Monografia lichtenstein – João Ettinger
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Monografia lichtenstein – João Ettinger
1 COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES JOÃO EDUARDO MARQUES TAVARES DE MENEZES ETTINGER SALVADOR 2006 COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES JOÃO EDUARDO MARQUES TAVARES DE MENEZES ETTINGER TÉCNICA DE LICHTENSTEIN SOB ANESTESIA LOCAL EM HERNIORRAFIAS INGUINAIS SALVADOR 2006 ii JOÃO EDUARDO MARQUES TAVARES DE MENEZES ETTINGER TÉCNICA DE LICHTENSTEIN SOB ANESTESIA LOCAL EM HERNIORRAFIAS INGUINAIS Monografia apresentada ao Colégio Brasileiro de Cirurgiões como um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de Membro Titular SALVADOR 2006 iii Dr. João Eduardo Marques Tavares de Menezes Ettinger • Professor Assistente de Clínica Cirúrgica da Escola Bahiana de Medicina – Salvador - BA • Preceptor da Residência de Cirurgia Geral do H. São Rafael – HSR. • Especialista em Cirurgia Geral - MEC • Título de Habilitação em Vídeo-Cirurgia – SOBRACIL • Título de Habilitação em Cirurgia do Trauma e Emergência (CBC) • Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva “TCBCD’’ • Titular da Sociedade Brasileira de Video-Cirurgia – SOBRACIL • Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica • Membro da American Hernia Society - AHS • Membro da International Federation for the Surgery of Obesity - IFSO • Adjunto do Colégio Brasileiro de Cirurgia – ACBC • Pós-graduação em Metodologia da Pesquisa – EBMSP-BA • Responsável p/ Setor de Cirurgia da Obesidade do Hospital São Rafael • Responsável p/ Centro de Tratamento e Pesquisa das Hérnias do Hospital São Rafael • Mestrando de Medicina Interna da EBMSP-BA • Especialização: Cirurgia Geral – Hospital Ana Neri – Salvador – BA (MEC) Cirurgia das hérnias: Lichtenstein Institute (Los Angeles – EUA) Hernia Center (Memphis – EUA) Shouldice Hospital (Thornhill – Canadá) Videocirurgia – Hospital São Rafael – BA Cir. Bariátrica – Instituto Garrido de Cirurgia da Obesidade – SP • Vice-delegado da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica – Bahia iv Dedico esta monografia à memória do meu pai, Alberto. À minha mãe Edilda. À minha esposa Patrícia. Ao meu avô Eduardo Tavares (In memoriam). v AGRADECIMENTOS Ao Dr. Parviz Amid, Diretor do Lichtenstein Hernia Institute, que em 1996 nos recebeu em sua clínica, onde tivemos a oportunidade de aprender todos os detalhes da técnica de Lichtenstein. Ao Dr. Edvaldo Fahel, Chefe da Equipe de Cirurgia Geral I do Hospital São Rafael, Incentivador e fundador do Centro de Tratamento e Pesquisas das Hérnias do Hospital São Rafael, Salvador, Bahia. A Paulo Vicente Filho, estudante de medicina do 5º ano da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), pela colaboração na pesquisa e revisão de literatura. Ao Dr. Paulo Amaral, Prof. Adjunto de Clínica Cirúrgica da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), pela orientação durante a realização da monografia. A Márcia Teixeira e a Ildásio Tavares pela revisão gramatical e ortográfica. vi RESUMO As herniorrafias inguinais são estatisticamente majoritárias responsáveis por grande parte dos gastos em saúde. Existem opções variadas para o procedimento anestésico. O objetivo desta monografia é revisar e discutir a herniorrafia inguinal pela técnica de Lichtenstein sob anestesia local. Para isto, pesquisaram-se os principais bancos de dados pelas palavras hernia, local anesthesia e Lichtenstein. Os artigos perdidos na busca inicial foram identificados através das referências, gerando um total de 80. A partir desta revisão, observou - se que a associação do uso de anestesia local com a escolha da técnica de Lichtenstein no que concernem as hérnias inguinais primárias mostra resultados positivos. Esta associação reduz significativamente tanto o número de recidivas e complicações, como as dores crônicas que podem ocorrer no pós-operatório tardio das herniorrafias inguinais. Também se atribui a essa técnica um maior controle da dor no pós-operatório imediato, a alta precoce e um retorno mais rápido ao trabalho, gerando altos índices de satisfação e menores custos para a saúde pública. vii ABSTRACT The inguinal herniorraphy is one of the most common operations in the world; it’s responsible for the highest costs in public health. Nowadays, there are several available options for anesthesical procedures. The purpose of this study is to review and evaluate the Lichtenstein inguinal repair under local anesthesia. I made the research by searching for the keywords: hernia, local anesthesia and Lichtenstein. The articles lost on the initial search were identified through the reference of other articles, giving a total of 80. After this review we noticed that the association between the local anesthesia and Lichtenstein technique for primary inguinal hernia repair shows positive results. This association diminishes significantly the number of recurrent hernias and postoperative complications, besides reducing chronic pain that can appear in a late period after the inguinal hernia repair. It is also attributed to this technique a better control of immediate post operative pain, an early hospital discharge and a faster return to job activities, generating high rates of satisfaction and less costs for public healthy. viii LISTAS LISTA DE QUADROS 1. Operações mais realizadas por Cirurgiões Gerais ................................. 3 2. Técnicas de anestesia em inguinoplastia ............................................... 3 3. Características ideais para as telas sintéticas ....................................... 7 4. Telas utilizadas nas hernioplastias conforme tamanho dos poros ...... 7 5. Medicamentos que podem ser associados a anestesia local nas herniorrafias inguinais .............................................................................. 24 6. Complicações mais freqüentes da hernioplastia inguinal sob anestesia local ............................................................................................................ 49 LISTAS DE TABELAS 1. Resultados de três importantes estudos utilizados nesta revisão que comparam as diferentes técnicas de anestesia em herniorrafia inguinal. 20 2. Resultados de alguns dos estudos utilizados nesta revisão sobre hernioplastia inguinal sob anestesia local .................................................. 21 LISTAS DE FIGURAS 1. Tela sintética utilizada na técnica de Lichtenstein ....................................... 8 2. Resumo da técnica de Lichtenstein .............................................................. 8 3. Esquema de anestesia local em herniorrafia inguinal ................................. 23 4 a 47. Passo a passo: Herniorrafia inguinal sem tensão – Lichtenstein – sob anestesia local. Rotina do Centro de Tratamento e Pesquisa das Hérnias do Hospital São Rafael, Salvador, Bahia ................................................................ 25 ix SUMÁRIO 1. INTRODUÇÂO ......................................................................... 1 1.1 Introdução Geral ....................................................................................... 1 1.2 Técnica de Lichtenstein ........................................................ 4 ............................................... 9 1.3 Lichtenstein X Outras Técnicas 1.4 Lichtenstein X Reparo Laparoscópico ................................... ................ 11 ...................................................................... 15 ........................................................................ 16 ............................................ 16 ................................................. 22 2. METODOLOGIA 3. RESULTADOS 3.1 Lichtenstein Sob Anestesia Local 3.1.1 Técnica de anestesia local 3.1.2 Herniorrafia inguinal sem tensão – técnica de Lichtenstein – sob anestesia local: Rotina do Centro de Tratamento e Pesquisa das ............................ 24 4. DISCUSSÃO .......................................................................... 44 5. CONCLUSÃO ......................................................................... 50 .................................................. 51 Hérnias do Hospital São Rafael, Salvador, Bahia REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. INTRODUÇÃO 1.1 Introdução Geral Anualmente são praticadas nos Estados Unidos da América cerca de 700.000 herniorrafias inguinais, gerando custos superiores a 2,8 bilhões de dólares. 1,2 Na Alemanha, cerca de 180.000 hérnias inguinais são diagnosticadas e tratadas anualmente.2-4 No Brasil, a realidade é semelhante. As hernioplastias inguinais foram responsáveis por 500 mil operações realizadas entre 1993 e 1996 pelos cirurgiões do Sistema Único de Saúde (SUS), o que representa 5,3% de todas as cirurgias realizadas no país. Naquele período isto significou um gasto para os cofres públicos de cerca de 100 milhões de reais.5,6 Aliados a isto, as hérnias freqüentemente acometem indivíduos na faixa etária em que são mais produtivos e ativos fisicamente, não raro incapacitando-os para suas atividades rotineiras, gerando importantes implicações sócio-econômicas.7 A alta incidência desta doença faz das hernioplastias as cirurgias mais comumente realizadas por cirurgiões gerais. 2,5,6 (Quadro 1) 2 O tratamento da hérnia inguinal vem evoluindo bastante com o entendimento da anatomia, da fisiologia e, sobretudo da fisiopatologia. Os primeiros avanços significativos iniciaram-se com o advento dos materiais de síntese e prótese. O estudo e o entendimento do comportamento ultra-estrutural das fibras de colágeno e de sua análise bioquímica também foram muito importantes para a evolução das técnicas atuais.8 Grandes avanços no tratamento das hérnias inguinais são notados desde Bassini até o desenvolvimento da técnica sem tensão, preconizada por Lichtenstein.1 2 Atualmente há entre os cirurgiões e as diferentes escolas aonde eles se formam, uma preocupação e opiniões divergentes no que diz respeito às opções técnicas disponíveis para o tratamento das hérnias inguinais. 9 O Colégio Americano de Cirurgiões considera a técnica sem tensão de Lichtenstein o padrão ouro no tratamento das hérnias inguinais primárias, já que apresenta baixas taxas de recidiva e de complicações. 10 Outro importante aspecto a ser discutido é o tipo de anestesia que deve ser utilizado.9 As operações para correção da hérnia inguinal podem ser realizadas principalmente com anestesia local, regional (raqui ou peridural) ou geral(Quadro 2) . Dentre essas opções, a anestesia local parece ter melhor custo-benefício, embora no Brasil a maioria dessas cirurgias seja realizada com anestesia regional. Mesmo em países como os EUA, 70-90% dessas cirurgias são realizadas com anestesia geral ou regional, cabendo as anestesias locais apenas 5 a 10 % das hernioplastias. 11 Os principais centros de referência no tratamento de hérnias inguinais utilizam anestesia local em mais de 95% dos casos, obtendo excelentes resultados. 11 Na Clínica Shouldice, no Canadá, 95% das hérnias inguinais são operadas com anestesia local, com uma experiência de mais de 290.000 operações.12,13 No Instituto Lichtenstein, nos EUA, é rotina o uso de anestesia local. 14 A presente monografia objetiva revisar e discutir a técnica de Lichtenstein sob anestesia local como tratamento das hérnias inguinais. 3 QUADRO 1 Cirurgias mais realizadas por Cirurgiões Gerais CIRURGIA QUANTIDADE/ANO 1 Herniorrafia Inguinal 2 Colecistectomia 3 Lise de aderências 680.000 571.000 339.000 peritoneais 4 Apendicectomia 255.000 Fonte: RutkowI, M. Aspectos demográficos classificatórios e sócio-econômicos do reparo herniário nos Estados Unidos Da América. Cli Cirúr Am Norte 1993; 3: 433-38. QUADRO 2 Técnicas de anestesia em inguinoplastia Infiltração Local Bloqueio Loco-Regional Bloqueio Subaracnóide Bloqueio Epidural Bloqueio Caudal Bloqueio Paravertebral Fonte: WINNIE, A.P.; ROSENQUINST, R.W. Anesthesia for Herniorrhaphy. In: NYHUS, L.M. Hernia; 1995. p. 501-514. 4 1.2 Técnica De Lichtenstein A descrição da técnica tension-free com uso de tela por Lichtenstein há vinte anos atrás, deu início a uma nova era nas cirurgias das hérnias inguinais.15,16 Ela foi descrita pela primeira vez em 1984 e evoluiu entre 1984 e 1988 para um procedimento que é considerado hoje em dia, o padrão-ouro para hernioplastias pelo Colégio Americano de Cirurgiões10,17 e por diversas outras instituições. A literatura mundial mostra que a técnica de Lichtenstein apresenta taxas de recidiva e complicações menores que 1%, taxas essas semelhantes entre as de cirurgiões experientes e cirurgiões inexperientes, já que os princípios básicos do procedimento - se respeitados - são fáceis de serem ensinados, de aprender e, principalmente, de serem executados. 17 O papel atual da falha do metabolismo do colágeno na patogenia das hérnias inguinais, tem levado a uma nova compreensão da patologia e das causas de insucessos nos procedimentos cirúrgicos.18 O defeito do metabolismo do colágeno leva a um enfraquecimento do tecido fibroconectivo e, por conseguinte, ao desenvolvimento das hérnias inguinais. A utilização desse tecido já danificado, sobretudo sob pressão, é contraproducente e vai de encontro aos princípios básicos da fisiologia, muitas vezes explicando o aparecimento de resultados insatisfatórios em algumas das técnicas de hernioplastias. 17 Foi baseado nesse tipo de pensamento que cientistas buscaram alguma forma de contornar essa limitação. Para tal, lançaram mão do desenvolvimento de próteses para substituir a utilização de tecido danificado na hernioplastia. Os primeiros materiais sintéticos desenvolvidos foram associados a uma série de complicações, principalmente rejeição e infecção. Mais tarde, em meados da década 5 de 50, Usher 19 popularizou o uso de tela de polipropileno, com baixas taxas de rejeição, e em 1984 (publicado em 1989) o grupo de Lichtenstein adotou o uso sistemático da tela nas cirurgias de hérnia inguinal, instituindo o termo “hernioplastia sem tensão”. 17 Após alguns anos de análise da técnica, o próprio grupo de Lichtenstein e seus colaboradores observaram algumas falhas, que foram corrigidas em 1996 20 e ainda neste mesmo ano, padronizaram o tamanho (16 X 8 cm) e a forma da tela.21 (Figura 1) O princípio básico da técnica de Lichtenstein é promover uma hernioplastia sem tensão, não só presente durante a cirurgia na posição supina, como também no pós-operatório em ortostase, evitando complicações decorrentes do aumento do gradiente de pressão intra-abdominal e do encolhimento da tela (A tela encolhe 20 % em ambas as direções depois da implantação).17,22,23 A conseqüência disto é uma mínima presença de dor no pós-operatório e baixas taxas de recidiva. 15 Uma variedade muito grande de telas está à disposição dos cirurgiões. As propriedades ideais para uma tela são resistência à infecção, permeabilidade molecular, transparência, integridade mecânica, flexibilidade, biocompatibilidade e inércia. 24-26 (Quadro 3) 26 Elas são classificadas em quatro tipos, de acordo com o tamanho dos poros. (Quadro 4) 22 As do tipo I são as aquelas com macroporos e incluem a tela monofilamentar,17 que é uma das mais populares em uso no momento.26 O uso de telas de propileno com macroporos, tem como vantagem permitir no seu interior a presença de fibroblastos, macrófagos e fibras de colágeno, além de favorecer angiogênese.17 Tudo isso resulta em uma melhor fixação da prótese na parede abdominal e melhores resultados. 15 6 Na hernioplastia sem tensão, em vez de uma sutura com tensão das estruturas anatômicas - que não é fisiologicamente normal – todo o assoalho inguinal é reforçado com a inserção de uma tela. A prótese, que é posicionada entre o assoalho inguinal e a aponeurose do músculo obliquo externo, estende-se além dos limites do triângulo de Hasselbach, com o objetivo de promover sobreposição suficiente entre a tela e o tecido. Uma vez aumentada a pressão intra-abdominal, a contração do músculo oblíquo interno aplica uma contrapressão na tela, que desta forma, é utilizada a favor do próprio reparo. O procedimento de Lichtenstein é tanto terapêutico quanto profilático e protege toda a região inguinal que é susceptível a herniação, devido a defeitos mecânicos e a metabólicos. 17 A tela deve ser fixada cuidadosamente com uso de suturas de polipropileno ou sutura mecânica (Staplers). Desta forma, a tela não dobra, não enruga, não se movimenta e nem enrola ao redor do cordão espermático, evitando recidiva e necessidade de uma reoperação. 15,27 O método de Lichtenstein é simples e pode ser realizado por todos os cirurgiões, mesmo aqueles inexperientes e sem interesse especial no tratamento das hérnias inguinais. Ele é comprovadamente eficaz no que diz respeito à prevenção de recidiva, e combina uma série de vantagens como simplicidade, efetividade, segurança e altas taxas de satisfação por parte dos pacientes.15 7 QUADRO 3 Características ideais para telas sintéticas Inerte Flexível Resistente a Infecções Biocompatível Permeabilidade Molecular Não-Carcinogênica Não-Alérgica Transparente Integridade Mecânica Fonte: Goldstein, H.S. Selecting the right mesh. Hernia 1999; 3:23-26 QUADRO 4 Telas utilizadas nas hernioplastias baseado no tamanho dos poros Tipos Características Exemplo Prolene, Marlex, Trelex I Próteses com Macroporos II Próteses com Microporos Dual-mesh, Gore-Tex III Próteses com Microporos, Multifilamentar Dacron- Mesh Materiais biocompatíveis com poros submicrônicos Silastic IV Fonte: Amid, P.K. Lichtenstein tension-free hernioplasty: Its inception, evolution, and principles. Hernia 2004; 8:1-7. 8 Figura 1 – Preparo da tela sintética Fonte: www.websurg.com Figura 2 – Resumo esquemático da Técnica de Lichtenstein Fonte: www.herniasurgery.it 9 1.3 Lichtenstein X Outras Técnicas Muitos são os artigos contidos na literatura que comparam os resultados das diferentes técnicas de hernioplastia. Atualmente, as principais técnicas comparadas pela literatura mundial são as técnicas de Lichtenstein e Shouldice. Um dos principais aspectos comparados entre os tipos de cirurgia é a taxa de recidiva. Quando se compara a tradicional técnica de Bassini com a técnica de Lichtenstein fica clara a evolução das hernioplastias neste âmbito. Um estudo retrospectivo realizado por Morkete M. e Cols.28 demonstrou o efeito da mudança de técnica de Bassini para Lichtenstein, no protocolo de um hospital do Reino Unido em 1994. Os pacientes submetidos à técnica de Bassini em 1993 obtiveram 5% de recidiva (5/98), enquanto aqueles que foram submetidos ao reparo sem tensão com uso de telas, em 1994, apresentaram taxas de 1,5 % (1/67). Na técnica de Bassini são descritos índices de recidiva de até 15%.29 Os estudos mais atuais comparam os resultados da escola americana (Lichtenstein) com os da escola canadense (Shouldice). Em recente estudo retrospectivo, Aytac B. e cols.30 compararam os resultados das duas técnicas em pacientes com hérnias unilaterais primárias. Neste estudo foram comparados o tempo cirúrgico, o tempo de permanência hospitalar, a necessidade de utilização de analgésicos no pós-operatório, as complicações pós-operatórias, o retorno ao trabalho e as taxas de recidiva. Os autores concluíram que a técnica de Lichtenstein oferece menor tempo operatório, retorno mais precoce ao trabalho, menor necessidade de analgesia no pós-operatório e menor taxa de recidiva (Shouldice 5/120 = 4,1% Lichtenstein 1/120 = 0,8% Lichtenstein).30 10 As vantagens da técnica de Lichtenstein também são úteis para aqueles cirurgiões em treinamento. Danielsson P. e cols.31 através de um estudo prospectivo randomizado com 200 pacientes, compararam os resultados das técnicas de Lichtenstein e Shouldice, operadas por cirurgiões inexperientes. Concluíram que para cirurgiões aprendizes, a técnica de Lichtenstein é o melhor método para hernioplastias inguinais, já que se trata de uma técnica simples e com melhores resultados pós-operatórios. Não houve diferença significativa no que diz respeito ao tempo de duração da cirurgia, presença de dor ou complicações no pós-operatório entre dois grupos.31 A comparação da taxa de recidiva, das dificuldades técnicas e da presença de dor crônica entre as técnicas de Shouldice e Lichtenstein, são fundamentais para a determinação da técnica ideal. Em estudo prospectivo randomizado, Nordin P. e cols.32 acompanharam trezentos pacientes divididos em dois grupos (150 lichtenstein e 150 Shouldice), desde a cirurgia até três anos após o procedimento. Como resultado, percebeu que a técnica de Lichtenstein era realizada em menor tempo, e após 77 meses a taxa de recidiva foi de 4,6% no grupo de Shouldice, contra 0,6% no grupo de Lichtenstein. Eles concluíram então, que a técnica de Lichtenstein é mais fácil de aprender, leva menos tempo e apresenta menor recidiva.32 Semelhante conclusão foi tirada por McGillicuddy J.E.33 em estudo prospectivo e randomizado realizado entre 1990 e 1995, onde 712 pacientes foram submetidos à hernioplastia e igualmente divididos em dois grupos (Lichtenstein e Shouldice) . Para ele, ambas as técnicas são comparáveis e efetivas, embora os resultados a longo termo favoreçam a técnica sem tensão, já que apresenta menor 11 recidiva, além de mais fácil de ser ensinada. A técnica de Shouldice pode ser útil nas hérnias estranguladas não femorais com necrose.29 1.4 Lichtenstein Convencional X Reparo Laparoscópico As técnicas laparoscópicas para tratamento das hérnias já fazem parte da realidade atual.29 Existem atualmente três tipos de técnicas laparoscópicas para o tratamento das hérnias: IPOM (Intraperitoneal Onlay Mesh) que está em desuso, TEP (Totally Extraperitonial Repair) e TAPP (Transabdominal Preperitoneal Repair).29 Gokalp A. e cols.34 realizaram um estudo prospectivo randomizado comparando a técnica de Lichtenstein aberta e a técnica laparoscópica TEP no tratamento das hérnias inguinais. Sessenta e dois pacientes foram operados pela técnica de Lichtenstein e sessenta e um foram operados pela técnica laparoscópica extraperitoneal. Os pacientes foram acompanhados por dois anos e os resultados desse estudo não evidenciaram diferença significativa entre os grupos no que diz respeito a recidiva, dor pós-operatória, necessidade de analgésicos, complicações e tempo de hospitalização. Em contrapartida, a técnica laparoscópica foi em média 16 minutos mais demorada que a convencional e também foi considerada mais cara. O tempo de retorno ao trabalho foi menor naqueles que se submeteram a técnica laparoscópica. Os autores concluíram que a técnica tradicional de Lichtenstein é superior no tratamento das hérnias inguinais primárias, e que a laparoscópica deve ser considerada no tratamento das hérnias recidivadas e bilaterais.34 O uso da laparoscopia nas hérnias inguinais primárias ainda é controverso.35 Alguns autores afirmam que o método laparoscópico de hernioplastia sem tensão tem sido associado a baixas taxas de recidiva, menor dor no pós-operatório 12 imediato e retorno mais precoce ao trabalho.36,37 Entretanto, necessita de anestesia geral, é mais difícil de ser executada, necessita de uma curva de aprendizado maior e é mais freqüentemente associada a complicações intra-operatórias quando comparada ao método convencional aberto, incluíndo a técnica de Lichtenstein.29,3739 Um artigo publicado recentemente no The New England Journal of Medicine concluiu que o método convencional aberto é superior ao método laparoscópico para tratamento de hérnias inguinais primárias, seja pelas menores taxas de recidiva, seja pela maior satisfação dos pacientes. Nesse estudo, Neumayer e cols.40 realizaram um estudo prospectivo randomizado multicêntrico com 1696 pacientes, que foram operados e acompanhados ao longo de dois anos. As taxas de recidiva das hérnias primárias operadas foram maiores no grupo da laparoscopia (10,1% vs 4,9%). Entretanto, taxas semelhantes de recidiva foram encontradas nas hérnias recidivadas operadas. A taxa de complicações intraoperatórias e imediatas foi também maior no grupo da laparoscopia (39% vs 33,4%) embora taxas de complicações a longo prazo e taxas de mortalidade foram semelhantes nos dois grupos. O grupo dos pacientes submetidos a tratamento laparoscópico apresentou vantagens apenas no que diz respeito a menor dor no primeiro dia depois da cirurgia e duas semanas depois. A partir desta data, em média, a dor foi se equilibrando e ao final de dois anos, foi semelhante nos dois grupos.40 Os pacientes operados pelo método aberto convencional retornaram às atividades normais em média um dia depois daqueles submetidos a o tratamento laparoscópico.37,38,40 Ettinger J.E. e cols.41 encontram resultados semelhantes em sua casuística. Eles convergem quando afirmam que ambas as técnicas apresentam 13 mesmas taxas de mortalidade. Também compartilham a conclusão que aqueles pacientes submetidos à laparoscopia apresentam menor dor no pós-operatório imediato, e um retorno mais precoce às atividades de rotina. Este mesmo estudo concluiu que os custos com a técnica laparoscópica são quase duas vezes maiores que com a técnica aberta de Lichtenstein.41 Heikkinen T.J. e cols, em estudo prospectivo e randomizado, compararam os custos entre herniorrafia laparoscópica e herniorrafia convencional aberta pela técnica de Lichtenstein, chegando também a conclusão de que o método convencional é mais barato.42 Um estudo nacional realizado por Brenner e cols.43 revelou uma diferença não tão grande entre os custos da Técnica aberta de Lichtenstein e o método laparoscópico TEP nas herniorrafias inguinais. Esse estudo prospectivo também concluiu que a cirurgia aberta é mais rápida, com um tempo médio de 102 minutos, contra um tempo médio de 127 minutas da cirurgia via laparoscopia. Após trinta dias, todos os pacientes de ambos os grupos, referiram estarem satisfeitos com a cirurgia. Vale mencionar que houve um caso de necessidade de reoperação, devido ao posicionamento errôneo da tela no grupo da laparoscopia extraperitoneal.43 Em estudo prospectivo e randomizado, Beets e cols. acharam uma maior taxa de recidiva após reparo laparoscópico pré-peritoneal de hérnias inguinais recidivadas comparado com a técnica aberta de Lichtenstein.44 Resultados semelhantes - que encontraram maior taxa de recidiva e maior número de complicações nos pacientes submetidos à hernioplastia por vídeo (TEP) comparadas com a técnica aberta de Lichtenstein - foram encontrados em outros estudos. 45,46 A videocirurgia é indicada para correção de hérnias bilaterais, tendo como vantagem a utilização de pequenas incisões, menor dor no pós-operatório 14 imediato e retorno mais rápido ao trabalho. Entretanto, devido a maior complexidade das cirurgias endoscópicas, ela exige um longo treinamento da equipe, maior tempo de cirurgia e ainda oferece um risco maior de lesão visceral e vascular.43 Essa técnica deve ser reservada ao especialista. 43 15 2. METODOLOGIA A revisão sistemática foi realizada entre dezembro e maio de 2005, nos bancos de dados mais importantes, no que concerne à indexação de publicações científicas: PubMed / Medline, Bireme, Scielo, Lilacs, além de livros, revistas, periódicos e em sites especializados na Internet. Todas as buscas basearam-se nas seguintes palavras-chave: “Hernia AND local AND anesthesia OR Lichtenstein AND local AND anesthesia OR Open AND laparoscopic AND hérnia.” Os artigos perdidos na pesquisa inicial foram identificados a partir das referências nos artigos selecionados. Foram excluídos artigos publicados em línguas que não fossem português, inglês e espanhol e artigos que não abordavam diretamente o assunto a ser revisado. Foram selecionados 108 artigos de revisão de literatura, estudos prospectivos e relatos de casos, além de livros e sites médicos na internet. Os artigos identificados foram avaliados criticamente. 16 3. RESULTADOS 3.1 Lichtenstein Sob Anestesia Local A técnica de Lichtenstein é considerada padrão ouro para tratamento das hérnias inguinais primárias. Existe uma série de possibilidades de anestesia para esse procedimento. A escolha da técnica anestésica requer a avaliação da segurança para o paciente e rápido retorno para seu estado pré-operatório. Outras preocupações, como custos e satisfação do paciente, também devem ser consideradas.47 As principais modalidades anestésicas são infiltração local, bloqueio loco-regional, bloqueio subaracnóide, bloqueio epidural, bloqueio caudal e bloqueio paravertebral. As técnicas mais utilizadas são anestesia local, regional ou geral. 29,47 O uso de anestesia local para herniorrafia inguinal não é um procedimento novo. Flanagan e Bascon 48 descreveram relatos feitos há mais de cem anos, sobre hérnias operadas por Harvey Cushing com anestesia local, usando cocaína.48 Atualmente, o reparo das hérnias inguinais primárias com anestesia local é um procedimento bem estabelecido.7,48-77 Ele preenche os critérios ideais para o procedimento ambulatorial da hérnia inguinal: é seguro, simples e seu uso rotineiro já foi demonstrado na literatura médica como sendo eficiente.16,65,68,78-84 A recuperação pós-operatória é definitivamente mais rápida com anestesia local.11 Normalmente, pacientes submetidos a outros métodos anestésicos e cirúrgicos ,necessitam em média, de pelo menos mais um dia de internação. A alta imediata e a deambulação precoce geram um alto índice de satisfação para os pacientes,11,85 diminuem a possibilidade de infecções pulmonares e cruzadas,86-89 além de proporcionar menores custos para os hospitais, sobretudo os públicos, os quais, na 17 maioria dos casos, apresentam dificuldades financeiras.5,86 Com esta técnica, usa-se a sala de cirurgia por menos tempo, ocupa-se menos os leitos hospitalares, e consequentemente leva a menos gastos para os sistemas de saúde.5,90,91 Um estudo recente prospectivo e randomizado, conduzido por Gonullu e cols,80 comparou os custos de herniorrafias inguinais pela técnica de Lichtenstein com anestesia local e com anestesia geral. Os resultados evidenciaram que a cirurgia com anestesia geral foi mais cara do que a com anestesia local. Outros estudos prospectivos compartilham a mesma conclusão.69,71,92 De uma forma geral, os procedimentos anestésicos utilizados para hernioplastias inguinais apresentam baixa morbidade. No entanto, a anestesia geral e a raquidiana, estão mais comumente associadas a disfunções gastrointestinais, tais como náuseas e vômitos, retenções urinárias, complicações cardíacas, hipotensão postural e maiores índices de tromboflebite, o que não vem sendo demonstrado com uso de anestesia local.11,93 O fato da anestesia envolver apenas uma área limitada, faz com que ela não interfira no funcionamento de outros órgãos e promova relaxamento muscular localizado, afetando menos a ventilação do paciente. Gonullu e cols.80 compararam também a função pulmonar após a herniorrafia sob anestesia local e geral. A função pulmonar foi afetada em ambos os métodos anestésicos, embora os pacientes que se submeteram à anestesia local, obtiveram uma função pulmonar significativamente melhor.77 Muitos outros estudos importantes comprovam a superioridade da anestesia local em relação às demais técnicas anestésicas. Amid e cols.65 numa série de doze mil pacientes operados sob anestesia local no Instituto Lichtenstein, afirmam tratarse de um método seguro, simples, efetivo e econômico. Kark A.E. e cols.80 em estudo prospectivo randomizado com dois mil novecentos e seis pacientes e um 18 follow-up de dezoito meses a cinco anos, descrevem que os benefícios econômicos da anestesia local são decorrentes da baixa morbidade, rápido retorno ao trabalho e baixas taxas de recidiva. Ozgun e cols.81 em estudo prospectivo e randomizado, concluem que a anestesia local é totalmente plausível como procedimento ambulatorial, já que há menor incidência de náuseas e retenção urinária, menor necessidade de analgesia no pós-operatório, menor tempo operatório e maior satisfação dos pacientes, comparada com a anestesia espinhal e geral. Esta mesma conclusão foi tirada por Valente e cols.1 em estudo nacional prospectivo, publicado recentemente na Acta Cirúrgica Brasileira. Em estudo retrospectivo, Subramanian P. e cols.67 evidenciaram que apenas um dos cinqüenta e seis pacientes operados com anestesia local (2%) necessitou de mais de vinte e quatro horas de analgesia, comparado a quatro dos trinta e sete (11%) no grupo da anestesia geral. Dados semelhantes foram encontrados por Espinoza e cols.82 Em seu estudo, o grupo de pacientes operados com anestesia local apresentou menor dor no P.O. comparado ao grupo operado com anestesia espinhal. Callesen Torben e cols.68 ressaltam que o procedimento é seguro, possui poucas complicações pós-operatórias e apresenta aceitável satisfação, embora a dor intra-operatória apareceu como fator de insatisfação em 13% (124/940) dos pacientes avaliados. Dados semelhantes foram encontrados por Alexandre Cruz e cols.99 Em estudo prospectivo, eles evidenciaram que 23% (26/110) dos pacientes operados sob anestesia local, queixaram-se de dor leve durante o procedimento. Nordin Par e cols.94 em recente estudo prospectivo, randomizado e multicêntrico publicado no The Lancet, compararam os resultados de 616 herniorrafias operadas sob anestesia local, regional e geral. Concluíram que a anestesia local apresenta menor dor no P.O. imediato, embora no oitavo e no trigésimo dia do seguimento, não houve diferença significativa entre os três grupos. 19 Neste mesmo estudo, evidenciaram que a cirurgia com anestesia local é mais rápida (da indução anestésica ao fim da cirurgia), o tempo de internação é menor e há menor número de complicações, sobretudo dificuldades miccionais. Outros estudos prospectivos randomizados compararam os métodos anestésicos na herniorrafia inguinal.69-71,73-77 Eles também demonstram as vantagens da anestesia local em pacientes selecionados, citados acima. Quatro deles evidenciaram menor dor pósoperatória na anestesia local.69,71,76,77 O´Dwyer P.J. e cols.95 não encontraram diferença significativa entre os resultados de herniorrafias usando anestesia local e geral. Eles avaliaram a dor pósoperatória, o tempo de retorno ao trabalho e os custos em duzentos e setenta e seis pacientes. Para os autores, as duas possibilidades de anestesia devem ser oferecidas ao paciente.95 A anestesia local é contra-indicada no caso de pacientes psiquiátricos, pacientes que se recusam a cooperar, aqueles que possuem grandes hérnias encarceradas 5 ou estranguladas, hérnias inguinoescrotais e pacientes obesos.2,7 20 Tabela 1: Resultados de três importantes estudos prospectivos randomizados utilizados nesta revisão que comparam as diferentes técnicas de anestesia em herniorrafia inguinal. 21 Tabela 2: Resultados de alguns dos estudos prospectivos utilizados nesta revisão sobre hernioplastia inguinal sob anestesia local. 22 3.1.1 Técnica de anestesia local Como anestésico local, é utilizada uma mistura de cloridrato de lidocaína sem vasoconstrictor a 1 1,50 ou 2% (20ml), cloridrato de bupivacaína com vasoconstrictor a 0,5% (20ml) e água destilada (10 ml). Para cada 9 ml da solução, adiciona-se 1ml de bicarbonato de sódio, com intuito de manter o pH em torno de 7.1,50 Nordin Par e cols. utilizaram em seu estudo uma mistura 50:50 de mepivacaína a 1% e bupivacaína a 0,5%.97 A técnica em leque empregada para anestesia local inicia-se ao infiltrar-se 5 ml da solução em “leque”, dois dedos medial e superiormente à crista ilíaca ânterosuperior e em profundidade, visando atingir o plano entre o músculo transverso e o músculo oblíquo interno, desta forma bloqueando os nervos íleohipogástrico e íleoinguinal. Depois infiltra-se mais 5 ml da solução em “leque” na projeção do tubérculo púbico. Após afastamento lateral do funículo espermático, a agulha penetra até encontrar o periósteo. Por fim, a infiltração da pele e da tela subcutânea ao longo da arcada inguinal, com 10 a 15ml da solução. Durante a execução da operação, promove-se a infiltração do anel profundo, com 5ml da solução. No caso de hérnias indiretas, a base do saco herniário é anestesiada, uma vez que sua tração é dolorosa.5,77,97,98 (Figura 2) A sedação do paciente mostra-se eficaz para diminuir ansiedade, proporcionar conforto e aumentar a tolerância ao método. 1,5,77,90,98 Ela normalmente é feita com Midazolan, dez 0,05mg 77 1,50 a trinta 84,98 minutos antes da operação, na dose de a 0,3mg por quilo de peso, reduzindo essa dosagem pela metade em pacientes com menos de 60 anos.1,98 Também pode-se utilizar benzodiazepínicos, barbitúricos de curta duração, antieméticos ou analgésicos potentes.97(Quadro 5) 23 A complicação mais importante da infiltração local é a intoxicação sistêmica, que pode ser prevenida evitando-se o uso de injeção intravascular e sempre administrar a dose correta.96 Figura 3: Esquema de anestesia local em herniorrafia inguinal. A - Bloqueio dos nervos íleohipogastrico e íleoinguinal. B - Infiltração do tubérculo púbico. C - Infiltração da pele e tela subcutânea. EIA: Espinha ilíaca ânterosuperior; TP: Tubérculo púbico; ----------- Local da incisão . Fonte: Balbinot, A.L. et al. Hernioplastia inguinal e femoral com anestesia local em nível ambulatorial. Revista do CBC 1997; 24: 427-430. 24 QUADRO 5 Medicamentos que podem ser associados a anestesia local nas herniorrafias inguinais Diazepam/Midazolam Meperidina Metoclopramida Fentanil Fonte: Balbinot, A.L. et al. Hernioplastia inguinal e femoral com anestesia local em nível ambulatorial. Revista do CBC 1997; 24: 427-430. 3.1.2 Herniorrafia inguinal sem tensão – técnica de Lichtenstein sob anestesia local: Rotina do Centro de Tratamento e Pesquisas das Hérnias do Hospital São Rafael, Salvador, Bahia Esta técnica é feita sob anestesia local e com sedação. Ela é segura, simples, eficaz, econômica, com poucos efeitos colaterais e leva a uma boa analgesia pós-operatória. Utiliza-se ropivacaína 0,75% (isômero da bupivacaína e menos cardiotóxica que esta) 20 ml diluídos em 60 ml de solução fisiológica ou bupivacaína a 5 % 20ml diluídos em 60 ml de solução fisiológica. Utilizamos a anestesia epidural, raquianestesia ou geral nas hérnias estranguladas, inguinoescrotais, recidivadas ou em pacientes muito obesos. A antibioticoprofilaxia é realizada com cefazolina 1g endovenosa, 30 minutos antes da incisão. Incisão - É realizada preferencialmente a incisão de Maingot (transversa), pois acompanha as linhas de força da pele, o que promove um resultado estético melhor do que a incisão de Marro (obliqua). Esta última, é melhor em pacientes obesos, uma vez que proporciona uma melhor exposição das estruturas inguinais. (Figura 4) 25 Figura 4: Incisões. E.I.A.S: Espinha ilíaca ântero superior Anestesia subdérmica - É realizada a infiltração subdérmica de cerca de 5ml de anestésico no trajeto da incisão, antes de realizar a incisão intradérmica o que diminui a sensação dolorosa.(Figura 5) Figura 5: Anestesia Subdérmica 26 Anestesia intradérmica - A infiltração dérmica, de cerca de 3ml de anestésico no trajeto da incisão, é realizada. Neste momento, há diminuição da sensação dolorosa devido à prévia injeção subdérmica. (Figuras 6 e 7) Figura 6: Anestesia Intradérmica Figura 7: Anestesia Intradérmica Anestesia subcutânea - É iniciada a infiltração subcutânea com 10ml de anestésico, que são injetados após múltiplas punções perpendiculares no subcutâneo. (Figuras 8 e 9) Figura 8 e 9: Anestesia Subcutânea Incisão e anestesia subaponeurótica - A incisão é realizada somente até a derme. É iniciada na altura do púbis e se estende lateralmente cerca de 5 cm. Na parte 27 superior incisa-se até a aponeurose do músculo oblíquo externo, onde vai ser realizada a infiltração com 10ml de anestésico. Feito isto, o resto do subcutâneo é incisado, com ligadura entre pinças dos vasos epigástricos superficiais, dando tempo para o efeito anestésico da injeção subaponeurótica, que vai anestesiar os três nervos principais. Este espaço de tempo é muito importante para uma técnica anestésica perfeita. (Figuras 10, 11 e 12) Figura 10 e 11: Incisão e anestesia subaponeurótica. Figura 12: Ligadura dos vasos epigástricos superficiais 28 Abertura da aponeurose do músculo oblíquo externo - É realizada incisão da aponeurose do músculo oblíquo externo na direção das suas fibras, com cuidado, para se evitar lesão do nervo íliohipogástrico. Esta abertura é feita da parte superior da incisão, até o anel inguinal externo. Nota-se a impregnação de anestésico nos tecidos da região inguinal. (Figuras 13 e 14) Figuras 13 e 14: Abertura da aponeurose do músculo oblíquo externo Descolamento da aponeurose do oblíquo externo – É procedido o descolamento da aponeurose do músculo oblíquo externo, medial e lateralmente, criando-se um espaço para a inserção da tela de MarlexR (polipropileno) na região. Este descolamento pode ser feito com instrumentos rombos ou com o dedo indicador, com cuidado, para não lesar os nervos ílioinguinal e íliohipogástrico e deve ser feito até a área conjunta, 2 cm além do púbis e superiormente até a espinha ilíaca ânterosuperior.(Figura 15) 29 Figura 15: Descolamento da Aponeurose do Músculo Oblíquo Externo Isolamento do cordão inguinal - O cordão inguinal é isolado delicadamente, evitando-se a dissecção digital romba. A melhor dissecção é realizada com pinça hemostática curva, passando-se por baixo do cordão e rente ao púbis. Desta forma a chance de lesão neural e de estruturas nobres é menor. O nervo genital e os vasos espermáticos externos devem ser isolados juntos com o cordão. (Figura 16 e 17) Figuras 16 e 17: Isolamento do canal inguinal 30 Anestesia do nervo ílioinguinal - A anestesia perineural pode ser realizada tanto do nervo íliohipogástrico, quanto do ílioinguinal. (Figura 18) Figura 18: Anestesia do nervo íleoinguinal Exposição do ligamento de Henle – O ligamento de Henle é exposto para a fixação da tela. (Figura 19) Figura 19: Exposição do Ligamento de Henle Anestesia peri-púbica – É realizada a anestesia peri-púbica,. Este é um passo muito importante, pois geralmente este é um ponto que causa dor no paciente. 31 Assim, é importante a realização desta anestesia antes que o paciente tenha a sensação dolorosa nesta área, o que pode dificultar o transcorrer da cirurgia. (Figura 20) Figura 20: Anestesia Peri-púbica Retificação do assoalho pélvico - hérnia direta - Nos pacientes com hérnia direta é importante deixar o assoalho inguinal plano. A invaginação deve ser realizada com sutura contínua e fio absorvível vicryl 2-0. Isto é importante para que a tela não fique abaulada, dando a sensação de hérnia não tratada. (Figuras 21, 22 e 23) Figura 21 e 22: Retificação do assoalho pélvico 32 Figura 23: Retificação do assoalho pélvico Dissecção e invaginação do saco herniário - Nas hérnias indiretas, o saco hérniário é isolado. Não é necessária a excisão do músculo cremaster, o que previne distúrbios na retratibilidade do testículo, evita lesões neurais e dos pequenos vasos e angulação do ducto deferente. Se ocorrer lipoma do cordão, este deve ser retirado. Faz-se a exploração digital, verificando-se também, a presença de hérnia femoral através da palpação com o dedo indicador. O saco herniário pode, simplesmente , ser invaginado ou ligado em sua base e o excesso seccionado. Nos sacos mais espessos e maiores, a última opção é a mais indicada, pois quando o saco é ligado, pode ocorrer mais dor pós-operatória. Em sacos herniários muito grandes, principalmente nas hérnias inguino-escrotais, este saco pode ser seccionado, deixando-se a parte distal para baixo, em direção a bolsa escrotal, o que vai minimizar o risco de orquite isquêmica e lesões de estruturas nobres do cordão inguinal. O saco que é deixado deve ficar aberto para evitar-se hidrocele. (Figura 24) 33 Figura 24: Dissecção e invaginação do saco herniário. Preparação da tela - A tela de polipropileno (MarlexR) é pré-cortada numa configuração retangular de 16X8 cm. É realizado um corte na parte que vai ficar fixada superiormente, por onde vai passar o cordão inguinal e o novo anel interno será criado. O Corte é feito no terço proximal, que vai ficar fixado ao ligamento inguinal. Os 2/3 restantes ficarão medialmente, ou seja, a tela é cortada, criando-se 2 caudas de 1/3 e 2/3. Depois de colocada na região inguinal, a tela vai ser ajustada às dimensões da anatomia do paciente. Geralmente são utilizadas telas de polipropileno monofilamentares e macroporosas, pois elas promovem fibroplasia e sua estrutura monofilamentar não causa, nem perpetua infecções. (Figura 25) 34 Figura 25: Preparação da tela Início da fixação da tela – A tela é inicialmente fixada na sua parte mais inferior, 2 cm além do púbis, para evitar-se as recidivas nesta posição. Este é um ponto crucial desta técnica. Geralmente é utilizado um fio inabsorvível, de preferência polipropileno 2-0 (sutura contínua, com o ligamento inguinal). É importante a fixação adequada da tela para se prevenir recidivas, pois em áreas móveis como a região inguinal, existe uma tendência da prótese de dobrar, encolher ou enrolar-se ao redor do cordão. (Figura 26) 35 Figura 26: Início da fixação da tela Fixação da tela – O primeiro ponto deve ser dado no ligamento de Henle. O periósteo do púbis deve ser evitado, pois pode causar dor no paciente. (Figura 27) Figura 27: Fixação da tela Fixação no ligamento de Poupart - Uma sutura contínua é executada, com fio inabsorvível, de preferência polipropileno 2-0. Esta sutura é realizada até ultrapassar o anel inguinal interno. (Figuras 28, 29 e 30) 36 Figuras 28 e 29: Fixação ao ligamento de Poupart Figura 30: Fixação ao Ligamento de Poupart Confecção do novo anel interno - O novo anel interno é confeccionado cruzandose o segmento maior de tela recortada, que está medialmente localizada em direção ao ligamento inguinal, logo após o anel interno (por onde sai o cordão inguinal). O fio deve passar pela tela e pelo ligamento de Poupart, dando uma maior firmeza ao reparo. O cruzamento das duas caudas da tela, produz uma configuração semelhante ao anel inguinal interno. (Figuras 31,32 e 33) 37 Figuras 31 e 32: Confecção do novo anel interno Figura 33: Confecção do novo anel interno Novo anel interno pronto - Este novo anel deve ser testado para verificar se existe estrangulamento do cordão inguinal. (Figura 34) 38 Figura 34: Novo anel interno pronto Corte do excesso de tela e ajuste - O excesso de tela deve ser recortado, para moldar a tela ao assoalho inguinal do paciente. A tela deve ultrapassar a borda superior do triângulo de Hesselbach em cerca de 2 a 3 cm, a fim de evitar recidivas nesta parte mais alta do reparo. (Figuras 35 e36) Figuras 35 e 36: Corte do excesso da tela e ajuste 39 Fixação medial da tela - A tela é fixada medialmente na área conjunta (o máximo possível). Para se colocar uma tela bem grande, garantindo o sucesso do reparo, pode ser utilizado fio absorvível (preferêncialmente o Vycril 2-0), pois em cerca de uma semana, o “sanduíche’’ formado entre a aponeurose, a tela de polipropileno e a área conjunta, deixa a tela bem fixada. A prótese deve ser colocada com uma discreta folga, já que ocorre geralmente, uma retração da tela de cerca de 20% do seu tamanho. (Figuras 37, 38,39 e 40). Figura 37, 38, 39 e 40: Fixação medial da tela. 40 Tela já fixada medialmente - Nota-se que a tela cobre o assoalho inguinal por inteiro, cobrindo também por inteiro o triângulo de Hessert e corrigindo as hérnias diretas e indiretas. (Figura 41) Figura 41: Tela já fixada medialmente Teste do novo anel interno – O teste do novo anel interno é imprescindível. Desta forma, evita-se o estrangulamento do cordão inguinal, que pode acarretar isquemia e até atrofia testicular. Nesta fase, pode se pedir ao paciente para tossir, o que possibilita um teste imediato do reparo cirúrgico. (Figura 42) Figura 42: Teste do Novo anel interno 41 Assoalho inguinal totalmente coberto – O assoalho está totalmente coberto pela tela. (Figura 43) Figura 43: Assoalho inguinal totalmente coberto Instilação de anestésico - Ao final do reparo, cerca de 10ml de anestésico é instilado (geralmente bupivacaína), o que proporcionará uma analgesia durante um tempo maior após o procedimento, facilitando a deambulação precoce do paciente. Este anestésico poderá causar uma equimose na bolsa escrotal, o que não causa problemas, pois desaparecerá em poucos dias. (Figuras 44 e 45) Figura 44: Instilação do anestésico 42 Figura 45: Instilação do anestésico. Síntese da aponeurose do músculo oblíquo externo – O fechamento da aponeurose do músculo obliquo interno é realizado, geralmente de cima para baixo, pois facilita a acomodação da tela. No final, o anel externo é refeito. Um cuidado especial deve ser tomado, para não ocorrer o aprisionamento dos nervos ou do próprio cordão inguinal e suas estruturas. (Figura 46) Figura 46: Síntese da aponeurose do músculo oblíquo externo 43 Aspecto final da cicatriz – Ao término, é realizada uma sutura intradérmica, proporcionando um bom aspecto do ponto de vista estético. (Figura 47) Figura 47: Aspecto final da cicatriz Fotos (4 a 47) do arquivo pessoal do Dr. João Ettinger. 44 4. DISCUSSÃO O uso da técnica sem tensão sob a anestesia local, está associado a uma menor dor no pós-operatório imediato e à deambulação precoce. Isto representa um ganho muito importante para pacientes pobres, que retornam para suas residências no mesmo dia, o que seria difícil com outros tipos de anestesia. A prescrição de analgésicos como nimesulida, pode ser necessária. A deambulação precoce também está associada a taxas menores de tromboembolismo, pneumopatias e retenção urinária. Em estudo nacional, conduzido por Edgar Valente e cols, 93,3% dos pacientes deambularam precocemente após herniorrafia inguinal sob anestesia local. 1 A alta imediata para esses pacientes gera um alto índice de satisfação para eles mesmos e toda a família. Assim, o paciente não precisa ficar internado, retorna mais precocemente ao trabalho, o que reduz as taxas de absenteísmo. Além disso, os hospitais públicos gastam menos e aumentam a sua rotatividade. Callensen e cols.90 operaram 995 pacientes com anestesia local, 961 desses pacientes receberam alta, em média 95 minutos após o procedimento.93 Outros autores obtiveram em 446 pacientes operados, um tempo médio de internação de apenas 85 minutos.105 Equipes inexperientes não conseguem obter períodos de internação tão rápidos, embora ainda sejam menores que 24 horas. A possibilidade de se realizar cirurgias de hérnias inguinais em regime ambulatorial traz também como vantagem o aprendizado acadêmico. Hospitaisescola devem se beneficiar dessa modalidade cirúrgica, uma vez que mais cirurgias são realizadas em um intervalo menor de tempo, implicando em maior aprendizado e uma melhor formação dos futuros cirurgiões. Da mesma forma, devido à escassez 45 de vagas nos hospitais públicos, mais pacientes podem ser operados, evitando filas de espera e transferências para outras instituições. O fato dos pacientes serem rapidamente liberados para suas residências após a hernioplastia inguinal sob anestesia local, reduz os custos hospitalares, uma vez que são necessários uma quantidade menor de medicações, alimentação e profissionais envolvidos com o paciente (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, auxiliares de enfermagem e nutricionistas). Esta redução é fundamental para todos os hospitais. Pacientes idosos e portadores de co-morbidades, tais como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças cardíacas e insuficiência renal, são beneficiadas com o uso da anestesia local. Isso, devido ao fato que esta técnica promove efeito local com pouca ou nenhuma ação na função de outros órgãos, além de realizar bloqueio sensorial, local ou completo, com pouca interferência nos reflexos que regulam o sistema cardio-pulmonar. Pacientes cardiopatas e pneumopatas, necessitam de um uso menor de narcóticos quando se submetem à herniorrafia com anestesia local. Além de promover um pós-operatório imediato sem dor - que parece ser de menor intensidade devido à liberação de mediadores químicos, a anestesia local diminui a incidência de náuseas e vômitos, que são altamente desagradáveis para os pacientes, como também diminuem o número de retenções urinárias. Alguns detalhes nessa técnica devem ser enfatizados. Inicialmente, o cirurgião deve orientar o paciente quanto à técnica que será empregada. Desta forma, o paciente não é surpreendido e obrigado a vivenciar uma experiência desagradável no intraoperatório, caso ele venha a acordar da sedação ou sentir dor. 46 Deve-se também sempre ter em mente, que a manipulação de estruturas profundas precisa ser cuidadosa, já que a anestesia é local. Alguns cirurgiões não apreciam a infiltração local com anestésicos, tendo em vista que tal procedimento promova distorção da anatomia local. Outros advogam que tal método prejudica o relaxamento muscular e conseqüentemente a técnica operatória. Ambas as objeções são válidas, porém na prática, isto não acontece e os benefícios da técnica mostrem-se muito maiores. Outras restrições ao método descritas na literatura são: ardência, dor na infiltração dos anestésicos, pacientes obesos, hérnias encarceradas, estranguladas e inguinoescrotais.2,7 Alguns autores defendem que a anestesia local em crianças, seja algo difícil de ser realizado, 77 embora Minossi e cols.49 concluíssem que a anestesia local associada à sedação, é um procedimento simples e seguro em crianças. Outros julgam que este procedimento possua restrições em relação às hérnias recidivadas.2,5,7 Isto não foi demonstrado em estudo realizado por Callesen e cols.68 Eles concluíram que hérnias recidivadas podem operadas com segurança, sob anestesia local, mantendo-se sempre um cuidado especial em relação à possibilidade de dor intraoperatória. Em relação à técnica, os principais agentes utilizados são a Lidocaína a 0,5% e a Bupivacaína a 0,125% e 0,25%. A associação destes dois anestésicos visa encurtar o tempo de latência (efeito da lidocaína) e prolongar o efeito da anestesia de 4 a 6 horas (bupivacaína), o que é suficiente não só para concluir o ato cirúrgico, como também para permitir analgesia pós-operatória. Quando a solução anestésica não contém a bupivacaína, pode-se reiniciar - ao fim do procedimento - uma nova infiltração em cada camada, com a mesma solução, com o intuito de proporcionar ausência de dor nas primeiras quatro a seis horas de P.O.97 Na região inguinal, por 47 tratar-se de área uma extensa a ser anestesiada, é preferível a utilização de anestésicos diluídos a baixas concentrações. Deve ser acrescentado 0,1 ml de adrenalina a 1:1000 para cada 20 ml de solução anestésica. Vale lembrar que soluções previamente preparadas, têm maior custo e pH mais ácido para conservar a adrenalina, o que aumenta o tempo necessário para o efeito anestésico ser iniciado. Alguns autores contra-indicam o uso de vasoconstrictores, pois eles estariam relacionados a um número maior de hematomas no pós-operatório.86 O uso do Bicarbonato diminui a dor na indução anestésica. A principal técnica utilizada é a de Harvey-Cushing. Seu aspecto mais importante é o bloqueio dos nervos íleohipogástrico e ileoinguinal, já que estes são responsáveis pela inervação das principais estruturas da área operada. As principais complicações da técnica são: a inquietação e irritação (deve ser tratada com Midazolan, Diazepam ou Tiopental mais O2 sob máscara), convulsões (também tratadas com Diazepam, Tiopental e 02 sob máscara) e colapso cardiovascular: bradicardia ou hipotensão (tratado com vasopressores ou anticolinérgicos). Um cuidado que deve ser tomado durante o bloqueio anestésico é que, um depósito em grandes quantidades e em local muito próximo ao ligamento inguinal, inferior à espinha ilíaca, pode resultar em um bloqueio temporário do nervo femoral, com paralisia do músculo quadríceps, e conseqüentemente, retardar um dos grandes trunfos da anestesia local que é a deambulação precoce. Os pacientes devem ser mantidos com monitorização eletrocardiográfica, pressórica e oximétrica. Os pacientes que são operados com anestesia local e sem sedação, devem ser cuidadosamente selecionados e tratados com atenção. Como dito anteriormente, eles devem ser elucidados em relação ao procedimento e advertidos de que algumas sensações de pressão e tração de tecidos podem ser sentidas. 48 Deve ficar claro para esses pacientes, que o procedimento pode ser por vezes desagradável, porém não deve ser doloroso. O consentimento informado deve ser assinado, e o cirurgião deve ter a capacidade de julgar aqueles pacientes que podem submeter-se a esta cirurgia. Esta prática de cirurgia sem sedação apresenta grandes vantagens, tais como: os pacientes permanecem conscientes, o cirurgião pode valer-se da manobra de Valsava ou forçar a tosse para auxiliar na identificação da hérnia, bem como na averiguação da efetividade da correção.7,99 Desta forma, ao fim da cirurgia, o cirurgião pode perceber e corrigir eventual área de enfraquecimento da parede, evitando futuras hérnias recidivadas. O mesmo se aplica ao diagnóstico de uma hérnia indireta, durante a correção de uma hérnia direta. Outro ponto passível de discussão é a utilização de antibioticoprofilaxia. Alguns autores são contra e outros a favor, devido aos diferentes resultados encontrados nos estudos disponíveis na literatura.100-103 Quando empregada, ela pode ser feita com cefalosporinas de 1a geração tais como cefalotina e cefalozina, ou cefalosporinas de 2a geração como cefoxitina. 101 Apesar de todas as vantagens já discutidas nessa monografia, a técnica de Lichtenstein sob anestesia local não é amplamente utilizada em nosso meio. Pelo contrário, poucos são os centros onde essa modalidade cirúrgica é praticada. Recentemente, quatro trabalhos científicos nacionais sobre tratamento cirúrgico de hérnia inguinal foram publicados e em nenhum deles a anestesia empregada foi local 6,105-108 Mas não é só no Brasil que isso acontece. Dados obtidos a partir de longos estudos epidemiológicos, realizados em países desenvolvidos como Dinamarca,104 Escócia,105 Suécia106 e Inglaterra107 evidenciaram que apenas entre 2% – 15% das hérnias inguinais operadas, são feitas com anestesia local. 49 A associação do uso de anestesia local, com a escolha da técnica sem tensão de lichtenstein para tratamento das hérnias inguinais primária, mostra resultados positivos. Esta associação reduz significativamente o número de recidivas e complicações (QUADRO 6), além de reduzir as dores crônicas que podem ocorrer no P.O. tardio das herniorrafias inguinais. Também se atribui a esta técnica um maior controle da dor no P.O. imediato, a alta precoce e um retorno mais rápido ao trabalho, gerando altos índices de satisfação. Os resultados encontrados com esta técnica são reproduzíveis com maior fidedignidade em relação àqueles obtidos com outras técnicas. QUADRO 6 Complicações mais freqüentes da hernioplastia inguinal sob anestesia local Equimose/Hematoma 7,8% Parestesia focal 2,0% Seroma 2,0% Infecção da Ferida 4,0% Fonte: Balbinot, A.L. et al. Hernioplastia inguinal e femoral com anestesia local em nível ambulatorial. Revista do CBC 1997; 24: 427-430. 50 5. CONCLUSÃO A técnica de Lichtenstein empregada sob anestesia local é um método simples, facilmente reprodutível, seguro, prático, econômico e apresenta bons resultados com baixos índices de recidiva e altos índices de satisfação para os pacientes previamente selecionados, apesar de pouco executado no Brasil e em diversos outros países. 51 REFERÊNCIAS 1. LIMA NETO, E.V.; GOLDENBERG, A.; JUCA, M.J. Resultados imediatos da herniorrafia inguinal com anestesia local associada com sedação. Acta Cirúrgica brasileira 2003; 18(5) 478-484. 2. RUTKOWI, M.; ROBBINS, A.W. Aspectos demográficos classificatórios e sócioeconômicos do reparo herniário nos Estados Unidos da América. 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