Revista Tai Chi Brasil - "Quando você ve a dor e a violência em seu

Transcrição

Revista Tai Chi Brasil - "Quando você ve a dor e a violência em seu
Revista
Tai Chi Brasil
Edição nº 13 | Out - Nov - Dez / 2011 | Distribuição gratuita e dirigida
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Entrevista com o
Mestre Liu Chih Ming
Tai Chi Chuan - Eu Pratico!
Fotos de amigos prestigiando o “Grupo Tai Chi Curitiba”
“As camisetas
realmente
ficaram lindas.
É o Tai Chi
promovendo a união
entre os povos
e regiões distantes.”
BethLi.
Uberlândia, MG
Foto: Newton, Angélica, Jô e Elli. Curitiba, PR
BethLi e Sara
Uberlândia, MG
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Lenira, Vera e Anderson
Curitiba, PR
Anjee Momoi
Inúbia Paulista, SP
Giordano, Levis e Celeste
Curitiba, PR
Levis e Anderson
Curitiba, PR
Regina
Curitiba, PR
Tai Chi Curitiba
by levis litz
Nelson
Santos, SP
Lorena
Curitiba, PR
Revista
Tai Chi Brasil
Sumário
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Curitiba - Paraná - Brasil
Edição nº 13 | 2011
® Todos os direitos reservados
Registro nº 401.197
4° ofício de registro de documentos
Editor: Levis Litz
Capa: demonstração de Tai Chi com espada
pelo Mestre Liu Chih Ming no Centro Cultural
São Paulo. Foto/Cortesia Acervo:
Tarcísio Tatit Sapienza.
Colaboraram nesta edição
Alex Dong, Anderson Rosa, Angela Soci,
Associação Internacional de Praticantes de
Tai Chi Chuan - AIPT, CXWTABR, Estevam
Ribeiro, CEMETRAC, Liu Chih Ming, Mateus
e Luciana Maia, Roque Severino, Sociedade
Brasileira de Tai Chi Chuan - SBTCC, Tai Chi
Chuan BhMg e Tarcísio Tatit Sapienza.
Agradecimentos
Anjee Momoi, Aristein Woo,
Arthur Dalmaso, BethLi, Giordano Tosi,
Fernando, Liga Mineira Estilo Yang de Tai
Chi Chuan, Patrícia Kavamoto, Secretaria de
Estado de Saúde do Distrito Federal,
Elli nowatzki, Flávio Prado, IFTB - Instituto
de Formação em Taijiquan - Brasília, Núcleo
Shandong, Equilibrius - Ribeirão Preto,
Rodrigo Apolloni, Grupo Tai Chi Curitiba.
Revisão
Valesca Giordano Litz e Viviane Giordano
Contato
[email protected]
[email protected]
Jornalista responsável diplomado
levis litz - mtb 3865/15/52v pr
Distribuição gratuita e dirigida. Todos os textos e fotos aqui publicadas são colaborações
voluntárias gratuitas. Não são de responsabilidade desta revista os artigos de opinião e
também as opiniões emitidas em entrevistas
e depoimentos, por não representarem, necessariamente, o pensamento do editor. Por
questões de espaço, objetividade e clareza, a
equipe editorial reserva-se o direito de resumir
os textos recebidos. Foto com pouca definição
é de responsabilidade do autor. Os exemplares
impressos em papel excedentes desta publicação serão doados para bibliotecas públicas.
7
Mestre Liu Chih Ming
Entrevista com um mestre que adota os
princípios taoístas como postura de vida e
tem a intenção de ajudar as pessoas
20 “Wude” - O código de ética e moral
Diretrizes que se apresentam aos estudantes
e instrutores de Tai Chi Chuan e de todas as artes marciais
25 O tempo das coisas
O Tai Chi Chuan como uma prática corporal que
se estende não somente pelo corpo, mas também
pela mente e pelo espírito
28 Chen Xiao Wang
Convivência e aprendizado com o Guardião do
Taijiquan da família Chen
32 Quem pode ensinar tai chi chuan?
Entendimento jurídico aponta para livre atuação
em Tai Chi Chuan, independente de formação
acadêmica
35 Mestre Alex Dong
Foto em destaque - um incentivo a prática do
Tai Chi com espada
SEÇÕES
2
4
6
16 27
TAI CHI - EU PRATICO
MENSAGENS & CARTAS
EDITORIAL
RTCB NOTAS
TAI CHI - REPRESENTAÇÕES
Mensagens & Cartas
Revista Tai Chi Brasil. Curitiba - Paraná - Brasil.
[email protected] | editor: [email protected]
Por questões de espaço e coerência, a equipe editorial reserva-se o direito de editar mensagens, depoimentos, fotos e textos recebidos.
Estilo Wu Tai Ji Quan
Olá! Meu nome é Christiano
e sou praticante de tai ji quan aqui
em Curitiba! Primeiro gostaria de
agradecer ao Levis e sua equipe
por essa revista que sempre nos
inspira e fortalece em nossa prática,
realmente fez a diferença! Foi
através dessa força que quis ir em
busca de mais conhecimento! O
estilo que pratico é muito escasso
de professores, a minha professora
aqui em Curitiba se aposentou e ela
me deu dicas de que encontraria
professores desse estilo talvez em
São Paulo, onde foi o aprendizado
dela com o Mestre Wu! Portanto,
se algum aluno ou descendentes
que ministram aulas desse estilo
lerem essa carta gostaria de entrar
em contato para possível encontro e
troca de experiências, bem como a
possibilidade de realizarmos workshops e seminários! Agradecido por
essa oportunidade! Um abraço forte
a todos!
Christiano dy Lima
Naturoterapeuta, Curador
quântico e praticante de Tai Ji
Tel: (41) 9607-1013
[email protected]
“Recebi a revista e fiquei
encantada ao ver meu comentário
publicado na RTCB. Obrigada pela
gentileza. A Revista ficou “ótima”,
você como sempre fez um excelente
trabalho. Já estou fazendo a maior
propaganda divulgando as revistas
entre meus amigos. Com certeza
elas irão auxiliar a todos, que como
eu, tem vontade de aprender e
levarão belíssimos conhecimentos
4
aqueles que não fazem nem idéia
dos benefícios da prática da arte
do Tai Chi Chuan. Mais uma vez
obrigada e PARABÉNS a todos
pelo brilhante trabalho.”
Rosângela Souza Emerick
Manhumirim. MG
“Parabéns amigo e obrigado
pela publicação, a revista deste
mês esta muito linda. Parabéns a
todos.”
Geraldo Cerqueira
Salvador, BA
“Parabéns! Obrigada por
compartilhar este tesouro!”
Ivana Barbosa
São Lourenço, MG
“Professor Levis, muito
grata pela revista. Excelente, como
sempre divulgaremos. Abraço
fraterno.”
Teresinha Pereira
Praça da Harmonia, Brasília, DF
“Parabéns Levis... ótima
edição, sobretudo a matéria que
ilustra o código de ética.”
Marco Aurélio
Associação Chi Lum Tao
Jandaia do Sul – PR”
“Parabéns, a revista está
muito boa, acho até que dois dos
tópicos, como os do Roque Severino
e o do Marcio Lacerda, poderiam
ser mais comentados por todos
nós taichistas. Um com relação às
devidas medidas da tradição e o
outro com o taichi nos dias de hoje ,
no trânsito. Seria bem legal, ambos
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
fazem parte do que nos diz respeito
como taichistas do séc. XXI.”
Estevam Ribeiro
Rio de Janeiro, RJ
“Hola Levis: He revisado
las dos revistas electrónicas que
me enviaste y realmente estan muy
buenas, puedo apreciar un excelente
nivel profesional, te felicito por que
eres el mejor periodista en artes
marciales que he conocido durante
mis más de 40 años de experiencia.
Te comento que soy discípulo
directo del Gran Maestro Zhen
Zhenglei, a quien conocí en 1992
em Japón, donde viví 6 años y
también fuí instructor de Tai chi
de la Asociación Chino Japonesa
de Osaka. También conozco muy
bien al Maestro Wang Hai Jun, he
recibido instrucciones de él varias
veces en la China, donde viajo todos
los años. Es un excelente Maestro y
un gran amigo.”
Juan Vásquez S.
Presidente y Director Técnico de
la Asociación Latinoamericana
de tai Chi Chuan - Estilo Chen
Peru
“Olá Levis, sou fã da sua
revista de tai chi desde a primeira
edição. Sou de Indaiatuba que tem
grupo que ensina o estilo Yang.
Meus parabéns mais uma vez pelas
edições das revistas de tai chi, é
uma ótima oportunidade para quem
gosta do assunto e poder ficar de
alguma forma informado sobre essa
prática tão maravilhosa.”
Caio Cesar Oliveira
Indaiatuba
Giordano e Fernando, praticantes de Tai Chi Chuan e leitores da RTCB.
“Tenho acompanhado no
facebook as várias matérias sobre
o Tai Chi Chuan. Parabéns pelas
revistas. São muito bons os artigos e
matérias. Fonte para conhecimento
e aprendizagem. Hoje estou fazendo
o curso de Tai Chi Chuan estilo Yang
tradicional - forma antiga, com o
Mestre Adriano em Porto Alegre CCTao. Parabéns pelo belo trabalho
que está sendo desenvolvido. Todos
estão de parabéns.”
André Luiz Krause
Rio Grande do Sul
“You are doing a fantastic
job of promoting taijiquan and you
have my heartfelt support.”
Niall O`Floinn
Irlanda
“Desejo
todo
sucesso
possível a revista de vocês para a
divulgação do Tai Chi! Parabéns!”
Garanhuns, PE
“Olá amigos! Que excelente
é a Revista Tai Chi Brasil!
Felicitações!”
Sela
Florianópolis, SC
“Ficou ótima a Revista. A
capa então, lindíssima. Encomendei
na gráfica 100 exemplares para
serem distribuídos nas academias e
espaços afins aqui em Minas para
divulgar o seu trabalho. Parabéns
colega!”
Bethli
Uberlândia, MG
“Recebi o exemplar da
Revista e ela está com ótima
qualidade! Parabéns pelo seu
trabalho! Agora temos um Fórum
(www.sgi.org.br)
onde
você
pode divulgar este trabalho para
milhares de pessoas que acessam
mensalmente nossa página. Fique a
vontade para fazer esta divulgação!
Para nós será um prazer colaborar
para a difusão do Tai Chi!
Giordano Cimadon
Curitiba, PR
“Muito agradecido por mais
um belo exemplar da revista. Grande
contribuição para o enriquecimento
do TCC no Brasil.”
Marcello Giffoni
Belo Horizonte, MG
“Recebi a Revista Tai Chi
Brasil, esta ótima! Parabéns pelo
seu trabalho e dedicação.”
Nair
Curitiba, PR
“Salve, Levis! Parabéns
pela publicação - a comunidade de
praticantes de Tai-Chi e Kung-Fu
precisa cultivar o espírito crítico e
sua publicação é um bom caminho
para isso - grande abraço!
Senda Arte Marcial Chinesa
Curitiba, PR
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
5
Editorial
No Brasil do Tai Chi:
diversidade, respeito e coerência
Compartilhar seus conhecimentos sobre tai chi chuan é uma
missão à qual muitos professores e praticantes dessa arte já estão
engajados há muito tempo - que bacana! Isso é digno de elogio,
reverência e aplauso.
É importante observar que o tai chi no Brasil é cheio de
contrastes, com estilos diversos, ricas experiências e, naturalmente,
opiniões diferentes. Nesta edição, alguns artigos reforçam esse
sentimento em relação ao tai chi.
Tantas histórias, tantas impressões e cada um com sua maneira
de ver e transmitir. Dessa maneira, o leitor pode conhecer um pouco
melhor o que acontece em nosso gigantesco terrritório verde e amarelo.
No entanto, um leitor da RTCB, com um olhar mais acurado, pode
sentir falta em suas páginas de um determinado evento, a menção de
alguma escola ou grupo ou de um texto sobre seu mestre etc.
Que fique bem claro que, se não foi publicado pela RTCB, é
porque sua equipe editorial não ficou sabendo ou não obteve acesso
à informação ou justamente por seguir a ética e respeito, não foi
autorizada a publicar.
A RTCB também atua com coerência, não publica nada
relacionado a algum eventual leitor mal intencionado, que
tenta denegrir o trabalho da RTCB e questiona sua seriedade,
profissionalismo e postura ética da revista e de seu editor; seja em
público, no Orkut ou no FaceBook. Contudo, podem ter a certeza
que a Revista Tai Chi Brasil faz, como sempre, a sua parte, trazendo
enfoques diversificados naquilo que une todos nós, leitores e
praticantes, com boa intenção no coração: o tai chi.
Enfim, acreditamos que esse é um importante passo para
compreender a realidade que permeia o tai chi, desde
o Monte Caburaí ao extremo sul, o Chuí.
Um grande abraço e boa leitura,
Levis Litz
editor
jornalista diplomado
Contato - Também no FaceBook
Revista Tai Chi Brasil - RTCB
. página na internet: www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
. e-mail: [email protected]
Editor - Levis Litz
. e-mail: [email protected]
. página na internet: www.TaiChiCuritiba.com.br
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Curitiba - Paraná - Brasil
6
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Revista
Tai Chi Brasil
Bibliotecas & Acervos
Campinas, SP
Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan,
Acupuntura e Cultura Oriental
Av. Oscar Pedroso Orta, 222. Barão Geraldo.
------------------------------------------Caxias do Sul, RS
Centro de Estudos da Medicina Chinesa
Av. Júlio de Castilhos, 1501. Sala 32. Centro
------------------------------------------Curitiba, PR
Biblioteca Pública do Paraná
Rua Cândido Lopes, 133. Centro.
Biblioteca Hideo Handa
Praça do Japão. Água Verde.
Academia Paramitta
Av. Visc do Rio Branco, 84. Mercês.
Colégio Estadual do Paraná
Rua João Gualberto, 250. Alto da Glória.
Colégio Medianeira
Av. José Richa, nº 10546. Prado Velho.
Instituto Fu Hok | BackStage
R. Guido Straube,52-B. Vila Izabel.
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SESC Paraná – Unidade Água Verde
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Equilibrius - Centro de Tai Chi Chuan,
Acupuntura e Cultura Oriental
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Espaço Bem Estar (Yoga e Tai Chi Chuan)
Av. Pe. Antonio José dos Santos, 1371.
Brooklin Novo.
Peng Lai Brasil - Artes Marciais
Tradicionais Chinesas.
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Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan
Rua José Maria Lisboa, 612, Sala 7.
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Academia Budô Kan
Rua Benjamin Monteiro, nº 64. Centro.
Entrevista com o
Mestre Liu Chih Ming
Por Tarcísio Tatit Sapienza
APRESENTAÇÃO
Mestre Liu Chih Ming nasceu
em 1948 em Taiyuan, capital da
província de Shanxi, no norte da
China. Cresceu e estudou em Taiwan
(República da China), onde formouse no China Medical College. Em
1979 veio para o Brasil com sua
família a convite de seu pai, Mestre
Liu Pai Lin, que já vivia aqui desde
1975. Mora na cidade de São Paulo,
onde dirige o CEMETRAC - Centro
de Estudos de Medicina Tradicional
e Cultura Chinesa.
Desde que chegou ao Brasil
dedica-se profundamente à divulgação das Artes Marciais Internas
(Tai Chi Chuan e Baguazhang), da
Medicina Tradicional Chinesa, das
práticas de Chi Kung, da Meditação
Taoísta e do Tao como caminho de
iluminação. Sua postura de ensino
caracteriza-se por trabalhar de maMeditação Taoísta
neira integrada todo este conhecimento.
Representa as linhagens taoístas Porta do Dragão (Longmen pai), Montanha Dourada
(Jinshan pai) e Kun Lun Chien Shan. Além de seu pai, teve como mestres Yang Yu Zhen, Wang
Yen Nien, Wang Shu Jin e Liu Pei Zhong. Aprendeu medicina chinesa com Xiu Yang Zhai, da
renomada linhagem de Agulha de Ouro.
Participa ativamente das iniciativas de regulamentação profissional da Acupuntura no
Brasil desde a década de 1980. Atualmente é Vice-Presidente de Honra da Federação Mundial de
Acupuntura e Moxabustão (WFAS) e membro do Conselho Executivo da Federação Mundial das
Sociedades de Medicina Chinesa (WFCMS).
Mestre Liu Chih Ming adota os princípios taoístas como postura de vida. A intenção de
ajudar as pessoas o mobiliza na direção de divulgar seu conhecimento.
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Revista Tai Chi Brasil | Tarcísio Tatit Sapienza O que é o Tai Chi Chuan para o senhor?
Mestre Liu Chih Ming - O ideograma “Tai”
( ) significa muito superior, muito grande, até o máximo.
O ideograma “Chi” (
) significa sem limites. Assim,
“Tai Chi” pode ser entendido como uma grandeza sem
limites. Muitas pessoas sabem que o ideograma “Chuan”
(
) significa punho, mas não percebem que nele há
outros significados. Na parte de baixo encontramos a
representação da mão e na de cima a do ser humano.
Você, o ser humano que aparece em Chuan, precisa saber
usar sua mão para administrar e equilibrar Yin e Yang. Ao
buscar a grandeza máxima sem limites, quando suas mãos
adquirem a habilidade de dominar Yin e Yang, nasce o Tai
Chi Chuan (
).
Qual é a importância da prática do Tai Chi Chuan?
Zhang San Feng, o mestre que originou o Tai
Chi Chuan, ensina que o sentido mais importante desta
prática é promover a saúde e proporcionar a longevidade.
Ele fala a todos os heróis deste mundo que lutar não é a
sua finalidade principal. É uma arte marcial voltada para a
defesa. Quando há uma necessidade real, num caso muito
urgente, muito necessário, o praticante pode utilizá-la
para se defender. Na nossa vida o mais importante é a
saúde, se você não tem saúde então não tem nada. O Tai
Chi Chuan ajuda a gente a ter muita saúde. Assim você
pode ajudar as pessoas, auxiliar a população a ter mais
saúde e viver em harmonia. O sentido maior da prática de
Tai Chi Chuan é aprender a praticar o Tao, a compreender
o Tao e iluminar-se.
Qual é a principal qualidade que um praticante
de Tai Chi Chuan deve desenvolver?
O praticante de Tai Chi Chuan deve saber que
esta é uma arte da sabedoria: você tem que desenvolver
sua própria sabedoria. É uma arte da compaixão: você
precisa cultivar a qualidade da compaixão, saber amar e
criar harmonia com todo mundo, com todos os seres vivos.
É uma arte da saúde: ao manter uma boa saúde você tem
mais possibilidade de ajudar os outros. É também uma arte
da felicidade: proporciona um bom estado à mente, com
muita luz interior, evita a depressão. Praticar Tai Chi Chuan
permite trabalhar todas essas qualidades. O equilíbrio de
Yin e Yang traz muita paz e harmonia, dificilmente você
vai entrar em conflitos. Também pode desenvolver sua
capacidade de influir positivamente nas outras pessoas,
de transmitir equilíbrio. Assim, naturalmente, todo mundo
também se transforma, a sociedade vai se modificando e o
país muda.
Que conselhos daria para aqueles que estão
começando a praticar Tai Chi?
Para os iniciantes minha primeira sugestão é procurar
um bom orientador. Ao escolher o professor recomendo
conhecer a história de sua linhagem. Você precisa saber
Mestres Liu Chih Ming e Liu Pai Lin (Poesia)
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qual é a fonte da água que vai tomar. Além de aprender os
movimentos e suas aplicações você precisa saber da teoria,
dos benefícios de cada movimento. O I Ching orienta: “o
sábio precisa aprender do movimento constante do Céu, ele
não para.” É muito importante praticar o Tai Chi Chuan com
constância. É necessário dedicar tempo à prática, é um treino
para a vida toda, não apenas para quando se está doente. É
importante conhecer um segredo de nosso mestre, o espírito
do Tai Chi Chuan: você não pode usar força. Usa o quê?
Usa sua intenção, sem usar força. O movimento deve fluir
contínuo como o da água de um rio que se dirige ao mar, não
pode ter interrupções. É preciso ser natural, saber respeitar-se
ao realizar o Tai Chi Chuan. O corpo, a natureza e a condição
física de cada pessoa são diferentes. Você não pode pensar:
“Ah!, eu vi alguém que faz um movimento mais difícil, assim
deve ser melhor.” Não é, porque Tai Chi significa ser natural:
respiração natural e movimento natural.
Qual é tempo mínimo, por semana, que
recomenda praticar o Tai Chi Chuan?
Recomendo de uma hora até uma hora e meia de
prática diária. Quando sua energia interior unida ao vento
da respiração ativa seu fogo interno, aí você começa a
transpirar naturalmente. O tempo ideal de treino é quando
ocorre esta transpiração leve. Este tempo não precisa ser
dedicado apenas à arte marcial. Por exemplo, de manhã
você pode começar com a prática da meditação e seguir
com a respiração dos Seis Sons, o treinamento das Doze
Sedas, o Ba Duan Jin, o Chi Kung Taoísta e o Tai Chi
Chuan. Para quem é muito ocupado, muito dedicado ao
trabalho, tem muito serviço, enfrenta muita correria e não
pode parar para praticar todos os dias, minha sugestão é
treinar no mínimo três vezes por semana.
Por que há poucos jovens engajados na prática
do Tai Chi Chuan?
Hoje os jovens não encontram tempo para praticar
Tai Chi Chuan: tem que estudar, fazer lição de casa,
prestar vestibular, ir a muitas festas de noite e também
namorar. A maioria não gosta do que parece ser lento,
prefere as coisas mais modernas, rápidas e coloridas.
Por ainda não manifestarem problemas de saúde não
sabem apreciar a preciosidade destes ensinamentos, não
entendem porque deveriam praticá-lo. O Tai Chi Chuan é
uma prática muito importante para o jovem que queira ter
mais saúde, ser mais bonito, ter mais força, mais luz de
vida. Assim poderá estudar melhor, abrir sua inteligência
para que o estudo na escola seja perfeito. O aprendizado
do Tai Chi ensina a manter o equilíbrio emocional e a
viver em paz e harmonia com todo mundo, na escola e
em casa. Os jovens que já praticam Tai Chi Chuan tem
uma visão muito profunda, muito sábia, percebem como
ele é precioso. Por isto desde cedo seguem o treinamento,
parece que veem a prática como um tesouro, não param
de buscar este caminho, de praticar, de aprender. Poucos
jovens tem esta visão. Eles trazem uma semente antiga,
uma consciência de outra vida: já aprendeu, já sabe como
o Tai Chi é bom.
O aspecto terapêutico da prática do Tai Chi a
torna mais indicada para idosos?
A prática de Tai Chi Chuan é uma arte marcial
que favorece a circulação adequada da energia pelos
canais energéticos e colaterais (jing luo), os mesmos
meridianos trabalhados pela Acupuntura. Podemos
aumentar nossa imunidade e prevenir as doenças ao
equilibrar a energia (Chi) e o sangue (Xue) e estabelecer
Centenário de nascimento do Mestre Liu Pai Lin
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“EMPURRAR”
Baguazhang
“Condor
estende as asas”
a harmonia entre o Yin e o Yang do corpo, os órgãos e
vísceras (zang fu). Atualmente há muitas pesquisas
internacionais que comprovam seus benefícios para os
idosos. Quem pratica Tai Chi Chuan pode retardar seu
envelhecimento. A respiração profunda ativa o fogo de
vida e tonifica a energia dos rins. A fabricação natural de
hormônios é estimulada, mantendo o equilíbrio hormonal. O
treinamento regular ajuda a tonificar os músculos, tendões e
ossos e permite evitar as quedas e fraturas que fazem tanto
mal para saúde do idoso. A movimentação suave estimula
a fabricação do líquido que lubrifica nossas articulações,
como o cotovelo e o joelho, assim facilita os movimentos
e previne os problemas de reumatismo, artrite e artrose. Por
ser uma forma de meditação em movimento, o Tai Chi Chuan
pode acalmar as pessoas, sossegar a mente e ajudar todos a
dormirem mais tranquilos. Também pode evitar os problemas
de depressão, ativar a memória e prevenir o alzheimer.
Com que idade começou a praticar Tai Chi
Chuan? Quais suas memórias mais antigas? Como era
a sua prática?
Comecei a praticar Tai Chi Chuan com seis
anos, aprendendo com o Mestre Pai Lin. Meu pai era
muito disciplinado, normalmente fazia o despertador
tocar sempre às quatro e meia da manhã. Ele acordava
10
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e levantava para fazer exercícios na cama, como as
práticas de alongamento. Eu acordava mas fingia ainda
estar dormindo. Ele começava indo beber água, descia e
depois fica ao meu lado, andando, andando, andando, mas
ainda não queria acordar o filho. Mais ou menos às cinco
horas ele me acordava: “levantar, tem que levantar!”
Não podia ir dormir muito tarde porque ele sempre me
chamava bem cedo. Às vezes minha mãe pedia que não
acordasse seu filho, ainda muito pequeno. Ele respondia:
“tem que treinar, tem que treinar!”. Aí eu acordava e ia
andar junto com ele. Antes de sair de casa meu pai sempre
me preparava um copo de água morna, isto eu nunca
esqueço: água morna, não gelada, sempre morna. Falava
“tem que beber água antes de sair de casa comigo”. Eu
passava com ele um bom tempo. Durante o inverno
saíamos ainda em meio da escuridão e caminhávamos
meia hora para subir a montanha. O treino começava
sempre pela respiração para eliminar o turvo e receber
a energia pura. Captávamos energia de céu, da terra, do
sol e até das árvores. A seguir treinávamos Ba Duan Jin e
alguns exercícios de Chi Kung e depois praticávamos Tai
Chi. A medida que fui crescendo começamos a praticar
também o empurrar as mãos (Tui Shou) e outras artes
marciais. Minha memória nunca esquece desta cena:
o sol a nascer, os passarinhos cantando, muitos insetos
cantando no verão... Estes sons, esta cena, ainda estão na
minha cabeça, entre as lembranças mais antigas.
Quem foram seus mestres?
O primeiro mestre é meu pai, Liu Pai Lin, o
mestre de minha vida. Seu irmão de linhagem Yang Yu
Zhen é meu segundo mestre. Ele presidiu a Associação
Internacional de Tai Chi Chuan de Taiwan (República da
China). Papai morava em Taichung, no centro da ilha, e
ele morava na capital Taipei, ao norte. Agradeço a ele por
me acolher em sua casa na época que cursei a faculdade
de tecnologia, tinha então cerca de 22 anos. Como meu
pai, de manhã ele sempre treinava comigo. Ensinou-me o
“Tai Chi Chuan da tradição secreta da
família Yang” e a Espada Tai Chi. Meu
terceiro mestre é Wang Shu Jin, da
terceira geração de Baguazhang. Ele
me ensinou Baguazhang, a “Espada
dupla de baguazhang”, a “Espada do
yang absoluto” e a mesma forma de Tai
Chi Chuan ensinada pelo Mestre Chen
Pan Ling. Wang Yen Nien, também
irmão de linhagem de meu pai, é meu
mestre de Tui Shou. Mestre Yang Yu
Zhen sempre me levava para treinar
no local onde ele orientava a prática
de Tui Shou, o congresso legislativo
do governo de Taiwan. Meu mestre
de Acupuntura e Medicina Chinesa é
Xiu Yang Zhai, uma influência muito
importante em minha vida. Depois do
casamento morei e trabalhei na capital
de Taipei, lá aprendi acupuntura com
este mestre da linhagem da Agulha de
Ouro. Estudava de noite e nos fins de
semana, contando sempre com a ajuda
e compreensão de minha senhora Liu
Lin Po Ju. Ao voltar para Taichung
aproveitei a oportunidade para aprender
junto com papai e Mestre Yang Yu
Zhen práticas internas meditativas
(neigong) com Mestre Liu Pei Zhong,
representante de uma linhagem taoísta
especial, a linhagem de Kun Lun.
Pode contar alguma situação
engraçada ou curiosa envolvendo o
Tai Chi Chuan?
Papai me contou diversas
histórias de seu mestre, Zhang Qin
Ling (1887-1967). Ele trabalhava
como general em Taiyuan, capital da
província de Shanxi, quando teve a
oportunidade de aprender com este
grande mestre. Ele contava que na
época do famoso Mestre Yang Cheng
Fu (1883-1936), muitos vinham de
longe para desafiá-lo a comprovar
qual mais forte. Ele recusou-se a lutar
com uma pessoa muito incomoda e
insistente que o provocava a brigar
dizendo não aceitava seu desafio
por ter medo. Zhang Qin Ling saiu e
apresentou-se dizendo que não era um
discípulo, apenas trabalhava naquela
Movimento: “Moça graciosa trabalha a lançadeira”
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11
Retratos dos Mestres do Mestre Liu Chih Ming
Yang Jian Hou
Wang Shu Jin
Wang Yen Nien
Liu Pei Zhong
Zhang Qin Ling Yang Yu Zhen
Xiu Yang Zhai
casa, mas se fosse vencido depois o desafiante poderia
lutar com o mestre. Ele já tinha muito conhecimento,
aprendido pela observação. O desafiante falou: “você
não é nada, nem mesmo é discípulo, deve ser bem fraco.”
Quando os dois entraram em combate, no contato de
braço com braço o adversário logo teve um osso quebrado
e fugiu rapidamente ao perceber que naquele lugar havia
muitas pessoas especiais. Outra história interessante é de
quando Zhang Qin Ling ensinava o movimento de Tai Chi
Chuan “Acompanhar a cauda do pássaro” (Lan que wei).
Ele pegou um passarinho na mão para demonstrar para
papai. Quando o passarinho está querendo voar, primeiro
tem que se encaixar na mão, sedimentar, depois consegue
voar. Mas quando o passarinho tentava se encaixar o
mestre descia sua mão, quando queria voltar a subir ele
acompanhava seu movimento, sem deixar o passarinho
levantar voo. Para falar deste movimento é preciso
conhecer esta teoria, o significado de seu nome. Você está
mexendo a mão acompanhando o passarinho mas nunca
deixa que ele saia de seu controle, quando ele quer voar
você equilibra Yin Yang para que ele nunca tenha pontos
de apoio, ele sempre fica no vazio, sem pontos fixos
para conseguir voar. Você tem de praticar este nível de
sensibilidade ao “Acompanhar a cauda do pássaro”.
O que é ba gua?
O Ba Gua (ou Pa Kua) é uma representação dos
8 fenômenos do mundo material, da natureza, incluindo:
Céu, Terra, Água, Fogo, Trovão, Montanha, Vento e Lago.
Foi criado por Fu Xi, um grande taoísta que viveu há quase
6 mil anos. Entre as referências escritas mais antigas a este
conceito encontramos as explicações de Confúcio para o
I Ching. Os trigramas do Ba Gua são construídos a partir
da combinação de linhas Yin e Yang: as linhas yang são
as cheias, as yin as quebradas. O Baguazhang é uma arte
marcial de origem taoísta. Não há registros históricos de
quando foi criado. Dong Hai Chuan, o primeiro mestre
reconhecido desta linhagem, viveu na China durante a
dinastia Qing e declarou ter aprendido esta arte marcial com
dois taoístas na montanha. Esta arte utiliza movimentos em
torno de círculos para realizar combinações correspondentes
aos oito trigramas (Ba Gua) que representam a natureza do
universo. Ao realizar estas mutações de Yin Yang em todas
as direções emprega movimentos circulares da palma como
defesa e ataque. O aprendiz pode compreender melhor as
mutações das energias Yin Yang, saber mais do passado e
do futuro e aprofundar-se na busca da iluminação.
Baguazhang - Seminário - Palma Simples
Abraçar o Universo - China.
12
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Em alguma ocasião precisou empregar seu
conhecimento de artes marciais como defesa pessoal?
Sempre preferi evitar conflitos, são desnecessários.
Quando nos mantemos em paz não há necessidade de
Além da harmonia com a sua própria família, terá muito
harmonia com as outras pessoas. As pessoas próximas,
como seus colegas de trabalho, também vão sentir isto
em você. Quando é manifesto o respeito ao outro, a outra
pessoa também sabe te respeitar. Assim podem ser evitadas
muitas brigas.
Baguazhang com duas espadas
lutar com outras pessoas. Como diz Zhang San Feng,
no aprendizado do Tai Chi Chuan, a luta é um aspecto
secundário, o mais importante é a saúde e longevidade
do praticante. Ele orienta todos os heróis deste mundo a
considerar esta arte desta forma. Mas há ocasiões onde você
pode precisar utilizar esta arte marcial para lutar. Quando
não se conhece sua aplicação o Tai Chi Chuan pode aparentar
ser muito yin, mas quando aplicados seus movimentos são
muito fortes e poderosos. Cada movimento pode deixar
instantaneamente a pessoa machucada ou caída. Há três
tipos de ocasião que justificam lutar: em casos urgentes
ligados com a segurança nacional de seu próprio país, o
país deve ser colocado em primeiro lugar; nas situações
que envolvem a segurança de muitas pessoas, se você pode
salvá-los também deve usar seu conhecimento; ou quando
você testemunha um crime e tem 100% de certeza da
possibilidade de vencer um bandido sem arriscar ninguém,
quando você vê que ele não tem muita força nem arma,
você pode aplicar sua arte marcial.
Como consegue equilibrar a sua vida cotidiana
familiar com o Tai Chi Chuan?
Tai Chi Chuan é uma prática de sabedoria. É uma
arte marcial de compaixão. É uma prática de saúde. É uma
arte marcial de alegria e felicidade. É uma arte marcial
para manter a paz. Se você sempre pratica Tai Chi Chuan,
então vai se transformando, vai mudando, fica mais sábio,
com mais compaixão, mais saúde, mais felicidade e paz.
Como era conviver com o Mestre Liu Pai Lin?
Mestre Pai Lin foi general, por isto quando jovem
usava regras de disciplina, como todo militar. Eu lembro
que na juventude era muito rigoroso, ele tinha que olhar
todas as coisas, e se não estivesse certo então agia com
muito rigor. Mas ele era muito carinhoso comigo. Quando
meu pai tornou-se general, quase aos quarenta anos, nasceu
este filho, por isto ele me chamava desde pequeno de “filho
velho”. Na China daquela época os casais costumavam
casar cedo e ter filhos bem jovens. Até hoje ainda me lembro
dele me chamar assim. Desde criança ele cuidava de mim,
eu estava sempre perto dele. Ele costumava carregar uma
foto minha, era muito, muito bom. Eu ainda me lembro
que na cidade de Taichung, todas as vezes que voltávamos
do treino matinal eu ganhava uma coxa de frango assado
quando passávamos por uma loja do caminho. Assim o
filho estava sempre feliz, e o pai também.
O que caracteriza o Tai Chi Chuan Pai Lin?
O Tai Chi Chuan Pai Lin tem um caráter muito
especial. Para entender você precisa compreender seu
outro nome: Tao Kung Chuan. O mestre do Mestre Liu
Pei Zhong, que viveu em Pequim no Palácio da Cidade
Proibida, denominou assim sua arte. Quando ensinou a
Liu Pei Zhong falou: “esta arte marcial de Tai Chi Chuan
tem como nome Tao Kung Chuan, chama-se prática de
Tao.” Internamente, este treinamento permite desenvolver
uma grande sabedoria. Externamente, pela movimentação
e pela respiração despertamos nossos três tesouros
originais: o espírito original (shen); a energia original
(chi); e a essência original (jing). Por meio da respiração
e da intenção ativamos os 12 meridianos comuns e os 8
meridianos extraordinários possibilitando uma circulação
perfeita de sangue e energia. Nossa energia interior pode ser
combinada com as do Céu, da Terra, e de todos seres vivos
da natureza, assim permitindo realizar a união de Céu, Ser
Humano e Terra. O Tai Chi Chuan Pai Lin tem este caráter.
É uma prática de Tao Kung Chuan. Seu objetivo final é
desenvolver a sabedoria e utilizar nossa energia interna
para integrar Céu, Ser Humano e Terra e assim alcançar a
união com o Tao. Quando você assiste uma demonstração
de Tai Chi Chuan Pai Lin, com certeza repara que já no
início há algumas diferenças em relação aos outros estilos
de Tai Chi Chuan. O Tao Kung Chuan tem movimentos
característicos que não existem em outros estilos, como:
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13
“Abraçar o universo” (ou “Postura da àrvore”), “Unir os
três tesouros”, “Balançar Yin Yang” e “Rolar o Tai Chi”.
Estes movimentos diferentes são ligados à linhagem de
Kun Lun, à transmissão do Mestre Liu Pei Zhong.
Poderia nos falar mais do Mestre Zhang Qin
Ling e da prática de Yangjia Michuan Taijiquan, a
“tradição secreta da família Yang”?
Quando o Mestre Yang Jian Hou (1839–1917), filho
do criador do estilo Yang de Tai Chi Chuan, viu Zhang Qin
Ling defender a honra da família e derrotar seu desafiante,
decidiu recebê-lo como discípulo. Chamou-o de noite para
dentro de sua cela e disse: “você cuidou de nossa família,
manteve nossa fama de invencibilidade, por isto eu vou
te ensinar agora os segredos do Tai Chi Chuan.” Estes
segredos são realmente muito preciosos, naquela época
os conhecimentos mais profundos eram ensinadas apenas
para os discípulos mais próximos. Wang Yen Nien e meu
pai trabalharam como militares no mesmo lugar e tiveram
a oportunidade de aprender com Mestre Zhang Qin Ling
esta forma de Tai Chi Chuan, o estilo secreto da linhagem
Yang. Mestre Liu Pai Lin, Mestre Wang Yen Nien e Mestre
Yang Yu Zhen praticaram este estilo secreto de Tai Chi
Chuan ensinado por Zhang Qin Ling. Após aprender com
Mestre Liu Pei Zhong meu pai incorporou ao início de
sua prática movimentos diferentes, próprios do Tao Kung
Chuan, ligados ao conhecimento do Tao.
Quais são os requisitos para um praticante de
Tai Chi Pai Lin tornar-se professor?
Este é um assunto muito importante. Pai Lin já
passou, mas os treinamentos desta linhagem são práticas
preciosas que precisam ter continuidade.
Captando energia
Muitos aprenderam Tai Chi Pai Lin, mas como
saber quem tem nível, quem tem qualidade para ser
bom professor?
Para ter condição de ensinar os outros, você tem
que saber realizar os movimentos corretamente, conhecer
os aspectos teóricos e também precisa ser uma pessoa muito
boa. Os discípulos e os alunos que passaram pela formação
taoísta com Mestre Pai Lin, aprenderam este Tai Chi
Chuan, passaram muitos anos praticando, já tem sua própria
experiência de movimento e um conhecimento profundo da
teoria tem condições de serem bons professores de Tai Chi
Pai Lin. Antes de sua passagem meu pai conversou comigo
14
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da necessidade de no futuro criar uma avaliação. Para realizar
esta orientação de Mestre Pai Lin criei no CEMETRAC
um departamento para examinar os interessados em ter um
certificado de qualificação profissional em Tai Chi Chuan
Pai Lin. Realizo anualmente exames práticos e teóricos. São
prérequisitos ter boa saúde física e mental e também ser uma
pessoa com boa conduta. Quem já prática há muitos anos e
considera que tem uma boa prática, pode vir e me mostrar.
Com a passagem de seu pai o senhor assumiu
a missão de dar continuidade à divulgação dos
conhecimentos taoístas de sua linhagem no Brasil?
Sim. Meu pai antes de passar me falou: “Filho,
você aprendeu muito com diversos mestres, eu mesmo te
levei a fazer a iniciação com a maioria deles. Não precisa
se preocupar em divulgar apenas o conhecimento que eu
transmiti. Você pode ensinar tranquilamente as coisas que
aprendeu com os outros mestres, não precisa cuidar só de
minha parte. Tem muita coisa que não pude fazer, mas você
tem de realizar.” Para ser fiel aos ensinamentos do Mestre
Pai Lin é preciso ter uma visão tão ampla quanto a dele.
O caminho taoísta não é limitado, é muito amplo, nele há
muito tesouros preciosos. Eu assumi esta missão a pedido
de meu pai, continuarei a divulgar os conhecimentos
taoístas de nossa linhagem para ajudar o povo brasileiro a
ter mais saúde, mais felicidade e mais paz. Ele realmente
me preparou para cumprir este objetivo, esta missão,
desde o início. Ele me disse: “você tem de aprender três
coisas, a medicina do equilíbrio, a arte marcial interior
e os treinamento taoístas de busca da iluminação”. Para
seguir a orientação de meu pai eu deixei a faculdade de
tecnologia e uma profissão boa no governo, recomecei a
vida passando pelo exame para estudar medicina chinesa,
escolhi sózinho apenas meu mestre de acupuntura. Estas
três referências indicaram meu destino. Eu gostaria de
continuar a divulgar estes tesouros e de ajudar os meus
alunos a seguir o caminho que combina estes três aspectos
do conhecimento taoísta. Esta é a minha missão.
Pode comentar a homenagem que a RTCB fez
ao dedicar a primeira edição ao Mestre Liu Pai Lin?
Eu apreciei muito, fiquei emocionado ao ver
esta edição. É um trabalho muito bom, com diversas
informações para os leitores conhecerem mais sobre a
linhagem de treinamento e prática de Tai Chi Chuan do
Mestre Liu Pai Lin. Gostaria de agradecer a Revista Tai
Chi Brasil e de parabenizá-la por seu sucesso no trabalho
de divulgação do Tai Chi. Espero que seja cada vez mais
lida e conhecida pelas pessoas.
Alguma mensagem para os leitores da RTCB?
Mantenham sempre a mente tranquila e estável.
Lao Zi diz: “o espírito humano tem afinidade com a pureza
e serenidade, mas o coração é inquieto, é sempre atraído
pelos desejos. Uma pessoa sábia precisa reduzir seus
desejos não necessários ao mínimo.” Recomendo a todos
meditar. O primeiro passo é cortar os desejos desnecessários
e deixar o coração retornar à serenidade. Quando o coração
está sereno o espírito naturalmente volta a ser puro. Este
caminho é muito simples, inicialmente talvez você precise
de um pouquinho de intenção para cortar estes desejos,
depois apenas permitir-se ficar mais calmo. Quando
pensamos demais a energia vital dispersa-se de dentro para
fora, num movimento centrífugo. Ao retornarmos à luz
original a energia se renova e preservamos a saúde. Vivam
sua vida diária em harmonia com a natureza. Combinem
seus horários com os da natureza, de noite não durmam
tarde: procurem sempre dormir antes das onze horas
para preservar a energia e a vitalidade. Mantenham uma
alimentação regular e natural, sempre ingerindo os alimentos
mais naturais disponíveis. Cuidem de alimentar-se das
cinco cores, dos cinco sabores, para assim fortalecerem
seus cinco órgãos e vísceras. Pratiquem atividades físicas
para regular e equilibrar a saúde. Para manter a energia
escolham um exercício para fazer todos os dias, como o
caminhar. Pessoalmente, recomendo escolher praticar Tai
Chi Chuan. Sempre pensem coisas boas e realizem boas
ações. Não façam maldades, sempre respeitem os outros
e cultivem a compaixão, assim vocês poderão viver vidas
plenas de saúde, felicidade e paz. Eu desejo a todos os
leitores muita saúde, muita felicidade e muita paz.
Mestre Liu Chih Ming
CEMETRAC - Centro de Estudos de
Medicina Tradicional e Cultura Chinesa.
Rua Pirapitingüi, 156 - Liberdade,
São Paulo - Tel. (11) 3209-8189
www.cemetrac.com.br
-----------------------------------------
O Mestre Liu indica aos interessados em
aprender Tai Chi Pai Lin que consultem
a lista de locais de prática disponível
no blog: “Aprender Tai Chi”
http://aprendertaichi.blogspot.com
Texto do Mestre Liu Chih Ming
Poema de filho para pai
Meu pai aprendeu com o grande
mestre supremo Lao Zi,
que partiu da porta da China a outros lugares
para transmitir a essência dos
ensinamentos taoístas.
Veio à América do Sul, ao Brasil,
com uma nuvem de compaixão.
Sua transmissão caiu como chuva
e regou as sementes taoístas aqui semeadas,
para que ainda cresçam muito.
Seguiu o caminho
dos antigos seres iluminados
que vieram a este mundo
com a missão de orientar o futuro
e transmitir ensinamentos
a serem passados de geração em geração.
Seu coração é livre e sábio,
muito redondo.
Senhor de uma visão global muito ampla,
sem nenhum apego.
Ao partir,
trocou seu corpo físico de general,
a nobreza e a coragem de seus ossos,
por um novo corpo iluminado.
A foto reproduzida no quadro em que o Mestre Liu
escreveu a poesia foi feita no Brasil para uma revista
pouco tempo após sua chegada a São Paulo, cerca de
1981. O texto foi escrito em 2001 como homenagem
da cerimônia realizada no Memorial do Mestre Liu
Pai Lin, no CEMETRAC, um ano após sua passagem
(2/2/2000).
Agradecimento
A equipe RTCB agradece imensamente a colaboração
de Tarcísio Tatit Sapienza e do Mestre Liu Chih Ming.
Fotos: Acervo/Tarcísio Tatit Sapienza.
[Comente este texto: [email protected]]
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
15
RTCB Notas
Secretaria de Estado de
Saúde do
Distrito Federal
práticas do tai chi chuan na cidade
de Uberlândia, Minas Gerais. Contato: Bethli - [email protected].
Brasilia, DF
-------------------------
[Tai Chi Chuan] Por ser um
treinamento de baixo custo, com
aplicabilidade versátil, pode ser incorporado nos programas de exercícios para pessoas idosas, cardiopatas e hipertensas. “Trata-se de uma
das Práticas Integrativas de Saúde
(PIS) que fazem parte do Núcleo
de Medicina Natural e Terapêutica de Integração da Secretaria de
Saúde do DF, na modalidade práticas corporais”, afirma a gerente
do Centro de Saúde nº 4, Tânia
Marcial. Segundo a gerente, são
reconhecidas pelo Ministério da
Saúde como parte integrante da
saúde integral da pessoa, pois promovem bem-estar físico e mental aos praticantes. Por Patrícia
Kavamoto [Fonte: http://www.
saude.df.gov.br/003/00301009.
asp?ttCD_CHAVE=156782].
Curitiba, PR
Tornar-se um
representante oficial
do Tai Chi da Família
Yang em Curitiba
São Paulo, SP
Programa de Práticas
Integrativas e
Complementares na
Rede Pública
A Sociedade Brasileira de
Tai Chi Chuan (SBTCC) tem interesse em ter sua representatividade do Tai Chi da Família Yang na
cidade de Curitiba. Para tanto, os
interessados devem fazer o curso
de “Capacitação Profissional no Tai
Chi Chuan da Família Yang”, realizado pela entidade. Maiores informações: www.sbtcc.org.br
Uberlândia, MG
-------------------------
A Liga Mineira de Tai Chi
Chuan está engajada no Projeto
que abrirá as portas no Programa
de Práticas Integrativas e Complementares na Rede Pública, bem
como na divulgação em massa das
A importância do
aprendizado das
armas nas artes
marciais chinesas e a
-------------------------
16
compreensão da cultura
chinesa ao entender
o significado da
Dança do Leão
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Aconteceu na Escola de Tai
Chi Paramitta, 18 de setembro, uma
belíssima apresentação de Dança
do Leão, da Escola Senda de Curitiba, sob a orientação do professor
Rodrigo Apolloni e a participação
de seus alunos: (Michèlle, Claudinei, Wilsterman, Celia, , Thiago e
Juliano). A performance foi realizada após palestra/aula do Professor Apolloni para alunos do curso
de Especialização Lato Sensu em
Tai Chi Chuan. O tema foi sobre
“A importância do aprendizado das
armas nas artes marciais chinesas
e a relevância da compreensão da
cultura chinesa ao entender o significado da Dança do Leão”. Também houve demonstrações de utilizações e aplicações de armas em
que os alunos da Senda demonstraram técnicas de sabre. O momento contou com a presença também
dos professores Jorge Jefremovas e
Edecir Martins. O professor Rodrigo Apolloni é praticande de Tai Chi
Chuan e Kung-Fu (Shaolin do Norte) desde 1985. É mestre em Ciência da Religão pela PUC-SP e doutorando em Sociologia pela UFPR.
RTCB Notas II
Contato: [email protected] |
www.shaolincuritiba.com.br
Uberlândia, Minas Gerais, on-de foi
votado o Projeto de Lei instituindo
no calendário Oficial de Eventos
do Município o Dia Mundial do
Tai Chi, a ser realizado no último
sábado do mês de abril. O Projeto foi
apresentado pelo Dr. Adriano Zago
e membros da Liga Mineira de Tai
Chi Chuan em Uberlândia. Contato:
Bethli - ligamineiradetaichichuan@
gmail.com.
-------------------------
-------------------------
Projeto de Lei institui,
no calendário
Oficial de Eventos
do Município, o Dia
Mundial do
Tai Chi Chuan
Audiência pública
sobre Práticas
Integrativ​as e
Complement​ares no
estado do Paraná.
Curitiba, PR
Uberlândia, MG
Dia 05/10/2011 - Data
marcada para uma Audiência
Pública na Câmara de Vereadores de
A Presidente da Associação
Internacional de Praticantes de Tai
Chi Chuan, Elli Nowatzki, acompanhada por outro Diretor da mesma entidade, José Tarcisio Aguilar,
e o prof. Jorge Jefremovas, professor da Academia Senda, compareceram em segunda audiência
pública no dia 13 de setembro, na
Assembléia Legislativa do estado
do Paraná (Plenarinho) para dar
apoio a Luci Hayashi, representando as práticas corporais chinesas.
Seminário
Internacional de Tai
Chi Chuan com o
Mestre Yang Jun
Ribeirão Preto, SP
De 11 à 16 de novembro de
2011 no SESC Pinheiros em São
Paulo, SP. Mestre Yang Jun mais
uma vez prestigia o Brasil na transmissão do Tai Chi Chuan da Família
Yang. Excelente oportunidade para
receber ensinamentos diretos de um
mestre de uma tradição viva. Um
grande grupo será formado para ir
de Ribeirão Preto para São Paulo
para aprender com o mestre. Veja
todas as informações sobre este seminário no site: www.taichichuan.
com.br
-------------------------
Senda - 20 anos
Curitiba, PR
A Senda - Escola de KungFu, Tai-Chi e Chi Kung está com-
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
17
RTCB Notas III
pletando vinte anos. A caligrafia
foi produzida especialmente para a
celebração. Todos os praticantes de
KF e TCC estão convidados a festejar conosco. Informações: www.
shaolincuritiba.com.br
ano que vem já está marcado para
os dias 7, 8, 9 e 10 de setembro,
com o ganho de mais um dia, totalizando 20 horas de seminário. “Tai
Chi Chuan BhMg” é uma escola de
Tai Chi Chuan tradicional da família Dong - www.taichichuanbhmg.
com.br - Contato: taichichuanbh@
gmail.com. Também leia um pouco mais sobre o Mestre Alex Dong
em entrevista concedida a Revista
Tai Chi Brasil (www.RevistaTaiChiBrasil.com.br), edição nº 6.
Associação de Tai Chi
Chuan (AIPT) presta
homenagem
ao Vereador Mário
Celso Cunha
-------------------------------------------------
Mestre Alex Dong
no Brasil
Belo Horizonte, MG
O evento se realizou nos
dias 3, 4 e 5 de setembro em Belo
Horizonte, MG, no clube da AABB
(Associação Atlética do Banco do
Brasil) de Belo Horizonte, com o
apoio daquela entidade. Foi um sucesso com participação de praticantes de Porto Alegre e de São Paulo.
A boa notícia é que inclusive o do
18
Instructorado superior
en Yang Tai Chi Chuan
y Qi Gong
Curitiba, PR
Argentina
Modalidad intensiva semipresencial. Todo lo referido a la
técnica, terapéutica y teoría de estas fascinantes disciplinas chinas.
18 módulos de completa formación. Cierre de Inscripción a valores
promocionales, 5 de octubre. Se requiere inscribirse previamente. Av
Córdoba 1819 esq Callao, CABA
- www.centrolikan.com.ar.
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No dia 11 de agosto, a Associação Internacional de Praticantes
de Tai Chi Chuan (AIPT) conferiu
- representada por sua presidente
Elli Nowaztki - uma certificação
de homenagem ao vereador de
Curitiba Mário Celso Cunha, com
Votos de Congratulações e Louvor
pelo bom trabalho que vem realizando na promoção do bem estar
e melhoria da qualidade de vida na
comunidade curitibana, especialmente com o seu incentivo e apoio
ao reconhecimento do “Dia Mundial do Tai Chi Chuan” na capital
do Paraná. AIPT: www.aipt.org.br
RTCB Notas IV
Tai Chi Chuan
Uma Via Para o Tao
Brasília, DF
O IFTB - Instituto de
Formação em Taijiquan de Brasília
convida seus alunos e professores
para o lançamento do Documentário
“Tai Chi Chuan : uma via para
o Tao”. O IFTB participou das
gravações das imagens e é um dos
apoiadores desta iniciativa, tão
importante para a divulgação e
promoção da prática do Taijiquan
e sua filosofia. O Documentário
é fruto de uma ação conjunta da
Secretaria de Cultura do Distrito
Federal, através do Museu Nacional
do Conjunto Cultural de Brasília,
com a Associação Being Tao e seus
parceiros, em comemoração aos
37 anos da prática do Taijiquan na
Praça da Harmonia Universal, em
Brasília. Data: 06/10 [quinta] - 20h.
Local: Museu Nacional do Conjunto
Cultural de Brasília. Entrada Franca.
Informações: [email protected]
-------------------------
3º Torneio de Tai Chi
Curitiba, PR
O Instituto Fu Hok de
Cultura Marcial Chinesa em parceria com a AIPT - Associação Internacional de Praticantes de Tai Chi
Chuan, realizou o III Torneio de
Confraternização entre Praticantes
de Tai Chi Chuan. O evento, que foi
prestigiado pelas principais escolas
de Tai Chi Chuan de Curitiba,
ocorreu dia 25 de setembro, na
Praça Oswaldo Cruz.
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19
“Wude” - Código de Ética e Moral
Por Roque Severino
(Continuação)
No artigo anterior apresentei a forma de como nós devemos apresentar e
olhar a figura do Mestre. A partir deste artigo então lhes apresento as diretrizes que
se apresentam aos estudantes e instrutores não só de Tai Chi Chuan e sim de todas
as artes marciais. E meu desejo que possam aproveitar estes ensinamentos.
1 - SEJA HONESTO E MANTENHA
SUAS PROMESSAS
Quando falamos sobre o Tao do Tai Chi Chuan,
falamos principalmente sobre as práticas de:
1 - Escutar os ensinamentos.
2 - Contemplar o significado daquilo que
ouvimos e
3 - meditar sobre o significado daquilo que
entendemos.
Usamos essa forma de ouvir, contemplar e
meditar para trazer o ensinamento à nossa experiência
de vida , desta forma estas três atividades são da maior
importância.
que é aprender já torna-se humilde e um verdadeiro
colaborador de seu professor na arte de ensinar aos seus
colegas principiantes. Este é o aluno que é difícil de
encontrar. Hoje em dia, encontramos muitos que, apenas
conhecendo um pouco a forma de Tai Chi, já se autodenominam mestres, obrigando seus alunos a serem
chamados de mestres. O verdadeiro Mestre não obriga
ninguém a chamá-lo assim, simplesmente o aluno por si
só sabe que ele está na presença de um mestre.
Não esqueçamos que o verdadeiro poder
da prática do Tai Chi Chuan consiste em sermos
capazes de domar nossa própria mente.
“Não esqueçamos
que o verdadeiro
poder da prática do
Tai Chi Chuan
consiste em sermos
capazes de
domar nossa
própria mente.”
Escutar os ensinamentos quer
dizer escutar com o coração e não
com a mente discursiva. Dentro deste
contexto nós podemos encontrar três
tipos de alunos que se assemelham a
três copos:
a - O primeiro tipo de aluno é
como um copo que está de boca para
cima, porém está rachado, aos poucos
esquece todo o ensinamento oferecido
pelo seu professor.
b - O segundo tipo de aluno é como um copo
que está de boca para cima, porém tem veneno dentro,
tudo o que ele escuta o reinterpreta de acordo com a sua
conveniência pessoal, adulterando e comprometendo
os ensinamentos originais. Mistura suas interpretações
próprias sem sequer se dar o trabalho de conferir se sua
abordagem é correta ou não.
c - O terceiro tipo de aluno é aquele que todos
nos devemos tentar ser, ou seja aquele que escuta com
o seu coração, treina em silêncio e quando encontra
uma dificuldade imediatamente pergunta ao seu
mestre. Ele, ao mesmo tempo, ao comprovar o difícil
20
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
Se tudo o que fizermos for treinar
mecanicamente as posturas, ou treinar
de tempos em tempos, isso pode ser
benéfico, mas não será o suficiente
para domar nossas mentes e atingir
uma realização maior.
Em vez disso, para domar nossas
mentes, necessitamos nos observar e
compreender o porque – por exemplo
– não conseguimos assimilar um
ensinamento em especial quando o
mesmo implica em relaxar e realizar
um movimento circular.
Assim, o fator primário para termos sucesso em
domar nossas mentes está atrelado a treinar corretamente
as posturas fixas, ser capazes de realmente escutar as
indicações de nosso professor, e depois tentar seguir
aos outros seja no treino da forma ou no treino a dois
(tue shou).
Em especial, no treino a dois, encontramos
muitas dificuldades, sejam elas externas (no aprendizado
da técnica) e internas (no tocante ao relacionamentos
com os nossos colegas), estas dificuldades nos mostram
o que deve ser trabalhado e transformado.
Neste momento, o treino do Tai Chi Chuan
adquire praticamente o estágio da Meditação em
Movimento, entendendo a palavra Meditação como
um sistema que nos leva a prestar atenção aos nossos
estados mentais, por este motivo antigamente o Tai Chi
Chuan era conhecido como o treino do “Zen em pe”.
Também o aluno deve encontrar a real
motivação ao treinar o Tai Chi Chuan, ou seja, a razão
fundamental do seu treino.
Aqui é que torna-se necessária a verdadeira
honestidade, seja para com a arte, seja para com o nosso
Mestre e amigos de treino.
Meu primeiro mestre, no ano de 1973, o Sr. Ma
Tsun Kuen, sempre nos falava, “se você me pede bala
eu lhe darei bala”. Isto ele respondeu a um aluno que
lhe perguntou porque ele falava de que o Tai Chi Chuan
outorgava poder as pessoas.
Ele respondeu que as pessoas queriam aprender
Tai Chi Chuan para ter poder pessoal. Não quer dizer
que ele gostava disso, isso era o que seus alunos
queriam. Então a honestidade tanto do professor como
do aluno é profundamente importante.
O aluno deve falar para o seu professor o porque
quer treinar Tai Chi Chuan e o que espera conseguir com
dito treino, e o professor deve ser capaz de falar para seu
aluno se ele tem ou não capacidade de ajudá-lo nesse
caminhar. Hoje em dia, muitas vezes encontramos que
tanto o aluno como o professor não tem suas intenções
claras e definidas.
Lembremos que a mais alta meta em treinar
Tai Chi não é querer matar nem ferir alguém e sim
é convencer o inimigo a ser nosso amigo, isto não é
um subterfúgio para vencer o mesmo, é o sincero
sentimento de que não há necessidade nenhuma de
que sejamos inimigos de alguém.
Também esta meta, dentro do treino específico
do Tai Chi Chuan, surge do coração compassivo que
olha as emoções aflitivas e o sofrimento que as mesmas
causam aos seres, então o verdadeiro praticante de
Tai Chi Chuan se compromete a não ser ele a fonte
de sofrimento e sim assume o compromisso de ajudar
aos outros a encontrarem uma saída aos seus próprios
sofrimentos.
Nunca um bom praticante acusa aos outros, ele
simplesmente ajuda aos outros.
O Sr. Buda nos fala:
“Quando nos relacionamos com os seres,
devemos pensar em três coisas fundamentais. Vou ser
causa de sofrimento?
continua na próxima página...
www.RevistaTaiChiBrasil.com.br
21
Se sim, então devemos ponderar.
a - Sobre o nosso próprio sofrimento,
b - sobre o sofrimento causado ao outro e
c - sobre o sofrimento aumentado e compartilhado
que surge desse relacionamento “
Para isto é necessário uma profunda honestidade.
Ser honesto consigo mesmo, ser severo consigo mesmo
e compassivo com os demais.
Como diz Sua Santidade o XVII Karmapa
Orgyen Trinle Dorje:
“Se você pudesse apenas desistir de pensar
sobre o que você pode fazer para se tornar famoso ou
para conseguir engrandecer seu nome e, em vez disso,
se dedicar à felicidade em vidas futuras e, não apenas
isso, à atingir a budeidade - se você fizesse isso, então
isto seria uma prática genuína do caminho espiritual”
“ Não sendo assim, simplesmente sentar dizendo que
está meditando, ou simplesmente passar os olhos em
um livro espiritual de nada vai lhe servir.”
O mesmo se aplica ao Tai Chi Chuan, treinar
para o dia de amanhã poder ter cinco relações sexuais
por semana será como perder toda uma fortuna
acumulada numa vida inteira, num dia de corridas de
cavalo. Uma perda inestimável.
Diz S.Santidade: “O ponto principal é que,
se queremos ser praticantes espirituais verdadeiros,
precisamos nos tornar praticantes independentes,
pessoas que realmente sabem como praticar aprendendo
a ser totalmente diretos e honestos com nós mesmos.
Poderíamos pensar que vamos poder estar sempre
sentados em frente a nosso mestre e praticar o dharma
sempre recebendo conselhos dele ou dela sobre o que
devemos ou não fazer. Mas se sempre necessitarmos
de orientação, nem sempre vamos ter próximo a nós
alguém que nos possa dá-la”.
”Sendo assim, temos que aprender a prestar
atenção ao que está acontecendo em nossas mentes e
identificar quais são os nossos defeitos, quais são nossas
qualidades, e de que maneira se distingue defeitos de
qualidades. Em vez de olharmos continuamente para
algo que está fora de nós, temos que desenvolver a
capacidade de prestar atenção de maneira cuidadosa e
perspicaz àquilo que está acontecendo dentro de nós, de
maneira que possamos nos tornar capazes, praticantes
espirituais autônomos”.
Reflitamos sobre isto!
22
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2 - SEJA VIRTUOSO E JUSTO
Um místico do Sec.VII – Guru Rimpoche
- falou: “Ser virtuoso não apenas significa vestir
mantos amarelos; significa temer o amadurecimento
do karma”.
No tocante ao treino do Tai Chi Chuan, o
treino da virtude está intimamente ligado ao caminho
dos instrutores qualificados. Muitas vezes os mesmos
possuem técnicas que lhes possibilitam se sobressair
sobre os seus alunos ou outros instrutores menores.
Este momento é muito perigoso, porque a arrogância
venenosa de se sentir “superior” ou o “único
conhecedor da verdade” torna o instrutor em questão
um manipulador dos fracos. A partir deste momento
é que este pretenso instrutor passa a demonstrar um
caráter grosseiro, violento e imoral.
Tivemos um caso aqui em São Paulo em
1990, quando tive de ir comprar uma passagem de
avião, numa companhia de turismo, o atendente, ao
me perguntar qual era minha profissão, lhe respondi
que era instrutor de Tai Chi Chuan e ele passou a me
agredir verbalmente. Quando lhe perguntei o que tinha
acontecido, me respondeu que tinha sido aluno de um
instrutor de Tai Chi Chuan que tinha golpeado ele
utilizando-se das técnicas do Tai Chi.
A partir deste incidente, ele começou uma
campanha de esclarecer ao seu público o quanto era
ruim treinar o Tai Chi Chuan. Vale dizer que nunca se
recuperou deste incidente.
Os mantos amarelos são, no Oriente, símbolo
das pessoas instruídas e em especial dos eruditos
Budistas e Confucionistas, muitos deles falam
constantemente da lei da ação e da reação (karma)
porém, ao olharmos seu comportamento mais de
perto, percebemos que eles não acreditam naquilo
que ensinam aos seus alunos, já que infringem
constantemente esta lei de retribuição.
Ao ensinar Tai Chi Chuan aos nossos amigos,
nos apresentamos aos mesmos ou como eruditos, ou
como mestres de técnica, ao mesmo tempo nos tornamos
confidentes, amigos íntimos, um pouco psicólogos, um
pouco padres. Os alunos muitas vezes depositam em
nossas mãos as suas frustrações, sonhos e fantasias.
Se não pudermos suportar, ainda que seja
minimamente, este fardo, então não seja um instrutor
de Tai Chi Chuan, seja simplesmente um aluno.
Para se tornar um verdadeiro professor de
Tai Chi Chuan o mesmo deve aceitar o compromisso
interno de ser Virtuosos no início, no meio e no fim de
sua vida. Tem um pequeno poema que nos incentiva a
trilhar este caminho que nos fala:
“Tendo abandonado completamente
os quatro tipos de preguiça,
Que me impedem de obter virtudes
não ainda atingidas
E de melhorar ainda mais
aquelas que já tenho,
Possa eu desempenhar um esforço
jubiloso nas práticas virtuosas.”
Prestem atenção que aqui falam “quatro
preguiças” e quais são?
A primeira é a pura falta de vontade de se
fazer qualquer coisa.
A segunda é quando sempre deixamos para
amanhã o que deveríamos fazer hoje.
A terceira é a pior de todas, que e somente
realizar coisas negativas, desprezar aquele que faz
coisas positivas e induzir os outros a fazer o negativo
em detrimento do positivo. Isso é realmente uma forma
muito ativa de preguiça e muito disseminada na nossa
sociedade moderna. Fazemos qualquer coisa para
incrementar nosso estilo de vida com carros, aviões,
celulares, computadores , etc..., e nunca encontramos
tempo para treinar. No entanto, sempre encontramos
tempo para fazer fofocas inúteis, jogar, bater papo, ver
televisão, ler jornal, ir a bares e discotecas e ficar até
muito tarde da noite. Em outras palavras, para fazer
todas aquelas coisas mundanas que em última análise
em nada colaboram com o nosso desenvolvimento
interno nem no nosso crescimento espiritual.
O quarto tipo de preguiça é quando dizemos:
“Ah! não sou capaz de fazer isso” ou ainda “esse
trabalho é muito difícil para mim”. Esse tipo de
preguiça cria bloqueios na nossa mente e nos torna
pessoas passivas, aumentando assim a percepção
de nossas fraquezas, o que nos leva diretamente ao
fracasso e a termos raiva daquele que consegue alguma
coisa de positiva.
Também nos fala do “Esforço Jubiloso”, ou
seja, o Entusiasmo, que é o antídoto para a apatia e a
continua na próxima página...
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23
preguiça. O verdadeiro
entusiasmo surge de
termos uma real comunicação com a fonte
da nutrição espiritual.
Não adianta falar do
espírito e dos mestres,
olhar filmes de kung fu
e Tai Chi, sonhar com
um relacionamento de
mestre e discípulo se
não somos capazes de
estar ao lado de um.
Professor Roque Severino
Na
próxima
com o Mestre Yang Zhenduo
edição estarei apresentando mais dois itens do Wu De, ou o Código de Ética
do Tai Chi Chuan, espero que estas palavras sejam
de inspiração para todos os praticantes e instrutores
desta arte maravilhosa. Todo o material relacionado ao
Wu De, me foi pedido pelo Mestre Yang Jun, Quinto
Patriarca da Família Yang de Tai Chi Chuan, para formar
parte do código de ética dos alunos e professores do
Ocidente.
Aproveitem!
Que tudo seja auspicioso!
Prof. Roque Severino
Diretor Fundador
Sociedade Brasileira
de Tai Chi Chuan
SBTCC
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Aniversário do
Espaço Bem-Estar
Setembro, além de ter sido comemorado
o aniversário de Ganesh - um dos deuses
mais queridos e populares do hinduísmo,
o deus da sorte e da prosperidade, foi
também o aniversário do Espaço Bem-Estar.
Parabéns a todos pela amizade,
conversas, aprendizado e o convívio
agradável das aulas e encontros.
24
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O tempo das coisas
Por Anderson Rosa (Fr. Goya)
O Tai Chi Chuan é uma prática corporal que
se estende não somente pelo corpo, mas também pela
mente e pelo espírito. As pessoas começam sua prática
por diversas razões, que nem sempre são as mesmas.
Alguns apenas para se movimentar, outros para um
exercício leve (doce ilusão...), outros pelo alongamento,
outros por ser considerado um exercício exótico, outros
por desenvolvimento pessoal, outros para acalmar a
mente e outros motivos mais que podem ser elencados
numa longa lista.
A primeira coisa que se percebe da primeira vez
que você começa a praticar o Tai Chi Chuan é que você
não tem a menor noção de como seu corpo funciona e
que ele insiste em lhe desobedecer. No meu caso, eu
tive a nítida sensação de que meu corpo havia brigado
com o resto do meu ser e simplesmente fazia o que
ele bem entendia. Devo dizer que na minha cabeça o
movimento estava perfeito. Movimentos arredondados,
suavidade, transições perfeitas. Olhando no espelho...
parecia um boneco de posto no olho do furacão. Nas
primeiras aulas a frustração era enorme. Mesmo depois
que consegui reproduzir de forma babuínica os 18
movimentos do estilo Chen ainda assim a imagem do
boneco de posto me assombrava (assombra?).
E da mesma forma que a maioria das pessoas,
depois de aprender os 18 movimentos, queria aprender
mais: Lao Jia Yi Lu (a forma longa do estilo Chen),
espada, sabre e mais o que viesse pela frente. Mas
o problema todo é que o boneco de posto estava lá,
sobrevivendo às minhas custas. Rezei, meditei, fiz
alongamento, aumentei a intensidade, e...
Nada.
Absolutamente nada. Pelo menos da forma que
eu entendia como nada. Nenhuma mudança radical,
nada maravilhoso, nenhum super alongamento. Eu
queria todos os benefícios prometidos na divulgação
sobre as maravilhas do Tai Chi Chuan, mas que para
mim eram tão distantes como ir à Lua. E queria rápido,
muito rápido.
Mas daí, uma coisa interessante aconteceu.
Teve um dia no qual eu estava muito cansado
e com o corpo dolorido por práticas do dia anterior,
então resolvi pegar um pouco mais “leve” e não fui até
o meu limite. Na verdade, meu professor já havia me
orientado a esse respeito, mas como muitos, ignorei
sua sabedoria, substituindo-a pela minha teimosia.
Alguns podem dizer que o que veio depois disso é uma
obviedade, mas não é bem assim. Curiosamente, eu me
senti melhor com essa prática um pouco mais leve e,
no dia seguinte, consegui ir um pouco mais adiante no
esforço. E depois de alguns dias consegui ir mais adiante
ainda. E com isso, semana após semana, os resultados
começaram a aparecer. O que houve de diferente que
não vinha acontecendo até então?
Depois de atingido o objetivo é mais fácil
explicar. O processo é relativamente simples, basta
entender o próprio conceito por trás do Tai Chi Chuan.
Quando dizemos “leve” não estamos nos referindo a
frouxidão. Fazer de forma frouxa é perder a conexão
que existe entre o superior e inferior, o lado esquerdo e
o lado direito.
Por exemplo: fazer um exercício de forma mais
leve não quer dizer sem esforço. Simplesmente quer
dizer “não forçar até o limite máximo”. Para explicar de
forma didática, convém utilizar a imagem da suspensão
de um carro. Digamos que a carga máxima que o portamalas de determinado veículo pode carregar é de 250
quilos. Este valor se refere à carga “máxima” e não a
carga diária que o veículo transportará. Se você utiliza
o veículo com um mínimo de carga, a suspensão irá
durar bastante tempo. Se você diariamente carregar a
carga máxima, em pouquíssimo tempo a suspensão irá
se danificar. E o mesmo raciocínio serve para o corpo.
Se você sobrecarrega o corpo constantemente, ele em
breve ficará doente. Mas se ao invés disso, você utilizar
o bom-senso e a leveza, seu corpo será capaz de ir muito
mais longe.
Diante dessa percepção em especial fui capaz
de deduzir que ao mesmo tempo em que aumenta
a intensidade dos exercícios, deve-se deixar uma
margem de segurança, ou uma margem de crescimento.
O que isso quer dizer? Se você constantemente está no
limite, então não haverá espaço para o crescimento e
o desenvolvimento. É importante entender que não se
deve forçar os limites, mas sim ampliar os limites. Se
você deixa um espaço para o crescimento, naturalmente
os limites se expandem. Dito de uma forma budista: se
esticar demais a corda, ela arrebenta, se deixar frouxa
demais, ela não toca. É preciso afinar o instrumento,
que é o nosso corpo.
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No Tao Te Ching, no cap. 11 diz:
“Trinta raios convergem ao vazio do centro da roda:
Através dessa não-existência
Existe a utilidade do veículo” (...) [1]
Segundo Mestre Wu “É preciso existir um
espaço no interior e no exterior da manifestação para
que ela possa se expressar e interagir com o mundo.
(...)A primeira estrofe do poema remete às carroças que
existiam na China, há três mil anos. Suas rodas eram
construídas com madeira e cordas, onde um círculo
pequeno é circundado por um círculo maior e os dois se
unem através de raios de madeira que convergem para
o centro, dispostos de forma equidistante, e presos com
cordas aos dois círculos. Entre os dois, e em volta de
cada raio existe um espaço vazio que torna leve o peso
da roda; circundando a roda existe um espaço vazio,
a própria estrada, pelo qual avança, enquanto se
movimenta; e no centro da roda, no interior do círculo
menor, existe um espaço vazio por onde passa o eixo
que liga a roda ao corpo da carroça e onde a roda
se apoia, para girar. Esta é a utilidade destes vazios,
ou não-existências, referidos ao valor ou à existência
da roda: permitir o movimento da carroça. Se não
existisse o vazio no centro da roda, ela não poderia
unir-se à carroça, então seria um objeto sem utilidade
[2]; (…) se não existisse um espaço vazio em torno da
roda, a carroça não teria utilidade porque não poderia
movimentar-se pelo mundo [3]”.
Durante a prática, durante a alternância constante
entre cheio e vazio, superior e inferior por exemplo,
existe um breve momento em que o Tao se manifesta
no praticante. Manifestar ou cultivar o Qi (energia) no
corpo é algo que só irá acontecer se houver um espaço
(o vazio) ali (no corpo). Ou seja: se você faz sua prática
sempre no limite da sua capacidade, não apenas você
limita o seu aprendizado, como evita que o o Qi se
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manifeste no corpo. Como ele irá se manifestar se não
houver um espaço onde isso possa ser feito?
Enquanto não soubermos alternar o cheio e o
vazio, praticar com leveza, nosso corpo irá se ressentir
com dores inesperadas, falta de avanço na qualidade da
prática e incapacidade de cultivar a energia de modo
correto. Sozinhos, é muito difícil ter esta percepção. Por
isso é um aprendizado. Para evitar a confusão, o melhor
é sempre contar com um professor bem preparado, que
com certeza irá orientar a melhor forma de resolver
essas e outras situações que possam surgir durante seu
aprendizado da forma.
Ser bem orientado é um dos passos mais
importantes para o aprendizado. Além disso, saber
respeitar as orientações do seu professor e tentar
perceber o próprio corpo durante o movimento, trará
resultados práticos mais confiáveis e seguros.
Dito isso, creio que só resta me despedir e
esperar que todos encontrem alguma utilidade para
essas percepções que trouxe do meu aprendizado
pessoal.
[1]. Cherng, Wu Jyh, TAO TE CHING, Ed. Mauad X, 2011,
Rio de Janeiro, pág. 75.
[2]. Grifo do autor da matéria. (N.E.)
[3]. Idem, pp.: 75-77.
Prof. Anderson Rosa
Fr. Goya
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Tai Chi - Representações
No sentido de informar é
que achamos relevante observar
que o leitor da RTCB tenha
certeza de que as mensagens
aqui publicadas são sem edição
ou cortes para não denotar
favorecimento ou parcialidade.
O nosso objetivo é sincero e
sério em prol do Tai Chi, não
temos a pretensão de criar
qualquer tipo de incômodo, basta
ver como a ética e bom caráter
da linha editorial tem primado
pela excelência jornalística ao
longo da trajetória de 13 edições
da RTCB. Desta forma é que nós
trabalhamos - com seriedade,
respeito e coerência.
--------------------------Sobre as representações do
Estilo Yang Tradicional da
Família em São Paulo
Por Angela Soci: “A
Sociedade Brasileira de Tai Chi
Chuan, comunica que seu quadro
de instrutores credenciados está
em constante atualização devido
ao sistema de “renovação anual
mediante avaliações técnicas e
teóricas realizadas pelos instrutores
junto a diretoria da entidade”.
Provas de rankeamento, e provas
de revalidação de Certificados são
feitas anualmente para garantir a
qualidade das instruções oferecidas.
Assim a lista anual de Instrutores
Credenciados está em constante
modificação. Portanto, para ter
conhecimento dos instrutores
credenciados e avalizados pela
SBTCC, entre em contato direto
com a diretora Profª Angela Soci
através do email: angelasoci@
sbtcc.org.br”.
---------------------------
Sobre as representações do
Tai Chi Pai Lin no Brasil
Por Tarcísio Tatit Sapienza:
“Tai Chi Pai Lin é mais que um
estilo de Tai Chi Chuan. É o nome
do conjunto de práticas de origem
taoísta introduzidas no Brasil pelo
Mestre Liu Pai Lin. É um aprendizado
que integra medicina tradicional
chinesa, filosofia taoísta, meditação
Tao In, movimentos suaves de Chi
Kung e as artes marciais interiores
Tai Chi Chuan e Ba Gua Zhang.
Mestre Liu Pai Lin ofereceu esta
formação a alunos e discípulos em
cursos realizados em seu instituto
em São Paulo, em seminários em
São Roque, em cursos promovidos
pela UNIPAZ em diversas capitais
do Brasil, e também na Argentina
e no México. No blog Aprender Tai
Chi (http://aprendertaichi.blogspot.
com) há uma lista atualizada de
locais de aprendizado mantidos por
esta comunidade. Os praticantes
dedicados a divulgar o Tai Chi
Pai Lin são individualmente
responsáveis pela fidelidade à
transmissão. Com a passagem do
Mestre Pai Lin no ano 2000, seu
filho Mestre Liu Chih Ming assumiu
a missão de dar continuidade à
divulgação das práticas taoístas da
linhagem no Brasil. Para garantir
a qualidade da transmissão destas
artes realiza provas práticas e
teóricas de qualificação em: Tai Chi
Chuan Pai Lin, Ba Gua Zhang, Tai
Chi Espada, Ba Gua Espada e Chi
Kung Taoísta. Informações sobre
a avaliação anual de certificação
podem ser obtidas no CEMETRAC
(Centro de Estudos de Medicina
Tradicional e Cultura Chinesa),
em: http://www.cemetrac.com.br”.
SESC Água Verde
Curitiba - Paraná
3 TURMAS
Às 2ªs, 4ªs e 6ªs:
das 08h às 09h
Às 3ªs e 5ªs:
das 18h20 às 19h20
Às 5ªs: das 16h30 às 18h
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Chen Xiao Wang
Convivência e aprendizado com o
Guardião do Taijiquan da família Chen
Por Estevam Ribeiro
Atual “Gate Keeper” da 19ª geração do clã dos
Chen, de Chenjiagou, Hennan, China e, portanto, de
família tradicional de artistas marciais, cujo ancestral,
Chen Wang Ting, fora o criador da arte do Taijiquan.
Chen Xiao Wang é considerado patrimônio vivo
pelo governo chinês.
Este artigo propõe um relato parcial do encontro
e da convivência que tive, nos últimos 15 anos, com
este grande Mestre.
O primeiro contato
O meu primeiro contato com o Mestre Chen
Xiao Wang foi em Abril de 1995, em seu workshop
anual em Amsterdam.
Mestre Chen estava hospedado na casa de um
amigo e professor de Taiji, Oscar Muñoz. Oscar era na
época o organizador e representante do Mestre Chen
Xiao Wang na Holanda.
Conheci Oscar um ano antes, praticando no
Wondelpark em Amsterdam. Esta cidade fazia parte de
minha rota regular enquanto comissário de bordo da
Varig, profissão que eu exercia na época.
Minha impressão ao ver o Mestre Chen
Oscar Muñoz, Chen Xiaowang, Estevam Ribeiro
Amsterdam 1995
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Xiao Wang pela primeira vez era a de estar diante
de um homem forte e compacto como um urso; e
desconcertantemente silencioso.
Lembro de tê-lo encontrado no apartamento
de Oscar e andarmos juntos até o local do workshop,
uns dois quarteirões, num silencio absoluto, sem que
nada desnecessário fosse dito. O workshop era sobre
energia espiral, CHAN SI GONG. Eu já tinha tido um
contato muito bom com esta arte através do mestre
George Xu, em S. Francisco, três anos antes. Chan Si
Gong (energia espiral) era um assunto sobre o qual eu
já vinha pesquisando a algum tempo em outras artes,
como Bagua Zhang e Mulan Quan. Mas é o estilo Chen
de Taijiquan que trabalha este Qi Gong da maneira
mais eficaz. No entanto, a forma com que o Mestre
Chen Xiao Wang abordou o assunto era muito mais
simples e profunda. Os exercícios, em menor número
e de execução aparentemente mais simples, foram se
revelando ao longo do workshope, a partir de então, a
própria essência da arte do Taijiquan.
No dia seguinte, eu tinha aula particular
agendada com o mestre. Eu podia escolher a matéria,
então escolhi a forma de competição do estilo Chen
de 56 posturas. Mestre Chen pediu que eu mostrasse a
forma toda, o que eu fiz com aquela nítida sensação de
estar sendo observado por várias gerações de mestres
encarnados ali.
Mestre Chen, sem mudar a expressão do rosto,
disse: not bad..., you can improve... Depois começou
as correções. Nos próximos 45 minutos não passamos
da 3a postura... Era tanta informação que eu fiquei na
dúvida se conseguiria absorver tudo, a qual ele rebateu
dizendo: don’t worry, your body-mind will remember.
O que mais me impressionava era que Mestre
Chen Xiao Wang exalava uma força de concentração
excepcional.
Ele insiste sobre esse ponto com todo seu
trabalho. Não há uma vez em que ele, antes de começar
qualquer forma, não nos faça parar, fechar os olhos,
acalmar a mente e escutar atrás: “listen behind; calm
your mind.” Depois da 3ª postura ele mandou que eu
seguisse a forma e só me parou para fazer correções
demonstrativas.
Determinadas posturas da 56, justamente por
derivarem da Xin Jia, devem ser feitas conforme a
forma tradicional, que na verdade é mais elaborada
que a 56. Posturas como a Garça, Passo em diagonal
e Chicote são nitidamente simplificadas na 56. Na
metade da aula em diante, Mestre Chen fez questão de
demonstrar. A partir daquele momento não se tratava
mais de me corrigir, mas de demonstrar claramente
como estas posturas deveriam ser executadas para que
eu entendesse.
Desde então venho praticando a 56 com esta
interpretação e, apesar de ser ligeiramente diferente da
56 “oficial”, com este estilo de execução ganhei medalha
de ouro no Campeonato Brasileiro de Taijiquan estilo
Chen pela Confederação Brasileira de Wushu e Kung
Fu de 2003 em Goiânia e medalha de ouro na mesma
categoria no Campeonato Estadual Carioca de 2004.
No dia seguinte minha aula particular seria
sobre a forma combinada de 48 posturas.
Como o Oscar havia me dito, mestre Chen
aceita orientá-lo em qualquer estilo. Se você fosse, por
exemplo, como já havia acontecido antes, e também
aconteceu nesse seminário, um praticante de Karate
ou qualquer outra arte marcial, ele lhe dava orientação
demonstrando não só o taiji dentro das outras artes, mas
como usar o taiji para melhorar o nível de prática nessas
artes. A partir daí então, eu queria que ele analisasse o
meu estilo Yang.
Como a forma de 48 posturas tem 60% de
posturas do Yang, mas também de outros estilos,
inclusive o Chen, senti que seria uma maneira de ir mais
fundo nas possibilidades do Taiji, sem ficar limitado a
um estilo.
Mestre Chen pediu que eu executasse a forma e
diferentemente da maioria dos professores de Taiji, que
dizem para você esquecer tudo que já aprendeu antes,
ele me deixou fazer da minha maneira e foi me parando
a cada dois ou três movimentos, para me ajustar; ‘’fixing
the frame”, como ele disse, serviria para a terceira via
de aprendizado.
Segundo ele, nós aprendemos Taiji
principalmente de três maneiras.
A primeira é a visual. O professor faz, você olha,
e tenta fazer parecido. A maior parte das informações
no início do aprendizado são apreendidas dessa forma.
A segunda é auditiva. As explicações teóricas,
comparações, metáforas e a história , enfim toda a parte
mental é entendida dessa maneira.
A terceira é táctil. O professor, com as próprias
mãos, corrige e é aí que você sente o Qi . A sensação
energética se faz presente.
.
A única vez que eu havia experimentado este
método antes tinha sido com a mestra SHEN HAI MIN,
mesmo assim de vez em quando, pois os chineses têm
muita cerimônia no tocar os outros.
Mestre Chen não, a cada postura ele gastava
ao menos uns cinco minutos corrigindo, esperando que
a energia “settle down” se equalizasse.
Sem este tipo de correção, segundo ele, o
externo poderia até estar bom, mas o interno tomaria
muito mais tempo. Então, naqueles paradoxos típicos
do Taiji, ele gastava muito mais tempo em algumas
posturas “paradas”, para eu poder progredir mais
rápido!
Depois desta aula, que tínhamos feito num
pequeno parque a beira d’um canal, como tantos em
Amsterdam, voltamos caminhando em silêncio por uns
dois quarteirões, até que resolvi arriscar uma pergunta
mais pessoal: Qual era a forma mais importante no
estilo Chen. Ele então respondeu que, assim como
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29
todas as árvores dependem de suas raízes,
tudo que se conhece hoje em dia no estilo
Chen deriva da Laojia. Esta é então a
forma mais importante.
Ainda em 1995, em setembro, fui
escalado para meu terceiro baseamento
em Hong Kong.
Hong Kong nos anos 90 era como
um shopping de estilos de Taiji, Qi Gong,
Wushu, danças folclóricas etc. Em todos
os parques e em qualquer espaço a céu
aberto, todos os dias de manhã, você pode
ver um espetáculo Taiji.
Ali eu tinha meus primeiros
professores de estilo Chen e, quando nos
reencontramos, eles sabendo que eu tinha
estado com Chen Xiao Wang, estavam
curiosos em saber o quanto eu tinha me
aprofundado no estilo Chen. Quando
então mostrei aos meus amigos a minha
evolução no estilo Chen tradicional,
e especialmente na 56, fui motivo de curiosidade e
aprovação.
Foi quando eu percebi o efeito que o nome do
CHEN XIAO WANG causava no mundo do Taiji chinês,
de qualquer estilo, pois, entre meus amigos chineses de
Hong kong, há os que praticam outros estilos, como
WU, YANG, assim como aqueles que só praticam as
formas modernas, 24, 48, 42, e todos, sem exceção,
ficaram admirados de como um brasileiro, poderia ter
acesso a alguém como Chen Xiao Wang. É como se nós
conhecêssemos um estrangeiro amante de futebol que
tivesse tido a oportunidade de ter aulas com mestres
deste esporte/arte como o Pelé, ou o Zico.
Só voltei a encontrar o mestre de novo no ano
seguinte, em 1996, em Amsterdam.
Amsterdam 1996
Em 1996 o tema do seminário era espada Chen
e LAO JIA. Esta, com certeza, a forma preferida do
mestre, pelo que pude constatar.
Quando eu comecei a estudar o estilo Chen em
Hong Kong, três anos antes, a minha maior dificuldade
não eram as posturas baixas, nem os saltos, nem as
emissões de energia. Meu maior desafio era conseguir
o efeito que eu só conseguia sentir no estilo Yang. O
de sentir-me ao mesmo tempo energizado e relaxado.
Depois de três anos de prática na XIN JIA ainda sentia
que estava gastando mais energia do que o necessário.
30
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Ao entrar em contato pela primeira vez com a LAO
JIA descobri porque os mestres de Chenjiagou insistem
que comecemos o aprendizado por ela. É realmente
a matriz de todos os estilos de Taiji que conhecemos.
Embora menos chamativa que a XIN JIA, o seu trabalho
energético é mais profundo, gerando os benefícios que
tornaram o Taiji tão popular, a soma de um exercício que
é ao mesmo tempo relaxante e energético.
Na Espada Chen fomos guiados no
detalhamento e pude então perceber a riqueza desta
forma, emocionante e precisa.
Nas aulas particulares escolhi o Sabre Chen.
Primeiro, pela afinidade que tenho com o Sabre mais
do que com a Espada; segundo, porque o Sabre Chen
não tem semelhança com nenhum outro estilo e, sendo
explicitamente marcial, é ao mesmo tempo fácil e
direto. Na forma não há nenhuma postura que cause
dúvida sobre a sua aplicabilidade. É também um ótimo
exercício cardiovascular. Se comparado com as formas
de mãos, o seu ritmo se aproxima mais das Formas Pao
Chui (Xin Jia e Lao Jia).
Nos dias das aulas particulares fazia muito frio
e chovia, então tivemos de fazê-las no apartamento do
Oscar, para ser mais específico, no quarto onde o mestre
estava hospedado, que era pequeno.
Quando eu lhe perguntei se não estava muito apertado
para a forma do sabre, ele respondeu com a frase que
para mim resume a atitude deste mestre perante a vida:
“ANY PROBLEM, NO PROBLEM”. E começamos.
Mestre Chen mostrou cada postura em suas três
principais dimensões. Estática, em Zhan Zhuang, para
dar potência ao Qi. Depois a forma em movimento lento
para ajustar o fluxo do Qi e, por último, em velocidade
regular (rápido) para dar ritmo ao Qi.
Num quarto pequeno, a necessidade de precisão
para não derrubar ou quebrar nenhum dos objetos ou
móveis era um treino a mais. No terceiro dia chegamos ao
fim da forma. Para então exemplificar e ilustrar uma das
posturas, “Girar o corpo e cortar”, que envolve um salto
de 180 graus e ao mesmo tempo gira e corta com o sabre
num plano vertical, Mestre Chen começou a executá-la
numa aceleração crescente, com um acréscimo de Fa
Jin a cada aterrissagem. De repente eu estava num canto
do quarto me encolhendo, imaginando se por acidente
aquela hélice em que tinha se transformado o sabre me
atingisse, se meu seguro saúde de comissário de bordo
cobriria este tipo de incidente.
Desnecessário dizer que o sabre girou
com precisão e não tocou em nada. Meu espírito,
extremamente alerta, despertou.
No final do seminário, a nossa introdução à
LAO JIA não deixou a desejar. Começava naquele
Revista Tai Chi Brasil
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momento o contato com a “forma matriz” de todas as
outras formas de TaiJi que se conhece hoje em dia.
Estes primeiros contatos foram determinantes
para eu perceber que queria ser seu aluno, e que sua
didática era a que mais transmitia em toda a sua extensão
os princípios do Taijiquan.
A partir de então continuei a seguir o mestre
Chen em seus seminários em cidades para as quais eu
voava regularmente, Nova York, Londres, Miami e
Amsterdam.
Durante este seminário de Amsterdam, ainda
em 1996, fizemos o convite formal ao mestre para vir
dar o seminário no Brasil, o qual ele aceitou.
Começaria então o projeto de introduzir, pela
primeira vez no Brasil, o estilo Chen Tradicional.
Idealizado pelos Professores Estevam Ribeiro e Begoña
Javares, este projeto foi realizado, em outubro de 1998,
pelo Grupo Gesto Cotidiano, na cidade de Petrópolis,
RJ. Para deixar sólida esta introdução, o mestre Chen
concordou em realizar workshops no Brasil nos anos
seguintes, de 1998 a 2002, designando Estevam Ribeiro
e Begoña Javares representantes de sua associação no
Brasil (CXWTABR).
Mande pra nós...
. seu comentário
. sua foto / tai chi
. sua história tai chi
. sua sugestão
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Quem pode ensinar Tai Chi Chuan?
Entendimento jurídico aponta para livre atuação em Tai Chi Chuan,
independente de formação acadêmica.
O ensino e prática de Tai Chi Chuan, arte
marcial milenar de origem chinesa, que trabalha os
aspectos éticos, morais, sociais, espirituais e físicos
dos praticantes, não está vinculado a nenhum curso
acadêmico em particular, tais como “Educação
Física”, “Fisioterapia” e afins. Esse é o entendimento
do Projeto de Lei nº 7370/2002 – que desde 2007 está
arquivado na Câmara Federal – de autoria do então
deputado Luiz Antônio Fleury Filho, que acrescenta
Parágrafo Único ao art. 2º da Lei 9.696, de 1º de
setembro de 1998, dispondo que “não estão sujeitos à
fiscalização dos Conselhos previstos nesta Lei [tais
como Conselho Regional de Educação Física etc] os
profissionais de danças, artes marciais e ioga, seus
instrutores, professores e academias”.
O PL teve como relatora a deputada Alice Portugal
(PC do B/BA), que deu parecer favorável a indicação,
por entender que na Lei 9.696/1998 não houve claridade
quanto ao raio de atuação tanto do Conselho Federal de
Educação Física, quanto dos conselhos regionais no que
concerne a prática de dança, artes marciais, ioga (veja mais
detalhes abaixo).
Apesar do Projeto de Lei se encontrar arquivado,
sem previsão de entrar em pauta, alguns itens chamaram
a atenção, sobretudo o amplo entendimento jurídico de
que a arte marcial, como o Tai Chi Chuan e tantas outras,
não pode ficar sob a tutela de conselhos regulares, já que a
atividade transcende a mera “atividade física” em si, e se
configura como uma prática de valores que vão além de
um conhecimento acadêmico auto-regulado. Até enquanto
não houver um parecer conclusivo ao PL 7379/2002, o que
vale é o entendimento jurídico.
Para que não reste dúvida sobre a liberdade de
profissão para a prática de artes marciais como o Tai Chi
Chuan, enquanto a Lei não for clara a esse respeito – já
que a Lei 9696/98 não pode contemplar esta e outras áreas,
da forma que está – o que vale é o entendimento jurídico.
E, de acordo com os pareceres abaixo, o leitor poderá
perceber claramente que a Justiça entende que a prática de
Tai Chi Chuan vai muito além da simples atividade física.
Desta forma, os instrutores que fizerem um
curso de formação em instituições reconhecidamente
de valor ético/cultural, como a Sociedade Brasileira de
Tai Chi Chuan e Cultura Oriental – www.sbtcc.org.br –,
que representa para a América Latina o Estilo da Família
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Yang, estarão habilitados a ministrar aulas, dentro de
suas habilidades e especializações.
Projeto de Lei nº 7370/2002, de autoria do Deputado Luiz Antônio Fleury Filho, que acrescenta Parágrafo Único ao art. 2º da Lei 9.696, de 1º de setembro de
1998, dispondo que “não estão sujeitos à fiscalização
dos Conselhos previstos nesta Lei [tais como Conselho
Regional de Educação Física, etc, etc – destaque nosso]
os profissionais de danças, artes marciais e ioga, seus
instrutores, professores e academias”, foi remetido à
relatoria da deputada Alice Portugal, na Câmara Federal,
que além de ter acatado a observação, para que fosse proferido seu parecer. (Encontra-se arquivado desde 2007).
Apenas a lei poderá impor restrições a esta
liberdade [de profissão. Neste caso, como a lei 9696/98
não é clara quanto à atuação direta nas artes marciais, não
pode atuar neste setor – destaque nosso], conforme ensina
o eminente constitucionalista José Afonso da Silva, ao
comentar o dispositivo constitucional: Ora, quem pratica
dança, ioga, capoeira, método pilates, profissionalmente
ou por lazer, não objetiva um aumento de massa muscular,
da flexibilidade corporal ou da capacidade aeróbica. Na
dança, como na capoeira, a atividade física é apenas um
meio para o exercício de uma arte que, em muitos casos,
representa típica manifestação da cultura brasileira. A ioga,
por sua vez, é uma atividade que busca o equilíbrio mental
e corporal através de exercícios basicamente respiratórios
e de concentração. Assim, a exigência de diploma de curso
superior de Educação Física para professores de frevo,
capoeira, maracatu, catira, xaxado, conga, entre outras
típicas manifestações da cultura popular brasileira, viola os
referidos princípios constitucionais, desestimulando, ainda,
a prática dessas manifestações culturais que são geralmente
desenvolvidas de forma espontânea e informal.
De acordo com relatório da deputada federal
Alice Portugal, ao projeto de Lei nº 7370/2002, as artes
marciais (tai chi chuan, karatê, judô, tae-kwon-do,
kickboxing, jiu-jitsu, etc.), embora naturalmente envolvam
movimentação corporal, não são atividades próprias
do profissional de educação física. Antes de atividade
corporal, as artes marciais possuem ensinamentos teóricos
que consubstanciam, até mesmo, um modo do artista
marcial portar-se perante as mais diversas situações. Não
é por acaso a denominação utilizada de arte marcial. Este
tipo de artista não é um praticante de educação física, pois
assim como na dança e na ioga, não objetiva diretamente
um aprimoramento físico, mas a inserção em princípios
próprios de longa tradição.
Ainda de acordo com Alice Portugal, a proposta
das artes marciais, bem como da ioga, é oferecer
evolução espiritual e física, integração harmônica entre
corpo e mente, preocupando-se com a higidez mental
e psicológica. Cada arte marcial possui uma história
própria, cujos princípios norteadores foram sedimentados
ao longo dos anos. Assim, o professor de artes marciais
deve transmitir conhecimentos teóricos e padrões de
comportamentos, os quais não são oferecidos em um
curso superior de Educação Física.
A Procuradoria dos Direitos do Cidadão do
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
emitiu Recomendação Nº 5, de 2 de outubro de 2001,
na qual recomenda ao Conselho Regional de Educação
Física “que se abstenha, imediatamente, de realizar
os atos acima indicados ou quaisquer outros que
objetivem, direta ou indiretamente, exercer persuasão
ilegítima sobre as academias e professores de artes
marciais e dança, para que estes se inscrevam perante a
entidade, sob pena de responsabilidade civil e penal, na
forma da lei”.
Diz a recomendação:
“CONSIDERANDO que entre os direitos e
garantias fundamentais constitucionais encontra-se o de
livre exercício de qualquer trabalho ofício ou profissão
(artigo 5o, XIII, da Constituição Federal);
CONSIDERANDO que é dever do /estado garantir
a todos o pleno exercício dos direitos culturais, devendo
apoiar e incentivar a difusão das manifestações culturais
(artigo 215, da Constituição Federal);
CONSIDERANDO que a Lei 9.696/98,
disciplinadora do exercício da profissão de Educação
Física, não abrange, até porque incorreria em vício de
inconstitucionalidade, os professores de artes marciais e
de dança;
CONSIDERANDO que chegou ao conheci-mento
desta Procuradoria Distrital dos Direitos dos Cidadãos
que o Conselho Regional de Educação Física da 7a
Região (Distrito Federal) tem exercido pressão ilegítima,
consubstanciada em realização de “auto de orientação
e fiscalização”, perante diversas academias do Distrito
Federal (e de outros estados), para que estas exijam o
registro profissional dos respectivos professores de artes
marciais e de dança perante a entidade (Procedimento de
Investigação Preliminar no 08190.017324/01-17);
CONSIDERANDO que a Lei 9.696/98 não conferiu aos Conselhos Regionais de Educação Física qualquer
atribuição no sentido de orientar, fiscalizar ou multar academias e/ou professores de artes marciais e dança;
CONSIDERANDO que a atuação irregular do
Conselho de Educação Física da 7a Região tem ofendido,
indiretamente, interesses coletivos dos consumidores
regularmente matriculados em inúmeras academias do
Distrito Federal;
CONSIDERANDO que a postura do Conselho
de Educação Física da 7a Região macula a liberdade
profissional,
garantida
constitucionalmente,
dos
professores de artes marciais e de dança;
CONSIDERANDO que compete ao Ministério
Público a defesa dos interesses difusos, coletivos e
individuais homogêneos dos consumidores (art. 129,
III, da Constituição Federal e artigos 81 e 82 da Lei no
8.078/90);
CONSIDERANDO que incumbe a Procuradoria
Distrital dos Direitos do Cidadão a tutela irrestrita da
defesa dos direitos do cidadão; resolve:
A Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão
do Ministério Público do Distrito Federal, com fundamento
no artigo 129, III, da Constituição Federal e artigo 6º, XX,
da Lei Complementar Federal no 75/93, RECOMENDAR
ao Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região
que se abstenha imediatamente, de realizar os atos acima
indicados ou quaisquer outros que objetivem, direta
ou indiretamente, exercer persuasão ilegítima sobre as
academias e professores de artes marciais e dança, para
que estes se inscrevam perante a entidade, sob pena de
responsabilidade civil e penal, na forma da lei. Oficie-se
a todas academias estabelecidas no Distrito Federal para
que tenham ciência da presente recomendação, bem como
para que informem, pessoalmente ou por escrito, eventual
descumprimento do seu teor pelo Conselho Regional
de Educação Física da 7a Região.” No mesmo rumo, a
3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região
manteve a liminar, concedida pela 9ª Vara Federal do Rio
de Janeiro nos autos de uma ação civil pública iniciada
pelo Ministério Público Federal, que impede o Conselho
Regional de Educação Física da 1ª Região – CREF (atuante
no Rio e Espírito Santo) e seu Presidente de obrigar os
professores dos ramos de ioga, dança e artes marciais a se
inscreverem no conselho para poder dar aulas. A decisão,
dada em um agravo de instrumento (recurso utilizado
pelo CREF para tentar derrubar a liminar), também isenta
tais profissionais da obrigação de freqüentar um curso
de nivelamento promovido pelo CREF para se ajustarem
ao perfil do profissional de educação física e impede a
cobrança de anuidades relativas à filiação compulsória
que se faria. A relatora do agravo, Juíza Federal Valéria
Albuquerque, entendeu que “a ioga, a dança e as artes
marciais não são atividades próprias do setor de educação
física, pois têm características distintas de formação”.
Além disso, a magistrada destacou que essas áreas têm
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seus órgãos próprios de fiscalização e não podem se
submeter ao controle do CREF.
Também o Desembargador Federal Juiz Márcio
Moraes, da 19ª Vara da Justiça Federal de São Paulo,
julgando o processo nº 22003.61.00.016690-1, cujos autores
são a Federação Paulista de Aikido e a Confederação
Brasileira de Aikido, antecipou a tutela recursal e deferiu o
pedido de liminar, “determinando que o Conselho Regional
de Educação Física do Estado de São Paulo se abstenha de
exigir o registro da Federação Paulista de Aikido e do Instituto
Takemussu, bem como de seus dirigentes e filiados”.
Ainda no Estado de São Paulo, a juíza Luciana Alves
Henrique, da 18ª Vara Federal Cível, julgando ação civil
pública proposta pelo procurador da República Luiz Carlos dos
Santos Gonçalves, concedeu liminar que proíbe o Conselho
Regional de Educação Física (CREF) de São Paulo de exigir
a inscrição em seus quadros e a cobrança de anuidade dos
profissionais de dança, ioga, artes marciais e capoeira para que
eles possam exercer suas atividades. Também foi proibido ao
CREF cobrar valores e tomar medidas administrativas contra
academias que mantenham tais profissionais não inscritos em
seus quadros. Em sua sentença, a Magistrada afirma que “a
cobrança de anuidade e a exigência de inscrição no Conselho
Federal de Educação Física ferem os princípios de legalidade
e da liberdade de trabalho”.
A 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª
Região por sua vez, manteve liminar, concedida pela 9ª Vara
Federal/RJ nos autos de uma ação civil pública iniciada
pelo Ministério Público Federal, que impede o Conselho
Regional de Educação Física da 1ª Região – CREF (atuante
no Rio e Espírito Santo) e seu Presidente de obrigar os
professores dos ramos de ioga, dança e artes marciais a se
inscreverem no conselho para poder dar aulas. A decisão,
em agravo de instrumento, também isenta tais profissionais
da obrigação de freqüentar um curso de nivelamento
promovido pelo CREF para se ajustarem ao perfil do
profissional de educação física e impede a cobrança de
anuidades relativas à filiação compulsória que se faria.
A Juíza Federal Dra. Eliana Borges de Melo
Marcelo, da 3ª Vara Cível Federal de Campinas (SP),
examinando ação movida pelo Ministério Público Federal
contra o Conselho Regional de Educação Física do Estado
de São Paulo, deferiu pedido liminar, “determinando
ao CREF/SP que se abstenha de exigir registro dos
profissionais não graduados em Educação Física nos
termos da Resolução nº 046/02, bem como de fiscalizar
os estabelecimentos dedicados exclusivamente a estas
atividades (dança, capoeira, ioga e artes marciais)”.
No Estado do Paraná, a Juíza Graziela Soares,
da 1ª Vara Federal de Curitiba, julgando ação impetrada
pelo Ministério Público Federal contra o Conselho Regional de Educação Física do Estado do Paraná, deferiu
a liminar e “determinou ao CREF/PR que se abstenha de
exigir o registro e a inscrição dos profissionais não graduados em Educação Física, nos termos da Resolução do
CONFEF de nº 046/02”.
Outro exemplo de sentença proferida contra as
pretensões do CONFEF e de suas secções regionais se deu
na 6ª Vara Federal de Florianópolis, onde o Juiz Federal
Jurandir Borges Pinheiro, julgando Mandado de Segurança
impetrado por Rosemari Pacheco, “concedeu a Segurança
para o fim de determinar as autoridades coatoras (Conselho
Regional de Educação Física do Estado do Paraná) que se
abstenha de adotar quaisquer procedimentos destinados
à fiscalização, notificação e imposição de multas à
impetrante, assegurando-lhe o direito ao pleno exercício
de seu ministério como instrutora de ioga”.
Sociedade Brasileira de Tai Chi Chuan
SBTCC: www.sbtcc.org.br
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Apoio: Associação Internacional de Praticantes de
Tai Chi Chuan - AIPT (www.aipt.org.br), Revista Tai Chi
Brasil (www.RevistaTaiChiBrasil.com.br) e Grupo Tai Chi
Curitiba (www.TaiChiCuritiba.com.br)
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