Arte Pará 2010

Transcrição

Arte Pará 2010
29ª EDIÇÃO
Museu Histórico do Estado do Pará
Museu de Arte Sacra
Museu da Universidade Federal do Pará
Museu Paraense Emílio Goeldi
FUNDAÇÃO ROMULO MAIORANA
Belém – PA
2011
Contrastes unidos pela e para a arte
A 29ª edição do projeto Arte Pará, apresentado pela Fundação
Romulo Maiorana (FRM) sob curadoria geral de Orlando Maneschy e
curadoria da Sala Especial “Armando Queiroz” dirigida por Marisa
Mokarzel, é o resultado de um trabalho de equipe que cumpre seu
compromisso de contribuir para a divulgação e o conhecimento da arte
contemporânea.
Os 57 artistas escolhidos provêm de horizontes diferentes e os
caminhos trilhados são necessariamente contrastados assim. A
exposição possui uma dimensão subjetiva e bem diversificada, bem
marcadas na sua diferença em várias direções - característica que
pontua a trajetória do Arte Pará, sempre possibilitando que o artista
experimente mais, participe mais.
Deixo aqui os meus mais sinceros agradecimentos às empresas
Supermercado e Supercenter Nazaré, Escola Superior da Amazônia
- Esamaz, UNIMED Belém e MARKO Engenharia, que nos ajudaram
a fortalecer a realização desta edição com compromisso social e
sensibilidade. Este ano, contamos ainda com o Apoio a Festivais de
Fotografia, Performances e Salões Regionais – FUNARTE, que integra
assim o Arte Pará numa comunhão nacional.
E assim, a Fundação Romulo Maiorana (FRM) vem permitindo
que nomes e momentos relevantes da arte brasileira sejam mais
bem estudados e redimensionados por aqueles que já conhecem, e
principalmente, apresentados ao público mais jovem de modo compatível
com sua real importância. Vem reafirmar, com mais esta edição, sua
alegria em aproximar a comunidade paraense da arte e da cultura.
Lucidéa Maiorana
Presidente da Fundação Romulo Maiorana
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Um coletivo de singularidades
Às vésperas do Círio de Nazaré do ano de 1982, o jornalista Romulo
Maiorana fez, através da Fundação que leva seu nome, o primeiro Arte
Pará ao reunir artistas visuais do Estado em uma grande exposição.
A partir de sua 6ª edição, em 1987, coube a mim levar o trabalho
adiante pela Fundação Romulo Maiorana (FRM), um sonho trabalhado
e moldado com ajuda de muitas mãos. Hoje em sua 29ª edição,
verificamos caminhos de transformação e confirmação do Arte Pará no
cenário das artes nacional.
Dessa forma, a Fundação concebe em quatro conceituados museus
- Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP), Museu de Arte Sacra
(MAS), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Museu da Universidade
Andréa Facchini
Prêmio Aquisição
Niterói-RJ
Onde você sempre quis estar
da série ficções
Desenho | 2010
Federal do Pará (Mufpa) -, além do espaço da cidade, a exposição que
reúne o ponto de vista de 57 artistas, dentre convidados e selecionados
do âmbito local, nacional e internacional, num coletivo em que cada um
deles apresenta sua visão própria, singular em constante movimento.
O curador do projeto, Orlando Maneschy, ao desenhar o conceito
do projeto para este ano, traz a reflexão sobre as transformações que
ocorrem nas organizações sociais da arte e no planeta, viabilizando
amplificações dessas modificações no território da cultura.
Ressaltamos o patrocínio de empresas como Supermercado e
Supercenter Nazaré, Escola Superior da Amazônia – ESAMAZ, UNIMED
Belém e Marko Engenharia, que nos permitiram a viabilização desta
edição numa iniciativa de atuação em redes de cultura, que é uma
postura louvável no campo social, político e cultural.
Este ano, a Fundação Nacional de Artes - FUNARTE integra a
parceria com a FRM para realização do evento num caminho de
Abro aqui um especial espaço para o projeto educacional que, na
nossa diretoria, tem um foco bem determinado desde o início do Arte
Pará e que, no percurso, graças ao trabalho da nossa curadora da Ação
Educativa, Vânia Leal, preocupou-se igualmente com a importância
do público, organizou cursos, palestras, oficinas, além de trocas
interinstitucionais.
Neste segmento, registro meu reconhecimento pelo empenho de
toda a equipe da Fundação Romulo Maiorana, a equipe de montagem,
curadores, educadores, artistas, universidades, instituições, jurados,
infraestrutura, designers e aos companheiros das Organizações
Romulo Maiorana (ORM) pela lealdade e dedicação. Assim, a todos que
estiveram e estão conosco, construindo a história do Arte Pará, o nosso
agradecimento por tudo o que tornou possível esta 29ª edição.
comunhão onde o circuito institucionalizado da arte ganha na mediação
do conhecimento artístico e cultural.
Destacamos ainda o apoio da Mendes Publicidade, da Sindicato das
Empresas de Transportes de Passageiros (Setrans-Bel), que auxiliou
no projeto O Liberal na Escola. Sabemos que, em tudo o que diz respeito
à cultura e à educação, os méritos são coletivos.
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Roberta Maiorana
Diretora Executiva da Fundação Romulo Maiorana
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Arte Pará. Arte fazendo ARTE
Os salões têm tido, historicamente, um papel decisivo na inserção,
Como mencionado anteriormente, somente é possível o êxito do
divulgação de obras, artistas e espaços, sem deixar de mencionar na
evento pelo alto nível de organização, dedicação e profissionalismo dos
divulgação da própria cidade onde acontece o evento.
profissionais envolvidos no projeto. Isto pode ser percebido em todo o
O Arte Pará se insere nesta categoria como um salão contemporâneo
processo, desde a confecção do edital à seleção dos membros dos júris
que engloba uma diversidade de propostas com suportes e técnicas
de seleção e de premiação, e no resultado das exibições dos trabalhos
variadas. Dessa forma, o evento desenvolve uma decisiva função na
em diferentes espaços da cidade de Belém.
divulgação e apresentação de forma prospectiva, na maioria dos casos,
O intercambio cultural que o Arte Pará possibilita não se reduz
no que se refere à apresentação de jovens artistas nacionais. O caráter
à apresentação das obras, mas se irradia no intercâmbio entre os
prospectivo do Arte Pará tem garantido a projeção e participação de
membros dos júris, entre os artistas, entre os artistas e o júri, e entre
artistas que, a partir da exibição de seus projetos no evento, têm tido
todos os profissionais da Fundação e os contratados, o pessoal dos
uma projeção no cenário artístico nacional e internacional. Coloco-me
espaços onde são expostas as obras... Os debates em torno do evento e
dessa forma por ter acompanhado durante anos o Arte Pará e por tido
dos trabalhos pelos diferentes espaços da cidade fazem com que o Arte
o privilegio de participar, como membro do júri no processo de seleção
Pará seja responsável pela formatação de uma festa cultural na cidade
e de premiação, da última edição, em 2010.
onde, além do meio artístico, o publico em geral tem a possibilidade
A indiscutível qualidade dos projetos avaliados, o profissionalismo
de desfrutar de ARTE. E com o suporte do aspecto educativo e da
e competência das equipes responsáveis pela produção, lideradas
divulgação do evento.
pela Fundação Romulo Maiorana (FRM), que tem Roberta Maiorana
Destaque especial para o trabalho educativo pedagógico que torna
como presidente, formam um panorama de primeiríssima qualidade. O
o Arte Pará contribuinte da consolidação do papel da arte na sociedade
Arte Pará se situa num patamar de eficiência e resultados à altura de
e da disseminação da importância da mesma em um contexto geral
qualquer outro evento artístico cultural que se proponha a consolidar e
e de experiências artísticas e/ou estéticas - a par dos desafios
desvendar qualitativamente o melhor da produção estética e visual na
contemporâneos dados na tensão das obras em exposição e dos
área das artes visuais no Brasil.
suportes e espaços que as recebem.
A solidez e o reconhecimento do Arte Para transparecem na
A relação e as possibilidades de intercâmbio entre artistas
quantidade significativa de inscritos nesta 29ª edição. Foram projetos
consagrados, que participam como convidados, e jovens artistas, que
de todas as regiões do Brasil. Propostas que mostram um caudal
significativo de nova safra artística. Jovens criadores e propostas
inovadoras que põem em evidência o importantíssimo lugar que o
projeto ocupa no cenário artístico nacional.
Rodrigo Freitas
Grande Prêmio
Belo Horizonte – MG
se inscrevem por edital e participam após selecionados, possibilita
Paisagens de Inverno
da série variações sobre o mesmo abandono
Livro de pintura | 2009
produção artística no Brasil, contribuindo à consolidação do Arte Pará
formatar um panorama das diferentes etapas pela qual transita a
como um dos eventos mais importantes no cenário artístico nacional.
Andrés I. M. Hernández
Membro dos júris de premiação e de seleção do 29º Arte Pará
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A terra treme; Treme Terra
“Artistas são os melhores sismógrafos sociais... [eles]
trabalham por conta própria. Lidando com [suas] tentativas de
fazer um mundo para sobreviver...e viver [suas] obsessões.”
Harold Szeemann’s
O século XX criou um fluxo de informações jamais experimentado anteriormente na cultura
ocidental. De viajantes sonhadores em busca de novas descobertas às crises estruturais que
abalaram o mundo, conhecimentos, bens de consumo, pessoas circulam pelo globo estabelecendo
novos contatos, influências e miscigenações. Os centros de atenção vão mudando na velocidade
das transformações sócio-culturais, concebendo novas lógicas para o capital.
Há uma polifonia de centros e faz-se necessário navegar pelas bordas. E a arte tem sido
catalisadora dessas reverberações, refletindo transformações que ocorrem nas organizações
sociais e no planeta, viabilizando amplificações dessas modificações no território da cultura,
movimentando setores distintos da sociedade.
A oscilação está na vida, está no mundo – das placas tectônicas, que nos lembram que a terra
está em movimento contínuo, aos lugares das trocas sociais, que são reinventados a cada segundo
-, com o afluxo de dinâmicas relacionais que favorecem a invenção de outros espaços de contato,
provocando mudanças, com novas regras de civilidade, em processos de realocação social.
Em meio a conquistas diversas, no espaço da arte a autonomia em relação ao lugar é um
dos grandes avanços daquele século. A arte transforma os espaços, vai de encontro à natureza,
subverte o cubo branco, constitui territórios particulares, específicos para existir no mundo.
Por meio da arte temos a possibilidade de estabelecer mediação com o outro, conceber
pontos de contato, de contágio, de troca, propiciando ricas experiências que reinventam relações
e ultrapassam o espaço instituído, ganhando a rua para viabilizar a existência de ambientes
transitórios, autônomos, de liberdade e potência.
São nesses lugares que queremos pensar, lugares em que essas relações se dão, ambientes
em que nossas trocas são construídas, referências acionadas: espaço aberto, terreiro social,
campo de relação em que nossos tambores tecnotrônicos são ativados, o contato estabelecido, em
que o contágio, a miscigenação cultural se dá, porque na arte construímos espaços de liberdade,
somos antropófagos e a terra, treme.
Hall de entrada do Museu
Histórico do Estado do Pará
Belém-PA
Orlando Maneschy
Curador do 29° Arte Pará
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Museu Histórico do Estado do Pará
Integrado ao Sistema de Museus e Memoriais, o Museu Histórico do
Estado do Pará (MHEP) reune em seu acervo exemplar de natureza, épocas
e estilos diversos, estando os objetos agrupados nas mais diferentes
categorias. No térreo, duas salas para exposições de curta duração: Antonio
Parreiras e Manoel Pestana. O MHEP está localizado no Palácio Lauro Sodré,
na Praça Dom Pedro II, s/n, Cidade Velha, tels.: (91) 4009-8838 / 4009-8840.
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A força da arte
No Museu Histórico do Estado do Pará-MHEP concentraram-se proposições as mais variadas.
Logo na entrada, encontramos a escultura em bronze de Flávio Cerqueira. Ela convida o observador
a adentrar ao ambiente, mas, na verdade, indica o espaço entre dois corpos, como aponta o título:
Tudo entre Nós. E é assim que buscamos construir essa curadoria, visando trazer à tona o que
pode acontecer, irromper entre seres, territórios, no intervalo possível de existência.
Logo na primeira sala, apresentamos fotografias que lidam com o espaço e constituem
dimensões para o corpo. Elza Lima, com as fotos da série Quem te Ensinou a Nadar cria delicadas
composições que revelam a afinidade do amazônida com a água. Construídas pela justaposição
de diversos quadros, as imagens versam sobre a intimidade do nativo com o elemento e nos leva
a observar o quanto nos relacionamos com as águas, com os rios. Já Anita de Abreu Lima, com
as fotografias Ainda Queria Falar das Flores, parece convidar o visitante a perceber as questões
pictóricas presentes na ordenação a partir de plantas e paredes de casa. Há ali um princípio
organizacional instável, irradiando na paisagem elaborada. Ainda discutindo a paisagem, na
pintura lê-se: Vendo Alugo Apropriações, obra da série Dealer, de Osvaldo Carvalho. O artista
apropria-se do lado comercial do espaço urbano para fazer uma crítica pontual ao sistema das
artes. Também nessa chave da crítica elaborada com inteligência, Keyla Sobral apresenta três
desenhos. Métodos de Vingança I: Jogar Teus Livros no Fogo; Métodos de Vingança II: Quebrar
Teus Óculos ao Meio e Métodos de Vingança III: Rasgar Teu Dossiê do Arte Pará. Com refinamento
e bom humor a artista fala a um sujeito específico, mas revela questões universais presentes nas
relações humanas e ainda brinca com o impacto que seria a um artista ter seu dossiê destruído
no momento da inscrição do evento.
Ainda nesta primeira sala, o corpo em transmutação aparece nos vídeos Pequena Tentativa
Flávio Cerqueira
Guarulhos-SP
Desvanecente e Como Digerir Lembranças, de Diego de Los Campos, em imagens instigantes
Tudo entre nós
Escultura/pintura eletrostática
sobre bronze | 2010
Chapeuzinho e O Pônei, (Prêmio Aquisição), de Cleantho Viana, cenas surreais parecem ocorrer
Ex corde
Escultura/pintura eletrostática
sobre bronze | 2010
e tensas, de ações performativas dirigidas à imagem. Já na vídeo performance O Artista, A
em um morro carioca, no qual, sobre uma espécie de “tapete mágico” ou um campo que se
expande a outra dimensão, pela imagem em espiral que se apresenta nesse piso, desfilam
personagens insurgentes. No centro dessa primeira sala, outra escultura de Flávio Cerqueira,
Ex Corde, em que o personagem da escultura tem um buraco no lugar do coração. A solidão
pode ser um dos grandes males, um dos temores mais recorrentes na humanidade. Daquele
ponto se vislumbra a sala seguinte, que abre com a imagem do artista convidado, Hidelbrando de
Castro, Missing Person, em que um coração pulsa. E diante desse fato inesperado, uma fotografia
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Anita Lima
Belém-PA
Ainda queria falar de flores III, II e I
Fotografia | 2009/2010
Elza Lima
Belém-PA
Série Água
Quem te ensinou a nadar?
Fotografia | 2010
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Keyla Sobral
Belém-PA
Métodos de vingança I, II e III
Desenho | 2010
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Osvaldo Carvalho
Niteroi-RJ
Sem título - da série Dealer
Pintura | 2010
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Cleantho Viana
Prêmio aquisição
Rio de Janeiro-RJ
O artista, chapeuzinho e o pônei
Vídeo performance | 2010
Diego de Los Campos
Florianópolis-SC
Sobre como digerir uma lembrança
Vídeo | 2009
Pequena tentativa desvanecente
Vídeo | 2010
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Hildebrando de Castro
Artista Convidado
São Paulo - SP
Missing person
Fotografia Lenticular | 2009
Acervo Galeria Laura Marsiaj
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pulsante, imagem lenticular, somos tomados de assalto. Não há saída, a não ser nos deixarmos
preencher pelo chamado, pela pulsação surpreendente que a arte parece a todo instante nos
convidar. Sim, a terra, treme, o sangue corre e pulsa nas veias, e estamos vivos e pulsantes.
Nesse espaço temos a obra de Carolina Ponte, que constrói, com croches e pequenos objetos,
uma trama que se estabelece entre escultura e pintura, com volumes no ambiente. Letícia Rita
apresenta desenhos de um corpo feminino em suspensão. O desenho, enquanto gesto, aponta
para a performance e para a relação desse corpo - apropriado de fotografias de bondage retiradas
da internet -, em tensão para discutir a sua liberdade. Também é o corpo do artista que se faz
presente nas fotografias de Flávio Lamenha, quando o autor aparece inserido no campo fotográfico
em diversas posições. O detalhe é que os lugares em que são captadas as cenas são exposições
de outros artistas e aí se revela uma particularidade significativa para a obra: Lamenha também
tem atuado como exímio fotógrafo de obras de arte, apropriando-se dessa experiência no seu
fazer artístico.
Sinval Garcia se detém em objetos encontrados em situações públicas para montar sua obra
em forma de um grande painel de imagens. Na sua série Encontros – Coleção Belém – PA ele
apresenta um conjunto de objetos nos quais observa uma situação, uma condição estética, para
apontar sua câmera e subtraí-los da realidade. O artista vê algo de especial naquela situação
com a qual se depara, e percebe existir ali algo que rompe com o comum. É também fruto de
um encontro, no percurso da viagem de ônibus entre a Rodoviária de Porto Alegre e Belém, que
a obra de André Venzon se delineia, feita no diálogo com os viajantes. O artista instiga estes a
escolherem entre dois carimbos para terem impressos em seu corpo uma das frases: “a terra
é meu corpo” e “a cidade é o meu corpo”. A partir daí, Venzon vai colecionando imagens para
apresentá-las em uma instalação performativa, na qual o visitante pode tanto observar o que
ocorreu, quanto carimbar uma das frases em si. Subvertendo as relações entre tempo e espaço,
Rodrigo Cass (Terceiro Prêmio) cria uma instalação em que a medida tempo (Meditação Sobre
Um Tridimensional Iluminado) é o mote para a obra. No trabalho, trenas giram relógios medindo
a passagem do tempo. Além desta obra, o artista ainda apresenta Óleo Sobre Tela, um objeto
televisivo, e que em seu interior, a imagem que se vê é de um líquido ao fundo da tela. E a ironia se
faz presente novamente, tal qual em O Mundo Justificado, alinhado à direita, centralizado, alinhado
à esquerda, de Ângela Detanico e Rafael Lain, vídeo em que os artistas convidados desmontam
o mapa-mundi para falar de política global. Nesse ambiente, ainda encontramos as obras de
Alberto Bitar, capturadas na velocidade do olho passante na estrada e que nos mostram uma
Carolina Ponte
Salvador-BA
Sem título
Instalação de parede
Escultura de crochê | 2010
paisagem líquida, em transformação. Pensando e modificando formas, Barrão, artista convidado,
constrói uma escultura a partir de canecas de cerveja e durepox, O Caneco é Nosso!, em que o
humor é instaurado ao se falar da paixão do brasileiro pelo futebol.
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Letícia Rita
São Paulo – SP
A liberdade nem sempre está em poder voar
Instalação de parede | 2009
Flávio Lamenha
São Paulo-SP
Vieira
Fotografia | 2008
Solá gallery
Fotografia | 2008
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Sinval Garcia
São Paulo-SP
Encontros - coleção Belém - PA
Fotografia/instalação | 2009/2010
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Rodrigo Cass
3 prêmio
São Paulo-SP
Meditação sobre um tridimensional iluminado
Instalação | 2010
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Rodrigo Cass
São Paulo-SP
André Venzon
Porto Alegre-RS
Monitor de televisão, óleo, lâmpada,
circuito elétrico e suporte de metal
Óleo sob tela | 2010
A cidade é o meu corpo 1
Fotografia | 2009
A terra é o meu corpo 1
Fotografia | 2009
A cidade é o meu corpo 2
Fotografia | 2009
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Barrão
Artista Convidado
Rio de Janeiro - RJ
O caneco é nosso!
Cerâmica e durepox | 2007
Acervo Galeria Laura Marsiaj
Angela Detanico e Rafael Lain
Artistas Convidados
Paris - França
O Mundo Justificado, alinhado à direita,
centralizado, alinhado à esquerda
Animação | 2006
Acervo Galeria Vermelho
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alberto bitar
Belém - PA
Sem título,
da série Efêmera Paisagem
Fotografia | 2010
Sem título,
da série Efêmera Paisagem
Fotografia | 2009
Sem título,
da série Efêmera Paisagem (díptico)
Fotografia | 2009
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MURILO RODRIGUES
Prêmio Aquisição
Belém - PA
Black Bird II
vídeo instalação | 2010
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Black Bird II (Prêmio Aquisição), de Murilo Rodrigues, é uma vídeo instalação concebida para
um lugar específico do MHEP, e apresenta um violinista acorrentado tocando a música homônima
dos Beatles. Confinação, dor, busca pela liberdade são alguns dos motes presentes nessa obra
instigante do jovem artista paraense. Também operando em torno de questões de liberdade,
corpo, natureza, a obra de Angela Conte versa sobre o humano, com seus dilemas e desejos,
entre paisagens-passagens. Nessa sala, outras obras discutem a relação entre paisagem, limites
e tempo, como nas pinturas de Manoel Novelo, que definem espaços, que remetem à arquitetura,
em áreas delimitadas, mas que são subvertidas por formas abstratas. Já Pedro David, em
suas fotografias da Cartografia do Infinito, da série Impureza, constrói uma imagem a partir de
vários pontos de vista de uma determinada área definida, desdobrando esta, constituindo um
entendimento espacial enquanto imagem. Há, nesse procedimento uma ênfase no desenho, e
este, que se apresenta no ambiente, só existe como o vemos, como imagem. É ela que potencializa
a multiplicidade de percursos. Também, trabalhando com o desenho, Marinaldo Santos revigora
elementos da história para refazer possíveis momentos, encontros. Nesse ambiente, mais uma
pintura de Osvaldo Carvalho irá pontuar criticamente as relações na arte, lembrando-nos sempre
de refletir sobre os papéis que desenvolvemos. E são encontros possíveis que vemos aqui, como
na obra do artista convidado Nazareno, que revela a fragilidade do sujeito frente às dificuldades do
cotidiano. Na fotografia do objeto empunhado, o soco inglês, confeccionado em prata, apresentase gravado com a inscrição: “Agora eu só estou contra você”, (título do trabalho). Este comunicado
se desfaz com a segurança do politicamente correto instaurado no campo social em que nos
sentimos seguros. Com a obra, o artista assume uma posição direta de oposição, revelando jogos
de poder e a coragem de se colocar, de romper com o outro, com aquele que possivelmente
oprime. Há uma disposição explícita para o confronto.
Operando com um amplo aspecto da violência, Armando Queiroz, artista convidado e
homenageado do 29° Arte Pará, traz obras em todos os espaços do evento. Aqui, duas instalações
marcam a violência imputada aos povos indígenas. Em Cântico Guarani, Queiroz constitui uma
instalação escura, com uma luz difusa, em que o visitante precisa penetrar para perceber o que
há ali. No espaço, redes negras pendem do teto e remontam a processos de auto violência que
determinados índios se impõem na ausência de perspectivas de vida na tribo. Há um doce odor que
ANGELLA CONTE
São Paulo - SP
Essência
Vídeo | 2009
toma conta da sala, tal qual flores, e certo avinagrado, que sutilmente invade as narinas do visitante.
Potentes, os trabalhos de Queiroz, curados por Marisa Mokarzel, falam, de forma inteligente da
violência velada, como na instalação sonora que ocupa a capela do museu, Tupambaé, em que
o artista se apropria das vozes de crianças guaranis coletadas na internet, para tomar conta do
ambiente branco e vazio apenas com o som dos cantos infantis. Essas canções são as que as
crianças índias entoam ao esmolar em sua região. É com cuidado e dignidade que o artista aponta
para um grave problema social.
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Manoel Novello
Rio de Janeiro-RJ
Paisagem da Ilha
Pintura acrílica sobre tela | 2010
Pedro David
Nova Lima-MG
Cartografía do Infinito
(políptico da série Impureza)
Fotografia | 20009/2010
Sobre a Terra dos Coqueiros
Pintura acrílica sobre tela | 2010
Sobre a Terra dos Coqueiros 2
Pintura acrílica sobre tela | 2010
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Marinaldo Santos
Belém-PA
Escalação cartas de defesa
Mista | 2010
Nazareno
Artista Convidado
São Paulo - SP
Agora eu só estou contra você
Fotografia sobre papel | 2000/2010
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Outra obra de forte caráter político é O Ovo e a Galinha (Prêmio Aquisição) de Victor de La
Rocque, que num desdobramento do projeto Gallus Sapiens, (Grande Prêmio de 2008) traz
para dentro da exposição uma instalação em que coloca um ovo para ser chocado. Partindo
da clássica pergunta, – “o que veio primeiro, o ovo ou a galinha? “-, La Rocque irá discutir
questões existencialistas em que se utiliza da metáfora do galo para criar metáforas da vida e
de sua simplicidade e magnitude, prenhe de todas as promessas. O ovo eclodiu durante o Arte
Pará, anunciando a potência da arte enquanto força de vida. Valéria Coelho também propicia
questionamentos entre tempo e vida com suas instalações em que adesiva frases na cidade. Por
que o que vivi aqui tem resto de esquecimento? Esta obra encontra-se na entrada da sala em que o
ovo de La Rocque foi germinado. A artista propôs obras que dialogassem com lugares específicos
e ativassem os conteúdos presentes na história desses lugares. O Cheiro da Tua Carne Ainda
está Aqui, proposição para o Mercado de Carne e a frase Daqui, em 1976, acenei para você, fixada
no Solar da Beira, na feira do Ver-o-Peso. Nessa sala uma forte relação com experimentação se
manifesta, como nas fotografias de Adriana Maciel, que com suas imagens da série Sertão falam
do interior, dos espaços habitados, da construção da vida e do tempo inscrito nos lugares. Jorane
Castro, artista convidada, no vídeo Íntima Paisagem, convida via internet pessoas de várias partes
do mundo a captarem e reenviarem suas paisagens vistas da janela, filmando em celular ou
câmera digital, compartilhando seus olhares. O trabalho surgiu a partir da edição das respostas
dadas por essas pessas, constituindo um sensível fluxo de experimentações diante da paisagem.
Tomaram parte com a aritsta: Andréa Cals, Carlos Barretto, Fabio Hassegawa, Fernanda Martins,
Fernando Hage, Juan Zapata, Jorge Luquín, Johanna Mercer, Josynaldo Ferreira, Lilian Bado,
Luciana Magno, Mariana Lopes, Pablo Ramírez Durón, Pedro Rodrigues, Stephen Dean Thaysa
Oliver e eu mesmo, que não pude resistir ao generoso convite, que revela aspectos de Belém,
Campinas, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro (Brasil), Buenos Aires (Argentina), Caiena
(Guiana Francesa), São Francisco, Chicago, Nova Iorque, (Estados Unidos), Tacubaya, Naucalpan
(México), Londres (Inglaterra), Paris (França), Twin Islands, Indian Arm, North Vancouver (Canadá).
Jimson Vilela exibe seus cadernos de desenhos, O Livro do Encontro, A Procura de Horizontes
e 3 Cegos, em que desenhos e palavras, apagamentos e rasuras falam de desistências, esperas
e dores por meio de um desenho vigoroso de intensa carga conceitual. Também potente, a
proposição de Igor Vidor, a performance Mais Um Dia em Belém, traz o artista à cidade com
a proposição de permanecer pelo tempo em que tiver alguém que lhe aceite como hóspede.
Vidor circula da perifeira ao centro, estabelecendo relações, pondo-se em cheque e sente uma
transformação interna com sua passagem por Belém. Do Una a Nazaré, Vidor constitui laços,
trocas sensíveis e debates críticos. Encontra desconforto, se depara com seus medos e percebe-
Victor de La Rocque
Prêmio aquisição
Belém - PA
O ovo e a galinha
Instalação | 2010
se mudado, como em seu depoimeto aponta: “certamente o posicionamento mais importante
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Jorane Castro
Artista Convidada
Belém - PA
Íntima Paisagem
Vídeo
Setembro e outubro de 2010
Valéria Coelho
São Paulo-SP
Psicografias
Instalação | 2010
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Foram enviados convites pela
internet à diferentes pessoas, em
diferentes cidades e países, para
que elas/eles compartilhassem a
vista de sua janela filmando com
uma câmera digital ou um celular.
Este trabalho é a resposta em vídeo
a este convite.Com a colaboração de
(em ordem alfabética):
Andréa Cals, Carlos Barretto, Fabio
Hassegawa, Fernanda Martins,
Fernando Hage, Juan Zapata, Jorge
Luquín, Johanna Mercer, Josynaldo Ferreira, Lilian Bado, Luciana
Magno, Mariana Lopes, Pablo
Ramírez Durón, Pedro Rodrigues,
Orlando Maneschy, Stephen Dean
Thaysa Oliver.
Lugares: Belém, Pará, Buenos Aires,
Argentina, Campinas, São Paulo,
Caiena, Guiana Francesa,
Chicago, Illinois, Estados Unidos,
Naucalpan, México, Nova Iorque,
Estados Unidos, Londres, Inglaterra,
Paris, França, Porto Alegre, Brasil,
Rio de Janeiro, Brasil, São Francisco, Califórnia, Estados Unidos, São
Paulo, Brasil, Tacubaya, Cidade do
México, México,Twin Islands, Indian
Arm, North Vancouver, Canadá.
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Jimson Vilela
Rio de Janeiro-RJ
O livro do encontro (168 páginas)
Objeto | 2010
AdrianA Maciel
Rio de Janeiro-RJ
Série sertão n°1, n°3 e n°2
Fotografia | 2009
A procura de horizontes (124 páginas)
Objeto | 2010
3 cegos (64 páginas)
Objeto | 2010
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pra que esse embate fosse horizontal seria eliminar qualquer tipo de olhar colonizador, ou pelo
menos não me prestar a olhar SOBRE, na verdade somente o “olhar” aqui não seria suficiente,
não tratava-se da capacidade “retiniana”. (...) É sobre a condição de afetividade que as relações
se desenvolveram, tornando aquilo que inicialmente se apresentou como zona de desconforto em
afeto e cordialidade, identificando fronteiras, mas que não as tornou barreiras, invadindo e sendo
invadido pela privacidade alheia. Os corpos suam, sem medo de repreensão, os abraços são
molhados, e fui assim convidado a me predispor por uma esfera afetiva, inventiva e apaixonante,
ao embate com os corpos, o clima, o lixo, o trânsito, o rio, os olhos”. O artista se desapegou de
suas convenções, se permitiu viver e estar na cidade e estar no mundo virou o trabalho.
Do embate com as situações sociais surge a video-performance Cafetinagem, de Bruno
Cantuária, Luciana Magno e Ricardo Macêdo: uma performance no centro da cidade em que
mulheres de máscaras de monstro e de lutador de luta-livre mexicana realizam uma ação
em torno do consumo e da identidade, relacionando vida, corpo, arte, concebendo uma ação
instigante e potente. Nesse ambiente também se vêem outras obras de Osvaldo Carvalho e de
Flávio Cerqueira, e deste último, O Invisível, é uma escultura em bronze de dimensão pequena
em que um sujeito “barrigudinho” tem um saco sobre a cabeça, falando sobre o esvaziamento
e solidão. Já Fernando Limberger, com seus Abraçadinhos propicia a manipulação entre os
objetos, sugerindo o estabelecimento de relações entre eles. Louise D.D. após descobrir que
suas obras enviadas ao Arte Pará haviam sido furtadas com ocaminhão dos correios, envia o
documento de envio do Sedex, o histórico do trânsito do objeto nos Correios e um cartaz dos
objetos desaparecidos, lidando com as circunstâncias e transformando um fato nefasto em arte.
José Hailton apropria-se de retratos de familia, imagens sacras e profanas para elaborar objetos
em que a relação pictórica se faz presente. Lançando mão de linguagens distintas, Regina Parra,
apresenta o video Travessia (ou sobre la marcha) e a pintura Eldorado II. Nas obras a artista fala
do espaço e do registro da ação, da similaridade entre pintura e vídeo, criando um campo de
interrelação, tendo como base imagens apropriadas de câmera de vigilância.
Ena Lautert cria uma escultura e uma instalação em que se vêem grandes pedras brutas
dispostas em uma rede fina de pesca. Há uma sugestão de tensão entre peso e fragilidade na obra
que é posicionada numa passagem do museu, bem acima das cabeças. Provocando a percepção
sobre a gravidade, as rochas de papel de Lautert parecem ser o que não são e conclamam o
observador a tentar decifrá-las, tal qual as imagens de Flora Assumpção, que com suas Serpentes
de Prata, imagens de objetos escultóricos exibidas como lambe-lambe interferem no espaço
subvertendo a ideia do objeto, enquanto imagem.
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Igor Vidor
São Paulo-SP
Mais um dia em Belém
Performance | 2010
47
Flávio Cerqueira
Guarulhos-SP
Bruno Cantuária, Luciana Magno e Ricardo Macêdo
Belém - PA
O invisível
Escultura
pintura eletrostática
sobre bronze | 2010
Cafetinagem
Vídeo | 2010
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Fernando Limberger
São Paulo-SP
Abraçadinhos III, I e II (versão 1)
Cabaças pintadas | 2003
LoUise D. D.
Rio de Janeiro-RJ
Dor e febre
Objeto | 2009
Carne vermelha (série)
Objeto | 2010
José Hailton
Belém-PA
Casa I, II e III
Pintura | 2010
Original e cópia
Objeto | 2009
50
51
Regina Parra
São Paulo - SP
Eldorado II
Óleo e cera sobre papel | 2010
Travessia (ou sobre a Lamarcha)
Vídeo | 2010
Ena Lautert
Porto Alegre-RS
S/título
Instalação
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Flora Assumpção
São Paulo-SP
Serpentes de prata VI, V
Instalação | 2010
Serpentes de prata II
Instalação | 2010
(MUFPA)
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Ricardo Macêdo
Belém-PA
Relações intercambiáveis
Instalação | 2010
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Ricardo Macêdo, com suas Relações Intercambiáveis, estabelece uma proposição para
a abertura da mostra em que cria um site specific no jardim do museu com uma toalha de
piquenique, almofadas e um lanche vegetariano. Macêdo irá discutir o lugar da arte a partir de
vivências no espaço compartilhado, pensando o convívio como suporte artístico e a aceitação do
outro com suas diferenças. Após a abertura da mostra, a instalação adentra a sala de exibição e
agrega desenhos, bilhetes, que são fruto da ação educativa.
O Segundo Prêmio é o site specific Meta-Ver-o-Peso-Esquema, de Renato Chalu, localizado
na Feira do Açaí, que conta com um video feito naquele lugar inserido em uma escultura feita
com as caixas utilizadas pelos feirantes daquele entreposto. Chalu irá fazer uma sobreposição
da imagem da paisagem no próprio ambiente, desdobrando a ideia de escultura, que se monta e
desmonta a cada dia, já que a obra tem horário para funcionar, dentro do próprio ritmo da feira,
dialogando com seus habitantes e funcionários, emprestando a materialidade do lugar na sua
constituição instável, provisória, insólita.
São as mais variadas experiências artísticas de lidar/estar no mundo que vimos no 29° Arte
Pará. Nesta ação, que se inscreve na Amazônia, a arte ocupa um lugar que ultrapassa os limites
instituídos, fazendo com que este projeto assuma um papel singular na cena contemporânea
nacional, relacionando-se com experiências de vida e da própria existência, percebendo a
possibilidade de construir caminhos singulares na arte que se faz e se mostra na região.
Orlando Maneschy
Curador do 29° Arte Pará
Renato Chalu
2º prêmio
Belém-PA
Meta-ver-o-peso-esquema
Instalação | 2010
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ARMANDO QUEIROZ
Artista homenageado
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Armando Queiroz: Cântico dos corpos
Armando Queiroz desde os anos 90 se destaca por um trabalho
denso que se detém nas questões específicas da arte e, ao mesmo
não mais se reconhece. Em ato de profunda tristeza, impõe a si mesmo
o eterno silêncio. A voz é calada, se cala... para sempre.
tempo, as envolve em distintos campos do conhecimento. O artista
O Museu Goeldi recebeu Ymá Nhandehetama (Antigamente fomos
conhece o lugar em que vive, sabe que se encontra em um espaço
muitos), vídeo resultante da pesquisa realizada por Armando Queiroz
delimitado por atuações de poder que reverberam na vida cotidiana do
para o Prêmio Marcantonio Vilaça. Com o amigo Almires, de etnia
cidadão. Atento, mergulha nas tensas condições daquele que vive na
guarani, o artista montou um documentário-performance sem uma
Amazônia, conseguindo estabelecer em sua obra uma linguagem que é
direção pré concebida, apenas com uma idéia matriz. O depoimento
entendida além da região, independente de cidade, país ou continente.
surge contundente, Queiroz torna visível aquele que costumam tornar
Seu trabalho deixa transparecer as relações entre subjetividades e uma
invisível. O tempo expandido e o silêncio intercalado entre a voz e as
realidade de luta em que as contradições não impedem o respeito pelo
mãos que pintam o rosto deixam rastros profundos e nos faz pensar
outro e o sentimento de pertencimento.
naqueles que foram muitos.
O simbólico representa o fato ocorrido, o imaginário que, no campo
No Mufpa ficou uma obra concebida como um ritual, uma espécie
da arte e pelas mãos do artista, transforma-se em uma poética que
de happening. Desapego teve origem na obra Mirante (2005), feita
remete à memória, ao esquecimento e ao incerto presente. O processo
especialmente para o jardim do Museu da Universidade. Composta por
curatorial ocorreu em parceria com o artista e elegeu três diferentes
várias peças modulares, tornou-se móvel e mutante, podendo trocar
espaços atravessados pela arte e pelas culturas silenciadas. Armando
de lugar e de forma inúmeras vezes. Da mesma maneira que Keith
Queiroz, concomitantemente, expôs no Museu Histórico de Estado do
Arnatt, em 1969, realizou o Auto-enterro, em que o artista desaparecia
Pará (MHEP), no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e no Museu da
na terra, Armando Queiroz desapega-se da sua criação realizando o
Universidade Federal do Pará (Mufpa).
enterramento da obra. Assim, cumpre o ritual do desaparecimento,
Com uma percepção aguçada do mundo, no MHEP o artista nos
mas diferente de Arnatt, não é o artista que questiona a sua razão de
colocou diante de questões específicas, mas que ultrapassaram
ser, existir, o que está em jogo é o objeto criado que se desmaterializa
territórios e nos conduziram à interrogações e à busca da compreensão
e torna-se pura imagem.
da nossa própria cultura e da cultura do outro. Duas obras formaram um
Com o enterramento, o Mirante mergulhou à terra para ver o invisível
único cântico: Tupambaé (Parte de Deus) e Cântico Guarani. A primeira
e brotar transformado. Durante o ritual, presenciou-se o nascer do dia:
ficou exposta no vazio da Capela do Museu e constituiu-se apenas pelos
o espetáculo foi a natureza. O cotidiano citadino logo teve início, sem nos
sons de vozes infantis. Armando Queiroz discutiu o desvio cultural dos
impedir de presenciar as trocas de memórias que marcaram o encontro
cânticos indígenas que cumprem hoje um triste e involuntário destino.
de tempos distintos. Os fragmentos, encontrados na escavação,
Ao usar esses cânticos para esmolar, as crianças atraem os olhos dos
momentaneamente serviram de lençol à terra que acolhia o Mirante.
não índios e misturam-se aos ruídos. Tornam-se estranhas às terras
de onde vieram.
Na instalação Cântico Guarani, o artista propõe uma discussão sobre
Naquele dia em que acompanhavámos o enterramento, sôou o som
dos pássaros e ele nunca mais saiu de nossos ouvidos. Tivemos certeza
que o efêmero marcou nossa memória pra sempre.
os vestígios de uma cultura indígena de histórias interrompidas, cujos
cânticos emudeceram e o fio das falas partiu-se. Sem mais reconhecer
Marisa Mokarzel
Curadora da sala especial “Cântico Guarani” – homenagem a Armando Queiroz
o rio no qual molhava seu corpo, o guarani não mais reconhece o outro,
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Armando Queiroz
Belém-PA
Tupambaé
(Parte de Deus)
Instalação sonora | 2010
Armando Queiroz cria
Tupambaé (Parte de Deus)
com os sons compostos por
vozes infantis, por cânticos
entoados distantes ou na
própria aldeia. Deslocados,
atraem os olhos dos não
índios, misturam-se aos
ruídos, tornam-se estranhos
ao lugar de onde vieram.
Para ver as imagens
acessem os sites:
http://www.youtube.
com/watch?v=pdQyxr92U4&feature=related
Armando Queiroz
Belém-PA
Cântico Guarani
Instalação | 2010
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http://www.youtube.com/watch?v=
PzuDZYdMnBM&feature=related
http://www.youtube.com/
watch?v=74HnhdsJ5dI&NR=1
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Museu de Arte Sacra
Integrado ao Sistema de Museus e Memoriais, o Museu de Arte
Sacra (MAS) é composto pela Igreja barroca de Santo Alexandre e
o antigo Palácio Episcopal, do século XVII. Apresenta um acervo de
imaginárias e objetos litúrgicos. No térreo, a Sala Augusto Fidanza, abriga
exposições de curta duração. O MAS está localizado na Praça Dom Frei
Caetano Brandão, s/n, Cidade Velha, tels.: (91) 4009-8800 / 4009-8845.
www.secult.pa.gov.br
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O PROFUNDO E GLORIOSO DA FOTOGRAFIA
Arthur Omar na espessura densa da imagem
Apresentar a Antropologia da Face Gloriosa na Galeria Fidanza, do
Museu de Arte Sacra-MAS é reafirmar a missão de uma fotografia que
se pensa de dentro, que incendeia o olhar do espectador ao capturálo em sua visceralidade sacro profana, e lança-o em um turbilhão de
sensações para além da simples contemplação, conclamando-o ao
arrebatamento.
O carnaval talvez seja um dos últimos lampejos dos antigos rituais
pagãos da cultura ocidental e Arthur Omar mergulha com sua lente
lúcida a fundo, constituídas num corpo-a-corpo com um outro que nesse
momento do encontro está absorvido por tantos papéis, fantasias, num
processo ritualístico, como que num estado alterado de consciência e
o artista atinge, na intensificação desse estado, o ponto nevrálgico, o
êxtase da transcendência.
O olhar diligente de Omar se debruçou ao longo de anos para
constituir a série Antropologia da Face Gloriosa, da qual vemos um
recorte especial aqui, desvelando sete sujeitos em atitudes transitórias,
na velocidade da passagem ritualística. Mas o artista não se detém
apenas em apresentar o trabalho no museu, ele se lança no frêmito de
uma Belém em ebulição, em um período no qual milhões de pessoas
se direcionam à cidade para reencontrar amigos, cumprir promessas,
vivenciar o Círio de Nazaré em suas complexidades sacro-profanas. No
massa de pessoas que irrompem nas diversas procissões e festas, Omar
surpreende-se por outros êxtases, permite-se ser tomado por essa
experiência única e o trabalho vai além do apresentado, se desdobra
para o futuro.
Assim Omar, ao expor seu olhar em Belém, vivencia o estar no
lugar. São olhares, pequenos gestos de cumplicidade com o outro, com
o olho, com o corpo de quem se entrega ao mundo e vive, iluminado, o
tremor da existência.
Orlando Maneschy
Curador do 29° Arte Pará
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Arthur Omar
Artista Convidado
Rio de Janeiro-RJ
Contra Todos os Sistemas Inclusive o das Sereias
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
A Menina dos Olhos
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
Intuições Atléticas
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
Rapto de Rosas e Apagamento Final
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
Leite Zulu Para a Harmonia Química Nacional
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
Antropologia da Face Gloriosa
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
Utilizando o Zero como Roda Acima do Profundo Céu Azul
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
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Num instante, Belém
Parecia simples. Eu já admirava Belém à distância. Seria a oportunidade
frente, uma enorme pressão sobre a carne como se a alma fosse ser expelida
de mostrar imagens seminais do meu trabalho, e também de fazer imagens
do grande bloco. Toda minha técnica fotográfica tinha que ser repensada,
novas, pois a exposição coincidiria com o Círio de Nazaré. Finalmente, a série
refeita, deletada como um conjunto de fórmulas obsoletas. Novos gestos, nova
Antropologia da Face Gloriosa seria vista num museu de arte sacra, como eu
relação com o instrumento ótico, novos objetos visuais. E o rosto que aparecia
sempre quis. Convivendo com estátuas barrocas e figuras de santos, todos em
nas imagens era como o carimbo enigmático de algo que ainda não havia sido
êxtase, como os meus personagens carnavalescos. Perfeito. Meu último livro
representado em toda sua extensão pela história da fotografia. Algumas faces
havia sido sobre a Amazônia, a terra, o rio. Faltava o homem.
pareciam não ter expressão alguma, o que me inquietou mais ainda diante
Acostumado ao carnaval, no que ele tem de imemorial e sagrado, eu
dessa novidade e dessa ruptura do clichê jornalístico e etnográfico do êxtase.
acreditava que meu olho e minha técnica fotográfico-antropológica seriam
Eu poderia ter parado por ali o meu trabalho, porque a parte essencial dessa
capazes de identificar e dar conta facilmente do que ocorre no Círio. Eu já tinha
antropologia se cumpriu integralmente, e se realizou. Eu não precisaria voltar
ouvido todas as histórias e todas as descrições desse evento fabuloso. Meu
outras vezes, e nem mesmo continuar nessa mesma hora a minha investigação.
desejo era agregar o resultado do Círio ao conjunto de faces que constitui a
Não sei se o trabalho que produzi tem algum valor ou esgote a densidade da
Antropologia da Face Gloriosa, toda ela dedicada à glória do rosto humano em
experiência que aquilo me proporcionou, mas o essencial, a essência dessa
estados alterados e sublimes, o rosto em transe.
atividade antropológica-da-face-gloriosa aconteceu, isto é, criar uma nova
Parecia simples. Como se em Belém eu fosse encontrar apenas variações
posição de olhar, posição que seja o resultado da soma do objeto que eu vejo
de um jogo universal que já conhecia e do qual eu havia desenvolvido a técnica
com a transformação que sofreu meu olhar no instante mesmo em que teve
apropriada para apreender. O êxtase é o êxtase.
seu objeto diante de si sem mediações, num contato de êxtase-a-êxtase.
Mas eu não poderia contar com a surpresa que me esperava no Círio.
Sem ser um devoto de Nossa Senhora de Nazaré, ali também eu fui
Quando se fizer a Enciclopédia do Rosto Brasileiro (onde se coletará não
possuído pela fé. Uma fé sem objeto. A fé na imagem pura, a fé na radicalidade
apenas a diversidade das aparências físicas, mas a originalidade diferencial das
da minha experiência, a fé na infinitude do instante, a fé na surpresa da minha
experiências possíveis e imagináveis), o rosto de Belém terá um capítulo à parte.
própria humanidade ali confirmada, a fé no triângulo pitagórico que é a forma
Esse rosto que se produz na alucinação somática do Círio de Nazaré enquanto
do manto da virgem carregada através do espaço pela grande massa.
produto daquele instante glorioso. Porque não se parece com nenhum outro,
apartado de qualquer clichê ou ideia pré-concebida do que seja o êxtase.
Os antropólogos-da-ciência-rigorosa voltarão 30, 40 anos ao mesmo lugar
para constituir, desconstruir e reconstruir o seu objeto. E est(ar)ão certos.
Tudo isso me foi revelado num flash, e aconteceu logo nos primeiros
Mas um antropólogo-da-face-gloriosa se retira de cena imediatamente
momentos do meu corpo-a-corpo com a multidão. E não era nem a procissão
após o instante que gerou a foto. Carregando-a consigo, sem saber o que há
do último dia. Comprimido, esmagado, atirado para o alto, eu não reconhecia
nela ou o que ela significa, mas certo de que ela resolveu o enigma da sua
aqueles rostos de lugar nenhum, e meu próprio corpo, sob a pressão da muralha
própria vida, que é, no fundo e estranhamente, o enigma daquele mesmo
humana à minha frente e atrás de mim, abandonou a posição de observador
instante, projetado imaginariamente nos próximos trinta, quarenta anos de
para ser arrastado numa onda violenta que não havia experimentado antes,
sua existência.
dissolvido na umidade, na confusão de suores e no oceano de gritos onde havia
mergulhado. Olhos fechados, cabeças pousadas no ombro do caminhante da
Arthur Omar
Fotógrafo e artista convidado do Arte Pará 2010
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Museu da Universidade Federal do Pará
O único museu federal de artes visuais da Amazônia vem desde 2003 se
reestruturando para melhor salvaguardar e avivar a memória de si e do
outro. O prédio é uma construção do início do século XX, mas precisamente
de 1903, conhecido como palacete Augusto Montenegro, foi projetado pelo
arquiteto italiano Filinto Santoro para ser a residência particular do então
Governador do Estado do Pará, Augusto Montenegro. Hoje, o acervo do
Museu da Universidade Federal do Pará (MUFPA) é composto por pinturas,
desenhos, cartuns, fotografias, gravuras e esculturas dos séculos XIX, XX e
XXI, acervo este formado ao longo dos anos por meio de doações, permutas
e aquisições. O MUFPA está localizado na Av. Governador José Malcher, 1192
– Nazaré, tels.: (91) 32240871/32428340.
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OUTROS TREMORES
“A diversidade é algo que se constrói, não é dada. Cada
um pertence ao lugar a seu modo, em chave própria.”
Paulo Herkenhoff
A idéia como princípio da formulação artística é o que movimenta este conjunto de obras aqui
reunidas. São operações complexas que se ordenam em torno da imagem e do corpo, e que se
desdobram em questões de percepção da paisagem, do tempo, das políticas.
Quatro artistas vêm ativar esse núcleo com suas proposições, estabelecendo diálogo fecundo
com os artistas selecionados: Paulo Bruscky, com imagens da série Meu cérebro desenha assim,
fruto de performance conceitual em que a interação com um aparelho de eletroencefalografia gera
desenhos sem o uso das mãos, elabora imagens surpreendentes em vídeo e nas fotografias que
vemos aqui. Estas experiências ocorreram graças ao acesso a esse aparelho, com o qual captou
os grafismos gerados por seus pensamentos durante sua passagem pelo hospital Hagamenon
Magalhães. Tiago Rivaldo, em Via de mãos dadas, n.º2, vídeo no qual apresenta o espaço entre
corpos (o do artista e de seu parceiro) ao produzir bolhas de sabão com suas bocas, que ora se
tocam, ora transforma-se em uma só, e chegam a se destruir, numa sofisticada metáfora das
relações e enfrentamentos contemporâneos. É um vídeo delicado, que nos fala diretamente sobre
as dificuldades e tensões presentes nas relações desse século XXI, de sujeitos que frente a frente,
buscam diálogos possíveis. Stephen Dean estabelece um diálogo entre vídeo e pintura, lançandose ao encontro da força mística popular ao mergulhar em manifestações culturais que lhe são
diferentes. Filmado no norte da Índia, no estado indiano de Uttar Pradesh, o video Pulse apresenta o
festival de Holi, um ritual de fertilidade que demarca a chegada da primavera e apresenta momentos
em que as diferenças sociais, tão fortes nesse país, são postas de lado em meio à catarse e a um
frenesi pictórico, que detém forte caráter performativo, revelando mistérios insondáveis.
Odires Mlászho irá, lançando mão de recortes e apropriações, constituir percepções acerca
da imagem e do corpo, reelaborando figuras surpreendentes. Aqui, temos dois momentos. No
Paulo Brusky
Artista Convidado
Recife
Da série O Meu Cérebro Desenha Assim
Eletroencefalograma e impressão digital | 1966
Obra resultante de pesquisa iniciada nos anos 70
primeiro, Skinner #2, Mlászho irá reinventar um corpo a partir da sobreposição de recortes de
corpos que parecem se desdobrar. São esses fragmentos que constituem os contornos do corpo,
feito de muitos corpos. Se em Skinner o artista se apropria de fotografias do nu, para construir sua
obra, em Diana / Série Serpentina, o artista irá se apropriar de uma clássica imagem da história da
arte, para, por meio dos recortes, revelar e esconder o que está por detrás, de forma a proporcionar
sugestões avassaladoras.
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Tiago Rivaldo
Artista Convidado
Porto Alegre - RS
Stephen Dean
Artista Convidado
New York
Via de mãos dadas, n.º2
Vídeo | 2010
Pulse
Vídeo | 2001
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Entre os artistas selecionados encontramos Epiderme, em que Viviane Gueller se ocupa de uma
sala do Museu da Universidade Federal do Pará (Mufpa) e seu mobiliário para instalar duas caixas
de luz em que se vêem radiografias de pessoas com balas no corpo. A sala permanece escura e os
backlights se acendem a partir do movimento do público, provocando incômodo com as imagens de
corpos alvejados. Em Elemental, Gueller emprega displays de farmácia com o remédio homônimo,
que segundo sua embalagem, pode causar dependência. Dentro da caixa do medicamento, vêse a imagem de um corpo em ação. O display também ocupou espaço em uma farmácia nas
proximidades da feira do Ver-o-Peso, propiciando instigantes reações no público. Para a artista, “o
antídoto é o corpo humano misturado à natureza, sangue com seiva”. Gelka Arruda, também em
uma chave da performance, apresenta uma imagem feita a partir de várias, frutos de uma ação
denominada Três Dias em Branco, em que a artista se coloca em uma condição de ausência de
visão para ser fotografada pelo olhar do outro, buscando atingir a percepção de si com a imagem,
diante à profusão de imagens de consumo constituídas na contemporaneidade. Flavia Bertinato
em Tormento, Roteiro Ilustrado elabora, com o emprego de imagens e palavras, uma narrativa
sobre identidades de dois irmãos gêmeos. Ao concentrar informações visuais empregadas na
criação do “roteiro” em cada um dos três quadros, a artista propicia ao espectador uma apreensão
parcial mas densa da história, que se complementa a partir da disponibilização do texto do roteiro.
Também trabalhando com uma narrativa desconstruída, Nailana Thiely apresenta três fotografias
em preto e branco, imagens da série Noir, Dias Curtos de Inverno, em que a artista revela a solidão
no limite da luz especular do inverno no hemisfério Norte, tão diferente da luz amazônica.
Já Raymundo Firmino olha para o corpo feminino no limite. Contrapõe suas formas com
a de objetos, ferramentas que sugerem a construção civil, a oficina mecânica, provocando
incômodo acerca das formas desses objetos do universo masculino, em oposição à delicadeza
das formas do feminino. Gina Dinucci apresenta Banquete para Judith, citando uma das cenas
religiosas mais representadas na história da arte, na qual Judith decapita Holofernes. A artista
cria um campo de tensões em que também imagens – um retrato feminino velado, um homem
Odires Mlászho
Artista Convidado
São Paulo -SP
com o travesseiro no rosto -, postas em uma caixa junto a facas apontam para um desfecho
Diana/ série Serpentina
Ampliação fotográfica digital | 2002
que se encontra, Deborah Engel, com suas Paisagens Possíveis pensa o território transitório ao
Skinner #2
Impressão jato de tinta | 2007
Coleção Galeria Vermelho
eminente e violento. Tomando a imagem como partida para outras percepções do espaço em
sobrepor imagens de revista na paisagem e fotografar essas composições. Cria, assim, novas
possibilidades de percepção do lugar.
Andréa Facchini se utiliza de imagens da infância, de mundos mágicos que remontam a fábulas
em Entre o Azul e o Céu (sobre-viventes), Onde você sempre quis estar, e Sem linha do horizonte,
sem ponto de fuga, da série Ficções, (Prêmio Aquisição), que se propõem a suspender um tempo,
como “pequenas ilhas”, em que o espectador parece prender a respiração na sugestão do que virá
a ocorrer. Nas fotografias de Flávia Junqueira da série Casa em Festa, vêem-se situações de uma
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Gelka Arruda
Belo Horizonte-MG
Viviane Gueller
Porto alegre-RS
Três dias em branco
Fotografia | 2010
Epiderme
Instalação | 2010
Elemental
Intervenção urbana | 2009/2010
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Flávia Bertinato
São Paulo-SP
Tormento
Desenho | (2010)
Nailana Thiely
Belém-PA
Noir - dias curtos de inverno I, II e III
Fotografia | 2009
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Raymundo Firmino
Castanhal-PA
Rg-1725411
Fotografia | 2010
Rg- 1712252
Fotografia | 2010
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Gina Dinucci
Guarulhos-SP
O Banquete para Judith
Objeto | 2010
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Deborah Engel
Rio de Janeiro-RJ
Paisagens possíveis - Ladies
Fotografia | 2010
Paisagens possíveis - Pastor Itinerante
Fotografia | 2010
Paisagens possiveis - Tchola Sola
Fotografia | 2010
Andréa Facchini
Prêmio aquisição
Niterói-RJ
Sem linha do horizonte, sem ponto de fuga
Desenho | 2010
Entre o azul do céu (sobre-viventes)
da série ficções
Desenho | 2010
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felicidade melancólica. Em uma delas, balões ocupam toda a sala, se espalham sobre a mobília,
ultrapassam o limite do espaço, que se apresenta vazio de elementos humanos; em outra, a artista
segura balões de gás na cor negra e, sentada sobre uma montanha de confetes, observa dormir o
gato de Alice. São situações que tangem o limite de realidade que a artista constitui para articular
sobre a vida.
A delicadeza de um espaço construído em que coisas oníricas, mas possíveis podem se revelar
irrompe no vídeo Entrando sem Bater, (Prêmio Aquisição), de Maria Mattos. A artista elabora todo
um universo para que um piloto de um singelo aviãozinho de brinquedo possa adentrar, em que
figuras surgem em meio a nuvens, animais de várias espécies emergem e somem em meio a
nuvens. Pungente, o vídeo aborda a fragilidade presente nos sonhos, nos desejos mais singelos,
constituindo sensações ternas. O Grande Prêmio, de Rodrigo Freitas, emprega a pintura em diversas
situações. Em Variações Sobre o Mesmo Abandono, uma narrativa é instaurada como uma tradução
pictórica de fragmentos do cinema, buscando ampliar a percepção em uma narrativa quadro-aquadro e em pintura. Em outro momento da mesma série, um único quadro se apresenta. Outra
obra, Para Quem Ainda Sonha com Nuvens: Paisagens de Inverno, propõe um percurso temporal
instituído no fluxo do tempo, no folhear das páginas além do toque, da proximidade do corpo, em
um desejo de aproximação, mas sem dependência. Pequeno, o livro sugere um olhar perto, um
vaguear pelas páginas, na elaboração, reelaboração dos percursos.
São distintas relações visuais que se constituem em uma tomada de posicionamento diante
das coisas do mundo e, nesse intervalo de tensão e compartilhamento, revelam-se diferentes
singularidades, pontos de contato e tremor, presentes na atividade da imaginação que é a arte.
Orlando Maneschy
Curador do 29° Arte Pará
Flávia Junqueira
São Paulo-SP
A casa em festa 6
Fotografia | 2010
A casa em festa 7
Fotografia | 2010
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Maria Mattos
Prêmio aquisição
Niterói-RJ
Entrando sem bater
Video | 2010
Rodrigo Freitas
Grande prêmio
Belo Horizonte – MG
S/título
da série variações sobre o mesmo abandono
Pintura sobre tela | 2010
Para quem ainda sonha com nuvens:
paisagens de inverno
Livros de pintura | 2009
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Desapego
Concebido como um ritual, um site specific acompanhado de
um happening, Desapego, tem origem na obra Mirante (2005) feita
especialmente para o jardim do Museu da Universidade Federal do
Pará-MUFPA. Composta por várias peças modulares, tornava-se móvel
e mutante, podendo trocar de lugar e de forma inúmeras vezes. Da
mesma maneira que Keith Arnatt, em 1969, realizou o Auto-enterro,
em que o artista desaparecia na terra, Armando Queiroz, desapega-se
da sua criação, realizando o enterramento da obra. Assim, cumpre o
ritual do desaparecimento, mas diferente de Arnatt não é o artista que
questiona a sua razão de ser, existir, o que está em jogo é o objeto criado
que se desmaterializa e torna-se pura imagem. O Mirante mergulha
a terra para ver o invisível e brotar transformado, sem a identidade
primeira.
O vídeo, também imagem, é o testemunho do ato de desaparecer,
acompanhado do ritual da manhã, no qual presenciou-se o nascer do
dia: o espetáculo foi a natureza. O cotidiano citadino teve início. Separada
pelas grades de ferro, encontravam-se o jardim e a cidade. As trocas de
memórias marcaram o encontro de tempos distintos: os fragmentos,
encontrados na escavação momentaneamente servem de lençol à terra
que acolhe o Mirante, mas em breve retornarão ao Museu, a casa de
onde vieram.
Naquele dia em que acompanhavámos o enterramento, sôou o som
dos pássaros e ele nunca mais saiu de nossos ouvidos.
Marisa Mokarzel
Curadoria especial
Armando Queiroz
Artista convidado
Belém - PA
Site specific: Desapego
Happening | 2010
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Museu Paraense Emilio Goeldi
Principal monumento do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio
Goeldi (MPEG) e símbolo da instituição, o Pavilhão Domingos Soares
Ferreira Penna, mais conhecido como Rocinha, foi construido na década de
70 do século XIX. O Pavilhão é um ícone da cidade de Belém, sendo o único
remanescente inteiramente de uso público de um tipo de construção que já
foi dominante na capital paraense – as rocinhas. O MPEG está localizado na
Av. Magalhães Barata, 376 – São Braz, tels.: (91) 32193300/32491302.
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Igualmente diferentes
Entendendo o lugar da arte como um território repleto de possibilidades de contatos e
Há uma busca de certa essencialidade nas ações performáticas presentes ali, entre cuias
vinculações, constituído por meio de similaridades e diferenças, onde emergem potências para
que flutuam dentro de formações geométricas que se desmaterializam no balanço da água.
diálogos, concebemos esta mostra, na qual artistas interagem com o outro a partir de uma
Evangelista chama atenção para um conhecimento profundo e secular presente no âmago da
perspectiva ética de compreensão daquilo que distingue este outro e transforma o olhar do
Amazônia e nos chama atenção para o desmantelamento de culturas de povos tradicionais.
artista. Aqui, ninguém passa incólume e, no ponto de fricção, a obra acontece como uma tomada
Já Claudia Andujar, em um processo de mergulho no universo Yanomami, irá criar um ponto de
de posição, uma ação política que se estabelece no momento em que a fala daquele emerge,
inflexão ao se deparar com os rituais xamânicos, adentrando na genealogia desse povo, em seus
revelando que este pode estar em nós, e nós nele, se nos permitirmos o exercício da troca calcada
processos simbólicos e constituir uma reinterpretação visual em sua série fotográfica Sonhos.
no respeito e na ética, percebendo e multiplicando experiências possíveis.
Nesse percurso, Andujar estabelece uma troca riquíssima, dissolvendo limites entre arte e vida.
Procuramos reunir obras que fossem fruto de vivências profundas, sejam estas elementos da
Aqui optamos por apresentar uma relação entre imagens realizadas por meio de diferentes
cultura material Yanomami, empregadas em ações cotidianas e ritualísticas, ou decorrências do
procedimentos. De um lado da sala, Yanomamis são captados pela lente de Andujar em momento
contato e da mistura no processo de alteridade, com povos da floresta, como as constituídas por
de alteridade, durante um ritual xamânico, no qual a integração entre índios e olhar da fotógrafa é
Armando Queiroz, Claudia Andujar e Roberto Evangelista que, longe de estabelecerem relações
materializado em uma imagem pungente, índice do estabelecimento de confiança e cumplicidade;
de poder com os indígenas, se articulam junto a estes, nas diferenças e identificações, para erigir
nas demais paredes são os Sonhos dos indígenas que passam a ser interpretados de forma
seus discursos artísticos que por vezes, se dão no conferir a voz ao outro. Daí termos convidado
sensível por esta artista da fotografia, em imagens surpreendentes que revelam a transcendência
um curador do Museu Paraense Emilio Goeldi-MPEG para incluir peças do acervo desse museu,
presente na relação entre esse povo da floresta, sua cosmogonia e a natureza, construídas
chegando ao conjunto de objetos Yanomami que temos aqui, em diálogo com os artistas convidados.
com sensibilidade e ética. Há uma potência demarcada entre quem olha de dentro e o universo
Neste cenário, temos Armando Queiroz - artista homenageado neste ano -, com o vídeo Ymá
sobre o qual dedica seu olhar, força constituída no legítimo fluxo do compartilhar, das trocas
Nhandehetama – (Antigamente fomos muitos), que traz o depoimento forte e lúcido do índio guarani
sensíveis,que tentamos engendrar aqui, neste ambiente entre-imagens que indica vinculações
Almires Martins acerca dos processos de aniquilamento imposto às diversas etnias das Américas.
éticas irreversíveis.
Queiroz convida seu amigo para realizar uma ação diante da câmera, empresta o espaço da
Estes artistas estabelecem processos ímpares de mergulho nos muitos universos, de uma
imagem para conceder a fala ao outro. O depoimento flui e o índio constitui um discurso do lugar
compreensão densa desse outro, materializada por meio da estética e da ética, gerando obras
da experiência, revela procedimentos de apagamento de seu povo para, em um ato silencioso,
de afinada posição política. Reunir estas obras aqui reitera uma necessidade de olhar e pensar a
performático, após sua fala contundente, cobrir sua face com tinta negra e nos mostrar que
Amazônia em suas complexidades de forma profunda. Esta é nossa missão.
também sumirá, será apagado.
Roberto Evangelista, por sua vez, irá, com ação registrada em película, criar um verdadeiro
manifesto em seu filme Mater dolorosa in memorian II Da criação e sobrevivência das formas,
realizado no Lago do Arara, no Rio Negro (AM), em 1978, e que versa sobre memória e
transmissão cultural, articulando sobre conhecimentos tradicionais em um encontro com índios
Orlando Maneschy
Curador do 29° Arte Pará
da etnia Tukano. Evangelista afirma resistências e estabelece uma apreensão da relação entre
geometria e a concepção de universo desse povo, sobrepondo tempos, evidenciando significados
que transcendem as formas.
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No território das experiências irreversíveis
Quando cheguei ao Brasil em 1955 não fotografava. Através desta
nova linguagem descobri uma forma de comunicação.
Passei minha infância entre a Romênia e Hungria. Oradea, cidade
em que morava na época, pertenceu primeiro a Romênia e depois
passou para o domínio húngaro – partidário do nazismo. Em 1944 meu
pai, que era um judeu húngaro, foi deportado e morreu num campo de
concentração. Minha mãe, de origem suíça e protestante, perto do fim
da Segunda Guerra, e com a chegada dos Russos a Oradea, decidiu
voltar ao seu pais de origem. Meu pai e toda minha família paterna
nunca voltaram de Auschwitz, pois pertenciam a um povo marcado para
morrer. Salvei-me nesta história por milagre.
Comecei a fotografar os índios Yanomami em 1971. Em 1974
começou a construção da rodovia Perimetral Norte, segunda
empreitada do governo brasileiro em querer ocupar as áreas “não
ocupadas” da Amazônia. Testemunhei o sofrimento daquele povo
recém contatado na época. No fim desse período, com a morte de
muitos Yanomami, e fazendo parte da recém criada CCPY, uma ONG
brasileira nos levou para fazer um trabalho de atendimento à saúde
em meio àqueles índios. Passamos a identificá-los “por fichas”, pois
culturalmente os Yanomami se reconhecem pelo grau de parentesco.
A maneira que encontramos para fazer essa identificação foi fotografálos com números em seus peitos, um por um, e assim abrir fichas de
saúde para conseguir submetê-los a tratamento para salvá-los.
Dediquei muitos anos na tentativa de conhecer os Yanomami.
Entendi que era importante adentrar sua cultura devagarzinho, criar
Em 1977, fui retirada da área Yanomami à força, pela FUNAI, e
considerada persona non grata. Voltei a São Paulo, fui co-fundadora
da CCPY, a comissão Pró-Yanomami, uma ONG dedicada à luta pelo
reconhecimento do governo brasileiro às suas terras. Em 1980 voltei
à terra Yanomami acompanhada por dois médicos, e começamos a
fazer um trabalho de promoção à saúde. Uns vinte anos mais tarde, retrabalhando meu acervo fotográfico, de repente ocorreu-me a ligação
entre a vontade de salvar os índios e minha incapacidade de salvar
meus parentes paternos, quando garota de 13 anos. Os Yanomami
“marcados” se transformaram num trabalho conceitual de fotografia.
As imagens da série “Sonhos”, presentes na exposição,
fruto
de imagens dos anos 1970, reelaboradas entre 2000-2005, tinham
como alvo mostrar o encontro dos Yanomami com os espíritos da
natureza. Uma construção simbólica do encontro do ser humano com
o sobrenatural.
Uma vez, na ocasião de uma visita de um xamã Yanomami em São
Paulo, vendo as imagens de “Sonhos”, começou um diálogo sem fim
com elas. Sua reação às imagens à sua frente me deixou espantada
de emoção. Foi uma confirmação da minha tentativa de entrar no
pensamento xamânico. Um momento de plenitude por ter conseguido
repassar anos de trabalho e de ter tido a oportunidade de conhecer
aquele povo.
Aqui, nesta exposição em Belém, foi a primeira vez que tive a
oportunidade de expor meu trabalho na Amazônia.
confiança mútua. Convivendo com eles entendi que eram um povo que
aprendeu, há muito tempo, a se integrar ao meio-ambiente, à natureza.
Os seus mitos e seus ritos revelam todo esse conhecimento.
Só após ser aceita por eles, quer dizer, depois que minha presença
não os incomodava, quando passava despercebida pela comunidade, é
Claudia Andujar
Museu Goeldi, outubro de 2010
que pude me dedicar à fotografia. Aí o trabalho foi se constituindo.
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YANOMAMI: SÉRIE O INVISÍVEL
Artista Convidada
São Paulo - SP
HÉLIO PARA OS BRANCOS - DA SÉRIE SONHOS YANOMAMI
Artista Convidada
São Paulo
Fotografia | 1976
Coleção Galeria Vermelho
Fotografia | 1976
Coleção Galeria Vermelho
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GUERREIRO DE TOOTOTOBI
Artista Convidada
São Paulo
O ESPÍRITO DA FLORESTA - DA SÉRIE SONHOS YANOMAMI
Artista Convidda
São Paulo
Fotografia | 1976
Coleção Galeria Vermelho
Fotografia | 1976
Coleção Galeria Vermelho
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DA SÉRIE SONHOS YANOMAMI
Artista Convidada
São Paulo
Fotografia | 1974
Coleção Galeria Vermelho
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DA SÉRIE SONHOS YANOMAMI
Artista Convidada
São Paulo
Fotografia | 1981
Coleção Galeria Vermelho
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DA SÉRIE SONHOS YANOMAMI
Artista Convidada
São Paulo - SP
Fotografia | 1981
Coleção Galeria Vermelho
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Roberto Evangelista
Artista Convidado
Manuas -AM
Armando Queiroz
Artista Homenageado
Belém - PA
Mater Dolorosa, in memoriam II
Da Criação e Sobrevivência das Formas
Vídeo instalação | 1978/1979
Ymá Nhandehetama (Antigamente fomos muitos)
Vídeo | 2009
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PAR DE ENFEITES COM PENAS
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10050
COLEÇÃO ETNOGRÁFICA
CESTO CARGUEIRO
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10053
ESPATA DE PALMEIRA
CESTO REDONDO (MISSÃO SALESIANA)
Yanomami
B. Albert, 1986
Coleção Etnográfica MPEG 13665
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10052
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Os Yanomami e o ouro canibal
Os Yanomami são a maior nação indígena da Amazônia
a entrar em contato com o mundo ocidental só em tempos
relativamente recentes. Com uma população estimada em
17 mil pessoas, ocupam um território de cerca de 192 mil
quilômetros quadrados, situado entre o Brasil e a Venezuela.
A história de seu contato com o mundo dos “brancos”, ao
longo do século XX, foi marcada por episódios de invasão
territorial, epidemias devastadoras e muita violência – tais
como a “febre do ouro” na Serra do Surucucu, no final da
década de 1980, e a matança em Haximu, em 1993.
Em trechos da entrevista traduzida do idioma Yanomami
pelo antropólogo Bruce Albert, o renomado pajé e liderança
Davi Kopenawa afirma uma relação cosmológica entre o
“ouro canibal” e as epidemias e o mal-estar que afligem
seu povo e o mundo em geral nos tempos atuais:
Nós chamamos estas epidemias de xawara. A
xawara que mata os Yanomami... Omamë, o Criador da
Humanidade, mantinha a xawara escondida. Ele a mantinha
escondida e não queria que os Yanomami mexessem com
isto. Ele dizia: “Não! Não toquem nisso!”… Tendo falado
isso, ele a enterrou bem profundo. Mas hoje os nabëbë, os
brancos, depois de terem descoberto nossa floresta, foram
tomados por um desejo frenético de tirar esta xawara do
fundo da terra onde Omamë a tinha guardado… Quando os
brancos secam o ouro dentro de latas com tampas bem
fechadas e deixam estas latas expostas à quentura do sol,
começa a sair uma fumaça, uma fumaça que não se vê
e que se alastra e começa a matar os Yanomami. Ela faz
também morrer os brancos, da mesma maneira. Não são
só os Yanomami que morrem. Os brancos podem ser muito
numerosos, mas eles acabarão morrendo todos também.
Glenn H. Shepard Jr.
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Com arte para a Arte
AÇÕES COMUNICATIVAS
O ano de 2010 deixou a marca de um passo significativo dado pelo Arte
Pará em sua 29ª edição e pela Fundação Romulo Maiorana (FRM) no princípio
organizador de suas metas: firmar a arte como meio privilegiado para a cidadania,
promover oportunidades para artistas, pesquisadores e estudantes, aproximar
as diversidades e ter como foco a realização de um projeto pedagógico de
qualidade. Essa proposição de valores e metas nos impulsiona a buscar novos
desafios em mediar o diálogo para a educação dos envolvidos.
A Fundação vem trabalhando, já desde algumas edições anteriores, com o
objetivo de ampliar e fortalecer as ações educativas no projeto Arte Pará, que
tem característica sazonal e acontece nos meses do outubro e novembro. A
articulação com instituições de ensino, professores, alunos, artistas, júri de
seleção e premiação provocou grandes avanços no Projeto Pedagógico da FRM,
e tem favorecido o diálogo entre as pessoas que participam deste trabalho, a
partir das experiências vividas por elas.
Como muito bem colocou Vera Alencar, em 1987, na sua dissertação
de mestrado, Museu Educação: “... Educação se faz caminho, ao andar”. E
nesse caminhar reflexivo, tudo o que podemos querer através da educação é
alcançar objetivos maiores na formação de adultos, jovens e crianças com o
foco na aproximação de artistas e obras presentes nos espaços expositivos e,
fundamentalmente, na apreensão dos conceitos da arte contemporânea.
Nesta edição, foi criado o cargo de “curadora educacional”, e não poderia
deixar de registrar a satisfação que me provocou o fato de ser designada a ocupar
esta função que me fez buscar e pensar qual de fato o meu papel. Tive a clareza
de que o curador educacional é alguém que não influi na seleção dos artistas.
E na publicação da Fundação Bienal do Mercosul, Educação para a arte/Arte
para a Educação (2009), verifiquei que “o curador pedagógico é alguém que atua
como um embaixador do público e observa o evento com os olhos do visitante”.
Ativar este olhar de alteridade me fez ver a importância da ação educativa e
da arte que embaça e distancia a experiência com a arte contemporânea.
Durante observações e pesquisas, uma das decisões foi marcar o processo
de preparação dos estudantes, o mediador entre as obras e o público, que
eu denomino de “linha de frente”. Uma das premissas é elevar a formação,
entendendo que mais do que dar informações detalhadas de obras e artistas, o
Fotos: Shirley Penaforte
levantar várias problemáticas. Destaco aqui a barreira do gosto na apreciação
medidor precisa estar preparado para pensar junto com o público.
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Neste segmento, promovemos um ciclo de estudos que envolveram uma
equipe de educadores, incluindo a profª Renata Maués, diretora do Sistema
Integrado de Museus (SIM); os curadores profª Drª Marisa Mokarzel, e o
prof. Dr. Orlando Maneschy; a profª Zenaide de Paiva, diretora do Museu de
Arte Sacra (MAS); a profª Ms. Rosangela Brito; e Janice Lima. Consideramos
significativos tais momentos de troca e envolvimento da equipe, o que refletiu
consideravelmente na prática. O professor Neder Charone, diretor da Faculdade
de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará (UFPA), que participou do
júri de seleção, fez uma leitura pontual nos espaços expositivos junto com os
medidores, desdobrando conceitos e aproximações.
O trabalho alcançou ótimo nível qualitativo nas visitas orientadas aos
espaços expositivos que compuseram a 29ª edição do Arte Pará. Oficinas
de arte, distribuição do encarte especial Arte Pará O Liberalzinho, o ônibus
disponibilizado pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros
OFICINAS | MPEG E MHEP
(Setrans-Bel), que proporcionou que escolas distantes participassem da ação,
o encontro com curadores, artistas, júri de seleção e outros profissionais,
o registro fotográfico sistemático criando uma cultura de memória, dentre
outras estruturas do eixo curatorial, acabaram por provocar circunstâncias e
resultados muito desejáveis.
No que diz respeito à questão quantitativa oficial, alcançamos número total
de mais de 19 mil visitantes nos espaços expositivos, que registraram presença
em fichas de cadastro junto aos grupos agendados e em livros de assinaturas.
Entretanto, não foi possível contabilizar o público flutuante, o que nos leva a crer
que mais pessoas ainda percorreram as mostras do Arte Pará 2010.
Para nós, importa muito mais a questão qualitativa do atendimento ao
público, o que não significa que a estatística não seja relevante para ressaltar
que, durante o projeto Arte Pará, o movimento nos museus de Belém é intenso
e é quando eles mais recebem público, daí nossa proposição em eliminar
fronteiras e ter o professor-propositor no sentido de abranger e unificar o
público num trabalho conjunto, trabalhando na mesma direção.
Desejamos que, nas próximas edições, cada vez mais pessoas façam parte
Fotos: Shirley Penaforte
desta trajetória e participem desses encontros na vertente dialógica. A presença
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do público é fundamental para que a arte aconteça.
Vânia Leal Machado
Curadora Educacional da 29ª Edição Arte Pará
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ARTISTAS CONVIDADOS E SELECIONADOS ORDEM ALFABÉTICA
MUSEU HISTÓRICO DO ESTADO DO PARÁ – MHEP
Adriana Maciel
Belo Horizonte - MG
(Vive e trabalha no Rio de Janeiro – RJ)
[email protected]
Série sertão I, II e III
Fotografia
39,5x51 cm; 50x37 cm; 51x38 cm
Alberto Bitar
Belém - PA
[email protected]
Sem Título, Da Série Efêmera
Paisagem I, II e III (2009)
Fotografia
40X60 cm; 40X60 cm; 40X123 cm (díptico)
Angela Detanico e Rafael Lain
Caxias do Sul - RS
(Vivem e trabalham em Paris - FR)
[email protected]
Artistas Convidados
O Mundo Justificado, alinhado à direita,
centralizado, alinhado à esquerda, 2006
animação 1’25’’
Acervo Galeria Vermelho
Anita Lima
Belém - PA
[email protected]
Ainda queria falar de flores (2009/2010)
Fotografia
20x50 cm
André Venzon
Porto Alegre-RS
[email protected]
A Cidade é meu corpo 01 e 02 (2010)
A Terra é meu corpo 01
Fotografia
100x145 cm
145x180cm
Angella Conte
São Paulo - SP
[email protected]
Essência (2009)
Vídeo 5´30
Imagens: Felipe Barros e Flavio Camenha
Trilha sonora: Helio Pisca e Eric Satie
Edição: Felipe Barros
Armando Queiroz
Belém-PA
[email protected]
Artista Homenageado
Instalação: Cântico Guarani, 2010
Instalação sonora: Tupambaé (Parte de Deus)
Barrão
Rio de Janeiro –RJ
[email protected]
Artista Convidado
O caneco é nosso! (2007)
Cerâmica e durepox
20x33.5x18.5cm
Acervo Galeria Laura Marsiaj
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Bruno Cantuária, Luciana Magno
e Ricardo Macêdo
Belém-PA
[email protected];
[email protected]; [email protected]
Cafetinagem (2010)
Vídeo 2’51”
Registros em fotografia e vídeo: Bruno Cantuária,
Daniel Cruz e Ricardo Macêdo.
Performances com máscaras: Cynthia
Nascimento, Camila Mareco e Luciana Magno
Carolina Ponte
Salvador-BA
(Vive e trabalha em Petrópolis-RJ)
[email protected]
S/Título
Escultura de crochê A: 200x150x30 cm
e B: 190x125x100 cm
Cleanto Viana
Rio de Janeiro-RJ
[email protected]
O artista, chapeuzinho e o pônei (2010)
Vídeo performance 3’37”
Prêmio aquisição
Diego de Los Campos
Montividéu - Uruguai
(Vive e trabalha em Florianópolis - SC)
[email protected]
Sobre Como Digerir uma Lembrança (2010)
Vídeo 15”
Pequena tentativa desvanecente (2010)
Vídeo 3’
Elza Lima
Belém-PA
[email protected]
Quem te ensinou a nadar? 1, 2 e 3 (2010)
Fotografia
40 x 60; 60 x 80; 40 x 90
Ena Lautert
Lajeado - RS
(Vive e trabalha em Porto Alegre-RS)
enalautert.com.br
S/Título (2010)
Instalação
Fernando Limberger
São Paulo-SP
[email protected]
Abraçadinhos I, II e III (2003)
I: Dimensões variáveis, aproximadamente
30x50x25 cm
II: Dimensões variáveis, aproximadamente
40x50x30 cm
III: Dimensões variáveis, aproximadamente
40x60x60 cm
Cabaças pintadas
Flávio Cerqueira
Guarulhos-SP
[email protected]
O Invisível (2010)
Tudo Entre Nós
Ex Corde
Escultura/pintura eletrostática sobre bronze
Flávio Lamenha
Recife-PE
(Vive e trabalha em São Paulo)
[email protected]
Vieira e Solá Gallery (2008)
Fotografia
50 x 75 cm
Flora Assumpção
São Paulo-SP
[email protected]
Serpentes de Prata I, V e VI (2010)
Instalação: Imoressaão para cartaz lambe-lambe
em escala mural
II: 168x420 cm;200x407cm;156x420cm
Hildebrando de Castro
Olinda - PE
(Vive e trabalha em São Paulo)
[email protected]
Artista Convidado
Missing person (2009)
Fotografia Lenticular, tiragem de 10,
60 x 60 cm
Acervo Galeria Laura Marsiaj
Igor Magalhães Vidor
São Paulo - SP
[email protected]
Mais Um dia em Belém (2010)
Performance
Jimson Vilela
Rio de Janeiro - RJ
[email protected]
Livros (2010)
3 Cegos -10x15 cm/64 páginas
O Livro do Encontro -15x 21 cm/168 páginas
A Procura de Horizontes - 30x21,5 cm/124
páginas
Jorane Castro
Belém – PA
[email protected]
Artista Convidada
Íntima Paisagem (2010)
Período de realização: setembro e outubro
Vídeo 20’
Foram enviados convites pela internet à
diferentes pessoas, em diferentes cidades e
países, para que elas/eles compartilhassem a
vista de sua janela filmando com uma câmera
digital ou um celular. Este trabalho é a resposta
em vídeo a este convite.Com a colaboração de
(em ordem alfabética):
Andréa Cals, Carlos Barretto, Fabio Hassegawa,
Fernanda Martins, Fernando Hage, Juan Zapata,
Jorge Luquín, Johanna Mercer, Josynaldo
Ferreira, Lilian Bado, Luciana Magno, Mariana
Lopes, Pablo Ramírez Durón, Pedro Rodrigues,
Orlando Maneschy, Stephen Dean Thaysa Oliver.
Lugares: Belém, Pará, Buenos Aires, Argentina,
Campinas, São Paulo, Caiena, Guiana Francesa,
Chicago, Illinois, Estados Unidos, Naucalpan,
México, Nova Iorque, Estados Unidos, Londres,
Inglaterra, Paris, França, Porto Alegre, Brasil,
Rio de Janeiro, Brasil, São Francisco, Califórnia,
Estados Unidos, São Paulo, Brasil, Tacubaya,
Cidade do México, México,Twin Islands, Indian
Arm, North Vancouver, Canadá.
José Hailton
Belém - PA
Casa I, II e III (2010)
Pintura
74x34 cm
Keyla Sobral
Belém - PA
[email protected]
Métodos de Vingança I, II e III
Desenho (2010)
I: 29,7X42 cm; II: 29,7X42 cm; III: 29,7X42 cm
Letícia Rita
São Paulo – SP
[email protected]
A Liberdade nem sempre está
em poder voar (2009)
Extensão: 2, 60m
Instalação de parede
Louise D.D
Rio de Janeiro – RJ
[email protected]
Dor e febre (Tylenol) (2010)
Carne Vermelha
Original e Cópia
Objeto
Manoel Novello
Rio de Janeiro - RJ
[email protected]
Paisagem da Ilha (2010)
Sobre a Terra dos Coqueiros 1
Sobre a Terra dos Coqueiros 2
118cmx62cm; 62cmx54cm; 88cmx66cm
Pintura
Marinaldo Santos
Belém – PA
Escalação Cartas de Defesa (2010)
15x30cm
Mista
Murilo Rodrigues
Belém-PA
[email protected]
Black Bird II (2010)
Vídeo Instalação
Nazareno
São Paulo - SP
(Vive e trabalha em São Paulo).
[email protected]
Artista Convidado
Agora eu só estou contra você
Fotografia sobre papel
2000/2010
Osvaldo Carvalho
Rio de Janeiro - RJ
[email protected]
Sem Título da Série Dealer ( 1 2 3) 2010
Pintura
6-x100 cm
Pedro David
Nova Lima - MG
[email protected]
Cartografia do Infinito – Políptico da série
Impureza (2009/2010)
24 fotografias
30x45 cm cada
Ricardo Macêdo
Belém - PA
[email protected]
Relações Intercambiáveis (2010)
Instalação
Regina Parra
São Paulo - SP
[email protected]
Travessia (ou sobre La marcha) (2010)
Vídeo
Eldorado II (2010)
Óleo e Cera sobre papel
32x37 cm
Renato Chalu
Belém - PA
[email protected]
Meta-Ver-O-Peso (2008)
Instalação
1,00m x 0,40m x 0,20m
2º Prêmio
Rodrigo Cass
São Paulo - SP
[email protected]
Meditação sobre um Tridimensional Iluminado
Instalação
3º prêmio
Óleo sobre tela, 2010
Monitor de televisão, óleo, lâmpada, circuito
elétrico e suporte de metal.
29x19x15 cm
(TV cortada, cheia de óleo, fixação em parede
como uma pintura)
Sinval Garcia
São Paulo - SP
[email protected]
Encontros - Coleção Belém-PA (2009/2010)
Fotografia/Instalação
2.30mx3mx3cm
Valéria Coelho
Belém - PA
(Vive e trabalha em São Paulo-SP)
Psicografias
Instalação
2,0m x 3,0 m; 70 cm x 2,0 m; 2,0m x 3,0 m
Victor de La Rocque
Belém - PA
[email protected]
O Ovo e a Galinha (2010)
Instalação
Prêmio Aquisição
MUSEU DE ARTE SACRA – GALERIA FIDANZA
Arthur Omar
Poços de Caldas - MG
(Vive e trabalha no Rio de Janeiro)
[email protected]
Artista Convidado
Utilizando o Zero como Roda Acima do Profundo
Céu Azul
da série Antropologia da Face Gloriosa
Fotografia
C-Print sobre alumínio
Rapto de Rosas e Apagamento Final
da série Antropologia da Face Gloriosa
Fotografia
C-Print sobre alumínio
Contra Todos os Sistemas Inclusive o das Sereias
da série Antropologia da Face Gloriosa
Fotografia
C-Print sobre alumínio
Antropologia da Face Gloriosa
da série Antropologia da Face Gloriosa
Fotografia
C-Print sobre alumínio
Intuições Atléticas
da série Antropologia da Face Gloriosa
Fotografia
C-Print sobre alumínio
Leite Zulu Para a Harmonia Química Nacional
da série Antropologia da Face Gloriosa
C-Print sobre alumínio
Fotografia
A Menina dos Olhos
da série Antropologia da Face Gloriosa
Fotografia
C-Print sobre alumínio
MUSEU DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
Andréa Facchini
Niterói – RJ
[email protected]
Entre o azul do céu (sobre-viventes)
(2010) da Série Ficções
Onde você sempre quis estar
Sem linha do horizonte, sem ponto de fuga
Desenho/mista
55,04 cmx 42,03 cm; 21,03 cmx 26,09 cm;
25cm x 35 cm
Prêmio Aquisição
Armando Queiroz
Belém-PA
[email protected]
Artista Homenageado
Site specific: Desapego, 2010
Duração: 2’
Direção de Fotografia: Marcelo Rodrigues
Coleção do artista /artist collection’s
Obs: Cópia de exibição / Exhibition copy
Deborah Engel
Palo Alto, Califórnia - EUA
(Vive e trabalha no Rio de Janeiro - RJ)
[email protected]
Paisagens possíveis - ladies - 45x60 cm
(2009/2010)
Paisagens possíveis - Pastor Itinerante
Paisagens Possíveis - Tchola Sov
Fotografia
45x60 cm
Flávia Bertinato
Pouso Alegre - MG
(Vive e trabalha em São Paulo)
[email protected]
Tormento (2010)
Desenho
200cm x 60cm x 4cm
125
Flávia Junqueira
São Paulo - SP
[email protected]
A Casa em Festa 6 e 7 (2010)
Fotografia
80x100 cm
Gelka Barros
São Paulo -SP
(Vive e trabalha em Belo Horizonte - MG)
[email protected]
Três Dias em Branco (2010)
Fotografia
Gina Dinucci
Guarulhos - SP
[email protected]
O Banquete para Judith (2010)
Objeto
44x55 cm
Maria Mattos
Niterói - RJ
[email protected]
Entrando Sem Bater (2010)
Vídeo 4’39”
Prêmio Aquisição
Nailana Thiely Salomão Pereira
Belém - PA
[email protected]
Noir - Dias curtos de inverno I, II e III (2010)
Fotografia
62x42 cm
Odires Mlászho
Mandirituba - PR
(Vive e trabalha em São Paulo)
[email protected]
Artista Convidado
Stephen Dean
Paris - FR
(Vive e trabalha em New York)
[email protected]
Artista Convidado
PULSE, 2001
Vídeo 8’
color with stereo sound
Tiago Rivaldo
Porto Alegre-RS
[email protected]
Artista Convidado
Via de mãos dadas, n.º2 (2010)
Vídeo 4’39
Ação: Tiago Rivaldo/Renato Pimentel Fotografia:
Gustavo Pessoa Edição: Alice Ripoll
Viviane Gueller [email protected]
Epiderme (2010)
Instalação
Elemental (2009/2010)
Intervenção urbana
MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
Diana/ série Serpentina, 2002
Ampliação fotográfica digital
70 x 58 cm
Acervo Galeria Vermelho
Armando Queiroz
Belém-PA
[email protected]
Artista Homenageado
Skinner #2, 2007
impressão jato de tinta
90 x 65 cm, 2007
Acervo Galeria Vermelho
Ymá Nhandehetama
(Antigamente fomos muitos), 2009
Duração: 8’21”
Coleção do artista
Cópia de exibição
Paulo Brusky
Recife - PE
[email protected]
Artista Convidado
Da série O Meu Cérebro Desenha Assim, 1966
Técnica: Eletroencefalograma e impressão
digital. Obra resultante de pesquisa iniciada
nos anos 70.
Raymundo Firmino de Oliveira Neto
Belém-PA
[email protected]
RG-1725411 (2010)
RG- 1712252
Fotografia
118x28cm; 118x59,4 cm
126
Rodrigo Freitas
Belo Horizonte – MG
[email protected]
S/Título da Série Variações sobre o mesmo
abandono (2010)
Para quem ainda sonha com nuvens:
paisagens de inverno
S/Título da Série Variações sobre o mesmo
abandono (2010)
Livros de pintura
30x40 cm; 14,5x21 cm; 30x40cm
Grande Prêmio
Claudia Andujar
Suiça, naturalizada Brasileira
(Vive e trabalha em São Paulo)
[email protected]
Artista Convidada
O espírito da floresta
Da série sonhos Yanomami, 1976
Ampliação fotográfica 100 x 100 cm;
com moldura 107,5 x 107,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
Da série sonhos Yanomami, 1981
Ampliação fotográfica 100 x 100 cm;
com moldura 107,5 x 107,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
Da série sonhos Yanomami, 1974
Ampliação fotográfica 100 x 100 cm;
com moldura 107,5 x 107,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
Da série sonhos Yanomami, 1981
Ampliação fotográfica 100 x 100 cm;
com moldura 107,5 x 107,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
Yanomami: série o invisível, 1976
Ampliação fotográfica 97 x 66 cm;
com moldura 100 x 114,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
Roberto Evangelista
Cruzeiro do sul
(Vive e trabalha em Manaus - AM)
robertoevangelista@ yahoo.com.br
Artista Convidado
Mater Dolorosa, in memoriam II
Da Criação e Sobrevivência das Formas (1978/79)
Vídeo instalação
Original em 16mm, a seguir transcodificado.
Fotografia e montagem: Isac Amorim
Música: Tukanos e Makús
Narração: Roberto Evangelista
Roteiro/Texto/Montagem
Direção: Roberto Evangelista
COLEÇÃO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
CESTO REDONDO
Yanomami
(h. b filme)
Coleção Etnográfica MPEG s/n 99
CESTO CARGUEIRO
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10053
CESTO REDONDO
Yanomami
(h. b filme)
Coleção Etnográfica MPEG s/n 95
CARCAZ
Yanomami
Arte Índia, 1980
Coleção Etnográfica MPEG s/n
CESTO REDONDO (MISSÃO SALESIANA)
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10052
ESPATA DE PALMEIRA
Yanomami
B. Albert, 1986
Coleção Etnográfica MPEG 13669
PAR DE ENFEITES COM PENAS
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10050
RASPADOR (MANDÍBULA)
Yanomami
B. Albert, 1986
Coleção Etnográfica MPEG 13678
PAR DE ENFEITE PARA BRAÇO
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10046
ESPATA DE PALMEIRA
Yanomami
B. Albert, 1986
Coleção Etnográfica MPEG 13665
ENFEITE PARA BRAÇO
Waiká
J. Bechine, 1963
Coleção Etnográfica MPEG 10047
TANGA FEMININA
Yanomami
Edson de Diniz e J. Shapiro, 1968
Coleção Etnográfica MPEG 12035
PAR DE BRINCOS
Waiká
José Hidasi, 1962
Coleção Etnográfica MPEG 9828
PAR DE GRAMPO (38a e 38b)
Yanomami
Márcio Meira, 2007
Coleção Etnográfica MPEG s/n
CUIA
Waiká
José Hidasi, 1962
Coleção Etnográfica MPEG 9830
Guerreiro de Toototobi, 1976
Ampliação fotográfica 100 x 100 cm;
com moldura 107,5 x 107,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
Hélio para os Brancos
Da Série Sonhos Yanomami, 1976
Ampliação fotográfica 100 x 100 cm;
com moldura 107,5 x 107,5 cm
Acervo Galeria Vermelho
127
Lucidéa Maiorana
Presidente
Roberta Maiorana
Diretora Executiva
Daniela Sequeira
Assessora Geral
Ana Cristina Prata
Assistente Executiva
Aureliano Lins
Estrutura da FRM
Fundação Romulo Maiorana
Av. Romulo Maiorana, 2. 473 – Marco – CEP: 66.093-000
Fones: (91) 3216.1142 e 3216.1125 – Fax: (91) 3216.1125
E.mail: [email protected]
Belém – Pará – Brasil
Website: www.frmaiorana.org.br
Facebook: [email protected]
128
129
ARTE PARÁ 2010
Curadoria Geral
Orlando Maneschy
Assistentes
Bruno Furtado
Danilo Baraúna
Curadoria Sala Especial Armando Queiroz
Marisa Mokarzel
Curadoria Educacional
Vânia Leal Machado
Assistente
Luana Machado
Coordenação Geral
Roberta Maiorana
Daniela Sequeira
Assistente de Coordenação
Ana Cristina Prata
Assessoria de Imprensa
Carolina Menezes
Júri de Seleção
Andrés Hernández
Daniela Labra
Nadja Peregrino
Neder Charone
Ricardo Rezende
Rubens Fernandes Junior
Júri de Premiação
Andrés Hernández
Ricardo Rezende
Solange Farkas
CURADORIA EDUCACIONAL
Projeto de Montagem
Roberta Maiorana
Orlando Maneschy
Marisa Mokarzel
Projeto do Hall de Entrada
Museu Histórico do Estado do Pará
Roberta Maiorana
Montagem Geral
Marta Freitas
Manoel Pacheco “kiko”
Assistentes de montagem
Alexandre Cruz
Cristiano Damasceno
Elton Cardoso
Elcide Oliveira
Eldimar Benaion
Georgia Bittencourt
Marcelo Martins
Mario Kelsen
Sérgio Gayoso
Apoio
Alcione de Oliveira
Aureliano Lins
David Moura Dantas
Diogo Coimbra
Marcio Helvio
Raimundo Diovane
Reginaldo Braga
Iluminação
Equipe MHEP / MAS
EDUCADORES
MUSEU HISTÓRICO DO ESTADO DO PARÁ
Anderley Solon Pety
Ediane Chagas Frota (coordenadora do turno da manhã)
Géssyca Thais
João Pedro Rodrigues da Silva
Nathiel Sarges Moraes
Izabella Reis Lima (coordenadora do turno da tarde)
Melina Chagas Leão
Indra Danielle Leite da Silva
A mediação Cultural e o público
Rosangela Britto
MUSEU DE ARTE SACRA
Derson Antônio Diniz de Souza
(coordenador do turno da manhã)
Sheysy Aragão Monteiro
Ewerton Fabrício Martins da Silva
(coordenador do turno da tarde)
Winnie Rodrigues Freitas
Conversa do artista no espaço expositivo
Sinval Garcia
Armando Queiroz
Sinval Garcia e Andrés Inocente Martín Hernández
Claudia Andujar
Murilo Rodrigues
Armando Quieroz e Almires Martins
Mediação da roda de conversa: Marisa Mokarzel e Vânia Leal
MUSEU DA UFPA
Ana Caroline dos Santos Protázio
Aurélio Homobono Gouvêa
Jorge Luís Barros Coelho
(coordenador do turno da manhã)
Soraya do Socorro de Jesus Raiol
(coodenadora do turno da tarde)
Fábio Augusto da Silva Costa
Conversa com o Júri de seleção Arte Pará 2010.
Participantes da roda de conversa:
Rubens Fernandes Júnior; Daniela Labra, Andrés Inocente
Martín Hernández, Nádja Peregrino,
Ricardo Rezende e Neder Charone.
Mediação da roda de conversa: Curador Arte Pará
Orlando Maneschy
MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI
Lila Pereira Quezada (coordenadora de turno) Tatiana Maia
Nascimento
Marcos Alexandre da Costa Santos
(coordenador de turno tarde)
Maria Gabriella da SIlva Dias
Douglas Augusto da Silva Caleja
Programação Visual
Mendes Comunicação
PALESTRAS
Plotagem
Viana Print
Arte Contemporânea em espaços culturais
Janice Lima
Por Onde Anda a Arte Contemporânea
em Armando Queiroz
Marisa de Oliveira Mokarzel
Leitura e apropriação da Obra Contemporânea
Neder Charone
A curadoria do Projeto Arte Pará
Orlando Maneschy
Renata Maués
Curadoria Educacional do Projeto Arte Pará
Vânia Leal
Mediadores Arte Pará e mediadores dos
espaços culturais
Zenaide de Paiva
PROGRAMAÇÃO DO NÚCLEO DE OFICINAS
MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI
Oficina de Fotografia: Um olhar amazônico sobre a
fotografia contemporânea.
Oficina de “Arte Plumária”
Oficina “Carimbos Indígenas”
Oficina: “Pintura em tecidos: releitura da Exposição do
Arte Pará”
Atividades lúdico-educativas
“Papo de Índio”
Quartas do Conto “Era uma vez na Amazônia”
Sexta é dia de Teatro de Fantoches – “Conversando com a
galera”
Dinamização de Jogos educativos e Passatempo
Atelier de Pintura: Oficinas “Relâmpago”
MUSEU HISTÓRICO DO ESTADO DO PARÁ
Oficinas sistemáticas a partir do olhar sobre a
exposição Arte Pará que ocorreu toda quarta-feira no
horário de 10h as 12hs.
Local: Laboratório didático Arte Pará montado no
corredor do Museu
Salvaguarda da obra contemporânea em espaços culturais
Renata Maués
130
131
A Fundação Romulo Maiorana agradece
Afonso Gallindo, Aguinaldo Nascimento, Alcemir Aires,
Alexandre Lima, Almires Martins, Alvaro Maciel, Ana Del
Tabor, Ana Paula Felicísssimo de Camargo Lima, André dos
Santos Antonina Matos, Armando Queiroz, Camila Kzan,
Carlos José da Silva, Carmem Peixoto, Cássio Tavernard,
Cristiana Barreto, Daniele Dal Col, Deusarina Vasconcelos,
Diogo Coimbra, Eliane Moura, Eduardo Brandão, Edileusa
Sodré, Eliana Finkelstein, Ericka Brandão, Elza Couto
Governo do Estado do Pará
Tavares, Fátima Cruz, Fernando Hage, Fernando de Assis,
Prefeitura Municipal de Belém
Francisco Carlos,
Projeto o Liberal na Escola
Frederico Fragola, Gerlei Agrassar,
Glenn Harvey Shepard Jr, Horácio Higuchi, Jorge Eiró, Júlia
Secretaria Executiva de Cultura
Rodrigues, Jussara Derenji, Karina Farias, Karol Gillet
Museu Histórico do Estado do Pará
Soares, Laura Marsiaj, Liucidalva Queiroz Pinheiro, Louise
Museu da Universidade Federal do Pará
Fagury, Manuela de Lorenzo, Márcio Alvarenga, Marceliano,
Melissa Barra, Luis Videira, Luis Peixoto, Madiã Iglesias,
Manoel Pacheco, Marcelo Rodrigues, Márcia Helena
Pontes, Marcio Helvio, Marcos Gallon, Marcus Moreira,
Museu Paraense Emílio Goeldi
Museu de Arte Sacra
Mendes Comunicação
Maria do Céo Silva, Maria Alice Penna, Maria Christina,
Sistema integrado de Museus e Memoriais
Maria Weneide Alves, Mariana Veluk, Mario da Purificação,
Faculdade de Estudos Avançados do Pará – FEAPA
Mário Martins, Martha Lima de Carvalho, Maurício de
FUNARTE - MINISTÉRIO DA CULTURA
Souza, Melissa Barbery, Neder Charone, Nelson Nabiça,
Escola Superior Madre celeste – ESMAC
Nelson Rodrigues Sanjad, Nilma Brasil, Nilson Gabas
Universidade Federal do Pará – UFPA
Junior, Norberto Tavares Ferreira, Oriana Duarte, Oswaldo
Mendes, Oswaldo Mendes Filho, Paulo do Canto, Paulo
Herkenhoff, Paulo Machado, Paulo Souza, Patrick Pardini,
Queila Ramos, Raimundo Diovane, Raimundo Teodoro dos
Universidade da Amazônia – UNAMA
Galeria Vermelho
Galeria Laura Marsiaj
Santos, Raoni Arraes, Regina Fonseca, Reginaldo Braga,
Sindicato das Empresas de Transportes
Renata Belich, Renata Maués, Renata Souza, Roberta
de Passageiros de Belém - SETRANSBEL
Couceiro de Miranda, Rogério Bezerra, Rosangela Britto,
Rose Mendes Meira, Roseny Mendes de Mendonça, Sandra
A todos os artistas selecionados e convidados,
Cristina Santos, Sheila Martins, Shirley Penaforte, Wanda
e a equipe das ORM que contribuíram para a
Okada, Zenaide Pereira de Paiva.
132
realização deste projeto.
133
CATÁLOGO
Coordenação Geral
Roberta Maiorana
Daniela Sequeira
Curadoria Geral
Orlando Maneschy
Curadoria Especial sala Armando Queiroz
Marisa Mokarzel
Coordenação Editorial
Vânia Leal Machado
Projeto Gráfico
Maria Alice Penna
Editoração Eletrônica
Cássio Tavernard
Fotografias
Everton Ballardin
Assistente de Fotografia
Shirley Penaforte
Tratamento de imagens
Retrato Falado
Revisão de textos
Carolina Menezes
Todas as imagens e informações contidas nos textos são de inteira
responsabilidade de seus autores
PATROCÍNIO
REALIZAÇÃO
Impressão
Halley S.A. Gráfica e Editora
134
135
Dados Internacionais de Catalogação da Publicação
MAIORANA, Roberta; SEQUEIRA, Daniela (Coordenação geral);
MACHADO, Vânia Leal (Organização); MANESCHY, Orlando
(Curadoria geral e Organização); MOKARZEL, Marisa (Curadoria
especial Armando Queiroz). Belém - Pará, 2011.
Título Original: 29º Arte Pará
ISBN 978-85-62494-04-8
1. Arte Moderna. Século XXI.
Este catálogo foi impresso pela Halley S.A Gráfica Editora no papel Couchè
fosco 150 g/m2 para o miolo e no papel Cartão Supremo Duodesign
350 g/m2 para a capa. Foram utilizadas as tipologias DIN Light e DIN Medium.
A tiragem inicial foi de 650 exemplares.
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