Luciano Aguiar - A Tarde, Bahia
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Luciano Aguiar - A Tarde, Bahia
2 SALVADOR QUINTA-FEIRA 29/12/2011 DISCO Músicas instrumentais do pianista ganham letras e são lançadas em CD duplo André Mehmari se aventura pelo universo do cancioneiro LUCIANO AGUIAR Um artista completo, arranjador, compositor, cantor e multi-instrumentista, se consuma em Canteiro, novo disco de André Mehmari. Entre os maiores pianistas brasileiros da atualidade, ele demonstra no álbum duplo, lançado de forma independente, que sua arte não tem rédeas, sobrevoando a canção brasileira. A concepção está em primeiro plano no disco de Mehmari, que usa de todas as suas virtudes em prol do sagrado encontro entre letra e melodia. Encontro no qual ele mesmo afirma estar um dos maiores legados da música nacional. “Acho que o brasileiro não pode ignorar o fato de que mora em um país que tem a tradição de canção mais viva do mundo. Isso é muito forte”, diz o músico, conhecido pela verve instrumental, mas que há muito se debruça sobre canções e as apresenta aqui e ali em seus trabalhos, mas nunca havia feito um trabalho autoral em que as pusesse no centro. “É o meu primeiro projeto que realmentemergulhacomprofundidade na canção. Eu já havia gravado discos com a Ná Ozzetti, por exemplo, em que a canção eraotema,maseraocancioneiro já consagrado. Sempre fui apaixonado por este universo, sempre quis dialogar com esse cancioneiro brasileiro, que serve de casa musical para mim”, revela. O resultado desse diálogo travado por Mehmari é um CD que, apesar de ter letras nas músicas, mantém um forte caráter instrumental, pela riqueza de elementos e pela característica das melodias, que nem sempre se adaptam naturalmente ao universo da canção. Ao contrário de incomodar, isso pode tornar o disco ainda mais prazeroso, para quem busca uma música feita Gal Oppido / Divulgação CANTEIRO / ANDRÉ MEHMARI Mehmari reuniu vários intérpretes, músicos e coautores no projeto com 30 músicas INDEPENDENTE / R$ 39,90 WWW.ANDREMEHMARI.COM.BR dade (letra de Leandro Maia) é homenagem a Caymmi e assim prosseguem as referências artísticas no disco, até chegar à faixa-título, Canteiro, que o resume perfeitamente, sendo ela curiosamente a única sem letra, a exceção das que foram adicionadas como bonus tracks. Lembra muito a atmosfera do Clube da Esquina, movimentopeloqualeletambém confessa ter sido influenciado. “Cada vez que você escuta os discos do Clube da Esquina é como se fosse a primeira, de tão fresca que é aquela música. Essa é uma referência absoluta para mim, que permeia toda a minha criação musical e é o que chamo de humanismo profundo em música. Canteiro é como se fosse uma canção latente. Cada um que a escuta pode imaginar uma letra. E justamente por isso é um canteiro onde nascem várias canções e várias vozes que fazem contraponto”, define. com liberdade, consciência e também espontaneidade. Amigos Catalizador de ideias, Mehmari conseguiu reunir em torno de si e do disco uma turma de companheiros musicais para lá de talentosos, alguns já bem conhecidos e outros ainda por despontar na cena nacional. Duplo e com 30 faixas, sendo quatro delas bonus tracks, Canteiros foi praticamente todo gravado no estúdio Monteverdi, de Mehmari, montado na casa dele, tendo ele mesmo como técnico. Não bastasse a competência como músico, o cara ainda é responsável pela mixagem e masterização do disco, que tem uma qualidade sonora e tanto. Ficou fácil atrair grandes feras para o projeto do disco, que tem a participação de Claudio Nucci, Jussara Silveira, Mônica Salmaso, Ná Ozzetti, Chico Pinheiro, Hamilton de Holanda, Ivan Vilela, Simone Guimarães, Sérgio Santos, Luiz Tatit, do argentino Carlos Aguirre e do português António Zambujo, só para citar alguns. Com uma arte belíssima (projeto gráfico e ilustrações de Gal Oppido), o álbum também enfatiza as parcerias que Mehmari vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos. Melódicas, as músicas instrumentais de Mehmari sugerem, mesmo com toda complexidade, versos que as adornem e acabaram recebendo letras de nomes como Arthur Nestrovski, Bernardo Maranhão, Sérgio Santos e Luiz Tatit, além do próprio Mehmari, sozinho em Velha Inquietude. “Esse é o ponto-chave do disco. Ao compor temas instrumentais, eusempreprocuroessapurezada expressão da canção. E de certa forma todas essas canções sobrevivem como peças instrumentais também”, explica Mehmari. 3 Utopia “Ao compor temas instrumentais, sempre procuro essa pureza da expressão da canção” “Sempre quis dialogar com esse cancioneiro, que serve de casa musical para mim” ANDRÉ MEHMARI, compositor “É o primeiro disco meu que tem esse timbre. E acho ele muito diferente dentro do contexto nacional pela diversidade de vozes e letristas”, conclui. Concepção Canteiro é tão rico em detalhes e intenções estéticas que caminha para o utópico, como o próprio Mehmari define. A gama de recursos do artista – que chega a executar todos os instrumentos na Valsa Russa (parceria com Leandro Maia), faixa de sonoridade orquestral – é usada de forma meticulosa para enredar cada discurso melódico e poético. Se a letra da citada valsa se encaminha para “o brado do trovão, tempestade”, o arranjo cresce com sopros e percussão sinfônica, descreve cenas. Sons onomatopeicos, harmonias, frases paralelas, citações de outros autores, dinâmicas, timbragens diversas remetem o ouvinte a uma experiência sonora profunda. Por isso, mesmo, Canteiro não é um disco que sirva à audição fugaz e desatenta, nem é um disco de cancioneiro comum. Exige fruição plena e desperta novos sabores a cada apreciação. Surpreende que, mesmo pontos de qualidade questionável,comoalgumasletras,nocontexto, podem se transformar em detalhe que aguça os ouvidos. O prato cheio de descobertas pode estar nas referências a outros autores e composições. Brilha o Carnaval (letra de Tatit), por exemplo, é uma paráfrase melódica do Frevo de Orfeu, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Pra Amada Imortal (com letra de Bernardo Maranhão) recebe trechos da Sonata ao Luar e de Pour Elise, de Beethoven. Sal Sau- As influências pianísticas de Mehmari, como a de Egberto Gismonti e Keith Jarrett, e outros tantos elementos expõem a trama sonora que ele arma neste álbum profícuo, com faixas densas como O Cântico dos Quânticos (com Maranhão) e outras de tom mais popular, como Festa dos Pássaros (outra parceria com Maranhão), À Beira da Canção (com Carlos Fernando) e Baião da Reza (com Sérgio Santos). “A minha tendência é fazer álbuns extensos. Sinto que o álbum não precisa necessariamente ser escutado de uma vez só. Acho que ele é um retrato daquilo que você está fazendo naquela época. Canteiro poderia ser um disco simples. Mas até porque ele é completamente utópico em sua concepção, pois éumdiscomeudecanções,eelas não são fáceis, resolvi fazer logo um duplo”, explica Mehmari. Inaiá Lua / Fundação Gregório de Mattos EXPOSIÇÃO Migration traz dos EUA a arte de brasileiros CYDA BRITO Depois do sucesso em Nova York, a mostra Migration Art Expo 2012 – Uma Jornada Artística Infinita chega ao Brasil. Em cartaz no Museu da Cidade, no Pelourinho, a exposição é formada por obras de artistas brasileiros radicados nos Estados Unidos e por artistas residentes no Brasil. Juntos, eles apresentam experiências adquiridas em viagens ou em momentos marcantes de suas vidas, por meio de poesias, fotografias e imagens abstratas, entre outros formatos. A mostra está aberta à visi- tação de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, até o dia 3 de fevereiro, quando segue para outras cidades, como Recife, Fortaleza, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, Petrópolis e São Paulo. “É um projeto aberto a qualquer tipo de linguagem, desde que expresse as vivências dos artistas em sua localidade ou fora dela”, afirma Antônio Oliveira, um dos idealizadores do projeto. Segundo ele, a mostra tem a proposta de promover talentos e compartilhar oportunidades entre os expositores. Além de Antônio Oliveira, participam da mostra Alcinda Saphira, Carlos Falchi, Gustavo Braga e René Nascimento. Já César Romero, Graça Ramos, Jani Saulti e Miriam Rylands são artistas participantes que moram em Salvador. A mostra foi inaugurada em março de 2011, na Biblioteca Pública de Nova York, e recebeu a visita de mais de 3 mil pessoas em um mês de exibição. Na ocasião, cinco artistas plásticos brasileiros residentes nos Estados Unidos apresentaram mais de 10 pinturas. O sucesso incentivou os idealizadores a dar continuidade ao projeto, só que desta vez no Brasil. “Inicialmente nossa intenção era despertar o interesse dos estrangeiros pelo Brasil. Agora queremos mostrar ao nosso próprio povo um pouco da realidade, da vida e do trabalho de conterrâneos que vivem tão longe de casa, dando também oportunidade aos artistas brasileiros residentes no Brasil de mostrarem o que estão fazendo”, disse Oliveira. MIGRATION ART EXPO 2012 – UMA JORNADA ARTÍSTICA INFINITA/ DE SEG A SEX, DAS 9H ÀS 17H, ATÉ 3 DE FEVEREIRO / MUSEU DA CIDADE – LARGO DO PELOURINHO/ GRÁTIS Bicicletas de Nova York, obra do artista plástico René Nascimento CURTAS Filme sobre Riachão será exibido na TVE O longa-metragem Samba Riachão, documentário lançado há uma década pelo cineasta e músico Jorge Alfredo, será exibido hoje, às 22 horas, na TVE. Ao longo de 86 minutos, a obra traz passagens biográficas do cantor e compositor Clementino Rodrigues, o Riachão, com depoimentos de nomes como Dorival Caymmi, Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Daniela Mercury, Tuzé de Abreu, Gerônimo e Dona Edith do Prato, entre outros, e uma acalorada discussão sobre se o samba é carioca ou baiano. Sora Maia / Divulgação O longa Samba Riachão venceu o Festival de Brasília há 10 anos Trancoso terá festival de música clássica O festival Música em Trancoso – MeT vai reunir atrações nacionais e internacionais da música clássica na localidade de Trancoso (sul da Bahia), do dia 17 a 24 de março. A programação, inteiramente gratuita, reúne entre as atrações nomes como a orquestra Neojiba, com o maestro Ricardo Chaves, o pianista César Camargo Mariano, o violoncelista alemão Andreas Grünkorn, o flautista francês Benoit Fromanger, o trompista inglês Jonathan Williams e o duo francês de piano Katia & Marielle Labèque, entre muitos outros. Os concertos acon- tecerão ao pôr-do-sol, em um anfiteatro construído no local, especialmente projetado para acomodar 600 pessoas. A Orquestra Juvenil da Bahia dividirá o palco com dez virtuoses internacionais da música erudita Morre Chita, astro dos filmes de Tarzan Chita, o chimpanzé que protagonizou os filmes de Tarzan nas décadas de 30 e 40, morreu aos 80 anos, anunciou o santuário da Flórida no qual o animal viveu por mais de 50 anos. "É com grande pesar que comunicamos a perda de um querido amigo e um membro da família em 24 de dezembro de 2011”, afirma o site do Santuário Suncoast Primate de Palm Harbor, na Flórida. Chita participou, entre outros, dos filmes Tarzan , o Homem Macaco (1932) e Tarzan e sua Companheira (1934), filmes clássicos que relatam as aventuras de um homem criado na selva, protagonizados por Johnny Weissmuller e Maureen O'Sullivan. O chimpanzé chegou ao santuário em 1960. O chimpanzé amava pintar com os dedos e assistir a jogos de futebol americano, além de músicas cristãs