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ISSN: 1677-2318 No. 01 Public. 09/04/2010 Artigo A DIFUSÃO E CAMPO ELÉTRICO NA MEMBRANA CELULAR: CONSTRUÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS FUNCIONAIS Paulo Henrique Santos Sartori1 e Élgion Lúcio Silva Loreto2 1. Doutorando do PPG em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Universidade Federal de Santa Maria. Endereço para contato: Departamento de Química. Prédio 18, sala 2425, CEP: 97105900 – Santa Maria/RS/Brasil. E-mail: [email protected] 2. Departamento de Biologia, PPG em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde, Universidade Federal de Santa Maria. Endereço para contato: Prédio 16 B2, CEP: 97105-900 – Santa Maria/RS/Brasil. E-mail: [email protected] Resumo: Propõe-se a construção de alguns dispositivos simples que poderão ser usados na investigação do fluxo de íons através de uma membrana explorando a influência dos fenômenos da difusão e do campo elétrico. Este modelo permite simular e visualizar processos eletroquímicos que ocorrem na membrana celular e explorar, por meio de atividades sugeridas, os principais elementos e variáveis envolvidos. Espera-se, assim, promover uma maior interação com a teoria, bem como, contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos de transportes passivo e ativo. Palavras-chave: Membrana celular; difusão; campo elétrico; modelo funcional. Abstract: This study proposes some simple devices that can be used in the investigation of the flow of ions through a membrane exploring the influence of the diffusion and electric field phenomena. This functional model allows to simulate and visualize electrochemical processes that happen in the cellular membrane, as also to explore the main elements and variables involved in it, by means of suggested activities. These activities aim to promote a larger interaction with the theory, while contributing for a better understanding of the passive and active transports. Keywords: Cellular membrane; diffusion; electric field; functional model. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A2 INTRODUÇÃO Inúmeros estímulos provenientes do ambiente nos atingem e, mediados pelos sentidos, produzem respostas específicas. Por exemplo, estímulos físicos tais como a luz (onda eletromagnética cujos fótons desencadeiam o mecanismo da visão) e o som (onda mecânica que promove o processo da audição); estímulos químicos (moléculas que ativam o olfato e o paladar) atingem células especializadas que interagem cada qual com um estímulo específico transformando-os em impulsos elétricos. Tais impulsos correspondem a informações codificadas que regularão ações correspondentes. Na base destes fenômenos de interface entre o mundo biológico e o físico, e também de toda a fisiologia neuro-motora, está a capacidade, ou melhor, a potencialidade de determinadas células, mais especificamente de suas membranas envoltórias, alterarem seu estado de equilíbrio eletrostático (chamado de potencial de repouso) para um estado dinâmico (chamado potencial de ação) de passagem de íons, que gera e propaga o impulso elétrico. Em resumo, tudo depende do fluxo de íons através da membrana celular. Uma das questões mais intrigantes a respeito do estudo do transporte de substâncias, moléculas e íons através da membrana celular é o fato de que, em alguns casos, tais elementos fluem entre os meios intra e extracelular de maneira direta e, em outros, há necessidade de consumir energia para que o processo ocorra. Seres humanos e animais despendem uma grande quantidade de energia metabólica (cerca de 20% da taxa metabólica basal) para manter o excesso de íons nos lados externo e interno da superfície celular e as diferenças entre as concentrações iônicas dentro e fora da célula [1]. O que difere estas circunstâncias depende basicamente de alguns fatores como: tamanho da molécula ou íon, concentração destes dentro e fora da célula, temperatura, seletividade (permeabilidade) da membrana. Mas a questão básica é: por que, em certos casos, a célula tem que “pagar” com energia de ATPs (adenosina trifosfato) para fazer pequenos íons, que facilmente atravessam a membrana, passarem de um lado para outro? Vejamos inicialmente as relações entre estas variáveis e os principais elementos e fenômenos envolvidos e, posteriormente, simular algumas situações para melhor compreensão desta questão. MÉTODOS 1. Composição e Estrutura da Membrana Celular A membrana celular (citoplasmática) é constituída por um mosaico de moléculas protéicas incrustadas em uma bicamada de fosfolipídios de consistência fluídica (Figura 1). Esse modelo da membrana, conhecido como mosaico fluido, apresenta moléculas com uma cabeça polar (hidrofílica) e caudas apolares (hidrofóbicas) - os fosfolipídios. Na presença de água, estas moléculas se organizam espontaneamente de modo que os componentes hidrofóbicos voltam-se para dentro da bicamada (caudas) e os hidrofílicos para a água (cabeça). Vários tipos de proteínas, com as mais diversificadas propriedades funcionais, estão espalhados na bicamada fosfolipídica. Todas as membranas compartilham entre si, propriedades fundamentais, mas de acordo com o tipo de célula, possuirá atividades biológicas específicas [2]. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A3 Figura 1 – Micrografia eletrônica da membrana celular (de uma hemácia humana) vista em corte transversal (a). Representação tridimensional da membrana celular (b). Estrutura molecular espacial de um fosfolipídio (c) onde, geralmente, a cabeça é formada por colina, fosfato e glicerol e as caudas, por ácidos graxos. Adaptado de Daniel S. Friend, extraído de [3]. A membrana celular funciona como uma espécie de barreira semipermeável entre os meios intra e extracelular que atua seletivamente, permitindo que moléculas e íons essenciais, tais como glicose, aminoácidos, lipídios, K+, Na+ e Ca2+, penetrem na célula, que compostos metabólicos permaneçam no seu interior e, também, que o produto tóxico do metabolismo seja expelido [4]. 2. Potencial Elétrico, Concentração Iônica e Campo Elétrico Dispondo de um milivoltímetro (instrumento que mede a diferença de potencial elétrico entre dois pontos) suficientemente sensível, ao se colocar seus microeletrodos na solução extracelular que banha a célula, não se detecta nenhuma mudança no valor medido pelo dispositivo quando os eletrodos são deslocados ao longo da solução. Da mesma forma isto ocorrerá no interior da célula. Íons contidos nas soluções intra e extracelulares – sódio (Na+), potássio (K+), cloro (Cl-), cálcio (Ca2+) – movem-se livremente através delas, conferindo-lhes pequena resistência elétrica e tornando-as boas condutoras [5]. Quando um eletrodo é colocado dentro da célula e outro do lado de fora, verifica-se que há uma queda na diferença de potencial elétrico (ddp) de, aproximadamente, 60 a 70 mV em média (Figura 2). Como a única “coisa” que separa os dois meios é a membrana, conclui-se que este potencial é devido à membrana que por ser fixo para cada tipo de célula, é denominado potencial de repouso da membrana celular. Na maioria das células este valor permanece inalterado, desde que não sofra influências externas. Diferentes células apresentam valores constantes e característicos. Células de fibras nervosas e musculares de animais de sangue quente apresentam valores entre -55 mV e -100 mV; enquanto as de músculos lisos, entre -30 mV e -55 mV [1-5]. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A4 Figura 2 – Esquema do procedimento de medição, por meio de um milivoltímetro, da diferença de potencial da membrana celular, cuja espessura média é em torno de 8,0 nm. O interior da célula é cerca de 60 mV menor quando comparado com o meio extracelular [6]. Importa esclarecer que não existem potenciais negativos ou mesmo, que o aparelho utilizado na medição indique valor com sinal negativo. Este sinal indica que a diferença de potencial entre os meios externo e interno da célula (que corresponde a sua membrana) está 60 mV abaixo de um valor tido como referência. A diferença de potencial através da fina membrana de bicamada lipídica com proteínas embutidas que envolve todas as células depende das concentrações iônicas em cada lado desta membrana e de sua permeabilidade para esses íons [5]. Como exemplo, a Tabela 1 traz dados a respeito das concentrações de alguns íons em um particular tipo de célula. O somatório das ddp de todos os íons corresponde à ddp da membrana da célula. Tabela 1 - Concentração de alguns íons dentro e fora de um neurônio de mamífero; suas proporções dentro e fora da célula e seus respectivos potenciais de equilíbrio (equivalente a ddp para cada íon). Íon K+ Na+ ClCa2+ A- Concentração (mmol/L) Meio Meio Extracelula Intracelular r 5 150 150 15 125 9 2 0,0001 108 Proporção Fora : Dentro 1:30 10:1 14:1 20000:1 - Potencial de Equilíbrio (mV) - 86 + 58 - 66 ~ + 250 Não aplicável Os potenciais de equilíbrio foram calculados à temperatura ambiente de 20 °C. Estes valores poderão aumentar 6% se a temperatura for a do corpo humano (37 °C). Arepresenta ânions orgânicos impermeáveis à membrana, principalmente proteínas, aminoácidos e íons fosfato. Devido estes ânions não atravessarem a membrana, eles não têm um potencial de equilíbrio. Baseado em Hille (1992), Ganong (1997) e Matthews (1991), apud [5]. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A5 Para melhor entender os processos elétricos que ocorrem na membrana celular, fazemos uso de modelos e analogias com outros sistemas já bem estudados e que podem contribuir para um bom entendimento dos fenômenos envolvidos. Um dos modelos sugere a comparação da membrana celular com um capacitor, um dispositivo há muito tempo utilizado em circuitos elétricos que, basicamente, serve para armazenar cargas elétricas. É formado por um material isolante (dielétrico) que separa dois meios condutores. Na célula encontramos uma estrutura de configuração similar: duas soluções condutoras estão separadas por uma delgada camada isolante – a membrana (Figuras 3-a-b-c). Membranas biológicas apresentam capacitâncias da ordem de picofarads (1 pF = 10-12 F); praticamente a mesma de um simples capacitor comumente usado em um típico circuito elétrico de rádio [1-6]. Figura 3 – Representações da distribuição do excesso de íons - cátions (+) e ânions (-) em torno da membrana celular. Visão geral da célula (a). Detalhes ampliados da membrana, denotando a bicamada lipídica (b) e os canais protéicos (c). Analogia entre o modelo biológico (b) e o físico (d): a distribuição de cargas faz surgir um campo elétrico invisível E; as setas indicam a direção e o sentido deste campo. Como os fluidos dentro e fora da célula são sempre neutros, isto é, a concentração de ânions em qualquer local é sempre igual à de cátions, não pode haver um acúmulo local de cargas elétricas nesses fluidos. Então, em torno da membrana celular, as cargas elétricas em excesso se distribuem, ficando a superfície interna da membrana recoberta pelo excesso de ânions e a externa, pelo mesmo excesso de cátions, dando origem a uma pequena ddp (o potencial de membrana) que pode ser mensurada como foi visto na Figura 2. Além disso, importa salientar, que esta configuração faz surgir um campo elétrico na membrana (Figuras 3-b-d) que é responsável pelas forças elétricas que atuaram sobre os íons que tentarem atravessá-la [1]. Graças à membrana celular, são mantidas as diferenças de composição entre as soluções intra e extracelular. Porém, a membrana não é completamente impermeável a íons. Se isso fosse o caso, a ddp pela membrana seria zero. Existem passagens pela membrana conhecidas por canais iônicos, formadas por proteínas (Figura 3-c). A célula Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A6 pode controlar a passagem de íons através de sua membrana regulando a atividade dos canais, os quais podem ser seletivos para determinados íons [1-5]. 3. O Jogo das Forças que atuam sobre os Íons Quando duas placas planas paralelas próximas estiverem carregadas eletricamente, cada uma com a mesma carga, porém de sinais contrários, na região do espaço entre elas forma-se um campo elétrico. Devido à intensidade deste campo ser constante em qualquer ponto entre as placas, diz-se que o campo é uniforme. Tal campo é capaz de exercer uma força elétrica sobre partículas eletricamente carregadas como prótons, elétrons e íons. A similitude entre o modelo físico (capacitor de placas paralelas) e o biológico (membrana) é representada na Figura 4. Figura 4 – Representação de um capacitor de placas planas paralelas (a) com indicação do sentido das forças elétricas F que atuam sobre partículas com cargas positiva e negativa. Representação da membrana celular como análogo biológico do capacitor (b) indicando a força elétrica FE que atuaria sobre uma partícula de peso P positivamente carregada. O sentido do campo elétrico E está grafado na seta sobre cada desenho. O sentido do campo elétrico é, por convenção, sempre da placa positiva para a negativa. Uma partícula positivamente carregada situada num campo elétrico uniforme tende a mover-se, pela ação da força elétrica, na direção do campo, enquanto que uma carga elétrica negativa tende a deslocar-se no sentido contrário, como mostra a Figura 4-a [7]. Por exemplo, supondo que um cátion monovalente, como o íon Na+ (que possui carga elétrica líquida igual à carga de um próton, ou seja, +1,60 x 10-19 C), fique situado na membrana celular (Figura 4-b). Ele ficará sujeito a uma força elétrica FE cuja intensidade é igual ao produto do campo elétrico na membrana E pela sua carga e a direção e sentido será da parte externa da membrana para a interna (“empurrando” o íon para dentro da célula). Se fosse um ânion monovalente, a força elétrica teria a mesma intensidade, porém, atuaria no sentido contrário (“expulsando” o íon da célula). Em geral esta força elétrica é muito maior que o peso P destes íons (Figura 4-b) e atua como uma das forças que tenderá a movê-lo. A outra força de relevante influência é a força de difusão, uma força de arraste devida à agitação térmica (Figura 5). Toda a substância, íon ou molécula que esta mais concentrada em uma determinada região tende a difundir-se (deslocar-se) para regiões onde se encontra menos concentrada, tentando atingir um equilíbrio; ou seja, o fluxo ocorre contra o chamado gradiente de concentração (que vai da menor concentração para a maior concentração). Em termos gerais, este fluxo depende muito da natureza, da temperatura e da viscosidade do fluido onde ele está ocorrendo. Depende também, de Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A7 propriedades das próprias moléculas, substâncias ou íons que estão se difundindo. Moléculas de grandes massas ou dimensões difundem-se menos quando comparadas as de pequenas massas ou menores [1]. Figura 5 – O íon sódio encontra-se mais concentrado fora da célula do que dentro, enquanto que o íon potássio está mais concentrado no interior da célula. Considerando apenas o efeito difusivo, a tendência é que o Na+ entre na célula e que o K+ saia. A resultante das forças que atuam sobre o íon definirá o sentido de seu deslocamento: para dentro ou para fora da célula. 4. Transporte Transmembrana Didaticamente costuma-se dividir o transporte de moléculas e íons através da membrana celular, tendo como critério o envolvimento ou não de energia, em dois tipos. Quando tais elementos fluem de um lado para outro da célula sem necessidade de usar energia chamamos de transporte passivo; a difusão e a osmose são exemplos dessa categoria. Havendo gasto de energia, denominamos transporte ativo, como ocorre no processo conhecido por bomba de sódio e potássio [8]. O transporte ativo ainda pode ser subdividido em primário (com gasto de energia em forma de ATP) e secundário (onde o transporte de uma substância depende do transporte de uma segunda) [9]. Trataremos aqui apenas do primeiro tipo. No transporte ativo primário existem estruturas capazes de transportar o soluto para dentro da célula – são as chamadas proteínas carreadoras – que se ligam a substâncias específicas e as transferem através da membrana, sofrendo mudanças em sua conformação e expondo seu sítio de ligação. A ativação dessas proteínas se dá pela degradação por hidrólise da ligação covalente da adenosina trifosfato (ATP) ou de algum outro composto fosfatado de alta energia, utilizando a energia liberada [9]. Na membrana de todas as células de um organismo, encontram-se milhares de bombas de sódio e potássio (ou sódio-potássio-adenosina-trifosfatase). Cada uma delas é capaz de levar três íons sódio para fora da célula (contra a força difusiva e contra a ação do campo elétrico) ao mesmo tempo em que traz dois íons potássio para dentro (contra a força difusiva e a favor da ação do campo elétrico). Possuem fundamental papel biológico pois, além de manterem as concentrações de K+ e Na+ constantes, conservam o pH e regulam a osmolaridade impedindo que a célula se rompa. Porém, suas atividades consomem cerca de 1/3 da energia celular, chegando a 2/3 em células nervosas [1-9]. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A8 O funcionamento simplificado de uma bomba de sódio e potássio pode ser descrito da seguinte forma: três íons Na+ ligam-se em seus sítios correspondentes; a face citoplasmática da bomba é fosforilada por ATP e isso induz a uma mudança conformacional da proteína transferindo os íons Na+ para a face exterior. Ao atravessar a membrana, os íons Na+ combinam-se com moléculas transportadoras formando um complexo eletricamente neutro. Desta forma, nenhuma carga elétrica percorre a membrana, anulando a ação do campo elétrico, economizando energia. Logo depois, dois íons K+ ligam-se nos sítios da proteína na face extracelular e a desfosforilação do lado interno faz com que a proteína volte a ter sua conformação inicial e transfira os íons K+ para dentro da célula, também via acoplamento com moléculas transportadoras que formam um complexo eletricamente neutro [1-9]. 5. Modelos Didáticos Funcionais da Membrana Celular Sugerimos algumas montagens que poderão ser feitas a partir da disponibilidade de material e familiaridade que melhor aprouver ao leitor. Alguns projetos requerem maior habilidade e/ou técnica na montagem, bem como o uso de ferramentas mais especializadas. As dimensões e especificações técnicas de cada material listado correspondem às dos materiais utilizados pelos autores os quais poderão ser substituídos ou adaptados por similares. 5.1) Modelo Básico Consiste de uma pequena caixa plástica retangular com eletrodos e um sistema de encaixe e vedação para uma membrana divisória. Figura 6 – Cuba de acrílico como divisória em formato de “U” e dois eletrodos em cada compartimento (a). Disposição do sistema de encaixe e vedação composto por uma placa acrílica e borrachas de EVA (b). Material: - Caixa plástica retangular de 8,0 x 6,0 x 4,0 cm (ou tamanho aproximado); - Pedaço de borracha de Etil Vinil Acetato (EVA) com 2,0 mm de espessura e 11,6 x 8,0 cm (suficiente para fazer 2 retângulos de 5,8 x 4,0 cm); - Dois retalhos de acrílico de 5,9 x 4,0 cm; um com 5,0 mm de espessura e outro com 2,0 mm. - Fio de aço inox para aparelho ortodôntico de 0,70 mm de diâmetro e 17,0 cm de comprimento; − Adesivo epóxi. Montagem: Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A9 Na parte central da caixa cola-se a placa de acrílico mais grossa que deve ser previamente recortada em forma de “U” retirando um retângulo de 3,5 cm de comprimento e 3,0 cm de altura. Cortar as borrachas de EVA e a placa de acrílico mais fina, do mesmo tamanho e formato. Fazer pequenos orifícios nas laterais da caixa para atravessar os fios de aço de modo que esses fiquem paralelos a divisória central e aproximadamente no meio dos compartimentos. Vedar muito bem os orifícios com adesivo epóxi para evitar vazamentos. 5.2) Modelo Comparativo Composto por uma caixa plástica com dois compartimentos separados, cada qual com um eletrodo e sistema de encaixe e vedação para membrana divisória. Permite o acompanhamento simultâneo de duas situações distintas. Figura 7 – Disposição dos elementos do modelo comparativo: fios de aço que servirão como eletrodos e sistema de encaixe e vedação junto às duas divisórias da caixa plástica que foram recortadas em formato de “U”. Material: - Caixa plástica (tipo porta-trecos ou organizador) com 5 compartimentos e tamanho 15,5 x 8,5 x 3,3 cm; - Pedaço de borracha de Etil Vinil Acetato (EVA) com 2,0 mm de espessura e 10,0 x 6,6 cm (suficiente para fazer 4 retângulos de 5,0 x 3,3 cm); - Fio de aço inox para aparelho ortodôntico de 0,70 mm de diâmetro e 34,0 cm de comprimento; − Pistola elétrica com bastão de silicone Montagem: Recortar um retângulo de 3,0 cm (base) por 2,0 cm (altura) de cada parede divisória de dois compartimentos vizinhos da caixa (Figura 7). Cortar o fio de aço inox ao meio e moldá-los de maneira que fiquem no formato da Figura 8-a, para que se encaixem nos compartimentos da caixa conforme mostra a Figura 7. Durante a execução das atividades, convém colar com silicone quente as regiões onde o fio se apoia no topo das paredes divisórias para que fiquem firmes em suas posições. Recortar em forma de “U” os quatro retalhos de EVA, retirando um retângulo de 3,0 cm (base) por 2,0 cm (altura) (Figura 8-c). Aproveitar a própria tampa da caixa para fazer duas plaquinhas do mesmo formato e tamanho (Figura 8-b). Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A10 Figura 8 – Componentes do modelo comparativo: fios de aço moldados de forma a se encaixar no espaço entre os compartimentos da caixa plástica (a); placa de plástico (b) e borracha de EVA (c) em formato de “U”. 6. Atividades. Recomenda-se extrema cautela no manuseio dos equipamentos energizados. Assegurar-se de que as providências necessárias para evitar riscos de choques elétricos. Seguir todas as normas de segurança no manejo de produtos químicos. Material: - Fonte de alimentação de corrente contínua de 18 V. Pode ser um pequeno transformador em que se pode comutar a voltagem (também conhecido como adaptador ou fonte universal). Geralmente só fornece até 12 V (valor nominal) mas na prática a saída é em torno de 18 V (valor real). Isso pode ser confirmado medindo-se com o multímetro. Para obter os resultados mais rapidamente aconselha-se voltagens maiores. Utilizamos uma ponte de diodos retificadora para transformar a tensão da rede doméstica de 127 V de corrente alternada em corrente contínua; - Fios para conexões elétricas; - Duas garras tipo jacaré (opcionais); - Papel celofane para assar; - Prendedores de roupa preferencialmente de plástico com boa abertura; - Soluções de Corantes: azul de metileno, corante vermelho para bolo e violeta de genciana (violeta cristal); - Solução fisiológica de cloreto de sódio 0,9% (ou uma pitada de sal de cozinha dissolvida em um copo d’água); - Solução alcoólica de fenolftaleína (ou dissolver um comprimido de lacto-purga em 20 ml de álcool etílico 95º GL); Para a realização das atividades sugeridas a seguir, o procedimento básico consiste em recortar pequenos retângulos de celofane, do mesmo tamanho da borracha de EVA, fazendo um “sanduíche”: borracha/celofane/borracha. Com auxílio da placa de plástico ou acrílico e dos prendedores, apertar este sanduíche junto à parede das divisórias em “U”. Certificar-se de que a vedação entre os compartimentos está adequada enchendo apenas um lado e verificando se ocorre ou não infiltração para o outro lado. Em seguida, preencher os compartimentos com as soluções sugeridas em cada atividade, conectar os eletrodos aos pólos positivo e negativo da fonte e, por último, ligá-la. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A11 6.1) Visualização dos fenômenos por meio de substâncias coloridas. Vamos empregar alguns corantes que em meio aquoso se dissociam formando íons que migram em direção ao eletrodo positivo ou negativo, conforme o esquema: Azul de Metileno: (+) ---> (-) Violeta de Genciana: (+) ---> (-) Corante Vermelho para bolo: (-) ---> (+) 6.1.1) Difusão Simples Nesta situação não se faz uso da fonte de corrente contínua, apenas de uma solução de um dos corantes a escolher. Esta deverá ser colocada em um dos compartimentos do modelo básico e o outro, preenchido com água até que fiquem no mesmo nível. Após algumas horas (ou de um dia para o outro) – dependendo da diferença de concentração, temperatura ambiente, etc – observa-se que o corante começa a migrar, através do celofane (que representa a membrana) do lugar onde está mais concentrado para onde está menos concentrado, ou seja, o fluxo do íon (corante) se dá contra o gradiente de concentração. 6.1.2) Difusão versus Campo Elétrico Estabelecer, no modelo comparativo, as conexões elétricas dispondo os eletrodos, por exemplo, de modo que o eletrodo positivo fique no lado direito (compartimentos 2 e 4) e o eletrodo negativo, no lado esquerdo (compartimentos 1 e 3), como mostrado na Figura 9. Os compartimentos 1 e 4 são preenchidos com a solução de violeta genciana diluída e os compartimentos 2 e 3 com a solução concentrada. A tendência devido à diferença de concentração é que ocorra difusão no sentido indicado pelas setas na Figura 9-a. Porém a ação do campo elétrico (sentido do eletrodo positivo para o negativo) tende a carrear o corante para o eletrodo negativo. Após 5 minutos (Figura 9-b) observa-se que os compartimentos 2 e 4 começam a clarear, ficando praticamente transparente ao final de 15 minutos (Figura 9-c) indicando a migração dos corantes para o lado esquerdo. Entre os compartimentos 1 e 2 isso ocorre contra o gradiente de concentração (as forças difusiva e elétrica agem no mesmo sentido), enquanto que nos compartimentos 3 e 4, ocorre a favor do gradiente de concentração (as forças difusiva e elétrica atuam em sentidos contrários). Figura 9 – Distribuição da solução de violeta de genciana nos compartimentos. Distribuição inicial (a), onde as setas indicam a tendência do sentido de migração do corante. Situação após 5 minutos (b). Situação após 15 minutos (c). 6.1.3) Fluxo de Íons em Sentidos Opostos O compartimento 1 do modelo básico é preenchido com solução de corante vermelho para bolo e o compartimento 2 com solução de azul de metileno. As conexões elétricas foram dispostas de tal modo que o eletrodo negativo fique no lado esquerdo e o positivo no lado direito, como mostra a Figura 10. A ação do campo elétrico estabelecido forçará o carreamento de cada um dos íons (corantes) para o Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A12 lado oposto. Nesta situação, forças difusivas e elétricas trabalham juntas, reforçando o fluxo dos íons de um compartimento para outro através da membrana. Figura 10 – Situação inicial da distribuição dos corantes e eletrodos no modelo básico (a). Diferentes estágios da migração dos corantes após ligar a fonte de alimentação (b – c – d). Sugere-se, ainda, outras variações destas atividades, tais como: - misturar dois íons diferentes (representados pelos corantes) em um dos compartimentos e verificar a migração de cada um; - estabelecer um fluxo forçado, colocando em um dos compartimentos uma solução de corada previamente aquecido (maior agitação molecular afetará sua difusão). Pode-se alternar a polaridade dos eletrodos e verificar o que ocorre em cada situação. 6.2) Visualização dos fenômenos por meio de indicadores. Numa solução aquosa do cloreto de sódio estão presentes os íons Na+ e Cl-, resultantes da dissociação iônica e, há também, cátions H+ e ânions OH- provenientes da auto-ionização da água, de modo que haverá uma disputa pela descarga nos eletrodos. Como este fenômeno depende diretamente do potencial de oxidação dos íons envolvidos, observa-se que: - no eletrodo positivo, entre os ânions Cl- e OH-, se descarrega em primeiro lugar aquele que apresenta maior potencial de oxidação, neste caso, o Cl-; - no eletrodo negativo, entre os cátions Na+ e H+, se descarrega em primeiro lugar aquele que apresenta menor potencial de oxidação, neste caso, o H+; No experimento aqui proposto, isto produzirá gás hidrogênio no eletrodo negativo e gás cloro no eletrodo positivo. Os íons que “aguardam” para se descarregarem, também poderão atravessar a membrana e interagir com outros íons. Por exemplo, o íon Na+ acabará se juntando ao OH- e isto produzirá hidróxido de sódio - uma base cuja presença é facilmente detectável pela fenolftaleína [10]. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A13 Usando o modelo comparativo, coloca-se, conforme disposição da Figura 11, o eletrodo positivo no lado esquerdo (compartimentos 1 e 3) e o negativo no lado direito (compartimentos 2 e 4). Os compartimentos 2 e 3 são preenchidos com a solução fisiológica de cloreto de sódio 0,9% (ou uma pitada de sal de cozinha dissolvida em um copo d’água). Nos compartimentos restantes (1 e 4) coloca-se água. Pingar uma gota de solução alcoólica de fenolftaleína em cada compartimento. Devido à presença de inúmeros cátions e ânions diferentes nas soluções deste experimento, poderão ocorrer diversas reações químicas, muitas delas dirigidas pela ação do campo elétrico e pela competição de deposição dos íons nos eletrodos. Focalizaremos apenas uma que evidencia o propósito desta atividade. Para atender ao objetivo de demonstrar que ocorre mesmo o fluxo do íon sódio (por ação do campo elétrico e da difusão) através da membrana, a fenolftaleína tornará “visível”, no lugar onde “só havia água” (íons H+ e OH-), que ele atravessou a membrana e juntou-se ao íon OH-, conforme esquematizado na Figura 11-a (compartimentos 3 e 4) e verificado na Figura 11-b (compartimento 4). Figura 11 – Configuração inicial da distribuição das soluções, água e eletrodos no modelo comparativo (a). Após ligar a fonte de alimentação (b), a mudança na coloração indicará a reação do cátion Na+ com o ânion OH-. O compartimento 3 (Figura 11) também apresentará (em menor intensidade e duração) mudança na coloração, característica do indicador de presença de uma base, devido a presença “residual” do íon sódio. 7. Considerações Finais A manutenção da diferença de concentração iônica dentro e fora da célula e fundamental para evitar a perda da capacidade funcional da mesma, visto que não poderia mais, por exemplo, gerar os impulsos elétricos. É por isso que a célula promove o deslocamento de íons de um lado para outro da membrana, mesmo contra forças de oposição. Isso justifica a necessidade de energia para promover o fluxo de pequenos íons que facilmente atravessariam a membrana. Sartori, P.H.S. & Loreto, E.L No.01/2010 A14 Figura 12 – Esquema do gasto energético que seria necessário para fazer um mol de íons sódio sair da célula. No total, 14.531 J. Baseado em [6]. Para cada mol de íon sódio que sair da célula é necessário vencer duas forças contrárias: uma devido à difusão e outra, à ação do campo elétrico. O trabalho necessário para fazer isso equivale a 14,5 kJ. Porém, graças ao acoplamento entre os íons e as moléculas transportadoras ser eletricamente neutro, o transporte através da membrana ocorre sem a influência do campo elétrico, o que diminui o gasto de energia necessário. REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] E. Okuno, I.L. Caldas, C. Chow (1982) Física para Ciências Biológicas e Biomédicas, Harbra, São Paulo. [2] S.M. Nishida (2007) Curso de Fisiologia, Departamento de Fisiologia da UNESP, Botucatu: http://www.ibb.unesp.br/departamentos/Fisiologia/material_didatico/Neurobiologia_medica/Apo stila/03_potenciais_repouso_acao.pdf (consultada em 2009). [3] B. Alberts, et al (2002) Molecular Biology of The Cell, 4a ed., NCBI, New York. [4] G. Weissmuller, N.M.A. Costa, P.M. 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ANA LÚCIA BERTARELLO ZENI1* 1 Professora de Bioquímica do Departamento de Ciências Naturais da Universidade Regional de Blumenau (FURB), Blumenau, SC. *[email protected] Resumo: O índice de repetição em disciplinas básicas introdutórias de física, cálculo, química e também de bioquímica entre outras, nas universidades, é comumente bastante elevado. Neste artigo 85 alunos de cursos da área da saúde, medicina e odontologia (primeiro semestre) e farmácia e fisioterapia (segundo semestre) foram questionados sobre diversos aspectos relacionados a conteúdos prévios considerados importantes à aprendizagem na disciplina de bioquímica. Foram observadas algumas diferenças entre as respostas dos diferentes semestres, mostrando um pequeno aumento de conhecimento. Porém estudantes mostraram dificuldades em explicar funções, sendo difícil associar as moléculas, funções e organelas, que constituem a célula. A aprendizagem significativa mostra que o conhecimento prévio do estudante é de fundamental importância, pois determina não apenas o que se aprende, mas como se aprende, e conseqüentemente torna o resultado final do processo ensino-aprendizagem mais consistente. Sugere-se a investigação do conhecimento prévio, ou seja, das concepções alternativas e após que os estudantes sejam envolvidos em diferentes atividades, teóricas e práticas a fim de integrar o novo conhecimento. Palavras-chave: Conhecimento prévio, concepções alternativas, aprendizagem significativa. Abstract: Failure rates are high in introductory courses, such as general chemistry, physics, calculus and also biochemistry, among others, in Brazilian universities. This present work aimed at to study several issues about prior knowledge considered important for learning biochemistry. Were interviewed 85 students of health area courses, medicine and dentistry (first semester) and pharmacy and physiotherapy (second semester). Some differences between answers of distinct semesters, showing a little improvement of knowledge were observed. Although the students showed difficulty in the explain functions, being difficult to associate the molecules, function and organelles, that constitute the cell. Perspective meaningful learning set shows how prior knowledge is of fundamental importance because it determines not only what is learned but also how it is learned and thus the final result of the teaching -learning process. It would be important an investigation about prior knowledge or alternative conceptions and after propose to these students be involved in different activities, theorist and practice for the integration of new knowledge. Keywords: prior knowledge, alternative conceptions, meaningful learning. 1 Endereço para contato: Rua Antônio da Veiga, 140 – Victor Konder – CP 1507 – Cep 89012-900 – Blumenau, SC – Tel.: (47) 3321 -0272 – Fax: (47) 3321- 0233. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B2 INTRODUÇÃO Este trabalho surgiu devido às dificuldades que os alunos apresentam em aprender Bioquímica, tanto no primeiro como no segundo semestre, nos cursos da área da saúde. Já foi observado que o índice de repetição em disciplinas básicas introdutórias de física, cálculo, química, entre outras, nas universidades, é comumente bastante elevado. Isto, evidentemente, não é desejável, pois constitui desperdício de recursos materiais e humanos. Para entendermos as causas deste fenômeno para então remediá-lo ou ao menos atenuá-lo, é necessário sabermos mais a respeito de como as pessoas adquirem conhecimento (processo de aprendizagem) e os fatores que influenciam neste processo [1]. Cada estudante o faz de modo idiossincrático, pois o processo depende fundamentalmente do que o estudante já sabe, ou seja, de seu conhecimento anterior, sobre o qual ele ou ela construirá o novo conhecimento. Desta forma o resultado final do processo de aprendizagem é também idiossincrático, ou seja, diferente para cada estudante [1]. O conhecimento novo a ser aprendida aprendizagem significativa não poderá ocorrer, e o estudante não terá em princípio outra opção senão memorizar o conteúdo, ou seja, decorá-lo. Conforme Ausubel [2] é de fundamental importância entender que o processo de aprendizagem dependente do conhecimento que o estudante já possui, o seu conhecimento prévio. De fato, podemos compreender aprendizagem significativa como mudança no conhecimento já existente, tanto do ponto de vista quantitativo (mais conhecimento sendo conectado ao conhecimento já existente) e, de grande importância, qualitativo - mudança na qualidade do conhecimento já existente em função do novo conhecimento, quando aprendizagem significativa pode ser vista como um processo de Mudança Conceitual. Baseado nisto a mensagem que Ausubel [2] deixa para os professores, na forma de sua máxima mais famosa, é a seguinte: Se eu pudesse reduzir toda a psicologia educacional a uma só frase eu diria isto: O fator mais importante influenciando a aprendizagem é o que o aluno já sabe. E neste sentido as pesquisas em educação têm se preocupado com a análise das concepções alternativas dos alunos, uma vez que a aprendizagem escolar é influenciada pelo que o aluno já sabe, e principalmente, pelo fato das concepções alternativas não coincidirem com o cientificamente aceito [3]. Alguns cursos já vêm manifestando uma preocupação com a aprendizagem dos alunos em disciplinas que exigem conhecimentos prévios para a aprendizagem de qualidade e melhores índices de aprovação, no curso de Matemática da FURB, por exemplo, já é ministrada uma disciplina chamada Matemática Básica, a fim de prover os alunos de conhecimentos mínimos, a disciplina não emite nota, mas o aluno deve construir alguns conhecimentos para sua liberação (dados não publicados). Outro exemplo acontece no curso de Engenharia Ambiental da Universidade de São Paulo, com uma disciplina de Química Introdutória, que visa introduzir aos alunos conceitos importantes, enfatizando que não existe entre os cursos de engenharia a aplicação do ciclo básico de disciplinas com conteúdo de Matemática, Química ou Física [4]. Para caracterizar as concepções que os alunos constroem e, transformá-las em preceitos científicos em sala de aula, são utilizadas diferentes conotações na visão de vários autores, como: idéias intuitivas [5], pré-concepções [6-7]; idéias prévias [6,8], pré-conceitos [910], erros conceituais [11], conceitos alternativos [12], [13] as concepções alternativas e por fim, conhecimentos prévios [14]. Estes termos acima citados refletem posições epistemológicas diferentes, mas com algo em comum: cada aluno leva para a sala de aula estrutura cognitiva própria, elaborada a partir de suas experiências diárias que servem para explicar ou predizer o que ocorre a sua volta [15]. Outro pesquisador [16] acredita que o ensino efetivo em sala de aula necessita também de um elemento facilitador representado pelo professor, propiciando aos alunos situações sobre o conteúdo que possam utilizar suas concepções alternativas. Assim estes fatores devem trabalhar em conjunto para o sucesso da aprendizagem, em benefício de uma apropriação realista dos conteúdos com possibilidade de extrapolação nas diferentes áreas de formação, neste artigo aparece a proposta de investigação do Zeni, A.L.B. No.01/2010 B3 conhecimento prévio de alunos da área da saúde no início de seus cursos, dando uma idéia de sua bagagem de conhecimento construído até aquele momento, antes da disciplina de Bioquímica acontecer. MÉTODO No primeiro dia de aula, os alunos matriculados na disciplina de Bioquímica no primeiro semestre dos cursos de Medicina (29) e Odontologia (12), totalizando 41 alunos e no segundo semestre de Fisioterapia (40) e Farmácia (45), perfazendo 85 alunos, no ano de 2004, foram questionados. Dos 41 alunos 57,6% eram do sexo feminino e 40,8% masculino e dos 85 entrevistados a maioria foi do sexo feminino 60,0 % e masculino 40,0%, respectivamente primeiro e segundo semestre. Aplicou-se um questionário sobre conteúdos conceituais que deveriam fazer parte do conhecimento em Bioquímica para uma aprendizagem de qualidade. Uma pesquisa aplicada desta forma aos alunos pode nortear o processo de estruturação do ensino do conteúdo, principalmente com relação ao desempenho didático do professor [18]. Cada aluno expôs sua opinião individualmente, sem obrigatoriedade de preenchimento e as respostas foram abertas. O questionário aplicado encontra-se apresentado na Tabela 1. Tabela 1. Questionário aplicado aos alunos matriculados nas disciplinas de Bioquímica no primeiro e no segundo semestre. (Questão 1) Você poderia listar alguns assuntos relacionados a área de Bioquímica? Sim ( ) Não ( ) Porque: Quais? (Questão 2) Onde você obteve estes conhecimentos? (Questão 3) Qual a composição química de uma célula? (Questão 4) Escolha duas respostas da questão anterior agora relacionando no mínimo um exemplo de cada elencando funções: (Questão 5) Você já estudou o processo de respiração celular? Sim ( ) Não ( ) Explique a função do processo: (Questão 6) Qual a diferença entre cátion e ânion? (Questão 7) O que é pH? (Questão 8) Escreva a função ao lado das estruturas celulares abaixo: Mitocôndria; Cloroplasto: Membrana celular: Cromossomos: Retículo Endoplasmático Rugoso (R.E.R): RESULTADOS Alunos dos cursos de medicina e odontologia (primeiro semestre) Zeni, A.L.B. No.01/2010 B4 Na primeira questão foi solicitado aos alunos se poderiam listar assuntos relacionados à área de Bioquímica, 69% responderam positivamente e 31% negativamente. Dos que responderam sim, segue abaixo no gráfico as respostas e aos que responderam negativamente foi questionado o motivo, estes relataram “não sabem” (10%). Quanto aos assuntos a maioria dos entrevistados respondeu reações e processos metabólicos (55,2%) e composição química (19,2%), as outras respostas se dividiram igualmente (Fig. 1). Figura 1. Assuntos relacionados à área de Bioquímica. Quanto à fonte de obtenção destes conhecimentos, sendo estes alunos matriculados no primeiro semestre, a maioria respondeu ensino médio (50,6%), 27,6% não responderam e 16,1% responderam cursinho, em casa e outra universidade, respectivamente 4,6% e 2,3% (Fig. 2). Figura 2. Fonte de obtenção dos conhecimentos relacionados à disciplina de Bioquímica. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B5 A fim de verificar o conhecimento prévio importante para a disciplina na área de Biologia celular foi questionada a composição química de uma célula. Apenas 11,9% dos entrevistados alegaram não saber ou não responderam esta questão, o que demonstra um bom índice de aprendizado, porém 11,9% responderam como composição química, partes da célula, denotando uma dificuldade em separar micro e macroelementos da disciplina (Fig. 3). O restante das respostas foram lipídios e proteínas (35,7%) ou carboidratos (12,2%). Figura 3. Composição química da célula. A seguir (Tab.2), ao ser solicitado ao entrevistado que escolhesse duas respostas da questão anterior e elencasse funções, apareceram alguns equívocos provenientes de confusão entre composição química e, partes da célula (membrana plasmática, organelas), processo metabólico (respiração celular, bomba de sódio e potássio), exemplos de molécula como função (colesterol, testosterona), a primeira vista podem parecer erros pequenos, mas percebemos que estes erros de conceitos formados causarão problemas para a maturação de novos conceitos ou mesmo da utilização destes em outros conceitos. Na Tab. 2 seguem as respostas escolhidas e suas funções. Observa-se coerência nas respostas, mas respostas muito curtas e sem continuidade, faltando especificidade p.ex., para Magnésio a função de manutenção e, erros como em proteínas relacionando esta molécula diretamente com material genético. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B6 Tabela 2. Respostas escolhidas a partir da questão anterior para elencar funções. Composto químico Funções Membrana plasmática* Formada por proteína e lipídio Proteção Permeabilidade seletiva Água Compõem o citoplasma Serve como solvente Transporte de substância Controla a temperatura Mantém o estado coloidal do hialoplasma Respiração celular* Produção de energia Lipídios Colesterol* Hormonal Testosterona* Reserva de energia Isolante Proteínas Material genético Constituem uma enzima digestiva Macromoléculas que agem em muitas reações Altera reações orgânicas Forma aminoácidos Ribossomos Ácidos nucléicos Transmissão dos caracteres hereditários Sais minerais Formação dos ossos DNA Onde está todo o nosso código genético Reconhecimento de substâncias Carboidratos Energia em forma de ATP Bomba de sódio e Mantém o equilíbrio extra e intracelular potássio* Fosfato Energia Magnésio Manutenção Organelas* Sínteses Vitamina A Evita cegueira noturna * Partes da célula, processos metabólicos ou exemplos de moléculas, no lugar de função de moléculas. Na questão quanto a já ter estudado ou não o processo de respiração celular todos responderam positivamente. A maioria descreveu como função a produção de energia (55,2%), e 2,3% e 4,6% respectivamente responderam glicólise-ciclo de Krebs, cadeia respiratória e trocas gasosas, evita acidose celular, porém 36,6% não sabiam responder a função o que demonstra a lembrança do assunto, mas não condições de descrever a(s) função (s). Em outra pergunta, sobre a diferença entre cátion e ânion, “cátion - pouca quantidade de elétrons, cátion - átomo neutro que perdeu elétrons e ânion muita quantidade de elétrons”, 1,42% cada resposta, a maioria 76,1% respondeu “cátion + e ânion –“ e 17,04% não sabiam responder, foram as respostas obtidas. Na questão seguinte quanto ao conceito de pH, 72% responderam “potencial de H+ que varia entre ácido, base e neutro”, 19,2% não, souberam responder e 7,2% responderam “é uma escala que varia de 0 a 14”. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B7 A última questão solicitava ao entrevistado que escrevesse a (s) função (s) para cada estrutura celular (cinco delas). Nesta questão a maioria 81,6% respondeu e 18,4% não sabiam responder (Tab.3). Tabela 3. Relação entre parte da célula e sua (s) função (s). Parte da célula Função (s) N° % Respostas Mitocôndria Respiração celular Produção de energia 34 1 15,6 0,46 Cloroplasto Produção de clorofila Fotossíntese Armazena clorofila Formação de glicose Delimita o meio intra e extracelular Permeabilidade seletiva Proteção Material genético Divisão celular e síntese protéica Síntese do DNA Pigmentos Comanda todas as funções da célula Síntese de ribossomos Síntese de proteínas Transporte de proteínas 2 27 3 1 19 0,92 12,4 1,4 0,46 8,7 10 7 29 1 1 1 1 4,6 3,2 13,3 0,46 0,46 0,46 0,46 26 3 9 40 12 1,4 4,1 18,4 Membrana celular Cromossomos R.E.R Não sabem Alunos dos cursos de farmácia e fisioterapia (segundo semestre) Na questão sobre se poderiam citar assuntos relacionados à área de Bioquímica, 55,2% responderam negativamente e 46,8% positivamente. A seguir aparecem os assuntos listados pelos entrevistados que responderam positivamente a questão anterior (Fig. 4). Um grande número de entrevistados (39,6%) respondeu moléculas e 34,2% não respondeu esta questão, apesar de responder sim na questão, também foram citados “aspectos relacionados à química”, entre outros. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B8 Figura 4. Assuntos relacionados à área de Bioquímica. Aos que responderam negativamente (55,2%) foi questionado o motivo, e as respostas foram, não possuem conhecimento sobre o assunto (43,2%), não relacionam os nomes com a matéria (33,6%) e não sabem responder (24%). Quanto à fonte de obtenção destes conhecimentos, a maioria não respondeu ou não obtiveram estes conhecimentos (61,2%), ensino médio (19,2%), em outra universidade ou curso (13,2%), entre outras respostas (Fig. 5). Nesta questão como é o segundo semestre aparecem respostas diferentes do primeiro, porém com exceção de laboratório, as outras respostas não parecem incluir o primeiro semestre como preponderante na aprendizagem do segundo semestre, pelo menos na disciplina de Bioquímica. Figura 5. Fontes de obtenção dos conhecimentos em Bioquímica. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B9 Aos alunos do segundo semestre também foi feita a questão sobre a composição química de uma célula (Fig. 6), nesta questão percebe-se a inserção de conhecimentos de outras disciplinas (na universidade), pois as respostas diferem do primeiro semestre, principalmente em relação à diversidade na composição química e aparecem termos novos, como glicoproteínas, fosfolipídios, entre outros (Dados não mostrados). E um índice de 20,40% de não sabem/não responderam. Nesta questão parece haver uma contradição com a anterior, pois apesar de não citarem literalmente o primeiro semestre, estes conhecimentos novos foram construídos, diferentemente do primeiro semestre onde as respostas eram mais simples, com conhecimentos prévios do primeiro semestre, sugerindo que os alunos nem sempre percebem claramente essa construção de conhecimento. Figura 6. Composição química da célula. Nesta questão foi solicitado ao entrevistado que escolhesse duas respostas da questão anterior agora relacionando no mínimo um exemplo de cada composto químico elencando sua (s) função (s) (Tab. 4). Zeni, A.L.B. No.01/2010 B10 Tabela 4. Respostas escolhidas a partir da questão anterior para elencar funções. Composto químico Funções Bomba de sódio e potássio* Fosfato Magnésio Organelas* Lipídios Água Proteína Vitamina A Sódio e potássio Mantém o equilíbrio extra e intracelular Energia Manutenção Síntese Isolante Forma membranas Controle de calor Solvente Forma aminoácidos Forma membranas Ribossomos Evita cegueira noturna Mantém o equilíbrio dentro da célula * Partes da célula, processo metabólico ou exemplo de molécula, como função de moléculas. Novamente aparecem no lugar da composição química, as respostas, bomba de sódio e potássio (processo metabólico) e organelas (partes da célula), também fazem parte da célula, mas organelas num nível macro e a composição num nível molecular, mas no segundo semestre este tipo de resposta foi rara, predominando componentes moleculares. Porém os que não sabem e não responderam aumentou para 83,6%, sugerindo que souberam citar os compostos, mas não conseguiram relacionar com as funções de cada um na célula. Na questão sobre respiração celular, quanto a ter estudado o processo, a maioria respondeu sim, ao explicarem a função, 55,3% responderam produção de energia, 2,3% glicólise-ciclo de Krebs e cadeia respiratória, 4,6% trocas gasosas e 36,8% não souberam responder a questão. Qual a diferença entre cátion e ânion, foi á próxima questão e as respostas foram cátion +, ânion – (47,7%), não sabe (10,8%), ganha elétrons, muita quantidade e pouca quantidade de elétrons, átomo neutro que perdeu elétrons, respectivamente, 1,8%, 0,9%, 1,8%, 0,9% e, 10,8% não soube responder. Quanto ao conceito de pH, 79,2% responderam índice base e neutro de uma substância e 19,20% não souberam responder. Não houveram respostas relacionadas com a sigla pH. Considerando que os conceitos verificados fazem parte do currículo de ensino médio e grande parte é revista em disciplinas no primeiro semestre é preocupante perceber que muitos alunos permanecem alheios a estes conhecimentos prévios importantes para aprender e transformar novos conhecimentos no terceiro grau na disciplina de bioquímica. Quanto a relatar funções para as partes da célula, somente 19,08% do segundo semestre não souberam responder, demonstrando que quanto a conhecimento em relação à Biologia Celular os alunos conseguem relacionar funções (Tab. 5), fato que se repete com os alunos do primeiro semestre. Porém percebem-se alguns equívocos, como, cloroplasto e respiração celular, cromossomos e síntese de proteínas. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B11 Tabela 5. Relação entre parte da célula e sua (s) função (s). Parte da célula Função (s) N° de % respostas Mitocôndria Produção de ATP 16 5,76 Respiração celular 43 15,5 Controle osmótico 2 0,72 Fotossíntese 35 12,6 Cloroplasto Respiração celular 3 1,08 Controla o pH 1 0,36 Reprodução 1 0,36 Membrana celular Controle osmótico 4 1,44 Permeabilidade seletiva 41 14,8 Proteção celular 20 7,2 Transporte 4 1,44 Cromossomos Material genético 35 12,6 Síntese de proteína 3 1,08 Reprodução celular 4 1,44 Permeabilidade seletiva 2 0,72 R.E.R. Ribossomos 4 1,44 Síntese de proteína 5 1,8 Não sabem/ 53 19,08 responderam R.E.R.- Retículo Endoplasmático Rugoso DISCUSSÃO No segundo semestre abriu-se o leque de fontes de obtenção dos conhecimentos, fato este importante no processo de aprendizagem, onde aparece a oportunidade de confrontar conceitos e amadurecê-los. Pesquisas em aprendizagem com múltiplas fontes de informação sugerem estabelecimento de conexões e desenvolvimento flexível de modelos mentais que irão ser a chave para a integração das informações [19], formando um mosaico de idéias interconectadas [20]. Não houve diferenças marcantes nas questões respondidas pelos entrevistados do primeiro e segundo semestre, através da metodologia desenvolvida. Era esperado um aumento de respostas corretas no segundo semestre, porém em alguns casos foi observado o contrário, podendo haver diferenças entre cursos, variável não investigada, devendo este ponto ser objeto de novos estudos. Mas percebeu-se uma mudança de linguagem, aquisição de algumas denominações, infelizmente carecendo de profundidade, com deficiências em relacionar moléculas, estruturas e funções celulares, problema este observado independente do semestre. O recente trabalho de Oliveira [15] apresenta uma série de dificuldades que alunos de um curso específico sentem ao estudarem o assunto Tecido muscular, uma delas diagnosticada como falta de visão tridimensional da célula, não conseguindo associar a forma, localização e função das organelas que constituem a fibra muscular. Assim, após estas conclusões, a autora apresentou uma estratégia de ensino que minimizasse as dificuldades dos alunos, pois este problema seria levado adiante e persistiria neste conteúdo quando abordado em outras disciplinas a exemplo da própria bioquímica. Outros exemplos de trabalhos semelhantes de investigação também podem ser mencionados como, Laburú [21] que estudou como os estudantes, do Ensino Fundamental e Médio, descrevem e compreendem o conceito de aceleração, com a finalidade de reelaborar suas concepções prévias. Identificou que, a passagem dos alunos pelo ensino formal, influencia pouca a lapidação das idéias intuitivas, que consideram a aceleração como critério de velocidade. Outro trabalho na área da Física foi realizado por Goulart [22], sobre conceitos espontâneos de fenômenos relativos à luz, com alunos do Ensino Fundamental e Médio. Zeni, A.L.B. No.01/2010 B12 Embora as pesquisas sobre as concepções alternativas tenham se desenvolvido bastante nas últimas décadas, esse crescimento foi desigual com relação às diversas áreas do conhecimento. Os estudos relacionados às concepções dos alunos nos campos da física e da química conseguiram um desenvolvimento muito maior e mais acelerado do que o observado na área biológica [23]. Porém, a publicação sobre as concepções alternativas relacionadas a conteúdos de bioquímica é bastante escassa, surgindo assim à necessidade de aprofundamento nesta área. Em outro trabalho importante, tentando diagnosticar as concepções dos alunos do Ensino Fundamental e Médio em relação ao tema metabolismo energético, Oliveira [24] detectou uma concepção comum de que a glicose é obtida somente pela ingestão de carboidratos, sendo, ainda, a única fonte de energia para o organismo. É importante o conhecimento prévio do estudante para a aprendizagem de um novo conteúdo, que na realidade nem sempre é novo, pois o aluno traz de uma maneira geral traz um conhecimento que é fundamental. Ao ensinar, o professor passa uma só mensagem, mas cada aluno percebe uma diferente, dependendo fundamentalmente do seu conhecimento e de sua vivência/experiência anterior. Isto é muito bem colocado por Johnstone [25]. As informações passam por um filtro de percepção pessoal, e o que passa pelo filtro depende, entre outras coisas, do conhecimento prévio já existente na estrutura cognitiva do indivíduo. Este tipo de transformação é possível promover em sala de aula através do exercício do diálogo entre professor e alunos e entre os próprios alunos, ajudando-os a fazerem a associação entre conceitos. E isto só é possível quando o número de alunos não é excessivamente grande, daí a importância de limitar o tamanho das turmas em disciplinas de grande demanda. No caso de turmas grandes a solução parece estar em ajuda externa à sala de aula, na forma de monitoria, tutoria, aulas de reforço, trabalhos em grupos, entre outras ferramentas. Entretanto, quando a falta de base é severa, é necessária assistência extraclasse, em 2000 a pró-reitoria de ensino da Universidade Federal de Viçosa submeteu ao Ministério de Educação e Cultura (MEC) um projeto de instalação de um programa de tutoria para dar assistência a estudantes com falta de base em disciplinas básicas, préselecionados pelos resultados obtidos no exame vestibular. O projeto foi aprovado e financiado pelo MEC e até o seu terceiro ano de funcionamento tem obtido resultados muito promissores, apresentados em vários congressos, com tutoria em biologia, bioquímica, física, matemática, língua portuguesa e química [1]. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste sentido, o professor deve estimular seus alunos para que possam buscar respostas aos problemas propostos, cabe ao professor fornecer aos alunos situações onde possam relacionar o conteúdo ministrado ao seu cotidiano diário e/ou profissional, como forma de despertar o interesse da grande maioria deles sobre a aquisição de novos conhecimentos. Sugere-se, portanto um planejamento cuidadoso de aulas e alternativas de estudo diferenciadas aos alunos que apresentem dificuldades sejam elas de ensino médio ou de semestres anteriores, através de um diagnóstico precoce, para que eles tenham a oportunidade de construir um conhecimento consistente a ser utilizado com propriedade a partir de seu conhecimento prévio ou de suas concepções alternativas ou qualquer outra denominação que preferirmos utilizar. AGRADECIMENTOS Aos alunos que participaram da pesquisa e a acadêmica Patrícia Beckhauser pelo auxílio na tabulação dos dados. Zeni, A.L.B. 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Isto é especialmente importante na Enfermagem, onde se exige capacidade de investigação, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação do processo de cuidar. Com isso, a bioquímica deve buscar vincular o conteúdo à atividade profissional, com ênfase fisiopatológica, sem descuidar dos seus fundamentos. Se, por um lado, a primeira opção torna o ensino da disciplina mais atraente e interessante, uma sólida formação básica habilitaria o estudante a analisar sua prática sob um aspecto mais técnico, adaptando-se a novas circunstâncias e tecnologias. Nesse contexto, buscou-se descrever a opinião de estudantes de Enfermagem da UFBA acerca da importância da disciplina para a futura profissão e verificar a percepção quanto ao próprio rendimento na disciplina e a capacidade de relacionar conceitos da bioquímica à fisiopatologia. O interesse dos alunos se dividiu entre o entendimento do metabolismo e seus distúrbios, concorrendo para o diagnóstico de patologias. De modo geral, os alunos mostraram bom desempenho na disciplina. Assim, tornou-se impossível pensar a bioquímica desvinculada da fisiopatologia. Este viés é buscado pelos próprios alunos, favorecendo desempenho no curso. Palavras-chave: ensino, graduação, distúrbios metabólicos, Abstract: Biochemistry is a basic subject for health courses. These students should be able to work in an environment where organic reactions knowledge is essential to understand the healthdisease dialectic. It is especially important in nursing, which requires the ability to investigate, diagnose, planning, implementation and evaluation of care process. Because of this, biochemistry should seek to link content to professional activity, with emphasis on pathophysiology, without ignoring its own objectives. Once the first option makes teaching a more attractive and interesting subject, on the other hand, a solid basic training would enable students to consider its work under a more technical view, adapting to new circumstances and technologies. In this context, we attempted to describe the UFBA’s nursing students’ views about the subject importance for the future profession and to verify the perception of their own advances in the discipline and ability to relate concepts of biochemistry and pathophysiology. Students’ interest was divided between metabolism understanding and its disorders, contributing for the diseases diagnosis. Overall, students showed good subject performance. Thus, it became impossible to think biochemistry devoid of pathophysiology. This view is claimed by the students themselves, encouraging performance in the course. Keywords: teaching, undergraduate, metabolic disorders Garrido, R.G. et. al. No.01/2010 C2 INTRODUÇÃO A bioquímica é um exemplo de disciplina do ciclo básico oferecida em praticamente todos os cursos da área de saúde [1,2,3]. Ela atende a grupos muito heterogêneos de alunos [4] e sua característica multidisciplinar é um indicativo da sua imperiosa aplicação nos mais diversos campos de atuação profissional [1]. O aumento do conhecimento nas diversas áreas das Ciências Biológicas, na bioquímica e na biologia molecular, em particular, tem causado dilema para os professores envolvidos com essas áreas: enquanto o conhecimento aumenta, é impossível aumentar proporcionalmente a carga horária das disciplinas [5]. Nem mesmo os livros-texto mais atuais são capazes de acompanhar a quantidade de informação produzida anualmente [6]. De modo geral, os profissionais da saúde atuam em um cenário em que o domínio das potenciais reações orgânicas é imprescindível para o procedimento frente às mais variadas situações e patologias. O entendimento dos distúrbios metabólicos ou a interpretação de exames clínicos demandam o uso do conhecimento discutido em disciplinas como a bioquímica [1]. Isto se torna especialmente importante na prática da enfermagem, onde, atualmente, além de se exigir a prática assistencial, para desenvolver a arte de cuidar e de ensinar a cuidar, tornaram-se essenciais a pesquisa e o diagnóstico [7]. Apesar disso, os estudantes de enfermagem mostram, em geral, bastante dificuldade e desinteresse pelas disciplinas de biociências [8,9,10]. A fim de superar este problema, muitas propostas têm sido testadas no ensino de bioquímica [8,9]. Vincular o conhecimento de bioquímica às outras áreas do curso, especialmente ao ciclo profissionalizante e à prática do cuidar, tem mostrado sucesso [10, 11] Certamente, a ampliação das discussões contextualizadas fornece aos alunos bons resultados porque nesse ambiente de ensino-aprendizagem, a motivação dos educandos é maior [12]. Nesse contexto, a partir de questionários objetivos aplicados a alunos do curso de Enfermagem de II, IV, VI e VII semestres da Universidade Federal da Bahia (UFBA) campus Anísio Teixeira, destacou a opinião dos estudantes acerca da importância da disciplina bioquímica para a futura profissão. Além de verificar a percepção dos alunos quanto ao próprio rendimento na disciplina e a capacidade de relacionar conceitos de biomoléculas, metabolismo e desordens metabólicas. MÉTODO No ano de 2007, foi elaborado e aplicado aos alunos que terminavam o I e III semestres do curso de Enfermagem do Campus Anísio Teixeira do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS/CAT/UFBA), na cidade de Vitória da Conquista um questionário transversal com quatro perguntas objetivas (importância da disciplina para a formação profissional, rendimento na disciplina, conhecimento sobre distúrbios metabólicos, bem como o envolvimento da bioquímica no processo de cuidar). Os questionários não eram identificados. Com exceção da questão sobre o rendimento na disciplina, com respostas mutuamente excludentes, as outras questões permitiam mais do que uma resposta. Na época, apenas duas turmas, com um total de 80 alunos, cursavam Enfermagem no recém-criado IMS/CAT/UFBA. Responderam ao questionário 61 (37 do I semestre e 24 do III semestres) estudantes, o que comporta um erro amostral de cerca de 6%. A disciplina bioquímica é ministrada durante o primeiro período do curso. Os resultados foram analisados apenas de forma descritiva e apresentados em percentuais. Garrido, R.G. et. al. No.01/2010 C3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A importância da disciplina foi atribuída à formação de base para a atuação profissional (Tabela 1). O fato de estar colocada como pré-requisito em um currículo estruturado não representou a importância da disciplina para os estudantes. Muitas iniciativas têm sido desenvolvidas para tornar o ensino de bioquímica mais atraente e interessante para diversos públicos e, em especial, para enfermagem [8,9], entre elas, a vinculação dos conteúdos de bioquímica a todas às outras disciplinas de fases mais avançadas da formação [10,11]. Tais iniciativas vinculam o conteúdo ao cotidiano e ao interesse dos profissionais. Assim, pode-se concluir que a contribuição dos conhecimentos de bioquímica tornou-se maior do que o fato desta ser pré-requisito para outras disciplinas (Tabela 1). Esta visão é compartilhada por estudantes de Fisioterapia [3]. Tabela 1 – Importância da disciplina para a formação do aluno, segundo a opinião dos estudantes dos semestres I e III de enfermagem da UFBA. Percentual Importância sem I sem III Como pré-requisito de outras disciplinas 3 5 Para facilitar entendimento de reações metabólicas 31 36 Para o entendimento de distúrbios metabólicos 32 25 Para diagnóstico de patologias 34 33 Total 100 100 Na Tabela 1, pode-se considerar que a visão dos alunos da UFBA apresentou-se dividida entre o foco no entendimento do metabolismo como um todo e dos distúrbios metabólicos, concorrendo para o diagnóstico de patologias. Em primeiro instante, Pellizon et al. [13] defendem que o processo de enfermagem deve focalizar o indivíduo como um todo, e não apenas a doença. Dessa forma, a abordagem na disciplina na UFBA pareceu bastante adequada à visão atual de atuação do enfermeiro. De modo geral, os alunos apresentaram como essencial a aplicação dos conhecimentos bioquímicos para o diagnóstico de patologias. A tabela 2 apresenta diabetes mellitus e fenilcetonúria como patologias mais citadas por alunos de distintos períodos, quando se questionava o conhecimento acerca de distúrbios metabólicos. O interesse dos alunos pela Bioquímica das Doenças é notório também no México [14], sendo o diabetes mellitus um dos tópicos mais representativos. Talvez este interesse se deva à posição do Diabetes como uma das desordens endócrinas mais comuns atualmente. Isso pode explicar o destaque por parte dos alunos. Reconhecidamente, o diabetes tem se tornado um grande desafio à saúde no mundo. De acordo com projeções, ela alcançará 220 milhões de pessoas até 2010 e ultrapassará 300 milhões até 2025 [15]. Garrido, R.G. et. al. No.01/2010 C4 Tabela 2 – Patologia relacionada a distúrbio metabólico pelos alunos dos semestres I e III de enfermagem da UFBA. Percentual Patologia sem I sem III Fibrose cística 17 21 Diabetes Mellitus 39 30 Fenilcetonúria 44 49 Total 100 100 A distribuição de rendimento na componente curricular (Tabela 3) foi equivalente em ambos os períodos da UFBA, estando fortemente fixada no nível bom. O bom rendimento apontado pela maioria dos alunos foi bastante surpreendente, uma vez que de modo geral, os estudantes de enfermagem mostram certa dificuldade em disciplinas de biociências, principalmente quando estas demandam conhecimentos básicos de química, física e biologia [3,9,10]. Tabela 3 – Rendimento obtido na disciplina por estudantes dos semestres I e III de Enfermagem da UFBA. Percentual Rendimento sem I sem III péssimo 8 4 ruim 22 21 bom 62 58 ótimo 8 17 Total 100 100 Nesse contexto parece estar presente o direcionamento dos trabalhos pelo professor, o interesse intrínseco dos alunos e a proximidade dos conteúdos com a prática profissional, como já observado por outros autores [2]. Pois, segundo Campbell e Leathard [10], estudantes de enfermagem do Reino Unido mostravam conhecimento muito baixo sobre princípios das ciências básicas e de biologia. Todavia, quando se tratam de questões relacionadas à pratica (fisiopatologia), os resultados foram melhores. Mesmo assim, de acordo com os autores, estes resultados poderiam trazer implicações para a qualidade no processo de cuidar e no desenvolvimento da profissão. Pois, esses profissionais apresentariam habilidade limitada de resolver situações clínica, de se adaptar a novas circunstâncias e de entender a prática. É certo que, mediante a importância atribuída à disciplina (Tabela 1), bem como o já esperado interesse pela aplicação de conhecimentos bioquímicos à Diabetes mellitus [14], foi proposto aos alunos analisar um caso particular sobre esta patologia. Nesse nível de conhecimento, foi possível fazer inferências sobre hábitos e atitudes encerrados no foco desses estudantes: o processo de cuidar (Tabela 4). A maioria (62 %), a partir dos conhecimentos adquiridos na disciplina de Bioquímica, recomendaria uma dieta aos pacientes diabéticos. Um menor número recomendaria exercícios físicos ou, ainda, a não ingestão de bebidas alcoólicas. De fato, uma das características básicas do progresso dos estudantes deve-se à forma empregada pelos alunos para explicarem as situações que os cercam [16]. Assim, Oliveira et al [2] observaram o entusiasmo pela bioquímica entre os alunos de odontologia e atribuíram tal fato à observação pelos alunos da aplicação cada vez maior da disciplina nas novas descobertas da ciência moderna, alterando inclusive o mercado de trabalho. Garrido, R.G. et. al. No.01/2010 C5 Tabela 4 – Recomendação dos estudantes dos semestres I e III de enfermagem da UFBA a pacientes diabéticos, utilizando-se dos conhecimentos bioquímicos no processo de cuidar de. Percentual Aplicação no processo de cuidar sem I sem III recomendaria não ingerir bebida alcoólica 15 21 recomendaria exercício físico 23 17 desenvolveria uma dieta adequada 62 62 Total 100 100 Conclusão Foi possível verificar que os estudantes de enfermagem do IMS/UFBA encontram na disciplina de Bioquímica uma forte relação do conteúdo abordado com a realidade do processo de cuidar. O fato esteve implícito na importância da bioquímica enquanto fornecedora de conteúdo atualizado e próximo da realidade profissional desses estudantes, permitindo que os estudantes, mesmo aqueles que não consideram o rendimento na disciplina aceitável, inferissem sobre a aplicação desse conhecimento no processo de cuidar do Diabetes mellitus. De modo geral, o viés fisiopatológico é buscado próprios alunos de Enfermagem na disciplina de Bioquímica. Agradecimento Ao Programa Permanecer/UFBA pelas bolsas que visam permanência acadêmica dos alunos em dificuldades sócio-econômicas. à manutenção e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Gomes, K.V.G. e Rangel, M. (2006) Relevância da Disciplina Bioquímica em Diferentes Cursos de Graduação da UESB, na Cidade de Jequié. Rev. Saúde.Com; 2(1), 161-168. [2] R.C. de Oliveira; F.G. Iano; T.L. da Silva, M.A.F. Buzalaf (2007) Percepção dos Alunos do Curso de Odontologia de uma Universidade Brasileira em Relação à Importância da Disciplina de Bioquímica na sua Profissão. RBEBBM nº1 Artigo B, 1-6. [3] T.D.L. Pinheiro; J.A. da Silva; P.R.M. de Souza; M.M. do Nascimento; H.D. Oliveira (2009) Ensino de Bioquímica para acadêmicos de Fisioterapia: visão e avaliação do discente. RBEBBM nº1, Artigo C, 1-11. [4] P.F. Beckhauser; E.M. Almeida; A.L.B. Zeni (2006) O universo discente e o ensino de Bioquímica. RBEBBM n.º 02, artigo B, 01-07. [5] W.C.B. Regis; M.L.G.S., Gonçalves; M.M. 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Departamento de Ciências Biológicas, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo/USP Resumo: O objetivo do presente trabalho foi avaliar a perspectiva dos estudantes do primeiro ano dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia sobre a importância do uso dos conhecimentos de bioquímica na aplicação clínica em suas futuras carreiras. Foram elaborados dois questionários simples de múltipla escolha e questões abertas sobre a importância da disciplina de bioquímica. Os questionários foram aplicados aos alunos do primeiro ano dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, no começo e no final da disciplina de Bioquímica (anos de 2007 e 2008). Os estudantes responderam os questionários de forma voluntária e sem a necessidade de se identificarem. As respostas foram divididas em (questões de múltipla escolha) e avaliadas quanto ao conteúdo escrito (questões abertas), indicando a opinião do aluno em cada questão. Cento e quinze estudantes responderam o primeiro questionário e cento e trinta e nove estudantes responderam o segundo. Na maioria das questões de múltipla escolha, a opinião predominante foi que a disciplina de bioquímica é importante para sua futura carreira (59,0%) bem como para sua rotina clínica (51,1%). Podemos concluir que os estudantes estão conscientes da importância dos conhecimentos adquiridos em Bioquímica para sua futura carreira, embora ainda não sejam capazes de definir com clareza a forma como esses conhecimentos serão aplicados. Palavras-Chave: Bioquímica, conhecimento, área da saúde. Abstract: The purpose of the present study was to evaluate the perspective of students in the first year of Dental and Speech, Language and Hearing Sciences School regarding the use of knowledge in Biochemistry for clinical applications in their future career. Two simple questionnaires were elaborated consisting of multiple choice and open questions regarding the Biochemistry discipline. The questionnaires were given to first-year Dental and Speech, Language and Hearing Sciences students at Bauru Dental School, University of São Paulo, at the beginning and the end of their Biochemistry course (2007 and 2008 years). The students answered the questions voluntarily and in an unidentified format. The answers were then divided (multiple choice questions) and the written contents (open questions) evaluated, indicating the students’ opinion with regards to each question. One hundred and fifteen students answered the first questionnaire and one hundred and thirty nine answered the second one. In the great majority of the multiple choice questions, the predominant opinion was that the Biochemistry discipline is important for their future careers (59.0%) as well as for their routine clinical setting (51.1%). We may conclude that students are aware of the importance of the acquired knowledge in Biochemistry for their future career although are not yet capable of defining how such knowledge will be applied. Key-words: Biochemistry, knowledge, health area. Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D2 INTRODUÇÃO A chamada “Era do Conhecimento” introduziu algumas exigências em diversas áreas profissionais. Entre as habilidades descritas como essenciais para o futuro profissional estão: habilidades interpessoais (boa comunicação, capacidade de trabalhar em equipe e sintonia com parceiros/clientes), pensamento crítico, aprendizagem contínua [1, 2] e construção de conhecimento [3]. De acordo com a Association for Dental Education in Europe (ADEE), alguns desses requisitos são muito importantes para o cirurgião-dentista, tais como conhecimento e compreensão da importância da formação científica na odontologia (incluindo ciências básicas e biomédicas), entender os mecanismos de doenças incluindo infecção, inflamação, desordens do sistema imune, degeneração, neoplasias, alterações genéticas e metabólicas. Além de compreender a ciência dos materiais dentários [4]. Boa parte dessas características pode ser preenchida com a aprendizagem de conceitos ministrados nas disciplinas básicas, como, histologia, anatomia, fisiologia, farmacologia, bioquímica e outras. O ensino das disciplinas básicas, nos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia, têm por objetivo formar um profissional embasado para realizar procedimentos de diagnóstico, tratamento e prognóstico de pacientes [5]. Em outras palavras, as disciplinas de ciências básicas ministradas no inicio dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia devem proporcionar base sólida de conhecimentos para ser aplicada na rotina diária do profissional [6]. Tais conhecimentos não teriam nenhum valor real se não fossem usados na rotina profissional [7]. Por isso, especificamente o ensino de bioquímica, tem sido uma preocupação de diversos docentes [8], tendo em vista que é utilizada como uma ferramenta nos procedimentos de diagnóstico, tratamento e prognóstico por diversos profissionais da área da saúde [9]. Entretanto, em geral, as ciências básicas apresentam certo grau de rejeição por parte dos alunos e até mesmo professores de outras disciplinas [10, 11]. O sistema de currículo, no Brasil, parece influenciar este fenômeno devido a sua estrutura fragmentada de disciplinas isoladas e desvinculadas da realidade profissional, hipertrófico em conteúdo e tem como objetivo uma formação técnica e específica, não formando profissionais que atendam as necessidades de saúde da sociedade [12-16]. Em particular, a disciplina de Bioquímica é apresentada nos programas mais tradicionais como uma disciplina organizada e coerente, porém muitas vezes definida pelos alunos como uma coleção de estruturas químicas e reações, dificilmente assimiladas e desintegradas de sua prática profissional [12-15]. No entanto, essa falta de interesse pela bioquímica parece ter diminuído desde os recentes avanços no campo das ciências, tais como o Projeto Genoma Humano e o uso de células-tronco, além disso, o próprio mercado de trabalho tem cobrado um maior nível de compreensão e conhecimento de ciências básicas [17]. Outro aspecto a ser levado em consideração é que a importância das disciplinas das ciências básicas pode ser muitas vezes negligenciada devido a razões menores. Um bom exemplo disso é a ansiedade do próprio aluno para a prática de situações clínicas com formação apenas de manobras técnicas e repetitivas, sem entender o contexto clínico do paciente e o conjunto de todo o caso clínico: diagnóstico-tratamento-prognóstico. Essa ansiedade em "pular etapas" pode levar o aluno a diminuir ou, na pior das hipóteses, até mesmo negligenciar o conhecimento de ciências básicas [18, 19], incluindo Bioquímica, levando assim aos problemas durante a prática clínica. Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a perspectiva dos estudantes de Odontologia e Fonoaudiologia, do primeiro ano, sobre a importância dos conhecimentos em bioquímica para a sua futura carreira. MATERIAL E MÉTODO Foram aplicados dois questionários simples compostos de questões abertas e de múltipla escolha, sobre a importância e aplicabilidade da disciplina de bioquímica no Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D3 cotidiano clínico, seguindo o modelo proposto por Haddad et al., 1993 [20]. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo (protocolo n° 002/2007). A participação dos estudantes foi inteiramente voluntária e o termo de consentimento foi obtido de todos os participantes. Os questionários foram aplicados aos alunos do primeiro ano do curso de graduação em Odontologia e Fonoaudiologia, no inicio (Fase 1) e final (Fase 2) da disciplina de bioquímica nos anos de 2007 e 2008. Os estudantes responderam os questionários sem a necessidade de se identificarem para não sofrerem qualquer tipo de inibição. Um total de 115 estudantes respondeu o primeiro questionário e 139 responderam o segundo questionário. Após a coleta dos questionários preenchidos as respostas foram divididas segundo suas alternativas escolhidas (questões de múltipla escolha) e avaliadas quanto ao conteúdo escrito (questões abertas), indicando a opinião do aluno em relação a cada questão. Fase 1: Questionário aplicado aos alunos do curso de Odontologia e Fonoaudiologia do primeiro ano da graduação (2007 e 2008), antes da primeira aula da disciplina de Bioquímica. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DISCIPLINA DE BIOQUÍMICA Caro aluno, Solicitamos sua colaboração respondendo este questionário, através do qual você terá oportunidade de exteriorizar sua opinião referente à disciplina de Bioquímica. A sinceridade em suas respostas nos é muito valiosa, pois elas fornecerão subsídios para reestruturarmos a disciplina em alguns aspectos. A sua informação é anônima e não há necessidade de assinar. Obrigado pela sua colaboração. Docentes de Bioquímica 1) O que você espera aprender na disciplina de Bioquímica ministrada? 2) Em sua opinião, o curso de bioquímica ministrado terá relevância na sua formação profissional? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Nenhuma Fase 2: Questionário aplicado aos alunos do curso de Fonoaudiologia do primeiro ano da graduação (2007 e 2008), após a última aula da disciplina de Bioquímica. Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D4 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DISCIPLINA DE BIOQUÍMICA Caro aluno, Solicitamos sua colaboração respondendo este questionário, através do qual você terá oportunidade de exteriorizar sua opinião referente à disciplina de Bioquímica. A sinceridade em suas respostas nos é muito valiosa, pois elas fornecerão subsídios para reestruturarmos a disciplina em alguns aspectos. A sua informação é anônima e não há necessidade de assinar. Obrigado pela sua colaboração. Docentes de Bioquímica 1) Você julga que a metodologia de ensino vivenciada em Bioquímica propicia o desenvolvimento de integração entre teoria e prática? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Nenhum 2) A metodologia de ensino vivenciada em Bioquímica propicia a participação ativa no seu processo de aprendizagem? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Nenhuma 3) Em sua opinião, o curso de bioquímica ministrado terá relevância na sua formação profissional? a) Sim b) Apenas em parte c) Muito pouco d) Nenhum 4) O uso do conteúdo do curso de bioquímica parece ser importante no cotidiano clínico? a) Sim b) Apenas alguns c) Nenhum deles d) Não tenho tempo suficiente de curso para responder 5) Qual(is) exemplo(s) você poderia citar sobre aplicação de um conhecimento de bioquímica numa situação clínica? Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D5 RESULTADOS Em relação ao questionário aplicado aos alunos do primeiro ano, a maioria dos alunos respondeu que espera aprender fenômenos que acontecem no organismo humano, tais como processos biológicos e químicos (primeira questão: “Eu espero aprender mais detalhes e compreender melhor processo químicos e biológicos do organismo humano”). No primeiro questionário, 80% dos alunos responderam que o conteúdo do curso de bioquímica será usado em sua futura profissão. Por outro lado, 20% dos estudantes acreditam que a disciplina de bioquímica terá uma relevância menor em sua atuação profissional futura (Tabela 1). Tabela 1 – Distribuição da opinião dos alunos do primeiro ano dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia (anos de 2007 e 2008). Segunda questão do Primeiro questionário. Alternativas assinaladas Questão Sim “Na sua opinião, o curso 92a de bioquímica ministrado (80%)b terá importância na sua atuação profissional?” a: Número de alunos b: Porcentagem de alunos (%) Apenas em parte Muito pouco Não Total 19 (16,5%) 4 (3,5%) 0 (0%) 115 (100%) No questionário aplicado no final do curso de bioquímica, a opinião dos alunos para a questão sobre a integração entre teoria e prática, cerca de 49,7% responderam que houve uma boa integração, ao passo que 36,7% julgaram essa relação regular (Tabela 2). Sobre a metodologia de ensino vivenciada na disciplina de bioquímica, somente 49,7% responderam que a mesma proporciona uma participação ativa nesse processo de aprendizado, por outro lado, 36,0% dos alunos julgaram essa participação regular (Tabela 2). Na questão sobre as expectativas do curso, a maioria dos estudantes (85,6%) acredita no uso do conteúdo da disciplina na prática clínica. Aproximadamente 15% dos estudantes não acreditam que o conteúdo aprendido no curso de bioquímica terá utilidade na sua rotina profissional (Tabelas 2 e 3). Com relação ao exemplo dado pelos alunos, o uso do flúor e seus mecanismos de ação: "Os efeitos do flúor, a etiologia da cárie e da capacidade tampão da saliva" (última pergunta) foi o exemplo mais citado. Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D6 Tabela 2 – Distribuição da opinião dos alunos de Odontologia e Fonoaudiologia do primeiro ano (anos 2007 e 2008). Primeira, segunda e terceira questões do Segundo questionário. Alternativas assinaladas Questões “Você acha que a metodologia de ensino usada em bioquímica promove a integração entre teoria e prática?” Sim Apenas em parte Muito pouco Não Total 69a (49,7%)b 51 (36,7%) 17 (12,2%) 2 (1,4%) 139 (100%) 69 (49,7%) 50 (36,0%) 18 (12,9%) 2 (1,4%) 139 (100%) 82 (59,0%) 37 (26,6%) 17 (12,2%) 3 (2,2%) 139 (100%) “A metodologia de ensino vivenciada na bioquímica propicia uma participação ativa no processo de aprendizagem?” “Em sua opinião, o curso de bioquímica é relevante para sua profissão?” a: Número de alunos b: Porcentagem de alunos (%) Tabela 3- Distribuição da opinião dos alunos de Odontologia e Fonoaudiologia do primeiro ano (anos de 2007 e 2008). Quarta questão do Segundo questionário. Alternativas assinaladas Questão Sim “Você acredita que o conteúdo da disciplina de 71a bioquímica será (51,1%)b importante para aplicação clínica?” a: Número de alunos b: Porcentagem de alunos (%) Somente alguns Nenhum Não tenho tempo de curso suficiente para responder 51 (36,7%) 6 (4,3%) 11 (7,9%) Total 139 (100%) Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D7 DISCUSSÃO Os recém ingressados estudantes de Odontologia e Fonoaudiologia estão, geralmente, em busca de formação técnica imediata, em vez de um conhecimento mais profundo das ciências básicas [10]. A maioria dos alunos, no presente trabalho, tinha aproximadamente 19 anos (dados não mostrados). De modo geral esses alunos são motivados a cursar a Faculdade (curso da área da saúde) por motivos: financeiro, profissional, vocação e outros [21], variando de acordo com o status social e gênero, entre outros fatores [22]. Daí, a necessidade de conhecer o perfil de cada aluno e as expectativas a respeito do curso, na tentativa de melhorar o processo de ensino e aprendizagem [14]. É importante considerar a heterogeneidade dos alunos que ingressam nas universidades do Brasil, principalmente devido ao sistema de ensino adotado no país [15], gerando a necessidade de adequação em determinadas disciplinas e também para a eficácia dos docentes no processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, o presente trabalho demonstrou uma visão um pouco distorcida dos alunos (ou não, dependendo do projeto pedagógico) sobre a disciplina de Bioquímica (somente conceitos químicos e biológicos desconectados). Dentro do processo de ensino-aprendizagem, os professores são desafiados a promover e despertar o interesse dos alunos, motivando-os na busca de novos conhecimentos e estimulando sua curiosidade científica. Não obstante, alguns fatores parecem aumentar o desafio, como para as disciplinas de ciências básicas. Um desses fatores é a estrutura tradicional dos currículos utilizados: fragmentado em disciplinas isoladas, desconectadas da realidade da profissão e com conteúdo hipertrófica, visando a uma formação técnica e não para suprir as necessidades básicas da profissão e da sociedade em geral [12]. Este relato da literatura pode ser confirmado pela discrepância dos nossos resultados obtidos na questão da importância da disciplina de Bioquímica (Tabela 3) e as respostas de aplicação do conhecimento na atividade clínica. Esse processo de desvinculação entre as disciplinas básicas e profissionalizantes (falta de integração entre professores e temas ministrados) compromete o entendimento do aluno, e por fim o uso dos conhecimentos básicos aplicados em clínica. Uma vez que a integração entre os próprios professores não acontece sempre. Devido a essa desconexão entre as ciências básicas e clínicas, o que realmente fica comprometida é o conhecimento do aluno e outras habilidades profissionais [15]. Nossos resultados são semelhantes aos de outros trabalhos, que de acordo com as opiniões dos alunos, o método mais eficiente de aprendizagem vem da combinação de aulas teóricas e práticas [12, 23]. No que diz respeito ao interesse dos alunos para a aprendizagem e valorização da disciplina de Bioquímica em suas carreiras futuras, os resultados aqui foram muito semelhantes a outros estudos anteriores [15, 17], em que os alunos realmente acreditam que a bioquímica tem um lugar importante na sua rotina profissional. Como descrito neste estudo, e especificamente no Brasil, observamos uma possível mudança no perfil do estudante do primeiro ano de Odontologia e Fonoaudiologia, como a sua percepção da importância e aplicabilidade de bioquímica na sua profissão. Isto deveria ser adotado pelos professores como uma avaliação contínua do plano de curso proposto bem como de metodologia de ensino utilizada [15]. Cabe aos membros do corpo docente identificar o perfil dos estudantes e, portanto, estabelecer um melhor processo de ensino, além disso, reforçam a necessidade de contínuo “feedback” dos alunos com relação à dinâmica do processo de ensino. O desenvolvimento das disciplinas foi aprovado pela maioria dos alunos, no entanto, alguns pontos como a integração das aulas teóricas e práticas parecem ter espaço para melhorias. Podemos concluir que os alunos de Odontologia e Fonoaudiologia estão conscientes da importância dos conhecimentos adquiridos em Bioquímica para sua futura carreira profissional, embora ainda não são capazes de definir a forma como esses conhecimentos serão aplicados. Oliveria, R.C. et. al. No.01/2010 D8 Agradecimentos Aos alunos dos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia da FOB-USP, pela colaboração valiosa e espontânea nesta pesquisa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] W.D. Hendricson, S.C. Andrieu, G. 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Torres, Eduardo Galembeck - Fone: (19) 3521-6138 Fax: (19) 3521-6129 ISSN: 1677-2318 No. 01 Public. 09/04/2010 Artigo E IMPLANTAÇÃO E AVALIAÇÃO DE ENSINO SEMIPRESENCIAL EM DISCIPLINAS DE BIOQUÍMICA UTILIZANDO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM Denise Nogueira Heidrich1, José André Peres Angotti2 1 Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina, professor adjunto IV do Departamento de Bioquímica do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). [email protected]. Apoio CNPq. 2 Professor titular do Departamento de Educação do Centro de Educação e docente do Programa de Pós Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina. Apoio CNPq. Resumo: Atividades semi-presenciais ligadas à educação universitária tradicional tiveram a utilização dos meios síncronos e assíncronos disponibilizados pela rede web regulamentados pela portaria 4059/2004 do MEC. Com base nesta portaria, foi criado um ambiente de elearning, o Diorama 1.0, no Laboratório de Ensino à Distância (LAED/CFM/UFSC), baseado no Moodle 1.5.2. Duas disciplinas de Bioquímica foram pioneiras, no curso de Nutrição do Centro de Ciências da Saúde, e no Departamento de Bioquímica da UFSC, em utilizar os recursos da educação à distância para o ensino presencial. A avaliação das disciplinas e do ambiente virtual foi realizada no final dos semestres 2008/1 e 2008/2, através de questionário. Palavras-chave: implantação e avaliação, disciplinas de Bioquímica, ambiente AVEA. Abstract: Activities based on Internet tools as supports for traditional education were regulated in Brazil by the Ministry of Education and Culture (MEC) in 2004. In 2005 an e-learning environment, Diorama 1.0, was created in the Laboratory of Long-Distance Education (LAED/CFM/UFSC), based on Moodle 1.5.2. Two disciplines of Biochemistry had been pioneering, in the course of Nutrition of the Center of Sciences of the Health, and in the Department of Biochemistry (UFSC), in using the resources of the long-distance education as a support for traditional classes activities. The disciplines evaluation was performed at the end of the semesters 2008/1 and 2008/2. Keywords: implantation and evaluation, Biochemistry disciplines, AVEA e-learning environment. Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E2 1. Estudantes e Internet- necessidade de explorar os meios síncronos e assíncronos para o ensino. A educação atual está exigindo a junção com a ciência e uma maior utilização das tecnologias de informação e comunicação. Apesar de toda uma tradição livresca baseada no texto impresso no papel, esta forma de acesso à informação vem sendo paulatinamente substituída por recursos de livros on-line e áudio visuais. Para os estudantes que já nasceram na era da informática, o estudo pelos métodos tradicionais se torna muitas vezes difícil e tedioso [1]. Entretanto, a confirmação de que os alunos de graduação utilizam preferencialmente os recursos da Internet para entretenimento e comunicação, em detrimento da aprendizagem, vem corroborar a necessidade de explorar este domínio ainda escassamente utilizado para o ensino [2]. A possibilidade de utilizar os meios síncronos e assíncronos, disponibilizados pela Internet, na educação tradicional, já foi regulamentada através da portaria 4059/2004 do Ministério de Educação e Cultura do Brasil (MEC), e autoriza que até 20% da carga horária dos cursos superiores de graduação, reconhecidos pelo MEC, sejam desenvolvidos através de atividades semi-presenciais. No parágrafo 1˚ do Art.1, a portaria define como modalidade semi-presencial "quaisquer atividades didáticas, módulos ou unidades de ensino-aprendizagem centrados na auto - aprendizagem e com a mediação de recursos didáticos organizados em diferentes suportes de informação que utilizem tecnologias de comunicação remota" [3]. Mas apesar da disseminação de computadores nas escolas e fora delas, a utilização da rede web na educação ainda vem sendo feita principalmente de forma assíncrona. Este tipo de comunicação entre docentes e discentes, na maioria das vezes, é realizada através de mensagens e envio de materiais de apoio didático a endereços eletrônicos das turmas ou do próprio professor. Entretanto, este sistema apresenta várias limitações, como por exemplo, de tamanho de arquivos e excesso de mensagens nas caixas eletrônicas. Todavia as tecnologias de informação e os recursos disponíveis na rede estão aí e podem auxiliar o professor com as ferramentas complementares e auxiliares no processo ensinoaprendizagem. Da mesma forma, para os estudantes, as tecnologias atuam também como fatores motivacionais e facilitadores da busca pela informação. Considerando-se o expressivo volume de informações atualizadas veiculadas pela Internet através de revistas científicas, o educador que não considerar a utilização destes recursos para a aquisição de informação, e dos recursos de comunicação síncrona ou assíncrona para comunicar sua mensagem, poderá ter, segundo Angotti [4], diminuída a sua capacidade de promover uma educação atualizada e de qualidade. Este autor também destaca que em relação aos novos conhecimentos que vão sendo produzidos, é muito provável a localização de fontes confiáveis e instigantes, disponíveis nas redes de computadores, mas adverte que o uso da Internet sem critérios talvez seja mais retrógrado do que consultar velhos textos e compêndios [4]. Para professores e estudantes, a Internet traz a vantagem de oferecer, através de publicações “on line”, informações atuais, disponíveis em vários formatos, como artigos científicos, resumos, vídeos e imagens. Esta busca de informações, entretanto, muitas vezes necessita ser orientada para publicações e sites confiáveis, e o espírito crítico para análise das informações obtidas através dos meios virtuais precisa ser estimulado entre os estudantes. A discussão a respeito dos dados obtidos em atividade de pesquisa, por exemplo, pode ser enriquecida e ampliada por meio de ambientes de ensino aprendizagem que utilizem os recursos disponibilizados para a educação à distância (EAD). Os fóruns de discussão inseridos em ambientes virtuais de aprendizagem são, entre outros, um dos recursos que podem ser utilizados para promover discussão de tópicos polêmicos ou esclarecimentos de dúvidas. A utilização destes recursos para atividades de ensino e pesquisa como instrumento de apoio e ampliação das atividades presenciais pode preencher, portanto, um espaço de exploração de ambientes virtuais que ainda hoje vem sendo escassamente utilizado tanto por docentes quanto por discentes. Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E3 A utilização de ambientes e-learning para o ensino presencial tem sido relatada por vários autores, entre eles Oliveira [5], Alves e Brito [6], e Amaral et al [7]. Oliveira [5], na conclusão do seu trabalho sobre a criação de um ambiente de e-learning para o ambiente presencial universitário, em Portugal, na área de Tecnologia Educativa, destaca que os ambientes virtuais de sala de aula contribuem para integrar positivamente as tecnologias no processo educativo, modernizando-o e provocando mudanças na educação formal. Enfatiza também a necessidade da existência de um contexto institucional adequado e da formação de equipes multidisciplinares para o desenvolvimento do projeto de criação do ambiente virtual de aprendizagem. Alves e Brito [6] discutem a mediação do ambiente Moodle em disciplinas presenciais nos cursos da Faculdade Jorge Amado e Universidade da Bahia, e as vantagens da interatividade como possibilidade de intercambiar saberes, salientando a variedade de ferramentas que podem se tornar espaços didáticos. Estes autores, entretanto, também apontam dificuldade de interação com a lógica do ambiente virtual por parte de alunos e professores, exigindo um constante processo de formação dos mesmos. Na área da Bioquímica, Amaral et al [7], relatam a disponibilização de material didático da disciplina em ambiente de rede interna da UNICSUL. Estes autores utilizaram o Black Board System como ferramenta de apoio ao ensino presencial, apontando uma maior participação dos alunos em sala de aula e decréscimo de reprovação e evasão a partir da utilização do ambiente virtual. 1.1. A problemática da Bioquímica no curso de Nutrição No curso de Nutrição, lotado no Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), muitos alunos apresentam deficiência de conhecimentos de Química, disciplina que não consta da grade curricular, e cujos conceitos básicos são necessários para a compreensão das reações químicas que ocorrem nas células vivas e no laboratório [8]. Esta mesma dificuldade dos alunos em relação aos conteúdos de Química também é constatada por Amaral et al.[7], na disciplina de Bioquímica oferecida ao curso de Enfermagem da Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL). Outro fator complicador para a aprendizagem é a necessidade de usar um alto grau de abstração e imaginação para descrever os fenômenos bioquímicos que acontecem a nível molecular, tornando-se extremamente difícil representá-los apenas com o auxílio de quadro negro e retroprojetor [1,8 e 7]. Pinheiro et al [9] reportam que historicamente a disciplina de Bioquímica vem sendo apontada por estudantes de vários cursos de graduação como sendo de difícil assimilação. Até o ano de 2000 os alunos do curso de Nutrição, portanto, reclamavam da dificuldade de aprendizagem dos conteúdos de carboidratos, proteínas e lipídeos, repletos de fórmulas químicas e vias metabólicas, temas estes ministrados na Bioquímica Básica. Para eles, a Bioquímica Fisiológica, por oferecer uma maior contextualização com doenças e aspectos patológicos, era de mais fácil entendimento. Durante o processo de reformulação do curso de Nutrição, ocorrido no ano de 2000, os conteúdos e ementas das duas disciplinas de Bioquímica oferecidas pelo Departamento de Bioquímica (BQA) do Centro de Ciências Biológicas (CCB/UFSC) sofreram alterações, mas mantiveram os nomes de Bioquímica Básica (BQA 5123) e Bioquímica Fisiológica (BQA 5104). A BQA 5123, com carga horária de quatro horas/aula semanais, ministrada no segundo semestre do curso de Nutrição, passou a abordar a química, funções, digestão e absorção de aminoácidos e proteínas, direcionados principalmente ao estudo de enzimas. Os carboidratos, as biomoléculas mais abundantes encontradas na natureza, são estudados durante todo o restante do semestre, enfocando a parte química, funções, digestão e absorção, vias metabólicas e doenças relacionadas ao metabolismo dos carboidratos. A BQA 5104, com quatro horas/aula semanais, oferecida no terceiro semestre do curso, finaliza o estudo das vias metabólicas relacionadas com as proteínas e com os aspectos ligados ao seu metabolismo normal e patológico. As estruturas químicas e funções dos lipídeos, o processo de digestão e absorção, as vias metabólicas e as doenças Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E4 relacionadas ao metabolismo destas biomoléculas são enfatizados. Conteúdos ligados aos aspectos fisiológicos e patológicos envolvendo o metabolismo do eritrócito, do álcool e equilíbrio ácido básico complementam os temas estudados. A construção, pelos alunos, dos processos de inter-relação metabólica nos estados pós-prandial e de jejum, e a justificativa bioquímica do aparecimento dos sintomas crônicos apresentados por pacientes diabéticos, acontecem como atividades que utilizam todos os conteúdos trabalhados durante o semestre. É possível, portanto, observar que a Bioquímica partilha, junto com outras disciplinas, do problema da reduzida carga horária frente a um contexto mundial de crescimento de informações que deveriam sofrer a transposição didática e o processo de discussão com os estudantes. A solução para uma maior e melhor flexibilização do espaço temporal dedicado às disciplinas pode vir da utilização de recursos mediados pela tecnologia de informação e comunicação, cujas ferramentas, segundo Miquelin e colaboradores [10], são capazes de potencializar a comunicação e promover a junção da reflexão e da ação no processo educacional. 1.2. Ambiente Virtual de Ensino Aprendizagem para ensino presencial A partir das considerações acima buscou-se em 2008 um ambiente que pudesse servir como repositório de material didático para as disciplinas presenciais, ampliar a interatividade entre docente e discentes e incentivar, por meio de “links”, a leitura complementar de artigos científicos relacionados aos temas discutidos em sala de aula. A indicação, na UFSC, recaiu no Ambiente Virtual de Ensino Aprendizagem (AVEA), alocado no Laboratório de Ensino à Distância (LAED) do Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), que vem desde 1999 desenvolvendo atividades de ensino à distância. Recentemente, algumas disciplinas presenciais começaram também, de forma esporádica, a utilizar estes recursos. No CFM/UFSC as atividades de EAD foram iniciadas através de um curso de Licenciatura em Matemática em parceria com a Universidade do Maranhão, utilizando versão original do Moodle 1.5.2. O Moodle é um software de gerenciamento de sistemas de cursos, usado na administração de atividades educacionais. É baseado em teorias sócioconstrutivistas, distribuído de forma aberta, livre, gratuita e destinado à criação de ambientes virtuais direcionados à aprendizagem. Nas atividades de ensino à distância do CFM, foram feitas propostas de modificações no Moodle 1.5.2, para que as exigências do curso pudessem ser satisfeitas. Estas modificações foram a origem do programa Diorama, versão 1.0, criado pelos desenvolvedores do LAED e ocorreu apenas nas partes modulares do software (temas, caixas, etc.) e também na estrutura da administração. Como estas alterações foram localizadas, a propagação de erros para outras partes do sistema foi praticamente nula. A partir da experiência com a Universidade do Maranhão, o LAED apoiou a oferta, em 2005, de mais dois cursos à distância (Licenciatura em Matemática e Licenciatura em Física), direcionados a um público alvo catarinense, com maioria expressiva de vagas destinadas aos docentes em exercício no Ensino Médio [11]. O atendimento a estas duas novas disciplinas, dentro do Diorama, permitiu a criação de um portal com um local único de acesso para os três cursos (http://www.prolicen.ufsc.br). Em 2008/1 aconteceu a criação no LAED de um ambiente de e-learning para a disciplina presencial BQA 5104 inserida na plataforma Diorama, seguida em 2008/2, pela disciplina BQA 5123. A implantação e avaliação destas disciplinas no ambiente AVEA estão inseridas em proposta de desenvolvimento de trabalho de doutoramento, e está sendo apresentada a seguir. 2. Dimensões teórico-metodológicas As disciplinas BQA 5104 e BQA 5123, oferecidas respectivamente no terceiro e segundo semestre do curso de Nutrição, passaram então a contar com recursos de ambiente de educação à distância para apoio às atividades presenciais desenvolvidas em sala de aula e laboratório de aulas práticas. As duas disciplinas utilizam como guia de Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E5 estudos o mesmo livro texto. A recomendação de leitura prévia do capítulo a ser ministrado em sala de aula tem o objetivo de facilitar a compreensão do tema e auxiliar nas discussões sobre o assunto. No primeiro contato com a turma da BQA 5104, no semestre 2008/1, as alterações na metodologia de ensino anteriormente utilizadas na BQA 5123 (semestre 2007/2) foram apresentadas. A alteração mais importante aconteceu com a passagem de um sistema de envio de materiais de apoio didático, anteriormente baseado em um e-mail da turma, para o ambiente AVEA do LAED. A apresentação do ambiente virtual aos estudantes foi feita no primeiro dia de aula da disciplina, no laboratório de informática do CCS. Os estudantes foram informados de que o material de apoio didático da disciplina seria disponibilizado no LAED na forma de textos, apresentação de “power point”, material hipermídia, casos clínicos, questionários e através de artigos científicos e “sites” de interesse. Os fóruns foram incentivados para discussões sobre tópicos específicos, esclarecimento de dúvidas e também para discussão de casos clínicos. Figura 1. Tela de acesso à disciplina semipresencial BQA 5104, inserida no Ambiente Virtual de EnsinoAprendizagem (AVEA) do LAED/CFM/UFSC. A metodologia de ensino foi baseada na Teoria da Flexibilidade Cognitiva, proposta por Rand Spiro, professor de psicologia educacional, e colaboradores na década de 1980. Esta teoria está fundamentada no construtivismo e preocupa-se em preparar as pessoas para selecionar, adaptar e combinar o conhecimento e a experiência para aplicação em situações diferentes daquelas originalmente apresentadas, estando orientada não para a memorização, mas sim para a interligação de conceitos. Para a aquisição e aprofundamento do conhecimento, a revisitação do tema em momentos diferenciados e com novos propósitos e novas abordagens são fatores essenciais para preparar para a interpretação e transferência deste conhecimento. Além disso, as atividades de aprendizado precisam fornecer diferentes representações de conteúdo; os materiais de instrução precisam evitar a simplificação do conteúdo e sustentar o conhecimento dependente do contexto; a instrução deve ser baseada em casos e enfatizar a construção do conhecimento, não a transmissão de informação, e as fontes de conhecimento devem ser altamente interligadas, em vez de compartimentalizadas [12]. Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E6 Como apontado por Spiro e colaboradores, a organização do material didático, a cargo dos professores, é um dos pontos cruciais para que aconteça uma aprendizagem efetiva. Esta organização dos conteúdos pode ser mediada pela utilização de ferramentas cognitivas de suporte, que apresentam a potencialidade de provocar mudanças na forma como os professores ensinam em termos de conteúdos e de promover mudanças no ensino em termos processuais [13]. Uma das ferramentas que também podem auxiliar o professor a melhor estruturar o seu material didático, e o estudante a organizar seu pensamento lógico, é o mapa conceitual. Segundo Tavares [14], os mapas conceituais são representações espaciais dos conceitos e de suas relações, e a atenção visual é orientada e dirigida de um conceito a outro, seletivamente. O mapa conceitual é um objeto de aprendizagem que se configura como um organizador prévio, como uma ponte cognitiva, facilitando a aprendizagem mais específica que se inicia com um entendimento consistente dos conceitos mais inclusivos do tema considerado. Assim, o próprio indivíduo pode organizar o seu conhecimento, corrigindo e aperfeiçoando o seu próprio raciocínio em função da construção do mapa, o que pode levar a profundas modificações na maneira de ensinar, de avaliar e de aprender, pois entra em choque com técnicas voltadas para a aprendizagem mecânica [14], Com base nestas considerações, o conceito e a demonstração do modo de construção de mapas conceituais foram apresentados aos estudantes da disciplina BQA 5123 já no primeiro dia de aula, e artigo explicativo foi disponibilizado no ambiente AVEA. Os mapas conceituais foram posteriormente utilizados na resolução de provas da disciplina. Durante o semestre 2008/1, problemas técnicos com a plataforma Diorama impediram a utilização de algumas ferramentas, entre as quais, os “questionários de múltipla escolha” e “envio de tarefas”. Devido a estes problemas, o ambiente teve o seu uso restrito, e foi utilizado apenas como repositório de material e envio de tarefas, local de avisos para a turma e ambiente de discussão de dúvidas por meio dos fóruns. No início do semestre 2008/2, os problemas envolvendo questionários e envio de tarefas foram resolvidos, ampliando a utilização do ambiente AVEA. No mesmo período, a disciplina BQA 5123 foi implantada no ambiente AVEA, possibilitando, além do material didático, a inserção dos módulos de hipermídia baseado em programa FLASH MX sobre o tema “Carboidratos”, elaborados pelo grupo de Ensino de Bioquímica da UFSC [8,15]. 3. Avaliação e resultados As disciplinas de Bioquímica, após a reestruturação acontecida em 2000, buscaram ampliar a oferta de analogias, casos clínicos e abordagens diferenciadas para um mesmo tema, como proposto pela teoria da Flexibilidade Cognitiva. Esta teoria propõe o acesso aleatório à informação como forma de favorecer a busca a novas formas de abordagem do conhecimento, e está relacionada com a construção de ambientes de ensino não lineares no computador. Os materiais inseridos nos ambientes virtuais de ensino aprendizagem são denominados de hipertextos de flexibilidade cognitiva [13]. O ambiente de e-learning disponibilizado pelo LAED vem, portanto, servir de suporte e potenciar a utilização da metodologia baseada na teoria da Flexibilidade Cognitiva. Durante o decorrer dos semestres 2008/1 e 2008/2, os materiais apresentados em sala de aula e os materiais de apoio, tais como artigos científicos, links para sites de interesse e atividades como questionários e casos clínicos já estavam disponibilizados aos alunos para consulta dentro do ambiente virtual anteriormente à aula presencial. Animações em flash foram utilizadas como apoio à explicação de tópicos de Bioquímica em ambas as disciplinas, e vários ambientes virtuais foram indicados aos alunos, entre eles a Biblioteca Digital de Ciências [16] e o Banco Internacional de Objetos Educacionais [17]. A prática de consulta prévia aos tópicos a serem abordados em sala de aula foi mantida pela maioria dos alunos, como foi constatado pela visualização do histórico de visita ao ambiente da disciplina, o qual mostra o acesso aos materiais disponibilizados nas disciplinas. É interessante observar que vários alunos assistiam às aulas fazendo anotações sobre a cópia impressa do material disponibilizado no AVEA. O ingresso dos estudantes no Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E7 AVEA/BQA, mesmo em períodos noturno e de final de semana, enfatiza a importância do ambiente virtual como extensão da sala de aula. Para melhor observar a reação dos estudantes ao contraste entre o uso do ambiente virtual e o modo tradicional de disponibilizar o material didático, as três últimas aulas do curso da BQA 5104 não foram inseridas no ambiente virtual, e sim disponibilizadas no xerox, o que gerou comentários dos alunos, do tipo: “Seria bom se todo o material deixado no xerox ficasse disponível no LAED”. “As últimas aulas poderiam estar no LAED também, e mais estudos dirigidos”, confirmando a posição da maioria dos estudantes, que afirmaram preferir o ambiente virtual de aprendizagem ao modo tradicional de viabilizar cópia do material didático no xerox. Durante o semestre 2008/2, na disciplina BQA 5123, os recursos “tarefas” e “questionários” tiveram seus problemas técnicos resolvidos no programa Diorama e puderam ser disponibilizados aos estudantes. Duas atividades de questionário de múltipla escolha e uma atividade com envio de tarefa ao professor foram realizadas no ambiente virtual. Após o término das atividades do semestre 2008/1 e 2008/2, uma avaliação sobre a disciplina e o ambiente virtual foi solicitada aos estudantes. Na avaliação das disciplinas BQA 5104 e BQA 5123, foram respondidos um total de 64 questionários, e as questões e respostas estão abaixo relacionadas: 3.1: A estrutura das disciplinas BQA 5104 e BQA 5123 na sua etapa não presencial (ambiente AVEA/LAED): Questão 3.1.1. Facilita o acesso aos materiais de estudo: Opiniões dos BQA 5104 BQA estudantes (semestre 2008/1) (semestre 2008/2) Excelente 17 8 Bom 18 15 Razoável 0 6* Ruim 0 0 Péssimo 0 0 5123 BQA 5104: Várias manifestações de apoio à iniciativa foram registradas, semelhantes à da aluna A:“Este semestre a estrutura das aulas melhorou em relação ao outro principalmente pelo LAED.” BQA 5123: Sugestões: “*Colocar no LAED mais materiais que vão além do conteúdo dado em sala de aula, que expliquem mais”; “*não colocar tantos materiais para serem enviados pelo LAED porque muitos não têm acesso a um computador e internet”; “*disponibilizar material no xerox, para que os alunos não fiquem tão dependentes do LAED.” Questão 3.1.2. Facilita a discussão de tópicos específicos entre os alunos da disciplina (uso do fórum): Opiniões dos BQA BQA 5123(semestre estudantes 5104(semestre 2008/1) 2008/2) Excelente 2 7 Bom 13 12 Razoável 13 9 Ruim 7 1 Péssimo 0 0 BQA 5104: Uma aula presencial aconteceu no laboratório de informática, onde os alunos foram orientados como utilizar o fórum de discussões para esclarecimento de dúvidas, simulando uma atividade à distância. Uma aula de revisão de matéria para a Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E8 prova foi programada para acontecer à distância (na residência dos alunos, no período reservado para a aula) no ambiente do LAED. Nesta aula, os alunos foram orientados a formar equipes de 2 participantes e ingressar no fórum de maneira que procurassem colocar as suas dúvidas e esclarecer as dúvidas dos colegas. A professora, acompanhando as discussões, questionava as respostas e solicitava aprofundamento das mesmas. Novos fóruns de discussão mantiveram-se abertos durante o semestre para inserção de novos questionamentos e contribuições, sendo monitorados pela professora e direcionados a um aprofundamento das respostas, procedimento este mantido até a véspera das provas, quando recebiam a correção final. Dentre as sugestões apresentadas para o item em questão, sete estudantes salientaram que “As respostas apresentadas nos fóruns necessitam correção da professora, em relação aos tópicos discutidos, com maior antecedência das provas”. BQA 5123: “O fórum facilita, permite que o aluno tire sua dúvida e já responde a outros que têm a mesma dúvida; evita que vários e-mails com a mesma pergunta sejam enviados à professora”. “É bom termos a possibilidade de trocar informações com os colegas, pesquisarmos sobre os assuntos para tentar resolver as nossas dúvidas. Porém, muitas vezes surgiram dúvidas que ninguém sabia esclarecer. A professora deveria responder imediatamente aos questionamentos para que houvesse um melhor entendimento sobre o assunto.” Apesar do fórum possibilitar a discussão de um número maior de dúvidas do que uma atividade presencial, e manter o registro das respostas, observa-se que a dependência à figura do professor e do papel “daquele que deve responder todas as dúvidas” ainda é muito forte em alunos nas primeiras fases dos cursos de graduação. Este tipo de sugestão contrasta com a proposta de uma aprendizagem significativa, pois, de acordo com Moreira [18], “um ensino baseado em respostas transmitidas primeiro do professor para o aluno nas aulas e, depois, do aluno para o professor nas provas, não é crítico e tende a gerar aprendizagem não crítica, em geral mecânica”. Questão 3.1.3. Permite desenvolver o estudo autônomo pela consulta aos materiais de apoio disponibilizados: Opiniões dos BQA 5104 BQA 5123 estudantes (semestre 2008/1) (semestre 2008/1) Excelente 14 12 Bom 17 15 Razoável 3 2 Ruim 0 0 Péssimo 1 0 BQA 5104: Esta questão revela um processo de independência da maioria dos alunos (31 alunos responderam excelente e bom para o desenvolvimento de estudo autônomo) em relação ao professor. A afirmativa: “É muito bom ter os materiais disponíveis no LAED e artigos para leitura complementar. É algo a mais.”, mostra também a curiosidade na busca de informação complementar e de aprofundamento ao que foi discutido em sala de aula. Entretanto, uma aluna assinalou este ítem como “péssimo”, acrescentando: “Não concordo com esta afirmativa, pois para mim, a presença do professor é imprescindível para o estudo (então não há “estudo autônomo”)”( grafia da aluna). Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E9 BQA 5123: não foram registrados comentários a respeito deste item. Questão 3.1.4. Para acessar o site da disciplina, preferencialmente: Respostas dos BQA 5104 BQA 5123 estudantes (semestre 2008/1) (semestre 2008/1) Utilizo computador 32 24 em casa Utilizo computador 1 4 na UFSC Utilizo computador 1 0 no trabalho Utilizo a lan house 1 1 (cyber) Outros 1 2 BQA 5104: Uma das alunas relatou em conversa informal utilizar o computador de colegas para acesso ao LAED devido a problemas com a sua conexão com a internet. BQA 5123: Uma aluna utiliza computador em casa, UFSC e lan house. Dentre os alunos desta disciplina, apenas três (03) não costumavam acessar o ambiente virtual em casa. 3.2.- Em relação à BQA 5123 (Bioquímica Básica), aponte os pontos positivos e negativos da estrutura da disciplina: Dentre os pontos positivos, foram enfatizados pelos estudantes: “clareza na exposição dos conteúdos”; “muito bom o recurso de explicar alguns termos do texto através de links extras”; “as animações de reações ajudam a ter uma ‘visualização’ que facilita o entendimento”; “disposição do conteúdo no LAED bem organizado”; “as aulas práticas ajudaram bastante a entender melhor as aulas teóricas”; “a utilização dos fóruns para tirar as dúvidas”; “a disciplina abrange bem a parte nutricional, sendo uma das únicas matérias das fases iniciais a fazer isso”; “os exercícios disponibilizados no LAED com grande antecedência às provas auxiliaram muito no estudo das matérias”. Pontos negativos a destacar: “um semestre é pouco para aprender todo o conteúdo básico de Bioquímica”; “nem sempre os slides ajudaram a compreender totalmente o assunto, ficava mais fácil quando a professora colocava os esquemas no quadro ou quando ela explicava mais por si e não somente dentro do material em power point e hipermídia”; “o LABIUFSC (Laboratório de Informática da UFSC) pode não ficar disponível devido a greves, ou problemas técnicos, como já ocorreu, e o aluno não vai ter como estudar”. Pela análise dos pontos positivos e negativos enfocados pelos estudantes, é possível apontar a necessidade de utilização de múltiplos recursos para a apresentação de um tema, com analogias com a realidade, como proposto por Spiro et al, pois o item material áudio-visual (slides e material hipermídia) foi apontado por muitos como ponto positivo e por alguns como ponto negativo. Portanto, uma abordagem múltipla a um determinado tema realmente pode ampliar a possibilidade de aprendizagem em uma turma. Entretanto, apesar da sua pertinência e importância no processo ensino-aprendizagem, a análise semiótica do material hipermídia sobre o tema “Carboidratos” disponibilizado no ambiente AVEA da disciplina BQA 5123 não será enfocada no presente trabalho, assim como a questão dos níveis de aprendizagem preconizados por Spiro e colaboradores. Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E10 3.3: Comentários livres a respeito da disciplina BQA 5123 e do ambiente AVEA do LAED: “Sem o LAED, eu não teria tido interesse na matéria. Bioquímica torna-se uma disciplina interessantíssima quando conseguimos enxergar suas reações (como pelo material disponibilizado no LAED)”. “A organização do ambiente é excelente, tanto quanto os materiais disponibilizados pelo mesmo, sendo um importante recurso áudio visual para memorizar e aprender a matéria dada em sala de aula”. “A respeito do ambiente achei muito bom, pois muitos trabalhos podem ser mandados por lá, você sabe até quando pode mandar, então é só se organizar para realizar as atividades”. “Adorei a disciplina, apesar de às vezes ser difícil a compreensão de alguns pontos das matérias (assim como em qualquer disciplina); foi a disciplina mais interessante do semestre; muito legal ENTENDER o funcionamento do organismo bioquimicamente e relacionar com o que fazemos no nosso dia-a-dia. O LAED ajudou bastante nas horas de estudo, pois o conteúdo estava muito claro e bem dividido!” “Acho que a disciplina de Bioquímica desempenha papel de extrema importância para o curso de Nutrição. Assistindo as aulas eu percebo o quanto há a influência dos conhecimentos dela para diversos assuntos, desde alimentos e sua composição até as patologias associadas e o que causam no organismo. Eu confesso que no início achei que eram muitos conteúdos para se estudar, muitos trabalhos, sendo que pensei que não fosse dar conta de tudo para as provas, pois juntamente com as outras disciplinas, ficava bem puxado, porém agora vejo que consegui acompanhar a disciplina. Quanto às aulas práticas, adorei muito poder ter realizado as experiências, achei muito bom para uma maior aceitação da disciplina e aprendizado dos conteúdos teóricos. Quanto ao conteúdo ministrado, algumas matérias eu mal precisei estudar depois, pois compreendi muito bem a explicação em sala, já em outras tive que procurar o auxílio de livros e internet. Mas acho que é esse o sentido de termos aulas: captar o básico, e buscar aprofundamento posteriormente”. Como pode se evidenciado pelas respostas dos alunos, os assuntos discutidos em sala de aula foram disponibilizados no ambiente do LAED de várias formas e com vários enfoques, corroborando Spiro e colaboradores. O professor apresenta o fato novo na sala de aula, e o ambiente virtual, os materiais de apoio e a resolução dos casos clínicos atuam de forma a promover a construção das analogias e a flexibilidade cognitiva. Os casos clínicos disponibilizados no LAED foram analisados e resolvidos pelos estudantes em situações de sala de aula e através dos fóruns da disciplina. Porém, em relação ao material de apoio na forma de artigos científicos, a análise das respostas ao questionário aponta uma dicotomia de opiniões, evidenciando grupos que aprovaram o procedimento, e a dificuldade de certos alunos em lidar com excesso de informação (segundo eles) sobre um determinado tópico. Entretanto, um ponto a considerar refere-se ao acesso dos estudantes na disciplina virtual, constatado pelo “histórico de acesso”, ferramenta que mantém o registro das entradas e navegação dos usuários no ambiente. É interessante observar que o ingresso de estudantes ocorreu também em finais de semana, principalmente para consulta a materiais de apoio e de artigos de leitura não obrigatória, o que corrobora a certeza de que um ambiente de rede aguça a curiosidade do jovem e o leva a buscar o conhecimento. Nos períodos que antecediam as provas, a visitação ao ambiente aumentava consideravelmente, com um máximo de 758 ingressos/dia para um total de 40 alunos, cada ingresso sendo computado pelo acesso a um determinado conteúdo. No decorrer dos semestres, a entrada dos alunos no ambiente virtual da disciplina foi monitorado e o aproveitamento final esteve diretamente relacionado com as visitas ao ambiente. As melhores notas foram obtidas por alunos, na sua maioria, freqüentadores assíduos do LAED. Entretanto, uma aluna com ótimo desempenho, e baixa visitação ao ambiente virtual, revelou, em conversa informal, acessar o LAED apenas para imprimir o material, Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E11 pois a leitura na tela do computador não lhe era agradável. É possível, portanto, que outros estudantes tenham adotado a mesma prática. Foi interessante constatar que no período compreendido entre a última prova e a publicação das notas finais, a maioria dos alunos que ingressava no ambiente, talvez em busca do resultado da última avaliação, consultava os materiais didáticos referentes ao conteúdo da prova, quem sabe para confirmar a resposta a alguma questão, quem sabe para esclarecer alguma dúvida. Mas é também curioso observar que após a publicação da nota final, em julho de 2008, a disciplina BQA 5104 continuou recebendo a visita de alguns estudantes até a primeira quinzena de setembro, para consulta a material didático e cópia do conteúdo disponibilizado, por medo, segundo uma ex-aluna, que o acesso ao ambiente viesse a ser restringido. O último acesso a disciplina BQA 5104/2008.1, verificado até o momento, ocorreu em 10 de janeiro de 2009, seis meses após o encerramento das atividades da disciplina. 4. Considerações finais A transposição do ensino tradicional para o ensino informatizado não é tarefa fácil. A construção de uma disciplina totalmente inserida em ambiente virtual apresenta, para o professor que se aventura sozinho nesta empreitada, uma sobrecarga de trabalho no período em questão, em termos de tempo necessário para a preparação e organização do material didático e elaboração de atividades relacionadas. Entretanto, a grande vantagem para disciplinas que apresentam um grau elevado de complexidade e reduzida carga horária, como é o caso da Bioquímica, é o fato de que a utilização do ambiente virtual possibilita ampliar o espaço da sala de aula e a interação discente/discente e discente/docente, refletindo em um aumento da qualidade de ensino-aprendizagem. Para o professor, uma vantagem adicional da utilização deste ambiente virtual, além das já citadas no texto, repousa no fato de diminuir a tarefa de correção de exercícios, uma vez que, no caso de questionários de múltipla escolha, esta já é realizada pela ferramenta disponibilizada no programa. Outra vantagem reside no fato de que os conteúdos já estarão organizados para as próximas turmas, onde com certeza, ocorrerão ajustes na construção e disponibilização do material didático, de exercícios e de links de apoio, mas a base da disciplina já estará estabelecida. É importante salientar, entretanto, que no ambiente AVEA do LAED, a maioria das disciplinas presenciais utiliza o ambiente virtual apenas para a realização esporádica de algum tipo de atividade, o que não foi o caso das disciplinas BQA 5104 e 5123. A avaliação dos estudantes das duas disciplinas em relação ao ambiente AVEA foi muito positiva, e revelou a satisfação dos mesmos em pontos tais como: acesso em casa, organização e disponibilidade do material didático antes das aulas. Os alunos sugeriram que todas as aulas deveriam estar com seus conteúdos presentes no AVEA, evidenciando sua preferência por esta forma de acesso ao material de apoio às aulas presenciais. A avaliação dos fóruns mostrou que a maioria dos estudantes se sente inseguro em esclarecer as dúvidas dos colegas e reconhecer o acerto ou erro das respostas, evidenciando ainda uma grande dependência de alguns alunos ao veredicto do professor. Mas o ambiente de rede assíncrona também nos possibilita algumas surpresas. Na primeira quinzena de setembro de 2008 recebemos e-mail de duas ex-alunas, ambas da primeira turma que utilizou o ambiente virtual (BQA 5104/2008), o qual está transcrito abaixo: Oi, professora, tudo bem? Fomos suas alunas em BQA, no curso de Nutrição, nos dois semestres passados, 2007/2 e 2008/1. Estávamos conversando sobre a importância da bioquímica tanto agora quanto para o futuro e, percebemos que apesar de dois semestres de aula, sentimos que ainda não foi suficiente. E estamos interessadas em mais conhecimentos, por isso viemos por meio desse e-mail pedir o auxílio da professora. Será que é possível participarmos dos Heidrich, D.N. & Angotti, J.A.P No.01/2010 E12 laboratórios de BQA, monitoras de BQA, ou seja, em algo? Esperamos receber notícias positivas!! K. e M. Acreditamos que o ambiente virtual de aprendizagem possa estar contribuindo diretamente no aumento pelo interesse pela disciplina, pois alguns dias após o recebimento da mensagem anterior, recebemos uma outra mensagem, desta vez de duas alunas da disciplina em curso (BQA 5123). 26/09/2008 Boa noite Professora! Ficamos muito entusiasmadas com a nossa aula prática de hoje. Ao analisarmos as pequenas modificações que acontecem no Fantástico Mundo da Bioquímica, sentimos uma vontade muito grande de aprender um pouco mais do que é possível em sala de aula e no laboratório. Gostaríamos de manifestar o nosso interesse em contribuir em projetos e/ou pesquisas, tudo aquilo que possa cooperar com o aumento do nosso conhecimento sobre Bioquímica. Atenciosamente, T. e R. (Nutrição 2ª fase) Cumpre ainda salientar que esta forma de suporte ao ensino presencial, com a utilização dos recursos de educação à distância, foi pioneiro no Departamento de Bioquímica do CCB/UFSC e no curso de Nutrição (CCS/UFSC). Entretanto, apesar das avaliações positivas, tanto do docente quanto dos discentes, mas levando em consideração a existência de alguns problemas relacionados à abertura de certos programas dentro do Diorama e dificuldade na conversão posterior dos dados obtidos em tabelas e gráficos, a equipe do LAED está, no momento, considerando um retorno integral à versão mais recente do Moodle (versão 1.9.3). Agradecimentos: À equipe do LAED, pela disponibilização do ambiente AVEA e pelo apoio técnico, e aos estudantes, pelo preenchimento dos questionários de avaliação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Machado, M.S.; Ricardo, J.; Sugai, J.K.; Figueiredo, M.S.R.B.; Antônio, R.V.; Heidrich, D.N. (2004). Bioquímica Através da Animação. Extensio. 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