Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória

Transcrição

Faça AGORA! - Arquidiocese de Vitória
vitória
Ano X
•
Nº 121
•
Setembro de 2015
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
editorial
Parece mas não é
N
em sempre o que parece é. Todos sabemos disso na
teoria, mas às vezes a prática é tão surpreendente
que leva-nos a dizer: é mesmo!
Foi isso que a equipe da Revista Vitória constatou
nesta edição. Sentados na sala de reuniões partilhando “os
conhecimentos” de cada um concluimos que o Programa
Ciência sem Fronteiras estava com muitas deficiências.
A decisão sensata de ouvir quem participou ou participa
levou-nos por outros caminhos da educação e, também à
conclusão de que o Programa tem limites, sim, mas todos
os ouvidos tiraram bom proveito ‘sim senhor’!
Como em tantas outras dimensões da vida, na educação as realidades diferentes coexistem. O resultado está
na reportagem e a confirmação também: nem tudo que
parece é.
Boa leitura! n
Maria da Luz Fernandes
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vitória
Revista da Arquidiocese de Vitória - ES
Ano X – Edição 121 – Setembro/2015
Publicação da Arquidiocese de Vitória
12
Ideias
Por quais sentimentos o seu
coração é habitado nestes tempos?
03
08
Editorial
micronotícias
Problemas em luzes e cores
15
17
Economia Política
Distribuição como essencial
20
22
carismas religiosos
A Milícia de Cristo
aspas
Sérgio Sampaio
viver bem
Livros e um dedo de prosa
05 Atualidade
11 Especial
16 espiritualidade
18 caminhos da bíblia
21 sugestões
26 comunicação
32 Mundo Litúrgico
39 pensar
46 Acontece
27
29
Arquivo memória
entrevista
Vivendo um dia de cada vez
40
42
Pergunte a quem sabe
Existe fórmula para a confissão?
45
cultura capixaba
Contam nas rodas de conversa
capixaba que...
ensinamentos
“Série especial sobre os
Sacramentos” - Batismo
34
24
diálogos
À minha Igreja com carinho
Reportagem
As contradições
da educação
Arcebispo Metropolitano: Dom Luiz Mancilha Vilela • Bispo auxiliar: Dom Rubens Sevilha • Editora: Maria da Luz Fernandes /
3098-ES • Repórter: Letícia Bazet / 3032-ES • Conselho Editorial: Albino Portella, Alessandro Gomes, Edebrande Cavalieri, Gilliard
Zuque, Marcus Tullius, Vander Silva • Colaboradores: Dauri Batisti, Giovanna Valfré, Raquel Tonini, Pe. Andherson Franklin • Revisão:
de texto: Yolanda Therezinha Bruzamolin • Publicidade e Propaganda: [email protected] - (27) 3198-0850
Fale com a revista vitória: [email protected] • Projeto Gráfico e Editoração: Comunicação Impressa - (27) 3319-9062
Ilustradores: Richelmy Lorencini e Rennan Mutz • Designer: Albino Portella • Impressão: Gráfica e Editora GSA - (27) 3232-1266
Atualidade
Gilliard Zuque
Vander Silva
Mais vida nas
ruas do centro
A região central
da cidade volta às
manchetes com o
desenvolvimento
de novos projetos
culturais e
opções de lazer.
C
aminhar pelas ladeiras e
ruas estreitas do Centro
de Vitória é, sem dúvida,
um passeio pela história. Impossível para frequentadores assíduos,
ou mesmo turistas, não perceber
a energia cultural presente nas fachadas históricas dos prédios, nos
bancos das praças e nos desenhos
arquitetônicos das escadarias, ao
mesmo tempo mantendo um clima bucólico, típico em cidades
do interior.
Mas nem toda essa tradição
centenária, impediu o deslocamento do eixo de desenvolvirevista vitória I Setembro/2015
5
mento para a Região da Praia do
Canto entre as décadas de 70 a 90,
o que provocou o esvaziamento
do Centro. Com isso, lojas, prédios públicos e opções de lazer
migraram no mesmo sentido.
O casario e o comércio entraram em rápido declínio e abandono. Espaços que antes eram
usados como referência, para a
mobilização político-social e cívica, foram abandonados. Como,
por exemplo, a Praça Oito que foi
palco das “Diretas Já” e concentrou as brincadeiras do carnaval,
transferidos posteriormente para a
Praça do Papa e Sambão do Povo
respectivamente.
Os empreendimentos lentamente decaíram, abrindo espaço
para a prostituição e venda de
drogas ilícitas. Os moradores que
restaram passaram a gradear suas
casas e deixaram de frequentar as
Atualidade
ruas com medo da insegurança
instalada.
Nesses últimos anos, entretanto, o movimento de ocupação do Centro Histórico tomou
o sentido contrário ao que vinha
ocorrendo e surgiram iniciativas
de ocupação dos espaços públicos
e privados que paulatinamente
conquistaram novos moradores
(com características mais jovens
e dinâmicas) e empreendimentos
culturais voltados para a revitalização da vida artística, gastronômica, musical e de lazer.
A partir de então coisas do
cotidiano, como bancas de fruta
nas calçadas e as cocadas preparadas na hora voltaram a compor a
paisagem e movimentar o Centro
da capital. A feira livre de sábado
voltou e trouxe animação com
pandeiro, cavaquinho, surdo e demais instrumentos com nome de
“Samba da Xepa”, que nada mais
é do que os músicos moradores do
local aproveitando um lugarzinho
(ali ao lado do caldo de cana) para
confraternizar comendo feijoada
ou mocotó, enquanto ‘as patroas’
compram as verduras da semana.
Aliás, a música desceu os
morros da Fonte Grande e Piedade e se instalou nos barzinhos
da região e, durante o carnaval,
acontece o desfile do bloco “Regional da Nair”, que revive os
clássicos do samba e atrai centenas de pessoas para o carnaval
de rua.
Outra iniciativa que vem
animando as noites do Centro é na
rua Gama Rosa. A união de empresários donos de bares permitiu
que os consumidores frequentem
diferentes ambientes pagando
apenas um couvert artístico e isso
já apresenta resultados atraindo
novo público e levando agitação
às ruas que ficavam desertas com
o cair da noite e o fechamento do
comércio.
O Ateliê “Casa Aberta”, da
artista Stael Magesck, apresenta
durante o ano vários eventos com
shows variados, performances
artísticas e exposições que têm
feito jovens de outros bairros de
Vitória e de outras cidades descobrirem o Centro como opção
cultural e de lazer; o “Lendo na
Calçada” promove a literatura;
revista vitória I Setembro/2015
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e o “Cozinha Amiga e Almoço
Musical” convidam artistas locais
a prepararem pratos e mostrarem
seus trabalhos.
Os shows musicais, a presença de moradias espaçosas e com
preços de compra mais acessíveis,
a transformação de antigos hotéis em unidades habitacionais,
trazendo novos moradores para
a região, as intervenções na área
da limpeza pública e o reforço na
segurança, mostram um esforço
conjunto que tem dado novo impulso ao Centro.
A requalificação de prédios
públicos como o Palácio Anchieta, sede do governo estadual, em
espaço de mostras, palestras e
exibições, com uma série de
exposições artísticas, além de
levar o público para a região em
busca de lazer, também abre uma
janela para que o capixaba possa
apreciar a cultura erudita, tanto
internacional quanto local.
Outro passo importante nes-
“Surgiram iniciativas de
ocupação dos espaços públicos
e privados que paulatinamente
conquistaram novos
moradores (com características mais
jovens e dinâmicas) e empreendimentos
culturais voltados para a revitalização
da vida artística, gastronômica, musical
e de lazer.”
se processo foi a aquisição do
prédio do antigo Cinema Glória
pelo Serviço de Comércio - Sesc.
O agora rebatizado Sesc-Glória
possui salas para apresentações
teatrais, palestras, ensaio de grupos de dança, biblioteca, laboratório multimídia e duas salas de
cinema, inauguradas recentemente. A estrutura, além de receber
artistas locais, promove projetos
que atraem exposições e artistas
de renome nacional e internacional, reafirmando o Centro como
opção cultural de qualidade.
Entretanto, alguns sinais de
abandono ainda deixam claro que
há muito para ser feito
O retorno da vida social ao Centro de Vitória passa por uma
série de ações. Não basta somente reformar prédios e criar espaços, faz-se necessário também pensar em aumentar os projetos
de ocupação social e cultural, tanto pela iniciativa privada quanto
pelo poder público. Só assim o Centro terá todo seu potencial
histórico, cultural e artístico explorado, deixando de ser ponto
de passagem para se tornar ponto de encontro.
revista vitória I Setembro/2015
7
As apresentações teatrais
constantes nos teatros Carlos
Gomes e Sesc-Glória unem-se
às festas de ruas que ocorrem
durante o carnaval. Aliás, nesse
mês de setembro ocorre a Virada
Cultural, para comemorar o aniversário da Cidade com apresentações musicais, cinema, teatro e
manifestações artísticas ao longo
de toda a Avenida Jerônimo Monteiro, Praça Costa Pereira e Praça
Oito. n
micronotícias
Problemas em luzes e cores
Um prédio interativo em São Paulo expõe os problemas da cidade de uma maneira diferente: ruídos e
poluição são transformados em luzes, geradas por um
sistema que capta o som da rua e a qualidade do ar e
reflete em efeitos visuais coloridos. A obra de arte a
céu aberto monitora o entorno da avenida 24h por dia e
reage em tempo real aos estímulos.
No limite
A Humanidade está no vermelho. Essa é a mensagem
passada pela organização internacional Global Footprint
Network, que calculou o Dia de
Sobrecarga da Terra, alcançado
neste ano no dia 13 de agosto.
A data marca o limite em que
a demanda anual por bens e
serviços fornecidos por mares
e terras — frutas e vegetais,
carne, peixe, madeira, algodão e
absorção de dióxido de carbono
— supera o que o ecossistema
do planeta pode renovar em
um ano. Segundo a entidade,
a marca é atingida mais cedo
a cada ano.
Além dos 140
caracteres
Os usuários do Twitter
que quiserem se comunicar
via mensagem direta, ou DM,
como é chamada, terão mais
espaço para o diálogo. A rede
social anunciou a mudança,
acabando com o limite de
140 caracteres para esse tipo
de mensagem. A rede social
deixou claro que a remoção
dos limites de caracteres
para as mensagens privadas
não significa que os tuítes
em breve também passarão
a abolir os 140 caracteres.
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Economia e conscientização
A campanha de conscientização pelo Brasil sobre o uso
da água tem dado resultados.
No Mato Grosso do Sul, a ação
de um detento gerou uma economia de R$ 267 mil para o
Estado em três meses. Com
a adaptação de uma peça no
chuveiro, Carlos Rodrigues de
Moraes auxiliou na redução do
consumo de 30,9% de água, na
unidade em que cumpre pena. O
sistema criado funciona através
de um tampão com um pequeno
furo, que, quando ajustado à
instalação hidráulica, diminui o
fluxo da água, aumenta a pressão e gera a economia.
Páginas filtradoras
Americanos fizeram os primeiros testes para transformar páginas de livros em
filtro purificador de água. O “livro bebível” traz informações impressas nas páginas
sobre como e por que a água deve ser filtrada. As páginas têm nanopartículas de prata
ou cobre, que matam bactérias à medida que a água passa pelas páginas. Nos testes,
o papel conseguiu remover mais de 99% das bactérias.
Armazenar genomas
O Google dá mais um passo na oferta de serviços. A empresa tem abordado hospitais e
universidades com a proposta de que utilizem o Google Genomics, armazenamento na nuvem
específico para o código genético humano, ou seja, será guardado o conjunto dos genes onde
fica toda a informação sobre a construção e o funcionamento de um organismo. A nova ferramenta permite que pesquisadores analisem e comparem milhões de genomas rapidamente,
multiplicando as suas descobertas no processo.
Música para relaxar
Ouvir música antes, durante e depois de uma
operação pode ajudar a reduzir a dor, apontaram
pesquisadores da Universidade Queen Mary em Londres
num estudo recente. De acordo com o resultado, pacientes
que ouviram música durante o procedimento ficaram menos
ansiosos depois da cirurgia e não precisaram tomar tantos analgésicos. Segundo os pesquisadores, a música foi eficaz até mesmo
quando pacientes estavam sob efeito de anestesia geral.
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9
Vitória/ES
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especial
O dilema do Rio Doce
O
Rio Doce sempre foi o
grande colosso hídrico
da região Sudeste do
Brasil. Tudo que envolve sua
história e natureza é descrito com
grandiosidade. Por isso, quando
se ouve dizer que o Doce não tem
força para romper a barreira de
areia na foz e desaguar no mar,
a primeira sensação que se tem
é de que o fim do mundo está
próximo ou que o homem foi
longe demais em sua ignorância cega de agressão à natureza.
O próprio nome do rio Doce
já traz essa noção de suas dimensões majestosas. Reduto de várias tribos indígenas da família
macro-gê, o primeiro nome do
Doce foi Watu, que na língua dos
Krenaks e povos irmãos queria
dizer rio largo. Depois, na época
da “descoberta” dos portugueses, quando as águas barrentas
do rio foram percebidas no mar
a cerca de 15 milhas da costa,
as caravelas vindas do oceano
penetravam rio adentro como se
ele fosse um mar de água doce,
sendo por isso chamado de Mar
Dulce, e logo depois Rio Doce.
Assim como o rio, as florestas que guardavam as suas
margens eram também monumentais. Hoje já é cientificamente comprovado através da
pesquisa conduzida pela Profa.
Dra. Luciana Thomaz que os
recordes mundiais de biodiversidade florestal ainda perten-
cem às florestas do Rio Doce.
Um dos motivos desta região
ter se mantido como um local
isolado por muito tempo foi a
descoberta, em 1696, de jazidas
de ouro nas Minas Gerais. Pouca
gente se dá conta, mas Ouro Preto e Mariana, as duas primeiras
cidades do ciclo do ouro, estão
situadas na Bacia do Rio Doce.
Ou seja, se o ouro descesse em
canoas até o mar chegaria naturalmente em Regência, a foz do
Doce. Mas a Coroa portuguesa
decidiu que o controle da riqueza dependia da manutenção de
apenas um caminho, por terra,
até Paraty, no Rio de Janeiro.
Algumas das páginas mais
célebres sobre o Rio Doce e suas
matas, mostrando os resultados
deste isolamento, foram escritas
pelo naturalista francês Auguste
Saint-Hilaire, que aqui esteve em
1822, e registrou em seu livro
“Viagem à Província do Espírito Santo e Rio Doce” o quanto
se sentia assustado ao navegar
naquelas águas e se embrenhar
nas matas escuras e densas que se
espalhavam em várias direções.
O mais impressionante é que
este conjunto de rio e florestas se
manteve praticamente intacto até
o início do século XX, mesmo
estando encravado no coração
da região sudeste, a mais industrializada e urbanizada do Brasil!
A situação da região só começa a mudar com a construrevista vitória I Setembro/2015
11
ção da Estrada de Ferro Vitória
a Minas a partir de 1903, processo que se encontra revelado
na obra “O Desbravamento das
Selvas do Rio Doce”, escrita
pelo engenheiro da ferrovia,
Ceciliano Abel de Almeida.
As selvas foram transformadas em madeira e em
cinzas, dando lugar ao café
e este, depois, aos pastos.
Hoje, com as margens e
encostas sem a proteção da
vegetação, as chuvas na Bacia
do Doce carreiam toneladas
de solo para o leito do rio produzindo um assoreamento tão
gigantesco quanto tudo que se
refere a este grande manancial.
E, provavelmente, foi a
gigantesca enchente de 2013 a
responsável pelo assoreamento
da foz agora em 2015. Naquele
ano, as águas do rio Doce chegaram, por exemplo, até Urussuquara, cerca de 65 km ao norte
de Regência, inundando tudo que
havia no caminho. Os sedimentos trazidos das montanhas pela
força descomunal da cheia foram
estocados na foz. Agora, embora
a seca não seja a mais severa já
enfrentada pela região, a quantidade de água do rio não consegue
ultrapassar o volume excedente de areia trazido em 2013. n
Alberto Pêgo
Ambientalista
ideias
sentimentos
nestes tempos?
Por quais
o seu coração é habitado
P
or quais sentimentos o seu
coração é habitado nestes
tempos? Os africanos morrem atravessando o mediterrâneo.
O Papa exorta-nos com a urgência
nas palavras e a ternura na voz
para que cuidemos da mãe terra
tão irresponsavelmente maltratada. As chacinas nas periferias
das grandes cidades brasileiras
se sucedem sem que o indigna-
”Vai-se pelos caminhos - pois que é preciso ir - massacrado pela rotina,
pela quase impossibilidade wde fugir das teias das
máquinas produtoras de mentes amestradas.”
do tinir de panelas ressoe pelas
varandas. A política segue como
um campo de desafios homéricos para os que acreditam em
honradez e dignidade. O capital
define nos “impérios do norte”
modos de pensar, de acreditar,
de sonhar, de ser gente de “bem”
e faz com que os habitantes das
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colônias defendam como próprios
os interesses que são sempre e
primeiramente deles.
Por quais sentimentos o seu
coração é habitado nestes tempos? O mundo é cada vez mais
desafiado a ser outro mundo. Tateamos rumos, buscamos luzes. O
que se pode dizer, no entanto, é
que somos pegos, todos, por um
sofrer. Um sofrer que não aceita
apenas um nome, mas que é a
sensação-experiência de que a
vida não está, de fato, sendo vivida. Um sofrer que nos tira – seres
de risos que somos desde recém-nascidos – em figuras de olhares
opacos, de faces caídas, sobrecarregados de fardos. Quem sabe
seja desamparo um dos nomes
desse sofrer, ou desesperança,
desconforto constante, agonia...
Mas certo é... certo é que bem lá
no fundo de cada um pousa uma
certeza: a vida poderia ser outra
coisa. A vida poderia ser outra.
Vai-se pelos caminhos - pois
que é preciso ir - massacrado pela
rotina, pela quase impossibilidade
de fugir das teias das máquinas
produtoras de mentes amestradas.
Vai-se como quem segue num
ônibus lotado em dia de chuva e
com as janelas fechadas. Vai-se
pelos anos, de uma luta para outra, de um dispositivo eletrônico
em bom estado para o último lançamento, de uma sobrecarga de
trabalho para o pânico, de dores
sem remédio para remédios de
dormir. Tudo se perde, se
esvai, se evapora: pessoas, poesias, sentidos.
Fica um tédio,
uma fenda, uma
carência, uma tristeza. E o pior, se não
formos capazes de
tirar lições de nossas
perdas e derrotas, a
tristeza azedar-se-á em
ódio. E ela se tornará assim, infelizmente, a condutora de
nossas ações. É preciso buscar
culpados - a tristeza/ódio sugere. É preciso materializar aqui o
inimigo que é difuso e distante. É
preciso odiar quem adota outros
modos de vida e quem expressa
pensamentos diferentes.
Torne-se paladino disto e
daquilo e seja autocomplacente.
Aponte a loucura do outro e você
se fartará da sensação de ser “o
normal”. E o que se vê, então?
Atira-se nos pobres imigrantes
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13
haitianos, espanca-se o travesti até
a morte, ignora-se o que se passa
ali, logo ali em outro mundo, nos
morros e periferias.
Caminhos? Antes criar ilhas
e inventar travessias entre elas.
Ilhas de resistências, de gentilezas, de bondades, de generosidades. Ilhas inventadas dessa
ou daquela maneira no oceano
do mundo-cão de modo que as
pessoas possam retomar as grandes virtudes que um dia foram
cultivadas por elas mesmas.
Ser realista sem dispensar o
impossível, portanto, e se sintonizar com a oportunidade: o tempo
não me endurece, o tempo não é
o que vivo, vivo o amor, agora.
Então, dizer, quem sabe, como
Guimarães Rosa em Grandes Sertões Veredas: porque eu, de tanto
viver de tempo, tinha esquecido
aquele amor. Recordar o amor,
voltar a ele, desapegar-se das
durezas dos dias e acreditar nas
ternuras dos instantes. Resgatar a
coragem suave e a delicadeza corajosa para afirmar jubilosamente
a vida. Outra vida. Ser capaz de
dizer com atitudes: vivo, vivemos,
a vida está em nós, bom é viver,
que todos vivam! n
Dauri Batisti
Economia Política
Distribuição como essencial
E
conomia enquanto
campo de relações sociais tem três focos: a
produção, a circulação e a
distribuição de bens, serviços
e conhecimentos. Desde que
emergiu como um campo
específico de estudos em
meados do século XVIII,
tem sido majoritária a preocupação com a produção e
a circulação, principalmente
de bens.
Na medida em que o
progresso técnico passou a
facilitar de forma crescente no tempo a produção em
escala e o transporte entre
áreas cada vez mais longínquas, a chamada ‘ciência da
escassez’ foi mudando sua
centralidade e cada vez mais
se preocupa com formas de
induzir o aumento da demanda por bens produzidos
a preços mais baixos e em
diversas localidades. E mais,
ainda que preocupações éticas quanto à forma como
o progresso econômico se
distribui estivessem presentes em diversos autores no
passado, a busca de respostas
éticas se acentuou em função
do aumento da concentração
de renda nas últimas décadas.
Esse aumento (inclusive
nos países desenvolvidos)
tem resultado em um debate
ampliado que busca soluções
para a forma e o conteúdo
dessa concentração. Mais do
A crise fiscal
que acomete
países em todos
os continentes,
também contribui
para aquecer
o debate sobre
o quanto dos
orçamentos
públicos vai para
pagamento de
juros e quanto
é gasto em
educação, saúde,
transportes,
cultura e
programas sociais.
que uma questão até pouco
tempo atrás restrita aos embates empregado-empregador e países centrais - países
periféricos, a má distribuição da riqueza mundial tem
levado a discussão para o
confronto entre o que vai
para o segmento financeiro
e o que cabe aos segmentos
produtores de bens e de serviços.
Apesar da força de
pressão política em função
de seu poder econômico, o
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15
mercado financeiro vem sendo alvo da discussão pública
a respeito da concentração
de renda. Foi assim quando
movimentos do tipo ‘occupy wall street’, que ganhou
força a partir da explicitação
do vigoroso crescimento nos
últimos vinte anos da renda
do 1% mais rico nos Estados
Unidos, em evidente contraste com o empobrecimento
relativo dos restantes 99%.
A crise fiscal que acomete países em todos os continentes, também contribui
para aquecer o debate sobre
o quanto dos orçamentos públicos vai para pagamento
de juros e quanto é gasto em
educação, saúde, transportes,
cultura e programas sociais.
Dai a necessidade de
politizar o debate econômico, para muito além da frieza
dos números e dos chamados
humores do mercado. Para
que essa politização gere
resultados para a maioria
da população – inclusive as
classes médias, emergentes
ou consolidadas - há de ser
crescente a informação e
o conhecimento de como
os frutos do progresso são
distribuídos entre pessoas,
setores, regiões e países. n
Arlindo Vilaschi
Professor de Economia e Coordenador
do Grupo de Pesquisa em Inovação e
Desenvolvimento Capixaba da Ufes
espiritualidade
Você é um
T
diamante
odo mundo quer ser alguém na vida. Há uma
tendência natural em buscar o primeiro lugar, a ser mais
importante do que os outros,
enfim, os humanos querem tomar o lugar de Deus negando sua
pobre condição de criaturas imperfeitas, fracas e incompletas.
Os santos com grande facilidade dizem sobre si mesmos: sou um grão de areia, sou
um verme, sou um nada... E,
curiosamente, não sofrem de
baixa autoestima ou complexo
de inferioridade, pelo contrário,
estão felizes consigo mesmos.
Os santos têm os olhos fixos em Deus e toda e qualquer
comparação ou referência será
sempre em relação ao Senhor.
Diante d’Ele o ser humano é um
nada, mas, ao mesmo tempo, por
pura gratuidade amorosa do Pai,
ele sabe que é filho querido e,
por isso, infinitamente precioso.
Muitos, porém, não tendo
os olhos em Deus, vivem comparando-se com as outras pessoas.
Daqui nascem a inveja, ambição
desmedida, a competição, a vaidade e, consequentemente, as
decepções, as angústias, ansiedades, depressões...
O humilde é aquele que
aceita a própria pequenez diante
da grandeza amorosa de Deus.
Todo ser humano é “importante” aos olhos de Deus, pois somos filhos amados do Pai. Caso
“O humilde é aquele que aceita a própria
pequenez diante da grandeza amorosa
de Deus. Todo ser humano é
‘importante’ aos olhos de Deus,
pois somos filhos amados do Pai.”
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16
contrário, seremos escravos dos
superficiais e errôneos olhares
e julgamentos dos homens.
Santa Teresa de Ávila teve
uma visão da alma humana e a
descreveu como um lindíssimo
diamante cujo brilho provinha de
uma Luz de dentro. Deus é luz
e a Santíssima Trindade habita
o centro mais profundo da alma
humana.
Portanto, um ser humano
jogado no lixo, não se torna lixo,
mas, continua sendo um diamante, embora esteja sujo e opaco
pela imundície. O diamante volta
totalmente ao seu esplendoroso
brilho quando a alma reconhece
e arrepende-se sinceramente dos
seus erros e acolhe o perdão do
Pai misericordioso.
Não fiquemos mendigando
as migalhas de “importância”
que as pessoas possam nos atribuir, basta-nos saber que somos
preciosos aos olhos do Pai e não
nos esqueçamos de que toda
pessoa que está ao nosso lado
é também um diamante, mesmo aquela que está na lama e
no lixo. Se nós a polirmos com
amor, ela voltará a brilhar. n
Dom Rubens Sevilha, ocd
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Vitória
aspas
Sérgio Sampaio
Cachoeirense, apaixonado por rádio e compositor
de um dos maiores sucessos da MPB no ano de 1972:
“Eu quero é botar meu bloco na rua”.
“Um livro de poesia na gaveta não adianta nada
Lugar de poesia é na calçada
Lugar de quadro é na exposição
Lugar de música é no rádio”
- Cada Lugar na sua coisa
“Eu juro que tentei compôr
Uma canção de amor
Mas tudo pareceu tão fútil
E agora que esses detalhes
Já estão pequenos demais
E até o nosso calhambeque
Não te reconhece mais
Eu trouxe um novo blues
Com um cheiro de uns dez anos atrás
E penso ouvir você cantar”
- Meu pobre blues
“Não há nada mais bonito do que ser
independente
E poder se conquistar, sair, chegar, assim tão
simplesmente
Não há nada mais tranquilo do que ser o que
se sente
E poder amar, perder, chorar, depois ganhar
assim tão livremente”
- Sinceramente
“Eu que em princípio acredito em tudo o que
me dizem
Basta um olhar mais sincero, um sorriso mais
simples
E que em matéria de amor, sou aquele que vive
Na mais completa emoção
O corpo é só coração”
- Essa Tal de mentira
“Há quem diga que eu não sei de nada
Que eu não sou de nada e não peço desculpas
Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira
E que Durango Kid quase me pegou”
- Eu quero é botar meu bloco na rua
revista vitória I Setembro/2015
17
N 1947
? 1994
caminhos da bíblia
Chamados a ser
profetas
justiça
da
O
e do direito
s profetas sublinham, fortemente, a conotação jurídica e ética
presente no termo justiça. Amós
em sua defesa dos mais pobres utiliza ao
mesmo tempo a palavra justiça e o verbo “fazer justiça”, unindo assim a justiça
aos atos de justiça (Am 5,7.24). Em sua
pregação, ele denuncia a opressão dos
pobres, que os próprios juízes exerciam,
algo que está em contraposição direta à
justiça presente no pacto de Aliança entre
a um olhar para a ordem do mundo segundo
o projeto de Deus presente na criação e na
história da salvação, e não a uma norma
abstrata de conduta.
Para Amós, a justiça, ou seja, o ato
de realizá-la deve ser entendido a partir da
imagem: “Que o direito corra como a água
e a justiça como um rio caudaloso” (Am
5,24). Desta imagem provêm três dimensões
da justiça na linguagem do AT, particularmente utilizadas na pregação dos profetas:
A justiça é uma ideia
“O agir justo, proposto pelo profeta,
dinâmica; a justiça
reconduz a um olhar para a ordem do
é uma resposta e a
justiça é uma atitude,
mundo segundo o projeto de Deus presente na
uma escolha de vida.
criação e na história da salvação, e não a uma norma
A justiça é dinâabstrata de conduta.”
mica: “Com que me
Deus e o povo. Na pregação do profeta, a
apresentarei ao Senhor e me inclinarei
concepção de justiça se relaciona de forma
diante do Deus do céu?”; a resposta logo
direta à Aliança de Deus com o seu povo,
é dada: “O que o Senhor exige de ti: nada
unindo, desta maneira, os homens ao Deus
mais do que praticar a justiça, amar a miVivente e aos seus desígnios de Amor. O
sericórdia e caminhar humildemente com
agir justo, proposto pelo profeta, reconduz
o teu Deus” (Mq 6,6-8). A ideia de justiça
revista vitória I Setembro/2015
18
para o profeta Amós é algo que
está em movimento e agitação,
uma torrente de águas. Sendo
assim a justiça, na linguagem
profética possui este caráter de
constante busca e incansável desejo de purificação e promoção
dos mais pobres e injustiçados,
que estão unidos e amparados
pelo incansável amor e misericórdia de Deus.
A justiça é uma resposta que
se espera do povo pelos grandes
feitos que o Senhor fez ao seu
favor. No texto de Is 5,1-7, o
profeta relata a história de um
amigo que plantou uma vinha
com grande cuidado e zelo, fazendo de tudo o que podia para
que a mesma produzisse frutos.
O seu cuidado é visto desde a
preparação do solo até a construção de uma estrutura na qual
fosse feito o vinho, mas os frutos
não apareceram. Assim o profeta
comparou a ação do Senhor para
com Israel, já que, quando o
Senhor veio procurar frutos de
justiça no meio do povo não os
encontrou. Deus sempre toma a
iniciativa na direção do povo, em
vista de sua Aliança, e espera do
povo respostas de uma vida de
justiça e reta, segundo os seus
preceitos.
A justiça é uma atitude, uma
culto celebrado e a vida vivida na
terra de Judá (Is 1, 10-17). Fazer
justiça significa, em ambos os
casos, defender o indefeso e ir
na direção dos que precisam, da
mesma forma como o Senhor
sempre fez com Israel.
Sendo assim, quando os profetas falam da justiça, as suas
palavras nos conduzem aos lugares pobres das cidades, às periferias dos grandes centros onde
vivem os pobres. Suas palavras
nos convidam a olhar nos olhos
das viúvas aflitas e dos órfãos
famintos mendigando nas ruas
“A justiça é uma atitude, uma escolha de vida
que leva o fiel na direção do mais fraco, do mais
pobre, dos indefesos, dos excluídos, enfim de
todos os que se colocam em situação
de necessidade.”
escolha de vida que leva o fiel
na direção do mais fraco, do
mais pobre, dos indefesos, dos
excluídos, enfim de todos os
que se colocam em situação de
necessidade. Quando se analisa
os passos bíblicos que falam da
justiça aparecem três categorias
de pessoas: os pobres, as viúvas
e os órfãos. O profeta Amós denunciou o culto vazio e desligado da justiça e da defesa da vida
(Am 5, 21-27), da mesma forma
o fez Isaías quando denunciou
a dicotomia existente entre o
e a olhar os jovens perdidos em
nossos campos e cidades, marcados pelos vícios e pela violência.
Ainda nas palavras dos profetas
somos levados a contemplar os
idosos esquecidos e os doentes
abandonados. O testemunho dos
profetas nos leva a um empenho
na defesa dos fracos, como eles
fizeram, rompendo com as malhas da corrupção e da miséria,
dizendo um basta à exclusão e
ao preconceito. A fim de que
a justiça corra como água e o
direito como uma torrente que
não cessará jamais. n
Pe. Andherson Franklin, professor de Sagrada Escritura
no IFTAV e doutor em Sagrada Escritura
revista vitória I Setembro/2015
19
carismas religiosos
Marcus Tullius
“Espero que
‘desperteis
o mundo’,
porque a nota
característica da
vida consagrada
é a profecia.
Como disse aos
Superiores Gerais,
‘a radicalidade
evangélica não
Pequenos Irmãos
do Santíssimo Sacramento
A congregação fundada pelo beato Eustachio Montemurro, na Itália, ano de 1907, tem como carisma
a promoção do culto eucarístico e ajuda fraterna aos
padres diocesanos para o trabalho paroquial. Estão em
nossa Arquidiocese desde 2010 e atualmente os quatro
religiosos cuidam das paróquias Jesus Libertador e São
Francisco de Assis, em Cariacica.
é própria só dos
religiosos: é
pedida a todos.
Mas os religiosos
Irmãs de São José de Chambèry
Amar a Deus e ao próximo na vivência da unidade. Este é o carisma iniciado por Padre Jean Pierre Médaille, no século XVII,
quando reuniu seis religiosas e fundou a Congregação de São José
de Chambèry As irmãs dedicam sua atividade pastoral a projetos
sociais, preocupadas principalmente com os marginalizados, promoção da vida, da esperança e construção da paz. A comunidade
religiosa está localizada no bairro Vila Nova de Colares, na Serra.
seguem o Senhor
de uma maneira
especial, de modo
profético’. Esta é
a prioridade que
agora se requer:
‘ser profetas que
testemunham
como viveu Jesus
nesta terra (...).
Um religioso
não deve jamais
renunciar à
profecia”
(Papa Francisco,
Carta Apostólica para
Proclamação do Ano
da Vida Consagrada)
A Milícia de Cristo
A fundação desta congregação, que é composta pelo ramo
masculino e feminino, tem uma profunda ligação com o Espírito Santo. O fundador, Monsenhor Alonso Benício Leite, em
1948, recém ordenado sacerdote, em Baixo Guandu, movido por seu cuidado pastoral,
quis concretizar o desejo de Deus em seu coração e fundou uma família religiosa de
padres, irmãos e irmãs para viverem o carisma do acolhimento. O Instituto Milícia
de Cristo, conhecidos por Milicianos e Milicianas atua na Igreja do Carmo Centro de
Vitória e obras sociais no seu entorno.
Dentro da programação para o Ano da Vida Consagrada, acontece de 15 a 19 deste mês, em
Roma, o Encontro Mundial para Jovens Consagrados e Consagradas. O tema será “DESPERTAI
O MUNDO: Evangelho, Profecia, Esperança”.
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sugestões
Café com Letras
MÚSICA
Orquestra
nas escolas
Que tal reunir a sua turma de
catequese, grupo de jovens ou
convidar os amigos para uma
apresentação da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo? O projeto
Orquestra nas escolas vai realizar
10 apresentações abertas à comunidade no mês de setembro,
em escolas públicas da Grande
Vitória. Bairros como Vila Bethania, em Viana, Cidade Continental
e Porto Canoa, na Serra e Vila Tabajara, em Cariacica, são alguns
dos locais onde a Orquestra vai
se apresentar. A programação
completa você pode conferir em
www.secult.es.gov.br
LITERATURA
Inauguração da galeria
Cônego Maurício
Com 62 anos dedicados ao sacerdócio e ao serviço à Igreja, Cônego
Maurício Mattos Pereira recebeu uma justa homenagem: seu nome dá
titulo à Galeria no Memorial da Paz, na Praça do Papa, em Vitória. Para
inaugurar a galeria, serão expostas obras de Sandra Resende, artista que
produziu uma arte bastante conhecida dos fiéis católicos: a pintura do
altar no Campinho do Convento da Penha. A exposição ficará aberta de
3 a 30 de setembro, de segunda a sexta-feira, de 9h às 17h; e sábados,
domingos e feriados, de 12h às 16h.
O Pequeno Príncipe
Filme
Está nos cinemas o filme O Pequeno Príncipe, uma obra baseada
no clássico francês de Antoine de Saint-Exupéry. O enredo traz
uma mãe extremamente ocupada e sua filha com a vida restrita
aos estudos para ser aprovada em uma conceituada escola. Ao
se mudarem para uma nova casa, um acidente provocado pelo
vizinho faz a vida menina mudar. Ela se torna amiga do velho
piloto e descobre a história
de um príncipe que vive em
um asteroide. As célebres
frases do livro se tornam
ainda mais marcantes em
cada cena da animação.
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ARTE
Neste mês de setembro, durante os dias 04, 11 e 18, acontece no Shopping
Norte Sul, em Vitória, as últimas apresentações da 4º edição do Café com
Letras. A cada dia, um encontro de escritores, autores independentes, prosadores, poetas, músicos e artistas plásticos. O encerramento será no dia
10 de outubro, com um coquetel e lançamento de 30 obras produzidas ao
vivo durante os encontros, que ficarão expostas e serão comercializadas
até janeiro de 2016. Além disso, será lançado o livro de contos, poesias,
crônicas, trovas e artigos desses artistas.
viver bem
Livros e um dedo de
Q
uando a Internet
começou a dispor
livros em formato eletrônico, houve quem
vaticinasse – uma minoria – que os livros, em seu
suporte tradicional, seriam
suplantados pela novíssima
forma tecnológica. Hoje
muitos livros circulam pela
rede para download pago ou
gratuito. Tablets e e-readers
já fazem parte dos bens contemporâneos. Mas o livro
tradicional ainda existe aos
milhões. Ouço muitos dizerem: “prefiro ler o livro no
papel”, “adoro o cheiro de
livro”, “ouvir o barulho das
páginas ao correr dos dedos
me dá prazer” ou “não gosto
de ler no computador”. Há
quem compre livros, há quem
goste de livrarias.
Lembro-me que, nos
idos dos anos 80, no Centro
de Vitória, ao lado da Catedral, havia uma pequena
livraria de nome Mandala.
Ainda tenho livros com esse
selo. Era uma mistura de
livraria, sebo e biblioteca.
Atraía leitores e escritores
capixabas. Lembro-me de
alguns eventos, como o lançamento do livro “Feliz ano
velho”, de Marcelo Rubens
Paiva – uma autobiografia
importante em um momento
pós-ditatorial. Do encontro
de leitores nesse espaço, surgiu um grupo que se propôs a
estudar, semanalmente, obras
de dois pensadores importantes no século XX: “A interpretação dos sonhos”, de
Sigmund Freud, e “Assim falava Zaratustra”, de Friedrich Nietzsche. Eram leituras
fundamentais para alguns jovens frequentadores daquele
lugar. No entanto, a livraria
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prosa
fechou as portas e um ciclo
na vida intelectual da cidade.
Na Praia do Canto, a livraria
Dom Quixote também marcou época para os intelectuais capixabas. O livreiro
interagia com os leitores de
forma personalizada e também reunia amigos escritores
para eventos importantes. A
livraria Logos, em Bento Ferreira, além de lançamentos
de livros, era “o” espaço de
encontros culturais. A Dom
Quixote deixou saudades e a
Logos de Bento Ferreira deu
lugar a um empreendimento
imobiliário, embora continue
com suas lojas em centros
comerciais.
Em tempos de e-books,
as livrarias físicas dividem
as centenas ou os milhares
de títulos com produtos de
papelaria, material de informática, CDs e DVDs, algu-
mas inclusive com cafeterias,
onde os frequentadores fazem uma pausa saborosa.
O espaço para crianças, com
mesas e cadeiras acessíveis
aos pequenos, rodeado de
prateleiras recheadas de cores, magia e conversas infantis, também sugere a ideia
de convívio. Essa variedade
atrai desde o público mais
jovem até aquele leitor cuja
inquietude não arrefeceu com
o passar do tempo.
As livrarias continuam
atraindo não só clientes, mas
leitores que acreditam ser o
livro um bem necessário e
que ainda esperam um bom
dedo de prosa. Não se renderam ao isolamento das redes
sociais. n
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23
Virgínia Cœli Passos de Albuquerque
Mestre em Letras e Professora
aposentada/UFES
diálogos
Dom Luiz Mancilha Vilela, ss.cc. • Arcebispo de Vitória ES
À minha Igreja com
carinho
Igreja de Vitória, Igreja de Cristo
Tu és como um veículo especial e único
És inquieta em tuas buscas
És quente em tuas lutas
És teimosa em teu anúncio
És peregrina
És Vitória!
Igreja de Vitória, Igreja de Cristo,
Veículo como um coração
Grande coração que acolhe
Coração como uma grande porta
Coração que pulsa ardor
Coração, cujo motor é especial, único
Veículo movido pelo Alto
Coração Eucarístico
Energia do Espírito
Energia que dá vida a todos
Aos que entram pela porta
Aos que olham e buscam a entrada,
Aos que ainda dormem no sono da iniquidade,
Aos que acordam e descobrem a aurora
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Veículo movido pelo Alto
Coração Eucarístico
Maná, força e alimento
Do Povo Peregrino
Fazendo memória pascal
Anunciando o Reino
Testemunhando
Convocando
Apontando para o horizonte
Com a Imaculada,
Nova Eva e Mãe da Redenção
O Reino que virá!
Igreja de Vitória, Igreja de Cristo!
Como és bela, como és formosa!
Igreja de Vitória, Igreja de Cristo!
Anuncia! Testemunha!
Cumpra a tua missão!
D. Luiz Mancilha Vilela, ss.cc
Arcebispo de Vitória do Espírito Santo
revista vitória I Setembro/2015
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Comunicação
Toda opção é
T
política
justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho
humano não é mera filantropia. É um dever moral.
Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é
um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres
e às pessoas o que lhes pertence”. No mesmo
discurso, ao se referir aos meios de comunicação,
o Papa disse, firmemente: “a concentração monopolista dos meios de comunicação social que
pretende impor padrões alienantes de consumo
e certa uniformidade cultural é outra forma que
adota o novo colonialismo. É o colonialismo
ideológico”. E é desse colonialismo ideológico
que todos somos reféns.
“a concentração monopolista dos meios de comunicação
O surgimento de novas formas
de comunicação fomentadas a
social que pretende impor padrões alienantes de
partir das redes sociais, têm
consumo e certa uniformidade cultural é
tentado fazer com que todos
sejamos protagonistas ou Gaoutra forma que adota o novo colonialismo.
tekeepers do que lemos, vemos
É o colonialismo ideológico”.
ou ouvimos; tornando cada um
de nós um possível produtor de conteúdo. As
Tanto em nível global quanto local, os meios de
iniciativas, ainda tímidas, têm feito com que os
comunicação estão concentrados nas mãos de
conglomerados de mídias repensem os suportes
poucos. E são esses poucos que decidem o que é
e os meios de fazer com que o público participe
ou não um acontecimento digno de ser lido, visto
ativamente dos seus conteúdos. A criação de
e ou ouvido. E toda escolha é, essencialmente,
figuras como o ombudsman, a reunião de conpolítica. Ditada pelos Frias (Folha de São Paulo);
selhos de leitores, o aumento do espaço para
Marinhos (TV Globo/O Globo); Mesquitas (O
textos opinativos, e a interação fazendo uso das
Estado de São Paulo); Civitas (Editora Abril/
próprias redes sociais, são exemplos postos em
Veja). Nem precisamos nomear os que fazem as
prática hoje em vários meios de comunicação.
escolhas em nível local. Basta ver quem dita o
Cabe a nós, cidadãos e consumidores, saque é noticia nas principais TVs locais, sempre
bermos a hora de usarmos o controle remoto e
afiliadas das redes nacionais. Ou seja, sempre
trocarmos de canal, mexermos no dial ou proas mesmas famílias.
curarmos novos paradigmas na nossa leitura do
O monopólio dos meios de comunicação foi
dia a dia. A escolha, sempre política, é, também,
tema de um discurso lido no Encontro Mundial
sempre nossa. n
dos Movimentos Populares, em Santa Cruz de
La Sierra, na Bolívia, pelo Papa Francisco no
mês de julho, em sua visita à América Latina.
Emília Manente
Jornalista e professora do curso de
Durante a sua fala o Papa falou dos 3T:
Jornalismo da Faesa
Terra, Teto e Trabalho. Segundo Francisco: “A
oda opção que fazemos implica, necessariamente, uma escolha política. Por que seria
diferente quando os meios de comunicação
optam por colocar na capa de seus jornais, nas
principais manchetes do telejornalismo ou nas
notícias do rádio esse ou aquele assunto, em
detrimento de tantos acontecimentos da sociedade? Aqui, tanto quanto lá, a escolha é política.
Se tivermos clareza de que lidamos com um
grande monopólio dos meios de comunicação,
percebemos que algumas e poucas famílias escolhem o que eu e você lemos, vemos e ouvimos.
revista vitória I Setembro/2015
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arquivo e memória
Giovanna Valfré
Coordenação do Cedoc
A PRESENÇA
DO NÚNCIO
APOSTÓLICO DOM
CARLO CHIARLO
NAS FESTIVIDADES
DO 4º CENTENÁRIO
DA CIDADE DE
VITÓRIA
revista vitória I Setembro/2015
27
entrevista
Leticia Bazet
Vivendo um dia de cada vez
Claudio Costa é um senhor carismático, muito conhecido por quem frequenta,
e querido pelos funcionários da Livraria Paulus, no Centro de Vitória. Quase
todos os dias ele está por lá, seja para comprar livros e cartões, ou para
abraçar os aniversariantes do dia. Para ele, agradecer pelo dia de hoje é o
mais importante da vida.
vitória - O que te traz, quase diariamente, a
essa livraria?
Claudio - Primeiro porque eu gosto muito de ler. E
segundo porque eu já criei um laço aqui na Paulus.
Todo dia eu chego e digo para eles qual o dia do
ano, geralmente pondero quantos dias faltam para
acabar o ano e tem uma brincadeira um pouco
satírica: algumas pessoas não amanheceram hoje.
Isso é só pra nortear que a gente deve viver o dia
de hoje da melhor forma possível, que a gente só
tem ele. Ontem pertence ao passado e amanhã é
uma incógnita de Deus.
vitória - Por que faz essa contagem?
Claudio - Eu sou treinado na área de Ciências exatas,
então tem que ser preciso. Por exemplo, hoje é o dia
224 do ano, então faltam 141 para acabar. É uma
forma de situar onde a gente está e, quanto falta,
é uma meta a ser percorrida dia a dia. Aqui tem
um cartão que diz, grandes caminhadas começam
com um primeiro passo. Tem gente que levanta de
manhã e não sabe nem em que dia da semana está.
A gente vê que precisa estar no tempo presente e
este tempo é hoje, que é o único presente de Deus
que nós temos.
vitória - O que o senhor faz para aproveitar
o seu hoje?
Claudio - Eu trabalho com agenda, meu dia é programado, todas as atividades que eu pretendo executar
hoje eu programo no dia anterior. Sou robô? Não.
No dia seguinte eu avalio, se surgir imprevisto,
cuido deles, e reprogramo o que não consegui fazer
hoje. Antes, ao amanhecer, eu agradeço a Deus por
estar vivo, respirando, é o meu primeiro ato. Eu
agradeço o dom da vida a cada instante.
vitória - Como o senhor encara a vida e a
morte?
Claudio - A vida eu encaro como oportunidade de
crescimento e vivência espiritual através do servir
ao próximo e a morte é uma etapa de transição. O
ser humano na minha visão é um receptáculo de
Deus, cada um uma antena, cada um uma frequência
espiritual. Por isso o dom da vida é uma oportunidade de crescimento e serviço, e a morte essa
oportunidade da transição. Na Igreja Católica, por
exemplo, a missa de sétimo dia, é para o corpo que
terminou a missão ou para a alma e para o espírito?
É só observar que o padre diz: a alma, o espírito
está sendo acolhido no seio de Deus.
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entrevista
vitória - O senhor é bastante
observador...
Claudio - Um aprendiz. Essa é a
melhor colocação que eu me defino.
Eu tinha uma brincadeira com minha
filha, hoje com 28 anos, que era o
caldeirão da bruxa. A bruxa pegava
todas as crianças e colocava no caldeirão, isso é uma história infantil,
depois tinha sempre alguém para
salvar as crianças. Eu peguei esse
caldeirão e o tornei uma metáfora
de vida, ou seja, tudo o que eu sei
entra no caldeirão. Na hora de servir,
tem que sair alguma coisa dele, se
não tiver ali eu preciso procurar
alguém que saiba para ajudar quem
está precisando.
vitória - Antes da entrevista
o senhor disse que sua filha não
morava mais aqui. Como é a relação de vocês?
Claudio - Ela mora em São Paulo
desde os três anos. Eu separei da
mãe dela, temos uma relação bem
tranquila em relação a isso, ela é
excelente mãe, mas se a parte do
pai não fosse feita ficaria um imenso vazio no coração dessa criança.
Então dos 3 aos 10 anos dela eu ia
a São Paulo a cada 15 dias. Mas
passei parte do tempo achando que
estava perdendo a infância da minha
filha, os melhores anos da vida dela.
Conversando com a avó de um amigo meu ela me disse algo que soou
como um norte para mim: têm pais
que estão dentro de casa e estão ausentes, o que importa é o que vocês
estão fazendo quando estão juntos.
E isso me confortou porque eu e a
Pâmela passávamos bons tempos
juntos, eu deixava ela aprontar tudo.
Existe uma história interessante que
se chama nó do afeto. O pai chegava
tarde, o filho já estava dormindo,
então ele dava um nó no cobertor.
O menino sentia a presença do pai
todas as manhãs quando acordava
e via o nó. Não havia ausência ali.
Pensando nisso, eu passei a escrever
Tem gente que
levanta de manhã
e não sabe nem em
que dia da semana
está. A gente vê
que precisa estar
no tempo presente
e este tempo é
hoje, que é o único
presente de Deus
que nós temos.
cartas para minha filha e esse foi o
nosso nó de afeto. Desde os 3 anos,
eu mandava uma carta toda semana
via Correios.
vitória - Mesmo a visitando a
cada 15 dias?
Não importava. E depois ela foi crescendo, vinha aqui,
Claudio -
revista vitória I Setembro/2015
30
e mesmo assim eu postava a carta
para ela. Essa carta tem sempre um
cartão com uma mensagem construtiva, que eu compro aqui na Paulus;
depois teve uma coisa que eu me
baseei em toda a criação da minha
filha, que é um provérbio de Salomão: Instrui a criança no caminho
que deve andar, que até quando
envelhecer, ela não se desviará dele.
Há dois anos, minha filha veio me
falar que eu precisava trocar esse
carimbo porque ela havia crescido.
Aí eu disse que ela estava enganada, porque essa criança é o ser que
precisa sempre de aprendizado, aí
ela entendeu a mensagem e o cartão
continua indo na carta (risos).
vitória - E nessas cartas o que
o senhor diz para ela?
Claudio - Quando ela era pequena, toda a coleção do Smilinguido
também foi mandada. Era sempre
uma história construtiva. Depois
ela foi crescendo e a mensagem
foi mudando. A nossa comunicação é aberta, conversamos sobre
tudo e outra coisa interessante, num
determinado ponto da história, eu
na minha juventude namorei uma
menina que me passou um código
para nos comunicarmos e eu guardei. Em determinado momento, para
preservar as conversas com minha
filha, quando o assunto era muito
íntimo, a carta ia no código. Não sei
se a mãe dela já pegou alguma até
hoje, (risos), mas quando o assunto é mais delicado vai em código.
Eu passei para a minha filha e fiz
um trato que ela só passasse esse
código para os seus filhos, quando
precisasse tratar de algum assunto
privado.
vitória - Ela responde o senhor
via carta também?
Claudio - Isso é interessante. De 3
aos 15 anos, eu não sabia o que era
feito dessas cartas. Quando ela fez
15 anos, me fez uma carta e comentou duas coisas: ‘papai, obrigada
por não ter me abandonado’ e ‘eu
guardei todas as cartas’. A partir
daí ela passou a responder as cartas,
desde lá de trás. A Pâmela tem uma
habilidade, que eu também tenho,
chamada a habilidade de síntese,
ela percebe várias coisas e junta,
sem saber que eu sou assim também
(risos), então o diálogo fica muito
interessante. Como as cartas são de
muito tempo, ela faz uma avaliação
dela atualmente, com aquele tempo
que estava acontecendo, e nós dois
crescemos com isso. No momento
ela deve estar com umas 300 cartas
pra responder. No ano passado ela
pediu para eu mandar uma carta
por mês para ela se equilibrar nas
respostas. Uma carta que ela me
enviou tinha 180 páginas, imagine!
vitória - O que o senhor pre-
tende, estabelecendo esse tipo de
comunicação com ela?
Claudio - Eu sinceramente não sei
onde vai dar isso, mas uma coisa é
certa, e que está muito em voga na
psicologia, a resiliência. Uma coisa
que eu preciso compartilhar, é que
desde 96 existe um grupo chamado
‘Rede de Amigos’. Se você for prestar atenção, as notícias hoje, em sua
maioria, são tragédias e a gente acaba achando que o mundo está uma
droga, o que não é verdade. O grupo,
uma vez por semana, compartilha
um texto construtivo via email. A
ideia é que a pessoa pegue essa
experiência, nunca o mal prevalece
nesses textos, e bola pra frente. Assim é a resiliência, algumas pessoas
passam por alguns acontecimentos
emocionais e não se “quebram”,
incorporam aquela experiência e
voltam ao padrão antigo, tocam a
vida. Então nesse diálogo nas cartas
com a minha filha, é uma forma de
ir mensurando esse crescimento. Eu
não sei onde vai dar isso, nem sei a
finalidade, começou quando criança
e está fluindo até hoje. Depois que
o email chegou, acharam que os
correios iriam falir. E hoje tem um
perigo que eu acho pior ainda, que
são as redes virtuais. Para mim, com
toda a tecnologia, nada substitui o
revista vitória I Setembro/2015
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contato pessoal. É aniversário dos
amigos aqui da Paulus e eu venho
pessoalmente dar um abraço em
cada um. A tecnologia não vem pra
dividir, vem para somar, não para o
homem se isolar. E aí com todo o
aumento da tecnologia parece que
o homem vai ficando cada vez mais
triste, mais distante, começando na
própria família. Eu venho de uma
geração que na hora do almoço meu
pai obrigava a parar tudo para nos
sentarmos à mesa. Hoje é um dentro
do quarto o outro na frente da televisão, então esse aspecto de família
se perdeu, mas o problema não é
da tecnologia. O ser humano tem
que cuidar dos valores espirituais
e familiares. Se cuidar, a família
permanece unida.
vitória - O que o senhor faz
atualmente?
Claudio - Eu hoje estou jubilado,
porque essa palavra aposentado é
terrível (risos), mas continuo na
ativa com parcerias em escritórios
de engenharia. Minha formação foi
bem eclética, eu fazia engenharia,
assistia aulas na Bioquímica e participava das palestras e discussões
da Filosofia. Sempre fui da turma do
atletismo também, então participo
de maratonas, continuei com a procura pelos fundamentos espirituais
e participo de missas também na
Igreja católica. Inclusive sou muito
feliz com o Papa Francisco e torço
para que ele consiga implementar
essa unidade que a Igreja não deveria ter perdido. n
Mundo Litúrgico
Viver o
Mistério
Mais do que definições do Mistério celebrado,
permanece o desafio de, em todos os tempos
da experiência cristã, os cristãos aprofundarem
e integrarem a centralidade da liturgia como
sacramento de vida e salvação, e particularmente através da ceia eucarística, conforme as
experiências neotestamentárias, como também
segundo a tradição legada dos santos padres na
Igreja, no primeiro milênio. Cristo é a cabeça e
o alicerce da única Igreja, a qual é indivisível:
é o que celebramos ao participarmos, ritualmente, de um único pão e de um único cálice.
Esta referência pode ser percebida na imagem
da Santa Ceia, de Ugolino di Nerio (séc. XIV).
E, mesmo existindo as numerosas comunhões
(igrejas) cristãs como expressões da presença
de Cristo e sua continuada missão, urge que
os cristãos reconheçam e aprofundem a presença do seu Mestre em sua manifestação nas
assembleias litúrgicas, que se reúnem para dele
fazer memória, ao celebrar a sua Palavra e a sua
ceia mística: é a partir do Mistério celebrado
que a Igreja encontra sentido e impulso para
o seu testemunho missionário, na superação
das divisões e no empenho à unidade do povo
de Deus, conservando o mandamento novo do
amor como vínculo de diálogo e integração.
revista vitória I Setembro/2015
32
Fr. José Moacyr Cadenassi, OFMCap
O
Beijo no altar
É comum observarmos no início da celebração da Eucaristia que o presidente da celebração e os concelebrantes beijam o altar logo que chegam ao presbitério (cf. Cerimonial
dos Bispos, 73) Por que isso? O sinal é uma expressão de reverência, veneração, respeito a
Cristo. Desde a antiguidade, nas casas de famílias e também nos conventos, já era comum
beijar a mesa das refeições, por ser considerada um lugar sagrado. Os cristãos da primeira
era, para evitar confusão com o paganismo, evitavam esse sinal. Mais adiante, no final do
século IV, o altar passou a ser considerado representação simbólica de Cristo que é pedra
angular e o gesto foi incorporado à liturgia cristã. Este gesto está reservado somente aos
ministros ordenados (diáconos, bispos e padres).
Marcus Tullius
Comissão Arquidiocesana de Liturgia
Mesa da
Palavra
“Minha mãe e meus irmãos são aqueles
que ouvem a palavra de Deus e a põem
em prática” (Lc 8,21).
Como “povo da escuta”, nos reunimos ao redor da Mesa da
Palavra. Esta exprime o lugar teológico do encontro com o Senhor
que fala ao seu povo através das Sagradas Escrituras.
O espaço celebrativo do pós Concílio Vaticano II quer evidenciar a importância e dignidade da Palavra de Deus, aproximando-a
mais da assembleia reunida. A Igreja orienta que seja peça única,
de nobre beleza e não uma simples estante; disposta em lugar
visível para promover a maior participação.
O projeto de adaptação litúrgica da igreja Jesus Operário,
em Ataíde, quer colocar em prática estes critérios. O lugar da
Palavra, destacado pelo piso, realça a Mesa em mármore, estrutura
fixa e estável, com forma e material em unidade com o Altar e a
Cadeira, como local de anúncio do Cristo vivo.
Raquel Tonini R. Schneider
Comissão Arte Sacra e Bens Culturais da Arquidiocese
de Vitória, Setor Espaço Celebrativo - CNBB
revista vitória I Setembro/2015
33
Reportagem
Letícia Bazet
Maria da Luz Fernandes
Contrastes na
educação
E
les são jovens com idades entre 15 e 29 anos e fazem parte das
estatísticas que mostram as contradições, os avanços e, principalmente, o tamanho de uma das dívidas sociais do Brasil: a educação.
As notícias apontam em todas as direções. Também quando o
assunto é educação os contrastes prevalecem e suscitam a pergunta:
é possível coexistirem realidades tão diversas no mesmo território? É
possível o Estado do Espírito Santo apresentar avanços significativos
como os que ouvimos de alunos que participaram ou participam do
Programa Ciências sem Fronteiras e, ao mesmo tempo, o INEP apontar
o aumento do número de jovens em idade escolar que não estudam e
não trabalham? Sim, as contradições coexistem, afirma a professora da
UFES, Marlene Cararo. “É isso, é preciso olhar sempre essa tensão, esses
contrastes que de fato existem. Nós temos escolas excelentes e escolas
precárias”, disse a professora que nos levou pela história da educação
no Brasil a partir da década de 70 para nos apresentar as causas dessa
realidade e mostrar que há avanços e que estes tendem a crescer.
Considerando os jovens entre as idades de 15 a 29 anos o Instituto
Jones dos Santos Neves analisa o seguinte quadro referente a dados de
2013: 84,6% dos jovens entre 15 e 17 anos de idade frequentavam a
escola. É um número considerável, mas isso significa que 29.705 jorevista vitória I Setembro/2015
34
vens nessa faixa etária estavam
fora da escola. Já a faixa que
deveria cursar o ensino superior,
entre 18 e 24 anos, apenas 28%
frequentava a escola e, a faixa
etária de 25 a 29 que teoricamente deveria estar inserida no
mercado de trabalho, 8,9% ainda
frequentavam a escola. Outro
dado alarmante é 39.994 jovens
serem considerados analfabetos
funcionais, ou seja, conseguem
identificar letras e números, mas
não são capazes de interpretar e
compreender textos simples.
Paralelamente a estes dados
que apontam a fragilidade e o
quanto a educação para os jovens
precisa caminhar, conversamos
com outros que participaram
ou participam do Ciência sem
Fronteiras, programa do Governo Federal que oferta bolsas de
estudo no exterior a graduandos,
mestrandos, doutorandos e alunos de cursos superiores tecnólogos, para incentivar a formação
acadêmica, o intercâmbio e a
pesquisa científica. Para eles, a
iniciativa ajudou, tanto no conhecimento nas áreas de estudo
respectivas, na experiência com
faculdades de outros países, no
despertar para pesquisas, no confronto de realidades, quanto no
crescimento humano e social.
Para Camila Albani que
retornou ao Brasil no final de
agosto, depois de um ano e dois
meses na Sheffield Hallam University, na Inglaterra, a fluência no idioma, o contato com
disciplinas que não constam na
grade escolar brasileira, o acesso
a softwares e equipamentos que
não conhecia, além do aprendizado na convivência, foram a
maior riqueza. Ela sugere que
haja uma cobrança maior aos
bolsistas durante a experiência e
que o grupo de brasileiros possa
morar com pessoas que falam
outros idiomas para obrigar a
praticar a língua local.
Das expectativas que levou, uma não foi concretizada
na universidade, a de fazer novas
amizades, pois as turmas com
revista vitória I Setembro/2015
35
quem conviveu estavam nos últimos anos e os grupos já fechados
entre si, mas compensou esse
lado participando do grupo de
jovens e da catequese na paróquia
St Marie’s Cathedral onde foi
surpreendida, por acreditar que
ali encontraria apenas pessoas
idosas.
Camila diz que ela e sua
família não teriam condições de
assumir as despesas para essa
experiência e afirmou que a bolsa
foi suficiente para suprir todas
as suas necessidades. Já a mãe
de Ully Moreno, que estudou na
West Virginia University, nos
Estados Unidos, e voltou decidida a se envolver nas pesquisas
da universidade onde estuda no
Brasil, diz que incentivou a filha
a participar, mas que o programa
não é feito para pessoas de renda
muito baixa. “É um programa
muito mais para classe média.
Eu justifico esta opinião com os
valores que tivemos que desembolsar. A prova de proficiência
(TOEFEL) é paga, o passaporte
e visto americano de estudante
precisa ser pago com cartão de
crédito internacional”, afirmou
Andressa Moreno. Mãe e filha
apontaram como negativo o atraso no pagamento da bolsa em alguns momentos, mas consideram
que foi uma ótima experiência
que será muito útil para a profissão e o contato com a estrutura
acadêmica e os professores uma
riqueza e oportunidade incrível.
Os incentivos do Governo
Federal para estimular e alavancar
a educação surgem tardiamente,
assim como a própria legislação
Reportagem
que regulamenta a gratuidade e obrigatoriedade da escola para alunos
de 7 a 14 anos. “Apenas em 1971,
paradoxalmente durante a ditadura
militar, a escola pública passou a ser
gratuita e obrigatória para o ensino
fundamental de 7 a 14 anos, ampliando para setores populares.
Imagine isso após 471 anos!
O governo fez a legislação,
mas não tinha estrutura para
atender a todos, não havia prédios escolares para
absorver esse contingente
de milhões de pessoas que
estavam fora da escola, sendo boa parte da classe mais
pobre da população”, afirma
Marlene. Outro problema apontado é a formação de professores e
metodologia de ensino. “Não tinha
prédios, não tinha professores, não
tinha materiais didáticos, bibliotecas, livros, merenda e, sobretudo,
não tivemos metodologias adequadas para lidar com essa população
que passou a vir para a escola. A
escola lidava bem com a população
anterior, famílias de classe média.
Ully Moreno
revista vitória I Setembro/2015
36
E começou a vir aquela criança
de classes mais populares, pobres,
o muito pobre possivelmente não
veio, a nossa opinião, é que estes
só vieram agora com o bolsa família”. Com uma legislação
falha e sem fiscalização,
os índices de evasão,
reprovação e repetência nesta época
chegavam a 40%.
Os anos passaram, os problemas estruturais, de
formação, acesso e
aprendizagem tiveram pouco progresso
e outras questões surgiram, como a violência e o neoliberalismo em
âmbito internacional, que
propõe o Estado mínimo, “em
um momento em que a gente ainda
precisava estar investindo
muito na educação básica”, segundo Marlene. De acordo com
ela, os governos da
década de 90 se empenharam em segurar
esses jovens na escola,
e então, o Bolsa Escola foi
um progresso, nesse sentido, pois
conseguiu manter na escola, juntamente com as determinações da Lei
de Diretrizes Básicas da Educação,
97% das crianças e adolescentes em
idade escolar: “o Governo percebeu
que se não houvesse um estímulo
para manter essa criança na escola
não conseguiríamos avançar”.
Já no início do ano 2000,
mesmo com a permanência
dos alunos na escola, a reprovação nas últimas séries
continuou alta e estudos
constatavam a não aquisição da aprendizagem
e do conhecimento.
Modificam-se as políticas de educação e
junto à obrigatoriedade
e gratuidade introduzem-se as escolas em tempo
integral, com o programa
Mais Educação, e o Bolsa
Família, que vai permitir
não só o aluno na escola com
controles mais rigorosos,
mas também a articulação
da educação com o desenvolvimento de outras áreas
sociais. Para Marlene, “a junção dos dois programas tem
Camila Albani
conseguido avanços importantíssimos para que a criança fique na
escola e aprenda”.
Aos poucos outros projetos
como o Luz para todos, Pronatec,
Minha Casa Minha Vida, foram
dando sustentação a esse aluno que
passou a ter uma condição melhor.
A intersetorialidade das ações, conforme afirma a professora, tenta
minimizar os contrastes da
educação no país. Porém,
pelo pouco tempo em que
estão em vigor, Marlene disse que não pode
avaliar se essas ações
serão capazes de levar
o aluno que está na
escola devido à Bolsa
Família, a participar,
no ensino superior, do
Ciência sem Fronteiras.
“Se nós conseguirmos,
dentro dos limites de um
país capitalista investir mais
em educação, e nós precisamos
disso, já está previsto em lei, nós
conseguiremos resolver tudo? Possivelmente, não a curto prazo”.
Investir no ensino superior,
Reportagem
dar oportunidades aos estudantes
para descobrirem e ampliarem conhecimentos e manter contato com
sistemas educacionais competitivos,
conforme afirma Ully, pode transformar o estudante em protagonista
na própria escola. “O programa possibilita ao aluno participar de pesquisas nas universidades do exterior
para que voltem mais qualificados
e com interesse de continuar ou
desenvolver projetos no Brasil”, ou
seja, é uma aposta para que esses
jovens se tornem multiplicadores
de conhecimentos no país.
Professora Marlene Cararo, Ufes
Dificuldades apontadas pela
professora Marlene Cararo para
o problema da educação no país:
wTamanho territorial
wQuantitativo de alunos
wFormação de professores
w Construções adequadas que atendam as necessidades e sejam
atrativas
wFormação inicial em muitos cursos de licenciatura ainda precários
e aligeirados
wPolíticas de educação que sejam abrangentes e integradoras
wAcúmulo de recursos e de tarefas na União
wSalários dos professores
wFormação adequada para a realidade atual
A educação apresenta desafios, contradições,
contrastes de um mesmo
país que diz ter como
prioridade a educação,
mas carrega uma dívida
enorme nessa área. Incentivos, leis, normas, metas,
e o ideal continua distante, mas como nos disse a
professora, existem dois
jeitos de encarar a situação
que podem ser percebidos em duas manchetes:
1- O Brasil é 58º no PISA
(Programa Internacional
de Avaliação de Estudantes) e está entre os piores.
2- O Brasil fica em 58º e
foi o que mais avançou
em matemática, saindo dos
356 em 2003 e chegando
aos 391 pontos em 2012,
segundo os dados divulgados em dezembro de 2013.
“Eu prefiro a última, apesar de reconhecer que ainda estamos em 58º”. Será
que podemos criar outra
manchete, professora? 3No Espírito Santo, mais de
300 mil jovens frequentam
a escola pública, porém
quase 40 mil são analfabetos funcionais. Sim os
contrastes coexistem. n
O Plano Nacional de Educação (PNE) estabeleceu em 2010 como terceira meta
universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 a 17 anos, até
2020, a taxa liquida de matrículas no ensino médio para 85% nesta faixa etária. No Espírito
Santo, em 2013, esse número era de 55,1%
revista vitória I Setembro/2015
38
Foto: Júlio César Pires - Dreampix Fotografia
pensar
Pergunte a quem sabe
sustentabilidade
Tem dúvidas? Então pergunte para quem sabe. Envie sua
pergunta para [email protected]
Mitsue Miyachiro Morigaki
Gerente de Recebimento, Beneficiamento
e Destinação de Resíduos da Prefeitura
de Vitória
Como deve ser feito o descarte de lâmpadas,
pilhas e baterias?
comunicação
Com a assinatura do acordo setorial, em 27
de novembro de 2014, a destinação final desses
Luis Roberto Antonik
Diretor Geral da Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e Televisão (Abert)
Por que o fim da televisão analógica?
Uma das vantagens desta tendência mundial
é a possibilidade de interatividade plena entre a
emissora e o telespectador e acesso a serviços online. A vantagem mais perceptível é a conservação
da qualidade do sinal, pois o número de linhas
horizontais no canal de recepção é superior a 400,
sendo idêntico àquele proveniente do canal de transmissão. Nos atuais sistemas analógicos, em função
das perdas, a definição nos aparelhos receptores
(TVs e videocassetes) ocorre uma perda de quase
50%. Digitalmente, a imagem é muito mais imune a
interferências e ruídos, ficando livre dos “chuviscos”
e “fantasmas” tão comuns na TV analógica. Tecnicamente, outra vantagem é a otimização do espectro
de frequência, que pode ocorrer de duas formas:
compactação do sinal e ausência de interferência. No
primeiro caso, os sinais não podem ser comprimidos
resíduos deve ser ambientalmente adequada e em
conformidade com a Lei que instituiu a Política
Nacional de Resíduos Sólidos. A lei estabelece
que fabricantes, importadores, distribuidores e
comerciantes de determinado produto que possa
causar danos ao meio ambiente ou à saúde humana
criem um sistema de recolhimento e destinação
final, independente dos sistemas públicos de
limpeza urbana. Porém, como a legislação ainda
é recente, não funciona plenamente a logística
reversa, nome dado a esse tipo de descarte, mas
a expectativa é que logo a lei seja cumprida.
ou compactados na transmissão analógica, o que
ocupa todo canal de 6MHz. A transmissão digital
pode ser compactada, levando a uma menor taxa
de transmissão, possibilitando que mais conteúdo
seja veiculado nos mesmos canais. Na segunda,
um canal na transmissão analógica, seja UHF ou
VHF, interfere no outro se ambos forem alocados
em frequências muito próximas. Para evitar isso,
é preciso deixar uma faixa do espectro livre entre
dois canais.
Quais os benefícios da migração da rádio AM
para FM?
Em todo o mundo o rádio AM tem problemas
com a chamada “sujeira”, ou seja, emissões eletromagnéticas. Isso impede por exemplo, executar
peças musicais. Todavia, migrar as rádios AM para
o FM é uma tarefa técnica difícil, pois o espectro,
como um recurso escasso e caro, está todo ocupado. A digitalização irá liberar os canais 5 e 6 da
TV, expandindo a atual faixa de FM (de 88 MHz
até 108 MHz). Com o espectro extra, ficará de 76
MHz até 108 MHz. Em tese, vai possibilitar que
todas as AM migrem para a faixa de FM, já que
sem isso seria impossível.
revista vitória I Setembro/2015
40
religião
saúde
Padre Genilson José Dallapicola
Pároco na paróquia São Lucas,
em Vila Velha
Braunea Victório
Nutricionista especialista
em gestão de alimentos e
alimentação coletiva
Qual a diferença entre alimentos transgênicos, orgânicos e com agrotóxico?
Alimentos transgênicos são modificados geneticamente para melhora da qualidade e aumento da produção e resistência
às pragas (insetos, fungos, vírus, bactérias
e outros) e herbicidas. Já os com agrotóxicos agregam em sua produção substâncias
químicas para impedir e eliminar pragas e
outras formas de vida animal ou vegetal,
prejudiciais à saúde pública e à agricultura.
E os orgânicos são cultivados livres de
produtos químicos sintéticos (fertilizantes e
agrotóxicos) e de organismos geneticamente modificados, sendo consequentemente
mais saudáveis.
Quais as consequências do uso desses
alimentos para a saúde?
Os estudos científicos atuais indicam
que se o consumo de substâncias nocivas for
maior que a ingestão máxima diária regulamentada, as consequências poderão variar
desde sintomas como dores de cabeça,
alergias e coceiras, até distúrbios do sistema
nervoso central ou câncer, principalmente
para aqueles com maior exposição, como é
o caso dos trabalhadores rurais. Esta variação ocorre conforme o tipo de agrotóxico
ingerido, o nível de exposição a estas e
outras substâncias químicas, a idade, o
peso corpóreo, tabagismo, dentre outros.
Existe fórmula para a confissão?
Sim. A confissão é um dos sete Sacramentos da Igreja e, por isso, tem uma estrutura
definida.
Vamos aos passos:
a)No início da confissão o confessor e o penitente fazem o sinal da cruz. O confessor
pode dizer umas palavras para encorajar o
penitente a fazer uma boa confissão e/ou
invocar o Espírito Santo para que ilumine
e oriente a ambos.
b) A seguir pode-se ler um breve texto bíblico,
especialmente dos Santos Evangelhos que
trate da reconciliação.
c)O penitente, então, fala ao confessor seus
pecados, procurando lembrar especialmente de todos os pecados graves que tenha
cometido e o também os pecados veniais
(faltas cotidianas).
d)Terminada a confissão o penitente pode
rezar um ato de contrição (existem várias
fórmulas).
e)Após a confissão e contrição, o confessor
pode dirigir algumas palavras ao penitente
e sugerir uma forma de reparar o mal cometido: obras de caridade, penitência, jejum,
abstinência, orações de agradecimento a
Deus pelo perdão recebido, etc.
f) O Confessor dá a absolvição em nome da
Igreja estendendo as mãos sobre a cabeça
do fiel.
g)O penitente, então, volta para sua vida
totalmente reconciliado com Deus, os
irmãos e consigo mesmo, pronto para
começar vida nova.
revista vitória I Setembro/2015
41
ensinamentos
“Série especial sobre
os Sacramentos”
Batismo
revista vitória I Setembro/2015
42
E
m latim, a palavra sacramentum significava
o depósito de um valor
como garantia do cumprimento
do contrato ou juramento de
fidelidade. No Cristianismo,
é usada para definir os sinais
visíveis e eficazes das realidades divinas, celebradas na
liturgia, por meio dos quais,
Deus nos comunica a salvação
na Igreja, pela participação
no Mistério Pascal de Cristo (ALDAZÁBAL, 2013).
Os sete sacramentos foram instituídos por Cristo
e são sinais e instrumentos
pelos quais o Espírito Santo
derrama a Graça na Igreja.
Quando a Igreja os celebra é
o próprio Cristo agindo por
meio dela.
A Igreja os agrupa em Sacramentos da Iniciação Cristã
(Batismo, Confirmação e Eucaristia), de Cura (Penitência
e Reconciliação) e do Serviço
da Comunhão (Ordem e Matrimônio), atingindo todas as
etapas e momentos da vida do
cristão, desde o seu nascimento
até a morte.
Os Sacramentos da Iniciação Cristã formam uma unidade: pelo Batismo, renascemos e
nos tornamos filhos adotivos de
Deus; a Confirmação ou Crisma
nos fortalece com a unção do
Espírito Santo; a Eucaristia nos
nutre como alimento da vida
eterna.
Batismo:
porta da vida cristã
A palavra Batismo vem do
grego e significa “mergulhar”,
simbolizando o sepultamento
na morte de Cristo, da qual
com Ele ressuscitamos, como
“nova criatura”.
Ele é necessário à salvação, sendo a porta da vida no
Espírito e dos demais sacramentos. Só pode ser administrado uma vez, pois imprime
caráter irrevogável em nossa
alma. Por meio dele, somos
libertados do pecado original,
gerados como filhos adotivos
do Pai, incorporados à Igreja
e tornamo-nos participantes
de sua missão e do sacerdócio
de Cristo, membros de Cristo
e templos do Espírito Santo.
revista vitória I Setembro/2015
43
O rito essencial do Batismo
consiste em mergulhar a pessoa
ou em derramar água sobre sua
cabeça pronunciando: “nome
da pessoa a ser batizada, eu
te batizo em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo”.
Desde o início, as crianças
são batizadas na fé da Igreja,
pois trata-se da graça de Deus e
não de merecimentos humanos.
Quanto às crianças que morrem
sem serem batizadas, a Igreja
recomenda a confiança na misericórdia divina e a oração pela
salvação delas.
O Bispo, os Presbíteros
(Padres) e os Diáconos são os
ministros ordinários do Batismo.
O Bispo pode instituir leigos
como ministros extraordinários
do Batismo. Mas, em caso de
necessidade – por exemplo, uma
criança pequena não batizada
em risco de morte – qualquer
pessoa pode batizar, desde que
tenha a intenção da Igreja ao
realizar o rito essencial. n
Vitor Nunes Rosa
Professor de Filosofia na Faesa
cultura capixaba
Contam nas rodas
de conversa capixaba que...
D
Diovani Favoreto
Historiadora
urante um encontro, Rubem
Braga listava para Vinicius de
Moraes todos os artistas que
se destacavam no cenário brasileiro e
eram nascidos no Espírito Santo, mais
precisamente, em Cachoeiro de Itapemirim. Sendo ele mesmo, Rubem Braga,
natural do sul do Estado.
Surgiu daí a grande alcunha de
Cachoeiro, “Capital Secreta do Mundo”,
tal era constância com que citavam o
Espírito Santo e o número de personalidades que daqui saíram, para conquistar
seu espaço na mídia nacional.
Entre a relação de cantores, listada
para conquistar essa fama, estavam
o eterno rei Roberto Carlos e Sérgio
Sampaio, que saiu de Cachoeiro para
“Botar seu bloco na rua”.
Outro cachoeirense, Raul Sampaio, eternizou a canção “A Carta” ao
declamar “Escrevo-te estas mal traçadas
linhas. Porque veio a saudade visitar
meu coração” e ainda escrever “Meu
pequeno Cachoeiro”, que se eternizou
na voz de Roberto Carlos.
O cachoeirense Carlos Imperial
era também compositor, apresentador,
produtor e, principalmente, uma figura polêmica e popular que apresentou
a Jovem Guarda para o Brasil. Suas
composições ganharam as rádios e se
espalharam pelo Brasil. Músicas como
“Mamãe passou açúcar em mim”, “Você
passa e eu acho graça”, “Vem quente
que eu estou fervendo” e “A Praça”
marcaram época.
Já a “musa da Bossa Nova”, Nara
Leão, nasceu em Vitória, na tradicional
família Barbosa Leão e, já adulta, abriu
seu apartamento em Copacabana para
os principais cantores que vieram a
compor a Bossa Nova brasileira.
Nara era uma descobridora de talentos, além de intérprete, e em seu currículo podemos citar “Alegria, Alegria”,
“Diz que fui por aí”, “O barquinho” e
“O Circo”.
Outro descobridor de talentos foi
Roberto Menescal, nascido em Vitória,
compositor, violinista, arranjador e produtor musical. Além disso, gravou com
os principais nomes da Bossa Nova.
O que todas essas figuras têm em
comum?
Além de serem capixabas! Deixaram o Espírito Santo e fizeram sucesso
cantando para o Brasil a partir das rádios
e TVs do Rio de Janeiro. n
revista vitória I Setembro/2015
45
Acontece
Foto: Empresa Shine
Encontro dos
comunicadores
Novo padre na Arquidiocese
No último dia 16 de agosto, a Arquidiocese de Vitória celebrou
a ordenação de mais um padre. Jacqueson da Silva Pimentel recebeu
o sacramento pelas mãos do arcebispo metropolitano Dom Luiz
Mancilha Vilela, em missa no Ginásio da Faesa Campus II, em São
Pedro. A Igreja de Vitória se alegra com a chegada do novo sacerdote
e coloca-se em oração pela sua caminhada presbiteral.
Grito dos Excluídos
A programação do Grito dos Excluídos acontece de 07 a 11 de setembro e irá debater sobre
a temática da violência, levando os fiéis à
reflexão. No dia 07, missa às 8h, na Igreja
São Gonçalo, em Vitória. Dia 09, Conversa
na Praça Padre Gabriel, em Campo Grande,
Cariacica; No dia 10, na Praça dos Correios
em Laranjeiras, na Serra; e dia 11 Praça do
Ibes, em Vila Velha.
Dia de Nossa
Senhora da
Vitória
Dia 08 de setembro é a data
de celebrar a padroeira da Arquidiocese de Vitória, Nossa Senhora
da Vitória. Neste ano, a missa será
realizada na Praça da Catedral, no
Centro, às 9h. O arcebispo metropolitano Dom Luiz Mancilha
é quem preside a Celebração.
revista vitória I Setembro/2015
46
Os comunicadores da
Arquidiocese são convidados a participar do encontro
que acontece no dia 19 de
setembro, de 8h30 às 16h30,
no Colégio Agostiniano. Na
programação, palestras e oficinas compões as atividades
planejadas para o dia. As inscrições devem ser feitas até
o dia 11, pelo email mitra.
[email protected]. Mais
informações pelos telefones
3025-6294/6288.
Formação
sobre o
dízimo
Para avaliar as fases
anteriores e apresentar a
proposta da terceira fase da
Campanha do Dízimo 2015,
acontece no dia 26 de setembro uma formação, no Centro
de Treinamento Dom João
Batista, em Ponta Formosa,
de 8h às 17h. No dia ainda
haverá uma formação com o
padre Arthur Francisco Juliati, coordenador do curso de
Teologia do IFTAV. Cada
paróquia deve enviar três
representantes, e os nomes
devem ser enviados até o dia
22, pelo email [email protected]
Que veste devo usar
ao entrar em uma Igreja
ou para participar de uma
Santa Missa
A igreja é chamada por nós, cristãos católicos,
como “Casa de Deus”! É um lugar especial, mesmo
quando simples e pobre. As construções buscam
arte, bom gosto, aconchego e, principalmente, um
espaço que proporcione o encontro com Deus. É
o local onde a Comunidade Eclesial, Comunidade
de Fé, Esperança e Caridade se reúne para oração
e adoração do Senhor, nosso Deus, especialmente
para a Celebração da Sagrada Eucaristia. A igreja
é um lugar de oração e de respeito! Por isso,
seja bem-vindo à casa de Deus!
Cada ocasião e cada ambiente exigem um tipo de
compor tamento e de estilo no vestir. Em alguns
As roupas devem estar limpas e a
pessoa arrumada. Isso não depende
de riqueza ou de pobreza.
Trajes de praia não combinam com o
ambiente de respeito que a igreja exige
de todos. Repare nos condomínios dos
prédios, geralmente a entrada de pessoas
com trajes de praia não é feita pela
entrada social.
espaços da sociedade exige-se do visitante vestes adequadas para aquele ambiente, como por
exemplo a Assembleia Legislativa. É normal a
pessoa perguntar-se antes de se arrumar para um
evento ou festa: que roupa vou usar? A decisão
leva em conta que tipo de evento, quem se irá
encontrar, o local do evento, se é de dia ou de
noite, se é festa comemorativa ou confraternização. Pois bem, esta pergunta também deve ser
feita antes de ir para a igreja par ticipar de um
ato de fé. Para ir à igreja é impor tante que as
roupas sejam adequadas ao ambiente (lugar de
oração) e à finalidade do templo (proporcionar
a quem entra um encontro com Deus).
Vestes esportivas são
próprias para momentos
de lazer e de descanso,
não são próprias para ir
à igreja.
Na hora de escolher as
vestes para ir à igreja
use bom senso.
Deus merece todo o respeito!
Adoramos o Senhor nosso Deus com o coração e a
mente. As vestes expressam esta atitude do ser
humano! Deus o(a) abençoe! Obrigado.