Porsche Consulting – A REVISTA 124

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Porsche Consulting – A REVISTA 124
Porsche Consulting – A REVISTA
BELO
124
Porsche Consulting – A REVISTA
MONTE
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Porsche Consulting – A REVISTA
CONSTRUINDO
NA AMAZÔNIA
JUST IN TIME NO CANTEIRO DE OBRA
Em uma das maiores obras do mundo, a barragem de Belo Monte no Brasil, as regras
que valem são as da produção enxuta. No meio da selva amazônica, os consultores
da Porsche ajudam os colaboradores de um consórcio composto por dez empresas
construtoras a evitar o desperdício de tempo e material.
ULF J. FROITZHEIM
O
GUTEMBERG CRUZ
belo monte está localizado
de todas as usinas atômicas ainda ativas
rápido do que o tempo necessário para que
no ponto mais afastado de
na Alemanha juntas. O principal investidor é
sejam descarregados nos três grandes campos
uma grande cidade onde um
a empresa Norte Energia.
consultor da Porsche jamais
de obra. “Antes, o concreto recém-misturado
ficava às vezes muito tempo exposto ao calor”,
trabalhou. Sua altura, no en-
A especialidade dos consultores tem um nome
conta Rüdiger Leutz, o chefe de Cardoso. “Ele
tanto, não é imponente. Mais
que contrasta ao máximo com as dimensões
secava e endurecia, tendo que ser jogado fora.”
impressionante do que a colina na região de
colossais das estruturas de concreto: “lean
O método “just in time” não só aumenta a pro-
Belo Monte é o vale através do qual serpenteia
construction”, ou seja, construção enxuta.
dutividade, mas também evita o desperdício
o rio Xingu, um afluente do Amazonas. Algo que
Entretanto, o conjunto de estruturas em con-
de material nocivo ao meio ambiente, assim
igualmente salta aos olhos são os canteiros de
creto, diques e canais têm a maior solidez
como o demorado retrabalho, que desordena-
com a qual a humanidade já construiu desde
ria o cronograma.
obra gigantescos.
a edificação das pirâmides. Os operários têm
O suor do Sênior Expert Arlan Cardoso e de
que processar um total de 3,3 milhões de
A “lean construction” é uma área de atuação
sua equipe de consultores nas profundezas
metros cúbicos de concreto.
da Porsche Consulting em forte crescimento.
Para a sede brasileira da empresa, esta é de
da mata deve-se ao fato de que, nesta parte
erma do estado do Pará, uma das maiores
Quando Arlan Cardoso fala de obra “enxuta”,
longe até a maior delas. Leutz e sua equipe
barragens de todos os tempos está sendo
não é sobre um novo conceito em construção
de consultores no Brasil faturam 80 por cento
construída para tornar-se o reservatório da ter-
desenvolvido por arquitetos ou engenheiros de
de sua receita nessa área. “Em 2010 nós já
ceira maior usina hidrelétrica do mundo. As tur-
estruturas, mas sobre a aplicação da filosofia
tínhamos contato com o setor de constru-
binas da Usina Hidrelétrica Belo Monte devem
da “lean production” nos processos de traba-
ções, mas não estávamos focados nele”, diz
produzir, no pico, até onze gigawatts a partir
lho nas obras. Assim, os caminhões de cimento
o alemão, que mora no Brasil desde 2008 e
de 2019, ou seja, quase o equivalente à energia
não devem ser carregados em ritmo mais
dirige o escritório da Porsche Consulting em
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São Paulo desde 2013. A chance de entrar
maiores construtoras do Brasil. Tirando a sua
aprendeu a ler e escrever”, explica Rüdiger Leutz.
com força no ramo deu-se com a expansão
empregadora direta, no momento a terceira do
“Nós vencemos a licitação porque assegura-
de um porto de contêineres no Rio de Janeiro.
mercado, são também parceiras no consórcio
mos que também qualificaríamos esse pessoal.”
Contratados pela Andrade Gutierrez, uma das
a segunda maior empresa, a Camargo Corrêa,
E fazem isso diretamente na obra.
empresas de construção líderes da América
e a gigante do setor, a Odebrecht.
Latina, os especialistas da Porsche deram ritmo
Mas como transmitir a pessoas que nunca usa-
aos processos de trabalho. Nesta primeira co-
Os consultores trabalham sob condições com
ram relógio, ainda por cima em uma terra onde
operação, a empresa pôde se convencer de
as quais não estão acostumados. “Trabalhar
uma das palavras preferidas é “amanhã”, que é
que os métodos de eficiência comprovada da
no clima quente e úmido da região amazônica
importante que suas tarefas sejam resolvidas
indústria automotiva podem ser plenamente
já é por si só um desafio”, diz Túlio Pinto, o
“just in time”? “É claro que não tentamos transfe-
adaptados ao setor de construções.
diretor do projeto. Porém, mais difícil ainda é
rir nossos modelos de forma exatamente igual”,
primeiro imaginar o que se pode fazer, através
diz Leutz, “fazemos adaptações e as aplica-
Marco Túlio Pinto é o chefe de construções
da “lean construction” e de melhorias contí-
mos tão individualmente quanto for possível e
do Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM).
nuas, para estabelecer no meio da selva “uma
pertinente na Amazônia.” Ou seja: pouca teo-
Seu empregador, a Andrade Gutierrez, dirige o
cultura da excelência operacional, um código
ria, muitos gráficos e ritmo adaptado. O ritmo
consórcio, o qual está construindo as estrutu-
geral a ser seguido por 30.000 envolvidos.”
diário é o mais apropriado em um lugar onde a
ras em concreto, ou seja, os diques, vertedou-
É este o seu ambicioso objetivo.
sequência simples de dia e noite é o que estru-
ros e as unidades geradoras nos Sítios Belo
tura a vida das pessoas. Medir os progressos
Monte e Pimental. Há muito mais em jogo neste
E este é o trabalho de Arlan Cardoso, que
no trabalho em intervalos mais curtos do que
megaprojeto do que no Rio. Por isso, a Andrade
sempre se depara com pessoas para as quais
esse não funciona, e intervalos mais longos são
Gutierrez quis contar com o apoio dos consulto-
ele deve parecer ter vindo de um outro planeta.
arriscados demais para Leutz. À noite, os es-
res da Porsche também para Belo Monte em to-
“Trabalhar com um consultor de empresas é
pecialistas verificam se o time alcançou os ob-
das as áreas da obra. Ali as empresas parceiras
algo totalmente novo para a maioria aqui”,
jetivos do dia, ou o que está emperrando. Nos
não dividem entre si os lotes de construção indi-
diz o Sênior Expert. O leque de participantes
workshops e nas obras, eles dão assistência
viduais, mas trabalham juntas em equipes mis-
de seu programa de workshop vai de enge -
a jovens engenheiros civis, que aí aprendem o
tas. Assim, a equipe de Arlan Cardoso explica
nheiros civis bem qualificados até ajudan-
que significa “shop floor management”, ou seja,
o princípio da “lean construction” simultanea-
tes semiqualificados da região. “Uma parte
gerenciamento de chão de fábrica. As regras
mente aos diretores e trabalhadores das três
dos trabalhadores cresceu na selva e nunca
dadas aos trabalhadores devem ser descomplicadas. Afinal, o treinamento tem que continuar
a surtir efeito, mesmo quando os consultores
da Porsche forem embora.
Mas eles ainda estão no meio dos acontecimentos, e sempre na estrada. Arlan Cardoso
faz 300 quilômetros por dia para visitar as
três obras, ida e volta. À noite ele discute tudo
pessoalmente com os colegas no alojamento
central, pois ligações telefônicas são praticamente impossíveis por falta de sinal de telefonia. Ainda assim, há uma rede rodoviária que
se pode utilizar. No começo do projeto, existia
pouca infraestrutura na cidade de Altamira, a
maior cidade na região do rio Xingu. O próprio
Marco Túlio Pinto é o
CCBM teve que desbravar o terreno a partir da
chefe da construção da
Transamazônica, que passa ao norte, cons-
represa do Consórcio
truindo estradas, fábricas de concreto e um
Construtor Belo Monte
porto de carga para o material de construção.
(CCBM) e responsável
Internet móvel, padrão em grandes obras nas
pela coordenação
regiões metropolitanas, só nos sonhos dos
das obras nas margens
consultores e mestres de obra. Ao menos o
do rio Xingu.
GPS funciona em todo lugar. p
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A usina hidrelétrica Belo Monte vai abastecer 50 milhões de pessoas com energia renovável.
E finalmente a coisa vai para frente em um
adicional dez vezes maior. Hoje a Norte Ener-
Marco Túlio Pinto está confiante de que ele e
dos maiores empreendimentos do mundo na
gia assegura que nenhuma polegada de terras
seu pessoal consigam terminar essa obra gi-
área de energias renováveis. A história de Belo
indígenas será alagada e disponibilizou capi-
gantesca economizando material e custos, atra-
Monte remonta aos anos 1970. O então go-
tal para projetos de preservação de espécies.
vés da “lean construction”. “Em diferentes fases
verno militar sonhava em encher a Amazônia
Afinal, no Xingu vivem espécies únicas.
da obra pudemos aprimorar os processos e
com hidrelétricas, desconsiderando fatores
obter melhores produtividades, evitando o des-
ecológicos e sociais. Governos, ativistas am-
Nem todas as ONGs estão satisfeitas com o que
perdício, aumentando com isso o valor agre-
bientais e representantes dos povos indígenas
foi alcançado. No entanto, a hidrelétrica poupa
gado.” Para Rüdiger Leutz e Arlan Cardoso este
residentes na região procuraram por décadas
esta ascendente economia da América Latina
é um belo elogio: quem consegue fazer isso em
encontrar uma solução, politicamente e na jus-
de construir várias usinas atômicas. Em compa-
situações tão adversas, consegue fazê-lo em
tiça. O governo federal foi reduzindo cada vez
ração com as áreas florestais devastadas para
qualquer lugar. f
mais o projeto, em relação aos planos originais.
fins agrícolas, a área a ser inundada em breve é
Ao invés de uma superfície do tamanho do
até pequena. O volume total de todas as obras
lago de Constança, seria inundada uma área
do projeto Belo Monte também é razoável.
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ELEVAÇÃO
DA PRODUTIVIDADE
NA OBRA DE
DE ELEVAÇÃO
DA PRODUTIVIDADE
DAS FURADEIRAS
40%
DE ELEVAÇÃO
DA PRODUTIVIDADE
DAS ESCAVADEIRAS
10 –16%
DE AUMENTO
DA DISPONIBILIDADE
DE MÁQUINAS
15%
DE ELEVAÇÃO
DA PRODUTIVIDADE NAS
CONSTRUÇÕES EM AÇO
Fonte: Porsche Consulting
35%
7–15%