JUNTE-SE AO DEEP GREEN RESISTANCE

Transcrição

JUNTE-SE AO DEEP GREEN RESISTANCE
JUNTE-SE AO DEEP GREEN RESISTANCE
SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE
2
Por que Deep Green Resistance?
2
O que é a Deep Green Resistance?
3
PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DEEP GREEN RESISTANCE
4
Declaração de Princípios
4
Código de Conduta
4
DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA A SOLIDARIEDADE FEMINISTA
6
Introdução
6
Diretrizes
6
DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA ALIADOS BRANCOS
7
Introdução
7
Diretrizes
8
DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES DE SOLIDARIEDADE INDÍGENA
9
Introdução
9
Diretrizes
9
PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE
9
FAQ FEMINISTA RADICAL
30
TECNOLOGIA VERDE E ENERGIA RENOVÁVEL
37
FAQs
37
Leitura / Consulta Adicional
43
Referências
44
CULTURA DE SEGURANÇA
44
O que é Cultura de Segurança?
44
Regras da Cultura de Segurança
44
Mitos da Cultura de Resistência
46
Violações da Cultura de Segurança
47
Recursos
47
Perguntas Frequentes
48
Mais perguntas ou preocupações sobre segurança? Mande um e-mail:
48
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RESISTÊNCIA ESTRATÉGICA
48
GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA
51
COLLAPSE SCENARIOS
51
Ausência De Resistência
52
Resistência Limitada
56
Ataque Total À Infraestrutura
59
Estratégia De Guerra Ecológica Decisiva
61
QUATRO FASES DA GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA
65
Fase I – Redes e Mobilização
65
Fase II – Sabotagem e Ação Assimétrica
66
Fase III – Interrupção de Sistemas
67
Fase IV: Desmantelamento Decisivo da Infraestrutura
70
IMPLEMENTANDO A GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA
72
Underground Organization
73
Analysis of Strategy
74
Strategic Criteria Checklist
79
DEEP GREEN RESISTANCE BYLAWS
84
General
84
Steering Committee
84
Administrative Committee
84
Membership
85
Chapters
85
Meetings
85
Caucuses
85
Conflict Resolution
85
Finances
85
SOBRE O DEEP GREEN RESISTANCE
Por que Deep Green Resistance?
•
A civilização industrial está matando toda a vida no nosso planeta, nos levando a extinção de 200 espécies por
dia, e isso não irá parar de acontecer espontaneamente.
•
O aquecimento global está acontecendo agora, e a uma velocidade alarmante. A única solução honesta é parar
a civilização industrial de queimar os combustíveis fósseis.
•
A maior parte do consumo está baseada na violência contra as vidas (humanas e não humanas) e na
degradação do ambiente em todo o planeta.
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•
A vida no planeta Terra é mais importante que essa cultura temporária e insana baseada na hiper exploração
de recursos naturais finitos. Essa cultura precisa ser destruída antes que ela consuma toda a vida no planeta.
•
Humanidade não é o mesmo que civilização. Humanos têm desenvolvidos muitas culturas sensatas e
sustentáveis, em risco pela civilização.
•
A maior parte das pessoas sabem que esta cultura é insana e necessita de mudanças radicais, mas não
enxergam alternativas para tais mudanças.
•
Diferentemente da maioria das organizações ambientalistas e de justiça social, a Deep Green Resistence
(DGR) questiona a existência e a necessidade da civilização propriamente dita. A DGR se pergunta: "E se
destruirmos a civilização todos juntos?"
•
Diferentemente da maioria das organizações ambientalistas e de justiça social, a Deep Green Resistence
(DGR) pergunta: "O que precisamos fazer para sermos efetivos?" ao invés de "O que aqueles que estão no
poder podem fazer?"
•
A DGR oferece meios organizados e confiáveis para promover modos de vida sensatos e sobreviver a atual
crise.
•
A DGR possui um plano realístico para parar a insanidade,Guerra Ecológica Decisiva.
Ouça depoimentos dos membros da Deep Green Resistence explicando porque eles se juntaram
O que é a Deep Green Resistance?
O Deep Green Resistance (Resistência Verde Profundo) é uma análise, uma estratégia e a única
organização deste tipo. Como uma análise, revela a civilização como a instituição que está destruindo a vida na
Terra. Como estratégia, oferece um plano concreto de como parar essa destruição. Como uma organização, o
Deep Green Resistance está implementando essa estratégia.
O objetivo do DGR é privar os ricos de sua capacidade de roubar os pobres e os poderosos de sua capacidade de
destruir o planeta. Esta é uma grande empreitada, mas é preciso ser dito: isso pode ser feito. A civilização
industrial pode ser detida.
O DGR é uma organização aboveground (movimento de superfície) que usa ação direta na luta para salvar o
nosso planeta. Também defendem a necessidade de um movimento underground (clandestino) que pode se focar
na infra-estrutura estratégica da industrialização. Mas essas ações separadas nunca seriam uma estratégia
suficiente para alcançar um resultado aceitável. Qualquer estratégia voltada para um futuro satisfatoriamente
habitável deve incluir um esforço para construir democracias diretas com base nos direitos humanos e culturas
materiais sustentáveis.
Isso significa que diferentes estruturas do movimento de resistência devem trabalhar coletivamente: da superfície
ao subterrâneo os militantes e os pacíficos, os ativistas de fronte e os trabalhadores culturais. Nós precisamos de
todos.
E precisamos de coragem. A palavra "coragem" vem da mesma raiz de coeur, a palavra francesa para coração.
Precisamos de toda a coragem de que o coração humano é capaz, forjada tanto em espada quanto em escudo
para defender o que resta deste planeta. E a força vital da coragem, é claro, é o amor.
Assim, apesar do DGR se tratar de contra-atacar, no fim, esta organização se trata de amor. Os pássaros e o
salmão precisam de seu coração, não importa o quão exausto, porque mesmo um coração partido ainda é feito de
amor. Eles precisam de seu coração, porque eles estão desaparecendo, entrando para a mais longa noite de
extinção, e a resistência não tem nada em vista. Teremos de construir essa resistência com qualquer coisa que
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vier à mão: sussurros e orações, história e sonhos, de nossas palavras e ações mais corajosas e mais valentes.
Vai ser difícil, haverá um custo, e em muitas auroras implacáveis ■■vai parecer impossível. Mas vamos ter de
fazê-lo de qualquer maneira. Reúna o seu coração e junte-se com todos os seres vivos. Com o amor como a
nossa Causa Primordial, como podemos falhar?
Eu não nego que eu planejei atos de sabotagem. Mas eu não planejei isso com um espírito de irresponsabilidade,
nem porque eu tenho algum amor pela violência. Eu planejei como resultado de uma avaliação calma e sóbria da
situação política que tínhamos depois de muitos anos de tirania, exploração e opressão do meu povo pelos
brancos.
-Nelson Mandela
PRINCÍPIOS ORIENTADORES DO DEEP GREEN RESISTANCE
Declaração de Princípios
O solo, o ar, a água, o clima e os alimentos que ingerimos são criados por comunidades complexas de seres vivos.
As necessidades das comunidades vivas são básicas; a moralidade individual e social deve emergir de uma
relação humilde com a teia da vida.
A civilização, especialmente a civilização industrial, é fundamentalmente destrutiva para a vida na Terra. Nossa
tarefa é criar um movimento de resistência centrada na vida que vai desmontar a civilização industrial por qualquer
meio necessário. Resistência política organizada é a única esperança para o nosso planeta.
O Deep Green Resistance (Resistência Verde Profundo) trabalha para acabar com o abuso nos níveis pessoais,
organizacionais e culturais. Também nos esforçamos para erradicar a dominação e subordinação de nossas vidas
privadas e práticas sexuais. O Deep Green Resistance se alinha com feministas e outros que buscam erradicar
toda a dominação social e promover a solidariedade entre os povos oprimidos.
Quando a civilização chegar ao fim, o mundo vivo festejará. Devemos ser pessoas biofílicas, a fim de sobreviver.
Aqueles de nós que se esqueceram, devem aprender novamente a viver com a terra, com o ar, com a água e as
criaturas que nos cercam em comunidades construídas no respeito e gratidão. Nós damos boas vindas a este
futuro.
O Deep Green Resistance é uma organização feminist radical. Os homens, enquanto classe, estão travando uma
guerra contra as mulheres. Estupro, espancamento, incesto, prostituição, pornografia, pobreza e gynocídio
(assassinato de mulheres enquanto um fenômeno social) são as principais armas nesta guerra e são as condições
que criam o sexo-classe mulher. O gênero não é natural, não é uma escolha, e não é um sentimento: é a estrutura
da opressão às mulheres. As tentativas de criar mais "escolhas" dentro do sistema de sexo-casta apenas servem
para reforçar as realidades brutais do poder masculino. Como radicais, temos a intenção de destruir o gênero e
todo o sistema de patriarcado que ele encarna. A liberdade das mulheres, como classe, não pode estar separada
da resistência à cultura dominante como um todo.
Escute uma versão em áudio da Declaração de Princípios (English)
Código de Conduta
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Todas as sociedades - incluindo as mais pacíficas; especialmente as mais pacíficas - têm entendido a necessidade
de códigos de conduta, que nada mais são do que normas de comportamento.
Todas as organizações sérias têm códigos de conduta dos quais as pessoas precisam respeitar. Os anarquistas
espanhóis tinham. Assim como o IRA. Os Freedom Riders tinham um código de conduta, assim como os lutadores
de Nat Turner. Os códigos de conduta são ainda mais importantes em movimentos de resistência de militantes que
têm um histórico de mau comportamento.
Rejeitar o conceito de um pacto social é rejeitar toda a responsabilidade (que vem da raiz "dar em troca") e, enfim,
todas as relações humanas. O código de conduta moderno, ocidental, individualista, capitalista, diz que não pode
haver algo como um código de conduta que não seja o que beneficia o indivíduo o máximo possível. Nossos
movimentos não podem usar isso como uma medida de libertação ou como um modelo para as nossas
organizações ou comunidades. Se quisermos ser bem sucedidos em uma tarefa tão monumental, é preciso investir
tempo e energia em nossos relacionamentos.
Concordar em respeitar um código de conduta não é limitante, é libertador. Ele vai garantir que todos os
envolvidos estejam de acordo sobre os protocolos básicos que nos orientam nesta luta.
A civilização, especialmente a civilização industrial, é fundamentalmente destrutiva para a vida na Terra. A
resistência política organizada é a única esperança para o nosso planeta. Nossa tarefa é criar esse movimento de
resistência.
Com este objetivo em mente, nós concordamos em aderir ao seguinte Código de Conduta em nossos grupos
organizadores:
Ação Política: Grupos do DGR só vão se envolver em atividades aboveground não-violentas. Estas podem incluir
manifestações legais, bem como a desobediência civil.
Solidariedade: Os membros não-indígenas do DGR precisam ter em mente que estamos vivendo em terra
roubada em meio a um genocídio em curso. A tarefa dos não-indígenas é construir solidariedade com os povos
indígenas em defesa da terra, preservando as culturas tradicionais e protegendo cerimônias sagradas da
exploração.
Justiça: Estamos enredados em sistemas de sobreposição do poder sádico construídos sobre a riqueza roubada,
privilégio branco, a misoginia e sobre a supremacia humana. Como indivíduos, é nossa responsabilidade
reconhecer esses sistemas e fazer alianças com os despossuídos. Coletivamente, é nossa tarefa botar abaixo
esse sistema.
Liberdade: Grupos DGR têm uma política de tolerância zero para o abuso de qualquer um, humano ou
não-humano. A integridade física e a segurança emocional são direitos humanos básicos que o DGR jurou
defender. O DGR vai banir qualquer membro que estuprar, violentar ou abusar de qualquer criatura viva. A
masculinidade, com sua psicologia militarizada e sua violação imperativa, tem que ser abandonada pessoalmente
e desmantelada globalmente.
Caráter: O DGR é uma empresa séria que requer lealdade, compromisso, integridade e coragem. Os membros
devem tratar todos com respeito.
Segurança: Todos os membros do DGR são obrigados a respeitar os princípios da Cultura de Segurança e
abordar diretamente as violações. Tanto uma segurança fraca quanto a paranóia são perigosos para a nossa
organização. Toda atividade não-política ilegal coloca todos em risco e não é apropriada para os membros. Os
grupos do DGR devem educar os novos membros na Cultura de Segurança.
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Escute uma versão em áudio do Código de Conduta (English)
DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA A
SOLIDARIEDADE FEMINISTA
Desenvolvido pelo grupo de Solidariedade Feminista do Deep Green Resistance, com orientação do Women’s
Caucus.
Introdução
Enquanto classe, os homens desenvolveram um sistema entrincheirado de poder chamado patriarcado, a fim de
naturalizar a exploração das mulheres por meio de seus corpos, de seu trabalho, tempo, crianças, etc. O
patriarcado é composto por um sistema interligado de estruturas sociais, econômicas, políticas, legais e culturais
destinadas a oprimir as mulheres para o benefício dos homens. Este sistema fornece aos homens privilégios em
todos os aspectos de nossas vidas; nós somos os beneficiários diretos. Enquanto homem, muitas vezes
confundimos estes privilégios com os direitos naturais.
Não é suficiente sermos "bons rapazes". Isso não é o suficiente para pessoalmente se isentar da exploração das
mulheres. Não é suficiente sermos pessoalmente conscientes e respeitosos com as mulheres. Não é suficiente
mantermos a igualdade em nossas relações com as mulheres. Embora todas essas coisas sejam importantes,
isentar-se pessoalmente de um comportamento abertamente opressivo não questiona o patriarcado como um
sistema de poder. Há comandos de decência básicos que nós devemos trabalhar com mulheres para arrancar e
desmontar todo este sistema patriarcal de dentro de nós, de dentro de nossos grupos e comunidades, e de dentro
de instituições e da cultura em geral.
As seguintes diretrizes visão encorajar homens ativistas do DGR a mudarem seu comportamento e se aliarem
melhor com as mulheres. Enquanto ativistas homens, nós fomos socializados em uma cultura de dominação que
nos torna suscetíveis a carregar, praticar e reproduzir o patriarcado. Lembre-se: ser um aliado é um processo
contínuo, e não um título que se ganha; isso deve ser sempre definido por mulheres, que irão determinar pelas
ações diárias e comportamentos de um homem quão aliado ele realmente é.
Diretrizes
1. Aprenda a ficar em silêncio, se segurar, ser humilde e a escutar as vozes femininas. Esteja atento às formas
sutis com as quais você pode acabar desvalorizando as mulheres ou ameaçando-as injustamente.
2. Escute o que cada mulher individualmente tem a dizer. Entenda o que elas dizem e responda apropriadamente.
Respeite as mulheres o suficiente para discordar delas, ao invés de fingir que concorda com algo que você
obviamente discorda; quando você realmente concorda, faça com elas saibam disso.
3. Nós precisamos seguir a liderança da mulher e priorizar questões que são trazidas por mulheres ou que digam
respeito a elas. A cultura que queremos criar será centrada nas mulheres: nós devemos avançar nessa
direção. Faça com que mulheres em posições de poder se torne uma prioridade e promova novas líderes
mulheres. Isto inclui o reconhecimento de que líderes mulheres são geralmente objetificadas e silenciadas, e
assuma tolerância zero para esse tipo de comportamento.
4. Não é apropriado que nós falemos como autoridades em assuntos que as mulheres experienciam diretamente.
Por sermos homens nós não compreendemos e não podemos compreender essas experiências. Se formos
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falar desses assuntos, devemos fazê-lo apenas depois das mulheres ou se as mulheres nos pedirem para
fazê-lo, e nunca a partir de nossa própria perspectiva.
5. Devemos questionar nosso próprio comportamento patriarcal, como padrões de silenciamento ou
desvalorização das mulheres ou usando uma linguagem patriarcal (como discursos do ódio, piadas baseadas
em humilhação e degradação, e generalidades identificadas por homens).
6. Não faça uso de pornografia ou prostituição. Liberte sua sexualidade das estruturas patriarcais capitalistas que
exploram a mulher. Questione publicamente a indústria da exploração sexual.
7. Questione os deveres das mulheres para com os homens. As mulheres não devem coisa alguma aos homens,
seja um sorriso, uma conversa, um abraço, um relacionamento ou intimidade de qualquer tipo. Os homens não
têm o direito de ocupar espaços à custa do conforto das mulheres ou de seus limites pessoais.
8. Questione o comportamento sexista de seus amigos, familiares, colegas e aliados políticos. Corte relações com
os homens que continuam a incentivar ou praticar o sexismo. Nós não precisamos de permissão para alertar os
homens sobre o comportamento patriarcal; essa é nossa principal responsabilidade. Chamar a atenção dos
homens sobre isso em espaços e grupos ocupados apenas por homens é uma prioridade.
9. Argumentação machista não será tolerada. Com isto queremos dizer discurso masculino arrogante,
paternalista, condescendente ou que de alguma outra forma rebaixe a voz das mulheres ou coloque a voz do
sexo masculino em um pedestal.
10. Enquanto o patriarcado não fere homens de algumas formas, seu alvo principal são as mulheres. Por isso,
quando não somos feridos pela masculinidade, não podemos dizer que somos oprimidos por ela.
11. Precisamos nos familiarizar com as questões que afetam as mulheres e com a teoria e história feminista. Não
espere se tornar um entendedor sobre feminismo sem nenhum esforço.
12. Dentro da cultura dominante, os homens são perpetradores de assédio e violência. Muitas mulheres são
sobreviventes dessa violência – estudos estimam que cerca de 1/3 de todas as mulheres já foram agredidas
sexualmente ou espancadas por homens, e muitas mulheres dizem que esses números são baixos. Qualquer
mulher tem o direito de supor que não é seguro ter homens ao redor.
13. Nós não estamos aqui para salvar ou resgatar as mulheres. Nós não estamos aqui para sermos heróis. Nós
não estamos aqui para sermos protetores das mulheres; as mulheres podem se proteger. Nosso trabalho não é
proteger as mulheres; é respeitar seus desejos e trabalhar em solidariedade com elas para destruir o
patriarcado. Se assumirmos algum desses papéis contra os desejos particulares das mulheres envolvidas em
uma situação, estamos violando fronteiras.
14. As diretrizes estabelecidas acima representam a base para um comportamento aceitável. Segui-los não é
nada excepcional e não faz com que se mereça uma recompensa. Por outro lado, optar por ignorar o
comportamento sexista será visto como um ato de colaboração com a cultura da dominação masculina.
DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES PARA ALIADOS
BRANCOS
Developed by white Deep Green Resistance members, with guidance from the People of Color Caucus.
Introdução
A Supremacia Branca é um sistema de poder ativo hoje bem como em toda a história desta cultura. Enquanto
ativistas brancos, fomos socializados em uma cultura de dominação e frequentemente carregamos, praticamos e
reproduzimos o racismo em nosso próprio trabalho. O racismo é uma ameaça à saúde e continuação de todas as
comunidades, incluindo as políticas. Nós também pedimos a todos os ativistas para comprometerem-se em todos
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os aspectos de suas vidas, politicamente ou de outras formas, com o desmantelamento do racismo, pessoalmente
e culturalmente. Comunidades não brancas (do original people of color) sozinhas não podem mudar comunidades
brancas de fora, e isso não é responsabilidade deles.
Como Stokely Carmichael disse, "Pessoas brancas devem começar a construir essas instituições [anti-racistas]
dentro das comunidades brancas, e essa é a verdadeira questão que acredito que ativistas brancos estão
encarando hoje: podem eles de fato transformar e botar a baixo as instituições que têm nos colocado nessa
situação desfavorável em que fomos inseridos nos últimos cem anos?” Como aliados de pessoas e comunidades
não brancas, esse é o nosso trabalho. As seguintes diretrizes visam encorajar ativistas brancos a eliminar o
racismo de seu comportamento e linguagem, e para se aliarem melhor com pessoas não brancas.
Diretrizes
1. Entendemos que, enquanto pessoas brancas beneficiadas por uma sociedade de supremacia branca, somos
racistas. É impossível trabalhar para acabar com o racismo sem reconhecer o racismo arraigado que é
ensinado a nós desde que somos muito jovens. Ativistas brancos não precisam se ■■sentir culpados por isso,
mas sim, devemos nos sentir obrigados a desmantelar o racismo, tanto dentro de nós mesmos quanto
externamente.
2. Entre os ativistas, o racismo não se manifesta sempre em explosões de raiva ou violência; mas frequentemente
é encontrado na linguagem cotidiana, nas interações e suposições que em última instância visam silenciar e
desvalorizar as pessoas não brancas. Trabalhe para respeitar e ouvir as vozes e as escolhas das pessoas não
brancas.
3. Apóie, encoraje e respeite as lideranças de pessoas não brancas.
4. Ofereça apoio e assistência a ativistas trabalhando em comunidades de pessoas não brancas. Conheça e
respeite as emergências primárias dessas comunidades.
5. Trabalhe para combater os esforços de supremacistas brancos e grupos fascistas.
6. Tenha a humildade e a coragem para questionar a si mesmo e aprender com os outros sobre questões de raça
e supremacia branca.
7. Não participe ou tolere humor racista. Não utilize termos depreciativos com base em raça. Não fale em dialetos
raciais estereotipados.
8. Questione comportamentos racistas em seus amigos, familiares, colegas e aliados políticos. Quando for o
caso, corte relações com pessoas que continuam a incentivar ou praticar racismo.
9. Discuta o racismo com os jovens em sua vida. Ajude-os a identificar e enfrentar o racismo, a tornarem-se
aliados melhores para as pessoas não brancas, e a se envolver com o trabalho para o fim da supremacia
branca.
10. Comprometa-se com a sua auto-educação permanente sobre a história e teoria da opressão racial. Não fale
como uma autoridade em assuntos que as pessoas não brancas sofrem diretamente e você não. Se você
precisar falar sobre esses assuntos, que seja depois das pessoas não brancas ou se elas lhe pedirem para
fazê-lo.
11. O poder da supremacia branca é mantido em grande parte por instituições (moradia, educação, in-justiça
criminal, bancos, cultura, mídia, extração, e etc.) e não por racistas individuais. Nosso trabalho principal é
acabar com o racismo, e isso vai além de confrontar racistas individuais; em última análise, isso exige o
desmantelamento das instituições e da cultura racista.
12. Entenda que quando você opta por lutar contra o racismo e o imperialismo, você está se juntando a uma longa
e antiga luta em que os povos indígenas e pessoas não brancas sempre estiveram na linha de frente. Enquanto
pessoas brancas, devemos permitir que aqueles que experienciaram essas histórias em primeira mão nos
dêem informação para a nossa resistência.
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13. As diretrizes estabelecidas acima representam a base para um comportamento aceitável. Segui-las não é
nada excepcional e não lhe dá direito a méritos. Optar por ignorar o comportamento racista será visto como um
ato de colaboração com a cultura da supremacia branca.
DEEP GREEN RESISTANCE DIRETRIZES DE SOLIDARIEDADE
INDÍGENA
Introdução
É importante que membros da cultural colonial aliem-se às comunidades indígenas que lutam por seus direitos e
sobrevivência, mas há maneiras certas e erradas para expressar solidariedade. As seguintes diretrizes foram
colocadas juntas por membro da Deep Green Resistence com a ajuda de ativistas indígenas. Eles não são um
completo guia de como fazer - cada comunidade e cada situação é diferente - mas espero que possam apontar em
uma boa direção para agir de forma eficaz e com respeito.
Diretrizes
1. Antes de tudo precisamos reconhecer que pessoas não-indígenas estão ocupadas roubando terras em um
genocídio que está em curso há séculos. Nos devemos afirmar nossa responsabilidade de permanecer(fazer
frente) com as comunidades indígenas que querem suporte e darmos o máximo de si para proteger seus
territórios e culturas de futuras devastações; elas estiveram nas linhas de frente do biocídio e dos genocídios
por séculos, e como aliados, nós precisamos nos levantar e nos juntar a elas.
2. Você está sendo solidária com movimentos indígenas não por culpa, mas por um desejo feroz de confrontar os
sistemas opressivos de poder colonial.
3. Você não está ‘ajudando’ comunidades indígenas, você está lá para: somar-se, confrontar junto, e lutar com
elas contra esses sistemas de poder. Você deve desejar colocar seu corpo na linha também.
4. Reconheça seus privilégios como membro da cultura colonizadora.
5. Você não está aqui para se engajar em nenhum tipo de necessidade cultural, espiritual ou religiosa que você
talvez tenha; você está aqui para se engajar em ação política. Além disso, lembre-se que sua mensagem
política é secundária para a causa.
6. Nunca use drogas enquanto se engaja em trabalhos de solidariedade indígena. Nunca.
7. Pratique mais a escuta do que a fala, você ficará surpreso com o que poderá aprender.
8. Reconheça que haverá comunidades indígenas que não vão querer que você participe de suas cerimônias.
Humildemente abstenha-se de participar das cerimônias.
9. Reconheça que você e aliados indígenas provavelmente serão a minoria de uma causa que valha a pena a
lutar.
10. Trabalhe com integridade e respeito, seja confiável e faça o que você disse que vai fazer.
PERGUNTAS FREQUENTES SOBRE O DEEP GREEN
RESISTANCE
Quem fala em nome da Deep Green Resistance?
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A Deep Green Resistance não é monolítica. Todos aqueles associados a ela têm opiniões que podem ser
diferentes das opiniões dos outros membros da DGR. Assim, qualquer coisa dita por um membro da DGR não
deve ser interpretada como política oficial da DGR, a menos que essas pessoas estejam falando especificamente
pela DGR. A DGR respeita a diversidade de opinião expressada com respeito.
A DGR é uma organização feminista?
Incondicionalmente sim. (Veja também: Perguntas e Respostas sobre Feminismo Radical)
Nas palavras de Andrea Dworkin “feminismo é a prática política de luta em favor das mulheres enquanto classe
contra a supremacia masculina”.1
Comecemos com a frase "mulheres enquanto classe". De uma perspectiva radical, a sociedade é composta por
grupos de pessoas; alguns grupos têm poder sobre outros grupos. Os poderosos utilizam a ideologia para
naturalizar seu domínio e a submissão de grupos subordinados: se a sociedade for realmente ordenada pela
natureza, ou por deus ou pelo cosmos, então não existe forma de luta contra ela. A ideologia pode ser bem
eficiente para extinguir a resistência.
O modelo de racismo que herdamos nos Estados Unidos foi originalmente criado pelos ingleses em suas
tentativas de colonizar a Irlanda. Antes disso, diferenças entre povos eram vistas como culturais. Mas no século
XVII, os ingleses desenvolveram uma ideologia que fazia apelos biológicos à uma suposta inferioridade dos
irlandeses. Os irlandeses não eram culturalmente deficientes – eles eram, por sua natureza, "selvagens". A
imagem que os ingleses tinham dos irlandeses era construída em torno do conceito de que eles eram uma "raça"
separada da dos ingleses. Uma raça sem deus, imoral, preguiçosa, "doente, bárbara e incivilizada". Na base desta
imagem estava a "crença de que muitos irlandeses eram incapazes de serem civilizados, que os 'selvagens'
irlandeses, aqueles que mais vigorosamente resistiram à hegemonia inglesa, permaneceriam indomados: e que a
única maneira de trazê-los para alguma forma de controle civilizado era escravizá-los.2 Com essa ideologia racial,
pessoas ao redor do mundo poderiam ser escravizadas ou simplesmente exterminadas sem nenhuma reserva
ética ou moral da parte dos colonizadores. Isto tem durado por centenas de anos.
O ponto é que raça não é algo biologicamente real. Politicamente, socialmente, economicamente, raça é, é claro,
uma realidade brutal ao redor do globo. Mas o conceito de raça é uma criação dos poderosos. Se nós queremos
um mundo justo, as instituições materiais que mantêm pessoas que não são consideradas brancas [no original:
people of color] subordinadas precisam ser derrubadas. Com isso, os conceitos de "branquitude" e "negritude"
serão por fim abandonados na medida em que não fizerem mais sentido fora das realidades da supremacia
branca.
Muita gente fica confusa quando lhes é pedido para aplicar a mesma análise radical ao gênero. Mas a partir de
uma perspectiva feminista, os paralelos são óbvios. Existem diferenças no tom de pele no âmbito da espécie
humana? Sim. Por que essas diferenças ganham tanto significado? Porque um arranjo corrupto e brutal do poder
precisa de uma ideologia chamada racismo. Existe diferença nas formas dos genitais das pessoas? Sim. Por que
estas diferenças importam tanto? Por causa de um corrupto e brutal arranjo do poder – patriarcado – que precisa
de uma ideologia chamada gênero.
Patriarcado é um sistema político que separa machos e fêmeas por sua biologia e os transforma em categorias
sociais chamadas homens e mulheres. Dessa forma a classe dos homens pode dominar "pessoas chamadas
mulheres".3 Gênero é para mulheres o que raça é para as pessoas de cor: a construção ideológica que sustenta
nossa subordinação.
A Socialização masculina é o processo que transforma uma criança em um menino e, em seguida, em um homem.
Ser um homem requer uma psicologia baseada na auto-afirmação, na dormência emocional e em uma dicotomia
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entre o eu e o outro. A masculinidade é essencial para qualquer cultura militarizada, porque esses são os traços
psicológicos necessários para os soldados. Só se pode matar por um comando se o impulso humano para
cuidarmos uns dos outros tiver sido subjugado ou erradicado. A constante necessidade de transformar os outros
em Outro é um dos resultados: os rejeitados, peças "soft" do self, são projetados para fora, para que possam ser
destruídos.4 Este é um projeto que, provavelmente, nunca terá fim enquanto os humanos tiverem coração e alma,
e isso não pode ser extirpado, tentem os homens o quanto puder. Os veteranos do Vietnã que sofreram o maior
estresse pós-traumático não foram os que sobreviveram às atrocidades, mas aqueles que cometeram
atrocidades.5
A masculinidade requer o que os psicólogos chamam de um grupo de referência negativo, que é um grupo de
pessoas “que um indivíduo... usa como padrão representando opiniões, atitudes ou comportamentos a se evitar."
Meninos em culturas patriarcais criam grupos de referência negativos por uma questão de disciplina. O primeiro
Outro que os meninos começam a desprezar é, claro, as meninas. Nenhum insulto é pior do que alguma versão do
termo "menina", geralmente uma parte da anatomia feminina é deformada em discursos de ódio. Mas, com esse
processo psicológico já em curso, a categoria "mulher" pode facilmente ser substituída por qualquer grupo que
uma sociedade hierárquica precise dominar ou erradicar.
Uma personalidade com um impulso infinito de provar a si mesmo contra o outro, qualquer outro, combinado com
o “direito” que o poder traz, cria um imperativo de violação. Os homens se tornam "homens de verdade" quebrando
limites, sejam eles as fronteiras sexuais das mulheres, as fronteiras culturais de outros povos, os limites políticos
de outras nações, as fronteiras genéticas das espécies, os limites biológicos das comunidades de seres vivos ou
os limites físicos do próprio átomo.
Para a psique empodeirada a única razão pela qual o "Não" existe é para prover a emoção sexual de contestá-lo à
força. O verdadeiro brilhantismo do patriarcado está nisso: ele não apenas naturaliza a opressão, mas também
sexualiza atos de opressão. Ele erotiza a dominação e a submissão. Através dos conceitos – e da realidade vivida
– de masculinidade e feminilidade, o patriarcado institucionaliza a dominação e a submissão através da cultura e
se aprofunda em nossas psicologias.
E assim, os homens cometem atos de brutalidade e violação como uma coisa natural. Perfis psicológicos de
estupradores demonstram "que eles são homens ‘normais’ e ‘comuns’ que atacam sexualmente mulheres a fim de
afirmar seu poder e controle sobre elas."6 O espancamento à mulheres é o crime violento mais comum nos EUA,
cometido uma vez a cada quinze segundos. Trata-se de um homem batendo em uma mulher. É uma das principais
causas de lesões e morte de mulheres nos EUA.7 Um estudo canadense descobriu que quatro em cada cinco
estudantes universitários do sexo feminino tinham sido vítimas de violência em um relacionamento de namoro.8 A
Organização Mundial da Saúde estima que "uma em cada quatro mulheres será estuprada, espancada, coagida a
fazer sexo ou abusada de outra forma durante a sua vida, por vezes com consequências fatais".9 Qualquer coisa
que aconteça nesta escala é vista como totalmente normal, uma parte da vida cotidiana, o comportamento para o
qual a cultura global de dominação masculina está socializando os homens naturalizando-o.
Neste momento, o patriarcado é a religião dominante do planeta. As mulheres são apenas mais um recurso para
os homens usarem em uma busca sem fim para provar sua masculinidade nóciva e gerar soldados para o
constante estado de guerra em que a civilização vive. A masculinidade e a guerra – contra o povo e contra o
planeta – juntas criaram uma máquina de movimento perpétuo de dominação e destruição da terra e dos direitos
humanos. É por esse motivo que o militarismo é uma questão feminista, que o estupro é uma questão ambiental e
que a destruição do meio ambiente é uma questão de paz. Nós nunca iremos desconstruir a misoginia enquanto a
dominação continuar sendo erotizada. Nós também nunca conseguiremos acabar com o racismo, nem vamos
montar uma resistência efetiva contra o fascismo, uma vez que, como Sheila Jeffreys apontou, a raiz do fascismo
é, enfim, a erotização da dominação e da subordinação – o fascismo é, em essência, um culto à masculinidade.10
Essas são todas enormes extensões desse mesmo princípio e o resultado é a tortura, o estupro, o genocídio e o
biocídio.
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O coração desse inferno é a personalidade autoritária estruturada em torno da masculinidade. Lundy Bancroft,
sobre a mentalidade dos homens abusivos, escreve: "A raiz [do abuso] é a propriedade, o tronco é o direito, e os
ramos são o controle".11 Não há como fazer uma descrição mais clara da civilização ou do reinado de terror do
patriarcado.
O que é feminilidade? Feminilidade é um conjunto de comportamentos que são, em essência, a submissão
ritualizada. A socialização feminina é um processo de constrangimento psicológico para diminuir as meninas –
também conhecido como "aliciamento" – para criar uma classe de vítimas conformadas. Em toda a história essa
diminuição tem incluído as chamadas "práticas de beleza", como a MGF (mutilação genital feminina) e o
enfaixamento dos pés, bem como o abuso sexual infantil. A feminilidade é na verdade apenas a psique
traumatizada exibindo aquiescência.
Tornou-se chique abarcar noções modernas de pós-modernismo em alguns círculos de ativistas. Isto inclui a idéia
de que sexo é um "binário". Mas o gênero não é um binário: é uma hierarquia, global em seu alcance, sádica em
sua prática e assassina em sua conclusão, assim como raça, assim como classe. Sexo é a ideologia que subjaz as
condições materiais de vida das mulheres: estupro, espancamento, pobreza, prostituição e gynocídio. Essas
condições não poderiam existir sem a criação de categorias sociais como "homens" e "mulheres" – e sem as
violentas e violadoras práticas que são, por sua vez, o que criam pessoas chamadas mulheres. Essas condições,
conhecidas pelo termo geral patriarcado, têm que ser combatidas e desconstruídas até o conceito de gênero não
ter mais significado.
Noel Ignatiev, autor de How the Irish Became White (Como os Irlandeses Tornaram-se Brancos), defendeu a
abolição da raça branca, definida como "privilégio branco e identidade racial."12 O DGR convida as pessoas
brancas para realizarem esse projeto tão necessário, tanto pessoalmente quanto politicamente. Da mesma forma,
o DGR quer desconstruir o sexo-classe homem, que é simplesmente o privilégio masculino e a identidade de
gênero. Os homens podem ser traidores de sua classe, as mulheres podem se recusar a se submeter aos
constrangimentos de esmagamento de gênero, materialmente e psicologicamente. Todos nós podemos lutar.
O planeta está em pedaços; os indígenas estão deslocados e sendo exterminados; a escravidão é um modo de
vida apenas temporariamente encoberto pela distância e pelos combustíveis fósseis; a supremacia masculina está
carregada de sadismo sexual, mulheres e meninas sem voz estão sendo violadas. Nós dizemos: já basta. A
liberdade e um planeta cada vez mais vivo só serão alcançados quando a masculinidade – sua religião, sua
economia, sua psicologia, seu sexo – for confrontada e derrotada. O DGR está com as mulheres nessa guerra.
Junte-se a nós!
1Dworkin,
"Woman-Hating Right and Left", p. 30.
p. 63.
3Dworkin, Letters, p. 270.
4Griffin.
5Grossman.
6Lenskyj.
7Langford and Thompson, p. 7.
8DeKeseredy and Kelly.
9"UN calls for strong action to eliminate violence against women."
10Jeffreys, p. 65.
11Bancroft, p. 75.
12Ignatiev.
2Smedly,
_________________________________________________________________________
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Bibliografia
Bancroft, Lundy. Why Does He Do That? Inside the Minds of Angry and Controlling Men. New York: G.P. Putnam’s
Sons, 2002.
DeKeseredy, W. and K. Kelly. "The Incidence and Prevalence of Woman Abuse in Canadian University and
College Dating Relationships: Results From a National Survey." Ottawa: Health Canada, 1993.
Dworkin, Andrea. Letters from a War Zone. New York: E.P. Dutton, 1988.
Dworkin, Andrea."Woman-Hating Right and Left," in Dorchen Leidholdt and Janice G. Raymond, eds. The Sexual
Liberals and the Attack on Feminism. New York: Pergamon Press, 1990.
Griffin, Susan. Pornography and Silence: Culture’s Revenge Against Nature. New York: Harper & Row, Publishers,
1981.
Grossman, Lt. Col. Dave. On Killing: The Psychological Cost of Learning to Kill in War and Society. New York:
Little, Brown and Company, 1995.
Ignatiev, Noel. How the Irish Became White. New York: Routledge, 1996.
Langford, Rae and June D. Thompson. Mosby’s Handbook of Diseases, 3rd Edition. St. Louis, MO: Elsevier Health
Sciences, 2005.
Lenskyj, Helen. "An Analysis of Violence Against Women: A Manual for Educators and Administrators." Toronto:
Ontario Institute for Studies in Education, 1992.
Jeffreys, Sheila. "Sado-Masochism: The Erotic Cult of Fascism." Lesbian Ethics 2, No. 1, Spring 1986.
Smedley, Audrey. Race in North America: Origin and Evolution of a Worldview. Boulder, CO: Westview Press,
2007.
"UN calls for strong action to eliminate violence against women." UN News Centre.
http://www.un.org/apps/news/story.asp?NewsID=16674&Cr=&Cr1=.
SUGESTÕES DE LEITURA
Andrea Dworkin. Life and Death. New York: The Free Press, 1997.
Cordelia Fine. Delusions of Gender. New York: W.W. Norton, 2010.
Sheila Jeffreys. Beauty and Misogyny. New York: Routledge, 2005.
Robert Jensen. Getting Off: Pornography and the End of Masculinity. Boston: South End Press, 2007.
Rebecca M. Jordan-Young. Brainstorm: The Flaws in the Science of Sex Differences. Cambridge, MA: Harvard
University Press, 2010.
Como você define "civilização"?
O Deep Green Resistance utiliza a definição de civilização de Derrick Jensen que foi exposta em Endgame vol. 1,
p. 17 da seguinte forma:
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Civilization is a culture—that is, a complex of stories, institutions, and artifacts—that both leads to and
emerges from the growth of cities (civilization, see civil: from civis, meaning citizen, from Latin civitatis,
meaning city-state), with cities being defined—so as to distinguish them from camps, villages, and so on—as
people living more or less permanently in one place in densities high enough to require the routine
importation of food and other necessities of life.
Veja também a descrição de Aric McBay para civilização.
What's wrong with civilization? Why would anyone want it to end?
O livro em dois volumes de Derrick Jensen, Endgame, explora extensamente essa questão. Ele desenvolveu 20
Premissas em sua analise:
Premissa Um : A civilização não é e nunca será sustentável. Isto é especialmente verdadeiro para a civilização
industrial.
Premissa Dois: As comunidades tradicionais não desistem ou vendem voluntariamente os recursos nos quais se
baseiam até que estejam destruídas. Elas também não aceitam deixar que seus territórios sejam danificados para
que os outros recursos – ouro, petróleo e assim por diante – sejam extraídos. Disso resulta que aqueles que
querem os recursos farão o que podem para destruir as comunidades tradicionais.
Premissa Três: O nosso modo de vida - a civilização industrial – se baseia, exige e entraria em colapso muito
rapidamente sem violência persistente e generalizada.
Premissa Quatro: A civilização está baseada em uma hierarquia claramente definida e amplamente aceita, ainda
que muitas vezes desarticulada. A violência feita por aqueles acima na hierarquia para os abaixo é quase sempre
invisível, ou seja, despercebida. Quando se percebe, ela é totalmente racionalizada. A violência feita por aqueles
abaixo na hierarquia para os acima é impensável e, quando ocorre, é considerada com choque, horror e
fetichização das vítimas.
Premissa Cinco: A propriedade dos acima na hierarquia é mais valiosa que a vida das pessoas abaixo. É
aceitável para aqueles acima aumentarem a quantidade de bens que eles controlam – na linguagem cotidiana,
ganhar dinheiro – destruindo ou tirando a vida das pessoas abaixo. Chama-se isso de produção. Se os que estão
abaixo causam danos à propriedade dos acima, estes podem matar ou destruir a vida das pessoas abaixo.
Chama-se isso de justiça.
Premissa Seis: A civilização não é recuperável. Esta cultura não sofrerá qualquer tipo de transformação voluntária
para uma forma sã e sustentável de viver. Se não colocarmos um fim nela, a civilização continuará a causar
miséria para a grande maioria dos seres humanos e a degradar o planeta até que ela (a civilização e
provavelmente o planeta) entre em colapso. Os efeitos dessa degradação continuarão a prejudicar os seres
humanos e não-humanos por um longo tempo.
Premissa Sete: Quanto mais tempo esperarmos para que a civilização entre em colapso – ou quanto mais tempo
esperarmos antes de derrubá-la – pior será a queda e as coisas ficarão piores para aqueles seres humanos e
não-humanos que habitam nela e os que virão depois.
Premissa Oito: As necessidades do mundo natural são mais importantes que as necessidades do sistema
econômico.
Outra maneira de colocar Premissa Oito: Todo sistema, econômico ou social, que não beneficia as
comunidades naturais em que se baseia, é insustentável, imoral e burro. Sustentabilidade, moralidade e
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inteligência (assim como a justiça) exigem o desmantelamento de qualquer sistema econômico ou social – ou, pelo
menos, o impedimento – que danifique o seu território.
Premissa Nove: Embora claramente um dia existirão menos humanos que atualmente, há muitas maneiras desta
redução na população ocorrer (ou ser alcançada, dependendo da passividade ou atividade que escolhermos para
abordar essa transformação). Algumas serão caracterizadas por extrema violência e privação: Guerra nuclear, por
exemplo, reduziria tanto a população quanto o consumo, mas terrivelmente; o mesmo seria válido para uma
continuação do crescimento seguido por uma queda. Outras formas são caracterizadas por menos violência.
Dados os atuais níveis de violência desta cultura, tanto contra os seres humanos quanto contra o mundo natural,
no entanto, não é possível falar de redução populacional e do consumo que não envolvam violência e privação,
não porque as reduções necessariamente envolveriam violência, mas porque a violência e as privações
tornaram-se o padrão de nossa cultura. No entanto, algumas formas de reduzir a população e o consumo, mesmo
violentas, consistiriam em diminuir os atuais níveis de violência – requeridos e causados pelo movimento (muitas
vezes à força) de recursos dos pobres para os ricos – e seriam, naturalmente, marcados por uma redução da
violência em curso contra o mundo natural. Pessoal e coletivamente, podemos ser capazes de reduzir a
quantidade e suavizar o caráter da violência que ocorre nesta mudança de curso e, talvez, em longo prazo. Ou
talvez não. Mas uma coisa é certa: se não a abordarmos ativamente – se não falarmos sobre a nossa situação e o
que faremos sobre ela – a violência certamente será muito pior e a privação mais extrema.
Premissa Dez: A cultura como um todo, assim como a maioria dos seus membros, é insana. A cultura é
impulsionada por um desejo de morte, um desejo de destruir a vida.
Premissa Onze: Desde o início, essa cultura – a civilização – tem sido uma cultura de ocupação.
Premissa Doze: Não existem pessoas ricas no mundo e não existem pessoas pobres. São apenas pessoas. O
rico pode ter muitos pedaços de papel verde que muitos fingem valer alguma coisa – ou sua presumida riqueza
pode ser ainda mais abstrata: números em discos rígidos nos bancos – e que os pobres não possuem. Estes
“ricos” alegam que possuem terra e muitas vezes aos “pobres” é negado o direito de fazer essa mesma
reivindicação. A finalidade principal da polícia é fazer cumprir as ilusões daqueles com muitos pedaços de papel
verde. Os sem-papel verde geralmente caem nesses delírios quase tão rápida e completamente como aqueles que
possuem papel verde. Essas ilusões trazem consequências extremas no mundo real.
Premissa Treze: Aqueles no poder comandam pela força e quanto mais cedo rompermos as ilusões em contrário,
mais cedo poderemos ao menos começar a tomar decisões razoáveis sobre se, quando e como vamos resistir.
Premissa Quatorze: Do nascimento – e, provavelmente, desde a concepção, mas eu não sei como seria nesse
caso – somos individual e coletivamente aculturados para odiar a vida, odiar o mundo natural, odiar o selvagem,
odiar os animais selvagens, odiar as mulheres, odiar as crianças, odiar o nosso corpo, odiar e temer as nossas
emoções, odiar a nós mesmos. Se nós não odiássemos o mundo não permitiríamos que ele fosse destruído diante
de nossos olhos. Se nós não odiássemos a nós mesmos, não permitiríamos que nossos lares – e nossos corpos –
fossem envenenados.
Premissa Quinze: Amor não implica pacifismo.
Premissa Dezesseis: O mundo material é primário. Isso não significa que o espírito não existe, nem que o mundo
material é tudo que existe. Isso significa que o espírito se mistura com a carne. Isso significa também que as ações
no mundo real têm conseqüências no mundo real. Isso significa que não podemos confiar em Jesus, Papai Noel, a
Grande Mãe, ou mesmo no Coelho da Páscoa para nos tirar dessa bagunça. Isso significa que essa bagunça é
realmente uma bagunça e não só o movimento das sobrancelhas de Deus. Isso significa que temos que enfrentar
essa bagunça nós mesmos. Isso significa que durante o tempo que estamos aqui na Terra – quer acabemos ou
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não em outro lugar depois da morte ou se estamos condenados ou privilegiados a viver aqui – a Terra é o ponto. É
primária. É o nosso lar. Ela é tudo. É bobagem pensar ou agir como se este mundo não fosse real e primário. É
bobo e patético não viver nossas vidas se as nossas vidas são reais.
Premissa Dezessete: É um erro (ou, mais provavelmente, uma negação) basear as nossas decisões e as ações
delas decorrentes na possibilidade delas assustarem ou não os que estão em cima do muro ou a massa da
população.
Premissa Dezoito: O nosso sentido atual de nós próprios não é mais sustentável do que o nosso uso atual de
energia ou de tecnologia.
Premissa Dezenove: O problema da cultura está, acima de tudo, na crença de que controlar e abusar do mundo
natural seja justificável.
Premissa Vinte: Dentro dessa cultura, a economia – não o bem-estar comunitário, não a moral, nem a ética, nem
a justiça e nem a própria vida – conduz as decisões sociais.
Modificações da Premissa Vinte: As decisões sociais são determinadas principalmente (e muitas vezes
exclusivamente) em função do fato de que estas decisões vão aumentar a fortuna monetária dos decisores
políticos e aqueles a quem servem.
Re-modificação da Premissa Vinte: As decisões sociais são determinadas principalmente (e muitas vezes
exclusivamente) em função do fato de que estas decisões vão aumentar o poder dos decisores políticos e
daqueles a quem servem.
Re-modificação da Premissa Vinte: As decisões sociais são fundadas principalmente (e muitas vezes
exclusivamente) na crença quase totalmente impensada de que os decisores políticos e aqueles a quem servem
têm o direito de ampliar seu poder e/ou fortunas financeiras à custa dos que estão abaixo.
Re-modificação da Premissa Vinte: Se você cavar até o coração disso – se sobrou qualquer coração – você
descobrirá que as decisões sociais são determinadas principalmente com base no quão bem essas decisões
servem para as finalidades de controlar ou destruir a natureza selvagem.
Porque a civilização precisa ser desconstruída? Não estamos chegando a um ponto de inflexão da opinião
pública?
Derrick Jensen: Em 2004, George Bush recebeu mais de 62 milhões de votos nos Estados Unidos. É certo que
os democratas são apenas o bom policial em um cenário de “policial bom/policial mau”, mas isso não altera o fato
de que 62 milhões de pessoas votaram em George Bush. Agora as pessoas estão acampando durante a noite
inteira para para fazer pressão pela assinatura de Sarah Palin. No pequeno município onde eu moro, existem
poucas questões que podem mobilizar um número de pessoas suficientemente entusiasmadas para realizar algum
protesto. Uma delas é que eles querem ter o direito de cultivar pequenas quantidades de maconha. Outra é que
eles querem ter o direito de dirigir seus ORVs (veículos Off-Road) em qualquer lugar que desejarem.
As pessoas não estão protestando contra a falta de vontade deste governo de prestar cuidados de saúde. As
pessoas não estão protestando contra a intoxicação total do ambiente e de seus entes queridos que estão
morrendo de câncer. Eles não estão protestando contra os Estados Unidos gastando bilhões de dólares – bilhões
e bilhões de dólares – para matar pessoas em todo o mundo. Pelo contrário, uma das mais inteligentes jogadas
políticas que qualquer político pode fazer é aumentar o orçamento militar. Isso é tremendamente popular.
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Essa cultura deve ser desfeita completamente. Essa é uma necessidade absoluta. A humanidade viveu sem
industrialismo durante a maior parte de sua existência. O industrialismo está matando o planeta. Os seres
humanos não podem existir sem o planeta. O planeta (e a existência humana sustentável) é mais importante do
que o industrialismo.
Claro, todos nós iríamos preferir que houvesse uma transformação voluntária, um ponto de inflexão. Mas se este
ponto de inflexão não ocorrer, precisamos de um plano B.
Não, a civilização não vai se transformar em algo sustentável. Isso não é concretamente possível. A civilização é
funcionalmente insustentável. E o fato de idéias como o centésimo macaco serem tão usadas pelo discurso
público nos permite perceber a distância extrema a que estamos de alcançar o tipo de mudanças que são
necessárias. O fato de que as pessoas ainda estão falando a favor deste nível de alheamento da realidade
material concreta é a própria prova de que não haverá uma transformação voluntária.
Não, o momento é muito inflexível. O que precisamos fazer é dar um fim a esta cultura antes que ela mate o
planeta. E, eu não posso falar por você, mas eu não vou confiar em um centésimo macaco ficcional para fazer o
trabalho por mim quando eu posso fazer o trabalho sozinho.
Você não pode forçar as pessoas a mudar. Uma mudança de paradigma não vai ocorrer, eventualmente, e
trazer consigo um sistema sustentável?
Aric McBay: Os proponentes da estratégia educacional frequentemente afirmam que o persistente trabalho em
construir a consciência pública acabará por resultar em uma "mudança de paradigma" global, que irá mudar
radicalmente as ações e opiniões da maioria. O termo mudança de paradigma vem do livro de 1962, de Thomas
Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas, mas por alguns motivos, é inaplicável a nossa situação. Embora a
expressão tenha ganhado popularidade na década de 1990 como um chavão de marketing, Kuhn escreveu
explicitamente que a idéia só é aplicável a esses campos normalmente chamados de ciências exatas (física,
biologia, química, e assim por diante). Um paradigma, segundo ele, é um sistema dominante de explicação
presente em uma dessas ciências, ao passo que "um estudante na área de humanas tem constantemente diante
dele [sic] um número de soluções concorrentes e incomensuráveis ■■para estes problemas, assim como soluções
que ele deve por fim analisar por si mesmo". Os cientistas que tentam usar as equações para explicar, por
exemplo, a mecânica orbital, podem chegar a um acordo sobre qual teoria é melhor, porque eles estão tentando
desenvolver as equações de predição mais precisas. As ciências sociais e outras áreas não têm esse luxo, porque
não há acordo sobre quais problemas são mais importantes, sobre como avaliar as suas respostas, sobre que tipo
de resposta é a mais importante e quão exata ela precisa ser, e o que fazer quando as respostas surgem.
Devido a estas diferenças, Kuhn argumentou que as verdadeiras mudanças de paradigma científico sempre levam
a paradigmas melhores – que explicam melhor uma parte do mundo. Mas na sociedade em geral não é assim que
acontece – visões de mundo dominantes podem ser substituídas por visões de mundo que são consideravelmente
piores para explicar o mundo ou que são prejudiciais para os seres humanos e para a vida no planeta, um
fenômeno que é tristemente comum na história.
Além disso, Kuhn argumentou que mesmo quando um paradigma muito melhor é apoiado por forte evidência a
comunidade científica não necessariamente muda rapidamente. Os cientistas que têm praticado o paradigma
obsoleto por toda a sua carreira não vão mudar as suas mentes mesmo na presença de provas contundentes.
Kuhn cita o Prêmio Nobel Max Planck, que disse que "uma nova verdade científica não triunfa convencendo seus
oponentes e fazendo-os ver a luz, mas sim porque seus oponentes eventualmente morrem e uma nova geração
que é mais familiar a ela surge".
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Ainda pior para nós, Kuhn e Planck estão supondo que as pessoas em questão estão genuinamente e
deliberadamente tentando encontrar o melhor paradigma possível. Fazer isso requer muito tempo de trabalho. Nós
realmente acreditamos que a maioria das pessoas vai gastar suas horas vagas tentando obter uma compreensão
mais profunda do mundo, tentando vasculhar a enorme quantidade de informações disponíveis, tentando
compreender a história, a ecologia e a economia? A própria idéia de uma mudança de paradigma pressupõe que a
maioria das pessoas esteja ativamente tentando encontrar soluções em grande escala para a nossa situação atual
em vez de serem ignorantes e profundamente comprometidos com um sistema econômico e social conveniente
que recompensa as pessoas por destruir o planeta.
Na verdade, parte do problema com a "educação" é que não são apenas os esquerdistas que caem nessa
tendência, isso raramente é imparcial. Estudos têm demonstrado que na direita política, as pessoas mais
educadas são menos propensas a admitir a existência do aquecimento global. Isto acontece, provavelmente,
porque eles têm justificativas mais sofisticadas para seus delírios.
Mas vamos parar por um momento e tomar a interpretação mais otimista (mesmo que deformada) do conceito de
Kuhn e assumir que uma mudança de paradigma benéfica vai acontecer, ao invés de um agravamento da política
e uma amplificação de visões de mundo dominantes. Essa mudança exigiria provas abundantes de que a cultura
dominante – civilização – é inerentemente destrutiva e está condenada a se autodestruir, juntamente com o
planeta vivo. Como não podemos fazer vários testes experimentais em uma civilização industrial global, para
muitas pessoas, a única demonstração empírica incontornável da insustentabilidade fundamental do sistema
dominante seria o colapso do sistema. Só nesse momento a maioria das pessoas iria se comprometer seriamente
e pessoalmente em aprender a viver sem destruir o planeta, e mesmo assim, essas pessoas provavelmente iriam
continuar a insistir em sua visão de mundo ultrapassada, até que, como Max Planck observou, morressem,
resultando em um atraso de décadas após o colapso para que um paradigma benéfico se tornasse dominante.
Isso significa que, mesmo na avaliação mais otimista e razoável, uma "mudança de paradigma global" aconteceria
décadas mais tarde do que o necessário.
Eu sou um fã de Daniel Quinn. Ele diz que devemos simplesmente sair da civilização. O que há de errado
com essa estratégia?
Derrick Jensen: Há dois problemas com isso. Com a civilização em processo de metástase, espalhando-se por
todo o globo e bombardeando a Lua, para onde você poderia ir? Você pretende fugir para o Ártico em
derretimento? Você pretende fugir para o meio do oceano, onde há quarenta e oito vezes mais plástico do que
fitoplânctons: dentro dessa cultura, a economia – e não o bem-estar das comunidades, não a moral, nem a ética,
nem a justiça, nem mesmo a vida si – é quem impulsiona as decisões sociais. Sendo assim, para onde você deve
ir? Há dioxina no leite materno de cada mãe, de forma que você não pode sequer beber leite materno sem ingerir
patógenos. Há substâncias cancerígenas em cada rio dos Estados Unidos e, provavelmente, do mundo.
Para onde você pretende fugir?
Alguns respondem a isto dizendo: "Oh, não, ele está falando de um estado mental. Nós deveríamos ir embora
emocionalmente e sair". Mas o mundo material é a base para toda a vida e você não pode retirar-se dele.
Fugir em face da complexidade moral não é resposta alguma. Fugir em face de atrocidades não é resposta
alguma. Duas centenas de espécies foram extintas hoje. Quando nos confrontamos com essas atrocidades
cometidas cabe-nos parar essas atrocidades usando qualquer meio necessário. Se você estivesse sendo torturado
até a morte em algum porão e eu soubesse disso, você gostaria que eu te abandonasse e fugisse? Você aceitaria
que eu dissesse: "Oh, já sei o que fazer, vou dar no pé." Do que você me chamaria se eu fizesse isso? Eu estou
supondo que "covarde" seria a palavra mais gentil que você poderia usar.
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Como eu posso saber se a civilização é irrecuperável?
Derrick Jensen: Olhe ao seu redor. Noventa por cento dos grandes peixes nos oceanos desapareceram. Os
salmões estão em colapso. Os pombos passageiros sumiram. Os maçaricos esquimós sumiram. Noventa e oito
por cento das florestas nativas sumiram, noventa e nove por cento das zonas úmidas, noventa e nove por cento
dos campos nativos. Do que mais você precisa?
Do que você precisa para finalmente reconhecer que ela não é recuperável■■? Em A Language Older Than
Words eu expliquei como todos nós estamos sofrendo do que Judith Herman chamaria de "Transtorno de Estresse
Pós-Traumático Complexo." Judith Herman pergunta: "O que aconteceria se você fosse criado em cativeiro? O
que aconteceria se você fosse mantido em cativeiro por um longo prazo, como um prisioneiro político, como um
sobrevivente de violência doméstica?" Você é levado a acreditar que todos os relacionamentos são baseados em
poder, que o poder faz bem, que não existem relações totalmente mútuas. Isso, é claro, descreve toda a
epistemologia desta cultura e toda a forma desta cultura se relacionar. Os povos indígenas têm dito que a
diferença fundamental entre formas ocidentais e indígenas de ser é que mesmo os ocidentais com a mente mais
aberta vêem e ouvem o mundo natural como uma metáfora, em oposição à forma como o mundo realmente
funciona. Assim, o mundo é feito de recursos a serem explorados, ao invés de ser feito de outros seres a se
relacionar. Temos sido tão traumatizados que não somos capazes de perceber que os relacionamentos reais são
possíveis. Essa é uma das razões pela qual essa cultura não é recuperável.
Aqui está outra resposta. Em Culture of Make Believe, eu escrevi sobre como essa cultura é irrecuperável porque
seus sistemas de recompensas sociais levam inevitavelmente à atrocidade. Esta cultura é baseada em competição
ao invés de cooperação e, como tal, irá inevitavelmente levar a guerras por recursos.
A antropóloga Ruth Benedict tentou descobrir por que algumas culturas são boas (para usar as palavras dela) e
algumas culturas não são boas. Em uma boa cultura, os homens tratam as mulheres bem, os adultos tratam bem
as crianças, as pessoas geralmente são felizes e não há muita concorrência. Ela descobriu que as boas culturas
têm uma coisa em comum, elas descobriram algo muito simples: elas reconhecem que os seres humanos são
criaturas sociais e também egoístas, que eles fundem egoísmo e altruísmo elogiando os comportamentos que
beneficiam o grupo como um todo e não permitindo comportamentos que beneficiam o indivíduo em detrimento do
grupo. As culturas ruins recompensam socialmente o comportamento que beneficia o indivíduo em detrimento do
grupo. Se você recompensar o comportamento que beneficia o grupo, este é o tipo de comportamento que você
vai estimular. Se você recompensar o comportamento que é egoísta, ganancioso, este é o comportamento que
você vai estimular. Esse é um comportamento Mod. 101.
Esta cultura premia o comportamento altamente consumista, psicopatológico, e esse é o comportamento que
vemos se alastrar. É inevitável.
Precisa de uma outra resposta? Em Endgame expliquei que uma cultura que importa recursos não pode ser
sustentável. Para ser sustentável, uma cultura deve ajudar seu ambiente, mas a necessidade de importação de
recursos resulta do fato de que um determinado recurso já foi esgotado desse ambiente. À medida que a cidade
cresce, os recursos de uma área cada vez maior são esgotados. O modo de vida dessa cultura não pode ser
sustentável.
Este modo de vida é sempre baseado na violência. Se a cultura requer a importação de recursos, o comércio
nunca será suficientemente confiável. Se pessoas viverem próximas de algum recurso de que essa cultura precisa,
elas serão roubadas. Mesmo que todos nós nos tornássemos bodhisattvas, o exército dos EUA ainda teria que ser
enorme. A civilização é irredimível em um nível funcional.
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Podemos falar tudo o que quisermos sobre as novas tecnologias, mas a partir do momento em que elas exigirem
fiação de cobre, vão exigir uma infra-estrutura industrial, bem como uma infra-estrutura de mineração, o que é
inerentemente insustentável.
Neste momento os Estados Unidos estão gastando 100 bilhões de dólares por ano para invadir e ocupar o
Afeganistão. Isso é cerca de três mil e quinhentos dólares para cada homem, mulher e criança afegã por ano. Ao
mesmo tempo, todos os peritos da ala política da direita dão a mesma resposta: "É muito caro deter o
aquecimento global". Há sempre dinheiro para matar pessoas. Nunca há dinheiro suficiente para fins de afirmação
da vida.
Eu olho em volta para todos os lados e não vejo nenhum sinal de possibilidade de recuperação nesta cultura. O
mundo material está sendo assassinado. O padrão está claro. Precisamos reconhecer esse padrão, e em seguida
temos que parar aqueles que estão matando o planeta.
Como posso ter certeza de que minhas ações não vão causar ou adiantar a extinção dessas espécies que
eu estou tentando salvar? Como posso ter certeza de que minhas ações não resultarão em pessoas
famintas matando cada animal selvagem de sua região em busca de alimentos ou derrubando até a última
árvore para produzir combustível?
Derrick Jensen: Nós não podemos ter certeza absoluta de nada. A única coisa que podemos ter certeza é que, se
a civilização continuar, ela vai matar cada ser existente na terra. Mas vamos dar um cenário razoavelmente pior de
um evento cataclísmico. Chernobyl foi um desastre horrível, no entanto, teve um resultado ecológico
espetacularmente positivo: os seres humanos têm sido mantidos fora da área e a vida selvagem está retornando.
Sabe o que isso significa? O funcionamento do dia-a-dia da civilização é pior do que uma catástrofe nuclear. Seria
difícil fazer pior do que Chernobyl.
Entendo, basta ser minimamente inteligente para se fazer essas perguntas. Mas se não agirmos não haverá mais
nada. O que o mundo precisa é ser deixado em paz. O que o mundo precisa é que essa cultura – que está
continuamente cortando-o, torturando-o, matando-o – seja impedida de continuar.
If the strategy of Decisive Ecological Warfare were carried out and the electrical grid brought down,
wouldn’t it lead to nuclear meltdown?
The main problem in nuclear disasters is radioactive waste rather than the nuclear material in the reactor itself.
Stored radioactive waste was the major issue with the Fukushima meltdown in 2011. Stored radioactive waste was
the largest concern during the fires near the Los Alamos nuclear waste storage area in both 2000 and 2011, and
after the near-flooding of a nuclear reactor in Mississippi in 2011. The reactor contains only a small amount of
active fuel compared to the spent fuel held within storage facilities.
More nuclear disasters will almost inevitably occur in the coming decades, whether or not the electrical grid is
dismantled. Hazardous radioactive waste will accumulate as long as industrial civilization continues, and there are
almost no safe long-term storage facilities anywhere in the world. So nuclear reactors will become more and more
dangerous as larger and larger stockpiles of spent fuel are kept on site.
Nuclear reactors are most dangerous when ■ as at Fukushima ■ direct physical damage to the plant disables
back-up generators and other safety equipment. Reactors are designed to cope with simple black-outs, so failure of
the electrical grid is one of the least dangerous of possible disruptions to a nuclear plant. It is unlikely that a single
dramatic blackout will collapse the industrial economy and cause widespread nuclear catastrophe. More likely, an
increasing number of medium-scale power disruptions will encourage the decommission of nuclear power plants, or
at least force closer attention to safety precautions. For example, several countries have started to shut down or put
on hold their nuclear programs since the Fukushima disaster in Japan.
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The current "exclusion" zone around Fukushima encompasses about 600 square kilometres of land. This temporary
boundary will probably — like Chernobyl — ironically end up ecologically richer over the coming decades. (See
previous FAQ.)
Most of the other large-scale energy sources are far more dangerous if they continue to operate. Mountain-top
removal for coal in Appalachia will obliterate 5,700 square kilometres of land this year, and will do it again next year
if not stopped. That land will need thousands of years to recover, assuming the burning of that coal doesn't trigger a
runaway greenhouse effect. 85,000 square kilometres of land in Alberta has so far been leased for tar sands
development.
Future nuclear disasters from shoddily-maintained plants will be very bad, but business as usual is far more
destructive. And while nuclear radiation diminishes over time, unless something decisive is done, greenhouse
gases levels will increase faster and faster as they pass tipping points.
Se derrubarmos a civilização, isso não vai matar milhões de pessoas nas cidades? E quanto a eles?
Derrick Jensen: Não importa o que fizer, você vai sujar suas mãos com sangue. Se você participar da economia
global, vai sujar suas mãos com sangue porque a economia global está matando os seres humanos e
não-humanos de todo o planeta. Meio milhão de crianças morrem a cada ano como resultado direto do chamado
"pagamento da dívida" dos países não-industrializados para nações industrializadas. Sessenta mil pessoas
morrem todos os dias por causa da poluição. E o que dizer de todas as pessoas que estão sendo expulsas de
suas terras? Há um monte de gente morrendo nesse momento. Deixar de agir em face da atrocidade não é uma
resposta sensata.
A triste realidade é que tanto a diminuição de energia quanto o colapso biótico serão cada vez mais graves na
medida em que a cultura dominante continuar destruindo a base para a vida neste planeta. E, no entanto, algumas
pessoas vão dizer que aqueles que propõem o desmantelamento da civilização estão, de fato, sugerindo um
genocídio em massa.
Os ursos polares e salmões prateados discordariam. Os povos indígenas tradicionais discordariam. Os seres
humanos que herdarão o que resta deste mundo quando a cultura dominante finalmente cair também
discordariam.
Eu discordo.
Minha definição de desmantelamento da civilização é privar os ricos de sua capacidade de roubar os pobres e
privar os poderosos de sua capacidade de destruir o planeta. Ninguém a não ser um capitalista ou um sociopata
(se é que há alguma diferença) pode discordar disso.
Anos atrás, eu perguntei para Anuradha Mittal, ex-diretora do Food First: "Será que o povo da Índia não ficaria
numa situação melhor se a economia global desaparecesse amanhã?" E ela disse: "É claro." Ela disse que os
pobres de todo o mundo ficariam em uma situação melhor se a economia mundial entrasse em colapso. Há
antigos celeiros na Índia que agora exportam alimentos para cães e tulipas para a Europa. Os pobres rurais em
todo o mundo estão sendo explorados por este sistema. Eles não estariam em uma situação melhor? E os
agricultores da Índia que estão sendo expulsos de suas terras para que a Coca-Cola possa se apropriar da sua
água? E quanto àqueles que estão cometendo suicídio por causa da Monsanto? Uma parcela significativa de
pessoas no mundo não tem acesso à eletricidade. Eles estariam em uma situação pior do que a que estão hoje
com a queda da grade de transmissão de energia elétrica? Não, eles estariam em uma situação melhor. E quanto
aos povos indígenas do Peru que estão lutando para impedir a exploração de petróleo em suas terras pela Hunt
Oil possibilitada pelo acordo entre o governo do Peru e dos EUA?
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Quando alguém diz: "Muitas pessoas vão morrer", nós temos que falar sobre: de quais pessoas estamos falando.
Pessoas de todo o mundo já estão enfrentando a fome, mas a maior parte delas não está morrendo de fome; eles
estão morrendo de colonialismo, porque a sua terra e as suas economias foram roubadas. Ouvimos o tempo todo
que o mundo está ficando sem água. Ainda há tanta água quanto havia no passado, mas 90 por cento da água
utilizada pelos seres humanos está sendo utilizada para a agricultura e indústria. As pessoas estão morrendo de
sede, porque a água está sendo roubada.
Quando perguntei a um membro do grupo rebelde peruano MRTA, o Tupamarus, "O que você quer para o povo do
Peru?" sua resposta foi: "O que queremos é poder crescer e distribuir nossa própria comida. Nós já sabemos como
fazer isso, precisamos apenas ser autorizados a fazê-lo." Essa é toda a sua luta.
I used to think it's true that the urban poor would be worse off at first, because the dominant culture, like any good
abusive system, has made its victims dependent upon it for their lives. That's what abusers do, whether they are
domestic violence abusers, or whether they are larger scale perpetrators. That's how slavers work: they make
enslaved people dependent upon them for their lives. One of the brilliant things this culture has done has been to
insert itself between us and our self-sufficiency, us and the source of all life. So we come to believe that the system
provides our sustenance, not that the real world does.
But I recently asked Vandana Shiva if the people of Mumbai, for example, would be better off quickly if the global
economy collapsed. She said yes, for the same reasons Mittal did: most of the poor in major cities in India are there
because they've been driven off their land, with their land stolen by transnational corporations. With the global
economy gone, they would return to the country and reclaim the land. Given the option between getting their land
back and staying in the city, nearly all would want to move back to the country.
This is a huge number of people we are talking about. Most of the urban poor are people who live in third-world
slums. That's more than a billion people, and, if trends continue, that will double in two decades. Many of these are
people who have been forced off their traditional land. The poor will be able to take back this land if the
governments of the world are no longer capable of propping up colonial arrangements of exploitation.
Eu tenho ainda outra resposta. Quando esta cultura entrar em colapso, a maior parte da miséria será causada
pelos ricos tentando manter seus estilos de vida. Levando em consideração que enquanto essa cultura continuar a
entrar em colapso aqueles que estão explorando vão continuar explorando, não culpe aqueles que querem por um
fim a essa exploração. Em vez disso, ajude a por fim a essa exploração que está matando as pessoas nesse exato
momento.
Os autores deste livro não estão pedindo tranquilamente para que você escolha quem deve morrer. Para pelo
menos um de nós a resposta é: "Eu vou." Eu tenho a doença de Crohn, e sou dependente de medicamentos de
alta tecnologia para me manter vivo. Sem esses medicamentos, eu vou morrer. Mas a minha vida particular não é
o que importa. A sobrevivência do planeta é mais importante que a vida de qualquer ser humano individual,
incluindo a minha.
Considerando-se que a civilização industrial está destruindo sistematicamente a infra-estrutura ecológica do
planeta, quanto mais cedo a civilização cair, mais vida vai sobrar para dar suporte tanto aos humanos quanto aos
não-humanos. Nós podemos possibilitar o bem-estar dos seres humanos que estarão vivos durante e
imediatamente após o colapso energético e ecológico preparando as pessoas para conseguirem viver em suas
localidades. Nós podemos arrancar o asfalto de estacionamentos abandonados e convertê-los em hortas
comunitárias, ensinar as pessoas a identificar plantas comestíveis locais para que as pessoas não morram de
fome quando eles não puderem mais ir até o supermercado. Nós podemos começar a organizar conselhos de
bairro para tomar decisões, resolver conflitos e estimular a ajuda mútua.
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Como eu posso fazer alguma coisa para ajudar a derrubar a civilização e não simplesmente jogar fora a
minha vida em um ato inútil?
Derrick Jensen: Há três respostas. A resposta filosófica é que não podemos saber o futuro. Nunca podemos
saber se alguma ação será útil. Devemos escolher o que achamos que são as ações mais eficazes, mas isso
ainda não garante que qualquer ato terá sucesso. O que podemos saber é que, se essa cultura continuar na
direção em que está indo, ela vai chegar ao seu destino, que é o assassinato do planeta. Já existem vítimas, como
o salmão. Como os tubarões. Como as andorinhas pretas. Como os pássaros canoros. Como os oceanos e rios.
Como os povos indígenas. Como os pobres. Como os agricultores de subsistência. Como as mulheres.
A segunda resposta, é sobre a forma como os movimentos de resistência trabalham. Você perde e você perde e
você perde até que você ganha. Eles esmagam sua cabeça, esmagam sua cabeça, esmagam sua cabeça, e então
você vence. Você não pode saber quando deve começar, muitas vezes você tem que ter sua cabeça esmagada
antes de vencer. Mas a luta se baseia em luta. Ela tem que começar em algum lugar e tem que ganhar impulso.
Isso acontece por meio da organização, isso acontece por meio de ações, e isso acontece através de vitórias.
Uma das melhores ferramentas de recrutamento é alguma espécie de vitória. E você não pode ter uma vitória a
menos que você tente.
E agora o pragmático: estamos em um número terrivelmente menor e não temos o luxo de jogar fora nossas vidas.
Como podemos ser mais eficazes? Temos que ser inteligentes. Escolha alvos com cuidado, tanto no que diz
respeito ao valor estratégico quanto à segurança. E nós temos que nos unir. A possibilidade de uma pessoa
solitária desencadear um movimento maior é muito mais baixa do que a de um grupo de pessoas organizadas.
Qualquer ação que uma pessoa coloca em prática (e isso é verdade em todas as áreas da vida) precisa contar.
Muitas das ações que estão sendo tomadas agora são essencialmente atos de vandalismo, em oposição a atos de
sabotagem ativa que retardam o movimento da máquina. Então escolha. Como você pode fazer suas ações (e sua
vida) terem o melhor resultado em termos de impedir a perpetração da atrocidade?
All those who begin to act against the powers of any repressive state need to recognize that their lives will change.
They need to take that decision very seriously. Some of the people captured under the Green Scare knew what
they were getting into, and some of them made the decision more lightly. The latter were the people who turned
very quickly when they were arrested. One person turned within five seconds of getting into the police car. That
person probably didn't seriously consider the ramifications of his actions before he began. The Black Panthers
knew when they started the struggle that they would either end up dead or in prison.
Finally, we have to always keep what we're fighting for in sight. We are fighting for life on the planet. And the truth
is, the planet's life is worth more than you. It's worth more than me. It is the source of all life. That doesn't alter the
fact that we should be smart. We need to be very strategic. We need to be tactical. And we need to act.
Será que John Brown jogou sua vida fora? Por um lado, pode-se dizer que sim. Seu projeto acabou por fracassar.
Mas, por outro lado, pode-se dizer que ele criou coisas muito maiores. Será que Nat Turner jogou sua vida fora?
Será que os membros da revolta de Sobibor jogaram as suas vidas fora? Por um lado, pode-se dizer que sim. Por
outro lado, você poderia dizer que eles fizeram o que era absolutamente certo e necessário. E algo que devemos
sempre lembrar é que aqueles que participaram do levante do Gueto de Varsóvia tiveram uma taxa de
sobrevivência maior do que aqueles que não participaram. Quando todo o planeta está sendo destruído, sua
inação não vai te salvar. Devemos escolher a maior vida. Devemos escolher fazer o que é certo para proteger o
planeta. Ela é a nossa única casa.
O que se entende por "aboveground" e "underground" ou "belowground"?
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No DGR usamos esses termos para distinguir diferentes partes de um movimento. "Aboveground" refere-se às
partes de um movimento de resistência que trabalham abertamente e operam mais ou menos dentro dos limites
das leis do Estado. Isso significa que o ativismo aboveground e a resistência geralmente limitam-se a
não-violência. O DGR é uma organização aboveground; atuamos publicamente e não tentamos esconder quem
somos ou o que nós desejamos, porque a abertura e a ampla participação é o que faz com que as organizações
aboveground sejam eficazes.
"Underground" ou "belowground" referem-se às partes de um movimento de resistência que operam em segredo.
Geralmente, esses grupos usam táticas mais militantes ou violentas, como destruição de propriedade e
sabotagem, para alcançar seus objetivos. O uso destas táticas faz com que se tornem inimigos abertos do Estado,
o que torna a segurança e o sigilo muito importantes para esses grupos clandestinos. Historicamente, esses
grupos têm um processo de adesão rigoroso para garantir que os novos recrutas estejam preparados para as
demandas psicológicas e/ou físicas do trabalho underground e sejam treinados em combate e outras operações
necessárias, bem como em uma cultura de segurança adequada.
A cultura de segurança aboveground também é importante para manter a eficácia dos grupos mais expostos.
O DGR é uma organização estritamente aboveground. Não vamos responder a perguntas sobre o desejo pessoal
de alguém de fazer parte ou formar um grupo underground. Nós não queremos nos envolver ou conhecer qualquer
organização underground. Fazemos isso para garantir a segurança de todos os envolvidos com o Deep Green
Resistance.
O que é uma "Cultura de Resistência"?
A cultura de resistência existe para incentivar e promover a resistência política organizada, alimentando a vontade
de lutar. Ela ajuda as pessoas a quebrar a sua identificação psicológica com o sistema opressivo e criar uma nova
identidade baseada no auto-respeito e solidariedade. Oferece o apoio emocional de uma comunidade funcional
que acredita na resistência, bem como uma atmosfera intelectualmente vibrante que incentiva a análise, discussão
e desenvolvimento da consciência política. Ela gera produtos culturais como poemas, músicas e arte organizados
em torno do tema da resistência. Ela constrói as novas instituições que assumirão quando as instituições corruptas
caírem. Fornece lealdade e material de apoio para os resistentes da linha de frente aboveground e para os presos
políticos.
Por que eu deveria praticar ação direta em grande escala contra o sistema quando quase ninguém mais,
especialmente no primeiro mundo, irá fazer o mesmo?
Derrick Jensen: Porque o mundo está sendo assassinado. E porque os membros do chamado "primeiro mundo"
são os principais beneficiários. Não cabe aos pobres estar na linha de frente mais uma vez. Não cabe aos
indígenas serem a linha de frente. Não cabe aos não-humanos ser a linha de frente. Dar fim a esse sistema é
nossa responsabilidade enquanto beneficiários dele.
O MEND (Movimento para a Emancipação do Delta do Níger) foi capaz de reduzir a produção da indústria de
petróleo em cerca de 30 por cento na Nigéria. Eles têm feito isso porque amam a terra em que vivem e porque ela
está sendo destruída. Nós temos muito mais recursos à nossa disposição. É nossa responsabilidade usar esses
recursos e o privilégio que temos para impedir que esta cultura mate o planeta.
O que é que distingue uma resistência anti-civilização de outros movimentos já conhecidos, os quais têm
sido dominados com sucesso por aqueles que estão no poder por meio de métodos de contra
inteligência? As pessoas têm novas estratégias e táticas que podem combater estes novos sistemas e
tecnologias?
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Derrick Jensen: Francamente, não. As pessoas de hoje têm uma enorme desvantagem em relação às pessoas
do passado, já que agora vivemos dentro de um panóptico. A capacidade de vigiar e matar à distância aumentou
muito mais do que era no passado. Compare os poderes do Estado no momento com aqueles, digamos, na
Alemanha nazista. Para os nazistas, tecnologia de impressão digital ainda era muito novo. Eles não tinham nada
parecido com a capacidade de vigiar as pessoas que os Estados modernos têm. Eles tinham apenas
computadores rudimentares. Eles não tinham a capacidade de produzir softwares de reconhecimento de voz. Eles
não tinham nenhum software. Então, quem está no poder tem uma enorme vantagem em relação aos movimentos
populares históricos.
Os movimentos de resistência indígena e de povos tradicionais tiveram aldeias onde eles poderiam ficar seguros.
Eles tinham lugares selvagens onde poderiam ficar seguros. Eles tinham seu próprio território. As pessoas agora
não têm isso. Eles, no entanto, têm uma vantagem significativa se comparados aos movimentos de resistência
indígena dos últimos 500 anos, aos quais se misturaram. Tecumseh não poderia ter andado pela Filadélfia sem ser
reconhecido. As pessoas hoje têm essa vantagem.
Mas a maior vantagem que as pessoas de hoje têm sobre as pessoas de épocas anteriores é que a era dourada
acabou. A era do petróleo barato acabou. Os impérios de hoje estão a caminho do colapso. É de conhecimento
comum que a civilização parece estar se dissolvendo, qualquer um que fosse mesmo remotamente contrário teria
dificuldade para defender sua posição. Mas hoje tudo indica que se a civilização cair, seus imperadores não
poderão nem mesmo manter-se em comunicação, mesmo que pelos modos mais arcaicos, muito menos manter o
nível de opressão que historicamente têm perpetrado contra aqueles que se opõem ao império. Pense no colapso
da União Soviética; ela simplesmente caiu sem nem mesmo instigar repressões ou gulags. A União Soviética não
tinha os recursos.
Mesmo os Estados Unidos está caindo aos pedaços. O governo dos EUA não pode sequer manter os sistemas de
água e as estradas do país. Os governos estaduais e federais não podem mais pagar por faculdades. Os que
estão no poder não têm o dinheiro, eles não têm os recursos, e esses recursos nunca irão voltar.
Se alguém tivesse tirado algum pedaço importante da infra-estrutura nos últimos anos, quem está no poder hoje
seria capaz de substituí-lo. Mas agora os governos do mundo não têm dinheiro. E quanto mais eles gastam em
reconstrução, menos dano primário eles podem fazer.
Um movimento de resistência seria demonizado e retratado como eco-terrorista pela mídia mainstream.
Existe uma mídia alternativa com uma estratégia para combater isso?
Derrick Jensen: Há uma mídia alternativa, mas será que ela vai ser capaz de impedir esta demonização? Não. A
mídia alternativa é morna e cheia de hostilidade horizontal. A questão maior é: "Existe um fórum de mídia que está
apoiando a resistência séria contra essa cultura que está assassinando o planeta?" E a resposta, infelizmente, é
não. Até mesmo as chamadas revistas de natureza têm uma enorme resistência a promover algo diferente de
compostagem ou andar de bicicleta. Ou melhor, devo dizer, um monte de leitores delas também partilham dessa
característica. Um dos propósitos do [Deep Green Resistance] é ajudar a criar essa literatura de resistência – o
que é absolutamente necessário – que vai ajudar a criar uma mídia de resistência maior. Isso usa todas as formas
de mídia, desde histórias em quadrinhos, filmes e livros até graffiti e pessoas batendo um papo na frente de casa.
Precisamos discutir isso e precisamos discutir abertamente. Um primeiro passo absolutamente necessário para a
resistência é falar sobre isso. Pode-se ver que isso está presente em cada movimento de resistência do passado e
também estará nos movimentos futuros, desde que haja movimentos de resistência no futuro. Devemos colocar
todas as opções sobre a mesa e discuti-las abertamente, honestamente, sinceramente.
Existe uma rede de solidariedade/apoio pronta para apoiar alguém que vá para a prisão por ativismo?
Existe um sistema de apoio consolidado para apoiar a família de alguém, caso um ativista que seja o
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sustento de sua família vá para a prisão?
Derrick Jensen: Formalmente, existe. Por exemplo, a Cruz Negra Anarquista apóia presos políticos e também há
outras organizações que dão suporte a presos políticos. Mas a verdade é que precisamos construir uma base
muito mais ampla do que essa. Atualmente, o apoio a prisioneiros é muito precário. E é muito fácil fazer as coisas
básicas. A minha mãe, a cada ano, escreve a muitos presos políticos em seus aniversários e em torno do solstício
de inverno. Muitas dessas pessoas ficarão na prisão por trinta ou quarenta anos e as cartas que ela escreve
podem ser uma das duas ou três que eles recebem durante todo o ano. Portanto, há organizações no local, mas
as organizações têm que ser muito mais robustas. E, mais do que isso, como o apoio às famílias, não, não há.
Mas deveria haver. Estas são coisas que podem e devem ser feitas por aqueles que estão totalmente
aboveground. Temos enfatizado ao longo deste livro, que nem todo mundo precisa tomar ações ilegais graves.
Mas precisamos de uma cultura de resistência e parte dessa cultura é uma ampla rede de apoio voltada para
aqueles prisioneiros que estão na linha de frente. Precisamos de um sistema em que apoiamos as tropas, aqueles
que estão realmente lutando para o planeta. Isso precisa estar consolidado, e até agora não está.
Vocês têm advogados dispostos a nos ajudar/aconselhar em como devemos proceder?
Atualmente, estamos construindo um suporte legal com esse objetivo. Precisamos de voluntários para esta e
outras tarefas.
Como eu poderia aceitar o risco de ser pego quando isso pode significar nunca mais poder ver ou ajudar a
minha família/companheiro/filhos nestes tempos difíceis?
Derrick Jensen: Nada neste livro é destinado a convencer as pessoas a fazer coisas que elas não queiram fazer.
Aliás, nada neste livro é destinado a convencer as pessoas a fazer algo ilegal (mesmo sabendo que não estar
envolvido em alguma atividade criminosa real não é garantia de que você não será punido por aqueles que estão
no poder). Já dissemos várias vezes que há uma abundância de maneiras pelas quais uma cultura de resistência
pode se manifestar, uma série de atividades que você pode participar e que não são tão imediatamente arriscadas
quanto ações underground. Se a sua principal preocupação é o risco de ser apanhado, há uma variedade de
outras coisas que você pode fazer.
Mas lembre-se que quando a repressão do Estado ficar mais forte, agir com grupos aboveground não impedirá
que o Estado vá atrás de você. Muitas vezes são os intelectuais formadores de opinião, os organizadores e os
escritores que são jogados na cadeia. O pessoal que age com o underground, sem um perfil público, estão, por
vezes, mais seguros.
Talvez, porém, devesse-mos mudar a pergunta. "Você está disposto a arriscar não ter peixe nos oceanos?" Se as
coisas continuarem do jeito que estão, até 2050 não haverá peixes nos oceanos. Os anfíbios já estão morrendo.
As aves canoras migratórias já estão morrendo. O planeta está morrendo. Você está disposto a correr esse risco?
Nada disso é teórico. Quando o sistema industrial desmoronar, isso será o meu fim. Sou dependente da medicina
de alta tecnologia para manter a minha vida. Mas há algo maior e mais importante do que a minha vida.
Se nós agirmos de forma eficaz contra aqueles que estão no poder, será que eles não irão apenas vir para
cima de nós com ainda mais força?
Derrick Jensen: Eles vão, mas isso não é motivo para se submeter. Esta é a forma como os regimes autoritários e
abusadores trabalham: eles fazem suas vítimas terem medo de agir. Eles reforçam a idéia de que: "Se eu tentar
deixar meu marido abusivo ou meu cafetão, ele pode me matar." E essa é uma boa razão para não resistir.
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Esta questão articula explicitamente o que todos nós sabemos ser verdade: a base dessa cultura é a força. A
principal razão pela qual não resistimos é porque temos medo dessa força. Sabemos que se agirmos de forma
decisiva para proteger os lugares e criaturas que amamos, ou se agirmos decisivamente para acabar com a
exploração empresarial do pobre, isso fará com que aqueles que estão no poder venham para cima de nós com
todo a força do Estado. Podemos falar tudo o que quisermos sobre como nós supostamente vivemos em uma
democracia. Podemos falar tudo o que quisermos sobre o consentimento dos governados. Mas o que realmente
importa é que se você efetivamente se opuser à vontade de quem está no poder, eles vão tentar te matar.
Precisamos ter isso bem claro para que possamos enfrentar a situação em que estamos. E a situação em que
estamos é a seguinte: os que estão no poder estão matando o planeta e explorando os pobres, estão matando os
pobres, e não estamos impedindo-os porque estamos com medo.
Mas tem que haver alguns de nós que estão dispostos a agir mesmo assim. Nunca devemos subestimar a
gravidade de tentar parar quem está no poder. E nós também precisamos ser muito claros sobre a gravidade do
que está acontecendo com o mundo. Se você está lendo este livro, você provavelmente vai perceber o quão
desesperadoras as coisas estão.
Qual é o legado que queremos deixar para os que virão depois de nós? Como você quer ser visto pelas gerações
a seguir? Você quer ser visto como alguém que sabia o que era a coisa certa e não a fez porque estava com
medo? Ou você quer ser lembrado como alguém que estava com medo e mesmo assim fez a coisa certa? Não há
problema em ter medo. Quase todo mundo que conheço está com medo em algum momento ou outro. Mas há
uma enorme alegria e emoção que vem, também, de fazer o que é certo. O fato de que quem está no poder vai
usar seu poder contra os resistentes não é um motivo para desistir da luta antes mesmo de começar. É na verdade
um motivo para ser muito, muito inteligente.
O que aconteceu com aqueles que tentaram usar a violência? Fred Hampton, Laura Whitehorn, e Susan
Rosenberg são apenas alguns dos muitos que tentaram usar a força e acabaram mortos, enquadrados ou
na cadeia. Você diz que todos nós temos um papel; o que você pensa sobre propor que outros façam o
que você não vai fazer?
Derrick Jensen: Não é uma questão de correr mais ou menos riscos atuando aboveground ou underground.
Quando a repressão torna-se mais aberta, são as pessoas que estão no aboveground, que, muitas vezes, são o
primeiro alvo de quem está no poder. Erich Mühsam agia no aboveground, assim como Ken Saro-Wiwa. Muitos
escritores agem assim. Esse é o nosso papel. O nosso papel é carregar grandes alvos em nosso peito para que
possamos ajudar a formar uma cultura de resistência. Nosso papel é sermos públicos e, claro, se você for uma
pessoa pública, você não pode estar no underground; deve haver uma separação absoluta de segurança entre as
atividades e organizações aboveground e underground. Esta é um ponto básico da cultura de segurança.
Não estamos pedindo que outras pessoas façam coisas que não estamos dispostos a fazer. Na verdade, não
estamos pedindo para ninguém fazer nada em específico. Todos nós precisamos encontrar os nossos próprios
papéis com base em nossa avaliação pessoal de quais são os riscos que estamos dispostos a correr e quais são
as nossas capacidades.
Quem está no poder virá para cima de nós se resistirmos. Não importa se essa resistência seja violenta ou
não-violenta. A resistência traz consigo o risco e a retaliação, mas é da resistência que o nosso planeta precisa.
A civilização é a única coisa que impede que os criminosos violentos estuprem/matem as pessoas como
acontece naqueles lugares horríveis e longínquos. Quem vai proteger a minha família se a civilização cair?
Derrick Jensen: A alguns anos atrás, eu recebi um email de um policial de Chicago. Ele estava lendo Endgame, e
gostando, exceto pelo fato de que ele achou que eu fui muito duro com os policiais. Ele disse: "Nosso trabalho é
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proteger as pessoas de sociopatas e isso é o que eu faço todos os dias. Eu protejo as pessoas de sociopatas." Eu
escrevi de volta: "Eu acho que é ótimo que você nos proteja de sociopatas. Quando a casa da minha mãe foi
assaltada, a primeira coisa que fiz foi chamar a polícia. Quando minha casa foi assaltada, eu fui correndo atrás da
polícia. É ótimo que vocês nos protejam de sociopatas. Meu problema é que vocês só nos protegem mesmo de
sociopatas pobres, não de sociopatas ricos."
Depois de Bhopal, Warren Anderson foi julgado e condenado à revelia pelas atrocidades enquanto comandava a
Union Carbide. Ele foi sentenciado à forca. Os Estados Unidos se recusam a extraditá-lo. Se dependesse de mim,
todas as pessoas associadas com o vazamento de petróleo no Golfo, que está assassinando o Golfo, seriam
executadas. Isso seria parte da função de um Estado. Em vez disso, uma das principais funções do governo é
proteger os sociopatas ricos da indignação do resto de nós. Quem está protegendo os agricultores da Índia contra
a Monsanto? Quem está protegendo os agricultores dos Estados Unidos contra a Cargill e a ADM?
Eu prestei um apoio para um grupo de mexicanos-americanos que estavam tentando impedir que mais um
depósito de lixo tóxico fosse construído em seu bairro. O lixo tóxico vinha, é claro, de algum lugar distante. A
conversa acabou chegando em como seria se a polícia e os oficiais de justiça fossem impedidos de cumprir os
ditames de corporações distantes em vez de os desejos das comunidades locais. Como seria se eles estivessem
criando zonas livres de câncer? Ou zonas livres de desmatamento? Ou zonas livres de estupro? E então todos
riram, porque todo mundo sabe que isso não vai acontecer. Mas e se nós em nossas comunidades decidíssemos
formar grupos de defesa comunitária [e milícias] e disséssemos: "Esta será uma zona livre de câncer. Esta será
uma zona de livre de desmatamento. Esta será uma zona livre de estupro. Esta será uma zona livre de represas."
O que aconteceria se fizéssemos isso?
É exatamente disso que estamos falando neste livro. Queremos que nossas comunidades sejam livres de câncer.
Nós queremos que elas sejam livres de desmatamento. Nós queremos que eles sejam livres de represas. Nós
queremos que eles sejam livres de estupro. E precisamos parar os sociopatas que estão nos ferindo.
Se a sociedade civil colapsar dando espaço para o surgimento de um patriarcado, as coisas podem ser muito
piores. Olhe para a República Democrática do Congo, onde são organizados estupros em massa. O que vamos
fazer com relação a isso? Uma das coisas que precisamos fazer é nos preparar agora. É por isso que temos
enfatizado tantas vezes neste livro que os revolucionários têm que ter um bom caráter. Um amigo meu diz que faz
o trabalho ambiental que faz porque quando as coisas ficarem ainda mais caóticas ele quer ter certeza de que
algumas portas permanecerão abertas. Se os ursos pardos se extinguirem em 20 anos, eles terão se extinguido
para sempre. Mas se eles ainda existirem daqui a vinte anos, podem ser capazes de continuar vivendo. É o
mesmo para a truta touro, o mesmo para as sequóias – se você derrubar essa floresta, ela já era. Mas se ela se
mantiver de pé, quem sabe o que vai acontecer no futuro? E é o mesmo para as atitudes sociais das pessoas;
quanto mais caóticas as coisas se tornam, mais incontroláveis os eventos se tornam. Temos que nos certificar de
que certas idéias estão no lugar antes que isso aconteça. É por isso que temos enfatizado a tolerância zero para a
hostilidade horizontal, a tolerância zero para a violência contra as mulheres, a tolerância zero contra o racismo.
Porque quando a sociedade civil colapsar – não importa a causa deste colapso – os homens vão estuprar mais, e
o tempo para se defender disso não é o futuro, mas sim agora.
Há duas abordagens para o problema da agressão de homens contra as mulheres. Um deles é esclarecido em
uma linha por Andrea Dworkin, "Minha prece para as mulheres do século XXI: endureçam os vossos corações e
aprendam a matar." As mulheres precisam aprender auto-defesa e formar organizações de auto-defesa, e elas
precisam ser feministas. Os homens devem manter absoluta sua aliança para com as mulheres. Eles devem ter
uma política de tolerância zero para o abuso contra mulheres.
O mesmo deve ser feito com relação aos crimes de ódio com base em raça. Quando o sistema econômico entrar
em colapso, aqueles que obtiveram o direito de se colocar sobre os demais vão começar a culpar os outros (basta
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ver o Tea Party, por exemplo). E, contanto que o seu poder permaneça em vigor e contanto que o seu poder não
esteja ameaçado você pode desprezar aqueles a quem você está explorando. Mas assim que esse poder se vê
sob ameaça, esse desprezo transforma-se em ódio e violência pura e simples. Assim que a civilização entrar em
colapso, veremos um aumento do padrão masculino de violência. Veremos um aumento da violência contra os que
resistem. Veremos um aumento da violência contra as pessoas de cor. Já estamos vendo isso.
Minha resposta para as pessoas de cor é, aprendam a se defender e formar organizações de auto-defesa. E o
trabalho dos aliados brancos é fazer com que a sua lealdade para com as vítimas da opressão branca seja
absoluta.
Houveram muitos movimentos de resistência que formaram organizações de auto-defesa e suas próprias forças
policiais. O IRA atuou como polícia comunitária, os anarquistas espanhóis organizaram sua própria força policial
em algumas das grandes cidades e o Gulabi Gang organiza as mulheres para proteger a si mesmas e suas
comunidades contra a polícia e a violência masculina. Precisamos de algo similar. Precisamos formar
organizações de auto-defesa para defender os seres humanos e não-humanos que são agredidos e violados.
Essas agressões vão continuar a acontecer até que sejam detidas.
Para ser claro, civilização não é o mesmo que sociedade. A civilização é uma organização específica, hierárquica,
baseada no "poder sobre." Derrubar a civilização, desfazer essa estrutura de poder, não significa o fim de toda a
ordem social. Isso deve significar, em última análise, mais justiça, mais possibilidade de controle local, mais
democracia e mais direitos humanos, e não menos.
Será que a civilização não irá se re-erguer novamente?
Derrick Jensen: Tenho várias respostas para isso. A primeira é que, não, este é um trabalho que não pode ser
desfeito. As reservas de petróleo facilmente acessíveis já se foram. Nunca haverá outra era do petróleo. Nunca
haverá outra época de ouro do gás natural. Nunca haverá outra época de ouro do ferro ou do bronze. Além disso,
nunca haverá – ou, pelo menos, não durante muito, muito tempo – idade das caravelas, por exemplo, porque as
florestas sumiram. Esta cultura tem destruído tanto que não haverá mais o fundamento sobre o qual uma
civilização semelhante poderia ser construída. Não há mais solo para isso. Não, nunca haverá outra ascensão de
uma civilização como esta. Pode haver – presumindo que os humanos sobrevivam – algumas civilizações de
pequena escala, mas nunca haverá outra como esta.
Em segundo lugar, eu realmente não acho que esta seja a pergunta certa. É como acordar no meio da noite e
ouvir os gritos de sua família enquanto eles são torturados e, em seguida, olhar para cima e ver um assassino que
está sobre sua cama. Então você vira para a pessoa dormindo ao seu lado e diz: "Querida, como podemos ter
certeza de que os assassinos não vão invadir nossa casa amanhã?" Temos uma crise e precisamos lidar com ela.
Eu gostaria que tivéssemos o luxo de podermos nos preocupar com a possibilidade da civilização se re-erguer no
futuro, mas não temos esse luxo. Agora, temos que impedir que esta cultura mate o planeta e deixar as pessoas
que virão depois de nós se preocuparem se ela vai se erguer novamente.
Esta questão me faz lembrar de uma vez em que me perguntaram: "Quanto tempo você acha que nos resta?" Fiz
um gesto para a pessoa ao lado e disse: "Imagine que ela está sendo torturada naquela sala atrás de você.
Podemos ouvi-la gritar. Quanto tempo você acha que é ideal esperar antes de precisarmos agir? Por quanto tempo
devemos permitir que os torturadores continuem antes de impedi-los?" Há injustiças acontecendo agora. Duas
centenas de espécies foram extintas hoje. E quanto tempo eles tinham? Nenhum. A questão, não é se a civilização
vai se re-erguer novamente. A questão é o que podemos fazer para proteger essas espécies agora. Se vemos
estas injustiças, precisamos dar fim a elas.
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Como devo agir se alguém me disser: "Eu quero formar um grupo underground, ou fazer parte de um já
existente, ou fundar um espaço de segurança, etc."
Diga: "Somos uma organização aboveground. Nós não queremos nos envolver com isso. Nós não respondemos a
perguntas de ninguém sobre o desejo pessoal de ser ou formar um grupo underground."
Mude de assunto imediatamente caso perceba que a conversa não é segura. Às vezes, você tem que terminá-la
definitivamente.
Não diga, "o underground" – isto poderia implicar que estamos em contato com uma organização underground já
existente. Em vez disso, use "um underground (o que pode ou não existir)."
Why hasn't DGR taken a stance on vaccines, 9/11, or any conspiracy theories?
Radical social movements tend to attract people who hold fringe beliefs. While we would never dictate what a
person chooses to believe personally, DGR is strategic in what controversies and beliefs we hold positions on and
in how we spend our time and energy. These beliefs do nothing to further DGR in achieving our goals and could
alienate comrades and potential allies. Members who hold such views are expected to refrain from presenting or
debating them while representing or engaging in DGR.
Global warming is a reality, and is referred to in the foundational texts of the DGR organization.
Some fringe beliefs, such as Holocaust denial, are in violation of DGR Principles and Code of Conduct and
disqualify believers from membership.
For more questions and answers, see Deep Green Resistance: An interview with Derrick Jensen and Rachel Ivey.
FAQ FEMINISTA RADICAL
What is radical feminism?
There are many branches of feminism. Radical feminism takes aim at the root cause of the crisis facing women: the
system of violence that keeps people divided by sex with a dominant class (men) and an oppressed class (women).
This system of violence is called patriarchy, and over the past two thousand years it has come to rule most of the
world. Patriarchal civilization is based on exploiting and consuming women, living communities, and the earth itself.
Radical feminists seek to liberate all women from oppression. We side with women resisting male violence in all its
forms, including rape, porn, prostitution, female infanticide, and forced birth. We are dismantling misogyny (hatred
of women), biophobia (fear and hatred of nature), and lesbophobia (fear and hatred of lesbians).
Radical feminists in DGR are committed to overturning this brutal patriarchal culture in defense of the earth, the
source of life; and our sisters, women around the world.
Do radical feminists want a world dominated by women?
Dee Graham addresses this in her book Loving to Survive (page 243):
Whereas patriarchy imagines matriarchy as a matter of reversal in the power relation between men and
women, matriarchy requires a rejection of the dichotomous thinking on which this male fantasy is founded.
Matriarchy is a completely different form of organization than patriarchy, emphasizing what Miller describes
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as power with, as distinct from power over. Love and Shanklin define matriarchy as a society in which all
interpersonal relationships are modeled on the nurturant relationship between a mother and her child.
According to these authors this nurturant mode would inform all social institutions. The goal of the nurturant
relationship would be to strengthen 'the unique will of each individual to form open, trusting, creative bonds
with others.'
Porque algumas pessoas estão acusando o DGR de ser transfóbico?
O Deep Green Resistance tem sido acusado de transfobia porque nós temos uma opinião diferente a respeito da
definição de gênero.
O DGR não tolera a desumanização ou a violência contra qualquer pessoa, incluindo pessoas que se descrevem
como trans. Os direitos humanos universais são universais. O DGR tem um código de conduta severo contra a
violência e abuso. Qualquer um que violar este código não é mais um membro do DGR.
Discordar com alguém, porém, não é uma forma de violência. E nós temos uma grande discordância.
Feministas radicais criticam o próprio gênero. Nós não somos reformistas – somos abolicionistas do gênero. Sem
os papéis de gênero socialmente construídos que constituem a base do patriarcado, todas as pessoas seriam
livres para se vestir, se comportar e amar os outros da maneira que quisessem, não importando o tipo de corpo
que têm.
O patriarcado é um sistema de castas que transforma os seres humanos que nascem biologicamente macho ou
fêmea em classes sociais chamadas de homens e mulheres. Pessoas do sexo masculino são transformadas em
homens por meio da socialização voltada à masculinidade, que é definida por uma psicologia baseada na
insensibilidade emocional e em uma dicotomia entre o eu e o outro. Esta é também a psicologia exigida aos
soldados, e é por isso que não acho que você possa ser um ativista da paz sem ser feminista.
No patriarcado, a socialização feminina é um processo com o objetivo de constranger psicologicamente e diminuir
as meninas – também conhecido como "aliciamento" – para criar uma classe de vítimas conformadas. A
feminilidade é um conjunto de comportamentos que são, em essência, a submissão ritualizada.
Não vemos nada para comemorar ou abraçar na criação do gênero. O patriarcado é um arranjo de poder corrupto
e brutal e queremos desfazê-lo para que a categoria de gênero não exista mais. Esta é também a nossa posição
sobre raça e classe. As categorias não são naturais: elas só existem porque os sistemas hierárquicos de poder as
cria (veja, por exemplo, o livro de Audrey Smedley Race in North America). Queremos um mundo de justiça e de
igualdade, onde as condições materiais que atualmente criam raça, classe e gênero sejam para sempre
superadas.
O patriarcado facilita a exploração de corpos femininos para o benefício dos homens – para a gratificação sexual
do sexo masculino, por mão de obra barata e para reprodução. Para dar apenas um exemplo, há aldeias inteiras
na Índia, onde todas as mulheres têm apenas um rim. Por quê? Porque seus maridos têm vendido o outro. Gênero
não é um sentimento – é uma violação dos direitos humanos contra toda uma classe de pessoas, “pessoas
chamadas mulheres.”[1]
Nós não somos "transfóbicos." Temos, no entanto, um desacordo sobre o que é o gênero. Generistas acreditam
que o gênero é natural, um produto da biologia. As feministas radicais acreditam que o gênero é social, um produto
da supremacia masculina. Generistas acreditam que o gênero é uma identidade, um conjunto interno de
sentimentos que as pessoas podem ter. As feministas radicais acreditam que gênero é um sistema de castas, um
conjunto de condições materiais em que se nasce. Generistas acreditam que o gênero é um binário. As feministas
radicais acreditam que gênero é uma hierarquia, com os homens na parte superior. Alguns generistas afirmam que
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o gênero é "fluido". Feministas radicais apontam que não há nada de fluido em seu marido vender seu rim. Então,
sim, nós temos algumas grandes divergências.
Feministas radicais também acreditam que as mulheres têm o direito de definir seus limites e decidir quem é
permitido em seu espaço. Acreditamos que todos os grupos oprimidos têm esse direito. Fomos chamados de
transfóbicos porque as mulheres do DGR não querem homens – pessoas nascidas com o sexo masculino e
socializadas para a masculinidade – em espaços criados só para mulheres. O DGR apóia as mulheres nessa
decisão.
Quando Feministas Radicais usam o termo “gênero”, o que elas querem dizer?
1. Diálogo “O Fim do Gênero” na Conferência do DGR de 2013
2. Diálogos Sobre Gênero.
3. Quem Governa o Gênero?
O Feminismo Radical é essencialista?
Não, definitivamente não. Essencialismo é a idéia de que o sexo é biológico, não social. Algo como, os meninos
são naturalmente agressivos e aventureiros, enquanto as meninas são cuidadosas e emocionais. Onde o
comportamento generizado é atribuído a estruturas cerebrais, ou hormônios, ou ambos.
As feministas têm enfrentado o essencialismo desde o início. O essencialismo biológico tem sido utilizado como
desculpa para tudo, desde a exclusão das mulheres da educação até a violência sexual dos homens. Quem está
no poder precisa naturalizar sua dominação e a submissão do grupo subordinado: se a sociedade fosse realmente
organizada pela natureza, por Deus ou pelo cosmos, então não haveria nenhum motivo para combatê-la. A
ideologia do essencialismo pode ser muito eficaz na exclusão da resistência.
Pense em raça. A raça não é biologicamente real. Politicamente, socialmente, economicamente, a raça é,
realmente, uma realidade brutal ao redor do globo. O conceito de raça, no entanto, é uma criação dos poderosos.
Se quisermos um mundo justo, as instituições materiais que mantêm as pessoas de cor subordinadas precisam
ser desmontadas. E os conceitos de "branquitude" e "negritude" acabarão por serem abandonados já que eles não
fazem sentido fora das realidades da supremacia branca.
Muitas pessoas ficam confusas quando se exige que elas apliquem essa mesma análise radical ao gênero. Mas a
partir de uma perspectiva feminista, as semelhanças são óbvias. Existem diferenças no tom da pele na espécie
humana? Sim. Por que essas diferenças significam tanto? Porque um arranjo corrupto e brutal de poder precisa de
uma ideologia chamada racismo. Existem diferenças nas formas dos órgãos genitais das pessoas? Sim. Por que
essas diferenças são importantes? Porque um arranjo corrupto e brutal do poder – patriarcado – precisa de uma
ideologia chamada de gênero.
O patriarcado é um sistema político que leva homens e mulheres biológicas e transforma-os em categorias sociais
chamadas homens e mulheres, de modo que a classe de homens possa dominar pessoas chamadas mulheres.
Gênero é para as mulheres o mesmo que raça é para as pessoas de cor: uma construção ideológica que sustenta
sua subordinação.
Portanto, somos firmemente contra a ideia de que o sexo é biológico. Na verdade, são os generistas que fazem
reivindicações de gênero essencialistas. Na opinião deles, homens e mulheres apresentam dominação e
submissão, respectivamente, não por causa das condições sociais, mas porque temos cérebros diferentes.
Comportamento de gênero é natural, dizem eles, em função de nossa biologia. A alegação é que muitas vezes os
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hormônios pré-natais geram essas tendências, e que os hormônios "errados" podem produzir o cérebro "errado".
Por isso, é possível ter o corpo de um homem com cérebro de uma mulher.
Achamos muito estranho que sejamos acusados ■■de essencialismo quando acreditamos no exatamente oposto.
O gênero é socialmente construído desde sua raiz, e essas raízes estão encharcadas do sangue das mulheres.
Nosso objetivo é desmantelar isso. Se o gênero fosse um produto da nossa biologia, isso não seria possível.
Rejeitamos a idéia de que exista um cérebro feminino tão firmemente como rejeitamos a idéia da existência de um
"cérebro Negro".[2] E nós nunca vamos aceitar que a feminilidade seja natural para as mulheres. Isso é a
apresentação ritualizada da submissão criada pela traumatização e pela exigência de todos os grupos oprimidos
em uma hierarquia social. Nós nos recusamos a nos submeter e encorajamos as mulheres em todos os lugares a
resistir.
Outras leituras:
Delusions of Gender: How Our Minds, Society, and Neurosexism Create Difference by Cordelia Fine
Brainstorm: The Flaws in the Science of Sex Differences by Rebecca Jordan-Young.
The Emperor's New Penis by Lierre Keith and Derrick Jensen
Vocês não estão apenas reafirmando o gênero ao criarem espaços só para mulheres?
Não, estamos reconhecendo o gênero e seus danos terríveis quando criamos espaços só para as mulheres.
Estamos lutando contra o gênero, com suas exigências de submissão feminina e sua afirmação de que as
mulheres existem para cuidar dos homens.
O gênero é social e politicamente muito real e muito mortal. É a estrutura da opressão das mulheres. Fingir uma
"cegueira de gênero" individualmente não faz com que o gênero desapareça: somente a ação radical em uma
escala política ampla pode fazer isso. O gênero não é apenas uma construção social, mas uma construção social
especificamente projetada para privilegiar uma classe (machos) em detrimento de outra classe (fêmeas).
Agir como se o gênero não existisse não poderia combatê-lo: pelo contrário, isso só ajuda a mascarar um sistema
de poder opressor. Ninguém sugeriria que a classe trabalhadora poderia enfrentar o capitalismo abandonando sua
consciência de classe. Da mesma forma, as pessoas de cor têm sido inflexíveis a respeito de que o "daltonismo
racial" só é útil ao projeto de supremacia branca, escondendo a existência de relações raciais opressivas. Por
estarem conscientes de sua condição de grupo, as mulheres e os homens podem permanecer conscientes de sua
própria opressão ou privilégio relativo, o que é necessário ao combate de sistemas de poder opressivo.
A criação de espaços só para mulheres garante que as mulheres em nossa organização tenham um espaço
libertador para trabalhar, se organizar, criar laços, livres do impacto negativo dos homens. Todos os povos
oprimidos precisam de seu próprio espaço para sentir alguns momentos de liberdade, criar uma comunidade, e
superar a submissão e os comportamentos de ódio de si mesmos. Todos os povos oprimidos têm o direito de
traçar uma fronteira, incluindo as mulheres. O DGR tem o compromisso de defender o direito da mulher de definir
o seu próprio espaço.
Como o feminismo radical se relaciona com a luta de raças e de classes?
Alice Walker, Audre Lorde, e Barbara Smith, entre outros, foram fundamentais para a segunda onda da teoria
feminista radical. Muitas mulheres de cor e da classe pobre/trabalhadora certificaram-se de que questões de raça
e de classe fossem combatidas de uma forma que não havia sido abordada em toda a Esquerda. Isso foi
essencial, uma vez que alguns indivíduos feministas da Segunda Onda e grupos que fizeram contribuições para a
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teoria e prática feminista radical desconheciam seu privilégio de raça e classe, que alienou as mulheres de cor e
as mulheres da classe trabalhadora no movimento. As mulheres acima mencionadas certificaram-se de que esses
sistemas de opressão sobrepostos fossem reconhecidos e destacados.
Os sádicos sistemas de racismo e classismo se cruzam com o patriarcado. Todas as mulheres são oprimidas por
serem do sexo feminino, mas essa opressão assume diferentes formas e graus de gravidade ao longo das linhas
de raça e classe. O status da casta-sexo mulher como uma classe não anula as diferenças de experiências entre
mulheres de diferentes classes econômicas e raciais. Mulheres brancas, de classe média/alta, e mulheres
privilegiadas de outro modo têm a responsabilidade de provarem-se como aliadas às mulheres de cor. Somente
após essa confiança e solidariedade serem estabelecidas é que as mulheres serão capazes de se organizar
coletivamente para derrubar o poder masculino.
Se o feminismo radical afirma que as pessoas trans masculinas ainda mantêm o privilégio masculino,
como fica a questão da violência dirigida contra eles?
Todos os machos biológicos beneficiam-se do patriarcado. Nenhuma identidade interna ou estado emocional pode
mudar a realidade material desses benefícios. Apenas mudando as condições materiais – pondo fim ao
patriarcado – podemos acabar com esses benefícios.
Dito isto, as pessoas que não estejam em conformidade com os estereótipos de gênero enfrentam riscos. Elas são
odiadas porque são a prova de que o gênero não é natural. Todos os sistemas de poder precisam naturalizar suas
hierarquias, por razões óbvias. É muito mais difícil de combater uma ordem social que foi criada por Deus, ou pela
natureza, ou pela evolução. A supremacia masculina alega que a masculinidade e a feminilidade são
biologicamente ou mesmo cosmicamente reais. As mulheres que resistem à feminilidade e os homens que se
recusam à seguir a masculinidade são a prova viva de que o patriarcado não é inevitável. Eles podem até mesmo
servir como uma inspiração para o resto de nós para estourarmos uma greve geral na fábrica de gêneros. Essas
pessoas irão, naturalmente, ser punidas com a ridicularização, com a censura e até mesmo com a violência.
Mas todas as mulheres estão sujeitas ao ridículo, censura e violência por parte dos homens. As mulheres que
estão em conformidade com a feminilidade são punidas e as mulheres que resistem a ela também. Estatísticas
globais sobre violência masculina mostram exatamente como os homens cruelmente punem as mulheres pelo
pecado de simplesmente serem mulheres. Ambos os caminhos – resistência ou conformidade – conduz a
potencial violação, tortura e assassinato. Andrea Dworkin chamou isso de "barricada de terrorismo sexual".[3]
Todas as mulheres vivem dentro dela, mesmo se resistirmos ou darmos o nosso melhor para estar em
conformidade. Nada do que fazemos individualmente nos libertará. Não há saída a não ser destruir a barricada,
tijolo por tijolo.
Sexo existe porque as pessoas no topo – homens – necessitam de saber o que pode ser considerado humano e o
que pode ser considerado um objeto, uma coisa a ser usada. Isso tem que ficar bem claro, tanto ideologicamente
quanto visualmente. É por isso que os judeus foram obrigados a usar estrelas amarelas, eles tiveram que ser
visualmente demarcados como sub-humanos. É por isso que a roupa das mulheres e dos homens é tão diferente.
Até muito recentemente, nas sociedades ocidentais, era ilegal para as mulheres usar roupas masculinas.[4] No Irã,
não é apenas ilegal um barbeiro dar a uma menina um corte de cabelo "de menino": isso é punível com a morte. A
demarcação visual é fundamental para a delimitação ideológica entre o ser humano e o não-humano, sujeito e
objeto, pessoa e coisa. A roupa das mulheres tanto nos anuncia como sexualmente disponíveis quanto constrange
nosso movimento: nós existimos para ser usadas e, apenas no caso de nos opormos, não podemos fugir.
No centro de tudo isso está o estupro. Como Catharine MacKinnon colocou de forma sucinta: "O homem fode a
mulher; sujeito, verbo, objeto".[5] Os homens precisam saber quem está na categoria de objeto. Eles precisam que
essa categoria seja absoluta, porque eles precisam saber que eles nunca vão estar nela. Eles sabem muito bem o
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sadismo que eles construíram com sua sexualidade. Este é o acordo que eles fazem uns com os outros: não faça
isso comigo, faça isso com ela.
Pessoas que não se conformam com o gênero jogam uma chave inglesa nas engrenagens. Se os homens não
podem dizer quem é homem e quem é mulher, como eles vão saber quem é humano e quem existe para ser
usado, quem eles podem foder? É por isso que a homofobia brota da misoginia. A divisão entre sujeito e objeto
tem que ser absoluta para manter os homens – homens de verdade – a salvo uns dos outros, fisicamente e
ideologicamente.
É por isso que as pessoas que não estejam em conformidade com as exigências visuais de gênero são punidas
tão cruelmente pelos homens. Os homens investidos de masculinidade estão apavorados com a possível
confusão. Eles não podem ter o menor indício de "homossexualidade" anexado a si, a idéia de que alguns homens
podem acabar na categoria objeto é horrível. Seu medo é baseado em uma avaliação real do sadismo sexual
masculino e dos castigos intermináveis ■■lançados sobre àqueles na categoria objeto. Então, os homens que não
se conformam têm que ser punidos até que eles se conformem, para manter todos os homens seguros.
A única maneira de parar isto é desmantelando a supremacia masculina. Ninguém pertence à categoria objeto:
nem mulheres, nem homens homossexuais, nem pessoas que não se conformam por qualquer motivo. A
socialização que cria o gênero – a violência e a violação que os homens e os meninos exercem sobre meninas e
mulheres – tem de acabar, assim como o poder que exige a existência de gênero. Quando isso acontecer, o
patriarcado terá seu fim e o conceito de gênero não terá qualquer significado.
E quanto a outros papéis de gênero presentes em culturas indígenas, como pessoas de dois/três
espíritos?
Pessoas não-indígenas não têm o direito de dar opiniões sobre essa questão.
E quanto às crianças que se identificam com o outro sexo ou com o gênero ao qual não foram atribuídas
quando jovens?
Estas crianças estão simplesmente agindo como elas mesmas. Se não existisse o patriarcado e sua camisa de
força do gênero, nem faríamos essa pergunta. É incrivelmente frustrante que nestes dias ainda temos de
argumentar que não há problema em meninas brincarem como meninos geralmente brincam, ou meninos usarem
vestidos enquanto crianças, e para o resto de suas vidas se quiserem.
O gênero é que é o problema, não as crianças, e definitivamente não os corpos das crianças. Ultimamente há um
impulso assustador para medicar crianças não-conformadas, incluindo "tratamento" com drogas perigosas e
experimentais. É profundamente regressivo alterar química e cirurgicamente as crianças para colocá-las em
conformidade com caricaturas de gênero. E algumas das crianças sobre as quais estes experimentos foram
realizados já demonstram arrependimentos. (Veja os links abaixo).
De fato, a pesquisa mostra que a maioria das crianças que têm sintomas de "disforia de gênero", quando não
"tratadas" com alguma forma de intervenção médica, cresce e se torna feliz, saudável■■, adultos sem disforia de
gênero, a maioria dos quais se tornam gays ou lésbicas.[6] O que está acontecendo é o apagamento médico da
juventude gay e lésbica. Devemos estar muito preocupados com esta tendência social como a versão mais recente
da eugenia.
Algumas leituras adicionais:
1. Ria Cooper: Britain’s youngest sex change patient reverses treatment
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2. Detransition: A young transman’s story back to womanhood
3. I’m questioning my gender again
4. Leave the Kids Alone
O ato de negar a identidade auto-proclamada de alguém não é um ato de violência?
Não, é um ato de discordância. Isso é o que implica viver em uma democracia pluralista. Nós vamos discordar, às
vezes vigorosamente, às vezes dolorosamente.
Ao longo da vida das pessoas, nossas identidades mudam muitas vezes. De fato, como radicais, nós ativamente
questionamos e abandonamos muitas das identidades nas quais fomos socializados. Este é um trabalho saudável
e necessário.
Nosso ponto é que a identidade não é sacrossanta. Identidades podem ser opressivas para nós mesmos e para
outras pessoas. Um exemplo é a identidade racial dos brancos como pessoas brancas. Quebrar a identificação
com a categoria "branco" não exime as pessoas brancas de seu privilégio – eles ainda são brancos em um mundo
racista – mas é um passo importante para a luta contra o racismo. Então, não acho que haja nada de errado com o
questionar a identidade como tal.
Afirmar que questionamos a legitimidade do gênero pode ser equiparado a negar a existência de uma pessoa, isso
implicaria que os seres humanos não podem existir sem o gênero. Nós não aceitamos isso. Nós não aceitamos
que o sexo, ou qualquer opressão, seja inevitável ou natural. Nós podemos fazer melhor do que o sistema de
castas chamado gênero.
E quanto ao bem-estar emocional de homens que não querem/conseguem ser masculinos o suficiente
para que a sociedade deixe-os em paz?
Em primeiro lugar, não é a "sociedade" que não os deixa em paz. São os homens. Os homens são os que
cometem crimes violentos para impor normas masculinas a outros homens.
Em segundo lugar, você não vai ser deixado em paz enquanto desafiar o poder masculino ou qualquer outro
poder. Os poderosos vão tentar subjugar qualquer sinal de resistência à sua ordem. Nós todos temos que chegar a
um acordo sobre isso da melhor maneira que pudermos. Alguns de nós tentamos tornar nossa vida pessoal o mais
segura possível e então esperamos o melhor. Outros de nós fazem de suas vidas um grito de guerra e pretendem
lutar contra o poder até o fim. Mas isso é decisão de cada pessoa.
Em terceiro lugar, nós encorajamos todos os homens a falhar em sua masculinidade! Essa é a única esperança
que este planeta tem. Assim, para que os homens alcancem o bem-estar emocional, é muito melhor que se
recusem a jogar o jogo de Homem de Verdade.
Mas, se isso implica em dizer que é trabalho das mulheres cuidar dos homens, nós rejeitamos. Os homens
precisam cuidar de si mesmos e uns aos outros. Queremos salientar que esta questão do bem-estar emocional
dos homens é central para muitas pessoas. Ninguém nunca – nem uma vez – nos perguntou sobre o bem-estar
emocional das mulheres, ou afirmou, mesmo que de forma implícita, que cuidar das mulheres é o trabalho dos
homens, embora sejam os homens que cometem a violência.
Os homens cometem 95% dos crimes violentos e 98% dos crimes sexuais nos EUA. Os homens precisam
confrontar outros homens. Eles precisam impedir uns aos outros de cometer violência, tanto contra os homens –
em suas intermináveis ■■guerras, por exemplo – e contra as mulheres.
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Notas de roda-pé
[1] Dworkin. “Against the Male Flood: Censorship, Pornography, and Equality,” p. 270.
[2]http://neurophilosophy.wordpress.com/2007/03/14/on-the-peculiarities-of-the-negro-brain/
[3] Dworkin, Right-Wing Women, p. 122.
[4] Clothing has also been legislated by class. Such laws are called “sumptuary laws.” A brief history is here.
https://en.wikipedia.org/wiki/Sumptuary_law
[5] Mackinnon, p. 124.
[6] Zucker.
Bibliography
Dworkin, Andrea. “Against the Male Flood: Censorship, Pornography, and Equality,” in Letters from a War Zone,
(New York, E.P. Dutton), 1988.
Dworkin, Andrea. Right-Wing Women. New York: Perigee Books, 1978.
MacKinnon, Catharine A. Towards a Feminist Theory of the State. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1989.
Zucker, KJ. Gender identity development and issues. Child Adolescent Psychiatric Clinics North America 2004, 13:
551-568.
Further Reading
http://www.troubleandstrife.org/new-articles/brain-wars/
Fine, Cordelia. Delusions of Gender: How Our Minds, Society, and Neurosexism Create Difference. New York: W.
W. Norton & Co., 2010.
Jeffreys, Sheila. Beauty and Misogyny: Harmful Cultural Practices in the West. London: Routledge, 2003.
Jeffreys, Sheila. Unpacking Queer Politics. Camrbridge, UK: Polity Press, 2003.
Jordan-Young, Rebecca M. Brainstorm: The Flaws in the Science of Sex Differences. Cambridge, MA: Harvard
University Press, 2010
Smedley, Audrey. Race in North America. Boulder, CO: Westview Press, 2007.
TECNOLOGIA VERDE E ENERGIA RENOVÁVEL
FAQs
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Irá a tecnologia verde salvar o planeta?
Ímanes de turbinas eólicas
Mina de Bingham Canyon
Não. Turbinas eólicas, painéis solares e a própria infraestrutura da rede elétrica são todos fabricados usando
energia barata proveniente dos combustíveis fósseis. Quando os custos destes combustíveis subirem até
determinado ponto, este produtos fabricados não serão viáveis.
Os painéis solares e as turbinas eólicas não são feitos do nada. São feitos de metais, plásticos e químicos. Estes
produtos têm que ser extraídos do solo, transportados, processados e fabricados. Cada uma destas etapas deixa
atrás de si um rasto de devastação: destruição de habitats, contaminação da água, colonização, resíduos tóxicos,
trabalho escravo, emissões de gás com efeito de estufa, guerras e lucros empresariais.
Os ingredientes básicos para as renováveis são os mesmos materiais que são omnipresentes nos produtos
industriais, como o cimento e o alumínio. Ninguém faz cimento em qualquer quantidade sem o uso de energia dos
combustíveis fósseis. E o alumínio? A própria extração mineira é um pesadelo destrutivo e tóxico do qual as
comunidades ribeirinhas não vão acordar a não ser numa escala de tempo geológica.
Do ínicio ao fim, as tão chamadas "energias renováveis" e outras "tecnologias verdes" levam à destruição do
planeta. Estas tecnologias estão enraizadas na mesma extração industrial e nos processos de produção que têm
grassado pelo mundo nos últimos 150 anos.
Nós não estamos interessados em reduzir ligeiramente os danos causados pela civilização industrial; estamos
interessados em parar completamente esses danos. Consegui-lo irá requerer desmantelar a economia industrial
global, o que tornará impossível a criação de tais tecnologias.
Não são as energias renováveis, tais como a solar, eólica e geotérmica, boas para o ambiente?
Não. A maior parte da eletricidade que é gerada pelas renováveis é usada durante o fabrico, extração mineira e
outras indústrias que estão a destruir o planeta. Mesmo se a produção de eletricidade fosse inofensiva, o consumo
certamente não o é. Todos os dispositivos elétricos, no seu processo de produção, deixa atrás de si o mesmo
rasto de devastação. Comunidades vivas - florestas, rios, oceanos - tonam-se comunidades mortas.
A redução de emissões que a renováveis pretende alcançar poderiam facilmente ser conseguidas através do
aumento da eficiência das centrais a carvão, nos negócios, nas casas, a um custo muito inferior. No contexto da
civilização industrial, esta abordagem faz mais sentido tanto económica como ambientalmente.
O facto de esta abordagem não estar a ser tomada mostra que toda a indústria das renováveis não passa de
especulação. Não beneficia ninguém para além dos investidores.
"Renováveis" significa que vão durar para sempre?
Não. Os painéis solares e as turbinas eólicas duram cerca de 20-30 anos, precisando depois de substituição. Os
processo de produção na extração, poluição e exploração não acontecem só uma vez, são contínuos - e estão a
expandir-se muito rapidamente. As renováveis nunca poderão substituir a infraestrutura dos combustíveis fósseis,
pois são extremamente dependentes daqueles.
Irão as renováveis salvar a economia?
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As tecnologias de energias renováveis dependem profundamente de subsídios governamentais, pagos pelos
contribuintes e dados diretamente a grandes empresas como a General Eletric, BP, Samsung e Mistsubishi. Se por
um lado este esquema lhes enche os bolsos, não nos ajuda a todos nós.
Para além disso, esta é a questão errada para se colocar. A economia industrial capitalista está a expropriar e a
empobrecer milhares de milhões de seres humanos enquanto mata o mundo vivo. As energias renováveis
dependem de capital centralizado e do desequilíbrio de poder. Nós todos não beneficiamos ao salvar esse
sistema.
Em vez de defender mais tecnologia industrial, precisamos de mudar para economias locais baseadas na tomada
de decisão em comunidade e naquilo que os nossos ecossistemas locais possam providenciar de forma
sustentável. E precisamos de parar a economia global, na qual dependem as energias renováveis.
Ok, a extração de metal é prejudicial. Mas e se reciclarmos os materiais?
Reciclagem de chumbo
A reciclagem poderá ser "mais eficiente" que a extração da matéria virgem, mas não é a solução para problemas
ambientais. Na verdade, contribui para aqueles.
Reciclar o alumínio, o aço, o silicone, o cobre, o metais raros e outras substâncias usadas nas "tecnologias
verdes" pode apenas ser feito com um grande custo para o planeta. Reciclar estas substâncias é extremamente
intensivo do ponto de vista energético, liberta grandes quantidades de gases com efeito de estufa e contribui para
a poluição das águas subterrâneas e para a toxificação do planeta.
A reciclagem de materiais necessita do comércio global, pois a maioria das operações de reciclagem acontece em
países empobrecidos com legislação ambiental e de saúde negligentes. São extremamente perigosas para os
trabalhadores. Muitas partes da tecnologias renováveis não podem sequer ser recicladas.
Ok, as tecnologias renováveis têm alguns impactos, mas mesmo assim são melhores que os combustíveis
fósseis, certo?
Sinais da Insanidade
Extrair metais não-renováveis
Transportá-los pelo mundo
Transformá-los
Chamar a isto Verde e Sustentável
As tecnologias de energias renováveis são melhores que os combustíveis fósseis no mesmo sentido que uma
ferida de bala é "melhor" que duas. Ambas são lesões graves.
Queres disparar contra o planeta uma ou duas vezes?
A única forma de sair deste dilema é quebrá-lo: recusar ambas as escolhas e construir um caminho
completamente diferente. Não apoiamos nem os combustíveis fósseis nem as tecnologias renováveis.
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Esta analogia das balas nem sequer é completamente precisa, pois as tecnologias renováveis, em alguns casos,
têm um impacto ambiental pior que os combustíveis fósseis.
Mais renováveis não significa menos energia dos combustíveis fósseis, ou menos emissões de carbono. A
quantidade de energia gerada pelas renováveis tem aumentado, mas também tem aumentado a quantidade
gerada pelos combustíveis fósseis. Nenhuma central a carvão ou a gás foi desligada como consequência das
renováveis.
Apenas cerca de 25% do consumo global de energia é feito na forma de eletricidade que flui por fios ou nas
baterias. O resto é petróleo, gás e outros derivados fósseis. Mesmo se toda a eletricidade mundial pudesse ser
produzida sem emissões de carbono, isso apenas iria reduzir as emissões totais por 25%. E mesmo isso teria
pouco significado, pois a quantidade de energia consumida está a aumentar rapidamente.
É motivo de debate se algumas "renováveis" chegam sequer a produzir um saldo de energia. A quantidade de
energia usada na extração, fabrico, desenvolvimento, transporte, instalação, manutenção, conexão à rede e
eliminação das turbinas eólicas e dos painéis solares pode ser mais do que estes alguma vez produzem;
pretensões em sentido contrário muitas vezes não têm em conta todos os "inputs" energéticos. As renováveis têm
sido descritas como um esquema de lavagem de dinheiro: entra energia suja, sai energia limpa.
Os biocombustíveis, outro exemplo de "tecnologia verde", têm mostrado saldos negativos de energia em quase
todos os casos. Os biocombustíveis que produzem um saldo positivo, fazem-no minimamente. Estes combustíveis
são habitualmente criados através da destruição de ecossistemas naturais, tais como as florestas tropicais ou
pradarias, para a a produção agrícola, um processo que em si mesmo liberta ainda mais gases com efeito de
estufa, reduz a biodiversidade e reduz a disponibilidade de comida local. A produção de biocombustíveis é
considerada um dos maiores fatores na subida dos preços dos alimentos por todo o mundo nos últimos anos.
Estes preços de comida em subida têm contribuído para a fome difundida, agitação social e violência.
Algumas pessoas gostam de promover a energia hidroelétrica como uma fonte de "energia verde". Isto é falso. As
barragens têm enormes impactos ambientais nos rios, praias e estuários. Para além deste impactos, muitas
barragens são uma grande fonte de gás metano devido à decomposição de matéria orgânica no fundo dos seus
reservatórios. O metano das barragens hidroelétricas pode ser responsável por 4% ou mais do aquecimento
global.
Quais são as diferenças fundamentais entre os combustíveis fósseis e as tecnologias verdes?
Extração
Produção
Poluição
Combustíveis Fósseis
Tecnologias Verdes
Necessitam de extração insustentável Necessitam de extração insustentável
de metais e outros recursos em larga de metais e outros recursos em larga
escala.
escala.
Processos de produção industriais
Processos de produção industriais
globalizados que necessitam de
globalizados que necessitam de
tecnologias com enormes
tecnologias com enormes
necessidades energéticas.
necessidades energéticas.
Poluição extrema libertada da
exploração inicial através da extração
e consumo. A poluição é
frequentemente visível no local do
consumo.
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Poluição extrema libertada da
exploração inicial através da extração
e eliminação. A poluição é
frequentemente invisível no local do
consumo.
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Direitos Humanos
Contribuem para os conflito sobre
recursos, exploração laboral e
violações de direitos humanos por
todo o mundo.
Contribuem para os conflito sobre
recursos, exploração laboral e
violações de direitos humanos por
todo o mundo.
Democracia
Tecnologias principalmente
controladas por corporações
multinacionais. Massivas quantidade
de capital necessárias.
Implementação pelas comunidades
em grande parte impossível.
Tecnologias principalmente
controladas por corporações
multinacionais. Massivas quantidade
de capital necessárias.
Implementação pelas comunidades
em grande parte impossível.
Então e a energia solar?
Fábrica de painéis solares
A produção de painéis solares está neste momento entre as principais fontes de hexafluoretano, trifluoreto de
nitrogénio e hexafluoreto de enxofre, três gases com efeito de estufa extremamente potentes que são usados para
limpar os equipamentos de produção de plasma. Enquanto gás com efeito de estufa, o hexafluoretano é 12.000
vezes mais potente que o dióxido de carbono, é 100% produzido por humanos e sobrevive até cerca de 10.000
anos depois de ser libertado na atmosfera. O trifluoreto de nitrogénio é17.000 vezes mais virulento que o dióxido
de carbono e o hexafluoreto de enxofre 25.000 vezes. A concentração de trifluoreto de nitrogénio na atmosfera
está a crescer 11% por ano.
De um relatório da coligação Tóxicos de Silicon Valley (Sillicon Valley Toxics):
Enquanto a indústria solar se expande, pouca atenção está a ser dada ao efeitos ambientais e de saúde
potenciais desta rápida expansão. Os painéis solares fotovoltaicos mais comuns têm o potencial de criar
uma nova fonte enorme de lixo eletrónico no fim da sua vida útil, que está estimada em cerca de 20 a 25
anos. Novas tecnologias solares fotovoltaicas estão a aumentar a eficiência e a reduzir os custos, mas
muitas destas usam materiais extremamente tóxicos ou materiais com riscos de saúde e ambientais
desconhecidos (incluindo nano-materiais e processos novos).
Então e a energia eólica?
Montagem de turbinas eólicas
Uma das turbinas eólicas mais comuns do mundo é um design com 1.5 megawatts produzido pela General Eletric.
A nacele pesa 56 toneladas, a torre 71 toneladas e as pás 36 toneladas. Uma única turbina requer mais de 100
toneladas de aço.
Este modelo é um design pequeno, segundo os padrões modernos. A última turbina industrial tem mais de 180
metros de altura e requer cerca de 8 vezes mais aço, cobre e alumínio.
Estes materiais têm de vir de algum lado, e esse lugar é sempre a casa, o lugar sagrado, a fonte de comida, água
ou ar de alguém. Nós simplesmente não ouvimos a sua desgraça porque, se forem humanos, normalmente são
pobres e a sua pele é castanha. É aqui que o racismo, o colonialismo, o ambientalismo e a economia extrativa se
juntam.
A maior produtora de turbinas eólicas no mundo é a Vestas, uma corporação de 15 mil milhões de dólares. A maior
produtora de turbinas eólicas dos Estados Unidos é a General Electric, que tem bens em valor superior a 700 mil
milhões de dólares e é o quarto maior produtor de poluição atmosférica. Alguém pensa que - depois de
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Fukushima, Hanford, Bhopal - que estas corporações massivas estão preocupadas com a justiça ou a
sustentabilidade? O lucro é seu objetivo principal e face a isto a vida será sempre secundária.
Então e os veículos híbridos e elétricos?
A produção de carros elétricos necessita de energia de combustíveis fósseis para a maioria dos aspetos da suja
produção e distribuição. Este requerimento é talvez ainda mais extremo com os carros elétricos, pois têm de ser
fabricados o mais leve possíveis, devido ao peso dos pacotes de baterias. Muitos materiais leves utilizados
precisam de extremas quantidades de energia para serem produzidos, tais como o alumínio e os compostos de
carbono. É por esta razão que provavelmente nunca verás um camião elétrico - são simplesmente muito pesados.
E claro, os camiões são necessários para a extração e os combustíveis fósseis alimentam todos os camiões. Os
carros híbridos ou elétricos são também carregados com energia que, na sua maioria, vem de centrais que usam
gás natural, carvão ou combustíveis nucleares.
Um estudo recente da National Academies, que analisou os efeitos da construção de veículos, extração de
combustíveis, refinação, emissões e outros fatores, demonstrou que os impactos de saúde e ambientais durante a
vida dos veículos elétricos na verdade são maiores do que dos carros movidos a gasolina.
Deveríamos focar-nos em urbanização densa e transportes públicos?
Em alguns casos, o desenvolvimento urbanístico de grande densidade é preferível à dispersão suburbana. Pode
reduzir o impacto nas comunidades selvagens locais significativamente. No entanto, o foco em comunidades
urbanas densas e nos transportes públicos que é prevalente no movimento ambientalista moderno é problemático
em vários aspetos.
O principal problema com esta abordagem é que tem por garantida a existência de cidades. As cidades são
insustentáveis, porque requerem a rotineira importação de recursos - comida, madeira, minerais e combustíveis da terra envolvente, sem darem nada em troca. A terra sobre a qual cidade está não pode prover suficientemente
os cidadãos de comida, abrigo, combustível e outros bens materiais.
Isto ao contrário da aldeias, acampamentos ou outras formas pequenas de povoação, que durante a história têm
servido de modelo sustentável para comunidades humanas.
As cidades estão constantemente a sugar recursos da sua região envolvente e, no mundo moderno, do globo
inteiro. Cidades densamente povoadas podem reduzir o impacto do chamado "desenvolvimento" na sua área
imediata, mas não respondem aos impactos fundamentais das cidades ou da moderna cidade globalizada.
Por exemplo, enquanto que alguns bairros em Nova Iorque são extremamente densos e consomem quantidades
relativamente baixas de energia, este é um ponto de vista limitado. Florestas tropicais estão a cair e montanhas
estão a ser minadas até à exaustão para fornecer recursos a estas cidades. Qualquer tentativa séria de
ambientalismo tem de ter em conta estes impactos de se produzir e transportar materiais até à cidade e tem de
responder aos problemas fundamentais da extração de recursos e da expansão da civilização industrial global.
Na melhor das hipóteses, o crescimento urbano e o transporte público são estratégias de "redução de danos"
apenas ligeiramente eficazes. Na pior, estas abordagens ao ambientalismo proporcionam um "verniz verde" às
cidades corporalizadas, guiadas pelo lucro e dependentes da extração. Obscurecem o problema e, portanto,
contribuem para ele.
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Para aprender mais sobre as cidades, como funcionam e porque são formas de organização social insustentáveis,
lê a nossa definição de civilização e as referências no fim desta página.
Mas nós precisamos de eletricidade, não?
Central solar de Ivanpah
Os humanos, tal como outros animais, obtêm a sua energia principalmente ao comer plantas e outros animais. As
plantas recolhem a sua energia do sol. Nenhuma espécie precisa de eletricidade para sobreviver. Apenas o
sistema industrial precisa de eletricidade para sobreviver.
Neste momento, comida e habitats de criaturas vivas estão a ser sacrificados para alimentar a eletricidade. A
infraestrutura, as minas, o processamento e a descarga de resíduos necessários para a produção elétrica estão a
destruir florestas e outros sítios naturais por todo o mundo. Garantir a segurança energética da indústrias
necessita de abalar a segurança de vida dos seres vivos (nós).
Qual é a vossa alternativa?
O uso de eletricidade só se tornou comum desde os anos 20 (ou até mais parte em muitas partes do mundo). Na
maior parte do mundo, muita gente não tem eletricidade em casa, mesmo agora. Há muitas maneiras de suprir as
nossas necessidades que não passam pela dependência na eletricidade.
A produção de eletricidade é insustentável, se por "sustentável" queremos dizer algo que podemos continuar a
fazer para sempre sem causar males graves ou duradouros ao planeta. Sistemas de produção elétrica localizados,
em pequena-escala, usando os restos da civilização, podem continuar durante algum tempo após o colapso das
redes centralizadas de energia, mas a produção industrial e global de produtos "verdes" irá matar o planeta tão
certamente como o status quo.
Nós somos céticos em relação ao uso da tecnologia industrial "verde" para facilitar a transição para um estilo de
vida completamente não-industrial. A dependência na tecnologia industrial pode facilmente tornar-se um culto do
progresso e pode afastar as pessoas da formas tradicionais e sustentáveis de vida.
Comidas Locais
As únicas fontes de energia realmente "verdes" vêm da terra e não necessitam de destruição. Com isto queremos
dizer a fotossíntese e a energia muscular. A permacultura, tal como outros métodos tradicionais de subsistência
tais como a caça, a pecuária, a pesca e a colheita têm de ser a fundação de qualquer cultura sustentável futura; de
outra forma qualquer reivindicação "verde" é falsa. Policulturas perenes, tanto cultivadas como selvagens, podem
também fornecer as outras necessidades básicas vitais: água limpa, ar limpo, materiais para vestuário e abrigo e
inspiração espiritual.
A Deep Green Resistance opõe-se às tecnologias industriais que são etiquetadas de "verdes" ou "renováveis". Ao
invés disso, estamos solidários com o mundo natural e as comunidades que sofrem os impactos da extração
industrial por todo o mundo.
Leitura / Consulta Adicional
•
As Falsas Soluções da Energia Verde (vídeo de uma hora)
•
Ozzie Zehner – Ilusões Verdes (vídeo de uma hora)
•
Mitos dos Biocombustíveis (vídeo de uma hora e meia)
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•
Entrevista com Annette Smith na Rádio Resistência (Resistance Radio) (podcast de quarenta minutos)
Referências
•
"A Problem with Wind Power" by Eric Rosenbloom.
•
"Energy Balance of the Global Photovoltaic (PC) Industry – Is the Industry a Net Electricity Producer?" by
Michael Date and Sally M. Benson.
•
Green Illusions: The Dirty Secrets of Clean Energy and the Future of Environmentalism by Ozzie Zehner.
University of Nebraska Press, 2012.
•
Deep Green Resistance: Strategy to Save the Planet by Lierre Keith, Derrick Jensen, and Aric McBay. Seven
Stories Press, 2011.
•
Imperial San Francisco: Urban Power and Earthly Ruin by Gray Brechin. University of California Press, 2006.
•
"Reservoir Emissions" by International Rivers. Accessed October 31st, 2014.
•
"Solar industry grapples with hazardous wastes" by Jason Dearen, Associated Press. February 10th, 2013.
•
"Ten Reasons Intermittent Renewables (Wind and Solar PV) are a Problem" by Gail Tverbeg. January 2014.
CULTURA DE SEGURANÇA
A verdade nua é que vivemos em um estado de vigilância sem precedentes. Muitas pessoas estão legitimamente
preocupadas ou com medo da repressão do Estado. Mas esse medo pode tornar-se paranóia e paralisia. Como
resultado, alguns não vão se envolver no ativismo radical. Outros vão continuar envolvidos, mas sua paranóia irá
criar uma atmosfera sufocante e afastar as pessoas. O resultado? A morte de nossos movimentos.
Cultura de Segurança - um conjunto de regras simples que qualquer um pode seguir – reduz a paranóia e o medo,
nos torna mais seguros para que possamos fazer o nosso trabalho de forma eficaz. Esta página é uma introdução
básica à cultura de segurança e não deve ser considerada completa. Seja inteligente e adapte-se à sua situação
específica.
O que é Cultura de Segurança?
Cultura de segurança é um conjunto de práticas e atitudes destinadas a aumentar a segurança das comunidades
políticas. Essas diretrizes são criadas com base na recente e histórica repressão do Estado e ajuda a reduzir a
paranóia e aumentar a eficácia.
Regras da Cultura de Segurança
Não Fale a Respeito de...
•
Seu envolvimento ou o envolvimento de outra pessoa com um grupo underground.
•
Seu desejo, ou de outra pessoa, de se envolver com este tipo de grupo.
•
Sua participação, ou de outra pessoa, em atividades ilegais.
•
Defesa de alguém contra esse tipo de ações.
•
Seus planos futuros, ou de outra pessoa, para ações ilegais.
•
Não pergunte aos outros se eles são membros de um grupo underground.
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•
Não fale sobre ações ilegais em termos de pessoas, lugares ou momentos específicos.
Desobediência civil não-violenta é ilegal, mas às vezes pode ser discutida abertamente. Em geral, as
especificidades da desobediência civil não-violenta devem ser discutidas apenas com as pessoas que estarão
envolvidas na ação ou aqueles que fazem o trabalho de apoio para elas.
Ainda é aceitável (até mesmo incentivado) falar publicamente em apoio à sabotagem e todas as formas de
resistência, desde que você não mencione lugares específicos, pessoas, momentos, etc., mas só se isso é legal
em sua própria jurisdição. Mesmo que manifestar apoio à sabotagem seja legal em sua área, esteja ciente das
possíveis consequências de repressão, assim você pode tomar uma decisão consciente sobre o nível de risco que
você se sentiria confortável de correr.
Nunca fale com oficiais de polícia, agentes do FBI, etc.
•
Não importa se você é culpado ou inocente. Não importa quão esperto você seja. Nunca fale com oficiais de
polícia, agentes do FBI, Seguranças, etc. Não importa que você acredite que está dizendo aos oficiais de
polícia o que eles já sabem. Não importa se você estava apenas tendo um bate-papo com os oficiais de polícia.
Qualquer conversa com oficiais de polícia, agentes do FBI, etc. irá quase certamente prejudicar você e outras
pessoas.
•
Se você conversar com um oficial de polícia, você dá a ele ou ela a oportunidade de testemunhar contra você
baseado no que você disse ou no que eles disserem que você disse.
•
Simplesmente, e educadamente, diga que você gostaria de permanecer calado. Pergunte se você está sendo
detido ou preso. Se não, saia caminhando. Se você estiver sendo preso ou detido, repita para todos que lhe
fizerem perguntas que deseja permanecer em silêncio e que gostaria de falar com um advogado. Não diga
nada mais do que seu nome, seu endereço e data de nascimento.
•
A maioria das condenações, sejam as pessoas culpadas ou não, vêm de conversas, e não a partir de um
trabalho de investigação.
•
Não entregue os outros. Um informante é alguém que fornece informações para a polícia ou federais, a fim de
obter tratamento brando para si mesmo. Muitas vezes, informantes proporcionam informação para a polícia ao
longo de um período prolongado de tempo. Às vezes, isso ocorre depois de serem presos e pressionados para
se tornarem informantes. Em troca, eles podem receber dinheiro ou ter o seu próprio comportamento ilegal
ignorado pela polícia. Saiba mais sobre um informante proeminente.
•
Saiba mais sobre truques e ameaças de interrogatório.
•
Assista Não Converse com Policiais – Parte I e Não Converse com Policiais – Parte II no YouTube.
Nunca deixe um oficial de polícia, agente do FBI, etc. entrar em sua casa se ele não tiver um mandado de
busca
•
Se você deixar um policial entrar em sua casa, ele tem o consentimento para vasculhá-la.
•
Se eles vierem à sua casa para fazer perguntas, não os deixe entrar. De dentro de sua porta, ou do lado de
fora com a sua porta fechada atrás de você, educadamente diga: "Eu gostaria de permanecer em silêncio".
Pergunte-lhes se você está sendo preso ou se eles têm um mandado de busca. Se eles disserem não, volte
para dentro de sua casa e feche a porta educadamente. Se eles vierem de qualquer maneira, não resista à
prisão. Diga "eu não dou o consentimento de vasculhar minha casa". Tome nota de quem eles são e o que
fazem.
Seja Esperto
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•
Aprenda as leis em seu país/estado/jurisdição: saiba o que você pode ou não dizer; saiba quais atos são legais
e ilegais; saiba pelo que outros ativistas foram julgados e o que é legalmente permitido.
•
Descubra os detalhes por meio de ativistas e advogados de ativistas em sua região: se você for realizar uma
ação, certifique-se de escrever o seu número de telefone em seu corpo com um marcador permanente.
•
Vincule-se a ativistas experientes: eles têm uma riqueza de experiência e conhecimento sobre o campo do
ativismo em que você está e podem ensinar qual é a logística e estratégias locais para ficar seguro.
Mitos da Cultura de Resistência
Mito # 1
“Esconder minha identidade em organizações aboveground me mantêm seguro.”
“Se eu ler o site do DGR eu entrarei para uma lista do governo.”
“Eu não quero meu nome em uma lista de inscrição para um workshop do DGR para que assim eles não
saibam quem eu sou.”
•
Toda ação envolve risco. Nada pode garantir segurança. Qualquer ação efetiva em um movimento
aboveground pode levar à repressão. Uma cultura de segurança nos torna mais efetivos.
•
Movimentos aboveground protegem-se quase exclusivamente através de grandes números e solidariedade
pública.
•
Não há nenhuma maneira de efetivamente fazer o trabalho aboveground e manter sua identidade oculta.
Também não é benéfico ou necessário esconder a sua identidade para fazer o trabalho aboveground.
•
Movimentos aboveground só podem construir números e solidariedade pública sendo publicamente abertos e
expressando apoio ao movimento a fim de atrair outros.
•
Operar a partir do pressuposto de que todas as comunicações de internet e telefone são monitoradas. Tendo
em vista que os movimentos aboveground não têm nada a esconder, a não ser a desobediência civil
não-violenta ocasional, temos de usar a internet e os telefones para se comunicar, a fim de sermos capazes de
nos organizar de forma eficaz.
•
Um dos principais papéis do movimento aboveground é ser o rosto público do movimento. Defendemos
publicamente e dizemos "Eu apoio esta estratégia e eu defendo o DGR", por exemplo. Este importante trabalho
não pode ser feito se estivermos constantemente tentando esconder nossas identidades.
•
Existem razões perfeitamente legítimas para querer manter um anonimato, mas esconder sua identidade
completamente e ao mesmo tempo se envolver com qualquer movimento é praticamente impossível. Se você
tiver razões para não querer a atenção do governo (por exemplo, se você não é um cidadão), então a melhor
maneira de manter a maior segurança possível é a de não se envolver com qualquer movimento.
Mito # 2
“Nós temos que identificar o agente federal, oficial de polícia ou agente infiltrado, etc. no grupo”
•
Não é seguro, e geralmente não é uma boa ideia, especular ou acusar pessoas de serem agentes infiltrados.
Esta é uma tática típica que agentes infiltrados usam para derrubar movimentos.
•
A paranóia pode causar um comportamento destrutivo.
•
Fazer acusações falsas/incertas é perigoso.
Mito # 3
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“Oficiais de polícia têm que se identificar. Oficiais de polícia não podem mentir para você.”
•
Agentes infiltrados disfarçados não podem fazer seu serviço se tiverem que se identificar.
•
Os oficiais de polícia estão legalmente autorizados a mentir para as pessoas - e fazem isso rotineiramente para incentivar a cooperação, tanto na rua quanto - e especialmente - no interrogatório. Policiais e outros
agentes também apresentam evidências falsas, incluindo fotos, vídeo e áudio para induzir as pessoas a falar
de outras pessoas.
•
Agentes do governo de todos os tipos podem ameaçar você, sua família e seus amigos. A melhor defesa é a
de não falar, não acreditar neles, não cooperar e pedir ajuda aos outros.
Mito # 4
“A Cultura de Segurança garante minha segurança”.
•
A Cultura de Segurança te mantêm mais seguro, mas qualquer ação efetiva pode levar à repressão.
•
Nada pode garantir segurança, mas a Cultura de Segurança nos torna mais efetivos.
•
Separação estrita entre os movimentos aboveground e underground que existam ou que possam vir a existir
ajuda a proteger as pessoas.
Violações da Cultura de Segurança
O comportamento, não as pessoas, é o problema.
•
Há muitos comportamentos que podem prejudicar grupos ou torná-los inseguros. Se alguém é um policial ou
não, não importa. Concentre-se em abordar os comportamentos.
•
Alguns dos comportamentos a observar são o sexismo, o comportamento abusivo, fofocas e criação de conflito
entre indivíduos ou grupos.
O que fazer em casos de violação da Cultura de Segurança.
•
Repreender (diplomaticamente e privadamente) e apontar quem violou a Cultura de Segurança para melhores
averiguações.
•
Não deixe as violações passarem ou se tornarem hábito.
•
Violadores crônicos têm o mesmo efeito prejudicial de agentes infiltrados. É importante e necessário
estabelecer limites. Se um membro consistentemente viola a Cultura de Segurança, mesmo após ter sido
corrigido, eles devem ser removidos do grupo para a segurança de todos.
Recursos
•
Deep Green Resistance videos sobre a cultura de segurança apresentados por Aric McBay
•
Centro de Defesa às Liberdades Civis website
•
The Mysterious Rabbit Puppet Army apresenta: "Donny, Não!", uma esquete de formação para a Cultura de
Segurança (text transcript or 3.7 MB MP3)
Os documentos à seguir são de leitura obrigatória para qualquer ativista.
•
Agent At The Door: one-page guide to handling visits from government officials in the US. You may want to
print this out and post it by your door.
•
Você Tem o Direito de Permanecer Em Silêncio
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•
•
•
Operação Blackfire
•
Cultura de Segurança: Um Livro de Mão Para Ativistas
Segurança para computador
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Read our guide to encrypting email with PGP
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Criptografia Funciona: Como proteger sua privacidade na Era da Vigilância da NSA pelo the Freedom of the
Press Foundation
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PRISM BREAK – lista detalhada de opções de software.
The Grand Jury Resistance Project provides useful information, including PDFs on A Few Facts About Grand
Juries (1 page), Grand Juries Are An Abuse Of Power! (2 page brochure), and What You Should Know About
Grand Juries (2 pages, plus example subpoena.)
Perguntas Frequentes
P: Você tem advogados dispostos a nos ajudar/aconselhar em como devemos agir?
R: Atualmente, estamos construindo um suporte legal com este objetivo precisamos de voluntários para essa e
outras tarefas.
P: Como devo agir se alguém disser: "Eu quero formar um grupo underground, fazer parte de um grupo
underground, criar um espaço seguro, etc."
R: Diga: "Nós somos uma organização aboveground. Nós não queremos nos envolver. Não respondemos as
perguntas de ninguém sobre o desejo pessoal de criar ou fazer parte um movimento underground."
Imediatamente mude de assunto se isso incorre em violação da Cultura de Segurança. Às vezes, você terá que
dar fim ao diálogo.
Não diga, “o movimento underground” - Isso poderia implicar que estamos em contato com uma organização
underground já existente. Em vez disso, utilize o termo "um movimento underground (que pode ou não existir).”
Mais perguntas ou preocupações sobre segurança? Mande um e-mail:
[email protected]
RESISTÊNCIA ESTRATÉGICA
Extraído do capítulo 6 do livro Deep Green Resistance: Estratégia para Salvar o Planeta
Agora, quando eu falo sobre uma resistência, eu estou falando de uma resistência política organizada. Eu não
estou falando apenas de algo que vem e algo que vai. Eu não estou falando de um sentimento. Eu não estou
falando sobre ter em seu coração a maneira como as coisas deveriam ser e passando por um dia normal, ter boas
ideias maravilhosas, dignas em seu coração. Estou falando de quando você coloca seu corpo e sua mente na linha
e compromete-se a anos de luta, a fim de mudar a sociedade em que você vive. Isso não significa apenas mudar
os homens que você sabe que os costumes deles vão ficar melhor – apesar de que isso não seria ruim... Mas não
é isso que a resistência política é. A resistência política se passa dia e noite, abertamente e secretamente, onde as
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pessoas podem vê-lo e onde as pessoas não podem. Ela é passada de geração em geração. É ensinada. Ela é
encorajada. É afamada. Ela é inteligente. É mais experiente. Ela está empenhada. E um dia ela vai ganhar. Ela vai
ganhar.
—Andrea Dworkin
As estratégias e táticas que escolhemos deve ser parte de uma estratégia maior. Isto não é o mesmo que a
construção do movimento; derrubar a civilização não requer uma maioria ou um único movimento coerente. Uma
grande estratégia é necessariamente diversificada e descentralizada, e irá incluir vários tipos de ações. Se aqueles
no poder buscam um Espectro-Integral de Dominação, então precisamos de um Espectro-Integral de
Resistência.[1]
Uma ação eficaz muitas vezes requer um alto grau de risco ou sacrifício pessoal, de modo que a ausência de uma
grande estratégia plausível desencoraja muitas pessoas genuinamente radicais de agir. Por que eu deveria correr
riscos com a minha própria segurança para atos simbólicos ou inúteis? Um dos propósitos deste livro é o de
identificar estratégias plausíveis para ganhar.
Se quisermos ganhar, temos de aprender as lições da história. Vamos dar uma olhada no que tem feito
movimentos eficazes de resistência do passado. Existem critérios gerais para julgar eficácia? Podemos dizer se
táticas ou estratégias de exemplos históricos vão funcionar para nós? Existe um modelo geral - uma espécie de
catálogo ou taxonomia de ação - que grupos de resistência podem escolher?
A resposta a cada uma destas perguntas é sim.
Para aprender a partir de grupos históricos precisamos de quatro tipos específicos de informações: seus objetivos,
estratégias, táticas e organização.
As metas podem nos dizer o que certo movimento teve como objetivo realizar e se foi em última análise bem
sucedido em seus próprios termos. Será que eles fizeram o que eles disseram que queriam?
Estratégias e táticas são duas coisas diferentes. Estratégias são de longo prazo e em larga escala planeja
alcançar objetivos. O historiador Liddell Hart chamou estratégia militar "a arte de distribuir e aplicar meios militares
para cumprir os fins da política."[2] O bombardeio aliado de infra-estrutura alemã durante a Primeira Guerra
Mundial I é um exemplo de uma estratégia bem sucedida. Outros incluem os boicotes pelos direitos civis de
empresas pró-segregação e estratégias sufragistas de petições e pressão sobre os candidatos políticos, direta e
indiretamente, através de atos que incluem a destruição de propriedade e incêndio culposo.
Táticas, por outro lado, são ações de curto prazo, de menor escala; são atos particulares que colocam as
estratégias em prática. Se a estratégia é bombardeio sistemático, a tática pode ser um vôo com bombardeio dos
Aliados (N.T.: da Primeira Guerra Mundial) para atingir uma fábrica particular. A estratégia de boicote dos direitos
civis empregou táticas como piquetes e protestos em lojas específicas. As sufragistas atingiram sua meta
estratégica, planejando ataques incendiários de pequena escala em edifícios particulares. Táticas de sucesso são
adaptadas para atender situações particulares, e eles combinam o povo e os recursos disponíveis.
Organização é a maneira pela qual um grupo compõe-se para realizar atos de resistência. Movimentos de
resistência podem variar em tamanho, de indivíduos atomizados a grandes e centralizadas burocracias, e como
um grupo se organiza determina quais as estratégias e táticas ele é capaz de empreender. O grupo é centralizado
ou descentralizado? Ele tem postos e hierarquia ou é explicitamente anarquista em sua natureza? O grupo é
fortemente organizado com códigos de conduta e políticas ou é um improviso "autocrático?" Quem é um membro,
e como são recrutados os membros? E assim por diante.
UMA TAXONOMIA DA AÇÃO
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Nós todos vimos as taxonomias biológicas, que categorizam os organismos vivos por reino e filo até gênero e
espécie. Embora existam dezenas de milhões de espécies vivas de muitas diferentes formas, tamanhos e habitats,
podemos usar uma taxonomia que simplifique e facilite a visualização.
Quando buscamos estratégias e táticas eficazes, temos que classificar através de milhões de ações passadas e
ações potenciais, a maioria dos quais são ou fracassos históricos ou becos sem saída. Nós podemos nos salvar
um monte de tempo e um monte de angústia com uma taxonomia de resistência rápida e suja. Ao olhar sobre
ramos inteiros de ação de uma só vez podemos rapidamente julgar quais táticas são realmente adequadas e
eficazes para salvar o planeta (e para muitos tipos específicos de ativismo de justiça social e ecológica). A
taxonomia de ação também pode sugerir táticas que nós poderíamos ignorar.
De um modo geral, podemos dividir todas as nossas táticas e projetos em atos de omissão ou atos de comissão.
Claro que, às vezes, essas categorias se sobrepõem. Um protesto pode ser um meio para pressionar um governo,
uma forma de sensibilizar a opinião pública, uma tática direcionada de perturbações econômicas, ou todos os três,
dependendo da intenção e organização. E às vezes uma tática pode apoiar a outra; um ato de omissão como uma
greve de trabalho tem muito mais probabilidade de ser eficaz quando combinada com propaganda e protesto.
Em um momento nós iremos fazer um rápido passeio de nossas opções taxonômicos para a resistência. Mas,
primeiro, um aviso. Aprender as lições da história vai oferecer-nos muitos presentes, mas estes presentes não são
livres. Eles vêm com um fardo. Sim, as histórias de quem revida estão cheias de coragem, brilho e drama. E sim,
podemos encontrar discernimento e inspiração em ambos os seus triunfos e suas tragédias. Mas o peso da
história é a seguinte: não existe uma maneira mais fácil.
Em Star Trek, todos os problemas podem ser resolvidos na cena final, invertendo a polaridade da matriz defletora.
Mas isso não é a realidade, e isso não é o nosso futuro. Cada vitória da resistência foi vencida por sangue e
lágrimas, com angústia e sacrifício. Nossa fardo é o conhecimento de que existem contudo tantas maneiras de
resistir, que essas formas já foram inventadas, e todas elas envolvem profunda e perigosa luta. Quando os
resistentes ganham, é porque eles lutam mais do que pensavam ser possível.
E esta é a segunda parte do nosso fardo. Uma vez que aprendemos as histórias de quem revida - uma vez que
nós realmente as aprendemos, uma vez que choramos por eles, uma vez que as inscrevemos em nossos
corações, uma vez que as carregamos em nossos corpos como um veterano de guerra carrega doendo estilhaços
- não temos escolha, mas revidar nós mesmos. Só fazendo isso podemos esperar viver de acordo com o seu
exemplo. As pessoas têm lutado sob as condições mais adversas e terríveis que se possa imaginar; essas
pessoas são nossos parentes na luta pela justiça e por um futuro habitável. E nós encontramos essas pessoas nossa coragem - não apenas na história, mas agora. As encontramos não apenas entre os seres humanos, mas
em todos aqueles que revidam.
Devemos revidar, porque se não o fizermos, vamos morrer. Isto é certamente verdade no sentido físico, mas
também é verdade em outro nível. Uma vez que você sabe realmente o auto-sacrifício e infatigabilidade e bravura
que nossos parentes têm mostrado nos tempos mais sombrios, você deve agir ou morrer como uma pessoa.
Temos que revidar não só para ganhar, mas para mostrar que estamos ambos vivos e dignos dessa vida.
Outros recursos
•
Leia a estratégia da Deep Green Resistance em Guerra Ecológica Decisiva
•
Saiba mais sobre e compre o livro Deep Green Resistance book
•
Read of militant attacks on infrastructure at the DGR News Service Underground Action Calendar
•
Read the DGR News Service "Time Is Short" article series on strategic resistance
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•
Recursos para aprender estratégias e táticas (17MB zip)
Notas de Rodapé
[1] E não há necessidade de dizer "se". O Espectro-Integral de Dominação é terrivelmente, mas sem surpresa, um
objetivo declarado do governo dos EUA, através de militares e outros meios.
[2] Hart, Strategy, 2ª edição, p. 335.
GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA
Guerra Ecológica Decisiva (GED) é a estratégia de um movimento que tem ficado tempo demais na defensiva. É o
grito de guerra de um povo que se recusa a perder mais batalhas, o último recurso de um movimento isolado,
cooptado, e cansado de intermináveis batalhas judiciais e bloqueios.
As informações contidas na estratégia GED derivam de estratégia militar e manuais de táticas, análise histórica de
resistências, insurreições e movimentos de libertação nacional. Os princípios estabelecidos nestas páginas são
aceitos em todo o mundo como princípios de guerra assimétrica, em que uma parte é mais poderosa que a outra.
Se alguma luta é realmente assimétrica, é esta.
As estratégias e táticas explicadas na GED são ensinadas a policiais militares em locais como a Academia Militar
de West Point por um motivo simples: elas são extremamente eficazes.
Quando foi a julgamento na África do Sul, em 1964, por seus crimes contra o regime do apartheid, Nelson Mandela
disse: “Eu não nego que eu planejei sabotagem. Eu não fiz isso em um espírito de imprudência. Eu planejei como
resultado de uma avaliação longa e sóbria da situação política depois de muitos anos de opressão do meu povo
pelos brancos”.
Nós convidamos você a ler esta estratégia, e a realizar essa mesma longa e sóbria avaliação da situação que
enfrentamos. O tempo é curto.
COLLAPSE SCENARIOS
Listen to an audio version of Collapse Scenarios
Há um momento em operar a máquina se torna uma coisa tão odiosa, adoecendo seu coração, que você não pode
mais fazer parte disso, você não pode nem mesmo fazer parte disso passivamente, e você sente que precisa jogar
seu corpo contra as engrenagens e contra as rodas, contra as alavancas, contra todo o aparato, e você tem que
fazê-la parar! —Mario Savio, Berkeley Free Speech Movement
Para alcançar o que vale a pena, pode ser necessário perder todo o restante. —Bernadette Devlin, ativista política
irlandesa
Nesse ponto da história, não há uma boa opção em curto prazo para a sociedade global humana. Algumas são
melhores e outras piores e, em longo prazo, algumas são muito boas, mas em curto prazo estamos de mãos
atadas. Eu não vou mentir para você – não temos tempo para cerimônias. A única forma de encontrar a melhor
alternativa é enfrentando nossa terrível situação e não sermos desviados por falsas esperanças.
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As sociedades humanas – por causa especificamente da civilização – tem se colocado em um dilema. Enquanto
espécie, somos dependentes da extração de suprimentos finitos de petróleo, solo e água. A agricultura industrial (e
antes dela a agricultura anual de grãos) tem nos colocado em um padrão vicioso de crescimento populacional e
acúmulo. Nós, a muito, excedemos nossa capacidade de suporte e o funcionamento da civilização está destruindo
essa capacidade de suporte a cada segundo. Isto é, em grande parte, culpa daqueles que estão no poder, dos
mais ricos, dos Estados e corporações. Mas as consequências – e a responsabilidade por compactuar com isso –
recai sobre o resto de nós, incluindo não-humanos.
Concretamente, ainda não é tarde demais para fazer uso de programas emergenciais focados em limitar os
nascimentos e reduzir a população, cortar o consumo de combustível fóssil à zero, substituir as monoculturas
agrícolas por policulturas perenes, eliminar a pesca excessiva e cessar a usurpação (ou destruição) industrial do
que resta das áreas selvagens. Não há razão concreta que nos impeça de dar início a tudo isso amanhã, parar o
aquecimento global em seu nível atual, reverter o crescimento, reverter a erosão, reverter a diminuição dos níveis
dos aquíferos e trazer de volta todas as espécies e biomas atualmente em risco. Não há razão concreta para não
nos juntarmos e agirmos como adultos para resolver nossos problemas, isso não é, de forma alguma, contra as
leis da física.
Mas socialmente e politicamente, nós sabemos que esse é um sonho otimista. Existem sistemas materiais de
poder que tornam isso impossível enquanto esses sistemas permanecerem intactos. Os que estão no poder
ganham muito dinheiro e privilégios destruindo o planeta. Nós não vamos salvar o planeta – ou nosso próprio
futuro enquanto espécie – sem uma luta.
Como ser realista? Quais opções estão atualmente disponíveis para nós e quais são as consequências? O que
segue são três cenários amplos e ilustrativos: um onde não há uma resistência substancial e decisiva, um em que
há uma resistência limitada e um colapso relativamente prolongado, e um em que uma resistência total conduz ao
colapso imediato da civilização e da infraestrutura industrial global.
Ausência De Resistência
Se não houver resistência significativa, provavelmente as coisas só irão seguir como estão por mais alguns anos,
embora com crescentes perturbações e depressões econômicas. De acordo com as melhores informações
disponíveis, os impactos do pico do petróleo começarão em algo entre 2011 e 2015, resultando em rápido declínio
na disponibilidade global de energia.[1] É possível que isso possa acontecer um pouco mais tarde se todas as
medidas forem tomadas para extrair o combustível fóssil restante, mas isso pode apenas adiar o inevitável,
agravar o aquecimento global e fazer com que o eventual declínio seja mais acentuado e severo. Quando o pico
do petróleo acontecer, o preço crescente e o suprimento decrescente do suprimento de energia desfalcarão a
manufatura e o transporte, especialmente em escala global.
A queda energética causará turbulência econômica, e um ciclo de contração econômica auto perpetuado terá
início. Empresas serão incapazes de pagar seus empregados, trabalhadores serão incapazes de comprar e cada
vez mais empresas vão realizar cortes ou simplesmente falir (e sem a capacidade de pagar seus empregados).
Incapazes de pagar suas dívidas e hipotecas, proprietários de imóveis, empresas e até mesmo Estados irão à
falência (é provável que esse processo já tenha começado). O comércio internacional irá despencar com a
depressão econômica global aumentando os custos de transporte e produção. Embora seja provável que o preço
do petróleo aumente com o passar do tempo, haverá tempos em que a contração da economia causará quedas na
demanda por petróleo suprimindo assim o seu preço. O preço baixo do petróleo pode, ironicamente, mas
beneficamente, limitar investimentos em nova infraestrutura petrolífera.
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Num primeiro momento o colapso vai parecer uma recessão ou uma depressão econômica tradicional, com os
pobres em especial sendo duramente atingidos pelo aumento dos preços de bens básicos, particularmente de
eletricidade e, em áreas frias, aquecimento. Após alguns anos, os limites financeiros se tornarão limites físicos; a
produção com uso intensivo de energia em grande escala se tornará não apenas antieconômica, mas também
impossível.
Um dos resultados diretos disso será o colapso da agricultura industrial. Dependentes de grandes quantidades de
energia para abastecer tratores, sintetizar pesticidas e fertilizantes, irrigação, empacotamento e transporte, a
agricultura industrial global irá operar com severos limites de produção (impulsionados principalmente por uma
intensa competição por energia com outros setores). Isto será agravado pelo esgotamento da água subterrânea e
dos aquíferos, uma longa história de erosão do solo e o estágio avançado das mudanças climáticas.
Primeiramente, isso causará uma crise alimentar e econômica sentida principalmente pelos pobres. Ao longo do
tempo, essa situação se agravará e a produção industrial de alimentos irá cair abaixo do necessário para manter a
população.
Haverá três principais respostas a essa escassez global de alimentos. Em algumas áreas as pessoas irão voltar a
plantar sua própria comida e criar iniciativas alimentares locais sustentáveis. Este será um ponto positivo, mas o
envolvimento público será tardio e inadequado, já que muitas pessoas ainda não terão tomado ciência da
permanência do colapso e não vão querer plantar sua própria comida. Isso também se tornará muito mais difícil
por causa da urbanização massiva que ocorreu no último século, pela destruição da terra, e pelas mudanças
climáticas. Além disso, muitas culturas de subsistência serão destruídas ou retiradas de suas terras – a
desigualdade da distribuição de terras irá dificultar para que as pessoas plantem seu próprio alimento (justamente
como acontece agora na maioria do mundo). Sem uma resistência bem organizada, uma reforma agrária não irá
ocorrer e as pessoas deslocadas não terão acesso à terra. Como resultado, a fome se espalhará (e isso será
ainda pior em anos de colheitas ruins) e se tornará endêmica em muitas partes do mundo. A falta de energia para
a agricultura industrial pode causar um ressurgimento de instituições como a escravidão e a servidão.
A escravidão não ocorre em um vazio político. Ameaçados por um colapso econômico e energético, alguns
governos irão cair completamente, se tornando Estados falidos. Sem ninguém para pará-los, chefes de milícias
irão se instalar nos escombros. Outros, desesperados para manter seu poder frente às agora encorajadas
agitações civis e seccionistas, irão adotar formas autoritárias de governo. Em um mundo de recursos em
diminuição crítica, os governos ficarão mais cruéis. Nós veremos um ressurgimento do autoritarismo com formas
modernas: como tecnofascismo e feudalismo corporativo. Os ricos irão cada vez mais se deslocar para enclaves
privados e bem defendidos. O Estado de seus países não vai parecer apocalíptico – eles vão se parecer com
paraísos ecológicos, com jardins orgânicos bem cuidados, lagos privados limpos e refúgios para a vida selvagem.
Em alguns casos esses enclaves serão pequenos e em outros poderão preencher países inteiros.
Enquanto isso, os pobres terão suas condições agravadas. Os milhões de refugiados vítimas do colapso
econômico e energético tentarão se deslocar, mas ninguém os aceitará. Em algumas áreas frágeis, o influxo de
refugiados irá sobrecarregar os serviços básicos e causar um colapso local, resultando em ondas de refugiados se
espalhando dos epicentros do colapso. Em algumas áreas, refugiados serão retraídos por forças armadas. Em
outras áreas, o racismo e a discriminação virão à tona apelando para o autoritarismo para marginalizar pessoas e
dissidentes em “assentamentos especiais”, deixando mais recursos para os privilegiados.[2] Pessoas
desesperadas serão os únicos candidatos para o perigoso e sujo trabalho manual requerido para manter a
produção industrial funcionando enquanto o fornecimento de energia encolhe. Assim, aqueles no poder irão
considerar comunidades autônomas e auto-sustentáveis como uma ameaça ao seu fornecimento de trabalhadores
e irão suprimi-las ou destruí-las.
Apesar de tudo isso, o “progresso” tecnológico ainda não irá parar. Por algum tempo ele irá continuar com
dificuldades, embora a humanidade se dividirá em grupos cada vez mais desiguais. Aqueles que estão embaixo
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serão incapazes de suprir suas necessidades básicas, enquanto aqueles no topo tentarão viver vidas de privilégio
como viviam no passado, vendo até mesmo alguns avanços tecnológicos, muitos dos quais serão destinados a
consolidar a superioridade daqueles no poder em um mundo cada vez mais superlotado e hostil.
Tecnofascistas irão desenvolver e aperfeiçoar tecnologias de controle social (já existentes em seus estágios
iniciais): drones autônomos para vigilância e assassinatos; dispositivos de micro-ondas para controle de multidões;
scanners cerebrais que podem tornar os detectores de mentira infalíveis; até mesmo leitura mental e tortura. Não
há resistência organizada significativa neste cenário, mas a cada ano que passar os tecnofascistas se tornarão
cada vez mais capazes de destruir resistências mesmo em suas menores expressões. Com o passar do tempo, a
janela de oportunidades para a resistência irá rapidamente se fechar. Tecnofascistas da primeira metade do século
XXI já terão tecnologia para vigilância e coerção que farão com que soldados da SS pareçam apenas amadores.
Sua habilidade para degradar a humanidade fará com que fascistas predecessores pareçam santos em
comparação.
Nem todos os governos adotarão essa medida, é claro. Mas os governos autoritários – aqueles que continuarão
explorando impiedosamente as pessoas e recursos independentemente das consequências – terão mais influência
e mais força, e irão tomar recursos de seus vizinhos e Estados falidos quando precisarem. Não haverá ninguém
para detê-los. Não importa que você viva na mais sustentável eco-vila do mundo se seu vizinho é um Estado
fascista devorador de recursos.
Enquanto isso, com o poder industrial cada vez mais desesperado por energia, as tênues legislações sociais e
ambientais serão colocadas de lado. O pior do pior, práticas como as perfurações oceânicas e em refúgios de vida
selvagem e remoção de topos de montanhas para extração de carvão se tornarão comuns. Estes serão os últimos
vestígios de reservas pré-históricas de energia. A perfuração irá apenas prolongar a permanência da civilização
industrial por alguns meses ou anos, mas os danos ecológicos serão de longa duração ou permanentes (como tem
acontecido no Refúgio Nacional da Vida Selvagem no Ártico). Já que neste cenário não há uma resistência
significativa, isso irá proceder sem obstáculos.
Investimentos em energia industrial renovável também serão feitos, porém, isso será atrasado e dificultado por
desafios econômicos, falências governamentais e cortes de gastos.[3] Além disso, linhas de longa distância para
transmissão de energia se tornarão insuficientes e se deteriorarão com os anos. Substituí-las e melhorá-las se
mostrará difícil e dispendioso. Como resultado, a energia renovável irá produzir apenas uma pequena fração da
energia produzida pelo petróleo. Esse tipo de energia elétrica não será adequado para a grande maioria dos
tratores, caminhões, outros veículos ou infraestrutura similar.
Como consequência, a energia renovável terá apenas um efeito minimamente moderado na escalada energética.
Na verdade, a energia investida na nova infraestrutura levaria anos para repor a si mesma em energia gerada. O
melhoramento massivo da infraestrutura só faria subir os níveis de energia fazendo cair os níveis de energia
disponíveis para atividades diárias. Haverá um esforço constante para distribuir pequenos abastecimentos de
energia com crises sucessivas. Haverá algum tipo de racionamento para prevenir tumultos, mas a maioria da
energia (independente da fonte) irá para os governos, para os militares, para as corporações e para os ricos.
Restrições energéticas tornarão impossível até mesmo tentar qualquer reformulação da infraestrutura em grande
escala, como economias de hidrogênio (o que de qualquer forma não poderia resolver o problema).
Biocombustíveis serão usados em muitas áreas, apesar do fato deles terem uma baixa proporção de energia
retornada por energia investida (EROEI). O EROEI será melhor em países tropicais, logo, o que resta das florestas
tropicais será massivamente derrubado para abrir espaço para a produção de biocombustíveis (frequentemente,
florestas serão derrubadas em massa apenas para serem queimadas como combustível). Maquinaria pesada será
muito cara para a maioria das plantações, então a força de trabalho virá da escravidão e da servidão por parte de
governos autoritários e do feudalismo corporativo (escravidão é usada atualmente no Brasil para derrubar florestas
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e produzir carvão à mão para a indústria metalúrgica).[4] Os efeitos globais da produção de biocombustíveis vão
elevar o preço dos alimentos, da água e irrigação para a agricultura, agravando a erosão do solo.
Independentemente de tudo isso, sua produção iria apenas suprir uma pequena fração dos hidrocarbonetos
líquidos ao pico da civilização.
Tudo isso terá consequências ecológicas imediatas. Os oceanos, arruinados pelo aumento da pesca (para
compensar nossa escassez de alimentos) e pela acidez causada pelo aquecimento global e pela morte de corais,
estarão quase mortos. A expansão de biocombustíveis irá destruir muitas das áreas selvagens restantes e a
biodiversidade irá despencar. Florestas tropicais como a Amazônia produzem o clima úmido de que necessitam
com a sua vasta transpiração própria, mas a expansão das derrubadas e da agricultura irá cortar a transpiração e
gerar secas permanentes. Mesmo onde a floresta não está sendo derrubada, o clima seco será o suficiente para
destruí-la. A Amazônia se tornará um deserto e outras florestas tropicais irão seguir o mesmo caminho.
As projeções variam, mas é quase certo que se a maior parte do combustível fóssil que ainda há na terra for
extraído e queimado, o aquecimento global se tornará auto-reforçado e catastrófico. No entanto, os piores efeitos
não serão sentidos até décadas no futuro, quando quase todo combustível fóssil já tiver sido extraído. Até então,
haverá pouquíssima energia ou capacidade industrial restante aos humanos para tentar compensar os efeitos do
aquecimento global.
Além disso, quanto mais intenso o aquecimento global se tornar, remediações ecológicas por meio de policulturas
perenes e reflorestamento se tornarão impossíveis. O calor e a seca transformarão as florestas em emissoras de
carbono, enquanto florestas do norte morrerão de calor, pestes e doenças e depois queimarão em incêndios
continentais que vão fazer com que os incêndios do início do século XXI pareçam pequenos.[5] Mesmo pastos
intactos não sobreviverão às altas temperaturas enquanto o carbono literalmente cozinha os solos agriculturáveis
que ainda restam.
Guerras nucleares em disputa por recursos irão estourar entre os Estados que dominam essa tecnologia. Guerras
entre os EUA e a Rússia são menos prováveis do que eram na época da Guerra Fria, mas superpotências
ascendentes, como a China, vão querer seu pedaço da torta de recursos globais. Potências nucleares como a
Índia e o Paquistão estarão densamente povoadas e ecologicamente precárias; o aquecimento global vai secar os
principais rios anteriormente alimentados pelo derretimento das calotas polares e centenas de milhares de
pessoas no sul da Ásia precisarão viver a poucos metros acima do nível do mar. Com poucos recursos para
equipar e encampar um exército ou força aérea mecanizados, ataques nucleares vão parecer uma ação
crescentemente efetiva para estados desesperados.
Se a guerra por recursos se agravar a ponto de se tornar uma guerra nuclear, os efeitos serão severos, mesmo no
caso de uma guerra nuclear “menor” entre países como a Índia e o Paquistão. Mesmo que cada país use apenas
cinquenta bombas do porte das usadas em Hiroshima em bombardeios aéreos sobre centros urbanos, isso
resultaria em um inverno nuclear.[6] Embora os níveis letais de partículas radioativas durem apenas algumas
semanas, os efeitos ecológicos seriam muito mais severos. Os cinco megatons de fumaça produzidas
escureceriam o céu ao redor do mundo. O aquecimento estratosférico destruiria quase tudo o que há abaixo da
camada de ozônio.[7] Em contraste com a tendência de aquecimento global, a “pequena era do gelo” começaria
logo em seguida e duraria muitos anos. Durante esse período, a temperatura na maioria das regiões agrícolas
rotineiramente cairia até o congelamento no verão. Fome generalizada e imediata ocorreria por todo o mundo.
Isso em caso de uma pequena guerra. O poder explosivo de cem bombas como as de Hiroshima somam apenas
0,03% do arsenal global. Se um número maior de bombas mais poderosas fosse usado – se bombas de cobalto
forem usadas, a irradiação por longos períodos destruiria a vida na superfície da Terra – os efeitos podem ser
ainda piores.[8] Apenas alguns humanos sobreviveriam. O efeito do inverno nuclear seria temporário, mas os
bombardeios e ataques subsequentes poderiam inserir grandes quantidades de carbono na atmosfera, matar
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plantas e prejudicar a fotossíntese. Como resultado, depois que as cinzas caíssem, o aquecimento global seria
muito mais rápido e severo do que antes.
Com ou sem guerra nuclear, as perspectivas em longo prazo seriam obscuras. O aquecimento global continuaria
aumentando até que os combustíveis fósseis fossem exauridos. Para o planeta, o tempo para recuperação
ecológica é medido em dezenas de milhões de anos, se é que essa recuperação seria possível.[9] Assim como
James Lovelock tem apontado, um aquecimento muito elevado pode forçar a Terra a estabelecer um novo
equilíbrio, um muito mais quente que o atual.[10] É possível que plantas e animais de grande porte possam ser
capazes de sobreviver apenas perto dos pólos.[11] Também é possível que o planeta inteiro se torne praticamente
inabitável para plantas e animais de grande porte, com um clima mais parecido com o de Vênus do que com o da
Terra.
Tudo o que é preciso para que isso aconteça, tendo em vista as tendências atuais, é que não haja resistência
significativa e efetiva. Tudo que é necessário para que o mal tenha sucesso é que as pessoas boas não façam
nada. Mas esse futuro não é inevitável.
Resistência Limitada
E se algumas formas de resistência limitada fossem colocadas em prática? E se houvesse um movimento sério de
resistência aboveground combinado com pequenos grupos de redes underground trabalhando em paralelo? (Esse
ainda não seria um movimento de massas – isso é uma extrapolação, não uma fantasia.) E se esses movimentos
partilhassem uma estratégia comum? O movimento aboveground poderia trabalhar para construir comunidades
sustentáveis e justas onde atuam e poderiam usar tanto ações diretas quanto indiretas para tentar frear os maiores
excessos daqueles no poder, reduzir a queima de combustíveis fosseis e lutar por justiça social e ecológica.
Enquanto isso, os undergrounders se engajariam em ataques limitados à infraestrutura (constantemente em
paralelo às lutas aboveground), especialmente à infraestrutura energética para tentar reduzir o consumo de
combustíveis fósseis e grande parte da atividade industrial. A esperança geral desse plano seria em usar ataques
seletivos para acelerar o colapso em uma direção deliberada, algo como por abaixo um edifício já deteriorado.
Se esse cenário ocorrer, nos primeiros anos tudo pode continuar indo como está. Levaria tempo até que se
conseguisse construir uma resistência e aliar grupos de resistência já existentes em uma estratégia maior. Além
disso, a civilização em seu pico de poder pode se tornar muito forte para ser derrubada apenas com uma
resistência parcial. Os anos entre 2012 e 2015 ainda irão sentir o impacto do pico do petróleo e o início de uma
reviravolta econômica, mas nesse caso seriam necessários ataques cirúrgicos à infraestrutura energética que
limitassem novas extrações de combustíveis fósseis (com foco nas práticas mais sujas como a remoção de topos
de montanhas e a extração de petróleo de areias betuminosas). Alguns desses ataques seriam conduzidos por
grupos de resistência já existentes (como o MEND) e outros por novos grupos, incluindo grupos na minoria rica e
poderosa do mundo. A crescente escassez de petróleo faria com que os ataques a gasodutos e infraestruturas
energéticas se tornassem mais populares entre grupos militantes de todos os tipos. Durante esse período, grupos
militantes iriam se organizar, treinar e aprender.
Esses ataques não seriam ataques simbólicos. Eles seriam ataques sérios planejados para serem efetivos, mas
também sincronizados e direcionados a minimizar os “efeitos colaterais” aos humanos. Eles iriam constituir-se
basicamente em formas de sabotagem. Eles seriam destinados a cortar o consumo de combustíveis fosseis em
cerca de 30% entre os primeiros anos, e depois mais. Haveria ataques similares à infraestrutura energética, como
linhas de transmissão de energia. Esses ataques causariam uma significante, mas incompleta, redução na
disponibilidade de energia em muitos lugares, um investimento massivo em energia renovável (e outras medidas
como aquecedores solares passivos ou melhor isolamento em algumas áreas) seria provocado. Isso colocaria em
movimento um processo de descentralização política e infraestrutural. Isso também poderia resultar em repressão
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política e violência real direcionada a esses resistentes.
Enquanto isso, os grupos aboveground se responsabilizariam pela maior parte dos distúrbios econômico. Haveria
um crescimento da consciência de classe e organização. Atividades de operários e de pobres iriam levar cada vez
mais à suficiência comunitária. Produção local de alimentos e atividades de auto-suficiência alcançariam pessoas
que estariam sendo empurradas para fora do capitalismo. O desemprego e o subemprego – crescendo
rapidamente em números – contribuiriam para começar uma economia de troca e subsistência por fora do
capitalismo. Ajuda mútua e troca de conhecimentos seriam promovidos. No cenário anterior, o desenvolvimento
dessas habilidades seria obstaculizado em parte pela dificuldade de acesso à terra. Neste cenário, porém,
organizadores da resistência aboveground aprenderiam com grupos como o Movimento dos Trabalhadores
Sem-Terra na América Latina. Organizações e ocupações de terra em massa forçariam os governos a ceder terras
fora de uso para os “jardins da vitória” – loteamentos com grandes jardins comunitários e fazendas de subsistência
cooperativa.
A situação em muitos países de terceiro mundo pode até mesmo melhorar por causa do colapso econômico
global. As potências mundiais podem não mais forçá-los a pagar suas dívidas externas, ou mesmo os capangas
da CIA podem não mais apoiar ditaduras “amigáveis”. O declínio de economias baseadas na exportação realmente
traria várias consequências, mas isso também permitiria que terras atualmente usadas para plantar dinheiro
voltassem a ser fazendas de subsistência.
A agricultura industrial vai continuar vacilante até o colapso. Fertilizantes sintéticos ficarão cada vez mais caros e
serão cuidadosamente conservados onde forem usados limitando o despejo de nutrientes em corpos d’água e
permitindo que zonas mortas oceânicas se recuperem. A fome será reduzida pelo plantio de subsistência e pela
mudança das pequenas fazendas para um trabalho mais tradicional, à mão e com tração a cavalo, mas a comida
será mais valiosa e com fornecimentos menores.
Mesmo um corte de 50% do consumo de combustíveis fósseis não poderia evitar a fome generalizada e as mortes.
Como temos discutido, a grande maioria da energia usada será para coisas não essenciais. Nos EUA, o setor
agrícola contribui com menos de 2% de toda a energia usada, incluindo tanto o consumo direto (como combustível
para tratores e eletricidade para galpões e bombas) quanto o consumo indireto (como fertilizantes sintéticos e
pesticidas).[12] Isso é certo, mesmo a agricultura industrial sendo incrivelmente ineficiente, gastando algo entre dez
calorias de energia obtida com combustíveis fósseis para cada caloria alimentar que produz. O consumo de
energia residencial contribui com apenas 20% do total usado nos EUA, com o consumo industrial, comercial e de
transporte encarregados pela maior parte de todo o consumo.[13] E a maior parte dessa energia residencial é
usada por eletrodomésticos como secadores, ar condicionado e aquecedores de água ineficientes. A energia
usada para iluminação e aquecimento poderia ser drasticamente reduzida através de medidas triviais como
diminuir o termostato e aquecer apenas as salas que estiverem em uso. (Muitos não se preocupam com isso
agora, mas em uma situação de colapso eles farão isso e muito mais).
Apenas uma pequena fração da energia produzida por combustíveis fósseis realmente é designada para a
subsistência básica, e ainda assim é usada de forma ineficiente. Um declínio de 50% da energia de combustíveis
fósseis pode ser rapidamente adaptado para gerar uma perspectiva de subsistência (se não uma perspectiva
financeira). Lembre-se disso na América do Norte, 40% de toda a comida é simplesmente desperdiçada. É claro,
pobreza e fome têm muito mais a ver com poder sobre as pessoas do que com o tipo de poder medido em watts.
Mesmo agora em pleno pico do consumo de energia, um bilhão de pessoas passam fome. Então se pessoas
passarem fome ou frio por causa de ataques militantes seletivos à infraestrutura, esse será um resultado direto das
ações daqueles no poder, não dos resistentes.
De fato, mesmo que você queira que os humanos sejam capazes de usar fábricas para construir moinhos e usar
tratores para ajudar a plantar alimento pelos próximos cinquenta anos, forçar um corte imediato no consumo de
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energia de combustíveis fósseis deve estar no topo da sua lista de prioridades. Nesse momento, a maioria da
energia está sendo desperdiçada em lixo plástico, casas exageradamente grandes para pessoas ricas, abrigos
anti-bombas, e equipamentos militares. A única forma de garantir que restará algum petróleo para uma transição
de sobrevivência em vinte anos é garantindo que o petróleo não seja todo desperdiçado agora. O exército dos
EUA é o maior consumidor de petróleo do mundo. Você gostaria de ter que contar aos seus filhos daqui a vinte
anos que eles não têm comida o suficiente para se alimentar porque toda a energia foi gasta em guerras
neocoloniais sem sentido?
Voltando ao cenário. Em algumas áreas, subúrbios sendo cada vez mais abandonados (inabitáveis sem gás
barato) serão tomados, assim como casas vazias se tornarão fazendas, centros comunitários ou clínicas ou
mesmo serão totalmente desmantelados e pilhados. Garagens serão transformadas em celeiros – já que a maioria
das pessoas não terá acesso à gasolina mesmo – e as praças se tornarão pasto para as cabras. Muitas estradas
podem ser destruídas e voltar a serem parte do pasto ou de florestas. Esses assentamentos recuperados não
serão de alta-tecnologia. Os enclaves de sobrevivência podem ter seus painéis solares e moinhos elétricos, mas a
maioria das pessoas desempregadas não poderá pagar por isso. Em alguns casos essas comunidades podem se
tornar relativamente autônomas. Suas práticas sociais de igualdade podem variar de acordo com a presença de
pessoas dispostas a reivindicar direitos humanos e justiça social. As pessoas terão que resistir vigorosamente
quando qualquer sinal de racismo ou xenofobia for usado como desculpa para injustiças ou autoritarismos.
Ataques à infraestrutura energética se tornarão mais comuns assim que a disponibilidade mundial de petróleo
diminuir. Em alguns casos, esses ataques podem ser politicamente motivados, em outros casos eles podem ter o
objetivo de conseguir eletricidade ou gás para pessoas pobres. Isso pode ter um impacto econômico significante,
mas também pode gerar uma nova onda de crescimento populacional. A população mundial alcançaria o seu pico
em pouco tempo, e esse pico populacional seria menor (talvez um bilhão de pessoas) do que no cenário de
“ausência de resistência”. Porque um colapso acentuado aconteceria mais cedo do que neste cenário com alguma
resistência, logo, haveria mais terras intactas por pessoa no mundo, bem como pessoas que ainda sabem como
produzir para a subsistência.
A presença de um movimento de resistência militante organizado poderá provocar uma reação por parte daqueles
que estão no poder. Alguns deles poderão usar a resistência como desculpa para concentrar mais poder para criar
leis ou instituir o fascismo. Alguns deles poderiam fazer uso da crise econômica e social estourando pelo globo.
Outros não precisarão de um pretexto.
Autoritários irão aumentar seu poder da forma que puderem, e vão tentar em quase todos os lugares. Porém, eles
serão detidos pela resistência aboveground e underground e pela descentralização e emergência de comunidades
autônomas. Em alguns países, mobilizações de massa irão deter potenciais ditadores. Em outros, a explosão de
movimentos de resistência irá dissolver as leis do Estado centralizado, resultando na emergência de
confederações regionais em alguns lugares e em milícias em outros. Em países de menos sorte, o autoritarismo
ganhará o poder. A boa notícia é que o povo terá uma infraestrutura de resistência preparada para lutar e diminuir
a disseminação do autoritarismo e os autoritários ainda não terão desenvolvido toda a tecnologia de controle que
teriam no cenário de “ausência de resistência”.
Ainda haverá refugiados saindo de muitas áreas (incluindo áreas urbanas). A redução da emissão de gases de
efeito estufa causada pelos ataques à infraestrutura industrial irá reduzir ou atrasar uma catástrofe climática. As
redes de comunidades autônomas de subsistência seriam capazes de aceitar e integrar parte dessas pessoas. Da
mesma forma que plantas enraizadas podem prevenir um deslizamento de terra em uma encosta íngreme, as
ondas de refugiados podem ser reduzidas por comunidades voluntárias. Em outras áreas, o número de refugiados
será muito grande para lidar de forma eficaz.[14]
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O desenvolvimento de biocombustíveis (e o destino das florestas tropicais) será incerto. Os Estados centralizados
restantes – embora devam estar menores e menos poderosos – continuarão tentando arrumar energia da forma
que puderem. Uma militância de resistência séria – em muitos casos insurgente e guerrilheira – será necessária
para impedir que industrialistas transformem florestas tropicais em plantações ou que extraiam carvão a todo
custo. Neste cenário, a resistência ainda será limitada e é questionável quanto desse nível de militância será
efetivamente alcançado.
Isso significa que os impactos do efeito estufa em longo prazo serão incertos. A queima de combustível fóssil terá
de ser mantida ao mínimo absoluto para evitar um efeito estufa descontrolado. O que pode ser muito difícil.
Mas se um efeito estufa descontrolado puder ser evitado, muitas áreas podem ser capazes de se recuperar
rapidamente. Um retorno a policulturas perenes implementadas por comunidades autônomas podem ajudar a
reverter o efeito estufa. Os oceanos vão mostrar melhoras rapidamente, auxiliados pela redução da pesca
industrial e o fim dos despejos de fertilizantes sintéticos que têm criado muitas zonas mortas até o momento.
A probabilidade de guerra nuclear pode ser muito menor do que no cenário com “ausência de resistência”. Levas
de refugiados do Sul Asiático podem ser menores. O consumo global de recursos pode ser menor, logo, guerras
por recursos podem ser menos prováveis. Estados militaristas podem ser mais fracos e menores em número. A
guerra nuclear não é impossível, mas se ela acontecesse, poderia ser menos severa.
Esse cenário pode ser atraente de várias formas. Mas também tem seus problemas, tanto em implementação
quanto em plausibilidade. Um dos problemas é a integração das ações aboveground e underground. Muitas
organizações ambientais aboveground são atualmente opostas a qualquer tipo de militância. Isso pode dificultar a
possibilidade de cooperação estratégica entre militantes underground e grupos aboveground que podem mobilizar
grandes números. (o que pode até mesmo condenar nossos grupos aboveground ao fracasso como a história tem
demonstrado).
Também é questionável se o corte do consumo de combustíveis fósseis como tem sido descrito aqui pode ser
suficiente para evitar o agravamento do aquecimento global. Se um aquecimento global irreversível acontecer,
todo o trabalho benéfico dos abovegrounders será em vão. O problema inverso é que um declínio acentuado no
consumo de combustíveis fósseis muito provavelmente resultaria em significantes baixas humanas e privações.
Também é possível que a mobilização de grandes números de pessoas para trabalhar em fazendas de
subsistência em pouco tempo seja irrealista. No momento em que a maioria das pessoas estiverem dispostas a
dar esse passo pode já ser tarde demais.
Assim, enquanto de algumas formas esse cenário representa o compromisso ideal – uma situação onde os
humanos e o planeta ganham de qualquer forma – ele pode facilmente se tornar uma situação onde todos perdem
se não houver ações sérias e no momento certo. Isso nos leva ao nosso último cenário, o cenário em que há
resistência total e ataques à infraestrutura focados em garantir a sobrevivência de um planeta habitável.
Ataque Total À Infraestrutura
In this final scenario, militant resistance would have one primary goal: to reduce fossil fuel consumption (and hence,
all ecological damage) as immediately and rapidly as possible. A 90 percent reduction would be the ballpark target.
For militants in this scenario, impacts on civilized humans would be secondary.
Esta seria sua mentalidade em poucas palavras neste cenário: humanos não vão fazer coisa alguma a tempo de
evitar que o planeta seja destruído por inteiro. Pessoas pobres estão muito preocupadas com emergências
primárias, pessoas ricas se beneficiam com o status quo e a classe média (pessoas ricas para os padrões globais)
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está muito obcecada com seus próprios benefícios e com o espetáculo tecnológico para fazer qualquer coisa. O
risco de um aquecimento global descontrolado é imediato. Uma queda na população humana é inevitável, mas um
número menor de pessoas irá morrer se o colapso acontecer cedo.
Pense dessa forma. Sabemos que estamos sofrendo enquanto espécie com a superpopulação. Isso quer dizer
que uma significante porção de pessoas vivas no momento precisa morrer para que possamos alcançar
novamente níveis sustentáveis. E essa disparidade cresce a cada dia. Todo dia a capacidade de dar suporte à
população humana cai em centenas de milhares e todo dia a população humana aumenta em mais de 200 mil.[15]
As pessoas adicionadas à superpopulação todo dia são mortes desnecessárias, sem sentido. Atrasar o colapso,
você argumentaria, é em si mesmo uma forma de assassinato em massa.
Além disso, você argumentaria, humanos são apenas uma espécie em milhões. Matar milhões de espécie em
benefício de uma é loucura. E já que um colapso ecológico sem impedimentos mataria os humanos, essas
espécies teriam morrido por nada, e o planeta levaria milhões de anos para se recuperar. Portanto, aqueles entre
nós que se preocupam com o futuro do planeta precisam desmantelar a infraestrutura energética industrial o mais
rápido possível. Nós todos teremos que lidar com as consequências sociais da melhor forma que pudermos. Além
de que um colapso adiantado é, em última instância, bom para os humanos – mesmo que haja perdas parciais –
porque pelo menos algumas pessoas sobreviverão. E, lembre-se, as pessoas que mais precisam que o sistema
caia são as pessoas pobres de áreas rurais pelo mundo: quanto mais rápido os ativistas puderem derrubar a
civilização industrial, melhores serão as perspectivas para essas pessoas e suas terras. Independentemente, sem
ação imediata todos irão morrer.
Neste cenário, os militantes underground bem organizados realizariam ataques coordenados a infraestrutura de
energia em todo o mundo. Eles poderiam usar qualquer tática militante que pudessem realizar – ações contra
oleodutos, linhas de energia, petroleiros e refinarias, talvez usando pulsos eletromagnéticos (PEMs) para fazer
estragos. Ao contrário do cenário anterior, não seria feita nenhuma tentativa de acompanhar o ritmo dos ativistas
aboveground. Os ataques seriam tão persistentes quanto os militantes conseguirem. A disponibilidade de energia
proveniente de combustíveis fósseis cairia em 90%. As emissões de gases de efeito estufa iriam despencar.
A economia industrial viria à parte. A fabricação e transporte iriam parar por causa de apagões frequentes e preços
extremamente elevados para os combustíveis fósseis. Alguns governos, talvez a maioria deles, instituiriam a lei
marcial e o racionamento. Os governos que tomassem um caminho autoritário seriam especialmente visados por
resistentes militantes. Outros estados iriam simplesmente falir e cair.
Em teoria, com uma redução de 90% na disponibilidade de combustível fóssil, ainda haveria o suficiente para
manter as atividades básicas de sobrevivência, como o cultivo e preparo de alimentos e aquecimento doméstico.
Os governos e as instituições civis ainda podem tentar uma rápida mudança para atividades de subsistência para
as suas populações, mas em vez disso, o exército e os muito ricos tentariam sugar praticamente todos os
suprimentos restantes de energia. Em alguns lugares, eles conseguiriam fazê-lo e isso resultaria em fome
generalizada. Em outros, as pessoas recusariam a autoridade de quem está no poder. A maioria das instituições
de grande porte existentes simplesmente entraria em colapso, e ficaria sob a responsabilidade das populações
locais tomarem uma posição com relação aos direitos humanos e melhorar a qualidade de vida, ou ceder ao poder
autoritário. A taxa de mortalidade aumentaria, mas como vimos nos exemplos de Cuba e Rússia, a ordem cívica
ainda pode se manter apesar das dificuldades.
O que acontece em seguida vai depender de inúmeros fatores. Se os ataques puderem persistir e a extração de
petróleo for mantida em nível mínimo por um período prolongado, a civilização industrial não será capaz de se
reorganizar.
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Enclaves industriais bem vigiados permaneceriam, protegendo combustível e recursos sob os seus braços. Se a
lei marcial conseguir parar os ataques após as primeiras ondas (algo que tem sido incapaz de fazer, por exemplo,
na Nigéria), os efeitos seriam incertos. No século XX, as sociedades industriais se recuperaram de desastres,
como a Europa fez após a Segunda Guerra Mundial. Mas essa seria uma situação diferente. Para a maioria das
áreas, não haveria nenhuma ajuda externa. Populações já não seriam capazes de superar a super-explosão
populacional atualmente ocultada pelos combustíveis fósseis. Isso não significa que os efeitos seriam os mesmos
em todos os lugares; populações rurais e tradicionais estariam em melhor posição para lidar com a situação.
Na maioria das áreas, reorganizar uma civilização industrial dependente de intenso consumo de energia seria
impossível. Mesmo onde as organizações políticas existentes persistissem, o consumo cairia. Quem estiver no
poder não seria capaz de projetar força em longas distâncias, e teria que limitar suas atividades principalmente às
áreas próximas. Isto significa que, por exemplo, as plantações de biocombustíveis tropicais não seriam viáveis. O
mesmo vale para as areias betuminosas e a remoção de topos de montanhas para a mineração de carvão. A
construção de novas infraestruturas em larga escala simplesmente não seria possível.
Apesar de que a população humana diminuiria, as coisas pareceriam boas para praticamente todas as outras
espécies. Os oceanos começariam a se recuperar rapidamente. O mesmo vale para áreas selvagens danificadas.
Porque as emissões de gases de efeito estufa teriam sido reduzidas a uma pequena fração de seus níveis
anteriores, um nível descontrolado do aquecimento global provavelmente seria evitado. Na verdade, a recuperação
das florestas e pastagens realizaria um maior sequestro do carbono, ajudando a manter um clima habitável.
A guerra nuclear seria improvável. A diminuição da população e das atividades industriais reduziria a concorrência
entre os estados restantes. As limitações de recursos seriam em grande parte logísticas na natureza, assim,
guerras por suprimentos e áreas ricas em recursos seriam inúteis.
Esse cenário também tem a seus riscos de implementação e plausibilidade. Ele garante um futuro para o planeta e
para a espécie humana. Este cenário poderia salvar trilhões e trilhões e trilhões de seres vivos. Sim, ele criaria
dificuldades para os ricos e pobres urbanos, porém, para a maioria dos outros seria imediatamente melhor. Seria
um eufemismo chamar esse conceito de impopular (embora os militantes neste cenário dissessem que menos
pessoas vão morrer do que no caso do aquecimento global descontrolado ou seguindo no ritmo atual).
Há também a questão da plausibilidade. Haveriam militantes ecologicamente motivados e mobilizados o suficiente
para botar em prática esse cenário? Sem dúvida, para muitas pessoas, o segundo cenário, o mais moderado,
parece ser mais atraente e mais provável.
Existe, é claro, uma infinidade de possíveis futuros que poderíamos descrever. Vamos descrever mais um futuro
possível, uma combinação dos dois anteriores, em que um movimento de resistência embarca em uma estratégia
de Guerra Ecológica Decisiva.
Estratégia De Guerra Ecológica Decisiva
Objetivos
O objetivo final do movimento de resistência primário neste cenário é simplesmente garantir um planeta vivo – um
planeta não só vivo, mas em recuperação, tornando-se mais vivo e mais diversificado ano após ano. Um planeta
em que os seres humanos vivem em comunidades justas e sustentáveis sem explorar o planeta ou uns aos outros.
Dado o nosso atual estado de emergência, isso se traduz em um objetivo mais imediato, o qual está no coração da
grande estratégia deste movimento:
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Goal 1
Interromper e derrubar a civilização industrial; para assim destituir os poderosos de sua capacidade de explorar os
marginalizados e destruir o planeta.
O segundo objetivo deste movimento tanto depende quanto auxilia o primeiro:
Goal 2
Defender e reconstruir comunidades humanas justas, sustentáveis e autônomas e, como parte disso, ajudar na
recuperação da terra.
Strategies
Atingir esses objetivos requer várias estratégias amplas que envolvem grande número de pessoas em muitas
organizações diferentes, tanto no aboveground quanto no underground. As principais estratégias necessárias
neste cenário teórico incluem o seguinte:
Strategy A
Envolver-se em ações diretas militantes contra a infraestrutura industrial, especialmente a infraestrutura
energética.
Strategy B
Ajudar e participar de lutas por justiça social e ecológica em curso, promover a igualdade e atacar a exploração
realizada por aqueles que estão no poder.
Strategy C
Defender a terra e evitar a expansão da atividade industrial madeireira, de mineração, de construção, e assim por
diante, de modo que mais terra intacta e espécies permaneçam quando a civilização entrar em colapso.
Strategy D
Construir e mobilizar as organizações de resistência que vão apoiar as atividades aboveground, incluindo
treinamento descentralizado, recrutamento, apoio logístico, e assim por diante.
Strategy E
Reconstruir a base de subsistência sustentável para as sociedades humanas (incluindo policulturas perenes para
alimentação) e comunidades democráticas localizadas que defendem os direitos humanos.
Ao descrever este cenário alternativo futuro, devemos ser claros sobre algumas frases abreviadas como "ações
contra a infraestrutura industrial". Nem toda infraestrutura é igual, e nem todas as ações contra a infraestrutura são
de igual prioridade, eficácia ou aceitabilidade moral para os movimentos de resistência neste cenário. Como
Derrick escreveu em Endgame, você não pode criar um argumento moral para explodir um hospital infantil. Mas,
por outro lado, você pode criar um argumento moral para derrubar torres de telefonia celular. Algumas
infraestruturas são fáceis de atacar, algumas são difíceis e outras são ainda mais difíceis.
Sobre o mesmo tema, há muitos mecanismos diferentes que podem conduzir a civilização a um colapso, e eles
não são todos iguais ou igualmente desejáveis. No cenário de Guerra Ecológica Decisiva, a escolha por alguns
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mecanismos é intencionalmente priorizada e aconselhada, enquanto outros são retardados ou reduzidos. Por
exemplo, o declínio de energia a partir da diminuição do consumo de combustíveis fósseis é um mecanismo de
colapso altamente benéfico para o planeta e (especialmente em médio e longo prazo) para os seres humanos, e
esse mecanismo é priorizado. Por outro lado, o colapso ecológico por meio da destruição de habitats e da
biodiversidade é também um mecanismo de colapso (embora leve mais tempo para afetar os seres humanos), e
esse tipo de colapso deve ser retardado ou impedido quando e onde for possível.
Colapso, em termos gerais, é uma perda rápida de complexidade.[16] É uma mudança em direção a
estruturas-sociais – políticas, sociais, econômicas – menores e mais descentralizadas, com menor estratificação
social, regulação, controle comportamental e arregimentação, e assim por diante.[17] Os principais mecanismos de
colapso incluem (não necessariamente nessa ordem):
•
Queda energética resultante dos picos de extração de combustíveis fósseis e uma crescente população
industrializada diminuindo a disponibilidade per capita.
•
Colapso industrial com as grandes economias globais arruinadas pelo aumento dos custos de transporte e de
produção e pelo declínio econômico.
•
Colapso econômico resultante da incapacidade do capitalismo corporativo global de manter o crescimento e as
operações básicas.
•
As mudanças climáticas causando colapso ecológico, insuficiência agrícola, fome, refugiados, doenças e assim
por diante.
•
Colapso ecológico de muitos tipos diferentes conduzidos pela extração de recursos, destruição de habitats,
destruição da biodiversidade e pelas mudanças climáticas.
•
Doenças, incluindo epidemias e pandemias, causadas pelas condições de vida de superpopulação e pobreza,
juntamente com doenças bacteriológicas cada vez mais resistentes aos antibióticos.
•
Crises alimentares provocadas pelo deslocamento de agricultores de subsistência e destruição de sistemas
alimentares locais, concorrência por grãos por parte das fazendas industriais e produtores de biocombustíveis,
pobreza e limites físicos para a produção de alimentos por causa das secas e rebaixamento dos níveis de
água.
•
Rebaixamento dos níveis de água resultante do consumo acelerado de fontes finitas de água, solo e petróleo, o
que leva as fontes acessíveis à rápida exaustão.
•
Colapso político com grandes entidades políticas dividindo-se em grupos menores, secessionistas rompendo
com estados maiores, enquanto alguns estados vão ir à falência ou simplesmente cair.
•
Colapso social, com escassez de recursos e estouros de agitação política, identificação com grupos artificiais
menores (por vezes baseados em classe, etnias ou afinidades regionais), muitas vezes com concorrência entre
estes grupos.
•
Guerras e conflitos armados, especialmente guerras por recursos em disputa pelo fornecimento de recursos
finitos restantes e conflitos internos entre milícias e facções rivais.
•
Crime e exploração causados pela pobreza e desigualdade, especialmente em áreas urbanas congestionadas.
•
Deslocamento de refugiados resultante de catástrofes espontâneas, como terremotos e furacões, mas
agravadas pela mudança climática, escassez de alimentos, e assim por diante.
Neste cenário, cada aspecto negativo do colapso da civilização tem uma tendência de reciprocidade que o
movimento de resistência incentiva. O colapso de grandes estruturas políticas autoritárias viabiliza em
contrapartida a emergência de estruturas políticas participativas de pequena escala. O colapso do capitalismo
industrial global abre espaço para o surgimento de sistemas locais de troca, cooperação e ajuda mútua. E assim
por diante. De um modo geral, neste futuro alternativo, um pequeno número de indivíduos underground derruba
grandes estruturas ruins, e um grande número de indivíduos aboveground fazem florescer pequenas e boas novas
estruturas.
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Em seu livro O Colapso das Sociedades Complexas, Joseph Tainter argumenta que um dos principais
mecanismos de colapso tem a ver com a complexidade social. Complexidade é um termo geral que inclui o
número de trabalhos diferentes ou papéis na sociedade (por exemplo, não apenas curandeiros, mas
epidemiologistas, cirurgiões de trauma, gerontologistas, etc), o tamanho e a complexidade das estruturas políticas
(por exemplo, não apenas assembléias populares, mas burocracias se espalhando por vastidões), o número e a
complexidade dos itens manufaturados e tecnologia (por exemplo, não apenas lanças, mas muitos calibres
diferentes e tipos de balas), e assim por diante. Civilizações tendem a tentar usar complexidade para resolver os
problemas, e como resultado, sua complexidade aumenta com o tempo.
Mas a complexidade tem um custo. O declínio de uma civilização começa quando os custos da complexidade
começam a exceder os benefícios, em outras palavras, quando o aumento da complexidade começa a oferecer
retornos decrescentes. Nesse ponto, as pessoas individuais, famílias, comunidades, subunidades políticas e
sociais têm um desincentivo para participar dessa civilização. A complexidade continua aumentando, sim, mas ela
passa a ser cada vez mais cara. Eventualmente, os custos crescentes forçam a civilização a colapsar, e as
pessoas a retornarem a organizações políticas e grupos sociais menores e mais locais.
Parte do trabalho do movimento de resistência é aumentar o custo e diminuir os retornos da complexidade. Isso
não exige colapso instantâneo ou ações dramáticas globais. Mesmo pequenas ações podem aumentar o custo da
complexidade e acelerar as partes boas do colapso enquanto ameniza as ruins.
Parte do argumento de Tainter é que a sociedade moderna não entrará em colapso da mesma forma como as
sociedades antigas, porque a complexidade (através de, por exemplo, agricultura em grande escala e extração de
combustíveis fósseis) tornou-se a base física da vida humana, em vez de um benefício colateral. Muitas
sociedades históricas colapsaram quando as pessoas retornaram para as aldeias e para modos de vida
tradicionais menos complexos. Eles escolheram fazer isso. As pessoas modernas não vão fazer isso, pelo menos
não em grande escala, em parte porque as aldeias se foram, e os modos de vida tradicionais já não são
diretamente acessíveis a eles. Isso significa que as pessoas na civilização moderna estão em um dilema, e muitos
continuarão a lutar pela civilização industrial, mesmo quando sua continuação é, obviamente, contraproducente.
Sob um cenário de Guerra Ecológica Decisiva, ativistas aboveground facilitam esse aspecto do colapso
desenvolvendo alternativas que aliviam a pressão e incentivam as pessoas a deixar o capitalismo industrial por
opção.
***
Há algo admirável sobre o conceito de guerra popular prolongada que foi usado na China e no Vietnã. É uma ideia
elegante, se é que a guerra pode ser descrita nesses termos; a idéia central é adaptável e aplicável mesmo em
face de grandes retrocessos e reviravoltas do destino.
Mas a guerra popular prolongada, como tal, não se aplica para o futuro específico que estamos discutindo. As
pessoas neste cenário nunca vão alcançar os números que prolongadas guerras populares requerem. Mas elas
também terão que enfrentar um outro tipo de contradição, contra a qual táticas diferentes são aplicáveis. Eles vão
adotar a idéia essencial da guerra popular prolongada e aplicá-la à sua própria situação, a da necessidade de
salvar seu planeta, para derrubar a civilização industrial e mantê-la no chão. E eles vão elaborar uma nova grande
estratégia baseada em uma simples continuidade dos passos que fluem logicamente um após o outro.
Neste cenário alternativo futuro, a Guerra Ecológica Decisiva tem quatro fases que progridem de um futuro
próximo até a queda da civilização industrial. A primeira fase é de estabelecimento de Redes e Mobilização. A
segunda fase é de Sabotagem e Ações Assimétricas. A terceira fase é de Interrupção de Sistemas. E a fase final é
a de Desmantelamento Decisivo da Infraestrutura.
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eCada fase tem seus próprios objetivos, abordagens operacionais e requisitos organizacionais. Não há uma linha
divisória clara entre as fases e diferentes regiões progridem através das fases em momentos diferentes. Estas
fases enfatizam o papel das redes militantes de resistência. A construção de alternativas aboveground e a
revitalização das comunidades humanas acontecem ao mesmo tempo. Mas isso não exige o mesmo rigor
estratégico; a reconstrução das comunidades humanas saudáveis com uma base de subsistência deve
simplesmente acontecer o mais rápido possível, em todos os lugares, com cronogramas e métodos adequados
para cada região. Já os resistentes militantes deste cenário, por outro lado, necessitam compartilhar alguma
estratégia maior para ter sucesso.
QUATRO FASES DA GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA
Listen to an audio version of The Four Phases of DEW: Phase I — II — III — IV
Fase I – Redes e Mobilização
Preâmbulo
Na fase um, os resistentes concentram-se em se organizar em redes e na construção de culturas de resistência
para sustentar essas redes. Muitos simpatizantes ou potenciais recrutas não estão familiarizados com ações e
estratégias de resistência sérias, então esforços são dirigidos para difundir essa informação. Mas o fundamental
nesta fase é formar realmente as organizações “aboveground e underground” (ou pelo menos seus núcleos), que
irão realizar o recrutamento organizacional e a ação decisiva. Neste ponto, a cultura de segurança e a cultura de
resistência ainda não estarão muito bem desenvolvidas, de modo que sejam feitos esforços adicionais para evitar
erros desleixados que levariam à prisão e para dissuadir os delatores de recolher ou transmitir informações.
A formação de ativistas é fundamental nesta fase, especialmente através de ações de baixo risco (porém
eficazes). Os novos recrutas serão os combatentes, membros do quadro organizativo e líderes das fases
posteriores. Enquanto novos ativistas são enculturados no ethos de resistência, os ativistas antigos existentes
tendem a cair em maus hábitos contraproducentes. Este é o momento em que o movimento de resistência se
organiza e se torna mais sério. As pessoas colocam suas necessidades e conflitos individuais de lado, a fim de
formar um movimento que pode lutar para vencer.
Nesta fase, as pessoas isoladas se juntam para formar uma visão e estratégia para o futuro, e para estabelecer os
núcleos de organizações futuras. Claro, a formação de redes ocorre também nas organizações voltadas à
resistência que já existem, mas a maioria das organizações tradicionais não estão dispostas a adotar posições de
militância ou intransigência em relação a quem está no poder ou às crises que essas pessoas enfrentam. Se
possível, eles devem ser encorajados a tomar posições mais de acordo com a escala dos problemas que
enfrentam.
Esta fase já está em andamento, mas uma grande quantidade de trabalho ainda precisa ser feito.
Objetivos
•
Construir uma cultura de resistência, com tudo que isso implica.
•
Construir redes de resistência “aboveground” e “underground” e assegurar a sobrevivência dessas redes.
Operações
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•
As operações são ações geralmente de menor risco, de modo que as pessoas possam ser treinadas e
selecionadas, e as redes de apoio, postas em prática. Estes irão cair, principalmente, nas categorias de
sustentação e modelagem.
•
Recrutamento e treinamento máximo são muito importantes neste momento. É provável que, o quanto antes as
pessoas forem recrutadas, mais confiáveis elas se tornem e mais tempo temos disponível para avaliar suas
competências para ações mais sérias.
•
Operações de comunicação e propaganda também são necessárias para expandir e espalhar informação sobre
táticas e estratégias úteis, bem como a necessidade de ação organizada
Organização
•
A maioria das organizações de resistência neste cenário ainda são redes difusas, mas elas começam a se
estender e se aglutinar. Esta fase tem como objetivo construir organização.
Fase II – Sabotagem e Ação Assimétrica
Preâmbulo
Nesta fase, os resistentes podem tentar interromper ou desativar alvos específicos com uma base oportunista.
Para a maior parte, as redes e as habilidades underground necessárias ainda não existem para que se possa
assumir múltiplos alvos maiores. Os resistentes podem se concentrar em alvos particularmente mais óbvios –
usinas de energia com queima de carvão ou bancos exploradores. Nesta fase, o foco de resistência está na
prática, sondagem de redes inimigas, segurança e aumento de apoio enquanto constrói redes organizacionais.
Neste futuro possível, células underground tentam não provocar uma repressão esmagadora além da capacidade
de suas redes nascentes lidarem com ela. Além disso, quando a repressão e contratempos sérios ocorrem, elas
recuam para a fase anterior com sua ênfase na organização e sobrevivência. De fato, grandes reveses
provavelmente acontecem nesta fase, o que indica uma falta de regras básicas e estrutura e sinaliza a
necessidade de voltar a algumas das prioridades da primeira fase.
O movimento de resistência neste cenário compreende a importância de uma ação decisiva. Sua ênfase nas duas
primeiras fases não foi em ação direta, mas não porque eles estivessem evitando o conflito. É porque eles estão
trabalhando o mais duro que podem, mas fazem isso dando um passo de cada vez. Eles sabem que o planeta (e o
futuro) precisa de suas ações, mas entendem que ninguém ira se beneficiar de ações tolas e apressadas, ou de
criar problemas para os quais ainda não estão preparados. Isso só leva a uma chicotada moral e decepção. Então
esse movimento atua o mais sério, rápido e decisivamente que pode, mas garantindo que ele estabeleça as bases
que precisa para ser verdadeiramente eficaz.
Quanto mais pessoas se juntarem ao movimento, quanto mais arduamente trabalharem e quanto mais
direcionados forem, mais rápido irão progredir de uma fase à outra.
Neste futuro alternativo, os ativistas aboveground, em particular, assumem várias tarefas importantes. Eles
trabalham para a aceitação e normalização das táticas mais militantes e radicais que forem apropriadas. Apoiam
publicamente a sabotagem quando ela ocorre. Grupos de defesa mais moderados usam a ocorrência de
sabotagem para criticar quem está no poder por não tomar medidas sobre questões críticas como as alterações
climáticas (em vez de criticar os sabotadores). Eles argumentam que a sabotagem não seria necessária se a
sociedade civil tivesse uma resposta razoável aos problemas sociais e ecológicos, e aproveitam a oportunidade e
publicidade para fazer pressão por soluções para os problemas. Eles não se aliam a quem está no poder contra os
sabotadores, mas sim, argumentam que a situação é grave o suficiente para fazer de tal uma ação legítima,
embora, pessoalmente, escolham uma direção diferente.
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Neste ponto do cenário, os grupos mais radicais e de base continuam a estabelecer uma comunidade de
resistência, mas também a estabelecer organizações discretas e instituições paralelas. Essas instituições
estabelecem a elas mesmas e sua legitimidade, fazem conexões comunitárias e, particularmente, tomam medidas
para estabelecer relações fora da tradicional "bolha ativista”. Essas instituições também se focam em
emergências, preparação para desastres e ajudam as pessoas a lidar com o colapso iminente.
Simultaneamente, ativistas aboveground organizam as pessoas para a desobediência civil, para o enfrentamento
em massa e outras formas de ação direta quando apropriadas.
Outra coisa começa a acontecer: as organizações aboveground começam a estabelecer coligações,
confederações e redes regionais, sabendo que não haverá obstáculos maiores para estas mais tarde. Estas
confederações maximizam o potencial da organização aboveground compartilhando materiais, conhecimentos,
habilidades, currículos de aprendizagem, e assim por diante. Elas também planejam estrategicamente a si
mesmas, participando de campanhas planejadas persistentes em vez de campanhas reativas ou organização a
cada nova crise.
Objetivos
•
Identificar e se engajar em metas individuais de alta prioridade. Essas metas são escolhidas por estes
resistentes, porque elas são especialmente tangíveis ou por outras razões de seleção de alvos.
•
Dar treinamento e experiência prática para os membros, necessários para visar alvos e sistemas maiores.
Mesmo as ações decisivas são limitadas em alcance e impacto nesta fase, embora boa seleção de alvos e boa
sincronização permitam ganhos significativos.
•
Essas operações também expõem pontos fracos no sistema, demonstram a viabilidade da resistência material
e inspira outros a resistirem.
•
Estabelecer publicamente os motivos racionais para a resistência material e para o confronto com o poder.
•
Estabelecer organizações aboveground e instituições paralelas concretas.
Operações
•
Limitadas, porém aumentando as operações decisivas, combinando com o crescimento de operações de
sustentação (para suportar organizações maiores e com maior demanda logística) e operações de moldagem
continuadas.
•
Nas operações decisivas e de apoio, estes resistentes hipotéticos serão cautelosos e inteligentes. Membros
novos e inexperientes têm uma tendência a serem excessivamente confiantes, por isso, para compensar, eles
devem ficar apenas com as operações com determinados resultados; eles sabem que nesta fase eles ainda
estão em construção para as ações maiores que ainda estão por vir.
Organização
•
Exige pequenas células underground, mas beneficia-se de redes underground de maior dimensão. Ainda há
uma ênfase no recrutamento neste momento.
•
Redes e movimentos aboveground estão proliferando tanto quanto podem, especialmente porque o trabalho
que está por vir requer um tempo de execução significativo para o desenvolvimento de habilidades,
comunidades, e assim por diante.
Fase III – Interrupção de Sistemas
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Preâmbulo
Nesta fase os resistentes avançam a partir da abordagem de metas individuais ligadas ao sistema industrial,
político e econômico por inteiro. Sistemas de interrupção industrial exigem redes underground organizadas de
forma hierárquica ou paramilitar. Estas redes maiores emergem das fases anteriores com a capacidade de realizar
várias ações simultâneas.
O rompimento de sistemas visa identificar pontos-chave e gargalos nos sistemas do adversário (elétrico, de
transporte, financeiro, e assim por diante) para fazer com que esses sistemas entrem em colapso ou reduzam sua
funcionalidade. Este não é um trabalho de um tiro só. Os sistemas industriais são grandes e podem ser frágeis,
mas são mais difusos do que monolíticos. Eles podem realizar reparos. Os membros da resistência entendem isso.
Sistemas de interrupção eficazes requerem planejamento para ações contínuas e coordenadas ao longo do tempo.
Neste cenário, o campo aboveground não ganhará realmente força enquanto funcionarem como de costume. Por
outro lado, com os sistemas industriais e econômicos globais cada vez mais em crise (por causa do colapso
induzido pela economia capitalista, pelos desastres climáticos globais, pelo pico do petróleo, pelo pico do solo,
pelo pico da água, ou por outros motivos) o apoio de comunidades locais resilientes aumenta. Falhas na
distribuição de energia elétrica e bens manufaturados aumentam o interesse em comida e energia locais, e assim
por diante. Estas crises também tornam mais fácil para as pessoas lidar com o colapso completo da perda em
longo prazo – perda em curto prazo, mas ganho em longo prazo, mesmo que os humanos estejam preocupados.
Dimitry Orlov, um importante analista do colapso da União Soviética, explica que a natureza disfuncional do
sistema soviético preparou as pessoas para a sua eventual desintegração. Em contraste, uma economia industrial
funcionando sem problemas provoca uma falsa sensação de segurança fazendo com que essas pessoas não
estejam preparadas, agravando o impacto. "Após o colapso, você se arrepende de não ter um segmento de varejo
não confiável, com escassez de pão, porque assim as pessoas teriam sido forçadas a aprender a mudar por si
mesmas em vez de ficar à espera de alguém para vir e alimentá-las."[18] Organizações e instituições aboveground
estão bem estabelecidas nesta fase deste cenário alternativo. Elas continuam a pressionar por reformas, com foco
na necessidade urgente de justiça, de relocalização e de comunidades resilientes, uma vez que o sistema
dominante é injusto, não-confiável, e instável.
É claro que, neste cenário, as ações militantes que afetam a vida diária provocam uma reação, às vezes da parte
do público, mas especialmente por autoritários de todos os níveis. Os ativistas aboveground são os combatentes
da linha de frente contra o autoritarismo. Eles são os únicos que podem mobilizar a onda popular necessária para
evitar o fascismo.
Além disso, os ativistas aboveground utilizam os sistemas em crise como uma oportunidade para fortalecer as
comunidades locais e instituições paralelas. Pessoas do mainstream são encorajadas a pender o seu apoio a
alternativas participativas locais nas esferas econômicas, políticas e sociais. Quando a turbulência econômica
provoca desemprego e hiperinflação, as pessoas são empregadas localmente para o benefício de sua comunidade
e da terra. Neste cenário, como os governos nacionais ao redor do mundo lutam cada vez mais contra as crises
(como o pico do petróleo, a escassez de alimentos, o caos climático e assim por diante) e cada vez mais deixam
de atender as pessoas, conselhos diretamente democráticos locais começam a assumir administração dos
serviços básico de emergência e as pessoas redirecionam seus impostos para as entidades locais (talvez como
parte de uma campanha de não-cooperação geral contra quem está no poder). Isso acontece em conjunto com a
resposta de emergência da comunidade e as medidas de prevenção de catástrofes já realizadas.
Neste cenário, sempre que aqueles que estão no poder tentam aumentar a exploração ou o autoritarismo, os
resistentes aboveground mobilizam as pessoas a abandonar o apoio a quem está no poder, e desviá-lo para os
órgãos políticos locais, democráticos. Essas instituições paralelas podem fazer um trabalho melhor do que aqueles
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que estão no poder. As relações inter-demográficas estabelecidas nas fases anteriores ajudam a manter as
estruturas políticas locais confiáveis e a conseguir apoio de muitas comunidades.
Durante esta fase, são feitos esforços estratégicos para aumentar as tensões existentes nos sistemas econômicos
e industriais causadas pelo pico do petróleo, a instabilidade financeira, e fatores relacionados. Os resistentes
percebem-se empurrando um edifício frágil que já está começando a se inclinar. Com efeito, neste cenário muitas
interrupções aos sistemas vêm de dentro do próprio sistema e não dos resistentes.
Esta fase alcança ganhos significativos e decisivos. Mesmo que os principais sistemas industriais e econômicos
não sejam completamente destruídos, a interrupção prolongada significa uma redução no impacto ecológico;
grande notícia para o planeta e para a sobrevivência futura da humanidade. Mesmo uma diminuição de 50 por
cento no consumo industrial ou emissões de gases de efeito estufa é uma vitória enorme (especialmente
considerando que as emissões continuarão a aumentar se depender de todo o ativismo ambiental tradicional que
temos visto até agora), e isso atrai os resistentes - e todos os outros – mais cedo ou mais tarde.
Nas partes mais otimistas deste cenário hipotético, a resistência efetiva induz aqueles no poder a negociar ou
oferecer concessões. Uma vez que o movimento de resistência tiver demonstrado a capacidade de usar estratégia
real e força, não poderá ser ignorado. Quem está no poder começará a bater nas portas de militantes tradicionais,
implorando para negociar mudanças que possam cooptar a causa dos movimentos de resistência e reduzir novas
ações.
Nesta versão do futuro, no entanto, grupos de resistência realmente começam a tomar a iniciativa. Eles entendem
que durante a maior parte da história da civilização, quem esteve no poder dominou a iniciativa, forçando os
grupos de resistência ou povos colonizados a ficar na defensiva, para responder aos ataques, para serem
constantemente mantidos fora de equilíbrio. No entanto, o pico do petróleo e a interrupção dos sistemas têm
causado uma série de emergências para aqueles que estão no poder, alguns causados por grupos de resistência
organizados, alguns causados por distúrbios civis e escassez, e alguns causados pelas consequências sociais e
ecológicas de séculos - ou milênios - de exploração. Talvez pela primeira vez na história, aqueles que estão no
poder estarão globalmente fora de equilíbrio e ocupados com o agravamento de crises após crises. Isso
proporciona uma oportunidade chave para os grupos de resistência e culturas e comunidades autônomas de
aproveitar e manter a iniciativa.
Objetivos
•
Visar pontos chave de sistemas industriais e econômicos específicos para interrompê-los e desativá-los.
•
Causar uma redução mensurável da atividade e consumo industrial.
•
Tornar possível concessões, negociações e mudanças sociais quando aplicáveis.
•
Induzir o colapso de empresas, indústrias e sistemas econômicos específicos.
Operações
•
Principalmente, interrupções de sistemas decisivas e sustentáveis – mas também modeladoras quando
necessário. Membros e combatentes devem ser cada vez mais moderados neste ponto, mas o início de uma
ação decisiva e séria vai gerar uma alta taxa de atrito para os resistentes. Não há razão para ser vago; os
membros da resistência neste futuro alternativo que estão comprometidos com a resistência militante já
esperam a possibilidade de acabarem sendo presos ou mortos.
Organização
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•
Será necessário o uso pesado de redes underground; coordenação operacional é um pré-requisito para uma
interrupção efetiva do sistema.
•
O recrutamento é contínuo neste ponto; especialmente para recrutar auxiliares e para lidar com as perdas por
atrito. No entanto, durante esta fase, haverá várias tentativas graves de infiltração. As infiltrações não serão tão
bem sucedidas como elas poderiam ser, porque as redes underground terão feito recrutamentos massivos em
etapas anteriores (antes da ação em larga escala) para assegurar a presença de um grupo de confiança de
líderes e membros que formem a espinha dorsal dessas redes.
•
Organizações aboveground serão capazes de realizar extensas mobilizações por causa das várias crises
sociais, políticas e de recursos.
•
Neste ponto, resistentes militantes preocupam-se com a reação de pessoas que deveriam estar do seu lado,
assim como muitos liberais, especialmente aqueles com o poder de exercer pressão sobre os ativistas
aboveground.
Fase IV: Desmantelamento Decisivo da Infraestrutura
Preâmbulo
O desmantelamento decisivo da infraestrutura está um passo além da interrupção de sistemas. A intenção é
desmantelar de forma permanente, o quanto for possível, a infraestrutura industrial baseada em combustíveis
fósseis. Esta fase é o último recurso; na projeção mais otimista, não seria necessário. Na projeção otimista desse
cenário, crises convergentes e interrupção de infraestrutura combinadas com movimentos vigorosos aboveground
forçariam os detentores do poder a aceitar a mudança social, política e econômica; reduções no consumo
combinadas com uma tentativa genuína e sincera de realizar uma transição culminariam em uma cultura
sustentável.
Mas essa projeção otimista não é provável. É mais provável que os detentores do poder (e muitas pessoas
comuns) se apeguem mais a civilização ao mesmo tempo em que ela entra em colapso. E provavelmente, eles
vão apoiar o autoritarismo se eles acharem que ele vai manter seus privilégios e seus direitos.
A questão chave - a qual temos que voltar repetidamente - é o tempo. Em breve, atingiremos (se ainda não
tivermos atingido) o ponto crítico do aquecimento global incontrolável e irreversível. A fase de interrupção de
sistemas deste cenário hipotético oferece seletividade. As interrupções nesse cenário são projetadas de forma que
mudem o impacto da indústria e que tentem minimizar os impactos sobre os civis. Mas os sistemas industriais são
fortemente integrados a infraestrutura civil. Se a interrupção seletiva não funcionar cedo o bastante, alguns
resistentes podem chegar à conclusão de que uma interrupção total é necessária para impedir que o planeta seja
reduzido a cinzas.
A diferença entre as fases III e IV deste cenário pode parecer sutil, já que ambos envolvem, em nível operacional,
ações coordenadas para interromper sistemas industriais em grande escala. Mas a fase III requer algum tempo
para trabalhar - para enfraquecer o sistema, para mobilizar pessoas e organizações, para a construção de uma
série de ações de interrupção. A fase III também dá uma "justa advertência" para as pessoas comuns se
prepararem. Além disso, a fase III dá tempo para a resistência se desenvolver logística e organizacionalmente, o
que é necessário para prosseguir para a fase IV. A diferença entre as duas fases é a capacidade e contenção.
Para os resistentes neste cenário avançarem da fase III para a fase IV, eles precisam de duas coisas: a
capacidade organizacional para assumir o escopo da ação necessária na fase IV, e a certeza de que não há mais
qualquer sentido em esperar por reformas sociais para ter sucesso em seu próprio cronograma.
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Neste cenário, ambas as fases salvam vidas, humanas e também não-humanas. Mas, se a mobilização
aboveground em larga escala não acontecer uma vez que o colapso já esteja em andamento, a fase IV torna-se a
forma mais eficaz para salvar vidas.
Imagine que você está andando em um ônibus pelo meio de uma cidade cheia de pedestres. Dentro do ônibus
estão os seres humanos civilizados, e lá fora está toda a vida não humana do planeta e os seres humanos que
não são civilizados, ou os que não se beneficiam da civilização, ou os que ainda têm de nascer. É desnecessário
dizer que os que estão do lado de fora superam massivamente os poucos de vocês dentro do ônibus. Mas o
motorista do ônibus está com pressa, e está acelerando o mais rápido que pode, abrindo caminho através da
multidão, mutilando e matando pedestres em massa. A maioria de seus companheiros de viagem parecem não se
importar particularmente, pois eles têm um lugar para ir e estão contentes de estar fazendo progresso,
independentemente do custo.
Alguns dos passageiros parecem estar chateados com a situação. Se o motorista continuar acelerando, observam,
é possível que o bonde bata e que os passageiros sejam feridos. Não se preocupe, um homem lhes diz. Seus
cálculos mostram que os corpos se acumulando na frente do ônibus acabarão por desacelerar o veículo e forçá-lo
a, em algum ponto, parar com segurança. Qualquer intervenção dos passageiros seria imprudente, e, certamente,
provocaria uma repreensão do motorista. Pior, um passageiro problemático pode ser expulso do ônibus e depois
ser atropelado por ele.
Você, ao contrário da maioria dos passageiros, está mais preocupado com a carnificina constante do lado de fora
do que com a futura segurança dos passageiros do ônibus. Você sabe que tem que fazer alguma coisa. Você
poderia tentar saltar para fora da janela e fugir, mas, em seguida, o ônibus passaria por cima de você bem no meio
da multidão, e você perderia qualquer chance de intervir. Então você decide tentar sabotar o ônibus do interior,
cortar os fios elétricos, ou puxar para cima o piso e ativar os freios manualmente, ou tirá-lo da estrada, ou fazer o
que puder.
Assim que os outros passageiros perceberem o que você está fazendo, eles vão tentar impedi-lo e, talvez, matá-lo.
Você tem que decidir se você vai parar o ônibus lentamente ou rapidamente. O ônibus está correndo tão
rapidamente agora que se você parar de repente, ele pode arremessar os passageiros contra os assentos na
frente deles ou até pelo ar. Isso pode matar alguns deles. Mas se você interrompê-lo lentamente, quem sabe
quantas pessoas inocentes serão atingidas durante a desaceleração do ônibus? E se você apenas danificá-lo, o
motorista pode reparar o dano e fazer o ônibus voltar à ativa.
Então, o que você faz? Se você optar por parar o ônibus o mais rápido possível, então você terá feito a mesma
escolha que aqueles que iriam implementar a fase IV. Você tomou a decisão em que parar a destruição o mais
rapidamente possível é mais importante do que qualquer programa específico de reforma. Claro que, mesmo ao
parar a destruição o mais rápido possível, você ainda pode tomar medidas para reduzir as baixas a bordo do
ônibus. Você pode dizer às pessoas para se sentar ou usar cinto de segurança ou se prepararem para o impacto.
Se eles vão ouvi-lo é outra história, essa responsabilidade é deles, não sua.
É importante não interpretar mal o sentido da fase IV deste cenário futuro alternativo. A questão não é causar
vítimas humanas. O objetivo é impedir a destruição do planeta. O inimigo não é a população civil – nem nenhuma
população em específico – mas sim um sistema sócio-político-econômico sociopatológico. A destruição ecológica
do planeta é causada principalmente pela indústria e pelo capitalismo; o problema da população é no máximo
terciário. O motivo de colapsar a infra-estrutura industrial neste cenário é o de não prejudicar os seres humanos
mais do que serão no ponto de frenagem do ônibus. O sentido é o de reduzir os danos o mais rápido possível, e
fazer isso para cobrar a conta dos prejuízos que a cultura dominante está cometendo contra todos os seres vivos,
do passado e do futuro.
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Esta não é uma fase fácil para os ativistas aboveground. Parte do seu trabalho neste cenário é também ajudar a
demolir a infraestrutura, mas eles estão demolindo principalmente a infraestrutura política e econômica de
exploração, não a infraestrutura física. Em geral, eles continuam fazendo o que fizeram na fase anterior, mas em
uma escala maior e em longo prazo. O apoio público é direcionado para os sistemas políticos e econômicos justos,
locais e democráticos. Os esforços são empreendidos para lidar com emergências e lidar com as partes mais
desagradáveis ■■do colapso.
Objetivos
•
Desmontar a infra-estrutura física mínima necessária para a civilização industrial funcionar.
•
Induzir o colapso industrial generalizado, além de quaisquer de seus sistemas econômicos ou políticos.
•
Uso contínuo e coordenado de ações para dificultar os reparos e substituições.
Operações
•
Foco quase exclusivo em operações decisivas e continuas.
Organização
•
Requer redes militantes underground bem desenvolvidas.
IMPLEMENTANDO A GUERRA ECOLÓGICA DECISIVA
Escute uma versão em audio de Executando a Guerra Ecológica Decisiva
É importante notar que, no caso de uma prolongada guerra popular, a Guerra Ecológica Decisiva não seguirá
necessariamente uma progressão linear. Neste cenário, resistentes voltam às fases anteriores se necessário.
Depois de grandes reveses, organizações de resistência focam-se na sobrevivência e na construção de redes,
enquanto se reagrupam e preparam-se para ações mais críticas. Além disso, os movimentos de resistência
progridem através de cada uma das fases e, em seguida, recuam na ordem inversa. Ou seja, se a infra-estrutura
industrial global for interrompida ou fragmentada com sucesso (fase IV) os resistentes retornam à interrupção do
sistema em uma escala local ou regional (fase III). E se também obtiverem sucesso nisso, os resistentes
movem-se de volta para a fase II, focando seus esforços nos piores alvos restantes.
E desde que os seres humanos não se extingam, mesmo este cenário vai exigir que algumas pessoas
permaneçam na fase I indefinidamente, mantendo uma cultura de resistência e passando os conhecimentos
básicos e habilidades necessárias para lutar por séculos e milênios.
A progressão da Guerra Ecológica Decisiva poderia ser comparada a sucessão ecológica. A alguns meses atrás
eu visitei uma pedreira abandonada, onde a camada superior do solo e várias camadas de rocha tinham sido
retiradas e explodidas, deixando uma cavidade cúbica muito profunda no calcário. Mas um pouco de cascalho e
poeira estavam empilhados em um canto, e alguns musgos tinham tomado conta. Os musgos eram pequenos,
mas eles necessitavam de muito pouco em matéria de água ou de nutrientes (como muitos dos pequenos grupos
de afinidade com quem eu trabalhei). Uma vez que os musgos tinham crescido por algumas temporadas, eles
deram ao solo firmeza o suficiente para que gramíneas pudessem crescer.
Com crescimento rápido, as resistentes gramíneas estão muitas vezes entre as primeiras espécies a reabitar
qualquer solo castigado. Da mesma forma, as organizações de resistência iniciais são generalistas, não
especialistas. Elas são robustas e rapidamente se espalham e se reproduzem, seja espalhando suas sementes
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acima do solo (aboveground) ou criando redes subterrâneas de rizomas (underground).
As gramíneas na pedreira reconstruíram o solo rapidamente, e logo havia solo para flores silvestres e organismos
mais complexos. De forma muito parecida, um grande número de simples organizações de resistência ajudam a
estabelecer comunidades de resistência, culturas de resistência, que podem dar origem a organizações de
resistência mais complexas e mais eficazes .
Underground Organization
Um ativista hipotético que colocar essa estratégia em prática será capaz de mover-se de forma inteligente a partir
da fase I para a próxima: identificando quando os elementos estão no lugar correto, quando as redes de
resistência estão suficientemente mobilizadas e treinadas e quando as pressões externas ditarem a mudança. No
manual de operações de campo do Exército dos EUA, o General Eric Shinseki argumenta que as regras da
estratégia "exigem comandantes para dominar as transições, para ser adaptável. Transições-implementações, o
intervalo entre a operação inicial e as sequelas, a consolidação do objetivo, o avanço das linhas – o momentum
operacional. Dominar as transições é a chave para a manutenção desse momentum e para vencer decisivamente."
Isso é particularmente difícil de fazer quando a resistência não tem um comando central. Neste cenário, não há
meios centrais de dispersar ordens operacionais ou táticas ou formas eficazes de coletar informações precisas
sobre as forças de resistência e aliados. Shinseki continua: "Isso demonstra o valor elevado de soldados treinados
com boa habilidade de fazer leituras da situação; líderes adaptativos que entendem a nossa doutrina; e formações
versáteis, ágeis e letais”. As pessoas que estão empreendendo uma resistência à civilização neste cenário não
estão tão preocupadas com "letalidade" quanto estão com eficácia, mas o argumento é válido.
A resistência à civilização é inerentemente descentralizada. Isso vale em dobro para grupos underground que têm
o mínimo de contato com outras pessoas. Para compensar a falta de estrutura de comando, uma grande estratégia
geral neste cenário torna-se amplamente conhecida e aceita. Além disso, grupos minimamente aliados estão
prontos para tomar medidas sempre que a situação se mostrar estratégica para isso. Estes grupos estão
preparados para tirar proveito de crises como colapsos econômicos.
Sob este cenário alternativo, a organização underground em pequenas células tem grandes implicações para a
aplicação dos princípios da guerra. A entidade ideal para atacar a civilização industrial seria uma grande rede
paramilitar, hierárquica. Essa rede poderia se empenhar na formação, disciplina e coordenação de ações
necessárias para programar uma ação militante decisiva em uma escala continental. No entanto, por razões
práticas, uma única rede desse tipo nunca surge. Organizações semelhantes na história da luta de resistência,
como o IRA ou vários grupos insurgentes em território ocupados por forças estrangeiras, surgiram na ausência do
estado de vigilância moderno e na presença de uma cultura de resistência bem desenvolvida e extensa oposição
ao ocupante.
Embora células underground ainda possam formar pares de confiança com base em linhas de interesses, redes
paramilitares maiores são mais difíceis de se formar em um contexto anticivilização contemporâneo. Em primeiro
lugar, a proporção de potenciais recrutas na população em geral é menor do que em quaisquer movimentos de
resistência anticoloniais ou antiocupação na história. Por isso, leva mais tempo e é mais difícil expandir redes
underground existentes. A opção utilizada por alguns grupos de resistência na França ocupada foi se aliar e
conectar as células existentes. Mas isso é inerentemente difícil e perigoso. Qualquer grupo underground com
cobertura adequada seria invisível para outro grupo em busca de aliados (há muitas histórias a partir do fim da
guerra de resistentes que viviam no mesmo prédio sem terem nunca percebido a filiação um do outro). E em um
panóptico, expor-se a supostos aliados não comprovados é um empreendimento arriscado.
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A função mais plausível para o underground neste cenário é se tornar um composto de organizações de diferentes
tamanhos, algumas poucas redes maiores e um grande número de células autônomas menores, que ainda não
estão diretamente conectadas por meio de linhas de comando. Há conexões indiretas ou comunicações via
cut-outs, mas esses métodos raramente são consistentes ou confiáveis o suficiente para permitir ações
simultâneas coordenadas em curto prazo.
Células individuais raramente têm o contingente ou a logística necessária para se engajar em ações múltiplas
simultâneas em locais diferentes. Esse trabalho cabe aos grupos paramilitares, com células em vários locais, que
têm a estrutura de comando e disciplina necessária para realizar adequadamente uma disrupção em rede. No
entanto, as células autônomas mantêm a prontidão para se engajar em ações oportunistas identificando com
antecedência uma seleção de alvos locais e táticas apropriadas. Então, depois de uma ação simultânea maior
(causando, por exemplo, um corte de energia), as células autônomas aproveitam a oportunidade para realizar suas
próprias ações, dentro de algumas horas. Desta forma, as células não relacionadas envolvem-se em algo
semelhante a ataques simultâneos, maximizando a sua eficácia. É claro que, se os grupos descentralizados
frequentemente realizarem ataques do tipo "ações de gatilho", a mídia corporativa pode parar de transmitir notícias
de ataques para evitar o desencadeamento de outras mais. Assim, essa abordagem tem seus limites, embora os
efeitos de grande escala, como apagões nacionais não podem ser suprimidos nos jornais (e em rupturas de
sistemas, na verdade, não importa o que realmente causou o apagão, porque ainda assim é uma oportunidade
para novas ações ).
Analysis of Strategy
World War II vs Decisive Ecological Warfare
Quando olhamos para algumas lutas ou guerras na história, temos o benefício da retrospectiva para identificar
falhas e sucessos. É assim que julgamos as decisões estratégicas tomadas na Segunda Guerra Mundial, por
exemplo, ou qualquer pessoa que tenha tentado (ou não) intervir em holocaustos históricos. Talvez fosse benéfico
imaginar alguns historiadores num futuro distante – supondo que a humanidade sobreviva – olhando para trás,
para o futuro alternativo que acabamos de descrever. Supondo que tenha sido na maior parte bem sucedido, como
eles devem analisar seus pontos fortes e fracos?
Para esses historiadores, a fase IV é controversa, e eles sabem que ela seria controversa até mesmo entre os
membros da resistência desse tempo. Mesmo os resistentes que concordam com ações militantes contra a
infraestrutura industrial hesitam quando contemplam ações com possíveis consequências civis. Isso não é
nenhuma surpresa, já que os membros dessa resistência são guiados por um profundo respeito e cuidado com a
vida. O problema é, claro, os membros desse grupo sabem que se eles falharem em parar essa cultura que está
matando o planeta, haverá consequências civis muito mais horríveis.
As forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial precisaram enfrentar um conflito moral parecido, como discutido por
Eric Markusen e David Kopf em seu livro The Holocaust and Strategic Bombing: Genocide and Total War in the
Twentieth Century (Holocausto e Bombardeio Estratégico: Genocídio e Guerra Total no Século Vinte). Markusen e
Kopf escrevem isso: “No começo da Segunda Guerra Mundial, a política britânica de bombardeio foi rigorosamente
discriminada – ao ponto de colocar as tropas aéreas britânicas em grande risco. Apenas alvos militares óbvios
longe das concentrações de população eram atacados, e as equipes de bombas eram instruídas a lançar suas
bombas na água quando as condições climáticas tornavam questionável a identificação dos alvos. Muitos fatores
foram citados para explicar essa política, incluindo um desejo de evitar provocar a Alemanha temendo uma
retaliação contra alvos não-militares na Inglaterra já que tinham uma força aérea numericamente superior.”[19]
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Outros fatores incluídos demonstram preocupação com o apoio público, considerações morais em evitar baixas
civis, a prática da “Guerra Telefônica” (uma guerra declarada contra a Alemanha com pouco combate real) e uma
pequena força aérea que precisava de tempo para se fortalecer. Os paralelos entre as ações dos bombardeiros
britânicos, as ações dos militantes de esquerda do Weather Underground e do ELF são óbvios.
O problema com essa política britânica é que ela simplesmente não funciona. A Alemanha não mostrou tal
integridade moral e as equipes de bombardeio britânicas estavam correndo grandes riscos ao atacar alvos menos
valiosos. Em fevereiro de 1942, a política de bombardeio mudou substancialmente. De fato, o Comando de
Bombardeio começou a visar deliberadamente civis inimigos e a moral civil em especial – particularmente a dos
trabalhadores industriais – destruindo as casas em volta das fábricas que atacavam com o objetivo de “desabrigar”
os trabalhadores. Os estrategistas britânicos acreditavam que fazendo aquilo iriam solapar a vontade de lutar da
Alemanha. Na verdade, alguns dos ataques a civis tinham a intenção de “punir” a população da Alemanha por
apoiar Hitler, e alguns estrategistas acreditavam que, após suficiente punição, a população iria se levantar e depor
Hitler para salvarem a si mesmos. É claro, isso não funcionou; isso quase nunca funciona.
Enfim, esse foi um dos dilemas encarados pelos membros da resistência neste cenário futuro alternativo: apesar
da resistência se aborrecer com a noção de ações afetando civis – até mais do que a Inglaterra no início da
Segunda Guerra Mundial – está claro para eles que em uma nação industrial os “civis” e o Estado estão tão
profundamente entrelaçados que qualquer impacto em um causará algum impacto no outro.
Os historiadores agora acreditam que a relutância dos Aliados em atacar antes na guerra pode ter custado muitos
milhões de vidas de civis. Ao falhar em parar a Alemanha antes, eles fizeram desse conflito prolongado e
sangrento algo inevitável. O general Alfred Jodl, o Chefe Alemão da Equipe de Operações do Alto Comando das
Forças Armadas, disse enquanto durou seu julgamento por crimes de guerra em Nuremberg: “Se nós ainda não
tínhamos colapsado no ano de 1939 isso foi apenas pelo fato de que durante a campanha na Polônia,
aproximadamente 110 divisões britânicas e francesas no Oeste ficaram completamente inativas contra 23 divisões
Alemãs.”[20]
Muitos estrategistas militares têm alertado contra meias-medidas ou metas parciais quando apenas a guerra total
pode resolver o problema. Em seu livro Grand Strategy: Principles and Practices (Grande Estratégia: Princípios e
Práticas), John M. Collins argumenta que ataques tímidos podem fortalecer o inimigo, porque eles constituem uma
provocação, mas não causam danos significativos à capacidade física ou moral do ocupante. “Destruir o ímpeto do
inimigo para resistir é muito mais importante do que causar danos parciais às capacidades materiais... estudos de
causa e efeito tendem a confirmar que violência menor do que a devastação total pode amplificar, ao invés de
desgastar, a determinação do povo."[21] Considere, no entanto, que nesse livro de 1973 Collins pode ter
subestimado a importância da infraestrutura tecnológica e de ataques decisivos à ela. (Ele aconselha no livro que
computadores “têm uma utilidade limitada”[22])
Outros estrategistas têm priorizado a destruição material ao invés do “ímpeto de lutar” do adversário. Robert
Anthony Pape discute essa questão em Bombing to Win (Bombardeando Para Ganhar), onde ele analisa a eficácia
do bombardeio estratégico em várias guerras. Nós podemos pensar nesse cenário futuro alternativo se os
resistentes colocarem em prática a análise de Pape pesando os benefícios da fase III (ações seletivas contra
redes e sistemas específicos) contra a fase IV (tentando destruir a infraestrutura industrial o quanto for possível).
Especificamente, Pape argumenta que elencar uma economia inteira como alvo pode ser mais efetivo do que
simplesmente ir atrás de fábricas e outras edificações:
Interdição estratégica pode minar estratégias de atrito, tanto no ataque a depósitos de armas ou na
destruição da base industrial como um todo, o que resulta em uma redução da produção militar. Das duas,
atacar depósitos de armas é a menos efetiva. Dadas as capacidades de substituição das economias
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industriais modernas, a produção de “guerra” tem uma grande capacidade de reposição em um período de
meses. A produção pode ser mantida em curto prazo gastando os estoques e em médio prazo com a
conservação e substituição por materiais ou processos alternativos. Além desses ajustes econômicos, os
estados podem frequentemente fazer ajustes de doutrina.[23]
Este planeta é pungente, mas ele também demonstra uma forma na qual os objetivos da estratégia desse cenário
alternativo diferem dos objetivos do bombardeio estratégico nos conflitos históricos. Na campanha de bombardeio
dos Aliados (e em outras guerras onde o bombardeio estratégico foi usado), o bombardeio estratégico coincide
com as convencionais batalhas de campo, aéreas e navais. Estrategistas de bombardeio estavam mais
preocupados em acabar com os suprimentos inimigos no campo de batalha. O bombardeio estratégico não tinha a
intenção de, sozinho, vencer a guerra; seu objetivo era dar apoio à forças convencionais em batalha. Em
contraste, neste futuro alternativo, uma diminuição significativa na produção industrial seria por si só um grande
sucesso.
Nesse futuro hipotético os historiadores talvez perguntem, “Porque não ir simplesmente atrás das piores fábricas,
as piores indústrias, e deixar o resto da economia em paz?” Os primeiros estágios da Guerra Ecológica Decisiva
envolvem ataques a fábricas e indústrias específicas. Porém, os resistentes sabem que a economia industrial
moderna é tão fortemente integrada que qualquer coisa menor do que uma disrupção econômica geral
provavelmente não teria um efeito duradouro.
Isso também é evidenciado pelas tentativas históricas de derrubar economias. Pape prossegue, “Mesmo quando o
sistema de produção de uma arma importante é seriamente abalado, ajustes táticos e operacionais podem fazer
com que outros sistemas de armas substituam-no... Como resultado, esforços para remover o componente crítico
na produção de guerra geralmente falham”. Por exemplo, Pape explica, os Aliados empreenderam uma campanha
de bombardeio às fábricas de motores de avião Alemãs. Mas esse não foi um fator decisivo na luta pela
superioridade aérea. Principalmente, os Aliados derrotaram a Luftwaffe porque eles mataram muitos dos melhores
pilotos alemães nos bombardeios.
Outro exemplo de compensação é o bombardeio aliado às fábricas de esferas de rolamento alemãs. Os Aliados
conseguiram diminuir a produção alemã de esferas de rolamento em 70 por cento. Mas isso não forçou uma
diminuição correspondente nas tropas de tanques alemãs. Os alemães foram capazes de compensar isso em
parte pelo desenvolvimento de equipamentos que exigiam menos rolamentos. Eles também aumentaram sua
produção de armas de infantaria anti-tanques. No começo da guerra, a Alemanha foi capaz de compensar a
destruição de suas fábricas em parte porque muitas fábricas estavam funcionando por apenas um turno. Eles não
estavam usando toda sua capacidade industrial existente. Ao mudar para turnos duplos ou triplos, eles foram
capazes de (temporariamente) manter a produção.
Portanto, Pape argumenta que economias de guerra não têm um ponto de colapso específico quando encaram
ataques crescentes, mas sim podem fazer ajustes de incrementação diminuindo seus suprimentos. “As economias
de guerra modernas não são frágeis. Enquanto fábricas individuais podem ser destruídas, o oponente pode reduzir
os efeitos dispersando a produção de itens importantes e estocando matéria-prima importante e maquinaria. Os
atacantes nunca antecipam todos os ajustes que os defensores podem efetuar, em parte por que a inteligência da
estrutura detalhada da economia alvo é sempre incompleta.”[24] Esse é um cuidado válido contra a superconfiança,
mas os resistentes nesse cenário reconhecem que esse argumento não é totalmente aplicável à sua situação, em
parte pelos motivos que discutimos antes e em parte por causa das razões que vêm à seguir.
Estrategistas militares estudando formas de derrubar economias e indústrias geralmente preocupam-se
especificamente com a produção e distribuição de material bélico das forças armadas inimigas. Economias de
guerra modernas são economias de guerra total na qual todos os setores da sociedade estão mobilizados e
empenhados em dar suporte à guerra. Então, é claro, os líderes militares podem compensar perdas significativas;
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pois podem desviar material e rações para uso civil ou recorrer aos civis ou infraestrutura civil para objetivos
militares como bem entenderem. Isso não significa que a produção total não é afetada (longe disso), mas sim que
a produção militar não diminui tanto quanto poderia com esse tipo de investida.
Resistentes nesse cenário têm uma perspectiva diferente da dos estrategistas militares sobre medidas
compensatórias. Para entender o contraste, digamos que um estrategista militar e um estrategista ecologista
militante querem ambos destruir um oleoduto de combustível que atende a uma importante área industrial.
Digamos que o oleoduto tenha sido destruído e o fornecimento de combustível para a indústria tenha sido
drasticamente cortado. Vamos dizer que a área industrial empreende uma série de medidas típicas para
compensar - conservação, reciclagem, medidas de eficiência, e assim por diante. Vamos dizer que eles são
capazes de manter a produção de isoladores ou de geladeiras ou de roupas ou o que seja que eles produzem, em
menor número e usando menos combustível. Eles também prolongam a vida útil de seus refrigeradores ou roupas
existentes, consertando-as. Do ponto de vista do estrategista militar, este ataque foi um fracasso, ele tem um efeito
insignificante sobre a disponibilidade de material para os militares. Mas a partir da perspectiva do ecologista
militante, esta é uma vitória. O dano ecológico é reduzido, e com muito poucos efeitos negativos sobre a
população civil. (De fato, alguns efeitos seriam diretamente benéficos.)
As economias modernas, em geral, são frágeis. Economias militares mobilizam recursos e produção por qualquer
meio necessário, mesmo que isso implique em imprimir dinheiro ou tomar o comando sobre fábricas. Elas são
economias de necessidade bruta. Economias industriais, ao contrário, são economias de luxo. A maioria delas
produz coisas que as pessoas não precisam. O capitalismo industrial prospera na fabricação de desejos tanto
quanto na fabricação de produtos, vendendo para as pessoas lixo plástico descartável, carros novos e junk food.
Quando economias capitalistas enfrentam tempos difíceis, como aconteceu durante a Grande Depressão, ou como
aconteceu na Argentina há uma década, ou como acontece em muitos lugares, muitas vezes, as pessoas
priorizam suas necessidades básicas e muitas vezes desenvolvem sistemas de troca e teias de ajuda mútua. Elas
retornam às economias comunitárias e domésticas, economias de necessidade que são muito mais resistentes do
que o capitalismo industrial, e ainda mais robustas do que as economias de guerra.
No entanto, Pape argumenta sobre um ponto importante, “A disrupção estratégica é mais eficaz quando os
ataques são contra a economia como um todo. O plano mais eficaz é destruir a rede de transporte que traz
matérias-primas e bens primários para centros de produção que frequentemente redistribui subcomponentes para
várias indústrias. Atacar redes de energia elétrica nacionais não é eficaz porque as instalações industriais
geralmente têm a sua própria geração de energia de backup. O ataque às refinarias petrolíferas nacionais para
reduzir geradores de energia de backup normalmente ignora a capacidade dos Estados de reduzir o consumo
através da conservação e racionamento”. A análise de Pape é perspicaz, mas, novamente, é importante entender
as diferenças entre suas premissas e objetivos, e as premissas e objetivos da Guerra Ecológica Decisiva.
Os resistentes no cenário da Guerra Ecológica Decisiva alcançaram os objetivos de redução do consumo e
redução da atividade industrial, por isso não importa para eles que algumas instalações industriais tenham
geradores de backup ou que os Estados tenham promovido a conservação e racionamento. Eles acreditam que é
uma profunda vitória ecológica forçar fábricas a funcionar com energia reduzida ou que ocorra uma conservação
de petróleo em escala nacional. Eles sabem que em toda a sua história o movimento ambientalista tradicional
nunca foi capaz de parar o aumento do consumo de combustíveis fósseis. Causar uma redução seria algo sem
precedentes.[25]
Não importa que estejamos falando de uma situação futura completamente hipotética ou do mundo real atual, o
progresso do pico do petróleo também terá um efeito sobre a importância relativa das diferentes redes de
transporte. Em algumas áreas, a importância das navegações de transporte vai aumentar por causa de fatores
como o esgotamento local do petróleo. Em outros, o declínio do comércio internacional e a redução da atividade
econômica tornará o transporte menos importante. Sistemas de estradas podem ter seu uso reduzido por causa do
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aumento dos custos de combustível e da diminuição do comércio. Este tráfego reduzido engendrará uma maior
capacidade de reposição e tornará as estradas menos vulneráveis à disrupções. O tráfego ferroviário – uma forma
de transporte energeticamente muito eficiente – tende em aumentar sua importância. Além disso, em muitas áreas,
as ferrovias foram removidas ao longo de um período de várias décadas, fazendo com que as linhas estejam hoje
muito lotadas e perto de sua capacidade máxima.
De volta ao cenário futuro alternativo: Na maioria dos casos, redes de transporte não são os melhores alvos. O
transporte rodoviário (de longe o mais importante na maioria dos países) é altamente redundante. Mesmo partes
rurais de áreas bem populosas são atravessadas por redes de estradas municipais, que são mais lentas do que
rodovias, mas permitem que se faça desvios.
Em contraste, estabelecer como alvo as redes de energia seria uma prioridade maior para eles, porque o efeito de
obstruí-las seria maior. Muitas redes elétricas já estariam operando perto de sua capacidade máxima e seria caro
expandi-las. Elas se tornarão mais importantes como formas altamente portáteis de energia, assim como os
combustíveis fósseis foram parcialmente substituídos por formas menos portáteis de energia, especificamente pela
eletricidade gerada a partir da queima do carvão e usinas nucleares, e em menor medida por energia eólica e
solar. Isso significa que as redes elétricas carregarão tanta ou mais energia como o fazem agora e, certamente,
uma porcentagem maior de toda a energia consumida. Além disso, eles reconhecerão que as redes de energia
muitas vezes dependem de alguns grandes troncos atravessando o continente, que são muito vulneráveis a
ataques.
"Appropriate Technology" Tactics
Existe um argumento final para os resistentes neste cenário feito para ações contra a economia como um todo, ao
invés de se engajar em ações fragmentadas ou provisórias: o elemento surpresa. Eles reconhecerão que a
sabotagem esporádica irá sacrificar o elemento surpresa e permitir que o inimigo se reagrupe e desenvolva
maneiras de lidar com ações futuras. Eles reconhecerão que, por vezes, esses métodos de enfrentamento serão
desejáveis para a resistência (por exemplo, uma mudança no sentido de diminuir o abastecimento local intensivo
de energia) e às vezes serão indesejáveis (por exemplo, a implantação de equipes de reparos rápidos, o
monitoramento aéreo por aviões pilotados remotamente, leis marciais, etc.). Resistentes reconhecerão que
poderiam compensar isso expondo algumas de suas táticas através da realização de uma série de operações
surpresa decisivas dentro de uma luta progressiva maior.
Por outro lado, neste cenário os resistentes entendem que a GED depende de táticas com “tecnologia apropriada”
relativamente simples (tanto no underground quanto no aboveground). Pequenos grupos dependem disso, e é
relativamente mais simples do que complexo. Não há um monte de informações táticas secretas para passar
adiante. Na verdade, a escalada de ações com táticas simples são benéficas para o movimento de resistência. O
analista John Robb discutiu este ponto enquanto estudava as insurgências em países como o Iraque. A maioria
das táticas insurgentes não são muito complexas, mas grupos de resistência podem aprender continuamente a
partir dos exemplos, sucessos e fracassos de outros grupos do “pool” da insurgência. Células descentralizadas
são capazes de ver os sucessos de células com quem não têm comunicação direta, e porque as táticas são
relativamente simples, eles podem imitar rapidamente táticas bem-sucedidas e adaptá-las aos seus próprios
recursos e circunstâncias. Desta forma, as táticas de sucesso proliferam rapidamente entre os novos grupos,
mesmo com uma mínima comunicação underground.
Historiadores hipotéticos olhando para trás poderiam notar uma outra lacuna potencial da GED: seria necessário,
talvez, muitas pessoas envolvidas em táticas de risco e que as organizações de resistência não teriam os números
e persistência logística necessárias para a luta prolongada. Essa seria uma preocupação válida, e seria tratada
com proatividade, desenvolvendo redes de apoio eficazes desde o início. Claro, outros iriam sugerir estratégias –
tais como um movimento de massas de qualquer tipo – que requerem muito mais pessoas e redes de apoio muito
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maiores engajando-se na resistência. Muitas redes underground operam com um orçamento pequeno e, apesar de
precisarem de equipamento mais especializado, geralmente exigem muito menos recursos do que os movimentos
de massa.
Strategic Criteria Checklist
Continuing this scenario a bit further, historians asked: how well did Decisive Ecological Warfare rate on the
checklist of strategic criteria we provided at the end of the Introduction to Strategy (Chapter 12, page 385 of the
Deep Green Resistance book).
Objetivo
Esta estratégia tem um objetivo claro, bem definido e atingível.
Viabilidade
Esta estratégia tem um caminho claro de um ponto A para um ponto B a partir do contexto atual até o objetivo
pretendido, bem como contingências para lidar com contratempos e surpresas. Muitos acreditam ser uma
estratégia mais coerente e viável do que qualquer outra que eles tenham visto ser proposta para lidar com esses
problemas.
Limitações de recursos
Quantas pessoas são necessárias para um movimento de resistência sério e bem sucedido? Podemos obter um
número semelhante ao de movimentos de resistência históricos e insurgências de todos os tipos?
The French Resistance
Êxito indeterminado. Como observamos em “The Psychology of Resistance” (A Psicologia da Resistência).
capítulo: A Resistência Francesa foi composta por, no máximo, cerca de 1 por cento da população adulta, ou
cerca de 200,000 pessoas.[26] O governo francês pós-guerra reconheceu oficialmente 220,000 pessoas[27]
(embora alguns historiadores estime que o número de resistentes ativos poderia ter alcançado 400.000[28]).
Além de resistentes ativos, houveram cerca de 300.000 outros com participação substancial.[29] Se você incluir
todas as pessoas que estavam dispostas a assumir o risco de ler os jornais clandestinos da resistência, o total
de simpatizantes cresce para cerca de 10 por cento da população adulta, ou dois milhões de pessoas.[30] A
população total da França em 1940 era de cerca de quarenta e dois milhões de pessoas, logo, os resistentes
reconhecidos constituíam uma em cada 200 pessoas.
The Irish Republican Army
Bem sucedido. No auge da resistência irlandesa ao domínio britânico, a guerra irlandesa por Independência
(construída em 700 anos de cultura de resistência), o IRA tinha cerca de 100.000 membros (ou pouco mais de
2 por cento da população de 4,5 milhões), cerca de 15.000 dos quais participaram na guerra de guerrilha, e
3.000 dos quais eram combatentes em tempo integral. Alguns dos militantes mais críticos e decisivos formaram
o "Twelve Disciples" (Doze Discípulos), um pequeno número de pessoas que balançavam o curso da guerra. A
população da Inglaterra ocupada na época era de cerca de vinte e cinco milhões de pessoas, com outros 7,5
milhões na Escócia e País de Gales. Assim, a associação IRA era composta por uma em cada quarenta
pessoas irlandesas e uma em cada 365 pessoas no Reino Unido. Os Doze Discípulos de Collins eram um em
300.000 na população irlandesa.[31]
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The antioccupation Iraqi insurgency
Sucesso indeterminado. Quantos insurgentes estão operando no Iraque? As estimativas variam muito e são
muitas vezes politicamente motivadas, seja para fazer a ocupação parecer bem sucedida ou para justificar mais
repressão militar, e assim por diante. O Exército norte-americano estima em 2006 cerca de 8.000-20.000
pessoas.[32] As estimativas da inteligência iraquiana são mais elevadas. A população total é de trinta e um
milhões, com uma área de cerca de 438 mil quilômetros quadrados. Se há 20.000 insurgentes, então isso é um
insurgente para cada 1.550 pessoas.
The African National Congress
Bem sucedido. Quantos membros do CNA estavam lá? Por volta de 1979, o "underground político formal"
consistia de 300 a cada 500 pessoas, a maioria em grandes centros urbanos.[33] A população sul-africana era
de cerca de vinte e oito milhões, na época, mas os dados do censo para o período são notoriamente pouco
confiáveis, devido à não-cooperação. Isso significa que o número de membros formais do underground da ANC
em 1979 era de um em cada 56 mil.
The Weather Underground
Várias centenas inicialmente, diminuindo gradualmente ao longo do tempo. Em 1970, a população dos EUA era
de 179 milhões, então eles tinham literalmente um em um milhão.
The Black Panthers
Sucesso indeterminado. O pico de adesão foi em 1960 com mais de 2.000 membros em diversas cidades.[34]
Cerca de um a cada 100.000.
North Vietnamese Communist alliance during Second Indochina War
Bem sucedida. Força de cerca de meio milhão em 1968, contra 1,2 milhões de soldados anti-comunistas. Há
números que colocam o tamanho do exército Vietcong em 1 milhão de pessoas em 1964.[35] É difícil obter um
valor para o total de combatentes e não combatentes por causa do apoio logístico generalizado em muitas
áreas. A população em 1960 era de cerca de quarenta milhões (Norte e Sul), assim, em 1968, cerca de uma
em cada oitenta pessoas vietnamitas estavam lutando para os comunistas.
Spanish Revolutionaries in the Spanish Civil War
Tanto bem quanto mal sucedidos. A Confederação Nacional do Trabalho (CNT) na Espanha teve uma adesão
de cerca de três milhões no auge. A principal força motriz dentro do CNT foi a FAI anarquista, uma aliança de
grupos de afinidade militantes. A Federação Anarquista Ibérica (FAI) teve uma adesão de 5.000 a 30.000,
talvez pouco antes de revolução, um número que aumentou significativamente com o início da guerra. A CNT e
a FAI foram bem sucedidas em realizar uma revolução em parte da Espanha, mas, mais tarde, foram
derrotados em escala nacional pelos fascistas. A população espanhola era de cerca de 26 milhões. Assim,
cerca de um em cada nove espanhóis eram membros da CNT, e (adotando o valor mais elevado) cerca de um
em 870 espanhóis foi membro da FAI.
Poll tax resistance against Margaret Thatcher circa 1990
Bem sucedida. Cerca de quatorze milhões de pessoas mobilizadas. Em uma população de cerca de cinquenta
e sete milhões, que é cerca de uma em cada quatro (embora a maioria dessas pessoas tenha participado,
principalmente, por se recusarem a pagar um novo imposto).
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British suffragists
Bem sucedida. É difícil encontrar números absolutos para todas as sufragistas. No entanto, houve cerca de 600
sociedades não-militantes lutando pelo sufrágio feminino. Também havia militantes, dos quais mais de mil
foram para a cadeia. Os militantes fizeram todos os grupos - mesmo os sufragistas não-militantes - crescer em
números. Com base na população britânica da época, os militantes foram, talvez, uma em cada 15.000
mulheres, e havia uma sufragista não-militante para cada 25.000 mulheres.[36]
Sobibor uprising
Bem sucedida. Menos de uma dúzia no núcleo organizador e conspiradores. A maioria das pessoas fugiu do
campo de concentração e o acampamento foi fechado. Até esse ponto, talvez, um quarto de milhão de pessoas
tinha sido morto no acampamento. O núcleo organizador era constituído por talvez um de cada sessenta dos
ocupantes judeus do campo na época, e talvez um em 25.000 dos que tinham passado pelo acampamento no
caminho para a morte.
É claro que um pequeno grupo de pessoas inteligentes, dedicadas e ousadas pode ser extremamente eficaz,
mesmo que elas somem apenas uma em cada 1000, ou uma em cada 10.000, ou até mesmo uma em 100.000.
Elas são eficazes em grande parte por sua capacidade de mobilizar forças maiores, sejam os movimentos sociais
(talvez através de campanhas de não-cooperação, como na rejeição do pagamento dos impostos de Thatcher) ou
gargalos industriais.
Além disso, é claro que, se esse grupo central puder ser mantido, é possível que ele, eventualmente, amplie-se e
torne-se vitorioso.
Com tudo isso dito, os futuros historiadores discutindo esse cenário vão comentar que a GED foi projetada para
aproveitar ao máximo pequenos números, em vez de supor que um grande número de pessoas precise ser
alcançado para realizar uma ação oportuna. Se mais pessoas estivessem disponíveis, a estratégia seria ainda
mais eficaz. Além disso, eles podem comentar que esta estratégia tentou mobilizar as pessoas a partir de uma
ampla variedade de origens das formas que eram mais viáveis para ela; ela não depende exclusivamente de
militância (o que teria excluído um grande número de pessoas) ou em abordagens simbólicas (o que teria
provocado o cinismo que levaria ao fracasso).
Táticas
As táticas necessárias para a GED são relativamente simples e acessíveis, e muitas delas são de baixo risco. Elas
foram adequadas à escala e à seriedade do objetivo e do problema. Antes de colocarem a GED em prática, as
táticas necessárias não estavam sendo implementadas por causa de uma falta de estratégia global e de
desenvolvimento organizacional, tanto no aboveground quanto no underground.
No entanto, essa estratégia e organização não são tecnicamente difíceis de desenvolver - os principais obstáculos
são ideológicos.
Risco
Na avaliação do risco, os membros da resistência e futuros historiadores considerariam tanto os riscos de agir
como os riscos de não agir: os riscos da implementação de uma determinada estratégia e os riscos de não
implementá-la. No caso deles, a não realização de uma estratégia eficaz teria como resultado um planeta
destruído e a perda de séculos de esforços de justiça social. A não realização de uma estratégia eficaz (ou uma
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incapacidade geral de agir) teria matado milhares de milhões de seres humanos e não-humanos incontáveis.
Haveria riscos substanciais para tomar medidas decisivas, esses mesmos riscos é que levariam a maioria das
pessoas a se ater a formas simbólicas mais seguras de ação. Mas os riscos da inação seriam muito maiores e
mais permanentes.
Tempo
Se devidamente implementada, a Guerra Ecológica Decisiva seria capaz de realizar seu objetivo dentro de um
prazo adequado e em uma sequência razoável. Na GED, uma ação decisiva é ampliada tão rapidamente quanto
ela puder se basear na infra-estrutura de apoio subjacente. O ponto exato de impossibilidade de retorno para uma
mudança climática catastrófica é incerto, mas se houver historiadores ou qualquer outra pessoa viva no futuro,
saberão que a GED e outras medidas foram responsáveis por impedir esse nível de mudança climática. A maioria
das outras medidas propostas no início não estão sequer tentando fazer isso.
Simplicidade e Consistência
Embora um considerável contexto e conhecimento sejam necessários para levar a cabo esta estratégia, em sua
essência, ela é muito simples e consistente. É robusta o suficiente para lidar com eventos inesperados e poderia
ser explicada de uma forma simples e clara, sem jargões. A estratégia é adaptável o suficiente para ser utilizada
em muitos locais com diferentes contextos.
Consequências
Ação e inação ambos têm consequências graves. Um grave colapso - o que poderia envolver sofrimento humano
em larga escala - é assustador para muitos. Resistentes neste futuro alternativo acreditam em primeiro lugar que
um resultado terrível não é inevitável, e que eles podem fazer mudanças reais na forma como o futuro se
desenrolará.
1. Até mesmo o Exército dos EUA reconhecem isso agora. Confira o "US Military Warns Oil Output May Dip
Causing Massive Shortages by 2015" de Macalister
2. Aric e Derrick exploram a relação entre colapso, capacidade de suporte, racismo e Nazismo no capítulo de
conclusão de What We Leave Behind.
3. Logo após isto ser escrito, o governo da Espanha cancelou 24.000 milhões de dólares no valor dos
investimentos solares para evitar a espiral de uma crise da dívida nacional, que eles temiam que levasse a sua
economia ao colapso.
4. Leia o importante livro de Kevin Bales Disposable People: New Slavery in the Global Economy.
5. Leia "Adaptation of Forests and People to Climate Change" da International Union of Forest Research
Organizations. Além disso, a conversão de florestas em emissores de carbono por causa do aquecimento,
doenças, derrubadas e incêndios já está acontecendo (Kurz et al., "Mountain Pine Beetle").
6. Science Daily, "Regional Nuclear War Could Devastate Global Climate."
7. Science Daily, "Regional Nuclear Conflict Would Create Near-Global Ozone Hole, Says Study."
8. Bombas de cobalto são bombas nucleares com um invólucro de cobalto. Elas eram o "Engenho Apocalíptico"
no filme Dr. Strangelove. A precipitação normal tem uma meia-vida de dias, mas a precipitação da bomba de
cobalto tem uma meia-vida de mais de cinco anos. Alguns especialistas acreditam que as bombas de cobalto
podem literalmente destruir toda a vida na Terra.
9. Novacek et al., "The Current Biodiversity Extinction Event."
10. Leia, The Ages of Gaia: A Biography of Our Living Earth, de Lovelock .
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11. Amostras do fundo do Oceano Ártico mostram que cerca de 55 milhões de anos atrás, a região era tropical
por causa de um pico de CO2 atmosférico. A biota do oceano era pantanosa com sequóias e ciprestes densos
e "mosquitos do tamanho de sua cabeça". O ano todo a temperatura média foi de cerca de 23°C (74°F). Uma
vez que o círculo polar tem vinte e quatro horas de luz solar durante a maior parte do verão e vinte e quatro
horas de escuridão durante a maior parte do inverno, esta média deve ter estado associada com temperaturas
extremas notáveis. A maior parte do planeta era praticamente inabitável para os nossos padrões. O
crescimento das samambaias tolerantes ao calor eventualmente seqüestraram o carbono e fizeram com que o
planeta voltasse para um estado mais frio, mas que levou quase um milhão de anos para ocorrer. Veja, "Arctic
Circle—Ancient Vacation Hotspot?" da Associated Press.
12. Congressional Research Service, "Energy Use in Agriculture: Background and Issues."
13. Energy Information Administration, "EIA Annual Energy Review 2008," p. 3.
14. Lembre-se que, mesmo agora, com abundância de alimentos excedentes e habitação disponível, há dezenas
de milhões de refugiados em várias partes do mundo (sem contar os que foram arrancados de suas terras
tradicionais e reassentados em favelas urbanas).
15. Isso é crescimento populacional, o número de nascimentos diários menos o número de mortes diárias.
16. Por exemplo, Joseph Tainter escreve que "[a] sociedade entra em colapso quando ela exibe uma perda rápida
e significativa de um nível estabelecido de complexidade sócio-política."
17. Novamente, o critério aqui é baseado em Tainter.
18. Citado em um discurso de Dimitry Orlov, "Social Collapse Best Practices," ministrado em San Francisco em
February 13, 2009, online em http://cluborlov.blogspot.com/2009/02/social-collapse-best-practices.html
19. Markusen, The Holocaust and Strategic Bombing, p. 152.
20. Transcripts of the trial are a matter of public record. See "The Proceedings of the Trial of the Major War
Criminals before the International Military Tribunal at Nuremburg," vol. 15, p. 350, at
http://www.loc.gov/rr/frd/Military_Law/NT_major-war-criminals.html
21. Collins, Grand Strategy, p. 214.
22. Ibid., p. 230.
23. Pape, Bombing to Win, pp. 77-78.
24. Ibid., p. 317.
25. Pape discute como sua estratégia preferida de ataque à capacidade de transporte inimiga pode acontecer em
diferentes configurações. "Contra uma economia excepcionalmente dependente da importação", ele escreve,
"como o Japão na Segunda Guerra Mundial, a disrupção do transporte pode ser mais bem realizada
bloqueando rotas marítimas, usando o poder aéreo menos para o bombardeio do que para atacar navios e
minerações. Se as importações podem ser totalmente cortadas, a economia alvo entrará em colapso quando
os estoques domésticos estiverem esgotados, a marinha mercante japonesa foi essencialmente destruída até o
final de 1944, levando ao colapso da produção de guerra em meados de 1945". Mesmo o aumento do custo
das importações teria um efeito benéfico. Os piratas da Somália estão fazendo um excelente trabalho de
aumentar o custo do transporte internacional, por meio de atrasos e resgates, aumentaram os custos de
seguros e despesas militares para defender os navios. Até agora, a pirataria ao largo da costa da Somália nem
sequer exige angariação de fundos, é um empreendimento auto-suficiente.
Por outro lado, Pape escreve: "Contra uma economia relativamente rica em recursos, como a Europa
controlada pelos nazistas, uma interdição estratégica requer parar o fluxo de comércio ao longo das estradas
de ferro internas, auto-estradas e sistemas de canais, destruindo nós fundamentais (pontes, eclusas e estações
de triagem de ferrovias), movendo o tráfego, o material circulante e os cargueiros. Esta missão é difícil, porque
os sistemas de transporte comercial são grandes e redundantes e raramente são utilizados a plena
capacidade. Assim, os Estados Unidos não poderiam levar a economia alemã ao colapso rapidamente, mesmo
sendo as forças aéreas dos EUA muito superiores."
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26. Laffont, Dictionnaire historique, p. 399. This number is according to François Marcot, professor of history at the
Sorbonne.
27. Collins Weitz, Sisters in the Resistance, p. 10.
28. Paxton, Vichy France, p. 294.
29. Again, according to François Marcot.
30. Paxton, Vichy France, p 294.
31. Jefferies, "The UK Population."
32. BBC News, "Guide: Armed Groups in Iraq."
33. Barrell, "Conscripts to Their Age," p. 495. Interview with Mac Maharaj, IV/Maharaj.
34. Britannica, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/68134/Black-Panther-Party
35. Demma, "The U.S. Army," chapter 28.
36. These being very approximate numbers based on Mackenzie, Shoulder to Shoulder.
Note: Though the resistance movement will have different phases and parts, the Deep Green Resistance
organization is, will always be, and is committed to only being an aboveground group.
DEEP GREEN RESISTANCE BYLAWS
The bylaws lay out the Deep Green Resistance organizational structure. Download the full bylaws (docx), or read
this summary:
General
DGR is formed with the goal of advancing the aboveground strategies laid out in the book Deep Green Resistance:
Strategy to Save the Planet, including, but not limited to:
1. Building a culture of resistance against industrial civilization;
2. Normalizing the idea of underground resistance; and
3. Engaging in aboveground political struggles.
DGR members follow our Statement of Principles and Code of Conduct.
Steering Committee
The DGR Steering Committee helps the organization set policy and organize strategically for long-term, sustained
success. The committee consists of an advisory board with three permanent members, and four to eight members
elected each year by the general DGR membership.
View current members
Administrative Committee
The Administrative Committee members are appointed by the Steering Committee to perform the basic functions
that keep DGR running.
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Membership
Prospective members must agree to abide by the Statemont of Principles and Code of Conduct, be approved by
the Personnel Committee, and commit to paying regular dues and/or submitting periodic Member Action Proposals
for planned projects. Once accepted into DGR, members gain access to tools for internal communication, may vote
for the elected positions of the Steering Committee, and may request funds for projects.
Chapters
The basic unit of local DGR organization is the chapter. Most of the day-to-day decisions about DGR’s local
activities are made within chapters. Therefore, DGR places great importance on chapter organizing. DGR members
benefit from forming or joining DGR chapters by gaining a community of like-minded individuals and a formal
vehicle with which to do activism locally.
Chapters should meet locally at least once a month, and consider creating administrative roles, such as
coordinator, membership coordinator, contact coordinator, treasurer, and literature coordinator.
Meetings
DGR holds general conference calls, an annual member conference, and encourages regional and local gatherings
and meetings.
Caucuses
DGR provides spaces for marginalized classes to wield collective power and organize privately through caucuses.
Caucuses are accessible only to those who belong to the group for which it was created.
Conflict Resolution
The three-member Conflict Resolution Committee facilitates timely, supportive, and positive resolution of conflicts
for members of DGR with the goal of maintaining organizational effectiveness despite differences in personality or
opinion. This policy provides members an avenue to address and resolve interpersonal conflicts, grievances, and
complaints.
Finances
The Fundraising Committee gathers donations, which are distributed quarterly by the Treasurer in response to
Member Action Proposals. Funding decisions are based on DGR's strategic mission and action priorities.
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