Edição 09 Ele descobriu a classe C

Transcrição

Edição 09 Ele descobriu a classe C
Gestão em Saúde
Impresso
Especial
9912247598/2009-DR/BA
V. MIDIA
ANO IV Nº9| JAN/FEV/MAR 2011
DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA
Jorge Lima, da
Hapvida: plano de
chegar a 1 milhão
de vidas
elE DESCOBRIU
A CLASSE c
O estilo ‘agressivo’ de governança do médico Jorge Pinheiro Lima, presidente executivo
da Hapvida, quarta maior operadora do País e líder nas regiões Norte e Nordeste
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 03
24 - 27 maio/2011
Expo Center Norte - São Paulo
As melhores oportunidades para negócios,
atualização e relacionamento com o mercado da saúde
N
os dias 24 a 27 de maio de 2011 será
realizada a 18ª HOSPITALAR, a maior e
mais completa mostra de produtos, equipamentos
e serviços para hospitais, laboratórios, clínicas,
casas de saúde e consultórios médicos.
A HOSPITALAR mostra o que existe de mais novo
e eficiente para o setor de saúde apresentado por
1.250 empresas de mais de 30 países, que vão
ocupar 82.000 m2 de área de exposição.
5 motivos para visitar
n
n
n
n
n
Conhecer a melhor tecnologia médica
Identificar novos fornecedores
Estreitar relacionamento com a indústria
Reunir informações para decidir compras
Trocar experiências com profissionais
de várias áreas
A HOSPITALAR
recebe 89.000 visitas
por edição
Principais grupos de visitantes:
n
n
n
n
n
Dirigentes de hospitais
Enfermeiros e médicos
Distribuidores
Importadores e exportadores
Industriais
Programe-se para FAZER PARTE deste
GRANDE MOMENTO da saúde mundial
n Planeje sua visita
No site www.hospitalar.com você encontra a relação de
expositores, lançamentos, serviços e tudo sobre a feira
n Consulte a relação de eventos
São mais de 60 congressos para todas as áreas da saúde.
Um deles tem o conteúdo certo para você.
Empreendimento
Gestão e Realização
Tel.: (11) 3897-6199 • E-mail: [email protected]
www.hospitalar.com
04 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
n Use o Metrô para ir à feira
É mais rápido e econômico. Transfer grátis a partir da estação
Tietê (ida e volta)
n Prepare sua viagem e hospedagem
A TAM e a TAM Viagens oferecem planos
especiais. Informações: 0800-7720340
ou e-mail: [email protected]
ÍNDICE
geral
06
Divulgação
06
Regina Herzlinger
Professora da Harvard Business School
condena modelo predominante de
financiamento da assistência médica
Referência em pesquisas
sobre o sistema de saúde,
Regina Herzlinger concedeu
entrevista exclusiva à
Diagnóstico, diretamente
dos Estados Unidos
12
PRESTADOR REFERÊNCIA
Protécnica
Especializada em arquitetura médicohospitalar, empresa se consolida com
projetos audaciosos no Nordeste
16
Francisco Fontenele
16
ENTREVISTA
CAPA
Hapvida
As práticas de gestão e governança da
operadora cearense baseada no conceito
de low cost, low fare
23
ARTIGO
Maisa Domenech
“Não seria necessário trabalhar sobre
a gestão do paciente?” - é uma das
provocações de nossa articulista
24
Empresário Jorge
Lima, da Hapvida:
controle rígido de
processos e custos
26
DIRETO AO PONTO
Alessandro Ferreira
Executivo fala sobre as estratégias de
expansão do Laboratório Hermes Pardini no País e na América Latina
26
CARO GESTOR
Osvino Souza
Professor da Dom Cabral aborda o papel
da cultura nas empresas em sua seção de
estreia na Diagnóstico
Divulgação
28
O consultor Osvino
Souza estreia nova
seção Caro Gestor
ARTIGO
Paulo Lopes
No artigo O Executivo: Papéis e
Funções, headhunter discute os desafios
impostos aos líderes na atualidade
32
NEGÓCIOS
Benchmarking Saúde
Gestores, empresas e instituições que
se destacaram em suas áreas de atuação
recebem homenagem inédita na Bahia
38
ARTIGO
Raimundo Pinheiro
Importância estratégica da Gestão da
Saúde Ocupacional nas empresas é tema
para médico do trabalho
EDITORIAL
DEM, PT e Harvard
S
em fronteiras, a crise no setor de saúde nunca incomodou tanto os americanos. Prova disso é a guerra travada pela Casa Branca na tentativa de
equacionar o déficit bilionário do Medicare e do Medicaid, os maiores
programas federais de saúde. Para a pesquisadora americana Regina Herzlinger,
entrevistada desta edição, o rombo na saúde da maior potência do planeta pode
ensinar muito a mercados emergentes como o brasileiro. “É preciso mais transparência na gestão da saúde. Algo que não acontece nos EUA”, disse ela, professsora titular de Harvard, à Diagnóstico. “Espero que sua presidente faça isso”. Outra
lição interessante vinda dos Estados Unidos é o impacto que a questão acabou
ganhando no Parlamento, unindo democratas e republicanos em torno de um tema
com forte repercussão entre o eleitorado. É como se DEM (ou o que sobrou dele),
PSDB e PT se juntassem, em prol do País, para discutir soluções para o não menos combalido sistema de saúde brasileiro. Um pacto suprapartidário em prol da
saúde. Dá para acreditar?
No mundo real, brotam soluções criativas no setor privado brasileiro para tentar inverter o enorme abismo que separa os com plano, dos sem plano neste país.
Um exemplo curioso vem de Fortaleza, de onde a Hapvida acabou se tornando
a maior operadora de saúde do Norte/Nordeste, com uma receita simples, que
inclui escala, baixo custo e mensalidades competitivas. Forjado por um modelo
de gestão adotado por grandes companhias de varejo, trata-se de um case que
certamente pode ensinar muito a um setor que costuma acompanhar os conceitos
modernos de gestão quase sempre pelo retrovisor.
E por falar em governança, estreamos nessa edição o espaço Caro Gestor, capitaneado pelo consultor em administração hospitalar e professor da Dom Cabral,
Osvino Filho. Uma das maiores autoridades do Brasil no assunto, o docente vai
estar à disposição dos leitores para responder a dúvidas e a questões que costumam tirar o sono de muitos empresários e executivos. Sinal de boas lições pela
frente.
PS: A Diagnóstico vai estar na 18ª Hospitalar (Rua L, 126 – Pavilhão Branco),
que acontece entre os dias 24 e 27 de maio, em São Paulo. Até lá.
Gestão em Saúde
Publisher
Reinaldo Braga – (MTBa 1798)
[email protected]
Diretor Executivo
Helbert Luciano – [email protected]
Diretoria Jurídica
Giovana Rocha – [email protected]
Repórteres
Reinaldo Braga - [email protected]
Danielle Villela - [email protected]
Nana Brasil - [email protected]
Comercial – Bahia
Luiza Ferraz – [email protected]
Comercial – Pernambuco
Luiz Augusto – [email protected]
Comercial – São Paulo
Cristina C. Baccaro – [email protected]
Comercial – Rio de Janeiro
Lauro Alves – [email protected]
Financeiro
Ana Cristina Sobral – [email protected]
Fotos
Roberto Abreu
Ilustração
Tulio Carapia
Revisão
Marcos Navarro (MTBa 1710)
Tratamento de Imagens
Adenor Primo
Capa
Francisco Fontenele
Estagiário
Maicon Santos – [email protected]
Atendimento ao leitor
[email protected]
(71) 3183-0360
Reinaldo Braga
Publisher
Para Anunciar
Bahia – (71) 3183-0360
Pernambuco – (81) 3326-7188
São Paulo – (11) 3057-1444
Rio de Janeiro – (21) 2223-3298
Impressão
Gráfica Santa Marta S.A.
Distribuição Dirigida
Correios
Realização
Criar Marketing em Saúde
Av. Centenário, 2411,
Ed. Empresarial Centenário, 2º andar
CEP: 40155-150 | Salvador-BA
Tel: 71 3183-0360
A Revista Diagnóstico não se responsabiliza pelo conteúdo
editorial do espaço Prestador Referência, cujo texto é de
responsabilidade de seus autores. Artigos assinados não
refletem necessariamente a opinião do veículo.
CARTA DO LEITOR
[email protected]
São Rafael
Planos de saúde
É inegável a importância e a contribuição do São Rafael para o mercado
de saúde do Nordeste, em especial da
Bahia, onde aportou há mais de 20 anos.
Mas chama a atenção a forma com que
a instituição vem perdendo peças-chaves na área de gestão e governança. O
último deles, que ilustrava a matéria da
recente edição da Diagnóstico, Eduardo
Queiroz – agora no Santa Izabel. Um
turnover mais do que preocupante.
Defender a acreditação para as operadoras é algo absolutamente legítimo e que
deve, sim, ser uma prioridade. Quem
sabe isso não torne o processo de glosas
mais profissionalizado.
F.S.R., Salvador-BA
“
“Foi com imenso
prazer que li a
matéria sobre o
parque tecnológico
baiano. Só fiquei
curioso para saber
por que um projeto de
tamanha importância
e que se arrasta há
tanto tempo (quase
dez anos) só agora vai
sair do papel.
Mário Albuquerque, Rio de
Janeiro-RJ
Capa
Muito importante a iniciativa do governo da Bahia em atrair empresas de alta
tecnologia para o Nordeste. Um desafio
do tamanho da região, como frisa bem a
matéria, e que vai depender de vontade
política para sair do papel. Eis aí, afinal,
um grande desafio.
Entrevista
O senhor Vecina Neto tem um discurso
bastante seguro sobre como resolver
os problemas da saúde brasileira. Lista
com maestria o que deve ser feito e
como ampliar a participação da iniciativa privada na gestão da saúde.
Destaca também a importância do PSF
na melhoria dos escores de saúde. Tudo
fácil de fazer. Só não diz de onde vem o
dinheiro.
As operadoras sempre viram com
entusiasmo a busca por qualificação por
parte dos prestadores, ainda que nunca
tenha estimulado esse processo - pelo
menos do ponto de vista das compensações. Torcemos para que as boas práticas possam inspirar também esse braço
tão importante na saúde suplementar.
Ancelmo Góes, São Paulo-SP
Filantrópicos
Bom saber que existem gestores dispostos a emprestar sua força de trabalho em
nome da filantropia. Ser um provedor,
no sentido mais íntimo da palavra,
requer, acima de tudo, abnegação.
João Carlos Silva, Feira de Santana-BA
Amarildo Fonseca, J. dos Guararapes-PE
Hospital Unimed
Parabéns ao entrevistado pela bela
entrevista sobre o setor de saúde brasileiro. Concordo plenamente quando ele
diz que hospitais filantrópicos que não
revertem o que ganham em assistência
praticam a pilantropia.
O que aconteceu com o Hospital Unimed Salvador foi um crime contra os
cooperados. Venderam um negócio da
China e entregaram um doente na UTI.
Lamentável.
Caio M., Salvador-BA
Célio Menezes, Teresina-PI
Com todo o respeito ao senhor Vecina,
chamar os empresários da saúde de
“chorões” ficou deselegante.
Fui vítima da Unimed Metropolitana,
que faliu, deixando a conta para os
cooperados, e Unimed Salvador, idem.
Médico não entende nada de negócio.
Fausto Meireles, São Luís-MA
Horácio S., Salvador-BA
Roberto Abreu
Negociador Profissional
Renato Seixas, São Luís-MA
A reportagem cita o Tecnoporto de
Recife como referência na implantação
de parques tecnológicos bem-sucedidos
no Brasil, o que é uma verdade. É uma
pena, contudo, que nenhum membro do
governo baiano tenha vindo a Recife
saber mais dessa exitosa experiência.
T.M.A., Salvador-BA
O consultor Cícero
Andrade: polêmica
A matéria sobre o Negociador Profissional foi a
que gerou maior número de comentários na última edição da revista. No total, mais de 30 e-mails
foram enviados com mensagens das mais diversas.
Do Maranhão, o médico Alcebíades Neto comentou. “Esse senhor faz um trabalho elogiável em
prol dos prestadores. É desse tipo de profissionalização que o mercado precisa”. De Fortaleza, a leitora Marina Rios destoou. “Parece alguém muito
bem pago e que deve ter up na comissão se levar o
caso para o litígio”.
Márcia Marino, Recife-PE
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 07
ENTREVISTA
regina herzlinger
Fotos: Divulgação
Mais badalada autora sobre o trade de
saúde mundial e professora da maior
escola de negócios do planeta, a americana
Regina Herzlinger é defensora do
consumer-driven health care
AS LIÇÕES DE HARVARD
Danielle Villela
P
rofessora da Harvard Business
School há 40 anos, Regina Herzlinger se define como “a voz do
consumidor” quando se trata da discussão
sobre a qualidade dos sistemas de saúde
em algumas das principais nações do planeta, o Brasil, inclusive. Com doutorado
pela Harvard Business School e primeira
mulher a se tornar professora titular da
instituição, Regina se tornou reconhecida
no meio acadêmico e no mundo corporativo com sua proposta de administração
e financiamento da assistência médica,
sobretudo ao cunhar o termo consumer-driven health care. “A única maneira de
controlar os custos é colocando o consumidor no comando”, dispara. “Se o
governo, os empregadores ou os hospitais forem os únicos responsáveis pelos
rumos da saúde, os custos vão aumentar
sempre”. Ao defender que os Estados deveriam parar de subsidiar os serviços de
08 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
saúde pública, passando a dar dinheiro
diretamente aos cidadãos e exigindo mais
transparência na gestão da qualidade, a
economista subiu a temperatura no debate
sobre o financiamento do setor de saúde
norte-americano. “Os empresários amam
a ideia de ter informações sobre a qualidade dos bens que adquirem, como automóveis, por exemplo”, polemiza a acadêmica, em um inglês professoral. “Mas
nunca gostam quando essa transparência
deve ser aplicada sobre seu negócio”.
Aos 67 anos, Regina possui seis livros
publicados na área de saúde, todos best-sellers em suas categorias, o último deles
Valor para o paciente – O remédio para
o sistema de saúde, publicado no Brasil
pela Grupo A Editoras (original em inglês
“Who Killed Health Care”). Atualmente,
desenvolve um estudo de caso sobre o
sistema de saúde brasileiro. “Claramente,
o Brasil é o futuro”, acredita. De Boston,
nos Estados Unidos, ela conversou com a
Diagnóstico.
Revista Diagnóstico – Se “Valor para o
paciente” fosse um filme de faroeste,
os médicos seriam os mocinhos, que
militam por uma causa justa e precisam
vencer essa guerra. Não teme ter sido
passional demais em uma discussão tão
complexa?
Regina Herzlinger – Sim, os médicos não
são anjos, mas eles são os mocinhos desta história. Afinal, quem é o personagem
mais importante no sistema de saúde?
Quem realmente realiza os serviços? Se
continuarmos a desmoralizá-los, quem
vai querer se formar médico? Fico muito triste que cada vez mais médicos estejam abandonando suas profissões ou
nem mesmo chegam a se tornar médicos.
Minha posição não é pró-médico, minha
posição é pró-consumidor. O que sei so-
bre os consumidores de serviços de saúde
é que eles não confiam nas seguradoras,
não confiam no governo e não confiam
nos hospitais. O médico é a única pessoa
em quem os pacientes confiam.
Diagnóstico – A senhora faz questão de
admitir, no prólogo, que seu livro seria
objeto de muitas críticas por parte de
setores do trade de saúde. Qual delas
mais a incomodou?
Regina – Não me agradam as acusações
de que sou uma marionete de empresas
privadas e uma pessoa boba, que não sabe
que está sendo manipulada, mas isso não
importa tanto. O que mais me incomodou
foram as reações na própria academia, entre meus pares, onde fui acusada até de
plágio.
Diagnóstico – A senhora revela que há
uma batalha pelo controle do sistema
de saúde norte-americano, em um negócio que envolve muito dinheiro e interesses muitas vezes obscuros. Como
está esse embate atualmente?
Regina – Os consumidores estão totalmente fora do sistema de saúde. Mesmo
que financiem essa estrutura em todo
midor significa que o indivíduo pode controlar o seu plano de saúde. Na Suíça, o
cidadão é obrigado a comprar o seu próprio plano – mesmo que não tenha condições, o governo dá esse dinheiro para
que a pessoa possa comprar um plano de
saúde privado. Resultado: o sistema suíço
é muito adaptado ao que os consumidores
querem. A Suíça tem um sistema de saúde
com qualidade muito melhor até mesmo
que os Estados Unidos e possui o maior
índice de satisfação entre os consumidores de todo o mundo.
Diagnóstico – Como isso poderia ser feito na prática?
Regina – Muito fácil, o governo lhes dá
um vale restrito e deixa que o cidadão
escolha entre as empresas de planos privados. Essa aplicação não é nenhuma ciência misteriosa. A Suíça tem uma adesão
muito grande, mais de 99% da população
possui plano de saúde neste sistema. O
vale não pode ser utilizado para comprar
cerveja, para comprar batatas fritas, só
serve para comprar plano de saúde.
Diagnóstico – O que acontece se o cidadão não comprar o plano?
suíço, é o maior do mundo. Os motivos
para essa excelência são muito óbvios. Os
cidadãos compram o seu próprio plano de
saúde, então as seguradoras têm que ser
muito sensíveis ao que as pessoas querem. Não vemos situações como: “Olha,
só posso recebê-lo daqui a seis meses, às
5 horas da manhã”, porque os pacientes
estão comprando o plano e, se os fornecedores os tratam de qualquer maneira, eles
podem simplesmente mudar para outra
companhia.
Diagnóstico – É possível fazer adaptações para que o sistema do managed
care seja benéfico para pacientes e empresários? Quais seriam as mudanças
necessárias?
Regina – Sim, as empresas devem parar
de comprar planos de saúde e, em vez
disso, dar um vale aos seus empregados
e deixá-los comprar seus próprios planos.
O governo brasileiro deveria parar de
subsidiar serviços de saúde pública ineficientes e extremamente inadequados.
Diagnóstico – Qual sua opinião sobre o
sistema de saúde brasileiro?
Regina – Estou fazendo um estudo de
“Minha posição é pró-consumidor. Eles não confiam nas seguradoras, não confiam no governo e não confiam nos hospitais”
o mundo, eles não têm possibilidade de
sentar à mesa de negociação. Nos Estados Unidos, a principal mudança desde a
publicação do meu livro é a reforma proposta pelo presidente Barack Obama. Basicamente, ela dará mais poder aos consumidores, pois pretende ampliar o número
de cidadãos cobertos pelo governo, tornar
a assistência mais barata e impor regras
mais rígidas às seguradoras. Virtualmente, todos terão um plano de saúde, o que
é muito bom. Por outro lado, a concessão
corre o risco de concentrar ainda mais
poder nas mãos do governo. Isso é preocupante porque, além de desautorizar os
médicos, os hospitais e as seguradoras, os
governos não são capazes de negociar a
escolha das pessoas. Se não há escolha
do cidadão pelo plano de saúde, não há
concorrência; sem concorrência, não há
nenhuma intervenção, e, se não há intervenção, os custos continuam crescendo.
Diagnóstico – O que caracteriza o consumer-driven health care (CDHCC)?
Regina – O sistema com foco no consu-
Regina – Se ele está desempregado, o governo suíço pode descontar o valor direcionado ao plano de saúde, qualquer que
seja o auxílio financeiro oferecido, e os
empregadores têm multas vultosas quando contratam um trabalhador sem plano.
A Suíça tem uma população de cerca de
6 milhões de habitantes e 87 empresas de
planos de saúde privados competitivos,
com custos administrativos representando apenas 5% de sua receita. Para se ter
uma ideia, o estado de Massachusetts, nos
Estados Unidos, tem aproximadamente a
mesma população da Suíça e apenas dez
seguradoras competitivas. A concorrência
pelos consumidores obriga os planos de
saúde suíços a se tornarem muito mais
eficientes.
caso para analisar todo o sistema brasileiro e os dados são chocantes. Virtualmente, ninguém que é educado utiliza o
sistema de saúde pública, quer dizer, as
pessoas que o usam são majoritariamente
indivíduos que não têm muita instrução.
Isso é um reflexo de que pessoas inteligentes não usam o sistema público de
saúde? Não. A reflexão é que os ricos não
usam a estrutura pública, e as pessoas pobres, que não são capazes de obter uma
educação adequada, são as únicas que se
submetem a usá-la, e os resultados são
terríveis. O sistema de saúde governamental não chega nem perto dos planos
privados. Qualquer pessoa que queira
ter uma assistência melhor ou um acesso
mais rápido adquire um plano privado.
Diagnóstico – Na prática, de que forma
a concorrência e a competição contribuem para a qualidade dos serviços do
setor de saúde?
Regina – Uma evidência da qualidade dos
serviços de saúde é o grau de satisfação
do consumidor, que, no caso do sistema
Diagnóstico – Essas deficiências do sistema de saúde brasileiro são identificadas também em outros países?
Regina – Isso acontece na cobertura universal do Reino Unido. Se você não parece que está prestes a processá-los, se
não tiver conexões, ou seja, se não tem
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 09
ENTREVISTA regina herzlinger
médicos nas administrações dos hospitais
ou administradores de planos entre os
seus amigos, você vai para o fundo da fila
e tem de esperar muito mais tempo para
ser atendido do que as pessoas que são de
classe média ou superior.
Diagnóstico – Qual seria a melhor solução para essas desigualdades no acesso?
Regina – Na Suíça, cujo sistema de saúde é focado no consumidor, eles têm a
mais alta qualidade dentre os países desenvolvidos no que diz respeito ao acesso de pobres e não-pobres. Isso acontece
porque aqueles que precisam recorrer às
instalações e aos planos governamentais
podem adquirir os mesmos serviços que
todos os outros. Se uma pessoa pobre vai
ao médico, ele não faz ideia de que aquele
paciente é pobre.
Diagnóstico – A grande discussão no plano político brasileiro hoje é ressuscitar
um imposto cobrado sobre os cheques e
que seria destinado ao sistema público
de saúde. Essa política de Hobin Hood
funciona?
Regina – Claramente, o que pode acontecer é as pessoas começarem a pagar as
coisas de outras maneiras, usando dinheiro por debaixo do pano para comprar seus
produtos e serviços. Não me parece uma
boa fonte de receita. Além do mais, o verdadeiro problema não é a disponibilidade
de recursos, mas sim as desigualdades do
sistema de saúde brasileiro.
Diagnóstico – Outro debate caloroso é o
ressarcimento aos cofres públicos, por
parte dos planos de saúde, dos atendimentos feitos pela rede pública ao paciente/cliente que possui seguro privado. Qual sua opinião a respeito?
Regina – É um debate estúpido, porque
seus resultados são exclusivamente políticos. Não são decisões econômicas, não
são baseadas no valor do dinheiro, elas
são baseadas no poder político do público
no privado. Esse tipo de discussão nunca
leva a lugar nenhum. A maneira de lidar
com isto é eliminar o sistema público de
saúde e deixar os pacientes comprarem
um plano privado.
Diagnóstico – Quais sãos as características do plano de saúde ideal?
Regina – Competitividade. Com um grande número de empresas competindo umas
com as outras, ocorre uma oferta maior de
diferentes tipos de produtos e há muitas
maneiras em que os planos de saúde podem diferir entre si nos tipos de apólices
oferecidas. Uma companhia poderia vender uma apólice na qual, se o cliente assina com eles por cinco anos e se mantém
saudável durante esse período, ele receberia metade do seu dinheiro de volta. Isso
é totalmente viável e iria motivar as pessoas a permanecerem saudáveis durante
os cinco anos negociados. No entanto, a
atuação do governo também é necessária nessa indústria para certificar que as
seguradoras são financeiramente viáveis,
garantir que não são empresas fantasmas,
que não vendam planos que nunca vão
entregar ou que não pagam aos médicos
no hospital.
Diagnóstico – A senhora denuncia casos
de irregularidades, má qualidade dos
serviços de saúde e descaso com os pacientes. Como o agente público poderia
ser mais eficaz na fiscalização dos serviços oferecidos à população?
Regina – Desde 1996, defendo a criação
de uma agência governamental independente, que não faria nada a não ser mo-
Harvard Business School, em
Boston, é sede das pesquisas da
economista Regina Herzlinger
nitorar a qualidade do sistema de saúde.
Seu funcionamento deve ser separado de
tudo no governo para garantir, finalmente, a transparência dos processos. Assim,
se a agência produz poucos dados ou informações pouco úteis em vez de mostrar os resultados, o público vai saber e
vai ficar bravo. Insisto na necessidade de
uma agência independente porque o setor
privado teve ampla oportunidade para
produzir dados de melhor qualidade e não
o fez. Todo mundo gosta de transparência, os empresários amam a ideia de ter
informações sobre a qualidade dos bens
que adquirem, como automóveis, por
exemplo. Mas nunca gostam quando essa
transparência deve ser aplicada sobre seu
negócio. A única maneira de tornar essa
mobilização efetiva será criando uma
agência independente, muito visível, cujo
objetivo primordial é medir a qualidade.
Eu adoraria que sua nova presidente (Dilma Rousseff) fizesse isso.
Diagnóstico – É preciso modificar o sistema de qualidade?
ma isso se reflete no sistema de saúde
como um todo e no atendimento ao paciente?
Regina – Na indústria automobilística, se
um empreendedor monta uma empresa e
fatura bilhões, o governo monitora se a
fábrica é segura, mas não determina como
os carros devem ser produzidos. Se o empreendedor tem espírito inovador e pode
fazer um carro melhor e mais barato, ele
não enfrenta dificuldades, apenas ouve
“vá em frente”. Mas os profissionais de
saúde não conseguem iniciar uma nova
maneira de tratar a insuficiência cardíaca
porque são microgerenciados pelo governo e pelas seguradoras, que determinam
como eles devem praticar a medicina.
Muitas destas regras são boas, mas elas
obrigam os profissionais a abdicar das
inovações.
Diagnóstico – Qual a sua opinião sobre
a expansão dos negócios envolvendo o
turismo médico?
Regina – É um negócio que vem crescendo rapidamente no Oriente Médio, onde
ças cardíacas. Assim, o turismo médico
traz tantos benefícios quanto a medicina
de livre comércio, mas isso só vai acontecer quando os consumidores forem livres
para escolher onde querem ser atendidos.
Somente um sistema orientado para o
consumidor me ofereceria uma apólice
que permitisse a realização de uma cirurgia cardíaca na Índia por 40% dos custos
em vez de limitar a realização deste procedimento ao estado de Massachusetts.
Mas os empresários têm medo, não querem esse negócio de ir para fora do país,
por isso não vão oferecer.
Diagnóstico – A crise no setor de saúde
pode ser pior do que o estouro da bolha
imobiliária americana?
Regina – Provavelmente não. Mas a quantidade de dinheiro que o governo dos Estados Unidos deve a idosos que pagaram
pelo cuidado médico, ou seja, os passivos
descobertos chegam a 90 trilhões de dólares. Esse valor equivale à combinação
de sete anos de todo o produto da economia americana, cujo PIB neste ano é de
“Os profissionais de saúde não conseguem inovar nos tratamentos
porque são microgerenciados pelo governo e pelas seguradoras”
Regina – Sim, passar da atenção ao processo e focar nos resultados. Nós tentamos controlar a qualidade dos serviços,
mas o monitoramento é realizado através
de um processo de valoração, ou seja, as
seguradoras e o governo verificam se os
prestadores seguem as receitas de biscoito
na hora do atendimento. No entanto, precisamos medir a qualidade como resultado. Se eu sofro de insuficiência cardíaca
congestiva, estou interessada se o médico
me disse para parar de fumar ou estou interessada em quanto tempo eu vivo sob
cuidados médicos? Em outras palavras,
estou interessada em medir o processo ou
seus resultados? Quando compro um carro, eu me importo se o fabricante segue
a receita do governo para construí-lo ou
quero saber se ele é seguro e confiável?
Na indústria temos muitas informações
disponíveis sobre a qualidade, mas no sistema de saúde tudo o que temos são dados
que dizem se o médico me falou para parar de fumar ou não.
Diagnóstico – A senhora critica a falta
de autonomia profissional e as poucas
possibilidades de inovação dos médicos
devido à burocracia sustentada pelo governo e pelas seguradoras. De que for-
as pessoas pagam o serviço de saúde dos
seus próprios bolsos. Muitas pessoas vão
para o sudeste asiático para serem atendidas, porque recebem bons serviços a
preços muito inferiores aos dos Estados
Unidos ou aos do Reino Unido. Esse tipo
de negócio também experimenta uma
expansão no Brasil e na Argentina. Nos
Estados Unidos, há algum turismo médico para serviços não segurados, como
odontologia e cirurgia plástica. Diferentes
partes do mundo têm diferentes especializações nos cuidados de saúde por razões
culturais, assim como ocorre com o desenvolvimento de equipamentos eletrônicos no Japão.
Diagnóstico – Poderia dar um exemplo?
Regina – O melhor lugar do mundo para
a realização de cirurgias de mudança de
sexo é a Tailândia, porque seu povo não
é problemático quanto à identidade sexual. Eles detêm a maioria das cirurgias de
transgêneros no mundo. É um procedimento extremamente complexo, e os pacientes devem procurar um local onde a
técnica é levada muito a sério e vem sendo desenvolvida há muito tempo. Países
como Estados Unidos, Índia e Alemanha
são excelentes para tratamento de doen-
aproximadamente 14 trilhões de dólares.
Atualmente, a maioria dos países desenvolvidos tem passivos descobertos, dinheiro que eles devem por serviços a pessoas que pagaram para integrar esquema
de seguridade social. Novamente, a única
diferença é a Suíça, cujo governo não tem
passivos descobertos porque não há sistema público de saúde. Não acredito que
esse problema seja equivalente ao efeito
da bolha imobiliária. No entanto, meus
filhos, meus netos, meus bisnetos de alguma forma vão ter que pagar 90 trilhões
de dólares para ter assistência médica. É
muito assustador.
Diagnóstico - Quais reformas ainda serão necessárias para que os custos de
saúde para idosos e para as populações
carentes não se tornem um problema
para as gerações futuras?
Regina – É preciso colocar o consumidor no comando. Os custos só aumentam quando governo ou empresários são
responsáveis. Os países em desenvolvimento seguem esse modelo, com custos
horríveis e qualidade de atendimento aos
pobres muito inferior em relação aos ricos
e à classe média. Espero que o Brasil faça
essa mudança.
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 11
Tecnologia&Investimento
Resolutividade
Cook Medical lança
dispositivo inédito no Brasil
O primeiro stent periférico com
medicamento do Brasil começou
a ser comercializado em abril pela
Cook Medical. Disponível na Europa há um ano e recém-aprovado
pela Anvisa, o Zilver PTX é feito de
nitiniol – liga metálica de níquel e
titânio com propriedades elásticas
– e revestido com paclitaxel. O medicamento atua impedindo a divisão
celular e reduzindo o risco de novo
estreitamento nos casos de doença
arterial periférica (DAP).
Mais de 110 bilhões de dólares
foram investidos no desenvolvimento do produto, incluindo pesquisas
laboratoriais e estudos clínicos realizados desde 1994. O mercado
mundial de dispositivos para intervenções periféricas representa 4
bilhões de dólares por ano. A Cook
Medical espera um faturamento de
cerca de 4 milhões de dólares em
vendas do Zilver PTX no Brasil nos
próximos cinco anos. Segundo dados divulgados durante o Congres-
so Latino-Americano de Cirurgia Endovascular (CELA 2011) realizado no Rio
de Janeiro, entre os dias 6 e 9 de abril,
o Zilver PTX apresenta 85% de sucesso
Divulgação
Stent medicado
Zilver PTX:
eficácia em 85%
dos casos após
dois anos de
implantação
mesmo após dois anos da implantação. “É um resultado empolgante, não há nenhum outro dispositivo com esse índice de eficácia”,
disse à Diagnóstico Rob Lyles, vice-presidente da Divisão de Intervenções Periféricas da Cook Medical.
Com menos de 2% de índice de
fratura, o Zilver PTX também tem o
diferencial de não utilizar polímeros
para armazenar o paclitaxel.
“O mercado brasileiro está sendo subutilizado”, critica Lyles. “São
utilizados 8 mil stents por ano no
Brasil, enquanto nos Estados Unidos são mais de 200 mil no mesmo
período”. Para o cirurgião vascular
Marcelo Ferreira, presidente do
CELA, os stents medicados representam resultados em longo prazo
no custo final dos procedimentos.
“O paciente se recupera mais rápido e o tempo de internação é menor, com resultados iguais ou até
melhores do que a cirurgia tradicional”, explica.
Software
Sistemas
Touch-screen em vez de pranchetas
Divulgação
Prontuário sensível ao toque:
sistema integra todos os dados
necessários para equipe médica
12 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
A substituição dos métodos tradicionais de introdução de dados
clínicos por prontuários eletrônicos
touch-screen é realidade cada vez
mais comum no Brasil. Fornecedora
de soluções de TI e softwares para
a área médica, a ALERT atende 40
hospitais e mais de 3 mil instituições
de saúde em todo o País. Seguindo
as normas do Conselho Federal de
Medicina (CFM), o sistema permite
a realização de triagem por meio do
Protocolo de Manchester, com consulta em tempo real aos dados dos
pacientes e controle do acesso por
meio de identificação biométrica.
Pixeon apresenta novo
CAD Pulmonar
A catarinense Pixeon acaba de apresentar seu novo CAD (Computer Aided
Diagnosis) pulmonar, software de processamento de imagens que atua identificando anomalias e possíveis nódulos
em fase inicial. A ferramenta está entre os três melhores CADs do mundo,
segundo testes realizados pelo Image
Sciences Institute, da University Medical Center Utrecht, na Holanda. Após
a apresentação durante a 41ª Jornada
Paulista de Radiologia, realizada entre
os dias 28 de abril e 1º de maio, o produto entra em fase de homologação
no Hospital do Câncer de Barretos, em
São Paulo, e terá lançamento oficial no
quarto trimestre deste ano.
Pioneirismo
Redes sociais
Hospital Esperança
com equipamento
único no Recife
“Clientes insatisfeitos podem gerar
verdadeiras crises de imagem”
O Hospital Esperança, do Recife (PE),
anunciou a aquisição de novo equipamento radiológico com geração de imagem 100% digital para o diagnóstico
e intervenção das doenças cardiovasculares em procedimentos complexos.
Único na capital pernambucana, o aparelho é capaz de promover refinamento
nas imagens com capacidade de detalhamento acima dos 70% em relação
às máquinas analógicas. A instituição
investiu R$ 2 milhões no equipamento,
que será utilizado pelo setor de Hemodinâmica, Diagnóstico e Intervenção
Cardiovascular.
Divulgação
Os médicos Marcos Barbosa (à
esquerda) e Luiz Alberto Mattos,
ao lado do novo equipamento
Ampliação
Centro de Medicina
Nuclear da Guanabara
tem nova unidade
Mais de R$ 1 milhão foram investidos
pelo Centro de Medicina Nuclear da
Guanabara na estruturação do novo
serviço de Check Up, inaugurado em um
andar inteiro da unidade, localizada no
Centro do Rio de Janeiro. O novo espaço foi equipado para realizar até 12
procedimentos diários, como avaliações
clínicas, cardiológicas e oftalmológicas,
dentre outras. Também são disponibilizados exames específicos como densitometria óssea, ressonância magnética,
tomografia, radiologia e PET-CT. Oftalmologistas, cardiologistas, urologistas e
pneumologistas compõem o corpo clínico formado por mais de 20 profissionais.
Consultor e autor do blog Clínica
de Marketing Digital, o paulista Sílvio Tanabe atua em parceria com a
Magoweb, empresa especializada no
desenvolvimento de soluções para
internet para pequenas e médias
empresas. Tanabe falou à Diagnóstico sobre o uso das redes sociais no
setor médico-hospitalar.
Revista Diagnóstico - Do ponto
de vista estratégico, o que o uso
das novas mídias agrega às ferramentas tradicionais?
Silvio Tanabe - O trabalho com as
redes sociais deve sempre ser visto não apenas como uma forma de
promoção, mas como um espaço de
interação entre instituições e seus
públicos-alvo (pacientes, familiares
e até mesmo os profissionais de
saúde). No entanto, as atuações online e off-line devem estar integradas. Não adianta o hospital “X” fazer
um anúncio na TV falando sobre as
suas maravilhosas instalações se, ao
entrarmos no Facebook, encontramos páginas “Odeio o hospital X”.
Fica clara a importância de se monitorar o que se fala sobre a empresa
nas redes sociais, de modo que seja
possível tomar as providências necessárias.
Diagnóstico - Os hospitais e clínicas podem ser alvo de críticas
nas redes sociais?
Tanabe - Clientes insatisfeitos podem gerar verdadeiras crises de imagem. Imagine uma pessoa que considera que o hospital foi negligente
no tratamento de seu familiar e resolve postar um vídeo no You Tube
para reclamar.
Diagnóstico - É preciso ser uma
grande empresa para se lançar
nas redes sociais?
Tanabe - Essa atuação não depende
do porte da empresa. O que é preciso é ter um planejamento prévio.
O primeiro passo é identificar quem
são os públicos de interesse e onde
eles se concentram. Se for identifica-
do que a maioria das pessoas interessadas em algum tratamento possui uma comunidade no Orkut, por
exemplo, é importante atuar nessa
rede fornecendo orientações.
Diagnóstico - De que forma os
médicos e profissionais do setor devem ser envolvidos nesse
processo?
Tanabe - Em primeiro lugar, é preciso conscientizá-los da importância
das redes sociais como canal de
“Não adianta fazer
um anúncio na TV,
se no facebook
encontrarmos
‘eu odeio esse
hospital’”
relacionamento não só com os pacientes, mas com o público em geral. Facebook e Twitter, por exemplo,
não são apenas “coisas de adolescentes e gente desocupada”, mas
ferramentas que podem auxiliar
esses profissionais no seu trabalho
de orientação, divulgação, comunicação e interação com as pessoas.
Afinal, independentemente de se
querer ou não, elas podem estar falando bem ou mal do seu hospital ou
da sua clínica neste exato momento.
Diagnóstico - O mercado já diferencia as empresas que se posicionam nas redes sociais?
Tanabe - No segmento de bens de
consumo isso já é uma realidade,
mas varia de acordo com o perfil de
produto e público. Por isso é difícil
generalizar ou entrar no campo dos
hospitais e clínicas. Mas posso dizer
que atuar nas redes sociais pode se
constituir em um forte diferencial
para o segmento devido ao interesse do público em ter mais informações e orientações sobre tratamentos, opinião de profissionais, etc.
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 13
Perspectiva do Complexo Médico Hospitalar do
Grupo Delfin, na Bahia: arquitetura de ponta para
acolher o primeiro Cíclotron privado da região
Protécnica
Excelência
técnica e estética
Há uma década e meia no mercado, a Protécnica se consolida como
referência em arquitetura médico-hospitalar no Nordeste
A
ssim como a busca contínua por procedimentos sempre mais avançados e eficientes, o setor de saúde tem sido cada vez mais rigoroso
nas exigências também por apuro técnico e estético na
execução de suas instalações físicas. Alinhada com os
interesses de um público tão personalizado, a Protécnica Arquitetura e Engenharia se consolidou como referência em arquitetura médico-hospitalar no Nordeste,
executando mais de 11 projetos simultaneamente, dentre eles o audacioso empreendimento de implantação
do Cíclotron do Grupo Delfin, no município baiano de
Lauro de Freitas. A empresa confirma ainda o momento de expansão com a abertura de um novo escritório
em Salvador – além da sede em Maceió, localizada
na praia da Ponta Verde, um dos mais belos cartões-postais da capital alagoana. Tanta beleza inspira a
equipe formada por seis arquitetos e dois engenheiros,
14
além de apoiadores como engenheiros de instalações
e engenheiros calculistas, a se debruçar em pesquisas
minuciosas para projetos de média e alta complexidade, sobretudo no que diz respeito às especificidades da
área de saúde. “O grande desafio é fazer com que o
trabalho arquitetônico acompanhe a evolução tecnológica dos equipamentos, que possuem alto custo e são
atualizados muito rapidamente”, explica Tânia Barros,
engenheira civil e sócio-fundadora da Protécnica.
O Complexo Médico-Hospitalar de Lauro de Freitas – onde a Biofármaco, do Grupo Delfin, implantará
o primeiro Cíclotron privado do Nordeste a produzir
FDG – tem exigido cuidados redobrados por envolver,
ao mesmo tempo, uma estrutura industrial de produção
de radiofármacos e uma unidade hospitalar direcionada aos serviços de oncologia. “Cada uma dessas áreas
tem suas necessidades específicas, e a Protécnica con-
templou as expectativas do Grupo Delfin com estruturações
complexas e arrojadas”, estima Armindo Gonzalez, responsável pelo empreendimento. Toda a equipe técnica envolvida
na obra visitou o Hospital das Clínicas de São Paulo, com o
objetivo de realizar pesquisas sobre o funcionamento e os requisitos do Cíclotron, incluindo as normas técnicas e as implicações ambientais e jurídicas que envolvem uma indústria
de radioisótopos. “É preciso enxergar todo o funcionamento
do empreendimento, discutir sua compatibilização e elaborar
soluções técnicas”, enfatiza Sérgio Garrido, sócio-fundador da
Construtora Falcão&Garrido, empresa parceira da Protécnica
na execução do projeto da Biofármacos e em diversos outros
empreendimentos. “É uma relação de respeito e admiração
mútuos”, resume.
Com mais de 8 mil m² de área construída, a unidade contará ainda com serviços de quimioterapia, radioterapia com dois
aceleradores lineares, centro cirúrgico, internação em sistema
de day clinic e centro de diagnóstico com equipamentos como
PET-CT, tomografia e ressonância magnética, dentre outros.
Foram investidos mais de R$ 1 milhão apenas no planejamento do empreendimento, incluindo estudos preliminares, projetos arquitetônico e complementares de estrutura como instalações elétricas, refrigeração de ar e processos ambientais.
Iniciadas há cerca de oito meses, as obras seguem em ritmo
adiantado, e as instalações dos equipamentos serão executadas em breve. “Fizemos acontecer em velocidade recorde”,
declara Garrido. “Isso requer seriedade e uma atenção muito
grande dos profissionais da nossa empresa e da Protécnica”,
avalia, com experiência de dez anos na execução de empreendimentos em diversas áreas da medicina, como bioimagem,
nefrologia e oncologia.
EXPANSÃO – A Protécnica vem intensificando sua atuação
nas principais praças do Nordeste nos últimos dois anos, realizando projetos como a construção de uma nova estrutura do
Instituto de Olhos Freitas (IOF), no complexo Mundo Plaza,
em Salvador. “O conhecimento especializado da Protécnica faz com que o contratante se sinta muito mais tranquilo e
não precise estar no local transmitindo diversas informações
a um arquiteto sem essa expertise”, constata Marcelo Freitas,
diretor do IOF. “Fazemos questão de acompanhar todas as
etapas do empreendimento, desde a escolha do terreno até o
funcionamento das instalações”, garante Tânia. A nova unidade contará com oito consultórios e serviços nas subespecialidades de glaucoma, catarata, retina, plástica ocular e cirurgia
refrativa, além de oftalmopediatria e um centro de adaptação
“detalhamento
impecável e requinte
fazem a Protécnica
merecedora da
confiança de qualquer
empresário”
Bráulio Brandão, DIRETOR
DO HOSPITAL AEROPORTO
Acima, perspectivas do Hospital Ver, em
Maceió, do Instituto de Olhos Freitas e da
Maternidade Stela Gomes, na Bahia
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 15
de lentes de contato. O centro de diagnóstico, por sua vez, irá
dispor de equipamentos modernos como ultrassom, biometria
railmaster, tomografia de coerência ótica (OCT), Pentacam e
aberrômetro. Com a nova estrutura, a sede do IOF localizada
no bairro do Rio Vermelho se tornará um hospital dia para a
realização de procedimentos cirúrgicos.
A ampliação do Hospital Aeroporto, em Lauro de Freitas (BA), também vem sendo desempenhada pela empresa
especializada em sistemas de saúde. “Os inúmeros projetos
dotados de elevado nível, detalhamento impecável e requinte
fazem a Protécnica merecedora da confiança de qualquer empresário”, ressalta Bráulio Brandão, diretor da unidade. Com
investimento total de R$ 6 milhões, a expansão aumentará a
capacidade do hospital em 150 leitos e trará equipamentos
como uma ressonância magnética de 1,5 tesla e um tomógrafo
multi-slice, além da hemodinâmica.
Na Bahia, a Protécnica assume ainda a implantação de uma
ressonância magnética no Centro de Diagnóstico por Imagem
(CDI) em Salvador e a ampliação da Maternidade Stela Gomes, em Feira de Santana. “A credibilidade e a expertise da
Protécnica no mercado hospitalar garantem a excelência dos
produtos e serviços oferecidos”, salienta Glauce Silva, médica
e sócia da unidade. O hospital contará com 37 leitos no total,
sendo 28 leitos de internação, seis de UTI neonatal e três de
semi-intensiva, além de centro obstétrico com quatro salas de
cirurgia e uma para parto normal. O empreendimento deve
consumir um aporte de cerca de R$ 12 milhões.
A empresa é responsável também por diversos empreendimentos em Alagoas, como o Hospital Ver – Oftalmologia
de Excelência. “A escolha da Protécnica foi decisiva”, afirma
João Marcelo Lyra, oftalmologista e sócio-fundador do hospital. “Teremos uma estrutura física obedecendo aos mais rígidos padrões de qualidade internacional e foco na excelência
do atendimento humanizado”, antecipa. A unidade, localizada
em Maceió, terá quatro salas de cirurgia e dez apartamentos
no sistema day clinic, além de ambulatório e centro de diagnóstico com equipamentos de alta complexidade. Anexa ao
edifício, uma fundação foi projetada para atendimento aos
pacientes carentes com as mesmas condições de acabamento do prédio principal. “O comportamento do empreendedor
mudou, há uma maior preocupação com o fluxo, a humanização e a beleza dos ambientes”, avalia Tânia. Com trabalho
reconhecido também na região Sul do País, onde atua com um
escritório associado, a Protécnica não descarta novos planos
de expansão. “Estaremos sempre onde houver empresários
interessados em trabalho de qualidade e responsabilidade”,
sentencia.
Abaixo, projeto do
Centro de Diagnóstico
por Imagem (CDI) e
ampliação do Hospital
Aeroporto, na Bahia
Parceiros
engemisa
ENGENHARIA LIMITADA
16 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Roberto Abreu
Quem lê decide.
Quem decide lê.
Maurício Bernardino,
CEO do Labchecap, maior
laboratório de análises
clínicas da Bahia
ESPECIAL mercado
Cerveja COM esfirra
Com o jeito Ambev de lidar com planejamento, aliado ao conceito “menos
é mais” da rede de fast food Habib’s, a Hapvida está revolucionando o
mercado de saúde brasileiro
Reinaldo Braga
18 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Fotos: Francisco Fontenele
O empresário Jorge
Lima, na sede da
empresa, em Fortaleza:
foco no mercado dos
emergentes
Q
uem visita a sede da Hapvida
– maior operadora de planos
de saúde do Norte-Nordeste –,
no centro de Fortaleza, começa a entrar
em contato, sem precisar teorizar, com
um modelo de negócio até então pouco
comum no segmento médico-hospitalar
brasileiro. Em vez de salas suntuosas e
móveis de grife, um espaço modesto dividido em baias simples, com cadeiras
de padrão chinês e portas de compensado pintado. No mesmo ambiente, a sala
da diretoria, onde os herdeiros do grupo
dividem um espaço de pouco mais de 30
metros quadrados, sem nenhum luxo. Se
fosse uma companhia aérea, a Hapvida
seria a Webjet – com aviões novos e market share de líder regional, é preciso a
ressalva. Afinal, a operadora, que faturou
no ano passado cerca de R$ 700 milhões
(três vezes mais que em 2004), vem tocando um plano de expansão sem precedentes no País, com um padrão invejável
de conforto e equipamentos de ponta.
“Vivemos nosso melhor momento”, comemora o médico e empresário Jorge Pinheiro de Lima, presidente executivo da
Hapvida Sistemas de Saúde, a holding do
grupo.
A decisão de operar como um negócio na modelagem low costs, low fare,
voltado predominantemente para o público das classes C e D, trouxe para a realidade da Hapvida conceitos de controle
e parâmetros de gestão que não ficam
apenas na analogia com o setor aéreo. Da
Ambev, por exemplo, o grupo importou
sua política de indicadores de controle e
planejamento, concebida originalmente
pelo INDG, de Vicente Falconi.
Mas vem da operação de varejo de
fast-food talvez a melhor referência para
definir a atuação do grupo, que opera
também no segmento odontológico, com
a Mais Odonto. “Somos o Habib’s do
setor de saúde”, avalia, sem constrangimento, o executivo paulista Paulo Gonçalves, superintendente administrativo
da Hapvida. Da marca das esfirras, que
ganhou o País vendendo comida barata
e de qualidade para um público que não
podia pagar por um Big Mac, a operadora cearense mantém a similaridade, tanto
pelo baixo custo quanto pelo conceito de
verticalização dos negócios.
Fundada pelo também médico Alberto Saraiva, a cadeia de lanchonete inovou
no mercado brasileiro de refeições rápidas ao sustentar preços justos (menos é
mais) com base em uma estrutura própria
que vai da construção das lanchonetes às
fazendas que abastecem de carne o apetite de seus clientes. A mesma receita da
Hapvida. É assim no setor de engenharia,
onde todas as obras são tocadas por uma
equipe própria de arquitetos e engenheiros – a construção e o projeto de instalação são terceirizados. Mesmo assim, do
custo do prego à betoneira, tudo passa
pelo crivo dos controllers do grupo.
Somente este ano, 29 projetos, que
incluem novas unidades, reformas e
ampliações de clínicas e hospitais, vêm
sendo executados simultaneamente em
cidades que vão de Manaus a Salvador,
passando por São Luís e Mossoró. Até
mesmo em áreas onde a terceirização é
uma regra, como call center, segurança
e limpeza, o grupo utiliza mão de obra
própria.
“Conseguimos economizar até 50%
dos custos com a verticalização, apenas
com obras”, estima Gonçalves, que administra um orçamento anual de R$ 25
milhões aplicados na ampliação da rede.
É o setor de engenharia, aliás, o maior
termômetro do atual estágio da Hapvida.
Com uma rede própria composta por 20
hospitais, 55 clínicas, dez laboratórios e
mais de 9 mil colaboradores, a operadora
vem investindo no crescimento e aparelhamento de sua estrutura de forma frenética. Na Bahia, eleita prioridade número um do grupo, a Hapvida inaugura, em
junho próximo, a primeira fase de obras
do Hospital Tereza de Lisieux, com 110
leitos, sendo 26 de UTI. Localizada na
Av. ACM, uma das mais movimentadas
de Salvador, a unidade deverá ganhar
outros 200 leitos, até 2012, distribuídos
em uma torre de dez andares – R$ 60
milhões de investimento total, de acordo
com a operadora. “Até 2015, nossa intenção é ampliar o número de vidas em
Salvador das atuais 35 mil para 500 mil”,
ambiciona o executivo Gelson Milano,
que coordena as operações do grupo na
Bahia e em Sergipe.
INFORMATIZAÇÃO – Em Fortaleza,
a Hapvida acaba de reaparelhar e reformar as instalações do antigo Hospital Batista, onde passou a funcionar a primeira
emergência pediátrica do bairro Aldeota,
um dos mais sofisticados da capital cearense. A unidade segue o modelo construtivo da nova fase da operadora, cuja
logomarca agora é aplicada em fachadas
de alumínio composto, com padrão primoroso de acabamento e arquitetura arrojada. Por dentro, piso de granito e móveis refinados. “Preferimos economizar
no que não é essencial e oferecer sempre
o melhor para o cliente”, justifica Jorge
Lima, que tem ascendência judaica, herdada do pai e patriarca do grupo, Cândido Pinheiro de Lima. “Nosso maior desafio é poder oferecer uma medicina de alta
qualidade, com baixo preço. E o controle
de custos é peça-chave nesse processo”.
Talvez por isso, o departamento de
informática, um dos orgulhos da operadora cearense, tenha sido o escolhido
para ser referência dentro do grupo. “Somos pioneiros no Brasil no uso do knowDiagnóstico | jan/fev/mar 2011 19
ESPECIAL mercado
“Nosso maior
desafio é poder
oferecer uma
medicina de alta
qualidade, com
baixo preço. E o
controle de custos
é peça-chave nesse
processo”
JORGE pinheiro DE LIMA, PRESIDENTE
EXeCUTIVO DA HAPVIDA
Unidade recém reformada do
Hospital Batista, no bairro da
Aldeota, em Fortaleza
-how bancário no segmento de saúde”,
enfatiza o analista de sistemas e superintendente de informática da Hapvida, Tarciso Machado. Egresso do antigo Banco
Pontual e especialista em automação, foi
dele a ideia de fazer o paciente interagir
com máquinas antes mesmo de ser atendido pelo médico, através de totens de
autoatendimento – a empresa estreou o
equipamento pela primeira vez no Brasil,
em 2009. Implantada em todas as unidades do grupo, a tecnologia reconhece o
segurado, indica o consultório no qual
ele vai ser chamado e ainda oferece uma
lista completa de especialidades caso
haja necessidade de marcação de uma
nova consulta. Tudo em uma tela sensível ao toque.
A Hapvida foi pioneira também no
controle de fraudes com o uso da biometria no processo de identificação do usuário – hoje usada pelo grupo até no leito
para saber se o médico auditor visitou
mesmo o paciente (os dois têm a digital
colhida no momento da avaliação). Mas
a filosofia de controlar mais e lucrar mais
vai além. Talvez o exemplo mais curioso
seja o sistema inteligente que acompanha em tempo real tudo o que acontece
nas unidades do grupo, através de câmeras de monitoramento. Em uma tela de
LCD instalada na sede da empresa, em
Fortaleza, é possível ver, por exemplo, a
recepção lotada da unidade do grupo em
Belém.
Na simulação feita pelo software de20 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
senvolvido pela equipe de TI do grupo,
sabe-se que o tempo médio de espera
está acima do previsto porque a médica
atrasou 30 minutos. Foi o terceiro atraso
da semana. Remotamente, as demandas
são redirecionadas para outro profissional. O que o sistema não vê, uma central
telefônica, que gerencia o software, se
encarrega de checar. Em um dia de agenda cheia, por exemplo, mas com recepção vazia, basta um telefonema para descobrir que um temporal atinge Manaus
naquele exato momento. No total, cerca
Roberto Abreu
de 30 eventos, do agendamento médico,
passando pelo monitoramento de filas e
tempo médio de atendimento feito pelo
médico, são acompanhados, via satélite,
24 horas por dia. “Assim como o banco, o setor de saúde lida com informação”, teoriza Machado. “A operadora
nada mais é que um intermediador entre o investidor (o usuário) e o serviço
oferecido, a assistência”. A filosofia deu
tão certo que o grupo criou uma empresa específica de TI, a Haptec – braço de
tecnologia da Hapvida que vende para o
mercado de saúde soluções de software e
automação.
OCEANO AZUL – Por trás das estratégias de gestão e de crescimento do
grupo, é evidente a necessidade de consolidar ainda mais a operação na região
Norte-Nordeste, onde a operadora quer
chegar à marca de 1 milhão de usuários
– atualmente possui aproximadamente
900 mil. “Atuamos em localidades com
uma demanda muito forte por serviços
de saúde”, salienta Jorge Lima, que divide a gestão da operação com o irmão,
Cândido Júnior. “Precisamos estar aptos
para atender a esse público”.
Na mira do executivo está o mercado
que mais cresce no Brasil, cerca de 20%
a mais do que a média nacional, e que
O superintendente
da Hapvida (Bahia e
Sergipe) Gelson Milano,
nas obras do Hospital
Tereza de Lisieux, em
Salvador: 60 milhões em
investimentos
O analista de sistemas
Tarciso Machado:
tecnologia para
reduzir custos
começa a ser olhado com mais carinho
pelas grandes operadoras. “O Nordeste
é uma das nossas maiores prioridades.
Estamos atentos ao crescimento da região”, disse à Diagnóstico um executivo
ligado à líder Amil, maior operadora do
País, mas com uma participação ainda
inexpressiva na região. A corrida para
expandir a rede é também a arma do grupo para seguir à risca a teoria do Oceano
Azul – termo cunhado pelos pesquisadores W. Chan Kim e Renée Mauborgne da
prestigiosa escola de negócios francesa
Insead.
Avançar onde a concorrência ainda
não chegou e tirar proveito dessa expansão é uma conta que pode ser medida em
números, com lupa, de preferência. Além
da robustez da rede, presente em todos
os estados do Nordeste e dois do Norte,
a Hapvida oferece planos que chegam a
custar pouco mais de R$ 40. Valores difíceis de serem alcançados até mesmo para
quem tem cobertura própria e rede extensa. “Operar com margens tão curtas faz
do ganho da escala uma questão de sobrevivência para qualquer empresa”, salienta o professor da FGV Maurício Sanches, especializado em gestão hospitalar.
“No mercado de saúde, onde a complexidade dos custos é sempre um desafio,
mais ainda”. Não por acaso, a operadora
deixou a incômoda posição de um player
a ser cobiçado por gigantes como a própria Amil, há cerca de quatro anos, para
se tornar consolidadora. Questão de so-
mercado de oportunidades
Cobertura de planos de saúde no Brasil
RR
hapvida em números
Rede
Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e
Bahia
AP
AM
MA
PA
CE
RN
PB
PI
PE
AC
AL
TO
SE
RO
BA
MT
DF
Número de clientes
Aproximadamente 900 mil usuários
Estrutura
20 hospitais, 55 clínicas, 12
prontoatendimentos e dez
laboratórios
GO
Até 5 %
MG
MS
De 5% a 10%
De 20% a 30%
Mais de 30%
SP
PR
De 10% a 20%
ES
RJ
SC
Equipe
9.700 colaboradores
Receita
R$ 700 milhões
Investimentos 2011
R$ 45 milhões
RS
Fonte: ANS
Fonte: Hapvida
brevivência. Desde 2008, a Hapvida incorporou ao seu portfólio operadoras tradicionais do mercado nordestino, como
as pernambucanas Santa Clara (55 mil
vidas), MMS (42 mil) e a Santa Helena,
do renomado Grupo Fernandes Vieira
(30 mil). A última cartada do grupo foi
a aquisição da carteira do Santa Saúde,
pertencente ao Hospital Santa Izabel, de
Salvador (30 mil). Investimentos de centenas de milhões de reais, praticamente
sem recorrer a bancos, costuma alardear
Jorge Lima. Um apetite que ajuda a conquistar e, principalmente, manter contas de multinacionais como a holandesa
C&A e os chilenos do Cenconsud, donos
do G Barbosa, além de conterrâneos de
expressão nacional como a Pague Menos e o Grupo Iguatemi, do segmento de
shopping centers.
TURBULÊNCIA – A história recente
do grupo, fundado em 1993, entretanto,
é marcada também por reveses. A maior
delas, em 2004, quando a Hapvida venceu uma licitação milionária para operar
o plano de saúde dos servidores públicos da Bahia (400 mil vidas). Na época,
parte do mercado de prestadores se manifestou, alegando que a operadora iria
“canibalizar o setor”, com impacto direto na qualidade dos serviços prestados.
A pressão foi tamanha – houve ameaça
de descredenciamento em massa – que o
governo desistiu de terceirizar a operação. “Acreditamos no governo da Bahia.
Fizemos, inclusive, investimentos, mas
o acordo não foi cumprido”, defende-se
Jorge Lima, que chegou a acionar a Justiça para ser ressarcido pelo erário. “O
que posso dizer é que o grupo tem uma
postura muito agressiva”, resume o presidente da Associação dos Hospitais da
Bahia (Ahseb), Marcelo Britto.
Na outra ponta, a da qualidade da
assistência, a Hapvida acabou tendo sua
imagem arranhada, em um passado recente, por deficiências na rede. A maior
delas, que ainda perdura em praças importantes, é a rotina de deslocamento de
pacientes que precisam embarcar rumo
a Fortaleza para fazer procedimentos de
média complexidade, como cateterismo.
Um desconforto que chegou a gerar, inclusive, pedidos de explicação por parte
de órgãos locais de defesa do consumidor e ANS.
Pelo visto, para alcançar a tão sonhada meta de um milhão de vidas, o grupo
vai ter que cuidar melhor da cozinha.
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 21
INFORME PUBLICITÁRIO
precisão e eficácia
Considerado o mais alto nível de desenvolvimento em diagnóstico por imagem,
PET-CT e seus impactos são discutidos por especialistas de todo o Brasil
A
s perspectivas na realização de
diagnósticos cada vez mais precisos e a definição de tratamentos paulatinamente mais eficazes foram
o foco do Simpósio de Atualização PET-CT em Oncologia, realizado no último
dia 31 de março, em Salvador. Promovido pela Revista Diagnóstico, o evento
reuniu especialistas de todo o Brasil no
Hotel Pestana para discutir a aplicabilidade do exame considerado estado da
arte na área de diagnóstico por imagem
devido à sua capacidade de fornecer, simultaneamente, avaliações da anatomia
e das alterações metabólicas do organismo. “Devemos sempre desenvolver formas melhores de utilizar o método em
benefício do paciente”, sustenta Delfin
Gonzalez, diretor executivo do Grupo
Delfin.
Médico nuclear do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e palestrante do
encontro, Marcelo Livorsi avalia que o
diferencial do método é sua capacidade
de realizar uma avaliação funcional em
vez de morfológica. “O PET-CT tem potencial único de gerar informações que
não são produzidas por outras técnicas”,
ressalta. “Isso é fundamental, já que os
órgãos mudam seu funcionamento antes de mudar de tamanho ou de forma”,
explica. Ao introduzir o conceito de que
“tamanho não é documento” na oncologia, o exame se mostra decisivo na definição do tratamento mais adequado para
cada caso. “O PET-CT é capaz de mudar em até 30% dos pacientes o estadiamento da doença, o que pode resultar na
mudança da conduta médica”, ressalta
Lauro Wichert Ana, coordenador da seção de Medicina Nuclear do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo (USP) e palestrante do simpósio.
Além da precisão, a técnica também
permite que o especialista avalie a eficácia da terapia utilizada ao longo do
tratamento, evitando que o paciente seja
submetido a medicamentos, exames e cirurgias desnecessários. “O PET-CT tem
grande impacto de custo-efetividade em
longo prazo”, defende Wichert.
DESENVOLVIMENTO – Disponível
no Brasil há cerca de nove anos, o
PET-CT deve duplicar sua abrangência
no Nordeste até 2012. “É o mercado
mais aquecido do Brasil em termos de
diagnóstico por imagem”, ressalta Júlio
Vellame, gerente de produtos de imagem
molecular da GE Healthcare. Com a
expansão registrada nos últimos cinco
anos, o valor dos equipamentos também
experimenta redução. “Ter uma linha de
montagem para produzir apenas uma
unidade é bem diferente de ter a mesma
estrutura para produzir cem”, pontua
Vellame. “A abertura de novos serviços
ajuda no desenvolvimento da cultura de
solicitações do exame”.
Para Adelina Sanches, coordenadora
de Medicina Nuclear da Clínica Delfin,
o avanço da análise molecular com o
aparecimento de novos fármacos será
o principal eixo de desenvolvimento
do método. “Novos marcadores podem
mostrar reações que os métodos
estruturais não conseguem detectar”,
antecipa. No próximo mês de julho, o
Grupo Delfin dará início à produção
do biomarcador FDG com a instalação
do primeiro Cíclotron privado do
Nordeste em Lauro de Freitas, na região
metropolitana de Salvador.
Fotos: Roberto Abreu
22 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Avanços do método
foram tema de
simpósio no Hotel
Pestana, em Salvador
Roque Andrade (Sociedade Brasileira de Cancerologia),
Delfin Gonzalez (Grupo Delfin) e Carlos Calumby (AMO)
Armindo Gonzalez (Grupo Delfin)
e Lauro Wichert Ana (FMRP-USP)
Gildete Lessa (Núcleo de Oncologia da Bahia)
Miguel Brandão (AMO)
Júlio Vellame (GE Healthcare), Tien Chang (IMIP-PE) e
Marcelo Livorsi (Hospital Albert Einstein)
Diretora do Núcleo de Oncologia da Bahia,
Clarissa Mathias abordou neoplasias de pulmão
Patrocínio
Apoio institucional
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 23
Médicos nucleares, hematologistas, oncologistas e
radiologistas participaram do evento
Hematologista Alex Pimenta (AMO) coordenou o
debate na mesa-redonda sobre linfomas
Augusto Mota (Hospital São Rafael)
Rodrigo Guindalini (Clínica Delfin)
e Daniel Argolo (Clion)
Adelina Sanches, da Clínica Delfin, discorreu sobre a
avaliação por PET-CT nos melanomas
Marcos Lyra, do Hospital São Rafael, discutiu avaliação
nos tumores do sistema gastrointestinal
24 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
ARTIGO Maisa Domenech
sistema de remuneração por procedimento; a consulta médica
sumária e a consequente carga de exames complementares para
se chegar a algum diagnóstico; a remuneração dita “por performance” que nada mais parece do que a tentativa de economizar
recursos financeiros independentemente dos resultados e consequências para a saúde dos pacientes; e o estratosférico desembolso financeiro dos laboratórios farmacêuticos em marketing
em lugar de maiores investimentos em estudos efetivamente
Maisa Domenech é engenheira civil,
científicos são algumas das justificativas para tal situação.
pós-graduada em Administração
Sobre este tema tão complexo e inquietante, ouso apenas
Hospitalar e consultora
refletir e questionar.
Um sistema de “Saúde” voltado para cuidar da doença e
regulado por interesses diversos conseguirá, em algum momento, transformar o paciente no seu objetivo principal? Não
seria necessário intervir e redefinir a cadeia de valores como
um todo? Trabalhar sobre a gestão do paciente e não do procedimento? Trabalhar de maneira efetiva a prevenção? Pensar
na lógica da segurança, minimizando eventos não esperados
dentro da prática clínica, através da utilização de protocolos e
gerenciamento de indicadores médicos? Qualquer que seja a
frenético dia a dia das instituições prestadoras de ser- mudança, não deveríamos iniciar as ações necessárias a partir
viços de saúde é permeado pela contínua busca pela das escolas onde se formam os diversos profissionais que atumelhoria dos seus processos internos, por meio das am na área de saúde? Considerando que o negócio é SAÚDE,
tentativas de redução de custos e realinhamento de preços cujos resultados são cruciais para a qualidade de vida dos pa– os quais se constituem muitas vezes em árduas e penosas cientes (das nossas vidas), todos aqueles envolvidos não detarefas –, e também através da busca por uma equação que veriam assumir tal responsabilidade? Será que a abordagem
as possibilite sobreviver com prazos de pagamento de obri- sobre os resultados médicos não favoreceria a redução de ergações menores que os prazos de receros, tratamentos ineficazes, exames
bimento de receitas – o que é agravado
desnecessários, redução de custos
muitas vezes por inadimplência, glosas, “A PERDA DA
e até mesmo contribuiriam para um
dentre outros. No meio deste emaranhamelhor entendimento entre prestadodo de fatores, somos obrigados a refletir CREDIBILIDADE DOS
res e compradores de serviços médisobre o Sistema de Saúde Suplementar MÉDICOS É VISÍVEL
co-hospitalares?
ora vigente, assim como sobre o SisteComo diz Michael E. Porter em
ma de Saúde no País como um todo e, PELA ATITUDE
seu livro Repensando a Saúde, “A
principalmente, sobre o nível de impor- DOS PACIENTES E
competição na assistência à saúde
tância dado ao paciente em tal sistema.
tem que se transformar numa comAtualmente, temos notícias constantes RECONHECIDA POR
petição baseada em valor focada em
de usuários de planos de saúde cada vez ENTIDADES DA PRÓPRIA resultados. Essa é a melhor, e a única
mais insatisfeitos com o plano adquirido.
forma de promover melhorias sustenAs nítidas diferenças, anteriormente exis- CATEGORIA”
táveis em qualidade e eficiência”. O
tentes, entre o atendimento nas unidades
autor ainda defende: “Quando prespúblicas de saúde e nas unidades particulares diminuem a cada tadores e planos de saúde competem para alcançar os melhores
dia, conferindo ao paciente do Sistema de Saúde Suplementar resultados médicos para os pacientes, eles estão, antes de tudo,
cada vez menos vantagens em relação aos dependentes do Sis- perseguindo os próprios objetivos”.
tema Único de Saúde, seja pela qualidade do atendimento, seja
Sem dúvida alguma, o desafio é grande. As práticas de
pela longa espera do mesmo. Além disso, a perda da credibili- avaliação dos vários segmentos que integram o negócio Saúde
dade dos médicos é visível pela atitude dos próprios pacientes, precisam ser repensadas e transformadas, assim como a natue reconhecida, até mesmo, por entidades da própria categoria. reza da prestação dos serviços em prol do valor ao paciente, em
O sistema atualmente vigente, em que nas diversas relações prol do resultado em saúde. Buscar continuamente as soluções
entre os players do mercado não há foco e compromisso com o que, acima de tudo, conciliem qualidade, acesso, custo e ética
resultado e sucesso do paciente, justifica o caos hoje instalado é uma meta que deverá ser perseguida com total prioridade, já
e a perda de recursos financeiros ao longo de tais processos. O que a saúde é o bem maior do cidadão.
Tadeu Miranda
Sistema de “Saúde”:
Onde está o paciente
na cadeia de valor?
O
“
“O SISTEMA ATUALMENTE VIGENTE, EM QUE NÃO HÁ FOCO E
COMPROMISSO COM O RESULTADO DO PACIENTE, JUSTIFICA
O CAOS INSTALADO E A PERDA DE RECURSOS FINANCEIROS”
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 25
Divulgação
DIRETO AO PONTO
COM ALESSANDRO FERREIRA
“Queremos ser escolha
inequívoca em apoio
laboratorial”
Há 51 anos no mercado de análises clínicas, o laboratório
Hermes Pardini nunca fez aquisições e se consolidou como
líder na prestação de serviços para terceiros. Para Alessandro
Ferreira, gerente executivo da Unidade de Negócios Apoio a
Laboratórios, a manutenção desta filosofia é fundamental na
construção de um relacionamento de confiança com os clientes. Em meio à expansão dos laboratórios de diagnóstico Dasa
e Fleury, o executivo nega que a retomada da prospecção de
clientes no Nordeste vise a um concorrente específico. “Isto
seria um erro estratégico”, defende. Embora não confirme os
rumores de negociação com uma operadora de plano de saúde,
Ferreira aponta a consolidação da cadeia de valor no mercado
de saúde como uma tendência. “O ideal para todo prestador de
serviço é uma aproximação com as fontes pagadoras”.
O PARDINI VEM RETOMANDO A
PROSPECÇÃO DE NOVOS CLIENTES NO NORDESTE, ONDE A PRESENÇA DO ÁLVARO É CADA VEZ
MAIS SENTIDA. PODE COMENTAR?
Sempre tivemos grande presença no
Nordeste e, mesmo com a ação dos concorrentes, mantivemos uma expansão
interessante. O crescimento do Pardini
na região não visa a um concorrente em
específico. Isto seria um erro estratégico.
Nossa estratégia comercial visa ao mercado. Reforçamos vários serviços de apoio,
como assessoria científica e logística, para
que a melhoria do serviço seja um fator de
venda. O Norte e o Nordeste representam
em nossa estratégia as maiores possibilidades de crescimento em relação a 2010.
O ACIRRAMENTO DA CONCORRÊNCIA PODE GERAR UMA
GUERRA DE PREÇOS OU DE PRAZO NO SETOR?
É uma possibilidade, mas acredito que
chegamos a um ponto em que os preços
e prazos de pagamento tendem a se estabilizar. Acredito que os principais concorrentes do mercado de apoio devam agora
focar em melhoria do serviço, como lo26 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Alessandro Ferreira, do Hermes Pardini:
relacionamento de confiança com clientes e
foco na melhoria dos serviços de apoio
gística, prazo de entrega de resultado de
exame e apoio técnico. Isto será bom para
todos, tanto para os prestadores de serviço
quanto para os clientes e, principalmente,
para os pacientes.
O ASSÉDIO DO DASA A PROFISSIONAIS DO PARDINI JÁ É UM
FATO SUPERADO?
O mercado é carente de bons profissionais e, em uma situação de expansão, é
comum que as empresas tentem trazer
profissionais que já conheçam o negócio.
Tivemos esta situação no passado, mas
agora chegamos a um equilíbrio.
UMA DAS FILOSOFIAS DO PARDINI É TER O CLIENTE COMO
PARCEIRO, UMA MÁXIMA QUE
ESTARIA ALINHADA À ESTRATÉGIA DO GRUPO DE NÃO INVESTIR EM AQUISIÇÕES. ISSO PODE
MUDAR?
Esta é nossa filosofia e não temos intenção de mudar. Queremos ser escolha inequívoca em apoio laboratorial e isto envolve um relacionamento de confiança de
longo prazo. Os investimentos do Pardini
em 2011 estão focados em incrementar
o apoio, principalmente na melhoria dos
serviços agregados, já que em 2010 fizemos um megainvestimento na melhoria
do parque técnico.
EM DECLARAÇÃO RECENTE, VICTOR PARDINI, PRESIDENTE DO
CONSELHO DA EMPRESA, AFIRMOU QUE UM SÓCIO IDEAL – NA
ESTRATÉGIA DE CRESCIMENTO
DO PARDINI – SERIA UM PLANO
DE SAÚDE. HÁ ALGUMA NEGOCIAÇÃO EM CURSO?
A consolidação da cadeia de valor é uma
tendência que vemos no mercado de saúde. O ideal para todo prestador de serviço
é uma aproximação com as fontes pagadoras. Isto tem várias vantagens e sinergias que melhoram a produtividade das
empresas.
COMO ESTÁ O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO NA américa latina EM PARCERIA COM
O LABORATÓRIO CIC?
Esta é uma ação estratégica da empresa
que, infelizmente, não posso detalhar.
Estamos em processo de validação e está
correndo tudo dentro do previsto. Os
riscos estão controlados, temos ótimas
perspectivas para esta operação.
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 27
Caro gestor
Participe: [email protected]
Osvino Souza é
gerente de projetos
e professor da
Fundação Dom
Cabral nas áreas
de Comportamento
Organizacional e
Desenvolvimento
Organizacional
Divulgação
Trabalho como gerente financeiro de um hospital e me deparo com frequência com procedimentos
– principalmente de cobrança junto às operadoras – nem sempre éticos. Tenho dez anos de casa e
ultimamente essa situação tem me incomodado muito. Já pensei em pedir demissão, mas tenho 52
anos e tenho medo de não conseguir outra colocação. Faltam apenas dois anos para me aposentar. O
que devo fazer?
Anônimo – Salvador, Bahia
Quando se fala em ética, entramos em um campo
muito delicado. Embora nos pareça uma questão óbvia,
aprendemos com a vida, com o tempo e com nossas experiências que o óbvio é relativo. Cada um de nós tem sua
própria formação, sua própria experiência, seus próprios
princípios e valores, formados a partir de uma infinidade
de conjunções de situações que são únicas.
Cada um de nós sabe quando as coisas ao nosso redor
não andam bem e começam a nos incomodar. Costumo
dizer que, quando somos pressionados a fazer algo que
fere nossos princípios mais fundamentais, reagimos imediata e fortemente. Questões como falta de honestidade
não são aceitáveis pela maioria de nós. Se você não está
se sentindo bem no seu trabalho porque alguns de seus
princípios mais intocáveis estão sendo agredidos, acredito que um bom caminho a ser seguido seria promover um
diálogo interno sobre o que o está incomodando, até para
se certificar que as coisas que você crê ver estão realmente acontecendo.
Há situações que não deixam dúvida, considerando
nossos valores. Se o fato for constatado e não houver
qualquer possibilidade de mudança ou correção daquilo
que está errado, aí é preciso pensar em “mudar de lugar”,
já que neste lugar “não dá para ficar”. Mudar de lugar
não significa necessariamente mudar de empresa ou de
emprego. Pode-se, e tenho visto isto acontecer muitas vezes, mudar dentro da mesma empresa. Buscar novos ares,
novos afazeres, mesmo que isto pareça algo muito difícil
ou até impossível, é sempre saudável para o indivíduo
e para a organização. Toda mudança começa nas pessoas e você pode precisar encarar este fato. Toda mudança
exige coragem e determinação. Talvez seja necessária alguma ajuda externa que possa auxiliá-lo a organizar as
ideias, entender melhor a si mesmo, seus pontos fortes e
fracos para tomar a decisão com mais segurança e encarar
o desafio que certamente virá. Recomendo a leitura de
um artigo de Peter Drucker, chamado “Gerenciando a si
próprio” (“Managing Oneself”). Procure na internet, ele
poderá ajudá-lo a entender um pouco mais o que estou
tratando aqui. Você ainda é muito jovem, tem todas as
chances no mercado de trabalho.
28
Apesar do esforço em melhoria do atendimento e
investimentos em gestão, percebo que o hospital
onde trabalho não consegue transferir para os
colaboradores alguns dos ensinamentos básicos de
atendimento ao público. Dizem que a dificuldade
de se cumprirem regras e procedimentos pode ser
cultural. Isso precisa mesmo ser levado em conta?
Luis C. – Salvador, Bahia
O atendimento ao público é um fator crítico de
sucesso para qualquer negócio, particularmente para
os prestadores de serviços. Os hospitais não escapam
desta regra e ainda há muitas outras agravantes. Uma
delas é que hospitais lidam com pacientes e acompanhantes em momentos de fragilidade. Nesta questão, a
cultura do país, da região e da própria empresa é fator
importante, que pode afetar o desempenho dos colaboradores. Regras e procedimentos são indispensáveis
nas organizações, em maior ou menor grau. A questão
é fazer com que todos os envolvidos os vejam como
importantes e favoráveis ao bom desempenho da instituição e do indivíduo.
Os programas de desenvolvimento de pessoas precisam considerar as questões culturais que envolvem a
organização. Os treinamentos não podem ser somente
técnicos, precisam também ser comportamentais, ou
seja, devem considerar as necessidades de mudança
cultural, que, associadas à melhoria do desempenho
técnico, transformam as empresas em organizações de
excelência.
Adultos aprendem melhor quando os programas
consideram seus interesses e respeitam seu modo de
ver as coisas. Precisam perceber que o treinamento faz
sentido e que lhes trará algum tipo de vantagem no trabalho, facilitando-o ou aumentando sua capacidade de
obter sucesso. Enfim, mesmo quando estamos tratando
de treinamento, é preciso se certificar de que os colaboradores estejam cientes da sua importância para a
empresa e para si próprios, e tenham suas necessidades
atendidas no que diz respeito à estratégia adotada.
Sou dono de uma clínica de pequeno porte em
Pernambuco, juntamente com meu sócio. Já estamos com 60 anos e nossos filhos não têm interesse
pelo setor de saúde. Fiz e recebi algumas sondagens de empresas interessadas em adquirir a clínica, mas os valores propostos sempre ficaram abaixo do que achamos valer o negócio. Essa é mesmo
a melhor saída?
A.M – Recife, Pernambuco
Pelo que entendi, nem seus filhos e nem os filhos
de seu sócio têm interesse em assumir a condução da
clínica. Não havendo interesse na família pela continuidade do negócio, a primeira opção que vem à mente
é a venda. No entanto, surge a questão de sua expectativa quanto ao valor a ser negociado, que em princípio
deve considerar não apenas o valor dos ativos, como
imóveis, equipamentos, móveis e assim por diante, mas
também o valor da marca e da carteira de clientes, dentre outros ativos intangíveis.
O melhor procedimento, nesse caso, é contratar
uma consultoria especializada em avaliação de empresas para obter uma opinião profissional do valor da clínica. Muitas vezes, influenciados por questões emocionais, sentimentos naturais em quem dedicou boa parte
de sua vida para a construção de um empreendimento,
supervalorizamos o negócio. Daí a importância de uma
avaliação imparcial e idônea.
Outra questão relevante é se a iniciativa é compartilhada por seu sócio. É fundamental que ambos estejam
de acordo, uma vez que a preferência pela compra é
dele, caso apenas você esteja interessado em se desfazer do negócio. É preciso verificar como isto está
prescrito no contrato de constituição da empresa e em
outros documentos aplicáveis.
Com 60 anos você ainda tem muita vida pela frente. Está seguro sobre a decisão de encerrar a carreira
de empresário e gestor? Quem sabe não deveria pensar em assumir uma posição de conselheiro, deixando
as atividades de gestão para profissionais que podem
dar outro rumo para a questão, até mesmo comprar a
empresa. Sugiro que você estude e conheça um pouco
mais sobre modelos de governança de empresas familiares. Além disso, pergunte-se: há alguma razão ligada
à desmotivação com o negócio? Há algum outro conflito que pode estar levando-o a pensar desta forma? É
importante esgotar as possibilidades para que não haja
arrependimentos posteriores. Há também a questão da
manutenção de suas atividades “pós-aposentadoria”.
Isto tem tudo a ver com sua saúde física e mental. Você
já planejou sua rotina pós-venda da empresa? Para
quem dedicou sua vida ao trabalho, a falta deste pode
ser muito dolorosa. Pense sobre isso e boa sorte!
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 29
ARTIGO Paulo Lopes
Iracema Chequer
Paulo Lopes é CEO do Grupo
Organiza, diretor da Associação
Comercial da Bahia, headhunter,
coach, palestrante e autor do livro
“Segredos de um headhunter”
O Executivo:
Papéis e Funções
O
s executivos procuram fazer com que as tarefas sejam
realizadas por pessoas. Eles tomam decisões, alocam
recursos e dirigem atividades de outros para atingir
objetivos. O executivo é a ferramenta, o instrumento específico para tornar as instituições capazes de produzir resultados.
Quais são as funções e papéis do executivo? Para alguns
estudiosos, atender a cinco funções básicas: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Hoje, tais funções
são reagrupadas em: planejamento, organização, liderança e
controle. Outros consideram primordiais para um executivo:
primeiro, promover o sistema de comunicação; segundo, promover os esforços essenciais; e terceiro, formular e definir
propósitos.
No mundo contemporâneo, a função do executivo é atípica. Até hoje, não se conseguiu caracterizá-la com exatidão e
também não se aprendeu a avaliá-la. Para uma melhor compreensão das funções do executivo, é pertinente analisar as crenças e verdades mais comuns sobre o seu trabalho. É possível
perceber que os mitos sobre a função executiva encontram-se
em uma perspectiva ordenada, lógica e racional. Mas, quando
se apresenta uma síntese da realidade do trabalho gerencial, de
acordo com relatos de dirigentes, encontra-se uma visão mais
desordenada e fragmentada da função.
Segundo algumas crenças, o executivo tem status, autoridade, poder e sala imponente em andar elevado. Toma decisões rápidas, analisa informações e supera obstáculos. É
confiante e seguro nas decisões, parece um “super-homem”.
Na verdade, trata-se de uma pessoa com status, às vezes, duvidoso; poder e autoridade dependente de injunções contínuas e
de informações obtidas de várias maneiras. Negocia assuntos
diversos, ganhando e perdendo, e demonstra tensão, nervosismo e incerteza quanto ao resultado das decisões.
É também um mito considerar que sua atuação é baseada
em ações ordenadas e planejadas; um processo acentuadamente racional e impessoal. Muitas vezes, ela se baseia em ações
desordenadas e intermitentes, decisões intuitivas e influenciadas por lealdades pessoais e comunicações verbais face a face.
A preocupação prioritária não é com políticas, diretrizes
ou com o futuro da organização, mas com operações atuais e
soluções de problemas prementes. Também é um mito o trabalho programado, com fases previsíveis e problemas antecipados para enfrentar contingências. Sempre ocorre enfrentamento de contingências e de problemas desconhecidos.
30 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Podem-se considerar crenças os seguintes instrumentos:
objetivos, planos, metas, resultados e prazos; os instrumentos
são as surpresas, os sustos, as contingências, os problemas.
Reunião para planejar e resolver problemas não ocorrem.
Reúnem-se para discutir as dificuldades das rotinas e debater
temas mais complexos. Dizem que o executivo recebe informações fundamentais por meio de relatórios, memorandos,
impressos e em reuniões programadas. Na verdade, as informações fundamentais são recebidas por sucessivos e variados contatos pessoais, telefonemas, bate-papos e reuniões de
última hora. Seu comportamento é formal e contemplativo?
Nada, é informal e interativo. Trabalha com sistematização e
profundidade em um número reduzido de tarefas e informações mais importantes para a tomada de decisão? Não, trabalha assistematicamente, de forma superficial e intermitente em
um grande número de tarefas, exercendo funções diferentes.
Também não se pode considerar o trabalho prospectivo, de
médio e longo prazo, orientado para soluções e integrado com
as diversas áreas da organização; ele é mais restritivo, de curto
prazo, orientado a problemas e fragmentado no que se refere
às diversas áreas da organização.
No final dos anos 60, foi divulgado um estudo minucioso
sobre os papéis do executivo. Nele, observa-se que tais profissionais desempenham dez papéis diferentes e inter-relacionados, concernentes às relações interpessoais, à transferência de
informações e à tomada de decisão.
No aspecto interpessoal, há o papel do chefe simbólico;
solicitado a desempenhar um número de obrigações rotineiras
de natureza legal ou social. Outro papel é o de líder, responsável pela motivação e direção de subordinados, praticamente
em todas as atividades.
No aspecto informacional, tem-se o papel do monitor, que
é responsável pela grande variedade de informações e serve
como centro nervoso de informação interna e externa da organização. O papel do disseminador é transmitir informação
recebida de fora ou de outros subordinados para os membros
da organização, além de transmitir externamente informação
sobre planos, políticas, ações e resultados da organização.
No aspecto decisório, há o papel do empreendedor, que
busca oportunidades para a organização e inicia projetos que
tragam mudanças. O administrador de problemas é responsável por ação corretiva, quando a organização enfrenta situações importantes e inesperadas. O negociador é responsável
por representar a organização em importantes negociações de
contrato.
Assim, verifica-se que o trabalho gerencial é atípico, não
tendo similitude com nenhuma outra função ou profissão. Sua
definição, apesar dos estudos, permanece um pouco ambígua
e até mesmo misteriosa. Observa-se, também, que parecem
existir habilidades gerenciais que necessitam ser enfrentadas
na experiência do dia a dia, com as devidas contradições e
mutações da empresa contemporânea. Outras já se encontram
sistematizadas e podem ser ensinadas e aprendidas por aqueles que se dedicam à gerência como profissão.
A nova visão de liderança enfoca funções mais delicadas
e importantes. Sendo assim, parece que o novo papel do executivo tende a ser o mais viável para impulsionar o processo
de mudança organizacional, já que seu papel difere do carismático tomador de decisões. Os novos executivos assumem
diferentes posturas no desenvolvimento de suas funções.
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 31
Mercadoegestão
Reinaldo Braga
Iracema Chequer
Aquisições
O sarrafo subiu
A compra do baiano Diagnoson pelo Grupo Fleury, ocorrida em fevereiro, mostrou que o
mercado de aquisições no setor de saúde já vive um outro patamar de referência (veja quadro). Com apenas uma unidade em Salvador e uma carteira que inclui até o SUS como cliente, o Diagnoson foi vendido por R$ 53,2 milhões – equivalente a 7,4 vezes o EBTIDA. “Há
três anos a proposta oferecida era de R$ 36 milhões”, revelou à Diagnóstico o empresário
Hélio Cruz. As tratativas tiveram início em 2007 e o acordo previu a presença dos dois sócios
no negócio pelos próximos três anos – a intenção do Fleury era mantê-los por cinco. Sobre
o baixo endividamento (R$ 2,9 milhões), incomum no mercado de diagnóstico por imagem,
o empresário justifica. “Sempre reinvestimos tudo na operação”, afirma ele, primeiro empresário da região a adquirir um PET-CT há cerca de três anos. A compra da Diagnoson marcou
a estreia do Grupo Fleury no segmento de diagnóstico por imagem no Nordeste.
Hélio Silva,
da Diagnoson
DISPUTA PELO MERCADO NORDESTINO DE DIAGNÓSTICO*
Operação
Data
Localização
Unidades
Valor da
compra
EBTIDA
Dívida
assumida
Relação
Compra/EBTIDA
DASA/
Image Memorial
Outubro/2005
Salvador (BA)
2
R$ 37 milhões
R$ 7,3 milhões
R$ 7 milhões
4,5
DASA/
Labpasteur
Junho/2006
Fortaleza (CE)
14
R$ 13 milhões
R$ 2 milhões
R$ 77 milhões**
6,5
DASA/
Cerpe
Outubro/2010
Recife (PE)
41
R$ 52,5 milhões
R$ 6,6 milhões
Não se aplica
7,9
Fleury/
Diagnoson
Fevereiro/2011
Fortaleza (CE)
1
R$ 53,2 milhões
R$ 7,2 milhões
R$ 2,9 milhões
7,4
*Fonte: Comissão de Valores Mobiliários (CVM). ** O valor da dívida do Labpasteur foi descontado na aquisição feita pelo DASA.
Política
A bancada
da saúde no
Congresso
Do total de 38 deputados federais eleitos em 2010 com o apoio financeiro do
setor médico-hospitalar, apenas cinco
representam estados da região Nordeste: Célia Rocha (PTB/AL), Sergio Barradas Carneiro (PT/BA), Aníbal Gomes
(PMDB/CE), Hugo Napoleão do Rego
Neto (DEM/PI) e José Francisco Paes
Landim (PTB/PI). Juntos, esses candidatos receberam R$ 290 mil em doações, respectivamente, das empresas
Aliança Administradora de Benefícios de
Saúde, Golden Cross Assistência, Promédica Proteção Médica e Unimed Arapiraca Cooperativa de Trabalho Médico.
No Sudeste, por sua vez, a “bancada”
32 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
da saúde na Câmara Federal elegeu dez
representantes.
Os dados compõem o estudo “Representação política e interesses particulares na saúde”, ao qual a Diagnóstico
teve acesso. De autoria dos pesquisadores Mário Scheffer (USP) e Lígia Bahia,
do Laboratório de Economia Política da
Saúde da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), a pesquisa conclui que,
nas eleições de 2010, o apoio financeiro
(cerca de R$ 12 milhões) contabilizado
de 49 empresas de planos de saúde foi
39,5% superior em comparação aos recursos disponibilizados no pleito de 2006
e 760,8% em relação a 2002.
Senado – Os senadores Walter Pinheiro (PT/BA) e Eduardo Amorim (PSC/
SE) também foram eleitos com o apoio
do setor de saúde, tendo a campanha
de cada um deles recebido R$ 60 mil
do grupo G Barbosa. A empresa ainda
concedeu o mesmo valor ao governador Marcelo Deda (PT/SE) – reeleito no
último pleito. Segundo o G Barbosa, as
doações foram realizadas tendo em vista os interesses varejistas da empresa e
não do braço detentor de um plano de
saúde na modalidade de autogestão e
de uma rede de 45 farmácias nos estados de Sergipe, Bahia e Alagoas.
Já nas Assembleias Legislativas, a
representatividade das empresas de
planos de saúde na região Nordeste é
nula após as eleições de 2010. Do total
de 26 deputados estaduais eleitos com
recursos do setor, sete atuam em Minas
Gerais, seis em São Paulo, cinco no Paraná, cinco no Rio Grande do Sul, dois
no Amazonas e um no Rio de Janeiro.
Na Bahia, as candidatas Fabíola
Mansur (PSB) e Olívia Santana (PC do
B) receberam R$ 60 mil, cada uma, da
Promédica Proteção Médica, mas não
obtiveram êxito nas urnas.
Negociação
Roberto Abreu
Ressarcimento
Cinco
perguntas
O presidente do Instituto Brasileiro de Direito da Saúde Suplementar, José Luiz Toro, conversou
com a Diagnóstico sobre a Lei nº
9656/98.
O STF reconheceu este ano a
“repercussão geral” da questão envolvendo a exigência do
ressarcimento das operadoras
ao SUS. Pode comentar?
José Luiz Toro – Acredito que o
STF deve julgar a questão até o final de 2011. A cobrança feita com
base na tabela do TUNEP (utilizada pela ANS como base) seria
abusiva, já que é superior aos valores aplicados pelo SUS.
Por que o assunto ainda é discutido mais de dez anos após
a edição da lei?
Toro – Existem diversas ações
sendo ajuizadas desde 1998, e o
STF nunca se pronunciou a respeito.
Atualmente, há alguma liminar suspendendo a cobrança
às operadoras?
Toro – Era muito comum, principalmente no Rio de Janeiro, que
as operadoras conseguissem liminares e tutelas antecipadas, mas
ultimamente essas medidas se escassearam, pois os juízes não têm
mais concedido.
Por que a ANS consegue receber apenas pouco mais de um
terço do valor cobrado às operadoras?
Toro – Porque as operadoras estão sempre questionando e discutindo o cabimento desta cobrança.
O ressarcimento envolve diversas
questões, como a constitucionalidade da cobrança e a inadequação
da tabela do TUNEP. Além disso,
muitas cobranças já prescreveram
devido ao tempo.
Hospital Aliança, em Salvador:
transação, se confirmada, será a
maior já ocorrida no Nordeste
O aliança e a Odebrecht
Pela primeira vez um alto executivo
do Grupo Aliança da Bahia, dono do
Hospital Aliança, admitiu que há sim
um processo de transferência do negócio para a Odebrecht. Sob condição de anonimato, a fonte revelou
que o processo de duo dilligence foi
encerrado e que a decisão só depende do empresário Paulo Sérgio Tourinho, acionista majoritário do grupo
que, somente no ano passado, distribuiu R$ 500 milhões em dividendos, em áreas que vão da pecuária
ao mercado de capitais.
Os boatos sobre a venda da unidade, no final do ano passado, levaram sócios do grupo a solicitar esclarecimentos sobre a venda e uma
manifestação oficial na CVM – o que
nunca foi feito pelo Aliança.
Considerado um ícone do setor
médico-hospitalar brasileiro, o hospital estaria sendo negociado por
aproximadamente R$ 190 milhões – o
que seria a maior transação já realizada
na região e uma das maiores do Brasil.
O principal interesse da Odebrecht, contudo, é na incorporação do terreno que
integra a unidade, do tamanho estimado
de três campos de futebol e localizado
em uma das áreas mais nobres de Salvador.
Cada vez mais distante do negócio
– o empresário quase nunca é visto no
hospital –, Tourinho teria imposto algumas condições ao futuro dono, como
manter o hospital e o centro médico funcionando pelos próximos 20 anos após
a venda. Teme que a história do Aliança
possa sucumbir em outras mãos.
Não é a primeira vez que a Odebrecht tenta negociar com o empresário,
definido como excêntrico e de poucos
amigos. “Se ele voltar atrás, não será
surpresa”, disse à Diagnóstico um interlocutor da Odebrecht.
Curtas
>> Além de ter se tornado o único hospital em Pernambuco com Acreditação Plena (Nível 2) da Organização Nacional de Acreditação (ONA), o Hospital Esperança também se
posiciona como a primeira instituição certificada entre os hospitais da Rede Lab´s D’Or
adquiridos em processos de compra ou associação.
>> Outra instituição nordestina que também acaba de receber a Acreditação Plena (Nível 2) da ONA é o Hospital São Rafael, de Salvador. A mais alta condecoração de qualidade do estado, contudo, pertence ao Jorge Valente (Grupo Promédica), com ONA 3.
>> O Grupo Santa Helena, que atua na área de medicina de grupo, já é um dos três
maiores do País em carteira de clientes. No portfólio da empresa, com sede em Camaçari (BA), corporações como Braskem, Petrobras e Camargo Corrêa. No Rio de Janeiro,
o Santa Helena já fincou sua bandeira no Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro) – um investimento de mais de R$ 40 bilhões da Petrobras e que emprega cerca
de 40 mil trabalhadores.
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 33
Roberto Abreu
MERCADO
premiação
Foto:Roberto Abreu/Arte: Maicon Santos
um prêmio para
entrar na história
Sem precedentes no país, o Benchmarking Saúde vai laurear as instituições,
gestores e empresas que foram modelo em suas áreas de atuação
Danielle Villela
Para conquistar o troféu, os
vencedores passaram pelo
crivo de seus próprios pares
34 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
F
oram necessários apenas alguns
cliques para que o mercado baiano escolhesse os 23 vencedores
do Prêmio Benchmarking Saúde, edição
Bahia (veja lista completa abaixo). Entretanto, por trás da praticidade e rapidez
da votação realizada através da internet,
todo o aparato de inteligência em torno da
premiação – sem precedentes similares na
região Nordeste – levou mais de um ano
para ser desenvolvido, entre definição de
metodologia, comitê julgador e lista de
indicados.
A iniciativa da Revista Diagnóstico
pretendeu dar visibilidade aos gestores
e instituições que se tornaram referência
para seus concorrentes e para o trade de
saúde por desenvolver estratégias inovadoras nos seus serviços, investimentos e
governança corporativa. “Será uma grande homenagem àqueles que tiveram a capacidade de utilizar a inventividade a seu
favor e se tornaram modelo em um mercado tão competitivo”, ressalta Reinaldo Braga, diretor de conteúdo do Grupo
Criarmed, responsável pela publicação da
Revista Diagnóstico. Com um PIB estimado em cerca de R$ 4,2 bilhões e mais
de 100 mil pessoas empregadas, o setor
de saúde brasileiro será contemplado,
pela primeira vez, com um prêmio com as
características do Benchmarking Saúde.
Os vencedores serão premiados em uma
grande festa com a presença dos principais representantes do segmento médico-hospitalar da Bahia, no dia 16 de junho,
no espaço Unique Eventos, em Salvador.
Antes de chegar até os troféus de
bronze fundido – símbolos da homenagem produzidos artesanalmente e desenvolvidos pela equipe de design do Grupo
Criarmed –, gestores e instituições passaram pelo crivo dos seus próprios pares
com base nos critérios de Inovação (peso
10), Credibilidade (10), Novos Investimentos (5) e Visibilidade de Mercado
(3). “Os parâmetros permitiram que as
empresas fossem premiadas por terem
se tornado referência com determinadas
ações e não por terem maior faturamen-
to ou serem ‘as melhores’”, detalha Helbert Luciano, diretor comercial do Grupo
Criarmed. Foi escolhido como benchmarking de sua categoria o indicado que
somou mais pontos em todos os critérios
de avaliação, de acordo com os pesos estabelecidos na metodologia.
Hospital Privado
(Grande Porte)
Serviço de Diagnóstico por Imagem
Hospital Aliança – 65,95%
Hospital da Bahia – 34,05%
Clínica Delfin – 30,48%
Diagnoson – 21,90%
Image Memorial – 19,55%
Hospital Privado de pequeno e médio porte
Serviço de Oftalmologia
Hospital Aeroporto – 25,51%
Hospital Jorge Valente – 22,94%
Hospital Jaar Andrade – 20,97%
Day HORC – 30,77%
Instituto de Olhos Freitas – 27,60%
Oftalmoclin – 22,92%
Indústria de gases medicinais
Serviço de Oncologia
White Martins – 46,18%
Linde – 28,68%
Dinatec – 25,14%
AMO – 29,97%
Núcleo de Oncologia da Bahia – 28,22%
ONCO – 22,26%
Laboratório de análises clínicas
Serviço de Ortopedia
Labchecap – 27,82%
Leme – 25,16%
Qualitech – 21,20%
Ortoped – 29,53%
COT – 25,64%
CATO – 15,43%
Medicina de grupo
Serviço Financeiro
Promédica – 47,88%
Norclínicas – 27,99%
Hapvida – 24,13%
Banco do Nordeste – 24,56%
Banco do Brasil – 21,22%
Banco Santander – 20,86%
Operadora de autogestão
PRÊMIOS ESPECIAIS
TRANSPARÊNCIA – A votação foi
conduzida por uma comissão julgadora
formada por 60 gestores de entidades representantes de todo o trade de saúde do
estado, a exemplo de líderes de associações de classe, empresários e executivos
de operadoras, clínicas e hospitais. “O
site disponibilizou todas as informações
necessárias para realizarmos a avaliação,
o conteúdo não deixava dúvidas sobre a
metodologia e os critérios”, assinala Cícero Andrade, consultor, diretor da Tecnologia de Gestão em Saúde (Tecnosp)
e um dos membros da comissão. “Não
há possibilidade de realizar uma votação
nestes moldes com transparência sem
recorrer ao meio eletrônico e à internet”.
CONHEÇA OS VENCEDORES
Arquitetura Hospitalar
Protécnica – 36,14%
Ricardo D´Albuquerque – 33,56%
Arca Arquitetura – 30,30%
Day Hospital
Itaigara Memorial – 30,30%
Day HORC – 22,84%
Hospital Jorge Valente – 22,51%
Empresa de TI
Medicware – 28,84%
MV Sistemas – 23,51%
TOTVS – 21,82%
Empresário do ano
Delfin Gonzalez (Grupo Delfin) – 34,70%
Carlos Calumby (Clínica AMO) – 22,57%
Jaar Andrade (Hospital Jaar Andrade) – 17,80%
Gestor Público
Sônia Magnólia (Planserv) – 36,42%
Jorge Solla (Sesab) – 33,90%
José Carlos Brito (Ex-SMS) – 29,68%
Home Care
SOS Vida – 27,64%
Bahia Home Care – 23,92%
Vitalmed – 21,63%
Hospital Filantrópico
Hospital Santa Izabel – 25,01%
Hospital São Rafael – 23,64%
Hospital Português – 20,19%
Hospital Privado (interior do estado)
Hospital Sta Helena (Camaçari) – 26,62%
Hospital Samur (Vitória da Conquista) – 21,45%
Hospital Emec (Feira de Santana) – 21,30%
Planserv – 25,55%
Petrobras – 24,44%
Cassi – 20,07%
Saúde Ocupacional
Grupo Santa Helena – 34,86%
Sol Saúde Ocupacional – 22,39%
Santé – 21,83%
Seguradora
Bradesco Saúde – 33,02%
Sul América – 28,68%
Medial Saúde – 22,41%
Destaque Brasil
PPP da Saúde (Hospital do Subúrbio)
Jorge Solla (Secretário Estadual de Saúde)
Jorge Oliveira (Prodal Saúde S.A)
Daniel Figueiredo (Prodal Saúde S.A)
Dirigente de Classe
Marcelo Britto (Ahseb)
Prêmio Emérito
Sílio Andrade
(Ex-presidente da Ahseb)
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 35
MERCADO premiação
“as empresas foram
premiadas por
terem se tornado
referência e não
por terem maior
faturamento ou
serem as melhores’”
helbert luciano, diretor
comercial do grupo criarmed
Cada jurado teve acesso ao sistema por
meio de login e senha exclusivos, medida que garantiu a segurança do processo.
Para evitar a repetição de votos, os dados
de acesso foram automaticamente expirados após o término da avaliação, de modo
que cada julgador teve direito a uma
única rodada de votação. “O grande desafio foi conciliar as ferramentas de programação e layout com a inteligência do
prêmio”, avalia Daniel Maia, da Ícone 7,
empresa responsável pelo site da votação
(grandesencontros.com/benchmarking).
O trabalho durou cerca de três meses e
previu o monitoramento de programadores especialistas em segurança 24 horas
por dia durante todo o processo. “Houve necessidade de algumas correções ao
longo da votação, o que já era previsto
em um projeto com esse nível de complexidade”, pondera Maia. Ficaram de
fora da avaliação eletrônica as categorias
Benchmarking Brasil, cuja PPP da Saúde
(Hospital do Subúbio) foi definida como
hors concurs, assim como Prêmio Emérito (Sírio Andrade) e Dirigente de Classe
(Marcelo Britto).
Além da tecnologia, outra estratégia adotada com o objetivo de garantir o
equilíbrio da votação foi a escolha de representantes de pelo menos uma categoria
do prêmio, que, por sua vez, não puderam
avaliar as categorias em que suas próprias instituições atuam. Para cada uma
das 23 categorias da premiação, a Revista
Diagnóstico elaborou uma pré-lista com
três indicados, a partir de uma pesquisa
envolvendo médicos, dirigentes de classe, consultores e jornalistas especializados. Os membros da comissão julgadora
também puderam sugerir um concorrente,
eventualmente não citado, no momento
da avaliação.
36 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Premiação será entregue em noite
de gala no Unique Eventos, em
Salvador
RECONHECIMENTO – Coordenadora geral do Planserv, Sônia Carvalho atribui a vitória dupla – nas categorias Gestor
Público e Operadora de Autogestão – à
dedicação de todo o corpo de funcionários do órgão. “Foi uma surpresa, afinal,
concorri com dois profissionais de peso
no estado”, comemora, referindo-se a JorSônia Carvalho,
do Planserv:
prêmios nas
categorias
Gestor Público
e Autogestão
ge Solla, secretário estadual de Saúde, e a
José Carlos Britto, ex-secretário de Saúde
do município de Salvador. “Recebo com
muita alegria esse prêmio, que é um reconhecimento da seriedade e da lisura não
só do meu trabalho como gestora, mas de
todos os colaboradores do Planserv”. O
presidente da Associação dos Hospitais
e Serviços de Saúde do Estado da Bahia
(Ahseb), Marcelo Britto, comemora a
iniciativa. “É essencial valorizar ações de
qualificação do setor. Normalmente, só
vemos a imprensa veiculando notícias negativas”, analisa. O incentivo à qualificação também foi destacado por Eucleciana
de Oliveira Lima, superintendente regional da Unidas. “A premiação não valoriza
apenas os investimentos, mas também a
excelência dos serviços prestados”, comenta. A ideia dos organizadores do Benchmarking Saúde é levar o know-how do
prêmio para outras praças do Nordeste.
“Esse prêmio é um
reconhecimento
da seriedade e da
lisura do trabalho
de todos os
colaboradores do
Planserv”
Sônia Carvalho, coordenadora
geral do planserv
A Re v i s t a m a i s i m p o r t a n t e d a
região que mais cresce no Brasil*
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 37
M A I S S A Ú D E À S S U A S I D E I A S.
Muitas vezes, uma grande ideia só precisa de destaque para conquistar novos públicos. Por isso, a ABIMO
está promovendo o Prêmio Inova Saúde 2011. Se você acredita que sua empresa tem um produto
ou serviço que seja inovador e que possa contribuir para o benefício da saúde humana, inscreva-se.
Uma boa ideia faz bater mais forte o coração da sua empresa.
Acesse www.abimo.org.br/premioinovasaude, cadastre sua ideia e mostre seu talento.
Apoio:
38 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Estante&Resenhas
Divulgação
Áurea Luz, diretora executiva
do Image Memorial - Bahia
Considero a formação de
equipes de alto desempenho
algo que exige muita dedicação e perseverança dos executivos. “Os 5 desafios das
Equipes – Uma Fábula sobre
Liderança”, de Patrick Lencioni, aborda o tema de forma
criativa e objetiva, contribuindo com uma visão estruturada
do assunto e auxiliando com
ideias interessantes para o
nosso dia a dia. O autor destaca o trabalho em equipe como
vantagem mais competitiva do
que as finanças, estratégia ou
tecnologia. Excelente leitura.
Divulgação
Iberê Monteiro, gerente
de Informações em Saúde
Suplementar do SINDHOSPE
Com uma linguagem informal, “ePatient - A Odisseia
Digital do Paciente em Busca
da Saúde” aborda a inserção
da Tecnologia da Informação
e Comunicação, mostrando
como o paciente do século
XXI se comporta, pesquisando
sobre seu diagnóstico e exigindo que médicos e instituições
de saúde ingressem na inclusão
digital. O autor evidencia como
esse potencial está sendo aplicado, além de trazer estudos de
caso referentes a projetos que
objetivam a plena utilização
das ferramentas modernas.
“O livro contribui com uma visão estruturada “O autor mostra como o século XXI exige
do assunto de forma bastante criativa”
inclusão digital de médicos e instituições”
OS 5 DESAFIOS DAS EQUIPES
Uma Fábula sobre Liderança
Autor: Patrick Lencioni
Editora: Campus
Número de páginas: 208
Preço sugerido: R$ 64,50 (Saraiva)
EPATIENT
A Odisseia Digital do Paciente em Busca da Saúde
Autor: Guilherme S. Hummel
Editora: STS
Número de páginas: 327
Preço sugerido: R$ 64,00 (Saraiva)
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 39
ARTIGO Raimundo Pinheiro
previdenciário em até 50% mensalmente. É a lógica do seguro
aplicada pela Previdência Social: quem tem maior risco paga
mais e, ao contrário, quem reduz riscos recolhe menos.
Apenas para citar exemplos, instituições financeiras dobraram seu recolhimento previdenciário face aos altos índices de
doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT),
Raimundo Pinheiro é médico do
ao passo que empresas industriais bem controladas economitrabalho e diretor médico do
zaram boas quantias reduzindo o percentual de recolhimento
Grupo Santa Helena
sobre a folha de pagamento.
Existem políticas, diretrizes e estratégias relativas à saúde
e à segurança que, quando bem aplicadas e bem conduzidas
por seus gestores, podem levar empresas a assumirem posição bastante confortável quando comparadas a concorrentes
displicentes.
O trabalho, juntamente com a educação, saúde, segurança
e outros, é direito garantido pela Constituição Federal de 1988
(CF/88). De igual forma, a Carta Magna garante aos trabalhao Brasil, em 2007, ocorreram 653.090 acidentes e do- dores a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de
enças do trabalho, equivalentes a 75 acidentes e doen- normas de saúde, higiene e segurança (CF/88, art.7°, inciso
ças do trabalho a cada hora da jornada diária. Esses, XXII).
por sua vez, resultaram em 31 casos de invalidez por dia de
A primeira dessas normas é a Lei 6.514, Artigo 157, dantrabalho e uma morte a cada três horas trabalhadas, segundo do competência às empresas para (I) cumprir e fazer cumprir
dados disponíveis no site do Ministério da Previdência Social. as normas de segurança e medicina do trabalho; (II) instruir
Acidentes, casos de invalidez e de morte têm repercussões le- os empregados, através de ordens de serviço, quanto às pregais e sociais que impactam na sobrevicauções a tomar no sentido de evitar
vência empresarial, além de implicação “a sobrevivência
acidentes do trabalho ou doenças ocufinanceira para os cofres da Previdência
pacionais.
Social, uma vez que geram benefícios empresarial é
Aos empregados compete: (I) obserprevidenciários temporários ou pensões inviável quando
var as normas de segurança e medicina
definitivas.
do trabalho, inclusive as instruções de
As implicações legais ocorrem por associada a altos
que trata o item II do artigo anterior; (Il)
conta do Ministério Público, a exemplo índices de acidente,
colaborar com a empresa na aplicação
dos Termos de Acordo e Compromisso,
dos dispositivos de segurança e medicido Poder Judiciário, que estipula inde- doença ocupacional
na do trabalho. Constitui ato faltoso do
nizações trabalhistas. A sociedade, por ou afastamento por
empregado a recusa injustificada à oboutro lado, se encarrega das implicações
servância das instruções expedidas pelo
sociais, excluindo do mercado empresas doença”
empregador quanto às normas de saúde
não comprometidas com a chamada suse segurança.
tentabilidade.
Com base nas diretrizes constitucionais e leis infraconsA Previdência adotou também formas de se defender das titucionais, existe a obrigatoriedade de elaboração e impleempresas com altos Riscos Ambientais do Trabalho (RAT), mentação, por parte de todos os empregadores e instituições
reduzindo ou majorando as alíquotas do RAT em 1%, 2% ou que admitam trabalhadores como empregados, do Programa
3%, segundo o desempenho de cada empresa no respectivo de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), com o
segmento da Classificação Nacional de Atividade Econômica objetivo de promoção e preservação da saúde do conjunto dos
(Lei 10.666/2003).
seus trabalhadores (Lei 6514/1977, Norma Regulamentadora
É inviável, portanto, a sobrevivência empresarial associada n° 7 – NR-7). O PCMSO deve ser elaborado por especialista
a altos índices de acidente do trabalho, doença ocupacional ou em medicina do trabalho, estando livres dessa exigência apeafastamento do trabalho por doença. O controle de acidentes nas as empresas de grau de risco 1 e 2 com até 25 empregados,
ou doenças entre os trabalhadores pode reduzir o recolhimento e aquelas de grau de risco 3 e 4 com até dez empregados.
Roberto Abreu
Gestão da Saúde
Ocupacional
N
“
“A BOA CONDUÇÃO DAS ESTRATÉGIAS RELATIVAS À SAÚDE E
à SEGURANÇA PODE LEVAR EMPRESAS A POSIÇÕES BASTANTE
CONFORTÁVEIS EM RELAÇÃO À CONCORRÊNCIA”
www.diagnosticoweb.com.br
40 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011
Diagnóstico | jan/fev/mar 2011 41
42 Diagnóstico | jan/fev/mar 2011