anamorfoses – um resgate das técnicas da

Transcrição

anamorfoses – um resgate das técnicas da
ANAMORFOSES – UM RESGATE DAS TÉCNICAS DA
PERSPECTIVA CÔNICA
Priscila Marquezine Gomes
Pós-Graduanda em Técnicas de Representação Gráfica – EBA/UFRJ
[email protected]
Claudio Cesar Pinto Soares
UFRJ – EBA, Departamento de Técnicas de Representação
[email protected]
Resumo
Este trabalho estuda as aplicações de técnicas da Perspectiva Cônica na
elaboração das perspectivas anamórficas. Embora sejam bastante
conhecidas na Internet as apresentações com desenhos artísticos
surpreendentes pelas suas perspectivas inusitadas, poucas pessoas estão
familiarizadas com o nome e com as técnicas utilizadas nesses desenhos.
Este desconhecimento, aliado à escassez de material didático sobre o
assunto e o insight sobre a importância do domínio teórico da Perspectiva
contida nestes trabalhos, foram os pontos decisivos para a definição do
tema e do título da monografia do Curso de Especialização em Técnicas
de Representação Gráfica da EBA / UFRJ. Assim, indo além de
simplesmente registrar a arte da anamorfose, este trabalho procura
identificar os conhecimentos teóricos da Perspectiva Cônica cujo domínio é
essencial para o tipo de desenho em questão. Com isso, pretende-se
fornecer subsídios para uma reforma curricular daquela que é a mais
tradicional disciplina de Perspectiva, e que perdeu muito da sua
importância original com o advento da Computação Gráfica capaz de gerar
imagens fotorrealísticas de objetos virtuais 3D com facilidade.
Palavras-chave: Anamorfose, Ensino, Perspectiva Cônica.
Abstract
This work is about the application of Conic Perspective techniques in the
elaboration of anamorphic perspectives. Even if the artistic drawings with
striking unusual perspectives are well known in the internet, few people are
familiar with the name and the techniques used in those drawings. This lack
of knowledge, combined with the scarcity of teaching materials on the
subject and a personal insight about the importance of mastering the
theoretical foundations contained in those works were the main reasons to
define the theme and title of monograph of the Specialization Course in
Graphical Representation of EBA / UFRJ. So, going beyond of simply
describing the anamorphosis art, this study seeks to highlight the
theoretical knowledge of Conic Perspective, which mastering is essential
for that kind of drawing. Therefore, the objective is to provide information
for a curricular reformation of the more traditional discipline of Perspective
which has lost much of its original importance with the arising of Computer
Graphics and its easy generation of photorealistic images of 3D virtual
objects.
Keywords: Anamorphosis, Education, Perspective Conic.
1
Introdução
Anamorfose é uma técnica que consiste basicamente em “desenhar distorcido”, de
modo que este desenho só se torne compreensível quando observado de um único
ponto de vista, ou seja, é um fenômeno óptico que transforma uma imagem
aparentemente “deformada” em uma forma “regular”.
O conhecimento das imagens anamórficas é mais antigo e mais difundido do que
aparenta. Existem várias versões etimológicas da palavra anamorfose, que é oriunda
do grego, anamorphosis (an + morphé). Porém, há um consenso de que anamorfose
se refere à forma diretamente relacionada à sua transformação, deformação, um
“formar de novo” ou “reformulação”. Existem dois tipos de anamorfose:

A oblíqua, que é uma técnica gráfica que distorce, deforma ou alonga
propositadamente um desenho de modo que uma visão coerente da imagem só se
obtém quando o observador é colocado num ponto de vista específico. Um trabalho do
artista Julian Beever (figuras 1 e 2) ilustra esta definição:

Figura 1: Desenho de Julian Beever.
Figura 2: Desenho de Julian Beever.
Fonte: - http://users.skynet.be/J.Beever/
Na figura 1 o desenho aparece como elaborado na realidade (distorcido) e na
figura 2 o mesmo se torna inteligível quando visto de um ponto de vista específico.

A anamorfose catóptrica, que é uma imagem calculada para ter a sua formação
regular refletida em um espelho convexo, que pode ser cilíndrico, piramidal, cônico ou
tórico. Neste caso, o desenho disforme é feito sobre uma base plana, de acordo com o
tipo de espelho através do qual será refletido e, a reconstituição da imagem depende
de sua reflexão em um espelho e não mais da posição do observador (figuras 3 e 4).
Figura 3: Desenho de István Orosz
Figura 4: Desenho de István Orosz
Fonte: http://puzzleontherocks.blogspot.com/2010/06/imagens-magicas-anamorfoses.html
2
Um breve histórico
Teóricos como Baltrusaitis (1873 - 1944) afirmam serem do século XVI os primeiros
registros do aparecimento desta técnica gráfica, mas a sua conceituação só foi
introduzida no século posterior. Inicialmente encontrada só na forma oblíqua, a partir
do século XVII desenvolve-se a anamorfose catóptrica, que foi muito difundida no
século XIX como um meio de entretenimento (PARENTE, 1993).
Os primeiros estudos científicos da perspectiva linear ocorreram no início do
Renascimento, logo em seguida à fase da sua aplicação empírica, promovida por
Giotto e Lorenzetti (WERTHEIM, 2001). Coube a Filipo Brunelleschi (1377-1446)
desenvolver teorias que associavam conceitos da geometria e da óptica de Euclides a
princípios matemáticos, buscando estabelecer o funcionamento das leis da percepção
visual na perspectiva. Brunelleschi sabia que, para a comprovação do fenômeno
perspectivo, precisaria idealizar e construir aparatos experimentais que corroborassem
a sua teoria. O experimento conhecido por Espelho de Brunelleschi (figura 5) consistia
numa pintura em perspectiva do Batistério de Florença, com um furo exatamente
sobre o ponto de fuga central. Olhando-se pelo orifício e por trás da tela, o observador,
numa posição determinada, poderia ver a construção real e, ao interpor um espelho,
ver refletida a pintura, comparando visualmente as duas imagens (THUILLIER, 1994).
Segundo Pacey (1980), apenas com Brunelleschi, por volta de 1420, é que se
tornou consensual a necessidade do desenho de edifícios em escala, pois o traçado
perspectivo dependia basicamente do entendimento e uso das proporções.
Figura 5: Espelho de Brunelleschi
Figura 6: Desenhador da Mulher Deitada
Fonte: Thuillier, P.(1994) De Arquimedes a Einstein – A Face Oculta da Invenção Científica.
Entretanto, o legado de Brunelleschi não teve um registro à altura da sua
importância e coube ao tratado Della Pintura de 1435, escrito por Leon Battista Alberti,
trazer oficialmente as primeiras regras do traçado perspectivo. Neste trabalho, Alberti
ensina como representar figuras planas sobre o “plano da terra”. O tratado Da
Prospectiva Pingendi de 1478, de Piero della Francesca evolui os estudos de Alberti e
ensina como representar formas tridimensionais a partir de um determinado ponto de
vista. O gravador alemão Albrecht Dürer, resgatando o conceito Euclidiano do cone
visual, idealizou diversos aparelhos facilitadores do traçado perspectivo, tais como o
Desenhador da Mulher Deitada, de 1525 (figura 6).
Ainda no período Renascentista, Leonardo Da Vinci realizou estudos científicos
para o estabelecimento da técnica da anamorfose em sua forma oblíqua. Uma de suas
primeiras obras com anamorfose é “O Olho de Leonardo” (figuras 7 e 8), de 1485 que,
segundo
o
site
http://obelogue.blogspot.com/2010/05/o-carteiro-chamar-as-anas-pelos-
nomes.html, “vista de frente mais não é que um conjunto de riscos, um desenho
abstrato, e que vista de lado, à medida que assumimos uma perspectiva mais oblíqua
do retratado, se vai desenvolvendo como um olho.”
Figura 7: O Olho de Leonardo
Figura 8: O Olho de Leonardo, sob outro ângulo
Fonte: http://obelogue.blogspot.com/2010/05/o-carteiro-chamar-as-anas-pelos-nomes.html
Ao longo do Renascimento a técnica da Perspectiva ganha o status de primeira
disciplina de representação gráfica com embasamento científico introduzindo
conceitos até hoje essenciais. Em Soares (2005, p.40) encontramos que “(para o
desenvolvimento da perspectiva...), tornou-se essencial consolidar a noção de “ponto
de vista” sob o qual determinado desenho é elaborado e, somente sob este ponto de
vista torna-se compreensível e correto.
A partir do século XVII surgem na China os primeiros registros da anamorfose
catóptrica, técnica na qual a imagem regular do desenho é reproduzida em espelhos
convexos. Alguns artistas chineses desenvolviam esses desenhos com base em
cálculos gráficos, outros faziam suas pinturas ao mesmo tempo em que viam sua
reflexão no espelho.
Temos então estabelecidos pela disciplina Perspectiva conceitos fundamentais,
tais como a ideia de pontos de fuga como um ponto virtual para onde convergem retas
paralelas, a posição do quadro de projeção, a noção da linha do horizonte e a
definição do posicionamento do observador. Estes conceitos, muito além de ajudar os
pintores de então a “pintar corretamente”, são ainda hoje extremamente importantes
para a realização de trabalhos artísticos como estes da anamorfose. Em todos os
exemplos aqui mostrados encontramos a aplicação destes elementos, mesmo que se
considere que na anamorfose estamos “desenhando distorcido” para obtermos a
sensação perspectiva correta.
3
Aplicações diversas
Além dos trabalhos mais comuns no campo das artes visuais, encontramos a
perspectiva anamórfica oblíqua aplicada utilitariamente em diversas situações, tais
como:
3.1 Em publicidade
Peças publicitárias de empresas se utilizam da técnica para divulgar seus produtos
nos gramados dos estádios de futebol. Ali, a sensação de tridimensionalidade que
Figura 9: Publicidade do cartão Visa
Figura 10: Publicidade da empresa Embratel
Fontes: http://ghiorzi.org/anamorfo.htm e http://www.youtube.com/watch?v=U6K0nyAvlno
percebemos nos artefatos publicitários, (figura 9) só é possível devido ao
posicionamento das câmeras das emissoras de TV que transmitem os jogos. Se os
observamos no próprio estádio (figura 10), percebemos que não passam de uma
superfície plana com imagem deformada. Na figura 9 tem-se a impressão de que as
propagandas são montadas em placas verticais no campo, mas, desta forma, essa
peça publicitária seria um risco à integridade física dos jogadores. Para que tal não
aconteça, a anamorfose é aplicada. A imagem é distorcida e pintada num tecido
esticado no plano do campo (figura 10), mas, de determinado ponto de vista, calculado
para o ângulo que a câmera de emissoras de TV se posicionam, ela sugere um
volume tridimensional.
3.2 Em intervenções arquitetônicas
O suíço Felice Varini é um artista que aplica a anamorfose em prédios e interiores de
construções. Como todo desenho anamórfico oblíquo, essas intervenções necessitam
que o observador esteja em um ponto específico para que possa visualizá-las. Varini
utiliza em suas obras basicamente elementos geométricos. Cada parte desse desenho
é feita em diferentes planos (figura 11) e somente quando o espectador assume
determinada posição (figura 12), é que consegue enxergar a pintura. Ao se colocar em
outro ponto de observação, o que ele vê são traços sem lógica alguma (figura 11).
Figura 11: Anamorfose de Felice Varini
Figura 12: Anamorfose de Felice Varini
Fonte: - http://www.varini.org/reactualisation/rea-01.html
4
Como são elaboradas as anamorfoses
4.1 Uma experiência de criação de um desenho anamórfico
Baseada em todas essas informações, ficou evidente que experimentar fazer um
desenho em anamorfose seria essencial para o desenvolvimento deste trabalho. Na
figura 13 apresenta-se o objeto da experiência e uma régua branca delimita a projeção
horizontal da parte superior da peça vermelha, sob o ponto de vista do observador.
Figura 13: Elaborando uma anamorfose
Figura 14: Elaborando uma anamorfose
Fonte: Fotografias da autora
Observe na figura 14 que a peça e a régua estão na mesma posição, porém
fotografadas sob outro ângulo e é possível ver alguns traços que representam o
contorno da peça visto da posição do observador. Esta rudimentar experiência, apesar
de algumas falhas no desenho, consegue transmitir uma ideia do processo. É como se
tivéssemos que usar os conhecimentos da Perspectiva mas fazê-la ao contrário – do
desenho para o objeto -, e isto demanda uma boa capacidade de abstração na
formação da figura, uma tarefa bastante difícil, pois nossos olhos insistem em
“arrumar” a imagem deformada em regular.
As pessoas preferem um mundo requisitado, testes padrões
regulares, formas familiares, e quando as falhas ou as distorções
ocorrem, desde que não sejam demasiadamente brutas, o olho da
mente humana arruma-os acima. Vê-se o que se quer ver e não o
que se espera ver. Nós nunca vemos inteiramente um objeto olhando
apenas um de seus lados, para se ver mesmo a superfície inteira de
um simples um objeto como uma esfera, seis pontos de vistas
sucessivos são necessários, mas nós aceitamos em um único olhar,
que é uma esfera, e concluímos que é uma forma consistente,
possivelmente a mais simples.(WRIGHT, apud LIMA, 2006, p.6)
4.2
Diversas formas de “anamorfizar”
Durante buscas realizadas na internet foram encontrados dois moldes prontos que
facilitam bastante o trabalho de quem deseja fazer o desenho anamórfico de uma
forma ou de um desenho regular
O primeiro molde (figura 15) serve para fazer anamorfoses catóptricas refletidas
em um espelho cilíndrico. Para utilizá-lo, o desenho regular tem que ser feito no
quadrado, que nesse exemplo, tem 14 x 14 divisões. Depois, cada parte do desenho
regular contida nos quadrados menores (de 1 x 1) tem que ser transferida para as
porções correspondentes no arco, que está dividido em seções iguais às do quadrado
maior. O espelho cilíndrico ficará posicionado no círculo que está abaixo do quadrado
maior no molde.
Figura 15: Malha para construção de
Figura 16: Experiência feita com utilização da
anamorfose catóptrica
malha de anamorfoses
Fonte: http://richardjohn.com.br/links/figurahumana/exercicios/anamorfose.html.
Observe que o círculo onde o espelho cilíndrico fica localizado está mais próximo
da malha ortogonal na qual se faz o desenho regular (figura 15) e que todas as linhas
retas da malha em arco (distorcida) convergem para o centro desse círculo. Isso
acontece porque a malha do desenho anamórfico é modelada de acordo com o
espelho cilíndrico que refletirá a imagem (figura 16). Na figura 17 a seguir, há um
molde para a construção de anamorfoses oblíquas.
Figura 17: Modelo para construção de anamorfose oblíqua
Fonte: http://richardjohn.com.br/links/figurahumana/exercicios/anamorfose.html.
O elemento principal utilizado para a confecção das anamorfoses é um grid (grade
ou grelha) que é uma espécie de base quadrada, retangular ou curva, subdividida em
campos semelhantes menores que setorizam um desenho. Ao criar uma anamorfose
deforma-se o grid no qual a imagem está inserida e, consequentemente, o próprio
desenho. Segundo Nähr (2009), “O grid nada mais é do que uma série de linhas que
irão estruturar as fundações do layout com o objetivo de facilitar a vida do designer no
momento de decidir a melhor localização dos elementos construtivos da interface.”
4.3 Um trabalho em elaboração
As figuras 18, 19, 20 e 21 a seguir são de um trabalho de Julian Beever feito para a
empresa
Aveeno
e
foram
extraídas
de
um
vídeo
disponível
no
site
http://www.youtube.com/watch?v=hfn8Dz_13Ms. No vídeo, o artista usa uma câmera
posicionada em local específico, de onde se observa o desenho de forma regular.
Figura 18: Esboço do trabalho.
Figura 19: Detalhe da câmera utilizada.
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=hfn8Dz_13Ms
Verificam-se deformações nos desenhos quando a fotografia é capturada de um
local diferente do apropriado para a visualização da forma regular da anamorfose.
Arnheim (2002, p. 247) explica que as deformações criam espaços a partir do
momento em que o criador da obra distorce “tamanhos, configurações, distâncias
espaciais e ângulos a fim de comunicar profundidade”. Encontra-se, a seguir, a análise
de um dos trabalhos de Julian Beever.
Na figura 20 estão destacados em vermelho os raios visuais que convergem para
o ponto de fuga P, mostrados do ângulo de visão adequado para que se perceba a
imagem de forma regular. As linhas da borda da piscina são feitas segundo os
conceitos de uma perspectiva cônica simples seguindo a pavimentação da rua, mas
na figura 21 há uma deformação na perna da garota da pintura. A mesma distorção da
forma não foi aplicada ao desenho da piscina. A anamorfose então foi aplicada apenas
na menina, e o conjunto dessas duas técnicas (perspectiva cônica e anamórfica)
reforça a impressão de realidade tridimensional.
Figura 21: Swimming-Pool vista de um ângulo
Figura 20: Análise dos pontos-de-fuga no
desenho Swimming-Pool, de Julian Beever
diferente
Fonte: http://users.skynet.be/J.Beever/
4.4
A anamorfose na “arte de rua”
Em 1982, Kurt Wenner começou a elaborar suas primeiras anamorfoses como arte de
rua. O artista iniciou seu trabalho pelas ruas de Roma e a principal característica de
seus desenhos é a inspiração no movimento Renascentista. Nas figuras 22 e 23 estão
suas obras “Reflections” e “Spirit of Water”.
Figura 22: Reflections, de Kurt Wenner
Figura 23: Spirit of water, de Kurt Wenner
Fonte: http://kurtwenner.com/
O inglês Julian Beever é outro artista que trabalha os desenhos anamórficos
desde a década de 90. Além da arte, Beever usa sua habilidade também para atuar
junto a empresas na divulgação de seus produtos. Ele usa gizes coloridos em suas
criações e leva cerca de três dias para concluí-las (figuras 24 e 25).
Figura 25: Desenho de J. Beever, “resgate
visto num espelho invertido.
Fonte: - http://users.skynet.be/J.Beever/
Figura 24: Auto-retrato, de Julian Beever
4.5 Os auxílios computacionais
Mais recentemente surgiram ferramentas computacionais para a confecção de
anamorfoses. No software Photoshop CS3 elas estão no menu Image/Pixel Aspect
Ratio. Já o software Anamorph Me! é totalmente voltado para a criação de
anamorfoses, possibilitando “anamorfizar” imagens de diversas formas. Basta abrir a
figura desejada na extensão de arquivo “.jpeg” e escolher no menu “Anamorph” o tipo
de anamorfose. Apesar de considerar que o uso destes recursos diminui o valor
artístico da obra, é preciso reconhecer que eles podem ser muito úteis como recurso
didático para o ensino de anamorfose na disciplina Perspectiva.
5
Conclusão
Mais do que reunir e difundir conceitos que apoiam a anamorfose, esse trabalho busca
contribuir para uma reflexão sobre o estado-da-arte atual da ementa de Perspectiva.
Esta provavelmente é a disciplina de representação gráfica mais afetada pela
Computação Gráfica e muitos a consideram “morta”. Discordando em parte, pode-se
dizer que a Perspectiva Cônica ao estabelecer técnicas para a construção de imagens
semelhantes às apreendidas pelo nosso olhar, ainda é de grande importância para as
artes e para aplicações práticas. Conceitos indispensáveis como os de ponto-de-fuga,
convergência aparente de retas paralelas, linha do horizonte, plano do quadro (onde
se marcam as verdadeiras grandezas), etc. são conceitos plenamente utilizados não
só pelos pintores, mas também pela ciência e tecnologia modernas quando buscam
expressar graficamente, de forma realística e fidedigna, o objeto de seus estudos
(perspectivas de construções, por exemplo).
O ensino de Perspectiva tornou-se obsoleto? Muitos acham que sim, pois diante
da sua complexidade de traçado é mais fácil recorrer à Fotografia ou à Computação
Gráfica. Entretanto, a construção de imagens pela Perspectiva Cônica tem a nobreza
de uma arte das mais completas e difíceis e o seu campo não está esgotado, como
provam os trabalhos artísticos e as aplicações práticas das anamorfoses. Estes
difíceis trabalhos se dão, pode-se dizer, num sentido inverso ao daquele a que se
propunha originalmente a Perspectiva. Esta visava construir representações
(desenhos) corretos de objetos verdadeiros, conforme as distorções naturais do olhar
humano. Já a anamorfose se propõe a construir desenhos distorcidos que, estando o
observador corretamente posicionado, resultam em imagens verdadeiras conforme
percebidas pelo olho humano.
Mostrando ter aplicação artística e prática, a anamorfose pode ser usada como
elemento motivador para renovar o interesse pelo ensino de Perspectiva, ainda tão
centrado na parte geométrica e formal. Por que não problematizarmos a forma? Por
que não mudarmos o nosso olhar? A perspectiva anamórfica pode proporcionar ao
ensino uma visão mais intrigante, aguçando a imaginação dos alunos, a sua
capacidade de abstração da forma, uma percepção visual mais acurada e a aplicação
de conhecimentos técnicos de projeção.
Referências
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Trad: Ivonne Terezinha de Faria. Nova versão. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2002.
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http://pt.scribd.com/doc/13140985/A-Matematica-Na-Anamorfose , acesso em
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NÄHR, M. (2009). O grid limita a criação? Disponível em
http://www.marcosnahr.com.br/o-grid-limita-a-criacao/ com acesso em 13/03/2011.
PACEY, A., (1980). El laberinto del ingenio. 1ª ed., Barcelona, Gustavo Gilli, 1980.
PARENTE, A. (Org.) (1993). Imagem-máquina: a era das tecnologias do virtual.
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THUILLIER, P., (1994). De Arquimedes a Einstein – A Face Oculta da Invenção
Científica. 1a ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1994.
WERTHEIM, M., (2001). Uma História do Espaço: de Dante à Internet. 1a ed., Rio
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Sites consultados:
http://www.youtube.com/watch?v=hfn8Dz_13Ms. Acesso em 20/01/2011.
http://obelogue.blogspot.com/2010/05/o-carteiro-chamar-as-anas-pelos-nomes.html.
Acesso em 16/10/2010.
http://users.skynet.be/J.Beever/. Acesso em 25/02/2011.
http://puzzleontherocks.blogspot.com/2010/06/imagens-magicas-anamorfoses.html.
Acesso em 23/08/2010.
http://ghiorzi.org/anamorfo.htm. Acesso em 12/06/2010.
http://www.youtube.com/watch?v=U6K0nyAvlno. Acesso em 02/06/2010.
http://www.varini.org/reactualisation/rea-01.html. Acesso em 15/09/2010.
http://richardjohn.com.br/links/figurahumana/exercicios/anamorfose.html. Acesso em
10/03/2011.

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