Capítulo 2

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Capítulo 2
A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Capítulo 2
Este capítulo de Revisão Bibliográfica contém o levantamento histórico do setor, o
início do uso de materiais poliméricos para a fabricação de móveis, assim como
informações sobre o mercado nacional, normas, matérias primas e processos produtivos.
2.1 - Relato Histórico, Plásticos e o Mobiliário
Após a 2ª Grande Guerra, a matéria prima polimérica teve uma excelente aceitação nos
Estados Unidos e também na Europa, sendo que as primeiras utilizações do novo
material na fabricação de móveis surgiram a partir dos anos 40. O arquiteto norte
americano Charles Eames e o finlandês Eero Saarinen ganham o concurso promovido
pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, “Organic Design in Home Furnishing”12,
apresentando o que viria a ser a inspiração para concepções utilizando o material
plástico, Figura 2.01. Este momento da história é considerado como a transição das
formas orgânicas do meio artesanal para o ambiente industrial13.
Dissertação de mestrado
Marcos Breder Pinheiro
para maiores informações:
www.estudiobreder.com
Figura, 2.01 – Cadeira com o qual
Charles Eames e Eero Saarinen
ganharam o concurso “Organic Design
in Home Furnishing”
Fonte: “The Work of Charles and Ray
Eames”http://www.loc.gov/exhibits/eam
es/images/vc9658.jpg
12
“Design orgânico em mobiliário doméstico”, tradução livre do autor.
13
Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003 e
“The Work of Charles and Ray Eames” – http://www.loc.gov/exhibits/eames/, 08/04/2004.
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A utilização de técnicas de moldagem de folhas de madeira aperfeiçoada por Eames e
Saarinem a partir das criações de Alvar Aalto, que na década de 30 havia usado com
sucesso o compensado curvado em suas criações, serviu como uma previsão das
possibilidades na utilização de materiais que permitissem uma maior moldabilidade,
como mostra a Figura 2.02 (B/C). Como precursor na utilização de técnicas de
moldagem de madeira está o Alemão Michael Thonet, que influenciou notavelmente o
design de móveis desde o lançamento de sua cadeira número 14, em meados do século
XIX, Figura 2.02 (A).
A
B
C
Figura, 2.02 – (A) Cadeira nº 14 desenhada pelo Alemão Michael Thonet utilizando técnicas de madeira
curvada à vapor em meados do século XIX. Cadeira que em 1891 contabilizava quase 800 mil unidades
vendidas. (B/C) – Mobiliário desenvolvido pelo finlandês Alvar Aalto utilizando compensado curvado,
servindo posteriormente de inspiração para as criações de Charles Eames e Eero Saarinen. (A) Modelo nº
41 de 1931 e (B) Modelo nº 43 de 1936.
Fonte: “Design Industrial A-Z”, 2001. Pág 518 e “1000 chairs”, 2001. Págs 221 e 223.
Posteriormente, através de determinadas técnicas e materiais, Eames e Saarinen
conseguiram viabilizar a construção de um assento em forma de concha em uma peça
única (Figura 2.03). Saarinen foi o primeiro a aplicar o novo material poliéster
(termorrígido14) com fibra de vidro, utilizando-o em “Womb Chair” entre 1946 e 1947,
mas como estrutura e não como elemento principal, sendo revestida com espuma de
látex. Foi posteriormente produzida em larga escala pela empresa norte americana
Knoll.
14
Polímero termofixo ou termorrígido se caracteriza por apresentar a fusão irreversível do material
quando aquecido, e quando neste estado apresenta a formação de ligações cruzadas intermoleculares,
resultando em uma estrutura rígida, reticulada, que impossibilita a solubilidade e fusão do material.
[SPERLING, 1992] e [MANO, E.B. 1999].
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A
Dissertação de mestrado
B
Marcos Breder Pinheiro
Figura, 2.03/ A-B – Molde utilizado para fabricação de cadeiras e cadeiras fabricada através da
técnica de moldagem de compensado aperfeiçoado por para
Charles
Eames einformações:
Eero Saarinen. Projetos de
maiores
Charles Eames
Fonte: “The Work of Charles and Ray Eames” – http://www.loc.gov/exhibits/eames/, 08/04/2004.
www.estudiobreder.com
Em 1948 o Museu de arte moderna lança um novo concurso “Internacional Competition
for Low-Cost Furniture15”, e Charles e sua esposa Ray Eames ganham o segundo lugar
com “La Chaise” uma cadeira “em formas orgânicas e confortáveis para o corpo
humano”
16
, inspirada na escultura "Floating Figure" do francês Gaston Lachaise
datada de 1927 [COUTINHO, B. 2000] e [HUFNAGL, F. 1998].
15
“Concurso internacional para mobiliário de baixo custo”, tradução livre do autor.
COUTINHO, Bárbara. Cronologia do Museu do Design, Fundação Centro Cultural de Belém/ Lisboa /
Portugal. 2002
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A Figura 2.04 mostra a construção de “La Chaise” por Charles e Ray Eames através da
moldagem de resina termorrígida e também a escultura que inspirou sua concepção.
Curiosamente esta peça só entrou em fabricação em série no ano de 1990 [HUFNAGL,
F. 1998].
Dissertação de mestrado
Marcos Breder Pinheiro
C
para maiores informações:
B
A
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E
F
D
Figura, 2.04/ A-F – Cadeira “La Chaise” (A e B) desenvolvida por Charles Eames e sua esposa Ray,
inspirada na escultura de Gaston Lachaise (C). Sistema de fabricação utilizando resina termofixa de
poliéster reforçado com fibra de vidro (D e E). Imagem (F), peça sendo extraída do molde pelos próprios
Charles e Ray Eames (F).
Fonte: “The Work of Charles and Ray Eames” – http://www.loc.gov/exhibits/eames/, 08/04/2004.
No mesmo concurso “Internacional Competition for Low-Cost Furniture”, Edgar
Kaufman Jr., Robert Lewis e James Prestini apresentam o protótipo da primeira cadeira
monobloco de plástico17.
As cadeiras fabricadas com o material polimérico entram em produção no início da
década de 50 e se tornam um expoente representativo daquela década, levando o novo
material para os lares norte americanos e europeus. Tal fato destacou Charles e Ray
Eames como grandes precursores na utilização dos materiais poliméricos nas mais
variadas aplicações, Figura 2.05 [GREENBERG, C.1985] e [HUFNAGL, F. 1998].
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Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003
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A
C
B
D
Figura, 2.05/ A-D – Cadeiras desenvolvidas por Charles Eames utilizando resina termofixa poliéster
reforçado com fibra de vidro. (A) Zenith, 1948; (B e D) cadeira DAR, 1948 e (C) cadeira RAR, 1948.
Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 276 e 277.
O aprimoramento nos meios de produção, assim como no desenvolvimento dos
plásticos, tornam-se uma vantagem competitiva e proporcionam preços mais acessíveis
aos produtos tornando-os largamente utilizados pelas famílias norte americanas e
posteriormente de todo o mundo. Os móveis de plástico invadiram o ambiente do lar por
sua praticidade e beleza, sendo também associados ao conceito de modernidade, Figura
2.06 [GREENBERG, C.1985].
Figura, 2.06 – Imagem do catálogo de divulgação dos produtos de Charles e Ray Eames para
empresa norte americana Herman Miller, demonstrando os hábitos da família tradicional ,década
de 1950.
Fonte: ”Mid-Century Modern, Furniture of the 1950s”,1995. Pág 27.
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Os meios de produção que no inicio da utilização dos materiais poliméricos eram
artesanais (Figura 2.04), passam a figurar no ambiente industrial da época. A Figura
2.07 mostra uma linha de produção de móveis em material termorrígido, dividida em
seções: à esquerda o acabamento final dos assentos, ao fundo setor de pintura e à direita
a montagem final das peças. Apesar de primária para os dias atuais, esta linha de
produção representa um aprimoramento na utilização da produção de móveis em série
utilizando os materiais poliméricos como matéria prima.
Figura, 2.07 – Linha de montagem de produtos de Charles e Ray Eames utilizando
a resina termofixa poliéster reforçado com fibra de vidro, sendo posteriormente
pintado e acrescido de base em materiais metálico. O operário em primeiro plano
passa cola em uma borracha para amortecer o choque com a estrutura metálica.
Fábrica em Zeeland, Michigan, Estados Unidos.
Fonte: ”Mid-Century Modern, Furniture of the 1950s”, 1995. Pág 24.
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Os anos 50 caracterizaram-se também por uma profusão de novas concepções, pela
utilização de materiais poliméricos termorrígidos com algumas aplicações de materiais
termoplásticos, além de móveis em metal e madeira. Nesta década se destacam
juntamente com os Eames, o arquiteto norte americano George Nelson com suas
cadeiras MAA e DAF, e Erwine e Estell Laverne com suas cadeiras em vidro acrílico e
fibra de vidro, Figura 2.08 [GREENBERG, C.1985] e [FIELL, C.J. 2001].
A
B
C
D
Figura, 2.08/ A-D – Cadeiras desenvolvidas durante os anos 50, utilizando resinas termofixas
reforçadas com fibras de vidro (A, B e D), e materiais termoplásticos como o Acrílico (C) moldado
por compressão. (A) Cadeira MMA, 1958; (B) cadeira DAF, 1956; (C) cadeira Champagne, 1957 e
(D) cadeira Lótus, 1958. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 321, 320, 310 e 311.
Na Europa, onde o experimento com o novo material havia apenas começado, o
arquiteto dinamarquês Arne Jacobsen se fez presente com cadeiras desenvolvidas para
complemento de seu projeto para o Hotel SAS, utilizando a fibra de vidro como
estrutura revestida com espuma. Arne Jacobsen havia anteriormente trabalhado com a
execução de cadeiras utilizando a técnica desenvolvida pelo norte americano Charles
Eames e pelo finlandês Eero Saarinen (o uso de lâminas de madeiras prensadas),
seguindo na Europa o caminho trilhado pelos dois arquitetos [FIELL, C.J. 2001] e
[SPARKE, P.1999].
O trabalho de Eero Saarinen também se faz presente nesta década com o mobiliário
utilizando o material termorrígido e a fibra de vidro, mas com a inserção de elementos
estruturais em alumínio fundido, na linha batizada de “Tulip”, Figura 2.09 [FIELL, C.J.
2001].
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B
A
C
Figura, 2.09/ A-C – Concepção da linha “Tulip” (Tulipa) pelo arquiteto finlandês Eero Saarinen. A
imagem A ilustra parte da concepção do projeto, seguido pelas peças (B e C)
Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 318 e 319.
A euforia pelo material plástico permaneceu por toda a década de 1960 e início dos anos
70, tempo dominado pela tecnologia associada às viagens espaciais e pelos idealismos
sociais. Através do mobiliário, o plástico representava a tecnologia associada à
conquista do espaço e também a democratização dos modos de vida, podendo ser
utilizados por diversos níveis da sociedade devido a seu baixo custo através da produção
em larga escala, Figura 2.10 [HUFNAGL, F. 1998].
A
D
B
C
E
F
Figura, 2.10/ A-F – Móveis bastante utilizados durante a década de 1960. Fabricados em material
termofixo reforçado com fibra de vidro (A,B,C,D e E) ilustram as possibilidades fabrís da época, bem
como o estilo orgânico adotado em todas as concepções. A imagem F representa a utilização do material
termoplástico acrílico, moldado por compressão; técnica utilizada anteriormente para a fabricação de
escotilhas para aviões na Segunda Grande Guerra. (A e B) Garden Egg, 1968; (C) Pastille, 1967; (D)
Armchair, 1967; (E) Ball, 1963 e (F) Bubble, 1968. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Págs 426, 427, 428 e
429.
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Um marco no mobiliário de plástico foi a criação da cadeira “Poliprop” pelo designer
Inglês Robin Day (Figura 2.11). Pela primeira vez, o processo de injeção de
termoplásticos foi utilizado para a fabricação de uma peça do mobiliário. Em forma de
concha, unindo encosto e assento, a cadeira “Poliprop” foi inspirada nas cadeiras de
Charles e Ray Eames. [FIELL, C.J. 2001].
Dissertação de mestrado
Marcos Breder Pinheiro
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Figura, 2.11 – Cadeira “Poliprop” desenvolvida
por Robin Day, 1962. Cadeira empilhável, que
por seu baixo custo obtido pela utilização da
moldagem de injeção de termoplástico tornou-se
um sucesso de vendas em todo o mundo.
Fonte: “1000 chairs”, 2001. Pág 387.
Desenhada para a empresa também inglesa Hille & Co. Ltd, esta peça do mobiliário foi
um grande sucesso de vendas, alcançando cerca de 14 milhões de unidades vendidas
desde 1963, ano de seu lançamento até o ano de 2000, sendo por isso exaustivamente
copiada por diversas empresas, inclusive no mercado nacional [FIELL, C.J. 2001].
No continente europeu, principalmente na Itália, empresas e designers trabalham em
conjunto no desenvolvimento de novos produtos utilizando o material polimérico.
Empresas como Kartell e Artemide permitiram aos seus desenhistas a inserção de suas
criações no mundo dos plásticos, originando o princípio do que viria a ser uma forte
tendência no mundo contemporâneo [FIELL, C.J. 2001].
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A empresa italiana Kartell teve desde muito cedo vocação para trabalhar com os
materiais poliméricos, a começar por seu fundador Giulio Castelli, engenheiro químico
pela Universidade Politécnico de Milão (Itália), que teve como professor Giulio Natta, o
descobridor do Polipropileno. Vislumbrando inúmeras possibilidades no novo material,
Castelli funda a empresa Kartell em 1949, iniciando a fabricação de peças e produtos
para o setor automotivo e para o setor farmacêutico. No ano de 1953 inicia a produção
de móveis [FIELL, C.J.2000] e [HUFNAGL, F.1999].
As inovações técnicas da empresa, bem como sua visão estratégica, ficam evidentes
através do lançamento da cadeira modelo número 4999, desenhada por Richard Sapper
e Marco Zanuso. Este produto foi concebido para o público infantil e foi fabricado em
polietileno a partir do ano de 1964 (Figura 2.12). Zanuso: “Este novo material, de fato,
permitiu-nos repensar as características estruturais e formais da cadeira... era
indestrutível e bastante leve para que não machucasse ninguém, ainda que fosse muito
dura para ser danificada” [FIELL, C.J.2000].
A
B
Figura, 2.12 / A-B – Cadeira Modelo Nº 4999 (A) e cadeira em montagem como
brinquedo (B), ressaltando os atributos do material e do projeto.
Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Pág. 422 e”El diseño en el siglo XX”, 1999. Pág. 231.
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Em 1961 o italiano Vico Magistretti desenha a cadeira Selene, produzida pela empresa
italiana Artemide no ano de 1969. Fabricada em poliéster reforçado com fibra de vidro,
representou o desejo do designer em conceber uma cadeira que apresentasse os quatros
pés tradicionais, e adotasse a forma em “s” para fortalecer a estrutura. No ano de 1970
desenha a cadeira Gaudí, fabricada também pela empresa Artemide em poliéster
reforçado com fibra de vidro, Figura 2.13 [FIELL, C.J. 2001].
A
B
Figura, 2.13 / A-B – Cadeira Selene (A) e cadeira
Gaudí (B), ambas em termofixo poliéster reforçado com
fibra de vidro.
Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Págs. 444 e 486.
Outro expoente nos móveis de plástico foi a cadeira desenvolvida por Verner Panton,
primeira cadeira monobloco fabricada pelo processo de injeção de espuma de
poliuretano a ser produzida em série, Figura 2.14 [FIELL, C.J. 2001].
Figura, 2.14 – Cadeira Panton,
hoje fabricada pelo processo de
injeção de termoplástico em
polipropileno.
Fonte: “1000 Chairs”, 2001.
Pág. 425.
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A cadeira Panton (Figura 2.14) foi concebida em 1959 e foi produzida pela empresa
alemã Vitra para a empresa norte americana Herman Miller Furniture, a partir do ano
de 1968. Foi posteriormente fabricada pelo processo de injeção de termoplástico
(Polipropileno), sendo reeditada em 1990 pela Vitra, estando ainda em produção.
[SPARKE, P.1999] e [HUFNAGL, F. 1998].
A empresa Kartell lança em 1967 a cadeira Universale, desenhada em 1965 por Joe
Colombo, validando o potencial produtivo e inovador da empresa. Foi a primeira
cadeira fabricada totalmente pelo processo de injeção de termoplástico, apresentando
quatro pés desmontáveis; é empilhável e foi fabricada em ABS18. Devido às boas
qualidades de moldabilidade na conformação pelo processo de injeção de termoplástico
e pela sua resistência mecânica, o ABS se tornou bastante popular, ganhando o apelido
de “aço tubular da década de 6019”. Foi posteriormente produzida em nylon, até o ano
de 1975, e, desde então, é fabricada em Polipropileno. Figura 2.15 [FIELL, C.J. 2001] e
[HUFNAGL, F. 1998].
Dissertação de mestrado
Marcos Breder Pinheiro
para maiores informações:
www.estudiobreder.com
Figura, 2.15 – Cadeira
Universale, a empresa Kartell.
Fonte: “1000 Chairs”, 2001.
Pág. 424.
18
Terpolímero de acrilonitrila, butadieno e estireno. Nomenclatura em inglês:acrylonitrile, butadiene,
styrene.
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HUFNAGL, Florian. Plastics+Design, Arnoldsche Art Publishers, 1998.
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Como um paralelo alemão para o racionalismo italiano20, a cadeira Bofinger desenhada
por Helmut Bätzner foi fabricada em poliéster moldado por compressão reforçado com
fibra de vidro (Figura 2.16). Foi apresentada pela primeira vez na Feira de Móveis de
Colônia, Alemanha, em 1966, como a primeira cadeira de material termorrígido
monobloco produzida em série. Era moldada por pressão a quente em uma prensa de
dois moldes com dez toneladas de peso, com ciclos de produção de cinco minutos
[FIELL, C.J. 2001].
A
B
Figura, 2.16 / A-B – Cadeira Bofinger demonstra as praticidades do empilhamento e da
utilização de diversas cores (A / B). Resina termorrígida e poliéster reforçado com fibra de
vidro. Fonte: “1000 chairs”, 2001. Pág 434.
As peças do mobiliário fabricadas em plástico não se restringiram somente às cadeiras,
mas também a pequenas peças de complemento, como a banqueta Tan-Tan, feita de
duas peças idênticas que se encaixam entre si. Esta banqueta vendeu cerca de 10
milhões de unidades durante a década de 1970, sendo relançada no ano de 200221
(Figura 2.17).
20
Nome que recebeu o movimento italiano surgido em 1926, através de grupo de arquitetos conhecidos
como o “grupo dos sete”, famoso durante a década de 30. Influenciados por designers alemães e
franceses, os racionalistas procuravam extrair ao máximo o espaço e os materiais. O racionalismo
influenciou notavelmente o design italiano nos anos pós guerra, ganhando o nome de “Bel Design”. Na
Alemanha ganhou o nome de “Guten Form” [SPARKE, P.1999].
21
Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm,
05/08/2003
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Figura, 2.17 – Banqueta Tan-Tan.
www.placeaudesign.com/wait/historique.htm,
05/08/2003.
O ano de 1973 marcou o surgimento de uma nova concepção no então recente mercado
de móveis utilizando matérias primas plásticas. O francês Henry Massonnet, autor
também da banqueta Tan-Tan, desenvolveu a cadeira com braços Java e, com o
objetivo de desenvolver e comercializar seus produtos criou a empresa Stamp, ainda
hoje existente22. A criação desta peça (Figura 2.18), utilizando material termoplástico
através do processo de injeção foi um marco na criação das peças monobloco.
Figura, 2.18 – Cadeira de braço Java, projeto de
Henry Massonet, concebida em 1973, influenciaria
uma série de produtos nos anos seguintes.
Fonte: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm,
05/08/2003.
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Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm,
05/08/2003
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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
A concepção da cadeira Java influenciou centenas de outros modelos pelo mundo,
valendo-se de sua solução construtiva. Os pés em forma de “L” proporcionam uma
maior rigidez ao plástico comparado com o mesmo material na forma plana, fato que,
unido à menor quantidade de material termoplástico utilizado, viabilizou sua fabricação
em larga escala. A solução construtiva deste produto também teve sucesso em outro
item no qual diversas outras cadeiras falharam: o empilhamento. Esta possibilidade de
empilhamento representara uma grande vantagem frente à diversos modelos de cadeiras,
até mesmo com relação às fabricadas em outros materiais, pois além de leves e baratas,
a economia de espaço no armazenamento e transporte proporcionaria a difusão na
utilização desse produto.
Dessa forma, o modelo criado por Henry Massonnet foi o precursor dos móveis de
plástico utilizando os materiais termoplásticos e representa o cerne histórico para esta
pesquisa, uma vez que todas as empresas nacionais pesquisadas baseiam seus produtos
nesta concepção. Para descrever o mercado nacional deste segmento é preciso partir
desse produto, por ser este o preciso momento onde a união de materiais, processos
produtivos e design proporcionaram um salto adiante nos móveis de plástico durante a
década de 1970.
Posteriormente foi lançado o modelo Boston, também em Polipropileno, para produção
pela mesma empresa Stamp (Figura 2.19). Foi desenhada por Pierre Paulin a pedido de
Henry Massonnet23, e representa juntamente com a cadeira Java, a referência para o
desenvolvimento de produtos por diversas empresas, influenciando diretamente as
empresas nacionais.
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Un historique de la chaise moulée. - Via Internet: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm,
05/08/2003
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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Figura, 2.19 – Cadeira de braço Boston, segue as
soluções construtivas do modelo Java, ambas
fabricadas pela empresa francesa Stamp.
Fonte: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm,
05/08/2003.
Em confirmação à tendência de cadeiras feitas de materiais termoplásticos, Pierre
Paulin desenha em 1978 a cadeira Dangari (Figura 2.20) para a empresa francesa
Allibert. Esta empresa ocupava um lugar predominante no já amplo setor de mobiliário
para jardins utilizando a então tecnologia de vanguarda para produção em escala de
cadeiras monobloco: o processo de injeção. Processo este que possibilitou a produção
em grandes quantidades desta peça que também utiliza o Polipropileno como matéria
prima [FIELL, C.J. 2001].
Figura, 2.20 – Cadeira Dangari em
polipropileno.
Fonte: “1000 Chairs”, 2001. Pág. 525.
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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
A utilização do plástico teve uma significativa redução a partir da crise do petróleo de
1973, quando motivado por fatores políticos, o preço do barril foi quadruplicado,
passando de US$ 2,9 em setembro para US$ 11,65 em dezembro daquele mesmo ano.
Os países exportadores de petróleo passaram de um superávit de US$ 40 bilhões para
US$ 82,4 bilhões em 1974. Os países importadores, no entanto, tiveram um déficit de
US$ 12,4 bilhões, o que evidenciou a dependência existente do petróleo, gerando um
impacto na economia global. O óleo cru sobe 300%, forçando um aumento de 200% no
preço do etileno, o principal insumo da indústria petroquímica, ocasionando uma
elevação de 50 a 100% no preço de polímeros sintetizados por via petroquímica24.
Nesse mesmo ano, ironicamente, a produção de plástico havia superado a do aço,
tomando como base o volume de material fabricado [COSMO, 2004] e [FOLHA, 2004]
No ano de 1974, patentes para a produção do Polipropileno expiraram, o que motivou a
construção de inúmeras plantas industriais na Europa para a produção dessa resina. Tal
massificação do Polipropileno devido à grande quantidade produzida para as mais
diversas aplicações, fez com que seja apelidado de “o novo aço doce” 22 devido à esta
versatilidade [GORNI, A.A.2003].
A conseqüência deste período é sentida na fabricação e no desenvolvimento de
produtos, uma vez que “os consumidores preferem agora designs que retornam ao
trabalho manual, materiais tradicionais, formas menos esbanjadoras25”. As
experiências não estão mais em voga, ficando os plásticos com a reputação de baratos e
de mau gosto, sendo considerados um problema para o meio ambiente. Começam as
primeiras investidas na reciclagem dos materiais poliméricos [HUFNAGL, F. 1998].
24
[GORNI, A.A.2003]. A evolução dos materiais poliméricos ao longo do tempo,
http://www.gorni.eng.br/hist_pol.html, 13/06/2004.
25
HUFNAGL, Florian. Plastics+Design, Arnoldsche Art Publishers, 1998. Pág 38.
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Ainda na década de 70, mais especificadamente no ano de 1979, acontece a segunda
crise do petróleo, quando países do Oriente Médio entram em guerra, provocando
desespero nos países importadores de petróleo. O preço do petróleo sobe ainda mais, de
US$ 13 para US$ 34, estabilizando em US$ 15 nos meses seguintes, mas ainda assim,
dificultando o uso dos materiais poliméricos em larga escala [MARRUAZ, 2004] e
[COSMO, 2004].
No ano de 1986 o preço do barril de petróleo baixou, voltando à mesma cotação dos
anos 60, cerca de US$ 10 o barril, fazendo que a utilização dos materiais poliméricos
voltasse à tona, apesar dos conflitos que estavam por acontecer no Oriente Médio no
início da década de 90. A Figura 2.21 mostra a oscilação do preço do petróleo de 1970
até o ano 2000. [COSMO, 2004].
Figura, 2.21 – Relação do preço do petróleo de 1970 até o ano de 2000.
Destacam-se os picos no final do ano de 1973 e em 1980, referentes às duas
principais crise do petróleo. Valores corrigidos.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/petroleo_choque1.shtml com
base no Federal Reserve, 27/04/04.
Contudo, o período de instabilidade em relação ao petróleo promoveu uma
conscientização a cerca dos recursos naturais que se iniciaria em todo o mundo, de
forma a promover uma maior consciência ecológica, proporcionado uma análise mais
profunda dos impactos ambientais ocasionados pela industrialização desenfreada e pela
grande produção dos bens de consumo, e conseqüentemente, pela geração de resíduos.
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A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
A aplicação dos plásticos no mobiliário ressurge ainda na década de 80, mas contando
agora com uma diversidade de materiais, assim como de processos produtivos. Os
materiais termoplásticos compõem quase a totalidade das aplicações no mobiliário, pois
os materiais termorrígidos provaram-se ineficientes para a requerida reciclabilidade dos
produtos, fruto principalmente dos anos da crise energética que propiciou o início desta
conscientização ambiental.
2.2 - As Empresas Nacionais
O mercado nacional de móveis de plástico, representado pelas cadeiras monobloco é
identificado exclusivamente por produtos que declinam das versões desenvolvidas na
década de 1970 na França, por Henry Massonnet e Pierre Paulin, Figura 2.22.
A
B
Figura, 2.22 – Cadeiras Java (A) e Boston (B), concepções da década de 1970 que
inspiram o design de diversos produtos pelo mundo, inclusive no Brasil.
Fonte: www.placeaudesign.com/wait/historique.htm, 05/08/2003.
De uma forma muito clara e específica, os produtos nacionais são caracterizados por
apresentarem a mesma concepção construtiva adotada nas cadeiras francesas Java e
Boston (Figura 2.22), e utilizam o mesmo material termoplástico, o Polipropileno.
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A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Apresentam pés, braços e encostos utilizando sistema de reforço através da estruturação
em forma de “L” ou “U”, que conferem maior resistência na utilização do material
polimérico. Apresentam também no que se refere ao design, a mesma origem, ou seja,
todas as concepções fabricadas pelas empresas nacionais são oriundas da concepção
francesa, apresentando diferenças relacionadas ao tamanho de encosto e assentos à
existência ou não de braços, e pequenas variações no estilo desses componentes. A
Figura 2.23 apresenta o processo de fabricação de uma cadeira de plástico monobloco,
seguida da Figura 2.24 com os produtos das empresas nacionais.
Dissertação de mestrado
Marcos Breder Pinheiro
para maiores informações:
www.estudiobreder.com
Figura, 2.23 – Processo de injeção de uma cadeira de
plástico, extração do molde. Fonte: Garden Chairs: an
example of synergy between injection moulding and
integral skin Polyurethanes, 1999. Pág 06.
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A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
B
A
E
C
F
G
D
H
I
Figura, 2.24 – Produtos das empresas nacionais. (A) Poltrona Confort, Moderna Plásticos Ltda;
(B) Cadeira 901, Plascari; (C) Cadeira Grosfillex, Grosfillex do Brasil Ltda; (D) Poltrona Orquídea,
Marfinite; (E) Cadeira Kaffee, Dolfin; (F) Poltrona Guarapari, Tramontina Delta Ltda; (G) Cadeira
Dunas, Verona Garden; (H) Poltrona Olímpia, Plagon Plásticos do Nordeste Ltda; (I) Cadeira
Geórgia, Limpac Pisani. Fonte: Site das respectivas empresas.
Este mercado de cadeiras de plástico monobloco teve seu início no Brasil a partir de
1991 com a abertura às importações, quando começaram a ser comercializadas cadeiras
fabricadas em diversos países. No ano de 1996, a importação de móveis de plástico
chegou a cerca de 13 milhões de dólares, participando com 17% do total das
importações nacionais daquele ano e representando cerca de 14% das importações no
ano de 1997 [ABIMOVEL, 2003] e [INMETRO, 2003]. Nos anos seguintes,
desmotivadas pelo cambio desfavorável e com o Dólar mantendo uma relação em média
de 1x3 com o Real, as importações diminuíram, movimentando no ano de 2000 cerca de
3,2 milhões de dólares e no ano de 2001 cerca de 2,8 milhões, não havendo importações
em 2002. Neste mesmo ano é observado um movimento nas exportações, cerca de 2,1
milhões de dólares, seguido de 640 mil dólares apenas no primeiro trimestre de 2004
[ABIMÓVEL, 2003].
Motivado por este cenário, principalmente através das possibilidades apresentadas na
década de 90, empresas fabricantes de móveis de plástico cresceram e aprimoraram sua
atuação no mercado nacional. Foram catalogadas 9 empresas fabricantes de móveis de
plástico, entre elas, Tramontina Delta Ltda, Moderna Indústria de Plástico e Moveis
Ltda, Limpac Pisani Ltda, entre outras (Tabela 2.01) [ABIPLAST, 2002] e [INMETRO,
2004].
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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Tabela, 2.01 – Relação das empresas nacionais produtoras de móveis de plástico.
Fabricantes
Origem
Limpac Pisani Ltda
Rio Grande do Sul
Dolfin Ind. e Com. Ltda
São Paulo
Moderna Ind. de Plástico e Móveis
Minas Gerais
Grosfillex do Brasil
São Paulo
Marfinite Produtos Sintéticos Ltda
São Paulo
Plagon Plásticos do Nordeste S.A.
Pernambuco
Plascari Ind. Plástica Ltda
Rio Grande do Sul
Tramontina Delta Ltda
Pernambuco
Verona Garden Ltda
Ceará
Fonte: [ABIPLAST, 2002] e [INMETRO, 2004]
Algumas das empresas, como a francesa Grosfillex, atuando como Grosfillex do Brasil
Indústria e Comércio Ltda, segundo observações do autor, se instalaram no país
motivadas pelo atendimento da demanda de mercado existente, mas também pela
possibilidade de exportações amparadas pela desvalorização da moeda nacional em
relação ao Dólar e ou ao Euro, favorecendo o valor de exportação do produto se
comparado com o produzido em países desenvolvidos.
Deve ser ressaltado que os produtos fabricados e vendidos no mercado nacional
apresentam uma defasagem tecnológica em relação aos produtos surgidos no início da
década de 90 na Europa e nos Estados Unidos (Item 2.3, Capítulo 2). Os móveis de
plástico nacionais apresentam “problemas de qualidade e acomodação” e são “frágeis e
pouco confortáveis” [Revista Consumidor S.A de abril/ maio de 2003].
Os produtos nacionais têm ainda deficiências no projeto, apresentando “assentos curtos
e escorregadios”, o que indica a não utilização de profissionais qualificados em
desenvolvimento de produtos, que poderiam melhorar as condições ergonômicas e a
interação com o usuário [Revista Consumidor S.A de abril/ maio de 2003].
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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Tais ocorrências podem ser em conseqüência da aquisição do molde de injeção vindo de
outros países, onde os padrões antropométricos, questões sócio-culturais e objetivos na
fabricação da peça podem determinar tais diferenças. Esta prática pôde ser confirmada
na empresa Grosfillex: “O desenvolvimento dos produtos Grosfillex é feito totalmente
dentro de nossa fábrica, porém em nossa Matriz na França. Aqui no Brasil, apenas
trazemos os moldes que por ventura sejam itinerantes (Brasil, França e EU), e ou
temos moldes próprios comprados da nossa Matriz” 26.
Esta prática também foi verificada na empresa Tramontina Delta, que sinalizou a
intenção de comprar moldes de empresas italianas e pela empresa Verona através de seu
site na internet27. Através da etiqueta de um de seus produtos, a empresa Moderna o
apresenta como de “design italiano”, o que sugere a origem do molde (Figura 2.25).
Figura, 2.25 – Etiqueta adesiva de um produto da empresa Moderna Ind. de Plástico e
Móveis, indicando origem do molde. Fonte: Arquivos do autor, 2003.
Esta prática de aquisição de moldes de outras empresas evidencia a posição defasada da
industria nacional frente às estrangeiras, pois estão produzindo peças que já tiveram a
produção exaurida em outros mercados. Fabricam para o mercado interno um produto
que já não é mais usado no país de origem, proporcionando o acesso da população
nacional à um produto de segunda linha ou ultrapassado. Baseado na prática adotada
pela empresa Grosfillex, a compra de moldes da matriz proporciona também a
exportação de seus produtos para outros países, mas não pela qualidade do mesmo, e
sim pelo preço relativo às exportações, devido à já citada diferença cambial.
26
27
Relato por e-mail através do Departamento Comercial.
http://www.veronagarden.com.br, 27/04/2004.
29
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Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
O modelo de desenvolvimento de produtos adotado pelas empresas nacionais evidencia
uma subserviência em relação ao mercado global, fabricando um produto ultrapassado,
com pouco valor agregado e que vai de encontro aos interesses econômicos dos países
desenvolvidos em exportarmos “commodities” 28.
Foi constatado ainda uma característica comum à todas as empresas nacionais. São
empresas especializadas na fabricação de produtos em plástico e não na fabricação de
móveis. A atenção estratégica das empresas é voltada principalmente para a matéria
prima e não para o produto; não existe uma definição clara de que os lançamentos
baseiam-se em uma necessidade do mercado. A indústria nacional de móveis de plástico
não mantém nenhuma relação com o setor de móveis, não há uma integração de
demandas, nem mesmo adequação às tendências observadas no setor moveleiro, o que
evidencia a vocação das empresas em fabricar móveis em conseqüência da matéria
prima e não pelo setor e ou produto.
De fato, as empresas mantêm o foco na fabricação de móveis de plástico voltados para o
uso em áreas externas, em estabelecimentos comerciais (bares e restaurantes) e
residências (sítios, casas de veraneio, varandas de apartamentos). Portando, uma vez
que existem poucas e sutis diferenças entre o design dos produtos, a tendência é a
atuação no mercado com margens de lucros reduzidas, com grande oferta de produtos a
preços relativamente baixos, a fim de viabilizar a sua comercialização. “O aumento no
consumo desse produto deve-se, principalmente, ao seu baixo preço e à versatilidade de
sua utilização” [INMETRO, 2003]. Quanto menor a diferenciação entre os produtos,
menor valor agregado e menores margens de lucro.
28
Do inglês, “mercadoria, bem consumível”. MICHAELIS, Dicionário, Editora Melhoramentos, 2001.
Termo usado para referenciar produtos de baixo valor agregado, cujo preço é devido quase
exclusivamente à sua matéria prima. Como exemplo pode ser citado a exportação do minério de ferro
brasileiro, como “commoditie” e a importação de bens de consumo de alto valor agregado, como
automóveis. Por valor agregado entende-se os atributos ou qualidades do produto que possibilitam maior
margem de lucro.
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A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Em conseqüência deste mercado muito competitivo, algumas empresas “na tentativa de
baixar seus preços”, praticam desde a “redução na utilização de aditivos que conferem
melhores propriedades mecânicas ao produto final, até a redução da quantidade de
resina (Polipropileno) utilizada na fabricação das cadeiras, reduzindo sua espessura e
conseqüentemente sua resistência mecânica. Outro método utilizado com a finalidade de
diminuir o custo de fabricação das cadeiras plásticas é reduzir a utilização de
estabilizantes, aditivos que retardam a degeneração do Polipropileno ocasionada pela
exposição aos raios solares” [INMETRO, 2003].
No ano de 1998 o INMETRO realizou testes com doze marcas de cadeiras de plástico e
somente 25% delas foram aprovadas, reforçando a importância de uma normatização
para o setor29.Tal normatização ocorreu com a criação da norma NBR 14776 pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas / ABNT, item 2.2.1, com cópia nos anexos
da dissertação.
Contudo, mesmo após a criação da norma, alguns fabricantes ainda apresentam
produtos de baixa qualidade. Em teste divulgado no ano de 2004, “nenhuma das onze
marcas analisadas atendeu aos requisitos da norma “quanto à presença visível do nome
do fabricante ou importador, do número da norma (NBR 14776), da data de fabricação
(mês/ano) e das condições de uso”. Uma das marcas não apresentou conformidade no
que se refere às dimensões estipuladas pela norma, e nos testes que simula a utilização
pelo usuário, oito marcas foram consideradas “não conformes”, o que correspondeu a
73% das marcas analisadas30 (Figura 2.26).
29
REPORTAGEM exibida no programa Fantástico da Rede Globo de Televisão. Teste de cadeiras de
plástico. http://fantastico.globo.com/Fantastico/0,19125,TFAO-2142-6007-137760,00.html
30
Relatório INMETRO – Análise em Cadeias Plásticas, março de 2004. www.inmetro.com.br, 28/05/04.
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A Indústria de Móveis de Plástico, do Material Polimérico ao Design.
Capítulo 2 – Revisão Bibliográfica
Dissertação de mestrado
Marcos Breder Pinheiro
para maiores informações:
www.estudiobreder.com
Figura, 2.26 – Teste realizado pelo INMETRO, com base
na norma NBR 14776. (A) Cadeira recebendo carga;
utiliza-se base de vidro para simular superfícies lisas e
escorregadias. (B) Cadeira quebrando durante o
recebimento da carga.
Fonte:http://fantastico.globo.com/Fantastico/0,19125,TFA
O-2142-6007-137760,00.html
Nesse sentido, o aprimoramento dos produtos oferecidos pelas empresas nacionais
vislumbra-se como uma necessidade de sobrevivência no mercado, uma vez que
“somente é possível sobreviver abrindo novos mercados, oferecendo uma maior
diversidade de produtos para poder satisfazer a um número maior de clientes,
mantendo preços de acordo com a concorrência internacional e com qualidade
equivalente” [SANTOS, J.R.L. 1999].
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