RIM E VIAS EXCRETORAS PROXIMAIS

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RIM E VIAS EXCRETORAS PROXIMAIS
7º Curso Teórico-Prático de Ultra-sonografia Clínica para Gastrenterologistas – Rim, Vias Excretoras e Bexiga
RIM E VIAS EXCRETORAS PROXIMAIS
A exploração ecográfica do rim é essencial ao diagnóstico da maior
parte da patologia do sistema genito-urinário. É um exame de primeira linha
dado o seu carácter não-invasivo, o seu baixo custo e, a sua elevada
sensibilidade. O conhecimento da eco-anatomia normal é fundamental para
uma exploração completa permitindo distinguir os aspectos normais das
numerosas variações anatómicas, bem como, identificar as patologias que
necessitam de exames mais invasivos.
Anatomia
Anatomia externa (ver figura 1)
Os rins são orgãos retroperitoneais localizados nas fossas lombares. A
sua face anterior é discretamente convexa enquanto a posterior é quase plana.
Cada rim tem 2 bordos:
um externo convexo e
Figura 1
um interno, sendo este
identado
na
parte
média pelo hilo renal.
As duas extremidades,
superior e
inferior,
denominam-se polos.
O hilo, localizado na
porção média do bordo
interno do rim, coloca
em contacto com o
exterior, o seio renal.
É o local onde passam
os
elementos
do
pedículo renal e das
vias
excretoras.
A
posição do rim é
oblíqua tanto no eixo
longitudinal
(oblíquo
para
baixo
e
lateralmente) como no
transversal (oblíquo em
direcção anterior e
interno). O bordo interno é, assim, mais anterior que o externo.
Os dois rins não são totalmente simétricos: o direito está geralmente
mais abaixo que o esquerdo e este é geralmente maior. As dimensões estão
sujeitas a numerosas variações individuais relacionadas com variações da
forma. Geralmente medem 10-12 cm de comprimento, 5-6 cm de largura e 2.53 cm de espessura.
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Anatomia interna (ver figuras 2 e 3)
a) Cápsula
O rim está revestido por uma cápsula fibrosa resistente e aderente ao
parênquima; penetra no seio e recobre os cálices e os vasos. É facilmente
distinguível do parênquima renal.
Figura 2
b) Parênquima
É composto pela medula, vermelho-escura, disposta concentricamente à
volta do seio, com forma triangular de vértice interno. Em corte, existem
numerosas estruturas cónicas denominadas pirâmides de Malpighi (8-10 em
cada rim).
A outra estrutura que constitui o parênquima é o córtex, mais friável e de
coloração amarelada. Contorna as pirâmides e, entre elas, forma as colunas de
Bertin. Na periferia do rim, constitui o córtex propriamente dito.
c) Seio
Trata-se de uma cavidade na parte media do rim. No seio formam-se as
papilas, delimitadas por um sulco circular onde se implantam os pequenos
cálices. As papilas estão em contacto com a parte mais inferior e media das
pirâmides de Malpighi. Às papilas seguem-se os pequenos cálices e, depois, os
grandes cálices, o bacinete e a porção inicial do ureter, que constituem as vias
excretoras proximais. O seio renal contém também tecido conjuntivo onde se
encontram os elementos do pedículo renal: artéria e veia renal, os seus ramos
e os vasos linfáticos. A veia renal é anterior à artéria renal.
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Figura 3
Localização
Habitualmente, o polo superior do rim direito está ao nível da parte
superior de T12 e o polo inferior da parte média de L3. O rim esquerdo está
situado ligeiramente mais acima do direito; o seu polo superior situa-se ao nível
de T11 estando o inferior ao nível de L2.
Figura 4 – Planos longitudinal e transversal dos rins
A abordagem dos rins difere daquela usada para o fígado, vesícula biliar
e pâncreas em que geralmente se inicia a exploração procurando obter cortes
longitudinais e transversais destes orgãos através a parede abdominal anterior
(Figura 5). No caso da exploração renal a abordagem preferencial é a partir da
região lateral do abdómen, obtendo cortes longitudinais e transversais ao nível
do flanco direito ou esquerdo para os rins direito e esquerdo, respectivamente
(Figuras 6 e 7).
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Figura 5 – Abordagem transversal e longitudinal
Figura 6 – Abordagem transversal e longitudinal através da parede abdominal direita
Figura 7 – Abordagem transversal e longitudinal através da parede abdominal esquerda
Relações
O rim direito está em relação:
- anteriormente, com o fígado (impressão renal do fígado);
- inferiormente, relaciona-se com o ângulo hepático do cólon;
- superior e medialmente com a veia cava inferior.
Está coberto, na parte superior, pela supra-renal direita.
O rim esquerdo está em relação:
- superiormente com o diafragma e a pleura parietal;
- inferiormente, a sua face anterior relaciona-se com o estômago, a
cauda do pâncreas e o ângulo esplénico do cólon;
- superior e lateralmente , a face anterior relaciona-se com o baço.
Está coberto pela supra-renal esquerda, cuja extremidade inferior pode
atingir o nível do hilo renal.
Os rins direito e esquerdo estão rodeados pela gordura peri-renal e
pelas fascias peri-renais que os separam dos espaços para-renais anterior e
posterior. Medialmente, contactam com os pilares do diafragma e com o raquis.
Posteriormente, contactam com os músculos quadradus lombus (Mq) e
transverso, estando mais abaixo em contacto com o músculo psoas (Mp).
Os dois rins são móveis com a respiração: descem com a inspiração e
sobem com a expiração.
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Figura 8 – Localização do rim direito
Figura 9 – Corte longitudinal e transversal do flanco direito
Figura 10 – Localização do rim esquerdo
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Figura 11 – Corte longitudinal e transversal do flanco esquerdo
Exame ecográfico
Rins nativos
Escolha da sonda
Na observação ecográfica de rins nativos utilizam-se sondas
habitualmente usadas para a exploração do abdómen e do retroperitoneu, com
frequência que varia de 3.5 a 5 MHz. Para examinar pacientes obesos, uma
sonda de 2.5 MHz pode ser útil. Em indivíduos magros e em crianças, as
sondas de 5-7 MHz permitem melhor resolução espacial. As sondas sectorias
ou convexas são as mais utilizadas. Apesar disso, os rins também podem ser
examinados com sondas lineares, particularmente por via posterior. É
desejável que o aparelho
Figura 12
disponha
de
imagem
harmónica,
particularmente útil na
ecografia modo B para o
estudo dos rins.
O doppler a cores
oferece uma avaliação
fácil dos vasos renais bem
como, permite guiar o uso
do doppler pulsado.
O power-doppler permite a
avaliação da
vascularização intraparenquimatosa: pesquisa
de zonas hipovasculares
isquémicas, estudo dos
vasos de pequeno calibre,
de que são exemplos os
inter-lobares e arqueadas.
Posição do paciente
O rim direito é bem
observado em decúbito
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dorsal, por via anterior, utilizando o fígado como janela acústica (ver figura 12).
Pode, também, ser estudado em cortes oblíquos no flanco direito estando o
paciente em decúbito lateral esquerdo parcial. A totalidade do rim também
pode ser observada por via posterior, com o paciente em decúbito ventral.
O rim esquerdo é frequentemente difícil de examinar por abordagem
anterior pela interposição de ar proveniente dos orgãos digestivos.
(particularmente do ângulo esplénico do cólon). O decúbito lateral direito (ou
parcial) permite, geralmente, melhorar a janela acústica. O baço pode, nalguns
doentes, ser usado como janela acústica, desde que tenha uma topografia
relativamente baixa. O rim esquerdo também pode ser observado por via
posterior, com o paciente em decúbito ventral.
Figura 13 – Relações do rim direito em visão frontal
Figura 14 – Corte transversal: relações do rim direito
Figura 15 – Corte transversal do flanco (à esquerda); O rim foi removido mostrando a
impressão renal na face posterior e inferior do fígado (à direita).
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Figura 16 – Relação do rim com o cólon em corte longitudinal do flanco
Figura 17 – Relações do rim esquerdo em visão frontal
Figura 18 – Relações do rim em secção transversal
Figura 19 – Corte longitudinal do flanco visualizando-se o rim esquerdo e baço.
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Figura 20 – Corte transversal do rim e baço (à esquerda); Imagem da impressão renal na
face anterior do baço.
Exame ecográfico
Os rins devem ser observados na sua totalidade, através de cortes
longitudinais e transversais, por vezes completados por cortes oblíquos. A
obtenção de cortes ecográficos deve ter em conta a mobilidade do rim com a
respiração: a cooperação do paciente é fundamental. Os seguintes aspectos
devem ser estudados:
- Forma e dimensões (comparativas);
- Regularidade dos contornos;
- Espessura do parênquima;
- Homogeneidade do parênquima;
- Nível de reflectividade do parênquima;
- Forma e dimensões das cavidades urinárias;
- Permeabilidade dos vasos,
- Procura de elementos anómalos peri-renais.
Figura 21
Enxertos renais (ver figura 21)
Os enxertos renais são superficiais,
geralmente na fossa ilíaca direita, mais
raramente na esquerda (segundo enxerto ou
transplante combinado rim-pâncreas). A
técnica do exame é fácil, através de
abordagens percutâneas anteriores mais ou
menos oblíquas, com o doente em decúbito
dorsal. A apneia não é necessária. Dada a
localização superficial, podem ser usadas
sondas de elevada frequência (5-7 MHz)
obtendo uma imagem de excelente resolução
espacial.
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Punção renal eco-guiada
As punções eco-guiadas são realizadas frequentemente: punção de
massas renais, drenagem de colecções peri-renais, abordagem percutânea nas
nefrostomias ou nefrolitotomias. A abordagem percutânea permite a orientação
em tempo real e possibilita a orientação precisa da progressão da agulha. A via
de abordagem depende do alvo; o rim é abordado, mais frequentemente, por
via oblíqua lombar, num doente em decúbito ventral ou em decúbito ventraloblíquo.
Aspecto habitual
Parênquima renal
A dimensão do rim é variável e depende da morfologia do paciente. São
consideradas habituais as medições dentro dos seguintes intervalos:
- Diâmetro longitudinal de 9.5-12 cm
- Diâmetro transversal de 4-6 cm
- Espessura de 1.5-2.5 cm.
Frequentemente, no bordo lateral esquerdo, a espessura do parênquima
pode atingir 3 cm. A espessura do parênquima diminui no paciente idoso, onde
pode estar reduzida a 1 cm, sem que seja considerada patológica. Os
contornos devem ser regulares.
À direita, a ecogenicidade do parênquima renal é ligeiramente inferior à
do fígado, sendo, por sua vez, à esquerda, ligeiramente inferior à do baço. O
limite do parênquima com o seio renal é habitualmente nítido. As pirâmides da
medula são caracterizadas por um aspecto hipoecogénico em relação ao
córtex; são arredondadas ou cónicas, regulares e hipoecogénicas. Esta
hipoecogenicidade relativa da medula em relação ao córtex constitui a
diferenciação cortico-medular, que se esbate em numerosas patologias difusas
do parênquima. Os pequenos cálices estão acoplados à face interna das
pirâmides, porém não fazem parte do parênquima renal, mas sim das vias
excretoras proximais.
Seio renal
O seio contém numerosos elementos de ecogenicidade variável:
- O tecido conjuntivo, abundante no seio renal, tem numerosas
interfaces, sendo geralmente hiperecogénico.
- Os vasos renais: as veias são geralmente anteriores às artérias e o seu
calibre geralmente superior ao da artéria homóloga. As artérias são facilmente
reconhecíveis pela sua posição e pulso arterial. Em caso de dúvida, pode
confirmar-se pelo uso do doppler a cores.
- As vias excretoras proximais: aos pequenos cálices seguem-se os
grandes cálices, as papilas renais, o bacinete e, por fim, o ureter. Em
condições ideais de observação pode observar-se a junção da medula com os
pequenos cálices, correspondendo à região das papilas. O bordo externo dos
pequenos cálices é côncavo ou rectilíneo. As papilas renais são finas e
regulares. O bacinete é sempre visível. Estas estruturas têm um conteúdo
anecogénico pela presença de urina. A parede do bacinete é dificilmente visível
em circunstâncias fisiológicas, sendo muito fina e discretamente ecogénica. A
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dimensão e forma do bacinete variam em função do grau de hidratação e da
replecção vesical.
A topografia do bacinete é variável: intraseioal ou extraseioal. Um
diâmetro de 1 a 2.5 cm pode ser considerado normal.
Vasos renais
Artérias (descritas no capítulo da aorta e seus ramos)
Veias
No parênquima e seio renal, as veias são satélites das artérias do
mesmo nome. No entanto, as variações das veias são mais numerosas e
frequentes que as das artérias. Às veias glomerulares seguem-se as veias
interlobulares, depois as veias arqueadas e, finalmente, as veias interlobares e
as segmentares hilares. No hilo, as veias são anteriores às artérias. Distinguese, assim, o plano venoso pré-piélico bem desenvolvido e um plano retropiélico exíguo que deixa a descoberto a face posterior do bacinete (a sua via de
abordagem electiva). Os troncos venosos interlobares reúnem-se anterior ou
medialmente ao bacinete ou, mais raramente, em frente ao grande cálice
superior para formar a veia renal. A veia renal direita é curta (1-4 cm) e
volumosa; dirige-se medialmente e para cima para se juntar ao bordo direito da
veia cava inferior. A veia renal esquerda é longa (5-9 cm), mais horizontal que
a direita; cruza a face anterior da aorta no ângulo com a artéria mesentérica
superior. Junta-se com a veia cava inferior no seu bordo esquerdo, raramente
ao mesmo nível que a homóloga direita.
Com o power-doppler, conseguem identificar-se as veias arqueadas, sob
a forma de uma rede subcapsular. As veias interlobares são facilmente
identificáveis com o doppler a cores. O seu fluxo é contínuo, pouco ou nada
modificado pela respiração e de baixa velocidade (< 10 cm/seg). A veia renal
direita e as veias ao nível do seio renal direito têm, no doppler pulsado, um
espectro influenciado pela respiração e actividade da aurícula direita. Trata-se
de um fluxo contínuo cuja velocidade é inferior a 45 cm/seg, com aspecto
trifásico, como aquele que é observado na veia cava inferior. Este aspecto está
relacionado com a transmissão da actividade cardíaca direita à veia renal
direita por intermédio da veia cava inferior: existe uma onda retrógrada,
síncrona com a contracção da aurícula direita (onda p do ECG), seguida de
duas deflecções anterógradas, correspondentes às diástoles auricular e
ventricular direita. O espectro observado na veia renal esquerda é diferente.
Apenas junto à veia cava inferior se observa o espectro trifásico, influenciado
pela actividade cardíaca e respiração. Ao nível do eixo longitudinal da veia
renal esquerda e das veias seioais e intra-parenquimatosas, o fluxo é contínuo
e discretamente modulado pela respiração.
Linfáticos
Os gânglios normais são raramente identificados na ecografia. Dispõemse, no parênquima, ao longo dos vasos sanguíneos; no hilo agrupam-se em 3
planos, anterior, inferior e posterior em relação ao pedículo renal, estando os
gânglios médios entre as artérias e as veias. Drenam, depois, para os gânglios
latero-aórticos e latero-cava. A dimensão dos gânglios normais não excede 8-
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10 mm no seio renal. Os gânglios retro-peritoneais médios são considerados
patológicos quando o seu diâmetro é superior a 15 mm.
Relações à distância
Em ecografia modo B identifica-se, à volta do rim, a gordura peri-renal,
hiperecogénica no seio da qual as fáscias peri-renais e para-renais são muito
finas para serem identificadas. Apenas os espessamentos patológicos ou as
colecções são visíveis no seio destas fáscias. Atrás, o plano muscular é
facilmente identificado em ecografia à semelhança das estruturas raquidianas.
Acima, as supra-renais normais não são facilmente distinguidas do rim, pois
ficam disfarçadas na gordura supra-renal.
A ecografia permite estudar as relações do rim com: o fígado, o baço, o
cólon e seus ângulos hepático e esplénico e o pâncreas, nomeadamente a
cabeça do pâncreas com o rim direito e cauda com o rim esquerdo
O estudo dos rins está englobado no estudo do retro-peritoneu mediano:
aorta, veia cava inferior e seus ramos e gânglios retroperitoneais.
Variações anatómicas
São numerosas. Podem tratar-se de variações da forma dos rins:
identação do contorno externo do rim podendo corresponder a uma lobulação
fetal persistente se o restante bordo é normal, hipertrofia das colunas de Bertin,
impressão esplénica, hipertrofia de um lábio do hilo ou má rotação renal.
Em caso de loca renal vazia, pode tratar-se de uma agenesia (ausência
do orgão), aplasia (orgão rudimentar), hipoplasia (orgão pequeno, bem
proporcionado e pouco funcional), rim atrófico (pequeno, não harmonioso). Em
casos de agenesia, aplasia e hipoplasia, observa-se frequentemente hipertrofia
do rim contra-lateral. Podem existir ectopias homolaterais ou cruzadas. O rim
ectópico deve ser procurado em todo o abdómen e na pelve. Pode também
observar-se: rim em ferradura (com ponte de parêquima a unir os polos
inferiores dos rins, geralmente pré-raquidiana) ou outras formas de rins ligados
(pelo polo superior). Poderão também existir rins únicos congénitos, rins duplos
ou mesmo triplos.
Sistema excretor renal - Dilatação
Nem todas as dilatações do sistema pielocalicial (SPC) são patológicas
ou obstrutivas, ou seja, pode haver dilatação sem obstrução. Por outro lado,
nem toda a uropatia obstrutiva necessariamente resultada em dilatação do
SPC.
Dilatação fisiológica
Uma discreta dilatação do sistema colector renal é um achado comum,
geralmente secundária a uma bexiga demasiado dilatada. A gravidez é outra
causa comum de dilatação ligeira do SPC, mais frequentemente, à direita. No
entanto, é errado supor que o SPC não está obstruído apenas porque a
paciente está grávida. Em caso de sintomas, a suspeita de obstrução num
sistema dilatado é maior, especialmente se estão presentes ecos no SPC.
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Uropatia obstrutiva
A ultra-sonografia desempenha um papel de destaque como um dos
métodos de investigação de primeira linha em pacientes com dor lombar, cólica
renal ou distúrbios miccionais. Na maioria dos casos, a obstrução do trato
urinário causa dilatação do sistema colector a montante do local obstrutivo. Se
a hidronefrose é unilateral ou bilateral, ou se envolve ou não o(s) ureter(es)
depende da causa e do local da lesão obstrutiva. Assim, a extensão da
dilatação do sistema colector deve ser avaliada. Se a obstrução for de longa
data, o córtex renal pode atrofiar, tornando-se mais fino.
Figura 22 - A) Hidronefrose do rim esquerdo, com presença de stent ureteral
(seta), secundária a um tumor da bexiga circunferencial de grande dimensões (B);
C) hidronefrose moderada a grave do rim direito secundária a uma lesão pélvica. A
espessura cortical é normal, sugerindo que a obstrução é relativamente recente e
que o alívio da obstrução deverá condicionar uma melhoria significativa da função
renal. (D) Hidronefrose do rim direito. O rim, porém, apresenta dimensões
reduzidas, com redução da espessura do córtex - aspectos sugestivos de
cronicidade.
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PATOLOGIAS MAIS FREQUENTES
. Quistos
. Litíase
. Hidronefrose
. Lesões Neoplásicas Benignas
- Angiomiolipoma
- Adenoma
. Lesões Neoplásicas Malignas
1. Quisto renal
A formação renal mais comum são os quistos simples. Estes podem ser
solitários ou múltiplos. Geralmente são periféricos, mas podem ocorrer no
interior do rim adjacente à pelve renal.
Como os restantes quistos presentes em qualquer outro órgão, os
quistos renais apresentam três características ultra-sonográficas básicas: são
anecogénicos, possuem uma cápsula fina e bem definida e apresentam reforço
posterior. Pode ser difícil observar o reforço posterior se existir gordura perirenal hiperecogénico profundamente ao quisto (colocar a sonda de um ângulo
diferente pode ser útil). A presença de hemorragia ou infecção pode dar origem
a ecos de baixa intensidade dentro de um quisto e, em alguns casos, a cápsula
pode apresentar calcificações. Apesar de um quisto simples e solitário poder
ser pouco valorizado, quistos com características acústicas mais complexas
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pode exigir uma investigação mais aprofundada, por exemplo, com TC. Uma
parede calcificada pode estar associada a malignidade.
Figura 23 – A) Quisto renal simples, com reforço posterior (setas);
B) pequeno quisto renal com calcificação após episódios de infecção.
2. Litíase renal
Os cálculos renais, na sua maioria, são focos calcificados localizados no
sistema colector do rim. Uma avaliação cuidadosa com equipamentos
modernos pode identificar mais de 90% destes. A maioria dos cálculos são
estruturas altamente reflexivas, apresentando sombra acústica posterior. A
sombra pode, no entanto, ser difícil de demonstrar devido ao tamanho
relativamente pequeno do cálculo em relação à largura do feixe. Isto significa
que os cálculos de pequenas dimensões podem passar despercebidos na ultrasonografia. O operador deve ajustar a técnica para mostrar o cone de sombra
usando uma variedade de ângulos e abordagens, assegurando que nos casos
de suspeita de cálculo, este esteja dentro da zona focal do feixe. Quanto maior
a frequência utilizada, maior será a probabilidade de identificar o cálculo. É
evidente que a identificação de um cálculo de grandes dimensões é
habitualmente fácil, no entanto, a identificação de pequenos cálculos podem
ser difíceis, especialmente em doentes com dor.
Figura 24 - A) Um cálculo no sistema colector do rim direito. A sombra acústica
posterior é facilmente percebida. B) Um cálculo coraliforme preenche todo o espaço
pielocalicial do rim. Um corte sagital através da face lateral do rim dá a impressão
de várias pedras em separado, embora este seja, de facto, um cálculo único.
A ultra-sonografia ainda tem o papel importante, não só na detecção de
cálculo, mas na identificação de complicações como hidronefrose.
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3. Angiomiolipoma
O angiomiolipoma é uma lesão homogénea, geralmente arredondada,
altamente ecogénica, localizada no parênquima renal contendo (como o nome
sugere) vasos sanguíneos, tecido muscular e gordura. São geralmente lesões
solitárias, assintomáticas, encontradas por acaso no exame, embora aquelas
de maiores dimensões possam apresentar hemorragia, causando hematúria e
dor. Uma vez que o contraste entre o parênquima renal hipoecogénico e o
angiomiolipoma hiperecóica é significativo, lesões muito pequenas, na ordem
de alguns milímetros, podem ser facilmente reconhecidos. No entanto, pode
ser difícil diferenciar convictamente um angiomiolipoma de uma neoplasia renal
maligna, especialmente num paciente com hematúria. Os angiomiolipomas
tendem a ser menores e mais ecogénicos que os carcinomas de células renais,
e às vezes demonstram cone de sombra, o que não é visto normalmente em
pequenos carcinomas.
Figura 25 - A) Angiomiolipoma no rim direito. (B) Angiomiolipomas
pequenos, múltiplos, num paciente com esclerose tuberosa.
4. Adenoma
O adenoma renal é geralmente uma pequena lesão hiperecogénica bem
definida, similar em aparência ao angiomiolipoma. Os adenomas renais são,
frequentemente, encontrados em associação com um carcinoma de células
renais no mesmo rim ou no rim contralateral, embora estes sejam
radiologicamente indistinguíveis de metástases.
Estas massas parenquimatosas renais de pequenas dimensões (menos
de 3 cm), apresentam crescimento lento e devem ser vigiadas facilmente com
TC ou ultra-sonografia, particularmente nos idosos.
5. Lesões Neoplásicas Malignas
A ultra-sonografia é altamente sensível na detecção de grandes massas
renais (acima de 2,5 cm de diâmetro) e em diferenciá-los dos quistos. Massas
de menores dimensões podem ser dificilmente identificadas sendo a TC mais
sensível na sua identificação, dado que são muitas vezes isoecogénicas.
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BEXIGA
Técnica
- Via supra-púbica (ver figura 1)
É a mais utilizada com uma sonda de 3-5 MHz. Deve ser realizada com
a bexiga cheia ou quase cheia, mas não excessivamente distendida para
estudar a parede posterior. A parede anterior é melhor observada com uma
sonda de 5 MHz.
- Via perineal
Pode ser usada em doentes pletóricos com bexiga vazia.
- Via endocavitária
É mais sensível, com uma bexiga pouco cheia, podendo observar-se a
base, a cúpula e as faces laterais.
Figura 1
A bexiga cheia tem uma forma rectangular. O seu conteúdo é
anecogénico, mas existem ecos artificiais de reverberação atrás da parede
anterior e em frente à parede posterior. Os artefactos acústicos das paredes
laterais são frequentes. A parede é fina (medindo 1-3 mm com a bexiga cheia),
regular e ecogénica. Quando a bexiga está pouco cheia, a parede é mais
espessa e hipoecogénica, podendo apresentar 5 mm de espessura, por vezes
revestida por uma banda externa hiperecogénica.
O trígono é sempre visualizado medindo 5 mm de espessura. Os
orifícios ureteriais são uma pequena elevação hipoecogénica ao nível da base,
medindo cerca de 0.5 cm de espessura e 1 cm de comprimento. Separam a
barra inter-ureteral que é mais espessa que o resto do trígono. O jacto ureteral
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é visível e corresponde a turbulências sob a forma de um trajecto em jacto,
ecogénico e fugaz. Também é bem observado no doppler a cores. Observa-se
a cada 3-5 minutos.
A uretra é mal observada. O colo vesical é triangular com vértice inferior.
Figura 2 (corte transversal)
Figura 3 (corte sagital)
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