OGLOBO

Transcrição

OGLOBO
OGLOBO
(1904-2003) Roberto Marinho
ELA GOURMET
PEDRO
HENRIQUES
PANCs
Frejat
SABORES
PARA
CONHECER
A cozinha
peruana vale
uma excursão,
mas não
deslumbra.
LUIZ
HORTA
CANÇÕES
DE AMOR
As plantas alimentícias não
convencionais ganham espaço
em menus de chefs que
buscam sair da mesmice.
Uma taça de
Madeira no fim
do jantar traz
felicidade.
Roqueiro exercita o lado
romântico na música, mas na
vida foge do óbvio: troca as
flores por uma boa conversa.
COLUNISTAS
EXCLUSIVO O advogado-geral
da União, Fábio Osório, deve
ser mais um demitido pelo
presidente interino, Michel
Temer. Osório deu “carteirada”
para usar jatinho da FAB e foi
omisso no caso da troca de
comando da EBC. PÁGINA 3
MÍRIAM LEITÃO
Governo Temer ou acerta
muito ou erra feio. PÁGINA 22
MERVAL PEREIRA
Falta prudência ao governo do
cauteloso Temer. PÁGINA 4
ANCELMO GOIS
Impeachment já foi decidido
por um voto. PÁGINA 19
LUIZ ANTÔNIO NOVAES
Temer faz “governo de salvação”
dos privilegiados. PÁGINA 2
ZUENIR VENTURA
Brasil vira o país do futuro
no condicional. PÁGINA 13
GUILHERME FIUZA
Patrulha se cala com Maria
Silvia no BNDES. PÁGINA 12
ADRIANA CARRANCA
Corrupção mina o Estado e o
distancia dos cidadãos. PÁGINA 26
Só para Porto Alegre
Governo restringe
voos de Dilma
O governo Michel Temer
decidiu restringir ao trecho
Brasília-Porto Alegre-Brasília os
deslocamentos de Dilma com
aviões da FAB. Ela chamou a
medida de escandalosa. PÁGINA 6
A PF pediu o arquivamento do
inquérito sobre o deputado Pedro
Paulo (PMDB), candidato a
prefeito do Rio que foi acusado de
agredir a ex-mulher. Para a PF,
não há provas contra ele. PÁGINA 17
Acima da inflação
Planos de saúde
vão subir 13,57%
Pelo 13º ano seguido, os planos
de saúde terão reajuste acima
da inflação. A ANS, que regula
o setor, anunciou percentual
de 13,57% em 2016. Em dois
anos, a alta é de 29%. PÁGINA 21
(1942-2016)
MUHAMMAD ALI
Lenda do boxe,
sofria do Mal de
Parkinson,
desde 1984.
PÁGINA 29
_
Propina a Renan, Sarney e
Jucá foi de R$ 70 milhões
Afirmação de Sérgio Machado está registrada em delação premiada
Ex-presidente da Transpetro disse à Lava-Jato ter dado R$ 30 milhões ao presidente do Senado em troca de
sua manutenção no cargo; de acordo com ele, dinheiro desviado pagou campanhas e despesas pessoais
O ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado afirmou em
delação premiada que pagou
mais de R$ 70 milhões desviados da subsidiária da Petrobras
ao presidente do Senado, Renan Calheiros, ao senador Romero Jucá e ao ex-presidente
Sarney, todos do PMDB, informa JAILTON DE CARVALHO. Só a
Renan foram destinados R$ 30
milhões, segundo o delator. A
propina, em troca da manutenção do ex-aliado no cargo, teria
sido usada para financiar campanhas e gastos pessoais. Machado, que se comprometeu a
devolver R$ 100 milhões, disse
que o esquema funcionou de
2003 ao ano passado. Renan
negou ter recebido dinheiro e
disse que não indicou Machado. Jucá nega a acusação, e Sarney não foi encontrado. PÁGINA 3
Dúvida razoável
CHICO
Ministro: centrão
age por ‘safadeza’
O ministro da Transparência,
Torquato Jardim, disse em entrevista a um jornal do Piauí,
em maio, que o chamado Centrão, base atual do governo Temer, atua “em nome da corrupção e da safadeza”. PÁGINA 7
Secretária da
Mulher pode cair
— O senhor está olhando pra mim?
Suspeita de desvio de verba
quando era deputada, a secretária da Mulher, Fátima Pelaes,
pode perder o cargo. Temer disse que cabe à bancada feminina,
que a indicou, decidir. PÁGINA 8
Odebrecht relatou gastos com Dilma
Em negociação de delação, executivos da empreiteira disseram ter pagado cabeleireiro; presidente nega
EXCLUSIVO Executivos da Odebrecht afirmaram, na
negociação de delação premiada, que pagaram
“despesas de imagem” da presidente afastada, Dilma Rousseff, entre as quais o cachê do cabeleireiro
Celso Kamura, conta GUILHERME AMADO. Como re-
velou O GLOBO, a informação também consta de emails trocados por investigados e apreendidos pela
Lava-Jato. Os executivos da Odebrecht, que ainda
vão prestar depoimentos formais, disseram que os
valores para tais gastos foram repassados ao mar-
Agressão à ex-mulher
PF não acha provas
contra Pedro Paulo
oglobo.com.br
EXCLUSIVO/PALAVRA DE DELATOR
JORGE BASTOS MORENO
Temer decide
demitir chefe
da AGU
RIO DE JANEIRO
OBITUÁRIO
NANA MORAES
Irineu Marinho (1876-1925)
ERIC FEFERBERG/AFP
SÁBADO, 4 DE JUNHO DE 2016 ANO XCI - Nº 30.252
Jovem de 16 anos sofreu
dois estupros coletivos
PÁGINA 19
ACREDITE SE QUISER
Garoto de 10
rouba carro e
é morto
Japonês de 7
é encontrado
em floresta
Um menino de 10
anos morreu baleado
por um PM após roubar um carro em SP. A
polícia diz ter revidado tiros dados pelo
garoto. A versão será
apurada. PÁGINA 10
Após seis dias numa
floresta sem comer, o
japonês Yamato Tanooka, de 7 anos, foi
encontrado. Os pais
tinham deixado o garoto na estrada como
castigo. PÁGINA 28
3ª Edição • Preço deste exemplar no Estado do Rio de Janeiro • R$ 4,00 • Circulam com esta edição: Segundo Caderno e Ela
queteiro João Santana, preso juntamente com a mulher dele, Mônica Moura. Dilma reagiu dizendo que
as informações são “descabidas”. Funcionários da
Odebrecht relataram também propina para Anderson Dornelles, ex-assessor de Dilma. PÁGINAS 4 e 6
2
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
Página 2
GOVERNO EM EXERCÍCIO
GOVERNO PARALELO
[email protected]
Família, família
Depois do bônus, o ônus.
Nos últimos dias, foram
interrogados, incluídos em
processos, ou sofreram
novas denúncias e sanções,
a mulher e a filha de Cunha
— que afirmaram, sim, ter
cartão e/ou conta
internacional autorizados
pelo chefe da família —, a
filha de Dirceu, os filhos de
Sérgio Machado e,
novamente nas manchetes,
os de Lula. Até
Michelzinho, de 7 anos,
apareceu — mas por
herança antecipada: nada
a ver com Lava-Jato.
Contra o relógio
Meirelles quer a reforma
do INSS, mas, segundo
auditoria recente do TCU,
as aposentadorias dos
servidores públicos já
estão em risco sistêmico.
O déficit atuarial dos
estados chegava a 50% do
PIB em 2014. Na esfera
federal, a 20% do PIB, e, na
municipal, a 10%. Naquele
ano, 454 planos tiveram
resultado negativo de
R$ 48,7 bilhões.
Sem alarde
O tucano Aloysio Nunes,
novo líder do governo no
Senado, não é, nem de
longe, André Moura, líder
na Câmara. Mas também
está citado na Lava-Jato.
Já foi um
Com Temer, tudo é
possível. Até mesmo a
transparência derrubar
ministros da
Transparência...
Fita banana
Fátima Pelaes, a “ministra"
de Temer que demorou
tanto a entrar, já pode ter
que pedir para sair.
Outra vez
A “presidenta” voltou. Pelo
menos, na EBC...
Silêncio secular
LUIZ ANTÔNIO NOVAES
CONEXÃO SÃO PAULO
COM MARA BERGAMASCHI
EQUILÍBRIO
PRECÁRIO
MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL/2-6-2016
Quando não pode mais negar que o
Brasil estava em franca recessão, pois o
desemprego campeava, Dilma aprovou no Congresso, em outubro de
2015, o Programa de Proteção ao Emprego. O PPE permitia às indústrias em
dificuldades reduzir o salário e a jornada. Para não serem demitidos, os trabalhadores — já atingidos por cortes
no seguro-desemprego — aceitariam
perder até 15% da renda. Menos de um
ano depois, com 11,4 milhões de desempregados, nem é preciso dizer que
o tardio PPE se mostrou inútil. Mas ele
serve como contraponto à vitória de
Temer na Câmara, na quarta-feira, primeira e única a contar com o voto do
PT. Na calada da noite, foi aprovado
um aumento para o funcionalismo
que consumirá, por baixo, R$ 53 bilhões em três anos. De quebra, foram
criados 14 mil novos cargos.
Ficou evidente o uso de dois pesos e
duas medidas com que os governos
Dilma e Temer, inacreditavelmente
unidos neste ponto, tratam o trabalhador da iniciativa privada e o estatal, em especial a alta burocracia de
Brasília, capital com a maior renda
per capita do país (por que será?).
Com a perspectiva de severa recessão
por mais dois anos, enquanto milhões
de chefes de família sem estabilidade,
mesmo humilhando-se à redução de
salário, vão para a rua, o funcionalismo não só mantém intocável o emprego, como recebe garantia de aumentos até 2018, que chegam, em algumas categorias, a 41%.
O Planejamento defendeu os reajustes afirmando que estão dentro da
Temer. Na posse do ministro da Transparência
meta (o rombo de R$ 170 bilhões),
abaixo da inflação e representam o
“sacrifício do funcionalismo”. Será esta
a lógica do “governo de salvação nacional”? Quem está sendo salvo pelo
Planalto, que deveria fazer o ajuste fiscal, são os privilegiados, não tão poucos, de sempre. A começar pela cúpula do Judiciário — cujo salário foi reajustado de R$ 33 mil para R$ 39 mil.
Teto que, como é praxe, valerá mais
cedo ou mais tarde para parlamentares, ministros e o próprio presidente.
Se há razões técnicas para explicar os
aumentos, com os quais Temer pretendeu se blindar dos sindicatos petistas e ainda afagar instituições estratégicas como STF, PGR, TCU e a Justiça
Federal de Moro —, moralmente elas
são indefensáveis. O que se esperava
era um esforço de governança à altura
das aflições do país. Não se reivindica
isonomia para cima, mas para baixo:
que Brasília buscasse austeridade e
respeitasse o sufoco pelo qual passa a
maioria da sociedade. Antes de tudo,
deveríamos ter visto o prometido corte
de cargos comissionados e a contenção ou suspensão de despesas da máquina, além de alguma medida urgente contra o desemprego. Mas o presidente interino preferiu seguir gastando o cheque especial infinito do Estado — o mesmo que derrubou Dilma.
Acostumado à bolha do mundo político, Michel Temer começou a governar com ministros e líderes investigados na Lava-Jato, sem mulheres, negros e minorias e sem Cultura. Agora,
numa semana em que poderia capitalizar o perigoso cerco da Lava-Jato à rival Dilma, ele novamente consegue
atrair para si grande repercussão negativa. Se quiser cair na real, na próxima
vez que for a São Paulo, Temer — ou
alguém de sua entourage — deveria
andar de Uber. Os educados motoristas, constataria, são metalúrgicos, gerentes, engenheiros, advogados, contadores, jovens que largaram a faculdade e até secretárias. Todos desempregados há um ano ou menos. Não é
incomum encontrar um que, inseguro,
peça desculpas e confidencie que é
seu primeiro dia de profissional do volante. Mesmo trabalhando mais de 12
horas num trânsito caótico, eles ainda
se consideram privilegiados por terem
um carro seminovo e um bom celular
conectado ao Waze, capazes de lhes
permitir “levar a comida para casa”.
O que diriam da sorte do servidor desempregado Aldemir Bendine? Tendo
renunciado na segunda-feira à presidência da Petrobras, já no dia seguinte
seus seis meses de salário integral, relativos à quarentena, foram garantidos
pela Comissão de Ética da Presidência.
Algo em torno de R$ 160 mil por mês —
sem contar mais de R$ 60 mil da aposentadoria do Banco do Brasil. A turma
do Palácio dirá que é um ato normal e
tecnicamente perfeito.
Com e-mails já protegidos
por um século pela Casa
Civil, Jorge Messias, o
“Bessias” do grampo de
Lula com Dilma, teve esta
semana reunião fechada
com o presidente da
Comissão de Ética — cujo
mandato dura mais um
ano. Levado para o exílio
dourado no Alvorada,
“Bessias” será testemunha
no processo do STF em
que Dilma é acusada de
obstruir a Justiça.
Mais um sucesso
João Santana teve uma
alegria na cadeia: seu
candidato a presidente
ganhou com 2/3 dos votos
na República Dominicana.
Santana foi preso pela PF
no meio da campanha.
Adversários continuam
chamando o publicitário de
“experto en procesos
electorales mafiosos.”
Alô, alô, Janot
Afinal, qual a resposta para
a pergunta feita por Renan
no grampo com Sérgio
Machado: quem pagou a
Duda Mendonça no
exterior em 2002?
Nova vanguarda
A única categoria em SP
que “parou a produção” no
11 de maio contra o “golpe”
foi a dos funcionários da
Funerária Municipal. Virou
xodó da esquerda do PT.
Orai por nós
Bumlai sempre chamou a
atenção pelo jeito piedoso
de ser. Na segunda, pediu
“misericórdia” a Moro e
prometeu jamais esquecer
o juiz em suas orações.
Sistema bicameral
Os grampos dos senadores
tornam baixa a Câmara
Alta. E a Baixa — de Cunha,
Moura e Maranhão — é
baixíssima faz tempo.
oglobo.com.br
As mais vistas no site
O GLOBO
Por dentro
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2
Dois senadores já admitem
rever voto a favor do
impeachment
3
Família dispensa advogada
que defendia vítima de
estupro coletivo
4
Vídeo: ‘Queria que eles
esperassem a justiça de
Deus. Me sinto um lixo’
5
Merval Pereira:
Na conta da Petrobras
MÁRCIA FOLETTO
ARQUIVO PESSOAL
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‘Ela voltou à comunidade.
Ainda ficou de safadeza’, diz
suspeito de estupro coletivo
Dramas. Vinicius Sassine e o fotógrafo Michel Filho, em hospital de Fortaleza
Apuração delicada
E
m janeiro, O GLOBO noticiava: por falta de avião
da FAB, um coração deixou de ser transportado para o
transplante em um menino de
12 anos. O garoto morreu dias
depois. O drama provocou uma
persistente e detalhada busca
por informações nos últimos
meses sobre o sistema de transporte aéreo de órgãos destinados ao transplante. Com base
em levantamento por meio da
Lei de Acesso, dezenas de entrevistas e viagem ao Nordeste para
ver de perto o funcionamento de
uma central de atendimento a
quem espera por um doador, o
repórter VINICIUS SASSINE deparou-se com um paradoxo esta-
tal: se faltam voos para corações
e outros órgãos, não faltam para
autoridades em viagens de serviço e retorno à residência.
A apuração teve cuidado redobrado. Técnicos do setor evitam
comentar falhas com receio de
afugentar doadores. A série de reportagens, que começa amanhã
na editoria País, mostra que muitos órgãos se perdem por falta de
estrutura logística, mas o Brasil
ainda é um dos campeões mundiais em transplantes.
— O desafio foi manter a fidelidade aos fatos, envolvendo um
sistema tão complexo como é o
de transplantes no país. Os êxitos
não impedem que se apontem
os problemas — disse Vinicius.
Loterias
O leitor deve checar os resultados em agências oficiais e no site da CEF porque,
com os horários de fechamento do jornal, os números aqui publicados, divulgados
sempre no fim da noite pela CEF, podem eventualmente estar defasados.
l
LOTOMANIA
Retoques finais. A estação do metrô Nossa Senhora da Paz, em Ipanema: após a obra, que fechou a praça com tapumes, inauguração será em 1º de agosto
As mais compartilhadas
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Temer pede aprovação
ainda hoje de reajuste
para Judiciário
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Dois senadores já admitem
rever voto a favor
do impeachment
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LOTOFÁCIL
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Cientistas fazem primeiros
testes com vacina universal
contra o câncer
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Gente Boa: OAB vai propor
cota para transexual
em concurso
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Cerveró diz que Dilma sabia
de propina de Pasadena
para petistas
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Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
País
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ESCÂNDALOS EM SÉRIE
O propinoduto do PMDB
_
Sérgio Machado diz ter desviado R$ 70 milhões da Transpetro para Renan, Sarney e Jucá
ANDRE COELHO/9-12-2015
JAILTON DE CARVALHO
[email protected]
-BRASÍLIA- Em depoimentos da delação premiada,
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro,
disse que distribuiu mais de R$ 70 milhões em
propina de contratos da estatal para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o
senador Romero Jucá (PMDB-RR), e o ex-senador José Sarney (PMDB-AP), entre outros líderes do PMDB. Segundo Machado, o valor mais
expressivo, de R$ 30 milhões, foi destinado a Renan, o principal responsável pela indicação dele
para a presidência da Transpetro, subsidiária da
Petrobras e maior empresa de transporte de
combustível do país.
Machado disse ainda que repassou aproximadamente R$ 20 milhões para Sarney durante o
período que esteve à frente da estatal. Romero
Jucá, que ficou uma semana como ministro do
Planejamento do governo Michel Temer, também recebeu aproximadamente R$ 20 milhões.
Machado fala sobre altas somas em propinas
com autoridade. A partir do acordo de delação,
ele próprio se comprometeu a devolver aproximadamente R$ 100 milhões, fortuna acumulada com desvios de contratos entre grandes empresas e a Transpetro.
ESQUEMA DUROU DE 2003 A 2015
Machado disse que abasteceu também as contas dos senadores Edison Lobão (PMDB-MA) e
Jader Barbalho (PMDB-PR). As acusações são
consideradas devastadoras porque Machado
indicou os contratos fraudados e os caminhos
percorridos pelo dinheiro até chegar aos parlamentares. Relatou que o dinheiro era desviado
de contratos firmados entre a Transpetro e
grandes empresas. O esquema funcionou durante todo o período que ele esteve à frente da
Transpetro, de 2003 até o ano passado.
A estrutura de arrecadação de propina e lavagem de dinheiro seguiu os padrões tradicionais.
Os recursos passavam por várias pessoas até
chegar ao políticos mencionados por Machado.
Em alguns casos, a propina foi entregue diretamente ao interessado. Machado deixou claro,
ainda, que o dinheiro era para custear campanhas eleitorais e para pagar despesas pessoais.
O ex-presidente da Transpetro disse que arrecadava e repassava a propina porque achava ser
esta a missão dele, ou seja, garantir retorno financeiro ao grupo político responsável pela
sustentação dele à frente da estatal.
Renan indicou Machado para a presidência
da Transpetro em 2003, no início do primeiro
mandato do ex-presidente Lula, e o manteve
apoio à permanência dele no cargo até ano passado, mesmo depois de ter sido acusado por
Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, de receber propina.
A indicação teria ainda apoio de Jucá, Sarney
e Lobão, entre outros líderes do PMDB. A combinação dos grampos feitos por Machado com
os depoimentos dele e do filho, Expedito Machado, deixa Renan, Sarney e Jucá em situação
extremamente delicada.
Nas conversas gravadas por Machado, Renan,
Jucá e Sarney aparecem discutindo meios de
barrar as investigações da Operação Lava-Jato.
Num dos diálogos, Renan defende mudança na
Segundo delator, encontro
na casa de Jader discutiu repasse
de US$ 6 milhões ao PMDB
Renan Calheiros. O delator diz que o presidente do Senado recebeu R$ 30 milhões desviados da Transpetro
lei para dificultar delações premiadas. Jucá fala
no impeachment de Dilma Rousseff como uma
forma de “estancar a sangria” da Lava-Jato. Sarney sugere a escalação dos advogados César Asfor Rocha, ex-presidente do Superior Tribunal
de Justiça, e Eduardo Ferrão para conversar
com o ministro Teori Zavascki, relator da LavaJato no Supremo Tribunal Federal (STF).
RENAN E JUCÁ RESPONDEM A INQUÉRITOS
As gravações já resultaram na demissão de Jucá
do Ministério do Planejamento e de Fabiano Silveira, do Ministério da Transparência. Numa
das conversas, também gravadas por Machado,
Fabiano Silveira foi flagrado orientado Renan a
sonegar informações e, com isso, atrapalhar o
andamento da Lava-Jato. Renan e Jucá já são alvos de inquéritos abertos desde a primeira fase
da operação. Machado decidiu fazer acordo de
delação depois que o dono de uma empreiteira
indicou uma conta usada por ele para movimentar dinheiro de propina. A conta, aberta
num banco na Suíça, era administrada por Expedito Machado, que vivia em Londres.
Expedito também fez acordo de delação e
confirmou boa parte das declarações do pai sobre a movimentação da propina. O nome de
Machado apareceu já na primeira fase da LavaJato. Paulo Roberto Costa, o primeiro delator,
disse que o ex-presidente da Transpetro recebia
dinheiro desviado dos cofres públicos. Ele próprio, Costa, disse ter entregado R$ 500 mil em
espécie na casa de Machado.
Coluna do
Moreno
JORGE BASTOS MORENO
TEMER DEFENDE RESPEITO À CARTA
O
presidente interino,
Michel Temer, em telefonema a esta coluna, reafirmou o que já havia dito antes ao blog do
Moreno sobre sua indignação com as notícias de que
estaria pedindo celeridade
ao processo de impeachment da presidente Dilma.
Isso mostra o grau de preocupação de Temer com as
reações a essa tentativa, manifestadas pelo presidente
do Senado, através de nota.
É bem verdade que Temer
falou ao GLOBO bem antes
da nota de Renan.
Cerveró revela que
jantou com Renan
e negociou propina
Já se disse e repetiu-se aqui:
xingue o Temer, mas não se
diga nunca, nem de brincadeira, que ele tenta agir contra a Constituição.
— Isso é o que mais me
deixa caceteado. A minha tese sempre foi a de defender o
princípio constitucional de
respeito à independência
dos Poderes. Jamais viria de
mim, uma pessoa que já presidiu a Câmara por três vezes, qualquer tentativa de
interferir em atribuições exclusivas do Legislativo. Acho
essas notícias até um desrespeito a mim.
Mesmo diante da acusação, Machado se manteve no cargo até fevereiro de 2015, em clara demonstração de força política. Ao deixar a estatal,
resistiu às investigações. Só mudou de ideia e decidiu colaborar depois que o filho Expedito entrou na mira do Ministério Público Federal.
Sem saída, Machado passou a gravar conversas com seus antigos aliados. Logo depois de
gravar alguns de seus principais interlocutores,
ele fechou acordo de delação com o MPF. Os
acordos de Machado e do filho foram homologados por Teori na semana passada. A partir de
agora, a Procuradoria-Geral da República deverá aprofundar as investigações sobre cada acusação do ex-presidente da Transpetro.
Procurado pelo GLOBO, Renan negou que tenha recebido dinheiro de Machado: “Jamais recebi vantagens de ninguém e sempre tive com
Sérgio Machado relação respeitosa e de estado”,
disse o senador, segundo um de seus assessores.
Renan também disse que “nunca indicou ninguém para a Petrobras ou para o setor elétrico”.
O GLOBO tentou, sem sucesso, falar com Antônio Carlos de Almeida Castro, advogado de Sarney e Lobão. Em nota, Juca disse que “nega o recebimento de qualquer recurso financeiro por
meio de Sérgio Machado ou comissões referentes a contratos realizados pela Transpetro”. l
NA WEB
bit.ly/1PmM7DN
Infográfico: os políticos investigados na
Operação Lava-Jato
-RIO E BRASÍLIA- Em sua delação premiada,
Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras,
revelou ter participado de um jantar em
meados de 2006 na casa do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) em que foi discutido um repasse de propina de US$ 6
milhões a políticos do PMDB, em troca
de apoio político para ele permanecer
na diretoria internacional da estatal. Segundo Cerveró, da reunião participaram
o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); Paulo Roberto Costa,
também ex-diretor da Petrobras; e Jorge
Luz. Cerveró disse ter sido convidado
para o jantar por Sérgio Machado, expresidente da Transpetro.
Cerveró também revelou que, em
2012, foi chamado ao gabinete de Renan
Calheiros. O senador reclamou por não
estar recebendo propina da BR Distribuidora, onde Cerveró trabalhava naquele momento. O delator contou ter
avisado a Renan que não estava participando de esquema de corrupção na BR.
Segundo ele, Renan respondeu que, então, deixaria de lhe dar apoio político.
Renan disse ontem que nunca esteve
reunido com Cerveró. Jader afirmou
que o jantar jamais aconteceu e que ele
não tem qualquer relação com Cerveró.
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, disse que desconhece qualquer
reunião para tratar do assunto.
A Polícia Federal indiciou o deputado
federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) e
seu ex-assessor Luís Carlos Batista Sá,
apontado como seu braço-direito, num
dos inquéritos da Operação Lava-Jato.
O inquérito policial já foi concluído e
entregue ao Supremo Tribunal Federal
(STF), responsável por julgar parlamentares, mas sem o indiciamento de
Renan Calheiros, que foi investigado no
mesmo processo.
No relatório, a PF não explica por que
poupou Renan, mas o intima a depor em
14 de junho, “a título de diligência complementar”. Aníbal e Luís Carlos foram
indiciados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A investigação foi motivada pelas delações de Paulo Roberto
Costa. Segundo ele, Aníbal, em nome de
Renan, patrocinou os interesses dos práticos do porto de Santos, em negociação
com a Petrobras em 2008. Em troca, Aníbel e Renan teriam recebido propina. l
Queda a jato
Evolução
Afagos
Esconde o ruim
Há ministros caindo por
causa da Lava-Jato. Mas
tem um que deverá cair
nas próximas horas por
causa de um jato. Isto
mesmo: um jato.
Trata-se de Fábio Osório,
advogado-geral da União,
que provocou um fuzuê ao
tentar embarcar esta semana
para Curitiba, na Base Aérea.
Negado o pedido, Osório
deu uma carteirada nos
oficiais da Aeronáutica,
dizendo ter status de
ministro de Estado.
A confusão chegou ao
gabinete do presidente.
Para complicar ainda mais
a situação de Osório, Temer
descobriu que Toffoli só
revogou a sua decisão de
demitir o presidente da EBC
nomeado por Dilma porque
o advogado-geral da União,
que deveria fazer a defesa do
governo, estava nessa
fatídica viagem a Curitiba.
Agora, até o padrinho do
advogado, o ministro Eliseu
Padilha, está pedindo sua
cabeça ao presidente.
Temer evoluiu da carta para o
telegrama. Deputados da base
governista ficaram contentes
em receber do presidente
interino telegramas de
agradecimento após a
aprovação da nova meta fiscal,
na semana passada, e da
DRU, esta semana. “Há
tempos não se via uma
gentileza desta”, disse
Heráclito Fortes a Temer, no
jantar concorrido que
ofereceu ao vice na quinta.
Dilma, no ato da Praça XV,
ficou feliz com a presença
significativa de artistas que
foram lhe dar apoio,
particularmente com o
reencontro com a atriz Bete
Mendes, ex-presa política
como ela, expulsa do PT por
ter votado em Tancredo
Neves no colégio eleitoral
contra Paulo Maluf.
Emocionou-se com a
declaração de apoio do
diretor Daniel Filho e,
também, com a do músico
Tico Santa Cruz.
Chama a atenção a
seletividade da defesa de
Dilma Rousseff ao tratar da
audioteca de Sérgio Machado.
O governo afastado quer pôr
para tocar a gravação em que
Romero Jucá diz ao
ex-presidente da Transpetro
que era preciso instalar
Michel Temer no Planalto
para conter a sangria da
Lava-Jato. Mas prefere deletar
aquela em que Renan
Calheiros relata a Machado os
esforços de Dilma para obter
a ajuda do presidente do
Supremo na contenção de
danos da operação.
Assédio
A conversa de uma hora de
Dilma com Pezão tratou
mais do tratamento que o
governador faz para
combater o câncer, o mesmo
que ela fez em 2010.
Na parte política, Dilma
reafirmou sua luta para
reaver o mandato e, sobre
isso, contou ao amigo que o
senador Cristovam Buarque
estaria sofrendo uma
pressão desumana do
governo atual para não
mudar o seu voto.
No aquecimento
Longe das câmeras, os
operadores políticos de
Michel Temer dão de barato
que o governo não pedirá
nada de extraordinário ao
Congresso antes da conclusão
do processo de impeachment.
Até lá, só irão a voto
projetos que pouco ou nada
afetam os interesses dos
parlamentares e de suas
bases. Fora os agrados, que
vão continuar.
Foco mundial
É cada vez mais provável que
a votação do impeachment
de Dilma no Senado ocorra
mesmo no dia da abertura
das Olimpíadas, 5 de agosto.
Com a presença e a
atenção do Universo
voltadas todas para o país.
oglobo.globo.com/pais/moreno
l O GLOBO
4
l País l
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
[email protected]
MERVAL
PEREIRA
|
_
Executivos dizem que Odebrecht
pagou despesas pessoais de Dilma
|
Falta prudência
Cabeleireiro afirma que João Santana, preso por caixa 2, pagou serviços
DIVULGAÇÃO
GUILHERME AMADO
[email protected]
A redução dos prazos para a definição final
do processo de impeachment da presidente
afastada Dilma Rousseff não prejudica em
nada sua defesa, pois não são necessários 15
dias para se apresentar uma defesa ou uma
acusação por escrito de um assunto que não
tem novidades. Mas é uma proposta no
mínimo inábil, pois dá margem a que a
acusação de golpe parlamentar ganhe
contornos de veracidade.
N
a verdade, os dois lados deveriam estar interessados em apressar o processo, pois não
serve de nada alongar o prazo, e o país precisa andar para a frente. A presidente afastada não melhora sua atuação pretérita, nem emite sinais futuros
de mudança de mentalidade, para oferecer esperanças a senadores que possam mudar de posição.
São raros os que se encontram em dúvida sobre a
decisão a tomar, pois não há muito a pensar nesse
assunto. O crime de responsabilidade cometido pela
presidente Dilma está caracterizado, e não é possível
relativizar essa má conduta, a não ser para aqueles
que consideram uma bobagem o equilíbrio fiscal.
Além do mais, diante do descalabro do país, não
há nada que indique que o retorno da presidente
afastada vá trazer algum tipo de mudança na sua
visão de mundo ou na sua maneira de governar.
Portanto, além do fato criminoso passível de impeachment em si, há o conjunto da obra, que, se não
pode ser imputado oficialmente, influencia naturalmente a decisão dos senadores.
E seria uma grande irresponsabilidade trazer de
volta ao governo aquela que foi afastada num longo processo decisório que não recebeu nenhum fato novo que possa modificá-lo. Nem mesmo os críticos do início do governo Temer têm razão suficiente para preferir Dilma a ele, a não ser os ideológicos ou os que têm, por razões específicas, simpatia
pela presidente afastada.
Esse grupo anda fazendo muito alarde, mas creio
que os petistas mais consequentes sabem que é impossível a Dilma recuperar a capacidade de governar
que nunca teve. Tanto que o melhor que podem oferecer em troca do apoio é a garantia de que ela renunciará ao mandato e convocará novas eleições.
Ora, se é para tal, por que não faz isso agora mesmo, abrindo caminho para que o governo Temer
estabilize-se? Claro que o que move a presidente
afastada e seus poucos seguidores (?) é um espírito
de vingança contra o vice, que consideram traidor.
Mas, em política, esse
sentimento de revanU
che tende a não ser
Os pontos-chave
duradouro, e para o
PT o melhor mesmo é
se livrar do fardo que
Dilma Rousseff repreA redução dos prazos no
senta e recomeçar seu
processo de impeachment
posicionamento na
de Dilma não prejudica em
oposição, torcendo
nada sua defesa, mas é
para que Temer erre
proposta no mínimo inábil.
bastante nestes pouco
mais de dois anos.
Nesse intervalo, alOs dois lados deveriam
guns senadores busestar interessados em
cam se posicionar para
apressar o processo. O país
troca de favores, de um
precisa andar para a frente.
lado ou de outro. Não
parece, no entanto, que
existam razões realmente ponderáveis paNão há nada que indique
ra fazer o cenário polítique o retorno de Dilma vá
co retroceder. Mesmo
trazer mudança na sua
as críticas ao governo
visão de mundo ou maneira
interino têm que ter o
de governar.
sentido de mantê-lo caminhando para frente, evitando novos erros.
O processo de escolha dos assessores mais diretos continua ignorando regras básicas de prudência, quando não descuida da ética pura e simplesmente. Essa nova secretária para política das mulheres, ex-deputada Fátima Pelaes, já causara estranhamento ao ser escolhida, pelo posicionamento
contrário ao aborto mesmo em caso de estupro.
Não bastasse isso, no entanto, ela é acusada pelo
Ministério Público de ter desviado dinheiro de
emendas parlamentares para empresas fantasmas,
e ficado com parte dele. Mesmo que possa ser uma
acusação ainda não comprovada, e fruto de uma
disputa política, como alega, não é saudável para
um governo interino arriscar sua reputação com
uma nomeação polêmica como essa.
Também o advogado Torquato Jardim, colocado
por Temer no Ministério da Transparência em
substituição a um nada transparente assessor de
Renan Calheiros, deu entrevista recente com comentários céticos em relação à Lava-Jato e com críticas pesadas à classe política. Não parece uma figura que pacifique o cenário do governo interino.
Estranhamente, anda faltando prudência ao presidente Temer, tido e havido como um político cauteloso e experiente. l
1
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oglobo.globo.com/blogs/
blogdomerval
Sábado 4 .6 .2016
-BRASÍLIA E SÃO PAULO- Executivos
da Odebrecht relataram na negociação de suas delações premiadas que a empreiteira pagou despesas pessoais da presidente afastada, Dilma Rousseff, que permitiram a ela cuidar da própria imagem. Entre
as despesas está o cachê do cabeleireiro Celso Kamura, conforme revelado ontem pelo colunista do GLOBO Merval Pereira. Investigadores da LavaJato tratam com cautela a informação, porque não há certeza de que a construtora vai
incluir ou detalhar a informação nas próximas fases do processo de colaboração.
Na negociação, os diretores
da Odebrecht afirmaram que
valores relacionados à imagem
da presidente foram repassados ao marqueteiro João Santana, que se responsabilizou
pelo pagamento dos profissionais e serviços contratados.
Mônica Moura, mulher de João Santana, já afirmou nas negociações de sua delação premiada que o casal recebeu pagamentos da Odebrecht por
caixa dois (recursos não contabilizados pela campanha).
Para integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, no entanto,
mesmo que a Odebrecht inclua a informação nas próximas fases da delação, serão necessários mais elementos para
que seja possível abrir inquérito para investigar o favorecimento pessoal de Dilma.
Uma das possibilidades cogitadas é a delação de João
Santana e de Mônica Moura.
Caso os dois confirmem o caso
ou surjam novos documentos
que comprovem o que foi dito
pela Odebrecht, a investigação
poderá avançar.
— Criminalmente, é necessário que haja mais elementos
para que seja aberto um inquérito — explicou um investigador com acesso à negociação com a Odebrecht.
Atualmente, os cerca de 50
executivos da Odebrecht que
se propuseram a fazer a dela-
Ato contra o impeachment. Dilma cumprimenta público durante evento contra seu afastamento em Porto Alegre
ção estão na fase de negociação. A próxima etapa será a entrega dos anexos da colaboração, quando é feita uma síntese de cada um dos pontos prometidos na negociação. Só depois disso são colhidos os depoimentos, para que a delação
seja homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
KAMURA DIVULGA NOTA
Em São Paulo, o cabeleireiro
Celso Kamura informou ontem,
por nota, que os serviços prestados a Dilma Rousseff eram
pagos pela própria presidente e
pela agência Pólis, de propriedade de João Santana, responsável pelas campanhas de Dilma em 2010 e 2014 e preso pela
Lava-Jato. O marqueteiro e a
mulher dele, Mônica Moura,
respondem a processo por corrupção e lavagem de dinheiro
por terem recebido dinheiro da
Odebrecht dentro e fora do país.
Segundo a nota de Kamura,
os “deslocamentos e atendimentos de corte e coloração
prestados à presidente afastada Dilma Rousseff, mensalmente ou bimestralmente, foram contratados e pagos pessoalmente por ela”. Quando os
serviços tinham o objetivo de
preparar Dilma para pronunci-
amentos oficiais e campanhas
eleitorais, cabia à empresa de
Santana pagar pelo serviço e
por passagens e hospedagem,
de acordo com o cabeleireiro.
Ontem, o colunista Merval
Pereira informou que cada ida
do cabeleireiro ao Planalto
custava R$ 5 mil. “O valor cobrado para cada trabalho realizado foi muito inferior ao citado nas referidas notícias”, afirmou Kamura, em nota.
Pessoas próximas ao cabeleireiro contam que ele cobrava
R$ 1 mil da presidente pelo
corte e pelo tingimento do cabelo quando a atendia em caráter pessoal. Dilma pagava
em dinheiro ou cheque pessoal. Os valores cobrados eram
maiores quando Kamura viajava para atendê-la em campanhas ou pronunciamentos.
Na nota, o cabeleireiro acrescentou que “foram emitidas
notas fiscais para todos esses
trabalhos (prestados para empresas de Santana), devidamente declaradas ao Fisco, estando totalmente de acordo
com a legislação brasileira”.
“Celso Kamura sempre se pautou pela transparência e clareza em toda a sua trajetória profissional”, concluiu a nota.
Em Brasília, políticos de
oposição a Dilma afirmaram
que os pagamentos a Celso Kamura com recursos desviados
da Petrobras mostram um vínculo direto dela com o esquema de corrupção.
— É uma vinculação direta.
Não tem nada mais direto do
que gasto de ordem pessoal.
Não é possível que ela vá alegar
que não sabe quem pagou o cabeleireiro — afirmou o líder do
DEM, Ronaldo Caiado (GO).
A senadora Ana Amélia (PPRS) avalia que a informação poderá influenciar votos na Casa
pelo afastamento definitivo de
Dilma. Ela acredita que novos
dados poderão surgir.
— Isso revela que vamos certamente chegar cada vez mais
perto. Espero que a Lava-Jato
mostre tudo que ocorreu, e
claro que isso terá influência
sobre o julgamento aqui no Senado — afirmou Ana Amélia.
O senador petista Lindbergh
Farias (RJ), por sua vez, disse
acreditar que a informação é
falsa, e que será preciso apresentar provas da informação.
— Tenho certeza de que isso
é mentira. Quero ver se tem alguma prova. A presidente Dilma é uma pessoa honrada que
foi afastada por uma quadrilha
parlamentar — afirmou. l
Petista afirma que acusações são ‘descabidas’
Dilma diz ter
comprovantes de
pagamentos a
cabeleireiro
Em nota divulgada no
Facebook, a presidente afastada, Dilma Rousseff, negou que
tenha pagado despesas pessoais com dinheiro desviado da
Petrobras ou que soubesse de
esquemas de corrupção na estatal. De acordo com a assessoria da presidente, o cabeleireiro
Celso Kamura foi contratado diversas vezes desde a campanha
presidencial de 2010, com verba da produtora e também com
dinheiro da então presidente
para serviços particulares.
“Celso Kamura foi contratado pela própria presidenta para serviços particulares, sendo
remunerado pessoalmente por
-BRASÍLIA-
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ela. Estão em poder da presidenta os comprovantes de pagamento devido aos deslocamentos (de São Paulo ou Rio
de Janeiro para Brasília) e aos
serviços prestados por Celso
Kamura”. A nota reforça que a
contratação de Kamura, em
2010, aconteceu quatro anos
após a compra da refinaria de
Pasadena. “Todas as despesas
pessoais da senhora presidenta da República têm origem
comprovada”, diz a nota.
Ontem, o colunista Merval
Pereira, do GLOBO, mostrou
que documentos em posse da
Procuradoria-Geral da República revelam pagamentos de
itens pessoais de Dilma pelo
esquema montado na Petrobras, como as idas de Kamura
a Brasília, que custavam R$ 5
mil cada. Mensagens trocadas
entre pessoas envolvidas com
fraudes na Petrobras mostram
ainda que “a ministra” sabia
dos acertos feitos pelos advogados para aquisição da refinaria nos Estados Unidos.
Dilma, por meio da assessoria, diz que as informações
são “mentirosas e descabidas”. “Jamais, em tempo algum, qualquer despesa pessoal da presidenta Dilma
Rousseff foi paga por esquemas ilícitos ou provenientes
de corrupção”, diz a nota.
Questionada sobre as notas
fiscais que podem comprovar
os pagamentos a Kamura, a assessoria de Dilma informou
que não teria condições de fornecer os dados ontem porque
a equipe estava em Porto Alegre, onde a petista participou
de dois eventos, e as notas estão em Brasília. A assessoria de
Dilma informou ainda que as
notas serão anexadas à ação
judicial que Dilma deverá impetrar contra O GLOBO.
CARDOZO FALA EM “MALDADE”
José Eduardo Cardozo, ex-advogado-geral da União e atual
advogado da presidente afastada, afirmou que “é uma maldade” associar o esquema de
corrupção na Petrobras aos
gastos pessoais de Dilma.
— A presidente gostou (dos
serviços de Kamura) e passou
a pagar o Kamura pessoalmente — disse ele. — Quando era
trabalho profissional, era (pago) pela produtora. Fora disso,
ela pagava do próprio bolso a
passagem e o custo do Kamura
— afirmou Cardozo.
O advogado de Dilma disse
que trata-se de “mais uma tentativa de intimidação da defesa” da presidente afastada, na
qual também estariam incluídas a redução dos prazos para
votar o impeachment e a proibição de Dilma de utilizar aviões da Força Aérea Brasileira.
— Associar Pasadena, em
2006, à eleição em 2010 é uma
maldade, uma perversidade
— disse Cardozo, garantindo
que a presidente tem todos os
recibos dos pagamentos ao
cabeleireiro.
Em delação premiada, o exdiretor da Petrobras Nestor Cerveró também acusou Dilma de
saber de pagamentos de propina a petistas a partir de contratos da estatal. “Dilma Rousseff
tinha todas as informações sobre a refinaria de Pasadena”, disse o depoente. A delação também atesta “que Dilma Rousseff
acompanhava de perto os assuntos referentes à Petrobras e
que “conhecia com detalhes os
negócios da Petrobras”, como
consta do depoimento prestado
em 7 de dezembro de 2015. l
NA WEB
glo.bo/1VC3t5K
Leia a íntegra da nota
da presidente afastada
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Sábado 4 .6 .2016
l País l
O GLOBO
l 5
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l O GLOBO
l País l
Sábado 4 .6 .2016
ESCÂNDALOS EM SÉRIE
_
Diretores da Odebrecht relatam
repasses a ex-assessor de Dilma
Executivos da empresa deram informação em acordo para delação
ALAN MARQUES/FOLHAPRESS/03-11-2010
GUILHERME AMADO
[email protected]
Executivos da Odebrecht citaram Anderson Dornelles, ex-assessor
da presidente afastada Dilma Rousseff,
como destinatário do recebimento de
dinheiro da construtora. A afirmação
foi feita na fase preliminar da negociação da delação premiada e ainda terá
que ser detalhada nos anexos da colaboração, a serem entregues pelos advogados da Odebrecht até o fim do mês.
Ainda não há consenso dentro da
própria empreiteira se a delação ligará
Dilma à entrega desses recursos. Os
executivos têm dado informações conflitantes à força-tarefa da Lava-Jato sobre os repasses. Numa das situações
descritas, Dornelles teria pedido o dinheiro diretamente à construtora. Em
outro momento, executivos também
falaram que a própria presidente teria
pedido ajuda para Dornelles. A exemplo da informação de que Dilma teve
despesas pessoais pagas pela construtora, os investigadores da operação têm
sido cuidadosos com o que têm ouvido.
— É comum haver afirmações na fase
da negociação que não se concretizam
nas etapas posteriores — alertou uma
fonte envolvida nas conversas.
Em março, um sócio de Dornelles foi
alvo da Operação Xepa, a 26ª fase da
Lava-Jato, por suspeita de receber R$ 50
mil da Odebrecht. A Polícia Federal levou Franzoni coercitivamente para depor em Porto Alegre, com o objetivo de
esclarecer a suspeita de entrega de R$
50 mil para um endereço dele em Brasília. Franzoni é sócio de Dornelles no
Red Bar, empreendimento dentro do
estádio do Internacional, o Beira-Rio,
CORTES
Governo limita
voos de petista
Número de assessores
especiais também
foi reduzido
CATARINA ALENCASTRO E
EDUARDO BARRETTO
-BRASÍLIA-
[email protected]
-BRASÍLIA E PORTO ALEGRE-
A
Sempre por perto. Anderson Dornelles é apontado como destinatário de dinheiro da Odebrecht
em Porto Alegre.
O Red Bar foi o pivô da saída de Dornelles do cargo de assessor de Dilma
em janeiro deste ano, devido ao temor
no Palácio do Planalto que ele aparecesse na delação de executivos da Andrade Gutierrez, construtora responsável pela reforma e administração da
parte do Beira-Rio em que fica o bar.
Oficialmente, Anderson disse em janeiro que deixava o cargo de assessor
porque iria casar. Assessores e ministros do Planalto afirmaram, no entanto,
que ele e Dilma tiveram uma dura conversa sobre o Red Bar, que teria resultado na sua saída.
Dornelles, de 36 anos, conheceu Dilma ainda em Porto Alegre, aos 13. Ele a
assessorou durante todo o governo Lula, sendo o responsável por carregar a
bolsa e o tablet de Dilma. Era ele também que atendia o celular da presidente. Chamado por ela de “menino”, gostava de mostrar a outros funcionários
do Palácio do Planalto sua intimidade
com a presidente. A proximidade era
tanta que alguns entendiam que Dilma
o tinha como um filho. Nos últimos meses, a relação entre os dois esfriou a tal
ponto que Dilma faltou ao casamento.
O GLOBO não conseguiu contato
com Dornelles nem Franzoni. l
Casa Civil limitou
ontem o deslocamento da presidente afastada
Dilma Rousseff com aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) a idas e vindas de
Porto Alegre, cidade onde a
petista tem família. Dilma
também terá de reduzir dos
atuais 35 para 15 o número
de assessores especiais que
estão a seu serviço. Os cerca
de 130 funcionários que trabalham diariamente no Palácio da Alvorada, residência oficial, serão mantidos.
Outra mudança a que Dilma
terá de se adaptar é o financiamento das viagens de
seus assessores, que passarão a receber uma diária e
não mais contarão com cartões corporativos.
A justificativa para a restrição das viagens, segundo uma fonte da Casa Civil,
é que Dilma, como está
afastada, não tem uma
agenda oficial e portanto
não “faz sentido’’ que ela
tenha direito a deslocamento ilimitado.
O Mercado B vai trazer para a Barra o clima alternativo das feiras de
arte acompanhado das delícias dos mercados de comida. Em um antigo
supermercado, você vai encontrar alguns dos melhores restaurantes
da cidade e os food trucks mais badalados. E mais, artistas plásticos
reconhecidos internacionalmente irão interagir com grandes chefs
criando performances únicas. O evento ainda terá diversas atrações
musicais, obras de arte, instalações, produtores artesanais, espaço
infantil e muito mais.Tudo em um ambiente estimulante e multicolorido
com artistas expondo seus trabalhos nas esquinas de cada restaurante.
Não perca, esse evento vai conquistar todos os seus sentidos.
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PARTICIPAÇÃO:
REALIZAÇÃO:
O parecer foi produzido
a partir de uma consulta
feita pelo Gabinete de Segurança
Institucional
(GSI), que havia sido extinto por Dilma e foi recomposto pelo presidente
interino Michel Temer. A
Casa Civil explicou que, se
Dilma quiser fazer uma viagem que não seja para
Porto Alegre, ela pode solicitar ao GSI, que irá analisar caso a caso.
Em ato contra o presidente
interino, Michel Temer, em
Porto Alegre, Dilma Rousseff
criticou o parecer e disse que
está tendo o seu direito de
defesa “cerceado”:
— Um governo interino
cujo objetivo é proibir que
eu viaje. É um escândalo
que eu não possa viajar
pro Rio, pro Pará, pro Ceará. Eu não posso pegar um
avião, porque não tem segurança, é a Constituição
que manda .
A defesa de Dilma pediu
em recurso ao presidente do
Supremo Tribunal Federal
(STF), Ricardo Lewandowski, a ampliação do prazo para alegações finais para
além do que tinha sido cogitado inicialmente pela comissão. Caso o pedido seja
aceito, a decisão final sobre o
destino de Dilma poderia ficar até para setembro e não
em julho, como poderia
ocorrer com os prazos previstos pela comissão. l
l País l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
l 7
NOVO GOVERNO
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Ministro liga ‘centrão’, que apoia Temer, a ‘safadeza’
O ministro da Transparência,
Fiscalização e Controle, Torquato Jardim, declarou não acreditar que a Operação Lava-Jato
provoque mudanças concretas
no Brasil e fez críticas aos partidos políticos, a que chamou de
"balcão de negócios", e ao "centrão", grupo que reúne 13 legendas no Congresso, que pressiona
o presidente interino Michel Temer “em nome da corrupção e
FH: delação de
Cerveró ‘não
tem qualquer
fundamento’
Ex-presidente nega
ligação de filho com firma
citada por delator
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o conteúdo da
delação do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró à Lava-Jato “não tem qualquer fundamento”. O delator afirmou que,
por orientação do ex-presidente da estatal Philippe Reichstul, fechou negócio com uma
empresa vinculada a Paulo
Henrique Cardoso, filho de
FH, entre 1999 e 2000.
Em carta, Reichstul afirmou
que “o processo de escolha de
parceiros durante minha gestão
na Petrobras sempre foi pautado
por critérios que priorizavam exclusivamente os interesses da
companhia”. Já FH, negou, por
meio de nota em rede social,
que o filho tenha ligações com a
empresa citada por Cerveró, a
PRS Participações. “Notícias veiculadas pela mídia a propósito
de delação do senhor Nestor
Cerveró sobre o governo FHC
não têm qualquer fundamento.
Paulo Henrique Cardoso nunca
foi ligado à empresa PRS, nunca
ouviu falar dela nem, portanto,
teve qualquer relação comercial
com a referida empresa, nem,
muito menos, teve algo a ver
com compras da Petrobras”, diz
o texto publicado.
FH completou que “jamais
interferiu ou orientou aquisições pela Petrobras durante os
dois mandatos que exerceu como Presidente da República”.
Petistas e tucanos defenderam
que as informações que pesam
contra Paulo Henrique Cardoso
sejam investigadas. Parlamentares ressaltaram que não se pode
culpar alguém antes de haver
provas concretas para tal. l
-SÃO PAULO-
Correção
A informação de que a
Secretaria de Estado de
Proteção e Defesa do
Consumidor (Seprocom) do
Rio possui um total de 450
cargos comissionados,
publicada na edição de 27 de
maio pelo GLOBO, estava
incorreta. Ela fora repassada
pelo promotor do Ministério
Público, Vinicius Cavaleiro.
Anteontem, Cavaleiro
informou à reportagem ter se
equivocado pois teria somado
o número de cargos
comissionados na Seprocom
com o de outras secretarias. l
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da safadeza". As declarações foram dadas em 18 de maio, treze
dias antes de ele assumir a pasta,
mas publicadas pelo “O Diário
do Povo do Piauí” anteontem,
dia de sua posse.
Torquato assumiu o ministério após a demissão de Fabiano Silveira, flagrado em conversa orientando o presidente
do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), a não antecipar
informações à Lava-Jato.
— O que mudou com o impeachment de Collor? O que mudou no Brasil depois da CPI do
Orçamento quando os sete
anões foram cassados? O
que mudou com o
mensalão? O que vai
mudar com a Lava-Jato? — argumentou o
novo ministro. — Enquanto o mensalão es-
GIVALDO BARBOSA
Em entrevista, antes de assumir, titular da Transparência disse não acreditar que Lava-Jato mudaria o país
Cético.
O ministro
Torquato
Jardim
tava sendo condenado, a LavaJato estava sendo operada. Eles
aconteceram ao mesmo tempo.
O ministro reclamou da mobilização do “baixo clero” do Congresso que, segundo ele, “se reúne contra o presidente Temer”:
— Partido político hoje é uma
central de negócios, todos com o
mesmo programa, todos querem a mesma coisa. Você tem 35
partidos políticos no TSE, 28 no
parlamento, 28 fazendo manobra para ganhar dinheiro, ganhar cargo público. Já se formou
um novo centrão, com quase 20
partidos, 350 deputados para fazer pressão no presidente Michel Temer para conseguir mais
cargos. É isso que é o partido político hoje no Brasil, um balcão
de negócios — disse. — Isso não
é governabilidade, é em nome
da corrupção e da safadeza. l
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l O GLOBO
l País l
Sábado 4 .6 .2016
NOVO GOVERNO
_
Após denúncia, Temer diz que
nomeação depende de deputadas
Secretária das Mulheres teria feito parte de ‘articulação criminosa’
EVARISTO SA/31-5-2016
CATARINA ALENCASTRO
E EDUARDO BARRETTO
CANTORIA
A base unida, em
torno da viola
Temer relaxa
enquanto aliados
cantam sertanejo
[email protected]
Depois da revelação do suposto envolvimento da ex-deputada Fátima Pelaes num esquema de desvio de
emendas parlamentares, o presidente
interino, Michel Temer, decidiu dar à
bancada feminina a prerrogativa de resolver se manterá ou não a indicação
dela para a Secretaria das Mulheres. Se
houver recuo na indicação, ele pode
não nomeá-la, já que a nomeação ainda não foi efetivada.
Pelaes, presidente reconduzida do
PMDB Mulher, foi apontada em 2011
pelo Ministério Público Federal como
integrante de uma “articulação criminosa” para desviar R$ 4 milhões de suas emendas parlamentares a uma
ONG fantasma no Amapá, seu estado.
O dinheiro seria para fomentar o turismo no estado por meio de treinamento de 1,9 mil agentes em Macapá.
A ex-deputada aparece na Operação
Voucher. A denúncia foi publicada ontem pelo jornal “Folha de S. Paulo”.
“A parlamentar (Pelaes) teria ainda
escolhido as pessoas que ministrariam
os cursos oferecidos no âmbito do convênio, que aparentemente sequer foram realizados”, diz o pedido de abertura de inquérito do então procuradorgeral da República, Roberto Gurgel, ao
JÚNIA GAMA E MARIA LIMA
[email protected]
-BRASÍLIA-
-BRASÍLIA-
N
Na mira. Indicada para a Secretaria da Mulher, Fátima Pelaes foi alvo de denúncia em 2011
Supremo Tribunal Federal. Gurgel
também afirmou que Fátima Pelaes fazia reuniões constantes com servidores
do Ministério do Turismo para “agilizar
a liberação das verbas do convênio”. Em
2013, o inquérito foi aberto, mas desde
o ano passado tramita na Justiça Federal do Amapá, já que Pelaes deixou de
ser deputada e perdeu o foro privilegiado. Os sigilos fiscal, bancário e telefônico de Fátima Pelaes foram quebrados.
Um auxiliar de Temer argumenta que
a notícia é velha e já era conhecida pelo
presidente. Além disso, não foi aberto
processo contra a ex-parlamentar. No
entanto, há um reconhecimento de que
a publicação do fato se soma à declaração sobre estupro, considerada infeliz
por interlocutores de Temer.
O presidente interino, no entanto, delegou a solução desse caso ao ministro
da Justiça, Alexandre de Moraes, a
quem Fátima será subordinada, caso
sua nomeação seja efetivada.
— Aquilo foi um desastre. Mas Temer
está deixando isso fermentar, vai dar
para o Alexandre cuidar — pontuou um
assessor de Temer. l
o jantar para cerca
de 45 deputados
do PSB e outros
partidos ontem a
noite, na casa do deputado
Heráclito Fortes (PSB-PI), o
presidente interino, Michel
Temer, inaugurou uma nova
fase — cantada — de relação
com a base. Na presença de
parte de seus ministros, Temer
pediu para o deputado cantor
Sérgio Reis (PRB-SP) usar a viola e cantar um de seus clássicos, “Chalana”. Disse que estava há 20 dias no governo e
precisava relaxar porque “a
coisa está muito pesada”. Todos cantaram, mas o convidado principal, contido, só aproveitou a cantoria. O único momento em que se falou de política foi quando o presidente
interino fez um discurso de
agradecimento aos deputados
pelas vitórias na votação da
DRU e da nova meta fiscal.
Nessa fala ele pediu “coerência” com o momento difícil
que o país atravessa e que todos votem pensando unicamente em benefício da população, independente de interesses partidários.
Além de deputados , estavam presentes os ministros
Gilberto Kassab (Ciência e
Tecnologia), Mendonça Filho (Educação), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Bruno
Araújo (Cidades).
— O presidente agradeceu
as votações e disse que temos que ter coerência naquilo que formos votar, que o
momento agora é de pensarmos no povo, que temos que
nos unir todos e votar pelo
que for pelo bem da população, independente de partidos — contou Sérgio Reis.
O deputado cantor disse
que foi um encontro “muito
bacana”:
— O presidente disse: que
bom que você trouxe a viola
e vou descontrair.
O ministro Eliseu Padilha
revelou-se um cantor, Padilha
entoou os clássicos do sertanejo “Pinga ni mim” e “Menino da Porteira”. l
Supremo tem
194 processos
com alto grau
de sigilo
Decisão do tribunal é
acabar com tramitação
oculta na Corte
O Supremo Tribunal
Federal (STF) informou ontem
que 194 processos foram ajuizados de forma oculta na Corte.
Esse é o mais alto grau de sigilo
que um processo pode ter. Não
é possível ao cidadão sequer verificar a existência da ação, porque ela não aparece no andamento processual do tribunal.
Em breve, esses processos passarão a ser sigilosos, um grau
menor de segredo, em que aparece o número da ação e as iniciais do investigado.
O fim dos processos sigilosos
foi determinado na semana
passada por resolução assinada
pelo presidente do tribunal, ministro Ricardo Lewandowski.
Atualmente, os dados de todos
os processos ocultos estão sendo inseridos no sistema do tribunal manualmente. Não há
previsão de quando o procedimento estará concluído.
A probabilidade é de que a
maior parte dos processos ocultos sejam referentes à Operação
Lava-Jato. Isso porque, dos 194
contabilizados, 121 estão no gabinete do ministro Teori Zavascki, que é o relator dos processos sobre os desvios da Petrobras. A praxe é de que a Procuradoria Geral da República já
envie os processos para o tribunal com esse grau de sigilo. Desde que a resolução foi baixada,
isso não aconteceu mais. l
-BRASÍLIA-
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l País l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
l 9
Esquerda no Rio: juntos apenas em eventual 2º turno
Freixo, Molon e Jandira fecham acordo de apoio mútuo para a prefeitura; candidatura do PCdoB terá aliança com PT
FERNANDA KRAKOVICS
[email protected]
Pré-candidatos à prefeitura do
Rio no campo da esquerda, o
deputado estadual Marcelo
Freixo (PSOL) e os deputados
federais Alessandro Molon
(Rede) e Jandira Feghali (PCdoB) fecharam ontem um
acordo de apoio mútuo em
eventual segundo turno nas
eleições municipais deste ano.
Apesar de disputarem o mesmo eleitorado, eles disseram
não cogitar a união em uma
Pré-candidato,
Molon negocia
aliança com
PV e PPS
Ex- petista tentará
conquistar eleitorado
de centro
O deputado federal Alessandro
Molon (Rede-RJ) se reúne na
próxima segunda-feira com PV
e PPS para tentar fechar uma
aliança em torno de sua précandidatura à prefeitura do Rio.
— Não é tarefa fácil vencer
eleição no Rio de Janeiro contra
a máquina do PMDB, contra a
força e o dinheiro do PMDB, então é preciso que essa conversa
(Rede, PCdoB, PSOL e PT) seja
ampliada, que envolva outras
forças progressistas e envolva
também aqueles que não se
identificam com nenhuma força
política. A representação (política) está em crise, os partidos políticos todos estão em crise, é
preciso conversar sobretudo
com quem não se identifica com
nenhum partido político — disse Molon, após reunião com os
Marcelo Freixo (PSOL) e Jandira
Feghali (PCdoB).
Molon foi o deputado federal
mais votado pelo PT no Rio e
deixou o partido no ano passado, após 18 anos. Ele não tinha
apoio na legenda para disputar
a prefeitura, porque o partido
estava fechado com o PMDB.
Ao se filiar à Rede, Molon afirmou, na ocasião, ter tomado a
decisão por não perceber no
horizonte possibilidades reais
de serem feitas correções de rumos necessárias para o PT, em
uma referência aos escândalos
de corrupção que atingiram o
partido nos últimos anos.
Ele enfrenta resistência em
parte do eleitorado de esquerda
pelo fato de a ex-senadora Marina Silva, fundadora da Rede, ter
apoiado o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) no segundo turno
das últimas eleições presidenciais. Aliados de Molon minimizam esse fato, afirmando que a
trajetória do deputado é conhecida. A aposta do ex-petista é
conquistar também o eleitorado
de centro. Dividida no primeiro
turno, a esquerda aposta na profusão de candidaturas para levar
a disputa para o segundo turno.
Nesse caso, seria formada uma
frente anti-PMDB.
PMDB LANÇARÁ PEDRO PAULO
A exoneração do secretário municipal de Governo do Rio, Pedro Paulo (PMDB), foi publicada na última quarta-feira no Diário Oficial. Ele vai disputar a
prefeitura do Rio na eleição deste ano. Com a saída da administração municipal, ele reassume
o mandato de deputado federal.
Pedro Paulo pediu exoneração
da pasta para atender a legislação eleitoral, que determina que
candidatos deixem cargos públicos quatro meses antes do primeiro turno, que acontecerá no
dia 2 de outubro. Ele manteve a
candidatura mesmo após as acusações de que agrediu a ex-mulher Alexandra Marcondes. Em
fevereiro, o ministro Luiz Fux, do
Supremo Tribunal Federal, determinou abertura de inquérito
para investigar se ele praticou o
crime de lesão corporal. l
mesma chapa.
— As três candidaturas são
legítimas. Há uma unidade
construída, de diálogo, mas
não em uma chapa única. Nós
não éramos uma coisa só e nos
dividimos. Pelo contrário, somos coisas diferentes, com caminhos próprios, e estamos
nos organizando em uma pauta e em um debate permanente
sobre a cidade — afirmou Freixo, descartando a possibilidade de uma chapa única.
Os três disseram estar confiantes de que um deles chega-
rá ao segundo turno. Até o
momento, a disputa tem oito
pré-candidatos.
— Está explícito, absolutamente claro, nossa unidade no
segundo turno das eleições do
Rio, o que não é pouca coisa.
Teremos uma relação fraterna
e de altíssimo nível (no primeiro turno) nas redes sociais e na
rua — afirmou Jandira, após
reunião de quase três horas, da
qual também participou o presidente do diretório regional
do PT, Washington Quaquá,
que é prefeito de Maricá.
O plano inicial do PT e do
PCdoB era apoiar a pré-candidatura do secretário municipal de Governo do Rio, Pedro Paulo (PMDB). O desembarque ocorreu depois que o
peemedebista reassumiu seu
mandato de deputado federal
para votar a favor do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, seguindo
orientação do diretório regional do PMDB. Os comandos
do PT e do PCdoB decidiram
então lançar a pré-candidatura de Jandira. l
REPRODUÇÃO/INTERNET
Aliança. Molon, Jandira e Freixo apostam em nome da esquerda no 2º turno
10
l O GLOBO
l País l
2ª Edição Sábado 4 .6 .2016
Menor de 10 anos é morto por PMs
em São Paulo depois de furtar carro
Amigo de 11 anos, que estava no veículo, diz que vítima foi executada após ser rendida
MARCOS ALVES
SÉRGIO ROXO E STELLA BORGES
[email protected]
-SÃO PAULO- O menino Ítalo de Jesus Siqueira, de 10 anos de idade, suspeito de
roubar um carro, foi morto por policiais
militares no Morumbi, bairro nobre da
Zona Sul de São Paulo, na noite de
quinta-feira. O caso gerou reação de
defensores de diretos humanos e dos
órgãos de controle da polícia. A Polícia
Civil, responsável pela investigação,
não descarta execução. Um garoto de
11 anos que estava dentro do carro disse, em depoimento, que o seu amigo foi
morto após estar rendido.
O menino que dirigia o carro foi baleado e morreu na hora. O outro garoto
estava no banco de trás e foi detido,
sem oferecer resistência, segundo os
policiais. Ele sofreu escoriações. Em
depoimento, no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à
Pessoa (DHPP), os policiais disseram
ter disparado porque o menino de 10
anos atirou antes contra eles.
De acordo com a polícia, a arma calibre 38 apreendida no carro tinha três
cápsulas disparadas. A polícia descobriu que essa arma foi roubada no dia
19 de abril de 2015 de um segurança
durante um assalto a um caminhão de
carga na cidade de Jundiaí (SP). Os dois
policiais militares que fizeram a abordagem realizaram um disparo cada.
MENOR MUDA VERSÃO EM DEPOIMENTO
Em um primeiro depoimento, ainda na
noite quinta-feira, o menino de 11 anos
contou que o seu amigo deu dois tiros
com o carro em movimento, e um terceiro após colidir com o ônibus. Esse
depoimento foi dado apenas na presença da mãe e após o garoto ficar três
horas em poder dos policiais, antes de
chegar à sede do DHPP.
O garoto foi chamado para um novo
depoimento ontem. Nele, mudou a versão. Disse que os três disparos ocorreram antes da batida, segundo o advogado Ariel de Castro, membro do Conselho estadual de Direitos Humanos,
que acompanhou o depoimento.
— Ele contou que o policial chegou
próximo, pulou da moto e atirou na cabeça. Podemos até concluir pelo depoimento que pode ter ocorrido, sim, uma
execução — disse Ariel.
No novo depoimento, o garoto contou
ainda que levou um tapa na cara de um
dos policiais e que foi ameaçado. O PM
teria dito a ele, após a abordagem, que
ele precisaria indicar o local onde estava
a sua mãe. Se ele não fizesse isso, seria
morto. O DHPP ofereceu ao garoto e à
mãe dele a possibilidade de entrarem no
programar de proteção à testemunha.
Mas eles não aceitaram. O menino não
foi encaminhado para a Fundação Casa
porque a legislação brasileira só prevê
medidas socioeducativas para crianças a
partir de 12 anos de idade.
Os PMs contaram que faziam o pa-
Perfil
ÍTALO DE JESUS SIQUEIRA
‘Ele gostava de
cantar, e dizia que ia
me sustentar’
Mãe conta que menor queria ser
cantor como o pai, MC Bocão, que
está preso desde 2013
LUIZA SOUTO E DIMITRIUS DANTAS
[email protected]
-SÃO PAULO- Em dez anos de idade fo-
Desespero. Cintia Ferreira Francelino, mãe de Ítalo, chora ao saber da morte do filho enquanto espera a liberação do corpo no IML de SP
REPRODUÇÃO/TV GLOBO
Acidente. Carro usado pelos menores: veículo foi furtado em condomínio da Zona Sul
“Me surpreende que
um menino (...) que
mal consegue
alcançar o pedal
tenha capacidade
para fugir atirando”
Júlio César Fernandes Neves
Ouvidor das polícias de SP
trulhamento de moto em uma rua do
Morumbi, por volta das 19h de quintafeira, quando avistaram o carro roubado. Durante a perseguição, o garoto que
dirigia o carro perdeu o controle e bateu num ônibus, momento em que os
PMs teriam atirado contra o garoto.
O carro havia sido furtado de um condomínio na região. As duas crianças haviam pulado o muro do prédio e, ao chegarem à garagem, viram um veículo estacionado com a chave no contato. Sem
dificuldade, eles conseguiram sair pelo
portão do condomínio. Segundo o menino de 11 anos, o seu amigo tinha dificuldades de trocar a marcha do carro, o
que chamou a atenção dos policiais.
De acordo com o DHPP, a dupla já havia realizado três crimes. Em janeiro, eles
tentaram roubar um bicicleta no Parque
do Ibirapuera. Em abril, praticaram furtos
num hotel e, no dia 28 de maio, roubaram
um condomínio. Em nenhum dos casos
anteriores, usaram arma de fogo.
Para o ouvidor das polícias de São
Paulo, Júlio César Fernandes Neves, a
versão de que o menino conseguiu atirar e dirigir o carro ao mesmo tempo
deve ser vista com desconfiança.
— Me surpreende que um menino de
10 anos, que mal consegue alcançar o
pé no pedal de um carro, tenha capacidade para fugir e sair atirando — disse.
A Corregedoria da Polícia instaurou
inquérito administrativo. Ao analisar o
caso no início da noite de ontem, antes
do depoimento do menino de 11 anos,
a diretora do DHPP, Elisabete Sato, foi
cauteloso e evitou descartar qualquer
possibilidade para a morte:
— Neste início (de investigação) absolutamente nada é descartado. Todas
as possibilidades serão investigadas.
Eu não tenho (ainda) elementos para
afirmar que houve isso ou aquilo.
Para Sato, os exames de perícia é que
vão definir as circunstância do crime.
Foi coletado um par de luvas que estava
sendo usado pelo garoto, que passará
por exame residuográfico para verificar
a existência de pólvora. Também deve
ser feita a reconstituição do caso.
Sobre a conduta dos policiais militares, a diretora do DHPP também evitou
avaliar se o procedimento foi correto,
mas destacou que o carro roubado tinha
películas escuras e estava com o vidro fechado, o que os impediria de saber que
quem estava ao volante era um menino
de 10 anos. l
ram três passagens em abrigos públicos. Não se sabe ao certo os motivos que o levaram aos cuidados
do Estado, mas algumas vezes Ítalo de Jesus Siqueira chegou lá sem
a companhia do pai ou da mãe,
que estavam presos. O pai, até hoje numa penitenciária, responde
por tráfico. A mãe, agora faxineira,
passou anos atrás das grades acusada de roubo. Era a avó Zenaide,
uma manicure de 56 anos, quem
cuidava dele e dos seus irmãos.
Segundo mais velho de quatro
irmãos, Ítalo cresceu no Morro do
Piolho, um amontoado de barracos de onde é possível observar altos edifícios de classe média, na
Zona Sul da cidade. Ali, enquanto
brincava principalmente de carrinho, sonhava em seguir os passos
do pai, o MC Bocão, como era conhecido Fernando de Jesus Siqueira até ser preso em 2013.
— Ele gostava de cantar. Fazia as
próprias letras e dizia que ia me
sustentar — diz Cintia Ferreira
Francelino, a mãe.
No processo que responde na
Justiça, o pai de Ítalo se diz inocente e que foi acusado por policiais
porque já tinha antecedentes criminais. Hoje separada do pai de
Ítalo, Cintia ganha R$ 400 por mês.
O garoto estudava num colégio
estadual da região. Estava no segundo ano do ensino fundamental.
Os vizinhos dizem que Ítalo era um
garoto esperto e bem humorado.
Gostava de brincar na lan house da
favela. Ítalo alternava jogos infantis
com o GTA, game em que o personagem rouba carros e anda pela cidade realizando missões. Para pagar o uso dos computadores, faria
pequenos furtos. Mas também fazia
bicos. Ao lado do garoto de 11 anos
que estava no carro, costumava trabalhar de engraxate no Aeroporto
de Congonhas, perto da favela.
Por quatro vezes, o barraco onde
morava pegou fogo, obrigando a
família a mudar de endereço dentro da mesma favela. Ontem, ainda no IML à espera da liberação do
corpo, Cintia falava que Ítalo era
carinhoso com os irmãos.
— Ele não fazia mal a ninguém,
pelo contrário, era muito carinhoso — disse a mãe.
O corpo de Ítalo foi liberado do
IML apenas início da noite. Será
velado e enterrado no Cemitério
São Luiz, na Zona Sul. l
Mortes de cinco da mesma família no RS podem ter motivo passional
Uma das vítimas
tinha relatado
ameaças; drogas
foram encontradas
A investigação sobre a morte
de cinco pessoas da mesma família no bairro Jardim Itu-Sabará, na Zona Norte de Porto
Alegre, aponta, de forma preliminar, para hipótese de execução, nos moldes de um crime
passional, já que quatro dos
corpos tinham marcas de tiro
na cabeça. A avaliação é do diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção
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à Pessoa (DHPP), delegado
Paulo Grillo. No entanto, a motivação ainda é desconhecida.
— Pelas circunstâncias, se
moldaria a uma motivação
passional — afirmou Grillo,
que tem acompanhado as investigações: — Mas nada pode
ser excluído — acrescentou o
delegado, ao não descartar outras hipóteses.
De acordo com Grillo, foram
encontradas drogas embaixo
do corpo de uma das vítimas
— Valmir Felipe Figueiro —, e
o calibre da arma utilizada não
é comum em execuções relacionadas ao tráfico de drogas.
— Não sabemos se o cirme
foi planejado. Ainda permanece envolto em um mistério e
vai exigir demais dos policiais
— afirmou.
A hipótese de que o crime tenha relação com o tráfico de
drogas só não foi totalmente
descartada porque foram encontradas trouxinhas de maconha e papelotes de cocaína.
Os mortos foram identificados
como Lourdes Felipe, de 64
anos, mãe de Valmir, de 29
anos, e de Luciane Felipe Figueiro, de 32 anos, além de Jo-
ANDERSON FETTER/RBS
Violência. Carro da perícia em frente à casa onde cinco pessoas foram mortas
ão Pedro, de 5 anos, e Miguel,
de menos de um mês de idade,
filhos de Luciane.
BEBÊ ESTAVA SOB CORPO DA MÃE
As cinco pessoas foram encontradas mortas dentro de casa
no bairro Jardim Itú Sabará, na
Zona Norte de Porto Alegre, na
tarde da última quinta-feira. O
bebê não tinha marcas de tiros,
mas estava com o corpo em-
baixo da mãe. A perícia acredita que a criança pode ter morrido sufocada ou com fome.
— A única pessoa que tinha
dois tiros, além do tiro na cabeça, um no braço, que poderia
ser de defesa, é a moça (Luciane). De resto, não é oficial, não
temos nada nesse sentido de
algum sinal que indicasse luta
— acrescentou Grillo.
A família era de Santa Catari-
na e viajava com frequência
para o estado de origem, o que
não fez os vizinhos desconfiarem do sumiço. Todos achavam que eles tinham viajado.
O último contato telefônico
feito pela família, identificado
pela polícia, foi no dia 24 de
maio. O que aponta, segundo a
investigação, que o crime possa ter acontecido nove dias antes de ser descoberto. Os corpos já apresentavam estado de
decomposição.
Os corpos só foram localizados após a filha de uma das vítimas, que não morava com o
restante da família, ser avisada
pelos vizinhos, que deram falta
da família na quinta-feira. A filha tinha contato esporádico
com os familiares. Ela será ouvida pela Polícia Civil dentro
da investigação. De acordo
com informações do 20º Batalhão de Polícia Militar, o chamado sobre o ocorrido foi feito
por volta do meio-dia
Nenhuma porta foi arrombada, e a arma do crime não foi
localizada, apenas munições
de calibre 22. As investigações
dão conta que uma das vítimas
teria relatado ameças de um
antigo relacionamento.
— Família de classe baixa,
todos moravam naquela casa.
Não trabalhavam, sobreviviam
de uma pensão que o marido
(de Lourdes Felipe) deixava —
completou o delegado.
A polícia acredita que os depoimentos de familiares e vizinhos possam dar maiores detalhes sobre a vida da família,
assim como trazer pistas para
a identificação dos autores.
Imagens de câmeras de segurança do bairro também são
analisadas. Um celular encontrado no local será examinado,
assim como impressões digitais
encontradas na casa. (Do G1) l
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Sábado 4 .6 .2016
Dos Leitores
|
oglobo.com.br/participe
Eu-repórter
O GLOBO
Autocrítica
|
Das redes sociais
facebook.com/jornaloglobo
_
facebook.com/jornaloglobo
REPRODUÇÃO/WONDERCREW.COM
“Há um desnível no asfalto.
Por isso, a água fica acumulada, atrapalhando a travessia na faixa de pedestres”
NA
EDIÇÃO DE ONTEM:
_
twitter.com/jornaloglobo
DIVULGAÇÃO
AFP
Marcelo de Barros,
sobre a dificuldade na travessia da Rua Lucídio Lago,
esquina com a Rua Arquias
Cordeiro, no Méier, quando
chove. No local, há rampa
para cadeirantes, que não
pode ser usada com o alagamento. A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos
informou que vai vistoriar o
local e programar os reparos.
|
“Não é para impor seus gostos ao restante da sociedade?”
Daniel Silveira
“Força! Não perca a energia
positiva que sempre passa!”
Mãe cria linha de bonecas
após filho dizer que ‘meninos não choram’
Louise Sousa
Susana Naspolini, do
‘RJ TV’, se afasta para tratar
câncer de mama
Cartas e e-mails
“Não merecem a guarda
da criança”
@Bryanckyzytho
‘Fomos longe demais’, diz
pai de menino achado após
seis dias perdido
|
As cartas, contendo telefone e endereço do autor, devem ser dirigidas à seção Dos Leitores. O GLOBO, Rua Irineu Marinho 35, CEP 20233-900. Pelo fax, 2534-5535 ou pelo e-mail [email protected]
_
RESJUSTE DO FUNCIONALISMO
a Dar aumento para o funcionalismo
público, neste momento, é
vergonhoso. Mais uma decepção da
atitude do governo Temer. Alegar que
o aumento está contemplado nos R$
170 bilhões foi uma oportunidade
perdida de reduzir este déficit. A não
ser que alguém o julgue pequeno e
que não seja necessário reduzi-lo.
Alegar também que este aumento vai
“pacificar” o funcionalismo,
pergunto, então: quem vai pacificar
os 11 milhões de desempregados? A
atitude não condiz com o momento
atual. Definitivamente, Brasília é
uma ilha da fantasia em que os
representantes dos brasileiros vivem
em outro planeta.
LUIZ FERNANDO DE SOUZA LIMA
RIO
_
a Como o sr. parece ser um homem
de coragem, presidente Temer, já
aumentou o funcionalismo, só para
causar inveja ao PT, manda aí uns
30% ou 40% de aumento também
para a rapaziada do INSS. Isso vai
fazer com que a turma de lá morra de
inveja do seu poderio econômico, e
também da sua coragem em resolver
os assuntos do país com garra e
energia. Mas, cuidado com os
políticos! Esses não são confiáveis.
PAULO CESAR PHILOT BARRADAS
RIO
Judiciário. Ainda assim, querem ser
respeitados. Por quê?
OSWALDO CRUZ GRIBEL
MAR DE ESPANHA, MG
_
a O país está em crise financeira e o
governo autoriza aumento para o
funcionalismo federal, entre ele, o
Judiciário. Como se os nossos
magistrados ganhassem pouco, como
se não tivessem auxílio-moradia,
auxílio-educação e outro benefícios
que outros servidores, igualmente
concursados, não têm. Os salários do
Judiciário são os melhores do Estado,
mas, mesmo assim, recebem
aumento. Gostaria que a agilidade
em que os mesmos têm aumentos
fosse transformada em rapidez no
andamento dos processos que se
arrastam por anos a fio, sem solução.
ROBERTO CASTELLO BRANCO
RIO
a O reajuste do Judiciário, aprovado
pela Câmara, não recompõe a
inflação de 2015/2016. Ela corrige
bem abaixo do que deveria, os dez
anos de inflação, desde 2006. É fácil
fazer o cálculo: se somássemos a
inflação de dez anos seriam 70% de
aumento, e não 40%, até 2019, como
foi aprovado.
MARIA LUCIA FREITAS
RIO
_
_
MOEDA DA ÉTICA
a Com aval do governo, Câmara
a A criação de mais de 14 mil vagas, o
autoriza aprovação de reajuste do
funcionalismo, inclusive dos marajás
do Executivo e do Judiciário, aqueles
que com salários de R$ 30 mil, R$ 40
mil, R$ 50 mil ainda têm
auxílio-moradia, transporte, dois
meses de férias etc. Tudo com
impacto de R$ 64 bilhões nas contas
públicas. Depois, a culpa é do salário
mínimo e dos velhinhos do INSS.
Onde estão os paneleiros?
FLÁVIO R. FONSECA
MENDES, RJ
_
a “O Judiciário brasileiro é um dos
mais caros do mundo”, segundo o
artigo “Na contramão do Brasil”
(3/6), escrito por Reis Freire,
vice-presidente do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, e que por isto
não pode ser acusado de não saber o
que está falando sobre aumento de
salários no momento em que o país
vive a sua pior crise econômica.
Quem vai pagar a abismal dívida
contraída pelos governantes será o
povo brasileiro, e não os membros do
aumento de salários para uma casta
de servidores, a utilização dos
recursos do BNDES para bancar
obras biliardárias em outros países
são a prova cabal de que não falta
dinheiro nos cofres. O tão propalado
déficit público deve se referir a uma
outra moeda, essa sim, em falta no
âmbito do nosso governo. Refiro-me
à moeda valiosíssima da ética, da
decência e da seriedade no
tratamento da coisa pública.
MARCELO SALDANHA
RIO
_
QUEM SABE?
a O governo interino de Michel Te-
mer, ao montar seu Ministério com
nomes envolvidos na Lava-Jato, dois
dos quais já afastados na esteira de
escândalos, fornece munição à atual
oposição para a devolução do poder a
Dilma Rousseff. Pode ser, por outro
lado, que o presidente interino, ao
efetivar as nomeações, aposte num
pragmatismo de resultado sutil e fora
MARCELO PRATES/3-8-1983
MORTE DE GUITARRISTA CHOCA PAÍS
Há 10 anos, músico da banda de Tico Santa
Cruz morreu ao tentar fugir de assalto no Rio.
Estados de pires na mão
30 ANOS PARA QUITAR DÍVIDAS
No final da década de 90, União deu a 23
estados e 182 municípios novo prazo.
Newton Cruz
O JULGAMENTO EM 1992
Acusado pela morte do jornalista Alexandre
von Baumgarten, general foi inocentado.
acervo.oglobo.globo.com
PAULO ROBERTO GOTAÇ
RIO
_
LÁ E NÃO AQUI
a O leitor José Buzak (2/6) se refere à
presidente afastada, Dilma Rousseff,
dizendo que ela faz maldades. Mas
acredito que não seja isto. Ela só está
fazendo direitinho o dever de casa,
repetindo o número 6 do decálogo
do Lenin: colabore para o
esbanjamento do dinheiro público;
coloque em descrédito a imagem do
país, especialmente no exterior, e
provoque pânico e desassossego na
população por meio da inflação. Pois
é, ele escreveu isto em 1913.
ROSA MARIA MENDONÇA
RIO
coletivos. Estes, sim, sem a devida
regulação da agência. Imagino que se
o Brasil fosse um país realmente
decente, a lógica deveria ser
justamente oposta. Ou seja, o
percentual dos planos individuais é
que deveria nortear o reajuste dos
coletivos. Sem medo de errar, o dos
planos coletivos, com certeza, vai
para a casa dos 20%. Roubo com o
aval do governo.
LUIZ NIEMEYER
RIO
_
a Uma vergonha esse reajuste dos
planos de saúde de 13,57%
autorizado pela ANS, bem acima da
inflação acumulada até abril, de
9,28%. Será que ninguém do
Ministério Público ou de órgãos de
defesa do consumidor vai se
manifestar?
RONALDO GOMES FERRAZ
RIO
_
FUGIR AO TEMA
POLUIÇÃO VISUAL
a “Foge ao tema do processo mostrar
que isso (o impeachment) foi uma
grande farsa?” indagou José Eduardo
Cardozo acerca da não inclusão de
transcrição da conversa gravada
entre Sérgio Machado e o senador
Romero Jucá (PMDB-RR) no dito
processo. O ex-advogado-geral da
União e agora advogado de Dilma
poderia nos responder: e quanto às
delações de Delcídio Amaral e Nestor
Cerveró? Foge ao tema do processo
mostrar que o PT organizou um
projeto criminoso de poder, na
definição do ministro Celso de Mello
(STF), para assaltar o Estado? Dois
pesos e duas medidas: é este o poder
de retórica de Cardozo.
ELIAS MENEZES
NEPOMUCENO, MG
_
VALE A PENA
a Valeria a pena o novo presidente da
Petrobras, Pedro Parente, cobrar
alguns dos esclarecimentos de há
muito devidos pela sra. Maria das
Graças Foster, no exercício da
presidência da estatal.
PAULO E. DE MELLO BAPTISTA
RIO
_
PLANOS DE SAÚDE
a Parece até piada. A ANS, agência
que regula os planos de saúde no
Brasil e que também é responsável
para avaliar os índices de reajustes
dos planos individuais, baseia-se nos
reajustes efetuados nos planos
a Ao decretar a volta da poluição
visual por anúncios publicitários, o
prefeito Eduardo Paes reafirma sua
tendência de afrontar a opinião
pública. No mesmo tom situa-se a
imposição da horrorosa e malfadada
ciclovia, cujo desastrado projeto
anulou a belíssima vista do mar em
toda a extensão da Avenida
Niemeyer. Sugiro que seja demolida.
MARIA A. BORGES
RIO
_
FALTA URBANIZAÇÃO
a A Estrada da Boiúna, na Taquara,
nunca recebeu obras de urbanização
e saneamento básico. Com as obras
da Transolímpica, a via, que já era
péssima, ficou pior. A prefeitura me
informou que obras seriam
executadas ao final das obras da
Transolímpica. Para indignação dos
moradores, a obra que está sendo
realizada não contempla saneamento
básico e urbanização. O consórcio
Rio Olímpico (Invepar, Odebrecht
TransPort e CCR) está fazendo um
calçamento de péssima qualidade,
que não contempla o passeio e as
demais necessidades da via. A
prefeitura fez fotos aéreas da região,
para readequar o IPTU. Deveria usar
a mesma tecnologia para certificar-se
das obras necessárias na via. Utilizar
tecnologia somente para aumentar a
arrecadação é, no mínimo,
desonesto.
SOLANGE DE FREITAS CARVALHO
RIO
P. 4: “Delator: dívida eleitoral
de Dilma foi paga com verba
da Presidência.” “...alimentar
o imaginário acusatório e a
previa condenação...” Erro
de grafia: falta do acento.
Certo: “...e a prévia...”
_
P. 5: “Gilmar autoriza prosseguimento de investigação
contra Aécio.” “‘Tenho a
absoluta convicção de que,
ao final, ficará provado,
mais uma vez, a minha
inocência...’” Erro de concordância (gênero). Certo:
“‘_
...ficará provada...’”
P. 24: “Ex-ministro da
Justiça vai defender Trabuco.” “Ao todo, dez pessoas
foram indiciadas, entre elas
Lutero Fernandes do Nascimento, braço direito do
ex-secretário da Receita
Federal, Otacílio Cartaxo.”
Erro de grafia. Certo: “...Lutero Fernandes do Nascimento,
braço-direito...”
_
P. 25: “Kroton fará oferta
para comprar Estácio de Sá.”
“...a nova onda de consolidação deverá se concentrar
entre as 200 grandes empresas do mercado, que
detém 65% dos estudantes.”
Erro de concordância/grafia.
Certo:
_ “...que detêm 65%...”
P. 25: “Kroton fará oferta
para comprar Estácio de Sá.”
“...e agora a tendência é de
que predominem...” Crítica:
“de” a mais. Certo: “...tendência é que predominem “as
combinações
de negócios”.
_
P. 29: “O batismo/Moscou –
1980/Rio 2016/Maratona
Olímpica – de Moscou ao
Rio.” “...porém deixaram a
cargo das suas federação
esportivas...” Falta do plural.
Certo:
_ “...suas federações...”
P. 29: “O batismo/Moscou –
1980/Rio 2016/Maratona
Olímpica – de Moscou ao
Rio.” “...João chegara em
Moscou para buscar...” Erro
de regência. Certo: “...chegara
a_
Moscou para buscar...”
P. 29: “O batismo/Moscou –
1980/Rio 2016/Maratona
Olímpica – de Moscou ao
Rio.” “O Estádio Lênin estava
lotado na tarde de sexta
feira...” Erro de grafia: falta do
hífen. Certo: “estava lotado
na tarde de sexta-feira...”
_
P. 29: “O batismo/Moscou –
1980/Rio 2016/Maratona
Olímpica – de Moscou ao
Rio.” “Um feito notável que
chamou pouca atenção pelo
atleta vir espremido entre
figuras tão estelares foi o 4º
lugar do camiseta 78 nos
400 metros.” Combinação
inadequada. Certo: “...por o
atleta vir...” Melhor: “...por
vir o atleta...”
Este é o resumo da crítica
realizada e supervisionada
pelo professor Ozanir
Roberti, sob a coordenação do
jornalista Aluizio Maranhão,
editor de Opinião do GLOBO.
A crítica completa é distribuída
todos os dias na Redação.
LEIA A ÍNTEGRA DA
COLUNA NA WEB
oglobo.com.br
Há 50 anos 4 de junho de 1966
Hoje no
Acervo O GLOBO
Detonautas
do alcance da percepção do cidadão
comum, que não conhece as
catacumbas de Brasília. Quem sabe?
_
_
l 11
Tancredo e Golbery
ARTICULAÇÕES EM MINAS
Em 1983, no ocaso da ditadura, os
dois visitaram colégio do Caraça.
Bispos de São Paulo lançam
manifesto contra o divórcio
Objeto plástico e não chiclete
de bola matou o estudante
Os bispos de São Paulo lançaram manifesto condenando a introdução do
divórcio no nôvo Código Civil, que está em vias de ser aprovado pela Câmara Federal. No documento, os prelados alertam a opinião pública “diante
da possibilidade de se introduzirem
em nossa legislação civil inovações
que venham afetar a estrutura da família”. Salientam que o Código Civil
Brasileiro pode ser aperfeiçoado.
Consideram, porém, que obra de tal
porte e responsabilidade deve ser empreendida sòmente após profundos
estudos por parte de especialistas.
Foi um objeto plástico, semelhante à
tampa de uma caneta esferográfica, e não
chiclete de bola, o que motivou a morte
do estudante Temístocles de Carvalho,
ocorrida dia 31 do mês passado, no Hospital Getúlio Vargas. A versão inicial, dada pelo irmão e acompanhante do menor ao hospital, Sr. Sirlei José de Carvalho, funcionário do 3º Distrito da Prefeitura de São João de Meriti de que Temístocles morrera sufocado por um chiclete
de bola, foi desautorizada pelo laudo do
exame cadavérico do IML, que atestou
como causa da morte “asfixia por plástico” provocada por obstrução da traquéia.
Product: OGlobo
12
PubDate: 04-06-2016
Zone: Nacional
Edition: 1
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User: Lcsr
Time: 06-03-2016
21:39
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K
Y
M
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
OGLOBO
|
Opinião
|
Denúncias aprofundam desgaste de imagem de Dilma
A
presentada ao país pelo presidente Lula
como a “mãe do PAC”, a gerente inflexível e eficiente, Dilma Rousseff governou
no Planalto durante cinco anos e de lá
foi afastada pelo processo de impeachment em
andamento no Senado com a imagem profissional bastante abalada.
Lula conseguiu elegê-la como garantia de continuidade dos bons momentos do seu governo.
Mas nada de importante deu certo: a gerente não
conseguiu destravar os investimentos públicos,
listados no Programa de Aceleração do Crescimento, e a economista de formação conduziu um
dos maiores desastres da história do país, devido à
aplicação do mirabolante “novo marco macroeconômico”.
Restou de patrimônio para Dilma a imagem de
“mulher honrada”, como brada seu advogado no
processo de impeachment, José Eduardo Cardozo. Mas este ativo também já havia sofrido arra-
Delação de ex-diretor da
Petrobras sobre a compra de
Pasadena vai contra a ideia de
que a presidente é uma pessoa
‘honrada’ sendo injustiçada
naria de Pasadena, no Texas, pela estatal, Cerveró foi responsabilizado por Dilma, presidente da República, pelo mau negócio — prejuízo
de US$ 792,3 milhões à estatal. Na delação liberada pelo STF, ele é direto: Dilma tinha conhecimento de todos os detalhes da compra
da refinaria. Negócio que gerou propinas, já
comprovadas.
Cerveró admite que ela deveria saber que
políticos recebiam dinheiro desviado da Petrobras. Ele não tem provas. Evidências, porém, não faltam, e há pelo menos um testemunho de que a presidente da República tentou
obstruir a Justiça na Operação Lava-Jato.
Segundo o senador Delcídio Amaral, a presidente tratou com ele da barganha na indicação de
um ministro para o STJ, Marcelo Navarro, em troca da aceitação do pedido de habeas corpus do
empreiteiro Marcelo Odebrecht. Acrescente-se o
telefonema grampeado pela Justiça em que Dilma
nhões. Afinal, como a presidente do Conselho de
Administração da Petrobras desde janeiro de 2003
não tomara conhecimento do bilionário esquema
de superfaturamento de contratos com empreiteiras para financiar políticos de PT, PP e PMDB? A
pergunta sempre pairou sobre Dilma, e agora,
a partir da divulgação pelo Supremo da delação premiada do ex-diretor da estatal Nestor
Cerveró, ela desaba de vez sobre a presidente
afastada.
Diretor da área internacional da empresa
quando da compra mais que suspeita da refi-
e Lula tratam do termo de nomeação do ex-presidente para a Casa Civil, a fim de protegê-lo da Lava-Jato com o foro privilegiado do STF. Outra obstrução.
A antiga imagem de Dilma sofre, também, com
a revelação, pelo GLOBO, de que dinheiro do petrolão, portanto surrupiado da estatal, financiou
gastos pessoais da presidente, como o deslocamento de São Paulo para Brasília do cabeleireiro
Celso Kamura para atendê-la.
E fica ainda mais degradada depois de reportagem de “Época”, em que o lobista Benedito Oliveira Neto diz que Giles Azevedo, assessor próximo
de Dilma, teria pagado dívida de campanha com
dinheiro da Secretaria de Comunicação.
O PT não quer um desfecho rápido para o impeachment, por apostar no desgaste do presidente interino, Michel Temer. Mas revelações que começam a surgir, e não só na Lava-Jato, também
não ajudam a presidente afastada. l
Possível vitória da filha de Fujimori é ameaça ao Peru
N
a reta final das eleições peruanas, a filha do ex-ditador Alberto Fujimori,
preso por violação de direitos humanos e corrupção, lidera as pesquisas
de intenção de voto, com seis pontos percentuais de vantagem sobre o rival Pedro Pablo
Kuczynski, ou simplesmente PPK. Segundo a
consultoria Ipsos, um quinto dos eleitores está
indeciso, o que torna o resultado imprevisível
na reta final do processo eleitoral.
O PIB peruano, revela o FMI, cresceu 3,3%
em 2015 e deve avançar para 3,7% este ano. A
inflação está sob controle, tendo alcançado
3,5% no ano passado, com projeção de queda
para 3,1% em 2016. Já o desemprego deve permanecer estável em 6%. Num quadro como
mori foi condenado em vários processos por
corrupção e crimes humanitários, inclusive a
morte de 25 pessoas, sequestros e tortura durante seu governo (1990-2000).
Embora Keiko tenha passado boa parte da
campanha tentando se desvincular da imagem do pai, há temores de que a candidata
possa de algum modo indultá-lo. A volta do
“fujimorismo” é tida como um retrocesso perigoso, ao ponto de até mesmo a candidata de
esquerda, Veronika Mendoza, terceira colocada no primeiro turno, anunciar o apoio a PPK,
numa campanha de voto útil. Kuczynski também recebeu o respaldo de Lourdes Flores Nano, líder do Partido Popular Cristão.
Keiko, porém, possui uma boa estrutura parti-
esse, a principal preocupação dos eleitores é
com a insegurança, sobretudo nas periferias
das principais cidades, o que tem favorecido
Keiko Fujimori, que adotou o mesmo tom belicoso do pai em sua retórica contra a delinquência. Pesquisa local mostra que quase 90%
da população acreditam que será vítima de algum crime nos próximos 12 meses.
Em muitos aspectos, o discurso beligerante
de Keiko evoca o do pai, que em sua gestão decretou “guerra” contra a guerrilha e acabou
condenado por violação de direitos humanos.
A candidata, de 41 anos, chegou mesmo a defender a pena de morte para pedófilos, e prometeu colocar o Exército no combate ao crime. Desde 2009, o ex-presidente Alberto Fuji-
dária, e seu partido, o Fuerza Popular, tem maioria no Parlamento. Ela conseguiu manter uma
vantagem em relação a PPK, mesmo depois de
o segundo líder em sua agremiação, Joaquin Ramirez, se ver obrigado a renunciar, após autoridades peruanas anunciarem que o investigam
por lavagem de dinheiro. Outros membros da
coalizão de Keiko são acusados de ligação com
o tráfico de drogas.
As chances de vitória de Keiko preocupam,
dentro e fora do Peru. Além do temor de uma
guinada truculenta e autoritária na política,
pesam igualmente os danos que o “fujimorismo” poderá causar a uma economia saudável
e articulada comercialmente com países vizinhos, por meio da Aliança do Pacífico. l
GUILHERME FIUZA
Patrulha recatada e do lar
T
emer deu posse a Maria Silvia na presidência do BNDES. Silêncio na patrulha
progressista.
Explicando melhor: o presidente
Michel Temer empossou na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o
maior orçamento público do país, a
economista Maria Silvia Bastos Marques, executiva de renome consagrada no Brasil e no exterior.
Silêncio sepulcral na claque progressista, humanitária e feminista.
Tentando de outra forma: o BNDES,
um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo, alvo de vários inquéritos sobre tráfico de influência
do PT, com destaque para as tramoias
do ex-ministro Fernando Pimentel
para eleger Dilma Rousseff, e de Lula
para alegrar suas empreiteiras de estimação, foi colocado por Michel Temer nas mãos de uma executiva séria
e brilhante, que vai combater a farra
com o dinheiro do contribuinte.
Outrora febril, a patrulha progressista, agora recatada e do lar, vira-se
de lado e dorme. Quando alguém tenta despertá-la, ela pergunta sonolenta: mas e o Cunha?
Se já era difícil explicar o que o
Cunha tem a ver com as calças, que
dirá com as saias. Melhor não contrariar. Para os brasileiros da resistência democrática, irmanados à
quadrilha de Dilma e Lula contra os
golpistas, mulher de verdade é Erenice, Gleisi, Ideli, Rosemary, Rosário, Graça, Belchior e as demais heroínas que fizeram história na Era
Rousseff. Gosto não se discute.
Melhor passar à próxima notícia:
Michel Temer empossa Pedro Parente
na presidência da Petrobras. Silêncio
ensurdecedor na patrulha moralizadora contra o novo governo.
Em se tratando de moral, vale explicar com paciência: o governo dos abutres que vieram atacar os cordeiros indefesos do PT colocou um dos melhores executivos do país, reconhecido
nacional e internacionalmente, para
gerir a empresa usada por Lula e Dilma
para patrocinar o maior escândalo da
história da República.
Alguém cometeu de novo a indelicadeza de acordar a patrulha do bem,
exausta da luta sem tréguas contra os
conservadores malvados, e a reação
veio na bucha: mas e o Cunha?
Aí Michel Temer demite sumariamente os suspeitos de seu governo.
Um careta, conservador, que não tem
noção de solidariedade. Dilma nunca
fez isso. Sempre procurou manter
seus picaretas de fé a salvo, como é o
caso do supracitado Fernando Pimentel. E jamais negou apoio público
aos companheiros mensaleiros e aos
guerreiros do povo brasileiro presos
no assalto à Petrobras.
É aí que mora o perigo, bravos democratas que resistem contra Temer:
vocês não podem aceitar assim, de bico calado, a entrega escandalosa da
Petrobras a Pedro Parente.
Vocês já pensaram nas consequências disso? Quantos doleiros e
tesoureiros progressistas ficarão à
míngua? Quantas eleições presidenciais e parlamentares deixarão de
ser compradas, desempregando milhares de funcionários de gráficas
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MARCELO
Aí Michel Temer demite
sumariamente os suspeitos
de seu governo. Um careta,
conservador, que não tem
noção de solidariedade
fantasmas, agências de publicidade
de fachada, marqueteiros espertos e
jornalistas de aluguel, fora a crise no
mercado da mortadela?
Vocês não devem estar se lembrando quem é Pedro Parente, caros
gladiadores da resistência democrática. Então compreendam a gravida-
Geral e Redação (21) 2534-5000
Jornais de Bairro: (21) 2534-4355
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semana e feriados: (21) 2534-5501
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de da coisa: quase 20 anos atrás, Pedro Parente foi um dos principais
guardiões da implantação de uma
barbaridade chamada Lei de Responsabilidade Fiscal. Não estão ligando o nome à pessoa? Ora, bravos
guerreiros do bem, foi essa maldita
excrescência que derrubou a nossa
impoluta presidenta.
Entenderam o golpe? Pedro Parente, colocado pelo governo branco, velho e conservador de Temer para tomar conta da maior empresa nacional, tramou a queda de Dilma lá atrás,
nos anos 90. Esses golpistas pensam
em tudo. Junto com a gangue que fez
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o Plano Real (página infeliz da nossa
história, passagem desbotada na memória), esse ardiloso previu que um
dia os companheiros chegariam ao
poder, e criariam uma maravilha chamada contabilidade criativa — que é
você conquistar a liberdade de gastar
sem culpa o dinheiro dos outros.
E foi assim que Dilma caiu. Só porque foi flagrada fraudando a responsabilidade fiscal para manter os bonzinhos no poder, isto é, roubando honestamente — o que para os brancos,
velhos, chatos, bobos, feios, recatados
e do lar, é crime.
Esse talvez tenha sido o golpe mais
doloroso. Se você e o seu grupinho
depenam a Petrobras para enriquecer a elite vermelha, a polícia descobre tudo, e você cai por causa por
causa de uma fraude fiscal — praticamente um roubo de galinha perto
das obras completas —, tem que reclamar mesmo. Era só o que faltava a
autora de tal façanha passar à história pedalando. Mais respeito, por favor — como pediu aquele pessoal
simpático em Cannes.
Também não é para desesperar. O
companheiro Al Capone passou pelo
mesmíssimo problema. Um dos maiores gangsteres da história, já ia passando aos livros como um reles sonegador fiscal. Mas a resistência democrática contra o golpe trabalhou bem
lá em Chicago, e Capone hoje é reconhecido mundialmente em toda a
sua magnitude. Isso há de acontecer
também com Dilma, Lula e o PT. Não
esmoreçam. l
Guilherme Fiuza é jornalista
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O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
l 13
OGLOBO
ZUENIR VENTURA
_
O modo verbal
de nosso tempo
O
país já foi muito pior, como durante as ditaduras — a do Estado
Novo e a dos militares — mas não
tão imprevisível e surpreendente
como agora. Quando leitores me perguntam “o que vai acontecer?”, eu respondo:
“Se souber, fala comigo, porque eu também
não sei”. São tantos os imponderáveis que
qualquer previsão corre o risco de ser desmentida daqui a pouco. Vivemos um momento de aceleração do tempo, de vertigem, em que os acontecimentos se precipi-
tam e mudam mais que seleção de Dunga e
ministério de Temer — a cada hora um titular dos dois times é substituído. E essa incerteza não é só dos observadores, é também de calejados atores do processo.
Quando é que os experientes senadores José Sarney e Renan Calheiros, catedráticos
em esperteza, poderiam supor que o amigo
e protegido Sérgio Machado era um homem-bomba capaz de, com traição, causar
tantos estragos em suas biografias? Antes
se dizia: “Não fale certas coisas ao telefone”. Agora, não se deve falar nem consigo
mesmo trancado no banheiro: parece que
já há chuveiros que, quando abrem, acionam um gravador.
O grande Stefan Zweig, com seu livroexaltação “Brasil, país do futuro”, de 1941,
se esqueceu de acrescentar que era um futuro do subjuntivo, que vem sempre acom-
panhado de um “se”. Deixa de ser um país
do futuro, se atender a determinadas condições, se cumprir tais e tais exigências,
se.... Senão, corre o risco de daqui a 75 anos
continuar sendo o país do futuro. No famoso poema “Se”, de Rudiard Kypling, que embalou a adolescência de minha geração, há
mais de 30 “se”, ou seja, de metas a cumprir
para que alguém possa considerar-se um
verdadeiro homem : “se, enganado, não
mentir ao mentiroso”/ “Se, odiado, ao ódio
E se o TSE cassar a chapa
Dilma-Temer? E se Eduardo Cunha
conseguir se safar mais uma vez?
E se o Senado não aprovar o
impeachment da presidente?
Malandros
de Rolex
LUIZ FERNANDO JANOT
De frente para o futuro
O
momento é propício para fazer uma
reflexão sobre as transformações comportamentais que estão ocorrendo no
mundo contemporâneo e as suas consequências na estruturação das cidades. Os significativos avanços tecnológicos dos meios de comunicação promoveram a superação dos limites
territoriais, encurtaram distâncias, aproximaram
civilizações e alteraram consideravelmente hábitos estratificados nas sociedades tradicionais.
Por sua vez, o determinismo financeiro que predomina na economia globalizada trouxe consigo
regras que afetam diretamente certos valores culturais consolidados. As intervenções urbanas e arquitetônicas espalhadas pelo mundo afora mostram a tendência de privilegiar os aspectos econômicos e financeiros acima de qualquer outro valor.
Poucas coisas escapam dessa lógica implacável do
mercado que tem como lema a aplicação indiscriminada do pragmatismo de resultados imediatos
na organização espacial das cidades.
Não obstante a aceitação generalizada dessa
tendência, pode-se afirmar, com segurança, que a
cidade do século XXI deverá incorporar novos paradigmas no seu processo de desenvolvimento urbano. Pensando nisso, o Instituto de Arquitetos do
Brasil (IAB) promoveu recentemente um conjunto
de seminários, com abrangência nacional, visando discutir e apresentar os meios factíveis para a
construção de um ambiente urbano digno para a
sociedade brasileira. Das conclusões desse evento
extraímos alguns aspectos relevantes e esperamos
que os mesmos sejam contemplados nos programas dos candidatos às eleições municipais.
Dentre eles, destacamos a afirmação de que a
justiça social depende necessariamente da gestão democrática da cidade, da universalização da
infraestrutura urbana e da oferta de serviços públicos prioritários. Os investimentos públicos em
mobilidade urbana devem privilegiar o transporte de massa sobre trilhos, visto que o modelo rodoviário se torna, a cada dia, incompatível com os
conceitos de cidade sustentável. No processo de
planejamento urbano deve-se considerar que o
pedestre vem antes do carro, a calçada antes da
rua e o transporte público antes do privado.
Da mesma forma, entende-se que os conjuntos
habitacionais para a população de baixa renda somente devem ser implantados em áreas urbanizadas, evitando-se, por conseguinte, a formação de
guetos sociais nas periferias das grandes cidades.
A expansão indefinida do tecido urbano não pode
continuar sendo tolerada. As favelas consolidadas
ANDRÉ MELLO
E
m 399 da era antes de Cristo, Sócrates
foi julgado por um grupo de 501 cidadãos, escolhidos por sorteio. Cabia ao
próprio acusado defender-se.
O libelo contra o velho Sócrates era vago. Em suma, acusavam-no de corromper a juventude. Sócrates não era um pensador inofensivo. Ele possuía a coragem de dizer o que pensava.
Havia pouco, os atenienses “descobriram” a democracia. Tanto assim que batizaram a nova
ideia, segundo a qual as pessoas deveriam manifestar as suas opiniões, a fim de que a sociedade
caminhasse de acordo com a vontade da maioria
de seus membros. Tratava-se de um conceito revolucionário. Não havia democracia no mundo
antigo. Mandava o rei, o soberano, o sacerdote.
A democracia, contudo, trazia profundos desafios. O julgamento de Sócrates se relacionou
precisamente a esse tema.
Sócrates não oferecia respostas. Seu famoso estilo
consistia em questionar. Ele apresentava uma série
de questões ao interlocutor e, a partir daí, chegava a
novas conclusões. Muito popular entre os jovens, o
filósofo incitava um importante questionamento:
haveria, de verdade, democracia? Atenas era uma
democracia ou os políticos (outra palavra de origem grega) tratavam o povo como um rebanho?
Segundo Sócrates, os humanos eram dotados de
qualidades distintas e alguns gozavam da aptidão
para liderar. Outros, não. Para Sócrates, o coman-
JOÃO GONDIM
G
No processo de planejamento
urbano deve-se considerar que
pedestre vem antes do carro, a
calçada antes da rua e o transporte
público antes do privado
que fazem parte do contexto urbano e da cultura
das nossas cidades precisam ser urbanizadas e regularizadas. Deverá ser facilitado um crédito imobiliário para as famílias pobres sem a intermediação dos costumeiros agentes institucionais. Afinal,
as melhorias habitacionais fazem parte do universo da urbanização das favelas.
As cidades metropolitanas, por sua vez, não
podem prescindir de um modelo de articulação política que responda solidariamente aos
diversos problemas de mobilidade urbana,
de habitação, de saneamento, de meio ambiente e de saúde pública. Nesse sentido, é preciso resgatar imediatamente o planejamento
urbano integrado e com ele os projetos completos de urbanismo e de arquitetura como
meio de aumentar a qualidade das obras, re-
duzir os custos e evitar os reajustes que alimentam a corrupção habitual na execução
das obras. Concursos de projetos também devem ser incentivados como critério para a licitação de determinadas obras públicas.
Enfim, as cidades devem ser planejadas permanentemente como uma função de Estado, e não
apenas como uma ação isolada e específica de cada governo. Para que essas premissas se tornem
viáveis, é indispensável firmar um compromisso
solidário entre o governo federal e as administrações estaduais e municipais visando estabelecer
metas conjuntas para a universalização dos serviços públicos e a consolidação dos modelos integrados de planejamento urbano.
Se houver, de fato, a necessária articulação
política e uma pressão efetiva da sociedade, certamente esses objetivos serão contemplados
sem grandes dificuldades. Cabe-nos, portanto,
propor e cobrar resultados o mais rápido possível. O presente momento se mostra extremamente oportuno para tal iniciativa. l
Luiz Fernando Janot é arquiteto e urbanista
[email protected]
Mais um julgamento para Sócrates
JOSÉ ROBERTO DE CASTRO NEVES
te esquivares” e assim por diante. Esses são
os “se” condicionais.
Mas são os “se” de ações hipotéticas,
aquelas possíveis ou até prováveis, as que
mais inquietam e afligem hoje o mundo
político. Por exemplo: e se o TSE cassar a
chapa Dilma-Temer? E se Eduardo Cunha
conseguir se safar mais uma vez? E se o Senado não aprovar o impeachment da presidente afastada? E se a bala de Sérgio Moro
atingir todos os que estão na sua lista de investigados? E se fracassar definitivamente
o pacto de Romero Jucá para “estancar a
sangria” da operação? E se a República não
resistir à “República de Curitiba”?
Mas vamos parar de pessimismo. O Brasil
é maior do que a crise, sempre dá a volta
por cima, é abençoado etc etc. Vai dar tudo
certo, se Deus quiser e se a Lava-Jato deixar. l
do deveria ser entregue apenas aos competentes,
assim como a filosofia ficaria ao encargo dos filósofos e os sapatos, aos sapateiros. Esse discurso era
corrosivo. Tanto naquela época, quanto hoje.
Pode-se, ainda, dizer que o filósofo questionava
a possibilidade de o povo, que ele metaforicamente chamava de gado, ser conduzido por políticos demagogos (mais um termo grego). A democracia, assim, poderia ser perigosa, pois um
político hábil levaria a massa para onde quisesse.
Se o filósofo estivesse aqui,
certamente indagaria: existe
democracia sem educação? É justo
usar de escudo 50 milhões de votos
contra qualquer acusação?
condenação que a todos parecia injusta. O filósofo
optou por respeitar o Estado e as suas ordens.
A democracia grega morreu pouco depois de
Sócrates. Atenas foi dominada pela vizinha Esparta, onde jamais floresceu a democracia, e, depois, pelos macedônios. O governo do povo, ao
menos formalmente, apenas voltou a existir com
a Revolução Americana de 1776. Até hoje, a democracia não é uma conquista estabelecida na
civilização.
Os recentes acontecimentos políticos que paralisam o Brasil reclamam um novo julgamento para Sócrates.
Se o filósofo estivesse aqui, certamente indagaria: existe democracia sem educação? É justo usar
de escudo 50 milhões de votos contra qualquer
acusação? O Congresso Nacional não foi eleito
também pelo povo? Por que o povo ontem votou
de uma forma, mas no dia seguinte vai às ruas reclamar de seu próprio voto? As campanhas para
um cargo público visam a difundir ideias ou simplesmente a arrebanhar?
O futuro da democracia encontra-se intimamente ligado à educação. Sem um povo instruído, consciente da responsabilidade de seu voto,
a democracia é uma farsa.
Há, ainda, outro ensinamento evidente: ainda
que os derrotados, quem quer que sejam eles, sintam-se injustiçados, cabe a eles beber a cicuta. l
Outra forma de ver a crítica de Sócrates era compreendê-la como um importante alerta: para votar, deve haver educação. A capacidade para se
manifestar deve ser desenvolvida e aprimorada. O
homem necessita de instrução, deve ser municiado de informação para que nele floresça um senso
crítico. Sem discernimento, o povo torna-se um alvo fácil para a manipulação.
Mesmo sem uma acusação clara, Sócrates foi
condenado à morte.
Antes de beber a amarga cicuta, cercado de seus
discípulos, foi dado a Sócrates a opção de fugir da José Roberto de Castro Neves é professor de Direito
cidade — e, por consequência, escapar daquela da PUC e da FGV
anhou manchete nos últimos
dias a voz de prisão dada por
uma juíza no Rio de Janeiro a
um advogado que, mediante
falsificação de notas fiscais, ajuizou diversas ações contra companhias áreas,
por furto de relógios Rolex na bagagem
de seus clientes. O golpe, extremamente frágil e até certo ponto infantil, conseguiu ter êxito em algumas ações,
mas, como se diz, o advogado foi “pego
com a boca na botija”.
Seria essa prática, de forjar documentos, uma exceção? Infelizmente, não.
Atualmente, na Justiça estadual do Rio
de Janeiro, existem milhares de ações
que não correspondem a um direito legítimo. Seus autores ou não sabem da
existência da ação em seu nome ou estão em conluio com seus advogados. É
comum ainda, uma mesma pessoa ter
diversas ações. É aquele sujeito que
não passa um dia sem ter o seu telefone
mudo, um débito inexistente na conta
bancária ou a luz cortada. Trata-se de
um verdadeiro azarado, se isso fosse
verdade. Existem, também, os casos do
cidadão que nunca se incomodou com
o seguro que lhe é cobrado em débito
automático, mas agora pede a devolução desses valores, além, é claro, da indenização pelo “grave” abalo psicológico sofrido pela “insegurança” de mexerem na sua conta sem seu consentimento, diga-se, por vários anos.
Criou-se uma cultura litigante no carioca, que por vocação já é um ser politizado.
No entanto, vieram as distorções e o uso
indevido da máquina judiciária.
Surgiram os deCriou-se
“aduma cultura nominados
vogados agressolitigante no
res” e os “litigancarioca, que tes profissionais”,
andam de
por vocação que
mãos dadas, fajá é um ser
bricando ações.
No início, as empolitizado
presas, temerosas
com o volume assustador de processos, faziam acordos, em
valores altos e indiscriminadamente.
Atualmente, o quadro mudou. As
empresas e o Judiciário se aparelharam e conseguem identificar essas
ações fabricadas. As empresas não fazem mais acordos nessas ações e, ainda, informa-se ao Ministério Público e
à OAB para a instauração dos procedimentos legais contra os advogados
“agressores”. O Judiciário, por seu turno, tem criado seus instrumentos de
relativização das indenizações, principalmente para os autores profissionais e contumazes. É corrente não
conceder o tão desejado “dano moral”
para aqueles que não procuraram previamente os canais comuns de atendimento das empresas.
O Judiciário é reativo nas suas ações,
com a solução dos problemas vindo
sempre a reboque. A imaginação e a
vilania de alguns advogados são pródigas, sempre encontram alguma fraqueza das empresas. Criou-se um
mercado de exploração, onde é comum não existir nada a reivindicar.
Faz-se uma fumaça de um pseudodireito violado e conta-se com a ineficiência do Judiciário e das empresas.
Mas, decisões como esta do caso Rolex demonstram a nossa fase do Judiciário, mais investigativo, pois são casos de polícia. O cidadão deve sempre
desconfiar quando lhe vendem uma
ação de ganho fácil. Pode estar entrado numa grande furada. l
João Gondim é advogado
14
l O GLOBO
l País l
Sábado 4 .6 .2016
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Flávio Canto é medalhista olímpico
e fundador/presidente do Instituto Reação.
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Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
Rio
l 15
COFRE VAZIO
Obstáculo no fim da linha
_
Inadimplência do estado ameaça conclusão de obras do metrô para os Jogos
CUSTODIO COIMBRA/15-12-2015
LUIZ GUSTAVO SCHMITT E RENAN FRANÇA
[email protected]
O cenário que parecia estar encaminhado ganhou ares de preocupação. A dois meses da
Olimpíada, a inadimplência do estado com a
União ameaça a conclusão da Linha 4 do metrô
(Barra-Ipanema), um dos compromissos do Rio
para os Jogos. O empréstimo de R$ 989 milhões
do BNDES ainda não foi liberado porque precisa do aval do Tesouro Nacional. E ele só será dado se o estado apresentar documentos que
comprovem sua capacidade de honrar compromissos financeiros, o que ainda não foi feito.
Em nota, o estado informou ontem que o empréstimo é “primordial” para o término das obras
do metrô, que já têm 95% de execução. A inauguração da Linha 4 está marcada para 1º de agosto,
quatro dias antes dos Jogos. Ontem, o secretário
estadual de Transportes, Rodrigo Vieira, disse,
em entrevista ao “RJ-TV”, da Rede Globo, que a
obra não pode atrasar nem mais um dia.
A secretaria estadual de Transportes afirma
que “aguarda o aval final do Ministério da Fazenda para a contratação do financiamento, já
aprovado pelo BNDES”. No entanto, o banco e o
Tesouro Nacional esclarecem que o empréstimo ainda não foi autorizado porque o governo
do Rio não apresentou as garantias.
Nos bastidores do Palácio Guanabara, comentase que não há solução técnica para o problema. O
estado tem dificuldades de caixa para pagar as dívidas com o governo federal. Anteontem, o secretário
de Fazenda, Julio Bueno, e a procuradora-geral do
Estado, Lucia Lea, estiveram no Ministério da Fazenda. Segundo uma fonte do governo estadual,
uma das propostas estudadas seria liberar o dinheiro por meio de uma Medida Provisória do presidente interino, Michel Temer (PMDB). O mecanismo abriria caminho para o Rio se endividar, de modo a cumprir um compromisso olímpico. Contudo,
a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) impede a
concessão de crédito a estados inadimplentes.
— Não é uma questão do estado. Essa obra diz
respeito à imagem do país no mundo. Todos
aguardam a conclusão, ainda que seja difícil. A
solução será política e vai ser dada pela União. A
bola está com o Ministério da Fazenda — disse
uma alta fonte do Palácio Guanabara.
SEM MARGEM PARA ENDIVIDAMENTO
Outra questão polêmica que pode dificultar o
acesso aos recursos é o limite de endividamento
do estado. No fim do mês passado, um relatório
de gestão fiscal dos primeiros quatro meses do
ano indicava que o governo teria estourado o teto de 200% da relação entre a dívida e a receita
líquida. Porém, o estado recalculou esse número, trazendo o endividamento do Rio de volta ao
patamar permitido pela LRF. Com isso, a proporção entre a dívida e a receita seria de 191%.
No entanto, esse número pode variar, já que
uma parte dos empréstimos foi contraída em moeda estrangeira. De acordo com um balanço publicado no Diário Oficial, há pelo menos 23 empréstimos contratados junto a organismos inter-
Corrida contra o tempo. Obras na Estação São Conrado: inauguração da Linha 4 do metrô, que ligará Ipanema à Barra da Tijuca, está marcada para o dia 1º de agosto
nacionais como BID, Bird e CAF. Entre eles, está o
financiamento para o programa de despoluição
da Baía de Guanabara, feito em 1994.
Os problemas de inadimplência do Rio com a
União se agravaram na semana passada, quando o estado deixou de pagar uma parcela de R$
8 milhões de um contrato com uma agência
francesa de fomento. O compromisso teve de
ser pago pelo Tesouro Nacional, deixando o Rio
numa espécie de lista de maus pagadores.
Para a economista Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, o Rio relaxou no controle das contas públicas, e o governo federal foi cúmplice:
— O Estado do Rio relaxou. Muitos empréstimos foram tomados para pagar despesa de pessoal, quando, na verdade, deveriam ter sido investidos para ter retorno. Isso mostra que o desarranjo fiscal é enorme, e o governo federal foi
negligente, permitindo tudo isso.
Professor de Finanças do Ibmec, Gilberto Braga se disse contrário a qualquer acordo político
que facilite que o Estado do Rio contraia mais
dívidas sem estar adimplente com a União:
— Se houver uma decisão política, eu não
concordo. Cria-se um casuísmo. A decisão,
embora necessária do ponto de vista da mobilidade para a Olimpíada, cria um tratamento diferenciado do governo federal para
com o Rio, quando deveria haver endurecimento neste momento. Dentro do processo
de reestruturação, o estado deveria apresen-
tar um plano mostrando que está colocando
as contas no lugar. Amanhã, podem aparecer
outros estados pedindo ao governo o mesmo
tratamento — opinou.
PREFEITURA JÁ TEM PLANO B
A Secretaria estadual de Fazenda admite que o atraso no pagamento da dívida com a União ocorre devido à crise e à absoluta escassez de recursos. Somente este ano, o governo terá de pagar R$ 10 bilhões, sendo 70% à União e o restante a bancos públicos e organismos financeiros internacionais. A
Fazenda diz que busca geração de receitas extraordinárias para suprir o rombo, enquanto prepara
“medidas importantes de cortes de despesa”.
O ex-secretário municipal de Transportes Rafael Picciani, que assumiu ontem como secretário executivo de Coordenação de Governo do
Rio, acredita que o metrô ficará pronto a tempo
dos Jogos. Mas, caso isso não aconteça, ele diz
que a prefeitura já tem um plano B:
— Temos o plano de contingência do BRT, que
está pronto. Eu espero que não precise ser utilizado
porque a população seria muito sacrificada. Como
a parte física da obra está pronta, eu tenho confiança em que haverá essa liberação de crédito.
Procurado pelo GLOBO, o Consórcio da Linha 4
não se manifestou sobre a possibilidade de o empréstimo do BNDES não ser liberado. As empreiteiras Queiroz Galvão e Odebrecht, que lideram a execução das obras, também não se pronunciaram. l
U
EDUCAÇÃO PRESERVADA
ARRESTO DA DEFENSORIA
NÃO SAIU DO FUNDEB
O dinheiro arrestado anteontem do cofre
do governo estadual para pagar salários
da Defensoria Pública não incluía
recursos destinados ao Fundeb,
destinado exclusivamente à educação.
O Tribunal de Justiça autorizou sequestro
de R$ 49 milhões do cofre estadual,
preservando recursos de áreas essenciais
como educação, saúde e segurança
pública. Na quinta-feira, a Justiça negou
um novo sequestro das contas que
garantiria o pagamento ontem (terceiro dia
útil) aos outros servidores do Executivo.
O tribunal estendeu decisão de maio
para suspender a ação civil pública da
Federação das Associações e Sindicatos
dos Servidores Públicos do Estado (Fasp),
que havia recorrido à 8ª Vara de Fazenda
Pública. Com isso, os servidores do
estado, com exceção do Judiciário, do
Ministério Público e da Defensoria,
receberão salário no décimo dia útil.
l O GLOBO
16
l Rio l
RIO
Previsão
Os ventos marítimos associados a
uma frente fria que se afasta pela
costa deixam muitas nuvens
espalhadas pelo Rio. O sol até
aparece, mas a temperatura fica
amena e chove de forma isolada.
HOJE
Ontem
Mínima
Máxima
17,3˚
Alto da Boa Vista
27,9˚
Realengo
PROBABILIDADE
DE CHUVA
17°/24°
16°/27°
17°/27°
17°/26°
Alta
17°/30°
18°/30°
18°/31°
Alta
28°
19°/32°
19°/32°
19°/33°
Alta
18°
Santo Antônio
18°
de Pádua
TERÇA
19°/22°
18°/25°
19°/24°
17°/24°
Alta
QUARTA
16°/20°
15°/22°
16°/21°
15°/20°
Alta
QUINTA
13°/22°
12°/25°
13°/24°
13°/22°
Baixa
SEXTA
14°/24°
13°/27°
13°/27°
14°/25°
Alta
10° de Mauá
19° do Sul
Valença
27° Volta
26°
Praias
Impróprias (informações Inea): Botafogo,
São Conrado, Barra (Quebra-Mar) e
Guaratiba.
Ondas
Ondas de 0,5m a 1,0m. Ondulação de sul.
Melhores locais: Grumari, Prainha,
Macumba e Barra (informações Ricosurf)
Maré
Baixa
Hora 1h36m 8h53m 14h36m 21h28m
Altura 1,1m
0,1m
1,2m
0,3m
Ventos
Vento de sudoeste/sul a sul/sudeste, entre
10km/h e 30km/h. Rajadas de até 55km/h.
Pressão atmosférica de 1.015hPa.
14°
27°
SERRANA
22°
Nova
Friburgo 12°
Teresópolis
Santa Maria
Madalena
28°
Casimiro 27°
de Abreu 20°
20°
28°
Campos
19°
MUNDO
18°
AMÉRICA DO SUL Mín. Máx.
São Francisco
de Itabapoana
NORTE
São Fidélis
17°
Resende
Temperatura
mínima (C)
Temperatura
máxima (C)
20°
27°
São João
28° da Barra 19°
20°
Porto Alegre
8°/ 15°
10°
5°
10°
20°
-4°
16°
5°
7°
3°
22°
17°
13°
26°
12°
24°
13°
26°
12°
Amanhã
Mín. Máx.
C
S
C
S
S
S
C
S
S
14°
4°
9°
19°
-4°
16°
4°
10°
5°
0h
22°
17° -2h
0h
11°
27° -1,5h
12° -1h
24° -2h
0h
12°
25° -2h
0h
13°
AMÉRICA DO NORTE/CENTRAL
24°
15°
Macaé
BRASIL
Chuva moderada a forte em
São Paulo
15°/ 20°
Chuva (mm)
S
S
C
S
S
S
S
S
C
Assunção
Bogotá
Buenos Aires
Caracas
La Paz
Lima
Montevidéu
Quito
Santiago
26°
17°
TEMPERATURAS MÁXIMAS
34˚/36˚
24°
Itaperuna
Hoje
26°
Redonda Barra 29°
25° Cachoeiras
28° Rio das
quase todo o Sudeste, no
23° 18° de Macacu
do Piraí 18° Petrópolis
Paraná, em Mato Grosso do
20° Ostras
13°
27° Barra SUL
26°
Sul, no litoral do Nordeste e
Silva
Jardim
25°
Mansa
17°
27° Duque
21°
no extremo norte do país.
Búzios
19°
LAGOS
de Caxias
25°
Dia de sol nas demais áreas
26°
17°
25°
Niterói 18°
Araruama
Cabo Frio 25°
do Sul, na Bahia e do norte
Rio
de
19°
18° Mangaratiba
27°
19°
de Minas ao Tocantins.
26°
Janeiro
26°Maricá Saquarema
16°
20°
Angra
25°
20°
METROPOLITANA
Macapá
Fortaleza
dos Reis
Boa Vista
18°
25°
24° / 35°
24°/ 31°
Natal
24°/ 32°
Paraty
18°
23°/ 30°
São Luís
Belém
25°/ 32°
Manaus
João
24°/ 33°
BALANÇO DE MAIO NO RIO DE JANEIRO
23°/ 32°
Pessoa
22°/ 29°
Porto Velho
A passagem de fortes frentes frias pelo Sudeste influenciaram o
Teresina
Recife
23°/ 33°
24°/ 34°
tempo no Rio. Ainda assim, maio de 2016 terminou com chuva um
23°/ 28°
Palmas
pouco abaixo da média. A temperatura ficou dentro da normalidade.
Rio Branco
Maceió
23°/ 38°
22°/ 28°
23°/ 32°
ESTAÇÃO DO RIO DE JANEIRO (Praça Mauá)
Fonte: INMET
Aracaju
Salvador
Brasília
Cuiabá
23°/ 31°
23°/ 30°
13°/ 30°
20°/ 32°
2016
Vitória
Campo Grande
22°/ 29°
Média 20,2 20,6
74,0
27,0 27,0
15°/ 25°
Belo Horizonte
53,2
18°/ 26°
Goiânia
Rio de Janeiro
16°/ 33°
16°/ 27°
Crescente Cheia Minguante Nova
12/6
20/6
27/6
5/6
37˚/40˚
Bom Jesus do
Itabapoana
18°/27°
17°
Acima
de 40˚
25°
Porciúncula 17°
20°/29°
22° Visconde
Poente
17h15m
Alta
SENSAÇÃO
TÉRMICA/RIO
SEGUNDA
27°
Baixa
ZONA
OESTE
29° Paraíba
Lua
Alta
ZONA
NORTE
AMANHÃ
Sol
Nascente
6h28m
ZONA
SUL
Sábado 4 .6 .2016
Florianópolis
10°/ 18°
Cid. do México
Havana
Los Angeles
Miami
Montreal
Nova York
Orlando
Washington DC
C
C
S
C
S
C
C
S
11°
24°
17°
25°
11°
15°
23°
21°
23°
35°
31°
33°
23°
28°
34°
26°
C
C
S
C
C
C
C
C
10°
23°
17°
25°
14°
17°
24°
22°
23°
31°
31°
33°
23°
27°
33°
28°
-3h
-1h
-4h
-1h
-1h
-1h
-1h
-1h
C
S
S
S
C
C
C
S
S
S
C
N
S
15°
16°
13°
14°
12°
10°
7°
12°
11°
13°
8°
13°
16°
21°
26°
26°
27°
24°
23°
20°
26°
21°
27°
22°
19°
21°
S
S
S
S
C
C
C
S
S
S
S
S
S
14°
17°
15°
14°
15°
11°
8°
14°
10°
15°
6°
14°
17°
20°
28°
26°
26°
25°
25°
19°
27°
23°
28°
15°
21°
22°
+5h
+6h
+5h
+5h
+5h
+5h
+5h
+4h
+4h
+5h
+6h
+5h
+5h
EUROPA
Amsterdã
Atenas
Barcelona
Berlim
Bruxelas
Frankfurt
Genebra
Lisboa
Londres
Madri
Moscou
Paris
Roma
ÁSIA
Jerusalém
Pequim
Tóquio
S 26° 39°
S 16° 32°
S 16° 25°
S 22° 33° +5h
S 16° 33° +11h
S 16° 21° +12h
Cairo
S 29° 45°
Johannesburgo S 3° 19°
S 23° 40° +5h
S 3° 18° +5h
ÁFRICA
OCEANIA
Sydney
S: sol
C 13° 17°
N: nublado
C 10° 16° +14h
C: chuvoso
Ne: neve
Mais informações sobre o tempo
NA INTERNET
Curitiba
9°/ 18°
oglobo.com.br/servicos/tempo/
PREVISÃO
31˚/33º
28˚/30˚
25˚/27˚
22˚/24˚
18˚/21˚
13˚/17˚
Abaixo
de 12˚
Sol
Parcialmente
nublado
Nublado
Sol com pancadas
de chuva
Despesas do estado com
servidores requisitados triplicaram
Gasto equivalia a R$
7 milhões há 14 anos.
Em 2015, chegou a
R$ 22,5 milhões
CARINA BACELAR
[email protected]
Os gastos do governo estadual
com funcionários requisitados
de órgãos públicos da União,
de municípios e de outros estados têm crescido nos últimos
14 anos. Em 2002, primeiro
ano disponível para consulta
no Portal da Transparência, foram consumidos para esta finalidade R$ 3 milhões, que, em
valores corrigidos, dariam R$
7,3 milhões. No ano passado,
foram gastos R$ 22, 5 milhões.
Como O GLOBO revelou ontem, o estado paga dois salários aos secretários de Fazenda,
Julio Bueno; de Educação,
Wagner Victer; de Agricultura,
Christino Áureo, e ao presidente do Rioprevidência, Gustavo Barbosa, que são oriundos de outros órgãos.
Em 2007, quando começou a
gestão de Sérgio Cabral e Luiz
Fernando Pezão (ambos do
PMDB), o valor já estava em R$
7,9 milhões (ou R$ 14,7 milhões, com a correção). Entre
2014 e 2015, houve uma leve
queda no valor destinado às
requisições: de R$ 22,94 milhões para R$ 22,510 milhões.
O governo estadual informou que não vai se pronunciar
sobre o assunto.
DESPESA LONGEVA
O governo paga o vencimento
do estado aos servidores requisitados e faz o repasse referente à quantia que eles receberiam em seus órgãos de origem.
Como acumulam dois salários,
os três secretários e o presidente do Rioprevidência recebem vencimentos totais que
ultrapassam os tetos federal
(R$ 33,7 mil) e estadual (R$ 27
mil). A prática ocorre há anos.
O secretário Wagner Victer
recebe dois salários desde que
entrou na administração estadual, em janeiro de 1999, como secretário de Energia, da
ANDREA BELOCH
HASKARÁ
A família convida para a reza de 30º dia (shloshim) de falecimento
da nossa amada ANDREA, 2ª feira, dia 6 de junho, às 19h., na
Sinagoga ARI - Rua General Severiano, 170, Botafogo.
Indústria Naval e do Petróleo
do governo Anthony Garotinho. Saiu em abril de 2002 do
cargo e, de janeiro de 2003 a
dezembro de 2006, voltou ao
posto. Desde então, presidiu a
Cedae e a Faetec, e, desde 16
de maio, comanda a pasta da
Educação.
Ao GLOBO, Victer confirmou
que tem seu salário de engenheiro da Petrobras reembolsado pelo governo desde que entrou no setor público. Ele disse
ganhar R$ 30 mil por mês pelo
posto na estatal e não quis comentar o assunto. De acordo
com o Portal da Transparência,
os gastos com a cessão de Victer
são mais elevados: só em 2015,
chegaram a R$ 659,9 mil.
Bueno, por sua vez, atuou
“como secretário de Estado de
Desenvolvimento Econômico,
Energia, Indústria e Serviçosdesde o início do governo Sergio Cabral, em 2007”, como
consta em sua biografia no site
da Secretaria de Fazenda. Por
meio de sua assessoria de imprensa, ele reconheceu ontem
que recebeu R$ 49 mil mensais
Nublado
com chuvas
Na Fazenda. Bueno recebe salário duplo desde 2007
como executivo da Petrobras,
além dos R$ 16,579 mil pelo cargo de secretário. O Portal da
Transparência aponta um valor
maior. Em 2015, segundo a ferramenta, o Rio pagou R$ 987,5
milhões à Petrobras para tê-lo
como secretário. Em nota, a assessoria do secretário disse que
Bueno não comentaria o próprio salário, e explicou que os
pagamentos “não foram determinados pelo secretário e atendem às regras da petrolífera e
do governo estadual".
Já Áureo, que está no estado
desde 1999, quando começou
a presidir a Emater (Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural), ganha R$ 32 mil
CREMAÇÕES
em até
10x
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ou concessionariareviver.com
Na Educação. Victer está no setor público desde 1999
mensais como executivo do
Banco do Brasil, reembolsados
pelo governo do Rio.
Gustavo Barbosa preside o
Rioprevidência desde janeiro
de 2011, segundo o site. Só em
2015, a Caixa Econômica recebeu R$ 635,6 mil referentes ao
seu cargo do governo do estado. No cargo atual, ganha R$
16.579,79.
O acúmulo de salários foi alvo de críticas por parte da oposição ao governo. O deputado
Eliomar Coelho (PSOL) vai
protocolar um projeto de lei limitando a remuneração dupla
de servidores cedidos ao teto
estadual (hoje de R$ 27 mil).
A prática, entretanto, divide
especialistas. Para o consultor
econômico e ex-secretário adjunto do Ministério do Planejamento Raul Velloso, ela é “sadia” e estimula a “oxigenação
do setor público”. Já Ricardo
Macedo, coordenador adjunto
da graduação em Economia do
Ibmec, defende que “ainda
que preliminarmente", é preciso discutir a estrutura do setor
público:
— Se você está em uma determinada função e sai dela,
você deveria pedir uma licença
não remunerada. A gente tem
que fazer uma revisão grande
sobre essas questões de gestão.
Temos elevado muitos gastos
nessa área — diz. l
AGRADECIMENTO
Ana Alice Dannemann de Azevedo, Alexandre Dannemann Vieira e
Ana Luíza, Antônio Dannemann Vieira, seus primos Peter Dirk, Maria
Thereza Siemsen e família, Gert Egon e Anna Maria Dannemann e
família, profundamente consternados pelo falecimento do querido Geraldo
Dannemann, convidam para a missa em intenção de sua alma que será
celebrada na segunda-feira, dia 06 de junho, às 20:00h, na Igreja São
José da Lagoa, Av. Borges de Medeiros, 2735 – Lagoa – RJ.
R$ 192
Mais informações:
LEO PINHEIRO/VALOR/10-07-2014
A família de Jorge Fernando Loretti agradece o
carinho, a dedicação, o profissionalismo, a competência e o apoio incondicional da equipe do CTI do CHN
- Complexo Hospitalar de Niterói.
GERALDO DANNEMANN
Além de assistência funerária completa,
a Reviver oferece serviços de cremação
no Cemitério São Francisco Xavier (Caju).
Confie na tradição e profissionalismo
de quem sempre está com você.
Geada
LEO PINHEIRO/VALOR/06-05-2016
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(4,6 cm)
(4,6 cm)
(4,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
(9,6 cm)
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(14,6 cm)
(14,6 cm)
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ALTURA
R$
R$
3 cm
4 cm
5 cm
3 cm
4 cm
5 cm
7 cm
8 cm
4 cm
6 cm
7 cm
10 cm
1.125,00
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6.000,00
4.500,00
6.750,00
7.875,00
11.250,00
1.518,00
2.024,00
2.530,00
3.036,00
4.048,00
5.060,00
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2534-4333
Plantão sábado / domingo
2534-5501
l Rio l
Sábado 4 .6 .2016 2ª Edição
O GLOBO
l 17
PF sugere arquivamento de
inquérito contra Pedro Paulo
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Delegado diz que não há como confirmar agressão de deputado à ex-mulher
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LUIZ ERNESTO MAGALHÃES
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O delegado Luciano Soares Leiro, da Polícia Federal de Brasília,
sugeriu à Procuradoria Geral da
República (PGR) que arquive o
inquérito no qual o deputado federal Pedro Paulo Carvalho
(PMDB), pré-candidato à prefeitura do Rio, é acusado de agredir
a ex-mulher. Na avaliação do delegado, não é possível afirmar se
Pedro Paulo agrediu a empresária Alexandra Mendes Marcondes durante uma discussão
ocorrida em fevereiro de 2010. A
informação foi divulgada ontem
pelo site da revista “Época”.
As peças do inquérito, que se
encontra sob sigilo da Justiça,
estão com o procurador-geral
da República, Rodrigo Janot,
que não tem prazo para se manifestar sobre o caso. Ele pode
decidir encaminhar o processo
para análise do ministro Luiz
Fux, que relata o caso no Supremo Tribunal Federal (STF),
ou pedir mais diligências à PF.
PERÍCIA INDEPENDENTE É CITADA
O caso passou a tramitar no STF
em fevereiro, quando Janot pediu a abertura do inquérito em
foro privilegiado, já que o acusado é deputado federal. Em
seu relatório, Leiro relembra
detalhes do processo original
contra Pedro Paulo. O delegado
menciona um laudo independente encomendado pela defesa do político e assinado pelo
perito Roger Ancelotti. Já foi divulgado que essa análise indica
que Pedro Paulo é quem teria
sido agredido e sofrido lesões.
Leiro cita ainda uma defesa
feita por escrito pelo deputado
e apresentada em dezembro
do ano passado, quando o caso
ainda tramitava em primeira
instância no Tribunal de Justiça do Rio. Pedro Paulo negou
qualquer agressão, lembra o
delegado: “Ele salientou que,
ao contrário, foi agredido e somente se defendeu”.
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Investigado. Pedro Paulo disse esperar conclusão do inquérito “para que o episódio seja definitivamente esclarecido”
No relatório enviado à PGR, o
delegado observou que tanto
Alexandra Mendes Marcondes
quanto Pedro Paulo se submeteram a exames de corpo de delito. No entanto, escreveu Leiro,
peritos diferentes atenderam o
casal, mas nenhum deles fez
exames em ambos. Com isso,
“os laudos não possibilitam,
com a certeza devida, constatar
como os fatos ocorreram”, diz
um trecho do documento da PF.
O parecer encaminhado a Janot data de 19 de maio, quando
o deputado ainda ocupava a Secretaria Executiva de Coordenação de Governo do município. Nome preferido de Eduardo Paes para concorrer à sua
sucessão, Pedro Paulo deixou o
cargo na prefeitura no início
desta semana, por exigência da
legislação, para poder disputar
as eleições de outubro.
Por meio de uma nota, o deputado Pedro Paulo informou
que aguarda a conclusão do
CNJ analisará processo de
assédio moral contra juíza
Magistrada é acusada
de expor servidores a
situações abusivas
e constrangedoras
O plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu ontem, por unanimidade, analisar
o processo contra a juíza Edna
Carvalho Kleemann, da 12ª Vara Federal do Rio, acusada de
assédio moral pelo Sindicato
dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio (Sisejufe). O caso havia sido arquivado
pelo Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), que, na ocasião, avaliou ser uma “hipótese típica de
dificuldade de relacionamento
interpessoal no ambiente de
trabalho, sem configurar assédio moral” e recomendou que
ela procurasse apoio psicológico para melhorar o convívio
com os servidores.
De acordo com o sindicato,
funcionários da 12ª Vara Federal estariam sendo expostos,
de forma reiterada, a situações
constrangedoras e abusivas,
tais como a proibição de ingestão de alimentos sólidos durante a jornada de trabalho e
de rir enquanto estivessem
prestando atendimento no
balcão. Ainda segundo as denúncias, eles também sofriam
ameaças de abertura de procedimento disciplinar caso solicitassem, por exemplo, licença
por doença de algum parente.
Para a ministra Nancy Andrighi, corregedora nacional
de Justiça, há indícios de que a
inquérito “para que o episódio
seja definitivamente esclarecido.” O deputado lembrou que
está à disposição da Procuradoria Geral da República e do
Supremo Tribunal Federal.
DIFERENTES VERSÕES
Em seu site, “Época” lembrou
que a ex-mulher de Pedro Paulo
prestou depoimento à Polícia
Federal no dia 11 de abril em
Brasília e, na ocasião, apresentou uma versão diferente daquela que havia dado à Polícia
Civil do Rio em 2010, quando
disse ter sido agredida. Na capital, ela declarou que, na verdade, as agressões partiram dela,
depois de ter encontrado objetos de uma outra mulher no
apartamento onde o casal morava. “No dia seguinte, (Alexandra) teve uma discussão com
Pedro Paulo e, segundo diz,
chegou ‘a bater nele com a mão,
desferindo tapas’. O delegado
perguntou se houve agressão
do deputado. Alexandra respondeu que não, ‘ele apenas se
defendia, me empurrando muitas vezes, e cheguei a cair. Disse
que se machucou, mas ainda
deu ‘tapas nas costas do marido, que tentava sair’”, relata a reportagem.
O episódio envolvendo Pedro Paulo deu origem a uma
guerra de versões. Em um primeiro momento, quando o caso veio a público, em outubro
do ano passado, o deputado
chegou a dar declarações minimizando o episódio, afirmando que qualquer um, durante uma briga conjugal, pode se exaltar.
— Quem não tem discussões
e perde o controle? — questionou Pedro Paulo em novembro
de 2015.
Antes do episódio de 2010,
Alexandra já havia registrado,
em 2008, uma queixa contra
Pedro Paulo, na qual acusou o
deputado de ameaçá-la. l
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juíza tenha cometido faltas
funcionais que podem caracterizar afronta à Lei Orgânica
da Magistratura Nacional (Loman) e ao Código de Ética da
Magistratura Nacional, especificamente no que diz respeito
aos deveres de independência
e cortesia. “Verifica-se que o
tratamento dispensado pela
juíza requerida aos seus servidores (...) ultrapassou os limites da dificuldade de relacionamento interpessoal, caracterizando rigor excessivo na
condução da rotina de trabalho no seu gabinete”, afirmou a
corregedora em seu parecer,
que votou pela abertura de
“procedimento revisional para
análise de uma possível adequação da sanção disciplinar à
hipótese dos autos”.
A revisão disciplinar analisará se há necessidade de instauração de procedimento disciplinar contra a magistrada.
ATAQUE A PORTEIRO
No ano passado, a juíza foi
acusada de ofender o porteiro
Jaílson Trindade Andrade em
um e-mail enviado à síndica
de seu prédio: “Quero, exijo e
não vou descansar enquanto
este bolo de banha trabalhar
no condomínio, já que sou eu,
proporcionalmente, quem paga o salário deste funcionário
relapso e desidioso”. Jaílson entrou com uma ação por danos
morais contra a magistrada. A
12ª Vara Federal informou, em
nota, que as representações
contra a juíza já foram julgadas, e que a magistrada não se
pronunciará sobre o caso. l
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18
l O GLOBO
l Rio l
Cultura machista
Sábado 4 .6 .2016
A coleguinha Sandra Coutinho,
correspondente da TV Globo em
Nova York, conta que, esta semana,
houve um debate na escola da filha, e
o tema foi o estupro coletivo no Rio.
A filha dela está no ensino
secundário de uma escola pública.
ANCELMO
GOIS
A exposição “Das virgens em cardumes e da
cor das auras”, que abre hoje, no Museu Bispo do
Rosário, na Colônia Juliano Moreira, no Rio, terá
cinco registros inéditos de Arthur Bispo do
Rosário (1909-1989), feitos pelo fotógrafo
francês Jean Manzon. Veja um deles, ao lado. As
fotos fizeram parte de um ensaio fotográfico
para a revista “O Cruzeiro”, em 1943.
ANA CLÁUDIA GUIMARÃES,
DANIEL BRUNET E TIAGO ROGERO
Outra...
Sabe o Prêmio de Humor, que
Fábio Porchat está criando para
laurear as melhores peças e artistas
de humor em cartaz no Rio? Pois
bem, estreia em março de 2017 e não
haverá prêmios de “Melhor ator” e
“Melhor atriz”. Serão unidos em
“Melhor performance”:
— Qual a diferença entre atriz e
ator? Nenhuma. E tem o feminismo, a
luta por direitos iguais. Resolvi unir
numa categoria só — diz ele, que está
bancando o prêmio do próprio bolso,
sem patrocínio, sem lei de incentivo.
É. Pode ser.
LUCIANO LIMA
O Rio de Paz faz um ato contra o abuso
sofrido pelas mulheres, segunda, na Praia
de Copacabana: 420 calcinhas, doadas
pela Duloren, serão estendidas na areia,
representando o número de mulheres
estupradas a cada 72 horas no Brasil.
U
Zona Franca
O promotor Leandro Navega lança o livro
O livro da Dorrit
“Herança moral”, segunda, na Amperj.
Fabrizio e Luiza Sassi inauguram, hoje, a
Dia 22, será lançado “O instante
certo”, da coleguinha Dorrit Harazim,
pela Companhia das Letras. Conta
histórias de algumas célebres fotos e
sua influência no rumo da História.
Na lista, a foto feita pelo
americano Eddie Adams
(1933-2004), que mostra, em
fevereiro de 1968, durante a Guerra
do Vietnã, a
EDDIE ADAMS/ARQUIVO
execução de um
vietcongue pelo
general Nguyen
Ngoc Loan
(1930-1998).
Scuola Di Cultura, em São Francisco, Niterói.
Daniel Apolonio, sócio da Domingues Lopes
PORQUE HOJE É SÁBADO...
...é dia de apreciar a beleza desta maria-leque-do-sudeste (Onychorhynchus
coronatus), uma espécie ameaçada de extinção, fotografada no Observatório de Aves
da Fazenda Murycana, em Paraty (RJ). Trata-se de um momento raro porque, na
maior parte do tempo, esse lindo penacho na cabecinha dela fica recolhido. A
maria-leque recebeu uma anilha com um código, foi medida, pesada e imediatamente
devolvida à natureza. Que Deus proteja o nosso verde e a nós não desampare jamais. l
Pescador confirma
ter visto australiano
“Não tenho dúvida de que era
o turista desaparecido”. A afirmação foi feita ontem ao GLOBO pelo pescador que disse à
polícia ter visto, no último dia
22, o australiano Rye Hunt, de
25 anos, na Ilha de Cotunduba,
localizada a cerca de 900 metros da Pedra do Leme. Ele reafirmou que o estrangeiro estava com vários ferimentos e parecia “transtornado”: queria
água e dizia que havia chegado
ao local nadando. Apesar disso, não teria pedido ajuda para
ir embora. Também ontem, a
Polícia Civil informou que tripulantes de um barco de pesca
entraram em contato com a
Marinha para avisar que encontraram um corpo boiando
a oito quilômetros da orla de
Ipanema, perto da Ilha Rasa.
Sua roupa — bermuda e camiseta — seria semelhante à usada por Rye.
O pescador que garante ter
encontrado Rye na Ilha de Cotunduba contou que estava em
um barco com a namorada
quando o viu sentado em uma
pedra. Ele, que pediu anonimato, contou que o reconheceu alguns dias depois, ao ver
fotos em notícias sobre o desaparecimento do australiano.
— O rapaz olhava fixamente para minha embarcação.
Tinha vários cortes pelo corpo: provavelmente se feriu ao
encostar em mariscos presos
às pedras da ilha. Eu e minha
namorada ficamos assustados, pois era um homem for-
Calcinhas na praia
Essa investigação da PF, que aponta a
eventual compra de uma portaria no
governo Dilma em favor da Caoa, alcança
a imagem de um dos executivos mais
cultuados do país: Antônio Maciel Neto,
59 anos, presidente do grupo investigado.
Ativista político em 1986 e 1987,
quando presidiu a Associação dos
Engenheiros da Petrobras, ele chegou a
dirigir a Ford do Brasil, entre 1999 e 2006.
Há um ano, o Cadastro Nacional de
Adoção, da CNJ, passou a incluir
estrangeiros na fila para adotar crianças
brasileiras. Até agora, 158 gringos foram
cadastrados — a maioria italianos, 82,
seguidos pelos franceses, 25. Desde
então, 13 crianças brasileiras já foram
adotadas por estrangeiros.
O jornal “Daily News”, de Nova
York, publicou, ontem, que
funcionários da NBC, uma das
maiores redes de televisão dos EUA,
estão se recusando a vir para o Rio,
nos Jogos, por medo do... zika.
A rede quer mandar para cá uns
2.000 funcionários, incluindo estrelas,
como Matt Lauer, apresentador do
“The today show” desde 1997.
DAYANA RESENDE
[email protected]
MARINA BRANDÃO*
[email protected]
Não escapa ninguém
Bambini
Medo do zika
Tripulação de barco
avisa à Marinha que
achou corpo a oito
quilômetros da costa
JEAN MANZON
Viva Bispo!
www.oglobo.com.br/ancelmo
te e não parava de nos encarar. Ele desceu para perto da
água e fez gestos pedindo
água. Pedi a ele que não pulasse no mar, senão arrancaria com o barco. Peguei uma
garrafa mineral de 1,5 litro e
arremessei. Ele bebeu tudo
de uma vez só. Conversamos
muito rapidamente em inglês, perguntei de onde era e
como havia chegado à ilha.
Ele respondeu que era da
Austrália e que tinha nadado
até lá. Achei estranho, já que
Cotunduba é de difícil acesso, as ondas entram com força e cobrem as pedras da ilha.
Mas em nenhum momento
ele me pediu socorro. Quando parou de falar, voltou a se
sentar, com olhar perdido —
disse o pescador.
BUSCAS NO MAR
Equipes da Marinha realizaram buscas na orla da Zona
Sul, mas não encontraram
pistas do australiano. No Rio
para ajudar na investigação
sobre o caso, o tio e a namorada de Rye, Michael Wholdhan
e Bonnie Cuthbert, disseram
ontem que ainda esperam encontrá-lo com vida.
— Obviamente, estamos
apreensivos, mas, ainda assim,
muito esperançosos. A esta altura é difícil falar sobre expectativas, porém espero que ele
esteja vivo e saudável em algum lugar — afirmou Bonnie.
Ela disse ainda que planejava encontrar o namorado na
Europa: Rye e o amigo Mitchell Sheppard saíram da
Austrália no dia 7 de abril para uma viagem pelo mundo e
já haviam passado por Tailândia, Argentina e Paraguai e
pelas cidades brasileiras de
Foz do Iguaçu, Florianópolis e
São Paulo. l
* Estagiária, sob a supervisão de
Leila Youssef
VIAGEM CONTURBADA
OS DIAS QUE ANTECEDERAM O DESAPARECIMENTO
DE RYE HUNT, SEGUNDO RELATOS
DA POLÍCIA E DE TESTEMUNHAS
Advogados, foi nomeado presidente da comissão de direito do trabalho do IAB.
Admar Branco leciona Revisão e Redação
Jornalística, na Facha, a partir de 11 de junho.
Ana Andreazza, da Fashion MKT, aposta em
novos criadores como Augustana e John Bags.
GaleRio lança a campanha Criarte EixoRio
para arrecadar material de desenho e pintura.
A Colher de Pau, de Lucy Kaner, lança brigadeiro de colher em minixícara de chocolate
Oi Futuro lança o “Permanências e destruições”.
Antônio Torres coordena o ciclo “África: olhares
ficcionais da ABL”, terça, na ABL.
‘Divina comédia’
O enredo do Salgueiro será “A divina
comédia do carnaval”. É para
homenagear três dos maiores
carnavalescos da história, que foram da
escola: Fernando Pamplona, Arlindo
Rodrigues e Joãosinho Trinta. Merecem.
Sobra dinheiro
A crise passa longe da Alerj. A
Assembleia do Rio planeja gastar R$
139,4 milhões na reforma do Edifício
Lucio Costa, mais conhecido como
Banerjão, no Centro do Rio. É que lá será
sua nova sede administrativa.
O consórcio que venceu a licitação é
formado por Kiir e JL, empresa
paranaense que construiu o presídio de
Catanduvas.
Hora da xepa
Seis cidades do Brasil receberão, hoje,
uma ação para cozinhar a “xepa”, aquela
comida que, por não se enquadrar nos
padrões comerciais, é descartada. No Rio,
o “Disco Xepa Day” será na Praça Xavier
de Brito, na Tijuca, e na Almirante Júlio
de Noronha, em Copacabana.
A ação começou na Alemanha, em
2012, quando centenas de voluntários
fizeram, com toneladas de vegetais,
um sopão que foi servido
gratuitamente numa praça de Berlim.
Rye e Mitchell se hospedam em um hostel
na Rua do Lavradio. Eles visitam os pontos
turísticos
tradicionais e
até conhecem
a Rocinha.
Os amigos Rye Hunt,
de 25 anos, e Micthell
Sheppard, de 22,
partem da Austrália no
dia 7 de abril para uma
viagem de seis meses
ao redor do mundo.
Depois de passarem por Tailândia, Argentina e
Paraguai, os australianos chegam ao Brasil. Eles
visitam Foz do Iguaçu, Florianópolis e São Paulo
antes de desembarcarem no Rio, em 16 de maio.
Na noite de 20 de maio, os amigos, segundo a polícia, consomem uma droga
conhecida como MDMA, uma variação de ecstasy, e vão até a casa noturna Raízes
da Lapa. Na festa, eles têm alucinações e imaginam que desconhecidos tentam
matá-los. Seguranças os levam de volta para o hostel, já na manhã do dia 21.
Ainda apavorados, os
australianos decidem
antecipar a viagem
que fariam à Bolívia.
Mas, no aeroporto,
Rye começa a achar
que Mitchel também
quer matá-lo e pega
um táxi rumo a
Copacabana.
Rye é
abordado por
uma mulher
que lhe
oferece um
apartamento
para alugar.
Ele paga US$ 200 por três dias de locação, deixa seus
pertences no imóvel e sai sem informar seu destino.
No dia seguinte, um domingo, um pescador telefona para a PM e
diz ter visto um estrangeiro transtornado, cheio de ferimentos, na
Ilha da Cotunduba, a cerca de 900 metros da Pedra do Leme.
O estrangeiro informava, por meio de gestos, que estava com sede
e dizia que havia chegado à ilha nadando. O pescador lhe deu uma
garrafa de 1,5 litro de água mineral, que ele bebeu de uma vez só.
Um barco de pesca informa à Marinha, via rádio,
que um corpo boiava a oito quilômetros da orla de
Ipanema, perto da Ilha Rasa, na última quarta. Mas
buscas realizadas até ontem não o localizaram.
Ilustrações André Mello
l Rio l
Sábado 4 .6 .2016
RENATO MIRANDA/TV GLOBO
ÚLTIMOS
DIAS DE
MICHELE
Taís Araújo, 37
anos, a atriz,
faz aqui uma
das últimas
fotos na pele de
Michele, sua
personagem
em “Mr. Brau”.
Na quinta
passada, a
talentosa
gravou o último
episódio da
segunda
temporada da
série, que fica
no ar até
agosto
O GLOBO
l 19
Diretora da Faetec é baleada por
bandidos que invadiram campus
Vítima foi atingida ao se assustar com grupo e arrancar com carro
FOTO DE LEITOR
GISELLE OUCHANA
[email protected]
JOÃO RAMALHO/TV GLOBO
NO GRAMADO
DO TETRA
Nos EUA para a Copa
América, Galvão Bueno
posa com Eric Faria, o
repórter, e Álvaro
Santana, o câmera, no
Rose Bowl, estádio no
qual o Brasil ganhou o
Tetra, em 1994. Ao lado
dos colegas, Galvão
relembrou a conquista
REPRODUÇÃO
U
Ponto Final
Esta é para quem acha que, nesta altura do
campeonato, um voto no Senado pode decidir o
futuro de Temer e Dilma: Andrew Johnson
(1808-1875), primeiro presidente dos EUA a
sofrer um processo de impeachment, escapou
da degola por um voto. Como Dilma, ele sucedeu um
presidente popular, Abraham Lincoln (1809-1865), e viveu às
turras com o Congresso. Johnson foi declarado culpado por 35
votos e inocente por 19. Mas eram necessários 36 votos, dois
terços dos senadores, para tirá-lo do poder.
e-mail: [email protected]
Fotos: [email protected]
Hoje
na web
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l RIO 2016:
oglobo.com.br/rio/rio-2016
Um bando de dez a 15 criminosos em
fuga atirou ontem, pouco depois do
meio-dia, na professora Janete Rosa
Nascimento, que estava em seu carro
no estacionamento da Escola Especial
Favo de Mel, dentro da Faetec de Quintino. Ela foi atingida duas vezes no abdômen pelos bandidos, depois de se
assustar com a presença deles no campus da unidade e tentar escapar. Janete,
que é diretora adjunta do colégio e tem
58 anos, dirigiu até a Clínica da Família,
que fica próximo do local, e, de lá, foi
transferida para o Hospital estadual
Carlos Chagas, em Marechal Hermes,
onde está internada. Testemunhas afirmam que havia traficantes com fuzis,
mas não se sabe ainda o calibre das balas que feriram a vítima, cujo estado de
saúde é considerado estável.
INSEGURANÇA É PROBLEMA RECORRENTE
O Clio usado pela professora ficou com
três perfurações de bala. A falta de segurança do lugar é uma velha reclamação de alunos e professores. Ontem
mesmo, estudantes, pais e servidores
da fundação estiveram na Assembleia
Legislativa do Rio (Alerj), para discutir
as más condições da unidade e apontaram a violência como um dos principais problemas.
Segundo a Polícia Militar, os criminosos estavam fugindo do Morro da
Covanca, que fica próximo da Faetec.
Homens do Batalhão de Operações
Especiais (Bope) tinham feito pela
manhã uma operação na comunidade. Os bandidos teriam chegado ao
terreno da escola dirigida por Janete,
voltada para crianças com necessidades especiais, por uma área de mata
na favela. A polícia acredita que eles
pretendiam roubar o carro usado pela professora para escapar do cerco.
Logo após o ataque contra a professora, de acordo com testemunhas, os criminosos conseguiram roubar outro veículo, modelo Prisma, que passava pela
Rua Clarimundo de Melo, principal rua
do bairro. A PM fez buscas para tentar
capturar os bandidos, mas até a noite
de ontem não havia informações sobre
o paradeiro deles. O patrulhamento foi
reforçado e, à tarde, havia várias viaturas policiais estacionadas nas proximidades da Faetec.
Segundo PMs e quem vive na região,
a área é considerada de risco. Pelas redes sociais, moradores reclamaram ontem da escalada da violência em Quin-
Violência. O Clio da diretora adjunta de uma unidade especial na Faetec: perfurações de bala
tino. “Não tem segurança nenhuma.
Houve dois assaltos no bairro em menos de uma semana, fora os que não vemos e não viram nota”, escreveu um deles. “Antigamente, a rapaziada respeitava escolas e igrejas. O Rio de Janeiro está entregue às baratas!”, afirmou outro
morador. Outra mensagem lamentava
o ocorrido: “Meu Deus! Que triste!”
Por meio de nota, a direção da Faetec
se pronunciou sobre o caso. “Lamentamos e repudiamos o ocorrido com a diretora adjunta da Escola Especial Favo
de Mel, professora Janete Rosa Nascimento, e estamos acompanhando de
perto o seu estado de saúde”, diz o comunicado, acrescentando que a direção “está prestando toda a assistência à
servidora e à sua família”. Afirma ainda
que a profissional foi “vítima da violência de bandidos que fugiam de uma
operação policial”.
Ontem, a Faetec dispensou seus
funcionários e suspendeu as aulas das
unidades do complexo para colaborar
com o trabalho da polícia, que foi para
o local investigar o caso. A instituição
informou que também negociou com
os alunos que estão ocupando escolas
do campus a total liberação do espaço, com a garantia de que depois poderão retomar o movimento sem
qualquer impedimento.
ALUNOS DENUNCIAM ESTUPROS
Durante o encontro na Alerj pela manhã, um estudante disse ao site G1 que
há relatos de estupros.
— Qualquer um passa na portaria,
não há nenhum controle — afirmou.
Com a greve de funcionários terceirizados, que estão com salários atrasados devido à crise do estado, a situação teria se agravado. O novo presidente da Faetec, Alexandre Vieira, reconheceu que há problemas estruturais e disse que as melhorias dependiam da saída dos alunos que participam da ocupação do local. A aluna
Eduarda Silva questionou o diretor:
— Por que é preciso que os alunos
saiam? A necessidade é imediata.
Vieira prometeu que terá um plano
de segurança dentro de seis meses. l
Jovem foi estuprada por grupos diferentes em dois momentos
Segundo a polícia,
de dez a 12 homens
violentaram
a adolescente
ELENILCE BOTTARI
[email protected]
A polícia já sabe que a jovem de
16 anos que sofreu um estupro
coletivo no Morro da Barão, na
Praça Seca, foi atacada por pelo
menos dois grupos diferentes
(somando de dez a 12 agressores) e em dois momentos distintos. Aos poucos, eles estão sendo identificados pelos agentes
da Delegacia da Criança e do
Adolescente Vítima (Dcav).
De acordo com as investigações, depois de um baile funk, a
adolescente seguiu, por volta
das 7h do último dia 21, para
uma casa na comunidade,
acompanhada de Raí de Souza,
de 22 anos, com quem teve relações sexuais, e do jogador de futebol Lucas Perdomo Duarte
Santos, de 20, além de mais
uma jovem. Por volta de 10h, os
três foram embora, deixando a
adolescente para trás. Mais tarde, traficantes passaram pelo
local e, ao verem a menina desacordada, decidiram levá-la
para uma outra casa, chamada
de “abatedouro” e utilizada pela
quadrilha para a prática de sexo. De acordo com a polícia, o
traficante Moisés Camilo de Lucena foi quem carregou a adolescente para o imóvel, onde,
THIAGO FREITAS
além dele, de seis a oito bandidos a estupraram.
Abandonada na casa, ela foi
encontrada no local à noite,
segundo as investigações, por
Raphael Assis Duarte Belo, de
41 anos, Raí e um terceiro traficante, identificado apenas como Jefinho.
— De acordo com os depoimentos, Raí chegou a se perguntar o que ela estaria fazendo
ali. Nesse momento, aconteceu
o segundo estupro — disse a delegada Cristiana Bento, da Dcav.
— A adolescente foi estuprada
primeiro por traficantes. Ela se
lembra de ter acordado numa
outra casa, o “abatedouro”, no
momento em que Moisés a segurava. Mais tarde, na noite do
mesmo dia, foi vítima pela segunda vez, agora de Raí, Raphael e Jefinho, que ainda filmaram
aquelas imagens que circularam nas redes.
Liberdade. Solto por falta de provas, Lucas deixa a prisão no complexo de Gericinó: ele continuará a ser investigado
CELULAR DE SUSPEITO É ACHADO
A Dcav localizou o celular de
Raí com o qual foi gravado o vídeo da vítima e agora pretende
descobrir quem divulgou as
imagens na internet. Em depoimento, o suspeito havia dito
que, por medo, jogara o aparelho fora. A delegada Cristiana
Bento, no entanto, desconfiou
da versão de Raí e conseguiu
um mandado de busca e
apreensão na Justiça para um
endereço em Madureira que o
suspeito costumava frequentar.
— Vamos analisar agora os
vídeos e postagens, para ver se
encontramos mais provas e
para saber se a divulgação partiu do celular dele ou do de outra pessoa — disse Cristiana.
Ontem, Lucas Perdomo Duarte Santos, um dos três suspeitos presos sob a acusação
de participação no estupro coletivo — os outros são Raí e
Raphael —, foi libertado. De
acordo com a advogada do jogador, Renata Barcelos, a liberação aconteceu por volta das
18h30m. Ele estava no complexo penitenciário de Gericinó.
Quando deixou o presídio,
Lucas, que continua sendo in-
“A adolescente foi
estuprada por
traficantes. Mais
tarde, na noite do
mesmo dia, ela foi
vítima pela
segunda vez”
Cristiana Bento
Delegada
vestigado, afirmou que teve
pesadelos e pretende retomar
sua carreira de atleta — ele jogava no Boavista, time de Saquarema, da primeira divisão
do Campeonato Carioca. Segundo a advogada, Lucas está
abatido psicologicamente e
quer deixar tudo para trás.
— Agora é bola para frente,
está provado que sou inocente
— afirmou o rapaz aos jornalistas, antes de seguir para casa, com a família.
A ordem de soltura foi expedida pela Justiça na noite da
quinta-feira, mas ele só foi li-
berado na noite de ontem. O
motivo, segundo a defesa do
jogador, foi a demora do oficial
de Justiça do Fórum de Bangu,
responsável por levar alvarás
de soltura ao complexo penitenciário de Gericinó, para
reunir documentos relativos a
outros presos. Familiares de
Lucas estavam desde cedo na
porta da penitenciária.
Na quinta-feira, a delegada
Cristiana Bento já havia pedido à Justiça a revogação da prisão de Lucas, por achar que
não há provas suficientes contra ele. No entanto, frisou que o
atleta continuará sendo investigado, mesmo fora da prisão:
— Ainda é cedo para afirmar
que Lucas é inocente. Pedi a
revogação de sua prisão temporária porque não há provas
suficientes de sua suposta participação no estupro coletivo.
Raí aparece no vídeo em que a
vítima está nua e desacordada;
Lucas não. Não há testemunhas que indiquem a presença
dele no local do crime.
A delegada já sabe os apelidos de outros envolvidos. Cinco suspeitos já identificados
permanecem foragidos. l
20
l O GLOBO
l Rio l
Sábado 4 .6 .2016
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
Economia
ADRIANO MACHADO/REUTERS/19-5-2016
Petrobras
Câmbio
PÁG. 22
PÁG. 24
R$ 3,527
PARENTE DIZ QUE NÃO
VAI PRIVATIZAR ESTATAL
Novo presidente da petrolífera afirma que decisão é da
União, mas que assunto não está sendo debatido
l 21
Foi o valor de fechamento do dólar, uma
queda de 1,70% após
os EUA divulgarem
dados fracos sobre o
mercado de trabalho
PESO NO ORÇAMENTO
Pressão nos planos de saúde
_
ANS fixa reajuste de 13,5%, superando a inflação pela 13ª vez. Em dois anos, alta chega a 29%
DAIANE COSTA
[email protected]
A Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS) fixou em 13,57% o aumento para os planos de saúde individuais. É o 13º ano seguido
em que o reajuste fica acima da inflação, que foi
de 9,28% nos 12 meses terminados em abril. O
aumento anunciado ontem é o maior já autorizado pela reguladora e está em vigor desde
maio. Ele atinge cerca de 8,3 milhões de beneficiários. O percentual é válido para os planos de
saúde contratados a partir de janeiro de 1999 ou
adaptados à Lei nº 9.656/98. Veio bastante parecido com o teto de aumento estabelecido pela
agência no ano passado, que foi de 13,55%. Em
dois anos, os planos já subiram 29%.
Na conta, a ANS considera a média dos aumentos aplicados pelas operadoras aos contratos de planos coletivos com mais de 30 usuários,
que são de livre negociação. De acordo com a
ANS, as operadoras aplicaram reajustes nos planos coletivos que chegaram a 34,36%.
Para Renata Vilhena, advogada especialista
em direito à saúde, os reajustes estipulados pela
próprias operadoras para os planos coletivos
são abusivos e acabam se refletindo no percentual estabelecido para os planos individuais.
— As reclamações na Justiça contra os planos
aumentam cada vez mais: são consumidores insatisfeitos com descredenciamentos abusivos
de hospitais e médicos, negativas de atendimentos e a demora na autorização de tratamentos emergenciais. O valor é muito alto para o
pouco retorno em qualidade de atendimento
que o paciente recebe — observa a advogada.
REAJUSTE SÓ NA DATA DO CONTRATO
Na avaliação da pesquisadora em saúde suplementar do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a advogada Joana Cruz, esse modelo de reajuste é, na prática, uma autorregulação,
já que a intensidade do aumento é ditada pelo
mercado de planos de saúde coletivos. Para Joana,
enquanto o teto ficar acima da inflação oficial, o
beneficiário será onerado. Nas contas do economista do FGV/Ibre André Braz, os gastos com planos de saúde comprometem 3,34% do orçamento
familiar, peso similar ao da energia elétrica.
— Esse ano, a diferença entre o IPCA e o reajuste máximo que pode ser aplicado diminuiu
em relação ao ano passado. O problema é que o
custo de vida como um todo aumentou. A ANS
precisa passar a regular os planos coletivos, e o
reajuste dos individuais tem de guardar relação
com o custo de vida do consumidor. Do contrá-
EVOLUÇÃO DOS PREÇOS
Reajuste anual dos planos de saúde
Inflação
TETO AUTORIZADO PELA ANS
ACUMULADO NOS 12 MESES ATÉ ABRIL DE CADA ANO
Em dois anos,
os planos
aumentaram
29%
20
16,77%
15
13,55%
11,75%
10
8,71%
6,77%
7,98%
8,07%
9,27%
8,89%
5,76%
7,69%
6,61%
5
5,26%
5,42%
13,57%
11,69%
6,76%
5,48%
5,04%
4,63%
6,73%
7,93%
7,69%
5,26%
2009
2010
9,65%
9,28%
8,17%
6,51%
5,53%
9,04%
6,49%
6,28%
2013
2014
5,1%
3%
0
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2011
2012
Fontes: ANS e IBGE
rio, continuará sendo penoso — explica Joana.
O reajuste pode ser aplicado só a partir da data
de aniversário do contrato, que corresponde ao
mês em que ele foi assinado. Se tiver sido em maio,
o usuário terá de pagar o aumento retroativo.
Além da correção anual, os planos podem sofrer o reajuste por mudança de faixa etária, que
ocorre cada vez que o beneficiário muda de idade e se enquadra em uma nova faixa de cobrança pré-definida em contrato. Ambos os aumentos podem coincidir no mesmo mês, e a aplicação dos dois é permitida.
A aplicação do reajuste de forma gradual dilui
o impacto desses aumentos sobre o Índice de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), explica
Braz. Mas, no acumulado de 2016, os planos de
saúde serão responsáveis por 0,45 ponto percentual da inflação do ano, estima o economista. Em 2015, os planos tiveram variação um
pouco menor, de 12,15%, de acordo com o IBGE. A manutenção pela ANS do mesmo percentual de reajuste aplicado no ano passado surpreendeu o pesquisador da FGV:
— Eu esperava algo maior, porque a inflação
do ano passado praticamente dobrou em rela-
2015
2016
Editoria de Arte
ção ao ano anterior, e os custos das operadoras
seguem pressionados.
A ANS ressaltou que o índice de reajuste dos
planos, diferentemente do IPCA, é um índice de
custos dos serviços e da quantidade de insumos
consumidos.
INFLAÇÃO MÉDICA É MAIOR, DIZEM SEGURADORAS
Segundo Braz, historicamente, os serviços sobem acima da inflação média:
— O setor de saúde é ainda mais afetado por
ser um segmento que incorpora avanços de tecnologia e usa profissionais altamente capacitados e especializados.
Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da
FenaSaúde, associação que reúne as seguradoras,
disse que a correção definida pela ANS nos últimos
anos não vem cobrindo as despesas assistenciais
dos planos. Segundo a entidade, a inflação médica
é , em média, duas vezes superior à inflação geral
que mede os demais preços da economia. De 2007
a 2015, enquanto o IPCA acumulou alta de 64,5%, a
despesa assistencial per capita em saúde cresceu
129,2%, diz a entidade. A Abramge, que representa
os planos de saúde, não se manifestou. l
U
MAU ATENDIMENTO
ANS SUSPENDE VENDAS DE
18 PLANOS DA UNIMED RIO
A Agência Nacional de Saúde Suplementar suspendeu
as vendas de 35 modalidades de planos médicos de
oito operadoras devido a negativa e demora no
atendimento de usuários. Desse total, 18 — mais da
metade — são da Unimed-Rio. Também foram
punidas com suspensões a Unimed Montes Claros,
Federação das Cooperativas de Trabalho Médico no
Norte, Associação de Beneficência São Cristóvão,
Unimed Norte/Nordeste, Medisanitas Brasil
Assistência Integral à Saúde, Unilife e Santa Casa
Sorocaba. A suspensão vale a partir do próximo dia 10.
Procuradas, apenas Unimed-Rio e Santa Casa
Sorocaba tiveram porta-voz encontrado. A Unimed-Rio
disse que as suspensões não trazem impacto sobre o
atendimento aos seus clientes. A Santa Casa Sorocaba
informou que ainda não havia sido notificada pela
reguladora. (Daiane Costa e estagiária Júlia Cople)
22
l O GLOBO
l Economia l
Sábado 4 .6 .2016
‘Não vim para cuidar de
privatização’, diz Pedro Parente
[email protected]
MÍRIAM
LEITÃO
A rádio, presidente da Petrobras afirma que foco é reduzir dívida
RAMONA ORDOÑEZ
|
|
COM ALVARO GRIBEL (DE SÃO PAULO)
Os dois lados
No governo Temer, não há meio termo. Ou ele
acerta muito ou erra feio. O problema é como
Temer, desagradando um pouco a tanta gente,
terá apoio para a travessia que será tempestuosa.
O cientista político Marcus Melo, da UFPE, não
acredita que haja probabilidade de a Dilma
voltar, mas compara a relação da opinião pública
com o presidente Michel Temer a uma lua de
mel numa ilha sujeita a tsunamis.
M
arcus Melo acha que dois tsunamis ameaçam Temer: a Lava-Jato e a ação no TSE.
Qualquer um desses eventos pode levar ao
fim antecipado do seu governo, mesmo que passe pelo
teste da votação do impeachment. Alguns dos erros
que Temer cometeu foi por considerar que o mais importante agora era construir alianças no Congresso,
qualquer que fosse a ficha do parceiro. A opinião pública está sensível à pauta do combate à corrupção, portanto, escolhas que possam fazer sentido do ponto de
vista político têm potencial de gerar reações da sociedade. Foi o que derrubou dois ministros nos 18 primeiros dias de governo. Quando escolheu a professora Flávia Piovesan, com seu bom currículo, para a Secretaria
de Direitos Humanos, parecia ter entendido a pauta
atual. Quando escolheu a ex-deputada Fátima Pelaes,
com suas controvérsias, para a Secretaria da Mulher,
pareceu querer afrontar o movimento feminista.
Esta semana foi possível ver a confirmação de
dois dos acertos na posse dos novos presidentes do
BNDES e da Petrobras, que assumiram dando novas diretrizes ao banco de investimento e à estatal.
Ao mesmo tempo, houve o aumento para o funcionalismo que tornou mais pesada a conta de gastos
fixos do país no meio do abismo fiscal. Parece que
convivem em Temer duas personalidades.
O aumento salarial dos funcionários públicos pode ser muito justo em inúmeros casos, olhados isoladamente, mas o moU
mento de austeridade
Os pontos-chave
tornou a pressa em
aprovar os reajustes
uma prova de que o
presidente interino não
Parece que convivem em
entendeu o que ele
Temer duas
mesmo vem fazendo.
personalidades, ou ele
A PEC de limitação
acerta muito ou erra feio
dos gastos ainda não foi
para o Congresso, mas
ela estabelecerá que os
Aliança do governo com o
gastos não poderão ser
Congresso não pode ser
superiores à inflação do
afronta aos desejos da
ano anterior. Isso ensociedade
gessa a administração,
aumenta a indexação
da economia, mas se
justifica em momento
Aumento do funcionalismo
de emergência fiscal.
abalou a coerência do
No ano que vem, as
ajuste fiscal, prioridade do
despesas seriam corripaís neste momento
gidas então em 7%, que
é a inflação projetada pelo mercado para 2016. Como o país estará vivendo em 2017 uma taxa possivelmente menor — algo como 5,5% nas projeções do
mercado — haveria um pequeno ganho real. Mas o
governo Temer acaba de aumentar as despesas fixas,
com o salário do funcionalismo.
O governo Dilma aprovou reajustes na reta final e
instruiu sua base a aprovar a urgência. Para criar
dificuldades para o governo do seu vice, Dilma assinou no próprio dia 11 de maio, quando foi votado
seu afastamento, outros aumentos salariais para
categorias de grande poder de pressão, como auditores da Receita, delegados da Polícia Federal, médicos do INSS. Ela colocou vários explosivos no caminho de Temer, e ele instalou outras. Mandou
aprovar os que estavam no Congresso, mesmo sem
regime de urgência, e agora enfrentará pressões
das categorias não contempladas. No primeiro momento, o governo nem sabia o custo da decisão.
O próprio governo Temer quis iniciar uma era de
explicitação de números quando pediu autorização para o déficit de R$ 170,5 bilhões. Os assessores
da presidente afastada disseram que o cálculo está
exagerado. Não está. O governo Temer chegou ao
resultado depois de constatar que os dados de Dilma eram fictícios. Partiam da premissa de que haveria um aumento real de receita de 9% em ano de
recessão, o que é inviável. As despesas obrigatórias
estavam subestimadas em R$ 40 bilhões, por exemplo: R$ 5 bilhões nas despesas de pessoal, R$ 10 bilhões na previdência, R$ 5 bilhões no Loas. É difícil
errar tanto em despesa obrigatória. Havia R$ 30 bilhões de pagamento a mais do PAC, sendo R$ 12,5
bilhões de serviço já foi executado.
A ideia da equipe econômica era que, ao revelar o
tamanho do déficit deixado por Dilma, e propor a PEC
do controle dos gastos, o governo estaria enfrentando
de frente o debate difícil dos limites das despesas do
Estado. Um trem da alegria de aumentos salariais no
momento não ajuda a dar coerência a este discurso. l
1
2
3
_
oglobo.com.br/economia/miriamleitao
[email protected]
O novo presidente da Petrobras,
Pedro Parente, garantiu que não
existe qualquer plano de se discutir a privatização da estatal no
governo do presidente interino,
Michel Temer. Em entrevista à
Rádio Gaúcha, o executivo reafirmou que sua missão é “resgatar” a empresa e que terá como
foco aumentar a produção de
petróleo no pré-sal e reduzir o
alto nível de endividamento.
— Não vim para cuidar de privatização da Petrobras. Não é
este meu mandato. Não vou
perder tempo com essa questão
porque não é uma questão que
está madura para uma discussão na sociedade. O que é minha missão é o resgate da empresa — disse. — Nós queremos
não ser apenas a maior empresa brasileira, queremos ser a
melhor empresa brasileira.
O presidente da Petrobras
reafirmou que a privatização
não é um tema em questão:
— (A privatização) é uma decisão de acionista controlador.
E eu não vejo essa discussão
acontecer no governo. E não
foi parte da conversa do presidente Temer comigo.
Na entrevista à rádio, Parente
voltou a garantir que não haverá indicações políticas na nomeação de diretores.
— Não haverá indicação de
partidos para diretores, não faz
sentido partidos estarem indicando diretores numa empresa que tem uma missão técnica
de grande responsabilidade de
explorar e produzir petróleo.
Isso já acabou. Não há diretores hoje aqui na empresa indicados por partidos políticos e
não haverá enquanto eu estiver aqui — garantiu.
AJUDA NA LAVA-JATO
O executivo destacou que a
questão mais urgente e que será
seu foco é continuar o equacionamento da dívida da estatal
(R$ 450 bilhões), e conseguir
sua redução a um nível mais
compatível com a geração de
caixa. Ele voltou a descartar a
possibilidade de uma capitalização, dada a situação difícil do
Tesouro Nacional:
— Se o problema foi gerado
dentro da companhia, nós temos que gerar os meios para resolver. E isso passa por desinvestimentos, que incluem a
venda de alguns ativos. Mas a
gente acha que pode trabalhar
na linha de fazer parcerias, onde já temos experiências de su-
| Opinião |
REGISTROS
DO DISCURSO de posse de
Pedro Parente na Petrobras
fica o correto diagnóstico
sem rodeios de que a estatal foi vítima de uma “quadrilha organizada”.
SEM DÚVIDA, mas também cabe registro o entendimento de Parente de que,
além da roubalheira, ajudou a quebrar virtualmente
a empresa a incompetência
no mau planejamento e em
escolhas erradas na hora
de investir.
UMA COISA se relaciona
com a outra.
cesso no upstream (exploração
e produção). Há outras empresas de economia mista que têm
experiência de sucesso, uma
delas é o Banco do Brasil.
Parente também voltou a garantir que a companhia conti-
nuará contribuindo com as investigações da Lava-Jato e fazendo as apurações internas.
— Todo apoio está sendo dado e vai continuar a ser dado
para que todas as questões apareçam e venham à superfície e
qualquer um que tenha feito
coisas que não são corretas, ilegais, será realmente punido.
Com relação à política de preços dos combustíveis, o presidente voltou a garantir que a
companhia terá total autonomia a tomar decisões que serão
puramente empresariais:
— (A definição dos preços)
tem que ser como é, natural,
uma decisão empresarial. A
gente tem custos para produzir,
precisa fazer investimentos, tem
que dar o retorno adequado aos
nossos acionistas. E o principal
acionista, não é o Tesouro Nacional, é a sociedade brasileira.
Esse conjunto de coisas, como
em qualquer empresa, faz com
que a empresa tenha que pensar
com autonomia nos preços que
cobra para quem fornece.
Parente voltou a criticar a
atual política de conteúdo local, previsto na Lei de Partilha
de exploração no pré-sal, que
obriga a Petrobras a ser operadora única e ter, no mínimo,
30% de participação. l
Crédito a estados não será de valor elevado
Empréstimo da
União aos muito
endividados exigirá
contrapartidas
MARTHA BECK
[email protected]
BÁRBARA NASCIMENTO
[email protected]
-BRASÍLIA- A costura que a equipe
econômica estuda para ajudar
os estados em maiores dificuldades financeiras — Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais — envolve um amplo programa de recuperação
fiscal em troca da concessão
de empréstimos da União. Segundo integrantes do governo,
a ideia é que esses estados se
comprometam com duras medidas de controle de gastos
que teriam de ser implementadas num prazo acertado com o
Tesouro Nacional.
O valor global dos empréstimos — que poderiam ser usados para investimentos ou para pagar as despesas atrasadas,
dependendo de acordo —
também está em discussão,
mas os técnicos adiantam que
não será uma cifra elevada,
nem cobrirá nenhum rombo
globalmente.
No caso do Rio, o déficit das
contas chega hoje a quase R$ 20
bilhões, sendo R$ 12 bilhões
apenas com o Rio Previdência.
Segundo os técnicos da área
econômica, o valor que a União
poderia repassar a todos os governadores juntos não chegaria
nem ao total do déficit do Rio.
A concessão de empréstimos, que requer alterações na
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), não é a saída considerada ideal pelo governo federal, mas seria a única forma
de ajudar os três estados. Para
eles, não basta a solução que
está sendo trabalhada para
todos os outros: renegociar as
dívidas com a União por 20
anos, com uma carência de
até 12 meses, além de alongar
as dívidas com o BNDES por
dez anos.
No início de 2016, quando o
então ministro da Fazenda
Nelson Barbosa retomou o diálogo com os estados que havia sido paralisado por seu antecessor Joaquim Levy, o governo chegou a considerar a
adoção de um programa de re-
cuperação fiscal semelhante
ao recentemente adotado pelos Estados Unidos para Porto
Rico, que se declarou inadimplente e tem hoje uma dívida
de US$ 70 bilhões. Depois de
um acordo fechado entre democratas e republicanos no
Congresso americano, o estado associado vai renegociar
seus débitos e será acompanhado por uma comissão que
vai verificar o cumprimento de
contrapartidas que serão oferecidas nessa negociação.
COMPROMISSO DO BNDES
Os secretários de Fazenda enviaram ontem ao Ministério da
Fazenda suas propostas de alteração no projeto de lei que
foi encaminhado por Barbosa
ao Congresso para renegociar
as dívidas estaduais com a
União. Além de uma carência
de dois anos para o pagamento
dos débitos (algo que a União
deve rejeitar), os estados querem um alívio imediato para
dívidas com o BNDES.
Na proposta encaminhada à
Fazenda, eles pedem que o pagamento de juros ao banco de
fomento fique suspenso por
quatro anos. A ajuda via BN-
DES já estava sinalizada no
projeto original, mas, agora, os
governadores querem que ela
se torne um compromisso
mais explícito do ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles.
A secretária de Fazenda de
Goiás, Ana Carla Abrão, afirmou que a carência com os juros do BNDES depende de
uma resolução do Conselho
Monetário Nacional (CMN):
— Já há uma indicação positiva do BNDES, mas isso tem
que ficar mais explícito no
acordo com a União.
Os estados querem que a carência para as dívidas com a
União seja de 100% por 24 meses. Isso, no entanto, teria um
impacto de cerca de R$ 70 bilhões sobre as contas públicas.
Para os técnicos, no entanto,
essa proposta é inviável, e o
máximo de carência que poderia ser dado para o pagamento
das dívidas com a União é de
até 12 meses.
No projeto original, a ideia
era dar um desconto de 40% no
valor das dívidas por um prazo
de dois anos. No entanto, com
o agravamento da situação dos
estados e a troca de governo, o
alívio será maior. l
Tarcísio Godoy será presidente do IRB Brasil
MARISA CAUDURO/“VALOR ECONÔMICO”/12-2-2008
Ele foi substituído
por Eduardo Guardia
na secretaria
executiva da Fazenda
MARTHA BECK E
BÁRBARA NASCIMENTO
[email protected]
O comando da secretaria executiva do Ministério da
Fazenda trocará de mãos. O diretor-executivo de produtos da
BM&FBovespa, Eduardo Guardia, assumirá o cargo no lugar de
Tarcísio Godoy — que vai assumir a presidência do instituto de
resseguros IRB Brasil RE. A notícia surpreendeu integrantes da
própria Fazenda, mas já estava
combinada entre o ministro
Henrique Meirelles e Godoy.
Meirelles sempre quis que
Guardia, com quem tem grande
afinidade, fosse para a secretaria-executiva. No entanto, havia
amarras na BM&FBovespa que
impediam o novo secretário de
-BRASÍLIA-
Novo posto. Na Fazenda, Godoy foi contra reajuste dos servidores públicos
ser anunciado junto com o ministro. Assim, Godoy, que tem
ampla experiência em gestão
pública e já comandou o Tesouro Nacional e, mais recentemente, a secretaria-executiva do exministro Joaquim Levy na Fazenda, foi convidado para ocupar o posto temporariamente.
Segundo integrantes da equi-
pe econômica, Godoy gostou do
ritmo de trabalho com Meirelles
e chegou a trabalhar para permanecer no cargo. No entanto, o
ministro não mudou de ideia.
Tanto o ministro quanto Godoy protestaram internamente
no governo contra a aprovação
pela Câmara dos Deputados de
vários projetos de lei que reajus-
taram os salários de servidores
públicos. As propostas terão impacto de R$ 53 bilhões nas contas
públicas entre 2016 e 2018.
Guardia é graduado pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC/SP) e doutor
em economia pela Universidade de São Paulo (USP). Ele já foi
secretário do Tesouro Nacional
do governo Fernando Henrique
Cardoso, secretário-adjunto de
Política Econômica da Fazenda
e também secretário de Fazenda de São Paulo.
Como secretário-executivo, ele
se tornará agora responsável por
uma das agendas mais importantes para o governo no momento: a renegociação das dívidas dos estados com a União. Secretários de Fazenda estaduais
que se reuniram com Godoy no
início da semana para tratar desse assunto também ficaram surpresos com a troca. Um deles
afirmou que chegou a conversar
com o atual secretário na manhã
de ontem e não ouviu nada sobre
a chegada de Guardia. l
l Economia l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
Ex-coordenador da Receita
é preso por corrupção
Bradesco pode ser
processado nos EUA
Escritório de Los
Angeles estuda abrir
ação por danos na
Operação Zelotes
Marcelo Fisch é acusado de fraudar licitações da Casa da Moeda
GUILHERME PINTO/EXTRA/28-8-13
ANA PAULA RIBEIRO
[email protected]
-SÃO PAULO- O escritório de advoca-
cia americano Glancy Prongay &
Murray LLP, com sede em Los
Angeles, estuda abrir um processo contra o Bradesco por
eventuais perdas de investidores
decorrentes do possível envolvimento da instituição financeira
na Operação Zelotes, da Polícia
Federal (PF), que investiga esquema de vendas de sentença
no Conselho Administrativo de
Recursos Fiscais (Carf). Os advogados vão avaliar se o banco
violou alguma lei federal do
mercado acionário americano.
“O GPM está preparando
uma ação judicial em nome de
investidores afetados”, afirmou
o escritório em comunicado.
Assim como aconteceu com a
Petrobras — por causa da Operação Lava-Jato —, é possível
que outras bancas americanas
sigam o mesmo caminho e acionem o banco brasileiro por supostos prejuízos no mercado de
ações dos Estados Unidos.
Na terça-feira, 31 de maio, a
Polícia Federal indiciou o presidente do Bradesco, Luiz Carlos
Trabuco, outros dois executivos
do banco e mais sete pessoas,
por suposto envolvimento nos
esquemas do Carf. A PF apontou os crimes de corrupção passiva, organização criminosa,
tráfico de influência e lavagem
de dinheiro. Os outros dois executivos do banco indiciados pela PF são o vice-presidente, Domingos Figueiredo Abreu, e o
diretor-financeiro do banco,
Luiz Carlos Angelotti.
A PF investiga se o banco pagou algum tipo de propina ao
grupo que operava um esquema de facilitação para reverter
multas fiscais por meio de recursos no Carf. Conselheiros,
ex-conselheiros e escritórios
de advocacia estão envolvidos
nessa investigação.
O Bradesco admitiu que seus
executivos foram procurados
por um escritório de consultoria
que atuava com os esquemas
fraudulentos, mas diz que não o
contratou. E afirma ainda que,
Sede da Casa da Moeda. Segundo Polícia Federal, crimes movimentaram mais de R$ 6 bilhões de dinheiro público. Quadrilha atua desde 2008
GABRIELA VALENTE
[email protected]
MARLEN COUTO
[email protected]
-BRASÍLIA E RIO- A Polícia Federal prendeu ontem o ex-coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal Marcelo Fisch e sua
mulher, Mariangela Defeo Menezes, por
corrupção ativa em licitações e contratos
da Casa da Moeda. O órgão fabrica os lacres e selos de controle de recolhimento
de impostos pelos setores de bebidas e cigarros, respectivamente. A Operação Esfinge desarticulou uma quadrilha que
fraudava certames, desviava recursos públicos e lavava dinheiro desde 2008. Os crimes movimentaram mais de R$ 6 bilhões.
Somente as propinas teriam ultrapassado
R$ 70 milhões, de acordo com a PF.
Cerca de 30 policiais federais e 12 servidores da Corregedoria Geral do Ministério da Fazenda cumpriram seis mandados de busca, cinco em São Paulo e um
em Brasília. As duas prisões preventivas
ocorreram na capital federal. Não foram
realizadas buscas na Casa da Moeda.
Um dos alvos da operação foi o escritório de consultoria Enigma, que teria recebido cerca de R$ 70 milhões de uma empresa investigada por fraude a uma licitação na Casa da Moeda sem prestar os serviços contratados. Para a Polícia Federal,
a Enigma teria servido de fachada para
intermediar o pagamento de propina aos
envolvidos no esquema.
Segundo agentes da PF, a consultoria
é propriedade de Mario Nicoli Filho, especialista em autenticação de selos fiscais. Ele foi preso em flagrante e indiciado ontem, durante cumprimento de
mandado de busca e apreensão, por
posse ilegal de arma de fogo de uso restrito, cuja pena pode variar de três a seis
31/05 0,2136% 01/06 0,2043% 02/06 0,1953%
Selic: 14,25%
Correção da Poupança
Até 03/05/12
A partir de 04/05/12
ÍNDICE
0,7180%
0,6589%
0,6270%
0,6260%
0,6655%
0,6939%
0,7111%
0,6872%
0,6634%
0,6685%
0,6547%
0,7053%
0,7053%
0,7053%
0,6963%
DIA
18/06
19/06
20/06
21/06
22/06
23/06
24/06
25/06
26/06
27/06
28/06
29/06
30/06
01/07
02/07
ÍNDICE
0,7180%
0,6589%
0,6270%
0,6260%
0,6655%
0,6939%
0,7111%
0,6872%
0,6634%
0,6685%
0,6547%
0,7053%
0,7053%
0,7053%
0,6963%
Obs: Segundo norma do Banco Central, os
rendimentos dos dias 29, 30 e 31 correspondem ao
dia 1º do mês subsequente.
Dezembro
-3,9%
Janeiro
-6,79%
Fevereiro +5,91%
Março
+16,9%
Abril
+7,7%
Maio
-10,1%
R$ 788
R$ 788
R$ 880
R$ 880
R$ 880
R$ 880
R$ 953,47
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
R$ 1.052,34
Obs: * O valor do salário mínimo a partir de 1º de
janeiro de 2016 é de R$ 880. ** Piso para
empregado doméstico, entre outros.
IMPOSTO DE RENDA
IR NA FONTE JUNHO 2016
Base de cálculo
R$ 1.903,98
De R$ 1.903,99 a 2.826,65
De R$ 2.826,66 a 3.751,05
De R$ 3.751,06 a 4.664,68
Acima de R$ 4.664,68
feita a tributação do produto.
Fisch foi um dos responsáveis pela
contratação da empresa Sicpa, que assinou, em 2008, um primeiro contrato,
com dispensa de licitação, para o Sicobe, vigente a partir de 2009, quando ele
ainda ocupava a função de coordenador-geral da Fiscalização.
De acordo com as investigações, em
2009, sua mulher, Mariangela, abriu a
empresa MDI Consultoria em Gestão
de Pessoas LTDA. Foram rastreados repasses de US$ 15 milhões destinados a
MDI realizados por outra empresa de
consultoria, sediada nos EUA, e que seria de propriedade de um representante da Sicpa.
O GLOBO apurou que a Sicpa possui
outros contratos com a Casa da Moeda
também investigados.
Em fevereiro de 2015, quando Jorge
Rachid reassumiu a secretaria da Receita Federal, Fisch foi nomeado chefe
da Divisão de Controles Fiscais Especiais da Coordenação-Geral de Fiscalização. A assessoria de Rachid ressalta que
ele era chefe de um departamento de
um homem só. Em resposta ao GLOBO,
os assessores da Receita disseram que
ele era o único auditor fiscal lotado na
divisão naquele momento.
“Ao tomar conhecimento de que este
(Fisch) constava como investigado na
Operação Vícios, o secretário o exonerou da função em 3/7/2015. Desde então, o auditor fiscal se desligou da Receita Federal e passou a ter exercício na
Escola de Administração Fazendária, a
Esaf”, afirmou a secretaria, que ressaltou que Rachid não é investigado.
Segundo a PF, para reunir provas e
desbaratar a quadrilha, os investigadores usaram métodos “extraordinários”,
como grampo telefônico. l
INSS/JUNHO
BOVESPA SAL. MÍNIMO SAL. MÍNIMO
(FEDERAL)*
(RJ)**
TR
18/06
19/06
20/06
21/06
22/06
23/06
24/06
25/06
26/06
27/06
28/06
29/06
30/06
01/07
02/07
FRAUDES COMEÇARAM EM 2008
Desde então, os policiais investigaram
como o dinheiro da propina foi lavado.
Ontem, Fisch e a mulher foram indiciados e denunciados por crimes de corrupção ativa e passiva. Desde julho do ano
passado, ele e os demais suspeitos já estavam com os bens sequestrados por ordem da Justiça Federal. Os principais envolvidos na investigação também tiveram
os sigilos fiscais e bancários quebrados
O foco do contrato investigado é o Sistema de Controle da Produção de Bebidas, o Sicobe. Ele prevê a instalação —
nas linhas de produção de bebidas como
cervejas, refrigerantes, sucos e água mineral — de equipamentos contadores de
produção. Esse mecanismo controla, registra, grava e transmite os dados da produção à Receita Federal, para que seja
ÍNDICES
Indicadores
DIA
anos de reclusão.
A Operação Esfinge é um desdobramento da Operação Vícios, que, em julho passado, cumpriu mandados de
busca em 23 endereços em empresas e
gabinetes do edifício sede da Receita
Federal, em Brasília, e na Casa da Moeda. Na época, a PF já sabia do esquema
de corrupção em contratos de R$ 6 bilhões com a Casa da Moeda e previa
que o pagamento de propina poderia
chegar a R$ 100 milhões, distribuídos a
12 funcionários públicos.
Os policiais apuravam o direcionamento num processo licitatório do sistema que calcula o imposto que tem de
ser pago por fábricas de bebidas. Na
época, o alvo principal já era Marcelo
Fisch. Ele comandou a fiscalização da
Receita Federal por seis anos. E foi na
gestão dele que o primeiro contrato
que teria sido direcionado para uma
empresa do esquema foi assinado.
Alíquota Parcela a deduzir
Isento
7,5%
15%
22,5%
27,5%
—
R$ 142,80
R$ 354,80
R$ 636,13
R$ 869,36
Deduções: a) R$ 189,59 por dependente; b) dedução
especial para aposentados, pensionistas e
transferidos para a reserva remunerada com 65 anos
ou mais: R$ 1.903,98; c) contribuição mensal à
Previdência Social; d) pensão alimentícia paga devido
a acordo ou sentença judicial.
Obs: Para calcular o imposto a pagar, aplique a
alíquota e deduza a parcela correspondente à faixa.
Esta nova tabela só vale para o recolhimento do IRPF
este ano.
A correção da terceira parcela do IRPF de 2016, que
vence no dia 30 de junho, é de 2,11%.
Salário de contribuição (R$)
Até 1.556,94
de 1.556,95 a 2.594,92
de 2.594,93 a 5.189,82
Alíquota (%)
8
9
11
Obs: Percentuais incidentes de forma não cumulativa
(artigo 22 do regulamento da Organização e do
Custeio da Seguridade Social).
Trabalhador autônomo
Para o contribuinte individual e facultativo, o valor da
contribuição deverá ser de 20% do salário-base.
Contribuição mensal mínima de R$ 176,00 (para o piso
de R$ 880,00) e máxima de R$ 1.037,96 (para o teto de
R$ 5.189,82)
UFIR
Junho
R$ 1,0641
Obs: foi extinta
UFIR/RJ
Junho
R$ 3,0023
Obs: A Unif foi extinta em 1996. Cada Unif vale 25,08
Ufir (também extinta). Para calcular o valor a ser
pago, multiplique o número de Unifs por 25,08 e
depois pelo último valor da Ufir (R$ 1,0641). (1 Uferj
= 44,2655 Ufir-RJ)
DÓLAR
Índice Variações percentuais
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
4450,45
4493,17
4550,23
4591,18
4610,92
4639,05
No ano Últ. 12meses
1,01% 9,62%
0,96% 10,67%
1,27% 1,27%
0,90% 2,18%
0,43% 2,62%
0,61% 3,25%
9,93%
10,48%
10,67%
10,71%
9,39%
9,28%
IGP-M (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
617,044
624,060
632,114
635,349
637,434
642,651
No mês
No ano Últ. 12meses
0,49% 10,54%
1,14% 1,14%
1,29% 2,44%
0,51% 2,97%
0,33% 3,30%
0,82% 4,15%
10,54%
10,95%
12,08%
11,56%
10,63%
11,09%
IGP-DI (FGV)
Índice Variações percentuais
(8/94=100)
UNIF
CÂMBIO
No mês
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
607,441
610,128
619,476
624,366
627,060
629,345
No mês
No ano Últ. 12meses
1,76% 8,91%
1,19% 10,21%
0,44% 10,70%
1,53% 1,53%
0,43% 2,78%
0,36 % 3,15%
BRADESCO NÃO VÊ OSCILAÇÕES
“O Bradesco considera prestados os esclarecimentos devidos sobre os episódios recentes. E não entende ter havido
oscilações relevantes no preço
dos papéis da instituição nesta
semana para justificar a movimentação dos investidores no
sentido de uma ação judicial”,
afirmou o banco em nota.
Em seu site, logo na página de
abertura, o escritório de advocacia americano Glancy Prongay &
Murray LLP, publicava ontem
uma chamada falando da ideia
de entrar com uma ação na Justiça americana, e colocava-se à
disposição de investidores que
eventualmente tenham se sentido lesados pela oscilação das
ações dos papéis do banco brasileiro após a divulgação do indiciamento de seus altos executivos
por envolvimento na Zelotes. Essa prática foi muito usada por outros escritórios contra a Petrobras, que enfrenta uma série de
ações na Justiça dos EUA. l
Zelotes. Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, foi indiciado pela PF
IPCA (IBGE)
(12/93=100)
além disso, foi derrotado por
unanimidade no julgamento no
Conselho. Com a ação no Carf, o
banco tentava reverter uma autuação da Receita Federal da ordem de R$ 3 bilhões.
Após o indiciamento dos executivos, na terça-feira, os recibos de ações do Bradesco
(ADRs, na sigla em inglês) negociados no mercado acionário
dos Estados Unidos fecharam
em queda próxima de 6%, cotados a US$ 6,24. No Brasil, as
ações preferenciais transacionadas na Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa) encerraram o pregão em queda de 5%.
Ontem, as ações preferenciais do Bradesco encerraram o
pregão com alta de 0,50%, a R$
24,07. Na véspera da divulgação do indiciamento dos executivos do banco, os papéis fecharam cotados a R$ 24. Na
bolsa americana Nasdaq, os
ADRs do banco brasileiro
eram negociadas a US$ 6,77,
com valorização de 8,5% em
relação ao valor de fechamento do dia do indiciamento.
Procurado ontem, o Bradesco informou, por meio de comunicado, que não considera
que as oscilações verificadas
em seus papéis, tanto no mercado local, como nos Estados
Unidos, foram relevantes para
justificar uma ação judicial.
BLOOMBERG
INFLAÇÃO
Trabalhador assalariado
l 23
10,58%
10,64%
10,70%
11,65%
11,07%
10,46%
Dólar comercial (taxa Ptax)
Paralelo (São Paulo/CMA)
Diferença entre paralelo e comercial
Dólar-turismo esp. (Banco do
Brasil)
Dólar-turismo esp. (Bradesco)
EURO
Euro comercial (taxa Ptax)
Euro-turismo esp. (Banco do Brasil)
Euro-turismo esp. (Bradesco)
Compra R$
Venda R$
3,5403
3,45
-2,55%
3,44
3,5409
3,67
3,65%
3,62
3,30
3,76
Compra R$
Venda R$
4,0097
3,9020
3,74
4,0118
4,1137
4,26
OUTRAS MOEDAS
Cotações para venda ao público (em R$)
Franco suíço
Iene japonês
Libra esterlina
Peso argentino
Yuan chinês
Peso chileno
Peso mexicano
Dólar canadense
3,61647
0,0331050
5,12609
0,253858
0,537854
0,00516398
0,189819
2,72698
FONTE: MERCADO
Obs: As cotações de outras moedas estrangeiras
podem ser consultadas nos sites www.xe.com/ucc e
www.oanda.com.
BOLSA DE VALORES: Informações sobre
cotações diárias de ações e evolução dos
índices Ibovespa e IVBX-2 podem ser
obtidas no site da Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa), www.bovespa.com.br
CDB/CDI/TBF: As taxas de CDB e CDI
podem ser consultadas nos sites de
Anbima (www.anbima.com.br) e Cetip
(www.cetip.com.br). A Taxa Básica
Financeira (TBF) está disponível
no site do Banco Central (www.bc.gov.br).
Para visualizá-la, clicar em “Economia e
finanças” e, posteriormente, em “Séries
temporais”
FUNDOS DE INVESTIMENTO:
Informações disponíveis no site da
Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), www.anbima.com.br. Clicar em
“Fundos de investimento”
IDTR: Pode ser consultado no site da
Federação Nacional das Empresas de
Seguros Privados e de Capitalização
(Fenaseg), www.fenaseg.org.br. Clicar na
barra “Serviços” e, posteriormente, em
FAJ-TR. Selecionar o ano e o mês desejados
ÍNDICE DE PREÇOS: Outros indicadores
podem ser consultados nos sites da
Fundação Getulio Vargas (FGV, www.fgv.br),
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE, www.ibge.gov.br) e da
Anbima (www.anbima.com.br)
24
l O GLOBO
l Economia l
Sábado 4 .6 .2016
OCDE: Brasil só sai da
Dados fracos de emprego nos
EUA fazem dólar cair a R$ 3,527 crise com eleições
Recuo foi de 1,7%. Geração de vagas no país em maio decepcionou
RICHARD DREW/AP
ANA PAULA RIBEIRO
[email protected]
Dados frustrantes do
mercado de trabalho americano fizeram o dólar cair em escala global, ontem. No Brasil, a moeda americana
encerrou os negócios cotada a R$
3,527, um recuo de 1,7% ante o real.
Na semana, a queda acumulada foi de
2,30%. O otimismo dos investidores
atingiu também a Bolsa de Valores de
São Paulo (Bovespa), que subiu 1,47%,
aos 50.619 pontos. Desde a sexta-feira
da semana passada, os ganhos chegaram a 3,20% no Ibovespa.
A economia dos Estados Unidos criou em maio o menor número de vagas
em mais de cinco anos, fazendo com
que os investidores reduzissem as
apostas de que o Federal Reserve
(Fed, o banco central do país) elevará
os juros em junho — movimento que
levou a um enfraquecimento do dólar. Nervosismo. Operadores no pregão de Nova York: bolsas no mundo caíram com dúvidas nos EUA
Após a divulgação desse dado, caiu de
22% para 6% a probabilidade de au- inteiro, e aqui não foi diferente, com a avançou 2,02% (R$ 8,57). Essa valorizamento das taxas de juros na próxima moeda registrando mínimas sequen- ção ocorre mesmo com a queda do prereunião do Comitê Federal de Política ciais — afirmou Jefferson Luiz Rugik, ço do petróleo no mercado internacioMonetária do Fed, marcada para os superintendente da Correparti Corre- nal. O barril do tipo Brent recuava
dias 14 e 15 de junho.
tora de Câmbio.
0,56%, a US$ 49,76.
A criação de vagas fora do setor
No câmbio, o comportamento do
A Vale fechou em forte alta, depois
agrícola dos EUA ficou em
mercado doméstico acompa- de o minério de ferro registrar a priU
apenas 38 mil no mês passanha o movimento externo. O meira valorização em cinco dias na
do, abaixo até das previsões
Números índice “dollar index”, que mede China (alta de 3,94%, a US$ 50,08 a tomais pessimistas. Economisa força do dólar contra uma nelada). A Vale ON subiu 8,62% (R$
tas consultados pela Reuters
cesta de dez moedas, recuava 16,24), enquanto a PNA teve elevação
esperavam criação de 164 mil
1,72% próximo ao horário de de 7,67% (R$ 12,62).
vagas. Foi o menor ganho
encerramento dos negócios no
No setor bancário, o Banco do Brasil
desde setembro de 2010, inmercado de câmbio no Brasil.
ON avançou 2,36%, enquanto o Itaú
formou ontem o DepartaUnibanco PN teve pequena variação
DE CHANCE
mento de Trabalho. O goverOTIMISMO NA BOLSA
positiva de 0,26%. As ações do BradesDE O FED
no informou que a greve de
Subir os juros Na Bolsa, além dos fatores exter- co subiram 0,50%, mesmo depois que
um mês na operadora de tenos, a alta está relacionada ao um escritório de advocacia americano
básicos.
lefonia Verizon deprimiu o
aumento da confiança do inves- anunciou que estuda entrar com uma
Antes, essa
crescimento de vagas em 34
possibilidade tidor para o médio e longo pra- ação contra o banco devido ao possímil. A geração de postos de
zos, o que ajuda no processo de vel envolvimento no caso Zelotes.
era de 22%
trabalho em maio ficou bem
recuperação dos mercados, na
O Ibovespa, no entanto, foi na contraabaixo das 123 mil vagas
avaliação do analista Raphael mão do mercado externo, que reagiu de
abertas em abril.
Figueredo, da Clear Corretora:
forma negativa à piora dos dados ameApesar da baixa geração de
— O dado ruim nos Estados ricanos. Os indicadores divulgados
postos, a taxa de desemprego
Unidos beneficia as moedas de trouxeram incertezas sobre a solidez da
nos EUA recuou de 5% para
países emergentes. Um segun- economia dos Estados Unidos e, conseMIL VAGAS
4,7%, a menor marca em quado ponto é o indício de que o quentemente, do ritmo da atividade
NOS EUA
se nove anos. Os movimentos
O resultado de setor corporativo está reto- global. Em Wall Street, o índice Dow Jodo mercado, no entanto, remando alguns planos, o que nes caiu 0,18%, enquanto o S&P 500 remaio ficou
fletiram mais o baixo número
deixa uma visão mais positiva cuou 0,29%. Na Europa, a Bolsa de Lonabaixo dos
de vagas criadas.
dres fechou com pequena alta de
123 mil postos para o longo prazo.
— Depois da divulgação dos
Entre as ações brasileiras, a 0,39%, mas o CAC 40, da Bolsa de Paris,
criados fora do
dados de emprego, o dólar
Petrobras ON subiu 1,2% (R$ caiu 0,99%, e o DAX, de Frankfurt, teve
setor agrícola
passou a afundar no mundo
10,81), enquanto o papel PN desvalorização de 1,03%. l
em abril
-SÃO PAULO E RIO-
6%
38
Moreira quer mudanças em concessões
GIVALDO BARBOSA/29-7-2013
Responsável por parcerias
diz que taxa de retorno
será definida por mercado
Para entidade, sem
isso, não haverá
consenso para
aprovar reformas
FERNANDO EICHENBERG
Especial para o GLOBO
[email protected]
-PARIS- Na previsão da Organiza-
ção para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que agrupa 35 países — a
maioria do bloco de países desenvolvidos —, o Brasil não terá condições de sair da “recessão profunda” e de retomar o
caminho do crescimento econômico até que ocorram novas
eleições. O clima político atual
impossibilita, na análise da
instituição, a adoção de reformas urgentes e necessárias para o país. Essa é a opinião do
economista Jens Arnold, diretor da OCDE para o Brasil, que,
em conversa com o GLOBO,
confirmou e ampliou os prognósticos feitos para o país no
relatório da instituição divulgado esta semana.
Na quarta-feira, a OCDE piorou suas projeções para a
economia brasileira. Para este ano, a previsão para o resultado do PIB passou de
queda de 4% para retração de
4,3%. Já para o ano que vem, a
expectativa passou de variação nula para um tombo de
1,7%. Para a economia mundial, a previsão para 2016 foi
mantida: expansão “decepcionante” de 3%.
— Em nosso relatório, o cenário base é o de que, até que
ocorram novas eleições no
Brasil, vai ser difícil criar o
consenso necessário para implementar as reformas de que
o país necessita. Por mais que
haja muitas propostas saídas
ultimamente do governo, que
coincidem em grande parte
com as recomendações que a
OCDE fez no passado, a pergunta é: até que ponto estas
medidas serão implementadas? Uma coisa é o governo
anunciar planos, outra coisa é
criar o consenso e a força política necessários para fazê-las
passar pelo Congresso, que es-
[email protected]
DANILO FARIELLO
ANA PAULA RIBEIRO
[email protected]
organizadores e órgãos de segurança como um evento de baixo
risco. Já a Olimpíada envolverá
20,1 mil atletas de 206 países,
concentrados praticamente em
uma cidade — só alguns jogos de
futebol serão realizados em outras localidades —, o que torna os
riscos elevados. E os Jogos Paralímpicos irão mobilizar outros 7,5
mil esportistas.
— Será a maior operação do
mundo — afirmou o executivo.
-SÃO PAULO- Os Jogos Olímpicos devem trazer ao Rio mais de 1,5 milhão de visitantes durante o período da competição, incluindo os
Jogos Paralímpicos. A Latam Brasil, companhia aérea oficial dos
Jogos, espera transportar 25%
desse contingente (cerca de 375
mil pessoas) e, para isso, montou
um plano operacional que inclui
espaços para check-in dentro da
Vila Olímpica, um esquema especial para o transporte de equipamentos esportivos e atendimento voltado a um maior número de pessoas com deficiência, além da programação de voos extras. Para toda essa estrutura, está investindo R$ 20 milhões.
— É um evento maior que a
Copa do Mundo e com uma
complexidade logística e de bagagens muito maior. Além disso,
há riscos de segurança, de atentados, pela exposição de todas as
delegações no evento — disse o
diretor de Serviços e Inovação
da Latam, Eduardo Costa.
A Copa do Mundo de 2014 mobilizou 2,5 mil atletas de 32 países, que se distribuíram por 12 cidades, e era considerada pelos
VOOS SEM SERVIÇO DE BORDO
A Latam terá 100 voos extras que
terão o Rio como destino ou ponto de partida. Mas esse número
pode chegar a 300. Além disso,
seis aeronaves ficarão disponíveis como contingência. Para os
passageiros, está prevista a facilitação do endosso de passagens
entre as companhias aéreas, o
que já foi feito durante a Copa.
Nos voos à capital fluminense
com até 60 minutos de duração,
não haverá serviço de bordo. O
passageiro receberá um kit com
lanche, um bombom e água.
A aérea vai usar um esquema
similar ao aplicado nos Jogos
Pan-Americanos de Toronto (Canadá) para o transporte de bagagens (equipamentos) fora do padrão, e que muitas vezes não podem ser transportadas em esteiras. Para evitar atrasos no embarque, a Latam ainda investiu na
compra de cadeiras de rodas para o transporte de cadeirantes no
interior das cabines, treinamento
da equipe e aluguel de plataformas elevatórias para o transporte
das cadeiras dos passageiros para a área de carga. l
[email protected]
O governo interino de
Michel Temer está trabalhando em um
“minucioso levantamento” para definir
quais os próximos projetos de infraestrutura a serem leiloados ao setor privado,
que está participando diretamente desse
processo. Responsável pela reorganização das concessões de infraestrutura, o
secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Wellington
Moreira Franco, esteve ontem na sede da
Associação Brasileira da Infraestrutura e
da Indústria de Base (Abdib) para reunião com empresários do setor. Na visão de
Moreira, os principais problemas dos
projetos que a gestão Dilma Rousseff não
conseguiu leiloar estão nas taxas de retorno e em questões ambientais. Ele criticou
a “tendência de a taxa de retorno ser fixada pela própria autoridade”, o que “não é
compatível com a vida”.
— Quem determina o preço é o mercado. O fato de o dono querer não significa que o produto vai ser vendido pela vontade de um só, (esse) é um dos
problemas que vamos resolver.
A respeito das “questões ambientais”,
ele disse considerar que um empreendimento “não pode ficar paralisado por
meses, até anos, por uma não decisão”,
referindo-se à morosidade dos órgãos
de controle ambiental em processos
anteriores.
— Precisamos decidir, respeitando o
meio ambiente — disse.
O encontro foi o primeiro de uma agenda de reuniões com o empresariado, cuja
-SÃO PAULO E BRASÍLIA-
Sugestões. Moreira Franco, do Programa de Parcerias, terá agenda de reuniões com empresários
finalidade é colher sugestões para a modelagem do novo programa de concessões.
— Queremos fazer um levantamento
das questões que travaram as parcerias
em diversas áreas. Queremos agilizar
essa saída (de projetos do papel) — declarou Moreira, explicando que esse
mapeamento contará também com a
participação das agências reguladoras.
Perguntado sobre qual deve ser o papel
do BNDES no novo programa de “parcerias”, Moreira afirmou que ele será “importante, mas não há condições de repetir o papel que desempenhou até agora”.
— Há uma discussão sobre o tamanho
das condições financeiras e operacionais. Queremos e precisamos que haja
sinergia (entre os agentes) — disse.
SÓ UM PORTO DO PARÁ VAI A LEILÃO
Um dia depois de se reunir com representantes do setor portuário, o ministro dos Transportes, Maurício Quintella, decidiu ontem que só um, dos
seis terminais de carga no Pará que seriam leiloados na próxima semana se-
rá, de fato, ofertado aos concorrentes.
Essa área que continua no leilão do dia
10 será arrendada para movimentação
de fertilizantes em Santarém. Os cinco
terminais de granéis sólidos — principalmente para movimentar bens agropecuários para exportação — não têm
uma nova data para serem leiloados.
Segundo nota oficial do ministério,
enquanto as outras áreas não forem a
leilão, “a modelagem dos editais poderá ser reavaliada com o objetivo de tornar a concessão mais atrativa e adequada à demanda”.
Segundo Willen Manteli, presidente
da Associação Brasileira dos Terminais
Portuários (ABTP), são necessários
ajustes no edital, quanto aos riscos
transferidos para os empreendedores e
à possibilidade de o governo alterar os
contratos unilateralmente.
— Pelas condições apresentadas, dificilmente empresas sérias vão investir
— disse Manteli, depois de ter encontrado Quintella acompanhado de 16
empresários que atuam no setor. l
ENTIDADE REBATE MINISTRO
O economista disse que seria
uma boa notícia se o relatório
da OCDE fosse desmentido em
suas previsões, mas duvidou
de um cenário otimista.
— Estamos mais ou menos
na espera, mas, a priori, temos
dúvidas de que o cenário político possa dar, neste momento,
as condições para a implementação destas mudanças,
que seriam enormes para o
Brasil. Nos últimos anos, o Brasil não fez muitas reformas estruturais — sublinhou.
Sobre as críticas do ministro
das Relações Exteriores brasileiro, José Serra, que disse que
o relatório da OCDE não tinha
“sofisticação de análise”, Jens
Arnold rebateu:
— Não conhecemos o futuro
melhor que outros, mas fazemos nossas previsões baseadas nos possíveis cenários que
imaginamos e com as informações que temos. Seguimos a situação brasileira há muitos
anos, eu pessoalmente há seis
anos, e acredito que conheço a
economia brasileira bastante
bem. Conhecemos bem os dados do Brasil. l
Latam investe R$ 20 milhões
em operação para os Jogos
Companhia terá
check-in na Vila
Olímpica e mais de
100 voos extras
ROBERTA SCRIVANO
tá extremamente dividido e
polarizado neste momento —
avalia Jens Arnold.
Entre as reformas necessárias
para o Brasil, Arnold cita um
importante ajuste fiscal, “não
somente de curto prazo, mas incluindo também variáveis estruturais como a reforma do sistema previdenciário”. Ele defende, ainda, a desvinculação dos
benefícios ao salário mínimo.
— O país poderia ter alcançado 25% mais de redução das
desigualdades nos últimos trés
anos se isso tivesse sido aplicado — destaca.
Para ele, o país precisa, ainda, de um melhor foco no uso
do BNDES, com uma redução
no volume de empréstimos do
banco de fomento. Arnold sugere também maior integração
do país na economia mundial:
— O Brasil segue sendo uma
economia relativamente fechada, e necessita se abrir
mais, reduzir barreiras alfandegárias, e também repensar
regras internas.
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
Mundo
l 25
ELEIÇÕES PERUANAS
_
ENTREVISTA Pedro Pablo Kuczynski
‘Ameaça de
o Peru se
mediocrizar’
O ex-ministro, ex-banqueiro de
investimento, primo de
Jean-Luc Godard e músico
alerta para o risco que vê na
eleição de Keiko Fujimori, filha
do encarcerado Alberto
Fujimori, apontada como
favorita para o 2º turno do
pleito presidencial amanhã
CARLOS CUÉ E JACQUELINE FOWKS
Do “El País”
O que acontece no Peru? Por que
um país que encarcerou um ex-autocrata está prestes a eleger sua filha ?
Há uma percepção de uma onda de
criminalidade parcialmente causada
pela droga, e ela (Keiko Fujimori) dá a
impressão, por ser a filha do seu pai, de
que irá conter a insegurança. Além disso, o fujimorismo tem uma quantidade
impressionante de recursos nem indagados nem explicados. Parte vem de dinheiro acumulado no exterior quando
eles governavam, pela corrupção. A família do secretário-geral do partido (investigado pela agência antidrogas dos
EUA) também parece contribuir muito.
l
O empresariado peruano aceitou
Keiko Fujimori?
O grande empresariado sempre esteve apaixonado por Fujimori, e quando
(seu sucessor Alejandro) Toledo entrou,
os empresários ficaram em pânico, mas
quando ele me colocou como ministro
(da Economia), se acalmaram.
l
Difunde-se a ideia de que o senhor é o establishment e que Fujimori defende os pobres. Por quê?
Não sei se todos a veem assim. Eles
têm uma máquina de marketing político impressionante nas zonas mais
pobres. Ela sabe se vender bem, como
o pai, que ia pelos povoados num tratorzinho. Também é verdade que ela é
uma mulher jovem, 41 anos, e eu sou
um senhor muito mais velho (77).
l
A idade jogou contra?
Ajudou a jogar, certamente não é
meu ponto forte. Já expliquei que minhas tias viveram até os 98, mas claro,
eu não sou filho de minhas tias (ri).
l
cinco pontos abaixo. O que houve?
Houve um congressista eleito (aliado
do próprio PPK) que começou a dizer
coisas contra nós, e nos custou. Depois
aproveitaram o fato de que fui cinco dias aos EUA e fizeram campanha em cima disso. Foram pequenos erros.
Por que a imagem de Alberto Fujimori resiste, apesar de ele estar preso?
A verdade é que eu não entendo isso.
Muitos acreditam que Fujimori acabou
com o terrorismo e que está preso injustamente. O Peru depois de 1990 ficou
traumatizado pela hiperinflação do governo de Alan García e pelo terrorismo
(do grupo Sendero Luminoso) a partir de
1980. Keiko fica pendurada na memória
do pai, há a ideia de que ele restabeleceu
a segurança no Peru, e como a criminalidade sobe, agora querem votar na filha.
l
O autoritarismo é bem visto no país?
A América Latina tem antecedentes
muito conhecidos de autoritarismo, do
México à Argentina, e o Peru não é exceção a isso. Apesar de haver uma nova geração no Peru que tem uma visão distinta.
l
Por que Fujimori é uma ameaça para a democracia? O senhor realmente
teme um narco-Estado?
O narco-Estado está crescendo todos
os dias, com um Judiciário que não está
bem dirigido, a informalidade trabalhista, muito alta. Além disso, a droga se
transferiu para cá pelo Plano Colômbia,
que a tirou de lá. No fujimorismo, há vários congressistas que aparentemente
estão muito próximos desse grupo.
Quando começou o segundo turno, o senhor estava na frente. Agora,
Ex-banqueiro. Kuczynski com a vice, Mercedes Araoz, em discurso em Arequipa: para ele, rival não tem consistência na economia
l
O que acontecerá se vencerem?
Vamos ter um governo sem muita imaginação no aspecto econômico, muitos
gestos duros para frear a criminalidade
sem ir fundo no problema, a pobreza. A
ameaça é que o Peru irá se mediocrizar.
l
Foi prejudicado pelo fato de ter
apoiado Keiko em 2011?
Apoiei porque Chávez vinha ao Peru
(apoiar Humala). Agora tudo mudou. Humala afinal não foi por esse caminho. Eu
não sou antiesquerda nem pró-direita, é
um mito que criaram. Gosto muito do
apoio da esquerda, mas não do chavismo.
“Keiko vai tirar
Fujimori da prisão,
com certeza; vai
esperar um pouco,
mas vai tirá-lo”
Quero que o Peru aproveite seu potencial. Como é possível que, após 25 anos de
crescimento econômico, dez milhões de
pessoas não tenham água, e ninguém se
preocupe com isso, exceto quem não tem?
Um país sem serviços básicos é inviável.
O milagre econômico de que se fala
não chegou aos pobres?
Há frustração porque as coisas não funcionam, não houve infraestrutura. As pessoas moram no morro, não têm água nem
ruas. Está tudo bem atrasado em relação
às expectativas que o crescimento gera.
Mas dá para fazer, temos 4% de dívida (em
relação ao PIB), a Espanha está em 100%.
l
l
Foi prejudicado por participar de em-
l
Teria apoiado Verónika Mendoza se
ela chegasse ao segundo turno?
Primeiro teria falado sobre seu programa, para ver no que consistia.
l
Qual é sua motivação para disputar
a Presidência em vez de aproveitar
vida e a sua fortuna?
l
l
AFP/2-6-2016
AS ÚLTIMAS PESQUISAS
DIFERENÇA ENCURTOU NA RETA FINAL
DATUM
CPI
52,1%
(-0,8)*
GFK
50,3%
(-1,9)
48,4%
(+3,2)
49,7%
(+1,9)
KUCZYNSKI
MARGEM
DE ERRO:
Fonte: Reuters
2,2 pontos
2,3 pontos
2,3 pontos
* Em relação à pesquisa anterior
Nos debates, Keiko transmitiu
mais ambição pela vitória?
Ela tem bastante entusiasmo, sem
dúvida. Mas se eu lhe disser: “Senhora
Fujimori, articule seu programa econômico sem escutar a gravação que lhe
fazem e sem ler o cartão”, não vai dizer.
Acredito que sabe se vender, assim como o velho, mas eu também sei: uma
pessoa de 77 anos que concorre a uma
coisa destas e está pau a pau com ela,
sem ter gastado grande coisa…
l
Se Keiko Fujimori chegar ao poder, vai tirar o pai da prisão?
Vai tirá-lo, com certeza; vai esperar um pouco, mas vai tirá-lo.
l
51,6%
(-3,2)
KEIKO
47,9%
(+0,8)
presas e ter sido banqueiro?
Fala-se muito disso. Quando eu
estava no First Boston, a primeira
emissão de títulos da Espanha em
Nova York fui eu quem fiz, a fusão do
BBVA fui eu quem fiz; o primeiro
fundo na Coreia, em Taiwan... Eu
não era um banqueiro tradicional, e
sim um pioneiro dos mercados
emergentes de 30 anos atrás.
Editoria de Arte
Mas o senhor disse que também o
tiraria da prisão.
Mas não falamos de indulto, e sim
que cumpra o resto da pena em seu
domicílio; eles estão pensando em
anular o julgamento e tirá-lo pela
porta da frente. l
l
FUJIMORISMO EM JOGO
BRENO SALVADOR
[email protected]
P
or dificuldades ou
oportunidades de
trabalho, mais de 40
mil peruanos vivem
hoje no Brasil. Muitos vieram
após o governo Alberto Fujimori (1990-2000), atualmente na cadeia por uma série de
crimes de corrupção e lesaHumanidade. Sua filha,
Keiko, polarizou internamente a disputa com discursos
populistas e sofrendo acusações de que pretende libertálo da prisão. Os que saíram
também não escondem: o sobrenome Fujimori é o que
mais está em jogo no segundo turno, amanhã. Aqui, a tô-
Keiko, em nome do pai
Mais do que demandas sobre segurança, educação e economia, o sobrenome da favorita nas
eleições peruanas é o principal aspecto citado por imigrantes no Brasil na hora da votação
nica se repete: Keiko deve responder pelo pai.
— Votei no fujimorismo em
1990. Falavam de honradez, trabalho e tecnologia. Do nada fez um
choque de preços. Estava vendendo o Peru. Manipulava tudo — diz
Pablo Macário, chef de uma casa
de frango assado à moda peruana
na Zona Oeste do Rio.
Pablo apoiou Julio Guzmán,
economista inabilitado no primeiro turno. Agora, defende
Kuczynski, apoiado por vários
ex-candidatos contra Keiko.
— Não gosto dele, mas é conhecido, é respeitado. Minha irmã vota em Keiko. Só espero
que invistam em educação.
Na votação no primeiro turno,
em abril, Keiko foi alvo de um
protesto na Praia de Botafogo,
Zona Sul do Rio. Dezenas de peruanos, entre eles a especialista
em Relações Internacionais Vanina Montalvo, exibiram carta-
zes e faixas dizendo “Não a
Keiko” e “Contra a ditadura”.
— Nós a rejeitamos não só por
ser filha de um corrupto e criminoso que atentou contra os direitos humanos, mas por estar
rodeada pelo mesmo grupo que
destruiu o país — diz Vanina.
Amanhã, muitos se reunirão
num colégio no bairro para um
“voto útil” em Kuczynski.
Há dois anos no Rio, o engenheiro industrial Iván Pavleti-
ch simpatizou com a terceira
colocada, a deputada Verónika
Mendoza, “porque ela defende
a inclusão social de minorias
como os indígenas e os LGBT”.
— A maioria dos partidos, historiadores e intelectuais apoiou
Kuczynski não por compartilhar
sua ideologia, mas para impedir
a volta do fujimorismo.
O jornalista Christian Rissi
cobra do próximo governo empenho na segurança, promessa
de Keiko. Mas critica que ela tenha 11 ex-aliados no Congresso
processados por narcotráfico.
— Infelizmente, o povo é
muito ignorante, aceita votar
em troca de dinheiro ou bens.
Já o engenheiro naval William
Cipriano celebra um segundo
turno sem a esquerda. Há quase
15 anos no Rio, afirma que Fujimori “acabou com o caos” no
país e alavancou a economia,
mas lembra seu autogolpe de
1992 e “o segundo mandato
com logística de narco-Estado”.
— Keiko carrega seu passado
obscuro. Mas hoje o Peru é um
dos países que mais crescem
nas Américas. Com a guinada
ao mercado de Fujimori, há geração de empregos. Quem ganhar será bom neste ponto. l
26
l O GLOBO
l Mundo l
Sábado 4 .6 .2016
Macri é internado em Buenos
Aires com arritmia cardíaca
[email protected]
ADRIANA
CARRANCA
Presidente argentino se sentiu mal durante encontro com jornalistas
|
|
Corrupção e desenvolvimento
Dois encontros globais inéditos ocorreram,
quase paralelamente, há coisa de duas
semanas: a Cúpula Anticorrupção, em
Londres, e a Cúpula Mundial Humanitária, em
Ancara. Anunciados com alarde, ambos os
encontros tiveram pouca repercussão,
engolfados por uma avalanche de novos casos
de corrupção, revelados principalmente pelos
Panama Papers, e sucessivos desdobramentos
da maior crise humanitária de que se tem
notícia, que expõem a urgência de medidas
concretas e o descabido da retórica vazia a que
costumam se resumir esses encontros.
S
eu esvaziamento expõe o descrédito no sistema
internacional. A primeira cúpula mundial anticorrupção foi recebida com descrença, a começar pelo anfitrião, o Reino Unido, cujos territórios ultramarinos servem de hub para evasão de impostos e
esconderijo para donos de dinheiro sujo — segundo
revelaram os Panama Papers, mais da metade das
empresas offshore criadas pela Mossack Fonseca foram registradas nas Ilhas Virgens Britânicas.
Apenas 11 governantes foram à cúpula, segundo o
premier David Cameron “a maior demonstração de
vontade política para abordar a corrupção em muitos e
muitos anos”. Apenas seis deles, entre os quais alguns
dos países mais corruptos — Afeganistão, Quênia e Nigéria — além de Reino Unido, França e Holanda comprometeram-se em tornar públicos os registros de beneficiários (como o deputado afastado Eduardo Cunha, do
PMDB) das chamadas “trusts” que administram dinheiro público no exterior, principal demanda do encontro.
Os EUA preferiram não se comprometer. A maior
economia do mundo é também o terceiro país mais
fácil para abrir uma offshore, atrás de Suíça e Hong
Kong, segundo o Tax Justice Network.
Outros 40 países aceitaU
ram compartilhar informações apenas com as “autoOs pontos-chave
ridades competentes”, algo
com que os líderes do G20
já haviam se comprometiPrimeira cúpula mundial
do em 2014. Nada novo.
anticorrupção foi recebida
Considerando-se que os
com descrença
casos de corrupção transnacionais muitas vezes envolvem governos e autoriCorrupção faz com que
dades, tampouco se trata
criminosos ocupem espaço
de conquista relevante. “A
deixado pelo Estado
menos que grupos da sociedade civil tenham acesso
aos registros, quem irá garantir que a lei está sendo
Temas cruciais foram
aplicada?”, questionou a
ignorados na Cúpula
Corruption Watch, que inMundial Humanitária
vestiga grandes casos.
O principal produto da cúpula foi a Declaração
Global Contra a Corrupção, divulgada pelo governo
britânico como “a primeira” do gênero, ignorando a
Convenção da ONU sobre o tema, de 2003, e assinada
por 140 países. O encontro terminou com o anúncio
de outro: um fórum global sobre recuperação de ativos, marcado para 2017.
Internamente, EUA e Reino Unido têm discutido
reformas em reação às revelações dos Panama Papers. Mas, com a possibilidade de saída do Reino
Unido da União Europeia e a chegada de um governo
conservador pós-Cameron, assim como nos EUA
com Trump, é improvável que estes países continuem preocupados com isso.
A corrupção afeta largamente os países mais vulneráveis — de onde sai a maior parte do dinheiro roubado para os paraísos fiscais nos EUA, Reino Unido,
Suíça. É uma espécie de Robin Hood às avessas.
Afeta o crescimento da economia, gera desigualdade, rouba empregos, interfere em todos os aspectos da
vida, como acesso a transporte público, eletricidade,
educação, saúde. Mas, principalmente, corrói a credibilidade dos governos e confiança nas instituições, inclusive na polícia e na Justiça, e afeta os padrões de ética dos cidadãos. Em última instância, distancia-os do
Estado e cria espaço para que grupos criminosos ocupem o vácuo — do Afeganistão à Síria ao Brasil.
Segundo o Fundo Monetário Internacional, a corrupção rouba da economia global US$ 2 trilhões por ano. É
equivalente a 200 vezes o que os países ricos prometeram no ano passado para responder à crise na Síria e
103 vezes o valor anual (US$ 19,3 bilhões) pedido pela
ONU para atender a todas as crises humanitárias juntas.
No ano passado, apenas 56% desse valor foi financiado.
O déficit foi tema central da Cúpula Mundial Humanitária, que embora tenha reunido pessoas de 173
países, não contou com a presença de nenhum chefe
de Estado ou governo. Do labirinto de 200 salas onde
se deram encontros paralelos saíram mais promessas
que, como outras, continuarão sendo descumpridas.
E temas cruciais, como a violação sistemática de governos às leis internacionais, principalmente na crise
de refugiados, foram ignorados. O sistema internacional vive uma crise de credibilidade e de responsabilidade, que precisa ser atacada, sob pena de ruir. l
-BUENOS AIRES- Após sofrer uma arritmia cardíaca, o presidente argentino, Mauricio Macri, foi internado às pressas ontem em
Buenos Aires. Ele foi levado a
uma clínica do bairro portenho
de Olivos após sentir um desconforto durante um encontro
com jornalistas. Macri, de 57
anos, passou por um procedimento de precaução chamado
arteriografia, uma espécie de
radiografia dos vasos sanguíneos. Ele foi internado numa unidade de tratamento coronariano e tinha expectativa de liberação em poucas horas.
“Ao concluir a atividade prevista, por volta das 19h30m, a Unidade Médica Presidencial decidiu realizar uma revisão na Clínica Olivos”, diz um comunicado
emitido pela Casa Rosada. “Após
constatar que a arritmia fora revertida, foi decidido que o presidente permaneceria no local por
mais algumas horas para observação”.
Durante a tarde, funcionários
do governo haviam negado que o
presidente tivesse tido qualquer
problema de saúde, e divulgaram
imagens do encontro, reproduzidas pela revista “Caras”. De acordo com o jornalista Walter Curia,
um dos presentes, "Macri não
demonstrou nenhum mal-estar,
apenas parecia mais cansado".
HERANÇA KIRCHNERISTA
O problema aconteceu no
mesmo dia em que foi divulgado um informe minucioso sobre a herança recebida dos go-
AFP/2-6-2016
Emergência. Macri e o ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier
vernos kirchneristas (20032015), que revela centenas de
dívidas com fornecedores e
empresas contratadas, obras
interrompidas por falta de verba e desvios de fundos durante
o governo da ex-presidente
Cristina Kirchner. Seu gabinete
também gastou, segundo o informe, mas de 2,2 bilhões de
pesos (R$ 558 milhões) em publicidade oficial, o dobro do
aprovado pelo Congresso.
Com 219 itens, o relatório “Estado do Estado” — publicado
na página oficial da Casa Rosada — indica que, quando Macri
assumiu, em dezembro do ano
passado, os cofres públicos es-
tavam “em um estado de quase
paralisia e sufocados por uma
situação macroeconômica cada
vez mais delicada”.
No documento, também aparecem contratações e pagamentos para a construção de casas
que nunca foram feitas — ou foram construídas em áreas sem
serviços básicos, que não eram
habitáveis. “Apenas em 2015,
13,544 bilhões de pesos (R$ 3,435
bilhões) destinados a habitações
foram gastos em obras que nada
tinham a ver com a construção
de casas. Além disso, em dezembro de 2015, as obras financiadas
pelo Estado levavam cinco meses
paralisadas”.
Na área de educação, o documento mostra que o governo devia mais de 3 bilhões de pesos
(R$ 760 milhões) a universidades, e professores de sete províncias recebiam menos que o salário mínimo. O Ministério de Desenvolvimento Social, por sua
vez, tinha dívidas de 500 milhões
de pesos (R$ 126 milhões).
O governo Macri também
encontrou, ao assumir, “forças
de segurança mal equipadas e
remuneradas.
“Em dezembro de 2015, o Estado não sabia nem quantas armas tinha, onde elas estavam e,
pior, quem as tinha”.
PATRIMÔNIO DE CRISTINA SUBIU
Em outra revelação do seu último ano como presidente, Cristina aumentou seu patrimônio
em 20%, segundo relatório do
Escritório Anticorrupção obtido
pelo jornal “La Nácion”. A exmandatária, que tem sete imóveis em seu nome, declarou 77
milhões de pesos (cerca de R$
19 milhões), 13 milhões a mais
que os 64 milhões registrados
na declaração do ano anterior.
Ela e o filho Máximo foram
acusados formalmente de aceitar
subornos em atividades criminosas investigadas no caso Los Sauces — por supostamente receber
propina de Lázaro Báez e Cristóbal López, vencedores de licitações de obras públicas. A ex-presidente já não tem mais uma dívida com a companhia construtora de Lázaro, preso há dois meses por lavagem de dinheiro. l
AFP
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2
3
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Tragédia. Equipe do Crescente Vermelho retira cadáveres de imigrantes em praia na cidade de Zuwarah. Mais de cem pessoas se afogaram durante travessia
Centenas de desaparecidos após naufrágio
Guarda Costeira
grega resgata 340; na
Líbia, 104 corpos
são encontrados
Centenas de refugiados
e imigrantes foram resgatados
de um barco que naufragou no
Mediterrâneo durante uma
enorme operação da Guarda
Costeira grega nas imediações
da ilha de Creta. Segundo o porta-voz do órgão, Nikos Lagadianos, pelo menos 340 pessoas foram resgatadas, mas a Organização Internacional para as Migrações (OIM) afirma que o barco deixou a África com pelo menos 700 imigrantes a bordo, o
que representaria centenas de
refugiados mortos ou não registrados. Pelo menos quatro mortes foram registradas pelas autoridades gregas.
As equipes de busca e resgate
incluíram quatro navios que seguiram para o local do naufrágio, a cerca de 140 quilômetros
-ATENAS-
de Creta, em território que seria
de responsabilidade do Egito.
As autoridades gregas não souberam precisar as nacionalidades dos resgatados, ou mesmo o
local de partida da embarcação,
feita de madeira.
— Pelos relatos que ouvimos
dos resgatados, o barco partiu
da Costa da África — afirmou
Lagadianos. — As informações
que temos a respeito do número de pessoas no barco ainda
são pouco claras. Ouvimos que
o barco poderia ter entre 400 e
500 passageiros, mas esse número não pode ser confirmado.
Com a aproximação do verão,
traficantes de seres humanos
tentam aproveitar o bom tempo
para realizar a travessia entre a
África e a Europa, o que dificulta os esforços das autoridades
para precisar quantos barcos
estão partindo diariamente da
Líbia e quantos conseguem
chegar a seu destino final. Segundo Frederico Soda, que comanda o escritório da OIM em
Roma, o bom tempo também
estimula o uso de barcos de madeira, que são capazes de carregar um número de passageiros
consideravelmente superior ao
dos botes de borracha.
A maior parte dos sobreviventes foi levada pelo navio norueguês Clipper Hebe, que auxiliou
as equipes gregas, ao porto de
Augusta, na Sicília. Outros refugiados resgatados seguiram para o Egito e para Malta.
SEMANA TRÁGICA
Enquanto a Guarda Costeira
grega trabalhava no resgate
nos arredores de Creta, na costa da Líbia, equipes da Crescente Vermelha retiravam corpos de imigrantes que se afogaram em águas próximas à cidade de Zuwarah, no Oeste do
país. Segundo o porta-voz da
organização Mohammed alMosrati, entre os mortos há 75
mulheres, seis crianças e 36
homens.
— Até quinta-feira à noite,
encontramos 104 corpos de
migrantes, mas tememos que
o balanço aumente — afirmou
o coronel Ayub Qasem, portavoz da Marinha da Líbia.
O porta-voz da Guarda Costeira de Trípoli disse que nenhum
barco de imigrantes foi interceptado nos últimos dois dias, e os
mares mais revoltos impediram
a saída de patrulhas.
De acordo com al-Mosrati,
os corpos encontrados não estavam em estado de decomposição, o que indicavam que
eles deveriam ter se afogado
nas últimas 48 horas. O portavoz lembrou que os fortes ventos e as correntes marítimas
podem ter deslocado os corpos, o que dificultaria a tarefa
de determinar onde o naufrágio teria acontecido.
Mais de mil pessoas já se afogaram tentando cruzar o Mar
Mediterrâneo desde 25 de
maio. O acordo entre a Turquia
e a União Europeia reforçou a
segurança no Mar Egeu, obrigando migrantes a se arriscarem na travessia a partir do
Norte da África l
l Mundo l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
l 27
França prevê prejuízo bilionário com inundações
Chuvas já obrigaram mais de 20 mil a deixarem suas casas no país, que vai decretar estado de catástrofe
-PARIS- Enquanto a França adota
medidas para lidar com as fortes
chuvas que assolam o país, causando enchentes em diversas cidades da região central, a Associação da Indústria Francesa de
Seguros (AFA, na sigla em francês) calcula que o prejuízo com
as inundações deve superar os
registrados nas cheias do ano
passado, que custaram € 600 milhões às seguradoras. Ontem o
nível do Rio Sena se aproximou
de 6,5 metros, superando os 6,15
metros registrados durante a enchente de 1982, e se aproximando mais do recorde de 8,68 metros, registrado em 1910.
— É muito provável que os
custos sejam maiores do que os
das inundações de outubro, que
causaram danos avaliados em €
600 milhões — afirmou o presidente da AFA, Bernard Spitz.
A enchente obrigou museus
como o Louvre e o d’Orsay a fecharem suas portas para garantir
que obras de arte de valor inestimável pudessem ser deslocadas
com segurança. Tanto o tráfego
de barcos quanto uma linha de
metrô que acompanha o curso
do rio estão suspensos. Ao longo
do Sena, autoridades ergueram
barreiras de segurança, e moradores das casas nas margens do
rio foram orientados a esvaziarem seus porões. Na estação de
mêtro Pont-Neuf, agentes de segurança utilizaram sacos de areia
para proteger o local de inundações, enquanto no subúrbio de
Longjumeau, equipes de resgate
usaram canoas e caiaques para
percorrer as ruas alagadas.
Além do corpo de uma mulher
de 86 anos, encontrado numa
casa inundada em Souppes-surLoing, na quinta-feira, um homem que cavalgava se afogou
depois de ser arrastado pela
água que transbordou de um rio
em Evry-Gregy-sur-Yerre, ao sul
de Paris. Pelo menos 15 mortes
em decorrências das chuvas na
Europa já foram registradas, em
países como Romênia e Bélgica.
No Sul da Alemanha, seis pessoas morreram na região de Simbach, incluindo três mulheres
que ficaram presas em uma casa
alagada. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, enviou condolências às famílias.
Alguns vilarejos no centro da
França enfrentaram as piores enchentes em um século, e a ministra do Meio Ambiente, Ségolène
Royal, afirmou temer que mais
corpos sejam encontrados quando o nível das águas baixar — o
que pode demorar semanas, segundo especialistas. Mais de 20
mil pessoas foram obrigadas a se
deslocar devido às cheias e, de
acordo com a companhia elétrica Enedis, mais de 19 mil lares estão com o fornecimento de energia cortado em todo o país.
Já em Paris, a prefeita Anne Hidalgo ordenou o fechamento de
parques e pôs ginásios à disposição para abrigar vítimas da enchente. Segundo a prefeita, as
inundações já causaram problemas à economia da cidade, mas
nenhum cidadão foi deslocado
da capital. O Ministério do Meio
Ambiente, entretanto, já admite
a possibilidade de cortes no fornecimento de energia e eventuais deslocamentos de moradores em Paris. O presidente francês, François Hollande, afirmou
que um estado de catástrofe natural será decretado após uma
reunião da equipe de governo
na próxima quarta-feira.
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
Cientistas entrevistados pela Associated Press concluíram que
as enchentes que assolam a Europa são um claro sinal de aquecimento global. De acordo com
Chris Field — que coordenou a
elaboração de um relatório para
o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em
2012 —“uma atmosfera mais
quente é capaz de reter mais
água, e como consequência, as
chuvas tornam-se mais pesadas”.
Já Michael Oppenheimer, da
Universidade de Princeton, foi
mais duro em sua previsão:
— Chuvas fortes? Inundações? Acostumem-se! Com as
mudanças climáticas, essa é a
nova realidade. l
JEROME DELAY/AP
Curiosos. Multidão na Ponte de Alma observa aumento no volume do Rio Sena, em Paris. Nível das águas já superou o registrado durante a enchente de 1982
PASCAL ROSSIGNOL/REUTERS
Memória
A HISTÓRICA
ENCHENTE QUE
MARCOU PARIS
Perigo. Carro abandonado na margem do Sena é submerso pela inundação
Eleição expõe cenário de caos em Roma
Candidata de
movimento
antissistema surge
como favorita
-ROMA- Uma greve de 24 horas
que deixou o centro histórico
repleto de pilhas de lixo; um sistema de transporte ineficaz,
que deixa boa parte da periferia
da cidade praticamente inacessível e que coleciona dívidas
que ultrapassam €1 bilhão; ruas
e estradas esburacadas que já
causaram 1.400 acidentes automobilísticos desde o início do
ano; um histórico de ligações da
prefeitura com o crime organizado que forçou o então prefeito Ignazio Marino a renunciar
no fim do ano passado; e um
acúmulo de dívidas que se es-
tende por décadas e hoje ultrapassa €12 bilhões. Esse é o legado que o aguarda o próximo
prefeito de Roma, que será escolhido nas urnas amanhã.
A frustração com os partidos
tradicionais deu espaço para o
crescimento do Movimento Cinco Estrelas (M5S, na sigla em italiano) — uma das principais legendas antiestablishment da
Europa. Sua candidata, a advogada Virginia Raggi, surge como
a favorita nas pesquisas, com
pelo menos cinco pontos percentuais de vantagem sobre Roberto Giachetti, do Partido Democrata, que busca se recuperar
após o escândalo envolvendo
Marino, da mesma legenda,
afastado por irregularidades na
contabilidade municipal.
— Meu nome e minha trajetória são garantias de competên-
U
cia e honestidade — diz Giachetti. — E os romanos compreendem o enorme esforço que
fizemos para limpar o partido.
TESTE DE FOGO PARA O M5S
Analistas acreditam que uma
vitória de Raggi na capital poderia impulsionar o M5S rumo a
uma inédita vitória nas eleições
nacionais. No entanto, a dificuldade da tarefa também representa um risco para as aspirações políticas do novo partido.
— Até agora, o M5S só governa cidades pequenas, atuando
como uma das principais forças de oposição em nível nacional — disse ao “Wall Street
Journal” Franco Pavoncello,
professor de Ciência Política
na Universidade John Cabot.
— Roma, para o bem ou para o
mal, será seu teste de fogo.
Ciente da descrença do eleitorado nos políticos após os escândalos, Raggi tem apostado na
transparência como principal
bandeira, afirmando que o M5S
“não deve favores a ninguém” e
“tem as mãos livres para limpar a
cidade”. Seus detratores, no entanto, se concentram em dois
pontos para tentar impedir sua
vitória: sua passagem pelo escritório de advocacia de Cesare Previtti, ex-ministro de Silvio Berlusconi condenado por corrupção; e
sua falta de experiência para governar o “monstro” em que se
transformou a capital italiana.
— Os políticos experientes foram suficientemente maduros
para governar Roma? Claro que
não. Nós, que governamos com
os cidadãos, estamos preparados para mudá-la e levá-la de
volta ao normal — rebateu ela. l
A enchente no Rio Sena de
1910 foi a maior catástrofe natural
do século XX em Paris. A
inundação na capital francesa e
nos arredores deixou cinco mortos.
As fotografias mostram ruas cheias
de água e grandes jardins
transformados em lagos.
Em sete dias, o rio variou entre
os 4 metros de profundidade e o
seu máximo histórico: 8,62
metros, atingidos em 28 de
janeiro. Na periferia, a água tomou
fábricas e armazéns. Da noite para
o dia, milhares de trabalhadores
ficaram sem suas fontes de renda.
No total, mais de 14 mil edifícios
foram afetados em toda a capital. Os
danos equivaleriam, hoje, a 380
milhões de euros. Nem mesmo os
porões do Palácio Bourbon, sede da
Assembleia Nacional, escaparam.
No centro de Paris, a enchente
atual ainda está longe disso. A
estátua usada como referência para
medir o nível do Sena, o Zuavo, na
Ponte de Alma, tinha ontem a água
na altura do quadril. Em 1910, a
água chegava aos ombros.
Na inundação histórica, o Sena só
recuperou seu curso em 15 de
março. O metrô foi reaberto em
abril. Animais foram transferidos a
uma área distante — uma operação
que resultou na morte de uma
girafa, o mascote dos parisienses. E,
só após mais algumas semanas, a
vida na cidade voltou ao normal.
AFP/19-5-2016
Favorita. A
candidata do
Movimento
Cinco Estrelas,
Virginia Raggi,
despontou nas
pesquisas
sobre a eleição
para a
prefeitura de
Roma após
escândalo
envolvendo o
então prefeito
Ignazio Marino,
do Partido
Democrata.
Ela rebate
acusações de
inexperiência
ao prometer
transparência
28
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
Sociedade
EDUCAÇÃO
Pente-fino nas bolsas
_
MEC vai avaliar eficácia de 830 mil benefícios, no valor de R$ 1,1 bilhão, e não descarta cortes
RENATA MARIZ
[email protected]
PAULA FERREIRA
[email protected]
-BRASÍLIA E RIO- O Ministério da Educação (MEC)
vai passar um pente-fino em cerca de 830 mil
bolsas ofertadas pela pasta de forma pulverizada, por meio de mais de dez programas vinculados a diferentes diretorias, ao custo de R$ 1,1 bilhão por ano. O levantamento do total desses
benefícios foi feito pela nova cúpula do ministério, que assumiu após o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Agora, a equipe vai observar com lupa os incentivos para identificar
aqueles que, eventualmente, não estão sendo
bem aplicados. Especialistas em educação elogiam a iniciativa, mas pedem cautela quanto
aos critérios de avaliação e estão preocupados
com a possível extinção dos recursos. Além disso, os educadores destacam a necessidade de
conduzir o processo de maneira transparente.
O alvo principal da verificação são 690 mil
bolsas destinadas a professores e gestores do
ensino básico. O restante, algo em torno de
140 mil bolsas, também deverá passar pelo
mesmo processo, mas como beneficia basicamente estudantes, a ordem é deixá-las para
um segundo momento. A equipe não descarta fazer cortes e vai se debruçar sobre os programas com gastos mais expressivos para verificar sua gestão e, principalmente, indica-
dores de melhoria na educação.
Outro fator que levou a pasta a priorizar a reO pente-fino foi determinado pelo ministro da visão dos benefícios destinados à formação de
Educação, Mendonça Filho, nomeado mês passa- professores foi o último programa na área lando pelo presidente interino, Michel Temer. A rela- çado pelo ex-ministro Aloizio Mercadante. Em
ção de bolsas apontadas no levantamento é exten- março, ao apresentar dados mostrando que cersa. Há incentivos de R$ 200 a R$ 800 pagos a volun- ca de 40% dos docentes da rede pública não são
tários que atuam como alfabetizadores de jovens e formados na disciplina em que lecionam, Meradultos dentro do programa Brasil Alfabetizado, cadante anunciou 105 mil vagas gratuitas de lipor exemplo. Na iniciativa Escola da Terra, cujo cenciatura a esses profissionais para o segundo
objetivo é qualificar os professores do
semestre deste ano.
U
campo, os valores variam de cerca de R$
Distribuídas por cursos a distância
750 a R$ 1,1 mil. O Saberes Indígenas na
ofertados pela Universidade Aberta do
Números
Escola, para formar os docentes das aldeiBrasil (81 mil vagas), pelos institutos feas, tem bolsas de R$ 200 para o professor,
derais (4 mil) e nas universidades públiaté R$ 1,5 mil, para o coordenador do pro690 MIL cas de todo o país (20 mil), o programa
jeto, que é ligado a uma instituição de enteve pouco mais de três mil interessaAUXÍLIOS
sino superior. No Pacto Nacional pela Aldos — 2,8% do total de vagas.
São
fabetização na Idade Certa, as bolsas varidestinados a
am de R$ 200 a R$ 1,5 mil, dependendo da
ESPECIALISTAS PEDEM CAUTELA
professores e
função do profissional de educação.
Para a especialista em educação Cleuza
gestores do
Entre as críticas da nova cúpula do
Repulho, a medida é importante, mas deve
ensino
MEC à administração do PT está a forser feita com cuidado. Ela questiona quais
básico.
ma de gerir os programas. Embora recoserão os critérios para considerar que um
nheça que cada bolsa tem uma lógica
projeto teve, ou não, um bom resultado. A
própria de funcionamento, a dispersão
140 MIL educadora destaca ainda que é importante
das iniciativas dentro da pasta poderá
assegurar que o recurso continue na pasta
INCENTIVOS
ser revista. Desde que assumiu, no ene seja investido em outra frente.
São para
tanto, a nova equipe vem pisando em
—É preciso saber quais os critérios
estudantes, e
ovos sobre mudanças radicais, especiusados para efetivação das bolsas. Quais
devem ser
almente em programas de grande resão? Se o Ideb da turma de determinado
revistos em
percussão social, como o Fies e Pronaprofessor aumentou? É preciso ver quanum segundo
tec, que beneficiam estudantes.
to tempo esse professor está lá, por
momento.
exemplo. É muito difícil estabelecer um critério
para dar ou tirar uma bolsa. E caso haja cortes,
que esse recurso continue na Educação em outros projetos, principalmente na educação básica.
Há criança esperando creche, vaga na pré-escola
— argumenta Cleuza. — Se tem problema, é importante avaliar , mas a questão é redirecionar esse investimento. O programa PIBID, por exemplo,
tem ajudado professores que estão em formação
e tem dado muito certo.
A superintendente do “Todos Pela Educação”,
Alejandra Meraz Velasco, aprova a iniciativa,
mas destaca que é necessário transparência:
— Precisamos entender como vai ser essa avaliação. É necessário fazer a verificação não só em um
nível operacional de como os recursos estão sendo
utilizados, mas levar em conta o impacto que a bolsa tem no sucesso dos programas. O importante é
que essa avaliação seja transparente. Ações para
aperfeiçoar a gestão e otimizar recursos são bemvindas, mas a educação precisa ser preservada.
Na esteira da reforma administrativa determinada pela presidente afastada Dilma Rousseff,
que previa a extinção de 20% dos cargos comissionados da pasta, o MEC vai diminuir o número destes postos e reduzir estruturas. Das sete
secretarias da pasta, a que mais perderá musculatura é a Secadi, de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Não pela
importância, argumentam os novos gestores,
mas por ter cinco diretorias em vez de três, como nas demais secretarias. l
Diretor-geral do
Impa vence
Prêmio Louis D.
RETORNO À CIVILIZAÇÃO
KYODO/ REUTERS
Marcelo Viana é o primeiro
brasileiro a ganhar a maior
láurea científica da França
CESAR BAIMA
[email protected]
Diretor-geral do Instituto Nacional de
Matemática Pura e Aplicada (Impa), Marcelo Viana é um dos vencedores da edição deste ano do Grande Prêmio Científico Louis D., apontado atualmente como
a mais prestigiosa láurea científica da
França. Concedido desde 2000 pelo Institut de France, congregação das cinco
mais importantes, e seculares, academias
francesas, esta é a primeira vez que o prêmio vai tanto para um brasileiro quanto
para um matemático. A cerimônia de entrega está marcada para a próxima quarta-feira, dia 8 de junho, em Paris.
Viana vai dividir a honraria — e os 450
mil euros (cerca de R$ 1,8 milhão) que
vêm com ela — com o francês, e também
matemático, François Labourie, da Universidade de Nice. Ambos se destacaram
por seus trabalhos na área de geometria e
sistemas dinâmicos, tema da edição deste
ano, e pelos projetos apresentados na sua
inscrição, já que 90% do valor do prêmio
devem ser aplicados em pesquisa e apenas 10% ficam com os vencedores.
— É uma distinção acadêmica enorme e
um reconhecimento do trabalho que fazemos aqui no Impa — comemora Viana,
acrescentando que o dinheiro do prêmio
também vem em boa hora. — Estes recursos são muito bem-vindos na situação atual. Com ele, vamos financiar durante quatro a cinco anos um projeto de colaboração que vai contar com a participação de
12 jovens matemáticos, metade brasileiros
e metade franceses, para estudo de sistemas dinâmicos. Além disso, vou abrir espaço para outros matemáticos brasileiros
e franceses apresentarem propostas de
pesquisas colaborativas em outras áreas.
“Longe demais”. Takayuki Tanooka, pai de Yamato, admitiu à imprensa local ter cometido excessos ao abandonar o filho e prometeu ser um pai melhor daqui para frente
Instinto de sobrevivência
Menino de 7 anos deixado na estrada pelos pais, como forma de punição, é reencontrado depois de passar
seis dias na floresta sozinho, bebendo água e dormindo entre dois colchões de abrigo militar desocupado
A
ssim que encontrou, por acaso, o
menino japonês de 7 anos que ficou
perdido na floresta durante seis dias, o militar responsável pelo retorno de Yamato Tanooka à civilização deu a ele
dois bolinhos de arroz. Faminto, o garoto devorou a comida. Segundo o soldado, a criança estava numa cabana militar a seis quilômetros do local onde foi deixado.
Seis dias depois de ter sido abandonado na floresta por seus pais, que queriam lhe dar uma lição, o garoto não derramou nenhuma lágrima
ao ser encontrado ontem (quinta à noite no Brasil). Seu retorno foi celebrado no Japão, cuja população estava em suspense desde a notícia do
desaparecimento, que gerou intensas discussões
sobre como educar crianças com disciplina.
Militares expressaram admiração pela perseverança de Yamato, que subiu uma encosta
íngreme para chegar à cabana. Ele estava desidratado e com arranhões em braços e pernas, mas nada grave, segundo os médicos.
No último sábado, com o objetivo de repreendê-lo por atirar pedras em outras pessoas, os pais de Yamato pararam o carro no
meio de uma estrada na ilha de Hokkaido, à beira de uma floresta habitada por ursos, e deixaram o menino lá. Minutos depois, quando voltaram, não encontraram a criança.
Yamato caminhou alguns quilômetros, até encontrar uma cabana desocupada numa área de
escavação militar. A porta estava aberta, não havia eletricidade ou comida, mas ele dormiu aninhado entre colchões no chão, para se aquecer,
e bebeu água de uma torneira do lado de fora da
cabana durante dias, segundo a imprensa local.
PAIS NÃO ESTÃO SOB INVESTIGAÇÃO
Enquanto isso, uma grande operação de busca, que envolveu 180 pessoas e cães farejadores, não encontrou pistas do menino. O soldado que o encontrou não fazia parte da
equipe, mas, ao ser visto por ele,
Yamato logo se identificou.
Na porta do hospital para
onde o menino foi levado de
helicóptero, o pai de Yamato
pediu desculpas, agradeceu
a todos e prometeu ser um pai
melhor daqui para frente. Ele a a
mãe da criança não estão sob investigação pelo ocorrido.
— Meu ato excessivo forçou meu filho a viver momentos muito difíceis. Fomos longe
demais — admitiu Takayuki Tanooka, que
pediu desculpas às equipes de resgate e a todos “por ter criado tantos problemas”, antes
de contar sobre o reencontro com o menino:
— Pedi perdão. Ele assentiu com a cabeça.
Seus lábios estavam um pouco secos. É extraordinário que esteja são e salvo. l
Vitória.
Yamato, de
7 anos,
sobreviveu
por seis
dias na
floresta
KYODO/REUTERS
-TÓQUIO-
CRÍTICAS À FUSÃO DE MINISTÉRIOS
E a alegria de Viana não é à toa. Assim como muitos outros cientistas brasileiros, ele
está preocupado com os crescentes cortes
nos investimentos em pesquisas no país e
a recente fusão do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) com o das
Comunicações promovida pelo presidente interino Michel Temer.
— O MCTI era uma história de sucesso,
um time que estava ganhando e mexeram
— lamenta. — Já estamos sofrendo com o
corte de verbas e esta fusão, artificial, será
ainda pior para a ciência. Foi uma ideia
muito ruim juntar o ministério com o das
Comunicações, que na realidade não tem
nada a ver com ciência e pesquisa. l
O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016 3ª Edição
l 29
Esportes
Obituário
_
Muhammad Ali, 74 anos.
O maior boxeador de todos os tempos
Medalhista olímpico, campeão mundial e ativista, lutador se recusou a ir à Guerra do Vietnã
“E
u odeio esse urso velho,
grande e feio.” O desafio
de Cassius Marcellus
Clay ao ex-presidiário e
campeão dos pesos-pesados Sonny Liston já continha o tom provocativo que se
tornou marca registrada. Em 25 de fevereiro de 1964, Clay, aos 22 anos, enfrentava um oponente maior, mais forte e mais
experiente, porém menos ágil e menos
inteligente. A maioria dos 8.927 espectadores duvidava que Clay passasse do primeiro assalto e poucos viram o soco com
que o desafiante derrubou Liston no sexto round: foi rápido demais.
Liston era o franco favorito na bolsa de
apostas e o vitorioso Clay foi à forra:
“Agora comam suas palavras. Ajoelhemse diante de mim". Seu primeiro título
mundial iniciou a era do boxe espetáculo.
Quando estreou como profissional, em
outubro de 1960, Clay acabara de conquistar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Roma. Em 61 lutas profissionais,
perdeu apenas cinco. No mesmo ano do
primeiro título mundial, Clay anunciou
sua conversão ao islamismo e mudou o
nome para Muhammad Ali.
Em 1967 foi proibido de lutar e teve
seus títulos anulados por se recusar a servir o Exército e ser contra a Guerra do Vietnã. A Suprema Corte anulou as punições em 1970, mas Ali perdeu a primeira
tentativa de reconquistar a faixa para Joe
Frazier. No dia de 8 de março de 1971,
com transmissão pela TV no Brasil, Frazier manteve o título mundial e derrotou
Ali numa luta emocionante no Madison
Square Garden em Nova York, do primeiro ao último minuto.
Foi o primeiro duelo entre os dois pugilistas: Frazier, um ex-açougueira, e Ali,
neto de escravo foragido. No 15º assalto,
o demolidor Frazier levou o adversário à
lona e só com extremo sacrifício Ali conseguiu ir até o final da luta, considerada
por alguns como "A luta no século", conforme relatou O GLOBO na edição do dia
seguinte.
Em 1973, Ali dobrou-se ante Ken Norton, mas no ano seguinte, arrasou Frazier
e recuperou o título contra George Foreman. Muhammad Ali acabou encontrando seu maior adversário no Mal de
Parkinson, doença agravada pelo muitos
socos recebidos ao longo da carreira.
Nascido na cidade de Louisville, em
Kentucky, nos Estados Unidos, com o
Conquista. Muhammad Ali venceu George Foreman na “Luta do século”
REUTERS
Título. Muhammad Ali nocauteia o adversário Sonny Liston, em 1964, e ganha o seu primeiro título mundial
“Aquele que não
tem coragem
suficiente para
aceitar riscos,
não irá conquistar
nada na vida.”
nome de Cassius Marcellus Clay Jr, deu
seus primeiros socos no boxe quando tinha 12 anos de idade. Na época, teve sua
bicicleta nova, presente do pai, roubada. Falando com um policial, Joe Martin, que também era treinador de boxe,
disse que daria uma surra no ladrão e
ouviu: “Antes disso, é melhor você
aprender a boxear”. O garoto Cassius
não perdeu tempo, e depois de seis meses treinando com Martin, venceu sua
primeira luta de boxe.
Ainda como amador, Cassius Clay conseguiu seu primeiro grande feito aos 18
anos, quando conquistou a medalha de
ouro na Olimpíada, na categoria meiopesado, ao ganhar na final do experientepolonês Zbigniew Pietrzykowski.
Na volta aos EUA, apesar de ter sido
Serena a um título de Steffi Graf
PHILIPPE LOPEZ/AFP
Com 21 títulos de Grand
Slam, americana vai à
final em Paris e pode
alcançar a lenda alemã
Mais uma final. Serena devolve a bola na vitória sobre holandesa na semi
DJOKOVIK X MURRAY
Entre os homens, o número 1
do tênis, Novak Djokovic, terá
pelo terceiro ano consecutivo a
chance de conquistar Roland
Garros, o único título de Grand
Slam que lhe falta. O sérvio já
venceu 11 vezes, somando
Aberto da Austrália, dos EUA e
Wimbledon, e perdeu três finais (2012, 2014 e 2015) no saibro francês.
Seu rival vai ser o mais habitual das últimas finais, o britânico
Andy Murray. Esta será a sétima
decisão de Grand Slam entre os
dois, e o placar aponta vantagem de 4 a 2 para Djokovic.
Na semifinal, o sérvio atropelou o jovem austríaco Dominic Thiem, que chegou ao torneio como 15º do ranking e fez
surpreendente campanha. Ontem, seu sonho acabou numa
derrota por 3 a 0 para o sérvio
(6/2, 6/1 e 6/4).
Na outra semifinal, Murray,
número 2 do mundo, bateu o
atual campeão de Roland Garros, Stan Wawrinka, por 3 a 1
(6/4, 6/2, 4/6 e 6/2). l
por nocaute. Outra luta histórica foi nas
Filipinas, ao derrotar novamente Joe
Frazier em 1975. Depois, perdeu o título
em 1978 para Leon Spinks, e o recuperou
ao bater o mesmo lutador e se aposentou. Fora do boxe, revelou que sofria do
Mal de Parkinson em 1984, e usou a fama para ajudar nas pesquisas. Ali ganhou diversos prêmios e condecorações
pelos seus feitos e foi eternizado em livros e filmes. Muhammad Ali morreu na
madrugada de hoje, aos 74 anos, em um
hospital de Phoenix, no Arizona. l
NA WEB
ACERVO O GLOBO
Flamengo e Bauru fazem hoje, às 14h10m,
em Marília, o quarto jogo da
final do NBB. O rubro-negro
lidera a série por 2 a 1. Se
vencer hoje, garante o tetracampeonato do torneio. Rede TV e Sportv transmitem.
Se o Bauru vencer e empatar a série, a quinta partida
será no próximo sábado,
também às 14h10m, na Arena Carioca 2, na Barra.
Até aqui, os jogos foram
equilibrados: o Flamengo
venceu o primeiro (83 a 77),
e o Bauru, o segundo (85 a
80). Na terceira partida, disputada no dia 28 de março,
o time carioca chegou a
abrir 18 pontos de vantagem, mas acabou vencendo
por apenas 89 a 85.
— Os dois times se conhecem muito bem e sabem o
que o outro vai fazer. Por isso, vai depender da intensidade durante o jogo e no ob-
acervo.oglobo.globo.com
Na Luta do Século, Ali
vence Foreman em 74
Flamengo pode conquistar
o tetra do NBB hoje
-MARÍLIA, SP-
traliana Samantha Stosur também por 2 a 0 (6/2 e 6/4).
Encontro. Joe Frazier e Muhammad Ali em pose relembrando velhos desafios
recebido com festa por uma multidão
em sua cidade-natal, um fato marcou a
sua batalha pelos direitos dos negros e
igualdade racial. Em sua biografia, conta que entrou em um restaurante cheio
de brancos, pediu um hambúrguer, mas
não foi atendido. “Sou Cassius Clay,
campeão olímpico”, explicou. A alegria
deu lugar à decepção, e o boxeador acabou jogando a sua medalha olímpica
no Rio Ohio.
Em 1964, após vencer Sonny Liston,
em Miami, e se tornar campeão mundial
dos pesos-pesados, grita: “Eu sou o maior”. Pouco depois disso, chegou a se aliar
a Malcom X, defensor do nacionalismo
negro. Em 1974, na hoje República Democrática do Congo, após apanhar quase toda a luta, venceu George Foreman
Atual tricampeão,
rubro-negro lidera a
série final contra o
Bauru por 2 a 1
-PARIS- Uma das marcas aparen-
temente inalcançáveis do tênis
pode ser igualada hoje, a partir
das 10h. A americana Serena
Willians, detentora de 21 troféus de Grand Slams, entra em
quadra para fazer a final de Roland Garros contra a espanhola Garbiñe Muguruza, que
nunca venceu um dos quatro
principais torneios do mundo.
A Bandsports transmite.
Se conquistar pela quarta
vez na carreira o Aberto da
França, Serena igualará os 22
Grand Slams da lendária tenista alemã Steffi Graf. A recordista histórica de slams é a australiana Smith Court, com 24 troféus. Uma marca bastante possível de ser alcançada pela
americana.
Para chegar à decisão, a
americana derrotou ontem a
holandesa Kiki Bertens, que
apesar de ser apenas a 58ª do
mundo, vendeu caro a derrota
por 2 sets a 0 (7/6 e 6/4).
Na outra semifinal, a espanhola Muguruza venceu a aus-
AFP
NEIL LEIFER
jetivo que traçamos — avaliou
o pivô JP Batista, do Flamengo.
— Sabemos que o ginásio estará lotado aqui em Marília, mas
sabemos passar por esse tipo
de situação.
Do lado do Bauru, o receio
de que a disputa seja encerrada hoje não vai fazer com que a
equipe fique na defensiva.
— Sabemos que é matar ou
morrer. Não podemos cometer
muitos erros, mas também
precisamos de coragem para
chegar no ataque e decidir —
afirmou o ala Alex.
GOLDEN STATE SAI NA FRENTE
Nos Estados Unidos, a NBA
também está em seus momentos decisivos: Golden State
Warriors e Cleveland Cavaliers
se reencontram amanhã, às
21h (horário de Brasília) em
Oakland, na Califórnia, para o
segundo jogo da final. A ESPN
transmite.
O Golden State, atual campeão, venceu o primeiro jogo,
na quinta-feira, por 104 a 89,
mesmo com uma atuação
abaixo do esperado de seus
dois principais jogadores,
Stephen Curry e Klay
Thompson. l
Congoleses
disputarão os
Jogos do Rio
Os dois judocas integrarão
o time de refugiados criado
pelo COI para a Olimpíada
Os congoleses Popole Misenga e Yolande Bukasa, que
vivem no Brasil desde 2013,
vão disputar a Olimpíada do
Rio pelo Time dos Atletas
Olímpicos Refugiados, criado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Os nomes
dos dez escolhidos foram divulgados ontem. Além deles,
o time terá cinco atletas do
Sudão do Sul, dois da Síria, e
um da Etiópia, praticantes
de judô, natação e atletismo.
Popole e Yolande vieram
ao Rio para disputar o Mundial de judô, mas tiveram
problemas com a comissão
técnica do Congo, que confinou os dois no hotel, sem
documentos ou dinheiro.
Os refugiados participarão
da festa de abertura dos Jogos com a bandeira olímpica
e terão a queniana Tegla Loroupe, ex-recordista mundial da maratona, como chefe
de missão. Também se hospedarão na vila dos atletas. l
30
l O GLOBO
l Esportes l
Sábado 4 .6 .2016
BRASILEIRO
[email protected]
CARLOS
EDUARDO
MANSUR
Deixou chegar
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Última chance de recomeçar
FUROR INTERINO
Fla tenta conter euforia sobre Zé Ricardo sem descartar permanência no comando.
Diretor diz que clube mantê-lo-á na comissão mesmo que contrate novo técnico
O time brasileiro que estreia hoje na Copa
América, contra o Equador, tem só três
remanescentes da última Copa do Mundo. É,
disparado, o recorde de transformação
dentre as principais equipes do mundo.
Algumas delas, diga-se, fizeram Mundial pior
do que o Brasil, casos de Espanha e Itália. O
dado é revelador: época após época, a rotina
da seleção brasileira é o eterno recomeço.
GILVAN DE SOUZA/FLAMENGO
E
liminada na primeira fase em 2014, goleada
pela Holanda por 5 a 1, a Espanha vai à Eurocopa com 13 jogadores que vieram ao Brasil
— mesmo número da Itália, que também caiu na
fase de grupos há dois anos. São dois países atrás
da renovação, mas tendo como pilar uma espinha
dorsal com vivência em grandes torneios. Chamase continuidade, algo que o Brasil raramente tem.
De tão trágico que foi o desfecho da Copa em casa,
era esperada escassez de sobreviventes, embora
nem sempre desprezar experiências seja o correto.
Mas a questão não é exclusiva do atual ciclo, com
Dunga à frente. Em apenas três Mundiais o Brasil
levou dez remanescentes ou mais da Copa anterior.
Em dois deles, ganhou.
A maior dificuldade do nosso ansioso futebol é
evitar rupturas traumáticas. É cultural. Tanto que
também já vencemos com trabalhos recém-iniciados. Mas não há lição tão rica quanto a de 1994.
Tentou-se mudar tudo após fraca campanha de
1990, na Itália. No fim, o time derrotado de Lazaroni foi a base para a construção da seleção do tetra.
Aqui, vive-se a cada derrota o clamor por uma revolução. Foi o que se encomendou a Mano Menezes após a queda do time de Dunga, em 2010. O
imediatismo interrompeu o trabalho dois anos depois, e veio Felipão. Passado o desastre da Copa,
voltou Dunga. E o seu ciclo atual é cheio de transformações: da primeira convocação, há menos de
dois anos, ele conservará na Copa América só nove
nomes. Meia lista foi alterada em relação ao grupo
que, há um ano, jogou o torneio continental no
Chile. Boa parte do elenco atual vive um vestibular.
É normal que jogadores oscilem em sua forma, é
justo constatar que o último Mundial deixou uma
herança limitada para edificar o futuro. Mas é fato
que a instabilidade persegue a seleção. Em 2014,
descontada a ansiedade por ganhar a Copa em casa, previa-se que teríamos “uma geração mais madura em 2018”. Dela, pouco restou.
Os cortes em série atrapalham Dunga. Mas, dos
desfalques recentes, apenas Luiz Gustavo e Neymar estavam em 2014. Foi o técnico quem, pouco a
pouco, foi mudando de ideia quanto a Jéfferson,
David Luiz, Thiago Silva e Marcelo, por exemplo.
Ter ao menos alguns deles ajudaria na transição.
A realidade que cerca um treinador de seleção
brasileira é muito peculiar. Aqui, ainda se produz
jogador em escala com raro paralelo no mundo. Há
sempre uma nova esperança, um novo “esse aí é seleção”. E como valorizamos o individual, acreditamos que cada promessa solucionará os problemas
de um time que nunca se forma. Inebriado pelo novo candidato a herói, o país pressiona por mudanças, em especial após derrotas. É correto estar aberto a novas possibilidades, mas não promover revoluções periódicas. O momento pede definições.
A presença marcante de jovens olímpicos, traço
do grupo atual, é, segundo Dunga, mais do que um
teste para os Jogos do Rio: é a busca por novas opções. Movimento saudável, mas feito em torno de
um time titular recente, nada consolidado. Esta Copa América, que pelo calendário original simplesmente não existiria, caiu do céu para um equipe
que precisa se montar e treinar. O amistoso com o
Panamá indicou caminhos, e Dunga pode, sim, fazer o time evoluir. Philippe Coutinho tem vocação
para dar cadência a um futebol apressado, fruto da
escola brasileira recente. O esquema com volantes
leves segue na agenda de Dunga, ao menos contra
rivais menos ameaçadores. E Casemiro talvez ajude a melhorar a saída de bola.
É possível sair da campanha nos Estados Unidos
com uma seleção melhor e mais consolidada do
que entrou. É urgente que saia. Porque depois será
tarde demais para um novo recomeço. l
OS REMANESCENTES
Jogadores que disputaram a Copa do Mundo de
2014 e vão jogar Copa América ou Euro-2016
Alemanha
Itália
Espanha
França
Inglaterra
Argentina
Brasil
14
13
13
12
11
11
3
Pupilo. Autor do gol contra o Vitória, Felipe Vizeu treina no Ninho. O atacante trabalhou com Zé Ricardo no sub-20 e, juntos, foram campeões da Copa SP
EDUARDO ZOBARAN
[email protected]
Nesta vida todo mundo é interino. Essa é a filosofia adotada
pelo Flamengo para postergar
uma decisão sobre o futuro de
Zé Ricardo no cargo de treinador do time profissional. Uma
coisa, no entanto, é certa: ele
dificilmente voltará a trabalhar
com a categoria sub-20 do rubro-negro, onde estava desde
2014 antes de ser pinçado aos
profissionais, há uma semana.
— Eu não acredito que ele
voltará a trabalhar nas divisões
de base do Flamengo. Se não
ficar no cargo de treinador,
permanecerá na comissão
com um cargo de auxiliar para
ganhar experiência entre os
profissionais — opinou o vicepresidente de futebol do clube,
Flávio Godinho.
Zé Ricardo acumula duas vitórias em dois jogos. Ele levou
o time ao G-4, mas o clube tenta conter a euforia em nome do
treinador. É comum torcedores
lembrarem de outros interinos
que conquistaram sucesso no
clube. Paulo César Carpegiani,
Carlinhos, Jayme de Almeida e
Andrade fazem parte deste rol.
Garantindo ao novato um posição na comissão permanente, o clube pretende prepará-lo
para, se não dessa vez, dirigir o
time no futuro.
Para Felipe Vizeu, campeão
com Zé Ricardo na Copa São
Paulo em janeiro e autor do gol
sobre o Vitória, o treinador está concentrado e à vontade.
— Ele sempre nos pergunta o
que achamos melhor, porque
não conhece muito os jogadores mais experientes. Ele tenta
conversar o máximo um pouquinho com um, com outro,
para saber a opinião dos outros jogadores — revelou o
centroavante.
BUSCA PELO GERENTE
Se não garante a permanência
do treinador no cargo, o clube
já acena com alguma estabilidade. Além de voltar a dirigir o
CRONOLOGIA
10/11/2014 Então técnico do
Sub-15, Zé Ricardo assume o
Sub-20 do Flamengo.
25/1/2016 Zé Ricardo é
campeão da Copa São Paulo
de Futebol Júnior.
15/5/2016 Muricy Ramalho
sofre arritmia cardíaca e é
afastado do trabalho.
26/5/2016 Zé Ricardo assume
comando do elenco
profissional rubro-negro.
time amanhã, contra o Palmeiras, em Brasília, Zé Ricardo
não deve ser surpreendido
com sua saída do comando antes do jogo contra o Figueirense, no dia 12.
Antes da partida em Florianópolis, Zé Ricardo e a torcida
do Flamengo já devem conhe-
Botafogo perto da equipe ideal
VIÍTOR SILVA/SSPRESS/BOTAFOGO
Ricardo Gomes afirma
que elenco do clube
está completo e pede
regularidade na escalação
Animado com a chegada de reforços como o volante Dudu Cearense e o atacante chileno Gustavo Canales, o técnico do Botafogo, Ricardo Gomes, se diz confiante no futuro da equipe, que
enfrenta amanhã o Santos, no
Pacaembu. Ricardo afirmou ontem que o desafio agora é evitar
trocas constantes na escalação.
— É legal quando o torcedor
entra no estádio e já conhece o
time, e esse não é o nosso caso
no Brasileiro. Quando toda hora você muda a escalação, não
dá certo. A minha cobrança
aqui é para jogar oito ou dez
vezes com o mesmo time. No
Carioca, conseguimos isso,
mas jogar com quatro, cinco
ou seis mudanças tem um peso muito negativo — avaliou.
O treinador garantiu que não
acha necessário realizar novas
contratações.
— Já temos um time na teoria,
sim, e temos que fazer desses
jogadores um novo time. Não é
só os que estão chegando, mas
também os que estão aqui e se-
cer quem é o novo gerente de
futebol. O responsável pelo
cargo terá a função de se aproximar da comissão técnica e,
especialmente, dos jogadores.
O contratado deve ser um exatleta com perfil de liderança.
Ele trabalhará em conjunto
com o diretor executivo de futebol, Rodrigo Caetano.
— Estamos fazendo entrevistas. Já falamos com duas pessoas e ainda vamos nos reunir
com outras três. Em breve vamos anunciar um nome —
desconversa Godinho, que,
entre os já ouvidos, falou com
Ricardo Rocha, que já descartou a proposta rubro-negra.
Além do gerente, o clube
busca também dois zagueiros
para solucionar um problema
identificado na pré-temporada. A expectativa é que um deles, vindo do mercado nacional, esteja disponível para o jogo contra o Figueirense. O outro só poderá ser inscrito após
a abertura da janela de transferência, em 20 de junho. l
Givanildo é
demitido do
América-MG
Quatro clubes já trocaram
de técnico em cinco
rodadas do Brasileiro
Confiante. Para Ricardo Gomes, o Botafogo não precisa de novos reforços
rão recuperados para ajudar
também — afirmou.
CHILENO CHEGA AO CLUBE
O Botafogo, em 16º lugar no
Brasileiro, está com vários jogadores no departamento médico, como Jefferson, Carli,
Airton e Diogo Barbosa. Os
dois últimos têm previsão de
retorno em breve, no jogo contra o Vitória, no próximo dia 12
de junho.
Enquanto isso, o chileno
Gustavo Canales chegou ao
Rio na madrugada de ontem e
foi ao clube para realizar exames médicos.
A contratação só será oficializada depois da avaliação do departamento médico, com previsão para ser divulgada na segunda-feira, mas o jogador, de
34 anos, já posou com a camisa
do clube e deve assinar contrato
até o final de 2017. Por ser estrangeiro, Canales só poderá jogar a partir da abertura da janela de transferência internacional, no dia 20 de junho. l
Nem o título de campeão
mineiro deste ano foi suficiente para segurar Givanildo
Oliveira no cargo de técnico
do América-MG, onde estava desde setembro de 2014.
O treinador não resistiu à
derrota da noite de quintafeira para a Ponte Preta e foi
demitido ontem. O clube
mineiro é o lanterna do
Campeonato Brasileiro,
com apenas dois pontos.
Esta foi a quarta troca de
técnico em cinco rodadas
da Série A. Na quinta, o Coritiba havia anunciado o
desligamento de Gilson
Kleina. Antes, Atlético-MG
e Flamengo já haviam trocado de treinador: Muricy
Ramalho deixou o Fla por
problemas de saúde, enquanto Diego Aguirre saiu
do Galo após a eliminação
na Libertadores. Ele comandou o Atlético-MG na
estreia do Brasileiro, com
vitória sobre o Santos. l
l Esportes l
Sábado 4 .6 .2016 2ª Edição
O GLOBO
BRASILEIRO
SÉRIE B
Exorcismo
FANTASMA
DE CHAPECÓ
Vasco recebe Goiás
e quer decolagem
FICHA DO JOGO
CHAPECOENSE: Danilo,
Gimenez, Marcelo, Thiego e
Dener Assunção; Josimar
(Moisés), Cleber Santana e
Hyoran ; Lucas Gomes, Silvinho
e Bruno Rangel.
FLUMINENSE: Diego Cavalieri,
Jonathan, Gum, Henrique e
Giovanni; Edson, Douglas,
Cícero e Gustavo Scarpa;
Richarlison e Fred.
JUIZ: Ricardo Marques Ribeiro
(Fifa-MG).
LOCAL: Arena Condá (Chapecó).
HORÁRIO: 20h30m.
TRANSMISSÃO: Sportv e Rádios
Globo e CBN.
Flu mantém formação para reverter retrospecto incômodo:
nas 4 vezes em que encarou o time catarinense, só perdeu
Invicto e a três jogos
de recorde, Jorginho
pede atenção hoje em
São Januário
Invicto há 32 partidas, a
apenas três de igualar a
maior série da história do
clube sem derrotas, o Vasco
é ultrafavorito a conseguir o
acesso para a Série A do
Brasileiro do ano que vem e
mesmo para ficar com o título da Série B. Mesmo que
seja impossível rejeitar o favoritismo, o técnico Jorginho sabe que um momento
de oscilação deve vir mais
cedo ou mais tarde e quer
que o time aproveite o bom
começo para disparar na
ponta. Com quatro vitórias
e um empate nas primeiras
cinco rodadas, a equipe recebe o Goiás hoje, às
16h30m, em São Januário.
— É um momento extremamente importante, para
que possamos criar uma
gordura. Vai ser muito bom
se a gente conseguir permanecer com essa invencibilidade por mais tempo. Melhor ainda será conseguir isso fazendo bons jogos e
atingindo nossos objetivos.
Essa equipe tem encarado
todos os jogos com uma final do campeonato. Essa
também é uma das nossas
virtudes — disse o técnico
após o treino de ontem,
enaltecendo o adversário.
— Goiás tem jogadores experientes, como nós. Vai ser
um dos grandes concorrentes para ficar no G-4. É claro
que pode nos vencer.
O lateral Mádson e o meia
Andrezinho, ausente das últimas partidas por lesão,
treinaram novamente on-
NELSON PEREZ/FLUMINENSE
Força no ataque. Richarlison disputa a bola com o zagueiro Marlon em Santa Catarina: jovem de 19 segue no time titular no duelo desta noite contra a Chape
leiro, o técnico Levir Culpi repetirá uma escalação: o Fluminense será o mesmo que empatou com o Atlético-MG, em Belo
Horizonte, na última quarta-feira — teoricamente um bom resultado, mas relativizado pelo
fato de o rival ter usado um time
praticamente reserva.
— Temos mais um jogo difícil fora de casa, mas, com a
qualidade da nossa equipe, temos tudo para sair com um
bom resultado — disse o sempre otimista Gustavo Scarpa,
um dos melhores do time na
quarta-feira. — Não sei se está
faltando tranquilidade, mas temos que caprichar um pouco
mais. Fomos muito bem contra
o Atlético, criamos boas chances e não aproveitamos. Estamos no caminho certo.
No treino de ontem, Levir
mais uma vez se concentrou
nas bolas paradas. O técnico
mostrou preocupação com a
velocidade do ataque da Chapecoense, que tem Lucas Gomes — que defendia o Fluminense no ano passado —, Silvinho e o artilheiro Bruno Rangel, que já marcou seis gols em
cinco partidas e divide a artilharia do Brasileiro com Grafite, do Santa Cruz.
— O time deles é rápido, temos que tomar cuidado com o
contra-ataque quando perdermos a bola — gritou o técnico
durante o treino.
MARANHÃO NO GRUPO
Levir contará, no banco, com a
presença do meia-atacante
Maranhão, recém-contratado,
que viajou com o time. O técnico elogiou o jogador (que veio
da própria Chapecoense):
— O Maranhão tem ótima
qualidade técnica, mas ainda
não está entrosado com o elenco e com nossa forma de jogar.
Com a facilidade que tem, rapidamente vai se adaptar. Já pode
participar deste jogo, se for possível. É um ótimo jogador. l
Brasileiro - Série A
Internacional
Grêmio
Corinthians
Flamengo
Palmeiras
Chapecoense
Santa Cruz
Fluminense
São Paulo
Ponte Preta
Figueirense
Atlético-MG
Vitória
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Santos
Botafogo
Coritiba
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D
P - Pontos ganhos; J - Jogos; V - Vitórias; E - Empates;
D - Derrotas; GP - Gols pró; GC - Gols contra; N - Não jogou
acesse
140
CENTRO - RJ Av. Passos, 42, 44 e 46
SHOPPING JARDIM GUADALUPE Av. Brasil, 22.155
CABO FRIO (SHOPPING PARK LAGOS CABO FRIO)
Av. Henrique Terra, 1.700
HOJE
16:00 Atlético-PR
20:30 Corinthians
20:30 Chapecoense
x Santa Cruz
x Figueirense
x Fluminense
AMANHÃ
11:00
11:00
16:00
16:00
16:00
16:00
18:30
Santos
América-MG
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Flamengo
Vitória
Sport
Cruzeiro
x
x
x
x
x
x
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Botafogo
Figueirense
Ponte Preta
Palmeiras
Internacional
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São Paulo
Internacional
Ponte Preta
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São Paulo
x
x
x
x
América-MG
Chapecoense
Grêmio
Atlético-PR
Botafogo
Coritiba
Palmeiras
Atlético-MG
Figueirense
Santa Cruz
x
x
x
x
x
x
Vitória
Sport
Corinthians
Cruzeiro
Flamengo
Santos
OS ARTILHEIROS
CLASSIFICAÇÃO
6 gols
Grafite (Santa Cruz)
e Bruno Rangel (Chapecoense)
EQUIPE
4 gols
Rafael Moura (Figueirense)
e Kieza (Vitória)
3 gols
Gabriel Jesus (Palmeiras),
Felipe Azevedo (Ponte Preta)
e Luan (Grêmio)
Série A
SEXTA RODADA
P J V E D GP GC ÚLTIMOS JOGOS
SÉTIMA RODADA
11/6
16:00
16:00
18:30
21:00
12/6
11:00
11:00
16:00
16:00
16:00
19:00
6
gols
Grafite,
Santa Cruz
Rebaixamento
Libertadores
Rebaixamento
1
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4
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12
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14
15
16
17
18
19
20
FICHA DO JOGO
VASCO: Jordi, Madson, Luan,
Rodrigo e Júlio César; Marcelo
Mattos, Julio dos Santos,
Andrezinho (Éder Luís) e
Nenê; Thalles e J. Henrique.
GOIÁS: Renan; Anderson
Salles, Wesley Matos, Alex
Alves e Jefferson; Wendel,
Ramires, Thalles e Léo Sena;
Rossi e Cléo.
JUIZ: Antônio do Prado (SP).
LOCAL: São Januário.
HORÁRIO: 16h30m.
TRANSMISSÃO: Premiere e
Rádios Globo e CBN.
tem sem problemas e devem
ser titulares. Mas Jorginho não
quis confirmar a escalação de
ambos desde o início.
— Os dois não sentiram nada, mas ainda vamos analisar e
conversar com a parte física
para saber se eles possuem
condições de jogo. Vamos avaliar se eles vão começar jogando ou no banco. O time tem
uma intensidade muito grande
nos jogos e temos que ter cuidado, as semanas estão sendo
desgastantes, com muitos jogos. Por isso, estamos segurando um ou outro jogador. A estratégia está dando certo e estamos nos saindo bem.
JOGO 50 DE NENÊ
A partida de hoje é especial
também para o meia Nenê. Artilheiro disparado da Série B
com oito gols em cinco partida, o ídolo da torcida completa
50 jogos pelo Vasco. Nenê esteve presente em 31 dos 32 jogos
da série invicta do time.
Desde que chegou a São Januário, em agosto do ano passado, ele já participou de 49
partidas, tendo marcado 24
gols (15 na atual temporada) e
dado 17 assistências. Ou seja, em quase todo jogo do
Vasco há um gol do time
com sua participação.
— Estou no Vasco há
menos de dez meses, mas a
identificação com o clube e a
torcida é tão grande que me
sinto em casa, muito feliz. E espero que esse jogo número 50
fique marcado com uma vitória — disse o camisa 10 vascaíno, em declaração divulgada pelo seu site. l
Série B
CLASSIFICAÇÃO
EQUIPE
Jorginho.
Técnico
manteve
dúvida na
escalação
PAULO FERNANDES/VASCO
Em oitavo lugar no Campeonato Brasileiro, com oito pontos, o
Fluminense enfrenta hoje uma
equipe que começou melhor na
competição e está um ponto e
duas colocações acima. Seria
um empate técnico se a Chapecoense não fosse um fantasma
na vida recente do tricolor: em
quatro confrontos realizados
desde a chegada da equipe catarinense à Série A, em 2014, foram quatro vitórias da Chape,
com 10 gols marcados contra
quatro do Flu. O jogo está marcado para as 20h30m, na Arena
Condá, em Chapecó, com
transmissão do Sportv.
Pela primeira vez neste Brasi-
l 31
1
2
3
4
5
6
7
8
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19
20
Vasco
Atlético-GO
Bahia
Brasil
Criciúma
CRB
Luverdense
Paraná
Náutico
Avaí
Ceará
Joinville
Londrina
Oeste
Goiás
Paysandu
Vila Nova
Bragantino
Tupi
Sampaio Corrêa
SEXTA RODADA
P J V E D GP GC ÚLTIMOS JOGOS
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E
P - Pontos ganhos; J - Jogos; V - Vitórias; E - Empates;
D - Derrotas; GP - Gols pró; GC - Gols contra; N - Não jogou
Inglaterra
Espanha
Ibra e Vardy aquecem mercado
Fiscal pede absolvição de Messi
O Manchester United, de
José Mourinho, deve acertar
a contratação do atacante
Ibrahimovic, ex-PSG, antes
da Eurocopa, que começa na
próxima sexta-feira, na
França. A informação é da
Para Raquel Amado, da
receita espanhola, o
atacante argentino do
Barcelona não tem culpa
das fraudes de 4,1 milhões
de euros, as quais ela
atribui a Jorge, pai dele. No
Sky Sports. Já o jornalista
Stuart James, do “The
Guardian”, divulgou no twitter
que o Arsenal pagará a multa
rescisória para ter o atacante
Vardy, do Leicester, contra a
vontade do campeão inglês.
entanto, o promotor Mario
Maza manteve Messi entre os
acusados, por considerar
inverossímil que o argentino
nada soubesse. Promotoria e
defesa ainda se manifestarão
antes da decisão do juiz.
ONTEM
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Bahia
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TERÇA
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Criciúma
Paraná
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Luverdense
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ZÉ RICARDO
JOGO PARA MARCAR
BOA FASE
Recomeçar de novo
SÁBADO 4.6.2016 3ª EDIÇÃO
oglobo.com.br
PÁGINA 30
Carlos Eduardo Mansur PÁGINA 30
ROBYN BECK/AFP
OS CAMPEÕES
URUGUAI
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ARGENTINA
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BRASIL
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PARAGUAI
PERU
Preparação. Dunga orienta jogadores antes de treino em Los Angeles: estreia na Copa América, às 23h, deve ter Jonas, como centroavante, Casemiro e Philippe Coutinho no time
CHILE
Copa América
À LUZ DO EQUADOR
No palco do tetra, seleção estreia contra atual líder das eliminatórias
H
CARLOS EDUARDO MANSUR
[email protected]
á bem mais de uma razão para
olhar com especial curiosidade a
estreia de hoje da seleção brasileira
na Copa América, às 23h (horário
de Brasília), em Los Angeles, contra o Equador. Além de ser a seleção em campo, buscando evoluir
coletivamente em meio à rotina de
raras chances de treinos nas eliminatórias, chamam a atenção alguns
jogadores que estarão colocando em jogo o espaço de que desfrutarão em futuras convocações. E,
como se não bastasse, também será posta à prova
a força do adversário, vice-líder das eliminatórias
e próximo rival do Brasil quando a disputa por
um lugar na Copa da Rússia recomeçar, em setembro. O jogo de hoje, no estádio Rose Bowl,
palco da final da Copa de 1994, terá transmissão
da TV Globo e do Sportv.
A sucessão de cortes faz com que alguns jogadores, inclusive do time titular, enxerguem na competição uma chance de afirmação. A começar por
um dos últimos a chegar aos Estados Unidos.
Campeão da Liga dos Campeões, Casemiro só se
apresentou após a final da disputa europeia. Chegou com a cotação em alta e, após o corte de Luiz
Gustavo, por causa de problemas familiares, herdou um lugar no time que vai enfrentar o Equador,
hoje. Com ele, Dunga pode solucionar uma ques-
tão tática da seleção: um bom passe na saída de bola. Nas eliminatórias, quando lançou mão da dupla
de volantes formada por Luiz Gustavo e Fernandinho, o time teve dificuldades para iniciar as jogadas.
Fernandinho não foi convocado
para a Copa América e, com Luiz
Gustavo de titular no amistoso
com o Panamá, Dunga testou uma
variação tática: Elias ou Renato Augusto buscavam a linha de zagueiros para a saída de bola, adiantando Luiz Gustavo. Com Casemiro,
dono de bom passe, este exercício
pode não ser necessário.
do Rio de Janeiro. Assim, a seleção começa hoje a disputa
nos Estados Unidos com um
homem mais afeito ao jogo
BRASIL: Alisson, Daniel Alves,
dentro da área: Jonas, embora
Marquinhos, Gil e Filipe Luís;
o atacante do Benfica não se
Casemiro, Elias, Renato
restrinja a ficar na área.
Augusto, Willian e Philippe
O restante do time terá coCoutinho; Jonas.
mo base a mais recente rodaEQUADOR: Domínguez,
da das eliminatórias, que
Paredes, Achilier, Erazo e
consolidou Elias e Renato AuAyoví; Noboa, Gaibor, Fidel
gusto como peças importanMartínez e Jefferson Montero;
tes no meio-campo, fazendo
Miler Bolaños e Enner
a transição da defesa para o
Valencia.
ataque. Os dois, junto a WilliJUIZ: Julio Bascuñán (Chile).
an e Philippe Coutinho, vão
LOCAL: Rose Bowl, Los
formar a linha de quatro meiAngeles.
SEM NEYMAR, UM 9
as por trás de Jonas, no 4-1HORÁRIO: 23h (de Brasília).
Outro jogador olhado com especial
4-1 que Dunga tem adotado
TRANSMISSÃO: Rede Globo
para iniciar as partidas.
atenção hoje será Philippe Coutie Sportv.
nho. Escalado pelo lado esquerdo
Há outra mudança forçada
na na zaga: Miranda sente docontra o Panamá, ocupa a vaga do
cortado Douglas Costa. No amistores musculares e dará lugara a
so, teve sua atuação mais participativa pela sele- Marquinhos, que fará dupla com Gil.
ção brasileira, ajudando a construir jogadas pelo
O Equador terá a base que faz ótima campanha
setor esquerdo e, também, buscando o centro do nas eliminatórias. Para o ataque, foram convocacampo. Ajudou a cadenciar e dar pausa à seleção dos dois jogadores atuam no futebol brasileiro:
Miler Bolaños, do Grêmio, e Juan Cazares, do Atléem determinados momentos.
Após usar Neymar como “falso 9” nas mais re- tico-MG. O zagueiro Erazo, também do Atlético, é
centes rodadas das eliminatórias, o Brasil chega à outro que joga no Brasil. O time é treinado por
Copa América sem o seu principal jogador. Prefe- Gustavo Quinteros, nascido na Argentina mas
riu preservá-lo para a disputa dos Jogos Olímpicos também dono de nacionalidade boliviana. l
FICHA DO JOGO
COLÔMBIA
BOLÍVIA
ÚLTIMOS GANHADORES
1989
1991
1993
1995
1997
1999
Brasil
Argentina
Argentina
Uruguai
Brasil
Brasil
2001
2004
2007
2011
2015
Colômbia
Brasil
Brasil
Uruguai
Chile
PRIMEIRA RODADA
ONTEM - SANTA CLARA
GRUPO
A
EUA
X
COLÔMBIA
HOJE, 18H - ORLANDO
COSTA RICA
X
PARAGUAI
HOJE, 20H30M - SEATTLE
GRUPO
B
HAITI
X
PERU
HOJE, 23H - PASADENA
BRASIL
X
EQUADOR
AMANHÃ, 19H - CHICAGO
GRUPO
C
JAMAICA
X
VENEZUELA
AMANHÃ, 21H - GLENDALE
MÉXICO
X
URUGUAI
SEGUNDA, 20H - ORLANDO
GRUPO
D
PANAMÁ
X
BOLÍVIA
SEGUNDA, 23H - SANTA CLARA
ARGENTINA
Fonte: Conmebol
X
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PROMOÇÃO VÁLIDA ATÉ 30/06/2016.
OU EM ATÉ 10X
IMAGENS MERAMENTE ILUSTRATIVAS
Fifa acusa Blatter e Valcke de enriquecimento ilícito
PNEU
MECÂNICA
SUSPENSÃO
FREIO
PNEUS FABRICADOS
PELA PIRELLI
Os dois ex-dirigentes
teriam amealhado US$
80 milhões ilegalmente
nos últimos cinco anos
Uma investigação interna da Fifa apontou que o ex-presidente
Joseph Blatter, o ex-secretáriogeral Jérôme Valcke e seu adjunto, Mattias Kattner, fizeram
uso de estratégias de enriquecimento pessoal que totalizaram
U$ 80 milhões (cerca de R$
288,8 milhões na cotação atual)
nos últimos cinco anos.
— As evidências parecem revelar um esforço coordenado
dos três antigos oficiais de alto
escalão da Fifa para enrique-
cerem a si mesmos através de
aumentos de salário, bônus
pela Copa do Mundo e outros
incentivos — explicou Bill
Burck, um dos advogados que
conduzem a investigação.
De acordo com a investigação, Blatter, Valcke e Kattner
receberam U$ 23,4 milhões
(R$ 84,5 milhões) de prêmios
especiais pela realização da
Copa da África do Sul, em
2010, quatro meses após a
competição. O pagamento dos
bônus ocorreu “aparentemente sem uma disposição de contrato”, segundo a entidade.
Há outras situações suspeitas, como a renovação dos
contratos de Valcke e Kattner,
assinada em 2011 e válida até
AP
Chuva de grana. Blatter está afastado do futebol por seis anos, desde 2015
2019. Os novos acordos garantiram a ambos cláusulas especiais que lhes permitiriam receber, somados, quase U$ 28
milhões (R$ 101 milhões) caso
deixassem de trabalhar na Fifa.
AUTORIDADES ALERTADAS
A entidade informou ainda ter
compartilhado o resultado de
sua investigação interna com
as autoridades suíças e americanas, que seguem atrás de
mais evidências de esquemas
de corrupção na gestão da dupla Blatter-Valcke na entidade.
Na quinta-feira, a polícia suíça realizou uma busca nos escritórios da Fifa, em Zurique,
recolhendo documentos e arquivos eletrônicos. l
SEGUNDO
CADERNO
OGLOBO
Fantasia da História
Mexicano Álvaro Enrigue lança na Flip o romance ‘Morte súbita’,
que revisita os séculos XVI e XVII para refletir sobre o presente
PÁGINA 6
SÁBADO 4.6.2016
oglobo.com.br
‘ESPERO CONSEGUIR ME EXERCITAR NO BRASIL OU ENTÃO VOU VOLTAR GORDO DE TANTA CERVEJA’ IRVINE WELSH
INGA KJER/AP/7-11-2013
ANDRÉ
MIRANDA
andre.miranda
@oglobo.com.br
Welsh. Entre as décadas de 1970 e 1980, ele
viveu os excessos típicos daquela época:
de origem proletária, pulou entre dúzias de trabalhos, foi usuário de drogas, chegou a ser preso e tocou em
banda punk. Mas, depois, acabou escolhendo “a vida, um
emprego, uma carreira...”,
esses conselhos dados
em seu primeiro romance, “Trainspotting”, lançado em 1993.
O
livro
narra a
vida
P
assados 20
anos do sucesso de
“Trainspotting” nos
cinemas, a frase mais célebre
do filme precisa de um novo
complemento: “Escolha a vida, escolha um emprego, escolha uma carreira, escolha uma família, escolha a
porra de uma televisão grande...” e escolha
passar as tardes fazendo ginástica em Miami!
Autor do livro homônimo que deu origem ao
longa-metragem e de outras histórias sobre sociopatas e suas obsessões, praticamente todas elas
passadas na Escócia, Irvine Welsh optou por uma
mudança gigante de ares em seu nono romance.
Intitulado “A vida sexual das gêmeas siamesas”
(semana que vem nas livrarias brasileiras, pela
editora Rocco), o livro é ambientado numa Miami
consumista, com suas beldades de corpos esbeltos
e bronzeados e seus artistas querendo vender vanguarda em shopping center. As drogas são outras,
o clima é outro, mas no fundo Welsh, uma das
grandes estrelas da 14ª edição da Festa Literária
Internacional de Paraty (Flip), que começa no fim
do mês, segue escrevendo sobre vícios.
— O exercício físico é um tipo de vício, sim. Você entra numa rotina, se sente mais satisfeito,
mais motivado e gera endorfina — contou Welsh,
em entrevista por telefone ao GLOBO, com seu
carregadíssimo sotaque escocês. — Eu comecei a
me exercitar para combater o estresse e meio que
me tornei um viciado. O bom é que, quando você
se exercita regularmente, pode comer o que quiser. É péssimo quando eu me machuco e tenho
que parar de fazer exercício, porque aí eu tenho
que controlar a alimentação. Gosto dessa mistura
de ginástica com liberdade para comer. Espero
conseguir me exercitar no Brasil ou então vou
voltar gordo de tanta cerveja.
No caso, o declarado apreço por cerveja é o que
mais se aproxima da imagem que se tem de
te uma nazista da boa forma, a segunda uma jovem artista insegura e acima do peso. O livro começa com um encontro casual entre as duas:
Lucy enfrenta um sujeito armado, e Lena acaba
filmando a cena com seu celular, uma imagem
que depois vai parar em todas as TVs e torna Lucy
uma celebridade passageira. Na história, enquanto uma fica obcecada pela outra, a mídia
acompanha atentamente o caso de uma irmã siamesa que quer sair com um namorado, mas obviamente não consegue fazer isso sozinha.
— Lucy e Lena são dois opostos, quase extremos. As pessoas tendem a dizer que Lucy é terrível, é quase uma nazista, e Lena é tão legal.
Mas você pode enxergar o contrário. A
ideia era polarizar essas duas mulheres. Quem adora fazer ginástica costuma adorar a Lucy — diz Welsh. — Já as
irmãs siamesas eu vejo como uma tragédia de
duas pessoas que não podem fazer nada separadas. Talvez um dia eu escreva uma história só sobre isso.
As muitas descrições sobre Miami
que estão presentes no livro vêm de
um período em que o próprio
Welsh viveu na cidade. Ele mora há sete anos nos EUA, a
maior parte do tempo em
Chicago, cidade natal
de sua mulher:
— Miami é muito
diferente de onde eu venho.
Na Escócia
a cultura
DE CORPO
EM MIAMI
destrutiva
de um grupo de amigos
viciados em heroína e se tornou
extremamente popular graças à sua adaptação para o cinema, sob direção de Danny Boyle.
Dali em diante, Welsh tornou-se um ídolo da cultura pop.
Outros de seus livros, como “Ecstasy” (1996) e “Filth” (1998), também já
foram adaptados para o cinema, e muitos repetem personagens e a temática de
violência, drogas e perdição presente em
“Trainspotting”. “Pornô” (2002), por exemplo,
narra o que aconteceu dez anos depois com os
pirados do primeiro livro, enquanto “Skagboys”
(2012) mostra o que aconteceu antes.
Mas, em seu nono romance, o autor escocês
quis deixar a fria e formal Edimburgo e se virou
para a quente e despojada Miami. As protagonistas de “A vida sexual das gêmeas siamesas” são
Lucy e Lena, a primeira uma professora de academia bissexual e fissurada pelo corpo, praticamen-
mais consciência do corpo e têm um vício no consumismo americano. É tudo mais físico, você fica
mais preocupado com a forma do que em Edimburgo e até Chicago, em que as pessoas acabam ficando presas atrás de laptops. Você sai na rua e vê
as modelos da Condé Nast e os artistas. Acho que
o clima quente ajuda a criar esse comportamento
de rua que não há em outras cidades. Há muitos
brasileiros lá. E vocês gostam de festas.
“TRAINSPOTTING 2” A CAMINHO
Welsh, contudo, passa de dois a três meses por
ano em sua Edimburgo, exatamente onde estava
durante esta entrevista:
— Sempre, quando venho para cá,
eu reparo no quanto sou escocês.
Gostaria de ter uma daquelas máquinas de teletransporte de “Jornada nas estrelas”, para poder me materializar
mais rápido do outro lado do Atlântico. Mas
não acho um grande problema viver nos Estados Unidos. Neste ano haverá eleição e será divertido. Trump e Hillary são as pessoas mais
odiadas da América. Se houvesse um concurso para escolher o pior, seria duro.
No início de 2017, mais ou menos quando um
novo presidente assumir o governo americano,
está previsto o lançamento de “Trainspotting 2”,
novamente com Danny Boyle na direção. Aguardado há anos, o projeto está sendo rodado neste
momento, com os atores do primeiro filme, entre
eles Ewan McGregor. O ponto de partida é o livro
“Pornô”, em que Welsh oferece a seus velhos personagens um novo vício, o da pornografia.
— O “Pornô” serve como ideia, mas haverá
mudanças, até porque a indústria pornográfica
mudou muito desde que escrevi o livro, por
causa da internet — explica Welsh, que vai reprisar o personagem que interpretou no primeiro filme, um traficante de drogas. — Eu terei que ir até o set para rodar. É uma participação apenas.
Já na Flip, a participação de Welsh será
maior. Um dos mais populares nomes
do evento, ele estará na mesa “Na
pior em Nova York e Edimburgo”,
no dia 30, às 21h30m, ao lado
de Bill Clegg, autor americano que já escreveu relatos autobiográficos
sobre dependência
química. A venda dos ingressos começou ontem.l
Ídolo da cultura pop desde a
publicação de ‘Trainspotting’, escritor escocês estará na Flip para lançar ‘A vida sexual das gêmeas siamesas’, um romance
ambientado na ensolarada cié
dade americana sobre a relamais
verbal,
em Miami
ção de uma personal trainer
as coisas são
mais visuais. Lá
as pessoas têm
obsessiva e uma artista insegura
l O GLOBO
2
l Segundo Caderno l
[email protected]
MARCIO
TAVARES
D’AMARAL
|
|
Sábado 4 .6 .2016
Gente
Boa
|
CLEO GUIMARÃES
Email: [email protected] e Blog: http://blogs.oglobo.globo.com/gente-boa/
COM MARIA FORTUNA E FERNANDA PONTES
FOTOS DE MARCOS RAMOS
|
A tristeza dos santos
Diz-se que um santo triste é um triste santo. É
um jogo de palavras, talvez indique alguma
coisa que não sabemos a respeito dessas
pessoas que têm o difícil trabalho de
representar junto de Deus a santidade da
humanidade inteira. Quando Jesus esteve entre
nós elevou ao divino a nossa natural
imperfeição. Ele acreditou nisso. Nós é que não.
Os que chamamos “santos” são os que não têm
dúvida. Vão pela porta estreita. Redimem nossa
falta de coragem moral. De modo que um
santo triste não é um triste santo. Um santo
triste é a própria tristeza de Deus.
H
á tempos montei aqui uma trupe maltrapilha para lutar contra a tristeza de Deus. Ele,
que se mostrou como brisa leve, talvez tenha dificuldades com o nosso ar sufocante. Devíamos estar profundamente perturbados por essa saturação. Pela maneira irresponsável com que tratamos, hoje, a vida e o mundo. Mas parece que vamos
bem excitados pelas possibilidades ilimitadas de ter
coisas, de gozarmos de todos os prazeres para sermos felizes. Felizes? Não conseguimos olhar em volta? Ver a navegação desesperada dos povos da água?
A tristeza raivosa das velhinhas na chuva, acusandonos pelo confinamento em que as pusemos nos
acampamentos da miséria? Não temos olhos para a
horrível pobreza da vida atirada no lixo, vivendo do
lixo? — Andei chamando os meus filósofos para nos
fazerem entender. Está difícil para eles. Talvez seja a
hora de os místicos, que também alistei, tentarem
seu gesto de claridade. Por isso pensei nos santos.
Que, desconfio, andam tristes.
Os místicos olham para o mundo de maneira extraordinária. Não o veem para fora, com os olhos da
cara. Fecham os olhos. Veem dentro de si mesmos o
que vai dentro do mundo. Fazem com essa visão
coisas que nossas línguas pobres chamam de milagres. E dizem coisas que nossos ouvidos ruidosos
não conseguem entender. Falam a língua da ternura
de Deus. Pensamos que é poesia, comparamos seus
ditos com os dos outros poetas, e dizemos: é bom! E
pronto. Está entendido. Não, não está. Passou por
fora do nosso ouvido profundo. Mas alguns compreendem. E tentam dizer a quem não soube ouvir.
Aos mais pobres dos pobres, os que não ouvem o
som da ternura de Deus. Os santos tentam fazer isso
por nós. E em troca os veneramos. Fazemos imagens
deles. E, postos para fora, diante de nós como qualquer outra coisa, esquecemos seu trabalho amoroso. Tanto esforço para nos lembrarem da santidade a
que fomos convidados! — Mas insistem. Só me pergunto se hoje os olhos que se voltam para dentro,
para ver o mundo mais verdadeiro, não estarão nublados de lágrimas. Se a tristeza não se deposita nesses olhos abertos sobre o que está aquém e além das
coisas, do mundo imediato e sem relevo em que nos
agrada viver, sem saudades de Deus. Se a tristeza de
Deus não traz cegueira ao mundo.
Santo Tomás, o dominicano que viu a procissão
dos anjos, era grande de corpulência. E, fora das
suas aulas, um homem silencioso. Olhava para
Deus para ver melhor o mundo. Seus confrades
lhe botaram o apelido de “grande boi mudo”. E um
dia resolveram lhe pregar uma peça. Entraram na
sua cela gritando que tinham visto um boi que voava! O santo correu para ver essa maravilha. E os irmãos zombaram de tamanha ingenuidade. Tomás
ficou triste. Preferia acreditar que um boi voasse a
admitir que seus irmãos mentissem. — Pobre Tomás! Quantos bois contaria hoje no nosso céu!
Ainda acreditaria numa humanidade que ama —
devia amar — a verdade?
São Francisco, o pobrezinho de Assis, que rezava
cantando pelas estradas da Úmbria, fundou uma ordem para reunir os que fossem capazes de ver a alegria de Deus, e viver com essa avalanche de ternura
sobre toda a criação. Homens, mulheres, bichos, tudo se mistura na luz da alegria de Deus. Até a morte,
a irmã morte. — Lá um dia alguns dos seus irmãos,
que certamente se consideravam “realistas”, decidiram que era muita santidade para estar à frente de
uma casa que precisava de dinheiro para cumprir
sua missão. A pobreza voluntária, pensavam, não
mantém uma instituição de pé. E deram um golpe
de estado. Derrubaram o santo, tomaram o poder
na Ordem dos mendicantes. São Francisco se exilou
no monte Subiaco, nas grutas em que gostava de
cantar à face de Deus. Queimou toda a tristeza. E
voltou, de alma nova como são novas as manhãs.
Amanheceu de novo a comunidade que criara. Morreu em paz. — Voltaria hoje? Conseguiria queimar
todas as suas lágrimas, para ver de novo, ouvir de
novo a brisa suave na voz dos seus passarinhos? Permitiríamos que voltasse? Talvez preferíssemos deixá-lo no seu exílio. A alegria de Deus nos pesa, hoje.
Parece uma loucura com a qual não sabemos lidar.
Não há remédio para ela.
Precisamos com urgência assustada cuidar da tristeza dos santos. Da insuportável tristeza de Deus. l
Em cena. Lenine e sua banda apresentam o show “Carbono” no Espaço Cultural BNDES: noite de sucessos e clima de afeto no palco e nos bastidores
A GRANDE FAMÍLIA
Lenine faz show no Centro cercado pelos seus
amores: os três filhos e os netos, Tom e Luna
JOSÉ
EDUARDO
AGUALUSA
3ª
MARCUS
FAUSTINI
4ª
5ª
6ª
FRED
FLÁVIA ZÉLIA
COELHO OLIVEIRA DUNCAN
SAB
MARCIO
TAVARES
D'AMARAL
DOM
FERNANDO
GABEIRA
Maior evento de decoração da cidade, o
Casa Cor volta ao coração da Zona Sul na
próxima edição. No ano passado, a
mostra aconteceu na Villa Aymoré, na
Glória, depois de dois anos seguidos na
Barra. Em outubro, ela vai se instalar
num casarão na Rua Marquês de São
Vicente, na Gávea, que pertence à família
de Celso Rocha Miranda, um dos donos
da extinta PanAir.
Como é a casa
Em estilo eclético, com elementos da
arquitetura colonial e muitas referências
da arquitetura clássica, a mansão tem
mais de mil metros quadrados e fica num
enorme terreno, com direito a lago e
jardim projetado por Burle Marx.
‘Vai lá só pra você ver!’
Os filhos. João, Bernardo e Bruno
Os netos. Tom e Luna com o avô
N
O cantor, que chama o neto de “Toroncontoncho”, está acostumado com a
zona das crianças, afinal, não é a primeira vez que elas tomam conta do pedaço. Tom e Luna adoram ir a shows e
crescem nas coxias, já que o pai, João
Cavalcanti, também é músico.
o camarim de Lenine não tem essa de concentração, não — e os
netos do compositor, Tom, de 6
anos, e Luna, de 5, chegaram bagunçando os bastidores do Espaço BNDES, onde ele fez o show “Carbono”, anteontem.
l
“Vovô, o que é aquilo ali?”, perguntou Luna, de olho grande no bolo de chocolate
que estava sobre a mesa. Não sobrou pedra sobre pedra. Vovô Lenine olhava os
dois cheio de orgulho e, na hora da foto,
foi ensanduichado pela dupla.
l
João, claro, estava lá, ao lado do irmão
Bernardo. O clima era de afeto e carinho também no palco — Bruno Giorgi,
além de ser um dos produtores do disco do pai, toca guitarra na banda dele.
PÉ NA JACA NA FESTA DA FIRMA
PÁPRICA FOTOGRAFIA / DIVULGAÇÃO
Nova moradora de São Conrado — ela
está alugando o apartamento de Carolina
Dieckmann, que se mudou para o Joá —,
Grazi Massafera foi bem recebida no
prédio, de frente para a praia. Mas tem
moradora proibindo o marido de ir
sozinho à piscina. É que, para evitar
marcas nas costas, Grazi costuma
desamarrar a parte de trás do biquíni
quando pega sol deitada de bruços. A
rapaziada fica bem ouriçada.
Tudo OK
Deram em nada as reclamações feitas ao
Conar por causa da grafia “digitau”, da
campanha dos serviços digitais do Itaú.
Consumidores alegaram que a “licença
ortográfica” do comercial poderia
confundir as crianças e induzi-las ao erro,
mas o banco informou que a propaganda
foi dirigida aos adultos. O Conar concordou
com a defesa e lembrou que o uso de
neologismos é comum na publicidade. As
mais de trinta denúncias foram arquivadas.
Chama olímpica
O revezamento da tocha olímpica
completou um mês e já coleciona casos
curiosos em sua travessia pelo país. Numa
cidade de Pernambuco, um condutor
queria porque queria levar a tocha num
braço, e o falcão de estimação no outro. Na
Paraíba, o pedido foi para acender a
fogueira da festa junina com a chama
olímpica. Ambos vetados: animais na rota
podem se assustar e causar acidente, e
acender fogueira com a tocha não teria
aprovação do COI.
Filme. Marcos Veras vive funcionário de RH : visão bem humorada do mundo corporativo
O nome dela é Gal
P
Gal Costa vai ser a atração especial do
show da turnê do Prêmio da Música
Brasileira, em julho, na Sala Cecilia
Meireles. A cerimônia de premiação
acontece no Teatro Municipal, em junho, e
depois o Prêmio viaja pelo país com o show
em homenagem a Gonzaguinha e uma
série de participações especiais. Gal só
cantará na apresentação na Sala, que será
dirigida por José Maurício Machline.
ara Marcos Veras deveria ser
proibido entrar com celular
nas confraternizações de trabalho. “Teria menos constrangimentos no dia seguinte”, dizia ele, no set
do filme “Festa da firma”, em que vive
um funcionário de RH encarregado
de organizar a festança de final de
ano da empresa para melhorar o clima entre os seus funcionários.
l
O diretor André Pellenz (do campeão de bilheteria nos cinemas “Minha
mãe é uma peça”) conta que a ideia
do longa veio a partir da frase que
acabou virando o título do filme. “A
partir dela, a gente buscou uma história que mostrasse não só os bastidores de uma festa da firma, como também da própria empresa”, diz.
l
2ª
Fim do mistério
“A gente vê de tudo nessas festas, né?
Um dando em cima do outro, gente de
mau humor porque está indo obrigado,
gente que espera o ano inteiro para enfiar o pé na jaca. As pessoas vão se iden-
Carnaval 2017
Estagiária. Giovanna Lancelloti: sotaque
tificar”, garante Veras. “O mico clássico é
a bebedeira, porque você tem que voltar no dia seguinte. Beber e vomitar é
pior que subir na mesa pra dançar”.
l
Giovanna Lancellotti também está no
elenco. Ela vive uma estagiária do interior e emprestou seu sotaque para a personagem — é a primeira vez que a atriz,
nascida em Ribeirão Preto, não precisa
mudar o jeito de falar para um trabalho.
Coreógrafo da cerimônia de abertura do
Pan de 2007, disputado no Rio, Renato
Vieira assinou com a Portela e vai ser o
responsável pela comissão de frente da
escola no carnaval. Renato estreou na
Sapucaí com a Grande Rio em 2002 e foi
um dos jurados da “Dança dos Famosos”,
do “Domingão do Faustão”.
Rio $urreal
Uma prosaica coxinha de galinha está
custando R$ 9 no BB Lanches, no Leblon.
l Segundo Caderno l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
VEJA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO CELULAR
OU ACESSE NO SITE: rioshow.com.br
OS DESTAQUES DE HOJE DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL
Cinema ‘Vida selvagem’
Show Kiko Horta e Marcelo Caldi
Show Erasmo Carlos
Uma família nada
convencional
O som mágico
da sanfona
Entre sucessos
e novidades
Dirigido por Cédric
Kahn, o longa francês
“Vida selvagem”, que
tem sessão especial na “Mostra 90 anos”, no
Odeon, conta a história de Paco (Mathieu Kassovitz, na foto), um homem que vê sua vida
mudar quando a mulher decide deixar o campo para se mudar com os filhos para a cidade.
Sentindo-se traído, ele sequestra as crianças e
as leva para viver em meio à natureza.
Os dois acordeonistas acompanham a Orquestra
de Sopros Pro Arte
no show de lançamento do disco “Duas sanfonas e uma orquestra”, que homenageia a
música nordestina. No repertório, canções de
compositores como Sivuca, Luiz Gonzaga,
Dominguinhos e Djavan.
Com abertura da
banda Fuzzcas, o
tremendão Erasmo Carlos apresenta o show de seu disco mais recente, “Gigante gentil”. O bad boy da Jovem Guarda e
eterno parceiro de Roberto Carlos toca também os maiores sucessos de seus 50 anos de
carreira, como “Festa de arromba”, “Minha
fama de mau” e “Gatinha manhosa”.
ONDE: Cine Odeon. Praça Floriano 7, Centro. QUANDO: Sáb, às
20h40m. QUANTO: R$ 18. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
l 3
ONDE: Espaço Cultural Escola Sesc. Av. Ayrton Senna 5.677,
Jacarepaguá (3214-7402).QUANDO: Sáb, às 19h30m. QUANTO:
Grátis (distribuição de senhas às 18h30m). CLASSIFICAÇÃO: Livre.
O Bonequinho viu
AÇÃO
‘A
assassina’
ONDE: Imperator. Rua Dias da Cruz 170, Méier (2597-3897). QUANDO: Sáb, às 21h30m. QUANTO: R$ 30. CLASSIFICAÇÃO: 16 anos.
Teatro ‘Tropicalistas, o musical’
Ritual antropofágico com toque Dzi Croquette
Com o seu estilo contemplativo e introspectivo, o cineasta Hou Hsiao-hsien demonstra
mais uma vez ser um artesão na construção
de imagens abstratas que ilustram o drama
de personagens contidos.
Mario Abbade
DRAMA
‘Campo Grande’
A cineasta Sandra Kogut destaca representantes
de classes sociais diversas por meio de um olhar
destituído de maniqueísmo. O filme tem muitas
qualidades, como a atuação do elenco e determinação da diretora em não fazer concessões a um
tom sentimental.
Daniel Schenker
DRAMA
A vida do coreógrafo, diretor, cantor, ator e
bailarino Ciro Barcelos está ligada à história
do movimento tropicalista. A constatação é do
próprio artista, que bem jovem fugiu de casa
“em busca dos discos voadores, dos festivais
de música de São Paulo e de tudo aquilo que
dizia a música ‘Baby’, de Caetano Veloso”.
— Sou um remanescente da Tropicália:
minha adolescência foi acontecendo através
dela, ela estava ali enquanto eu fazia o “Dzi
Croquettes”. Logo virei amigo de Caetano,
morei com Gal Costa... E acalentava a vontade
de falar deste tema — diz Ciro, que assina roteiro e direção de “Tropicalistas, o musical”,
que estreia hoje no Teatro Carlos Gomes.
Mas, se caiu como luva, o projeto do espetáculo não veio fácil. Ciro recebeu o convite para
encená-lo a apenas três semanas da estreia.
Apesar de o elenco já estar a postos, apenas a
trilha sonora de Tim Rescala estava pronta.
— Tenho trabalhado 24 horas por dia. Não
durmo há semanas. — observa Ciro, que partiu
de sua história para montar a da protagonista,
interpretada por Isadora Medella, que é absorvida por um ritual antropofágico com referências ao manifesto de Oswald de Andrade, à
obra de Lygia Clark e a textos dele e de Zé Celso Martinez e Jorge Mautner. (Paula Lacerda)
ONDE: Teatro Carlos Gomes. Praça Tiradentes s/nº, Centro (22150556). QUANDO: Qui a sáb, às 19h. Dom, às 18h. Até 19 de junho.
QUANTO: R$ 40. CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
‘O outro lado do paraíso’
André Ristum (“Meu país”) recria o caldeirão brasileiro pouco antes do golpe de 1964 pelos olhos de
um menino cujo pai (Eduardo Moscovis) leva a
família de Minas para Brasília, onde adquire consciência política. Baseado em livro autobiográfico
de Luiz Fernando Emediato.
Sérgio Rizzo
DRAMA
‘Ponto zero’
José Pedro Goulart aborda o doloroso rito de passagem de um adolescente. Abalado pela crise familiar,
ele se mostra cada vez mais desnorteado – sensação
realçada pela câmera instável. No elenco, cabe elogiar
Patrícia Selonk, Eucir de Souza e, em especial, Sandro
Aliprandini.
Daniel Schenker
COMÉDIA
‘Uma loucura de mulher’
A condução previsível da história e os exageros
(evidenciados, em especial, nos figurinos) prejudicam
o resultado dessa comédia de Marcus Ligocki Júnior,
que começa nos bastidores do poder, em Brasília, e
assume perfil mais romântico ao migrar para o Rio.
Daniel Schenker
COMÉDIA MUSICAL
‘Rock em Cabul’
Teatro ‘A salto alto – Entre gentilezas e
extermínios’
Show Tiê
Show Nando Reis
Novas canções, a mesma voz leve
Um banquinho e um violão
Acrobacias circences
e crítica social dão o
tom do espetáculo “A
salto alto — Entre gentilezas e extermínios”,
que a companhia Circo no Ato leva à Fundição Progresso. A montagem parte da fábula
de Cinderela, mas ela é toda desconstruída:
fada, princesa e príncipe têm novos sentidos.
A cantora e compositora Tiê leva ao palco do
Teatro Rival o show de “Esmeraldas”, seu
terceiro trabalho de estúdio, com
canções como “A noite”, “Mínimo maravilhoso” e “Isqueiro
azul”. O repertório da artista
também traz músicas dos
seus dois primeiros álbuns, “Sweet jardim”
(2009) e “A coruja e o
coração” (2011).
O músico traz ao Rio a turnê
“Ao vivo — No recreio”, na
qual apresenta os maiores hits
de seus mais de 30 anos de
carreira, em formato voz e
violão. Além de faixas da
época dos Titãs, como
“Os cegos do castelo”,
ele toca “O segundo
sol” e “All Star”,
entre outras.
ONDE: Espaço Armazém (Fundição Progresso). Rua dos Arcos 24,
Lapa (2210-2190). QUANDO: Sex e sáb, às 20h. Dom, às 19h. Até 26
de junho. QUANTO: R$ 20. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
ONDE: Teatro Rival. Rua Álvaro Alvim 33/37, Centro (2240-4469).
QUANDO: Sáb, às 21h. QUANTO: R$ 60 (lounge) e R$ 80 (mesa).
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos.
ONDE: Metropolitan. Av. Ayrton Senna 3.000, Barra (2430-5100).
QUANDO: Sáb, às 22h30m. QUANTO: De R$ 90 a R$ 200.
CLASSIFICAÇÃO: 15 anos.
A desconstrução
de Cinderela
Os bons momentos de Bill Murray salvariam a comédia, se roteiro e direção fossem menos ineptos.
Um desastre na carreira de Barry Levinson (o cineasta de “Rain Man”), que desenha afegãos e americanos igualmente truculentos, caricaturais.
Ely Azeredo
FANTASIA
‘Warcraft —
O primeiro encontro
de dois mundos’
É educativo descobrir que existe bondade e maldade
entre Orcs e humanos. Mas isso se aprende em
cinco minutos de “Warcraft”. Todo o resto são efeitos
especiais para apresentar uma mitologia difícil (e
insossa) para quem não está acostumado ao gênero.
André Miranda
E SE TUDO EM QUE VOCÊ ACREDITAVA
SOBRE SUA FAMÍLIA FOSSE MENTIRA?
Classificados do Rio. Achou de verdade.
classificadosdorio.com.br / 2534-4333
4
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Sábado 4 .6 .2016
Os destaques de hoje na TV
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Globo, 9h
Acende a
fogueira
No “É de casa”, os apresentadores Ana Furtado, André
Marques (foto), Patrícia Poeta e Zeca Camargo entram no
ritmo da quadrilha com festa
junina cheia de dicas e show
da banda Calcinha Preta.
Natalia Castro
[email protected]
Telecine Premium, 22h
History, 21h45m
TV Cultura, 19h55m
Nat Geo, 13h15m
‘S.O.S. Mulheres ao mar’
‘Gigantes do Brasil’
‘Ilustrando a História’
‘Mundo monumental’
Ao saber que a ex-noiva de
André (Reynaldo Gianecchini) vai acompanhá-lo
em um cruzeiro, Adriana
(Giovanna Antonelli) recrutas suas amigas e vai
atrás do namorado.
Uma superprodução do
canal, a série mostra a trajetória de quatro empresários brasileiros: Francesco
Matarazzo, Percival Farquhar, Giuseppe Martinelli
e Guilherme Guinle.
O programa destaca a trajetória do compositor austríaco Mozart, relembrando
desde a sua infância até a
publicação de suas primeiras composições, passando
pelas viagens pela Europa.
O programa propõe um
olhar sobre maravilhas naturais e construções épicas.
A estreia mostra o empenho
de um grupo em proteger
uma região da Amazônia
que sofre devido ao clima.
Horóscopo
POR CLAUDIA LISBOA
(21/3 a 20/4)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Libra. Regente: Marte.
Ao ser tomado pelo bom humor,
você tem maior compreensão das
coisas. Assim, trabalha melhor e
fica de bem com a vida. É tempo
de amenizar dificuldades levando
a vida com um toque de alegria.
LIBRA
(23/9 a 22/10)
Elemento: Ar. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Áries. Regente: Vênus.
Quando você sente mais dificuldade em se relacionar, as práticas
que visam a cuidar melhor de si
podem ajudá-lo a encontrar o seu
centro. É tempo de confiar na
força que emana de seu coração.
TOURO
(21/4 a 20/5)
Elemento: Terra. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Escorpião.
Regente: Vênus.
A doçura também pode ser utilizada como um instrumento que,
como um ímã, atrai aquilo que
deseja para si. É tempo de cultivar
a afetividade, construindo relações
que lhe oferecem estabilidade.
ESCORPIÃO
(23/10 a 21/11)
Elemento: Água. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Touro.
Regente: Plutão.
Em vez de ficar a um passo do
descontrole, você pode aproveitar
a força extra para realizar melhor
aquilo que está sendo dominado
pela preguiça. É tempo de aproveitar a energia acumulada.
GÊMEOS
(21/5 a 20/6)
Elemento: Ar. Modalidade: Mutável.
Signo complementar: Sagitário.
Regente: Mercúrio.
O interesse em experimentar
novos métodos de trabalho pode
fazer com que você ache maneiras de organizar melhor a rotina. É
tempo de atentar para novidades
que podem facilitar a vida.
SAGITÁRIO
(22/11 a 21/12)
Elemento: Fogo. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Gêmeos. Regente: Júpiter.
A impulsividade unida à impaciência pode colocar tudo a perder.
Portanto, evite ações precipitadas
para saber a hora certa de agir. É
tempo de desenvolver a paciência
para agir com mais assertividade.
CÂNCER
LEÃO
(21/6 a 22/7)
Elemento: Água. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Capricórnio. Regente: Lua.
Este é o momento de dar prioridade às atividades que são exercidas com prazer, porque trazem
ânimo e qualidade de vida. É
tempo de deixar em segundo
plano o que for menos importante.
CAPRICÓRNIO
(22/12 a 20/1)
Elemento: Terra. Modalidade:
Impulsivo. Signo complementar:
Câncer. Regente: Saturno.
(23/7 a 22/8)
Elemento: Fogo. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Aquário.
Regente: Sol.
Apesar de todos os esforços, há
ocasiões em que a insegurança é
grande e parece paralisá-lo diante
das dificuldades. É tempo de não
ser tomado pelo desânimo gerado
pela baixa confiança.
AQUÁRIO
Passar o tempo decidindo qual a
melhor coisa a fazer pode lhe
trazer cansaço. Talvez seja mais
saudável permitir que alguém o
ajude. É tempo de poder dividir a
responsabilidade com outros.
(21/1 a 19/2)
Elemento: Ar. Modalidade: Fixo.
Signo complementar: Leão.
Regente: Urano.
O equilíbrio ajuda na tomada de
consciência que efetua uma boa
crítica sobre o que se é ou não
capaz de fazer. É tempo de estimular a autoestima tornando-se
consciente do seu próprio valor.
Logodesafio
POR SÔNIA PERDIGÃO
VIRGEM
(23/8 a 22/9)
Elemento: Terra. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Peixes. Regente: Mercúrio.
Neste momento, dizer o que
pensa sem se esquecer da delicadeza pode ser bom para não
deixar dúvidas. É tempo de entender que atitudes suaves têm
potencial de solucionar problemas.
PEIXES
(20/2 a 20/3)
Elemento: Água. Modalidade:
Mutável. Signo complementar:
Virgem. Regente: Netuno.
Ao dar atenção e cuidado a seus
relacionamentos, você se fortalece, pois sua força e seu brilho
estão na sua capacidade de unir.
É tempo de se destacar por aquilo
que melhor sabe fazer.
Foram encontradas 35 palavras: 15 de 5 letras, 14
de 6 letras, 6 de 7 letras, além da palavra original.
Com a sequência de letras AR foram encontradas
19 palavras.
Instruções: Encontrar a palavra original utilizando
todas as letras contidas apenas no quadro maior.
Com estas mesmas letras formar o maior número
possível de palavras de 5 letras ou mais. Achar
outras palavras (de 4 letras ou mais) com o auxílio
da sequência de letras do quadro menor. As letras
só poderão ser usadas uma vez em cada palavra.
Não valem verbos, plurais e nomes próprios.
Solução: derme, dreno, endro, herói, hímen, honor, médio, menor, moído, morno, nédio,
ordem, reino, ródio, rondó; dominó, enorme, enredo, idôneo, inerme, meeiro, meneio,
moedor, moinho, moreno, remedo, remido, rodeio, romeno; demônio, medonho, moderno,
remédio, remendo, renhido; REDEMOINHO. Com a sequência de letras AR: ardor, árido,
armeiro, armênio, arminho, arre, arredio, arreio, arremedo, arrimo, arroio, dinar, erário,
horário, maré, marido, marinho, marino, raro.
ÁRIES
Expediente
EDITORA: FÁTIMA SÁ [email protected] l EDITORES ASSISTENTES: CRISTINA FIBE [email protected],
EDUARDO FRADKIN [email protected], EDUARDO RODRIGUES [email protected], GABRIELA GOULART
[email protected], HELENA ARAGÃO [email protected] l DIAGRAMAÇÃO: MARIANA MORGADO, PAULA
FABRIS E TOMÁS BREVES l TELEFONES: REDAÇÃO: 2534-5703 l PUBLICIDADE: 2534-4310 [email protected] l
CORRESPONDÊNCIA: Rua Irineu Marinho 35, 2º andar. CEP: 20233-900
l Segundo Caderno l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
DIVULGAÇÃO
[email protected]
DOIS A
FAVOR
COM FLORENÇA MAZZA, ANNA LUIZA SANTIAGO
E RAFAELA SANTOS
NÃO PODE ISSO E AQUILO
Por conta das restrições impostas
pela Classificação Indicativa, as
cenas de Tancinha e Apolo em “Haja
coração” serão bem mais leves do
que as de 1987, em “Sassaricando”. O
romance deles é marcado por grande
atração sexual, mas naquela época a
patrulha era menor. Veja você.
10
0
Para Marcelo Serrado, pelo
Carlos Eduardo de “Velho
Chico”, novela de Benedito
Ruy Barbosa. O personagem,
um sujeito nascido para ser
coadjuvante na vida, já é um
prato cheio para um ator. E
ele está fazendo muito bem.
Para o festival de tortas na
cara em “Êta mundo bom!”.
Anteontem, na mesa de
doces do casamento
frustrado (outra repetição),
havia mais de um bolo para
cada ator atirar. Chaaaato...
Maria Prata
entrevistou o
estilista Nicolas
Ghesquière
para o “Mundo
S.A.”, da
GloboNews.
Eles falaram
sobre o
trabalho dele
na marca
francesa Louis
Vuitton. O
programa vai
ao ar esta noite
O diretor de “1 contra todos”, Breno Silveira, com Júlio
Andrade, o protagonista, nos bastidores de gravação da
série. A estreia será no dia 17, no Fox Action, do Fox+
Bálcãs
Estão interrompidas
Olha que bacana. Um leitor
da Bósnia-Herzegovina
escreveu para cá contando
que aprendeu português
assistindo a novelas do Brasil.
Ele mantém um site de
debates. Lá, conversa com
conterrâneos e interessados
da Croácia, de Montenegro e
da Sérvia. O endereço é
http://www.forum.hr/
showthread.php?t=887908.
A previsão é que as gravações
da série sobre os Mamonas
Assassinas, da Record, sejam
retomadas no próximo dia 11.
Os trabalhos recomeçarão
pelas sequências de shows,
que serão rodadas no ginásio
Thomeuzão, em Guarulhos.
Serão usados cerca de 200
figurantes e, posteriormente,
efeitos de computação gráfica
para multiplicar a plateia.
ÉO
AMOR
Luiz Villaça
trabalha no
roteiro da
terceira
temporada
de “Três
Teresas”,
série
estrelada por
Denise Fraga
e dirigida por
ele no GNT.
Foi uma
encomenda
do canal.
Além disso,
dirigirá “Há
vagas para o
amor” e
supervisiona
“De perto
ninguém é
normal”,
protagonizada
por Júlia
Rabello.
ARQUIVO PESSOAL
AQUI, O
HAITI
DIVULGAÇÃO
SOBRE
MODA
PATRÍCIA
KOGUT
l 5
Luciano Huck está em Porto Príncipe, no Haiti, gravando
com o Exército Brasileiro para o seu “Caldeirão”. A foto é
nas ruas da capital
Cultura de TV
Territórios
Maria Adelaide Amaral e
Vincent Villari, que
costumam fazer citações em
suas novelas, repetirão a
dose em “A lei do amor”.
Otávio Augusto será o
senador Venturini. É uma
referência a Dom Lázaro
Venturini, personagem de
Lima Duarte em “Meu bem
meu mal”. E Titina Medeiros
foi batizada de Ruth Raquel,
como as gêmeas de
“Mulheres de areia”.
Lorena Comparato, que
fará a novela das 19h “Rock
story”, também estará em
“Os TOCs de Dalila”. A série
é do Multishow.
... E mais
Denise Saraceni quer
gravar as externas da
novela das 21h antes das
Olimpíadas, quando o
trânsito estará complicado.
Uma das locações é o
Parque Madureira. É lá
que se passará a ação da
praça de São Dimas,
cidade da ficção. Só um
pedacinho do lugar será
replicado no Projac.
Hamilton Vaz Pereira
Cinema
Juliano Cazarré será um
chefe da máfia no filme
“Virando a mesa”, estrelado
por Bruno Gagliasso. Marco
Luque também integra o
elenco. O longa está
previsto para o ano que
vem.
Adiantado
Daniel Ortiz já entregou 42
capítulos de “Haja coração”
à produção. E 30 deles
estão gravados.
NA WEB
patriciakogut.com
O mundo da televisão passa
por aqui. Visite.
DIVULGAÇÃO
O ALQUIMISTA
DO TEATRO
Ciclo de leituras na Cidade das Artes revisita quatro décadas
da obra do diretor do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone
ALINE MACEDO
[email protected]
L
“Trate-me leão”. Perfeito Fortuna, Nina de Pádua, Regina Casé, José Paulo Pessoa e Patricya Travassos na montagem dos anos 1970
Dramaturgo.
Hamilton
Vaz Pereira
comanda ciclo
DIVU
INA
RIST
ÃO/C
LGAÇ
observando, e vou tecendo personagens, trajetórias, monólogos, diálogos,
que eu não sei exatamente para que
servem. Em um determinado momento, vou juntando lé com cré e, quando
vejo, tenho um espetáculo. É então que
começo a procurar colegas, dinheiro,
teatro — diz Vaz Pereira, procurando
explicar seu processo de criação.
Luana Martau, do humorístico “Tá no
ar”, faz parte do elenco jovem que participa da primeira leitura. A atriz, que afirma ter o trabalho do Asdrúbal Trouxe o
Trombone como referência, acredita
ATO
GRAN
á se vão mais de 40 anos e “uns 20
textos” escritos desde que, junto
ao grupo Asdrúbal Trouxe o
Trombone, Hamilton Vaz Pereira pintou na cena teatral, levando para o palco umas transas diferentes, com jovens
assaltando o armário de bebidas dos
pais para tomar Vat 69, curtindo um
som na vitrola e ficando doidões de
Mandrix em meio a um passeio pelas
esquinas do Rio.
Ícone cultural da época em que o regime militar começava a afrouxar a pressão sobre os artistas, “Trate-me leão”,
que estreou em 1977, será a primeira peça apresentada no ciclo de leituras “O
cão comendo mariola — Para ler e para
ouvir”, que revisita a obra de Vaz Pereira
na sala III da Cidade das Artes. A partir
de hoje, a cada sábado do mês de junho,
o diretor e dramaturgo comanda a leitura de uma peça diferente, uma para cada
década de sua carreira, sempre às 20h.
O projeto nasceu quando ele começou a revisitar sua obra com o objetivo
de organizar o acervo para publicação.
O único texto disponível em livro é justamente o clássico que abre o ciclo.
As leituras seguem com “Ataliba, a gata safira”, escrita nos anos 1980 em parceria com Fausto Fawcett (dia 11);
“Nardja Zulpério”, que será lida pela
própria Regina Casé, intérprete do
monólogo durante a década de 1990
(dia 18); e “A Leve, o próximo nome
da Terra”, uma utopia futurística em
que o planeta é rebatizado como
Leve, em consonância com um
novo espírito humano (dia 25).
— Eu fico em casa, mexendo o
meu caldeirão, anotando coisas,
que o público atual não vai ter dificuldade em se identificar com as questões colocadas por “Trate-me leão".
— As gírias transportam para uma
outra época, mas os anseios dos jovens,
ou a sensação de estar perdido no
mundo político permanecem. É bacana ver como continuamos buscando
uma forma de mudar o mundo. l
“O CÃO COMENDO MARIOLA — PARA LER E OUVIR”
ONDE: Cidade das Artes — sala III. Av. das Américas,
5.300 (4003-1212). QUANDO: De hoje a 25/6, aos sábados, às 20h. QUANTO: R$ 20. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
MINISTÉRIO DA CULTURA, GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA, FUNDAÇÃO TE ATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO E SICPA BR ASIL apresentam
BALLET E ORQUESTRA SINFÔNICA DO THEATRO MUNICIPAL
PIOTR I. TCHAIKOVSKY MÚSICA • JAVIER LOGIOIA REGÊNCIA
JUN 10, 14, 15, 17 E 18 20H
JUN 11 E 12 17H
APOIO
PATROCÍNIO
REALIZAÇÃO
COREOGRAFIA
YELENA PANKOVA, BASEADA NA CRIAÇÃO ORIGINAL DE MARIUS PETIPA E LEV IVANOV
INFORMAÇÕES E INGRESSOS (21) 2332 9191
www.theatromunicipal.rj.gov.br
6
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Sábado 4 .6 .2016
Sublinhado
Novo livro do escritor português explora relação entre homem, animal e máquina
-
“Animalescos”/ Gonçalo M. Tavares/ Editora Dublinense
“no final do século, os homens sem se mexerem aproximam-se de um
limite e por isso há muitos que escondem a cabeça debaixo de um
barruço que lhes tapa as orelhas e parte dos olhos, há mesmo quem
se tape por completo e finja ser cego e assim entre no novo século”
Volume faz parte da Coleção Gira, dedicada a autores lusófonos
Romance engenhoso do mexicano Álvaro Enrigue,
convidado da Flip, atravessa continentes e
séculos para narrar as origens da modernidade
DIVULGAÇÃO/ZONY MAYA
A INVENÇÃO
DO PRESENTE
GUILHERME FREITAS
[email protected]
“A
descrição de uma
obra de arte, assim
como o relato de um
sonho, interrompe e arruína a
narração”, escreve Álvaro Enrigue a certa altura de “Morte súbita” (Companhia das Letras).
A frase pode ser lida como uma
provocação a quem se arriscar
a resumir o engenhoso romance que o autor mexicano apresentará na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que
começa em 29 de junho.
Uma descrição possível, mas
insuficiente, começaria pela
cena de abertura de “Morte súbita”. Em 1599, num dia ensolarado em Roma, o pintor italiano Caravaggio e o poeta espanhol Francisco de Quevedo se
enfrentam em uma partida de
pallacorda — ancestral do tênis. Um dos eixos do romance
é a insólita cadeia de eventos
que junta na quadra o inventor
da pintura moderna e o escritor que encarnou o conservadorismo do Império Espanhol.
Não menos insólita é a bola do
jogo, feita com os cabelos de
Ana Bolena, a rainha da Inglaterra decapitada em 1536.
CONQUISTA DA AMÉRICA
A partir dessa premissa fantasiosa, “Morte súbita” se expande
no tempo e no espaço, convocando um elenco de figuras históricas decisivas das origens da
modernidade, na transição do
século XVI para o XVII. Como
em um jogo de tênis, o romance
se alterna entre Caravaggio e
Quevedo. A história do pintor
abre caminho para reis e rainhas de Itália, Inglaterra e França, papas e burocratas do Vaticano, artistas e mecenas. A narrativa sobre o poeta conduz o
leitor às intrigas da corte espanhola e à sangrenta conquista
da civilização asteca de Moctezuma pelo navegador Hernán
Cortés. Tudo isso em apenas
250 páginas, alinhavadas por
um narrador que, enquanto recebe e-mails alarmados da editora, vai se enredando cada vez
mais nas pesquisas para o livro.
— Este não é um romance
histórico. É um romance com
Caravaggio, com Cortés, com
Moctezuma, mas não sobre
eles. É uma meditação, em
chave de ficção, sobre o mundo em que nós vivemos — diz
Enrigue, nascido no México
em 1969 e radicado nos EUA,
onde é professor de literatura
na Universidade de Princeton.
Enrigue situou o ro- “Morte súbita”
mance na vi- Álvaro Enrigue
rada do sécu- ROMANCE
lo XVI para o Trad. Sérgio
XVII porque Molina. Ed.
aquele foi “o Companhia
momento em das Letras,
que se inven- 256 pgs.
tou grande R$ 44,90
parte do que
vai mal em
nosso mundo”, diz. Cita a formação do sistema bancário,
com o fim da condenação religiosa ao lucro, e os primeiros
passos da globalização, com os
entrepostos comerciais europeus na América.
— Os habitantes do século
XVI enfrentaram desafios parecidos com os nossos. Para
eles, com as navegações, a Terra se tornou redonda como
uma laranja. Assim como nós,
com os aviões e a internet, eles
achavam que tinham o mundo
na palma da mão — diz Enrigue, autor de mais sete livros
de ficção, todos inéditos no
Brasil, e casado com a escritora mexicana Valeria Luiselli,
que também estará na Flip.
“Morte súbita” explora a origem violenta da globalização
ao narrar a queda de Tenochti-
.............................................................
tlán, antiga capital do Império
Asteca e atual Cidade do México, pelas mãos de Cortés, o espanhol bruto que tinha como
lema a frase “minha bola direita é o Santo Padre, e a esquerda
é o Sacro Imperador Carlos I”.
Mas também mostra o fascínio
despertado na Europa pelas
culturas americanas, por meio
de objetos que deslumbram
Caravaggio, como um conjunto de mitras indígenas feitas de
penas coloridas.
— A Europa moderna não pode ser compreendida sem levar
em conta a América, mas essa é
uma herança que ainda precisamos reivindicar. Porque o capital que financiou a
modernidade europeia
veio das colônias, claro.
Mas também
pelo aporte
das culturas
americanas à
Europa —
diz Enrigue.
— Para autores latino-americanos, parece que ainda é mais
importante ser publicado na Espanha do que em seu próprio
país. É como se o centro continuasse a ser a metrópole.
Essas e outras reflexões sobre o presente surgem no romance com um tom irônico e
inventivo, que recusa as convenções do realismo. A meio
caminho entre a ficção e o ensaio, “Morte súbita” parece ser
a resposta de Enrigue a outra
provocação que aparece no livro: a de que uma obra de arte
só mereceria ser lembrada “se
alterasse a linha que a História
vai desenhando”:
— Noventa por cento do que
se conta no livro é real, inclusive o mais inverossímil. Meu
desafio foi tornar a História um
pouco mais razoável. l
Álvaro Enrigue. “Os habitantes do século XVI enfrentaram desafios parecidos com os nossos”, diz o autor mexicano
l Segundo Caderno l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
l 7
Sem tradução
Publicado há 50 anos, livro da poeta americana, inédita no Brasil, ganhou Pulitzer
-
“Viva ou morra”/ Anne Sexton
Nascida em 1928, a poeta americana Anne Sexton
lutou contra a depressão durante toda a vida e fez
dessa luta um dos temas centrais de sua obra.
Publicou os primeiros poemas ainda jovem, em
revistas como “New Yorker” e “Harper’s”. Em oficinas de literatura na Universidade de Boston, conheceu Sylvia Plath, com quem costuma ser comparada. Em 1966, lançou seu livro mais aclamado, “Live
Crítica
O
suicídio assombra o
quinto romance do
goiano André de Leones. Não é fácil viver e morrer
em Goiás. No interior, na capital, em qualquer lugar. Cristiano é o protagonista-câmera de “Abaixo do paraíso”.
Sempre na companhia dele, o
leitor tentará encontrar o propósito de viver. Durante uma
semana, de segunda a segunda. E somos todos — protagonista, personagens e leitores
— fugitivos de um assassinato involuntário.
Se o início é titubeante,
quando ainda não temos
certeza se a escrita continuará sendo pura pose, com
seus cortes supostamente
bacanas, aos poucos o narrador nos fisga. Impõe ritmo
com capacidade ímpar de
cavar atmosferas desoladoras. Apartamentos mal ajambrados, velhos quartos de
hotel e de motel, bares vazios. Roupas mofadas, cinzas
pelo chão, tapetes surrados.
São tristes os cenários urbanos, mesmo dentro da modernidade de Brasília.
O autor de “Dentes negros”
escreve livros que conversam
entre si. A trama roteirizada
parece ter como partida e
destino a cidade da infância,
a pequena Silvânia. O que está enraizado? Primeiro, a narrativa da memória que traba-
ROMANCE DE UM
PAÍS EM TRÂNSITO
lha entre o flashback fluente e o
presente pegajoso. Entram aí as
histórias que constituem uma
comunidade mínima e provinciana: fofocas, boatos, ouvir dizer, reconstituir casos da vida
alheia em detalhes nem sempre
verificáveis.
No paraíso terreno, goiano e
infernal, a amizade e o sexo
são componentes de redenção.
O imaginário bíblico está por
todos os lados. No título, na
epígrafe colhida em Jó, no nome do pai (Lázaro), na volta do
filho pródigo à casa paterna.
Nossa personagem principal
vive “dias de aflição” entre Goiânia, Anápolis, a capital federal e Silvânia. Deambula, esbarra em outras solidões e dialoga (sem falsear) para contar
parte da cultura do CentroOeste brasileiro.
“Abaixo do paraíso” traz também elementos de narrativa policial, quase sem querer. Os crimes estão ligados à política estadual, o que dá um toque de
atualidade ao romance. A violência pontual do protagonista
entra em contraste com a bruta-
SÉRGIO DE SÁ
“ABAIXO DO
PARAÍSO”
AUTOR: André de
Leones
EDITORA: Rocco
PÁGINAS: 256
PREÇO: R$ 29,50
COTAÇÃO: Ótimo
lidade ignorante que o autor
enxerga como traço regional.
No olhar antropológico, há espaço pra uma sensibilidade de
paixões e amores exagerados.
Sim, o Centro-Oeste não se dá a
compreender com facilidade.
No retorno à família, inclusive
em relação carnal proibida,
Cristiano encontra conforto. Está longe dos lugares onde se bebe demais, onde se corre demais. Na manhã do último dia,
pai, madrasta, meia-irmã, Cristiano e melhor amigo comem
juntos o milho transformado
em pamonhas. Comunhão. Todos contam histórias. De amigos que se mataram e que morreram em alta velocidade. São
sobretudo confissões, acertos
de conta com o passado.
André de Leones, 36 anos, hoje morador de São Paulo, é capaz de misturar tempos narrativos de forma, na maior parte
das vezes, sutil. Tem um ótimo
timing para diálogos, com raras
derrapagens. Encontrou no cerrado sua paisagem inspiradora,
seu tronco retorcido e vivo. Mistura urbano e rural para dar
conta de um país indefinido,
em trânsito, ainda tosco e já antenado. Como seu personagem
principal, desfere chutes intuitivos que tomam rumo certeiro.
“Abaixo do paraíso” é seu
melhor livro. Recorda o pequi.
O leitor estranha, aproxima-se
desconfiado, vê o amarelo vibrante, sente o cheiro forte,
lambe o fruto, acaricia. E
aprende, pela linguagem de
um narrador prodigioso, que
não deveria morder. A isca estará sempre a uma distância
perigosa. Chegar ao caroço
significa dor, sombra, morte
simbólica. Daí a necessidade
inerente de escapar. O autor
foge até de retratar Brasília como a cidade da sujeira política.
O romance transcorre nesse
fio entre o prazer da carne e os
espinhos (dor lancinante na língua e no céu da boca), entre
uma cultura previsível e a incerteza envolvida no risco de partir. Abocanhar o pequi é uma
forma de suicídio. Por enquanto, a deriva. Por quê? A resposta
está no começo e no final do romance, reverberando a canção:
“Ainda é cedo”, diz o jovem Cristiano. Ainda é cedo para morrer.
Nunca tarde para ler. l
Sérgio de Sá, autor de “A reinvenção do escritor” (Editora
UFMG), é professor da Faculdade de Comunicação da
Universidade de Brasília
Loredano
Raduan
Nassar
Escritor
mineiro,
ganhador
do Prêmio
Camões
2016
FASE RACIONAL COMPRO LIVROS E CDS
A Fase do 3º Milênio, da
Imunização Racional, anunciada há séculos passados
e revelada agora pela cultura racional nos livros
UNIVERSO EM DESENCANTO
UM OUTRO LADO
DA HISTÓRIA
or die”, premiado com o Pulitzer de poesia no ano
seguinte. Os poemas do volume têm os versos
livres, o tom confessional e os temas autobiográficos marcantes de sua carreira, que teve fim precoce em 1974, quando ela cometeu suicídio, aos 45
anos. No Brasil, apesar de seus livros nunca terem
sido traduzidos, vida e obra da poeta inspiraram a
peça teatral “Sexton”, que estreou em 2013.
Outros Livros e CDs
2215-3528 ou 2532-3646
Classificados do Rio. Achou de verdade.
classificadosdorio.com.br / 2534-4333
EM MEIO À CRISE,
O SALÃO DO LIVRO
DA RESISTÊNCIA
LEONARDO CAZES
[email protected]
N
um contexto de crise econômica,
suspensão do principal programa
governamental de compra de obras
literárias e de queda expressiva na produção de livros infantis e juvenis no Brasil,
como mostrou a pesquisa sobre o mercado editorial em 2015 divulgada na quartafeira passada, o Salão do Livro para Crianças e Jovens, organizado pela Fundação
Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), chega à maioridade como um espaço
“de resistência e de defesa da cultura escrita”, nas palavras da secretária-geral Beth Serra. A 18ª edição do Salão está mais
enxuta do que em anos anteriores, reflexo
das dificuldades enfrentadas pelas editoras desde o ano passado. Ainda assim, estão previstos cerca de 30 lançamentos de
livros entre os dias 8 e 19 de junho no Centro de Convenções SulAmérica, na Cidade
Nova. A entrada custará R$ 6.
Um dos destaques da programação é a
presença de uma comitiva de autores,
ilustradores e especialistas da Espanha,
país homenageado neste ano. Beth conta
que haverá uma exposição de livros nas
quatro línguas faladas em diferentes regiões: espanhol, catalão, basco e galego. Outro destaque são as bibliotecas. Haverá espaços para bebês, crianças e adolescentes,
como nos anos anteriores, além do espaço
do ilustrador, onde artistas desenham nas
paredes na frente das crianças. A novidade de 2016 é a Biblioteca Olímpica, com
obras infantis de 50 países que participarão dos Jogos Olímpicos, em agosto.
— Os países estarão representados nas
suas línguas, com obras cedidas pelos
nossos parceiros. O que é a Olimpíada? É
um evento que nasce com o desejo de paz,
um armísticio. Nossa missão é contribuir
para a paz através dos livros, permitir que
as crianças conheçam o outro a partir das
suas histórias — diz Beth.
A notícia que o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) tinha sido suspenso chegou durante a edição passada
do Salão. Na época, a FNLIJ escreveu uma
carta aberta pedindo que a decisão fosse
revista, o que não aconteceu. Em 2015,
apenas o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) adquiriu obras e até aumentou suas compras em comparação
com o ano anterior. Beth questiona a opção pelos didáticos em detrimento das
obras literárias infantis e juvenis. Ela lembra a longa tradição da literatura para crianças e jovens no Brasil, iniciada por
Monteiro Lobato e seguida por Ziraldo,
Ana Maria Machado e Lygia Bojunga:
— Quantitativamente, o gasto com o
PNBE é muito menor do que o do PNLD.
O livro didático não forma leitor, é o livro
de literatura que vai formar o leitor. O
exemplo está nos nossos índices de leitura. O PNBE foi criado em 1998 e teve continuidade. A suspensão é terrível. Para retomar um programa desses é complicado. l
8
l O GLOBO
l Segundo Caderno l
Sábado 4 .6 .2016
DIVULGAÇÃO/INSTITUTO AUGUSTO BOAL
REPRODUÇÃO
Na Espanha. O
diretor Augusto Boal
em 1977; ao lado,
trecho de carta de
Fernanda Montenegro,
em abril de 1984
Exposição no IMS apresenta pela primeira vez as cartas trocadas pelo diretor teatral Augusto Boal enquanto esteve fora do país, entre 1971 e 1986
CORRESPONDÊNCIA DO EXÍLIO
LEONARDO CAZES
[email protected]
“E
sta carta está meio esculhambada. Se eu
for parar para caprichar, nunca que termino. Um
grande abraço pra você, pra Cecília e pra todos aí. Aliás, meio
na brincadeira, outro dia comecei a botar letra num chorinho
do Francis Hime que é mais ou
menos assim”, escreve Chico
Buarque para o diretor teatral
Augusto Boal, então exilado em
Lisboa, em uma carta datada de
25 de julho de 1975. Em seguida, Chico mostra o rascunho
dos versos do que viria a ser a
canção “Meu caro amigo”. No
ano seguinte, Boal recebeu uma
fita cassete com a música. É a fita onde o amigo manda notícias
do Brasil e “um beijo na família,
na Cecília e nas crianças”.
A carta e a gravação estão na
exposição “Meus caros amigos
— Augusto Boal — Cartas do
exílio”, que abre hoje no Instituto Moreira Salles (IMS) e apresenta pela primeira vez a correspondência do diretor e criador do Teatro do Oprimido com
amigos, poetas, escritores, atores e intelectuais. As cartas
compreendem o período entre
1971 e 1986 e fazem parte do
acervo do Instituto Augusto Boal, comandado pela viúva do diretor, Cecília Boal.
— As cartas são individuais e
coletivas ao mesmo tempo, pois
A ARTE CHAMA A
ATENÇÃO PARA
VAZIOS DA CIDADE
‘Permanências e destruições’ ocupa ilha
de Luz del Fuego, torre abandonada de
Niemeyer na Barra e espaço no Alemão
NANI RUBIN
[email protected]
D
esde 1967, quando Luz del Fuego foi
assassinada por dois pescadores, a
Ilha do Sol, na Baía de Guanabara,
perdeu o brilho. A casa onde a bailarina morou e criou a primeira associação de naturismo do país encontra-se em ruínas; o terreno à
volta, abandonado. Hoje e amanhã, no entan-
trazem observações do contexto histórico, cultural e político
do momento em que foram escritas — afirma o curador Eucanaã Ferraz. — O assunto principal é o trabalho, o teatro. Tudo
gira em torno disso. As cartas
também deixam entrever o carinho dele pelos interlocutores.
Augusto Boal assumiu a direção do Teatro de Arena em 1956,
a convite de Sábato Magaldi e Zé
Renato. O grupo promoveu uma
revolução estética no teatro brasileiro nas décadas de 1950 e
1960 e, após o golpe de 1964,
seus membros passaram a sofrer
com cerco da ditadura militar.
Em fevereiro de 1971, Boal foi
preso e torturado por dois meses. Após deixar a prisão, partiu
to, o local será “despertado”. A artista Aleta Valente, cujo trabalho gira em torno de autorrepresentação e sexualidade, instalará ali a Ilha do
Sol Photo Studio, provocando os visitantes a posarem nus, com ela, numa ação que tem o propósito de recuperar a memória do lugar e criar
“uma confusão entre mito e veracidade”.
— Quero trazer os corpos nus para dentro da
ilha de novo, como uma espécie de ressuscitação,
e conseguir que as pessoas se questionem sobre a
relação com seu próprio corpo — diz ela.
A performance é uma das três que acontecerão
no local, dando início à segunda edição de “Permanências e destruições”, do Programa de Arte
Pública do Oi Futuro (permanenciasedestruicoes.com.br). As outras são de Jonas Arrabal e Ronald Duarte — Arrabal proporá ao visitante ficar
num bote a 20 metros da ilha, num distanciamento cujo objetivo é chamar a atenção para a
Baía; Duarte fará uma instalação nas rochas.
— Este ano, pensamos, como conceito, em espaços que não só estivessem em estado de abandono, mas que tivessem múltiplas camadas de
interpretação, colocando um embate entre realidades — diz o curador João Paulo Quintella.
para o exílio em Buenos Aires.
— Ele era muito otimista,
muita gente falava que ele podia ser preso, mas o Boal não
acreditava — lembra Cecília,
em um dos depoimentos em
vídeo da exposição.
Os anos fora do país foram
muito produtivos para Boal. Na
Argentina, ele desenvolveu a estrutura teórica do Teatro do
Oprimido. Cinco anos depois,
com o golpe militar no país, o diretor e a família foram obrigados
a se exilar novamente, agora em
Lisboa. No entanto, o passaporte
de Boal tinha sido cassado pela
ditadura brasileira. As cartas
mostram sua angústia com a situação: multiplicavam-se os
convites do exterior por causa da
repercussão do seu trabalho,
mas ele não podia atendê-los.
Foi preciso entrar com um processo contra o governo para
conseguir o documento.
Após dois anos em Portugal,
Boal se mudou para Paris, onde
pôde criar um centro para pesquisa e difusão do Teatro do
Oprimido. É neste período que
ele recebe uma carta da atriz
Fernanda Montenegro, escrita
no dia da votação da emenda
pelas eleições diretas para presidente, em abril de 1984: “Espero que, ao acordar, as ‘Diretas-já’ tenham sido aprovadas.
O Congresso está cercado pelo
exército. Dizem que pra proteger as instituições! Deus nos
acuda. Censura geral”.
É o caso também da Torre H, na Barra. O prédio
residencial de 37 andares foi projetado nos anos
1970 por Oscar Niemeyer, e jamais concluído. O
imenso esqueleto cilíndrico faz um contraponto
às obras aceleradas na Zona Oeste da cidade.
— É uma estrutura impossível de não ser percebida e ao mesmo tempo é fantasmática. Muito impressionante, para uma quantidade de
concreto como aquela — observa Quintella.
VENOSA MOSTRA PERFORMANCE E INTERVENÇÃO
Lá, em dois fins de semana deste mês (dias
11/12 e 18/19), os artistas Angelo Venosa, Daniel Albuquerque, Janaina Wagner, Igor Vidor, Anton Steenbock e a dupla This Land Your Land se
utilizarão da arquitetura desabitada para promover ações. Vidor, por exemplo, instalará uma
cama elástica em cima da torre, criando uma
experiência única, de reverberar a altura no
próprio corpo. Já Venosa, escultor consagrado,
vai mostrar uma performance e uma intervenção escultórica. Na primeira, um copo de água
será transferido de mão em mão até atingir o topo; na segunda, o pequeno espaço da porta de
um apartamento até a janela será percorrido
Apesar da torcida de Fernanda, a emenda não passou, e
Boal só retornou ao Brasil em
1986, após o início da redemocratização. Sua correspondência mostra que a ditadura que
o torturou e exilou lhe causou
imensa dor, mas não impediu o
desenvolvimento da sua arte. l
“AUGUSTO BOAL — CARTAS DO EXÍLIO”
ONDE: Instituto Moreira Salles (Rua Marquês
de São Vicente, 476, Gávea). QUANDO:
Abertura hoje, às 17h; de ter. a dom., das 11h
às 20h; até 21/8. QUANTO: Entrada franca.
CLASSIFICAÇÃO: Livre.
NA WEB
oglobo.com.br/cultura
Veja fotos e cartas de
Augusto Boal no exílio
através de um túnel de tecido.
— A primeira é uma ação muito simples, banal, uma maneira de experimentar no corpo o
que é aquele prédio, sentir a escala — diz Venosa. — Já com o túnel quero fazer a arquitetura sumir em volta, promover uma experiência do local que drible a arquitetura.
Nos dias 25 e 26, o projeto será concluído
com ações no Morro do Alemão. O objetivo,
ali, é outro: qualificar um terreno para torná-lo
espaço de lazer.
— Em vez de convidar um artista para responder ao espaço com uma ideia, o “Permanências” entra como uma mão a mais para movimentar uma roda já existente ali — diz Quintella, que estabeleceu uma parceria com o Raízes em Movimento, instituto formado por moradores, e com a Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da UFRJ, que desenvolve uma disciplina de urbanização alternativa no local. l
“PERMANÊNCIAS E DESTRUIÇÕES”
ONDE: Ilha do Sol, Torre H e Morro do Alemão. QUANDO: De hoje
a 26 de junho. Programação completa no site permanenciasedestruicoes.com.br. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre.
DIVULGAÇÃO
Ilha do Sol. Local onde
morou Luz del Fuego terá
ações hoje e amanhã
ARNALDO BLOCH: a coluna volta a ser publicada no dia 11 de junho
OGLOBO
SÁBADO 4.6.2016 oglobo.com.br
DESIGN
MARINA RIBAS CRIOU UM
MÉTODO QUE INVESTIGA AS
EXPERIÊNCIAS AFETIVAS PARA
DECORAR A CASA. PÁGINAS 4 E 5
GENTE COMO A GENTE
A ATRIZ NATALIE PORTMAN DIZ
QUE FAZ MALABARISMOS
PARA SE DIVIDIR ENTRE
O CINEMA E A FAMÍLIA. PÁGINA 18
ROQUEIRO DELICADO
PARA FREJAT, A BELEZA DO AMOR ESTÁ EM SUA COMPLEXIDADE:
MELHOR DO QUE MANDAR FLORES, É TRATAR O OUTRO COM CARINHO. PÁGINAS 2 E 3
CAMISA
NANA MORAES
(R$ 479)
Osklen
2
l O GLOBO
l ela l
Sábado 4 .6 .2016
ROQUEIRO DELICADO
JACQUELINE COSTA
[email protected]
s traços são másculos, a
voz é grave e rouca, as
rugas e alguns poucos
ent a.
cab elos bra nco s tam inte ress ant e e me alim
.
bém marcam presença
Sempre tem assunto.
tor,
posi
com
e
ta
sso à
arris
Cantor, guit
Frejat sabe que faz suce
anos, é
Roberto Frejat, aos 54
as mulheres.
com
beça
caesse
posum tipão. Só pelo olhar,
— Acho que tenho uma
tanto
acho
rioca pode se transformar
tura masculina. Não me
o
com
,
ado
o
don
ach
aban
me
or
num mai
feio, mas também não
o paro da música que fez com
Tem também a postura
ito.
bon
louo quanceiro Cazuza, quanto num os
de palco ou a que tenh
aria
o puco apaixonado que limp
do estou me comunicand
pé
a
iria
que
e
rô
as dão
met
cois
s
do
Essa
trilhos
nte.
ame
blic
no
m
mulhedo Rio a Salvador. Foi assi
uma sensação para as
o fotoPasdia em que Nana Moraes
res de que é um homem.
o,
moç
mau
de
ura nça .
grafou. Fez cara
sam um a cert a seg
vestir o
sabe
óat
hist
Frej
na
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eal
moç
bom
Tem, sim, sex app
o.
personagem.
mas não é nada planejad
ria,
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falta
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É o meu jeito de ser. Não
Ele
.
vida
na
sannem
o,
pen
nem no palc
mento e nem trabalho
estrada
tivo —
não para de pôr o pé na
do nisso. Não é um obje
gravar
sua mupara shows, não deixa de
diz ele, que revela que
diu
deci
s,
Aliá
e nem de compor.
lher é, sim, ciumenta.
a a cada
viveu
gravar uma música nov
Muito novo, Frejat con
, “Mais
eira
ta
prim
A
es.
mes
dois
ami gos gay s. Ele con
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sexualido que tudo”, ainda inéd
que isso o fez ter uma
s),
ana
sem
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dade muito tranquila.
ao lado.
que
ele apresenta na página
— Vários amigos tiveram
ca, o
aMais uma balada românti unonalizar porque, na verd
raci
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refuque é a deixa para uma
de, o primeiro ímpeto era
itáinev
mas
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ta meio sem
tar, achar esquisito, ver
. A resComevel: “Você é romântico?”
neira preconceituosa.
”:
e
posta é meio que um “não
a conviver com o Cazuza
cei
tem
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gen
a
aos 18
— Na verdade,
com o Ezequiel Neves
que
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amo
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por
s
gen
ana
um as ima
anos e foi muito bac
ipasão meio óbvias, estereot a
ca foi pro blemátic o.
nun
que
um
, taldas . Qua ndo voc ê vive siPra mim, foi fácil. Pra eles me
as
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história de amor mesmo,
vez tenha sido mais difíc
com
s
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mui
uma
são
tuações
entender. Hoje, vejo
que a
plex as e pro fun das do
muito aberta. Ao mesmo
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gente imagina. É lógi
tem po, vejo um velh
você vê
tinham
muito bonito quando
daquelas pessoas que
que
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casa
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história
culd ade
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mui
sexualicontinu a se gos tand o
ver outras formas de
avô
Minha mãe conta que meu adade como normais.
ixon
apa
nte
com
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Sexo, para ele, melhora
último
do pela minha avó até o
Frejat até fala mai s
po.
tem
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um
ro
hor :
dia. Não me con side
devagar, para explicar mel
ca nao, tem
pes soa mui to rom ânti
— Você fica mais calm
dar
man
vou
,
pres
“Ah
os
a
que la cois
menos ansiedade, men
delicaflores”. Mas sou um cara
o fica melhor : tanto pro
Tud
sa.
de
tido
her.
do e atencioso no sen
homem quanto pra mul
fico
filhos
tratar a pessoa bem. Não . E
Pai do tipo que leva os
ento
grud
ce a
sou
pare
não
o,
e que com
mimand
ico
méd
ao
te
gen
,
tam bém não gos to de
iões de escola, ele diz que
reun
—
mim
grudenta em cima de
hoje, anda angustiado.
fade
bou
s
(aca
mai
no
diz o geminia
— Criar filho é a coisa
21 de
cipa lzer aniv ersá rio, no dia
difí cil do mu ndo, prin
carinho
maio). — Abraçar para
te no mom ento que eles
men
do
cola
ir
Cometudo bem, mas dorm
estão passando agora.
porque
iões,
não rola. Ain da mai s
çam a ter as próprias opin que
ta.
con
—
o
tem
rent
você
calo
e
sou
ria vida
próp
a
um
e pode
Ele não dá a receita para
medir o ponto até ond
está há
impor
casamento longo, mas
interferir. Eu não quero
Aliria
resá
emp
quer
a
você
às vezes,
29 anos com
,
mas
a,
nad
dois
eça
ce Pellegatti, mãe de seus de
r das coisas e isso com
sabe
nte
ha vida
filhos — Rafael (estuda
a incomodá-los. A min
s
dua
de
te
gran
itia esFilosofia e inte
na estrada não me perm que
Julia, de
de semana em
bandas), de 20 anos, e
fins
nos
tar
a
gou
sem16. Rindo, Frejat, que che
outros pais estavam, mas
grafia
cursar seis meses de Geo capre estive presente.
de
uê
de
porq
o
na UFRJ, conta
Filho de mãe descendente
tudo:
neses e pai descensar de papel passado e
polo
us
jude
em
, Frejat
— A gente se conheceu
dente de árabes católicos
idimos
, é do
87. No ano seguinte, dec
se diz organizado. Em casa sermos
casa
95,
Em
con
morar juntos.
tipo que troca lâmpada,
cheio
saco
de
tava
eu
.
ário
que
por
ta porta de arm
onde
leda Alice chegar à cidade
— Dou um trato na casa
ao cara
ndo
eu tava tocando, dizer
gal. Nin gué m che ga dize
her
mul
ha
min
a
mbo
é
rebi
do hotel que
que o problema é da
ta oue ouvir um “Tá bom, con
parafuseta e leva um dida
ca
to.
a ele,
tra”. Começou a ficar cha
nheiro. Não rola — avis
tor
elha
Voltando à música, o can
que não come carne verm
rock
do
ção
stica,
gera
giná
da
é
anos, faz
— que
18
os
e
desd
que
m.
anos 80 e que fez canções de
musculação e massage
ória
para
ajudam a contar a hist
Frejat diz que não liga
que
bra
lem
—
bom
is
mui tos casa
grifes, mas dá valor a um
tar
can
de
o
s
gost
feito
seu
tem
u
,
descobri
mamente
Ulti
e.
cort
coao
, em
histórias de amor logo
seus ternos com Camargo
:
solo
meçar seu trabalho
São Paulo.
dão
bem,
— Can to amo res que
Beber, ele diz que bebe
o, amocert
dão
não
que
o,
cert
só se estiver entre amigos.
mas
s,
ávei
que
res doentes, amores saud
—Não sou uma pessoa
os os tindo beagressivos, doces. Tod
bebe todo dia, mas qua
é
ntal
ime
sent
que
ho
erso
Ten
pos. O univ
bo é para ficar alto.
to do
ámui to rico e exp õe mui
num ambiente confort
r
esta
s
toda
que é o ser humano, em
vel e confiável.
os
os
tod
em
e
as qua lida des
Ele é puro êxtase. l
isso é
seus defeitos. Acho que
O
NANA MORAES
CANTOR DE TODOS OS
TIPOS DE AMOR
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ANA CRISTINA REIS VOLTA A ESCREVER NO DIA 18 DE JUNHO
l ela l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
l 3
ROQUEIRO DELICADO
NANA MORAES
FREJAT PRA
RECOMEÇAR
BERNARDO ARAUJO
[email protected]
“H
oje eu acordei com sono/
Sem vontade de acordar/
O meu amor foi embora/
E só deixou pra mim/ Um
bilhetinho todo azul com
seus garranchos...” Emoldurando a genialidade de Cazuza, o DNA de Roberto
Frejat, um moleque de 20 anos, está em
pérolas como “Bilhetinho azul”, parceria da dupla registrada no primeiro disco do Barão Vermelho, de 1982. Em 34
anos de rock’n’roll, o guitarrista convertido em (bom) cantor não serviu exclusivamente ao amor — já cantou
“Declare guerra”, “Fúria e folia” e “Pedra, flor e espinho”, entre outras —, mas
sua essência é a do homem e artista delicado, sensível. Muitos sucessos do Barão, com e sem o parceiro Caju (como
ele chama Agenor Miranda de Araújo
Neto), seguem a vertente, como a derramada “Por você”, a obra-prima “Todo
amor que houver nessa vida” e até a
despeitada “Não amo ninguém”.
Na carreira solo, iniciada em 2001
com “Amor pra recomeçar”, o homem
dos figurinos e das guitarras impecáveis deixa mais claro seu pendor para o
romantismo, desde aquela canção
(“Desejo que você tenha a quem amar/
E quando estiver bem cansado/ Ainda
exista amor pra recomeçar”, parceria
dele com Maurício Barros e Mauro Sta.
Cecília) até pérolas mais recentes, como a inédita “Mais do que tudo”, impressa na foto ao lado. Nesta, o parceiro
EXCLUSIVO
MAIS DO QUE TUDO
(Roberto Frejat e Alvin L.)
QUERO QUE ELA SEJA LINDA
ALTA E USE MINISSAIA
QUERO QUE ELA PARE O TRÂNSITO
E PROVOQUE UM MAREMOTO NA PRAIA
´é outro veterano do rock brasileiro, o
letrista Alvin L., que escreveu os versos
“E tudo o que eu posso te dar/ É solidão
com vista pro mar”, do sucesso “Não sei
dançar”, de Marina. Uma união de lobos em pele de cordeiro: o espírito
punk de Alvin, que assina canções como “Freiras lésbicas assassinas do inferno” (gravada por sua antiga banda,
os Sex Beatles, e por Dinho Ouro Preto
no projeto Vertigo) e já integrou o grupo Vândalos, com o rock-é-rock-mesmo de Frejat, que reza pela cartilha de
monolitos do gênero como os Rolling
Stones (cujos shows no Brasil abriu em
1995, com o Barão) e o The Who.
EU QUERO QUE ELA FALE LÍNGUAS
E SEJA VIAJADA
EU QUERO QUE ELA TENHA TUDO
E NUNCA LIGUE PRA NADA
UMA PRINCESA NA MESA
E UMA FERA NA CAMA
E MAIS DO QUE TUDO
EU QUERO QUE ELA DIGA QUE ME AMA
QUERO QUE ELA USE CORES
E ESCOLHA SEMPRE A MAIS BONITA
SEJA UM HARÉM NUMA SÓ
E SERÁ SEMPRE A FAVORITA
DE CAETANO A TIM MAIA
No show atual, Frejat bem poderia seguir o caminho fácil (e até óbvio) de enfileirar sucessos de sua autoria e deixar
o povo cantar, mas a persona do artista
não vai por aí. Há duas semanas, na
Fundição Progresso, ele começou com
os clássicos “Divino maravilhoso” e
“Você não entende nada”, de Caetano
Veloso, para só então mandar “Maior
abandonado”, de sua própria lavra. Um
medley do ídolo Tim Maia deixa mais
do que claras as segundas intenções:
antes de mais nada, a paixão. Afinal, todo mundo tem um ponto fraco. l
NA WEB
VÍDEO
oglobo.com/ela
No site do Ela, os bastidores do
ensaio com Frejat
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Richards. Gravata
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Zegna. Óculos
(R$ 798) Giorgio
Armani na Lunetterie
SEJA IMPOSSÍVEL
PROS OUTROS
E SEMPRE FÁCIL PRA MIM
QUE NÃO QUEIRA COMPROMISSO
MAS FIQUE COMIGO ATÉ O FIM
UMA PRINCESA NA MESA
E UMA FERA NA CAMA
E MAIS DO QUE TUDO
EU QUERO QUE ELA DIGA QUE ME AMA
DIA DOS NAMORADOS
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4
l O GLOBO
l ela l
Sábado 4 .6 .2016
FOTOS DE LEO MARTINS
MARINA RIBAS em uma das três camas que
ficam na sala de seu apartamento na Gávea
A DESIGNER MARINA RIBAS ABRE A SUA
CASA E FALA SOBRE OS CONCEITOS DE
ARQUITETURA EMOCIONAL E N’ON D’ECOR
LÍVIA BREVES
[email protected]
H
á dois anos, a designer
Marina Ribas encarou
o seu novo apartamento: um espaço vazio, aberto e pronto
para receber uma nova história. Um grande cubo branco
(com vista para a Lagoa e o verde, e ainda com pátios e varandas) era o lugar perfeito para
aplicar a sua arquitetura emocional, conceito que criou e
que leva para a decoração a in-
timidade e as vivências do morador.
Hoje, o apartamento em que
mora com o marido Fred Gelli,
também designer, é um reflexo
das histórias dos dois, harmonizado por uma estética afinada.
É aconchegante e cool, daqueles que dá vontade de tirar o sapato e se esparramar. Tem um
mix de móveis de design contemporâneo, memorabília,
obras de arte assinadas por Marina (como as instalações com
cadeiras da série “Intrestrutura”), miudezas coletadas em vi-
agens, instrumentos musicais,
um altar budista e muitas plantas no teto, no chão, na parede.
— Trouxemos nossas bagagens, nossos acervos de vida,
nossos afetos. E isso é o que faz
com que os ambientes nos tragam felicidade. A nossa casa
tem que nos despertar bemestar — conta Marina, e continua. — Este apartamento é
uma soma de vidas, da minha
e a do Fred, pessoas com muitas histórias e móveis. O principal para dar certo foi oferecer
liberdade e espaço para o ou-
NA SALA, peças de design, obras de arte assinadas por Marina, móveis herdados e plantas: tudo harmoniza
tro, além da aceitação das necessidades e dos gostos individuais. Não lutamos contra o
acervo do outro, adicionamos,
combinamos, juntamos. Aceitamos as histórias anteriores e
criamos uma nova, resignificando as coisas.
Além de sofás, poltronas de
Sergio Rodrigues e Charles Eames e ainda uma cadeira-arte
Red and Blue de Gerrit Thomas Rietveld, há três camas na
sala de estar. As peças fazem
parte da trajetória do casal,
itens que eles não queriam dis-
Oferta válida até 11/06/2016.
A MISTURA DE
VÁRIOS AFETOS
LEO MARTINS
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pensar. A solução com um quê
inusitado, porém certeira no
quesito “sinta-se em casa”, foi
pensada porque Marina e Fred
tinham tanto carinho por elas
que passá-las adiante não era
uma possibilidade.
— A minha cama de solteira,
que amo, é mais alta e ficou na
altura da janela que dá para a
mata. Encaixou perfeitamente.
Virou um espaço gostoso para
a leitura. No ambiente onde
colocamos o piano do Fred está uma outra maior, de casal,
onde fico deitada ouvindo-o
tocar. Nas festas que fazemos,
elas são concorridas: todos
querem ficar esparramados
nelas — comenta a designer.
A casa tem uma tendência ao
colecionismo. Além de móveis,
conchas trazidas de praias pelo
mundo e penas, há uma cristaleira com insetos secos, como
besouros e borboletas, quase
todos encontrados sem vida
dentro do apartamento.
— Começamos a guardar os
bichinhos por acaso. Volta e
meia nos deparávamos com
um deles e, de tão lindos, não
tinha coragem de jogar fora,
como normalmente aconteceria. Fiz o oposto: coloquei em
um lugar de destaque — diz.
Para montar os ambientes,
Marina leva em conta a luz, a
brisa e a forma.
— É arquitetura e não feng
shui, vale frisar — explica ela,
que já levou o seu conceito para empresas e, agora, pretende
fazer projetos residenciais.
A ideia é que o morador en-
contre em casa um lugar de
alegria, conforto e identidade.
Arquitetura emocional não é
algo que pode ser construído
para uma pessoa, precisa ser
feito junto com a pessoa. Algumas casas possuem ambientes
“doentes”, aqueles que nunca
estão arrumados, viram espaço para entulhar coisas. Marina explica que estes locais só
são curados quando o dono
também se envolve.
— O primeiro passo é entrevistar as pessoas que moram
ali para entender a dinâmica
do ambiente. Conhecer as movimentações e as necessidades
do espaço — explica ela, que
segue fazendo um diagnóstico,
lista o acervo da pessoa e, só
depois, pensa na construção
do décor da casa. — A minha
ideia é fazer com que as pessoas sejam melhores a partir do
lugar onde moram.
Marina chama o seu trabalho também de non d’ecor,
uma metodologia própria e intuitiva, que, ela explica, foi desenvolvida após anos atuando
no mercado de moda, fazendo
visual merchandising e interiores de lojas.
— O cliente relata suas angústias e desejos. Observo o ambiente, que sempre fala por si. A
minha narrativa é uma resposta
a este cenário. Penso que se você não é feliz na sua casa, também não será fora dela. Ou então vai precisar estar sempre fora — destaca Marina.
Afinal, não há lugar como o
nosso lar. l
Sábado 4 .6 .2016
A MISTURA DE VÁRIOS AFETOS
l ela l
O GLOBO
FOTOS DE MARINA RIBAS
QUARTO do
casal é
espaçoso para
ambos terem
conforto.
Pendurado, o
vestido de noiva
de Marina
O PÁTIO da
casa, onde,
aliás, fica a
quarta “cama
de estar”
CADEIRAS
garimpadas em
antiquários,
caçambas e
doadas ao redor
da mesa de
jantar; ao fundo,
a cama de
solteira que
virou lugar
preferido para a
leitura
l 5
LEO MARTINS
6
l O GLOBO
l ela l
Sábado 4 .6 .2016
LINIKER: cantor já confessou que escrevia cartas
de amor, mas não tinha coragem de entregá-las
LEILA PENTEADO
CORRESPONDÊNCIA
AMOROSA É MOTE
PARA EVENTOS
E PARA A OBRA
DE ARTISTAS
É HORA
DE FALAR
DE AMOR
RENATA IZAAL
[email protected]
O
português Fernando Pessoa, sob o heterônimo de Álvaro de Campos, cunhou
a descrição elementar sobre a correspondência amorosa: “Todas as cartas de
amor são ridículas. Não seriam cartas
de amor se não fossem ridículas.”
Mas o ridículo parece ensaiar um retorno. Em
tempos de comunicação instantânea via aplicativos, quem diria, as cartas de amor pipocam
aqui e ali no Rio: no sábado, a cravista Rosana
Lanzelotte comanda o concerto “Cartas Leopoldinas” na Sala Cecília Meireles. O mote: os 200
anos da chegada da Missão Artística Francesa
ao Brasil e, que amor, o aniversário do noivado
do príncipe Pedro de Alcântara com a princesa
Leopoldina. As cartas dela serão lidas no concerto (saiba mais na página ao lado). Já na segunda-feira, a Go, Writers, uma escola itinerante de criação em escrita, promove um curso na
Casa Ipanema para “amadores”. Nada a ver com
o grau de profissionalismo dos escritores, mas
com sua capacidade de amar e expressar sentimentos no papel. A partir das cartas de amor de
gente como Yoko Ono e Karl Marx, os alunos
aprendem a técnica colocando no papel suas
experiências amorosas.
— Esse retorno às cartas de amor é um sinal.
Podemos perceber o inconsciente coletivo vibrando nessa necessidade de se falar de amor.
— afirma a psicanalista Beatriz Breves, presidente da Sociedade da Ciência do Sentir, que
estuda os sentimentos e as sensações humanas.
— No momento em que a comunicação é fugaz,
em que tudo é descartável e impessoal, a carta
traz a ideia do permanente. Ao contrário do corta e recorta da escrita no computador, uma carta de amor fala de uma ligação afetiva mais profunda, sólida, personalizada e presente. Ela afirma que o amor prevalece — explica Beatriz.
Expoente da nova geração da black music brasileira, o cantor Liniker, líder da banda Liniker e
os Caramelos, já confessou em entrevistas que,
mais jovem, escrevia cartas de amor, mas não tinha coragem de entregá-las. Assim, passou a
dedicar-se à música para externar seus sentimentos. Mais ou menos o que diz o Go, Writers
em sua página no Facebook: “tem coisa que só
sai da gente por escrito.”
— De fato, podemos olhar para esses eventos
em torno das cartas de amor como um grito de
socorro. Se vivemos um cotidiano violento, se as
relações são vazias e não há delicadeza entre as
pessoas, faz sentido querer falar de amor. Assim, fala-se da questão humana, porque o amor
traz com ele uma série de experiências, como as
angústias, o sofrimento, as alegrias, a aceitação... — conta Beatriz.
O amor está no ar no Rio de tal forma que já
extrapola as cartas. No dia 11, véspera do Dia
dos Namorados, acontece uma nova edição da
festa Novo Romance. Segundo os organizadores, a ideia é “trabalhar a afeição profunda ao
outro, a ponto de estabelecer um vínculo afetivo
intenso, capaz de doações próprias”. l
Agenda amorosa
Cartas Leopoldinas: Sala Cecília Meireles, sábado, 20h
Go, writers para amadores: Casa Ipanema, segunda, 19h
Festa Novo Romance: Topo do Rio, 11 de junho, 23h30m
l ela l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
l 7
A PARTIR da esquerda, a cravista Rosana Lanzelotte,
o violinista Felipe Prazeres e a atriz Carol Castro
REPRODUÇÕES
É HORA DE FALAR DE AMOR
UMA PRINCESA
APAIXONADA
B
asta percorrer os livros de
História do Brasil para se perceber que à Imperatriz Leopoldina é atribuído um papel
secundário. Dela, quase nada
se sabe, além da narrativa triste que
dá conta da desilusão amorosa que
viveu com um marido que não tinha
pudor em levar a público as suas relações extraconjugais. De olho nesse
triste legado, a cravista Rosana Lanzelotte aproveitou o aniversário de
200 anos do noivado de Leopoldina e
Pedro para trazer à cena a personalidade da aristocrata.
No concerto“Cartas Leopoldinas”,
que acontece hoje à noite na Sala Ce-
cília Meireles, as cartas da Imperatriz ganham leitura da atriz Carol
Castro entre peças musicais de
Neukomm, Kozeluch e do próprio
Dom Pedro I, autor do “Hino da Independência”.
— Leopoldina é sempre retratada
como uma mulher triste. Mas ela era
culta, conhecia música e tinha interesse em política. — conta Rosana,
que destaca a importância das cartas
para a compreensão da vida de Leopoldina. — O roteiro do concerto se
situa entre 1816 e 1822, uma época
feliz na vida dela, que escrevia sobre
amor, música e a consciência de seu
papel na corte. l
ANSIOSA PELO
CASAMENTO
E PELO MARIDO
“BELO”
O
acordo de casamento entre
Leopoldina e Pedro foi firmado em 1916. A união do
herdeiro do trono português
com uma Habsburgo era vista
como uma oportunidade de
colocar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves no mapa das relações internacionais.
Cheia de expectativas em relação ao marido prometido e ao
novo país, Leopoldina escreveu: “O Rio de Janeiro é a capital do novo reino e meu bom
papai me prometeu em casamento ao futuro rei, o Príncipe
D. Pedro”.
Sua viagem a partir de Viena,
teve escala na Itália, onde ela
embarcou no navio que a trouxe ao Rio. Leopoldina não escondia a ansiedade (“Não vejo a
hora de chegar ao Brasil”) e derretia-se por Pedro a quem conhecia apenas por um retrato
em forma de medalhão que lhe
fora dado pelo Marquês de Marialva: “Pedro é extraordinariamente belo, tem olhos magníficos e um belo nariz. Gosto até
dos seus lábios, mais grossos
que os meus. Estou enlouquecida, olho para o retrato sem cansar. Tão belo quanto Adônis!,”
escreveu a austríaca.
Chegada ao país em 1817, ela
escrevia à Viena amorosa e
contente: “Todos são anjos de
bondade, especialmente meu
querido Pedro”. l
LEOPOLDINA: paixão pela música
CONTENTE COM
A VIDA MUSICAL
NA CORTE
PORTUGUESA
L
eopoldina preparou-se para
vir ao Brasil. Ciente de que a
corte portuguesa instalada
no Rio gostava de música, ela
trouxe consigo um rico acervo
de partituras, com obras de
Mozart, Beethoven, Schubert,
Neukomm e Kozeluch, que hoje integram a Coleção Teresa
Cristina Maria, doada por
Dom Pedro II à Biblioteca Nacional. A música era uma paixão da austríaca:
— Nas cartas, a princesa Leopoldina mostra-se contente
ao saber que havia uma cena
musical no Rio. Ela constantemente escrevia à família em
Viena contando de suas experiências musicais no Rio — diz
Rosana, reafirmando que a cidade tinha, de fato, uma vida
musical fértil com a presença
do austríaco Sigismund
Neukomm e do Padre José
Maurício, na Real Capela.
Já vivendo no Brasil, ela escreveu sobre o músico, seu
conterrâneo: “Posso contar
com a graça de ter a presença
nesta corte do pianista Sigismund von Neukomm, austríaco como eu. Ele chegou em
1816 com o Duque de Luxemburgo, mas já constava na lista
dos artistas da Missão francesa
desembarcada poucas semanas antes. Neukomm foi um
dos discípulos mais apreciados por Joseph Hadyn e era
muito amigo de minha mãe.” l
EM OBRA DE Simplício de Sá,
Leopoldina, D. Pedro I e os filhos
DIVULGAÇÃO TV GLOBO/CAIUÁ FRANCO
CAROL CASTRO
figurinos de
época e estudo
dos textos de
Leopoldina
CAROL CASTRO LERÁ AS CARTAS DE LEOPOLDINA:
‘UMA MULHER INTELIGENTE, ENGAJADA E FORTE’
A
atriz Carol Castro fará a
leitura das cartas de Leopoldina no concerto. No
espetáculo, ela e o elenco usarão figurino inspirado nas roupas de época e confeccionado
por alunos de Moda da Universidade Veiga de Almeida.
Como você se preparou para a leitura?
Tentei me aprofundar na história da Leopoldina. Li a corres-
l
pondência dela, que foi uma
mulher inteligente, engajada e
sofrida, mas forte. Perdeu um
filho e não fraquejou. Foi um
breve mergulho nessa parte da
nossa história.
l Há algum momento particularmente tocante nas cartas?
A relação de Leopoldina com a
maternidade é bonita. Quando
dá à luz a primeira filha, ela se
revela muito amorosa, afirmando como a Maria da Glória
herdara os seus olhos azuis e
chamando aquele momento
de “celestial”. Como quase todas as mulheres, ela aparece
na história como uma coadjuvante, mas além do papel de
mulher e Imperatriz, Leopoldina também era interessada
em política. Algumas cartas
deixam clara a sua influência
na independência do Brasil.
Sua rotina para o concerto
é muito diferente da de atriz?
A música tem um processo diferente do teatro. Nós atores
ensaiamos juntos por bastante
tempo até a estreia do espetáculo. Já os músicos estudam
sozinhos quase sempre e têm
poucos encontros antes do
concerto. Para o espetáculo de
hoje, eu fiz o meu primeiro ensaio ao lado de todos os músicos apenas ontem. (R. I.) l
l
8
l O GLOBO
l ela l
Sábado 4 .6 .2016
A HISTÓRIA DE CLAUDE E CLARISSE TROISGROS: DO COMEÇO “ERRADO” AO CASAMENTO
MARCO ANTONIO REZENDE
O CUPIDO ACERTOU NA COZINHA
JACQUELINE COSTA
[email protected]
N
o dia 2 de fevereiro de
2017, Claude Troisgros
e Clarisse Sette Troisgros fazem uma década
juntos. A data já está,
como em todos anos, bloqueada
na agenda do chef. Neste dia,
curtem um jantar a dois e dormem no Copacabana Palace.
Mas Clarisse lembra, rindo, que
eles começaram errado. E segue
contando a história dos dois:
— Eu era gerente do GNT e ele
fazia parte do casting, como ainda faz. Eu negociava contratos e
a parte comercial. Teve o episódio de uma viagem para a África
do Sul que gerou um mal-entendido e eu bati o pé e disse que
iria cancelar a viagem. Naquele
momento, ele começou a me
detestar. Mas, à tarde, Claude
me ligou, revendo sua posição.
O capítulo seguinte foi uma
reunião com a equipe do programa para planejar a tal viagem.
Clarisse, 43, disse que Claude, 60,
mal conseguiu disfarçar o desconforto quando soube que ela
também embarcaria:
— Eu, ato contínuo, relaxei
quando resolvemos aquele
mal-entendido. Só que ele foi
super frio ao descobrir que eu
ia. Acho que ficou com vontade de desistir de novo!
No dia do embarque, Claude
se manteve educado, mas distante. Clarisse conta que chegou toda fofa porque a situação do trabalho, afinal, já havia
sido resolvida. Passaram uma
semana juntos.
— O Claude é muito fácil de
lidar e eu também. Não tínhamos mais motivos para brigar.
Tudo funcionou e a gente ficou
muito próximo. Quando voltamos, ele me procurou. Foi tinhoso, insistente. Como Claude é muito sedutor, foi muito
difícil não me envolver .
Apesar de sedutor, o chef não
sabia dizer “Eu te amo”. Ele
mesmo conta que foi com Clarisse que aprendeu a dizer essas palavras tão mágicas para
qualquer relacionamento, seja
amoroso ou familiar.
— Por uma questão cultural,
na França a gente não se abre
muito para os outros. Até meus
20 e poucos, meus pais nem deixavam eu me abrir. Nunca tinha
dito “Eu te amo” nem para o
meu pai, nem para minha mãe,
nem para os meus filhos. Já a
Clarisse, até por conta dos anos
de terapia, fala isso o tempo todo
e pra todo mundo. Outro dia, escrevi “Eu te amo” no final de
uma mensagem para a minha filha e ela respondeu perguntando se eu tinha bebido! — ri.
Terapia de casal os dois já fizeram. Mas o inusitado é que
foi antes do casamento, que
aconteceu em 2009. Claude é
pai de Thomas, de 34, e Carolina, de 32. Clarisse tem Julia, de
25, e Bento, de 14.
— Foi fundamental. Como as
coisas aconteceram muito rápido com a gente, era normal fazer
de tudo pra se adaptar ao outro.
Só que aí os defeitos ficam escondidos. Foram só três sessões,
mas elas criaram um vínculo
que nos deixou muito seguros
para o movimento que estavámos fazendo — afirma Clarisse.
Para os dois, o papo de “preservar a individualidade” não é
lugar comum. Vivem isso de
uma forma bem natural.
— Saio para jantar com amigos homens e não tem nenhuma questão. O Claude, por outro lado, não tem uma vida social tão individualizada. Só que
ele ama viajar. Se não posso ir
junto, ele pega a moto e vai pra
Búzios. Além disso, todo ano,
faz uma viagem de um mês com
algum amigo.
— Uma das melhores coisas é
liberdade com respeito. Cada
um pode fazer as suas coisas,
sem se sentir preso — ele diz.
Quando não combinam em
ARQUIVO PESSOAL
CLAUDE E CLARISSE em casa. Abaixo, o casal no dia do
casamento, em 2009, com os filhos de cada um. Do lado
esquerdo, os de Clarisse. Do direito, os de Claude
algo, negociam. Claude é organizadíssimo. De Clarisse, já não
se pode dizer o mesmo.
— É o jeito dela, mas me acostumei. Eu coloco tudo no mesmo lugar: chave, óculos, celular.
Vejo um esforço grande da parte dela para melhorar.
E aí Clarisse admite que tem
mesmo tentado mudar:
— Sou o contrário dele, mas
me esforço para ser mais organizada. Fico atenta para não mudar nada de lugar. Quando a
gente viaja, ele chega ao ponto
de querer saber a hora que vou
acordar no dia seguinte.
— Gosto de me programar.
Mas a única coisa que me irrita
mesmo é atraso, porque francês
é todo certinho nisso — diz ele.
Enquanto Claude continua
com o programa “Que marravilha”, no GNT, e com os restaurantes do grupo que leva seu
nome, Clarisse fez, há seis anos,
um mudança brusca na vida
profissional. E o chef foi fundamental para isso:
— Trabalhava com TV e mudei
para o Terceiro Setor. Não seria
possível se o Claude não tivesse
atento à minha angústia. Fui ficando desconfortável com esse
novo modelo de mercado corporativo e foi ele quem me mostrou
o que eu não estava conseguindo
ver — lembra Clarisse, que hoje é
diretora voluntária do abrigo Lar
Luz e Amor, em Bonsucesso, e diretora administrativa da ONG
Movimento Humanos Direitos. l
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l ela l
Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
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REPRODUÇÕES
A CIDADE vista do Peninsula, um
dos hotéis mais luxuosos de Paris
A VERSÃO FRANCESA DO PENINSULA
MISTURA O CLÁSSICO E A TECNOLOGIA
SOB O CÉU DE PARIS
A FACHADA do hotel, que fica perto do Arco do Triunfo
GILBERTO JÚNIOR
[email protected]
Q
uando se está num
quarto, com um closet
confortável, no qual
basta um toque — no
tablet, que fica logo na
mesinha de cabeceira — para
abrir e fechar a cortina, acender e apagar a luz e controlar a
temperatura, é difícil criar coragem para deixar tudo para
trás. Mas estamos em Paris e o
hotel Peninsula, vizinho do
Arco do Triunfo, é muito mais
do que um “controle remoto"
eficiente — e produtos de banho da grife Oscar de La Renta disponíveis na banheira.
O L'Oiseau Blanc, um dos
restaurantes do espaço, por
exemplo, tem uma vista da cidade de tirar o fôlego (pense
na Torre Eiffel toda iluminada
— existe coisa mais romântica?). A piscina coberta — e
com cascata — é um luxo.
Acrescente à lista o spa, com
oito cabines privadas (incluindo duas suítes para casais), e
salas de ginástica. E fique
pronto para esbarrar a qualquer momento com uma es-
trela na recepção. Que tal deparar-se com Kendall Jenner, a
meia-irmã supermodelo da
socialite Kim Kardashian,
prendendo os cabelos antes de
enfrentar um grupo animado
de fãs e paparazzi que a esperavam na calçada.
Mas nem a presença de um
dos integrantes do clã Kardashian-Jenner
consegue
ofuscar a instalação “Dancing
Leaves”, com 800 folhas de cristais artesanais criadas pelo
ateliê Lasvit, da República
Tcheca, disposta no lobby. Tudo no Peninsula é opulento. l
A IMPONENTE escadaria logo na recepção
PRÉDIO FOI NO PASSADO O HOTEL
MAJESTIC, QUE HOSPEDOU GERSHWIN
O
prédio, uma construção
do século XIX com detalhes haussmanianos e neoclássicos, foi no passado o
Hotel Majestic, inaugurado
em 1908 — foi no local que o
compositor americano George Gershwin fez “progressos
consideráveis", na primavera
de 1928, no poema sinfônico
“An american in Paris”.
O Peninsula Paris passou a
funcionar em 2014, após uma
restauração que incluiu as facilidades dos anos 2000. Esta
unidade é recente se comparada à primeira da rede, administrada pela companhia The
Hongkong and Shanghai Hotels, que abriu as portas em
1928, em Hong Kong.
Não à toa, é possível detectar
os “genes” asiáticos aqui ou ali
na versão parisiense. O restaurante Lili parece ser um pedaço da China dentro do edifício,
com destaque no menu para o
dim sum. Na seara da gastronomia, o Le Lobby, o “coração”
de todo hotel Peninsula, serve,
com bastante estilo, um chá da
tarde animado, com biscoitos
de figo, bolinhos ingleses e rabanada francesa. l
O QUARTO é elegante e high-tech
Shopping Village Mall - 21 3252 2570
A PISCINA do hotel é dessas de tirar o fôlego
Diamond Collection
10
l O GLOBO
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EM UM RELACIONAMENTO SÉRIO.
R$500,00 em compras =
01 PAR DE INGRESSOS
E BOAS RISADAS, NO STAND UP COMEDY NO TEATRO
BRADESCO DO VILLAGEMALL.
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O GLOBO
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A DIOR levou seu desfile cruise
2017 para o Palácio de Blenheim
RIO, HAVANA E LONDRES
FORAM OS DESTINOS DA
TURMA DA MODA
PÉ NA
ESTRADA
A
turma da moda viajou
como nunca nas últimas semanas. Depois
de Havana (cenário do
desfile cruise 2017 da
Chanel) e Rio (a Louis Vuitton
mostrou sua mais recente coleção em Niterói), a Inglaterra foi
o destino. A Dior armou seu es-
petáculo no Palácio de Blenheim: a ideia era misturar os
estilos francês e britânico. E deu
liga. Na passarelas, decotes sinuosos, gargantilhas fortes e
reinterpretação do clássico tailleur Bar, além de uma rica estamparia e um trabalho interessante de volumes. A dupla suíça
Lucie Meier e Serge Ruffieux segue no comando criativo desde
a saída de Raf Simons. l
REPRODUÇÕES
GILBERTO JÚNIOR
[email protected]
REUTERS
A GUCCI mostrou seu cruise 2017
na Abadia de Westminster
TONS PASTEL e militarismo na
coleção cruise da Chanel
UMA EXPLOSÃO
DE CORES
CUBA DOS MEUS
SONHOS
A
N
Abadia de Westminster, em
Londres, foi palco para o estilista Alessandro Michele
apresentar o excêntrico cruise
2017 da Gucci. Foram 96 modelos e uma explosão de cores,
com o tradicional mix de referências que o estilista italiano
faz como poucos.
Michele investiu em peças
cheias de personalidades — ou
vai dizer que uma saia xadrez
com um cãozinho bem no centro passaria em branco? Não
faltaram brilhos, florais e toques
masculinos. O look segue com
perfume vintage, mas com a cara das ruas de hoje. l
os últimos tempos, Cuba
vem servindo como locação para grandes ensaios.
Sempre atento, o alemão Karl
Lagerfeld levou a apresentação
cruise da Chanel para Havana.
Com Gisele Bündchen na primeira fila, a maison francesa
jogou suas fichas no militarismo (o verde, não à toa, despontou como uma das cores
mais relevantes da coleção), na
questão dos gêneros (o guarda-roupa do homem é uma
inspiração forte) e na alfaiataria. Os tons pastel também têm
sua importância, assim como
os vestidos festivos. l
A
caravana da Louis Vuitton, capitaneada pelo estilista Nicolas Ghesquière,
teve dias animados no Rio de
Janeiro. Só se falou do desfile
cruise que a casa armou no
Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o MAC, e nas
festinhas. Na madrugada da
última terça-feira, dois dias
após o show, a etiqueta francesa se manteve nos noticiários
— agora, nas páginas policiais:
assaltantes levaram oito bolsas, o carro-chefe da etiqueta,
avaliadas em R$ 431 mil.
Mas voltando o foco para a
moda, Ghesquière esteve no
Brasil em 2015 para fazer seu
trabalho de pesquisa. Visitou o
Rio, São Paulo, Brasília e Inhotim. A coleção tem forte apelo
esportivo-futurista e uma
energia street que impressiona.
O francês interpretou as curvas
de Oscar Niemeyer, que projetou o MAC, em peças com babados. “Admiro tanto o poder
da convicção de Oscar Niemeyer. Sua visão, sua radicalidade, sua utopia mesmo. Ser
capaz de apresentar uma coleção de moda num espaço tão
arquitetonicamente poderoso
é uma experiência sensorial”,
disse Ghesquière em comunicado oficial.
Os artistas Hélio Oiticica e
Aldemir Martins também são
referências. “Para mim, a questão principal era como incorporar em minha coleção esses
elementos que fazem parte da
cultura brasileira, sem esquecer que sou apenas um visitante que traz suas próprias referências culturais parisienses e
francesas ao momento”. l
FOTOS DE LEO MARTINS
ROUPA FRANCESA COM
GINGA BRASILEIRA
A VUITTON
fez desfile
comentado
no MAC
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Sábado 4 .6 .2016
Apresenta
O LOCAL NÃO TEM ESTACIONAMENTO. PARA SEU MAIOR CONFORTO, VÁ DE TÁXI.
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Apoio
Realização
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ESPECIALISTA EM LUXO DESCOBRE
A ESPIRITUALIDADE NA CAPITAL
MUNDIAL DO YOGA
PASSAGEM
PARA A ÍNDIA
JAYME DRUMMOND
Especial para O Globo
[email protected]
U
-RISHIKESH, ÍNDIA-
m belo dia recebi o convite de uma amiga para
ir à Índia. Ela, ao contrário de mim, é uma pessoa tranquila, mística,
que não come carne e pratica
meditação dirigindo no trânsito
da Lagoa-Barra às seis da tarde.
Ela não chega a ser xiita: bebe,
sai para dançar e tem um lado
zen caviar que eu adoro. O roteiro já estava fechado, era pegar ou
largar, e eu acabei topando.
Começamos por Rishikesh,
uma cidadezinha no norte do
país, aos pés dos Himalayas,
banhada por um Rio Ganges
com águas límpidas e esverdeadas que descem diretamente
da nascente. Sem ter muita
ideia de onde tinha ido parar,
descobri que ali era a Capital
Mundial do Yoga e local de refúgio dos Beatles, onde encontraram inspiração para compor mais de 40 músicas, incluindo o White Album. Trata-se
de um dos destinos sagrados
para os hindus, que realizam
cerimônias religiosas às margens do rio, entoadas por cantos, roupas em tons alaranjados, incensos e fogo. Nas pacatas ruas da cidade, o comércio
é simples, com poucas lojas e
farmácias de produtos naturais. Por ali, circulam calmamente algumas vacas, mochileiros e neo hippies europeus.
A maioria dessas pessoas se
hospeda em Ashrams, lugares
de oração onde também é possível dormir e comer.
Para meu deleite, fiquei hospedado a 45 minutos dali, no alto de uma montanha, no Ananda Spa in the Himalayas, um
dos melhores spas do mundo,
que tem assíduos como Oprah
Winfrey e Príncipe Charles.
Para quem quiser equilibrar
corpo e mente, pode começar
se consultando com um médico
Ayurveda, que traça seu perfil
de acordo com os três doshas:
Vata, Pitta ou Kapha. Aproveitei
para tirar uma casquinha e tentar alguma receita pras minhas
crises de sinusite. Eis que umas
gotas e uma pílula natural, vendidas nas farmácias por onde
passei, se tornaram a solução de
um problema que carrego há
anos. Milagre? Não. A medicina
Ayurveda é a mais antiga do
mundo e considerada medicina
oficial em um país com mais de
1 bilhão de habitantes.
Cada dosha dominante requer
um tipo de alimentação específica. Uns podem leite, outros não
podem; uns podem quente, outros frio, e daí por diante. Diariamente, o chef prepara três cardápios para quem quiser seguir a
dieta ideal. Um quarto cardápio,
com pratos elaborados da cozinha indiana e internacional,
também está à disposição. No
primeiro dia, tentei a tal dieta no
almoço, mas à noite comi tudo e
mais um pouco! Entendi que estar em paz significa fazer o que
você quer e não ficar se privando
de nada. O chef adorou minha
ideia e o sommelier também.
Descobri o Sula, um sauvignon
blanc produzido na região de
Mumbai que virou meu mantra
em todas as refeições.
Entre as massagens, me permiti ser feliz e acabei me esbaldando com os 200 tipos de tratamentos do spa, com óleos
quentes e outras feitas a quatro
mãos. E o Yoga, bem, confesso
que virei adepto. Desde então,
pratico toda a semana. l
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JAYME DRUMMOND
AULAS
diárias de
ioga: “virei
adepto”
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FOTOS DE ANDRÉ NAZARETH
O SÓCIOS ANDRÉ PIVA E VANESSA BORGES INVESTEM NAS CORES E NOS MÓVEIS
DE DESIGN CONTEMPORÂNEO PARA DAR MAIS ESTILO À APARTAMENTO NA ORLA
O LIVING se prolonga na
varanda envidraçada e se
conjuga com a sala de jantar.
Ao lado, o escritório com
portas de venezianas
SOBRE a mesa de jantar, a luminária de Ingo Maurer
KRAJCBERG e Sergio Rodrigues
convivem num dos ambientes
NO QUARTO do filho, conforto na cama elevada e na grande estante laqueada
SEM QUEBRA- QUEBRA
SUZETE ACHÉ
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Representante Oficial
Ipanema
Barão de Jaguaripe, 93
21 3162 4876
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Bloco D, sala I
21 3410 0367
Fábrica | Showroom
[email protected]
21 2253 9444
D
ar mais cor e modernidade aos ambientes
desse dúplex de 700m²
em São Conrado foram
os pedidos dos moradores aos arquitetos André Piva e Vanessa Borges. A reforma
teve intervenções pontuais
mas nada de quebra-quebra.
— O apartamento é de dois
andares, porque integra dois
pisos, mas não é uma cobertura. Eles queriam que tivesse
cara de casa, então a maior
mudança foi na integração da
varanda ao resto da área social. Fechamos tudo com vidro,
unificando o piso, que está revestido de travertino — explica André Piva.
O living, ampliado, tem agora
vários ambientes de convivência, a maioria com móveis da
Etel e do Arquivo Contemporâneo, com várias obras de arte,
inclusive uma escultura de
Krajcberg. Mas um dos destaques do decór é a luminária da
sala de jantar, de Ingo Maurer,
chamada “Lacrima del pescatore”, uma espécie de rede com
pequenos cristais. Uma parte da
sala de TV deu lugar ao escritório, contíguo à sala de jantar,
com portas de venezianas para
dar mais privacidade.
No pavimento superior do
apartamento ficam os quartos,
que foram renovados, especialmente os dos filhos. Há uma
sala de ginástica estrategicamente separada do quarto
principal por um biombo de
madeira. Nesse andar, a varanda foi mantida para deixar a
brisa do mar entrar livremente.
— A decoração era infantil
demais, e eles já estão mais
crescidos. O piso é de tábua
corrida, para dar mais conforto. E um detalhe interessante é
que troquei todas as esquadrias, que agora são de madeira.
Na varanda optamos por chaises para apreciar a vista —
contam os arquitetos, que
acreditam que o projeto de iluminação trouxe um estilo contemporâneo aos ambientes. l
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Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
ANEL SHOJI ,
da Voya,
R$ 4.800
l 15
ANEL PLÊIADES,
ANEL TRÊS
da H.Stern, preço
sob consulta
Pedras, da Monte
Carlo, R$ 890
ANEL LABIRINTO,
da Lisht, R$ 5.495
ANEL
ANEL DA
Sara Joias,
R$ 37.000
ANEL
BLACK
Bird, da
Suka Braga,
R$ 4.500
Amsterdam
Sauer, preço
sob consulta
ANEL SWAROVSKI ,
R$ 1.650
ANEL FRANCESCA
Romana Diana, R$ 390
ANEL DE cipó,
da Maria
Oiticica, R$ 75
ANEL
PLATE,
da Animale,
R$ 5.690
RELUZENTE
LÍVIA BREVES
[email protected]
ANEL VIBE ,
do Antonio
Bernardo,
R$ 7.990
ANEL TULIPA,
da Lívia Canuto,
R$ 1.200
A
lgumas joias têm a capacidade de ofuscar
os olhos: elas brilham
— e fazem quem as
usa cintilar junto.
Assim são os anéis desta
página : eles têm poder, são
capazes de parar o trânsito, a
festa, a praia, o tapete vermelho.
De rubi ou diamante, de ouro ou de cipó, cravejado ou clean, clássico ou ultramoderno,
vai dizer que você não parou
por um tempinho nesta página
para decidir qual deles mais
combina com você? l
ANEL OURIÇO,
do Atelier
Schiper,
R$ 13.800
ANEL QUARTZO
Fumê, da Bohö,
R$ 7.200
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16
l O GLOBO
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Sábado 4 .6 .2016
ISABELA CAPETO
REPRODUÇÕES
LÍVIA BREVES INTERINA
PARA ELE,
PARA ELA,
PARA ELX
SELO O AMOR
ESTÁ NO AR
Pense em uma estilista que espalha
amor por onde costura. Isabela
Capeto é assim. São dela as
ilustrações românticas até dizer
chega que colorem algumas das
páginas desta edição. Onde tiver o
desenho da Capeto, você já sabe:
uma história de amor será contada.
ALGUÉM VIU
ELE POR AI?
Procura-se! Um broche em forma de
cachorrinho feito em malha de ouro
amarelo, olhos de esmeralda e focinho
em ônix preto. A joalheria francesa Van
Cleef & Arpels acaba de lançar uma
campanha mundial,
#MissingPreciousPuppy, para
encontrar esta peça, que faz parte da
coleção “La Boutique” e é a única que
falta para completar a linha criada em
1966 e que reunia nove bichinhos-joias.
A data redonda, 20 anos,
fez com que a Uncle K
mudasse um pouco o seu
conceito. Focada no
público feminino até
então, agora é para todos.
Com o manifesto “All
genders, all generations,
all situations”, foram
lançados bolsas, mochilas
e acessórios unissex, sem
diferenciação de idade e
com design que favorece a
liberdade do movimento.
BRUNO DEBIZE
CHRISTY BARLEY
BORBULHANTE
Um cooler feito para garrafas de
champanhe — Taittinger, por favor.
Este carrinho lindo foi ideia do
escritório carioca de design
Muui e será sorteado na
Casa Carandaí, no Jardim
Botânico, durante esta
semana. Como se não bastasse
o novo cardápio de café da
manhã da déli de Janjão Garcia,
com sorte ainda pode-se levar
essa belezinha para casa.
OS GYPSETTERS VÃO GOSTAR
A inspiração é o alto astral carioca. Os personagens
podem ser famosos (tem Chico Buarque e Caetano
Veloso) ou anônimos, como a menina acima. Pintados
em cores vibrantes com canetinhas, a arte do designer
gráfico Bruno Debize vai colorir o Carrousel do Louvre,
em Paris, no fim do ano. Mas, por quanto, elas fazem
parte da mostra “Coletivo 148", que abre dia 16 de junho,
no espaço Idélli, em Botafogo.
Já conhece a Manu Manu Brand?
A marca de Manoela Abitbol, que
é herdeira da família Elle et Lui,
lança a nova coleção na
terça-feira, no Fashion Mall
Store, o espaço que o shopping
abre para as melhores neolabs da
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por R$ 3.995,00
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Barra Shopping: 21 3387.0444 I Plaza Niterói: 21 3601.2078 I Rio Sul: 21 2244.9999
ZAPPING
EU VEJO CORES EM VOCÊ
cidade. São peças que seguem a
tendência do ciganismo em
macacões, saias mídi, vestidos
com mangas sino e conjuntinhos.
Os decotes também são
generosos e as estampas sempre
com bastante cor.
PRESENTE PARA QUEM
GOSTA DE BAILAR
A caixa aqui ao lado é
também um convite à
dança. A coleção de
inverno da Capi é
inspirada no Jazz e para
o Dia dos Namorados a
ideia é sair dançando
juntinho. Os que
comprarem presente
para os amados lá
podem levar esta
embalagem luxo junto.
Além disso, a marca
preparou uma trilha
bacanérrima no spotify,
em parceira com a Tecla
Music, que junta hits
como Let’s Get It On
(Marvin Gaye) e Let’s
Stay Together (Al Green)
para animar a noite.
DECORAÇÃO QUE
VARIA DE ACORDO
COM O SOL
Uma cortina que muda a
intensidade da cor junto
com a variação de luz do
exterior. Assim é a
CAIXA
Let’s
Dance, da
marca Capi
confeccionada pela
Cortinaria, em Ipanema.
A novidade foi feita para
um projeto das
arquitetas Patrícia
Landau e Carolina
Escada, mas pode ser
uma boa ideia para
outros ambientes.
ENTROU NO BANHO
CACHEADA; SAIU DE
LÁ LISA
Um Shampoo que alisa
as madeixas. Praticidade
é isso aí. Foi Ana Paula
Gomes, do Ophicina
do Cabelo, que
desenvolveu o
tratamento. Em 20
minutos, o cabelo fica
liso. A durabilidade?
Três meses.
LUZ, CÂMERA, AÇÃO:
O FIGURINO DO
CINEMA
Como são criados os
figurinos dos filmes é o
tema do curso
“Figurino para cinema”,
que começa na
quarta-feira, no POP.
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Sábado 4 .6 .2016
O GLOBO
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COMBINAÇÃO:
Les Infusions
Iris Cedre, da
Prada, R$ 599
(100 ml)
REPRODUÇÕES
DO MAR: Blu
Mediterraneo
Ginepro di
Sardegna, da
Acqua di Parma,
R$ 520 (150ml)
GEL FLUIDO:
REPRODUÇÕES
Esfoliante
Nettoyant
Gommant Pour
Le Visage, da
Sisley, R$ 605
CLÁSSICO:
NOTAS QUENTES:
VERSÁTIL:
Wood Sage
& Sea Salt
Cologne, de
Jo Malone,
R$ 600
(100ml)
Shower Gel Red Musk, da
The Body Shop, R$ 59
Leave-in
OneUnited, da
Redken, R$ 142
TODOS OS TIPOS DE
FIOS: Xampu Amino
Acid, da Kiehl’s,
R$ 94
UMBU: Loção
revigorante
L'Occitane au
Brésil, R$ 49
SEM ÓLEO: Hidratante
Dramatically Different,
da Clinique, R$ 105
LIMPEZA
PROFUNDA:
BRANT BROTHERS: conjunto de corretivos
da M.A.C. com Peter e Harry Brant. R$ 163
BELEZA PARA
USAR A DOIS
A
TALITA DUVANEL
[email protected]
s prateleiras de cosméticos estão perdendo o
gênero, ou melhor, ganhando o que os americanos gostam de
chamar de gender neutral (gênero neutro) ou genderless
(sem gênero). Produtos exclusivamente femininos ou masculinos começaram a ser coisa
do passado em diversas coleções de moda e agora são também no nécessaire.
“Várias empresas estão mergulhando fundo no marketing
sem gênero, promovendo produtos que historicamente
eram vendidos para um sexo
específico e, hoje, são apresentados da forma mais neutra
possível”, escreveu a analista
de marketing da empresa de
pesquisa NPD Group, Larissa
Jensen, no blog do grupo.
É o caso, principalmente, de
marcas bastante influenciadas
pelo cenário fashion que viram
uma invasão genderless sem
precedentes em desfiles de
temporadas recentes. A
M.A.C., gigante de maquiagem
do Canadá, por exemplo, convidou os irmãos Peter e Harry
Brant, dois jovens descolados
da alta sociedade nova-iorquina para criarem uma coleção
para mulheres e homens vaidosos compartilharem. São
corretivos (afinal, olheira ou
marca de acne não escolhe sexo, cor ou idade), preenchedor
de sobrancelhas e iluminador.
Outra marca bastante presente em semanas de moda, e
agora mais do que nunca influenciada pela onda do gender
neutral, a Redken lançou o leave-in OneUnited e fez questão
de colocar os dois sexos nas
peças publicitárias, enfatizando que, hoje em dia, disputar
espaço no banheiro é démodé.
ANOS 90
Não é de hoje, no entanto, que a
moda e a beleza acompanham a
discussão social sobre gênero.
Quem viveu os anos 90 provavelmente lembra bem do CK
One, perfume da Calvin Klein
que atendia a meninos e meninas, e que foi um sucesso estrondoso de venda. Definitivamente,
o maior exemplo de genderless
beauty das últimas décadas.
Apesar de a fórmula ser conhecida, no entanto, as iniciativas foram pontuais. Segundo
Larissa, há apenas alguns anos
grandes nomes estão fazendo
esforços mais pungentes para
dinamitar a fronteira de sexo.
“Sempre haverá espaço para
a feminilidade clássica no mercado, mas vai ser interessante
ver como as marcas mais tradicionais vão adotar esse conceito de gender neutral”. l
LHA Cleasing
Gel, da
SkinCeuticals,
R$ 49,90
CRESCIMENTO DOS FIOS:
Revitrat Effluvium, da
Dermage, R$ 139
18
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
MUSA DA DIOR, A ISRAELENSE NATALIE
PORTMAN FALA SOBRE BELEZA,
FEMINISMO, MATERNIDADE E PARIS
ALIQUE PARA CHRISTIAN DIOR PARFUMS
UMA ATRIZ
COM OPINIÃO
GILBERTO JÚNIOR
[email protected]
D
esde 2014, Natalie Portman vive em Paris. Faz aquele discurso corriqueiro dizendo que a cidade é “bonita, com lugares incríveis” e conta que está encantada com a Fundação Louis Vuitton e com
o Palais de Tokyo. Mas diz que o clima é muito
diferente de Los Angeles, onde morava.
— Em Paris, temos muito vento, chuva, frio...
Então, hidratar a pele é extremamente importante — comenta a atriz israelense.
Natalie fala como uma verdadeira embaixadora de beleza. E não é mero acaso. Há algumas
estações, ela representa os produtos da Dior, como o batom Rouge, o perfume Miss Dior e mais
recentemente a base Diorskin Forever.
— Para mim, beleza é um mix de senso de
humor e gentileza — aponta Natalie, que tem a
mãe como referência neste segmento: — Ela é
muito natural. l
OS SEGREDOS
DE BELEZA DE
NATALIE
CONCILIAR A
FAMÍLIA E A
CARREIRA
P
N
restes a completar 35 anos
— seu aniversário é na
quinta-feira —, a estrela
ainda tem o tempo a seu favor.
Fala que seu grande segredo é
o mix de dieta vegana, bastante água e zero café. Ah, e uma
bela noite de sono.
— Pode parecer simples, mas
engajar-se em algo que você ama
e lhe faça feliz ajuda muito. Felicidade é um ótimo negócio para
o rosto — sugere. — É realmente
útil reconhecer que todo mundo
se sente inseguro de vez em
quando. Certamente me auxilia.
Com frequência, a coisa que deixa a mulher balançada pode ser
seu maior trunfo e definir seu visual: um espaço entre os dentes,
uma marca de nascença...
atalie não ganhou somente
o prêmio de melhor atriz
pelo filme, conheceu também o bailarino e coreógrafo
Benjamin Millepied no set. Ela,
inclusive, trocou LA pela capital
francesa por causa do marido
(eles se casaram em 2012): Benjamin assumiu a direção do balé da Ópera de Paris, em 2014.
Em fevereiro, no entanto, o bailarino anunciou que estava
abandonando a companhia.
Segundo o jornal “The Guardian”, a família — que incluiu o filho do casal, o pequeno Aleph,
de 4 anos — voltará para os Estados Unidos no próximo mês.
— Não sei o que o futuro
trará, mas por agora o trabalho do meu marido é em Paris, que é onde vamos ficar —
desconversa.
Natalie, que já participou
de alguns episódios da saga
“Star wars”, interpretou a namorada do super-herói Thor
e uma stripper em “Closer —
Perto demais", brinca que faz
malabarismo para equilibrar
a rotina de estrela de cinema
com as obrigações de mãe.
— Como todas as mulheres
que trabalham — minimiza. —
Tento me organizar, planejar.
Os horários de uma atriz são
bem incomuns, com vantagens e desvantagens. Mas é
bom ter um momento para si.
Às vezes, esquecemos disso
por estarmos ocupados com
trabalho, família e tudo o mais.
Gosto de fazer uma ótima massagem, ler um livro. l
ROMANCE NO SET
Natalie Portman faz parte do
mesmo grupo de Marion Cotillard, Charlize Theron e Jennifer Lawrence: todas têm laços
estreitos com a Dior — leia-se
bons contratos. Elas fazem
campanhas e usam as peças
mais emblemáticas da etiqueta no tapete vermelho.
— Vestir um look de red carpet é como entrar num papel
— derrete-se.
Curiosamente, cada integrante do quarteto maravilha
(Natalie, Charlize, Jennifer e
Marion) tem um Oscar no currículo — o da israelense veio
em 2011 por seu desempenho
em “Cisne negro”, de Darren
Aronofsky. l
APRENDEU A TRABALHAR
DURO EM HARVARD
N
o fim do ano passado, Natalie Portman deu uma sacudida na internet ao aparecer, numa foto, caracterizada
como Jacqueline Kennedy. Ela
será a protagonista do filme
“Jackie”, com estreia prevista
para 2017. Natalie não deu detalhes sobre o longa de Pablo
Larrain, mas falou sobre sua
estreia atrás das câmeras: ela
dirigiu a película “De amor e
trevas”, baseada no livro homônimo do escritor israelense
Amós Oz.
— Sempre respeitei os diretores e tive a oportunidade de
trabalhar com alguns dos mais
incríveis ao longo da minha
carreira, mas esta experiência
me fez perceber o quão difícil o
trabalho é. Acho que serei mais
paciente e atenciosa com o
processo na próxima vez que
estiver atuando — discorre.
Formada em Psicologia em
Harvard, a atriz revela que
aprendeu a trabalhar duro na
universidade.
— E a ter a coragem de expressar minha opinião mesmo
com pessoas bem mais inteligentes do que eu — acrescenta
Natalie.
A educação de meninas é um
assunto que lhe interessa:
— É a causa mais próxima
do meu coração. Sinto-me tão
sortuda por ter frequentado a
escola. Muitas garotas não
têm essa oportunidade. Isso
afeta o resto de suas vidas.
Educação é realmente uma
maneira poderosa de mudar a
realidade de meninas e mulheres no mundo.
Além de tudo, Natalie é generosa e consciente. l
REPRODUÇÃO
NATALIE
PORTMAN:
é a estrela
da base
OGLOBO
SÁBADO 4.6.2016 oglobo.com.br
LUIZ HORTA
A SEDUÇÃO DOS MELHORES
VINHOS PORTUGUESES. PÁGINA 2
AO MESTRE, COM CARINHO
AS LIÇÕES DE ROLAND VILLARD
SEGUNDO SEUS DISCÍPULOS. PÁGINA 6
Nós somos
PANCs
As plantas alimentícias não convencionais caíram nas
graças dos chefs e estão nos menus dos restaurantes mais
cotados do Rio e de São Paulo. Páginas 2 e 3
2
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
UM QUADRO de PANCs: coentro da Mata Atlântica, folha de acerola,
jambu, bilimbi, flor-de-ipê, vinagreira, curry, peixinho e ora-pro-nóbis
LEO MARTINS/PRODUÇÃO LOU BITTENCOURT
Luiz
Horta
Portugal combina
com chuva
E
stava em Lisboa e chovia. Não é uma frase linda?
(também é o título de um ótimo livro sobre Eça, do
embaixador Dario de Castro Alves). E só choveu, o
tempo inteiro, na semana que passei lá. Mas a tarefa
era provar vinhos, tanto fazia o clima. Fui ser parte do
júri internacional do Portugal Wine Challenge.
Não sou fã de pontos e prêmios em vinhos, há uma síndrome de
Muttley: “medalhas, medalhas, medalhas”, que nem sempre coincidem com a qualidade. Claro, há medalhas significativas e há
prêmios anedóticos, no estilo “vinho grande prata no grande concurso de Ulan Bator”, “ouro supremo no festival de Cabernets do
Mundo realizado num resort da Tailândia”.
Aberrações para enganar o consumidor, que vê aquele selinho
colado e compra o vinho “premiado” sem se dar conta do valor
real do destaque. Já fiquei repetitivo. Meu lema continua sendo
que o prazer vem primeiro, há vinhos deliciosos em momentos
certos, os que combinam com o clima, a comida e o lugar.
Num dia quente, sentado num parque, o troféu vai para um
Beaujolais fresquinho e não há grande Bordeaux pontuado que o
supere. Uma tacinha de Madeira ou Porto no fim do jantar, num
sofá, batendo papo moroso, numa noite fria, outra felicidade.
Mas admito, pela profissão, um valor em provar sem saber o que
se bebe e classificar, a hora da verdade para quem avalia. Acaba
sendo um belo exercício de afinação do próprio gosto. Vinhos de
que gosto muito, provados sem ver o rótulo, costumam me surpreender, positiva ou negativamente.
Conto isto para entrar no assunto da coluna. O Portugal Wine
Challenge, evento anual promovido pela Vinhos de Portugal, a
entidade que divulga, promove e anima os vinhos portugueses de
maneira exemplar pelo mundo, é uma seleção criteriosa. Este ano,
éramos 20 convidados: um grupo de alemães, japoneses, americanos, russos, poloneses, australianos, ingleses, brasileiros (devo ter
esquecido alguma nacionalidade, o concurso era abrangente). É
uma grande chance para conhecer e aprender.
Foram provadas mais de 1.500 garrafas em três geladas manhãs de
uma primavera que não chegou, em Lisboa, Santarém e na região da
Bairrada. Houve masterclasses de vinhos brancos e tintos e visita a
produtores da Bairrada, co-anfitriã do evento este ano.
E foi na Bairrada, hospedado no Curia Palace, uma volta nostálgica às estações de águas da infância, pois o hotel é exatamente
um cenário assim, com fonte de água medicinal e tudo, que tive
uma das grandes surpresas da viagem, os vinhos de Campolargo.
E
D
Portugal continua firme na sua
tarefa de seduzir
Já tinha bebido rótulos de Carlos Campolargo em várias ocasiões,
nos encontros da Mistral (que acontece no Rio na quarta, com estes
vinhos presentes) aqui no Brasil e por aí, pelo mundo. Não tinha prestado atenção do jeito certo, não tinha me concentrado. Como o personagem é singular, o grupo de jurados foi levado em ritmo de trote
pelos corredores da vinícola, com ele berrando as informações (seu
“não, não, não!” com que respondia a perguntas que achava mal formuladas virou “meme” da viagem entre os jornalistas) e servindo
freneticamente os vinhos. Visitar o Campolargo é como ser apanhado
num tornado só com um guarda-chuva dobrável. E vale a pena.
Abriu uma magnum do Rol de Coisas Antigas, um amplo blend de
uvas tintas, de 2005, sedoso e perfeito. Serviu um espumante surpreendente, que não chega ao Brasil, o Borga 2006, com todo aquele
aroma de confeitaria francesa dos bons champanhes, e se preparou
para a cartada final, o espetacular Campolargo branco 2010, um
vinho só da casta Cercial, com complexidade mineral, muito longo,
perfeito, talvez um dos melhores vinhos bebidos na viagem inteira.
Mesmo depois desta visita consegui me maravilhar com outras
coisas, Portugal continua firme na sua tarefa de seduzir.
Filipa Pato e o marido William Wouters, sócios da “Vinhos Doidos”,
prepararam uma surpresa, um porta-mala de carro com uma degustação pop-up, cheia de garrafas. Alguns vinhos conhecidos de Filipa
(como o Nossa Calcário, tinto e branco, duas aulas da tal mineralidade. Os dois são importados pela Casa Flora e o nome “Nossa” foi
pego por Filipa por causa da expressão de espanto brasileira). Um
vinho de ânfora, o Post-Quercus (pós-carvalho), feito no estilo vinho
laranja com a casta Bical, denso, especiado e sem peso e amargor
que costumam aparecer em laranjas amadorísticos.
O Curia Palace é hotel irmão do Bussaco, alguém descobriu que o
bar do hotel vendia os Buçaco tintos e brancos por taça e mais, tinha
uma dezena de safras antigas de ambos na adega. Meu generoso companheiro de júri, Guilherme Rodrigues, propiciou uma festa que só
enófilos entenderão, naquele saguão meio lúgubre, que faria os olhos
de Stanley Kubrick brilharem, mandou abrir garrafas e fomos provando
2001, 2002, 2003, quase coincidindo com as horas da madrugada.
Antes que o espaço acabe, preciso falar dos resultados do concurso. Eles estão on-line, mas à mesa no jantar de gala final havia
uma garrafa de Madeira, o Henriques & Henriques 15 years old
Boal. Era a última noite, continuava chovendo, eu tinha frio, precisava subir ao palco para entregar um prêmio e cometi a autoindulgência de ir bebendo, sem pressa e sem dó. Era um medalha
de ouro, só soube depois. Dentro de mim já não chovia.
Que
matinho
é esse?
ELÍVIA BREVES / [email protected] D
Tudo é mato até que se prove o contrário — ou que é
gostoso. Primeiro, foram as alfaces, a couve, a rúcula,
enfim, tudo o que se encontra nas feiras. Agora, as
plantas alimentícias não convencionais, as PANCs,
fazem a cabeça dos chefs, levando espécies como
Ebeldroega e sálvia-peixinho D para os menus.
Andar pelos pastos e florestas olhando o
que brota faz parte da rotina do chef Isaías Neries, que comanda o Parador Lumiar. O interesse pelo que não é vendido na
feira vem desde a infância passada em
Santo Amaro da Purificação, na Bahia,
quando acompanhava a mãe que era a
rezadeira da cidade. Ervas e folhas ditas
estranhas faziam parte das receitas dela,
tanto para cozinhar quanto para curar.
Anos depois e já chef, foi natural para
Isaías levar folhinhas de vique para um
purê de cará, preparar o coração da bananeira como se fosse uma carne-seca
ou fazer a massa do ravióli usando a folha do jambu-do-mato.
— Começo experimentando e perguntando para as pessoas. Depois,
pesquiso em livros, tentando identificar as folhas, para saber se posso utilizá-las — conta Isaías, que já passou a
cultivar plantas que eram vistas como
invasoras. — Com a serralha, no ano
passado, foi assim. Os meninos que
cuidam da horta arrancavam e jogavam fora, diziam que não servia para
nada. Mas resolvi testar e comecei a
usar no preparo de uma massa. Hoje,
cultivamos.
O chef Ivan Ralston já pesquisava as
PANCs antes de abrir o Tuju, na Vila
Madalena, em São Paulo. Frequentava
os encontros do Centro de Cultura Culinária Câmara Cascudo e acabou se
encantando tanto pelo que descobria
que elas viraram as protagonistas do
restaurante.
— Plantamos mais de 350 variedades
de PANCs. Temos uma estufa, canteiros
e carrinhos para cultivá-las. Fora a nossa
produção, contamos ainda com mais de
20 fornecedores. E sempre que posso, eu
saio pela cidade à procura delas — comenta Ivan, que lista beldroega, pelo sabor; ora-pró-nobis, pela textura carnuda; e serralha, pelo amargor, como as
preferidas.
TOUR EM BUSCA DAS PLANTAS
Uma das referências de Ivan é Neide
Rigo, “uma forager que entende muito
do assunto”, elogia. Há anos, ela experimenta, descobre e cataloga os matinhos que encontra e divulga no blog
Come-se. A pesquisadora comanda o
passeio Pancnacity, em que caminha
com um grupo colhendo as plantas
desconhecidas e monta um almoço.
— As PANCs não são um grupo de
plantas coeso e homogêneo. Há espécies nativas, exóticas, cultivadas, espontâneas. Há folhas, frutos, vagens e
grãos. São plantas que não encontramos facilmente nos mercados, mas que
em determinados lugares podem ser
convencionais — explica Neide. — A finalidade do tour não é só colher, mas
também reconhecer. No momento, estou adorando as flores da Moringa Oleífera, as vagens imaturas do nabo forrageiro e as verdes do feijão-espada.
Inês Braconnot acaba de abrir o Ró,
restaurante de comida raw sofisticada
no Jardim Botânico. Lá, as PANCs serão
frequentes. Pesquisadora do tema há
dois anos, ela conta que essas plantinhas não são difíceis de encontrar, mas
que as pessoas geralmente não sabem
que elas são comestíveis.
— Muitas são consideradas matos espontâneos, ou seja, plantas que crescem
nos nossos quintais, que temos a mania
de considerar daninhas. Também são
PANCs as partes dos alimentos que geralmente dispensamos. Como nas bananas, das quais não utilizamos os corações ou umbigo. Eu gostaria de ter só estas plantas no restaurante — comenta a
chef de comida crua, que, nesta semana,
recebeu em seu restaurante coentro-daMata-Atlântica, folha de acerola, jambu,
bilimbi, flor-de-ipê, vinagreira, curry,
peixinho e ora-pro-nóbis.
Editora: Renata Izaal. Diagramação: Anderson Barboza. E-mail redação: [email protected] Redação: 2534-5000. E-mail publicidade: [email protected] Publicidade: 2534-4310. Correspondência: Rua Irineu Marinho 35, 1º andar. Cep: 20230-901.
O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
NO RÓ, que acaba de abrir, Inês Braconnot destaca as PANCs em seu menu 100% cru,
como na salada do dia, que será sempre diferente e com plantas pouco conhecidas
LEO MARTINS
DIVULGAÇÃO/CAROL GHERARDI
NO TUJU, o tartare de carne leva a folha “peixinho frito”
(também chamada de lambari da horta) e botarga
O chef Rafa Costa e Silva, do Lasai, conta que até
nos drinques já colocou algumas. Entre as preferidas estão bertalha, beldroega, hibisco e salicórnia. Com um menu sempre em movimento,
a chance de ir ao restaurante e se deparar com
um nome diferentão no cardápio é altíssima. No
Zazá Bistrô, o novo chef Rodrigo Tristão colocou uma tortinha de PANCs no cardápio. Nela,
ele do almeirão ao caruru. No Naga, tem a salada Nagayama, que usa o shissô, conhecido como manjericão japonês, em pratos como o carpaccio de barriga de salmão que vem sobre as
folhinhas.
De volta ao Brasil depois de uma temporada
no Noma, em Copenhague, o chef Carlos Cordeiro está comandando o Insólito Butique Hotel, em Búzios. Ele resolveu reproduzir aqui o
que aprendeu com o chef René Redzepi: valorizar o que a natureza oferece, levando em conta a
sazonalidade. Nesse caminho, pretende colocar
mais de cem tipos de algas comestíveis no menu, além de plantas que crescem próximas do
mar. Além disso, Carlos montou suas hortas no
hotel, uma convencional e outra dedicada às
PANCs. Em suas receitas, calêndula, ixora, alface-do-mar, capuchinha e bredo-da-praia surpreendem.
— Escolhi plantar e caçar espécies da nossa
flora local de Búzios ao assumir a cozinha do Insólito. Desde que cheguei aqui, em março, costumo colher várias delas por onde ando. E também cultivo na nossa horta, que já tem quiaboroxo, couve-de-bruxelas, cravina rendada, bor-
l 3
DIVULGAÇÃO/TOMÁS RANGEL
NO INSÓLITO , o chef Carlos
Cordeiro criou o prato que leva
alface americana braseada,
beterraba, ricota e broto de
maniche, calêndula e ixora
ragem, beterraba Golden, almeirão-verde, mostarda-roxa, couve-toscana, cenoura red, físalis,
girassol, calêndula, maxixe-rosa, nirá, lavanda e
amor-perfeito. Estamos fechando uma parceria
com um biólogo para levar os mais de cem tipos
diferentes de algas comestíveis que existem no
mar de Búzios para a cozinha — conta Carlos,
que acredita que usar as PANCs é o maior dever
dos chefs. — Há 80 anos, existiam mais de 490
diferentes tipos de alface pelo mundo. Hoje temos apenas 36. O cenário atual é alarmante. É
nossa obrigação trazer novas espécies a fim de
diversificar e fortalecer o nosso meio ambiente
e o produtor.
SEMENTES CRIOULAS
Teresa Corção, d’O Navegador, aprendeu sobre as não convencionais a partir da cozinha familiar. Suas não convencionais saem tanto de
lavouras plantadas com sementes crioulas como de brotinhos que pipocam naturalmente.
— São plantas que geram um menor impacto
no meio ambiente. Não é à toa que, na Dinamarca, os chefs usam há muito tempo — diz ela.
A chef Ana Ribeiro é famosa por sua cozinha
cheia de matinhos. Foi uma das primeiras a colocar o caruru no pão ou levar a beldroega para
quiches e patês. No próximo dia 25, aliás, ela dará um curso sobre as PANCs em São Paulo, no
Congresso de Empreendedores de Gastronomia
Saudável.
— Eu uso as PANCs há muito tempo. Nós, mineiros, temos o hábito de usá-las no dia a dia.
São plantas que nascem espontaneamente em
quintais, hortas, terrenos baldios, cantinhos de
calçadas, frestas de paredes — conta Ana, que
pede ajuda a biólogos, mateiros, raizeiros, benzedeiras e pessoas com sabedoria popular de
camponês para saber se um matinho pode ou
não ir para a comida.
Os passeios de Ana em busca das não convencionais é em boa parte por espaços urbanos.
— Eu as encontro em vários lugares, das improváveis Avenida Presidente Vargas e Central
do Brasil até o pé de um poste no condomínio
Península, na Barra da Tijuca — lista ela, que
tem como preferidos beldroega, ora-pro-nóbis,
taioba, malva, begônia, serralha, pincel de estudante e dente-de-leão.
Lydia Gonzalez, do Bar d’Hotel, é quase uma
discípula de Ana Ribeiro. Ela conta que foi Ana
quem a mostrou o quanto é vasto o mundo
PANC. Hoje, ela é apaixonada pelo lírio-do-brejo, e ainda usa trevo-roxo, cariri, taioba e tiririca
na cozinha.
— O lírio-do-brejo é uma raiz muito perfumada, parece um gengibre. Adoro a azedinha pela
acidez. Ela me lembra o sabor do limão — conta
Lydia, que, para surpreender os convidados, já
fez uma ceia de Natal só com PANCs.
Helena Rizzo, do Maní, em São Paulo, começou
a se interessar por PANCs quando conheceu o biólogo Valdely Ferreira Kinupp, autor, junto com
Harri Lorenzi, do livro “Plantas Alimentícias Não
Convencionais no Brasil” (Ed. Plantarum), lançado em 2014, em que a dupla cataloga 351 espécies
— sim, há PANCs profundas, aquelas que vão
bem além da ora-pro-nóbis e da taioba. Resultado de uma pesquisa que durou mais de dez anos,
o livro, fica a dica, é citado pelos chefs como a publicação “tem-que-ter” para quem busca saber
mais sobre o assunto.
SALADA COM VITÓRIA-RÉGIA
— Soube das PANCs em 2013, quando fui visitar o Jardim Botânico Plantarum, em Nova
Odessa, interior de São Paulo, e o Valditely estava lá com o Harri. A gente fez um almoço com o
que colhemos no jardim. Lembro de ter preparado, ali na hora, um prato com vitória-régia.
Foi assim que comecei a pesquisar. Aos poucos,
descobri outras plantas e passei a incorporá-las
à cozinha do Maní — lembra Helena.
Além de encontrar fornecedores de algumas
espécies, Helena esbarra com outros de maneira
natural: um passeio na praia, do qual voltou com
a bolsa cheia de lírio-do-brejo, ou uma volta pelo
jardim de casa, onde crescem capuchinhas.
— Usar estes ingredientes é bacana por vários
aspectos. Primeiro, pelo gustativo. A maioria
dessas plantas têm gostos incríveis, variam bastante o paladar. E também pelo fator nutritivo.
Elas crescem em abundância. Só não são mais
usadas por desconhecimento. Sem falar que, ao
usá-las, contribuímos para um tipo de agricultura menos nociva — garante ela, que tem uma
paixão especial pela taioba.
Um viva para a diversidade. Na cozinha e fora
dela.
4
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
ELUIZA BARROS/ [email protected] D
BACALHAU DA JULIANA REIS D
Pedro
Henriques
Comida peruana
é sobrestimada
Na família da jovem chef Juliana Reis,
uma receita de bacalhau simples de
fazer é a campeã do fim de semana
FOTOS DE MÔNICA IMBUZEIRO
A
comida peruana está na moda e Lima converteuse na nova Meca gastronômica. Dos 50 melhores
restaurantes latino-americanos do ranking da
revista britânica “Restaurant”, nove acomodam-se
na capital do Peru; entre eles, os primeiro (Central), terceiro (Astrid & Gastón) e quinto (Maido)
lugares da lista. A “Restaurant” é uma publicação doutrinária
antípoda da tradição culinária francesa e propagadora de escola
alimentar politicamente correta. É panfleto de louvação à cozinha conceitual e aos bons profissionais antenados, tatuados,
holísticos e xamânicos, embora nem todos os avalizados caibam nessas caricaturas.
De longe, desconfiávamos de agigantamento no culto aos restaurantes limenhos. In loco, atestamos a demasia. A oferta é consistente; porém, não na dimensão exaltada. Na maioria dos estabelecimentos, há um conjunto de excessos de ingredientes e/ou
de caldos, que, frequentemente, estorva os sabores dos produtos
que deveriam se distinguir. Tem muita poluição na mistureba de
matérias-primas secundárias, como se os chefs sentissem a compulsão de ejacular, freneticamente, os seus singulares insumos.
A atual saga da culinária peruana começou em 1994, quando
Gastón Acurio e a sua mulher alemã Astrid Gutsche inauguraram o
Astrid & Gastón, e, posteriormente, mais de 30 estabelecimentos
em 11 países. Pelos pioneirismo e papel exercido na difusão da
gastronomia peruana, Gastón Acurio é o personagem proeminente
de lá. A sua principal casa, contudo, encontra-se aquém da reputação alastrada. De entradas, o ceviche de corvina — com leite de
tigre, abóbora e milho — era normal. Já os camarões — com papa
mortero (purê?), molho chupe (sopa?), ovo e salada de favas —
mostraram-se desequilibrados pelo cúmulo de coadjuvantes. De
pratos, saciamos a curiosidade de provar o cuy, um roedor apreciado no país com gosto que lembra remotamente coelho. O bichinho
apresentou-se bem temperado e assado. E ainda um lindo robalo,
com batata-doce, creme de milho, suco de vôngoles e caldo de
jamón Joselito, o príncipe dos patas negras. Esse prato, ao juntar
creme, suco e caldo, sintetiza a cultura de exageros que queremos,
criticamente, explicitar. O peixe nada ganhou com a aluvião de
sumos. Por fim, a expressão simbólica do descomedimento que foi
a bomba de chocolate; esfera oca do tamanho de uma bola de
futsal recheada de musse de banana, carambola e outras doçainas.
O menu degustação, talvez, seja mais contido e superior.
E
D
Vale a pena excursionar pelos
restaurantes limenhos, desde
que as esperanças não se
acorrentem aos fetichismos
O restaurante mais valorado de Lima é o Central, cujas reservas
precisam de dois a três meses de antecedência. É templo também
de casal, com os “xamãs” Virgilio Martínez e Pía León à frente. Ali,
impera a observância mística aos ingredientes andinos e amazônicos, onde os manás se submetem a conceitos biológicos e antropológicos. Os menus, de 12 e 17 cursos, exibem-se nas versões
“Alturas e Ecossistemas Mater e Vegetal”, e há harmonizações com
vinhos — alguns peruanos — não memoráveis e com néctares,
infusões e extratos, para os que desprezam bebidas alcoólicas. Os
pratos organizam-se em função da altitude em que as iguarias se
encontram. Por exemplo, o “Tallo Extremo”, formado por saúco
(sabugueiro) e pelos tubérculos oca e mashwa, é repasto com
componentes resgatados a 2.875 metros de altura. A soma das
excentricidades e mitificações proporciona experiência incomum,
mas não transcendente. Há prazeres sofisticados na exploração
das variedades insólitas, mas não maravilhamentos.
O Maido é casa nikkei que conjuga as cozinhas japonesa e
peruana. Optamos por um cortejo de niguiris (sushis), regado
pelo cítrico saquê Nanbu Bijin Tokubetsu Junmai. Ótimos os
niguiris, notadamente o de barriga de salmão e molho de pimenta-amarela, o de foie gras com sal de Maras e o de muchame de polvo e azeite iqueño. O animado território do chef Mitsuharu Tsumura correspondeu às expectativas. Quem as excedeu fora o Osso Carnicería & Salumeria, que abriu, em 2013,
como empório de carnes e, hoje, incorpora um restaurante. As
figura e trajetória do chef-açougueiro Renzo Garibaldi são de
cinema. O seu grande desempenho é encantar cortes americanos de angus e wagyu de altíssimo padrão. Os saborosos embutidos renovam-se diariamente. Pedimos ainda “flanken”, um
assado de tira de angus temperado em molho de soja e sal de
Maras, e ribs de porco californiano em salsa barbecue. Depois,
o recomendado pelo chef: o formidável bife de ancho de wagyu
de Idaho. Para compatibilizar, o elegante vinho tinto francês
Château Phélan Ségur 2010, um clássico Saint-Estèphe. De
sobremesa, a delicada “Osso mess”, com merengue, morangos,
sorvete de creme, chantilly, caramelo e toucinho. Tudo ao balanço sedoso de Bob Marley e Peter Tosh.
Além desses, visitamos o Rafael, o Malabar e o La Mar Cebichería Peruana, este também de Gastón Acurio e replicado em São
Paulo. Nenhum marcante, mas todos decentes sob perspectivas
domadas. O Rafael é o mais sólido. E o La Mar espiritualiza tardes
de fastio. A bebida nacional é o pisco, e os vinhos locais da uva
quebranta ainda se alfabetizam. Em suma, a culinária peruana
vigora-se e vale a pena excursionar pelos restaurantes limenhos,
desde que as esperanças não se acorrentem aos fetichismos e aos
deslumbramentos fáceis das bíblias gastronômicas.
A CHEF Juliana Reis (à esquerda), do Epifania Oriental, em jantar com
os irmãos Felipe e Ricardo, a mãe, Zezê, e o sobrinho, Davi, de dez anos
É
só a artista plástica
Zaza Reis, mãe da
chef Juliana Reis,
abrir a porta de sua
casa no Flamengo
para o clima de descontração
tomar conta do ambiente: a
yorkshire Gaia é a primeira a
fazer festa para os convidados. É
noite de quarta-feira, mas poderia muito bem ser um domingo
de tarde, graças ao jeito de bem
com a vida da família, que aproveita sempre os feriados e datas
especiais para dar uma pausa na
rotina movimentada de todos.
— Normalmente, eu só consigo ver um ou o outro — conta
Zaza sobre os quatro filhos,
Juliana, Felipe, Ricardo e Ana
(que vive em Paris e, por isso,
não pode estar presente), e o
neto, Davi, de dez anos. —
Quando a gente se reúne é uma
data especial, e o bacalhau é o
predileto de todo mundo, diz
ela, que costuma preparar o
peixe em uma grande panela ao
invés de levá-lo ao forno.
— Acho que fica mais saboroso, não resseca — comenta.
A receita é simples e prática,
como toda comfort food que se preze, e
atravessa gerações: vem desde Cecília,
mãe de Zaza, que vive em Brasília. E
também foi por meio do prato que
Juliana teve suas primeiras memórias de
contato com a cozinha.
— Sempre gostei do ato de cozinhar e
comecei assim, ajudando na montagem
do bacalhau — relembra Juliana, que,
no entanto, só foi descobrir sua vocação
muito tempo depois, quando cursava
Ciências Sociais, meio que por acaso.
—Resolvi virar vegetariana, o que não
durou muito porque gosto de bacon —
brinca. — Mas foi por causa dessa fase
que comecei a procurar receitas para
fazer em casa — explica ela, que, uma
vez com o interesse despertado, rapidamente conseguiu um estágio no Zazá
Bistrô, em Ipanema.
Não demorou muito, aos 22 anos, Ju
comandava a sua própria cozinha, em
um bistrô no Flamengo. Agora, aos 28,
ela é a mente por trás de três casas na
Zona Sul: o Epifania Oriental Contemporâneo, com unidades no Leme e em
Botafogo, e o Manifesto BCA (a sigla é
para “bar e cozinha artesanal”), também no Leme. Por trás do sucesso,
além do talento da chef, está o apoio
BACALHAU DA
JULIANA REIS
SERVE 4 PESSOAS
• INGREDIENTES
350g de bacalhau dessalgado
200g de batatas descascadas em
rodelas grossas
• 1 pimentão verde em rodelas finas
• 4 tomates em rodelas
• 2 cebolas brancas em rodelas
• Azeitonas pretas a gosto
• Azeite de boa qualidade
• Sal e pimenta-do-reino
• 100ml de molho de tomate
•
•
• Em
uma panela, arrume em camadas na sequência: batatas, bacalhau,
cebola, pimentão, tomate, azeitonas,
temperos e um pouco de molho de tomate.
• Repita a operação até terminar tudo.
• Coloque para cozinhar em fogo
médio até que as batatas estejam macias e cozidas.
• Sirva com arroz branco.
dos irmãos mais velhos: Ricardo, de 36 anos, participou da
primeira empreitada, no Flamengo. Depois, o administrador Felipe, de 40, resolveu
abandonar a vida no escritório
para investir suas fichas na
caçula da família.
— É porque a gente é maluco
— resume Juliana sobre a abertura de tantos restaurantes em
tão pouco tempo (o Manifesto
BCA foi inaugurado há três
meses, enquanto o Epifania de
Botafogo completou cinco).
Apesar de garantir que o
restaurante é, “sem sombra de
dúvida”, muito mais estressante
do que os seus empregos anteriores, Felipe não demonstra
arrependimento quando fala do
trabalho da irmã.
— É um orgulho vê-la trabalhar. Em pouco tempo, conseguiu criar algo muito atraente
— diz ele, que é interrompido
apenas para a irmã poder deixar clara a admiração mútua:
— Se não fosse ele do meu
lado... Felipe é exigente, quer
fazer tudo certinho, e é fera na
administração, o que eu não
sou — confessa.
Zaza, é claro, também não poderia
deixar de dar os seus pitacos de vez
em quando. Artista plástica, ela auxiliou na decoração de todos os restaurantes e está prestes a completar um
painel para o Epifania Oriental de
Botafogo.
— Eu sou o controle de qualidade.
Estou nos restaurantes o tempo todo. —
diverte-se a mãe da chef, que é paulista,
mas acabou tendo filhos manauaras,
brasilienses e cariocas, por conta do
emprego do pai de Juliana, Maurício, na
Vale do Rio Doce.
Foi durante a temporada em Manaus,
38 anos atrás, que ela ganhou a mesa em
torno da qual a família hoje costuma se
reunir. A madeira maciça, cheia de
desenhos na borda e nas cadeiras, deixa
claro que ali tem história.
— Tinha uns amigos indianos, e eles
importaram a mesa para mim. É feita de
sândalo, uma madeira macia, para poder
ser talhada. Mesmo sendo grande, resolvi mantê-la quando me mudei para este
apartamento.
— A verdade é que na família todo
mundo gosta de cozinhar, mas quem tem
o dom mesmo é a Juliana — encerra.
O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
l 5
JAPA POP:
LUCIANA
FRÓES
nigri do chef
Sanz, no Sushi
Leblon
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Sanz e sua flor elétrica
Ele é espanhol,
comanda um dos
mais prestigiados
japoneses de Madri e
de Málaga, o Kabuki,
e tudo o que sabe
aprendeu com
Misasao Kikuchia,
mestre do sushi que
cozinhou no Palácio
Imperial do Japão. É
Ricardo Sanz, que
estará no Rio (pela
segunda vez) de terça
a sexta, assinando o
menu comemorativo
dos 30 anos do Sushi
Leblon, em banquete
para poucos hashis.
Apesar da formação
clássica, Sanz aposta é
na vanguarda: vai ter
sushi de tutano com
caviar, peixe branco
com toucinho, ovos
fritos com ouriço e
usuzukuri com flor
“elétrica”, seja lá o que
isso for. É bom
reservar com
antecedência:
2512-7830 .
Menino
do Rio
Marcelo Schambeck é o maior nome da
gastronomia gaúcha com o seu Del Barbieri,
bistrô no centro de Porto Alegre (vive lotado),
instalado em uma antiga barbearia que foi de
seu pai. Daí o nome. Dono de uma cozinha
única, esse jovem chef (surfista nas horas
vagas) faz releituras modernas e equilibradas
de pratos tipicamente regionais, com
matérias-primas vindas de pequenos
produtores. O mais premiado dos chefs
gaúchos já andou pelas cozinhas de Helena
Rizzo, Roberta Sudbrack, Pedro Siqueira (o
jantar a quatro mãos foi espetacular) e andou
pela França, Índia, Paquistão... O melhor de
tudo é que Schambeck está vindo para o Rio,
mais precisamente para a praia de Botafogo,
onde assumirá a cozinha do novo hotel Yoo2,
da rede gaúcha Intercity (daí o chef!), projeto
bacanérrimo do escritório de Philippe Starck.
A partir do mês que vem, Marcelo Schambeck
será o mais novo menino do Rio.
DIVULGAÇÃO/DRAUSIO TUZZOLO
Abaixo o salmão!
Essa trilogia de encher os olhos é obra
de Shin KoiKe, mestre dos sushis,
sashimis e usuzukuris, que está
trazendo para o Rio o seu Sakagura A1,
hit paulistano, que funcionará no
Vogue Gourmet, na Barra, loja de 400
metros quadrados, com projeto de
Pedro Paranaguá. Koike, que é
também embaixador da culinária
japonesa no Brasil, ficou maravilhado
com o que viu nos mercados de peixes
da cidade:
Balzaquiano e carioca
— Encontrei pargos, robalos,
cavalinhas, sardinhas, xereletes...
Agora, me diz: por que servem tanto
salmão no Rio? — alfineta ele.
Fechei com o Koike: abaixo o
salmão!
O quitute mais clonado do
país, o Escondidinho, a bem
equacionada combinação de
purê de aipim, carne-seca e
requeijão, tudo junto,
misturado e gratinado, fez 30
anos de ótimos serviços
prestados. “Vejo cópias
grosseiras, horríveis”, lamenta
Edmea Falcão, sócia da
Academia da Cachaça, berço
(e ninguém tasca) do prato.
Que bonita a O quiosque do Cozan
festa, pá
Agora, aos
suquinhos!
No dia 10, começa a Festa dos Santos
Populares Portugueses na Praça XV,
Paço Imperial e CCBB: muita música,
arte, literatura e gastronomia, com
direito a aula do chef Alexandre
Henriques, da Gruta de Santo Antônio.
Sabe a Jeffrey, cervejaria
carioca que já criou até uma
versão de loura e morena só
para combinar com os
sanduíches da Roberta
Sudbrack? Está lançando
agora a Vâr, uma coleção de
quatro versões de sucos de
uvas naturais, de parreirais da
Serra Gaúcha, com variedades
como Niágara Branca, Niágara
Rosa, Francesa e Bordô (de
cores, odores e sabores
distintos). “A Niágara Branca
cai bem num café da manhã
ou acompanhando saladas
verdes ou ainda com peixe
fresco grelhado”, sugere Gilson
Val, um dos sócios da marca.
Apesar da cor, a tal Niágara, a
da foto, é uma uva.
CAMILLA MAIA
La nave
aportou
O Planetário acaba de ganhar um
bistrô que promete: o La Nave, nas
mãos do chef Daniel Pinho (“produzo
´até a linguiça”), projeto de Ricardo
Campos e carta de vinhos de Paulo
Nicolay. Parada certíssima.
Os ventos alíseos da Bretanha
chegaram à praia de
Copacabana, trazidos pelo
chef Olivier Cozan. Ele
repaginou um quiosque do
Posto 3, transformando-o no
Alizé, simpático
restaurante (sim, é um) de
peixes e frutos do mar. Tem
bobó, bacalhau, lagosta,
caçarolas de mexilhões
com fritas, ostras frescas,
saladinhas frescas... Como
bom atleta que é, Cozan
brinda caminhantes,
corredores e ciclistas com um
café da manhã recheado de
delícias e opções mais leves
para a turma do treino. Das 6h
às 10h da manhã, Alizé e
Olivier estarão a postos. Vale
conferir, e a qualquer hora do
dia, da tarde, da noite...
6
l O GLOBO
Sábado 4 .6 .2016
SELFIE com o mestre: Villard e
alguns dos chefs que estagiaram no
Le Pré Catelan, de onde está de partida
GUITO MORETO/ PRODUÇÃO LOU BITTENCOURT
Odos
chefe
chefs
DIVULGAÇÃO/BIANCA GUEDES
ELUCIANA FRÓES [email protected] D
FÁBIO SEIXO/21-10-2008
E
nquanto os
salões do Le
Pré Catelan
ferviam, o francês E
Roland Villard D
formava, em sua
amazônico à francesa:
tambaqui com baroa defumada. Genial
cozinha, uma
geração de craques.
De malas prontas
para uma
temporada na
França, ele se
reúne com os
pupilos e relembra
ensinamentos
preciosos para
cozinheiros.
SABOR
“Mais acidez, meninos, comida tem que ter acidez!”, bradava “le chef ”, de colher em punho,
abrindo panelas e provando os feitos de seus
pupilos. Mais de 200 aspirantes à cozinha passaram pelos ensinamentos de Roland Villard ao
longo de quase duas décadas de comando do
Sofitel (posto, aliás, do qual ele acaba de se desligar). Batiam à sua porta (na verdade, cozinha)
por curiosidades, fantasias (”confundiam com
glamour!”) e também por paixão, vocação e,
voilà!, profissão. Hoje, esses pupilos afiados estão por aqui, por ali, acolá... A carioca Tábata
Bonardi foi parar em Lyon, na França, onde detém o titulo de primeira (e única) chef mulher à
frente de um restaurante de Paul Bocuse. Não é
pouco. Claudio Procópio, outro aprendiz do
mestre, virou chef sensação na Amazônia. Nem
precisa ir longe, basta olhar a foto acima e legendar: Pablo Ferreyra (chef do Térèze), Ricardo Lapeyre (da Brasserie Lapeyre), Elia Scramm
(Laguiole), Willian Halles (Caesar Park), Paula
Prandini (Emporio Jardim). E outros nomes caberiam nesse “selfie”
Willian Halles, o mais longevo dos parceiros
(uma década dividindo fogões) de Roland, conta
que a primeira coisa que o chef lhe perguntou ao
TRILOGIAS, uma das marcas da
cozinha do chef Roland Villard
pedir um estágio, foi “ você é casado? Se for, aviso,
seu casamento pode acabar. Cozinha é dedicação
integral. Pensa nisso?” Não deu outra. Em dois
meses de cozinha, a união entrou em ebulição.
— Felizmente, achei o ponto certo para lidar
com os dois lados. Mas o começo foi duríssimo,
pensava em cozinha até dormindo. Quem aguenta isso?— conta Halles, head chef do Caesar Park.
Com Pablo Ferreyra, do Hotel Santa Teresa,
Roland foi direto ao ponto: “A remuneração é
pequena, mas os ganhos profissionais serão
grandes, prometo”. Dito e feito. Para Pablo, não
teria escola melhor.
Elia Schramm, Laguiole, diz que foi ali onde
aprendeu o kit de sobrevivência numa cozinha.
Componentes? Postura, disciplina, organização, superação, espírito de equipe e... paladar:
E
D
“ Prove tudo e não confie
em ninguém. Paladar é a
arma do cozinheiro!”
— “Prove tudo o que fizer, não confie em ninguém, nem em mim!” , dizia o Roland, que complementava: “Paladar é a principal arma do cozinheiro” — diz Elia.
É um cardápio de lembranças recheado de
ensinamentos, agradecimentos e pitadas indigestas. Ah, se as panelas falassem..
— Numa noite de salão lotado, uma bandeja
com oito pratos já servidos foi parar no chão. Um
desastre! Foi a única vez que vi Roland gritar —
lembra Paula Prandini, do Empório Jardim.
Ricardo Lapeyre, apesar de brasileiro, só foi
conhecer os sabores amazônicos com Villard,
que há dez anos assinou uma genial sequência
de pratos onde brilhavam tambaquis, pirarucus, filhotes, jambus e tucupis, manipulados
com técnica francesa. Inesquecível, como outras centenas de pratos feitos por esse francês
de Saint Etienne, que desembarcou no Rio, vindo da África, para passar dois anos. Gostou tanto que foi ficando, ficando... e lá se vão 19 anos
(e mais dez quilos, segundo ele).
— Me sinto brasileiro, minha historia de vida é aqui — diz o chef com o pé no avião para
uma temporada na França. Mas ele promete
que volta.

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