varal no 15 - Varal do brasil
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VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ® Literário, sem frescuras! Imagem: © Springfield Gallery - Fotolia.com ISSN 16641664-5243 Ano 3 - Maio /Junho de 2012— 2012—Edição no. 15 1 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 2 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ISSN 16641664-5243 LITERÁRIO, SEM FRESCURAS Genebra, primavera de 2012 No. 15 bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddd ddddddddddddddddddddmnhee"pam#ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddd ddddddddddddddddddmnhee"pam#ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhhhhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehaddddddddddd ddddddddddddddddmnhee"pam#ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh hhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk kkkkkkkkkkkkkrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrffffffffffffffmanajudyebeneogguaenejuebehadddddddddddddd dddddddddddddmnhee"pam#ngnrihssssssssssssssssssnerrrrrrrrrrrrrrekkkkkkkkkkkkkkkkkkkkbbbbbbbbbb bbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbbmmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhEE eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeehhuyuyuytuyhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhjkkkkkkkkkkkkkkkkkkk 3 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 EXPEDIENTE Lição do amor... Por Alice Luconi Nassif Revista Literária VARAL DO BRASIL NO. 15 - Genebra - CH Sentimento sutil e penetrante Que acelera a pulsão Atropelando o instante Que marca a separação Copyright Vários Autores O Varal do Brasil é promovido, organizado e Afetos que não perecem Provocam múltiplas sensações Que queimam e renascem Como Fênix nos corações divulgado pelos sites: www.coracional.com e www.livrariavaral.com Site do VARAL: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com Reencontros impossíveis Acabam por acontecer Seres antes invisíveis Começam a reaparecer Livraria VARAL DO BRASIL: www.livrariavaral.com Distâncias não existem Os códigos não são verbais Longe e perto coexistem Olhares... falam demais Textos: Vários Autores Colunas: Daniel B. Ciarlini A mesma emoção comove O mesmo fato sensibiliza Tudo ali se envolve Cresce, agita e mobiliza Fabiane Ribeiro Sarah Venturim Sheila Ferreira Kuno O tempo já não devora Ausências não contam mais Qualquer momento é a hora Dor e sofrimento, jamais Ilustrações: Vários Autores Muitas imagens encontramos na internet sem ter o nome do autor citado. Se for uma foto ou um desenho seu, envie um e-mail para nós e teremos o maior prazer em divulgar o seu talento. Sentir é uma necessidade Nada se precisa explicar Entende-se toda verdade Quando se aprende a amar Revisão parcial de cada autor Revisão geral VARAL DO BRASIL Composição e diagramação: Jacqueline Aisenman A distribuição ecológica, por e-mail, é gratuita. A revista está gratuitamente para download em seus sites e blogs. Se você deseja participar do VARAL DO BRASIL NO. 16, envie seus textos até 10 de junho de 2012 para: [email protected] Foto da capa: ©-Springfield-Gallery---Fotolia ©-Jean-Kobben---Fotolia.com 4 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Se uma palavra pudesse definir neste momento a o Varal do Brasil, esta seria “felicidade”. E isto porque estamos vivendo um momento de plenitude após ter participado com êxito do 26o. Salão Internacional do Livro e da Imprensa da cidade de Genebra, Suíça, quando lá estivemos com quatorze autores para autógrafos e quase cem títulos dos mais de trezentos disponíveis na Livraria Varal do Brasil. Foram momentos intensos, de muita emoção. O contato direto com o leitor se fez e muitos que ainda não conheciam nosso trabalho passaram não só a conhecer, mas também desde já a participar. Estamos caminhando para o terceiro ano da revista em 2012 e já vamos lançar a segunda antologia (Varal Antológico 2). Desta vez vamos a Salvador (BA), Brumadinho (MG) e Belo Horizonte (MG). Em Salvador contamos com o talento e preciosa colaboração do escritor Valdeck Almeida de Jesus e da escritora Renata Rimet. Em Brumadinho contamos com as mãos e o coração da escritora Norália de Mello Castro que, juntamente com a Prefeitura daquela cidade e a Casa da Cultura Carmita Passos, fizeram deste sonho uma realidade. Em Belo Horizonte contamos com a internacionalmente conhecida escritora e fomentadora cultural Clevane Pessoa de Araújo Lopes que nos levará a uma maravilhosa Conversa ao Pé do Fogão na Lagoa do Nado, organizada pelo escritor Marcos Llobus. Estar em Salvador, Brumadinho e em Belo Horizonte para nós é uma grande honra e só podemos agradecer o empenho e o calor humano destes escritores que tanto fizeram para que isto se tornasse possível; assim como a presença, dedicação e carinho de todos os envolvidos que precisaríamos de páginas para citar, mas que o coração alinha, com toda certeza, na memória. Estamos felizes. Todos os dias chegam novas pessoas para escrever conosco e nossa alegria de fazer tudo “sem frescuras” tem contagiado muita gente. Não há idade que nos separe, mas sim a vocação que nos une! Continuemos assim. Sem frescuras e sem fronteiras. Um brinde à simplicidade! Jacqueline Aisenman Editora-Chefe 5 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 • ALICE LUCONI NASSIF • GLADYS GIMENEZ • ANA ESTHER • HELIO SENA • ANA RIBEIRO • HERNANDES LEÃO • ANDRE L. SOARES • ISABEL C. S. VARGAS • ANDRÉ VALÉRIO SALES • ISMAEL S. CANDIDO • ANGELO COLESEL • ISRAEL PINHEIRO DA SILVA • ANNA LEÃO • IVANE PEROTTI MACKNIGHT • ANTONIO FERREIRA LIMA • JACQUELINE AISENMAN • CARLOS ALBERTO OMENA • JERONYMO ARTUR • CARLOS BAYMA • JOANA ROLIM • CARLOS CONRADO • JOSE CAMBINDA DALA • CARLOS VAZCONCELOS • JOSE CARLOS DE PAIVA BRUNO • CELIA LABANCA • JOSÉ HILTON ROSA • CRISTIANO SOUSA • JOSSELENE MARQUES • CRISTINA MASCARENHAS DA SILVA • JU PETEK • DANIEL CIARLINI • JUCA CAVALCANTE • DANIELLI MORELLI • DANILO AUGUSTO DE A. FRAGA • DHIOGO JOSÉ CAETANO • DÚLCIO ULYSSÉA JÚNIOR • ELISE SCHIFFER • EMANUEL KJELLIN GUERREIRO • ENEIDA SOUZA • EVELYN CIESZINKI • FABIANE RIBEIRO • GALDY GALDINO • GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA • GILDO OLIVEIRA • GILMA LIMONGI BATISTA © Yuri Arcurs - Fotolia.com 6 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 • LENIVAL NUNES DE ANDRADE • LEONIA OLIVEIRA • LORENI GUTIERREZ • LUNNA FRANK • MAGNO OLIVEIRA • MARIA ALICE LIMA FERREIRA • MARIA EUGENIA • MARIA LUÍZA FALCÃO • MARIA SOCORRO DE SOUSA • MARILU F. QUEIROZ Beleza em todos os âmbitos • MARIO REZENDE Dizem ser um perigo iminente • MARTA CARVALHO Mas é por que mexem com • NORÁLIA DE MELLO CASTRO • RAFIKI ZEN Nos homens somos bem capazes... • ROBERTO ARMORIZZI Porém vocês são perspicazes! • RUBENS JARDIM Continuem a encher alegria • SAMUEL SAINT • SARAH VENTURIM Do amanhecer ao anoitecer durante todo dia • SHEILA FERREIRA KUNO • SONIA NOGUEIRA • SUELI RODRIGUES • VALDECK ALMEIDA DE JESUS • VANESSA CLASEN • VAVA RIBEIRO • VARENLA DE FÁTIMA ARAÚJO • WILIAN LANDO CZEIKOSKI • WILTON PORTO • YARA DARIN Beleza do trânsito Por Dúlcio Ulysséa Júnior Mulher no trânsito Ficamos a olhar no nossa mente retrovisor Só pra contemplarmos seu esplendor Pois digam o que nossos olhos quiser Mas o transito fica bem mais lindo com a mulher! 7 de VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Aves Por Ana Esher Havia aves a ver navios... ...que afundavam. Ah, vês? O fim da vida que junto afunda. Havia aves a ver... Ave, Maria! Desenho de Ana Esther 8 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 distrito de Conceição de Itaguá, atraindo públi- Redescobrindo Brumadinho co nacional e internacional. Um investimento cultural que abriu as portas de Brumadinho pa- Quando os bandeirantes vieram a Minas Gerais e passaram pela região do Vale do Paraopeba, em ra o mundo. Cada distrito histórico de Brumadinho traz ri- busca de ouro e esmeraldas, não tiveram su- quezas culturais de grande atração turística e, cesso, porque ouro mesmo foi encontrado em um deles é São José do Paraopeba, onde esOuro Preto. Mas, pelo caminho aberto pela tão concentradas quatro comunidades quilombandeira de Fernão Dias, vários povoados fo- bolas e a Fazenda dos Martins, construída no ram surgindo no percurso do Rio Paraopeba e período colonial/ escravocrata. Esta fazenda é seus afluentes, entre as serras da Conquistinha tombada pelo Iepha- Instituto Estadual de Patrie Rola Moça, onde hoje se localiza o município mônio Histórico e Artístico, e está em fase inicide Brumadinho. al de restauração. Posteriormente, a Fazenda será aberta a visitação pública e transformada em Centro da Cultura Negra, com geração de emprego para os jovens quilombolas dos povoados de Rodrigues, Ribeirão, Sapé e Marinhos. A potencialidade turística de São José do Paraopeba está também na produção de cachaça artesanal de qualidade. A famosa Cachaça Boa Vitória, exportada para todo o mundo está entre Entre os povoamentos que nasceram com a elas. Entretanto, o turista que chega ao distrito imigração aberta pelas Bandeiras no século quer mesmo é conhecer o Quilombo do Sapé, XVII estão os distritos históricos que formam o formado por descendentes de escravos libertos município de Brumadinho, desde 1938. São da Fazenda dos Martins. Sapé mantem viva as eles os distritos de Brumado do Paraopeba, festas tradicionais de Congado, Folia de Reis, que hoje se chama Conceição de Itaguá; São Guarda de Moçambique, Festa da Consciência José do Paraopeba; Aranha, Piedade do Para- Negra e a Festa de São Benedito; que são coopeba e sede. muns aos povoados irmãos quilombolas de Rodrigues, Ribeirão e Marinhos. Estes eventos No decorrer dos anos, esses distritos preserva- são grandes atrações turísticas do município de ram sua cultura, história e natureza que, juntas, Brumadinho. propiciam hoje um turismo diversificado que Também em Brumadinho fica situado o distrito atrai investimentos turísticos em toda a exten- de Piedade do Paraopeba, que é um dos povosão do município. Entre esses investimentos ados mais antigos de Minas Gerais e, que pela está o Instituto Cultural Inhotim, implantado no data da chegada dos bandeirantes, no ano de 9 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 1674, sabe-se hoje que este distrito é mais antigo que Ouro Preto, Mariana e todas as outras cidades históricas de Minas Gerais, com igreja pré-barroca do período missionário-jesuítico, inaugurada em 1713. Devido a sua situação geográfica e a sua extensão territorial de 634 km2, Brumadinho tornou-se um oásis no meio da Região Metropolitana de Belo Horizonte, um refúgio da classe média nos finais de semana e feriados. Por isso, nos últimos anos, Brumadinho vem sendo redescoberto pelos turistas que procuram lazer, entretenimento, descanso, cultura; proporcionado pelos empreendimentos turísticos instalados, principalmente, ao pé da Serra da Moeda, mais precisamente nas localidades de Casa Branca, Suzana, Palhano e Piedade do Paraopeba. Ao pé da Serra da Moeda existe uma natureza que encanta. É lá que está o distrito de Piedade do Paraopeba, que por sua vez abriga os povoados localizados na encosta. Neste distrito ainda existem casarões coloniais de fachada ainda original e, também, a Igreja de Piedade do Paraopeba e uma capela de Nossa Senhora do Rosário; possivelmente originada da confraria de escravos que não podiam frequentar a igreja matriz. Mesmo tendo perdido suas características setecentistas, a capela ainda conserva os acessos e parte dos muros em pedra que a cercam. É ali que ocorrem, em outubro, os festejos do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. A religiosidade, tradição deste distrito, tornouse um centro de romaria para devotos a Nossa Senhora da Piedade, através da Via das Sete Dores; evento implantado em 2010. Certamente, no entorno de Piedade, encontram -se excelentes restaurantes que vão desde a cozinha mineira até a cozinha árabe. Também nos arredores de Piedade, o turista pode cavalgar, caminhar, voar de parapente e asa delta, praticar mountain bike e balonismo. Casa Branca é um povoado muito procurado pelos turistas devido a sua área de hospitalidade turística. Este povoado que pertence a sede do município desde a década de 90, pois antes disso pertencia a Piedade do Paraopeba, guarda histórias e mistérios. No século XVIII esta região foi ocupada por contrabandistas de ouro que construíram uma casa de fundição de moedas falsas para fugir dos impostos cobrados por Portugal. As ruínas desta casa ficaram conhecidas pelo nome de “Forte de Brumadinho”, atraindo a curiosidade de turistas aventureiros. Em Casa Branca existem pousadas aconchegantes e bons restaurantes. O povoado possui uma gastronomia simples e saborosa, entre bistrôs sofisticados, cafés, restaurantes com comida árabe, massas e comida mineira. Lá o turista pode fazer caminhadas, arvorismo, tomar banho de cachoeira e praticar mountain bike, pois o lugar propicia estas atividades. Além disso, a grande atração nacional de Casa Branca é o Festival Gourmet, realizado no mês de setembro. Também em Brumadinho existem muitas festas temáticas de grande atração, como as realizadas no distrito de Aranha. Entre elas estão o Festival da Jabuticaba, que nasceu devido ao distrito ser um grande produtor da fruta. Hoje em dia artesões produzem derivados da jabuticaba que são comercializados e, o Festival é um canal de divulgação do produto. Também neste distrito é realizada a Festa da Mexerica Poncã, no povoado de Melo Franco, que é o maior produtor de Mexerica do Vale do Paraopeba e quiçá de Minas Gerais. Neste povoado também são produzidos derivados da fruta que são comercializados. A Festa é proporcionada com a finalidade de divulgar este produto da terra. Enfim, todos os distritos e povoados de Brumadinho estão atualmente em desenvolvimento e sendo redescobertos para empreendimentos turísticos. 10 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Foi devido a beleza natural descoberta em Brumadinho que o Inhotim foi implantado em Conceição de Itaguá, que também é um povoado setecentista que possui resquícios de sua grandiosidade de outrora e, que mantêm viva uma natureza impar ao pé da Serra da Conquistinha. livros dos colunistas do jornal Circuito Notícias: Dante Angelelli, Francisco Lima e Arnaldo Rodrigues; abrirá suas portas para o mundo, propiciando entrosamento e oportunidade para escritores brasileiros, mineiros e brumadinhenses. Com certeza, o lançamento do Varal Antológico 2 na Casa da Cultura, será um momento de redescobrimento de Brumadinho. Já o distrito sede de Brumadinho, emancipado em 1938, incorporando em seu território todos os distritos históricos, cresceu graças a construção de uma estação do Ramal do Paraopeba da Estrada de Ferro Central do Brasil. É na sede de Brumadinho que está situada a Casa de Cultura Carmita Passos, onde será realizada a 2ª edição do Varal Antológico. Texto de: Maria Carmen de Souza Silva – Bacharel em Comunicação Social, Relações Públicas; Licenciada em Letras; Pós-graduada em Língua Portuguesa; profissionalizada em Jornalismo; fundadora do jornal Circuito Notícias e Diretora de Jornalismo da Prefeitura Municipal de Brumadinho. Jacqueline Aisenman, escritora e poetisa brasileira radicada em Genebra, estará no Brasil entre final de maio e início de junho, e passará por Salvador (BA), Florianópolis(SC), Belo Horizonte e Brumadinho (MG). Em Brumadinho a escritora estará no dia 1º de junho, na Casa da Cultura Carmita Passos, as 19h30, onde em conjunto com a Prefeitura Municipal de Brumadinho, lançará o Varal Antológico 2, com os coautores desta antologia: André Victtor, Cláudio de Almeida Hermínio, Clevane Pessoa, Flávia Menegaz, Irineu Baroni, Maria Alice Lima Ferreira, Vó Fia e Norália de Mello Castro; que por sua vez, é moradora de Brumadinho e será anfitriã deste evento. Neste encontro cultural os escritores, coautores, familiares e convidados, terão oportunidade de descobrir o potencial turístico de Brumadinho, a começar pela âncora turística que é o Museu de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim. Este será um momento ímpar cultural de Brumadinho e, a Casa da Cultura, que já sediou lançamento de escritores da cidade, como os 11 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Magia em Versos Por Anna Ribeiro Como simples mortal Minha alma repousa em esperanças. Nestes sonhos, De encantos e anseios Tu cavalgas nas luzes da lua cheia, Dizendo em cantos de minhas magoas! Que soluça por dores... Nos olhos arde o pranto, Na alma o verso que não digo; Mas desconfio de teus cantos. Neste mundo de ilusória magia! Talvez você seja mais vazio do que eu... 12 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 FUGINDO NUMA TELA DE VAN GOGH Por André L. Soares . Cansado das vãs teorias, busco a letargia dos alienados felizes. Não quero saber da política, viro as costas ao feio e à hipocrisia. Entrego-me à incoerência;... só vou ouvir os pássaros e apreciar as orquídeas! Chega de tantas mentiras, da esperança perdida da pesada leitura. Fico à margem dos dias, da falsa engrenagem das tristes notícias. Cedo-me à ignorância;... só vou ouvir os pássaros e apreciar as orquídeas! Farto das ideologias, dos beijos de Judas, das falas prolixas, renego as tramas noturnas, as turvas matizes e as falácias da vida. Rendo-me à intolerância;... só vou ouvir os pássaros e apreciar as orquídeas! Foto de André L. Soares 13 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Desespero de poeta Por Angelo Colesel ali a ânsia avança a vida cansa tudo cai a vida vai e não alcança ‘sem poesia’ rasa a baciaágua parada sem vento sem rebeldia sem... um ser leproso lambendo as feridas que florescem na testa do que resta: a ânsia que avança a vida que cansa, eu ali... Se você deseja ajudar os animais que todos os dias são abandonados, atropelados, maltratados e não sabe como, vai aqui uma dica: Procure uma associação de proteção aos animais, um refúgio, uma organização ou mesmo uma pessoa responsável em sua cidade ou estado. As colaborações podem ser feitas através de tempo, dedicação, ajudas financeiras, divulgação. Há pessoas por todos os cantos ajudando aqueles que não sabem como ajudar a si mesmos. Seja mais um, faça destes bichinhos a sua causa!! AJUDE A AJUDAR, SEJA HUMANO! 14 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 O ESCUDO quilidade e por consequência da nossa passividade? Proteção de nosso ego, exprimido, arrogante e frágil? Por Anna Leão Embora uma arma de defesa, o escudo sempre foi considerado uma arma de vital importância.. Vemos filmes passados em épocas antigas e junto com as espadas e machados notamos a força do escudo. Sim, precisamos nos defender quando estamos em batalha. Mas e quando esta batalha é a vida? Quando estamos armados até o topo da cabeça com uma armadura pesada e mais um escudo em nossos braços bem a frente de nosso coração, impedindo que se machuque ou mesmo que se abra? Não falo aqui só no coração aberto para viver uma relação afetiva, enamorar-se, apaixonar-se. Isto também, mas falo de uma forma mais ampla. Falo do escudo que nos protege de tudo aquilo que no fundo queremos ser e viver. Falo do escudo que nos dá a sensação de uma vida tranquila e segura e da qual temos total controle, mas que não nos permite ousar. Falo do escudo que não nos deixa entrarmos em contato com aquilo que mais tememos em nós, pois achamos que evoluímos, passamos para um outro patamar, e certos sentimentos não mais nos pertencem. Falo de um escudo que nos impede de vivermos as experiências da vida e com elas podermos nos conhecer melhor, mesmo não gostando das partes sombrias, mesquinhas e sórdidas que julgamos não ter mais enquanto sustentamos em nossa frente o poderoso escudo de proteção. Pois na vida, verdadeiro guerreiro é aquele que corre nu pela floresta sombria. Verdadeiro guerreiro é aquele que sente em suas mãos apenas a carícia do vento. Verdadeiro guerreiro é aquele que conhece o inimigo quando este realmente se apresenta desafiando-o. Verdadeiro guerreiro é aquele que sabe que cada desafio é uma oportunidade de aprimoramento e crescimento. Verdadeiro guerreiro é aquele que almejamos ser, julgamos ser, mas na verdade quase nunca somos; pois o verdadeiro guerreiro vai à luta, se expande, se permite, se entrega e não fica apenas sentado em um trono. Queremos realmente comungar com a vida? Queremos realmente nos conhecer? Então precisamos estar cientes que também iremos conhecer nossas partes desagradáveis, inseguras, e medíocres. Porém só assim nos veremos inteiros! Para isto sugiro que penduremos o nosso “poderoso” escudo em nossa parede com certeza ele servirá de uma bela decoração – e saiamos porta afora, rumo à vida, rumo ao desconhecido, de peito aberto, sem armas nas mãos, apenas com a coragem no coração, e quem sabe, entoando uma singela oração! Proteção de quê? -eu me pergunto! Proteção das ilusões que criamos de nós mesmos? Proteção da nossa tran15 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 SANTOS DUMONT Por Angelo Augusto Ferreira “me questiono: como um menino pequenino nasceu na roça de Cubango inventou o avião” Ferreira Lima Devagar. Respira fundo. Atenção gado a frente. Não corre, esquece não tem pressa A difícil travessia, caminho estrada rural Pássaros saúdam nossa caminhada Um Bem Te Vi, canta, gorjeia, grita Beija-Flores cores saúdam nossa empreita O tempo não apaga a odisseia do avião Um menino pequenino, seu pai engenheiro Ajuda, acredita dá a mão na sua educação Não desiste. Insiste A viagem conhecer de perto a Casa de Santos Dumont O menino pequenino, cresce, estuda A natureza misteriosa, engenhosa, sigilosa Reserva um tempo viver precioso Acontecer esplendoroso cheio de luz O fenômeno do existir do acontecer Da fazenda Cubango até Paris Chamou atenção a sua participação Um homem de estatura pequenina Presenteia o mundo com a maior benesse Bem examinada chama muita atenção A força pura divina do universo Chama atenção. Escolhida a participação Escolhido. Eleito Santos Dumont Figura principal. A invenção do avião ! Parabéns o corpo, a alma, o espírito de Santos Dumont 16 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 rua muito arborizada, tipo daquelas que só se vê em filmes estrangeiros e tinha como vizinhos outras manPor Carlos Alberto Omena sões não tão diferentes ou imponentes da dele. Os carros importados na garagem davam a real e nítida De repente, quebrando o silen- visão do poder aquisitivo dos moracio daquela madrugada fria e chuvo- dores da rua. Nessa rua ficava semsa, ouve-se um grito estridente de pre a postos dois seguranças partipavor seguido de dois estampidos de culares, um de cada lado da rua e revolver, saindo de uns dos inúme- andando de um lado para outro, faros cômodos da mansão do Sr. Marzendo o patrulhamento da área. ques. A rua era regada pela tranquiO Sr. Marques com a idade já lidade e paz, brindada por um sibeirando os 60 anos, mas com apalencio mórbido e às vezes assustarência de 50, era um empresário bem dor, principalmente ao cair da noisucedido, muito rico e poderoso, te quando as luzes dos postes de enérgico, rigoroso, mas um bom co- iluminação sombreavam os muros alração gostava de tratar bem os em- tos das casas dando um ar ainda pregados da casa e funcionários de mais sombrio ao local. suas empresas. Sempre que alE todo esse silencio e tranquigum deles aparecia com algum prolidade fora quebrado naquela madrublema, o Sr. Marques tratava logo gada onde a garoa fina aliada a um de ajudá-lo, pois entendia que se o frio gélido e cortante caia sobre a funcionário estivesse bem, seus ne- cidade por aquele grito pavoroso e gócios também iriam bem e apesar de os tiros. toda a sua fortuna, era um homem de Logo as luzes das mansões viatitudes muito simples. Não gostava zinhas começam a se acender e os de pompas, de festas badaladas, gostava de dirigir seu próprio car- moradores sem saber o que estava de ro, que alias não era novo, mas se fato acontecendo, dirigem-se ainda meio sonolentos à casa do Sr. Marsentia confortável com ele, comia no refeitório da empresa juntamente ques. -Ninguém entra na casa antes da com seus funcionários, enfim, uma polícia chegar! Grita um. pessoa muito simples. Ao contrario de sua esposa, D. -Mas se tiverem precisando de Vera, uma mulher muito bonita, es- ajuda? Grita outro. belta e muito jovem pois tinha ape- Deve ter sido um assalto! nas 30 anos, metade da idade do Sr. Exclama mais um. Marques, que gostava de badalações, Minutos depois a policia chede festas, gastava dinheiro como se ga à mansão, arromba a porta e eneles nascessem em arvores, mulher tra encontrando em um dos cômodos muito fútil ,gastava somente pelo prazer de gastar igualmente com seu da casa, mais precisamente no esfilho Silas, um rapaz com 14 anos, critório o corpo inerte e já sem vida do Sr. Marques. Ele fora morto muito mimado. com um tiro fatal na região da caDona Vera odiava a maneira do beça bem próximo ao ouvido. Sr. Marques de ser e por conta disLogo a notícia tomou conta da so as brigas eram constantes. Ela achava que pelo dinheiro e a posi- rua, deixando perplexa a multidão ção que tinha, não deveria se mis- de vizinhos que se aglomerava diante da mansão, pois não acreditavam turar com os empregados, mas ele simplesmente ignorava os desmandos que um homem tão bom e generoso como aquele pudesse ter um fim tão da mulher. A mansão do Sr. Marques ficava numa trágico. CRIME NA MANSÃO 17 VARAL NO BRASIL NO. 15 Quem teria assassinado aquele pobre homem? Ou teria sido suicídio? Afinal a arma foi encontrada na mão do morto. Essa era a pergunta dos curiosos e da policia que iniciava seu trabalho de investigação. De cara a policia chega à conclusão de que assalto não teria sido, pois da casa nada foi roubado. Suicídio também não, tendo em vista a posição da arma e o tiro, pois segundo as testemunhas que ouviram os gritos e os tiros juraram terem ouvido dois disparos, fato que chamava atenção dos investigadores porque no corpo só fora encontrado uma perfuração e numa detalhada vistoria pelo escritório, palco da tragédia, não foi encontrado nenhum outro projétil. Era um mistério. Restava então interrogar parentes e empregados que moravam com ele e que estavam na mansão naquela noite. MAIO DE 2012 O mordomo tivera dias antes uma leve discussão com o patrão porque descobriu que ele mantinha um casso amoroso com a cozinheira e se utilizavam dos aposentos da empregada para seus encontros noturnos e o Sr. Marques por não admitir essa situação chamou-o às falas inclusive ameaçando-o de demissão caso perdurasse esses encontros, isso tornava o empregado e a serviçal também como suspeito do crime. A faxineira alegou que dormia profundamente naquela noite e não viu e ouviu nada, mas, descobriuse, no entanto que ela entrou em casa por volta da 1 hora da madrugada, cerca de duas horas antes do crime pois a jovem encontrava-se no portão lateral da casa com seu namorado Sebastião, jardineiro de uma das mansões vizinhas , que inclusive também tinha sido empregado do Sr. Marques alguns meses antes mas fora demitido após ameaçar bater no menino Silas, filho do patrão, por ter pisado no jardim onde trabalhava e estragado algumas flores. Os primeiros a serem interrogados foram D. Vera, a esposa, e o filho Silas, que acabavam de chegar Sebastião no dia de sua demistão logo foram informados do ocorsão estava muito nervoso e gritava rido. muito pronunciando palavras obsceD. Vera e seu filho tinham sa- nas, afrontando Sr. Marques, a Dona ído cedo para uma visita a sua mãe, Vera chegando até a jurar vingança. onde passaria a noite e só retornaPara a polícia, estava ali um riam no dia seguinte. verdadeiro candidato a réu. Sebastião tinha todos os motivos e pelo Abalada e totalmente desconseu jeito estourado, rude e violentrolada, D. Vera mal podia falar, inclusive foi necessário a presença to e por já ter ido parar na deledo médico da família para acalmá-la gacia uma vez por ter agredido um homem num bar da cidade tornou-se através de sedativos. um suspeito em potencial, só faltaDepois vieram os empregados da casa: mordomo, cozinheira, faxinei- va a confissão. ra, motorista. Todos um a um foram interrogados. E a cada interrogatório, mais difícil ficava a conclusão do caso, pois todos aparentemente inocentes poderiam ter cometido o crime. Porque justamente naquela noite a esposa fora visitar a mãe, coisa que não fazia há meses? Muito estranho e conveniente, inclusive porque nunca durante sua vida de casada dormiu fora de casa. Mas e o segundo tiro? O que foi feito daquele projétil? A polícia não tinha a resposta ainda e isso intrigava os investigadores. O único com álibi perfeito e que facilmente provou sua inocência no caso foi o motorista da casa. Ele encontrava-se na casa de sua mulher juntamente com suas duas filhas depois que seu patrão dispensou seus serviços por aquela noite. 18 VARAL NO BRASIL NO. 15 Mas apesar de ser considerado acima de qualquer suspeita tinha que ficar ali, participando de tudo, dando depoimentos, consolando a pobre viúva, tentando distrair Silas, que se encontrava desolado. O motorista era muito querido por todos na casa, por sua conduta sempre seria e responsável e pelo seu comportamento amável e prestativo. Enquanto o entra e sai da policia e dos vizinhos curiosos continuava, o corpo do Sr. Marques permanecia ali estendido no chão e coberto com um lençol que já não era mais branco devido ao sangue que verteu de suas têmporas. A primeiro plano, para os investigadores, o caso estava prestes a ser resolvido, pois para eles o raciocínio utilizado era que Dona Vera cansada do controle do marido sobre seus gastos e por estar ainda na flor da idade, e a repressão devido às festas que dava na mansão, planejou o crime e contratou Sebastião, o jardineiro, a executá-lo. Pronto. Estava ali a solução do enigma. MAIO DE 2012 seu rosto ,acariciou-o carinhosamente ,deu-lhe um beijo , depositou o pacote que carregava junto ao corpo, cobriu-o novamente e levantou-se calmamente em direção dos policiais e num tom sereno e anestesiado fala: - Pronto. Agora está tudo acabado; e desmaia. Refeito do susto e do clima sheaskeperiano que se instalara naquele momento, o médico da família que ainda se encontrava na casa reanima a mulher. Foram minutos de muita emoção e tensão. Já reanimada e envolta de uma colcha para que se aquecesse pois estava tremendo muito de frio devido à chuva que pegara, a mulher começa a falar: -Meu nome é Mirtes, eu entrei nessa casa enquanto todos estavam dormindo, já fizera isso antes, depois que sai fiquei assustada e me escondi num canto próximo à casa dos empregados atrás de uma arvore grande. - Sabe, eu fui amante do Sr. Marques por muitos anos, eu era muito feliz ao lado dele ate o dia em que ele descobriu tudo. A partir daí ele mudou totalmente comigo, não me procurava mais, mandava reMas... e o outro projétil? cados que estava ocupado e por isso eu vim aqui hoje trazer o presente O dia já estava clareando e que ele tanto queria e por isso me aquela chuva fina acompanhada do frio teimava em cair chegando até a chantageava. - Isso mesmo, eu estava sendo trazer certo desconforto, quando de vítima de chantagem por parte dele. repente entra na sala, indo dos fundos da casa, uma mulher comple- Ele dizia que se eu não entregasse tamente encharcada, com suas vestes o que lhe pertencia, ia acabar comigo e ia conseguir a qualquer cussujas de lama, carregando algo no to me tomar o que achava que era colo enrolado num cobertor. seu. Todos se viram para a mulher, -Inclusive tentou me comprar, atônitos e sem entenderem nada. Ela ,sem falar nada, completamente oferecendo-me muito dinheiro e eu atordoada, com ar de sofrimento es- não aceitei. Todos estavam paralisados diantampado no rosto totalmente desfite daquela confissão e ainda sem gurado pela chuva e lama, caminha lentamente como se estivesse dopada entenderem nada. E ela continuou e parecendo um zumbi , aproximou-se num tom mais seguro e firme e agora mais amargurada. do corpo do Sr. Marques, abaixou- Eu entrei aqui de madrugada se, levantou o lençol que cobria Agora era só fazer a acareação, colocar os dois um em frente do outro e aguardar que eles confessassem, simples. 19 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 para dar um fim em tudo isso, pois já não aguentava mais a pressão sofrida por esse monstro. então vim aqui dar-lhe finalmente o presente que ele tanto queria, dar-lhe o que achava que era só seu. Fui eu, Senhor delegado, quem deu os tiros, fui eu! gritou histericamente a mulher. - Primeiro nós discutimos, ele estava irredutível, então no auge da discussão ele me arrancou dos braços o que eu havia lhe trazido dizendo que não ia levar de volta, foi ai, doutor, que eu fiz a besteira. - Tomada pelo ódio e vendo parte da minha vida sendo arrancada de mim não pestanejei. Peguei a arma que trouxera na bolsa, fechei os olhos e atirei. Atirei duas vezes. -Mas o destino brincou comigo, eu errei um dos tiros. Um dos tiros não acertou onde devia. Nesse momento, Mirtes levantase da cadeira onde estava sentada, caminha novamente ao encontro do corpo do Sr. Marques, de novo abaixa -se e levanta o cobertor que embrulhava o pacote que trouxera. Todos arregalam os olhos, como se não acreditassem no que estavam vendo e continua: - Esse era o presente que ele queria tomá-lo de mim. Ele queria só para ele. - Esse era nosso filho! Todos chocados com a cena dantesca que presenciavam não puderam deixar de notar um fato. O bebê enrolado no cobertor tinha uma perfuração próxima ao coração. Era o segundo tiro que faltava. Neste exato momento e diante desse clima de grande tensão, rouba a cena outro grito que invade completamente o ambiente, misturando a ficção com a realidade: - Corta! Beleza pessoal ficou perfeito. Amanhã continuaremos com as filmagens... 20 Segunda antologia do Varal do Brasil. Encante-se com o talento dos autores! Informações: [email protected] www.livrariavaral.com VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Receitas nesta edição tem como fonte o site: h"p://www.mundodastribos.com Curau de milho verde Ingredientes • 3 xícaras de leite • 6 espigas de milho lavadas • 1 lata de leite condensado • 1 colher (sopa) rasa de manteiga • Canela em pó Modo de preparo Rale as espigas de milho com uma faca. Sem chegar até o sabugo. Após isso, bata no liquidificador o leite e o milho, por volta de 3 minutos. Coe e a seguir despeje a mistura em uma panela. Coloque a manteiga, leve ao fogo e mexa sempre até obter uma consistência cremosa. Acrescente o leite condensado e mexa mais um pouco. Retire do fogo, espere esfriar e coloque em uma tigela. Polvilhe a canela. Sirva frio, de preferência. PINHÃO Pinhão é a semente da Araucária. Tem a forma triangular com cerca de 5 cm de comprimento, recoberta por uma casca lisa de cor castanha. A pinha, fruto onde estão aglomerados os pinhões, leva dois anos para amadurecer. A polpa é a parte comestível, muito dura crua, e deliciosa quando cozida. Formada basicamente de amido. O pinhão pode ser cozido ou assado na brasa, onde o fogo deve agir lentamente para que a casca se abra e libere todas as qualidades de aroma e sabor. Na panela de pressão o tempo de cozimento diminui. A farinha de pinhão, produzida apenas artesanalmente devido à pouca expressão comercial, permite a confecção de broas, tortas e pães. Fonte: h"p://ka#aesuasdicas.blogspot.com/ 21 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 consultório, ao passo que aqueles que traziam o resultado de 3,9 se PSA, peso da próstata e medo sentiam, geralmente, seguros da audo câncer sência de doença maligna. Contudo, medicina não funciona assim. Já estive na infeliz situação de ter que Por Carlos Bayma dizer a um paciente de 43 anos, com PSA de 2,3 que o mesmo era portador de um câncer altamente agressivo. É Após 21 anos fazendo consultório em raro, mas acontece. Urologia, muitas histórias tenho O oposto também já aconteceu, fepra contar. Não posso contar nada de algumas. De outras, posso contar lizmente, mais comum. Pacientes com mudando nomes de detalhes, sem, en- PSA de 20, 30 ou mesmo 40, mas que tretanto, alterar a essência do re- estavam apenas com processos infeclato. Muitas são repetitivas e re- ciosos/inflamatórios da próstata, velam que as dúvidas dos pacientes perfeitamente tratáveis com antibióticos. No entanto, não é apenas são quase sempre as mesmas. sobre os níveis de PSA que o conO que posso aqui contar é que – de sultório se apinha de pacientes em uma maneira genérica – os pacientes alto grau de estresse e medo. É se assombram quando trazem seu PSA também com algo que tem ainda menor um pouco acima dos valores referen- importância: o peso estimado da ciais. Sobre esses valores, é impróstata calculado por exames de portante dizer que o que é conside- ultrassonografia (USG). rado ‘faixa de normalidade’ é apeEm teoria, o peso normal de nas uma média que guia o médico uma próstata varia entre 25-30 graurologista nos seus diagnósticos e mas (há como se calcular aproximacondutas de tratamento. damente isso medindo-se três eixos Em geral, os pacientes entram no de extensão do órgão pela USG, emconsultório (sós ou em companhia da bora a próstata não seja uma esfera esposa, quase sempre bem mais tran- perfeita). Recentemente, recebi um quila) com os olhos arregalados, paciente de 70 anos com 38 gramas tensos e – usualmente – respondem de próstata. Estava apavorado, emassim a um simples cumprimento de bora o PSA nem chegasse a 2. É im‘Como tem passado, Sr. Fulano?’: portante revelar que a partir de “Se estivesse bem não estaria mais ou menos 45 anos é comum enaqui!”. Nessa hora já percebo que contrar próstatas acima de 30g, sem traz exame alterado ou a ‘potência’ que, contudo, isso represente alguestá em baixa. Não é regra absolu- ma gravidade. ta, mas é ‘tiro quase certo’. Para tranquilizar muitos homens, Durante vários anos, os laboratómencionarei um caso que marca minha rios de análises clínicas usaram o história na Urologia. O Sr. M., de limite 4,0 ng% como o nível máximo 92 anos, casado pela 4ª vez (desta de normalidade do PSA total. É in- feita com ‘uma jovem’ de 53 anos, teressante ressaltar que pacientes portanto, 39 anos mais jovem), tem com 4,1 entravam desesperados no uma próstata que pesa, à USG, cerca Histórias de consultório: 22 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 335 gramas. Isso hoje, pois há 2 anos, essa mesma próstata pesava 485 gramas. Isso mesmo! Quase meio quilo. Como o Sr. M. tem consideráveis problemas cardíacos e respiratórios, incluindo o uso de marcapasso, tem a cirurgia prostática contraindicada devido ao alto risco de não resistir ao procedimento e à sua recuperação. Mediante uso de medicamentos, consegui reduzir o peso de sua próstata em 150 gramas, valor muito superior ao de muitas próstatas de pacientes desesperados com seus 60 ou 90 gramas. Também utilizei medicamentos para aumentar o fluxo de urina durante a micção e o Sr. M. vem ‘muito bem, obrigado!’, até hoje. BRIGA DE FOICE Portanto, antes de se desesperar, procure um Urologista confiável e recomendado por parentes, amigos ou outros médicos. Muitas vezes, a maioria dessas alterações, que representam tragédia na cabeça de um paciente mal informado, nada mais é que processo perfeitamente aceitáveis dentro da natureza do envelhecimento, do qual ninguém escapa, exceto que morra jovem. De Jacqueline Aisenman OlivroBrigadeFoice,queacabadesair,já está disponı́velnoBrasilpelaDesignEditora([email protected]). Olivroserá apresentadoemSalvador (Bahia)no$inaldemaioenoinı́ciodejunhoemBrumadinhoeBeloHorizonte (MinasGerais). Paramaioresinformaçõ es: [email protected] “Briga de Foice é meu segundo livro de histórias curtas. Mas desta vez, estes contos diferentes e que gosto tanto de escrever, vêm entremeados de frases que vão passeando entre os textos, falando deles ou de outros momentos e outras vidas. As histórias têm personagens reais ou imaginários vivendo momentos que também foram imaginados ou realmente aconteceram (na minha mente ou na realidade?). “ 23 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Eu sou a Loucura Por Carlos Conrado Eu sou a Loucura mãe da Revolução, quando nasci não interessa, pois não é para isso que vim. Conheço e condeno todas as forças que lutam contra mim. Sou o elo que liga os homens aos outros deuses. Sou a incentivadora de todos os ideais. Sou o retrato da coragem! Ao contrário da Razão-Equilíbrio que é uma senhora derrubada e medrosa. Sou poderosa e estou em tudo e em todos. Sei fascinar sem precisar usar esta casca que me reveste. Sou pura, boa e completa. Sou dona da liberdade, sou sua amante... Não sou a favor do termo esquizofrenia usado para taxar alguns dos meus queridos filhos pois não vejo democracia no uso de tal!...Quando me sinto ofendida, uso minha máquina de ilusões para criar a guerra e também o pesadelo. Acusam-me de ser egocêntrica, e sou! O mundo deve caber na minha mão e não o contrário!... Essa é uma das lições sagradas que passo aos meus queridos filhos e neófitos. Não sou atriz, não sou a favor da mentira. Minha vida extrema é uma realidade!... Sou a ascensão do juízo e não sua falta!... Sou a inspiração do poeta e do artista. Sou bandida e mocinha, sou o quê quero ser!... Sou a voz da surrealidade pintada por Dalí. Sou a única que possui o direito de se contradizer. Sou a modelo que veste o manto de apresentação de Artur Bispo do Rosário... Sou a produtora de todos os filmes rodados e não rodados. Sou aquela que atormenta Hamlet. Sou o espírito livre adorado por Nietzsche, por tanto, não pensem e nem tentem me prender! São tolos aqueles que pensam que podem me controlar, drogam a matéria que me guarda com Diasepam e Gardenal, seus efeitos não duram muito, e logo acordo o corpo que agora está numa ressaca dos diabos! Nós, prontos para dar a cara à tapa outra vez e zombar daqueles que nos querem tanto mal. Eu fui à companheira fiel do Raul, Hendrix, Curt e Janis. Eu fui e ainda sou uma pop star!... Sou uma deusa e o meu lar é todo o universo... Ganhei liberdade para falar graças ao meu filho Erasmo, que dedicou muito da sua energia para lubrificar minhas cordas vocais, afim de quê o meu canto narcisista prossiga. A minha vitalidade; meus sentimentos honestos; meus instintos; a minha simplicidade – (ao meu modo e conceito), são expressões que deveriam ser adoradas como símbolos sagrados!... Adoram a Cristo, um dos meus neófitos mais fiéis, porque não me adoram também? Devem acima de tudo e de todos me adorarem!... Nobre filho Conrado, invista mais na projeção de sua voz pois a nossa verdade necessita da sua energia para ganhar, os horizontes da consciência deste povo que sempre busca nos ignorar, mesmo sabendo que dentro deles corre o nosso DNA. 24 Ilustração de Carlos Conrado VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Relatos de uma noite mal dormida* Por Carlos Vazconcelos A cadeira de balanço do meu avô ainda range sobre os tacos de madeira. Lá fora, os pregões ainda vêm da feira, esquentando o alumínio frio da chaleira. O candelabro reina entre os castiçais. Cômodas incômodas em seus cantos seculares. Alcovas alcoviteiras retêm segredos. Maçanetas maçantes nunca mais abriram o dia. Criados-mudos soletram versos parnasianos. O lampião de gás adormece o fogo fugaz. A cama de cedro dorme tarde acorda cedo. O baú sobrenatural esconde babaus. A lareira não acende mais fogueira. O relógio de parede emparedou-se no tempo. O chapéu e a bengala esperam a festa de gala. O sino, em sua sina, faz o sinal da cruz. O telhado da estalagem estala últimos suspiros. O ferrolho enferrujado fecha o passado. O pó do porão encerra o poema. * Poema vencedor do IX Prêmio Cidade de Fortaleza (2000), pela FUNCET. 25 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 do de consentir a ausência de didatismos, moralismos, e formalidades, e que percorra um trajeto não usual de encontro à igualdade, é o que nos tem levado à trivialidade, e à vulgaridade da existência. O PENSAMENTO E A ARTE Por Célia Labanca Nas redes sociais na internet há espaços para dizer o que se pensa. – Aparentemente, um espaço democrático dedicado ao pensamento. Menos, porque pequeno, de restrito acesso senão ao possuidor ou possuidora de um computador, e de um pensamento, que se presuma valha a pena, quando nem sempre vale, por tantas vezes banal, replicas de um mundo que não questiona um conjunto de pressupostos que estimule mudanças, encontros, transformações, e recuperações de qualidades soberanas que nos levem à paz, à alimentação adequada, saúde perfeita, moradia digna, conhecimento. Se se pensar que o pensamento etimologicamente significa refletir sobre algo de peso, que permita ao espírito humano modelar o mundo, envolvendo consciência, ideia, objetivo, imaginação, cognição, e que ele “é construto e construtivo do conhecimento”, como dizia Piaget quanto ao processo de aprendizagem; não só nas redes, como de maneira geral, deveria haver mais espaços, então, e melhores pensamentos. Segundo Descartes filósofo de grande importância na história do pensamento, "a essência do homem é pensar". Por isso dizia: "Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente. – Logo quem pensa é consciente da própria existência: "penso, logo existo", dizia ele. A arte, ainda é o que resiste. Ela é a habilidade especial. O dom, que a sociedade pós industrializada, e quase “pós tecnológica” não valoriza no plural, como deveria. Mas, somente ela, é que leva hoje, à reflexão. O resto está pronto, estático, rígido, regido, e sendo multiplicado por interesses somente de poder onde não há lugares para a filosofia, para a poesia, para as subjetividades tão importantes à alimentação dos espíritos mais largos. Assim é que os poderes públicos dela pouco ou quase nada se ocupam, principalmente em nosso país e Estado, especialmente no sentido de incentivá-la ao convívio da coletividade. Simples e simploriamente pela ausência de políticas públicas, pela falta de acessibilidade, ou pela falta de financiamento à capacitação de profissionais para que saibam lidar com ela. Também, pelas "sociedades" com objetivo único do lucro pecuniário, pelo discurso, e pelas promessas vazias, quando ela deveria ser incentivada, sem limites, para nutrir, e para o acrescentar do pensamento qualificativo à liberdade, à beleza absoluta, mesmo que transitória ou circunstancial, mesmo não transcrevendo a realidade, mas não a aceitando como tal. – Portanto, é ainda, a arte que faz o ser humano pensar e existir... que se pense então sobre isto, porque não dói, não pesa, e não é caro! A falta de reflexão pela vida, sem discussões políticos criticas, sem consequências impactantes no senti26 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Deficientes Por Cristiano Sousa Estou cansado de dizer Muitas bobagens sem saber porque E esgotado de ouvir Tantas mentiras que falam pra mim O empresário não me deixa trabalhar A cadeira de rodas alguém tem que arrastar No coletivo eu não posso entrar E a visão é que há de me atrapalhar Este mal que está em todos nós Ninguém pode nem deve negar Olhem só o pai que mordeu a filhinha O filho que xingou a mãe Bicho preguiça você tem que se virar Para que mais tarde seu filho não venha roubar O mendigo que está na esquina Ficou maluco sem o apoio da família Deficientes, todos nós somos um Eficiente, pode ser qualquer um Deficientes, todos nós somos um Deficientes, nos ensinem a amar 27 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 NO MUNDO DA FICÇÃO CIENTÍFICA Por Daniel C. B. Ciarlini A ficção científica da Antiguidade ao Moderno A imaginação e a sensibilidade do presente transgredidas nas perspectivas do futuro sempre foram as principais ferramentas dos grandes escritores. Desde a mais antiga manifestação literária àquelas que hoje corroboram ao pensamento moderno, estes atributos nunca deixaram de revelar a profundidade e o discernimento dos nomes que se ostentam na constelação de belles-lettres. Na Babilônia, por exemplo, escreveu-se sobre um herói em busca da imortalidade. Chamavase ele Gilgamesh. Filho da deusa Ninsun e do sacerdote Kullab. A sua epopeia, escrita há 2.600 a.C., responde, sozinha, como a narrativa que mais intercala estilos e temáticas tanto antigas quanto modernas, trabalhadas dentro de um cunho moral a par de gêneros como tragédia e aventura. No que se refere ao seu conteúdo en soi, depreendem-se, também, no mínimo, dois assuntos que inquietam até hoje os sonhos de cientistas, escritores e cineastas: a vontade do homem em ser eterno e a existência de seres mutantes. de Uta-Napishtim, personagem original do Dilúvio Babilônico. O termo odisseia, necessário que se diga, sujeita a um sentido de busca ao desconhecido, ao oculto, ao imaginário, assunto, a propósito, bastante explorado pelos escritores de uma proto-ficção científica; não obstante, elo entre o gênero e a utopia. Necessário atentar para o termo “proto”, aqui utilizado, remetendo-nos a uma compreensão de ideais que antecedem a ciência propriamente dita, mas que não deixam de carregar elementos de anseios que perduram desde os tempos antigos aos sonhos de cientistas e escritores dos últimos dois séculos, inclusive o atual. Aliás, as próprias aventuras em série de Gilgamesh poderiam ser denominadas, pela força da tradição homérica, odisseias, dentre as quais a viagem à procura 28 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 tem nas produções dos tempos modernos. Se hoje a Lua nos é apreciada com admiração e curiosidade, avalie nos tempos antigos. O satélite natural da Terra foi, talvez, o primeiro mundo utópico descrito na literatura. Por esta razão acabou como um dos temas mais explorados em narrativas da Antiguidade, Idade Média e Moderna, como são os casos, em sequencia, de Luciano de Samósata, Uma história verdadeira (séc. II d.C.); Francis Godwin, The man in the moone (1638); Cyrano de Bergerac, Voyage dans la Lune (1657); David Russen, Iter Lunare: Or, a Voyage to the Moon (1703); e, nos séculos mais próximos, Jules Verne, De la Terre a la Lune (1865) e H. G. Wells, The Firts Men in the Moon (1891). Tendo sido ainda a temática precursora do primeiro filme com efeitos especiais da história do cinema, Le voyage dans la lune (1902), de George Méliès, fortemente influenciado pelos textos dos dois últimos autores citados. Não diferente aos nossos dias, o sucesso de bilheteria de filmes como Apollo 13 (1995), de Ron Howard e, mais recentemente, embora sem grande qualidade, APollo 18 (2011), de Gonzalo López-Galego, demonstram que o fascínio pela Lua continua em alta. Todas as obras citadas, de uma forma ou de outra, descreveram, à luz da utopia ou da especulação científica, as suas odisseias, as suas buscas, as suas idealizações, os seus mundos..., e é partindo deste princípio que poderemos compreender como de fato as temáticas do passado se refle- A busca pela imortalidade na Epopeia de Gilgamesh, a propósito, é bem emblemática. A personagem ao tomar notícias de que os deuses após o dilúvio babilônico haviam dado imortalidade a Uta-Napishtim, o Noé da Babilônia, começa a nutrir a crença de encontrá-lo pessoalmente, a fim de compreender o segredo da vida e livrar-se da morte, sua maior tormenta. No caminho, porém, se depara com uma série de obstáculos, dentre os quais a existência de homensescorpiões, também vistos como uma mistura de homem com dragão, próximos ao Monte Mashu. A imagem desses mutantes era tão grotesca que, como a Medusa dos gregos, homens comuns ao contemplá-los morriam, não petrificados, mas inesperadamente. Gilgamesh tomado pelo medo protege os olhos e aproximase das criaturas, que o reconhecem como “carne dos deuses”, “dois terços do corpo divino”, deixandoo passar e auxiliando-o acerca dos perigos que encontraria pela frente, visto que até então nenhum mortal havia conseguido entrar naquela montanha. 29 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 cina natural de água fria, deixando na embarcação a planta, que acaba engolida por uma serpente marinha atraída pelo cheiro doce exalado da flor do vegetal. Gilgamesh perde as esperanças em livrar -se da morte. O final, como se percebe, é bastante irônico. h"p://thiskidanima#on.wordpress.com/ Curioso observar que esta espécie de imortalidade atingida através de planta se repete em obras outras, como no conto O Imortal, de Machado de Assis, publicado em 1906 no segundo volume da coletânea de contos Relíquias da Casa Velha. A personagem, o Dr. Leão, narra em pleno século XIX a história de seu pai, nascido em 1600 na cidade de Recife e que, por meio de uma bebida indígena feita a partir de ervas teria se tornado imortal. O narrador assim infere: “A ciência de um século não sabia tudo: outro século vem e passa adiante. Quem sabe, dizia ele consigo, se os homens não descobrirão um dia a imortalidade, e se o elixir científico não será esta mesma droga selvática?”. A ambição do homem em posse do valor singular é também explorada quando o pai de Dr. Leão, Ruy Garcia de Meirelles e Castro Azevedo de Leão, “Ruy de Leão”, é tentado a querer analisar a droga na Europa, “ou mesmo em Olinda ou no Recife, ou na Bahia, por algum entendido em cousas de química e farmácia”, e com isso, quem sabe, reproduzila. Apenas na nona tabuleta da epopeia, o que seria o seu nono capítulo, Gilgamesh se depara com Uta-Napishtim. O diálogo entre os dois é descrito da décima tabuleta em diante, inclusive a narrativa que o homem imortal faz do dilúvio ao aventureiro que o procura. Por fim, Uta-Napishtim não revela a Gilgamesh o segredo da vida, mas o persuade a procurar uma planta sob o rio, no caminho de retorno à sua casa, posto que só ela seria capaz de conferir a imortalidade. Seguindo o conselho da entidade diluviana, Gilgamesh faz sua viagem de volta e em um determinado ponto amarra pedras às pernas e afunda em busca do vegetal. A narrativa aproxima-se aos relatos fantásticos de outrora, inverossímil a uma concepção anacrônica: o aventureiro imerso, sem quaisquer equipamentos ou técnica de mergulho, já no fundo das águas encontra a planta, arranca-a e retorna à superfície sem dificuldades. Acreditando estar em posse do maior tesouro de todos os tempos e que tão logo haveria de entregá-lo aos anciãos de sua cidade a fim de rejuvenescerem juntos. A personagem acreditava que ao comê-la iria “recuperar a juventude”. Decide, antes disso, no caminho à cidade de Erech (uma das mais antigas da civilização), repousar em uma pis30 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 tória de um guerreiro imortal escocês chamado Connor MacLeod, do século XVI, que tem atravessado os vários séculos até o XX, a cortar com uma espada a cabeça de outros guerreiros imortais, na busca de ser o último deles, recebendo, por isso, o prêmio da mortalidade. Reações fisiológicas estranhas, quase mutantes, também são descritas, quando o narrador tece comentário a respeito de um golpe dado ao pescoço de seu pai, cujos tecidos musculares “ligavam-se outra vez rapidamente, e assim os mesmos ossos”. Além do espírito futurista de Ruy de Leão, que nas horas vagas desenvolvia projetos para o século XX e XXIV, embora não entrando em detalhes acerca deles. O drama do conto inicia-se no ambiente psicológico do próprio homem imortal, que década após década leva a vida cada vez mais infeliz por assistir a morte de seus entes queridos, inclusive filhos. Certo dia resolve beber o resto do “elixir da eternidade”, descobrindo nele a cura de seu mal, já que consegue morrer. O narrador então sintetiza o fato: similia similabus curantur. Na crença dos povos antigos, a começar pelos egípcios, o culto à imortalidade tinha diferentes sentidos, dentre os quais a preservação do corpo, daí a mumificação como necessária ao conforto do KA (a cópia), a fim de que auxiliasse no desenvolvimento de um novo corpo ao espírito do morto, que retornaria. Diferentemente dos egípcios, a imortalidade espiritual dos cristãos está mais relacionada ao aspecto da permanência no assento etéreo. Ilustração de Katase6626 O ser eterno não é um caso único do antigo no moderno, posto que os assuntos do passado nunca deixaram de ecoar nas ideias do presente, devendo-se, pois, naturalmente, ecoarem ainda nos filhos do amanhã. Vejamos o caso da invisibilidade. Platão, o grande discípulo de Sócrates, escreveu no livro dois de A República (séc. IV a.C.) um diálogo intrigante entre seu mestre e Glauco a respeito de um pastor de nome Giges que, certa vez, servindo ao rei da Lídia, teria encontrado, após uma forte tempestade e tremores de terra, uma fenda abismal no solo onde exatamente o seu rebanho pastava. Curioso por saber do fenômeno o pastor resolveu descer o abismo, encontrando assim uma espécie de cavalo oco de bronze (seria alusão ao de Tróia?) e dentro dele o cadáver de um homem em cuja mão havia um anel de ouro. Giges então toma para si o anel e segue caminho. O próprio anseio do homem em publicar algo, em deixar descendentes, em manifestar-se em documento, seja ele qual for, é uma espécie, mesmo que inconsciente, de perpetuar-se na matéria ou na memória de seus pares. Assunto tão antigo quanto a origem da literatura, a imortalidade tal qual a Lua é ainda objeto de fascinação à inteligência. Nos cinemas nunca deixou de ser expressa. É o caso de um filme que mistura muito bem o épico com o moderno, Highlander (1986), de Russel Mulcahy. A produção, sucesso no final dos anos 80 para início de 90, conta a es31 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 H. G. Wells retomou esta temática da invisibilidade e suas consequências quando escreveu e fez publicar a obra The invisible man (1897), responsável por colocar em discussão outro aspecto, bem distinto ao de Platão, o conflito étnico do homem. Este assunto foi ensaiado com o mesmo título em um conto escrito por Robert Silverberg. A personagem, condenado à invisibilidade por um ano, chega ao limite da insanidade e começa a perceber que os robôs, de um futuro o qual está inserido, são mais humanos do que os próprios homens. Uma espécie de sátira ao homem moderno, frio e mecanizado. Não custou, porém, descobrir que o objeto que se apoderou era singular, pois que o permitia ficar invisível perante os seus pares. Em uma dada assembleia de pastores percebeu que ao girar o engaste do anel para o interior de sua mão tornava-se invisível, recuando este efeito quando tal engaste era girado para o lado externo. Assim diz o narrador: “Assustado, apalpou novamente o anel, virou o engaste para fora e tornou-se visível. Tendo-se apercebido disso, repetiu a experiência, para ver se o anel tinha realmente esse poder; reproduziu-se o mesmo prodígio: virando o engaste para dentro, tornava-se invisível; para fora, visível”. A concepção das cidades futuristas e ideais é também assunto que rende no campo da expressão filosófica e científica do homem. A começar em Homero, quando define os muros de Troia feitos de ouro e, para a época mítica da narrativa, intransponíveis. Coube a Odisseu, o aventureiro de Odisseia, idealizar a construção de um cavalo gigante oco, que alojaria todos os guerreiros gregos, e ofertá-lo aos troianos como símbolo de paz e reconhecimento. Estes, por sua vez, aceitam o presente porque negá-lo poderia enfurecer os deuses, e achando que os gregos haviam se rendido à luta, o colocam dentro da cidade. É o início da ruína de Troia; é o presente de grego. Os troianos comemoram a suposta vitória com uma festa à noite regada a álcool. Quando se retiram aos aposentos, os gregos saem do cavalo e dão início a uma verdadeira chacina e destroem a cidade, ateando fogo em tudo. O aspecto que compete análise no episódio da guerra entre gregos e troianos está na muralha aurífera que contorna a cidade de Troia, o que pressupõe não apenas manuseio, mas tecnologia para lidar com o metal em tão largas proporções. Tendo o diálogo um cunho moral acerca da justiça e da injustiça, o filósofo grego demonstra a transformação com que o pastor passou quando apoderado de tal tecnologia: Giges não tardou em seduzir a rainha da Lídia e conspirar contra o rei, matando-o e, consequentemente, apoderando-se do trono. Ao que conclui Glauco: “Se existissem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um, o injusto outro, é provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para ter a coragem de não se apoderar dos bens de outrem”. O fato é que o assunto do anel e da invisibilidade é reproduzida de maneira bem mais ampliada por J. R. R. Tolkien em seu afamado O Senhor dos Aneis (1937). A personagem Frodo também consegue desaparecer ao usar o precioso e a cada vez que o usa parece atraído pelo mal. Em Platão o mito da cidade futurista e de obras faraônicas aparece mais detalhado, quando 32 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 sado”. Embora a cidade do sol fosse liderada por um rei, Roh, e três ministros, Pon (Potência), Sin (Sapiência) e Mor (Amor), tais cargos eram ocupados após uma eleição peculiar, em que os cidadãos ao invés de apresentarem candidaturas, por meio do discurso demonstravam conhecimentos científicos e universais a par de um senso de livre arbítrio. Elevavase à categoria de rei, por exemplo, aquele que conhecesse “profundamente a história de todos os povos, os ritos, os sacrifícios, as leis das repúblicas e das monarquias, assim como os inventores das leis, das artes, e os fenômenos e vicissitudes terrestres e celestes”, enfim, dominasse o saber geral, sendo, antes de tudo, um cientista. descreve a lendária ilha de Atlântida, maior que a Líbia e a Ásia juntas. Seu povo, construtor que era de grandes edifícios, pontes e passagens secretas, manuseava os metais nobres e possuía uma potência naval espetacular. Segundo o filósofo grego, sua existência data de 9.600 a.C. Os atlantes foram considerados a sociedade mais evoluída da época. Seus reis conquistaram inúmeras terras e formaram o império mais poderoso do mundo, absorvendo os territórios do Egito e parte da Europa. A par dos muros de Troia, seus muros também eram erguidos em metal: bronze na parte externa e estanho na interna. O narrador descreve a peculiar república localizada no alto de uma colina, nas proximidades da Taprobana (hoje ilha de Ceilão). Seus habitantes dominavam uma tecnologia capaz de alterar os fenômenos da natureza, tanto assim que controlavam, a favor do seu povo, ventos, chuvas, trovões, arco-íris etc. Alguns instrumentos são ainda especulados, como o uso de carros movidos a vela, máquinas guerreiras que serviam de proteção à cidade e o uso de embarcações movidas por motores. Campanella, além de ter falado em robôs de combate, antecipou o invento do motor náutico em pelo menos um século. Somente em 1775 surgiu o primeiro projeto de propulsão vertical ou horizontal por meio da mecânica, quando Bushnell desenvolveu hélices em parafusos, no entanto, apenas em 1839, através de John Ericsson, tal ideia viria a ser incorporada em navios, o que torna a especulação do filósofo italiano ainda mais antiga, há exatos 200 anos. Isso levando em consideração o ano de morte do autor (1639), posto não ser precisa a data de publicação da obra em questão. No século XVII o filósofo italiano Tommaso Campanella especulou em La cittá del Sole (séc. XVII) uma sociedade bastante avançada, regida por um sistema de governo meritocrático, não escravocrata e heliocentrista, o que se justifica quando a filosofia de seus cidadãos compreendia a natureza como razão. Como assim o diz não de maneira anacrônica já que considera a teoria de Copérnico, mas por questão de cultura daqueles supostos habitantes: “o sol aproxima-se cada vez mais da terra e, percorrendo círculos cada vez menos amplos, chega, no ano presente, aos trópicos e aos equinócios, mais depressa do que no pas33 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 por ventura, foi por meio dessa descoberta que a ciência astronômica pôde tomar nota de objetos cósmicos como os quasares, fundamentais para o entendimento da formação do Universo. Isaac Asimov, por exemplo, acreditava na possibilidade de ser o quasar a extremidade inversa de um buraco negro. O desenvolvimento náutico dos solares é advindo de um admirável artifício, destacado em duas possibilidades distintas de propulsão: “[...] na popa uma grande roda em forma de leque, presa à extremidade de uma vara que, equilibrada do lado oposto por um peso nela suspenso, pode ser facilmente levantada e abaixada por um menino. Todo o mecanismo se move sobre uma prancha sustentada por duas forquilhas. Além disso, alguns navios são postos em movimento por duas rodas que giram dentro da água por meio de cordas que partem de uma grande roda posta na proa e, entrecruzando-se, circundam as rodas de popa. Posta em movimento, sem dificuldade, a grande roda faz girar as pequenas mergulhadas na água, à semelhança da pequena máquina de que se servem as mulheres calabresas para enrolar e fiar o linho”. Os solares cultivavam todas as línguas do mundo e possuíam uma gigantesca rede de embaixadores espalhados nos quatro cantos do planeta, aprendendo a cultura, as dificuldades e os avanços alheios. Interessante observar alguns diálogos existentes da produção cinematográfica Nosso Lar (2010), de Wagner de Assis baseada na obra de Chico Xavier, com a especulação do filósofo italiano, como é o caso dos ministérios e a própria organização arquitetônica da cidade. A descrição é pormenorizada, compreendendo sete círculos e “recintos particularmente designados com os nomes dos sete planetas” (até então descobertos). Cada círculo era destinado a uma área do conhecimento humano. Possuíam palácios ligados uns aos outros de tal maneira que pareciam um só, com escadas de mármore. Todas as casas obedeciam a um padrão econômico e ambiental, quando, por exemplo, canalizavam as águas das chuvas que escorriam pelos telhados a uma cisterna através de aquedutos de argila. Detalhe para o comportamento social, onde mulher e homem ocupavam as mesmas posições, sem quaisquer distinções. No auge de sua especulação, é afirmado que “tanto os homens como as mulheres usam roupas iguais, próprias para a guerra, com a única diferença de que, nas mulheres, a toga cobre os joelhos, ao passo que os homens os têm descobertos”. As solares também são treinadas, assim como as espartanas, para a guerra contra as nações inimigas da “república, da religião e da humanidade”. Mais antecipatória do que a própria navegação mecânica é a especulação que se constrói em torno dos habitantes que haviam descoberto a arte de voar, bem como a previsão que a própria sabedoria dos nativos fizeram a respeito de instrumentos acústicos que, tais quais os ópticos, possibilitariam aos homens escutarem a música dos céus. Assim é quando o Almirante Genovês confessa a seu enunciatário, o Grão-Mestre, a respeito dessa crença entre os solares: “[...] consideram próxima a descoberta de instrumentos ópticos, com os quais serão descobertas novas estrelas, e de instrumentos acústicos tão perfeitos que com eles se chegará a escutar a música dos céus”. A música dos céus, porém, só começou de fato a ser captada nos anos 30 do século XX, quando os astrônomos, compreendendo que todo corpo cósmico transmite ondas eletromagnéticas, começaram a desenvolver a técnica da radioastronomia, que consiste em apontar imensas antenas para o espaço e captar os sinais dos astros. Não 34 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Tornam-se maiores de idade, a mulher aos 19 anos e os homens após os 21, quando então podem procriar, antes disso, “permite-se a alguns a mulher, mas estéril ou grávida, a fim de que, impelidos por excessiva concupiscência, não se abandonem a excessos anormais”. Vivem uma média de 100 anos, podendo, ainda, alguns alcançar os 200. O aspecto higienista, inexistente no período de escrita da obra, Idade Média, é narrado quando da união conjugal, realizada a cada três noites e estando os cônjuges “bem lavados”. anos e a preocupação higienista os levava a usar roupas sintéticas a prova de micróbios e usufruírem de banhos a vapor. Apesar de não serem cristãos, mas doutrinados a par das leis da natureza, na A Cidade do Sol os habitantes criam na imortalidade da alma, que em suas concepções ao sair do corpo é cortejada rumo ao juízo de deus por espíritos bons ou ruins, de acordo com os atos realizados pelo indivíduo quando matéria. O mais incrível em todas as especulações de um período tão antigo não é apenas o caráter de antecipação temática construída pari passu do moderno, mas a forma com que elas, trabalhadas no campo da ficção, conseguem extrapolar os limites do imaginário e ocupar assento na realidade nossa, fazendonos crer que o moderno não é tão moderno assim. Até quando a ficção científica é puramente ficção? As descobertas arqueológicas têm desmistificado tanto as nossas teorias e mitos que é difícil de acreditar que a primeira pilha elétrica tenha sido construída ainda no Império Parta (247 a.C.) e não no século XVII, por Otto Von Guericke. O assunto chega a soar FC se por um acaso não fosse objeto de estudo e comprovação científica desde 1936, do arqueólogo e engenheiro Wilhelm König. David Hatcher Childres, especialista das tecnologias antigas, afirma que “O que é espantoso no confronto entre o mundo moderno e o mundo antigo, é que no primeiro o cidadão médio tem acesso a tecnologias avançadas, como eletricidade, um veículo pessoal, telefone, fax e computador. No mundo antigo, a tecnologia As crianças da cidade, diferente das do restante do mundo, aprendiam em um ano o que as demais teriam de aprender em dez ou quinze de estudo. Aos médicos ficava a responsabilidade de cuidar da alimentação dos cidadãos, instruindo cozinheiros “sobre a qualidade de dos alimentos que devem ser preparados, indicando os que convêm aos velhos, aos jovens e aos doentes” – proto-nutricionistas. No aspecto do melhoramento, manutenção saudável e equilibrada da raça, os habitantes solares celebravam a união de pares geralmente opostos, um gordo com uma magra ou uma magra com um gordo, “assim, com sábio e vantajoso cruzamento, moderam-se todos os excessos”. No campo do trabalho, as jornadas não são longas, seus cidadãos não ultrapassam quatro horas de atividades, consagrando as demais ao estudo, às artes e aos prazeres. Alguns aspectos dessa obra de Campanella surgem no Brasil na década de 20 do século passado, quando o piauiense Berilo Neves construiu na obra A Costela de Adão (1929) um universo futurista em que os homens não trabalhavam mais do que duas horas por dia, viviam uma média de 200 35 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 avançada era, na maior parte, negada às massas”. A cada ano que se passa temos visto que as invenções de hoje nada mais são do que os ecos do passado. No tempo de Luciano de Samósata, por exemplo, os gregos haviam inventado uma espécie de máquina que liberava uma determinada quantidade de água de acordo com o peso da moeda depositada em sua fenda. Isso sem se falar que motores a vapor e bombas hidráulicas já eram comuns na Antiguidade. Vários documentos e narrativas antigas nos dão provas de que o chamado homem mecânico ou robô já era uma realidade antes da nossa era, a citar aqueles fabricados pelos engenheiros de Alexandria, que tiveram dezenas deles ao longo dos seus dois mil anos. As lendas chinesas dos dragões de bronze são um exemplo bem nítido, bem como as formas humanas descritas no mito de Dédalo, construtor de figuras humanoides que se moviam sozinhas. O que dizer ainda de Homero, que em Ilíada (séc. VIII a.C.) teria descrito o deus coxo Vulcano ladeado e auxiliado por “Moças de ouro que às vivas assemelham / na força e mente e voz” que ele construiu, antecipando em milênios a robótica e a inteligência artificial? Até quando estas especulações são especulações? Não seria muito do que se especulou fruto de algo que realmente existiu? As descobertas arqueológicas parecem nos aproximar de um mundo que há milênios pertencia apenas à nossa imaginação. A grande chave da história é descobrir onde está a verdadeira idade arcaica da humanidade, além dos motivos que levaram a não conservação das descobertas e tecnologias desenvolvidas no outrora. Anacrônico pode ser o nosso tempo! Hércules Por Evelyn Cieszinski Fio de ouro tecido pelas Parcas mergulhado no rio Estige e colocado sob o solo mortal. Imagem de um homem, essência de um deus. Confundido e esquecido, aclamado e adorado. Venceste mil cabeças, nadaste em mil águas. Herói do Olimpo por muitos esperado. Com mortais viveu e nos céus renasceu. . 36 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 37 VARAL NO BRASIL NO. 15 UTILIDADE Por Danielli Morelli MAIO DE 2012 zá-las para afastar o indesejável. Tinha perfeita noção de qual era o seu lugar e sabia fazer bom uso disso: observando, arquivando, catalogando e organizando coisas e informações concretas e por que não dizer, até as abstratas? Não gostava dos dias por causa do A frieza absoluta nunca o impedia sol quente que parecia inchar suas de estar presente em vários lugaarticulações e deixa-lo um tanto res, especialmente nos mais íntimos. Aquela severidade e o seu jei- bovino, não gostava das noites porto obscuro se destacavam nos insis- que sempre acabava ao lado da cama tentes silêncios e talvez por isso de alguma alma necessitada e sua mesmo, todos sem exceção lhes con- inabilidade emocional o tornava facilmente aborrecido. Enjoava das fiavam os mais íntimos segredos, expondo-lhe alguns bem diante dele, pessoas, enjoava dos ambientes, enjoava dos meses e estações e ia como a desafiá-lo a ter uma vida, tornando-se igualmente entediante uma vida mais viva. conforme o tempo passava. Sabia-se Por vezes sua aparência lembrava restos de outras coisas, de outros egoísta e vazio, mas de algum modo momentos, de outras pessoas. Tantas interessante! Sem coração ou afeformas podia assumir que quase nun- tos, mas profundamente prático! Em geral sem uma beleza ca o definiam pela exsignificativa, mas de pressão, apenas pela sua Não gostava dos certa forma importante! ausência ou presença. dias por causa do Então ia ficando ali, Sempre um tanto sisudo em sua arrogância de sa- sol quente que pa- tempos após tempos, em recia inchar suas sua função taciturna e be-tudo, quase chantainquestionável, iludido gista perante as coisas articulações e pela imobilidade de que que lhe caíam de graça, deixá-lo um tanto nada e ninguém poderiam podia ser dono do mundo passar sem ele. se lhe apetece apenas bovino... Toda ilusão de controle falar. acabou no dia em que ela Não revelava sentimentos especiais chegou, ocupando com a luz de seu ou algum apego específico, mas se mostrava útil para as senhoras mais sorriso e um perfume diferente cada vulneráveis que passavam muito tem- centímetro do ambiente, aquele seu po em casa, solitárias e adoecidas humor nem doce nem cítrico preencheria seus dias e tudo ao seu repor suas tristezas sem fim. Junto dessas existia como uma espécie de dor. Irreverente lançou sobre ele um lenço transparente que tirava do apoio, de muleta, guardando suas coisas particulares, atento às suas cabelo, incomodado com tanta energia sentiu-se pego por um furacão, falas solitárias, segurando seus tudo girava ao seu redor, nada mais copos de licor ou suas xícaras de parecia igual e aquela alteração chá com alguma cerimônia, alimentando uma dependência quase obscena brusca de sintonia o irritou muito, que lhe permitia considerar-se in- atarantado e agressivo acertou-lhe o mindinho do pé e esperou o grito, dispensável. surpreendendo-se com a gargalhada Nunca fora muito de animais de qualquer espécie, todas as suas ex- cascateante que mais ainda o enerperiências com esse tipo de ser lhe vou. Imobilizado pela surpresa e renderam arranhões, manchas e pro- por sua própria condição apenas obscureceu-se mais em seu canto fafundo desagrado, era um ser de arestas afiadas e sabia como utili- vorito e esperou enquanto ela o ignorava completamente e andava por 38 VARAL NO BRASIL NO. 15 por todo lado com sua leveza de fada, com seus passos de bailarina. Nunca antes vira um pescoço como aquele e teve ganas de apertá-lo ou mordê-lo, mas não trairia sua tez plácida nem mesmo pela mulher mais linda do mundo e toda aquela exagerada felicidade. Os dias passavam e quanto mais ela ficava por ali, mais ele sentia-se sobrecarregado, quanto mais ela vivia sua própria vida, com suas cores e sombras, alegrias e percalços, mais coisas ele tinha que carregar sobre si. Deste modo a idade, antes plenamente ignorada, passou a pesar sobre seus pés, e com ela a tristeza própria dos que sabem que meia vida não é melhor do que nenhuma. Um dia ela olhou para ele com outros olhos, olhos de borboleta travessa e se propôs a muda-lo tanto que muito o ofendeu, ao final sentia-se meio mulher e se por um lado isso o aquecia, por outro o enojava, e aquelas coisas escorrendo sobre ele e secando, todos aqueles cheiros, aquelas novas temperaturas e sabores o confundiam por demais, exasperavam, feriam, sem contudo dar-lhe o ímpeto necessário para apenas recusar-se. Quando tudo acabou, o outro apareceu entre afoito e misterioso, um pouco magro em sua altura, mas quase belo em seus cabelos mal cortados. Olhou para ele apenas uma vez, sorriu irônico e nada comentou. Quando ela entrou, apenas a pegou no ar e a forma como tocava nela durante toda a noite denunciou toda a impossibilidade que cercava suas próprias relações, tudo fora feito para o outro, aquele outro cujas mãos passeavam pelas formas que ele admirava todo dia, aquele que beijava com furor tudo o que ele passava as noites velando, aquele que esbarrava seus pés nele toda vez que ia, toda vez que ia... MAIO DE 2012 sobre si um bule quente que feria um pouco sua recém-pintada superfície, também havia pratinhos com coisas para comer e ela abriu seu lindo sorriso até um pouco depois dos olhos para agradecer o que o outro lhe servia com aparente amabilidade. Estudou e expressão dela cuidadosamente, as faces rosadas e brilhantes de pura felicidade, os cabelos soltos em liberdade e desalinho da beleza sem esforço que emolduravam o rosto cheio de uma nova luz e energia, demorou mais tempo nos olhos brilhantes e descobriu uma nova meiguice quase infantil. Já conhecia aquela expressão de tantas outras vistas, apenas não lhes dera atenção, não se deixara tocar, não como com ela. Sentiu suas estruturas cedendo um pouco, o peso dos anos não se compara ao dos sentimentos. Sabia pela experiência dos outros, em sua vida de voyeur absoluto, que plantar expectativas tantas vezes significa colher decepções. Calou-se ainda mais calado do que sempre fora, enrijeceu as pernas curtas e grossas, segurou-se como pode e coisificouse ainda mais para pura preservação, sem bem entender do que devia preservar-se. Parou antes apenas para ouvir as últimas falas daquele teatro meio que encomendado: - Gostei um bocado deste móvel. É grande, cabe muita coisa! - Eh, era da minha bisavó, eu andei dando uma restaurada nele, tentando dar um pouco de vida para a madeira, mas sei lá, ele não tem muito jeito, falta alguma coisa, achei que era a cor, depois a forma, mas não consegui definir. No fim ele só é o que é... Enfim, descansaram e ele recebeu 39 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Esquecimento conjurado (Em resposta a Hart Crane) Por Danilo Augusto de Athayde Fraga O esquecimento é o branco que é preto A pausa esquecida de uma música que não recomeça Esquecimento é vento que soprou uma pedra Ou o tempo sobre ela – de asas fechadas O vento imóvel sobre o pássaro - no passado O esquecimento é noite sem sonho e sem chuva Um cadáver enterrado em uma floresta desabitada Ou um túmulo vazio – esquecimento é preto vindo do branco O esquecimento põe traças sobre o verbo da Sibila calada Ou é o corpo de um poema ilegível - Esquecimento, caberei em sua cova? 40 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 MENSAGEM A TODOS OS ESCRITORES mas, das linhas teóricas, difundindo a arte do bem viver e a prática DO PLANETA de cultivar o nosso planeta. O nosso trabalho possível! Por Dhiogo José Caetano É hora de brar... pensar, é árduo, mas refletir, é lem- Utilizamos de inúmeras formas para Lembrar das crianças que são vioexpressar os momentos, a vida, a lentadas, das nossas florestas quase extintas, dos jovens que não eternidade. chegam à fase adulta por causa das Pensamos como eles e elas, e trans- drogas, da corrupção que devora as crevemos sonhos, medos, vidas... inúmeras nações do planeta, do abuTemos a clarividência e sensibili- so de poder e tantas outras probledade de refletir os mais variados máticas encontradas no mundo consignificados do presente e do pas- temporâneo. sado. Em versos, vamos narrar à esperança O que vivemos no presente é regis- de uma humanidade que clama por trado em prosas, contos, poemas e paz. artigos memoráveis. Refletir sobre o legado que recebeMas também analisamos a repercussão mos do uso que dele fazemos e o que faremos no futuro. dos fatos em um futuro distante. Somos os senhores das letras, as letras de inúmeros senhores são eternizadas em riscos, traços e rabiscos de um presente coletivamente vivido em uma particularidade social, política e geográfica. E isto compete a nós escritores que temos o poder de romper fronteiras levando a mensagem de um mundo melhor para todos. Somo seres instruídos e capazes de espalhar através das palavras, conMas neste mosaico de ideias, nos dições para que possamos viver a interligamos em uma única corrente vida de forma coerente e assim todos poderão continuar vendo o sol literária. nascer todas as manhãs. Trabalhamos todos os dias, buscando aperfeiçoar a arte de levar os sen- O que foi ontem passou, vamos escrever um mundo melhor. timos através das palavras. Somos por excelência a voz do Pensemos no hoje: um mundo justo “povo”, dos “bestializados”, dos para todos! mais profundos sentimentos e da ar- Um lugar de paz, igualdade, fraterte de eternizar a vida. nidade e liberdade. Muitos nos amam, mas muitos também nos odeiam. Ensinamos, mas também temos o poder de destruir uma nação. Precisamos ter a consciência deste poder! O mundo precisa de nós para se reestrutura... A arte transforma tudo e tudo se transforma com a arte. Vamos nos unir, esquecer dos dog41 VARAL NO BRASIL NO. 15 A ARTE DE CONVENCER Por Emanuel K Guerreiro Por que escrever? Para cada escritor há uma razão diferente. Busque a sua. MAIO DE 2012 pela interpretação. O ato de escrever é tentar de forma coerente buscar em fontes confiáveis informações que conceda ao escritor bases científicas suficientes que contribua de forma concreta para o crescimento do conhecimento cientifico. Portanto, existem determinados A pergunta é simples, escrever tipos de informação ou de “verdade” para quem, com qual finalidade e que jamais deverá ser debatida ou para qual grupo de indivíduos. principalmente levada ao publico, pois a grande massa não saberia coA razão de escrever, muitas vezes, é sufocada por não compactu- mo lidar com uma releitura da hisar com determinadas ideias em que o tória. subterfúgio e a manipulação de inA história dita oficial é enformação são constantes. Com a más- deusada como se ela fosse uma vercara de uma pseudo liberdade de ex- dade intocável. Na realidade esta pressão. razão de escrever não possibilita ao cientista uma interpretação mais profunda do assunto, pois ao que Ninguém entrará na ordem do dis- tudo indica o discurso que o grande curso se não satisfazer a certas público esta acostumado a ver são exigências ou se não for, de iníinformações dos “heróis”. A outra cio, qualificado para fazê-lo. Mais face da verdade não pode e não deve precisamente: nem todas as regiões ser levantado como interpretação de do discurso são igualmente abertas uma construção cientifica. e penetráveis; algumas são altamenNo dizer de Foucault: “é da te proibidas (diferenciadas e diferenciantes), a doutrina liga os in- verdade que menos se fala” (1999, divíduos a certos tipos de enuncia- p. 19). Ou ainda, conforme Walsh ção e lhes proíbe, consequentemen- (1978, p. 33), o historiador: te, todos os outros; mas ela se serve, em contrapartida, de certos [...] visa a uma reconstrução do tipos de enunciação para ligar inpassado que é ao mesmo tempo intedivíduos entre si e diferenciá-los, ligente e inteligível. [...] A verpor isso mesmo, de todos os outros. dade é que a história é um assunto A doutrina realiza uma dupla sujeimuito mais difícil do que se acreção; dos sujeitos que falam aos dita frequentemente, e que na readiscursos e dos discursos ao grupo, lização bem-sucedida exige o preenao menos virtual, dos indivíduos chimento de várias condições, muique falam. O discurso nada mais é tas das quais não estão ao alcance do que um jogo. (FOUCAULT, 1999, p. dos próprios historiadores. Mas o 37-38-49, grifo do autor). fato de ser a verdade histórica difícil de atingir não é razão para se negar sua natureza especial. Muitos escritores quando escrevem, não escrevem para si, mas, para um determinado grupo. Então perguntaremos em dois pontos de in- A minha razão de escrever é mostrar ao leitor que não existe um tipo só terpretação: de verdade em que os “heróis” são O documento e a verdade histó- os que vencem e os bandidos são os rica: dois contrapontos “devorados” 42 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 que sempre são derrotados por um determinado grupo no qual uma minoria que conduz a história tem o poder de manipular os fatos como bem querem para seu bel prazer. Escrever temas interessantes é na realidade mostrar ao público uma espécie de informação ou “verdade” em que eles mais tarde se posicionarão em um julgamento coerente sem intervenção de terceiros. BOLHAS DE SABÃO Por Mario Rezende REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em dois de dezembro de 1970. 4 ed. São Paulo: Loyola, 1996. WALSH, W. H. Introdução à Filosofia da História. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 43 Muitas bolhas de sabão eu soprei na sua direção: uma cheia de carinho atingiu os seus cabelos como se fosse a minha mão. Outra era um sorriso carregado de alegria para animar o seu dia. Uma bem sugestiva, armada de sedução, isca do meu desejo, para chamar a sua atenção. Outra nos seus lábios, um beijinho bem roubado. Desfilaram junto ao seu rosto, meus olhos refletidos nos seus, a esperança e suspiros, galanteios, muitos sorrisos, beijos, beijos, beijos doces, coloridos e de todos os tipos, esperando acontecer. Mas aquela especial, carregada de amor, estourou em seu peito, bem pertinho do coração. VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 MULHER DE CADA DIA Por Teresinka Pereira Cada dia e' o dia da mulher que trabalha porque ama, porque sonha. P A I S A G E M Pelo caminho seus pés vão firmes Por Marta Carvalho em silêncio, rompendo barreiras Lá por aquelas paragens, de discriminação. Há belas paisagens, Vai tragando a cólera para fortalecer a alma Revelando linda imagem e transformá-la em orgulho De uma praia selvagem. porque sonha Quisera eu me transportar que as outras a acompanham Ao menos em pensamento imaginar ao justo dia da liberdade de ser cidadã Um dia poder habitar de primeira classe, Naquele magnífico lugar, sem deixar de ser mulher! Bem junto à beira do mar. Onde a majestosa natureza, Pintou com toda a delicadeza Um quadro de rara beleza. Lá a vida tem valor, Toda a fruta tem sabor, Lá se vive com amor, Cultivando linda flor Plantada com labor Que nos traz suave odor © IKO - Fotolia.com Tudo nos lembra a grandeza Do nosso Supremo Criador. 44 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 O herdeiro de Orfeu Por Cristina Mascarenhas da Silva Às vezes o mundo abala minha existência, Sinto a alma trancafiada num quarto escuro, Sinto a pele arrepiar recostada no mármore frio De algum suntuoso sepulcro imaginário Onde eternamente repousa meu entusiasmo Protegido pelo medo e ideias de perda, Que reinam envoltos por criaturas estranhas Pertencentes à minha imaginação Porém vejo uma luz pequena de esperança Advinda de uma voz que me traz paz, Uma flama atinge meu espírito E me transporta para um jardim Onde querubins brincam na fonte Lá vive o herdeiro de Orfeu esquecido por Eurídice Em algum lugar que sempre pode renascer E sua herança o faz tocar seu instrumento Como a mesma beleza que se primou a cantar Ainda que abençoado pela Deusa do Fogo, Leva-me com sua música pelo rio da vida, Regenerescência de uma quimera possível. 45 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Hachuras no coração Por Varenka de Fátima Araújo Numa folha branca, linhas entrecruzadas sobrepostas bem devagar em riscos Saudade de mãe traços da mesma cor Por José Hilton Rosa Falo apressada, rouca tão pouco agrada Ó minha mãe Onde está pode crer A saudade que estou Querendo te ver não te fiz cativeiro cem mil vezes te amei Numa folha branca Quero de noitinha chegar De longe te chamar Aproximar e gritar no portão Como sempre fiz Hachuras em meu coração De sangria sem vibração Silencio, dor sem fim. Na casinha amarela Esquentar a água Na chama do fogão a lenha Para o cafezinho fazer A broa bem quentinha Para mim ela preparou Com o cantar do primeiro pássaro Lá está ela na cozinha Sempre falando dos filhos Repete sem cansar Historias passadas Passagens amarguradas São desejos de mãe Juntos dos filhos Querendo ficar Cada um com seus afazeres Imagem de Elis Frégéné 46 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 quintal, lá a madrinha de Lili Assobiar a colocou num galho e pediu que ela Por Elise Schiffer imitasse um passarinho, o que a menina fez prontamente, depois pe- Lili tinha 6 anos diu que ouvisse os sons que haviam e o Brasil vivia dias difíceis. A ao redor, depois a levou até o jardim e novamente pediu que ela vida de todos era de medo, pelo No ano de 1964, menos onde ela morava, interior do assobiasse e que depois ouvisse o canto dos pássaros, assim as duas Subúrbio, Bairro de Nova Iguaçu. Lili neste época estava tentando foram a vários lugares e no final aprender a assobiar. de todas essas A pequena menina andava por todo nha contou carinhosamente que o os lados tentando assobiar e não portão não era mágico, que mágico conseguia produzir som algum, é o coração que canta através do Um dia Lili foi a casa de sua ma- assobio. andanças a madri- drinha, duas casas logo após a sua A madrinha de Lili ensinou-lhe que os pássaros cantam por alegria de e quando voltava ao passar pelo portão conseguiu assobiar. Sua viver, que a chuva canta de ale- alegria foi tanta que ela não pa- gria por encontrar rava de pular. vento canta em nossos ouvidos de A pureza dos 6 anos de idade, a alegria a terra, que o por voltar e encontrar fizeram acreditar que o portão era amigos, explicou quantos sons dimágico e que somente ali ela con- ferentes ouvimos num mesmo instanseguiria assobiar. te e que de alguma maneira toda a Desta forma Lili ficou dias no vida canta de alegria no planeta. portão da casa de sua madrinha Até hoje Lili tem o hábito de as- treinando diferentes tipos de as- sobiar enquanto caminha ou conver- sobio, até um dia sua madrinha a sa com chamou e perguntou por que ficava os seus no portão entrando e saindo. botões. A pequena Lili explicou que aquele local era mágico e que somente ali conseguia assobiar. Neste momento sua madrinha caiu na gargalhada, a pegou pela mão e as duas foram até uma goiabeira no 47 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ESPELHO DENUNCIA MINHA FEIURA Por É ... ela tinha razão. Esconder ou não ver, nada resolve. O melhor é enfrentar a feiura. Dei de ombros como se não mais ligasse para o fato dando o caso como resolvido. Eneida Souza Cintra Quando criança queira entrar num espelho. Queria porque queria. Queria saber o que tinha atrás do meu rosto. Queria saber se podia modificar este rosto refletido e de que eu não gostava. Será que eu sou assim mesmo ou tem uma outra aí atrás? Tirava o mencionado da parede, olhava por trás e ... nada. Só havia o papelão que arrematava o dito cujo. Virava e revirava; nada de interessante. Tanto fiz, mexi, virei e revirei que um dia, caiu e se quebrou em muitos e muitos pedaços. Ai, Deus ... e agora? Agora piorou tudo; além de sete anos de azar ainda vou ter que conviver com várias e várias caras? Se já não gostava da única que eu tinha, imagina multiplicada!!!! Oh ... que infeliz eu sou, reclamava para mim mesma. Resolvi guardar um único pedaço e o resto joguei no lixo, bem embrulhadinho num jornal; afinal, ali escondido e longe, bem longe, não iria fazer mal para ninguém e muito menos para mim. Dali por diante ficaria apenas com aquele caco porque agora só me via pela metade. Melhor assim, pensei; já que não me gosto pelo menos não me gosto só uma parte. Uau!! Fiquei reduzida e portanto, com menos chateação. Mas, que nada ... minha cara ainda me incomodava; cresci, virei mocinha e meu desconforto continuava. Minhas não conquistas, meus desacertos eram todos depositados na minha feiura. Era ela a causadora de tudo. E se eu modificasse alguma coisa? Comecei a me maquiar mais: toca passar mais batom, usar rímel, blush ... Olhava no caco do espelho que ainda conservava e me via uma palhaça ou melhor um pedaço de palhaça. Lavava o rosto. Cresci um bocadinho mais e percebi que ninguém se conhece, ninguém se vê, não sou só eu!! Os olhos não estão nos dedos!!! É só pelo espelho. Depois desta descoberta, continuei intrigada com uma coisa: porque será que nossa anatomia não permite esse autoconhecimento mas, ao mesmo tempo estamos expostos aos olhares dos demais, assim como também podemos vê-los sob diversos ângulos sem o artifício do tal do espelho? Tive que me conformar: o único jeito é nos descobrirmos só pelo reflexo mesmo ou, por conta da fotografia, invenção que nos ajuda na comparação, facilitando o comentário estrategista, quando não nos satisfazemos: ah ... não sou fotogênica!! - Oh sua tonta, ouvi minha mãe falar... não é porque você não vê que você não é a mesma. Nada disso adianta!! Você é como é, e pronto!! 48 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Mesmo porque, se a natureza nos segredou isto, deve ter lá seus motivos. Só vamos até certo ponto. E mais ainda: mesmo pelo reflexo nem tudo é visto por mais torções que façamos na coluna. Ah ... tem o jogo de espelhos, lembrei-me. Dialogando comigo mesmo, repiquei em cima da minha observação: isso não vale pois é o reflexo do reflexo!! Processo semelhante é o que ocorre com nosso aspecto intimista: fica tampado por alguma coisa batizada de inconsciente. Nosso acesso é restrito aos pensamentos que são nossos, só nossos; ninguém tira, ninguém põe, ninguém mexe, ninguém sabe. Ah lá isto a natureza acertou: deixou que vivêssemos este segredo! Deixando a adolescência, fiz duas grandes descobertas: se a aparência é importante, é porque assim aprendi como único tributo que me faria feliz; a outra é que no fundo, bem lá no fundinho o que de fato procurava era me conhecer por inteiro, conhecer o meu lado de trás, (ou seria o meu lado de dentro?) e, por fim, além destas questões, consegui me perguntar se haviam outras peculiaridades além do fisicamente perfeito. Na fase adulta, passei a olhar-me mais e mais no espelho. Ufa!! Já me gostava mais; não me via tão horrível assim ... Percebia que tinha outros atrativos. Pensei, separei alguns dentro da minha cachola e decidi apimentá-los; melhorar estes atributos que eu julgava que poderiam afagar a minha vaidade e com isto autoimagem, confiança em mim mesma, etc. etc. etc. como dizem os psicólogos que por sinal são uns entojos. Credo! Parece que sabem tudo e querem dar aquele monte de explicação. O tal do Édipo então, está em todas! Que IBOPE tem o cara! Se não era bela, restava-me viver ... queria viver ... diferentemente de Narciso, espelhei-me nele fazendo movimento contrário ... Se, de tanto falar do outro, Eco se calou, novamente espelhei-me desta vez, para dentro ... e o reflexo interno mostrou minha imbecilidade!!! 49 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 NOITE DE CHUVA Por Marilu F Queiroz Muita gente na rua, o vento soprava as últimas folhas de outono, soltas nas calçadas, judiadas pelo muito pisar. A chuva caia descuidada sobre o asfalto quente e maltratava a todos com sua displicência. As pessoas são pegas de surpresa, umas apressam-se a procurar algum abrigo, outras aproveitam a oportunidade para refletir e desfrutar da água caída do céu e sentir o seu frescor que acalma a alma e reanima o nosso ser. Sou uma dessas pessoas, tinha um compromisso que na última hora fora cancelado. Como estava próxima do local, tomei partido do fato e me deixei levar pela poesia que nos obriga a reflexão e permite vagar pelos caminhos dos pensamentos. A noite provocava sensação do descanso, desejo de diminuir o ritmo intenso do dia atribulado. É a cidade grande pedindo paciência e clemência para os desatinos da rotina diária. Foi nessa situação que percebi o quanto desatenta estava com relação ao meu dia a dia. Chovia sem dó e eu ali imersa na procura de soluções para as questões cotidianas. Sentia a água fria que me percorria as costas num ritmo suave e envolvente. Os cabelos teimavam em grudar na testa de onde se desprendiam pingos gelados e fartos que me caiam nos olhos. Não sei por quanto tempo andei, mas pude perceber a roupa molhada tornar-se minha segunda pele. Caminhar sob a chuva é prazeroso, uma sensação de liberdade, é a emoção transmitida pela natureza em forma de água. Nessa noite encontrei a mim mesma e me tornei a pessoa que sou, otimista e cheia de amor pela vida. 50 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Porque escrevo Por Maria Eugênia Escrevo porque de letras meu universo é feito. E de metáforas me alimento, como se da escrita fosse um rebento sempre esfomeado e insatisfeito. 51 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Bahia de Todos os Poetas Por Valdeck Almeida de Jesus Esta é a Terra da Poesia Dos Castros e dos Alves Cidade da Bahia Dos Ruys e dos Barbosas, Sales, Dantas, Paulos, Das Rimet’s, Ceutas e Sousas e Souzas Celeiro dos Almeidas e dos Silvas, Dos Amados, Salomões e Limas; Salvador dos Assis, Carranos, Leais, Pronzatos, Sannasc’s, Peraltas, Claras e Machados, Barretos, Araújos, Silveiras; Terra das Águas Vermelhas, dos Tudes, Revelat’s; Criadouro dos Ferreiras, Jagerbachers, Rochas, Stábiles, Costas, Calderaschis, Gaivotas, Maristons, Românticos, Freitas, Maciels, Nelpas, Passos, São Paulos, Venturas, Ramalhos, Menezes, Mirandas, Barrenses, Matos, Limas, Dragones, Galos, Vieiras de Melos, Velosos, Velames, Bule-bules, Sangalos, Mercuries e Trigueiros, Santanas e de Todos os Santos e Santas, Poetas e Poetisas; Terra da Paixão e das Paixões Onde a Poesia nasceu e está morrendo... Mas esta não é uma Boa Morte, Reciclemos a Poesia, Refaçamos a Bahia... 52 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 de sucesso, em que os filhos estudaram, tornaram-se doutores, e ajudando seus velhos Pais foram FELIZES PARA Por José Carlos Paiva Bruno SEMPRE! Deu certo, foram ELEITOS! AboViver consiste em estarmos permanente- minável comércio do êxodo rural e sua falsa esperança... Qual valsa pra piomente em cartaz. Assiste carta vai, rar e denunciar a matança, o Jornal O carta vem... Atitude Humana conclama, GLOBO de domingo pp traz notícia muito declama, reclama, muito além da fama... Do nosso Equilíbrio dependem ou- pior, de um tal filme PESADELO (retirado do Festival da Caixa por intros; muitos não poucos... Penso que centivar a moléstia criminosa pedofiseja como encadeamento de emoções, lia), onde o protagonista, drogado e propriamente um alinhamento de coraobrigado pelo diretor demoníaco estuções... Então como diz Simone: é prepra recém-nascido... Verdadeiramente ciso ter fé, é preciso ter raça... Imunes à traça, triunfo pela Taça! Pe- ARTE BESTIAL do APOCALIPSE! rene é construir corações felizes, em Hoje – domingo atual – conheci atuando nossos atores e atrizes... Soerguendo a coragem em burla do medo, melhor bu- a boneca de uma Criança... Chama-se Laura, amiga de vida imaginária daquela desde cedo! la especial menina de sete anos... Bom, mais uma crônica reflexiva, esta- Quero crer como o tigre Haroldo do Bill Waterson, melhor dizendo Calva fazendo a barba, com pressa de não perder o “insight”, fugindo do espelho win... Enquanto ela ninava Laura, do banheiro para o teclado... E o nome brincando de protegê-la e alimentá-la, para isto é comprometimento com a ver- simultaneamente partilhando sonhos, secretos de infância, de pureza e eledade, com a fôrma e a forma, gerando gância... Exerci minha capacidade huconduta e não norma... Enormes esformana exclusiva de raciocínio em três ços humanos, de todos, de Normas e tempos: presente, passado e futuro... tantos outros nomes... José, João, Silva, Ana, Maria, etc. Em tempo, gos- Enxerguei um presente que não mente; to que me enrosco em et ceteras e três um passado fantástico quando minha fipontos... Abrem possibilidades infini- lha querida, coincidente em mesma idade, ganhou da tia Walda Bruno em natatas! Exatamente o que temos quando lício, o Sansão coelhinho da Mônica acordamos todo dia... Sabendo que extremos não são bons pra esta nossa di- (esta do fantástico Maurício de Souza); e o futuro – que vai ser bem memensão... Talvez mais adiante quando enfim, separarmos o joio do trigo. Não lhor – bendito pela TV GLOBO em sua melhor mensagem de fim de ano: DEPENDE quero apressar o processo, saibam... DE NÓS! Rsrsss... Cartaz Certa feita – como expectador assessor (assado posteriormente) – em um palanque político; observava um discurso CONTANDO de uma família simples, da roça. Possuíam apenas uma vaquinha, e dela tiravam o leite para seu sustento diário... Até que um belo dia, passando por lá um mago (provavelmente um político), observando aquela família tranquila e calma, de hábitos simples e felicidade igual. Disse ao seu Sancho, empurremos a tal vaquinha no precipício... E assim foi feito... Então prosseguindo, ouvi que posteriormente o político, digo mago; lá por aquelas bandas de novo passou (talvez em nova campanha), e perguntando pela família de outrora, ouviu que em desespero por terem perdido sua vaquinha, partiram para a cidade, numa urbana empreitada Assim tentando fazer o melhor possível... Convicto evicto invicto, de que sempre é possível fazermos melhor! Assim CARAS PINTADAS, vamos pintar um cartaz de PAZ! 53 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 A beira do lago Por Maria Socorro de Sousa Em jardim ofusco a vi em chambre à luz Silhueta brilhava entre vestes alvíssimas Oh linda! Andavas serena a beira do lago Acende o farol iluminando tua face Arde-me em ânsia olhando para ti Oh linda! É bela dama a beira do lago Tu de cabelos negros esvoaça ao vento Teus lábios como macieira almejo tocá-los Oh linda! Exala ao prazer a beira do lago Cativo a ti esperei sutilmente abrasado Tornar-se tigre ativo ardente e ágil Oh linda! Flama o amor a beira do lago Seduz-me altiva gazela com voz suave Mira nos meus olhos gritando ao amor Oh linda! Amo-te… A beira do lago. 54 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 O galo vadio Por José Cambinda Dala Desde que comprei e levei para casa a minha galinha de cor preta, não haviam passado dois dias quando um galo estranho apareceu no meu quintal fazendo companhia a nova e única galinha. Não sabemos de onde saiu e como tinha se apercebido da visita. Assim, a galinha que estava para ser comida ganhara a sorte de viver mais tempo. Não nos chateamos muito com a presença do galo, pois pensamos logo num bom parceiro para a galinha pôr ovos, embora o meu pequeno Army corria com ele jogando-lhe pedras para afugentar-lhe. Passaram-se os dias, semanas e meses e a nossa expectativa pelos ovos era cada vez mais fraca. Não sabemos o que se estava a passar, só sabíamos que todos os dias o galo montava a galinha e essa por sua vez não punha ovos! Se fossem casal de homens, diríamos sem medo de errar que eles não fazem filho. Portanto, o galo que pensávamos ser um bom partido, acabou por nos trazer prejuízos, pois deu cabo, para além da comida que dávamos para a galinha, destruiu a nossa pequena vegetação plantada no quintal inclusive a nossa pequena bananeira que podia nos dar frutos no futuro. Doeu ver a bananeira destruída e doeu ainda pensar que o meu filho tinha um bom palpite em correr sempre com o galo estranho, pois se o deixássemos ele expulsar a vontade, não teríamos esse prejuízo que o galo causou. Por isso, galinha para comer deve ser cozida e posta a mesa, e galinha para criar é preferível comprar casais de pintainhos e pô-los numa capoeira. Com isso, decidimos comer a nossa galinha e expulsar o galo. 55 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 56 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Por Fabiane Ribeiro — Hoje, os momentos simples me trazem alegria... Quando chega uma nova estação e eu a aprecio pelos (Anteriormente) — Boa tarde a seus diferentes aromas. Quando acatodos. Como sabem, nossas reuniões ricio a pelagem do meu cão, quando ocorrem semanalmente, e recebemos ouço uma música... Tudo agora é dideficientes visuais de todos os ferente. Após o acidente, foi como bairros da cidade. Cada um é livre se eu passasse a pertencer a um nopara falar o que desejar, e se ex- vo mundo. Nos momentos que sucedepressar como bem entender. Sou Ma- ram o ocorrido, eu tive ódio de turia Isabel e irei coordenar o gru- do. Parecia que o mundo havia apapo. gado as luzes para mim. E, assim, apagado também a luz de minha própria existência. Porém, quando co*** mecei a reencontrar minha própria luz, pouco a pouco, as janelas do mundo começaram a se reabrir para — Sou o Jonatas, e assim como mim, colorindo minha vida. Hoje, eu o Frederico e a Dalila, também sou aprendo com tudo ao meu redor. Inlivre em meus sonhos... Aproveitan- clusive, com aquilo que temos de do o relato de nossa caçula, quando mais desafiador... Nossos sonhos. ela mencionou as gaivotas, lembrei— Você disse que sonha que esme de que, em meus sonhos, posso tá voando – falou a coordenadora do voar... grupo. — Conte-nos mais – pediu Maria — Exatamente. Entretanto, na Isabel. época em que as luzes estavam apaCom um sorriso no rosto, Jona- gadas em minha vida, ou seja, quantas continuou: do eu ainda tinha ira de minha nova — Diferentemente dos outros do condição, os sonhos não eram de ligrupo, eu não nasci deficiente vi- bertação. Era exatamente o contrásual. Um acidente, hoje perdido nas rio. linhas do passado, assim me fez. Apreensivos, todos do grupo Após anos de fúria pela ausência da ouviam o relato de Jonatas. Ele visão, hoje sinto que tudo isso te- respirou profundamente, tomando cove um propósito maior em minha vi- ragem. Parecia estar fuçando em meda. Antes, eu era cego pelo orgumórias gastas, de anos atrás. Memólho, pela ganância e pelo preconrias que tanto haviam lhe machucado ceito. Hoje, sou capaz de enxergar no passado e que, por essa razão, a vida como ela é. Não vou dizer ele havia trancado em uma gaveta de que não tenho dias difíceis. Sim, sua mente, deixando que empoeiraseles ocorrem com certa frequência. sem. Entretanto, elas existiam, Contudo, a alegria em certos momen- eram parte de seu ser de alguma tos transborda em meu ser... forma. Parte de seu crescimento... Conto 3 – O voo das... Algemas. — Seja mais claro – pediu Maria Isabel. Parte do “abrir de suas janelas para a vida”. Ele enxugou uma gota de suor da testa, e continuou: 57 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 — Antes de sonhar que eu posso voar, eu sonhava com... Uma prisão. Mas não era uma prisão qualquer. Era como uma espécie de prisão projetada por mim mesmo. Eu era o único prisioneiro. Nos sonhos, eu via-me em uma cela, pequena e estreita. Eu não conseguia ficar em pé, devido à baixa altura de suas paredes. Era angustiante. Do teto, desprendiam-se grossas e pesadas algemas de aço, que me apertavam os punhos, fazendome sangrar. Era sempre o mesmo sonho e, quando eu acordava, sentia-me prisioneiro de mim durante cada segundo do meu existir. Eu quase era capaz de sentir dor nos braços, devido ao peso das algemas de meus mais profundos pesadelos. Eles eram vivos. Eram reais. Mas, com o tempo, com minha própria aceitação e com a ajuda dos verdadeiros afetos, uma janela pequena e tímida surgiu nos meus sonhos, em uma das paredes de minha prisão. Eu consegui, lentamente, ver o céu escuro que se projetava lá fora. O sonho, então, foi se repetindo, e o céu clareando a cada dia. Era como se estivesse amanhecendo em meu interior. Eu pude, após muito tempo, ver novamente a luz do sol. Raios frágeis adentraram minha cela, aquecendo meu coração. Um dia, o mais belo sonho aconteceu: as duas algemas que me prendiam os punhos soltaram-se e transformaram-se em belas asas de águia. Foi mágico e lindo de se ver. O aço dissolveu-se, virando nada mais que... Belas e longas penas. No instante seguinte, a águia era eu. Pude sair pela janela da prisão, que já era bem maior que no início, e voar pelo céu azul-claro. Desde então, tenho sempre os mesmos sonhos. Eu sou a águia: com um par de olhos atento a qualquer detalhe da vida, e com um par de asas capaz de me libertar de minha própria prisão. As luzes nunca mais se apagaram e meus sonhos nunca mais deixaram de ter cor, assim como minha vida. — Você nos trouxe muitas lições hoje – disse Maria Isabel, enxugando as lágrimas. — Fico feliz em dividir – respondeu o rapaz – na verdade, a maior lição foi para mim mesmo. Eu, antes, acreditava que minha vida não teria sentido, pois tudo o que era importante não estaria mais ao alcance dos meus olhos. Mas eu estava errado. O que é essencial está cada vez mais claro para mim. Hoje eu acordei e encontrei algo junto de meu travesseiro. Algo que eu trouxera de um sonho e que me provou que estou no caminho certo. Ele estendeu o objeto à Maria Isabel e ela ficou maravilhada ao ver que se tratava de uma linda pena... Uma pena de águia. 58 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Chocolate quente dos deuses Ingredientes ? 1 litro de leite ? 1 lata de leite condensado ? 1 lata de creme de leite ? 4 colheres (sopa) de chocolate em pó ? 1 colher (sopa) de amido de milho ? 1 colher (café) de noz-moscada ? 2 pedaços de canela em pau ? 6 cravos ? 1/3 de xícara (chá) de rum Modo de preparo Misture o leite, o leite condensado, o chocolate, o amido de milho, a noz-moscada, o cravo e a canela. Coloque no fogo e espere ferver. Retire do fogo e misture o creme de leite. Coe para retirar os pedaços de canela e o cravo. Por último misture o rum. Dica: Para ficar mais saboroso, coloque o chocolate na xícara e, por cima, ponha chantilly salpicando um pouco de canela em pó. Canjica Doce Ingredientes 1 kg de canjica; 2 litros de leite de vaca; 1 coco bem grande; 3 a 4 pedaços de canela em casca; 3 a 4 cravos da índia; 1 pitada de sal; Açúcar a gosto; Canela em pó. Modo de preparo Depois da canjica ter ficado de molho desde a véspera, escorra, lave bem e coloque em uma panela grande. Cubra com água fresca, junte os cravos e a canela e leve ao fogo brando para cozinhar (essa água deve ser abundante para que todo o milho cozinhe por igual). Rale o coco, reserve uma xícara e retire todo o leite do restante e reserve em separado. Quando a canjica estiver quase cozida, comece a adicionar o leite e quando estiver juntando a metade do leite, adicione açúcar a gosto e o leite de coco. Deixe continuar a ferver brandamente (mexa sem parar) e vá juntando o restante do leite. Estando a canjica bem cozida e o caldo grossinho, junte o coco ralado. Mexa rapidamente, deixe ferver ainda por uns três minutos e retire do fogo. Pamonhas Ingredientes 25 espigas / 2 e ½ xícaras de açúcar refinada / leite grosso de 2 cocos / leite grosso de 2 cocos / leite ralo de 2 cocos ( 7 xícaras) / 1 xícara de chá de erva-doce / 1 colher de sopa de manteiga derretida / cascas de milho verde em formato de saquinhos. Modo de preparo Rale o milho. Com a metade do leite do coco ralo, lave a massa e passe por peneira mais grossa do que a da canjica. Acrescente o restante dos ingredientes. Encha os saquinhos feitos com as palhas, amarre com tiras finas de palhas e cozinhe em bastante água fervente, com um pouquinho de sal. Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/ 59 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Jorge Amado Por Sarah Venturim No país do carnaval Jorge Amado nasceu Um homem de mil mulheres Como Gabriela, Teresa, Dona Flor, Tieta... Um poeta Com força de Capitães de areia E o amor do soldado Jorge conquistou não só o Brasil Mas o mundo em 49 idiomas Será lembrado para sempre Um imortal não só na Academia Um imortal na literatura E na alma brasileira. Um centenário de vida Um sopro de letras. 60 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 O DESAFIO ANGULAR DO NOSSO TEMPO Impulsos para renovação da ciência. Por Gildo Oliveira Vestir a pele do dragão, Até tomá-lo verdadeiramente pelos chifres, Conquistá-lo, é a grande questão; O desafio angular do nosso tempo. São Jorge não mata o dragão; Tampouco Micael; A tônica é a transformação. Começamos, observando-o Nos momentos de confronto; E com muito cuidado Dele nos aproximamos. Não podemos permitir Que ele continue desvirtuando nossas ações, Nos afastando do empenho; Atenção , coragem, cautela! A todo momento; Mãos a obra! É preciso ter em mente, sempre, sem vacilar, Que este é o desafio angular do nosso tempo; Impulsos para renovação da ciência; A vitória do homem determina os rumos e avanços Que a Humanidade tomará, futuramente. O farol-guia! 61 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 FLAGRANTE NA AVENIDA Por Rubens Jardim O morto na avenida está livre da sepultura. Sem DEUS não existiríamos Não sei se é desaforo Por Lenival de Andrade ficar assim estendido Num mundo tão conturbado e atribulado no chão. Mas a morte Onde impera a corrupção é a quebra de protocolo, Violência, Desamor, Desigualdades e injustiças a entrega de uma carta Onde muita coisa gira em torno do endereçada ao nada. nosso bolso Em muita coisa o dinheiro manda e desmanda E sem ele a coisa não anda Num Brasil tão grande e desigual No Sul os Nordestinos são chamados de Paraíba O país gira em torno de São Paulo E o mundo gira em torno dos Americanos País potente e poderoso é os Estados Unidos Quero ver poderem mais do que DEUS Filósofos, Antropólogos, sabidões e ateus Todos devem curvar-se Obedecer, interceder e agradecer Para enfim entender e compreender Foto daniel de andrade A razão da nossa obediência e existência Sem DEUS não existiríamos 62 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Por Sheila Ferreira Kuno O Administrador de Banco de Dados A convivência entre colegas de trabalho não é fácil. Na empresa onde trabalho, embora pequena, existem várias pessoas excêntricas, sendo o percentual elevado se considerarmos a quantidade de funcionários, motivo pelo qual, não passamos uma semana sequer, sem uma história interessante para contar. Então vamos à história desta semana. Estamos numa correria danada, tentando definir o modelo de dados de um projeto, que deverá ser validado pela área de informática da empresa cliente. Então para anteciparmos o agendamento da reunião, eu tomei a iniciativa de ligar para o cliente. Um dos integrantes do grupo, o Administrador de Banco de Dados, conhecido como DBA, que senta ao meu lado, viu os meus esforços para agendar a reunião e ficou incomodado, assim que desliguei o telefone, ele me disse: - Vocês estão marcando uma reunião sem o meu conhecimento. Então respondi. - Claro que não, todos do grupo sabem que precisamos agendar a reunião. Bom se você não sabia, agora está sabendo que estamos tentando agendar uma reunião para semana que vem. Ele então resmungou, e continuou seu trabalho. No dia seguinte, quando eu estava confirmando a tão esperada reunião, o DBA resmungou: - Vocês estão marcando uma reunião sem o meu conhecimento, talvez eu não possa ir. Então respondi. - Mas eu já não lhe disse que a reunião seria na semana que vem? Não entendo o seu aborrecimento. Eu não entendi o motivo da reclamação, será que ele queria um convite formal? Ou queria que eu pedisse autorização a ele, um mero DBA, para agendar uma reunião? Não satisfeito e inconformado com a situação, o DBA resolveu enviar a seguinte mensagem eletrônica para todos os funcionários da empresa, incluindo o Gerente e Diretor: Pessoal, Só uma observação.. Tem ocorrido com frequência na empresa agendamento de reuniões onde minha presença é necessária sem meu prévio conhecimento. Já tive "surpresas" de reuniões agendadas em noites anteriores na qual precisei ir no dia seguinte logo quando cheguei na empresa, e algumas vezes sozinho inclusive, salvo necessidades pontuais na qual estou diretamente envolvido e "consciente". "NÂO ME RESPONSABELIZO" caso numa necessidade de ir ao cliente, mesmo agendado com antecedência, mas sem meu conhecimento, ou sem meu consentimento eu não puder comparecer, digo em caso de um dia isso vier a ocorrer. Peço encarecidamente, que conversem com todos os envolvidos antes de qualquer tomada de decisão, pois todos precisam estar cientes das coisas. O que estou pedindo agora, já deve ter acontecido com os outros Analistas, porisso peço por todos. Obrigado, 63 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Assim que eu abri a mensagem, o que me chamou a atenção foi à seguinte frase: "NÂO ME RESPONSABELIZO". Como uma pessoa tem coragem de enviar um e-mail para todos os funcionários da empresa, deixando em evidência uma frase escrita de forma tão errada. Então comecei a ler a mensagem e fiquei assustada com a seguinte declaração: .. salvo necessidades pontuais na qual estou diretamente envolvido e "consciente". Então pensei: “Meu Deus, nem sempre ele está consciente nas reuniões!” A mensagem se tornou uma piada na empresa e o objetivo do DBA não foi atingido. Moral da história: Quando for apontar o dedo para alguém, faça com sabedoria. ESPALHANDO SENTIMENTOS Por Ju Petek Desfia com cuidado, como se fio de ouro fosse todo esse sentimento enrolado no coração, deixa aflorar o belo, o simples, o puro Regue com amor todo amor por todo caminho, deslize suavemente pela estrada do viver, espalhando sentimentos do bem querer. Cultive flores de carinhos em todos corações que tocares, preencha com laços de afetos cada peito contrito. Há um perfeito mundo dentro de cada um, basta o pensamento livre, a alma livre, o coração livre Desfia com cuidado tudo que transborda o teu céu de amor como se fio de ouro fosse o traçado das estrelas esparrama esse sentimento num chão de ternuras e aflore toda paz, todo amor de todas constelações deslize suavemente pela estrada do viver 64 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 O BEM E O MAL Por Vavá Ribeiro O bem contém Benevolência Paciência Sapiência Indulgência Quintessência Alegria Harmonia Simpatia Galhardia Fantasia Melodia O mal contém Escuridão Maldição Tentação Agressão Ingratidão Corrupção Inveja Insensatez Impaciência Insolência Ira O bem e o mal Entrelaçam assim Dentro de mim Dentro de ti Dentro de nós O que vence afinal Depende de mim Depende de ti Depende de nós. GALGANDO FRONTEIRAS Por Hernandes Leão Saúdo com enorme regozijo Essa casa memorável, de Poetas... Caros Colegas, escribas... Honrar o venerável rol de Poetas, almejo! A Sabedoria das palavras... alcançar, eu desejo! Poder aluir ao patamar ilustre, com filosofia... Poder galgar a riqueza literária, justa sem sobejo Apenas, fluir na correnteza desse rio, da Poesia! Sou apenas mais um aprendiz... Outrora; almejava, essas fronteiras, conquistar! Saí do sonho, do mero petiz Cheguei, aqui, Casa do Poeta Brasileiro... Para, a Poesia... contribuir... e amar! Sou grato; por ser agora, um colega de Arte, um companheiro! 65 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Eu quero chorar, mas não consigo. ETERNAMENTE Por Por Juca Cavalcante alguma brotam. razão Será as que lágrimas quando não passamos para o outro lado, perdemos a capaAh! Esse frio! Esse silêncio! Essa solidão! cidade de chorar? Mas eu já sinto saudades. Sinto saudades de você, Não sei até quando poderei supor- dos nossos filhos. Do meu principetar. Como se eu pudesse ter agora zinho e da minha princesinha. Ah! esse poder de decisão. O que me dói Como eu gostaria de tê-los em meus é saber que estou aqui e não pode- braços, de ter você em meus braços, rei mais voltar. Não terei como lhe de sentir a sua pretensa fragilidadizer tudo aquilo que deveria ter de, e, ao mesmo tempo, captar sua dito, mas não disse por comodismo, energia, de ouvir sua voz sussurpor orgulho ou até mesmo por esque- rando em meus ouvidos aquelas palacimento, seja lá qual tenha sido o vras que só você sabe dar uma conomotivo que me desviou desse caminho tação tão doce. e te deixou sem saber tudo aquilo que eu realmente sentia por você, e que você, sem nenhum empecilho de qualquer espécie, me disse naquela minha última semana contigo, como um sinal de despedida, uma profecia involuntária, que me deixou fundamente comovido, mas pro- que nem assim me fez acordar e descer da minha ignorância sentimental e te agradecer com as palavras que, com Se eu pudesse voltar no tempo e conseguisse a dádiva de poder fazer tudo de novo, só que de modo diferente, agora dois tesouros, você também. Por que só agora esses pensamentos me surgem, minha mente se abre e essas palavras que deveriam estar vida, felizes, eu, você Breno e e nossos Mirella, aqui, para junto de mim, assim como surgir no seu rosto maravilhoso. sua minha ca mais verei, só quando eles virem encantador, que só você sabe fazer de corrigir nossos queridos filhos, que eu nun- ria feliz, e daria aquele sorriso parte poderia irresponsabilidade e nós estaríamos certeza, eu penso assim, você fica- fazendo eu estão aqui comigo, nesse silêncio e nessa solidão? Como é frio aqui embaixo. 66 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Ah! Esse silêncio, essa solidão e esse vento frio que passa através de mim, como se fosse um instrumento de limpeza que veio para limpar meu corpo e redimir minha alma. É tudo tão triste, tão silencioso, tão frio aqui embaixo. Se pelo menos você estivesse aqui comigo. Se pudesse me ouvir, eu lhe diria o quanto te gosto, o quanto lhe quero bem. Se eu tivesse sido mais atencioso, menos arrogante, menos dono de mim mesmo, como eu achava que era, teria diminuído a velocidade e, quem sabe, poderia ter me livrado daquela carreta que vinha na minha direção. Mas... Como é escuro aqui embaixo. Esse silêncio! Essa solidão e esse frio insuportável. Por favor! Venha logo para junto de mim e aqueça este lugar com o calor de sua alma! E se alguém perguntar por mim Não digam que eu morri Pois ainda estou vivo Apenas digam Que estou numa longa viagem... Quando eu morrer Por Galdy Galdino Quando eu morrer Eu não vou morrer Vou estar vivo Na lembrança de vocês Então não chorem Mas se as lágrimas Forem incontidas Chorem... Mas não se desesperem Digam descanse em paz Que em paz estarei Se a emoção for grande Cante uma canção Pois a música Embala o sono dos justos Declame um poema (Que pode ser este) Ou façam silêncio Dispenso o séquito Mas se quiserem se despedir Não façam com lamentações Não anunciem Esqueçam esse dia... 67 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Ser Feliz Por Sonia Nogueira A felicidade é uma busca constante nos seres humanos, em qualquer classe social, nível financeiro, raça, religiosidade, nível cultural. Todos querem e procuram ser felizes. Mas uma boa percentagem das pessoas é infeliz. Vários são as causas apontadas para cada insatisfação. Álcool, droga, filhos desobedientes, pais que judiam, batem, abandonam, não sustenta o filho, nem assume. Escolha errada para o casamento de ambos os lados. Então ninguém sabe ser feliz? Por onde começar? Esta semana estive na casa de uma amiga. A filha está noiva. Faz gosto olhar para o casal. Lindos, os dois, de encher os olhos de tanta beleza e juventude. Só vi entre eles sorrisos, atenções, felicidade respirando por todos os poros, planos. Olhei maravilhada e indaguei cá comigo. Por que não durar até a morte os separe, não ser feliz, mesmo nos momentos difíceis, porque há de tê -los, faz parte. O pensamento buscou a outro episódio na época que eu fazia o curso pedagógico. A mesma sena, eu relembro. Uma jovem e linda amiga estava noiva de um jovem e também lindo rapaz. Ela levava o crochê para sala de aula enfeitando o enxoval com bicos. Era tanto amor, a felicidade residia na face, no brilho do olhar, quando ele vinha buscá-la ao final da tarde. Terminou o curso. Casaram. Lua de mel. Sim na nossa época havia lua de mel! Hoje o mel vem bem no início, e, os anseios, a expectativa para este momento perdeu o sabor de mel, parece que foi substituído pelo fel. Passado quatro anos encontrei a amiga no centro da cidade. Estava gorda, além do normal, sorriso desbotado, sem graça. Abraçamo-nos. - Como vão os dois pombinhos, amiga? - Nós somos dois mesmo: eu e meu lindo bebê. Separamos, por esta razão, não somos três. Nem indaguei. Caso ela fosse contar a causa da separação a culpa, seria só, e somente dele. Perguntasse a ele a causa, seria só, e somente dela. Todas as pessoas são boas, quando nada acontece. Quando surgem os problemas é que vemos o outro lado da moeda. Todos somos juiz e réu e temos autodefesa. Voltei a olhar para o casal em curso. Quantos anos com vocês, eu pensei! O mundo não tem mais conserto. É daqui para pior. A liberdade voo alto. Quando o homem era o chefe da família e a mulher sem opções, o cabresto não quebrava. Hoje é uma tirinha de papel, um pequeno sopro e a casinha de palha esvoaça pelos ares. E junto, a felicidade dos sonhos vira pesadelo. Recomeçar sempre. 68 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Paris Est Fluide Por Gilma Limongi Batista Na sua ânsia de visões globais, a Vitória-Régia saiu do fundo do seu imenso rio e foi visitar outros igarapés. Sem saber como, chegou... “Vou levar lembranças para todos”, quando se deu conta que trouxera recordações de todos os que tanto amara. Do tempo em que liam juntos “O ARCO DO TRIUNFO” de Eric Remarque. Livro todo marcado, cada um grifava suas predileções. No final, comentários coloridos misturavam-se ao amarelado das páginas antigas. Ao pisar na beirinha da calçada, as luzes acenderam-se todas de uma vez só, pareciam um colar pendurado entre os galhos das árvores secas mas já cheios de bolas verdes inchadas, prestes a explodir a primavera dentro das suas lágrimas. Encharcada de literatura, tentou pisar os mais pisados degraus do mármore carcomido (queria seguir os passos dos mortos entre fogo e flores). O sol deu um espetáculo particular, vermelho-laranja. Cansado caiu devagarmente no cinza ao longe, deixando só um borrão rosado para os deslumbrados. Na sua fantasia, agora toda amarrotada pelos beijos do casal ao lado, tentava explicar sentimentos paradoxais: se Paris é tão FLUIDE, como indicam os sinais, por que estou tremendo de frio, com taquicardia e tão exausta? Deve ser pelo esforço extremo da escalada que conduz ao topo dos sonhos. 69 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Em você eu vi dois rios Por Leonia Oliveira Sou tudo e nada Em você eu vi dois rios De um você tinha Por Vanessa Clasen O contorno De outro, Sou a tua insensatez, teu querer sem pertencer, tua fome de nada, tua ausência e tua presença, teu amar e teu desprezar, O jeito de me chamar de vida. Mas você não era Nem o Sou um gelo que ferve tuas veias com o calor de mil vulcões, Um Nem o Outro. Sou tua tempestade silenciosa que só urge em você, Você Sou tua única razão e teu Era desatino, Sou teu grito sem voz, tuas A lágrimas secas, teu pavor e Cachoeira. ardor, teu desejo de fugir quando não há para onde ir, Sou quem chamas a noite nos teus sonhos, nos teus segredos, no teu silencio enlouquecedor, tua brisa quente, teu orvalho doce, tua tristeza feliz, Sou aquela que não esqueces, nem tampouco lembras, Sou aquela que anseia ver-te e te dizer que não é sangue que corre em mim, que não é o ar que me sustenta, que não são as palavras que me jogam ao medo de revelar o que sinto, Que a inspiração e a transpiração desabrocham em mim única e simplesmente por você... Foto de Alberto Samy 70 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ONDE MORAM AS BORBOLETAS Por Hélio Sena Como se fosse uma borboleta, um dia ela abriu as asas e voou. Não me abraçou, não me beijou, não me disse adeus. Simplesmente abriu as asas e se foi... É claro que eu fiquei na maior tristeza. Como ela podia ter feito isso comigo? Então era tudo mentira o que ela me dizia, com aquele sorrisão que eu achava o mais lindo mundo? Era tudo fingimento? Então ela não gostava de mim? ... Um mês depois, ansioso, atendo o telefone. Com uma voz esquisita, ela diz várias coisas que eu não consigo entender direito... Eu choro. Choramos juntos. Até que cai a ligação... Papai vem chegando da padaria. – Era a tua mãe? – ele pergunta, bastante sério. Não posso responder, um boi enorme tapa minha garganta... Papai me abraça e diz para eu me acalmar, que tudo vai ficar bem. ... Durante muito, muito tempo, fiquei me perguntando onde moram as borboletas... Agora não me preocupo mais com isso. Cresci, e uma das coisas legais que aprendi é que cada um é livre para voar para onde quiser... Só que, também, ninguém é obrigado a amar ninguém para sempre! Isso, além de uma verdade, é um consolo. 71 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 72 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 QUEM MATOU O BODE EXPIATÓRIO? sorte, dessa maneira expiando os pecados de todos. Por Gladys Giménez Não há nesta vida quem não tenha sido culpado de algo sem ao menos saber do que estava sendo acusado. Entre irmãos é muito comum um pagar a culpa pelo outro, tornandose o bode expiatório da família, estigma este que às vezes acompanha-o vida afora. Sacrifícios e sacrificados sempre existiram, pois a humanidade parece que já nasceu com ânsias de encontrar o seu “bode expiatório”, alguém para apontar o dedo e dizer: - É ele. Cortem-lhe a cabeça. Inda que o “ele” não tenha nada a ver com o pato- ou seja- é o próprio bode sendo levado mansamente para ser sacrificado no altar da intolerância, da injustiça dos egos alheios. Pecado? Sempre existiu. Desde Moisés, aliás, desde Adão e Eva que perderam o Paraíso, após Eva sucumbir à tentação da Serpente. Eis aí que nasce o nosso primeiro bode expiatório. Depois vieram as “bruxas”, sacrificadas e purificadas nas fogueiras – bodes expiatórios, expiando a “culpa” de ser mulher? De querer exercer um direito? Na Tora, ou Pentateuco, livro sagrado que foi revelado diretamente por Deus de acordo com os judeus, se menciona dois bodes sendo levados ao lugar de sacrifício, no Templo de Jerusalém. Um dos bodes era então sorteado pelos sacerdotes do Templo para ser queimado em holocausto (do grego: queimado) no altar de sacrifício juntamente com um touro. Assim o segundo tornavase o bode expiatório, o sacerdote colocava suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava os pecados do povo de Israel, ato seguinte o bode era deixado durante a noite na natureza selvagem a sua própria 73 Já na Bíblia é mencionado (Levítico) Jesus, que foi para nós cristãos o maior “bode expiatório”, ao se deixar sacrificar lava os pecados da humanidade. Terá valido a pena? A meu ver a humanidade redobrou os pecados, basta lembrar o holocausto em que judeus foram barbaramente mortos durante o período nazista, pois eram segundo Hitler, além de impuros, culpados pelo colapso político e econômico da Alemanha, soma-se aí mais de seis milhões de bodes expiatórios. Outro fato de suma importância para a humanidade nos revela que ele -o livro- torna-se o próprio bode expiatório. Segundo fontes seguras sabe-se que “El ingenioso hidalgo Don Quijote de La Mancha - O Cavaleiro da Triste Figura” perde o juízo, aventura-se pelo mundo para viver seu próprio romance de cavaleiro andante, após ter lido muitos livros de cavalaria e estes como todos os bodes expiatórios também vai para a fogueira. VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 A Virtude do Silêncio Por Willian Lando Czeikoski Não conheço o nome das plantas, E mesmo se o acaso do dia a dia me dissesse Eu não me interessaria. Não sei como se abarcam seus galhos E nem até que altura se sustentam. Não quero contar teus anos em teus elos unidos. Enfim, não quero complicar-me, da esperança Com tantos verbetes científicos. Por Rafael Zen Quero abraçar este tronco, Escutar teus versos ausentes, são sete as esperanças que dizem que resta depois dos trinta: E no mínimo tentar plagiar Seu amistoso silêncio. o amor cozido lento igual geleia, a pele mais forte que aguente mais dor, um cachorro abanando o rabo, que descubram uma fruta nova que dê no sul, a sedução coesa da experiência, que os janeiros fiquem cada vez mais frios, e o sonho de morar no sítio, mesmo que a maioria dos suicidas more lá. deus, meu bom pai, que me permita um anexo: se ser adulto e homem for assim banal e fácil, que me deixe nesse limbo intermediário entre uma idade e outra. Imagem: Arken 74 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Heroico Sorriso Por Magno Oliveira Seu corpo é mais que um paraíso Ele é meu refúgio e esconderijo Nas noites frias faço dele meu abrigo Em pensamento viajo em suas curvas Encaro meus fantasmas, mantendo a fé no seu heroico sorriso. Encarar a realidade, meus medos, minhas fraquezas É difícil, mas encará-los é preciso. O seu corpo de mulher, O seu sorriso de menina Me mantém firme, ainda tenho fé A esperança assim nos ensina Aprendi com você, a base é o verdadeiro ombro amigo Se o encanto um dia acabar, ainda me leve consigo. Eu não minto, não finjo Mantenho minha personalidade Buscando a felicidade. No caminho podemos sangrar Mas quando formos nos encontrar Mantenha seu heroico sorriso. Experimento Por Samuel Saint É chamativo para se pegar, não? Porque não experimentar, então? Não, saiba que ele não vai saber, Pelo contrário, ele passará a ti temer! Sim, quando souber os teus olhos se abriram, E que da fruta consumiram, Ele já não ousará, Uma só palavra a ti falar! Saiba que ele tentou te dominar, E ferozmente controlar sua própria criação, Mas que Deus é esse, Que não tem nem sequer coração? Querida, ele sabe do futuro, Assim como sabe do presente, Sabe que cairás na estrada, Mas permanece indiferente, Fingindo não saber de nada. Só ainda tu que não sabes, O que você irá criar, O quanto irá se destacar, Mas é claro, após da fruta experimentar! -Tudo bem. 75 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 DIVISA Por Gilberto Nogueira de Oliveira Surgiu no meio do mundo Um horizonte vertical, Uma linha imaginária, Um traço indivisível A separar os homens de seus irmãos. Surgiu de um lado do mundo Uma linha oriental, Uma linha acidental, Duas linhas de gelo. Surgiu em todo o mundo, Uma linha que orienta E uma linha que acidenta. Surgiu entre os dois mundos Uma parede de vidro, Reforçada com aço invisível. Uma parede macabra, Uma montanha manual. Surgiu em frente ao mundo A fome descomunal, Fabricada pela mente humana, Manipulada pelo capital. Surgiu na frente do homem A grande resolução, Que era dividir as riquezas, Que era dividir as desgraças, E este lhe cuspiu o rosto. E foi originada a rebelião. MUSEU PARANOICO (mar, alma, lugar, reinar) Por Roberto Armorizzi Por aqui não se vê mais o mar, de querer, de molhar, aos meus pés, veio a mim um museu secular, como tumba do velho Ramsés, nesta hora eu não sinto areia, que outrora coçava meus dedos, num instante minh’alma falseia, como pólvora de mudos torpedos, que lugar infernal, silêncio, onde quadros e almas se velam, não sou mais, e sem mar, sentencio, entre pós e as sanções que escalpelam, quero ao mundo salino, voltar, como areia, espalhar meu destino, ser o dia brilhante, reinar, com razão, sem castelo, nem sino. Imagem: Shiranuib 76 VARAL NO BRASIL NO. 15 Transformações Por Norália de Mello Castro No Vale da Morte (Death Valley), Califórnia, EUA existe um lugar chamado Racetrack Playa onde pedras são encontradas no chão com uma trilha deixada pelo seu movimento. O local é muito plano, árido, quase não chove por lá e ventos fortes atingem diariamente a paisagem. Embora nunca alguém tenha visto elas se movimentando, de alguma forma isso acontece. Algumas dessas pedras são pesadas, como se moveriam? Ninguém sabe explicar ao certo, mas o vento é o argumento mais usado, embora há quem diga que pessoas movam elas durante a noite, ou mesmo animais. Algumas pessoas ainda relatam que possivelmente uma fina camada de gelo que se forma durante as noites frias seria a causa. O fato é, ninguém sabe como acontece! (informação do Anúncios Google). MAIO DE 2012 gonos do deserto que a acolheu em sua superfície. O deserto causticante, todo feito de pedras com polígonos rendados de barro seco. Ando por entre pedras e barros secos, lentamente, do Sul para o Norte, numa subida que me levará até outras irmãs, lá no alto, onde Linda, Silvia, Marisa, que outro nome que se queira dar, de mulheres que vão lentamente subindo, deixando seus rastros ao longo da extensa área. O vento me toca, me beija, noite após noite, noites geladas contrastantes com os dias super quentes. O vento me faz andar milímetros de milímetros, e eu ando. Quase não percebem o meu andar, mas estou me movendo, assim como o nascimento de um chuchu; não se percebe o seu crescimento. Ou então, aquela criança que fica acordada durante a noite para ver além de sentir o seu crescimento. Disseramlhe que ela cresce à noite, quando o silêncio se faz e o torpor do sono se avoluma e os sonhos habitam. Mas a criança nada vê, nada sente, só os adultos apontam o seu crescimento, marcando traços na parede a cada mês, a cada ano. Comparando a subida dos traços, a criança percebe que não é mais bebê, mas um menino precoce, que ama jogar bola. Assim sou eu, aquela pedra mulher de pernas amplas, braços encolhidos, olhos atentos, que posta ali, se move à força do vento que me leva, noite após noite, ladeira acima, para alcançar o ponto onde a gruta de Luz se postou, e outras pedras, sem tampar a entrada, estão ao término da caminhada milenar. Se o vento a cada noite me força caminhar, o sol seca os polígonos para que a passagem seja menos escorregadia. Milênios se postaram sobre minha superfície e meu fardo ainda é pesado, embora o vento possa amenizar este longo caminho. Numa manhã, Ando lentamente. Muito lenta- talvez apiedado ao me ver verter mente. Sou aquela pedra que tem uma lágrima, o vento me sussurrou: formato de mulher, nome de mulher, que anda morosamente sobre os polí77 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 - Pedra, o caminho é assim. De noite, a geleira das quedas da temperatura, de noite a reposição do frio. Lentamente tu segues, junto a outras irmãs. Levará tempo sim, mas chegarás. Vês estes polígonos que amparam ao caminho? São percalços favoráveis ao teu longo caminhar. São centenas de milhares de pedras como tu, ainda em movimentos de fluxos de água, argila e secagem. O tempo se encarrega de favorecer momentos oportunos. Tuas lágrimas aqui se juntam à friagem da noite de milhares de outras pedras... A vida e a morte caminham sobre polígonos a deixar rastros da pedra mulher... Almas Sutis Por Yara Darin Senti o impacto sutil dentro do meu ser, Quando nossas almas se encontraram... O triscar de uma partícula celestial, Resplandeceu por todo o universo, A forma e a essência do querer, Numa poção mágica e divinal. Refletiu em meus olhos o brilho da sua aura, Cintilante , prateada luz incandescente. Mergulhei perdida num sonho ideal, Naveguei sem limite no espaço sideral, Afogada na minha inconsciência noturna. Busquei seu rosto neste sonhar sem fim , Moldei seu semblante... adornei, Te elaborei em fantasia e te fiz só para mim. A névoa fina, existente ... envolvente, Não me deixou ver o seu vulto claramente. Contemplativa, Captei o esplendor dessa luz deslumbrante.... Toquei na sua alma!! 78 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Bolo de Milho Cremoso Ingredientes • 500 gramas de farinha de milho amarela em flocos • 1 pitada de sal • 4 colheres de sopa de manteiga • 6 xícaras de chá de açúcar • 2 litros de leite • 400 ml de leite de coco • 2 xícaras de chá de água Modo de preparo Coloque em uma tigela e misture os flocos de milho com água e sal. Deixe reservado. Leve ao fogo o leite e o açúcar. Ao levantar fervura, junte a farinha de milho e cozinhe em fogo baixo, mexendo sempre para não queimar. A massa deve ficar cremosa. Vá misturando até a massa chegar à fervura. Quando a mistura estiver desgrudando da panela, retire do fogo. Acrescente a manteiga e misture. Após isso, coloque o leite de coco. Coloque em forma de canudo no meio, sem untar. Asse em forno préaquecido até dourar. Retire da forma e decore com coco. Sirva com calda de chocolate. Pudim de mandioca com coco Ingredientes Para o pudim 4 ovos 1 xícara (chá) de leite 1 lata de leite condensado 150 g de mandioca ralada 150g de coco ralado Para a calda 1 xícara (chá) de açúcar ½ xícara (chá) de água Modo de preparo Para a calda: Leve ao forno o açúcar, em uma panela pequena e mexa até caramelizar. Abaixe o fogo e junte a água até obter uma calda homogênea. Despeje em uma fôrma própria para o pudim, girando-a para que a calda se espalhe por todo o seu interior. Para o pudim: Bata no liquidificador o leite condensado, o leite e os ovos. Coloque em uma tigela e junte a mandioca e o coco. Despeje essa mistura na fôrma caramelizada e cubra com papel alumínio. Leve ao forno médio, em banho-maria, por cerca de 1 hora e 15 minutos, ou até que espetando um palito e ele saia limpo. Retire do forno, deixe esfriar e leve à geladeira por uma noite. Desenforme em um prato de servir, regando-o com a calda. Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/ 79 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 SÃO JOÃO DO CARNEIRINHO de e o povo entendeu aquilo como um castigo divino; não se brinca, impunemente com S. Por Miriam de Sales Oliveira João! Ai, São João, São João do carneirinho As brasas da fogueira são consideradas bentas; assim que se apagam devem ser guardadas; elas garantem uma vida longa e saudável. Diga lá pra S. José Que é pra ele me ajudar Pra meu milho dar 20 espiga em cada pé. Tão antiga a festa de São João! Remonta á cultura céltica, coincidindo com o solstício do verão para os povos do hemisfério norte. Era o tempo das colheitas. Por isso, acende-se fogueiras, dança-se em volta do fogo, salta-se as chamas. Todos sabemos a importância do fogo, para os antigos; qualquer celebração era á sua volta, pois a fogueira representa a força do sol, um espantalho contra as forças maléficas e um amuleto contra calamidades. Já para nós, a fogueira, segundo a lenda, veio de uma combinação entre as duas primas, Maria e Isabel, ambas grávidas, uma esperando Jesus, a outra, João; quem tivesse o filho primeiro, avisaria á outra, acendendo uma fogueira, naquele tempo sem celulares nem telégrafo. João chegou primeiro e Isabel acendeu a fogueira no alto do monte, para avisar a outra. Quem trouxe a tradição de S. João para o Nordeste foram os padres jesuítas; os índios logo aprovaram a ideia da festa já que adoravam danças e festejos ao pé do fogo. Por um motivo que não me recordo, proibiu-se as fogueiras em 1855.Logo depois, uma terrível epidemia da cólera assolou a cida- No interior existe o costume de se colocar uma árvore no centro da fogueira para tentar a sorte. Mas, se a árvore tombar na direção da casa---Misericórdia!—é sinal de morte certa para o dono. Agora, se a árvore for consumida pelo fogo, sem cair, é fortuna e prosperidade, na certa. Esse costume não é nosso. Na França, queimavam a árvore de S. João, em Notre Dame; também lá, o povo disputava o carvão, que guardava como amuleto. Satisfeita, eu vejo que nossas tradições resistem ao progresso; porque as pessoas são sempre as mesmas, nossos medos ancestrais continuam latentes, nossas crenças nos talismãs de bom augúrio, também, por isso, as garotas ainda enchem a boca d’ água e se postam atrás das portas, esperando que alguém grite o nome de um homem, que será o futuro pretendente; outras enterram uma faca virgem na bananeira, pois a inicial que se formar é a do futuro noivo; algumas lutam com agulhas dentro d’ água ou papelinhos enrolados com nomes masculinos; o que abrir, será o do prometido. Assim, S. João vai impondo seu papel; sai vencedor do tempo. Pena que nunca acorde pare ver o quanto é esperado e festejado; ignora as adivinhações que se fazem em seu nome e as cantilenas que se repetem, ano após ano: Em louvor de S. João Sim ou não.... 80 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 algum lugar. Não, dizia mamãe, você é filha única, nunca teve irmão nenhum. Debalde. A presença deste irmão estava bem ali, palpável, eu Por Sonia Regina Rocha Rodrigues quase podia sentir sua respiração. Eu fora adotada? Bem, descobri logo que depois de perguntar ‘uma bobagem dessas’ eu devia sumir por hoSou uma mulher doente. Muitas vezes ras da frente de minha inconsolável sou desagradável. Não sei evitar e indignada mãe, e, portanto, desesta inquietação que me domina e me cartei esta possibilidade. indispõe contra toda gente alegre Quando cresci mais um pouco, perque encontro em meu caminho. guntei a meus pais se eu havia tido Olhar indiferentemente ou mesmo com um irmão que morrera, ou se eu haalegria a felicidade alheia, para via sido o gêmeo sobrevivente de quem dela se sabe privado para sem- alguma catástrofe uterina. Olharampre, é um desafio. me horrorizados, negaram veementemente e pediram que eu tirasse esAs pessoas sociáveis, aquelas que nunca cresceram em famílias numero- tas ideias estranhas de minha cabesas, que na infância nunca ficaram ça. sozinhos, e pela mocidade afora até Mas a presença estava ali, constanos dias atuais se veem cercadas de te, quase a suplicar que viesse amigos, ou pelo menos de conhecidos brincar e conversar, e eu bem que bem intencionados, nem imaginam queria, mas com quem? quão dolorosa é a solidão do que E nos momentos em que eu estava não teve irmãos para compartilhar triste, em que estava, por exemplo, sua meninice. de castigo, sentindo-me injustiçada Desde bem pequena, eu sinto esta – quantas vezes são as crianças pupresença faltando a meu lado. Pare- nidas por coisas que não fizeram ce complicado de entender, falando nem disseram, sem poder contradizer assim no negativo, mas é isto mesmo os adultos – bem, nesses momentos, que eu sinto desde que me conheço a presença estava ali quase palpápor gente: uma ausência de alguém vel, quase a tocar fisicamente meus que deveria estar aqui. Eu me lem- ombros, a consolar-me: sim, eu enbro, eu ria, conversava, virava pa- tendo, estou a seu lado, conte cora o lado para compartilhar a vida migo, sim, eu me importo com você. com... quem? Bem, não havia ninguém Enquanto eu crescia, sempre que me por perto, mas deveria haver. E a via em dificuldades, atrapalhada constatação de que eu estava sozipara atravessar uma rua ou para renha doía imensamente. solver um problema de álgebra, poQuando fui para a escola compreendi dia afirmar que ouvia a voz amiga a que o que eu buscava era um irmão, dizer: estou aqui. E eu olhava ao e perguntei insistentemente a minha redor, inquieta, angustiada, procumãe pelo meu irmãozinho. Eu havia rando pela pessoa invisível que eu por força de ter um irmãozinho em queria tanto conhecer. A presença 81 VARAL NO BRASIL NO. 15 Assim passou-se a infância, e a adolescência correu célere rumo à juventude, em meio a tantos livros e cursos, tanta coisa que inventavam para me por longe das tentações do sexo oposto – como se as danças e os risos pudessem engravidar ou estragar uma mulher. Bem poderiam se poupar ao trabalho de me vigiar, meus pais, professores e parentes. Eu, tão sozinha, tão desagradável, tão inepta no trato social, tão apavorada com os comportamentos de namoro dos quais não entendia nada, que preferia me trancar horas e horas em meu quarto a escutar sinfonias, óperas, ler os clássicos, enfim, tornar-me dia a dia mais esquisita do que me julgavam os de minha idade. No entanto, alguém me compreendia e me apreciava – o outro, este outro que um dia eu identifiquei, logo se entenderá o porquê, como masculino. Uma grande confusão se formou em minha mente a partir do momento em que os pensamentos deste outro se misturavam agora claramente aos meus, em um dialogar incessante sobre tudo, amigável, inteligente, um tanto irônico, a amenizar a terrível solidão moral em que eu vivia. Sua voz estava sempre presente, e me confundia com ideias e observações masculinas que me faziam por vezes corar: olha, a tua amiga Maria, tão bela, seus lábios carnudos são um convite tentador a um beijo mordido. E eu sentia meu rosto quente, confusa. MAIO DE 2012 pode se abater sobre a libido humana. A intersexualidade me deixava perplexa. Então não somos, homens e mulheres, distintos em nossa intimidade celular, pois simplesmente um braço curto em um par cromossômico e um radical hidroxila que diferencia as doses dos mesmos hormônios - testosterona e progesterona - em nossos corpos é o que nos torna tão dessemelhantes. Eu não sabia mais o que eu era. A meus pensamentos amorosos de maternidade se misturavam estranhos desejos libidinosos pela beleza feminina, sem que, no entanto, eu de fato não sentisse nenhuma atração por outras mulheres. E a voz se ria de mim, e eu sabia que estes pensamentos estranhos todos não eram meus, e sim dessa presença oculta em minha vida. E foi assim que eu soube que meu gêmeo era homem. Pois embora minha mãe e meu pai negassem, e até se aborrecessem com minha insistência, a única explicaEu me interessava muito por psico- ção que eu encontrava para este eslogia, lia sofregamente tudo que me tranho fenômeno era que eu houvesse caísse nas mãos sobre comportamento tido um gêmeo. E lá no intimo creshumano, Freud, Jung, Reich, Lowen. cia esta certeza, de que eu era a Piaget. Maria Montessori. Quase de- gêmea de um rapazinho tão solitário e desejoso de companhia quanto eu. sabei quando descobri o caos que 82 VARAL NO BRASIL NO. 15 Sofri muito na adolescência, imaginando uma outra possibilidade, a esquizofrenia. Os esquizofrênicos ouvem vozes. E eu me contorcia de terror ao pensar nesta possibilidade, mas o outro ria. Ora, que bobagem! Eu estou aqui, e me importo, e sinto um bocado a sua falta. E eu li. As vozes esquizofrênicas, todas, tem lá suas intenções ocultas, mandam as pessoas matarem, mentirem, fugirem. A minha voz não era delirante. Era uma voz tranquila que simplesmente estava ali e me chamava a conversar, para matar a solidão. Nunca falou mal de ninguém, nunca me incitou ao mal. MAIO DE 2012 DNA não eram compatíveis com o dela, até que um estudo genético demonstrou que seus ovários e seu sangue forneciam duas leituras cromossômicas diferentes. E o do homem cujo sêmen não era compatível com o resto de suas células. E aquele outro, em cujos órgãos se liam duas linhagens gênicas distintas. Mais incrível do que qualquer ficção, a espécie humana vez por outra cria indivíduos mosaicos. A explicação chegou aos cientistas através de certas crianças com tumores estranhos, dentro dos quais se encontravam dentes, olhos, por vezes um membro inteiro, fragmentos de cérebro e até cabelos. TeratoTambém não se parecia em nada com mas. Fetus in fetus. Em raríssimos aquela voz da consciência, nascida casos, uma gestação gemelar se indas experiências de infância com papai e mamãe, sendo na realidade a terrompe pela morte de um dos feinternalização dos ensinamentos re- tos, que é absorvido pelo outro, cebidos de nossos amorosos cuidado- cresce dentro do outro, e, se em estágio bem recente, quando ainda res, aquela voz que grita em nosso tem apenas oito ou dezesseis céluouvido quando estamos a atravessar las, é assimilado e cresce par a a rua distraidamente: Cuidado! par com as células de seu gêmeo viPreste atenção no sinal! vo, originando um mosaico – duas A minha voz também não se parecia linhagens de células funcionantes com a intuição que nos fala em mocom carga genética distinta. E foi mentos especiais – Pega um guardaassim que eu finalmente sosseguei. chuva, pode chover – ou coisas baDescobri a causa de minha anômala nais e úteis como esta. personalidade, de minha incansável Não, a minha voz não se enquadrava busca pela presença ausente, tão nas descrições dos psiquiatras, desejada, tão querida e tão impospsicólogos nem teólogos. Eu não sível como a historia mitológica de era, definitivamente, nem a versão Castor e Pólux. feminina de Mr. Hyde nem uma nova Castor e Pólux, os gêmeos nascidos Joana d’Arc. de um mesmo ovo. Eu apenas sofria, e como sofria, O nome científico de minha rara por ser tão diferente e tão sozicondição vêm também do grego. Eu nha. sou uma quimera. Cresci, assim, ocultando o meu segredo. Fiz medicina. E nos livros descobri mistérios biológicos. Como o da mulher que tinha filhos cujos 83 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Dalva de Deus Por Israel Pinheiro da Silva Conheci dona Dalva em Vitória de Santo Antão. Cheguei na cidade a três meses das eleições municipais de 2008, o jornal precisava que um de seus repórteres de Recife fizesse a cobertura da campanha eleitoral mais acirrada, mais hostil e mais apaixonada do estado. Não achei má idéia deixar Recife por uns meses, sobretudo porque receberia diárias e também porque tinha acabado de passar por um divórcio litigioso no qual minha esposa jurou, na frente do juiz, que esmagaria meus testículos com a marreta que seu falecido avô usava para derrubar paredes. Por abominar hotéis, aluguei um apartamento no bairro da Matriz e mobiliei com tudo que precisava: um notebook, uma mesa, uma cama, um ventilador e uma cômoda. Passava a semana conversando com eleitores, entrevistando candidatos e lideranças partidárias locais. Finalizava as matérias nas noites de sexta-feira e enviava ao jornal para serem publicadas no caderno de política da edição de domingo. Vitória de Santo Antão era um quadro clássico e caótico de política terceiro-mundista que sociólogos preguiçosos e intelectuais de direita tanto adoram: alto índice de eleitores analfabetos e rurícolas, políticos messiânicos, nepotismo, prefeitura completamente aparelhada e instrumentalizada, lideranças religiosas nos palanques, imprensa local cooptada, assistencialismo, comércio de votos a céu aberto, cordão amarelo versus cordão encarnado. Depois de dez dias de trabalho intenso me deparei com um grave problema de manutenção: tinha mais roupas sujas do que limpas, na cidade não tinha lavanderia, eu não tinha máquina de lavar e a possibilidade de eu mesmo lavar minhas roupas a mão estava descartada. Foi então que um vizinho me passou o telefone de dona Dalva, a lavadeira que lavava suas roupas há mais de dez anos. Telefonei para dona Dalva e acertamos que ela lavaria minhas roupas todos os sábados, no meu apartamento, por uma pechincha de vinte reais pelo serviço mais quatro reais do transporte. Dona Dalva era uma mulher de quase cinquenta anos, obesa, tinha cabelos castanhos, os olhos eram de um azul soberbo, a pele muito branca e castigada pelo sol. Embora eu tivesse dito meu nome em bom som, acho que ela logo esqueceu porque sempre que se dirigia a mim, me tratava por abençoado: “Abençoado, onde tá o sabão em pó?” “Abençoado, onde tá o amaciante?” “Abençoado, você precisa sair pra comprar dois baldes e duas bacias”. Forneci a dona Dalva todos os insumos que ela necessitava para trabalhar, ela concluiu seu trabalho, recebeu seu pagamento, se despediu com um sorriso e me entregou um panfleto que trazia a seguinte indagação: “Você quer ter vida eterna?” Aquilo me aborreceu um pouco, já conhecia aquele tipo de mídia, era material de propaganda evangélica. Por ter estudado em uma universidade católica, fui obrigado durante muito tempo a tolerar toda sorte de lixo apologético, agora tinha dona Dalva querendo me catequizar. h"p://imoveis.culturamix.com/ No sábado seguinte, foi difícil escrever com dona Dalva cantando o tempo inteiro: “Firme, firme, firme nas promessas de Jesus...” “Mas eu sei em quem tenho crido e estou bem certo que é poderoso...” Achei engraçado. 84 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Na primeira vez que decidi puxar um pouco de conversa com dona Dalva, descobri que ela morava no bairro mais violento de Vitória de Santo Antão, era líder das mulheres de sua igreja, foi abandonada pelo esposo após um diagnóstico de câncer de mama, perdeu tudo que tinha numa enchente em 2005 e seu único filho cumpria pena por assalto a mão armada. “Abençoado, é muita luta!” Perguntei como ela ainda achava inspiração para louvar a Deus diante de tanta adversidade. Dona Dalva me respondeu que tinha apenas uma referência de vida, Jesus Cristo, aquele que não teve onde reclinar a cabeça, aquele em quem não se achou pecado algum e mesmo assim foi traído, caluniado, massacrado e morto. Do que podia se queixar? Quando precisei entrevistar um eleitor para compor uma reportagem e não quis sair de casa, fui à dona Dalva e perguntei o que ela achava da agitação eleitoral da cidade, ela disse que achava tudo uma perda de tempo, tinha pena das pessoas que depositavam suas esperanças em homens, servia àquele que governava os céus e a terra. E também aproveitou pra me dizer que quando o profeta Elias esteve refugiado em uma caverna, Deus enviou corvos para alimentá-lo com carne. “Abençoado, Jesus é maravilhoso.” Dias depois, eu perguntei a dona Dalva se ela já tinha ouvido falar em teologia da libertação, ela me respondeu que não acreditava que teologias, ideologias ou filosofias pudessem libertar o homem, libertação verdadeira e plena só havia em Cristo. Percebi que dona Dalva fazia distinção entre emancipação e libertação, ela concebia instintivamente emancipação como uma espécie de sub-liberdade alcançada através da práxis, o homem liberto por esse caminho logo voltaria a ser cativo. Num sábado chuvoso que inviabilizou o trabalho de dona Dalva, discutimos teologia da prosperidade, o que no prisma de dona Dalva era a própria vulgarização do evan- gelho, ela não entendia como pessoas que viveram tanto tempo na iniquidade podiam simplesmente se voltar para Deus em busca de realização material, francamente aquilo era um descaramento. Certa vez aceitei um convite para ir a um culto matinal na igreja de dona Dalva, a congregação ficava na periferia da cidade em um galpão sem reboco e era composta por gente muito simples: agricultores, feirantes, estivadores, costureiras, zeladoras, trabalhadores braçais da construção civil. O pastor era barbeiro e se dividia entre a barbearia e o sacerdócio para não onerar as contas da igreja. O missionário era mestre-de-obras, mas também gostava de dizer que era bombeiro porque já tinha livrado muitas almas do fogo do inverno. Ouvi com atenção o testemunho de um jovem que em um único dia de carnaval perdeu a virgindade com uma mulher de 65 anos, quase teve uma overdose, foi espancado pela polícia e aceitou Jesus. Fechei os olhos enquanto um diácono orava com a mão sobre minha cabeça, ofertei cinquenta reais para ajudar na compra de um ventilador para o templo, e fiquei comovido com a apresentação de um coral infantil. Eu nunca tinha experimentado nenhum tipo de sentimento religioso antes, mas confesso que por um instante a simplicidade do evangelho cantado por crianças tão humildes me tocou. Jamais conheci alguém com a fé de dona Dalva, sua identidade cristã era tão genuína que não havia espaço para inquietações seculares. Sua única ambição era formar uma unidade com Cristo, na verdade sua grande ambição era a vida eterna e diante dessa ambição todas as ambições mundanas pareciam um tanto ridículas. 85 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 No domingo de eleições, Vitória de Santo Antão virou uma praça de guerra, militantes se enfrentaram com paus, pedras e coquetel molotov, a polícia atirou pra todo lado, o fórum da cidade foi incendiado. Minha cobertura do incidente me rendeu um prêmio de melhor reportagem eleitoral, conferido pela Associação dos Jornalistas Amadores de Bodocó, e dezessete pontos na testa. Só voltei a Vitória de Santo Antão dois anos depois, desta vez para cobrir a enchente que arrasara a parte mais baixa da cidade. Os bairros mais próximos ao rio Tapacurá ficaram completamente inundados. A quantidade de desabrigados era enorme. Era ano de eleição e a catástrofe foi politizada: governo municipal culpava o governo estadual que culpava o governo federal que culpava a oposição. Sobrevoei a cidade com a Defesa Civil, dormi nos abrigos improvisados da prefeitura, consegui uma entrevista exclusiva com o governador e duas com o prefeito, vi ratazanas políticas fazerem doações oportunistas de tijolos e cimento, vi a água baixar aos poucos, caminhei por várias ruas enlameadas, e numa dessas caminhadas reconheci de longe em uma casa muito humilde dona Dalva, com água pelos joelhos e cantando: “Firme, firme, firme nas promessas de Jesus...” Inscrições para o próximo número abertas até dia 10 de junho! Venha conosco! 86 PARTICIPE DA REVISTA VARAL DO BRASIL! Você não precisa ter experiência literária para escrever conosco. Precisa amar escrever! Peça o formulário através do email [email protected] e venha participar conosco! Seu talento é você! VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 PAPEL SEM DONO Por Maria Luíza Falcão João ficou radiante ao receber aqueles cem reais, pois enfim ia poder saldar sua dívida com o Manoel da venda. Manoel recebeu o pagamento de cara fechada, afinal já estava esperando há quase um mês. Mas também não queria deixar transparecer a um simples pintor de paredes como João que ele, o dono daquela venda que era quase um supermercado, estava tão precisado daqueles cem reais para pagar um de seus fornecedores, o Pedro das farinhas. Pedro, porém, não escondeu o alívio que sentiu ao receber aqueles cem reais, pois a doença da mulher não podia esperar pelos remédios e ele não tinha mais cara para pedir fiado na farmácia do Augustinho. Assim, pôde chegar em casa e ver o sorriso da esposa quando ele lhe entregou os remédios. Augustinho... ah... vivia um tormento, pois o filho, o Junior, andava às voltas com uma turma da pesada, que vivia lhe cobrando umas dívidas que ele, Augustinho, não conseguia bem entender. Na verdade, ele não queria entender... há tempo o filho pedia e ele negava, mas o coração de pai ficava apertado vendo-o naquela agonia. Enfim, decidiu lhe entregar os cem reais, não sem antes lhe passar um monte de conselhos, avisos, ameaças... Junior mal acabou de ouvir aquele desfiar de rosário e partiu para o morro, onde o Wando do pó fazia ponto. Novas ameaças: daqui pra frente, sem grana, sem bagulho. Wando não era má pessoa, apenas mais um trabalhador. Pelo menos era assim que a mãe o via e recebeu de suas mãos aqueles tão esperados cem reais. Maria tinha uma lista de prioridades, mas encabeçando estava seu compromisso com a fé. Afinal, as obras de sua igreja, e o próprio local onde os encontros aconteciam, não eram de graça. Aluguel, tanta gente mais precisada que ela pra ser ajudada... de todas as obras, a que mais lhe tocava o coração, era a que trabalhava com os jovens viciados... tanto sofrimento daquelas pobres criaturas, das famílias... agradecia aos céus o seu Wando nunca ter caído no vício... nos dias de hoje, é sorte mesmo! À noite, na hora de sempre, deixou lá sua contribuição. Uma benção, pensou Ernestina... naquela noite o povo compareceu direitinho... Deus não cobra dinheiro pelo tanto que nos dá, mas a vida aqui na Terra não anda sem ele... no dia seguinte, bem cedinho, deixou com João os cem reais que ele, meio envergonhado, cobrara pela pintura e os consertos que a casa de obras assistenciais há tanto precisava... ele bem preferia fazer de graça, mas a dívida com o Manoel da venda não lhe saía da cabeça... Foto de Marcos Pajola 87 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 HOSPITAL DE LAGUNA Faça do Hospital de Laguna a sua causa, colabore! www.hospitallaguna.com PROJETO LUZ Ilumine esta ideia! Como você deseja que o Hospital de Laguna seja? Bom? Muito bom? Ótimo? Qual o seu desejo? Com quanto você pode contribuir, na sua conta de luz, para o Hospital ser assim, do jeito que você quer? Você pode! O prêmio maior é a vida. Com certeza o seu maior desejo! CARTÃO DE BENEFÍCIOS O Cartão de Benefícios proporciona a usuários e dependentes descontos nos serviços de internação e de urgência/emergência oferecidos pelo Hospital de Laguna e pela rede de estabelecimentos e profissionais credenciados (visite no site o link do Cartão de Benefícios). Os descontos variam de 10 a 50%, podendo chegar a 90% nas farmácias. procure o representante do hospital no horário comercial. TORNE-SE UM ASSOCIADO Para tornar-se um associado do hospital, basta preencher o formulário que se encontra no site e encaminhá-lo à direção do hospital. O valor da mensalidade e de apenas R$ 10,00. Todo associado poderá usufruir das vantagens do cartão de benefícios sem pagamento adicional. http://www.hospitallaguna.com.br/ Hospital de Caridade Senhor Bom Jesus Passos R. Osvaldo Aranha, 280, Centro Cep: 88790-000, Laguna SC Fones: Central telefônica: (0xx)48 3646-0522 / DPVAT: (0xx)48 3646-1237 / Fax: (0xx)48 3644-0728 Fotos Históricas do Hospital 88 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Sarah Venturim ...AS ESGANADAS, DE JÔ SOARES? Meninas, tremei. O apresentador e escritor Jô Soares apresenta em seu novo livro, As esganadas, um serial killer de mulheres. Famoso pelo “beijo do gordo”, Jô mostra um personagem com fixação por matar gordinhas usando receitas de doces portugueses. O assassino se revela logo nas primeiras páginas do livro, o que não tira a graça nem o gosto da leitura, o toque irreverente do escritor mantém o leitor amarrado ao texto e insaciável pelo desenrolar da história. Os personagens são outra “delicia” a parte. Com uma riqueza de detalhes é quase possível os ouvir falando, até com sotaque português! A investigação que é descrita no livro é quase um CSI (programa de TV sobre investigação criminal) das antigas e consegue criar um clima de suspense e excitação quando alguma dedução dos investigadores realmente bate com o suspeito. Caronte, o assassino e também o agente mortuário da cidade, também é um prato cheio do livro. O leitor diverte-se com as formas de atrair as vitimas, na maioria dos casos com doces, e é impossível não se conter em imaginar, o personagem principal que é descrito como magérrimo matando mulheres gordas mórbidas com receitas de doces portugueses (seria cômico se não fosse triste). Como o leitor já conhece o assassino, diverte-se com a trama e o clima gato-rato entre a policia e o criminoso, além de ficar imaginando quem será a próxima vitima! ESCREVER NO VARAL É MUITO SIMPLES: PARA NÓS O SEU TALENTO ESTÁ NO CORAÇÃO E NOS SENTIMENTOS QUE VOCÊ USA COMO TINTA PARA ESCREVER AS EMOÇÕES! VENHA ESCREVER NO VARAL, A SUA REVISTA LITERÁRIA SEM FRESCURAS! Peça o formulário pelo e-mail [email protected] Visite o site www.varaldobrasil.com 89 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 elas gostavam de brincar e de cuidar. E cuidavam mesmo, com muito carinho. Davam banho, arrumavam , levavam para passear, davam comida . ROBERTO, O MENINO ANJO Por Isabel C. S. Vargas A Francine que ele chamava de A história que vou lhes conFã, depois que ele começou a falar tar é uma história muito bonita e até o batizou tornando-se além de verdadeira. irmã, madrinha dele. Ela conta a vida de um anjo. Todos eram muito unidos, sempre Um lindo anjo que veio ao nosso os mais velhos cuidando dos menoplaneta para conviver conosco e res. ajudar as pessoas, além de trazer a E assim, Bebeto, como também todos com quem convivia muita paz, era chamado em casa foi crescendo muita alegria, muita união. muito feliz, muito cuidado e amado. Esse anjo-menino nasceu em um dia muito especial. Em uma sextafeira santa, que antecede ao sábado de Aleluia e a Páscoa que tem um significado muito importante. Páscoa é renascimento, vida nova. E foi nessa época que Roberto nasceu. Sim esse era o nome do menino. Só que ele não sabia que era anjo e que viria para dar muita alegria para sua família. Ele era como o amanhecer, bem clarinho, os seus olhos era como um pedacinho do céu. Azul. Muito azul. E seus cabelos eram como do Pequeno Príncipe, loiros, dourados como os raios do sol que se refletem na água. Próximo a casa deles morava ainda a avó que ele adorava e que o adorava também e uma tia idosa que o viu crescer e que ajudava a família na criação dos quatro filhos, pois a mãe e o pai trabalhavam para sustentar a família e lhes dar conforto, educação e lazer. Roberto era o único em uma família que só tinha meninas. Isto significa que ele foi muito, mas muito amado mesmo por todos, pelo seu pai, Francisco, pela Isabel sua mamãe e pelas manas que o adoravam. O RO, assim que a mãezinha dele o chamava, adorava computador. Desde os cinco aninhos que ele ficava mexendo no computador. Quando perguntavam o que ele ia ser quando crescer ele nem pesava duas vezes. Quando ele era bem pequenino Vou trabalhar com computador. Vou tinha muita gente à sua volta. Para tirar Informática, dizia ele na as manas,a Ângela, a mais velha , a época. Francine, a do meio e a Márcia era Chegou o tempo de escola e aí como se ele fosse um brinquedo en- foi muito bom para ele, pois enconcantado. Todas queriam estar com trou um monte de amigos para fazer ele. Cada uma cuidava dele de um uma série de coisas legais e que as jeito. Afinal, cada uma era dife- crianças adoram. Fez amigos para rente da outra e as idades também estudar, jogar futebol, ir ao cineeram diferentes. ma, jogar videogame, ver televisão, Mas uma coisa era certa, todas eram ir ao parque, tomar banho de piscitambém um pouco mãezinhas dele. To- na no verão, jogar taco, jogar no das as meninas gostam de brincar de computador boneca, pois ele era o boneco que 90 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Amigos de verdade, como se fossem irmãos. E esses amigos o acompanharam por toda sua vida. Tinha o Pedro, dos cabelos pretos encaracolados como uma ovelhinha, o Thiago, com o cabelo clarinho e os olhos verdes, o Fidel, o Patrick, o Fabinho, o Diego, outro menino com os cabelos enroladinhos, além de outros meninos e meninas. Crescer no meio deles e na escola onde os irmãos de todos e a irmãs do Bebeto estudavam foi muito bom. Foi uma época de alegrias, de crescimento, de amor, de lembranças boas, porque era como uma grande família. Todos se conheciam, se relacionavam bem, as professoras eram amigas e carinhosas e os meninos e as meninas eram muito bons alunos, brincalhões, é verdade, mas educados, obedientes, respeitavam a todos. Gostavam tanto que até nos finais de semana iam para escola. Tinha campeonato de futsal, de vôlei, ah ia esquecendo o Rodrigo que era louco por vôlei, e quando ia para o apartamento do Roberto queria jogar vôlei até no corredor. Isso era outra coisa que o Roberto dizia que queria ser: jogador de vôlei. É muito importante que as crianças possam estudar em uma escola que ofereça esportes para praticarem. Esporte é saúde. Ajuda a desenvolver o corpo e a mente. Ensina, desde pequenos, a dividir, a compartilhar as coisas com os outros e ensina que ter amigos para dividir as alegrias e as tristezas é muito bom. Roberto também gostava muito de música. No colégio havia uma banda. Uma banda maravilhosa que já havia ganhado até campeonato nacional em São Paulo. Pois quando ele era bem pequeno ele foi convidado pelo professor para sair na frente da banda. Quando ele ficou maior passou a aprender música com o maestro da banda que era uma pessoa com muita paciência. Ele aprendeu a tocar vários instrumentos até chegar no sax que ele gostava muito. Roberto teve uma infância, adolescência e juventude muito feliz. Uma família e amigos que o amavam, uma namorada que o amanha muito, também. Sabem o que o Roberto estudou quando entrou para a faculdade? Ciência da Computação. Aquilo que ele dizia que ia fazer desde pequeno. E ele gostava tanto disso que ele se tornou muito, mas muito bom mesmo que ele se formou e foi ser professor. Tirou o primeiro lugar no concurso. E o Roberto que foi um bom aluno, gostava do que fazia -e isso é importante, amar o que fazemos - se tornou um ótimo professor, amado pelos alunos que ele também amava, pois aos sábados ele ia jogar futebol com os alunos lá na faculdade onde ele dava aulas. Roberto sempre foi muito de paz, não brigava com ninguém, não era de ficar de mau humor, era educado com todos. Uma pessoa muito especial. Tão especial que Jesus precisou dele para ensinar lá no céu e o levou com 23 anos. Muito jovem, muito lindo, muito feliz, muito amado. Todos aqui ficaram muito, mas muito tristes, seus pais, suas irmãs, sua sobrinha, sua namorada, seus amigos, seus alunos, seus parentes. Ainda estão muito tristes. E sabem o que eles fazem quando a saudade e a tristeza aumentam? Olham para o céu e escolhem a estrela mais brilhante, pois é lá que ele deve estar para cuidar de todos nós e das crianças também porque ele adorava crianças e queria ter seus filhos para distribuir todo amor que ele recebeu. Se você amiguinho que esta lendo essa história ficou triste também, não chore porque o Roberto não gostava de ver ninguém triste. Então sorria e peça para Jesus e sua mãezinha, a Virgem Maria cuidarem dele na estrela que ele vive. Pensem nele com muito amor que ele sentirá todo esse amor e será muito feliz onde estiver. 91 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ELE TERMINOU COM ELA Por Jeronymo Artur Ele terminou comigo. E agora o que eu vou fazer? Não sei viver sem ele, não sei o que fazer sem ele. Minha vida já não faz sentido. Eu não quero mais sair de casa, não quero mais me ver no espelho. Não quero comer, dormir ou fazer qualquer outra coisa que não seja pensar nele. Se não o tenho mais, não me tenho mais também. Minha vida se foi dentro da mala que ele levou com suas coisas do nosso apartamento. Esse apartamento já não é mais o mesmo. Sem ele, ele nunca será mais o mesmo. O que eu faço agora, meu Deus, o que eu faço? Ele terminou comigo. Por quê ele fez isso? Simplesmente disse não te amo mais e foi embora? E desde quando se deixa de amar assim, de uma hora pra outra? Ele não é a Alice/Jane de Closer para decidir se me ama ou não enquanto saio para comprar cigarros. Ele pensa que é quem? Como assim ele joga cinco anos de namoro no lixo, como se não tivesse significado nada para ele? Nunca pensei que ele fosse tão cruel a esse ponto. Como nos enganamos com as pessoas. Ele terminou comigo. Eu já não choro mais todas as noites. Apenas quando, por acaso, encontro algo que ele esqueceu no que agora é meu apartamento. Ele realmente sumiu da minha vida, apagando todo e qualquer rastro que pudesse trazê-lo até mim. E assim eu também o fiz. Queimei todas as fotos , cartas e até joguei fora aquelas pétalas secas das rosas que ele me mandou em todos os nossos aniversários de namoro. Mudei de telefone, comprei novas roupas. Ele terminou comigo. Agora chegou a hora da vingança. Vou sair, curtir a vida, encher a cara e ficar com o primeiro que aparecer na minha frente. Ou os primeiros. E até as primeiras. Vou me entregar a todos os corpos que encontrar, de forma que uma hora eu não o veja mais em nenhum deles. Quero sentir as mãos, os dedos e todos os pelos do corpo deles roçando meus seios, meus braços, minha vagina. Quero que todos me possuam. Vou virar bicho entre quatro paredes. E fora delas também. Quero escadas, carros e até mesas de trabalho. Ele terminou comigo. E minha vida não acabou. Ele foi embora da minha vida sem deixar rastros. E eu sou feliz por isso. Eu não entendi por quê. Hoje eu sei que ele não me merecia. Hoje eu sei que era muito mais do que ele podia ter. E ele me fez um favor. Saiu da minha vida e levou junto com ele todo o peso de estar ao lado dele. Ele terminou comigo e me deixou viver. E hoje eu sou grata a ele por isso. Foto Divulgação – Columbia Pictures 92 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ALÉM DA VIDA -Que me transporto para colocar as flores pra você -E se não conseguiu sentir o Por Lunna Frank perfume e nem visualizá-las -Para provar que são reais -Trouxe todas as flores secas que te deixei ate hoje -Passamos por momentos que te entristeceram muito -Mais saiba que a nossa amizade nunca morre -Hoje pela manhã , quando abriu a janela -O casal de pássaros representam seu futuro -Se eu pudesse voaria com você, Abri a janela, que agradável surpresa Bem na minha varanda Estavam um casal de pássaros coloridos Cantavam alegres na arvore flamboaiã Mas encantei-me com o cheiro da manhã Leve brisa fresca, o sol já na fresta da porta Um céu azul anil maravilhoso Ai alguém me chamou baixinho, quase um sussurro Senti um leve perfume amadeirado Meu estado de espirito em paz Contemplando a manhã Percebi um homem adentrando em meu quarto Bem sorrateiramente, me olhou bem nos fundo dos olhos Era um amigo muito querido qual não via há muito tempo Me sorriu e ofereceu-me um presente Uma caixa muito linda , com laços cor de rosa Dentro dela estavam algumas coisas que não defini Pensei serão doces, bombons... Eram pequenos botões de rosa minúsculas, e florezinhas já secas Mais o estranho é que tinham cores e perfumes Uma espécie de rara beleza, para sentir a sensação de liberdade -Para não ter que dar explicações, só contemplar o amor Ai eu dei um imenso suspiro Olhei, meu amigo tinha sumido Procurei ao redor do quarto, quando percebi Consegui enxergar as flores lindas e perfumadas Na mesinha de cabeceira da minha cama As vezes o amor nos confunde, você não vê que A amizade que te acolhe e acalma É uma das formas mais lindas de amar Uma historia que envolve o amor pode oferecer Uma bela lição de fraternidade E a verdadeira felicidade é o estado de espirito conquistado Por aquele que ilumina e vibra a cada jornada Nessa vida em busca de respostas pareciam amor perfeito Então maravilhada , perguntei porque do presente Ele me disse com um sotaque todo especial -Enquanto você dorme, todos os dias -Tem flores enfeitando a cabeceira de sua cama -Para alegrar tua vida, já sofrida pelas perdas -Apesar de estar longe, meu amor por você é tão grande Foto: Filipe 93 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Além da imaginação Por Era uma tarde de sexta-feira. Início da nâmica mulher, acabara de chegar a sua casa, agenda. Estava muito fatigada. Realmente, o uma ducha, alimentou-se e resolveu repousar dormitar, pois ainda tinha outras tarefas a tos, sem se dar conta, caiu em sono profundo a povoar sua mente. Josselene Marques primavera. Helena, uma diapós cumprir uma cansativa dia não fora fácil. Tomou o corpo. Pretendia apenas realizar. Em poucos minue um estranho sonho passou Encontrava-se em um quarto enorme, na companhia de pessoas desconhecidas deitadas em espaçosas camas. Tinha o aspecto de uma enfermaria na qual homens e mulheres pareciam recuperar-se. Embora não interagisse com eles – apenas os observava com atenção – sentiu-se acolhida. Eles conversavam entre si e pareciam felizes. De repente, sua atenção foi desviada para uma espécie de chamada telefônica – ela não usava nenhum aparelho, mas ouvia, perfeitamente, uma voz bastante conhecida. Do outro lado da “linha” estava uma de suas primas, por quem ela sempre teve especial apreço. O motivo da “ligação” era dar conhecimento à Helena de que ela própria havia sofrido um acidente fatal no qual tivera parte de seu rosto deformado – inclusive perdera a orelha direita, justamente a do ouvido que estava sendo utilizado para receber a mensagem. A princípio, Helena achou que tudo não passara de uma brincadeira de mau gosto da prima, apesar de este proceder não ser de seu feitio. Sentia-se bem, inteira e sem dor alguma. Esta informação não podia ser verdadeira. Certamente, fora um engano, um trote ou algo parecido. Em seguida, Helena repetiu a “notícia” para os seus companheiros de quarto. Comentou sobre o absurdo do que lhe fora transmitido. Para seu espanto, nenhum deles fez comentário algum. Limitaram-se a olhá-la inexpressivamente. Sem encontrar apoio, levantou-se e abriu a porta do quarto. Ao erguer a vista, teve uma visão que a fez gelar e sentir uma emoção indescritível. À sua frente, sentada em uma cadeira de balanço, sorrindo para ela, estava a sua amada avó, falecida há 29 anos. Diante dessa evidência, Helena não teve alternativa senão aceitar “a realidade”. Infelizmente, não deu tempo de conversar com sua avó, pois sua mãe, intrigada com o seu demorado descanso, despertou-a. 94 VARAL NO BRASIL NO. 15 Introspecção MAIO DE 2012 Ao invés dos galos, nas manhãs, buzinas e freadas. Cada vez menos contos sobre fadas e violinistas verdes Por Loreni Fernandes Gutierrez que acordam, com suas músicas, as árvores encantadas. Protagonista de um mundo urbanizado e imprevisível Não vemos mais estrelas e nem luas debruço sobre minha introspecção em românticas e solitárias dias de incertezas ofuscadas pelos holofotes das e do medo de ter que deixar de so- cidades que se agigantam, nhar e de acreditar que o bem atrapalhando a passagem dos mensaexiste. geiros dos ventos. Duvidar dos olhos que me veem, mãos Quase não há mais abelhas, nem que me tocam e lábios que me riem. favos de mel, nem borboletas Medo de acordar e não encontrar à adejando sobre os poucos jardins minha espera a manhã idealizada que ainda existem. transformada em alguma coisa infértil e desamorada. Ainda bem que árvores frondosas e persistentes sombreiam, Vejo que os abraços se escasseiam, na solidão crescente de nossa enfileiradas, partes das ruas acinzentadas e quentes! existência - desafetos camuflados em pequenas desculpas. E nelas se urbanizam as pombas, andorinhas e pardais Quase não temos tempo para abraçar os pais e mais demoradamente e pássaros sazonais - porque lhes tiraram as matas. os filhos, como se os resgatássemos em nossos seios. Nos tempos atuais, em que a cada dia mais nos etiquetamos Quando só, os abraços que em mim se e vemos com naturalidade se acumulam instalar a corrupção e a indiferença. dou-os carinhosamente em minha “poodle toy”, chamada “Mag”, Num tempo onde os lobos se tornaram que me abana a pequena cauda num chamego frequente, sempre colada em mim feito uma sombra e me buscando a todo instante com seus olhos espertos, como se fosse gente. A cada dia menos crianças subindo em árvores, mais célebres que os cordeiros e que a cada dia ouvimos menos a palavra honra. Tenho medo de que esqueçamos quem somos, perdendo-nos pelos caminhos sinuosos - desse novo esquema pegajoso e corrosivo da desonra. pulando amarelinhas, jogando peladas. Cada vez mais cercas nos muros e casas fechadas. 95 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Por favor, dona!... MENINO DE RUA Bate no balde Tira moda Wilton Porto Batuca um samba Noite está chegando Barriga roncando Farda verde patrocina a pátria (des)amada Irmãos chorando... Desmamada Pelos que assolam os sapatos limpos - Filho, como foi o dia? O que tem para nós hoje? No chão de seu futuro Lágrimas como resposta Que poderia ser brilhante. Torta, a visão visualiza Sacode a flanela no ar arejado Os carros enfileirados. Pelo desejo de ganhar O eco vibra na mente: O pirão “vamos lavar o carro moço!...” O pão sai em disparada Carentes na mesa pequena a arma é sacada: Para a família grande: “é um assalto!...” - quer lavar o seu carro moço? sobressalto na sociedade Eu posso dar um brilho maravilhoso: que na sua tenacidade materialista O chevete para de mansinho não vê a realista situação A dama nos seus óculos escuros desce e ação Demonstra ser bem aparentada. do menino de rua na crua rua da vida. - Quer lavar seu carro dona? Custam apenas dois reais É brilho garantido Certeza de que seu carro gostará. Vamos minha senhora Não demora nada E nada tenho para comer: Somos oito irmãos Meu pai deu no pé... Por favor, madame! Custam apenas dois reais! Eu sou ligeiro Imagem: h"p://anjoseguerreiros.blogspot.com E não faceiro 96 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Pé-de-moleque de leite condensado Ingedientes • ½ kg de amendoim cru e com casca • 2 xíc. de açúcar • 1 lata de leite condensado Modo de preparo Coloque numa panela o amendoim e o açúcar. Misturar até o amendoim ficar torrado. O preparo deve ser feito em fogo brando, para que o açúcar não queime. Continue mexendo até a mistura ficar em ponto de caramelo (calda de pudim). Depois de caramelizado, coloque devagar o leite condensado, com o fogo aceso, durante três minutos. Retire do fogo e bata bem, por mais três minutos. Despeje em uma tábua ou pedra untada com margarina e deixe esfriar. Feito isso é só cortar em pedacinhos. Paçoca caseira Ingredientes • 2 xíc. de amendoim torrado sem casca e sem pele • 2 xíc. (chá) de açúcar • 1 xíc. (chá) de farinha de rosca • 1 colher (café) de sal Modo de preparo Bata o amendoim no liquidificador, aos poucos (Uma xíc. de café de cada vez). Coloque todos os ingredientes em uma tigela e misture bem, amassando com as mãos, para que o óleo do amendoim se solte. Coloque em forminhas para moldar ou em canudinhos de papel. Queijadinha Ingredientes 1 xícara de chá de coco ralado 1 lata de leite condensado 1 colher (sopa) de queijo parmesão ralado 2 gemas Modo de preparo Coloque todos os ingredientes em uma vasilha. Misture bem. Após isso, coloque a massa líquida nas forminhas de alumínio já forradas com as fôrmas de papel. Coloque-as em uma bandeja com água (em banhomaria). Deixe no forno a 200º pré-aquecido, por volta de 30 minutos. Quando estiver firme e corado por cima, o doce estará pronto. Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/ 97 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Uma Noite Terrível Maria Alice Lima Ferreira Chovia torrencialmente. O carro ia em ziguezague, pela estrada de chão batido, que, naquele momento, era pura lama. O para-brisa não dava conta de retirar toda a água, que caía sobre o vidro do carro, relâmpagos cruzavam os céus, iluminando por alguns segundos a curtos intervalos, a estrada da serra, que percorríamos. O ronco dos trovões era ensurdecedor. Pedi ao meu marido: - Carlos, por favor, procure um lugar, onde a gente possa parar e esperar a chuva passar. Ele parou o carro a uma boa distância daquele oiti gigantesco, cujos galhos balançavam ao sabor da ventania, produzida pelo temporal, que não dava mostras de que estava disposto a passar tão depressa quanto o desejávamos. Mal estacionamos um raio, caiu certinho sobre um ipê frondoso, rachando-o ao meio, enquanto um estrondo medonho quase nos deixou surdos, As meninas acordaram assustadas, chorando e eu as aquietava, quando à janela do motorista, uma mulher sorrindo um sorriso branco e simpático, batia. Meu marido abaixou o vidro e, então pudemos vê-la melhor, porque um novo relâmpago acontecia, naquele momento: Ela usava galochas brancas, uma capa de chuva lilás, tinha os cabelos louros e os olhos verdes, de estatura média, era magra e tinha o rosto sereno, todo respingado de água. Trazia nas mãos dois enormes guarda -chuvas, que nos oferecia, passei, ao colo de Carlos, a Meire e desci carregando comigo a Clarice. Meus dois tesouros estavam bem protegidos. No braço esquerdo segurava minha moreninha de cabelos lisinhos e compridos, naquele instante, gotejados de água, que o guarda- chuva, não conseguia aparar. Na mão direita, eu levava uma bolsa de nylon azul. Carlos carregava a outra, também azul. E assim seguíamos, em procissão, com a jovem, que dizia chamar-se Zuleika, à frente, falando, dando-nos conta de para onde estava nos levando: - Dona... - Eunice – completei. - Pois é, dona Eunice... Como estava dizendo, podem ficar sossegados, que poderão passar a noite em minha casa. Terão um chuveiro quentinho, um prato de sopa quente e camas confortáveis. Eu vivo aqui sozinha. Meus pais moram na cidade. - Em Chalé? - É. Em Chalé. - Estamos indo pra lá – respondeu o Carlos, enquanto tentava abotoar o casaco da nossa caçulinha loirinha, de cabelos curtos e cacheados - a Meire, naquele momento abrindo a boca de sono. - Que bom! Poderão conhecer os meus pais. São conhecidos por dona Zulu e seu Alfredo. Eles têm um bar, bem no centro da cidade. - Procuraremos por eles lá – assegurei-lhe. Seguíamos por uma picada aberta no meio de uma mata, à mercê dos raios, relâmpagos e trovões. De repente, numa curva da picada, avistamos um casarão antigo, enorme, branco, com uma porta e muitas 98 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 e muitas janelas azuis, compactas, - Não. Já completei 25. de madeira pintada. Eu estranhei - Nem parece – Dissemos em coro. que aquela jovenzinha morasse ali, Minhas meninas dormiam uma de cada sozinha, numa casa tão grande e tão lado do sofá grande, enquanto eu e distante da civilização. meu marido ocupávamos os sofás peQuando nos aproximamos do casa- quenos. Zuleika, de pé, convidourão, percebi o abandono do lugar: nos a tomar um banho, dizendo que onde deveria ter sido um jardim, já iria preparar uma sopa quentihavia capim crescido, agora coberto nha, pra nós. pela lama. Seguíamos por uma calçaDe banho tomado e vestida com uma da estreita e toda quebrada, em que saída vermelha, com os cabelos lihavia muitas poças d’água. sos, ainda escorrendo água, senteiZuleika abriu a porta e indicou- me no sofá pequeno, bem distante do nos a sala, onde penetramos, e nos meu marido. Voltáramos a ocupar as demos conta da iluminação feita à posições de antes do banho. A moça lampião de gás – um em cada parede. entrou na sala e convidou-nos à soEla também adentrou, fechando a pa. porta atrás de si, tiLá fora ribombavam As meninas até rando a capa, pendurando os trovões, os relâmpa-a num cabide, que havia despertaram ao gos ziguezagueavam, do seu lado esquerdo, sentir o chei- clareando, de vez em grudado na parede, deiquando, mais ainda a xando aparecer um vesti- rinho gostoso copa, onde numa mesa do azul, longuinho, de dos legumes co- grande de madeira bem chiffon de seda, sem envernizada, coberta mangas e com um decote zidos... pela metade, com uma bem avantajado. Pensei: toalha branca, de li”Por que ela se veste tão bem, nes- nho, víamos uma sopeira antiga, de te fim de mundo? Havia também, nas louça branca, decorada com florziparedes, espalhados, sem simetria, nhas azuis e dela a sair um vapor, lindas telas a óleo, representando que espalhava um cheiro gostoso, belas paisagens, emolduradas por que nos abria mais ainda o apetite madeira envernizada Um sofá grande e nos mostrava que o alimento acae dois menores, de couro cru e uma bara de sair do fogo. Estávamos famesa de centro, de madeira, coberta mintos. As meninas até despertaram por um vidro transparente, expunham ao sentir o cheirinho gostoso dos fotografias, emolduradas, a toda legumes cozidos com carne, formando volta com uma faixa estreita de ma- um caldo grosso e apetitoso. Sentadeira, pintada de branco. Ela nos dos em cadeiras também de madeira pegou observando as fotografias e envernizada, na mesma cor escura da explicou : mesa, recostáramos nos seus espal- Este casal são os meus pais e a dares altos e olhávamos ansiosos criança sou eu. Aqui, eu tinha 17 os nossos pratos vazios, até que anos. Zuleika, pedindo desculpas foi até - Mas, você ainda parece ter 17 a cozinha e trouxe uma concha esanos – assegurou Carlos. maltada, branca e colocou-a na 99 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 sopeira, dizendo: - Agora, sirvam-se e fiquem à vontade. Vou dar um jeito na cozinha, enquanto vocês comem. Eu já jantei, antes que a chuva começasse. - disse e retirou-se. Que delícia de sopa! Nunca me esqueci daquele sabor. Mais tarde, conduzidos pela moça, levamos as meninas para o quarto, onde as camas preparadas para elas, apresentam cobertores azuis, fofíssimos e aconchegantes. Deixamos as duas lá, assim que adormeceram e seguimos, para o nosso quarto, sempre acompanhados pela bela anfitriã. Uma cama de casal nos aguardava, com travesseiros revestidos com fronhas de linho branco e um cobertor xadrez, muito fofo, recobrindo-a. Ao levantá-lo, vi que o lençol era de linho tal qual as fronhas. Carlos foi até a sala, buscar as nossas bolsas. Zuleika despediu-se, dizendo que também ia dormir, balbuciou um boa-noite e se retirou. Dormimos um sono profundo. Eu, encolhida entre as pernas grandes e em forma de concha, do meu marido, adormeci logo, enquanto lá fora a chuva continuava a cair, ribombando os trovões e ziguezagueando os relâmpagos. Acordei com os raios de sol atravessando as frestas da janela do quarto. Espreguicei, consultei o relógio, que deixara sobre a mesinha de cabeceira, levantei-me e caminhei descalça até o guarda-roupa, que estava, do meu lado esquerdo. Abri sua porta, tentando achar um espelho. Só o encontrei, na quarta porta que abri, mas o que achei esquisito é não haver encontrado ali nenhuma peça de roupa. A poeira tomava conta de seu interior, como se há muito tempo ninguém o tivesse limpado. Peguei minha bolsa a tiracolo, que deixara pendurada num cabide de madeira, atrás da porta fechada, abri-a e retirei dela, tudo que eu precisava para minha toalete matinal. Vestida de camisola azul, bordada com brocados da mesma cor, de alcinhas, curta, caminhei pelo corredor, até encontrar o banheiro. Fiz minha higiene matinal, tomei um banho quentinho, vesti minha saída vermelha e voltei ao quarto, para acordar o meu marido. - Carlos, acorda! São oito horas! Ele se remexeu na cama, abriu os olhos e um sorriso lindo. Tão moreninho ele era, que quem não me conhecesse, não saberia explicar os cabelos loiros e os olhos claros da Meire. Ela saíra a mim. Na família de Carlos também havia gente clara, de olhos claros. Ela teve a quem puxar. Já a Clarice era parecidíssima com ele. - Como dormi! Estava - Durante o café, comentei: - Que moça estranha! Ontem não tomou a sopa conosco e hoje também não nos acompanha no café.. - Deixe-a, Clarice! A coitada mora sozinha. Não está habituada, com certeza a receber muitas visitas, aqui, neste fim de mundo! E olhe que estamos lhe dando trabalho... Imagine, preparar uma sopa tão gostosa àquela hora da noite, ontem! E hoje, veja que mesa farta! Temos muito que lhe agradecer. Já prontos para partir, sentamos na sala. Carlos levantou-se, dizendo que ia ver onde estava a Zuleika, para que nos despedíssemos dela. Abriu a porta da sala e surpresa... 100 - Clarice, a moça está lavando o VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 nosso carro. - Vamos até lá.- respondi, levantando e puxando as meninas pela mão. - A senhorita não precisava ter tido este trabalho não. Deixe isso comigo - disse Carlos, tentando tirar da mão dela a flanela, com que ela acabava de secar o veículo. - Mas, já tomaram o café? - Já sim. A senhorita foi muito gentil, tratou-nos muito bem, sem ao menos nos conhecer. Pois, então, tome o nosso cartão, para fazer-nos uma visita, sem pressa de voltar. Ficaremos muito honrados em poder retribuir-lhe todo o carinho, que nos dispensou, nesta noite terrível. Nem sei o que teria sido de nós, sem a sua acolhida. - Que nada! Só fiz o que estava ao meu alcance. - E fez muito. Serviço cinco estrelas – disse-lhe eu, enquanto retornava à sala, seguida por ela, para buscar as bolsas, que deixáramos sobre o sofá grande. Entrei. Foi aí que ela me disse: - Por favor, quando estiver com os meus pais, diga ao papai, que eu mandei dizer, que ele não teve culpa de nada. Que pare de se martirizar. A hora era aquela mesmo. Não entendi direito o recado, mas memorizei-o imediatamente. - Pode deixar. Direi sim. - Obrigada. Que Deus lhes recompense. Tentei pegar a sua mão, para me despedir, mas ela sorriu e escondeu -a nas costas. Estranhei, mas ela se explicou: - Não gosto de despedidas. Ficarei de longe, vendo-os partir. Assim pensarei que estarão saindo para uma voltinha à toa e que voltarão logo. – disse ela, seguindo-me até junto ao começo do antigo jardim.. Acenou para mim e eu segui em direção ao carro. Carlos fez menção de ir até ela, para se despedir, mas eu o adverti que não fosse, dizendo-lhe que ela não gostava de despedidas. Colocamos as bolsas no porta-malas, as meninas, no banco de trás, amarradas ao cinto de segurança. Entramos. Carlos deu partida. O engraçado é que nem lembramos que o carro tinha ficado longe, antes da trilha, que percorrêramos a pé, no meio da mata. Agora, avistávamos a estrada, logo depois da cancela aberta. Viramos para acenar e ela nos acenava de longe, linda, usando a mesma roupa de quando a encontramos. Todos se viraram para a frente e só eu continuei a acenar-lhe, até, que, de repente, ela desapareceu como que por encanto. Assustada, olhei na direção da estrada. O sol bonito, que surgiu pela manhã, já estava secando toda a estrada e nossa viagem seguia tranquila. 101 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 As crianças cantarolavam uma músi- Dona Zulu aproximou-se, para acudi ca, que aprenderam na escola: “Sapo -lo: cururu da beira do rio, quando o - Que foi homem? sapo grita ô maninha, ele está com Ele não conseguia falar e ela o frio...” conduziu pra dentro do balcão, onEm 40 minutos chegamos a Chalé, de o fez sentar-se e o abanava com com os seus chalezinhos e pinheiros um leque, quando me aproximei: encantadores, encravada, num peque- Precisa de ajuda, dona Zulu? no vale, no alto da serra. Na praça Estou com o carro, logo ali, do oupequena, com bancos de cimento, co- tro lado da rua. Quer levá-lo ao reto, canteiros verdes, multicolo- Posto de Saúde? ridas flores, descansávamos, antes - Não, já lhe dei o remédio de de procurarmos uma pousada. Sorvípressão. Agora mesmo ele melhora. amos o oxigênio do ar tão puro daMas, como sabe o meu nome? quela serra. Tudo - Foi sua filha Zuleika quem me ali parecia mágico: o telhado indisse. clinado das casas, o verde que nos - Onde você conheceu Zuleika? cercava e o silêncio, que era que- Ela foi muito legal conosco. brado apenas pelo zumbido, que Chovia muito, trovejava, estávamos trouxéramos da cidade grande, em estacionados fora da estrada, nas nossos ouvidos. Passeando o olhar terras dela. Então... pelas redondezas, eis que leio: A mulher me interrompeu, fazendo “BAR DA ZULU” em letras verdes, sinal para eu silenciar. Não entengrandes. di, mas calei. Aí, ela me arrastou, - Carlos, olhe ali o bar dos pais para um canto do bar e disse: da Zuleika. Vamos até lá? Assim - Espere aqui. lhes dou logo o recado da filha. Foi até a porta e gritou: - Então, vamos lá. As meninas fi- Ô Zé, venha ficar aqui pra cam aqui. Elas estão brincando tão bem, lá no coreto. Vou até lá e mim! O Zé, um magricela cabeludo, molhes digo, que nos esperem aqui. Carlos foi e voltou e, de mãos reno chegou correndo. dadas, seguimos até o bar. Entramos e, imediatamente seu Alfredo mostrou- se solícito em nos atender. Puxamos as cadeiras, sentamos e pedimos quatro Guaranás: um pra cada um de nós e os dois outros para as meninas. Quando o homem começava a nos servir, enchendo nossos copos, disse-lhe: - Pode deixar. Fico sim. Ela recomendou-lhe que cuidasse de seu marido, que naquele instante já melhorava. Chamei Carlos, que deixou o refrigerante sobre a mesa e disse-me, que levaria os das meninas, até o coreto e voltaria a tempo de nos alcançar. - Trouxe um recado de sua filha Quando dona Zulu abriu a porta de seu chalezinho, demos de cara com o Zuleika, para o senhor... Ele empalideceu, suas mãos tremi- retrato da Zuleika sorrindo e com o mesmo vestido, com o qual a conheam. cemos. - O senhor está bem? 102 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 - É ela! – disse-lhe, apontando o retrato. - Quando foi o encontro de vocês, com ela? - Esta noite. – respondi-lhe. - Meu Deus, é impossível! Por isso, trouxe-os aqui. Queria que vissem o retrato. Nossa filha Zuleika morreu há dez anos, num acidente de carro, quando viajava com o pai. O Alfredo não se perdoou até hoje. Sente-se culpado pelo ocorrido. Soluçava. Carlos permaneceu calado, com os olhos esbugalhados pelo espanto daquela revelação. Esperei que ela parasse de chorar e então lhe passei o recado. No bar, seu Alfredo, melhor, recebeu a mensagem da filha pela boca da mulher e com os olhos marejando lágrimas e um sorriso nos lábios, disse -nos: - Muito obrigado a vocês dois! Se quiserem, poderão se hospedar em nossa casa. Os refrigerantes são por nossa conta. Agradecemos, mas não nos sentíamos muito à vontade, para permanecermos na casa deles, com aquele retrato, lá na parede. Despedimos, com um caloroso abraço daquele casal simpático e, desde então, toda vez que vamos a Chalé, fazemos questão de vê-los. Ficamos fãs do BAR DA ZULU. 103 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 A vida por inteiro Jacqueline Aisenman Nasceu prematuro. Na casa dos trinta começara a esperar pela maturidade. Depois dos setenta viu que ela não chegaria na forma que tanto esperara. Durante a vida casou três vezes, viajou o mundo, adotou cachorros e gatos, tentou educar os seis filhos, teve a certeza de deseducar os netos. Sucumbira a muitos pecados, perdoou a si mesmo por um ou outro, agasalhara prazeres e deixara-se cair por dores maiores e menores. Se vivesse mais vinte anos, tentaria desfazer alguns erros, reconstruir alguns sonhos, retomar alguma velha conquista, que novas não tinham mais tanto interesse. Se vivesse menos do que pensava... Não importava. Para quem chegara ao mundo tentando vencer, já vencera mais do que até ele próprio imaginara. Sentia-se feliz. 104 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 SENTIDOS EXPRESSIVOS DE UM POETA Por Ismael S. Cândido O que é o meu mundo, se em meu mundo eu não posso expressar as badaladas do meu coração, O que é o meu ser, se diante de tudo o que eu sinto eu não vejo a luz dos olhos seus brilharem aos meus. Sou nesta vida como um pequeno barquinho na imensidão do vasto mar e que tenta romper as violentas águas, mas elas são tão intensas e incessantes que me vejo sempre perdido em meu horizonte, gostaria de poder olhar ao mar e a cada dia descobrir o horizonte certeiro e o rumo que tento alcançar que se perde sempre no caminho. Do que é feito o meu ser, provavelmente de amor e o mais intenso sentimento, sou aquele que o mundo não conheceu e que poucos sabem que existe e guardo em meu peito a esperança de ainda nesta vida poder ofertar tudo o que reservei dentro de mim, tudo o que sonhei em partilhar com uma verdadeira princesa. Sou uma parte da vida, sou uma parte de um sonho, sou uma parte de alguém, sou um alguém ou talvez um ninguém, se eu tivesse que me olhar ao espelho talvez eu visse somente um vulto como a sombra que vemos através do Sol se perdendo no tempo, e o Sol vai se pondo no decorrer do dia até o vulto nada mais ser. Se eu pudesse olhar ao mundo e dizer a ele o que eu não exprimo em minhas emoções, se eu pudesse ser o que eu tanto preciso ser, se eu pudesse me despir do que eu não posso ser, se eu pudesse olhar ao mundo e nele desvendar tudo o que há em mim, eu não precisaria ser tanto, eu talvez não cantaria pra vida, eu talvez não seria poeta para o Sol, eu talvez não seria o que eu não posso ser, eu seria apenas um ser como outro qualquer ser e tudo o que se conclui em mim somente o tempo poderia dizer. O que existe em mim, o que existe em meu ser, o que existe em meu coração, talvez seja algo tão raro como a pérola negra, rara e preciosa que nesta vida eu descobri, talvez seja algo como as águas que se vão e ninguém mais vê e nem se lembra, o que existe em mim são expressões de uma vida que clama por uma outra vida, regida pelas emoções e desejos de um coração que para uma musa se abriu e permitiu que ela adornasse e iluminasse todo o meu interior, permitiu que ela fosse mais do que uma inspiração, fosse o meu desejo, o meu sonho, a minha esperança, o meu horizonte, a minha certeza, fosse uma parte do meu próprio ser. Então, o que existe em mim é o que eu nunca entreguei a ninguém, é o que tudo guardo e confio somente a ti, pois um dia eu lhe entreguei a chave do meu coração e nesta vida eu sou metade sem você, e só você sabe o que há de tão especial dentro do meu coração e do meu existir. Se eu pudesse olhar em mim eu tentaria respirar fundo, em saber que Se nesta vida existe um sonho, este lá fora está o meu mais lindo sosonho é você. nho, em saber que lá fora tantos olhos a veem, e ela como a mais encantadora musa caminha distante dos olhos do meu ser, e eu silencio em mim o que não posso aflorar, o que não posso gritar, o que não posso ofertar. 105 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 ROLHA DE POÇO... Por Ivane Perotti Desde o dia em que nascera, menina robusta para os nove meses de gestação e mãe nem tão robusta assim, Lori, pelo batismo do padre, e “Rolha de Poço”, pelo batismo do povo, aceitara chegar ao mundo de um modo a não gerar discordâncias. Ou pelo menos, amainá-las com o seu jeito de ajeitar as coisas de modo a agradar a todos. Baixa, sorridente e bastante avantajada, ria às gargalhadas quando era chamada pelo nome imposto. E esse era o comum de sua vida no povoado que mais lembrava um acampamento improvisado. Apenas a mãe insistia em frisar seu nome, pois de certa forma lembrava o desavergonhado do homem que a abandonara logo depois de saber que crescia barriga na mulher. do espelho e do pente molhado. O cabelo de Lori não se desgrenhava, impecável, arrumado, sem que ela própria qualquer coisa fizesse para mantê-lo assim; gostava de brincar como as outras meninas de sua idade na fase em que as madeixas não são empecilho para a alegria e o prazer feminino. Por que Rolha “de poço” e não de garrafa, garrafão... ou qualquer outra alusão pertinente ao objeto determinante que iniciava o nome popular de Lori? Nada tão óbvio quanto a falta de criatividade popular diante de alusões simples acrescidas de qualquer fato que localize no espaço e no tempo a nominação dada. Lori nascera em plena luz do dia, em um dos movimentos mais fortes feito pela mãe na suspensão do balSe apelidos marcam alguns de modo a de que subia do poço no quintal da estraçalhar a estima confusa, Rolha casa. Pronto! A leitura de mundo de Poço sofria ação contrária. As- preexiste à consumação dos fatos. similara o nome dado como uma forma de reconhecimento carinhoso por tu- Rolha de Poço era a soma da leitura do o que nela era tão bem arredon- externa exercida sobre a menina com dado. E ela era. Redonda e doce Ro- a identificação do lugar que escolha de Poço. Olhos e nariz como se lhera para vir ao mundo. Essa não passa de uma simplificação grotesdesenhados pela mesma minúscula circunferência, cabeça simétrica em ca, uma leve tentativa de associar o nome à sua representação – se é relação ao tronco, boca carnuda, que tal fosse possível - então, fapequena, lembrava um morango em crescimento ao invés de um pêssego dada ao insucesso. Mas oferece uma ideia do porque Lori não ser chamamaduro. Dedos, dedos, dedos, Lori possuía dedos dignos de admiração. da de Rolha de garrafão, garrafa, Onde eles começavam era uma pergun- garrafinha, entre outras possibilidades. ta que exigia toda a forma de observação. E ela gostava de mostrar sua mão cheia de dedos, ou seus de- “Bulling”? Nada! Lori nascera imudos na mão quase, quase, quase uma nizada aos olhares externo e às extensão do mesmo risco arredonda- críticas que cutucam, apavoram e humilham comumente a nós, pobres do. Disforme? De jeito algum. As mãos de Rolha de Poço eram gracio- mortais, quando não destroem e arsamente redondas, como que impedi- rasam o ego humano. Rir era a sua forma de responder a qualquer desadas de perderam a graciosidade de seus traços pelo resto da vida re- gravo. Tanto que, crescendo assim, impusera-se sobre os outros, criandonda que levasse. Suas orelhas despareciam atrás do cabelo negro e ças e adultos, desenvolvendo uma encaracolado. Era um belo cabelo de liderança silenciosa, harmônica, indelével. Mas forte o suficiente anéis fechados em si mesmos, sem esforço, sem perda de tempo diante 106 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 para ser reconhecida até por quem estivesse fora desse círculo de relações. Assim Lori crescia em diâmetro, pouca altura e muito carisma. Ao completar vinte e nove anos, conheceu ou deu-se a conhecer a um forasteiro vindo ninguém sabia de onde. Por razões que os grupos reconhecem dentro de seus limites, não caiu no agrado do povo aquela simpatia entre os dois. Liam os que estavam de fora que Rolha de Poço não estava sendo muito cuidadosa ao alastrar seus sentimentos para os lados do desconhecido. zer? O que faria e em que hora? Até perguntara por ela e queria saber de detalhes que a um cavalheiro não deveriam interessar. Quando inquirido sobre suas origens, desdobrava-se em perguntar antes de responder ao ponto da resposta perder a vez. Já fazia uma semana que ele dormitava na única pensão da vila. Frequentara as duas missas do Padre Antão, fizera-se aparecer entre as vozes do coro, mas não puxara uma moeda sequer para partilhar do ofertório. Avaro? Mesquinho? Pobre? Tacanho? Dona Odete interrompera sem querer um quase convite feito pelo forasteiro que tentava levar Rolha de Poço para um passeio fora da cidade. Atrevimento do homem e ingenuidade de Rolha? Onde estava com a cabeça redonda aquela menina? Repetiria a mãe? Comentários saltavam das vozes do povo preocupado com a menina. Homem alto e bem talhado, falava como se tivesse engolido um dicionário de palavras difíceis e só deixava sair pela garganta as mais impensáveis, aquelas que ficavam no final da lista dos termos desconhecidos. Cheirava a excesso de perfume e outras coisas não identificadas. Mastigava um charuto que parecia estar sempre com o mesmo tamanho, e diziam alguns mais observadores que ele, o desconhecido, só o punha na boca quando queria impressionar para além do que sua figura já o fazia. Charuto mascado e guardado com molho de baba velha era a prova de uma índole tacanha. No mínimo desleixada, ou quem sabe... quem sabe... não dava para fazer uma ideia só do homem desconhecido. De onde viera e o que queria no povoado de uma rua só? Por que procurava tanto saber por onde andava a Rolha de Poço? O que estava a fa- A mãe de Lori que construíra um mundo dentro de si mesma para sustentar a solidão de mulher abandonada, fazia olhar e nada ver. Conselho que é bom não se dá, faz-se uso dele para si próprio e ela, mãe cansada, nesse momento não via motivos para abrir a boca. Rolha de Poço sempre soubera dar conta de si mesma sozinha, aliás, muito melhor do que o imaginado, o esperado e o provável. Tornara-se uma rendeira de sucesso, com aqueles dedos roliços, curtos, grudados às mãos gordas e ainda mais redondas à medida que se passavam os anos e os quilos espalhavam-se no pouco espaço do corpo atarracado. Gastava pouco e economizava muito. Muito mais do que se pudesse supor. Ganhara clientes fieis, mulheres da cidade grande, pequenas lojas que colocavam o seu produto mundo a fora. Rolha de Poço trabalhava incansavelmente. 107 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 intempestiva tanto quanto o estado de desalinho em que se encontrava a moça. _ Me... me desculpe... esses farelos, e a calda... Para espanto e absoluta ofensa aos presentes, o forasteiro mais que depressa limpou com o dedo indicaPouco vista nas ruas, cumpria com os horários da missa e de qualquer dor um pedaço do doce que teimava festa que se anunciasse. Rolha gos- em ficar no canto da boca de Lori. tava de dançar, de experimentar todos os tipos de comida, gostava de Murmurações, xingamentos, comentários sobre o abuso e os maus modos conversar e ver a alegria dos oudo desconhecido tomaram a festa. tros. _ Lascivo... Não faltou à festa de encerramento _ Homem abusado. da Quaresma. Depois de muito jejum _ Tem parte com o "coiso ruim"... forçado pela necessidade de colocar _ Precisa de um corretivo. a regra religiosa antes dos desejos _ Onde já se viu um despautério desses? do corpo, fez-se pronta em segundos. Ser uma das primeiras a chegar _ É o que dá essa moça não ter às barracas de quitutes e manjares pai... era uma tradição mantida sem esfor- _ Nem mãe! Que mãe igual àquela, ninguém merece. ço. _ Ora... ela criou a filha sozinha! _ Está aí o resultado. Onde já se Dentro de um vestido amarelo com pequenas flores espalhadas pelo te- viu um... um... homem desconhecido tocar a face de uma moça assim, em cido, Rolha estava redondamente público. E... linda! Linda e rápida! Seus pés _ O que vamos fazer? acostumados a acomodarem-se quase sempre dentro do mesmo calçado, não _ Abrir os olhos, abrir os olhos e ficar por perto. Ninguém tira os faziam barulho por onde cortavam caminho. Acomodados um com o outro, olhos desse gaiato. levavam Rolha cheia de desejos pe- _ Mas e Rolha? _ Ela deve saber o que faz... nunca los papos de anjos de dona Quitéria, pelo arroz doce de dona Joca, deu trabalho antes! _ Por isso mesmo! O que ela sabe da pelo dedo de moça de dona Vita. vida? _ Dos homens, você quer dizer! Lambuzada em um dedo de moça para lá de fresquinho, Rolha de Poço de- _ Que seja! Será que a experiência morou a engolir a porção avantajada da mãe serve para alguma coisa? que colocara na boca. Sorrindo en- Ainda ruborizada pela atitude do tre farelos, cumprimentou o foras- forasteiro, Lori estava entre senteiro que já tomara entre as suas a tir o prazer daquele dedo roçando o canto de sua boca e rebater o consmão lambuzada de calda e recheio trangimento de saber que deixara branco. isso acontecer! __... _ Senhorita Lori?! O sucesso financeiro de Rolha não saltava à vista dos desinteressados na vida alheia, mas aos que vivem para bisbilhotar, o montante que a rendeira deveria levantar era facilmente deduzido. O sim que ela disse em resposta ao meio cumprimento e ao susto total esparramou mais farelos sequinhos para os lados e muitos foram grudar -se na lapela do casaco do forasteiro. Que claramente, ignorou o inconveniente de sua apresentação Ainda ruborizada pela atitude do forasteiro, Lori estava entre sentir o prazer daquele dedo roçando o canto de sua boca e rebater o constrangimento de saber que deixara isso acontecer. 108 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 As quituteiras pararam no ato, as- Dona Vita. Eis aqui, aos seus pés, sim como todos os festeiros na pra- um servo para servi-la. ça. Outra vez a cena corroeu-se em si Lori queria emendar os sentimentos mesma pelo tom que o homem dera a cada movimento, ao timbre da voz, conflitantes e terminou dizendo: _ Já... o senhor já... comeu o dedo ao lugar dos olhos, ã curvatura das costas acompanhando o joelho no de moça da dona Vita? chão. _ O único dedo de moça que vi até Não era possível! agora é o seu, senhorita Lori. Era possível sim, foi a vista de Se apenas as palavras tivessem al- todos que Dona Vita aceitou o beijo no dorso da mão, mão de doceira, cançado a atenção dos que estavam atentos, talvez o burburinho fosse marcada pelos pontos dos doces, pemenor. Mas a cada um deles chegou o lo fogo das panelas cheirando a caolhar longo e atrevido que se des- nela, baunilha e pelos cabos das colheres que carregavam a marca das dobrou sobre Rolha de Poço. delícias que fazia. Houve quem se movesse para defender _ Ao seu dispor, Dona Vita. Seu humilde servo que atende a honra da moça, nome de Tadeu. mas foi impedido a Outra vez a cena pelo _ É... é... muitos pratempo pelo dedo de corroeu-se em si zeres seu... seu Tadeu! dona Vita que já se interpunha na mesma pelo tom Já em pé, Tadeu fazia-se cena. que o homem dera mais doce do que todos os doces que a doceira E não era o doce a cada movimento, produzira. E a doçura que ela oferecia ao timbre da parecia tanta em poder e em riste. Era o volume que se alastrava seu próprio dedo, voz.. feito névoa em dia para fervendo com a chover. vermelhidão que assaltara seu rosCom uma das mãos ainda lambuzada to de senhora bem nascida e bem pelo resto do dedo de moça de dona criada. Vita, Lori olhava para o que acon_ Olha aqui seu moço... aqui não é tecia com olhos de rendeira antiga. lugar de descompasso com as moças. Cada nó encontra seu ponto e as liA nossa cidade é pequena, mas é ho- nhas fazem o caminho que a gente quer. Será que teria chegado a hora nesta. O senhor trate de... de suas linhas encontrarem um carretel para se enroscarem? Ai! Ai! Enquanto ela falava, o círculo ao Ai! Sonhara tanto com o momento em redor da cena entrava em êxtase. Aquele forasteiro sairia da cidade que faria rendas para outros sonhos, para ocasiões em que seus decom marcas de cavalheirismo e boa dos se perderiam nos desenhos das educação, nem que para isso fosse linhas tramadas com dedicação, esnecessário deixá-lo com as marcas perança e, aquela certeza que agora da violência bem cobrada. parecia mais viva, real, tocante! Já se ouvia o crescente fervor das vozes ao redor, quando o forastei- Rolha de Poço estava feliz. A pequena cidade comemorava a prero, com a calma que Deus lhe dera em dose máxima e multiplicada algu- sença de moço tão educado, tão inteligente, tão preparado pela vida mas vezes mais, se manifesta: para dar atenção a quem quer que _ Dona Vita... a senhora é a famosa fosse. 109 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Os doces, Tadeu provou e aprovou um a um, sem economizar nos adjetivos e conjunções às fazedoras de tão imperiosas pérolas, já que a nenhum deles precisou pagar, pois era uma honra servir a um homem tão... tão... A cidade deveria mudar de nome. Sim! Deveria o mundo saber da riqueza que inundava as mãos daquele povo trabalhador, daquelas mulheres abençoadas pela maior e mais poderosa de todas as bênçãos celestiais. Consultar o padre Antão? Não se fazia necessário! Ele como bom sacerdote certamente concordaria com o dito. Capinar? Era fácil. Construir? Era simples! Mas elaborar receitas tão imperiosamente colossais era... era... um milagre que descia pelas mãos dos arcanjos e serafins. A noite já ia longe quando a praça perdeu o movimento. Ninguém viu quem foi saindo, mas foram todos com a alma leve e agraciada, deitarem o ego afagado e bem alisado pelas palavras de um homem que sabia das coisas. rendas que tecera para si mesma em tempos idos, aqueles tempos que demandaram solitários carreteis. As noites agora precisavam ser divididas entre o trabalho e o prazer. Nunca demais para um só, pois o desequilíbrio apareceria nos mínimos detalhes daqueles traçados tão elogiados nas cidades vizinhas. Lori era uma grande rendeira. Pouco mais de três meses se passou desde a festa de reconhecimento do forasteiro Tadeu, homem ajuizado, desapegado de todo, ordeiro e muito respeitador. Pouco mais de três meses se passaram até o grito de desespero atravessar a cidade de ponta a ponta. Até o sino badalou naquele ritmo de atenção e perigo que se usa em casos extremos: incêndio? Morte acidentada? Das casas saíam todos, tavam em seus afazeres res, acudindo o terror vibrar junto com o dia ciara seu labor. tal qual esou não fazeque sentiram que mal ini- A praça ficava mais perto, pois as casas ajeitavam-se ao redor dela, e foi para lá que acudiram em busca de notícias, de saber como ajudar ou a quem acudir. Foi assim que Tadeu passou a rodar mais pela cidade, comendo um dia aqui, outro ali e passando muitas noites cuidando da solidão da redonda rendeira. Fato acontecido acostuma-se a que continue a acontecer. A mãe de Lori deveria levantar as mãos para o céu por sua filha ter um homem tão bem preparado interessado nela e nas rendas que produzia. Ela que mostrasse para a filha, que homens assim Deus fazia poucos e deveriam ser bem tratados os pouco que apareciam. Outro grito ainda mais terrível fez com que todos identificassem a voz de Rolha de Poço. Não era exatamente um grito, era um urro que negava a condição humana de sua produção. Rolha de Poço, deitada no chão sobre o corpo da mãe, batia a própria cabeça contra a pedra da qual se fazia o piso da casa. Dava para ver o sangue molhando as duas mulheres, como se o ferimento Tadeu agora orientava Rolha de Poço e a dor também fosse uma só. a aumentar a sua produção e a guardar muito mais dinheiro do que ela Rolha de Poço levantara antes, muito antes naquele dia. O trabalho já fazia. Trabalhava tanto a moça acumulava-se sobre o tear. que sua única fonte de vitalidade advinha do enrosca-enrosca sobre as 110 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Estranhara não encontrar Tadeu ao seu lado, estirado como sempre gostava de dormir nas noites em que ficava para tomar conta da casa. com a mãe a não esperar muito. A vida de Lori era boa porque ela a aceitava tal como estava. Seria assim outra vez. Sim, ela precisava recuperar-se sem A porta do quarto da mãe chamara sua atenção e o volume estranho que tempo. Havia muito para esquecer e se sobressaía sobre a cama também. planejar. Novos pontos, novas tramas, novas linhas para amarrar e Lori correu para a mãe que parecia cortar. sem respirar. Colocou-a no chão tentando reanimá-la, chamando, gri- Tadeu roubara parte de sua vida, mas deixara outra no lugar. tando para que acordasse. Mas não foi o silêncio da mãe que lhe deu a Grávida, Rolha de Poço riu para certeza da morte. dentro, com aquele sentimento azedo Sobre o estrado da cama de viúva, o de humor velho e encarquilhado: grosso tecido do colchão, rasgado _ Eu sabia! Eu sabia... mas preciem várias partes e esvaziado por completo lhe deu a compreensão dos sava acreditar. fatos. Tadeu se fora. Encontrara a volumosa fortuna acumulada no colchão da cama, no quarto da mãe e não resistira a todo o poder que aquele dinheiro lhe daria. Tadeu se fora. Sufocara a mãe dela com o travesseiro de penas de pato; as marcas da luta eram visíveis, apesar das poucas coisas fora de lugar. Lori enterrou sua mãe em um cortejo que reuniu a comunidade em estado de choque. Era o primeiro crime na história da cidadezinha. O dinheiro faria de novo. Não lhe restava outro ofício. Mas a mãe ela não traria de volta. A pobre mãe que só passara na vida para deixála. Quentão Ingredientes 1 1/2 xícaras de açúcar 1 1/2 xícara de água 50 g de gengibre cortado em fatias finas (1/4 de xícara) 3 limões cortados em rodelas 4 xícaras de pinga 3 cravos da índia 2 pedaços pequenos de canela em pau Modo de preparo Aqueça o açúcar em fogo alto, mexendo de vez em quando até caramelizar. Junte todos os ingredientes menos a pinga e ferva mexendo até dissolver o açúcar. Junte a pinga, com cuidado, de preferência fora do fogo para não incendiar, misture e deixe ferver em fogo baixo por 3 minutos.Sirva em caneca de barro ou louça, pois as de metal tiram um pouco o sabor do quentão. Sofrimento por sofrimento, a coisa em si não era o problema, aprendera Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/ Rolha de Poço não chorava mais. Secara suas lágrimas, secara a alegria de moça rendeira, fatigada pela única e avassaladora dor de sua vida que se desdobrou em perdas irreparáveis. Tadeu roubara-lhe a alma faceira. 111 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 FLORISBELA Por Vó Fia Lá vai ela lá vai ela Apontada pelo dedo do mundo Cabeça erguida sorrindo a Florisbela Mal amada mal falada ela vai fundo. Morena bonita do cabelo cacheado Espalha belas perolas quando ri Pele de pêssego corpo modelado Mal falada por todos não está nem ai. De namoradeira é acusada Linda como ela só, como não ser Sorte madrasta sempre mal amada Deixa que falem disso não vai morrer. Mocidade e beleza o tempo levou As perolas do sorriso se tornou ébano A pele linda estragou o corpo modelado murchou Tudo ficou para trás só a roxa mortalha restou. Lá foi ela lá foi ela Quem? Alguém quis saber A resposta foi: a Florisbela Velha desdenhada sofrida quis morrer. 112 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 “- Os insetos são os animais que melhor A Farsa da Joaninha se adaptam às condições da natureza. Os insetos têm seis pernas e o corpo dividido em Por Sheila Ferreira Kuno três partes...” parou, olhou para o teto e se disO despertador toca. Pedro abre os traiu. Estava difícil se concentrar. Retomou a olhos, sem coragem e torna a fechá-los, o des- leitura. “- As aranhas não são insetos. Elas têm pertador continua tocando. Ele estica os bra- ços, desliga-o e volta a dormir. Depois de uns oito pernas e o corpo dividido em apenas duas 15 minutos, Pedro acorda assustado, ele não partes”. Leu sem nenhum interesse. - E daí que as aranhas não são insetos, tem certeza de quanto tempo havia dormido. - Hoje é um dia importante, última prova eu as detesto também. Pensou Pedro. Neste momento, Pedro viu uma joanide Biologia. Eu preciso tirar uma boa nota, afinal, estudei pouco este ano. – Pensou preocu- nha caminhando no chão e resolveu observála. pado. Então, Pedro tomou coragem e levantou -Joaninhas são insetos bonitinhos, tai, -se. Foi até o banheiro, lavou o rosto, escovou destes insetos eu gosto. Pensou Pedro. os dentes e penteou os cabelos, como fazia todas as manhãs. Depois foi a cozinha, onde a Pedro desceu lentamente da rede, para mãe o esperava com um delicioso café da ma- não assustar a joaninha e sentou-se no chão, nhã: pãozinho com queijo e chocolate quente. perto de onde ela caminhava. Observou-a duPedro saboreou aquela delícia, mas não con- rante um tempo, depois estendeu um pouco o versou muito com a mãe, como de costume, braço na tentativa de tocá-la. Neste momento, pois tinha pressa, precisava começar a estu- percebeu que a joaninha virou-se de barriga para cima e não se mexeu mais. dar logo. Como estava muito cansado, Pedro pe- Que decepção! Logo agora que Pedro gou o livro de Biologia e deitou-se na rede que havia se interessado em um inseto, ele morre. ficava na varanda de sua casa. Seu lugar pre- Pedro então voltou à rede e tentou continuar ferido, aliás, lugar preferido de todos da casa. sua leitura, mas não conseguiu, pois viu outra joaninha caminhando. A matéria era sobre insetos. Pedro detestava qualquer tipo de inseto, nunca se interessou em saber algo sobre eles, mas agora ele era obrigado a estudar o mundo dos insetos. Não havia prestado atenção às aulas, pois não teve interesse, agora tinha que estudar sozinho. Sem saída, pegou o livro e começou a ler. 113 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 - Outra joaninha e no mesmo lugar, que amarelo nojento saindo de seu corpo e ficou coincidência! Mas onde está a joaninha que ha- mais curioso. Levou a mão perto do nariz para via morrido? Será que esta realmente é outra cheirar o líquido e quase desmaiou. - Que cheiro horrível! Se o cheiro é as- joaninha? Ou é a mesma que ressuscitou? Se- sim, imagine o gosto, deve ser de matar! rá possível? Pensou. Naquele momento, Pedro sentiu uma Então, Pedro desceu novamente da rede e sentou-se ao lado dela. Ele estendeu o braço vontade enorme de pesquisar sobre as joanilentamente em direção à joaninha. De repente nhas, mas lembrou-se da prova, do livro de Bioa joaninha virou-se de barriga para cima e ficou logia que deveria ler e até então não havia lido nada. Então ele colocou a joaninha no chão e parada, como morta. - Será possível? É a mesma joaninha deixou-a seguir seu percurso. Mas Pedro havia ficado encantado com que se fingiu de morta da primeira vez e agora a joaninha, então decidiu procurá-la no livro e também? Para se certificar, Pedro subiu novamen- ler primeiro sobre ela. Ele descobriu tantas coite na rede, mas desta vez sem tirar os olhos da sas legais! A principal delas é o fato da joanijoaninha que aparentemente estava morta. nha se fingir de morta, como forma de defesa. Passado alguns minutos, a joaninha virou-se e Ela engana a pessoa ou animal, ao qual ela se sentiu ameaçada. E o líquido também faz parte continuou a sua caminhada. de sua defesa, nenhum animal sentirá vontade de devorá-la ao sentir o seu cheiro e gosto, assim ela se defende no meio ambiente. O conhecimento que ele adquiriu com a joaninha o fez ficar interessado em saber como os outros insetos defendem-se e quem ameaça quem. Pedro percebeu como fora bobo em ignorar este aprendizado, então finalmente ele pegou o livro e tentou ler o máximo possível. Já estava perto da hora de ir à escola, então Pedro almoçou, se arrumou e saiu rumo Pedro ficou perplexo e decidiu que faria a tão temida prova de Biologia. Para sua surpresa e felicidade, a prova tudo novamente, só que desta vez, quando a joaninha fingisse de morta, ele a pegaria na estava fácil e ele se saiu muito bem. Será que realmente a prova estava fácil mão, não para maltratá-la, mas para investigá- ou seu interesse e sua leitura fizeram com que la. E lá se foi Pedro. Quando a joaninha vi- ele não achasse a prova difícil? – Pensou Perou-se de barriga para cima, Pedro pegou-a na dro. mão, mas neste momento percebeu um líquido 114 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 se espalhar tornando-se no maior bafafá nas repúblicas, houve até apostas entre os amigos no intuito Por Sueli Rodrigues de adivinhar o nome do autor daquela proeza. Mas ela tinha certeza de ser Heitor e acabou convencendo a Lá foi Betina provocar de novo todos disso, embora o próprio se aquele esbarrão, apenas para ficar cara a cara com Heitor e ouvir dele mostrasse indiferente ao acontecido. qualquer vocábulo. Ele era tudo. ADMIRADOR SECRETO A jovem dedicava parte de sua vida, senão toda a vida, àquele por quem era dono de seu coração; assim o considerando. Nada seria capaz de afetar seu sentimento ou lhe tirar as esperanças de viverem juntos um grande sonho. Nem o jeito comedido com a qual a tratava, a deixar incoerente a paixão que nutria silencioso por ela; segundo diziam os amigos em comum. Betina não ficava na retaguarda e fazia por onde merecer suas declarações, já que nenhum dos seus encontros com Heitor fora casual. Todas as festas; os acampamentos; saraus; e piqueniques, foram combinados nos mínimos detalhes com os amigos, que faziam votos para que aquele namoro desse certo; contribuindo feito uma dúzia de cupidos. Porém, apesar de tudo, Heitor nunca lhe deu confiança. Jamais a convidou para um cinema; jamais a tirou para dançar; jamais ficou à só com ela ao redor da fogueira; jamais dormiram juntos na barraca; jamais a deixou falar ao pé de seu ouvido, retardando dessa forma um relacionamento escrito pelo destino, e que Betina em sonhos já havia consumado. A timidez, entretanto, era sem dúvida uma das qualidades de Heitor, que mais a seduzia. Por esta razão cria que um dia ele se encheria de coragem, e pegaria o rumo que o levasse a ela. Sem truques nem simpatias. Sem culpa nem ajuda de ninguém. Cartas de amor deram lugar a lindos buquês de rosas vermelhas, enviados num espaço de dois em dois dias, transformando a casa em um enorme canteiro perfumado. E depois vieram as cestas de café-da-manhã e as cestas de chocolate com recheio de licor. Declarações feitas em seu nome foram grafitadas pelas paredes de muros ao redor de todas as repúblicas. Por fim, uma larga faixa amanheceu estendida na entrada da rua, causando euforia generalizada. Betina foi digna de inveja. Todos a considerou privilegiada, todos desejavam conhecer o criador daquelas loucuras. Alguns cogitaram o nome de Vinícius, pelas vezes em que andou fazendo suas investidas; ainda que elas tenham fracassado. Betina nunca teve olhos para outro homem que não fosse Heitor, e além do mais nem na cidade Vinícius se encontrava para dizer que sim ou não. O admirador chamava- se Heitor. O seu Heitor. A jovem não teve a menor dúvida disso, e não abria mão dessa afirmação. Quase todos os índices recaiam sobre ele; o mesmo que parecia estar reagindo mal àquele auê em torno de Betina, e que; ainda segundo os amigos, chegou a quebrar a velha postura metódica. Poderia ser uma ação ou uma reação ao fatos recentes. Naquela manhã, Betina voltou a ficar cara a cara com Heitor, e diferente dos outros, aquele encontro havia sido realmente casual. Ele Foi quando apareceu debaixo da por- nada falou. Olhou-a dentro dos ta a primeira correspondência: “De olhos com a angústia de quem preseu admirador secreto.”; era como tende dizer algo e não diz. Um assinava o autor daquela e das outriste olhar decepcionado. tras cartas anônimas chegadas em sequência. O episódio não demorou a 115 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 . O coração de Betina apertou e ela se desesperou. Antes que abrisse a boca, o rapaz passou por ela sem nenhuma outra atitude, a deixando parada no lugar. Em choque, nem conseguiu dar a volta para vê-lo se afastar sem olhar para trás. À noite do mesmo dia, os amigos trouxeram a última notícia que gostaria ter recebido: “Heitor foi embora.” A bandeja nas mãos caiu imediatamente no chão. Não podia ser possível! Não podia! Desesperada, começou a perguntar sobre seu paradeiro em todas as repúblicas, porém, assim como os amigos em comum, ninguém sabia dizer de seu destino. Heitor se evaporou no ar sem deixar pistas, pegadas que a levasse para junto dele. Betina chorou copiosamente. Ela parecia se afogar nas próprias lágrimas, enlouquecer no próprio desespero. Heitor sumiu. E sumiram também as cartas; as rosas vermelhas; as cestas; os grafites; as faixas; e as declarações anônimas, levando todos a conclusão de que Betina sempre esteve certa, quanto ter sido Heitor o autor das tímidas façanhas. “..Mas porque então partiu?!..”;era o que mais se questionava entre as repúblicas. Betina só reencontra Heitor em seus sonhos proibidos, pois nunca mais o viu; ficando a imaginar como teria sido sua vida ao lado do seu grande amor. Talvez teria conhecido a felicidade, o que agora está distante independente de quem segura sua mão ou beija seus lábios. No fundo, ainda não o merecendo, Betina queria que a vida lhe desse a chance de colocar as coisas em seus lugares. A chance de revê-lo mais uma vez, para olhar dentro dos seus olhos e confessar : “__...Heitor, o admirador secreto daquelas cartas....era eu.” Docinho de amendoim Ingredientes 2 ovos 1 lata de leite condensado 1/2 kg de amendoim sem casca, torrado e moído 1 colher (chá) de manteiga Modo de preparo No caso do amendoim vai se necessário só torrá-lo, tirar a casca e bater no liquidificador. Misture todos os ingredientes. Leve a panela ao fogo até que a mistura se desprenda do fundo. Retire da panela e coloque em um recipiente para esfriar um pouco. Faça bolinhas e passe-os no açúcar refinado. Enfeite os docinhos com amendoim inteiro e sirva. Receitas do site: h"p://www.mundodastribos.com/ 116 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 uma metáfora. Também questionou os mitos de hoje: Quais são nossos mitos? O mercado? Isso até 1987. Desde essa data, muita coisa, sutil e velozmente, aconteceu. METÁFORAS DE LIBERDADE Por Joana Rolim Num exemplo simplista, uma reflexão de momento me levou ao último verso de um poema que escrevi: 'A escolha da liberdade'. Eu era jovem, talvez ainda não a entendesse. Mas a desejava. Resquícios de conceitos? Idealismo? O tempo, sempre o tempo, que dá cara aos momentos, me esboçou o passado: plantava-se no coração dos jovens o patriotismo, idealismo, a liberdade, alegria... trabalho. Mesmo no Brasil, aldeia fechada, que nos fechava também. Desmistifiquei obstáculos que impediam essas sementes de crescer. E tenho muito a aprender. Não sabia se elas venceriam. Meus textos foram meu diário. Eu vi um botão em cada texto escrito, e nas minhas poesias em particular. Foi nelas que aprendi a fazer metáforas. A realidade se sobrepôs, e as metáforas se transformaram em arte. Jornada difícil. Aventura de vida. A metáfora na vida. Entendi. Liberdade tem Beleza, Elegância, Perfeição e Disciplina. Como o Universo. Assisti a uma entrevista, gravada, de Joseph Campbell ( O Poder do Mito). Toda a ânsia do Ser em criar uma ligação com o Universo. Um exemplo de Mito. Mexeu comigo. O mito e a expressão brilhante de seu olhar enquanto falava. "Ritual da sexualidade" entre índios: A festa dura dias. Muita dança, cantos. Uma cabana. Uma jovem, nua, deitada no chão. A jovem feliz. Entra um rapaz para sua iniciação sexual. Depois mais um, outros. Felizes. Cientes de seu fim. Viveriam a sua verdade. No sexto, a cabana desaba. Mortos, assados, comidos.' Ainda na entrevista: Repórter ─ O mito é mentira! Campbell ─ O mito é metáfora. Repórter ─ O mito é mentira! O escritor de repente compreendeu que o repórter não sabia o que era Assistindo ao jogo de vôlei da seleção brasileira, sua derrota previsível na quadra, observei um detalhe: em letras chamativas, o nome do patrocinador. Na camisa, no peito. Um pequeno símbolo, acima, se referia ao Brasil. Não era assim. Lembro-me das letras chamativas e inflamadas de entusiasmo — Brasil - nas camisas verde - amarela - dos atletas. Eles representavam o Brasil. Tinham consciência disso. Eram nosso orgulho, éramos nós lutando - para vencer. Livres no patriotismo, no grito, na torcida, na alegria. Queríamos a Perfeição. A vitória. Foi uma sensação estranha. O detalhe na camisa me marcou. Como o brilho dos olhos do escritor, no caso horripilante narrado. Depois entendi que ele vibrava pelo mito em si. Este acabou. Outros não. Outros evoluíram. E fez a dramática pergunta: Quais os mitos atuais? De lá para nossos dias, a humanidade deu um salto. Para o abismo? Cabe às gerações ainda presentes decidirem. Voltei ao jogo. O repórter, no desespero, gritava. 117 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Faltou técnica, faltou trabalho! Faltou responsabilidade! Disciplina! Faltou garra! Não pode deixar de receber a bola! O que é essa indecisão! Isso é levantamento? Que tática!? Brasil! De repente um grande movimento. A torcida dele vai à loucura. Mais decisão! Mais potência na luta! Quanto mais erros você cometem, mais são dominados! E a derrota. Não eram livres para a vitória. Suas palavras eram a ânsia de perfeição se manifestando, de liberdade abrindo uma brecha para a vitória, no grito de desespero ante a imagem da tristeza. Era comunicação íntegra, eficaz, que não comportava derrota. Mas aceita, cabisbaixa, coração apertado. Onde nossos mitos para explicar o homem e o universo? Fala-se no mercado, nas ideologias políticas ultrapassadas, que fazem e desfazem seguidores, que distribuem medalhas e que criam suas próprias metáforas. Transformadas em realidade. E aguentemos os mitos arcaicos que nos dominam, dominam metade da humanidade, como os religiosos. Alguns de dois mil anos atrás. Outros mais., Outros recentes. Com personagens falsificados em tramas servis. A ciência é que defende a liberdade. Somos descendentes de símios. Agimos por imitação. Se mito é metáfora, ele não é mentira, mas não é realidade! Aí o problema. Transformar o mito em realidade. Mitos caducam. Aprisionam. São ninhos de preconceitos, de ignorância, são 'algemas invisíveis' (metáfora). Aí um empecilho para a liberdade. Aí o blefe imposto à humanidade. Um vitória tem sua engrenagem. Na derrota do Brasil, ela não esteve presente. A liberdade tem sua essência .Me lembrei da Gestalt, de um seu princípio básico: o paradoxo: liberdade necessita de disciplina. Aprendi isso cedo. A minha e a compartilhada. Na comunidade. Na nação. No mundo. Depois... o jogo de tênis. Federer jogando. A plateia iluminada com jogos de luzes, destacando rostos. Alegres, torcendo, vibrando, livres. Um cartaz se iluminou, uma metáfora brilhou: SE O TÊNIS FOSSE RELIGIÃO, FEDERER SERIA DEUS. Nessa religião eu entraria: ELE lidera como gênio, lidera pela perfeição, pela liberdade, pela competência, pelo exemplo, pela emoção, não dita leis, não promete nada e não manda recados. P.S. "Seus olhos (dele) são estrelas." Uma metáfora. Transformada em comparação: 'Seus olhos brilham como uma estrela brilha. Olhem mais atentamente para o seu olhar. Verão a liberdade. Segredo: Liberdade é comunicação. 118 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Arez e Etimologia: Hipóteses sobre a origem do nome no Brasil e em Portugal mosas praias; e São José de Mipibu, que está às margens da BR-101 e tem uma população quatro vezes maior que a de Arez. Por André Valério Sales Aproveito então esse espaço para convidar aos leitores a virem conhecer, em nossa Arez, o Frontal do Cemitério Histórico (de 1882), tombado pelo IPHAN como Patrimônio Histórico Nacional (Turismo Religioso); que venham conhecer a Ilha dos Flamengos, habitada pelos holandeses que invadiram Arez entre 1634 e 1652 (Ecoturismo); e que venham participar de nossas grandes Festas Populares: em junho (festa do padroeiro, São João) e dezembro (festa da padroeira), além de conhecerem os famosos bordados de Labirinto produzidos na cidade, e usufruírem das delícias de nossas comidas típicas (Turismo Folclórico), etc. E mais: procurando sem pressa, os turistas vão achar, sim, ainda que pequenos e acolhedores, restaurantes e pousadas em Arez. A “pequenina Arez” potiguar é uma cidade “doce, silenciosa, acolhedora, com seu ar amável de estação de cura”. (Câmara Cascudo, 1946). 1. Introdução: Esse texto apresenta um estudo etimológico sobre a origem e a significação do nome de Arez, município do Rio Grande do Norte. Em sua avaliação sobre os atrativos turísticos desse município, a escritora Anna Maria Cascudo (1972: 15) afirma que as “possibilidades turísticas [de Arez], hoje em dia, se prendem I) Em Portugal, existe o pequeno mais à parte das suas imagens preciopovoado de Arez, que faz parte do mu- sas e monumentos históricos”. nicípio de Nisa, no Distrito de PortaParticularmente sobre as estátuas legre (Alto Alentejo). Com apenas cerdos 3 Reis Magos (do Século XVII), ca de 360 habitantes, a Arez lusitana tombadas como Patrimônio Histórico Naé apenas uma freguesia de Nisa. O mais cional – abrigadas na Igreja de São antigo documento histórico conhecido a João Batista –, ela ressalta que “são citar o nome daquele povoado, o Foral famosas pela sua beleza” e que “são de Marvão – datado de 1226 –, demonstra que o topônimo era então escrito dignas de visita”. como sendo Ares, com a letra /s/ no 2. Sobre a origem do nome Arez: final. Logo à partida, devo esclarecer que conhecemos dois lugares que possuem o nome de Arez, ambos escritos exatamente da mesma forma: II) E também existe aqui, no Brasil, um município que foi denominado Arez, desde 1760, numa homenagem prestada àquela pequenina freguesia lusitana por ordem do Marquês de Pombal; localizado no litoral sul do estado do Rio Grande do Norte, possui cerca de 12.700 habitantes (IBGE, 2010). Por estar distante da principal rodovia federal que lhe dá acesso, a BR-101, e por ser um pouco afastada das magníficas praias de nosso litoral, a Arez potiguar sempre teve um lento desenvolvimento econômico e turístico, com seu ritmo próprio e incomparável aos demais municípios vizinhos, como, por exemplo: Tibau do Sul, que é privilegiado por ser detentor de belas e fa119 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Por que a cidade é chamada de Arez? Em relação a esse antigo problema de Etimologia, como é comum na atualidade recorrer-se imediatamente à Internet, devo esclarecer que na Wikipédia, uma inusitada “enciclopédia” virtual de construção coletiva, encontramos o nome de Arez grafado de duas maneiras diferentes, ainda que ele seja escrito da mesma forma tanto em Portugal quanto no Brasil: a) Existe o verbete intitulado AREZ, com a letra /z/ no final, referindo-se apenas à pequenina freguesia localizada em Portugal (http:// pt.wikipedia.org/wiki/Arez). Nesse site, descobrimos que a Arez portuguesa é um povoado situado oficialmente no município de Nisa, desde 1836, e que possui 362 habitantes (dados de 2001); Nisa, por sua vez, pertence ao Distrito de Portalegre, na sub-região do Alto Alentejo. b) Ao mesmo tempo, encontramos também naquela “enciclopédia” virtual um verbete que trata especificamente da nossa Arez potiguar, o pequeno município do Rio Grande do Norte aqui em questão (http://pt.wikipedia.org/wiki/ Arês), no entanto, ainda que sejam palavras homônimas, a Wikipédia escreve o nome de nossa Arez brasileira de forma errada, grafando-a como ARÊS, com /s/ no final e acento circunflexo /^/ na letra /e/. Isto significa que para quem é adepto das “rápidas pesquisas” feitas via Internet, deve-se tomar cuidado com a veracidade das informações contidas na Wikipédia, pois, de acordo com o exemplo acima, notamos que ao invés de contribuir para tirar a dúvida, sobre a escrita do nome de Arez, o que aquela “enciclopédia” faz, na verdade, é confundir os leitores. Em termos de leis, podemos assegurar que segundo decisão da Câmara Municipal de nossa Arez, a potiguar, de acordo com uma emenda à Lei Orgânica do município (datada de 05/03/1993), o nome da cidade foi definitivamente oficializado, em nível municipal, como sendo AREZ, com /z/ ao final, da mesma forma como se escreve o nome da freguesia portuguesa, que foi aqui homenageada por ordem do Marquês de Pombal, como já citado. A referida emenda ainda dispõe que “deverão ser notificados todos os órgãos de direito”, e está inclusive publicada no livro de João Alfredo de Lima, Anotações Sobre a História de Arez (2000: 29). Antes disso, em nível estadual, desde 29/03/1938 o Interventor Federal Raphael Fernandes Gurjão (Decreto nº 457) já havia “elevado”, oficialmente, a “Villa de Arez” – escrita com /z/ no final –, à categoria de “cidade”. Quem entende um pouco da História do Rio Grande do Norte sabe que em 15 de junho de 1760, há 250 anos, por ordem de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), o Marquês de Pombal, um antijesuíta famoso, foi decido que aqui, neste nosso município, não haveria mais a “Missão de São João Batista de Guaraíras”, e sim, a Nova Villa de Arez, numa inexplicável homenagem ao pequeno povoado de Arez situado em Portugal. É importante observar que, desde aquela época, o nome do município potiguar já era escrito como sendo Arez, com /z/ no final (Livro de Tombo da Matriz de Nova Villa de Arez/RN, Registros de 01 e 04/08/1763). De acordo com Câmara Cascudo, alvarás régios de 1755 e 1758 “determinavam a substituição dos nomes nativos nas povoações [ocupadas pelos lusitanos] pelas denominações de localidades portuguesas” (1968: 162); as ordens vindas de Portugal eram taxativas: “Denominareis [as povoações ocupadas] com os nomes dos lugares e vilas destes Reinos, que bem vos parecer, sem atenção aos nomes bárbaros que têm atualmente” (id.: 181). No Rio Grande do Norte, a mesma mudança ocorreu, por exemplo, também com a Missão jesuíta/indígena de “São Miguel de Guajiru”, que passou a ser chamada de Estremoz (em 03/05/1760), homenageando, por sua vez, a cidade portuguesa de Estremoz, pertencente ao Distrito de Évora; sem rival até os dias atuais, a igreja da Aldeia de Guajiru, destruída com o passar dos anos, nas palavras de Cascudo era “o mais lindo templo barroco da Capitania” (1955: 111), “a mais linda igreja” que aqui já existiu (1968: 180). Afora a cidade do Natal, capital do Estado, que já existia com o título de “cidade” desde a sua fundação – em 25 de dezembro de 1599 –, foram então criados, por causa do Marquês de Pombal, os 3 primeiros municípios do Rio 120 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Grande do Norte: Estremoz, Arez e Portalegre (Cascudo, 1955: 111-112; 1968: 162, 180), cujos nomes, seguindo as leis acima referidas, homenageiam a localidades portuguesas. No entanto, até hoje não se sabe o porquê da antiga Aldeia de Guaraíras ter sido rebatizada com o nome de Arez. Não se sabe o objetivo de tal homenagem. Por que, ao invés de se ter escolhido o nome de um Distrito lusitano (como no caso de Portalegre), ou de outra cidade qualquer (como Estremoz), alguém elegeu, para rebatizar aquela Missão indígena potiguar, o nome de uma pequena freguesia portuguesa? Fica aqui registrada essa ideia, visando a pesquisas futuras. Lembro aqui, a ideia de um de meus amigos portugueses, Mário Alberto Pinheiro, residente no Distrito de Setúbal, próximo a Arez lusitana, que lembrou-me da hipótese de que, talvez, naqueles anos de 1760, morassem nesta região potiguar “colonos” que seriam provenientes da Arez portuguesa, tendo, por isso, influenciado no rebatismo da Aldeia de Guaraíras com o nome de Arez (já com a letra /z/ no final, como foi acima citado). Além dessa interessante questão, que obviamente exige uma investigação mais aprofundada, inclusive nos arquivos históricos portugueses, há ainda outra grande dúvida, que remete a um problema cuja resposta, até hoje, continua obscura: qual é a origem ou o significado da palavra Arez? 3. Afinal, o que significa Arez? Tanto a origem da palavra Arez é obscura quanto o seu significado; parece até mesmo que é impossível fixar seu étimo. Entretanto, existem várias hipóteses, entre plausíveis e implausíveis, acerca do significado desse nome. Aliás, há que se ressalvar que nem mesmo o célebre etimologista potiguar Câmara Cascudo teve êxito em suas pesquisas acerca da origem do topônimo. Em seu livro Nomes da Terra, Cascudo descreve toda a História da mudança que houve na toponímia da antiga Missão de Guaraíras, rebatizada em 1760 como Arez, no entanto, em se tratando do significado do nome deste município potiguar, nota-se que aquele historiador não conseguiu defini-lo. Por exemplo, no referido livro, Cascudo (1968: 69-132) define os nomes de diversos povoados e Rios de Arez, como: Aranun, Baldum – nome de um Rio que, nas palavras do autor, “não é vocábulo indígena nem consegui identificá-lo” –, Cametá, Camucim, Dendê, Flamengo, Groaíras (atualmente Guaraíras), Irimuá (ou Limoal), Mangabeira, Nambutiu (atual Rio do Meio), Panguá, Papeba, Patané, Paturá e Urucará; porém, o autor não revela que existissem nem mesmo hipóteses acerca da origem da palavra Arez. Isto somente vem a demonstrar como é bastante difícil o trabalho de etimologia que tento empreender no presente texto. Antes de apresentar as 5 hipóteses mais conhecidas na atualidade sobre a origem e o significado da palavra Arez, é preciso assinalar que não é obrigatório que nós tenhamos que acreditar ou apontar uma dessas hipóteses como sendo “a verdadeira”, como definindo “a verdade” dos fatos. Nesse caso, como é ainda um enigma a definição do nome de Arez, o mais importante é conhecer quais são as hipóteses existentes na literatura, compreendêlas, sem a pressuposição de que, necessariamente, deva existir “uma” que seja “a verdadeira”. Ou seja, mesmo que ninguém chegue a comprovar a origem do nome Arez, e ainda que não haja resposta “única” e “verdadeira” para esse problema, devemos saber então quais são todas as possibilidades existentes acerca de seus prováveis significados. É preciso enfatizar, inclusive, que as cinco hipóteses analisadas a seguir são apenas suposições, e todas elas, igualmente, são carentes de comprovação pela via de fontes históricas. As duas hipóteses levantadas pela Câmara Municipal de Nisa (Portugal): Sobre a origem e significado da palavra Arez, duas interessantes hipóteses são levantadas pelo site da Câmara Municipal de Nisa (Portugal), município no qual se localiza o povoado de Arez, que publicou um texto contendo informações turísticas sobre aquela sua pequena freguesia (www.cmnisa.pt). A partir da leitura do referido escrito, fica claro, logo 121 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 de antemão, que na própria Arez portuguesa não se sabe ao certo a origem da toponímia. Citando a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, o documento do Concelho de Nisa expõe as seguintes hipóteses acerca da gênese do nome Arez: 1) A palavra Arez – que também já foi escrita como Ares – poderia ter sido originada em referência aos bons “ares” do lugar. Porém, tal hipótese é imediatamente descartada, no próprio documento em questão, e tida como “inaceitável”. Particularmente, não tive tempo ainda de visitar a freguesia lusitana de Arez, entretanto, até onde eu saiba, por meio de consulta aos amigos que residem no Distrito de Setúbal (bem próximos a Arez de Portugal), realmente são “bons” os ares daquele povoado! Sobre a possível validade dessa hipótese, é preciso esclarecer que de acordo com o Índice Toponímico do Concelho de Nisa, de Fernando Portugal (1964: 505), a mais antiga citação documental ao nome de Arez, como antes referido, encontra-se no Foral de Marvão, datado de 1226; foi nessa época, é interessante lembrar, que a língua portuguesa começou a ser escrita – “nos fins do século XII ou início do século XIII” (Azeredo, 2008: 393). Segundo o Foral citado, descobrimos que naqueles primeiros anos do Século XIII o nome do povoado era escrito como sendo “Ares”, com a letra /s/ no final, o que pode muito bem significar que a Arez lusitana tenha sido, sim, batizada numa referência aos seus “bons” ares! Porém, essa hipótese, como todas as demais, não possui comprovação embasada em fontes históricas. É também a partir do Foral de Marvão que se pode inclusive levantar outra hipótese, como analisarei mais adiante: a de que o nome da Arez portuguesa também pode ter sido dado em homenagem ao deus grego da guerra: Ares. 2) Outra hipótese, também apontada pela Câmara de Nisa, é que o nome de Arez poderia ser uma homenagem a um dos mais importantes deuses da época pré-romana: Arêncio (ou Arentius), e que da palavra Arentius, por corruptela, teria nascido o topônimo Arez (ou Ares). Na antiguidade, quando Portugal – tal como conhecemos hoje – ainda não existia, e aquelas terras da Península Ibérica eram chamadas de Lusitânia, sabemos que imperava então um rico politeísmo. Os arqueólogos Salvado, Rosa e Guerra, em seu texto Um Monumento Votivo a Arância e Arâncio, Proveniente de Castelejo (2004: 237-242), demonstram com seus estudos que havia naquela região central de Portugal, um pouco mais ao norte do povoado de Arez, um culto ao casal divino Arêncio e Arência (ou Arentius e Arentia), e não apenas a Arêncio em particular, comprovado por meio de escritos em monumentos votivos – inscrições gravadas em pedras, como agradecimento a promessas cumpridas pelos deuses. Há que se ressaltar que essas “aras votivas” datam já do período pós-romano, pois antes da ocupação romana na Lusitânia, as tradições religiosas eram repassadas às gerações futuras apenas pela via da oralidade, ou seja, foi somente depois da chegada dos romanos na Península Ibérica que começaram a existir inscrições epigráficas relativas aos deuses lusitanos. Sobre a existência de comprovação histórica do culto ao par divino Arêncio e Arência, através da epigrafia, os arqueólogos citados revelam que: “a distribuição destes nomes de divindade circunscreve-se à zona centro interior portuguesa, registrando-se ocorrências [feitas por especialistas] em Zebras, Fundão”, Ferro, Covilhã, Rosmaninhal, Monsanto, Idanha-a-Nova, Ninho do Açor, Castelo Branco e Sabugal (Salvado et al., 2004: 239-240), além das localidades próximas de Moraleja e Cória, em região espanhola. Desse modo, é fato comprovado que não há referências ao culto aos deuses Arêncio e Arência na freguesia de Arez, nem na região do município ao qual pertence, Nisa e nem mesmo em 122 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 qualquer outro município do Distrito de Portalegre, no qual Nisa está localizada. Em se tratando, portanto, da hipótese de que o nome de Arez seria uma homenagem ao deus Arêncio, a partir do exposto anteriormente verificase que esta suposição é duvidosa e carente de comprovação nas fontes históricas atualmente disponíveis, tal como ocorre com as demais hipóteses aqui analisadas. No entanto, devemos enfatizar que a hipótese não pode ser declarada inválida, ainda que, até hoje, ninguém apresentou meios de confirmar a possibilidade de ela vir a ser verdadeira. Avalio essa hipótese como sendo um tanto quanto forçada, talvez até mesmo forjada, na atualidade, por estudiosos puristas, cultuadores das tentativas de resgate da história dos deuses de tempos pré-romanos. Esses estudiosos, talvez nostálgicos com tais cultos primitivos, enxergam referências àqueles deuses em todo espaço obscuro – ou ainda não explicado pela História lusitana – que dê margem a tais interpretações, e em se achando oportunidade para tal, como no caso do nome Arez, lançam suas hipóteses, ligando um tema ainda cercado de enigmas a possíveis referências aos deuses préromanos, provavelmente, na esperança de que suas suposições venham a se tornarem verdadeiras algum dia... A hipótese apontada no verbete do município de Nisa, na Wikipédia: Mais uma hipótese acerca da origem do nome Arez, que é bastante interessante, pode ser encontrada na Wikipédia, no verbete do município de Nisa (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nisa). De acordo com o texto ali exposto, a palavra Arez pode ter-se originado em virtude da ocupação francesa naquela região de Portugal, ocorrida no início dos anos 1200. Inclusive, das 5 hipóteses mais conhecidas e aqui avaliadas, esta me parece ser a mais plausível, ainda que não se possa considerála como sendo verdadeira. Partindo-se dessa hipótese, atribuída pelo documento ao pesquisador Carlos Cebola, naquele início do Século XIII colonos franceses passaram a habitar a região de Nisa (antigamente, chamada também de Nissa), atendendo à necessidade de fixar moradores naquela parte desabitada da Península Ibérica. Na medida em que fundavam seus povoados, batizavam-lhes com nomes de sua terra de origem, tal como ocorreu no caso de Nisa, que teria sido ocupada por colonos provenientes da cidade francesa de Nice, localizada no sul da França, próxima à fronteira com a Itália. A palavra Nice vem do grego (Nikaia), em italiano é grafada Nizza, e em provençal, antigo dialeto francês: Nissa. O mesmo ocorreu com a freguesia de Tolosa, também pertencente ao município de Nisa, que foi, provavelmente, fundada por ex-moradores da cidade francesa de Toulouse. E, por extensão, acreditam alguns estudiosos portugueses que o mesmo também teria acontecido com a freguesia de Arez (ou Ares), que teria sido edificada, segundo essa hipótese, por antigos moradores de Arles. As três localidades portuguesas citadas, Nisa, Tolosa e Arez, teriam sido batizadas, portanto, em homenagens a cidades do sul da França (Nice, Toulouse e Arles). No caso aqui em análise, para essa hipótese obter, pelo menos, alguma lógica, a palavra Arez teria que ser originária, por corruptela, do nome da cidade francesa de Arles. Da mesma forma que já explicamos anteriormente, sobre a suposição de que Arez viria do nome do deus Arêncio, afirmar que Arez seria proveniente da palavra Arles parece-me, também, uma proposta forçada. Não se questiona, por exemplo, que o nome do município português de Nisa (ou Nissa) seja proveniente da palavra francesa Nice. É inquestionável, também, que o povoado lusitano de Tolosa foi batizado em homenagem à cidade francesa de Toulouse, assim como, inclusive, há uma localidade chamada Tolosa na Espanha. No entanto, suponho que como não era possível explicar, com precisão, a origem do nome de Arez, alguém – em algum momento dessa História – decidiu lançar a hipótese, a partir dos exemplos de Nisa e Tolosa, de que a freguesia de Arez poderia ter sido, naquela mesma época, ocupada por ex habitantes da cidade francesa de Arles, e, por extensão, esse alguém levantou a hipótese de que a palavra Arez seria uma homenagem a Arles. Surge daí a interessante indagação: sendo assim, por que Arez não foi batizada, então, com o nome de Arles, tal como Tolosa e Nisa? 123 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Não fica parecendo, mesmo, que é forçada a hipótese de que o nome de Arez (ou Ares) tenha a sua origem numa corruptela da palavra Arles? Recorrendo mais uma vez à sábia afirmação do etimologista potiguar Câmara Cascudo (2001a: 64): “as etimologias”, em sua ampla maioria, “são conjecturas que ficam sendo convenções”; e no caso dessa hipótese em questão, que atribui uma origem afrancesada ao nome de Arez, talvez esta seja uma teoria que já chegou a tornar-se uma “convenção” social, e inclusive, considero que é uma das suposições mais plausíveis para explicar o problema. Porém, deve-se lembrar que ela continua sendo apenas mais uma “conjectura”: é também uma hipótese tão carente de comprovação quanto as outras 4, aqui avaliadas. A interessante hipótese de Cleudo Freire: Saindo então dos domínios de textos sem autores devidamente reconhecidos, como no caso das duas primeiras hipóteses, levantadas no site da Câmara Municipal de Nisa (www.cm-nisa.pt), e assim como a terceira, apontada no verbete do município de Nisa – na Wikipédia –, passo agora a analisar a admirável hipótese do escritor potiguar Cleudo Freire. De acordo com a interessante pesquisa etimológica realizada por Freire, exposta em seu artigo “Arez: O Nome da Terra” (O Poty, 02/09/2007), o significado do nome de Arez poderia ter origem na palavra Terra, tal como esta é grafada na língua hebraica: HáÉrets, referindo-se à “Terra Prometida” pelo Deus Javé ao povo judeu, nos tempos de Moisés e do Êxodo, cujo relato encontra-se no Antigo Testamento bíblico. Segundo Cleudo Freire: “há documentos que nos deixam a clara impressão de que [a] Arez [norte-riograndense] foi uma cidade que recebeu um grande número de degredados pela Inquisição”, e “tais documentos falam do envio de degredados àquela cidade, para cumprir pena inicial e obediência ao Cristianismo”. Esse autor ainda acrescenta que “não é difícil imaginar a que fé estes condenados pertenciam. Eram judeus apelidados pejorativamente pela igreja de Cristãos-Novos”, ou se- ja, eram sobretudo judeus portugueses, ou descendentes destes, forçadamente convertidos ao catolicismo. A partir disto, Freire levanta a hipótese de que aqueles novos moradores de Arez, em 1760, na ocasião proporcionada pelas diversas reformas encetadas pelo Marquês de Pombal, teriam influenciado no rebatismo da antiga Missão Jesuíta de São João Batista de Guaraíras com o nome de Nova Villa de Arez, homenageando a freguesia portuguesa de Arez (onde, na época, é possível que também residissem cristãosnovos), mas, principalmente, porque tal nome significaria Terra, na língua hebraica. Lembremos que, segundo os alvarás régios de 1755 e 1758, ficou determinado que os brasileiros fizessem “a substituição dos nomes nativos nas [sua] povoações”, toponímias geralmente indígenas, e por isso chamadas de “bárbaras”, por “nomes dos lugares e vilas’ de Portugal “que bem vos parecer” (Cascudo, 1968: 162, 181). A hipótese de Cleudo Freire, portanto, nos leva a relembrar a brilhante afirmação de Câmara Cascudo (2001a: 64), quando enfatiza que a maioria das tentativas dos etimologistas são apenas “conjecturas”, mas que podem vir a se tornarem “convenções” sociais: dependendo da “maior ou menor habilidade erudita” sustentadas pelo intelectual que as defende como verdadeiras. Nesse ponto, é válido repetir aqui algumas perguntas já feitas anteriormente: por que a antiga Aldeia de Guaraíras, no Rio Grande do Norte, foi rebatizada com o mesmo nome da Arez portuguesa? Qual o objetivo de tal homenagem? A quem interessava a escolha justamente desse nome? Por que alguém elegeu, para rebatizar aquela Missão jesuíta/indígena, o nome de um pequeno povoado lusitano – ao invés de ter escolhido o nome de qualquer outra cidade portuguesa importante ou de um Distrito? Considero a hipótese de Cleudo Freire muito bela, e acredito que ela pode vir ainda a ser, algum dia, provada como estando correta. No entanto, igualmente às outras 4 hipóteses aqui analisadas, a proposição freireana não pode ser admitida como verdadeira, por falta de comprovação documental, assim como, da mesma forma que as demais suposições, não pode ser descartada como falsa. 124 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Avaliando o exposto até aqui, com base em minhas pesquisas posso afirmar que: 1º) é inquestionável que o nome da Arez potiguar, assim rebatizada em 1760, homenageia a Arez portuguesa; 2º) também é verdadeiro que em 1226 este nome se escrevia Ares, com / s/ no final, o que é comprovado pelo Foral de Marvão (Índice Toponímico do Concelho de Nisa, Fernando Portugal, 1964: 505); 3º) é correto que em 1763, pelo menos aqui no Rio Grande do Norte, a palavra já era escrita como sendo Arez, com /z/ no final (Livro de Tombo da Matriz de Nova Villa de Arez/RN), da mesma forma que em 1938 (Decreto nº 457, assinado pelo Interventor Rapahel Gurjão), e até hoje (emenda nº 3, de 05/03/1993, à Lei Orgânica de Arez/ RN). Isto significa que em algum momento dessa História, entre os anos de 1226 e 1763, o topônimo foi mudado de Ares para Arez. E isto, certamente, aconteceu ainda na Arez portuguesa, já que o nosso município potiguar já recebeu o nome de Arez, com /z/ no final, comprovadamente, desde que foi assim rebatizado, em 1760. Pode-se então deduzir, sem muito esforço, que uma pesquisa etimológica que venha a confirmar a origem da palavra Arez e, talvez, comprovar se a sua definição viria da palavra Terra (em hebraico, demonstrando-se uma possível influência judaica), somente pode ser empreendida estudando-se, em arquivos históricos de Portugal, a documentação que trate da Arez lusitana. Algumas importantes questões a serem respondidas por tal pesquisa são: quando se deu a mudança no nome daquele lugar, de Ares para Arez, que transformou completamente tanto a sua pronúncia quanto o seu significado? Qual foi o porquê de tal mudança? A quem interessava tal modificação? Deixo registradas aqui mais essas idéias, visando a investigações futuras... Por fim, é preciso reconhecer que a admirável hipótese de Cleudo Freire, sem dúvida alguma, nos oferece um riquíssimo tema para a investigação histórica, seja para pesquisadores do Brasil ou de Portugal, seja para os arezenses – potiguares ou lusitanos – interessados no resgate de suas origens. Inclusive, esse assunto do “exílio” forçado de “cristão-novos” em terras norte-rio-grandenses, e no Nor- deste, de modo geral, vem sendo estudado com bastante entusiasmo na atualidade. A hipótese de André Sales: Partindo de minhas próprias pesquisas sobre a origem e o significado da palavra Arez, e tomando por base o Foral de Marvão, de 1226, o mais antigo documento histórico conhecido a citar o nome da Arez lusitana (Portugal, 1964: 505), escrito naquela época como sendo Ares (com /s/ no final), levanto então a hipótese de que o nome daquela pequena freguesia portuguesa pode ter sido uma homenagem ao mitológico Ares, o impiedoso deus grego da guerra. Naqueles anos de 1220, o Ocidente encontrava-se em plena Idade Média; por essa época, a Igreja Católica era a proprietária de meia Europa, e já se preocupava com as heresias e fundava suas Inquisições, buscando destruir – em seus domínios – todas as formas de religiões diferentes, mulçumana, hebraica, etc. Dessa forma, sabemos que não interessava à Igreja Católica a difusão da cultura grega, considerada pagã, inclusive, os textos gregos eram proibidos, porque “sendo pagãos, poderiam pôr minhocas nas cabeças que a Igreja esforçava-se por cristianizar e manter cristianizadas” (Lajolo, 1982: 59). Da mesma maneira, pode-se afirmar que não interessava ao catolicismo, por exemplo, manter o nome da pequena freguesia de Arez, em Portugal, como uma homenagem a um deus grego (Ares), pois inclusive, lembrando o texto maior católico, a Bíblia, no livro de Êxodo (23: 13) o próprio Deus impõe: “Prestem atenção em tudo o que lhes tenho dito: não invoquem o nome de outros deuses. Que não se ouça sequer o nome deles na boca de vocês” (Edição Paulus, 1990: 96). Assumindo-se essa hipótese como verdadeira, minha suposição é que ao invés de mudar o nome do lugar, o que talvez não viesse a apagar da cultura popular o costume adquirido pela tradição, optou-se então por mudar apenas uma letra daquele pequeno nome, transformando-se, desse modo, a sua fonação. 125 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 Ou seja: com a trasladação do nome daquele povoado, de Ares para Arez, obtinha-se também uma mudança de fonação, de /Áres/ para /Arêz/, o que transforma completamente o sentido da palavra, fazendo-se surgir, assim, um nome novo, diferente (Arez), ao mesmo tempo em que se ocultava a referência a Ares, um deus pagão. No entanto, tal como as demais hipóteses, a minha também carece de comprovação documental, pois da mesma forma que não há provas, por exemplo, de ter havido o culto ao casal de deuses pré-romanos Arêncio e Arência naquela região – onde se encontra a Arez lusitana –, o que pode a vir a invalidar a hipótese de esta toponímia ser uma homenagem ao deus Arêncio, também não há provas de que o deus grego Ares tenha sido ali cultuado. Desse modo, igualmente às hipóteses anteriores, minha suposição nem pode ser declarada como sendo verdadeira e nem pode ser descartada, como estando errada. Talvez, como todas as conjecturas aqui avaliadas, essa hipótese pode também, algum dia, ser revelada como estando correta. A única alternativa que nos resta é esperar que, a partir de outras pesquisas, em breve apareçam provas concretas acerca do significado do nome daquela freguesia portuguesa e, em consequência, de nossa Arez norte-riograndense. Por fim, resumindo o exposto até aqui, pode-se também imaginar que, talvez, em algum momento dessa História, alguém tenha decidido alterar o nome do deus grego Ares para outra palavra, e dessa forma, mudando apenas uma letra, no final daquele nome – já que sabemos que Ares tornou-se Arez –, teria também transformado o seu sentido; e essa idéia, note-se, pode ter partido tanto de pessoas de origem católica, contrárias a homenagem feita a um deus pagão, quanto de habitantes de origem judaica. Ou seja: a antiga referência a um deus da guerra (Ares) teria sido então, com a mudança de somente uma letra, trasladada para uma bela palavra hebraica (Há-Érets: Terra, Arez), segundo a hipótese levantada por Cleudo Freire, numa homenagem à “Terra Prometida”. 4. Conclusão: Para concluir o assunto, é preciso ainda ressalvar que a mudança ocorrida na escrita do nome de Arez – mexendose em apenas uma letra (de Ares para Arez) e transformando inclusive o seu significado –, que se deu em algum tempo da História ainda desconhecido, pode também ter acontecido por uma mera coincidência, por uma mera convenção socialmente imposta, advinda da forma mais comum das pessoas escreverem a palavra (que seria usando-se mais o /z/ no final). É necessário, portanto, levar em consideração, também, a hipótese de que talvez não tenha havido, nesse caso, nenhum interesse (político ou religioso) por trás dessa mudança etimológica... Devo concluir então, para não ser acusado de ter esquecido alguma outra hipótese, lembrando que o escritor potiguar João Alfredo de Lima Neto, em seu livro Anotações Sobre a História de Arez, lançou a proposição de que o nome Arez: “Significa dente do mestre, supõe-se alguma divindade remotíssima” (2000: 29). No entanto, esse autor não cita a fonte documental da qual teria retirado tal suposição, o que torna a sua conjectura não inválida, mas, carente de comprovação histórica; ou seja, até hoje, ninguém apresentou meios de confirmar se esta proposição tem alguma lógica que, pelo menos, a sustente como uma hipótese válida para análise. __________________________ 1 Os mais importantes trabalhos que versam sobre a ocupação holandesa no Nordeste do Brasil são: o livro de José Antônio Gonsalves de Mello, Tempo dos Flamengos (2001), e o de Câmara Cascudo, Geografia do Brasil Holandês (1956), verdadeiros clássicos acerca do tema; e de Evaldo Cabral de Mello: Rubro Veio (1997) e Olinda Restaurada (1998). Especificamente sobre a invasão neerlandesa no Rio Grande do Norte, e sempre fazendo referências à Ilha dos Flamengos, em Arez, pode-se consultar: Os Holandeses no Rio Grande do Norte, de Câmara Cascudo (1949); de Olavo de Medeiros Filho: Os Holandeses na Capitania do Rio Grande (1998) e “Os Primórdios da História de Arez” (2003); e de André Sales, Câmara Cascudo: O que é Folclore, Lenda, Mito e a Presença Lendária dos Holandeses no Brasil (2007). 126 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 2 Etimologia é o estudo da origem e da evolução das palavras, em diferentes estados anteriores da língua, quer na forma mais antiga conhecida, quer em alguma etapa de sua evolução, até chegar ao étimo: o termo que serve de base para a formação de uma palavra – pode ser uma forma antiga, do mesmo idioma ou de outro, de que se origina a forma recente (Houaiss, 2009: 847). 3 Durante o reinado de Dom José I, o Marquês de Pombal foi – entre os anos de 1750 e 1777 – o onipotente Secretário de Estado do Reino, uma espécie de “Primeiro Ministro”. Unindo monarquia absolutista e racionalismo iluminista, Pombal foi um importante personagem de nossa História porque: provocou a expulsão dos jesuítas de Portugal e suas colônias, em 1759, incluindo-se aí o Brasil, transformando as antigas missões indígenas em Vilas (tal como ocorreu na Arez potiguar); transferiu então o sistema de ensino das mãos da Igreja para a responsabilidade de professores leigos; extinguiu o regime de Capitanias Hereditárias no Brasil (em 1759); mudou a capital da Colônia, de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763; e ajudou na extinção da Inquisição no império português, proibindo a prática dos “autos de fé” e a discriminação aos cristãos-novos (Franchini Neto, 1981), ainda que a Inquisição portuguesa só tenha sido definitivamente extinta em 1821. Mesmo sendo o resultado de ordens régias anteriores, datadas de 1536, o Tribunal do “Santo” Ofício foi “definitivamente estabelecido” em Portugal no ano de 1547 (Novinsky, 1994: 36; Cascudo, 2001b: 90), tendo alcançado também o Brasil, de 1591 em diante, inicialmente na Bahia e em Pernambuco. O livro de instruções fundamental era o Monitório do Inquisidor Geral, escrito em 1536 por D. Diogo da Silva, tendo se tornado, nas palavras de Cascudo (2001b: 92): “o código orientador das denúncias e confissões”. 4 Apenas a título de esclarecimento, os primeiros registros documentais conhecidos que tratam do povoamento da Arez potiguar, datados de 1605, atestam que naquela época já habitavam aqui os indígenas da Aldeia de Jacumaúma, de língua Tupi. No Traslado do Auto da Repartição das Terras da Capitania do Rio Grande (1909: 44, 73), encontram-se inscritas as duas primeiras datas de terras doadas na região de Arez a pessoas de origem européia: 1) a de n° 86, foi concedida pelo Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque, em 11/10/1605, ao português Domingos Sirgo; o registro faz referência ao “pacoval [bananeiral] de Jacumahuma”, perto do Rio Jacryhu (atual Rio Jacu). Como Domingos Sirgo “nunca fez benfeitorias” nas terras, em 1614 essa data de terra havia sido devolvida e já estava então doada às filhas de Manuel Rodrigues de Souza Forte, servindo para “gados e mantimentos”; 2) também o registro da data de terra n° 181, concedida pelo Capitão-Mor Francisco Caldeira de Castelo Branco, em 11/12/1613, ao mesmo Manuel Rodrigues – para “pastos e roças, e canas” –, cita a existência, nas proximidades, da Aldeia de Jacumahuba. 5 As habilidades etimologistas de Câmara Cascudo são incontestáveis, e há exemplos espalhados por toda a sua erudita obra: como ocorre em seu interessante livro Made in África (de 1965), que é um trabalho eminentemente de etnografia, no qual o autor expõe diversos pontos de contato entre a cultura popular brasileira e a africana, mas que também demonstra as preocupações de Cascudo com a origem e o significado das palavras, percorrendo em suas análises, inclusive, diversos idiomas; também serve de exemplo o seu Ensaios de Etnografia Brasileira (de 1971). Já o livro Nomes da Terra, de 1968, é um verdadeiro “Tratado” de Etimologia norte-riograndense. 6 Em 1647, Gaspar Barléu publicou seu famoso livro História dos Feitos Recentemente Praticados Durante Oito Anos no Brasil, no qual está incluído um exuberante mapa da geografia do Nordeste durante a ocupação holandesa (1630-1654), de autoria do cartógrafo Jorge Marcgrave, desenhado em 1643 – ornamentado com gravuras do jovem pintor holandês Frans Post. Registrados nesse mapa, encontramos alguns lugares da Arez potiguar, tais como: a Aldeia Aranum (grafada como Araunu), a Lagoa de Guaraíras (Guiraraíra), o Rio Limoal (Irimuá), o Rio Urucará (Uricará) e o Rio do Meio (Nambutiú). Evaldo Cabral de Mello (1997: 46) já chamou a atenção para a “grafia 127 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 estropiada” da toponímia nordestina tal como era escrita pelos holandeses, e incorporada à sua “rica cartografia”. Reproduções de trechos do Mapa de Marcgrave, onde aparecem com clareza os pontos de Arez citados, podem ser vistos em: Gaspar Barléu (1974); Medeiros Filho (1989); e Lima Neto (2000). 7 Um dos exemplos mais famosos na área da etimologia, em se tratando de palavras de origem obscura, e da existência de várias hipóteses acerca de sua gênese, significado ou pronúncia, tal como ocorre como o nome de Arez, é que nunca se soube, nem jamais saberemos, como se falava o nome de Deus na época do Antigo Testamento bíblico, texto no qual o nome divino é citado em torno de 6.000 vezes. Neste caso, sabese apenas que a palavra era então representada pelas letras YHWH, porém, não existe “certeza” de como era a sua pronúncia no dia a dia dos hebreus, nem se sabe qual é o seu significado. Na atualidade, o normal é traduzir-se o nome de Deus como sendo Javé (Yahweh), ou Jeová, contudo, esta é uma convenção social. Como define Câmara Cascudo (2001a: 64): “As etimologias, em percentagem esmagadora, são conjecturas que ficam sendo convenções”. Já nas palavras do crítico shakespeariano Harold Bloom (2006: 151-152): Javé “é apenas uma conjectura, porque a tradição guardou o nome sagrado”. Ou seja, na contemporaneidade nós apenas imaginamos como se falava a palavra IHWH, que é apenas um pedaço, escrito, da palavra inteira, que era apenas falada. Bloom ainda complementa que “o significado do nome [Javé] é tão obscuro quanto a pronúncia”. No caso da palavra Arez, também não se sabe nem a sua origem e nem o seu significado, além dela ter mudado, com o correr dos anos, sua forma de escrita e de pronúncia: de Ares, no passado, para Arez, na atualidade. 8 Um dos maiores nomes do Romantismo, o escritor francês Victor Hugo (autor de O Corcunda de Notre-Dame) já lembrava, no seu livro Os Miseráveis, de 1862, que “Toulouse (na França) é prima de Tolosa (na Espanha)” (2007: 144). Um trabalho fundamental – que trata da chegada de judeus ao Brasil –, principalmente portugueses e seus descendentes (os sefardim, ou sefarditas), referindo-se especificamente ao Nordeste e embasado em documentos originais dos anos 1600, é o livro clássico Tempo dos Flamengos, escrito por um dos maiores historiadores do Brasil, o pernambucano José Antônio Gonsalves de Mello (2001: 258 a 275). Descobridor da primeira Sinagoga das Américas (Kahal Zur Israel), erguida provavelmente em 1637, no Recife, em seu livro este au- tor revela a presença, no Nordeste, de sobrenomes de ascendência incontestavelmente judaica, tais como: Fonseca, Navarro, Martins, Castro, Nunes, Faria, Oliveira, Pereira, Azevedo, Mendes, Aguiar, Torres, Dias, Frazão, Lemos, Correia, Pinto, Castanho, Saraiva, Mesquita, Coelho, Guimarães, Mota, Cardoso, Bloom, etc (Mello, 2001: 275). Outro clássico sobre o tema, em se tratando da região Nordeste, é o livro de Câmara Cascudo, Mouros, Franceses e Judeus: Três Presenças no Brasil (2001b: 90 a 111), que traz um importante texto sobre o assunto. Especialmente em termos de História norte-rio-grandense, são imprescindíveis os livros: Velhas Famílias do Seridó, do saudoso Olavo de Medeiros Filho (1981); Natal: Uma Comunidade Singular, de Egon e Frida Wolff (1984); e Raízes Iberas, Mouras e Judaicas do Nordeste, da célebre teatróloga Lourdes Ramalho (2002). 10 Grécia e Roma são as civilizações Ocidentais que mais se destacaram na História da Antiguidade Clássica, sendo a Grécia a mais importante daquele período. Machado de Assis afirma que na Grécia podemos “evocar o espírito das gerações extintas que deram ao gênio da arte e da poesia um fulgor que atravessou a sombra dos séculos” (2006: 151). Constituída inicialmente por povos Jônios e Aqueus, os gregos se consideram descendentes de Heleno (filho de Deucalião), sobrevivente de um dilúvio provocado por Zeus. Daí advém o sinônimo de Hélade para a Grécia, e de helenos para seus habitantes. A cerca de dois mil anos antes de Cristo, a Grécia foi invadida pelos Dórios, que era um povo eminentemente guerreiro, dos quais viria a descender a aristocracia grega dos espartanos, cuja vida social girava em torno, essencialmente, da formação de guerreiros. A cultura dos Dórios, porém, era inferior à dos povos conquistados: a coluna dórica, por exemplo, de capitel reto e sem ornamentos, se comparada aos dois outros estilos de colunas gregas (jônico e coríntio), é esteticamente a mais pobre. Os Dórios obrigaram então os Aqueus a fugirem e ocuparem a Ilha de Creta, já bastante civilizada na época. De religião antropomórfica e politeísta, a cultura helenística adorava deuses semelhantes aos homens, possuindo igualmente fraquezas, virtudes e paixões; desse modo, havia geralmente um deus para cada aspecto da natureza e das atividades humanas. Para os gregos, portanto, Ares era adorado como o deus da guerra. Mais tarde, conquistada a Grécia pelos romanos, houve uma latinização das grandes divindades: Zeus, o pai dos deuses gregos, passou a ser identificado com o deus romano Júpiter, assim como ocorreu, da mesma forma, 128 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 com Atena (Minerva), Artêmis (Diana), Posseidon (Netuno), Dionísio (Baco), etc. Nesse contexto, Ares, filho de Zeus e Hera, passou a ser identificado com Marte, o deus romano da guerra, que, por sua vez, também era um deus muito importante, ao ponto de ser tido como o mitológico pai de Rômulo (fundador de Roma e seu primeiro Rei) e Remo, concebidos com a humana Rea Sílvia (Souto-Maior, s/d: 68-78). 11 É bastante interessante citar que o deus grego Ares, em pleno ano de 2010, seja personagem de romances adolescentes que estão vendendo milhões de livros por todo o mundo, como é o caso da série Percy Jackson e os Olimpianos, do escritor norte -americano Rick Riordan (ver Meier, 2010: 108-109). Brasiliense, 1982. LIMA NETO, João Alfredo. 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Natal: IOE, 29 de março de 1938. DICIONÁRIO HOUAISS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Rio de Janeiro: Objetiva/Instituto Houaiss, 2009. FRANCHINI NETO, M. O Marquês de Pombal e o Brasil. Lisboa: Tipografia Minerva do Comércio, 1981. FREIRE, Cleudo. “Arez: O Nome da Terra”. O Poty. Natal: EdDN, 02 de setembro de 2007. LAJOLO, Marisa. O Que É Literatura. 2ª ed. São Paulo: 129 VARAL NO BRASIL NO. 15 MAIO DE 2012 O CLUBE DOS VIRA-LATAS é uma organização não governamental, sem fins lucra#vos, que mantém em seu abrigo hoje mais de 400 animais que são cuidados e alimentados diariamente. Boa parte desses animais chegou ao Clube após atropelamentos, acidentes, maus tratos e abandono. Nosso obje#vo é resgatá-los das ruas, tratá-los e conseguir um lar responsável para que eles possam ter uma vida feliz. nas o trabalho dos voluntários e com o dinheiro de doações. Todos podem ajudar, seja divulgando o Clube, seja adotando um animal ou mesmo doando Você sabia que no Brasil milhões de cães e gatos dinheiro, ração ou medicamentos. Qualquer doavivem nas ruas, passando fome, frio e todos os #pos de necessidades? Cerca deles 70% acabam em ção, de qualquer valor por menor que seja, é bemabrigos e 90% nunca encontrarão um lar. Parte será vinda. As contas do Clube bem como o desƟno de ví#ma ainda de atropelamentos, espancamentos e todo o dinheiro estão abertas para quem quiser todos os #po de maus tratos. Infelizmente, não é possível solucionar este proble- BRADESCO (banco 237 para DOC) ma da noite para o dia. A castração dos animais de Agência: 0557 rua é uma solução para diminuir as futuras popula- CC: 73.760-7 ções mas não resolve o problema do agora. Sendo Titular: Clube dos Vira-Latas assim, algumas coisas que você pode fazer para aju- CNPJ: 05.299.525/0001-93 Ou dar um animal carente hoje: Por que ajudar os animais? Adotar um animal de maneira responsável Voluntariar-se em algum abrigo. Doar alimento (ração) e/ou remédios para abrigos. Contribuir financeiramente com ONGs. Banco do Brasil (banco 001 para DOC) Agência: 6857-8 CC: 1624-1 Titular: Clube dos Vira-Latas CNPJ: 05.299.525/0001-93 Nunca abandonar seu animal (Saiba mais sobre o Clube em h"p://frComo o Clube vive? Somente de doações. Todas as fr.facebook.com/ClubeDosViraLatas?ref=ts) nossas contas são públicas, assim como extratos bancários e notas fiscais. Como ajudar o Clube? Para manter esses mais de 400 peludos em nosso abrigo, contamos hoje ape130 VARAL NO BRASIL NO. 15 Revista Varal do Brasil MAIO DE 2012 Consulado-Geral do Brasil em Genebra A revista Varal do Brasil é uma revista bimensal independente, realizada por Jacque- O Consulado é parte integrante da rede consular do Ministério das Relações Exteriores. Sua função principal é a de line Aisenman. prestar serviços aos cidadãos brasileiros e estrangeiros resiTodos os textos publicados no Varal do Bra- dentes na sua jurisdição consular, dentro dos limites estabesil receberam a aprovação dos autores, aos lecidos pela legislação brasileira, pela legislação suíça e pequais agradecemos a participação. los tratados internacionais pertinentes. Se você é o autor de uma das imagens que encontramos na internet sem créditos, faça- O Consulado-Geral do Brasil encontra-se localizado no núnos saber para que divulguemos o seu talen- mero 54, Rue de Lausanne, 1202 Genebra. to! O atendimento ao público é de segunda à sexta-feira, das 9h00 às 14h00. Licença Creative Commons. Distribuição eletrônica e gratuita. Os textos aqui publicados O atendimento telefônico é de segunda à sexta-feira, das 13h00 às 17h00. 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