dar início a mudanças significativas na maneira de se implementar o processo de ensino/ aprendizagem, tendo em vista as diversas situações em que os dados do cotidiano, associados à cultura de movimentos, podem ser utilizados como objetos para reflexão. Porém, o que observamos hoje em dia, principalmente nas escolas públicas, são currículos basicamente iguais em quase todas as elas, limitando-se aos esportes coletivos como futsal, voleibol, handebol e basquetebol. A Educação Física pode oferecer mais possibilidades, de forma melhor, com criatividade e motivação, contagiando os alunos para a criação de uma cultura corporal dentro de nossa sociedade, pois a criança de hoje que não pratica desporto pode ser o obeso de amanhã e/ou o hipertenso do futuro. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) trazem que a Educação Física deve procurar democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica da área, buscando ampliar de uma visão apenas biológica, para um trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais. Sendo assim, seria preciso trabalhar com uma perspectiva cultural, fugindo da lógica atual, que se limita ao futebol, ao basquetebol, ao handebol e ao voleibol, não que eles devam ser excluídos, afinal também são manifestações culturais e os alunos precisam conhecêlos. No entantodevem-se desenvolver modalidades variadas dentro do vasto campo da prática corporal – brincadeiras, esportes, luta, dança e ginástica. Como relata Neira apud Sinatura (2009), ao contrário do senso comum acerca da Educação Física, o videogame, a pipa, a capoeira, o jogo de damas, os carrinhos e as bonecas, o skate, o surfe, a bocha e o arborismo, por exemplo, podem ser perfeitamente introduzidos 26 no currículo escolar, desde que haja abordagem teórica e adaptações necessárias ao espaço físico da escola. Acredita-se que a Educação Física pode incluir as novas tecnologias e também os games comerciais em suas práticas. Takase (2009) relata que o videogame pode ser um aliado para melhorar a concentração, nas estratégias de aprendizagem, no controle da ansiedade, entre outras habilidades cognitivas e emocionais, sendo que isto dependerá de como o videogame for utilizado pelo usuário e pelo educador. O mesmo autor relata que em 2001 foi lançado pela Konami, empresa japonesa produtora e editora de videogames, o Dance Dance Revolution (DDR), um jogo de atividades rítmicas, que pode melhorar a atenção visual e coordenação motora. O “DDR” é um jogo do videogame Play Station 2, que possui um controle em forma de tapete onde estão localizadas setas (esquerda, direita, para cima e para baixo, similares aos teclados convencionais de computador) os quais o usuário vai acionando com os pés, para realizar suas “jogadas”. Atualmente, há muitos outros jogos de atividades rítmicas do mesmo estilo do Dance Dance Revolution (DDR), tais como: DDRMAX: Dance Dance Revolution, Dance Dance Revolution EXTREME, Dance Dance Revolution SuperNOVA, Dance Dance Revolution: Hottest Party, porém, com outros repertórios de músicas. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo principal verificar se os jogos de atividades rítmicas do videogame Play Station 2, que utiliza o controle no estilo de tapete, motivam os alunos à pratica de Educação Física. Como objetivo secundário pretende-se comparar a motivação dos alunos antes e após as aulas de Educação Física com a utilização de jogos de atividades rítmicas do videogame, além de promover a utilização de recursos mediáticos nas aulas de Educação Física. METODOLOGIA No presente estudo foi empregada uma pesquisa experimental, com abordagem quantitativa e qualitativa, segundo Silva e Menezes (2001). A abordagem quantitativa verificou a mudança ou não, quantificando escores e procurando correlações estatísticas, da motivação dos alunos através da aplicação do questionário, pré e pósexperimento, elaborado por Kobal (1996), que propõe à identificação de motivação intrínseca e extrínseca em aulas de Educação Física. Na abordagem qualitativa procurou-se verificar, também através do questionário com questões abertas, a motivação e o prazer pelas aulas de Educação Física com e sem a utilização de jogos 27 de atividades rítmicas, utilizando o videogame. A amostra do estudo foi composta por 19 alunos da 5ª e 6ª séries da Escola Estadual de Ensino Fundamental General Gomes Carneiro, de ambos os sexos, que se dispuseram a participar da pesquisa. Este grupo foi submetido a atividades didático pedagógicas experimentais duas vezes por semana durante um mês e meio, totalizando 12 sessões, nas quais o professor estimulou ações ou ritmos mais ou menos complexos dependendo das habilidades dos alunos. Além das atividades experimentais, os alunos frequentavam as aulas de Educação Física três vezes por semana. Para a execução da pesquisa foram desenvolvidas atividades rítmicas através de jogos Flow: Urban Dance Uprising e Dance Dance Revolution, do Play Station 2 com controle no estilo de tapete de dança. O mesmo possui quatro setas: para cima, para baixo, esquerda e direita, que devem ser pressionadas com os pés de acordo com que setas correspondentes surgem em determinado ponto na tela. Estas setas são sincronizadas com o ritmo da música, levando o aluno a “dançar” no ritmo da dança. Antes e após a realização das atividades experimentais foi aplicado o questionário de Motivação Intríseca e Extrínseca nas Aulas de Educação Física, elaborado por Kobal (1996). O questionário, referente à identificação de motivos intrínsecos e extrínsecos em aulas de Educação Física, é constituído de três questões com 32 afirmações no total, sendo 16 referentes à motivação intrínseca e 16 a extrínseca. Cada afirmação é respondida através de uma escala tipo Likert de alternativas. A escala Likert é um tipo de escala de resposta psicométrica usada comumente na pesquisa educacional. Ao responderem a um questionário baseado nesta escala, os entrevistados especificam seu nível de concordância ou discordância escolhendo uma das cinco (5) alternativas de respostas: concordo muito, concordo, estou em dúvida, discordo e discordo muito (MARKUSIC, 2009). O questionário aplicado apresenta ainda duas questões abertas, ou seja, questões de múltipla escola com oportunidade para justificativa. Para análise estatística, inicialmente foi realizada uma abordagem quantitativa para verificar as freqüências, médias e diferenças estatísticas entre as alternativas de resposta do questionário. Após, foi realizada uma abordagem qualitativa para buscar uma compreensão específica das questões fechadas e aberta que constituem o questionário. Para análise do questionário, realizou-se a verificação da concordância ou discordância de cada uma das alternativas das questões 1, 2 e 3, através da obtenção 28 da média aritmética da pontuação atribuída às respostas. Os valores menores que três (3) foram considerados como concordantes e maiores discordantes. Antes da análise de diferenças de variáveis, aplicou-se o teste de aderência de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk (COSTA, 2004) para verificar a distribuição das variáveis de estudo. Todas as variáveis analisadas não apresentaram distribuição normal, para verificar as diferenças estatisticamente, foi utilizado o teste de Wilcoxon (Costa, 2004), com nivel de significância de p<0,05. Para todas as análises utilizou-se o software PASW Statistic 18. O PASW, antigo SPSS, é um software aplicativo de análises estatística e manuseamento de dados, desenvolvido pela SPSS Inc. (FERREIRA, 1999). APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A Tabela 1 apresenta a média das respostas dos indivíduos para cada uma das questões de motivação extrínseca, aplicado no pré-teste. Médias menores que 3 são consideradas como concordantes e maiores que 3 como discordantes da questão. Tabela 1 – Média das respostas das questões de motivação extrínseca do pré-teste. Questões Itens Faz parte do currículo da escola Participo das aulas Estou com meus amigos de Educação Meu rendimento é melhor do que o de meus colegas Física porque Preciso tirar boas notas Esqueço das outras aulas O professor e/ou meu colegas reconhecem minha Eu gosto atuação das aulas de Educação Física Sinto-me integrado ao grupo quando Minhas opiniões são aceitas Saio-me melhor que meus colegas Não me sinto integrado ao grupo Não simpatizo com o professor O professor compara meu rendimento com o de outros Não gosto da Meus colegas zombam de minhas falhas aula de Educação Alguns colegas querem demonstrar que são Física quando melhores que os outros Tiro nota ou conceito baixo Minhas falhas fazem com que eu não pareça bom para o professor x 2,79 2,32 3,74 3,53 2,58 2,68 1,74 3,47 3,32 2,58 3,95 3,00 2,58 2,16 3,74 3,32 29 A incidência de concordância da primeira questão do pré-teste mostra que os alunos participam das aulas de Educação Física regular, sem o uso do videogame como atividade motivadora, predominantemente porque faz parte do currículo e também porque estão com seus amigos. A discordância incidiu sobre as alternativas de “meu rendimento é melhor do que o de meus colegas” e de “preciso tirar boas notas”. Na segunda questão, observou-se que os alunos gostam das aulas principalmente quando se sentem integrados ao grupo, bem como quando se esquecem das outras aulas e quando o professor e/ou colegas reconhecem sua atuação. A discordância, na questão, demonstrou maior incidência nas alternativas “saio-me melhor que meus colegas” e “minhas opiniões são aceitas”. Na terceira questão, “não gosto das aulas de Educação Física quando”, houve maior incidência de concordância nas alternativas em que há relação com os colegas: “alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros”, “não me sinto integrado ao grupo” e “meus colegas zombam de minhas falhas”. A discordância foi apresentada nas demais alternativas, relacionadas ao professor e a nota ou o conceito baixo. Na tabela 2, é apresentado a média das respostas dos alunos para cada uma das questões de motivação extrínseca no pós-teste, realizado após as aulas com atividades rítmicas do videogame. Tabela 2 - Média das respostas das questões de motivação extrínseca do pós-teste. Questões Participo das aulas de Educação Física porque Eu gosto das aulas de Educação Física quando 30 Itens Faz parte do currículo da escola 3,58 p 0,153 Estou com meus amigos 1,74 0,057 Meu rendimento é melhor do que o de meus colegas 3,47 0,232 Preciso tirar boas notas 3,84 0,221 Esqueço das outras aulas 3,37 0,031 O professor e/ou meu colegas reconhecem minha atuação 1,89 0,006 Sinto-me integrado ao grupo 1,42 0,294 Minhas opiniões são aceitas 2,11 0,003 Saio-me melhor que meus colegas 2,42 0,036 x Não gosto da aula de Educação Física quando Não me sinto integrado ao grupo 4,05 0,001 Não simpatizo com o professor 4,21 0,160 O professor compara meu rendimento com o de outros 3,58 0,135 Meus colegas zombam de minhas falhas 3,79 0,009 Alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros 3,37 0,009 Tiro nota ou conceito baixo 4,47 0,079 Minhas falhas fazem com que eu não pareça bom para o professor 4,21 0,021 Na primeira questão do pós-teste, diferentemente do pré-teste, apresenta-se concordância apenas na alternativa de estar com os amigos. Com discordância nas demais. Apesar de apresentarem diferenças entre o pré e o pós-teste, essas não foram estatisticamente significativas em nenhuma das alternativas. Este fato demonstra que a concordância da participação dos alunos nas aulas de Educação Física, tanto com a utilização do videogame, como mídia motivadora ou sem a utilização, vem ao encontro dos objetivos da Educação Física de desenvolver as relações pessoais e os aspectos sociais, para formarem sujeitos cooperativos e críticos. A concordância dos alunos no pré-teste, de participarem das aulas porque faz parte do currículo, pode demonstrar uma das características, ainda atuais, no contexto escolar: não se pode optar por esta ou outra aula. A discordância dessa alternativa no pós-teste também demonstra isso, pois os alunos puderam optar em participar do projeto. A segunda questão do pós-teste demonstrou que houve discordância apenas na alternativa “esqueço das outras aulas” e concordância com as demais alternativas, resultado este diferente do pré-teste, havendo diferenças significativas (p<0,05) entre o pré e pós-teste em quase todas as alternativas, com exceção da alternativa “sinto-me integrado ao grupo”. Essas diferenças mostram que os alunos gostam mais extrinsecamente da prática de Educação Física quando aplicadas atividades rítmicas do videogame. A maior motivação extrínseca foi pela aceitação das suas opiniões e a comparação do rendimento com o dos colegas. Na questão 3 do pós-teste, observa-se que em todas as alternativas houve discordância por parte dos alunos, demonstrando que diferente do pré-teste os alunos 31 apresentaram não ter motivos extrínsecos para não gostarem da aula de Educação Física quando aplicado as atividades rítmicas do videogame. Observa-se, também, que houve diferença significativa nos itens: “não me sinto integrado ao grupo”, “meus colegas zombam de minhas falhas”, “alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros” e “minhas falhas fazem com que eu não pareça bom para o professor”. A discordância no pré-teste das alternativas correspondentes a relacionamentos com os colegas e o não aparecimento destes no pós-teste demonstra que durante as aulas de Educação Física regular parece haver problemas de relacionamentos na turma, o que não aconteceu quando praticaram atividades rítmicas com a mídia videogame. Com esses resultados pode-se inferir que aumentou a motivação extrínseca do pós-teste em relação ao pré-teste, pois em 10 alternativas houve diferenças estatisticamente significativas. Ainda, dessas 6 alternativas podem ser consideradas positivas, sendo: na questão 2, nas alternativas “o professor e/ou colegas reconhecem minha atuação” e “minhas opiniões são aceitas”, nas quais houve maior frequência de concordância, demonstrando assim, um aumento da relação positiva de afeto e aceitação pelo grupo e professor; na questão 3, nas alternativas “não me sinto integrado ao grupo”, “meus colegas zombam das minhas falhas”, “alguns colegas querem demonstrar que são melhores que os outros” e “minhas falhas fazem com que eu não pareça bom para o professor” houve maior frequência de discordância demonstrando novamente um provável aumento das manifestações de relações positivas de afeto e aceitação. A Tabela 3, apresentada a seguir, apresenta a média das respostas das questões de motivação intrínseca aplicada no pré-teste. Tabela 3 - Média das respostas das questões de motivação intrínseca do pré-teste. Questões Itens Gosto de atividades físicas 2,05 As aulas me dão prazer 2,32 Gosto de aprender novas habilidades Participo das aulas de Educação Física porque Acho importante aumentar meu conhecimento sobre esporte e outros conteúdos Sinto-me saudável com as aulas 32 x 2,11 2,26 2,68 Eu gosto das aulas de Educação Física quando Não gosto da aula de Educação Física quando Aprendo uma nova habilidade 2,16 Dedico-me ao máximo à atividade 1,84 Compreendo os benefícios das atividades propostas em aula 2,26 As atividades me dão prazer 1,74 O que eu aprendo me faz querer praticar mais 1,63 Movimento o meu corpo 2,00 Não consigo realizar bem as atividades 2,79 Não sinto prazer na atividade proposta 4,58 Quase não tenho oportunidade de jogar 2,58 Exercito pouco o meu corpo 3,84 Não há tempo para praticar tudo o que gostaria 2,37 Pode-se observar, através da tabela 3, que houve concordância dos alunos apenas na questão “não gosto da aula de Educação Física quando”, nas alternativas “não sinto prazer na atividade proposta” e “exercito pouco o meu corpo”. Houve discordância nas demais alternativas e questões. Já no pós-teste, como apresentado a seguir pela tabela 4, nas questões intrínsecas houve discordância também somente na questão “não gosto da aula de Educação Física quando”, em todas as alternativas. Tabela 4 - Média das respostas das questões de motivação intrínseca do pós-teste. Questões Participo das aulas de Educação Física porque Itens Gosto de atividades físicas 1,21 P 0,001 As aulas me dão prazer 1,26 0,001 Gosto de aprender novas habilidades 1,37 0,011 Acho importante aumentar meu conhecimento sobre esporte e outros conteúdos 1,79 0,146 Sinto-me saudável com as aulas 1,47 0,001 x 33 Eu gosto das aulas de Educação Física quando Não gosto da aula de Educação Física quando Aprendo uma nova habilidade 1,42 0,005 Dedico-me ao máximo à atividade 1,68 0,564 Compreendo os benefícios das atividades propostas em aula 1,95 0,083 As atividades me dão prazer 1,37 0,111 O que eu aprendo me faz querer praticar mais 1,42 0,397 Movimento o meu corpo 1,63 0,052 Não consigo realizar bem as atividades 3,74 0,026 Não sinto prazer na atividade proposta 4,26 0,063 Quase não tenho oportunidade de jogar 3,89 0,002 Exercito pouco o meu corpo 3,84 0,088 Não há tempo para praticar tudo o que gostaria 3,47 0,010 Percebe-se que houve diferença significativa nas 1ª, 2ª, 3ª e 5ª alternativas da questão “Participo das aulas de Educação Física porque” e na 1ª alternativa da questão “Eu gosto das aulas de Educação Física quando”, havendo um percentual maior de concordância no pós-teste em relação ao pré-teste. Já nas alternativas 1ª, 3ª e 5ª da questão “Não gosto da aula de Educação Física quando” houve diferença significativa com concordância menor do pós-teste em relação ao pré-teste. Em relação à questão “Participo das aulas de Educação Física porque”, tanto no pré-teste como no pós-teste, sendo mais significativo no segundo, indicam que os alunos participam das aulas porque gostam de atividades físicas e de aprender novas habilidades, sentem-se saudáveis e satisfeitos e acham importante aumentar seu conhecimento sobre esportes e os demais conteúdos. Esses são considerados aspectos muito importantes para a aprendizagem, pois os alunos sentem-se desafiados, competentes e autodeterminados. Na questão 2, “Eu gosto das aulas de Educação Física quando”, os resultados do pré-teste bem como do pós-teste, demonstram, assim como afirma Kobal (1996), a importância da motivação intrínseca para a aprendizagem e da vivência do prazer nas atividades físicas, uma vez que a média dos escores apontam para a concordância em relação a todas as alternativas. Pela diferença significativa entre o pré-teste e pósteste na alternativa “aprendo uma nova habilidade” verifica-se que quando o aluno é desafiado a aprender uma nova habilidade, que no caso foram as atividades rítmicas 34 com o auxílio do videogame, aumenta-se a competência percebida na motivação do aluno, demonstrando a satisfação em exercitar novas habilidades e ampliar sua capacidade motora. Já na última questão da motivação intrínseca, “Não gosto da aula de Educação Física quando”, a concordância no pré-teste nas alternativas 1ª, 3ª e 5ª demonstra uma preocupação dos alunos com fatores estruturais e individuais que podem dificultar a prática das atividades nas aulas, como a percepção da própria incompetência e a ausência de tempo. Isto não ocorreu no pós-teste, o que pode demonstrar que quando é desenvolvida uma nova habilidade, na qual o grupo de alunos ainda não possui uma vivência não há a percepção de incompetência, ou seja, quando trabalha-se com um grupo mais homogêneo em relação a habilidade desenvolvida, os alunos não demonstram incompetência. Os resultados do pós-teste demonstraram, também, que o tempo para a prática das atividades físicas foi satisfatório. Analisando as diferenças do pré-teste e do pós-teste em relação à motivação intrínseca pode-se verificar que os alunos sentiram-se mais motivados intrinsecamente após as aulas com as atividades rítmicas do videogame. Este fato pode ser constatado através da maior frequência de concordância na 1ª e 2ª questão e maior discordância na 3ª questão do pós em relação ao pré-teste, sendo estatisticamente significativas em oito (8) alternativas. Isso sugere, provavelmente, que as aulas de Educação Física com o auxílio da mídia videogame sejam mais motivantes, o que reafirma o estudo feito por Chiati (2000) sobre motivação nas aulas de Educação Física no ensino médio. O autor aponta que os alunos estão desmotivados a praticarem Educação Física porque possuem uma carência de conteúdos, pois os mesmos têm, principalmente, o desporto como conteúdo desde a 5º série e as aulas são sempre as mesmas, ou seja, a dança, a ginástica, entre outros conteúdos da Educação Física são deixados de lado. Os conteúdos da disciplina contemplam outras modalidades e atividades físicas além dos esportes tradicionais, tendo como objetivo desenvolver outras habilidades. Oliveira e Rodrigues (2008) destacam que os jogos eletrônicos podem ser uma ferramenta pedagógica pois estimulam diferentes inteligências humanas como a espacial. Ainda, segundo o autor, os jogos eletrônicos estão cada vez mais desenvolvendo habilidades corporal-cinestésicas, como por exemplo os jogos de videogame com a presença de controles e consoles cada vez mais físicos, como os tapetes de dança e o videogame Wii, que apresenta um controle baseado no movimento do joystick e não apenas na utilização de botões, uma requisição à coordenação motora. Esses jogos exigem uma tomada de decisão, envolvem a coordenação entre o estímulo visual e a ação 35 voluntária, perspectiva de êxito e fracasso, questões de cooperação e competição, socialização, entre outros. A 4ª questão do questionário perguntava: “Você gosta das aulas de Educação Física?”. Essa questão apresentava uma parte fechada com uma escala de alternativa (gosto muito, gosto pouco, indiferente, não gosto e detesto) e uma parte aberta composta pelas justificativas apresentadas à opção escolhida. As razões expostas foram agrupadas pela afinidade de ideias após analise da questão. As freqüências das respostas estão apresentadas na Tabela 5. Tabela 5 - Percentual das respostas da 4ª questão do pré e pós-teste. Alternativas Pré-Teste Pós-teste “Gosto muito” 47,37 94,74 “Gosto pouco” 42,11 5,26 “Indiferente” 10,53 0,00 “Não gosto” 0,00 0,00 “Detesto” 0,00 0,00 Observa-se que tanto no pré-teste como no pós-teste a alternativa “gosto muito” foi a mais assinalada. Em relação aos motivos apresentados no pré-teste a justificativa concentrou-se principalmente na resposta “porque aprendo a jogar” e em“porque gosto de jogar”, o que revelou, de uma maneira geral, que os alunos possuem uma expectativa pelo jogo na Educação Física. Já no pós-teste, o qual apresentou frequência superior ao pré-teste na alternativa “gosto muito”, a justificativa concentrou-se em “aprendo novas habilidades” e “é divertido e novo”. Percebeu-se, que nas respostas do pós-teste, a questão da diversão e da habilidade nova está mais presente. Isso demonstra que as atividades rítmicas desenvolvidas através do videogame representam uma estratégia que potencializa adequadamente o prazer e o estado de ânimo. Este fato, segundo Tresca e De Rose Jr.(2000), relacionase ao sentido de realização, a satisfação sinestésica presente na prática da dança e às situações que destacam que o caráter de satisfação e divertimento promove envolvimento na atividade. Comparando-se globalmente as questões do pré-teste em relação ao pósteste, pode-se afirmar que, qualitativamente, as locuções do pós-teste são mais ricas 36 em aspectos que permitem maiores oportunidades para a manutenção da motivação, pois trabalham com novas habilidades, desafios e mídias. O desenvolvimento de novas habilidades, desafios e a utilização de mídias apresentam-se como uma nova estratégia de ensino, sendo um campo propício para aprendizagens mais significativas, que contribuem na estrutura psicológica do educando. Constatou-se ainda, através da questão 5, que quase na totalidade do préteste e na do pós-teste os alunos consideram sua aula de Educação Física “ótima”, demonstrando, de maneira geral, que as expectativas dos alunos em relação às aulas de Educação Física estão sendo correspondidas. Segundo Braga (2010), o aluno gosta das aulas de Educação Física porque percebe a importância em sua vida, tanto pela questão da saúde e do bem estar, como pela ludicidade e pela descontração no cotidiano escolar. Ainda, segundo o autor, as aulas de Educação Física são um momento muito desejado pelos alunos pois permitem a interação entre os mesmos, vivências motoras e auto-superação. CONCLUSÕES Analisando-se os resultados deste estudo, conclui-se que os alunos pesquisados mostraram-se mais motivados extrinsecamente e intrinsecamente quando desenvolvidas atividades rítmicas do videogame Play Station 2, com a utilização do controle no estilo de tapete, à pratica de Educação Física. Na comparação da motivação extrínseca, constata-se o aumento das relações positivas de afeto e a aceitação do indivíduo pelo grupo. Já na comparação da motivação intrínseca, verifica-se que os escolares sentem-se mais motivados internamente quando desafiados a aprender uma nova habilidade. Na análise qualitativa, a comparação do pré e pós-teste permitem concluir que as atividades rítmicas do videogame desenvolvidas nas aulas de Educação Física são mais motivantes, pois desenvolvem novas habilidades, novos desafios e trabalham com novas mídias, em contrapartida às aulas normais de Educação Física, nas quais a motivação está apenas relacionada ao prazer pelos esportes. Apesar das atividades rítmicas do videogame apresentarem maior motivação aos alunos nas aulas de Educação Física, a ampla maioria dos mesmos aprecia suas aulas de Educação Física, julgando-as “ótimas” ou “boas”. Considerando-se os resultados desde estudo, sugere-se que as aulas de 37 Educação Física podem ser mais motivadoras com a utilização de mídias como ferramentas pedagógicas. Professores e alunos podem atuar de uma forma diferente da rotina comum na escola e, podem aprender juntos novas formas de utilização das mídias como conteúdo nas aulas de Educação Física. REFERÊNCIAS BRAGA, A. F. Expectativas dos alunos do ensino fundamental em relação à Educação Física. Disponível em : http://cev.org.br/biblioteca/expectativas-dosalunos-ensino-fundamental-relacao-educacao-fisica. Acesso em 22 de março de 2010. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. CHIATI, K. C. Motivação nas Aulas de Educação Física no Ensino Médio. Revista da Educação Física. UEM, Maringá, v.11, n.1, p. 97-105, 2000. COSTA, S. F. Estatística aplicada a pesquisa em educação. Brasília, DF: Plano, 2004. FERREIRA, A. M. SPSS – Manual de utilização. Escola Superior Agrária de Castelo Branco, 1999. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4918180/SPSS-MANUALDE-UTILIZACAO. Acesso em 22 de março de 2010. KOBAL, M. C. Motivação intrínseca e extrínseca nas aulas de Educação Física. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas. Campinas-SP, 1996. MARKUSIC, M. 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O lado positivo do videogame no desenvolvimento cognitivo e físico de crianças/adolescentes e adultos. Disponível em <http://www.cbtm.org.br/ scripts/arquivos/cijncia%20do%20cirebro%20e%20videogames.pdf> Acesso em 17 de out. 2009. TRESCA, R. P.; DE ROSE JR., D Estudo comparativo da motivação intrínseca em escolares praticantes e não praticantes de dança. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v.8, n.1, p. 9-13, janeiro, 2000. 39 A EXPERIÊNCIA DOCENTE NOS ESTÁGIOS CURRICULARES SUPERVISIONADOS I-II-III DOS ACADÊMICOS DA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA DO CEFD/UFSM The experience in teacher training curriculum supervised I-II-III of the academic degree in physical education CEFD/UFSM Ana Paula Facco Mazzocato1, Fabiana Ritter Antunes2, Hugo Norberto Krug3 RESUMO Essa investigação objetivou analisar a relação entre os problemas, os piores momentos, as crises e os momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos Estágios Curriculares Supervisionados (ECS) I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. A metodologia caracterizouse pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. Utilizou-se um questionário e a análise de conteúdo. Os participantes foram 28 acadêmicos, matriculados na disciplina de ECS III. Concluímos que: a) Os problemas sentidos estão relacionados a fatores externos às ações pedagógicas mas que precisam ser enfrentados, sendo amenizados ou solucionados; b) Os piores momentos estão relacionados à insatisfação (frustração) sentida pelos mesmos, principalmente, com as condições de trabalho e alunos difíceis o que origina o insucesso pedagógico; c) As crises sentidas ocorreram em épocas e momentos variados do estágio e foram resultantes de fatores circunstanciais, todavia, as ocorrências delas forem intensamente declaradas no início do estágio, quando intensificado o chamado choque com a realidade escolar; d) Os momentos de ruptura profissional estão intimamente relacionados com o agudizar das dificuldades enfrentadas pelos mesmos em suas práticas pedagógicas. Assim, podemos inferir que existe uma estreita relação entre os elementos pesquisados. Palavras-chave: Educação Física. Formação de Professores. Formação Inicial. Estágio Curricular Supervisionado. Especializanda em Educação Fisica Escolar, Universidade Federal de Santa Maria; Santa Maria/RS. Especializanda em Educação Fisica Escolar, Universidade Federal de Santa Maria; Santa Maria/RS. 3 Doutor em Educação e em Ciência do Movimento Humano, Universidade Federal de Santa Maria; Santa Maria/ RS. 1 2 41 ABASTRACT This research aimed to analyze the relationship between the problems, the worst moments, crises and moments of rupture in the way professional teaching experience in EC) I, II and III by students from the Bachelor in Physical Education CEFD/UFSM. The methodology was characterized by the phenomenological approach in the form of case study with a qualitative approach. We used a questionnaire and content analysis. Participants were 28 students enrolled in the discipline of ECS III. We conclude that: a)The problems that are related to factors external to the pedagogical actions but that must be faced, and resolved or mitigated b)The worst moments are related to dissatisfaction (frustration) felt the same, especially with working conditions difficult students and the teaching that leads to the failure c)The perceived crises occurred in different times and different moments of the stage and were the result of circumstantial factors, however, the crises have been intensively reported in the early stage, when the call was intensified shock with the reality of school d)The moments of rupture professional are intimately related to exacerbate the difficulties faced by them in their teaching. Thus, we can infer that there is a close relationship between the elements investigated. Keywords: Physical Education. Teacher Education. Initial Training. Supervised Practices. INTRODUZINDO A INVESTIGAÇÃO Segundo Carreiro da Costa (1994), a formação profissional de professores é a que acontece nos cursos de Licenciatura, porém formar professores é uma tarefa complexa que requer uma formação sólida para que o professor consiga definir “o que ensina” “porque ensinar”, “para quem ensinar” e “como ensinar”. Nesse sentido, Carreiro da Costa (1994) salienta que a formação inicial corresponde ao período no qual o futuro professor adquire os conhecimentos científicos, pedagógicos e as competências necessárias para enfrentar adequadamente a carreira docente. Ilha; Krug e Krug (2009) ao se reportarem aos estudos sobre o currículo dos cursos de formação inicial de professores, afirmam que é perceptível a importância dada às disciplinas que promovem a atuação do acadêmico no contexto escolar durante a sua formação inicial. Entre estas disciplinas, destaca-se o Estágio Curricular 42 Supervisionado (ECS) que prioriza o conhecimento do meio escolar através de observações, de pesquisas e da prática docente do acadêmico, preparando-o para a sua constituição enquanto professor. Assim, fundamentados no complexo âmbito da formação de professores, deslocamos o nosso interesse para a formação inicial de professores de Educação Física, particularmente para a disciplina de ECS do curso de Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Dentro deste contexto, é importante salientar que a atual grade curricular (2005) do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM prevê o ECS I, II e III nos 5º, 6º e 7º semestres do mesmo, realizados respectivamente no Ensino Médio, nas Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental e nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com carga de 120 horas destinadas a cada estágio, somando-se a estas 360 horas, mais 45 horas de Seminário em Estágio Curricular Supervisionado, no 8º semestre do curso, totalizando então 405 horas. A problemática norteadora dessa investigação é: “Qual é a relação entre os problemas, os piores momentos, as crises e os momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM?” Dessa forma, partimos do pressuposto de que o ECS é um retrato vivo da prática docente e de que o professor-aluno tem muito a dizer e a ensinar, expressando a sua realidade, a de seus colegas de profissão e de seus alunos, que no mesmo momento histórico vivenciam os mesmos desafios e as mesmas crises na escola e na realidade (PIMENTA; LIMA, 2004). Assim o objetivo geral dessa investigação foi analisar a relação entre os problemas, os piores momentos, as crises e os momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. Em decorrência desse objetivo geral, buscamos vislumbrar os seguintes objetivos específicos: 1) identificar os problemas sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM; 2) identificar os piores momentos sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM; 3) identificar 43 as crises sentidas na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM; 4) identificar os momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM; e, 5) identificar a relação entre os problemas, os piores momentos, as crises e os momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. Justificou-se essa investigação por acreditarmos que a mesma pudesse oferecer subsídios para modificações no contexto da formação de professores de Educação Física, particularmente na compreensão do ECS, auxiliando, consequentemente, na melhoria da qualidade da formação inicial. Salientamos que existe uma carência de investigações que abordem o assunto, de forma que esse trabalho poderá suscitar novas pesquisas a cerca do tema. A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO A metodologia empregada nessa investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. Conforme Triviños (1987, p.125), “a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a relatividade social como uma construção humana”. O autor explica que, na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição. Godoy (1995, p.35) coloca: O estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real. De acordo com Goode e Hatt (1968, p.17), “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes estas semelhanças com outros casos ou situações. 44 O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com 5 perguntas abertas, respondido por 28 acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de ECS III. Optamos pelo ECS III por este ser o último estágio dos acadêmicos e, portanto, significar a última experiência com a escola na grade curricular do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. A escolha dos participantes aconteceu de forma espontânea, em que a disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante. A fim de preservar as identidades dos participantes, estes receberam uma numeração de 1 a 28. A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida alguma, o questionário [...], de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como: Conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Godoy (1995, p.23) diz que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”. Para Bardin (1977), a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) a pré-análise; 2ª) a exploração do material; e 3ª) o tratamento dos resultados. OS RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO Os resultados dessa investigação foram explicitados orientados pelos objetivos específicos. 45 Os problemas sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM De acordo com Luft (2000) a palavra ‘problema’ significa uma coisa de difícil solução ou explicação. Assim, consideramos que os problemas sentidos em uma experiência docente significam as situações de difícil solução que os acadêmicos depararam-se na docência. Para Gonçalves (1992) a função do professor (nesse caso do acadêmico, futuro professor) subentende ensinar, isto é, transmitir conhecimentos específicos e diversificados aos alunos, organizar o trabalho em aula, manter a disciplina, estabelecer relações com as pessoas, ter um papel de educador junto aos alunos e, ainda, promover a animação de atividades, o que implica desgaste, fadiga, eventualmente problemas, e, sobretudo, capacidade de integração. Assim, constatamos que a grande maioria dos acadêmicos estudados declararam ter enfrentado eventualmente algum tipo de problema na prática pedagógica nos ECS I, II e III. Foram eles: 1º) A indisciplina dos alunos (*) – Dezessete citações (ECS I= acadêmicos 9 e 28; ECS II= acadêmicos 3; 7; 13 e 21; ECS III= acadêmicos 1; 3; 7; 13; 18; 19; 20; 21; 25; 27 e 28). Segundo Jesus (1999) a indisciplina dos alunos integra todos os comportamentos e atitudes perturbadoras, inviabilizando o trabalho que o professor (nesse caso, o acadêmico, futuro professor) deseja desenvolver; 2º) A falta de interesse dos alunos pelas atividades propostas (*) – Onze citações (ECS I= acadêmicos 12; 15; 18; 20; 21 e 25; ECS II= acadêmicos 11; 15; 16; 20 e 28). Canfield et al. (1995) dizem que o professor de Educação Física tem que despertar o interesse dos alunos para que estes sintam prazer e vejam horizontes na prática de atividades físicas; 3º) A falta de espaço físico para as aulas (*) – Nove citações (ECS I= acadêmicos 1; 2; 8 e 27; ECS II= acadêmicos 1 e 2; ECS III= acadêmicos 9; 11 e 14). Farias; Shigunov e Nascimento (2001) salientam que vários estudos realizados em escolas indicam que existe uma falta de locais, principalmente nas públicas, para as aulas de Educação Física; 4º) A falta de material para as aulas (*) – Seis citações (ECS I= acadêmicos 11 e 19; ECS II= acadêmicos 8; 10 e 27; ECS III= acadêmico 6). Farias; Shigunov e Nascimento (2001) destacam que vários estudos realizados em escolas indicam que existe uma 46 falta de materiais para o desenvolvimento das aulas de Educação Física; 5º) A desvalorização da Educação Física na escola (*) – Seis citações (ECS I= acadêmicos 5; 14 e 23; ECS II= acadêmicos 4; 9 e 23). Conforme Krug (2008) existe uma desvalorização da Educação Física Escolar o que com certeza afeta o clima de trabalho dos professores de Educação Física; 6º) A dificuldade do acadêmico no planejamento das aulas (**) – Seis citações (ECS I= acadêmicos 10; 22 e 26; ECS II= acadêmico 22; ECS III= acadêmicos 22 e 26). Para Cavalheiro et al. (2009) a principal dificuldade dos acadêmicos em situação de estágio é relacionar os objetivos da aula com as atividades a serem propostas e desenvolvidas na própria aula; 7º) A falta de controle/domínio da turma pelo acadêmico (**) – Cinco citações (ECS I= acadêmico 6; ECS III= acadêmicos 10; 16; 17 e 24). Segundo Silva e Krug (2007) os acadêmicos-estagiários em Educação Física vão tendo dificuldades de controle de suas aulas à medida que a faixa etária dos alunos diminui; 8º) A resistência dos alunos às atividades propostas (*) – Quatro citações (ECS I= acadêmicos 4 e 24; ECS II= acadêmicos 6 e 24). Ilha e Krug (2008) destacam que por ocasião do ECS um dos aprendizados é o emprego de estratégias para despertar o interesse e o gosto dos alunos pelas aulas de Educação Física e para tal precisam conhecer a realidade escolar e os seus alunos, bem como trabalhar com os mesmos; 9º) As diferenças individuais dos alunos (*) – Quatro citações (ECS I= acadêmico 3; ECS III= acadêmicos 2; 4 e 12). Segundo Krug et al. (2010) os professores de Educação Física têm enormes dificuldades de trabalhar com as diferenças individuais dos seus alunos, e que esse fato é originado de uma deficiente formação; e, 10º) A falta de conhecimento do acadêmico sobre o conteúdo a ser ministrado (**) – Duas citações (ECS I= acadêmico 7; ECS II= acadêmico 12). Segundo Lourencetti e Mizukami (2002) o não domínio do conteúdo específico da matéria é um dos dilemas dos professores em suas práticas cotidianas. Ao analisarmos esses problemas, podemos constatar que a minoria deles (6º, 7º e 10º) estão ligados à fatores internos às ações pedagógicas (*), isto é, ligados aos próprios acadêmicos e a maioria deles (1º; 2º; 3º; 4º; 5º; 8º e 9º) estão ligados à fatores externos às ações pedagógicas (**) dos acadêmicos estudados, fato este também encontrado nos estudos de Krug e Ferreira (1998), Krug (1998; 1999a; 1999b; 1999c; 2010e) e Ilha; Krug e Krug (2009). Nesse sentido, Ilha; Krug e Krug (2009) 47 destacam que os acadêmicos de Licenciatura em Educação Física precisam aprender mais conhecimentos, para lidar com as situações conflitantes da prática cotidiana. Dessa forma, é fundamental que os acadêmicos possam aprender a enfrentar os problemas, pois, assim, segundo Krug et al. (2010), ao enfrentar os problemas estarão aprendendo a ser professor. Os piores momentos sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM Para Luft (2000) a palavra “pior” significa o que é inferior, insensato ou errado e, a palavra ‘momento’ significa uma circunstância, uma situação, uma ocasião oportuna. Assim, consideramos que o pior momento em uma experiência docente significa uma situação onde ocorreu algo errado. Perim et al. (2001) e Ilha; Krug e Krug (2009) destacam que os piores momentos na experiência docente dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio são determinadas pelos sentimentos de angústia e frustração frente aos problemas enfrentados na prática docente. E, isso realmente aconteceu com a grande maioria dos acadêmicos participantes dessa investigação nos ECS I, II e III. Nesse sentido, verificamos que as razões que determinaram a ocorrência dos piores momentos na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos foram fundamentalmente de três tipos: 1º) Os alunos difíceis – Quarenta e três vezes os alunos difíceis foram apontados como a razão da ocorrência dos piores momentos na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos. Foram 12 acadêmicos (4; 6; 9; 14; 15; 16; 18; 19; 20; 21; 23 e 25) no ECS I, 15 acadêmicos (1; 2; 3; 6; 7; 9; 10; 12; 14; 15; 20; 21; 23; 27 e 28) no ECS II e, 16 acadêmicos (1; 3; 4; 5; 7; 8; 9; 10; 12; 14; 17; 19; 20; 21; 27 e 28) no ECS III. Sobre essa razão citamos Perim et al. (2001) que destacam que os piores momentos na experiência docente dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio em sua maioria estão relacionados com os alunos difíceis de suas turmas; 2º) A formação deficiente do próprio acadêmico – A razão da ocorrência dos piores momentos na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos citada vinte e uma vezes foi a formação deficiente do próprio acadêmico. Foram 9 acadêmicos 48 (3; 5; 7; 8; 10; 11; 22; 24 e 28) no ECS I, 5 acadêmicos (8; 11; 22; 24 e 25) no ECS II e 7 acadêmicos (2; 11; 15; 18; 22; 24 e 25) no ECS III. A respeito dessa razão mencionamos Garrido (apud KRUG, 2004) que afirma que a formação inicial não pode dar conta da variedade e da complexidade de situações com as quais o futuro professor se defrontará. Nem ele estaria maduro para assimilar todos os desafios que a prática pedagógica coloca; e, 3º) As condições de trabalho difíceis – Oito vezes as condições de trabalho difíceis foram apontadas como a razão da ocorrência dos piores momentos na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos. Foram 3 acadêmicos (1; 2 e 27) no ECS I, 3 acadêmicos (4; 16 e 18) no ECS II e, 2 acadêmicos (6 e 23) no ECS III. Relativamente a essa razão citamos Krug (2008) que diz que a maioria dos professores de Educação Física da rede pública de ensino de Santa Maria manifestou uma insatisfação com as condições difíceis de trabalho. Também constatamos pelos depoimentos dos acadêmicos estudados que houve uma predominância dos piores momentos no início do(s) estágio(s). Esse fato também ocorreu no estudo de Ilha; Krug e Krug (2009). Entretanto, ainda constatamos que uma pequena minoria dos acadêmicos estudados declararam que não houveram piores momentos na experiência docente nos ECS I, II e III. Foram 4 acadêmicos (12; 13; 17 e 26) no ECS I, 5 acadêmicos (5; 13; 17; 19 e 26) no ECS II e, 3 acadêmicos (13; 16 e 26) no ECS III. Essa informação é corroborada por Ilha; Krug e Krug (2009) que constataram que a minoria dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM declararam que ‘não houveram’ piores momentos na experiência docente no estágio pedagógico. Ao analisarmos as razões que determinaram a ocorrência dos piores momentos dos acadêmicos estudados, podemos destacar que, sem dúvida nenhuma, os mesmos estão relacionados à insatisfação (frustração) sentida pelos acadêmicos principalmente com as condições de trabalho e alunos difíceis o que origina o insucesso pedagógico. Nessa direção, Krug (2008) salienta que, historicamente, a Educação Física apresenta condições de trabalho difíceis que são principalmente representadas pela falta de locais adequados para a prática das aulas, assim como, pela falta de materiais apropriados para o desenvolvimento de suas atividades. 49 As crises sentidas na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM Conforme Luft (2000), a palavra “crise” significa uma conjuntura de incertezas e dificuldades, um momento decisivo. Assim, consideramos que a(s) crise(s) sentida(s) em uma experiência docente significa(m) o(s) momento(s) da prática docente que envolvem uma conjuntura de incertezas e dificuldades para o acadêmico. É importante salientar que para essa investigação o sentido de ‘crise’ não representa uma concepção negativa que num primeiro momento esta pode representar. Representa sim o destacado por Ilha; Krug e Krug (2009) de que ‘crise’ relaciona-se a uma desacomodação frequente, que gerou assim, um mal-estar docente. Segundo Esteve (1991), o mal-estar docente pode ser evidenciado pelo desajustamento e insatisfação perante os problemas reais da prática, entre outros fatores. Nesse sentido, Nóvoa (1992) assinala que os professores vivem momentos de grande instabilidade profissional, convivendo com tensões ao lidarem com realidades locais e situações escolares marcadas por fenômenos de exclusão, de agressividade e de conflito social. Dessa forma, inferimos que essa situação também é vivida pelos acadêmicos em situação de estágio. Assim, constatamos que a maioria dos acadêmicos estudados declararam ‘sim’, isto é, ter passado por momento(s) de crise(s). Foram 17 acadêmicos (1; 2; 6; 7; 8; 9; 10; 11; 18; 19; 20; 21; 23; 24; 25; 26 e 27) no ECS I, 15 acadêmicos (1; 2; 4; 6; 9; 10; 11; 12; 13; 20; 21; 22; 23; 24 e 28) no ECS II e, 19 acadêmicos (1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 9; 10; 11; 13; 17; 18; 19; 21; 22; 23; 24 e 28) no ECS III. Essa informação é corroborada por Ilha; Krug e Krug (2009) que constataram que a maioria dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo 1990) do CEFD/UFSM passaram por crise(s) durante o estágio pedagógico do curso. Também constatamos pelos depoimentos dos acadêmicos estudados que houve uma predominância de crise(s) no início do(s) estágio(s). Esse fato vai ao encontro do afirmado por Ilha; Krug e Krug (2009) de que as crises podem ocorrer em momentos variados do estágio e foram resultantes de fatores circunstanciais. Todavia a ocorrência de crises é mais intensamente declarada no início do estágio, quando é intensificado o chamado choque com a realidade escolar. Piccin (2005) e Silva e Krug (2007) colocam que pode ocorrer choque com a realidade da Educação Física Escolar pelos acadêmicos em situação de estágio. Em contrapartida, Krug (2010b) salienta que o choque com a realidade escolar é um dos fatos marcantes do ECS 50 na percepção dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM. De acordo com Onofre e Fialho (1995) a expressão choque com a realidade é uma expressão utilizada para se referir à situação pela qual passam muitos futuros professores e também professores no seu primeiro contato com a docência quando as dificuldades e os problemas vividos no estágio assumem uma dimensão desproporcional. Consequentemente ainda constatamos que a minoria dos acadêmicos declarou ‘não’, isto é, nunca ter passado por crise(s). Foram 11 acadêmicos (3; 4; 5; 12; 13; 14; 15; 16; 17; 22 e 26) no ECS I, 13 acadêmicos (3; 5; 7; 8; 14; 15; 16; 17; 18; 19; 25; 26 e 27) no ECS II e, 9 acadêmicos (8; 12; 14; 15; 16; 20; 25; 26 e 27) no ECS III. Essa informação é corroborada por Ilha; Krug e Krug (2009) que constataram que a minoria dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo 1990) do CEFD/ UFSM não passou por nenhuma crise(s) durante o estágio pedagógico do curso. Ao analisarmos a ocorrência, bem como a não ocorrência de crise(s) pelos acadêmicos estudados, citamos Ilha; Krug e Krug (2009) que destacam que a(s) crise(s) podem ser evitada(s) pelo acadêmico quando este procura durante a sua formação buscar subsídios que o auxiliem a enfrentar os problemas que poderão surgir na sua prática pedagógica no estágio. Dessa forma, esse futuro professor irá conhecer as problemáticas existentes no contexto educacional, e já estará pensando em alternativas para a sua superação. E, quando esse acadêmico se inserir no meio escolar ele já terá um conhecimento prévio do mesmo, evitando assim, o ‘choque com a realidade escolar’. Os momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura do CEFD/UFSM Luft (2000) diz que a palavra ‘ruptura’ significa ação ou efeito de romper, um rompimento e, a palavra ‘momento’ significa uma circunstância, uma situação, uma ocasião oportuna. Assim, consideramos que o(s) momento(s) de ruptura profissional em uma experiência docente significa o rompimento com a profissão professor em uma situação oportuna. Gonçalves (1992) entende ruptura profissional como o corte com a profissão, traduzido no seu abandono ou, ainda, no desejo veemente de tal fato se realizar, mesmo que não concretizado, por razões diversas. 51 Kiriacon (apud GONÇALVES, 1992) coloca que nos momentos de ruptura, geralmente, evidenciam-se os sentimentos de desconforto profissional, tais como tensão, frustração, ansiedade, raiva e depressão que, prolongando-se ao longo do tempo, podem transformar-se numa autêntica síndrome, caracterizada pela exaustão física, emocional e atitudinal. Nessa investigação, o(s) momento(s) de ruptura profissional dos acadêmicos estudados foram representados pelo desejo veemente de abandonar o ECS, mesmo que não concretizado. Assim, constatamos que a minoria dos acadêmicos estudados declarou sim, isto é, ter passado por momento(s) de ruptura profissional na experiência docente nos ECS. Foram 6 acadêmicos (6; 8; 9; 10; 11 e 14) no ECS I, sete acadêmicos (2; 4; 8; 10; 12; 14 e 21) no ECS II e, 8 acadêmicos (3; 4; 5; 6; 18; 19; 21 e 23) no ECS III. Essa informação é corroborada por Ilha; Krug e Krug (2009) que constataram que a minoria dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo 1990) do CEFD/ UFSM tiveram momento(s) de ruptura profissional, isto é, o desejo de abandonar o estágio. Também constatamos que a maioria dos acadêmicos estudados recusou categoricamente, isto é, disseram ‘não’ em seus depoimentos, a idéia de abandono do estágio e/ou da profissão. Foram 22 acadêmicos (1; 2; 3; 4; 5; 7; 12; 13; 15; 16; 17; 18; 19; 20; 21; 22; 23; 24; 25; 26; 27 e 28) no ECS I, 21 acadêmicos (1; 3; 5; 6; 7; 9; 11; 13; 15; 16; 17; 18; 19; 20; 22; 23; 24; 25; 26; 27 e 28) no ECS II e, 20 acadêmicos (1; 2; 7; 8; 9; 10; 11; 12; 13; 14; 15; 16; 17; 20; 22; 24; 25; 26; 27 e 28) no ECS III. Essa informação é corroborada por Ilha; Krug e Krug (2009) que constataram que a maioria dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física (Currículo 1990) do CEFD/UFSM não tiveram momento(s) de ruptura profissional, isto é, o desejo de abandonar o estágio pedagógico do curso. Ao analisarmos a ocorrência, bem como a não ocorrência do desejo de abandonar o ECS pelos acadêmicos estudados, citamos Ilha; Krug e Krug (2009) que destacam que o(s) momento(s) de ruptura profissional está(ão) intimamente relacionado(s) com o agudizar das dificuldades enfrentadas pelos acadêmicos em suas práticas pedagógicas durante o ECS. Quando as dificuldades se intensificam e os acadêmicos não conseguem superá-las, surge um sentimento de insatisfação profissional que leva ao desejo de abandono. Quando as dificuldades enfrentadas são superadas pelos acadêmicos, surge um sentimento de satisfação profissional e, 52 assim não ocorre o desejo de abandono. CONCLUSÃO: UMA POSSÍVEL INTERPRETAÇÃO SOBRE O TEMA DA INVESTIGAÇÃO Estudarmos as experiências docentes dos acadêmicos nos ECS I, II e III da Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM foi fundamental para entendermos a importância dessa disciplina na formação de futuros professores e, também, para sabermos como essa experiência docente colabora para a formação inicial. Segundo Ilha; Krug e Krug (2009), um estudo dessa natureza é importante porque trás à tona as necessidades, os anseios e as dificuldades encontradas pelos acadêmicos e, em contrapartida, tudo aquilo que de positivo foi para eles descobrirem e construírem. Assim, os acadêmicos em seus depoimentos demonstraram que: a) Os problemas sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos estudados, estão relacionados à fatores externos às ações pedagógicas mas que precisam ser enfrentados, sendo amenizados ou solucionados, pois ao enfrentá-los estarão aprendendo a ser professor; b) Os piores momentos na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos estudados, estão relacionados à insatisfação (frustração) sentida pelos mesmos, principalmente, com as condições de trabalho e alunos difíceis o que origina o insucesso pedagógico; c) As crises sentidas na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos estudados, ocorreram em épocas e momentos variados do estágio e foram frutos de fatores circunstanciais, todavia, a ocorrência de crise(s) foi(ram) intensamente declaradas no início do estágio, quando foi intensificado o chamado choque com a realidade escolar; e, d) Os momentos de ruptura profissional na experiência docente nos ECS I, II e III dos acadêmicos estudados, estão intimamente relacionados com o agudizar das dificuldades enfrentadas pelos mesmos em suas práticas pedagógicas. Dessa forma, com esses traços caracterizadores dos problemas, dos piores momentos, das crises e dos momentos de ruptura profissional sentidos na experiência docente nos ECS I, II e III pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM estudados podemos delinear um perfil desse momento da formação inicial que, mesmo não se constituindo de forma linear entre as pessoas, deixaram uma marca de uma etapa da formação cheio de sucessivos e permanentes obstáculos a vencer. Esses obstáculos são, de forma geral, atribuídos, ao sistema escolar, 53 aos professores, ao meio onde estão inseridos, mas, principalmente, às péssimas condições de trabalho e aos alunos difíceis. Assim, nesse perfil ainda podemos destacar que o momento dos ECS I-II-III podem ser marcados de forma negativa, de modo significativo, pelos problemas e piores momentos, originando crises e momentos de ruptura profissional. Mas, fundamentalmente, acreditamos que um adequado enfrentamento dos problemas da prática pedagógica aliado a uma boa preparação profissional, bem como a um trabalho coletivo na escola são fatores que podem ser considerados como uma peça essencial para evitar o surgimento de crises que levem a uma ruptura profissional. Assim, acreditamos que o momento dos ECS I-II-III podem ser marcados de forma positiva, igualmente de modo significativo, pelos melhores momentos que detonam a motivação para o desenvolvimento da carreira de professor. REFERÊNCIAS BARDIN, L. Tradução de Luis Antero Neto e Augusto Pinheiro. Análise de conteúdo. Lisboa: Edição 70, 1977. CANFIELD, M. de S.; XAVIER, B.M.; KRUG, H.N.; ROMBALDI, R.M.; DAMBROS, A.; ZANUZO, M.B.; JAEGER, A.A.; MACHADO, A.S. Os alunos gostam das aulas de Educação Física? In: PEREIRA, F.M. (Org.). Educação Física: textos do XV Simpósio Nacional de Ginástica. Pelotas: Editora UFPEL, 1995. CARREIRO DA COSTA, F.A.A. 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São Paulo: Atlas, 1987. 57 IMPACTO DA REABILITAÇÃO CARDIORRESPIRATÓRIA AQUÁTICA E TERRESTRE ASSOCIADA AO TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO EM PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: RESULTADOS PRELIMINARES Impact of aquatic cardiac rehabilitation and terrestrial associated with inspiratory muscle training in patients with heart failure: preliminary results Camila de Vargas Selaimen1, Stella de Andrade Schirmer1, Bárbara Hermes2, Dannuey Machado Cardoso3, Dulciane Nunes Paiva4, Isabella Martins de Albuquerque4 RESUMO A alta mortalidade e intolerância ao esforço físico em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC), apesar da terapêutica farmacológica, levanta a necessidade de novos tratamentos, como o treinamento físico regular e contínuo. Desta forma este estudo tem como objetivos analisar o impacto de dois programas de reabilitação cardíaca – aquático e terrestre – associados ao treinamento muscular inspiratório (TMI) na força muscular respiratória, capacidade funcional e qualidade de vida em pacientes com ICC controlada. Estudo quase experimental constituído por 12 pacientes (07 homens) com diagnostico clinico de ICC controlada. Após avaliação, 08 pacientes foram alocados ao programa de fisioterapia aquática (FA) e 04 pacientes ao programa de fisioterapia terrestre (FT) ambos associados ao TMI. Avaliou-se a força muscular respiratória (manovacuômetro digital); qualidade de vida (Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire – LHFQ) e capacidade funcional submáxima (teste de caminhada dos seis minutos -TC6M). Cada programa conteve 16 semanas de duração com 2 sessões semanais de exercícios, totalizando 64 atendimentos. Não houve diferença significativa no grupo FA + TMI (p=0,138 e p=0,50) como no grupo FT + TMI (p=0,075 e p=0,463) para os valores de PImax e PEmax respectivamente. A distância percorrida no TC6M em ambos os grupos aumentou significativamente (FA + TMI; p=0,03) (FT + TMI; p=0,028), bem como a QDV (FA + TMI; p=0,043) (FT + TMI; p=0,028). Conclusões: Os resultados preliminares demonstraram o impacto benéfico de ambos os programas no aprimoramento da capacidade funcional submáxima e Alunas do Curso de Fisioterapia da Universidade de Santa Cruz do Sul.Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. 1 Graduada em Fisioterapia, Universidade de Santa Cruz do Sul. Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. 3 Graduado em Fisioterapia, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. Mestrando em Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. 4 Docentes do Curso de Fisioterapia da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. 1 59 qualidade de vida dos pacientes do estudo. Palavras-chave: Reabilitação. Fisioterapia. Insuficiência Cardíaca. ABSTRACT The high mortality and intolerance to physical exercise in patients with congestive heart failure (CHF), despite drug therapy, raises the need for new treatments such as regular and continuous physical training. Therefore, this study aims to evaluate the impact of two cardiac rehabilitation programs - aquatic and terrestrial - associated with inspiratory muscle training (IMT) on respiratory muscle strength, functional capacity and quality of life in stable patients with CHF. Methods: A quasi-experimental study comprising 12 patients (07 men) with clinical diagnosis of stable CHF. After evaluation, 08 patients were allocated to the program of aquatic physical therapy (APT) and 04 patients to the physiotherapy land (PL) both associated with TMI. We evaluated the respiratory muscle strength (digital manometer), quality of life (Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire - LHFQ) and submaximal level of functional capacity (6-minute walk test, 6MWT). Each intervention included 64 sessions for a period of 16 weeks (two times per week). Results: There was no significant difference in APT + IMT group (p = 0.138 and p = 0.50) as in the PL + IMT group (p = 0.075 and p = 0.463) for the values of MIP and MEP, respectively. The distance walked in 6MWT increased significantly in both groups (APT + IMT, p = 0.03) (PL + IMT, p = 0.028) and QOL was also augmented in both programs (APT + IMT, p = 0.043) (PL + IMT; p = 0.028). Conclusions: Preliminary results demonstrate the beneficial impact of both programs in increasing the submaximal functional capacity and quality of life of patients in the study. Keywords: Rehabilitation. Physiotherapy. Heart Failure. INTRODUÇÃO A insuficiência cardíaca (IC) é a via final comum da maioria das cardiopatias. Trata-se de uma síndrome complexa, caracterizada pela incapacidade do coração em gerar débito cardíaco em níveis capazes de atender às necessidades metabólicas do organismo, associada a distúrbios metabólicos, inflamatórios e ativação neurohormonal (BRAUNWALD et al.,1999). Ele representa importante problema de saúde pública, considerando-se a prevalência crescente e os índices de hospitalização associados à alta morbimortalidade (III DIRETRIZ BRASILEIRA DE INSUFICIÊNCIA 60 CARDÍACA CRÔNICA, 2009). As manifestações clínicas associam-se à ativação do sistema nervoso simpático, disfunção endotelial, modificações do sistema músculo esquelético e alterações do controle quimioreflexo ventilatório (YAZBEK JUNIOR et al., 2007). Fadiga, dispnéia e conseqüentemente, intolerância ao exercício são costumeiramente acompanhadas por uma sensação de peso nos membros inferiores e relacionadas à má perfusão da musculatura esquelética em pacientes com baixo debito cardíaco, tais sintomas ocasionam redução da qualidade de vida (QDV) dos portadores da doença (FIGUEROA; PETERS, 2006). Recente revisão sistemática demonstrou que programas de reabilitação cardíaca são seguros e ocasionam importantes benefícios clínicos na qualidade de vida e na redução de re-hospitalização de pacientes com ICC (DAVIES et al, 2010). Entretanto, no Brasil e especialmente na região sul do país são raros os estudos nos quais abordam a questão da reabilitação aquática em pacientes com ICC. Em estudo piloto randomizado, Caminiti et al. (2011) demonstraram em pacientes idosos com ICC que um programa de reabilitação cardíaca aquática foi mais eficaz no aprimoramento da capacidade funcional e do perfil hemodinâmico quando comparado ao programa realizado no meio terrestre. O objetivo desse estudo foi analisar o impacto de dois programas de reabilitação cardíaca - aquático e terrestre - associados ao treinamento muscular inspiratório (TMI) na força muscular respiratória, capacidade funcional submáxima e qualidade de vida (QDV) em pacientes com ICC controlada classe funcional II segundo a New York Heart Association (NYHA). MÉTODO O presente estudo se caracteriza por um delineamento quase experimental. A população foi composta por indivíduos com ICC classe funcional II (NYHA), que estavam em acompanhamento no Ambulatório de Cardiologia do Hospital Santa Cruz, na cidade de Santa Cruz do Sul, no Estado do Rio Grande do Sul. Tais pacientes apresentavam estabilidade clínica superior a três meses e fraqueza da musculatura inspiratória definida como pressão inspiratória máxima (PImax) menor que 70% do predito (NEDER et al., 1999). Foram considerados critérios de exclusão: doença pulmonar, indivíduos com déficit cognitivo e indivíduos fumantes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) sob 61 protocolo 2605/10. Os indivíduos elegíveis foram inicialmente avaliados, segundo o protocolo de avaliação abaixo explanado, e posteriormente randomizados, pelo método de sorteio de envelopes opacos e lacrados, em dois grupos: programa de fisioterapia aquática (FA) associado ao treinamento muscular inspiratório (TMI) e programa de fisioterapia terrestre (FT) associado ao treinamento muscular inspiratório (TMI). Todas as avaliações foram repetidas, nas mesmas condições, ao final do programa sendo realizadas por dois avaliadores, os quais estavam cegados para a intervenção. É importante destacar que as variáveis pré e pós-treinamento foram sempre coletadas pelo mesmo avaliador para cada paciente. A avaliação da força muscular respiratória foi realizada através da aferição da pressão inspiratória máxima (PImax) e da pressão expiratória máxima (PEmax) por manovacuometria digital (MDI modelo MVD 300 Globalmed). Para ambas as pressões foram realizadas cinco manobras, considerando-se o maior valor, e os valores preditos foram calculados segundo Neder et al. (1999). A avaliação da capacidade funcional submáxima foi realizada através do Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6M) de acordo com o protocolo da ATS (2002). Os pacientes foram monitorizados pelo cardiofrequencímetro Polar S810, com registro instantâneo e armazenamento dos valores de frequência cardíaca (FC); os valores de pressão arterial (PA) foram obtidos pelo método auscultatório (esfigmomanômetro aneróide) antes do teste e imediatamente após o término assim como o índice de percepção da intensidade de esforço de Borg. A QDV foi medida com a versão brasileira do questionário de Minnesota (Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire), uma medida doença-específica que avalia as percepções dos pacientes sobre a influência da ICC nos aspectos físicos, socioeconômicos e psicológicos da vida. O programa de treinamento aquático compreendeu 45 minutos de duração em piscina aquecida (31–33ºC), ocorrendo 2 sessões de exercícios por semana, por um período de 16 semanas. O nível de imersão variou da cicatriz umbilical até a altura do processo xifóide, os exercícios foram realizados em piscina aquecida (31°C a 33°C) e cada sessão foi dividida em cinco etapas: 1ª - Aquecimento e alongamento (5 minutos): caminhadas para frente e para trás, realizando turbulência para aumentar a resistência ao deslocamento e alongamento dos principais grupos musculares. 2ª - Exercícios aeróbios: movimentos isotônicos dinâmicos com os membros superiores e inferiores, totalizando 20 minutos, com intervalo de um minuto entre um exercício e outro. A 62 carga de trabalho foi de 60% da freqüência cardíaca máxima 3ª - TMI: realizado com o equipamento de resistência linear pressórica (Threshold IMT, New Jersey, EUA) durante 5 minutos. Durante o treinamento, os indivíduos permaneceram na posição sentada, com o nariz ocluído por um nasoclip, sendo orientados a manter um padrão muscular ventilatório diafragmático, e uma freqüência respiratória aproximadamente em 20 ciclos por minuto. A carga do Threshold IMT foi de 30% da PImax obtida na avaliação inicial, mantendo-se assim até o término do estudo. 4ª – Exercícios de fortalecimento: movimentos em diagonal com a utilização de flutuadores nos membros superiores e inferiores. Foram realizadas 2 a 3 séries de 10 repetições com duração aproximada de 10 minutos e 5ª – Alongamento e relaxamento: movimentos em diagonal com a utilização de flutuadores nos membros superiores e inferiores (5 minutos). O programa de treinamento terrestre, também compreendeu 45 minutos de duração e englobou cinco fases: 1ª - Aquecimento e alongamento (5 minutos): pedaladas na bicicleta vertical e alongamento dos principais grupos musculares. 2ª Exercícios aeróbios: caminhada na esteira ergométrica (20 minutos). 3ª - Treinamento muscular inspiratório: o TMI foi realizado com o equipamento de resistência linear pressórica (Threshold IMT, New Jersey, EUA) durante cinco minutos. Durante o treinamento, os indivíduos permaneceram na posição sentada, com o nariz ocluído por um nasoclip, sendo orientados a manter um padrão muscular ventilatório diafragmático, e uma freqüência respiratória aproximadamente em 20 ciclos por minuto. A carga do Threshold IMT foi de 30% da PImax obtida na avaliação inicial, mantendo-se assim até o término do estudo. 4ª – Exercícios de fortalecimento: Realizados por meio de halteres, banda elástica, mecanoplus e cadeira extensora. Foram realizadas 2 a 3 séries de 10 repetições com duração aproximada de 10 minutos. A intensidade foi ajustada o mais próxima possível de 50% da resistência máxima (1RM). Durante a execução do programa de exercícios terapêuticos, os pacientes foram orientados quanto ao controle respiratório para o desenvolvimento das atividades, com o objetivo de melhor aproveitamento e qualidade das tarefas. 5ª – Alongamento e massoterapia: alongamento e massagens de grandes grupos musculares mantidos por 30 segundos (5 minutos). Para o controle da intensidade dos exercícios aeróbios, tanto no meio aquático quanto no terrestre, foi mantido monitoramento da FC por meio de palpação da artéria radial e pela escala de percepção do esforço de Borg (atividade na intensidade de 2,54 da escala de Borg modificada, a qual equivale a 12-14 da escala de Borg original). A carga de trabalho em ambos os programas foi de 60% da freqüência cardíaca máxima 63 (Fcmáx - calculada pela Fórmula de Karvonen) (WISLOFF et al., 2007). Previamente às sessões, foi realizada a mensuração da PA, frequência respiratória (FR), FC e saturação periférica de oxigênio (SpO2) no repouso. Ao final do atendimento e aos 10 minutos pós-sessão o monitoramento dos sinais vitais foram todos repetidos. Os dados foram apresentados em média e desvio padrão e analisados através do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Sciences, versão 15.0). Para avaliar a normalidade da distribuição da amostra, utilizamos o teste de ShapiroWilk. Os dados referentes à força muscular respiratória, distância percorrida no TC6M e ao escore obtido no questionário de Minnesota foram comparados intra-grupos através do teste de Wilcoxon. O teste Exato de Fisher foi utilizado para comparar os grupos, quanto as variáveis dicotômicas. O nível de significância estatística adotado foi de p<0,05. RESULTADOS A amostra do estudo foi constituída por 12 indivíduos (07 homens) com diagnóstico clínico de ICC controlada classe funcional II (NYHA) (Tabela 01). Após os procedimentos da avaliação inicial, 08 pacientes foram alocados ao programa de fisioterapia aquática (FA) associada ao treinamento muscular inspiratório (TMI) e 04 pacientes foram alocados ao programa de fisioterapia terrestre (FT) associada ao treinamento muscular inspiratório (TMI). É importante mencionar que ambos os programas foram bem tolerados, sendo que sinais e sintomas de intolerância ao exercício não foram observados. Tabela 01 - Características clínicas e funcionais da amostra. FA + TMI (n=08) FT + TMI (n=04) 05/03 02/02 Idade, (anos) 69 ± 5,60 68 ± 6,43 IMC, (Kg/m2) 33,38 ± 4,7 32,48 ± 7,5 Classe Funcional (NYHA) II II Diurético (n) 06 03 Digoxina (n) 07 04 iECA (n) 06 03 Beta-bloqueador (n) 06 03 Sexo, (M/F) FA: Fisioterapia Aquática; FT: Fisioterapia Terrestre; IMC: índice de massa corporal; NYHA: New York Heart Association; iECA: inibidor da enzima conversora de angiotensina. 64 Força muscular respiratória Conforme evidenciado nas Figuras 01 e 02, os resultados demonstraram que não houve incremento significativo na força muscular respiratória tanto no grupo FA + TMI (-86 para -91 cmH2O; p=0,138 e 106 para 121 cmH2O; p=0,50 para os valores de PImax e Pemax, respectivamente) como no grupo FT + TMI (-69 para -90 cmH2O; p=0,075 e 107 para 131 cmH2O; p=0,463 para os valores de PImax e Pemax, respectivamente). Figura 01: Valores da PImax (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. Figura 02: Valores da PEmax (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. 65 Qualidade de vida Observou-se no presente estudo que após os programas, os pacientes evidenciaram um aumento global da qualidade de vida demonstrado pela redução estatisticamente significativa da soma dos valores individuais do LHFQ em ambos os grupos (FT + TMI 22 para 11 pontos; p =0,028) (FA + TMI 27 para 08 pontos; p=0,043) (Figura 03). Figura 03: Valores do escore do Questionário de Minesotta (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. † Diferença estatisticamente significativa no grupo FT + TMI (p=0,028) * Diferença estatisticamente significativa no grupo FA+ TMI (p=0,043) Capacidade funcional submáxima Os resultados do estudo apontaram que houve um incremento significativo da distância percorrida no TC6M tanto pelos participantes do programa de fisioterapia aquática (480 para 505 metros; p=0,03) quanto de fisioterapia terrestre (441 para 487 metros; p=0,028) (Figura 04), evidenciando um aumento da capacidade funcional submáxima nos pacientes da amostra. 66 Figura 04: Valores da distância percorrida no TC6M (média ± DP) para o programa de FA + TMI e para o programa de FT + TMI. † Diferença estatisticamente significativa no grupo FT + TMI (p=0,028) * Diferença estatisticamente significativa no grupo FA+ TMI (p=0,03) DISCUSSÃO A alta morbidade e mortalidade assim como a persistente intolerância ao esforço físico que ocorre nos pacientes com insuficiência cardíaca apesar da terapêutica farmacológica otimizada, levanta a necessidade de pesquisar novas estratégias de tratamento como o treinamento físico regular e continuo (III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica, 2009). Recentemente Erbs et al. (2010) demonstraram em pacientes com ICC avançada que um programa de doze semanas de treinamento físico foi associado significativamente com um aumento do processo de regeneração das células progenitoras endoteliais, prevenção da perda de fibras musculares, neovascularização e aumento da função sistólica do ventrículo esquerdo. Dall’Ago et al. (2006) realizaram um estudo avaliando o efeito do treino muscular inspiratório (12 semanas) em doentes com ICC e fraqueza muscular inspiratória. Após o período de treino foi observada melhoria na PImax, na capacidade funcional e na qualidade de vida dos doentes que realizaram o treino. Além do tamanho amostral, outra provável hipótese elencada, no presente estudo, para o achado da não significância estatística no aumento da força muscular respiratória pode ser o fato da freqüência do TMI ter sido menor do que nos estudos 67 que demonstraram aumento da PImax (DALL’AGO et al., 2006; PADULA et al., 2009). Winkelmann et al. (2009) demonstraram o ganho de força muscular respiratória, obtido após um programa de TMI associado ao treinamento aeróbico (12 semanas, 7 vezes/dia) em pacientes com ICC. Dentro desse contexto é importante destacar, a importante relação entre condicionamento físico e atenuação do metaborreflexo inspiratório em indivíduos saudáveis treinados aerobicamente a qual foi recentemente documentada por Callegaro et al. (2011). Na presente casuística, o motivo pelo qual pode ter ocorrido aumento da força da musculatura respiratória no grupo FA + TMI, o qual não atingiu significância estatística, foi o fato da pressão hidrostática, através da imersão ao nível do processo xifóide, ter proporcionado constante resistência ao diafragma durante a inspiração por todo o período de treinamento da musculatura (RAMOS; ACCACIO; AMBRÓSIO, 2007). A insuficiência cardíaca tem um impacto significativo na redução da qualidade de vida dos portadores desta doença, existindo usualmente uma correlação com a progressão da doença e a classificação funcional segundo a NYHA (GOODLIN, 2009). Belardinelli et al. (1999) em um estudo clássico, utilizaram o instrumento Minnesota Living with Heart Failure Questionnaire (LHFQ) para aferir o impacto do exercício na qualidade de vida de pacientes com ICC. Os autores demonstraram uma diminuição dos escores, avaliados pelo instrumento LHFQ, associado ao incremento da capacidade funcional (BELARDINELLI et al., 1999). Desde então, vários estudos realizados de forma controlada e randomizada tem demonstrado em pacientes com ICC que programas de reabilitação cardíaca aumentam a qualidade de vida, em virtude da diminuição de sintomas específicos e da maior disposição para a realização de atividades de vida diárias (NILSSON et al., 2008; PINA, 2010). No presente estudo, outro provável mecanismo responsável pelo impacto benéfico do programa de fisioterapia aquática na qualidade de vida seriam os efeitos da diminuição da resistência vascular sistêmica e da vasodilatação periférica ocasionados pela imersão em água aquecida (CIDER et al., 2006). Em recente revisão sistemática de oito ensaios clínicos, Hwang et al. (2010) constataram que o treinamento de resistência aumenta a distância percorrida no TC6M em pacientes cardiopatas. Caminiti et al. (2011) têm relatado o aumento da capacidade funcional, avaliada pelo TC6M, em pacientes portadores de IC submetidos a programas de reabilitação cardíaca aquática. Esses autores sugerem que durante 68 a imersão em água aquecida ocorre o efeito do aumento da redistribuição do fluxo de sangue á musculatura periférica, também postulam que a concentração plasmática do hormônio antidiurético (ADH) diminui, contribuindo para o aumento da diurese; da mesma forma ocorrendo a supressão do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Assim, em nosso estudo, parece razoável sugerir que tais efeitos citados anteriormente poderiam ser os responsáveis pelo aumento da capacidade funcional evidenciada por nossos pacientes. Em ultima análise, o aumento na capacidade funcional submáxima evidenciada no presente estudo após os programas de FA + TMI e FT + TMI pode estar relacionado ao ganho de força muscular inspiratória, que possivelmente retardou o desenvolvimento da fadiga muscular diafragmática (Dall’Ago et al., 2006). Corroborando com essa hipótese, Shell et al. (2002) investigaram os efeitos da fadiga muscular inspiratória sobre o fluxo sanguíneo periférico e concluíram que, ao mesmo tempo em que o diafragma entra em fadiga, ocorre uma resposta reflexa de vasoconstrição periférica, cujos autores denominaram de resposta ergorreflexa. Diante desses pressupostos, torna-se mais fácil relacionar o ganho de força muscular inspiratória com a melhora na capacidade funcional. Até onde é do nosso conhecimento, esse é o primeiro estudo que aborda a questão do TMI em imersão em pacientes com ICC, contudo é importante mencionar as limitações desse estudo as quais requerem discussão. Em virtude do delineamento quase-experimental, a extrapolação dos resultados carece de restrições, fazendo-se necessário aumentar o tamanho da amostra bem como a comparação dos resultados entre os grupos. CONCLUSÃO Os resultados deste estudo são preliminares, entretanto demonstramos o impacto benéfico de ambos os programas no aumento da qualidade de vida e capacidade funcional submáxima de pacientes com ICC classe funcional II (NYHA). REFERÊNCIAS AMERICAN THORACIC SOCIETY. ATS Statement: Guidelines for the Six-Minute Walk Test. American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, New York. v. 166, p.111 – 117, mar. 2002. 69 BELARDINELLI, R. et al. Randomized, controlled trial of long-term moderate exercise training in chronic heart failure: effects on functional capacity, quality of life, and clinical outcome. Circulation. 1999;99(9):1173-82. BRAUNWALD, E.; COLUCCI, S.W.; GROSSMAN, W. In: BRAUNWALD, Eugene. Tratado de medicina cardiovascular. 5 ed.; v. 1. Rio de Janeiro: Roca Ltda., 1999. p.472-497; 747. BRITTO, R.; SOARES, S.; LIMA, M. O uso do teste da caminhada de seis minutos na avaliação e no acompanhamento de pacientes com insuficiência cardíaca: revisão da literatura. Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. São Paulo (online), Vol. 14, nº 6, 2004. Disponível em: http://www.educacaofisica.com.br/ biblioteca_mostra.asp?id=3007 Acesso em: 05 de nov.2010. CALLEGARO, C.C. et al. Attenuated inspiratory muscle metaboreflex in endurancetrained individuals. Respir Physiol Neurobiol. 2011;30(1):24-9. CAMINITI, G. et al. Hydrotherapy added to endurance training versus endurance training alone in elderly patients with chronic heart failure: A randomized pilot study. Int J Cardiol. 2011;148(2):199-203. CIDER, A. et al. Immersion in warm water induces improvement in cardiac function in patients with chronic heart failure. Eur J Heart Fail 2006;8(3):308-313. DALL’AGO, P. et al. Inspiratory muscle training in patients with heart failure and inspiratory muscle weakness: a randomized trial. J. Am. Coll. Cardiol. 2006; 47:757 - 763. DAVIES, E.J. et al. Exercise training for systolic heart failure: Cochrane systematic review and meta-analysis. Eur J Heart Fail. 2010;(7):706-15. III DIRETRIZ BRASILEIRA DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA. Arq Bras Cardiol. 2009; 92(6 supl.1):1-71. ERBS, S. et al. Exercise training in patients with advanced chronic heart failure (NYHA IIIb) promotes restoration of peripheral vasomotor function, induction of endogenous regeneration, and improvement of left ventricular function. Circ Heart Fail. 2010;3(4):486-94. FIGUEROA, M.S.; PETERS, J.I. Congestive heart failure: diagnosis, pathophysiology, therapy, and implications for respiratory care. Respir Care. 2006; 51 (4): 403-12. GOODLIN, S.J. Palliative care in congestive heart failure. J Am Coll Cardiol. 2009 28;54(5):386-96. 70 HWANG, C.L.; CHIEN, C.L.; WU, Y.T. Resistance training increases 6-minute walk distance in people with chronic heart failure: a systematic review. J Physiother. 2010;56(2):87-96. JOHNSON, P.H.; COWLEY, A.J.; KINNEAR, W.J.M. 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São Paulo: Atheneu, 2007. p. 555-57. 72 A INFLUÊNCIA DE UM PROGRAMA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NO ESTADO EMOCIONAL DOS INDIVÍDUOS CADASTRADOS NO ESF/ PRIMAVERA The influence of an exercise program physical and emotional state of individuals registered at ESF/Primavera Maria Denise Justo Panda1 RESUMO Pesquisa quase experimental com o objetivo de investigar a influência de um programa de exercícios físicos no estado emocional de seus praticantes. A população foi composta pelos indivíduos cadastrados na ESF/ Primavera de Cruz Alta/RS. O critério de inclusão/exclusão dos sujeitos na amostra foi por espontaneidade após indicação médica e assinatura do termo de compromisso livre e esclarecido. A amostra ficou constituída por 14 indivíduos do sexo feminino com média de idade de 54,64 ± 8,2 anos. Foi realizada a avaliação em uma aula de exercícios físicos orientados com aplicação do instrumento antes e após a sessão. Para a avaliação dos estados de humor foi utilizado o teste POMS (Profile Of Mood States) que avalia 06 estados (Tensão; Depressão; Raiva; Vigor; Fadiga e Confusão Mental). Os dados foram tratados utilizando a estatística descritiva, média e desvio padrão e o teste “t” de student, no programa SPSS. O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UNICRUZ sob o CAAE 0007.0.417.000-11. O estudo concluiu que o programa de exercícios físicos tem uma influência altamente significativa na melhora do estado emocional de seus praticantes, pois dos seis estados de humor apenas um teve aumento significativo nas médias dos escores correspondentes, justamente a variável positiva, o vigor. Isso leva a indicar que o exercício físico interfere justamente no vigor físico que quando aumentado tende a diminuir as variáveis negativas, melhorando significativamente o estado geral de humor. Palavras-chaves: Humor. Atividade Física. ABSTRACT Quasi-experimental research in order to investigate the influence of an exercise program in the emotional state of its practitioners. The population was composed of Drª em Ciência da Educação. Profª do curso de Educação Física/CCS/UNICRUZ/Cruz Alta/RS/Brasil. [email protected] 1 73 subjects enrolled in the FHS / Spring Cruz Alta / RS. The criteria for inclusion / exclusion of subjects in the sample by spontaneous and medically indicated after signing the free and clear commitment. The sample consisted of 14 females with a mean age of 54.64 ± 8.2 years. Evaluation was performed in a class with exercise-oriented application of the instrument before and after the session. For the assessment of mood states POMS test was used (Profile Of Mood States), which assesses 06 states (Tension, Depression, Anger, Vigor, Fatigue and Confusion). The data were processed using descriptive statistics, mean and standard deviation and “t” student in SPSS. The study was approved by the Ethics Committee in Research of UNICRUZ 0007.0.417.000-11 under the CAAE. The study concluded that the exercise program has a highly significant influence in improving the emotional state of its practitioners, because of the six mood states only had a significant increase in mean scores corresponding precisely varável positive, the force. This leads to indicate that physical exercise affects just the physical force that tends to decrease when increasing the negative variables significantly improving the overall mood. Keywords: Humor; Physical Activity. INTRODUÇÃO O homem é originalmente um ser social, mas à medida que avança a idade reduz sua participação na sociedade e o convívio com seus familiares e amigos. Este isolamento (físico) é uma tendência do amadurecimento, onde as crianças estão com as crianças, os jovens com os jovens, os adultos com os adultos, os idosos com os idosos. A comunicação entre as quatro gerações se torna cada vez mais reduzida. É uma situação danosa para todos, mas particularmente pesada com o avançar dos anos. Paradoxalmente, a pessoa em idade pré-idosa sente uma experiência semelhante a do adolescente. Essa fase, no adolescente é entre a juventude e a fase adulta do ser humano, no adulto ocorre quando está à margem da fase idosa, ele enfrenta uma verdadeira crise de identidade durante a qual é afetado em sua auto-estima positiva e na aceitação de si mesmo, levando ao rebaixamento da auto-estima e as inseguranças quanto à identidade. Estes litígios se refletem na autonomia, na liberdade, no convívio social e afetam não apenas a frequência como, também, a qualidade dos relacionamentos interpessoais e dos vínculos afetivos no grupo (GÁSPARI; SCHWARTZ ,2005). As relações pessoais têm se tornado cada vez mais complexas, e muitas pessoas não se sentem satisfeitas e tranquilas em seu convívio familiar e social. Com isso, os níveis de tensão e insegurança vão se tornando significativos, alterando o seu 74 estado de humor. Não há como ignorar que fatores emocionais intervêm sobre fatores físicos e vice-versa. Isto concebe dizer que não podemos abordar a temática de forma fragmentada, mas procurar entender a multidimensionalidade do fenômeno. Ignorar as interrelações e interpolarizações do físico, do social, do psicológico e do espiritual no desenvolvimento do ser humano é realizar uma leitura limitada do humano (REBUSTINI et. al., 2005). Os sentimentos são uma das formas motivadoras fundamentais para a realização de determinado ato que, com muita frequência, se convertem em motivos da conduta do homem (POLITO; BERGAMASCHI, 2003). Deste modo, as emoções, os sentimentos, os afetos, e o humor são os quatro elementos essenciais que constituem a vida afetiva do indivíduo e que fornecem brilho, cor e calor a todas as experiências humanas. As emoções são reações afetivas agudas e momentâneas, geradas por um estímulo significativo seguido por uma descarga somática, enquanto que os sentimentos são estados afetivos e, quando confrontados com as emoções, são mais estáveis e menos intensos. O afeto é a qualidade emocional que está acompanhada de uma representação ou ideia (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). O estado de humor ou o ânimo pode ser definido como o tônus afetivo do indivíduo, que muda a maneira de percepção das vivências reais, aumentando ou diminuindo o impacto destas (DALGALARRONDO, 2000). O humor desempenha, na esfera afetiva, o mesmo papel que a consciência desenvolve na esfera intelectual; portanto, perpassa todo pensamento ou ato intencional, já que estes sempre estão providos de um significado (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005). A emoção se refere a um sentimento específico e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, que levam as diversas tendências de agir. Um estado emocional específico é ditado por determinadas sensações que são dominantes em um dado momento, gerando mudanças comportamentais. Uma determinada emoção torna as pessoas melancólicas, tímidas ou alegres (REBUSTINI, 2005). A multidimensionalidade da emoção pode ser apreciada na abordagem dada por Kleiniginna e Kleiniginna que definem a “emoção como um complexo de interações entre fatores subjetivos e objetivos, mediada pelo sistema neural/hormonal” que pode 75 desencadear quatro fatores, elevar as experiências afetivas como as sensações de ativação, prazer/desprazer; aumentar os processos cognitivos gerais como a percepção dos efeitos das emoções relevantes; ativação expressiva dos ajustamentos fisiológicos para a condição de ativação; e conduzir ao comportamento frequente, mas não permanente, expressivo, objetivo e de adaptação (BOUTCHER, 1991, p.800). A compreensão das emoções pode ser entendida como “um processo complexo que possui componentes cognitivos, psicológicos, comportamentais e experimentais” (BOUTCHER, 1991, p.799). Complementando as colocações acima, o estado emocional afeta a saúde considerando que mente, emoção e corpo não sejam entidades separadas, mas intimamente ligadas (GOLEMAN, 2001). Cabe ressaltar que da mesma forma que têm sido relatados efeitos da atividade física e do exercício sobre os aspectos biológicos e ligados à saúde, as evidências apontam também efeitos sobre os aspectos psicológicos e sociais tais como: melhora do auto-conceito; melhora da auto-estima; melhora do humor; melhora da imagem corporal; desenvolvimento da auto-eficácia; diminuição do estresse e da ansiedade; melhora da tensão muscular e da insônia; diminuição do consumo de medicamentos; melhora das funções cognitivas e da socialização (MATSUDO, 2001). As pessoas sentem-se bem consigo mesmas, após a atividade física, o que pode ser devido a numerosos fatores, como melhora da imagem corporal resultante da perda de peso ou do aumento da massa muscular. Outro aspecto importante se refere a auto-valorização aumentada, decorrente da experiência de domínio, sentida por completar um esforço anteriormente pensado como impossível, ou por ocorrer pela primeira vez. Essas experiências geram estados emocionais positivos e aumentam a auto-valorização (OKUMA, 2002). A diminuição do nível de atividade física, relacionada à idade que acontece nos seres humanos, tem uma base biológica que sustenta que esse declínio na atividade é igualmente observado em várias espécies de animais. Tal declínio é consequência de uma liberação reduzida do neurotransmissor dopamina (associado com a motivação) ou perda dos receptores de dopamina (especificamente o receptor D2 R) que estão associados com alteração de vários parâmetros da locomoção (MATSUDO, 2001). O corpo humano foi feito para o movimento, não para o descanso. O sistema cardiovascular, o metabolismo, ossos, articulações e músculos estão fisicamente 76 adaptados a realizar diretamente atividades em qualquer idade. Os benefícios que os exercícios podem promover se constroem progressivamente por uma prática contínua e sistemática. A prática regular de exercício físico não restringe alterações no desempenho físico e neste sentido o prolongamento do tempo de vida não está assegurado, mas a proteção à saúde nas fases subsequentes está. Talvez, o maior benefício do exercício físico seja o grau de independência que as pessoas fisicamente capazes revelam em sua luta pela sobrevivência do corpo-sujeito do mundo e o reflexo que essa independência proporciona a saúde emocional da pessoa (SIMÕES, 1998). Existem indícios consideráveis de que os exercícios podem adiar ou reduzir a ocorrência de ataques cardíacos, angina, diabetes não depende de insulina, osteoporose e hipertensão. A prática de exercícios também pode produzir uma sensação geral de bem estar, provocando uma melhoria no estado emocional do auto-conceito, da auto-estima e de bem estar, reduzindo a ansiedade, depressão, tensão e os efeitos do estresse (HAYFLICK, 1996). A atividade em geral, seja física ou de outra ordem, é uma variável frequentemente citada na literatura como sendo de grande relevância para a qualidade de vida no passar dos anos. Assim, estar ativo é afastar-se do sedentarismo, uma das causas de quase todas as doenças mais comuns, principalmente as de nível psicosomático (MIRANDA; GODELI, 2003). A relação entre os aspectos psicobiológicos e o exercício físico vem sendo mais estudado nas pesquisas científicas a partir da década de 1970. A influência do exercício físico no tratamento das doenças mentais e na promoção do bemestar mental está enfocado em diversas investigações. Estão evidenciados ainda, consistentes efeitos positivos em aspectos psicobiológicos e em diversas variáveis do bem-estar como humor, ansiedade, auto-percepção, auto-estima, além de resultados positivos em relação ao sono e seus possíveis distúrbios, têm sido documentados (MELLO; BOSCOLO; TUFIK, 2005). O emocional está diretamente ligado a diversos traços do humor já citados, sejam eles negativos (tensão, raiva, fadiga e depressão) ou positivos (auto-estima, vigor e bem-estar). Um aspecto muito relevante quanto aos objetivos e efeitos da atividade física e sua relação com o estado emocional foram citados por autores neste estudo, mas de que forma esse fenômeno ocorre? Considerando essa colocação, relacionando aspectos positivos e negativos da emoção e da forma como o exercício físico pode interferir nessas dimensões do 77 estado de humor, bem como as alusões feitas pelos autores citados no que se refere à relação entre atividade física, a percepção dos níveis de esforço e o estado emocional de seus praticantes é que esta pesquisa tem como objetivo investigar a influência de um programa de exercícios físicos no estado emocional de indivíduos cadastrados em um programa de Estratégias de Saúde da Família. METODOLOGIA Este estudo se caracteriza como uma pesquisa quase experimental, pois investigou a influência da variável independente - exercício físico sobre a variável dependente - estado emocional, sem ter tido condições de estruturar um grupo controle devido às condições do contexto estudado. A população composta por todos os 4.000 indivíduos cadastrados na ESFEstratégias de Saúde da Família do Bairro Primavera, da cidade de Cruz Alta/RS. O critério de inclusão/exclusão dos sujeitos na amostra foi por espontaneidade, após assinar o termo de compromisso livre e esclarecido e por indicação médica. A amostra se formou com quatorze (14) sujeitos cadastrados no ESF/Primavera indicados pela equipe médica e que aceitarem participar do experimento. A escolha pela ESF/Primavera se justifica pelo desenvolvimento dos projetos de extensão do Centro de Ciências da Saúde – UNICRUZ, “Movimento e Ação na ESF/Primavera” do curso de Educação Física e “Prevenção e Reabilitação Cardiorrespiratória na ES/Primavera” do curso de Fisioterapia, proposto pelo Grupo Multidisciplinar em Saúde. (PANDA; KRUG, 2011; CALLEGARO; KRUG, 2011). O contexto estruturado e em plena atividade favoreceu a aplicabilidade da pesquisa. Para a avaliação dos estados de humor foi utilizado o teste POMS (Profile Of Mood States) que avalia 06 estados (Tensão; Depressão; Raiva; Vigor; Fadiga; Confusão Mental). Esse teste foi traduzido por Brandão e colaboradores (1996). Quanto aos procedimentos relacionados à realização dos exercícios físicos, o programa de exercícios, variável independente, teve a duração de uma hora. A sessão seguiu quatro fases: • Fase preparatória: aquecimento e alongamento - 5min. • Fase aeróbica: exercícios aeróbicos de baixa a média intensidade - 30min, utilizando a música para determinar o rítmo e a intensidade dos movimentos . 78 • Fase local: exercícios localizados para os grandes grupos musculares- 20min. • Fase de finalização: exercícios de esfriamento e alongamento- 5min. Quanto aos riscos e benefícios, os participantes da pesquisa não correram nenhum risco porque o programa foi prescrito e orientado conforme as capacidades e necessidades de seus praticantes, não determinou nenhum risco para a sua saúde. Os participantes do estudo são cadastrados no ESF/Primavera e foi solicitado o aval do exame médico atualizado. Foram controlados os parâmetros hemodinâmicos nos indivíduos hipertensos, antes e após o programa de exercícios e a frequência cardíaca estava na zona alvo de treinamento aeróbico, respeitando os limites de segurança. Qualquer desconforto seria encaminhado ao posto de saúde. Os aspectos éticos de pesquisa, envolvendo seres humanos foram respeitados (Resolução nº 196/96 – Conselho Nacional de Saúde). O Estudo teve aprovação CEP - Comitê de Ética em Pesquisa da UNICRUZ sob o CAAE 0007.0.417.000-11. O tratamento dos dados foi através da estatística descritiva, média e desvio padrão e o teste “t” Student com nível de significância de p<0,01 no SPSS. RESULTADOS E DISCUSSÕES Para favorecer o entendimento dos dados adquiridos através da aplicação do teste POMS (Profile Of Mood States) os seis estados avaliados (tensão; depressão; raiva; vigor; fadiga e confusão mental) seguem descritos de forma detalhada. Esse procedimento tem a finalidade de esclarecer os significados de cada uma das seis dimensões mensuradas pelo teste POMS. Este instrumento POMS (Profile Of Mood States), traduzido por Brandão e colaboradores (1996), caracteriza o estado emocional através da avaliação da manifestação de seis variáveis: yy Tensão - Entendida por sentimentos tais como nervosismo, apreensão, preocupação e ansiedade, descritos pelo somatório das variáveis: tenso, agitado, a ponto de explodir, apavorado, intranquilo e nervoso. yy Depressão - É associada a uma baixa auto-estima, caracterizada pelos construtos, falta de esperança, deficiência pessoal, auto - piedade e falta de valorização descrita pelo questionário a partir dos itens: infeliz, arrependido, triste, abatido, sem 79 esperança, desvalorizado, abandonado, desanimado, sozinho, miserável, deprimido, desesperado, inútil, aterrorizado e culpado. yy Raiva - É caracterizada por sentimentos que variam dentro de uma intensidade que pode se intensificar de raiva amena, estendendo-se a um estado de fúria, que está associada com um nervosismo automático; normalmente provoca perturbação do sistema nervoso central. É descrita pelo o somatório dos itens: bravo, mal humorado, resmungão, rancoroso, irritado, ressentido, amargurado, briguento, rebelde, decepcionado, furioso e genioso. yy Vigor: Caracterizado por sentimentos de excitação, energia física e estado de alerta descritos pelos itens: animado, ativo, energético, alegre, alerta, cheio de energia, sem preocupação e vigoroso. yy Fadiga - Entendida a partir dos construtos, cansaço físico e ou mental descritos pelos itens: esgotado, apático, cansado, exausto, preguiçoso, aborrecido, fatigado. yy Confusão mental - É um estado de sentimento elaborado para representar a incerteza associada a um distúrbio ou descontrole geral da atenção e das emoções. Pode ser descrito pelo somatório dos valores das variáveis do questionário: confuso, incapaz de se concentrar, atordoado, desorientado, esquecido. Esse teste foi aplicado em iguais condições para todos os participantes do estudo antes e após uma sessão de exercícios físicos estruturada em aquecimento e alongamento, exercícios aeróbicos com música, exercícios localizados e alongamento e descontração. A tabela a seguir mostra os resultados obtidos. Tabela 1 - Estado Emocional dos sujeitos do estudo. Variáveis Pré - teste x±s Pós - teste x±s P 12,57 ± 6,47 5,07 ± 4,49 0,00 * Depressão 10,28 ± 12,18 2,57 ± 6,08 0,00 * Raiva 13,71 ± 11,78 5,78 ± 5,71 0,00 * Vigor 15,14 ± 3,54 20,00 ± 5,68 0,00 * Fadiga 8,92 ± 6,84 3,35 ± 4,23 0,00 * Confusão Mental 12,14 ± 6,95 7,42 ± 4,60 0,00 * Tensão * Existe diferença altamente significativa ao nível de p ≤ 0,00 80 Como pode ser observado na tabela, o estudo científico mostrou diferença estatisticamente significativa (p≤0,00) em todos os seis estados avaliados Tensão (p≤0,000), Depressão (p≤0,008), Raiva (p≤0,001), Vigor (p≤0,000), Fadiga (p≤0,000) e Confusão Mental (p≤0,000), Panda et al. (2011), em estudo científico, encontrou resultados semelhantes, quando avaliou a Perturbação Total de Humor (PTH) utilizando o método de Cruz e Mota (1997), desenvolvido a partir do teste Profile of Mood States (POMS). Os estudiosos mediram a PTH antes e após um programa de exercício físico orientado e diagnosticaram a influência altamente significativa na melhora da PTH – Perturbação Total do Humor após a prática dos exercícios físicos. Pereira e Gorski (2011) estudaram as percepções e sensações relacionadas ao exercício físico, no humor do dependente químico em tratamento. Foi um estudo que utilizou como instrumento a Escala de Humor de BRUMS, que contém 24 itens referentes ao estado de humor do indivíduo. O sujeito respondeu a escala antes da sessão de exercícios físicos e após a mesma. O grupo foi composto por cinco homens e uma mulher, com menos de 30 anos, dependentes químicos de drogas ilícitas, que participavam do programa de exercício físico no hospital há dois meses. Os itens referentes à escala de humor de BRUMS se mostraram diferentes após a sessão de exercícios com predominância de indicadores de uma tendência à melhora geral no estado de humor. O estudo concluiu que o exercício físico tem associação positiva nas melhoras do perfil humor, e que o programa de tratamento proposto pela Educação Física mostra resultados satisfatórios e convincentes, em relação ao uso de exercício físico no tratamento da dependência química. Importante salientar que Rohlfs (2006) traduziu e validou a Escala de Humor de Brunel (BRUMS – The Brunel of Mood Scale) desenvolvida por Terry e Lane em 2003. A Escala de Humor de Brunel, BRUMS, também foi desenvolvida a partir da versão abreviada do Profile of Mood States (POMS). Stort et al (2006) avaliaram 26 funcionários trabalhadores de uma empresa de São Paulo e encontraram resultados semelhantes a este estudo. O objetivo da pesquisa foi verificar os efeitos da atividade física (ginástica laboral) nos estados de humor no ambiente de trabalho. Os estados de humor foram mensurados através do teste POMS. Nesse estudo ficou evidente que as interferências provenientes da atividade física sobre os estados de humor ficaram claras e denotaram que a atividade física no ambiente de trabalho pode ser uma ferramenta eficiente na tentativa de 81 conduzir o funcionário a uma percepção de bem-estar e, conseqüentemente, melhora no seu desempenho no trabalho. É importante salientar que cinco das dimensões do teste, apresentaram uma diminuição significativa nas médias dos escores correspondentes após a prática do exercício físico, ou seja, os sujeitos apresentaram-se em média menos tensos, menos depressivos, menos raivosos, menos fadigados e menos confusos. No entanto se percebe que na dimensão vigor, considerado a variável positiva do teste, ocorre um aumento significativo nas médias do escore após a prática da sessão de exercícios físicos. O estudo prossegue ilustrando e analisando essa questão de forma mais detalhada. O gráfico a seguir tem a finalidade de evidenciar ilustrando a influência do exercício físico no comportamento dos seis estados de humor que caracterizam o estado emocional dos sujeitos do estudo. 25 20 15 Pré-teste 10 Pós-teste 5 0 Tensão Depressão Raiva Vigor Fadiga Confusão Mental Figura 1 - Influência do exercício físico nos seis estados de humor (POMS) A intenção da representação gráfica é evidenciar que dos seis estados de humor apenas um teve aumento significativo nas médias dos escores correspondentes, justamente a variável positiva do humor, o vigor. Isso leva a indicar que o exercício físico interfere justamente no vigor físico que quando aumentado tende a diminuir as variáveis negativas do estado de humor, tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão mental, melhorando consideravelmente o estado emocional dos que praticam exercícios físicos. Vieira et. al. (2006) realizaram estudo com o objetivo de investigar a relação entre o desempenho esportivo e o perfil do estado de humor dos atletas de voleibol, e concluiram que as equipes masculina e feminina apresentaram o perfil iceberg esperado para atletas de rendimento. 82 Brandão e Rebustini (2002) em estudo sobre estados emocionais de técnicos brasileiros de alto rendimento, utilizando o POMS como instrumento de coleta dos dados, explicam o que é o perfil iceberg e citam William Morgan, psicólogo americano como estudioso do teste POMS. Ele tem utilizado o mesmo como uma maneira de relacionar determinadas características de personalidade com sucesso no esporte. Um estudo realizado com atletas da elite americana de remo, luta e maratona concluiu que em média, os valores obtidos pelos atletas para tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão mental eram substancialmente menores do que a média da população americana não atleta, e substancialmente maior que a média da população no fator vigor. A esta tendência de resultados, William Morgan chamou de “Perfil Iceberg”. Giacobbi et al. (2005) realizaram estudos em laboratório com indivíduos de diferentes grupos de idade. Os resultados mostraram que o exercício físico pode melhorar o humor positivo e reduzir o humor negativo. Indivíduos que se exercitavam menos durante a semana percebiam mais fontes de stress do que aqueles que se exercitavam mais. Os autores salientam que existem crescentes evidências de que uma sessão aguda de exercício é relacionada à redução na ansiedade, sintomas depressivos, humor negativo e ganhos no humor positivo e bem estar. Pereira e Gorski (2011) encontraram aumento, porém não estatisticamente significativo, dos escores dos fatores fadiga e vigor. Salientam o fato de aplicar o instrumento logo após a sessão, esse procedimento não permite aos participantes desfrutaram do período necessário para a recuperação orgânica do gasto energético proveniente dos exercícios, apresentando maior sensação de fadiga após a atividade. No entanto, eles ponderaram, reforçando que, apesar desta maior sensação de fadiga após o exercício, o fator vigor também apresentou uma tendência a aumento, o que leva ao raciocínio de que o exercício físico (agudo) através de seus mecanismos biopsicossociais proporciona ao praticante, apesar do gasto calórico e cansaço, uma melhora no vigor interagindo positivamente no humor. Panda et al. (2011) seguiram o mesmo raciocínio na análise dos resultados que indicaram o aumento do vigor e a redução das outras cinco variáveis, em um estudo utilizando o POMS como instrumento de coleta de dados. Para eles, como o exercício físico produz melhoramentos na energia e força física. Isso quer dizer que o fator positivo do estado de humor, no caso o vigor físico, quando aumentado tem a capacidade de reduzir os fatores negativos do estado de humor, tensão; depressão; raiva; fadiga e confusão mental, melhorando consideravelmente o estado de humor. 83 Abordando o aspecto intensidade do exercício físico, Días (2007) analisou as relações e as diferenças existentes entre o Perfil dos Estados de Humor (POMS) com as variações da carga de treino (intensidade do exercício) e os resultados competitivos obtidos por atletas de Natação em uma amostra de 19 sujeitos, durante 29 semanas, em 15 momentos. Os resultados mostraram que os momentos em que o POMS apresentou melhores resultados no estado de humor dos atletas coincidiu com o período em que a intensidade da carga de treino era menor. Considerando que a sessão de exercícios físicos utilizou a música para o controle da intensidade, mantendo a aula no limiar moderado e refletindo as indicações da pesquisadora, este pode ter sido um fator positivo na condução do estudo e determinante dos resultados obtidos. CONCLUSÃO O estado emocional, caracterizado por variáveis referentes ao estado de humor representadas no estudo pela tensão, depressão, raiva, vigor, fadiga e confusão mental, melhora significativamente após uma sessão de exercícios físicos estruturada em uma hora com intensidade moderada. Esse resultado pode ser explicado pela influência que o exercício físico tem sobre a variável positiva do estado de humor que é o vigor, aumentando-o significativamente. Com isso as dimensões negativas do estado de humor são expressivamente reduzidas conduzindo a pessoa para a melhora considerável do seu estado geral de humor. REFERÊNCIAS BOUTCHER, S. Emotion and aerobic exercise. In: SINGER, R.N.; MURPHERY, M.; TENNANT, L.K. 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Palavras-chaves: Educação Física escolar. Conteúdos cognitivos. Ensino. ABSTRACT This essay aims to socialize teachings procedures of cognitive contents in School Physical Education regular classes. The teaching features the teachers practices and the contents, also identificatory classes are vital of the skills development. This proposition comes from knowing arising from 30 years of experience with Physical Education teacher and researchs with the Middle School, in wich it is appears that modifications highly significant in pre and pos tests. The knowing, along the pratical contents, should applied in didactic spaces, which occur in the stages of introduction and/or finishing school. Keywords: Physical Education. cognitive contents. teaching. Professor-doutor do Departamento de Ginástica e Saúde da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas – ESEF/UFPEL Líder do grupo de pesquisa: Educação Física: educação, saúde e escola 1 87 INTRODUÇÃO Mas, senhores, os que madrugam no ler, convém madrugarem também no pensar. Vulgar é o ler, raro o refletir. O saber não está na ciência alheia, que se absorve, mas, principalmente, nas idéias próprias, que se geram dos conhecimentos absorvidos, mediante a transmutação, por que passam, no espírito que os assimila. Um sabedor não é armário de sabedoria armazenada, mas transformador reflexivo de aquisições digeridas. Ruy Barbosa, Este é um ensaio propositivo, o qual: a) trata especificamente do Ensino Médio; b) possui caráter introdutório - não-acabado como toda criação humana - e delimitado espacialmente; c) origina-se da união entre a experiência docente, de práticas pedagógicas no cotidiano da Educação Física escolar (EFE) por mais de trinta anos com reflexões, estudos e pesquisas; d) centraliza-se no processo de ensino e nos conteúdos e e) objetiva socializar procedimentos de ensino de conteúdos cognitivos em aulas regulares de EFE. Os conteúdos cognitivos descorrem da associação entre a vivência com a EFE e a reflexão visando modificar, inovar, efetivar e otimizar o aprendizado dos alunos. Une o novo, a criação, com o antigo, a repetição, em uma proposta centrada no ensino de conteúdos, elementos fundamentais na efetivação de competências e habilidades. Ocorrendo no âmbito das micro-relações cotidianas, com real proximidade entre professor e alunos, objetiva desenvolvimento do pensamento crítico e a prática continuada. Categorias filosófico-pedagógicas preconizam que durante as aulas é necessário pensar-se na interligação existente entre a forma de desenvolvimento e os conteúdos a serem desenvolvidos. Que considera como essência da disciplina EF o trato didático diferenciado do corpo e do exercício físico-cognitivo como categorias e fenômenos educativos. Que foca-se na formação de pessoas, na melhoria da condição física e intelectual, embasada na interligação entre o possível e o desejado, entre a realidade potencial e realidade concreta e limitante, entre imediato do viver no aqui e no agora dos escolares e o seu futuro, preparação para suas vidas como adultos e idosos. Se a “vida é essencialmente prática”, para a EFE escolar é fundamental que a atividade, o realizado seja o critério de verdade. Se “a prova do pudim está no comê88 lo”, é no fazer, no praticar que se operacionalizam os objetivos e que se efetivam as competências na EFE. E para essa disciplina escolar o praticar implica, objetivamente, em também praticar o conhecimento, em praticar a teoria. Para a Educação Física ser efetivada pedagogicamente, para de fato ser educacional necessita da união da prática com a teoria, com os alunos praticando, exercitando-se, entendendo, refletindo, enfim, agindo e pensando. Para tal se tem como necessidade pedagógica na Educação Física no ensino médio 1) o primado da prática do exercício físico educativo escolar; 2) o qual para ser educativo tem que também ter o tratamento pedagógico do conhecimento; 3) essa interligação da prática com a teoria somente isso é possível com a ação de professor de Educação Física enquanto docente com formação em nível superior; e 4) essa unicidade entre prática e teoria ocorre durante as aulas regulares, em espaços didáticos específicos. O conhecimento, em diversos níveis e sobre diversas temáticas de Educação Física pode ser obtido pelos escolares, dentre outros locais, em bibliotecas ou pela internet e a prática motora pode ocorrer em praias, praças ou quadras esportivas públicas. Porém, nas aulas regulares de Educação Física é que se propicia a mediação pedagógica entre as duas bases, a das ciências humanas (a educação) e das ciências biológicas (o físico). E o conhecimento é uma necessidade pedagógica, pois ele é basilar para a crítica e participação sócio-cultural consciente. Afinal se “a teoria sem a prática é estéril, a prática sem a teoria é cega”. A defesa do ensino cognitivo na EFE implica popularizar a cultura numa esfera mais elevada. A escola necessita trazer pedagogicamente ao aluno o novo, o “nãoescolar”. Tal como outras disciplinas, como a Matemática ou a Física, em que os alunos têm contato com conhecimentos novos, que não fazem parte efetiva de seus cotidianos e que requerem esforços intelectuais, também a Educação Física dispõe de conteúdos que necessitam não apenas esforços físicos, mas também empenhos mentais. OS CONTEÚDOS DE ENSINO E A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Os conteúdos cognitivos de há muito são motivos de estudos na área da Educação. O conhecimento encontra-se, denominado de cognitivo, junto com afetivo e psicomotor, na antiga taxionomia de Bloon et al (1976). Os conteúdos podem se 89 enquadrar como conhecimentos declarativos, procedimentais e condicionais, conforme Alexander;Judy (1988). Eles também aparecem em Coll et al. (1998) tratando dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. E para Zabala (1998) conteúdo de ensino seria tudo quanto se tem que aprender para alcançar determinados objetivos. O conhecimento faz parte do construto de Mosston; Ashworth (1990) citando os canais de desenvolvimento: cognitivo, físico, social, emocional. Ele aparece nos Parâmetros/Orientações Curriculares Nacionais (PCN-OCN, BRASIL, 1999, 2000, 2008) e nas diretrizes para a Educação Física estaduais: Paraná, Minas Gerais e São Paulo. Designados como conteúdos cognitivos, teóricos ou, ainda de conceituais, mesmo que muitos voltados a saúde/atividade física e tratando principalmente de adolescentes, os conhecimentos são abordados, dentre outros, por: Barros (1992), Goulart Pires et al (1997), Darido et al (1999), Guedes et al (2001), Teixeira; Martinoff; Ferreira (2004), Ulasowicz; Peixoto (2004), Carvalho (2005), Barros (2006), Vargas (2009) e Silveira (2010). Porém, na ambiência escolar, os conteúdos cognitivos não são tratados nas aulas ou, quando ocorrem evidenciam deficiências didáticopedagógicas. Estas assertivas se apóiam no conhecimento da realidade do EM, utilizando-se observações sistemáticas de aulas e atividades de EF, análises documentais, entrevistas e questionários com professores e alunos, estudos de intervenção pedagógica e pesquisas de âmbito regional, no estado do Rio Grande do Sul. Focando-se na temática do conhecimento, em publicações diversas, dados recolhidos desde o início dos anos oitenta do século XX (PEREIRA, 1982; 1984; 1988; 1993; 1997; 1998; 1999; 2000; 2003; PEREIRA; BERNÍ 1999; PEREIRA; SILVA, 2004; PEREIRA; MONTIEL, 2004) encontraram-se as seguintes realidades: - Aulas de EF centradas nas práticas esportivas-recreativas, inexistindo espaços para o trato do conhecimento; - Aulas apenas teóricas como as que ocorrem em dias de mau-tempo. - Verbalizações e informes, com linguagem não-científica, de modo informal e assistemático durante o desenvolvimento dos conteúdos práticos de EF; - Contradições pedagógicas, pois nos documentos institucionais e nos discursos docentes da-se importância para a saúde e/ou qualidade de vida, mas não eram nem tratados nas aulas, nem registrados ou avaliados; 90 - Alunos do EM com deficiências cognitivas sobre fundamentos de EF, como: a) História e sociedade; b) Cotidianidade e qualidade de vida; c) Ginástica, esporte e fisiologia; - Manutenção de baixos níveis de conhecimentos pelos alunos do EM, em 1984 e 1998; - Conteúdos cognitivos, como saúde, regras esportivas ou nutrição, disponibilizados apenas para alunos dispensados ou sem vestimenta para as aulas práticas de EF; - Apenas 2,6% de registros como conteúdos teóricos em 2.289 aulas de EF no EM registradas em três diferentes redes de ensino do estado do Rio Grande do Sul. Ainda que tenham ocorridas alterações nas realidades citadas, tristemente o que encontra são mudanças negativas tais como a dispensa de aulas de EF para alunos de última série do EM, existência de apenas uma aula de EF semanal e com dois períodos seguidos; esportes, hegemonicamente o Futsal e com variações adequadas aos espaços escolares, o Voleibol, além do Handebol e o Basquetebol, sendo sinônimos de aulas de EF, relegando a Ginástica e Dança para um plano secundarísimo. E o conhecimento escolar necessita ser pedagogicamente referenciado, metodologicamente planejado, ensinado e avaliado. Ele objetiva a educação com qualidade tendo suporte legal também no artigo nº 35 da Lei nº 9.394, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBN (1996). Os conteúdos, de forma sintética, compreendem o que de fato os alunos aprendem nas escolas. São elementos identificatórios das disciplinas, pois conteúdos como cálculos remetem às aulas de Matemática; mapas tipificam aulas de Geografia e exercícios físicos, como práticas esportivas, referem-se à EF. Ao responderem sobre o que fizeram nas aulas os escolares citam os conteúdos que lhes foi ensinado. E é antiga e verdadeira a afirmação “são nos conteúdos ensinados que se concretizam as idéias pedagógicas”. O entendimento amplo sobre conteúdos de ensino se tem em Libâneo (1999, 128-129): ... são os conjuntos de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Englobam, portanto, idéias, fatos, processos, princípios, leis 91 científicas, regras; habilidades cognoscitivas, modos de atividade, métodos de compreensão e aplicação, hábitos de estudo, de trabalho e de convivência social; valores, convicções, atitudes. Para Coll e Martin (2004, p. 20) os conteúdos escolares são: ... saberes culturais, historicamente construídos e organizados, selecionados em um determinado momento para fazer parte do currículo escolar, devido ao interesse e a relevância que se atribui socialmente a eles. Tradicionalmente os conteúdos de ensino da EF classificam-se em teóricos e práticos. Teoria, do grego “theoria” implica em estudo, em exame, em conhecimentos não ingênuos que se propõem explicar, elucidar e interpretar fenômenos e acontecimentos. O teórico é aqui entendido como sinônimo de cognitivo. Ele refere-se aos conteúdos caracterizados e identificados mais fortemente como “não-motrizes”, não classificados como práticas físicas, práticas motoras. Essa separação entre corpo e mente, com finalidades pedagógicas e diferenciais, também se encontra noutras áreas. Na área médica tem-se a saúde mental e na antropológica, a antropologia física. A utilização de terminologias como: conhecimento, cognitivo, teoria, é intencional por considerá-las como mais apropriadas para a EFE no ensino médio. As questões atitudinais, que perpassam esse texto são entendidas como elementos práticos das situações de ensino-aprendizagem. Afinal, os valores, as atitudes se implementam, em realidade, por ações concretas, práticas, com intervenções dos sujeitos. Sem ação, sem atividade do sujeito, as atitudes e os valores, de fato, não ocorrem. Para que os valores, como a ética, se concretizem, e para que as atitudes se operacionalizem, é necessário ação, atividade humana. Atinente à EFE, os conteúdos cognitivos podem ser exemplificados no aprendizado das regras esportivas. Já os conteúdos práticos se identificariam com a prática motora real, como exercícios ginásticos ou esportivos. Os conteúdos cognitivos implicam em estudo, reflexão, participação intelectual, relativa aos processos mentais de identificação, de análise, de memorização, de associação, solução de problemas, etc. Em contrapartida, os conteúdos práticos se caracterizam pela intervenção eminentemente motriz, com intervenção corpórea, “muscular”, em atividade corporal, sendo o suor, o cansaço conseqüências de sua realização. 92 Os conteúdos em cognitivos devem ir além dos conceitos e/ou das informações. Eles implicam que o aluno tenha aprendizado mental e que através de exercício intelectual, reflita, analise, relacione, compare, julgue e crie. Eles diferem do feedback tal como esse termo é usual na área da aprendizagem motora. No cotidiano da Educação Fìsica com um professor frente a mais de 30 alunos, os conteúdos cognitivos compreendem esclarecimentos, análises, argumentações científicas e culturalmente fundamentadas. São operacionalizados em momentos particulares da aula, os espaços didáticos. Além desses espaços, os conhecimentos também podem ser abordados, cuidadosamente, durante as práticas motoras. Os conteúdos cognitivos são ensinados para toda a turma. Os conteúdos cognitivos têm dupla função. É uma é de ser fim em si mesmo, no imediato como ao esclarecer a técnica apropriada de corrida visando a resistência aeróbica. E também é mediação ao reportar-se ao futuro e importância da manutenção de apropriados índices nesta capacidade física para com a saúde ao longo da vida. Classificam-se os conteúdos cognitivos de EFE, em: a) Específicos: referem-se ao que, ao é constituído o objeto de estudo; b) Justicativos, referentes aos porquês, aos motivos, as razões; c) Metodológicos, referem-se ao como, aos modos, aos procedimentos, as maneiras; d) Subjetivos, referem-se para quem, para os alunos, para os sujeitos; e)Temporais, referem-se quando, em que período de tempo; f) Quantitativos, referentes ao quanto, ao número, as grandezas; g) Materiais, referentes ao com que, aos implementos e instalações; h) Localizadores, referentes a onde, aos locais, às instalações; i) Esclarecedores, interligado aos conteúdos cognitivos justificativos, referem-se ao para que. Como a disciplina Educação Física é composta por elementos de duas áreas científicas: físico pelas biológicas e a educação pelas ciências humanas, vinculados à esta última, os conteúdos cognitivos requerem contemplar temáticas relativas à Filosofia, Psicologia, História, Sociologia, Antropologia e Política, dentre outras. Não confundindo os enfoques políticos com doutrinação ou adestramento, apóia-se na antiga contribuição de Teixeira (1997) - texto dos anos trinta do século XX - que sem política e sem pluralismo não há democracia. O trato didático da política na EFE é 93 uma necessidade pedagógica. Sua abordagem é vital para o desenvolvimento da capacidade crítica, de autocrítica e para a análise da realidade. Tratando da política relacionada com a EFE o professor “não faz a cabeça dos alunos”, nem os trata como se fossem uma platéia cativa e passiva, mas lhes propicia condições de pensar autonomamente, com questionamentos e reflexões. A dimensão biológica da EF tradicionalmente tem uma grande importância, produção do conhecimento e formas de sua divulgação. A temática da Saúde, por exemplo, além de ser Tema Transversal, e fazer parte dos PCN, também compõe linhas de pesquisa cursos de pós-graduação e é título de vários periódicos da área. Disciplinas como Anatomia e Fisiologia fazem parte de todos os currículos de cursos de licenciatura no Rio Grande do Sul (PEREIRA, 2005). Os conhecimentos das ciências biológicos e humanas são pedagogicamente necessários para que a exercitação seja, esclarecida, justificada e propicie a autogestão das aprendizagens dos escolares e elementos para as atividades autônomas futuras. Esses conhecimentos compreendem uma pedagogia de esclarecimentos, de ligação didático-pedagógica entre a prática e a teoria. No EM esses conhecimentos têm por base - sob diversas formas, com ou sem uso de implementos - as práticas ginásticas, esportivas, incluídas as lutas, recreativas e as Danças. Eles também propiciam na articulação da EF com outras disciplinas na efetivação da interdisciplinaridade. A cultura dos povos de compõe a população brasileira podem ser tratados pela História e pela EF, no ensino de esportes como Futebol ou Handebol. Os conhecimentos da EF, diferentemente das tematizações transversais, necessitam ser aprofundados. Bem mais que Temas Transversais, a Ética e a Saúde são elementos inerentes à EF. É pedagogicamente necessário que o esporte escolar tenha prática essencialmente ética, honesta e justa e que saúde dos alunos, no imediato e no futuro, seja um objetivo fundamental das aulas de EF. O desenvolvimento desses conteúdos também contribui para se solidificar a distinção entre aulas regulares de EF no EM de outras práticas gimnico-esportivorecreativas. Eles contribuem para a distinção que praticado, cognitiva e motoramente, na EFE, da Ginástica de academia, Futebol de praia e de situações escolares onde alunos jogam Voleibol para ocupar o tempo destinado para alguma disciplina cujo professor não compareceu. Os conteúdos cognitivos contribuem para a elevação qualitativa das aulas de EF, evidenciando, assim, diversos graus de dificuldade nos 94 processos de ensino e de aprendizagem. A EF unindo a exercitação motora com a cognitiva propõe-se superar a triste realidade de em aulas no EM o ”professor largabol” somente observar seus alunos praticarem, recreativamente, algum esporte coletivo. Assim, os conteúdos cognitivos compreendem bem mais do que informações, como as obtidas junto aos meios de comunicação ou as que são repassadas em conversas em cantinas ou nos recreios. O ENSINO DE CONTEÚDOS COGNITIVOS EM AULAS DE EFE Os conteúdos cognitivos abrangem todas as temáticas e assuntos passíveis de tratamento pedagógico nas aulas de EF. Esses conteúdos, condensados, devido ao espaço didático das aulas, ao serem continuados, reforçados e encadeados, também podem ser estudados pelos alunos noutros momentos, propiciando aprofundamentos e melhorias qualitativas nas aprendizagens. Os conteúdos cognitivos são fundamentais para subsidiar as práticas culturais imediatas e futuras. Para todos os alunos no EM, e particularmente aos que dispõem de menor poder aquisitivo e maiores limitações culturais, é necessário que o ensino seja o mais eficiente possível. Na medida em que as condições sócio-econômico-educativas são mais deficientes a competência docente é mais solicitada. O professor necessita de capacidade de ensino para os escolares sejam ativos em suas aprendizagens, que se esforcem e procurem superar condições de vida adversas. Para uma educação que se diferencia da doutrinação, toda prática e situações de aprendizagem são motivos de dúvida, requerem esclarecimentos e o direito ao erro é fundamental. O ensino cognitivo associado à prática motora difere de meras práticas esportivas ou de discussões abstratas. Jogando Futsal não se aprende sobre a história do esporte. Apenas correndo não se elevam os conhecimentos sobre as melhorias fisiológicas daí decorrentes. E, sentados discutindo sobre questões de gênero e de raça nas práticas gímnico-esportivas os alunos não melhoram nem a aptidão física nem as habilidades motoras. No cotidiano da Educação Básica, o ensino, a ação do docente com seus alunos durante as aulas é o que mais caracteriza e diferencia os profesores de outros trabalhadores. Ensinar é uma ação é inerente as práticas pedagógicas, ao fazer do profesor. Assim, ao centrar-se nos procedimentos privilegia-se o processo, dentre as demais variáveis de ensino propostas por Piéron (1999) e Carreiro da Costa (2000). 95 Aquí, os procedimentos metodológicos se referem ao ensino dos conteúdos teóricos em períodos de tempo didaticamente a isso destinados. E o ensino cogntivo além desses espaços didáticos, também podem ocorrer durante práticas, como as esportivas, com esclarecimentos verbais ou proposições de problemas motrizes. Nas aulas regulares de EFE os conteúdos práticos, motores, necessitam ter prioridade. Porém, obrigatoriamente, completados pelos conteúdos cognitivos. Do total de tempo disponível de aula, destina-se uma maior parte para as práticas motoras, deixando espaço didático para as praticas teóricas. Na EFE, nos processo de ensino-aprendizagem, corporeidade e a exercitação física dos escolares são elementos identificatórios, diferenciais. Sem tempo significativo de exercitação motora por parte dos alunos os benefícios referentes as habilidades e capacidades físicas daí decorrentes ficam comprometidos. Somente nas aulas de EF os escolares dispõem – com finalidades educacionais, em grupos e com a ação pedagógico-didática de professor com formação universitária – condições de, em realidade, educarem seus corpos e mentes. E, a exercitação física educativa, para ser educativa e escolar, para abranger os alunos na sua totalidade requer, didaticamente, a união entre ensino motriz e o intelectual. Se voltar-se somente para o físico, como nas práticas esportivas, o que ocorre com os alunos ambiente escolar não difere, de forma efetiva, de acontecimentos culturais de espaços não-educacionais formais, como em quadra de esportes de clube social. Por outro lado, se nas aulas forem somente propiciadas condições de exercitação mental, com leituras, discussões, análises diversas, também se afastará das especificidades da EF e, com certeza se reforçará o sedentarismo. Sem a exercitação física educativa o que seriam “aulas de EF”, quando focadas somente em abstrações mentais, em verdade estariam mais próximas de unidades de ensino de disciplinas como Filosofia, Sociologia ou Biologia. E, sobre a essência e a objetividade da EFE, “se nessas aulas os alunos não suarem, nem pensarem sobre o que praticam então o que acontece, ou é muito limitado pedagogicamente ou não é aula de EF”. Em aulas de EF com hegemonia das práticas motoras operacionalizam-se procedimentos ensino que requerem a formação de duplas ou de grupos de alunos, como quando compõe equipes esportivas. Essa reunião de alunos que moram em diferentes locais no bairro ou cidade é quase impossível que ocorra com a mesma objetividade fora da escola. Estudando o cotidiano dos escolares, encontrou-se que eles dispõem de espaços para exercitação física em suas residências ou perto delas, 96 porém não o fazem de forma autônoma e metódica (PEREIRA, 1997). A proposição de, em aulas regulares de EF se praticar a teoria, em tratar didaticamente dos conhecimentos inerentes, explícitos ou subliminares as práticas motoras, revela um entendimento pedagógico que se volta para a elevação qualitativa dos processos de ensino-aprendizagem. Didaticamente se exige que os alunos reflitam, questionem-se sobre o que fazem, contribuindo para superar a alienação. Propicia entendimentos, aprofundamentos, facilita a crítica e conduz a que a prática seja uma ação consciente. Implica em práticas pedagógicas diferenciadas que visam alunos com competências, motoras e cognitivas, mais elevadas e criticamente referenciadas. Somente professores com nível superior, em cujas formações foram propiciados conhecimentos, competências e habilidades que atendam aos requisitos dos questionamentos básicos dos conteúdos cognitivos (que, porquê, como, para quem, quando, quanto, com que, onde e para que) podem ensinar, com efetividade, unindo a prática com a teoria. A necessidade de ser licenciado em EF para ensinar conteúdos cognitivos, mais do que uma defesa corporativa, está assentada em Gramsci (1979) quando atentava para que não bastava alguém ter cosido um ovo ou costurado um botão para ser cozinheiro ou alfaiate e que um professor medíocre jamais pode tornar seus alunos mais cultos. Ninguém ensina o que não sabe e a formação de qualidade é uma condição necessária para que existam práticas pedagógicas também qualificadas. Para os cursos de formação de professores de EF são prescritos dimensões que envolvem: ser humano e sociedade, biologia do corpo humano, produção do conhecimento científico e tecnológico, culturas do movimento humano, técnicainstrumental e didático-pedagógica (RESOLUÇÃO CNE/CES nº 7, 2004). E, nesses cursos encontram-se disciplinas vinculadas às Ciências Humanas (História Sociologia, Filosofia) e das Ciências Biológicas (Anatomia, Fisiologia, Biologia), além das daquelas voltadas para a especificidade da Educação Física, como pedagógico-didáticas, psicológicas e técnicas gestuais: esportes, ginásticas, danças, etc. (PEREIRA, 2005). A elevação qualitativa nas aulas de Educação Física porque são necessárias reflexões, interações e historicidade de modo a esclarecer o que é praticado de forma ampla e propiciar, considerando o escasso tempo o aprofundamento temático. A licenciatura em EF é necessária para que o exercicio físico corrida, tal como com os alunos deslocando-se ao redor de uma quadra de Handebol numa escola, seja uma forma de exercitação que se relacione com o treinamento de atletas olímpicos. E também pode motivar reflexões sobre a corrida, prática cultural que vem desde Grécia 97 Antiga até as modernas corridas de rua, comuns as grandes cidades na atualidade. Além de ensinar a correr com a técnica apropriada, o professor de EF precisa ter competências pedagógicas a inter-relacionar com a História e a cultura. Da mesma forma depende de competência do professor de EF em identificar as correntes de pensamentos sociológicos, como com as “clássicas” divisões em: positivismo, marxismo ou weberianismo (CASTRO; DIAS, 1992), e repassar para os alunos. Ao se elevar a condição crítica-cogntiva dos escolares propicia-se competências para escolhas de seus caminhos, de pensar sobre suas existências, no imediato e no futuro. Sem messianismos, nas aulas de EF, incentivando o autoquestionamento contribui-se para que os escolares pensem sobre seus corpos - e em suas vidas e em suas condições sócio-culturais. Ensinando de forma questionadora, permeada pela ética, incentivando os valores democráticos, se auxilia os escolares a pensar e agir de forma reduzir o abismo sócio-cultural existente em nosso país e a superar as mazelas evidenciadas pelas mentes de baixa escolaridade e espírito conservador, tal como é percebido em Almeida (2007). Os conteúdos cognitivos são desenvolvidos em espaços didáticos, pedagogicamente projetados para tal. Eles ocupam parte das aulas de EF previstas nos plano de ensino. No EM, onde cotidianamente um professor de EF tem que lecionar para um grupo de cerca de 30 alunos, essas aulas subdividem-se em quatro partes, que, sinteticamente, incorrem em: 1ª. Parte: Introdução. Apresentação do professor e dos alunos. Cumprimentos, registro da frequência, informes gerais e esclarecimentos sobre objetivos, competências, conteúdos e formas de desenvolvimento da aula. Aditado o espaço didático para o ensino de conteúdos cognitivos tem duração máxima de dez minutos. 2ª. Parte: Preparação psicofísica dos alunos, “aquecimento”. Exercitação psicofísica dos escolares, partindo do calmo para o mais intenso, do fraco para o forte, do simples para o complexo. Duração máxima de dez minutos. Particularmente em dias frios, como no inverno na região Sul do Brasil, esse período será maior que nos dias mais quentes. 3ª. Parte: Parte principal. Com até em três subdivisões, é o elemento identificador da aula Compreende os conteúdos práticos que serão trabalhados. Duração entre 30 e 40 minutos. 4ª. Parte: Finalização, “volta à calma”: Exercitação psicofísica visando o alongamento 98 e relaxamento corporal. Incluído o espaço didático para o ensino de conteúdos cogntivos tem duração máxima de dez 10 minutos. O tempo de aula de EF, particularmente os espaços didáticos para o trato do conhecimento tem que ser usado com eficiência e objetividade. Em acordo com os alunos, se estabelecem normas e formas de participação dos alunos. Havendo necessidade, como para preparar o final de um bimestre/trimestre letivo, utiliza-se toda uma aula para tratar apenas dos conteúdos cognitivos. Como também se pode, esporadicamente, não se tratar do conhecimento, focando-se somente na prática motora. Como o ensino cognitivo ocorre, majoritariamente, nos locais das práticas motoras, o professor utiliza-se como “procedimento-padrão” da exposição-dialogada. Além de atentar sobre a posição dos escolares relativa ao sol e ao vento, dos quatro níveis de voz usuais pelos professores de EF prioriza-se o tom normal. É o mais indicado quando os alunos estão próximos do professores. Ou então o tom alto, quando algum barulho interfere na comunicação, como decorrente de outra aula de EF próxima. Os outros dois tons são o baixo, o cochicho quando se individualiza a informação, ou o gritado, como para transmitir instruções à beira da quadra durante competição esportiva. A organização dos escolares, preferencialmente, é em grande grupo. Com os alunos dispostos em semicírculo. O grau de aprofundamento dos conteúdos cognitivos é adequado aos níveis das turmas do EM. Atenta-se para não simplificar a terminologia nem tampouco a cientificizar em demasia dificultando o entendimento. Desde as primeiras aulas de EF, no primeiro ano do EM os escolares aprendem que o grau de dificuldade não se atém as disciplinas como Matemática ou Física. A EFE também tem formas, conteúdos e níveis de exigência diferenciados. O espaço didático para o ensino cognitivo é ocupado na Introdução, logo após a chamada e os informes, ou na Volta à Calma. Antes do aquecimento e enquanto os alunos alongam ou relaxam o professor trabalha o “componente teórico” da aula. Esse tempo pode se estender para até dez minutos, ou 20% da aula de EF com 50 minutos. Mesmo que se discorde da existência de duas aulas seqüenciais de EF, isso ocorre na realidade escolar. Nesses casos o conhecimento pode ser ensinado na metade desse período. Isso separa a primeira da segunda aula e quebra a monotonia do desenvolvimento de conteúdo prático por dois períodos seguidos. 99 Com os espaços didáticos, no início ou fim das aulas o professor não interrompe as práticas motoras desenvolvidas na parte principal. Então não se diminui a intensidade de um exercício aeróbico, parando os alunos para tratar do comportamento da freqüência cardíaca, nem se interrompe aula com Dança para abordar os componentes humanos de sensibilidade e de cooperação desse conteúdo prático. Os conteúdos cognitivos, os esclarecimentos verbais e/ os textos distribuídos aos alunos, são regularmente retomados e feitas relações durante e com as práticas das aulas. Assim, na parte teórica da aula aborda-se a musculatura mais diretamente envolvida num exercício de agachamento ou num chute no Futsal, durante as práticas ginásticas, como no aquecimento e durante o jogo desse esporte se relembra aos alunos a musculatura envolvida, levando-os a “sentirem” as contrações e os relaxamentos. Coerente com o planejamento, as aulas de EF se implementam de forma seqüencial e articulada. Os conteúdos desenvolvidos uma aula tem continuidade nas unidades de ensino subseqüentes. No início de cada aula é relembrado o que foi tratado anteriormente e sanadas as possíveis dúvidas. A seguir introduz-se um novo conteúdo, começando com perguntas: “como”, “onde”, “quando”, “porque”, “o que entendem por”, “quem pode citar/exemplificar”, “qual a relação”, etc. Depois de um breve tempo para reflexão, oportunizam-se justificativas das afirmações e de pensamentos divergentes, com cuidado para evitar discussões alheias a temática. Mobilizam-se competências docentes e discentes como a capacidade de explanação, motivação dos alunos, exposição de idéias, convivência com posições divergentes, paciência, seriedade, sensibilidade, afetividade. A aceitação do pensamento divergente é uma condição necessária para o efetivo ensino democrático, pluralista. Mesmo evidenciando o correto e errôneo, não trocar a ditadura do desconhecimento pela ditadura do sectarismo. Nos questionamentos, com o ensino problematizador são enfatizados a auto- avaliação e a autonomia dos escolares. Na prática motora e na parte teórica eles são estimulados a pensar naquilo que fazem, como se encontra em Libâneo (1999), a avaliar seus acertos e erros, a produzir variações do que é proposto pelo professor e terem responsabilidade por suas aprendizagens conforme proposta de Mosston e Ashworth (1990). Como “procedimento docente padrão”, se parte de perguntas e se fazem relações com o cotidiano dos escolares. Didaticamente também “duvida-se” de algumas respostas e se reforça o processo de ensino com exemplos ligados à cultura 100 e realidade dos alunos. O docente usa livros, revistas, textos diversos, escrita e desenhos no quadro-negro, exemplifica e demonstra. Finalizando o espaço didático, revisa-se o conteúdo cognitivo desta aula informando o que será tratado no próximo encontro. Mesmo procurando seguir o planejamento do ensino, se numa aula, para qual fora previsto tratar da qualidade de vida, devido a ocorrência de uma situação pedagógica que requer a abordagem da cooperação/solidariedade, o professor posterga o que fora projetado e passa a tratar do novo tema. O planejamento educacional precisa considerar que se trata com pessoas. Sem deixar de buscar o cumprimento do planejado é necessário se dispor de flexibilidade sempre visando a otimização nos processos de ensino-aprendizagem. Para o ensino cognitivo, como para o motriz, o professor precisa estar próximo dos alunos, observando, registrando e potencializando situações pedagógicas. No ensino do Futsal, em situação de jogo, se ocorrer de uma infração grave, o professor, além de assinalar essa falta, anota o ocorrido. No final da aula, no espaço didático para o trato do conhecimento, aborda a Ética, a coerência, a cultura esportiva e a sociedade. A crítica é feita sem criminalizações e sem individualizações. Os alunos podem – e “devem” - errar durante seus processos de aprendizado. A escola é, também, um local onde acontecem erros e se aprende a supera-los. Além dos conteúdos cognitivos desenvolvidos nas aulas incentiva- se a formação de grupos de estudos e o uso da internet para enviar-receber textos e esclarecer dúvidas. Evitando o “copiar-colar” e os textos facilitados, o uso da informática contribui para que o professor distribua e receba tarefas e para que os alunos estudem e socializem seus achados. Tal como em Português ou Geografia, na EF os alunos também têm tarefas para períodos extra-aulas. Eles precisam dispor de cadernosapontamentos e trabalham com textos, oriundos do professor e/ou elaborados por eles mesmos. Para planejar o ensino, preparar aulas, enviar/receber materiais para os alunos e corrigir provas (práticas e teóricas), o professor necessita dispor de tempo pedagógico, condições de trabalho apropriadas. Os conteúdos cognitivos são mais um conteúdo para os alunos e também mais uma ação docente que necessita de competências, tempo, espaço e condições objetivas para sua efetivação. Dentre as competências necessárias ao professor para o ensino cognitivo tem-se, dentre outras, as que Perrenoud (2000) elenca como o conhecimento da 101 disciplina, dos conteúdos e dos objetivos da aprendizagem; os ajustes para os níveis e possibilidades dos alunos; estabelecimento de laços com teorias subjacentes ao aprendizado; o fornecimento de apoio aos escolares com dificuldades e o suscitar o desejo de aprender. Na EF, para contribuir no preparo dos alunos para que tenham melhores condições de vida no futuro, é necessário, além de criticar a realidade do presente também os preparar para algo que ainda não vivenciaram. Contribui-se para direcionar os escolares dos “planos de aula para os planos de vida”. E, para vida - concreta, incerta, sem “segundo tempo”, finita, sonhada e com influências educacionais, econômicas, afetivas, culturais, ambientais, dentre os inúmeros fatores que interferem existência dos alunos/cidadãos – ainda que como possibilidade, como potencialidade, a ética, a saúde, a cultura, a exercitação física continuada, e a busca por viver da melhor maneira possível e pelo maior tempo, podem e devem fazer parte de suas expectativas. RECORTES EMPÍRICOS Para confirmar a eficiência dos procedimentos de ensino com inclusão de conteúdos cognitivos em aulas regulares de EF foram realizados dois estudos escolares do EM: 1º) Durante três bimestres letivos, em instituição com o nível médio, vinculada a rede federal de ensino, realizou em estudo com duas turmas de primeiros anos, subdivididos em grupo experimental (G1) com média de idade de 15,4 anos e grupo controle (G2) cuja média de idade era de 16,8 anos. Previamente, obtiveram-se os consentimentos da direção da instituição, dos professores responsáveis pelas turmas e dos respectivos alunos. Solicitando o máximo de empenho intelectual, no início e ao final da investigação, em sala de aula, cada vez ocupando o tempo regular de 45 minutos, os escolares participaram de uma avaliação teórica de EF, com três temáticas: a) História e sociedade; b) Cotidianidade e qualidade de vida; c) Ginástica e esportes. O acerto de todas as questões por parte dos participantes implicava em nota dez (10). Durante dois trimestres letivos, ambos os grupos, em diferentes dias tiveram três aulas semanais de EF. Eram dois encontros por semana, um com uma aula isolada e outro com duas aulas seqüenciais. Na parte principal dos encontros sob a orientação de seus professores responsáveis, docentes da instituição, os conteúdos foram: - G1: Em 34 encontros. a) Futsal, jogo, com nove ocorrências; b) Ginástica, sete 102 ocorrências: duas de circuito e duas de exercícios localizados e três de caminhadas; c) Voleibol, jogo, seis ocorrências; d) Handebol, jogo, cinco; e) Avaliações, teóricas, quatro; f) Recreação, jogos e brincadeiras: duas; g) Assistência a filme (“A Tormenta”), uma. - G2: Cujo professor de EF não era o mesmo do G1, em 37 encontros os conteúdos foram: a) Ginástica, vinte ocorrências: três de circuito com implementos e dezessete de caminhadas; b) Voleibol, jogo, dez ocorrências; c) Futsal, jogo, sete. Apenas para o G1, sob a orientação do Autor, logo após a realização do registro da freqüência dos escolares, foram inseridos conteúdos cognitivos em 22 encontros de EF. O ensino desses conteúdos cognitivos durou em média 4 minutos e 30 segundos (+ 2:08, máximo de 10 e mínimo de 2 minutos). Seqüencialmente as inserções cognitivas tematizaram: 1) História dos Jogos Olímpicos: enfatizando particularidades sócio-participativas; 2) A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) e direito à prática esportiva; 3) Inter-relações entre a EF e a política; 4) A condição sócio-econômica dos sujeitos, cultura de tempo livre e práticas ginásticas e esportivas; 5) Revisão dos conteúdos; 6) Prática continuada de EF/esportes: aquecimento, importância, formas, constituição e duração; 7) Prática continuada de EF/esportes: volta à calma, formas, constituição e duração; 8) EF, qualidade de vida e saúde: interações e procedimentos no cotidiano I; 9) EF, qualidade de vida e saúde: interações e procedimentos no cotidiano II; 10) Revisão dos conteúdos; 11) Resistência aeróbica: generalidades e procedimentos para o seu desenvolvimento; 12) Freqüência cardíaca máxima teórica calculada: conceito e formas de verificação e cálculos; 13) Resistência aeróbica: benefícios de seu desenvolvimento; 14) Técnicas de corrida aeróbica, noções biomecânicas e respiratórias; 15) Revisão dos conteúdos; 16) Força e resistência muscular localizada: generalidades e formas de desenvolvimento; 17) Força e resistência muscular localizada: benefícios genéricos e posturais; 18) Flexibilidade: importância e generalidades; 19) Flexibilidade: formas de desenvolvimento; 20) Malefícios do sedentarismo I; 21) Malefícios do sedentarismo II; 22) Revisão dos conteúdos. Todos os conteúdos cognitivos eram lecionados em sala de aula. O processo de ensino compreendeu três fases: revisão dos conteúdos do encontro anterior, ensino dos conteúdos previsto para o presente encontro e informação sobre os conteúdos a serem tratados no próximo encontro. O Autor inicialmente fazia perguntas, duvidava de respostas, solicitava comparações e justificativas. Usava o quadro verde e giz 103 para desenhos e gráficos, e demonstrações de sua parte e com a participação de alunos. Eram feitas apalpações e verificações nos próprios escolares como quanto de abordagens anatômicas (de partes/segmentos corporais), biomecânicas (análise de movimentos e pequenos cálculos de momentos de força) ou fisiológicas (verificação da freqüência cardíaca). Depois do 12º encontro o G1 respondeu a prova teórica, formativa. Os resultados revelaram que os procedimentos de ensino estavam tendo sucesso e manteve-se o programado inicialmente. Os resultados da inclusão de conteúdos cognitivos em aulas regulares de EF apresentam-se no quadro a seguir: Quadro 1 - Grupo 1 e Grupo 2, notas médias, iniciais, finais, desvio padrão, notas máximas e notas mínimas e diferenças. Grupos Média Notas Inicial Sd Nota Nota Média Máxima Mínima Final Sd Nota Nota Diferença Máxima Mínima Inic. x Final G1 1,92 1,01 4,0 0,0 6,26 1,41 9,0 3,0 4,34 * G2 1,93 1,06 4,5 0,5 1,93 1,16 4,5 0,5 0,0 * p < 0,0000 O G1 melhorou 226%, diferença altamente significativa estatisticamente contra nenhuma melhora do G2, o qual também não evidenciou elevação quanto a maior nota absoluta, que se manteve em 4,5 pontos. O G1 aumentou a maior nota de 4,0 para 9,0. A menor nota, que no G2 manteve-se em 0,5 pontos, no G1 passou de zero para 3,0 pontos. No G1 também se encontraram melhoras qualitativas nas respostas, referentes ao teor das argumentações. Respostas ingênuas encontradas no préteste, como “política é coisa de ladrão” não mais aparecerem no pós-teste do G1. A correlação de Pearson foi altamente significativa (.003) entre a melhora no teste cognitivo do G1 e a freqüência destes escolares durante o estudo. 2º) Replicou-se o estudo, com a condução do processo a cargo de outro professor de EF de outra instituição do ensino médio da cidade, mantendo-se o mesmo número de aulas de EF. Nesta instituição participaram duas turmas femininas, cujas aulas de EF eram sob a forma de clube de Futsal. Ocorriam em três encontros com duração de 45 104 minutos em três diferentes dias da semana. Tinha a mesma estrutura pedagógica, com o mesmo procedimento de ensino, provas teóricas iniciais e finais e idêntica seqüência de conteúdos cognitivos, mas não se utilizou de grupo controle. Para uma turma, a T1 com média de idade de 16 anos a inserção cognitiva durou em média 3,04 minutos. Para a outra turma, T2, cuja média de idade era 16,8 anos a inserção cognitiva durou em média 3,06 minutos. Os resultados encontrados foram os seguintes: Quadro 2 - Turmas 1 e 2, tempo médio de desenvolvimento de conteúdos cognitivos, percentuais e diferenças estatísticas. Turma Tempo médio de inserção cognitiva % de melhoria cognitiva Diferença estatística Prova inicial x Prova final T1 3:04 minutos 39,6% * * p < 0,001 T2 3:06 minutos 42,9% * * p < 0,001 Em ambos os estudos, cujos alunos eram oriundos das classes menos favorecidas economicamente, também verificou-se que os participantes não alteraram significativamente seu estilo de vida. Mantiveram a exercitação física não-escolar e não alteraram as horas diárias de sono, nem a quantidade e a qualidade das refeições diárias e nem uso de álcool, tabaco ou drogas ilícitas. CONCLUSÕES Contribuindo para superar a problemática, do conhecimento ou ser negado na EF ou fazer parte de aula teórica de EF, propõe-se, planejadamente, inserir conteúdos teóricos em espaços específicos de aulas regulares de EF cuja parte principal são práticas motoras. Didaticamente se une o conhecimento com a prática, tratando, em interação, o sociológico com o fisiológico, o imediato com o futuro, o prático com o reflexivo, o individual com o social, dentre outros pares categóricos. Seu objetivo é a educação de qualidade, formação de adolescentes, muitos dos quais tem no EM a última possibilidade de participarem de aulas de EF cujos professores dispõe de formação universitária. Esta proposição configura-se como uma alternativa pedagógica a qual requer conhecimentos e competências docentes. Basta pouco tempo didático, planejado, 105 ensinado e avaliado, de inserção de conteúdos cognitivos para que em aulas de EF os escolares melhorem seus conhecimentos, propiciando condições intelectuais que visem o pensamento crítico e a prática motora continuada. Se a esse conhecimento se unir, também com metodologia apropriada, momentos para o desenvolvimento de conteúdos ginásticos, é possível a elevação significativa em qualidades físicas, como força e flexibilidade (PEREIRA, 2006). Os procedimentos de ensino de conteúdos cognitivos em aulas regulares de EF também são pedagogicamente sustentados, além da produção intelectual citada, por mais de trinta anos de experiência profissional. Decorre assim, também de muita vivência com a EFE, pois “para fazer uma teoria é preciso muita prática”. Finalmente, sobre metodologia é pertinente se lembrar da clássica proposição de Descartes: ... o meu propósito não é ensinar aqui o método que cada um deve adotar para guiar acertadamente sua razão, mas somente mostrar de que forma tenho tratado de guiar a minha. REFERÊNCIAS ALEXANDER, P. A.; JUDY, J. E. The interaction of domain-specific and strategic knowledge in academic performance. Review of Education Research. v.5 8, p. 375405, 1988. ALMEIDA, A. C. A cabeça do brasileiro. Rio de Janeiro: Record, 2007. BARBOSA, R. Oração aos moços. 1920. Disponível em: <www.ebooksbrasil.org> Acesso em agosto de 2010. BARROS, J. M. C. Educação Física de 1º e 2º graus: um estudo dos conteúdos e natureza dos programas. Kinésis, n. 9, p. 97-110, 1992. BARROS, A. M. A prática pedagógica dos professores de educação física e o tratamento da dimensão conceitual dos conteúdos. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2006. 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Os artigos submetidos à BIOMOTRIZ devem preferencialmente enquadrar-se na categoria de Artigos Originais, Artigos de Revisão e Ensaios. Os manuscritos publicados são de propriedade da BIOMOTRIZ, e é vedada tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, bem como a tradução para outro idioma sem a autorização dos Editores. Os manuscritos submetidos que atenderem às normas estabelecidas nas “Instruções aos Autores” e que se apresentarem em conformidade com a política editorial da BIOMOTRIZ serão encaminhados para os Editores de Área que julgarão a aceitabilidade dos mesmos, quanto à sua originalidade, pertinência e relevância. Os manuscritos que não apresentarem mérito na fase de pré-análise serão rejeitados. Os manuscritos selecionados na pré-análise serão submetidos à avaliação de especialistas, os quais trabalharão de maneira independente. Os pareceristas permanecerão anônimos aos autores, assim como os autores não serão identificados pelos mesmos. Com base nas recomendações feitas pelos pareceristas, caberá aos editores a decisão final sobre quais artigos serão publicados. Quando recusados, os artigos serão devolvidos com a justificativa do editor. A revista BIOMOTRIZ está alinhada com as normas de qualificação de manuscritos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e do International Comitee of Medical Journal Editores (ICMJE) Recomenda-se que os trabalhos encaminhados para a Revista BIOMOTRIZ estejam em conformidade com a resolução 196/96 do Ministério da Saúde, que trata do Código de Ética da Pesquisa envolvendo seres humanos. Para os experimentos em animais, considerar as diretrizes internacionais (por exemplo, a do Committee for Research and Ethical Issues of the International Association for the Study of Pain). 111 PROCESSO DE REVISÃO DE MANUSCRITOS Instruções aos autores A submissão dos manuscritos deverá ser efetuada através do e-mail: biomotriz@ unicruz.edu.br e requer que o trabalho não tenha sido publicado e não esteja em avaliação para publicação em outro periódico. Documentos necessários para submissão 1) Carta de encaminhamento do material, contendo: nomes completos e endereço dos autores; 2) Declaração assinada por todos os autores, com o número de CPF, indicando a responsabilidade pelo conteúdo do manuscrito e transferência de direitos autorais (copyright) para a Revista BIOMOTRIZ, caso o artigo venha a ser aceito pelos Editores. Formato do manuscrito A Revista BIOMOTRIZ aceita, no máximo, 10 (dez) autores em um manuscrito. O mesmo deve conter entre 12 e 20 páginas, as citações devem estar no formato da ABNT, com espaçamento de 1.5 entre linhas, Arial 12 para o texto e 10 para notas de rodapé. Margem superior e esquerda de 3 cm e inferior e direita de 2 cm. O manuscrito deve ser elaborado com todas as páginas numeradas consecutivamente na margem superior direita, com início na página de título. Os Artigos Originais devem ser estruturados conforme sequência abaixo: - Página de título e identificação (1ª página). A página de identificação deve conter os seguintes dados: a) Título do manuscrito em português (LETRAS MAIÚSCULAS, em negrito, fonte Arial, tamanho 14, parágrafo centralizado) e em inglês (somente a primeira letra do título em maiúscula, as demais palavras em letra minúsculas exceção para nomes próprios) em itálico, fonte Arial 12, parágrafo centralizado); b) Autor: nome e sobrenome de cada autor, somente a primeira letra do nome em maiúsculas, sem titulação, seguidos por número sobrescrito (expoente), identificando 112 a afiliação institucional/vínculo (Unidade/ Instituição/ Cidade/ Estado/ País, em nota de rodapé); para mais de um autor, separar por vírgula); c) Nome, endereço completo e e-mail dos autores, indicando o autor responsável pelo recebimento das correspondências. - Resumo/Abstract (2º página): Uma exposição concisa, que não exceda 250 palavras em um único parágrafo, em português (Resumo) e em Inglês (Abstract), fonte Arial 11, espaçamento simples e parágrafo justificado. O Resumo e o Abstract devem ser apresentados em formato estruturado, incluindo os seguintes itens: Contextualização (Background), Objetivos (Objectives), Métodos (Methods), Resultados (Results) e Conclusões (Conclusions). - Descritores (Palavras – chaves/Keywords): Termos de indexação ou palavras-chave (máximo quatro), em Português e em Inglês. A Biomotriz recomenda, no mínimo três e no máximo cinco descritores. os quais podem ser consultados no site <http://decs.bvs.br/>. - Corpo do texto: Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão e Conclusão. Os subtítulos devem estar em itens destacados, letra maiúsculas, justificado a esquerda, Arial 12, negrito. INTRODUÇÃO: deve informar sobre o objeto investigado e conter os objetivos da investigação, suas relações com outros trabalhos da área e os motivos que levaram o(s) autor(es) a empreender a pesquisa. METODOLOGIA: descrever de modo a permitir que o trabalho possa ser inteiramente repetido por outros pesquisadores. Incluir todas as informações necessárias ou fazer referências a artigos publicados em outras revistas científicas para permitir a replicabilidade dos dados coletados. RESULTADOS: devem ser apresentados de forma breve e concisa. Tabelas, Figuras e Anexos podem ser incluídos quando necessários para garantir melhor e mais efetiva compreensão dos dados. DISCUSSÃO: o objetivo da discussão é interpretar os resultados e relacioná113 los aos conhecimentos já existentes e disponíveis, principalmente àqueles que foram indicados na Introdução do trabalho. As informações dadas anteriormente no texto podem ser citadas, mas não devem ser repetidas em detalhes na discussão. CONCLUSÃO: deve responder ao objetivo proposto. REFERÊNCIAS: O número recomendado é de, no mínimo, 40 (quarenta) referências bibliográficas para Artigo de Revisão e 25 (vinte e cinco) referências bibliográficas para Artigo Original. As referências bibliográficas devem ser citadas e organizadas de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT <http://www.abnt.org.br> - Tabelas e Figuras: Devem estar inseridas no corpo do texto e preferencialmente não exceder a 5 (cinco) no total. Tabelas: devem incluir apenas os dados imprescindíveis, evitando-se tabelas muito longas (tamanho máximo permitido: uma página em espaço 1,5), e devem ser numeradas, consecutivamente, com algarismos arábicos. O título descritivo e as legendas devem torná-las compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto do artigo. Não devem ser formatadas com marcadores horizontais nem verticais, apenas necessitam de linhas horizontais para a separação de suas seções principais. Devem ser usados parágrafos ou recuos e espaços verticais e horizontais para agrupar os dados. Figuras: as Figuras não devem repetir os dados já descritos nas Tabelas. Todas devem ser citadas e devem ser numeradas, consecutivamente, em arábico, na ordem em que aparecem no texto. Não é recomendado o uso de cores. As legendas devem torná-las compreensíveis, sem necessidade de consulta ao texto. Usar letras em caixa-alta (A, B, C, etc.) para identificar as partes individuais de figuras múltiplas. Se possível, todos os símbolos devem aparecer nas legendas; entretanto, símbolos para identificação de curvas em um gráfico podem ser incluídos no corpo de uma figura, desde que isso não dificulte a análise dos dados. Figuras com baixa resolução (menos de 300 dpi) podem resultar em atrasos na aceitação e publicação do artigo. As Tabelas e Figuras publicados em outras revistas ou livros devem conter as respectivas referências e o consentimento, por escrito, do autor ou editores. 114 - Notas de Rodapé: As notas de rodapé do texto, se imprescindíveis, devem ser numeradas consecutivamente em sobrescrito no manuscrito e escritas no final da página em que se encontra. - Outras considerações Unidades: usar o Sistema Internacional (SI) de unidades métricas para as medidas e abreviações das unidades. Conflitos de Interesse: os autores são responsáveis pela declaração de qualquer tipo de conflito de interesse na realização da pesquisa, tanto de ordem financeira como de qualquer outra natureza. O relator deve comunicar aos editores quaisquer conflitos de interesse que possam influenciar a emissão de parecer sobre o manuscrito e, quando couber, deve declarar-se não qualificado para revisá-lo. CONSIDERAÇÕES FINAIS As provas finais serão enviadas aos autores por e-mail, no endereço indicado na submissão, para revisão final (dúvidas e/ou discordâncias de revisão), não sendo permitidas quaisquer outras alterações. Manuscrito em prova final não devolvido em uma semana poderá, a critério dos editores, ser publicado na forma em que se apresenta ou ter sua publicação postergada para um próximo número. Após publicação do artigo ou processo de revisão encerrado, toda documentação referente ao processo de revisão será inutilizada e destinada a coleta seletiva da instituíção. Para maiores esclarecimentos entrar em contato pelos telefones (55) (55)33211500 (2618) ou ([email protected]) PERIODICIDADE: Semestral. Permutas revista Biomotriz A Revista BIOMOTRIZ não trabalha com assinaturas. A permuta é bem vinda desde que as revistas sejam de assuntos afins. Enviar solicitação para: biomotriz@ 115 unicruz.edu.br Exemplares Anteriores: de acordo com a disponibilidade. Enviar solicitação do fascículo, volume, ano para: [email protected] ISSN impresso: 1679-8074 Conceito no Qualis-CAPES: B4 Educação Física 116