Fran F

Transcrição

Fran F
Fran
Um Guerreiro na Periferia
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Fran
Um Guerreiro na Periferia
São Paulo
Edição – 2011
Francisco Carlos da Silva
Fran, um guerreiro na periferia / Francisco Carlos
da Silva - São Paulo : BelaCop, 2011. 162 p.
ISBN 978-85-63550-26-2
1. Literatura brasileira. 2. Biografia I. Título.
CDD B869.3
Índice para catálogo sistemático
I. Biografia : Século 21 : Brasil
Coordenação Editorial:
Big Time Editora. - 11 - 2052-2103
Capa, Diagramação e Projeto Gráfico:
Antonio Marcos Cavalheiro - 11 - 7354-5870
Revisão:
Marcos Falcon
Mariza Padilha
Belacop Livros Ltda.
Rua Barão de Itapetininga, 255 – Loja 15 – Centro
São Paulo – SP – CEP 01042–001 – Fone: 11–3237–3961
E–mail: [email protected]
Site: www.belacop.com.br
SOBRE O AUTOR
FRANCISCO CARLOS DA SILVA nasceu em 31 de Agosto
de 1971, através das mãos de uma parteira. Filho de pais separados,
teve como principais educadores sua avó (em memória) e sua tia.
Seu caráter e personalidade têm muito dessas mulheres guerreiras,
batalhadoras, e como todo nordestino, tiveram uma vida de luta,
dificuldades e barreiras em seus caminhos, mas nunca desistiram e
fizeram da vida uma luta constante.
Filho de Francisca Rodrigues da Silva e Francisco José
da Silva, sempre sentiu em sua mãe a coragem, a determinação
e a honestidade, adjetivos que herdou e sempre fez questão
de demonstrar sua gratidão a essas três mulheres que nunca o
abandonaram e que sempre lutaram para lhe mostrar que se pode
vencer na vida através do próprio esforço.
Formado em Informática pela Universidade Cruzeiro do Sul,
é também jogador de futebol de salão profissional, faixa preta em
artes marciais e maratonista. Nunca teve a pretensão em ser escritor
e o que o motivou a escrever este livro foi o incentivo dos amigos
e familiares.
Casado com Kátia Alice Ribeiro esposa e companheira a
quem deve eterna gratidão por ter lhe dado os maiores de todos os
seus troféus, os filhos Kauê e Lucca, por quem, além de amor, tem
admiração, amizade e fanatismo. Têm em seus filhos os melhores
amigos, parceiros e confidentes.
Fran, como é conhecido pelos amigos e no mundo do
Futsal, divide seu tempo entre as atividades de seu Escritório de
Informática, Jogos de Futebol de Salão, onde possui diversos títulos,
e os treinos com as crianças da Associação Esportiva e Cultural
Kauê Itaquerense (www.aeckaue.com.br) da qual é o Presidente e
Coordenador de Diversos projetos.
Você poderá encontrar o Autor através do e-mail:
[email protected]
Um Guerreiro na Periferia
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À você, meu filho!
Certa vez disseram-me que sou um
guerreiro. Não me lembro quem foi, porém senti
muito orgulho por isso. Afinal me sinto como tal.
Os guerreiros para se manterem vivos
devem treinar muito. Fazem do campo de batalha
um exercício de guerra.
Mas sou um novo tipo de guerreiro. Fiz da
vida, minha “Batalha”, minha coragem é minha
ESPADA. O medo de viver eu desconheço.
Meu ESCUDO é quem me protege dos meus
adversários. A ele dei um nome e a vida. Meu
ESCUDO é meu “Filho”, que por benção de Deus
se tornou minha “vida...”
Itaquera – São Paulo, 2008.
Francisco Carlos da Silva (Fran)
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
DEDICATÓRIA
À minha avó, minha tia, minha mãe, esposa e filhos,
irmãos, amigos, as crianças e idosos
do projeto da AEC KAUÊ por acreditarem
em mim, e por terem mudado
minha vida, acreditando sempre no
amor, no companheirismo, e na certeza
de que eu não desisto nunca.
Um Guerreiro na Periferia
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DEPOIMENTOS
FRAN: O LUTADOR
Ao deparar-me com a vida, com os sonhos sonhados e
realizados por este grande ser humano que é o FRAN, vem-me à
lembrança uma parte da Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias:
“Não chores, meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida:
Viver é lutar. A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes,
os bravos Só pode exaltar.”
O FRAN é uma pessoa forte, da espécie “brava gente
brasileira”, que acredita em seu ideal, que o partilha com outros e,
na união buscada das forças, faz o sonho acontecer.
Tenha certeza, meu amigo, que o mundo se torna um pouco
melhor porque existem pessoas como você. Meu abraço fraterno e
as bênçãos de Deus !
Padre Marcos Sérgio da Silva
Diretor Administrativo Centro Universitário
Salesiano de São Paulo
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FRAN: JUVENTUDE E EXPERIÊNCIA
Raras vezes se encontra experiência ligada à juventude.
O sabor da vida (=experiência), normalmente vem com a idade
mais madura. Na juventude busca-se, geralmente, “adrenalina”...
Fran vai por outro caminho: aliado às crianças, jovens e adultos
da Vila Corbery, centro de Itaquera, desperta o sentido da vida
através do esporte e dos trabalhos comunitários.
Assim é o jovem FRAN! Uma seta indicando que juventude se
experimenta também na articulação do bem – a partir da família na
abertura para os vizinhos, para a Vila e para o Bairro. Discípulo
do Nazareno crucificado, FRAN anuncia Ressurreição por onde
passa.
Padre Paulo Sérgio Bezerra
Pároco de Nossa Senhora do Carmo, Itaquera
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
AGRADECIMENTOS
É impossível, em um espaço tão pequeno, não deixar de fora
tantas pessoas importantes. Seria necessário algumas páginas para
mencionar todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a
realização deste livro, porém, vou tentar resumir tudo em apenas
algumas linhas.
Deus, obrigado por ter me dado a vida, o dom da Sabedoria, e
principalmente o dom da Caridade. A ti confio meus passos e meu
destino, a ti agradeço pela família que me deste e pelas dificuldades
que colocou em meu caminho. Foi através das dificuldades que
tive forças para aprender que é caindo que se aprende a levantar.
É sofrendo que se aprende a valorizar os momentos de felicidade e
é quando nos sentimos sozinhos que nos lembramos de quanto os
amigos são importantes.
À minha mãe, agradeço por ter me feito um homem digno
e me dado a própria vida. Pelo esforço e trabalho para dar-me o
que comer, o que vestir e mostrar-me que o dinheiro é necessário,
mas o amor é fundamental. A minha tia, agradeço pelos cuidados
e o carinho no dia a dia. À minha avó, agradeço por ter sido meu
maior exemplo de vida, seu amor, sua garra e sua determinação
sempre estiveram presentes em minha vida nos dias mais difíceis. A
meus Irmãos agradeço por me mostrarem que, mesmo nem sempre
estando presente, embora jamais estivemos separados, aprendemos
que sempre é preciso saber ouvir, discordar e discutir para que
amanhã possamos dizer, somos irmãos, somos iguais e somos o
mesmo sangue.
À minha esposa e companheira agradeço por todos os anos de
convívio, pela paciência, pelo amor e por toda dedicação. Obrigado
pelo respeito, pelo carinho e, principalmente, por ter ficado ao meu
lado diante de todas as dificuldades que juntos soubemos enfrentar!
Agradecimento especial à amiga Alice Coutinho Magro
pelo apoio e incentivo na realização deste livro.
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Nunca tive a pretensão de escrever um livro, mas, pelo
incentivo dos amigos que sempre acharam que eu poderia dar
alguma colaboração sobre as coisas que escrevo, resolvi botar no
papel algumas idéias e textos.
O livro tratará sobre diversos assuntos que julgo importante
na vida e no dia a dia de todos nós. Textos que escrevi, amigos, dor,
sentimento e tudo que acredito que de alguma forma sirva como
lição de vida e incentivo para vencer as dificuldades da vida.
Acredito que não pode perder a esperança enquanto existe a
fé e por isso colocarei no livro experiências vividas por mim e por
pessoas que jamais desistiram de vencer.
Somos o reflexo do Espelho de Deus. Portanto nunca desista
de seus sonhos, pois ninguém é capaz de vivê-los além de você
mesmo. Acredite em você e sempre observe cautelosamente os
outros, porém nunca perca a esperança de que todas as pessoas
possuem algo de bom dentro de si.
Nunca desista por mais árdua que pareça sua estrada. Uma
caminhada de 50.000 km só tem inicio após dar o primeiro passo.
O autor
Um Guerreiro na Periferia
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Durante muitos momentos de nossas vidas nos sentimos
sozinhos, frágeis e abandonados. Quem nunca se sentiu assim
talvez seja porque nunca tenha sentido fome, falta de dinheiro, falta
de amigos, falta de carinho. Para aqueles que como eu vivem na
periferia descobre-se ainda muito cedo o significado de tudo isso.
Quem vive na periferia aprende ainda criança que nada
na vida é fácil. Muitos perdem a infância no mundo das drogas.
Entram para o crime ainda crianças, e descobrem que o mundo do
crime é injusto, desleal e ingrato. No mundo do crime a pessoa só
tem amigos enquanto é útil ao seu comparsa. O seu companheiro
de hoje pode ser o seu inimigo de amanhã. O sorriso inocente deixa
de brilhar no rosto e em troca surge a expressão de ódio, de raiva,
sempre procurando provar que é digno do mundo do crime e que
tem atitude.
Na periferia, o certo vira errado e o errado vira certo. O garoto
sonhador que quer estudar, crescer, trabalhar, constituir família é
tido como vascilão, otário e muitas vezes desiste de seus sonhos,
afinal na roda de amigos muitos já estão envolvidos com as drogas,
e ele que não curte drogas e para não perder os amigos prefere
encontrar um novo amigo. Então lhe apresentam uma amiga que
inicialmente não oferece perigo, que apenas lhe proporciona uma
sensação de prazer, ele passa a fumar maconha. Essa nova amiga
lhe trás junto com o vício o respeito dos amigos, a convivência no
meio dos “manos” e aos poucos ele vai se esquecendo dos seus
sonhos, da escola, da família.
Começa a achar normal que na falta de dinheiro para comprar
a maconha ele pegue um objeto de casa e troque por um papelote
da erva. O vício passa a lhe dominar. A amiga maconha passa a se
tornar mais necessária em seu dia a dia. Que espécie de amiga é essa
que faz com que ele troque seus tênis, suas calças, os objetos de sua
casa por um baseado? E na fumaça deste baseado vão seus sonhos
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e surge a necessidade de conhecer outros amigos da maconha. O
crack, a cocaína, a heroína e tantas outras drogas que surgirem em
seu caminho, colocando-o em uma estrada quase sem volta.
O jovem da periferia aprende que ser o dono da quebrada
é muito mais importante que ser o pai de família, o trabalhador o
operário; porém é chegado o dia em que ele descobre que muitas
vezes ainda criança lhe apresentam a outra face do crime que ele
ainda não conhecia. Em um belo dia ele roda, perde os amigos, perde
o dinheiro, perde a liberdade. Nesta hora sente que está sozinho,
acuado e aqueles que se diziam seus amigos o abandonam, fogem e
ele está só. A família sem recursos chora, corre atrás, se desdobra
para conseguir um advogado para lhe tirar da prisão. A mãe chora,
sofre e sabe que quanto mais tempo seu filho ficar preso, mais
distante da família ele vai ficando. A prisão é como uma espécie
de faculdade do crime. Muitas vezes o cara entra de laranja, apenas
porque cometeu um pequeno delito, e lá ele passa a conviver com
os professores do crime. Aprende que dentro da cadeia só sobrevive
quem tem atitude, quem tem poder. A escola do crime pode estar
em qualquer esquina da periferia, porém, a pós-graduação se tira
dentro do presídio.
Em qualquer roda de malandros é comum ouvir o cara dizer
orgulhoso, “tirei uns dias”, sou do crime. Orgulhoso conta o que
aprendeu dentro da cadeia, sobre as amizades que fez, a qual
facção ele pertence. Chega a ser até engraçado mas não me recordo
nenhuma vez em que alguém me disse que a cadeia lhe trouxe
sofrimento, humilhação, violência, que dormiu no canto da cama,
ou que lavava roupa dos donos da cela.
Para os ex-presidiários vale lembrar que o verdadeiro
malandro é aquele que nunca foi preso, que levanta cedo, toma um
ônibus lotado, vai e volta do seu trabalho com a cabeça erguida.
Quantos malandros de atitude fazem isso no dia a dia. O verdadeiro
malandro se esconde, não faz questão de aparecer.
A periferia é o esconderijo de muitos malandros donos de
pontos de droga, que são estelionatários, porém não fazem questão
nenhuma de aparecer. Só quem aparece mesmo são os chamados
laranjas. Esses sim, vivem correndo da polícia, tomando tapa na
cara, sujando seu nome, trocando sua liberdade por migalhas,
enquanto que o verdadeiro malandro está solto, só aparece quando
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
se faz necessário. O verdadeiro malandro não levanta suspeita, tem
seu nome limpo e se a área sujar quem vai segurar os chamados
B.O. são seus laranjas.
Quem nasce na periferia aprende desde pequeno que
a convivência com a malandragem é fundamental para sua
sobrevivência e a de seus familiares, até mesmo porque boa parte
dos malandros da periferia são amigos de infância. Uns entraram
no mundo do crime porque não tiveram escolha, falta de trabalho,
falta de oportunidade, falta de comida na mesa. Optaram por um
caminho mais curto e mais doloroso, começam roubando para
sustentar seus vícios, seus familiares, suas amizades. Outros entram
para malandragem por embalo mesmo. Acham bonito dizer que é
malandro, que fumam, cheiram e traficam. Para estes embalos o
caminho é mais curto. Acredito que seja a lei da ação e reação. Geralmente este tipo de malandro vem de boa família, tem boa
formação, teve uma infância tranqüila e acabou se envolvendo
com o crime pelo simples fato de querer ser respeitado no meio
da malandragem. Ele tem menos respeito pela comunidade porque
geralmente não foi criado nela. Vem de vilas vizinhas, de bairros
próximos, afinal na sua quebrada ele é tido como bom moço. O
que ele não pode fazer na sua quebrada ele faz na comunidade dos
outros. Fuma maconha na rua, oferece drogas para crianças, falta
com respeito aos idosos, chama os mais antigos da comunidade de
bico, porém ele se esquece que o verdadeiro malandro não quer a
comunidade como inimiga e sim como aliada. Dentro da comunidade
o verdadeiro malandro oferece solidariedade, recrimina as atitudes
erradas, e ainda ajuda os menos favorecidos. o verdadeiro malandro
é reconhecido e protegido dentro da comunidade por adiantar o
lado dos que vivem no seu meio. Não deixa que ninguém venha
de fora bagunçar a sua área, roubar seus vizinhos, oferecer fumo as
crianças, porém continua sendo um bandido.
Na periferia você tem olhos e não vê. Tem ouvidos e não
escuta tudo que lhe dizem. Tem vontade de gritar, porém muitas
vezes se passa por mudo. Nela aprendemos desde pequenos que
na vida tem dois caminhos, aquele em que você pena desde criança
para poder vencer honestamente e o caminho mais rápido. Neste
último você vai descobrir muito cedo que nem sempre o caminho
mais curto é o que lhe proporciona mais vitórias, porque as grandes
vitórias são aquelas feitas com seu próprio sacrifício, seu próprio
trabalho, suor e lágrimas.
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Na periferia levantamos cedo todos os dias e pegamos ônibus,
metrô lotado, lotação. Enfrentamos horas de trânsito, afinal não
temos o conforto de um carro importado com ar condicionado e
nenhuma sala confortável para trabalhar, e muitas vezes nem temos
onde trabalhar, e quando temos, damos graças a Deus pelo pouco
que conseguimos ganhar com ele e abrimos um sorriso, pois temos
como colocar o arroz, o feijão e quem sabe um pedaço de carne
para nossos filhos. Mesmo assim sentimos-nos felizes, unidos e
companheiros, afinal de contas somos da periferia, e aqui dividimos
a comida, a roupa o teto, ou seja na periferia dividimos tudo que
temos, e em troca o que pedimos? Em troca pedimos: amizade,
respeito, solidariedade e companheirismo.
Na periferia aprendemos a ser irmãos, mesmo sendo de
famílias diferentes, dividimos alegrias, tristezas. Queremos o
mesmo objetivo. Nos unimos em busca do bem comum. Temos os
mesmos sonhos e queremos as mesmas coisas, tais como, educar
nossos filhos, incentivar os mais velhos, ajudar os mais necessitados.
Aqui somos irmãos, amigos e companheiros, aqui descobrimos que
ajudando a quem precisa de ajuda, estamos ajudando a nós mesmos.
“Sábios porcos espinhos”
frio.
Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do
Os porcos-espinhos, percebendo esta situação, resolveram
se juntar em grupos, assim se agasalhavam e se protegiam
mutuamente.
Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais
próximos, justamente os que forneciam calor.
E, por isso, tornavam a se afastar uns dos outros. Voltaram a
morrer congelados e precisavam fazer uma escolha: Desapareceriam
da face da terra ou aceitavam os espinhos do semelhante. Com
sabedoria, decidiram voltar e ficar juntos.
Aprenderam assim, a conviver com as pequenas feridas que
uma relação muito próxima podia causar, já que o mais importante
era o calor do outro. Sobreviveram.
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
MORAL DA HISTORIA:
O melhor relacionamento não é aquele que une pessoas
perfeitas, mas aquele onde cada um aceita os defeitos do outro e
consegue perdão pelos próprios defeitos.
A felicidade não esta em viver, mas em saber viver. Não vive
mais o que mais vive, mas o que melhor vive, porque a vida não
mede o tempo, mas o emprego que dela fazemos.
Na periferia podemos comparar o convívio das pessoas com
o convívio dos porcos espinhos na era glacial. Todos nós temos
diferentes formas de pensar, de ver a vida, porém se cada um fizer
um pouquinho pelo seu próximo e este próximo retribuir o que
recebeu em troca de outro que necessite, podemos afirmar que uma
grande corrente estará formada. Poderá demorar dezenas, centenas
ou milhares de anos, porém se a corrente não for quebrada e cada
um der ao próximo um pouquinho do que recebeu para si, teremos
um mundo melhor.
Procure fazer o bem a pelo menos duas pessoas ao mês, e em
troca peça a essas pessoas que façam o mesmo. Que essas pessoas
ofereçam a mais duas pessoas o bem que receberam de você, e assim
sucessivamente. Uma grande corrente estará formada, e mesmo que
uma destas pessoas quebre a corrente duas novas pessoas estarão
fortalecendo. É uma bola de neve que vai crescer a cada dia, mês
e ano, e quando chegar o dia em que as duas pontas da corrente se
encontrarem, não precisarão de um cadeado para uni-las, pois elas
já estarão unidas por uma força muito maior: a solidariedade, o
companheirismo e o amor pelo próximo. O sentimento de gratidão
vem de dentro para fora. Nunca espere dos outros a recompensa por
algo que você julgue merecedor.
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É entre você e Deus...
“Muitas vezes as pessoas, são egocêntricas, ilógicas e
insensatas;
perdoe-as assim mesmo.
Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de interesseiro;
seja gentil assim mesmo.
Se você é um vencedor, terá falsos amigos e alguns inimigos
verdadeiros;
vença assim mesmo.
Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo;
seja honesto e franco assim mesmo.
O que você levou anos para construir, alguém pode destruir
de uma hora para outra;
construa assim mesmo.
Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja;
seja feliz assim mesmo.
O bem que você faz hoje, pode ser esquecido amanhã;
faça assim mesmo.
Dê ao mundo o melhor de você, mas isso não pode ser o
bastante;
de o melhor de você assim mesmo.
Veja você que no final das contas, é tudo entre você e Deus;
nunca foi entre você e os outros”.
Madre Tereza de Calcutá.
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
“Vencedores e Perdedores”
Como podemos identificar a diferença entre aqueles que
“conseguem” e aqueles que sempre falham em seus propósitos?
O talento por si só não seria a resposta. Nem a sorte. Há um outro
elemento que diferencia os vencedores dos perdedores, é a atitude.
É a principal diferença.
Quando um vencedor comete um erro, ele diz: “Eu estava
errado”. Em seguida ele tomará as providências necessárias para
corrigir o erro.
Quando um perdedor comete um erro, ele diz: “Não foi minha
culpa”. É claro que nem sempre ele é o culpado, mas nem sempre
está certo. Infelizmente ele não conhece ou se recusa a conhecer a
diferença.
Quando um vencedor enfrenta um problema difícil, ele tenta
uma solução da melhor forma possível. Se seus primeiros esforços
falharem, ele tenta de novo. Mesmo se ele não vencer todas as
dificuldades ele sabe que se continuar tentando ele ganhará mais
e perderá menos.
Quando um perdedor enfrenta um problema difícil, ele tenta
adiar a data de solucioná-lo o mais que puder. Se sua primeira
tentativa falhar, ele desiste. Em seguida ele passa a perguntar: por
que os outros sempre têm mais sorte?
O vencedor escuta. Ele reconhece que não possui resposta
para todos os problemas e está disposto a aprender.
O perdedor fecha a sua mente para novas idéias. Ninguém
pode dizer-lhe como ele deve realizar o seu trabalho. E, assim, ele
continua cometendo os mesmos erros.
O vencedor está muito ocupado para dispensar seu tempo
criticando os outros. Ele sabe que não é perfeito e é o primeiro a
admitir este fato. O perdedor vê falhas em todo o mundo, exceto em
si mesmo.
Para o vencedor a derrota é uma pausa entre as vitórias.
Para o perdedor, a derrota é um meio de vida.
E-mail recebido.
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MORAL DA HISTORIA:
Está dentro de você optar por ser um vencedor ou um
perdedor. Não tenha inveja daqueles que venceram na vida. Tenha
nele exemplos de vida.
Não lamente por você não ter tido a sorte de nascer em um
berço de ouro, por não fazer parte de uma família rica. Dê graças a
Deus pela família que você tem. Se você se esforçar para construir
o seu próprio destino não estará mudando apenas a sua vida, mas a
vida de todos os seus familiares.
E se você cair, levante-se e nunca cruze os braços diante de
uma situação difícil, pois vale lembrar que o “maior homem do
mundo, morreu de braços abertos”.
A maior herança que um pai pode deixar a seu filho são os
ensinamentos que o mesmo adquiriu ao longo de sua vida. A vida
por si só é muito curta, e cabe a nós procurarmos tirar o melhor
proveito da vida.
Se você perguntar a um velho de 90 anos se ele acha que
já viveu demais e qual o maior ensinamento que ele tirou da vida
nestes 90 anos de existência, provavelmente ele pensará por algum
tempo e responderá que teve muitos ensinamentos no seu dia a dia
e lhe contará coisas que o deixarão de boca aberta, porém ele nunca
vai lhe responder que já viveu o bastante. Ele lhe dirá que a vida é
muito curta. Você nunca tem a certeza de quanto tempo ainda lhe
resta nesta vida, porém você pode saber como fazer melhor com
cada instante dos dias que lhe restam viver.
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“Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem
olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a
casca dourada e inútil das horas...
Dessa forma eu digo:
Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo. A
única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não
voltará mais.”
Mário Quintana
Se refletirmos que para um senhor de 90 anos a vida passou
depressa demais e que se ele pudesse viveria mais 90. O que
podemos dizer das crianças que muitas vezes morrem, vítimas
de bala perdida, de troca de tiros com a polícia ou até mesmo de
doenças contraídas em esgotos. Pela ordem natural da vida, nenhum
pai ou mãe deve enterrar seu filho, porém cada dia que passa este
fato torna-se mais comum. Não devemos encontrar um culpado,
a infelicidade da bala que cruza o caminho de uma criança da
periferia é a mesma infelicidade da bala que encontra outra criança
da alta sociedade.
Muitas vezes me pergunto, qual o tamanho da dor de uma
mãe ou de um pai que vê seu filho se perdendo no caminho do
crime. Um caminho tão curto que muitas vezes no primeiro passo
já faz com que este jovem caia ao chão, feche seus olhos e nunca
mais venha abrir.
O destino do jovem da periferia não é diferente do destino de
um jovem criado fora dela. Vivemos em um mundo globalizado,
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onde não é só as industrias que ultrapassam fronteiras. O jovem
da periferia muitas vezes tem o seu ciclo de vida interrompido por
uma bala perdida, por uma briga, ou por uma disputa de ponto de
drogas. O jovem da classe média e alta também tem no seu dia a dia
inimigos a combater.
A falta de diálogo por parte de muitos pais é muitas vezes o
fator decisivo para que seu filho opte por um caminho sem volta.
Os pais da classe média e alta sofrem dos mesmos problemas que
os pais da periferia. Enquanto seus filhos estão em casa ou em
companhia de amigos, que muitas vezes o induzem a caminhos
que eles não tomariam sozinhos, ambos os pais estão envolvidos
em problemas; como trabalho, estudo, bebidas, decepções. Os pais
muitas vezes estão tão preocupados com seus próprios problemas
que não conseguem ver a mudança de comportamento dos filhos.
Não podemos recriminar um ou outro pai, porém, para os
pais da periferia devemos aconselhar que o destino de um deve ser
compartilhado por todos, ou seja, enquanto o pai trabalha arduamente
durante o dia, o filho deve estudar, trabalhar, e se informar. Ambos
devem conversar e traçar metas para que juntos possam vencer na
vida. Tire pelo menos 30 minutos por dia para saber como foi o
dia do seu filho. Muitas vezes tudo que ele quer é poder lhe contar
algo de bom que lhe aconteceu, dividir com o pai ou com a mãe a
felicidade, ou se aconteceu algo de ruim naquele dia. Tudo que ele
deseja é poder contar com um ombro amigo, um colo para chorar,
um abraço para aliviar a sua angustia ou frustração.
Mas vale um abraço do pai ou o colo da mãe do que o conselho
de um amigo que muitas vezes oferece o alivio em um copo de
cerveja, um cigarro de maconha. Não que todo pai seja melhor do
que qualquer amigo, ou que todos os amigos na maioria das vezes
não sabem dar conselhos, porém a base de uma família está na
união dos seus. Ame sua família por mais confusa que ela seja. Se a
recompensa não surgir nesta vida surgirá no plano espiritual.
Certa vez recebi um e-mail que contava a história de uma
menina chamada Maria que se casou e foi viver com o marido e a
sogra.
Depois de alguns dias, passou a não se entender com a sogra.
A personalidade delas eram muito diferentes e Maria foi se irritando
com as críticas que freqüentemente sofria.
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Meses se passaram e Maria e sua sogra cada vez discutiam e
brigavam mais. De acordo com antiga tradição chinesa, a nora tinha
que se curvar à sogra e obedecê-la, em tudo.
Maria já não suportando mais, decidiu tomar uma atitude e
foi visitar um amigo de seu pai, que a ouviu e, depois, com um
pacote de ervas lhe disse:
Vou lhe dar várias ervas que irão lentamente envenenar sua
sogra.
Você não poderá usá-las de uma só vez para se libertar dela,
porque isso causaria desconfianças. A cada dois dias, ponha um
pouco dessas ervas na comida dela.
Agora, para ter certeza de que ninguém suspeitará de você
quando ela morrer, você deve ter muito cuidado e agir de forma
muito amigável.
Maria respondeu:
Sim, Sr. Huang, eu farei tudo o que o senhor me pedir.
Semanas se passaram e a cada dois dias, Maria servia a comida
“especialmente tratada” à sua sogra. Ela sempre lembrava do que
o Sr. Huang tinha recomendado sobre evitar suspeitas e assim
controlou o seu temperamento, obedecendo a sogra e a tratando
como se fosse sua própria mãe.
Maria tinha controlado o seu temperamento e quase nunca
se aborrecia. Nesses seis meses não tinha tido nenhuma discussão
com a sogra, que agora parecia mais amável e mais fácil de lidar.
As atitudes da sogra também mudaram e elas passaram a se tratar
como mãe e filha.
Um dia Maria foi novamente procurar o Sr. Huang para pedirlhe ajuda e disse:
Querido Sr. Huang, por favor, ajude-me a evitar que o veneno
mate minha sogra! Ela se transformou numa mulher agradável e
eu a amo como se fosse minha mãe. Não quero que ela morra por
causa do veneno que eu lhe dei.
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Sr. Huang sorriu e acenou com a cabeça:
Maria, não precisa se preocupar. As ervas que eu dei eram
vitaminas para melhorar a saúde dela. O veneno estava na sua
mente e na sua atitude, mas foi jogado fora e substituído pelo amor
que você passou a dar a ela.
“Na China, existe uma regra dourada que diz”:
“A pessoa que ama os outros também será amada.”
Na maioria das vezes, recebemos das outras pessoas o que
damos a elas...
Por isso, LEMBRE-SE SEMPRE:
O plantio é opcional... A colheita é obrigatória... Cuidado
com o que planta!!!!
Portanto independente da classe social, das condições em que
se vive, o respeito é fundamental para o convívio. O diálogo e a
compreensão muitas vezes fazem milagres que podem mudar para
sempre o destino das pessoas.
Quando eu era garoto, por muitas vezes eu chorava escondido
e sofria calado. Tinha vergonha por usar apenas um par de tênis, por
não ter tido um pai nos meus momentos de solidão e por não poder
contar com a presença da minha mãe que trabalhava o dia todo para
me dar o sustento e o sustendo da minha família.
Como uma criança da periferia aprendi a enxergar muito cedo
quais caminhos deveria tomar na vida. Qual o destino eu queria para
mim e para os meus. A força interior está no coração, na vontade de
vencer e na fé em Deus. Devemos lutar todos os dias contra a fúria
da tentação que nos assombra no dia a dia da periferia.
Certa vez enquanto mudávamos de casa, ouvi minha mãe
dizendo que um dia Deus lhe ajudaria e ela teria a casinha dela,
para não ter que viver pulando de galho em galho, ou seja, sempre
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
mudando de casa. Em cada mudança algo se quebrava, afinal,
nenhum móvel por mais resistente que seja é capaz de resistir a
tantas mudanças. É bom explicar que o motivo de mudarmos de
casa era porque o aluguel subia, e minha mãe que sempre viveu
com um salário mínimo necessitava mudar para uma casa com
valor menor para que pudesse pagar o aluguel. Ela sempre dizia, o
dinheiro do aluguel e o do feijão é sagrado, então, preferia mudar
de casa quando o aluguel subia, pois ficava com medo de não poder
pagar.
Mas, voltando ao dia em que ouvi minha mãe dizendo: “um
dia Deus vai me ajudar e eu terei minha própria casinha”. Foi como
se uma luz abrisse minha cabeça, eu tinha mais ou menos 12 anos,
e um pensamento me veio à mente. Puxa vida como minha mãe vai
poder comprar uma casa se a metade do que ela ganha é para pagar
o aluguel e a outra metade mal dá para gente comer e se vestir.
Então lhe perguntei: mãe como Deus vai lhe ajudar a comprar
sua casa se o salário que a Sra. ganha só dá para pagar o aluguel
e comer. A Sra. sabe quantos anos tem que trabalhar sem comer e
sem pagar aluguel para juntar algum dinheiro e poder dar entrada
numa casa?
Senti uma revolta pois sabia que dinheiro não cai do céu
e disse a ela que iria parar de estudar para poder trabalhar e lhe
ajudar, pois não era justo que ela ficasse sonhando a vida inteira em
ter uma casa que ela jamais poderia comprar sozinha.
Minha mãe com lágrimas nos olhos me respondeu.
Meu filho Deus vai me ajudar e um dia nós teremos nossa
casinha. Agora não quero que você pare de estudar, pois não quero
que você seja um analfabeto como sua mãe. Enquanto eu tiver
forças para trabalhar, você e seu irmão continuarão estudando e se
Deus quiser um dia quem sabe eu, sua avó e sua tia teremos nossa
casinha.
Novamente me senti sufocado, com 12 anos de idade pude
sentir na pele que o destino de um só deve ser compartilhado por
todos. Jurei para mim mesmo que antes de minha avó, minha mãe
e minha tia morressem eu lhes daria uma casa.
Sofria, pois via minha mãe saindo de casa pela manhã e só
retornando a noite. Muitas vezes a vi chorando, sofrendo pois tinha
que trabalhar doente. Minha tia lavava roupas para uma vizinha
Um Guerreiro na Periferia
27
para poder complementar o orçamento da casa. Quando minha mãe
chegava a noite eu corria para lhe contar que tinha tirado a melhor
nota na escola, que a professora tinha me elogiado. Tudo para lhe
ver sorrir. Eu fazia questão de ser um dos primeiros alunos da classe
só para ver minha mãe sorrindo.
Eu sabia que existia um caminho mais curto para que um dia
eu pudesse presentear minha mãe com uma casa, com uma vida
mais confortável, porém cansei de ouvi-la dizendo, tenho fé em
Deus que meus filhos apesar de pobres e serem criados sem pai, não
se tornarão bandidos e nem me darão desgostos.
Isso martelava na minha cabeça, pois, enquanto muitos dos
meus amigos escolhiam o caminho mais rápido eu continuava
estudando, continuava no esporte, continuava lutando e acreditando
que minha mãe sofreria muito mais se um dia tivesse que me visitar
em um presídio.
Estudei, trabalhei, ouvi muitas vezes de meus amigos que eu
era maluco, pois trabalha durante o dia, estudava a noite e ainda
arrumava tempo para me dedicar ao esporte, porém, ninguém podia
imaginar que em minha cabeça estava uma frase que me foi dita por
uma mulher semi-analfabeta que soube me mostrar que o caráter de
um homem não se constrói pelo lugar que ele é criado, e sim pelos
conselhos e exemplos de vida que ele recebe.
Depois de tantos ensinamentos que recebi de minha mãe, de
minha avó e de minha tia, percebi que quando as coisas só dependem
de nós tornam-se muito mais fáceis.
Passado algum tempo pude entender o que minha mãe disseme naquele dia da mudança. Certo dia reuni minha mãe, minha tia
e minha avó que ainda era viva na ocasião e juntamente com minha
esposa e meu filho fui levar minha mãe para conhecer uma casinha
que eu havia comprado para as três. Sem que nenhuma delas
soubesse de nada, resolvi lhes fazer uma surpresa. Ao entrarmos na
casa, e ainda, com os antigos proprietários morando, eu abracei as
três e lhes disse:
Estão vendo essa casinha aqui, de hoje em diante nunca mais
na vida vocês terão que viver pulando de galho em galho. Viverão
aqui para o resto de suas vidas. As três sem entenderem bem do que
se tratava começaram a chorar e me perguntaram: mas o que está
acontecendo? Então respondi. Essa casa é de vocês e nunca mais
precisarão mudar-se enquanto forem vivas. Este é o nosso presente
para vocês.
28
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Minha mãe chorando muito me respondeu, lembra quando eu
disse que um dia Deus iria me ajudar e eu teria minha própria casa,
pois é, ele me ajudou, colocou um filho como você em minha vida.
Só então pude compreender que quando minha mãe me pediu
para não parar de estudar, e que todas as vezes que ela sentiu orgulho
de mim por ser um dos primeiros da classe, ela inconscientemente
estava me motivando a continuar lutando para me tornar um
homem de bem e um vencedor. Ela sabia que ensinando-me a ter
gratidão e agir honestamente ela estava plantando uma semente que
germinaria, e lhe daria os frutos que ela sonhara.
Por isso acredito, que cabe aos pais plantarem as sementes
de seus filhos, afinal nenhuma reunião, nenhum trabalho, nem todo
dinheiro do mundo compensa os minutos dedicados aos filhos.
PERSISTÊNCIA
Não havia nada que eu pudesse fazer, mas eu fiz.
Alcançar tal coisa era impossível, e eu a busquei.
Não havia mais esperanças, e eu as mantive.
Não restava tempo para mais nada, mas eu lutei até a última
hora.
Não queriam mais. Eu insisti.
A última palavra havia sido dada, mas eu ainda assim falei.
Enfim... Estou passando pela vida e tudo vai se fechando.
Mas a felicidade está em mim.
Pois se nada tenho, por tudo lutei.
E sem me arrepender de nada, num futuro poderei dizer:
TENTEI.
Autor desconhecido
Um Guerreiro na Periferia
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Quando criança ouvi muitas vezes de meus tios, tias, parentes,
amigos e vizinhos, que meu pai não prestava, que não era “homem”
por ter abandonado uma mulher com duas crianças, em uma cidade
como São Paulo. Nunca me abalei com isso e tão pouco julguei meu
pai pelo que fez. Ninguém é sábio o bastante para julgar os motivos
que levam duas pessoas a viverem separadas. Talvez a mesma
força que foi capaz de unir essas pessoas, quando se conheceram
e resolveram viver juntas, tenha sido a mesma força que fez com
que cada um seguisse o seu próprio destino, e este destino me fez
ficar ao lado de uma mulher guerreira, capaz de encarar uma selva
como São Paulo sozinha e lutar dia a dia pelo sustento, educação e
vestimenta de seus filhos.
Aprendi que somos responsáveis por nosso próprio destino,
e que ninguém pode ser julgado pelo caminho que a vida nos fez
percorrer. A força interior está dentro de nós. Se acreditarmos que
somos fracos porque fomos abandonados e a vida está sendo dura
conosco, estamos transferindo para outra pessoa a responsabilidade
do nosso próprio destino. Cabe a nós escrevermos a nossa história
e ao final dela assumirmos os momentos de glória e as perdas que
vivemos ao longo de nossas vidas.
Não podemos julgar nossos pais pelo caminho que trilhamos
em nossas vidas. Não posso pensar se seria melhor ou pior que meu
pai tivesse ficado ao meu lado, afinal só Deus sabe me responder se
teria sido bom ou ruim o convívio entre ambos.
Quem nunca se sentiu, sozinho e abandonado neste mundo,
a dor que sufoca no momento da perda de uma pessoa querida.
A despedida de um amigo que vai embora e que nunca mais vai
voltar. Essa dor que aperta o coração é o sinal de que não podemos
ter tudo aquilo que desejamos, que nada é eterno e que nem tudo
está ao nosso alcance.
Lembro-me um dia quando alguém me disse que eu seria
Um Guerreiro na Periferia
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um viciado quando eu crescesse. Que um filho criado sem pai em
uma cidade como São Paulo só daria para o que não presta. Chorei
muito ao ouvir isso, pois dentro de mim eu sabia que as pessoas
estavam atribuindo que se no futuro eu me tornasse um viciado,
um bandido, um homem sem caráter, era devido ao fato do meu pai
ter me abandonado quando criança e porque minha mãe não tinha
tempo para cuidar de mim, pois trabalhava o dia todo correndo
atrás de um salário mínimo para alimentar seus filhos e as pessoas
que dependiam dela em nossa casa. Eu chorava muito cada vez
que pensava nisso. Não porque eu achava que o meu futuro sem a
presença do meu pai seria incerto, mas porque as pessoas atribuíam
um possível fracasso meu ao fato de meu pai ter me abandonado
quando criança.
Porém me perguntava várias vezes o porque para aquelas
pessoas era mais fácil odiar meu pai. Julgar minha mãe pela
separação, do que me acolherem e fazer-me sentir importante. É
engraçado como na maioria das vezes as pessoas estão muito mais
preocupadas em julgar os atos alheios do que oferecerem um pouco
de carinho, de conforto, uma palavra amiga, uma frase de incentivo.
Para essas pessoas era muito mais fácil julgar meu pai por ter
me abandonado, e me dizerem coisas que o tornavam uma pessoa
sem sentimento e sem coração do que me passarem a idéia de que
isso pode acontecer com qualquer pessoa e que uma palavra amiga
em momentos difíceis é muito mais confortante do que uma palavra
de ódio.
Somos responsáveis por nosso próprio destino e não
devemos cruzar os braços diante de momentos difíceis. Devemos
nos lembrar que o “maior homem do mundo morreu de braços
abertos pregado em uma cruz” e cabe a cada um de nós escrever
sua própria história.
Deus na imensidão de sua sabedoria e compaixão jamais nos
abandona, e por mais árduo que seja o caminho dos homens sempre
haverá um fio de esperança para aqueles que acreditam que podem
mudar o próprio destino.
Toda e qualquer pessoa no mundo possui várias habilidades
e qualidades, mas só aquelas que realmente expressam seus
sentimentos conseguem sucesso em suas vidas. As melhores e mais
lindas coisas do mundo não se podem ver, nem tocar, elas devem
ser sentidas com o coração.
32
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Todos nós sofremos com as perdas, porém devemos aprender
com elas, a nos fortalecer. Acreditar que podemos sobreviver e
sermos vencedores. Se nos sentimos sozinhos e abandonados,
devemos nos lembrar que a maior força existente é a força interior.
Seus amigos podem lhe abandonar. A mulher que você ama pode
desprezar seu amor. Seu pai pode fugir a procura de novas aventuras,
porém nunca deixe que o amor próprio saia do seu coração. Quando
se perde este amor, chega-se à beira do abismo e para despencar
abismo abaixo basta dar mais um passo.
Lembre-se que o plantio é opcional, porém a colheita é
obrigatória. Somos responsáveis por nossas atitudes, por nosso
sucesso ou pelo fracasso de nossas vidas. Aqui se planta aqui se
colhe.
Há muitas maneiras de ser feliz sem prejudicar ao próximo,
aliás, quando proporcionamos um momento de alegria e oferecemos
um pouco de carinho àqueles que se sentem só, plantamos uma
semente dentro do peito, que germina e dá frutos. Quando fazemos
o mal proporcionamos ódio no coração alheio. Muitas vezes
oferecemos carinho e recebemos ingratidão, mas nem por isso
devemos nos tornar pessoas amargas, e insensíveis à dor dos outros.
A Palavra de Deus nos diz: “Já fui moço, agora sou velho,
mas jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a
mendigar o pão.”
( Salmo 37:25).
Devemos sempre acreditar que viemos a este mundo com um
propósito, com uma missão, e que cabe a cada um de nós a cada
momento do dia tentarmos fazer valer a pena a nossa existência.
Costumo dizer que algumas pessoas vieram a este mundo para
servir, e outras para servirem-se. Faço questão de ser o primeiro
tipo de pessoa.
Certo dia antes dos treinos que dou para as crianças uma
garotinha veio correndo ao meu encontro de braços abertos e pulou
no meu colo, me deu um beijo no rosto e me disse: Fran, queria que
o meu pai fosse igual a você.
A responsabilidade de se tornar uma pessoa admirada
Um Guerreiro na Periferia
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muitas vezes nos faz sentir medo de cometer erros. É muito bom
ter amigos, viver cercado de pessoas, mas sem nenhuma dor na
consciência afirmo que sou capaz de trocar a convivência dos
adultos pela convivência das crianças. É muito simples de explicar,
as crianças possuem a inocência da verdade. Toda criança possui
o dom de ver a vida com simplicidade, não possuem maldade no
coração e se gostam de uma pessoa fazem questão de mostrar isso.
As crianças não abandonam nem ofendem as pessoas que amam,
pois são capazes de enxergar quando estamos tristes e magoados, e
quando estou no meio delas esqueço que sou adulto e viro criança
novamente.
Quem dera o mundo fosse governado por crianças capazes
de, na sua brincadeira de faz de conta, criar uma sociedade livre,
sem guerra, sem preconceito, sem mentiras, sem roubo e corrupção,
um mundo formado por alegria, sorrisos verdadeiros, e sentimentos
de liberdade.
Mesmo quando são abandonadas, as crianças são capazes de
soltar um sorriso ao primeiro sinal de afeto e ao primeiro olhar
para um brinquedo. O sentimento de abandono desaparece e o
olhar volta a brilhar quando oferecemos a ela uma esperança e uma
palavra de carinho.
Certa noite ao sairmos para distribuir sopão nas ruas frias
de São Paulo, perguntamos a um morador de rua porque ele não
voltava para sua casa, já que ele havia dito que veio de uma cidade
do Rio Grande do Sul tentar a vida aqui e não tinha obtido sucesso,
por isso se tornara um morador de Rua. Ele nos respondeu, que não
voltava para sua cidade enquanto não conseguisse o seu objetivo,
que era voltar com fortuna. Ele nos contou que tinha família no
Sul, e que não voltava para sua família pois havia prometido que se
daria muito bem aqui em São Paulo. Questionamos sobre como ele
poderia ter a família dele lá, casa, comida, roupa lavada e preferir
viver sujo, passando fome e morando na rua. Ele respondeu:
“Porque o orgulho de um homem deve sempre falar mais alto.
Só volto quando eu conseguir tudo que vim buscar aqui, sinto falta
da minha família, porém não posso voltar, pois troquei o convívio
dela pelo sucesso na cidade grande. Com que cara volto agora,
dizendo que tudo que consegui em São Paulo foi ser morador de
rua?”. Nisso chegou uma cachorrinha e ele nos disse: “ta vendo
34
Francisco Carlos da Silva, o Fran
essa cachorrinha, ela é minha companheira, nunca me abandona. Já
vendi ela por R$ 50,00 e ela voltou. É sempre assim, onde quer que
eu vá ela me acompanha. É minha companheira e não me deixa só.”
Tudo que aquele homem tinha era sua cachorrinha,
companheira de todos os dias e a sua força interior para continuar
lutando e adquirir o que veio buscar em São Paulo. Pedi em silêncio
a Deus para que um dia ele conseguisse voltar para sua cidade com
seu objetivo cumprido.
Muitas pessoas julgam os moradores de rua por não terem
dinheiro para comer e sempre estarem com uma garrafa de pinga
nas mãos. Eu mesmo antes de ir distribuir sopão no centro, já havia
feito essa pergunta, porém não foi preciso perguntar a nenhum
morador de rua. O porque preferem a pinga do que comprar comida
para se alimentar.
O mesmo homem da cachorrinha me contou que a cachaça
espanta o frio e os mantém aquecidos. Quando bebem cachaça o
calor da pinga os torna aquecidos. Ele mesmo nos disse que nunca
bebeu antes, porém aprendeu com os amigos a disfarçar o frio das
noites geladas com bons goles de cachaça.
O abandono e as histórias que encontramos nas ruas sempre
nos chocam. Certa noite encontramos uns 10 moradores de rua
todos juntos dormindo, então pedimos licença e perguntamos se
eles não gostariam de tomar uma sopa quente. Aos poucos um a um
foram acordando e agradecendo. Neste dia ouvi duas histórias que
me deixaram bastante comovido.
Um rapaz jovem, de aproximadamente 30 anos, nos contou
que é morador de rua porque é um viciado em crack, e que sua
família ao saber que ele era um viciado o expulsou de casa, então
ele foi para rua. Na rua encontrou novos amigos e junto com estes
praticou e pratica assaltos, furtos, e todo tipo de contravenção. Nos
contou que se considera um cara inteligente, porém o vício faz
com que ele perca todo dinheiro que ganha. Segundo ele, uma vez
conseguiu muito dinheiro e foi direto para uma boca de traficantes
em um bar no centro de São Paulo. Ficou lá por 03 dias, bebendo e
usando crack. Enquanto tinha dinheiro era tratado como rei. Pagava
contas, dividia o uso das drogas com outros viciados, porém, após
03 dias seu dinheiro acabou, e ele foi até o traficante e disse. Minha
grana acabou, dá para fiar um pra mim??? O traficante respondeu:
Um Guerreiro na Periferia
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se seu dinheiro acabou, pode ir embora, a sua cota acabou. Ele disse
que ficou puto da vida, afinal tinha gastado todo o dinheiro dele ali,
e quando o dinheiro acabou, chutaram a bunda dele e o mandaram
embora.
Perguntei-lhe se não tinha se arrependido de gastar todo o
dinheiro e depois ser tratado como um lixo. Ele respondeu que não,
que enquanto tem dinheiro têm amigos. Quando se tem dinheiro
não se sente abandonado. Ele disse, sou um viciado, não tenham
dó de mim. Faço isso porque é mais forte que eu, a droga é minha
aliada e se vocês acham que minha história é triste vou contar a
história dessa mulher aqui. Olhem para ela.
Ele nos contou que aquela mulher quando criança havia sido
violentada pelo pai, e que por muito tempo ele abusou dela. Um
certo dia não agüentando mais ela contou para a sua mãe, e esta
ao invés de apoiá-la voltou-se contra ela. Ela resolveu acabar com
o sofrimento e matou seu pai, fugiu de casa e soube que estava
grávida. Seu filho ao nascer, veio ao mundo sem os braços e pernas.
Hoje ela vive na rua, e não sabe do filho e nem do resto
de sua família, naquele momento eu não soube o que dizer. Um
senhor chorando nos disse. Eu só queria trabalhar, tenho todos os
meus documentos, e não consigo encontrar emprego. Tirou um
saco plástico com todos os documentos do bolso e falou. Sou um
cidadão, porém não consigo arrumar trabalho pois estou ficando
cego. Não consigo mais enxergar direito. Trabalhei durante anos e
todo orgulhoso mostrava a carteira de trabalho.
Costumo dizer que ninguém é capaz de saber o tamanho da
dor alheia, porém, naquele momento senti um aperto no coração
e pedi a Deus por aquelas pessoas. Fizemos uma oração a pedido
de uma delas, e saímos. Alguns amigos ficaram comovidos e
outros chegaram a questionar se aquelas histórias realmente eram
verdadeiras, porém, sendo verdadeiras ou não, tudo que aquelas
pessoas queriam era um pouco de atenção, que ouvíssemos o que
elas tinham para nos contar.
Ninguém vive nas ruas porque gosta. Muitas vezes ao ir levar
sopão para os garotos da Praça da Sé, os encontrei machucados, com
o corpo roxo de tanto apanharem da polícia (segundo eles). Diziam
que tinham apanhado de cassetete porque os policiais tinham ido
atrás de dinheiro e como não tinham, apanhavam. Talvez não seja
36
Francisco Carlos da Silva, o Fran
desculpa, porém, se isso for realmente verdade, mostra que de certa
forma eles roubam primeiro para se alimentar e sustentar o vício,
e segundo porque precisam pagar os chamados pedágios para a
polícia. Tenho certeza de que a polícia também tem a sua versão
e que será muito difícil saber qual é a verdadeira, a dos garotos
ou a da polícia. Para nós cabe apenas ouvir e não julgar ninguém.
Devemos apenas fazer a nossa parte, saber ouvir muitas vezes é
mais importante do que opinar e julgar.
Muitas vezes a verdade que está tão clara é apenas um sinal
da inocência e da ingenuidade de quem a vê.
Durante muitos momentos da minha vida, me vi cercado de
pessoas, amigos, familiares, porém sentia-me sozinho e abandonado.
É algo que não consigo explicar, porém, sinto que muitas vezes
essa chateação e esse vazio no peito nem sempre está relacionado
comigo e sim com alguma situação que presenciei. É importante
que nos coloquemos sempre na situação dos que estão a nossa volta,
isso faz com que tenhamos mais compreensão e paciência com as
pessoas, mesmo que isso nos faça sofrer, estaremos aprendendo
com o sofrimento alheio.
Você é o que acredita ser, ninguém possui amigos o bastante
para se sentir acolhido pelo resto da vida, e nem é capaz de sentir
tão sozinho que não possa dividir um sorriso, uma lágrima ou um
pedaço de pão com seu próximo.
Lembre-se que por mais abandonado que você se sinta existe
alguém muito especial que sabe da sua existência. Essa pessoa foi
capaz de lhe dar a vida, e por mais árdua que lhe pareça a vida,
sempre existirá uma lição a ser tirada dela.
Você pode pensar o que leva uma mãe a abandonar um filho,
ou o que leva um marido a deixar a família. Diante de determinadas
situações julgamos essas pessoas com palavras duras, com raiva
e ódio, porém o ódio alimenta o ódio, a raiva alimenta a raiva.
Existe uma grande diferença entre ÓDIO e DESPREZO. Ambos
são sentimentos que estão presentes em nosso dia a dia. O ódio
por sua vez é um sentimento furioso, capaz de levar as pessoas a
praticarem coisas horríveis e que na maioria das vezes acabam se
arrependendo.
Podemos simplesmente odiar uma pessoa pelo resto da vida
por ter nos abandonado, por ter nos feito sofrer ou por ter sido
Um Guerreiro na Periferia
37
ausente no momento em que mais precisávamos, porém temos
ainda a opção de ao invés de ódio oferecer o desprezo a essa pessoa.
É engraçado como as pessoas quando são desprezadas acabam
reconhecendo seus erros, e se arrependendo deles. O desprezo tem
o dom de fazer com que a pessoa desprezada sinta necessidade do
convívio daquele que o despreza, mas temos ainda a possibilidade
de acolher e tentar compreender os motivos que levaram essa
pessoa a nos abandonar. Esta opção é a mais difícil, porém muitas
vezes é a mais sábia.
Eu jamais me esqueço do mal que me fizeram ou das palavras
que me foram ditas e me deixaram ferido. Desde criança me lembro
de cada momento que senti-me ferido por algo que alguém me
disse ou me fez. Ao contrário do que muita gente pensa não sou
um homem amargurado. Apenas lembro-me destes momentos com
muita tristeza e tiro destas experiências algo proveitoso para novas
situações. Sinto-me ferido diante de muitas situações que já passei,
porém se as tive que viver é porque Deus na imensidão da sua
sabedoria colocou essas pessoas e essas situações em meu caminho,
para que eu aprendesse com elas. Acredito piamente nisso e que
nada acontece por acaso. Se aconteceram essas situações comigo é
porque Deus quis e quer que eu aprenda com elas.
Costumo dizer que não sou Deus para perdoar ninguém. As
pessoas que já me fizeram mal sabem que não adianta me pedir
perdão ou desculpa, pois cabe a Deus perdoá-las. Sou apenas um
homem. Não tenho o dom de perdoar ninguém, somente Deus pode
fazer isso. Nunca paguei o mal que me fizeram devolvendo o mal a
quem me fez, pelo contrário prefiro acreditar que o mal que me foi
feito foi apenas para que eu me lembrasse que devo sempre estar
alerta e acreditasse na sabedoria de Deus.
Deus sim, nunca abandona seus filhos e é por isso que nunca
senti-me abandonado. Uso a força interior para mostrar para as
pessoas que me fizeram o mal que sou forte o bastante para cair e
levantar quantas vezes forem necessárias. Para quem me fez o bem
tenho sentimento de gratidão e respeito pelo resto da vida. Para
quem me fez o mal, tenho o desprezo e a compaixão de sempre
acolhe-los.
Quando criança chorei muitas vezes escondido por me sentir
abandonado e sozinho. Lembro-me de cada situação que me fez
38
Francisco Carlos da Silva, o Fran
derramar muitas lágrimas. Aprendi muito com essas situações e não
tenho raiva de quem as me fez passar, porém cada uma delas está
aqui viva na minha memória.
Lembro-me muitas vezes de ver minha avó chorando e triste.
Perguntava porque ela chorava e porque estava triste. Sempre me
respondia que não era nada. Mas como nada se chorava é porque
algo lhe deixava triste. Uma vez ela me respondeu que chorava
porque sentia saudades dos filhos. Então eu lhe disse: não precisava
chorar, seus filhos estão bem e moram aqui perto. Ela me respondeu:
moram aqui perto mas não vêem me ver. Um já tem um mês que
veio me ver, o outro tem duas semanas. Enquanto ela me dizia isso
as lagrimas continuavam escorrendo por aquele rosto envelhecido
e castigado pelo tempo.
Minha avó, mesmo morando próximo dos filhos se sentia
sozinha muitas vezes. As pessoas mesmo morando próximas se
esquecem que o abandono não é apenas físico, mas em determinados
momentos é afetivo. Viver na mesma casa e compartilhar do
mesmo teto nem sempre é o bastante para preencher o sentimento
de abandono. Devemos nos lembrar que um abraço, um beijo, uma
palavra amiga é melhor que a presença diária e que momentos de
atenção são capazes de compensar dias e semanas de ausência.
Devemos fazer pelas pessoas tudo aquilo que elas mereçam
em vida, afinal depois que elas se forem, qualquer homenagem,
qualquer palavra ou gesto que dedicarmos a essa pessoa de nada
valerá, pois a alma não necessita de gestos, homenagens e nem
de palavras bonitas. Sinto até hoje a presença viva de minha avó
dentro de mim. Lembro-me de suas histórias, de seus ensinamentos
e de suas orações toda vez que eu saia de casa. Estes momentos
vivem dentro do meu coração e da minha lembrança até hoje. Todas
as homenagens que fiz a ela foram feitas em vida. Aprendi a ter
sentimento de gratidão por quem pediu esmolas para alimentar
minha mãe, tios e tias. Enfrentou 3 secas no nordeste como ela
contava pedindo esmolas de casa em casa para poder dar o que
comer a seus filhos. Enquanto ela vivia fiz de tudo para que ela
nunca se sentisse abandonada, para que soubesse que se seus filhos
não vinham lhe ver porque estavam ocupados com o trabalho,
com os problemas das famílias que haviam formado e que eles a
amavam. Lembro-me que telefonei muitas vezes para meus tios
Um Guerreiro na Periferia
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pedindo que viessem visitá-la. No dia do seu falecimento não fui
capaz de ir em seu enterro, pois para mim ela nunca morrerá. Quero
ter a lembrança de seus cabelos brancos e ralos, sorrindo todas as
vezes que eu chegava em sua casa. Enquanto houver a lembrança
sempre haverá a vida. Sua presença é viva por tudo que aprendi
e vivi a seu lado. Hoje mesmo sabendo que ela está em um lugar
muito melhor sinto sua falta.
Depois do seu falecimento escrevi um texto para sua missa de
sétimo dia. Era como se ela me falasse ao ouvido cada palavra que
eu tinha que colocar no papel. Um recado para que seus filhos, netos
e bisnetos soubessem que ela deu os melhores anos de sua vida e
que sempre estará presente no dia a dia de cada um de nós, que
mesmo não estando presente fisicamente jamais nos abandonará.
HOMENAGEM A MARIA MARTINS DE SOUZA (Vó Carminha)
Ao longo de toda minha vida, vivi apenas em função de amar;
Amar meus filhos, meus netos, meus bisnetos! Muitas vezes
chorei, sofri e me senti sozinha, com a falta da presença de
vocês, afinal, mesmo tão próximos senti vocês distantes. Sempre
compreendi, afinal de contas fiz a minha parte. Criei cada um
de vocês com todo meu amor e atenção. Dei carinho, ensinei a
cada um de vocês o significado da palavra dignidade, ser honesto.
Ensinei que respeito não é sinônimo de riqueza. Com tudo que
lhes ensinei ao longo de nossa convivência fez com que vocês
crescessem, constituíssem família, dando continuidade a mais
uma geração de nossa família. Até onde pude os ajudei com suas
crias. Vi meus filhos se tornarem adultos, meus netos constituírem
família, meus bisnetos nascerem, e ao lado de tudo isso meu amor
só foi crescendo a cada dia.
Sempre procurei compreender a atitude de cada um, afinal,
em momentos recebi mais carinho de um, mais atenção do outro,
mas nunca fui capaz de dar preferência a este ou aquele. Apesar
de reclamar a ausência de vocês, de sentir falta dos tempos em que
eu lhes carregava no colo, e mesmo depois de adultos acariciei
40
Francisco Carlos da Silva, o Fran
e continuei dando este colo a vocês. A imensidão do meu amor
sempre foi igual para todos.
Todas as noites me lembrava de cada um em minhas orações.
Rezei por meus amigos, meus vizinhos, filhos, netos, bisnetos e até
mesmo por estranhos que nunca vi.
Hoje que não estou mais presente, sei que minha presença
física lhes fará muita falta, mas saibam que o meu amor por vocês
é muito maior do que este plano, e podem acreditar que mesmo
não estando presente fisicamente, estarei ao lado de todos vocês.
Agora que estou ao lado de “DEUS” meus pedidos para cada um
de vocês serão entregues mais rápido, afinal agora não existe mais
intermediários, posso pedir ao pai celeste pessoalmente.
Só peço que amem uns aos outros, como amei cada um de
vocês, pois hoje descanso em paz e me orgulho de ter “REGADO A
SEMENTE QUE DEU A VIDA A CADA UM DE VOCÊS”.
Alimentem-se do meu amor, assim como alimentei a cada um
de vocês, pois mesmo quando não tive o alimento para matar a
fome de meus filhos quando crianças, meu amor foi maior e com a
graça e bondade de “DEUS” nunca lhes deixei faltar nada.
A meus filhos, netos e bisnetos, não quero que sintam minha
falta, desejo apenas que se amem, se lembrem de minhas histórias
e aprendam a tirar da vida o melhor proveito que ela pode lhes
oferecer. A vocês não sei se deixo uma lição de vida, mas deixo a
certeza de não ter passado por ela sem ter oferecido o melhor de
mim a cada um de vocês.
Que “DEUS” abençoe a todos e que ilumine o caminho de cada um
de vocês, como me encontro iluminada no dia de hoje.
Maria Martins de Souza
­20 – 01 – 1907
24 – 11 – 2001
Um Guerreiro na Periferia
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Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos seus
próprios filhos. E que as crianças crescem independentes deles,
crescem como árvores, tornam-se tagarelas e passam a agir como
pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida. Crescem com uma
estridência alegre e, as vezes, com alardeada arrogância. Mas não
crescem todos os dias de igual maneira. Crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase
com tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as
fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquele danadinho que você
não percebeu? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de
aniversário com palhaços, e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e
desobediência civil.
E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela
não apenas cresça, mas apareça! Ali estão muitos pais ao volante,
esperando que eles saiam esfuziantes sobre patins e cabelos longos,
soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão
nossos filhos com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas
da moda nos ombros.
Ali estamos, com os cabelos esbranquiçados. Esses são os
filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos,
das colheitas, das notícias, e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo
com nossos acertos e erros, principalmente com os erros que
esperamos que não repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos
dos próprios filhos. Não mais os pegaremos nas portas das discotecas
Um Guerreiro na Periferia
43
e das festas. Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do
judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas
próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer
para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre
os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele
quarto cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas e discos
ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao Shopping.
Não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas. Não lhe
compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter
comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso
afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia, entre
embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e
amiguinhos. Sim, haviam as brigas dentro do carro, a disputa pela
janela, os pedidos de chicletes e, cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a
ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma
e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos.
Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente,
morriam de saudades daquelas “pestes”.
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe, torcendo
e rezando muito (nessa hora, se a gente desaprendeu, reaprende a
rezar) para que eles acertem nas escolhas em busca de felicidade, e
que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar; qualquer hora podem nos dar netos. O neto
é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios
filhos e que não pode morrer conosco.
Por isso, os avós distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que
eles cresçam. Aprendemos a ser filhos depois que somos pais e só
aprendemos a ser pais depois que somos avós...
44
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Muitas vezes levamos tempo demais para descobrir o quanto
é importante a convivência com os filhos, os amigos a família. Os
anos vão passando e sempre achamos que temos tempo o bastante
para deixar para amanhã o que poderíamos viver hoje. Nunca temos
tempo para um abraço, uma palavra de carinho, um telefonema, um
simples e-mail ou torpedo para quem se gosta.
O mesmo sol que nasce aqui nasce do outro lado do mundo.
O dia é formado pela mesma quantidade de horas em qualquer
parte. Cabe a cada um de nós aproveitar da melhor forma o espaço
de tempo que temos em nossas vidas. Cada segundo, cada minuto
e cada momento deve ser vivido como se fosse o último.
O tempo é injusto, pois, muitas vezes nos damos conta que
perdemos tempo demais brigando, discutindo ou nos lamentando
por determinadas situações que surgem em nossas vidas. Muitas
vezes é difícil nos conformarmos com determinadas situações,
então, nos aborrecemos, ficamos tristes e inconformados, porém,
ao invés de ficarmos o resto do dia ou da semana nos lamentando
por um fato que ocorreu, devíamos levantar a cabeça e usar o resto
do tempo para esquecer o que está nos chateando e preencher o
vazio com coisas que nos fazem felizes.
Acho que não sou velho o bastante para ter vivido
suficientemente tudo que eu precisava viver, também não sou tão
jovem que não tenha a capacidade de compreender a necessidade
alheia. Talvez eu seja o pedaço da vida que completa o inicio do
meu fim; mas quem sabe no meu destino encontro a gota de vida
que me fará com que eu me torne eterno.
Quanto tempo leva para curar uma ferida? Dias, semanas,
meses. A cicatriz sempre estará ali. A cicatriz que o tempo não
é capaz de apagar, nos servirá de ensinamento para que sejamos
mais prudentes e cuidadosos no dia a dia. Para que não deixemos
acontecer novos ferimentos capazes de provocar mais dor e
cicatrizes ainda maiores. A experiência e conhecimento adquiridos
ao longo dos anos não podem ser apagados, devemos compartilhálos e transmiti-los para que sirvam de exemplo para todos em nosso
convívio.
Muitas vezes me peguei rindo sem saber o motivo; Corri
durante horas pensando no que fazer a noite ou no dia seguinte, era
como se o tempo estivesse brincando comigo enquanto eu cansava
minhas pernas transpirando à procura de respostas que o tempo não
Um Guerreiro na Periferia
45
era capaz de me dar. Independente da vida que se leva no dia a dia
é necessário utilizar da melhor forma o tempo que se tem para que
não haja no dia seguinte a sensação de ter deixado algo para trás.
É preferível errar por uma ação e tirar deste erro uma lição para
outros momentos da vida, do que ficar se lamentando por algo que
não tivemos coragem de realizar. Algo que deixamos para trás e que
o tempo não é capaz de nos fazer reviver.
Lembro que, quando eu tinha 22 para 23 anos recebi a
confirmação da notícia de que eu seria pai, digo confirmação, pois,
na noite anterior eu havia sonhado que carregava um garotinho
no colo. Acordei com a certeza de que seria pai. No dia seguinte
confirmou a notícia de que minha noiva e agora esposa estava
grávida.
Muitos garotos na minha idade entrariam em pânico, afinal,
eu não tinha onde morar, estava recém empregado e ganhava um
salário que mal dava para ajudar em casa; então me lembrei o quanto
sofri e quantas vezes senti falta da presença de um pai que pudesse
me responder tantas perguntas que iam surgindo em minha cabeça,
enquanto o tempo transformava-me de criança em adolescente e de
adolescente em adulto.
Resolvi então me tornar mais responsável ainda do que eu já
era. Agora eu não estava mais sozinho e precisava provar para mim
mesmo que era capaz de cuidar da família que Deus havia colocado
em meu caminho.
Uma semana antes de me casar eu ainda não tinha casa para
morar. Hoje quando me lembro deste episódio vejo que quando
dizem que sou meio maluco o pessoal tem uma certa razão. Lembrome que eu tinha um Passat 78 e que estava vendendo para ajudar nas
despesas do casamento. Um Senhor que ficou interessado no carro
questionou-me porque eu estava vendendo o carro, então, informeilhe que era porque iria me casar na próxima semana e, que não
tinha onde morar. Resumindo, aquele senhor não comprou o carro,
porém, indicou-me uma pessoa que estava alugando uma casa na
rua onde morava e que por ironia do destino o nome da rua era “Rua
das Boas Noites”. Morei alguns anos nessa rua e fiz muitos amigos
ali. Hoje quando me lembro que a 7 dias do casamento não tinha
nem onde morar, dou boas gargalhadas deste episódio.
Mesmo sem dinheiro entrei na faculdade; vi em uma bolsa
para atletas a chance de mudar de vida. Participei da seletiva que
46
Francisco Carlos da Silva, o Fran
oferecia bolsa de 100% para atletas da universidade. Lembro-me
que o aluguel da casa e o valor da faculdade eram praticamente o
dobro do que eu ganhava. Fui atleta universitário durante todo o
meu período de faculdade e consegui me formar.
Durante o período em que eu freqüentava a faculdade, tive
que aprender a administrar o tempo, afinal precisava conciliar o
trabalho, os treinos da equipe, as aulas à noite e ainda precisava
arrumar tempo para ser um bom marido e um ótimo pai.
Hoje posso dizer orgulhosamente que houve um período
que dormi apenas 2:30hs por noite e que todo sacrifício vale a
pena quando se faz com o coração e com o desejo de se tornar um
vencedor.
Não posso afirmar se foram os melhores ou os piores anos da
minha vida, porém posso garantir que, foram os mais proveitosos. Fiz de cada momento um momento mágico. Lembro-me que
muitas vezes chegava para assistir aula e tinha um ou outro amigo
que reclamava de quanto aquele dia tinha sido difícil, então eu lhe
contava que havia acordado as 6:00hs da manhã, tinha trabalhado
até as 15:00hs, ido direto para o treino que começava as 17:00hs
e terminava as 19:00hs, e que após a aula que acabava as 22:45hs
muitas vezes tinha que voltar para o trabalho e terminar algo que
havia ficado pendente. Nem sempre eu fazia isso sorrindo, porém,
sempre fiz com determinação e pensando que muitas pessoas
torciam para que eu pudesse vencer e eu não podia decepcionar
aqueles que acreditavam em mim.
Acho que por isso a minha ligação com meu filho seja
tão forte. Prometi a mim mesmo que nunca o decepcionaria e
que sempre seria um exemplo. Sempre procuro aproveitar cada
momento que estou a seu lado. Muitas vezes cheguei em casa e ele
já estava dormindo. Muitas vezes sai de casa e ele ainda não havia
acordado, porém cada momento que passamos juntos sentimos o
quanto precisamos um do outro e procuramos fazer o possível para
tornar estes momentos inesquecíveis.
Lembro-me que a cada ano que vou a pé até a Basílica de
Aparecida, aprendo algo novo. O tempo parece não passar enquanto
percorro cada palmo de asfalto da Via Dutra, os quase 170 km
percorridos em 3 ou 4 dias de caminhada me faz repensar sobre
valores que muitas vezes passam desapercebidos: a água, a cama, a
comida, o carinho da família.
Um Guerreiro na Periferia
47
Enquanto o asfalto escaldante e o sol castigam os pés e a
pele, vejo o quanto é importante valorizar o convívio da família,
a tolerância com as fraquezas de um ou outro amigo que nos
acompanham na caminhada. O quanto é importante respeitar o
limite de cada um, e a maneira de agir do próximo.
No meu quarto ano de caminhada, tive a companhia de uma
pessoa que, desde a saída já começou a reclamar da própria sorte. Essa
pessoa reclamava porque no passado tinha tido um bom emprego,
dinheiro, namoradas, hoje estava sozinho e desempregado. Procurei
aconselhá-lo, mostrar-lhe que algumas coisas que acontecem em
nossas vidas são frutos de ações que nós mesmos criamos, porém,
ele não aceitava, reclamava que já estava com uma certa idade e
que ainda não havia se casado, não tinha filhos, e que tudo na vida
dele dava errado.
Logo no primeiro dia de caminhada, na primeira parada,
ele estava muito aborrecido. Estava cansado e com os pés muito
machucados. Lembro-me que quando paramos no primeiro
posto para arrumar as coisas para descansar e dormir fui chamálo para arrumar a barraca e tomar um banho. Ele me respondeu
muito nervoso, que pelo amor de Deus o deixasse em paz e que
ele precisava descansar. Percebi que, em um momento desses, é
necessário colocar-se no lugar da pessoa e tentar entender os
motivos daquela reação. Seus pés estavam cheios de bolhas e o
corpo castigado pelo sol. Então, peguei um suco de milho a seu
pedido e levei até ele. Enquanto eu tomava banho e armava a
barraca ele dormiu ali mesmo no chão, enrolado apenas em uma
rede. Fui acordá-lo para que pudesse tomar banho, para jantar e
descansar, porém, novamente fui recebido com palavras ásperas, foi
então que percebi que a caminhada daquele ano tinha um propósito.
Procurei aconselhá-lo e procurei mostrar em muitos momentos da
caminhada o quanto mudar a sua vida só dependia dele.
No terceiro dia de caminhada saímos para andar e, novamente
como nos dois dias anteriores este amigo continuou se lamentando
pelos acontecimentos de sua vida. Procurei compreender e apesar
dele ser mais velho, procurei mostrar-lhe o meu ponto de vista sobre
cada assunto; porém, faltando 42km para chegarmos a Basílica de
Aparecida, paramos, pois ele estava com os pés em carne viva. Fui
até o posto peguei água quente, procurei limpar os seus ferimentos
e fazer curativos em seus pés. Era exatamente 10 horas quando
48
Francisco Carlos da Silva, o Fran
resolvemos retomar a caminhada, porém, ao se levantar ele disseme: para mim chega, não dá mais; ainda tentei animá-lo, porém, ele
estava muito machucado e resolveu pegar o ônibus, então eu lhe
disse para aguarda-me em uma pousada em frente a Basílica, onde
fico todos os anos, que por voltas das 18:00hs eu estaria chegando.
Fiquei muito preocupado com ele, pois, aparentemente ele
não estava bem, foi então que percebi que para chegar no horário
combinado eu precisaria tirar uma diferença de 15km em 1:30h.
Meu amigo saiu para pegar o ônibus e eu resolvi tomar
uma decisão para ganhar o tempo perdido e, chegar no horário
combinado, não que eu precisasse chegar no mesmo dia, porém, eu
estava preocupado com sua situação, pois, ele já havia tido febre na
noite anterior devido aos ferimentos nos pés.
Então resolvi correr 5km e caminhar 5km, com isso consegui
tirar a diferença para chegar antes do anoitecer em Aparecida.
Enquanto eu corria recebi uma ligação da minha esposa e expliquei
o que aconteceu, ela me achou maluco por correr após 3 dias de
caminhada e expliquei que estava preocupado com meu amigo,
pois, ele não estava bem. Ela resolveu entrar em contato com o
irmão dele que também me ligou e disse-me que ia nos buscar a
noite. Perguntou qual o horário que eu ia chegar e onde estaríamos,
então expliquei e continuei correndo.
Cheguei em Aparecida as 17:45h, fui até a pousada e logo na
entrada um rapaz veio falar comigo, então expliquei que estava a
procura de um amigo que não estava bem. O rapaz logo informou
que ele havia chegado e que realmente não estava nada bem e seus
pés estavam muito machucados. Fui até o quarto onde se encontrava
e quando cheguei a primeira coisa que ouvi foi:
Está vendo? Mais uma derrota na minha vida.
Não podia acreditar naquilo e disse-lhe o quanto foi corajoso
e o quanto lutou para terminar a caminhada. Porém insistia em
dizer que era um fracassado. Disse-lhe: olha só como a Santa foi
tão generosa com você, deixou você percorrer mais de 120km,
faltando apenas 42km, ela resolveu que você não era merecedor de
terminar a caminhada, pois, como alguém que se julga um “nada”,
alguém que reclamou e ofendeu a si mesmo durante mais de 120km
pode chegar até um lugar sagrado como a Basílica e terminar a
caminhada? Não, você não terminou a caminhada porque você é
Um Guerreiro na Periferia
49
um derrotado e sim porque você veio se ofendendo de lá até aqui
e, então as forças do céu acharam que você não merecia terminar a
caminhada.
Foi então que o irmão que havia ficado preocupado com a
situação e tinha ido nos buscar de carro entrou. Quando ele viu o
irmão foi logo reclamando e dizendo que não queria dar trabalho
para ninguém. Foi então que eu disse a ele: lembre-se do que eu
acabei de te falar, você pode até achar que é um derrotado, porém
existem pessoas que se preocupam e amam você.
Ele levantou-se e pediu para que o ajudássemos a ir até o
Santuário que iria deixar as roupas da caminhada na Sala de
Promessas. Ao chegar lá, ele depositou suas roupas e disse que
no próximo ano terminaria a caminhada. Entendi que ele havia
começado a perceber que quando achamos que tudo está perdido
nos encontramos diante de situações que nos fortalecem e que só
o tempo é capaz de nos oferecer novas oportunidades de atingir
nossos objetivos.
No ano seguinte ele conseguiu terminar a caminhada e ao
chegarmos em Aparecida fiz questão de dizer-lhe: viu só, não falei
que você era capaz. Hoje ele está empregado e espero sinceramente
que tenha aprendido que muitas vezes Deus coloca barreiras e
situações em nossas vidas para nos mostrar caminhos que só vamos
entender com o passar do tempo.
MEDO DO FUTURO
Dentre as muitas lições que o tempo ensinou-me e continua
ensinando, só lamento a ordem natural das coisas. Sei que devemos
respeitar o ciclo da vida, porém em alguns momentos meus olhos se
enchem de lágrimas quando me recordo de determinadas situações.
Certa vez enquanto dava aula para as crianças na Associação, me
veio à cabeça algumas perguntas que resolvi colocar em uma folha
de papel e solicitar que as crianças me dessem respostas. Muito
tempo já passou e hoje vejo que muitas das respostas dadas não
foram concretizadas. Muitas crianças mudaram seus pensamentos,
afinal, as crianças com o passar do tempo, crescem, alguns já são
50
Francisco Carlos da Silva, o Fran
adolescentes e outros se tornaram adultos, mas, fico feliz, pois
vejo que alguns ainda continuam em busca das respostas que me
deram. O tempo trás a saudade de uma época que para eles ainda
havia sonhos. Para cada resposta eu procurei fazer um comentário.
Coloquei exatamente como eles as responderam, então não devemos
nos apegar aos erros de português ou concordância, conforme podese ler abaixo.
Bruno Rodrigues - 16 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Almoçar, Jantar, Dormir, E andar de Moto, Ficar na Rua.
Fran: Lembre-se, que ter uma família, amigos, pode te dar
muito mais felicidade do que viver na rua. Agradeça a Deus por ter
uma família e seja Feliz por isso.
O que significa ser amigo?
Amigo é aquele que está dia a dia com você te ajudando no
que precisa para mim é isso e um pouco mais.
Fran: Ter um amigo é poder contar com ele a seu lado no dia
a dia, porém, este “um pouco mais” que você mencionou no final,
cabe a você mesmo descobrir e poder oferecer aos seus amigos,
antes de ser ajudado, procure ajudar aos outros.
O que você espera da vida?
Espero que eu seja feliz e tenha bastante dinheiro e saúde,
moto, carro e mulher.
Fran: Nem sempre, dinheiro, mulher, e bens materiais são
o bastante para que você viva feliz, pense e reflita sobre isso, pois
existem coisas mais preciosas do que as que você mencionou.
Qual seu maior medo?
Não ter um bom futuro.
Fran: Ter um bom futuro Bruno, só depende de você, e
quando as coisas só dependem de nós, elas são muito mais simples.
Um Guerreiro na Periferia
51
Procure fazer o seu futuro, pois só você poderá vivê-lo e ser o
grande responsável pelo que ele pode lhe oferecer.
Onde eu quero chegar?
Quero chegar onde Deus quiser.
Fran: E será que você sabe onde Deus quer que você chegue.
Ele já fez a parte dele, colocando-te no mundo.
Te fez perfeito e te deu uma família linda que te ama. Cabe
a você agora agradecer o que Deus fez por você ajudando e
auxiliando aqueles que não possuem chances de conseguir algo na
vida. Acho que é lá que Deus quer que você chegue.
Observação: Lembre-se que você ainda é um garoto de 16
anos e sua vida está apenas começando. Tenho certeza que poderá
rever conceitos sobre o que foi escrito aqui. Se você gosta tanto
de motos, seja o melhor motoqueiro, lute por seu sonho que ele se
realizará. Lembre-se que depende apenas de você. Um abraço e
conte comigo para lhe ajudar.
Victor Dias dos Santos - 7 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Sair de casa com toda a família e que nada de violência
aconteça.
Fran: Muito bem, Victor. Espero que Deus possa continuar
permitindo que você saia com sua família e proteja a todos vocês
contra a violência da cidade. Lembre-se que você também pode
colaborar para que a violência não aconteça no futuro.
O que significa ser amigo?
Ser amigo é para sempre e não brigar por besteiras.
Fran: Realmente, amigo é aquele que está sempre com você.
Verdadeiros amigos, protegem uns aos outros e nunca brincam
entre si. Espero que você tenha grandes amigos, Victor.
52
Francisco Carlos da Silva, o Fran
O que você espera da vida?
Ser feliz com minha família e ser um bom jogador de futebol.
Fran: Cabe a você fazer com que esteja sempre feliz com sua
família, quanto a ser um bom jogador de futebol, só depende de
você. Treine muito, lute por seu espaço, e acredite no seu talento.
Qual seu maior medo?
Morrer.
Fran: Todos nós devemos ter medo da morte, porém, lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida. Morrer não
significa chegar ao fim de uma vida, mas o começo de uma nova.
Onde eu quero chegar?
Eu quero chegar a ser um jogador de futebol.
Fran: Só depende de você, lembre-se de trazer-me uma
camisa autografada quando isso acontecer.
Observação: Parabéns, Victor, respostas sábias, isso só
faz concretizar a certeza que eu tinha de você, Deus continue te
iluminando para que você se torne um grande homem..
Thiago Moura Paulino - 11 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
O Futebol
Fran: Thiago, o Futebol não deve ser a coisa mais feliz na
sua vida, lembre-se que você possui uma família, possui pais que
lhe amam, e tenho certeza que estar ao lado deles e ter o apoio
deles no que você faz, te deixa muito mais feliz. Tenho certeza que,
se você fosse jogar e seu pai não estivesse na arquibancada seria
um motivo de tristeza para você. Reflita sobre a palavra Felicidade.
O que significa ser amigo?
Ser amigo é ser legal, conversar e não brigar, ajudar aos
outros.
Fran: Nem todo amigo é legal Thiago, lembre-se que os
Um Guerreiro na Periferia
53
verdadeiros amigos as vezes são chatos, pois de tanto quererem o
seu bem, não aprovam o que você faz, e as vezes pegam no seu pé
por determinadas coisas. Amigo mesmo é aquele que se preocupa
com você e com o que você está sentindo..
O que você espera da vida?
Ser um jogador de Futebol.
Fran: Tenho certeza que vai conseguir, pois só depende de
você, e quando as coisas só dependem de nós elas se tornam mais
fáceis. Espero que me entregue uma camisa autografada.
Qual seu maior medo?
Morrer e ser preso por seqüestradores.
Fran: Todos nós devemos ter medo de morrer , porém lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida, morrer não
significa chegar ao fim de uma vida, mas o começo de uma nova,
quanto aos seqüestradores temos que pedir a Deus que nos proteja
e ilumine nossos caminhos.
Onde eu quero chegar?
Eu quero chegar onde Deus me levar.
Fran: Deus já te levou ao mais longe que poderia te levar,
te levou a ter conhecimento, ser sadio, educado, ter uma família, e
agradeça a ele todos os dias por isso. Ele te deu o caminho agora
cabe a você chegar ao fim deste caminho. Tenho certeza que será
cheio de vitórias.
Observação: Thiago, somos do tamanho dos nossos sonhos,
lembre-se disso e procure fazer disso uma certeza, seja o melhor e
acredite nisso. Estou certo de que você será um grande vencedor.
André Luiz Silva Antonio (Ligue) – 16 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Jogar Bola
Fran: André, jogar Futebol não deve ser a coisa mais feliz
54
Francisco Carlos da Silva, o Fran
na sua vida. Lembre-se que você possui uma família, possui pais
que lhe amam. Tenho certeza que estar ao lado deles e ter o apoio
deles no que você faz, te deixa muito mais feliz. Reflita melhor sobre
o que é ser feliz.
O que significa ser amigo?
Amigo pra mim é aquele que está com você nos melhores e
piores momentos da vida.
Fran: Realmente, amigo é aquele que está sempre com você.
Verdadeiros amigos, protegem uns aos outros, nunca brigam entre
si. Lembre-se apenas de ser para seu amigo o que você gostaria
que ele fosse para você.
O que você espera da vida?
Espero que a minha vida esteja no caminho certo, e não no
caminho errado, usando drogas, e etc, e sim trabalhando e completar
meus estudos.
Fran: Sua resposta me deixou muito feliz, André, pois são
coisas que só dependem de você, não usar drogas, trabalhar e
terminar seus estudos. Só quem pode fazer isso por você é você
mesmo. Quando lhe oferecerem drogas, diga não. Quanto a não
entrar no caminho errado, cabe a você identificar qual caminho
quer seguir. Conte comigo para lhe ajudar.
Qual seu maior medo?
A Morte é o meu maior medo.
Fran: Todos nós devemos ter medo da morte, porém, lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida. Morrer não
significa chegar ao fim de uma vida, mas o começo de uma nova.
Onde eu quero chegar?
Eu quero chegar na Seleção Brasileira F.C.
Fran: Só depende de você. Lembre-se de me trazer uma
camisa autografada quando isso acontecer, e lute por seus sonhos,
eles são do tamanho que você acredita.
Um Guerreiro na Periferia
55
Observação: Devemos ser o que somos, lutar pelo que
acreditamos, confiar em nós mesmos, e sermos capazes de acreditar
que tudo pode ser diferente. Só depende de nós. Confio em você
garoto. Sonhe e viva seus dias da melhor forma possível.
Camila – 10 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Que todos me respeitem e que eu respeitarei a todos, o respeito
é uma coisa muito bonita, e a cada dia ter mais amigos.
Fran: Só pode adquirir respeito Camila, quem oferece
respeito ao seu próximo. Nunca se esqueça disso, pois assim você
sempre será respeitada. Em relação a ter amigos, sabendo respeitar
as pessoas você estará conquistando novos amigos.
O que significa ser amigo?
Ser amigo é respeitar uns aos outros e ter união.
Fran: que bom que você entendeu o que significa ser amigo,
respeite seus amigos, faça com que eles se sintam importantes e
respeitados por você, com isso você estará cada dia mais unida
com todos eles..
O que você espera da vida?
Ser muito feliz, e ser jogadora de Voley.
Fran: Cabe a você o tamanho da sua felicidade. Viva a
vida sem medo. Aproveite cada momento como se fosse o último.
Esqueça os problemas, e sorria bastante, assim serás feliz. Quanto
a jogar voley, só depende de você. Lembre-se de me mandar uma
camisa autografada.
Qual seu maior medo?
Ser mordida de cobra e morrer.
Fran: Quanto a ser mordida de cobra tenho certeza que isso
será muito difícil, afinal de contas cuidado é bom e não faz mal a
ninguém. Quanto a morrer é como sempre digo a morte é a única
56
Francisco Carlos da Silva, o Fran
certeza que temos na vida. Morrer não significa chegar ao fim da
vida, mas o começo de uma nova.
Onde eu quero chegar?
Ser jogadora de Voley no meu Futuro
Fran: Só depende de você. Lembre-se de me trazer uma
camisa autografada quando isso acontecer, e lute por seus sonhos,
eles são do tamanho que você acredita.
Observação: Continue sorrindo sempre, Camila. Dedique-se
as coisas que você gosta. Lute por seus sonhos e os torne possíveis.
Você é uma vencedora e tenho certeza que será capaz de atingir
todos os objetivos.
Leonardo da Silva – 10 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
O treino e as festas
Fran:. Leonardo, nem só de treinos e festas vive um homem.
Lembre-se que são apenas momentos de felicidade. Procure
enxergar felicidade em algo mais na sua vida, pois tenho certeza
que encontrará tantas outras coisas que lhe deixarão tão feliz
quanto os treinos e as festas.
O que significa ser amigo?
Bondade e Amizade.
Fran: Então ofereça isso aos seus amigos, tenho certeza que
eles farão o mesmo por você.
O que você espera da vida?
Muita Alegria e muita vida.
Fran: Então Leonardo, procure viver sempre sorrindo,
alegre. Esqueça os males do mundo, e viva cada minuto como se
fosse o último. Ajude as pessoas e faça com que elas sorriam muito,
pois assim você estará fazendo por elas e por você.
Um Guerreiro na Periferia
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Qual seu maior medo?
Morrer Cedo
Fran: Ninguém é eterno e nunca se sabe a hora de morrer,
porém, cabe a Deus decidir isso. Se você gosta tanto da vida assim,
peça a ele que lhe dê muitos anos de vida, e que em troca você
estará sempre fazendo o bem ao próximo. Pense nisso e converse
com Deus a respeito.
Onde eu quero chegar?
Eu quero chegar no Céu e aonde der para chegar.
Fran: Para quem tem medo de morrer cedo, você está com
muita pressa de chegar ao céu. Procure aproveitar o que a vida lhe
oferecer, agora, onde der para você chegar. Só depende de onde
você queira realmente chegar. Nunca se esqueça disso.
Observação.: Podemos chegar onde nossos sonhos permitem,
onde nosso coração se sente bem e feliz. Não importa onde se está
e sim da forma como se está. Nunca se esqueça disso garoto.
Carlos de Araújo Máximo (Caco) – 7 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Jogar Futebol e a presença da minha família.
Fran: Parabéns, nesta idade você já é capaz de saber a
diferença entre diversão e amor, foi capaz de unir as duas coisas
em uma só, lute para que as duas coisas que te deixam feliz estejam
sempre ao seu lado.
O que significa ser amigo?
Ser legal.
Fran: Nem sempre os verdadeiros amigos são legais. Um
verdadeiro amigo quando lhe vê fazendo algo que possa prejudicar
a você mesmo, para lhe repreender ele pode parecer chato e
ranzinza, porém não significa que ele goste menos de você por isso,
portanto, compreenda seus amigos, se as vezes eles pegarem no seu
pé por algo, ou se simplesmente lhe parecerem chatos demais.
58
Francisco Carlos da Silva, o Fran
O que você espera da vida?
Ter um bom futuro.
Fran: Isso significa que seu futuro será tão bom quanto você
desejar, pois só depende de você fazer com que ele seja ótimo,
maravilhoso e cheio de conquistas. Lute por seus sonhos e faça
com que seu futuro seja tão bom quanto você deseja.
Qual seu maior medo?
De Morrer.
Fran: Todos nós devemos ter medo da Morte, porém lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida. Morrer não
significa chegar ao fim da vida, mas o começo de uma nova.
Onde eu quero chegar?
Ser jogador de Futebol Profissional.
Fran: Só depende de você, lembre-se de me trazer uma
camisa autografada quando isso acontecer, e lute por seus sonhos,
eles são do tamanho do seu desejo.
Observação: Quando se deseja muito uma coisa, a
probabilidade dela acontecer é tão grande quanto o tamanho da sua
vontade. Acredite nisso e torne todos os seus desejos possíveis.
Lucas Fernandes – 10 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
É ter minha família sempre me ajudando nas horas difíceis.
Fran: Então ofereça a sua família o que ela oferece a você,
Lucas, muitas vezes seus familiares se fazem fortes, porém, estão
frágeis e fracos, cabe a você perceber quando eles precisam de
você, para que você faça por eles o que eles fazem por você.
Parabéns pela resposta.
O que significa ser amigo?
Um amigo é aquele que sempre está do seu lado te ajudando.
Um Guerreiro na Periferia
59
Fran: Realmente, amigo é aquele que está sempre com você.
Verdadeiros amigos, protegem uns aos outros. Procure ajudar seus
amigos, para que eles possam sentir orgulho de ter você ao lado
deles, e faça por eles o que gostaria que eles fizessem por você.
O que você espera da vida?
Espero que tenha muita paz, felicidade e alegria.
Fran: Infelizmente Lucas, nem sempre paz, felicidade e
alegria dependem exclusivamente de nós, porém tenho certeza que
se cada um de nós fizermos um pouquinho para que não haja mais
violência, para que as pessoas se sintam mais felizes e alegres, já
estaremos dando a nossa porcentagem de colaboração para um
mundo melhor.
Qual seu maior medo?
Meu maior medo é da morte
Fran: Todos nós devemos ter medo da Morte, porém lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida. Morrer não
significa chegar ao fim da vida, mas o começo de uma nova.
Onde eu quero chegar?
Eu quero chegar a lua se for possível
Fran: Lembre-se que você pode chegar tão longe quanto
você desejar. Muitas pessoas já estiveram na lua e ha centenas
de anos atrás ninguém acreditava nisso. Feliz de você ter nascido
em uma época em que um sonho como o seu é tão simples de ser
realizado, basta você acreditar e procurar estudar muito para que
isso aconteça.
Observação: Acredito que tanto você quanto as outras crianças
são capazes de poder mudar o mundo, só depende de você. Faça de
seus sonhos uma lição que deve ser estudada todos os dias. Nunca
deixe que eles desapareçam, pois assim estarão sempre vivos em
você.
60
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Rodney Silva Antonio – 7 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Brincar
Fran: Tenho certeza que brincar é muito bom, Rodney, até
mesmo porque você ainda é uma criança e tem todo esse direito,
porém, com o passar dos anos, lembre-se que você tornar-se-á um
homem, e nunca se esqueça de ver a vida como uma brincadeira
que em muitos momentos deve ser levada a sério, viva a vida
brincando, nunca se esquecendo de quanto ela é importante para
você e àqueles que precisam de você.
O que significa ser amigo?
Ajudar aos outros
Fran: Vejo que encontrei alguém que se parece comigo.
Lembre-se de ajudar as pessoas para que essas pessoas possam
ajudar você e outras pessoas também. É como se fosse uma corrente
sem fim, eu te ajudo, você ajuda o próximo, o próximo ajuda ao
outro e assim por diante. Acho que assim poderemos, um dia,
mesmo que muito distante acabar com a desigualdade no mundo e
teremos um mundo melhor.
O que você espera da vida?
Ser alguém na vida.
Fran: Tenho certeza que seu desejo já foi atendido, pois para
mim você é alguém muito especial. Alguém que merece respeito.
Alguém que é exemplo, e se um dia lhe disserem o contrário não
se sinta menor por isso, faça disso uma alavanca que vai lhe jogar
para cima. Você já é alguém para mim, para seus pais e para seus
amigos. Nunca se esqueça disso.
Qual seu maior medo?
Morrer
Fran: Todos nós devemos ter medo da Morte, porém lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida. Morrer não
significa chegar ao fim da vida, mas o começo de uma nova.
Um Guerreiro na Periferia
61
Onde eu quero chegar?
Campo de Futebol
Fran: Lembre-se que chegar a um campo de futebol, não
é difícil, o mais difícil talvez seja se manter nele. Lute por seus
sonhos e faça com que eles se tornem realidade. Acredite em você,
pois só assim fará com que outras pessoas acreditem também.
Observação: São nos momentos difíceis e tristes que
demonstramos o quanto somo fortes. Lembre-se que a vida as vezes
pode lhe oferecer momentos de tristeza, porém, Deus na imensidão
da sua bondade já lhe ofereceu o que de melhor ele tinha, a sua
benção.
Paulo Sérgio Santos Rosa
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Empinar Pipa.
Fran: Empinar pipa é muito bom, Paulinho, porém tenho
certeza que estar com sua família, ter o que comer todos os dias,
estudar, brincar com seu irmãozinho, e estar com seus amigos
te deixam muito mais feliz do que empinar pipa. Lembre-se que
brincar não é a primeira coisa na vida de alguém, comece a ver a
vida de forma diferente, procure ser feliz proporcionando felicidade
aos que estão a sua volta.
O que significa ser amigo?
Ser legal
Fran: Quem bom que pense assim, mas tenho certeza que
ser amigo não é só isso. Ser amigo é também, poder ajudar ao
próximo, é poder oferecer ajuda, poder estar triste quando o outro
está, poder sofrer com a dor do outro. Ser amigo é oferecer o bem
aos outros sem esperar algo em troca. Lembre-se disso, e seja mais
amigo daqueles que estão a sua volta.
O que você espera da vida?
Muitas coisas, felicidade e etc.
62
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Fran: A felicidade é tão grande quanto a desejamos. Ser feliz
é poder viver de acordo com o que esperamos da vida. a vida é
capaz de oferecer coisas boas e coisas ruins. Procure sorrir com
as boas e tire as ruins como lição.Isso o tornará mais feliz e mais
forte.
Qual seu maior medo?
Morrer
Fran: Todos nós devemos ter medo da Morte, porém lembrese que a morte é a única certeza que temos na vida. Morrer não
significa chegar ao fim da vida, mas o começo de uma nova.
Onde eu quero chegar?
Experiente
Fran: A maior experiência que podemos ter Paulinho, é aquela
pela qual passamos e, vemos nossos amigos passando, portanto
seja experiente o bastante para oferecer aos outros a oportunidade
de aprender com seus erros e sorrir com suas conquistas.
Observação.: Não devemos procurar ser iguais aos outros.
Não existe ninguém igual ao outro, por isso seja você mesmo
garoto. Sorria quando achar que tem que sorrir. Chore quando se
sentir triste, quando perder algo que gosta muito, e jamais sinta
vergonha por isso. Tenho certeza que você tem grandes exemplos
a seguir. Seja simplesmente você e siga os exemplos, porém siga
apenas os bons exemplos. Esqueça daqueles que fingem gostar de
você e procure se aproximar dos que realmente te dão importância.
Rafael – 12 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Estudar Matemática
Fran: Tenho certeza, Rafa, que muitas coisas no seu dia a dia
o deixam mais feliz do que estudar matemática,tais como comer,
brincar, estar com seus amigos, poder acordar todos os dias e ver
sua mãe, seu pai e seus irmãos com saúde. Fico feliz que goste tanto
Um Guerreiro na Periferia
63
assim de matemática, porém lembre-se que felicidade e obrigação
são coisas bem diferentes.
O que significa ser amigo?
Amigo é uma pessoa muito legal.
Fran: Então seja tão legal para seus amigos o quanto você
deseja que eles sejam para você. Tudo na vida é uma troca. Ofereça
bondade, companheirismo, carinho, e você receberá isso em troca.
O que você espera da vida?
Espero que ninguém me ofereça Drogas
Fran: E eu espero que se algum dia alguém lhe oferecer
drogas, Rafa, você tenha força e personalidade o bastante para
poder recusar. Alguém lhe oferecer droga não é um mal, afinal
cabe a você optar por recusar a droga. E tenho certeza que se
centenas de pessoas lhe oferecerem drogas você saberá recusar
todas as vezes. Lembre-se difícil não é começar a usar drogas e sim
conseguir se livrar delas. Recusar a droga não é vergonha e sim
motivo de orgulho e força.
Qual seu maior medo?
Meu maior medo viver no escuro e morrer queimado
Fran: Lembre-se que precisamos do medo para nos manter
vivos. É ele que nos impõe limites. Cabe a você saber lidar com o
seu medo e até onde ele pode lhe proteger. Conte comigo.
Onde eu quero chegar?
Quero ser engenheiro
Fran: Quem sabe um dia você não constrói minha casa.
Tenho certeza que você se tornará um grande engenheiro, pois só
depende de você. Nunca desista dos seus sonhos e acredite neles.
Observação: Seja forte o bastante para poder realizar seus
sonhos e vencer as barreiras que surgem no dia a dia. Supere os
obstáculos que surgirem em sua vida e cresça com o aprendizado
que eles vão lhe proporcionar.
64
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Pedro Henrique dos Santos Dias (Pedrinho) – 4 anos
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Árvore.
Fran: Que bom, Pedrinho, então procure plantar uma, sempre
que possível. A cada árvore que você plantar estará fazendo bem a
você e a todos que admiram a natureza. Em cada planta que você
plantar estará dando vida a um novo ser. Dar a vida é poder fazer
com que as pessoas sintam-se felizes, mesmo que isso seja apenas
dar vida a uma semente.
O que significa ser amigo?
Rodney.
Fran: Então prove ao Rodney o quanto ele é seu amigo.
Procure ajudá-lo e deixe que ele lhe ajude também. Sejam amigos
para sempre e nunca deixem que este vinculo de amizade se quebre,
mesmo que fiquem longe um do outro, se façam presente na vida
de cada um.
O que você espera da vida?
Saudade
Fran: Eu também espero ter muita saudade Pedrinho, pois
só temos saudade das coisas boas. Nunca temos saudade das
coisas que nos deixam tristes. Nunca temos saudades das coisas
que nos machucaram. Só sentimos saudades dos momentos
alegres. Parabéns e espero que você possa ter muitos momentos
de saudades na sua vida. Amo muitos momentos que vivemos juntos
e tenho saudades de todos eles..
Qual seu maior medo?
Tenho medo do bicho papão e do mosquito da dengue.
Fran: Faça do seu medo seu maior aliado Pedrinho. Lute
contra ele, porém nunca deixe que ele saia vencedor. Quanto ao
bicho papão e ao mosquito da dengue, tenho certeza que você ao
longo da sua vida vai saber como lidar com eles.
Um Guerreiro na Periferia
65
Onde eu quero Chegar?
Ser policial.
Fran: Realmente é uma profissão linda Pedro. O policial dá
a sua vida muitas vezes na troca de salvar outras, e não existe
um amor tão grande quanto o de ajudar as pessoas sem esperar
algo em troca. Tenho certeza de que, se você for um policial será
o melhor. Procure ajudar aos necessitados e proteger àqueles que
necessitam de ajuda,. Lembre-se que cuidando dos outros você
também estará cuidando de si.
Observação: Que seu futuro seja do tamanho da sua bondade,
e tão belo quanto sua pureza. O sorriso de uma criança não tem
maldade, por isso ser criança é ser verdadeiro. Nunca deixe que
essa criança que existe dentro de você venha a desaparecer um dia,
pois ela é muito especial para todos nós.
Francisco Carlos – 31 anos (eu)
O que te deixa mais feliz na sua vida?
Fazer pelas pessoas, o que nunca ninguém fez por mim,
mesmo não as conhecendo. Sinto-me na obrigação de lutar pelo
direito de igualdade, fazer pelo próximo algo que faça com que ele
sinta-se mais feliz, mesmo que isso seja apenas o mínimo que eu
tenha a lhe oferecer.
O que significa ser amigo?
Ser amigo é poder sofrer com a dor do outro, é doar-se sem
esperar nada em troca.
O que você espera da vida?
Espero que cada um possa ajudar ao próximo, como em
uma corrente, pois assim quando todos estiverem se ajudando
não existirá mais fome, desigualdade, diferenças sociais, havendo
assim, um mundo melhor.
66
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Qual seu maior medo?
Perder a juventude, tornar-me velho, pois, sem a juventude
me tornarei dependente de outras pessoas, e ao invés de ajudar aos
outros estarei dependendo de alguém que me ajude, isso me dá
muito medo.
Onde eu quero Chegar?
Ser tão grande quando meu sonho permitir. Tudo que posso
dizer é que sonho muito. Sonho poder ver um mundo melhor,
crianças sem fome, pessoas felizes, poder chegar a todos os lugares
onde necessitem de mim. Eu acredito mas será que vocês acreditam
que isso é possível?
Observação: Viva o tanto quanto você desejar viver, da forma
como você desejar viver, Deus é quem conduz seus passos, porém,
cabe a você saber onde pisa. Não existe mal que possa vencer o
amor e a coragem de fazer o bem.
Não me entrego sem lutar, tenho ainda coração, nunca aprendi
a me entregar, que caia o inimigo então.
Tenho certeza de que o tempo não será capaz de apagar as
lembranças lindas que vivi junto de todas essas crianças. Não
devemos fazer do tempo nosso inimigo, apenas um aliado, que ao
longo dos anos vai enchendo-nos de saudade, tornando-nos mais
experientes e mais sábios.
ENTÃO DIZ O MESTRE:
Devemos examinar nossa própria lareira. Devemos colocar
mais lenha, e tentar iluminar a sala escura em que nossa vida se
transformou. Quando escutarmos nosso fogo crepitando, a madeira
que estala, as histórias que as labaredas contam, a esperança nos será
devolvida. Se somos capazes de amar, também seremos capazes de
sermos amados. É apenas uma questão de tempo.
Um Guerreiro na Periferia
67
Em 2007 na minha passagem pelo ECUS de Suzano, o tempo
foi meu aliado em muitos momentos. Aprendi a ter um pouco mais
de paciência e a aproveitar melhor os momentos que passei fazendo
parte de uma das melhores equipes de futsal de São Paulo. Muitos
problemas rodeavam nossa equipe, porém, a amizade, o respeito
e a alegria de estarmos juntos superava os problemas do dia a dia.
Neste ano muitas coisas aconteceram. Foi um ano difícil porém
vitorioso. De quatro campeonatos disputados, vencemos 1 (Jogos
Abertos), conseguimos um vice-campeonato nos jogos regionais,
fomos 4º colocado no Metropolitano e no Estadual, perdemos no
mata-mata das oitavas de final. Mas o que tem haver tudo isso com
este capítulo? Bem, digamos que por mais de uma vez o tempo
foi nosso aliado. Inúmeras vezes em jogos deste campeonato,
conseguimos um gol salvador ha um segundo do final, então seria
muita coincidência. Podem pensar alguns, mas seja coincidência,
sorte ou competência para mim não importa, como disse aos meus
amigos: um segundo seria apenas um segundo? Acho que não, por
isso quando falei com a psicóloga da equipe que escreveria um
texto sobre “um segundo” todos ficaram espantados. Abaixo segue
o texto que foi escrito em pouco mais de 20 minutos, afinal, para
escrever sobre um tempo tão curto não poderia me dar ao luxo de
levar uma eternidade.
NADA ALÉM DE UM SEGUNDO...
“Existem momentos em nossas vidas que parecem uma
eternidade. Mas o que é eterno, o que é tornar-se eterno? Talvez na
cabeça de muitos a eternidade seja algo que dure para sempre, que
nunca se acabe. Resolvi ter o meu próprio conceito sobre o que é
eternidade.
A eternidade é o momento vivido com intensidade, com
euforia, com desejo e com a magia e que transforma cada fração de
“segundo” em uma sensação muitas vezes vivida, porém, que nos
trás a impressão de algo novo, jamais sentido e transformado em
um momento único.
O tempo que muitas vezes parece passar tão depressa, torna68
Francisco Carlos da Silva, o Fran
se mágico em um único segundo, então para aqueles que desejam a
eternidade, deixo aqui o meu segundo eterno, um segundo que me
faz soltar o grito preso na garganta. O meu segundo de euforia que
faz meu coração palpitar e parece que vai explodir dentro do peito,
de tão acelerado.
Podemos esquecer um dia ruim, um ano péssimo, porém,
devemos nos lembrar daquele segundo que fez a diferença em
determinado ano, em determinado mês, em determinado dia, em
determinada hora, em determinado minuto e que se consagra em
apenas um determinado “segundo”.
Então eu me pergunto: quanto tempo preciso viver o meu
“segundo” de magia. Um segundo pode ser apenas um segundo,
porém podemos fazer de um segundo, o segundo inesquecível.
Podemos eternizar um segundo diante de qualquer situação. Para
aquele que prefere viver em busca da eternidade e demora anos
e a vida inteira tentando encontrá-la, eu peço que compartilhe a
busca do segundo perfeito. Se achar que um segundo é apenas
um segundo, então lembre-se que bastou apenas um segundo para
alguém, em um determinado momento apertar um botão e ativar
a Bomba Atômica quase acabando com uma nação inteira, ainda
levou apenas um segundo para outra pessoa apertar um gatilho e
acabar com uma vida... então desejamos apenas mais um segundo
para o primeiro beijo, mais um segundo para o abraço na pessoa
amada... mais um segundo, afinal, quem nunca precisou de apenas
mais um segundo?
Quantos segundos precisamos para dar um passo adiante e
mudar o destino de uma vida. Um segundo para dar um impulso e
saber que naquele exato momento este impulso foi capaz de trazer
tantos outros segundos inesquecíveis.
Um segundo, apenas um segundo para dar o primeiro passo
e iniciar uma trajetória que pode nos levar a percorrer o mundo,
assim como levamos apenas um segundo para dar o último passo
dessa trajetória.
Não troco o meu segundo pela eternidade, afinal é apenas um
segundo. É o meu segundo que faz-me refletir, acreditar, pensar
que posso ser capaz de realizar coisas fantásticas ou iniciar a uma
situação, que alguns levariam anos, porém, eu resolvi dar seqüência
Um Guerreiro na Periferia
69
à continuidade do que o meu segundo me reservou. Afinal o que se
começa em apenas um segundo, pode ser lembrado por toda uma
eternidade.
03/10/2007 ás 00:16hs.
70
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Ao longo da história possuímos diversos exemplos de coragem
que podíamos descrever neste capítulo, porém, separei um texto que
recebi via e-mail da minha esposa, após um desabafo em uma dessas
noites que estamos chateados, tristes, desconsolados e desejamos
abandonar tudo, inclusive os sonhos que nos acompanham ha anos.
No final do texto tinha uma frase, quando a li chorei muito. O texto
conta a história de Dick Hoyt e de seu filho Rick. Muito mais
que amor pelo seu filho Dick pode ser considerado um homem de
extrema coragem.
“MUITO MAIS QUE UM PAI E FILHO, SONHADORES...”
Oitenta e cinco vezes, Dick Hoyt empurrou seu filho deficiente,
Rick, por 42 quilômetros em maratonas. Oitenta vezes, ele não só
empurrou seu filho os 42 quilômetros em uma cadeira de rodas,
mas também, o rebocou por quatro quilômetros em um barquinho
enquanto nadava e pedalou 180 quilômetros, com ele sentado em
um banco no guidão da bicicleta, tudo isso em um mesmo dia.
Dick também o levou em corridas de esqui, escalou
montanhas com ele às costas e chegou a atravessar os Estados
Unidos rebocando-o com uma bicicleta.
E o que Rick fez por seu pai?
Não muito, exceto salvar sua vida.
Esta história maravilhosa de amor começou em Winchester,
nos EUA, há quarenta e três anos, quando Rick foi estrangulado pelo
cordão umbilical durante o parto, ficando com uma lesão cerebral
permanente e incapacitado de controlar os membros de seu corpo.
– “Ele irá vegetar pelo resto de sua vida”, disse o médico para
Dick e sua esposa Judy, quando Rick tinha nove meses.
Um Guerreiro na Periferia
71
– “Vocês devem interná-lo em uma instituição”, complementou
o médico.
Mas, o casal não acreditou. Eles repararam como os olhos de
Rick seguiam os dois pelo quarto.
Quando Rick fez onze anos eles o levaram ao departamento
de engenharia da Tufts University e perguntaram se havia algum
jeito do garoto se comunicar.
– “Não há jeito, seu cérebro não tem atividade alguma”,
disseram a Dick.
– “Conte uma piada para ele”, Dick desafiou.
Eles contaram e Rick riu.
Na verdade, tinha muita coisa acontecendo no cérebro de
Rick.
Usando um computador adaptado para ele poder controlar o
cursor tocando com a cabeça um botão no encosto de sua cadeira,
Rick, finalmente foi capaz de se comunicar.
Suas primeiras palavras?
– “Go Bruins!”, o grito da torcida, dos times da Universidade
da Califórnia.
Depois que um estudante ficou paralítico em um acidente e a
escola em que estudava decidiu organizar uma corrida para levantar
fundos para ele, Rick digitou:
– “Papai, quero participar”.
Isso mesmo. Mas como Dick poderia, justo ele, que
considerava a si mesmo um “leitão”, que nunca tinha corrido mais
que um quilômetro de cada vez. Como poderia empurrar seu filho
por 8 quilômetros?
Mesmo assim, ele tentou.
– “Daquela vez eu fui o inválido”, lembra Dick.
– “Fiquei com dores durante duas semanas”.
Porém, aquilo mudou a vida de Rick. Ele digitou em seu
computador:
– “Papai, quando você corria eu me sentia como se não fosse
mais portador de deficiências”.
O que Rick disse, mudou também a vida de Dick. Ele ficou
72
Francisco Carlos da Silva, o Fran
obcecado por dar a Rick essa sensação quantas vezes pudesse.
Começou a se dedicar tanto para entrar em forma que ele e Rick
estavam prontos para tentar a Maratona de Boston em 1979.
– “Impossível!”, disse um dos organizadores da corrida.
Pai e filho não eram um só corredor e também não se
enquadravam na categoria dos corredores em cadeira de rodas.
Durante alguns anos, Dick e Rick simplesmente entraram na
multidão e correram de qualquer jeito.
Finalmente, encontraram uma forma de entrar oficialmente
na corrida. Em 1983, eles correram tão rápido em outra maratona,
que o tempo obtido por eles permitia qualificá-los para participar da
maratona de Boston no ano seguinte.
Depois, alguém sugeriu que tentassem um Triatlon.
Como poderiam?!
Dick nunca soube nadar e não andava de bicicleta desde os
seis anos de idade, como rebocaria seu filho de cinqüenta quilos em
um Triatlon?
Mesmo assim, Dick tentou.
Hoje, ele já participou de duzentos e doze Triatlons, inclusive,
quatro cansativos Ironmans de quinze horas de duração, no Havaí.
Deve ser demais, para alguém com seus vinte e cinco anos de
idade, ser ultrapassado por um velho rebocando um adulto em um
barquinho, você não acha?
Então por que Dick não competia sozinho?
– “De jeito nenhum”, ele diz.
Dick faz tudo isso apenas pela sensação que Rick pode ter
e demonstrar com seu grande sorriso, enquanto correm, nadam e
pedalam juntos.
Em 2006, aos sessenta e cinco e quarenta e três anos de idade
respectivamente, Dick e Rick completaram a vigésima quarta
Maratona de Boston na posição 5.083, entre mais de vinte mil
participantes.
Seu melhor tempo?
Duas horas e quarenta minutos, em 1992, apenas trinta e
cinco minutos a mais que o recorde mundial que, caso você não
saiba, foi batido por um homem que não empurrava ninguém numa
cadeira de rodas enquanto corria.
Um Guerreiro na Periferia
73
– “Não há dúvida”, digita Dick, “meu pai, é o pai do século”.
E Dick também ganhou algo com isso. Há dois anos, ele
teve um leve ataque cardíaco, durante uma corrida. Os médicos
descobriram que uma de suas artérias estava 95% entupida. Os
médicos disseram que se ele não tivesse se dedicado para entrar em
forma, é provável que já teria morrido, uns quinze anos antes. De
certa forma, Dick e Rick salvaram a vida um do outro.
Rick, que hoje tem seu próprio apartamento (ele recebe
cuidados médicos) e trabalha em Boston, e Dick, que se aposentou
do exército e mora em Holland, Massachussets, sempre acham
um jeito de ficarem juntos. Eles fazem palestras em todo o país e
participam de corridas, nos finais de semana.
Em todo dia dos pais, Rick sempre paga um jantar para seu
pai, porém, o que ele mais desejaria fazer pelo seu pai, é um presente
que ninguém poderia comprar.
“Eu gostaria...”, digita Rick, “...de um dia poder empurrar
meu pai na cadeira, pelo menos uma vez”.
“Um homem não morre quando deixa de existir e sim
quando deixa de sonhar.”
No final do e-mail a Kátia escreveu-me a seguinte frase:
Fran, jamais desista de sonhar com o futuro do Kauê...
A História de Dick Hoyt e Rick são verdadeiros exemplos
de coragem. Muitas coisas que fiz na minha vida ouvi de algumas
pessoas a frase “você é louco”. Até que ponto vai a loucura de um
homem. Prefiro acreditar que o que para os outros é loucura para
mim é encarado como desafio, coragem, determinação, vontade de
provar que se é capaz de fazer coisas que jamais imaginamos que
seriamos capazes de fazer. Seria muito mais fácil para Dick tratar
seu filho como um “vegetal” como os médicos classificaram a vida
que Rick levaria, do que ambos terem escolhido uma outra forma
de conduzir a vida.
O que torna um homem imortal diante da história são os
feitos que ele deixa ao longo de sua vida. Para muitos é mais fácil
acomodar-se e deixar os sonhos morrerem do que persegui-los
durante anos na tentativa de um dia poder vê-los realizados.
A história de Dick Hoyt e Rick pode facilmente ser encontrada
74
Francisco Carlos da Silva, o Fran
na Internet. Existem diversos vídeos que mostram os dois competindo
e treinando juntos, basta acessar Sites como o www.google.com.br
e digitar Dick Hoyt na busca que os links para os vídeos aparecem.
Particularmente gosto muito de um que encontrei no YouTube.
Ele tem 11 minutos de duração e basta apenas que você digite o
endereço http://www.youtube.com/watch?v=flRvsO8m_KI para
que possa conferir a história descrita neste capítulo.
Já fiz parte de diversas equipes ao logo da minha carreira
como atleta. Desde os 8 anos de idade fiz do esporte uma catapulta
que me lançaria para um futuro melhor. Venci muitos combates
e perdi tantos outros. Muitas vezes vi escapar vitórias em fração
de segundos. Lutei mesmo ferido até o fim de cada batalha,
independente do esporte que eu estava competindo, sempre os
encarei como uma batalha, tanto nas Artes Marciais onde muitas
vezes competi individualmente como em equipe. Senti a dor da
derrota e o sabor da vitória, assim como no futsal e no atletismo,
durante muitas vezes senti-me culpado, mesmo tendo dado o
melhor de mim diante de uma competição. Mesmo sabendo que
não estava 100% lutei, competi e entreguei-me à cada competição
como se fosse a última. Sofri críticas e muitas vezes fui aclamado.
Assumi a derrota diante de um resultado negativo, porém nunca
me vangloriei pelo título conquistado onde fui a peça fundamental.
Muito pelo contrário. Tanto em equipe como individualmente
é preciso fortalecer os mais fracos, pois, nunca sabemos quando
vamos precisar deles. Cada membro de uma equipe deve sentir-se
tão importante como a estrela do time. Grandes ídolos muitas vezes
possuem mais coragem do que talento. A vontade de vencer é muito
mais importante do que a habilidade. Não basta apenas ter talento,
se você não tiver coragem, vontade, determinação, seu talento
de nada valerá. Sempre fui um atleta com muito mais coragem
e determinação do que talento. Muitas vezes quando me faltavam
condições físicas e técnica coloquei em pratica a coragem na frente
de tudo e de todos.
Dou tanta importância a esta palavra que escrevi um texto
antes de uma partida onde ninguém acreditava que poderíamos
vencer, porém a vitória é apenas uma conseqüência quando se usa
a coragem, a determinação e a confiança.
Abaixo o texto que escrevi tentando relatar o espírito de uma
equipe cheia de “coragem”
Um Guerreiro na Periferia
75
CORAGEM
Quando todos achavam que eu não seria capaz, eu provei a
todos que era possível. Quando ninguém mais acreditava eu lutei
contra tudo e contra todos e provei que quando “um” acredita e
vence, a vitória não é única, porque foi na luta que descobri que
não lutava só por mim, mas por todos que comigo foram ao campo
de batalha.
Uma batalha seja ela qual for, só é perdida quando se vai para
o combate derrotado antes mesmo dele começar. Não se deve lutar
até o fim pensando apenas em si, mas sim em quem está ao seu lado.
Mesmo quando tudo parece impossível cabe a cada um acreditar
que o impossível acontece, e que só cabe a cada um transformá-lo
em realidade.
Não faça por “você”, faça por quem está ao seu lado. Pense
que se você não for capaz não estará prejudicando a si, e sim ao seu
próximo. Não carregue a culpa pela perda de uma vida ou por uma
derrota de quem está ao seu lado, torcendo por você e confiando
em você. Lute como jamais lutou antes. Deseje que tudo aconteça
como jamais aconteceu antes, e compartilhe com quem está ferido,
a alegria da vitória, pois, talvez seja a última vitória de quem está
ao seu lado.
Faça diferente, não por você, pois, sabemos que você é capaz,
mas faça a diferença por quem está ao seu lado, pois este talvez não
tenha a sua força para continuar lutando, mas acredita que você
lutará por ele e por si mesmo. Talvez quem está do seu lado, esteja
ferido por ter lutado uma vida inteira querendo compartilhar com
você a vitória que hoje é sua.
A coragem de quem está ferido e vem para o campo de batalha
é conduzida pela esperança de que seu companheiro vai lutar
e tornar o impossível capaz de ser alcançado. Somos todos uma
família nesta batalha; se um membro dessa família está ameaçado
pelo inimigo, não importa ele quem seja, que tamanho esse inimigo
tenha ou qual é a grandeza da sua força, vou passar por cima dele,
pois não vou carregar comigo a culpa pela perda de um membro da
minha família. Não vou derramar lágrimas de tristeza por ter me
entregado antes do fim. Vou passar por cima da derrota porque hoje
eu sou capaz de fazer a diferença e atingir a vitória.
76
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Quantos soldados inimigos vierem de pé ao meu encontro,
mais degraus vou construir derrubando cada um deles para elevar
ainda mais a escada da minha vitória.
Pois, nessa batalha não estou sozinho. Tenho pessoas que
acreditam e que dependem de mim. Não serei um falso herói
dizendo que “eu fiz a minha parte”. Seremos um exército formado
por homens vencedores gritando ao longo da batalha que não
adianta o inimigo vir ao nosso encontro, pois, não defendemos o
individual, defendemos a vida de todo um batalhão. Aqui dentro eu
tenho a certeza de que ninguém vai deixar nenhum membro dessa
família sair ferido, pois é uma família que já deu o melhor de si
diante de tantas outras batalhas e que muitas vezes, mesmo feridos
acreditaram que eram capazes de vencer. Lutar como nunca lutamos
antes, vencer sem nenhuma baixa, e se alguém desta família não
acredita que é capaz é porque ainda não sabe o tamanho da força
que cada um tem dentro de si, da coragem e da fé que nos torna
invencíveis. Pense e grite: não vou fazer por quem não acredita que
o impossível não é capaz de acontecer. Vou para essa batalha por
quem está ferido e não é capaz de torná-la realidade. Não desisto
sem lutar, afinal ainda tenho um coração. Durante toda a minha
vida não aprendi a me entregar. Que caia o meu inimigo então.
Nesta batalha seremos um por todos e todos por um, pois
só assim tornaremos o impossível realidade. (texto escrito em
homenagem a Equipe do ECUS/SUZANO por tantas batalhas que
disputamos nos campeonatos de 2007).
Mas, não é apenas na vida esportiva que devemos ter coragem.
O que dizer de um homem que arrisca sua vida na tentativa de salvar
a vida do próximo. Talvez este seja o maior exemplo de coragem
demonstrada por alguém.
Lembro-me perfeitamente do dia em que a irmã de um
amigo meu de infância veio a mim, dando-me a notícia que ele
havia morrido ao tentar salvar a vida de uma outra pessoa que
estava no topo de um supermercado. Este meu amigo de infância
tinha escolhido uma profissão, que para mim está entre as 03 mais
importantes do mundo. Este meu amigo virou Bombeiro e ao tentar
salvar uma pessoa no topo do teto de um supermercado veio a
falecer.
Fiquei muito triste com a notícia, porém, mais triste ainda
Um Guerreiro na Periferia
77
quando sua irmã Shirley, disse-me que seu pai pedia que eu
escrevesse um texto falando sobre ele. Para a missa de sétimo dia.
Como sempre não fui capaz de dizer não, mesmo sabendo que
seria praticamente impossível escrever algo que pudesse diminuir
a dor daquela família. A perda de um filho é contra todas as leis da
natureza, isso vai contra toda lei e ordem cronológica da vida.
Pensei em como poderia tentar amenizar a dor daquela
família. Quais palavras eu poderia colocar em um simples papel
afim de diminuir o tamanho daquela dor.
Pedi a Deus que me desse a sensibilidade necessária para
naquele momento colocar no papel o que meu amigo gostaria que
sua família ouvisse se ele fosse capaz de estar ali naquele exato
momento. Eu também sou filho, e também sou pai, tenho esposa,
irmãos, assim como ele tinha. Só não tinha a mesma profissão mas,
no resto éramos iguais. Coloquei-me no lugar dele e como se ele
ditasse aos ouvidos fui digitando cada palavra e formando cada
parágrafo. O resultado pode ser conferido abaixo. O título, assim
como o conteúdo relatam bem o significado da palavra coragem.
O ÚLTIMO CHAMADO DE UM HOMEM!
No dia que nascemos somos responsáveis pela alegria de
nossos pais, que ao longo de 09 meses nos aguardaram cheios de
esperanças, de orgulho e carinho para nos oferecer ao longo de
nossas vidas.
Nem nossos pais e nem ninguém é capaz de saber o que o
mundo nos reserva, ou o que podemos reservar para o mundo. Alguns
usam o livre arbítrio e tomam caminhos que muitas vezes Deus não
preparou. Nem sempre somos responsáveis por nossas atitudes e
pelo caminho que escolhemos ao passar dos anos. Somos movidos
por uma força maior, e sem explicação percorremos caminhos que
nos levam a lugares que muitas vezes não compreendemos. E então
perguntamos, quem pode explicar isso?
O tempo vai passando e nossos pais que um dia fizeram
planos aguardando nossa chegada, agora abrem sorrisos diante
de nossos filhos. Chegou a nossa vez de fazer planos, sonhar com
78
Francisco Carlos da Silva, o Fran
nossos filhos crescendo, nos dando netos, e quem sabe com a graça
de Deus bisnetos, tataranetos, mas, por uma fração de segundos
nos distraímos e temos a linha da vida interrompida. Diante disso,
assistimos nossos sonhos e os sonhos daqueles que estão em nossa
volta sendo interrompidos. Mas quem pode afirmar que está sendo
interrompido?
Deus, com sua sabedoria e bondade, hoje chamou-me, e eu
atendi seu pedido. Talvez as pessoas não entendam e perguntem-se
o por quê.
Então vou responder que atendi ao chamado de Deus, porque
assim como muitos de meus amigos já cumpri meu ciclo de vida.
Constituí uma família e desta família nasceu minhas filhas Clarissa e
Alessa, que são a continuidade da minha existência, e como “Deus”
foi generoso comigo, dei a vida em troca de outra vida, não quero
ser visto como herói, não quero ser tido como um salvador, apenas
quero ser lembrado pelos bons momentos que proporcionei a meus
pais, a meus irmãos, parentes e amigos. A vocês peço que não se
lembrem de mim com tristeza. Sorriam cada vez que tocarem em
meu nome, e ensinem às minhas filhas que o pai delas, não passou
por este mundo em vão. Que o pai delas não pôde acompanhar o
crescimento delas e mostrar-lhes as coisas certas e erradas deste
mundo, porque teve que atender a um chamado urgente, em um
lugar onde muitas pessoas precisavam dele. Essas pessoas a quem
fui atender não precisam de um homem valente, que desconhece o
medo do perigo, que é capaz de arriscar e dar a sua vida em busca
de salvar alguém que pede socorro. Nesse chamado que fui atender
agora, as pessoas precisam de paz, de descanso, de alívio, de amor. Tão grande é o meu amor por aqueles que precisam de socorro, que
resolvi atender ao chamado de Deus e dessas pessoas.
A vocês, peço que compreendam e que entendam que este
chamado que fui atender é mais demorado. Tenham fé, pois um
dia estaremos todos juntos novamente. Entre um chamado e outro,
prometo que estarei olhando por todos vocês.
Wenderson Attala
Baptista (Turquinho).
30/05/68
28/11/02
Um Guerreiro na Periferia
79
Não sei até que ponto este texto aliviou a dor dos familiares
deste meu amigo, porém, ao encontrar seu pai um dia andando
pela rua, disse-me: “Obrigado pelo que você escreveu. Nunca tive
paciência para ler nada na minha vida, mas quando peguei aquele
texto era como se meu filho tivesse escrito. Acho que você deveria
escrever um livro.”
Depois fiquei sabendo que este texto, à pedido do comandante,
foi publicado e distribuído para todos do batalhão onde meu
amigo trabalhava. Fiquei muito feliz e com o sentimento de dever
cumprido.
Há alguns anos, tive um outro exemplo de coragem, porém,
este exemplo classifico como mais um milagre de Deus. Muitas
vezes não sabemos o tamanho da provação que ele nos oferece ou
o que quer que aprendamos colocando determinadas situações em
nossas vidas. O sofrimento provocado pelo fato que vou narrar a
seguir fez com que eu pudesse fortalecer ainda mais a minha fé em
Deus e em Nossa Senhora Aparecida. Muitos poderão dizer que foi
competência médica ou apenas mais uma cirurgia bem sucedida.
No dia 10 de junho de 2003 nascia Luiz Otávio Oliveira
Ribeiro. Após o seu nascimento, os médicos constataram problemas
no seu coraçãozinho e a necessidade de realizar uma cirurgia o
mais rápido possível. O Luizinho é filho do meu cunhado André,
conseqüentemente, sobrinho da minha esposa, o que fez com que
todos da família entrassem em desespero.
Ao saber da gravidade da situação, os parentes e amigos
dirigiram-se para o hospital. Fui um dos últimos a chegar, porém,
quando cheguei constatei o desespero de todos. Muito choro,
pouca esperança e muita fé. Nunca fui muito bom com as palavras,
porém dirigi-me ao meu cunhado e tentei conversar, porém, ele
encontrava-se muito nervoso e chorando muito. Tudo que me veio
na cabeça naquele momento, foi dizer-lhe que seu filho seria mais
um milagre de Nossa Senhora Aparecida, pois, todos na família
tinham muita fé e pediam proteção para o pequeno Luizinho na
cirurgia a ser realizada.
Tinha tanta certeza que as coisas dariam certo, que prometi
ao André que naquele ano ele tiraria uma foto do Luizinho e
estamparia em uma camiseta. Camiseta essa que eu usaria durante
a minha caminha até Aparecida do Norte. Ao ouvir isso o André
80
Francisco Carlos da Silva, o Fran
me respondeu, eu irei também, porém, disse-lhe que a promessa
era minha e não dele. Não que eu duvidasse da sua fé, mas em
momentos de desespero muitas vezes prometemos coisas que com
o passar dos dias acabam sendo esquecidas ou mal interpretadas.
Aquele garotinho tinha um coração valente e mesmo com a
pouca idade lutou por sua vida bravamente. Sobreviveu à cirurgia e
hoje é mais uma das obras de Deus. As chances dele eram poucas.
Era um recém nascido, mas a coragem de enfrentar a morte pela vida
era muito maior. A fé de todos da família as orações e competência
dos médicos o fez sobreviver.
Meu cunhado não me acompanhou pelo caminho sagrado da
via Dutra até Aparecida do Norte. Mais uma vez eu cumpri o meu
papel e enfrentando muita chuva cheguei ao meu destino. Usei a
camisa ao longo de toda caminhada, e mesmo debaixo de chuva
eu fazia valer a promessa de não tirá-la. O tecido era de pano o
que encharcava ainda mais, mas, quando me lembrava da luta
daquele recém nascido pela vida e da promessa que havia feito ao
seu pai, esquecia-me do frio provocado pela roupa molhada. Ao
chegar na Basílica de Aparecida, deixei a camisa do Luizinho na
sala dos Milagres e novamente renovei minha fé em nossa Senhora
Aparecida.
Quando o Luizinho completou um ano de vida, preparei um
texto para sua festa de aniversário. Foi uma forma que encontrei
para render a minha homenagem àquele pequeno guerreiro. Queria
que todos soubessem o quanto ele tinha sido corajoso lutando por
sua vida. O texto a seguir foi exibido em um telão na sua festa de
aniversário, em montagem com fotos tiradas desde o dia do seu
nascimento até a data do seu aniversário.
No momento da exibição do texto, narrado por uma de suas
primas, muitas pessoas que estavam no salão choravam comovidas
com a história daquele garoto.
Novamente ao escrever aquele texto, pedi a Deus sabedoria
para que pudesse passar uma mensagem positiva, mostrando que a
fé e o amor podem salvar uma vida, mesmo que para muitos essa
vida já estivesse perdida. Não foi muito difícil me colocar no lugar
do Luizinho e passar uma mensagem positiva que fizessem com
que todos presentes refletissem sobre a história daquele garotinho.
Um Guerreiro na Periferia
81
UM PAPO DIRETO COM DEUS
Quando Deus mandou-me ao mundo, disse-me que, eu
seria diferente. Não entendi o porquê, talvez eu ainda fosse muito
pequeno... Pequeno demais para entender o quanto seria difícil
vencer tantas batalhas que o destino me reservava.
Primeiro, tive que vencer uma corrida com milhões de
participantes. Cheguei em primeiro lugar... Meus pais quando
souberam que havia um vencedor dentro da barriga da minha
mãe, não poderiam imaginar as batalhas que eu ainda teria que
enfrentar.
No dia do meu nascimento confesso que fiquei morrendo de
medo. Não sabia o que eu iria encontrar no mundo cá fora, apenas
sabia como era bom dentro da barriga da mamãe.
Mas, dizem que só conhecemos os grandes guerreiros nos
momentos de dificuldade, e olha que eu nem tenho tamanho, nem
idade para ser chamado de “grande” ou de “guerreiro”.
Mas Deus sabe o que faz... E mesmo nos meus primeiros dias
de vida tive que provar o quanto desejava ficar junto dos meus pais,
avós, tios, primos e amigos...
Como foi forte a corrente que fizeram para mim. Pensamentos
positivos, orações, promessas, quantas lágrimas derramaram
achando que eu não fosse vencer mais essa batalha.
Mas, que nada, eu sempre soube que Deus havia escolhido
uma linda família para mim. Uma família que me amava antes
mesmo de eu nascer... E eu vou aprendendo a amar a todos, mesmo
ainda sendo muito pequeno.
Agora que estou crescendo eu posso compreender melhor
algumas coisas. Posso confessar a vocês o pacto que fiz com Deus.
Naquele momento tão difícil da minha vida que mal havia
começado, chamei Deus para uma conversa particular e fiz um trato
com ele.
Deus perguntou-me, o que eu mais esperava da vida?
Disse a ele que esperava ser muito amado, ter muito carinho e
que nunca me faltasse comida na mesa. Que no frio sempre tivesse
82
Francisco Carlos da Silva, o Fran
agasalho para me cobrir e que todos fossem bondosos comigo.
Então Deus disse-me: “Meu Filho você já possui essas coisas.”
Fiquei em silêncio por alguns instantes, e então disse a Deus:
Senhor já que possuo tudo isso, deixe-me viver, se todos oferecemme coisas boas, se me amam, não é justo que eu os abandone.
Façamos um trato. Dê-me forças para vencer mais essa batalha e
em troca atendo qualquer pedido que o Senhor venha a me fazer.
Deus na imensidão de sua sabedoria e bondade aceitou minha oferta
e fez-me uma proposta.
Meu filho, eu estarei segurando sua mão nesta dura batalha
que você vai enfrentar com tão poucos dias de vida. Você será mais
um dos meus milagres, mas em troca vai prometer-me que tudo que
desejou para si oferecerá em dobro aqueles que não possuem.
Aceitei a proposta de Deus... E devo a ele o dia de hoje. Ainda
sou muito pequeno para cumprir o pacto que fiz com ele, por isso
peço a ajuda de todos para cumprir o acordo que fiz com Deus.
Sou abençoado, por ter uma família, por ser amado, por ter
comida na mesa e por estar sempre agasalhado. Muitas pessoas não
possuem a mesma sorte que eu, não são amadas, não tem o que
comer e o que vestir, por isso peço a vocês que ajudem-me a cumprir
o meu pacto com Deus, e façam por essas pessoas o que Deus fez
por mim. Fez-me nascer novamente para que hoje eu pudesse estar
sorrindo aqui junto de todos vocês... Façam outras pessoas sorrirem
também, dando um pouco de si para àqueles que como eu fizeram
um pacto com Deus.
“Existe um tipo de fé que jamais imaginamos ter, até chegar
o dia em que ela é a única coisa que se tem”. Hoje cabe a vocês
começarem a compreender porque Deus disse-me que eu seria
diferente.
Luiz Otávio por Fran.
Um Guerreiro na Periferia
83
No dia 7 de outubro de 2007 começa nossa trajetória rumo
a Basílica de N. Sª. Aparecida. Pela 7a vez vou começar o meu
destino em nome da Fé que tenho na Padroeira do Brasil.
Desta vez pintei uma bandeira e junto com meus irmãos da Fé
confeccionamos 30 camisetas que usaremos durante todo o trajeto,
saindo de Itaquera até a Basílica de N. Sª. Aparecida.
No dia 7 reunimos boa parte do grupo e fomos à missa das
18:00hs realizada na Paróquia N. S. do Carmo em Itaquera, e
celebrada pelo Padre Paulo, que logo veio nos saudar e desejar boa
sorte.
Durante toda a missa ele fazia comentários, referindo-se a
nossa caminha e pedindo aos fiéis presentes que orassem por nós.
Ao final da missa nos chamou ao altar e nos abençoou. Em
momento mágico pediu a toda a igreja que cantasse a música
“Romaria”, então neste momento ao coro de toda a igreja tanto eu
como muita gente caiu em prantos. Parecia um filme passando ali
diante de meus olhos, toda a trajetória descrita naquela canção.
No final da missa muitas pessoas vieram nos procurar e
desejar boa sorte. Muitos assinaram a camisa que eu iria vestir,
levando pedidos e agradecimentos pelas graças alcançadas.
Naquele mesmo dia Damião, sua esposa Rose e Manoel
saíram dali da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, levando suas
mochilas e sua Fé ao encontro da Mãe Aparecida.
No dia seguinte, às 4 horas da manhã, Chiquinho, Manoel
Rodrigues, Sidclei (Branco), Sr. Paulo , Jefferson (Boy), e eu
saímos da porta da minha casa com a bandeira e mochila nas costas,
carregados de Fé rumo a Basílica, porém, ainda iríamos parar no
Bairro dos Pimentas na casa do Rambo, onde, ele e sua família
haviam preparado um café da manhã para nos recepcionar. Por volta
das 6:20hs, tomamos café e seguimos nosso caminho. O Sr. Paulo
Um Guerreiro na Periferia
85
que havia carregado a bandeira o tempo todo me passou a mesma.
Eu conduzi até nossa primeira parada na Via Dutra, a espera de
mais um irmão da Fé que saiu de Guarulhos ao nosso encontro.
Aguardamos o Gerson por mais ou menos 40 minutos e quando
chegou retomamos nossa caminhada.
Durante a caminhada nesse primeiro dia, recebi o telefonema
de um amigo, o Wesley, um dos jogadores que atua na Equipe
do ECUS Suzano, desejou-me sorte e força, logo após me ligou
o Higashi propondo a nos ajudar no que fosse preciso a qualquer
hora. Pode parecer bobagem, mas essas ligações nos dão força e
nos encorajam muito no decorrer do caminho.
Em nossa parada para o almoço as 13:00h, encontramos os
senhores Paulino Carlos (48 anos), Vicente Carlos (46 anos) e João
Silvestre (65 anos). Esses três amigos estão fazendo sua terceira
caminhada e o motivo deles é apenas para agradecerem a nossa
Senhora pelas Graças alcançadas.
– Não estamos fazendo a caminhada para pedir nada, apenas
em agradecimento. O dinheiro não importa, o importante é a
amizade e a fé, comentam.
No mesmo local encontramos o Sr. Luiz de Porfírio de 45
anos que está indo fazer sua quarta caminhada, ele que ficou cego
durante 4 meses e se apegando a N. Sª. Aparecida recuperou a
visão como ele nos conta. Seu pai também foi curado por N. Sª.
Aparecida, estava com câncer, o médico lhe deu apenas 6 meses
de vida e Graças a N.Sª. Aparecida já faz 4 anos que encontra-se
curado.
As 14:00h juntaram-se a nós os irmãos da Fé Vilmar (Boxe)
e seu cunhado Edmilson, 15 minutos depois chegou o Rambo.
Continuando nossa caminhada passamos por diversas pessoas
neste primeiro dia, jovens e idosos que traziam no rosto o suor do
cansaço, mas a alegria e a esperança da fé renovada na Padroeira
do Brasil.
Através do celular, nos comunicamos com o Damião, a Rose
e o Manoel, que haviam se juntado a Romaria de Barueri. Estavam
a exatos 15km a nossa frente, e se não tivéssemos decidido parar
por volta das 18:45h teríamos nos encontrado ainda no primeiro
dia de caminhada.
86
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Perdemos mais ou menos 1 hora após a parada em um
momento de diálogo onde uns queriam continuar caminhando até
o próximo posto e outros queriam descansar e jantar ali mesmo.
Neste momento percebi o quanto é difícil estar no meio de tantas
opiniões diferentes, cada um tem a sua visão e o seu limite, e
pensando nestes fatores resolvi interceder, explicando ao pessoal
que estávamos dentro da nossa programação, que o importante era
pensar no bem estar de cada um, uma vez que não adiantaria em
nada prosseguirmos e andar mais 5 km uma vez que neste primeiro
dia de caminhada já havíamos percorrido 45km.
Não adiantaria e nem faria nenhuma diferença 5 km a mais
ou a menos. Algumas pessoas já possuíam bolhas nos pés e dores
musculares, era preciso tomar um banho, jantar e pensar no bem
comum de todos.
O Gerson veio com uma notícia que finalmente fez todos
refletirem. Por coincidência ele conhecia o gerente do posto que
imediatamente nos cedeu um local para passar a noite. Para quem
está acostumado as dormidas ao relento em dias de Romaria ao
ver aquele quartinho iluminado, limpo e com banheiro foi como se
Nossa Senhora colocasse a mão sobre nossas cabeças e nos fizesse
enxergar o quanto estávamos sendo agraciados com aquele lugar
para passar a noite.
Resolvemos tomar um banho e, olha que o chuveiro tinha água
quente o que é raríssimo em postos de gasolina na Via Dutra. Após
o banho jantamos e enquanto refletia sobre os fatos acontecidos
recentemente e agradecia por ter encontrado aquele lugar em nossa
primeira noite de repouso, recebi uma mensagem no celular. Quem
enviou foi o filho do meu amigo Higashi, o Dodô do juvenil do
ECUS Suzano e na sua mensagem ele escreveu o seguinte:
– “Fran, firmeza? Ora pelo meu filho que ta para vim, que
tenha muita saúde e o mesmo a todos que viverem a minha volta.
Boa viagem para vocês todos.”
O Dodô é um garoto, que para os dias de hoje pode ser
considerado como um exemplo. Aos 18 anos vai ser pai, faz
faculdade e ainda é atleta de Futsal. Peço a Nossa Senhora que
continue iluminando o caminho dos nossos jovens e que todos
tenham a preocupação com um mundo melhor.
Antes de ir dormir recebi a ligação da minha esposa e do meu
Um Guerreiro na Periferia
87
filho. Ao ouvir a voz do Kauê meus olhos encheram-se de lágrimas
e pedi a Nossa Senhora que o ilumine, proteja e dê segurança aos
passos do meu filho, que ao longo de sua vida possa ter sabedoria e
coração para dar continuidade na missão que recebi.
Liguei para minha mãe dando notícias de que estávamos
todos bem e que já estávamos indo dormir.
Neste dia aconteceu um fato interessante. Fomos parados
por uma repórter do Estado de São Paulo que tirou várias fotos e
entrevistou os integrantes de nossa Romaria. Cada um pode relatar
os motivos pelo qual estava fazendo sua caminhada rumo a casa da
mãe Aparecida.
Começamos o segundo dia de caminhada as 5:40h e fizemos
nossa primeira parada as 8:45h. Nossa preocupação agora era
com Luiz Porfírio que juntou-se a nós no primeiro dia. Ele torceu
o tornozelo e sentia muita dificuldade para caminhar. Na parada
demos um anti-inflamatório e enrolamos uma atadura em seu pé na
tentativa de amenizar sua dor.
Prosseguimos caminhando e encontramos com um grupo de
amigos que está fazendo sua décima Romaria. Saíram da Cidade de
Bom Jesus dos Perdões. O grupo é formado por 7 pessoas e possui
um oitavo integrante que os acompanha de carro dando todo apoio
e suporte no transporte de mochilas, colchonetes, frutas e água.
Desde o período da manhã o seu Manoel se propôs a carregar
a Bandeira. Já é quase meio dia e o sol está muito forte. Avistamos
uma barraca de caldo de cana e paramos por alguns instantes para
nos refrescar.
Mais uma vez, como nos anos anteriores, ao decorrer do
percurso fomos agraciados por uma família que parou seu carro e
nos ofereceu garrafas de água gelada. Essas pessoas normalmente
não possuem disposição ou preparo para fazer o caminho, porém,
de alguma forma querem ajudar e expressar sua fé. Compram
garrafas de água, frutas, refrigerantes, preparam lanches e saem
na estrada com seus carros oferecendo aos Romeiros. São pessoas
que demonstram seu amor a Nossa Senhora oferecendo de alguma
forma sua contribuição.
Após beber água me veio na lembrança à imagem da minha
Avó. Acho que não tem um motivo especial para a lembrança dela
88
Francisco Carlos da Silva, o Fran
naquele momento, apenas uma saudade imensa da mulher que me
criou e educou. Se hoje sou tão devoto e fiel a Nossa Senhora
Aparecida foi com ela que aprendi a ter fé e devoção. Lembro-me
da sua voz sempre me dizendo ao sair de casa: que Deus te abençoe
e que Nossa Senhora Aparecida te proteja. Na casa da minha mãe
tem até hoje uma imagem de Nossa Senhora que eu trouxe e dei de
presente para minha avó na primeira vez que fiz esta caminhada.
Em nossa parada para o almoço encontramos um grupo que
saiu da Cohab II e Cidade Tiradentes, como estavam com bolhas
nos pés, dei algumas dicas de como lidar com as bolhas e as dores
provocadas por elas.
Como nosso pessoal também já se encontrava cansado
resolvemos parar para o almoço as 11:45h e só retornaríamos após
as 14:30h. Aproveitamos para conversar e refazer os curativos nos
pés dos que necessitavam.
Na retomada do almoço percorremos cerca de 20 km sem
efetuar uma única parada. Alguns integrantes da caminhada
ficaram chateados, pois, houve uma turma que distanciou-se muito,
deixando os demais para trás. Como não havia nenhum posto ou
local apropriado para efetuar a parada e descansar só fomos nos
encontrar após quase 4 horas de caminhada, e assim mesmo alguns
queriam andar mais 3 km até outro posto para dormir.
Como estava difícil chegar a um acordo resolvi interceder
novamente, explicando que apesar de já ter feito muitas vezes este
caminho, esta era a primeira vez que sentia-me constrangido diante
de uma situação. O Sr. Paulo que é um dos mais velhos então usou
uma frase muito apropriada para aquele momento, ele disse:
- Nós estamos numa Romaria ou não? Temos que andar em
grupo e não em blocos de 2, 3 ou 4 pessoas, até mesmo porque a
Basílica não vai sair do lugar. Se alguém quiser seguir até o próximo
posto que vá, pois, eu estou cansado e daqui só saio amanhã.
Mais uma vez expliquei ao pessoal que temos muito que
aprender, se quisermos a cada ano que passa trazer mais pessoas.
Devemos aprender a respeitar o limite do próximo, e o importante
era o bem estar de todos, foi então que o Boxe, Edmilson e Gerson
resolveram andar os 3 km e pediram que os encontrassem no dia
seguinte, pois naquele posto não havia lugar para todos dormirem.
Um Guerreiro na Periferia
89
Como sempre procuro respeitar a opinião das pessoas.
Conversei com os demais sobre o assunto e resolvemos que estava
tudo bem.
Neste mesmo posto encontramos Damião, Rose e o Manoel.
Apesar das dores e bolhas todos estavam bem. A Rose estava
apenas com uma bolha embaixo do pé, que o pessoal de Barueri já
havia tratado de transpassar uma linha com a ajuda de uma agulha.
Isso ajuda a drenar a bolha não deixando acumular água e evitando
maiores complicações.
Neste momento o Damião veio com a triste notícia de que um
membro da Romaria de Barueri havia sido atropelado logo no inicio
da Via Dutra, vindo a falecer. Seu nome era Antonio e era chamado
pelos amigos de Toninho, tinha 74 anos e ao tentar atravessar o
cruzamento de uma pista para outra, veio um carro saindo de trás
de uma carreta e o atingiu em cheio. Alguns integrantes da Romaria
de Barueri desistiram ficando totalmente abatidos, enquanto outros
retomaram o caminho após o enterro.
É triste e chocante essa notícia, uma vez que em uma
demonstração de fé e amor à Nossa Senhora Aparecida, esta pessoa
perdeu a vida. O condutor do veículo que o atropelou fugiu do local
sem prestar socorro. Peço a Nossa Senhora que dê forças a família
e que conforte seus amigos.
Acordamos as 4:30h e começamos a nos preparar para seguir
nosso caminho. Foi então que me dei conta que ao lado de todos
que dormiam, havia uma banana, uma maça e uma tangerina. Mais
uma vez, alguém com uma alma caridosa havia saído de sua casa e
deixado o amor entrar em seu coração levando apoio aos romeiros
de Nossa Senhora.
O pessoal de Barueri assinou nossa bandeira e o Padre Mei
um dos responsáveis pela Romaria de Barueri veio abençoar-nos
e dar alguns conselhos, pedindo-nos para andar sempre em grupo,
pois a quantidade de assaltos aos Romeiros nessa época do ano é
enorme. O Padre Mei que está na sua 23a Romaria pediu-nos para
que déssemos as mãos e então rezamos:
90
Francisco Carlos da Silva, o Fran
PAI NOSSO
Pai Nosso que estais nos Céus,
Santificado seja o Vosso nome.
Venha a nós o Vosso reino,
Seja feita a Vossa vontade
Assim na Terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoai-nos as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
E não nos deixeis cair em tentação
Mas livrai-nos do mal.
Amém.
AVE MARIA
Ave Maria,
cheia de graça,
o Senhor é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres,
bendito é o fruto em Vosso ventre,
Jesus.
Santa Maria Mãe de Deus,
rogai por nós os pecadores,
agora e na hora da nossa morte.
Amém.
Um Guerreiro na Periferia
91
CREDO
Creio em Deus Pai Todo - Poderoso,
Criador do céu e da terra,
creio em Jesus Cristo Nosso Senhor,
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai,
de onde a de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na Santa Igreja Católica,
na comunhão dos Santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne,
na vida eterna.
Amém.
Após as orações e ter comido as frutas que nos foram
deixadas, abastecemos nossas garrafas com água e seguimos nosso
caminho. Neste terceiro dia de caminhada já podíamos constatar
uma quantidade enorme de pessoas que faziam o caminho. Os
acostamentos da Via Dutra estavam tomados de pessoas carregadas
de Fé, com seus pés sangrando, cheios de bolhas, pele castigada
pelo sol que teimava em nascer antes das 6:00hs e só se por após
as 18:00hs.
Passamos por diversos romeiros, a Romaria de Santo André
este ano diminuiu. Vieram apenas 40 pessoas, formada por jovens,
senhoras, senhores e crianças. Uma corrente verde limão ao longo
da Via Dutra, contando com o apoio de um ônibus e uma pickup.
Passamos por duas senhoras que estavam com a camiseta
da Romaria de Mogi das Cruzes. Deveriam ter mais de 65 anos,
com um terço na mão, passadas lentas, cabelos grisalhos e o rosto
92
Francisco Carlos da Silva, o Fran
cansado. Demonstravam sua coragem, sua fé e a experiência que os
jovens muitas vezes esquecem de levar em consideração.
Nosso grupo seguia firme em nosso caminho, observando e
sendo observado pelos que carregavam no peito a esperança de que
nossas preces fossem atendidas. Centenas de pessoas ao longo da
Via Dutra carregando objetos, bandeiras, cruzes e fé, faz com que
tenhamos a certeza que um mundo repleto de fé é um mundo cheio
de amor, que nem tudo está perdido e que só depende de cada um
de nós acreditar, que podemos fazer um mundo melhor.
Os remédios que tomamos a noite pareciam está fazendo
efeito, pois ninguém reclamava de dores musculares, os que
possuíam bolhas pareciam ter se acostumado com elas, calados,
seguíamos firme, ignorando o sol, o calor, o cansaço e o desgaste
provocado pela dormida no cimento frio.
Aquelas Romarias que possuem acompanhamento de um
carro de apoio têm desgaste menor, normalmente não carregam
mochilas e possuem colchonetes nos veículos que os acompanham.
O desgaste maior não é aquele provocado por uma noite
mal dormida no chão e ao relento. O maior desgaste é provocado
pelas bolhas nos pés. Essas sim castigam. As bolhas conseguem
mexer com todos os músculos do corpo, devido a dificuldade que
provoca para andar. Normalmente estouram e no lugar surge outra.
O importante é ter uma agulha com linha para furá-las e deixa-se
um pedaço de linha dentro da bolha, assim ela não fecha e a linha
com a ponta para fora serve de dreno.
Fizemos uma parada por volta das 10:00h para um caldo de
cana. Encontramos o pessoal da Romaria de São Caetano do Sul.
Estavam no terceiro ano de caminhada. Pedimos para assinarem
nossa bandeira e desejamos sorte a todos.
Na altura do km 110 da Via Dutra sentido Rio de Janeiro
encontramos à beira da Rodovia diversos pés de amora e pés de
goiaba. Colhemos algumas frutas, o que foi ótimo para enganar o
estomago até a hora do almoço. Ali também tem uma bica de água
fresca. Enchemos nossas garrafas antes da parada para o almoço.
Nesse local o Branco escalou uma espécie de morro para ajudar um
senhor que havia pego água na bica. Retomamos a caminhada por
volta das 14:30h. Enquanto isso, Chiquinho, Rambo e Sr. Paulo se
divertiam contando piadas.
Um Guerreiro na Periferia
93
Nesse terceiro dia andamos até o km 87 da Via Dutra. Paramos
para tomar banho e jantar. A emoção já começa a tomar conta, pois
restam apenas 17 km para chegar a casa da Mãe de todas as Mães.
Nesse posto ficamos apenas Sr. Paulo, Chiquinho, Branco,
Boy, Rambo, Sr. Manoel e Eu. Fazem apenas 2 semanas que a mãe
do Boxe faleceu, nos explicou que iria seguir caminho juntamente
com o Gerson, Edmilson e Luiz Porfírio, porque queria chegar ainda
naquele dia se sua mãe estivesse viva estaria fazendo aniversário
e gostaria de homenageá-la chegando à Basílica no dia do seu
aniversário.
Liguei para o Jair que tentaria se juntar a nós ainda nessa noite,
ele estava a exatos 25 km para trás com mais 3 amigos que estavam
muito machucados. Já o Damião, a Rose e o Manoel continuavam
andando com o pessoal de Barueri.
O Sr. Manoel foi o primeiro a preparar-se para dormir.
Precisava descansar bem, uma vez que chegando na Basílica no dia
seguinte dormiria conosco e na sexta dia 12 após a primeira missa
retornaria a pé para São Paulo refazendo o caminho de volta. Esse
senhor tem 54 anos e só de imaginar que consegue andar 170km já
pode ser considerado um herói, que dirá retornar, totalizando 340
km. Como não trouxe nenhuma coberta ou saco de dormir, deita-se
no chão e faz da bandeira o seu cobertor, como ele mesmo disse,
enrolado na bandeira ele está no colo da mãe Aparecida. Não sente
o chão gelado e nem a dureza do cimento.
Neste último dia levantamos às 4:30h para começar a
preparação para o último dia da caminhada desse ano. Recomeçamos
a caminhar por volta das 5:00h, antes, fizemos uma oração para
agradecer, afinal, até o momento corria tudo bem com todos os
integrantes de nossa Romaria.
Quando faltava apenas 14 km tivemos a idéia de, a cada 2
km, efetuar a troca da bandeira. Neste percurso era como se um
filme passasse pela minha cabeça, mentalmente, eu agradecia
cada conquista deste ano, e conversava com Nossa Senhora em
pensamento, pedindo por meu filho, minha esposa, minha mãe,
minha tia, meus irmãos, meus tios, tias, primos, meus amigos e
todos que de alguma forma incentivaram-me nessa caminhada de
2007.
Observava cada integrante da caminhada e percebia que a cada
94
Francisco Carlos da Silva, o Fran
km deixado para trás a emoção tomava conta de nossos corações. A
cada passagem da bandeira, batíamos palmas, comemorando uma
grande vitória.
O último a fechar o revezamento da bandeira foi eu. O
Chiquinho levou até a passarela que dá acesso a Basílica na altura
do km 71 da Via Dutra, e fiquei encarregado de entrar na Basílica
com a bandeira.
Juntamo-nos ao Gerson, Boxe, Luiz e Edmilson, que nos
aguardavam na Pousada da Dona Maria em frente ao estacionamento
principal.
A emoção de chegar mais uma vez à Basílica através das
forças das próprias pernas e da Fé em Nossa Senhora é indescritível.
É como se as forças fossem redobradas e o coração batesse como o
de uma criança ao ganhar o presente desejado.
Assistimos à missa juntos e fizemos nossas orações cada um
pedindo e agradecendo por suas intenções e graças alcançadas.
Tiramos muitas fotos e novamente nos comprometemos a nos
reunir daqui a exatos 12 meses.
Ao voltar para a pensão da Dona Maria encontramos com
o Jair que chegava com seus amigos. Nós estávamos almoçando
quando ele chegou na pensão. Batemos palmas e saldamos a ele
e seus 3 amigos sendo que dois deles faziam a caminhada pela
primeira vez. Junto com o Jair estava o nosso irmão da Fé Gerdson
que neste ano chegou bem machucado.
O Boxe, Edmilson, Luiz Porfírio e Sr. Paulo pegaram o
ônibus com destino a São Paulo, retornando cada um para sua casa.
Ligamos para o Damião e o mesmo continuava com o apoio dos
romeiros de Barueri. Ele disse que chegaria ainda hoje (quinta feira
dia 11). O Gerson estava bem machucado e foi procurar um posto
médico para fazer curativos no pé que estava com a unha a ponto
de sair.
Resolvi pegar o depoimento do Chiquinho por se tratar de sua
primeira caminhada. Perguntei qual lição ele tirava de sua primeira
caminhada, ele respondeu:
- Eu tiro uma grande lição de vida e com certeza é uma das
maiores que tive ao longo destes 54 anos, sendo um sonho realizado
uma vez que eu nunca tinha vindo até aqui e a primeira vez que vim
Um Guerreiro na Periferia
95
foi a pé. Não dá para descrever a emoção sentida. Só pegando a
estrada e chegando aqui para saber. Agora é se preparar para o ano
que vem, pois pretendo fazer por muitos anos este caminho.
Enquanto comprava lembranças para os amigos encontrei
uma senhora que eu havia tirado fotos na caminhada do ano passado
(2006). Ela tem 79 anos de idade e é da Romaria de Santo André.
Aproveitei para tirar fotos novamente e desejar sucesso e que ela
continue por muitos e muitos anos em seu caminho pela fé. Está
senhora não faz o trajeto de Santo André até a Basílica, pelo que
entendi ela encontra com seu filho já no caminho e anda cerca de
50 km.
Na pousada da Dona Maria, conversamos muito e já
pensávamos na caminhada de 2008. Por volta das 18:00hs ligamos
para o Damião para saber onde estavam, foi então que ele nos disse
que continuava com o pessoal de Barueri, eles estavam apenas 6
km da Basílica. Estavam parados esperando todos os integrantes
da Romaria de Barueri conseguirem se reunir para chegarem
todos juntos. Então o Sr. Manoel deu a idéia de irmos encontrálos pois deveriam estar muito cansados e machucados. Deveríamos
incentivá-los e ajudar a carregar as mochilas nessa reta final. Mesmo
machucado o Rambo resolveu pegar a nossa bandeira e ir conosco
ao encontro deles.
Ao encontrarmos a Romaria de Barueri foi difícil localizar o
Damião, a Rose e o Manoel. Este ano eles vieram com 78 romeiros,
e ao avistar a nossa Bandeira no meio das demais a Rose começou
a chorar muito. Peguei sua mochila e ela muito emocionada dizia.
Não falei que eu conseguia. Nossa Senhora me deu forças e não me
deixou desistir. O Damião que já fez 4 vezes este caminho estava
muito mais machucado que ela. Segundo eles em um determinado
momento a Rose chegou a carregar a mochila dela e a mochila dele.
Quando o pessoal chegou na passarela na altura do km 71 da
Via Dutra, todos pararam, em um momento de muita emoção. O
Vicente que é um dos coordenadores da Romaria de Barueri pediu
silêncio, precisava falar sobre alguns fatos acontecidos na Romaria.
O primeiro ponto a ser colocado pelo Vicente foi que o
pessoal ainda não tinha deixado a ficha cair sobre o fato acontecido
no último sábado. Ele estava falando da morte do Sr. Toninho, o
romeiro atropelado no inicio da caminhada. O Vicente falou da
96
Francisco Carlos da Silva, o Fran
importância, do comprometimento e da atenção que todos devem
ter durante a Romaria. Da importância de se organizar meses antes,
de respeitar os horários de saída.
O Vicente estava muito abatido e comentou que estaria
ajudando no que fosse preciso no próximo ano, porém não sabia se
estaria presente na próxima Romaria. Naquele momento imaginei o
que aquele homem estava sentindo e pensando, porém só ele mesmo
como organizador da Romaria era capaz de saber o tamanho da sua
dor provocada pela perda de um amigo querido.
Outras pessoas também falaram sobre o assunto e a importância
de levar o Caminho da Fé mais a sério. Que ninguém deve pensar
que andar 220 km (Barueri a Aparecida) deve ser levado apenas
como um desafio, mas que além de desafio deve ser uma prova de
amor por Nossa Senhora Aparecida.
O Damião falou em nome da nossa Romaria e agradeceu pela
acolhida que a Romaria de Barueri deu a ele, a Rose e ao Mané.
O abatimento era geral e muitas pessoas choravam
desconsoladas diante da palavra de cada romeiro que falava, juntos
rezamos um pai nosso, uma ave Maria e o creio. Foi então que após
as orações o pessoal seguiu até a Basílica, onde os integrantes da
nossa Romaria se reuniu. O Sr. Manoel, Branco, Rambo, o Boy e eu,
conversamos sobre a responsabilidade e a importância de orientar
a todos que desejam nos acompanhar na trajetória de 2008, que o
caminho é longo e que não é apenas uma questão de resistência
para se terminar a caminhada. É também um envolvimento da Fé,
da responsabilidade e do amor a Nossa Senhora Aparecida.
Conversamos até tarde e no dia seguinte assistimos a primeira
missa, aproveitei para levar a camisa que eu usei durante todo o
caminho com as assinaturas e pedidos até a sala de promessas, o
Rambo me entregou muitos papeis com pedidos e uma roupinha de
criança que também deixei na sala de promessas.
Pedi a Nossa Senhora por toda minha família e amigos,
renovando a minha promessa em levar o meu filho Kauê comigo
um dia no caminho da fé. Pedi a Nossa Senhora que faça com
que ele possa conseguir seguir o seu caminho na carreira que
sonhamos, e que em troca, tanto eu como ele, seremos instrumentos
multiplicadores da caridade aos menos favorecidos.
Um Guerreiro na Periferia
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Chegando da missa comentei com o Branco da promessa de
fazer o caminho de Santiago. O seu Manoel nos ouvindo conversar
se comprometeu a ir conosco. Pedi a Nossa Senhora e a Santiago
que abençoe o Kauê para que ele possa nos presentear com as
despesas desta viagem.
Hoje o meu filho é uma criança e tem apenas 12 anos, mas
ele e eu temos um acordo sobre a carreira que ele quer seguir, este
acordo se resume em duas promessas. Na primeira quando ele
atingir seu primeiro objetivo estará indo comigo fazer a caminhada
até a Basílica de Aparecida, e com a ajuda de Nossa Senhora ele
passara para o seu segundo objetivo. Então caberá a mim fazer o
caminho de Santiago de Compostela, pago por ele. Este caminho é
na Espanha e anda-se cerca de 800 km. O Branco que é, além de um
grande amigo um irmão, que encontrei na Fé se dispôs a fazer este
caminho comigo. O Sr. Manoel também se comprometeu em fazer
o caminho de Santiago em nome da Fé e do objetivo do meu filho.
O Sr. Manoel saiu da Basílica para retornar a pé para Itaquera
percorrendo o mesmo caminho por volta das 7:30h. Rezamos um
pai nosso e uma ave Maria pedindo que nada de mal aconteça com
ele no seu retorno. O meu amigo Higashi já estava a caminho para
nos buscar já que o Branco e o Boy retornariam de ônibus. Neste
momento a frase, “é melhor ter amigos do que dinheiro” pode ser
constatada, afinal o Higashi que me ligou diversas vezes durante
todo o percurso da caminhada se dispôs a sair da sua casa e ir me
buscar na Basílica de Aparecida. Chegou por volta das 11:00h e foi
comigo até a Basílica. Tirou fotos ao meu lado e dos meus amigos
Chiquinho e Rambo.
Ao retornarmos ele fez questão de nos oferecer um almoço
em uma churrascaria na Via Dutra. Foi um gesto de nos homenagear
pela coragem que tivemos. Após almoçarmos me lembrei do Sr.
Manoel, o sol estava muito forte. Compramos água e seguimos
caminho. Ao avistar o Sr. Manoel que já havia percorrido exatos 26
km até aquele momento por volta de 12:30h, pararmos o carro, lhe
entregamos água e lhe desejamos muita sorte, força e coragem no
caminho de volta.
Aquele homem de 54 anos, não teve vergonha de nos dizer
que já havia chorado várias vezes na volta, se emocionando cada
vez que lembrava do caminho da ida que agora fazia no sentido
98
Francisco Carlos da Silva, o Fran
inverso. Tiramos fotos e seguimos nosso caminho deixando para
trás um homem cheio de fé e de esperanças de dias melhores para
um mundo melhor como ele mesmo nos disse.
Deixamos o Rambo próximo da casa dele, e ao chegar na casa
da minha mãe fui acolhido com um beijo e um abraço dela.
Por volta das 19:30hs o Damião e a Rose passaram em casa
para avisar que estavam de volta e que por volta das 15:30hs haviam
passado pelo Sr. Manoel na altura do Km 130 da Via Dutra, ou
seja, até aquele momento ele já havia percorrido 42 km desde sua
saída da Basílica. Pelos nossos cálculos ele chegaria em Itaquera
no sábado dia 13. Todos nós nos comprometemos a ir a missa no
domingo as 18:00h.
Um homem não pode ser medido pelo seu tamanho, pela
quantidade de bens que possui e nem tão pouco pelo tamanho da sua
conta bancária. Quem dera Deus que as pessoas pudessem medir
o valor dos grandes homens pelas suas atitudes, pela sua coragem,
determinação e principalmente por sua capacidade de doar-se ao
próximo.
O Sr. Manoel tem cerca de 1.65 metros de altura e pesa 56
kilos, é um simples padeiro, assim como é simples sua vida, porém
tem atitudes tão nobres em seu dia a dia que pode ser chamado de
um “homem especial”.
Durante momentos de reflexão que tenho na caminhada à
casa da Mãe Aparecida, aprendi que é mais importante se colocar
no lugar das pessoas do que julgá-las. Conversando com meus
irmãos da fé sempre procuro destacar este ponto, que é preciso se
colocar no lugar e na situação do próximo. Nunca devemos sair por
ai julgando as pessoas antes de refletir qual atitude tomaríamos se
estivéssemos exatamente na situação dela.
Penso que quando o ser humano aprender a sofrer com a dor
do próximo e refletir diante de determinadas situações fazendo a
seguinte pergunta:
- E se fosse comigo? E se eu estivesse no lugar desta pessoa?
Como eu agiria?
Na caminhada que faço todo ano procuro conversar bastante
com meus companheiros a este respeito.
O Caminho da Fé deve partir primeiro do coração. Uma vez
Um Guerreiro na Periferia
99
que você fez do seu coração um órgão multiplicador de amor ao
próximo você está preparado para deixar suas pernas te levarem
pelos caminhos que você desejar seguir.
O amor é o caminho mais curto para se chegar a Deus. Bem
aventurado aquele que dá o melhor de si na esperança de ajudar ao
próximo sem nada receber.
100
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Sempre me orgulhei todas as vezes que ouvi das pessoas o
quanto eu demonstrava ser um paizão. A ausência do meu pai em
minha vida me fez prometer que no dia que tivesse um filho seria o
melhor pai do mundo. Tenho lutado e tentado muito para cumprir
essa promessa. Recentemente recebi um texto que me fez pensar
sobre determinadas coisas inclusive por quantas vezes isso poderia
ter acontecido comigo ou com minha esposa.
QUERO SER UM TELEVISOR
A professora Ana Maria pediu aos alunos que fizessem uma
redação e que nela escrevessem o que eles gostariam que Deus
fizesse por eles.
À noite, corrigindo as redações, ela se depara com uma que a
deixa muito emocionada.
O marido acaba de entrar, a vê chorando e diz:
– O que aconteceu?
Ela responde:
– Leia.
Era a redação de um menino:
“Senhor, esta noite eu lhe peço algo especial: me transforme
em um Televisor”.
Quero ocupar o seu lugar.
Viver como vive a TV de minha casa.
Ter um lugar especial para mim e reunir minha família ao
redor...
Ser levado a sério quando falo...
Um Guerreiro na Periferia
101
Quero ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções
nem questionamentos.
Quero receber o mesmo cuidado especial que a TV recebe
quando não funciona.
E ter a companhia do meu pai quando ele chega em casa,
mesmo que esteja cansado.
E que minha mãe me procure quando estiver sozinha e
aborrecida, em vez de me ignorar.
E ainda que meus irmãos ‘briguem’ para estar comigo.
Quero sentir que a minha família deixa tudo de lado, de vez
em quando, para passar alguns momentos comigo.
E, por fim, que eu possa divertir a todos.
Senhor, não lhe peço muito...
Só quero viver o que vive qualquer Televisor!”
Naquele momento, o marido de Ana Maria, chocado, comenta:
– Meu Deus, coitado desse menino! Nossa, que coisa, esses
pais...
E ela em lágrimas, lhe responde:
– Essa REDAÇÃO... é do nosso filho...
Acredito que muitos neste momento podem pensar, quantas
vezes não fiz isso ou será que meu filho algum dia parou para
pensar desta forma. As vezes damos tanto valor a coisas banais que
esquecemos de nosso maior bem, um bem tão precioso que cresce
tão rápido que ao acordarmos já deixaram de ser criança e viram
adultos. Nossos filhos que nunca pediram para vir ao mundo pagam
um preço alto por muitas vezes ignorarmos o quanto nossa presença
é importante para eles.
Quantos pais fazem essa pergunta?
– Meus Deus, onde foi que eu errei?
A resposta na maioria das vezes não deve vir de Deus e sim
dos próprios pais. Quantas vezes deixamos nossos filhos sozinhos
em casa e saímos para nos divertir. Quantas horas de trabalho a
mais no expediente serão necessárias para que ao chegarmos em
casa o encontremos dormindo, e que ao sair no dia seguinte para o
trabalho ainda o encontremos deitados.
102
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Para quantas pessoas que nem conhecemos ligamos durante o
dia em nosso local de trabalho e muitas vezes esquecemos o número
de nossa própria casa. Por mais escasso que seja o seu tempo,
procure tirar alguns minutos para dar um pouco de atenção para
quem nunca pediu para vir a este mundo. Ser pai e mãe vai muito
além do tênis de marca no dia do aniversário, do playstation de
Natal ou da bicicleta no dia das crianças. Muitas vezes as pessoas
estão tão ocupados que pedem à outras pessoas que compareçam a
reunião da escola de seus filhos, e ao olharem o boletim lembram
das cobranças que os pais devem fazer aos filhos, só não se lembram
que antes de cobrar é preciso oferecer algo. Quantos pais sentamse ao lado dos filhos na hora de fazer a lição de casa, ou melhor
quantos se preocupam em perguntar se o filho tem lição de casa
para fazer?
Realmente ser pai não é nada fácil, mas, e ser filho como
será?
Os filhos de hoje não são diferentes das crianças da geração
passada. Um pai é como um líder, “um líder não é aquele que é
temido, e sim aquele que é respeitado”.
Seja um líder e ao mesmo tempo o herói do seu filho. Não
podemos deixar que nossos filhos vejam em outra pessoa a figura
que gostariam de ver em nós. Ser pai ou ser mãe é muito difícil,
porém ser filho é muito mais complicado
Lembro-me da minha infância quando minha mãe saia para o
trabalho e eu ficava com minha avó e minha tia, chorei muitas vezes
escondido porque sentia falta da minha mãe, por mais carinho que
recebia da minha avó e da minha tia. Quando minha mãe chegava
em casa, tarde da noite, cansada após um longo dia de trabalho
sempre me trazia um doce, uma bala e um abraço. Como era bom
aquele abraço, me sentia protegido e via minha mãe como uma
heroína. Sempre ganhou um salário mínimo e com aquele salário
fazia milagres para sempre nos dar o que comer, o que vestir e
mesmo que na época eu não tivesse idéia ou entendimento sobre o
que era comprar um vídeo game em 24 vezes nas Casas Bahia ela
fazia das tripas coração e atendia o meu pedido e o do meu irmão.
Tudo para nos ver sorrindo, mesmo que muitas vezes a falta de
dinheiro a fizesse chorar.
Minha mãe, que mulher ela é, ou melhor que lutadora.
Um Guerreiro na Periferia
103
Batalhou anos e anos sempre sonhando com um futuro melhor
para mim e meu irmão. Minha mãe que foi mãe e pai ao mesmo
tempo, fez maravilhas com apenas um salário mínimo, e olha que
nem podemos levar em consideração o seu talento com as letras,
afinal foi criada no sertão. Aprendeu apenas a escrever seu nome.
Graças a Deus sua garra e determinação não serviu apenas para
aprender a escrever seu nome em uma folha de papel. Para mim
ela escreveu seu nome na “história”. Minha mãe foi a mulher mais
guerreira e batalhadora que eu já conheci. Hoje procuro retribuir
um pouquinho do que ela fez por mim lhe oferecendo um pouco do
que Deus me oferece.
À VOCÊ DONA FRANCISCA, MINHA MÃE AMADA
Algumas pessoas nascem com alguns dons recebidos
diretamente de “Deus”. Alguns possuem talentos para a pintura,
outros para a política, tantos outros para a medicina, e até mesmo
para a religião. Outras pessoas, porém possuem o Dom de servir,
ou seja nascem para servir. Esses muitas vezes nem sabem ou
se dão conta que possuem este dom, mas o colocam em prática
diariamente, sem pensar ou sentir que estão praticando-o. A essas
pessoas “Deus” juntamente com o Dom de servir deu também
a vontade, a simplicidade, a humildade e acompanhado de tudo
isso veio ainda um coração cheio de esperança. Esperança de um
mundo melhor. Um mundo sem guerra, sem fome. Um mundo cheio
de paz e sem violência.
São de pessoas como a Senhora que este mundo precisa,
pessoas como a Senhora deveriam ser eternizadas, não deveriam
morrer jamais, afinal de contas o mundo seria bem melhor, com
menos sofrimento e com maior dedicação por parte de todos aqueles
que convivem com pessoas como a Senhora.
Mãe, agradeço por sua colaboração e dedicação. Por todas
as noites que a Senhora passou em claro trabalhando. Por cada
lágrima que a Senhora derramou nos momentos de desespero por
achar que não iria conseguir fazer de mim e do meu irmão homens
de bem. Sinto-me honrado por toda a ajuda que a Senhora tem me
104
Francisco Carlos da Silva, o Fran
dado, me sinto honrado por ter o seu sangue nas veias e agradeço a
Deus por sua coragem de enfrentar o mundo e lutar tanto para que
eu chegasse onde cheguei.
Tenho certeza que tudo que eu fizer em vida não será nada
diante de tudo que a Senhora tem me oferecido no convívio do seu
dia-a-dia. O que posso pedir é que Deus seja tão generoso comigo
como foi com a Senhora, me fazendo a sua imagem e semelhança.
Que eu possa ser herdeiro do seu coração, da sua bondade e da sua
coragem, fazendo pelos meus filhos pelo menos a metade do que a
Senhora fez por mim.
Não posso dizer que não senti a falta de um pai, mas posso
dizer que fui recompensado todas as vezes que precisei de uma
mãe, de uma amiga, de uma companheira e de alguém em quem me
espelhar nas horas difíceis.
Alguns perseguem a felicidade, outros a criam. Posso dizer
que ao longo de minha vida mesmo quando me faltou algo fui
muito feliz pelo simples fato de estar ao seu lado.
MINHA HOMENAGEM À TODAS AS MÃES
O Homem criou um dia para homenagear todas as mães,
mas o que posso desejar a vocês mães de todo o mundo, é meu
sentimento de carinho. Carinho por mulheres, que além de batalhar
todos os dias da semana, sem folga, sem descanso, ainda possuem
o dom de ser mãe. O que é ser mãe? Será que está minúscula
palavra composta por 3 letras, pode definir a imensidão desta
responsabilidade, bem, se ser mulher é pertencer ao sexo frágil,
quem inventou essa frase talvez tenha se esquecido que somente as
mulheres possuem o dom de serem mãe. E que nós pais, ou futuros
pais, morramos de inveja, afinal de contas, somente as mães
possuem o privilégio de carregarem nossos filhos durante 9 meses.
São elas que sofrem com aquela imensa e linda barriga. São elas
as primeiras a sentirem o primeiro choro, e que ao reconhecimento
desse choro saem correndo no meio da noite para atender nossos
filhos, que gritam com dor, com fome, com frio, ou ainda gritam
apenas porque sabem que a Mãe é capaz de varar noites em claro
velando seu sono.
Um Guerreiro na Periferia
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As mães são incapazes de sentir fome, frio, dor, ou medo
apenas pelo simples fato de estarem ao lado de seus filhos. E nós
filhos, ao menor sinal de maturidade ou a primeira sensação de
liberdade fazemos questão de abandoná-las, seja atrás de uma
noite de diversão, uma noite de prazer, algumas horas de trabalho,
ou ainda pela companhia dos amigos e em outros tantos momentos
insignificantes de nossas vidas.
Momentos esses que esquecemos de avisar que vamos dormir
fora, que vamos sair com os amigos, que estamos ocupados demais
para avisar, e mesmo depois de velhinhas e mães de homens feitos,
tornam a virar noites e mais noites acordadas, agora não porque os
filhos estão chorando de fome, de frio ou de medo, mas sim porque
as trocaram por mulheres, bares, cigarros, drogas, e outros tantos
vícios que nos fazem esquecer de dar um telefonema, escrever um
bilhete, mandar um recado dizendo:
Mãe pode ir dormir. Estou bem. Saí com um amigo, uma
amiga. Vou dormir com a namorada, e quando o fazemos de
nada adianta, já que o carinho e o afeto que as mães possuem
por seus filhos são tão grandes que mesmo sabendo onde os filhos
estão, teimam em perder noites de sono. Deixam de comer, e rezam
durante incansáveis horas para que Deus proteja, Ilumine, guarde
o que a vida lhe deu como maior presente.
E que ironia da vida. Como ela pode em muitos momentos
fazer com que aqueles que receberam a vida tirem-na de quem
os deu. A esses a sociedade chamam de assassinos, e as mães o
chamam de “Filhos”. Para uma mãe a sociedade pode dar o nome
que desejar a sua cria. Para a mãe, um filho sempre será um filho,
independente do que ele possa ter feito. À minha esposa, agradeço
por ter me dado dois filhos e ter se tornado uma dessas mães
dedicadas cheia de preocupação e capaz de dar a vida por sua cria,
tentando oferecer o que de melhor tem para ajudar na formação do
caráter dos nossos filhos. À Mãe dos meus filhos, devo tudo o que
de melhor aconteceu na minha vida: “o Kauê” e o “Lucca”.
À minha mãe, falta-me palavras para agradecer. Qualquer
esforço que faça para descrever o quanto ela é importante para
mim vai ser insignificante diante de sua grandeza. Gostaria de lhe
dizer apenas que qualquer esforço que eu faça por ela, não será
o suficiente para recompensar tudo que já fez por mim, aliás, o
sentimento por minha mãe não é e nunca será diferente do mesmo
106
Francisco Carlos da Silva, o Fran
que sinto por minha tia, a quem devo tanto quanto a minha própria
mãe. Assim como tantas outras mães que criam filhos que não
saíram de sua própria barriga mas que trazem o amor, o afeto
e a dedicação. Assim como minha tia que é como minha mãe o
meu agradecimento a minha “Mãe Velha”, que a alguns anos me
deixou. A ela devo um exemplo de vida. A ela devo todas as minhas
vitórias, Vó que Deus possa fazer a cada dia mais pessoas como a
senhora. Que ilumine seus passos e que Ele possa desfrutar tanto
da sua companhia como eu o fiz.
Por todas as mães peço a Deus que abençoe a cada um de
seus filhos para que no futuro possam retribuir por cada gesto de
carinho que receberam.
Minha preocupação como pai foi sempre a de poder deixar
muito mais exemplos de vida do que fortuna para meus filhos. Antes
dele aprender a ler eu criei 10 mandamentos para que ele pudesse
ao longo de sua vida utilizar em seu dia a dia. Mandamentos esses
que acredito que farão do Kauê um homem digno, respeitado e que
possa através destes tirar proveito para educar os netos que vai me
dar.
Esses mandamentos foram impressos e estão em um quadro
ao lado de sua cama. Ele deveria ler todos os dias para nunca
esquecê-los, porém nem sempre isso é possível mas sempre que dá
lemos juntos.
Não sei o quanto esses mandamentos podem influenciar na
vida do meu filho, porém acredito que cada um deles pode contribuir
de alguma forma na formação do seu caráter. O bem mais precioso
de um pai são os seus filhos, e todas as formas de passar o bem para
ajudar na formação deles devem ser levadas em consideração.
Fico triste quando tenho que falar sério com meu filho e
sempre que isso acontece é como se eu perdesse o chão. As vezes
preciso tanto que ele entenda o que quero dele sem muitas vezes
lhe dizer nada. Ser pai não é fácil, mas não desisto e nem desanimo
diante de algo que meu filho venha fazer de errado. Procuro fazer
com que ele aprenda diante dos erros e que compartilhe seus acertos.
Nunca precisei dar um tapa nele para que ele me tivesse respeito. O
respeito de um filho deve ser conquistado, assim como a confiança
e a cumplicidade.
Um Guerreiro na Periferia
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Os filhos de hoje serão os pais de amanhã, e os pais de hoje
serão os avós de amanhã. Você deve ensinar a seu filho que no
mundo em que vivemos tudo que é feito hoje é lançado ao vento e
volta com o passar dos anos. Plante a semente do bem no coração do
seu filho e colha frutos amanhã. Um bom pai terá como recompensa
um bom filho, bons netos e futuros companheiros em sua velhice.
OS 10 MANDAMENTOS DO PAI (FRAN) PARA SEU
FILHO (KAUÊ)
1. Respeitar para ser respeitado.
2. Nunca faça aos outros o que você não quer que façam
para você.
3. Acredite em você mesmo, pois só assim fará com que
as outras pessoas também passem a acreditar.
4. Tenha prazer em dividir o que você tem, e em troca
solicite as pessoas que sejam multiplicadoras desta
divisão.
5. Ser HONESTO e dizer sempre a verdade devem ser
sinônimo de orgulho.
6. Nunca experimente Roubar, Beber, Usar Drogas e
Fumar. O primeiro passo pode ser o início de um
caminho sem volta.
7. Não tenha medo dos corajosos e valentes, pois estes lhe
enfrentam de frente. Tome cuidado com os covardes
pois estes lhe atingem pelas costas.
8. Nunca esteja contente com você mesmo, cobre mais de
você do que das outras pessoas. Acredite sempre que
você pode cada vez mais.
9. Nunca tome decisões em momentos de RAIVA. As
conseqüências sempre são mais dolorosas do que os
atos.
10. Acredite em DEUS e em seus pais. Respeite os mais
velhos e AME as crianças, e desconfie dos que o
procuram somente quando você está por cima.
108
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Agora os 10 mandamentos do Kauê podem ser compartilhados
com cada pai que está lendo este livro, cabe a vocês adaptá-los a
sua necessidade ou apenas repassá-los da forma que desejarem para
seus filhos, ou simplesmente crie você mesmo os mandamentos
para seu filho. Assim você estará contribuindo diretamente com a
formação e o caráter do seu bem mais precioso.
Muitas vezes para nós pais é mais fácil acusar do que tentar
descobrir a causa que levou nossos filhos a cometer atos que não
concordamos, porém quantas vezes conversamos com os mesmos
sobre o que é certo o que é errado. Na grande maioria dos casos a falta
de informação ou o esclarecimento sobre determinados assuntos é
o fator predominante para determinadas atitudes dos filhos. Seja
cúmplice do seu filho a ponto de ele lhe confiar os segredos bons e
os ruins, as conquistas e as derrotas. O diálogo muitas vezes é tudo
que ele precisa para tomar a decisão mais correta. Antes de ser um
pai rígido com seu filho seja seu melhor amigo. O melhor amigo
não é aquele que passa a mão na cabeça, mas aquele que cobra
quando o outro está errado.
AMAR É FÁCIL...
Esta história é sobre um soldado que finalmente estava
voltando para casa, após a terrível guerra do Vietnã. . .
Ele ligou para seus pais, em São Francisco, e lhes disse:
(Filho) - Mãe, Pai, eu estou voltando para casa, mas, eu tenho
um favor a lhes pedir.
(Pais) - Claro meu filho (emocionados), peça o que quiser!
(Filho) - Eu tenho um amigo que eu gostaria de trazer comigo.
(Pais) - Claro meu filho, nos adoraríamos conhecê-lo!
(Filho) - Entretanto, há algo que vocês precisam saber, ele
fora terrivelmente ferido na última batalha, sendo que ele pisou em
uma mina e perdeu um braço e uma perna. O pior é que ele não tem
nenhum lugar para onde ir e, por isso, eu quero que ele venha morar
conosco.
(Pais) - Eu sinto muito em ouvir isso filho, nós talvez
Um Guerreiro na Periferia
109
possamos ajudá-lo a encontrar um lugar onde ele possa morar e
viver tranqüilamente! (assustados).
(Filho) - Não, mamãe e papai, eu quero que ele venha morar
conosco! (emocionado e muito nervoso)
(Pais) - Filho, disse o pai, você não sabe o que está nos
pedindo. Alguém com tanta dificuldade seria um grande fardo para
nós.
Nós temos nossas próprias vidas e não podemos deixar que
uma coisa como esta interfira em nosso modo de viver. Acho que
você deveria voltar para casa e esquecer este rapaz. Ele encontrará
uma maneira de viver por si mesmo (constrangidos).
Neste momento, o filho bateu o telefone. Os pais não ouviram
mais nenhuma palavra dele. Alguns dias depois, no entanto, eles
receberam um telefonema da polícia de São Francisco. O filho
deles havia morrido depois de ter caído de um prédio. A polícia
acreditava em suicídio. Os pais angustiados voaram para São
Francisco e foram levados para o necrotério a fim de identificar o
corpo do filho.
Eles o reconheceram, mas, para o seu horror, descobriram
algo que desconheciam: O filho deles tinha apenas um braço e uma
perna.
Os pais, nesta história são como muitos de nós. Achamos fácil
amar aqueles que são bonitos ou divertidos, mas, não gostamos das
pessoas que nos incomodam ou nos fazem sentir desconfortáveis.
De preferência, ficamos longe destas e de outras pessoas que
não são saudáveis, bonitas ou “espertas” como “nós acreditamos
que somos”.
Dou Graças a DEUS por nos enviar Seu Filho Jesus Cristo
que não nos trata desta maneira. Alguém que nos ama com um
amor incondicional, que nos acolhe dentro de uma só família. Esta
noite, antes de nos recolhermos, façamos uma pequena oração para
que DEUS nos dê a força que precisamos para aceitar as pessoas
como elas são, e ajudar a todos, a compreender aqueles que são
diferentes de nós. Há um milagre chamado AMIZADE, que mora
em nosso coração.
Você não sabe como ele acontece ou quando surge. Mas,
você sabe que este sentimento especial aflora e você percebe que a
AMIZADE é o presente mais precioso de Deus.
110
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Amigos são como jóias raras. Eles fazem você sorrir e
lhe encorajam para o sucesso. Eles nos emprestam um ouvido,
compartilham uma palavra de incentivo e estão sempre com o
coração aberto para nós. Mostre aos seus amigos o quanto você se
importa e é grato a eles
Amigos muitas vezes não têm o mesmo sangue e nem vêem
da mesma família. São de cores ou de raças diferentes, porém se
dão uns aos outros como se fossem únicos. Amizades verdadeiras
são raras nos dias de hoje e por isso devemos agradecer a Deus cada
vez que ele colocar em nossos caminhos um amigo que possamos
chamar de irmão.
Texto dedicado aos meus amigos Branco, Marcola,
Alexandre, Chiquinho.
A MÃE DOS MEUS FILHOS
Grandes mulheres merecem pelo menos, um pequeno olhar.
Já que para você seria tão pouco, lhe entrego meu peito, que guarda
um coração bondoso e cheio de amor.
Se para você não for o suficiente, lhe entrego minha mente,
que de muitas lembranças tristes, trás boas recordações. Não é uma
mente super dotada, porém tudo que sabe aprendeu bem...Estudou
em uma escola privilegiada e se formou na universidade da vida.
E, se mesmo assim, ainda lhe faltar algo, lhe entrego meu
espírito que diz possuir luz própria, com ele serás guiada pelo
caminho da felicidade, recebendo carinho, afeto, compreensão.
Com ele não precisas temer o mal, a escuridão, pois meu espírito
estará sempre ao teu lado, te iluminando e não deixando que o mal
atinja aqueles que AMO.
CONSELHOS DE UM PAI
Agradeço a Deus por ter me dado o maior de todos os
presentes, o direito de ser Pai. Meus filhos são a maior de todas as
minhas conquistas, um garoto saudável, amável e cheio de energia.
Um Guerreiro na Periferia
111
Como todo pai, tenho a preocupação com o futuro dele.
Procuro ensinar-lhe o que é certo e o que é errado. Todo pai deve
mostrar a seu filho o lado positivo e o lado negativo da vida, pois
só assim a criança estará preparada para enfrentar os desafios que
surgirão ao longo da vida.
Nunca devemos esconder de uma criança as coisas ruins.
Mostrem a seus filhos o lado negro da vida, mostrando-lhe sempre
que o errado não trás benefícios. Faça com que ele entenda e
acredite que o bem sempre vence o mal. Ajude seu filho a superar
obstáculos, mesmo que estes obstáculos sejam pequenos. Esteja
a seu lado, e supere junto com ele. Faça com que ele adquira
confiança pois estará preparando-o para os grandes desafios que
surgirão. Prepare-o para vida, nunca se omita diante de perguntas
que lhe faça. Seja seu melhor amigo, seu confidente, antes mesmo
de ser seu pai.
A criança vê no pai um ídolo e dele espera atitudes de um
herói. Repreenda seu filho, mas não com um tapa, e sim com
palavras. Faça seu filho pensar no que fez de errado e se ele magoou
alguém faça-o sentir-se no lugar daquela pessoa.
Respeite seu filho para que ele possa lhe respeitar e respeitar
as outras pessoa. Procure fazer com que aprenda com os erros,
afinal errar é humano e se nem mesmo Deus conseguiu agradar a
todos, quem somos nós para fazer isso.
Sei o quanto é difícil agradar uma criança, mas lembre-se
que, se você desistir de agradar seu filho, você poderá derramar
lágrimas amanhã por ele ter desistido de viver, entrando em um
caminho sem volta.
Se um jovem não encontra alegria junto a seus pais, de
sua família e de seus amigos, ele sempre encontrará um inimigo
oferecendo-lhe um pouco de falsa alegria. O principal inimigo de
nossos Jovens são as “drogas”. Combata este inimigo, pois assim
você estará protegendo seu filho.
Uma criança saudável é uma grande vitória para os pais, e
como dizem que “ESPORTE NÃO COMBINA COM DROGAS”,
faça seu filho ocupar o tempo, aprendendo, primeiro na escola,
depois praticando alguma atividade esportiva.
Nós, pais precisamos ajudar a mudar o mundo. Existem
milhões de crianças sofrendo e sem ter o que comer. É preciso fazer
algo para mudar e nós pais temos o dever de educar nossos filhos
112
Francisco Carlos da Silva, o Fran
mostrando que é ajudando que se é ajudado. Que é dando que se
recebe e que só depende de cada um de nós plantar nos corações de
nossos filhos a semente do bem.
Não cabe aos poderosos mudarem o destino de nossas
crianças, afinal, esses estão ocupados em mudar o seu próprio
destino. Roubando cada vez mais do povo eles se tornam cada
vez mais poderosos. Não esperemos por eles, vamos formar uma
grande corrente e mudar isso, educando nossos filhos para um
mundo companheiro, amigo e justo.
Se cada um fizer a sua parte, não teremos o que temer. O
mundo poderá ser mais generoso com nossas crianças e poderemos
viver em paz, sem guerras, sem violência, sem medo.
Eu tento fazer a minha parte, pois ao ajudar uma criança na
rua posso estar ajudando o futuro amigo do meu filho amanhã.
Cabe a mim escolher que tipo de amigos quero para meu filho. Os
problemas das outras crianças passam a ser também o problema
do meu filho, afinal o desconhecido de hoje pode estar ao seu lado
amanhã.
Tente dedicar um pouquinho do seu tempo tentando ajudar
alguém, pois nem sempre vai lhe custar. Enquanto houver uma ponta
de esperança, deve sempre haver um pai lutando para transformar o
mundo. Lutemos juntos por um planeta melhor, melhores condições
de vida e um mundo sem violência para nossas crianças.
Capítulo dedicado a Kauê Ribeiro Silva, meu filho,
amigo e companheiro.
Um Guerreiro na Periferia
113
A paixão por este esporte é tão grande que sou capaz de
afirmar sem medo de errar que o futsal é o grande responsável por
minha formação profissional. Se não fosse por ele eu jamais teria
conseguido terminar minha faculdade ou dar início a minha carreira
profissional.
Tudo começou quando fui convidado por um amigo a disputar
um campeonato pela Unimed que na época disputava alguns
campeonatos de futebol society. Durante toda competição fui me
destacando pela estatura baixa e pelo reflexo que demonstrava em
uma trave tão grande.
Certo dia faltei em um dos jogos e para minha sorte neste dia
um dos gerentes da Unimed que fazia parte da equipe questionou a
minha ausência. Lhe informaram que eu faltei no jogo porque fui
fazer um bico. Foi então que ele espantado disse:
- O garoto ta desempregado e ninguém me avisa. Liguem
para ele e mande ele me procurar na segunda feira.
Assim fizeram e assim começou a minha trajetória. Devido
ao futebol comecei a trabalhar na Empresa e fui ganhando destaque
e me relacionando bem com todos os demais funcionários.
Tinha um bom salário e para minha sorte o gerente sempre
me queria no time dele, nos rachas da semana. Nos campeonatos
conseguimos alguns títulos para a empresa e sempre dava um jeito
de levar um amigo bom de bola para ajudar a compor a equipe que
não era ruim, porém um bom atacante ou um bom zagueiro nunca é
demais para ajudar um goleiro.
Com mais ou menos um ano de empresa descobri que iria ser
pai. Todos queriam me ajudar e como eu ia me casar a galera fez
uma lista que no final deu 04 vezes mais que meu salário mensal,
porém não era o suficiente. Eu tinha que aumentar a minha renda
Um Guerreiro na Periferia
115
mensal e foi então que o gerente do CPD me disse para prestar o
vestibular que ele me encaixava no departamento de Informática.
Seria um sonho, pois o salário da área de informática era um
dos melhores. Na época não sabia nada de informática e nem tinha
condições para pagar se quer o aluguel da casa que havia arrumado
para morar quem diria o custo de uma faculdade.
Mas mesmo assim não desisti. Como o coordenador de
informática me garantiu que se eu passasse no vestibular daria um
jeito de arrumar minha transferência lá fui eu prestar o vestibular na
Unicsul. Bem, o que aconteceu todos sabem.
Para minha felicidade fui aprovado na faculdade e mais uma
vez o Futsal me ajudou a começar a mudar minha vida. Vi na bolsa
de 100% a chance de mudar o meu destino e de toda minha família.
Foi então que mais uma vez fui abençoado, entre 480 atletas fiquei
entre os 12 selecionados para bolsa integral.
Aqueles que me achavam louco ao entrar na faculdade com
um filho recém nascido e recém casado mudaram o conceito sobre
mim e passaram a me admirar. Consegui o respeito dos amigos, da
família e dos companheiros de trabalho. O pessoal da informática
passou a me respeitar cada vez mais, e mesmo diante do cansaço do
trabalho, das horas de treino na faculdade e do stress dos estudos,
lutei até o fim e consegui me formar.
Confesso que não foi nada fácil. Foram os anos mais difíceis
da minha vida. Meu filho pequeno, recém casado, muitas vezes
dormia de 02 horas e meia a 03 horas por dia. Se alguém tem
idéia do que é sentir-se um zumbi sabe bem do que estou falando.
Por diversas vezes pensei em desistir, mas ao olhar para minha
família e para todos que acreditavam em mim não podia deixar que
o fracasso vencesse.
Ainda tinha que lutar contra a turma do contra. Não gosto de
lembrar das pessoas que desconfiaram da minha capacidade e da
minha vontade de vencer, mas nunca fiz por eles, sempre foi por
mim e por minha família. Nunca quis provar a ninguém que eu era
capaz, aliás minha luta era contra meu cansaço, e a auto-confiança
que muitas vezes ameaçava me abandonar.
Fiquei tão esgotado que após terminar a faculdade decidi não
competir mais no Futsal. Ainda fiz algumas lutas de Kickboxing,
116
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Taekwondo, Boxe e Muay Thay, mas, jogar não agüentava mais,
estava cansado e mal sabia que ao longo dos anos ainda teria muito
o que conquistar dentro das quatro linhas.
Ao sair da faculdade resolvi montar uma equipe de Futsal
para reunir os amigos, bater uma bolinha no final de semana, sem
competições apenas pelo prazer de reunir os amigos. Foi então que
nasceu o Kauê Futsal. Dei o nome do meu filho ao time, ninguém
acreditava, mas a paixão pelo futsal e pelo meu filho me fizeram dar
a ele o nome de uma equipe.
Hoje o Kauê Futsal não existe teoricamente. Hoje chama-se
A.E.C. Kauê Itaquerense, devido a quantidade de atividades que
o time de futsal passou a realizar. Meu irmão (Fusa) sugeriu que
criássemos uma Associação Esportiva e Cultural, e como todos já
conheciam o Kauê Futsal batizamos a entidade de A.E.C. Kauê
Itaquerense.
Durante muitos anos estive à frente do time de Futsal da
entidade, mas outros deveres se apresentaram necessários em
minha vida. Hoje a Equipe de Futsal é comandada pelo meu irmão
Antonio Carlos, ou como ele mesmo prefere ser chamado, Fusa.
A entidade Kauê foi fundada em 03/04/1998 e ao longo
desses anos realiza no bairro de Itaquera e região diversos trabalhos
comunitários. Possuímos diversas atividades na associação que
ainda é presidida por mim, dentre elas o futsal, atletismo, distribuição
de sopão para moradores de rua, grupo da terceira idade, etc.
Em meados de 2003 resolvi voltar ao Futsal, através de um
amigo do Rio de Janeiro que, em contato com o técnico da Equipe
do São Paulo (B) de futsal recebeu meu currículo. Após estar quase
tudo acertado com o time B de futsal do São Paulo, este amigo
convidou-me para assistir um outro jogo de Futsal que acontecia
em São Bernardo do Campo. Foi então que entrou na minha vida
uma pessoa conhecida como Fabinho Maluco. O cara era maluco
mesmo. Apresentaram-me para ele neste jogo. Ele olhou meu
currículo e pediu para que eu me apresentasse no dia seguinte na
Equipe do Internacional da Zona Norte. Treinará amanhã para o
jogo contra o Banespa na quarta-feira e se for bem no jogo estará
empregado para o resto da vida - disse Fabinho.
E assim foi, só não sabia que o Banespa naquela época tinha
uma das melhores equipes de Futsal, não só de São Paulo mas do
Brasil.
Um Guerreiro na Periferia
117
Aconteceu minha primeira partida pelo AD Internacional
Z/N, equipe que me consagraria campeão Metropolitano em 2003,
e onde criei uma identificação com uma das torcidas mais lindas e
fanáticas que já vi.
Chamo esta partida contra o Banespa de minha partida
inesquecível, inclusive. Abaixo vejam a matéria publicada anos
após no Site da Federação Paulista de Futsal.
A PARTIDA INESQUECÍVEL:
AD INTERNACIONAL X BANESPA.
Aconteceu nas quartas de finais do Troféu Cidade de São
Paulo do ano de 2003.
Confesso que ao entrar na quadra senti um frio na barriga,
afinal do outro lado estavam, nada menos, que Manoel Tobias,
Goda, Saad, Leitão, Piu... e o meu grande ídolo Serginho. Cresci
vendo este grande goleiro jogar e agora estar na mesma quadra
jogando contra ele era uma sensação que não tinha explicação.
Nossa equipe entrou na quadra sabendo que seria muito difícil
vencer. Sabíamos que estávamos enfrentando alguns dos melhores
do mundo. O Fabinho usou da psicologia e de toda sua inteligência
e afirmou que a obrigação de vencer era do Banespa, que treinava
em dois períodos, ganhavam ótimos salários. Nós éramos apenas
coadjuvantes, que não tinham tempo de treinar, que não recebíamos
salários, e que até aquele momento éramos desconhecidos, mas que
à partir do momento que a bola rolasse seriam 5 contra 5, e ali
dentro da quadra poderíamos passar a ser os astros principais.
O jogo começou em um ritmo alucinante, a equipe do Banespa
bombardeando, e eu graças a Deus estava em um dia feliz.
Logo no início do jogo o Manoel Tobias teve a chance de abrir
o placar em uma bola cara-a-cara comigo, mas consegui evitar. O
tempo foi passando e o bombardeio continuou. O Banespa começou
a mexer na equipe e o placar teimava em ficar no 0 x 0. Após o
pedido de tempo o Fabinho corrigiu alguns erros de posicionamento
da nossa equipe e disse: Vocês só precisam acreditar um pouco
mais em vocês que daqui a pouco o gol sai. Veio na minha direção
118
Francisco Carlos da Silva, o Fran
e completou, é isso ai meu goleiro. Hoje é seu dia e eu confio em
você. Essas palavras foram como injeção de ânimo nas minhas
veias, pois o cara nunca tinha me visto.
Era como se fosse a luta de David contra Golias, e o incrível
aconteceu. após uma ótima jogada do nosso Fixo (Nino), o Renato
abriu o placar:1 x 0. Nossa torcida, que lotava o ginásio do Banespa,
começou a cantar. Ninguém acreditava no que estava acontecendo.
Cheguei a ouvir o Manoel Tobias dizer: Um gol, precisamos fazer
apenas um gol, o Banespa jogava pelo empate, pois tinha a melhor
campanha.
Terminou o 1º tempo, e ao chegar no vestiário senti algo que
jamais havia sentindo em time nenhum. Torcedores e diretores
invadiram o vestiário e disseram: vocês podem até perder o jogo,
mas o que já fizeram no 1º tempo valeu o sacrifício de vir até aqui.
O técnico Fabinho sabia que no 2º tempo faltaria perna
para nossa equipe e dificilmente conseguiríamos suportar aquela
pressão. Passou instruções para a equipe e voltamos para o segundo
tempo. O tempo foi passando, o Banespa continuou atacando e
“Eu” juntamente com a equipe conseguíamos segurar o ataque do
Banespa e não acreditávamos no que estava acontecendo. Lembro
que em um momento do jogo olhei para o Placar Eletrônico e
marcava 13 minutos jogados, estávamos apenas a 7 minutos de
fazer algo que parecia impossível. Em um determinado momento
da partida dividi uma bola com um jogador do Banespa e senti que
havia machucado o braço. Sai do jogo e em seguida voltei para
quadra, pois o Fabinho dizia, “volta que eu preciso de você”. O
jogo estava eletrizante e nada naquele momento me faria sair da
partida. Voltei para a quadra.
O Banespa chegou ao empate, e ai o fator físico fez a diferença.
Precisando virar o jogo tivemos que sair para o tudo ou nada, e em
um contra-ataque o Banespa chegou ao 2º gol, pedido de tempo, o
Fabinho novamente pediu calma e que não adiantava querer ir para
cima, pois nos contra-ataques eles poderiam chegar ao 3º gol, e foi
o que aconteceu, no finalzinho do jogo o Banespa fez 4 x 1.
Eu não acreditava no que estava acontecendo, mas ao olhar
para o banco o Fabinho me disse que estava ótimo, levanta a cabeça:
você e todos os jogadores fizeram tudo que podiam. Pela primeira
vez após uma derrota eu posso dizer que senti algo que nunca
Um Guerreiro na Periferia
119
havia sentido, o sentimento de dever cumprido. Nossos jogadores
correram, lutaram e brigaram até o último segundo, mas os Deuses
do Futsal foram justos, afinal uma equipe que não treinava, que
não recebia salário e que trabalhava o dia todo não poderia vencer
aquela “Equipe dos Sonhos do Banespa”. Após o final do jogo
recebi um abraço do Serginho e os parabéns. Jamais vou esquecer
o que ele me disse: “Parabéns, você pegou muito”. Isso para mim
foi importante, porém eu queria mesmo era ter vencido a partida.
Ao acabar o jogo uma repórter veio entrevistar-me e perguntou
se em algum momento nós acreditávamos que poderíamos vencer
o jogo. Disse a ela que sinceramente “NÃO”, mas que lutamos até
o fim, que éramos uma equipe de operários, trabalhávamos o dia
todo, não tínhamos tempo para treinar, e naquele dia jogávamos
contra nossos ídolos. Jogar contra o Manoel Tobias, Serginho e todo
aquele elenco do Banespa e até 7 minutos do final estar vencendo
por 1 x 0 já tinha sido um grande feito.
Fiquei surpreso quando ela me perguntou como me sentia
tendo parado o Manoel Tobias, que naquele jogo não havia feito
nenhum gol. Disse-lhe que havia prometido para mim mesmo que
naquele dia iria jogar contra o melhor do mundo, e que não tomaria
nenhum gol do Manoel, e que no futuro teria orgulho de dizer
que joguei contra o melhor do mundo e que ele naquele momento
passou em branco, mas que agradecia ao Fabinho por isso e por ter
confiança em mim, pois só fiz um treino, e fiquei atento para tudo
que ele me falou sobre o Manoel. Os dois já haviam jogado juntos
na Seleção e o Fabinho tinha me dado alguns toques sobre ele.
Neste mesmo ano fomos Campeões Metropolitanos da 1ª
Divisão, e aquele jogo contra o Banespa na Série Ouro valeu muito
para a conquista deste título.
Depois do jogo do Banespa fui ao médico, ainda continuava
com o braço doendo muito. Foi constatada uma pequena fratura, e
que em 20 dias poderia voltar às quadras.
Fiquei dois anos nesta equipe, lá além de títulos, ganhei
respeito e amigos, uma torcida apaixonada, que fazia os jogadores
esquecerem das dificuldades, dos problemas do dia a dia, e que
despertava em mim cada vez mais o amor por este esporte.
Jogar no AD Internacional Z/N, foi uma das maiores
demonstrações de amor ao Futsal. Lá não tínhamos salário, as
120
Francisco Carlos da Silva, o Fran
viagens na maioria das vezes eram feitas de Kombi e raramente o
jantar era algo diferente de sanduíches. Lá conheci uma das pessoas
mais apaixonadas por uma equipe. Hoje tenho orgulho de dizer
que não consegui mais um amigo no Futsal: consegui mais um
irmão. Para o Marcelão ou Pinga, como todos o chamam, dedico
este capítulo sobre o meu amor ao Futsal, pois juntos conseguimos
conquistas, lágrimas e respeito dentro e fora das quadras, e ao meu
treinador Fabinho por toda confiança depositada, agradeço pelo
título Paulista de 2003.
A PAIXÃO DO GOLEIRO É A BOLA
Quem mais, além do goleiro, tem a responsabilidade de, em
89 minutos dentro de campo ou 39 minutos dentro de quadra, ser o
Herói do jogo e no minuto final ser o Vilão? Só quem é goleiro sabe
o quanto é doloroso e, ao mesmo tempo, gratificante ser goleiro.
É uma posição que exige coragem, agilidade, reflexos e,
principalmente, amor, muito amor pela bola.
Enquanto os jogadores estão preocupados em agredir a
bola, com chutes violentos, nós goleiros, estamos preocupados em
segurá-la, dar-lhe carinho.
Muitas vezes voamos alto e a agarramos junto ao nosso corpo.
Não importa a velocidade e a força que os atacantes, pivôs, fixos,
alas, centroavantes, e tantos outros coloquem na bola rumo a nossas
traves, lá estamos, prontos para pegar a bola, tratá-la com carinho,
dar a atenção que os jogadores muitas vezes não dão.
A relação entre o goleiro e a bola é como a de um pai para
com o filho. Enquanto todos procuram chutá-la o goleiro procura
defendê-la, dar-lhe proteção.
Em um gesto isolado, o goleiro sofre calado, fica triste,
magoado, e deprimido quando é vencido e não consegue segurá-la
e mesmo sofrendo, vai ao fundo das redes e a devolve ao campo,
às quadras, na esperança de que ela novamente venha ao seu
encontro e ele possa lhe oferecer proteção, possa segurá-la. Nos
poucos segundos que pode mantê-la junto ao seu corpo o goleiro
e a bola permanecem unidos, como se fizessem parte da mesma
Um Guerreiro na Periferia
121
matéria. Nestes poucos segundos o goleiro antes de devolvê-la ao
jogo lhe transmite com suas mãos, braços e pernas o desejo de que
ela volte para ele no próximo lance. Não importa se ela virá cheia
de veneno, se virá mansa e calma em uma jogada de habilidade ou
se virá como uma fera enfurecida com sede de gol. O que importa
para o goleiro é que ela venha. Que em suas defesas a bola encontre
alegria, segurança e possa pelo menos por alguns segundos, deixar
de ser agredida, chutada de um lado para o outro. O que importa é
que nestes segundos que a bola está nas mãos do goleiro ela se sinta
amada, querida e protegida.
Juntos, o goleiro e a bola, fazem do futebol e do futsal um
espetáculo, uma paixão.
Escrevi este texto a fim de prestar uma pequena homenagem
a todos os goleiros, o texto foi publicado no Site da F.P.F.S. no dia
do Goleiro.
Francisco Carlos da Silva (Fran) aos 36 anos. Dentre outros
títulos importantes em competições oficiais e extra oficial do Futsal
tinha sido campeão metropolitano em 2003 pelo Internacional ZN e
Campeão do Torneio de Seleções. Em 2005 Campeão Metropolitano
pelo Mogi E.C. Neste mesmo ano convocado para Seleção Paulista
de Novos pelo Técnico Amós. Também conquistou a medalha de
Bronze dos Jogos Regionais, em 2006 e foi Campeão do Troféu
Cidade de São Paulo pela Equipe do Ecus Suzano onde ganhou
duas medalhas de prata nos Jogos Regionais e a Medalha de Ouro
dos jogos Abertos de 2007.
Antes de voltar a disputar os campeonatos da Federação
Paulista de Futsal defendeu a Seleção Brasileira da Bola Pesada na
Regra FIFUSA (Federação Internacional de Futebol de Salão).
Fran, goleiro e Apaixonado pela Bola.
122
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Em 2005 uma repórter da Federação Paulista ficou sabendo
do meu amor pelo Futsal e resolveu contar um pouco da minha
história. Abaixo o texto:
17/01/05 - 14:45 hs - HONRA E GLÓRIA AO FUTEBOL DE
SALÃO
Honra e glória ao futebol de salão. Amar o futsal acima de
tudo, esse é o lema do goleiro Fran do AD Internacional. Conheça
a história do jogador que já teve que enfrentar muitas dificuldades
pra continuar nas quadras.
Começou a jogar tarde, tinha 16 anos quando ingressou na
G.R.E Cabral, equipe que na época fazia parte da primeira divisão
da Federação Paulista de Futsal. As dificuldades de se manter nas
quadras já começaram ali, conciliar os horários do trabalho, dos
estudos e dos treinos não era uma tarefa muito fácil para Fran e seus
colegas de time, porém quando recebeu sua primeira ajuda de custo
foi uma felicidade enorme.
“Quando peguei meu primeiro pagamento junto com o
agasalho que me deram me senti como se fosse um jogador famoso”
Depois de algum tempo nas quadras, Fran foi jogar futebol
de campo no São Paulo e sofreu uma enorme decepção, pois não
bastava ter qualidade como goleiro, altura também era necessário.
Muito chateado, Fran ficou sem jogar por uns tempos.
Retornou as quadras por necessidade, a Universidade Cruzeiro
do Sul (Unicsul) estava oferecendo 100% de bolsa de estudos para
alunos que fossem atletas, foi ai que Fran decidiu disputar com
mais 500 alunos uma vaga para estudar gratuitamente e ainda voltar
a jogar a modalidade que ele tanto gosta. Conseguiu a bolsa e se
formou em Informática.
“Devo a minha formação profissional ao futsal”
Por muitas vezes Fran pensou em desistir do futsal, mais por
sorte, ou destino, o jogador acabava retornando ao lugar que nunca
deveria ter saído: as quadras.
Quando conheceu o técnico Fabinho do AD Internacional, viu
Um Guerreiro na Periferia
123
mais uma vez a oportunidade de praticar a modalidade que gostava,
porém já sabia que dificuldades não iriam faltar...
“Nos faltava material de treino, não tínhamos quadra, porém
o amor pelo futsal sempre falou mais alto”.
Fran está no AD Internacional. Equipe filiada à Federação
Paulista de Futsal na Primeira Divisão, ele acredita que a grande
saída para os clubes de futsal sejam as parcerias que devem ser
feitas com entidades sérias, e as Universidades poderiam ser as
melhores parceiras.
“É preciso que jogadores, dirigentes, parceiros e federações
se empenhem e lutem para que o Futsal seja reconhecido não
apenas como o esporte das multidões, mas como uma modalidade
profissional que ofereça condições dignas de “todos” os seus atletas
fazerem do Futsal uma profissão capaz de mantê-los como outra
profissão qualquer”.
“Não importa o clube, a camisa e as condições que você tem
para jogar, se é profissional ou se veste a camisa do time da esquina
da sua rua, o importante é se unir em torno da paixão, do amor
e fazer uma grande corrente para que o Futsal cresça, apareça e
continuo dando frutos”.
Essa é a história do goleiro Fran.
Autor: Carol Chichetti - Oficina Design & Comunicação
Fonte: Federação Paulista de Futebol de Salão
124
Francisco Carlos da Silva, o Fran
Assunto: Carta escrita em 2070
“Estamos no ano de 2070, acabo de completar os 50, mas a
minha aparência é de alguém de 85”.
Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca
água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas
mais idosas nesta sociedade.
Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente.
Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins
e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro de uma hora. Agora
usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele.
Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira.
Agora devemos raspar a cabeça para a manter limpa sem água. Antes
o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira.
Hoje os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.
Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDE DA
ÁGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais
podia terminar. Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos
aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber
era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber
meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a
quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos
(fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se
usam por falta de água.
A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios
ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na
atmosfera. Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia
por todos os lados.
Um Guerreiro na Periferia
125
As infecções gastro-intestinais, enfermidades da pele e das
vias urinárias são as principais causas de morte.
A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As
fábricas desalinizadoras são a principal fonte de emprego e te pagam
com água potável em vez de salário. Os assaltos por um bidão de
água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética.
Pela ressiquidade da pele uma jovem de 20 anos está como
se tivesse 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado
por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das
novas gerações. Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de
muitos indivíduos, como conseqüência há muitos meninos com
insuficiências, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por
dia por habitante e adulto.
A gente que não pode pagar é retirada das “zonas ventiladas”,
que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam
com energia solar, não são de boa qualidade, mas pode-se respirar,
a idade média é de 35 anos. Em alguns países ficaram manchas de
vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo
exercito, a água tornou-se um tesouro muito cobiçado mais do que
o ouro ou os diamantes.
Aqui, em troca, não há árvores porque quase nunca chove,
e quando chega a registrar-se precipitação, é de chuva ácida; as
estações do ano tem sido severamente transformadas pelas provas
atômicas e da indústria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia que cuidar do meio ambiente e ninguém
fez caso. Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era
jovem descrevo o bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva,
das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos
rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era
a gente. Ela pergunta-me: Papá! Por que se acabou a água? Então,
sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado,
porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio ambiente
ou simplesmente não tomamos em conta tantos avisos.
Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente
creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito
126
Francisco Carlos da Silva, o Fran
pouco porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto
irreversível.
Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a
humanidade compreendesse isto quando ainda podíamos fazer algo
para salvar o nosso planeta Terra!”
Documento extraído da revista biográfica “Crônicas de los
Tiempos” de Abril de 2002.
Sempre tive uma preocupação muita grande com o amanhã,
aliás acho que muitas vezes sofro por antecipação, sempre pensando
no que o amanhã reservará. Hoje tenho 38 anos e desde garoto
imaginava o que seria de mim aos 50 anos, não posso dizer que
é o jeito mais certo de se viver, sofre-se muito. Os cabelos ficam
brancos e as rugas teimam em nos acompanhar antes mesmo da
hora.
Não sou do tipo quadrado que não gosta de novidades.
Muito pelo contrário, a minha profissão exige que eu esteja sempre
atualizado com as coisas novas do mundo, porém muitas vezes
me vejo em lembranças do meu tempo de garoto. As brincadeiras
de pega-pega, esconde-esconde, mãe-da-mula, rebatida, dentre
tantas outras. Sinto falta de um tempo onde a tecnologia não era
tão presente no dia-a-dia de nossas crianças. Hoje em dia crianças
passam o dia inteiro na frente de computadores, vídeo games. Horas
e mais horas com os tais MP3, MP4 e seus fantásticos celulares
pendurados ao ouvido.
Na minha época de criança, o grande barato era esperar a hora
do recreio na escola afim de receber aquele correio elegante em
formato de coração, escrito a caneta bic. Hoje em dia a grande onda
são os e-mails, orkut, MSN, sem contar nos fantásticos vídeos do
youtube. É o progresso, e com ele perdemos a sensação do proibido.
A liberdade hoje é reservada a parede dos nossos quartos trancados
ali diante de nossos computadores com uma conexão de Internet
que nos torna ligados ao mundo. Para que esperar dias por uma
carta via correio se em fração de segundos podemos mandar fotos,
textos, vídeos e músicas com apenas um toque do teclado.
É o progresso, seja bem vindo o progresso, porém não vamos
Um Guerreiro na Periferia
127
nos esquecer que existe uma coisa que o progresso ainda não foi
capaz de nos proporcionar. Que tal um abraço bem apertado cheio
de calor humano. Um carinho no rosto da pessoa amada, a sensação
de enxugar uma lágrima seja ela de felicidade ou de tristeza, e isso
acho que o progresso jamais será capaz de proporcionar. Como
era bom chegar em casa correndo da escola e receber um beijo
carinhoso, um abraço apertado, aquela pergunta que nos gelava a
espinha. E então filho, como foi a aula?
Quando a professora pedia um trabalho era aquela correria
para se formar as turmas. Naquela época existiam as bibliotecas e
seus funcionários ali sempre prontos a procurarem entre centenas
de livros o que continha o tema necessário para nossa pesquisa. E
como era divertido sentar-se ali na biblioteca todos em volta um
dos outros, sem poder abrir a boca para não incomodar a pessoa do
lado. Ficávamos ali, sentados e concentrados, copiando e copiando
durante horas na folha de papel almaço. Eramos obrigados a ler,
afinal não se pode copiar um texto e não ler o que se está escrito não
é verdade. Mas que nada hoje temos os sites de busca, basta entrar
no google e digitar o tema, um CTRL C e um CTRL V e nosso
trabalho está pronto. Basta apenas imprimir e em minutos temos
um lindo trabalho impresso. Não precisamos nem nos preocupar
com a formatação, pois o tal Word já faz isso por nós.
Então passo a me perguntar. E a minha capacidade de
raciocínio como fica?
Porque será que teimo em sentir saudades daquele tempo.
Sair com os amigos e beijar a garota no muro da escola, nossa que
trabalho dava se esconder, mas hoje nem para namorar precisamos
de esforço. Hoje inventaram uma coisa chamada chat, ou se
preferirem sala de bate papo. Basta o sujeito ou a garota escolher
um “nick” legal, a já ia me esquecendo o que seria “nick” mesmo?
É um apelido que se usa ao entrar em uma sala de bate papo, e
depois de estar lá dentro basta o cara ser bom de conversa e pronto.
Em minutos ou horas vai depender do seu desempenho com as
palavras e com a sua cara de pau de contar mentiras que ele já sai
dali com um encontro marcado. Mas o que importa mesmo não são
as mentiras que ambos vão contar um para o outro na maioria das
vezes. O que vale mesmo é a conquista, isso sim é como no nosso
128
Francisco Carlos da Silva, o Fran
tempo, afinal as disputas entre os amigos continuam as mesmas as
regras é que mudaram um pouquinho.
Lembro-me que muitas vezes eu pedia para dormir na cama da
minha mãe sempre que minha avó contava histórias antigas. Ela era
muito boa nisso, falava sobre tesouros, botijas, lobisomens, mula
sem cabeça e tantos outros assuntos. Ficávamos horas ali sentados,
escutando cada história como se fizéssemos parte dela. Não dava
para dizer que aquelas histórias eram invenções da cabeça da minha
avó, ela nos contava com uma realidade que chegava a nos assustar
realmente.
Hoje em dia é tudo tão mais simples, o tal DVD nos proporciona
viver em um mundo tridimensional. A cada dia lança-se um novo
filme, surge um novo super-herói e uma nova polêmica. Os filmes
atuais colocam em dúvida até mesmo os sagrados ensinamentos
da bíblia. Mas até que ponto isso é bom ou ruim? Cabe a caba um
refletir e pensar. O avanço tecnológico facilita a nossa vida, porém
faz com que percamos a inocência e a pureza de antigamente.
Devemos aceitar este avanço e usufruir dos benefícios que ele nos
proporciona, porém devemos tomar cuidado para não ficarmos tão
dependentes deste avanço a ponto de não sabermos mais viver sem
as novidades da tecnologia.
Não devemos achar normal o buraco na camada de ozônio, o
desmatamento de nossas florestas, a seca de nossos rios. Devemos
lutar para preservar determinados valores que a natureza nos
ofereceu e que nos fizeram tão felizes em um passado não muito
distante, porém que hoje nossos filhos só podem ver através das telas
da televisão ou quem sabe imaginar quando tiramos um momento
raro do nosso precioso tempo para lhes contar sobre nossa infância.
Quantos de nós já parou para pensar e refletir sobre as coisas
que viveu na infância e que nunca proporcionou aos filhos? Somos
culpados e devemos colocar a mão na consciência e pensar sobre
o que estamos oferecendo a nossos filhos e que tipo de herança
estaremos deixando para nossos netos.
Que venha o progresso, mas que nunca nos tornemos escravos
do mesmo. A tecnologia é um mal necessário que nos proporciona
facilidades no dia a dia, mas a natureza possui um bem tão precioso
que não possui valor, afinal foi criada pelas mãos de Deus sem
nenhum recurso tecnológico.
Um Guerreiro na Periferia
129
O CÉREBRO
Abaixo segue um texto que recebi via e-mail. Achei
interessante e vou colocá-lo aqui na versão original para que você
possa tentar decifrá-lo. É uma pequena amostra do que o cérebro
pode fazer. Se você não conseguir decifrá-lo não se sinta incapaz,
pois conheço muitas pessoas que não passaram do primeiro
parágrafo. Na próxima página está o texto na íntegra decifrado.
Lembre-se apenas que, os grandes feitos de um homem não
devem ser medidos por sua capacidade de raciocínio. Suas atitudes
serão muito mais importantes do que sua velocidade de raciocinar.
3M UM D14 D3 V3R40, 3574V4 N4 PR414, 0853RV4ND0 DU45
CR14NC45 8R1NC4ND0 N4 4R314. 3L45 7R484LH4V4M
MU170 C0N57RU1ND0 UM C4573L0 D3 4R314, C0M 70RR35,
P4554R3L45 3 P4554G3NS 1N73RN45.
QU4ND0 3575V4M QU453 4C484ND0, V310 UM4 0ND4 3
D357RU1U 7UD0, R3DU21ND0 0 C4573L0 4 UM M0N73 D3
4R314 3 35PUM4.
4CH31 QU3, D3P015 D3 74N70 35F0RC0 3 CU1D4D0, 45
CR14NC45 C41R14M N0 CH0R0, C0RR3R4M P3L4 PR414,
FUG1ND0 D4 4GU4, R1ND0 D3 M405 D4D45 3 C0M3C4R4M
4 C0N57RU1R 0U7R0 C4573L0. C0MPR33ND1 QU3 H4V14
4PR3ND1D0 UM4 GR4ND3 L1C40;
G4574M05 MU170 73MP0 D4 N0554 V1D4 C0N57RU1ND0
4LGUM4 C0154 3 M415 C3D0 0U M415 74RD3, UM4 0ND4
P0D3R4 V1R 3 D357RU1R 7UD0 0 QU3 L3V4M05 74N70
73MP0 P4R4 C0N57RU1R.
M45 QU4ND0 1550 4C0N73C3R 50M3N73 4QU3L3 QU3 73M
45 M405 D3 4LGU3M P4R4 53GUR4R, 53R4 C4P42 D3 50RR1R!
S0 0 QU3 P3RM4N3C3 3 4 4M124D3, 0 4M0R 3 C4R1NH0. 0
R3570 3 F3170 4R314.
130
Francisco Carlos da Silva, o Fran
TEXTO TRADUZIDO
Em um dia de verão, estava na praia observando duas crianças
brincando na areia. Elas trabalhavam muito construindo um castelo
de areia, com torres, passarelas e passagens internas.
Quando estavam quase acabando, veio uma onda e destruiu
tudo, reduzindo o castelo a um monte de areia e espuma.
Achei que, depois de tanto esforço e cuidado, as crianças
cairiam no choro, correram pela praia, fugindo da água, rindo de
mãos dadas, e começaram a construir outro castelo, compreendi
que havia aprendido uma grande lição.
Ganhamos muito tempo da nossa vida construindo alguma
coisa e mais cedo ou mais tarde, uma onda poderá vir e destruir
tudo o que levamos tanto tempo para construir.
Mas quando isso acontecer somente aqueles que tem as mãos
de alguém para segurar, será capaz de sorrir! Só o que permanece é
a amizade, o amor e carinho, o resto é feito areia.
Um Guerreiro na Periferia
131
A palavra sonho sempre teve um significado muito especial
para mim. Na verdade considero-me um sonhador. Desde pequeno
procurei sonhar com coisas que minha situação não permitiam,
mas nunca deixei de acreditar que essas coisas poderiam tornar-se
realidade. Lutei muito para que meus sonhos não se perdessem ao
passar dos anos ou caíssem em esquecimento diante dos obstáculos
que surgiriam pela frente.
Jamais tive medo de não realizar um sonho. Sempre que
alguém dizia: - Isso é impossível, você não vai conseguir, era como
se algo me impulsionasse e me fizesse mais forte.
Ouvi muita gente dizer que nunca devemos dar ouvido ao
que os outros nos dizem, que essa história de conselho é bobagem.
Afinal, se conselho fosse bom ninguém daria, venderia. Não
concordo com esta frase. Seja qual for a bobagem que lhe digam,
procure sempre tirar algum proveito do que lhe foi dito em seu
benefício. Por mais imbecil que lhe pareça um conselho fique de
ouvidos atentos. Saber ouvir trás tantos benefícios quanto saber
expressar-se bem.
Não deixe que palavras duras destruam seu sonho. Lute e
fortaleça-se cada vez que alguém tentar lhe colocar para baixo.
Obstáculos foram feitos para serem superados. Ninguém é capaz
de construir algo que não possa ser superado. Se foi construído
pela mão do homem ou foi dito pela sua boca, pode ser facilmente
superado. Sonhos alimentam a alma e nos deixam mais leves.
A história nos mostra que muitos sonharam com coisas que
todos achavam impossíveis, mas alguém veio e a transformou em
realidade. Você pode ser do tamanho do seu sonho, ou do tamanho
da sua frustração. Cabe a você optar qual vai lhe fazer mais feliz.
Um sonho não pode ser adiado. Sonhos não têm data para se
transformarem em realidade. Persiga-os até chegar o dia em que
Um Guerreiro na Periferia
133
eles se tornam realidade, e quando este dia chegar, esteja preparado
para buscar novos sonhos, imaginar novas coisas e perseguir novos
desejos.
Do que adiantaria chegar aos 100 anos de idade, olhar para
trás e dizer:
- Se eu pudesse teria vivido de forma diferente. Teria feito
coisas que sempre tive vontade de fazer, mas nunca tive coragem.
Teria lutado por um amor proibido ou teria sido irresponsável
quando todos me achavam perfeito.
Olhar para trás e ver o quando você deixou de viver coisas
que até hoje você não sabe em que resultariam: o que não foi vivido
torna-se uma frustração que inunda nossos corações para sempre
com sentimento de perda, com aquele vazio que nos consome e que
nos torna escravos da nossa própria consciência.
Sonhei muitas vezes com coisas que perante aos olhos alheios
pareciam impossíveis, mas nunca deixei de persegui-las mesmo
quando pessoas próximas me diziam que não passavam de loucuras
da minha cabeça. Muitas destas loucuras tornaram-se realidade.
Algumas delas guardo aqui dentro do meu peito e vivo com elas
em minhas lembranças, afinal uma das minhas preocupações foi
sempre satisfazer o meu próprio ego e não o ego dos outros.
Perseguir um sonho por menor que seja é poder sentir-se vivo
e ao acordar poder dizer para si mesmo. Hoje estou melhor do que
ontem pois estou mais próximo de conseguir realizar meu sonho.
Por mais que procure o destino, sempre haverá um vazio
dentro de nossos corações. Momentos são aqueles vividos com
intensidade, prazer, paixão. Correr atrás do destino é dar um passo
para o futuro, em sua busca pela felicidade. Você viverá cada
momento como se fosse o último dos seus dias, e lembre-se que
não se pode transformar um sonho em realidade sentado esperando
que ele aconteça. Deseje-o com todas as suas forças e busque-o
sem prejudicar ou ofender ninguém. A concretização do seu sonho
depende apenas e exclusivamente de você e da sua vontade de vivêlo.
Viajo na imensidão da imaginação. Sou capaz de desenhar
meus sonhos em algo que não posso ver, mas sou capaz de sentilos, chamando-me e impulsionando-me em busca do dia que vou
134
Francisco Carlos da Silva, o Fran
encontrá-los. Cada um de nós tem lá dentro do peito um sonho, um
desejo, por menor que seja ele está lá. Por muitos motivos vamos
adiando e a cada dia que adiamos arrumamos uma desculpa para
adiá-lo. O engraçado é que na maioria das vezes temos vergonha
de nossos sonhos. Em um mundo tão individualista onde cada um
está mais preocupado com sua própria sobrevivência, seria cômico
compartilhar sonhos, porém não tenho vergonha dos meus, muito
pelo contrário, ser um sonhador faz-me diferente da maioria das
pessoas que me cercam. Verdade que assim como muita gente
tenho sonhos que vão contra as leis do mundo em que vivo, mas em
momento algum deixo de perseguí-los, até mesmo porque não vejo
em nenhum deles um perigo para sociedade ou para aqueles que
convivem comigo. Tenho orgulho dos meus sonhos e os persigo
diariamente.
Não me considero um vendedor de sonhos até mesmo porque
se fosse para viver desta profissão morreria de fome, porém sou um
incentivador dos sonhos alheios. Sinto-me honrado cada vez que
alguém me procura e diz: como eu adoraria realizar isso ou aquilo. Ao ouvir o desejo da pessoa me torno um incentivador. Acredito
que cada ser deve viver dentro do mundo que lhe faz feliz. Nem
sempre concordo com muitas coisas que escuto, mas aprendi com o
tempo que no mínimo devo ter respeito com a forma que cada um
escolheu de viver.
Como um incentivador de sonhos deixo abaixo um espaço
para que você escreva sobre sonhos que você nunca teve coragem
de contar para alguém. Não que este livro seja mágico e vá
transformá-lo em realidade, porém este espaço é como se fosse o
primeiro passo em busca de torná-lo realidade.
ESCREVA ABAIXO SEU SONHO...
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Parabéns, você já deu o primeiro passo para torná-lo
realidade!
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
Quando criança morria de vergonha de dizer que tinha
nascido no Nordeste. Os amigos ou até mesmo pessoas da família
que haviam nascido em São Paulo, adoravam fazer piadas como se
o local de nascimento tornasse alguém melhor ou pior que o outro.
Hoje tenho muito orgulho de dizer onde nasci e que sou
filho do Nordeste. Um povo guerreiro, lutador e cheio de fibra. O
nordestino por natureza já nasce com coragem. Luta diariamente
contra a fome, a sede, o preconceito e mesmo sofrendo com o
castigo vindo do céu que judia da terra com um sol escaldante.
Nunca pragueja ou perde a sua fé.
Por mais dura que seja a vida de um nordestino da caatinga,
sua fé é renovada a cada ano em suas preces por dias de inverno,
onde vê na chuva a esperança de dias melhores e prato farto. Quando
a chuva cai é como se Deus aliviasse seu sofrimento, trazendo com
a chuva a esperança de dias melhores. As gotas de chuva parecem
formadas pelas lágrimas de Deus que vem aliviar suas feridas, a
pele ressecada e a dor provocada pelo sol escaldante.
O Nordestino não se queixa de sua sorte e entrega nas mãos
de Deus o seu destino. Aprendi a rezar desde criança. A reza é o
conforto para o sofrimento diário. Ele vê na reza o alívio para seu
desespero. Um povo forte que diante das dificuldades do sertão,
sobrevive fiel ao seu destino sem ofender aos céus, e de joelho no
chão diante de suas imagens faz promessas, e chora seu sofrimento.
Hoje sinto-me envergonhado de um dia ter sentido vergonha
de pertencer a um povo tão nobre e forte como é o povo nordestino.
Com o passar do tempo e com a própria história fui tornando-me
fã de tantos nordestinos que hoje são ícones da história deste país.
Certo dia um amigo disse-me que o povo nordestino deveria
sair de São Paulo e voltar todo para sua terra natal. Disse-lhe que se
o povo nordestino deixasse São Paulo essa cidade pararia. Ele não
Um Guerreiro na Periferia
137
pensou duas vezes e me chamou de burro. Ao ouvir isso não fiquei
com raiva do meu amigo apenas ri e lhe respondi:
- Vamos imaginar que se todos os nordestinos e seus
descendentes fossem embora de São Paulo, o que seria por exemplo
da construção civil? Quem enfrentaria 12 horas de trabalho
escavando túneis, construindo prédios, abrindo avenidas?
- Quem possui tanto talento para o humor, para a política,
a música. Quantas empresas hoje possuem como donos os
descendentes de nordestinos. Quantos cargos de gerência ou de
confiança instituições que são consideradas essenciais para o
funcionamento de São Paulo possuem em seu comando nordestinos
ou descendentes.
Disse então ao meu amigo que o povo nordestino por sua
história já é considerado um vencedor. Normalmente chegam em
São Paulo sem saber assinar o nome, e no dia seguinte já estão a
procura de trabalho. Quando não trazem seus filhos, aqui os tem e
lutam para fazer dos filhos homens de bem, dar estudo, porém nem
sempre o destino permite que isso aconteça.
O povo nordestino não está apenas no trabalho pesado,
carregando sacos enormes de cimento. Existem centenas de
empresários nordestinos nesta cidade. Vamos supor que só
existissem nordestinos no trabalho pesado e que de uma hora para
outra todos saíssem de São Paulo. Quem de nós realmente teria
coragem de enfrentar essa luta diária de muitas vezes 12 horas de
serviço pesado, dividindo uma marmita, ganhando um pouco mais
que dois salários mínimos, quando ganham. Devemos parar para
pensar e deixar o preconceito de lado, afinal quantos nordestinos
existem em São Paulo vivendo muito bem e honestamente, fazendo
da economia deste Estado a maior do país.
Às vezes penso realmente se para o Nordeste não fosse
melhor que os nordestinos voltassem para sua terra natal, e lá sim
fizessem tudo que fazem por São Paulo. Tirassem suas fábricas,
suas indústrias, seu dinheiro e levassem tudo isso para seu estado
de origem. Lá poderia investir em recursos para fazer seu Estado
crescer e encontrar soluções para a seca que castiga diariamente
seus irmãos, seus amigos e descendentes.
O Presidente deste país é um nordestino que sonhou um
dia chegar a presidência do Brasil. Muita gente não gosta dele e
chamam-no de analfabeto, de golpista. Mas as pessoas se esquecem
138
Francisco Carlos da Silva, o Fran
que um nordestino que passou fome, mal sabia ler e escrever,
trabalhou, acreditou e se tornou presidente deste país, merece no
mínimo respeito da nação que o elegeu por dois mandatos. Não
que ele seja melhor que qualquer outro presidente, porém no início
como todo nordestino teve que lutar contra a fome, a seca, a falta
de recursos, e principalmente contra o preconceito. Nunca deixou
de lutar e acreditar em seus ideais, virou presidente do Brasil, e
tem feito muito mais por São Paulo do que pelo próprio Nordeste,
e mesmo assim recebe críticas, vaias, e o povo se esquece que ele é
o Presidente do Brasil, e que se não devemos ter respeito pelo seu
passado e por sua história como nordestino, que o façamos pelo
cargo que ocupa neste país.
A história está cheia de nordestinos que fizeram a sua história
neste país. Percorreram o mundo, são reconhecidos nos quatro
cantos do planeta. Mas o povo brasileiro tem memória curta e só
lembra de seus heróis depois que estão mortos.
Lembro-me de minha avó quando viva contando que
sobreviveu a três secas no Nordeste. Pediu esmolas e muitas vezes
só tinha farinha e água para dar de comer para minha mãe e meus
tios. Ela contava isso cheia de orgulho, pois sempre ao final de cada
frase dizia:
- Mas estão todos criados. Nenhum é bandido e tenho fé em
Deus que nem meus filhos e nem meus netos vão botar a mão no
que não é deles.
Aquela mulher que enfrentou tantas batalhas e tanto sofrimento
no nordeste, em momento algum reclamava das dificuldades que
enfrentou ao longo de seu caminho. Sentia orgulho em dizer que
muitas vezes ela ficou dias sem comer mas que ou muito ou pouco
seus filhos tinham o que colocar na boca.
Fui crescendo e aprendendo que não é o lugar onde um
homem nasce que o faz melhor ou pior, e sim a forma como ele
enfrenta as dificuldades que a vida lhe proporciona.
Hoje quando digo ao meu filho que sou um privilegiado por
ter vindo a este mundo através das mãos de uma parteira. Nascido
em uma casinha feita de barro e gravetos, e que agradeço a Deus
pelas dificuldades que enfrentei ao longo destes 38 anos. Faço isso
cheio de orgulho, afinal sou um Brasileiro e Nordestino que nasceu
em casa através das mãos de mãe Miúda e que não desiste jamais.
Um Guerreiro na Periferia
139
Não desejo ser lembrado como herói. Quero apenas deixar
este mundo tendo a certeza de que não passei por ele em vão. Quero
ser lembrado como um homem que venceu desafios, que lutou para
oferecer o melhor de si para àqueles que estavam a sua volta. Não
quero ser lembrado apenas como um bom pai ou um bom filho ou
um bom esposo. Tudo que desejo é apenas não ser esquecido, mas
sim lembrado por ter passado por este mundo como um homem
que lutou até seus últimos instantes para fazer mais do que se
esperava dele. Um homem que em seu dia a dia procurou zelar
por sua casa, sua família, seus amigos, um homem que ofereceu os
melhores anos de sua vida se dedicando a todos sem distinção de
cor, religião ou classe social. Sempre oferecendo aos que faziam
parte do seu convívio o seu amor e o seu carinho mesmo que muitas
vezes não tenha sido compreendido na forma de expressar esses
sentimentos. Quero ser lembrado pela esperança de ver um mundo
igual para todos, afinal de contas o amor pelo próximo não deve ser
compartilhado apenas por um dia e sim por toda a eternidade.
Não quero ser lembrado como um exemplo de vida.
Quero apenas poder compartilhar a esperança de um mundo sem
sofrimento, sem guerras. Um mundo melhor para todos, por isso
peço a todos que procurem plantar amor e dedicação ao próximo,
pois só assim estaremos mais próximos de Deus.
Quando nasci Deus deu-me um dom. Aprendi que o mundo é
cheio de pessoas e que é grande demais para que passemos por ele
como mais uma que nasceu, cresceu e morreu.
Aprendi com o dom que Deus me deu, que deveria ser
diferente. Que deveria me dar ao mundo como o mundo não poderia
se dar a mim. Desde muito pequeno aprendi isso. Vim de uma
família de nordestinos, pobre, de pais separados. Uma família de
retirantes.
Um Guerreiro na Periferia
141
Com o passar dos anos coloquei metas na minha vida. Lutei
contra o preconceito. Fugi de pragas, de pessoas que queriam me
fazer mal. Aprendi a conviver com o medo, porém nunca demonstrei
este medo a quem pudesse se aproveitar dele para me derrubar(com
o tempo descobri que é inútil fazer isso, pois sempre tem alguém
querendo te derrubar de qualquer jeito).
Com o passar dos anos fui percebendo que não era capaz de
mudar o mundo. Querer um mundo igual para todos seria impossível.
Conviver em um mundo onde as pessoas estão preocupadas em
olhar somente para si e passar por cima daqueles que não tem como
se defender me deixava intrigado, triste, e com a cabeça confusa.
Resolvi lutar mais do que eu já lutava para poder tentar fazer algo
novo, porém o que ia descobrindo era que não se pode confiar em
quase ninguém. Que as pessoas demonstram aquilo que querem
ser quando lhes é conveniente ser. Não desisti e até hoje luto por
igualdade, justiça, direitos iguais para todos, porém isso me custa
muito. Jamais tive tempo de preocupar-me comigo. De querer o
melhor para mim. Vivi e vivo em função dos outros. Vivo numa
procura constante, uma dor que me consome todos os dias pois esta
minha procura me leva a algo que não sei o que é. Procurar sem
saber o que se procura. Isso dói, machuca, me faz sofrer, porém
faço tudo isso calado, sem reclamar, sem maldizer, sem ofender
ninguém e sem desistir jamais.
Ao lado deste mundo real, vivo praticamente em um mundo
paralelo criado por mim mesmo, onde não tenho que preocupar-me
com traição, com pessoas que se aproveitam da minha bondade,
querendo o tempo todo me derrubar. Pessoas que querem o meu
mal. Neste meu mundo vivo só. Somente só... fingindo ignorar a
tudo que vejo no mundo lá fora e procurando adaptar-me ao mundo
que criei dentro da minha cabeça.
Neste mundo as pessoas se aceitam como elas são. Uns
compreendem os outros. Sofrem com os problemas alheios e sabem
da necessidade de quem está próximo, antes mesmo do outro dizer.
Neste mundo que imagino não há espaço para falsas
promessas, palavras bonitas e falsas juras de amor. Neste mundo
as pessoas não devem mentir a fim de conseguir o que desejavam
e depois abandonam uns aos outros após atingirem seus objetivos.
Seria como um mundo formado por crianças. Afinal essas sim
são verdadeiras. Não possuem maldade. São incapazes de mentir
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Francisco Carlos da Silva, o Fran
para prejudicar alguém, e se gostam, demonstram isso com todas
as suas forças. São inocentes e talvez por isso vejam o verdadeiro
“eu” de cada ser. Nas crianças encontramos a paz, o sorriso sem
maldade, e a esperança de um mundo melhor. Um mundo justo,
um mundo que até hoje só existe na minha cabeça e que não é
compartilhado por quase ninguém.
Ouvi falar de pessoas que perseguiram a felicidade a vida
inteira. Me dou ao luxo de mesmo diante de tantos aborrecimentos
ao longo da minha vida, ter criado o meu próprio conceito de
felicidade.
Sempre me preocupei muito mais com minha consciência do
que com minha reputação.
Porque minha consciência é o que sou, e minha reputação
é o que os outros pensam sobre mim.
“Não sou velho o bastante para ter vivido suficientemente
tudo que eu precisava viver. Também não sou tão jovem que não
tenha a capacidade de compreender a necessidade alheia... Talvez
eu seja o pedaço da vida que completa o início do meu próprio
fim... Quem sabe no meu destino encontro a gota de vida que me
fará se tornar eterno.”
Um Guerreiro na Periferia
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Realizar o sonho de outras pessoas é tão prazeroso e
gratificante quanto viver seus próprios sonhos, não importa se são
grandes, pequenos ou frutos de apenas leves cochilos. A essência
verdadeira é saborear o sorriso de quem os pôde viver.
Dentro do projeto da AEC Kauê em especial o “correndo para
o futuro” pude realizar muitos sonhos com as crianças da periferia,
desde ajudar formar um campeão brasileiro que é uma grande
promessa para o Rio 2016 e um verdadeiro exemplo a ser seguido,
até uma simples medalha conquistada por uma das crianças que
antes do projeto jamais havia saído do bairro de Itaquera.
É preciso acreditar e principalmente fazer com que as pessoas
passem a acreditar junto com você. Lembro-me do dia que convidei
o Rafael Santeramo, ou simplesmente “Galego” para participar dos
treinos de corrida, ele tinha apenas 12 anos e a primeira coisa que
respondeu foi que não gostava.
Depois de 5 anos o Galego é integrante da equipe de atletismo
do Esporte Clube Pinheiros, ganhou diversos campeonatos estaduais
nas categorias mirim, menor e juvenil, só campeonatos brasileiros
foram 05 e 01 pan-americano escolar, fazendo inclusive o 4º melhor
tempo das Américas.
Quem via aquele garotinho magricela, com óculos fundos
de garrafa e uma timidez que até hoje é sua marca, não poderia
acreditar que em tão pouco tempo pudesse ser um atleta respeitado,
o Rafa a quem chamo de meu “filho branco”, é simplesmente o
ídolo da garotada da Vila Corberi, ninguém quer ser o Usain Bolt
para as crianças da Kauê o grande sonho é ser o “Galego”.
Formar um campeão talvez seja mais simples do que muita
gente possa imaginar, com treinamentos e um pouco de talento
você consegue desenvolver as habilidades naturais que o jovem
geneticamente possui, o difícil é formar o caráter de um campeão,
a humildade, a conduta, o respeito, a persistência não são coisas
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capazes de você desenvolver em uma pessoa, são qualidades
necessárias a todo campeão que muitas vezes são esquecidas em
horas e mais horas de treinamento.
Técnicas para se treinar pernas, braços, respiração,
desenvolvimento motor ou físico são facilmente encontradas
inclusive em bancas de jornal, em cansativos livros, cd’s, dvd´s,
apostilas, etc., porém princípios básicos de educação e postura
serão tão importantes quando as qualidades físicas de um atleta de
auto-rendimento.
Vejo muitos talentos se perdendo dentro da periferia por não
possuírem esses princípios, que deveria ser passado aos jovens
ainda quando crianças pelos próprios país que muitas vezes estão
tão atarefados com as coisas do dia a dia que acabam não ligando
muito em passar aos filhos o sentimento de gratidão, e respeito ao
próximo.
O lema da AEC Kauê é formado por apenas três palavras
que aos olhos de muitos não tem a menor importância, porém que
são essenciais na vida de um atleta vencedor, são elas: esporte,
solidariedade e companheirismo.
O Esporte já foi capaz de parar uma guerra, é o caminho mais
curto para que haja uma integração entre o jovem da classe alta e o
jovem que nasceu na periferia.
Dentro do esporte não deveríamos ter racismo, preconceito,
drogas e tantos outros males que muitas vezes nos deparamos. Na
formação de um atleta o princípio de ser solidário mesmo dentro
do esporte individual é algo que vivenciamos diariamente, o
companheirismo tanto no esporte coletivo quando no individual é
comum.
Lembro-me de uma vez em que conversava com as crianças
do projeto, e disse que não interessava quem vencesse ou perdesse,
pois quando um membro da equipe vence todos são vencedores,
e quanto um perde todos devem sentir na pele a derrota do
companheiro. Prontamente uma das crianças me respondeu:
- Fran eu prefiro que o vencedor amanhã seja eu, antes que eu
pudesse dizer algo outro garoto respondeu:
- Tudo bem, dessa vez vamos ficar felizes com sua vitória e
no dia que você perder vamos chorar com você a sua derrota.
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Neste dia tive a certeza que o espírito de solidariedade
e companheirismo estava tomando conta daquelas crianças.
Diariamente procuro observar e apreender algo com eles, o respeito
e o sentimento de gratidão que tenho por essas crianças é tão grande
quando a vontade que eles possuem de vencer na vida e no esporte.
Certo dia falava sobre as pessoas que nascem com talento,
todos nós nascemos com algum tipo de talento, outros mais e alguns
menos, porém precisamos todos os dias observar com atenção qual
o tipo de talento que nos foi dado por Deus.
Usei como exemplo algumas das crianças do projeto que
nasceram com aptidão para o esporte, e que apesar do talento
recebido por Deus, muitas vezes a vida prega peças e impede que
cheguem ao objetivo principal que é tornar-se um atleta de autorendimento.
Não devemos sofrer por antecipação. Vivenciei tantos
garotos da minha época que eram super talentosos e que por fatores
alheios à vontade de cada um acabaram se perdendo por caminhos
sem volta na escola da vida. Como também vi tantos outros que
não eram tão talentosos e acabaram chegando muito além do que
poderiam imaginar.
Formar um campeão não é trabalhar apenas com os jovens
talentosos, é também acreditar que mesmo jovens com pouca
habilidade física são capazes de atingir auto-rendimento possuindo
apenas a vontade de vencer na vida.
Acredito muito que a habilidade é fundamental, porém
a vontade é algo capaz de fazer a diferença dentro de qualquer
esporte, seja no amador ou no profissional.
Garra, determinação, vontade de vencer, são qualidades que
fazem a diferença dentro de uma competição, ainda quando crianças
podemos observar que alguns possuem mais essas qualidades e
outros menos, mas aquele que trás consigo o espírito de liderança
além das qualidades mencionadas anteriormente, sempre estarão
um passo a frente dos demais.
O poder de concentração é uma qualidade fantástica que
vejo em muitas das crianças do Projeto Correndo para o Futuro,
normalmente os mais calados desenvolvem essa habilidade
com mais facilidade, é incrível e fascinante ver que muitos são
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tão tímidos que possuem dificuldade até para falar, porém no
momento do treinamento desenvolvem com perfeição uma técnica
surpreendente e precisa. Fico observando e vejo que a concentração
é tão grande que alguns só abrem a boca para beber água, um silêncio
que muitas vezes me assusta, mas que é facilmente compreendido.
Este silêncio faz parte da concentração, a timidez proporciona
um encontro consigo mesmo já que por conta dela normalmente
estão sempre sozinhos. Um atleta que se concentra melhor rende
mais, e é um ótimo observador, foca seu objetivo em algo e faz
daquilo seu combustível para perseguir a vitória.
Este capítulo é dedicado aos pequenos Campeões formados
em uma pista de atletismo pintada na Rua Nicolino Mastrocola, por
acreditarem na nossa corrente do bem, que a cada dia cresce como
crescem os sonhos dessas crianças que lutam por dias melhores
para elas e seus familiares, e que futuramente lutarão por um país
mais justo e melhor para todos.
Capítulo dedicado a
Rafael Santeramo,
o “Galego”, uma
das sementes
plantadas no asfalto,
e que hoje
é um atleta de elite do
Atletismo Brasileiro.
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O que é ser amigo de verdade?
“É doar-se ao próximo sem nenhum vínculo familiar, sem
esperar nada em troca. É sentir a dor e a necessidade alheia assim
como se fosse sua própria dor e sua própria necessidade”
(definição de amizade por Fran)
CONTATOS COM O AUTOR:
[email protected]
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Edição especial:
Parte do valor arrecado com a venda deste livro será
revertida para as obras sociais da
Associação Kauê de Itaquera.
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DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO:
Marcos Cavalheiro - 11 - 7354-5870
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