Vale do Frey - Argentina Rompimento de Mosquetão

Transcrição

Vale do Frey - Argentina Rompimento de Mosquetão
Exposição Fotográfica Montanhas do CEL: Montanhistas
Técnica
Rompimento de
Mosquetão
Escalando por ai
Vale do Frey - Argentina
A beleza e as dificuldades para
chegar no topo da Europa
PAPO DE MONTANHA
www.celight.org.br
ano 1 | número 1 | janeiro 2013
Setembro 2012 | 1
www.trevous.com | @trevous
2 | Setembro 2012
editorial
Bom, lá vamos nós em mais uma novidade. Uma entre tantas
que ocorreram no ano que passou.
CEL - Clube Excursionista Light
Presidente: Claudney Neves
Vice-Presidente: Éder Abreu
Secretário Geral: Lucas Figueira
Tesoureiro: Claudio Van
Diretoria de Montanhismo: Hans Rauschmayer
Diretoria Social: Gabriela Lima
Karla Paiva
Diretoria de Ecologia: Daniel Arlotta
Diretoria de Comunicação: Paulo Ferreira
Judith Vieira
Diretoria Cultural: Claudia Gonçalves
__________
Direção de Arte: Paulo Ferreira
______________
Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube
Excursionista Light. As opiniões expressas pelos autores não são
de inteira responsabilidade dos mesmos e não representam a
opinião da revista Papo de Montanha e do CEL.
Fale Conosco:
Envie cartas ou nos visite na
Av. Marechal Floriano, 199/501,
Centro, Rio de Janeiro - RJ.
Tel.: +55 21 2253-5052
[email protected]
Ano passado foi ano eleitoral no CEL. A Presidência se manteve,
mas o quadro de diretores foi praticamente todo remodelado,
e procurando manter o serviço de qualidade prestado pelos
diretores anteriores ao longo dos anos, a diretoria do CEL
tomou decisões estratégicas para modernizar o clube, como
reformas (banheiro novo, muro de escalada reformado,
renovação do mobiliário).
Mas esse editorial é para ressaltar a Revista Digital “Papo de
Montanha” que é uma das novidades
A revista é uma evolução do antigo boletim “Notícias do CEL”,
que circulava periodicamente no clube.
E porque o digital? A mídia digital permite uma distribuição
mais dinâmica, e ajuda a preservar a natureza, pois não
utiliza papel e tinta, e não é em momento algum descartada,
impactando no ciclo do meio ambiente, e qualquer um pode ler
através do computador ou tablet e enviar por e-mail para todos
os seus amigos.
E as novidades não param por ai. O Papo de Montanha (palestra
de mesmo nome que ocorre na sede do CEL todos os meses,
retratando algum tema relacionado a montanhismo), de agora
em diante passará a ser disponibilizado na internet para quem
não conseguiu comparecer para ver, ou queria ver novamente.
E ainda falando nas novidades, em breve teremos mais uma
turma de CBM buscando superação nas montanhas.
Esperamos que gostem de todas as coisas legais que o CEL
preparou, e aproveitem a leitura.
índice
escalando por ai
Vale do Frey ..................................... 06
Claudney Neves, presidente do CEL, conta
sobre suas aventuras pelo Vale do Frey na
Argentina, para escalar montanhas na terra
do Tango.
capa - alta montanha
Elbrus: Emoção na Montanha Russa.19
Marcus Vinícius Carrasqueira narra a
emocionante aventura de tentar chegar no
ponto mais alto da Rússia.
técnica
exposição
Um dos causadores dos maiores pesadelos
dos escaladores dissecado na matéria
adaptada por Hans Rauschmayer
Hans Rauschmayer, Paulo Ferreira, Gabriela
Lima, Anne Peixoto, Claudney Neves, Judy
Vieira, Karla Paiva, Gustavo Sacilloto, Ivan
Slodoba, Guilherme Costa, Louis Fellipe,
Helena Becho e Cláudio Van, mostram seu
olhar sobre os montanhistas.
Rompimento de Mosquetão ............. 13
Montanhas do CEL ........................... 32
Setembro 2012 | 3
Quando o Clube Excursionista Light foi fundado,
segundo palavras de Carlos Manes Bandeira,
sua finalidade era “promover no decorrer de
suas atividades, a prática do excursionismo e
montanhismo entre seus filiados, condensados
nos mais altos princípios da fraternidade
e democracia, mantendo a harmonização
de seus associados”. Hoje, 55 anos depois,
continuamos com esse mesmo espírito,
não que o CEL não tenha se atualizado, pelo
contrário, alimentamos o desejo dos nossos
corajosos fundadores e mesclamos com a
juventude que hoje está à frente do Clube, a
qual mantém esse sangue novo pulsando e a
cada dia vence novos desafios.
A base de todo esse esforço é o trabalho
voluntário, não só por parte da Diretoria e
guias, mas de cada um dos sócios. Seria
simplesmente impossível manter o CEL e
fazê-lo crescer sem a ajuda de todos. Cada
vez que alguém se doa, está colaborando para
manter o Clube vivo e fazendo florescer a
memória de todos que já passaram por aqui e
também colaboraram.
E é surpreendente o que já foi possível fazer
com esse trabalho de muitos. Anualmente o
CEL promove Cursos Básicos de Montanhismo,
Cursos de Guia de Cordada, Cursos de GPS
para Trilhas, além de Oficinas Técnicas. O, já
consolidado, Papo de Montanha, transformouse em um evento mensal que traz para toda
a comunidade assuntos de interesse do nosso
esporte.
Ainda citando Bandeira, como um dos
objetivos iniciais era manter “a harmonização
de seus associados, com uma vida social e
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esportiva”, continuamos com essa linha e
nessa gestão trouxemos o Projeto Montanhas
do CEL, que são exposições permanentes que
visam incentivar o casamento perfeito entre
fotografia e montanhismo, além de nossas
Noites Gastronômicas, onde a culinária
nacional e internacional aterrissa em nossa
Sede e todos são convidados para essa mistura
de sabores, aromas e gente.
Na Sede do CEL o sócio pode escalar em nosso
muro, utilizar nossa biblioteca e consumir em
nossa cantina, além de poder se conectar em
nossa rede wi-fi, que já foi um dos objetivos
almejados quando conseguimos colocar no
site do Clube muitos recursos que facilitam a
interação de nossos sócios, como a inscrição
on-line em nossos eventos.
Enfim, o Clube Excursionista Light é a síntese
do desejo de nossos fundadores, o lugar onde
nos encontramos, conversamos, treinamos,
lemos e interagimos, contribuindo para
escrever a nossa história. Será um prazer
imenso, daqui a 50, 100 anos (sim, eu acredito
na melhoria genética =D) ver o CEL ainda
melhor que hoje e saber que essa gestão
contribuiu para esse sucesso. O objetivo
da nova revista é continuar contando essa
história, que seja longa.
Claudney Neves é montanhista
desde 1993. Escalou em vários
estados do Brasil, países mundo
afora, e é Presidente do CEL.
TOP ROPE
PDM INDICA
Em abril começa mais uma
turma do Curso Básico de
Montanha do CEL. Com
duração de 2 meses, esse
curso é a porta de entrada
no montanhismo. Preço: R$
600,00. Saiba mais na página
do clube: www.celight.org.br.
FILME
Risco Total - 1993 (Cliffhanger)
Gabe Walker (S.Stallone) com
a equipe Rocky Mountain, tem
que resgatar 5 montanhistas
perdidos, e acaba emboscado
por terrosristas internacionais.
Ótimo filme para um final de
semana chuvoso.
____________
A sede do CEL teve ano
passado seu muro de
escalada indoor e seu
banheiro reformados, e
até Fevereiro (2013) a sede
permanecerá fechada
para obras de reforma das
instalações elétricas entre
outras para melhorar as
acomodações do clube. Fique
atento na página do clube
para saber quando o CEL
volta a funcionar novamente.
LIVRO
No Ar Rarefeito
John Krakauer - Cia das Letras
Best-seller americano retrata
na visão do jornalista John
Krakauer, a pior tragédia no
Everest onde 12 montanhistas
foram mortos após atingirem o
cume. Leitura obrigatória.
MÚSICA
Led Zeppelin - Phisical Grafitti
Álbum lançado em 1975 pela SS
Records, é considerado o 70º
melhor álbum de rock de todos
os tempo pela revista Rolling
Stone. A música Kashmir é
considerada por Robert Plant
(vocalista da banda), como a
“Canção Definitiva da Banda”.
____________
Felipe Dallorto, está
treinando forte e preparando
a produção do filme “No
Rope, No Bolts 2”. Filme
sobre psicoblocs, que teve
sua primeira edição exibida
no Festival de Filmes de
Montanha 2012 e ganhou 3
Corcovados (Melhor Filme,
Melhor Fotografia e Melhor
Filme - Voto Popular).
____________
Raphael Nishimura,
escalador paulistano
conquistou em Setembro na
frança o segundo lugar no
Mundial de Paraclimbing,
disputado na França. Raphael
possui ainda um projeto
social que busca e estimula
o Paraclimbing no Brasil.
Para conhecer mais sobre o
Raphael e seu projeto social
acesse a página do escalador:
http://escalango.com
FOTOGRAFIA
Marcinha Shimamoto
(Yumi), tocando pro
alto nas esportivas no
Vale de Blair - Serra
do Cipó - MG em Abril
de 2012.
Ficha Técnica:
Autor: Paulo Ferreira
Nikon D7000
Lente 18-135
1/50 | f/5.0 | 44mm |
ISO 800
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escalando por ai
autor: Claudney Neves
fotos: Cladney Neves | Mauro Chiara
Desde que entrei no mundo da escalada,
foram poucas as vezes que fiz uma viagem que
não tivesse como objetivo principal escalar.
Depois de um tempo, você passa a se
acostumar com a beleza dos lugares, isso
aconteceu e permaneceu em mim quando
voltei de Yosemite. O fascínio em ver as belas
paisagens não era o mesmo. Estava precisando
de algo novo, e encontrei!
Em uma conversa com meu amigo Claudio em
um dia de natal, ele me falou de uma viagem já
marcada para a Argentina, com Mauro, outro
amigo que conheci depois. Topei a empreitada
e peguei alguma dicas com Julio, que foi com
quem conheci algumas das primeiras vias que
escalei no Ceará.
Grupo fechado, equipamento dividido, logística
combinada, viajamos para Bariloche no mês
de janeiro. A melhor época para escalar no
Frey vai do início do ano até meados de março.
Claudio e Mauro de avião até a cidade base
e eu para Buenos Aires, de onde pegaria um
ônibus, e depois de 20h de viagem, também
chegaria lá.
Cumprimos o combinado e nos encontramos
no Hostel Gente Del Sur, em Bariloche,
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fizemos as compras de mantimentos para
uma semana longe da civilização e pegamos
um taxi até o Cerro Catedral, onde há uma
estação de esqui e é o ponto de partida para a
trilha do Frey.
inédita novamente.
Chegamos no final da
tarde e o clima estava
perfeito!
Armamos
as barracas e fomos
conhecer o abrigo. Ali é
possível dormir, comer
e beber a preços justos
para o local. A cozinha é
liberada para todos, assim
como os seus utensílios.
Quando o sol vai embora,
geralmente às 22h, velas
iluminam as mesas. Não
há eletricidade.
Não há chuveiros no
local. Para os corajosos
que tomam banho, não
é permitido fazer isso na
lagoa. Nossa sistemática
foi utilizar panelas para
pegar a água e fazer isso
na grama ao redor.
A noite estrelada foi uma
ilusão, na manhã seguinte
as barracas, toalhas,
calçados, sungas e tudo mais que ficou ao
relento foram cobertos de neve. O tempo ruim
permaneceu por três dias. Em determinados
horário o vento era tão forte que nevava na
horizontal.
A Trilha
As Escaladas
O começo da trilha para o Vale do Frey
A trilha, ahhh, a trilha... São 4h horas de
um agradável sofrimento. O trajeto em si é
tranquilo e muito bonito, o peso de mais de
20 kg nas costas é o que incomoda, mas, o
que perturba de verdade são os tábanos, uma
espécie de mosca argentina que pica, não
interessando se você está com a pele coberta
ou não.
Claudio chegou antes do previsto. Mauro e
eu demoramos um pouco mais. No início
parávamos a cada 40 minutos - mais ou menos
-, esses 40 minutos se transformaram em meia
hora, que virou alguns instantes... Próximo
ao final da trilha, mirávamos uma pedra, um
tronco ou um barranco e chegávamos nele
para arriar o peso das costas, uma delícia =)
Mas a visão do abrigo é simplesmente
S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L!
Como o título do artigo diz, o lugar é um vale,
com agulhas nevadas ao fundo, que degelam
e formam a lagoa, que em suas margens tem
o abrigo. Nesse momento encontrei o lugar
novo de que tanto precisava. A beleza foi
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Claudio até tentou fazer algumas escaladas,
mas chegando ao ponto de ter que olhar para
os dedos e ver que estava mesmo segurando
O prêmio por chegar.
alguma coisa como agarra, pois não sentia chegou ao Frey. Mauro e eu entramos na Ñaca
Ñaca Crush Crush (5). Mais uma via que o guia
nada devido ao frio.
Mauro e eu formamos uma dupla e escalamos classifica como três estrelas, a exemplo das
três vias em dois dias. No primeiro de tempo duas anteriores. E falando em guia, o livrinho
bom, entramos na clássica Diedro de Jim é bem simplório. Antes de entrar em qualquer
via, é bom colher o
(5), cerca de 60m, com
máximo de informações
a primeira parte mais
com escaladores mais
fácil e os 15m finais em
experientes. Com certeza
uma fenda perfeita de
Granito
essas informações terão
entalamento de mão.
peso.
Rapelamos e, logo em
A via segue por uma
seguida, entramos na
Tradicionais
sequência de platores,
Sifuentes Weber (5+),
que sempre ficávamos na
bem
mais
exigente
dúvida se eram realmente
que a primeira e com
95%
são
móveis
da linha. As proteções,
diversos lances, digamos,
inclusive paradas, todas
interessantes.
Com
em móvel, como no
diedros, fendas frontais,
5 a 8 (grau francês)
dia
anterior..
Fomos
domínios e um visual de
alternando a guiada até
tirar o fôlego! Abri e fechei
chegarmos ao grande
a via, Mauro guiou as duas
enfiadas do miolo. Com isso encerramos o teto que dá acesso ao cume da Agulha Abuelo.
Mauro protegeu com friends grandes e
expediente.
No dia seguinte, Claudio perseguiu a Agulha mandou, arrastei a mochila e me juntei a ele
Principal, que tentava escalar desde que no cume. Rapelamos do nosso último dia de
Tipo de rocha:
Tipo das vias:
Proteções:
Graduação:
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No Cume da Agulha Abuelo.
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Nascer do Sol na trilha
escalada.
Na véspera de partirmos, mudamos para o
abrigo e já deixamos as mochilas arrumadas.
A manhã do dia seguinte começou cedo,
acordamos Às 4h30 e baixamos para Bariloche.
A trilha, ao amanhecer, está livre dos malditos
tábanos.
O Fim da Aventura
Pegamos o ônibus até o hostel e de lá cada um
seguiu seu destino. Claudio e Mauro pegaram
o avião em horário diferentes e eu enfrentei
mais 20h de ônibus até Buenos Aires, de onde
embarquei de volta para o Brasil.
Foi a segunda vez que fui para a Argentina. Na
primeira, em Los Gigantes, todo aquele papo
de rivalidade entre brasileiros e argentinos
foi por água abaixo. Dessa vez, ratifiquei
isso. Nossos hermanos nos recebem muito
bem, são solícitos, simpáticos – pelo menos
a maioria que conheci – e dão exemplo de
organização quando se trata de turismo.
Uma estrutura como a do Frey poderia ser
facilmente montada aqui. Temos locais,
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gente e exemplos de como fazer. Para não
ir muito longe, locais como Salinas, aqui no
Rio, têm tudo para se tornarem referência em
escaladas, caminhadas e para aqueles que só
querem se isolar um pouco para aproveitar
paisagens de sonho em um lugar paradisíaco.
Isso eles sabem fazer, nós ainda não.
Como falei lá no início, o Vale do Frey é um
dos lugares mais bonitos que já conheci. Se
você quer escalar em móvel, tem uma coluna
forte – a trilha é bruta – e gosta de conhecer
gente do mundo inteiro, lá é o lugar perfeito.
Escalamos pouco, mas aproveitamos muito,
se soubesse que só escalaria dois dias e
passaria quatro enfurnado em um abrigo,
mesmo assim iria para lá.
Curti cada minuto!
Claudney Neves é montanhista
desde 1993. Escalou em vários
estados do Brasil, países mundo
afora, e é Presidente do CEL.
fotos: Wilhelm / Plattner / Departamento
de pesquisa de segurança do DAV
X2
RUPTURA DE
MOSQUETÃO
É raro um mosquetão romper. Mesmo assim, dentro da cadeia de segurança é este o
equipamento que falha com maior frequência. Mais que grampo, corda ou cadeirinha.
No verão de 2011 quebraram dois mosquetões em Tirol durante escaladas esportivas.
Chris Semmel analisou os acidentes.
autor: Chris Semmel
tradução e adaptação: Hans Rauschmayer
Acidente n° 1
No dia 14 de maio de 2011, um escalador
alemão se acidentou em uma via 7c (escala
francesa), na Áustria. Ele se encontrava entre
a terceira e quarta chapeleta1 , a aproximadamente 9m acima do chão. Na tentativa de
alcançar uma agarra em bote na altura da
quarta chapeleta, ele caiu de forma controlada. O mosquetão clipado na terceira chapeleta rompeu, sem que o segurador sentisse um
tranco. O escalador despencou até o chão e
lesionou a coluna de forma severa.
O mosquetão rompido era o modelo Helium
do fabricante Wild Country, a chapeleta do
fabricante AustriAlpin (fig. 1).
Como aconteceu:
A imagem do mosquetão quebrado indica
o tipo de rompimento com gatilho aberto:
tipicamente, mosquetões abertos rompem na
curva do lado mais aberto, ou próximo dela.
A resistência do mosquetão é de 24/7/10 kN
(longitudinal, transversal, trava aberta). São
valores respeitáveis para um mosquetão
leve, produzido no forjamento a quente. O
teste de outros mosquetões do mesmo modelo conforme a norma (EN12275) confirmou
a resistência informada pelo fabricante. As
superfícies de ruptura não apresentaram
irregularidades na formação do metal.
Chama atenção a incisão próxima ao nariz,
causado pela chapeleta durante o rompimento (fig. 2).
A matéria relata acidentes que ocorreram com chapeletas. Ela não discute eventuais diferenças entre chapeletas e grampos batidos, o que
seria interessante no contexto brasileiro. Na tradução usamos o termo “chapeleta” na maior parte das aparições para evitar equívocos.
1
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Raramente um mosquetão rompe somente
pelo tranco com gatilho aberto. Afinal a força
aplicada no ponto de deflexão fica na faixa de
3 a 6 kN, conforme pesquisa do departamento de segurança da confederação alemã de
alpinismo-DAV (quedas de escalada esportiva; freio dinâmico, fator de queda 0,2 a 0,5).
Mesmo mosquetões “fracos” apresentam
uma resistência mínima de 7kN (exigência da
norma).
Para o mosquetão romper ocorre geralmente uma combinação de gatilho aberto com
torção por travamento dentro da chapeleta.
Esta alavanca adicional reduz a resistência.
O rompimento no caso apresentado, com alta
probabilidade, ocorreu desta forma (fig. 3).
1
2
Na posição da figura, o mosquetão fica estável e não desliza para uma outra posição,
mesmo sob força. A resistência fica na faixa
de 2 a 3 kN. A própria chapeleta abre o gatilho lateralmente, aplicando uma alavanca que
reduz a resistência.
Culpa de quem?
Neste acidente não se pode culpar o mosquetão. Comprovamos os 10kN de resistência
com gatilho aberto declarados pelo fabricante no nossos ensaios. Mesmo ensaios do
mosquetão aberto, forçado sob uma quina
mostraram que, contra primeiras suspeitas,
mosquetões leves forjadas a quente não perdem contra modelos clássicos, forjados a frio.
3
1. Chapeleta do acidente 1 | 2. Incisão no mosquetão rompido | 3. Posição do mosquetão na chapeleta no momento da ruptura
Bem ao contrário: eles parecem apresentar
uma deformabilidade mais alta. O Helium
mostrou uma enorme deformação e uma resistência de aproximadamente 7 kN (fig. 4).
Acidente Nº 2
No dia 2 de junho de 2011, um escalador
austriaco entrou numa via de grau 7a+ (escala
francesa). Ele descansou na quinta chapeleta.
Na tentativa de escalar o próximo lance se
deu conta que era difícil demais. Com a intenção de descansar novamente na quinta cha14 | Setembro 2012
peleta, ele desescalou até que seu quadrial
estava na mesma altura da chapeleta, lateralmente afastado por cerca de 40cm. Ele pediu
ao segurador para travar a corda. Quando
sentiu a tração da corda, ele se soltou. Nisso,
o mosquetão rompeu e o escalador aterrissou
de uma altura de aproximadamente 10m.
O mosquetão era um modelo Hot do fabricante
Salewa, do primeiro lote do ano 2006 (fig. 5)
Como aconteceu
Neste acidente, a imagem indica novamente uma ruptura causada por gatilho aberto.
A resistência do mosquetão, conforme fa-
bricante, é de 23/8/8kN; a verificação com
mosquetões similares do mesmo lote não
apresentou anormalidades. Da mesma forma,
as superfícies de ruptura não apresentaram
irregularidades. Chamam atenção as incisões
no nariz, causado pela chapeleta (fig. 6) que
indicam que o mosquetão estava apoiado pelo
nariz na chapeleta no momento da queda.
4
4a
Será que um mosquetão rompe nesta posição pelo mero peso do escalador? Quais são
as forças aplicadas e qual é a resistência do
mosquetão nesta constelação?
Para responder resolvemos refazer a situação no muro. Resultado: ao se “sentar”
a partir de uma posição 30 cm lateral à da
chapeleta, um escalador de 75kg causou uma
5
4. Ensaio de carga em mosquetão similar e deformação | 4a. Deformação | 5. Mosquetão do acidente 2
6
7
8
6. Incisões no nariz do mosquetão | 7. Posição do mosquetão na hora da ruptura | 8. Opções para reduzir o risco de ruptura: a.mosquetão
key-lock com fita larga no lado do grampo b.mosquetão de trava em ancoragens estratégicas c.modelo Frog do fabricante Kong
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força de 2,1kN na chapeleta (duas medições).
Em seguida repetimos o ensaio duas vezes
com mosquetões posicionados como no acidente. Nos dois casos, o mosquetão rompeu,
sendo que a força de ruptura estava em 1,8
e 2,1 kN. Como o escalador acidentado tinha
10kg a mais e encontrava-se a uma distância
lateral de 40cm, a ruptura do mosquetão não
parece somente plausível mas imperativa. A
combinação de tração com gatilho aberto e
alavanca causam uma redução drástica da
resistência.
Culpa de quem?
Neste acidente, novamente, não há como
culpar o mosquetão. Outros modelos também
apresentam num posicionamento similar uma
resistência baixa.
Hans Rauschmayer é guia de
montanhismo e diretor técnico
do CELIGHT.
Como evitar:
Desclipamento ou ruptura de mosquetões ocorre em 99% dos casos no mosquetão da chapeleta, não da corda. Os seguintes meios reduzem o risco de acidentes do tipo descrito:
_Fitas expressas fixadas no mosquetão do grampo (fig. 3 e 7) transmitem qualquer movimento da corda
ao mosquetão superior e o empurrem para dentro da chapeleta. O mesmo vale para fitas rígidas ou
costuradas até junto dos dois mosquetões.
_Deve-se, portanto, tomar cuidado para que o mosquetão do grampo não esteja fixado na fita e que ela
seja larga neste lado (fig. 8), permitindo que os movimentos possam ser compensados.
_É importante clipar o mosquetão da forma que o gatilho fique para o lado oposto da direção da via.
Quando o mosquetão for empurrado para dentro da chapeleta, será pelo eixo fechado, mais resistente
que o do gatilho.
_Mosquetões sem nariz (key-lock) e sem vincos correm menos risco de travar na borda da chapeleta.
_Do lado da corda recomendam-se mosquetões com gatilho de arame, por causa da inércia reduzida.
_Mosquetões com resistência de gatilho aberto acima de 9 ou 10kN certamente são melhores do que
aqueles que somente atendem à norma (7kN).
_Pouco difundido é o produto “frog” do fabricante Kong (fig. 8) que elimina o risco do rompimento do
mosquetão na chapeleta.
_Antes de lances com maior risco no caso de queda pode-se recorrer a
fonte: Karabinerbruch x 2, Bermosquetões com trava ou duas expressas clipadas de forma invertida.
gundsteigen 1/12, páginas 52-55
www.bergundsteigen.at
Afinal: na prática não ocorrem rupturas de mosquetões a não ser com gatiChris Semmel é guia de monlho aberto... e não esqueça de verificar a qualidade do grampo / da chapeletanhismo, perito, kitesurfista e
gerente do Depto. de Pesquisa
ta e do segurador.
do DAV.
Para mais literatura técnica acesse:
www.celight.org.br/artigos
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Setembro 2012 | 17
18 | Setembro 2012
autor: Marcus Vinícius Carrasqueira
fotos: Agnaldo Gomes | Aurélio Macha Manoel Morgado | Marcus Carrasqueira
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- Consulado Gerral do Russíía!
- Bom dia! Gostaria de saber...
- Senhôrr, nao falarr porrtuguês!
Quem sabe outro idioma, arrisquei!
- Senhôrr, nao falarr ingles!
- Qual o horário... ... Alô, alô!
Não acredito, o sujeito desligou! Ligo
novamente!
- Eu somente queria...
- SenHÔRR, JA di-ZERR, NAO fa-LARR PORtu-GUÊS!! PAM!
Bateu o telefone na minha cara com raiva!
Será esse o mau humor soviético que li em
algumas narrativas e que estará me esperando
de braços abertos? Não foi um bom início,
mas não vai ser pela inabilidade do camarada
moscovita que criarei um caso diplomático,
ou desistirei do meu projeto de férias. Elbrus
não foi a minha primeira opção. Meu interesse
era escalar os vulcões equatorianos Cotopaxi
e Chimborazo, o boliviano Sajama e o chileno
Parinacota na mesma tacada, mas alguns
colegas com os quais convivi no Kilimanjaro
insistiram
para
que
nos
reencontrássemos
na Rússia, sendo que
cinco deles já tinham
confirmado a presença.
Subir uma montanha fora
dos padrões brasileiros
é um prazer pessoal
que, por si só, vale o
investimento de tempo
e
dinheiro;
todavia,
participar de um grupo
alegre e vitorioso e de uma
expedição administrada
por Manoel Morgado e Lisete Florenzano
são argumentos imbatíveis. Não precisei
de maiores elucubrações para decidir meu
destino!
Considerando as aulas de Mínimo Impacto
ministradas
nos
cursos
básicos
de
montanhismo, recordo que apenas dois
princípios podem e devem ser aplicados antes
da viagem: “Planejamento é Fundamental”
e “Você é Responsável pela sua Segurança”.
Nesse
sentido,
planejamento
começa
com informação confiável. A leitura prévia
dos relatos de viajantes e a visualização
dos vídeos são medidas essenciais para a
formação de uma imagem mais próxima da
realidade e dos obstáculos encontrados pelos
antecessores. Sabendo que a língua inglesa
não é tão difundida lá quanto nos países da
comunidade européia, meu primeiro passo
foi aprender algo de russo (incluindo leitura
do alfabeto cirílico) e expressões rotineiras
com alguns meses de precedência. A
compra de um minidicionário juntamente
com o conhecimento adquirido foi de grande
utilidade e me socorreu em várias ocasiões.
Um amigo baixou no celular um aplicativo
de tradução que possui o pronunciamento
falado da palavra, providência acertada, pois
dificilmente um cidadão de meia idade fala
inglês ou tem paciência para escutar um
estrangeiro, ao contrário dos jovens, que têm
noções e se mostram colaborativos.
Beto Joly escreve no site adventurezone que
Elbrus é um vulcão localizado na região dos
Cáucasos, cadeia montanhosa de 1100 km de
comprimento resultante da colisão das placas
continentais arábica e eurasiana, iniciada há
25 milhões de anos, formando uma cordilheira
sudeste-noroeste entre os mares Negro e
Cáspio, a qual separa a Rússia da Geórgia. O
cume ocidental, ou oeste, possui 5642 m de
altitude, enquanto o cume oriental, ou leste,
ligeiramente mais baixo, possui 5621 m. Sete
picos acima de 5000 m estão ali encravados,
sendo os demais Dich-Tau,
Koshtan-Tau, Shkhara,
Djangi-Tau e Pushkin
Peak, de acordo com o
site kavkazskitur. Já o
site klingmountainguides
informa
que
elbrus
é uma expressão de
gênese persa e significa
duas cabeças, alusão
clara aos dois cones
geminados, ou sentinela
alta, segundo o site
climbing.about. A última
erupção ocorreu na época em que Cristo foi
crucificado, praticamente na manhã de hoje,
em escala geológica, indicando, segundo uma
corrente de cientistas, que o vulcão está vivo,
porém adormecido. Como não temos notícia
da chegada de nenhum outro salvador da
humanidade, fiquei tranqüilo para a escalada.
A calmaria terminou até saber que um dos
participantes atende pelo nome de Jesus!
Todos os sites visitados afirmam que a
escalada não se mostra tecnicamente difícil,
contudo é árdua e exigente devido à altitude e
ventos fortes. Elbrus está situado na latitude
43 graus norte que, rebatida para o hemisfério
sul, equivale à cidade hermana de Bariloche,
combinação que traz a variável frio para o
cenário das dificuldades. A taxa de sucesso é
estimada em 80% nos dias de tempo bom, desde
que o trekker esteja fisicamente condicionado
e aclimatado, conforme estimulado pelo site
... dois princípios
podem e devem ser
aplicados antes da
viagem: “Planejamento
é Fundamental” e
“Você é Responsável
pela sua Segurança”.
20 | Setembro 2012
fieldtouringalpine. Fiquei animado com a
estatística e meu segundo passo foi melhorar
o preparo físico, já adentrando no conceito
de segurança, outro princípio do Mínimo
Impacto. Desde o ano passado incorporei o
hábito de dispensar elevador no trabalho e
no prédio onde resido e mantive a corridinha
regular nas areias de Copacabana. A inovação
ficou por conta da repetição do exercício
diário de subir e descer escadas por 30 ou
40 minutos, treinamento especialmente útil
nos dias chuvosos. As novidades nem sempre
são bem compreendidas, principalmente
quando quebram a rotina da comunidade
de moradores: virei alvo de comentários e
olhares dissimulados vindos dos vizinhos,
acompanhados do gesto peculiar de apontar o
dedo indicador para a parte lateral da própria
cabeça e girá-lo repetidamente em torno de
um eixo imaginário!
E vamos embarcar! A passagem por Moscou
com alguns dias de antecedência é aconselhada,
não apenas pela rota mais econômica dos
voos internacionais, mas sobretudo pela
oportunidade de realizar passeios turísticos
enquanto o organismo compensa a diferença
de sete horas de fuso. Assisti à abertura
das Olimpíadas de Londres e a algumas
competições no telão do impressionante
Parque Soviético, em frente ao Hotel Cosmos,
onde nos hospedamos. A parada naquela
bela capital foi providencial, pois fomos às
compras na loja de montanhismo Alpindustria,
de boa qualidade e com preços bem abaixo
do nosso mercado. O guia também orientou
para adquirirmos nossas cotas individuais
de petiscos para o período de alta montanha.
Para mim, esses dias extras revelaram-se
propícios, compartilhados que foram com uma
atividade nada agradável, pois fui surpreendido
pelo extravio da minha cargueira, que nunca
chegou a desfilar na esteira rotatória do
aeroporto. Precisei me empenhar muito para
reavê-la depois de dois dias, situação que me
causou um bocado de aporrinhação, além de
ter envolvido involuntariamente meu colega
de expedição. Terá sido praga rogada pelo
camarada moscovita do Consulado?
Roupa limpa e bagagem completa, voamos por
três horas até a cidade de Mineralnye Vody (ou
Água Mineral), lugar onde tomamos um ônibus
por quatro horas até a vila de Terskol (2000 m),
na região da Cabárdia-Balcária, nossa base
temporária e início da aclimatação pelos dias
subseqüentes. Essa república faz fronteira
com a Geórgia, ao sul, estando próxima da
Chechênia, ao leste, províncias que declararam
independência mediante guerra civil. A Rússia
Vale Alpino de Terskol
à 2000 metros de altitude
Setembro 2012 | 21
nunca reconheceu a autonomia dessa última,
motivo de turbulências política e armada entre
os povos. Nota publicada em climbing.about
lembra que, no inverno de 2011, separatistas
islâmicos bombardearam uma torre de
teleférico e mataram três esquiadores. Não
obstante o fim dos combates, ao percorrer as
estradas encontramos escombros de antigas
fábricas e carcaças de veículos militares,
pairando no ar uma pesada atmosfera de
tensão, sendo necessário aos forasteiros
uma autorização de circulação emitida pelo
Governo. O condomínio ao lado da nossa
pousada possui cerca eletrificada, guarita em
torre elevada de cinco metros (tipo presídio)
com um homem mal encarado armado de fuzil
e sistema sanfonado automático de perfuração
de pneus no portão de entrada. Com a minha
estranha estampa étnica de sul-americano,
fiquei receoso de fotografar! Vai que...
No primeiro dia de condicionamento subimos
até um observatório astronômico a 3000 m
oficialmente apresentados aos Cáucasos,
desde os seus arborizados vales profundos,
cercados por montanhas piramidais nevadas
em perfeito estilo alpino, até a exuberante
explosão de vida e cores da fauna e flora, cheiro
de flores e mato, tudo isso emoldurado por
geleiras e banhado pelas fortes e barulhentas
correntes dos rios formados pelo degelo do
verão europeu! A Chamonix russa, como diz
a propaganda. Parodiando Charles Darwin,
bonito é modesto demais! Não poderia haver
melhor cartão de boas vindas!
Do alto do monte Cheget tivemos a primeira
visão do Elbrus em toda a sua majestade,
ornamentado com o manto branco das
neves eternas, única elevação arredondada
contrastando com as vizinhas serrilhadas!
Conforme estudo da UFRGS, Elbrus é a décima
montanha de maior proeminência topográfica
no mundo, um conceito que expressa o quanto
ela se destaca entre as que a rodeiam. Esse
gigante nasceu temporão (somente 4 milhões
Aclimatação em baixa altitude
e descemos para descansar na estalagem.
No segundo dia repetimos a dose até o topo
do monte Cheget, a 3300 m, voltando para a
derradeira noite no aconchego das nossas
camas. Em seu livro Sonhos Verticais, Manoel
Morgado enfatiza que a regra de ouro da
aclimatação é caminhar alto e dormir baixo. Os
dias de adaptação foram especiais, pois fomos
22 | Setembro 2012
de anos atrás, dado na página kavkazskitur),
crescendo rápido e diferente dos seus irmãos,
se diferenciando tanto que é considerada
a maior elevação da Europa. Cabe lembrar
que a divisão daquele continente com a Ásia
é produto de uma convenção geográfica de
1861, de acordo com a Wikipédia. Elbrus vem
registrando aumento na frequência por fazer
Teleférico
parte dos Seven Summits (circuito cada vez
mais popular entre os montanhistas), fato
que tem aquecido o turismo de veraneio em
Terskol, um aglomerado que possui nos
esportes de inverno sua grande movimentação
econômica. A página de Alan Arnette notifica
que, no verão, não é incomum encontrar
até cem escaladores tentando o cume em
um mesmo dia. No site pilgrim-tours há a
estimativa de dez mil pessoas por ano, sendo
70% russos.
A missão final em Terskol foi conhecer uma
loja de material de montanha para compras
de última hora e alugar os equipamentos
específicos de neve e gelo. Despedimosnos da confortável pousada, da sua deliciosa
comida e de seus simpáticos funcionários,
curiosos que foram com as coisas brasileiras,
rumo aos refúgios de altitude. Embarcamos
no teleférico de três estágios que nos
transportou diretamente para 3700 m, já na
linha nevada que nunca desaparece. Sentados
nas cadeirinhas observamos trekkers que
caminhavam encosta acima carregando suas
mochilas e confesso que senti certa pontinha
de inveja. Minha história de montanha tem
a ver coma aquela cena. Os abrigos são
chamados de barrels (ou barris/tambores,
pelo formato cilíndrico) e possuem beliches
para seis pessoas, aquecedor elétrico e
tomadas. Poucos anos atrás foram instalados
conjuntos de containers convencionais em
cotas superiores cumprindo igual função,
com capacidade para oito pessoas cada,
onde ficamos refugiados, com um deles
adaptado para cozinha e refeitório. As
mulheres invadiram o primeiro container,
parte dos homens outro, um terceiro estava
ocupado por um grupo da Austrália e os três
homens restantes ficaram no último, junto
com dois guias russos e as duas cozinheiras.
Os banheiros são um caso à parte, tipo
latrina fabricada em monobloco metálico,
sujos, nojentos, fedidos, nauseabundos,
dramaticamente erguidos à beira dos abismos
gelados e estremecendo ao sabor dos ventos,
ganhando com méritos os notórios apelidos
de “casa dos horrores” ou “quarto do pânico”,
como dito em summitpost.org. Descobri o
motivo da pior forma possível: cheguei aos
barrels com diarreia que me perseguiu pelos
dois dias seguintes. Sem opção de banho, fui
salvo pelo pacotinho de lenços umedecidos
que ganhei da premonitória namorada.
Após nos acomodarmos, fiquei em pé sobre a
neve admirando os cones vulcânicos. Mal podia
acreditar, ali estávamos nós, encastelados
nos ombros do Elbrus! Tão perto e ainda tão
longe! Hoje aquele lugar é quase uma cidade
de barrels, mas qual terá sido a emoção dos
conquistadores na época do deserto branco?
O cume leste foi escalado pela primeira vez
pelo guia kabardiniano Killar Kashirov, em
1829, trabalhando para o Exército do Império
Russo, enquanto o cume oeste foi conquistado
pelo guia balkariano Akhia Sottaiev, em
1874, membro de uma expedição anglosuíça, informa Beto Joly. Naquela tarde, e
Setembro 2012 | 23
Grupo completo
sem perder tempo, o guia continuou com o
processo de aclimatação, dessa vez utilizando
o equipamento alugado: botas duplas de
plástico, polainas, crampons, ice axe, bastões
e óculos de neve (google). Nosso refúgio
estava a 3900 metros e os participantes
foram conduzidos pelo glaciar até a cota de
4500 m, por entre o corredor de segurança
formado pelas Pastuckhov Rocks, rota normal
de ascensão usada pelos montanhistas, haja
vista a existência de perigosas cravasses (ou
gretas) no gelo. Elbrus alimenta vinte e duas
geleiras ao seu redor, algumas com 400 m
de espessura, segundo o site elbrus-team.
Não fui ao treinamento e fiquei em repouso,
enfraquecido pelo distúrbio orgânico. Acima
de 3000 m a ordem é hidratação diária com 4 a
5 litros de água, ajudando no condicionamento
do corpo. Abastecia por um lado e perdia por
outro, saldo zero! Nem sei por que me lembrei
do camarada moscovita do Consulado!
No dia seguinte me enchi de coragem,
Homenagem aos
mortos no Elbrus.
24 | Setembro 2012
integrando-me ao grupo na continuidade
da adaptação e com objetivo de chegar
a 4700 m, mas tive que parar em 4200 m
no abrigo Diesel Hut devido à repentina
cólica abdominal, onde esperei a volta
dos colegas. A casa dos horrores já
estava ficando familiar demais, para
o meu desespero! Explorando o local,
casualmente me deparei com um
monumento aos alpinistas que ali
sucumbiram pelo esporte, uma grande
rocha ornamentada com placas, fotos e
mensagens. Boris Tilov, chefe do serviço
de resgate no Elbrus, entrevistado pelo
site alexclimb, declara que morrem
em torno de 15 a 30 montanhistas
por ano e que 7 em cada 10 mortos
são estrangeiros. Procurei a madeira
mais próxima e bati três vezes! O grupo voltou
muito eufórico, pois tinham encontrado duas
modelos russas apenas de biquíni fazendo
fotos promocionais no meio da neve, algo
insólito. No retorno aos barrels tive uma
pequena dor de cabeça que incomodamente
persistiu ao longo do dia, sinal do insucesso
da hidratação. Com três médicos no grupo
comecei a tomar antibiótico, pois em 36 horas
iríamos fazer nosso ataque ao cume. Naquela
noite acordei com a movimentação do grupo da
Austrália se preparando para a sua escalada.
Às três da madrugada os australianos saíram
debaixo de vento e flocos gelados, mau sinal! O
tempo estava mudando. Nesses dois dias em
que estávamos nos abrigos, amanhecia com
sol, mas, no decorrer das horas, chuva e neve
se alternavam pela tarde. Ma noel Morgado,
inquieto, acompanhava simultaneamente
vários sites climáticos monitorando as
tendências.
O terceiro dia foi de descanso e treino leve
no uso dos equipamentos alugados. Com
mais uma visita matutina ao quarto do pânico
não tive dúvidas: tomei dois comprimidos
de imosec e fechei a porta, mas um dano à
saúde já podia ser contabilizado! Pelo meio
da manhã o grupo da Austrália tinha chegado
da sua incursão, cansados e cabisbaixos por
terem sido forçados a retornar de 5350 m.
O experiente guia russo Viktor Yanchenko,
do alto do seu título de recordista de cumes
no Elbrus (mais de 150, como registrado na
página de elbrus-team), optou pela volta
por questão de segurança devido à forte
nevasca. Apreensão geral, pois nessa noite
seria a nossa vez! No almoço os participantes
prestaram uma justa homenagem às nossas
competentes cozinheiras, pessoas simples
que nos trataram muito bem e temperando
a comida com muito carinho! Lena, mais
escolada, se comunicava com alegria e nos
abraçava com afeto, enquanto Yula, jovem e
tímida, aprendia com sua superior e respondia
com um sorriso sincero aos agradecimentos,
após servir nossos pratos. Cada uma foi
presenteada com um colar que comprei no
Brasil. Levar souvenires é uma estratégia
eficaz de quebrar a barreira idiomática e
ampliar os contatos sociais (sugestivamente,
souvenir é anagrama de universo). Na Rússia,
um inusitado elemento possui o mesmo papel
de integração e facilitação social: pepino! Os
russos amam pepino tanto quanto vodka:
é pepino no café-da-manhã, é pepino no
almoço, é pepino no jantar, é pepino no lanche
de montanha, é pepino no cinema, é pepino na
recuperação médica! Quer fazer amizade por
lá, ofereça um pepino e marque um golaço
nas relações diplomáticas!
O momento mais esperado estava chegando!
Na sua preleção final o guia informou que a
subida nos tomaria entre oito e dez horas,
enquanto a descida demoraria de quatro a
cinco horas, que levássemos água na térmica
ou em cantis de boca larga virados para baixo,
que estivéssemos vestidos com todas as
camadas de roupa e que o snowcat (um tipo
de trator adaptado para terreno nevado) já
estava contratado para nos transportar até
5000 m. Com tanta facilidade de deslocamento
e alojamento, o site outdoors.whatitcosts
classifica Elbrus como o mais civilizado
dos Seven Summits. Consegui adormecer
sem interrupções graças aos protetores
auriculares de espuma e máscara de dormir,
itens indispensáveis em grupos. Acordamos
às duas da madrugada com vento e neve,
as mesmas condições agourentas da noite
anterior. Emudecidos, embarcamos no veículo
embrulhados em quatro camadas de roupas,
entre segundas-peles, fleeces, impermeáveis,
balaclavas, meias, gorros e capuzes. A
preocupação aumentava proporcionalmente
com a intensidade da tormenta e a declividade
ascendente percorrida. Quando desci do
snowcat, um frio incomensurável vencia o
obstáculo aparentemente protetor das luvas e
Aclimatação em alta altitude.
Setembro 2012 | 25
Lisete Florenzano guiando o grupo
no ataque ao cume.
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Setembro 2012 | 27
invadia minhas mãos. Ao mesmo tempo, não
conseguia encontrar o equilíbrio necessário
para firmar os crampons e bastões devido à
força do vento. Maurício Clauzet relata, no site
hangon, que também passou pelo perrengue
do frio, mas solucionou o problema amarrando
sacolas plásticas de mercado em torno das
luvas.
A lua cheia havia ocorrido poucos dias antes e,
naquele 5 de agosto, ainda havia 91% do disco
lunar iluminado, mas não conseguia visualizar
nada além de vultos a poucos metros à minha
frente, sequer a rampa de gelo (que chega a
40 graus de inclinação, conforme página de
bergadventures). Desgrudar-se do grupo era
uma possibilidade concreta. Tecnicamente
já estávamos dentro de uma nevasca e uma
instabilidade emocional começava a tomar
conta de mim! Pela diminuta fresta existente
entre os óculos e a depressão do globo ocular,
microscópicos flocos gelados entravam
lateralmente empurrados pela força da
ventania e dolorosamente atingiam meu olho
como a ponta de uma agulha. A neve depositada
ali dentro derretia com o calor do corpo e
acumulava água na parte inferior do google,
me obrigando a retirá-la regularmente com
movimento semelhante ao de uma máscara
de mergulho, deixando-o constantemente
embaçado pela condensação. Tirá-lo estava
fora de questão e essa desatenção adicional
minava minha concentração! Mais um passo,
outro deslize e quase com a cara branca.
Enquanto escorregava a cada passada,
lembrava do que li em todos os sites
pesquisados: o maior risco no Elbrus é a
mudança brusca de clima, com tempestades
repentinas! Em ewpnet está registrado que
a temperatura pode facilmente descer para
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20 graus negativos. A página de
elbrus.net adverte que, em más
condições atmosféricas, o efeito
do vento frio pode causar sensação
térmica de 50 graus negativos e que,
de junho a setembro, em 50% dos
dias existe tempo adequado para
tentar a escalada. Em elbrus-team
há o alerta de que os ventos podem
chegar a 110 km/h.
O
site
travelthewholeword
surpreende
os
leitores
ao
informar que, em dia de cume, o
consumo energético pode chegar a
inacreditáveis dez mil calorias. Meus
planos originais de subir distraindome com música e degustando
alternadamente chocolate e gel
de carbohidrato foram para o
espaço, impedido que estava de tirar as
grossas luvas para manipular alimentos
com mais precisão, não apenas pelo quase
congelamento imediato mas, principalmente,
pela eventualidade dela ser surrupiada pela
nevasca e perdida ladeira abaixo. A câmera de
um amigo congelou, deixando de fotografar;
quando do seu retorno, ele verificou que a
especificação de funcionamento terminava
em 10 graus negativos. A tormenta não dava
trégua e a subida ficava mais complexa. A
neve acumulava e cada pé, pesando 1,5 kg
adicional, afundava totalmente, às vezes até a
canela. O esforço era tremendo, bem como a
exposição a uma das maiores manifestações
da natureza. Não dá para encarar esse duelo!
No seu blog, Manoel Morgado, montanhista
experiente e detentor do título de segundo
brasileiro a escalar os Seven Summits, declara
que foi o vento mais forte que enfrentou
na vida, deixando os bastões na horizontal
perfeita quando pendurados apenas pela alça
de punho. Aos poucos os participantes foram
desistindo e voltando com o apoio inestimável
dos guias auxiliares, até o momento em que,
a cerca de 5350 m de altitude, o próprio guia
principal decretou o fim da escalada, pois, na
sua avaliação, havia risco de avalanche. Alívio
para uns e descontentamento para outros. O
que era para ser prazeroso começou penoso
e estava ficando perigoso! Por coincidência,
algumas semanas antes do embarque, assisti
a um documentário no canal NetGeo sobre
os Cáucasos, onde o locutor destacou que
aquela cadeia montanhosa era a região da
Rússia mais propensa a avalanches! No seu
blog, Lei Wang é clara e direta na sabedoria
oriental: atingir o cume é opcional; descer
com segurança é obrigatório!
Pela manhã avançada o grupo já estava
recomposto no refeitório, ocupado em lamber
as feridas. Os australianos esperavam pelo
resultado positivo da nossa incursão para
efetuar uma segunda tentativa, uma vez
que, entre eles, havia um candidato a Seven
Summits, mas a frustração ultrapassou
fronteiras. Viktor Yanchenko decidiu pelo fim
da expedição dos trekkers da Austrália, pois
a previsão do tempo indicava continuidade
das condições climáticas adversas. Entre os
19 brasileiros, 15 votaram pelo término da
aventura e retorno para a pousada, sendo
que Ayesha, de 17 anos, ficou bastante
senão, ainda há o que se aprender com o
desistir. Saio dessa empreita satisfeito com o
conjunto da obra, pois, para um simples mortal
tupiniquim, ter uma performance inaugural
similar a Messner e Norgay me deixa com
uma falsa sensação de equiparação com esses
ícones sagrados da história do Montanhismo e
aplaca o orgulho ferido do meu ego manhoso
(me engana que eu gosto)!
Agradeço ao profissionalismo e carisma dos
guias Manoel Morgado e Lisete Florenzano,
esperando, em um futuro não muito distante,
consumir o incrível cardápio de expedições por
eles ofertado. Minha gratidão aos guias russos
emocionada, pois ela tem se esforçado para
ser a mais jovem brasileira a conquistar os
Seven Summits. Os outros quatro compatriotas
fariam uma segunda tentativa nessa mesma
noite, sob a liderança de Manoel Morgado,
entre os quais Gilson, um aspirante a Seven
Summits (no dia seguinte, via rádio, soubemos
ter sido vitoriosa). O site travelthewholeword
cita que Reinhold Messner não conseguiu
chegar ao cume na sua primeira tentativa.
Boris Tilov comenta em sua entrevista que
Tenzing Norgay não conseguiu subir por
causa do tempo ruim, sendo sábio o suficiente
para voltar atrás. Lisete Florenzano ensina
poeticamente em seu blog que saber desistir
não é parar no meio do caminho toda vez que
encontramos alguma dificuldade, mas sim
colocar na balança prós e contras físicos e
emocionais e tomar a decisão: se o coração
permanecer tranquilo, a escolha foi acertada;
pelo apoio fundamental por eles prestado,
representados por Daniel Timofeev e Igor
Novak. Minhas saudades aos maravilhosos
companheiros de aventura Agnaldo Gomes,
Ayesha Zangaro, Aurélio Macha, Carlos
Rustiguel, Cézar Toledo, Cláudia Biasutti,
Cristiano Muller, Gilson Francisco, Gisleine
Carvalho, Gustavo Huang, Jesus Sulzer, José
Resende, Lyss Zangaro, Marieta Arretche,
Renato Zangaro e Yayoe Sakai; não poderia
haver um grupo melhor entrosado e bem
humorado que aquele. Espero revê-los em
breve. Grato, uma vez mais, à Anne Peixoto
pelo empréstimo do sleeping bag, e aos
demais sócios do clube pelo incentivo. A
bandeira do CEL continuará sua jornada rumo
às montanhas, seja pelas minhas mãos ou
pelas de outros associados.
Nas palavras do guia, cume é a cereja do bolo
e eu me fartei o suficiente com a guloseima
Setembro 2012 | 29
da expedição, através da viagem em terras
exóticas, do relacionamento com pessoas
interessantes, do enfrentamento de situações
desafiadoras, da constituição de novas
amizades e da consolidação das antigas.
Não ambiciono realizar os Seven Summits,
mas desejo passar meus curtos períodos
anuais de férias em trekkings exploratórios
em ambientes naturais, subindo belas
montanhas, vivendo experiências culturais
com populações diferentes em países
distantes, enfim, enriquecendo minha própria
existência humana.
Elbrus permanecerá impávido e indiferente
à espera daqueles que pensam que o estão
conquistando, observando, como testemunha
silenciosa, os fatos mundanos dos homens
ditos sapiens. Assim o faz desde os primórdios
da civilização, quando foi pretensamente
submetido ao território dominado pelo
Império Alexandrino, depois pelo Império
Persa, depois pelo Império Romano, depois
pelo Império Bizantino, depois pelo Império
Mongol, depois pelo Império Russo, depois
tomado pelos nazistas na Segunda Guerra
Mundial, depois... depois...
Quanto aos soviéticos, não são latino-tropicais
expontâneos como nós, mas também não são
tão medonhos e apavorantes como apregoa
o folclore internacional. Os mais velhos não
costumam sorrir na abordagem inicial, mas
não te tratam mal, talvez com um pouco
30 | Setembro 2012
de distância. A Rússia é um país em busca
de uma nova identidade econômica, social
e comportamental, em plena mudança. A
rigidez do regime comunista ainda permeia
a sociedade, traduzida na dificuldade das
pessoas em se abrir no primeiro contato
(vimos isso na apresentação dos atletas russos
nas Olimpíadas, sempre sérios), no semblante
duro (quase carrancudo) de autodefesa, na
forma ríspida de falar (como se tivessem
brigando um com o outro), mas passada essa
etapa, a maioria é gente como a gente, que
se emociona, fragiliza, brinca, torce, gargalha,
sensibiliza e pede afeto, como muitos que
encontrei nessa estrada. Nada melhor do
que conviver algumas semanas com o povo
para formar uma opinião mais centrada. O
camarada moscovita do Consulado devia ter
acordado com o pé esquerdo naquele dia.
Da svidaniya!
Marcus Vinícius Carrasqueira
montanhista associado à clubes
desde 1994 e atual Guia do CEL.
Setembro 2012 | 31
32 | Setembro 2012
exposição
MONTANHAS
DO CEL
Os montanhistas são pessoas que por prazer procuram as
montanhas, e criam com ela uma relação estreita que sempre os
levará de volta à lugares que acreditam serem mágicos.
“Montanhistas” foi o tema escolhido para a segunda edição do
projeto de exposição fotográfica do CEL.
curadoria: Renato Índio do Brasil “Renatão”
realização: Gabriela Lima e Karla Paiva
A Força do Arco
Hans Rauschmayer
Setembro 2012 | 33
Céu de Ouro
Paulo Ferreira
“As pessoas viajam para
admirar a altura das
montanhas, as imensas ondas
dos mares, o longo percurso
dos rios, o vasto domínio do
oceano, o movimento circular
das estrelas, e no entando elas
passam por si mesmas sem se
admirarem.”
Santo Agostinho
Doce Dona Marta
Gabriela Lima
34 | Setembro 2012
Equivalentes
Anne Peixoto
Medo de Horizontais
Claudney Neves
Setembro 2012 | 35
Escalavrado
Judith Vieira
08-08-08
Karla Paiva
36 | Setembro 2012
Miragem - Peru - Huayhuash
Gustavo Sacilloto Granato
O Guia
Ivan Sloboda
Setembro 2012 | 37
Guilherme Costa
38 | Setembro 2012
Setembro 2012 | 39
No Cume do Sino
Louis Felippe
Pérolas de Ibitipoca
Helena Becho
40 | Setembro 2012
Jacarépaguá Hernande
Guilherme Silva
Combinação Perfeita
Claudio Van
Setembro 2012 | 41
Programação permanente na Sede do CEL:
- Todas as Terças: Treinamento no muro de escalada
- Todas as Quintas: Reunião Social
- Terceira semana do mês: Palestra/ Debate no Papo de Montanha
- Última Quinta-feira do mês: Festa dos aniversariantes
acesse:
www.celight.org.br
e fique sabendo das programações do clube e as
vantagens de se associar.
42 | Setembro 2012

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