Some Hearts - Maestrando

Transcrição

Some Hearts - Maestrando
Some Hearts
Fanfic by Barbarella
Sinopse: Lois aceita a oferta de Clark e se muda para a fazenda Kent, mas o rumo das coisas muda
quando Clark não é mais capaz de esconder o seu segredo ou seus sentimentos por Lois... Um
cenário alternativo de “Bloodline”, sem cristal e sem Doomsday. Como teria sido a vida de Lois e
Clark vivendo sob o mesmo teto novamente. Comédia romântica, clois.
Observação: O título faz referência à música “Some Hearts”, de Carrie Underwood.
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Introdução
Now who'd have thought someone like you could love me
You're the last thing my heart expected
Who'd have thought I'd ever find somebody
Someone who someone who makes me feel like this
Well I guess
Some hearts
They just get all the right breaks
Some hearts have the stars on their side
Some hearts,
They just have it so easy
Some hearts just get lucky sometimes
Some hearts just get lucky, lucky sometimes
Agora quem iria pensar que alguém como você poderia me amar
Você é a última coisa que meu coração esperava
Quem iria pensar que eu algum dia encontraria alguém
Alguém que alguém que me faz sentir assim
Bem eu acho
Alguns corações
Eles apenas têm as feridas certas
Alguns corações têm estrelas do seu lado
Alguns corações,
eles apenas vão com calma
Alguns corações apenas dão sorte às vezes
Alguns corações apenas dão sorte às vezes
Clark desceu as escadas em direção à cozinha com alguma pressa enquanto ajeitava a sua surrada
jaqueta vermelha. Alguém batia insistentemente na porta e ele não podia fazer idéia de quem
poderia ser àquela hora da manhã, em pleno Domingo de tranqüilidade. Sem muito pensar, abriu
a porta, dando de cara com uma figura extremamente familiar.
“Lois”, Clark disse sem demonstrar tanta surpresa em vê-la, embora estivesse surpreso com o que
ela trazia consigo. Carregava duas caixas carregadas de objetos e ainda havia uma série de outras
do lado de fora da casa.
Lois deu alguns passos para dentro da casa largando uma das duas caixas que carregava sobre
Clark, “Segura com cuidado, Smallville... Eu tenho estes álbuns desde os 10 anos”.
Clark observou a caixa enquanto Lois se dirigia até a mesa, “O que eu posso querer com seu
documentário sobre Def Leppard?”
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“Estou pegando sua oferta”, ela respondeu enquanto retirava alguns objetos da caixa, já largandoos sobre a mesa de madeira, “Como nos velhos tempos. Você, eu, Guitar Hero nos finais de
semana...” ela então deu um largo sorriso para o fazendeiro, “Eu estou me mudando!”
“Mesmo?”, Clark arregalou os olhos em surpresa àquela revelação que ainda não lhe era óbvia,
apesar de Lois praticamente estar com toda a sua mudança em sua porta. “Mas você não gostava
daqui, se lembra? O galo te acordava todas as manhãs..”
“Yeah, mas ao menos o galo só canta uma vez. Experimente dividir paredes com os pré-casados
Chloe e Jimmy...”, ela disse caminhando até a geladeira, onde pegou uma garrafa de leite. Clark
apenas a observou, uma reação adequada.
“Eu não sabia disso... Você acha que é uma boa idéia nós morarmos E trabalharmos juntos?”, ele
perguntou enquanto a observava pela cozinha, pegando uma caixa de cereais.
“O sonho Lois e Clark...”, ela largou tudo sobre a mesa e observou Clark. Seu parceiro não parecia
satisfeito com o rumo daquela situação e ela tentou minimizar, “Vamos, qual a pior coisa que
poderia acontecer? Eu te ver com seu calção do Snoopy?”
Clark continuou sério a observar Lois. Aquela era uma situação incômoda e ele não sabia bem
como expressar isso para Lois sem dizer as reais razões pelas quais não achava conveniente eles
morarem juntos. No entanto, lembrara de quando fizera o convite a ela. Não poderia voltar atrás,
não depois de ter dito a ela que ela poderia ficar por lá.
Lois fitou Clark como se compreendesse parte de seu incômodo. “Eu estou procurando por
lugares, então acho que essa situação não deve demorar muito...”
Lois não precisava dizer mais nada. Independente de como se sentia, Clark não a deixaria sem um
lugar decente para morar. Não deveria mesmo ser fácil viver sob o mesmo teto que um casal
perdidamente apaixonado. E a fazenda Kent era tão grande... Havia espaço mais do que suficiente
para os dois.
“Não se preocupe, Lois...”, Clark disse ainda sério, mas com sinceridade, “Pode ficar o tempo que
quiser.”
Lois deu outro largo sorriso e caminhou apressada na direção da porta, puxando Clark pelo braço,
“Então vamos, Smallville! Ainda há uma tonelada de caixas no carro, Chloe está esperando!”
“Toneladas? Chloe?” Clark só então se deu conta de que havia um complô formado para girar sua
vida de cabeça para baixo. Domingo de tranqüilidade? Nunca mais...
***
DUAS HORAS DEPOIS, Clark enfim colocara a última caixa para dentro da casa. Chloe e Lois
seguiam atrás dele puxando uma mala, que depositaram ao pé das escadas da cozinha.
“Ok, acho que essa foi a última...”, Lois disse olhando para os dois, “Eu vou ver as coisas lá em
cima..”
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A jornalista subiu as escadas correndo com o mesmo fôlego que tinha ao chegar. Também,
pudera: Clark praticamente havia carregado todas as caixas e malas para dentro, uma a uma. O
fazendeiro observou Lois sumir de vista no alto da escada e voltou-se nervoso para Chloe, que
trazia um sorriso forçadamente sem graça na cara. Ela sabia o que lhe esperava.
“Chloe! Você concordou com isso? Ficou louca?”
“Claro que não fiquei louca, Clark. Qual o problema em Lois morar aqui?”, ela perguntou quase
dissimulada.
“Qual o problema?” Ele agarrou a imensa caixa que acabara de trazer e a levantou com um único
dedo. “Esse é o problema. Como espera que eu proteja meu segredo com Lois dentro de casa?”
“Olha, em outra situação, eu até concordaria com você... Mas Jimmy e eu... Eu sei que Lois está
infeliz, a gente também não se sente completamente à vontade...”
“E como eu me sinto?” Clark questionou abaixando a caixa.
“Ah, Clark... Lois viveu aqui por um longo tempo, ela nunca descobriu absolutamente nada.”
“Claro que não, mas naquela época, ela não estava obcecada com o meu outro eu.”
“Ela não está obcecada”, Chloe disse tentando achar uma nova modalidade de comunicação
verbal, onde pudesse falar sem realmente falar. “Ela só está com essa idéia fixa na cabeça sobre o
borrão azul e vermelho, mas vai passar.”
“Você conhece Lois. Não vai passar. Vai piorar, até ela se meter em confusão, se machucar e eu ter
de salvar ela”
“Viu?”, Chloe deu um tapinha no ombro de Clark com um grande sorriso, “Você tem tudo sobre
controle!” Virou-se na direção da porta, “Agora eu vou indo...”
“Chloe...”, Clark a chamou novamente, mas a loira o ignorou, fechando a porta ao sair.
Clark olhou para a loucura de caixas a sua volta e para o alto das escadas. Tentou visualizar uma
única maneira daquela doideira dar certo, mas as respostas estavam em falta.
Foi então que percebeu, em uma das caixas sobre a mesa, um retrato que lhe era familiar. Uma
imagem de cerca de 3 anos atrás, tirada durante uma tarde no lago. A foto, tirada por Chloe,
mostra Clark arremessando Lois na água. Lembrou-se de como se divertira naquela tarde, e em
tantas outras. Recordara-se, então, em como era bom ter uma companhia naquela fazenda sem
vida.
Talvez aquela maluquice pudesse dar certo afinal.
***
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Capítulo 1
O sol começava a desaparecer no horizonte daquele longo domingo. Clark entrou pela porta da
cozinha seguido por Shelby, no exato momento em que Lois descia as escadas. Ainda vestia o
jeans no qual chegara pela manhã, mas a jaqueta roxa de manga dera lugar a uma camiseta
branca. Estava totalmente suada por todo o trabalho que tivera para arrumar o quarto e suas
coisas pela casa. Ela então olhou para Clark, de cima abaixo. Não havia uma gota sequer em sua
camisa azul. Ela o fitou curiosa,
“Você trocou de roupa?”
“Eu? Não, por quê?”, ele olhou para si mesmo tentando encontrar a curiosidade de Lane.
“Você nem está suado... Até parece que poderia fazer tudo isso novamente...”
Clark sorriu sarcasticamente para Lois, caminhando pela cozinha. Shelby correu na direção de Lois,
e ela, apesar de toda a alergia que aquela criatura peluda lhe despertava, não pôde deixar de darlhe algum carinho.
“Hei, garoto...”, ela disse se agachando e afagando o cachorro, que abanava o rabo
freneticamente para a morena, “Estava vigiando seu companheiro de vasilha?”
“Eu coloquei o resto das caixas no celeiro...”, Clark disse dando pouca atenção às já habituais
brincadeiras de sua companheira de trabalho, “A não ser que você queira dormir com aquela
fantasia de faxineira que eu encontrei...”
Lois encarou Clark, que sorria pela provocação, “Foi por uma boa causa, ok?”
Ela seguiu até a mesa, parando diante de Clark. Os dois ficaram ali naquela cozinha, observando
um ao outro, claramente procurando algo para dizer. Naturalmente eles não se davam conta, mas
faziam isso um bocado. Clark interrompeu o momento, arqueando as sobrancelhas enquanto
enchia seus pulmões de ar,
“E como ficou o quarto?”
“Oh, venha ver!” Lois arrastou Clark pela camisa e os dois subiram as escadas com pressa, sob o
olhar de Shelby que agora estava esparramado no chão da cozinha.
Lois e Clark adentraram o quarto e Clark o analisou atentamente. Apesar da insistência de Lois
pelo contrário, a convenceu a ficar no quarto de sua mãe Martha, o qual já estava vazio há um
longo tempo. Se ele bem conhecia Lois, e se recordava com detalhes dos tempos em que ela
passara na fazenda, ela iria requerer bastante espaço. Além do mais, era isso ou ceder o seu
próprio quarto, o que lhe renderia mais algumas horas de trabalho “árduo”, já que a utilização de
seus poderes estava descartada por questões óbvias.
Clark deu uma boa olhada e sorriu ao ver como o aposento vazio já havia sido completamente
transformado para o modo Lois Lane de viver. Até as paredes pareciam diferentes, embora o
máximo que Lois tenha feito foi substituir um ou dois quadros por outros de sua preferência. Clark
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caminhou até o armário abrindo-o e se surpreendeu com a quantidade de roupas que ela já havia
organizado lá. No entanto, ainda havia 4 malas no chão do quarto, fechadas. Ele fitou Lois curioso,
“O que tem aqui?”, perguntou apontando para as malas.
“Algumas roupas...”, ela respondeu sorrindo. Ele então voltou o indicador para o armário.
“E o que tem aqui então?”
“Algumas outras roupas...”, seu sorriso já era um pouco sem graça. Clark arqueou a sobrancelha
novamente, impressionado e assustado ao mesmo tempo.
“Lois... Você está contrabandeando roupas?”
“Não, Smallville”, ela respondeu passando por ele e fechando a porta do armário com força, “Eu
apenas tenho mais roupas do que a sua mãe.”
“E do que Smallville inteira! Eu nem mesmo sabia que você tinha tempo de ir ao shopping... Quer
dizer, trabalhando tanto.”
“Como você poderia saber se sempre some quando as coisas começam a ficar boas?”
Clark sorriu de forma desafiadora para Lois, embora não tenha certeza exatamente do porquê.
Lois, por outro lado, não pareceu confortável com o que disse. Teve a sensação de que aquilo
soara de uma outra forma, e achou melhor não investir no assunto. Clark percebeu e se manteve
calado, pensando em como sair daquela. Agiu então da forma que lhe parecia mais necessária no
momento,
“Eu vou aumentar o armário para você”, ele respondeu analisando a peça.
“Não é necessário, Clark...”, Lois respondeu sincera, fazendo-o olhar para ela. “Eu não quero dar
trabalho com isso.”
“Não é trabalho. Até porque eu sei que se eu não arranjar lugar para essas roupas, eu acabarei
perdendo o MEU armário...”
Clark sorriu rapidamente para Lois e deixou o quarto sob o olhar dela, que sorriu de volta. Embora
trabalhassem juntos e se alfinetassem o dia inteiro, Lois havia se esquecido do quão cavalheiro
Clark era, sempre fazendo o melhor que podia por aqueles que lhe eram próximos. E ela se sentiu
muito feliz em tê-lo por perto, mais do que poderia admitir...
***
As horas seguintes até o jantar se passaram de forma tranqüila. Clark aproveitou o banho de
quase duas horas de Lois e organizou toda a casa, arrumando inclusive o armário. É claro que ela
ficou totalmente impressionada ao ver o resultado no quarto em tão pouco tempo, mas Clark
desconversou dizendo que adaptou uma peça já pronta ao local. O que ela não sabia era que
naquele meio tempo, ele não só construíra o armário do zero como ainda fizera a janta e
aproveitara para dar um bom banho em Shelby, livrando-o da sujeira que o coitado acumulara
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correndo de um lado para o outro enquanto Clark revirava o celeiro procurando lugares para as
coisas de Lois. E como o cachorro gostava muito dela, era importante que estivesse bem limpinho,
para não despertar as alergias da jornalista. Clark se surpreendeu com a própria preocupação, já
que o mais lógico era fazer de Shelby um vetor para manter Lois o menor tempo possível na casa.
O que sentia, entretanto, era uma vontade imensa em fazer a estada dela a mais agradável
possível.
Lois surgiu na cozinha no momento em que Clark arrumava os pratos sobre a mesa. Olhou
encantada para aquele caipira que agia concentrado em cada detalhe do que fazia, posicionando
os talheres perfeitamente alinhados ao pratos e aos copos. Ele então se viu sendo observado da
entrada da cozinha e sentiu-se um pouco embaraçado pela forma como Lois sorria enquanto o
fitava.
“Eu... fiz o jantar...” Ele disse abrindo a tampa do forno e levando a mão ao pirex de vidro, no que
Lois imediatamente interviu, correndo até ele,
“Não, Smallville!” Ela gritou puxando o braço dele, “Você quer se queimar ou o quê?”
Clark parou surpreso pela própria distração enquanto Lois pegava uma luva de cozinha pendurada
próxima ao fogão. Pôs a luva e se inclinou em frente ao fogão, pegando ela mesma o pirex. Clark
permaneceu inclinado junto a ela e não pôde deixar de sentir o maravilhoso aroma de ervas que
exalava do recém-banhado corpo de Lois, a poucos centímetros dele. Clark se concentrou ainda
mais no cheiro, praticamente hipnotizado, no que Lois o fitou curiosa:
“Smallville?”
Ele a encarou despertando do devaneio sensorial, observando-a colocar o pirex sobre a mesa.
“Hein?”
“O forno. Pode desligar o forno agora...”
Clark se levantou fechando a tampa e desligou o forno, voltando-se para a mesa. Sentou-se
confuso, tentando entender o que acabara de acontecer ali.
***
Aquele fora um jantar calado, mais da parte de Clark do que do habitual incômodo que existia
quando os dois não estavam falando de trabalho. Trocaram algumas palavras quando Lois elogiou
a macarronada ao molho de tomate e alguns outros comentários enquanto ela lavava os pratos e
ele secava. Trabalharam juntos na organização final da cozinha e seguiram cada um para um canto
da casa, convencidos de que tinham ainda alguma coisa para fazer. Lois seguiu para o quarto,
tinha uma matéria para o dia seguinte e queria adiantá-la. Clark então foi para a sala e sentou-se
no sofá, ligando a TV com o controle remoto. Aquilo era algo que não costumava fazer, mas ainda
precisaria pensar em uma forma de despistar Lois para sair de casa à noite.
Clark ainda assistia à TV quando Lois surgiu na sala, vestida em uma calça de pijama e camiseta.
Ele ainda não estava pronto para ir dormir, ainda mais porque não iria desfilar com seu calção do
Snoopy na frente de Lois, não daria motivos para novas piadinhas a ela. Vestia um jeans surrado e
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uma blusa vermelha, e seus cabelos ainda estavam molhados do rápido banho que tomara após o
jantar. Olhou para Lois enquanto ela se aproximava dele.
“Nunca pensou em colocar wireless? Seria um avanço, sair da pedra lascada para a virtual...”,
comentou a jornalista se sentando do lado vazio do sofá com as pernas dobradas próximas ao
próprio corpo, ajeitando-se confortavelmente.
“Conseguiu terminar?”, ele perguntou a observando no sofá.
“Nem uma linha.”
“Foi um dia longo...”
“Muito...”
Os dois dirigiram seus olhares para a televisão. Passava alguma coisa relacionada a fenômenos da
natureza, mas nenhum dos dois estava realmente prestando atenção. Lois olhou de canto de olho
para Clark, era evidente que queria lhe dizer algo. Alguns poucos segundos de silêncio se seguiram
até que ela acumulou a coragem.
“Obrigada, Smallville.”
Clark fitou Lois com um olhar de que não sabia ao certo do que ela estava falando. “Por quê?”
“As coisas estavam ficando loucas no Talon, e o meu salário do Daily ainda não dá para bancar um
apê decente em Metrópolis... Obrigada por me deixar ficar aqui.”
“Você será sempre bem vinda aqui, Lois”, ele disse sorrindo para ela.
Lois devolveu o sorriso, feliz em ter tido coragem para dar aquele passo. Se sentia feliz por estar
de volta à fazenda, e por ter alguém como Clark ao seu lado. Era uma mulher de sorte, sem
dúvida.
Clark sentiu-se mais à vontade após as palavras de Lois e relaxou no sofá. Alguns minutos se
passaram e os dois permaneceram ali, quietos diante da televisão. Clark pensou mais uma vez no
incidente da cozinha. Seria complicado manter Lois por fora de seu segredo, mas valia a pena
tentar. Ele não queria admitir antes, mas estava feliz em tê-la ali, ao seu lado.
“Lois... É muito bom tê-la aqui comigo”, ele disse em conclusão ao seu pensamento, convicto de
suas palavras. Não houve reação da morena, entretanto, e Clark a olhou mais uma vez. Foi
surpreendido por uma Lois desfalecida, sua cabeça inclinada no encosto do sofá.
“Lois?”, Clark chamou uma vez, mas não insistiu. Lois havia sido vencida pelo cansaço.
Ele a admirou por um momento, pensando como ela era adorável enquanto dormia. Clark então
se aproximou de Lois pelo sofá e, delicadamente, encostou seu peito até a cabeça dela, tentando
fazer com que ela não despertasse. Deslizou uma mão pelas suas costas e a outra por baixo de
seus joelhos dobrados e, quando teve a certeza de que ela estava segura, se levantou com
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cuidado, tendo-a devidamente confortável em seus braços. Sentiu a respiração serena dela em
seu peito enquanto caminhava devagar em direção às escadas, carregando-a até a cama.
Era um cara de sorte, sem dúvida...
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Capítulo 2
Definitivamente, era o cara mais azarado da Terra.
Foi este o primeiro pensamento que ocorreu a Clark ao ter de esperar mais de 1 hora e meia para
usar o banheiro. Era mais um dia de trabalho, mas Lois parecia ainda não compreender que eles
ainda teriam uma longa viagem até Metrópolis. As desvantagens em se ter Lois por perto
começaram a ficar claras, e a primeira delas era que ele não podia mais chegar ao trabalho em 2
segundos, embora a sensação de entrar em um carro dirigido por Lois chegasse muito perto disso.
Os dois já estavam morando sob o mesmo teto há mais de uma semana, mas para Clark, era como
se fossem anos. Lois transformara a casa completamente à sua maneira, privando-o da água
quente, momentos de silêncio e o pior: começara a experimentar a cozinha, se oferecendo para
fazer o jantar. Clark ainda tentou ludibriá-la por um ou dois dias trazendo comida pronta, mas Lois
se sentiu na obrigação de ajudar de alguma forma. O resultado disso foram duas noites seguidas
de dores de barriga para a morena. O teria sido para Clark se ele não fosse o homem de aço, mas
se o castigo não chegava a afetar o seu físico, certamente corrompia seu paladar dia após dia.
Experimentar a comida feita por Lois era quase tão trágico quanto ter kriptonita em seu corpo.
Uma coisa, contudo, se mostrava favorável a Clark. Lois tinha um sono extremamente pesado.
Assim, quando não estava trabalhando até tarde no Daily Planet, encontrava-se mergulhada em
seus próprios sonhos, dando ao Clark a liberdade de que ele tanto precisava para manter suas
rondas por Metrópolis. Em quatro noites, conseguira deter um número recorde de bandidos pela
cidade, evitou acidentes e salvou pessoas de uma dezena de outras situações difíceis. Estava
ficando bom em captar problemas e resolvê-los, e havia melhorado significativamente após a
chegada de Lois. Associou o feito ao fato de que Lois exigia um aumento na precaução, fazendo
com que fosse mais rápido e preciso em seus salvamentos. De certa forma, ela o estava ajudando
a se tornar melhor em sua missão. Ela não saber que ele era o borrão passou a ser mero detalhe.
Lois deu uma ou outra volta no jardim da fazenda, praticamente fazendo círculos no chão.
“Smallville!”, ela berrou impaciente olhando para o relógio, “Vamos nos atrasar!”
Clark superacelerou do quarto até a porta de entrada, freando antes que Lois pudesse ver o mero
detalhe. Desceu os degraus para o jardim, arrumando a gravata, “Não nos atrasaríamos se você
me deixasse tomar banho primeiro”
“E vê-lo terminar com a água quente? Nem pensar...”, Lois entrou em seu Pontiac vermelho,
colocando os óculos escuros.
Clark rodeou o carro entrando pelo lado do carona. Imediatamente passou o cinto de segurança,
prendendo-o ao banco que já estava perfeitamente ajustado à sua altura. Percebeu então que Lois
o observava rindo.
“O que foi?”, ele disse sem entender o porquê da risada.
“Nada” Lois continuou a rir, ligando o carro. “Eu liguei para o pessoal da decoração para o
casamento da Chloe... Você fez as medições do celeiro?”
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Clark negou com a cabeça, “Ainda não, podemos ver isso hoje de noite quando voltarmos.”
“Bem, eu acho que não voltamos juntos hoje, preciso ver umas coisas da minha matéria e não sei
que horas vou terminar.”
“Tudo bem, eu fiquei de ver a Chloe depois do trabalho...”
“Então ta”, Lois guiou o carro até a entrada principal da fazenda e parou, olhando para Clark,
“Com emoção ou sem emoção?”
Clark fitou Lois, já sabendo o que o esperava. “Que tal, com segurança?”
“Qual é, Smallville!” Lois disparou com o carro, fritando pneus ao deixar a fazenda Kent.
***
Os dois repórteres adentraram o Daily Planet em meio a uma euforia instalada. Todos
comentavam sobre o salvamento realizado pelo Red Blue Blur na noite anterior, evitando que um
vagão descarrilasse sobre os trilhos suspensos do metrô de Metrópolis. Lois seguiu com Clark até o
elevador, pegando um jornal que estava sobre a mesa de algum repórter. Olhou para a
reportagem da capa, que trazia a notícia sobre o herói e uma imagem do vagão.
“Olha só, o borrão age novamente”, comentou Lois olhando incrédula para o jornal, “não acredito
que não tem um fotógrafo decente nessa cidade capaz de pegar esse cara em ação...”
“Dizem que ele é bem rápido”, Clark disse dissimulado.
“Oh, eu sei que ele é rápido, Smallville. Mas ele está por aí durante toda a noite, não é possível
que ele não pare para um café, ou para um cochilo... “, ela seguiu até o elevador chamando-o, “...
ou mesmo para se encontrar com a namorada, ou esposa...”
Clark riu do comentário de Lois, “acha mesmo que ele é casado?”
“Não realmente, mas com certeza ele deve ter alguém, certo? Quer dizer, alguém em quem ele
pode confiar plenamente, se abrir, compartilhar todo esse sucesso... Alguém o esperando em casa
todas as noites, fazendo de seu mundo um lugar menos solitário...”
O elevador chegou e Lois entrou com pressa, “nos vemos mais tarde, Smallville”.
Clark deu um leve sorriso para Lois antes das portas do elevador se fecharem. No entanto,
permaneceu ali parado, pensando nas palavras dela.
***
No elevador, Lois se colocou ao lado de um homem enquanto observava o jornal.
“Se ao menos trocasse esse nome ridículo... ‘Red Blue Blur’? Por favor, parece mais aquelas
bandas grunges dos anos noventa...”
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“Nisso eu concordo com você”, afirmou o homem ao seu lado. Lois o fitou rapidamente. Tratavase de um senhor branco, beirando os cinqüenta anos. Tinha cabelos desalinhados e parcialmente
grisalhos, seu olhar severo por cima das lentes mostrava os anos de jornalismo que trazia nas
costas. Lois sabia quem ele era, embora nunca o tenha conhecido pessoalmente.
“Perry White”, ele se apresentou olhando-a de cima a baixo rapidamente.
“Lois Lane”, ela disse em resposta, sorrindo educadamente para o novo editor da seção
internacional do Daily Planet.
“Já ouvi falar de você, jovem..”, Perry comentou com um sorriso malicioso, “dizem as más línguas
que você e Tess Mercer não se batem.”
“Quem lhe disse isso foi muito generoso...”, Lois respondeu com um sorriso igualmente malicioso,
“Ela vai arruinar este jornal.”
“Parece que concordamos de novo...” as portas do elevador se abriram e Perry saiu, olhando para
Lois por cima das lentes dos óculos, “Muito bem, Lane, consiga um nome melhor para este cara e
talvez a gente forme um time para colocar este jornal dos eixos novamente...”
Perry sumiu da vista de Lois e ela sorriu contente por enfim encontrar um editor naquele jornal
que tinha a cabeça no lugar. Voltou sua atenção para o jornal, pensativa a respeito do que Perry
lhe havia dito.
***
A noite chegou rápida e Clark superacelerou até o Talon. Deu uma leve batida na porta, mas como
a viu entreaberta, acabou por entrar. Chloe estava próxima ao balcão da cozinha, organizando
alguns envelopes. Olhou para Clark com um sorriso,
“Clark! Bem na hora para me ajudar com estes convites...”
Clark se aproximou e percebeu que ela estava organizando os convites de casamento. Os separava
por ordem alfabética, e Clark pegou um pequeno bolo a fim de ajudá-la.
“Tem certeza que toda essa gente vai caber no meu celeiro?”, comentou Clark surpreso com a
pilha de convites.
“Lois me garantiu que sim, e olha que ela era contra fazer o casamento lá...” Chloe encarou Clark,
sentindo uma vontade eminente em perguntar o óbvio, “E então, como está sendo morar com ela
novamente?”
Clark deu um longo suspiro, “É estranho... Ela me deixa doido quase todo dia, quase sempre
queremos matar um ao outro... Mas eu gosto de tê-la por perto.”
“Bom, porque achei que você quisesse matar a mim depois de eu ter ajudado a Lois a cair de páraquedas por lá...”
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“Oh, eu queria sim..”, Clark confirmou franzindo as sobrancelhas, mas imediatamente desfez o
olhar pensando em seus dias com Lois, “Eu só acho que é bom ter alguém por perto depois de sair
pela cidade fazendo o que faço...”
“Ainda que você não possa contar a ela a respeito?”
“Ainda assim...”, concluiu Clark com um sorriso discreto.
***
Lois chegou à fazenda mais cedo do que imaginava. Deixou suas coisas dentro da casa e saiu em
direção ao celeiro com uma fita métrica expansível na mão, ainda vestida em seu conjunto de
calça e terno e seus saltos de bico fino. Shelby a encontrou no meio do caminho e rodeou a
morena feliz da vida, agitando seu rabinho freneticamente enquanto a seguia.
“Hei, garoto, cadê seu dono para medir o maldito celeiro? O pessoal da decoração precisa das
medidas para providenciar os arranjos do teto...”
Lois entrou no celeiro arrastando uma longa escada. Shelby a acompanhou, se deitando a poucos
metros da entrada. Lois seguiu com a escada, posicionando-a junto a uma das paredes laterais.
Deu uma boa olhada em volta enquanto tirava um papel e caneta do bolso. Deu uma rápida lida
no papel que dizia exatamente quais medidas eram necessárias para os arranjos. Colocou o papel
e a caneta sobre uma mesa de ferramentas e subiu as escadas, expandindo a fita métrica. Subiu
cerca de 3 metros na escada e posicionou a fita, gravando mentalmente a marcação feita.
“3 metros e quarenta, guarda esse número, Shelby”, ela brincou com o cachorro descendo as
escadas. Arrastou-a novamente, desta vez para a parede junto à outra porta de acesso do celeiro,
“Eu não sei o que tinha na cabeça quando aceitei organizar esse casamento aqui... O que você
acha, Shelby? Não se omita que nem o seu dono, vocês não são tão parecidos...”
Shelby latiu em resposta a Lois, o que a fez pensar se ele estava concordando com ela ou se
negando a ser parecido com Clark.
“Cachorro esperto...”, concluiu antes de subir a escada novamente. Olhou para o alto e começou a
subir, um pouco mais alto do que a altura anterior. Expandiu a fita métrica novamente e tentou
identificar a nova altura, mas ela ainda teria que subir um degrau a mais.
Lois colocou o pé direito no degrau acima, logo depois o esquerdo. O que ela não pôde perceber,
no entanto, foi que aquele degrau estava com a lateral parcialmente desparafusada. O pedaço de
madeira se soltou, e Lois não conseguiu firmeza com os saltos que calçava. Caiu direto no chão,
amortecida apenas por uma finíssima camada de feno que forrava o solo. A pancada foi suficiente
para que perdesse a consciência, e Shelby correu até ela na mesma hora. Lambeu sua mão
tentando reanimá-la, sem sucesso. A empurrou de leve com a cabeça, e ainda assim ela não
reagiu. Shelby correu para fora do celeiro, latindo alto, mas Clark não estava lá, não havia ninguém
por perto. O cachorro então retornou para o celeiro, para o lado de Lois. Sentou-se ao lado dela de
prontidão e deu um leve gemido em lamento ao que acabara de acontecer.
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No Talon, Clark ainda ajudava Chloe com alguns detalhes do casamento quando o herói virou sua
cabeça intrigado para a janela, como se tivesse escutado algo.
“O que foi?”, perguntou Chloe ao perceber a reação de Clark, mas ele não sabia bem o que era.
“Engraçado... Por um momento eu achei ter ouvido Lois me chamar.”
“Eu acho que vocês ainda não chegaram a esse ponto”, brincou Chloe fechando uma pequena
caixa cheia de convites, “Esses eu envio amanhã. Jimmy ficou de enviar o resto”
Clark não prestou muita atenção à última frase de Chloe. Ainda estava intrigado com aquele
“Smallville” que soara em sua cabeça segundos atrás. Mas não poderia ter sido real, afinal Lois
estava no Daily. Certamente ele estava tendo ecos das inúmeras vezes em que ela o chamava
durante o dia. Ficaria louco um dia, ele sabia bem disso.
“E pronto, acho que terminamos”, disse Chloe observando Clark, “Você está bem?”
“Sim, sim”, ele disse saindo do devaneio e caminhou na direção da porta, “Eu já vou indo. Ainda
tenho uma ronda para fazer...”
“Certo, qualquer coisa eu te ligo, ok? Manda lembranças a minha prima por mim...”
Clark respondeu com um sorriso e deixou o Talon, sob o olhar tranqüilo de Chloe.
***
Já eram quase duas da manhã quando Clark desacelerou na entrada da fazenda. Olhou para o
carro de Lois estacionado em frente ao jardim e as luzes acesas da casa. Estaria acordada ainda?
Clark não teve mais tempo de pensar nisso, pois foi interrompido por uma sessão de latidos de
Shelby. O cachorro correu em sua direção nervoso, latindo intensamente.
“Shelby?”, Clark o encarou abismado, “O que foi, garotão?”
Shelby continuou a latir e correu até junto de seu dono mordendo a perna de sua calça.
“O que está acontecendo, amigão?” Clark questionou intrigado ao ver o cachorro puxando-o pela
calça. Shelby então parou novamente e latiu voltando-se para o celeiro. Clark se deu conta de que
a luz de lá estava acesa também. “Aconteceu alguma coisa no celeiro, é isso? Cadê a Lois?”
Shelby latiu forte correndo em disparada para o celeiro e Clark sentiu um frio no estômago ao ver
que o cachorro reagira ao nome de Lois. Correu atrás dele adentrando o celeiro como uma bala.
Foi então que avistou Lois inconsciente, caída sobre o feno, e Shelby latindo enquanto a rodeava.
“LOIS!!!”, Clark berrou se ajoelhando diante dela. Não havia sinais de sangue, e Clark olhou todo o
corpo dela, procurando qualquer sinal que indicasse o que havia acontecido. “Lois, fala comigo! O
que houve?”
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Clark olhou para a escada à frente dos dois e percebeu o degrau rompido ao alto, mais a fita
métrica caída junto à parede. Entendeu imediatamente que ela havia caído enquanto media a
parede e levou a mão ao bolso da calça, agarrando o celular.
“911? É uma emergência!”, disse enquanto passava a mão pelo rosto de Lois, sabendo que por
mais poderes que tivesse, não deveria mexê-la.
***
Lois sentiu uma forte pontada na cabeça ao abrir os olhos. Sua vista nublada foi ganhando
definição aos poucos, e ela se deu conta de que estava em um quarto de hospital. Pôde ouvir
sirenes ao fundo e um cheiro de éter que lhe era inconfundível. Rapidamente, tudo o que ocorrera
voltou á sua mente. Shelby, o celeiro, a escada... a queda.
Deu duas piscadas e sentiu todo o seu corpo, o que era um bom sinal. Sua mão direita, no entanto,
estava tomada por um calor intenso, e Lois notou que alguém a estava segurando. Girou a cabeça
devagar para o lado e viu aquele homem debruçado sobre sua cama, aparentemente dormindo.
Seu rosto estava voltado para baixo apoiado por um dos braços, mas Lois não teve qualquer
dúvidas de quem se tratava.
“Clark?..” ela o chamou baixo, ainda recuperando o seu senso de norteamento.
Clark ergueu a cabeça em um sobressalto, estava mesmo cochilando. Olhou para Lois e
imediatamente sorriu ao vê-la acordada.
“Hei...”, ele disse quase sussurrando, e ergueu seu tronco sentando-se direito na cadeira, “Como
se sente?”
“Como se o globo do Daily Planet estivesse girando dentro de minha cabeça...”, ela disse fazendo
piada de seu estado.
“O médico disse que a pancada foi apenas superficial, você vai ficar bem. Só precisa repousar por
uns dias...”
“Ótimo...”, Lois pareceu desapontada em ouvir. Tinha tantas coisas para fazer, e ainda o
casamento de Chloe. Ficar de molho não era a melhor opção no momento.
“Vamos dar conta de tudo, não se preocupe”, Clark disse como se tivesse lendo os pensamentos
dela. Lois o olhou surpresa, mas não entrou em detalhes. Ainda sentia a mão dele segurando a
sua, como se não fosse soltar mais.
“Por quanto tempo eu fiquei fora?”, ela perguntou percebendo que já era dia do lado de fora do
quarto.
“umas seis horas da hora que te encontrei... Mas o Shelby ficou com você o tempo todo, ele
cuidou para que nada mais lhe acontecesse.”
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“Eu prometo fazer um super bolo de carne pra ele” Lois sorriu feliz ao ouvir Clark. Ele continuou a
fitá-la, e seu olhar não podia mais disfarçar o quanto se sentia feliz em vê-la bem, e estar ao lado
dela.
“Me desculpe, Lois...” ele disse em seguida, “Eu deveria ter voltado mais cedo.”
“Como você poderia saber? Além do mais, eu não devia subir em escadas de salto.. Não sei no que
estava pensando...”
Clark, no entanto, estava convencido de que ele podia sim saber. Ele a ouviu, a sentiu em seu
peito pedindo por ajuda. Ele podia senti-la a quilômetros e quilômetros de distância, e não era
como às pessoas pedindo ajuda. Era algo diferente. Ela era diferente. Era especial.
“Lois...”, ele passou a mão pelos cabelos dela, “Eu não sei o que faria se algo tivesse lhe
acontecido. Eu só queria que você soubesse disso...”
Lois encarou Clark tocada pelas suas palavras e deu um sorriso tímido para ele. Ele respondeu
depositando seus olhos azuis sobre ela, e Lois soube naquele momento que tudo ficaria bem.
Era apenas o começo.
***
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Capítulo 3
“Okay, Smallville. Eu realmente agradeço por todo o cuidado e atenção que você tem tido comigo,
mas a última vez que chequei, eu ainda não era feita de porcelana!”, disse uma Lois levemente
revoltada por ter Clark a segurando pela cintura com um dos braços desde o momento em que
saíra do hospital. Os dois adentraram a fazenda Kent e Clark imediatamente seguiu até ela
retirando-a do carro e servindo de apoio na subida dos pequenos degraus na entrada.
“Você estava tonta quando saímos do hospital, Lois. Não seja teimosa...”, Clark a repreendeu
pacientemente, quase se divertindo com aquela situação, se não estivesse preocupado com ela.
“Eu não estava tonta”
“Você olhou para um lado e se inclinou para o outro.”
“Eu estava apenas checando meu equilíbrio...”, Lois disse tentando negar os fatos.
Clark a encarou sério, como se a mandasse largar de ser teimosa mais uma vez. Lois acatou,
mesmo contrariada por estar sendo tratada como uma boneca. Achava fofo o Clark todo
cuidadoso e cavalheiro com ela, mas lhe incomodava estar tão vulnerável.
Os dois entraram na casa pela porta principal e foram recepcionados por um Shelby alegre, mais
uma vez agitando seu rabo freneticamente diante da presença de Lois e Clark. Ela caminhou até o
cachorro enquanto Clark seguiu para largar uma mochila no sofá.
“Hei, Shelby...”, Lois o acariciou sorridente, lembrando-se de que aquele peludo de quatro patas
era um pequeno herói por si só, “Obrigado por me proteger!”
Clark observou Lois a conversar com o cachorro e sorriu. Era mesmo uma graça quando ela tinha
aqueles momentos maternais, até quando estes se referiam aos animais. Amava ver aquele lado
afetivo na repórter que, na maior parte do tempo, era a mais perfeita filha do general.
“Vou descolar umas cinco vitelas de carne pra você e... uoooh”, Lois sentiu-se tonta novamente, se
apoiando junto a uma mesa enquanto levava a outra mão à cabeça. Imediatamente, Clark correu
em sua direção segurando-a,
“Ok, chega. Você precisa descansar. Nada de ‘mas’ ou de ‘Smallville’ ou de ‘eu tenho uma matéria
para cobrir’...”
“Mas, Smallville, eu tenho uma matéria para cobrir!” Lois protestou séria enquanto caminhavam
até a base das escadas.
“A única coisa que você vai cobrir hoje é a si própria, com o lençol”, Clark afirmou. Olhou para a
escada e não teve dúvidas. Lançou seu braço sobre as pernas de Lois e a pegou no colo
rapidamente, “Sem mais esforços por hoje...”
Lois não teve tempo de protestar. Clark a pegou tão rápido que quando ela se deu conta
completamente de que estava nos braços dele, os dois já estavam na metade das escadas. Além
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disso, distraiu-se com o fato de estar nos braços fortes de Clark. Ela certamente sabia como ter
uma mulher em seus braços e Lois o envolveu pelo pescoço, procurando mais firmeza e sentindose segura.
***
O resto do dia passou sem maiores problemas. Lois acabou dormindo a maior parte, e Clark
aproveitou para dar uma geral na fazenda, organizando as coisas pendentes. Tirou as marcações
do celeiro e ligou ele mesmo para a equipe de decoração do casamento passando as informações.
Embalou nas atividades e saiu por todo o celeiro verificando se havia algum outro risco à saúde de
alguém. O degrau solto foi um desleixo e jamais se perdoaria se algo mais grave tivesse ocorrido a
Lois. Consertou todas as falhas na estrutura do lugar, deixando-o na melhor forma para o
casamento. Acabou lavando também sua caminhonete e o carro de Lois, atolados pela terra da
estrada até Metropolis. Por tabela, jogou Shelby na mangueira também, apesar da reação a
contra-gosto do cachorro, que nem mesmo tentava morder seu dono, provavelmente pela
frustração de experiências passadas. Clark aproveitou o momento distraído e se enfiou ele próprio
sob a água da mangueira em frente ao celeiro, apertando os dedos contra a saída do tubo e
criando jatos de água para cima do cachorro. Era a recompensa perfeita após um longo dia de
trabalho árduo. Ainda molhado, usando somente um calção azul e vermelho, ele agarrou sua blusa
e seguiu para dentro de casa, para terminar o seu banho. Ainda prepararia o jantar para Lois e
tinha em mente algo especial.
Lois já havia tomado banho, mas ainda podia sentir o cheiro de feno em seus cabelos por causa da
queda. As várias horas de sono lhe haviam feito maravilhas, mas sabia que não conseguiria dobrar
a vigilância do General Kent. Ele passava em frente ao quarto dela a cada meia hora para averiguar
se estava tudo bem, e se não fosse pela preocupação genuína dele, Lois o chamaria de agente
penitenciário. Sentou-se em uma poltrona de couro marrom e ligou o laptop tentando se distrair
com alguma coisa, mas não estava ajudando muito. Seu lado hiperativa lhe tornava uma mulher
que desconhecia o tédio. Precisava andar, investigar, batalhar!
Mas não hoje.
Resmungou alguns palavreados indecifráveis por se deixar machucar e agora ter que ficar aos
cuidados da babá Kent. Bom, ao menos, não o via mais como agente penitenciário. Em
compensação, acabava de se comparar a um bebê. Sua mente parecia trabalhar contra ela...
Chloe surgiu no quarto e pegou a prima a divagar sentada na poltrona com o laptop no colo.
“Lois!”, o olhar preocupado de Chloe se misturou a um sorriso de alívio ao ver a prima acordada e
ocupada. A vira no hospital, mas ela ainda estava inconsciente. Estava muito melhor agora, sem
sombra de dúvida. “Como você está?”
“Me sentindo uma perfeita idiota...”, ela respondeu enquanto recebia um beijo na testa de sua
prima, “Não sei o que tinha na cabeça quando subi naquela escada de salto!”
“Não sei com o que se surpreende ainda, você é Lois Lane”, brincou Chloe se sentando na cama
parcialmente descoberta, de frente para Lois.
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“O médico disse que foi superficial, já estou pronta para outra... Mas me diga, como vão os
preparativos agora que sua prima e organizadora da festa está inutilizável por algumas horas?”
“Nem pensei nisso, para falar a verdade, fiquei tão doida quanto Clark me ligou que esqueci de
levar os convites para o correio, agora só na segunda..”
“De forma alguma, tem um cara no despacho chamado Joe, farei com que ele nos ponha no Fedex
logo cedo pela manhã!”
“Lois, você não precisa de preocupar com isso, sério.. O importante é que você fique 100% logo.”
“Eu estou 99,9%! Com exceção de uma tontura aqui e ali, está tudo ótimo!” ela sorriu
forçadamente se levantando da poltrona e colocando o laptop sobre a escrivaninha próxima, mas
Chloe conhecia a prima melhor do que aquilo.
“Lois...”
“Ok, certo. Ainda tem uma britadeira quebrando cimento dentro de minha cabeça, mas não é
nada demais! E o pior é que as coisas no Daily Planet não poderiam estar melhores, eu não
merecia essa agora!”
“O que houve?”, Chloe perguntou curiosa ao ver os olhos da prima brilharem. Ou era uma grande
matéria, ou grande confusão. Provavelmente ambos.
“Eu me bati com um editor ontem, Perry. Ele é novo editor da seção internacional, um cara de
visão. E eu sei que eu só preciso de uma grande matéria para impressioná-lo e conquistar uma
daquelas mesas lindas no 22º andar.”
“Bem, ao menos seu senso de ambição jornalística está no lugar”, Chloe comentou.
“Tem que estar”, defendeu-se Lois, “Se depender de Clark, ficaremos no porão até o próprio
apocalipse.”
“Ficaremos?” Chloe tentou compreender o que Lois tentara dizer com aquilo, “Isso significa que
você pretende levá-lo consigo para o 22º andar?”
Lois sentiu seu rosto enrubescer pelo comentário de Chloe. Não se dera conta de que se referia a
ela e Clark como um casal, uma simbiose. Mas não pensara em momento algum em deixá-lo para
trás. Mas como ela não admitiria isso para Chloe, a resposta era somente uma,
“Ele nunca sobreviveria naquele porão sem mim, acredite. Preciso mantê-lo por perto, para ter
certeza de que a gravata está com o nó dado certo...”
Chloe apenas riu das palavras da prima. A conhecia bem o suficiente para entender que aquilo
significava que Lois não conseguia se imaginar mais sem o Clark.
Seria a recíproca verdadeira?
***
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Chloe saiu do quarto da prima e desceu as escadas, dando de cara com Clark na cozinha. O
fazendeiro cortava alguns temperos enquanto afiava a faca em seu próprio punho. Olhou para
Chloe distraído,
“Como ela está?”
“Enlouquecendo por estar um dia inteiro na reserva...”, a loira disse sorrindo enquanto se
aproximava dele, “Mas nada comparado a como estaria se o visse fazendo isso..”
Clark sorriu com um jeito moleque e agarrou uma batata, posicionando-a na tábua de verduras e
cortando-a com destreza, “Outro dia ela me pegou erguendo o tanque d’água cheio... Eu tive que
dizer que estava vazio e usei minha visão para evaporar a água.”
“Ela ainda vai te pegar fazendo algo que você não vai poder evaporar...”, Chloe pegou um
pequeno pedaço de maçã, lançando-o na boca. Clark parou para encará-la.
“Foi você que me disse que isso poderia dar certo, lembra? Você tem tudo sobre controle?”
“Sim, você tem razão...”, ela concluiu dando de ombros, mas havia uma outra coisa que ainda a
intrigava. Clark percebeu que Chloe tinha algo para perguntar.
“O quê?”, ele se adiantou, fazendo-a seguir em frente.
“Ontem, você sentiu Lois te chamando. Aquilo não foi uma coincidência, Clark...”
“Eu sei.” Ele mesmo já se havia questionado sobre isso. E estava convicto do significado. “Chloe...
Eu acho que isso pode realmente dar certo.”
Chloe fitou Clark e se deu conta que ele não se referia mais a apenas morar com Lois. De repente,
ela soube que a recíproca era sim verdadeira. E sorriu ao se dar conta disso.
***
Lois permaneceu no quarto pela hora seguinte até que sentiu um forte cheiro de comida. O cheiro
cresceu em intensidade e ela olhou apreensiva em direção à porta do quarto quando esta se abriu.
Era Clark, trazendo uma bandeja de prata consigo.
“Oh meu Deus...”, foi tudo o que Lois conseguiu dizer em um primeiro momento, incerta se aquilo
era real ou não. Clark Kent, vestido em uma bermuda azul e camisa de algodão vermelha, os
cabelos ainda molhados penteados para trás, trazia cuidadosamente a bandeja com seu jantar.
Seus olhos azuis inundaram o quarto ao olhar para ela.
“Com fome?”, ele perguntou adentrando o quarto.
Lois apenas sorriu em resposta, se ajeitando junto aos travesseiros de modo a ficar sentada. Clark
se aproximou dela colocando a bandeja sobre seu colo e sentou-se na lateral da cama, ao seu
lado.
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“Temos um filet Vasari grelhado ao molho de vinho do porto, um pouco de risoto temperado com
arroz arbóreo, batatinhas paysanne com agrião... Mais um suco de pêssegos frescos, daquele que
você gosta.”
“Parece delicioso...”, Lois respondeu sorrindo, sem ter coragem ou vontade de fazer qualquer
piadinha naquele momento. Um jantar na cama. Aquilo era mágico. Clark estava sendo fofo
durante todo o tempo, mas agora se transformara em um príncipe.
Clark fitou Lois e ficou feliz em vê-la sorridente com o jantar. Sabia que ela estava sem palavras, ou
teria feito alguma piada ou coisa do tipo. No entanto, não o fizera, apenas olhava para ele e para
aquela refeição maravilhosa com aquele sorriso que ele tanto gostava. O fez sentir-se no céu.
“Nem sei por onde começar...”, ela disse pegando o garfo e faca, mas então olhou séria para Clark.
“E você?”
“Oh, não estou com fome... Fiz apenas para você.”
“De jeito nenhum!” Lois cortou um pequeno pedaço do filé, mergulhando-o no molho. Ergueu o
garfo na direção de Clark, oferecendo a ele, “Vamos, olha que cheiro maravilhoso!”
Clark nem mesmo pensou em contrariar Lois. Abriu a boca instintivamente, comendo o pedaço da
carne que Lois lhe oferecia. Mastigou olhando para a morena enquanto ela preparava uma
garfada para si própria.
“Vamos ver...” ela levou um pedaço do filé à boca e fechou os olhos, “hmmmmmm... Smallville!
Isto está divino!”
“Vai gostar da batata, prova a batata” ele sugeriu realmente se sentindo com os elogios de Lois.
Ela seguiu a instrução dele, mordiscando a pequena batata com agrião entre os lábios. Mastigou
séria por um breve momento e encarou Clark,
“Você sabe que terá que fazer isso pelo menos uma vez por semana, não é? Está delicioso,
Smallville, delicioso...”
Lois ofereceu o pedaço restante da batata para Clark e ele mordiscou, totalmente à vontade em
estar ali, ao lado de Lois, comendo junto a ela, das mãos dela. Se havia algum problema em sua
vida, estava completamente esquecido naquele instante. Nada mais parecia existir além dos dois e
daquele momento.
Lois levou mais um pedaço de carne à boca e acabou deixando um pouco de molho escorrer pelo
canto de seus lábios.
“Espera, tem um pouco de...” Clark não precisou concluir, Lois entendeu pelo movimento dele que
ela sujara o rosto.
“Onde?”
Ele levou a mão ao rosto de Lois e passou os dedos delicadamente no canto esquerdo da boca
dela, limpando o molho. No entanto, a mágica já havia se instalado e o molho pouco importava.
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Clark fitou Lois ainda com seus dedos próximos aos lábios dela e Lois devolveu o olhar mostrando
que aquilo mexera com ela tanto quanto com ele. Clark então se inclinou lentamente sobre Lois e
cobriu sua boca com a dele, lenta e apaixonadamente. Lois fechou os olhos e entreabriu os lábios,
sentindo o perfeito encaixe da boca de Clark na sua, sentindo um calor subir pelo seu corpo quase
que instantaneamente. Os lábios se separaram, embora seus rostos continuassem próximos, e foi
a vez de Lois tomar a iniciativa, beijando novamente, desta vez sentindo o desejo lhe extrapolar os
poros. Clark a segurou pela nuca dando ainda mais vigor ao encontro de seus lábios, sentindo sua
espinha fibrilar com o sabor dos lábios molhados de Lois junto aos seus, devorando-se
mutuamente.
O telefone tocou, cortando o barato dos dois. Lentamente eles se afastaram, um tanto atordoados
pelo toque que soava a poucos metros dos dois. Ainda olhando para Lois, sua respiração tão
alterada quanto a ela, Clark levou a mão até o aparelho na cabeceira da cama de Lois e o atendeu:
“Alô?... Oi Oliver...”
Lois deu um suspiro longo, recuperando o fôlego. Olhou para a comida e para Clark ao telefone,
tentando recompor os pensamentos depois daquele beijo. Estava difícil.
“Ok, acho que posso te ajudar sim, espera só um instante”, Clark colocou a mão no microfone do
telefone e voltou-se para Lois, “Melhor você terminar antes que esfrie...”
Lois concordou com a cabeça e Clark sorriu para ela, saindo do quarto. Ele não queria sair,
definitivamente.
E o sorriso de Lois enquanto bebia um gole do suco de pêssego só deixou claro que o sentimento
era totalmente recíproco.
***
22
Capítulo 4
O dia seguinte chegou rápido como uma bala. Clark desceu de seu quarto sem fazer barulho e
seguiu direto para a cozinha. Imaginou o que faria após a noite anterior, e, no mínimo, repetiria a
fórmula mágica de levar comida para Lois na cama. Não porque fora premiado com um beijo da
última vez, mas porque sentia que era exatamente aquilo que queria e deveria fazer por ela. Abriu
a geladeira pegando ovos e leite, mais algumas laranjas no pequeno cesto de frutas junto a pia.
Virou-se na direção da mesa para depositar tudo quando se deparou com a surpresa.
“Lois?”
“Hei, Smallville”, ela disse rapidamente enquanto descia as escadas da cozinha. Vestia blazer e saia
em uma tonalidade escura de gravite, com uma blusa preta por baixo. Os cabelos presos em rabo
de cavalo e os saltos de bico fino completavam o visual. Clark apenas a olhou altamente surpreso.
“Hã... Por que está vestida?”
Lois o encarou provocativa, “Você me quer andando nua pela casa?”
“Sim, NÃO! Quer dizer..”, Clark se confundiu com seus pensamentos praticamente o traindo, “Eu
quis dizer, por que está vestida para trabalhar?”
“Porque eu vou, oras”, ela disse caminhando até o cesto das frutas e agarrou uma maçã. Ela o
encarou no momento em que ele caminhou na direção dela, e os dois sentiram aquele clima
agradavelmente tenso que emanava de ambos. Eles tinham questões inacabadas e isso estava
mexendo com os dois.
“Você precisa repousar, Lois”, Clark disse tentando parecer sereno, embora estivesse nervoso com
a presença dela arrebatando as lembranças do beijo recente.
“Sem chance”, Lois deu as costas para ele, ainda comendo a maçã, “Se Cristo levou 3 dias para
ressuscitar, acho que 24 horas para eu me recuperar de uma quedinha é razoável... Além disso, eu
estava prestes a riscar palitinhos nas paredes com tantas horas de confinamento.”
“Lois...”
“Nem pensar, Smallville...” Ela caminhou pela cozinha, parando do outro lado da mesa, de frente
para Clark que a observava preocupado. Ela o olhou surpresa de cima a baixo. “Por que VOCÊ
ainda não está vestido? Chop Chop, vamos!”
Lois saiu da cozinha como se tivesse ligada a uma tomada de 440 volts. Clark ficou a observá-la,
tentando entender o que acontecera ali. Eles conversaram tão rápido que ele ainda sentia como
se estivesse a sonhar em sua cama. No entanto, não estava. A noite anterior havia sido real, a
manhã era tão real quanto. Mas do pouco que ele conhecia de Lois, tinha certeza de uma coisa:
Ela estava em negação.
***
23
Da fazenda ao DP, Clark não teve argumentos que fizessem Lois mudar de idéia, e cerca de 2 horas
depois, estavam ambos do prédio do maior jornal de Metrópolis. Lois desceu as escadas tão rápida
quanto o próprio borrão, tagarelando sem parar a respeito de sua nova matéria. Clark apenas
tentava acompanhá-la após comer e se arrumar às pressas. Mas estava difícil.
“Lois, você precisa ir com calma”, ele repetia como um disco arranhado, tentando resgatar nela as
recomendações médicas.
“Não se preocupe, Smallville, eu vou ficar bem. Muito melhor quando conseguir minha exclusiva
com o borrão. Aff, como odeio esse nome...”, ela torceu os lábios ao dizer a última frase.
Caminhou até sua mesa, sentando-se diante de seu computador logo após cumprimentar com um
sorriso alguns dos outros companheiros de trabalho.
“Como assim exclusiva?”, questionou Clark encostando-se à mesa dela, “Lois, o que pretende?”
“Tirar o borrão da toca, o que mais? Depois daquela foto, é preciso ouvir o que o azulão de capa
vermelha tem a dizer e eu pretendo ser a primeira.”
“E como pretende fazer isso?” Clark continuou a fitá-la, perguntando-se até onde iria aquela nova
obsessão de Lois.
“Não sei, pular de um prédio, quem sabe...”
“Como é??” Clark mal podia acreditar no que estava ouvindo.
“Calma, Smallville, foi uma piada. Nossa, cadê o seu humor matutino?”, ela riu da cara de
assustado que o coitado fez ao ouvi-la em suas loucuras.
“Ficou na cama onde você deveria estar passando o dia, repousando...”, ele manteve seu olhar
sobre ela, agora um pouco menos agitado, “Eu acho que há uma razão pela qual o borrão faz o
que faz longe dos olhares da mídia. É óbvio que ele não quer aparecer, Lois.”
“Claro que não. Mas estamos falando de um cara com superpoderes que está fazendo seu
caminho como o maior herói que essa cidade já viu. Tudo o que preciso fazer é alcançá-lo, Clark.
Um chamado público, uma carta...” ela fitou Clark empolgada, como se tivesse achado a resposta
que precisava. “Carta! Exatamente isso!”
“Lois...”
“Agora não, Clark” ela respondeu voltando a atenção para o monitor do seu computador, “Eu
tenho uma missão a cumprir...”
Clark se manteve ali ainda a tempo de ler os dizeres “Ao Borrão Azul e Vermelho” digitados em
negrito no topo da página. Levantou-se e se sentou em sua cadeira claramente preocupado. Em
meio a tantas emoções e pensamentos em sua mente, não tinha parado para pensar que Lois não
iria descansar até descobrir quem ele realmente era...
***
24
No Talon, Chloe falava animadamente ao telefone no momento em que Clark apareceu com um
olhar de poucos amigos.
“Ok, Cris, não sei o que a Lois está preparando, mas espero você e as meninas para a despedida de
solteiro! Ah, pode deixar, vai ter sim! Beijos, tchau.”
Chloe desligou o telefone e olhou curiosa para Clark e seu estado de espírito. Ele parecia invocado
com alguma coisa.
“Desembucha... o que Lois fez agora?”
“Ela não fez...”, ele disse quase para si próprio e Chloe teve que fazer um olhar “o quê?” para ele.
Clark não insistiu no tópico, mudando de assunto, “E então, mais alguma coisa que eu possa fazer
pelo casamento?”
“Por ora, acho que não... Se bem que Lois sabe mais dos detalhes do que eu”, ela riu enquanto
largava o telefone na base sobre a mesinha próxima ao sofá. “Como vão as coisas, como está
Lois?”
“Bem melhor. Até foi trabalhar hoje.”
“Em pleno sábado?”
“Ela está obcecada pelo borrão” Clark disse quase soando como se não falasse dele. “Quer
entrevistá-lo de todas as formas, acredita que ela preparou uma carta para sair na edição de
amanhã do jornal?”
Chloe observou Clark em seu desabafo agitado, “E por que isso está te incomodando
exatamente?”
Clark olhou incrédulo para Chloe.
“Você ouviu a parte do ‘obcecada pelo borrão’? Ela só pensa nisso! Nem mesmo quis comentar
sobre ontem!”
“Ontem?”, Chloe pareceu extremamente curiosa a respeito.
“Esquece...”, ele virou-se para não dizer nada, mas reconsiderou. “É que a gente teve um
momento. E foi muito legal...”
“Ok...”, Chloe percebeu que Clark não queria entrar em detalhes, mas não pôde evitar o
comentário, “Não me diga que você está com ciúmes de você mesmo...”
“Claro que não, isso é ridículo!” Clark parecia querer dizer aquilo para ele mesmo. “Eu só não sei o
que fazer, acho que é isso...”
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“Bem, você conhece a Lois...” Chloe se aproximou do amigo, depositando sua mão sobre o ombro
dele, “Ela pode gostar do borrão pelo o que ele faz, mas eu sei que ela gosta de você pelo o que
você é. E só você pode ajudá-la a por os dois juntos...”
Clark observou Chloe em afirmação às palavras da amiga. Ela estava certa, ele era o único que
possuía as respostas. E o primeiro passo seria chegar em Lois, definitivamente.
***
Depois de horas e horas de trabalho a fio, Lois subiu até o telhado do Daily Planet e deixou-se
arrebatar pela brisa noturna de Metrópolis. Chegara a ter alguns momentos de reflexão desde que
se mudara para a fazenda Kent, mas nunca precisara tanto deles. Ocupara-se por todo o dia
tentando não pensar no que acontecera, mas a verdade era que não conseguia parar de pensar na
noite anterior. Ainda podia sentir os lábios de Clark tocando os seus, da mesma forma que a brisa
lhe acariciava a pele e os cabelos naquela cobertura. E era tão inacreditável a forma como se
sentira, ela, Lois Lane! Caindo por ele, Smallville! Caindo sem saber qual direção tomar, sem sentir
o chão sob seus pés, embora ele a fizesse tão segura que ela mal podia compreender o porquê.
Alguns vários andares abaixo, Clark Kent retornava ao DP. Seguiu até a sua mesa e não encontrou
Lois em lugar nenhum por ali. Sua bolsa, no entanto, ainda estava pendurada no encosto da
cadeira junto ao blazer grafite. Virou-se para um amigo jornalista,
“Viu a Lois por aí?”
“A vi entrando no elevador alguns minutos atrás”, o rapaz respondeu para sair da sala em seguida.
Clark olhou para o teto, imaginando onde ela poderia estar. Concentrou-se em sua visão de raio-x
e varreu o prédio, escaneando cada pessoa, cada andar. Até que viu sua perfeita silhueta no topo
do prédio, sozinha.
Lois se aproximou na murada do telhado olhando as luzes da cidade de Metrópolis. A vista era tão
fantástica quanto à forma como ela se sentia. Por algum motivo, sentia-se radiante, empolgada,
excitada. Como se estivesse pronta para algo incrivelmente novo e único, prestes a mudá-la para
sempre.
Foi então que Clark Kent surgiu no telhado pela porta atrás dela, chamando sua atenção. Os dois
se olharam como se procurassem um ao outro há um longo tempo.
“Hei...”, Clark disse ainda próximo à porta, fechando-a.
“Smallville... Como me achou aqui?”
“Eu... Passei o olho pelo prédio inteiro”, sua resposta dúbia servindo para que não mentisse.
Lois permaneceu junto à bancada, sabendo que era aquele o momento. Que o que ela evitara por
todo o dia não poderia mais ficar para trás. Estaria pronta?
Clark parecia se perguntar o mesmo, mas deu alguns passos para o meio da área, quebrando o
silêncio.
26
“Publicou a carta?”
“Sim...” Lois se voltou para Clark, “Você acha que ele vai responder?”
“Você realmente pulou todas as etapas...” Clark disse sendo sincero, e Lois quis que ele fosse
ainda mais.
“Você responderia? Quer dizer, se fosse você?”
O início da pergunta fez Clark gelar, mas ele decidiu dar a Lois a resposta que ele sentia ser a mais
justa. “Eu procuraria saber quais as suas intenções... E se você fosse inofensiva, eu a procuraria no
momento certo.”
Lois sorriu com a resposta de seu parceiro e ele a acompanhou. Ela deu alguns passos, se
aproximando do centro, se aproximando dele.
“Ontem... Você acha que foi o momento certo?... Você acha que foi certo?”
“Eu acho que podemos fazer dar certo...” Clark respondeu se aproximando dela, seus olhares de
encontro um ao outro como na noite anterior, “Eu quero fazer dar certo, Lois.”
Clark não foi mais longe em suas palavras e deixou seus lábios acariciarem os de Lois com um beijo
terno e apaixonado. Ela correspondeu de imediato, tão ansiosa por aquilo quanto ele. Os dois
continuaram ali naquele delicioso momento até que Lois soltou seus lábios dos dele, abraçando-o.
Clark a envolveu em seus braços bem apertado, para nunca mais soltar.
“Isso nunca vai dar certo”, Lois comentou sorrindo, seu olhar radiante encontrando aquela
imensidão azul, “Vamos matar um ao outro...”
“Aposto que vamos...” Clark concluiu sorrindo intensamente para Lois. Ela então levou a mão à
nuca dele e o trouxe de volta ao encontro de seus lábios, tão romanticamente como da primeira e
segunda vez. Os dois se beijaram sob a noite de Metrópolis, certos de que não poderiam
pertencer a mais ninguém do que um ao outro.
***
27
Capítulo 5
Clark ainda podia se recordar da manhã de Domingo em que Lois surgiu de mala e cuia na sua
porta. Imaginava a loucura na qual sua vida iria se transformar, mas não podia prever que seria
uma loucura tão agradável. Tanto havia mudado desde aquele dia que se alguém contasse que um
dia os dois eram como gato e rato, nem mesmo Lois e Clark acreditariam.
Era bom demais para ser verdade.
Clark desceu para a cozinha com os cabelos ainda molhados do banho. Lois seguira para o Talon
ainda cedo e ele aproveitou mais uma vez para dar uma geral na fazenda. A verdade é que ainda
não tinha visto Lois desde a noite anterior, quando se despediram no Daily Planet com mais um
beijo apaixonado. Ele sabia que Metrópolis precisava de sua ajuda e Lois tinha alguns
compromissos, o que o ajudou a pensar sobre o que iria fazer em seguida. No calor do momento,
acabou por esquecer da série de problemas associados a um relacionamento e não demoraria a
ter que lidar com isso diante de Lois. E a julgar pela forma como se sentia, teria que lidar no exato
instante em que a visse novamente.
Sua mente parecia adivinhar que era aquele o momento. Sua super audição captou o barulho de
um carro se aproximando e pela forma como fritava pneus, com certeza era Lois. Parou o carro
frente e a casa e bateu a porta, correndo para dentro. Clark fingiu surpresa ao vê-la surgir na
cozinha, com um largo sorriso de orelha a orelha. Trazia nas mãos uma edição do Daily Planet.
“Hi, Smallville!” Lois disse radiante seguindo na direção de Clark. Os dois trocaram um rápido
beijo, mas Clark acabou por bloqueá-la entre a pia e a mesa, beijando-a novamente.
“Saiu cedo” Clark disse sorrindo para Lois enquanto mantinha seus olhos azuis sobre os lábios
dela.
“Eu não podia perder isso” Lois respondeu abrindo o jornal. Puxou o caderno de opiniões,
largando o resto do jornal sobre a mesa, e mostrou a Clark o motivo de sua felicidade.
“Meu convite ao Borrão Azul e Vermelho”, começou a ler Clark sob o olhar entusiasmado de Lois,
“Até agora, só o conhecemos na forma de um emaranhado de cores primárias em uma fotografia.
Mas ainda que extremamente misterioso, você é um herói. Eu sei que falo por toda a Metrópolis
quando afirmo que todos gostaríamos de conhecê-lo melhor. E eu gostaria que você me
considerasse um veículo através do qual você poderia compartilhar informações com o público...”
Clark continuou a ler, um sorriso brotando de seu rosto a cada palavra lida. Olhou para Lois
imaginando que aquilo seria extremamente hilário, se não lhe fosse tão problemático.
“O que achou?” ela perguntou com o seu olhar sobre ele, e se os olhos dela fossem pessoas,
provavelmente estariam saltitando felizes pela cozinha naquele momento.
“Estou imaginando a reação dele ao ler isso”, Clark disse de uma forma dubiamente sacana. Até
que humor não era o pior de seus atributos. “E se ele tiver uma namorada? Podem estar lendo
juntos...”
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“O quê, acha que eu dei em cima dele? Quando eu disse ‘estou disponível’, deixei claro que era
para conversar!”
“Este é um bom ponto, eu não curti essa frase”, Clark franziu o cenho fazendo um meio bico
enquanto falava, “Ele pode se achar pra cima de você...”
Lois sorriu do olhar ciumento de Clark, “Você não deveria se preocupar com isso. Eu escrevi esta
carta depois que nos beijamos. Talvez você tenha me inspirado a escrever.”
“Eu te inspirei a escrever para outro homem?” Clark tentou entender aquilo, embora do ponto de
vista dele, nem Freud poderia compreender.
“Para ser honesta, você me inspira para muitas coisas, Smallville...”, Lois respondeu com o olhar
traquino, mordendo o lábio inferior como ela sempre fazia sempre que estava para aprontar algo.
Clark não pôde resistir aquilo e a beijou novamente, sorrindo enquanto deleitava-se em seus
lábios.
“Então, é um belo dia, o que quer fazer?” perguntou Clark acariciando os cabelos dela enquanto a
admirava.
“Chloe está indo com Jimmy passar o dia no lago, perguntou se não queremos ir também. O que
acha?”
Clark olhou surpreso para Lois, “Um Domingo no lago? Sem trabalho, ou borrão, ou distrações?”
“Eu acho que você pode me manter distraída o suficiente, Smallville”, Lois olhou traquina para os
lábios dele novamente, deixando-o convencido de que eles teriam um dia perfeito.
“Eu vou pegar meu calção”, ele disse em resposta ao convite, sob o olhar ‘mal posso esperar’ de
Lois.
***
O céu estava tão limpo e ensolarado que fez o casal questionar que poderia haver dia mais
perfeito. Jimmy e Chloe estavam já no lago, deitados sobre uma grande toalha quadriculada junto
a um cesto de piquenique. Brincavam e se acariciavam na área reservada, um pouco longe dos
demais freqüentadores do lago, que se divertiam na área central com suas bolas, cachorros, bóias,
entre outros apetrechos.
“Lois e CK? Finalmente!”, Jimmy disse ao ouvir o relato da noiva, “Eu sabia que aqueles dois
ficariam juntos mais cedo ou mais tarde...”
“Eh, eu tenho que assumir que você estava certo. Quando Lois me contou hoje pela manhã,
lembrei do que você me disse anos atrás sobre a poção do amor...” Chloe comentou passando a
mão nos cabelos loiros de Jimmy.
“Foram feitos um para o outro, você vai ver...”, Jimmy garantiu. “Precisa vê-los no DP, eles se
amam até quando se odeiam... Acha que eles virão?”
29
“Acho que já vieram...”, Chloe respondeu ao ver Shelby correndo animado pela areia do lago,
parando a poucos metros da água. Um pouco mais atrás estavam Lois e Clark, ela envolta com
uma saída vermelha e um biquíni azul, ele vestido em um calção laranja e camiseta branca,
carregando um cesto próprio.
“Hei, que bom que vieram!”, Chloe disse animada se levantando com Jimmy.
“Chloe, Jimmy” Clark os cumprimentou sorridente, assim como Lois. Era visível a felicidade dos
dois. “Viemos aproveitar esse céu azul com vocês, se não se importam.”
“Que isso, CK!” Jimmy deu um leve tapa no ombro do amigo, “Nada melhor do que curtir um
Domingo no lago com a madrinha e o padrinho de casamento, não é?”
“E Shelby!” completou Lois em defesa ao cachorro, que continuava pinoteando próximo à água,
“Não se esqueçam do meu herói.”
“Claro, e Shelby!” Jimmy riu junto a Chloe e Clark, olhando para o animal. “Vocês trouxeram o
frescobol?”
Lois voltou-se para Clark olhando para o cesto que ele trazia nas mãos, “Eu deixei no carro, vou
buscar” ela moveu-se na direção do corpo de Clark e deu-lhe um beijo suave, “Já volto”
“Ok” Clark mal pôde dizer totalmente inebriado pelos lábios de Lois.
“Eu te acompanho”, ofereceu-se Jimmy e os dois seguiram em direção ao carro sob o olhar de
Chloe e Clark.
“Nossa, vejo que as coisas realmente avançaram de ontem para hoje!”, a Loira comentou
sorridente. “Então isso significa que você não está mais com ciúmes de si próprio?”
“Ela ainda está obcecada pelo borrão... Mas não é algo que eu deva me preocupar.”
“Isso é bom, Clark... E vocês parecem ótimos!”
“Nós estamos”, ele sorriu para a amiga, “Eu nunca me senti assim antes, Chloe. De repente, tudo
faz sentido” Clark observou Lois se distanciar com Jimmy, “Eu estou apaixonado...”
Chloe se sentiu feliz pela prima e pelo melhor amigo, mas não pôde deixar de pensar nas
perguntas associadas a um relacionamento entre Clark e uma humana. No entanto, não estragaria
aquele momento. Estava certa de que Clark, por trás daquela felicidade estampada em sua face,
provavelmente se fazia as mesmas perguntas.
***
Aquele prometera ser um dia perfeito e realmente o estava sendo. Entre conversas agradáveis,
banhos de lago, partidas de frescobol e até mesmo um maravilhoso almoço entre amigos, tudo
parecia ser maravilhosamente perfeito. Clark deitou-se um pouco após o lanche, uma porção de
sanduíches com vinho, e ficou a observar Lois, que conversava animadamente com Chloe, as duas
sentadas no deque de madeira balançando os pés na água. A poucos metros dele, Jimmy tirava um
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cochilo intenso após deliciar-se com as panquecas que ele e Chloe haviam trazido do Talon. O loiro
já estava com uma corzinha do sol e Chloe abriu o sombreio sobre ele para que o coitado não
fritasse. Clark não teve a mesma preocupação, naturalmente, mas procurou repousar na sombra
de modo a Lois não esbravejar de onde estava sobre ele se tornar um camarão ou algo parecido se
ficasse sob o Sol por mais tempo. Fechou os olhos por um momento e sorriu ao pensar na guinada
maravilhosa que sua vida havia tomado nos últimos dias. Sem dúvida, alguns corações dão sorte às
vezes...
Mergulhado em seus pensamentos por vários minutos, Clark não percebeu a aproximação de Lois.
Sentiu, no entanto, um leve tocar sobre seu peito, tão leve que ele duvidou que fosse a própria
Lois. A carícia se arrastou até a sua barriga, pouco abaixo do umbigo, e retornou para o peito,
passando levemente pelo rosto também. Clark abriu os olhos e viu o tecido vermelho acariciandolhe o corpo suavemente. De pé movimentando a saída de praia, Lois sorria para ele. Chloe havia se
deitado ao lado de Jimmy a fim de curtir uma soneca junto a ele.
“Sonhando, superboy?” Lois disse com uma voz agradavelmente suave, encarando-o.
“Talvez...”, ele disse observando seu corpo de pé diante dele. Se espreguiçou com gosto enquanto
admirava a beleza dela.
“Então você deveria acordar, Smallville...”, ela sorriu largando a saída sobre o rosto dele. Clark a
tirou devagar e viu que Lois não estava mais ali. Havia corrido para o lago e mergulhado nas águas.
Clark a observou entrando na água do lago e não pensou duas vezes. Levantou-se sem fazer muito
barulho e correu para a água, mergulhando de vez. Inevitavelmente, em poucas braçadas alcançou
Lois por baixo d’água, agarrando-a pela cintura. Lois sentiu os braços de Clark a segurarem sob a
água e tentou desvencilhar-se, jogando o corpo para baixo. Ele a deixou ir, e ela emergiu sem
muito esforço, olhando em volta. Clark surgiu a poucos centímetros dela, somente seus olhos e o
nariz fora da água.
“Eu ainda não acredito que estamos aqui juntos”, Lois disse olhando profundamente para Clark.
Ele não respondeu, apenas imergiu novamente. Lois sorriu ao perceber o que ele estava fazendo,
e apenas cinco segundos depois, Clark surgiu novamente, desta vez erguendo Lois sobre o seu
colo. Lois se agarrou a ele envolvendo-o pelo pescoço e Clark a abraçou pela cintura, deixando-se
mover pelo ritmo lento das águas.
“Nunca achei que viver com um caipira pudesse ser tão gostoso...”, ela disse acariciando os
cabelos dele, que a olhou por um momento e levou sua boca ao pescoço dela, beijando-o
sensualmente.
“E eu nunca achei que viver com uma tagarela workaholic pudesse ser tão delicioso...”
Clark manteve sua boca concentrada no pescoço de Lois, chupando-o levemente enquanto ela se
mantinha abraçada a ele. Ela fechou os olhos se entregando às carícias, sentindo o desejo crescer
pelo seu corpo.
“O que será de nós agora?”, ela perguntou fazendo-o olhar para ela. “Agora que moramos,
trabalhamos e namoramos juntos?”
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“A gente soa quase como uma simbiose.”
“Oh, eu não teria problemas em me fundir com você...”
Clark encarou Lois e ela se deu conta do quão dúbio aquela frase havia soado. Mas a julgar pelo
olhar de Clark, ele não poderia concordar mais. A trouxe mais ainda para o seu colo, repousando
as mãos submersas nos quadris de Lois, deslizando para as suas nádegas. Ela reagiu se inclinando
para ele em um beijo devastador, levando sua língua feroz de encontro a dele em movimentos
lentos e eróticos. Clark abriu ainda mais a boca devorando Lois completamente, queria senti-la
toda por meio daquele beijo, e muito mais. Subiu as mãos pelas costas dela alisando-a ainda por
baixo d’água. Lois agarrou-se ainda mais a Clark, sedenta diante das mãos dele que a alisavam de
modo a deixá-la completamente louca de desejo. Sentir os seus mamilos de encontro ao peito
forte dele apenas a deixou mais excitada, mas ela procurou se controlar. Embora o lago estivesse
mais vazio, ainda havia pessoas por perto, inclusive crianças. Clark e ela estavam brincando de
maneira excitante, mas tudo o que poderiam fazer ali era mesmo brincar.
O pensou a mesma coisa, tentando se controlar ao sentir a excitação dominar-lhe por cima e por
baixo d’água. Sua preocupação, no entanto, ia muito além do que aquele lago. Queria amar Lois
intensamente, completamente. Mas não estava certo se aquilo seria realmente possível.
As perguntas difíceis começavam a vir à tona e ele teria que arranjar uma forma de desvendá-las.
***
O resto do dia no lago se desenhara tão perfeito como começara. Clark e Lois ainda curtiram um
ao outro por um longo tempo, primeiro na água, depois estirados sobre a areia enquanto a brisa
gostosa das árvores o acariciavam por toda a tarde. Saíram um pouco antes do pôr-do-sol por
conta de um compromisso de Jimmy no Daily Planet e Clark se ofereceu para ir com o repórter,
um pouco a contragosto de Lois. No entanto, ela acabou indo para o Talon com Chloe enquanto os
rapazes seguiram para Metrópolis. A intenção de Clark, contudo, era outra. Precisava ter certeza
sobre algumas coisas e somente uma pessoa poderia ajudá-lo.
O super adentrou a delegacia e não demorou a encontrar John Jones sentado em sua cadeira. O
caçador de Marte olhou para Clark e se levantou, cumprimentando o amigo.
“Como vai?”, ele perguntou percebendo um Clark mais balanceado.
“Muito bem, e você?”
“Não tão bem quanto você, mas é isso aí... O que te traz aqui, Clark? Mais um furo de
reportagem?”
“Não... Preciso falar com você”
***
Os dois seguiram até a cobertura da estação de polícia, um terraço de pouco mais de 5 andares de
altura. Era um ótimo lugar para conversar sem ser incomodado, caso preciso do tipo de conversa
que os dois costumavam ter. Jones observou Clark curioso enquanto caminhava pela cobertura,
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“Você anda mais discreto ultimamente... Sua parceira continua na sua cola?”
“Mais do que você imagina...” Clark respondeu parando diante de Jones, “Nós... Estamos juntos.”
Jones parou perante a confissão de Clark. Não era a ação mais racional a se tomar, mas
certamente Clark estava a pensar com o coração, o que não deixava de ser uma boa coisa.
“Fico feliz por vocês. Lois parece ser uma ótima garota. E é notável que ela gosta muito de você.”
“Sim...”, Clark procurou uma forma de colocar a frase seguinte, a real razão que o levou a procurar
Jones. “Eu tenho uma situação e queria pedir o seu conselho...”
“Você quer saber como pode ter relações íntimas com ela?” Jones foi certeiro na questão,
assustando o próprio Clark.
“Como sabe que era isso o que iria perguntar?”
“Eu não preciso de poderes para perceber que algo o incomoda. E que tem a ver com ela.”
“Não é ela... É que eu sempre achei que poderia machucar alguém durante... Você sabe.” Ele não
pôde deixar de se recordar das frustrações associadas a Lana por causa disso. “Eu tenho medo de
que possa feri-la enquanto... Eu não posso correr o risco.”
“Você está certo, Clark. Você pode sim feri-la. Mas isso não significa que você irá...”
“Como assim?”, Clark indagou sem ter certeza se ficara feliz ou triste com a resposta de Jones. O
caçador apenas o encarou, a experiência transbordando em seu olhar.
“Confie em você. E confie nela.”
***
33
Capítulo 6
“Confie em você. E confie nela.”
Confiar. Aquela parecia mesmo ser a palavra-chave para as decisões que Clark precisava tomar em
seu relacionamento com Lois, mas não era tão simples. Não que ele não confiasse nela, muito pelo
contrário. Temia que o peso de seu segredo a colocasse em risco tal como fizera com todas as
outras pessoas que passaram por sua vida. No entanto, ele disse para si mesmo, seria diferente
com ela. Só não sabia por onde começar.
Eram quase onze da noite quando Clark retornou para a fazenda naquele Domingo. Lois havia
adormecido sobre o sofá diante da TV ligada em algum programa de notícias internacionais, e ele
a carregou para o quarto como costumava fazer naquelas ocasiões. Tal como das outras vezes,
Lois estava cansada demais para acordar com o movimento. Ou com a ausência dele, já que Clark
o fazia tão rápido que ela mal poderia perceber que saiu do lugar. Ele a acomodou na cama e
seguiu para o seu próprio quarto, imaginando que seria questão de tempo até eles começarem a
discutir acerca do assunto que já começava a entrar em pauta.
E ele estava certo. Apenas alguns dias depois, Lois se levantou não muito certa de seu estado de
humor. Embora aquele tenha sido um Domingo maravilhoso, sequer viu a hora que Clark voltara
para casa. Esperava ficar com ele, nem que fosse para fazer nada juntos, mas ele simplesmente
desapareceu em sua rápida ida a Metrópolis. Aquilo, no entanto, não era o suficiente para
incomodar Lois. Ela já estava acostumada com os sumiços repentinos de Clark e ele com certeza
tinha uma boa razão para demorar. Ela jamais faria o papel de namorada grudenta, ainda mais
considerando que eles só estavam oficialmente juntos há um pouco mais de 24 horas.
Agora, entretanto, era diferente. A atitude se repetia a cada dia e ela não sabia bem o porquê.
Duvidava que o próprio Clark tivesse uma boa explicação também, mas ela precisava saber o que
estava acontecendo, pois lhe era incoerente que, diante da forma como se sentiam diante um do
outro, estivessem passando por aquilo.
Clark desceu para a cozinha praticamente pronto para o trabalho. Apenas a gravata azul marinho
ainda não estava devidamente posta, mas todo o resto se colocava impecável. E ele devia isso a
Lois, sem dúvida, pois ela a tirou do ramo das camisas de flanela para a alta costura, ou pelo
menos, para uma aparência respeitável. Ela com certeza concordava com aquilo, pois estacionou
ao pé das escadas admirando-o enquanto ele colocava a comida de Shelby.
“Alguém já lhe disse o quão gato você fica com essa calça de cambraia?” ela comentou chamando
a atenção dele. Clark olhou para ela, igualmente admirado pela forma como ela estava vestida:
uma suntuosa blusa cor cereja e calça de linho preta.
“Você gostou?...”, ele perguntou arrumando a gola da camisa enquanto ela se aproximava,
“Comprei como você me ensinou. Lisa com corte baixo na cintura.”
“Sério?” Lois chegou bem junto dele, puxando a gravata que estava pendurada em seu ombro, “A
vendedora deve ter achado que você era algum tipo de metrossexual...”
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“Ou que possuo uma namorada cuidadosa...”, ele sorriu para Lois enquanto ela preparava o nó da
gravata em si própria.
“Ou que tem uma parceira na mesa em frente que quer ter algo para admirar durante o
expediente...” Lois concluiu sorrindo de volta e colocando a gravata em Clark. “Deixa eu apertar
isso...”
Ela segurou a mão no nó, puxando Clark para si. Ele entendeu o recado e a beijou ternamente,
lançando os braços para a mesa de modo a prendê-la ali. Lois deixou-se invadir pelo beijo,
sentindo sua língua indo de encontro a ele, seu corpo arrepiando-se por aqueles braços fortes
imobilizando-a junto a mesa. Clark então ergueu Lois facilmente pela cintura e a sentou sobre a
mesa, beijando-a de acordo com o desejo que crescia pelo seu corpo. Era a resposta que Lois
precisava e, mais do que rapidamente, começou a desabotoar os botões da camisa de Clark,
puxando-a de dentro das calças e levando suas mãos de encontro ao peitoral maravilhoso dele.
Clark sentiu um arrepio gostoso correr seu corpo ao ter as mãos de Lois sobre ele, mas aquilo o
despertou para a realidade. Afastou sua boca da dela por um instante, tentando colocar alguma
razão em meio aquilo.
“Lois...”, ele disse entre beijos, ele próprio incapaz de tirar as mãos dela, “A gente não...”
“Hein?” Lois disse de forma quase incompreensível, beijando-o e correndo as mãos pelo peito
dele.
“A gente vai se atrasar”
“Quem se importa?”, ela disse praticamente em outra dimensão, mas Clark se afastou dela, desta
vez por cerca de meio metro.
“Sério, nós vamos nos atrasar”, ele disse arrumando a camisa, desgostoso consigo próprio.
Lois permaneceu incrédula sentada sobre a mesa. Estava acontecendo mais uma vez.
“Ok, Clark. O que está havendo?”
“O que quer dizer?”, ele perguntou sem ter muita coragem de encará-la. Ele sabia exatamente o
que ela queria dizer.
“Quer dizer, eu não sou leprosa, e você não me considera leprosa porque praticamente já beijou
todo o meu corpo. O que é sensacional, porque você tem essa boca maravilhosa que consegue me
atiçar por inteiro e então... Você pára.”
“Lois...” ele tentou dizer algo, mas ela continuou a falar, gesticulando sobre a mesa.
“E olha que eu sou altamente flexível, porque eu tento compreender que você pode ter algo que
te inibe, ou sei lá, mas você é sempre o primeiro a partir para além da primeira base! E eu não
entendo o que acontece, porque eu sei que você é perfeito, eu já vi”, ela apontou discretamente
para as calças de Clark.
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“Então se você não é impotente nem está com algum tipo de trauma, o que diabos está
acontecendo? Por que você está me evitando?”
“Eu não estou te evitando, Lois”
“Oh não? E como você chama quando um homem deixa uma mulher em ponto de bala e depois
aperta o pause? Ou pior, você aperta o stop, rewind, play e stop de novo, sem direito a áudio!”
Clark a encarou um tanto assustado e Lois se acalmou um pouco, dando um longo suspiro.
“Me diga, Smallville... É comigo?”
“Não, Lois...” ele finalmente foi capaz de dizer algo no sentido da conversa, “A culpa é minha. É
que eu... Eu só quero que seja perfeito, só isso.”
Lois desceu da mesa, tocada pelas palavras dele. Aquilo realmente parecia de grande importância
para Clark e ela se sentiu feliz por ele a ver daquela forma. Caminhou até ele novamente, “Já está
sendo perfeito, Clark. Eu não poderia querer nada mais perfeito...”
Lois sorriu e depositou um beijo nos lábios parcialmente sérios dele. Clark acabou por sorrir pela
compreensão de Lois, embora tenha dito apenas meia-verdade sobre o que de fato lhe afligia.
“E então”, ela continuou de forma meiga, seus olhos verdes acesos sobre ele, “Eu terei um dia
cheio no Daily Planet, mas acho que podemos combinar um almoço especial...”
“Eu vou adorar.” Ele respondeu passando as mãos pelos cabelos dela, “13 horas no Pestana?”
“É um encontro!” ela concordou para receber um beijo apaixonado na seqüência. Abraçou Clark e
seguiu para a sala, deixando-o só com seus pensamentos.
Só havia uma solução para os seus problemas.
***
Lois chegou ao DP tentando sentir-se um pouco menos preocupada. Estava decidida a dar uma
chance a Clark, mas ainda não estava certa do que os impediam de seguir adiante em seu
relacionamento. Era tão fantástico quando estavam juntos, no entanto, a qualquer sinal de maior
intimidade, Clark daria um break que faria qualquer um se espatifar contra o vidro. Será que
estavam indo rápido demais? Será que era ela a tarada, desesperada por uma noite de amor com
Clark Kent? Tudo isso vinha à mente de Lois em ondas complexas que não se desmanchavam, e
sim cresciam após cada investida fracassada de sua parte.
Clark ficara pelo caminho para resolver uns problemas, o que significava uma manhã inteira longe
da tensão sexual que a estava fazendo perder as estribeiras. Lois seguiu para a sua mesa convicta
de que iria trabalhar, até que avistou um pequeno cartão vermelho. Gravado na frente do mesmo,
com letras pequenas, lia-se “Srta. Lane”. Lois sentiu um frio na barriga ao imaginar que aquele
cartão poderia ser dele.
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“Besteira de sua cabeça, Lois”, se corrigiu antes mesmo de abrir. Olhou por um instante e
finalmente deslizou o dedo por dentro da aba, abrindo o envelope enquanto se sentava em sua
cadeira. Dentro, um pequeno papel cartão azul imergiu com uma curta mensagem:
“Recebi sua carta, Srta. Lane.
Me encontre às 20 horas entre a
4th Avenue e a Maine.
RBB.”
“Oh meu Deus...”, Lois disse para si própria lendo e relendo o pequeno bilhete. E se fosse uma
piada de mal gosto de alguém? E se não fosse? Lois não pensou mais a esse respeito. Sua intuição
lhe dizia que era sim dele e que estava mesmo disposto a conversar. Ela tentou conter o sorriso
que brotava de ponta a ponta em sua face, mas era mais forte do que ela.
Estava diante da história de sua vida.
Seu primeiro impulso foi pegar o celular e discar para Clark. Interrompeu a ligação, no entanto,
guardaria a notícia para o almoço. Do jeito que ele era pouco fã do borrão, seria melhor que ela
falasse pessoalmente, já tendo toda a entrevista bolada em sua cabeça. Sim, a entrevista!
Precisava pensar nas perguntas que o faria: era casado? Tinha namorada? Lois se sentiu uma
tarada ao ver aquelas perguntas lhe ocorrendo em dianteira a outros questionamentos mais
importantes. Era uma chance única e ela não poderia falhar.
Voltou-se para o monitor do seu computador e começou a digitar as perguntas que lhe ocorriam à
mente.
***
Clark passou praticamente toda a manhã refletindo sobre sua atitude. Se aproximar de Lois como
o RBB ainda não era o ideal, mas era um passo na direção da verdade. Pensou que poderia se
expor a ela, mas percebeu que ainda não estava pronto. Por isso, seguiu até o jato de Oliver
Queen a fim de pedir ajuda a ele.
O bilionário se aproximou de Clark com um dispositivo eletrônico acoplado ao celular. O entregou
a Clark explicando-lhe como funcionava.
“É um dispersor de chip e modificador de voz ao mesmo tempo. Ninguém poderá rastrear seu
número, sua localização nem mesmo identificar sua voz com isso.”
“É perfeito”, disse Clark olhando o dispositivo. “Obrigado, Oliver”
“Tem certeza de que quer fazer isso?”, o arqueiro questionou uma última vez.
“Não, mais é o melhor que posso fazer por Lois agora...”, Clark se convenceu. Colocou o celular no
bolso no exato momento em que um dos homens que trabalhava para Oliver saiu da cabine em
direção ao chefe.
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“Parece que houve um acidente grave no metrô de Star City! Estão tendo problemas para resgatar
o pessoal das ferragens.”
Oliver ouviu a notícia espantado e voltou-se para Clark, mas este já havia superacelerado ao
primeiro escutar da notícia.
***
Lois chegou ao Pestana com alguns poucos minutos de atraso por causa do trânsito. Ainda assim,
foi a primeira a chegar. Sentou-se na mesa reservada pelo próprio Clark e pediu uma bebida
enquanto esperava. Viu na TV a notícia sobre o acidente em Star City e os relatos de como o
borrão azul e vermelho de Metrópolis estava ajudando no resgate das vítimas. Ainda assim,
ninguém conseguira uma única foto daquele misterioso herói, o que só deixou Lois mais intrigada.
Ela teria, entretanto, a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. Isso, claro, se ele estivesse
disposto a se revelar por completo. O lugar do encontro era uma cabine telefônica, Lois
naturalmente tratou de averiguar enquanto ia para o restaurante. Provavelmente ele ligaria para
ela e daria a entrevista sem se revelar, mas ela iria querer alguma prova de que ele era mesmo
quem dizia ser. Precisava desesperadamente acreditar que ele era mesmo o RBB.
Lois se perdeu em seus devaneios e não se deu conta de que já havia passado quase uma hora, e
nada do Clark. Não era do feitio dele se atrasar para compromissos, e ela imaginou que aquele era
mais um episódio do famigerado problema dos dois.
Lois ainda esperou por mais algum tempo, mas nem mesmo seu celular dava sinais de Clark. Olhou
aborrecida para o lugar vazio em frente a ela e procurou visualizar o que faria Clark deixá-la
plantada em um restaurante em plena luz do dia. Se ele queria irritá-la, enfim conseguira.
***
Clark superacelerou de volta para Metrópolis, passando antes na fazenda para trocar de roupa.
Parou próximo ao restaurante, mas não encontrou Lois por lá, como já era de se esperar. Três
horas haviam se passado desde o horário em que marcada de se encontrar com ela e ele sequer se
lembrara de dar um telefonema diante da confusão que encontrara em Star City. E nem poderia,
como explicaria a Lois uma ligação de outra cidade? Teria que se virar como lhe era possível.
Clark chegou ao DP e logo encontrou Lois. Estava em sua cadeira e digitava algo no computador. A
força com que seus dedos batiam nas teclas mostrou a ele o tamanho do problema que teria pela
frente.
“Lois?” ele se aproximou com cuidado, e ela apenas sorriu sarcasticamente, sem dar-lhe atenção.
“Que barulho é esse, tem alguém falando?”
“Lois, me desculpe, eu sei que eu deveria ter ligado pra avisar que não daria para chegar, mas
aconteceu uma coisa que me impediu de ligar. Me perdoe, Lois..”
Ele falou à vontade, mas Lois não lhe deu atenção. Ele a fitou invocado,
“Você não vai poder me ignorar para sempre, Lois.”
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“Poderia ser pior. Eu poderia te ignorar em um restaurante por duas horas.”
“Lois...”, Clark tentou se explicar novamente, mas desta vez Lois reagiu erguendo-se da cadeira.
“Escuta, eu não sei qual é o seu problema, mas essa foi o fim da picada. Me largar plantada em um
restaurante por duas horas? O que está tentando fazer, a versão caipira de ‘como perder uma
garota em dez dias’? Porque se continuar nesse ritmo, você nem vai precisar levar o poodle sem
pêlos para a fazenda!
Clark a segurou pelo braço tentando contê-la em seu acesso, “Você precisa se acalmar, Lois!”
“Eu não quero me acalmar!”, ela esbravejou chamando a atenção de algumas pessoas em volta,
“Eu quero entender porque você está me evitando!”
“Lois--“
“A não ser que você tenha uma resposta honesta para mim, Smallville, te aconselho a manter
distância...” ela disse se desvencilhando dele e saindo do escritório sob o olhar dos curiosos. Clark,
no entanto, não estava preocupado se havia alguém olhando. Ele simplesmente não sabia o que
fazer.
Iria perdê-la.
***
Lois passou o resto do dia tão chateada quanto estava ao reencontrar Clark. Não queria ser dura
com ele, mas era inevitável pela forma como ele a fizera se sentir. Não entendia o que havia de
errado, com certeza era mais do que o que havia dito. As inúmeras hipóteses continuaram a varrer
sua mente: e se ele ainda estivesse apaixonado por Lana? E se toda a história de não se envolver
tivesse a ver com o trauma da perda de seu primeiro amor? Lois achou um tanto absurdo que
aquela fosse a razão, mas se tratando de Clark Kent, tudo era possível.
Ela precisaria deixar aquele assunto para um outro momento, entretanto. Já eram quase 20 horas
e ela estava parada próxima à cabine telefônica entre a 4th Avenue e Maine. Fora sozinha,
sabendo que se ele fosse realmente o borrão, precisaria confiar nela. As palavras de Clark
retornaram a sua mente:
“Eu procuraria saber quais as suas intenções... E se você fosse inofensiva, eu a procuraria no
momento certo.”
Smallville tinha razão quanto a isso e Lois seguiu sua recomendação à risca. Ansiava por aquela
entrevista mais do que quase tudo na vida. Precisava vê-lo, conhecê-lo, se conectar a ele como
ninguém jamais o fizera. Queria que ele mostrasse a ela o que ele não poderia mostrar a mais
ninguém.
Nenhum minuto a mais se passou e o telefone tocou dentro da cabine. Assim como Lois
imaginara, ele não iria aparecer pessoalmente. Ela entrou na cabine, atendendo o telefone com
cautela.
39
“Alô..”
“Esta é Lois Lane, a repórter?” uma voz grossa e indecifrável soou do outro lado da linha.
“Quem quer saber?”, Lois questionou insegura.
“Aqui é o Borrão Azul e Vermelho”
Lois sorriu ao ouvi-lo em sua identificação, mas precisava ter certeza.
“Ah, claro... E como eu posso ter certeza de que você não é um copiador com tempo de sobra?”
“Olhe para trás...”
Lois fez o que a voz ordenou, olhando para trás sem sair da cabine. O que se seguiu a fez derrubar
o telefone, tamanha a estupefação.
“... Clark?” ela disse incrédula ao vê-lo parado a poucos metros dela, vestido em uma combinação
de calça e blusa azuis com uma jaqueta vermelha. Em suas mãos, um celular com um dispositivo
que ela imediatamente reconheceu como sendo um modificador de voz.
“Hei, Lois...”, ele emitiu cauteloso com a reação dela.
“Que brincadeira é essa, Clark?”, ela perguntou sem acreditar que ele era mesmo quem dizia ser.
Clark já imaginava a reação dela e em um movimento realmente rápido, superacelerou com ela e
foi embora dali. Freou na Fazenda Kent, tendo uma Lois inteiramente atônita em seus braços.
“Eu sou o borrão azul e vermelho”
***
40
Capítulo 7
Lois sempre peitou a vida de frente, sempre muito pronta para tudo. Mas com certeza, não estava
pronta para aquela revelação. Os dois já estavam naquele celeiro há quase três horas. Lois estava
sentada no chão, encostada junto à parede de madeira do andar superior. Clark estava diante
dela, sentado também no chão, encostado no velho sofá. De frente para ela, ele contara tudo o
que poderia contar sobre sua verdadeira identidade. Lois manteve seu olhar estupefato durante
todo o tempo, até que Clark finalmente parou de falar. Os dois se olharam por um longo tempo,
no mais absoluto silêncio.
“Você está sem palavras...” disse Clark quebrando o silêncio. “Isso nunca é uma coisa boa”
Lois ainda o fitou por um instante, tentando enxergar nos olhos dele todas aquelas revelações.
Finalmente quebrou o silêncio.
“E eu te chamei de Smallville por cinco anos... Como? Como você escondeu isso de mim por todo
esse tempo? Eu estava drogada, ou algo do tipo?”
“Na verdade, você chegou a descobrir, duas vezes... Mas você não se lembra disso.”
“Você apagou a minha memória?” Lois o questionou chocada em pensar que ele tinha aquele
poder também, mas Clark negou veementemente.
“Não, Lois... Mas tudo o que fiz para esconder isso de você.. Foi para protegê-la. É importante que
saiba disso.”
Ela o encarou como se buscasse coisas em sua memória que agora pareciam ter algum sentido.
Começou a interrogá-lo nessa intenção.
“A porta do celeiro.. Foi você, não foi?”
Clark parou por um instante recordando-se do evento e balançou a cabeça positivamente, “Foi um
espirro. Eu estava resfriado, lembra?”
“E quando eu te encontrei naquele milharal... Você estava vindo de outro planeta?”
“É uma história mais complicada do que isso...” Clark justificou para não entrar em detalhes.
Poderia contá-la em outra ocasião, mas sabia que já havia passado muitas informações para Lois.
Lois sorriu sarcasticamente, incrédula. Era muito mais do que poderia imaginar. Ele não apenas
era uma espécie de super herói como também era um alienígena. Um alienígena de Krypton!
Onde diabos ficava Krypton?
“Bem, além de ser mais rápido do que a velocidade do som e ter uma força descomunal... O que
mais você pode fazer?”
Clark procurou enumerar suas habilidades da forma mais natural possível. “Posso ouvir coisas a
uma longa distância.. Posso atirar fogo com os olhos...”
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Lois piscou ao ouvir essa. Ela sabia que ele era quente, mas não a esse nível...
“... Posso também enxergar através de objetos sólidos..”
“Como é que é?” interrompeu Lois surpresa com a revelação, “Quer dizer que você pode ver...
Pode ver minha...”
“É rosa.” Ele disse respondendo a inquietação dela. “Mas não é bem assim, eu tenho que me
concentrar, Lois.”
Ela parou imaginando o que mais ele já não tinha visto ao longo de todos aqueles anos.
“Você tem poderes que o tornam quase um Deus, Clark. Fazem de você um... Superman”
Superman. Lois repetiu mentalmente aquela expressão que lhe escapara quase naturalmente
entres os lábios ao olhar para aquele que até poucas horas, era um mísero caipira por quem
estava perdidamente apaixonada.
“Ainda sou eu, Lois”, Clark disse como se pudesse ler os pensamentos dela. O olhar que ela o
dirigia era de confusão, e não era para menos.
Ela estava sem palavras. Se imaginara naquele momento inúmeras vezes, tendo aquela conversa
com o borrão. Não estava preparada para tê-la com Clark, no entanto. Tantas coisas passavam por
sua cabeça agora, a bagagem era maior do que podia suportar.
“Por isso você sumia sempre, trazendo uma desculpa esfarrapada na manga... Por isso sumia no
meio da noite...”
Clark ficou surpreso por ela saber que ele se ausentava da fazenda à noite. Sempre achou que ela
estava dormindo, mas ainda assim ela fora capaz de sentir sua falta.
“Eu nunca quis mentir para você, Lois.”
“Então... Seus pais, Chloe... Quem mais sabe?”
“Oliver, Lana...”
“Oh, basicamente todo mundo, exceto eu”, Lois disse sem disfarçar certa mágoa em sua voz. “E
Lex, ele sabe?”
“Sim... Ele sabe.” Clark confirmou sabendo que aquela era a pior parte de seu segredo.
“Explica muita coisa...”, Lois concluiu recordando o relacionamento tumultuado dos dois. “O fato
de você ser um homem de aço deve ter mexido com os nervos dele”
“Mais do que você pode imaginar.”
“E sendo quem você é... O que foi fazer no Daily Planet?”
42
“Eu pensei que estando no Daily, poderia ficar mais próximo da ação. Assim poderia ajudar mais
pessoas...”
“Mesmo correndo o risco de ser exposto?”
Clark confirmou com um sorriso, “Você nunca facilitou nesse sentido...”
“Mas Jimmy viu o borrão enquanto você estava com ele...”
“Era o Oliver. Ele me devia o favor.”
Lois não demorou a entender o que Clark queria dizer com aquilo. Por alguma razão, uma
lembrança veio automaticamente à sua cabeça.
“Então era você de Green Arrow no beco?”
Clark confirmou mais uma vez, recordando da noite em que beijara Lois pela primeira vez.
“Onde eu fui amarrar o meu jegue...” Ela revirou os olhos, incrédula, e voltou sua atenção para
Clark novamente, “E por que agora? Por que decidiu me contar?”
Clark fitou Lois por um instante, preparando as palavras que lhe eram certas. Se aproximou dela,
sentando-se ao seu lado, ao alcance de seu corpo.
“Porque eu prometi a mim mesmo que seria tudo diferente desta vez. Porque eu não queria te
perder por conta de um segredo que eu anseio em compartilhar com você.”
“Anseia?..” Lois o encarou perante aquela confissão.
“Eu escondi de você porque você sempre foi especial. Mas agora... Você é mais do que especial.”
“Clark... Então... Foi por isso que você...” Lois não chegou a dizer, mas seu olhar deixou claro que
ela se referia ao que estava acontecendo com os dois nos últimos dias.
“Não há nada nesse mundo que eu queira mais do que estar com você... Por inteiro.”
Lois teve medo de perguntar o porquê, embora ela instintivamente o entendia. Se enfiou sob os
braços de Clark, abraçando-o carinhosamente enquanto repousava sua cabeça sobre o peito dele.
Clark a envolveu, encostando seu queixo sobre o topo da cabeça de Lois. Estava angustiado e
aliviado ao mesmo tempo, sentia como se tivesse tirado o maior dos pesos de suas costas.
“O que vamos fazer agora?” Indagou Lois ainda envolta pelos braços de Clark.
“Eu quero que você publique a entrevista”, ele disse. Lois afastou sua cabeça surpresa e o
encarou,
“O quê?”
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“Você sabe tudo sobre o borrão. Você deve publicar a entrevista como pretendia antes.”
“Antes era diferente”, ela se afastou dele levantando-se, “Antes o borrão não era o meu
namorado. Isso não é correto.”
“A intenção é”, ele se levantou caminhando até ela, “Você mesma disse naquela carta aberta, o
borrão deve servir de inspiração para as pessoas.”
“Sim, mas não por meio de uma pseudo-entrevista! Eu certamente sou a pessoa menos indicada
para ser sua porta-voz.”
“Você é a única que pode, Lois.”
Lois não estava convencida, e aquilo não lhe agradava nem um pouco. Com tantas revelações,
praticamente havia se esquecido de suas intenções originais naquela noite, e elas sem dúvida se
perderam ao primeiro sinal da face de Clark. O que ela poderia fazer agora que sabia quem ele
era?
Era demais.
“Eu... preciso de um tempo para pensar em tudo isso” ela concluiu fitando-o. Aproximou-se dele e
deu-lhe um rápido beijo na bochecha, saindo do celeiro em seguida. Clark a observou se
distanciando, imaginando o que iria acontecer.
Pela primeira vez, sentia-se desprovido de seus poderes. Só dependia de Lois agora.
***
44
Capítulo 8
Aquela foi uma noite difícil na fazenda Kent. Deitada em sua cama, passou em claro todas as horas
que antecederam o amanhecer. Pensara em tudo o que acontecera, nas palavras de Clark, em
cada minúsculo detalhe daquela verdade. Era tudo surreal e lógico ao mesmo tempo. Lois se
recordou de inúmeros acontecimentos sem explicação que, de repente, pareciam tomar seu
perfeito lugar naquele quebra-cabeça kryptoniano. Da chuva de meteoros ao borrão azul e
vermelho, tudo parecia encaixar-se no cosmos. E a razão estava no quarto ao lado e atendia pelo
nome de Clark Kent.
O fazendeiro, assim como Lois, não conseguira dormir. As doses de coragem ao contar a verdade
para Lois pareciam lhe escapar agora que precisaria enfrentá-la em seu verdadeiro eu. Não que ela
não tivesse aceitado bem, ou ela não o teria abraçado, mas ainda assim sabia que aquilo estava
sendo difícil para ela. Precisava ter paciência com ela, aceitar seu próprio tempo para lidar com
tudo aquilo. Por mais forte que Lois fosse, ele largara uma verdadeira bomba em seu colo, uma da
qual ela não poderia simplesmente se livrar, passar para outro como uma batata quente. Uma
bomba com a qual, Clark tinha a esperança, Lois pudesse conviver.
As horas passaram e o sol logo raiou no horizonte, mas o que realmente chamou a atenção de
Clark foi o barulho de sua caminhonete se afastando da fazenda. Lois estava saindo, sabe-se lá
para onde. Clark levantou da cama e caminhou até o quarto dela. A cama estava desfeita e suas
coisas estavam espalhadas por todo o lugar, o que significava que ela não havia ido para sempre
ao menos. Clark se sentiu um pouco idiota por achar que ela pudesse deixá-lo, mas a idéia não era
totalmente absurda. Recordou-se com receio de uma conversa que tivera com Lois no dia em que
ela terminou de vez com Oliver. Mesmo dia em que ela descobriu que ele era o Green Arrow.
E se ela não se sentisse pronta para aquilo?
Clark se sentou na cama de Lois, sentindo o seu cheiro entre os lençóis. Aquilo o animava a seguir
adiante, independente do que fosse acontecer. Ele sabia que já havia ido longe demais e lutaria
por ela, mesmo que significasse lutar contra ela. Levantou-se e superacelerou vestindo seu traje
azul e vermelho. Se precisaria esperar por ela, ao menos não deixaria o mundo esperando.
***
Lois atravessou Smallville até o Talon, sua mente dispersa em pensamentos. Estacionou a
caminhonete vermelha em frente ao antigo cinema e entrou apressada. Por incrível que pareça,
Chloe já estava acordada. Estava de pé junto à máquina de café preparando um expresso para si
própria. Olhou para a prima completamente surpresa.
“Lois? O que faz aqui às 5 da manhã?”
“Precisamos conversar, Chloe...” Lois disse se aproximando da prima. Ainda vestia a mesma roupa
da noite anterior.
“Claro, mas conversar sobre o quê?”
“Kal-El? Krypton? Clark Kent?”
45
Chloe quase derrubou a xícara ao ouvir Lois. Arregalou os olhos, virando-se para ela, “Ok, ok... O
que exatamente você quer dizer com..”
“Ele me contou tudo, Chlo”, Lois disse indo direto ao ponto, se sentando em um dos bancos
próximos ao balcão, “Todas as razões pelas quais eu nem posso mais chamá-lo de Smallville...”
“Lois...”, Chloe estava sem palavras. Pegou sua xícara cheia e entregou a Lois, “Acho que precisa
mais do que eu.”
“Pode imaginar? Smallville... Um Superman?”
“Todos os dias...” Chloe disse com uma resignação positiva. “Eu imaginei que ele não fosse
conseguir esconder de você por mais tempo...”
“Eu ainda não sei como ele conseguiu esconder de mim por todo esse tempo. Eu me sinto a
pessoa mais cega e estúpida de todo o planeta! Ele estava na mesa em frente à minha, Chloe!”
“E ele lutou muito para esconder de você, Lois. Ele não queria que acontecesse com você o que
aconteceu com os outros...”
“Como assim?” Lois ficou sem entender.
“Clark acha que o segredo dele destrói as vidas de quem o desvenda. E de certa forma... Ele tem
razão...”
Lois não soube o que dizer. Ele realmente tinha medo, não apenas em tornar seu segredo público,
o que era compreensível, mas em compartilhá-lo com aqueles que ele amava. Devia ser difícil
viver sem poder ser ele mesmo, e ainda sofrer pela incompreensão que aquela verdade oculta
proporcionava. Ela se deu conta de que era o que estava para acontecer com eles, quando Clark
passou a não ter respostas para seus questionamentos.
“Se ele te contou tudo, Lois... Ele realmente acredita que vocês podem vencer isso juntos.”
“Por que diz isso?”
“Porque todos nós descobrimos o segredo dele. Ele nunca contou a ninguém. Você, pelo
contrário... Você é a primeira a quem ele realmente contou.”
Lois ouviu a prima e as palavras de Clark retornaram à sua mente. Você é mais do que especial.
Aquilo a fez sorrir verdadeiramente pela primeira vez desde que soubera a verdade.
***
Já passava das 10 da noite e Clark prosseguia por Metrópolis fazendo aquilo ao que estava
destinado. Nunca evitara tantos acidentes, nunca salvara tantas vidas. Sequer dera as caras no
Daily Planet, nem mesmo para conferir se Lois estava lá. Estava ciente de que precisava dar a ela o
espaço e tempo necessários para sentir-se à vontade com seu segredo, se é que ela se sentiria à
vontade algum dia. O que poderia fazer então era usar seus poderes para o bem, e ainda havia
muito a ser feito.
46
Clark prendeu dois assaltantes a um cano e seguiu pelo beco escuro, procurando se concentrar em
seu próximo salvamento. Podia ouvir gritos de uma mulher provindos de uma ruela a várias
quadras. Superacelerou sem perder tempo e parou no alto de um telhado. Olhou para baixo na
ruela e percebeu um cara apontando uma arma para uma moça loira.
“Passa logo, maldição!” Ele gritou com ela puxando a bolsa, mas a moça se negou a entregar. O
bandido então atirou, mas Clark superacelerou tão rápido quanto a bala e segurou o projétil antes
que ele pudesse atingir a cabeça da moça. Ela caiu no chão com o movimento do borrão e o
bandido olhou em volta, percebendo que não tinha mais sua arma nas mãos. Correu desesperado
para longe da ruela, sabendo que aquilo só podia significar uma única coisa:
“Aaaahh!! O borrão!!” ele berrou antes de desaparecer por completo. A loira apenas assistiu a
tudo com medo e se levantou também com pressa, correndo para fora dali em busca do policial
mais próximo.
Como sempre fazia, Clark apenas superacelerou ao ver que a situação estava resolvida, mas algo
diferente estava acontecendo. Sentiu suas forças esvaírem-se ao adentrar o beco adjacente à
ruela e caiu de joelhos em dor. Olhou em volta procurando a fonte de sua agonia e logo percebeu
do que se tratava.
A dois metros acima de sua cabeça, pendurado em uma janela lacrada, um mensageiro dos ventos
balançava com a brisa da noite enquanto um de seus enfeites emanava um verde reluzente.
***
Lois chegou ao Daily Planet um pouco nervosa. Procurara Clark por todos os lugares, mas fora
incapaz de encontrá-lo. Sentia uma angústia estranha, como se algo estivesse terrivelmente
errado.
Um dos office-boys do DP atravessou seu caminho e ela o barrou,
“Hei, viu o Clark?”
“Não, ele não apareceu aqui hoje.”
Lois voltou-se para a sua mesa e olhou para a de Clark. Onde ele poderia estar?
***
Clark não tinha mais certeza sobre quanto tempo já havia se passado, mas cada minuto era
agonizante. A dor que lhe consumia iria matá-lo a qualquer momento, ele sequer tinha forças para
rastejar para longe dali. Sentia seu corpo formigar por inteiro, pontadas de dor lhe corriam cada
célula. Não conseguia pensar, seus sentidos estavam afetados. Não havia nada que pudesse fazer.
Por mais inacreditavelmente estúpido que aquilo poderia parecer, era o seu fim. Em uma ruela
deserta, largado próximo ao nada de Metrópolis.
Estava morrendo.
47
Foi então que viu uma luz se aproximar rapidamente. A luz foi bruscamente lançada na direção
dele, quase cegando-o.
“Clark?” a voz conhecida surgiu dissipando os medos de Clark, evidenciando Lois por trás da
claridade intensa. Ela segurava uma pequena lanterna e olhava surpresa para ele.
“Lois?..” Clark respondeu no limiar de suas forças enquanto ela olhava em volta. Jogou a luz da
lanterna para o alto e avistou o brilho no mensageiro dos ventos. Mais do que rapidamente, ela
trepou na escada de incêndio e subiu até a janela, arrancando o objeto e lançando-o para longe.
Pulou de volta ao chão e se agachou junto a Clark, que começava a recuperar as forças.
“Como você me achou aqui?” ele perguntou sem acreditar que era mesmo ela.
“Quando eu souber, te digo!” ela disse tão incrédula quanto ele, “Vem, vamos sair daqui”
Clark se levantou com a ajuda de Lois e os dois seguiram para longe dali.
***
Apenas 24 horas após a maior das revelações, Clark e Lois estavam novamente na fazenda Kent.
Clark tomou um longo banho e seguiu para a sala, onde Lois estava sentada sobre o sofá, o laptop
posicionado em suas pernas cruzadas. Clark sorriu observando-a até que ela percebeu que ele
estava parado junto à escada.
“Se sentindo melhor?” ela perguntou largando o laptop sobre a mesa de centro.
“Sim...” Ele disse ainda parado no mesmo lugar. Seus olhos brilhavam ao olhar para Lois, de uma
forma que ela mesma achou estranha.
“O que foi?”
“Você salvou a minha vida. Eu acho que isso faz de você minha... heroína. Obrigado.”
“Bem, que tipo de namorada eu seria se deixasse meu herói largado em uma ruela por causa de
uma rocha verde?”
“Como você soube da Kryptonita?”
“Eu tive tempo para juntar as coisas... De como aquela rocha nunca lhe fez bem. Mas a verdade é
que, no fundo, eu simplesmente sabia.”
“Da mesma forma que soube onde me achar?”
“Acho que sim”, ela respondeu procurando a verdade na forma como se sentia, “Eu acho que eu
fiquei confusa por um tempo, mas meu coração nunca te perdeu de vista...”
Clark sorriu ao ouvir Lois e se aproximou dela. Empurrou o laptop para o canto da mesa e se
sentou diante dela.
48
“Isso significa o que significa?”
“Significa que... Esse fardo que você carrega... É muito grande, Smallville. Mas talvez... Se
carregarmos juntos... Possa ser menos difícil.”
Lois manteve seus olhos nos de Clark e sorriu para ele, mordiscando o lábio daquela maneira tão
especial, que demonstrava um desafio aceito. Clark passou a mão no rosto de Lois e moveu-se até
ela, beijando-a apaixonadamente. Os dois se afastaram e Clark sorriu para ela,
“Está com fome?”
“Ta brincando?” Lois respondeu arregalando os olhos de forma divertida, “Poderia comer uma
vaca inteira!”
“Eu vou preparar algo para comermos...” ele disse se levantando e dando-lhe um beijo na testa.
Caminhou em direção à cozinha sob o olhar feliz de Lois, que retomou o laptop em seu colo e fitou
a página em branco de seu editor de textos.
“Você é a única que pode, Lois.”
Lois respirou fundo e começou a digitar o início da matéria que mudaria não apenas a sua vida,
mas toda Metrópolis. E o título não poderia ser mais apropriado:
“EU PASSEI A NOITE COM O SUPERMAN”
***
49
Capítulo 9
Lois saiu do elevador animada, seguindo em direção à sala da copiadora. Avistou Clark, que
trabalhava aparentemente concentrado em fazer cópias atrás de cópias da forma mais eficiente
que um ser humano o poderia. A não ser pelo fato de ele não ser humano, claro. Lois se
aproximou mal contendo sua felicidade em seus lábios e ele a encarou curioso.
“E então?”
“Conversei com Perry White. Ele quase surtou ao ver a foto do ‘Superman’ e a entrevista.”
“Superman...” Clark parecia animado com o seu novo codinome. “Vão publicar?”
“Oh, e se vão...” Lois se aproximou de Clark, seduzindo-o por meio do olhar, “Será a matéria de
capa da edição de amanhã!”
Clark sorriu com a grande notícia de Lois, mas estava perdido nos lábios dela tão próximos aos
seus. A puxou para si e os dois se beijaram vorazmente, praticamente se devorando por cima da
copiadora. Lois puxou Clark pela gravata atiçando-o ainda mais, mas conteve-se ao lembrar-se de
onde estavam.
“Ok, ok, não é uma boa idéia...”
“Tem razão” Clark concordou estendendo a mão para ela. Lois então deu sua mão a ele, mas não
teve tempo de processar nada, pois antes mesmo que sentisse as mãos de Clark, já estava com ele
de volta à fazenda, sentada no sofá da sala.
“Eu posso me acostumar com isso, sem dúvida!” ela disse sorrindo enquanto tirava o blazer,
lançando-o longe pela sala. Clark arrancou a gravata com pressa e derrubou-se sobre Lois,
detendo-se em seu cangote enquanto passava a mão pelas pernas dela. Lois envolveu Clark com
seus braços, beijando-o de forma excitada e abrindo a camiseta dele em desespero. Há dias que
esperava poder tê-lo em seus braços completamente e aparentemente era aquele o momento. A
julgar pela forma como Clark a beijava e acariciava, sentia-se exatamente da mesma forma.
Clark deixou Lois puxar o cinto de sua calça e lança-lo contra um abajur próximo. A peça caiu no
chão com o impacto, mas nada importava para além dos dois. Clark queria estar com Lois mais do
que qualquer coisa e sentiu que poderia alcançar o céu naquele momento. Era como ela o fazia se
sentir todas as vezes que o tocava com suas mãos macias, seus lábios famintos.
Clark deslizou a mão por dentro da blusa entreaberta de Lois e a pressionou um pouco mais contra
o sofá. Foi o suficiente para que a morena se lançasse para a frente bruscamente com um grito:
“Ouch!” ela berrou e Clark imediatamente saiu de cima dela, olhando-a assustado.
“Lois! Eu te machuquei?”
“Não, eu acho que...” ela lançou a mão por baixo de seu próprio corpo e puxou uma caneta do
sofá. “Eu devo ter deixado aqui ontem enquanto trabalhava...”
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O susto passara, mas aquilo certamente mexera com Clark. Ele se sentou frustrado no sofá sob o
olhar preocupado de Lois.
“Hei, hei... Não foi pra tanto” ela disse se aproximando dele e fazendo carinho.
“Poderia ter sido eu... Poderia ter te machucado.”
“Mas você não machucou, Smallville. O que te faz pensar que vai?”
“Que tal isso?” Clark disse tomando a caneta das mãos de Lois e quebrando-a ao meio com um
leve mexer de dedos.
“Bem, eu não sou uma caneta... E eu acho que podemos encarar isso, Smallville.”
“Nós vamos, assim que eu arranjar uma forma segura.” Ele disse convencido de que precisava de
um plano. Fazer amor com Lois estava se tornando um desafio para o qual Clark não arredaria o
pé. Mesmo que exigisse medidas drásticas...
Medidas drásticas.
Aquilo pareceu ser uma luz sobre Clark e ele encarou Lois de modo que até ela teve medo do que
poderia estar passando pela cabeça dele.
***
“Smallville, acho que estamos andando demais juntos. Aliás, isso é louco até para os meus
padrões...” Lois disse parada no quarto dela observando-o enquanto ele se aproximava com uma
caixa de chumbo nas mãos.
“A kryptonita verde só me causa dor se estiver muito próxima. Mas mesmo a uma certa distância,
ela é capaz de inibir meus poderes.”
“Essa coisa pode matá-lo, Clark” Lois disse sem achar muita graça naquela idéia louca.
“Não vai, confie em mim...” ele disse entregando a caixa a Lois. “Vá para o corredor e abra a
caixa.”
Lois não estava certa sobre aquilo, mas o olhar esperançoso de Clark a fez ver que não era nada
demais tentar. Caminhou para o corredor e abriu a caixa, vendo um brilho verde emanar quase
automaticamente. Clark franziu o cenho em resposta e ela notou que estava ainda muito próxima.
Seguiu para mais longe, quase ao pé das escadas, no que o brilho da rocha diminuiu
consideravelmente.
“E então?” ela perguntou sem poder vê-lo mais daquela posição. Clark lançou o dedo contra a
parede, fazendo um furo nela.
“Um pouco mais perto”
51
“Ok” ela respondeu se aproximando cerca de três passos, “E agora?”
Clark lançou o dedo contra a parede novamente, mas desta vez encontrou uma resistência sólida
provinda da mesma. Socou a parede com um pouco mais de força para ter certeza, e a resposta foi
que não conseguira causar dano nenhum à estrutura. Sorriu ao constatar que aquilo poderia
mesmo dar certo.
“Está perfeito, Lois!”
Lois largou a caixa naquele exato lugar e voltou para o quarto, dando de cara com um Clark feliz e
traquino sentado na cama.
“De 1 a 10 sobre as coisas mais absurdas que já fiz por amor, essa estoura o radar...” a jornalista
disse parando diante de Clark.
“Então é melhor que a gente faça cada segundo valer a pena...” ele disse puxando-a para seu colo.
Lois foi para cima dele, beijando-o com toda a excitação de antes. Clark voltou a abrir a blusa
como antes, e Lois lhe arrancou a camisa dele com a mesma pressa. Clark deitou na cama, Lois por
cima dele, e os dois começaram a nova sessão de carícias.
No andar de baixo, um entediado Shelby caminhava de um lado para o outro da cozinha. Subiu as
escadas chegando ao segundo andar e deu de cara com aquele objeto preto no assoalho. Seu
rabinho imediatamente se mexeu movido pela curiosidade diante daquela pequena rocha a brilhar
dentro da caixa. Instintivamente, levou o focinho até a caixa e mordeu a pedra, agarrando-a entre
seus dentes.
Clark tirou a blusa de Lois e preparou-se para abrir o zíper de sua calça quando sentiu uma dor
imensa adentrar-lhe.
“Aaaargh!!!!!” Ele se contorceu sob Lois e ela o encarou assustada.
“Clark? Clark!!!” Lois gritou sem entender quando viu Shelby adentrar o quarto com a pedra de
kryptonita entre seus dentes. “Shelby!!! Mas que mer**!”
Lois pulou da cama na direção do cachorro e ele entendeu aquilo como uma brincadeira nova,
balançando o rabo freneticamente. Clark se contorcia sobre a cama com as calças entreabertas
enquanto Lois corria atrás do cachorro, que por alguma ironia cósmica, corria para qualquer lugar,
menos para fora do quarto.
“Shelby!! Dá essa pedra, garoto! Dá pra tia Lois, dá!!!” Lois dizia tentando pegá-lo, até que o
cachorro enfim soltou a pedra embaixo da cama. Lois se lançou sob o móvel agarrando a pedra e
correu para o corredor, colocando-a dentro da caixa e fechando-a, aliviada.
Clark deu um suspiro ao tempo em que sentiu suas forças voltarem. Olhou para Shelby, que estava
parado à sua frente e latia feliz feito um pinto no lixo, provavelmente porque se divertira a beça
com Lois Lane e a rocha verde. Clark, naturalmente, não achava a mesma graça. Muito menos Lois,
que entrara no quarto com a caixa de chumbo lacrada. Colocou-a sobre a penteadeira e deixou-se
cair da cama, ao lado de Clark.
52
“Me prometa que não vamos tentar isso de novo” ela pediu ainda incrédula por terem sequer
tentado a primeira vez. “Era óbvio que acabaria de uma maneira estupidamente ridícula.”
Clark concordava com Lois. Seu olhar de frustração, contudo, evidenciou que ele não tinha mais
nenhuma idéia, nem mesmo uma estupidamente ridícula...
***
Lois não retornou ao Daily Planet naquela tarde, mas também não permaneceu na fazenda.
Decidiu deixar Clark sozinho um pouco, pois ele estava mesmo chateado com toda a situação. Ela
sentia que ele queria fazê-la feliz, mas estava frustrado diante de sua impotência. Lois, claro, não o
via daquela forma, mas era particularmente difícil fazê-lo ver as coisas de outra forma. Daria a ele
o tempo necessário para que ele se sentisse confiante, mas também ficaria por perto,
alimentando suas forças.
A jornalista sabia que o dia seguinte seria incrivelmente insano com a matéria sobre o Superman,
mas preferiu se ausentar do mundo das notícias. Seguiu até o centro de Smallville levando Shelby
consigo e fez algumas compras, entre elas um par de lâmpadas novas para o abajur que quebrara
pela manhã. Aproveitou para comprar também ração para o cachorro, embora ele não merecesse.
Lois sorriu ao lembrar da confusão armada pelo canino, mas sabia que aquilo tinha sido uma boa
(hilária, mas ainda boa) forma de fazer ela e Clark enxergarem que, se eles tivessem de ficar
juntos, precisaria ser de uma forma natural.
“Você sabe por que eu te trouxe, não é?” ela disse a Shelby enquanto colocava as compras na
parte de trás da caminhonete de Clark, “Fiquei com medo de seu dono colocar você dentro de um
pão e vendê-lo no jogo de amanhã em Metrópolis...”
Shelby latiu para Lois, como se entendesse o que ela estava lhe dizendo. Abanou o rabo contente
pelo passeio enquanto subia para a poltrona do carona. Lois fechou a porta olhando para o céu
nublado que se desenhava na direção da fazenda. Certamente, o tempo estava mesmo nublado
sobre a fazenda dos Kent.
***
Clark observou o Sol se esconder por trás das nuvens carregadas daquele fim de tarde. Parado de
pé junto à sua janela no celeiro, divagava em um mundo de idéias complexas, mas a frustração de
não ter aquilo que mais desejava o consumia silenciosamente. Estava com Lois, estava feliz. Mas
sabia que cedo ou tarde, aquela situação se colocaria entre eles. Por mais compreensiva que
pudesse ser, Lois era uma mulher cheia de energia, não agüentaria aquela situação por muito
tempo. Mas Clark realmente estava sem mais idéias além de lamentar-se pelos cantos imaginando
como seria estar plenamente com Lois.
Clark ainda tinha o pensamento distante quando passos construíram seu caminho até o andar de
cima do celeiro, parando próximo a ele.
“Um momento difícil e você está de volta ao ponto zero...” Lois disse com um sorriso enquanto se
aproximava ainda mais. De camiseta e jeans, já estava ancorada no conforto do lar.
53
Clark a observou e sorriu de volta, olhando mais uma vez para a janela. “Este lugar sempre me
trouxe bons pensamentos.”
“Eu posso imaginar” Lois se aproximou um pouco mais, “Eu tenho boas memórias daqui também.
Foi aqui que nos tornamos amigos, lembra?”
Clark não pôde deixar de rir. Recordava-se bem do momento ao qual Lois se referia, e sentiu-se
bem em lembrar-se que ela dera um novo brilho à sua vida, mesmo quando ainda estavam se
conhecendo.
“Lois... O que houve mais cedo...”
“Foi a coisa mais retardada que você já fez?” Ela completou se aproximando da janela para
admirar a vista, que trazia um Sol às vésperas do poente no horizonte ainda nublado. Clark parou a
admirá-la enquanto aquela centelha de luz do entardecer ainda conseguia tocar os cabelos de
Lois, devidamente amarrados em um rabo de cavalo.
“… Foi o tanto que fui capaz de fazer para ter você comigo...” Ele enfim completou, sabendo que
não poderia ser mais honesto com ela ou consigo próprio.
“Eu sei...” Lois o fitou um tanto séria, mas compreensiva, “Mas eu estou aqui com você.
Independente de seus atributos nc-17... Eu quero estar aqui com você, Smallville.”
Ouvir aquilo de Lois era o que Clark precisava naquele momento, e ele a abraçou envolvendo-a em
seu carinho. Lois deixou-se afundar em seus braços, colando seu corpo ao peito forte e macio de
Clark.
Lois se voltou para a janela e Clark se pôs atrás dela, abraçando-a por trás enquanto encaixava seu
rosto na curva de seu pescoço. Não disse ou pensou em mais nada, apenas queria curtir aquele
momento ao lado dela. Lois inclinou levemente a cabeça na direção do rosto de Clark, acariciandoo com o simples toque de sua pela na dele. Se não podiam fazer amor, ao menos poderiam amarse por meio de um descobrimento mútuo diferenciado.
“Você já pensou no que seria um momento perfeito?” ela quebrou o silêncio enquanto sentia os
braços de Clark em volta de seu corpo. “Com certeza é algo próximo a isso, Smallville.”
O beijo que ele depositou ao lado do rosto dela foi a resposta de que ele não tinha como
concordar ainda mais. Sentia o chão sob seus pés, mas aquilo era como estar no céu.
Clark soltou Lois e parou admirando-a por trás. Deslizou sua mão pelos cabelos de Lois, tocandolhe a parte alta das costas e descendo o lado de fora da mão por sua coluna, tocando-a tão
suavemente que era quase como um mero assopro. Lois fechou os olhos sentindo o gostoso
arrepio que subiu pelo seu corpo com aquele simples gesto, sentindo-se viva e radiante por estar
ali, segura e envolvida por Clark. Envolvida de uma forma que ela sentia, no fundo de seu peito,
que não iria nunca se comparar a nenhuma outra sensação em sua vida.
Lois se virou para Clark e o fitou nos olhos, passando a mão direita pela testa dele, deslizando pela
lateral de seu rosto até tocar os lábios entreabertos com a ponta dos dedos. Clark permaneceu a
encarar Lois, enfeitiçado pelo seu toque, pela sua beleza. Foi então que, gentilmente, ele começou
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a deslizar a alça da camiseta dela, beijando-lhe os ombros e o pescoço. Lois subiu uma de suas
mãos para o ombro de Clark, firmando-se em seu pescoço enquanto ele a acariciava com seus
lábios ansiosos, beijando-a daquela forma que só ele sabia fazer. Clark então seguiu na direção da
boca de Lois e os dois compartilharam um beijo apaixonado, lento e prolongado, selando de vez o
desejo intenso que pairava no ar. Lois deslizou as mãos para a camisa de Clark, subindo-a
lentamente enquanto sentia os detalhes do peito definido dele, e os dois trocaram um sorriso
cúmplice. Clark acabou por arrancar a camisa, facilitando as coisas para Lois que aproveitou para
explorar o peito de Clark com as mãos. Foi então a vez dele em subir a blusa dela, da mesma
forma que ela fizera com ele. Lois levantou os braços, sorrindo enquanto sentia a camisa passar
por sua cabeça deixando seu corpo. Não sem antes ganhar mais um beijo de Clark, que conteve a
blusa na altura dos olhos dela, impedindo-a de ver que ele seguia na direção de sua boca mais
uma vez. E logo após livrar-se da blusa, Clark e Lois lançaram-se sobre o tapete daquela pequena
parte do celeiro a fim de levar aquele momento para um novo nível.
No entanto, a brincadeira acabou ganhando um teor sério para Clark. Estava acontecendo
novamente. Ele mal havia se deitado sobre Lois e aquele olhar de preocupação retornou à sua
face.
“Lois... Eu...” ele tentou colocar em palavras aquilo que ambos já sabiam, mas Lois passou a mão
pelo rosto dele novamente, seu olhar adentrando-o como nunca antes o fizera.
“Você não pode me machucar.. Porque eu te amo...”
Clark parou diante das palavras sussurradas de Lois, sentindo dentro de si seus efeitos. Não havia
nada mais a temer. A resposta dele veio na forma de um terno e intenso beijo, diferente dos
demais. Um beijo de puro e simples amor.
E eles continuaram a tirar as roupas e mergulhar em um universo de carícias, enquanto o Sol
sumia no horizonte de uma forma bela e desnuda...
***
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Capítulo 10
A suave luz da manhã invadiu o quarto, tocando o rosto de Clark. Ele estava deitado, seu corpo
semi-nu, parcialmente coberto pelos lençóis. Ao seu lado estava Lois, também semi-nua, sua
cabeça repousando sobre o peito dele enquanto um de seus braços o envolvia por completo. Clark
abriu os olhos e sorriu ao olhar para Lois, que ainda dormia. Ele passou a mão pelos cabelos
castanhos dela enquanto se lembrava do fim de tarde e noite inacreditável que tiveram juntos.
Pela primeira vez em sua vida, fizera amor com uma mulher frágil diante de seus poderes, embora
Lois fosse qualquer coisa, menos frágil. Ele sentira toda a sua ânsia e paixão, sua voracidade em
amar e ser amada. Clark pensou em como nunca se entregara dessa forma, sem inseguranças nem
dúvidas. Apenas amor e desejo, nada mais. Lois o fizera sentir de uma forma como nunca houvera
experimentado, e Clark não podia mais se imaginar longe do elixir dos deuses que era estar nos
braços dela... Dentro dela.
Lois mexeu-se sobre o peito de Clark, abrindo os olhos lentamente. Sentia seu corpo quente e
revigorado, como nunca sentira antes. Embora ela e Clark tivessem feito amor durante toda a
noite, não se sentia cansada, muito pelo contrário. Seu corpo, assim como sua alma, pedia por
mais daquele maravilhoso estado de ser.
Lois olhou para Clark, que sorria para ela visivelmente feliz. Lois imediatamente sorriu de volta,
igualmente radiante.
“Hei...”, ela sussurrou, deslizando sua mão pelo peito de Clark.
“Hei...”, Clark sussurrou de volta.
Lois espreguiçou-se de forma provocativa sobre Clark, movendo sua perna enlaçada entre as coxas
dele, o que o deixou um tanto excitado novamente. Depositou dois longos beijos no peito dele, a
poucos centímetros do mamilo esquerdo, e repousou sua cabeça novamente agarrada ao torso
másculo e desnudo. Clark deslizou o braço pelas costas de Lois, acariciando-a até envolvê-la
novamente. Sentiu a ponta fria do nariz dela roçar deliciosamente sobre o bico de seu peito, assim
como parte de seus lábios, que se mexiam lentamente enquanto ela falava.
“Vou dizer uma coisa, Smallville... Você é uma coisa séria.”
Ele sorriu ao ouvi-la dizer aquilo em clara referência à noite anterior. Repousou a mão forte no
ombro esquerdo dela, massageando-o. “Obrigado pela observação...”
“Como não notar, quando estou rodeada de você?”
“Eu podia jurar que eu estava rodeado de você...” ele respondeu beijando o topo da cabeça dela.
Lois então subiu rapidamente pelo corpo dele, repousando novamente em seus braços de forma a
encaixar o seu rosto junto ao dele.
“Agora você está...” ela depositou alguns vários beijos ao pé de seu ouvido, “E temos o Sábado
inteirinho...”
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Os dois sorriram traquinamente um para o outro e se beijaram ternamente, acariciando-se
enquanto rolavam na cama. Clark se colocou por cima de Lois, enlaçando-a ainda mais aos lençóis.
“Está com fome?” ele perguntou alisando os cabelos dela, e Lois confirmou com a cabeça apenas
fitando-o. “Vou trazer algo para nós.”
“Não demore...” ela disse se espreguiçando mais uma vez sob ele.
“Você sabe que não irei...”
Clark saiu de baixo dos lençóis e pulou da cama, evidenciando seu corpo nu. Lois permaneceu na
cama a observá-lo, claramente deliciada pela vista que ele estava proporcionando a ela. O super
dirigiu seu olhar a ela, sorrindo intensamente. Esticou os braços a fim de se espreguiçar, quando
então algo surpreendente aconteceu.
“Clark?” Lois perguntou encarando-a surpresa enquanto se sentava na cama, “O que está
fazendo?”
“Boa pergunta...” ele disse observando o que lhe acontecia. O alongamento que fizera com o
corpo o levou para cima, e estava agora levitando a cerca de 30 centímetros do chão.
“Você está.. flutuando!” Lois disse atônita, não sabia que ele podia fazer aquilo também. Mas
Clark parecia tão surpreso quanto ela.
“Eu sei, me sinto tão.. cheio de energia!” ele disse se esticando ainda mais, procurando alongar
seus músculos, “É quase como se eu pudesse...”
Clark sorriu para Lois e procurou alongar-se ainda mais, canalizando toda a energia que sentia
naquele movimento. O que aconteceu foi então surpreendente. Mais rápido do que uma bala,
Clark voou em direção à janela do quarto, arrebentando parte da parede no processo. Saiu como
um foguete sem controle na direção dos céus.
“Smallville!!” Lois berrou assustada pulando da cama ainda enrolada nos lençóis. Olhou pelo
enorme buraco na parede e viu um borrão humano adentrar a plantação distante. “Oh meu
Deus!”
Clark se levantou em meio à plantação destruída e olhou em volta. A fazenda estava a quilômetros
dali e ele ainda estava completamente nu. Saíra como um jato atravessando tudo o que vira pela
frente. Ele riu para si mesmo ao se dar conta de que havia voado. E que vôo!
Lois continuou a olhar pelo buraco tentando ver Clark ao longe, mas ele havia caído a muitos
quilômetros de distância dali.
“Clark! Clark!!!” Ela gritou até que um vendaval quase a deixou sem os lençóis. Clark parou nos
jardins de casa poucos metros abaixo do buraco que ocasionara.
“Clark, você está bem?” Lois se inclinou sobre o buraco e perguntou mesmo vendo que ele estava
inteiro, embora um pouco sujo de terra e plantas.
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“Sim, mais do que bem!” ele disse surpreso consigo mesmo enquanto olhava para o estrago na
parede do quarto.
“Aquilo foi um vôo? Você não me disse que podia voar também!”
“Não é que eu consiga mas...” Ele procurou a explicação que lhe parecia mais lógica, “De alguma
forma, eu consegui canalizar minhas forças dessa vez.”
“Desta vez, hein?” Lois disse de forma sacana, mordendo os lábios. Clark devolveu o olhar para
ela, mas algo chamou sua atenção. Um barulho de carro ganhava força, se aproximando da
fazenda.
“Tem alguém vindo” ele disse superacelerando para dentro de casa. Lois não entendeu muito
bem, mas voltou-se para o interior do quarto em busca de algo que pudesse vestir.
Jimmy Olsen parou o carro de Chloe a poucos metros da entrada da casa de Clark e saiu
rapidamente com um jornal na mão. Não demorou, é claro, a perceber o imenso buraco na parede
do andar de cima. Foi distraído, no entanto, pelo próprio Clark que saiu da casa já vestido e com
um sorriso sem graça.
“Jimmy! Bom dia!”
“Hei, CK, bom dia...” Jimmy se aproximou olhando para o buraco, “O que houve, cara?”
“Reforma. Sabe como é, Lois acha que o quarto poderia ser um pouco mais arejado...”
“Mas não havia uma janela ali?”
“Ela quer uma janela maior...” Clark manteve o sorriso sem graça olhando para o buraco que
fizera.
Jimmy deu uma risada moleque ao ouvir o amigo, como se soubesse exatamente do que Clark
estava falando. “Mulheres... Começam a transformar sua vida, é impressionante o que elas
conseguem que a gente faça.”
“Realmente...” Clark concordou pensando que era aquele o caso preciso de sua recente rasante.
“Hei, entra.”
Jimmy seguiu para dentro da casa empolgado, “Mas eu vim para cumprimentar Lois, onde ela
está?”
“Bem, ela... Está lá em cima. Descansando.”
“Ta brincando? Ela deveria estar no Daily Planet agora.”
“Por quê?” disse Lois descendo as escadas. Vestia apenas uma das camisas de flanela de Clark,
deixando Jimmy a imaginar coisas.
“Opa...” o fotógrafo comentou dando uma cutucada com o cotovelo em Clark, “CK, hun?”
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Clark estava um tanto sem graça, assim como Lois provavelmente estaria se não disfarçasse tão
bem.
“O que te traz aqui, Jimbo?”
“Isso” ele abriu o jornal sobre a mesa, mostrando a matéria de capa.
Eu passei a noite com o Superman, por Lois Lane.
Clark e Lois trocaram um rápido olhar enquanto Jimmy continuava a falar.
“Nem acredito que conseguiu uma entrevista com o cara! E essa foto, como conseguiu?”
Jimmy se referia à foto da capa, que trazia um borrão azul e vermelho próximo a Lois em um lugar
que não dava para identificar. Clark pegou o jornal e olhou mostrando-se curioso.
“Interessante” ele disse olhando para Jimmy e para Lois, “Parabéns, Lois, ficou ótima.”
“Interessante?” Jimmy intercedeu, “CK, isso é histórico! Lois, você arrasou! É a matéria do século!”
Lois deu um sorriso largo, por mais que não quisesse se vangloriar por completo pela entrevista.
No entanto, sabia que havia lutado por aquilo e o próprio Clark lhe deixara claro que ela precisava
publicar a entrevista. Por Metrópolis e pelo mundo.
“Bem... Fico feliz por ao menos ter dado um nome decente a ele.”
“Pelo que você descreve aqui, com certeza ele é um Superman...” Jimmy olhou para o jornal nas
mãos de Clark, “E que título foi esse? Espero que o CK não tenha ciúmes, não é?”
Clark olhou para Jimmy, depois para Lois, “De um cara de outro planeta em algum tipo de
uniforme azul e vermelho? Talvez...”
Jimmy continuou a falar entusiasmado enquanto Clark e Lois fitavam um ao outro. Aquele era
apenas o início do capítulo mais conturbado de suas vidas...
***
Clark adentrou o Talon tão rápido que Chloe pensou estar havendo um furacão em Smallville.
“Clark!” Ela berrou ao se dar conta de que era o amigo, enquanto arrumava os cabelos loiros “Não
tem como entrar mais rápido?”
“Foi mal” ele disse parando em frente a ela com um largo sorriso. Chloe o fitou curiosa,
“Você parece um pinto no lixo de tão feliz, Clark. Isso tudo é por causa de seu novo nome?”
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Chloe se referia ao nome dado por Lois ao borrão. Superman. Sem dúvida, havia agradado a Clark
mais do que era possível descrever. Era a forma como Lois o via. Como Lois o sentia. E como portavoz da humanidade, era traduzia o que o mundo poderia ver e sentir nele.
Mas não era aquela a razão para Clark estar tão saltitante.
“Chloe...” Clark desejava compartilhar sua felicidade com mais alguém, e ninguém melhor do que
Chloe para entender o significado daquilo. “Lois e eu, nós...”
Chloe esperou Clark concluir, mas ele não o fez. Apenas a encarou com o olhar carregado de
gestos curiosos, tentando que ela compreendesse o que para ele parecia óbvio.
“Vocês o quê?...” Chloe o fitou confusa, até que finalmente entendeu. Ela então arregalou os
olhos, quase despencando o queixo, “Oh meu Deus, Clark! Onde está Lois, ela está bem?”
“Claro que está bem”, Clark respondeu contrariado. “Ela está ótima!”
Chloe se deixou derrubar sobre o sofá, assimilando o que não foi dito, mas estava cristalino como
água.
“Clark... Como foi isso? Quer dizer, eu não quero saber como foi, mas sim... Como?”
“Eu estava errado, Chloe. O meu medo me fez recuar, mas a verdade é que eu só precisava me
sentir confiante o suficiente... E Lois me fez vencer todas as inseguranças”
Chloe escutou Clark atentamente e finalmente largou um sorriso, emocionada pelo amigo, pelo
que aquilo significava. Podia ver nos olhos dele o quão feliz e realizado estava pelo que havia
acontecido entre ele e Lois. E ela estava feliz por ele.
***
No Daily Planet, a agitação era total. Todos caminhavam de um lado para o outro com suas cópias
da edição mais histórica que o Daily Planet já tivera a chance de publicar. Lois entrou no lugar e
logo foi cercada por todos, cada um querendo felicitar-lhe e trocar idéias ao mesmo tempo sobre
aquele encontro histórico. Lois cumprimentou a todos como dava e seguiu até sua mesa, quando
seu editor a chamou em sua sala. Lois seguiu sem muita pressa, e logo ao chegar, deu de cara com
seu editor ao lado de Perry White. Ele trazia um exemplar do jornal nas mãos e um sorriso largo
nos lábios acompanhado de um charuto pela metade.
“Lois Lane, fabuloso! As tiragens esgotaram nas bancas!” comentou o editor se sentando à mesa.
“Fico feliz que tenha repercutido bem” Lois comentou sorrindo para ambos os homens.
“Repercussão é pouco. Faremos de você a porta-voz oficial do Daily Planet junto ao Superman.
Mas a verdade é que isso é só uma das coisas que queria falar com você.”
“E o que mais?” Ela o fitou curiosa, contendo a excitação de ver que a entrevista dera certo.
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“É preciso muita garra e faro jornalístico para caçar uma entrevista dessas. E muita coragem em
publicar uma carta aberta como você fez, Lane. É tudo o que eu espero de um grande jornalista,
que não se intimide diante de uma matéria impossível. Você conseguiu a matéria impossível, Lane.
Vá preparando o vestido de gala, porque esse Pulitzer será seu!”
Perry caminhou até Lois e repousou sua mão no ombro da jornalista, “Você tem um grande futuro
à sua frente, Lane. Vamos fazer acontecer.”
***
Lois saiu da sala de seu editor sem saber exatamente o que lhe iria acontecer a partir dali. Perry
deixou claro que a queria trabalhando para ele, mas que ainda precisava vê-la construindo um
furo de reportagem do zero. Era um desafio que Lois agarrara sem qualquer dúvida, e o levaria até
o fim.
Seu celular vibrou no bolso de sua calça e ela atendeu ainda na agitação dos porões do Daily
Planet. Sabia quem era sem mesmo olhar o número.
“Hei, Smallville...”
“Me encontre no topo. Agora.”
Lois desligou com um sorriso e seguiu em direção ao elevador. Em menos de 2 minutos, surgiu no
terraço no Daily Planet, onde Clark estava parado a observar o movimento de Metrópolis ao
nascer do pôr-do-sol. Não estava como Clark Kent, no entanto. Vestia a jaqueta vermelha junto ao
azul de seus trajes. Era o herói.
“Ok... Você precisa de um disfarce melhor, sabe?” Lois comentou se aproximando de Clark. Ele se
voltou para ela e sorriu diante da mulher que fazia tudo valer a pena.
“Aqui estamos nós de novo... Mas desta vez, eu estou por completo, Lois”
“Você sempre esteve completo, Smallville. Eu só não podia ver... Mas podia sentir, não podia?”
“Há algo mais que quero que sinta” Ele caminhou até ela e a segurou pela cintura.
“Você não vai voar de novo, vai? Porque você parecia meio iniciante na coisa hoje de manhã”
“Eu tentei algumas vezes durante o dia, mas não deu certo...”
“Só precisa de um pouco de treino, Smallville” Lois passou a mão pelo peito dele, alisando-o, “Ao
menos sabemos como puxar o gatilho agora...”
Clark depositou um beijo gentilmente nos lábios de Lois e a firmou pela cintura mais uma vez.
“Até que eu possa voar, ainda há algo que eu consigo fazer.”
“O quê?” Lois questionou curiosa e excitada ao mesmo tempo.
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Clark a encarou convicto de que era o homem mais feliz do mundo e caminhou com ela para perto
da porta do terraço. Correu então, praticamente tirando Lois do chão, e saltou no telhado com
uma impulsão maior do que qualquer máquina seria capaz de gerar. Lançou-se nos céus com Lois,
que olhava admirada para a vista que corria seus olhos de uma altura impensável.
Fundo em sua alma, compreendeu o que Clark a fizera sentir. Era mágico. Simplesmente mágico.
***
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Capítulo 11
“Não acredito que a gente fez isso” disse Clark lambendo os beiços.
Ele e Lois estavam sentados no chão da cozinha, encostados na geladeira aberta. Vestidos em
robes, experimentavam uma série de guloseimas espalhadas em volta dos dois. Uma taça de
sorvete pela metade e um pote spray de chantilly mostravam um pouco do que eles estavam
aprontando desde altas horas da madrugada.
“Foi sua culpa, eu só vim aqui beber um pouco d’água!” Lois se defendeu mordiscando um pedaço
de morango. “Além do mais, você tinha segundas intenções...”
“Eu?” Clark a olhou sem entender.
“Sim, Smallville. Eu nunca tinha visto chantilly na geladeira antes...”
“Mas você precisa confessar que é gostoso...” Ele sorriu traquinamente e pegou o spray
novamente. Espirrou um pouco na altura do peito de Lois, exposto pelo roupão entreaberto.
Desceu a boca até o local lambendo o chantilly, para o desespero da jornalista.
“Sim, é muito gostoso...” ela fechou os olhos e se deixou arrebatar. Clark então subiu pelo corpo
dela, deixando pingar um pouco na ponta do nariz. Lois brincou tentando levar a língua até o local,
e Clark ajudou espirrando mais um pouco na língua dela. Lois retraiu a língua e Clark fez um
biquinho contrariado, no que ela apenas respondeu,
“Vem pegar...”
Clark não pensou duas vezes e a beijou, adentrando a boca de Lois com sua língua, sentindo o
gosto do Chantilly misturado ao sabor dela e ao do morango. Lois puxou Clark ainda mais para si
abrindo o robe dele e passando suas unhas por toda a extensão de seu peito. Foi o suficiente que
ele a puxasse para seu colo e iniciasse o ritual de amor que se seguia há dias e noites a fio, desde
que Clark soubera que nada o impedia de amar Lois plenamente. Uma semana já havia se passado
desde a grande revelação, e os dois estavam aproveitando até o último estímulo. Entre suas vidas
no Daily Planet, as missões de Clark como Superman e os preparativos para o casamento de Chloe,
o pouco tempo que lhes sobravam era preenchido com o mais puro e grandioso amor. Desde uma
grande noite à luz de velas a uma pequena maratona de sexo no chão da cozinha em meio a uma
série de guloseimas, tanto Lois como Clark precisavam assumir que viam um no outro grandes
amantes. O que só tornava tudo mais delicioso e *____*.
***
Aquele, entretanto, não era um dia qualquer, mas a véspera do casamento de Chloe. Lois e Clark
estavam na corrida para fazer da festa o evento mais perfeito possível, o que não era fácil diante
de tanto trabalho. Para Clark, a vida de Superman havia se tornado um desafio muito maior desde
sua entrevista para o Daily Planet. A cidade dobrara os esforços para conseguir uma fotos, uma
outra exclusiva, qualquer coisa que expusesse ainda mais o homem de aço. Para Lois, a
repercussão de sua super entrevista fez com que o jornal exigisse muito mais dela, o que era
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maravilhoso. No entanto, sentia que sua matéria sobre um contrabandista de armas andava
abandonada com tantas coisas a decidir e finalizar. Precisava de ajuda com tudo aquilo.
Horas após os momentos tórridos de amor, os dois estavam de volta à cozinha, mas desta vez,
prontos para o trabalho. Lois passava a lista de detalhes do casamento e ligava para o buffet
enquanto Clark finalizava uma pequena matéria para o DP no laptop. Uma cena que havia se
tornado comum na fazenda Kent.
“Oh, ótimo, o buffet disse que tiveram problemas com o bolo...” Lois disse desligando o telefone
“Se não houver bolo amanhã, terei que me fantasiar de um.”
“Eu comeria com prazer” Clark respondeu quase inconscientemente sem tirar os olhos do laptop.
Lois o encarou com um olhar de “engraçadinho” e voltou para a lista.
“As flores vão chegar no início da manhã, mas precisamos terminar de arrumar os encaixes no
celeiro, além da parte laranja dos arranjos que só chegaram ontem de noite. E ainda tem as
cadeiras para limpar, varrer tudo de novo, ajeitar aquele problema em um dos tripés para a área
do altar...”
“Eu posso fazer isso.” Clark respondeu desta vez olhando para ela.
“Não, você está ocupado. Eu chamei reforços...”
“Reforços?”
“Algumas amigas que virão para a despedida de solteiro, aproveitei e as chamei para dar uma
mãozinha...”
“E o que pretende para a despedida de solteiro?” Clark mostrou interesse ao saber que tudo ficara
a cargo da mente criativa de Lois.
“Ah, sabe como o é... Homens nus, muita cachaça... O básico”
A idéia não agradava muito a Clark, mas sabia que era uma briga perdida. Além do mais, tinha
total segurança em seu relacionamento com Lois. O único homem de quem poderia ter ciúmes,
por acaso era seu alter-ego. Tornava as coisas infinitamente mais fáceis...
“E você e Oliver, o que estão aprontando para Jimmy?” questionou Lois o observando ao tempo
em que mordiscava a tampa da caneta.
“Ah, nada demais.. Ace of Clubs, algumas stripers... O básico”
Pelo olhar que Lois direcionou a Clark, era melhor que ele estivesse brincando. Aparentemente,
ela não compartilhava da segurança que ele tinha em relação a ela. Talvez, lá no fundo, ela tivesse
total confiança nele, mas na superfície não era bem isso que ficava em evidência.
Os dois continuaram a trocar provocações por meio do olhar por um bom tempo, mas foram
interrompidos por um fritar de pneus do lado de fora. Lois deu um largo sorriso,
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“Chegaram!” ela disse serelepe enquanto corria para fora. Clark a seguiu e olhou surpreso para a
loucura que estava prestes a se desenhar em sua fazenda.
Um Audi vermelho de capô aberto freou bem na entrada da casa trazendo seis mulheres que se
sacudiam loucamente dentro do carro ao som de alguma banda de rock. Lois desceu os degraus na
direção do carro enquanto as garotas que estavam no banco de trás pularam para fora elétricas.
“Tia Looooo!!!!!” Manu gritou correndo na direção dela, juntamente com as outras loucas.
“Manu!!!” Lois gritou abraçando-a, assim como as demais, “Laud, Sol, Fal!! Que bom que vieram!”
“YAY!” berrou Carol sorridente saltando do banco do carona, enquanto lançava os óculos escuros
para o alto da cabeça, “A máfia ta na área!!”
“Carol!” Lois a abraçou feliz, “Há quanto tempo, criatura! Onde se meteu?”
“Facu de medicina anda me quebrando, mas tirei uns dias para curtir com nossa máfia!”
“A gente teve que arrancar ela a força do dormitório...” entregou Sol, no que levou um peteleco
de Manu.
“E porque demoraram tanto?”
“A gente se perdeu...” Laud disse se lembrando dos momentos de desespero em meio ao nada,
“CCF errou o caminho no mapa e a gente foi parar em um milharal sem saída”
“Culpa da Manu que me entregou o mapa de cabeça para baixo!” se defendeu Carol.
“Como é? Não tenho culpa se confundi Despedida de solteira com Las Vegas, la la”
“O importante é que conseguimos chegar sãs e salvas, apesar da Barbs” comentou Fal aliviada.
“Apesar?” Lois perguntou curiosa olhando na direção do carro.
“Ela veio do aeroporto até aqui achando que estávamos em algum tipo de Rally, devo ter tido uns
sete filhos no caminho” Laud respondeu.
“Nem fale, ainda estou esperando meus órgãos voltarem para o lugar” completou Sol.
A criatura de cabelos castanhos longos e óculos escuros que dirigia deu um largo sorriso ao ver
Lois e saiu do carro.
“Se estão reclamando da forma que eu dirijo, precisam urgentemente dar uma voltinha com
você...” Barbarella disse abraçando a amiga, “Como está?”
“Super feliz que vocês estão aqui... Onde estão as outras?”
“Perderam o vôo, mas vão chegar a tempo da festa.” Barbarella respondeu. “E a vítima, onde
está?”
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“No Talon. Faremos nossa farra lá...” Lois voltou-se para Clark, que observava aquele bando de
mulheres em frente à sua casa enquanto um certo filme lhe vinha à mente. “Quero que
conheçam... Clark Kent. Estas são Laud, Manu, Solar, Fal, Carol e Barbarella.”
“Pai eterno, de onde saiu esse Adônis?” cochichou Sol com Laud, mas esta estava ocupada demais
babando.
“Prazer” Clark disse cumprimentando as meninas. “De onde se conhecem?”
“Oh, tempos de colégio, faculdade, daqui, dali... De todo lugar!” Lois disse sem entrar em
detalhes, seria muito difícil explicar.
“Faculdade?” Clark indagou curioso pensando no pouquíssimo tempo em que Lois de fato passou
por lá.
“Claro... Fomos expulsas juntas de lá” Barbarella comentou tirando os óculos com total
naturalidade.
“E então, o que temos para fazer?” Perguntou Carol olhando em volta pela fazenda. “Na boa, esse
lugar parece cenário de série de TV...”
“Ainda há muito a fazer, e vocês darão uma super força!” Lois olhou na direção do celeiro,
mostrando para onde iriam.
“Para isso estamos aqui!” disse Fal contente, “Mas não teremos que mexer com vacas nem cabras
nem jiboias, não é?”
“Ainda não...” Lois respondeu, no que Clark se viu altamente tímido e se voltou para todas,
“Bem, vou deixá-las à vontade” ele então se aproximou de Lois, dando-lhe um rápido beijo, “Te
vejo mais tarde, ok?”
“Ok” Lois disse com um grande sorriso e Clark entrou de volta na fazenda a fim de pegar suas
coisas. As meninas acompanharam o andar dele para dentro da fazenda e voltaram-se para Lois.
“Minha filha, que pedaço, hein?” Disse Manu admirada com o bonitão.
“Pedaço não, esse é inteiro!” completou Laud suspirando, “Me lembra meu Tonhão...”
“Se armou, Lo! Deus devia estar banguelando quando criou esse...” Carol comentou contente em
ver que a amiga parecia amarrada enfim.
“Fato! E ainda tem o, como se chama mesmo, Superman? Que entrevista foi aquela?” perguntou
Barbs excitada.
“Você passou mesmo a noite com ele?” perguntou Sol, no que Fal emendou,
“Ele é totalmente funcional? É casado? Tem namorada?”
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E assim as garotas seguiram na direção do celeiro, com mil questionamentos sobre o misterioso
super-herói. Clark tinha mesmo razão a respeito do filme. Era de fato uma gaiola de loucas...
***
O resto do dia foi uma loucura só. A equipe que chegara para auxiliar na arrumação do celeiro
conseguiu bagunça-lo ainda mais, e somente ao final da tarde concluíram enfim a organização.
Manu era de longe a mais insana, assediando os garçons que preparavam a cozinha para receber o
buffet, mas quem deixou a todos preocupados foi a Sol pela seqüência inacreditável de incidentes
no qual se envolveu. Desde se enrolar (e se amordaçar) em um conjunto de pisca-piscas até
montar em um cavalo desgovernado e ir parar no meio do milharal, aconteceu de tudo para essa.
Até mesmo Lois se surpreendeu, aquilo era além dos seus padrões. Carol, Barbs e Fal apenas se
divertiam com a situação, ao tempo em que procuravam no livro do ano de Clark largado no
segundo andar do celeiro por um namorado para Laud.
“Lo, esse aqui vai estar na festa?” Carol berrou apontando para a foto de um moreno forte
vestindo a camisa do time de futebol.
“Eu não sei, nunca fui muito fã da trupe Smallville High...” Lois disse largando um dos enfeites
sobre a mesa e se aproximando das meninas.
“Então o que está fazendo com o capitão do time deles?” questionou Fal provocativa.
“Smallville é diferente. As coisas mudaram quando passamos a trabalhar juntos, mas nessa época
daí, nos odiávamos”
“Sério?” comentou Barbs olhando uma das fotos dele, “A forma como ele olha para você, é como
se te amasse desde sempre”
“Ele não tem ciúmes dessa coisa toda de Superman?” perguntou Carol. “Meu Eduzinho ficaria
doido...”
“Bem...” Lois não sabia como responder àquela pergunta, por razões óbvias, “Ele mesmo me
incentivou a correr atrás dessa notícia. Ele é repórter também, ele sabe a importância do nosso
trabalho. Quando chegamos em casa, apenas rimos de tudo”
“E eu morreria com um sorriso daquele, amiga...”, suspirou Fal, acompanhada por Barbs e Carol.
Laud surgiu com Manu e Sol, que usava um curativo na mão.
“E então, encontraram?” Lois perguntou às meninas.
“A gente achou uma farmácia, mas tivemos que dar a volta... Um doido cismou com a Sol e correu
atrás dela”
As quatro que estavam no celeiro olharam para Sol surpresas, mas ela nem se abalou.
“Eu tenho um x na testa, só pode... Mas a gente só demorou porque a Manu queria cumprimentar
todos os caras que encontrávamos no caminho!”
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“Até parece, nem tem tanto homem bonito nesse fim de mundo, fiu!”
“Bem...” Lois se levantou do encosto do sofá, altamente sorridente, “O que importa
chegaram. Assim podemos sair para raptar Chloe e fazer nossa farra particular!”
é
que
Carol, Barbs e Fal pularam do sofá na mesma hora, quase em uníssono,
“YAY, vamos lá!”
Smallville seria um antro de perdição naquela noite.
***
No Ace of Clubs, Oliver fechara o lugar para uma festinha particular. Um monte de mulheres
seminuas dançando em torno de Jimmy enquanto ele, A.C., Clark e companhia provocavam o
noivo de Chloe a perder o controle. O lugar estava cheio de amigos de Jimmy, a maioria do Daily
Planet, além de outros novos conhecidos de Smallville.
“Vamos lá, Jimmy! É a sua vez, cara! Solta a franga!” berrou um dos amigos enquanto outros dois
amarravam ele a uma cadeira. Puseram uma venda sobre ele e chamaram uma das dançarinas
para fazer um número particular. A dança do colo dela em cima de Jimmy sem dúvida deixou-o
nervoso, e os caras berravam excitados em puro êxtase.
Clark se afastou um pouco do centro da animação e caminhou até a varanda. Olhou para aquela
Metropolis imensa à noite pensando nas transformações pelas quais passara sua vida. Não podia
se sentir melhor do que se sentia. Era como um sonho.
Oliver se aproximou com uma garrafa de cerveja e parou ao lado do amigo.
“É linda, não é?”
“Sim, é uma bela cidade...”
“Me referia à dançarina...” brincou Oliver. Clark sorriu para ele e voltou a olhar para os prédios de
Metropolis.
“E então, como anda a vida de casado?”
“Casado?” Clark questionou sem entender exatamente.
“Com Lois..”
“Não é bem assim... Nós nos damos muito bem. É incrível morar com ela. Estar com ela.”
“Claro, vocês já brigaram tanto que agora só restaram as coisas boas!”
Clark sorriu mais uma vez, concordando com o Arqueiro. Embora Oliver tivesse bebendo bastante
naquela noite, tinha isso na cabeça de forma muito lúcida:
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“Sabe... Vendo vocês dois juntos.. Eu me pergunto como levou tanto tempo para se encontrarem.
Vocês parecem nascidos um para o outro. E agora, ela sabe exatamente quem você é. Não pode
haver coisa melhor no mundo, ser amado verdadeiramente por quem a gente ama.”
Clark ouviu as palavras de Oliver certo de que ele estava certo. O loiro sorriu para o amigo e
retornou para dentro do Ace. Clark, contudo, permaneceu do lado de fora, imaginando o que Lois
estaria fazendo àquela hora...
***
“I NEED A HERO!!” berrou Lois com um copo de cachaça na mão, brindando com a garrafa da
Barbarella, que dançava ao seu lado. A música de Bonnie Tylor tocava a máxima altura no Talon e
as mulheres se esbaldavam dançando ao lado dos strippers contratados para a despedida de
solteiro da Chloe. Esta estava sentada com um chapéu de mago na cabeça, juntamente a Laud e
Fal que observavam suas amigas se acabando na pista de dança.
“I’m holding out for a hero til the end of the night!!!” cantavam Carol, Manu e Sol, se unindo a Lois
e Barbs, mais outras amigas da Chloe. Luzes de discoteca davam o clima ao lugar e um dos caras
de aproximou das meninas, somente de sunga, pegando Carol por trás e embalando-a no ritmo da
música. Um outro a pegou pela frente e fizeram o sanduíche básico, arrancando gritos animados
da mulherada.
“Jesus, ME ABANA!” berrou Carol ainda espremida em meio aos músculos dos dois caras. Manu
também começou a dançar com um super moreno de sunga vermelha, o qual tinha um suntuoso
volume, e Sol se acabava com um outro gatérrimo que parecia estar afim dela.
Chloe se divertia ao máximo, e Lois correu na direção dela pulando no sofá de honra. Encaixou-se
entre Laud e Chloe, dando um abraço na prima.
“E então, o que está achando?” Ela perguntou sorridente e a julgar pela cara de Chloe, ela estava
mesmo se divertindo.
“Vocês sabem como dar uma festa, Lois, preciso admitir!”
“FATO” completou Laud se levantando, “Agora eu vou dançar com aquele bonitão ali!”
“Espera, também vou!” disse Fal se levantando junto, “Mas com o loirão do mastro!”
As meninas seguiram para a pista de dança, deixando Lois e Chloe sozinhas.
“Aww, a essa hora amanhã você está casada e serelepe!” Lois comentou emocionada.
“É verdade... Obrigada, Lois, por tudo!”
“Imagina.. Eu estou tão feliz por você!”
“Bem.. Depois que eu me casar... Vou ficar esperando por uma certa prima juntar as escovas de
dente também...”
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Lois olhou surpresa para Chloe, “Eu? Por favor...” Ela não sabia nem o que dizer. Nunca havia
pensado nisso, ao menos não como clara possibilidade.
“Eu não disse nada!” Chloe berrou ao ver que a pergunta mexera com Lois. Não teve chance de
dizer mais nada, pois foi arrancada do sofá pela Manu e pela Barbs.
“Hora de dançar, vamos!”
Chloe seguiu para a pista de dança e Lois ficou a observá-la, pensativa. Foi então que sentiu seu
celular vibrando no bolso da calça. Puxou o aparelho e viu que tinha uma mensagem:
“Apenas me chame, onde estiver.”
Lois sorriu e caminhou até a saída dos fundos do Talon. Parou na rua deserta, o som da festa agora
parecendo distante. Olhou para a noite estrelada e para os lados, estava completamente sozinha.
“... Clark?”
Ela o chamou e parou a esperar, até que sentiu um vento intenso carrega-la para longe dali.
Quando sentiu seus pés no chão novamente, não estava mais no Talon, nem mesmo em Smallville
ou Metrópolis. Mas estava nos braços dele.
Lois olhou em volta e percebeu que estava em algum lugar alto. Podia ver lá embaixo o mar, e
prédios ao longe no que parecia ser... Manhattan? Lois olhou para Clark ao seu lado e para o lugar
onde estavam. O parapeito de metal era circular, e ao olhar para o seu lado esquerdo abaixo, Lois
percebeu uma gigante coroa de cimento complementar a construção.
Estavam na tocha da Estátua da Liberdade.
Lois sorriu intensamente, e Clark a abraçou por trás enquanto admiravam a vista.
“Desculpe por raptar você da festa de suas amigas”
“Não se preocupe, estão tão bêbadas que nem vão reparar que eu sumi!”
“Está com frio?” Ele perguntou ao sentir a pela dela se arrepiar em contato com a dele.
“Não exatamente...” Ela garantiu deixando claro que ele era o pivô de seus arrepios. “É lindo,
Smallville...”
“Sabe, eu pensei que você gostaria de ver o amanhecer de um ponto de vista diferente...” Ele a
envolveu ainda mais em seus braços, no que Lois o segurou alisando-o,
“Você já tinha vindo aqui?”
“Não... Essa é a primeira vez.” Ele disse, e Lois se virou para ele, encantada.
“Bem, Smallville, então é melhor a gente batizar o lugar enquanto o Sol não chega...”
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Clark não podia concordar mais. Aproximou seu rosto do dela e a beijou delicadamente, alisando
seus cabelos. Lois correspondeu com um sorriso feliz enquanto o beijava, abrindo devagar cada
botão de sua camisa.
Eles estavam próximos ao céu, mas se sentiam praticamente lá. Oliver estava certo, afinal.
Não pode haver coisa melhor no mundo.
***
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Capítulo 12
Lois adentrou no primeiro andar do Talon e deu uma leve risada maléfica antes de seguir com o
seu plano. O lugar estava um caos: a farra com certeza entrara pela madrugada, pois havia
mulheres amontoadas pelo chão, dormindo de qualquer jeito. Entre as conhecidas, Sol e uma das
amigas de Chloe dormiam abraçadas à mesma almofada atrás do balcão. Laud e Fal
compartilhavam o sofá com algumas garrafas vazias enquanto Carol ressonava aos pés do mesmo,
cobrindo-se com uma saia que não era a dela. Seus pés faziam cócegas na cara de uma outra
mulher, quem Lois nem mesmo conseguiu identificar. Um pouco adiante, a morena pôde ver
Barbarella, a blusa entreaberta melada de algo que parecia Chantilly.
“Deve haver uma série de frangas na lista de desaparecidos dessa manhã...” Lois disse para si
mesma parando no meio do salão para em seguida puxar um apito do bolso de sua calça preta.
PPPPRRRRRRRRRRRRRRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII!!!!!!!
O apito militar soou alto e forte, fazendo a maior parte da mulherada levantar de sobressalto.
“Acorda, povo!! São 7 horas da manhã e nós temos um casamento para preparar!!!!!”
Lois berrou e soou o apito mais uma vez, acordando as mais resistentes. CCF se mexeu para
debaixo da mesinha de centro, como se ali estivesse protegida da General Lane,
“Ah, não quero! Ta tão bom aqui o soninho...”
Laud e Fal se ergueram derrubando as garrafas que estavam sobre elas. “Aff, to mal aqui...” disse
Laud levando a mão à cabeça, “Alguém anotou o número da placa?”
“Andreas, 29 anos, 1,88 de altura...” disse Fal ajudando a amiga. Junto às escadas, Barbs olhava
em volta fechando a blusa,
“Alguém viu a Manu e a Sol?”
“Srta. x na testa está aqui...” Lois caminhou até o balcão e percebeu que a caçula do grupo ainda
dormia, e parecia dizer alguma coisa em seu sono:
“Oh, isso.. ai, mais pra cá, mais pra cá...”
“Ok, essa vai precisar de um balde gelado” Lois estendeu as sobrancelhas e se voltou para as
amigas, “Gente, vamos lá! Preciso da ajuda de vocês hoje mais do que nunca! Temos um
casamento em algumas horas e eu estou quase enlouquecendo!”
“O que quer de nós, é só dizer que a gente manda ver...” Carol disse se levantando enfim, “Alguém
sabe por que minha calcinha está ao contrário?”
“Ok, então” Lois sacou seu caderninho e uma caneta, olhando para as garotas, “Eu meio que estou
presa em uma matéria para o DP, então terei que me virar em duas hoje. Laud, pega a Manu e vai
buscar o resto do pessoal no aeroporto, o vôo chega às 10h30. Fal e Sol, vocês ficam aqui para
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ajudar a Chloe com os preparativos, etc, ela vai terminar de se vestir lá na fazenda. Carol e Barbs,
vocês vão para a Fazenda adiantar os últimos detalhes no celeiro, eu encontro vocês lá mais tarde.
As meninas confirmaram e Lois subiu as escadas para o segundo andar. Abriu a porta e de cara viu
a Manu dormindo no sofá, somente de lingerie. Chloe estava estirada na cama, e uma gravata
borboleta estava presa ao seu calcanhar.
“Ok, round dois...” Lois riu para apitar mais uma vez, fazendo Manu e Chloe despertarem no ato. “
“Oh meu Deus, Lois?!” Chloe disse com a cara amassada, saindo da cama e cambaleando até Lois,
“Onde você se meteu ontem?”
“Comemorando sua despedida de uma forma super, se é que pode me entender...” ela falou mais
baixo para que a Manu, que se aproximava das duas, não ouvisse.
“Oi, povo, vocês viram minha roupa por aí?” a jovem disse desnorteada de sono.
“Eu não sei do pacote completo, mas Carol parece ter achado uma utilidade noturna para a sua
saia...” Lois respondeu apontando para o andar debaixo.
“Aquela mosquita! Vou matar ela, fatão!” resmungou Manu saindo do lugar. Chloe voltou-se para
Lois,
“Que horas são?”
“Sete, mas não se preocupe, temos tempo de sobra! Eu já dividi tarefas com todo mundo, e tudo
estará pronto na hora para o seu momento maravilhoso!”
Chloe sorriu, sentindo-se empolgada com o dia que estava diante dela. Olhou para a prima ainda
sorridente,
“E você, está indo para a fazenda?”
“Ainda não, eu tenho essa matéria sobre um contrabandista de armas e hoje pela manhã um
informante que eu andava atrás decidiu falar e eu vou encontrá-lo amanhã em Star City... Assim
eu terei o suficiente para escrever a história, tirar meu editor do meu pé, comemorar seu
casamento e ter uma matéria de capa!”
“Soa muito intenso!” Chloe disse surpresa, “Então você vai viajar amanhã?”
“Coisa rápida... Ao contrário de sua lua-de-mel..”
Chloe sorriu, mas o nervosismo estava transparente em seu olhar.
“Lois...”
“Vai dar tudo certo, Chlo. Hoje será perfeito” ela concluiu beijando a testa da prima e envolvendoa num abraço terno, fazendo-a se sentir verdadeiramente bem.
73
***
Em Star City, um homem de barba e cabelos grisalhos caminhava apressadamente para o seu
apartamento. Olhou para os lados antes de adentrar o prédio e subiu as escadas correndo,
aparentemente com medo de algo ou alguém. Sacou as chaves ainda no corredor e abriu a porta
rapidamente, entrando e batendo-a em seguida. O apartamento estava um pouco escuro por
causa das cortinhas fechadas, apenas uma pequena fresta de luz podia ser vista ao leste da
pequena sala. Foi o suficiente para o homem parar com os olhos arregalados:
Havia deixado a cortina aberta ao sair.
Antes mesmo de esboçar qualquer reação, foi atingido por um soco vindo da sua lateral direita.
Caiu sangrando no chão e olhou para o alto, onde um homem alto e forte se estendia sobre ele
com um olhar de nenhum amigo.
“Bom dia, Doug..”
A voz rasgada surgiu à sua frente, mas o dono do apartamento não mostrou surpresa ao ver
aquele homem alto e magro caminhando em sua direção. Apesar da escuridão, podia ver seu
volumoso bigode e o bico de viúva em seus cabelos castanhos que lhe era tão familiar.
“O que quer, Naga?”
“O que eu quero?” o homem de bigode ironizou, sacando um cigarro de sua calça e apontando
para o guarda-costas, que ascendeu rapidamente, “Quero saber por que você está me vendendo,
seu sacana!”
“Eu não fiz nada!” Doug cuspiu um pouco de sangue tentando se erguer, mas o capanga repousou
o pé sobre as costas dele mantendo-o rente ao piso sujo.
“Não? Eu fui muito generoso quando te deixei ir sem pagar as conseqüências, Doug. Mas aí você
me traiu, me vendendo para um jornal barato. Agora eu soube que você entrou em contato com
um jornalista de Metropolis, hun? Quem é ele?”
“Não sei do que está falando.”
“Sei...” Naga fez sinal para o capanga que chutou Doug nas costas com força. O homem urrou de
dor e o capanga segurou o pé sobre a cabeça dele desta vez. “Tem certeza que não sabe?”
Doug se manteve calado, mas um outro capanga surgiu saindo de seu quarto. Trazia nas mãos um
pedaço de papel que entregou a Naga.
“Acho que pode ser isso, Senhor”
Naga pegou o papel e leu. Uma caligrafia terrível, mas os dizeres estavam claros:
Lois Lane, Daily Planet. [email protected].
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“Lois Lane… Não é a repórter que fez aquela matéria sobre o super herói de Metropolis?” Naga
questionou, voltando-se para Doug, “Foi para ela que você me vendeu, hun? O que você disse a
ela?”
Doug não disse mais nada. Sabia que estava acabado. Considerando o que realmente sabia sobre
Naga, era um homem morto.
Naga colocou o papel no bolso e olhou para os capangas, se dirigindo para a saída do
apartamento.
“Limpem esse lixo e depois me encontrem no hangar. Parece que terei que fazer uma escala em
Metropolis antes de irmos para a Colômbia...”
***
Clark parou sua caminhonete próxima a uma banca de revistas e atravessou a rua. Já havia feito
praticamente tudo que ficara sobre seus cuidados, desde pegar o terno dele e de Jimmy a
providenciar mais algumas flores para o celeiro. As coisas pareciam ir muito bem e ele mal podia
acreditar que sua amiga estava mesmo casando. Mas não era bem isso que lhe ocupava a mente
naquele momento.
Acordara com essa idéia fixa na cabeça. Era mais do que um pensamento, na verdade. Era um
sentimento contínuo de que ele precisava fazer aquilo. A noite anterior ao lado de Lois o fez
visualizar um futuro que ele jamais conseguiu vislumbrar antes, e o sorriso dela preenchia cada
centímetro dele.
Clark entrou na joalheria e imediatamente um atendente caminhou em sua direção.
“Bom dia, senhor.. Em que posso ajudá-lo?”
“Bom dia”, Clark disse um pouco nervoso, olhando em volta, “Eu estou atrás de uma joia. Um
anel.”
“Temos muitos, senhor, tenho certeza de que irá gostar de um deles. Mas que tipo de anel?”
“Não, não” Clark se corrigiu caminhando até o centro da loja onde havia um pequeno box de vidro
com as mais belas joias da loja, “Eu estou procurando por um anel específico. Eu já estive aqui
antes, no dia em que o antigo dono foi preso. Ela escolheu o anel, estava aqui”.
Clark apontou para o box de vidro e o atendente tentou acompanhar o raciocínio dele.
“Muitas peças foram vendidas desde aquele dia, senhor, ou transferidas para nossa filial em Star
City. E se ela estava neste box, era uma peça exclusiva...”
“Deve estar em outro lugar então” Clark disse tentando não acreditar que a peça havia sido
vendida.
“Temos outros aneis de noivado que o senhor pode gostar também..”
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“Não, tem que ser aquele, ela colocou no dedo, ela adorou aquele anel... Por favor!”
O atendente percebeu que aquele homem não aceitaria um não como resposta. Não porque
aparentasse ser persuasivo ou teimoso. Simplesmente porque pôde ver em seu olhar o quão
apaixonado ele estava...
***
De volta à fazenda, Lois sentou com o pessoal do buffet para encerrar os últimos detalhes da
recepção. Fez inúmeras ligações para o pessoal do som que ainda não havia chegado, além de
verificar se o pessoal no Talon estava dentro do horário. Aproveitou para comprar sua passagem
para Star City e reservar um hotel para uma noite. Por mais incrível que pudesse parecer, tudo
parecia estar dando certo, e ela nem sentia mais o nervosismo de dias antes. Sentou-se em um
dos bancos da cozinha e mordiscou um pequeno doce de morango enquanto riscava de sua lista o
que já havia conseguido dar conta. Sorriu feliz. Havia conseguido preparar uma super festa para
sua prima e nada a poderia deixá-la mais feliz. Ao menos, era o que ela achava.
Lois não percebeu Clark parado junto à porta da cozinha a observá-la. Ele repousou seus olhos
sobre ela como se não houvesse mais nada naquele espaço além dela. Observou-a morder o doce
suavemente, voltar sua atenção para o bloco de notas enquanto cruzava as pernas. Distraída com
o mundo real, era ainda mais adorável. Só fazia Clark pensar que valera a pena todo o esforço que
fizera.
Não havia mais ninguém na cozinha amarrotada de comida e Clark deu um fino assopro na direção
de Lois. Estava a cerca de três metros dela e aquilo chegou até ela como uma leve brisa, agitando
seus cabelos o suficiente para chamar sua atenção. Lois olhou na direção da porta e sorriu ao vê-lo
parado ali, olhando para ela. Por um momento não disseram nada, apenas namoraram a distância
por meio do olhar.
“Eu sabia que uma brisa tão suave e gostosa só poderia ter vindo de você...” Ela quebrou o
silêncio, girando um pouco no banco para que ficasse de frente para ele.
Clark tomou um pouco de ar e assoprou de novo, tão delicado como o primeiro. Lois fechou os
olhos ao sentir aquela carícia à distância eriçando a sua pele, uma brincadeira que só ela poderia
ter o prazer de vivenciar. Era incrível como desde que soubera do segredo de Clark, ele sempre
procurava uma forma de usar seus poderes com ela, nem que fosse para acariciar-lhe com o
vento. Poder ser ele mesmo o deixava radiante, e a forma como Lois aceitava aquilo o fazia ainda
mais seguro e feliz.
Clark caminhou na direção de Lois e ela ofereceu o pedaço do doce que estava comendo. Ele abriu
os lábios, deixando que ela colocasse o doce em sua boca. Mordeu de forma prazerosa, era
realmente gostoso.
“Onde está todo mundo?” ele perguntou olhando em volta.
“Por aí..” ela disse mordendo outro doce.
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Antes mesmo de Lois se dar conta, Clark a levantou do banco com uma única mão e sentou ele
mesmo na peça de madeira. Lois preparou um pequeno protesto, mas desistiu no momento em
que Clark a trouxe para seu colo, beijando-a romanticamente. Eles sorriram um para o outro, mas
Lois percebeu que havia algo diferente em Clark.
“O que foi?” Ela perguntou cruzando as pernas tal como estava no banco, só que agora sentada no
colo dele.
“O quê?” Ele perguntou sorrindo descaradamente para ela.
“Você está super feliz.. Quer dizer, depois da última noite, eu sei que você tem muitos motivos
para estar todo sorridente, eu certamente tenho...” Ela sorri pensando nos momentos que passara
com ele, “... mas você está mais serelepe do que o normal”
Ele deu um beijo na bochecha dela em resposta, realmente estava feliz e sorridente além do
normal. Mal podia conter tanta excitação em si próprio. Lois não podia ver da forma como estava
sentada, mas Clark levara sua mão esquerda ao bolso de sua calça. Passou a mão na pequena
caixa de veludo que ali se encontrava e teve vontade de sacar ali mesmo, perante aquele
momento perfeito. Mas acabou por decidir esperar. Tinha que ser mais do que especial.
“Clark?...” Lois insistiu curiosa, mas ele conteve a vontade de fazer o que tanto queria.
“Tem gente vindo...” Ele disse e ela sabia que poderia tanto ser alguém na porta da sala como na
rodovia. A super audição de Clark tinha dessas coisas.
Lois desceu do colo dele ao ver Barbs e Carol adentrando a cozinha.
“Ooops, não queríamos estragar o momento do casal..” comentou Barbs sorrindo. “Chloe já
chegou, vamos ajudar ela a se arrumar”
“Yeap, e o celeiro já está um luxo!” completou Carol.
“Ok, então...” Lois seguiu na direção das meninas, “Eu vou ver se ela precisa de alguma coisa”
Virou-se para Clark e depositou um beijo em seus lábios, “Depois terminamos essa conversa, Mr.
Misterioso”
Clark sorriu, observando Lois subir as escadas. Levantou ao ouvir a campainha, mas Carol estava
mais próxima da porta e abriu.
“Olá...” Disse a jovem mulher de olhos claros e cabelos negros, “O Clark está?”
“Sim”, respondeu Carol dando sinal para que ela entrasse. A mulher entrou e parou ao ver Clark,
que fez o mesmo. Ele mal podia acreditar no que estava acontecendo.
“Lana?”
Carol e Barbs entreolharam-se discretamente.
“Quem é essa tripa seca?” questionou Carol ao pé do ouvido da amiga.
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“Não sei..” Barbs respondeu igual, “Mas seja lá quem for, cheira a problema.”
E dos grandes.
***
78
Capítulo 13
A conversação na sala fez com que Lois descesse novamente, e ela acabou se perguntando por
que exatamente o fizera. Dar de cara com Lana Lang trazia-lhe uma sensação estranha no peito,
embora não tivesse nada contra ela. É claro que aquilo não tinha nada a ver com ela própria ou a
Lana, mas com Clark. Lois se recordava bem das condições nas quais Clark e Lana haviam se
separado, e se ela sentia questões inacabadas a respeito, imagina então como Clark estaria se
sentido.
O fazendeiro, por sua vez, estava visivelmente desconfortável diante daquela situação. Depois de
todos aqueles meses, ela estava ali, diante dele. O olhava como se temesse dizer qualquer coisa
que remetesse ao dia em que foi embora. E para completar, não estavam sozinhos. Além de Lois,
ainda estavam presentes Carol e Barbs, e elas pareciam tentar compreender o que estava
acontecendo exatamente naquele recinto tenso.
Lana não demorou a perceber que Clark e Lois estavam romanticamente envolvidos, tudo o que
bastou foi o olhar dele para a morena no momento em que ela surgiu na sala. Ele parecia
preocupado com o que Lois iria pensar. Lana entendeu ali que realmente muita coisa havia
mudado desde o dia em que gravou aquele cd para Clark.
“Então você morava aqui em Smallville?” comentou Barbarella, engatada em uma pseudoconversa com Lana procurando quebrar o clima estranho que pairava no ar. “Por que foi
embora?”
É, por que foi embora, se perguntou Clark observando a ex. Aquela era uma pergunta que jamais
teria uma boa resposta, não considerando tudo o que eles enfrentaram juntos.
“Eu... Precisava de um tempo para compreender umas coisas...” Lana respondeu olhando para
Barbs, mas a resposta não era para ela.
“Eu espero que tenha compreendido”, soltou Clark arisco, mas disfarçando quase sarcasticamente
com o olhar. Aquilo estava abrindo velhas feridas, das quais ele se achou imune por muito tempo.
“Sim... Foi importante para mim”, Lana concluiu. Olhou para Lois mais uma vez, que estava
sentada no braço do sofá próxima a Clark, de frente para ela, enquanto Barbs e Carol ocupavam
duas cadeiras próximas.
“Bem, foi um prazer conhecê-la, Lana” Barbs se levantou primeiro cumprimentando-a, “Chloe vai
ficar muito feliz em te ver...”
“É, nós temos que ir agora, ainda vamos nos arrumar” Carol emendou levantando também e se
voltou para Lois e Clark, “Aliás, vocês deveriam adiantar o lado de vocês também, o padrinho e a
madrinha não podem se atrasar!”
“Verdade”, Lois deu uma leve espreguiçada no sofá, levantando assim como Lana e Clark. “Nos
vemos mais tarde, Lana” e saiu em direção às sacadas novamente.
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Com todos indo embora, Lana viu a oportunidade de conversar a sós com Clark, mas Barbs se
adiantou ao momento, fazendo-lhe um convite:
“Você está de carro? Nós estamos indo para o Talon, você disse que voltaria para lá... Se quiser,
nós te deixamos lá.”
“Boa idéia”, disse Clark sem dar chance para Lana negar o convite. Encarando Clark, ela apenas
confirmou que aceitaria a carona e seguiu na direção das meninas.
“Ok, então vamos!” Carol disse animada. Olhou para Lois nas escadas, para Clark e voltou-se para
Lana, “Se a gente não põe pressa nesses dois, ainda estariam se agarrando na cozinha!”
Tanto Barbs como Carol sorriram, mas Lana não conseguia achar tanta graça. Smallville não era
mais a mesma, sem sombra de dúvida...
***
Lois chegou ao quarto já tirando a blusa e jogando-a sobre a cama. Um mundo de coisas passava
pela sua cabeça naquele momento, mas queria ver Clark, saber como ele estava se sentindo.
Clark entrou no quarto poucos instantes depois, sério e confuso. Olhou para Lois e deu um sorriso
um tanto sem graça, ele não sabia o que dizer a ela. Lois, da mesma forma, não sabia o que dizer a
ele. Clark tirou a camisa rapidamente e começou a abrir o cinto. Lois caminhou até ele, ajudando-o
com o cinto.
“Você está bem?” ela perguntou preocupada com o silêncio dele.
“Eu me sinto estranho”, ele confessou sabendo que era o melhor a fazer. “Não imaginava que ela
fosse aparecer aqui.”
“É o casamento da melhor amiga dela”, Lois procurou lembra-lo para amenizar a situação, “Chloe
ficará muito feliz.”
“Verdade” ele disse procurando sorrir novamente. Encarou Lois e perdeu-se naqueles olhos
vibrantes e dóceis. Ainda mais por sentir a mão de Lois em sua calça, entreabrindo-a.
“Melhor você tomar seu banho primeiro...” Lois o fitou provocativa, subindo a mão pelo peito
dele.
“É mais justo que tomemos juntos...”, ele a fitou de cima a baixo, segurando-a pelos ombros.
Inclinou-se sobre ela e começou a beijar seu pescoço enquanto deslizava a alça do sutiã pelo braço
dela. Lois fechou os olhos, pensando em se deixar levar, mas o mínimo tocar de Clark em seu
corpo a deixava excitada para além da conta. Envolveu-o pelo pescoço e chamou a boca dele para
a sua, beijando-o enquanto o puxava em direção ao banheiro...
***
Depois de alguns alucinantes minutos, Barbs e Carol enfim chegaram com Lana naquilo que um dia
fora o Talon, mas àquela altura, mais parecia um quartel general de mulheres ensandecidas. Manu
80
e Laud já haviam chegado com o resto da gangue: Nannie, Kyla, Dry, Lu, Dani, Lou, Lere, Pri, Thay,
Bruna, Jô, Jubs e mais toda a galera da Totally University e do CCD Club. O lugar soava como os
bastidores de um grande desfile de moda, com as garotas circulando semi-nuas, maquiando umas
as outras, esgotando algumas garrafas de champagne e ouvindo música nas alturas.
“Hei!!!” Barbs e Carol gritaram histéricas ao reencontrar o resto do pessoal.
“Hei, Gurias”, disse Danu se adiantando à elas, juntamente com a Nannie, que estava com os
cabelos socados de bobs.
“Finalmente chegaram!”
“Pessoal, essa é a Lana” Apresentou Barbs com um sorriso sarcástico, “Amigona da Chloe”
“Hei, como vai?”, Dry foi a primeira a cumprimentar, trazendo na outra mão uma chapinha,
“Amiga de Chloe é nossa amiga também!”
“Não conte muito com isso”, CCF disse entre os dentes enquanto sorria para as amigas.
“É um prazer, meninas” Lana disse sorrindo, mas podia-se perceber que ela estava pouco
animada. “Eu vou subir para me trocar”
“Ok”, Barbs a observou subir com uma pequena maleta. As meninas também a fitaram curiosa até
que ela sumiu de vista. Voltaram-se para Carol e Barbs,
“Quem é essa?” Perguntou Jubs imediatamente.
“Problema, isso que ela é” Carol se adiantou irritada, “Acredita que ela é ex do atual namorado da
Lois? Ao que parece, ela largou ele há alguns meses!”
“Ex do deus grego?” questionou Lau também compreendendo o pouco humor da amiga, “E o que
ela veio fazer aqui?”
“O que acha que ela veio fazer, estragar o momento clois, é claro”, colocou Barbs.
“Clois?” a maior parte das meninas não compreendeu direito do que se tratava, mas Fal se
adiantou na explicação,
“É como nós chamamos Clark e Lois, Clois... Vocês precisam ver, eles são fofos juntos!”
“Ok, então...” Luana disse tentando não borrar a maquiagem que fazia em Pri, “Não podemos
deixar ela fazer isso!”
“Oh, é aí que entra o nosso plano...” Carol disse trocando um olhar com Barbs. Era óbvio que as
duas estavam pensando em alguma malvadeza.
“Que plano?” Lere pareceu interessada no rumo da conversa, “Estou aqui para defender o
legado!”
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“Então melhor preparar a munição, amore” Barbs respondeu com um sorriso maligno, “Por que se
os noivos terão uma lua de mel, esse hashi de porco vai saber o que é ter uma de fel...”
***
“Smallville, vamos, chop-chop, a gente não pode ter um casamento sem a escolta para levar a
noiva..” Lois berrou descendo as escadas quando deu de cara com Clark, que vinha da sala de
estar.
Clark parou diante das escadas e olhou para Lois. Ela vestia um suntuoso vestido laranja, com um
arranjo em laço que rodeava sua cintura, caindo-lhe pelo resto do vestido. Seus cabelos,
parcialmente presos, deixavam o pescoço e os ombros à mostra. Na mão esquerda, seu
inseparável bloco de notas. Ele a fitou boquiaberto, ela estava simplesmente divina.
Lois não fez diferente. Parou a poucos degraus no chão apenas a observar aquele pedaço de mau
caminho a olhá-la com o olhar mais amável do mundo. Incorporado em um terno preto de costura
impecável, estava maravilhoso. Lois não soube o que dizer, não encontrou palavras que pudessem
expressar o quão adorável Clark parecia ali, naquele pequeno espaço do hall.
No entanto, uma coisa estava clara na forma como os dois se olharam. Era como se naquele
pequeno instante de espaço-tempo, estivessem se apaixonando um pelo outro mais uma vez. Era
o meio e o reinício, era o fim de uma paixão especial para o início de algo mais grandioso ainda.
De repente, tudo parecia fazer sentido.
“Parece que você está pronto...”, Lois disse despertando do transe.
“Eu tenho tudo sob controle, exceto por essas abotoaduras, eram do meu pai e eu nunca as
coloquei antes”, ele disse tentando abotoar o pulso. Pela forma como movimentava suas mãos,
parecia mesmo ser uma tarefa difícil. Aquilo divertiu Lois.
“Eu imagino que você não tenha muita necessidade de abotoaduras quando tem um armário
cheio de blusas de flanela, não é, fazendeiro?” Ela desceu os degraus devagar e parou diante dele
colocando seu bloco de notas sob as axilas, firmando-o entre o busto e o braço. “Garotão da
cidade, deixa eu te ensinar uma lição...”
Lois se colocou junto a Clark e ele apenas parou a observá-la enquanto ela mesma abotoava o
pulso de sua camisa, de uma forma adoravelmente simples. Clark a fitou por um longo instante
enquanto ela explicava passo a passo o segredo das abotoaduras.
“Você só precisa ter certeza que ela parte está rente com a outra e então, deslizar para dentro...”
Aquilo soou extremamente erótico e Lois sequer teve coragem de olhar para Clark naquele
momento. Não por ter tido o que disse, não era fora dos moldes dos dois terem bastante pimenta
no molho. Porém, Lois sentiu o olhar de Clark sobre o seu corpo como nunca sentira antes.
Aqueles olhos fitando-a por trás, eram quase como se pudessem tocá-la.
82
Clark desceu o olhar dos cabelos castanhos para o pescoço nu, concentrando-se naquela curva
que ele conhecia como ninguém. Olhou para o rosto dela enfim, percebendo-a tímida diante de
sua presença. Seus lábios entreabertos eram um sinal para Clark que ela estava prestes a
hiperventilar, tudo o que ele precisava fazer era tocá-la. Lois ainda tinha as mãos no braço de Clark
e ele deslizou a mão pelo antebraço dela, eriçando sua pele.
“O que seria de mim sem você?” ele disse sorrindo para ela, trazendo-a ainda mais para os seus
braços.
“Um caipira azul e vermelho?” Ela brincou aconchegando suas costas naquele peito forte e macio,
pivô dos momentos maravilhosos que tivera há poucos instantes atrás.
“Eu queria que esse momento pudesse durar para sempre”, ele disse levando a mão ao bolso,
“Mas então eu não saberia como iria ser...”
“Iria ser o quê?” Lois perguntou curiosa.
“Acordar com você na manhã seguinte e ver seu sorriso sobre mim.” Ele falou ao pé do ouvido
dela, sem poder ver totalmente seu rosto daquela posição.
“Bem, Smallville, eu acho que a sensação deve ser muito parecida com a que eu estou sentindo
agora...” ela acariciou o braço dele com um largo sorriso, se sentindo no céu.
“Não”, ele tirou a mão fechada do bolso, “Será diferente.”
“Nada pode ser diferente, Smallville. Você sempre será meu herói...”
Clark levou a mão por baixo do braço de Lois e abriu a mão próxima ao rosto dela. O brilho do
diamante reluziu sob os olhos incrédulos dela no momento em que ele mostrou a aliança entre
seus dedos. Lois reconheceu de imediato, era a mesma aliança que ela escolhera alguns meses
atrás, quando os dois estavam disfarçados como um casal. No mesmo dia em que ela confessou
que o amava. Olhou para aquela minúscula peça sem saber o que dizer, mas seu coração se
expressou em um sobressalto, o qual certamente Clark podia ouvir.
“Clark...” Lois enfim conseguiu falar, embora ainda estivesse imóvel. Clark sorriu nervoso, ensaiara
este momento durante todo o caminho de volta de Metropolis.
“E você é a minha heroína... Isso faz de nós dois almas gêmeas, não é?”
Lois se virou para Clark, profundamente tocada pelas palavras dele. Encontrar aquele olhar azul a
inundando de amor foi ainda mais forte, e ela sentiu seu rosto enrubescer. Clark continuou a falar,
agora olhando diretamente nos olhos dela,
“Alguns corações têm as feridas certas.. Alguns têm estrelas do seu lado.. Alguns outros, eles
apenas vão com calma... E alguns corações apenas dão sorte às vezes... Meu coração.. ele tem
muita sorte por ter você. E eu quero ter certeza de que ele terá para sempre... Porque eu te amo.”
83
Lois encarou Clark emocionada, procurando suas pernas ou qualquer parte de seu corpo que não
fossem seus olhos brilhantes ou seu coração palpitante. Clark sorria para ela, seu olhar
esperançoso e apaixonado paralelo ao brilho da aliança que ele trazia na mão.
Lois se sentiu a mulher mais feliz do mundo. Contudo, relutou.
Clark percebeu uma discreta mudança na expressão de Lois. Sabia que ela estava feliz, seus olhos
lhe diziam isso. No entanto, algo parecia colocar-se ainda entre os dois.
“Clark...” Lois disse com cuidado, seus lábios trêmulos por não dizer aquilo que ele esperava que
ela dissesse, “Nós não podemos, não agora.”
Clark tentou segurar a sensação ruim que correu seu corpo diante da recusa de Lois. Não esperava
por aquela.
“Por que não?”
“Lana” Lois foi direta ao ponto. “Eu quero muito estar com você plenamente, mas não podemos
seguir em frente enquanto você não fechar esse capítulo de sua vida.”
“Está encerrado” ele disse fitando-a com seriedade, “O que havia entre nós acabou!”
“Eu sei que acabou, mas não para ela” Lois colocou a situação da forma mais clara possível, “E eu
preciso ter certeza de que você não está em negação com isso tudo.”
“Você acha que eu te pedi em casamento porque ela apareceu?” Clark questionou, mas Lois
negou firmemente com a cabeça, passando a mão no rosto dele,
“Eu sei que não, Clark. Você está com esse brilho nos olhos desde pela manhã, e eu sabia que o
que quer que fosse, era especial...” ela o fitou com carinho, procurando a melhor forma para não
machuca-lo mais do que provavelmente o fizera naquele momento, “Mas não é apropriado que a
gente dê esse passo enquanto você não conversar com ela. Vocês precisam desse momento e eu
entendo isso.”
Clark se viu aturdido e frustrado, mas sabia que Lois tinha razão. Por mais que ele tenha seguido
em frente, as coisas com Lana estavam inacabadas. Ainda assim, ele pretendia insistir com Lois,
mas algo despertou sua atenção.
“O que foi?” Lois perguntou ao vê-lo distraído por um momento, aparentemente usando seus
poderes de audição, ela já conseguia perceber quando ele os usava.
“Um pedido de ajuda, alguém está em perigo” ele disse, seu lado herói emergindo em seu olhar
preocupado.
“Vá”, Lois disse dando um beijo nos lábios dele e soltando-o, “Nós continuamos essa conversa
depois.”
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Clark confirmou com a cabeça e superacelerou, levantando os cabelos de Lois enquanto saía
fazenda afora. Lois deu um longo suspiro agora em seu momento de solidão, sentando-se nos
degraus da escada.
Acabara de dar a resposta mais difícil de sua vida, mas sabia que era o melhor, para ambos. Era o
melhor, apesar de seu coração insistir com o contrário...
***
No Talon, praticamente toda a mulherada já estava pronta para o casamento. Lana surgiu entre as
meninas, que conversavam empolgadas sobre as últimas fofocas em Star City, Gotham e
arredores.
“Então eu soube que você andou dando uns pegas em um certo bilionário de Gotham...” Fal
comentou com Jubs, que sorriu envergonhada,
“Imagina, ali não há futuro. Eu apenas o conheci em uma festa, só isso!”
“Que nada, o problema é que ele é playboy demais para ela” entregou Pri arrumando a alça de seu
vestido.”
“Todas vocês moram em Gotham e Star City?” Perguntou Lana curiosa.
“Nem todas” disse Dry passando a ficha do pessoal, “Eu moro em Tóquio. Carol está indo para
Londres, Sol está indo para o Paquistão e Barbarella vive na ponte aérea Paris – Buenos Aires...”
“O amor sempre na frente” disse Barbs se aproximando com Carol, Fal e Laud. Traziam cada uma
sua taça e Laud começou a dar mais copos para as que não tinham, enquanto Carol e Fal serviam
duas garrafas de champagne. “Façamos um brinde. Ao amor verdadeiro e épico”
“Saúde!” Todas disseram em uníssono e beberam suas champagnes. Carol, Laud e Barbs levaram o
copo à boca, sem beber exatamente. Apenas observaram Lana entornar a taça.
“É isso aí, e aos maravilhosos partidos de Gotham que bem que poderiam estar nessa festa hoje...”
Luana disse dando um super gole em sua champagne.
“Oh, eu soube que Oliver Queen estará” disse Kyla animada, “Ele é um bilionário gato!”
“FATO, aquele loirudo me mata...”, respondeu Fal, “Mas Smallville até que não fica atrás... Pena
que aquele outro desapareceu, como era o nome dele?”
“Lex Luthor” disse Jubs, também bebendo. O que elas não podiam saber é que aquele nome mexia
profundamente com Lana Lang. Ela não pôde negar o desconforto que se seguiu àquela conversa.
Poucos segundos depois, o desconforto aumentou e Lana percebeu que não era a respeito de Lex.
Algo estava errado com ela. Sentiu um arrepio correr o corpo e uma vontade terrível de...
Merda.
85
Carol fitou Lana e perguntou com o olhar preocupado, “Você está bem?”
“Eu...” Lana levou a mão ao pé do estômago, “Acho que algo não me fez bem, com licença...” e
seguiu para o banheiro.
As meninas observaram Lana entrar no banheiro e fechar a porta. Imediatamente Sol, que estava
estrategicamente próxima à porta, passou a chave por fora tirando-a da fechadura. Olhou para as
amigas, que sorriam sinicamente. Poucos instantes depois, ouviram um terrível estrondo provindo
de dentro do banheiro.
O laxante fizera efeito.
“Saúde...” Barbs ergueu a taça novamente e despejou sua champagne em uma pobre planta
próxima. Foi o suficiente para as meninas começarem a gargalhar histéricas, com o sentimento de
dever cumprido.
“Quantas cápsulas vocês colocaram naquela garrafa?” Perguntou Dry.
“Hãã... Todas?” Fal respondeu com o olhar inocente.
“hahahaha, tem laxante ali para ela defecar a noite toda! Se bem que não deve ter muita coisa ali
pra pôr para fora...” banguelou Carol.
“A não ser é claro pelos donuts de caramelo e o yakisoba que nós a fizemos comer no caminho da
fazenda para cá...” comentou Barbs. “Acham que devemos esperar por ela?”
Um forte e espirrado peido ecoou novamente, desta vez ainda mais alto do que o anterior.
“Acho que isso foi um ‘não’!” Nannie banguelou junto com as demais, deixando o recinto.
“Espera” Jubs comentou parando as meninas, “Mas e quanto à chave de dentro do banheiro, eu vi
uma lá”
“Você quer dizer a que acidentalmente eu deixei cair dentro da privada?” questionou Barbs, “Se
ela pegar aquela, merece passar para a segunda fase...”
Todas só puderam rir mais e mais diante daquilo. Realmente Lana havia encontrado um fã clube
Clois que não brincava em serviço (embora fosse exatamente o que estavam fazendo)...
***
O celeiro estava tão deslumbrante que conseguia ocultar completamente sua real identidade. Os
arranjos florais juntamente com o resto da decoração em branco e laranja davam um charme
especial e retrô ao ambiente. Os convidados encontravam-se sentados nas cadeiras enfileiradas
diante do altar improvisado, onde a sacerdotisa aguardava o início da cerimônia. À frente dela,
Jimmy aguardava ansioso, acompanhado de Lois, a madrinha. Ela sorria para ele como quem o
mandava relaxar, pois daria tudo certo. Entre os convidados, inúmeros amigos do casal e
moradores de Smallville. Do lado dos convidados da noiva, duas fileiras inteiras eram ocupadas
86
pela mulherada visitante. Algumas das mais emotivas, como Lau e Dry, já choravam antes mesmo
da entrada da noiva.
Apenas alguns instantes depois, Clark surgiu no alto do celeiro acompanhando Chloe. Vestida de
noiva, a loira estava fabulosa e sorria feliz para todos os presentes que observavam a dupla
descendo as escadas de madeira. Clark guiou Chloe até o altar e a entregou a Jimmy com um
sorriso. O casal virou-se então para a sacerdotisa e Clark se colocou ao lado do altar, junto à Lois,
segurando imediatamente sua mão.
“Estamos aqui reunidos para unir este jovem casal perante as leis de Deus...” iniciou a sacerdotisa
de forma serena...
A cerimônia teve continuidade como o planejado, embora uma das convidadas tivesse se
ausentado de praticamente todo o ritual. Depois de vários minutos, Lana surgiu no celeiro
devidamente vestida, embora aparentasse estar um pouco escabreada. Provavelmente porque
fora obrigada a pular a janela do banheiro a fim de sair já que, por alguma razão, a porta estava
trancada. Ela tivera sorte de conseguir sequer sair da privada, contudo, diante da situação terrível
em que se encontrava. Prometeu a si mesmo que não comeria mais nada de beira de estrada.
Aquela caganeira quase a matara.
Lana encontrou um lugar vazio na terceira fileira e se sentou. Não reparou que atrás dela estava
nada menos do que toda a máfia clois reunida a fita-la de forma desafiadora. Algumas se olharam
como se perguntassem como diabos ela conseguiu sair do banheiro, mas outras já traziam
soluções em vez de questionamentos. Entreolharam-se com sorrisos e gestos discretos, e mais um
plano parecia se formar ali mesmo.
Lana observou Chloe e Jimmy felizes, mas o que realmente chamou sua atenção foi ver Clark e Lois
de mãos dadas. Aquilo a incomodava de um modo que não podia controlar, especialmente porque
era Clark a apertar a mão de Lois com firmeza. Ele olhou discretamente para Lois, que olhou para
ele em resposta. O sorriso de um para o outro mexeu com Lana, que ficou séria diante da cena,
nitidamente movida pelos ciúmes. Ao seu lado, entretanto, um homem também parecia
incomodado. Lançou o olfato na direção da oriental sem entender como uma jovem tão bela
podia exalar tal fedor. Barbs, Fal e Jubs, que estavam imediatamente atrás de Lana, perceberam
de imediato e não conseguiram conter a risada, a ponto de chorarem de rir. Um dos convidados
olhou para trás procurando entender o que se passava, no que Fal soltou o clichê de forma cínica,
enquanto enxugava as lágrimas,
“Sempre choro em casamentos...”
No altar, a cerimônia chegava em seus momentos finais, com a sacerdotisa enfim fazendo a
pergunta importante:
“James Olsen, aceita Chloe Sullivan como sua legítima esposa, para amá-la acima de tudo, na
saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe?”
“Eu aceito” ele sorriu enquanto olhava apaixonado para Chloe.
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Clark parecia mergulhar no lugar de Jimmy, pois ao ouvir a sacerdotisa fazer a pergunta, enfiou os
dedos entre os de dois, enlaçando-os aos dela. Lois olhou discretamente para a sua mão ao sentir
os dedos de Clark a apertarem com força. A sacerdotisa continuou,
“Chloe Sullivan, aceita James Olsen como seu legítimo esposo, para amá-lo acima de tudo, na
saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe?”
“Eu aceito” Chloe respondeu feliz e sorridente fitando Jimmy.
Lois ainda sentia os dedos fortes de Clark entre os seus e os apertou de volta, tão forte quanto
podia. Era a resposta que ele tanto queria, sem dúvida. Ele a fitou com um sorriso discreto, mas o
brilho de seus olhos praticamente transbordou de felicidade. E certamente Lana estava a
testemunhar todo o momento, engolindo a seco o especial Lois e Clark.
Após a troca de alianças e os votos, a sacerdotisa envolveu Chloe e Jimmy com um cordão de
ouro, metaforicamente atando um ao outro.
“O que Deus uniu, o homem não pode separar. Eu vos declaro, marido e mulher” e olhou enfim
para Jimmy com um sorriso, “Você pode agora beijar a noiva”
Jimmy levantou o véu de Chloe e a beijou intensamente, segurando-a pela cintura e inclinando-a
no melhor estilo dirty dancing. Todos se levantaram e começaram a aplaudir emocionados. Lana
se levantou rápido de sua cadeira a fim de aplaudir o casal também, mas tudo o que pôde ouvir foi
um tremendo rasgão. Um ar fresco correu seu traseiro e ela percebeu que parte de trás de seu
vestido havia ficado preso na cadeira, e agora ela tinha um problemão! As meninas atrás de Lana
apenas caíram na risada aproveitando a onda de aplausos. Em especial Jubs, que passara os
últimos cinco minutos cuidadosamente enganchando o vestido de Lana em uma falha da cadeira.
***
A festa após a cerimônia seguiu tão animada quanto antes. Um grupo orquestrado fazia o som
ambiente enquanto os casais dançavam na pista de dança. Como padrinho, Clark fez uma das
primeiras danças da noiva, que só serviu para reafirmar a amizade dele com Chloe. Jimmy e Lois
também dançaram juntos, até que Oliver pediu a vez e deu início a uma dança animada com sua
ex. Durou pouco no entanto, pois ao iniciar da música seguinte, Clark tomou Lois novamente nos
braços, deslizando com ela pela pista de dança ao tempo em que as luzes se diminuíram. Os dois
sorriram um para o outro, e Lois enlaçou Clark pelo pescoço, deixando as mãos dele escorregarem
para a sua cintura. Com os olhares concentrados um no outro, eles entraram enfim no embalo
perfeito da canção.
“Meu vôo sai às três da manhã..” Lois disse baixo, embalada pelas mãos de Clark.
“Pensei que você fosse amanhã” ele perguntou surpreso.
“Smallville, daqui à meia hora já será amanhã...”
“Significa que nós não teremos essa noite?” ele pareceu um pouco desapontado.
“Nós ainda podemos aproveitar...”
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Lois tinha as mãos na nuca de Clark, suas unhas arranhando-o carinhosamente enquanto seu olhar
devorava a boca dele desesperadamente. Clark levou sua boca à de Lois, beijando seu lábio
superior e chupando-o levemente, para então levar sua língua para dentro da boca dela. Lois subiu
as mãos pelos cabelos de Clark enquanto os dois se devoravam, Clark comprimindo-a ainda mais
para si.
Lana surgiu novamente no celeiro, já vestida em outro vestido. Olhou de imediato para o centro
do salão e viu o beijo apaixonado entre Lois e Clark. Viu seu ex deslizar a mão das costas até a
cintura de Lois, completamente perdido nos lábios dela. Lana teve vontade de chorar ao ver
aquilo, mas se conteve, ela não tinha o direito. Disfarçou parte de sua tristeza no momento em
que sentiu a mão de Oliver em seu ombro, chamando-a para dançar.
A mulherada do TC e do CCD também dançava animadamente, mas não deixou de reparar que
Lana estava de volta. Carol, que dançava com um moreno alto de barba rala, comentou com Laud
que estava próxima a ela, dançando com um loiro de olhos azuis,
“Que lambisgóia difícil de dedetizar!”
“Nem fale! Onde será que ela arranjou esse novo vestido?”
“Deve ter depenado alguma barata, com certeza” Barbs respondeu passando entre as duas
abraçada a um mulato forte de olhos claros, “Mas da terceira ela não escapa...”
Indiferente à presença de Lana, Lois e Clark continuaram a namorar em meio àquela dança
maravilhosa. Clark afastou seus lábios dos de Lois, embora seus rostos ainda estivessem colados.
“Precisamos conversar...” ele disse remetendo à conversa inacabada de horas atrás.
“Sim, precisamos...” Lois disse um pouco preocupada com aquilo. “Mas há algo que você precisa
fazer antes...”
Ele sabia o que ela queria dizer e aquilo não o agradou muito. Ele não se sentia pronto para
enfrentar Lana.
Lois deu um beijo em Clark e se soltou dos braços dele com um sorriso, caminhando para fora da
pista de dança. Clark parou a observá-la enquanto ela saía do celeiro, incerto sobre o que ele
deveria fazer. Lana, que ainda dançava com Oliver, viu toda a ação embora não compreendesse o
que estava acontecendo. Somente estava certa de uma coisa:
Lois o havia deixado sozinho no meio de uma dança.
Antes que alguém tivesse qualquer reação, a música foi bruscamente interrompida. Chloe estava
no andar de cima do celeiro e Kyla, ao seu lado, segurava o microfone:
“Ok, mulherada, chegada a hora mais importante! Chloe vai lançar o buquê!!”
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“Opa!” Luana foi a primeira a gritar, se aglomerando junto às outras. Praticamente todas as
mulheres presentes se concentraram imediatamente abaixo da área onde estava Chloe, com
exceção de Lana que observava um pouco mais de trás.
“Lá vai!!!” Chloe virou de costas e lançou o buquê com força. O ramalhete atravessou todo o
celeiro, passando de toda a mulherada e indo parar diretamente nas mãos de... Lana!
A morena se viu com o buquê nas mãos sem saber como reagir. E nem teve tempo para. Antes
que sequer tivesse processado que aquela peça em suas mãos tinha um significado, viu uma
tsunami de mulheres voar em cima dela. Carol e Fal foram as primeiras, seguidas de Luana, Jubs,
Lere, Laud e Sol, assim como todas as outras. Um montinho humano de mulheres ensandecidas se
formou sobre Lana, cada uma com um objetivo que não se resumia a pegar o buquê. Voaram de
todos os lados, e se não fosse pelo piso recentemente forrado, provavelmente já teria levantado
poeira. Em meio a “uis”, “ais”, “pows”, “galinha”, “chupa” e “bangs”, aquele grupo de mulheres
fazia o lance mais emocionante da final do Super Bowl. Barbs se jogou em cima do monte para
coroar o bolo enquanto o público não sabia se vibrava com a animação ou acudia a pobre coitada
que estava embaixo daquele monte humano. Só então que, vários segundos depois, uma senhora
de oitenta anos conseguiu ver o buquê jogado no chão, o qual já havia escapado do monte há
muito tempo. Pegou o buquê erguendo no ar feliz da vida e recebendo os aplausos do pessoal. A
mulherada então, parcialmente desapontada, começou a sair do vórtex humano uma a uma, até
que Lana pôde ser avistada com sua cabeça presa dentro das pernas de Lau e seu cabelo enrolado
nas mãos de Carol. “Trapo” poderia ser um bom adjetivo para qualificar o estado de Lana naquele
momento, mas não era preciso tamanha a destruição ocasionada pela busca ao buquê. Um de
seus sapatos e parte de seu novo vestido haviam simplesmente desaparecido, para dizer o
mínimo. Fora que havia sangue saindo de sua boca.
“Sério?” Carol disse contrariada, ainda com os cabelos de Lana fechados em seu punho, “Eu podia
jurar que estava puxando o buquê...”
“Eu também” disse Fal, embora não houvesse como explicar o que tinha uma chave de perna a ver
com tudo aquilo.
“Alguém viu o cachorro de Clark?” Barbs perguntou pegando um dente ensangüentado no chão,
“Eu acho que ele perdeu um dos caninos avançados...”
***
Lois seguiu do celeiro para a casa, aproveitando o frio da madrugada para arejar a cabeça. Mais do
que isso, esperava assim dar a Clark o espaço que ele precisava para lidar com seu problema em
relação à Lana. Por mais que seu coração ansiasse por Clark, não embarcaria em um compromisso
sem ter certeza de que tudo o que precisava ser resolvido o tivesse sido. Ainda mais, se tratando
do complicado relacionamento dele com Lana.
Aproximou-se da casa e percebeu um casal a trocar beijos no pequeno assento de madeira do
alpendre. Sorriu sem ter certeza de quem era, mas acabou guiando sua atenção para um carro que
se aproximava pela entrada da fazenda. A SUV preta parou a poucos metros dela e Lois olhou
curiosa. Dois homens altos e fortes, trajando ternos brancos, saíram do carro e Lois caminhou até
eles. Um deles olhou para um pequeno papel que trazia nas mãos.
90
“Olá”, ela disse parando diante dos dois, “Procurando por alguém?”
“Sim”, respondeu um deles guardando o papel no bolso, “Mas parece que já encontramos.”
Lois ouviu aquilo com desconfiança, mas antes que pudesse reagir, o outro homem a agarrou por
trás tapando sua boca com um pano. Lois se sacudiu tentando se soltar e gritar, mas o pano estava
umedecido com clorofórmio, e poucos segundos depois ela estava desmaiada nos braços do cara.
O outro agarrou as pernas dela e juntos a colocaram no banco de trás da SUV, arrancando com o
carro em seguida.
No alpendre, Manu olhou rapidamente para o movimento, mas estava bêbada demais para
entender o que se passava. O cara ao seu lado olhou curioso para ela, no que ela respondeu,
“Deve ser tarde já, tem gente já indo embora...” e voltou a se pendurar nos beiços do rapaz.
***
Clark saiu do celeiro alguns minutos depois, procurando por Lois. Por meio de sua visão de raio-x,
rapidamente verificou que ela não se encontrava em lugar nenhum. Seu carro também não se
encontrava onde ela costumava deixá-lo. Clark olhou para o relógio, era uma da madrugada.
Horário exato que ela teria que sair se quisesse chegar a tempo de seu vôo. Teria já ido para o
aeroporto? Sem se despedir? Clark olhou em volta mais uma vez, esperançoso de que estivesse
enganado. No entanto, não estava. Lois havia mesmo ido embora. Sem que eles conversassem,
sem que respondesse à sua pergunta. Fugira dele.
Sentindo o coração apertado, Clark seguiu em direção à fazenda, sem vontade de fazer mais nada.
O que ele não sabia era que, a vários quilômetros dali, Lois seguia a contragosto nas mãos do
contrabandista mais perigoso de Star City. A SUV seguiu acelerada pela rodovia, e os dois homens
que seqüestraram Lois estavam de motorista e carona. Um deles olhou para trás enquanto
limpava sua arma.
“Para onde, Sr.?”
“Para o hangar” Naga respondeu sentado no banco de trás enquanto deixava uma Lois
inconsciente repousar a cabeça em seu ombro. “Essa belezinha aqui me deu uma idéia para
conseguirmos atravessar a fronteira... Depois eu ensino a ela o que dar mexer com quem não
deve...”
***
91
Capítulo 14
Clark não podia se lembrar de já ter tido uma madrugada tão ruim como aquela. De uma da
madrugada até o amanhecer, passara a noite em claro, imaginando as razões pelas quais Lois
fizera o que fizera. Não encontrara nenhuma. Nada podia justificar aquela atitude e Lois não dera
nenhum indicativo de que seu incômodo chegara aquele nível. O jovem herói se levantou do chão
do quarto e alongou o corpo. Permanecera sentado ali por tantas horas que poderia ser
considerado quase um buda. No entanto, ao contrário de qualquer outro humano, nem mesmo
um formigamento lhe afligia o corpo. Sentia-se fisicamente bem; a dor era um pouco mais
internamente...
Desceu as escadas ainda vestido na roupa do casamento, com a camisa branca aberta expondo
parte de seu peito forte. Os cabelos desgrenhados poderiam ser a evidência de uma noitada para
alguns, mas em verdade refletia apenas as várias vezes em que levara as mãos à cabeça em
angústia. Estava sério e zangado. Estava ferido.
Olhou em volta e, se não estivesse tão aéreo com seus problemas, provavelmente se assustaria
com tamanha bagunça. Havia flores, caixas de presente, materiais da organização, restos de
comida por todas as partes. Alguns móveis inclusive estavam fora do lugar para abrir espaço a
algumas peças de decoração não utilizadas. Aquilo bem lembrava as raras vezes em que Lois se
arriscara a lavar roupas, espalhando seus trajes pela casa como se fosse um brechó. Já havia algum
tempo que ela não tentava tal proeza, mas aquela pequena lembrança fez um sorriso brotar em
Clark. Arrumaria a zona ultra rapidamente em outro momento.
Caminhou em direção à cozinha e parou junto à mesa. O bloco de anotações de Lois estava
largado sobre a madeira fria e as folhas pareciam ter sido mexidas pelo vento. Clark se sentou no
banco alto de madeira, o mesmo onde estivera com Lois no dia anterior. Folheou o bloco lendo
algumas das anotações da jornalista.
Pedir ao buffet mais um conjunto de guardanapos
Ligar para Star City
Lembrar Smallville de pegar os ternos.
Eram anotações da manhã do dia anterior, havia muitas delas. No entanto, uma em particular
chamou a atenção do fazendeiro. Era a última anotação feita no bloco, na verdade mais um
rabisco do que uma anotação propriamente dita. Estava abaixo de um número, também
rabiscado.
92
Aquele pequeno rabisco, feito por Lois provavelmente enquanto falava distraída ao telefone,
alimentou o peito angustiado de Clark. Se não bastava o cheiro dela impregnando aquele pequeno
objeto, suas palavras pareciam marcar Clark da mesma forma que marcavam o papel. Ele olhou
triste para a anotação que lhe trazia mais questões do que respostas. Levou a mão ao bolso da
calça e pegou o delicado anel de diamantes. Encarou a aliança deprimido por ainda tê-la em seu
bolso. Durante muitas horas da madrugada, pintou cenários onde Lois aceitava seu pedido,
colocando a aliança e sorrindo feliz por ter dado o grande passo. Clark se imaginou feliz ao lado
dela, anunciando diante de todos que eles seriam os proximos a trocar votos apaixonados diante
do altar. Mas eram apenas ilusões de uma noite longa e difícil. Nada daquilo iria se realizar.
Clark sentiu uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto em resposta à dor que sentia. Olhou
mais uma vez para a aliança e a colocou sobre o caderno, próxima ao coração rabiscado por Lois.
Se levantou e caminhou na direção da porta da cozinha a fim de sair dali.
***
Cerca de uma hora depois, Clark surgiu no Talon diante de Chloe e Jimmy. Já estava tomado banho
e renovado, ao menos em sua aparência. O olhar, no entanto, entregava que havia algo
extremamente errado, mas ele procurou disfarçar para não preocupar Chloe. A loira surgiu no
andar de baixo com uma pequena bolsa e parou diante de Clark. Olhou para o amigo sorridente e
o abraçou:
"Obrigada, Clark, por tudo"
"Espero que curta sua lua-de-mel, Chloe. E que seja muito feliz com o Jimmy"
"Eu serei", ela disse feliz. Olhou para o alto das escadas observando Lana descer. Soltou Clark
gentilmente e caminhou na direção da morena, também abraçando-a, "E obrigada por ter vindo!"
"Sempre, Chloe, sempre" Lana respondeu sem abrir muito a boca. Parte de seu rosto estava um
pouco inchado por conta do incidente do bouquet.
Chloe soltou a amiga e sorriu para os dois no momento em que uma buzina soou do lado de fora.
Era Jimmy, já impaciente com a demora da esposa que se despedia das pessoas pela terceira ou
93
quarta vez. Chloe tinha noção daquilo e deu tchau aos amigos, seguindo enfim na direção da
porta.
"E Clark, diga a Lois que eu estou chateada por ela ter ido sem se despedir... Ela vai ver quando eu
voltar!"
Chloe sorriu ao dizer aquilo, saindo do Talon de uma vez por todas. Clark, no entanto, percebia
toda a questão por outro ângulo. E olhou enfim para a pessoa que era em parte responsável pelo
que lhe estava acontecendo.
"Você está melhor?" Clark perguntou sensível ao que houve com a ex na noite anterior.
"Sim, o dentista me disse que é possível implantar o dente novamente." Ela respondeu sem abrir
muito a boca, naturalmente tentando ocultar a janela que ganhara. "E você, como está?"
"Bem" ele disse curto e grosso. Apenas ficou óbvio que ele não estava.
"O que houve, Clark?" Lana perguntou tentando chegar nele, o que não se mostrara tarefa fácil
desde que ela retornara. "Seja lá o que for, eu posso ajudar"
"Você já ajudou o suficiente, Lana" Clark rebateu irritado.
Lana sentiu a pancada, mas não arredou. Queria entender o que estava havendo.
"É por causa da Lois? Vocês brigaram?”
Clark não teve vontade de responder à pergunta da ex. Nada daquilo dizia respeito a ela, ainda
que ela tivesse sido a grande pivô. Em verdade, não tinha vontade de conversar nada com ela.
Nem mesmo os questionamentos pendentes.
"Foi por isso que ela viajou?" Lana insistiu, e aquilo mexeu com Clark.
"Ela não é como você" ele respondeu ignorando todas as suas dúvidas em relação a Lois, "Ela não
fugiria de mim"
"Eu não fugi de você. Eu fui embora para te proteger!" Lana respondeu contrariada.
"Para me proteger? Ou para proteger a si própria das desilusões que teria ao meu lado?"
Lana não soube o que responder, e aquela foi a deixa para Clark desabafar:
"Eu sei que nada nunca foi o suficiente, Lana. E eu sei que nós erramos muito, mas a única coisa
que me restava, o que eu tinha para lhe oferecer... Era o meu amor. Foi do meu amor que você
fugiu."
"Clark..." Lana respondeu, lágrimas escorrendo pelo rosto diante das palavras árduas do homem
que amara mais do que tudo, "Tudo o que eu fiz... Eu fiz porque te amo"
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"Eu sei..." Ele concluiu mais calmo ao sentir a clareza de seus pensamentos por meio daquela
afirmação.
"Você sabe?" Lana enxugou as lágrimas, certa de que Clark a podia compreender naquele
momento.
"Eu sei. Eu abri mão de ser feliz com você para te proteger. E você fez o mesmo..."
Lana sentiu o peito acelerar com as palavras de Clark. Ele compreendia o amor que ela tinha por
ele, o que só podia significar que ele ainda a amava. Clark, entretanto, seguiu com sua reflexão,
"... Mas eu aprendi que existem amores que, por maior que seja o medo de perder... Nós não
conseguimos desistir ou sacrificar. Não conseguimos abrir mão nem ficar longe, porque ele é mais
forte do que todos os medos. Existe corações que... que não podem viver sem o outro... Quando
você foi embora, Lana, eu pensei que fosse morrer... Mas eu não morri"
As palavras de Clark atingiram Lana como uma pequena navalha, perfurando-a lentamente. O
olhar dele mostrava que não era sua intenção machucá-la, mas a verdade simplesmente o fazia
sem dó.
"Então Lois..." ela quase sussurrou temendo a própria progressão da frase.
"Sim..." ele concluiu pela ex, sentindo-se mal por dizer aquilo a ela, daquela forma.
"Ela sabe que.."
"Sim."
Uma última lágrima escorreu pelo rosto de Lana, mas ela a conteve como pôde. Se aproximou de
Clark, procurando dentro de si algo sincero para dizer.
"Eu espero que vocês sejam felizes, Clark."
Clark deu um leve sorriso e abraçou Lana, esperando confortá-la de alguma forma. Ela achava que
poderia machucar Clark com o seu retorno, mas acontecera exatamente o contrário. A presença
de Lana apenas o fez ver o que já sabia e já havia assumido para si próprio: que era de Lois o
coração sem o qual ele não podia viver.
***
Clark saiu do Talon minutos depois de se despedir de Lana. Não sabia quais eram os planos dela,
mas sentiu que não a veria novamente tão cedo. Embora a angústia pela ida de Lois ainda o
consumisse, aquele momento com Lana o deixara um pouco mais tranquilo. Lois tinha razão no
final das contas.
Clark seguiu até o bando de mulheres que circulavam na frente do Talon carregando coisas para o
carro. Barbs e Laud caminharam até ele, eram as únicas que ainda não haviam se despedido.
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"Foi um prazer, bonitão" Barbs disse cumprimentando-o com um largo sorriso, "A festa no celeiro
vai ficar para a história. Obrigada por tudo"
"Eu que agradeço" Clark sorriu de volta, realmente gostara de conhecer algumas das amigas de
Lois.
"E quando se cansar do jornalismo, pode passar um telefone para a minha revista, ficaríamos
muito felizes em tê-lo posando para umas fotos..." disse Laud sem resistir a lindura do moreno.
Clark sorriu um pouco sem graça, mas ela cortou o assunto entregando um chaveiro a ele. Eram as
chaves do carro de Lois. "Agradeça a Lois por nós"
"Eu pensei que ela estivesse com o carro..." Clark disse surpreso, mas Laud apontou para o outro
lado da rua, onde estacionara o Pontiac vermelho de Lois.
"Ela deixou com a gente ontem, por causa da cerimônia... Mas está inteirinho, viu?"
Clark olhou para o carro sem entender. Mal processou o tchau das garotas, ou os carros se
distanciando. Caminhou até o carro de Lois procurando respostas. Se ela não tinha ido ao
aeroporto com seu próprio carro, como deixara a fazenda durante a madrugada?
***
Um segundo depois, Clark estava de volta à fazenda, e o olhar de desilusão havia dado lugar à
confusão e preocupação. Adentrou a casa em meio à bagunça novamente e sacou seu celular,
ligando para Lois. Para a sua surpresa, o toque soou dentro da casa. Clark superacelerou até a sala
e encontrou o pequeno aparelho a vibrar de forma constante entre as almofadas do sofá. E não
era apenas o celular a estar jogado sobre o móvel.
Sua bolsa, com a carteira e os documentos. Mais as passagens de avião.
Clark gelou ao ver tudo aquilo ali. Correu de volta para a cozinha e folheou o bloco de notas,
encontrando o número do hotel onde Lois tinha reserva. Ligou sem titubear, e uma voz masculina
o atendeu de forma educada:
"Star Othon, bom dia."
"Bom dia. Eu gostaria de confirmar se uma hóspede fez check-in no hotel hoje. O nome dela é Lois
Lane."
"Só um momento, senhor... Bem, havia uma reserva em nome da Srta. Lane, mas foi cancelada
pelo hotel, pois a hóspede não fez check-in."
Clark desligou o celular sem chão. Ela não saíra de carro, não levara seus documentos e nem
estava onde deveria estar. Ele enfim se convecera de que alguma coisa muito séria havia
acontecido com ela.
Sem mais pensar, superacelerou da fazenda por Smallville, procurando-a por todas as partes.
Correu para Metrópolis varrendo todos os lugares que poderia imaginar, mas nada. Nem um sinal,
nem um batimento, nem um respirar que o pudesse levar até Lois. Pensou na ligação especial que
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os dois tinham e procurou se concentrar nisso, mas não conseguia ouví-la. Pior ainda, não
conseguia sentí-la em lugar nenhum.
Depois de horas e horas de busca por Metropolis, Star City e todos os outros lugares que
conseguia imaginar, Clark parou vencido no alto do Daily Planet, em busca do coração que lhe
completava. A angústia tomara a forma do desespero.
"Lois, onde você está?.."
***
Lois abriu os olhos sentindo-se ainda tonta. O clorofórmio a deixara apagada por horas, e ela não
tinha muito certeza do que havia acontecido. Lembrava-se, entretanto, de ter sigo agarrada por
um homem e de ser jogada em um carro. No meio do casamento de sua prima.
"Mas que diabos.."
Lois olhou para si, mas não usava mais o vestido laranja da festa. Muito pelo contrário. Se viu
sentada em uma poltrona e uma pequena janela redonda ao seu lado apontava nada além de
nuvens. Estava em um avião? E aquilo não era o pior. Sua roupa, branca e entalhada, lembrava
um... vestido de noiva. E o fino tecido que caía próximo ao seu rosto era realmente um véu.
Antes mesmo de processar o que lhe estava acontecendo, uma voz grossa despertou Lois para a
realidade:
"Ora, ora, quem decidiu acordar... Felizmente a minha querida e estonteante noiva decidiu se
juntar a mim para a cerimônia, antes que cheguemos à Colômbia!"
Lois parou atônita ao ver Naga parado diante dela com uma garrafa de champagne. Estava vestido
como um noivo e um de seus capangas endireitavam a abotoadura de seu punho. Atrás dele, um
imenso bolo de casamento.
"E então, querida", Naga disse com um sorriso maquiavélico, "Aceita se casar comigo?"
***
97
Capítulo 15
"Eu mal acredito que irei me casar de novo!", disse Naga falsamente contente fumando um
charuto e encarando Lois que se levantara da poltrona com um bouquet nas mãos, "E mal acredito
que a minha futura esposa é a repórter que a menos de 24 horas estava tentando arruinar minhas
operações de contrabando de armas..."
"Mal posso acreditar também", respondeu Lois contrariada e confusa com o que lhe estava
acontecendo. Como diabos se metera nessa confusão? A última coisa que lembrava era de estar
no casamento de Chloe e de ter sido atacada por dois homens. Agora estava em um avião diante
do contrabandista que a razão pela qual iria a Star City. Como ele a encontrara? E o que pretendia
"se casando com ela"?
"Eu assumo que deveria ter te matado após ter te capturado naquela fazenda... Mas você
capturou meu coração primeiro! Por isso, em vez de uma bala te guiar para o túmulo, um anel de
ouro a guiará para os meus braços..."
Lois sorriu, entendendo o jogo do contrabandista, "Você é bom demais para mim, querido. E me
desculpe se eu tentei causar problemas para os seus negócios... Mas eu estava apenas
trabalhando até encontrar um homem tão rico e charmoso como você para casar..."
"Como já me disseram MUITAS vezes. Se sinta honrada que o pedido de casamento foi um apelo
dos meus lábios..."
Naga se aproximou de Lois, o odor do charuto impregnando todo o ambiente. Passou a mão em
volta da cintura da jornalista e ela, ainda que tivesse vontade de socá-lo, conteve sua ira
imaginando em uma forma de se livrar daquela situação.
"Você não apenas é um lindo prêmio... Como vai me poupar muitos problemas com a justiça
americana já que passaremos nossa lua-de-mel com os latinos... E claro, porque uma esposa não
pode testemunhar contra o marido em tribunais norte-americanos."
"Tudo é possível, querido.." Lois respondeu ironicamente ao "futuro esposo" e ele seguiu nas
provocações.
"E como, querida! É claro que em breve você terá outras coisas para se ocupar seu tempo, já que
pretendo ter MUITOS filhos!"
"Mal posso esperar, doce de côco..." Lois enfim de desvencilhou da mão de Naga e virou-se para
ele, "Posso saber como você pretende levar isso adiante?"
"Oh, o mais difícil foi chegar a você, querida. E pode agradecer ao Doug por isso, ele com certeza
irá ouvir, já que troxemos as orelhas dele com a gente. Souvenir, sabe como é..."
Lois engoliu em seco. Naga só poderia estar se referindo ao seu informante secreto. As coisas
faziam sentido agora.
"Mas não se preocupe. Meus novos parceiros me esperam na Colômbia, e enquanto negociamos,
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eles até poderão provar de nosso maravilhoso bolo!" ele disse apontando para o monumental
doce sobre uma mesa no avião. Uma voz masculina soou pelo aviaõ por meio de uma transmissão
de rádio.
"Deixamos a fronteira dos Estados Unidos, Sr." informou o comandante. Naga virou-se para os
capangas, enquanto Lois caminhava discretamente na direção de uma garrafa de chamapgne
ainda repousada no gelo.
"Tragam o comandante aqui, vamos fazer a cerimônia enquanto estamos em águas
internacionais." Nada disse arrumando a gravata borboleta.
"Um momento, querido", Lois disse pegando a champagne em suas mãos, "O que esse momento
realmente precisa é de uma chamapgne!"
"Que bom que está no clima", ele sorriu maliciosamente para ela, "Deixe-me ajudá-la com a
tampa"
"Não se incomode..." Lois disse abrindo a tampa lentamente de costas para o bandido, "Eu posso
cuidar disso eu mesma!"
Antes que alguém pudesse reagir, Lois se virou agressivamente e a tampa da champagen voou
certeira no pescoço na testa de Naga, derrubando-o.
"AAAAAAAARGHH!!" urrou o homem indo ao chão, no que os seus capangas se mobilizaram. Lois
não perdeu tempo com Naga e virou ainda com a champagne para o primeiro deles, espirrando o
líquido na cara do homem. O segundo a tentou pegar por trás, mas Lois levou a garrafa para trás
com força atingindo-o nas partes íntimas, o suficiente para atordoá-lo.
O capanga que levara champagne na cara voltou-se para ela, desta vez com uma faca,
"Se acha muito esperta, não é? Mas isso não foi um ataque..." Ele desfere um violento golpe
contra Lois, rasgando parte da cauda do vestido, "ISSO é um ataque!"
"Eu imagino que você tenha mirado minhas pernas? Para futura referência, vou lhe mostrar onde
elas estão!" Lois gritou atingindo o homem com um forte chute de direita, o salto alto apenas
adicionando dor ao já nocauteado homem. Aquele pequeno ato, no entanto, foi o tempo que
Naga precisava para se recompor. Se aproximou de Lois com uma pistola em punho por trás do
bolo,
"Mulher miserável! Achou mesmo que estava à altura de derrotar Naga?"
"SIM", respondeu Lois em alto e bom som jogando o bolo contra o bandido. O que parecia ser um
bolo comum estava recheado de pacotes pesados de drogas, os quais caíram sobre Naga,
nocauteando-o. Lois chutou mais uma vez o segundo capanga e se voltou para Naga, quebrando a
garrafa de champagne na parede do avião.
"E olha que tem menos heroína em mim do que no seu bolo! Quero ver você fazer isso em um
vestido de noiva, seu cachorro imundo!"
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Todo o barulho na parte de trás do avião chamou a atenção do comandante na cabine, que diante
da ausência de resposta aos seus chamados pelo rádio, decidiu ele mesmo averiguar o que estava
acontecendo. Colocou o jato no piloto automático e seguiu em busca do patrão, mas o que viu,
contudo, quase o fez cair para trás: Naga e seus homens estavam amarrados pelos cintos de
segurança em uma pilha no chão, sujos de bolo e heroína. De pé diante deles, Lois, ainda de noiva,
segurava em uma mão a garrafa quebrada de champagne, na outra a pistola de Naga, fora a faca
presa à sua cintura. Apontou a arma para o comandante furiosa,
"Olá, comandante, como pode ver, mudança de planos! Eu realmente espero que a gente possa
partir para um acordo de conciliação, comandante, porque eu tenho uma arma, uma faca e uma
champagne... E sei usar todas!"
***
No Daily Planet, o dia seguira tão louco como começara. O mundo das notícias estava em alta e o
jornal parecia uma feira, com todos falando ao mesmo tempo e correndo para dar conta de suas
atividades. Clark chegou ao Bullpen preocupado com Lois e mal podia perceber o que acontecia a
sua volta. Foi então que deu de cara com seu editor.
"Kent!" o jovem editor o gritou ao vê-lo perdido em meio à seção, "Onde está Lane?"
"Boa pergunta, porque eu não sei onde ela se meteu e.."
"Melhor encontrá-la, porque ela perdeu dois tickets do Daily Planet! O que ela está pensando que
temos dinheiro a rodo para ela dispensar passagens assim? Ela vai pagar por elas, pode avisar!"
"Veja bem, Lois.."
Clark se preparava para continuar a falar quando ouviu o DP silenciar-se. Olhou em volta
procurando o motivo do silêncio e não demorou a encontrar, pois todos olharam para ele. Ou
melhor, ela.
Caminhando em passos firmes sobre finos saltos e vestida no que restava do vestido de
casamento, Lois adentrou o DP em direção à sua mesa, e a Clark. E ela estava furiosa.
"Lois?" Foi tudo o que Clark conseguiu dizer ao ver Lois naquele estado. Estava aturdido demais
para conseguir processar o fim de seu desespero ou o alívio em vê-la. Estava atônito.
Lois respirou fundo e parou em frente ao moreno, ainda furiosa. O encarou como se ele a tivesse
deixado plantada no altar.
"Lois.. O que está fazendo.. O que está vestindo... Onde você estava?"
"Oh", ela disse com um sorriso sarcástico, "Não está feliz em me ver?"
Clark engoliu as palavras, com medo de dizer qualquer coisa a ela naquele estado. O silêncio ainda
se mantinha no bullpen e Lois lançou um olhar mortal em volta. Foi certeiro: imediatamente
depois, cada um estava de volta em seus afazeres.
100
***
Clark arrastou Lois para a sala da copiadora e enfim eles conseguiram um momento de
privacidade. Ele a encarou chocado.
"Sem tempo para escurinho, Smallville, eu tenho uma história para escrever!"
"Lois, o que houve?"
"Oh, além de eu ter interrompido uma rede de tráfico de drogas e armas internacional e quase ter
me casado? Nada de mais! Eu só berrei por horas a fio em busca de um certo super namorado pra
ver se ele poderia tornar minha viagem de volta menos sofrida, mas nada! Você precisa aprender
a voar rápido, porque se suas turbinas estivessem ligadas, eu estaria menos drogada agora! Você
tem noção de quanta heroína eu cheirei nas últimas três horas?"
"Lois.."
"Sem contar que ele me tirou da fazenda. Da fazenda! Isso foi quase ontem, eu não acredito que
consegui sequer embarcar naquele avião sem você fazer sua famosa varredura pente-fino pela
cidade!"
"Lois, eu pensei que você tivesse.."
"Tivesse o quê?" Lois não o deixou completar, mas parou no momento em que ela própria pensou
em completar a sentença. "Ido para Star City? Sem me despedir?.."
"Eu pensei muitas coisas, Lois... Mas no fundo, eu sabia que você não poderia ter ido.."
"Fugido, você quer dizer", Lois conseguiu ler no olhar de culpa de Clark. "Depois de tudo o que
passamos, como pôde pensar que eu..."
Lois não conseguiu continuar, nem Clark. Ele apenas a fitou nervoso, entregando-se a ela pela
tremer de seus lábios, "Lois, me perdoe."
Lois o encarou por um longo tempo, arrancando enfim o resto do véu sujo que ainda a
acompanhava. Se deu, enfim, por vencida.
"Claro que eu te perdôo. Que tipo de namorada eu seria se não perdoasse o homem que me fez
ter forças para chegar aqui em primeiro lugar?"
Clark sorriu para Lois ao ver seus olhos brilhando para ele novamente e ela levou a mão ao rosto
dele, alisando-o com carinho.
"Mas você realmente vai retomar suas aulas de vôo, Smallville..."
Clark sorriu ainda mais e se deixou levar pela vontade irresistível de beijá-la. Lois cedeu facilmente
aos lábios de Clark, abraçando-se a ele como já lhe era de costume. Os dois se enlaçaram em um
perfeito encaixe ao tempo em que se devoraram apaixonadamente.
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Lois soltou os lábios de Clark com um sorriso prazeroso, "Não acredito que perdi a parte do
bouquet..."
"Ainda bem que você perdeu..." Clark disse sem maldade, pensando na confusão que ocorrera.
Lois no entanto entendeu de outra forma e deu um leve soco no peito dele a fim de que ele se
corrigisse. Contudo, o leve soco a fez sentir algo sólido no bolso da camisa de Clark. Ela olhou para
ele levando a mão ao objeto, vendo-o ficar sério enquanto ela deslizava a mão para fora do bolso
novamente.
A aliança.
Lois olhou para Clark sem saber o que dizer. Soltou-se de seus braços com a aliança ainda em suas
mãos.
"Por que ainda está com ela?"
Clark olhou para a aliança e para Lois, certo de que somente uma resposta era possível para
aquela pergunta.
"Porque eu te amo?"
Lois fitou Clark, proclamando um momento de silêncio diante das palavras dele. Respirou fundo
mais uma vez, se aproximando do herói novamente,
"Me desculpe, Clark..."
Lois depositou a aliança nas mãos de Clark, fazendo-o sentir um vazio no coração.
"Você não vai se safar assim tão fácil, Smallville... Precisa fazer direito."
O sorriso final de Lois colocou Clark de volta à órbita, e ele encheu o peito ao ajoelhar-se diante de
Lois, segurando a mão dela entre as dele.
"Lois Lane... Aceita se casar comigo?"
***
Do lado de fora, alguns funcionários tentavam ouvir alguma coisa por trás das portas e persianas
fechadas.
"Está calmo lá dentro" disse um jovem estagiário, enquanto o outro tentava olhar por uma
abertura no vidro.
"Aposto 20 dólares que ela enforcou ele com o véu".
"Shhhh" fez uma senhora loira que conseguiu abrir uma pequena fresta da porta.
"O que está vendo, Marie?" perguntou o estagiário.
102
"A última coisa que esperava...", a mulher respondeu maravilhada enquanto assistia à cena que se
desenrolava dentro da sala.
Lois e Clark, um envolto nos braços do outro, trocando o mais profundo e apaixonado beijo, no
qual reluzia o brilho do pequeno diamante perfeitamente encaixado no dedo da jornalista.
***
103
Capítulo 16
"Vamos, Smallville! Um pouco mais pra longe!"
Após tantas emoções intensas, um dia tranquilo sob o maravilhoso sol de domingo era tudo o que
Clark mais queria. No entanto, Lois tinha outros planos em mente. De óculos escuros e um
cronômetro na mão, ela se mantinha parada no campo aberto ao norte do milharal Kent. Ajustou
o aparelho até zerá-lo novamente e dirigiu seu olhar ao longe, berrando,
"Pronto! Ligue os motores!"
Do alto de uma pequena formação relevosa, Clark observava a ampla vista que tinha do milharal.
Podia avistar Lois a centenas de metros à frente, acenando como se fosse um sinalizador humano.
Eram ainda 9 da manhã e o sol raiava forte sobre os campos de Smallville, mas nada que o
pudesse incomodar, pelo contrário. O sol lhe dava ainda mais energia para a missão que tinha à
frente. Era o momento ideal.
Trajando apenas uma calça preta, Clark deu alguns poucos passos para trás. Olhou uma última vez
para Lois e voltou sua atenção para o campo à sua frente. Enrugou o cenho e travou os dentes,
procurando canalizar toda a sua energia em suas pernas. Deu um passo então, e depois outro,
colocando-se em movimento de propulsão. Correu com todas as suas forças até a ponta do alto
relevo onde se encontrava e lançou-se com tudo para os céus, cruzando o campo em uma rasante
veloz, passando com ímpeto por cima de Lois e seguindo em direção ao milharal. A morena, que
tinha os olhos vidrados em Clark, o viu atravessar o campo como se fosse um F12. No entanto, o
vôo perdeu forças alguns metros adiante e a rasante de Clark fez uma curva vertical em direção ao
milharal. Sem controle, o super partiu em queda livre e caiu em meio ao verde.
Ainda ao longe, Lois não mostrou qualquer reação de susto ou angústia. Apenas mordeu os lábios
em frustração enquanto parava o cronômetro. Para ela, aquela era somente mais uma entre as
várias quedas que Clark tivera tentando voar.
Poucos instantes depois, Clark já estava ao lado de Lois, tão frustrado quanto ela. Batia com as
mãos contra o próprio peito, tirando os restos de folhas que ainda estavam grudadas ao seu torso.
“Você está bem?” Lois perguntou vendo que a cara dele não era das melhores.
“Eu já destruí metade da plantação”, ele resmungou se limpando, “Isso não está funcionando,
Lois.”
“Claro que está”, ela mostrou o cronômetro a ele, “Você ficou meio segundo a mais no ar desta
vez. Mais um pouco e você estará fazendo companhia às águias e aos Boeings.”
Clark não parecia compartilhar da empolgação da noiva. Já havia tentado tantas vezes que não
sabia mais a diferença entre correr e cair.
"É inútil, Lois. Eu não vou conseguir voar desse jeito. Talvez eu não consiga de jeito nenhum.."
"Vamos, Smallville, não é verdade", ela caminhou até ele, agarrando-o pela cintura e abraçando-o,
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"Nós dois sabemos que você pode sim voar. E como..."
Nem mesmo a proximidade de Lois ao seu corpo o livrou da frustração de não conseguir engatar
vôo. Lois se deu conta de que precisaria de um método muito mais eficaz para injetar ânimo no
noivo. Ela calmamente passou a mão nos cabelos de Clark, desalinhados pela rasante aérea.
Deslizou a mesma mão pelo rosto dele acarinhando-o. O fitou compreensiva,
"Quer saber, você tem razão. Estou forçando, quando você estiver pronto, você vai conseguir...
Você só precisa deixar acontecer..."
Clark não podia concordar mais e sorriu para Lois. A mão dela desceu para o seu peito e ele
observou o anel de noivado perfeitamente encaixado no dedo dela. Sorriu novamente, "Isso quer
dizer que você não vai ficar chateada se eu não voar com você no colo em nossa lua-de-mel?"
Lois o fitou, sorrindo sarcasticamente, "Nem se atreva, Smallville. Eu colocarei a questão do vôo
como pré-requisito no acordo pré-nupcial, logo abaixo da cláusula onde diz que eu farei a janta
toda noite..."
"Isso será um acordo pré-nupcial ou um atestado de óbito?" brincou Clark, embora estivesse
realmente preocupado com a questão da comida feita por Lois. Nenhum casamento poderia
resistir ao filé grelhado de Lois Lane.
Lois se preparou para responder a Clark, mas seu celular tocou no bolso de trás da calça. Ela olhou
rapidamente, era Randall. Atendeu em seguida.
"Oi, Randall... Mesmo?" Lois olhou para Clark um pouco desapontada e ele compreendeu que o
domingo deles estava acabado. O super então abriu a mão, indicando um cinco para ela, e Lois
reagiu no celular, "Por sorte estamos em Metrópolis, chegamos aí em cinco minutos... Ok, ok"
Lois desligou o celular frustrada.
"Problemas?" perguntou Clark, e ela rebateu,
"Notícias."
***
Cinco minutos depois, Clark e Lois já estavam no DP, e seguiram em busca de Randall. O editor
estava em sua mesa, e agarrou alguns envelopes quando avistou a dupla de repórteres.
"Lane, parece que seu brilhantismo já rendeu resultados", ele disse entregando a ela os envelopes.
"Mandaram isso pra cá hoje cedo, alguém não gostou do que você disse sobre Naga."
Lois olhou para Randall e para Clark, abrindo os envelopes. Dentro havia pequenas notas de
ameaça, mas uma em particular chamou a atenção:
O império de Naga não acaba com ele. Eu te encontrarei.
Lois leu as notas, dando de ombros, "Leitores insatisfeitos, o que posso fazer?"
105
Randall a fitou sério, "Lane, há ameaça de morte nesses bilhetes. A não ser que a polícia pegue
esse cara, você pode sim estar em risco. Não se esqueça que Naga era um verdadeiro rei do crime
em Star City, sua matéria estourou uma rede de narco inteira e não devem ser poucos querendo
vingança."
Lois ainda não estava acostumada com esse tipo de popularidade pela fantástica matéria que fez
(e protagonizou) sobre Naga. Contudo, Randall tinha razão. E o olhar de Clark só confirmou que
ela precisava ter cuidado.
Os dois esperaram o editor se afastar e voltaram-se um para o outro.
"Ok, eu vou investigar isso", Clark disse preocupado, "Você fica aqui até eu voltar."
"Clark... Não é pra tanto. Eu não vou viver refém do medo por causa de um bilhetinho..."
"Isso não é um bilhete de escola dizendo que o cara vai te pegar na saída, Lois, esses caras são
perigosos. E depois do que houve com Naga, eu não vou arriscar te perder metida em outro avião
indo sabe-se lá para onde."
Lois se preparou para protestar, mas Jeff, seu estagiário, se aproximou dos dois com um recado,
“Srta. Lane, o Sr. White está querendo falar contigo."
A jornalista respirou fundo e voltou-se mais uma vez para Clark, "Ok, eu vou manter discrição, mas
se..."
"Ótimo" Clark a interrompeu satisfeito com a resposta. Deu um beijo rápido em seus lábios e saiu
do Bullpen, procurando o primeiro lugar vazio para superacelerar.
"Tchau pra você também" Lois disse já sozinha, seguindo enfim em direção ao elevador.
***
Já vestido em seu traje azul e vermelho, Clark superacelerou até Star City e seguiu as pistas
deixadas pela própria Lois em suas anotações para a matéria que lhe rendeu a capa do Daily
Planet. Havia muitas coisas a investigar, mas ele precisava se concentrar na pessoa que estava a
ameaçar Lois. Fez o que lhe pareceu mais prático: subiu no alto da maior torre de Star City e
concentrou-se por meio de sua super audição nas únicas palavras que importavam naquele
mundo de vozes que agora inundavam sua cabeça: Lois e Naga.
Aquilo poderia levar algum tempo, e Clark sabia. Que adorável domingo...
***
Lois chegou ao 22º andar e entrou na seção internacional. Diferente do Bullpen, o lugar repleto de
jornalistas era completamente arejado pelas amplas vidradas do prédio. E a vista era sensacional,
era possível ver todo o Centennial Park, de frente para o Distrito financeiro de Metrópolis. Lois
olhou em volta e notou duas mesas vazias, uma de frente para outra. Sorriu imaginando em como
106
seria incrível se ela e Clark pudessem um dia trabalhar ali.
"Lane!" uma já conhecida voz a chamou e ela virou na direção da sala envidraçada de Perry White.
Entrou e sorriu para o editor-chefe, que estava sentado em sua poltrona atolado de trabalho.
"Queria falar comigo?" Lois disse ao entrar e ele imediatamente se levantou agitado,
"Você está brincando? Depois daquela matéria com Naga?" disse o editor pegando o jornal com a
matéria na capa. Jogou-o sobre a mesa e se aproximou de Lois, "Lembra do que eu te disse?
Depois da matéria com o Superman, isso era tudo o que você precisava. Uma matéria feita do
zero, completamente diferente e ainda assim capa garantida. Você provou seu valor!"
Lois sorriu com os elogios de Perry, e ele seguiu falando:
"Por isso você pode ir ao RH e providenciar sua transferência, a partir de hoje você trabalha nessa
seção e eu sou seu editor."
Perry falou tão rápido que Lois mal pôde processar. Ela estava sendo promovida? O editor não deu
chance a ela de dizer qualquer coisa, pois foi chamado fora de sua sala em meio ao turbilhão que
estava o dia e deixou Lois lá sozinha. A morena parou feliz ao processar aquela informação, o que
ela significava. No entanto, foi atingida por uma outra conclusão que lhe tirou o sorriso dos lábios:
Clark.
***
Em Star City, Clark prosseguia com sua super escuta de alcance recorde, que enfim dava
resultados. Ao longe, podia ouvir uma conversa entre dois homens, que lhe chamou a atenção por
uma dupla menção a "Metrópolis" e "Naga":
"Tem certeza de que ele não voltará agora?"
"Ele tem um assunto pendente em Metropolis. Faz parte do processo."
"Mas ele nunca vai encontrar a droga. Se estava no avião com Naga, foi apreendida pela polícia."
"Isso pode ser providenciado. Mas a jornalista deve saber alguma coisa além do que escreveu..."
Aquilo era o suficiente para Clark. Superacelerou na direção das vozes, a pouco mais de cinco
kilômetros de onde estava. Entrou no armazém escuro sem tomar conhecimento dos que lá
estavam, os dois homens que conversavam entre si. Mais rápido do que o som, arrancou-lhes as
armas escondidas e os amarrou em um cano, vendando seus olhos. Os dois sequer tiveram a
chance de ver o que os havia arrebatado.
"AAAAAAAHH, Socorro!!" gritou um deles desesperado, e Clark fechou a mão no pescoço dele.
"O que sabe sobre Naga e a jornalista de Metrópolis?"
"Quem é você??" Questionou o outro, igualmente assustado. Diante do silêncio de Clark,
107
respondeu sua própria pergunta, "É o que chamam de Superman?"
"Bingo", disse Clark com cara de poucos amigos, "Onde está este homem do qual falavam?"
"Como é?" disse o mais assustado e Clark deu uma leve apertada no pescoço do homem, o que
parecia quase um processo de degolamento na perspectiva do bandido, "Arrggghh, ok, ok.
Akihiko, o que quer saber?"
"Quem é Akihiko?"
"O novo Rei do Crime de Star City! O que substituirá Naga!", respondeu o outro.
"O que ele quer com a jornalista?" Clark perguntou aproveitando que os dois resolveram dar com
a língua entre os dentes mais rapidamente.
"O que mais ele quer? Ele quer o carregamento que Naga perdeu, era dele! Por culpa da jornalista,
agora ele está devendo ao pessoal na Colômbia!"
"Interessante", disse Clark tirando a mão do pescoço do homem, "E onde ele está?"
"O que acha?", respondeu o outro homem, "Perdeu seu tempo vindo a Star City, pois a essa altura
ele deve estar em Metrópolis já"
De posse da informação que precisava, Clark agarrou os dois homens, desatando-os do cano, e
superacelerou novamente. Um segundo depois, ambos estavam atados a um hidrante na frente
do Distrito policial de Star City. Já o Superman, seguiu como uma bala de volta para Metrópolis.
***
Lois retornou a Bullpen, mas Clark ainda não havia retornado. Ela calmamente se sentou em sua
mesa e ficou a observar as placas dos dois, praticamente juntas na mesa. Como ela diria a Clark
que tinha sido promovida? Uma estranha sensação tomou conta de Lois, pois aquilo fora o que ela
sempre quis, mas agora não soava tão agradável.
Não sem Clark.
Lois saiu de seus pensamentos com o toque do celular. Uma mensagem. Ela olhou rapidamente
imaginando ser Clark, mas não era:
Me encontre na garagem,
P. White
Lois achou a mensagem um tanto estranha, mas falar com Perry era o que precisava no momento.
Ela não sabia como, mas pediria por Clark. Precisava de seu parceiro ao seu lado.
Instantes depois, ela já estava no subsolo do Daily Planet, caminhando entre carros. Não demorou
a avistar Perry, de costas junto à porta do carro dele.
"Ok, Sr. White, precisamos conversar sobre..."
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Lois não completou a frase ao ver uma arma apontada para a cabeça de Perry, que estava sério e
imóvel. E antes que ela pudesse reagir, sentiu um cano tocar a sua própria cabeça.
"Se não é a repórter que eu estava procurando..." Disse um homem de cabelos negros lisos e
olhos puxados. "Agora nós podemos ter aquela conversinha sobre a droga que Naga carregava no
avião."
"Se refere ao bolo de casamento?" Lois disse atrevida, embora sem poder de reação uma vez que
tanto ela como Perry estavam em péssima situação ali, "Sinto muito, mas eu não sou do tipo que
leva resto de comida para casa..."
"Vou lembrar disso quando decidir o que fazer com os seus restos, e os dele", respondeu Akihiko
empurrando ela em direção ao carro preto parado junto ao de Perry.
Por alguma razão, veio à cabeça de Lois uma música do U2, Sunday Bloody Sunday. Não que fosse
o caso, ela nunca entenderia as relações loucas feitas pela sua cabeça em momentos de completa
tensão..
***
Clark adentrou o Daily Planet procurando por Lois, mas não a encontrou no BullPen. fez sua
famosa varredura de raio-x e se deu conta de que ela não estava em lugar algum do prédio. Antes
de tirar conclusões sobre o porquê de Lois ter saído se ele pedira que ela não saísse, Clark
caminhou até Jeff.
"Hei, viu Lois por aqui?"
"Ela estava aqui agora há pouco, já procurou no 22º?"
"Perry White?" Clark comentou, e Jeff fez que sim com a cabeça, sorrindo.
"Eu acho que a Srta. Lane foi promovida."
Clark olhou feliz para Jeff ao ouvir a notícia, ele sabia o quanto aquilo significava para Lois. Por
outro lado, sentiu um vazio dentro do peito imaginando o que aquilo significava. Não trabalhariam
mais um de frente para o outro, como o fizeram por todo aquele tempo e que se tornara tão
mágico. Ainda assim, Clark ficou feliz. Pensou rapidamente nas milhares de formas com as quais os
dois poderiam comemorar aquela promoção.
Mas teria que esperar. Um estranho barulho de batida de carros seguido de freios chamou sua
atenção e Clark superacelerou até o local, uma rua próxima ao Shusters Sports Arena. Dois carros
haviam batido, mas estavam afastados um do outro. Ao ver que todos estavam bem, o super deu
preferência a uma abordagem jornalística. Caminhou até um dos motoristas, que ainda estava
dentro do carro, e o ajudou a sair.
"O que houve? O senhor está bem?" perguntou Clark ajudando-o a sair do carro, e o coroa
respondeu um pouco aturdido,
109
"Um louco, atravessou o sinal e foi levando todo mundo na frente, foi sorte ninguém ter se
machucado!"
Clark já se preparava para seguir na direção em que o suposto carro desgovernado fora, mas
alguém no outro carro pedia por ajuda. Uma mulher, no banco de trás, estava grávida. Clark foi
imediatamente em seu socorro, já chamando pela ambulância.
***
Mais à frente, já na área da marina, o carro preto freou com tudo próximo ao deque. Os bandidos
saíram do carro, carregando Lois e Perry com ele.
"O que pensa que está fazendo, ô projeto de poderoso chefão!" berrou Lois tentando se
desvencilhar do homem que a segurava, "Você não está em Star City, as coisas por aqui são
diferentes para quem sequestra jornalistas do Daily Planet!!"
"O que, a SWAT virá atrás de vocês?" questionou Akihiko irônico, "Ou talvez o tal do Superman,
não é? É melhor torcer para que ele saiba nadar então..."
Os quatro seguiram com pressa pelo deque de concreto até uma lancha ao fim que parecia já
esperar por eles. Havia um cara junto ao controle já preparado para dar a partida.
"Ótimo, tudo o que precisava agora!" disse Perry percebendo o que estava para acontecer. "Seus
idiotas, a marinha patrulha essa área! Vocês nunca vão passar!"
"Não tenha tanta certeza", disse Akihiko. Já haviam andando praticamente todo o deque, apenas
uma lancha grande estava entre eles e a lancha de destino.
"ok, eu não sei quanto a você, Perry, mas não estou a fim de ficar à deriva hoje... Prefiro viajar
pelos ares, se é que me entende..."
O mais rápido que pôde processar, Lois se jogou contra Perry, empurrando-o para a lateral do
deque, caindo os dois na água. Os homens começaram a atirar contra a água, mas Lois seguiu
nadando por baixo da grande lancha, Perry em seu encalço. Emergiram do outro lado da lancha, e
os homens teriam que entrar nela para vê-los.
"Maldita!" gritou o capanga de Akihiko mirando a água, mas o novo chefe do crime não pretendia
perder tempo com aquilo.
"Vamos embora, eu cuido dela depois!"
Os dois seguiram para a lancha e entraram rapidamente. Lois e Perry observaram a movimentação
dos bandidos, ainda se segurando na lateral da lancha grande.
"Você está bem?", perguntou Lois olhando para seu novo editor,
"Você é sempre doida assim?", ele respondeu lutando ainda para ficar boiando. Água nunca fora
seu forte.
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"Apenas quando heróis estão em falta..."
Foi ela terminar de dizer aquilo e Clark surgiu na marina, ainda um pouco longe do deque. Avistou
Lois e Perry na água, mas um homem na lancha grande se aproximava deles com uma boia, então
eles estavam bem. Voltou sua atenção para a lancha, que riscava as águas fugindo de Metrópolis.
Clark refletiu sobre o que faria, um longo mergulho ou um grande pulo?
Nenhum dos dois.
Clark olhou para Lois e Perry White na água, para o deque e para a lancha ao longe. Olhou
meticuloso para a distância que iria cobrir, mas se desse certo, pouco importava se era perto ou
longe. Pensou no que fizera de manhã, no milharal, na propulsão. E então, mais rápido do que
uma bala, correu todo o deque e se lançou na direção do mar, atirando-se como se fosse
mergulhar, mas sem adentrar as águas. Fechou os punhos e os lançou para a frente, guiando-o
pelo caminho.
Lois e Perry saíram da água com a ajuda do marinheiro na lancha, e a jornalista olhou para aquela
linha azul e vermelha a cortar o céu pouco acima das águas. Ela sorriu ao se dar conta de que era
Clark e que ele estava voando!
E não ficou ali. O risco azul e vermelho alcançou a lancha em alto-mar agarrando os três homens e
subiu aos céus em seguida, lançando-se em uma parábola como antes, mas desta vez, para o alto.
Para o alto e avante.
"O que é aquilo? Um pássaro?" gritou Perry olhando para os céus, tão impressionado quanto o
marinheiro.
"Um avião?"
"É o superman!", disse Lois sorrindo, feliz e orgulhosa ao ver seu herói abraçando seus poderes
pelos céus de Metrópolis.
Alguns instantes depois, era a vez dos habitantes de Metrópolis de olhar para o alto e curtir o
herói em seu primeiro vôo de combate ao crime. As pessoas que andavam pelas ruas próximas ao
Departamento de Polícia de Metrópolis viu o Superman sobrevoar ultrarapidamente o prédio e
soltar os três bandidos no telhado, partindo em seguida. Mesmo sem compreender o que
acontecia exatamente, a população vibrou com a visão do super-herói em azul e vermelho
sobrevoando os céus como nunca fizera antes.
Como uma nova fonte de esperança.
***
Aquele estava sendo um longo domingo, e Lois mal pôde acreditar o quão rápido as horas
passaram durante a tarde. Já trocada de roupa, a repórter entrou no BullPen praticamente vazio,
iluminado pelos raios de sol do poente. Olhou para sua mesa e a de Clark, e tal como fizera antes,
sentou-se em seu velho lugar e olhou novamente para as placas. Ainda não o tinha visto desde o
vôo e imaginou o que ele poderia estar fazendo. Sorriu ao pensar nisso.
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O que ela não se deu conta foi de que Clark a observava por trás, parado na sala de cópia. Ela não
usava mais a roupa da manhã, mas seus cabelos ainda estavam um pouco desalinhados. E tudo o
que ele podia pensar era em desalinhá-los ainda mais.
Lois se virou ao ouvir um barulho atrás de si e deu de cara com Clark. Ele sorriu para ela e seguiu
em direção à sua mesa, sentando-se. Estavam agora de frente um para o outro, como se
acostumaram a ficar depois de quase um ano.
"Eu soube que você foi promovida. Parabéns, Lois... Já era hora de você ser... a jornalista que você
sempre quis ser..."
Lois sorriu, inclinando-se sobre a mesa.
"Não sou a única com uma grande conquista nas mãos hoje... Eu vi o que fez hoje. Parabéns..."
"Eu não teria conseguido sem você", ele disse concentrado nela.
"Eu não teria conseguido sem você", ela respondeu, igualmente concentrada. "E você sabe o que
me deixa mais contente? É que você fez o que fez quando podia escolher por não fazer. Você tinha
muitas formas de parar aqueles bandidos, e decidiu por acreditar que era capaz... Não precisou
me ver cair de um prédio, ou segurar um avião... Você encontrou seu poder dentro de você, onde
sempre esteve, e no momento em que quis..." a morena então balançou a cabeça, sorrindo, "Eu
não acho já ter sentido uma felicidade e orgulho tão grande em um só momento!.. E foi o seu
momento!"
Clark olhou admirado para Lois e confessou.
"Quando eu larguei aqueles homens no alto do prédio da polícia... Eu saí pelos céus sem rumo,
apenas sentindo o vento sob meu corpo, me empurrando para cima... Voei uma longa distância,
Metrópolis, Smallville, Star City, Gotham... Lugares que não conhecia, inimagináveis... Eu nem
tenho como descrever como me senti. Capaz de abraçar o mundo dos céus..."
Lois ouviu Clark, admirada com o relato dele. Ela sorriu com o olhar, em reação ao brilho no olhar
do seu herói.
"Mas...", ele prosseguiu, inclinando-se também sobre a mesa, "Eu voei o mais alto e lento que
pude, flutuando nos céus... E eu vi o globo dourado girando lá do alto, um mundo dentro de outro
mundo. Nosso mundo. E eu desejei você comigo."
Clark levou sua mão até a de Lois e a envolveu, ainda encarando-a.
"Eu sei que existe um caminho o qual eu devo seguir com minhas próprias forças... Mas eu quero
seguir com você, mesmo quando eu estiver sozinho..."
"Eu sempre estarei com você", Lois respondeu emocionada, "E quando eu não estiver, é só você
olhar para o globo dourado, e saberá que estarei pensando em você."
Clark sorriu, igualmente emocionado.
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"Lois... Você não precisa se preocupar comigo. Quando você estiver no alto, e eu aqui... Ainda
assim estaremos juntos."
Aquilo lembrou Lois de algo que ela ainda não parecia aceitar bem. Não queria se separar de Clark.
Contudo, o dia que viveram mostrou a ela que ele estava certo. Ambos iriam viver suas conquistas
e compartilhá-las com o outro, cada um à sua maneira. E Clark estava pronto para compartilhar a
sua. Ainda segurando a mão de Lois, ele se levantou da cadeira e caminhou para perto dela,
convidativo. Não era preciso dizer mais nada.
***
Alguns minutos depois, Clark estava de volta em seu velho traje azul e vermelho, de mãos dadas
com Lois. Os dois surgiram no telhado do Daily Planet e olharam para a bela vista do pôr-do-sol a
se desenhar no horizonte. O herói então se colocou diante de Lois, segurando também a outra
mão. A chamou um pouco mais para si e Lois o envolveu pelo pescoço com um dos braços,
repousando o outro junto ao seu peito. Clark a envolveu também, levando um de seus braços à
cintura dela de forma firme. Gentilmente, a jornalista colocou seu pé sobre o de Clark, um após o
outro. A ajudaria a se firmar e ele realmente não sentia seu peso. O super a fitou apaixonado,
ajeitando uma mecha de cabelo de Lois que já se agitava com o vento. Ela sorriu olhando para ele
de volta. Estavam prontos.
"Para o alto e avante..." ela disse quase surrurando e Clark deu um largo sorriso. Sem tirar os olhos
dos dela, começou a levitar, lentamente perdendo o contato com o chão até que se viu ao lado do
globo do DP. Lois estava impressionada, mas ao mesmo tempo não conseguia tirar os olhos dos de
Clark. Se sentia nos céus antes mesmo de sair do chão, e agora literalmente. Os dois se encararam
de forma apaixonada e Lois não resistiu, dando o primeiro de muitos beijos que os dois trocariam
nos ares.
Clark subiu um pouco mais, e mais ainda, até que atingiu uma altura considerável. Estava muito
acima do Daily Planet e fez com que Lois visse o que ele tinha visto horas atrás. Mas Clark não
ficou por aí. Mantendo Lois firme pela cintura com um dos braços, moveu o outro para a frente,
indicando o caminho que iria seguir. Fez uma curva no ar e se colocou horizontalmente, ganhando
velocidade aos poucos. Ao ver o quão contente Lois estava com aquele pequeno ato, ele decidiu
tornar ainda mais emocionante: mergulhou para baixo e depois levantou vôo, sobrevoando
Metrópolis como um verdadeiro pássaro, ou um anjo. E em seus braços, a razão pela qual ele
queria ir mais e mais alto.
Não havia um destino traçado na infinitude dos céus. Que o amor lhes mostrasse o caminho...
***
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Capítulo 17
Alguns poucos dias se passaram desde o vôo de Clark e a promoção de Lois, e as coisas não
poderiam estar melhores entre eles. A fazenda Kent amanheceu rodeada pelo delicioso aroma do
rancho em seu final de outono, e os raios do sol adentraram os aposentos, um a um, iluminandoos para um novo dia.
Pelo corredor, se podia ouvir os pés descalços pisando o assoalho de madeira calmamente,
procurando não fazer barulho. Seguiu pelas escadas, passando por Shelby que caminhava da
cozinha para a sala. Subiu devagar e passou pelo corredor até o quarto, empurrando a porta de
madeira com cuidado.
Lois permanecia deitada ao lado esquerdo da cama, de bruços, abraçada ao travesseiro enquanto
dormia. Os lençois brancos cobriam suas pernas até sua cintura, e suas costas nuas começavam a
ser tocadas pelos raios de sol provindos da janela entreaberta. Clark se aproximou dela vestido
apenas em uma calça branca folgada. Carregava uma bandeja com o café da manhã, a qual
depositou sobre a mesa de cabeceira. Seu intuito era tentá-la com o cheiro do café fresco, mas
não resistiu ao vê-la dormir. Agachou-se próximo à cama e ficou observando-a em seu sono
tranquilo. Levou a mão em direção à cabeça de Lois, alisando seus cabelos de maneira suave,
quase sem tocá-la. Pegou-se imaginando o quanto a amava, embora fosse incapaz de mensurar.
Inclinou-se sobre ela e depositou um beijo em sua testa, quase parando no tempo em seu ato.
Ainda de olhos fechados, Lois se mexeu um pouco com o toque dos lábios de Clark em sua testa e
ele levou a outra mão ao rosto dela, acariciando-o. Desceu com a parte de fora da mão até o
queixo, onde se deteve por um pouco mais de tempo, sem deixar de alisar os cabelos com a outra.
Aquilo definitivamente despertou Lois, que se mexeu entre as mãos de Clark. Ela abriu os olhos
erguendo a cabeça e olhou para ele, suspirando e sorrindo ao encontrar aqueles maravilhosos
olhos azuis a inundá-la de amor tão cedo pela manhã. Clark desceu a mão que alisava os cabelos
dela para apoiar seu rosto, de modo que Lois pudesse permanecer com a cabeça erguida, olhando
para ele.
"Eu estava sonhando com você", disse Lois procurando acordar um pouco mais, inebriada pelo
cheiro suave de Clark, "Envolvia uma sunga vermelha e chocolate..."
"Isso é uma proposta?", respondeu Clark sorrindo.
A resposta de Lois veio na forma de um olhar direcionado aos lábios dele. Clark não resistiu e
levou seu rosto em direção ao dela, fechando os olhos enquanto buscava seus lábios. Inclinou a
cabeça e a beijou suavemente, encaixando sua boca na de Lois de forma perfeita. Em um segundo
movimento Lois chupou o lábio inferior de Clark, devagar como se não fosse mais soltar. E Clark se
manteve ali, como se não quisesse sair. E não queria. Se pudesse, passaria o dia inteiro com seus
lábios envolvidos nos de Lois.
As bocas se separaram lentamente e os dois voltaram a fitar intensamente um ao outro. Lois levou
sua mão ao ombro de Clark, alisando-o, e o super depositou um novo beijo entre os dedos dela.
"Cuidado, você está me deixando mal acostumada", Lois disse ao olhar para a mesa de cabeceira e
ver a bandeja cheia de comida. Clark sorriu intensamente, certo de que mimá-la era uma das
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coisas que mais gostava de fazer. Olhou para a bandeja e a estudou por um momento, até levar a
mão a um pêssego fresco, já cortado. Pegou-o entre os dedos e levou na direção da boca de Lois,
provocando-a.
"É minha forma inteligente de te manter longe da cozinha..."
"Oh, não precisa se esforçar nesse sentido, Smallville. Entre o fogão e eu haverá um antagonismo
eterno..."
Clark deixou o pêssego enfim tocar os lábios de Lois e ela entreabriu-os, mordendo um pedaço da
fruta. Mordeu e fechou os olhos, saboreando intensamente. Clark levou o pedaço restante à sua
própria boca, entrando em sintonia com as sensações de Lois. Eram praticamente uma única alma
àquela altura.
"Café na cama, isso certamente irá compensar pelo dia louco que teremos, certo?" Lois comentou
após engolir a fruta, "Você lembra que Chloe e Jimmy chegam hoje da lua-de-mel?"
"Já devem ter chegado a essa altura", disse Clark buscando na bandeja farta uma nova fruta.
Inspirado pelas últimas palavras de Lois, pegou o pote de mel e derramou um pouco sobre a
porção de morangos. Pegou então um e levou até a boca de Lois, melando seus lábios com o mel
antes de deixá-la morder a fruta. Lois o fitou com uma risada sacana,
"Onde você aprende essas coisas?.."
"Eu tenho meus sonhos também", ele disse descarado. Tirou o morango da vista de Lois e levou
seus lábios aos dela novamente, desta vez ele chupando seus beiços umedecidos pelo mel. Lois se
deixou levar totalmente vendida pelo sabor de Clark misturado ao mel, ficando com cara de 'quero
mais' no momento em que ele se afastou novamente. Ele entregou o morango na boca dela e Lois
voltou a repousar a cabeça no travesseiro, comendo a fruta com gosto.
"Pode imaginar quando tivermos nossa própria lua-de-mel?" Lois perguntou ainda mastigando, "O
que acha? Uma viagem às Ilhas Gregas, ou um bangalô em Bora Bora... Talvez um cruzeiro pelos
mares do Sul. Quer dizer, você ainda assim poderia levantar vôo a qualquer momento..."
"Honestamente, eu não consigo ainda imaginar, Lois", Clark disse pensando em como eram,
principalmente ela, imprevisíveis, "Mas acho que podemos adiantar ao menos a parte do mel..."
Lois direcionou o olhar para Clark e o viu com o pote de mel na mão. Ele tinha aquele olhar de que
iria fazer algo que a deixaria bastante excitada. E ela amava aquele olhar. Clark chegou ainda mais
próximo da cama e colocou seu corpo bem próximo ao de Lois, que encaixou sua cabeça sob o
rosto dele, sentindo-se envolvida. Clark inclinou o pote sobre as costas de Lois e deixou um pouco
de mel derramar sobre ela, correndo o caminho da espinha dorsal. Lois se contorceu de leve ao
sentir o melado um tanto quanto gelado em suas costas, mas relaxou com as sensações que aquilo
lhe proporcionava. Clark virou o pote mais um pouco, deixando o mel escorrer até bem perto da
cintura. Largou o pote e pegou um novo morango, passando-o sobre o mel nas costas de Lois.
Ofereceu a ela, mas comeu ele mesmo em provocação.
"Muito gostoso...", disse de forma ambígua, mas Lois se via tão perdida nos olhos dele que quase
não o ouviu.
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"Essa é a parte em que você começa a lamber as minhas costas e a gente perde a hora para o
trabalho?"
"É, mais ou menos isso. Mas acho que a parte de chegar ao trabalho a gente pode fazer de uma
forma bem rápida..."
"E a do mel?"
"Bem", Clark a fitou sorrindo , essa eu prefiro que seja bem devagar..."
Diante do sorriso de aprovação de Lois, Clark se levantou na lateral da cama e subiu na mesma,
colocando-se do outro lado. Se ajoelhou diante de Lois e inclinou-se sobre suas costas,
aproximando seu rosto devagar. Lois sentiu a respiração de Clark tocando seu ombro, mas Clark
não fez rodeios. Levou sua língua, devagar e eroticamente, em direção ao mel que escorria sobre o
corpo dela. Lois voltou a se contorcer ao sentir Clark lambendo-a, uma descarga de prazer
correndo pela sua espinha como se ela própria pudesse sair voando dali. Mas a última coisa que
Lois faria era sair, ou mexer-se. Aquele céu matinal era o melhor que poderia imaginar, com seu
próprio anjo alado a envolvê-la por completo.
Clark lambeu todo o mel do alto da coluna até a região da cintura, subindo mais uma vez a fim de
ter certeza de que fizera o trabalho completo. O leve gemido de Lois com o ato lhe mostrara que a
resposta era positiva, e continuou a subir com sua boca, movendo o cabelo de Lois para o lado e
chupando sua nuca. Tanto um como o outro mal podiam se conter mais de excitação e Lois se
virou para ele, deixando-o cair por cima do corpo dela, abraçando-a e beijando-a ardentemente
dessa vez.
Era realmente uma ótima maneira de iniciar o dia...
***
Tal como Clark prometera, a viagem para o Daily Planet fora "ultra-rápida" e eles conseguiram
chegar praticamente na hora. Naturalmente, Lois sempre precisava encontrar um banheiro a fim
de colocar as mechas de volta ao lugar, principalmente quando Clark adotava a rota aérea. Nada
diferente do que ela já tinha que fazer quando os dois se agarravam na sala de cópia, mas estes
dias haviam acabado.
Os dois desceram as escadas do DP em direção ao Bullpen, parando em frente ao elevador. Lois
deu uma rápida olhada através da vidraça para a sua antiga mesa, ao lado da de Clark. Encontravase vazia. Antes que emoções começassem a falar por ela, Lois voltou o olhar para Clark com um
sorriso.
"Bem, mister... Está entregue."
Clark não pôde deixar de rir, já que fora ela a caronista no processo.
"Sim, entregue... Então acho que só vamos nos ver..."
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"Eu vou almoçar com a Chloe" Lois comentou, mesmo sabendo que já havia dito aquilo umas mil
vezes, "Talvez a gente tenha um tempo depois do almoço..."
"Eu tenho que ficar de olho na passeata que vai ter no centro", Clark disse já se desculpando, "Não
quero que ninguém se meta em problemas..."
"Verdade. Bem, então a gente se vê de noite..." Lois sugeriu sem mais opções de encontro. Na
verdade, a noite a que Clark se referia era o momento de retornar à fazenda, para o qual Lois
precisaria desesperadamente de carona.
"Eu te pego às 8... No telhado"
Ambos sorriram com o fato de que eram os únicos funcionários do Daily a utilizar um pseudo
heliporto. Pararam, contudo, diante um do outro com o habitual desconforto da despedida. Ainda
não haviam se acostumado com o fato de que não passariam o dia sentados de frente um para o
outro, conversando, flertando, amando-se pelo olhar. Clark fitou Lois com um olhar quase órfão, o
que não ajudou muito.
"Então a gente se vê" Lois disse de forma rápida e indolor, esticando-se na direção de Clark e
depositando um beijo na bochecha dele. Entrou no elevador sem olhar para trás, até que a porta
se fechou.
Clark observou o elevador subindo e usou sua visão de raio-x para olhar Lois novamente. Percebeu
que ela chutava levemente a parede do elevador com o bico do salto, provavelmente por conta da
mesma razão pela qual Clark se sentia como se sentia. Estava feliz com a promoção de Lois, mas
sentia sua falta durante o dia de uma maneira imensurável. Mesmo que compensassem a saudade
à noite entre os lençois, não era a mesma coisa. Clark podia ter a Lois amante nos braços, mas
sentia como se tivesse perdido sua parceira. E não era diferente para Lois.
O super se voltou para o Bullpen e entrou no escritório, em direção à sua mesa. Antes de sentar-se
ou qualquer coisa, sentiu uma mão bater-lhe no ombro.
"C.K.!" disse Jimmy Olsen sorridente quando Clark se virou para ele.
"Jimmy!" Clark respondeu com um abraço amigo, feliz por rever o fotógrafo, "E aí? Bem vindo de
volta!"
"Obrigado! A viagem foi cansativa, mas não podia ficar longe daqui nem mais um minuto ou não
teria um emprego pra voltar..."
"Como foram as coisas? Como está Chloe?"
"Muito bem, nos divertimos muito!" Jimmy disse, tendo em seu olhar feliz a expressão perfeita de
suas palavras, "E você, como andam as coisas por aqui? Como andam as coisas com Lois?.."
Clark sorriu sem saber por onde começar, mas não foi preciso. Um reluzir em sua mão chamou a
atenção de Jimmy para uma fina aliança no dedo da mão direita. O fotógrafo quase derrubou o
queixo no chão ao se dar conta do que aquilo representava.
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"C.K... Não acredito, cara! Você e a Lois! Meus parabéns!!!" O loiro abraçou Clark fortemente,
deixando o super sem ação, "Eu sabia, eu sempre soube! Vocês nasceram um para o outro!"
"Obrigado, Jimmy. Estávamos esperando vocês chegarem para dar a notícia"
"Chloe vai adorar! E cadê a Lois?" Jimmy olhou para a mesa dela e estranhou, "Por que está
vazia?"
Até mesmo a pergunta mexia com Clark, mas ele esboçou um leve sorriso para responder,
"Lois foi promovida. Ela agora está na seção internacional com Perry White"
"Oh, que demais!", Jimmy mal podia conter a empolgação diante de tantas boas notícias, "Depois
eu vou lá dar o duplo parabéns!"
Clark apenas o observou, procurando sintonizar-se na empolgação de Jimmy.
***
Lois já entrou no amplo e agitado escritório ouvindo sua nome soar ao longe:
"Lane!!!"
Rapidamente ela visualizou Perry, que estava com a porta de sua sala aberta, um telefone no
ouvido e o celular no outro. Despachou uma das ligações e continuou com a outra, ao tempo em
que conversava com outro funcionário. Lois largou sua bolsa sobre sua mesa e foi até a sala do
editor.
"Não importa se o ministro vai fazer a declaração ou não, a matéria sobre as transnacionais sai
amanhã ou eu vou arrancar os cabelos, e não será o meu!"
Lois entrou na sala no instante em que o funcionário que lá estava saiu com pilhas de trabalho nas
mãos. Sobre a mesa de Perry, ainda havia outras três pilhas, e Lois imaginou se era a próxima.
"Ok, então", concluiu Perry ao telefone, "A deadline é às 6 da noite, 5 pra você"
Perry desligou o telefone voltando sua atenção imediatamente para Lois,
"Lane! Que arraso de matéria foi aquela? Desse jeito, não haverá jornal suficiente para dar conta
de seu talento..."
"Imagina, o promotor distrital envolvido com o narcotráfico internacional, quase caiu no meu colo
depois do caso do Naga", ela respondeu tentando ser modesta, e Perry aproveitou o gancho,
"Falando em colo, tem visto o Superman?"
"Não, não tenho visto, e o que quer dizer com 'colo'?", indagou Lois.
118
"Quero dizer que todo mundo já percebeu que ele arrasta uma asinha pra você, embora ele não
tenha asa. Aliás, já descobriu como ele voa se não tem asas?"
"Não, mas acho que dá pra correr atrás dessa info..."
"Bom, então aproveita e consegue uma foto da cara dele. Todo mundo reporta absolutamente
tudo sobre o Superman, mas ninguém nunca o viu de fato, a não ser você e bandidos
desacordados. Se alguém pode conseguir uma imagem exclusiva, esse alguém é você, Lane"
"Ok, mas Perry, eu--"
"Eu sei que estou te sobrecarregando um pouco, mas Michael pediu demissão ontem e estou sem
um jornalista para cobrir a seção, então precisamos de grandes matérias para dar conta da
demanda do jornal. E você, Lane, você é meu Ás na manga"
Perry deixou sua sala, e Lois parou aturdida com sua nova missão. Estaria empolgadíssima pelo
desafio jornalístico se ele não representasse uma contradição para ela. Tirar uma foto do
Superman seria expô-lo como não havia como fazer; admitir que ele tinha uma queda por ela era
insinuar que poderia haver algo entre os dois, o que traria consequências para Clark e o obrigaria a
fingir ter ciúmes dele mesmo.
Lois deu de ombros, incrédula com a loucura que sua vida se tornara. O funcionário de antes
retornou à sala e Lois o parou, indagando:
"Você sabe se o plano de saúde daqui inclui visitas periódicas ao psiquiatra?"
***
Apesar de algumas poucas super idas e super vindas, Clark passou praticamente toda a manhã em
sua mesa, olhando para a tela em branco do editor de texto. Embora feito alguns bons artigos nos
últimos dias, era sempre uma novela iniciar qualquer matéria, por mais simples que fosse. Ele
tinha o tema, os depoimentos, fatos a rodo, mas ainda assim as palavra não fluíam com facilidade.
Era tão diferente com Lois por perto.
Clark pensou em como ela sempre o ajudara com as matérias e sentiu-se um pouco
envergonhado. Precisava provar o seu valor, independente de Lois. Mas era inegável a capacidade
de inspiração que ela trazia para suas matérias, buscando nele o jornalismo que o próprio Clark
desconhecia. Ela não era apenas sua amante e parceira, como também se mostrava uma musa
inspiradora. Ela era muitas mulheres na vida de Clark, que ocupava de formas diferentes cada
momento de seu dia. E agora ele se via sem essas dimensões. Precisaria encontrar uma forma de
viver sem elas.
Randall se aproximou, interrompendo a reflexão de Clark, "Kent! Um maluco está fazendo várias
pessoas de refém no supermercado da 5ª com a Bradley. Quero você cobrindo a coisa toda!"
Aquilo despertou Clark para seu instinto heróico. Alheio a Randall, que já se retirava do BullPen,
Clark pegou sua mochila e seguiu na direção da cabine telefônica do Daily Planet, onde mais
rápido do que o som, mudou para seu tradicional traje azul e vermelho e disparou para longe do
119
jornal. Acelerou na direção do local onde havia o sequestro e tão rápido quanto chegara, entrou
pelos fundos da loja, agarrou o bandido levando-o dali e o prendeu com uma barra de ferro nos
fundos do supermercado, junto ao beco pelo qual disparou para ir embora. Logo depois, misturouse à multidão já vestido de Clark Kent, observando a retirada dos reféns pela polícia. Todos
comentavam que o Superman os havia salvado, rápido como uma bala, e Clark sentiu-se orgulhoso
por ver que estava se aprimorando na arte ser quase invisível quando todos ao seu redor
morreriam por uma foto sua. Puxou do paletó então um caderno de notas e seguiu até os policiais,
a fim de fazer seu trabalho para Randall.
A poucos quarteirões dali, Chloe e Lois faziam um rápido lanche na lanchonete próxima a Isis
Foundation. As duas saíram pela calçada com seus cafés em punho conversando sobre
praticamente tudo, desde a festa de casamento e o sequestro de Lois até a lua-de-mel de Chloe e
a recém-condição de Lois e Clark.
"Não acredito que perdi a jogada do bouquet!", riu Lois após a narração de Chloe sobre o terrível
momento, enquanto pensava silenciosamente, "Não acredito que perdi a chance de montar
naquela lustradora de carecas profissional!"
"E eu não acredito no que estou vendo, você e Clark, noivos!"
"Bem, não é que estamos 'noivos'..", desconversou Lois, mas Chloe fez pouco caso da conversa da
prima.
"Oh, claro, apenas estão usando alianças após ele ter te pedido em casamento. Deve ser uma nova
modalidade de amizade"
"Ok, ok", Lois se deu por vencida, "Mas é que pra mim ainda é muito estranho usar o termo,
Smallville e eu ainda estamos nos curtindo, batizando todos os cômodos da casa, você sabe...
tentando entender toda essa loucura à nossa volta"
"Vocês vão tirar de letra", Chloe disse e as duas atravessaram a rua na faixa. "E como está sendo
essa vida separada no Planet?"
Esta deixou Lois calada. As coisas não eram as melhores nessa front, mas ela não podia reclamar,
pois sabia que eventualmente, tanto ela como Clark encontrariam uma forma de lidar com a
situação.
Chloe olhou para a prima esperando uma resposta, mas as duas foram distraídas por um barulho
intenso nos céus. Olharam juntas para o alto, assim como os vários transeuntes ao redor: um
borrão azul e vermelho cruzou o céu sobre elas rápido como um foguete, seguindo para o outro
lado de Metrópolis. Chloe, assim como os demais, observou o Superman impressionada, enquanto
Lois tentou conter o sorriso apaixonado e orgulhoso.
"Pega eles, coisa gostosa!", Lois se voltou novamente para Chloe após um longo suspiro, "Onde
estávamos?"
***
120
Alguns minutos depois de evitar um assalto a banco e um atropelamento, Clark já estava de volta
ao Daily Planet em seu modo Clark Kent. Olhou para a hora, já estava um pouco tarde para tentar
encontrar Lois. E ainda tinha a passeata para cobrir, o dia parecia cavalgar no ritmo de seus vôos.
Clark seguiu para o Bullpen, até que deu de cara mais uma vez com Jimmy Olsen. O fotógrafo
estava concentrado na tela do computador e olhou para Clark sorridente na hora que percebeu a
presença do fazendeiro.
"C.K.! Chegou bem na hora, vem ver isto!"
Clark caminhou até Jimmy e olhou para o computador. Sentiu um frio no estômago em um
primeiro momento, mas depois relaxou ao ver que não havia com o que se preocupar.
Jimmy Olsen havia retirado uma foto do Superman, ou quase.
"Um borrão?" Clark comentou se fazendo de desentendido.
"Que borrão o quê, graças a sua noiva, ele agora é o Superman!", corrigiu Jimmy feliz da vida,
"Tirei essa nos becos atrás do supermercado, quando o Super passou lá resgatando os reféns de
manhã. Acha que pode conseguir a capa com ela?"
"Como assim a capa?"
"Ora, você não ficou com a matéria sobre o assalto? Então, só precisa escrever sobre como o
Superman é incrível e mais a minha foto... Matéria de capa"
Aquilo certamente não soava bem aos ouvidos de Clark. Escrever sobre si mesmo?
"Jimmy, eu não acho que.."
"C.K.", Jimmy o interrompeu, "Olha a Lois. Ela pega toda pequena oportunidade e transforma em
uma grande matéria. Até o sequestro dela ganhou a headline! Se você quiser ser um grande
repórter, terá que seguir o mesmo caminho, cara!"
Clak respondeu praticamente com o olhar, incomodado com toda a situação. Jimmy o fitou
tentando compreender o porquê da resistência de Clark em escrever sobre o Superman, até que
lhe ocorreu:
"Peraê... Não me diga que você tem ciúmes do Superman por causa da Lois, é isso?"
Clark revirou os olhos achando aquilo ridículo, mas Jimmy tomou a reação pela forma errada. Para
ele, era a confirmação de que aquele era o problema.
"Qual é, C.K.! A Lois te ama!"
"Jimmy, você não entende", Clark preparou para desfazer aquela idéia, mas se deu conta de que
era uma desculpa perfeita. Refez seu discurso, como em desabafo, "Ele é um super herói..."
121
Jimmy se levantou e depositou a mão sobre o ombro de Clark, procurando consolá-lo, "Você é o
melhor cara que eu conheço. E o Superman pode até voar, mas é você que faz Lois ficar nas
nuvens... Vai por mim"
Jimmy se retirou, deixando Clark pensativo sobre o assunto. Definitivamente não iria escrever
sobre si mesmo, não era certo. Mas também não queria ceder ao desafio de encontrar o
jornalismo em si. Não iria desistir.
***
Várias horas se passaram, e a noite atingiu Metrópolis friamente. Uma fina chuva caiu por todo o
fim de tarde, deixando o Daily Planet com o cheiro do orvalho provindo do Centennial Park. Uma
noite boa para se estar consigo próprio, ou com quem mais se ama.
Clark estava sozinho consigo próprio. Sentado em sua mesa diante do computador, olhava para os
poucos rabiscos em sua matéria. Encontrara um assunto de última hora e decidira mudar o foco,
do Superman para a cidade e seus problemas. Olhou para o bloco de notas com as anotações que
conseguira durante a passeata da tarde. Ele podia ver a história, mas não conseguia escrever a
respeito. Olhou para a mesa à sua frente, da mesma maneira que fizera umas quinhentas vezes
desde que sentara.
Sentia muito a falta dela.
O que nem mesmo seus instintos aguçados foram capazes de registrar foi a presença de Lois no
BullPen. Encostada junto à porta de vidro da entrada, ela observava Clark em seu processo criativo
diante do computador. Na verdade, o observou em uma série de movimentos repetidos, desde
olhar para a tela, o bloco de notas, a antiga mesa dela e para o nada por fim, altamente
introspectivo.
Só depois de algum tempo Clark se deu conta na morena parada na entrada. Ainda de braços
cruzados e com a cabeça repousada no batente da porta, Lois sorriu para Clark como sempre fazia
ao ter seu olhar de encontro ao dele.
"Eu tentei assoprar daqui, mas acho que você não sentiu aí, sentiu?", ela brincou em referência a
momentos passados entre os dois. Clark relaxou um pouco ao ver Lois, recostando-se nas costas
da cadeira.
"Eu perdi a hora, desculpe...", ele disse dando-se conta de que Lois provavelmente já tinha
esperado por ele no telhado antes de descer.
"Jimmy me mostrou a foto", ela disse caminhando na direção de Clark, "Eu imaginei que você
deveria estar em apuros."
"Eu estava, mas como tenho ciúmes do Superman, disse que não iria escrever a respeito."
"Awww..", Lois fez um bico ironizando a situação. Aproximou-se de Clark e colocou-se atrás da
cadeira dele, levando as mãos ao ombro dele, "Por favor, esse já é um ménage à trois diferente, o
que menos preciso é ser pivô de um triângulo de dois..."
122
Clark sorriu, repousando a cabeça na cadeira e olhando para cima. Seu olhar encontrou o de Lois
novamente, e ela levou as mãos aos cabelos dele, acariciando-o. Clark simplesmente não pôde
mais resistir.
"Eu sinto sua falta..."
Lois manteve o olhar fixo no de Clark, suas emoções correndo seu corpo e as mãos que
acariciavam os cabelos castanhos de Clark.
"Eu também..."
"Talvez o jornalismo que não seja meu forte, Lois", Clark desabafou, olhando para a tela em
branco novamente, "Vendo você tão apaixonada pelo seu trabalho.. Eu tenho que ser honesto, eu
tenho dúvidas sobre onde está minha paixão nisso tudo"
Lois parou para ouvir o depoimento de Clark, e deu um leve sorriso ao se certificar de uma coisa.
Repousou as mãos nos ombros dele novamente:
"Smallville... Desde o primeiro dia em que nos conhecemos... Que nos conhecemos mesmo,
porque na noite em que eu te conheci você parecia uma ameba... Desde o primeiro dia em que
nos conhecemos, você não fez outra coisa a não ser buscar a verdade. E você lutou por ela, todo
esse tempo. Com palavras, com suas ações, com tudo o que tinha. E expor a verdade acima de
qualquer coisa, é esse o único mandamento de um verdadeiro jornalista. Eu me engano, Deus
sabe como escrevo errado aqui e ali, e me meto em confusões, das quais agora eu tenho uma boa
idéia de que você me livrou da maior parte... Mas enquanto o meu objetivo for a verdade e nada
mais do que a verdade, eu sei que eu serei uma grande jornalista. E você também, Smallville."
Clark refletiu sobre as palavras de Lois, contente por tê-la ao seu lado. E ela sabia que havia feito o
possível por ele, mas não dependia mais dela. Ele tinha o que era preciso, só dependia dele. Com o
toque suave de suas mãos, ela inclinou a cabeça dele para trás e depositou um beijo carinhoso em
sua testa.
"E você realmente precisa de um disfarce melhor, aquele jeans surrado e a jaqueta vermelha...
Não que eu não goste da combinação de cores, mas...", ela aproximou a boca do pé do ouvido
dele, "Você bem que podia pensar naquela sunga vermelha..."
Clark riu imaginando, e observou Lois se distanciar até sair do Bullpen, não sem antes dirigir mais
um sorriso para ele. Clark se viu sozinho novamente, mas não estava mais somente consigo. Ele
podia sentir Lois ecoando em sua alma,
Expor a verdade.
Respirou fundo novamente, e levou os dedos ao teclado. Digitou uma, duas palavras, até sentir-se
em um embalo confiável. E sentiu-se feliz com o que estava fazendo como há tempos não sentia.
***
Quando Lois retornou ao escritório três dias depois, encontrou a zona do 22º andar igual ao dos
demais dias. Por conta de uma matéria de última hora, acabou tendo que viajar sozinha para
123
cobrir um importante evento, o que lhe rendeu uma ótima matéria para o Daily e também alguns
novos contatos importantes. Mas acima de tudo, tinha saudades de Clark, que estava atolado com
seus super afazeres mais do que nunca e sequer pôde ir buscá-la no aeroporto. Lois compreendia
bem o bolo que levara, mas mal podia esperar para dar uns bons pegas naquele super caipira que
a deixava de perna bamba.
Antes, entretanto, teria que enfrentar o dia no Daily Planet. Seguiu como de costume até a sala de
Perry carregando sua matéria já impressa no papel. Entrou como uma tsuname, sem sequer se dar
conta de que Perry já estava atendendo uma pessoa.
"Ok, Perry, aqui está sua matéria", ela disse jogando as folhas de papel sobre a mesa dele, e seguiu
falando feito uma vitrola sem controle, "Eu vou te dizer, nunca pensei que pudesse dar tanto
trabalho atravessar um cerco de traficantes, mas nada se comparou a ter que fingir ser uma
dançarina de bordéu para conseguir chegar perto do chefão dos caras! Ainda bem que eu consegui
pegar as chaves dele antes que ele pegasse no meu traseiro, porque eu não sei por onde
começaria a cortar a mão dele se ele tocasse a mão em mim!"
"Lane", Perry tentou interromper, mas não teve chance. Era Lois Lane diante dele.
"E ainda teve uma perseguição a moto! Minhas pernas ainda doem do tanto que subi e desci no
meio do nada fugindo daqueles caras, por sorte quando caí havia água em volta, ou o Daily Planet
teria que mandar me buscar em um caixão! Não que eu não curta motos E capacetes, mas não deu
pra pegar um, já que deixei o bordéu sob uma chuva de tiros... Mas estou bem, obrigada."
"Lane!" Perry gritou obrigando-a a calar-se, "Era sobre o que eu queria falar. Não estará mais
sobrecarregada, eu lhe consegui um parceiro"
"Parceiro?" Lois se deu conta que só podia ser o homem alto de terno sentado diante da mesa de
Perry, "Escuta, companheiro, sem ofensa, mas acho que vou curtir a carreira solo por um tempo"
"Que pena", disse o homem se virando. Lois ficou sem ação ao ouvir sua voz, mas nada se
comparou ao olhar que fez ao ver Clark Kent virando-se para ela ao se levantar da cadeira. Ele
apenas sorriu, certo de que havia deixado sua noiva de queixo caído.
"Bem, como eu ia dizendo..." continuou Perry sem parar na reação de Lois, mas dando
continuidade ao trabalho, "Kent fez algumas ótimas reportagens e aquela sobre a passeata e sobre
os problemas de Metrópolis, foi mesmo uma ótima matéria. Então eu decidi trazê-lo para cá em
vez de buscar carne fresca fora do jornal. Eu não sei como eram as coisas lá embaixo, mas aqui,
Kent, você vai ocupar a mesa vazia de frente da de Lane. Espero que não se importem..."
Lois continuou sem palavras, o que era algo raro. Clark parecia estar se divertindo com aquilo, e
arrumou sua gravata procurando ficar ainda mais apresentável, "Obrigado, Sr. White"
"Senhor White? Você mal chegou e já quer ser demitido, Kent?", o editor encarou o jornalista
invocado, "Me chame de Perry."
"Ok, Perry", Clark concordou e Perry seguiu para sair da sala, mas não sem antes deixar mais um
aviso,
124
"E nada de ficar se agarrando, hein?"
Perry deixou a sala, sob o olhar estupefato de Lois em direção a Clark. Ainda sem palavras, ela
seguiu com ele na direção da sua mesa e mostrou a ele qual seria a dele. Os dois se sentaram, um
fitando o outro por um longo tempo. Até que Lois teve enfim forças para reagir:
"Estou começando a achar que eu realmente bati a cabeça quando caí da moto..."
"À propósito, depois que você sair do transe, precisamos conversar sobre essa sua pequena
aventura..."
"Clark... Isto é..."
Lois não conseguiu concluir sua fala, mas seu olhar feliz voltado para Clark deixou claro o que ela
queria dizer.
Era incrível.
Clark respondeu igualmente feliz, sorrindo para Lois. Vendo nos olhos da mulher à sua frente a
amante, a amiga, confidente e parceira. Sua heroína. Sentia-se completo novamente, assim como
ela.
"Isso exige uma senhora comemoração...", Lois destacou mordendo o lábio inferior enquanto se
inclinava sobre a mesa, na direção de Clark. E o sorriso traquino que ele direcionou a ela mostrou
que aquele não era o último sonho de Lois que se tornaria realidade naquele dia. Clark também se
inclinou, procurando falar de modo que somente ela ouvisse:
"Eu comprei uma sunga vermelha..."
Lois não resistiu, sorrindo traquina como ele, "Chocolate por minha conta"
E no encontro de seus olhares, ali, no exato espaço onde deveriam estar, o destino colocava mais
uma peça no seu devido lugar...
***
125
Capítulo 18
Lois correra até o andar de baixo da fazenda somente em suas roupas íntimas. Seguiu a instrução
de Clark e virou-se na direção da sala, encontrando sua bolsa sobre o sofá. Realmente, seu celular
tocava insistente, em um volume que só mesmo uma super audição poderia escutar do andar de
cima. Lois pegou o aparelho em suas mãos e atendeu rapidamente.
"Oi, Detetive", ela disse reconhecendo o número como sendo o de sua maior fonte dentro da
Polícia de Metrópolis, "... Como? Nossa, caramba! Obrigado, Ted!"
Lois desligou o celular e agarrou a bolsa, correndo de volta para o andar de cima, até ser
interceptada pela voz de Clark.
"Lois?", o moreno a chamou descendo as escadas. Estava vestido com uma sunga vermelha, e
somente ela. Contudo, o que mais chamava a atenção era o melaço de chocolate em seu peito, no
formato de um "S".
"Desculpe, Smallville, mas nossa diversão terá que ficar para outra hora. Eu preciso de uma carona
e você precisa trabalhar!"
Lois passou direto por Clark em direção ao quarto e ele correu atrás dela.
"O que houve?", perguntou sem entender enquanto Lois se vestia às pressas.
"Minha fonte no MEPD me avisou de um sequestro que está ocorrendo nesse exato momento nas
indústrias Iron Works", Lois colocou uma calça e pegou sua blusa em uma cadeira atrás de Clark.
Ao passar por ele, aproveitou para passar o dedo em seu peito, pegando um pouco de chocolate
no processo. Lambeu o dedo e seguiu com a história, "Ao que parece, um grupo de homens
armados fazem Heny Irons e seus executivos de refém dentro do prédio principal do
conglomerado."
Clark escutou a tudo preocupado, observando Lois que se vestira tão rápido que até mesmo ele
ficou impressionado. Mas não havia tempo a perder. Tocou o ombro de Lois segurando-a e
superacelerou da fazenda em direção a Metropolis, rápido como a luz. Parou em um beco no
quarteirão das indústrias Iron Works, já vestido em seu traje azul e vermelho. Parecia mais
arrumado do que a própria Lois, que lutava para se recompor após a alucinante carona.
"Sacanagem quando você faz isso", ela disse passando a mão nos cabelos e ajeitando a blusa, "Não
tem laquê que aguente!"
"Ok, eu vou lá resolver o problema, tente não se meter em problemas", Clark alertou Lois que o
encarou indignada.
"Como se eu fizesse dito um hábito, de onde tirou essa idéia?"
O olhar de Clark de que nem se daria ao trabalho de responder aquilo foi a última coisa que fez
antes de levantar vôo em direção ao prédio onde tudo parecia acontecer. A polícia ainda
procurava se posicionar, o que indicava que realmente a fonte de Lois a informara em primeira
126
mão. Ela saiu do beco em direção ao quarteirão e se deu conta rapidamente que não teria uma
boa matéria se não tomasse medidas drásticas.
E de repente lhe ocorreu mais uma daquelas ideias...
***
Clark entrou no prédio pelo telhado sem dificuldades. Lançou sua visão de raio-x na direção do
edifício, mas para a sua surpresa, não conseguia ver nada nos andares superiores, ao menos não
dali.
"Droga", ele disse ao se dar conta de que algumas das paredes eram de chumbo. Não tinha como
visualizar a sala onde estavam os reféns, consequentemente não tinha como ter certeza da
situação. Talvez pudesse voar e observar por fora pela janela, mas isso poderia expor sua
identidade. É claro que poderia observar de longe. Daí não teria muitos problemas.
Isso vai levar mais tempo, pensou enquanto levantava vôo para um prédio alto imediatamente em
frente ao das indústrias Iron Works.
***
Enquanto Superman procurava a melhor forma de salvar os reféns, Lois procurava a melhor forma
de conseguir a matéria. Não foi difícil para ela entrar no prédio que agora estava completamente
interditado pela polícia. Tudo o que precisou foi disfarçar-se como um dos fiscais da empresa,
assessorando o pessoal para que este deixasse o prédio. Em vez de sair, contudo, Lois seguiu para
o elevador reservado. Coincidentemente, havia feito um tour no prédio meses atrás para uma
matéria sobre as indústrias Iron Works e sabia exatamente onde ficava o conjunto de salas onde
possivelmente os sequestradores mantinham os executivos como reféns. Só precisava usar um
pouco de sua criatividade e coragem e voilá, matéria de capa. Mamão com açúcar...
***
Na sala da presidência, cercada por todos os lados por paredes de aço espessas, as quais agora já
se sabia que continham também chumbo, estavam Henry Irons e mais quatro executivos, dois
homens e duas mulheres. Todos estavam sentados nas cadeiras da imensa mesa de reuniões
enquanto cinco homens andavam pela sala com armas, todos mascarados e vestidos como
soldados mercenários. Um deles parecia preparar-se para atender o telefone que tocaria a
qualquer momento, trazendo na linha o negociador da polícia. Do ponto de vista dos
sequestradores, tudo estava sob controle, e aquele herói de quem tanto falavam por toda a
Metropolis, o Superman, não era considerado uma grande ameaça para seus planos.
Em uma das paredes, a porta do elevador privativo permanecia fechada. O que os sequestradores
não sabiam, contudo, era que alguém podia ouvir toda a movimentação deles. E não era a polícia,
mas alguém que não via limites diante do que parecia impossível.
***
Clark se posicionou no prédio e buscou por um longo instante uma brecha por onde pudesse olhar
os aposentos da Iron Works forrados com paredes de chumbo. Voou mais para o alto, tomando
127
cuidado para que não fosse visto pelas pessoas que começavam a se aglomerar nas janelas e na
rua em frente ao prédio. A movimentação da polícia chamou a atenção de todos, inclusive da
imprensa. Já havia câmeras por todos os lados.
"Lois tem razão, eu vou precisar de um disfarce melhor...", comentou Clark consigo próprio
enquanto lutava para ver algo. Enfim encontrou uma brecha no chumbo e conseguiu ver a sala da
presidência. Sabia por onde entrar agora. Voou de volta para o prédio, despertando enfim a
atenção dos transeuntes:
"Olha, é o Superman!!!", alguém gritou na sacada de uma janela e todos os flashes voltaram-se
para cima. Felizmente Clark já havia alcançado o telhado e superacelerou para os andares
imediatamente inferiores. Saiu do campo de alguns policiais que começavam a se organizar perto
das salas executivas e parou em uma pequena sala que parecia ser uma mini-dispensa. A parede
norte, contudo, era a parede próxima à da sala da presidência, uma que não continha chumbo.
Dali, Clark usou sua supervisão a fim de estudar a melhor forma de salvar os reféns:
O super olhou para dentro da sala e viu os executivos mais o Henry, além dos bandidos. Analisou o
lugar e uma possível rota de fuga, o poço do elevador executivo.
"Hei..", ele disse observando o lado do elevador com calma, olhando mais intensamente por trás
daquela parede. Uma mulher parecia ter escalado dois andares do poço do elevador e estava
parada junto à porta, com um celular encostado no aço da porta. E Clark sabia exatamente quem
era aquela mulher. "Lois?!"
Um barulho de helicóptero despertou a atenção de Clark, mas aquele parecia ser um sinal para os
sequestradores, que correram na direção do elevador executivo. Clark sentiu o coração se mover
para o lado direito tamanho o susto, temia por Lois.
Clark superacelerou arrebentando a parede que dava acesso à sala. Dois sequestradores
dispararam contra os reféns com o barulho provindo da parede, mas o Superman era mesmo
muito rápido e conteve as balas ao tempo em que retirava os reféns da mira dos bandidos.
Derrubou dois deles somente em sua primeira passada pela grande mesa e atingiu mais dois na
sequencia, empurrando os demais reféns para o chão. A situação estava praticamente dominada,
Clark tinha certeza.
Mero engano.
Foi somente ao socar o quinto e último bandido que Clark se deu conta da explosão no telhado. O
chumbo não o deixava olhar para o alto, mas Lois, que estava ainda no poço do elevador, viu bem
o que acontecera. A explosão abrira um buraco no alto do poço, derrubando parte do teto que
veio na direção dela. Lois conseguiu desviar da primeira onda de destroços, mas a corrente
rompida do elevador foi demais para ela, que entrou em queda livre assim como o elevador
abaixo dela.
Clark ouviu o barulho no poço e por meio de sua visão de raio-x, viu Lois descer rápido feito uma
bala, ela e o elevador. Lançou-se contra a porta derrubando-a, voando o mais rápido possível na
direção de sua amada. Foi somente a poucos centímetros do choque fatal que Clark conseguiu
segurar Lois e a corrente do elevador, evitando que ambos se espatifassem.
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"Esse tava descendo direto para o inferno" Lois disse na falta de algo melhor para dizer, estava
quase em choque por ver a morte tão de frente. Clark voltou sua atenção para o alto novamente,
vendo que dois homens desciam por cordas em direção à sala da presidência. Era esse o plano dos
caras, sair pelo poço e fugir de helicóptero? Não na gestão do Superman. Sem tomar
conhecimento, Clark assoprou forte para o alto, 'limpando o poço'. Quem observava do lado de
fora só conseguiu ver 2 pontos humanos fazendo uma pequena parábola no ar, caindo no próprio
telhado, desacordados. Clark soltou Lois sobre o elevador agora seguro e voou para o alto, a fim
de terminar seu trabalho.
"Hei, vai me deixar aqui?", protestou Lois, no que Clark respondeu revoltado,
"Você achou uma forma de entrar, não foi? Agora se vira pra sair!"
Apesar dos protestos de Lois, Clark superacelerou até a sala da presidência e prendeu todos os
bandidos usando um grande pedaço da corrente do elevador, amarrando ainda a corrente ao
helicóptero danificado pelo super vento no telhado. Bandidos detidos, reféns salvos, missão
cumprida. Contudo, os problemas estavam só começando para Clark.
Lois procurava uma forma de deixar o poço quando sentiu uma brisa arrebatá-la de lá. No instante
seguinte, estava no alto do Daily Planet com um Clark bastante irritado a encará-la:
"Você ficou maluca?", ele disse sem acreditar ainda. Lois sorriu, tensa,
"Calma, Smallville, foi apenas uma escalada em um poço de elevador.."
"Apenas uma escalada?!" Clark vibrou frenético, ainda sob o efeito do susto, "Você escalou a rota
de fuga dos bandidos! Eles quase explodiram você, Lois!!"
"Mas eles não explodiram! Smallville, eu estou aqui!"
"Malmente! Aquelas paredes eram de chumbo, Lois! Faltou um triz para eu não te ver ali e se eu
não te visse..."
Clark se calou tenso, temendo em completar a frase. Tinha medo só em imaginar o que podia ter
acontecido. Lois se deu conta do problema.
"Ok, me desculpe. Eu fui um pouco imprudente, eu assumo"
"Imprudente? Você praticamente tentou se matar. E eu não posso ficar tentando salvar as pessoas
e você ao mesmo tempo!"
"Hei, calma aí", Lois disse um pouco enfezada, "O que quer dizer com isso? Não é que você tenha
que me salvar o tempo todo.."
"Não?" Clark não parecia estar convencido do contrário, "Eu terei que enumerar as vezes em que
você se meteu em problemas e eu tive que salvar seu traseiro?"
"Deixe meu traseiro fora disso", ela replicou irritada, "Porque eu fugi de um avião sem a sua ajuda,
já que você estava ocupado demais com a sua ex"
129
"Oh, vamos voltar a isso de novo?" Clark não podia acreditar, "Eu já disse, eu estava procurando
você!"
"Você pensou que eu tinha fugido, Smallville. Mas olha só, eu não fujo das coisas. E eu não vou
fugir das matérias só porque você me considera um fardo, você não precisa vir para me salvar
quando eu estiver em perigo. Eu sei muito bem me livrar dos meus próprios problemas!"
Lois se virou na direção da porta no terraço do DP e tentou abri-la, sob o olhar incrédulo de Clark.
Como diabos aquela discussão tinha virado às avessas e era Lois agora que estava chateada com
ele e não o contrário?
"Lois" Clark tentou intervir, mas ela estava fula.
"Qual o problema dessa porta?" Ela disse batendo na maçaneta travada, até que se irritou de vez e
chutou-a, fazendo-a abrir. "Até Tu, Brutus!"
Clark observou Lois seguir porta adentro e preferiu não segui-la. Teve vontade ele próprio de
chutar algo no terraço, mas sabia que não teria como fazer a não ser que destruísse metade do
telhado no processo. O jeito era se acalmar nos céus, e foi o que fez.
***
O dia passou tenso para o casal de repórteres que mal se encontraram até a noite, quando teriam
que ir juntos ao Ace of Clubs para a festa de recepção a Chloe e Jimmy. O clima não era dos
melhores, mas os dois concordaram que ir emburrados à festa era melhor do que ter de explicar
aos amigos o porquê de não irem. Chegaram por volta das 21h, Clark de camisa social e terno, Lois
em um belo vestido azul claro.
O Ace of Clubs estava com uma boa movimentação, mas a chegada de Lois e Clark foi noticiada
por quase todos, especialmente Oliver. O loiro caminhou até o casal de amigos e os
cumprimentou, contente.
"Olha só o casal 20 do Daily Planet", brincou o arqueiro, mas não teve a piada muito bem recebida
a julgar pela seriedade de Clark e o sorriso sarcástico de Lois.
"Como vai, Ollie?", Lois o cumprimentou com um selo, apenas para irritar Clark ainda mais. Era
incrível como ela sabia deixá-lo enfezado com um simples gesto. Oliver não entendera nada, mas
também não se deu muito ao trabalho. Ficou feliz com o selo de sua ex e grande amiga.
Depois de cumprimentar a todos, Lois e Clark tomaram círculos diferentes. Clark permaneceu
conversando com Chloe do lado de fora enquanto Oliver e Lois bebiam drinques junto ao bar.
Embora estivesse mais relaxada, Lois não conseguia tirar os olhos de Clark.
"Lois, não é meu problema..", Oliver iniciou sua fala, "Mas há algum problema entre você e Clark?"
"Problema? Problema nenhum!" Ela respondeu pouco convicente. Observou um garçom passar
por Clark oferecendo-lhe cerveja, e para a surpresa de Lois, ele aceitou. "Olha só, ele está
bebendo! Ele não pode voar desse jeito!"
130
"Lois, que eu saiba o álcool não afeta a fisiologia do Clark..."
"Eu sei, mas e quanto aos efeitos psicossomáticos? A última coisa que Metrópolis precisa é de um
guardião bêbado nos céus..."
"Ok, Lois, qual é o problema?" Oliver insistiu, "O clima entre vocês dois pode ser sentido em todo
o AoC.."
"Não há nada errado, Oliver. Nada", ela encerrou a conversa dando um grande gole em sua
bebida.
Do lado de fora, Clark e Chloe conversaram sobre a volta dela, mas Chloe percebeu que Clark não
conseguia tirar os olhos de Lois. Ainda que disfarçasse, ele estava sempre observando a noiva
enquanto ela conversava com Oliver.
"Clark? O que ta havendo agora?", ela perguntou preocupada.
"Por que ela tem que ficar a noite inteira conversando com ele?", Clark comentou bebendo a
cerveja e depositando o copo sobre a sacada.
Chloe não resistiu e riu, "Você está com ciúmes de Oliver? Então a coisa é pior do que eu
imaginava!"
"Não é isso, é que.." Clark procurou colocar a situação de forma mais clara, respirando de modo a
tranquilizar-se, "Lois e eu tivemos uma discussão hoje pela manhã. Ela está sempre se metendo
em confusão!"
"Vem com o manual, Clark", Chloe respondeu , "É Lois, vocês já se conheceram com ela metida em
confusão, eu fico surpresa que ela tenha sobrevivido até conhecer você.."
"É diferente agora. Ela sabe quem eu sou, ela deveria ser mais cuidadosa. Aliás, é este o problema
dela. Ela não tem medo de nada! Não tem medo de se machucar, de cair em armadilhas... Não
tem medo de morrer. E não há nada nesse mundo que eu tema mais do que perdê-la... Talvez, se
Lois temesse um pouco, ela não ficasse tão perto da morte com tanta frequência..."
A alguns poucos metros de Clark e Chloe, uma outra pessoa estava atenta à conversa. Olhou para
os dois e então para Lois junto ao bar. Caminhou na direção dela.
Oliver e Lois ainda conversavam quando uma linda mulher de cabelos negros e olhos azuis parou
diante deles. Carregava uma bandeja cheia de apetrechos mágicos e se vestia como uma mágica
ela própria. Cumprimentou Oliver, que sorriu de volta para ela.
"Espero que estejam tendo uma noite mágica", comentou a mulher olhando para Lois.
"Oh, yeah, melhor estraga", Lois rebateu pouco contente.
"Lois, deixa eu te apresentar", disse o loiro, "Esta é Zatanna, uma amiga. Zatanna, Lois Lane".
131
"Prazer em conhecê-la", Zatanna estendeu sua mão para Lois, que retribuiu.
"Zatanna herdou os dotes mágicos do pai", explicou Oliver, "Pode te conceder os mais incríveis
desejos.."
"Mesmo?", Lois olhou impressionada, "Mas eu imagino que devo ter cuidado com o que desejo,
certo?"
"E cuidado com o que deseja para os outros também", concordou Zatanna, olhando fixamente
para Lois. Seus olhos se iluminaram por meio de um estranho brilho lilás, assim como os de Lois. A
repórter parou um pouco atordoada e Zatanna voltou-se para Oliver, "Acho que já acabei por aqui.
Foi um prazer revê-lo, Oliver"
"Prazer foi todo meu..", ele disse sorrindo e observou Zatanna sair do AoC. Voltou-se para Lois,
"Hei, você está bem?"
"Yeah, estou...", ela disse olhando em volta. Procurou Clark na sacada com o olhar, mas não o viu.
"Onde ele está?"
"Quem?" Oliver olhou, mas Lois saiu rapidamente de seu lado, perdendo-se em meio ao pessoal
no AoC. Instantes depois uma pesada mão tocou o ombro do arqueiro.
"WTF.. Clark?" Oliver se virou sentindo um peso tremendo nos ombros. Clark sorriu para ele,
usando a mão sobre Oliver como se fosse uma bigorna.
"Você viu a Lois por aí?"
"Não.." Oliver deu um sorriso sem graça disfarçando a dor pela mão de Clark sobre seu ombro,
"Ok, seja lá o que há entre vocês, se importa em me deixar de fora?"
"Não há nada errado, Oliver", Clark disse repetindo as palavras de Lois. Oliver agora estava certo
de que os dois estavam tendo problemas...
Do lado de fora da cobertura do AoC, Lois seguiu até encontrar Chloe encostada junto a sacada.
"Hei, Lo!", Chloe a chamou no instante em que a viu. Lois caminhou até a prima com um largo
sorriso, "Ainda não conversamos desde que chegou, o que houve?"
"Ah, só estava pondo o papo em dia com Ollie, só isso..." Lois disse, mas algo estranho ocorreu no
momento em que se aproximou da sacada.
Lois depositou o copo que trazia sobre a sacada e deu uma rápida olhada, para baixo. O AoC ficava
no último andar de um prédio com mais de 40 andares e a vista era mesmo muito, muito alta.
Mais alta do que Lois podia se lembrar. De repente, a jornalista se sentiu muito incomodada por
estar ali tão perto da sacada. Deu um passo para trás nervosa, derrubando o copo no processo.
Chloe olhou sem entender para a prima.
"Lois? Droga, lá se foi o copo..."
132
Lois mal podia ouvir a prima. Seu olhar estava fixo na sacada, e deu vários passos para longe dela
até se bater com um homem que conversava em uma roda de amigos.
"Me desculpe", Lois disse tentando se recompor, mas já havia chamado a atenção de algumas
outras pessoas. Ela parecia... Apavorada.
Clark percebeu que havia algo estranho e foi até a sacada. Chloe estava ao lado de Lois tentando
descobrir o que havia acontecido.
".. Eu não sei.." explicava Lois para a prima quando Clark chegou junto com Oliver, "Eu só senti um
pânico repentino, não sei por quê..."
"Foi estranho", disse Chloe olhando para Clark.
"Não deveríamos ter vindo", comentou Clark indo até Lois e segurando-a pelo braço em conforto,
"Vou levá-la pra casa".
Lois não fez qualquer protesto, pois ela sentia realmente que queria ir para casa o mais rápido
possível. Deu a mão a Clark e seguiu com ele para fora do AoC, sob o olhar preocupado de Oliver e
Chloe.
"O que houve?", Clark perguntou no momento em que os dois pararam diante do elevador.
"Eu não sei, Smallville..", Lois disse apertando o botão. Olhou para o dispositivo do elevador à sua
frente e sentiu-se estranha novamente, "Podemos ir pelas escadas?"
"Ok", Clark estranhou o pedido da namorada, mas aquilo não era nada demais. Caminharam os
dois até a porta de emergência e se depararam com as escadas. Mas é claro que ele não planejava
descer todos aqueles andares andando, e nem imaginava que fosse essa a intenção de Lois.
Apenas a segurou pelo braço e superacelerou dali, para a menos de dois segundos estar nos
jardins da fazenda Kent.
Foi então que se deu conta da coisa mais estranha de todas.
"Lois?" Clark olhou para a morena, sem compreender.
Lois se soltou dos braços de Clark o mais rápido que pôde e correu na direção das escadas,
agarrando-se ao pequeno corrimão de madeira. Tremia e lacrimejava, seus olhos arregalados e
vidrados. Parecia completamente aterrorizada, como se visse um monstro à sua frente.
"Lois, o que foi?" Clark se aproximou dela e, com muito custo, conseguiu tocá-la, "Lois! Lois?"
"Meu Deus, Smallville! Não faça isso de novo, não faça!"
"Fazer o quê?", Clark não conseguia compreender, mas Lois foi altamente específica, para sua
surpresa,
"Superacelerar comigo daquela maneira, daquela altura!"
133
Ainda que a afirmação de Lois fosse absurda, Clark começou a se dar conta de que Lois estava
morrendo de medo. Na verdade, estava petrificada de tanto medo.
Ele só não conseguia compreender o porquê.
***
134
Capítulo 19
O dia seguinte mal havia chegado e Chloe já podia ouvir uma ventania familiar do lado de fora do
Talon. Desceu sem que Jimmy pudesse perceber e foi até a máquina de café, onde deu de cara
com Clark. O herói caminhava de um lado para o outro, visivelmente nervoso.
"Bom dia, quer café?", Chloe perguntou, mas Clark claramente não estava interessado. "Muito
bem, o que houve?"
"É a Lois", Clark foi direto ao ponto, "Eu não sei o que está havendo, mas se lembra daquela nossa
conversa? Sobre a Lois não ter medo?"
"Claro, você reclamava sobre ela não ter medo de nada."
"Exato, mas agora eu não tenho mais do que reclamar. Simplesmente porque Lois não somente
tem medo, como teme a própria sombra!"
"Como é, calma aí", Chloe se mostrou interessada com o rumo esquisito da conversa, "O que quer
dizer com isso?"
Clark deu um longo suspiro, procurando ele próprio se acalmar.
"Lembra de ontem a noite na hora que Lois se afastou da sacada? Ela estava com medo de altura.
Não quis descer pelo elevador com medo que ele pudesse cair. Quase infartou quando eu
superacelerei com ela até a fazenda, e isso foi somente o início da nossa noite, na qual, aliás, eu
não dormi! Aparentemente todos os medos de Lois vieram a tona durante a madrugada, desde
uma aranha que subiu na cortina do banheiro até uma panela no fogo! Aliás, Lois não tomou
banho de ontem para hoje, porque ela teme que o registro queime com ela no chuveiro e a frite!
Ela se negou a ir para o DP hoje com medo de que ocorresse um acidente de carro, sobe e desce
as escadas agarrada ao corrimão e tirou todos os tapetes da casa para que nós não tropecemos!"
"Que maluquice é essa, Clark? Lois sequer tem medo de aranha!"
"Aparentemente, ela agora tem medo de tudo. Até do Shelby ela tem medo, eu tive que trancar o
pobre coitado no celeiro. Lugar aliás que Lois não entra por nada, pois diz que aquilo é uma
tragédia anunciada..."
"Ok, ok, tem algo muito estranho aqui, Clark. Desde quando Lois se tornou a pessoa mais medrosa
da terra?"
"Eu não sei, Chloe, mas tem algo a ver com a festa de ontem. Ela estava bem quando chegamos lá,
apesar de estarmos meio brigados e tal..."
"Definitivamente algo do ramo estranho e inexplicável aconteceu, e precisamos descobrir logo..."
"Precisamos, Chloe. E rápido, porque eu só saí da Fazenda quando Lois caiu dormindo na cama,
vencida pelo cansaço. Não quero nem imaginar como ela vai ficar ao acordar e ver que eu saí do
lado dela..."
135
***
Chloe e Clark seguiram imediatamente para o AoC, que ainda estava desarrumado pela festa da
noite anterior. Olharam em volta, procurando qualquer indício que pudesse dizer o que havia
acontecido com Lois, mas tudo o que havia era sujeira por todos os lados.
"Não vamos encontrar nada aqui, Chloe", Clark disse preocupado, "Talvez tenha sido algo que ela
bebeu..."
"Talvez..", Chloe concordou, "Mas se não me engano, o que Lois bebia imediatamente antes de
descobrir seu medo por altura voou daquela sacada..."
Clark fitou Chloe frustrado, mas ouviu um barulho vindo da entrada no AoC. Era Oliver, saindo do
elevador. Parecia ter perdido a escova de cabelo.
"Hei, pessoal.. Qual é o problema, já ouviram falar em ressaca? Precisamos de tempo para curtila..."
"Desculpe por tirá-lo da cama tão cedo, Ollie", Chloe disse caminhando até ele, "Mas algo
aconteceu e precisamos de sua ajuda"
"O que houve?", o loiro perguntou sacudindo os cabelos desgrenhados.
"Lois surtou", Clark foi curto e grosso, "Surtou logo depois de falar com você ontem à noite.."
"Opa, calma aí, companheiro..", Oliver acordou de verdade ao ouvir aquela, "Como assim,
surtou?"
"Ela do nada teve um surto de fobias despertado..", explicou Chloe.
"Que tipo de fobia?"
"Todos os tipos" Clark completou convicto.
Oliver se viu confuso naquela conversa, mas Chloe procurou ir ao ponto. "Ollie, você passou
bastante tempo conversando com Lois ontem. Não notou nada estranho que possa ter
acontecido?"
"Eu não sei, ela parecia bem", Oliver procurou se recordar, "Falávamos sobre o perigo de quando
beber, não voar, etc.. Ela parecia um pouco irritada com você, Clark.."
"Eu sei dessa parte, continue", disse o herói tenso.
"Ok, falávamos sobre qualquer coisa, até que.. oh, Droga", Oliver disse, arregalando os olhos.
Chloe e Clark o fitaram apreensivos, e ele continuou, "Acho que sei o que pode ter havido..."
"O quê?", Chloe e Clark questionaram quase em uníssono.
136
"Zatanna", Oliver explicou, "Ela é uma amiga que está na cidade, a chamei para fazer algum
dinheiro ontem durante a festa. Ela faz truques mágicos, alguns mais mágicos do que outros... É
conhecida por realizar os desejos das pessoas de uma maneira não muito convencional.."
"Acha que essa Zatanna pode ter enfeitiçado a Lois?", Clark questionou incrédulo.
"Só pode, tem alguma outra explicação?"
"E é uma daquelas explicações do hall das coisas estranhas e inexplicáveis", Chloe concordou,
"Deve ter sido ela!"
"Mas é estranho", indagou Oliver, "Zatanna não faz desejos contra a vontade das pessoas. Eu
estava com ela e Lois na hora em que se encontraram, Lois não disse nada que fizesse Zatanna
enfeitiça-la, não fez menção a nada relacionado a medo!"
Chloe imediatamente olhou para Clark, que assumiu com um olhar de mea culpa.
"Ok, esse foi eu. Estava reclamando pela Lois não ter senso de perigo e sempre se meter em
confusão... Eu acho que a tal Zatanna acabou tentando realizar o meu desejo, e não o da Lois..."
"Cuidado com o que deseja para os outros...", Oliver disse se lembrando das palavras da amiga
feiticeira na noite anterior. Aquela era a resposta do enigma.
"Precisamos encontrá-la", disse Chloe fitando os amigos, "Ela precisa desfazer o que quer que
tenha feito com Lois, o mais rápido possível".
"Bem, ela vai se apresentar hoje no Metropolis Hall", Oliver disse, "Ela deve estar lá".
"Ok, então vocês vão até lá atrás dela, por favor, e conversem com ela" Clark disse com o olhar
distante, preocupado. Chloe segurou seu braço, preocupada:
"Clark? O que houve?"
"Eu tenho que voltar a fazenda, algo está acontecendo.."
E antes que pudesse dizer o quê, superacelerou levantando do chão todo o lixo do AoC. Oliver
sorriu.
"Deve ser engraçado, não? Lois com medo, e tenho um alienígena como namorado? Deve ser
hilário..."
Chloe ouviu incrédula ao loiro e deu um tapa em seu ombro, repreendendo-o. Ainda assim ele
continuou a rir, imaginando Lois Lane com todas as fobias possíveis.
***
Clark entrou em casa já receoso. Depois da noite que tivera, não podia imaginar qual poderia ser a
próxima de Lois. Olhou pela casa, os tapetes continuavam fora do lugar. Seguiu na direção da
cozinha e se surpreendeu com o faqueiro vazio. Lois provavelmente jogara as facas fora, no
137
mínimo.
O super seguiu com cautela até o andar de cima ao ouvir algum barulho. Caminhou pelo corredor,
avistando a porta do quarto aberta. A primeira coisa que viu foi uma mala no chão de madeira.
Sentiu um aperto no coração imaginando o que aquilo poderia ser.
Quando Clark finalmente entrou no quarto, deu de cara com não somente uma, mas várias malas.
Lois estava do outro lado do quarto, retirando roupas do armário.
“... Lois?” Clark disse quase sem querer dizer. Estava atônito com o momento.
A morena olhou para ele, trazendo com ela o olhar temeroso que a acompanhara toda a noite.
Seu rosto estava avermelhado, ela parecia ter chorado. E muito.
“Lois, o que está fazendo?” Clark perguntou assustado.
“Smallville...”, ela disse tensa, largando uma das peças de roupa sobre a cama, “Me desculpe”
“Lois, precisamos conversar, algo aconteceu ontem a noite”, Clark disse se aproximando de Lois,
mas ela recuou, como se temesse a ele. Clark parou sem acreditar, ela estava mesmo com medo
DELE? “Você não está bem, Lois”
“Sei que não estou”, ela disse nervosa, “Mas não dá pra continuar assim, Clark”
“Continuar assim como? Lois, algo aconteceu ontem e foi minha culpa, mas não há motivos para
você...” Ele fitou as malas, sem ter coragem de pronunciar.
“Depois do que houve ontem, as coisas estão claras, Clark. Você tem razão, eu estou sempre me
metendo em problemas! Como você poderá ser o herói que está destinado a ser se tem que
passar metade do dia me salvando?”
“Lois, as coisas não são bem assim. Há algo acontecendo aqui, você não é você mesma nesse exato
momento!”
“Você é um herói, Smallville”, Lois disse encarando-o, seu olhar amendoado começando a ficar
umedecido por conta do choro contido, “Eu sou um peso em sua vida”
“Você não é um peso em minha vida”, Clark respondeu tremendo, “Você é a minha vida, Lois... Eu
não posso viver sem você!”
Clark se aproximou de Lois a fim de segurá-la, tocá-la, mas ela recuou agressivamente,
visivelmente abalada. Subiu na cama a fim de atravessar sem passar por Clark. Inútil, claro. Ele era
infinitamente mais rápido do que ela, e parou a sua frente.
“Me deixa ir”, ela disse apavorada. Desvencilhou de Clark, mas ele a segurou pelo braço, sentindose terrível pelo que estava acontecendo aos dois.
“Não posso deixá-la ir, Lois.. Se quando estiver bem, ainda pensar assim.. Mas não agora, não te
deixarei correr perigo desse jeito”
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“Me solta, Clark!”, Lois implorou e se sacudiu tentando soltar-se desesperadamente, “Me solta!!!”
Lois agitava-se de todas as formas, tentando achar uma maneira de se soltar de Clark, uma histeria
crescente tomando conta de seu corpo. Não havia como. Clark sentiu as lágrimas correrem ainda
mais pelo seu rosto, mas não havia escolha. Não deixaria Lois sair de casa, não naquele estado.
Foi então que levou seu dedo na direção da cabeça dela e, da forma mais leve que pôde, deu um
toque em sua nuca. Foi o suficiente para desacordar Lois, que escorregou inconsciente pelos
braços de Clark. Chorando, ele a pegou nos braços e a deitou sobre a cama. Machucá-la não era
uma opção em sua vida, mas não sabia o que fazer. Precisava resolver aquela situação o mais
rápido possível.
Pela primeira vez, Clark sentiu medo do que poderia acontecer.
***
No Metropolis Hall, Chloe e Oliver seguiram pelas salas dos bastidores até dar de cara com uma
série de acessórios de mágico.
“Ela está aqui”, disse o arqueiro adentrando o que parecia ser um camarim. “Zatanna?”
Os dois olharam em volta na bagunça do camarim, até que uma fumaça roxa surgiu em um dos
cantos. Zatanna surgiu logo depois, e Chloe encarou Oliver imaginando que aquele era o truque
mais velho da história da mágica.
“Oliver Queen”, Zatanna disse se aproximando dele e de Chloe, “A que devo a visita? Meio cedo,
principalmente para você...”
“Hehe, muito engraçado”, Oliver disse, “Estamos aqui por causa de algo que aconteceu ontem.
Com a Lois, você a conheceu..”
“A morena que conversava com você?”, Zatanna perguntou, obtendo uma confirmação de Oliver.
“Já imagino o que possa ser...”
“Se imagina, por que não desfaz?” Chloe protestou, “Minha prima está em um estado lastimável,
pelo que soube... Lois é uma das pessoas mais corajosas que conheço, de repente tem medo de
tudo?”
“Eu só atendi ao pedido do seu amigo”, se justificou Zatanna, “E além do mais, o buraco é bem
mais embaixo”
“Como assim?”
Todos olharam para trás quando a voz de Clark soou no camarim. Ele se aproximou, irritado. Seus
olhos estavam vermelhos e inchados.
“Clark, o que houve?”, Chloe perguntou preocupada com as feições do amigo.
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“Lois, ela quer ir embora de casa. Quer terminar tudo!”, Clark se virou para Zatanna, nervoso, “O
que quer que tenha feito, desfaça! Eu quero a minha Lois de volta!”
“Não posso desfazer”, Zatanna afirmou, “O que ocorre com Lois está dentro dela. Se ela está com
medo, talvez aja um medo maior do que todos os outros, que impede que ela volte ao normal. Um
medo maior do que ela.”
“Um medo maior?”, Oliver não conseguiu compreender, mas aquilo mexeu com Clark. Talvez
houvesse uma pista sobre o que, de fato, afligia Lois.
Mais do que depressa, Clark superacelerou para fora do Metropolis Hall, deixando Chloe e Oliver
sem entender. Zatanna, por outro lado, pareceu tranqüilizar-se ao dar-se conta de que o super
sabia exatamente o que deveria fazer.
***
Lois permanecia deitada de lado na cama, inconsciente. Clark retornou para o seu lado e desfez
todas as malas, colocando cada coisa em seu lugar. Precisava desesperadamente que as coisas
voltassem ao lugar onde pertenciam, e isso incluía seu lugar no coração de Lois. Agachou-se ao
lado da cama, fitando o rosto de Lois que estava virado para ele. Cuidadosamente, ele retirou uma
mecha da franja dela que teimava em cair sobre o rosto. Respirou fundo, observando-a. Falou
baixo, por fim.
“Lois... Sei que está me ouvindo, porque eu sei que o que temos é maior do que tudo isso..”
Clark continuou a falar, acariciando o rosto de Lois no processo. A expressão serena dela era o
contraste de como sua mente deveria estar um turbilhão.
“Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, como você poderia ter medo de mim...
Mas então eu compreendi que você não estava fugindo de mim, mas em direção ao seu maior
medo... Eu me lembrei daquela vez em que você me disse que não queria ficar sozinha
novamente. Que estava cansada de perder a tudo e todos a sua volta... E quando aquela mulher
falou sobre um medo maior, eu entendi finalmente. Entendi que não se trata do medo que você
sente.. Se trata do medo que nós sentimos. Porque esse sempre foi o meu medo, ficar sozinho por
conta do que sou... Mas você me mostrou que é possível estarmos juntos, e é possível porque...”
Clark jogou seus olhos azuis sobre a Lois inconsciente à sua frente. Era a verdade dentro de seu
peito falando por ele.
“... porque nos amamos.”, ele disse por fim, uma lágrima solitária escorrendo pelo seu rosto.
Sua última fala pareceu ter tido algum efeito sobre Lois, pois ele percebeu que algo de diferente
havia acontecido. Podia sentir a mágica de Zatanna abandonando o corpo da mulher que amava,
tão rápido quanto entrara. Depois de alguns minutos, a jornalista começou a abrir os olhos, dando
de cara com o rosto de Clark junto ao dela. Sorriu levemente,
“O que houve..?” ela balbuciou, sem querer se mexer ou fazer outra coisa.
“Não se lembra?”, Clark perguntou cauteloso, um pouco preocupado.
140
“Lembro sim... Mas não me sinto mais daquela maneira”, ela esclareceu. Clark sorriu ao pensar no
que aquilo queria dizer.
“Então você... Não quer mais ir embora?”, ele perguntou sem disfarçar a aflição com a idéia.
“Lar é onde o coração está”, ela respondeu com um sorriso tímido, “E eu tenho 100% de certeza
de que é aqui.”
Lois levou a mão na direção do peito de Clark e a repousou na altura do coração dele. Era a
verdade dos dois, que sorriram um para o outro mais uma vez. Clark se inclinou na direção de Lois
e os dois se beijaram de forma apaixonada. E então, de repente, Lois arregalou os olhos e deu um
pulo insano da cama, assustando Clark:
“Você trancou Shelby no celeiro?!”
Clark olhou para Lois sem saber o que dizer, afinal de contas, ele fizera por culpa dela. Ou seria
dele? Lois não quis saber, deu um soco no ombro de Clark e saiu correndo, gritando por Shelby.
Ele se levantou e caminhou até a janela. Observou depois de algum tempo a Lois sair correndo
pelo jardim, em direção ao celeiro para libertar Shelby. Não havia qualquer dúvida, havia voltado
ao normal. Clark só não sabia se ela se lembraria das coisas que ele havia dito a ela.
***
O fim do dia chegou para Lois e Clark no Daily Planet. Lois pegara o carro e saíra em alta
velocidade como sempre, deixando Clark para arrumar a casa. Ele protestou um pouco, mas ela
não deu chance ao descobrir que os eventos recentes haviam sido culpa dele e de seus pedidos.
Quando enfim retornou ao Daily Planet, tinha uma surpresa para Lois. A encontrou diante de seu
computador, trabalhando.
“Lois?”, ele a chamou de longe para ter certeza de que ela não iria se assustar, ou algo do tipo. A
repórter o fitou mordendo os lábios,
“Smallville, bem na hora.”
Lois se levantou de sua mesa e encostou-se nela, como sempre fazia. Clark se aproximou com um
olhar traquino.
“Terminou a matéria?”
“Nah, termino amanhã. Se não quiserem mais, dane-se. Não tenho medo de perder o emprego...”
“Se você perder o medo das aranhas, já saio no lucro”, brincou Clark. Lois sorriu de forma
sarcástica, mas havia algo no ar. Clark estava escondendo algo.
“E então, você vai me dizer o que estava fazendo com a Zatanna?”
Clark fitou Lois surpreso, “Como sabe que eu estava com ela?”
141
“Você cheira a incenso pornô, Smallville...”
Clark riu, mas havia uma boa desculpa para aquilo. Ele chamou Lois e a guiou até a pequena sala
de cópia. Trancou a porta.
“Eu fui pedir a Zatanna um favorzinho mágico... Há algo que quero lhe mostrar.”
“Pediu a ela que transformasse Ollie em Oliver Drag Queen? Porque é o que ele merece por ter
levado aquela iniciante para a festa da Chloe e do Jimmy...”
“Não”, Clark respondeu, levando a mão ao bolso, “Mas é algo que irá mudar nossa vida, para
sempre...”
Lois fitou Clark curiosa e ele então tirou do bolso... um par de óculos.
“Um par de óculos? Como um par de óculos vai mudar nossa vida para sempre, Smallville?”
Clark sorriu satisfeito, ela não fazia idéia. Jogou o cabelo um pouco para a frente e colocou os
óculos, devagar.
Inacreditável.
Lois olhou para Clark quase em choque, seus olhos arregalados e descrentes.
“Mas como pode... Smallville, o que é isso?”
Clark retirou os óculos, jogando os cabelos para trás novamente. Aquilo só deixou Lois ainda mais
confusa.
“Clark, é como se fossem duas pessoas diferentes! Um simples óculos não pode fazer isso!”
“É um óculos mágico, Zatanna o encantou para mim. Me torna duas pessoas diferentes. É
perfeito!”
“É inacreditável! É como se com ele, você fosse meu Smallville.. E sem ele, fosse meu Superman!
Ok, as coisas continuam iguais para mim. Eu acho.”
“A partir do momento em que eu colocar estes óculos, todos irão me conhecer como Clark Kent
assim. Isso significa que eu não poderei tirá-los na frente de ninguém, Lois. Não se eu quiser que o
disfarce dê certo.”
“Vai dar certo”, ela respondeu pegando os óculos, “É estúpido, mas vai dar certo... Se eu colocar
os óculos em mim, virarei outra pessoa também?”
Clark não tinha a resposta, improvisou uma, “Acho que foi feito sob encomenda, só funcionará
comigo.”
“Qualquer coisa você devolve, né? Deve ter garantia esse negócio... É possível trocar a armação
142
também? A Zatanna parece ter enfeitiçado os óculos do avô dela!”
Clark riu, e Lois devolveu os óculos a ele. Clark os colocou, deixando Lois impressionada no
processo. Ele realmente parecia outra pessoa quando o colocava.
“Vai levar um tempo até eu me acostumar com isso...”, ela disse fitando-o.
“Então deixa eu te ajudar com isso”, ele disse puxando-a para seus braços. Tascou-lhe um beijo
pegando Lois de surpresa, mas ela imediatamente se deixou envolver pelos braços fortes do
Super, para não soltar mais. Quando os lábios finalmente se separaram, ela o fitou, lambendo os
beiços,
“Nunca beijei um homem de óculos antes... Agora você é um geek completo!”
“Deixa eu lhe mostrar quem é geek..”
E antes que ela pudesse reagir, ele a engolfou novamente, desta vez retirando os óculos antes.
Sem medo do que aquele par de óculos poderia representar para ele, para Lois. Sem medo do que
os esperava. Pois no fundo, só havia uma única verdade.
Eles se amavam, e era maior do que qualquer outra coisa.
***
143
Capítulo 20
O sol brilhava alto no céu indicando a metade do dia. Lois saiu da loja de utilidades falando ao
celular, seguida por um Clark de óculos, carregado de sacolas. Ele revirou os olhos ao ouvi-la dizer
que ainda iriam passar em outro lugar antes do almoço, mas ao celular, ela já parecia marcar um
novo encontro, sabe-se Deus com quem:
"Ok, então passamos aí mais tarde para dar uma olhada nos ternos... Ok, bye!"
Lois desligou o celular e parou diante da caminhonete, utilizando a chave para abrir o carro. Clark
parou diante da noiva e largou as sacolas sobre o capuz do carro. Sua expressão era de cansaço.
Lois o fitou incrédula,
"Você não pode estar cansado. Só demos algumas voltas pela cidade e as sacolas não estão
pesadas. Ao menos não para você.."
"Algumas voltas? Lois, estamos circulando Metropolis desde as 8 da manhã! Você se apaixonou
por aquele conjunto de cortinas e as comprou, somente para logo depois se apaixonar por um
outro conjunto, e comprá-lo também!"
"O que posso dizer, sou volátil, uma mulher de paixões rápidas... Ao menos, em relação a
cortinas", ela se pendurou no pescoço dele depositando um beijo rápido em seus lábios, "No que
diz respeito a homens de óculos, só há um em minha vida..."
"Da próxima vez que sairmos para comprar coisas para o casamento, eu vou pedir férias no Daily
Planet..."
"Não seja exagerado! Foi só uma cortina! E você pode dizer se não gostar dela..."
"Para que você me envenene durante o jantar? Eu assisti Sr. e Sra. Smith, Lois.."
"Certo, mas eu não levo uma vida dupla. Sou um livro aberto!"
Clark se aproximou dela, sussurrando ao pé de seu ouvido, "E eu adoro suas páginas..."
Clark se inclinou um pouco e seguiu automaticamente na direção dos lábios de Lois, beijando-os
delicamente. Lois entregou-se na hora, era impossível não reagir àquele elixir dos deuses plugado
em sua boca. Beijaram-se uma, duas, três vezes. Na quarta, se deram conta de que a coisa ficaria
séria se não parassem. Lois foi a primeira a se afastar.
"Ok, Smallville, estamos em frente a um cinema, mas podemos protagonizar o cine privê mais
tarde... Agora, temos alguns ternos para experimentar!"
Clark a encarou sem acreditar, totalmente passado, "Lois, que tal se almoçássemos ao menos? Eu
estou faminto!"
Lois olhou para a cara desesperada de Clark e teve alguma dó dele, mesmo sabendo que ele não
estava faminto como dizia. Deu-se por vencida,
144
"Ok, ok, vamos comer algo. O terno não vai sair do lugar..."
Clark sorriu ao sair-se vitorioso sobre a vontade de Lois. Agarrou as sacolas pronto para colocá-las
no carro, mas um barulho chamou sua atenção. Fitou Lois, levando a mão aos óculos, e ela
entendeu o que estava havendo.
"Ok, corre!", ela disse pegando as sacolas na mão dele. Clark superacelerou para longe dali e Lois
se viu com todo o peso que fizera Clark carregar. Pesado como duas bigornas.
Clark surgiu diante de uma joalheria, onde 3 ladrões roubavam um senhor no caixa. Já estava
vestido em seu traje azul e vermelho, sem óculos. Derrubou os ladrões e parou por um instante
junto ao velho, a fim de que ele pudesse ver seu rosto. Depois correu para fora da loja e voltou a
passar diante dela, desta vez já vestido como Clark Kent, e de óculos. Viu o velho sair da loja com o
celular na mão.
"Rapaz, viu para onde ele foi? Ele saiu daqui agora!"
"Quem, senhor?", perguntou Clark, ajeitando os óculos.
"O Superman! Eu vi o rosto dele!", o velho disse, para então voltar sua atenção ao telefonema,
"Alô, polícia? Eu fui assaltado..."
Clark saiu da frente da loja sorridente e entrou em um beco, onde superacelerou novamente.
Surgiu de volta junto a Lois, cheio de si.
"Foi rápido", Lois disse ainda colocando a última das sacolas dentro do carro.
"Os óculos realmente funcionam", ele disse ajudando-a, "Não podem me reconhecer com ele,
agora as coisas ficaram bem mais fáceis. É claro que também preciso mudar um pouco a atitude,
mas no geral os óculos bastam!"
"Ótimo. Ao menos as óticas Zatanna serviram para alguma coisa..."
"Ainda está pirada com ela?", Clark questionou divertindo-se com o jeito de Lois. Ela fez que não
com a cabeça,
"De forma alguma. Só não quero ver aquele pinguin retirado da playboy na minha frente de
novo..."
Lois entrou na caminhonete vermelha, lugar do motorista, e Clark deu a volta para sentar-se como
carona. Seguiram enfim até um restaurante, onde curtiram uma das últimas refeições pacíficas
que iriam ter.
Algo terrível estava para acontecer e eles não tinham idéia.
***
145
Ao fim do longo almoço, Lois acabou retornando ao Daily Planet. Clark se utilizara de métodos
baixos para convencê-la a não ir até o alfaiate, o que incluiu uma rápida sessão de sexo no topo de
um telhado próximo ao DP. O Super acabou se despedindo de Lois, recebera um chamado de
Chloe para ajudá-la com algumas coisas. Lois o liberou e seguiu para o DP pensando em como iria
refazer seu dia agora que os demais compromissos haviam sido cancelados.
Lois chegou a sua nova mesa e se sentou, olhando rapidamente para a mesa vazia de Clark. Olhou
para a sala de Perry, ele não estava lá. Havia uma movimentação estranha na sessão, o lugar
estava vazio demais para um dia de semana.
Algo estava acontecendo.
"Mas o que...", Lois se preparou para falar, mas o celular tocou no bolso de sua calça. Ela
rapidamente o sacou, era Oliver. "Ollie?"
"Hei, Legs... Estou tentando ligar para o Clark e ele não atende, está aí com você?"
"Não, nos separamos a alguns minutos, ele foi ver a Chloe... Alguma coisa?"
"Você não faz idéia..."
A voz de Oliver estava séria para além do normal, o que deixou Lois um pouco preocupada. Mas
quando ele enfim disse o que tinha para dizer, Lois se levantou de sua cadeira, incrédula.
"O quê?!... Oh meu Deus... Clark!"
***
Clark parou diante da Isis Foundation e avistou Chloe se aproximando pela calçada. Ela trazia
consigo um pacote do restaurante chinês da esquina, provavelmente seu almoço.
"Clark!", ela disse sorrindo, "Que bom que veio, preciso de uma mão com algo"
"Ainda tenho que te agradecer por me salvar de experimentar o terno hoje", Clark deu um sorriso
sarcástico.
"Você não está com medo de casar, não é?"
"Ao contrário, mal posso esperar para casar com Lois. Os preparativos é que me matam..."
"Sei bem como é", Chloe disse sacando a chave para abrir a porta da Fundação.
Antes que ela abrisse, contudo, parou junto a Clark para observar uma estranha movimentação.
Algumas pessoas caminhavam apressadas, olhando para o alto. Falavam uma com as outras, todas
incrédulas com algo. Clark e Chloe entreolharam-se, tentando compreender o que se passava.
Caminharam na direção que as pessoas estavam seguindo e se deram conta de uma multidão
parada na rua, todas olhando para o telão suspenso em um prédio no quarteirão do Wonderland.
146
Uma espécie de porta-voz estava falando, e atrás dele havia um imenso wallpaper escrito
LuthorCorp.
"Senhoras e senhores, foi mesmo um milagre isto ter acontecido. Mas agora, trarei aquele que
vocês querem realmente ver. Senhoras e senhores, com vocês.. Lex Luthor!"
Lex Luthor surgiu diante das câmeras, subindo ao púlpito em um terno branco, sendo ovacionado
pela imprensa que atendia ao evento. No quarteirão da Wonderland, assim como em várias outras
partes de Metrópolis, todos assistiam boquiabertos ao noticiário de última hora, vendo as palavras
surgirem no canto inferior da tela:
LEX LUTHOR VIVE!
Clark e Chloe assistiam a tudo sem emitir qualquer som, apenas vendo aquele homem careca que
julgavam morto ressurgir das cinzas, como se nada lhe tivesse acontecido. No Daily Planet, a
reação de Lois não era diferente. Encostada em sua mesa, ela assistia a tudo pela TV de plasma do
escritório. Era surreal demais.
Quando Lex Luthor enfim se posicionou totalmente perante o púlpito, os comentários dos
repórteres cessaram. Todos queriam registrar aquele depoimento.
"Povo de Metrópolis. Depois de todos estes meses, eu retorno ao convívio dos vivos, após viver dias
terríveis que não pareciam ter fim. Fiquei perdido em um lugar distante por um longo tempo após
o acidente que sofri, sem ter recordação clara de quem eu era, ou de onde era. Ao ser encontrado,
levei um longo tempo para me recuperar e até que minha identidade pudesse ser confirmada, fui
obrigado a manter-me em silêncio, oculto para o mundo. Mas agora, caros cidadãos de
Metropolis, estou enfim de volta, pronto para retomar minha vida, e dar vida novamente a
LuthorCorp. O sonho do meu pai é agora o meu sonho, e prometo fazer dessa segunda chance que
me foi dada uma oportunidade de prosperidade e paz para a nossa cidade! Agradeço a todos que
cuidaram de mim durante esse tempo, e prometo a vocês, meus caros, que assim como me foi
dada uma nova vida, farei o melhor para que possamos fazer nascer uma nova Metropolis!"
"Filho da mãe..", Lois resmungou enquanto ouvia o discurso de Luthor. Pegou o celular e discou
para Clark, mas não obteve resposta.
Do outro lado da cidade, Clark olhou novamente para Chloe:
"Como pode ser?", Clark questionou, "No Ártico, ele não poderia ter sobrevivido!"
"Você sobreviveu, e estava sem poderes, certo?", Chloe indagou. Ela própria tinha muito mais
perguntas do que respostas, "O que acontece agora? Luthor de volta, e ele sabe o seu segredo! Ele
conhece Clark Kent e Kal-El, os óculos não vão funcionar!"
"Eu não sei, talvez", Clark pensou rápido, mas não havia uma saída clara. O retorno de Luthor
parecia ser somente o início de seus problemas e ele precisava ficar totalmente alerta. Lex iria
atrás dele, mas covarde como era, começaria por aqueles que ele amava.
Não demoraria a ir atrás de Lois.
147
***
No DP, Lois andava de um lado para o outro, tensa. Não se falava em outra coisa que não fosse o
retorno de Luthor, e Perry já havia retornado, perguntava por ela e Clark. Lois seguiu para a sala
do editor chefe com vários outros jornalistas e parou diante do homem enquanto ele falava.
"Muito bem, povo", Perry iniciou, agitado como sempre, "Essa é notícia grande, e precisamos tirar
alguma coisa dela enquanto ainda está quente. Demos sorte que Tess Mercer vendeu a maior
parte das ações do jornal que pertenciam a LuthorCorp para a Wayne Industries, ou não
poderíamos falar abertamente sobre o assunto. Mas eu quero saber o que realmente houve com
Luthor, ninguém aparece assim da noite para o dia! Por que ele se escondeu esse tempo todo, e
por que agora? Lane, quero uma exclusiva com Luthor, não importa como! Quero essa entrevista
na capa do DP amanhã cedo!"
"Claro, ele vai se abrir para mim como uma flor de lótus..", disse Lois se retirando da sala. Deu de
cara com Clark, que acabava de chegar ao escritório. A cara dele dizia tudo.
"Lois!", Clark a abraçou forte, para ter a certeza absoluta que ela estava bem.
"Como você está?", ela perguntou preocupada.
"Eu não sei.. Mas sei que precisamos ser cautelosos."
"Perry quer que eu entreviste ele, para a capa de amanhã."
"Não, nem pensar!", Clark se viu em pânico só em imaginar que Lois chegaria perto de Luthor,
"Não vou deixar que ele te faça mal!"
"Não se preocupe, Smallville... Ele não vai tentar nada, não com todo mundo sabendo que fui
atrás dele. Além do mais, nem sei se ele vai me receber, considerando nosso passado..."
"Lex sempre tem tempo para seus inimigos", Clark respondeu convicto. Conhecia o jogo sujo do
ex-amigo. Lois o fitou, segurando o rosto dele com as duas mãos, terna,
"Eu vou ficar bem."
Lois estava certa, não iria acontecer nada. O difícil era Clark se convencer disso.
***
Lois chegou a LuthorCorp no início da noite. A movimentação era intensa, havia muitos repórteres
e funcionários da empresa tentando conter a zona na qual o lugar havia se tornado. Lois seguiu,
sozinha, pelo corredor de acesso a sala da presidência. Suas credenciais lhe permitiram entrar no
prédio, mas foi somente ao dizer seu nome que sua entrada foi aprovada para os andares
superiores. Chegou enfim a uma sala, onde uma secretária atendia a dois telefones ao mesmo
tempo.
148
Lois olhou em volta pela sala que lhe era familiar e para a porta da sala de Luthor. Apenas alguns
segundos depois, a porta de vidro se abriu e Tess Mercer saiu por ela. Fitou Lois com o olhar
costumeiro, carregado de ironia.
"Se não é Lois Lane, farejando uma matéria de capa..."
"Me desculpe, Tess, mas não consigo te ouvir.. Sua voz sai abafada com sua cara tão enfiada no
traseiro de Luthor."
"As coisas vão mudar, Lois.. E eu não quero estar do lado errado."
"Não se preocupe, Tess. Quando Luthor se cansar de você, não será preciso escolher nenhum
lado..."
Tess parou diante de Lois, desafiando-a com o olhar. A jornalista não mediu menos, encarando-a
nos olhos como se a jogasse da primeira janela a vista. Era sempre assim entre as duas, e a volta
de Luthor só agravara as coisas.
"Ele está esperando por você..." Tess disse por fim, passando ao lado de Lois e raspando o ombro
no dela. Lois deu pouca atenção, seguindo em direção à porta. Abriu-a os dois lados, entrando de
vez na sala.
O amplo escritório de janelas de vidro parecia maior do que antes, e o escudo dos Luthor estava
estampado no piso liso, visível de imediato para qualquer um que cruzasse a porta. Lois olhou na
direção da mesa larga, e viu uma poltrona virada na direção das janelas. Na parte alta da poltrona,
a parte alta de uma cabeça podia ser vislumbrada, sem cabelo. Ela não precisou esperar para que
a poltrona virasse, sentiu na hora que aquele era mesmo Lex Luthor, que estava vivo, de volta.
"Lois Lane...", ele pronunciou sem virar a poltrona. Ainda estava vestido com o terno branco, e
olhava para Metropolis através de suas amplas vidraças. Com uma das mãos, mexia em seu anel
de kryptonita posto na outra, como se fosse aquele um gesto altamente habitual. Seu olhar exibia
um jogo, um desafio, que estava apenas começando. E começava ali, com Lois Lane.
"Lois Lane, Daily Planet", a jornalista pronunciou enquanto se aproximava dele, "Se importa de
comentar como depois de tantos meses você reapareceu vivo e inteiro, pronto para dominar o
mundo?"
"Estou muito bem, obrigado", ele disse ao se virar finalmente. Lois sentiu um frio na espinha
quando seus olhos encontraram os de Luthor pela primeira vez. Não via nada neles, além de
maldade. Era um crápula.
"Isso seus médicos já disseram", Lois comentou parando a poucos centímetros da mesa larga,
"Estou aqui para saber o que eles não disseram... Como diabos você conseguiu voltar do inferno?"
"Tinha assuntos inacabados, inclusive com o diabo..", ele respondeu fitando Lois. "Você está
morena, lhe cai muito bem. Realça os seus olhos..."
"Você continua careca.. Parece que algumas coisas nem o diabo dá jeito..."
149
"Cabelo nunca foi um problema", Luthor se ergueu, dando alguns passos em torno da mesa,
"Gosto de me sentir um tanto quanto... único"
"Único?", Lois riu, "Por favor, existem muitos crápulas no mundo... Sr. Luthor"
"Você veio aqui para me entrevistar ou me insultar?"
"Há diferença?", Lois rebateu, "Eu sei o suficiente para escrever várias páginas sobre o seu
reaparecimento, mas gostaria de ouvir sua versão dos fatos"
"Pode dizer que foi uma espécie de milagre...", Luthor se aproximou dela, observando-a por trás.
Lois se manteve imóvel, mas alerta. "Como está Clark? Soube que vocês dois estão juntos, agora"
Lois preferiu não responder, e Lex surgiu novamente diante dela.
"Eu adoraria vê-lo, mas tenho a impressão de que ele não irá se aproximar de mim...", e ele alisou
o anel novamente, despertando a atenção de Lois para a peça.
"Como diabos você saiu do Ártico?", Lois perguntou querendo saber a verdade.
"Não importa como, mas o porquê", ele respondeu com um sorriso um tanto sínico, "Por que
voltei? Por que aceitei te receber?"
"Por quê?", ela indagou e ele deu a volta em sua mesa novamente, sentando-se na poltrona.
"Porque desta vez, tudo será diferente... Avise a Clark que ele e eu ainda temos negócios
inacabados..."
Lois fez a anotação mental, mas não era preciso. Observando os dois através da janela e ouvindo
absolutamente tudo, estava Clark, parado no topo de um prédio vizinho. Vigiava para que nada
acontecesse a Lois, ao mesmo tempo em que fitava Lex Luthor, lembrando-se das coisas que ele
era capaz.
Sem dúvida, tudo seria diferente.
***
150
Capítulo 21
Os dias não poderiam ser mais tensos na vida de Lois e Clark. O retorno de Lex Luthor colocou a
todos em um estado de alerta total, a fim de não serem pegos de surpresa em uma de suas
artimanhas. Clark ainda não havia ficado frente a frente com o arqui-inimigo, principalmente por
conta do anel de kryptonita que o empresário estava sempre a carregar. Todas as matérias feitas
sobre a LuthorCorp foram levadas a cabo pela própria Lois, que pôs um ultimato a Clark: não o
queria perto da empresa ou da mansão de Luthor, pois não sabia o que esperar daquele homem.
Especialmente sabendo que Luthor tinha meios para derrotar o Super.
Era bem verdade, contudo, que desde que aparecera, Luthor ainda não havia aprontado
nenhuma, ao menos nada que pudesse ser associado ao seu nome. Ainda assim, a vigilância
precisava ser constante. Até mesmo Oliver passou a redobrar sua guarda sobre Metropolis,
garantindo que a cidade permanecesse no estado de paz garantido principalmente pelo
Superman. As coisas não eram perfeitas, mas infinitamente melhores do que se poderia esperar.
Clark e Lois chegaram ao Daily Planet em um dia de chuva intensa. Seguiram para o elevador a fim
de subirem, mas deram de cara com Jimmy no processo.
"Hei, pessoal! Há quanto tempo!", festejou o fotógrafo ao ver seu casal predileto, "O que andam
fazendo?"
"Hei, Jimbo", Lois o cumprimentou ao lado de Clark, "Digamos que os dias não são como antes..."
Clark apenas confirmou com a cabeça, arrumando o longo sobretudo preto que usava, muito
semelhante ao da própria Lois. As gotas de chuva estavam por toda a parte.
"Ah, sei.. É por causa do Luthor, não é?", deduziu Jimmy, "O cara mal chegou e agora o tratam
como se fosse o salvador de Metropolis..."
"Ele vai curtir seus 15 minutos de fama", Lois respondeu um pouco séria, assim como Clark. Os
dois se olharam, e Jimmy fitou os dois.
"Caramba, o que há com vocês dois? Já basta que com esses casacos, estão parecendo agentes do
FBI."
"Vamos dizer que meu Mulder está um pouco chateado, não é mesmo?", Lois sorriu e fitou Clark,
mas este não mudou sua expressão. Não estava para conversa.
"Bem, C.K., relaxa... Seja lá o que for, há de ficar melhor. Veja o Daily Planet, por exemplo. Agora
que temos um novo sócio majoritário, não precisamos mais responder às ordens daquela
Mercer..."
"Ok, Jimbo, acho que agente Mulder aqui não está a fim de saber do Canceroso hoje...", Lois
encerrou a conversa vendo que o elevador havia chegado, "A gente se vê"
"Ok", respondeu Jimmy voltando-se para Clark, "Cara, já te disse que você ficou ótimo de óculos?
Embora eu não me lembre de você sem eles, coisa estranha.."
151
"Tchau, Jimmy!", Lois encerrou a conversa, puxando Clark pelo braço.
Os dois se despediram de Jimmy gestualmente e entraram no elevador, apertando o 50º andar.
Clark manteve a cara emburrada, mas Lois não aguentou o silêncio por muito tempo.
"Smallville, vai ficar com essa cara o dia inteiro? C'mon, é só uma entrevista!"
Clark se manteve calado, não queria falar sobre aquilo. Lois insistiu.
"Não acredito que está assim só porque eu disse que o homem é um gato, é sério... Não significa
que eu goste dele, só que irei fazer uma entrevista, afinal.. O cara é o bilionário que comprou a
maior parte das ações do Daily Planet!"
"É um metido que se acha o dono do mundo", Clark resmungou, para a diversão de Lois.
"Oh, se não é uma reação multissilábica do meu futuro marido..."
"Por que tem que ser você a entrevistar esse cara?", Clark perguntou invocado. Lois desviou o
olhar dele, da forma que sempre fazia quando tinha alguma culpa no cartório. Clark sacou na hora,
ninguém a tinha convocado. "Você se ofereceu?"
"Smallville, não é todo dia que o cara está na cidade. Além do mais, pretendo fazer umas
perguntas relacionadas à concorrência dele..."
"Concorrência?", Clark não compreendeu, mas Lois já tinha tudo planejado.
"Apenas relaxe, e hoje a noite quando chegarmos em casa, vamos continuar aquela partida de
boliche no Wii.."
"A gente não conseguiu nem ligar o aparelho, Lois..."
"Isso porque você olhou para o meu traseiro enquanto eu colocava o CD..", ela o fitou com um
olhar descarado, "Quem sabe hoje a gente consegue chegar à tela de início pelo menos.."
Clark sorriu, tanto por pensar na maravilhosa noite anterior como na que se seguiria. Contudo,
ainda estava com o pé atrás. Não havia tragado muito bem aquela entrevista que Lois faria,
principalmente conhecendo a fama de conquistador do entrevistado.
Seria um dia daqueles, Clark podia sentir.
***
A porta do elevador se abriu e os dois surgiram no último andar do Daily Planet, onde estava
localizada a sala da presidência do jornal. Por um bom tempo, a sala ficara vazia na ausência de
Luthor, mas agora que ele não estava a frente, uma pessoa seria encarregada por assumir o jornal,
tendo Perry White como editor chefe. Aquilo agradava a Lois e a Clark, que não pretendiam seguir
no DP sob o comando de Luthor. A nova formação acionária, contudo, colocara um novo jogador
no páreo. Um que não pretendia perder muito de seu tempo em Metropolis, portanto qualquer
152
oportunidade de vê-lo era única.
Lois e Clark seguiram até o hall de acesso à sala onde seriam levadas à frente as entrevistas. Já
havia um grande número de jornalistas presentes, e Lois saiu arrastando Clark até conseguir um
lugar de destaque em meio ao grupo. Todos esperavam pela chegada do novo dono do jornal, e
aglomeravam-se da forma que dava em busca de uma boa foto. Clark estava um pouco
incomodado por estar ali, mas nada se comparava ao olhar empolgado de Lois. Aquilo o matava
acima de tudo.
Quando um grupo de assessores surgiu no corredor em direção à sala, todos se deram conta de
que o aguardado bilionário estava se aproximando. Ele surgiu, poucos metros atrás do primeiro
homem que liderava a comitiva dos ternos pretos. Usava ele próprio um terno de alta costura,
mas sua elegância o destacava dos demais de maneira incomparável. Era moreno e alto, cabelos
castanhos penteados para trás e um olhar de líder de máfia. Trazia consigo um constante sorriso
de canto de boca, jovial como a própria idade o fazia aparentar. Trazia uma das mãos no bolso
enquanto a outra manejava uma caneta, aparentemente de ouro. Junto a ele, uma moça que
parecia ser uma assessora particular, considerando o tablet que trazia com ela.
"Lá está ele", Lois disse maravilhada ao ver aquele homem esbelto, "O único e verdadeiro magnata
de Gotham!"
Bruce Wayne.
Clark não pôde deixar de olhar atravessado, o pouco que sabia dele o deixava incomodado. Sabia
que o homem era mimado e rico, um playboy. Já lhe bastava Luthor, não precisava de mais um
pedante no caminho.
Como se adivinhasse os pensamentos de Clark para que não se aproximasse, Bruce Wyane fez
exatamente aquilo que o Super mais temia. Em meio a todo o alvoroço da imprensa, ele parou
diante de alguém que lhe chamou a atenção. E não era ninguém menos do que a jornalista
morena de belas pernas que olhava fixamente para ele.
"Perdão", o magnata disse, parando diante de Lois, "Tenho a impressão de que nos conhecemos
de algum lugar..."
"Não dessa fanfic, Sr. Wayne", Lois respondeu tentando ser o mais educada possível, "Mas é uma
honra tê-lo à frente do Daily Planet."
"O que significa que você trabalha aqui", Bruce deduziu. Encostou o dedo entre a boca e o nariz,
pensando. Arregalou levemente os olhos, surpreso pela lembrança que teve. "Oh, agora me
lembro. Você é a jornalista que trouxe aquele avião de contrabandistas de volta à América!"
"Lois Lane, ao seu dispor", Lois levou a mão na direção de Wayne, e ele a pegou delicadamente,
beijando-a como um cavalheiro. Clark travou todos os dentes dentro de sua boca, tenso com a
situação. Será que se assoprasse devagar, conseguiria atirar somente Bruce Wayne para fora dali?
Lois sorriu encantada com Bruce, e virou-se para Clark. "E este é Clark Kent, também trabalha no
Daily Planet."
153
Clark esboçou algum sorriso, mas Bruce Wayne sequer lhe deu atenção. Seu olhar ainda
continuava perdido em algum lugar nos olhos de Lois. Clark reconsiderou mentalmente, talvez
devesse assoprar forte mesmo, fazendo Bruce Wayne voltar para Gotham.
"A srta. Lane é seu primeiro compromisso hoje, Sr. Wayne", explicou a assessora consultando a
agenda que trazia no tablet, "Ela é a jornalista do DP que está cobrindo sua posse."
"Ótimo, então venha comigo! Vamos começar..", Bruce ofereceu o braço para que ela segurasse.
Lois virou-se para Clark e deu um sorriso para o noivo,
"Almoçamos juntos?"
Clark fez que sim com a cabeça, mas seu olhar dizia claramente que estava se sentindo no pior
lugar do universo. Lois levou seu braço de encontro ao de Bruce Wayne, mais para não parecer
indelicada do que por outra coisa. Não queria agravar os ciúmes de Clark e Bruce Wayne não
estava facilitando.
Clark observou o magnata e Lois adentrarem a sala da presidência e se manteve parado entre os
demais jornalistas, em um misto de irritação e frustração. Concentrou-se na noite anterior, nas
juras de amor e em tudo o que vivera com Lois. Não havia motivo algum para ter ciúmes, era ele
que ela amava. Mas ainda assim, a presença de Bruce Wayne lhe despertava uma insegurança
inacreditável, talvez por ele apresentar todos os elementos que pareciam encantar Lois: rico,
bonito e misterioso..
***
Bruce Wayne já entrou no escritório preparado para recebê-lo buscando a mesa de bebidas.
"Aceita um drinque, Srta. Lane? Algo na categoria dos quentes que revigoram a alma?"
"Não, obrigada", Lois recusou gentilmente. Adentrou a sala e viu a assessora se retirar. Estavam a
sós. Bruce pegou uma bebida para si e seguiu na direção da grande mesa disposta junto às janelas.
"Estou curioso com o que possa querer me perguntar. Existe realmente alguma coisa ao meu
respeito que ainda não foi dita?", ele questionou sentando-se na poltrona destinada a ele, não
antes que a própria Lois se acomodasse, cruzando as pernas nuas pela saia que agora subia um
pouco.
"Há sempre algo a ser descoberto, mesmo para homens que são um livro aberto.. No seu caso, eu
diria que se trata da bíblia de Gotham que ainda não foi devidamente lida.."
"Estou mais para o livro negro de Gotham...", Wayne rebateu fitando Lois. Havia algo no olhar dela
que o hipnotizava, ele simplesmente não conseguia tirar os olhos dela. Lois se deu conta disso, é
claro, e tentou se aproveitar.
"Bem, Sr. Wayne...", ela iniciou puxando seu bloco de anotações, mas ele a interrompeu.
"Embora deva admitir que é muito sexy vê-la me chamar de Sr. Wayne, prefiro que me chame de
Bruce..."
154
"Bem, ok então... Bruce", Lois se corrigiu, fitando-o com alguma seriedade, "O que o levou a
adquirir o Daily Planet?"
"Sempre me questionei sobre isso, mas vejo agora que foi uma boa aquisição..", ele disse quase
sem controle de suas palavras. Deu um leve sorriso, procurando rever sua resposta. Lois não
mexera nenhum dedo para anotar aquilo, e ele reconsiderou. "A Wayne Industries já estava
presente em Metropolis por meio da Waynetech, que é uma das maiores empresas no campo da
alta tecnologia. Eu sempre quis investir mais em Metropolis, mas em outros campos. Pensei, por
que não investir nas mídias que embora aparentem estar sendo ultrapassadas, ainda possuem ao
meu ver o principal valor comunicativo na nossa sociedade? Enquanto a TV e a Internet caem no
imediatismo e nas análises superficiais, os jornais impressos ainda se preocupam em tecer a
melhor notícia, e isso o Daily Planet faz melhor do que ninguém..."
Lois se deu satisfeita pela resposta, anotando aos detalhes mais importantes. Era quase um
gravador, embora soubesse que diante de pessoas como Bruce Wayne, o melhor era sempre usar
o bom e velho caderno de anotações. Aquilo o deixava mais seguro para fazer afirmações, como
ela mesma testemunhou. Seguiu com a entrevista.
"Como você vê a divisão das ações do Daily Planet com o seu principal concorrente no campo das
Indústrias de Alta Tecnologia, o Sr. Luthor?"
Bruce deu uma respirada discreta para responder aquilo, embora não abandonasse a postura de
magnata que lhe era característica. Soava até arrogante em alguns momentos, como se estivesse
mergulhado em um personagem a ser interpretado diante das câmeras.
"Lex Luthor e eu não temos outros negócios em comum além das ações do Daily Planet. Ele possui
uma minoria, eu a maioria. Isso me dá total autonomia para gerir o jornal e estabelecer seus
interesses. A LuthorCorp continua sendo a minha mais forte concorrente no ramo da Indústria,
juntamente com a Queen Industries. Eu diria, para encerrar esta questão, Srta. Lane... Que faz
parte do jogo."
"Faz parte do jogo expandir seus negócios para uma cidade que desponta no cenário nacional
como sendo uma das mais seguras, graças ao Superman? Enquanto Gotham, que é a sede
principal de seus negócios, sofre constantemente com ameaças de bandidos absurdamente
insanos, apesar do morcego vigilante?"
Bruce deu um sorriso irônico ao ouvir tal questionamento. Cruzou as pernas, enlaçando as mãos
na altura do colo, "Batman é um vigilante da noite. Eu faço meus negócios ao dia, e ele não parece
estar interessado em defender os interesses econômicos de Gotham. Apenas se interessa em
caçar os insanos que você nomeia, pessoas que a justiça não tem condições de capturar."
"E você acredita que o Batman tenha condições de capturar estes indivíduos?". Lois jogou a
questão quase incrédula, embora aquilo não transmitisse claramente a forma como se sentia em
relação ao herói de Gotham. Mas era seu papel de jornalista perguntar ao homem mais rico de
Gotham sobre como ele se sentia em relação ao Batman.
"Eu acredito que o Batman tem em mãos uma luta que não pode ser vencida somente por ele. Eu
acredito que a América deve se unir para deter o crime, seja em Gotham, seja em Metropolis. E
155
como empresário, darei meu apoio a qualquer força do bem que esteja lutando a favor da
justiça..."
Lois anotou a tudo, impressionada com o discurso de bom samaritano de Bruce Wayne. Aquilo lhe
renderia uma boa matéria, sem dúvida, mas sentia que havia mais por trás daquelas palavras. Não
sabia se seria possível arrancar.
Bruce preencheu o breve silêncio que se fez entre os dois com uma nova provocação:
"Agora eu gostaria de fazer a minha pergunta", ele disse olhando para a mão de Lois. "É casada ou
esta aliança é apenas uma forma de evitar que bilionários cheios de segundas intenções a convide
para jantar na melhor cobertura da cidade?"
Lois sorriu ainda anotando o final da resposta de Bruce. O olhou enfim, umedecendo os lábios
antes de falar, "Para estes convites eu costumo utilizar o tradicional 'estou lisonjeada, mas não,
obrigada'... E no que diz respeito à aliança, ainda não, em breve, muito breve. E o nome dele é
Clark Kent".
"Clark Kent", Bruce repetiu para si próprio em anotação mental, "Não irei esquecer o nome do
homem mais sortudo que já ouvi falar.."
Aposto que não, pensou Lois observando-o. O maldito era boçal, mas muito charmoso, ela não
podia negar.
Era um perfeito playboy. Talvez perfeito demais.
***
Em uma outra cobertura da cidade, Oliver observava sua roupa de Green Arrow vestida em um
manequim de gesso. Analisava cada detalhe, atento para os mínimos traços da vestimenta.
Um vento forte invadiu o lugar e Oliver olhou em volta, vendo Clark surgir no apartamento.
Parecia invocado.
"Sabe, Clark, a velha batida na porta? Funciona assim: você faz knock, eu abro a porta..."
Clark não pareceu ligar muito. Oliver voltou-se para seu uniforme novamente, "O que acha do
meu novo uniforme?"
Clark olhou para a roupa verde com alguma atenção e franziu o cenho. "Parece igual para mim."
"Como igual, cara? Olha essa linha verde escura abaixo do peitoral, bem aqui", Oliver apontou
para o detalhe minúsculo, "Faz toda a diferença. É alta costura, isso aqui."
Clark revirou os olhos, agonizando com aquilo. Oliver percebeu que o amigo não estava para
graça.
"O que houve, Clark? Você parece meio tenso... Cara de quem comeu e não gostou, o que eu acho
meio difícil, considerando..."
156
Clark fitou Oliver contrariado. Aquele não era o tipo de comentário que ele precisava ouvir, muito
menos do ex de sua futura esposa.
"Ok, Ok, me lembre de te dar algum senso de humor no próximo Natal", Oliver brincou mais uma
vez, "O que está havendo?"
"Bruce Wayne é o que está havendo", Clark disse sem rodeios, "Enquanto estou aqui vendo seu
uniforme de alta costura, Lois está entrevistando o magnata de Gotham. E parece estar se
divertindo."
"Como sabe que ela está se divertindo?", Oliver perguntou e Clark o fitou, o tom de obviedade em
seu olhar,
"Hoje eu acordei e percebi que podia ver através das paredes..."
"Nada mal para quem não tem senso de humor", comentou Oliver, mas riu pensando no que Clark
dissera, "Não acredito que está com ciúmes da Lois com Bruce Wayne!"
"Ele é rico e bonito", Clark enumerou.
"Eu também sou, e ainda assim ela escolheu o caipira... embora você seja bonitão também, eu
tenho que assumir..."
"Tem alguma coisa sobre aquele homem, Oliver", Clark confessou o que realmente lhe ocorria,
"algo que eu não sei como explicar. Mas ele parece esconder alguma coisa..."
"Concordo", Oliver disse voltando sua atenção para sua roupa verde, "Sempre achei que ele fosse
mais rico do que eu.."
Clark balançou a cabeça negativamente, havia algo sobre Bruce Wayne. E ele iria descobrir o que
era.
***
O almoço chegou, e com ele Lois e Clark. Os dois se encontraram no DP e imediatamente foram
para a fazenda levando o almoço que Clark encomendara em um restaurante próximo do jornal.
Sentaram-se na bancada de madeira na cozinha de frente um para o outro e começaram a devorar
o filé com molho de abacaxi e brócolis. Clark colocou seus óculos sobre a bancada em um dos
raros momentos em que podia retirá-lo. Lois prendeu os cabelos antes soltos, com uma pequena
piranha presa à alça de sua bolsa. Comeram em silêncio por alguns poucos segundos, até que
Clark decidiu se pronunciar.
"Como foi a entrevista?"
"Boa, muito boa", Lois disse sem dar muita importância, quase como se fosse um fato corriqueiro.
"Ele é tão boçal quanto parece?", Clark perguntou curioso e Lois respondeu de imediato,
157
"Mais do que parece, na verdade."
Clark cortou um pedaço da carne, procurando se controlar para não entortar os talheres. "Lançou
muitas cantadas pra você?"
"Antes ou depois que viu nossa aliança?", Lois perguntou levando um pouco de brócolis à boca.
Clark a fitou um pouco atônito e pensou em dizer algo, mas fechou a boca novamente. Lois se deu
conta disso e continuou, "Smallville, vamos.. Não acredito que continua com ciúmes de Bruce
Wayne!"
Clark não respondeu aquilo. Abaixou a cabeça voltando sua atenção para a comida, fazendo algum
bico em sua feição emburrada. Parecia uma criança que havia perdido o dia no parque, e Lois não
resistiu.
"Seu bobo...", ela disse se inclinando sobre a bancada, aproximando-se dele, "Não posso ir contra
meus instintos femininos! Mas no fundo, eles sempre me levam a um único caipira..."
Clark se fez de difícil por alguns segundos, mas a proximidade do rosto de Lois o deixou
desconcertado. Ele a encarou, seus olhos azuis dando-lhe a feição de cachorro na chuva. Lois se
inclinou mais ainda e depositou um beijo na testa de Clark, carinhoso como as carícias da manhã.
Queria fazê-lo sentir-se como o que ele era para ela:
Único.
Não era preciso um beijo, nem mesmo o olhar. Clark sentia o amor de Lois apenas em estar
próximo a ela, no toque de sua mão sobre seu ombro, na forma como ela respirava e seu coração
palpitava perto dele. Era como sentir a todas as emoções mais intensas de sua vida de uma só vez,
sempre que a via descendo as escadas da fazenda, ou brincando com a caneta sentada em sua
mesa no DP.
"Sabe", Lois disse baixinho, levando a mão na direção da gravata de Clark, "Acho que podíamos
pular para a sobremesa.."
O desejo dela era uma ordem e Clark não poderia se negar, não queria. Deixou Lois puxá-lo pela
gravata e chupar seus lábios ainda mornos pelo almoço, sentindo nela o gosto do que estava a
comer. Deixou sua língua se sobrepor, para depois passar por cima, sentindo-a da forma mais
profunda que o beijo o permitiria. Foi o suficiente para que Clark levasse as mãos ao corpo de Lois
e a erguesse por cima da bancada, para o mesmo lado que ele. A sentou em seu colo e deixou que
ela desabotoasse sua camisa o mais rápido possível, mantendo a gravata. Lois o puxou novamente
por ela, e Clark aproveitou o movimento para beijar o início do pescoço dela.
"Isso significa que você não está mais chateado?", ela perguntou em delírio ao sentir a boca dele
em seu pescoço, chupando-a bem lentamente.
"Significa que estou te exorcizando de qualquer coisa que não seja eu", ele disse entre carícias,
sentindo os dedos de Lois enfiando-se nos seus cabelos. Ela rebateu, meia rouca pelo gemido que
se seguiu por conta da boca de Clark,
"Oh, você pode me possuir completamente, Smallville..."
158
Clark deu um leve sorriso, mas não perdeu mais tempo. Abriu a blusa de Lois sem a mesma
paciência que ela, arrebentando todos os botões no processo. E quando ela se encaixou com
perfeição no colo dele, ambos se deram conta de que aquele almoço se prolongaria por horas e
horas...
***
Quando Clark e Lois retornaram ao DP às 8 da noite, se deram conta de que o almoço havia
esticado demais. Mas valera a pena, pois Clark definitivamente perdera a cara de cachorro
molhado que carregara por boa parte da manhã.
Seguiram para o escritório no 22º rindo um da cara do outro. O lugar estava à meia luz,
totalmente deserto.
“Nem sei para que se deu ao trabalho, Lois.. Poderia ter emendado e ficado em casa”
“E perder os agitos de terça a noite? Sem chance!”, a morena disse jogando sua bolsa sobre a
mesa, “Além do mais, eu tenho que escrever a matéria sobre Bruce tesudo Wayne...”
Clark a fitou sério novamente. Ela deu um soco no ombro dele,
“Brincadeirinha, bobo. Só testando!”
Os dois se sentaram em seus respectivos lugares, mas Clark olhou para o lado, paralisando a
cabeça. Lois sacou imediatamente, já conseguia perceber claramente quando Clark estava a ouvir
conversa alheia a quilômetros de distância. E ele realmente ouvia, mas não era uma simples
conversa.
Um grito. Alguém estava em perigo.
“Lois? Se importa?”, ele disse retirando os óculos com as duas mãos e entregando a ela, “Te vejo
mais tarde.”
“Pega eles, delícia” ela disse antes de ver Clark superacelerar para fora do DP. Como sempre,
metade dos papéis no lugar voaram para todos os lados, mas ela não deu muita atenção a isso.
Olhou para o óculos e o colocou, voltando sua atenção para a matéria que iria escrever.
***
Clark surgiu no alto de um prédio, vestido em seu traje azul e vermelho. Deu uma batida na
jaqueta azul, sabia que precisava pensar em uma roupa melhor, mas não tinha tempo para isso no
momento. Alguém estava em apuros.
O Super andou alguns metros até avistar um homem tentando roubar a outro. Facilmente deteve
o homem, amarrando-o no telhado com uma grade de arame. A vítima, contudo, não parecia
surpresa. Olhou para o Superman e estendeu a mão, entregando-lhe um papel. Clark pegou o
papel estranhando o ato, e leu rapidamente:
159
Encontre-me no galpão abandonado atrás da Elm Street. B.
Aquilo soava estranho demais. Seria Lex Luthor? Clark enfiou o papel no bolso do jeans e disparou
na direção do local indicado. Surgiu já dentro do local ao sentir que não havia kryptonita por
perto. Não demorou a ver que havia alguém nas sombras. E ele se viu surpreso ao dar-se conta de
quem era.
“Olá, Superman... Enfim nos encontramos, cara a cara.”
Vestido em um traje negro e coberto por uma capa, surgiu diante de Clark o homem que ele só
ouvira falar nos noticiários vindos de Gotham. Usava uma máscara com orelhas pontudas, como se
fosse um morcego. Somente a parte inferior de seu rosto estava à mostra, mas Clark não precisou
de muito para saber de quem se tratava.
Era o Batman. Mais do que o Batman, na verdade.
“Você só pode estar brincando...”, Clark disse ao dar-se conta do homem por trás da máscara,
“Bruce Wayne?”
Batman não pareceu surpreso ao ouvir seu verdadeiro nome ser emitido pelo Superman. Saiu das
sombras, se aproximando do herói, “Então é verdade o que dizem, sobre a visão de raio-x..”
“Não acredito que você é você”, Clark disse realmente atônito, tentando não lembrar que aquele
homem havia dado em cima de sua noiva descaradamente há algumas poucas horas. Qual era o
problema com esses bilionários? Entediados demais?
“E eu não acredito que você corre por aí de jaqueta e jeans..”, Batman disse dando uma boa
olhada no que parecia para ele um protótipo de herói, “Mas eu vim a Metropolis unicamente para
conhecer você”
“Por isso comprou o Daily Planet?”, Clark questionou.
“Não exatamente. Digamos que as coisas caminharam na mesma direção. Mas a verdadeira razão
pela qual estou aqui, pela qual te chamei aqui.. É porque eu tenho uma proposta a te fazer”
“Proposta?”, Clark indagou curioso, “Que proposta?”
Batman retirou a máscara, expondo sua identidade. Queria olhar nos olhos de um dos poucos
homens que, acreditava Bruce, seria capaz de ajudá-lo.
“De unirmos nossas forças.”
***
160
Capítulo 22
Aquilo era difícil de assimilar. Bem ali, à sua frente, estava o homem que todos conheciam como o
cavaleiro das trevas. Um novo herói, tomando as ruas de Gotham, livrando-as do crime. E agora
ele estava ali, querendo unir-se ao Superman. Estranho, para dizer o mínimo.
"Você quer se unir a mim?", Clark indagou desconfiado, "Por que eu deveria confiar em você?"
"Por que não deveria?", devolveu Bruce. Seu olhar era sério e compenetrado, não lembrava em
nada o metido magnata dono das Indústrias Wayne. "Nós temos inimigos em comum. E lutamos
pelas mesmas coisas."
"Você não sabe pelo que luto", Clark disse dando as costas. Pretendia ir embora. Deu alguns
passos em direção à saída do armazém, mas Bruce o interrompeu:
"Clark Kent?"
A menção de seu verdadeiro nome surpreendeu o super, que parou onde estava e voltou-se para
o Batman. O fitou por um instante e depois deu um sorriso sem graça,
"O que tem Clark Kent?"
"Zatanna me contou", Bruce esclareceu. Naquele instante, Clark teve a certeza que Bruce Wayne
sabia toda a verdade. O fitou incrédulo por Zatanna ter revelado seu segredo, mas Bruce
contornou, defendendo-a. "Zatanna e eu temos uma longa história. Ela me contou unicamente
porque sabe o que tenho buscado."
"Então quando você me viu hoje pela manhã com Lois, já sabia quem eu era?"
"Não podia deixar transparecer isso. Embora Lois Lane ter ido me entrevistar tenha sido uma
coincidência."
"Não te impediu de dar em cima dela", Clark revidou recuperando parte da antipatia acumulada
contra o homem. Bruce apenas sorriu,
"Não pude evitar, seria fora do meu personagem não fazâ-lo. Ela é mesmo uma mulher
impressionante. E você é um homem de sorte.."
"O que tem buscado?", Clark cortou o assunto, não lhe agradava ouvir Bruce Wayne falando sobre
Lois, mesmo que fosse para tecer elogios. Se ele conhecia vários aspectos de sua vida, Lois Lane
não seria um deles.
Bruce fitou Clark sério novamente, ele sabia que aquela seria uma tarefa difícil. Mas não desistiria
tão fácil.
"O que tenho buscado? O que você tem buscado, Clark Kent? Me custou pouco tempo para
perceber que há um mal acumulado neste mundo e que parte do que tenho enfrentado tem a ver
161
com ele. Pessoas como alguns dos inimigos que você mesmo enfrentou... Pessoas como Lex
Luthor."
"Lex?", Clark se viu interessado e voltou a se aproximar do misterioso herói, "O que sabe sobre
ele?"
"O suficiente para desejar que ele tivesse ficado morto.. Agora que ele está de volta, não irá se
contentar com Metrópolis. Nunca se contentou. Eu entendo que ele possui uma rixa pessoal com
você, mas as ambições daquele homem vão além de tudo e de todos."
"Eu conheço Lex Luthor, e você tem razão", Clark admitiu, "Mas como isso me faz confiar em
você? Quem me garante que você não é mais um dos inúmeros inimigos que encontrei? Pessoas
em que confiei, como Zod.. Ou o próprio Luthor. O que te torna diferente?"
"Você está certo, eu não tenho como te provar se sou amigo ou inimigo.. Pela minha experiência,
só há uma forma de se conhecer as pessoas que estão do seu lado, é quando se luta com elas. Ou
mesmo contra. Nós dois temos passados. O meu me fez ser o que sou. Mas você... O que você é
capaz de fazer, isso vai além de sua história. O que te ofereço é a chance de fazermos isso juntos.
Eu, você.. Oliver.. E todos os outros."
Clark o fitou surpreso novamente, como Bruce sabia sobre Oliver? O cavaleiro negro respondeu
imediatamente,
"Quem você acha que forneceu o material do novo uniforme dele? Oliver e eu já nos cruzamos
algumas vezes."
Então Green Arrow e Batman se conheciam? Clark se perguntou por que Oliver nunca mencionara
Bruce Wayne, mas podia compreender as razões. Clark sempre fora relutante em unir-se na luta
de Oliver e os demais. Talvez eles já fizessem isso há muito tempo, tempo Bruce Wayne como a
liga de tudo. E se Oliver confiava em Bruce, Clark imaginou que talvez pudesse confiar também.
"Ok, então..", Clark disse, procurando ser razoável, "O que você tem em mente?"
***
Minutos depois, Bruce e Clark estavam parados diante de uma das coberturas mais altas de
Metropolis. Era um prédio no distrito financeiro, do outro lado do Centennial Park. Clark entrou no
grande salão circular, que estava vazio a não ser por diversas caixas marcadas com o logo das
Indústrias Wayne e Queen que estavam espalhadas pelo lugar. O salão possuía um andar superior,
mantido por uma estrutura metálica, e suas janelas eram gandes mosaicos de vidro que coloriam a
vista impressionante que tinha de toda Metropolis. Era uma abóbada impressionante, mas Bruce
tinha outros planos para ela. A via como uma torre.
Watchtower.
"Imagine um lugar no centro de Metropolis que possa vigiar a tudo o que acontece. Que possa
informar aos heróis que estão lá fora sobre o que quer que seja.. Que possa dispor de bancos de
162
dados, fichas criminais, tudo o que for preciso para parar Luthor e todos os outros que se voltarem
contra a justiça", explicou Bruce, "Imagine esse lugar a serviço de todos, nos guiando pela noite."
Clark olhou para Bruce, que não estava mais enfurnado em sua vestimenta de Batman. O magnata
olhou em volta, deixando claro que aquilo tudo era a verdadeira razão pela qual ele viera a
Metropolis.
"Esta... Watchtower a qual você se refere", Clark perguntou, "Quem ficaria à frente disso?"
"Estou certo de que conhece alguém que possa exercer o papel", Bruce disse, já por dentro das
amizades de Clark e Oliver. Sabia que havia uma tal de Chloe controlando uma Fundação Isis, que
de certa forma já fazia um pouco desse papel para os heróis. Clark ficou receoso com a
possibilidade de ser Chloe essa pessoa, mas foi distraído pelo olhar de Bruce.
"O que foi?", perguntou o Super, e Bruce levou o olhar desconfiado em direção ao andar de cima
da abóbada.
"Tem alguém aqui."
Clark foi pela intuição de Bruce e lançou seu olhar de raio-x em volta. Encontrou um vulto
escondido atrás de uma série de caixas e caminhou até elas, retirando-as da frente com um leve
empurrão. Quase caiu para trás.
"Lois?"
A morena saiu de detrás das caixas ao ouvir seu nome. Olhou para Clark com um sorriso sem graça
e então para Bruce Wayne, sem disfarçar o quão impressionada estava com as companhias do
futuro marido.
"O que faz aqui?", Clark perguntou quase em choque. Ela sorriu, suspirando pesadamente,
"Eu estava escrevendo minha matéria até que me ocorreu..", ela virou-se para Bruce, "você disse
que apoiaria qualquer força do bem que lutasse a favor da justiça, e qual a maior força do bem
que não o Superman? Eu imaginei que você quisesse algo com ele, que fosse atrás dele e daí
decidi ir atrás do que você poderia estar escondendo. A suíte presidencial do Hotel Carlton seria o
lugar mais óbvio para te procurar, mas você não manteria negócios em um hotel, manteria? Foi
então que pensei, um homem como Bruce Wayne iria buscar uma cobertura na cidade à altura ou
superior a de Luthor, por uma mísera questão de ego... Você mesmo disse quando me queixou, a
melhor cobertura da cidade para um jantar.." Lois ergueu os braços, destacando o ambiente em
volta como a solução do quebra cabeça."Voilá!"
Bruce ficou impressionado, "Incrível, mas ainda não explica como você chegou até aqui."
"Mamão com açúcar", Lois continuou, "De fato, não era a melhor. Mas o prédio tinha acabado de
ser vendido para um tal de Dick Grayson. Acontece que 'Dick Grayson' é um oficial de polícia em
Gotham City. Quer dizer, o salário do coitado não deve pagar nem essa janela de igreja, quanto
mais um prédio... Você comprou o edifício inteiro!"
Bruce ficou ainda mais impressionado, mas Clark se viu tenso. Fitou a noiva,
163
"Você pensou tudo isso no pouco intervalo de tempo em que te deixei no DP?"
"Ah, estava entediada, Smallville", Lois justificou. "Além do mais, aposto o nosso salário que Bruce
Wayne e Batman são a mesma pessoa..."
Clark não confirmou nada, apenas olhou para Bruce que sorria ironicamente.
"Srta. Lane, pretende publicar isso na primeira página do Daily Planet?"
"Claro que não, ou já teria espalhado logo depois de nossa entrevista pela manhã", Lois
respondeu, "digamos que quando você falou em apoiar qualquer força a favor da justiça, eu tenha
levado bem ao pé da letra. Quem mais poderia bancar um herói como Batman se não um dos
homens mais ricos do país? Então fiquei intrigada, mas o drink que você me ofereceu trouxe a
resposta que eu precisava. Eu recusei, mas vi quando você serviu-se com um copo de água com
gás. Qual é o magnata playboy que beberia água com gás, quando se pode ter uma champagne a
um estalar de dedos? A não ser que tivesse a intenção de se manter completamente alerta...
Como um vigilante."
Bruce olhou na direção de Clark, "Ela é mesmo boa!"
E foi a vez de Clark voltar-se para Lois novamente, "Cinco anos juntos e você não descobriu meu
segredo. Uma manhã com Bruce Wayne e você sabe todos os detalhes de seu alterego?"
"Digamos que agora eu esteja prestando mais atenção, Smallville. Ainda me sinto humilhada por
estes cinco anos, acredite, e no seu caso o disfarce de caipira nunca cairia por terra, porque você
realmente é um caipira..."
Bruce sorriu de canto de boca presenciando a dinâmica do casal. Lois olhou novamente para o
homem de Gotham,
"Mas como não trouxe meus utensílios para invadir prédios de luxo, há algo que eu ainda não
saquei.. O que tem dentro dessas caixas?"
"Tudo", disse Bruce olhando para o casal.
***
Alguns minutos depois, uma das caixas já havia se transformado em mesa e uma enorme folha de
papel estava desenrolada sobre ela. Clark, Lois e Bruce se colocaram em volta a fim de olhar a
planta do prédio onde estavam. Bruce deu início à explicação apontando para a planta,
"Este é o prédio do Golden Bank de Metropolis, que foi comprado pelas Indústrias Queen e
revendido para mim em nome de Dick Grayson. O Banco funciona normalmente, mas os últimos
quatro andares do prédio estão completamente vazios. Oficialmente, são os andares onde ficam o
Mainframe do Banco, e de fato ele será transferido para o 70º andar. Extra-oficialmente, o 70º
andar será uma fachada para ocultar o que de fato há nos últimos 3 andares, que inclui essa
cobertura. O que pretendemos fazer é uma estrutura completa de laboratórios, dormitórios e
164
salas de treinamento onde possamos nos encontrar e estruturar nossos esforços. Eu tenho uma
equipe de confiança pronta para montar o mais impressionante Quartel de Comando que esse
país já viu. Erguido sobre Metrópolis, discreto e funcional. Uma Watchtower com equipamentos
de última geração, desenvolvidos pela WayneTech e pelas Indústrias Queen."
"Impressionante", Clark disse observando a planta. Mas Lois tinha suas dúvidas.
"Realmente, mas como pretende justificar a entrada de certas pessoas no Golden Bank? Nem
todos conseguem ser borrões nas câmeras de vigilância. Ainda mais tendo Lex Luthor por perto.."
"Não precisamos entrar pela porta da frente, apenas um elevador executivo está habilitado para
chegar do térreo até os andares da Watchtower", Bruce explicou apontando o detalhe na planta
do edifício, mas depois encarou Lois curioso, "O que me faz pensar em como você conseguiu subir
até aqui"
"Tenho meus meios", Lois disse evasiva, mas Bruce manteve o olhar sobre ela, era fundamental
saber como ela entrara. A jornalista confessou, "Digamos apenas que não é a primeira vez que me
aventuro por um túnel de elevador..."
"Você prometeu que não faria mais isso, Lois!", Clark disse contrariado.
"Eu sei, eu sei", Lois tentou justificar-se, "Mas é difícil ir contra os instintos!"
Os dois discutiriam mais a respeito se Bruce não os interrompesse, continuando a explicação:
"Enfim, o outro elevador que tem acesso a estes andares não passa por nenhum dos andares
inferiores, mas leva diretamente à garagem. Meus engenheiros deram uma olhada na estrutura do
edifício, o que faremos é levar o elevador para além da garagem.. Para o subsolo, ligando-o a uma
passagem subterrânea até o metrô. Esta passagem ficará oculta e somente aqueles com acesso a
Watchtower terão como encontrá-la, e utilizá-la. As plantas dos subterrâneos de Metropolis
mostram que o túnel onde a passagem passará não é utilizado há anos, mas fica muito perto da
Estação do Distrito Wonderland, a poucas quadras daqui."
"Como você pensa essas coisas?", Clark perguntou.
"Eu não seria um Batman sem uma caverna", ele replicou. Clark insistiu.
"Parece que você já pensou em tudo. Mas será preciso um mundo de gente para cuidar de tantas
coisas. Nossas identidades serão expostas..."
"Na verdade não", explicou Bruce, "Só o que precisamos é contar com as pessoas que já a
conhecem..."
Antes que Clark ou Lois pudesse tecer comentários sobre aquilo, passos se fizeram ouvir atrás
deles. Os dois olharam para trás imediatamente e deram de cara com Oliver, Chloe e Dr. Hamilton.
"Wow...", Chloe disse encantada com a estrutura do lugar, "Então essa é uma daquelas coisas que
se pode fazer com mais de um bilhão de dólares na conta bancária..."
165
"Hei, pessoal!", Oliver disse se aproximando dos três já presentes, "Para o que não conhece, esta é
Chloe Sullivan, para os que não conhecem, este é o Dr. Emil Hamilton. Chloe e Emil, Bruce Wayne,
Lois Lane e Superman.."
Emil cumprimentou aos três, assim como Chloe a Bruce. Clark achou curioso que Oliver não o
tenha exposto, mas sentiu que o trem da confiança passando pelo local o permitia confiar no
homem de óculos a sua frente. Se apresentou direito,
"Você pode me chamar de Clark Kent", o super disse a Hamilton. O médico sorriu,
"Certo.. Mas só por segurança, eu prefiro chamá-lo sempre de Superman..."
"Parece que agora a festa está formada!", Oliver disse olhando para o amigo de Gotham, "Eu falei
com os outros. Estarão aqui amanhã."
"Ótimo", Bruce disse olhando para todos, "Acho que agora podemos começar a botar a mão na
massa..."
***
As horas que se seguiram naquela noite entraram pela madrugada sem serem sentidas. Bruce
Wayne, Clark, Lois, assim como Oliver, Chloe e Hamilton, todos trabalharam tirando toneladas de
equipamentos das caixas de madeira dispostas pelo local. Para Clark, uma tarefa muito simples,
mas que não podia ser feita de forma aleatória. Tudo ali possuía um sentido, um lugar, e precisava
ser manejado de forma delicada. Juntos, os seis deram início à montagem da Watchtower, sem
terem certeza do que aquele espaço acabaria por representar para eles. Chloe e Hamilton
concentraram-se na montagem de alguns computadores que vinham com manuais de instrução
realmente impressionantes, tudo cortesia da WayneTech. Bruce e Oliver tinham sua atenção
voltada para uma estrutura de alumínio que seria disposta em uma das paredes, algo muito
semelhante ao que o próprio Oliver tinha em seu próprio apartamento. Já Clark e Lois estavam
sentados no chão do andar de cima, envoltos de inúmeros fios que precisavam ser conectados.
Lois lia atentamente as instruções enquanto Clark utilizava seu olhar aquecido para fundir os fios
necessários.
"Fio amarelo A35... Com o fio amarelo F12", Lois disse pegando um dos fios em uma penca deles.
"Achou o outro?"
"Aqui", Clark respondeu caçando o fio entre os demais. Pegou o fio na mão de Lois e os aqueceu,
fundindo-os.
"Okey-Donkey", A morena retornou o olhar para o manual, "Agora o vermelho A36.. Com o
Vermelho G20"
"Lois.. O que acha disso tudo?", ele perguntou enquanto procurava o fio. Ela o fitou rapidamente,
mas continuou trabalhando,
"Acho a coisa mais incrível e surreal que já vi acontecer... Depois de descobrir que você era você,
claro.."
166
"Eu digo.. Tantas coisas acontecendo em nossas vidas. Lex Luthor de volta, Bruce Wayne e agora
isso... Eu sinto o mundo mudar, Lois, sem controle."
"Eu não acho que nós tenhamos o controle, Smallville", ela disse entregando o fio a ele, "Acho que
há um mundo girando, tentando nos alcançar.. Ao mesmo tempo em que nós tentamos alcançar o
mundo. Eu acho... Que isso tudo acontecendo, é uma amostra de que esse encontro aconteceu.."
"Então você acredita em destino?", Clark perguntou fundindo os dois fios. Lois o observou
enquanto o calor intenso saía de seus olhos, queimando aqueles objetos. Quando ele ergueu os
olhos na direção dela, ela sorriu.
"Somente no tipo que nós mesmos fazemos acontecer."
Clark largou os fios por um instante e levou uma das mãos na direção do rosto de Lois, passando o
cabelo dela para detrás da orelha.
"Tudo isso que está acontecendo... Estou feliz por estarmos enfrentando juntos. Estou feliz por
estarmos aqui juntos, agora."
"Melhor do que wii, hun?", ela brincou mordendo o lábio, e ele brincou de volta.
"Nada é melhor do que nosso wii..."
Lois sorriu e se inclinou na direção de Clark, beijando-o. Um beijo lento e doce, e Clark
correspondeu de igual maneira. Sentiu medo por um momento, aquilo era tão perfeito que não
parecia ser real. Sentiu um calafrio, como se algo estivesse para acontecer.
Lois afastou o rosto e encarou o homem de sua vida. Sorriu feliz por estar vivendo aquele
momento tão maravilhoso. Aquilo era perfeito, e ela jurou para si mesma que só faria ser mais e
mais.
"Ok, os pombinhos querem dar uma mão aqui?", Oliver disse chamando Clark e Lois do andar de
baixo. Os dois olharam e se levantaram, seguindo até uma escada de ferro em espiral.
"O que foi?", Clark questionou imediatamente ao ver Chloe diante de um computador já
conectado em um dos cantos da abóbada.
"Estamos testando este equipamento de rastreamento", Chloe explicou enquanto digitava algo no
teclado, "E parece que o computador está funcionamento muito bem. Bem demais.."
"Como assim?", Lois não compreendeu e Dr. Emil foi ao ponto.
"Está captando leituras estranhas na região do Overlook Park."
"Overlook? É um parque para crianças", indagou Lois novamente.
"Não durante a madrugada", Chloe emendou, "Parece que alguma atividade está animando a
área, abaixo do parque. E está quente como o inferno por lá."
167
"Vamos dar uma olhada então", disse Bruce dando as costas para o grupo e seguindo para a porta
de saída. Oliver e Clark entreolharam-se e o loiro seguiu atrás do moreno alto de Gotham. Clark
fitou Lois rapidamente e deu um beijo em sua testa, despedindo-se.
"Boa sorte", ela disse segundos antes de ele sumir de vista.
Lois, Chloe e Emil entreolharam-se, curiosos para saber o que aquilo significava.
***
No Overlook Park, que ficava às margens do oceano, as coisas pareciam normais. Superman se
aproximou pelo céu carregando consigo Batman e o Green Arrow. Pousaram na área verde do
parque. Batman não parecia feliz.
"Da próxima vez, venho na minha moto", disse arrumando sua capa. Superman sorriu,
"Você é muito lento. Por que não arranja asas?"
"Talvez arranje", o cavaleiro negro considerou.
"Bem, não me importo com a carona... Não me surpreende porque Lois está tão apaixonada, essa
é uma ótima maneira de conquistar as gatinhas.."
O Super fitou Green Arrow com cara de poucos amigos, mas Batman estava concentrado no
parque. Puxou um pequeno aparelho de seu cinto de utilidades e o ligou. Um bip incessante
começou a soar.
"Outro rastreador?", Oliver perguntou. Superman concentrou sua visão na superfície e notou algo
estranho.
"Está quente demais...", Bruce disse analisando a leitura que o dispositivo fazia do terreno, "É um
incêndio!"
"Se abaixem!", Clark gritou empurrando os dois heróis. Por meio de sua visão, presenciou uma
explosão a vários metros abaixo da superfície. O impacto foi sentido como um pequeno abalo no
parque, mas algo terrível havia acontecido. Oliver preparou seu arco sem muita certeza do que
estava acontecendo, e Batman virou-se para um outro lado.
"Há um acesso, ali" apontou para o ponto extremo do parque.
Superman correu na direção do lugar avistando uma passagem escondia sobre uma grama falsa.
Levantou o gramado, dando de cara com uma espécie de tampa de boeiro. Retirou-a sem
dificuldades, mas o calor forte sob o parque fez um forte jato de vapor subir boeiro afora. Batman
e Green Arrow se aproximaram enfim.
"O que há lá embaixo?", questionou Oliver, e Clark fitou os dois rapidamente.
"Só há uma maneira de descobrir..."
168
O Super pulou para dentro do bueiro e deu um assopro intenso, esfriando o local. Conseguiu dessa
forma apagar o fogo que consumia o interior da área e se deu conta de que estava em uma galeria
subterrânea do esgoto. Batman e Green Arrow também pularam para dentro, tão curiosos quanto
o Super. Seguiram pela galeria, até achar o local onde ocorrera a explosão original.
Para a surpresa deles, o que acharam foi um corpo carbonizado. A identificação seria impossível
sem DNA e os três heróis voltaram a fitar uns aos outros.
"Acidental?", Oliver se perguntou, assim como Clark.
"Não vejo nenhum ponto de origem para a explosão". O Super deu uma rápida olhada perto do
corpo enquanto Batman dava mais alguns passos para dentro da galeria. Avistou um cálice junto
ao corpo, e o que parecia ser o resto da mão carbonizada a segurá-lo. "Talvez ele realizasse a
algum tipo de ritual"
"Ou talvez a explosão fosse apenas para ocultar seu corpo", Batman disse com seu olhar fixo em
uma parede à frente. O Super e Green Arrow foram até ele e viram que ele olhava para um
desenho. Tinha o formato de cobra, enrolada em seu próprio corpo e com a boca aberta, presas à
mostra. Embora a parede da galeria estivesse suja pelo queimado da explosão, o desenho era
nítido. E pelo olhar de Batman, ele sabia exatamente o que era. "King Snake."
"King Snake?", Clark indagou e Batman apontou para o cálice junto ao corpo.
"Um mestre das artes marciais, um rei do crime. Costumava liderar uma gangue chamada Dragões
Fantasmas, espalhando drogas pela Europa e Ásia. Foi dado como morto, até que nos deparamos
em Gotham. Seja lá quem essa pessoa seja, foi morta a mando de King Snake, se não pelo
próprio."
"Se ele está vendendo as pedrinhas dele em Gotham, o que ele está fazendo em Metropolis?"
"Talvez nós não sejamos os únicos a estar unindo forças", sugeriu Clark preocupado com a
situação.
Batman e Green Arrow apenas o fitaram. Ele podia estar certo.
***
Quando Clark retornou para a fazenda ao amanhecer, estava preocupado. Saiu do Overlook Park
pouco antes da chegada da polícia, chamada pelo próprio Batman. O grupo entrara em contato
com John Jones, que lhes prometeu dar notícias sobre a autópsia do misterioso homem. Voltaram
para a Watchtower e continuaram na montagem dos equipamentos, agora com muito mais afinco.
Se deram conta de que o mundo havia de fato acelerado, alcançando-os, ou mesmo atropelandoos. O tal King Snake ter ligação com Lex Luthor foi uma das primeiras coisas que ocorreram a Clark,
mas ele preferiu não forçar a barra. Esperaria os fatos falarem por si, cada coisa ao seu tempo.
Clark entrou em casa com Lois em seu colo, ela estava sonolenta pela maratona que enfrentaram.
Ele a carregou para a cama como a uma criança, deitando-a com cuidado a fim de não acordá-la.
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Deu certo, pois a primeira coisa que ela fez ao tocar os lençois foi virar-se para o lado, agarrandose a um dos travesseiros. Clark puxou os saltos dela com cuidado e os colocou no chão próximos a
cama. Olhou para Lois uma vez mais e deu um beijo em sua cabeça, para então dar alguma
atenção a si próprio. Retirou sua jaqueta e a camisa vermelha, fitando apenas de jeans, seu torso
nu a brilhar na relativa escuridão do quarto. Estava sério, contudo. Não conseguia tirar o corpo
carbonizado de sua cabeça. Temia pensar que os dias de tranquilidade em Metropolis poderiam
chegar ao fim.
Ele não pôde se debruçar muito em torno desse pensamento, porém. Deu a volta na cama e
preparou-se para tirar a calça, mas um brilho estranho invadiu o quarto. Ele olhou para Lois, mas
ela não havia acordado. Ele então olhou para o lado de fora, seguindo o brilho azulado até que
este se dissipou. Disparou para fora de casa, em busca de uma resposta.
Foi somente ao atingir a frente do celeiro que Clark se deu conta do que era o brilho. Um cristal
azul estava caído no mato, ainda cintilando. Mas o que fez Clark realmente ficar atônito foi a
pessoa que surgiu próximo a ele, nua como viera ao mundo. Ele engoliu em seco ao reconhecê-la.
"Kara?!"
"Kal-El?", a kryptoniana disse caminhando na direção dele, "Eu preciso de sua ajuda..."
***
170
Capítulo 23
A primeira impressão que Clark teve ao ver Kara ali, totalmente nua e desnorteada, foi a de que o
calafrio que sentira horas atrás não fora em vão. Algo terrível havia acontecido, estava expresso
no olhar de sua prima. Ele então a levou para dentro de casa, seguiu para a cozinha para fazer um
chá enquanto Kara se recompunha.
Quando o Super retornou à sala já vestido em uma camisa novamente, Kara também já estava
vestida. Ela olhou para as próprias roupas um pouco desconfortável.
"Eu achei estas roupas..."
"São da Lois", Clark disse carregando o chá na direção de Kara, "Eu não acho que ela vá se
importar..."
"Lois está aqui?", Kara se mostrou surpresa. Sentou no sofá com as duas mãos sobre as pernas,
um pouco trêmula.
"Nós estamos juntos.. Vamos nos casar em breve."
"Isso é ótimo", Kara sorriu contente com a notícia, "Não me leve a mal, mas... Eu sempre achei que
vocês tinham sido feitos um para o outro."
Clark sorriu, ele estava certo que sim. Contudo, estava muito preocupado com Kara. Caminhou até
ela e lhe entregou o chá quente.
"Vai fazer você se sentir melhor", ele explicou e Kara aceitou. Tomou um pequeno gole, um pouco
amargo demais, mas tudo bem. Clark sentou-se em uma poltrona próxima, ansioso pela história
por trás daquele aparecimento. "O que houve?"
"Eu estive presa, Kal-El.. Na Zona Fantasma, por todo esse tempo. E foi por um acidente que
escapei, com a ajuda do cristal azul. Mas eu descobri uma coisa terrível. Descobri que muitos do
que estavam aprisionados na Zona Fantasma acharam uma forma de fugir de lá por meio de uma
outra dimensão. Esse portal os levou a um lugar distante, onde eles acreditam que poderão mudar
o rumo das coisas. De tudo!"
"O que quer dizer, mudar o rumo de tudo?", Clark não conseguia compreender, e Kara detalhou.
"Há histórias sobre um artefato perdido em um planeta próximo ao sistema onde ficava Krypton.
O planeta inteiro é um deserto terrível, onde teria sido escondido um cristal dourado que abre
dimensões. O que os fantasmas pretendem é encontrar o cristal e abrir uma dimensão temporal,
que permita a eles mudar a história de nosso planeta.. Matando Jor-El. Se eles conseguirem, KalEl, o futuro será profundamente modificado. E você nunca existirá, ou sua vinda para a Terra. Eles
irão dominar tudo..."
Clark ouviu incrédulo às palavras de Kara. Era surreal demais. "Como você descobriu tudo isso?"
171
"Paguei um preço alto, que me custou a saída da Zona Fantasma. Eu pretendia segui-los através do
portal que os levou ao deserto. Eu não consegui, mas ao menos roubei o cristal e fugi com ele.
Esse cristal pode nos levar até o deserto, para encontrar o cristal dourado antes deles. O cristal,
Kal-El, que seu pai escondeu para que somente você pudesse encontrar.. Entende por que vim
atrás de você? Eu preciso de sua ajuda, você é o único que tem como encontrar o cristal antes
deles. Eu te peço para vir comigo até Mistral, o futuro da Terra depende disso."
Clark não tinha palavras após ouvir ao relato de Kara. Ela colocou o chá sobre a mesa de centro e
deixou uma lágrima escapar pelo seu rosto. Não queria ter de pedir aquilo a Kal-El, mas não havia
escolha. A vida dele era a primeira a estar em jogo.
E Clark sabia disso.
***
Quando Clark retornou ao quarto quase uma hora depois, Lois ainda estava dormindo. Os
primeiros raios de sol começavam a surgir no horizonte, iluminando o quarto pelas frestas da
cortina que Clark fechara. O herói se aproximou da cama sério, compenetrado. Ainda buscava
assimilar o que ocorrera, e como diria aquilo a Lois. Não seria fácil para ele, nem para ela. Ele
sofria só em imaginar o que seria partir para longe dela.
Clark deu a volta na cama e se deitou do lado vazio, colocando-se sobre sua lateral esquerda.
Estava de frente para Lois, que dormia profundamente agarrada a um dos travesseiros. Ele
acompanhou sua respiração tranquila, seus dedos repousados sobre o lençol branco. Era como
olhar para uma deusa, Clark sabia. Lois seria sempre a sua divindade maior, a que lhe mantinha
atado à humanidade.
Apenas alguns minutos depois, como se sentisse que estava sendo observada, Lois abriu os olhos
lentamente. Deu uma leve espriguiçada e sorriu para Clark, "Oi.."
"Oi..", Clark disse de volta, procurando sorrir embora lhe fosse difícil. Olhá-la naqueles últimos
instantes de completa ignorância fazia com que fosse ainda mais complicado encontrar as palavras
certas.
"Onde estava?", Lois perguntou bocejando, "Eu me virei e joguei minha perna esperando enlaçar
uma certa coxa, mas só consegui um travesseiro.."
"Eu estava conversando com uma pessoa", Clark procurou explicar da forma mais metódica
possível.
"A essa hora? Aconteceu alguma coisa?"
O olhar de Lois ascendeu sobre Clark, embora sua cabeça permanecesse em repouso sobre o
travesseiro. Clark se inclinou um pouco sobre ela, alisando seus cabelos.
"Eu estava falando com Kara. Ela voltou"
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"Kara? Oh meu Deus, ela está bem?", Lois perguntou sem interromper o movimento da mão de
Clark em sua cabeça. Mostrou-se um pouco angustiada, embora Clark tenha sorrido após a
pergunta.
"Ela está bem..."
As palavras de Clark soavam sem muita firmeza para Lois. Ela se deu conta, bem ali, que havia algo
de muito errado com ele. O fitou, séria, "Smallville.. O que está havendo?"
Clark respirou fundo sem tirar seus olhos de Lois. Queria admirá-la, acariciá-la até o último minuto
possível. Fazer com que aquilo fosse menos doloroso do que seria.
"Kara me contou algo grave. Algo que eu terei que evitar que aconteça, que só eu posso evitar"
Lois não conseguiu pronunciar palavra alguma. Manteve os olhos amendoados sobre Clark,
esperando que ele continuasse. Ele tomou um pouco mais de ar a fim de seguir com a história.
"Lois, eu terei que fazer uma longa viagem... Eu terei que ir com Kara a um lugar a fim de salvar o
que resta de nosso povo."
Lois não pôde fazer nada, mas rir. Estava nervosa demais para qualquer outra coisa. "Bem,
Smallville.. Considerando que você é mais rápido do que a luz, não pode ser uma viagem muito
longa, certo? Quero dizer, quanto tempo levamos para ir até Paris? E se me lembro corretamente,
você criou seu próprio expresso do Oriente e ainda conhecemos o Himalaia naquele dia.."
"... É uma viagem para outra galáxia", Clark terminou por concluir.
Lois emudeceu por alguns segundos, o sorriso inicial sumindo de seu rosto. Ela procurou processar
da forma como sempre fazia. Ergueu as sombrancelhas, como se tivesse a solução.
"Bem, então.. Eu acho que terei mais tempo para preparar o casamento! E você não vai correr o
risco de se sentir pé frio, já que não estará por perto..."
"Lois...", Clark tentou interrompê-la, mas foi em vão. Ela se ergueu na cama, sentando com as
pernas cruzadas com se tivesse sido ligada em uma tomada,
"Eu vi um especialista falando sobre como é bom para os casais manterem uma certa distância
antes do casamento. Em algumas culturas, o noivo não vê a noiva nos dias anteriores, ou mesmo
semanas! Alguns sequer conhecem as noivas antes do casamento, mas obviamente já passamos
pelo test drive..."
"Lois.."
"Meu pai, por exemplo, estava em uma missão um dia antes do casamento com minha mãe,
dizem que ele se trocou em um helicóptero antes de chegar a capela.."
"Lois!", Clark falou firme, mas sabia que ela não iria parar. Se levantou e foi na direção dela,
abraçando-a com força. A pegada firme fez Lois se calar, saindo do transe. Ela o abraçou forte
173
enquanto repousava sua cabeça em seu peito, suas unhas se agarrando à camisa dele, quase
retirando-a.
"Oh meu Deus...", ela sussurrou angustiada. Clark repousou o queixo sobre o topo da cabeça dela,
sentindo a mesma dor.
E os dois permaneceram sentados e abraçados sobre a cama, certos de que não havia mais nada a
dizer.
***
Quando Clark chegou à Watchtower horas depois com Kara, mal pôde acreditar na transformação
que o local havia sofrido. Graças ao trabalho árduo de Chloe, e Emil, a estrutura básica de suporte
aos heróis estava completamente formada. Bruce e Oliver também esperavam no local, a pedido
do próprio Clark. Ele caminhou até o centro da Watchtower procurando encarar todos os seus
companheiros. Sem pensar se seria somente breve ou prolongado, começou a falar.
"Alguns de vocês conhecem Kara. Ela veio de Krypton, como eu. Nós dois somos os últimos filhos
de Krypton e eu não tenho como explicar o quão difícil é lembrar disso todos os dias, mesmo não
tendo sido criado com meus pais biológicos.. Eu fui enviado para a Terra, criado pelas pessoas
mais maravilhosas a quem amo mais do que tudo. Eles me deram tudo o que eu poderia sonhar, e
me mostraram o caminho para me tornar um herói. Por muito tempo eu questionei esse caminho,
mas graças a pessoas como vocês, eu aceitei meu destino. Por aqueles que amo eu... encontrei a
humanidade em mim para ser o Superman.."
O grupo parou observando-o, sem compreender aonde aquele discurso iria chegar. Clark seguiu
com suas palavras, sério e emocionado,
"Algo terrível aconteceu e eu terei que ir com Kara para muito longe. Eu não sei quando voltarei,
ou se voltarei. Mas eu sei que terei que ir, pelo bem de Krypton e da própria humanidade. Mas o
que iniciamos aqui, eu não quero que isso morra. Não importa se eu não estiver presente, eu
gostaria que vocês levassem até o fim. Todos nós acreditamos nas mesmas coisas, queremos o
mesmo mundo. Então devemos buscar esse mundo, devemos buscar a justiça nele, por meio
dessa Liga de heróis. E meu pedido antes de partir é que, aconteça o que for, mantenham a Liga
coesa. Façam com que o mundo acredite que há esperança..."
As palavras de Clark pegaram todos de surpresa, em especial Chloe e Oliver, que o conheciam há
tanto tempo. A loira deu alguns passos na direção do amigo, confusa.
"Clark... Como assim?"
"Eu confio em você para manter esse grupo coeso, Chloe..", Clark disse olhando-a firmemente,
"Mantenha-os na linha, da mesma maneira que você me manteve todos esses anos, ok?"
Chloe não conseguiu dizer mais nada, a não ser observar Clark se voltando para Oliver.
"E você, Oliver... Você tem sido um grande amigo, e um grande herói para Metropolis. Continue
sendo o herói e amigo que essa cidade precisa."
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"Pode deixar, Clark", Oliver disse tocado, mas buscando respeitar as vontades do Super.
Bruce Wayne continuou a observar Clark, até que este finalmente se voltou para o magnata de
Gotham.
"Eu não te conheço, Bruce", Clark disse sincero, "Mas eu sinto agora que você é diferente. Eu sei
que você vai levar isso até o fim."
"Pode ter certeza que sim, Clark Kent", Bruce respondeu igualmente sincero.
"É por isso que a você eu irei pedir algo em especial. Foi você quem primeiro me alertou sobre
Luthor. E eu temo que Luthor possa..."
Clark não precisou terminar. Bruce completou a sentença dizendo aquilo que Clark esperava ouvir.
"Não se preocupe. Eu vou tomar conta dela. Ele não vai nem chegar perto dela."
Clark fitou Bruce agradecido e estendeu sua mão a ele em sinal de amizade. Bruce retribuiu,
apertando a mão do super. Eles não poderiam saber, mas aquilo selaria uma grande e futura
amizade entre o homem de aço e o cavaleiro das trevas. Amizade que jamais seria quebrada.
***
No alto do Daily Planet, Lois permanecia imóvel, olhando para a grande Metropolis. Todos os
planos que fizera com Clark pareciam tão distantes quanto o horizonte, sem a certeza de um
amanhã. Ela sentia seu corpo tenso, mas precisava se acalmar. Precisava ser forte pelo Clark, ainda
que mentisse um pouco para si mesma.
O super surgiu pela porta do telhado e parou para observá-la. Ele já havia se despedido de todos
da maneira mais rápida que encontrara, pois queria ter o máximo de tempo possível para estar
com a mulher que tanto amava. Era difícil encará-la e sentir nela a dor de uma perda incerta.
Quando ela o fitou finalmente, virando-se no telhado totalmente para ele, Clark sentiu uma
pontada de medo em deixá-la para trás.
"Falou com eles?", Lois quis saber, e Clark confirmou com a cabeça.
"Eles ficarão bem."
Clark queria poder dizer o mesmo sobre ele e Lois, mas era complicado demais. Estava destruído,
assim como ela. Não havia mais palavras para expressar o quão assustado ele estava com a
possibilidade de não voltar a vê-la. E Lois sabia.
"Eu acho que então é isso..", Lois comentou procurando segurar a aflição. Clark caminhou até ela,
subindo até o lugar onde ela estava. Parou a poucos centímetros da jornalista e a fitou nos olhos,
angustiado.
"Eu vou voltar, Lois. Eu sei que irei, eu voltarei porque eu não posso viver sem você. Eu não sou
nada sem você!"
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"E eu estarei esperando, Smallville... Eu vou esperar o quanto tiver que esperar!"
As lágrimas escorreram pelo rosto de Lois e Clark as limpou com a ponta dos dedos. Segurou Lois
pela cintura e levantou vôo, tomando os céus com o ímpeto de um herói. Cruzou Metropolis e
seguiu rumo ao Norte, o mais rápido que pôde. Apenas alguns instantes depois, tomou as terras
gélidas onde surgiam os cristais escondidos de Krypton.
A Fortaleza da Solidão.
Clark pousou com Lois que olhou maravilhada para aquele mundo de cristais sob suas cabeças. Era
aquele o último segredo de Clark para ela, mas Lois sabia que já tinha estado ali antes. De repente,
tudo fazia ainda mais sentido. Ela encarou Clark maravilhada, mas foi tomada pelos lábios dele nos
dela, da forma mais suave e gentil que um beijo poderia ser dado. Clark a tomou nos braços
novamente, sem palavras, apenas por meio de beijos apaixonados e carícias tão íntimas que Lois
sentiu seu corpo flamejar em meio ao frio da Fortaleza. Sentiu as mãos de Clark subindo pela sua
roupa, retirando-as delicadamente até que os dois se viram nus, tomados pelo puro desejo de
estarem nos braços um do outro. E fizeram amor como se não houvesse amanhã e ao mesmo
tempo o amanhã fosse tudo o que mais importava.
***
Quando as horas enfim passaram, Clark e Lois ainda viviam aquele momento mágico. Enrolados
em um longo tecido de seda vermelho, os dois fitaram-se de modo a fazer daquele instante
eterno. Levantaram-se ao dar-se conta de que era chegada a hora de Clark partir, ainda que não
fosse o desejo deles que ele fosse embora. Contudo, os dois se sentiam mais fortes para enfrentar
a distância após o amor intenso que compartilharam sob os cristais da Fortaleza. Lois olhou em
volta para o lugar, maravilhada com a beleza da morada do último filho de Krypton. Ele então
sacou um pequeno disco metálico e depositou nas mãos dela.
"Use-o para sair daqui, encaixando-o naquele painel", Clark disse indicando o lugar, "E então você
poderá usá-lo para vir aqui sempre que quiser."
"Se ele me fizer ficar mais perto de você, eu posso considerar uma mudança radical para o pólo
norte...", ela disse sorrindo.
"Eu sempre estarei próximo a você, Lois."
"Eu sei", ela disse pegando o tecido vermelho no chão da fortaleza e jogando sobre os ombros
dele, "Apenas lembre-se que.. Quando você olhar para o nosso Sol... eu estarei olhando para ele
também, com a única certeza de que você voltará para mim."
"Eu irei", ele respondeu depositando seus olhos azuis cheios de esperança sobre Lois, "E eu
voltarei"
Lois sorriu para Clark, sentindo-se forte como o próprio Kal-El. Se lançou contra o corpo dele e o
beijou de forma intensa, apaixonada. Clark retribuiu compreendendo que era aquele o adeus, o
beijo final antes de sua longa jornada. Invadiu os lábios de Lois com o ímpeto do herói e do
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amante, do companheiro eterno. Quando se soltaram por fim, sentiram que eram parte um do
outro, fundidos em um só.
E Clark sorriu uma última vez para Lois, ainda com o manto vermelho em seus ombros, para então
engatar em um vôo para longe de tudo o que ele amava.
Para longe de seu grande amor.
***
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Capítulo 24
O clima na Watchtower contrastava entre a quantidade de coisas que ainda havia para fazer e as
notícias recentes. Chloe foi a primeira a chegar naquela manhã, ainda se habituando ao novo
ambiente de trabalho, tão diferente da Isis Foundation. A banca de café na esquina da torre a
ajudou a levar os primeiros dias, mas acabou por trazer a máquina do Talon com ela. Preparou um
expresso com bastante chantilly e sentou-se em sua cadeira quando as portas se abriram para a
chegada de Oliver Queen. Ele sorriu para ela,
"Bom dia!", disse já se atirando em um sofá próximo, tirando o paletó e arregaçando a gravata
longe, "vim para meu turno..."
"Turno?", Chloe não compreendeu exatamente o que ele queria dizer.
"Yeah, Dinah está na cidade, vai dar uma ajuda com a vigília hoje à noite.. Então eu vou ficar com o
dia. Alguma notícia de Bruce?"
"Tentando nos conectar com a Watchtower de Gotham... Você sequer sabia que havia uma
Watchtower lá?"
"Bruce é um cara precavido", Oliver comentou, "Eu não podia falar sobre o que ele tinha em
mente. O segredo sempre foi a chave do sucesso para Batman, para todos nós. Já conheceu
Barbara?"
"Gordon?", Chloe completou, "Tive o prazer. Ela realmente sabe o que está fazendo, me deu
várias dicas para lidar com esse mundo de equipamentos!"
"Yeah, ela é ótima..." Oliver disse se ajeitando no sofá. Lançou um olhar mais sério para Chloe.
"Notícias da Lois?"
"Não a vejo há algum tempo..", Chloe respondeu, preocupada.
"Já faz mais de uma semana, Chloe..."
"Ela não tem ido ao Daily Planet. Aliás, acho que ela nem tem saído da fazenda.. Ela me pediu um
tempo para lidar com isso, mas.. Talvez tenhamos que interferir."
"Talvez não..", Oliver concluiu.
****
Na fazenda Kent, Shelby parou diante de seu prato de comida no chão da cozinha, mas para sua
surpresa, estava vazio. Ele deu uma leve resmungada em sua própria língua e subiu as escadas em
direção ao quarto de dormir do seu dono. Ou dos seus donos, pois há muito tempo aquele quarto
não era apenas habitado por Clark Kent.
Shelby empurrou a porta com a cabeça devagar e seguiu em passos firmes até a beira da cama.
Como se sentisse o clima instalado, deu um grunhido de lamento e subiu na cama, deixando-se
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junto aos pés descalços de Lois Lane. Poderia fazer um alarde e lambê-la até não poder mais, mas
era quase como se entendesse que ela não queria ser incomodada. Preferiu ficar ali, quieto,
fazendo companhia a ela.
Shelby estava certo em relação a uma coisa: o clima não era dos melhores. Lois estava deitada na
larga cama, encolhida e abraçada ao travesseiro. Estava assim há dias. Estava deprimida para além
de tudo o que poderia imaginar, e ninguém jamais iria imaginar ver Lois Lane naquele estado. Não
ela, que estava sempre pronta para todas as batalhas, sempre munida de força e coragem para
enfrentar o que quer que fosse. O que ela não sabia como enfrentar era o vazio que sentia no
peito. Ela se apaixonara perdidamente por Clark, se entregara completamente ao seu amor. E
agora precisaria aprender a viver sem a certeza de que o veria novamente. Por mais que
acreditasse que o veria, não era fácil assimilar aquilo. Clark fora em uma missão quase suicida a
fim de salvar a tudo, e a si mesmo. Lois procurou juntar suas forças, mas a dor a consumia de
maneira incontrolável. Não havia como falar com ele, saber se estava bem ou não. Não havia
como sorrir para seus lindos olhos azuis e dizer mais uma vez que o amava, a não ser por meio de
suas lembranças, dos momentos perfeitos que viveram desde que ela se mudara para a fazenda.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Lois mais uma vez ao pensar nisso. Ela abriu os olhos e
enxugou as lágrimas no próprio travesseiro, respirando pesadamente após as várias horas de
choro. Foi então que se deu conta de que não estava sozinha. Olhou para baixo e viu Shelby,
deitado junto aos seus pés e fitando-a com um olhar penoso.
"Shel...", Lois disse batendo na cama, de modo que o cachorro se aproximasse, "Vem pra cá,
vem.."
O cachorro parecia somente esperar pelo convite e engatinhou para perto do travesseiro,
lambendo a mão de Lois. Ela sorriu para ele,
"Não pense que eu esqueci de seus sentimentos, ok? Eu sei que você sente a falta dele tanto
quanto eu..."
O cachorro grunhiu novamente, como se confirmasse as palavras de Lois. Ela continuou, alisando
seu pêlo,
"É que... Eu não sei se consigo lidar com isso, Shel. Eu pensei que poderia, mas eu... Simplesmente
não sinto a presença dele como achei que sentiria. É como se ele... Não fosse voltar jamais. Como
é que eu faço, Shel? Como faço pra suportar essa dor em meu peito? Eu o amo e eu sei que esse
amor é a única coisa que vai me alimentar, mas.. Não sei como buscar forças pra seguir em frente,
não sei..."
Shelby compreendia a dor de Lois e lambeu seu braço novamente, lamentando junto com a dona.
Lois o afagou mais uma vez, rindo um pouco pelo carinho do cachorro com ela. Nem parecia que
haviam se conhecido após ela atropelar o coitado. Foi então que ocorreu a Lois,
"Oh, droga, Shelby... Esqueci sua comida, não foi? Me morda quando eu fizer isso de novo,
ninguém merece ficar sem seu sine qua non numa hora dessas..."
Lois levantou da cama, assim como o cachorro que abanava o rabo incessantemente com a
pequena menção da palavra mágica. Desceram juntos as escadas em direção à cozinha e a
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jornalista abriu o armário, pegando uma lata de ração. Para a sua surpresa, contudo, um barulho
estranho se fez ouvir do lado de fora da fazenda.
Um helicóptero.
"What the hell?.." a morena disse saindo pela porta da cozinha com a lata na mão. Observou o
helicóptero negro pousar da área descampada próxima a fazenda e o homem de terno e cabelos
negros descer dele. Não teve dificuldades para identificá-lo, mesmo com os óculos escuros que
usava, pois o logo das indústrias Wayne era bem visível na lateral do veículo.
"Bruce Wayne...", Lois disse quando o magnata alcançou os jardins da fazenda, tirando os óculos e
trazendo um jornal nas mãos, "Taí algo que a gente não espera ver em um milharal..."
"Lois Lane", ele a cumprimentou de volta. "É difícil pra mim também, acreditar que você faz o tipo
mulher de fazenda."
"Eu não faço", ela rebateu, "Uma das grandes coisas sobre Clark é que ele tem muitos lados."
"Nem me diga", Bruce completou. Fitou Lois com algum cuidado, dando-se conta de que ela
estava um pouco diferente da Lois que o entrevistou no Daily Planet. Ele sabia que ela estava triste
com a partida de Clark, mas não fazia ideia do quão deprimida poderia estar.
Lois se voltou para dentro da fazenda novamente, adentrando a cozinha na direção dos utensílios.
Caçou um abridor de latas. "O que faz aqui?"
"Vim falar com você", Bruce foi direto ao ponto, como sempre, "Preciso de sua ajuda."
"Mesmo? Pensei que tinha vindo ver se eu estava viva, conhecendo Clark eu sei que ele colocou
metade do esquadrão na audição da nova versão de 'o guarda-costas'..."
"Ele se importa muito com você, é verdade. Mas não precisava vir até aqui para saber que você
estaria um caco."
Lois fitou Bruce impressionada com a sinceridade dele. Caminhou com a lata aberta até o pote de
comida de Shelby e despejou o alimento, para a eterna felicidade do animal. Voltou-se para o
bilionário novamente,
"Eu... Estou tentando lidar com isso, ok? Só preciso de mais tempo do que imaginava..."
"Acredite, não vai melhorar nunca", Bruce respondeu inesperadamente. "Mas você ainda pode
fazer aquilo que é certo. Ser a jornalista que a cidade precisa nesse momento."
"O que quer dizer?", Lois indagou sem compreender. Bruce então abriu o jornal que trazia nas
mãos e mostrou a Lois a matéria de capa.
Onde está o Superman?
Lois engoliu em seco ao ler as letras garrafais se questionando sobre o maior dos super heróis. Era
esperado, sem dúvida, mas ver a notícia na capa do Daily Planet lhe causou certo arrepio. Lois se
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deu conta de que ela havia mesmo falhado em algo nos últimos dias. Pegou o jornal em suas mãos
e leu o início da matéria, enquanto Bruce seguiu em seu monólogo,
"Eu posso enfrentar os perigos de Metropolis da mesma forma que enfrento os de Gotham, a Liga
pode tentar manter a cidade segura... Mas não podemos enfrentar o veneno que inunda a cidade
por meio da mídia, por meio de Luthor. Só você pode."
"Você é dono do Daily Planet agora, poderia ter evitado isso" Lois disse apontando o jornal para
Bruce. Ele riu.
"E acha que seria o suficiente? Eu possuo o jornal, mas não sou dono do livre-arbítrio dos outros,
além de que isso chamaria atenção para mim, o que menos quero no momento. Lutamos contra
palavras usando as mesmas armas. E você, Lois, tem uma boa munição pra descarregar contra
Luthor."
"Luthor?"
"Você não tem visto TV, não é? Lex Luthor deu uma coletiva de imprensa falando sobre o sumiço
do Superman. Ele trouxe números do aumento da criminalidade em Metropolis e disse
abertamente que o Superman abandonou a todos. Ou que pode inclusive estar por trás dos novos
crimes."
Lois olhou incrédula para Bruce Wayne. Aquilo certamente despertou seu alarme para o que
precisava ser feito, e Bruce se deu conta.
"Bom ver que você está reagindo, porque precisamos reagir. Luthor está minando a boa influência
que seu noivo causou em Metropolis, e se ele conseguir..."
"Ele não vai" Lois respondeu jogando o jornal sobre a mesa e fitando Bruce séria, "Estava
pensando se você poderia me dar uma carona no seu Bat aéreo até o Daily Planet... Tenho uma
careca para pelar."
Bruce leu um leve sorriso de canto de boca. Dois minutos de bombardeio Luthor e Lois estava de
volta, munida e pronta pra guerra. Como deveria ser.
***
Quando a repórter chegou ao Daily Planet, a movimentação era tão intensa quanto o habitual.
Desceu do heliped imediatamente para a sua sessão e não tardou a dar de cara com Perry, que
esbravejava para todos os lados, até ver Lois entrando.
"LANE! Minha sala, agora!"
A morena deu um leve suspiro e seguiu, até se bater com Jimmy. O fotógrafo fitou Lois feliz em vêla,
"Lois! Que bom que voltou de sua viagem, Chloe não sabia dizer quando você voltaria... E Clark?"
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Lois parou um pouco, sem saber quais palavras usar com Jimmy. Não sabia exatamente o que
Chloe tinha dito a ele, então procurou ser generalista,
"Ele ainda tinha umas coisas para resolver..."
"Em Bora Bora?" Jimmy perguntou.
"Não, em Washington, com a mãe dele. Ela meio que precisa da ajuda dele."
"Ah, tah... Saco, hein? Mas sogra é assim mesmo, hehe..." Jimmy sorriu, e ao entender de Lois, ele
se deu por satisfeito com a resposta.
"Como andam as coisas?", ela perguntou olhando em volta. Parou o olhar em sua mesa.
"Loucas, esse sumiço do Superman realmente estava virando a cidade de cabeça pra baixo! Você é
a principal porta voz dele, acha que ele irá voltar?"
"Eu espero que sim...", ela respondeu em voz baixa, fitando a placa com o nome de Clark. Todo o
lugar estava carregado de fortes lembranças para ela.
"LANE!!!", Perry gritou novamente de sua sala, despertando Lois do devaneio. Ela se despediu de
Jimmy e seguiu para a sala do editor chefe. Mal teve tempo de dizer 'oi'. "Lane! Pensei que estava
de férias, mas nem vou perguntar por que decidiu voltar, porque parece óbvio! O que diabos está
acontecendo? Cadê aquele azulão planador dos céus de Metrópolis?"
"É a pergunta de um milhão de dólares, não é?", Lois comentou não muito empolgada.
"Um milhão de dólares renderá a resposta a essa pergunta", Perry respondeu pegando uns papéis
sobre sua mesa, "Essa cidade anda estranha desde que o Super sumiu. Há boatos de que o Batman
anda por aí. O que diabos o Batman está fazendo em Metrópolis?"
"Mais uma pergunta de um milhão... Perry, porque não me deixa sondar a questão, hein? Eu
tenho meus contatos, posso dar um título ao jornal de amanhã bem melhor do que 'onde está o
Superman', te garanto!"
"Não espero menos de você", ele disse entregando a ela um punhado de papéis, "Aqui, material
pra você. Uma matéria sobre o que está acontecendo, com as respostas que você está me
prometendo. Tem mais com aquele seu estagiário, filho da mãe desceu pra tirar xérox e ainda não
voltou..."
"O.K... " Lois passou rapidamente o olho pelos documentos que tinha em mãos e deu as costas,
saindo da sala de Perry. Parou diante da porta ao ouvir seu nome novamente. Voltou-se para o
editor.
"E Kent?"
"Assuntos de família...", respondeu Lois saindo da sala enfim. Era o mais honesta que poderia ser
com todos que questionassem o sumiço de Clark. Felizmente, para ambos, ninguém havia ainda
questionado a coincidência entre o sumiço de seu noivo e de seu super herói favorito.
182
***
Lois desceu ao Bullpen em busca de seu estagiário lesado, mas tudo o que viu foi a zona instalada
com o acúmulo de trabalho no jornal. Por mais que a Liga estivesse dando o máximo de si, a
violência realmente havia ganhado números na cidade, o que se traduzia em mais matérias a
serem escritas. Lois caminhou na direção da copiadora procurando não se esbarrar nas duas
dúzias de novos repórteres que caminhavam de um lado para o outro. Inevitavelmente, porém,
esbarrou em sua antiga mesa. Um rápido devaneio lhe invadiu a mente: viu claramente em suas
lembranças um momento aleatório, no qual ela e Clark trocavam olhares enquanto trabalhavam
um de frente ao outro. Clark, que ainda não usava seus óculos, a olhava como se fosse agarrá-la
sobre a mesa, enquanto ela mordia os lábios se segurando para não fazer o mesmo. Sem dúvida
foram bons os dias de bullpen.
Lois seguiu pelo lugar e enfim adentrou a sala de xérox, a qual estava surpreendentemente vazia.
Ao entrar, no entanto, um novo devaneio veio à sua mente, desta vez tão vívido que era como se
estivesse a revivê-lo.
Flashback:
"Lois Lane... Aceita se casar comigo?"
Se o sorriso de Lois não dera o sim por si próprio, o gesto que ela fez com as mãos em seguida foi a
resposta definitiva. Ela abriu a palma da mão que Clark segurava e a estendeu de modo que ele
colocasse a aliança de uma vez por todas. Clark não pensou duas vezes, fez o anel de diamantes
deslizar pelo dedo dela em um encaixe perfeito.
"Eu aceito...", Lois enfim respondeu sorrindo, o brilho em seus olhos praticamente iluminando toda
a sala.
Clark se levantou, maravilhado por ela ter dito sim. Porém, não resistiu ao comentário, "A resposta
não deveria vir antes de eu colocar o anel?"
"E desde quando eu sou uma pessoa previsível e linear?" Lois perguntou fitando os lábios dele.
"Eu não sei o quão influenciada você está por este vestido de noi--"
"Oh, cala a boca e me beija..."
Clark não teve tempo de atender ao pedido de Lois, pois ela mesma o puxou para si e tascou-lhe o
mais romântico dos beijos. Clark a tomou nos braços, inclinando-se sobre ela como se a levasse aos
céus no auge de uma dança. Nem mesmo os murmurinhos na porta atrás dos dois os detiveram de
beijar-se até que o mundo acabasse. E certamente eles teriam ficado ali para sempre, se Clark não
houvesse separado seus lábios dos de Lois.
"Vamos... vamos te tirar desse vestido de noiva..."
"Boa idéia."
183
Fim do flashback.
"Srta. Lane?"
A voz de Jeff despertou Lois e ela se voltou para a outra entrada da copiadora. O estagiário estava
parado, observando uma Lois distante. Mas ela estava online novamente.
"Estava te procurando!"
"Eu estava tirando umas cópias para o Sr. White, ele pediu que--"
"Deixa pra lá", Lois disse indo na direção dele e pegando os papéis, "Na verdade eu preciso que me
consiga uma cópia da entrevista que Luthor deu falando sobre o Superman, pode me mandar por
e-mail?"
"Claro, Srta. Lane"
"Obrigada, Jeff", Lois disse largando um sorriso discreto para o estagiário. Ele próprio mal
acreditou que ela havia se dirigido a ele sem fazer nenhuma piada no processo e decidiu se
aventurar.
"Srta. Lane? Fico feliz que esteja de volta..."
Lois fitou Jeff, sorrindo para ele, mas emendou um olhar sarcástico na sequência, "Eu não sei por
que, significa que seus dias de boa vida acabaram, copy boy... Vou fazer você suar tanto que você
vai se arrepender de não ter se alistado nos fuzileiros navais..."
Lois deu as costas para ir embora, deixando Jeff em um misto de medo e felicidade. Da maneira
dele, já se acostumara a Srta. Lane.
***
Quando a repórter enfim voltou para a fazenda Kent, já passava das sete da noite.
Instintivamente, olhou o prato de Shelby, completamente vazio. O cachorro parecia não estar na
casa, ou já teria dado o ar da graça abanando o rabo para Lois, como de costume. Deveria estar
em algum lugar atrás do celeiro, ou correndo por aí como sempre fazia. Era sem dúvida tão
independente quanto o dono.
Lois ascendeu a luz da cozinha e largou suas coisas sobre a mesa, já abrindo o laptop. Mergulharia
no trabalho a fim de dar conta daquela matéria, antes que o vazio em seu peito desse lugar
novamente ao estado depressivo de antes. Ela respirou fundo, dando-se conta de que podia
vencer aquilo. Ela precisava, por Clark, pelos outros, por ela própria. Por toda Metrópolis.
Um banho rápido e uma muda de roupas confortáveis, estava pronta para varar a noite se fosse
preciso. Shelby enfim retornara, mas desta vez Lois já estava preparada para ele. No prato de
comida, uma suculenta costela de carne fresca, para o deleite do cachorro.
"Para me desculpar por hoje de manhã. Se contar a Smallville que andei te dando isso, arranjo um
gambá para ser seu companheiro de cela..."
184
Shelby colocou-se no chão da cozinha completamente entretido com seu presente e Lois sentou
em um dos bancos da cozinha, abrindo o laptop e se entregando ao trabalho. Ao seu lado, uma
caixa de donuts e café, muito café. Era tudo o que precisava. Fitou sua caixa de e-mails e lá estava,
quatro e-mails de Jeff com a cobertura de tudo o que Luthor havia aprontado. Era sua prioridade
combater as palavras do malfeitor antes mesmo de pensar no que iria dizer sobre o sumiço do
Superman, até porque não pretendia inventar mentiras. Cedo ou tarde, mentiras tendiam a ser
descobertas, e muito pior seria se soubessem que a ace reporter estava fabricando matérias com
o nome do Super. Ela precisava ser esperta, sagaz. Parou para pensar um pouco naquilo.
Entretanto, seus pensamentos foram traídos por um novo devaneio. Lois fixou o olhar na direção
da porta da sala e lembranças voltaram fortes sobre ela. Não havia como evitar.
Flashback:
Lois e Clark surgiram na porta após o Super superacelerar de Metropolis até Smallville, mas antes
que Lois descesse de seu colo, ele a segurou e abriu a porta ele mesmo. Os dois sorriram um para o
outro enquanto ele a carregava para dentro de casa.
"Tem certeza de que não casamos durante essa superaceleração, porque.. yeah" Lois disse fitando
os olhos do noivo"
"Deveríamos mesmo ter aproveitado seu vestido rasgado, não sei como não pensei nisso.."
"Não posso te culpar, eu também não consigo pensar direito quando estou em seus braços...
Embora tenha uma ou duas coisas que me vêm à mente, mas..."
"Vamos tirá-las de sua mente, então...", Clark sugeriu, perdido de desejo. Colocou Lois no chão
enfim e a encostou contra a parede, beijando-a ardentemente. Lois procurou soltar os finos saltos
que ainda resistiam à longa aventura contra Naga, mas sem desgrudar seus lábios dos de Clark.
Envolveu seus braços em torno do pescoço dele no instante em que ficou alguns centímetros mais
baixa. Clark a envolveu pela cintura, soltando cuidadosamente as partes mais rasgadas do vestido
de noiva. Lois apenas riu, observando-o enquanto ele rasgava lentamente o vestido pela frente,
apenas correndo um dedo para fazer isso. Ele sabia como enlouquecê-la sem fazer muito esforço, e
quando o fazia, era para tirá-la completamente de órbita. Mas não naquele momento, Lois tentou
tomar as rédeas da taração que estavam.
"Acho que preciso de um banho...", ela sugeriu fitando-o de baixo para cima, quase dissimulada.
Clark tomou vantagem pelos centímetros que ganhara sobre ela e se apoiou com um dos braços
contra a parede, prendendo-a,
"Sim, banho...", disse ainda perdido. Estava mesmo apaixonado ao ponto de não processar nada
que não fossem seus olhos, seus lábios, o pulsar de seu peito contra o dele. E Lois sentia o mesmo,
pois não precisava ter super sentidos para admirar o coração de Clark, acelerado dentro do peito
todas as vezes que estava tão perto a ela. Ela simplesmente sabia que seus corpos haviam feito
este pacto secreto de pertencerem um ao outro para sempre.
185
Foi então que ela o beijou novamente, entregue aos impulsos de seu corpo. Tudo o que ela queria
era amá-lo intensamente, dar-se a ele completamente, sentir que aquele pacto de corpos lhes
fundia a alma..
"Lois..."
Lois despertou do flashback respirando pesadamente, ofegante por reviver aquele momento
como se fosse real. Contudo, a voz de Clark ecoara em sua mente, chamando seu nome, e aquilo
certamente não fazia parte de sua lembrança.
Era diferente.
Lois se levantou, levando as mãos à cabeça. Estava mesmo ficando confusa com aquilo tudo.
Arregalou os olhos a fim de se concentrar no trabalho novamente, mas não foi possível. A voz
voltou à sua cabeça.
"Lois!"
Antes que ela pudesse processar aquele novo chamado, viu sua vista escurecer, e no instante
seguinte era como se não estivesse mais na cozinha. Tudo a sua volta era branco, nevoado. Ela
olhou ao redor assustada, mas incrivelmente atônita ela ficou ao ver Clark diante dela, vestido em
um longo manto e com um pano a proteger a parte inferior de seu rosto. Ele puxou o pano para
baixo e fitou Lois, tão surpreso quanto ela estava.
"Clark?", Lois disse sem entender, mas a imagem começou a se desmanchar em sua mente. Uma
longa tontura a fez cambalear, mas a solidez da bancada de madeira da cozinha a conteve no
lugar. Ela abriu os olhos e se viu na cozinha novamente, mas seu coração palpitava como se tivesse
visto um fantasma. A verdade era que não sabia o que diabos lhe tinha acontecido, mas tinha
certeza de uma coisa:
Fora real.
***
186
Capítulo 25
Quando Chloe chegou à Watchtower no dia seguinte, encontrara Lois sentada no sofá um tanto
quanto pensativa. A jornalista imediatamente caminhou até a prima abraçando-a pelo longo
tempo que ficaram sem ver uma a outra.
“Lois, que bom que apareceu! Jimmy me falou que você esteve no jornal ontem!” disse a loira
contente.
“Yeah, as coisas andam quentes no mundo das notícias, eu tive que fazer um retorno triunfal... Ou
ao menos espero fazer ainda, com a ajuda de um certo morcego bilionário...”
“Bruce Wayne te procurou?”
“Procurou, arregaçou minha cabeça em relação a Luthor, eu devo confessar”, Lois disse
caminhando pela WT enquanto Chloe se instalava, ligando monitores e largando suas coisas ao
redor, “Mas ele está certo, Luthor está ganhando influência em Metropolis, precisamos detê-lo.”
“Mais do que imagina”, Chloe comentou acionando um link de notícias. O vídeo de uma entrevista
de Luthor para a CNN surgiu na tela, era a matéria a qual Wayne mencionara. As palavras de Lex
Luthor soaram nas caixas de som da Watchtower,
“Os cidadãos de Metropolis devem se dar conta do inevitável. Superman não é um herói, pois os
heróis não abandonam o lar que o acolheu. Metropolis acolheu o Superman e ele deu as costas
para todos. Ele abandonou a todos..”
“Crápula maldito”, disse Lois dando as costas para o vídeo e voltando-se para Chloe, “Quero ver o
que ele vai fazer depois que eu soltar o veneno que tenho guardado pra ele!”
“Seja lá o que for fazer, precisa ser rápido. Se Bruce te procurou para falar de Luthor, é porque ele
imagina que coisa pior esteja por vir. O pouco que conheci do homem já me fez perceber que ele
não brinca em serviço...”
“Nem me diga”, comentou Lois observando a prima. Parecia, contudo, que queria falar sobre
alguma outra coisa, mas não encontrava as palavras para tal. Chloe se deu conta e interveio,
“O que houve, Lo?”
“Bruce não foi o único a me procurar ontem... Clark veio a mim. Quer dizer, meio que veio...”
“Ele voltou?” perguntou Chloe surpresa, mas Lois negou com a cabeça.
“Foi como um sonho, mais para uma visão porque eu estava acordada. Estava na fazenda e ele
simplesmente apareceu diante dos meus olhos, Chloe, foi incrível. Ele tentou falar comigo, eu
posso te dizer. Ele olhou para mim e estava surpreso como eu estava por vê-lo ali! Foi real
demais!”
Chloe escutou a prima atentamente e deu um longo suspiro, caminhando até ela.
187
“Deve ter sido um sonho, Lois... Estes dias tem sido estressantes pra você, qualquer um em seu
lugar também estaria tendo visões ou coisas do tipo, ainda mais considerando tudo o que Clark
representa...”
“Eu realmente levei uma chacoalhada, Chlo, mas daí a sonhar acordada, nem mesmo depois de
dez tequilas... Eu sei o que vi, e acho que de alguma maneira, eu não sei... Clark pode estar
tentando se comunicar comigo.”
“Acha que é algum tipo de projeção astral?” indagou Chloe incrédula.
“Talvez, eu não ficaria surpresa com mais nada nesse mundo. Até porque não sabemos a real
extensão dos poderes de Clark, talvez ele possa se comunicar telepaticamente. Talvez tenhamos
um elo tão forte que...”
“... Atravesse galáxias?” indagou Chloe ainda mais incrédula, mas sem querer deixar Lois
pessimista quanto ao assunto. “Eu acredito que vocês realmente possuam um elo forte, e
provavelmente é isso o que está acontecendo, Lois. Por mais defensora do surpreendente e
inacreditável que eu seja, há coisas que é melhor manter os pés no chão... E esta é uma delas, pois
eu imagino o quão difícil deve ser a situação.”
“Eu sei que soa como uma loucura...” Lois insistiu, caminhando até perto da grande vidraça que
dava vista para toda Metropolis, “Mas foi real, real demais para que eu ignore...”
E conhecendo bem Lois Lane, Chloe sabia que ela jamais o faria. Jamais ignoraria.
***
Apenas vinte minutos e um bom copo de café depois, Lois desceu da Torre pela sua entrada
principal e pisou a calçada no exato instante em que seu celular tocou.
“Lois Lane”, ela atendeu sem demora, se distanciando do prédio e olhando em volta à procura de
um taxi.
“Sra. Lane, bom dia. Esqueça os taxis, entre no carro.”
A voz grossa e masculina não surpreendeu Lois, que reconheceu quase de imediato.
“Sr. Wayne... A que devo a honra da ligação matinal? Virando rotina?”
“Entre.no.carro.”
Diante da insistência, Lois olhou em volta procurando o tal carro e deparou-se com um carro de
luxo preto parado do outro lado da rua. Atravessou sem dificuldades e entrou no veículo, dando
de cara com Bruce Wayne sentado de frente para ela. Ele desligou o celular e a fitou com um meio
sorriso,
“Porque saiu pela frente do prédio?”
188
“Quem sabe, mas parece que você sabia que eu faria, já que estava me esperando bem na
frente...” ela respondeu desligando o próprio celular. “Há quanto tempo! Esse é um novo tipo de
serviço do Daily Planet, carona solidária com o chefe?”, ironizou.
“Eu diria que está mais para carona solidária com o furo de notícia”, ele disse no momento em que
o motorista ligou o carro e o colocou em movimento. Bruce apertou um botão e fechou o painel
entre eles e o motorista, de modo que este não pudesse mais ouvir a conversa dos dois.
“Qual é a do segredo?” Lois perguntou vendo toda a cautela de Bruce e ele soltou o verbo,
“Acabo de sair de uma reunião com Luthor, negócios pendentes... Mas se achávamos que aquela
conversa sobre o Superman era o maior dos problemas, estávamos enganados. Luthor quer alçar
um vôo muito mais alto do que derrubar a fama do herói... Ele quer o cargo maior da cidade, Lois.”
“Luthor para prefeito?” Lois pensou em rir, mas estava passada demais para tal, “Ainda que ele se
torne o próprio Superman, Thomas McKay é um cara bastante popular e já está com a cadeira na
mão nessas eleições com quase 80% das intenções de voto, sem chance de Luthor virar o jogo a
favor dele, ainda mais tão em cima da hora.”
“Não subestime Luthor”, advertiu Bruce Wayne, “Ele quer um lugar de destaque que lhe dê meios
para ir mais longe, um ou dois mandatos como prefeito em uma cidade como Metropolis e o
próximo passo é a presidência. Não podemos deixar que isso aconteça.”
“Eu sei, não vai ser fácil quebrar as pernas de Luthor, mas eu tenho um x-tudo anti-Lex só
esperando a ordem para ser publicado. O problema básico é que terei de fazer isso em outro
jornal, ainda que Luthor tenha a minoria das ações do DP, não vejo como a junta editorial aprovar
uma matéria contra ele...”
“Não será mais um problema”, Bruce anunciou, “Minha reunião com Luthor hoje de manhã foi
regada de advogados para fecharmos um acordo em relação ao Daily Planet. Ele me vendeu as
ações do jornal e agora as Indústrias Wayne possuem 90% do jornal, contra nada de Luthor.”
“Está de gozação, Luthor vendeu a parte dele no Daily Planet?” Lois mal podia acreditar, “O que
você ofereceu em troca, sua vida?”
“Meia dúzia de negócios consideráveis, quando percebi a importância que este jornal realmente
possui para a cidade, particularmente hoje quando você precisará do apoio da junta editorial... Por
sorte eu fiz a oferta antes de saber das intenções dele, ou Luthor não faria o negócio. Mas eu
acredito que a real razão por ter dado certo foram duas”
“Quais?”
“Meu disfarce de playboy é realmente muito bom”, vangloriou-se Bruce, “Lex pensa em mim
como um homem movido puramente por interesses econômicos e fúteis, já que eu comentei que
daria a presidência do jornal de presente para um afilhado... Que é, na verdade, um funcionário
das Indústrias Wayne. É bem verdade que ele também acredita que os 10% restante do jornal
pertença a um grupo de investimentos, mas o grupo é uma fachada laranja para Oliver Queen.”
189
Lois concordou não plenamente convencida, “É uma razão consideravelmente boa, mas não
suficiente. Qual a segunda?”. Bruce a fitou sério dessa vez, e foi direto ao ponto,
“Pela conversa que tivemos, ele não acredita que Superman retorne a Metropolis, o que significa
um Daily Planet sem Clark Kent, e você lhe parece inofensiva sem a influência do noivo.”
“Ele disse isso?” Lois perguntou surpresa.
“Com exceção da parte do noivo, a qual eu simplesmente interpretei pelas lacunas no discurso
dele, sim”, confirmou Bruce Wayne, “Ele acredita que você é um perigo para o jornal e que irá
enterrá-lo junto com Perry White por causa de sua mania de teoria da conspiração. Na verdade,
ele gastou um tempo considerável falando de você. Eu acho que ele sente algo em relação a
você.”
“Acha que ele está apaixonado por mim?”, Lois riu da idéia absurda. “Sem chance! A praia dele é
oriental e atende pelo nome de Lana Lang.”
“Que foi namorada de Clark, não? Este é meu ponto, não se trata de paixão. Lex é incapaz de amar
alguém no atual estágio de comprometimento dele consigo mesmo”, esclareceu Bruce, “Mas eu
percebi uma certa... Obsessão em relação a tudo o que se refere a Clark Kent. E não há nada neste
mundo mais importante para Clark do que você, ele sabe disso.”
O carro encostou próximo em frente ao Daily Planet para que Lois saísse. Bruce fez uma última
recomendação antes de Lois abrir a porta.
“Haverá um comício de McKay amanhã ao meio dia. Luthor fará seu anúncio à candidatura no
mesmo horário, então o que você tiver de fazer, tem que estar na primeira página do jornal
amanhã. Eu terei uma reunião com a junta editorial ainda hoje, então nem se preocupe com essa
etapa. Apenas cave fundo e dê o tiro certeiro.”
“Está pedindo à garota certa” garantiu Lois, para então abrir a porta e sair do carro de Wayne. Ela
parou por um instante na calçada olhando em volta e observou o carro se distanciar rumo ao
distrito financeiro de Metropolis. Voltou-se então para o Daily Planet, mas algo estranho a fez
parar novamente junto à parede do prédio.
De repente tudo ao seu redor ficou branco novamente, e uma imagem começou a desenhar-se
com certa clareza. Era Clark tal como antes, mas agora vestia um traje azul com um escudo
amarelo e vermelho no peito.
Um ‘S’.
“Lois...”
A voz de Clark soou para Lois como se ele estivesse diante dela, e no instante em que ela deu um
passo na direção dele, tudo se dissipou tal como da primeira vez. Lois se sentiu um pouco tonta e
recostou-se na parede do prédio, sendo amparada por um homem que saía do Daily Planet.
“A Srta. está bem?” ele perguntou segurando-a pelo ombro.
190
“Ah, foi apenas uma náusea.. Estou bem, obrigada.”
Ele sorriu levemente, e seguiu seu caminho olhando para trás enquanto se distanciava. Lois
respirou fundo ao ver o mundo retornando ao devido lugar e seguiu para a entrada do prédio que
levava ao Bullpen. Desceu as escadas e olhou em volta pela bagunça, até que achou quem
procurava:
“Jimmy!!”
O loiro olhou na direção de Lois e seguiu até ela com sua máquina fotográfica em mãos, “Lane,
precisando do melhor fotógrafo na área para uma futura matéria?”
“Na verdade, uma matéria passada...”, ela disse o chamado em um canto, “Lembra quando
estávamos só começando no Daily Planet? Fizemos alguns trabalhos juntos, algumas buscas...”
“Você quer dizer, algumas invasões em lugares que não deveríamos ter nos metido, até tiro você
tomou, né Lois?”
“Você entendeu”, resumiu Lois. “Eu preciso que você recupere todos aqueles arquivos que
levantamos a respeito de Lex Luthor...”
Jimmy fitou Lois já assustado com a ideia.
“O que está aprontando, Lois?”
“Eu tenho um exposée para concluir e preciso daqueles dados. Você pode procurar e levar para
mim lá em cima?”
Jimmy se viu um pouco receoso com a proposta, sem entender claramente o que Lois tinha em
mente, mas ela o encarou de maneira confiante, “Você é a única pessoa em quem confio para
fazer isso, Jimmy... Ninguém mais.”
“Pode deixar”, ele disse antes de se distanciar dela e seguir para a sala de arquivos. Lois suspirou
longamente, ainda sob o efeito do que lhe ocorrera na entrada do DP, mas uma mão sobre seu
ombro a fez retornar à realidade rapidamente.
“Lane, venha cá”, disse Perry puxando a jornalista para a sala da copiadora. “Onde está minha
matéria sobre o Superman?”
Lois se preparou para falar, mas decidiu ir direto ao ponto. Olhou em volta e fechou as duas
entradas da sala da copiadora, trancando-se com Perry lá dentro. Virou-se para o editor enfim,
“Esqueça Superman, tenho algo maior para você no momento.”
“Maior do que o sumiço do Superman? Depois da entrevista de Luthor sobre o assunto, fica difícil
imaginar algo maior.”
“Nem mesmo que este mesmo Luthor pretende concorrer ao cargo de prefeito da cidade?”
191
Se Perry usasse uma dentadura, a teria engolido diante do susto. Fitou Lois sem acreditar, “Do que
está falando, kid? De onde tirou essa brincadeira de mal gosto?”
“Nunca revele sua fonte”, Lois recitou um dos seus mandamentos jornalísticos. “A questão é que é
um total desastre, Perry! Luthor tentando se passar como Jesus Cristo ressuscitado, metendo pau
no Superman e agora isso! Ele tem sujeira demais embaixo do tapete para pensar em ser prefeito,
e eu te ofereço uma varredura no tapete Luthor para a edição de amanhã que você nunca sonhou
em ter...”
“Você só está esquecendo de um detalhe, Kid: Luthor é um pouco dono desse jornal também.
Uma matéria tão agressiva jamais passaria pelo aval dos que defendem os interesses dele aqui
dentro.”
“Entendo... Mas eu não faço trabalho pela metade, Perry... Algo me diz que o Sr. Wayne trará boas
notícias para o Daily Planet ainda hoje...”
Lois abriu uma das portas da sala e saiu com pressa, deixando Perry pensativo sobre o assunto.
***
O dia passou e veio mais uma noite, e com ela mais trabalho para Lois. Trabalhara horas a fio,
concentrada na missão incrível que tinha pela frente. Só fora interrompida uma única vez pelo
próprio Perry White, que fizera um anúncio na seção sobre a mudança na formação acionária do
jornal. Bruce Wayne era o grande dono agora, o que significava autonomia para fazer do Daily
Planet o jornal que estava destinado a ser, o maior de Metropolis e de todo o país. Com essas
palavras, Wayne gravou um editorial para a versão online do Daily Planet que preparou terreno
para Lois levar adiante sua matéria hardcore anti-Luthor.
Lois estava sozinha na seção, apenas ela e a tela do computador vidradas uma na outra. Diante de
si, inúmeros documentos sobre Luthor, alguns deles trazidos pelo Jimmy de algumas aventuras
antigas. Lois já havia montado um verdadeiro dossiê contra a LuthorCorp e seu dono, mas ainda
precisava resumir tudo aquilo de modo a construir uma impactante matéria de capa. Ela sabia que
não haveria tempo para as pessoas lerem absolutamente tudo o que ela havia preparado dentro
do jornal, então precisava das palavras exatas para causar um repúdio forte o suficiente de
maneira que Luthor desistisse de sua candidatura. Por outro lado, precisava guardar algumas
coisas para edições futuras, caso o plano não desse certo. Ela repassou suas anotações ajeitando
um par de óculos em seu rosto que sequer precisava. Entretanto, ele lhe dava forças. Pertenciam a
Clark, e desde que ele partira ela os mantinha em sua bolsa. Se pegava usando-os sem sequer
perceber, tão envolta pelas lentes que faziam de Kal-El Clark Kent. Contudo, algo estranho a fez
retirar as lentes e repousá-las sobre sua mesa.
Estava acontecendo novamente.
Um clarão branco tomou todo o redor de Lois e de repente ela não estava mais no Daily Planet. Ao
contrário das outras vezes, Lois nunca tinha mergulhado tão longe em sua visão, ou projeção, ela
ainda não sabia bem o que era aquilo. A única certeza que tinha era da imagem de Clark se
formando à sua frente, tão vívida quanto si própria. Lois se tocou procurando ver se aquilo era real
192
e tudo o que sentiu foram seus pêlos arrepiados no braço. Sentiu medo por conta da ansiedade,
até que todos os sentimentos fundiram-se em um só: amor.
Era Clark novamente, bem diante de seus olhos.
“Lois?” Ele disse com mais calma, e sua voz soou serena, pausada. O branco ao redor foi tomando
forma, até exibir uma espécie de deserto, com uma forte luz solar sobre ele. Clark vestia o traje
azul novamente, com um escudo em S no peito. Se Lois não estivesse tão em choque pelo
momento, diria que era um belo uniforme.
“Clark? É mesmo você?” ela disse com a voz trêmula, incerta acerca da experiência que estava
tendo. Clark sorriu levemente, emocionado por tê-la diante de si.
“Eu ainda não encontrei o que procuro, Lois... Mas não há nada que eu queira mais do que
retornar para você... Estar em seus braços novamente...”
Lois deixou uma pequena lágrima escorrer e Clark deu alguns passos na direção dela, mas a
imagem se desfez como se fosse feita de fumaça e algo a tivesse dissipado.
“Lois!”, ele disse uma última vez, mas estava tudo tão confuso para Lois que ela simplesmente
fechou e abriu os olhos, para então deparar-se com outra realidade:
“Lois!”
A morena olhou em volta e deparou-se com Jimmy à sua frente. Clark havia sumido, assim como o
deserto. Estava novamente no Daily Planet, sentada em sua cadeira diante do computador, de sua
matéria.
“Está bem?” o fotógrafo perguntou e Lois confirmou que sim,
“Yeah, só pensando em umas coisas... O que foi?”
“Eu trouxe um último lote, algumas fotos daqueles laboratórios da Luthorcorp... Eu te enviei por
email, mas cá estão para o clipping se precisar.”
“Obrigada, Jimmy”, Lois disse pegando o envelope de fotos, “Não haverá tempo para clipping, a
capa está apenas esperando esta matéria e o resultado do jogo dos Metropolis Monarchs.”
“Você trabalhou duro nisso”, Jimmy comentou observando Lois abrir o envelope, “Mas não me
disse o porquê disso agora.”
“Não há timing quando se trata de Lex Luthor”, ela respondeu compenetrada, “mas você saberá
amanhã a razão para isso. Ou não...”
“Enigmas não é seu forte, Lane..” Jimmy disse sorrindo, “De qualquer maneira, Chloe e eu
sentimos sua falta. Passa lá em casa qualquer dia desses, para fazermos um jantar bacana, ou ficar
de bobeira... Ela iria gostar, e eu também.”
193
“Pode deixar, Jimbo”, Lois respondeu devolvendo o sorriso. Observou Jimmy se afastar até sair da
seção e colocou os óculos novamente, olhando as fotos que recebera e pensando em Clark. Não
poderia imaginar que as coisas ficariam tão confusas, mas decidiu se apegar ao que era real:
Seu interesse em derrubar Luthor e as aparições de Clark.
***
No dia seguinte, o Daily Planet se viu levemente tumultuado por conta das novidades. Mais
surpreendente do que a saída de Luthor da junta acionária era a matéria de capa do jornal, com
denúncias graves contra seu ex-dono e toda a LuthorCorp. Uma imensa foto do careca mais
conhecido da cidade e a manchete “Luthor retoma um legado de fraudes” fizeram todos pararem
para ler o jornal naquela manhã crucial. Na reportagem principal dentro do jornal, uma
compilação de informações que comprovavam a veracidade da maioria das denúncias misturada a
especulações que não haviam sido totalmente confirmadas. Contudo, o golpe principal havia sido
dado e Luthor poderia sair ileso em termos institucionais, mas não em imagem. Bastaria a
comprovação de uma única denúncia para que todo o resto seguisse o bonde, e era com isso que
Lois Lane contava. Pretendia ferir Luthor não com o tiro, mas com os estilhaços conseqüentes do
ataque.
A morena deixara o DP na madrugada e compensara algumas horas de sono na Watchtower
apenas para retornar ao jornal logo cedo, seguindo imediatamente para a sala de Perry. O editor
chefe trazia um sorriso de orelha a orelha e mandou Lois fechar a porta ao entrar. Encarou a
jornalista e caminhou até ela feliz da vida,
“Você se superou, Kid! Se eu não a tivesse no meu time, a teria contratado novamente hoje. A
edição impressa já se encontra praticamente esgotada em Metropolis e a online é recorde de
cliques. Seu dossiê sobre Luthor deixou muita gente com a pulga atrás da orelha, e era esse o
objetivo!”
Lois sorriu pelos elogios de Perry, “O que posso dizer, a verdade fala por si. Eu só fiz organizá-la em
tópicos e fontes legíveis...”
“Fez mais do que isso, Lane. Mostrou que está a sério nesse negócio, comprometida com a
verdade. E eu estou impressionado com o poder de suas fontes... Bruce Wayne me confirmou
ontem que era intenção de Luthor concorrer à prefeitura de Metropolis. Me fez pensar um pouco
em qual seriam as intenções do nosso novo chefe maior... Você sabe, o homem de Gotham de
repente em Metropolis, dono do maior jornal da região... Eu acho que ele é mais político do que as
pessoas o julgam.”
Lois sorriu tranqüila com a especulação de Perry, “Eu posso dizer que Bruce Wayne e eu
compartilhamos as mesmas preocupações em relação à Metropolis, por motivos diferentes,
provavelmente...”
“Sua próxima missão poderia ser descobrir esses motivos...” Perry disse olhando para trás ao ver a
porta se abrir e Bruce Wayne entrar na sala. “Ele quer falar com você, vou deixá-los a sós.”
Perry passou por Bruce e se retirou de sua sala levando consigo um exemplar do jornal. Bruce
parou diante de Lois, que se recostou na mesa, confiante. O magnata de Gotham ainda deu um ou
194
dois passos dentro da sala, sempre com as mãos dentro do bolso da calça perfeitamente alinhada
ao seu terno italiano.
“Cansada?” ele perguntou ao ver a expressão de noite perdida que Lois trazia consigo.
“Um pouco, mas não o suficiente para deixar de curtir o momento orgásmico...”, ela olhando para
o jornal sobre uma das poltronas na sala. Bruce confirmou com a cabeça,
“Surtiu efeito, Luthor cancelou a coletiva que faria ao meio dia. Deve estar recolhendo os cacos
nesse momento, parabéns.”
“Ele não vai desistir tão fácil”, Lois respondeu, “Com Luthor é preciso manter os dois olhos bem
abertos, o tempo todo.”
“Nós já temos uma torre inteira fazendo isso por nós”, Bruce disse se aproximando um pouco
mais, “Minha preocupação agora é com sua segurança. Luthor pode estar um pouco... Irritado.”
“Se ele tivesse de me matar, já teria feito há muito tempo, acredite”, Lois respondeu se lembrando
de alguns dos momentos tensos que vivera por culpa de Luthor, “Além do mais, como você
mesmo disse: Luthor tem uma obsessão relacionada a mim. Ele não me machucaria se não
pudesse exibir isso a Clark. No fundo, tudo diz respeito a Clark.”
Lois caminhou para se retirar da sala, mas Bruce a segurou pelo ombro no momento em que ela
passou por ele.
“Ainda assim... meu helicóptero está à sua disposição. Não é tão rápido quanto seu noivo, mas
tem lá suas vantagens, fora a segurança.”
“Obrigada, mas eu estou ansiosa por uma longa viagem de carro até Smallville... Conversamos
depois.”
Lois se retirou da sala, sob o olhar contemplativo de Bruce Wayne.
***
Pouquíssimas horas após sair de Metropolis, Lois começava a se aproximar de Smallville. Era uma
bela manhã de quarta-feira e ela sentiu que tomara a melhor decisão recusando a oferta de Bruce,
pois não havia nada melhor do que encarar a estrada em seu pontiac vermelho, agora de capô
aberto. Tantas coisas rodeavam sua mente, mas Lois procurou concentrar-se na mais imediata
delas, Lex Luthor. Seu celular estava conectado somente aguardando qualquer notícia de última
hora, ainda que quase nada a fizesse sair da fazenda nas próximas horas. O caminho tomado por
milharal de ambos os lados mostrou que ela já estava perto.
Contudo, Lois ainda seguia rápido pela estrada quando foi tomada por uma nova visão de Clark.
Tão real quanto das outras vezes, Clark apareceu diante dela a encarando, mas o que realmente
chamou sua atenção foi o sangue espalhado por cima do uniforme azul. Lois levou um susto ao vêlo machucado e gritou, tomada pelo desespero,
“Clark!!”
195
Mas o que era real ou não se dissipou novamente e fez Lois girar o volante com força em um
ponto da estrada que não deveria. Saiu da pista e passou duas das rodas em uma porção de terra
elevada, fazendo o carro capotar violentamente até parar alguns metros dentro do milharal.
***
Bruce chegou à Watchtower e se deparou com Chloe e Oliver, que observavam alguns dados em
um dos computadores. Os dois voltaram a atenção para Bruce no momento em que ele surgiu
junto a eles e o magnata se dirigiu a Chloe,
“O rastreador está funcionando?”
“Eu não sei, porque me neguei a ligar o aparelho ainda... Você não conhece Lois tão bem quanto
eu, e eu sei que ela ficará puta da vida quando descobrir que você colocou um rastreador adesivo
nela...”
“Dois rastreadores, coloquei um no carro dela também. E eu sei que ela vai ficar puta, eu ficaria
também. Mas não posso segui-la o tempo inteiro, então tenho que ser engenhoso.”
“Bruce tem razão”, concordou Oliver, “Com Luthor soltando fogo pelas ventas, temos que ficar
atentos aos passos de Lois. Devemos isso a Clark, e a Lois, ela divou nessa matéria.”
Um comunicador soou na torre e Chloe imediatamente ligou o dispositivo. A imagem de uma bela
mulher ruiva de óculos, sentada em uma cadeira de rodas, tomou a tela.
“Barbara?” Bruce disse dedicando-a um leve sorriso, no que Oliver complementou,
“Babs, o que manda das bandas de Gotham?”
“Daqui nada, mando daí mesmo” a ruiva respondeu séria, “Vocês não estão assistindo Luthor no
comício na TV?”
“O comício foi cancelado”, esclareceu Chloe, mas Barbara negou com a cabeça,
“Não me refiro ao comício dele, liguem a TV.”
Chloe e os demais se entreolharam e ligaram o monitor principal no canal de notícias. A imagem
do principal candidato de Metropolis a prefeito, Thomas McKay, surgiu sendo ovacionado pelo seu
forte eleitorado.
“... Porque a imprensa dessa cidade apenas é capaz de julgar seus homens de bem pelo passado
que não pertence a eles. Lex Luthor não deve pagar pelos erros cometidos pelo seu pai, e sim
superá-los e mostrar que a LuthorCorp superou essa fase amarga com a luta daqueles que
verdadeiramente a amam. Luthor tem meu voto de confiança pelo cidadão honrável que tem sido
para Metropolis, e é por isso que eu o lanço nesse momento como candidato a vice em minha
chapa republicana!”
196
Bruce, Oliver e Chloe olharam estupefatos para a cena, assim como Barbara Gordon em Gotham
City.
“Não acredito!”, Oliver resmungou passado, “McKay e Luthor?”. Chloe complementou fitando
Bruce e o loiro,
“Ele foi esperto, jamais poderia competir de igual para igual com McKay, principalmente depois da
matéria de Lois. Se não teria como o eleitorado de McKay a seu favor, decidiu apostar que o
escândalo em nome da LuthorCorp também não será capaz de derrubar McKay em uma aliança.
Agora sabe Deus o que Luthor prometeu para McKay se arriscar assim...”
“Não muito, considerando que os dois compartilham uma aversão a Super Herois”, Bruce disse
pegando o celular e ligando para Lois, “Comer pelas beiradas, não esperava isso de Luthor, foi o
meu erro... Lane não atende, onde ela está?”
Chloe não sabia a resposta, mas Bruce a encarou dizendo para que ela fizesse o que precisava ser
feito. Ela então deu de ombros e voltou-se para seu computador, acionando o rastreador de Lois.
Um mapa de Smallville estilo GPS surgiu no monitor ao lado da imagem do comício de McKay e
Luthor.
Chloe observou a imagem com certa confusão, “Estranho... Ela parece estar em algum lugar na
rodovia de acesso à Fazenda Kent. Mas o ponto está fora da estrada.”
“Qual dos dois, o dela ou o do carro?”, questionou Bruce. Chloe analisou com calma e ficou o
magnata e Oliver preocupada,
“Os dois. E não estão se mexendo.”
***
Na estrada, o risco dos pneus marcavam o lugar exato onde Lois perdera o controle do carro. O
Pontiac vermelho seguia de ponta a cabeça dentro do milharal, e a alguns metros dele estava Lois,
com um corte na cabeça e escoriações por todo o corpo, inconsciente e sozinha.
***
197
Capítulo 26
Chloe se sentou no sofá de espera do hospital tensa, angustiada. Diante dela, Oliver caminhava de
um lado para o outro enquanto Bruce Wayne e Perry White aguardavam mais ao centro. Todos
estavam visivelmente apreensivos para o estado de saúde de Lois Lane após o terrível acidente
que sofrera. Quando Emil surgiu no corredor retirando a máscara cirúrgica, os quatro se
adiantaram a ele.
“Como ela está, Emil?” Chloe foi a primeira a se manifestar, envolta pelo abraço amigo de Oliver.
“O estado é um pouco grave, ela sofreu uma lesão séria no estômago e bateu com a cabeça, mas
não há sinal de traumatismo craniano. No momento, está em coma induzido e ficará em
observação, mas o quadro em geral é estável.”
Os quatro permaneceram calados, assimilando a notícia dada pelo médico membro da Liga. Não
era exatamente o que esperavam ouvir, mas ao menos a condição de Lois não era extremamente
crítica. Oliver e Bruce praticamente se deram por satisfeitos diante do que poderia ter acontecido,
já que ambos estiveram no local do acidente e viram Lois jogada no milharal como se fosse um
corpo sem vida. Saber que seu quadro era estável os aliviava temporariamente.
“Deus do céu, como isso foi acontecer?” indagou Perry tenso, passando a mão nos cabelos, “E
Kent, alguém já conseguiu entrar em contato com ele?”
Bruce, Oliver e Emil escutaram a pergunta apreensivos e fitaram Chloe, que improvisou na hora,
“Deixei recado com Martha Kent em Washington, mas ela ainda não conseguiu falar com ele.”
“Bem, cedo ou tarde ele ficará sabendo”, Perry completou, “O acidente está em todos os
noticiários, afinal de contas, não tem como não achar tudo muito suspeito.”
“O que quer dizer?” questionou Oliver. Perry continuou,
“O que você acha? Lois Lane fez a caveira de Luthor hoje pela manhã e de repente sofre um
acidente sem explicação! É claro que tem dedo de Luthor nessa história, e enquanto não me
provarem o contrário, eu vou mantê-lo na mira do DP!”
“A perícia vai dizer o que realmente aconteceu”, Bruce concluiu, mas sem desconsiderar a
hipótese levantada por Perry, voltou-se para Emil. “Mas de qualquer forma, devemos prezar pela
segurança de Lois. Dr., quais as possibilidades de transferi-la para um hospital mais... reservado?”
“Eu diria que a Srta. Lane possa ser transferida dentro de 48 horas, caso o quadro se mantenha
estável.”, respondeu o médico, ciente do que Bruce tinha em mente. Não poderia concordar mais.
“Então providencie tudo, Dr.”, Bruce resolveu com o aval de Chloe, “Ela terá tudo o que for
necessário para sua recuperação, longe dos olhares curiosos da imprensa e de quem quer que
seja...”
Emil concordou com a cabeça e voltou-se para Chloe, indicando que ela poderia ver Lois por um
breve momento. A loira acompanhou o amigo médico até o hall da área de recuperação e avistou,
198
através de uma janela de vidro, sua prima Lois deitada em uma maca de UTI e coberta por
aparelhos. Ainda que ela estivesse respirando por conta própria, a quantidade de equipamentos
ao seu redor era assustador. O pequeno tubo que passava pela boca entreaberta de Lois fez Chloe
arrepiar-se.
“Oh meu Deus, Lois... Você vai sair dessa, você é forte!” Chloe disse choramingando com a mão de
encontro ao vidro, como se apenas aquele gesto pudesse fazê-la tocar Lois de alguma forma.
***
“Lois? Lois, está me ouvindo? Oh meu Deus, Lois!”
“Ela está?...”
“Não, estou sentindo um pulso. Precisamos de ajuda, Bruce!”
“Não podemos transportá-la nesse helicóptero, vou chamar o resgate!”
“Lois, fala comigo, hun? Lois? Lois, por favor, pode me ouvir? Sou eu, Ollie! Lois? Oh Deus...”
O som das vozes pareciam distantes para Lois, ainda que ela sentisse a presença de Bruce e Oliver
bem perto a ela. Sons de helicóptero, ambulâncias, uma luz forte lançada contra seus olhos e
muitas pessoas ao seu redor, examinando-a, tocando-a. Lois podia se lembrar do acidente, mas
todo o resto eram flashes sem registro de imagens. Ela não se lembrava de abri-los para ver o que
de fato lhe acontecera, mas não porque não quisesse, e sim porque não podia. Era mais forte do
que ela.
Quando Lois finalmente abriu os olhos, se viu sentada em um pequeno barco de madeira. Uma
forte brisa tocava sua face, provinda da rica floresta ao redor de um lago amplo, para além do
horizonte. Lois notou que seu barco estava à deriva no lago calmo e não havia remos, apenas ela e
nada mais.
“Oh, ótimo...”, ela disse tentando compreender o ambiente à sua volta, “E agora, que tipo de
sonho é esse?”
“Não é um sonho, Lois.”
A voz soou atrás de Lois e ela se virou de forma violenta ao reconhecê-la. Era Clark. Estava sentado
em um outro barco posicionado atrás do dela. Vestia sua tradicional camisa quadriculada de
flanela, sem os óculos, e segurava dois remos, posicionados cada um de um lado do barco,
tocando a água levemente. Lois o encarou incerta do que aquilo podia significar, mas sentia em
seu corpo o quão real Clark era. O quão real tudo aquilo era.
“O que está acontecendo, Clark?”
Ele sorriu timidamente, como sempre fazia diante de uma situação complicada na qual precisava
mostrar para Lois que era mesmo feito de aço. “Venha para cá”, pediu.
199
Mesmo confusa com o que lhe rodeava, Lois não pensou duas vezes. Levantou-se do barco em que
se encontrava e passou com cuidado para o barco de Clark, muito parecido com o seu a não ser
pelos remos. Não pôde evitar e tocou o peito de Clark ao sentar de frente para ele, certificando-se
de que o noivo estava mesmo diante dela. Clark sorriu pelo jeito Lois de ser, mas ele próprio tivera
dúvidas ao ver aquele mundo desenhado diante de seus olhos.
“Vou dizer, não se fazem mais sonhos como antigamente, Smallville! Este é real pra caralho...”
“Não é um sonho, Lois”, Clark tentou explicar, “Estamos presos aqui. Algo aconteceu para que
viéssemos parar nesse lugar...”
“O acidente...”, Lois recordou, e diante do olhar confuso de Clark, procurou explicar, “Eu acho que
saí da estrada e dei um duplo twist carpado com o pontiac...”
“Então você está em coma?” Clark deduziu pela sua breve experiência com aquela realidade,
“Você tem que voltar!”
“Espera um pouco, em coma?” Lois procurou compreender também, “O que você faz aqui?”
“Eu fui ferido em minha jornada... Até onde me lembro, Kara está comigo. Eu oscilo entre esta
realidade e a realidade onde Kara se encontra, cuidando dos meus ferimentos. Eu acho que este é
o lugar que nossas mentes escolheram para se encontrar...”
“Em um estado comatoso? Ok, mas antes de fazer minha saída infeliz pela direita, eu lembro que
tive uma visão sua. Uma não, várias! E eu estava muito bem acordada, Smallville...”
“Não era uma visão”, Clark se surpreendeu com aquela informação, “Eu lembro de você também.
Eu te vi, várias vezes. Na fazenda, no Daily Planet... Você falou comigo!”
“Eu estava certa então!” concluiu Lois empolgada, “Nós temos um elo, nos projetamos para
encontrarmos um ao outro em outro plano? Embora acho que este último tenha sido meio
exagerado...”
“Talvez estejamos juntos aqui por causa de nosso elo anterior”, deduziu Clark, “Estávamos tão
conectados que nos encontramos aqui, à beira da...”
Clark se negou a continuar seu raciocínio. Não podia acreditar que Lois estava ferida, e se aquele
plano era a representação do estado de ambos, eles estavam com problemas. Ainda assim, Clark
sentia uma serenidade grande, assim como Lois.
“É estranho”, Lois comentou olhando o lago ao redor dos dois, “Eu não me sinto doente, nada
disso. Eu sinto como se... Tivesse que fazer algo...”
“Eu também”, Clark disse em resposta. Soltou um dos remos e levou a mão em direção ao rosto
de Lois, “Mas tudo o que consigo é olhar para você.. Eu sinto sua falta, Lois.”
“Eu sinto a sua falta também, loucamente”, Lois respondeu aflita. “Não é fácil ter metade de mim
em outra galáxia...”
200
“Não, não é... Você é a melhor coisa que aconteceu em toda a minha vida, Lois”, Clark disse
fitando-a profundamente, “E se estamos os dois aqui agora, independente do que tenha
acontecido... Eu não tenho dúvidas de que a única razão para isso é o amor que sentimos um pelo
outro, porque eu nunca senti nada igual ao que sinto por você..”
Os lábios de Lois desenharam um sorriso emocionado para Clark, “Estes serão seus votos no
altar?”
Clark sorriu de volta, imaginando o momento tão esperado pelos dois, “Na verdade eu estava
pensando em algo mais musical, como recitar uma canção do Whitesnake, algo assim”, brincou.
“Oh, eu te beijaria antes do padre mandar, não tenho dúvidas, Smallville...” Lois respondeu feliz
com a brincadeira. Olhou para a linda paisagem mais uma vez, para o imenso lago que parecia ter
sido exportado do outono, com árvores secas em seu entorno, folhas caindo sobre as águas com
cada vento mais forte que atingia a margem, mas não parecia abalar a calma das águas onde o
barco de Lois e Clark se encontrava. O outro barco foi aos poucos se afastando para lugar nenhum.
Lois e Clark fizeram um breve instante de silêncio, entreolharam-se apaixonados, porém
preocupados um com o outro. Não foi preciso palavra ou gesto que mostrasse a Lois o quão aflito
Clark estava ao saber que ela sofrera um acidente. Também não estava sendo fácil para Lois saber
que seu futuro marido e grande amor estava ferido em uma galáxia fora de seu alcance. Ainda
assim, estavam tão perto um do outro que não podiam perceber a real distância física que os
afastava.
“No que está pensando?” Lois perguntou ao ver Clark tão pensativo e encarando-a fixamente.
“Eu apenas lembrei de uma coisa... De um dia na Smallville High, quando você estava lá com a
gente, passando uns dias, lembra?”
“Se lembro, me forçaram a enfrentar aquele semestre infernal com vocês antes de ir para a Met
University”, recordou Lois.
“Verdade... E é engraçado como lembramos das coisas... Eu fico imaginando como as coisas
poderiam ter sido se... Pudéssemos enxergar o que já estava na cara...”
“O que quer dizer?” Lois perguntou sem entender onde Clark queria chegar.
“Lembra daquele dia no colégio, quando brincávamos no campo? Você atingiu o alvo e me
derrubou na água, lembra?”
“Claro que lembro”, Lois sorriu ao se recordar, “Você ficou parecendo um super pinto molhado,
Smallville.”
“Eu lembro de como me senti naquele dia.. Eu não dei atenção ao que sentia, porque nem eu
sabia direito o que eu sentia. Mas hoje eu entendo que foi ali, naquele exato momento... Foi ali
que eu senti nascer dentro de mim. Se Kal-El caiu por você desde aquela noite no milharal, Clark
Kent com certeza caiu naquele dia, com aquela queda na piscina veio a verdade pra mim...”
Lois escutou atentamente à confissão de Clark, ela não estava certa do que ele estava colocando.
201
“Eu não sei... Eu acho que você estava mergulhado demais em Lana para perceber qualquer coisa
ao seu redor. Assim como eu estava concentrada demais em não gostar de você.”
“Tem razão. Eu não podia enxergar nada à minha volta, e eu sei que era a nossa grande meta
tornarmos inimigos mortais um do outro.”
“Éramos duas bombas nucleares, não?” Lois brincou, mas Clark confirmou.
“Éramos, com certeza éramos... Mas nem mesmo a maior das negações pode esconder aquilo que
o coração guarda. E meu coração já sabia, Lois, só esqueceu de me contar... Que estávamos
destinados a ficar juntos.”
“Eu acho que em algum nível profundo, foi exatamente isso o que eu senti quando te vi naquele
milharal pelado... Certo que a visão de Clark Jr. facilitou as coisas...” Lois comentou sem perder a
piada, e Clark sorriu para ela.
“Naquele dia no banheiro, quando você ignorou o significado da porta fechada e entrou vestida na
minha camisa”, Clark resgatou o momento em sua memória, “Eu acho que aquela foi a primeira
vez que eu realmente tive vontade de te beijar...”
Lois o fitou incrédula, “Você queria me chutar para fora do banheiro, Smallville!”
“Seu jeito me assustou, realmente, mas eu nunca tinha conhecido uma garota como você”, ele
confessou, “mas no fundo eu tive que me controlar, eu meio que fiquei excitado quando te vi
usando apenas minha blusa...”
Lois sorriu surpresa e feliz com a confissão de Clark, mas ele não queria entrar na brincadeira
sozinho.
“E quanto a você? Qual foi a primeira vez?”
“Que eu quis te beijar? Bem...”, Lois pensou um pouco, até recordar de um momento em especial.
“Houve aquela vez em que o jato caiu no ártico comigo e Sra. Kent... E eu fiquei muito mal, mas
graças a sua mãe Kent e seu pai El, eu pude ser levada a um hospital a tempo... Naquele dia,
quando você apareceu no hospital, quando segurou minha mão... Eu senti algo especial. Eu acho
que... se você por algum acaso do destino, tivesse te inclinado para perto de mim... Talvez,
TALVEZ.. Eu tivesse te beijado ali.”
“Eu tive muito medo de te perder naquele dia”, Clark disse com o olhar angustiado, quase como se
pudesse reviver o momento. “Foi uma boa coisa então te beijar em uma cama, após sua outra
queda...”
“Que foi BEM mais modesta do que uma queda de avião, mas tudo bem, o que vale é a intenção”,
ela disse sorrindo. “E eu nunca perdoei Ollie por ter ligado bem na hora...”
“Lembra daquele dia na loja de jóias, quando dissemos que iríamos nos casar? A cara de Oliver foi
impagável”
202
“Ele teria te matado, se você não fosse de aço...”
“Ele tentaria, com certeza...”, Clark concordou, “Mas eu fico imaginando todos os momentos que
tivemos ao longo desses anos, antes de estarmos juntos... Como teria sido se estivéssemos um ao
lado do outro..”
“Mas nós estávamos, Clark” Lois respondeu se aproximando de Clark. Segurou o rosto dele entre
suas mãos de maneira carinhosa, “Sempre estivemos lá um pelo outro, não foi? Em todos os
momentos, quando encontramos Chloe, quando você me ajudou a entrar para a MetU... Quando
me salvou nas inúmeras vezes em que precisei ser salva, quando estávamos na pior por causa de
nossos adoráveis parceiros...”
Clark depositou seu olhar sobre o de Lois, segurando o rosto dela e trazendo-o para mais perto
ainda do seu, “E é por isso que temos que sair dessa, Lois. Eu não quero imaginar o que poderia
ter sido e não foi. Eu quero que a gente construa essa história. Eu quero estar daqui a 20 anos
sentado no telhado do Daily Planet e relembrando que um dia passamos por isso, e superamos
porque confiamos um no outro. Porque amamos um ao outro. Porque eu te amo, Lois.”
“Eu também te amo muito, Smallville...”, Lois respondeu quase como um sussurro, eliminando a
distância que ainda residia entre seus rostos. Beijou os lábios de Clark com delicadeza, inclinando
o rosto diagonalmente contra o dele e adentrando-o de maneira apaixonada. Um leve estalo soou
quando seus lábios se separaram, mas os rostos permaneceram unidos enquanto ambos
retomavam o ar. Respiraram um no outro, afoitos por mais.
Mas não seria possível, Clark podia sentir. Respirou fundo na curva do pescoço de Lois e depositou
ali um pequeno beijo, para então se afastar e segurar os remos novamente.
“Precisamos ir, o mais rápido possível.”
Lois não emitiu nenhum som, apenas observou Clark a remar com firmeza em direção à margem
do lago, onde havia um deque de madeira até então desconhecido a Lois. Clark remou por um
tempo e deixou a inércia levar o barco até bem perto da margem, ficando em paralelo com o
deque. Com o olhar, indicou a Lois que saísse do barco e subisse para o deque. Lois o atendeu e
menos de dez segundos depois, já estava de pé no deque. Olhou para Clark esperando que ele
saísse do barco, mas ele não fez qualquer menção para tal.
“Você não vem?”
“Este não é o meu caminho, Lois.”
Ela compreendeu o que ele quis dizer, mas ainda assim se viu angustiada com a situação.
“O que acontece agora?”, perguntou aflita.
“Você faz o que tem que fazer... Por nós dois. Eu sempre estarei ao seu lado, não importa o que
aconteça, Lois. Eu sempre vou estar com você.”
Lois sentiu um aperto na garganta, como se fosse chorar, mas as lágrimas não saíram, ainda que
todo o seu corpo chorasse por dentro. Clark voltou a remar, mas desta vez afastando o barco do
203
deque de madeira, seguindo novamente em direção ao meio do lago e indo além, até sumir em
uma fina névoa. Lois sentiu-se mal em vê-lo partir e repousou a mão no coração, mas sentiu como
se algo a puxasse para algum lugar, ela não sabia para onde.
“Lois? Lois, pode me ouvir? Eu estou aqui, Lois...”
“Chloe?” Lois disse ao reconhecer a voz que soava dentro de sua cabeça, quando tudo ficou turvo.
Fechou os olhos por um breve instante e os abriu novamente, para ver que aquela realidade onde
estava mergulhada havia desaparecido...
***
“Oh meu Deus...” Chloe sorriu ao ver Lois abrindo os olhos lentamente. A jornalista mexeu a
cabeça de um lado para outro, ainda sonolenta, mas então praticamente arregalou o olhar sobre a
prima sentada ao seu lado. Balbuciou, com a voz meio embargada,
“Chloe?”
“Obrigada, Deus!” Chloe disse baixo e voltou sua atenção para Lois, “Hei... Como se sente?”
“Como se minha cabeça fosse o próprio globo no alto do Daily Planet... Nossa, incrível como minha
cabeça se sente assim com frequência!”
“Talvez um dia você consiga essa promoção”, brincou Chloe disfarçando a preocupação com a
prima. “Você nos deu um susto e tanto, lady”
Lois olhou em volta e notou que estava em uma espécie de quarto de hospital, ainda que não
parecesse exatamente com um. O aposento era amplo e incrivelmente ventilado, com uma
vidraça fumê na parede à sua esquerda que trazia uma inacreditável vista para o mar. Havia uma
grande TV LCD de parede ligada no noticiário e uma série de aparelhos de hospital por todos os
lados, mas ainda assim Lois se viu curiosa ao assimilar o ambiente ao seu redor.
“Onde estou? Da última vez que chequei, o plano de saúde do Daily Planet não cobria hospitais
cinco estrelas com vista para o mar...”
“Não está em um hospital”, Chloe disse, confirmando as suspeitas de Lois, “Quer dizer, não um
hospital propriamente dito, mas estas são instalações médicas, não se preocupe...”
“Não estou preocupada”, Lois disse fitando a prima, “Você está aqui comigo, então as coisas
devem estar bem, não é? Por quantas horas eu fiquei apagada?”
Chloe demonstrou algum receio em responder à pergunta, o que chamou a atenção de Lois. A
loira pensou por um momento, procurando a melhor forma de explicar, pois não seria fácil.
“Lois... O acidente que sofreu, bem... Foi grave. Você ficou bem mal por um tempo, mas graças a
sua força, e aos médicos que cuidaram de você super bem, você está novinha em folha. Mas para
que você se recuperasse melhor, eles te induziram a um estado de coma, do qual você não saiu,
mesmo tendo retirado a medicação.”
204
Lois conseguia compreender aquilo, pois se lembrava de tudo o que houvera. Se lembrava do
lugar que estivera durante o coma, se lembrava de Clark.
“Por quanto tempo fiquei em coma?”
“Quase dois meses.”
Aquilo surpreendeu Lois de verdade. Dois meses? Passara menos de uma hora ao lado de Clark
naquele lugar, como era possível? Lois apenas deduziu que o tempo físico não era igual ao tempo
da alma. Ou talvez ela tenha dormido um longo período antes ou depois de vivenciar seu
momento ao lado de Clark. De qualquer maneira, era surpreendente saber que ficara off por tanto
tempo, dois meses lhe pareciam uma vida, principalmente porque Lois se sentia extremamente
lúcida. Olhou para a TV e imaginou o mundo de coisas que deveriam ter acontecido enquanto
estava em coma. Uma delas, contudo, era primordial e Lois perguntou imediatamente.
“E quanto ao Clark?”
Chloe negou com a cabeça, triste por ter que dizer aquilo a Lois, “Ele ainda não retornou, sinto
muito, Lois...”
A morena lambeu os lábios extremamente secos procurando conter sua angústia. Sabia que onde
quer que Clark estivesse, poderia ainda estar ferido, ou coisa pior. Sabia contudo que ele estava
bem, pois sentiu seu coração completo dentro do peito. Ela tinha certeza absoluta que se o pior
acontecesse a ele, ela sentiria metade de sua alma se esvaziando, desprovida de sentido. Ele tinha
que estar bem, seja lá onde estivesse.
“Lois?” Chloe interrompeu o breve devaneio da prima, “Ele vai voltar.”
“Eu sei que ele vai”, Lois respondeu sorrindo brevemente, “O que mais tem para me contar? Além
do fato de eu estar no hospital de Donald Trump?”
“Não sei se tenho alguma notícia realmente boa para te contar...” Chloe procurou contornar, mas
não foi possível. O olhar de curiosidade que Lois direcionou para Chloe foi imediatamente
revertido para a TV quando o noticiário anunciou a repercussão do dia anterior.
“... e a festa foi levada até a manhã dessa terça-feira, com membros do partido republicano e
simpatizantes de McKay. O ex-promotor geral de Metropolis foi eleito ontem como o novo prefeito
da cidade após derrotar o democrata Gilles Dewey com 56% dos votos. McKay assume a prefeitura
de Metropolis tendo como vice o empresário bilionário Lex Luthor, dono da LuthorCorp
Corporation...”
Lois assistiu às imagens da reportagem, vendo Luthor e McKay sobre o palanque comemorando a
vitória. E pela primeira vez desde que acordara do coma, ela desejou estar dormindo
profundamente para que tudo aquilo não passasse de um sonho infeliz.
Mas era real. E era o inferno.
***
205
Capítulo 27
“Eu não acredito, tiro um cochilo de dois meses e de repente o mundo está de cabeça pra baixo!”
resmungou Lois seminua enquanto trocava de roupa ao lado da cama. Ao seu lado, Chloe segurava
uma bolsa grande de couro e uma blusa regata preta, a qual entregou a Lois após a jornalista
vestir a calça jeans.
“Entre mortos e feridos, estamos todos aqui então eu não vou reclamar de nada, Lo”, respondeu a
loira observando através da vidraça fumê do quarto um helicóptero que se aproximava do prédio
onde se encontravam.
Lois seguia nas instalações médicas onde acordara do coma, as quais não eram mais um segredo
graças à explicação de Chloe. Após sofrer o acidente, Lois fora transferida para os laboratórios
S.T.A.R.S. , um complexo tecnológico de alta segurança às margens do rio de Metropolis. Graças às
aquisições em parceria de Oliver Queen e Bruce Wayne, o maior reduto científico de Metropolis
passara a ser um lugar seguro para a Liga de heróis formada por Batman, Green Arrow e
companhia. Lois fora transferida e desde então estivera sob os cuidados dos melhores médicos a
serviço de Bruce Wayne, fazendo com que o paradeiro desconhecido da jornalista servisse de
fachada não apenas para protegê-la de Luthor como para ocultar o sumiço de Clark. Para todos os
efeitos, Clark Kent estivera durante os dois meses ao lado de Lois enquanto esta se recuperava do
acidente sofrido, em um local que somente o dono do DP e alguns funcionários de confiança
tinham conhecimento. A mentira convencera Perry White, que estava mais preocupado com a
saúde de Lois do que qualquer outra coisa, e foi reforçada por uma ligação de Perry para a
Senadora Martha Kent, que confirmou toda a história criada por Bruce e Chloe. Martha foi uma
das poucas pessoas liberadas para visitar Lois e o fez duas vezes, claramente preocupada por ver a
futura nora naquela condição. Já era difícil ter seu filho ausente, e Lois era como uma filha, o que
só partia ainda mais seu coração. Foi um grande momento de felicidade para a Sra. Kent quando
recebeu uma ligação da própria Lois informando-a de que estava melhor e contando sobre o
encontro extra-sensorial que tivera com Clark. Martha sentiu seu coração de mãe aquecido
novamente e agradeceria a Lois eternamente por aquilo.
Ainda assim, não estava sendo fácil para Lois viver os dias com a dúvida sobre o paradeiro de
Clark. Seu coração a pedia para ficar tranqüila, mas era mais forte do que ela. Pegava-se pensando
nele à noite em seus freqüentes momentos de insônia e as visões haviam cessado. Lois implorava
por uma nova chance de vê-lo, ainda que rapidamente, mas o que havia funcionado antes não
surtia mais qualquer efeito. Ela temia pensar o porquê, mas sabia que tinha que ser forte.
“Você faz o que tem que fazer... Por nós dois. Eu sempre estarei ao seu lado, não importa o que
aconteça, Lois. Eu sempre vou estar com você.”
As palavras de Clark martelavam na cabeça de Lois, dando-lhe a força necessária para seguir em
frente. E após quase uma semana se recuperando nas instalações S.T.A.R.S., Lois estava pronta
para voltar pra casa. Vestiu a camiseta preta e jogou os cabelos lisos para trás, prendendo-os em
um movimento rápido com uma piranha de cabelo. Deixou sua tradicional franja tombar para a
frente e a jogou um pouco para o lado, respirando profundamente.
“Ok, estou pronta”, disse para Chloe, “Vamos sair daqui, tipo, imediatamente...”
206
“Yeah, mas você precisa pegar leve, ok?” Chloe advertiu a morena firmando as alças da bolsa de
couro em seu ombro e abrindo a porta do quarto, “Os médicos disseram que você está bem, mas
não quer dizer que deve sair por aí como se não houvesse amanhã”
“Correção, priminha linda: eles disseram que estou 100%. E 100% quer dizer, YAY! Viva La Vida
Loca!”
Chloe lançou um olhar de reprovação para Lois e as duas deixaram o quarto, seguindo pelo
corredor do laboratório. Lois seguiu com o falatório,
“Além disso, não tem como eu ficar de pernas para o ar enquanto Metropolis mergulha na
criminalidade!”
“E o que vai fazer, vestir uma roupa de couro preta e sair por aí combatendo o crime de stiletto?”
provocou Chloe.
“Não é uma má idéia, não sei como não pensei nisso antes..” comentou Lois com sarcasmo.
“O que estou tentando dizer, Lois... É que a briga contra o crime em Metropolis nunca esteve tão
acirrada, e a última coisa que precisa é se envolver novamente em confusão por causa de Luthor e
companhia.”
“Por mais que eu goste de por lenha na fogueira, tenho que admitir que Luthor não teve nada a
ver com meu acidente, eu vacilei nos devaneios, prima”, Lois explicou mais uma vez, “Mas eu
tenho um dever para com Metropolis, e tudo que preciso é do meu bloco de notas e meu celular,
com internet, claro.”
“Não se preocupe, paguei suas contas...” Chloe disse parando diante do elevador com Lois. As
portas de metal se abriram no instante em que elas apareceram e de dentro saiu um rosto
familiar. Oliver Queen, carregando um ramalhete de flores e acompanhado de um outro homem,
sorriu surpreso ao ver Lois.
“Lois! Olha só que maravilha, já de pé, danadinha!”
“Há dias...” Lois respondeu se deixando abraçar pelo ex-namorado, “Pensei que não viesse me
visitar!”
“Desculpa, linda, mas as coisas andaram meio tensas em Star City” Oliver disse dando espaço ao
homem alto e loiro, não tanto quanto Oliver mas tão bonito quanto, que o acompanhava para que
se aproximasse mais, “Quero que conheça um amigo e mais um de nossos super pilares na Liga,
Hal Jordan”
O herói, que usava uma jaqueta da força aérea, já havia cumprimentado Chloe. Voltou-se para Lois
então com um sorriso galante lhe estendendo a mão, “É um prazer conhecê-la e fico feliz que já
esteja melhor, Srta. Lane..”
“Sra. Kent... Quer dizer, quase”, corrigiu Lois com bom humor, “E qual é o seu codinome?”
207
“Mais do que um codinome, eu diria, já que toda o nosso batalhão é conhecido como tal.. Eu sou o
Lanterna Verde.”
Lois lançou um olhar curioso para Hal e também para Oliver, “Lanterna Verde, Arqueiro Verde...
Qual o problema com vocês? E como assim, ‘batalhão’.”
“Hal faz parte de uma força policial intergaláctica, de Lanternas Verdes”, explicou Chloe, “É o
primeiro humano a fazer parte, que tal?”
“Wow” disse Lois realmente impressionada, “E quem paga os impostos que mantém os Lanternas
Verdes? Ok, brincadeira. Só uma última pergunta: por que é verde?”
“O verde é a cor da vontade, é a fonte fundamental de nosso poder”, explicou Hal.
“E porque diabos é uma lanterna? Não podia ser Polícia Verde, Farol Verde, Balde Verde, Loiro
Verde...?”
“Ela é sempre assim?” Hal se voltou para Chloe que sorriu,
“Ela ainda não tomou os remédios, liga não. E então, como estão as coisas por lá?” Chloe
perguntou a Oliver, ela própria alheia aos últimos acontecimentos por ter ficado com Lois quase
em tempo integral.
“Em Star City? É quase a nuvem dos ursinhos carinhosos comparada a Metropolis. Alguém está
financiando bandidos com armamento de primeira, tem sido um inferno combater esses caras.
Aliás, eu nem poderei ficar muito tempo, porque farei vigília em um lugar hoje à noite em
Metropolis, uma pista que vazou e eu vou seguir até onde tiver de ir.”
“Tenha cuidado, Ollie”, advertiu Lois, “Principalmente agora com Luthor no poder... Qualquer
deslize de um herói em Metropolis e eu aposto meu traseiro amassado pelos dois meses de cama
que ele vai usar isso contra a Liga...”
“Ela tem razão, Ollie” completou Hal, “Todo cuidado é pouco.”
“Não se preocupe, e guarde seu traseiro, ok? Vai dar tudo certo” ele disse depositando um beijo
na testa de Lois, “Para onde estão indo?”
“Bruce enviou um helicóptero, vamos para a fazenda Kent”, Chloe respondeu. Oliver se mostrou
tranqüilo com a informação.
“Ok, isso é bom. Qualquer coisa que precisar, o que for, é só nos ligar, ok? Eu irei voando.”
“Na verdade, ‘ir voando’ possui um significado literal para mim, então eu acredito que você não irá
voando exatamente”, Lois brincou com o loiro, mas Hal rebateu assanhado,
“Bem, na verdade então pode me ligar, porque eu irei voando, literalmente...”
“Obrigada, rapazes... E tenham cuidado, por favor.”
208
“Pode deixar”, Oliver piscou para as duas e ele e Hal abriram caminho para que elas entrassem no
elevador em direção ao heliporto.
***
Apenas poucos minutos depois, o helicóptero com Chloe e Lois aterrissou no campo coberto de
neve na fazenda dos Kent e elas seguiram até a casa principal. Shelby correu na direção de Lois
feliz da vida e ela o abraçou emocionada,
“Owwnn, Shelby, que saudades! Ficou aqui sozinho?”
“Não se preocupe, ele está bem alimentado e dormindo no celeiro...” Chloe respondeu diante a
indagação de Lois, “Além do mais, esse cachorro é mais esperto do que nós duas juntas, enquanto
a gente vai com a carne, ele já veio com a ração na vasilha...”
“Eu sempre quis chamá-lo de Clarkie, mas Smallville não entendeu que a intenção por trás era a
menção à super inteligência dessa coisa fofa.”
“Claro que era” ironizou Chloe abrindo a porta principal da casa. Como era de esperar, o lugar
estava bastante empoeirado por estar fechado durante dois meses.
Lois entrou na casa e olhou em volta, lembranças de Clark vindo à sua mente diante de cada
passo. Absolutamente todas as partes daquela fazenda lhe despertavam memórias felizes de suas
vidas juntos.
“Lois, eu vou ter que ir, mas volto mais tarde com o Flash para arrumar tudo, ok? Não faça muitos
esforços, por favor..”
“Pode deixar, prima” Lois disse abraçando-a, “Apenas estou feliz por estar em casa novamente, eu
vou ficar bem.”
Chloe se retirou correndo de volta ao helicóptero e Lois seguiu a caminhar pela casa, até a
cozinha. Imaginou que não deveria ter nada comestível na geladeira, mas enganou-se,
aparentemente Chloe fizera compras e deixara toda a casa surtida.
A jornalista então imaginou o que poderia fazer com seu tempo livre. A única coisa que pensava
era em Clark, em como ele poderia estar. Estaria bem? Estaria a salvo?
Olhou para o pequeno calendário preso à porta da geladeira e notou mais uma vez aquilo que já
estava martelando em sua cabeça desde quando acordara e soubera que haviam se passado dois
meses. Era 23 de Dezembro, dia anterior à véspera de Natal. Dia anterior à data que Clark e Lois
haviam marcado para o casamento dos dois. Ao contrário da maioria dos casais que preferiam se
casar na primavera ou no outono, Clark e Lois escolheram o frio do inverno para se unirem
eternamente, pois acreditavam que era preciso trazer felicidade a uma época do ano tão marcada
por tragédias para Clark. Trariam vida para onde normalmente só havia tristeza. Ao menos era o
que Lois esperava, há dois meses atrás.
Agora, só havia tristeza.
209
“Oh Deus...”, ela disse baixinho, angustiada. Pensou em subir para o quarto, mas aquele era um
lugar de muitas lembranças, ela não queria começar a chorar pela sua ausência. Ao contrário,
queria se sentir forte e tornar o mundo um lugar melhor para que quando Clark retornasse, não
tivesse tanto trabalho.
Mas antes, precisava fazer algo muito importante. Seguiu em direção ao celeiro e revirou as
gavetas da escrivaninha de Clark até encontrar o disco metálico que ali guardara. Lá também
continha um pequeno diário que descrevia exatamente como acioná-lo nas cavernas e Lois leu a
explicação rapidamente, guardando o artefato no bolso e partindo rumo às cavernas.
Rumo à fortaleza da Solidão.
***
De volta a Metropolis, a noite chegara fria e tomara a cidade com uma forte neblina. Aquilo só
complicava as coisas para Oliver Queen, que perfeitamente vestido como Green Arrow, patrulhava
um quarteirão da área industrial do telhado de um prédio de poucos andares. Embora fosse uma
área pouco amigável, era movimentada. Uma avenida passava ali perto e algumas pessoas
caminhavam pela calçada próxima aos prédios, todas bastante agasalhadas por causa da queda de
temperatura brusca.
“Alguma novidade?” a voz de Chloe soou no comunicador preso ao ouvido de Green Arrow e ele
balançou a cabeça negativamente enquanto esfregava uma mão de luva na outra,
“Nada ainda, mas eu sei que eles vão aparecer. Notícias da equipe?”
“Lanterna Verde, Flash e Aquaman seguiram em uma missão na Costa do Japão, Batman e
Zatanna estão em Gotham enfrentando uma nova ameaça, um tal de Black Mask, e para
completar ainda apareceu uma mulher vestida de gato, pode uma coisa dessas?”
“Ah, que isso, elas estão descontroladas...” Brincou Oliver. “Então estou por minha conta por aqui,
certo?”
“Receio que sim... Tome cuidado”
“Pode deixar”, ele disse desligando o comunicador. Pulou para outro prédio e se colocou na moita,
esperando para que a pista que recebera se realizasse diante de seus olhos.
E assim aconteceu. Cerca de vinte minutos depois, um homem magro vestido em um paletó e
gravata surgiu em um dos telhados de um conjunto de prédios abandonados. Carregava consigo
uma maleta e aguardou de forma nervosa, até que um outro homem, alto e forte usando uma
bandana vermelha na cabeça e calça militar, apareceu carregando também uma pasta. Green
Arrow esperou que os dois iniciassem as negociações do que quer que fosse aquilo e se
surpreendeu na hora que o homem de paletó abriu sua maleta e revelou uma quantidade
considerável de pedras verdes dentro dela.
Kryptonita.
210
O outro homem também abriu a pasta e mostrou que havia bastante dinheiro nela. Os dois
iniciaram a troca, mas Green Arrow apontou sua flecha na direção dos dois e atirou, derrubando a
maleta com a kryptonita, fazendo as pedras se espalharem pelo chão. Os dois homens olharam
para o outro lado surpreendidos e deram de cara com o mascarado verde.
“Surpresa!” berrou Green Arrow saltando para o local onde eles estavam. O homem de terno se
preparou para correr, mas foi agarrado pelo outro que puxou uma pequena pistola e a apontou
para sua cabeça.
“Green Arrow, surpresa mesmo!” disse o homem com a bandana na cabeça, “Mas para você, não
é mesmo? Vamos fazer o seguinte: você não tenta dar uma de esperto comigo e eu não abro sua
cabeça em duas, que tal?”
“Com essa pistolinha?” comentou Green Arrow apontando já uma flecha na direção dos dois
homens, “Você terá que fazer melhor do que isso.”
“Ok, então”, concordou o homem, “Que tal essa?”
A pequena pistola se desmaterializou e surgiu em seu lugar uma metralhadora. Green Arrow
observou à cena atônito e o homem que estava sob a mira do de bandana aproveitou para sair
correndo, ele próprio assustado com o que presenciara.
“Mas que diabos..?” indagou Green Arrow, mas o bandido riu para ele,
“E quer algo realmente impressionante?”
Na mesma fração de segundo anterior, o homem jogou a metralhadora no chão e estendeu a mão
na direção de Green Arrow, fazendo com que o arco que ele carregava aparecesse nas mãos do
cara. Antes mesmo que o herói pudesse reagir, o bandido virou o arco na direção do homem que
corria, atirando de forma que uma flecha atravessou as costas do homem e o derrubou do prédio
na sequência.
“Não!!” Green Arrow gritou correndo na direção do homem e dando a chance do bandido escapar
rindo. Mas o mascarado mal podia imaginar que seus problemas estavam apenas começando.
No exato instante em que ele se inclinou à beira do telhado para ver o corpo do homem de terno
morto na calçada da rua, um grupo de curiosos transeuntes olharam para cima e o viram com
clareza apesar da neblina.
“Olhem lá, é o Green Arrow!” gritou uma pessoa, e outra que estava já próxima ao corpo
complementou,
“Green Arrow matou este homem!!”
E em mais uma fração de segundo, Green Arrow sentiu que estava prestes a passar de herói a
vilão.
***
211
Lois chegou à fortaleza e caminhou pelo lugar forrado de cristais até chegar ao seu centro. Se
aproximou do lugar exato onde fizera amor com Clark pela última vez e era quase se pudesse
sentir seu cheiro novamente, o amorno de sua pele contra a dela, de seu beijo suave, arrebatador.
“Você não veio aqui para ficar toda perva, Lois”, disse a si mesma. Olhou em volta mais uma vez
maravilhada com a grandiosidade do lugar, do brilho dos cristais sob sua cabeça e por todos os
lados.
Mas foi de repente que um brilho intenso se vez sobre Lois e ela olhou para o alto tomando um
susto.
“Lois Lane.”
A voz emergiu não de um lugar, mas de todos, por todos os lados. Lois olhou para o brilho, mas
não havia nada ali. Foi então que deu uma olhada em volta e se deu conta de um enorme rosto
transparente projetado em meio a uns cristais no centro da Fortaleza. A projeção estava
observando Lois fixamente, mas ela não teve medo para além do susto inicial. Sabia exatamente
do que se tratava após seu curso básico de krypton que tivera com Clark desde que soubera que
ele era um alien.
Jor-El.
Lois ficou de frente para a projeção do pai biológico de Clark, um pouco nervosa, mas sem perder
a compostura habitual.
“Olá, Sr. El... Desculpa ir invadindo...”
“Eu estava esperando por você, Lois Lane.” disse Jor-El.
“Estava?” Lois achou estranho, mas Clark já havia dito que Jor-El tinha dessas. “Bem, eu vim até
aqui porque Clark, quer dizer, Clark-El, quer dizer, KAL-EL... Ele me disse que eu poderia vir aqui
quando quisesse.. E eu realmente gostaria de estar aqui nesse momento.”
“Você sente falta do meu filho, Lois Lane?”
“Mais do que tudo”, Lois respondeu sentindo uma tristeza repentina ao lembrar das palavras de
Clark no quarto relatando sua missão. Jor-El pareceu adivinhar que era esse o pensamento de Lois.
“A missão que Kara e Kal-El enfrentam é crucial para a vida de todos na terra. Mas acima de tudo,
é o destino de vocês dois que está em jogo.”
“Nosso destino?” Lois ouviu intrigada, “O que quer dizer?”
“O maior desafio de Kal-El não é encontrar o kryptoniano que há nele, mas encontrar o humano. A
semente de humanidade que foi plantada quando ele foi enviado à Terra deveria torná-lo um
herói. Todos aqueles que passaram pela vida do meu filho alimentaram essa semente, mas no
lugar de levá-lo em direção ao seu destino, o conteve cada vez mais...”
212
“Tudo o que Clark viveu o trouxe até aqui, o tornou o herói que ele está destinado a ser” Lois
rebateu discordante de Jor-El, mas ele revidou mais uma vez,
“Não tudo, Lois Lane. Você. Você trouxe meu filho até aqui. Kal-El sempre questionou seu destino
como o último filho de Krypton, mas você mostrou a ele que não há nada a temer. Você mostrou a
Kal-El que ser humano é antes de mais nada aceitar o que é, e que este caminho naturalmente o
levaria aos céus. Você é a humanidade dele.”
“Ele é o meu mundo...” Lois respondeu emocionada, sentindo algumas poucas lágrimas
escorrerem pelo seu rosto, “Eu sei que tenho que ser forte por ele, mas é difícil olhar para os céus
e saber que ele não está lá.”
“Você precisa de Kal-El da mesma forma que ele precisa de você”, disse Jor-El, “E assim como o
mundo precisa de Kal-El, também precisa de você. Você ama meu filho, mas a devoção não deve
segurá-la no chão olhando para os céus... Kal-El se espelha em você, mas tudo depende de qual
espelho você quer ser para o mundo... E para você mesma.”
“Wow... Clark nunca me disse que o pai biológico era um baita psicólogo e life-coach...” Brincou
Lois se sentindo melhor após as palavras da projeção de Jor-El, que se apagou logo em seguida.
Lois fez o caminho de volta e saiu da Fortaleza, surgindo nas cavernas de volta a Smallville. Foi
então que se deu conta de uma ligação perdida em seu celular.
“Acho que a Fortaleza está fora de área, hun?” Ela disse ligando de volta para o número que
apareceu na tela.
Perry White.
“Alô, Perry?”, Lois disse ao celular assim que o editor chefe do DP atendeu, “Sim, estou ótima...
Hun... Green Arrow o quê?”
As palavras de Perry quase fizeram Lois derrubar o celular. Foi o suficiente para fazê-la sair
correndo para Metropolis.
***
A ida até Metropolis foi rápida graças a picape vermelha de Clark. Lois seguiu sozinha de carro até
o DP e correu até a sala de Perry White, mas não sem antes se deparar com a loucura que estava
todo o jornal. A notícia de que o Green Arrow havia matado um homem já havia se espalhado pelo
país, todas as emissoras mostravam o relato de testemunhas e imagens do corpo no chão com a
flecha do herói. Lois chegou à sua área e do elevador já podia ouvir os berros de Perry.
“LANE!!” O editor berrou quando a avistou saindo do elevador e entrando no setor. Lois correu
até a sala do editor que olhava para a televisão, atônito e ao mesmo tempo faminto por uma
headline.
“Perry, o que está acontecendo? Como assim Green Arrow matou um homem?” Lois já entrou
perguntando.
213
“Matou um homem vírgula; matou um homem inocente!”, comentou Perry observando o
noticiário, “Acredita que o cara é pai de família?”
“O que não acredito é que o Green Arrow tenha matado um homem, inocente ou não”, Lois disse
olhando para a TV, mas a imagem seguinte a fez reconsiderar, tal como Perry explicou,
“Alguém tirou uma foto dele depois que o cara caiu, Lane, não há o que contestar, Green Arrow
matou o cara. Agora ele está foragido e a polícia com certeza terá trabalho para pegá-lo com o
time de amigos que ele tem.”
“Time?” Lois questionou o editor com sarcasmo.
“Sim, ele e todos os outros, Batman, aquele herói alien verde também que surgiu agora e que faz
surgir coisas do nada...”
“Lanterna Verde?” Lois questionou mais uma vez.
“É esse o nome dele? Brincadeira, Lois, você passa dois meses internada e já chega dando nome
aos bois, é por isso que eu gosto de você! E por isso mesmo que eu quero uma exclusiva com ele.”
“Com o Lanterna Verde?”
“Não, Lane! Com Green Arrow! Quero saber por que ele matou aquele homem, e sei que você vai
conseguir essa exclusiva. Você sempre consegue.”
“Perry, não acho que seja uma boa ideia...” Lois buscou desconversar, mas Perry foi irredutível.
“Depois que o Superman sumiu, esses heróis tem sido a esperança de Metropolis. Imagina o que
vai ser agora que um deles começou a matar pais de família, Lane. Digamos que uma entrevista
pode ajudá-lo a parecer menos cruel... Se entregar à polícia não vai ser uma opção pra ele, não é?
O cara estará ferrado...”
O celular de Lois tocou novamente, mas dessa vez era uma mensagem de texto. Ela olhou para a
mensagem e olhou para Perry na sequência, determinada,
“Você tem razão, Perry”, Lois disse assumindo a matéria, “Green Arrow tem o direito de defesa e
não irá conseguir a não ser através da mídia. Eu vou correr atrás dessa exclusiva.”
***
Apenas cinco minutos após sair da sala de Perry White, Lois Lane chegou ao telhado do Daily
Planet. Estava escuro, mas ela surgiu no terraço sabendo o que estava procurando.
“Ollie?” Ela disse baixo por cautela. Poucos segundos depois, o loiro saiu das sombras. Estava
ainda vestido em sua roupa de Green Arrow, mas sem a máscara. E sim, estava muito abatido.
“Obrigado por vir... Eu vi você chegar no DP, eu queria conversar com alguém...”
214
“Por que não foi para a Watchtower?” Lois disse preocupada. Fechou a porta de acesso ao DP e
seguiu com Oliver para a parte mais escura do telhado a fim de não chamar a atenção.
“Eu quis ficar sozinho à princípio... Todos pediram para que eu fosse cuidadoso, Lois, mas eu
acabei ferrando tudo!”
“O que realmente aconteceu, Oliver?”
“Eu estava de vigia em uma transação, confrontei os caras, mas um deles realmente tinha uma
habilidade com a qual eu não contava... Me surpreendeu, tomou meu arco e matou o outro.”
“Eu sabia que você não tinha matado aquele homem”, Lois disse aliviada, “Mas há uma foto sua
olhando o corpo, aquilo te complica. Por que se deixou fotografar?”
“Estava atordoado, quando percebi o clique já havia saído, eu não sei” Oliver tentou se justificar,
“Além do mais, do que importa, Lois? Minha flecha está naquele homem.”
“Você tem que dizer a verdade, Ollie! Eu posso dizer a verdade ao mundo por você, mas precisa
me ajudar, quem matou aquele homem?”
“Não sei quem ele era, parecia um ex-militar, usava uma bandana vermelha...” Oliver se mostrou
confuso, “Eu não consigo processar nada direito, Lois...”
A jornalista virou o rosto depressivo de Oliver em sua direção, segurando-o com ambas as mãos,
“Mas você tem que processar, Ollie... Tem muita coisa em jogo aqui, você sabe disso. Precisamos
encontrar este assassino...”
Oliver fitou Lois e sorriu para a morena, “Não é a toa que Clark te ama tanto. Você sabe como lidar
com crises, e olha que as de Clark são sempre intergalácticas... Embora esse seja bem mais cabeça
no lugar do que eu...”
“Clark é um cabeça dura, igual a você”, Lois respondeu, “E ele tem problemas, dúvidas, é teimoso,
comete erros, como qualquer humano... Mas eu confio nele acima de qualquer coisa nesse
mundo, confio que ele sempre fará o que o coração dele diz ser o certo, e para mim é o
suficiente... Por que eu conheço o coração dele... Assim como eu conheço o seu.”
“Eu quebrei a confiança de Clark, Lois”, Oliver disse se sentindo culpado, “Quebrei a sua, de Bruce,
dos demais. Eu falhei com vocês, decepcionei vocês.”
“Este mundo precisa de você, Ollie... E enquanto você assumir o verdadeiro herói que você é,
enquanto você mostrar ao mundo a sua verdadeira face, a do herói que este mundo precisa...
Você nunca vai me decepcionar. E você nunca estará sozinho, estamos todos juntos nisso!”
Oliver buscou assimilar as palavras da amiga jornalista e sorriu novamente, “De onde você tira
tudo isso?”
“Bem, vamos dizer que meus dois sogros foram homens inspirados... E me fizeram aprender uma
coisa ou outra.”
215
“Eu sei que amanhã é um dia especial para você”, Oliver disse buscando ser cuidadoso com os
sentimentos de Lois. “Sei que planejavam se casar amanhã... Eu queria dizer que eu sinto a falta
dele também, sabe?”
“Eu sei”, Lois sorriu de forma gentil para Oliver, “Mas eu ainda espero que seja um dia especial...”
E ela não fazia ideia do quão seria.
***
216
Capítulo 28
A madrugada que se seguiu foi extremamente agitada para Lois, ao ponto de ela sequer poder
voltar à fazenda. Contrariando as recomendações por repouso por parte de Chloe, Lois virou a
noite no DP preparando a matéria de capa sobre o Green Arrow. A mesa de Clark, frente à sua,
estava tão ocupada quanto à dela. Além dos restos de comida, estavam sobre ela o sobretudo de
Lois, um jaleco branco e um conjunto de terno e saia que ela havia comprado na única butique
próxima ao DP que ficava aberta 24h. Precisava estar perfeita para o que estava por vir.
A manchete que continha a exclusiva entrevista com Green Arrow saiu bem cedo tanto nas bancas
como na edição online da revista, e o título era sugestivo, “A verdade sobre Green Arrow: vilão ou
herói?”. Antes que começasse a receber visitas de policiais querendo saber do paradeiro do herói,
Lois saiu já enfurnada em seu perfeito terninho preto, acompanhado de um belo salto e o
sobretudo. Jogou o cabelo de um lado para o outro tentando fazer um visual chique a partir do
desarrumado. Vestiu seu sobretudo cor de marfim ao dar-se conta de que o frio não daria trégua.
Sem problema, ela também não daria.
Um conglomerado de repórteres já estava montado nas escadarias da prefeitura quando Lois
chegou com Olsen, ele ainda extasiado por ter a ace reporter de volta ao trabalho no DP. Os dois
seguiram em meio aos demais e alguns olhares foram lançados na direção de Lois. Inveja,
admiração, reprovação, havia um grande leque de emoções tomando conta dos jornalistas de
plantão, mas Lois não estava muito preocupada com isso. Sabia que sua matéria iria “causar”, mas
sua intenção era unicamente defender a verdade, o que incluía expor Green Arrow um pouco mais
e dar a ele a chance de defender-se.
“Lane, não sei se é uma boa ideia estar aqui nesse momento...”, disse Olsen observando as caras
invocadas dirigidas à Lois a todo momento, mas a morena não se abateu,
“Acha que eles estão revoltados por eu defender o Green Arrow? Por favor, é tudo inveja por não
ter acesso à área dos super VIPs de Metropolis...” ela respondeu já buscando um bom lugar para a
coletiva, “Vamos, Jimbo, já vai começar!”
Os seguranças se colocaram na escadaria separando os jornalistas no púlpito e logo em seguida
apareceu o prefeito McKay, que se colocou diante dos microfones e começou o seu discurso:
“Caros jornalistas, cidadãos de Metropolis. Agradeço pela presença de vocês nessa manhã negra.
Ontem nossa cidade foi manchada de sangue por um desses vigilantes, que temem mostrar a cara
da marginalidade! Um homem de família foi brutalmente assassinado, atingido pelas costas por
este homem que se intitula Green Arrow, mas que na verdade é um covarde...”
“Ele não se intitula Green Arrow, nós o chamamos assim, aff...” resmungou Lois enquanto ouvia o
discurso.
“Como prefeito de Metropolis, posso dizer que nossa força policial fará tudo o que for possível
para evitar que esses vigilantes voltem a manchar nossa cidade com o sangue de inocentes! E isso
começa com a prisão desse marginal que se veste de verde e sai atirando flechas! O Superman
entendeu a mensagem e foi embora para sempre. Mas Green Arrow tem uma dívida com nossa
217
sociedade e se ele tem um mínimo de integridade, irá se apresentar às nossas autoridades e pagar
pelo que fez!”
Em meio a uma nuvem de aplausos dos diversos presentes, Lois se viu indignada e partiu para
questionar o prefeito, mas foi contida por uma mão em seu ombro, puxando-a escadaria abaixo.
Os cabelos loiros de Dinah imediatamente se destacaram e a heroína, vestida à paisana, arrastou
Lois pelo braço até o final da escadaria. Olsen estava concentrado no discurso que continuava e
nem se deu conta do sumiço da parceira.
“O que está fazendo?” Dinah a questionou no momento em que logrou retirar Lois do meio da
multidão de jornalistas.
“Tentando chutar o traseiro do novo prefeito em tempo recorde?” Lois respondeu incrédula com a
reação de Dinah, “Por que me tirou de lá na hora em que eu pretendia colocá-lo no lugar infeliz do
qual ele não deveria ter saído?”
“Não podemos nos expor assim, Lois!”, Dinah reclamou, indicando a Lois a direção do metrô. “Não
cai bem a você defender Oliver assim tão abertamente!”
“Ollie é meu amigo, Dinah, eu tenho que defendê-lo!”
“Eu sei que você quer, eu também quero, mas há outras formas, vamos, venha comigo.”
“Aonde vamos?” Lois indagou parando diante das escadarias que levavam para a subestação de
metrô. Dinah apontou para baixo, descendo ela própria na frente.
“O que acha?”
Lois se deu conta do que pretendia Dinah e a seguiu, um pouco a contragosto. As duas desceram
até a plataforma do metrô e se misturaram aos transeuntes no instante em que o trem
desacelerou para embarque. O movimento intenso já era uma distração, mas elas tinham outro
plano em mente. Entraram no banheiro e aguardaram até que a senhora saísse com sua criança.
Seguiram as duas para a última cabine e entraram juntas no Box apertado.
“De quem foi mesmo essa ideia?..” Lois disse observando Dinah abrir a tampa da descarga e
acionar um pequeno botão escondido, o que fez com que a parede atrás da privada se abrisse.
“Venha comigo”, Dinah disse entrando no corredor estreito e escuro. Lois a seguiu e a parede
voltou ao normal logo após a passagem das duas. Seguiram pela passagem vários metros até que
uma curva fechada para a direita as levou até uma porta. Dinah a abriu e as duas se viram em um
ponto do túnel do metrô, mas fora dos trilhos principais, uma área abandonada. Atravessaram os
trilhos e seguiram até uma parede pinchada. Lois olhou para os rabiscos e percebeu o desenho de
um pequeno olho semelhante ao símbolo de Osíris.
“Está me gozando?” Lois comentou olhando para Dinah e esta indicou que ela tocasse o desenho.
Lois encostou o dedo indicador e ao primeiro sinal do toque, uma projeção esverdeada emergiu
em torno do seu dedo, analisando suas digitais. A falsa parede então se abriu ao meio,
evidenciando ser na verdade a porta de um pequeno elevador. As duas entraram rapidamente e a
porta se fechou, dando início à curta viagem até a base da Watchtower.
218
“Lois Lane. Black Canary. Bem vindas à Watchtower.”
A voz feminina computadorizada anunciou a presença das duas aos que já esperavam por elas na
Watchtower, e quando a porta do elevador se abriu, Lois e Dinah atravessaram um rápido
corredor e entraram no ponto mais alto da torre onde Oliver já as esperava ao lado de Bruce
Wayne, Hal Jordan e Chloe Sullivan. O magnata de Gotham foi o primeiro a cumprimentar as duas,
em particular Lois que ele não via de pé já há um bom tempo.
“Bom tê-la de volta, Lois”, ele sorriu amigavelmente para a jornalista.
“É bom estar de volta”, Lois devolveu o sorriso, “Obrigada pelo plano médico da Liga.”
“Espero que não tenha que utilizá-lo novamente”, Bruce comentou, e Lois realmente riu dessa vez,
“Você não me conhece MESMO... E então, o que ta rolando?”
“Estávamos te observando daqui” Chloe disse apontando para o monitor que mostrava a coletiva
do novo prefeito. Era possível ver Jimmy Olsen buscando Lois com o olhar enquanto tirava fotos.
“Meu querido está perdido lá, coitado.”
“Ele vai superar”, Hal Jordan respondeu, “Vimos você daqui e Dinah foi te buscar, pois precisamos
de um plano conjunto para tirar Oliver da enrascada em que se meteu. Enrascada que
compromete a todos nós.”
“Espera um segundo”, Lois disse abismada com Hal, “Você não deveria estar em uma missão do
outro lado do país?”
“Quando eu disse que chegaria voando, não estava brincando”, respondeu o Lanterna Verde.
Bruce deu sequência,
“A entrevista que você fez com o Arqueiro ajudou a semear a dúvida entre os habitantes de
Metropolis, mas o discurso do prefeito fará tudo regredir novamente. Ao pedir para o Green
Arrow aparecer, ele joga a responsabilidade para Oliver e não sabemos o que pode acontecer a
partir daí. O que sabemos é que tudo foi uma armação para chegar a esse ponto. Lex Luthor
obviamente está usando isso para derrubar a popularidade dos heróis que restam em Metropolis.”
“Mas espera um instante”, Lois interrompeu observando sua prima, Dinah e os três rapazes, “Eu
concordo que isso derrube a popularidade dos heróis, mas não faz muito sentido... Quem está
ganhando méritos com isso é Mckay, e não Luthor.”
“Onde quer chegar?” Oliver questionou.
“Que se é mesmo Luthor que está por trás disso tudo... A intenção dele é outra. Oliver mesmo
disse que o homem que ele encontrou no topo do edifício estava fazendo negócios com kriptonita,
pai de família inocente uma ova! Ele pode ter sido usado como isca, mas inocente não é. E é esta a
minha deixa para investigar mais a fundo toda a história, chegar ao ponto que incrimina Luthor.”
219
Bruce concordou com Lois. “Nesse momento, toda a Liga está comprometida e não podemos sair
por aí a fim de não despertar mais raiva. Qualquer erro pode agravar ainda mais a situação,
precisamos de apoio, e não de rejeição.”
“E manter o low profile é o melhor que vocês fazem.” Lois concordou. Dinah se voltou para ela
disposta a ajudar,
“Do que precisa para seguir com a investigação?”
“Bem, já escrevi sobre muitos crimes em Metropolis, então sei de alguns nomes que podem ajudar
a chegar ao misterioso assassino de bandana vermelha, como Bruno Mannheim, chefão do crime
que sabe tudo o que acontece nessa cidade. Não que dê para chegar ao Mannheim e que ele vá
dizer alguma coisa, mas tem uns capangas dele muito bem informados que circulam pela região
do porto... Por outro lado, tenho uma suspeita em relação ao cara que morreu, seria incrível
conseguir entrar no necrotério mais vigiado do país no momento...”
“Acho que posso ajudar com essa parte”, disse Hal Jordan.
“Terá que ser rápido”, disse Chloe, “O Chefe da polícia vai estar no necrotério daqui a 40 minutos,
tem uma reunião com a Chefe da polícia técnica. É possível que depois da visita dele, levem o
corpo embora...”
“Então temos um plano”, definiu Bruce, “Dinah e eu iremos em busca da identidade do verdadeiro
assassino enquanto Lois e Hal vão ao necrotério. Oliver, você fica aqui com Chloe.”
“Acho mesmo que não vou sair daqui por um bom tempo”, concordou Oliver desanimado, mas
Lois foi até ele e sacudiu seu ombro,
“Claro que vai. Pense nisso tudo como um dia chuvoso, quando não dá pra brincar no parquinho,
ok?”
Oliver sorriu para Lois e ela se retirou, levando o Lanterna Verde a tiracolo. Bruce e Oliver a
observaram, assim como Chloe e Dinah, a qual comentou por fim,
“Ela parece bem. Quer dizer, para quem deveria estar a essa hora subindo ao altar...”
“Lois é uma mulher forte, mas ela está sentindo muito a falta do Clark”, disse Chloe, “Mas eu sei
que ela está transformando essa saudade em força, principalmente hoje...”
***
E Chloe estava certa. Lois concentrava todas as suas forças em ajudar Oliver, particularmente
naquele dia. Concentrava-se em não pensar na saudade que sentia, mas era difícil não pensar,
principalmente quando estava em pleno vôo nos braços de outro homem.
Hal Jordan, já devidamente disfarçado em seu uniforme de Lanterna Verde, pousou com Lois
sobre o telhado do IML de Metropolis. Não havia sido um vôo longo, mas o suficiente para fazer a
adrenalina subir.
220
“O que achou?” perguntou o Lanterna a Lois enquanto os dois caminhavam na direção a uma
pequena passagem no topo do prédio.
“Foi mal, cara... Verde demais para o meu gosto”, respondeu Lois, intrépida como sempre. Os dois
pararam diante de um grande quadrado, “O túnel para o elevador B.”
“Tem certeza que é aqui?”
“Absoluta. Toda vez que um grande crime acontece na cidade, eles levam o corpo para a ala leste
do necrotério. Este elevador é o único que leva até o local. Me deixe o mais perto possível e veja
uma mestre do disfarce em ação...”
“Espero que sim, pois não quero ver uma mestre do disfarce na cadeia...” comentou o Arqueiro
fazendo aparecer uma estranha parafernália no topo do quadrado, arrancando a placa de
concreto que o cobria e abrindo para o túnel do elevador.
“Policiais intergalácticos primeiro” Lois disse e o Lanterna passou pelo buraco e chegando ao
túnel. Com o poder do seu anel, fez surgir uma escada e indicou que Lois descesse por ela. Ele
próprio pulou no poço e caiu sobre o elevador que estava parado há vários metros abaixo.
“Pode pular!” disse o Lanterna, sua voz ecoando pelo poço do elevador até Lois. Ela confiou nos
poderes do herói e se jogou poço abaixo, tendo sua queda aparada por uma cama elástica gigante,
também materializada temporariamente pelo Lanterna Verde.
“Você é cheio das manhas, hein? O que mais sai desse anel?”
“Tudo o que eu quiser”, ele respondeu. Abriu a parte de cima do elevador e desceu com Lois,
acionando-o até o subsolo da ala Leste.
“Sei bem como é, ter sempre algo na manga” a jornalista disse retirando o casaco que usava. Deu
lugar a um jaleco branco.
“Tenho certeza que sabe...” Lanterna respondeu impressionado com a transformação. Em poucos
segundos, Lois pôs oculos, colocou uma meia nos cabelos e jogou uma peruca loira por cima,
fazendo-a idêntica à pessoa na foto do crachá que sacara do bolso de seu sobretudo, este já nas
mãos do Lanterna. Estava transformada em uma legista do IML de Metropolis, pronta para a ação.
“Bem, acho que isso deve servir” ela disse ajeitando a peruca. Virou-se para o Lanterna curiosa, “O
que acha? Pareço comigo?”
“Estou em dúvida, você está entre Sidney Bristow e Dana Scully... Você sabe, tem cinco minutos
para realizar sua mágica investigativa. Boa sorte!”
Lanterna subiu de volta para o teto do elevador e fechou a tampa corretamente, deixando Lois
sozinha. As portas se abriram no necrotério e Lois seguiu já encarnada em seu personagem,
caminhando pelos corredores como se aquilo fosse um trabalho habitual. Havia muitas portas,
mas Lois sabia exatamente para a qual deveria ir, pois avistou dois policiais vigiando uma porta
metálica ao final do corredor. Tinha que ser ali.
221
Lois seguiu tranquilamente e parou diante dos dois homens cumprimentando-os, mas eles
fecharam o caminho.
“Desculpe, Dra., mas somente legistas com autorização”, um deles disse observando o crachá
dela.
“Oh, eu sei, mas pediram uma especialista em digitais, aqui estou.” Lois improvisou, arriscando um
palpite alto enquanto lembrava o nome da chefe da polícia técnica, “A Dra. Kate Murphy pediu
que eu viesse.”
“O Comandante já pegou tudo o que precisava” comentou o outro soldado, mas Lois, ainda que
alertada pelo comentário, agiu com naturalidade,
“Não refiro às digitais do morto, mas sim às possíveis digitais do Green Arrow. Um vídeo chegou às
mãos do Comandante e mostra Green Arrow tocando no homem sem as luvas. Acho que vamos
conseguir pegar o desgraçado... Mas espero poder dar um retorno ao Comandante antes que ele
venha, ou atrasaremos a captura do Green Arrow só porque estou atrasando meu trabalho...”
Lois jogou a responsabilidade para os soldados e eles morderam a isca. Fizeram Lois assinar uma
lista de controle e abriram as portas do necrotério. Ela entrou rápido e esperou que eles
fechassem a porta novamente para seguir até o corpo. Rapidamente retirou seu celular do bolso
do jaleco e descobriu o corpo.
“Olá, senhor fraude...” Lois disse ao ver o corpo do homem morto. A flecha que o matara estava
disposta na cama metálica, ao lado do corpo. Lois a deixou de lado e se concentrou no corpo,
colocando um par de luvas. O frontal não despertava seu interesse em absolutamente nada, mas
ao virar o corpo, se deu conta de uma tatuagem. Seria apenas mais uma se já não tivesse visto
aquela marca em forma de cobra. “Te peguei!” exclamou, tirando uma foto. Olhou em volta
buscando mais alguma coisa, mas um barulho no corredor a deixou alarmada.
“Estão presos no elevador!!” um dos policiais gritou do lado de fora e Lois se deu conta de que era
aquela a sua deixa para sair dali. Ouviu alguns gritos e depois passos em correria. Eram os dois
policiais indo em direção ao elevador em pane. Lois aproveitou para sair da sala e seguir pelo
corredor em direção às escadas, buscando uma forma mágica de deixar o prédio enquanto
Lanterna Verde prendia no elevador as únicas pessoas que poderiam desmascará-la...
***
No porto, Dinah e Bruce Wayne, respectivamente vestidos de Canário Negro e Batman, circulavam
com discrição por trás entre os armazéns de estocagem.
“Não me sinto confortável agindo à luz do dia”, disse Batman com as duas mãos repousadas em
seu cinto multifunção. Canário riu,
“Coisa de morcego, não? Como foram as coisas em Gotham? Soube que andou dando uns
amassos em uma mulher vestida de gato?”
“O nome dela é Selina...” Corrigiu Batman, visivelmente desconcertado. “Estou tentando fazê-la
reconsiderar alguns de seus... métodos de combate.”
222
“Sei... E Zatanna?”
Batman encarou Canário e buscou ser o mais honesto possível “Estar com Zatanna é mágico,
mas... Selina é uma gata.”
Canário sorriu novamente pelo jogo de palavras de Batman, mas ficou séria quando ele a
despertou para algo. Um homem caminhava enquanto tragava um cigarro por trás do armazém à
frente deles. Os dois sumiram em meio aos paletes e surgiram já em frente ao homem, que sacou
uma arma, em vão.
“Olha só, se não é um dos capangas de Mannheim..” Dinah disse com base na descrição física que
conseguiu a partir de Chloe na Watchtower.
“O que querem comigo? Não fiz nada!” O homem disse tentando não aparecer assustado, o que
era particularmente difícil tendo dois heróis mascarados diante dele.
Batman se adiantou, “Vamos cortar a babaquice que estamos sem tempo, ok? Sabemos quem
você é e para quem trabalha, queremos uma informação ou você morre.”
“Há, até parece!”, o homem disse zombando, “Todo mundo sabe que super heróis não têm
coragem suficiente para disparar um berro contra uma pessoa.”
“Pois é, isso era antes” Batman disse sacando um fio metálico de seu cinto e enrolando em torno
da garganta do homem, que derrubou seu cigarro paralisado, “Não viu as últimas notícias sobre
Green Arrow? Claramente alguns de nós tem usado métodos mais efetivos contra criminosos
como vocês...”
“Peraê, cara, pega leve, mano!” O homem pediu realmente assustado, pois Batman começava a
apertar o fio em torno de sua garganta, “Se eu entregar meu chefe, eu sou um homem morto!”
“E o que acha que vai acontecer com você agora?” Canário revidou e Batman complementou,
“Não queremos o lixo do Mannheim. Queremos o nome de um cara que seu chefe deve conhecer.
Ele tem quase a minha altura, forte e usa uma bandana vermelha e roupa militar como se fosse
um veterano. E tem um forte pela arma dos outros, as atrai para a sua mão...”
“Ok, ok, ele não atrai, ele teletransporta, ok?” disse o homem inteirado na conversa de Batman,
que o liberou um pouco para que continuasse falando, “O cara é um louco, parece que ficou meio
desmiolado depois dos traumas na Guerra do Golfo, entende? E ainda tem essa coisa que faz as
armas sumirem de um lugar e aparecerem na mão dele, é realmente tenso! Eu não sei bem o
nome dele, é Dubois, alguma coisa assim, mas chamam ele de Bloodsport!”
“Bloodsport” Canário repetiu olhando para Batman, “Só pode ser ele.”
“Por que estão atrás dele?” perguntou o homem, mas Batman não pretendia dar satisfações ao
criminoso.
“Bloodsport contrabandeia armas para Bruno Mannheim?”
223
“Eu não sei, mano, a máfia não gosta dele, saca? Não dá pra confiar em um cara que tira sua arma
de você...”
Batman encarou o homem por um momento e deu um forte soco nele, fazendo-o apagar. Sacou o
celular e discou para a polícia, sob o olhar curioso de Canário.
“O que foi?”
“Vamos entregá-lo e depois voltar para a Watchtower. Espero que Lois e Hal já tenham voltado.
Isso é pior do que imaginávamos...”
***
Lex Luthor se levantou se sua poltrona em seu escritório e parou próximo à mesa observando as
portas se abrirem. Não pareceu muito surpreso ao ver Lois Lane, impecavelmente vestida,
adentrar sua sala com o olhar desafiador, como sempre.
“Lois Lane... Não sei como expressar a minha felicidade em vê-la bem de novo após o acidente
terrível que sofreu...”
“Então não expresse... Vamos direto ao ponto, sim?”, ela disse se aproximando.
“Aceitei te receber como mostra da minha boa vontade como vice-prefeito.”
“Aceitou me receber porque sabia que se não aceitasse, eu viria da mesma forma e talvez a porta
não ficasse de pé no processo... Mas não estou aqui para chutar seu traseiro, estou aqui para fazer
um acordo com você.”
“Acordo?” Lex riu, “Isso implica que eu tenho algo que você quer... Mas não sei o que você
poderia ter que eu possa querer.”
“A verdade”, respondeu Lois. “Eu sei quem realmente matou aquele homem com a flecha do
Green Arrow, mas mais importante do que isso, eu sei quem realmente era o homem que morreu.
Sua identidade foi alterada para encobrir que ele era um mercenário da máfia europeia
trabalhando para um tal de King Snake, o mesmo que andou fritando gente alguns meses atrás em
Metropolis... E eu sei que quem trocou os registros foi o próprio comandante da polícia de
Metropolis, louco para incriminar um dos heróis mais aclamados da cidade... Mas ele não pensou
nisso sozinho, não é?”
“O que quer insinuar com isso? Você nem mesmo tem provas do que está dizendo, Lane..”
“Pode apostar sua careca lustrada que eu tenho, e elas estarão na capa do Daily Planet logo cedo
pela manhã... Duas capas emplacadas na sequência, não seria meu recorde pessoal, mas eu vou
superar... Não pense por um segundo, Luthor, que eu não iria até o fundo dessa história para
revelar seus planos sujos relacionados à máfia europeia, de Gotham e de Metropolis!”
224
Luthor refletiu por um instante e perguntou por fim, “O que você quer, Lane?”
“O comandante da polícia de Metropolis demitido e um pedido de desculpas ao Green Arrow”,
respondeu Lois.
Luthor riu.
“Não seja ridícula... Um pedido de desculpas? Isso nunca irá acontecer. Green Arrow é um
bandido, Lois.”
“Não, Bloodsport é um bandido, Lex. Assim como a pessoa que tem fornecido kryptonita a ele...
Imagino quem e para quê...”
A menção do nome deixou Lex um pouco mais sério, “Você não tem nada, Lois. Se tivesse, iria a
fundo e incriminaria quem você realmente quer incriminar. Ou vai me dizer que seu interesse em
proteger Green Arrow é maior do que a verdade?”
Lois não ficou para responder. Virou-se para sair da sala deixando sua proposta para Lex, o mais
leve dos acordos que poderia imaginar. Mas o vilão ainda tinha uma carta na manga, sempre
tinha.
“Onde está o Superman, Lois?”
A jornalista parou ao ouvir o empresário mencionar o super, mas não deu a ousadia de virar-se.
“Salvando a todos nós.”
“Mesmo? Engraçado, porque eu andei olhando para os céus e tive a impressão que ele abandonou
a todos. Abandonou você...”
Lois abriu as portas para sair e virou a cabeça sutilmente, olhando para Lex de canto de olho.
“Continue mesmo olhando para os céus, Lex. Nunca se sabe o que pode cair em sua cabeça...”
E então ela saiu, tranquila e com classe. E Lex sorriu novamente, sentindo-se vitorioso apesar de
todos os males.
***
Já era fim de tarde quando Lois Lane, Chloe e os heróis da Liga se reuniram na Watchtower. As
duas primas decidiram se unir a Dinah, Hal e Oliver para compartilhar alguns pretzels e café. Ainda
que os eventos da manhã tivessem tumultuado suas cabeças, todos pareciam um pouco mais
tranqüilos, inclusive Oliver.
Bruce Wayne chegou na WT um pouco depois, após sair de uma importante reunião de negócios.
Se juntou ao grupo negando porém um pedaço do pretzel oferecido por Hal.
“E então? Alguma notícia?”, ele perguntou, mas todos fizeram que não com a cabeça e Chloe
respondeu,
225
“A prefeitura anunciou mais uma coletiva para esta tarde... Não acho que vá acontecer nada antes
dela.”
“Mas vai dar tudo certo”, comentou Hal, “Conseguimos boas pistas e Lois foi bem persuasiva.”
“Eu fui...” Lois concordou mostrando alguma inquietação, “Mas ainda acho que há algo errado.
Tem um alarmezinho na minha cabeça querendo soar...”
“Relaxa, Luthor tem que recuar.” Disse Dinah, “Além do mais, não vai acabar aqui, ainda mais
agora que estamos conectando os pontos.”
“Sim”, completou Bruce, “E esse Bloodsport... Ele é a nossa pista a seguir.”
“Eu só queria dizer, pessoal...” Oliver se levantou da poltrona em que estava e ergueu seu pretzel,
“Que sou muito grato a tudo o que fizeram por mim hoje. Sério, não sei o que seria de mim se não
fossem vocês.”
“Vai chorar?” Dinah provocou, mas Chloe interrompeu apontando para o grande monitor ligado
no noticiário,
“Gente, olha só, vai começar a coletiva!”
Todos se voltaram para o monitor e observaram o evento que acontecia a poucos quarteirões dali,
em frente à sede da polícia de Metropolis. Entre os jornalistas presentes, era possível ver Jimmy
mais uma vez tirando fotos, mas Lois preferiu não ir até lá, acompanhar tudo da WT. O prefeito
Mckay se colocou perante os microfones e ao seu lado o vice-comandante da polícia de
Metropolis e a Chefe da polícia técnica.
“Queridos cidadãos de Metropolis. Minha família. As últimas 24 horas foram marcadas por uma
série de acontecimentos que mancham a nossa cidade pelo crime, mas também pela corrupção.
Intensas investigações mostraram que o assassinato cometido ontem, pelo qual foi incriminado o
vigilante conhecido como Green Arrow, na verdade consistiu em uma cilada para culpá-lo. Não
apenas se tratou de um outro assassino, cujo nome está mantido em sigilo por questões
investigativas, mas também de uma outra vítima, antes considerada um cidadão de bem de nossa
cidade, se revelou na verdade um perigoso criminoso da máfia. Por estas razões, é necessário que
esta administração ofereça um pedido de desculpas ao vigilante Green Arrow. Não significa aceitar
sua ação ilegítima pela cidade de Metropolis, mas sim o reconhecimento de sua não culpa no
referido evento.”
Na WT, todos comemoraram as palavras do prefeito, e Oliver foi tomado pelo alívio em ver a
verdade sendo colocada para todos. Continuaram então assistindo a coletiva até o final da
declaração do prefeito.
“É com muito pesar que declaro ter sido a falsa incriminação um ato deliberado de um funcionário
do alto escalão de nossa polícia. Os registros do morto foram alterados, sem intermediários, pelo
próprio Comandante da Polícia de Metropolis, o nosso Comissário chefe. E por essa razão, o
comandante está sendo afastado do cargo e responderá a processo administrativo, assumindo seu
lugar de forma interina o vice-comandante Tom Dellaporta até que um novo comandante seja
226
indicado pela prefeitura de Metropolis. Dito isso, devo afirmar que por conta dos desgastes
políticos relacionados com esse evento e por razões pessoais, eu renuncio ao cargo de prefeito de
Metropolis, assumindo em meu lugar o atual vice-prefeito, Lex Luthor.”
Um tumulto tomou lugar na coletiva com jornalistas fazendo mil perguntas e surpresos com a
inesperada notícia. Na Watchtower, todos estavam atônitos com a inesperada reviravolta.
“Como assim McKay renunciou?” Chloe comentou chocada, “Como assim Luthor é prefeito
agora?”
“Filho da mãe...”, Lois comentou se dando conta do plano de Luthor e atraindo os olhares dos
outros heróis sobre ela, “Ele planejou tudo, até o desfecho negativo para a prefeitura. Ele sabia
que eu o ameaçaria com a história, ele contava com isso. Planejou a armação do comandante da
polícia, a do prefeito.. Provavelmente chantageou McKay mostrando que era o nome dele que
estava nos papeis por trás da alteração de registro, dos negócios com Bloodsport... Ele armou tudo
para que McKay renunciasse, desde o princípio.”
“Ele desmoralizou a polícia de Metropolis, como ele pode lucrar com isso?” questionou Hal, mas
Bruce tinha sua resposta para isso.
“Desmoralizou a polícia, o que possibilita a ele tomar providências diferentes... alternativas. Em
outras palavras, usar as forças que vem alimentando com esse contrabando de kryptonita. Foi ele
quem forneceu a kryptonita a Bloodsport, e eu não tenho dúvidas de que esse cara está montando
armas em algum lugar de Metropolis, usando a pedra verde como bala, ou coisa pior.”
“Ele nos deu um prêmio de consolação para ganhar a batalha”, concluiu Dinah, e Lois a fitou
claramente irritada,
“Mas não a guerra.”
***
Quando Lois enfim retornou à fazenda Kent, já passava das dez da noite. Saíra da WT e fora até o
Daily Planet, sentindo-se derrotada por ter permitido que Luthor realizasse sua manobra
adquirindo ainda mais poder. O movimento de jornalistas atônitos com a ascensão de Luthor,
assim como Perry, que estava praticamente louco por não conseguir uma exclusiva com o novo
prefeito, fez com que Lois só pegasse suas coisas e tomasse um custoso taxi até Smallville. Se
sentia contente por Oliver poder sair às ruas novamente como Green Arrow e claro, poder olhar
para si sem se sentir um criminoso. Mas todas as coisas boas que ocorreram naquele dia foram
acompanhadas de fatos ainda mais ruins e perigosos. Luthor prefeito era algo que complicaria a
Liga futuramente, que acabaria com Metropolis. Lois pensava e pensava, mas não conseguia
enxergar uma saída.
Ela entrou na casa e observou a poeira que ainda permanecia. Não havia tido tempo para que
houvesse limpeza, mas Lois decidiu esvaziar a cabeça com o trabalho doméstico. Pegou um
esfregão, balde com água e produtos de limpeza, iniciou pela sala e foi até o segundo andar,
limpando absolutamente tudo que viu pela frente. Desde as janelas aos detalhes das peças sobre
os móveis, do banheiro aos quartos, nada escapou da obsessão de Lois.
227
Aquela era a maneira que Lois havia encontrado para limpar ao menos uma das bagunças que
sentia haver provocado. E era também uma forma de esquecer.
Esquecer que era aquele o dia do seu casamento com Clark.
Lois olhou para o relógio da cozinha ao retornar da limpeza dos quartos e se deu conta de que
estava enganada. Passava de uma hora da madrugada, uma hora do dia 24 de dezembro, véspera
de Natal. A data do casamento havia ficado para trás, mas o peso de seu significado só crescia
dentro de Lois. Não porque desejava se casar naquele dia e desejava que tudo tivesse dado certo.
Mas porque sentia a falta de Clark como nunca.
A saudade era tanta que doía. O mundo desmoronava em torno de Metropolis e seu maior herói
estava a anos-luz da Terra. A anos-luz de Lois.
A morena sacou as luvas de limpeza e atirou dentro do balde na cozinha, levando as mãos aos
cabelos e se dando conta do quão desgrenhados estavam. Ela estava cansada pela limpeza,
cansada pelas lutas, por tudo. Sabia contudo que tudo o que precisava era de um bom banho e
uma noite de sono. Estava de volta pela manhã como a intrépida ace repórter, como deveria ser.
Um barulho intenso, no entanto, chamou a atenção de Lois. Era forte e atordoante, como se um
avião estivesse sobrevoando a casa dos Kent com muito pouca altura. Lois largou as coisas de
limpeza e abriu a porta da cozinha, saindo da casa em meio a uma fraca nevada. Olhou para o céu
e se deu conta, realmente algo passava rasante nos céus e muito próximo à fazenda.
Mas não era um avião.
Uma grande bola de fogo atravessou o céu de neve como um cometa, adentrando o milharal e
caindo em um ponto distante da fazenda. Lois assistiu a tudo paralisada, até que reagiu nervosa e
correu até o local. Com todas as suas forças, acelerou por dentro do milharal tomado pela neve,
negando ao seu corpo o direito de qualquer cansaço.
Quando parou enfim ofegante, deparou-se em um clarão no meio do milharal, um misto de terra
queimada e resquícios de neve derretida. Um amontoado de terra mostrava o buraco no qual um
grande objeto havia caído. O que parecia um cometa se mostrou outra coisa.
Uma nave.
“Meu Deus...”, Lois balbuciou com os lábios trêmulos, temendo se aproximar ao mesmo tempo
em que não desejava outra coisa. De repente, uma parte da nave se abriu na escuridão emitindo
um estranho brilho azulado. Lois arregalou os olhos sem acreditar que aquilo estava mesmo
acontecendo.
Um vulto saiu de dentro da nave e se ergueu sobre ela, colocando-se diante do brilho. A roupa
completamente azul, assim como as botas vermelhas e o grande escudo com um suntuoso ‘S’,
teriam chamado completamente a atenção de Lois se ela não tivesse focado antes no rosto do
homem por trás do uniforme. O homem que amava mais do que tudo no mundo, que era sua alma
gêmea, seu Sol.
228
“... C-C-Clark?!”, gaguejou Lois já com os olhos cheios de lágrimas ao ter certeza que era mesmo
ele saindo da nave.
Clark deu um novo passo sobre a nave para firmar-se e olhou para Lois rapidamente, buscando
esboçar um sorriso ao vê-la, mas não foi capaz. Despencou do alto da nave rolando até a terra e a
neve, como um corpo sem vida.
“Clark!!!” gritou Lois desesperada ao ver Clark cair e correu na direção dele o mais rápido que
pôde. Jogou-se ao seu lado de joelhos e o virou sobre suas pernas, apoiando o tronco dele em seu
próprio corpo. Podia ver agora que ele estava muito ferido nas costas e também na cabeça, como
se houvera saído de uma grande batalha.
Mas estava vivo. E estava de volta.
***
229
Capítulo 29
“Clark?! Aguenta, meu amor, aguenta firme! Tudo vai ficar bem!” disse Lois enquanto alisava os
cabelos castanhos de Clark, ainda inconsciente em seus braços. Ela o deitou com cuidado e saiu
correndo novamente, de volta para a fazenda. Entrou no celeiro e caminhou nervosa até uma
prancha de surf, uma de suas muitas tranqueiras guardadas que faziam Clark se perguntar como
uma única mulher poderia ter tantas coisas que jamais usaria. “Nunca se sabe”, foi a resposta de
Lois, e agora ela tinha uma boa função para a prancha. Colocou o objeto na parte de trás da
caminhonete vermelha e entrou no veículo, dirigindo-o até o milharal de modo a ficar o mais
perto possível de Clark. Sabia que não poderia ir muito para neve, ou atolaria. A caminhonete
também não estava com suas correntes de neve nos pneus, o que dificultava ainda mais a direção.
Mas nada disso abateu Lois. Estava determinada a ajudar Clark e o faria com todas as forças e
ideias que lhe poderiam surgir.
Pegou a prancha novamente e parou junto a ele. Sabia bem o quão pesado Clark era e que mesmo
no auge de sua força física, não conseguiria carregar o homem de aço. Colocou a prancha ao seu
lado e fez o corpo do moreno rolar sobre ela. Não precisava imobilizá-lo, mas ter algo que
deslizasse na neve sem machucar Clark já era um começo. Respirou fundo e, bastante angustiada,
se inclinou para baixo e começou a empurrar a prancha e Clark sobre ela, até alcançar a área do
carro. Foram quase dois minutos de trajeto, mas o trabalho maior veio para colocar Clark no carro.
A prancha facilitou um pouco o trabalho, mas o peso de Clark desfalecido era inacreditavelmente
grande. Ela teve que gritar para erguer a ponta da prancha o suficiente de modo que alcançasse a
parte de trás da caminhonete, e depois correu para a outra ponta, erguendo-a igualmente para
que pudesse enfim empurrá-la e deslizá-la para cima da traseira. Não foi fácil, mas Lois não
pensou por um instante sequer que não conseguiria.
Dirigiu de volta para perto da fazenda e parou a caminhonete em frente ao celeiro. Saiu da cabine
e foi para a traseira, e a essa altura Shelby já latia em torno da caminhonete por sentir a presença
de seu dono.
“Clark? Está me ouvindo, Clark?” Lois indagou preocupada. Olhou para o céu escuro e sabia que a
madrugada ainda tomaria um grande tempo antes do nascer do Sol, e se houvesse Sol perante
aquele tempo nublado. “Ok, ok, eu sei o que tenho que fazer, Smallville. Aguenta firme, ok? Você
retornou pra mim...”
E ela tomou o rosto dele em suas mãos e lhe depositou um beijo choroso. Olhou para aquele
uniforme azul colado a todo o corpo de Clark e se perguntou curiosa,
“Cadê o zíper desse negócio?”
***
Clark abriu os olhos sentindo um forte calor tomar seu corpo. O sol começava a despontar no
horizonte e um frio gélido correu seus lábios, anunciando um dia diferente daqueles que ele havia
enfrentado ao lado de Kara.
230
Era uma bela manhã e ele estava de volta à Terra. Ao menos disso se recordava bem.
“Lois?” Clark disse ao se levantar e perceber que estava então sentado sobre uma prancha de surf.
E sobre sua caminhonete, para complicar mais ainda. Como havia chegado ali, não fazia ideia.
Olhou para si próprio e viu seus ferimentos curados pelo poder do Sol. Seu uniforme novo estava
arregaçado até a cintura, expondo seu torso forte ao calor que tanto necessitava para se
recuperar.
Desceu da caminhonete ainda atordoado, mas cada fagulha de confusão se desfazia a cada frame
do lar que invadia seus olhos. Estava quase em frente ao celeiro, o primeiro ponto da fazenda a
receber a luz do Sol naquela manhã. Tudo pareceu devidamente calculado para que ele se curasse
rápido. Shelby correu até ele abandando o rabo desesperadamente após vigiá-lo por todas
aquelas horas. Clark o abraçou feliz da vida,
“Shelby!! Meu garoto, que saudades! Se comportou bem, não foi?”
Shelby abaixou a cabeça e seguiu em torno de Clark agitado, uma resposta dúbia que divertiu o
super como sempre. Mas ainda faltava algo para que se sentisse realmente em casa. Faltava ela.
Clark olhou ao seu redor buscando Lois, mas não havia sinal dela. Ele se lembrava de sua visão
quando a nave impactou contra a terra, mas tudo se apagou e ela não estava mais lá, embora tudo
ao seu redor indicasse que Lois estava por perto.
Decidiu não imaginar mais. Concentrou-se no som mais familiar do mundo depois da voz dela: seu
coração.
As batidas aceleradas puderam ser ouvidas tão rápido quanto a velocidade que Clark usou para
chegar até elas. Superacelerou até o local onde Lois estava e a avistou com uma pá na mão,
cobrindo os destroços da nave. Estava assanhada e visivelmente cansada pelo trabalho que,
aparentemente, se arrastara por horas. Parte da nave havia sido coberta com neve e terra, mas
um bom pedaço dela – o maior – continuava à mostra.
Lois voltou-se para Clark ao sentir sua presença e sorriu, tentando jogar alguma razão por cima da
forte emoção que estava sentindo naquele momento, “Eu não podia deixar ninguém ver esse
elefante branco no meio do milharal, não é Smallville? Será que não dava pra chegar sem fazer
tanta bagunça? Tipo, um trenó não estava descartado, considerando o dia de hoje...”
“Que dia é hoje?” Clark perguntou enquanto se aproximava de Lois, sentindo seu coração bater
tão forte quanto o dela.
“O mais feliz da minha vida?” Lois respondeu correndo e saltando nos braços de Clark. Seus lábios
se encontraram com os dele tão rápido quanto ela foi capaz de processar que ele estava inteiro e
bem novamente. “Quase morri de saudade...”
“Não acredito que tenho você nos meus braços de novo...” Ele sussurrou emocionado abraçandoa e tirando-a do chão. Quando a colocou no chão novamente, sentiu as pernas de Lois
fraquejarem. Ela própria não havia se dado conta do quão cansada estava. Não até aquele
momento, mas nada mais importava.
231
Seu mundo estava de volta.
***
Alguns instantes depois, a nave já estava devidamente enterrada e não havia vestígios de sua
chegada, pois Clark tratou se jogar uma boa porção de neve sobre a terra revirada. Carregou Lois
de volta para a fazenda e se surpreendeu ao ver os enfeites de Natal sobre a mesa da cozinha.
“Eu estava prestes a montar a decoração, mas aí você meio que entrou pela chaminé...” Lois disse
descendo do colo de Clark.
“Sério, que dia é hoje?”, ele perguntou abismado.
“Véspera de Natal” a morena esclareceu. Clark se viu chocado por ter passado tanto tempo fora,
para ele tudo pareceu tão rápido. Ele caminhou até o sofá e sentou-se, como se esperasse que a
ficha caísse. Lois foi ao seu encontro e sentou ao seu lado, “O que houve lá, Clark?”
“Kara e eu fomos até Mistral, mas as coisas não foram simples. Fomos atacados pelos fantasmas
da Zona e ficamos perdidos no deserto em busca do cristal... Quando enfim o encontramos, eu o
toquei e fui lançado a uma outra realidade... E eu te vi lá. Em um barco, você estava triste e
precisava de ajuda. Eu estava triste também, mas nós conseguimos superar aquele momento
vivendo um para o outro. Eu te dei minhas forças e você me deu as suas... E então eu retornei.
Kara disse que o cristal lançou uma descarga de energia em mim e me deixou desacordado por
horas. Mas então tudo ficou diferente, como se o cristal me aceitasse. Consegui colocar os
fantasmas de volta na Zona e então eu o usei novamente e fui lançado a mais outra realidade,
uma na qual Krypton ainda existia, e meu pai Jor-El. Conversamos, Lois... E ele me deu esta roupa,
me disse que eu estava pronto para usá-la...”
Lois observou o uniforme azul que agora estava cobrindo apenas a parte de baixo do corpo de
Clark. Ela lançou um olhar curioso e Clark se levantou, vestindo a parte do torso de novo.
Curiosamente, os lugares onde antes haviam rasgões estavam completamente restaurados, e Lois
pôde ver a espécie de colante azul em sua perfeição. O uniforme era quase uma segunda pele no
corpo de Clark, detalhando seus músculos de maneira suntuosa, para não dizer sexy. O grande S
no peito era sem dúvida o que havia de mais impactante, mas a sunga vermelha com o cinto
amarelo arrancou um sorriso da intrépida jornalista.
“Não gostou?” Clark perguntou se divertindo, mas preocupado com a opinião de Lois. “O que
foi?!”
“Nada, é que...” Lois fitou Clark de cima a baixo, “É só que falta alguma coisa nesse azul todo.”
“A única coisa que me faltava, não falta mais..” Clark disse levantando Lois do sofá e puxando-a
gentilmente para si, “Me desculpe por ter ficado longe tanto tempo...”
Lois sentiu a última fagulha de tristeza pelos dias que vivera ficar para trás. Encarou Clark
apaixonada e depositou um beijo saboroso em seus lábios. Ele sentiu-se como da primeira vez em
que foi capaz de flutuar graças aos braços de Lois. Ela o trouxe para o sofá novamente, sentandose sobre as pernas dele.
232
“Clark... O que você disse sobre me encontrar em outra realidade... Aquilo realmente aconteceu.
Eu me lembro do barco, eu estive lá.”
“Como?” Clark se perguntou tentando compreender, “Mas se era você... Você não estava bem...”
“As coisas ficaram loucas em Metrópolis depois que você saiu, tantas coisas, a volta de Luthor, a
Liga, os crimes... Eu tinhas essas visões suas em um outro lugar, me chamando... E teve esse dia
em que sofri um acidente e entrei em coma por várias semanas...”
“Acidente? Coma? Semanas?” Clark repetiu assustado.
“Dois meses, pra ser mais exata...” disse Lois tentando não apavorá-lo tanto, “Mas eu já me
recuperei! E eu só posso pensar que passei dois meses com você naquele barco, pois tudo o que
me lembro é de ter estado com você, e o que pareceu um instante, durou uma eternidade...”
A angústia de Clark por saber que Lois havia estado ferida foi dando lugar aos poucos a uma
sensação de tranqüilidade. Ela realmente estava bem, Clark fez questão de analisar
microscopicamente e se certificar de que não havia um osso sequer fora do lugar, ou mesmo um
músculo luxado. Ela estava perfeita, e seus olhos brilhavam porque o encaravam depois de todo
aquele sofrimento. Ele a abraçou com firmeza e a trouxe de encontro a seu peito, fazendo-a
repousar após tantas batalhas, internas e externas.
E foi ao som de um coração de aço que ela pôde finalmente adormecer em paz.
***
Na watchtower, Chloe e Oliver acompanhavam as notícias do mundo através dos vários
monitores. Em um deles, reprisavam mais uma vez o discurso de Luthor assumindo a prefeitura de
Metropolis.
“Não acredito ainda que esse canalha conseguiu”, disse Oliver visivelmente irritado, “Depois de
tudo o que passamos para livrar Metropolis das coisas ruins, a pior delas se instalou no poder
definitivamente!”
“Calma, Ollie”, Chloe disse desligando o monitor com Luthor, “Agora que temos a Liga, sabemos
que há como deter toda essa loucura, tem que haver um modo. Não podemos perder a
esperança... Quando Lois sofreu aquele acidente, por um momento eu achei que estivesse tudo
perdido. Eu temi perder a minha prima querida, eu temi o pior. E também sabia que se Clark
houvesse retornado e descobrisse que Lois não estava mais entre nós... Nós o perderíamos
também.”
“Você acredita que aquele filho da mãe vai voltar?” Oliver perguntou preocupado, mas não
perdeu a piada, “A essa altura ele já deve estar fazendo filhos em alguma alienígena tesuda por
aí...”
“Ele não é você, Ollie!” Chloe defendeu sorrindo, mas não negou a preocupação também, “Onde
quer que ele esteja, sei que deve estar pensando em voltar.”
233
“Na verdade, eu estava pensando em como esse lugar ficou bonito... Embora falte um pouco de
azul nele.”
Tanto Chloe como Oliver escutaram aturdidos à voz que surgia na Watchtower sem ser anunciada,
mas reconhecida em sua tonalidade grossa, assim como em sua ternura. Os dois se viraram para a
entrada e deram de cara com o homem alto, vestido para o trabalho e usando os inconfundíveis
óculos que o separavam do Superman. Ele os ajeitou levemente sobre o nariz e sorriu perante os
olhos arregalados dos amigos.
“Clark! Meu Deus!” Chloe disse correndo na direção dele e abraçando-o.
“Estava nos ouvindo esse tempo todo?” Oliver disse indo até o amigo e dando-lhe igualmente um
forte abraço.
“Ouvi tudo, mas ainda estava lá no Daily Planet quando vocês começaram com a coisa de não
perder a esperança, etc..”
“No Daily Planet? Pirou?” Chloe o repreendeu, “Você não pode aparecer por lá junto com o
Superman! Quero dizer, Superman e Clark Kent não podem sumir e retornar no mesmo dia!”
“Oh, sim, mas Clark Kent ainda não retornou ao Daily Planet. Passei lá para deixar Lois, ela dormiu
um bocado na parte da manhã e insistiu horrores que queria trabalhar à tarde...”
“Ela deve estar aprontando alguma” Oliver deduziu e Clark concordou.
“Aprontar é o codinome dela. E vocês? Como estão as coisas?”
“Bem, fora Luthor prefeito, Oliver quase criminoso e uma cidade inteira para vigiar... Tudo está
ótimo, principalmente agora que você está de volta, e bem!”
“E quanto ao que você foi fazer, cara? A forma como você saiu deu uma chacoalhada em todo
mundo...” Oliver comentou e Clark buscou ser sucinto em sua resposta.
“Posso apenas dizer que a experiência que vivi me fez ter mais certeza do que eu represento para
a humanidade, e do que a humanidade representa pra mim. A energia que eu tinha comigo se
tornou ainda maior por amor às coisas que acredito, às pessoas em que confio e amo... Eu voltei
diferente... Voltei mais forte.”
“E vamos precisar de cada gota dessa força”, Chloe respondeu sentindo a esperança tomar conta
de si por completo ao ver um Clark tão confiante. “O mundo precisa de você mais do que nunca,
Clark.”
“Eu não vou desapontá-lo”, Clark disse repousando a mão no ombro da amiga.
Ainda se olhavam quando uma notícia chamou a atenção dos três em um dos monitores ainda
ligados. A imagem mostrava o centro de Metropolis, onde um homem estava perigosamente
pendurado a um guindaste no alto de um edifício em construção. Os bombeiros tentavam alcançálo, mas a queda do próprio guindaste era iminente.
234
“Oh, Deus!” Chloe disse ao se dar conta da gravidade da situação. Voltou-se para Clark
novamente, mas ele não estava mais ao seu lado e de Oliver. Tudo o que restara era o par de
óculos jogado ao chão.
No topo da Watchtower, Clark arregaçou a camisa e a gravata que usava e evidenciou o imenso S
em seu peito. Deitou toda a roupa jogada na pequena abóbada sobre o telhado do prédio e se
jogou nos céus como um foguete azul em direção ao local do acidente.
No centro de Metropolis, a população se via cada vez mais apreensiva, mas o total desespero
tomou conta de todos no momento em que o guindaste instalado no alto do prédio desprendeu
com o homem e começou a cair. Em meio a gritos, nem todos perceberam a figura azul cruzar os
céus na direção do guindaste.
“O que é aquilo? É um pássaro?” gritou um homem.
“Um avião?” berrou uma senhora.
“É uma arara azul!” berrou uma criança no colo de seu pai, mas uma outra mulher gritou logo
depois,
“Não, gente, é o Superman!!”
Todos olharam para o céu e viram o Superman fazer uma rasante agarrando o homem e contendo
sua queda, ao mesmo tempo em que levantou o braço e segurou, com uma pegada, a coluna do
guindaste que por muito pouco não atingiu o chão.
“Gente, o Superman voltou!!” gritaram alguns mais afoitos enquanto aplaudiam o feito do Super.
Em pouco tempo, todos aplaudiam e ovacionavam o herói em seu novo uniforme azul, até mesmo
os bombeiros que até então arriscavam suas vidas no difícil resgate. Superman entregou o homem
aos bombeiros e levantou vôo até o alto do prédio em construção, acenando para todos de forma
que toda a cidade pudesse ver que ele estava mesmo de volta.
Na Watchtower, Chloe e Oliver assistiam contentes ao resgate feito pelo Superman e trocaram um
grande sorriso, certos de que tudo iria ficar mesmo bem com o retorno do maior herói de
Metropolis.
Já no Daily Planet, a maioria dos jornalistas presentes tinha seus olhos voltados para uma enorme
TV de LCD presa à parede, e a imagem que dominava era a do Superman, flutuando sobre
Metropolis como um Deus, mas sorrindo para seus habitantes como um humano. Lois Lane, que
acabava de chegar à sua sala carregando consigo uma caixa para presente, ficou orgulhosa ao ver
Clark já em ação na cidade e com tamanho estilo. Jimmy Olsen surgiu por trás dela com um grande
sorriso, agitando sua câmera fotográfica como um troféu,
“Lois, não vai acreditar! Eu estava lá e tirei ótimas fotos do retorno do Superman! Mal posso
esperar para entregar ao pessoal, tem foto pra capa do jornal de amanhã, para o nosso twitter,
nossa página no facebook...”
235
Lois sorriu contagiada com a felicidade de Jimmy, “Muito bem, Jimbo! Nada melhor para derrubar
a popularidade do nosso novo prefeito, não é mesmo? Ele vai ter que meter a careca dele entre as
pernas e engolir essa!”
“Pergunta idiota a minha, mas é você quem vai escrever sobre o retorno do Super?”
“Não dessa vez”, Lois sorriu e se retirou antes de ser vista pelo eufórico Perry White.
***
Não muito distante dali, uma outra pessoa acompanhava os noticiários, mas seu semblante não
era de euforia. Lex Luthor estava em sua confortável poltrona na LuthorCorp e as imagens em sua
TV mostravam que seu maior inimigo estava de volta.
E então seu celular tocou.
Lex levou a mão ao aparelho e atendeu com a certeza de quem era, “Então você está de volta, não
é?”
Superman, que estava flutuando a vários metros da LuthorCorp, mas podia observar Luthor por
completo através das vidraças, segurava o celular com firmeza e confirmou a informação, “Este é o
meu lar, não poderia estar em outro lugar.”
“Seu retorno tornará o desafio mais interessante, Clark...”
“Estarei de olho em você, Luthor. Não esqueci do que é capaz.”
“Oh, por mais super que você seja, não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.. Há
lugares, inclusive, em que você sequer pode estar, não é mesmo?”
Sabendo que o Super o estaria observando, Luthor caminhou para perto da vidraça e exibiu o anel
de kryptonita. Sua mensagem era clara, mas o Super não se viu intimidado.
“Isso não me impedirá de lutar contra você, Luthor. E você irá perder.”
“Veremos” disse Luthor diretamente a Clark, desligando o celular. O viu tomando vôo novamente
e percebeu que as coisas não seriam mais tão simples quanto pareciam ser.
***
Várias horas depois, na fazenda Kent, Lois estava de volta. Já era noite quando ela saiu do taxi e
caminhou na direção da casa escura carregando uma caixa de presente. Para a sua surpresa, Clark
a esperava sentado no sofá de balanço.
“Oi...”, ele disse com um sorriso curioso, quase moleque.
“Oi...”, ela respondeu. “Já em casa?”
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“Há um bom tempo, tinha que fazer umas coisas... Não quis que eu te trouxesse de Metropolis,
por quê?”
“Eu tinha que fazer uma coisa...” ela sorriu evasiva e Clark dirigiu o olhar para a caixa.
“O que é?”
“Um presente... Não tente o raio-x, há uma caixa de chumbo dentro.”
“Eu percebi” Clark confessou. Já havia tentado olhar no exato instante em que Lois deixou o taxi,
sem sucesso. “Bem, eu acho que vamos ter que dar uma improvisada hoje à noite...”
“Yeah, desculpe por não ter preparado o terreno para o Natal..” Lois disse, mas Clark sorriu para
ela.
“Não se preocupe. Eu estava pensando que poderíamos passar o Natal em algum lugar fantástico,
em uma festa na Times Square, em Paris... Mas não há lugar como o lar, não é?”
“Definitivamente não”, Lois concordou e Clark se levantou, colocando-se diante dela e afagando
sua mão direita onde estava a aliança de noivado, “Feche os olhos”
Curiosa com o que Clark poderia estar planejando, Lois fechou os olhos sem perder o discreto
sorriso nos lábios. Clark a fez levantar e a guiou para dentro da casa. Caminhou guiando-a pela
completa escuridão até parar no meio da sala.
“Abra os olhos.”
Lois os abriu e se viu mais curiosa ainda. A casa estava realmente um breu, não era possível ver
um palmo à frente do nariz. Tudo o que ela podia ver era o olhar brilhante de Clark sobre ela,
envolvendo-a em uma bolha de amor. Ele sorriu e apertou um pequeno botão que segurava
escondido de Lois. Aos poucos, bem lentamente, pequenas luzes começaram a ascender por toda
a sala, correndo em direção á cozinha, às escadas e até mesmo ao lado de fora. Em instantes, a
casa estava completamente iluminada por pisca piscas de Natal, e a cada luz acesa, se revelava
também um detalhe da decoração feita por Clark de última hora, mas que era perfeita. A mesa de
jantar se revelou tomada por comidas típicas, e até mesmo a árvore de Natal, esta bem próxima a
Lois, estava completamente decorada e cheia de presentes aos seus pés.
Os olhos da jornalista se iluminaram, assim como seu sorriso que tomou Clark como um imenso
agradecimento. Lois olhou em volta para tudo, encantada com o gesto majestoso de Clark em
transformar a casa daquela maneira. Pulou nos braços dele e o abraçou com tanta força que se ele
não fosse de aço, teria cedido fácil sobre o sofá. Clark a envolveu contente por ter o seu maior
tesouro em seus braços, sã e salva.
“Está tudo tão lindo, Smallville... Não sei o que dizer.”
“Mas eu sei o que dizer... Te amo, Lois. Te amo, tanto que mesmo que eu grite para o mundo
inteiro ouvir, ainda assim esse amor continuará aqui dentro de meu peito, só seu...”
“Eu também te amo, Smallville... Te amo, Clark.. Te amo, Kal-El..”
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“É uma longa lista de nomes”, Clark retrucou sorrindo.
“Você sabe que sempre fui gulosa...” Lois respondeu colocando seus braços em torno dos de Clark
e fitando seus olhos. Clark compreendeu o recado e se inclinou na direção dela beijando-a
sutilmente, até deixar que seus lábios tomassem os dela com voracidade. Beijá-la era sempre
como a primeira e a última vez. Era sempre como descobrir o gosto de seu amor e, ao mesmo
tempo, eternizá-lo em sua memória. Era a maneira que a vida havia encontrado para dizer-lhe que
aquele amor era o elixir que o tornava o humano, e o herói.
Lois desgrudou dos lábios de Clark apenas para encará-lo. Estava apaixonada, tudo outra vez.
Sentiu-se envolvida em uma bolha que os separava do mundo, que os unia em todas as dimensões
possíveis e inimagináveis. Era seu mundo, por completo.
“Venha”, Clark disse a guiando até a mesa, “Vamos brindar a este momento”.
Os dois pegaram taças de vinho e Clark abriu uma garrafa já preparada para o momento. Serviu
Lois e a si próprio e tocou de leve sua taça na dela, deixando que o pequeno estalido dos cristais
em contato fosse levemente ouvido,
“Ao futuro. Ao amanhã.” Disse Clark.
“Às coisas que duram para sempre...” completou Lois, enlaçando tradicionalmente seu braço no
de Clark para que pudessem beber o vinho juntinhos. E estavam tão juntos que não puderam
resistir a ir além do brinde. Lois deu um leve beijo no braço de Clark, depois em seu ombro, e logo
subiu para a boca novamente. Mas ela tinha outra coisa em mente.
“Eu tenho um presente para você” ela disse olhando para a caixa que deixara cair sobre o sofá no
momento em que entrou na casa na escuridão. Clark sorriu, curioso como ainda estava,
“O que é?”
“Eu preciso que você vista o uniforme.”
Clark não compreendeu o porquê, mas em menos de um segundo já estava diante de Lois com seu
novo uniforme azul. Ela passou a mão no peito dele, sentindo o relevo do grande S que marcava o
alto de seu torso. Caminhou até o sofá e pegou a caixa, indo em direção ao amado.
“Eu realmente achei que estava faltando algo... No dia em que te conheci, eu te embrulhei com
algo assim. E hoje eu acho que é exatamente disso que você precisa...”
Lois segurou a caixa e pediu que Clark a abrisse. Era praticamente um cofre de chumbo, mas Clark
abriu cuidadosamente e se deparou com a surpresa. Estava dobrado, mas parecia um tecido
vermelho, lustroso em seu brilho vivo, mas tão resistente como o próprio uniforme do super. Lois
retirou a peça de dentro da caixa e segurou em suas mãos, emocionada,
“Me levou tempo para perceber que todo herói precisa de uma capa, Clark.. Algo para guardá-lo,
para protegê-lo, abrigá-lo, esquentá-lo... Eu sempre cobrirei sua retaguarda durante o dia, e
sempre te manterei aquecido às noites... E enquanto estiver lá fora protegendo o mundo, quero
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que use isto e se lembre de mim... De que sempre estarei com você, não importa o que
aconteça..”
Clark não teve palavras para responder à declaração de Lois. Apenas deixou que ela abrisse a capa
vermelha e jogasse sobre seus ombros, envolvendo-o. Clark segurou o longo tecido, ainda solto
em seu corpo e puxou Lois para debaixo dele. A abraçou e a envolveu com a capa junto a ele,
mostrando em gestos aquilo que ela já havia expressado em palavras.
E se beijaram uma vez mais, como se fosse a primeira e a última vez.
***
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Capítulo 30
Uma brisa fria acompanhou a nevada fraca que tomou a madrugada de Natal. Lois e Clark estavam
deitados sob a árvore de Natal, seus corpos estirados no chão em sentidos opostos, com suas
cabeças coladas uma na outra. Os dois olhavam para a neve que caía do lado de fora da fazenda,
mas através da perspectiva única por baixo das folhas verdes do pinheiro recém cortado, tomado
pelo brilho dos pequenos e delicados enfeites coloridos. Eles não sabiam mais precisar há quanto
tempo estavam deitados ali, mas as preciosas horas na companhia um do outro serviu para que
Lois contasse absolutamente tudo o que havia acontecido na ausência dos dois, da mesma forma
que Clark pode relatar a Lois toda a sua aventura ao lado de Kara. Clark já estava vestido em uma
de suas tradicionais camisas de flanela xadrez, as quais Lois só permitia que fossem usadas em
casa, afinal, Clark Kent precisava ser caipira para diferenciar-se ao máximo do Superman, mas nem
tanto. Ela própria gostava tanto da camisa que estava também enfurnada em uma, e nada mais.
“Não está com frio?” perguntou Clark.
“Ta brincando? Com você tão perto a mim? É uma improbidade física, Smallville.”
“Improbidade? Andou lendo o dicionário na minha ausência também?”
“Nem mesmo o guia de Monster Truck Rallies deste ano. Quando não estava largada na cama,
estava trabalhando para comprar o leite das crianças...”
“Crianças?” Clark virou seu corpo de lado e lançou o olhar em direção à barriga de Lois. “Será que
deixei passar algo no raio-x?”
“Ainda não, Smallville”, Lois sorriu virando de lado também, e seus olhares se encontraram, ainda
que de ponta a cabeça.
“Gostei do ‘ainda não’”, Clark sorriu de volta, “Acha que podemos ter filhos normalmente?”
“Acho que podemos ter filhos sim, mas normais... Não com os pais que possuem... Serão lindos
como você e inteligentes como eu.”
“Ah não, lindos como você e inteligentes e fortes como eu”, rebateu Clark em protesto.
“Que tal... Resistentes como eu... E com um coração de ouro, como o seu...”
Clark sorriu mais uma vez. Lois era puro encanto e ele não se cansava de amá-la por um só
instante, principalmente quando o assunto envolvia um possível fruto do amor dos dois.
“O que foi?” Lois perguntou curiosa com o olhar mais do que apaixonado de Clark sobre ela.
“Eu não consigo imaginar uma felicidade maior do que ter um filho contigo... Do amor imenso que
te une a mim... Pode imaginar, uma pequena Lois correndo de um lado para o outro?”
“Mas será um menino! Eu vou enlouquecer com uma menina, Smallville, principalmente se ela...”
240
Clark interrompeu com bom humor, “... Tiver metade do seu gênio?”
Lois ponderou na resposta, “Um terço da minha teimosia...”
“Não importa o sexo, vou amá-la desde o instante em que ela passar a existir aqui dentro” Ele
disse tocando a barriga de Lois com ternura.
“E fantasticamente, você saberá o momento... Mas é claro que para isso precisamos iniciar as
máquinas...”
Lois sorriu maliciosamente, “Não posso negar, tenho fome do seu corpo, cada pedacinho dele...”
“Uns pedaços mais do que outros”, Clark disse deslizando a mão pelo rosto de Lois e retirando o
cabelo que temia em cair sobre seus olhos, “Lois... Eu estive pensando... O que está por vir vai
exigir um pouco mais de nós dois... Talvez seja o momento de nos mudarmos para Metropolis.”
A proposta de Clark pegou Lois um pouco de surpresa. Ela seguiu escutando-o atentamente.
“Eu não confio em Lex. Não confio nas loucuras que ele pode aprontar, principalmente depois de
tudo o que me disse que aconteceu. Vamos iniciar uma grande batalha, e temos que estar focados
em nossa felicidade, mas também em sua segurança. Eu não ficarei tranqüilo sabendo que você
está aqui em Smallville. Eu sou rápido, mas temo que não seja rápido o suficiente se acontecer
algo...”
“Eu entendo, Clark. Eu acho que morar em Metropolis é um passo natural para nós dois,
trabalhamos lá, a Watchtower está lá... Eu sempre achei que seria difícil pra você deixar a fazenda
dos seus pais para trás, então adiei essa conversa...”
“Eu sei que minha mãe voltará para cá quando o mandato dela acabar. Este lugar significa muito
para mim, mas o futuro... O nosso futuro não está aqui. Você não nasceu para viver em uma
pequena cidade, vivendo com um caipira... Você nasceu para fazer coisas grandes, Lois.
Independente de mim, sua vida está em Metropolis. Sua carreira, amigos.”
“Meu coração estará onde você estiver, Clark”, Lois disse alisando o rosto do amado, “Não
importa onde seja. E se é para ser em Metropolis, que seja incrível a nossa jornada...”
Ele aproximou seu rosto do de Lois, beijando-a, “Algo me diz que será...”
***
O Natal passou tão rápido quanto Clark e Lois puderam processar, ou vivenciar. Alguns poucos dias
depois e já estavam na véspera de Ano Novo e às voltas com a escolha da nova casa em
Metropolis. Clark ainda não havia retornado ao trabalho no Daily, tudo para que ninguém
percebesse a coincidência de seu retorno próximo ao do Superman. De todo modo, Metropolis
havia sido tomada por uma calmaria sem igual, e o próprio Superman não havia ainda dado as
caras desde o resgate do homem no guindaste. Não porque não estivesse disponível, e sim porque
nada acontecera que exigisse sua ação. Era maravilhoso, mas estranho. De todas as pessoas, Lois
241
era a mais intrigada. Seu pai sempre lhe dizia que a calmaria precede a tempestade e ela não
parava de pensar nisso. Ainda assim, procurou viver aquele par de dias intensamente.
Foi por essa razão que arrastou Clark logo cedo na manhã de 30 de dezembro para que ele visse
algo fantástico. Chegaram ao Sullivan Place 1938, um aconchegante e alto prédio a uma quadra do
Centennial Park. Quando entraram no apartamento vazio do último andar, Clark olhou
maravilhado: era espaçoso, embora não fosse grande, com paredes brancas em relevo fino e uma
enorme varanda. Lois puxou Clark até lá e os dois observaram a maravilhosa vista para o
Centennial Park e mais; logo ao leste, a apenas duas quadras, estava o arranha céu do Daily Planet.
Era também possível avistar a Watchtower ao norte.
“E então, o que acha?” Lois perguntou empolgada, puxando Clark de volta para dentro do imóvel
de modo que pudesse ver o resto do apartamento, “O quarto é incrível, Smallville, com suíte e um
closet no qual praticamente cabe todas as minhas roupas, talvez até tenha espaço para as suas! E
temos acesso a uma área do terraço, uma parte dela é coberta e cercada de vidraças, podemos
até usar como escritório e também para suas decolagens e aterrissagens! Não é incrível?”
“É mais do que incrível, Lois”, Clark comentou realmente maravilhado com o lugar, “Mas ainda
assim é uma cobertura no centro de Metropolis! Como vamos pagar por ela, o aluguel deve ser
uma fortuna!”
“Bem...” Lois disse segurando as mãos de Clark, “Quando minha irmã e eu ainda éramos muito
pequenas, meus pais criaram um fundo de investimento pra gente. O coronel continuou
investindo e bem... Ele sacou a minha parte como presente de casamento para nós dois. O fundo,
mais nossos novos salários do DP, podemos bancar a compra do apartamento e ainda manter
nosso extravagante modo de vida...”
“Lois... Tem certeza sobre isso?” Ele perguntou fitando-a nos olhos.
“É nosso lar, Smallville”, Lois respondeu com um sorriso. “Além do mais, se estamos saindo de
Smallville para ficar mais perto, que seja realmente perto. Daqui são cinco minutos para o Daily
Planet a pé, até você poderá usar a porta da frente com maior frequência...”
“Este lugar é inacreditável”, Clark disse caminhando com Lois observando o quarto espaçoso. Teve
pensamentos pecaminosos ao se imaginar dormindo ali com sua amada. Uma pequena escada em
espiral no fim do corredor levava ao terraço mencionado por Lois e os dois subiram. Clark
emudeceu ao ver o lugar. O prédio era menor do que o Daily Planet, mas ainda assim sobressaía à
maioria dos prédios ao seu redor. A vista era incrível e daquele terraço, podiam ter a visão do
nascer e por do sol. O pequeno aposento coberto era tomado por vidraças e parecia ter sido
usado anteriormente como estufa. Seria um bom lugar para Shelby ficar, ao menos até ele poder
retornar à fazenda com Martha Kent.
Lois deixou Clark observar o lugar e notou o brilho nos olhos dele ao ver a incrível panorâmica de
Metropolis do topo do Sullivan Place.
“Para te inspirar todas as manhãs, Smallville”, ela comentou olhando em volta e deixando a brisa
fresca da manhã refrescar-lhe o corpo.
242
“Será perfeito... Com você ao meu lado, não há como não ser perfeito”, ele disse e tocou os lábios
dela com os seus. “O que eu faria sem você?”
“Eu não sei, provavelmente moraria em um apê de tijolos com canos expostos... Mas mesmo que
fosse esse o caso, eu amaria da mesma maneira, Smallville.”
“Tenho certeza que iria”, ele a beijou novamente, até que sentiu seu celular vibrando no bolso da
calça. O pegou nas mãos e surpreendeu-se ao ver que era Bruce Wayne.
“Wayne! Me perguntava quando nosso cavaleiro das trevas daria as caras depois de seu
retorno...” Lois disse vendo o celular de Clark.
“Ele está aqui”, Clark disse sem mesmo atender o celular.
“Em Metropolis?”
“Lá embaixo.”
***
De fato, Bruce Wayne estava diante do Sullivan Place e subiu até a cobertura após falar com Clark
no celular. Foi recebido na sala vazia por Clark e Lois. Estava, como sempre, tomado pela extrema
elegante de seus ternos finos.
“Preciso dizer, é muito bom vê-los juntos de novo”, Bruce disse cumprimentando primeiro a Lois e
depois trocando um forte aperto de mão com Clark, “Bem vindo de volta, azulão.”
“É bom estar de volta”, Clark respondeu trocando um rápido olhar com Lois, que sorriu para ele.
“Então, você aparecendo aqui logo cedo pela manhã, não era contra a política do seu alter ego?”
Lois questionou a Bruce Wayne.
“Há uma razão pela qual Bruce Wayne nunca acorda cedo. Batman está sempre de vigília à noite.”
“O que te traz aqui?” Clark perguntou e Bruce não pareceu muito contente com o que iria dizer.
“Andei investigando a trilha deixada por King Snake e ele está em Metropolis. Ele e Bloodsport
estão trabalhando juntos, o que implica dedo de Luthor na história.”
“Dedo? Que tal aquela mão nojenta inteira?”, Lois retrucou.
“Não é apenas isso. As suspeita que tínhamos, sobre armamentos com meteorito, elas se
confirmaram. Encontrei uma arma à base de kryptonita em Gotham, e não fui o único. Hal
também encontrou um carregamento na costa oeste, e Arthur na Flórida.
“Hal?” Clark perguntou.
243
“Ah, Hal Jordan, o Lanterna Verde”, Lois comentou. “Ele é humano, mas a lanterna dele vem do
espaço e o faz parecer uma samambaia, só vendo pra crer...”
“Hal tem feito uma varredura dessas armas e tudo indica que a fonte estava em algum lugar de
Star City, mas já mudou de lugar.”
“Estão espalhando as armas por todo o país, procurando fabricá-las longe da supervisão do
Superman”, deduziu Lois.
“Aparentemente sim”, continuou Bruce. “O problema é que essas armas estavam paradas. Agora
que o Superman está de volta, eles têm uma razão para usá-las.”
“E é claro que Luthor é quem deve estar dizendo a todos eles que essas armas são a única coisa
que pode me matar.” Clark disse.
“Não matar, querido, não vamos ser pessimistas, ok?” Lois procurou remediar, “Deixá-lo
atordoado, enfraquecido por uns momentos...”
“Não, Lois. Elas podem me matar. Terei que ser mais cauteloso.”
“A boa notícia é que se não estão fabricando em Metropolis, tudo o que precisamos fazer é
encontrar o carregamento. Hal e Oliver estão trabalhando nisso, mas precisamos também
encontrar King Snake e Bloodsport.”
“Então faremos isso”, Clark disse em relação aos dois nomes da lista de Bruce Wayne. “Precisamos
parar a rede antes que se espalhe por Metropolis.”
“Barbara e Chloe estão trabalhando com um sinal captado por Hal em Star City, tentando
interceptá-lo. Assim que tivermos a confirmação, agiremos”, explicou Bruce.
“Eu estarei pronto”, Clark respondeu. Bruce fitou-o satisfeito e olhou em volta para o
apartamento.
“Então este será o ninho de amor Kent?”
“Lane-Kent”, disse Lois, duvidosa da combinação. “Kent-Lane? Lane-Kent-El? El Lane?”
“Nos vemos depois, e se tudo der certo, esta noite teremos um Reveillon tranquilo”, Bruce disse
indo embora.
O casal observou a saída do magnata de Gotham e trocou um olhar preocupado. A calmaria
começava a ficar para trás.
***
Com Clark ainda se esquivando do Daily Planet, Lois acabou a passar o resto do dia em sua mesa,
analisando todas as informações disponíveis. A calmaria de notícias fez com que o escritório
permanecesse vazio por quase toda a manhã e apenas alguns poucos jornalistas haviam aparecido
no período da tarde. Era perfeito para Lois. Ainda que adorasse o tumulto do jornalismo rápido,
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era nos momentos de silêncio que construía as melhores matérias. Aquela, contudo, representava
muito mais; a segurança de Metropolis estava em jogo, e a do próprio Clark.
Precisava ajudar os heróis a encontrar o carregamento de armas feitas à base de kriptonita.
“Mannheim é a pista”, ela disse para si mesmo enquanto teclava no diretório de busca alguns
nomes influentes do crime de Metropolis. Limpou todas as abas e abriu uma nova. Digitou ‘Bruno
Mannheim” e alguns links surgiram, a maioria relacionado a matérias sobre o figurão mafioso.
Suas pesquisas sobre ele eram muito mais aprofundadas do que todo aquele lixo. Não estava
fazendo a coisa da forma certa.
“Se eu fosse Bruno Mannheim, onde estaria em uma noite como essa?”, Lois indagou a si mesma.
A família era uma opção óbvia por causa do Reveillon, então se ele tivesse que encontrar-se com
alguém a respeito das armas, onde seria?
Muito provavelmente, próximo de casa.
“E o que está próximo à casa da família de Mannheim?” Lois perguntou-se digitando o endereço
que já conhecia bem no diretório do Google maps. Algumas opções de lugares públicos surgiram
próximas à casa, mas uma outra, no entanto, chamava mais a atenção de Lois.
O Ace of Clubs.
“Por que não?”, a jornalista disse empolgada consigo mesma e sua pista construída do zero. Eram
quase nulas as possibilidades de que Mannheim armasse mesmo um encontro no AoC naquela
noite, mas se as armas estavam na cidade e a coisa era grande, não havia razão para não arriscar.
Levantou-se da cadeira rapidamente e agarrou seu casaco, mas passos se aproximaram dela com
um tom surpreso:
“Lois? Não sabia que estava aqui hoje.”
“Jimmy?”, Lois disse igualmente surpresa ao ver o fotógrafo junto à sua mesa. “Não existe feriado
quando se trata de notícias, meu querido. O que você está fazendo aqui?”
“Chloe teve que trabalhar hoje, então cá estou também...”, ele disse pouco animado, mas Lois viu
naquilo uma oportunidade.
“Então vem comigo, Sr. megapixels, porque ela noite os fogos começarão mais cedo!”
“Por que eu sei que irei me arrepender disso?” Olsen comentou enquanto era arrastado para fora
do DP por uma Lane extremamente empolgada.
***
Impossibilitado de ir ao Daily Planet, Clark preferiu retornar à fazenda e adiantar a mudança dele e
de Lois. Os trâmites relacionados ao novo apartamento estavam praticamente certos, então era
uma boa ideia começar a embalar as coisas para a nova casa. Da maneira lenta, como
recomendara Lois. Era da opinião da morena que os dois deveriam tirar tempo para fazer essas
pequenas coisas, e Clark respeitou o pedido. Seguiu para o celeiro observando seus velhos
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pertences e imaginou o quanto havia deixado para trás. Observou as velhas fotos: com seus pais,
com Chloe e Pete, com Lana...
Muita coisa havia mudado afinal. A vida estava seguindo em frente para o homem de aço como
ele nunca poderia imaginar.
Abriu seu baú de antiguidades e encontrou seu velho uniforme de futebol americano, mais alguns
apetrechos de sua infância. Ao lado do baú, seu antigo telescópio. Clark caminhou até ele e
assoprou de leve para tirar parte da poeira, levando-o de volta à janela, onde sempre fora seu
lugar. Limpou a lente com cuidado e inclinou-se para observar o céu poente. Lembrou-se das
várias vezes em que observara o mundo exterior ao seu, tentando assimilar melhor o que trazia
dentro de si. Vidas, amores, estrelas, galáxias...
“Quão longe tem conseguido ver daí?”
A voz suave e maternal surgiu atrás de Clark e ele sorriu ao virar-se para Martha Kent. Ela havia
acabado de chegar à fazenda tentando surpreender o filho e Lois. Caminhou até o filho, que a
abraçou feliz em revê-la. Já a havia visto desde que retornara de sua longa viagem, mas tudo era
mais intenso no lar.
“Nem acredito que esteja aqui!”, ele disse soltando-a gentilmente e fitando-a, “Por que não
avisou? Quase não me encontra aqui. Lois e eu pretendíamos passar a virada de ano no terraço de
nosso novo apartamento...”
“Oh, não quero estragar o plano de vocês, apenas decidi vir quando soube da mudança. Não é
todo dia que um filho deixa a casa de seus pais, mesmo que a mãe tenha deixado antes.”
Os dois sorriram. “Você sempre estará aqui para mim, mamãe”, Clark respondeu, “assim como o
papai.”
“É maravilhoso que você e Lois estejam dando esse passo juntos. Como ela está?”
“Radiante? Eu diria, bem Lois!”
“Enquanto você estava fora, ela me ligava todos os dias. Mesmo quando ela estava péssima, me
fazia sentir bem com toda a força que me passava. Quando ela sofreu o acidente e passou todo
aquele tempo em coma, eu sentia como se estivesse perdendo uma filha. Eu vim também porque
gostaria de dizer isso a ela. Eu me sinto feliz que você esteja ao lado de alguém como Lois. E fico
feliz que ela tenha encontrado você, meu filho.”
“Literalmente, ela me encontrou”, Clark disse relembrando-se da forma como se conheceram no
milharal. “É engraçado como as coisas acontecem. Nunca imaginaria que aquela jovem intrépida
seria minha noiva um dia.”
“Bem, eu imaginei”, Martha confessou para um Clark surpreso. “A primeira vez que conversamos
de verdade, estava na cozinha e ela apareceu querendo falar com você sobre Chloe. Ela era
obstinada e movida por boas intenções... Você pode passar uma vida inteira sem encontrar
alguém assim. E agora, eu tenho duas diante de mim.”
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“Lois disse naquele dia que eu não podia ser tão esquisito com uma mãe tão legal. Ela estava
certa.”
“Ela normalmente está, do jeito dela.”
“Definitivamente”, Clark concordou, fitando a mãe. “Assim como você sempre esteve certa sobre
tudo o que me ensinou. Você e o papai... Nunca esquecerei o que vocês me tornaram.”
“Seu pai estaria muito orgulhoso de você, Clark”, Martha disse emocionada. Repousou a mão
sobre o ombro do filho, lacrimejando, “Ele estaria orgulhoso pelo que se tornou, mas você sempre
teve isso dentro de você...”
“Eu gostaria que ele estivesse aqui agora...”, Clark admitiu saudoso. “Queria que estivesse no dia
do meu casamento, dando sua bênção. Que visse o que me tornei.”
“Ele está”, Martha garantiu, “onde quer que esteja, está tranquilo como eu. Os pais sempre sabem
a quem entregará seu filho. Da mesma forma que Jor-El e Lara confiaram você a nós dois,
Jonathan e eu sempre confiamos você a Lois e ao mundo. Você se saiu bem com ambos...”
Clark sorriu para a mãe, abraçando-a mais uma vez. Sentir seu carinho maternal sempre o enchia
de forças, mais ainda do que era capaz de carregar.
“Quero que passe o ano novo com a gente”, Clark disse. “Vou avisar a Lois que está aqui.”
“Não precisa mudar seus planos, filho”, Martha tentou dissuadi-lo, mas Clark não deu ouvidos.
“Sem chance. Essa será uma noite especial.”
O telefone de Clark soou logo depois, interrompendo a conversa. Clark olhou a identificação de
chamada rapidamente, era Chloe. “O que houve, Chloe?”
“Sabe aquele sinal, o que estávamos atrás? Interceptamos ele, vem de uma fábrica ao sul da
cidade. Estou lhe enviando as coordenadas, Batman está indo para lá.”
“Diga a ele que o encontrarei lá”, Clark disse pouco antes de desligar. Observou a mãe, não muito
contente por ter que deixá-la. Martha, contudo, compreendeu perfeitamente.
“Pode ir, meu filho. Eu estarei aqui torcendo por você.”
Clark sorriu e despediu-se da mãe, superacelerando para a casa principal. Martha desceu do
celeiro e parou diante da porta quando viu Clark saindo da casa. Caminhou mais alguns passos,
impressionada com o que viu. Muito mais do que Clark Kent, estava vestido em seu novo uniforme
azul, com o símbolo da esperança estampado em seu peito. E a capa, toda vermelha, que efeito
causava contra o por do sol.
Era agora o Superman.
Clark sorriu para a mãe uma última vez e agachou-se, tomando propulsão. Martha Kent sentiu um
leve tremor até que o Superman disparou rumo aos céus, pronto para sua jornada.
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E Martha Kent não poderia pensar outra coisa como a orgulhosa mãe que era. “Este é o meu
filho.”
***
No Ace of Clubs, uma multidão tomava o lugar animada, aguardando ansiosamente pela virada de
ano. Passava das 21 horas e dois homens charmosos chamavam a atenção de um grupo de
mulheres próximo ao open bar. Eram Oliver Queen e Hal Jordan, devidamente à paisana, o que
significava para Oliver um belo terno de griffe branco, e para Jordan, uma suntuosa jaqueta da
aeronáutica. Eram os Ases da noite, mas gostariam que não fossem.
“O que acha?”, Oliver perguntou acenando sem graça para uma das moças que insistia em pagar
um drinque para o bilionário.
“Ele está esperando alguém”, Hal respondeu observando um homem através do reflexo de um dos
espelhos atrás do bar. O homem em questão estava sentado em uma das mesas e com cara de
poucos amigos. Olhava constantemente para o relógio.
“Por que esperar aqui? Há gente demais.”
“Se chama ‘álibi’, deveria tentar de vez em quando”, disse Lois se aproximando dos dois. “O que
estão fazendo os dois aqui? Isto é um encontro? Querem ficar a sós?”
Hal e Oliver viraram-se para a repórter prontos para revidar, mas pararam estonteados pela beleza
da jornalista. Ela usava um belo vestido roxo, colado em seu corpo delineado. Pouco ousado, mas
ainda assim, tentador. Ao menos foi o que Oliver e Hal pensaram ao fitá-la de cima a baixo.
“Então esse seu namorado não tem apenas super poderes, ele também tem uma super mulher?”
disse Hal.
“Mais para uma mulher maravilha”, completou Oliver, mas foi repreendido por Lois.
“Não sei por que, mas não gostei de como isso soou”, ela disse. Inclinou-se na direção do balcão e
tomou um gole da bebida que Oliver havia recebido de presente. Fez uma careta. “O que é isso,
água com gás?”
“Marguerita.”
“Para crianças?” Lois retrucou, jogando os longos cabelos soltos para o lado.
“O que faz aqui?”, perguntou Hal.
“Seguindo uma pista morna”, ela respondeu. “Mas a pista ainda não chegou... Quer dizer...”, ela
olha para seu celular, é Olsen. Uma rápida mensagem, ele chegou. “Retiro o que disse. Seguindo
uma pista quente que acabou de chegar.”
“Não deveria estar se preparando para o réveillon?”, Oliver comentou.
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Lois fitou Oliver como se ele tivesse algum problema mental. Olhou para si mesma, “Mas estou
pronta.”
“De roxo?”
“Oh, por favor... Branco é para as virgens”, Lois devolveu com um revirar de olhos. “Além do mais,
ainda faltam algumas horas e aposto que Clark deve estar por aí soltando fogos de artifício com os
olhos...”
“Ele e Bruce foram atrás do sinal interceptado pela Watchtower”, explicou Hal.
“Ah, isso explica a ausência dele para o chá das cinco”, Lois comentou olhando em volta. Foi então
que sorriu. “Odeio estar certa... Só que não.”
Hal e Oliver seguiram seu olhar até a entrada do AoC e então viram Bruno Mannheim entrando no
clube. Estava sozinho e vestido para festa. Caminhou até a mesa onde estava o homem observado
pelos dois heróis. Hal e Oliver trocaram um olhar ao ver que o suspeito deles estava mesmo
relacionado com o chefe do crime em Metropolis.
“Isso muda as coisas um pouco, não?”, Hal indagou para uma Lois pouco surpresa.
“Apenas a escala. Bruno Mannheim está a frente das maiores redes de contrabando da cidade. Se
as armas chegarem nele, se espalharão bem rápido pela cidade.”
“Precisamos encontrá-las”, Oliver disse, mas não houve tempo para mais nada.
Tudo o que ouviram foi uma grande explosão, e o espatifar de vidros por toda Ace of Clubs. O
grupo abaixou-se por reflexo até que se deram conta de que a explosão não havia sido no clube,
mas próximo a ele. De fato, no arranha céu em frente ao AoC. Havia fogo no que parecia uma
explosão na metade de um prédio de quarenta andares. Imediatamente todos no AoC correram
para a bancada buscando ver o que havia acontecido, pois os gritos de socorro podiam ser ouvidos
a uma longa distância. Oliver e Hal entreolharam-se sabendo que não tinham escolha: precisavam
ajudar a salvar os inocentes no prédio. Todo o resto teria que esperar.
Com os dois heróis saindo em disparada do AoC e a atenção da multidão voltada para a bancada,
sobravam apenas três pessoas que não dirigiam sua atenção para o lado de fora. Bruno Mannheim
e o suspeito continuavam juntos à mesa, e diante deles, Lois Lane. Ela se aproximou dos dois.
“Impressionante. Há uma explosão lá fora. Nem estão curiosos para saber se alguém morreu?”
“Pra isso existem bombeiros, não?”, respondeu Bruno encarando a repórter. “Lois Lane... Se veio
atrás de um comentário para sua matéria, já sabe qual a minha resposta.”
“Sei? Porque pensei em algo do tipo, ‘não me importo com a explosão, pois ajudei a criá-la... Estou
no caminho certo?”
A companhia de Bruno fitou Lois de forma séria e fria, mas Mannheim sorriu, sínico.
“Independente do caminho, posso te dizer que você está bem além do que deveria, Srta. Lane.
Cuidado para não se perder no escuro...”
249
Mannheim se levantou para ir embora, mas Lois o segurou pelo ombro, chamando sua atenção.
“Você pode ter bons advogados para lhe tirar do banco dos réus, mas nada me impedirá de te
colocar na primeira página do Daily Planet. Você irá cair...”
O outro homem levantou rápido puxando Lois para longe de Mannheim. A jornalista protestou,
tirando o braço do homem da sua frente, “Calma aí, peixe pequeno. A conversa não chegou na
cozinha do inferno!”
“Boa noite, Lane”, disse Mannheim indo embora com a mesma cara sínica, “E boa sorte com a
primeira página...”
Os dois foram embora deixando Lois Lane próxima à mesa. Ela apenas sentou-se, servindo-se do
drinque posto à mesa, o qual sequer parecia ter sido bebido. Tomou um gole e sentiu o arrepio do
alto teor alcoólico. “Isso sim é uma bebida...”
Pouco depois, seu celular tocou. Era Olsen novamente.
“Lois, estão indo embora! Tentei tirar a foto como pediu, mas o cara com Mannheim quebrou
minha câmera!” Jimmy disse observando o carro do mafioso distanciar-se.
“Não se preocupe, Jimbo... Ainda estou te devendo um presente de Natal, lembra?”
“O que faremos agora?”
“Você? Vá pra casa...”, Lois disse encerrando a chamada e ligando para Chloe enquanto deixava o
AoC. Não poderia dizer a Jimmy, mas tinha Mannheim exatamente como queria. Ou ao menos,
onde quer que ele estivesse, ela saberia.
Agora precisava achar uma maneira rápida de segui-lo. Não seria um problema para a filha de um
general treinada nas artes da guerra.
***
Bem longe dali, Superman podia ouvir os gritos de socorro provindos da explosão, mas da mesma
maneira, era capaz de ouvir o Arqueiro Verde e o Lanterna Verde atuando para salvar os feridos.
Seu ímpeto era de ir para o local, mas Batman o convenceu a confiar na equipe. Eles tinham sua
própria missão para dar conta. A noite encobria o cavaleiro das trevas com habilidade, e
Superman se viu impressionado com o que Bruce Wayne era capaz, saltando veloz entre os
telhados velhos do complexo industrial abandonado onde se encontravam.
“Eu tenho meus poderes graças ao Sol por causa da minha origem, mas você sem dúvida sem
algumas habilidades bem sobre humanas...” Superman comentou.
“Apenas treino meu corpo para suportar o que for necessário. E minha mente para suportar todo
o resto.”
“Normalmente não preciso me preocupar tanto com a questão física... A mente sempre foi o
problema.”
250
“Essa é a questão. Tirando os poderes, o que sobra?”, indagou Batman. “Precisa saber o que te
torna um herói. São os poderes ou o que há por trás deles?”
Aquela era uma pergunta para a qual Clark sempre tentara ter uma resposta. Seguiu com Batman
pelo telhado até avistarem através de um teto de vidro um grupo de homens vestidos de branco.
Ninjas, reconheceu a dupla de heróis ao aproximar-se. Batman sacou um visor noturno enquanto
o Super concentrou-se em sua visão de raio-x: entre os ninjas de branco, estavam dois homens:
um alto e branco, de cabelos loiros com uma grande cobra tatuada no peito. O outro, negro de
cavanhaque e uma bandana vermelha na cabeça, fortemente armado. Eram eles.
“King Snake e Bloodsport”, reconheceu Batman. “Os dois estão aqui, parecem estar negociando
algo.”
“Sim, mas onde está o carregamento?”, Clark indagou, já tendo vistoriado todo o lugar com sua
visão de raio-x. Além das armas carregadas por Bloodsport, não parecia haver outras. Contudo,
havia lugares que ele não era capaz de ver com clareza.
“Vamos cumprimentá-los”, disse Batman preparando seu equipamento para fazer uma descida
triunfal quando Superman levantou voo, soltando uma forte rajada de fogo com os olhos que
arrebentou parte do telhado de vidro e ainda seguiu na direção dos bandidos. Batman observou a
forma como o Super desceu como uma bala, derrubando já vários homens no processo.
“Exibido”, Batman comentou pouco antes de saltar com um de seus ganchos. Pulou sobre dois
ninjas, travando uma luta corpo a corpo contra eles.
Mais a frente, Superman seguiu abrindo caminho entre os ninjas de King Snake. Com facilidade,
derrubou cada um dos que se atreviam a encará-lo, até parar diante dos dois vilões principais.
“Melhor se entregarem antes que as coisas fiquem realmente feias por aqui”, advertiu o super.
“Ora, se não é o famoso Superman”, disse Bloodsport segurando uma arma, mas sem apontá-la
para o herói. “Snake, cuida dele ou eu cuido?”
“Onde está o armamento?” Superman questionou de forma intimidadora. Batman terminou sua
luta e procurou uma forma de aproximar-se dos vilões sem ser um alvo fácil de Bloodsport, pois
conhecia sua habilidade.
“Deixe-me explicar como funciona, Superman”, o homem de cabelos loiros disse dando alguns
passos na direção do super. Era possível ver seus olhos completamente brancos, como se fosse um
fantasma. “Me chamam de Rei por uma razão... Os meus homens? São dragões fantasmas, e é
uma pena que você não seja do tipo que termina o trabalho...”
Superman não tinha notado até então, mas os ninjas traziam consigo pequenas shurikens. Seriam
inofensivas se não fosse pela pequena pedra no centro de cada uma, cujo brilho verde não
enganou a percepção de Clark. Kriptonita verde.
Não havia sentido nada quando os atingiu, talvez pelas pedras serem muito pequenas. Contudo,
vários ninjas estavam de pé e o rodeavam, com suas shurikens apontadas para ele. Como acabaria
com todas?
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Os ninjas começaram a atirar na direção de Clark e ele desviou de algumas, mas a proximidade de
tanta kriptonita o deixou lento. Uma ou outra o atingiu por trás fazendo-o travar os dentes com a
dor da penetrada cruel da pequena estrela, mas não era o suficiente para detê-lo. Manteve-se
firme e correu para o confronto novamente, mas novas shurikens adentraram sua pele, uma delas
perfurando gravemente suas costas.
Batman correu em auxílio ao amigo, mas deparou-se com Bloodsport, que disparou contra o
morcego. A forte armadura do Batman o protegeu da primeira rajada, mas o vilão tinha recursos.
O segundo cano da arma era um lança granadas e contra aquilo Batman sabia que não daria conta.
Socou três ninjas até conseguir atirar-se atrás de máquinas velhas, escapando por pouco do tiro
dado por Bloodsport. Ainda estava no chão quando ocorreu o segundo tiro, do qual não conseguiu
livrar-se. Voou contra a parede sentindo que algo havia perfurado sua carne profundamente. Só
depois deu-se conta de que se tratava de pequenos estilhaços de uma bomba de kriptonita. O
metal podia não enfraquecê-lo como ao Super, mas ainda assim era capaz de feri-lo perfurando-o
daquela maneira. Batman se viu fora do combate e voltou-se para o Superman, que estava em
apuros ainda piores.
Cercado de ninjas e com inúmeros shurikens cravados em seu corpo, Superman correu na direção
de King Snake ao vê-lo fugir na direção de um grande caminhão, em busca de um último golpe,
mas acabou golpeado pelo Bloodsport, por trás, o qual estourou mais uma granada de kriptonita.
Era demais para o Super, simplesmente estava rodeado pela sua maior fraqueza. Sentiu um aperto
no coração e pensou em Lois, pouco antes de cair no chão, inconsciente.
***
Custou certo tempo para que o Arqueiro e o Lanterna salvassem todas as pessoas presas no
prédio em chamas. Graças às enormes redes elásticas projetadas pelo Lanterna, a maioria das
pessoas pulou do prédio com segurança, mas ainda assim havia muitos feridos. A cidade estava
um caos e faltava pouco para a virada de ano, o que só tumultuava mais as coisas.
Quando o último ferido deixou enfim o prédio, O arqueiro cumprimentou um dos bombeiros e
voltou-se para seu celular, ligando pra Chloe.
“As coisas acalmaram por aqui”, explicou. “Como vamos nas outras fronts?”
“Acabei de receber uma mensagem de Batman, ele está em apuros e Superman sumiu em um
caminhão com King Snake e Bloodsport! Pra piorar, Lois colocou um rastreador no cara que vocês
estavam seguindo!”
“E por que isso é ruim?”, o Arqueiro indagou no instante em que Lanterna Verde também se
aproximou. “Agora podemos ir atrás dele!”
“Yeah, só que obviamente Lois não colocou o rastreador para depois ir pra casa ver TV, né, Ollie?
Ela roubou uma moto na frente do AoC e está indo atrás dele e de Mannheim!”
Lanterna fora capaz de ouvir a toda conversa através do celular de Oliver e alertou o Arqueiro.
“Diga a ela para me enviar o sinal, eu vou atrás de Lois, posso chegar lá mais rápido.”
“Okay, e eu vou atrás do Batman”, disse o Arqueiro.
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Agora tinham um plano, mas estavam perdidos quanto ao que estava para acontecer. Da mesma
forma estava Chloe, diante da Watchtower vendo o tempo passar e o sinal rastreado por Lois
parar de repente do meio do nada.
Aquilo não era bom. Nem um pouco.
***
“Isto não pode ser bom”, pensou Lois parando a Harvey que roubara para perseguir Mannheim.
Estava com todas as luzes desligadas para não chamar a atenção, mas precisava manter distância,
já que o motor não era do tipo mais silencioso, bem pelo contrário. Sua parada brusca, no
entanto, não tinha a ver com isso. O carro onde estava Mannheim parou de repente no meio da
rodovia deserta. Estavam no meio do nada, a quilômetros de Metropolis. O que parecia ser um
outro carro se aproximou deles e parou também.
E então Lois se deu conta de que o homem suspeito saíra do carro e entrara no outro.
“Droga”, Lois disse entre os dentes. Aquela era uma noite bem ruim. Estava em um vestido de
festa sobre uma moto feita para roupas de couro. Era uma noite fria e ela não tinha nada que a
esquentasse além da adrenalina de estar fazendo algo estupidamente perigoso. Não tinha notícias
de Clark e não tinha dois rastreadores para colocar nos dois caras. Precisou escolher no milésimo
de instante em que teve a chance de tocar nos dois homens no Ace of Clubs, e optou pelo suspeito
de Oliver e Hal, afinal, era a pista mais concreta que a Liga tinha. Ela tinha que manter o cara sob
vigia e quando ele tocou seu braço, foi a chance perfeita. Agora o tinha junto com Mannheim, mas
eles estavam se separando e tudo indicava que o tal homem estava sendo levado para um lugar
importante ao trocar de carro. Era o cara a seguir.
Mas então por que Lois se sentia tão confusa? Tirou a moto da estrada, adentrando o matagal de
modo a ocultar a moto. Viu o segundo carro se aproximar e passar por ela, ao tempo em que o
outro, com Mannheim, seguia em frente. Precisava tomar uma decisão. Havia agora dois caminhos
a seguir. Qual era o certo?
Obviamente, o suspeito de Hal e Oliver era o correto. Seu faro jornalístico podia sentir que aquele
homem a levaria às armas, ao carregamento. Por outro lado, algo em seu coração alarmava para o
fato de que Mannheim continuava a seguir para longe de Metropolis. Algo em seu coração
também alarmava para o fato de que ela não sabia de Clark. Como se uma coisa estivesse
conectada com a outra. Deveria Lois ser guiada pela angústia de seu coração ou pela razão?
“Não esta noite...”, disse para si mesma ao dar de ombros e colocar a moto de volta na rodovia,
para então seguir Mannheim. E teria que ser mais cuidadosa ainda, pois já não havia rastreador
para lhe ajudar. Apenas a noite.
***
Quilômetros antes, Lanterna Verde seguia à espreita do sinal que agora, Chloe informava, parecia
ter seguido em uma nova direção. Não demora a Hal para perceber uma espécie de Van seguindo
para o oeste na noite escura. Ele decide manter a perseguição de forma mais discreta, mas não
sem antes entrar em contato com Chloe:
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“Encontrei o carro, nosso suspeito está nele. Sem sinal de Mannheim, no entanto. Ou Lois.”
“Droga...”, Chloe disse para si mesmo ligando para a prima da Watchtower. “Vamos, Lois, atende!”
“Não pode rastrear o cel dela?”, sugeriu Hal.
Chloe revoltou-se consigo mesma, já colocando a mão na massa. “Como não pensei nisso antes?”
***
O vibrar incessante do celular não havia sido ignorado por Lois, mas ela não poderia atender.
Estava escondida atrás da grade de um velho hangar, para onde Mannheim seguiu após separar-se
do outro homem. Seguiu sozinho rumo ao velho galpão onde um avião de carga estava
estacionado. Havia mesmo uma velha pista próxima ao hangar, e Lois deu-se conta de que aquele
só poderia ser a pista de pouso abandonada que ficava em algum lugar entre Metropolis e Star
City. E não era nem meia noite ainda.
“Muito bem, Lois, mantenha a calma. Você é cria de militares e noiva de um super herói
alienígena, isto não é nada perto de um dia normal em sua vida. Apenas relaxe e chute uns
traseiros, vai ficar tudo bem...”, ela disse a si mesma enquanto seguia agachada através da cerca
para perto do hangar. Logo avistou alguns capangas de Mannheim fazendo a vigia. Havia outros
também perto do avião e dirigiam a atenção para um caminhão grande, o qual Lois pode ver
melhor ao se aproximar. Todos olhavam para o que estava dentro do caminhão, em sua
carroceria. E havia uma luz verde emanando de lá de dentro. Lois engoliu a seco imaginando se
aquela luz teria relação com as armas de kriptonita.
Mas era muito pior do que isso.
Aproximou-se um pouco mais até perceber o que estava de fato acontecendo. Um homem loiro,
alto e forte conversava com Mannheim. A julgar pela tatuagem de cobra no peito, só podia ser o
tal King Snake. Dentro da carroceria, um homem estava acorrentado por fortes correntes, e
atreladas a elas havia uma série de pedras verdes que brilhavam de forma constante, causandolhe uma dor inimaginável. Lois sentiu um forte calafrio ao dar-se conta de que era o Superman.
“C-C-Clark?!”, ela sussurrou trêmula, sem crer no que seus olhos viam. Aquilo a fez perder parte
de sua precaução. Lois correu na direção do hangar e acabou sendo vista por um dos capangas de
Mannheim, o qual puxou uma adaga contra a jornalista. Habilmente Lois se esquivou e deu uma
forte voadora no cara. Seguiu em frente, mas agora havia vários capangas, todos armados, e um
deles simplesmente atingiu Lois com força na nuca, fazendo-a perder os sentidos. Foi o suficiente
para que pudessem dominá-la e levá-la para o centro da festa.
Superman estava atordoado, mas percebeu nitidamente quando dois dos capangas de Mannheim
trouxeram Lois carregada nos ombros.
“Lois...”, ele tentou reagir, mas mal podia sentir seu corpo com toda aquela kriptonita. Não sabia o
quanto poderia resistir ainda, mas suas forças o haviam abandonado. E a maior delas, Lois Lane,
estava tão perdida quanto ele. Não poderia morrer sabendo que ela seria a seguinte. Nem mesmo
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a primeira. Era simplesmente inaceitável para seu coração perdê-la, saber que ela estaria
sofrendo, de uma maneira ou outra.
“Não vai precisar se preocupar com ela, Superman...” a familiar voz de Lex Luthor surgiu próxima a
King Snake e Bruno Mannheim, para a pouca surpresa do super. Era óbvio que ele apareceria uma
hora, como mandante de toda aquela loucura.
“E então, Luthor... Tem o que quer”, disse Mannheim apontando para o Superman. “Mandei meu
homem para o carregamento. Ele é meu gerente de logística, então espero que esteja tudo certo
por lá para que ele possa fazer o que sabe melhor, distribuir os doces para as crianças...”
“Está tudo certo já”, Luthor respondeu. Observou King Snake. “Onde está nosso outro amigo,
Bloodsport?”
“Quis ficar para se divertir com o Batman... Eu que deveria estar lá, em nome da nossa saudosa
Gotham... Mas fazer o que, o cara precisa se distrair e eu ainda tenho um herói pra matar.”
“Ele é todo seu”, disse Luthor aproximando-se do Superman. “Tudo o que eu queria era isso. Olhálo nos olhos”. Olhou para o relógio e sorriu, “Não se preocupe, Clark. Isso acabará logo. Não verá o
novo ano. Aliás, a chegada do novo ano será a última coisa que verá. Para que saiba que uma nova
era irá dominar Metropolis e dar a ela tudo o que você não poderá combater. E para que o
fracasso lhe acompanhe nessa jornada, deixarei que levem Lois com você, para que ela veja você
em sua maior derrota. Mas não se preocupe, ela irá viver. Eu tenho grandes planos para ela,
afinal... Não há nada que você tenha que eu não possa ter também.”
A dor era tão aguda que impossibilitava o Super de expressar a raiva que sentia naquele
momento. Precisava salvá-la, mas não havia como. Os capangas de Mannheim então levaram Lois
para dentro do avião. Logo depois, apanharam o Super no caminhão. Cada movimento de seu
corpo atiçava as inúmeras shurikens cravadas em seu corpo, assim como as correntes apertadas
que o enrolavam. Olhou uma última vez para Lex Luthor, e o viu sorrir, sem remorso.
“Adeus, Clark.” Foram as últimas palavras do careca antes de fecharem a rampa de carga do avião.
***
Green Arrow seguiu para dentro da fábrica abandonada buscando um caminho alternativo ao que
Batman e o Superman haviam usado. Percebeu logo a vidraça quebrada e a bagunça do que
parecia ter sido uma explosão dentro do prédio. Mais uma, pensou Oliver sentindo o cheiro de
fumaça que trazia da explosão anterior. Pendurou-se em uma grade e saltou para a parte alta do
complexo, buscando ter uma visão ampla do lugar.
Ali deixou seu arco e flechas e sua besta. Só para o caso de Bloodsport ainda estar por ali.
Seguiu em frente desarmado até que deparou-se com a silhueta de Batman caído atrás de vários
paletes. Se mexia, mas parecia ferido. O Arqueiro seguiu na direção dele, mas olhando para os
lados. Tudo aquilo era suspeito demais, e seus tempos na Ilha o ensinaram a reconhecer uma
armadilha quando se deparasse com uma.
Aquele era um cenário típico.
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“Se mostre, Bloodsport!”, gritou Oliver, sua voz ecoando pela fábrica, “Eu sei que está aqui!”
“Arqueiro esperto”, uma voz soou na parte mais alta do lugar e Oliver virou-se procurando sua
origem. “Veio para ter o mesmo destino do nosso amigo Batman? Veio bancar o herói?”
“Não banco o herói”, Oliver respondeu ao ver a bandana vermelha do homem que agora apontava
um rifle na sua direção, “Eu sou um herói.”
“Pena que isso não te dá um seguro de vida melhor, não é?”
Bloodsport atirou na direção de Oliver, mas seu alto reflexo o fez desviar do tiro com destreza,
saltando da grade onde estava para o lado de Batman.
Era o tempo de Bloodsport reengatilhar a arma, o que fez rindo estrondosamente.
“Como você está, meu irmão?” perguntou o Arqueiro ao Batman, que grunhiu irritado,
“Melhor estraga. Você vai precisar sair na mão com esse cara.”
“Eu sei”, Oliver ainda mantinha Bloodsport na vista, embora estivesse também na mira. O vilão
atirou novamente, desta vez entre Batman e o Arqueiro, para assustar. Seu tempo de reengatilhar
a arma foi o necessário para que Oliver se mexesse novamente, escondendo-se nas sombras.
Desta vez, Bloodsport o perdeu de vista. Olhou pela mira do rifle buscando sua vítima, mas não a
encontrou. E o pior: o segundo que levou procurando Oliver foi o necessário para que Batman
também sumisse nas sombras.
“Vão mesmo se esconder de mim?”, disse, sádico, enquanto trocava de arma. Recuperou a
metralhadora e lança granadas que usara contra o Superman. “Então vamos lá!”
Bloodsport continuou a mover-se pela parte alta da fábrica observando todos os cantos, dedo
pronto no gatilho. Caminhou alguns metros até que viu o Batman passar entre uma máquina e
outra, movendo sua capa preta discretamente. Bloodsport abriu fogo, metralhando o lugar, mas
Batman conseguiu pular para o outro lado e proteger-se dos disparos. Sentia dor pelo ferimento
em seu estômago, mas precisava continuar.
“Vamos lá, seu cavaleiro das trevas medíocre! Quer terminar o que começamos?”
Batman surgiu novamente e apontou sua própria besta para Bloodsport, no que este riu.
Simplesmente teletransportou a arma do Batman para ele, substituindo a metralhadora no
processo. Segurou a arma nas mãos vitorioso no exato instante em que o Arqueiro Verde
apareceu há menos de dois metros dele.
“Fim de jogo pra você, Arqueiro.”
“Mesmo? E o que pretende atirar com isso?”
Bloodsport fitou a besta que retirara das mãos do Batman e deu-se conta de que ela não estava
engatilhada. Caíra numa armadilha. Tentou recuperar a metralhadora, mas o Arqueiro foi para
cima dele com uma chave de pernas, derrubando-o. Bloodsport revidou com fortes socos, mas o
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Arqueiro era muito mais dotado das artes marciais e não precisou de mais do que três golpes para
desnortear seu rival. Este ainda tentou um último lance com uma faca escondida em sua bota, mas
Batman terminou o serviço atirando um dardo neutralizante contra Bloodsport, que caiu
imediatamente no chão da fábrica. Batman estava parado na grade por onde Oliver entrara,
segurando o arco do amigo após o tiro certeiro. Oliver sorriu ao ver a boa mira do morcegão.
“Nada mal, hein? Como sabia que meu arco estava aí?”
“Eu estava caído, não morto. Vi todo seu movimento circulando a fábrica para entrar. E você,
como sabia que minha besta estava desengatilhada?”
“Você não daria uma arma ao inimigo. Simplesmente confiei no que conheço sobre meu aliado.”
“Eu sabia que você não cairia na mesma armadilha duas vezes”, Batman respondeu seguindo até
Oliver e devolvendo-lhe o arco. “Como está a situação lá fora?”
“Nada boa, mas você precisa de um check up, esse ferimento não parece bom”, Arqueiro disse,
ligando para a Watchtower. “Chloe, encontrei o Batman, já terminamos aqui. Como o Lanterna
está se saindo?”
“Ele seguiu o cara e encontrou o depósito, mas rapazes... Segundo Hal, só uma parte das armas
estava lá e ele as destruiu. O resto parece já ter sido distribuído entre os homens de Mannheim!”
“Que maravilha”, Batman disse procurando se sentir firme o suficiente para continuar a missão. “E
o Superman? A forma como ela saiu daqui não foi das melhores, usaram kriptonita da pesada
nele.”
“Não sabemos”, disse Chloe. “Mas Lois mandou uma mensagem dizendo que King Snake e
Mannheim estavam com o Super! Rastreei o celular dela até um velho hangar entre Metropolis e
Star City, Lanterna está indo pra lá!”
“Isto é do outro lado da cidade”, comentou Oliver. “O que faremos?”
“Vamos atrás das armas”, disse Batman, “E então confiamos naquilo que conhecemos sobre
nossos aliados.”
“E o que seria isso?”, indagou Oliver, despertando um sorriso em Batman.
“Que o Lanterna tem recursos para chegar a tempo e deter King Snake... Que Lois Lane é teimosa
demais até mesmo para morrer e conseguirá uma forma de ajudar o Superman... E que o
Superman, bem... Ele é o homem de aço.”
***
Quando Lois abriu seus olhos, ainda atordoada, sentiu um movimento embrulhar-se o estômago.
Estava em um avião de carga, suas mãos amarradas para a frente com uma corda grossa. Próxima
a ela, dois dos ninjas de King Snake, apontando armas para um outro alvo. Superman.
Completamente enrolado por correntes e tomado por shurikens de kriptonita, era um milagre que
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ainda estivesse suportando tudo aquilo. Lois sentiu um aperto no coração ao vê-lo tão ferido e
abatido, lutando com todas as forças para permanecer vivo. Ele precisava ser forte.
“Oh meu Deus..”, Lois murmurou levantando-se no chão de carga. A atenção de um dos ninjas
voltou-se para ela e ele carregava uma katana longa. Era óbvio que se tentasse qualquer coisa,
eles a matariam ou no mínimo lhe infringiriam muita dor.
“Lois Lane”, Superman disse com a voz embargada pela dor. Estava atordoado demais para pensar
com total clareza, mas o amor de sua vida estava diante dele agora, fitando-o nos olhos de forma
angustiada e ele não poderia dizer a ela que ficaria tudo bem. Não desta vez.
“Shh, mantenha suas forças”, Lois pediu enquanto pensava no que poderia fazer. Suas pernas
estavam livres ao menos, poderia chutar aqueles ninjas. Seriam bons o suficiente? Certamente
pareciam. “Essa coisa toda em você, não é nada. Você é tão mais forte do que isso. Eu sei que você
é. Além do mais, não estamos sozinhos, e eu soube que aquela Lanterna faz maravilhas nos céus
também.”
O que Superman não disse a Lois é que não haveria tempo. Eles estavam a minutos do fim, pois
Luthor tinha tudo planejado. Superman não veria o por do sol novamente, e tudo o que ele queria
certificar-se era de que Lois o veria, sobreviveria à perda e seguiria em frente.
“Lois... Estamos a poucos instantes do ano novo. Eu tenho tantas coisas pra te dizer, mas não acho
que terei tempo de dizer todas elas. Eu te amo.”
Uma lágrima escorreu pelo rosto da jornalista ao ouvir as palavras do Super. Ela sorriu,
procurando controlar o nervosismo que a tomava. “Estou lisonjeada... Mas eu preciso te confessar
algo, Superman... Estou noiva de Clark Kent, aquele jornalista desajeitado que trabalha comigo no
Daily Planet. Ele pode ser um nerd caipira, mas eu o amo... Meu coração sempre me leva até ele. E
eu faria tudo por ele. Qualquer coisa. E sabe o que eu pretendo dizer a ele no altar? Que nossa
relação é como um grande salto. Um salto de fé, o qual fizemos juntos. E sempre faremos, porque
eu jamais o deixarei ir...”
O coração do Super sentiu-se acariciado com as palavras de Lois, mas o deixou ainda mais
preocupado. Por que ela falava em salto de fé naquele momento?
King Snake surgiu na área de cargas e observou o casal. “Que comovente”, disse ao aproximar-se
do Super. “Começaram a contagem para o ano novo! Significa que começaremos a contagem para
o seu fim, Superman!”
O Super parecia tranquilo com seu destino, mas lhe inquietava o olhar que Lois lançava para ele.
Ela não estava pronta para deixá-lo ir. Os ninjas abriram a rampa de carga do avião e Clark sentiu a
força do vento e da gravidade puxando-o. Olhou uma última vez para Lois, murmurando apenas
para que ela pudesse ver e ouvir o que ele tinha a dizer.
Eu te amo.
King Snake empurrou o Super pela saída de carga e ele ganhou os céus negros da noite
acorrentado em queda livre.
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“Nãããoo!!!”, berrou Lois desesperada diante do sorriso de King Snake para ela.
“Ah, não fica triste... Acabamos de te dar uma grande matéria para a edição do seu jornal!”
“Não é esta a matéria de capa que eu tenho em mente!”
King Snake virou-se para Lois, mas era tarde demais. A jornalista disparou entre os dois ninjas e
correu para a saída de carga ainda aberta, saltando sem pára-quedas para o que qualquer um
consideraria uma morte certa. O vilão foi até a borda da abertura e observou os dois pontos
caindo rumo ao vasto oceano, acompanhados apenas pelos fogos de artifício que explodiam
distantes em Metropolis. Trágico e poético, pensou antes de mandar fechar a saída de carga e
seguir seu rumo.
Superman tentava de todas as formas colocar-se de forma que sua queda fosse retardada pelo
vento, mas era difícil com tantas correntes pesando sobre seu corpo. Estava completamente
acorrentado com os braços para trás e a kriptonita era uma lembrança constante de que não
poderia fugir daquilo. A dor insuportável dominava suas forças. Mas não todas.
Sua maior força caía a poucos metros acima, mas diferente do Super, Lois tinha manejo de seu
corpo e colocou-se como uma lança, caindo rápido na direção do herói. Ele olhou incrédulo ao vêla aproximando-se com aquele vestido que agora deixava suas duas coxas à mostra, e quando
chegou perto, abriu as pernas tentando agarrá-lo. Foram preciso duas tentativas para enfim
enlaçá-lo pelo quadril e agarrá-lo pelas correntes. Lois não sabia nem como começar a soltá-lo,
mas então lhe ocorreu que as shurikens eram a dupla solução.
“Você ficou maluca?!” Superman a questionou, mas Lois puxou uma das shurikens do corpo dele e
rasgou as cordas que prendiam as mãos dela. Estava pronta para negócios.
“O que, saltar de aviões para libertar o amor de sua vida? Acho que li algo a respeito na descrição
do cargo de esposa de super heróis!”
Lois arrancou mais uma shuriken do corpo do Super e ele precisou admitir a si mesmo: aquela
loucura poderia dar certo afinal!
Lois puxou mais shurikens e usou uma delas para forçar a quebra da corrente. Era a parte mais
difícil, pois havia pedras de kriptonita na corrente e estavam levando os dois pra baixo mais
depressa. A imensidão negra abaixo deles não os enganava para o oceano aberto que os
esmagaria. O Super talvez suportasse o impacto, mas não Lois. Ela continuou usando todas as
forças para arrebentar a corrente, cortando-se no processo com a shuriken. No entanto, cravou
uma das pontas da arma em uma argola da corrente e arrebentou-a. Passou então a desenrolar o
Superman, e este se viu com as mãos livres para ajudar na retirada das shurikens que ainda
restavam em seu corpo. As três encravadas em suas costas eram as mais problemáticas e Lois
conseguiu tirar duas delas, mas antes de puxar completamente a terceira, sentiu o peso da
corrente que tirara do Super enganchada em sua perna. Tentou soltar-se, e o movimento a fez
soltar o Superman, passando a descer mais rápido do que ele.
Estavam muito próximos do fim agora.
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“Lois!!”, esbravejou o Super retirando as duas últimas shurikens de sua perna e levando as mãos
às costas em busca da última. Lançou os braços por todos os lados até que conseguiu puxar o
último vestígio de kriptonita em seu corpo, lançando-a para longe. Sentiu seus poderes voltarem
ao corpo na mesma velocidade em que despencava dos céus, e manteve-se em queda. Lois estava
bem mais abaixo e o oceano se definia abaixo deles rapidamente. Lois conseguiu retirar a corda
enganchada em suas pernas, mas ainda assim, estava próxima demais das águas agora.
Superman girou seu corpo apontando os braços para baixo e de repente não estava mais caindo, e
sim voando. Voando rápido e direto para as águas, buscando ultrapassar Lois. Ela sofreria o
impacto em um segundo, mas Clark a alcançou no milésimo anterior segurando-a pelas costas do
vestido. Lançou então um forte assopro para as águas, movendo-as do seu caminho enquanto
diminuía a inércia da descida aos poucos, ou a mudança de direção brusca acabaria matando Lois
do mesmo jeito. O buraco nas águas feito pelo seu forte assopro transformou-se em uma grande
onda que se irradiou por todas as direções e o Super disparou na horizontal tendo agora em seus
braços uma Lois assustada, mas feliz.
“Ainda que eu tenha achado essa pegada extremamente sexy e romântica”, comentou a morena
agarrada ao pescoço do Super, “vamos tentar não repetir a dose, ok?”
“Quando você falou em salto de fé, eu não fazia ideia que era uma coisa tão literal!”
“Estou literalmente apaixonada por você”, ela rebateu, fitando os lábios dele, e o Super não
resistiu. Beijou-a na rasante que faziam próximo às águas, até que uma presença esverdeada
colocou-se ao lado deles.
“Interrompo?”
Lois e o Super separaram seus lábios olhando para o Lanterna Verde, que voava ao lado deles.
“Você é o quê, Lanterna Verde ou Castiçal Verde?”, protestou Lois pela interrupção.
“Desculpe por não ter vindo antes, vi um avião suspeito e tive que pará-lo antes de vir para os
lados de cá.”
“King Snake, você o deteve?”, questionou Superman.
“Vamos apenas dizer que o levei de avião para o presídio mais próximo”, explicou o Lanterna.
“Batman e Arqueiro estão varrendo as ruas atrás das armas, mas ainda não acharam todos os
carregamentos.”
“Nem todos estão nas ruas, tenho uma ideia de onde possam estar”, Super comentou.
Os três alcançaram os limites de Metropolis e Superman sobrevoou as instalações S.T.A.R.S. com
Lois nos braços. Pousou sobre o telhado, deixando-a enfim por os pés em solo firme. Abraçou-a
apaixonado,
“Você me salvou. De novo!”
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“Oh, não precisa manter contagem, Smallville”, Lois disse, “Tenho a sensação de que faremos isso
muitas vezes ainda. Além do mais, você me salvou também. De novo.”
“Pode tomar conta dela enquanto encerro esse assunto?”, Super pediu ao Lanterna.
“Pode deixar.”
“Pega eles, querido...”, Lois disse e o beijou mais uma vez. Superman levantou voo, disparando
nos céus rumo ao destino final.
Lois e o Lanterna trocaram um olhar.
“Não sei quanto a você, mas eu mataria por um cheeseburguer agora..”, disse a jornalista,
arrancando um sorriso do herói galáctico.
***
Superman ainda tinha seus sentidos voltados para Lois quando atravessou Metropolis rumo a
outra cidade. Sabia que Lex Luthor manteria parte das armas para si e não as colocaria em
Metropolis tendo Batman e o Arqueiro Verde rondando cada canto. Se estavam em algum lugar,
só poderia ser em Smallville, no lugar mais protegido para os Luthor.
A mansão.
O Super entrou pela porta da frente, arrombando-a violentamente ao esbarrar-se nela. Já havia
avistado dois grandes caminhões na proximidade da mansão e olhou para baixo, para o
emaranhado de tuneis no subsolo da casa. Ele não conseguia ver nada, o que só podia significar
uma coisa: chumbo. De qualquer maneira, não estava ali para fazer nada no modo silencioso.
Socou o chão com força, abrindo um grande buraco que o levou aos laboratórios da mansão.
Havia alguns funcionários de Luthor e capangas de Mannheim, mas Superman não tomou
conhecimento. Derrubou-os em sua passagem veloz na direção de um aposento maior, onde havia
uma grande quantidade de caixas marcadas pelo contrabando de King Snake e Bloodsport. Não
houve dúvidas. Eram as armas.
“Não desta vez, Luthor”, Superman disse enquanto seus olhos brilhavam com um vermelho
incadescente, tomados de fogo. Atirou sua rajada na direção das caixas, incinerando todas as
armas e a kriptonita verde que elas continham no processo. O calor excessivo acabou causando
pequenas explosões e o Super vazou do lugar levando consigo todas as pessoas que estavam nos
laboratórios ou na mansão. Prendeu todas elas dentro dos caminhões do lado de fora e observou
dos céus enquanto a mansão Luthor sofria danos irreparáveis enquanto explodia de baixo para
cima.
***
Um novo ano havia chegado e seu primeiro nascer de sol tornou-se inesquecível para Metropolis.
Para Martha Kent, que observava o nascente da frente de casa ao lado de Shelby, aquele era um
novo começo para que sua família voltasse a ser feliz, fortalecidos pelas lembranças boas do
passado, e de Jonathan Kent.
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Para Bruce Wayne e Oliver Queen, ambos na Watchtower diante das vidraças que recebiam as
luzes de Metropolis, era o início de uma grande força, unida em prol da justiça.
Para Chloe, que chegava enfim em casa e encontrava o abraço forte de Jimmy Olsen, era o
começo de duas vidas que começavam a encaixar-se.
Para Hal Jordan, que havia deixado Lois no terraço do Daily Planet e seguia rumo a Watchtower,
era o início de novas e grandes amizades.
Para Lois Lane, de pé junto à bancada do terraço do DP observando a luz no horizonte, era o início
de uma grande jornada, na qual ela não estava sozinha.
Para Lex Luthor, que observava a destruição de sua mansão, era na verdade o fim. O derradeiro
fim de uma amizade que começara anos atrás e que agora não representava nada além de ódio.
Quando Luthor olhou para o alto, viu que também era observado.
“Está admirando o que fez?”, perguntou ao Superman ao vê-lo pairando sobre a mansão.
“Não. Estou contemplando o que você se tornou. Pagará pelos seus atos, Luthor.”
“Não tem provas contra mim. De fato, você as destruiu aqui hoje, junto com todo o resto. Mas eu
irei responsabilizá-lo por isso, Clark. Eu irei te destruir.”
“Você tentará”, Super disse olhando em volta, “Mas não pode se esconder de mim. Eu sempre te
encontrarei, e o deterei.”
“Como acha que poderá deter a todos que querem te destruir?”, indagou Lex. “Você é o homem
de aço, mas não pode com todos ao mesmo tempo. E há muitos que querem te destruir.”
“Ao contrário de você, Luthor... Eu não estou sozinho. Meus poderes não são o que definem o
herói. São todos ao meu redor, os que me amam e depositam sua fé em mim. E eu deposito minha
fé neles. Aqueles que estão sempre dando um salto de fé comigo, é o que me dá forças para deter
pessoas como você. Quantos pulariam com você? Quantos pulariam por você? Acha que Lana
pularia? Seu pai? Eu certamente pularia, mas não por fé. Você não me deixou nenhuma outra
opção a não ser vê-lo como inimigo. E se é meu destino proteger a humanidade de um humano
como você, eu o farei. Mas nunca perderei a humanidade que os que me amam me ajudaram a
conquistar. Este é o meu verdadeiro poder e você não poderá nunca tirar de mim...”
“Se eu não puder te destruir, destruirei aqueles que você ama”, Luthor ameaçou tomado pela
raiva.
“Não duvido de que irá tentar”, disse o Super preparando-se para ir embora. “Afinal, você fez um
ótimo trabalho destruindo a si próprio.”
Luthor observou o voo do Super para longe e segurou o anel de kriptonita com força entre as
mãos. Aquela guerra não estava acabada.
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Mas não hoje.
***
Superman voou de volta para Metropolis mais rápido do que uma bala e ainda foi capaz de
contemplar o final daquele nascer do sol. Avistou o globo do Daily Planet, como um coração
sempre a pulsar sobre o centro de Metropolis. Logo abaixo, estava Lois. Ainda vestida em sua
roupa de festa, cabelos ao vento olhando para os céus. Olhando para ele.
Clark voou mais baixo e colocou-se em modo flutuante a poucos metros do telhado. Olhou para
Lois com uma felicidade no olhar.
“Você salvou a minha vida”, ele disse novamente, ainda incrédulo pela forma como tudo
acontecera.
“Até mesmo o Superman precisa ser salvo de vez em quando...”, Lois respondeu com um sorriso.
Mordiscou o lábio inferior, traquina, “Embora o que você fez depois tenha superado tudo...”
“Nada supera o que você fez por mim, Lois. Você não pode voar.”
Lois ponderou sobre aquilo. “Quando decidi seguir Mannheim, fiz porque meu coração mandou.
Ele estava seguindo o seu. Tudo o que fiz foi te seguir novamente... E mesmo sendo uma trilha
vertical com uma luz incerta no fim do túnel... Eu faria de novo, sem pestanejar. Porque eu te
amo, Smallville. Você me faz acreditar que eu posso voar.”
Clark sorriu emocionado, “Acho que não poderá usar isso nos votos de casamento...”
Lois sorriu de volta, “Bem... Ao menos poderei dizer que literalmente tenho uma queda por você.”
Os dois se olharam felizes e Clark desceu até o telhado, segurando Lois nos braços. “O quão
sortudo pode ser um coração?”
“Exatamente assim”, ela disse buscando os lábios dele e deixando-se levar pelo mais maravilhoso
beijo que poderia receber. Envolveu-o pelo pescoço e deixou que Clark a cobrisse com a capa
vermelha. Suas duas capas.
“Feliz ano novo, Sra. Kent.”
“Feliz ano novo, Sr. Kent.”
Some hearts
They just get all the right breaks
Some hearts have the stars on their side
Some hearts,
They just have it so easy
Some hearts just get lucky sometimes
Some hearts just get lucky, lucky sometimes
E para aqueles corações, era apenas o começo. FIM.
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