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Revista Madre Ciência Saúde – Vol. 1, Nº 1, 2016
PARTICIPAÇÃO DE IDOSOS EM UM CENTRO DE CONVIVÊNCIA NA CIDADE
DE SANTANA/AP: PERFIL DOS INDIVÍDUOS E CARACTERÍSTICAS DE
PARTICIPAÇÃO.
Selma Sueli Silva Ramos¹
Aline Silva Ramos²
Élita Salviano da Costa Nery³
Solane Lobato Pereira³
Beatriz Gonçalves de Lima Celestino Silva³
RESUMO
Mais de 500 milhões de pessoas no mundo estão com 65 anos ou mais. Em 2030,
possivelmente teremos, pela primeira vez na história da humanidade, pessoas com mais de 65
anos superando o número das que terão menos de 5 anos. O crescimento numérico deste
grupo transforma o envelhecimento numa questão social, na medida em que passa a exigir
mudanças nas instituições públicas e qualquer instituição que esteja relacionada com a
questão do idoso e as políticas públicas relacionadas aos mesmos. Este estudo objetivou
identificar o perfil da pessoa idosa e de sua participação num Centro de Convivência, nos
quesitos: faixa etária, sexo, estado civil, fonte de renda, tempo de participação no Centro,
atividades preferidas, frequência nas atividades, dificuldades com transporte e incentivo e
contribuição da família. A pesquisa foi de campo, quanti-qualitativa e descritiva, tendo como
população os idosos participantes do Centro de Convivência Casa da Amizade Rotary Clube
de Santana. Para avaliação do universo, optou-se pela técnica da amostragem, com uma
amostra representativa de 30% do total, correspondendo a 37 sujeitos enquadrados nos
critérios de inclusão determinados. Foram definidos como critérios de inclusão: sujeitos de
ambos os sexos, com idade superior a 60 anos e que estivessem participando frequentemente
da Casa da Amizade, ou seja, aqueles que faltassem nas atividades apenas em situações de
adoecimento ou outras emergências. Os critérios de exclusão foram: idosos que estavam
participando das atividades do Centro de Convivência há menos de um ano, os que tinham
problemas neurológicos e os que não aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados foi
realizada de Fevereiro a Abril de 2013, através de formulários e observação sistemática. Os
resultados mostraram que a maioria dos idosos são mulheres (86%), aposentados (76%),
viúvos (46%) e com idade entre 60 e 69 anos (67%), frequenta o grupo há 06 anos ou mais
(57%), gosta de todas as atividades realizadas (54%), raramente falta nos dias de encontro
(92%), desloca-se ao centro através de caminhada ou bicicleta (71%), chegou ao centro por
indicação de amigos (70%) e recebe incentivo da família (86%). Todas estas questões
confirmam o sexo feminino, a faixa etária mais jovem, a ausência de atividade profissional ou
remunerada e a necessidade de convívio social e continuação da vida ativa e saudável como o
perfil dos idosos participantes de centros de convivência. Quanto às características de
participação, estas demonstraram forte adesão dos indivíduos nas atividades do centro, com
alta frequência e permanência, mesmo para indivíduos com idade muito avançada, acima dos
80 anos. Identificou-se também boa independência funcional dos indivíduos, que se deslocam
sozinhos através de transporte público, bicicleta ou mesmo caminhada até o centro, e que
demonstraram interesse por atividades de todos os gêneros: físicas, cognitivas, de lazer e
socialização. Além disso, foi revelada o papel dos amigos na indicação destes centros para os
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sujeitos em questão, a ausência dos profissionais de saúde neste quesito, e uma boa relação da
família com o grupo de socialização, apesar da não contribuição financeira.
Palavras-Chave: Idoso. Envelhecimento. Centros de convivência. Família. Qualidade de
Vida.
ABSTRACT
More than 500 million people worldwide are aged 65 or more. In 2030 we will have, possibly
the first time in the history of mankind, people over 65 years old surpassing the number who
have less than five years old. The numerical growth of this group makes aging a social issue,
in that it now requires changes in public institutions and any institution that is related to the
issue of the elderly and related public policies to them. This study aimed to identify the
profile of the elderly and their participation in a Community Center, in the categories: age,
sex, marital status, source of income, participation time in the center, favorite activities, often
in activities, difficulties with transportation and encouragement and family contribution. The
research was field, quantitative and qualitative and descriptive, with the population of elderly
participants Living Center House of Friendship Rotary Club Santana. For evaluation of the
universe, it was opted for the technique of sampling, with a representative sample of 30% of
the total, corresponding to 37 subjects framed in certain inclusion criteria. They were defined
as inclusion criteria: subjects of both sexes, aged over 60 years old and that were often taking
part in the “Casa da Amizade” Community Center, that is, those who lacked the activities
only in situations of illness or other emergencies. Exclusion criteria were: older who were
participating in the Community Center activities less than a year, those who had neurological
problems and those who do not agreed to participate. Data collection was conducted from
February to April 2013, using forms and systematic observation. The results showed that most
of the elderly are women (86%), retired (76%), widowed (46%) and aged between 60 and 69
years (67%), attends the group for 06 years or more (57 %), like all activities (54%), rarely
missing the day meeting (92%), moves to the center by walk or bike (71%), arrived at the
center at the suggestion of friends (70%) and receives family incentive (86%). All these
questions confirm the female sex, younger age, lack of professional or remunerated activity
and the need for social interaction and continuation of active and healthy life as the profile of
participants elderly community centers. Regarding the characteristics of participation, they
demonstrated strong support of individuals in center activities, with high frequency and
permanence, even for people with very advanced age, over 80 years. It was identified also
good functional independence of individuals, moving alone by public transport, bicycle or
even walk to the center, and showed interest in activities of all kinds: physical, cognitive,
leisure and socializing. Furthermore, it was revealed the role of friends in the indication of
these centers for the subjects in question, the lack of health professionals in this regard, and a
good family relationship with the socialization group, despite the non-financial contribution.
Keywords: Old man. Aging. Community centers. Family. Quality of Life.
INTRODUÇÃO
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Mais de 500 milhões de pessoas no mundo estão com 65 anos ou mais. Em 2030,
possivelmente teremos, pela primeira vez na história da humanidade, pessoas com mais de 65
anos superando o número das que terão menos de 5 anos (STRAUCH, 2011). Sabemos que a
população mundial envelhece a cada dia. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios de 2006 mostram que, no Brasil, o número de pessoas com mais de 60 anos é de
19,1 milhões, ou seja, 11,1% do total de brasileiros. E as previsões são de que, em 2025, esse
percentual passe para 24,5%, tornando-se, assim, o sexto país com maior número de idosos
(BRASIL, 2008).
O crescimento numérico deste grupo transforma o envelhecimento numa questão social,
na medida em que passa a exigir mudanças nas instituições públicas e qualquer instituição que
esteja relacionada com a questão do idoso e as políticas públicas relacionadas aos mesmos
(LEFEVRE; LEFEVRE, 2004).
No entanto, ainda é grande a falta de informação sobre como investir adequadamente na
saúde da pessoa idosa, com suas particularidades e desafios para a saúde pública em nosso
contexto social. Nesse sentido, e no que diz respeito à saúde dessa população, é preciso
lembrar que a promoção da saúde é formada, cada vez mais, a partir da soma das ações da
comunidade, do poder sanitário, dos serviços de saúde e dos demais setores produtivos e
sociais, direcionados para o aumento de melhores condições para o indivíduo e a comunidade.
A qualidade de vida é concebida como o resultado desejado da prática de promoção de
saúde, ou como um determinante de saúde entre os idosos. Assim, a promoção é um foco
relevante na avaliação da qualidade de vida, que se centra na capacidade de viver sem
doenças ou de superar as dificuldades dos estados ou condições de morbidez (MAZO, 2008).
A qualidade de vida tem 4 dimensões: física, funcional, psicológica e o bem-estar
emocional (NERI, 2007). O idoso, mesmo com o organismo lentificado, não deixa de possuir
desejos, sonhos, fantasias, possibilidades de viver bem etc. A velhice não necessariamente
precisa impedir que a pessoa faça tudo o que sempre fez. O importante é a qualidade do que é
feito e como se faz (LIMA; MENEZES, 2010).
É neste contexto, e com este objetivo, que surgem os centros de convivência ou centros
comunitários para pessoas idosas. O Centro de Convivência é definido como um local
destinado à prevenção da dependência do idoso, da solidão, do isolamento e marginalização
social e dos múltiplos problemas de saúde e familiares. Nesse local, são estimulados a viver a
velhice com autonomia, independência, equidade, liberdade, aumentando a autoestima e
criatividade, proporcionando novos aprendizados, objetivos, reconquista social e realização
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pessoal. É um ambiente de refúgio, aconchegante, divertido, criativo, prazeroso e propenso a
novas amizades (MARTINS, 2006).
Assim, este estudo teve como objetivo analisar o perfil dos idosos que frequentam um
centro de convivência no município de Santana, estado do Amapá, no que diz respeito a sexo,
idade, estado civil, fonte de renda, tempo e frequência da participação nas atividades,
intermediação de sua chegada ao centro, dificuldade com transporte para chegar ao local,
atividades preferidas e postura da família em relação ao centro.
METODOLOGIA
O trabalho foi feito a partir de uma pesquisa de campo com abordagem quantiqualitativa, de caráter descritivo. Os dados quantitativos foram coletados através de
formulário misto com 20 questões, produzido e aplicado pelas pesquisadoras. Já a análise
qualitativa foi feita através de algumas questões abertas do formulário e de observação
sistemática. A coleta de dados foi realizada de Fevereiro a Abril de 2013.
O universo de pesquisa foi o Centro de Convivência "Casa da Amizade" do Rotary
Club, localizado na Rodovia Duque de Caxias, n° 800, no Bairro Paraíso, Santana-AP. Desde
sua fundação, o centro desenvolve atividades com idosos com finalidade de assegurar os
direitos sociais da pessoa idosa, criando condições para promover sua autonomia, integração e
participação efetiva na família e na sociedade. O mesmo atende, semanalmente, 121 idosos
cadastrados, com atividades físicas e recreações (caminhadas, relaxamentos, oficinas de
trabalhos manuais, danças, passeios, intercâmbio com outros grupos de idosos).
Para avaliação do universo, optou-se pela técnica da amostragem, com uma amostra
representativa de 30% do total, correspondendo a 37 sujeitos enquadrados nos critérios de
inclusão determinados. Foram definidos como critérios de inclusão: sujeitos de ambos os
sexos, com idade superior a 60 anos e que estivessem participando frequentemente da Casa da
Amizade, ou seja, aqueles que faltassem nas atividades apenas em situações de adoecimento
ou outras emergências. Os critérios de exclusão foram: idosos que estavam participando das
atividades do Centro de Convivência há menos de um ano, os que tinham problemas
neurológicos e os que não aceitaram participar da pesquisa.
A coleta de dados foi realizada de Fevereiro a Abril de 2013.
O estudo atendeu aos preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
referente às pesquisas que envolvem os seres humanos. Assim, os informantes não foram
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identificados e foram esclarecidos sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
assinando-o ao aceitarem fazer parte da pesquisa.
O projeto desta pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade
Federal do Amapá e SISNET, tendo sido aprovado em reunião realizada no dia 21/12/12.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1) Caracterização da população
TABELA 01 - Caracterização dos sujeitos da pesquisa. Santana/AP, 2013.
Faixa-etária
n
%
60 – 69 anos
25
67,0
70 – 79 anos
08
22,0
> 80 anos
04
11,0
Total
37
100,0
Sexo
n
%
Masculino
05
14,0
Feminino
32
86,0
Total
37
100,0
Estado Civil
n
%
Casados
15
40,0
Viúvos
17
46,0
Solteiros
03
8,0
Separados
02
6,0
Total
37
100,0
Fonte de renda
N
%
Aposentados
28
76,0
Trabalho alternativo
06
16,0
Depende de familiares
03
8,0
Total
37
100,0
Fonte: Dados das pesquisadoras, 2013.
Os dados revelaram que a maioria dos entrevistados possui idade entre 60 e 69 anos, é
do sexo feminino, viúvo e aposentado, conforme demonstra a Tabela 01, a seguir.
Em relação a estas informações, ressalta-se que dos homens entrevistados, apenas 01 era
viúvo, enquanto dentre as mulheres, a maioria era viúva, e que os idosos que declararam
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desenvolver trabalho alternativo o faziam através de vendas de artesanatos, comidas,
perfumes, entre outros.
Supõem-se que as mulheres frequentam mais os centros de convivência do que os
homens, devido a fatores como menor quantidade de homens em relação às mulheres, grande
quantidade de homens com idade maior de 60 anos que ainda trabalham e, portanto, não
possuem tempo de frequentar ambientes de lazer, além da presença ainda frequente do
machismo em alguns homens (NUNES, 2005).
Quanto à viuvez, sabe-se que as mulheres têm uma expectativa de vida maior que os
homens, chegando a viver em média cinco anos a mais do que eles, portanto, os homens
morrem mais cedo, levando as viúvas a precisarem de formas para adaptar-se a viver sem seus
cônjuges (NUNES, 2005).
Ressaltando o grande número de idosos aposentados, somado aos idosos que são
dependentes da família, observa-se que poucos idosos continuam realizando atividades de
trabalho. Uma das adaptações que a pessoa idosa precisa sofrer é a perda da função de
trabalho. Para muitos, essa é a primeira experiência de choque relativa ao envelhecer. Em
nossa sociedade, a aposentadoria é difícil de ser enfrentada, pois a pessoa constantemente é
sentenciada pela sua produtividade. Em uma sociedade produtiva o trabalho é frequentemente
visto como uma obrigação (ELIOPOULOS, 2005).
Assim, para bom êxito na aposentadoria é necessário um ajustamento da pessoa à sua
nova situação de vida e para facilitar o ajustamento pessoal alguns fatores são importantes,
como saúde, proventos da pensão e o interesse e a motivação dos aposentados para realizar
atividades usuais ou novas (MORAGES, 2004).
2) Perfil de participação no centro de convivência
Gráfico 01 – Tempo de Participação no Centro de Convivência. Santana/AP, 2013.
60
40
43%
27%
20
0
Fonte: Dados das Pesquisadoras, 2013.
30%
1 - 5 anos
6 - 10 anos
+ de 10 anos
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Nota-se um tempo de permanência longo desses idosos no centro de convivência, já que
57% dos indivíduos participam há mais de 6 anos. Vale ressaltar que todos os idosos com
mais de 80 anos participam há mais de 10 anos. Isso sugere a relevância do centro na vida
destes indivíduos, os quais, apesar das dificuldades características da terceira idade,
continuam participando ativamente.
Os idosos que participam de Centros de Convivência experimentam novos
conhecimentos, oportunidades, metas, diversas formas de socialização e novas emoções. Eles
são estimulados a ter uma vida social ativa com dignidade, motivações, compartilhar
experiências e ideias, fortalecer sua cultura, diversão e cidadania. Isso tudo pode justificar seu
interesse em participar de atividades de socialização (RIZZOLLI; SURDI, 2010).
Gráfico 02 – Intermediação da Chegada ao Centro de Convivência. Santana/AP, 2013.
80
70%
Amigos
Parentes
60
Vizinhos
40
17%
20
5%
5%
Decisão Pessoal
3%
Médico/outro prof.
0
Fonte: Dados das pesquisadoras, 2013.
Observou-se que a maioria dos indivíduos chegou até ao grupo por indicação de
amigos, os quais, possivelmente, são pessoas da mesma faixa etária que já participavam ou
participam das atividades do centro de convivência e, por estarem satisfeitos com as
atividades, indicam para outros idosos. Isso mostra que o centro está desenvolvendo bem
essas atividades, de maneira que os participantes estão indicando para outras pessoas.
Assim que os idosos ingressam no C.C. e sentem a sua vida melhorada querem
compartilhar com os amigos essa experiência, dessa forma convidam as pessoas mais
próximas para participar das atividades, que acabam gostando e permanecendo por muito
tempo.
Evidencia-se ainda o fato de que apenas 01 idoso referiu ter chegado ao centro por
indicação de um profissional da saúde. Isso pode mostrar a falta de conhecimento destes
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profissionais em relação a estes centros e sobre o beneficio que eles podem trazer. Esses
profissionais precisam conhecer mais essas atividades para poder indicá-las aos idosos.
A modernização da sociedade veio fragilizar a visão do enfrentamento coletivo das
questões de saúde. Especialmente nos países de economia capitalista dependente, as crises
estatais e os cortes nos investimentos públicos comprometem, por fim, a saúde pública.
Objetivando superar esta realidade adversa, novas necessidades surgem, clamando por novas
abordagens (VERAS; CALDAS, 2004).
A nova abordagem precisa começar em cada profissional da saúde, que necessita voltar
a olhar a importância da coletividade, da vida social, familiar, lazer para a melhoria real da
qualidade de vida dos indivíduos. Para isso, é preciso buscar conhecimento das estratégias
existentes em cada comunidade, de maneira a estar apto a direcionar os pacientes para as
mesmas, caso elas se mostrem benéficas a eles.
Gráfico 03 - Atividades que os idosos mais gostam. Santana/AP, 2013.
60%
54%
50%
Todas as atividades
40%
30%
Aeróbica
25%
Dança
13%
20%
10%
8%
Outros
0%
Fonte: Dados das pesquisadoras, 2013.
A partir de observação sistemática realizada, identificou-se que as atividades
desenvolvidas pelo centro Casa da Amizade, onde a pesquisa foi realizada, são: ginástica,
ginástica na cadeira, dança, hidroginástica, competições, caminhada, jogo de dominó, dama,
baralho, xadrez e palestras educativas.
Mais da metade dos idosos avaliados responderam gostar de todas as atividades, e estes
idosos são, justamente, aqueles que participam com mais frequência no centro.
Este gosto generalizado pelas atividades em um número tão expressivo de indivíduos
revela a necessidade do ser humano em achar métodos para se realizar (LIMA, 2006). Nada
melhor que contar com o grupo, onde descobrirá meios de desenvolver a criatividade e seus
projetos, conservar amizades e conviver com pessoas da mesma idade. Além disso, todos
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esses fatores são indispensáveis para a promoção da saúde e da qualidade de vida durante o
processo de envelhecimento (MACEDO, 2010).
Gráfico 04 – Frequência nas atividades, dificuldade com transporte, incentivo e contribuição
da família. Santana/AP, 2013.
Fonte: Dados das pesquisadoras, 2013.
Apenas 3 idosos referiram faltar com certa frequência nas atividades do centro, em
função de dificuldade com saúde, tempo ou transporte e, durante observação sistemática,
confirmamos que eles são frequentes mas, em comparação com os outros idosos, têm uma
frequência menor.
Novamente, isso sugere que a participação das atividades desenvolvidas no centro tem
grande relevância na vida desses idosos, pois a maioria dificilmente falta nas programações. A
observação sistemática realizada também revelou que os idosos chegam cerca de uma hora
antes das atividades iniciarem, por volta das 07h da manhã, o que mostra o interesse deles em
participar.
Os Centros de Convivência resgatam a cidadania e a dignidade dos idosos perante a
sociedade através das atividades variadas, no intuito de oferecer melhores condições de vida,
além de construir novas amizades, poder aprender algo novo, poder ensinar algo diferente aos
outros, mostrando que ainda são capazes de viver novas experiências, exercer seu direito
social e cumprir seus deveres com a sociedade (LUZ, 2009).
Tudo isso estimula a participação dos indivíduos nesses ambientes. Sobre a dificuldade
com transporte, verificou-se que a maioria dos idosos não enfrenta esse obstáculo para chegar
ao Centro de Convivência, por morarem próximo ao local e irem caminhando ou de bicicleta.
Os demais referiram chegar ao centro através de ônibus, pois moram distante. A observação
sistemática confirmou as informações prestadas, de que a maioria dos idosos chega ao centro
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por meio de bicicleta ou transporte público, visto que a parada de ônibus fica próximo à Casa
da Amizade.
Este item revela uma condição de independência funcional importante no perfil destes
idosos. As chamadas Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVDs), que são aquelas que
possibilitam à pessoa se adaptar ao meio e manter sua independência na comunidade, são um
bom instrumento de avaliação da independência funcional, exemplificadas pelo manuseio de
suas medicações, manejo das próprias finanças, possibilidade de fazer compras, uso do
telefone, utilização de meios de transportes, entre outros (DIOGO et. al., 2006).
Verifica-se, então, que todos os idosos participantes do centro possuem desempenho
ativo de AIVD, já que utilizam meios de transporte (bicicleta ou transporte público), sem
acompanhamento, com frequência. Este é um dado importante quanto à independência destes
sujeitos.
Apesar de na década de 1980 ter sido instituído a gratuidade dos transportes coletivos
urbanos para os idosos, muito antes do Estatuto, há muito a ser feito para garantir os direitos
que são assegurados em lei, pois esta ainda é umas das áreas mais sensíveis no dia a dia dos
idosos (WOLFF, 2009).
Finalmente, na questão familiar, observou-se que a maioria dos idosos recebe incentivo
de suas famílias para participar do centro, as quais contribuem levando-os até o centro em
dias de atividades, acompanhando-os em bailes, competições, entre outros. Porém, as famílias
de apenas 09 idosos contribuem financeiramente com a manutenção do grupo, lembrando que
este é mantido por contribuições voluntárias.
Se as famílias incentivam os idosos a participarem do centro de convivência, é porque
percebem a utilidade e benefícios do mesmo. Porém, apesar da maior parte das famílias
incentivarem, elas não se envolvem financeiramente com trabalho, o que pode mostrar um
pouco do distanciamento da comunidade em geral, mesmo por parte dos indivíduos mais
próximos dos idosos beneficiados, no auxílio, manutenção e desenvolvimento destes locais,
de maneira que possam continuar oferecendo bons serviços.
CONCLUSÃO
Os dados coletados nesta pesquisa, quanto às características sócio-demográficas dos
idosos participantes de centros de convivência comunitária, confirmaram as referências da
literatura, com sujeitos predominantemente do sexo feminino, aposentados e viúvos.
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Quanto às características de participação, estas demonstraram forte adesão dos
indivíduos nas atividades do centro, com alta frequência e permanência, mesmo para
indivíduos com idade muito avançada, acima dos 80 anos. Identificou-se também boa
independência funcional dos indivíduos, que se deslocam sozinhos através de transporte
público, bicicleta ou mesmo caminhada até o centro, e que demonstraram interesse por
atividades de todos os gêneros: físicas, cognitivas, de lazer e socialização. Além disso, foi
revelada o papel dos amigos na indicação destes centros para os sujeitos em questão, a
ausência dos profissionais de saúde neste quesito, e uma boa relação da família com o grupo
de socialização, apesar da não contribuição financeira.
Todas estas questões revelam boas condições físicas, cognitivas, emocionais e sociais
dos idosos participantes do centro de convivência. É necessário, para próximas abordagens,
verificar se estas condições são causas ou consequências da presença destes indivíduos nestes
grupos. Se forem causa, é necessário estimular o desenvolvimento de outros idosos nestes
quesitos, para que possam também ser inseridos em contextos como estes. Se forem
consequência, é de extrema relevância expor à sociedade e, principalmente à população idosa
e indivíduos mais próximos a estes, os benefícios que os centros de convivência podem trazer.
Mas, em tudo, um ponto muito importante para o acesso e permanência destes idosos neste
tipo de atividade foi o incentivo de familiares e amigos. Incentivados e apoiados da maneira
certa, é pouco provável a não adesão dos idosos em ambientes como este.
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