Hannover campingplatz

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Hannover campingplatz
Artigo publicado na Revista Silvicultura/Inst. Florestal, v. 16A, parte 3, São Paulo, 1982.
O PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS LIVRES
O CASO DE SÃO PAULO
Felisberto Cavalheiro1
RESUMO
A partir de um posicionamento relativo ao planejamento de espaços livres,
apresenta-se breve relato da evolução histórica e da situação atual desse planejamento
no Brasil, em especial na Cidade e Região Metropolitana de São Paulo. Como solução
à superposição de decisões, relacionadas ao assunto, sugere-se a criação de uma
Secretaria do Meio Ambiente para a Grande São Paulo. Essa Secretaria além de fazer
parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA), previsto pela Política
Nacional do Meio Ambiente instituída pela Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981,
centralizaria em um único órgão a administração dos espaços livres públicos, bem
como conservação da natureza e controle da poluição em âmbito local.
ABSTRACT
A brief review of the historical evolution and present situation of the planning of
open spaces in Brazil specially with reference to São Paulo and its Metropolitan Region.
In order to avoid overlapping of decisions a proposal is outlined aiming to the
establishment of an Environmental Agency for the Great São Paulo area. This Agency
would centralize in one sole body the administration of open public spaces, as well as
the preservation of nature and control of pollution. This State Environmental Agency
would be part of the National Environmental Policy Law (as stated by Brazilian Federal)
law nº 6938 (August 31th, 1981).
INTRODUÇÃO
O planejamento de espaços livres é uma disciplina relativamente moderna. Se
bem que se possa reportar até aos antigos egípcios, gregos e romanos uma
sistematização ligada ao desenvolvimento urbano aparece, na verdade, apenas no
século passado. Anteriormente estavam, quase que sempre, ligados à concepção dos
grandes palácios e vilas como os Jardins de Versailles (França), Tívoli na “Villa d’Este”
(Itália) ou o Grande Jardim de Herrenhausen (Alemanha).
Como lembram (GREVE/MILCHERT, 1977) “O planejamento de Espaços Livres
é uma disciplina da sociedade urbano-industrial. Somente com a industrialização e com
o consecutivo e rápido crescimento das cidades aparecem áreas verdes públicas em
1
Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP e Doutor em Paisagismo pela Universidade de Hannover/Rep.
Fed. da Alemanha.
Secretaria Especial do Meio Ambiente – SEMA
Esplanada dos Ministérios – Proj. 23 2º andar sala 238
70 054 Brasília/DF
quantidade e órgãos públicos começam a ocupar-se com seu planejamento, sua
conservação e administração”. Se isso é uma verdade para a Europa e América do
Norte o é ainda mais para o Brasil.
Antes de começarmos a falar sobre a evolução histórica, do planejamento de
espaços livres, queremos discorrer sobre sua conceituação. (GRÖNING/NOHL, 1972)
entendem que “planejamento de espaços livres é aquele que, nessa tarefa, considera
os aspectos culturais, ecológicos, econômicos, estéticos e sociais ligados a esses
espaços”. Como espaços livres consideram “todas as áreas não ocupadas ou
construídas”.
A nosso ver (BANNON, 1976) consegue chegar a uma conceituação mais
precisa: “Open Space-land or water area left open or undeveloped as an element in
planning and design processes”. O mérito desse conceito está em deixar claro que
espaço livre, somente vem a sê-lo, como elemento de planejamento ou de processo de
“design”. Dessa forma estão abordados desde os espaços livres naturais (Parques
Nacionais, Estações Ecológicas etc) até os urbanos.
Este tem sido nosso ponto de vista, em considerar que o paisagista deve exercer
suas funções desde os grandes centros urbanos até as diferentes áreas naturais da
Amazônia.
Apresentamos a seguir um quadro (vide Quadro nº 1) que sintetiza a
“Operacionalidade do Planejamento de Espaços Livres”. Essa síntese foi pensada para
a realidade européia, para o Brasil julgamos que, principalmente as escalas, tenham
que ser repensadas, mormente para os “Modelos de Desenvolvimento de Espaços
Livres”.
Interessante é acrescentar que para o Paisagismo num País de dimensões
continentais como o nosso, as escalas raramente são menores que 1:1000 e que os
paisagistas brasileiros na sua grande maioria não passam de projetistas de espaços
livres.
QUADRO 1 - OPERACIONALIDADE NO PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS LIVRES
Pranejamento de Instalação
de Espaços Livres
Planejamento de Estruturas
de Espaços Livres
Designação do
Plano
Projeto de EL com
detalhes
Plano de conjunto
de Espaços Livres
Plano de tipos de
Espaços Livres
Conteúdo
Localização e
ordenamento de
Espaços Livres
Localização de
diferentes tipos de
espaços livres em
quadras,
quarteirões ou
conjuntos
Localização de um
tipo de espaço
livre em
comunidades
urbanas
Intenção
Representação do
projeto e
fundamentos para
a construção
Delimitação de
região de projeto
Delimitação de
regiões deficitárias
Escalas espaciais
Exemplos
FC/mfsb
1:5 a 1:500
Pátio de escolas
Parques
Cemitérios
Camping
etc.
1:500 a 1:10.000
Situação de
espaços livres em
quarteirões
deteriorados,
conjuntos
residenciais
modernos etc.
FONTE: GRÖNING 1981
1:10.000 a
1:20.000
Plano de PlayGrounds
Plano de áreas
para esporte
Plano de
“Kleingarten”
Plano de
Cemitérios
Regiões para
conservação da
natureza
Áreas de proteção
ambiental
Planejamento de Sistema
de Espaços Livres
Modelo de
Plano de Sistemas
desenvolvimento
de Espaços Livres
de Espaços Livres
Localização de
Localização de
áreas a não serem
áreas a não serem
construídas nas
construídas no
comunidades
município e na
urbanas e
região
municípios
Representação
das disparidades
Delimitação de
espaços a serem e
não construídos
1:20.000 a
1:50.000
1:50.000 a
1:100.000
Plano de áreas
livres de Hamburg
Plano paisagístico
de Salzburg
Ordenamento do
verde de Hannover
Modelo de faixa de
associação de
assentamentos
urbanos do Ruhr
Modelo do
“Greenbelt” de
Londres
Modelo da faixa
Hamburg-Munique
PLANEJAMENTO DE ESPAÇOS LIVRES NO BRASIL, EM ESPECIAL EM SÃO PAULO
Como já dissemos o planejamento de espaços livres é disciplina nova e aparece
primeiramente nas regiões urbanizadas. De fato é nas grandes cidades brasileiras que
vamos encontrar uma maior preocupação a respeito.
Infelizmente tem-se a idéia entre nós que paisagismo é uma disciplina elitista e
que face nossas necessidades básicas essa é uma preocupação que se deverá
considerar no futuro, mas não já.
Como entendemos que planejamento deva ser pensado globalmente e não por
etapas, combatemos ferrenhamente essas teses. O problema dos espaços livres é
atual e grave, merecendo a mesma preocupação, que a dedicada aos problemas de
infra-estrutura urbanas, por exemplo. Até onde se pode dissociar os problemas de
inundação, nas grandes cidades, da excessiva ocupação e impermeabilização dos
solos?
EVOLUÇÃO HISTÓRICA
No Brasil as primeiras preocupações com paisagismo tiveram lugar no Recife
holandês com o Príncipe Maurício de Nassau, existindo ainda hoje esboços e projetos
dos jardins dos Palácios Friburgo e “Bellevue”. Segundo tivemos informações ele fez vir
plantas de muito distante para serem colocados nos jardins de um desses palácios
(compare HENNEBO, 1981).
Entretanto essas iniciativas em paisagismo do Recife holandês foram destruídas
com a saída dos invasores. No Brasil português, embora existissem e fossem
construídas praças, estas tinham função principalmente de representação, onde se
localizavam as principais edificações das vilas e cidades (comp. GOULART, 1981). Ao
contrário de Portugal, os brancos evitavam reunir-se nos espaços livres, buscando-os
apenas durante as festividades religiosas, sendo mesmo obrigados legalmente a isso
(comp. MARCÍLIO, 1974).
Havia uma série de posturas municipais de São Paulo que proibiam o uso dos
espaços livres fora de festividades. Em 1583 a Câmara Municipal de São Paulo proibia
que brancos dançassem e bebessem juntamente com negros e índios (comp. BRUNO,
1954). Em 1792 voltavam-se elas contra uma série de atividades de lazer nos espaços
livres (comp. WILHEIM, 1965).
Talvez o primeiro espaço livre, realmente pensado para o lazer tenha sido o
“Passeio Público” no Rio de Janeiro. Sua construção deveu-se a desejo expresso do
Vice Rei “Luiz Vasconcelos de Souza” que ordenou que fosse construído sobre o aterro
da Lagoa do Boqueirão. Ficou a cargo de sua construção “Mestre Valentim” que,
talvez, possa ser considerado o primeiro paisagista brasileiro (comp. MEDEIROS,
1975). Interessante é acrescentar que o Passeio Público, em última análise, é fruto de
uma agressão à natureza (aterro). Já no século XIX, é muito conhecida a atuação da
Missão Artística Francesa chamada ao Rio de Janeiro pelo Rei D. João VI. Dessa
Missão fazia parte o paisagista e urbanista “Grandjean de Montigny” responsável por
uma série de melhoramentos urbanos do Rio de Janeiro, da instalação da Quinta da
Boa Vista e plantio de árvores em muitas ruas (comp. MEDEIROS, 1975). Depois,
somente em meados do séc. XIX volta-se a ter preocupação com os espaços livres,
tendo D. Pedro II encarregado a outro paisagista e urbanista francês, “Auguste
Glaziou”, do melhoramento da paisagem urbana do Rio de Janeiro. Por essa época,
por sofrer o Rio de Janeiro de uma grande seca, ordena o imperador que se comprasse
área, onde existiam nascentes e que ela fosse reflorestada (Floresta da Tijuca). A
administração do reflorestamento foi dada ao Major Archer. Essa administração deve
ter sido a primeira organização oficial a se ocupar com um espaço livre público no
Brasil.
Em São Paulo, também, os espaços livres eram preocupações individuais de
governantes, não havendo nenhuma Secção do Governo incumbida de sua
administração. Assim quando havia no governo do Estado presidentes preocupados
com a questão, os espaços livres floresciam. Com exceção do “Jardim da Luz” todos os
espaços livres de São Paulo do séc. XIX aparecem depois do ano 1870 (comp.
BRUNO, 1954).
Ao contrário do que acontecia na Europa, com Paris, Londres e Berlim, não
houve no Brasil a preocupação com o planejamento de sistema de espaços livres
urbanos. Também, ao contrário da Alemanha, onde vários departamentos de Parques
e Jardins são criados antes de 1900, no Brasil no Rio de Janeiro cria-se o primeiro
Departamento de Parques e Jardins em 1953 (comp. SOPHIA, 1980) e o de São Paulo
somente em 1968. Parece que o do Rio de Janeiro foi extinto, tendo sido integrado,
como uma Diretoria, ao Departamento Geral de Obras e Serviços Públicos daquela
cidade.
SITUAÇÃO ATUAL
Em São Paulo, embora exista um Departamento de Parques e Jardins desde
1968 e ter sido ampliado em 1976 e recebido a denominação de Departamentos de
Parques e Áreas Verdes (DEPAVE), a situação dos espaços livres não se modificou.
As decisões estão ainda ligadas aos desejos individuais dos governantes e o
departamento, como centro decisório, não funciona.
Em 1978 quando da aplicação de um questionário sobre o tópico Espaços Livres
de São Paulo, de 73 respostas de pessoas, de certa forma, ligadas a paisagismo,
somente 28 conheciam o DEPAVE. Muitas julgavam que a Empresa Municipal de
Urbanismo (EMURB) fosse a responsável pelos Espaços Livres paulistanos. Isso, por
si só, demonstra o quão pouco atuante é esse Departamento (comp. CAVALHEIRO,
1978).
Num levantamento que fizemos para ser utilizado para nossa tese de doutorado,
pudemos constatar que nada menos que 38 órgãos públicos, diferentes, autárquicos e
mesmo privados, estavam envolvidos com tarefas de planejar, executar e conservar
espaços livres de uso público (comp. CAVALHEIRO, 1981).
Não é para se admirar que com a falta de coordenação, sobreposição de
decisões e interesses, que a questão de administração de espaços livres não funcione
em São Paulo, não estando eles, de forma alguma, assegurados. Um espaço livre
público hoje, poderá, sem maiores consultas, ser transformado num canteiro de obras.
O Parque D. Pedro II de São Paulo serve como constatação triste desta nossa
afirmação.
TAREFAS DE UM ÓRGÃO ADMINISTRADOR DE ESPAÇOS LIVRES
Citamos a seguir a proposta feita em 1979 pela “Conferência dos Diretores de
Parques e Jardins” da República Federal da Alemanha, quanto às tarefas de um
Departamento de Parques e Jardins:
1) Preparo do Plano de Áreas Verdes
1.1) Atuação junto à Secretaria de Planejamento de Obras
1.2) Atuação na área de sua competência junto a outros órgãos
1.3) Plano de Espaços Livres
2) Conservação da Natureza e Manejo da Paisagem (Planos)
3) Conservação da Natureza e da Paisagem (atuação)
4) Atuação junto ao Planejamento Regional
5) Participação nos Planejamentos da Paisagem de acordo com a legislação estadual
de conservação da natureza
6) Projeto, Construção, Manutenção, Operação e Administração das Áreas Verdes
públicas e seus equipamentos
7) Projeto, Construção e Manutenção de áreas verdes de outros órgãos municipais
8) Projeto, Construção, Manutenção e Administração dos Cemitérios Municipais
9) Administração e Operação dos Velórios e Crematórios
10) Sepultamento
11) Conservação dos Túmulos das vítimas das guerras e tiranias
12) Tarefas de Administração dos Assuntos relativos aos “klein gärten”.
13) Atuação para a formação e manejo da paisagem urbana
14) Projeto, Construção e Operação de Viveiros de Plantas
15) Aquisição de Plantas, sementes, adubos, máquinas especiais, aparelhos etc.
16) Atuação no licenciamento de construções
17) Promoção para criação de pequenos animais e de peixes em aquários e tanques,
inclusive para fito econômico.
Embora de acordo com a Lei Municipal nº 8.491 de 14 de dezembro de 1976, o
quadro de tarefas do DEPAVE seja também vasto, envolvendo 11 tópicos diferentes,
sua atuação de fato é bem reduzida, não atuando em planejamento, nem mesmo na
conservação da natureza, apesar de ser esta uma atividade prevista nessa Lei. Quanto
à Política de Áreas Verdes deveria, segundo essa Lei, o DEPAVE apenas aconselhar,
quando, a nosso ver, deveria ser a voz que se escutasse mais alto.
TIPOS DE ESPAÇOS LIVRES
Num dado momento do tempo, diferenciamos os espaços livres como
(GRÖNING, 1976) em três categorias:
1) Espaços Livres de Uso Particular
2) Espaços Livres de Uso Potencialmente Coletivo
3) Espaços Livres de Uso Público
Exemplificando, os primeiros seriam os quintais, jardins particulares etc. Os
segundos os terrenos baldios urbanos não cercados, pátios de escola, pátios de igreja,
clubes, etc. Os terceiros seriam aqueles acessíveis livremente ao público em geral.
Toda nossa preocupação deve estar voltada justamente para estes, pois somente eles
estariam assegurados no tempo como espaços livres, se bem que temos em São Paulo
muitos exemplos que contestam esta afirmativa.
Damos a seguir uma pequena relação dos principais espaços livres de uso
público de São Paulo: Ruas e Avenidas (As Calçadas); Ruas de Lazer, Ruas de
Pedestres (calçadões), Largos, Praças, “Play-Ground – Play-Lot”, Parques, Cemitérios,
Jardim Botânico, Bosque, Reservas e Parques Naturais.
As calçadas são os espaços livres de uso público mais importantes de São
Paulo. Elas são encontradas em todos os pontos da cidade, tendo perdido as funções
que tiveram no passado, embora tenham ainda grande significado social.
As praças foram os espaços livres que mais tiveram incremento em número. Se
estabelecermos aqui, o que vale para o exterior, que parque de bairro deve ter no
mínimo 10ha e parque distrital ou setorial no mínimo 100ha, São Paulo conta com
apenas dois parques setoriais e sete parques de bairro o que é muito pouco dada
população urbana (comp. Tab: 1).
Tabela nº 1
PARQUES DE BAIRRO DA CIDADE DE SÃO PAULO
PARQUES
ÁREA (ha)
Floresta Negra (1)
20,0
Guarapiranga
15,2
Morumbi
13,6
Luz
11,3
Aclimação
11,2
Vila dos Remédios (1)
11,0
Piqueri
9,7
PARQUES SETORIAIS OU DISTRITAIS DE SÃO PAULO
PARQUES
ÁREA (ha)
Ibirapuera
158,4
Carmo
150,0
Fonte: PMSP, 1978
(1) LOUREIRO, 1979
Neste ponto é interessante lembrar a questão dos 12m2 de áreas
verde/habitante, citados frequentemente no Brasil que teriam sido desenvolvidos pela
ONU. Quando da nossa permanência no exterior surpreendemo-nos com o
desconhecimento desse índice, nosso maior espanto, porém prendeu-se à resposta
feita a uma nossa carta, vinda da ONU – Genebra (LEONHARDT, 1980) em que se
afirmava desconhecer esse índice.
Dos nossos estudos concluímos que os 12m2/habitante referem-se apenas a
área de parque de bairro e parques distritais. Na República Federal da Alemanha o
índice para este tópico é de 13m2/hab, sendo 6m2/hab de parque de bairro e 7m2/hab
de parques distritais no geral. Calculam ainda que uma cidade, sem bosques e
reservas naturais, contaria com uma relação de 33,5 m2 de área verde/hab e 4,5 m2 de
área de cemitério/habitante. (JANTZEN, 1969).
Feita esta observação, gostaríamos de saber a quantas anda na realidade o
nosso índice de áreas verdes. Importante é acrescentar que os Parques Anhanguera e
Ecológico não podem ser considerados no citado “Índice da ONU”, por se
caracterizarem como parques metropolitanos.
Recentemente tem-se envidado esforços no Brasil, principalmente em Curitiba e
recentemente também em São Paulo, no sentido de se utilizar espaços livres públicos
para hortas comunitárias. Experiência que, apesar de desconhecermos de perto,
julgamos similar à idéia de “Kleingarten”, bem conhecida não só na Alemanha do Norte.
Sem dúvida, a idéia das hortas comunitárias é medida louvável, pois além de vincular
uma população com um espaço livre, dinamiza seu uso e ajuda a combater carência
alimentares. Alias, na China Continental, temos notícias de que os espaços livres, entre
outras coisas, têm que ter funções utilitárias de produção para os habitantes urbanos.
Em muitos países é mesmo considerado este aspecto, para a sobrevivência das
populações urbanas em caso de calamidades públicas.
Em se tratando de um Congresso sobre Essências Nativas, não podemos deixar
de acrescentar, que se faz necessário a utilização de flora da região na composição
dos espaços livres, pois o papel que desempenham para a conservação da natureza é,
quase sempre, insubstituível.
CONCLUSÕES
PROPOSIÇÕES PARA A ADMINISTRAÇÃO DE ESPAÇOS LIVRES EM SÃO PAULO
Dada a complexidade do problema e a pequena sensibilização por parte do
poder público a questão dos espaços livres chegou às raias da insolvência.
Acreditamos ser urgente coordenar os esforços num só órgão. Não é admissível que
existindo um Departamento que deveria ser competente, seja este ignorado pelo
próprio Poder Municipal e que suas atribuições sejam exercidas por outros.
EMURB projetando e executando espaços livres, quando sua preocupação
principal não está ligada a eles. COGEP sugerindo planos de Áreas Verdes e propondo
soluções para a paisagem urbana, sem dar às áreas a importância devida, já que não é
sua atividade central.
Cremos que somente um órgão especializado e atuante fará que o peso dos
espaços livres aumente nas decisões urbanísticas de São Paulo.
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
Julgamos que a solução estaria em envolver num único órgão as tarefas de
planejamento, projeto, execução e manutenção de espaços livres, além de envolver o
problema do controle da poluição a nível local. Importantíssimo, também, é que se
passe a encarar a conservação da natureza, já que esta, só é feita a nível federal e
estadual.
Esse órgão poderia ser uma Secretaria a ser denominada de Secretaria do Meio
Ambiente, o ideal é que funcionasse para toda Região Metropolitana de São Paulo,
parece, entretanto, que devido a estrutura municipalista isto é impossível. Sugerimos
então que pelo menos os Municípios da área conurbada de São Paulo disponham de
uma Secretaria nesses moldes e que se forme um Conselho constituído por elementos
das diversas Secretarias do Meio Ambiente que tente coordenar as ações para o
âmbito regional.
Essa Secretaria constituiria parte do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), previsto pela Política Nacional do Meio Ambiente instituída pela Lei
Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981 (vide quadro nº 2)
Secretaria nestes moldes foi criada pela Cidade de Hamburgo em 1978,
incluindo além dos tópicos mencionados anteriormente, Administrações Regionais
(comp. STEFFEN, 1980).
Quadro nº 2
SISNAMA
SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
Organismo Superior CONAMA
Conselho Nacional do Meio Ambiente
Organismo Central SEMA
Secretaria Especial do Meio Ambiente
Organismos Setoriais
Órgãos ou Entidades Federais ligadas direta ou
indiretamente ao Meio Ambiente
Organismos Seccionais
Órgãos do Meio Ambiente Estaduais e outros
Organismos Locais
Órgãos ou Entidades Municipais ligadas ao
Meio Ambiente
FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE PAISAGISTAS
Em relação a paisagismo, existe uma lacuna muito grande de profissionais
especializados em todos os níveis. Há falta desde o ajudante de jardinagem até o
planejador de espaços livres.
Seria necessário que o “Curso de Jardineiros Municipais” de São Paulo, já
previsto e aprovado pela Lei nº 8.227 de 19 de agosto de 1975 e Decretos nº 14.611 de
11 de julho de 1977 e 15.180 de 28 de julho de 1978 fosse efetivado. O curso seria de
segundo nível e com duração de três anos, até agora não se sabe por que não se
viabilizou.
Há falta também de técnicos especialistas em desenho paisagístico, sem falar
em paisagistas de nível superior.
Infelizmente tem-se acreditado no Brasil, talvez por uma tradução literal do
inglês, que o paisagista ou arquiteto paisagista (landscape architect) seja um arquiteto
que se especializou em paisagismo. Nada mais falso que isso, urge que o Brasil
disponha de paisagistas ou arquitetos paisagistas, que desde o início dos estudos se
defrontaram com matérias atinentes a planejamento, ciências ambientais,
principalmente no campo das geociências e ecologia, bem como profundos
conhecimentos de vegetação e flora.
Necessário é que principalmente agrônomos, arquitetos, biólogos, economistas,
engenheiros florestais, geógrafos, sociólogos e urbanistas se unissem na tarefa de
formar paisagistas. Os que já atuam em paisagismo deveriam se unir, talvez formando
uma “Academia de Estudos de Espaços Livres” com o fito de se aperfeiçoarem e
uniformizarem as ações e o discurso.
Uma sugestão final para o Instituto Florestal seria que ele viabilizasse a criação
dessa Academia, quem sabe aqui mesmo nos Campos do Jordão, região de
diversidade ecotona, que pode ser bastante inspiradora para paisagistas. Com essa
iniciativa o Instituto Florestal reafirmaria seu pioneirismo no campo do Planejamento de
Espaços Livres.
Gostaria de ter dito algo ainda sobre a situação Financeira e a Legislação
atinente a este campo, dado a exigüidade de tempo e espaço, proponho apenas que se
façam reflexões sérias sobre esses assuntos.
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dargestellt am Beispiel der Freien und Hansestadt Hamburg. Hannover, Lehrstuhr
Grünplanung – Landschaftsplanung der Ballungsräumen.
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