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ESCOLA PROFISSIONAL
AGRÍCOLA CONDE DE S. BENTO
FRUTICULTURA I
FICHA TÉCNICA
Apontamentos para a disciplina de “Produção Agrícola – Módulo 7 – Fruticultura I” do curso de
Técnico de Produção Agrária.
Professores:
Anabela Correia Quadrado
Madalena Barroso
Francisco Rodrigues
Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento
Largo Abade Pedrosa nº 1
4780 Santo Tirso
Telefone: 252 808690
Fax: 252 808699
2013/2014
Índice
1.Importância e distribuição geográfica da Fruticultura
02
2.Generalidades
05
2.1.
As fruteiras como plantas perenes
09
2.2.
Período de actividade vegetativa anual
09
2.3.
Órgãos de vegetação e frutificação
11
3.Poda
17
3.1.
Fundamentação
18
3.2.
Principais funções
19
3.3.
Ferramentas de corte
19
3.4.
Tipos de corte ou supressões e efeitos nas plantas: atarraque;
desramação e atarraque sobre ramo lateral
20
3.5.
Técnica de execução dos cortes
22
3.6.
Cicatrização de feridas da poda
23
3.7.
Tipos de poda e efeitos nas plantas
24
4.Operações complementares da poda
5.
6.
39
4.1.
Empa
39
4.2.
Anelamento
40
4.3.
Incisões
40
4.4.
Torção de ramos
40
4.5.
Lenha da poda
40
Propagação vegetativa
41
5.1.
Importância
41
5.2.
Métodos de propagação
41
Factores determinantes na instalação de um pomar
55
6.1.
Sistemas culturais
57
6.2.
Seleção das espécies a serem plantadas
57
6.3.
Escolha do terreno
58
6.4.
Mobilizações e correcções
63
6.5.
Plantação
66
Bibliografia e Webgrafia
79
1.Importância e distribuição geográfica da Fruticultura
A fruticultura pode ser entendida como sendo o conjunto de técnicas e práticas aplicadas
adequadamente com o objetivo de explorar comercialmente plantas que produzam frutos
comestíveis.
Segundo Tamaro (1936), fruticultura é a arte de cultivar racionalmente as plantas frutíferas.
Além do conceito de fruticultura, o conceito de fruta e fruto também é variável conforme o autor.
Segundo Ferreira (1993), fruta é a designação comum às frutas, pseudofrutos e infrutescências
comestíveis, com sabor adocicado. Já o fruto é o órgão que resulta do desenvolvimento do ovário
depois da fecundação e onde se encontram as sementes.
Para facilitar a leitura, será adotado o termo fruta.
O cultivo de plantas frutíferas, ou fruteiras, caracteriza-se por apresentar aspetos importantes no
contexto socioeconómico de um país, tais como:
a) Utilização intensiva de mão-de-obra;
b) Possibilitar um grande rendimento por área, sendo por isso uma ótima alternativa para pequenas
explorações agrícolas;
c) Possibilitar o desenvolvimento de agro-indústrias, tanto de pequeno quanto de grande porte;
d) Contribuir para a diminuição das importações;
e) Possibilitar o aumento nas divisas com as exportações;
f) As frutas são de importância fundamental como complemento alimentar, sendo fontes de vitaminas,
sais minerais, proteínas e fibras indispensáveis ao bom funcionamento do organismo humano.
A fruticultura é uma actividade agrícola que está a renascer no nosso país.
Actualmente verifica-se uma enorme revitalização do sector, que se desenvolve por fileiras, dando um
grande contributo para o equilíbrio da balança comercial portuguesa. O artigo que se segue mostra
bem o dinamismo e êxito do sector:
“Surpresa na crise: a fruta está a vender como pãezinhos quentes. Legumes e fruta nacionais são
preferidos
20/07/2013 | Dinheiro Vivo
Os portugueses são grandes compradores de fruta: por semana, compram entre 2 e 5 kg, aos quais se
somam cerca de 2 kg de vegetais e legumes e 2 a 5 kg de batata. A grande novidade é que os
portugueses são exigentes na hora de escolher aqueles produtos e não há promoção que os convença a
comprar fruta espanhola ou legumes franceses. “O consumidor escolhe primeiro o que é português,
não por ser patriótico, mas porque tem consciência de que os produtos portugueses são bons e até
mais seguros do que os importados”, adianta Domingos dos Santos, presidente da Federação Nacional
das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP).
Não é uma questão de patriotismo e as exportações do sector comprovam a competitividade dos
produtos hortofrutícolas portugueses. Este ano poderão duplicar em relação a 2010. “Exportámos 600
milhões de euros em 2010, 800 milhões em 2011 e em 2012 ficámos pelos 920 milhões. Este ano,
vamos bem encaminhados e vamos ultrapassar os mil milhões”, congratula-se Domingos dos Santos.
A fruta portuguesa não pode ser imitada. O Atlântico arrefece o clima e dá mais tempo à fruta na
árvore e, por isso, tem mais paladar do que a fruta espanhola”, explica o produtor. O Brasil está
2
completamente rendido à pera rocha, que representa, sozinha, entre 10 e 15% das exportações do
sector.”
Graças à qualidade e especificidade dos nossos frutos, 14 deles já foram distinguidos com Designação
de Origem Protegida (DOP) ou Indicação Geográfica Protegida (IGP). São eles os seguintes:
Mais informação em:
http://www.frutaviva.net/portal/
O gráfico seguinte mostra as produções totais das principais espécies de fruteiras em Portugal, obtidas
em 2008 (valores estatísticos oficiais mais recentes). Os valores são expressos em toneladas.
No que se refere à uva de mesa, embora não constando das estatísticas oficiais, sabe-se que em 2012
só a empresa Vale da Rosa (Alentejo) vendeu em Portugal 4500 toneladas de uva de mesa e exportou
1200 toneladas, das quais quase metade sem grainha.
3
Fonte: Anuário Agrícola 2011
As principais zonas de produção são as seguintes:
4
•
Em Trás os Montes predominam os frutos
secos e a oliveira.
•
No Entre Douro e Minho predomina a
policultura onde, para além das uvas para
vinho, há uma enorme produção de Kiwis
e recentemente de pequenos frutos.
•
A Região do Ribatejo e Oeste é o solar da
pêra Rocha, de várias variedades de maçãs
e de pêssegos e nectarinas. Na zona de
Santarém há uma forte tradição na
produção de melancia e melão.
•
Na Beira Interior predomina a maçã (solar
da variedade Bravo de Esmolfe), os frutos
secos (especialmente a avelã) a cereja e os
pêssegos.
•
No Alentejo tem havido um forte
investimento em fruticultura desde as
uvas, quer para vinho, quer de mesa, aos
pêssegos e damasco e pequenos frutos.
•
No Algarve a principal produção é de
laranja, amêndoa e alfarroba. A
diversificação passa por frutos tropicais
como abacate e manga.
•
A Madeira é a única região portuguesa
onde se cultiva banana.
•
Os Açores têm uma forte produção de
ananás em estufa e de maracujá, que se
consome em fresco mas que é
maioritariamente destinado à indústria
(sumos e licores).
•
5
A vinha para produção de vinho é
cultivada em todas as regiões, dando
origem a vinhos de características muito
variadas mas todos eles de alta qualidade.
Área ocupada pelas principais espécies e respetivas produções (2011- 2012)
2.Generalidades
A maioria dos frutos é o resultado do desenvolvimento do ovário da flor após a fecundação,
originando assim as sementes. Algumas frutas, porém, resultam do amadurecimento do ovário mesmo
sem fecundação, produzindo frutos partenocárpicos, como é o caso da banana, do abacaxi e de
algumas cultivares de uvas e citrinos.
Quedas fisiológicas das frutas
Ao longo de todo o processo de desenvolvimento dos frutos, ocorrem uma série de fenómenos
fisiológicos, que provocam a queda dos mesmos. Também podem ocorrer, em qualquer momento, as
quedas acidentais que são provocadas por ventos, chuvas de granizo, doenças, pragas, entre outras.
a) Queda das frutas no vingamento – nesta fase ocorre a queda de flores e frutos mal fecundados.
Pode acontecer uma queda de até 95% da floração total. Esta situação pode ser agravada quando
ocorrerem, simultaneamente, geadas, chuvas em excesso ou falta de polinização;
b) Queda no crescimento dos frutos - neste período ocorre uma competição entre os frutos,
normalmente no final do período de multiplicação celular e início do engrossamento da fruta.
Neste período podem cair de 10 a 30% dos frutos presentes na planta. Esta situação pode ser
agravada por problemas nutricionais e climáticos;
c) Queda pré-colheita - forma-se uma camada de abscisão entre o fruto e o pedúnculo, o que facilita
a queda dos frutos. Este processo é mais comum em algumas espécies frutíferas, como a macieira
e a pereira. Alguns fenómenos climáticos podem agravar ainda mais a situação, tais como
períodos de seca, ventos, pragas e doenças. Os frutos caem antes do tempo e, quase sempre,
estão ainda inadequados para o consumo.
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O uso de fito hormonas, tais como o ácido naftaleno acético (ANA), em baixas concentrações na forma
de pulverizações, pode diminuir os efeitos da queda pré-colheita.
Na Tabela são apresentadas as principais espécies frutíferas cultivadas com o respetivo nome
científico, nome da família e subfamília.
NOME COMUM
NOME CIENTÍFICO
FAMÍLIA
SUB-FAMÍLIA
Malus domestica
Pyrus communis
Cydonia oblonga
Eryibotria japonesa
Mespilus germanica
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Pomoidea
Pomoidea
Pomoidea
Pomoidea
Pomoidea
Pessegueiro
Nectarineira
Prunus persica
Prunus persica var.
Ameixeira japonesa
Ameixeira europeia
Damasqueiro
Amendoeira
Prunus salicina
Prunus domestica
Prunus armeniaca
Prunus amygdalus
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Rosácea
Prunoidea
Prunoidea
Prunoidea
Prunoidea
Prunoidea
Prunoidea
FRUTAS COM SEMENTES
Macieira
Pereira
Marmeleiro
Nêspera-japonesa
Nêspera-comum
FRUTAS COM CAROÇO
Nucipersica
FRUTAS COM SEMENTES CARNOSAS
Romãzeira
Punica granatum
Punicácea
Vitis vinifera
Vitis labrusca
Ribes grossularia
Actinidia deliciosa
Vitácea
Vitácea
Saxifragácea
Actinidácea
Ribesoidea
Citrus sinensis
Citrus limon
Citrus reticulata
Citrus medica
Citrus aurantium
Citrus grandis
Rutácea
Rutácea
Rutácea
Rutácea
Rutácea
Rutácea
Auranteoidea
Auranteoidea
Auranteoidea
Auranteoidea
Auranteoidea
Auranteoidea
FRUTAS EM BAGAS
Videira europeia
Videira americana
Groselheira
Quivizeiro
FRUTAS EM HESPIRÍDIO
Laranja doce
Limoeiro
Tangerineira
Cidreira
Laranja azeda
Toranja
MULTIFRUTOS
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Framboesa
Rubus spp.
Rosácea
8
Rosoidea
NOME COMUM
NOME CIENTÍFICO
FAMÍLIA
SUB-FAMÍLIA
Ficus carica
Morus alba
Morus nigra
Morácea
Morácea
Morácea
Artocarpoidea
Moroidea
Moroidea
Juglans regia
Carya illinoensis
Castanea sativa
Prunus amygdalus
Corylus avellana
Jungladácea
Jungladácea
Fagácea
Rosácea
Betulácea
Prunoidea
Musácea
Bromeliácea
Anacardiácea
Caricácea
Passiflorácea
Mirtácea
Laurácea
-
INFRUTESCÊNCIAS
Figueira
Amoreira branca
Amoreira-preta
FRUTAS SECAS
Nogueira europeia
Nogueira americana
Castanheiro
Amendoeira
Aveleira
FRUTAS TROPICAIS E SUBTROPICAIS
Bananeira
Abacaxizeiro
Mangueira
Mamoeiro/papaeira
Maracujazeiro
Goiabeira
Abacateiro americano
Musa spp.
Ananas comosus
Mangifera indica
Carica papaya
Passiflora edulis
Psidium guajava
Persea americana
Com o conhecimento trazido pela globalização, as novas técnicas aplicadas à produção e a nossa
diversidade climática é possível produzir em Portugal fruteiras de climas temperados mas também as
de clima sub tropical e tropical. É pois importante conhecê-las.
a) Fruteiras de clima temperado - as principais características apresentadas por essas plantas são:
•
•
•
•
•
Hábito caducifólio (plantas de folha caduca);
Só dão fruto uma vez por ano;
Necessidade de frio para haver indução floral;
Maior resistência às baixas temperaturas;
Necessidade de temperatura média anual entre 5 e 15°C para crescimento e desenvolvimento.
As principais plantas frutíferas de clima temperado são pessegueiro, macieira, pereira, videira,
ameixeira, marmeleiro, quivi, cerejeira, nogueira, entre outras.
b) Fruteiras de clima subtropical - as principais características apresentadas por essas plantas são:
•
•
•
•
•
Nem sempre apresentam hábito caducifólio;
Têm mais de uma produção por ano;
Menor resistência a baixas temperaturas;
Pouca necessidade de frio no período de inverno;
Necessidade de temperatura média anual de 15 a 22°C.
As principais frutíferas de clima subtropical são os citrinos (laranja, limão, tangerina), abacateiro,
diospireiro, nespereira, entre outras.
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c) Fruteiras de clima tropical - as principais características apresentadas por essas plantas são:
•
•
•
Podem ter mais que uma produção por ano;
Apresentam folhas persistentes;
Não toleram temperaturas baixas necessitando de temperatura média anual entre 22 e 30°C.
As principais frutíferas de clima tropical são bananeira, cajueiro, abacaxizeiro, mamoeiro/papaeira,
mangueira, maracujazeiro, coqueiro, entre outras.
Quadro resumo – exigências climáticas das principais espécies.
Exigências climáticas das principais espécies
(Adaptado de Saraiva 1992)
ESPÉCIES
ÍNDICES OTIMIZADOS
Alfarrobeira
Espécie de comportamento bastante bizarro típico do clima mediterrânico de duas estações
bem marcadas e estilo cálido, mas onde possa dispor de suficientes reservas de água no
solo e ar.
Ameixeira
No semestre seco (Abril a Setembro) para as variedades europeias com destino à secagem,
a soma das temperaturas médias mensais devem ser de 120 a 130ºC; precipitações
esporádicas inferiores a 180mm e nitidamente escassas no vingamento; insolação acima
das 1700 horas.
Amendoeira/ Oliveira
Temperatura média superior a 22ºC durante todo o Verão, com a evaporação a ultrapassar
os 600mm; insolação de Abril a Setembro superior a 1750 horas; neste período a
precipitação deverá estar abaixo dos 170mm e ser dispersa; no Verão, humidade relativa
média menor que 45%.
Aveleira
Gradiente térmico entre as médias de Janeiro e Julho superior a 14ºC; precipitação anual
acima de 800mm (maior que 230mm no semestre seco); fotoperíodo específico em que a
insolação média deverá oscilar entre as 14,6 e as 15 horas no mês de Julho e 9 a 9,4 horas
durante Dezembro; evaporação menor que 750mm no semestre seco.
Castanheiro
Pluviosidade anual superior a 800mm. A média das temperaturas de Dezembro, Janeiro e
Fevereiro inferior a 7ºC. Altitude máxima de 1100m. Temperaturas muito elevadas nos
meses de Julho e Agosto, associadas a uma escassez de água no solo, dão origem a um
menor vingamento do fruto.
Cerejeira
Temperaturas médias em Janeiro inferiores a 8ºC; gradiente entre Janeiro e Julho superior
a 13ºC; a partir do início de Maio e durante o Verão, temperatura média mensal acima dos
15ªC. Precipitação anual maior que 800mm, mas com épocas de vingamento do fruto
relativamente secas ou com movimento do ar.
Figueira
Temperaturas elevadas durante o dia, acompanhadas de alguma precipitação a partir da
segunda quinzena de agosto, prejudicam o bom desenvolvimento do fruto, já que forçam a
sua maturação.
Ginjeira
A partir do início de Maio e durante o Verão, temperatura média mensal acima dos 15ªC;
requer protecção dos ventos gelados no Inverno. A poda deve ser realizada no Verão para
evitar o aparecimento de doenças.
Macieira
Dormência obrigatória entre Novembro e Fevereiro; humidade relativa do ar superior a
60%, mesmo no período de intensa actividade vegetativa. Temperaturas médias anuais
entre os 10 e 16ºC, embora com variações.
Medronheiro
A produção de medronho está bastante dependente das geadas em virtude da floração
ocorrer entre Outubro e Dezembro. Por esse facto a frutificação é bastante irregular.
Nogueira
Pereira
Somatório térmico médio do semestre seco entre 105 e 120ºC. Curtas quedas
pluviométricas (de horas) nesse período. Luminosidade entre 1500 a 2050horas. É
importante não haver geada entre a formação dos frutos e até que estes atinjam os 20mm
de diâmetro, seguidas de altas temperaturas para manter a sua epiderme.
Somatório das temperaturas médias mensais entre Outubro e Janeiro de 40 e 60ºC. As
10
exigências em humidade relativa são idênticas às ad macieira: Temperaturas médias anuais
entre 13 e 17ªC
As espécies fruteiras podem apresentar tamanho e formas muito diferentes. Assim elas podem ser:
a) Arbóreas - apresentam grande porte e tronco lenhoso. Exemplos: macieira, pessegueiro, cerejeira,
mangueira, abacateiro, nespereira e nogueira.
b) Arbustivas - apresentam porte médio e caule menos resistentes. Exemplos: figueira, amoreira e
romãzeira.
c) Trepadeiras - apresentam caule sarmentoso e/ou provido de gavinhas. Exemplos: videira,
maracujazeiro e quivi.
d) Herbáceas - apresentam porte baixo, rasteiras ou com pseudo caules. Exemplos: bananeira,
morangueiro e abacaxizeiro.
2.1. As fruteiras como plantas perenes
As fruteiras são na sua esmagadora maioria árvores ou arbustos perenes.
Como é bom de ver, para que o pomar se desenvolva como desejado é necessário garantir não só um
bom arranque, preparando o terreno para tal, como todos os anos se devem fazer as manutenções
necessárias para que a árvore cresça equilibradamente e, após o início da frutificação, as produções
sejam regulares e de qualidade.
A árvore é sensível a todas as alterações que possam afectar o seu sistema radicular, a sua copa ou
ainda o meio em que vive (ecossistema agrário). Uma boa condução do pomar é indispensável para
esse equilíbrio. As intervenções são em geral as seguintes:
- Manutenção do pomar, onde se incluem as mondas, as regas e a protecção das plantas contra
pragas e doenças;
- As adubações de manutenção;
- As podas, que consistem na supressão ou corte de ramos, folhas e/ou frutos, com vista a obter
uma árvore com a maior quantidade possível de frutos comerciáveis, isto é, frutos com
características e tamanho, aceites na comercialização dessa espécie/variedade.
2.2. Período de actividade vegetativa anual
Para caracterizar o período de actividade vegetativa anual há que ter em conta que as árvores se
agrupam em dois grandes grupos – as caducifólias, ou árvores de folha caduca e as perenifólias, ou
árvores de folhas persistentes.
2.2.1 Caducifólias ou árvores de folha caduca
Estas árvores têm um período de dormência que corresponde de um modo geral ao inverno e vai
desde a queda das folhas até ao principiar da rebentação na primavera seguinte, quando o calor
provoca o recomeço da actividade dos meristemas.
Neste período as necessidades das plantas são mínimas, a absorção radicular é nula ou insignificante e
pequeníssimo o consumo de substâncias necessárias à vida. As reservas (hidratos de carbono
produzidos na fotossíntese) deixam de se formar embora se continuem a deslocar e a depositar no
caule e nas raízes.
É esta a melhor altura para se efectuarem podas, transplantações e tratamento químicos mais
agressivos (tratamentos de inverno com calda bordalesa, por exemplo) porque a vida vegetativa está
particamente paralisada e a árvore ressente-se muito pouco.
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Enquanto as folhas não estiverem desenvolvidas, a planta recorre às suas reservas para se alimentar.
Estas reservas, que foram produzidas pelas folhas no período vegetativo anterior, actuam em todas as
zonas da planta, até que as novas folhas atinjam tamanho suficiente para elaborarem mais seiva
elaborada.
Os acidentes atmosféricos (geadas, granizos, ventos, frios, etc..) podem provocar prejuízos
importantes nesta altura.
É durante a maior parte da primavera e do verão que se verifica a maior actividade vegetativa da
planta.
Enquanto os ramos e os frutos crescem, vão-se reduzindo as reservas em nutrientes e água do solo. A
falta de qualquer destes elementos no terreno pode paralisar os crescimentos dos ramos e dos frutos
e até provocar a queda destes.
O enfraquecimento da actividade vegetativa ocorre normalmente durante o outono e é influenciado
pela redução da humidade do solo, pelo abaixamento da temperatura e pela menor duração dos dias.
A seiva elaborada passa a ser superior às necessidades de consumo da planta e, como ainda é
produzida com abundância, dá-se a sua acumulação sob a forma de reservas, tanto no caule como nas
raízes. Os ramos endurecem com a lenhificação dos seus tecidos. A planta prepara-se assim para
entrar num novo período de dormência.
LENHIFICAÇÃO DOS RAMOS POR ACUMULAÇÃO DE RESERVAS
Ramo herbáceo na primavera
Ramo lenhificado no outono
2.2.2 Perenifólias ou árvores de folha persistente
As principais fruteiras de folhas persistentes são: laranjeira, limoeiro, tangerineira (citrinos) e oliveira.
O período de menor actividade vegetativa corresponde ao de dormências das caducifólias, mas nas
perenifólias não existe verdadeiramente um período de dormência, porque as suas folhas não cessam
completamente de elaborar, apesar dos crescimentos nos ramos poderem não ser evidentes. Como
praticamente não se efectuam crescimentos, a seiva elaborada neste período de inverno tem pouco
consumo e continua a depositar-se sob a forma de reservas que mais tarde poderão ser utilizadas.
Nestas plantas as folhas são sempre úteis, até mesmo no inverno, facto a que devemos atender ao
escolhermos a época de poda.
No fim do inverno, início da primavera a árvore utiliza as reservas armazenadas para auxiliar a
alimentação dos tecidos em desenvolvimento.
A maior actividade vegetativa ocorre no final da primavera, princípio de verão. Neste período são
enormes as exigências em água e substâncias minerais. Durante o resto do verão o crescimento dos
frutos pode ainda continuar mas o dos ramos cessa, a não ser nos citrinos regularmente regados e
adubados.
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Apesar do papel que a acumulação de reservas tem na futura rebentação das árvores de ambos os
grupos, a sua importância é maior nas caducifólias que completam o seu armazenamento mais cedo.
2.3. Órgãos de vegetação e frutificação
A grande maioria das plantas fruteiras passa por duas fases distintas:
- A primeira é a juvenil ou de crescimento ativo. Nesta fase só produzem gomos foliares e/ou
mistos, aqueles que irão dar origem a folhas e a ramos.
- A segunda é a fase adulta ou reprodutiva. Nesta fase além dos gomos foliares produz também
gomos florais.
2.3.1 Estudo resumido dos gomos (ou olhos)
Classificação quanto á sua:
-Natureza
Com respeito à sua natureza podem dividir-se em florais, foliares, mistos ou compostos.
Gomo
Gomo
f li
fl
l
Gomo
fl
Os gomos florais, também
chamados “botões”, são no
geral mais curtos,
arredondados e dão origem
às flores.
Os gomos foliares, também
chamados “folheares” ou
“olhos”, são mais
compridos e dão origem às
folhas.
l
Os gomos mistos, dão
origem a folhas, a ramos e a
flores.
-Posição
•
•
•
Os terminais ou apicais, situam-se no topo dos ramos.
Os axilares ou laterais, situam-se aos lados das varas ou ramos. É por eles que estas se
ramificam.
Os adventícios, nascem ao acaso em qualquer parte do tronco ou dos ramos e dão origem aos
“ladrões”.
-Número
•
•
Se apenas existir um em cada axila, chamam-se solitários.
Grupados, quando existem vários em cada axila.
-Posição em relação à copa
•
•
•
Internos, quando nascem virados para a parte interior da copa.
Externos, quando nascem virados para a parte exterior da copa.
Laterais, se estão virados para os ramos próximos que constituem a armação da copa.
13
14
-Evolução
•
•
•
Quando se formam e evoluem no mesmo período vegetativo, chamam-se de formação
pronta.
Se forem formados num ano e evoluírem no ano seguinte, são hibernantes.
Dormentes, se só evolucionam passados vários anos — por vezes muitos —, depois de se
terem formado. Podem mesmo nunca evolucionar. Tornam-se úteis se se pretendem renovar
a copa envelhecida ou mutilada.
2.3.2 Ramos das fruteiras
As ramificações mais grossas da copa que partem do tronco, denominam-se pernadas. Nestas
inserem-se os braços que se subdividem em ramos sucessivamente mais delgados, até chegar aos
ramos do ano.
-Ramos guias
Lançamentos das extremidades das principais ramificações que têm por função assegurarem o seu
crescimento.
-Ramos de madeira
São lisos, compridos, com entrenós afastados e gomos regularmente distribuídos.
-Polas
São os rebentos de touça ou de raiz. A sua supressão denomina-se despolamento.
-Ramos ladrões
Provenientes de gomos dormentes (ou adventícios), nascem frequentemente nos ramos mais velhos.
São vigorosos, direitos e crescem na vertical, tornando-se dominantes e competitivos em relação aos
outros. Devem ser eliminados ou dobrados para perderem força.
Certas fruteiras frutificam em ramos frutíferos, que são ramos especializados de duração mais ou
menos longa. Estes, no geral, devem poupar-se na poda.
As fruteiras de clima temperado como a pereira, macieira, ameixoeira, ginjeira, cerejeira,
damasqueiro, amendoeira, alfarrobeira, frutificam nestes ramos. Classificam-se em:
-Dardos
São ramos curtos, com entrenós muito próximos, de casca engelhada e cheia de cicatrizes. O seu
crescimento é lento e apresenta um gomo foliar (pontiagudo) na extremidade. Podem dar origem a
novos dardos, ramos de madeira, esporões ou a verdascas.
Se não se transformam, é sinal de fraqueza da árvore e, devem fazer-se podas mais curtas e adubações
equilibradas. O seu comprimento, em geral, não vai além de oito centímetros.
-Esporões
Os dardos, em geral, no terceiro ano transformam-se em esporões. Estes têm, na sua extremidade, um
gomo floral (arredondado) que desabrocha na Primavera seguinte e dá origem a flores. Os esporões da
pereira, macieira e cerejeira podem produzir durante muitos anos, chegando a ultrapassar os 20 anos.
Muitas vezes, os esporões no quarto ano dão fruto e um dardo e, no quinto, esse dardo transforma-se
de novo em esporão. Podem em casos especiais, formar-se no segundo ano, quando provenientes de
gomos de formação pronta. Os esporões podem ser retos, tortuosos ou em ramalhete. Por vezes
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formam-se “bolsas” que não são mais que engrossamentos devidos à acumulação de reservas. Nestas
podem aparecer “verdascas”.
Os esporões prolongam-se sempre por gomos laterais pois, como se disse, o último é floral.
-Verdascas
São ramos delgados, flexíveis, compridos e terminados por um gomo floral. São ramos frutíferos. No
primeiro ano não dão fruto mas podem transformar-se em ramos frutíferos.
-Ramos mistos
Trata-se de ramos mais ou menos compridos e providos de gomos florais, foliares ou mistos. Estes
ramos têm uma função dupla, porque não só asseguram a frutificação com os seus gomos florais como
os gomos foliares garantem a expansão da copa.
2.3.3 Ramos de fruto em caducifólias
2.3.3.1 Pomóideas - Macieiras (Malus domestica) e Pereiras (Pyrus communis)
Os ramos que se destinam essencialmente à
frutificação são os dardos, os esporões e as
verdascas.
Cada gomo floral dá origem a um número
variável de flores (corimbo), podendo resultar
vários frutos presos no mesmo sítio e oriundos de
um só gomo
Em relação ao seu tamanho, os dardos podem
apresentar elevado número de folhas que,
elaborando grandes quantidades de seiva,
permitem a transformação do gomo terminal
num gomo floral.
Evolução normal de um esporão de pereira até
ao 5º ano.
Geralmente são precisos dois anos para se
obterem esporões a partir de gomos foliares
16
A figura mostra um esporão tortuoso com 8 anos
e as bolsas resultantes da acumulação de
reservas no sítio onde se criaram os frutos.
A – Gomos florais
B – Gomos foliares
C – Cicatrizes deixadas pelos pedúnculos dos
frutos
2.3.3.2 Prunóideas
Ameixeiras (Prunus domestica e Prunus salicina)
A
B
C
A – Ameixeira do tipo europeu
B – Ameixeira do tipo japonês
C – Esporões de uma ameixeira americana com 9 anos
As ameixeiras pertencem a grupos diferentes: ameixeiras do tipo europeu (Rainha
Cláudia), do tipo japonês e do tipo americano.
As ameixeiras do tipo europeu frutificam sobre esporões e ramos mistos.
As outras frutificam apenas sobre esporões e só raramente apresentam gomos florais
nos ramos do ano.
Os ramos de madeira abundam nas variedades europeias sendo muito raros nas
outras, onde os lançamentos anuais são em regra ramos mistos.
17
Na ameixeira abundam os gomos dormentes e adventícios pelo que emite ramos
ladrões com muita facilidade.
Os esporões apresentam muitas vezes o aspecto de ramalhete, sendo o gomo terminal
e alguns laterais foliares e os restantes florais.
Os esporões novos dão frutos melhores do que os muito velhos.
O mais frequente é cada gomo floral da ameixeira dar origem a 2 flores.
18
Cerejeira (Prunus avium)
Os ramos de fruto da cerejeira são
essencialmente esporões em ramalhete com
crescimento recto, que apresentam gomos com
configurações e tamanho semelhante, sendo
todos florais, excepto o central que é foliar e
orienta o crescimento na mesma direcção (por
vezes chegam a atingir o comprimento de um
metro).
Os ramos do ano são ramos de madeira que,
quando vigorosos, apresentam frequentemente
na extremidade gomos foliares muito juntos que
dão origem à característica ramificação em
ramalhete (fig. C).
A fig. A mostra um pedaço de um ramo de dois
anos com um dardo, 2 esporões e um ramo de
madeira.
A fig. B representa um esporão de 4 anos, em
boas condições de frutificação.
Pessegueiro (Prunus pérsica)
O pessegueiro possui como órgãos de
frutificação, ramos mistos, verdascas e esporões
em ramalhete. Os ramalhetes são muito
pequenos e geralmente só duram um ano e
portanto não garantem a frutificação no futuro.
Se bem que todos os ramos do ano do
pessegueiro sejam em rigor mistos, convém
distingui-los para efeito da poda:
- Os ramos relativamente vigorosos com 2 ou 3
gomos em cada nó, que tanto asseguram a
frutificação como o desenvolvimento lenhoso,
são na prática considerados ramos mistos.
- Os ramos mais ou menos compridos mas com
pouca tendência para a frutificação e com menor
vigor, são considerados ramos de madeira
- Os ramos mais curtos com 5 a 15cm e com
grande tendência para a frutificação podem ser
considerados como verdascas.
Os ramos mistos são os que oferecem maior
garantia de frutificação e a sua renovação anual é
o processo mais eficaz para assegura a produção.
Os ramos ladrões podem ser úteis para a
19
renovação da copa mas também a podem
desequilibrar
2.3.3.3 Outras Fruteiras
Nogueira (Juglans regia)
A nogueira não tem esporões e apresenta os
gomos florais masculinos separados e diferentes
dos mistos, que originam os gomos florais
femininos. Os ramos nitidamente de madeira (ao
centro na imagem) são pouco frequentes na
árvore adulta.
As flores femininas abrem primeiro que as
masculinas e, nalgumas variedades, o pólen
destas não vem a tempo de as fecundar.
Geralmente é indispensável haver árvores de
uma outra variedade que produza pólen com
abundância. São as chamadas “polinizadoras”.
Nas árvores de copa muito densa a frutificação
predomina na zona periférica, melhor iluminada.
A nogueira suporta mal a poda e as feridas
cicatrizam com dificuldade
Legenda da imagem:
A – Gomo misto
B – Gomo foliar
C – Gomo floral masculino
D – Cicatrizes deixadas pelas nozes
2.2.4 Ramos de fruto em perenifólias
Laranjeira (Citrus x sinensis) e outros citrinos
Oliveira (Olea europaea)
Estas espécies frutificam a partir de gomos mistos
e de exclusivamente florais que se encontram na
axila das folhas situadas nos ramos com menos
de um ano. A laranjeira e tangerineira frutificam
principalmente na zona exterior da copa. Nestas
espécies é frequente aparecerem ramos verticais
e vigorosos de folhas largas que se comportam
como ramos ladrões
A oliveira frutifica sobre os gomos hibernantes
existentes nas axilas das folhas dos ramos de um
ano, que no fim do inverno se transformam em
florais. Os ramos de dois ou mais anos não
produzem ramos florais. Convém estimular o
aparecimento de ramos do ano, através dos
cuidados culturais. É importante evitar parti-los
durante a colheita. Suporta grandes podes mas
20
reage produzindo muitos ramos ladrões na base
da árvore.
3.Poda
A PODA é o conjunto de cortes executados numa árvore, com o objetivo de regularizar a produção,
aumentar e melhorar os frutos, mantendo o completo equilíbrio entre a frutificação e a vegetação
normal.
A poda é uma das práticas culturais realizadas em fruticultura que, juntamente com outras atividades,
como a fertilização, irrigação e drenagem, controlo fitossanitário, afinidade entre enxerto e portaenxerto e condições edafoclimáticas, torna o pomar produtivo.
Para que a poda produza resultados satisfatórios é importante que seja executada levando-se em
consideração a fisiologia e a biologia da planta e seja aplicada com moderação e oportunidade.
Épocas de poda
Árvores de folha caduca
A poda faz-se quando se encontram despidas de folhas. Nas regiões frias e onde são frequentes os
gelos e geadas, deve fazer-se mais tardiamente para que a cicatrização não fique prejudicada. As
podas tardias provocam muitas vezes a “chora” (“sangrar” de seiva).
Árvores de folha persistente
Faz-se depois da colheita dos frutos e antes do abrolhamento dos gomos. Devem ser feitas durante o
período de repouso vegetativo. Não se deve podar com tempo de vento forte e frio, nem de geada.
Podas de Verão
Os citrinos podem ser podados nesta altura, quando não tiver sido possível podar no curto intervalo de
tempo que vai da colheita à nova floração.
As podas de Verão são podas em verde e servem para suprimir ramos ladrões (em Maio e Junho),
despontar alguns ramos e fazer poda de formação.
21
Efeitos da poda
1 - Sem poda
A árvore fica maior e entra mais cedo em
frutificação. No entanto fica mal formada, com
má disposição de pernadas e ramos e copa mal
iluminada. Dá muitos frutos mas pequenos.
2 – Poda severa
Boa distribuição das pernadas, ramos, folhas e
frutos. No entanto só inicia a frutificação muito
tarde, quando estiver enfraquecida pelos cortes
severos. Os ramos ficam com curvaturas e feridas
e a árvore dura menos. Este tipo de poda só se
admite no início da formação da árvore pois é a
situação mais desfavorável.
3 – Poda mediana
Pernadas, braços e ramos bem localizados. Copa
bem iluminada. Frutos maiores com mais cor.
Com uma arborescência semelhante à natural, a
árvore viverá mais anos.
3.1. Fundamentação
A poda não é uma ação unilateral.
A planta vai ensinando a quem a está a executar. Mas, para isso, é preciso respeitar o seu ritmo,
entender e conhecer a sua fisiologia, saber qual é o momento certo da intervenção.
A poda baseia-se em princípios de fisiologia vegetal, princípios fundamentais que regem a vida das
fruteiras. Um desses princípios mais importantes é a relação inversa que existe entre o vigor e a
produtividade.
O excesso de vegetação reduz a quantidade de frutos, e o excesso de frutos é prejudicial à qualidade
da colheita. Assim, conseguimos entender que a poda, visa justamente estabelecer um equilíbrio entre
esses extremos.
Mas deve ser efetuada com extremo cuidado. Se efetuada no momento impróprio, ou de forma
incorreta, a poda pode gerar uma explosão vegetativa muito grande, causando um problema ainda
maior para o produtor.
Não esquecer que:
a) A seiva dirige-se com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta;
b) A circulação da seiva é mais intensa em ramos direitos e verticais;
c) Quanto mais intensa for a circulação de seiva, maior será o vigor nos ramos, maior será a vegetação
e, ao contrário, quanto maior a dificuldade na circulação de seiva mais gomos florais serão formados;
d) Cortada uma parte da planta, a seiva fluirá para as partes que ficam, aumentando-lhe o vigor
vegetativo;
e) Podas curtas (severas) têm a tendência de provocar desenvolvimento vegetativo, retardando a
frutificação;
f) Diminuindo a intensidade de circulação de seiva, o que ocorre no período após a maturação dos
frutos, verifica-se uma correspondente maturação de ramos e de folhas. Nesse período, acumulam-se
22
grandes quantidades de reservas nutritivas, que são utilizadas para transformar os gomos foliares em
gomos florais;
g) O vigor dos gomos depende da sua posição e do seu número nos ramos, geralmente os gomos
terminais são mais vigorosos;
h) O vigor e a fertilidade de uma planta dependem, em grande parte, das condições climáticas e
edáficas;
i) Deve haver um equilíbrio na relação entre copa e sistema radicular. Este equilíbrio afeta o vigor e a
longevidade das plantas.
A redução do sistema aéreo pela poda, qualquer que seja o método utilizado, leva consigo uma perda
mais ou menos importante das reservas contidas na madeira suprimida e na diminuição do número de
folhas, ou seja, de órgãos que realizam a fotossíntese.
Nos primeiros anos de vida, toda a energia produzida é gasta para o próprio crescimento da planta
(mais azoto que carbono). Depois de formadas as estrutura da planta, então começa a sobrar seiva
elaborada, que se transforma em reserva e é armazenada na planta (mais carbono que azoto).
Então, a planta, através destas reservas, pode transformar os gomos foliares em botões florais.
Esta acumulação é maior nos ramos novos e finos, do que nos ramos velhos e grossos.
O equilíbrio entre a fase vegetativa e a fase reprodutiva é esquematizado na Tabela seguinte, onde se
considera a relação entre o carbono e o azoto nas diferentes fases da vida da planta.
23
Relação esquemática entre carbono (C) e azoto (N) em diferentes fases da vida da planta
PERÍODO
I (C < N)
MANIFESTAÇÃO DA
PLANTA
CAUSAS
PRÁTICAS A APLICAR
Crescimento vigoroso e
pouca produção
Planta jovem; planta
Pouco adubo azotado;
adulta em terreno fértil pouca poda
e adubado
Bom desenvolvimento
Planta equilibrada com
ótimas condições de
vegetação e produção
Boa adubação; poda
média; monda dos frutos
Planta velha; planta
pouco podada; planta
que produziu muito
Fortes adubações; podas
severas; monda dos frutos
II (C = N)
Crescimento estacionado;
produção escassa e
III (C > N)
inconstante
3.2. Principais funções
Resumindo, a poda tem como principais funções:
- Controlar o vigor da planta;
- Equilibrar a produção de ramos vegetativos com os ramos frutíferos;
- Facilitar a entrada de luz e ar no interior da copa;
- Suprimir ramos ladrões, doentes e improdutivos;
- Facilitar os cuidados culturais e a colheita;
- Evitar a alternância de safras (safra e contra safra), garantindo produções regulares.
3.3. Ferramentas de corte
Para realização de uma boa poda, é necessário que se disponha de :
1 – Tesoura de poda para ramos finos
2 – Tesoura de sebe
3 – Serrote de poda
4 e 5 – Tesouras de poda para ramos grossos
E ainda são necessários:
• Canivete
24
•
Escada
Os instrumentos utilizados na poda devem ser leves, para maior facilidade de manuseamento e para
menor esforço do operador. Devem estar afiados, limpos, lubrificados e desinfectados.
A desinfeção é cada vez mais importante para evitar a transmissão de vírus, fungos e bactérias. Num
dia de poda é aconselhável que os utensílios sejam desinfetados a meio e ao fim do dia.
As árvores de um pomar com desenvolvimento anormal devem ser podadas só no final. Em geral,
utiliza-se o álcool como desinfetante.
Convém recordar que nas tesouras só se afia a lâmina e que esta também só é afiada do lado de fora.
A lubrificação da tesoura reduz o esforço do operador na execução dos cortes e aumenta a
durabilidade do equipamento.
É necessário que, juntamente com os instrumentos, se disponha de uma pasta cicatrizante (pasta
bordalesa, por exemplo), que deve ser pincelada sobre os cortes acima de 3,0cm de diâmetro para
evitar a penetração de micro organismos patogénicos (que provocam doenças).
Hoje em dias em muitas explorações a poda é mecânica, o que representa um grande rendimento. No
entanto, o uso de máquinas não permite que se tenha uma poda seletiva de ramos.
3.4. Tipos de corte ou supressões e efeitos nas plantas: atarraque;
desramação e atarraque sobre ramo lateral
Em geral, inicia-se o processo de poda pela eliminação dos ramos secos, doentes, quebrados ou mal
posicionados. Como última operação, faz-se o atarraque dos ramos que permaneceram.
Ramos a eliminar:
1 – Ramos que se dirigem para o interior e
fecham muito a copa
2 – Ramos que se tocam ou se cruzam
3 – Ramos que se emaranham uns nos outros
4 – Ramos que crescem paralelos
5 – Ramos ladrões e os que pelo
alongamento desequilibram a copa
6 – Muitos ramos inseridos no mesmo ponto
A intensidade da poda depende da idade da planta, número de pernadas, vigor e hábito de vegetação,
da distância entre os gomos e do estado nutricional da planta. Quanto à intensidade a poda pode ser
classificada em:
a) Curta - supressão quase total do ramo, deixando-se apenas de 1 a 2 gomos;
b) Longa - supressão de parte do ramo, deixando-o com 40 a 60cm de comprimento;
c) Média - supressão de 50% do comprimento do ramo, em média.
25
Operações e métodos de poda
O conhecimento das diferentes operações da poda é da maior importância, porque a sua oportuna
aplicação permite encaminhar determinado ramo para s frutificação ou para o desenvolvimento
lenhoso, segundo as conveniências.
As operações da poda tanto incidem sobre os ramos atempados (poda de inverno) como sobre os
ramos herbáceos (poda de verão ou poda em verde).
As operações executadas na poda de inverno são:
- Desramações, atarraques, atarraques sobre ramo lateral
As operações mais importantes da poda em verde são:
- Desladroamentos, desramações e despontas.
Quera poda de inverno, quer a poda em verde, podem ser complementadas por:
- Empas e inclinações
Atarraque – suprime unicamente uma parte do ramo,
cortando-o em qualquer ponto do seu comprimento.
Estimula a formação de crescimentos vigorosos o que é
muito importante para as árvores que frutificam em ramos
mistos. Permite encurtar os ramos. Facilita a correcção da
tendência para frutificação nas extremidades. Favorece a
formação de esporões vigorosos. Obriga as árvores a
ramificarem-se onde for mais conveniente.
Desramação – Consiste em suprimir determinado ramo,
cortando-o pela base, ou seja, junto ao ramo mais idoso
onde se insere.
Estimula crescimentos lenhosos regulares. Aumenta a
frutificação. Não evita o excessivo alongamento dos ramos
nem a frutificação nas extremidades.
Atarraque sobre ramo lateral – consiste em suprimir a parte
de um ramo situada além do ponto de inserção dum outro
mais novo ou mais pequeno que nele esteja inserido.
Apresenta vantagens intermédias entre o atarraque e a
desramação.
Desponta – consiste em suprimir a extremidade dos lançamentos ainda herbáceos, às vezes sem
necessidade de uma tesoura. Usa-se muito na vinha.
26
Desladroamento
Consiste na supressão dos
rebentos provenientes de gomos
adventícios, gomos dormentes ou
do porta enxerto, como na figura à
esquerda (ramo 1)
Na vinha é habitual fazer o
desladroamento mecânico (figura
à direita)
Empa – consiste na curvatura dos ramos. Altera a
evolução natural dos gomos ao longo do ramo.
Origina a emissão de maiores lançamentos no
ponto mais alto da curvatura. Antecipa a
formação de dardos e esporões na zona
descendente e terminal do ramo.
Inclinação – consiste na modificação da
inclinação do ramo em relação à vertical. Diminui
a tendência para a vegetação e aumenta a
tendência para a frutificação
3.5. Técnica de execução dos cortes
Os cortes devem ser feitos de uma só vez, ficando
com uma superfície lisa e inclinada, a fim de
facilitar a cicatrização e contrariar infecções. É
por isso preferível cortar tudo o que se possa
com uma tesoura evitando o uso do serrote.
Resultado de um corte mal feito
27
Nos atarraques os cortes devem fazer-se com
uma inclinação regular (figura A) começando do
lado oposto ao gomo, mas ao seu nível, e
terminando 0,5 a 1cm acima dele, conforme a
grossura do ramo.
Atarraques em ramo do ano representando-se a
negro o ramo atarracado e a ponteado o
resultado ano seguinte
A – Boa inserção e cicatrização
B – Cicatrização dificultada e inserção
enfraquecida
C – Impossibilidade de cicatrização e provável
apodrecimento do galho.
Na afigura B vemos um mau corte por ter sido
feito abaixo do nível do gomo, ocasionando o
enfraquecimento da inserção do novo ramo e a
interrupção dos vasos condutores da seiva. Diz-se
popularmente que o gomo fica “descalço”.
A figura C mostra outro corte errado, porque
deixa um coto muito alto que seca e apodrece,
impedindo a cicatrização.
Corte de ramos grossos e pesados
As desramações devem-se fazer bem
rentes, sem exagerar a extensão da
ferida, para facilitar a cicatrização e
evitar o posterior aparecimento de
ladrões.
Na figura acima só o corte representado
pela letra F está correto
Iniciar como na figura B, fazendo dois cortes.
Assim, ao partir, fica como em C, evitando
esgaçar como em A.
Para finalizar a supressão do ramo continua-se a
serrar por 2, procurando deixar o corte o mais
liso possível.
O corte de ramos de grandes dimensões sem esta
técnica danifica o tronco, pois provoca o
descascamento ou remoção do lenho.
3.6. A cicatrização de feridas da poda
As feridas resultam da poda anual, da remoção de partes da estrutura da planta com vista à
restauração da mesma, de gelo, ou surgem naturalmente na madeira mais velha da planta.
A protecção de feridas de poda tem um papel importante na protecção de pomares com forte
incidência de doenças do lenho, como forma de impedir a contaminação de novas plantas que estejam
próximas.
A protecção e/ou desinfecção das feridas também facilita a sua cicatrização o que melhora a saúde da
árvore.
28
Esta protecção é defendida por um grande número de autores, havendo a considerar dois tipos de
desinfecção:
•
Protecção mecânica, em que apenas se recobre a ferida com um selante. Esta protecção
deverá ser feita imediatamente após a poda e funciona como uma barreira física impedindo a entrada
dos esporos dos fungos. Não desinfecta e não cura.
•
Protecção química, que poderá ter uma acção apenas de contacto, ou algum efeito sistémico.
No nosso país encontra-se homologado, para protecção e desinfecção (contacto) de feridas de poda
(em geral) o fungicida cúprico “Gafex” (Pó molhável (WP) com 26,6% de cobre sob a forma de
oxicloreto de cobre, aplicado como pasta (1kg de produto para um litro de água).
A Sapec também comercializa um produto para este fim que se chama ESCUDO®. O ESCUDO®, é
actualmente a única especialidade fitossanitária homologada para a protecção das feridas de poda
contra a Esca e Eutipiose da vinha, autorizado em Protecção Integrada.
Ferida de poda na vinha protegida com
ESCUDO®
3.7. Tipos de poda e efeitos nas plantas:
A poda acompanha a planta desde o início da vida até a sua decrepitude. As necessidades de poda vão
sofrendo alterações à medida que a idade da planta vai avançando.
3.7.1 Poda de educação
É executada normalmente no viveiro tendo como objectivo obter plantas com a altura desejada e/ou
ramificações bem distribuídas. O ideal é que o transplante se faça com a planta muito jovem (um ano).
As plantas poderão ser formadas em haste única, comum em macieira e pereira. Nesse caso todos os
ramos laterais são eliminados no viveiro.
Outra opção é a formação da planta com um tronco já com três ou quatro rebentos, espaçados entre
si de 3 a 5 cm, como no caso dos citrinos.
3.7.2 Poda de transplantação
É feita na altura da plantação.
Eliminam-se os lançamentos que estejam a mais deixando, quando for o caso, três a quatro ramos
bem distribuídos. Faz-se a desponta dos ramos longos, com o cuidado de executar o corte acima de
um gomo voltado para fora da copa.
Quando a planta vem só com uma haste, faz-se a desponta à altura desejada, normalmente
dependendo da maneira como a planta irá ser conduzida no pomar. Geralmente é feita a cerca de 80100cm.
Cortam-se também as raízes muito longas, quebradas e tortas, procurando que haja um equilíbrio
entre a copa e o sistema radicular.
3.7.3 Poda de formação
A poda de formação é realizada nos primeiros anos de vida da planta, o que para a maioria das plantas
frutíferas se prolonga até o 3º ou 4º ano e serve para dar forma à copa das árvores.
Durante esta etapa o importante é criar um bom esqueleto que aguente o peso dos frutos sem se
quebrar e que garanta uma boa exposição à luz e um bom arejamento. Nesta fase a produção não é
importante, nem desejada.
29
Poda de formação durante os três primeiros anos
30
3.7.3.1 Formas livres
No caso das árvores de folha caduca, as duas principais formas usadas hoje em dia nos pomares
industriais, são o VASO e a PIRÂMIDE (também conhecida como EIXO CENTRAL), cada um com
vantagens e inconvenientes e continuando a dar muita polémica. Como em muitos outros casos na
agricultura, não há verdades absolutas.
Seguem-se breves considerações sobre ambos os sistemas de condução.
Preferencialmente a árvore deve ser transplantada com um ano de idade, não só para garantir um
bom pegamento e um bom arranque da vegetação, como também para evitar a poda de formação no
viveiro que nem sempre satisfaz.
VASO - Para obter a forma em VASO, começa-se por atarracar a vareta à altura conveniente. Também
aqui não há consenso e essa altura pode ir de 50cm a 150cm.
Este sistema de condução é utilizado para pessegueiro e ameixeira, podendo também ser utilizado em
macieiras, pereiras e marmeleiros.
Nos casos mais felizes desenvolvem-se ramos bem localizados que permitem estabelecer o vaso com 3
a 4 pernadas, logo ao segundo ano.
Quando isso não acontece, ou quando queremos mais pernadas, é necessário que um lançamento seja
levado à vertical a fim de prolongar o eixo da planta e obter as restantes pernadas.
2º ANO
Árvore com 2 anos,
formada em vaso com 3
pernadas
3º ANO
À esquerda árvore com 2 anos formada
em vaso, já com 3 pernadas e um
lançamento na vertical para obtenção
de mais pernadas no 3º ano (imagem da
direita)
1º ANO
2º ANO
3º ANO
Atarraque da vareta e
Atarraque das 3 pernadas
Vaso formado
31
eliminação dos gomos da
base
obtidas
Pormenor da inserção das pernadas num
pessegueiro conduzido em vaso
Pomar de pessegueiros
conduzidos em vaso
PIRÂMIDE ou EIXO CENTRAL REVESTIDO
Para este sistema de formação das árvores podemos fazer só a poda de inverno ou podemos
complementar a poda de inverno com a poda em verde.
O Eixo Central Revestido, como o nome indica, resulta numa árvore que cresce em altura e onde há
vários andares com pernadas distribuídas equilibradamente por esse Eixo. Nas árvores cuja forma
natural se aproxima da pirâmide, como as macieiras, é muito fácil obter esta forma. Em Produção
Integrada é este o sistema de condução aconselhado por ser o mais adequado à forma das árvores,
exigir pouca mão de obra nos primeiros anos e entrar em frutificação o mais cedo possível o que
geralmente se consegue ao fim de 3 anos. As produções obtidas tão cedo são absolutamente
necessárias não só para amortizar investimentos, mas também para proporcionar a auto regulação da
árvore.
Com este sistema de condução em pomoídeas é possível não efetuar as podas clássicas de formação
durante os cinco primeiros anos. A poda em verde é fundamental neste período inicial. As ligeiras
intervenções em verde, para corrigir a árvore, devem efetuar-se apenas quando absolutamente
necessárias e sempre antes da diferenciação floral que, normalmente, tem lugar cinco semanas após a
plena floração.
Para o obter começa-se por atarracar após a plantação a vareta a cerca de 80cm. Todos os gomos
abaixo de 50cm são esmagados para garantir que não haja lançamentos muito baixos. Com este
procedimento geralmente é possível obter 3 ou 4 bons ramos logo no primeiro ano para formar o 1º
andar de pernadas.
Na altura da poda em verde, além dos lançamentos para o 1º andar de pernadas, deve ser deixado um
lançamento, que se leva à vertical e que vai garantir a continuação do eixo e a formação do 2º andar
de pernadas. Para obter bons resultados este lançamento deve ser atarracado a 50-70cm. Para que o
eixo central fique na vertical é geralmente necessário um tutor.
Todos os rebentos a mais devem ser eliminados ou empados. A empa dos ramos em excesso tem a
vantagem de diminuir o crescimento vegetativo normal nas plantas jovens e antecipar a sua
frutificação. Estes ramos, que devem ser sempre empados para o exterior da copa, serão suprimidos
mais tarde se adensarem demasiado essa zona, mas só quando a planta já estiver a frutificar nos
andares definitivos.
32
Formação da pirâmide
Pirâmide - Resultado final
Na poda de formação é indispensável interpretar as principais aptidões dos ramos para conseguirmos
favorecer o desenvolvimento de uns ramos e diminuir o desenvolvimento de outros.
Assim, é importante não esquecer que:
•
•
•
•
•
•
Os últimos gomos do ramo são os que dão origem a lançamentos maiores; Quando se cortam
os gomos terminais favorece-se o desenvolvimento dos ramos laterais;
Os ramos que crescem na vertical geralmente não frutificam;
Os ramos próximos da horizontal, ou caídos, são os que têm maior tendência para frutificar;
As curvas e cicatrizes numerosas nos ramos prejudicam o seu desenvolvimento;
A rebentação dos ramos podados é tanto mais vigorosa quanto mais intensos forem os
atarraques;
A rebentação dos ramos (podados ou não) diminui se houver ramos perto com frutos;
Quando se atarracam os ramos das árvores em formação, deve-se ter cuidado com o sítio por onde se
corta. O último gomo, ou os dois últimos, deixados devem ficar dirigidos para o lado que se deseja
preencher. Por isso:
•
•
•
Se um ramo estiver demasiado na vertical atarraca-se por um gomo que esteja virado para
fora para que o faça abrir;
Se estiver muito na horizontal, o último gomo deixado deverá estar virado para dentro para o
fechar mais;
Quando o ramo está perto de um vazio na copa que se pretende preencher, atarraca-se sobre
um gomo dirigido nessa direcção.
33
Muitas vezes é vantajoso usar tutores e canas
para obrigar alguns dos ramos principais a
ficarem numa posição mais conveniente (nem
demasiado fechada, nem demasiado aberta).
ANÁLISE DE VÁRIAS SITUAÇÕES
O corte correto é o B, em que o ramo guia fica O corte C está mal porque o ramo guia ficou mais
nitidamente maior que o outro.
curto que o lateral. Qualquer uma das outras
opções está correta.
Na situação de dois ramos a crescerem quase Quando dois ramos se cruzam um deve ser
paralelos (G, H e I) só deve ficar um deles. eliminado. Deve-se deixar aquele que mantém a
Portanto o corte G está mal.
copa mais equilibrada.
A situação J é admissível pois o ângulo de A situação L está errada.
inserção é maior e nesse caso os dois ramos
podem crescer equilibrados sem fazerem
concorrência um ao outro.
34
Quando há dois ramos que crescem do
mesmo lado e estão inseridos muito
próximos um do outro, um deve ser
sempre eliminado.
A situação P está errada.
Neste caso é possível
deixar os dois ramos
porque a sua inserção é
suficientemente afastada
para
não
fazerem
concorrência um ao
outro. Não esquecer que
o inserido mais abaixo
deve sempre ficar mais
curto.
A situação mostrada em T é admissível quando
houver necessidade de aproveitar duas
ramificações laterais para encher a copa, mas a
situação ideal é a U, com ramos laterais mais
afastados que proporcionam uma inserção mais
sólida.
Quando dois ramos formam
um ângulo muito aberto, o
que está mais na horizontal
deve ser podado curto e por
um gomo que favoreça o
fecho desse ângulo.
A situação R está errada.
A situação V não é correta por se terem deixado
para o mesmo lado, e relativamente próximos,
dois ramos laterais. A poda correta está indicada
em X onde se suprimiu um daqueles ramos.
35
3.7.3.2 Formas presas – casos particulares das VIDEIRAS e KIWIS
Das espécies mais cultivadas, as duas que têm formas presas são as videiras e os Kiwis. O
maracujazeiro também tem.
Quer as videiras, quer os Kiwis têm sistemas de condução semelhantes e que são variações da
RAMADA ou do BARDO ou CORDÃO.
A ramada é geralmente mais alta e desenvolve-se na vertical e na horizontal. Ainda é muito usada na
cultura do kiwi, mas hoje em dia já não se fazem vinhas novas com este sistema de condução pois
dificulta os amanhos, e os frutos ganham menos açúcar.
O bardo ou cordão é mais baixo e desenvolve-se somente na vertical, formando linhas bem definidas.
Este sistema de condução permite uma mecanização de muitos trabalhos na vinha, uvas mais ricas em
açúcar e tratamentos fitossanitários mais eficazes. Além disso a poda e colheita podem ser feitas do
solo o que aumenta a rapidez e diminui a quantidade de mão de obra necessária.
Vinha em Ramada
Vinha em Bardo ou Cordão
Pomar de Kiwis – uma das possíveis formas de condução
36
Para que as plantas cheguem aos suportes procura-se numa primeira fase de vida promover o
aparecimento de lançamentos vigorosos que possam adquirir a estrutura desejada, privilegiando a
função vegetativa em relação à produtiva.
No ano seguinte à enxertia ou no ano seguinte à plantação caso se trate de enxertos-prontos, as
plantas possuem normalmente dois bons lançamentos. Na poda selecciona-se o lançamento mais
forte, vertical e de inserção mais próxima da zona de enxertia.
Quando este lançamento atinge a altura desejada, arqueia-se suavemente e estende-se sobre o
suporte, amarrando-o nos locais considerados mais adequados tendo em atenção que na poda de
formação não se devem poupar atilhos.
A partir desta fase e já no ano seguinte, elege-se para guia um lançamento bem constituído, situado o
mais à frente possível.
3.7.3.3 Normas gerais sobre a poda de formação nas árvores de folha persistente
Neste grupo incluem-se os citrinos, a oliveira e a nespereira.
As normas para a poda destas árvores são diferentes das de folha caduca, não só porque têm um ciclo
vegetativo diferente, mas também porque o seu desenvolvimento inicial é muito lento. Assim sendo
podá-las nos primeiros anos de vida é muito prejudicial quer no desenvolvimento da parte aérea, quer
no desenvolvimento das raízes.
Como estas espécies se ramificam facilmente e as inserções dos seus ramos principais são geralmente
boas e sólidas, não há uma grande necessidade de poda de formação.
A poda de transplantação é nestes casos mais severa e pode ser usada desde logo para se dar uma
forma à árvore.
Durante os 4 ou 5 anos após a plantação deve permitir-se a maior expansão possível à copa. As podas
de inverno deverão ser evitadas e as podas de verão serão usadas para suprimir ramos ladrões,
despontar alguns ramos de crescimento desequilibrado ou que se pretende que se ramifiquem.
3.7.4 Poda de frutificação
É iniciada depois da copa estar formada. Para a fazer correctamente temos a necessidade de conhecer
a constituição dos órgãos da planta para saber o que se elimina e porque se elimina. Assim, assegurase uma regularidade e melhoria da frutificação através de um controle rigoroso do equilíbrio entre as
funções vegetativa e reprodutiva. A importância da poda de frutificação está intimamente relacionada
com o hábito de frutificação da planta. Assim sendo, a poda de frutificação é mais importante para
aquelas espécies que produzem em ramos novos, ou seja, ramos do ano, como é o caso do
pessegueiro, da figueira, da videira e do quivizeiro.
A poda de frutificação é bastante variável com a espécie, cultivar, espaçamento, vigor da planta,
estado nutricional e fitossanitário, condições climáticas, épocas, entre outras. É essencial para as
fruteiras das zonas temperadas, que vegetam abundantemente, precisam de um período de
dormência para frutificar e possuem ramos que produzem uma única vez pelo que o seu corte é
recomendado logo de seguida. As fruteiras das zonas tropicais e subtropicais, ao contrário, crescem,
florescem e frutificam de forma contínua na parte terminal dos ramos. O cuidado aqui é manter o
arejamento no interior da copa para evitar doenças ou a frutificação exclusivamente periférica.
Não esquecer que podas intensas aceleram a circulação da seiva e provocam excesso do crescimento
vegetativo, com redução de flores e frutos. Mas uma poda mais leve pode gerar excesso de frutos,
com uma colheita de má qualidade.
37
Esta poda deve ser acompanhada de uma adubação equilibrada e manutenção de água disponível no
solo.
38
Poda de frutificação das principais fruteiras
Árvores de folha caduca
Pomóideas - Macieira e pereira
Principal sistema de condução: eixo central revestido
Neste sistema de condução é natural o aparecimento de
lançamentos vigorosos na zona superior. Por isso não se devem
fazer atarraques mas sim supressões ou atarraques sobre
ramos laterais para favorecer a emissão de lançamentos com
capacidade de frutificação e a iluminação de toda a copa. Os
andares devem manter entre si o afastamento necessário para
que os inferiores não envolvam e ensombrem os que estão por
cima.
Com o envelhecer das árvores começa a ser necessário fazer
uma poda mais intensa, especialmente na pereira que tem
tendência para a diminuição dos lançamentos anuais ficando a
árvore repleta de órgãos de frutificação. Como são necessárias
folhas para alimentar os frutos, esta situação não é desejável.
Devem-se então fazer atarraques e poda de esporões.
Por vezes é necessário fazer
incisões acima dos gomos
dormentes situados no eixo
para preencher por completo
o eixo e assim evitar zonas
improdutivas. Na figura à
direita vê-se uma incisão e o
resultado no ano seguinte.
Prunóideas
Ameixeira
Principal sistema de condução: vaso
Após a poda de formação devem-se evitar os atarraques dos
ramos guias para não provocar a rebentação de fortes
lançamentos lenhosos. Nas ameixeiras em vaso são frequentes
lançamentos maiores que 50cm. Por isso, a cada 2 ou 3 anos, há
necessidade de rebaixar esses ramos, não porque a frutificação
seja excessiva, mas sim para evitar que esses ramos muito
alongados e cheios de esporões deformem ou partam com o
peso.
Como a ameixeira reage com vigor aos cortes, só se devem
deixar próximo da extremidade do ramo encurtado, os ramos,
verdascas ou esporões convenientes à sua ramificação,
suprimindo os outros bem rentes, para que surja um
amontoado de ramos inseridos no mesmo ponto.
Para manter o equilíbrio numa árvore adulta e vigorosa uma
boa prática é fazer uma poda pouco intensa na parte superior
da copa (onde normalmente reage mais, roubando energia ao
resto da planta) e uma poda mais intensa na zona inferior.
39
Prunóideas
Cerejeira
Quando a árvore já em plena produção mas ainda jovem, é
conduzida sob a forma de vaso e apresenta tendência para se
desenvolver muito em altura e pouco em diâmetro, devem
efectuar-se rebaixamentos, de preferência sobre ramos de 2
ou 3 anos, desde que não haja perigo de ataques de gomose.
Nas formas em eixo revestido (a que é utilizada nos pomares
modernos), procura-se aproximar os andares laterais tanto
quanto possível da horizontal, com atarraques sobre ramos
laterais, de modo a afastá-los convenientemente uns dos
outros.
A publicação, cuja imagem da Capa se encontra à esquerda,
pode ser encontrada na página da Cerfundão
(www.cerfundao.com) e nela se encontra da mais recente e
importante informação sobre pomares de cerejeira.
Pessegueiro
Principal sistema de condução: vaso com 3 pernadas (em
pomares intensivos também se usa o eixo central revestido).
O pessegueiro é uma espécie com crescimento muito
acelerado cujo tronco envelhece mais rapidamente que a raiz.
É uma planta muito exigente em luz. Produz nos ramos do ano
e, por isso, é preciso preservá-los para garantir a regularidade
e qualidade da produção. A pequena duração dos esporões e a
grande importância dos ramos mistos na frutificação exigem
uma poda durante toda a vida.
Nos pessegueiros em plena frutificação os ramos guias
cimeiros devem ser atarracados a pelo menos 20cm. Os
laterais podem ficar mais curtos.
Como os ramos mistos se alongam muito anualmente, a
frutificação desloca-se para a periferia da copa, pelo que há
necessidade de contrariar constantemente essa tendência.
Deste modo os encurtamentos são frequentes nas árvores
adultas.
As estruturas vigorosas situadas no cimo da árvore devem ser
suprimidas e as bifurcações aí localizadas devem ser evitadas.
A rectificação dos excessos de vigor no cimo das pernadas só é
possível com podas no Verão.
Videira
Principal sistema de condução: bardo (cordão unilateral ou
cordão bilateral)
Nas varas, os gomos do terço médio são os mais
produtivos (embora se verifique uma variação consoante a
casta) por isso, torna-se essencial conhecer os hábitos de
frutificação para determinarmos a intensidade da poda a
praticar. Assim, o sistema de poda mais utilizado é a poda
mista uma vez que existe o talão a dois gomos e a vara de
vinho (com quatro a seis gomos para poda livre e com seis a
40
oito gomos para a amarrada).
Desta forma, garante-se a estabilidade anual da produção e
facilita-se a alimentação da videira, uma vez que as varas de
vinho não se afastam do eixo da videira permitindo que a sua
renovação se faça através do talão, não recorrendo assim à
realização da empa.
Cuidados a ter com a escolha das varas de vinho:
- Devem-se eliminar as varas mais vigorosas dado que o seu
excesso de vigor provoca o desavinho;
Videira (cont.)
- Devem-se escolher as varas que se encontram inseridas na
madeira do ano anterior e que possuam um nível médio de
vigor.
Determinação da carga (nº de gomos) a deixar na poda:
- Se na videira o número de varas desenvolvidas for inferior ao
número de gomos deixados, a poda deverá efectuar-se de
forma mais intensa e com carga inferior;
- Se todos os gomos rebentaram com varas de elevado vigor e
deram origem ao aparecimento de netas e ladrões, a poda,
pelo contrário, deverá ser feita com menos intensidade e com
uma carga mais elevada.
Hoje em dia a necessidade de simplificar os trabalhos têm
conduzido a podas só a talão, mesmo na região dos vinhos
verdes, e com bons resultados.
Capa de um excelente livro sobre
este tema, da autoria do Professor
Urbano Moreira, 2011-Publindústria.
Pode ser consultado na Biblioteca da
EPA Conde de S. Bento – Santo Tirso
Actinídea (Kiwi)
Principal sistema de condução: variantes de ramada baixa ou
parral
A actinídea produz frutos sobre ramos de um ano. Os ramos
ideais para produzir são os de crescimento determinado e
entrenós curtos, gomos bem desenvolvidos e bem expostos.
A poda de produção inclui uma poda no Inverno e outra no
Verão.
Poda de Inverno: realiza-se de meados de Dezembro a meados
de Fevereiro. Consiste na eliminação dos ramos que
apresentam as seguintes características: i) frutificação no ciclo
vegetativo anterior; ii) inserção demasiado na vertical; iii)
excedentes, em relação aos que se pretendem para
produzirem.
A poda das plantas machos só é realizada após a floração.
Poda de Verão: embora, não haja consenso entre os
41
investigadores sobre o efeito positivo desta poda, ela continua
a ser praticada, consistindo fundamentalmente no seguinte: i)
corte a partir das 2 ou 3 folhas dos ramos demasiado
vigorosos, de modo a evitar que partam pela acção do vento, e
a permitir a rebentação de varas menos vigorosas, ii) corte
após a 3ª- 4ª folha, contada a partir do último fruto, dos ramos
frutíferos de modo a privilegiar o crescimento dos frutos
relativamente ao crescimento dos ramos.
Entre varas deve existir pelo menos uma distância aproximada
de 20 cm. Cada vara deve conter no máximo 15 a 20 gomos.
Porção de um ramo principal de Kiwi (as folhas
não estão desenhadas para simplificar o
esquema). Os traços a vermelho marcam o local
da poda de inverno.
Actinídea (Kiwi) - continuação
A – Vara de renovação que não frutificou:-podase a 15-20 gomos
B – Ramo que frutificou e tem uma vara de
renovo na base (é o normal):-mantém-se a vara
de renovo podando-a 10-20 gomos e
eliminando o resto.
C – Spur (verdasca) não ramificado:-não se poda
pois produz fruto
D – Não existe vara de renovo:-despontam-se
todas as varas
Árvores de folha persistente
Laranjeira, Tangerineira e Limoeiro
Principal sistema de condução: esfera oca
Requerem apenas poda extensiva. Procura-se estimular a
emissão anual de lançamentos com gomos florais e
manter uma copa equilibrada.
Com o recurso às desramações e atarraques sobre ramos
laterais suprimem-se os ramos novos em excesso que
adensam a periferia da copa, de modo a que os restantes
componham toda a superfície externa tocando-se
levemente sem ficarem apertados e a roubarem luz uns
aos outros.
Suprimem-se todos os ramos secos e envelhecidos que se
encontram no interior da copa, assim como os ramos
débeis sem condições de frutificação. Os ladrões também
se cortam rentes a não ser que sejam úteis para
preencher algum vazio. Neste caso atarracam-se à altura
42
conveniente. As zonas dos ramos mortas pelas geadas são
também suprimidas. Os ramos desgarrados que
desequilibram a copa, encurtam-se sobre lateralmente.
Nas árvores novas é particularmente importante suprimir
os ramos ladrões e encurtar os que ameaçam crescer
demasiadamente sem se ramificarem, a fim de favorecer
o desenvolvimento dos ramos de crescimento mais lento
e com direcção aproximada da horizontal.
A melhor época de poda é a que se segue à colheita dos
frutos, sem coincidir com a floração.
Pomar de laranjeiras
Oliveira
Principal sistema de condução:
•
Cultura extensiva e intensiva – vaso
•
Cultura super intensiva – eixo central revestido
Árvore de desenvolvimento muito lento nas primeiras
idades, tem no entanto vida muito longa e resistente.
Na oliveira é muito frequente a alternância de colheitas.
As fertilizações do terreno e a regularidade de cultivo e da
poda concorrem para atenuar as contra-safras. Além disto
as podas ligeiras realizadas anualmente mantêm a árvore
com vegetação regular e tornam-se menos demoradas do
que uma poda bienal cuidadosa, repartindo-se o trabalho
sem agravar o seu custo.
Como a frutificação só aparece nos ramos com 1 ano,
torna-se indispensável a sua renovação anual.
Quando a oliveira com a forma de vaso anda submetida a
podas anuais convenientes e a cultivos do terreno
regulares e adequados, apresenta-se com uma copa
completamente revestida de ramos frutíferos que se
distribuem uniformemente, dando uma sensação de
leveza e de certa transparência que contrasta tanto com
as copas excessivamente despidas pelas podas violentas,
como com a ramagem densa e apertada das árvores
submetidas à severidade das podas bienais ou trienais.
As ramificações (borlas) que se suprimem, são as que se
apresentam mais tortuosas, com maior quantidade de
raminhos secos e pendentes.
Quando na ramagem lateral e principalmente na parte
superior da copa aparecem lançamentos verticais com
mais de 50 cm, em contraste com os ramos menos
vigorosos e mais horizontais da restante copa, há necessidade de os encurtar sobre lateralmente ou mesmo
de os atarracar, para impedir o seu alongamento e
moderar o respectivo vigor, obrigando-os a ramificarem43
Ramos de oliveira (borlas) antes e depois
da poda.
se.
A época da poda estende-se do final da colheita ao
princípio da Primavera, antes de se intensificar a
circulação da seiva.
Atendendo a que devido aos custos, a colheita mecânica
será imprescindível, deveremos ter em atenção a altura
do tronco (0,8/1 m), local onde se fará a cruz com 2, 3 ou
4 pernadas principais.
Na formação e frutificação devemo-nos preocupar, com a
localização do fruto, por forma a facilitar a colheita.
Também deverá merecer atenção o arejamento e a
iluminação de toda a copa, para facilitar a polinização, o
desenvolvimento dos frutos e dificultar o ataque e a
disseminação de pragas e doenças.
Pequenos frutos
Mirtilo
Principal sistema de condução: vaso
Como no mirtilo a poda de formação funciona já como
uma poda de frutificação, no texto aparecem as duas em
conjunto.
1. Formação
Eliminar as ramificações finas e débeis que situadas até 30
cm de altura do solo. Assegurar a formação de ramos
vigorosos
Poda do arbusto durante os 2-5
primeiros anos no campo
Eliminar as flores e os frutos durante os dois primeiros
anos
Na poda do primeiro ano, seleccionar três/quatro ramos
mais vigorosos. No segundo ano, podar os ramos a 40/50
cm de altura, para formação das pernadas (ramos
primários), que assegurarão a produção durante os anos
seguintes
2. Manutenção
Remover os ramos fracos, bem como os que estejam
inseridos muito abaixo, nas hastes principais. Despontar
os ramos mais fracos, podando-os sobre um bom
lançamento lateral jovem
Locais onde se deve cortar para remover
os ramos fracos de um arbusto adulto
Podar os ramos secos e os que se desenvolveram no
interior da copa
44
Framboesa
Principal sistema de condução: bardo
A poda é uma operação cultural muito importante para a manutenção da produtividade das plantas e
para a eliminação de varas doentes e/ou com pragas e de varas em excesso ou com pouco vigor.
No caso das variedades não remontantes, a poda principal deve ser realizada logo após o fim da
colheita ou no fim do inverno e devem ser eliminadas todas as varas que deram fruto, cortando-as
mesmo junto ao solo. De janeiro a princípios de março, todas as varas novas (varas do ano) com pouco
vigor, partidas, doentes ou com sinais da presença de insetos devem ser eliminadas. Além disso, todas
as varas novas que se encontram fora de uma faixa de 25 a 30 cm de largura ao longo da linha devem
também ser eliminadas. Por fim, as
varas novas selecionadas para
produção devem ser cortadas de
modo a ficarem com cerca de 1,8 m
de comprimento, e devem ser
atadas ao sistema de suporte (Strik,
2008).
As variedades remontantes devem
ser podadas logo a seguir ao fim da
colheita, cortando-se todas as varas
junto ao solo. Depois, na primavera
seguinte,
surgirão
novos
lançamentos que frutificarão nesse
mesmo ano (Strik, 2008).
3.7.5 Poda de rejuvenescimento
Tem por finalidade livrar as plantas frutíferas de ramos doentes, atacados por pragas ou renovar a
copa através do corte total da mesma, deixando-se apenas as ramificações principais
Este tipo de poda é frequente em pomares abandonados, mas de vigor ainda razoável, como, por
exemplo, laranjeiras, macieiras e pereiras. Normalmente, cortam-se as pernadas principais, deixandoas com 40 a 50cm. Posteriormente, selecionam-se os ramos que irão permanecer, através da poda
verde. Os cortes maiores são realizados no inverno, ocasião em que são aplicadas pastas fungicidas no
local que foi cortado.
3.7.6 Poda de limpeza
É uma poda leve que consiste na eliminação de ramos secos, atacados por doenças, pragas ou mal
localizados. É realizada em frutíferas que requerem pouca poda, como é o caso de laranjeiras e
mangueiras, entre outras. Esta prática normalmente é realizada em períodos de baixa atividade
fisiológica da planta, ou seja, durante o inverno ou, como no caso dos citrinos, logo após a colheita das
frutas.
3.7.7 Poda das netas
É a retirada dos lançamentos secundários que surgem nas axilas das folhas da figueira e videira e que
devem ser arrancados manualmente durante o desenvolvimento da planta
3.7.8 Desponta
Consiste em diminuir o tamanho dos ramos mais promissores de modo a reduzir assim a quantidade
de frutos a serem produzidos. Esse encurtamento reduz de 1/3 a 2/3 o tamanho normal do ramo.
3.7.9 Desfolha
45
Muito comum na videira consiste na eliminação das folhas que se situam mais próximas dos cachos. É
uma operação que deve ser realizada com precaução, uma vez que pode alterar a actividade
fotossintética da planta. Além disso, as folhas eliminadas devem ser as mais desenvolvidas e menos
jovens para que o fornecimento de nutrientes ao cacho não fique comprometido. Os principais
objectivos da desfolha são o arejamento, a redução da probabilidade de podridões nos cachos e o
aumento da sua exposição solar, essencial para melhorar a coloração e permitir a maturação dos
bagos.
3.7.10 Monda dos frutos
Para garantir uma boa produção sem alternância devemos realizar a monda dos frutos, que também é
uma poda, e vale praticamente para todas as frutíferas. Esta monda deve ser realizada de cima para
baixo, deixando-se os frutos mais bem formados e mais sadios, eliminando-se preferencialmente os
frutos do interior da copa.
Para os pessegueiros deve-se deixar os frutos voltados para baixo e mais próximos de ramos maiores.
Para a monda, em qualquer espécie, os frutos devem ter cerca de 1 a 2 cm de diâmetro. A quantidade
de frutos que permanecem é variável, sendo regra geral não deixar nenhum fruto em plantas com
menos de dois anos. Recomenda-se a monda para todas as plantas com muita carga ou plantas muito
jovens, pois a manutenção de muitos frutos pode ocasionar a quebra de galhos, baixo rendimento
médio ao longo dos anos, diminuição do vigor da planta e até a morte prematura da planta. Com a
monda correta garante-se uma boa produção, com qualidade e principalmente durante muito tempo.
É importante salientar que, quando a monda é realizada dentro do período de divisão celular da fruta,
ocorre a formação de um maior número de células, com consequente maior tamanho da fruta,
comparado com a monda realizado após a fase de divisão celular, na qual o tamanho da fruta é dado
somente pelo aumento do volume das células. Assim, os efeitos benéficos da monda serão tanto
maiores quanto mais cedo for realizada esta operação.
A época mais adequada para realização da monda é variável com a espécie, porém pode-se considerar
que à volta de 30 a 40 dias após a plena floração ou quando as frutas tiverem de 1 a 2cm de diâmetro
como a melhor época para realização da monda, para a maioria das espécies frutíferas. Normalmente,
as plantas apresentam uma queda natural de frutas até 30 dias após a plena floração, por isso não é
recomendável realizar a monda durante este período.
Para a cultura da pereira, recomenda-se iniciar a monda 60 dias após a plena floração, devido ao fato
de que esta espécie apresenta a iniciação floral mais tardia.
Outro facto que deve ser levado em consideração é o tempo que será gasto para execução da monda.
No caso de pomares maiores, nos quais a operação é mais demorada, deve-se antecipar o início da
monda para evitar-se que as frutas já estejam muito desenvolvidas no final da operação e a monda
não tenha efeito.
46
Monda de frutos em ramos de
pessegueiro
Monda em macieiras deixando-se um fruto em cada ramalhete
4. Operações complementares da poda
4.1 Empa
A empa é uma operação que se realiza em simultâneo com a poda e que consiste em dobrar a vara
que se deixa e amarrá-la a um arame. Sem a empa os gomos das pontas receberiam a maior parte da
seiva, enquanto os da base ficariam sem “alimento”, impossibilitando o seu correcto desenvolvimento.
As varas da videira devem ser dobradas ou curvadas com cuidado para evitar que as varas se partam. A
acção de curvar a videira designa-se “gemer”. A vara deve gemer-se ao terceiro gomo, contudo não
deverá ficar demasiado curvada, porque dessa forma a vegetação ficará muito cerrada.
A empa tem como contribuição positiva para o processo produtivo, o facto de permitir uma
regularização da rebentação. No entanto, provoca um aumento de mão-de-obra, o que naturalmente
se reflecte nos custos de produção.
4.2 Anelamento
É a remoção de um anel bem fino em ramos contendo frutos, com a finalidade de acumular a seiva
elaborada na parte superior do ramo. Essa técnica é realizada no início da maturação para melhorar a
fixação, tamanho, coloração e sabor dos frutos (Fig. A e B). Deve ser feita com moderação, pois uma
série de interrupções de seiva poderá causar um enfraquecimento da planta. Para que essa técnica
seja eficiente na sua aplicação, é necessário que ocorra a cicatrização do anel, após o efeito desejado
(Fig. C).
47
Figura A
Figura B
Figura C
4.3 Incisões
A incisão é realizada acima de um gomo e
tem o objetivo de quebrar a dominância
apical e fazer com que esse gomo abrolhe. A
dominância é quebrada pela interrupção do
fluxo de auxinas que são sintetizadas nos
ápices dos ramos e que se translocam para as
raízes das plantas.
4.4 Torção de ramos
Consiste numa ligeira torção dos ramos durante o período vegetativo, com o objetivo de quebrar a
dominância apical e assim estimular as brotações laterais.
4.5. Lenha da poda
Nos pomares em boas condições sanitárias, recomenda-se que a lenha de poda seja triturada e
deixada à superfície do solo. Esta prática promove o aproveitamento da matéria orgânica e reduz a
saída de nutrientes do pomar.
Em caso de necessidade de mobilizações do solo para incorporação de matéria orgânica, ou quando a
permanência da lenha proveniente da poda possa potenciar problemas fitossanitários, é permitido
remover a lenha de poda. Na mobilização preferir as alfaias que não degradem a estrutura do solo.
48
5. Propagação vegetativa
5.1. Importância
A propagação é um conjunto de práticas destinadas a perpetuar as espécies de forma controlada. O
seu objetivo é aumentar o número de plantas, garantindo a manutenção das características
agronómicas essenciais das cultivares.
A propagação das plantas frutíferas reveste-se de grande importância na fruticultura. Essa talvez seja a
etapa mais importante na implantação de um pomar. Para que se tenha sucesso, é necessária a
adoção de técnicas que visam a obtenção de plantas de qualidade.
5.2. Métodos de propagação
Os métodos de propagação podem ser agrupados em dois tipos:
• Propagação sexuada ou seminal, que se baseia no uso de sementes;
• Propagação assexuada ou vegetativa, baseada no uso de estruturas vegetativas.
5.2.1. Propagação sexuada
A propagação sexuada é o principal processo de multiplicação das plantas uma vez que é o modo
natural de disseminação, havendo espécies em que a semente é a única forma de propagação viável.
Com este tipo de multiplicação obtêm-se plantas muito vigorosas, formadas por um sistema radicular
desenvolvido. As plantas obtidas por sementes apresentam grandes variações, sendo distintas dos pais
(planta mãe) e também entre si uma vez que resultam de uma polinização cruzada.
Em fruticultura, a utilização de sementes basicamente está restrita à obtenção de porta-enxertos e ao
melhoramento genético (obtenção de novas variedades), pois, comercialmente, poucas espécies
frutíferas têm as plantas obtidas por este método.
Vantagens e desvantagens da propagação sexuada em fruticultura
Vantagens
Desvantagens
Maior longevidade
Heterogeneidade entre plantas devido à
segregação genética
Desenvolvimento vigoroso
Frutificação mais tardia e porte elevado
Sistema radicular mais vigoroso e profundo
Irregularidade da produção, cor, caraterísticas
organoléticas e tamanho
Fonte: Fachinello et al. (1995)
5.2.2. Propagação assexuada ou vegetativa
A propagação assexuada ou vegetativa, que em fruticultura desempenha um papel de destaque,
baseia-se no uso de estruturas vegetativas (raiz, caule, folhas, gomos) que não a semente.
A multiplicação vegetativa pode ser natural, formando-se as novas plantas a partir de partes da planta
mãe (ex.: folhas, estolhos, rizomas, raízes tuberculosas, tubérculos, bolbos, bolbilhos, gomos aéreos,
caules rastejantes) ou artificial como o método da estaca, a mergulhia e a enxertia.
49
Por exemplo, o Morangueiro reproduz-se por
multiplicação vegetativa natural através de
estolhos.
Ao recorrer-se à multiplicação vegetativa, não só é possível obter uma grande quantidade de
descendentes a partir de um progenitor, como também se verifica que as suas características se
mantêm inalteradas. Por estas razões, estamos perante um processo de clonagem muito usado na
multiplicação de fruteiras.
Na fruticultura, as principais estruturas são estolhos, rebentos e rizomas que são úteis na propagação
de algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a bananeira, a framboesa e a amoreirapreta.
Para além da propagação vegetativa natural, acima descrita, é também possível proceder à
propagação vegetativa artificial, baseada no mecanismo de reprodução assexuada.
O principal objetivo da multiplicação vegetativa artificial é propagar espécies vegetais, procurando
melhorar e aumentar a sua produção. Entre os vários métodos utilizados podemos destacar: estacaria,
enxertia, mergulhia, alporquia e micropropagação (cultura in vitro).
Vantagens e Desvantagens da propagação assexuada em fruticultura
Vantagens
Desvantagens
Perpetuação de caracteres agronómicos
Transmissão de doenças
Redução da fase juvenil
Risco de mutação das gemas/gomos
Obtenção de plantas uniformes
Risco de danos generalizados na área de
produção.
Combinação de clones na enxertia
Fonte: Fachinello et al. (1995)
5.2.2.1. Estacaria/ estaquia
A estacaria consiste em regenerar uma planta a partir de um órgão ou fragmento de órgão vegetativo
que não seja especializado para a propagação. Consoante o tipo de órgão a partir do qual se preparam,
as estacas classificam-se em:
50
1. Foliares ou estaca de folha;
2. Caulinares ou estaca de ramo (caule)
3. Radiculares ou estacas de raiz
Estacas foliares – não é um tipo de estaca usado na propagação das fruteiras mais comuns. Pode ser
usado na Piteira (cacto que dá frutos) muito vulgar na Madeira, Algarve e em África.
Estaca de folha com raiz
Estacas de raiz - Muitas espécies com dificuldade de enraizamento por estaca, têm grande potencial de
enraizamento através de rebentos de raiz.
Estacas caulinares - O uso de estacas caulinares é a principal técnica de propagação vegetativa de
plantas.
A estacaria é também uma operação frequentemente necessária à propagação por enxertia, uma vez
que a maioria dos porta-enxertos é obtida a partir de estacas.
Na propagação por estacas caulinares utilizam-se segmentos de caules contendo gomos terminais ou
laterais, que são colocados em condições adequadas à produção de raízes adventícias.
As estacas caulinares classificam-se em função do grau de lenhificação do caule. Assim, podem ser
herbáceas, semilenhosas e lenhosas
51
Estacas herbáceas – são colhidas no período de crescimento vegetativo. (primavera/verão), quando os
tecidos apresentam alta atividade meristemática e baixo grau de lenhificação
Estas estacas são preparadas a partir de caules herbáceos, com cerca de 7 a 10 cm, frequentemente
com folhas. Nas estacas herbáceas o enraizamento tende a ser mais fácil, mas exige maior controlo
ambiental. Após o enraizamento devem ser repicadas para um ambiente menos húmido e em
substrato próprio.
O enraizamento requer elevada humidade relativa. Sob condições adequadas, o enraizamento tende a
ser rápido, com elevadas percentagens de sucesso. A utilização de hormonas de enraizamento não é
indispensável, mas melhora a uniformidade da distribuição das raízes.
Estacas semilenhosas – são colhidas no final do verão e início do outono.
São preparadas a partir de espécies lenhosas de folha persistente ou de material de espécies de folha
caduca desde que colhido no Verão.
As estacas são preparadas com 7 a 15 cm de comprimento, com folhas. Em geral, o termo
“semilenhosas” refere-se a estacas intermediárias entre as herbáceas e lenhosas.
Estacas lenhosas – são colhidas no final do período de dormência (inverno), quando estas se
apresentam altamente lenhificadas.
As estacas lenhosas são menos perecíveis do que as anteriores, pelo que exigem menos cuidados na
sua preparação e não exigem controlo ambiental durante o enraizamento.
Utilizam-se na propagação de espécies lenhosas de folha caduca e em gimnospérmicas.
Nas espécies de folha caduca, as estacas colhem-se entre a queda da folha e a rebentação primaveril.
Deve-se descartar a ponta dos ramos, normalmente pobre em reservas, e preferir a parte central e
basal. As estacas lenhosas variam muito em comprimento, podendo ir de 10 a 70 cm.
As estacas caulinares lenhosas podem ainda ser:
•
•
•
Simples,
Com talão,
Em cruzeta.
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A estaca simples é a mais frequente e dá bons resultados na maioria dos casos.
Nalguns casos o enraizamento é favorecido pela presença de um talão (pequena porção de madeira
velha) ou de uma cruzeta (secção do caule de madeira mais velha).
A - Simples
B - Talão
C - Cruzeta
D - Gomo
5.2.2.2. Enxertia
Enxertia - é o método de propagação assexuada que consiste em unir duas ou mais porções de tecido
de modo que a união destas partes venha a constituir-se numa nova planta. É um dos principais
métodos de propagação e é largamente utilizado num grande número de espécies, tais como videira,
citrinos, kiwi, pessegueiro, ameixeira, macieira, pereira, entre outros.
As partes que compõem uma planta propagada por enxertia são:
Porta-enxerto ou cavalo - parte que confere o sistema radicular à planta propagada, podendo ser
proveniente de sementes ou de propagação vegetativa. Porta-enxertos oriundos de sementes, em
geral, são mais vigorosos e apresentam sistema radicular mais profundo. Porta-enxertos oriundos de
propagação vegetativa como a estacaria ou a mergulhia podem ser menos vigorosos, porém são
geneticamente mais uniformes;
Enxerto, borbulha, garfo ou cavaleiro - parte que irá originar a parte aérea da planta e pode ser
constituída por um segmento de ramo com um ou dois gomos (garfo) ou de um gomo com uma
pequena porção de casca (borbulha).
As plantas de onde irão ser colhidos os garfos devem ser criteriosamente escolhidas durante a fase
de produção para que se possam escolher as que:
•
•
•
•
•
•
•
Apresentem as melhores características da variedade a propagar;
Se apresentem bem conformadas;
Apresentem frutos perfeitos;
Garantam qualidade e quantidade de produção;
Não sejam muito novas nem demasiado velhas;
Estejam equilibradas em termos vegetativos;
Não apresentem sintomas de doenças e viroses.
Cada uma das partes possui características próprias:
- O porta-enxerto tem a função de dar suporte mecânico à planta, retirar água e nutrientes do solo, e
em muitos casos beneficiar a copa pela resistência a pragas e doenças de solo, seca ou a solos
encharcados.
- O enxerto ou copa é responsável pela fotossíntese que irá alimentar toda a planta para garantir uma
boa produção.
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O sucesso da cicatrização entre as partes depende da espécie; da habilidade do enxertador; da
atividade fisiológica do enxerto e do porta-enxerto; das condições a que as plantas serão submetidas
durante e após a enxertia; dos problemas de pragas e doenças e da incompatibilidade que possa
ocorrer entre as partes.
É importante destacar também que existem alguns limites na enxertia relacionados com a combinação
enxerto e porta-enxerto. A maior facilidade da enxertia ocorre entre plantas de um mesmo clone,
aumentando o grau de dificuldade à medida que se enxertam diferentes variedades da mesma
espécie, diferentes espécies e diferentes géneros.
Para o sucesso da
enxertia, seja qual for o
tipo
utilizado,
é
necessário que os tecidos
meristemáticos (câmbios)
tanto do enxerto como
do porta-enxerto fiquem
em contacto. Por esta
razão, deve-se sempre
fazer coincidir a casca do
enxerto com a casca do
porta-enxerto, em pelo
menos um dos lados.
Fatores que condicionam o sucesso da enxertia
•
•
•
•
•
•
•
Proximidade botânica
Temperatura e humidade
Ritmos de atividade dos tecidos em contacto
Superfície de contacto dos câmbios
Estado sanitário dos simbiontes
Polaridade da enxertia
Incompatibilidade
O que é necessário para ter sucesso numa enxertia?
•
•
•
•
•
Utilizar garfos e cavalos compatíveis
Colocar em contacto os câmbios de ambos os simbiontes
O cavalo e o garfo devem ser preparados no estado fisiológico ideal
Todas as superfícies cortadas devem ser protegidas dos excesso de calor e ser mantidas com
uma humidade relativa elevada
Dar atenção as fases após a enxertia
Tipos de enxertia
São três os tipos de enxertia:
54
1 - Enxertia de borbulha ou de gomo - o enxerto é um gomo
2 - Enxertia de garfo – enxerto é um pedaço de ramo ou garfo destacado da planta mãe com um ou
mais gomos
3 - Enxertia de encosto – resulta da união de duas plantas inteiras.
55
1 - Enxertia de borbulha ou de gomo
A borbulha consiste na justaposição de um gomo sobre um porta-enxerto enraizado. Embora haja
vários tipos de borbulha, apenas serão descritas as formas em “T” normal, “T” invertido, placa ou
escudo
Épocas para a realização das enxertias de gomo
Início do outono - Os ramos de onde se preparam os gomos para a enxertia devem ter um vigor
moderado, estar isentos de doenças, especialmente viroses e conter gomos vegetativos bem
desenvolvidos.
Início da primavera - Deve realizar-se logo que começa o ciclo vegetativo anual utilizando-se garfos
armazenados, recolhidos durante o período de dormência.
Junho/Julho - Particularmente adaptada à enxertia de prunóideas em regiões de dias longos. Utilizamse os ramos do ano para retirar os gomos, pelo que não existe necessidade de armazenamento.
a - “T “normal
b -“T” invertido
c - Placa
d -Escudo
O “T” normal - no porta-enxerto é feito uma incisão transversal e outra longitudinal, onde será
inserida a borbulha (gomo). A borbulha é um fragmento retirado da planta mãe após o corte do ramo
que a contém, também chamado de ramo porta-borbulha. Esse fragmento deve ter dimensões
proporcionais ao corte em “T” efetuado no porta-enxerto.
56
O “T” invertido - é muito parecido, apenas o sentido do corte é que o difere do anterior, sendo o
corte horizontal feito na extremidade inferior do corte perpendicular do porta-enxerto.
A atadura deve iniciar-se de baixo para cima no porta-enxerto.
Neste sistema a facilidade operacional é maior, além de se impedir a acumulação de água nos cortes,
por isso é o tipo mais utilizado quando comparado ao corte em “T” normal.
Placa/escudo - são feitas no porta-enxerto duas incisões transversais e duas longitudinais, de modo a
libertar a região a ser ocupada pela borbulha.
A borbulha é retirada do garfo praticando-se também duas incisões transversais e duas longitudinais
no ramo, de modo a obter um escudo idêntico à parte retirada do cavalo.
A borbulha é a seguir embutida no rectângulo vazio e deve ficar inteiramente em contacto com os
tecidos do cavalo. A seguir o enxerto é amarrado.
Enxertia em placa
Caso particular de um anel
Enxertia em escudo
Resumo do processo
57
2 - Enxertia de Garfo
Enxertia no campo
Se for feita em grande escala exige o esforço de vários trabalhadores.
Numa primeira fase temos o trabalhador que escava e descobre o cavalo. Este deverá escavar em
torno do cavalo, descobri-lo, limpá-lo e cortar-lhe as raízes superficiais.
Em seguida, o enxertador fende o cavalo e coloca o garfo:
•
•
•
•
Começa por decotar o bacelo no lugar mais conveniente e efectua a incisão no cavalo no
sentido do alinhamento das cepas ou de acordo com o maior diâmetro quando o lenho não é
regular.
Depois faz-se a cunha no garfo, tendo em atenção que os cortes sejam feitos um de cada lado
do gomo e, se possível, de uma só vez, para que as faces da cunha fiquem lisas e planas.
Seguidamente faz-se a introdução do garfo na fenda aberta no cavalo até deixar a descoberto
a parte superior da cunha.
Finaliza- se atando o enxerto com ráfia para manter um melhor contacto e evitar
deslocamentos.
Após os trabalhos anteriores, cobrem-se os enxertos com terra (amontoa).
O sucesso da enxertia também depende muitas vezes da sua manutenção. Portanto, cerca de um mês
e meio depois deverá proceder-se à verificação das soldaduras e do aperto da ráfia, não excluindo a
limpeza dos rebentos do cavalo e raízes do garfo.
Regras para a preparação dos garfos:
•
A extremidade superior do garfo deverá ser cortada com
uma inclinação contrária à inserção do gomo e afastada
deste cerca de um centímetro;
•
O entrenó basal deverá possuir um mínimo de cerca de 4
a 5 vezes o diâmetro do garfo;
•
O garfo deverá ser talhado fazendo 2 cortes, partindo
1cm abaixo do gomo basal e de cada lado deste,
convergindo numa linha diamétrica a cerca de 4- 5 cm
abaixo do início do corte. Este corte deverá ser
executado com um só golpe para que as faces fiquem
lisas e planas;
•
As faces da cunha deverão constituir planos paralelos ao
plano de inserção dos gomos e numa perpendicular a
estes.
Finalizado o trabalho fica-se com duas faces planas resultantes dos cortes e duas arredondadas,
normalmente designadas por “costas” da cunha.
Pode-se ter:
•
•
Costa Externa - costa do lado do gomo, porque normalmente fica para o lado de fora quando é
introduzida a cunha na fenda do porta-enxerto;
Costa Interna - costa que fica no interior da fenda, com excepção da enxertia de fenda cheia.
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Os tipos mais comuns de enxertia em garfo no campo são:
Enxertia de Fenda Cheia
Este é o tipo de enxertia praticado quando o
cavalo e o garfo têm o mesmo diâmetro.
O garfo deve ser talhado de forma a ficar com
uma secção triangular, ficando com a costa
interna e com a costa externa da mesma largura.
Enxertia de Fenda Simples
É utilizada quando o cavalo tem um diâmetro superior ao do garfo, mas, mesmo assim, não suporta
dois garfos.
O garfo deve ficar com a costa do lado externo mais grossa do que a outra, para que seja possível unir
o outro lado da fenda sem que haja alterações ou dessecação.
Enxertia de Fenda Dupla e em Coroa
É utilizada quando o diâmetro do porta-enxerto permite a introdução de dois ou mais garfos.
Os garfos devem possuir o mesmo comprimento e a mesma dimensão das costas, com os gomos
basais voltados para fora.
Enxertia de Fenda Dupla
Enxertia em Coroa
Enxertia de Fenda Inglesa
Só se utiliza esta técnica quando o garfo e o cavalo têm o mesmo diâmetro. A sua vantagem vem do
facto de possibilitar uma maior superfície de contacto dos câmbios, facilitando a soldadura e
diminuindo o perigo de dessecação.
•
•
Deverá fazer-se um corte em bisel no garfo e no cavalo, com inclinação e superfície idênticas.
O comprimento do bisel deverá ser no máximo 2 vezes o diâmetro do garfo.
É conveniente, mas não obrigatório, fazer-se no garfo e no cavalo uma fenda em bisel com 5
mm de profundidade a dois terços do seu cumprimento, orientada transversalmente a este,
59
•
para permitir o encaixe entre as duas partes e possibilitar o ajustamento das superfícies e
câmbios.
Finaliza-se, atando a zona de enxertia com uma ligadura larga.
A imagem mais à esquerda ilustra os cortes feitos
para uma fenda inglesa simples.
As duas imagens do meio ilustram um processo
mais complexo onde em ambas as partes se talha
um encaixe par tornar o conjunto mais sólido.
Neste tipo de enxertia a atadura idealmente será
em forma de banda larga e não fio ou ráfia como
é comum nos outros tipos de enxerto (imagem
mais à direita).
Enxertia de encosto
É um processo usado quando as árvores têm dificuldade em serem enxertadas pelos outros processos,
mais fáceis e mais rentáveis. Estão neste caso duas árvores subtropicais muito importantes: a
mangueira e o cajueiro.
Para facilitar a soldadura ambas as plantas ficam ligadas às suas raízes até que se tenha a certeza que a
soldadura se fez. O cavalo está geralmente envasado e quando o processo termina o vaso é levado
para um local no viveiro onde possa continuar a crescer.
O “desmame” do garfo da sua planta mãe deve ser cauteloso e muitas vezes a separação é
progressiva. Quanto ao cavalo, toda a parte aérea acima da zona de enxertia é eliminada tal como na
enxertia por gomo.
Garfo
Garfo
Cavalo
Garfo Cavalo
Cavalo
Enxertia na mesa (Enxertia em Omega e Dentada)
O encaixe do garfo de um só gomo no cavalo é feito através de um entalhe em forma da letra
“Omega” ou em forma de “Dentada”. Para que fique perfeito, é feito numa máquina que corta no
garfo e no cavalo entalhes que encaixam perfeitamente um no outro.
Este tipo de enxertia exige que a estaca enxertada, antes de ser levada para o campo, seja preparada
para passar algum tempo numa câmara quente e húmida onde se dá a soldadura do enxerto. Só
depois irá para o campo para enraizar.
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Caso particular da enxertia na mesa em videira
É realizada a colheita do material de espécies americanas para estacas e este tem de estar limpo de
gavinhas e netas para que seja possível a sua segmentação.
Estes segmentos devem ser cortados em troços de 40cm de comprimento, feitos do lado basal e a
0,5cm do gomo inferior.
Em seguida, escolhem-se as estacas enxertáveis (com diâmetro superior a 6-7 mm), fazem- se molhos
de 200 unidades e depois de desgomados mergulham-se em água durante 24 horas.
Com madeira conservada durante o Inverno, prepara-se o garfo de um só gomo. A segmentação faz-se
de forma a que o corte seja feito 0,5cm acima do gomo, conservando a parte do entre–nó inferior para
se realizar a fenda para a enxertia.
Para hidratarem, os garfos deverão ser mergulhados em água durante 24 horas e de seguida,
juntamente com as estacas, são colocados numa solução de 0,5% de sulfato de quinoleína e potássio
durante 6-7 horas, para desinfecção.
Fenda em ómega
Na máquina, o garfo entra pelo lado direito
com o gomo virado para cima e o cavalo é
colocado na máquina pelo lado esquerdo com
a ferida do gomo voltada para baixo, sendo
fendido o cavalo e fixado o garfo em
simultâneo.
Enxerto pronto
Depois de executados, os enxertos são mergulhados numa solução de parafina e lanolina a 0,05% a
uma temperatura de 85ºC, passando-os de imediato por água fria (FIG. A).
As estacas enxertadas são então armazenadas em caixas que permitam um bom arejamento e
intercaladas com um material poroso (turfa húmida) de forma a que estas fiquem orientadas
verticalmente com o garfo para cima e a caixa forrada com o material acima mencionado (FIG. B e C).
Por fim, a parte superior das caixas é coberta com areia e regada, para posteriormente irem para uma
estufa climatizada, onde lhe são fornecidas as condições ideais de soldadura (FIG. C)
FIG. A
FIG. B
61
FIG. C
Em 25 dias o calo de cicatrização está formado e procede-se à retirada dos enxertos da caixa para
enraizarem em viveiro para que, desta forma, se criem as condições necessárias para o
desenvolvimento do sistema radicular e do rebento do gomo do garfo.
A plantação deverá ser feita tendo em conta um espaçamento de 10 cm entre cada enxerto na linha. A
manutenção deverá ser sempre feita tendo em conta os cuidados de rega, cavas, limpeza de
infestantes, corte de raízes e tratamentos anti míldio.
5.2.2.3. Mergulhia
A mergulhia é uma técnica de
propagação vegetativa que consiste
em promover a formação de raízes
adventícias num caule, colocando-o
em contacto com o solo ou com um
substrato, enquanto ele ainda se
encontra ligado à planta mãe. Foi uma
técnica muito utilizada em plantas em
que sucesso da estacaria era baixo.
A mergulhia é feita no solo, vaso ou
canteiros, quando os ramos das espécies são flexíveis e de fácil manejo.
5.2.2.4. Alporquia ou mergulhia aérea
A alporquia é um método de propagação em que se faz o
enraizamento de um ramo ainda ligado à planta mãe (parte
aérea), que só é destacado da mesma após o enraizamento.
É utilizado quando o ramo não pode ser levado ao solo.
O método consiste em selecionar um ramo da planta, de
preferência com um ano de idade e diâmetro médio. Nesse
ramo, escolhe-se a região sem gomos e faz-se um anel, de
aproximadamente dois centímetros de largura, retirando toda
a casca e expondo o lenho. Depois disso, deve-se cobrir o local
exposto com substrato humedecido, e envolvê-lo com plástico, cuja finalidade é evitar a perda de
água,
Recomenda-se que a alporquia seja feita de preferência na época em que as plantas estejam em plena
atividade vegetativa, após a colheita dos frutos, devendo a zona do alporque manter-se sempre
húmida.
5.2.2.5. Micropropagação
A técnica consiste em retirar um fragmento de tecido vegetal – explante - , colocá-lo num meio
nutritivo e provocar o desenvolvimento de uma plântula, graças a um equilíbrio adequado dos
elementos do meio. Explante é a parte da planta a partir da qual se inicia a cultura. Os explantes
podem ser de vários tipos: meristemas, gemas, flores, pétalas, anteras, pedaços de folhas (pecíolo ou
limbo), raízes, etc., e mesmo uma única célula ou protoplastos (células sem parede celular)
É uma técnica realizada em laboratório que requer condições assépticas e pessoal especializado. A sua
utilização permite no entanto obter, no mesmo espaço de tempo, uma quantidade de plantas muito
maior do que aquela que se obtém quando se utilizam técnicas de multiplicação tradicionais.
62
A multiplicação "in vitro" é possível graças a uma propriedade das células vegetais designada
totipotência celular, da qual resulta que toda a célula vegetal viva, possuindo um núcleo, é capaz,
qualquer que seja a sua «especialização» atual, de reproduzir fielmente a planta inteira da qual
provém.
A micropropagação é a técnica "in vitro" mais difundida. Atualmente um grande número de espécies é
multiplicado quase exclusivamente por este método.
Esta técnica compõe-se de várias fases, recorrendo-se em cada uma delas a meios de cultura
apropriados ao fim a que se destinam:
Fase da multiplicação ou repicagem- consiste em obter o maior número possível de "futuras plantas",
a partir da uma célula ou aglomerado de células, colocados num meio apropriado à divisão celular.
Fase do desenvolvimento da parte aérea- consiste em colocar as "futuras plantas" num meio de
cultura apropriado ao desenvolvimento da parte aérea da planta, para que ocorra a formação de
caules e folhas. Ao contrário do que é habitual, o desenvolvimento da parte aérea acontece antes da
formação da raiz.
Fase do enraizamento- consiste em colocar as "futuras plantas" num meio de cultura apropriado ao
enraizamento. Este meio é constituído pelos nutrientes e por carvão activo, que escurece o meio de
cultura, induzindo a formação de raízes.
Fase da aclimatação- consiste em colocar as "novas plântulas em diferentes estádios de adaptação até
chegarem ao solo, no campo.
O esquema seguinte pretende representar, de forma simplificada, as diferentes fases deste processo
de micropropagação.
Este método de propagação apresenta muitas vantagens relativamente aos métodos tradicionais de
propagação referidos anteriormente. Entre essas vantagens podem ser enumeradas as seguintes:
• Maior velocidade de propagação;
• As culturas são iniciadas por explantes de reduzidas dimensões, pelo que se consegue obter
números elevados de plantas em espaços reduzidos;
• O efeito das estações do ano pode ser eliminado;
• As plantas obtidas têm um tamanho muito homogéneo;
• A propagação é realizada em condições assépticas;
• Salvação de espécies em vias de extinção;
• Campo de potenciais aplicações no melhoramento.
63
64
6. Factores determinantes na instalação de um pomar
“Fruticultura - Caso de sucesso
A empresa agrícola Casal de S. José, Sociedade Agrícola, Lda. e em especial a sua directora geral – Eng.ª
Mónica Fialho é sem dúvida um caso de sucesso da fruticultura do Oeste. O seu segredo é bem capaz de ser
a sua capacidade de gerir a empresa de uma forma multifacetada.
O Casal de S. José, Sociedade Agrícola, Lda. está localizado em Freiria, concelho de Torres Vedras, tendo
uma área total de 60ha, dos quais 20ha são de pomar e 36ha são de vinha.
A partir de 1995, foi Mónica de Azevedo Fialho, licenciada em Engenharia Agrícola pela Universidade de
Évora, quem assumiu a gestão desta exploração agrícola familiar.
Na qualidade de jovem agricultora recém-licenciada, recorreu a projectos de investimento e procurou
conciliar as culturas/variedades pretendidas com as características edafoclimáticas da região e com as
previsões de evolução comercial das mesmas.
O aumento da área de pomar foi acompanhado da introdução de rega gota a gota totalmente
automatizada. Os novos pomares foram instalados em sistema semi-intensivo e intensivo, recorrendo-se a
técnicas inovadoras na região – porta enxertos, intensificação cultural, aramação e quebra ventos mistos
(naturais e artificiais).
Introduziram-se também alguns equipamentos, não usuais na altura, como a máquina eléctrica de empa, o
balde da vindima, o distribuidor de estrume, carrinhos de colheita, bem como a utilização de máquina de
vindimar no regime de aluguer.
Paralelamente, foram ou têm vindo a ser implementadas as seguintes medidas:
- Não mobilização: foi feito o enrelvamento dos pomares e de parte da vinha, com o objectivo de reduzir a
erosão e aumentar a fertilidade do solo bem como a fauna e flora auxiliares.
- Produção Integrada: as práticas de produção integrada foram iniciadas em 1997.
- EUREPGAP: a exploração é certificada desde 2003.
- Agricultura Biológica: iniciou-se em 2005 a conversão de um pequeno pomar (1,3 ha) de pereira rocha
convencional em modo de produção biológico.
Por outro lado, desde o início que se procurou ultrapassar a postura individualista tradicional, através do
associativismo e da partilha de equipamentos e experiências estando integrada como associada na Adega
Cooperativa da Azueira, e na organização de produtores Campotec, SA
Desde 2005 o controlo técnico-financeiro das actividades da exploração é feito com o apoio do programa de
software agrícola “AGROGESTÃO”. Este programa permite obter em qualquer momento os seguintes
resultados de exploração: contas de cultura, gestão de stocks, gestão de fornecedores e clientes, etc.”( VIDA
RURAL - n.º 1728 Ano 55 - Junho 2007)”.
Hoje, a fruticultura tem de ser vista como um negócio e, assim, todas as etapas que envolvem
questões técnicas, económicas e ecológicas devem ser consideradas antes da decisão de plantar, pois
os custos são elevados, os mercados são exigentes em qualidade e muito competitivos. Portanto,
todos os riscos devem ser calculados e analisados antes da plantação do pomar.
O pomar requer grandes investimentos no momento da implantação. Os custos envolvem o valor da
terra e a sua preparação, plantas, factores de produção (sementes correctivos e fitofármacos),
equipamentos, infra-estruturas e mão-de-obra, fazendo com que esta atividade tenha um alto
investimento inicial.
O sucesso de um pomar baseia-se em:
65
a) Ter condições adequadas de clima e solo;
b) Plantar espécies adaptadas;
c) Usar técnicas apropriadas para a preparação do solo e manutenção do solo e da planta;
d) Dispor de recursos humanos e financeiros;
As práticas realizadas no pomar necessitam de mão-de-obra qualificada e em grande quantidade.
Para tanto, é necessário que se faça uma pesquisa com antecedência da disponibilidade de mãode-obra na região. Com isso evitam-se prejuízos devido à não realização de uma atividade por falta
de pessoal, ou mesmo a má realização desta, devido à falta de experiência.
e) Dispor de condições de transporte e armazenamento;
As frutas caracterizam-se por serem bastante perecíveis e sensíveis ao manuseamento. Isso exige
que se tenha estradas que permitam o transporte rápido do local de produção ao destino final da
fruta, quer seja a indústria ou o consumo em fresco.
Somente a rapidez não é suficiente, é preciso ter-se estradas em boas condições de tráfego, além
de veículos e embalagens adequadas. Os cuidados devem ser iniciados no momento da colheita,
procurando-se evitar, de todas as formas, os danos nos frutos, que irão depreciá-los no momento
da comercialização, causando até mesmo a sua devolução.
f) Existir mercado para o consumo em fresco ou existir condições de armazenamento para médiolongo prazo e/ou existir indústria transformadora.
Antes de instalar um pomar deve-se ter informações sobre procura regional, nacional e até
internacional; os períodos do ano em que as frutas alcançam melhores preços; sobre as variedades
de preferência do consumidor, principalmente em relação ao tamanho, cor e sabor das frutas.
Como curiosidade se informa que frutas de pele vermelha, como é o caso de algumas cultivares de
maçã, têm um mercado mais garantido, pois as cores avermelhadas chamam mais atenção do que
as cores esverdeadas.
As frutas destinados ao mercado em fresco alcançam preços mais elevados do que as frutas
destinados à indústria, porém requerem embalagem adequada e maiores cuidados na manipulação
por parte dos produtores.
Deve-se também considerar a distância do pomar ao centro de consumo, a perecibilidade das
frutas e a existência de indústria que possa fazer o aproveitamento do excedente.
Assim, antes de implantar um pomar, devemos tentar encontrar respostas para as seguintes
perguntas:
•
•
•
•
•
Que tipo de pomar?
O que plantar?
Onde plantar?
Qual será o mercado existente ou potencial?
Em quanto tempo teremos o retorno do investimento?
66
6.1. Sistemas culturais
A produção de frutos pode ser feita de um modo tradicional, ser feita em produção intensiva ou até
super intensiva.
Considera-se um sistema tradicional ou extensivo, quando não existe sistema de rega e há pouca
preocupação com a manutenção da fertilidade do solo. Para que as árvores possam ter alguma
produção, o espaço entre elas é grande, muitas vezes nem estão alinhadas ou até são exemplares
isolados. Esta situação ainda se verifica principalmente para a oliveira, castanheiro, nogueira e figueira.
Estas árvores são geralmente grandes, difíceis de podar e de fazer a colheita. A sua produção total é
pequena, embora muitas vezes tenha características únicas.
Os pomares industriais mais antigos, especialmente de macieiras, pereiras, pessegueiros e videiras,
foram instalados com árvores de porte mais baixo, perfeitamente alinhadas, têm um sistema de rega e
todos os anos são mantidos e a sua fertilidade corrigida. São os pomares semi intensivos.
Hoje em dia a tendência é para continuar a reduzir quer o tamanho das árvores (usando variedades
naturalmente mais pequenas e porta enxertos ananicantes) quer os compassos na linha e na
entrelinha. A adubação é feita na água da rega, variando ao longo do ciclo vegetativo de acordo com
as necessidades específicas de cada fase. A necessidade em rega é determinada pelo uso de
tensiómetros. A polinização é garantida quer por colmeias de abelhas, quer pelo espalhamento
artificial de pólen adquirido (prática comum nos pomares de kiwis).
Em muitos casos o pomar é conduzido com vista à mecanização, quer da poda, quer da colheita
havendo casos, como na cerejeira ou oliveira, em que o sistema de condução deixou de ser vaso (com
um crescimento em 3 dimensões) para passar a ser eixo revestido para que o crescimento seja o mais
linear possível. Na vinha essa tendência já existe há muitos anos e traduziu-se na passagem da
condução em ramada ou pescoço de girafa, para o cordão simples ou duplo. Podemos neste caso falar
em pomares intensivos.
Por vezes os compassos são tão apertados e há uma utilização tão grande de factores de produção que
os pomares são considerados super intensivos. Estão neste caso alguns dos mais recentes olivais.
A maneira como se instala, se faz a manutenção do solo e das árvores e se protegem as plantas evoluiu
muito nos últimos anos com vista a proteger o solo, a água e os seres vivos (desde os fungos micorrizas
ao agricultor…). Com os conhecimentos que temos actualmente é imperdoável não se fazer uma
agricultura sustentável optando pela Produção Integrada, pela Produção em Modo Biológico ou outras
similares e com o mesmo objectivo (GLOBALGAP, por exemplo).
Para colaborar no propósito de uma agricultura mais sustentável muita da informação que se segue
consta dos Manuais editados pelo Ministério da Agricultura com as normas para a Produção Integrada
das várias fruteiras (ver Bibliografia)
6.2. Seleção das espécies a serem plantadas
6.2.1 Valor cultural
Diz respeito à resistência das plantas a doenças, produtividade, resistência ao transporte, vigor e
precocidade sabendo que nem sempre é possível juntar todas estas características na mesma cultivar.
6.2.2 Valor comercial
Diz respeito à preferência do mercado, tamanho, cor, aspecto da fruta e destino da produção.
Tradicionalmente, em qualquer parte do mundo, os frutos destinados ao consumo em fresco,
alcançam melhores preços que aqueles destinados à indústria.
67
6.2.3 Época de amadurecimento
No caso de frutas destinados ao consumo em fresco, deve-se procurar utilizar espécies que
apresentem o pico de maturação em épocas diferentes das cultivares existentes na região, por
exemplo, no caso de laranjas, deve-se dar preferências às cultivares tardias, pois, para as cultivares
precoces e de meia estação, o mercado já está saturado.
Já no caso de pomares destinados à indústria, que geralmente se caracterizam por serem pomares
mais extensos, normalmente recomenda-se utilizar cultivares com época de maturação diferente, pois
com isso evita-se a concentração de atividades no mesmo período. Além disso, diminui-se o risco de
grandes perdas devido à ocorrência de geadas, granizos, entre outros.
Sempre que possível, recomenda-se fazer um escalonamento da produção, plantando cultivares
precoces, medianas e tardias. É importante lembrar que as cultivares precoces, ou seja, aquelas em
que as frutas amadurecem no cedo, necessitam de menores gastos com a produção, pois geralmente
escapam ao ataque das pragas e doenças. Um exemplo típico acontece com a mosca da fruta que
ataca menos as cultivares precoces de pêssegos, de ameixas e de nectarinas, pois as gerações desta
praga ainda são insuficientes para um ataque muito severo, já que ainda não foi atingido o somatório
de temperaturas necessário ao desenvolvimento da praga.
Por outro lado, o escalonamento da colheita das frutas aproveita melhor o equipamento e a mão-deobra disponível.
6.2.4. Aquisição de plantas
Alguns cuidados devem ser tomados com relação à aquisição das plantas:
a) Escolher um viveirista idóneo e certificado;
b) Encomendar as plantas com um ano de antecedência;
c) Comprar plantas dentro de padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura;
d) Escolher os porta-enxertos adaptados às condições edafo climáticas da exploração e que sejam
compatíveis com a cultivar desejada.
6.3. Escolha do terreno
6.3.1 Solo
Para instalação de pomares, deve-se dar preferência para solos francos, profundos e bem drenados,
evitando-se solos encharcados ou sujeitos a encharcamento ou que possuam camada que impeçam a
drenagem.
Deve-se evitar a plantação em áreas que antes foram cultivadas com frutíferas, procurando realizar
rotação de culturas com plantas anuais e só depois de 3 anos voltar a plantar espécies frutíferas, de
preferência, de família botânica diferente da anterior. Quando são plantadas frutíferas em solos
previamente ocupados pela mesma espécie ou por espécie intimamente afim, pode resultar um
crescimento deficiente. Os sintomas são um pequeno sistema aéreo e um sistema radicular fraco, com
raízes frequentemente descoloridas, com poucas ramificações laterais e poucos pêlos absorventes.
6.3.2 Água
68
A propriedade deve possuir água de qualidade e em quantidade para realização de irrigações,
tratamentos fitossanitários, para o consumo humano, entre outros.
69
6.3.3 Exposição do terreno e topografia
Em solos planos este item não tem importância, porém, em solos mais inclinados, deve-se escolher a
exposição sul, devido à melhor insolação e à menor incidência de vento. De preferência na meia
encosta, evitando-se a plantação em áreas muito acidentadas, com declives acima de 20%.
Quanto à disposição das plantas no pomar deve-se ter em conta o melhor aproveitamento da luz solar,
já que as plantas que receberem uma maior quantidade de luz solar serão também as mais produtivas.
6.3.4 Condições climáticas
6.3.4.1 Temperatura
As plantas necessitam de diferentes valores de temperaturas para cada um de seus períodos
fenológicos, tais como dormência, rebentação, floração, frutificação, vegetação e maturação dos
frutos.
As plantas de clima temperado necessitam de um período de baixas temperaturas no inverno para que
haja uma quebra da dormência (temperaturas inferiores ou iguais a 7,2°C). Hoje, sabe-se que as
temperaturas de até 11ºC também são efetivas e que o mais importante são os frios contínuos
durante o período de repouso vegetativo, pois temperaturas acima de 21ºC são prejudiciais neste
período. Durante o repouso vegetativo, as temperaturas acima de 21°C anulam as horas acumuladas
de frio. Na Tabela abaixo são apresentadas as necessidades de frio para diferentes espécies frutíferas.
Necessidade de frio no inverno para a quebra da dormência em diferentes espécies
(as variações correspondem à variabilidade existente entre as cultivares)
ESPÉCIE
Nº DE HORAS DE FRIO
< 7,2 °C
Pessegueiro
Marmeleiro
Cerejeira
Ameixeira Europeia
Ameixeira Japonesa
Figueira
Macieira
Pereira
Videira
100 a 1250
90 a 500
500 a 1700
800 a 1500
100 a 1500
90 a 350
200 a 1700
200 a 1400
90 a 400
Mirtilo
400 a 800 (variedades do norte)
Kiwi
700
As baixas temperaturas são mais limitantes para as plantas de folhas persistentes do que para as de
folhas caducas.
6.3.4.2 Chuvas
A distribuição pluviométrica ao longo do ano é importante pois o excesso de chuvas num determinado
período pode provocar o aparecimento de doenças. Chuvas pesadas podem também provocar o
aparecimento de zonas encharcadas no interior do pomar, o que pode ser muito prejudicial às plantas
frutíferas, visto que a maioria delas não suporta períodos prolongados com solos alagados. Por outro
70
lado, a falta de chuvas no período que antecede à colheita pode causar diminuição do tamanho e até
mesmo queda dos frutos.
Quando as médias das precipitações pluviométricas forem consideradas altas (± 1500mm por ano),
todos os cuidados devem ser tomados em relação a doenças, conservação do solo e polinização, caso
contrário os danos poderão ser de grandes proporções.
Tradicionalmente as zonas produtoras de frutas em todo o mundo são áreas com baixas precipitações,
menores que 500mm por ano, onde a necessidade hídrica é complementada com irrigação.
6.3.4.3 Humidade relativa do ar
Locais com humidade relativa do ar elevada aumentam os riscos e prejuízos com doenças.
Já plantas como o quivizeiro, não se adaptam a locais com baixa humidade relativa do ar, devido à
perda de água pelas folhas.
6.3.4.4 Ventos
Os ventos dominantes danificam as plantas, principalmente os ramos novos, aumentando os riscos de
doenças pela facilidade na disseminação das mesmas. No caso de bacterioses em rosáceas
(Xanthomonas pruni) e mesmo doenças fúngicas como é o caso da antracnose na videira entre outras,
podem ser reduzidas de forma importante com a presença de uma cortina vegetal (sebe corta vento).
Além disso, o vento causa quebra de ramos, quebra das plantas no ponto de enxertia, queda de frutas,
entre outros.
Durante o período de floração, o vento pode dificultar o trabalho de insetos polinizadores, como, por
exemplo, das abelhas, diminuindo a polinização e, consequentemente, a frutificação.
Recomenda-se implantar quebra-ventos para os ventos dominantes, de preferência na forma de L.
Normalmente o quebra-vento protege uma área anterior quatro vezes maior do que sua altura e uma
área posterior de até 20 vezes, ou seja, se as plantas do quebra-vento tiverem 5 metros de altura, a
proteção do pomar será de aproximadamente 100 metros.
As plantas utilizadas para a formação do quebra-vento devem ser de preferência melíferas, que
apresentem crescimento rápido, boa ramificação, folhas perenes e sistema radicular pouco agressivo,
devendo serem dispostas em filas duplas ou triplas para fornecer melhor proteção.
Quando forem utilizadas espécies de crescimento lento, recomenda-se que o quebra-vento seja
implantado de 1 a 3 anos antes da plantação da cultura. Como isso nem sempre é possível, pode-se
utilizar uma espécie de porte mais baixo, porém com crescimento inicial rápido. Com isso, consegue-se
uma proteção na fase inicial da cultura, que é uma fase bastante delicada para a maioria das espécies.
Depois, com o passar do tempo, podem-se eliminar essas +plantas mais baixas, deixando-se o quebravento definitivo.
Utilização de quebra-vento em pomares.
71
Diversos efeitos conseguidos com
diferentes tipos de quebra-ventos:
A - Quebra-vento semipermeável,
protegendo uma área de 15 a 20
vezes a sua altura;
B - Quebra-vento impermeável, a
área protegida é menor e provoca
remoinho
C - Quebra-vento sem proteção na
base
6.3.4.5 Granizos e geadas
O controlo de granizo é muito difícil e, em locais sujeitos a chuvas de granizo, não se recomenda a
plantação de frutíferas. Uma solução que vem sendo utilizada é o emprego de telas de proteção
colocadas ao longo das filas, em locais onde as chuvas de granizo são frequentes e para pomares com
grande retorno económico, como uvas de mesa.
O prejuízo provocado por geadas, depende do estádio fenológico da planta. Geadas do cedo ou tardias
são mais prejudiciais à planta e o seu controlo envolve grandes despesas com energia.
Para se controlar o efeito da geada nas plantas, têm-se empregado diversos métodos, entre eles os
métodos passivos, biológicos e ativos.
Passivos
São medidas preventivas que envolvem o tipo de solo, local de plantação, cobertura do solo, textura
do solo, entre outros. Os solos descobertos perdem calor com mais facilidade durante a noite.
Biológicos
Envolvem o conhecimento da dormência, a utilização de métodos que visam retardar a floração,
manutenção da folha em bom estado nutricional e sanitário, variedades de florescimento tardio e
humidificação do ambiente.
No caso do pessegueiro e da ameixeira, os programas de melhoramento têm sempre em conta como
ponto fundamental que as novas cultivares floresçam mais tarde que as cultivares tradicionais.
Vista esquemática de um vale com plantas no fundo, e na encosta.
Nas noites claras, calmas e com fortes perdas de calor por radiação, ocorre um arrefecimento do ar da superfície
do solo. O ar denso e frio que se forma ocupa o fundo do vale, obrigando o ar quente a subir e a perder-se em
72
altura. Assim, em noites de geadas origina-se uma inversão térmica que favorece as plantas situadas em
encostas (adaptado de WESTWOOD, 1982)
Ativos
- Um deles visa suprir a perda de calor através do aquecimento ou pela utilização da energia liberada
pela passagem da fase líquida da água para a fase sólida (gelo), que é de 80cal/g É aqui se enquadra o
uso da irrigação por aspersão.
O método de irrigação por aspersão tem sido largamente utilizado em alguns países, resultando num
método eficiente e económico. O início da irrigação deve ser feito quando a temperatura se aproxima
de 0°C.
- Outro método visa evitar a perda de calor noturno através do uso de neblina.
- Um terceiro, visa quebrar a camada de inversão de temperatura na atmosfera, que se forma durante
a noite, através do uso de ventiladores.
- Existem outros métodos tais como: interceptação da radiação terrestre (nebulização aquosa e
oleosa) e cobertura (arborização, plástico ou vidro).
6.3. Adaptação do local
Como já foi referido, as árvores geralmente reagem muito mal a encharcamentos do solo,
especialmente se a situação se mantiver mais de 24 horas. Por isso o enxugo do terreno é obrigatório
na instalação de um pomar. Quando o pomar é instalado em socalcos ou terrenos ligeiramente
inclinados a drenagem ocorre de forma natural. Quando tal não acontece é necessário garantir uma
drenagem forçada. O processo para tal vai da simples plantação num terreno armado em camalhões, à
construção de uma rede de drenagem superficial ou subterrânea (Ver Apontamentos de PA4 – Rega e
Drenagem).
Se o terreno tiver estado ocupado com um pomar da mesma espécie é obrigatório fazer uma rotação,
no mínimo de 3 anos, com culturas arvenses.
Deve-se planear o traçado de caminhos de acesso e circulação de máquinas na parcela de modo a
racionalizar os futuros trajectos de cada operação cultural.
6.3.1 Local de mata, ou com construções ligeiras ou há muitos anos abandonado
Quando pretende-se instalar um pomar em terrenos com estas características as práticas de
preparação do terreno envolvem:
a) Retirada de raízes, tocos de árvores e de pedras - As pedras constituem um obstáculo ao trabalho e
à manutenção do pomar, já os tocos, além de constituírem uma barreira mecânica, são também
hospedeiros de fungos de raízes, que podem atacar o sistema radicular das plantas frutíferas;
b) Subsolagem – rompimento profundo do solo sem haver reviramento;
d) Lavoura profunda e incorporação de corretivos até 40cm de profundidade;
e) Adubação de fundo e gradagem;
f) Cultivo de uma gramínea anual por um período de 1 a 2 anos antes da plantação da espécie frutífera
– com o objectivo de reequilibrar o ecossistema, tão modificado pelas mobilizações e correções, e
quebrar o ciclo de pragas e doenças que possam existir nesse terreno.
6.3.2 Terras trabalhadas
Quando se pretende instalar um pomar em áreas já cultivadas, as práticas de preparação do terreno
envolvem:
a) Subsolagem para remover a camadas compactadas por lavoura frequentes (calo de lavoura);
73
b) Lavoura profunda e incorporação de corretivos até 40cm de profundidade;
c) Adubação de fundo e gradagem.
6.4. Mobilizações e correções
Como para qualquer cultura a instalar de novo, é obrigatório o estudo do perfil do terreno e fazer
análises à água e ao solo. (Ver Apontamentos de PA3 – Preparação do Solo)
O estudo do perfil do solo e a colheita de amostras de terra deve ser feito na segunda quinzena de
Maio, segunda quinzena de Junho.
A preparação do solo para implantação do pomar deve ser feita quando este se encontra no estado de
sazão, preferencialmente antes das primeiras chuvas.
As mobilizações do solo devem ser reduzidas ao mínimo indispensável, a fim de minimizar os riscos de
erosão e compactação, devendo ser efetuadas segundo as curvas de nível nos solos com um declive de
15 a 25% (IQFP igual a 3), não devendo nunca ser feitas no sentido do maior declive.
Embora ainda haja produtores que fazem um reviramento profundo do solo antes da plantação, essa
prática não é permitida em Produção Integrada. Havendo necessidade de romper camadas
impermeáveis esse trabalho deve ser feito sem reviramento das camadas do solo, ou que pelo menos
este não seja total (subsolagem). Assim evita-se desequilibrar completamente o ecossistema do solo,
assim como se evita trazer para a superfície pedras (sempre prejudiciais) e/ou solo de camadas mais
fundas (muitas vezes inadequado às culturas).
Os pomares apresentam um longo período produtivo, em geral superior a 12 anos. Isso faz com que
sejam necessários cuidados especiais em relação às correções de deficiências, ou excessos, de
nutrientes no solo.
Para análise de solo, as amostras devem ser colhidas a duas profundidades: de 0 a 20cm e de 20 a 4050cm, pois a maioria das raízes das plantas localizam-se nesta área.
A análise do solo é repetida, no mínimo, a cada cinco anos.
Para algumas espécies, como é o caso da macieira ou videira, recomenda-se a aplicação de
micronutrientes no solo, principalmente o boro, como forma de corrigir deficiências futuras.
Durante a preparação do solo, antes da plantação, é a melhor ocasião para incorporar os corretivos
em profundidade, tendo em vista que os mesmos são pouco móveis no solo e que depois de
implantado o pomar, as dificuldades para os colocar à disposição do sistema radicular serão
aumentadas.
A preparação do solo de maneira superficial dificulta a penetração do sistema radicular da planta e
limita a disponibilidade de nutrientes e água, provocando menor crescimento das mesmas, podendo,
em algumas situações, aumentar o risco de erosão pela menor retenção de água das chuvas.
6.4.1 Preparação do solo com subsolagem e lavoura profunda
Este sistema permite colocar os nutrientes em maiores profundidades e à disposição das raízes das
plantas, melhorando o arejamento do solo e a infiltração de água, além de romper camadas
compactadas, o que facilita a penetração e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.
Este sistema não é o mais indicado para solos delgados, pedregosos ou que apresentem horizontes
compactados. Exige máquinas apropriadas e apresenta um custo inicial elevado. Em terrenos
pedregosos ou muito acidentados a preparação normalmente é feita em covas.
O calcário e os outros corretivos podem ser aplicados em duas etapas: - metade da quantidade antes
da subsolagem e a outra metade antes da lavoura.
Quando for usado um fosfato natural, deve-se aplicá-lo antes da aplicação do calcário, pois em meio
ácido esta fonte de fósforo solubiliza-se mais facilmente, aproveitando desta forma a acidez natural do
solo.
74
Os corretivos são aplicados em toda a área e por ocasião da plantação abrem-se pequenas covas, com
tamanho suficiente para acomodar o sistema radicular da planta, não havendo necessidade de
adubação nas covas.
A plantação depende do declive do terreno e poderá ser:
a) Segundo as cuvas de nível, quando o declive do terreno for menor do que 3%;
b) Com construção de terraços, quando o declive for menor do que 20%;
c) Em patamares, quando o declive for superior a 20%.
6.4.2 Preparação convencional do solo seguido ou não de abertura de covas
Neste sistema o solo é preparado e corrigido só até uma profundidade de 20 a 25cm. Em seguida são
abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes são utilizados de acordo com o
volume do solo e os resultados da análise do mesmo.
Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar a preparação do solo, devido
à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive acentuado, ou quando a
espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular profundo.
No entanto, em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode provocar acúmulo
de água e morte das raízes por asfixia.
Por outro lado, a adubação na cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e por
vezes não permite que haja uma expansão lateral das raízes, quer por problemas mecânicos (parede
espessa) ou químicos (maior disponibilidade de nutrientes na cova).
6.4.3 Preparação convencional seguido da construção de camalhões
O solo é preparado até uma profundidade de 20 a 40cm, ao mesmo tempo em que é realizada a
correção de acordo com os resultados da análise ao solo.
Sobre o solo previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita
com 2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais se faz a plantação.
Os camalhões são construídos com trator equipados com arados reversíveis. A distância entre eles
pode ser de 2 a 10m dependendo da espécie a ser cultivada.
Permitem um bom desenvolvimento radicular da planta, pois aumentam a quantidade de solo arável a
ser explorado; contribuem para o controlo da erosão e auxiliam a drenagem em solos planos.
Proteção do solo nas entrelinhas do pomar
Para qualquer das situações anteriores e para manter o solo protegido da erosão e compactação, as
entrelinhas manter-se-ão obrigatoriamente revestidas com um coberto vegetal herbáceo, que poderá
ser semeado ou de vegetação espontânea, ou com outra prática de proteção do solo, pelo menos
entre 15 de novembro e um de março. Fora desta época o coberto vegetal poderá ser controlado
através de meios mecânicos.
Para um bom coberto vegetal, recomenda-se a sementeira de uma associação de gramíneas com
leguminosas. Existem no mercado português várias misturas, adequadas às diferentes condições edafo
climáticas.
Na instalação do coberto permanente deverão eliminar-se previamente as infestantes vivazes, como
gramas, junça, corriola e outras. As infestantes com períodos de floração coincidentes com o das
cultivares do pomar devem ser controladas, especialmente quando as suas flores sejam muito
atrativas para os insetos polinizadores.
Recomenda-se que os cortes sejam efetuados quando 10 a 20% das flores das árvores do pomar já
estiverem abertas, a fim de evitar que os insetos polinizadores desviem a sua atenção para o coberto
vegetal. Esta é, também a altura recomendada para efetuar a distribuição das colmeias no pomar. A
75
erva cortada deve ficar espalhada sobre a superfície do terreno. Recomenda-se que a faixa de
vegetação tenha uma largura superior à bitola/rodado do trator.
Não esquecer que o coberto vegetal nos pomares implica uma maior atenção às infestações com
ratos, principalmente nas parcelas junto a linhas de água, lixeiras, matas, pecuárias ou pomares
abandonados.
Nas linhas
Recomenda-se deixar-se uma faixa de terreno, que pode ir até cerca de um metro para cada lado da
linha, livre de vegetação herbácea que possa concorrer com as árvores. A manutenção desta faixa
torna-se importante nos pomares jovens. O controlo das infestantes pode ser efetuado por meios
mecânicos, químicos ou físicos, no momento em que estas se encontram mais sensíveis e sempre
antes de produzirem sementes
Em qualquer das opções, é de deixar a manta morta no terreno, de forma a proteger o solo, reduzindo,
simultaneamente, as perdas de água por evaporação e a erosão. No caso de utilização de herbicidas, a
sua aplicação deverá ser efetuada com cuidados acrescidos, de forma a não afetar as jovens plantas.
O solo sob as fruteiras pode ainda ser coberto por palhagem ("mulching"). A palhagem pode resultar
do espalhamento de resíduos vegetais, tais como palhas isentas de sementes, cascas e aparas de
madeira. O coberto vegetal deve ser mantido baixo, com altura inferior a 0,10 m, devendo-se, no caso
das macieira, prestar especial atenção ao controlo dos ratos. No caso de palhagem vegetal, o terreno
deve ser previamente limpo de infestantes, sobretudo quando existam infestantes vivazes.
6.4.4 Preparação do solo em faixas
Consiste em preparar apenas uma faixa do terreno, na qual será plantada a espécie frutífera. A faixa
de preparação pode ser segundo as curvas nível e ter uma largura até 2,5m.
Nesta faixa são aplicados todos os corretivos e a planta é plantada sobre o solo preparado. À medida
que a planta vai crescendo, a faixa de cultivo pode ser ampliada. Entre as duas filas de plantas pode
permanecer uma faixa de vegetação espontânea, cortada periodicamente.
A preparação do solo pode ser com subsolagem e lavoura profunda ou ainda lavoura convencional
seguida da construção de camalhões.
Sistema de cultivo onde as linhas de plantas
são mantidas limpas e as entrelinhas com
cobertura vegetal
Este sistema tem um custo menor na instalação do pomar e permite um bom controlo da erosão do
solo. Como desvantagem, não permite a instalação de culturas intercalares no pomar.
76
6.4.5 Cuidados a ter na mecanização dos trabalhos no pomar
Para diminuir os riscos de erosão, compactação do solo e danos sobre as plantas, associados à
mecanização recomenda-se:
a) Evitar o uso de máquinas pesadas, pois provocam a compactação no solo (especialmente se este
estiver demasiado húmido) e danificam as plantas;
b) Evitar o uso contínuo de equipamentos que pulverizam o solo, como as fresas, pois contribuem para
a destruição da estrutura do solo e consequente aumento da erosão. Também contribuem para o
aumento da população de infestantes que se propagam vegetativamente;
c) Depois do pomar instalado, os trabalhos no solo devem ser evitados (diminuir o risco de erosão e de
desequilibrar o ecossistema) ou, quando absolutamente necessários, serem superficiais (para não
danificarem as raízes)
d) Os equipamentos devem ser apropriados para as atividades dentro do pomar (tractores vinhateiros,
por exemplo).
6.5. Plantação
6.5.1. Época de plantação e principais cuidados
A principal época de plantação é o outono/inverno ou início da primavera, para as plantas que vêm do
viveiro com raiz nua. Este é o período de baixa atividade fisiológica da planta e quando o solo
apresenta um bom teor de humidade.
Recomenda-se que a plantação seja efetuada até 30 dias antes da época previsível do abrolhamento.
Se as plantas vierem envasadas, esse período pode ser alargado desde que seja possível garantir rega
durante a fase de pegamento e adaptação ao novo local.
Cuidados com a plantação
Devem-se abrir covas com tamanho suficiente para acomodar todo sistema radicular, evitando-se que
as raízes fiquem dobradas.
Quando a adubação for realizada na cova, deve ser proporcional ao volume de solo, tendo-se o
cuidado de fazer um bom espalhamento. Os adubos devem-se misturar com o solo com uma
antecedência de cerca de 60 dias antes da plantação.
A planta deve ser mantida na posição vertical e distribuir o sistema radicular dentro da cova. Devem-se
eliminar as bolsas de ar, através de uma leve compactação do solo, e irrigação abundante logo após a
plantação.
Recomenda-se ainda que a zona de enxertia das árvores fique voltada para a direção dos ventos
dominante; e que a zona de enxertia fique acima da superfície do solo, a uma altura que depende do
vigor do simbionte (cultivar/porta-enxerto).
Cuidados pós-plantação
As plantas devem ser tutoradas e receber irrigação de acordo com as condições de humidade do solo.
No início do abrolhamento (gomos a abrir), deve-se ter cuidado com o controlo de infestantes,
roedores que poderão causar danos na casca das plantas e vigiar o aparecimento de pragas e doenças.
Normalmente, a percentagem de reposição das plantas é da ordem de 5%. Esta percentagem de
plantas deve ser adquirida com antecedência para reposição quando for necessário.
77
Resumo dos cuidados com a plantação e pós plantação (neste caso de uma planta envasada):
A – Tirar a planta do vaso e se necessário arejar um pouco o torrão e podar algumas raízes.
B – Colocar a planta e o tutor na cova. O tutor deve ficar bem enterrado e chegar aos primeiros ramos.
C – Encher a cova e atar a planta ao tutor com uma amarração em 8 invertido
D – Regar abundantemente
6.5.2. Técnica de execução
6.5.2.1. Alinhamento, marcação e espaçamento
As plantas frutíferas podem ser dispostas no pomar de várias formas. Esta disposição, basicamente,
está relacionada com:
a) Topografia;
b) Densidade de plantação;
c) Tipo de mecanização;
d) Porte do porta-enxerto e cultivar;
e) Necessidade de aproveitamento da área disponível.
Alinhamento
Em terrenos não sujeitos à erosão, ou seja, em terrenos com pouco declive, as plantas frutíferas
podem ser dispostas em desenhos geométricos. Já em terrenos com acentuada inclinação, as plantas
devem ser dispostas de maneira que formem filas perpendiculares ao sentido da maior inclinação do
terreno.
78
Esquema de um pomar na forma de rectângulo
Atualmente este sistema é o mais utilizado em
terrenos planos, por facilitar o trânsito interno no
pomar. O sistema de rectângulo permite melhor
aproveitamento das adubações pelas plantas e,
quando permitido, torna viável a cultura
intercalar de plantas anuais nos primeiros anos
de implantação do pomar, propiciando um
retorno financeiro enquanto as fruteiras estão
improdutivas.
Esquema de um pomar implantado segundo as
curvas de nível
Esta solução ajuda a diminuir os problemas de
erosão em terrenos com algum declive.
Apresenta a inconveniência da variabilidade do
afastamento das filas de plantas, o que faz surgir
filas mortas. Para evitar este tipo de problema,
podem-se aproximar as plantas na linha quando
estas se afastam na entre linha.
Esquema de um pomar implantado num terraço
construído segundo as curvas de nível
Construir terraços segundo as curvas de nível é
uma solução obrigatória quando o terreno é
muito inclinado. As plantas são depois plantadas
em filas paralelas. Esta forma de disposição das
plantas permite que se mantenha constante a
distância entre filas
Marcação ou piquetagem
Trata-se da operação que precede todo o trabalho de preparação do terreno, desde a incorporação
total dos fertilizantes até ao alisamento da superfície do solo. Esta operação tem em linha de conta a
orientação, o compasso (linhas x entrelinhas), as vias de comunicação e o sistema de condução
escolhido.
A marcação deve ser feita com o maior rigor, recorrendo a aparelhos específicos (por exemplo o
teodolito) ou à fita métrica, para que sejam obtidos alinhamentos perfeitos, factor determinante para
a mecanização do pomar.
Começa-se por dividir o terreno em figuras geométricas regulares, quadrados e/ou rectângulos, cujos
lados paralelos tenham o mesmo comprimento. Para determinar as suas perpendiculares, recorre-se
ao teorema de Pitágoras (o quadrado da hipotenusa (h) é igual à soma do quadrado dos catetos (a +
b)).
79
Representação Geométrica do Teorema de Pitágoras
Espaçamento
O espaçamento é definido como sendo a distância existente entre plantas da mesma fila
(espaçamento entre plantas) ou entre plantas de filas diferentes (espaçamento entre linhas).
O espaçamento é bastante variável entre as espécies e, mesmo para uma mesma espécie, entre as
cultivares. Está também relacionado com diversos fatores, como, por exemplo, a tecnologia adotada, a
maquinaria disponível na propriedade, o vigor do porta-enxerto e da cultivar, disponibilidade de área,
entre outros.
A densidade de plantação (quantidade de plantas por hectare) pode ser alta ou baixa
Vantagens da baixa densidade de plantação
a) Menor custo de implantação por unidade de área;
b) Maior longevidade do pomar;
c) Melhores condições de luminosidade e arejamento;
d) Condução da planta mais livre, o que proporciona menor necessidade de mão-de-obra.
Vantagens da alta densidade de implantação
a) Melhor aproveitamento do solo, fertilizações e mão-de-obra;
b) Maior produção por unidade de área;
c) Maior facilidade na manutenção das plantas por apresentarem porte mais reduzido;
d) Maior precocidade, devido ao menor período improdutivo;
e) O sombreamento diminui a ocorrência de plantas infestantes;
f) Torna viável o uso de terrenos excepcionais que tenham necessidade de cuidados culturais de alto
custo, como irrigação, controlo de granizo, etc.
Desvantagens do sistema de alta densidade
a) Altos custos de implantação;
b) Exige melhor preparação técnica;
c) O controlo fitossanitário deve ser mais rigoroso.
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6.5.2.2. Aramação e tutoragem
Aramação
Entende-se por aramação todos os materiais utilizados para o suporte físico da vegetação.
Esteios ou Postes
Os esteios são os suportes principais. Podem ser feitos de granito, lousa, cimento (geralmente
designados por “esteios”), ou madeira e metal galvanizado (geralmente designados por “postes”).
Os 3 primeiros são os materiais mais antigos mas estão a ser abandonados porque, além de caros, são
difíceis de transportar e colocar, partem-se com facilidade e não permitem a colocação de acessórios
que hoje em dia existem no mercado e que facilitam muito os trabalhos posteriores.
Por esse motivo os principais suportes hoje utilizados são os postes de madeira ou metal galvanizado,
pois são fáceis de manobrar e permitem o uso de acessórios.
O tamanho do esteio ou poste deve ser adaptado ao compasso e ao comprimento das linhas. Como a
sua colocação deve ter em conta os alinhamentos, devem ser enterrados de modo a que a estrutura
não ceda.
A distância entre os esteios ou postes é variável com os compassos na linha e o tipo de solo, não
devendo ultrapassar os 7,5 metros.
A sua colocação pode ser manual ou mecânica, caso se tratem de postes de madeira ou galvanizados
(recurso ao bate estacas).
As cabeceiras, ou seja, os topos dos bardos ou linhas, devem ser sempre em madeira,
independentemente dos restantes materiais, visto que não parte ao toque do tractor.
Arames
Podem ser de vários tipos (zincados, galvanizados e plásticos). A sua escolha deve ter em conta a sua
conservação e economia de manutenção (os galvanizados não ganham ferrugem).
O número de fiadas a colocar e a respectiva mobilidade deve ser definida tendo em conta o compasso
e a forma escolhida para manter o pomar. O arame compra-se em função do seu número. Desta
forma, quanto maior for o número do arame menor é o seu diâmetro, por exemplo um arame nº 13 é
mais fino que um arame n.º 11.
Espias
São utilizadas nas cabeceiras das linhas com a função de manter os postes fixos, de modo a poder-se
esticar convenientemente os arames.
É importante salientar que na vinha a colocação dos esteios e espias deve ser feita no ano da
plantação, ficando a aplicação dos arames e acessórios condicionada ao período pós-enxertia.
Acessórios
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Gripple (Esticador de arame)
Pragueta
Tutoragem
Após a plantação, deve fazer-se a tutoragem das plantas, para que a zona a enxertar ou já enxertada,
mantenha a verticalidade, impedindo assim que o futuro tronco fique defeituoso bem como para
proteger as plantas de eventuais acidentes.
Para a realização da tutoragem, pode-se recorrer a estacas de madeira previamente preparadas, ou
seja, descarnadas e afiadas (normalmente de eucalipto), de ferro, ou mais recentemente a tubos de
plástico, que também assumem um papel importante na diminuição das doenças causadas por fungos.
O material a utilizar na amarração das plantas deve ser degradável e suficientemente flexível para
evitar o estrangulamento das mesmas. O ideal é que a árvore fique ligada ao tutor por uma amarração
em 8 (oito).
Pormenor da amarração em 8 deitado
TUTORAGEM
82
Amarração em forma de 8 deitado
Tutor fixado abaixo da terra fofa da cova
6.5.2.3. Poda de plantação
As plantas têm de ser previamente preparadas através de uma operação que se designa por poda de
transplantação e que consiste em:
- Eliminar a parte aérea, deixando geralmente apenas um lançamento do ano, que será o mais bem
inserido e vigoroso e que é atarracado à altura conveniente para a formação do sistema de condução
desejado.
- Despontar o sistema radicular. O sistema radicular é despontado com maior ou menor intensidade,
dependendo do tipo de plantação a realizar.
Plantação à cova ou covacho
Abertura, manual ou mecânica (recorrendo à
broca), de um buraco com uma profundidade de
40 a 60cm. Esta forma de plantação tem como
vantagens permitir que as raízes fiquem mais
compridas, o que é muito importante,
principalmente no que respeita à realização de
plantações tardias, pois ficam maior quantidade
de reservas e permite fazer uma adubação de
fundo localizada.
Na plantação à cova, faz-se uma desponta ligeira,
deixando a raiz com cerca de 10 cm, eliminando
as raízes mais compridas e defeituosas.
Hidro-injector
Consiste na abertura de uma pequena cova,
83
através do recurso a um aparelho simples, que
consta da utilização simultânea da força do
operador e de um jacto de água sob pressão, que
provém de um pulverizador que é acoplado ao
tractor.
Na plantação com hidro-injector a desponta é
mais severa, deixando a raiz com cerca de 3-5 cm.
6.5.2.4. Fertilização
Fertilização de instalação
Antes ou na altura da plantação do pomar é obrigatório proceder-se, sempre que recomendado pela
análise de terra efetuada, a uma adequada fertilização do solo, com o objetivo de corrigir algumas das
suas características físicas, químicas e ou biológicas. Ao melhorar a sua fertilidade, no sentido de a
ajustar, tanto quanto possível, às exigências da cultura, serão proporcionadas condições mais
favoráveis ao crescimento e desenvolvimento das árvores.
Aplicação de adubos
São proibidas aplicações de azoto, na forma de adubo mineral, na adubação de instalação, por se
perder antes de ser utilizado pelas plantas, com o risco de contaminação de lençóis freáticos.
A aplicação de doses relativamente elevadas de fósforo não traz, geralmente, inconvenientes para as
plantas, a menos que, e dependendo das características do solo, possam induzir carências de ferro ou
de zinco.
A adubação potássica deverá ser efetuada tendo em consideração a textura do solo e a sua capacidade
de troca catiónica. Assim, antes da plantação, não devem ser aplicadas quantidades de potássio
superiores a 120 kg de K2O por hectare. Caso a recomendação de fertilização seja superior àquele
valor, deverá o restante adubo ser aplicado após a plantação.
Salvo casos excecionais devidamente justificados, é proibido aplicar à instalação mais de 200 kg de
P205 e 300 kg de K20, por hectare.
A adubação magnesiana far-se-á conjuntamente com a adubação fosfatada e a adubação potássica.
Quantidades de fósforo, de potássio e de magnésio recomendadas à instalação
do pomar, consoante a classe de fertilidade do solo (kg/ha).
Classes de
Fósforo
Potássio
Magnésio
fertilidade
P2O5
K2O
Mg
MB
200
300
60
B
150
225
45
M
100
150
30
A
50
50
15
84
MA
0
0
0
Observações:
MB - muito baixa; B - baixa; M - média; A - alta; MA - muito alta
Aplicação de corretivos
Corretivos alcalinizantes
As fruteiras beneficiam com a realização da calagem, especialmente quando o pH do solo se situa
abaixo de 5,5. A aplicação de corretivos alcalinizantes, ao elevar o pH do solo, permite não só melhorar
as condições de absorção de diversos nutrientes essenciais, como o fósforo, potássio, cálcio e
magnésio, mas também melhorar a estrutura do solo e favorecer a sua atividade microbiana.
Sempre que a calagem seja necessária e os teores de magnésio no solo sejam baixos (inferiores a
61ppm de Mg), deve-se aplicar calcário magnesiano. Esta é a fonte mais económicas de magnésio, mas
também a de efeito mais duradouro.
Corretivos orgânicos
A matéria orgânica desempenha um papel muito importante nas características físicas, químicas e
biológicas do solo, contribuindo grandemente para a sua fertilidade.
Aconselha-se a sua aplicação sempre que os teores sejam inferiores a 1,0 %, em pomares de sequeiro
e 1,5 % em pomares de regadio. Esta aplicação é obrigatória em solos de textura grosseira com teores
de matéria orgânica inferiores a 1,6%.
A aplicação de corretivos orgânicos é obrigatória para um nível muito baixo ou baixo de matéria
orgânica no solo, sempre que o valor de pH seja inferior a 6,0 e o teor de cobre extraível superior a
20mg/kg.
Se for necessário aplicar corretivos orgânicos, deve ser dada prioridade àqueles que tenham origem
nas explorações agro-pecuárias, devendo os estrumes ser bem curtidos. Estes corretivos deverão ser,
sempre que possível, previamente analisados, para que a sua composição nos diversos nutrientes
possa ser devidamente considerada no programa de fertilização.
Em Produção Integrada são proibidos, à instalação do pomar, aplicações superiores a 30 t por hectare
de estrume de bovino bem curtido, ou quantidade equivalente de outro corretivo orgânico permitido.
Técnica de aplicação dos fertilizantes
A aplicação dos fertilizantes, incluindo os corretivos orgânicos, deve ser efetuada após a
sistematização do terreno ou após as obras de drenagem, quando efetuadas. Recomenda-se que a sua
distribuição seja feita a lanço, incorporando metade a um terço das quantidades recomendadas com a
mobilização profunda e o restante com a regularização do terreno.
Sempre que a mobilização profunda seja desaconselhada, os fertilizantes poderão ser espalhados à
superfície e incorporados com a intervenção mais adequada. No caso da aplicação dos fertilizantes em
bandas coincidentes com as linhas de árvores a plantar, as quantidades indicadas no Quadro da página
anterior deverão ser proporcionalmente reduzidas, considerando a área das bandas ou faixas a
fertilizar.
A aplicação dos fertilizantes (adubos e corretivos) não deve ser efetuada em períodos chuvosos.
Fertilização após a instalação
85
A fertilização do pomar deverá ter em consideração não apenas as necessidades de nutrientes
relativas à produção de frutos, mas, também, as referentes ao crescimento e formação das árvores.
A partir da entrada em plena produção, a fertilização a praticar visa, em condições normais, a
restituição ao pomar das quantidades de nutrientes que ele vai perdendo, em especial através das
colheitas, e será orientada, especialmente, pelos resultados da análise foliar e pelas produções
esperadas. São ainda ponderados os resultados das análises de terra, os resultados das amostras de
água (em pomares regados), bem como os da análise de frutos.
Sempre que se proceda à instalação de um coberto vegetal permanente na entrelinha, recomenda-se,
uma fertilização dirigida ao mesmo, que deverá ser fundamentada em análise de amostra terra colhida
à profundidade de 0 - 0,2 m.
Recomenda-se que este coberto vegetal seja composto por uma mistura equilibrada de espécies de
gramíneas e de leguminosas. Independentemente da composição da mistura a instalar, a quantidade
de azoto a aplicar para o efeito não deverá ultrapassar os 40 kg por hectare.
Para a manutenção do coberto vegetal na entrelinha, a quantidade anual de azoto a aplicar não
deverá, igualmente, exceder os 40 kg por hectare, devendo ser reduzida à medida que as espécies
leguminosas se vão tornando dominantes.
Unidade de amostragem
Com o objetivo de otimizar a fertilização do pomar através da observação e controlo do estado de
nutrição de um número reduzido de árvores, há que proceder, obrigatoriamente, da seguinte forma:
•
•
•
Dividir o pomar, recém instalado ou em produção, em frações homogéneas no que respeita ao
tipo de solo, topografia, exposição, cultivar e porta-enxerto, idade e técnicas culturais
anteriormente aplicadas;
Em cada uma destas frações marcar ao acaso pelo menos 15 árvores, que passarão a estar
identificadas de forma permanente. Cada conjunto de 15 ou mais árvores, assim identificadas,
constituirá uma unidade de amostragem, onde serão efetuadas, periodicamente, colheitas de
amostras de folhas e de terra para análise;
Fazer um esquema do pomar, ou fração deste, onde figurem as 15 árvores marcadas, em que
existam referências (estradas, poços, casas, postes, etc.) que permitam localizá-las
rapidamente, mesmo em caso de perda das respetivas marcações.
Cada unidade de amostragem não deve ser representativa de mais de cinco hectares de pomar nas
condições atrás descritas.
A partir da entrada em produção deve-se proceder anualmente à análise foliar de amostras colhidas
nas árvores que constituem a unidade de amostragem.
É igualmente obrigatório proceder à análise de terra (no outono/inverno), de quatro em quatro anos.
Fertilização azotada
86
A partir do primeiro ano podem-se aplicar doses crescentes de azoto.
Até à entrada em produção efetiva, a aplicação do adubo azotado deve fazer-se de forma fraccionada.
Se o pomar é regado por gravidade, o adubo pode ser aplicado por duas vezes, em partes iguais, uma
na primavera e outra no verão, no caso de solos de textura média ou fina. No caso de solos arenosos,
devem ser efetuadas duas aplicações na primavera e duas no verão.
As quantidades de fertilizantes a aplicar durante o período de formação das árvores serão geralmente
menores e nesta fase os adubos devem ser aplicados durante a primavera e o verão, de forma a tirar
partido das épocas do ano em que se verifica maior capacidade de absorção radicular.
Em fertirrigação utiliza-se o mesmo princípio do fracionamento, embora este possa ser maior, sendo
que as quantidades de azoto recomendadas devem ser aplicadas, quando exista produção,
preferencialmente, entre o abrolhamento e o fim da fase de multiplicação celular que, geralmente,
corresponde a frutos com cerca de 15mm de diâmetro (em regra, quatro a cinco semanas após a
floração).
No cálculo das quantidades de azoto a aplicar, é obrigatório considerar as quantidades do nutriente
fornecido pela água de rega.
Deve ser tida igualmente em conta as quantidades de azoto fornecidas pela matéria orgânica do solo.
Cada 1% de matéria orgânica existente no solo fornece por ano cerca de 30kg de Azoto/hectare.
O azoto é o nutriente que pode causar mais problemas ambientais. A fertilização azotada deverá, por
isso, merecer um especial cuidado, não só no que respeita às doses a aplicar, que devem ser apenas as
estritamente necessárias, mas, também, no que se refere às épocas de aplicação, que deverão ser
aquelas que conduzam a um melhor aproveitamento do azoto pelas árvores.
Fertilização com fósforo, potássio e outros nutrientes
O fósforo, o potássio e o magnésio poderão ser fornecidos através de uma aplicação no início da
primavera, espalhando os adubos em volta das árvores e incorporando-os com uma mobilização
superficial do solo com este em estado de sazão.
Sempre que as amostras de terra, colhidas antes da instalação do pomar, revelem teores baixos de
boro, dever-se-á proceder à sua aplicação ao solo, após a plantação. Pode, assim, aplicar-se 0,5 a 1,5
kg de boro (B) por hectare, se possível através de pulverização ao solo, para permitir a sua distribuição
homogénea.
Só em situações especiais, em que seja muito difícil corrigir carência por via radicular (ex: raízes
danificadas, entre outras) as aplicações de macro e micronutrientes serão feitas por via foliar.
A avaliação do estado de nutrição do pomar em produção é efetuada anualmente através dos
resultados da análise foliar feitas em folhas adultas, inteiras, sãs, colhidas no terço médio dos
lançamentos do ano, na época usual de colheita.
Modo de aplicação dos fertilizantes
Aplicação dos fertilizantes em pomares de sequeiro ou com rega tradicional
No caso do fósforo, as aplicações deverão ser efetuadas fora do ciclo vegetativo (entre a colheita e a
rebentação), em períodos sem chuva, quando o estado de humidade do solo o permitir, incorporando
o adubo no terreno com a mobilização adequada.
As aplicações de potássio e de magnésio, sempre que recomendadas, deverão ser realizadas
simultaneamente com as de fósforo. No entanto em solos de textura ligeira, recomenda-se que o
potássio seja aplicado no final do inverno, juntamente com o azoto.
Em solos de textura média ou fina, o fósforo e o potássio podem ser aplicados de forma localizada.
Neste caso, e particularmente nos pomares de sequeiro, é recomendável que a aplicação destes
87
nutrientes seja feita de três em três, ou de quatro em quatro anos, aplicando de cada vez as
quantidades suficientes para aquele período. Estas aplicações localizadas deverão ser efetuadas em
linhas alternadas, de forma a diminuir o efeito negativo dos danos causados pela mobilização do solo
no sistema radicular das árvores.
A aplicação de micronutrientes ao solo, quando necessária, deve ser feita até meados de março. Em
solos calcários, a eficácia das aplicações ao solo de ferro, manganês e zinco é reduzida, pelo que é
conveniente que as mesmas se efetuem sob a forma de quelatos, especialmente se veiculados na água
de rega. Sempre que tal se justifique, podem também ser aplicados por via foliar.
Recomenda-se a aplicação ao solo de corretivos orgânicos, à razão de 20 a 30 t por hectare, de dois em
dois ou de três em três anos, sempre que o resultado da análise de terra o aconselhe. A sua aplicação,
tal como de corretivos minerais, deverá ter lugar entre a colheita e a rebentação, evitando períodos
chuvosos, espalhando o corretivo uniformemente sobre o terreno e incorporando-o, logo de seguida,
através de uma mobilização superficial. Os períodos de enterramento após o seu espalhamento são,
obrigatoriamente, de um máximo de 24 horas para o estrume e de quatro horas para o chorume.
Aplicação dos fertilizantes em pomares com fertirrega
As doses recomendadas de fósforo, tal como as de azoto, devem ser aplicadas entre o abrolhamento e
o fim da fase de multiplicação celular que, geralmente, corresponde a frutos com cerca de 15mm de
diâmetro (em regra, quatro a cinco semanas após a floração). As aplicações de potássio poderão ser
aplicadas até mais tarde.
A administração dos fertilizantes através da água de rega só deverá iniciar-se depois de se ter aplicado
um quarto a um quinto da dotação de rega e deverá cessar quando faltar apenas 10 a 20 % da água a
aplicar.
Dado que a aplicação de fertilizantes, nomeadamente azotados, através da água de rega, aumenta a
sua eficiência, recomenda-se uma redução de 25 % a 50 % das quantidades indicadas para cada
situação.
88
6.5.2.5. Rega
As regiões tradicionalmente produtoras de frutas de todo o mundo utilizam a irrigação como um fator
de produção importante para garantir a produtividade e a qualidade dos frutos. Os sistemas de
irrigação disponíveis permitem que se tenham projetos eficientes, com economia hídrica e permitindo
que sejam aplicados os fertilizantes através da água de irrigação, a chamada fertirrigação.
A fertirrigação é o processo pelo qual os fertilizantes são aplicados junto com a água de rega. Esta
prática converteu-se em rotina e é um componente essencial dos modernos sistemas de irrigação.
Nestes sistemas são aplicados os macro e micronutrientes para as fruteiras, para isso é necessário que
os mesmos sejam solúveis em água.
Recomenda-se que o pomar seja regado, exceto em condições muito particulares em que o lençol
freático permita a ascensão capilar da água até à zona das raízes. A primeira rega deverá ter lugar logo
após a plantação. A rega de plantação é indispensável para obter uma rebentação homogénea e
reduzir as falhas de plantação.
Os terrenos deverão ter bom escoamento superficial de águas ou um sistema de drenagem adequado,
para evitar o encharcamento prolongado após a ocorrência de fortes precipitações.
Na seleção do sistema de rega, deve ter-se em conta o tipo de solo, o declive e a sensibilidade das
espécies e cultivares a doenças radiculares, que desaconselhem o humedecimento do tronco das
árvores, durante a referida operação.
Recomenda-se que a definição dos setores de rega tenha em consideração a variação da fertilidade do
solo nas diferentes parcelas e as necessidades hídricas da cultura.
Em solos de textura ligeira (arenosa e franco-arenosa) é proibida a rega por gravidade; nos restantes
tipos de solo a rega pode efetuar-se através de sulcos ou caldeiras, por gravidade, desde que não
provoque erosão do solo.
A rega localizada por mini-aspersão consegue uma alimentação hídrica regular das árvores, possibilita
a fertirrega e o trabalho do solo na linha. No entanto, a água é mais facilmente arrastada pelo vento,
podendo ocorrer perdas significativas por evaporação e favorecer as doenças do colo das árvores.
A rega gota-a-gota é a que permite melhor eficiência. Com este sistema deve-se antecipar um pouco o
começo das regas, sem esperar que a humidade do solo se aproxime dos limites críticos.
Dado que o sistema radicular das fruteiras em plantações regadas não é muito profundo, toma-se
necessário garantir uma boa fixação da árvore ao solo. o que obriga a que os dispositivos de
distribuição da água sejam colocados a alguma distância do tronco, promovendo o bom
desenvolvimento das raízes na horizontal e, desta forma, também a sua fixação. Este procedimento
contribui igualmente para a prevenção de doenças radiculares, a que muitos porta- enxertos são
sensíveis. Os sistemas de mini-aspersão devem, assim, ser utilizados com precaução, evitando que
durante a rega o tronco seja humedecido.
Os sistemas de distribuição da água deverão ser mantidos em bom estado de conservação, a fim de
evitar perdas de água. Sempre que através do sistema de rega se faça a aplicação de fertilizantes
fitofármacos é obrigatório a instalação de uma válvula anti retorno.
As dotações de rega e a frequência das mesmas deverão estar de acordo com a precipitação, a
capacidade de retenção de água do solo e a evapotranspiração local, a fim de evitar perdas de água
em profundidade e a consequente lixiviação de nutrientes. As regas desequilibradas, com grandes
períodos sem fornecimento de água, podem ser prejudiciais às árvores e à qualidade dos frutos, quer
na árvore quer após colheita, durante a sua conservação.
A rega localizada, especialmente a gota-a-gota, permite uma redução de cerca de 30% nas dotações de
rega a aplicar.
89
Sempre que exista disponibilidade de água é recomendável que a rega se prolongue após a colheita,
até ao final do verão.
Controlo de humidade do solo
É recomendada a utilização de dispositivos de controlo de humidade do solo, de forma a racionalizar a
utilização de água. O mesmo pode ser realizado através de diversos equipamentos, tais como sondas
ou tensiómetros.
Nos pomares devem-se colocar dois tensiómetros, a diferentes profundidades, em cada ponto a
controlar.
O tensiómetro mais superficial informa-nos sobre a quantidade de água disponível para a planta e
deve ser colocado a 10cm do gotejador.
O tensiómetro mais profundo serve para sabermos as perdas de água que existem e como a água se
infiltra no perfil do solo, isto é, se chega a todas as raízes, quer em profundidade, quer lateralmente.
O número e a posição desses equipamentos numa parcela diferem de acordo com as características do
solo.
Idealmente não devem ser retirados do solo durante toda a época de rega. No entanto, é conveniente
mudá-los de lugar a cada 2 anos.
Recomenda-se que a tensão de água no solo seja mantida entre os 5 e os 30 centibares ou, quando a
evaporação é muito elevada (junho - agosto), entre os 5 e os 20 centibares.
Qualidade da água de rega
É obrigatória a análise da água de rega de quatro em quatro anos, salvo nos casos em que os
resultados analíticos da amostra anterior apresentem valores de alguns parâmetros que excedam os
limites máximos recomendados, caso em que é obrigatória a monitorização daqueles parâmetros
anualmente, durante o período de rega.
Recomenda-se a não utilização de águas cuja condutividade elétrica seja superior a 3 dS/m; a razão de
adsorção de sódio ajustada deverá ser inferior a nove e a concentração de iões cloreto inferior a
355mg/l. Também não é aconselhável a utilização de águas com concentrações de boro superiores a
0,75 mg/l.
90
Bibliografia e Webgrafia
- Menezes, Armando, 1977, “A Poda em Fruticultura”. Livraria Sá da Costa, Lisboa
- Peixe, Augusto, 2005 “Arboricultura I”, Universidade de Évora
- Vários, “Vitivinicultura – Manual do Formando”. IEFP
- Revista “Voz do Campo”, Nov./Dez 2010, pag. 31 e 32
www.dgadr.mamaot.pt/mediateca (Normas Técnicas para a Produção Integrada e outros documentos)
www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/livro/fruticultura_fundamentos_pratica/4.4.htm (José
Carlos Fachinello, Jair Costa Nachtigal & Elio Kersten)
www.infovini.com
frutales.wordpress.com/pepita/kiwi/
http://www.iniav.pt/fotos/gca/folha_de_divulgacao_hef_no4__amora__tecnologias_de_producao_13
69824140.pdf
http://contamaisconsultoria.wordpress.com/ - “Condução e poda de mirtilo_reformulado”
http://www.cothn.pt
91

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