Capítulo 2
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Capítulo 2
A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Capítulo 2 Este capítulo de Revisão Bibliográfica contém o levantamento histórico do setor, o início do uso de materiais poliméricos para a fabricação de móveis, assim como informações sobre o mercado nacional, normas, matérias primas e processos produtivos. 2.1 - Relato Histórico, Plásticos e o Mobiliário Após a 2ª Grande Guerra, a matéria prima polimérica teve uma excelente aceitação nos Estados Unidos e também na Europa, sendo que as primeiras utilizações do novo material na fabricação de móveis surgiram a partir dos anos 40. O arquiteto norte americano Charles Eames e o finlandês Eero Saarinen ganham o concurso promovido pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, “Organic Design in Home Furnishing”12, apresentando o que viria a ser a inspiração para concepções utilizando o material plástico, Figura 2.01. Este momento da história é considerado como a transição das formas orgânicas do meio artesanal para o ambiente industrial13. Dissertação de mestrado Marcos Breder Pinheiro para maiores informações: www.estudiobreder.com Figura, 2.01 – Cadeira com o qual Charles Eames e Eero Saarinen ganharam o concurso “Organic Design in Home Furnishing” Fonte: “The Work of Charles and Ray Eames”http://www.loc.gov/exhibits/eam es/images/vc9658.jpg 12 “Design orgânico em mobiliário doméstico”, tradução livre do autor. 13 Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003 e “The Work of Charles and Ray Eames” – http://www.loc.gov/exhibits/eames/, 08/04/2004. 7 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A utilização de técnicas de moldagem de folhas de madeira aperfeiçoada por Eames e Saarinem a partir das criações de Alvar Aalto, que na década de 30 havia usado com sucesso o compensado curvado em suas criações, serviu como uma previsão das possibilidades na utilização de materiais que permitissem uma maior moldabilidade, como mostra a Figura 2.02 (B/C). Como precursor na utilização de técnicas de moldagem de madeira está o Alemão Michael Thonet, que influenciou notavelmente o design de móveis desde o lançamento de sua cadeira número 14, em meados do século XIX, Figura 2.02 (A). A B C Figura, 2.02 – (A) Cadeira nº 14 desenhada pelo Alemão Michael Thonet utilizando técnicas de madeira curvada à vapor em meados do século XIX. Cadeira que em 1891 contabilizava quase 800 mil unidades vendidas. (B/C) – Mobiliário desenvolvido pelo finlandês Alvar Aalto utilizando compensado curvado, servindo posteriormente de inspiração para as criações de Charles Eames e Eero Saarinen. (A) Modelo nº 41 de 1931 e (B) Modelo nº 43 de 1936. Fonte: “Design Industrial A-Z”, 2001. Pág 518 e “1000 chairs”, 2001. Págs 221 e 223. Posteriormente, através de determinadas técnicas e materiais, Eames e Saarinen conseguiram viabilizar a construção de um assento em forma de concha em uma peça única (Figura 2.03). Saarinen foi o primeiro a aplicar o novo material poliéster (termorrígido14) com fibra de vidro, utilizando-o em “Womb Chair” entre 1946 e 1947, mas como estrutura e não como elemento principal, sendo revestida com espuma de látex. Foi posteriormente produzida em larga escala pela empresa norte americana Knoll. 14 Polímero termofixo ou termorrígido se caracteriza por apresentar a fusão irreversível do material quando aquecido, e quando neste estado apresenta a formação de ligações cruzadas intermoleculares, resultando em uma estrutura rígida, reticulada, que impossibilita a solubilidade e fusão do material. [SPERLING, 1992] e [MANO, E.B. 1999]. 8 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A Dissertação de mestrado B Marcos Breder Pinheiro Figura, 2.03/ A-B – Molde utilizado para fabricação de cadeiras e cadeiras fabricada através da técnica de moldagem de compensado aperfeiçoado por para Charles Eames einformações: Eero Saarinen. Projetos de maiores Charles Eames Fonte: “The Work of Charles and Ray Eames” – http://www.loc.gov/exhibits/eames/, 08/04/2004. www.estudiobreder.com Em 1948 o Museu de arte moderna lança um novo concurso “Internacional Competition for Low-Cost Furniture15”, e Charles e sua esposa Ray Eames ganham o segundo lugar com “La Chaise” uma cadeira “em formas orgânicas e confortáveis para o corpo humano” 16 , inspirada na escultura "Floating Figure" do francês Gaston Lachaise datada de 1927 [COUTINHO, B. 2000] e [HUFNAGL, F. 1998]. 15 “Concurso internacional para mobiliário de baixo custo”, tradução livre do autor. COUTINHO, Bárbara. Cronologia do Museu do Design, Fundação Centro Cultural de Belém/ Lisboa / Portugal. 2002 16 9 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A Figura 2.04 mostra a construção de “La Chaise” por Charles e Ray Eames através da moldagem de resina termorrígida e também a escultura que inspirou sua concepção. Curiosamente esta peça só entrou em fabricação em série no ano de 1990 [HUFNAGL, F. 1998]. Dissertação de mestrado Marcos Breder Pinheiro C para maiores informações: B A www.estudiobreder.com E F D Figura, 2.04/ A-F – Cadeira “La Chaise” (A e B) desenvolvida por Charles Eames e sua esposa Ray, inspirada na escultura de Gaston Lachaise (C). Sistema de fabricação utilizando resina termofixa de poliéster reforçado com fibra de vidro (D e E). Imagem (F), peça sendo extraída do molde pelos próprios Charles e Ray Eames (F). Fonte: “The Work of Charles and Ray Eames” – http://www.loc.gov/exhibits/eames/, 08/04/2004. No mesmo concurso “Internacional Competition for Low-Cost Furniture”, Edgar Kaufman Jr., Robert Lewis e James Prestini apresentam o protótipo da primeira cadeira monobloco de plástico17. As cadeiras fabricadas com o material polimérico entram em produção no início da década de 50 e se tornam um expoente representativo daquela década, levando o novo material para os lares norte americanos e europeus. Tal fato destacou Charles e Ray Eames como grandes precursores na utilização dos materiais poliméricos nas mais variadas aplicações, Figura 2.05 [GREENBERG, C.1985] e [HUFNAGL, F. 1998]. 17 Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003 10 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A C B D Figura, 2.05/ A-D – Cadeiras desenvolvidas por Charles Eames utilizando resina termofixa poliéster reforçado com fibra de vidro. (A) Zenith, 1948; (B e D) cadeira DAR, 1948 e (C) cadeira RAR, 1948. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 276 e 277. O aprimoramento nos meios de produção, assim como no desenvolvimento dos plásticos, tornam-se uma vantagem competitiva e proporcionam preços mais acessíveis aos produtos tornando-os largamente utilizados pelas famílias norte americanas e posteriormente de todo o mundo. Os móveis de plástico invadiram o ambiente do lar por sua praticidade e beleza, sendo também associados ao conceito de modernidade, Figura 2.06 [GREENBERG, C.1985]. Figura, 2.06 – Imagem do catálogo de divulgação dos produtos de Charles e Ray Eames para empresa norte americana Herman Miller, demonstrando os hábitos da família tradicional ,década de 1950. Fonte: ”Mid-Century Modern, Furniture of the 1950s”,1995. Pág 27. 11 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Os meios de produção que no inicio da utilização dos materiais poliméricos eram artesanais (Figura 2.04), passam a figurar no ambiente industrial da época. A Figura 2.07 mostra uma linha de produção de móveis em material termorrígido, dividida em seções: à esquerda o acabamento final dos assentos, ao fundo setor de pintura e à direita a montagem final das peças. Apesar de primária para os dias atuais, esta linha de produção representa um aprimoramento na utilização da produção de móveis em série utilizando os materiais poliméricos como matéria prima. Figura, 2.07 – Linha de montagem de produtos de Charles e Ray Eames utilizando a resina termofixa poliéster reforçado com fibra de vidro, sendo posteriormente pintado e acrescido de base em materiais metálico. O operário em primeiro plano passa cola em uma borracha para amortecer o choque com a estrutura metálica. Fábrica em Zeeland, Michigan, Estados Unidos. Fonte: ”Mid-Century Modern, Furniture of the 1950s”, 1995. Pág 24. 12 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Os anos 50 caracterizaram-se também por uma profusão de novas concepções, pela utilização de materiais poliméricos termorrígidos com algumas aplicações de materiais termoplásticos, além de móveis em metal e madeira. Nesta década se destacam juntamente com os Eames, o arquiteto norte americano George Nelson com suas cadeiras MAA e DAF, e Erwine e Estell Laverne com suas cadeiras em vidro acrílico e fibra de vidro, Figura 2.08 [GREENBERG, C.1985] e [FIELL, C.J. 2001]. A B C D Figura, 2.08/ A-D – Cadeiras desenvolvidas durante os anos 50, utilizando resinas termofixas reforçadas com fibras de vidro (A, B e D), e materiais termoplásticos como o Acrílico (C) moldado por compressão. (A) Cadeira MMA, 1958; (B) cadeira DAF, 1956; (C) cadeira Champagne, 1957 e (D) cadeira Lótus, 1958. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 321, 320, 310 e 311. Na Europa, onde o experimento com o novo material havia apenas começado, o arquiteto dinamarquês Arne Jacobsen se fez presente com cadeiras desenvolvidas para complemento de seu projeto para o Hotel SAS, utilizando a fibra de vidro como estrutura revestida com espuma. Arne Jacobsen havia anteriormente trabalhado com a execução de cadeiras utilizando a técnica desenvolvida pelo norte americano Charles Eames e pelo finlandês Eero Saarinen (o uso de lâminas de madeiras prensadas), seguindo na Europa o caminho trilhado pelos dois arquitetos [FIELL, C.J. 2001] e [SPARKE, P.1999]. O trabalho de Eero Saarinen também se faz presente nesta década com o mobiliário utilizando o material termorrígido e a fibra de vidro, mas com a inserção de elementos estruturais em alumínio fundido, na linha batizada de “Tulip”, Figura 2.09 [FIELL, C.J. 2001]. 13 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica B A C Figura, 2.09/ A-C – Concepção da linha “Tulip” (Tulipa) pelo arquiteto finlandês Eero Saarinen. A imagem A ilustra parte da concepção do projeto, seguido pelas peças (B e C) Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 318 e 319. A euforia pelo material plástico permaneceu por toda a década de 1960 e início dos anos 70, tempo dominado pela tecnologia associada às viagens espaciais e pelos idealismos sociais. Através do mobiliário, o plástico representava a tecnologia associada à conquista do espaço e também a democratização dos modos de vida, podendo ser utilizados por diversos níveis da sociedade devido a seu baixo custo através da produção em larga escala, Figura 2.10 [HUFNAGL, F. 1998]. A D B C E F Figura, 2.10/ A-F – Móveis bastante utilizados durante a década de 1960. Fabricados em material termofixo reforçado com fibra de vidro (A,B,C,D e E) ilustram as possibilidades fabrís da época, bem como o estilo orgânico adotado em todas as concepções. A imagem F representa a utilização do material termoplástico acrílico, moldado por compressão; técnica utilizada anteriormente para a fabricação de escotilhas para aviões na Segunda Grande Guerra. (A e B) Garden Egg, 1968; (C) Pastille, 1967; (D) Armchair, 1967; (E) Ball, 1963 e (F) Bubble, 1968. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 426, 427, 428 e 429. 14 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Um marco no mobiliário de plástico foi a criação da cadeira “Poliprop” pelo designer Inglês Robin Day (Figura 2.11). Pela primeira vez, o processo de injeção de termoplásticos foi utilizado para a fabricação de uma peça do mobiliário. Em forma de concha, unindo encosto e assento, a cadeira “Poliprop” foi inspirada nas cadeiras de Charles e Ray Eames. [FIELL, C.J. 2001]. Dissertação de mestrado Marcos Breder Pinheiro para maiores informações: www.estudiobreder.com Figura, 2.11 – Cadeira “Poliprop” desenvolvida por Robin Day, 1962. Cadeira empilhável, que por seu baixo custo obtido pela utilização da moldagem de injeção de termoplástico tornou-se um sucesso de vendas em todo o mundo. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Pág 387. Desenhada para a empresa também inglesa Hille & Co. Ltd, esta peça do mobiliário foi um grande sucesso de vendas, alcançando cerca de 14 milhões de unidades vendidas desde 1963, ano de seu lançamento até o ano de 2000, sendo por isso exaustivamente copiada por diversas empresas, inclusive no mercado nacional [FIELL, C.J. 2001]. No continente europeu, principalmente na Itália, empresas e designers trabalham em conjunto no desenvolvimento de novos produtos utilizando o material polimérico. Empresas como Kartell e Artemide permitiram aos seus desenhistas a inserção de suas criações no mundo dos plásticos, originando o princípio do que viria a ser uma forte tendência no mundo contemporâneo [FIELL, C.J. 2001]. 15 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A empresa italiana Kartell teve desde muito cedo vocação para trabalhar com os materiais poliméricos, a começar por seu fundador Giulio Castelli, engenheiro químico pela Universidade Politécnico de Milão (Itália), que teve como professor Giulio Natta, o descobridor do Polipropileno. Vislumbrando inúmeras possibilidades no novo material, Castelli funda a empresa Kartell em 1949, iniciando a fabricação de peças e produtos para o setor automotivo e para o setor farmacêutico. No ano de 1953 inicia a produção de móveis [FIELL, C.J.2000] e [HUFNAGL, F.1999]. As inovações técnicas da empresa, bem como sua visão estratégica, ficam evidentes através do lançamento da cadeira modelo número 4999, desenhada por Richard Sapper e Marco Zanuso. Este produto foi concebido para o público infantil e foi fabricado em polietileno a partir do ano de 1964 (Figura 2.12). Zanuso: “Este novo material, de fato, permitiu-nos repensar as características estruturais e formais da cadeira... era indestrutível e bastante leve para que não machucasse ninguém, ainda que fosse muito dura para ser danificada” [FIELL, C.J.2000]. A B Figura, 2.12 / A-B – Cadeira Modelo Nº 4999 (A) e cadeira em montagem como brinquedo (B), ressaltando os atributos do material e do projeto. Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Pág. 422 e”El diseño en el siglo XX”, 1999. Pág. 231. 16 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Em 1961 o italiano Vico Magistretti desenha a cadeira Selene, produzida pela empresa italiana Artemide no ano de 1969. Fabricada em poliéster reforçado com fibra de vidro, representou o desejo do designer em conceber uma cadeira que apresentasse os quatros pés tradicionais, e adotasse a forma em “s” para fortalecer a estrutura. No ano de 1970 desenha a cadeira Gaudí, fabricada também pela empresa Artemide em poliéster reforçado com fibra de vidro, Figura 2.13 [FIELL, C.J. 2001]. A B Figura, 2.13 / A-B – Cadeira Selene (A) e cadeira Gaudí (B), ambas em termofixo poliéster reforçado com fibra de vidro. Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Págs. 444 e 486. Outro expoente nos móveis de plástico foi a cadeira desenvolvida por Verner Panton, primeira cadeira monobloco fabricada pelo processo de injeção de espuma de poliuretano a ser produzida em série, Figura 2.14 [FIELL, C.J. 2001]. Figura, 2.14 – Cadeira Panton, hoje fabricada pelo processo de injeção de termoplástico em polipropileno. Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Pág. 425. 17 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A cadeira Panton (Figura 2.14) foi concebida em 1959 e foi produzida pela empresa alemã Vitra para a empresa norte americana Herman Miller Furniture, a partir do ano de 1968. Foi posteriormente fabricada pelo processo de injeção de termoplástico (Polipropileno), sendo reeditada em 1990 pela Vitra, estando ainda em produção. [SPARKE, P.1999] e [HUFNAGL, F. 1998]. A empresa Kartell lança em 1967 a cadeira Universale, desenhada em 1965 por Joe Colombo, validando o potencial produtivo e inovador da empresa. Foi a primeira cadeira fabricada totalmente pelo processo de injeção de termoplástico, apresentando quatro pés desmontáveis; é empilhável e foi fabricada em ABS18. Devido às boas qualidades de moldabilidade na conformação pelo processo de injeção de termoplástico e pela sua resistência mecânica, o ABS se tornou bastante popular, ganhando o apelido de “aço tubular da década de 6019”. Foi posteriormente produzida em nylon, até o ano de 1975, e, desde então, é fabricada em Polipropileno. Figura 2.15 [FIELL, C.J. 2001] e [HUFNAGL, F. 1998]. Dissertação de mestrado Marcos Breder Pinheiro para maiores informações: www.estudiobreder.com Figura, 2.15 – Cadeira Universale, a empresa Kartell. Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Pág. 424. 18 Terpolímero de acrilonitrila, butadieno e estireno. Nomenclatura em inglês:acrylonitrile, butadiene, styrene. 19 HUFNAGL, Florian. Plastics+Design, Arnoldsche Art Publishers, 1998. 18 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Como um paralelo alemão para o racionalismo italiano20, a cadeira Bofinger desenhada por Helmut Bätzner foi fabricada em poliéster moldado por compressão reforçado com fibra de vidro (Figura 2.16). Foi apresentada pela primeira vez na Feira de Móveis de Colônia, Alemanha, em 1966, como a primeira cadeira de material termorrígido monobloco produzida em série. Era moldada por pressão a quente em uma prensa de dois moldes com dez toneladas de peso, com ciclos de produção de cinco minutos [FIELL, C.J. 2001]. A B Figura, 2.16 / A-B – Cadeira Bofinger demonstra as praticidades do empilhamento e da utilização de diversas cores (A / B). Resina termorrígida e poliéster reforçado com fibra de vidro. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Pág 434. As peças do mobiliário fabricadas em plástico não se restringiram somente às cadeiras, mas também a pequenas peças de complemento, como a banqueta Tan-Tan, feita de duas peças idênticas que se encaixam entre si. Esta banqueta vendeu cerca de 10 milhões de unidades durante a década de 1970, sendo relançada no ano de 200221 (Figura 2.17). 20 Nome que recebeu o movimento italiano surgido em 1926, através de grupo de arquitetos conhecidos como o “grupo dos sete”, famoso durante a década de 30. Influenciados por designers alemães e franceses, os racionalistas procuravam extrair ao máximo o espaço e os materiais. O racionalismo influenciou notavelmente o design italiano nos anos pós guerra, ganhando o nome de “Bel Design”. Na Alemanha ganhou o nome de “Guten Form” [SPARKE, P.1999]. 21 Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003 19 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Figura, 2.17 – Banqueta Tan-Tan. www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003. O ano de 1973 marcou o surgimento de uma nova concepção no então recente mercado de móveis utilizando matérias primas plásticas. O francês Henry Massonnet, autor também da banqueta Tan-Tan, desenvolveu a cadeira com braços Java e, com o objetivo de desenvolver e comercializar seus produtos criou a empresa Stamp, ainda hoje existente22. A criação desta peça (Figura 2.18), utilizando material termoplástico através do processo de injeção foi um marco na criação das peças monobloco. Figura, 2.18 – Cadeira de braço Java, projeto de Henry Massonet, concebida em 1973, influenciaria uma série de produtos nos anos seguintes. Fonte: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003. 22 Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003 20 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A concepção da cadeira Java influenciou centenas de outros modelos pelo mundo, valendo-se de sua solução construtiva. Os pés em forma de “L” proporcionam uma maior rigidez ao plástico comparado com o mesmo material na forma plana, fato que, unido à menor quantidade de material termoplástico utilizado, viabilizou sua fabricação em larga escala. A solução construtiva deste produto também teve sucesso em outro item no qual diversas outras cadeiras falharam: o empilhamento. Esta possibilidade de empilhamento representara uma grande vantagem frente à diversos modelos de cadeiras, até mesmo com relação às fabricadas em outros materiais, pois além de leves e baratas, a economia de espaço no armazenamento e transporte proporcionaria a difusão na utilização desse produto. Dessa forma, o modelo criado por Henry Massonnet foi o precursor dos móveis de plástico utilizando os materiais termoplásticos e representa o cerne histórico para esta pesquisa, uma vez que todas as empresas nacionais pesquisadas baseiam seus produtos nesta concepção. Para descrever o mercado nacional deste segmento é preciso partir desse produto, por ser este o preciso momento onde a união de materiais, processos produtivos e design proporcionaram um salto adiante nos móveis de plástico durante a década de 1970. Posteriormente foi lançado o modelo Boston, também em Polipropileno, para produção pela mesma empresa Stamp (Figura 2.19). Foi desenhada por Pierre Paulin a pedido de Henry Massonnet23, e representa juntamente com a cadeira Java, a referência para o desenvolvimento de produtos por diversas empresas, influenciando diretamente as empresas nacionais. 23 Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003 21 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Figura, 2.19 – Cadeira de braço Boston, segue as soluções construtivas do modelo Java, ambas fabricadas pela empresa francesa Stamp. Fonte: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003. Em confirmação à tendência de cadeiras feitas de materiais termoplásticos, Pierre Paulin desenha em 1978 a cadeira Dangari (Figura 2.20) para a empresa francesa Allibert. Esta empresa ocupava um lugar predominante no já amplo setor de mobiliário para jardins utilizando a então tecnologia de vanguarda para produção em escala de cadeiras monobloco: o processo de injeção. Processo este que possibilitou a produção em grandes quantidades desta peça que também utiliza o Polipropileno como matéria prima [FIELL, C.J. 2001]. Figura, 2.20 – Cadeira Dangari em polipropileno. Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Pág. 525. 22 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A utilização do plástico teve uma significativa redução a partir da crise do petróleo de 1973, quando motivado por fatores políticos, o preço do barril foi quadruplicado, passando de US$ 2,9 em setembro para US$ 11,65 em dezembro daquele mesmo ano. Os países exportadores de petróleo passaram de um superávit de US$ 40 bilhões para US$ 82,4 bilhões em 1974. Os países importadores, no entanto, tiveram um déficit de US$ 12,4 bilhões, o que evidenciou a dependência existente do petróleo, gerando um impacto na economia global. O óleo cru sobe 300%, forçando um aumento de 200% no preço do etileno, o principal insumo da indústria petroquímica, ocasionando uma elevação de 50 a 100% no preço de polímeros sintetizados por via petroquímica24. Nesse mesmo ano, ironicamente, a produção de plástico havia superado a do aço, tomando como base o volume de material fabricado [COSMO, 2004] e [FOLHA, 2004] No ano de 1974, patentes para a produção do Polipropileno expiraram, o que motivou a construção de inúmeras plantas industriais na Europa para a produção dessa resina. Tal massificação do Polipropileno devido à grande quantidade produzida para as mais diversas aplicações, fez com que seja apelidado de “o novo aço doce” 22 devido à esta versatilidade [GORNI, A.A.2003]. A conseqüência deste período é sentida na fabricação e no desenvolvimento de produtos, uma vez que “os consumidores preferem agora designs que retornam ao trabalho manual, materiais tradicionais, formas menos esbanjadoras25”. As experiências não estão mais em voga, ficando os plásticos com a reputação de baratos e de mau gosto, sendo considerados um problema para o meio ambiente. Começam as primeiras investidas na reciclagem dos materiais poliméricos [HUFNAGL, F. 1998]. 24 [GORNI, A.A.2003]. A evolução dos materiais poliméricos ao longo do tempo, http://www.gorni.eng.br/hist_pol.html, 13/06/2004. 25 HUFNAGL, Florian. Plastics+Design, Arnoldsche Art Publishers, 1998. Pág 38. 23 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Ainda na década de 70, mais especificadamente no ano de 1979, acontece a segunda crise do petróleo, quando países do Oriente Médio entram em guerra, provocando desespero nos países importadores de petróleo. O preço do petróleo sobe ainda mais, de US$ 13 para US$ 34, estabilizando em US$ 15 nos meses seguintes, mas ainda assim, dificultando o uso dos materiais poliméricos em larga escala [MARRUAZ, 2004] e [COSMO, 2004]. No ano de 1986 o preço do barril de petróleo baixou, voltando à mesma cotação dos anos 60, cerca de US$ 10 o barril, fazendo que a utilização dos materiais poliméricos voltasse à tona, apesar dos conflitos que estavam por acontecer no Oriente Médio no início da década de 90. A Figura 2.21 mostra a oscilação do preço do petróleo de 1970 até o ano 2000. [COSMO, 2004]. Figura, 2.21 – Relação do preço do petróleo de 1970 até o ano de 2000. Destacam-se os picos no final do ano de 1973 e em 1980, referentes às duas principais crise do petróleo. Valores corrigidos. Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/petroleo_choque1.shtml com base no Federal Reserve, 27/04/04. Contudo, o período de instabilidade em relação ao petróleo promoveu uma conscientização a cerca dos recursos naturais que se iniciaria em todo o mundo, de forma a promover uma maior consciência ecológica, proporcionado uma análise mais profunda dos impactos ambientais ocasionados pela industrialização desenfreada e pela grande produção dos bens de consumo, e conseqüentemente, pela geração de resíduos. 24 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica A aplicação dos plásticos no mobiliário ressurge ainda na década de 80, mas contando agora com uma diversidade de materiais, assim como de processos produtivos. Os materiais termoplásticos compõem quase a totalidade das aplicações no mobiliário, pois os materiais termorrígidos provaram-se ineficientes para a requerida reciclabilidade dos produtos, fruto principalmente dos anos da crise energética que propiciou o início desta conscientização ambiental. 2.2 - As Empresas Nacionais O mercado nacional de móveis de plástico, representado pelas cadeiras monobloco é identificado exclusivamente por produtos que declinam das versões desenvolvidas na década de 1970 na França, por Henry Massonnet e Pierre Paulin, Figura 2.22. A B Figura, 2.22 – Cadeiras Java (A) e Boston (B), concepções da década de 1970 que inspiram o design de diversos produtos pelo mundo, inclusive no Brasil. Fonte: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003. De uma forma muito clara e específica, os produtos nacionais são caracterizados por apresentarem a mesma concepção construtiva adotada nas cadeiras francesas Java e Boston (Figura 2.22), e utilizam o mesmo material termoplástico, o Polipropileno. 25 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Apresentam pés, braços e encostos utilizando sistema de reforço através da estruturação em forma de “L” ou “U”, que conferem maior resistência na utilização do material polimérico. Apresentam também no que se refere ao design, a mesma origem, ou seja, todas as concepções fabricadas pelas empresas nacionais são oriundas da concepção francesa, apresentando diferenças relacionadas ao tamanho de encosto e assentos à existência ou não de braços, e pequenas variações no estilo desses componentes. A Figura 2.23 apresenta o processo de fabricação de uma cadeira de plástico monobloco, seguida da Figura 2.24 com os produtos das empresas nacionais. Dissertação de mestrado Marcos Breder Pinheiro para maiores informações: www.estudiobreder.com Figura, 2.23 – Processo de injeção de uma cadeira de plástico, extração do molde. Fonte: Garden Chairs: an example of synergy between injection moulding and integral skin Polyurethanes, 1999. Pág 06. 26 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica B A E C F G D H I Figura, 2.24 – Produtos das empresas nacionais. (A) Poltrona Confort, Moderna Plásticos Ltda; (B) Cadeira 901, Plascari; (C) Cadeira Grosfillex, Grosfillex do Brasil Ltda; (D) Poltrona Orquídea, Marfinite; (E) Cadeira Kaffee, Dolfin; (F) Poltrona Guarapari, Tramontina Delta Ltda; (G) Cadeira Dunas, Verona Garden; (H) Poltrona Olímpia, Plagon Plásticos do Nordeste Ltda; (I) Cadeira Geórgia, Limpac Pisani. Fonte: Site das respectivas empresas. Este mercado de cadeiras de plástico monobloco teve seu início no Brasil a partir de 1991 com a abertura às importações, quando começaram a ser comercializadas cadeiras fabricadas em diversos países. No ano de 1996, a importação de móveis de plástico chegou a cerca de 13 milhões de dólares, participando com 17% do total das importações nacionais daquele ano e representando cerca de 14% das importações no ano de 1997 [ABIMOVEL, 2003] e [INMETRO, 2003]. Nos anos seguintes, desmotivadas pelo cambio desfavorável e com o Dólar mantendo uma relação em média de 1x3 com o Real, as importações diminuíram, movimentando no ano de 2000 cerca de 3,2 milhões de dólares e no ano de 2001 cerca de 2,8 milhões, não havendo importações em 2002. Neste mesmo ano é observado um movimento nas exportações, cerca de 2,1 milhões de dólares, seguido de 640 mil dólares apenas no primeiro trimestre de 2004 [ABIMÓVEL, 2003]. Motivado por este cenário, principalmente através das possibilidades apresentadas na década de 90, empresas fabricantes de móveis de plástico cresceram e aprimoraram sua atuação no mercado nacional. Foram catalogadas 9 empresas fabricantes de móveis de plástico, entre elas, Tramontina Delta Ltda, Moderna Indústria de Plástico e Moveis Ltda, Limpac Pisani Ltda, entre outras (Tabela 2.01) [ABIPLAST, 2002] e [INMETRO, 2004]. 27 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Tabela, 2.01 – Relação das empresas nacionais produtoras de móveis de plástico. Fabricantes Origem Limpac Pisani Ltda Rio Grande do Sul Dolfin Ind. e Com. Ltda São Paulo Moderna Ind. de Plástico e Móveis Minas Gerais Grosfillex do Brasil São Paulo Marfinite Produtos Sintéticos Ltda São Paulo Plagon Plásticos do Nordeste S.A. Pernambuco Plascari Ind. Plástica Ltda Rio Grande do Sul Tramontina Delta Ltda Pernambuco Verona Garden Ltda Ceará Fonte: [ABIPLAST, 2002] e [INMETRO, 2004] Algumas das empresas, como a francesa Grosfillex, atuando como Grosfillex do Brasil Indústria e Comércio Ltda, segundo observações do autor, se instalaram no país motivadas pelo atendimento da demanda de mercado existente, mas também pela possibilidade de exportações amparadas pela desvalorização da moeda nacional em relação ao Dólar e ou ao Euro, favorecendo o valor de exportação do produto se comparado com o produzido em países desenvolvidos. Deve ser ressaltado que os produtos fabricados e vendidos no mercado nacional apresentam uma defasagem tecnológica em relação aos produtos surgidos no início da década de 90 na Europa e nos Estados Unidos (Item 2.3, Capítulo 2). Os móveis de plástico nacionais apresentam “problemas de qualidade e acomodação” e são “frágeis e pouco confortáveis” [Revista Consumidor S.A de abril/ maio de 2003]. Os produtos nacionais têm ainda deficiências no projeto, apresentando “assentos curtos e escorregadios”, o que indica a não utilização de profissionais qualificados em desenvolvimento de produtos, que poderiam melhorar as condições ergonômicas e a interação com o usuário [Revista Consumidor S.A de abril/ maio de 2003]. 28 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Tais ocorrências podem ser em conseqüência da aquisição do molde de injeção vindo de outros países, onde os padrões antropométricos, questões sócio-culturais e objetivos na fabricação da peça podem determinar tais diferenças. Esta prática pôde ser confirmada na empresa Grosfillex: “O desenvolvimento dos produtos Grosfillex é feito totalmente dentro de nossa fábrica, porém em nossa Matriz na França. Aqui no Brasil, apenas trazemos os moldes que por ventura sejam itinerantes (Brasil, França e EU), e ou temos moldes próprios comprados da nossa Matriz” 26. Esta prática também foi verificada na empresa Tramontina Delta, que sinalizou a intenção de comprar moldes de empresas italianas e pela empresa Verona através de seu site na internet27. Através da etiqueta de um de seus produtos, a empresa Moderna o apresenta como de “design italiano”, o que sugere a origem do molde (Figura 2.25). Figura, 2.25 – Etiqueta adesiva de um produto da empresa Moderna Ind. de Plástico e Móveis, indicando origem do molde. Fonte: Arquivos do autor, 2003. Esta prática de aquisição de moldes de outras empresas evidencia a posição defasada da industria nacional frente às estrangeiras, pois estão produzindo peças que já tiveram a produção exaurida em outros mercados. Fabricam para o mercado interno um produto que já não é mais usado no país de origem, proporcionando o acesso da população nacional à um produto de segunda linha ou ultrapassado. Baseado na prática adotada pela empresa Grosfillex, a compra de moldes da matriz proporciona também a exportação de seus produtos para outros países, mas não pela qualidade do mesmo, e sim pelo preço relativo às exportações, devido à já citada diferença cambial. 26 27 Relato por e-mail através do Departamento Comercial. http://www.veronagarden.com.br, 27/04/2004. 29 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica O modelo de desenvolvimento de produtos adotado pelas empresas nacionais evidencia uma subserviência em relação ao mercado global, fabricando um produto ultrapassado, com pouco valor agregado e que vai de encontro aos interesses econômicos dos países desenvolvidos em exportarmos “commodities” 28. Foi constatado ainda uma característica comum à todas as empresas nacionais. São empresas especializadas na fabricação de produtos em plástico e não na fabricação de móveis. A atenção estratégica das empresas é voltada principalmente para a matéria prima e não para o produto; não existe uma definição clara de que os lançamentos baseiam-se em uma necessidade do mercado. A indústria nacional de móveis de plástico não mantém nenhuma relação com o setor de móveis, não há uma integração de demandas, nem mesmo adequação às tendências observadas no setor moveleiro, o que evidencia a vocação das empresas em fabricar móveis em conseqüência da matéria prima e não pelo setor e ou produto. De fato, as empresas mantêm o foco na fabricação de móveis de plástico voltados para o uso em áreas externas, em estabelecimentos comerciais (bares e restaurantes) e residências (sítios, casas de veraneio, varandas de apartamentos). Portando, uma vez que existem poucas e sutis diferenças entre o design dos produtos, a tendência é a atuação no mercado com margens de lucros reduzidas, com grande oferta de produtos a preços relativamente baixos, a fim de viabilizar a sua comercialização. “O aumento no consumo desse produto deve-se, principalmente, ao seu baixo preço e à versatilidade de sua utilização” [INMETRO, 2003]. Quanto menor a diferenciação entre os produtos, menor valor agregado e menores margens de lucro. 28 Do inglês, “mercadoria, bem consumível”. MICHAELIS, Dicionário, Editora Melhoramentos, 2001. Termo usado para referenciar produtos de baixo valor agregado, cujo preço é devido quase exclusivamente à sua matéria prima. Como exemplo pode ser citado a exportação do minério de ferro brasileiro, como “commoditie” e a importação de bens de consumo de alto valor agregado, como automóveis. Por valor agregado entende-se os atributos ou qualidades do produto que possibilitam maior margem de lucro. 30 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Em conseqüência deste mercado muito competitivo, algumas empresas “na tentativa de baixar seus preços”, praticam desde a “redução na utilização de aditivos que conferem melhores propriedades mecânicas ao produto final, até a redução da quantidade de resina (Polipropileno) utilizada na fabricação das cadeiras, reduzindo sua espessura e conseqüentemente sua resistência mecânica. Outro método utilizado com a finalidade de diminuir o custo de fabricação das cadeiras plásticas é reduzir a utilização de estabilizantes, aditivos que retardam a degeneração do Polipropileno ocasionada pela exposição aos raios solares” [INMETRO, 2003]. No ano de 1998 o INMETRO realizou testes com doze marcas de cadeiras de plástico e somente 25% delas foram aprovadas, reforçando a importância de uma normatização para o setor29.Tal normatização ocorreu com a criação da norma NBR 14776 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas / ABNT, item 2.2.1, com cópia nos anexos da dissertação. Contudo, mesmo após a criação da norma, alguns fabricantes ainda apresentam produtos de baixa qualidade. Em teste divulgado no ano de 2004, “nenhuma das onze marcas analisadas atendeu aos requisitos da norma “quanto à presença visível do nome do fabricante ou importador, do número da norma (NBR 14776), da data de fabricação (mês/ano) e das condições de uso”. Uma das marcas não apresentou conformidade no que se refere às dimensões estipuladas pela norma, e nos testes que simula a utilização pelo usuário, oito marcas foram consideradas “não conformes”, o que correspondeu a 73% das marcas analisadas30 (Figura 2.26). 29 REPORTAGEM exibida no programa Fantástico da Rede Globo de Televisão. Teste de cadeiras de plástico. http://fantastico.globo.com/Fantastico/0,19125,TFAO-2142-6007-137760,00.html 30 Relatório INMETRO – Análise em Cadeias Plásticas, março de 2004. www.inmetro.com.br, 28/05/04. 31 A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design. Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica Dissertação de mestrado Marcos Breder Pinheiro para maiores informações: www.estudiobreder.com Figura, 2.26 – Teste realizado pelo INMETRO, com base na norma NBR 14776. (A) Cadeira recebendo carga; utiliza-se base de vidro para simular superfícies lisas e escorregadias. (B) Cadeira quebrando durante o recebimento da carga. Fonte:http://fantastico.globo.com/Fantastico/0,19125,TFA O-2142-6007-137760,00.html Nesse sentido, o aprimoramento dos produtos oferecidos pelas empresas nacionais vislumbra-se como uma necessidade de sobrevivência no mercado, uma vez que “somente é possível sobreviver abrindo novos mercados, oferecendo uma maior diversidade de produtos para poder satisfazer a um número maior de clientes, mantendo preços de acordo com a concorrência internacional e com qualidade equivalente” [SANTOS, J.R.L. 1999]. 32