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O ROUXINOL DE OVÍDIO
O “Rouxinol de Ovídio” aparece no Livro VI de As metamorfoses, a partir da transformação de
Filomela, princesa de Athenas, filha de Pandion e Zeuxipe, irmã de Progne. Tereu, marido de
Progne, tomado de desejo por Philomela, acaba por raptá-la e violentá-la: corta-lhe, então, a
língua e, assim, a mantém cativa sem que ela possa falar nada a ninguém. Entretanto, Filomela
tece um fio em que narra sua história e a envia a Progne. Esta, como vingança, mata Ítis, seu
próprio filho com Tereu, e o serve como comida ao marido que o come sem saber o que
devorava. Quando descobre tal vingança, Tereu tenta, então, matar as duas irmãs, mas os deuses
do Olimpo intervêm e todos os três viram pássaros : Tereu é transmutado em uma poupa, Progne
é transformada em uma andorinha cujo canto é um lamento de luto pelo filho morto e Filomela é
metamorfoseada no rouxinol com seu belo canto.
Por isso, em Ovídio, mas também em Shakespeare e em uma série de outros autores literários, o
nome de Filomela – abreviado poeticamente também como Philomel – é usado como um
equivalente do rouxinol.
Abaixo, duas versões do “Rouxinol de Ovídio”:
1) A primeira, em português, traduzida por David Jardim Júnior, foi extraída de: OVÍDIO, P.. As
metamorfoses. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint (Ediouro), 1983, p. 113-118.
2) A segunda, em francês, traduzida, com ligeira adaptação do latim por G.T. Villenave, em
1806.
As metamorfoses – Livro VI (Ovídio)
OVÍDIO, P.. As metamorfoses. Tradução de David Jardim Júnior. Rio de Janeiro: Editora
Tecnoprint (Ediouro), 1983, p. 113-118.
PROGNE E FILOMELA
Os próceres da vizinhança se reúnem, e as cidades próximas suplicaram a seus reis que
transmitissem os pêsamos: Argos e Esparta, Micenas dos descendentes de Pélops, e Calidon,
ainda não perseguida pela implacável Diana1, a fértil Orcomena e Corinto célebre por seu bronze,
a altiva Messena, Pairas e a humilde Cleone, e Pilos, de Neleu e Trezena, que ainda não era a
terra de Piteu2, e todas as outras cidades limitadas pelo Istmo entre os dois mares, e aquelas que
1
2
O episódio é contado no Livro VIII.
Piteu era filho de Pélops, rei lendário de Trezena, na Argólida, e avô de Teseu.
se vêem além do Istmo entre os dois mares. Quem poderia acreditar? Somente tu, Atenas, não te
manifestastes. A guerra impediu o cumprimento desse dever; tropas bárbaras, levadas pelo mar,
assolavam as muralhas da Ática. O trácio Tereu, com seu exército de socorro, os derrotara e,
como vencedor, conquistou grande fama. Pandion3 acolheu, dando-lhe a mão de Progne em
casamento, aquele varão rico e poderoso, descendente do grande Marte. Nem Juno, protetora do
matrimônio, nem Himeneu, nem qualquer das Graças esteve presente, para protegerem as
núpcias. As Eumênides conduziram as tochas, trazidas de algum cortejo fúnebre, as Eumênides
arrumaram o leito, e no teto pousou uma ave sinistra, um mocho se empoleirou no alto da câmara
nupcial. Foi sob a influência daquela ave que Progne e Tereu se casaram, e sob a influência
daquela ave que se tornaram pais. A Trácia, em verdade, mostrou-lhes o seu reconhecimento, eles
próprios se mostraram reconhecidos aos deuses. E ordenaram que fosse declarado dia de festa a
data do casamento da filha de Pandion com o soberano, assim como a data do nascimento de Ítis.
A tal ponto o homem ignora onde realmente estão seus interesses! J.á o Titã, trazendo cinco
outonos, repetira, outras tantas vezes, o curso dos anos, quando disse Progne, insinuante, ao
esposo: “Se te mereço alguma consideração, deixa-me fazer uma visita a minha irmã, ou deixa
que minha irmã venha cá; prometerás a teu sogro que ela regressará dentro em pouco. Não
poderás me dar um melhor presente do que deixar-me ver minha irmã”. Ele mandou deitar navios
ao mar, e, manobrando as velas e os remos, entra no porto de Cécrope e aborda a costa de Pireu.
Logo que encontra o sogro, os dois se cumprimentavam apertando as mãos, e a conversa
se inicia sob auspícios felizes; Tereu começou contando a causa de sua vinda, a missão de que a
esposa o incumbira e a promessa de um breve regresso da viajante. Eis que aparece Filomela ,
rica pela magnificência das vestes e mais rica ainda em beleza. Assim caminham nos bosques,
segundo costumamos ouvir as náiades e as driades, se lhes podemos supor a mesma elegância e a
mesma riqueza. Tereu inflama-se ao ver a virgem, como a palha esbranquiçada dos trigais a que
se põe fogo, ou as ervas amontoadas sobre o feno para serem queimadas. Em verdade, sua beleza
merecia; Tereu, todavia, era também estimulado pela sua inata libidinagem, pois os homens de
seu país são inclinados aos prazeres do amor. Arde de desejo por culpa dos maus instintos de sua
raça e do seu próprio. Seu primeiro impulso é o de corromper as companheiras de Filomela e a
lealdade de sua ama, senão a seduzi-la diretamente, com presentes esplêndidos, gastar toda a
riqueza do seu reino, ou, então, raptá-la e defender a presa em uma guerra feroz. E nada há que
não ouse, tomado por um amor desenfreado, e seu peito não pode mais conter a chama que o
consorne. Quer regressar logo, e, em sua ânsia, vale-se da missão de que Progne o incumbira,
tratando de, acobertado por ela, realizar os seus intentos. O amor o tornara eloqüente; e, todas as
vezes que seu empenho se mostrava excessivo, desculpava-se: era Progne que assim queria.
Chegou até as lágrimas, corno se Progne também o tivesse encarregado de vertê-las. Ó deuses
celestiais, corno o coração dos mortais abriga uma cega ignorância! Tereu é tido corno virtuoso
pela enormidade da culpa, e deve o louvor ao crime. E o que dizer de Filomela, que aspira à
mesma coisa, e abraça, carinhosa, os ombros do pai, para que possa ir ver a irmã, invocando sua
felicidade, e, no entanto, contra a sua felicidade? Tereu a fita, devorando-a com os olhos; os
beijos e os abraços, tudo isso o estimula, o inflama, alimenta sua paixão desvairada, e, cada vez
que ela beija o pai, ele deseja ser o pai: e não se mostraria menos infame. Pandion se deixou
convencer pelas súplicas dos dois. Filomela alegra-se e agradece ao pai, e a desventurada
considera urna ventura para os dois o que será lima desgraça para ambos.
3
Pandion era filho do herói lendário ateniense Erictônio.
Já restava a Febo apenas um pequeno esforço e as patas de seus cavalos cortavam o
espaço no declive do Qlimpo; serve-se um banquete real nas mesas e o vinho é derramado em
copos de ouro. Todos depois se entregam ao sono tranqüilo. O rei dos odrisas4, embora separado,
ardia de desejo por Filomela; e, relembrando seu rosto, seus gestos, suas mãos, complacente
imagina ver o que ainda não viu, e ele próprio alimenta o fogo de urna paixão que lhe tira o sono.
Era dia, e Pandio, apertando a mão do genro, derramando lágrimas, recomendou-lhe: “Uma vez
que os justos motivos invocados me convencerairi, meu caro genro, urna vez que vós ambos
quereis, que tu também quiseste, Tereu, ei-la, eu a confio a ti. Pela boa fé, pelos laços de
parentesco, pelos deuses celestiais, eu te suplico: toma cuidado dela com um amor de pai, e faze
com que retorne o mais depressa possível — a demora será bem longa para mim – essa que é o
doce lenitivo da minha velhice. E também, o mais cedo que possas já é muito que sua irmã fique
longe de mim — manda-me Filomela de volta, se tens amor filial”. Ao mesmo tempo que fazia
essas recomendações, cobria a filha de beijos, e as lágrimas caíam ao mesmo tempo que falava.
Depois, como penhor de boa fé, mandou que cada um lhe desse a mão direita, e as juntou. Pediulhes para se lembrarem de saudar em seu nome a filha e o neto ausentes, e diz o último adeus,
com a voz cortada por soluços, atemorizado por pressentimentos que lhe vinharmi à mente.
Logo que Filomela embarcou no navio5, que os remos se moveram na água e que a terra
ficou para trás, Tereu exclama: “Venci! Levo comigo o que cobicei!”. Exulta, e, cruel, com
dificuldade adia a consumação de seu júbilo, sem afastar por um momento os olhos da jovem;
assim é a rapinante ave de Júpiter, quando, com suas
garras aduncas, deposita a lebre no alto ninho; não há fuga possível para o cativo, e o raptor
espera com confiança o seu prêmio. Agora, já terminou a viagem, e a tripulação, deixando o
navio6, já desembarcara no litoral, quando o rei arrastou a filha de Pandion para o fundo de uni
estábulo escondido em uma velha floresta. Ali a prende, pálida, trêmula, apavorada e
perguntando, já em pranto, onde se encontra sua irmã. E, pondo a nu seus intuitos criminosos,
violenta a virgem, que está sozinha e que, em vão, em altos gritos, chama muitas vezes o pai,
chama muitas vezes a irmã, mas invoca principalmente os grandes deuses celestes. Treme, como
o atemorizado cordeiro que, arrancado, coberto de sangue, da boca do lobo cinzento, não pode
acreditar que esteja salvo, ou corno a pomba que, com as penas úmidas de seu próprio sangue,
ainda se lembra, apavorada, das garras aduncas de que esteve prisioneira. Dentro em pouco,
quando refaz o espírito, arranca os cabelos, corno se pranteasse um morto, e estende os braços
doloridos com as pancadas que lhes deu. “Ó barbaro, capaz de ações tão torpes!”, exclama. “Ó
cruel! Não te comoveram as recomendações de meu pai, com lágrimas que lhe arrancou o amor
paterno, nem as preocupações de minha irmã, nem a minha virgindade, nem as obrigações
matrimoniais? Violaste tudo. Tornei-me rival de minha irmã e tu marido de duas mulheres.
Mereço ser castigada como inimiga. Por que não me arrebatas a vida, pérfido, para que não lhe
reste nenhum crime a cometer? Oxalá o tivesses feito antes do nefando concúbito! Minha alma
estaria vazia de culpa. Se, todavia, os deuses celestiais vêem tais coisas, se existe mesmo a
providência divina, se tudo não parecer comigo, hás de pagar-me algum dia. Deixando o pudor de
lado, revelarei o que fizeste. Se dispuser do necessário, irei ao povo; se ficar prisioneira nesta
4
Odrisas, povo da Trácia, que habitava as cabeceiras do Hebro.
Outra vez foi eliminado um adjetivo que parece ter sido imposto por mera necessidade da métrica. O original diz
“pictae ... carinac”, ou seja, “no navio pintado”, ou “colorido”.
6
No original, navio está no plural, e, como na nota anterior, acompanhado de um adjetivo visivelmente expletivo,
pois, na tradução, corresponderia a expressão a “navios castigados (ou fustigados) pelo mar”. Ovídio não faz
referência a tempestades na travessia, como também não fala, das outras vezes, no caso, em mais de um navio.
5
floresta, encherei a floresta com o meu clamor e comoverei os rochedos com as minhas
confidências. Hão de me ouvir até o éter e quem o habita, ainda que seja apenas um deus”.
Essas palavras provocaram a ira do cruel tirano. O medo não era menor, e, levado por
ambos os sentimentos, saca a espada da bainha que trazia à cintura, e, agarrando a jovem pelos
cabelos, dobra-lhe os braços para trás e a acorrenta à força. Filomela estendeu o pescoço, tomada,
à vista da espada, pela esperança de morrer. Continuou, indignada, a invocar o nome do pai,
esforçando-se para falar; então, Tereu, agarrando sua língua com uma tenaz, cortou-a com uma
feroz espaldeirada7. A raiz fica palpitante no fundo da boca, enquanto a própria língua, trêmula,
ainda murmura, na
enegrecida. Como costuma mover-se a cauda cortada de uma cobra, ela palpita e, moribunda,
procura as pegadas da dona. E, mesmo depois desse crime — quase não me atrevo a acreditar —
Tereu, segundo dizem, saciou por diversas vezes sua libidinagem naquele corpo mutilado. Depois
de tudo isso, não hesita em voltar para junto de Progne, que, vendo o marido, pergunta pela irmã.
Ele dá gemidos fingidos, descreve uma morte imaginária; seu pranto o tornou convincente.
Progne arranca dos ombros os véus onde reluz um grande bordado de ouro, envolve-se em vestes
negras, manda erguer um sepulcro vazio e oferece sacrifícios expiatórios aos falsos manes, e
chora pelo destino da irmã, não como deveria chorar.
O deus8, passado o ano, percorrera os doze signos. Que havia de fazer Filomela? A
prisão impedia a fuga; os muros do estábulo, feitos de blocos de pedra, mostram-se
intransponíveis; a boca muda não pode dar indicação alguma. Grande, porém, é o engenho na
adversidade e o sofrimento ensina o ardil. Tece destramente um fio rústico e, no tecido branco,
denuncia o crime, com letras vermelhas; entrega-o a uma serva9 e, por meio de gestos, pede-lhe
que o leve à sua ama. A mulher o levou a Progne, sem saber o que ali levava. A esposa do cruel
tirano leu a dolorosa narrativa da irmã, e — é espantoso que tenha conseguido — calou-se. A dor
cerrou-lhe os lábios. e faltavam-lhe as palavras capazes de expressar toda a sua indignação. Não
há tempo para chorar, mas, sem se preocupar em distinguir o lícito do ilícito, trata de agir, e a
idéia da vingança lhe ocupa todo o espírito.
Era a ocasião em que as mulheres de Sitônia10 costumam celebrar, trienalmente, os mistérios de
Baco; a noite é a confidente dos mistérios. À noite, o Ródope ressoa com os estridentes tinidos do
bronze. À noite, a rainha sai do seu palácio, segundo as prescrições do rito, e toma as armas
usadas na orgia. A cabeça está coberta de pâmpano; do lado esquerdo pende um couro de cervo,
uma leve lança se apóia em seu ombro. Impelida através da floresta, junto com a multidão de suas
companheiras, Progne é agitada pela fúria de sua dor e finge, ó Baco, a fúria que inspiras. Chega
finalmente ao estábulo, situado em um local sem caminhos, lança urros, grita o “evóe”, arromba a
porta, arrasta para fora a irmã, reveste-a dos atributos de Baco e esconde-lhe o rosto com as
folhas de hera, e a leva, atônita, para o interior do palácio. Ao perceber que chegara morada
nefanda, Filomela se horroriza e a palidez cobre-lhe todo o rosto. Tendo encontrado um
esconderijo, Progne retira todos os disfarces sagrados e descobre o rosto pudibundo da
infortunacla irmã. Quer abraçá-la. A outra, porém, não se atreve a erguer os olhos, considerandose a rival da irmã. E, de cabeça baixa, desejaria jurar, invocar o testemunho dos deuses que foi
desonrada à viva força; os gestos suprem as palavras. Progne indigna-se, e, tomada de uma ira
7
O trecho não foi traduzido integralmente, devido à dificuldade que apresenta e ao fato de em nada ser prejudicado o
sentido geral do episódio.
8
Esse deus é o Sol, que, para Ovídio, ora é Apoio, ora Febo, ora o Sol mesmo.
9
“Serva” está implícito no original.
10
A Sitônia é uma península da Trácia.
que não pode mais conter, repreende a irmã chorosa: “Não é com lágrimas que se precisa agir,
mas com o ferro, ou, se tens algum, por qualquer meio que supere o ferro. Não há crime, minha
irmã, ao qual eu não esteja disposta. Eu mesma, quando tiver incendiado com tochas o palácio
real, atirarei no meio das chamas, Tereu, artífice de tua desgraça ou lhe arrancarei com o ferro a
língua, os olhos e os membros que te roubaram a virgindade, ou, com mil ferimentos, expulsarei
sua alma daninha”. Quando Progne terminava as suas palavras, Ítis aproximou-se da mãe. O que
poderia fazer foi por ele sugerido. E, olhando-o com dureza, exclamou: “Ah! Como te pareces
com teu pai!” E, sem dizer mais nada, prepara-se para o horrível crime, fremente de ira
silenciosa. No entanto, tão logo o filho chegou para mais perto e saudou a mãe, passando os
bracinhos em torno do seu pescoço, trocando beijos misturados com carinhos infantis, a mãe se
comoveu, em verdade, a ira se acalmou por algum tempo; contra a sua vontade, os olhos se
enchem de lágrimas, que ela procura conter. Desde, porém, que percebeu que um amor maternal
excessivo lhe abalava a resolução, afastou-se outra vez do filho e voltou o rosto para a irmã, e
depois, olha, alternadamente, para um e outro, e pergunta: “Por que um me diz palavras
carinhosas, enquanto se cala a outra, cuja língua arrancaram? Por que este me chama de mãe e
aquela não pode me chamar de irmã? Olha, filha de Pandion, que marido te trouxe o casamento!
Desonras tua estirpe! E um crime o amor conjugal por Tereu”.
Sem demora, arrasta Ítis, como o tigre do Ganges arrasta na floresta espessa, o íilhote,
que ainda mama, do cervo. E, quando chegaram a uma parte remota do grande palácio, e, embora
o menino, compreendendo o seu destino, lhe estendesse os braços, gritando: “Mãe, mãe!” e lhe
abraçasse o pescoço, Progne o fere com uma espada, no ponto em que o peito se encontra com a
ilharga, sem virar o rosto. Um só ferimento seria bastante para decidir o seu destino: Filomela
corta-lhe o pescoço com outra arma. Depois, as duas recortam aquele corpo ainda palpitante e
retendo um sopro de vida; uma parte ferve em caldeirões de cobre, a outra é assada em espetos; o
aposento está coberto de sangue.
Tal é a iguaria que a esposa oferece ao iludido Tereu. Mentindo que se tratava de uma
celebração religiosa, costumeira em sua pátria, à qual somente ao marido era lícito comparecer,
afasta os amigos e servos. O próprio Tereu, sentado no alto trono de seus antepassados, come, e
engole a própria carne. E tanta é a sua ignorância, que diz: “Traze Ítis aqui”. Progne não
consegue esconder a cruel alegria, e, ansiosa de ser ela própria a núncia da desgraça que
arquitetou, responde: “Está contigo aquele que reclamas”. Tereu olha em torno, e pergunta onde
ele está. Tendo perguntado e repetido a pergunta, Filomela, tal como saíra do assassínio em que
saciara o seu ódio, com os cabelos desgrenhados, se precipita e atira ao rosto do pai a cabeça
ensangüentada de Itis; jamais lhe foi tão intenso o desejo dc falar e manifestar o júbilo por
merecidos insultos. Dando um grande grito, o trácio empurra a mesa e invoca do vale do Estige
as irmãs com cabelos de víboras. Ora deseja, se possível, abrir o peito e tirar para fora a comida
abominável e as vísceras desnudadas; ora chora, chamando-se de miserável túmulo de seu filho.
Agora, persegue as filhas de Pandion com a espada desembainhada. Os corpos das cecrópiclas
parecem suspensos no ar por asas: estavam suspensos por asas. Das duas, uma procura os
bosques, a outra se esconde sob os telhados; a marca do assassinato não se apagou de seu peito, e
sua plumagem é manchada de sangue11. Tereu, que as persegue velozmente, impelido iela dor e
pelo afã de vingar-se, transformou-se em uma ave, com um tufo de penas na cabeça e um bico
desmesuraclo, cuja saliência lembra a ponta de uma lança, Chama-se “poupa” e sua cabeça
parece ostentar armas.
11
Filomela foi metamorfoseada em rouxinol e Progne em uma espécie de andorinha que tem o peito vermelho.
Les Métamorphoses – Livre VI (Ovide)
Tradução (ligeiramente adaptada) de G.T. Villenave, Paris, 1806.
Para a versão completa, em francês: http://bcs.fltr.ucl.ac.be/META/00.htm
PROGNE ET PHILOMELE (VI, 412-674)
Tous les princes voisins se réunirent à Thèbes, et partagèrent son deuil. Les villes de la Grèce,
Argos, et Sparte, et Mycènes où devaient régner un jour les Pélopides; Calydon, que Diane
n'avait pas encore voué à sa haine; la superbe Orchomène, Corinthe, célèbre par son airain; la
fertile Messène, Patras, l'humble Cléones, Pylos, où devait régner le père de Nestor; Trézène, où
régna depuis l'aïeul de Thésée; et toutes les cités que l'isthme renferme entre deux mers; et
toutes celles qui s'élèvent au-delà de l'isthme, engagèrent leurs rois à consoler la tristesse de
Pélops. Athènes, qui l'eût cru ? manqua seule à ce pieux devoir.
[422] Mais la guerre était à ses portes. Les barbares avaient passé les mers, et menaçaient ses
remparts. Térée, roi de Thrace, arme pour sa défense. Il vient, chasse les barbares, et rend son
nom fameux par cette éclatante victoire. Pandion, roi d'Athènes, veut témoigner sa
reconnaissance à ce prince, fils de Mars, puissant par ses richesses et par le nombre de ses sujets.
Il l'unit à sa fille Progné. Mais Junon, qui préside à l'hymen, et le dieu Hyménée, n'ont point
scellé l'union des deux époux. Les Grâces n'ont point orné le lit nuptial; les Euménides le
préparent et l'éclairent de leurs torches funèbres. Un hibou sinistre profane de ses regards cette
couche fatale. C'est sous cet augure que sont unis Térée et Progné. C'est ce même augure qui
préside à la naissance de leur premier enfant. Cependant toute la Thrace témoigne son
allégresse, et rend grâces aux dieux. Elle consacre, par des fêtes solennelles, et le jour où la fille
de Pandion devint l'épouse de son roi, et le jour funeste qui marqua la naissance d'Itys; tant
l'apparence abuse souvent les faibles mortels ! Déjà le soleil avait cinq fois ramené les saisons,
quand Progné, mêlant les plus tendres caresses à ses discours : "Si vous m'aimez, dit-elle à
Térée, et si je vous suis chère, souffrez que j'aille voir ma sœur; ou obtenez de Pandion qu'elle
vienne en ces lieux. Vous promettrez à mon père qu'elle retournera bientôt auprès de lui; la voir
et l'embrasser est la plus grande faveur que je puisse demander aux dieux, et c'est à vous-même
que je peux la devoir". Elle dit, et Térée ordonne qu'on prépare ses vaisseaux. Il part; et secondé
par la rame et les vents, il arrive aux remparts de Cécrops, il entre dans le port du Pirée.
[447] Après avoir donné les premiers embrassements à son beau-père; après avoir joint sa main
à sa main, il commence son discours sous des auspices funestes. Il exposait déjà les motifs de
son voyage; il faisait connaître à Pandion les vœux de Progné. Il promettait que Philomèle serait
bientôt rendue à son amour : en ce moment paraît Philomèle, riche de sa parure, mais plus riche
encore de sa beauté. Telles on peint les nymphes et les dryades lorsqu'elles se montrent dans les
forêts, si cependant on leur suppose ces superbes ornements, cette riche parure.
Térée la voit et s'enflamme, comme s'allument le chaume ancien, la feuille aride, et l'herbe
desséchée. Philomèle pouvait aisément séduire et plaire. Mais le naturel ardent de Térée l'excite
encore. Le Thrace est prompt et violent dans ses passions; et Térée brûle emporté par ses
penchants et par ceux de sa nation.
[461] Dans ses désirs impétueux il médite de séduire les compagnes de Philomèle, de corrompre
la fidélité de sa nourrice. Il veut la tenter elle-même par d'immenses présents; perdre s'il le faut
tout son royaume; ou enlever la princesse, et armer pour elle tous ses soldats. Il n'est rien que
n'ose son amour effréné; et son cœur ne peut plus contenir tous les feux dont il est embrasé. Il
s'irrite des délais qu'on lui oppose. Il revient avec une ardeur empressée aux vœux de son
épouse; en les disant, il exprime les siens. L'amour le rend éloquent; et si son empressement
semble trahir ses feux : "C'est Progné, dit-il, qui parle par ma voix"; et il pleure, comme si
Progné lui eût recommandé de répandre des larmes.
[472] Dieux ! quelle nuit obscure empêche de lire dans le cœur des mortels ! Térée médite un
crime, et on le croit tendre et vertueux; on l'honore, on le loue : que dis-je ? Philomèle partage le
vœu qu'il exprime; et, pressant Pandion dans ses bras, elle demande à voir sa sœur. Elle invoque
l'aveu d'un père; elle le conjure par elle-même et contre elle-même, de ne pas rejeter sa prière.
Térée l'observe dans ce tendre abandon. C'est un aliment de plus à sa flamme funeste. Les bras
dont elle tient son père enlacé, les chastes baisers qu'elle imprime sur son front, tout est
aiguillon, tout est feu, tout augmente son délire. Il voudrait être Pandion; et s'il l'était, serait-il
moins impie !
[483] Enfin Pandion se laisse vaincre à leurs vives instances. Philomèle charmée rend grâce, et
s'applaudit, pour sa sœur et pour elle, d'un succès qui fera la perte et d'elle et de sa sœur.
Déjà les coursiers du soleil se précipitant dans la voie où s'incline l'Olympe, allaient toucher la
barrière de l'occident. On dresse dans le palais les tables du festin. Le vin coule à longs flots
dans des coupes d'or; et chacun s'abandonne ensuite au repos de la nuit.
Mais, loin de Philomèle, Térée est encore en proie à son violent délire. Il se rappelle ses traits,
sa démarche, ses bras; et, pour tout le reste, son imagination seconde ses désirs. Il se plaît à
nourrir les feux dont il est dévoré; et son trouble et ses transports éloignent de lui les bienfaits
du sommeil.
[494] Le jour luit, et déjà Térée est prêt à partir. Pandion l'embrasse, et lui recommande en
pleurant sa chère Philomèle : "Mon fils, dit-il, puisque le veulent ainsi Philomèle et Progné,
puisque vous le voulez vous-même, et que la piété de mes enfants me force d'y consentir, je vous
la confie. Mais, je vous en conjure, et par la foi que nous nous sommes donnée, et par les nœuds
qui nous unissent, et par les dieux immortels, veillez sur elle avec la tendresse d'un père. Pressez
ensuite son retour. Elle est la consolation, le doux appui de ma vieillesse. Quelque courte que
soit son absence, elle sera longue pour moi. Et toi, ma chère Philomèle, si j'ai des droits à ton
amour, hâte-toi de revenir auprès d'un père qui souffre déjà trop d'être séparé de ta sœur."
Il disait, et en pleurant il embrassait sa fille; et ses pleurs mêlaient un charme secret à ses tendres
chagrins. Il prend la main de sa fille et la main de Térée, gage de la foi de leurs promesses. Il les
serre dans ses mains. Il donne à son gendre, il donne à Philomèle de doux embrassements pour
Progné, pour le jeune Itys. Il allait dire les derniers adieux : sa voix s'éteint dans les sanglots; et
son âme semble agitée par de noirs pressentiments.
[511] Philomèle est placée sur le vaisseau fatal. La rame fend les flots, et la terre semble
s'éloigner : "Je triomphe, s'écrie Térée ! j'emporte enfin cette proie objet de tous mes vœux" ! Sa
joie est un délire; et déjà il retient à peine la violence de ses transports. Le barbare a le regard sur
elle, et ne le détourne jamais. Tel l'oiseau de Jupiter, sous sa tranchante serre, enlève un lièvre
timide, et le porte dans son aire; il ne craint plus de perdre sa proie, et cependant il fixe encore
sur elle l'œil avide d'un ravisseur.
Déjà le vaisseau touche aux rives de la Thrace. Déjà les matelots fatigués sont descendus sur le
rivage. Térée conduit la fille de Pandion vers une haute tour, au fond d'une forêt antique et
sauvage. Il l'entraîne pâle et tremblante. Elle craint tout, elle pleure, et demande où est sa sœur.
Le barbare l'enferme; et bientôt, avouant son crime, il triomphe par la violence d'une vierge qui,
seule et sans appui, implore souvent par ses cris et son père, et sa sœur, et les dieux, qui ne
l'entendent pas. Elle tremble et frémit : telle la brebis timide craint encore lorsqu'un chien
courageux vient de l'arracher, teinte de son sang, à la dent du loup avide. Telle la colombe,
échappée au vautour, palpite en voyant son aile ensanglantée, et craint encore la serre cruelle
qu'elle vient d'éviter.
[531] Bientôt, revenue à elle-même, Philomèle arrache ses cheveux, se meurtrit le sein et, dans
son désespoir, tendant les bras vers Térée, elle s'écrie : "Barbare ! qu'as-tu fait ? Cruel ! ni les
prières de mon père, ni les larmes qui les rendirent si touchantes, ni le souvenir de ma sœur, ni
ma timide innocence, ni les droits sacrés de l'hymen : rien n'a pu t'arrêter. Tu as tout violé.
Philomèle est donc la rivale de Progné ! Térée est l'époux des deux sœurs ! Ah ! méritais-je cette
horrible destinée ! Perfide ! achève, arrache-moi la vie. Ce dernier crime manque à ta fureur.
Eh ! que ne l'as-tu commis avant ton exécrable attentat ! mon ombre serait descendue sans tache
chez les morts. S'il est des dieux vengeurs, s'ils ont vu mon outrage, si tout n'a pas péri avec
mon innocence, tremble, je serai vengée. Je braverai la honte. Si tu m'en laisses le pouvoir, je
raconterai moi-même tes forfaits; je veux en épouvanter le monde. Si tu me retiens captive dans
ces forêts, je les ferai retentir dans ces forêts. J'attendrirai ces rochers témoins de tes fureurs. Je
frapperai le ciel de mes cris, et les dieux, s'il en est qui l'habitent, les dieux me vengeront !"
[549] Ces reproches, ces menaces agitent le tyran, et remplissent son âme de rage et de terreur.
Emporté par l'une et l'autre, il tire le glaive qui pend à son côté; il saisit par les cheveux sa
victime, lui tord les bras, et l'enchaîne. Elle lui tend la gorge; le glaive brille à ses yeux; elle
espérait la mort. Le monstre saisit et presse entre deux fers mordants, sa langue, qui essaie
encore l'imprécation et le nom de son père; il la coupe jusques à la racine; elle tombe, palpite, et
murmure sur la terre sanglante. Telle la queue d'un serpent que le fer a coupée s'agite, et cherche
en mourant à rejoindre son corps.
[561] Après ce nouvel attentat, le monstre ose encore (si pourtant il est permis de le croire), il
ose, dans d'horribles embrassements, profaner ce corps qu'il vient de mutiler. Il se présente
ensuite devant Progné, qui lui demande sa sœur. Il verse des larmes trompeuses; il annonce la
mort de Philomèle, et sa feinte douleur achève de confirmer son récit. La reine abusée dépouille
la pourpre et l'or de ses habits; elle se couvre de longs voiles de deuil. Elle appelle en pleurant
les mânes de Philomèle autour d'un vain tombeau, monument de sa douleur. Mais ce n'était pas
ainsi qu'il fallait pleurer les destins de sa soeur.
[571] Le soleil avait parcouru les douze signes qui partagent l'année. Que faisait Philomèle ? des
gardes l'empêchent de fuir. Les murs de sa prison sont trop élevés. Sa bouche muette ne peut
révéler sa funeste aventure. Mais enfin sa douleur profonde la rend industrieuse, et le génie naît
de l'adversité.
L'aiguille mêle sur la toile des fils de pourpre à des fils blancs; et bientôt par un art nouveau ce
tissu retrace le crime de Térée et le malheur de sa victime. Philomèle confie cet ouvrage à l'une
de ses femmes, et, par ses gestes, l'invite à le porter à la reine. L'esclave remplit ce message sans
en connaître l'objet. Progné déroule le tissu fatal; elle y lit la déplorable aventure de sa sœur.
Elle lit, et se tait. Quelles paroles, quels cris exprimeraient l'horreur dont elle est saisie ! Mais,
sans s'arrêter à verser des larmes inutiles, prête à tout entreprendre, prête à tout oser, elle roule
d'affreux desseins, et médite en silence une vengeance terrible.
[587] C'était le temps où les femmes de la Thrace célébraient les mystères triétériques. La nuit
est consacrée à ces fêtes de Bacchus. La nuit a déployé ses voiles. La nuit, le Rhodope retentit
du son aigu des instruments d'airain. La nuit, Progné sort de son palais. Elle connaît les rites des
orgies; elle prend les armes des Bacchantes. Le pampre couronne sa tête. À son côté gauche pend
une peau de cerf; elle porte sur son épaule une lance légère.
Terrible, agitée des fureurs de la vengeance, et feignant l'inspiration des fureurs de Bacchus, la
reine parcourt les forêts; elle est suivie de ses nombreuses compagnes. Elle arrive avec elles à la
tour qui renferme Philomèle. Les échos répètent ses hurlements; elle crie, Évohé ! brise les
portes, enlève sa sœur, la revêt de l'habit des Bacchantes, couvre son front des lierres consacrés,
l'entraîne épouvantée, et la conduit dans son palais.
[601] L'infortunée a frémi d'horreur. Tout son sang s'est glacé quand elle a touché le seuil de ce
palais funeste. Progné la mène dans un lieu retiré; elle la dépouille des signes mystérieux des
orgies, et débarrasse du lierre son front, qui pâlit de honte et de douleur. Elle veut l'embrasser.
mais Philomèle n'ose lever les yeux; elle se regarde comme la rivale de sa sœur; et tenant sa tête
inclinée vers la terre, elle veut jurer, elle veut attester les dieux que sa volonté ne fut point
complice de son crime; et au défaut de la voix, le geste exprime sa pensée. Progné s'enflamme et
s'abandonne aux transports de sa fureur. Elle blâme les pleurs de Philomèle : "Ce ne sont pas des
pleurs, s'écrie-t-elle, c'est du sang qu'il s'agit ici de répandre. C'est le fer qu'il faut saisir, ou tout
ce qui peut être plus terrible encore que le fer. Oui, je suis prête à tous les crimes de la
vengeance. Oui, je porterai la torche dans ce palais, et sous ses toits embrasés je précipiterai le
coupable Térée; ou j'arracherai à ce tigre et la langue et les yeux; ou le fer éteindra dans son
sang son détestable amour; ou par mille blessures, je chasserai de son corps son âme criminelle.
Je médite un grand crime; mais j'ignore encore à quel affreux dessein s'arrêtera ma vengeance".
Elle parlait. Itys en ce moment vient au-devant de sa mère; et soudain sur tout ce qu'elle peut, la
vue de cet enfant l'éclaire et la décide. Elle jette sur lui un regard farouche : "Ah ! que tu
ressembles à ton père" ! Elle dit, et se tait. Elle a conçu le crime le plus affreux : sa fureur
concentrée n'en est que plus terrible.
[624] Cependant, Itys s'approche de sa mère. Il lève, il tend ses petits bras pour l'embrasser.
Suspendu à son cou, il lui donne de tendres baisers; il lui prodigue les douces caresses de
l'enfance. Sa mère est attendrie; la colère n'anime plus ses traits; et, malgré elle, ses yeux se
remplissent de larmes. Mais bientôt elle sent que dans son cœur l'amour maternel va triompher
de son ressentiment. Elle détourne ses regards attendris, et les reporte sur sa sœur. Tour à tour
elle regarde Itys et Philomèle : "Pourquoi, dit-elle, l'un me touche-t-il par ses caresses, tandis
que l'autre, privée de l'organe de la voix, ne peut se faire entendre ! Il me nomme sa mère,
pourquoi ne peut-elle me nommer sa sœur ! Fille de Pandion ! vois donc quel est ton époux !
songe au sang qui coule dans tes veines ! la piété est crime envers un époux tel que le tien".
[636] Soudain, telle qu'aux rives du Gange, une tigresse emporte un faon timide dans les
sombres forêts, Progné saisit son fils et l'entraîne au fond de son palais; et tandis que déjà,
prévoyant son sort, il tend des bras suppliants, et s'écrie : "Ô ma mère ! ô ma mère" ! et cherche
à l'embrasser, elle plonge un poignard dans son cœur, sans détourner les yeux. Un seul coup
avait suffi pour ce meurtre exécrable : cependant Philomèle égorge aussi cette tendre victime.
Une tante, une mère, déchirent ses membres palpitants, qu'un reste de vie semble animer encore.
Elles en plongent une partie dans des vases d'airain. Elles placent le reste sur des charbons
ardents; et le lieu le plus retiré du palais est souillé de sang et de carnage.
[647] Progné fait servir ces mets exécrables à Térée, à Térée tranquille et libre de soupçon; et
feignant un banquet sacré, où, selon un usage antique et révéré dans Athènes, sa patrie, la reine
seule peut être admise auprès de son époux, elle ordonne, et tous ceux qui sont présents se
retirent. Térée, assis sur le trône de ses aïeux, se repaît de son propre sang, et engloutit dans ses
entrailles les entrailles de son fils; et telle est encore son erreur qu'il demande son fils ! "Faites
venir mon fils" ! disait-il à son épouse. Elle ne peut plus contraindre une barbare joie, et
impatiente de lui annoncer son malheur : "Tu demandes Itys, dit-elle ! Itys est avec toi". Il
regarde, il cherche autour de lui. Il appelait son fils : Philomèle, les cheveux épars, de meurtre
dégouttante, s'élance, élève en l'air la tête d'Itys, et la jette à son, père. Oh ! qu'elle aurait voulu
pouvoir parler en ce moment, et, par ses discours furieux, exprimer l'affreuse joie d'une affreuse
vengeance !
[661] Le roi de Thrace repousse la table, s'écrie, et appelle à son secours les terribles
Euménides. Il voudrait de ses flancs entrouverts arracher ce mets exécrable, cette partie de luimême qu'il a dévorée. Il pleure, il s'appelle lui-même le tombeau de son fils. Bientôt, le fer à la
main, il poursuit les filles de Pandion; elles semblent voler : elles volent en effet dans les airs.
Philomèle va gémir dans les forêts; Progné voltige sous les toits; mais elles conservent les
marques de leur crime, et leur plumage est encore ensanglanté.
Emporté par sa douleur et par sa rage, Térée est aussi changé en oiseau. C'est la huppe. Une
aigrette surmonte sa tête; son bec, qui s'allonge, prend la forme d'un dard et sa tête est armée et
menaçante.