PROJETO MEGAFONE - Instituto Desiderata

Transcrição

PROJETO MEGAFONE - Instituto Desiderata
SISTEMATIZAÇÃO
PROJETO MEGAFONE
GRUPO DE TRABALHO
2o SEMESTRE DE 2011
Sumário:
Resumo
Apresentação
1. Introdução: concepções, princípios
teórico-metodológicos e estrutura
dos encontros com educadores
2. Os encontros do Grupo de Trabalho
2.1 Encontro de agosto: Eu estudante, Eu educador
2.2 Encontro de setembro: A escola dos nossos sonhos/Questões prioritárias do 2º segmento
do Ensino Fundamental
2.3 Encontro de outubro e novembro:
Debate de perguntas
2.4 Encontro de dezembro: A construção coletiva
do documento para a SME
3. Considerações finais e desdobramentos
4. Anexo
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Resumo
Esta sistematização é resultado de uma iniciativa do Instituto
Desiderata junto à Secretaria Municipal de Educação (SME), contando
com a parceria técnica do Instituto TEAR. Versa sobre o processo e os
resultados de um Grupo de Trabalho (GT), parte de um Projeto mais
amplo, intitulado Megafone. O GT reuniu, de agosto a dezembro
de 2011, educadores – diretores, coordenadores pedagógicos
e professores – do 2º segmento do Ensino Fundamental para a
construção de espaços de diálogo com a SME. O auge desse trabalho
foi a elaboração de um documento, construído coletivamente, com
proposições concretas e endereçado à SME. O processo de trabalho,
calcado em uma metodologia própria, permitiu não somente
a sensibilização dos educadores para determinados temas que
cercam o fazer político-pedagógico da escola e seus educadores,
mas, sobretudo, a implicação dos atores na direção da construção
de novas formas (mais democráticas, libertadoras e igualitárias) de
conceber e gerir a educação. Os estudantes e os pais/responsáveis
são percebidos como peças chaves dessa construção, e o sentido
de pertencimento, atrelado ao exercício da participação de toda
a comunidade escolar na busca por uma educação de qualidade,
norteou esse trabalho. A voz dos educadores, seus questionamentos
e inquietações transformaram-se nesse trabalho em um “motor de
reflexão”, que permitiu o abandono de uma postura de “queixa”,
substituída por “ação” e proposição de iniciativas e novos caminhos
no ser educador e fazer educação. Assim, em parceria real e concreta
com a subsecretária de ensino e sua assessora, os educadores
costuraram metas e objetivos a serem alcançados. E ainda que o
caminho seja longo e desafiador, a mola propulsora em direção a
um futuro da educação mais promissora continua, firme e forte.
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Apresentação
Esta sistematização é resultado de uma parceria do Instituto Desiderata
com a Secretaria Municipal de Educação (SME) e o Instituto TEAR1. O
Instituto Desiderata é uma organização sem fins lucrativos que, desde
2003, trabalha no Rio de Janeiro (RJ) nas áreas da saúde e educação.
O Instituto Tear é uma organização formada por educadores que investem
na melhoria da educação pública, com experiência de 30 anos na formação
de professores. Tornou-se parceiro do Instituto Desiderata, em 2011,
especificamente para a realização de uma colaboração técnica no quadro
do Projeto Megafone (doravante Projeto).
O Projeto é uma iniciativa do Instituto Desiderata realizada desde 2010,
com o compromisso de melhorar a qualidade da educação no 2º segmento
do Ensino Fundamental, atuando na perspectiva da construção coletiva,
articulando e mobilizando diferentes atores do processo educacional para
o fortalecimento das políticas públicas.
Nos últimos anos o Projeto realizou uma pesquisa participativa com 39
escolas do Município do RJ; uma pesquisa on-line com 245 diretores; e
Planos de Ação temáticos em 12 escolas. Além disso, criou um Grupo
de Trabalho (GT) para debater com educadores as questões acerca da
qualidade do ensino público, especialmente no que se refere ao 2º
segmento do Ensino Fundamental do Município do RJ.
O Instituto TEAR assumiu a condução do GT, realizado desde 2011, voltado
para a mobilização de educadores do 2º segmento do Ensino Fundamental
na direção da construção de espaços de diálogo com a SME. A seguir, uma
linha do tempo sumariza o percurso do Projeto, com destaque para o
nascimento do GT, resultado de um encontro com 80 diretores no qual a
referida pesquisa on-line foi apresentada.
2010
Linha do tempo
Megafone na
escola
2011
Megafone
na Rede
Megafone na
escola
Megafone
na Rede
1o encontro
CREs
agosto
abril e maio
Reunião
Grupo de
Trabalho
250 diretores
280 diretores
julho
35 escolas
39 escolas
12 escolas
Pesquisa
online
Pesquisa
245 diretores
participativa
2o encontro
com diretores
maio
Plano de Ação
80 diretores
5 encontros
do Grupo de
Trabalho
Este texto foi produzido pelo Instituto TEAR em interlocução com o Instituto Desiderata.
Cabe dizer que, em itálico, estão expressões e conceitos de autores que embasaram a discussão e, entre aspas, falas dos educadores e expressões que mereceram destaque crítico.
Em negrito, estão as passagens e palavras que julgamos mais significativas ao longo do texto.
1
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A sistematização que será aqui apresentada visa descrever um conjunto de
ações realizadas no bojo do Projeto, especificamente no âmbito do GT, e
propor, a partir de um conjunto de experiências, uma visada analítica que
dê conta de refletir acerca das questões que envolvem a prática pedagógica
do 2º segmento. O auge deste trabalho foi a elaboração de um documento
com proposições concretas entregue à SME.
É importante dizer que um diferencial desse trabalho é a metodologia
utilizada nos encontros com educadores (GT), a qual, ao mesmo tempo
que sustenta o fazer, cria um território de sentido para o pensar e refletir.
Além disso, outro diferencial do trabalho é a estrutura dos encontros. Esta
foi permeada pela ludicidade e nutrição estética, de forma a “alimentar”
a reflexão, desconstruir ideias preconcebidas e ampliar olhares e modos
de perceber as relações e práticas educativas. Tal estrutura também foi
perpassada pelas provocações nascidas no próprio grupo, com ênfase no
sentido do encontro interpessoal voltado para fortalecer práticas coletivas,
de caráter público.
Em termos da sequência lógica do texto, primeiramente realizamos
uma breve Introdução, na qual discorremos acerca das concepções,
dos princípios teórico-metodológicos e da estrutura dos encontros com
educadores no âmbito do GT. Em seguida, percorremos a trajetória dos
encontros, destacando os temas norteadores da discussão, algumas
atividades desenvolvidas e seus resultados. Por fim, tecemos as
considerações finais e encaminhamos os desdobramentos das ações para
o ano de 2012.
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1. Introdução
Concepções, princípios teóricometodológicos e estrutura dos
encontros com educadores
A experiência não é descoberta, mas inventada, ela
nunca é dada como o fato, é sempre
uma interpretação provável.
Merleau-Ponty2
De agosto a dezembro de 2011 realizamos, no quadro do GT do Projeto Megafone,
cinco encontros com educadores – diretores, coordenadores pedagógicos e
professores – do 2º segmento do Ensino Fundamental do Município do RJ.
Os educadores que participaram do GT são de diferentes escolas municipais que
aderiram a um convite feito pelo Instituto Desiderata para todas as escolas de 2º
segmento da rede municipal de ensino do RJ.
Os 30 educadores que compuseram o grupo foram aqueles que apresentaram o
desejo de participar e se mobilizaram para estar presentes em encontros mensais.
Tais educadores eram representantes de 24 escolas, identificadas a seguir:
ESCOLAS
BAIRRO
CRE
Escola Municipal Jenny Gomes
Rio Comprido
1
Escola Municipal Mario Claudio
Rio Comprido
1
Escola Municipal Henrique Dodsworth
Ipanema
2
Escola Municipal República Argentina
Vila Isabel
2
Escola Municipal Benedito Ottoni
Maracanã
2
Escola Municipal Estado da Guanabara
Higienópolis
3
Escola Municipal José Veríssimo
Rocha
3
Escola Municipal Manoel Bonfim
Del Castilho
3
Ginásio Experimental Carioca Anísio Teixeira
Jardim Guanabara
4
Escola Municipal João Barbalho
Ramos
4
Ciep Operário Vicente Mariano
Bonsucesso
4
Escola Municipal Ministro Edgard Romero
Madureira
5
Escola Municipal Rosa Bettiato Záttera
Irajá
5
Escola Municipal Prof. Felicidade de Moura Castro
Taquara
7
Escola Municipal Rosa do Povo
Taquara
7
Escola Municipal Silveira Sampaio
Curicica
7
Escola Municipal Engenheiro João Thomé
Padre Miguel
8
Escola Municipal Marechal Alcides Etchegoyen
Bangu
8
Escola Municipal Milton Campos
Bangu
8
Ciep Ismael Nery
Santa Cruz
10
Escola Municipal Bertha Lutz
Pedra de Guaratiba 10
Escola Municipal Emiliano Galdino
Santa Cruz
10
Escola Municipal Jornalista Carlos Castelo Branco
Paciência
10
Escola Municipal Professor Coqueiro
Santa Cruz
10
*As escolas em destaque participaram dos dois projetos do Megafone: Planos de ação e Grupo de trabalho.
2
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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Cabe dizer que, desde o princípio do Projeto, o Instituto Desiderata
previu a parceria direta com a Secretaria Municipal de Educação (SME),
também convidada a participar do GT. A presença em todos os encontros
da subsecretária de ensino Helena Bomeny e de sua assessora Ana Lúcia
Barros foi de fundamental importância para o amadurecimento do grupo e
das relações entre os educadores e a SME.
Vale relembrar que a intenção do trabalho no GT foi favorecer o diálogo
entre os educadores e destes com representantes da SME, fortalecendo e
legitimando os espaços de construção colaborativa de demandas e pontos
a serem trabalhados no sentido da melhoria da educação do 2º segmento.
Os princípios políticos-pedagógicos que nortearam o trabalho no GT foram:
diálogo, autoria, parceria, gestão compartilhada e produção colaborativa
de conhecimentos. Neste sentido, em todos os encontros os participantes
foram mobilizados a atuar de forma crítica e propositiva, envolvendo-se no
planejamento, na execução e avaliação das ações.
A metodologia de trabalho utilizada nos encontros do GT fundamentou-se
nas concepções teóricas de Jean Piaget, Lev Vygotsky, Walter Benjamin,
Paulo Freire, Herbert Read, Ana Mae Barbosa, entre outros autores.
A cada encontro era criado um planejamento específico, buscando-se
atender às demandas do grupo e aos objetivos do GT: de enfrentar os
desafios do 2º segmento do Ensino Fundamental.
Foram utilizadas três ferramentas para o acompanhamento e a avaliação
das atividades desenvolvidas: 1) BLOG – espaço virtual aberto, no qual os
participantes do GT eram
instigados a postar textos,
imagens e vídeos; 2) DIÁRIO
DE BORDO COLETIVO –
caderno para registro,
realizado por um educador
do grupo, da experiência
vivida
coletivamente;
3)
Registro audiovisual
e fotográfico de todos os
encontros – material que
subsidiou discussões em
encontros posteriores e
corroborou a sistematização
da experiência.
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2. Os encontros do
Grupo de Trabalho
Em cada encontro relatado a seguir descrevemos as principais estratégias
utilizadas no planejamento das atividades em análise. Também trazemos
trechos significativos dos depoimentos dos educadores a partir das
atividades propostas. E de forma complementar, debruçamo-nos sobre
questões reflexivas acerca dos aspectos recorrentes e significativos desses
discursos, criando então novos questionamentos.
Ao longo do trabalho do GT, foram realizados, de agosto a dezembro,
encontros no Museu da República, no Espaço Educação e na sede do
Instituto TEAR. Sumarizamos no quadro a seguir os pontos chaves dos
encontros, o perfil dos participantes e o “roteiro metodológico” dos
encontros. Esse quadro também permite a visualização do todo das ações
realizadas, inclusive, na sua dimensão de complementaridade.34
Encontros de agosto
e setembro
Encontros
de outubro e
novembro
Encontro de
dezembro
Participantes
“Roteiro metodológico” dos
encontros
• Reflexão sobre a “escola
que queremos”, a partir da
relação entre os resultados
da pesquisa realizada em
2010 pelo Projeto2.
• Apresentação
por parte dos
educadores dos
Planos de Ação3
desenvolvidos nas
suas escolas.
• Foco na criação
coletiva de um
documento a ser
entregue à SME.
O documento
traz a síntese
das questões
mais relevantes
escolhidas
pelo grupo de
educadores no
GT, relacionadas
às demandas
prioritárias do
2º segmento
do Ensino
Fundamental do
Município do RJ.
• 28 educadores
em cada
encontro,
sendo: 12
Diretores; 7
Coordenadores
pedagógicos e
11 Professores
de disciplina
específica.
• “Roda de Chegada”:
atividades lúdicas de
integração do grupo.
• Reflexão com base
nos temas dos textos
produzidos pelos
educadores em suas
escolas, intitulados “A
escola dos sonhos”
(material produzido em
2011, a partir de enquete
na escola com alunos,
professores, funcionários,
gestores e responsáveis).
• Aprofundamento
da reflexão sobre
as questões
prioritárias do 2º
segmento a serem
debatidas
pelo GT.
• Definição dos eixos
prioritários a serem
discutidos pelo GT, com os
educadores organizados
em subgrupos. As questões
foram concebidas pelos
próprios educadores nos
encontros.
• Sensibilização: atividades
envolvendo as linguagens
da arte (literatura, artes
visuais e música) para
ampliar as sensibilidades e
redimensionar a perspectiva
estética e do olhar reflexivo.
• Mobilização para a reflexão,
a partir das experiências
vividas pelos próprios
educadores.
• Trabalhos em grupo para
aprofundar as reflexões.
“Roda de partilha”: troca de
ideias e construção coletiva
de conhecimento.
• “Roda de avaliação”: análise
coletiva das experiências do
encontro.
Pesquisa Megafone 2010: o Instituto Desiderata desenvolveu esta pesquisa com a
parceria técnica do CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde) e do IPM (Instituto Paulo
Montenegro).
4
O Megafone na Escola em 2011 possibilitou que 12 escolas municipais do RJ desenvolvessem
um Plano de Ação de sua autoria com base na metodologia de Construção Compartilhada
de Soluções Locais, desenvolvida pelo parceiro técnico CEDAPS (Centro de Promoção da
Saúde). Cabe ressaltar que a apresentação por parte dos educadores dos Planos de Ação
desenvolvidos nas suas escolas não será abordada neste texto, por entendermos que se
refere ao trabalho desenvolvido pelo CEDAPS, não sendo, portanto, resultado da parceria do
Instituto TEAR com o Instituto Desiderata.
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2.1 Encontro de agosto:
Eu estudante, Eu educador
O encontro de agosto de 2011 enfocou as reflexões sobre a “escola de
ontem e hoje”, com ênfase em lembranças, marcas, memórias, avanços,
retrocessos, dificuldades e possibilidades presentes nesse conjunto de
experiências.
A memória permite a relação do corpo presente com o
passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo atual
de representações. (...) É a conservação do passado que
sobrevive em estado inconsciente chamado pelo presente
em forma de lembrança, (...)o lado subjetivo de nosso
conhecimento das coisas.
Ecléa Bosi5
Atividade: minhas memórias, nossas
lembranças de estudante...
Nesta primeira atividade, solicitamos aos educadores que levassem para
o grupo fotografias de quando eram estudantes. A partir desses registros,
em pequenos grupos, cada um deles foi motivado a se apresentar para o
outro, contando onde estudou e onde trabalha, mostrando as fotografias
que trouxe.
Os questionamentos que perpassaram este momento foram: o que carrego
na lembrança de quando era estudante? O que me lembro da escola onde
estudei? Que marcas a escola me deixou? Existe alguma relação entre a
escola que estudei e a escola que trabalho atualmente? O que os estudantes
da escola onde hoje trabalho irão levar na lembrança sobre a escola?
Em seguida, cada grupo criou um painel coletivo com as fotos de
quando eram estudantes, acompanhadas de desenhos, palavras e frases
significativas acerca das marcas que a escola deixou nos educadores e das
marcas que a escola deixa hoje nos estudantes.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade; lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.
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Destacam-se dois objetivos desta atividade: 1) que os educadores
começassem a se (re)conhecer a partir de suas memórias afetivas com a
escola; 2) que os educadores, através da experiência narrada e da análise
de suas práticas cotidianas, discutissem a importância de se pensar a
escola e a educação a partir de um determinado contexto histórico, social,
cultural e político.
Os vários sentidos da atividade...
Nossos olhos veem a partir de onde nossos pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto.
Leonardo Boff6
Somos feitos a partir do que vivemos, das experiências que tivemos. Fomos
estudantes ontem e carregamos, em nossa história, memórias, marcas
e impressões do que vivemos. Ao relembrar nossa experiência como
estudantes, acessamos imaginários, sentimos cheiros, sabores e saberes
das nossas relações com os professores que tivemos e com as escolas que
vivemos. Todos esses aspectos impactam o nosso modo de ser educador e
de educar hoje...
Assim, compreendemos que narrar histórias/experiências de vida
relacionadas às trajetórias formativas dos educadores, revelando suas
singularidades, é um exercício de grande importância para a ampliação de
compreensões e de partilha de reflexões fundamentais para a educação.
Para pensar a prática educativa que fazemos hoje, é importante tomar
consciência das práticas educativas que vivemos como estudantes. Essa
consciência nos auxilia a compreender concepções, pontos de vista,
contextos históricos, geográficos, culturais, sociais, políticos e econômicos
que fundamentam as práticas educativas e os espaços de ensinoaprendizagem.
BOFF, Leonardo. A águia e a galinha: uma metáfora da condição humana. Petrópolis, RJ:
Vozes, 1997.
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Com a voz, os educadores
Na “roda de partilha” os educadores começaram a “desfiar” suas memórias
e compartilhar suas lembranças, fazendo relação com suas visões sobre
a escola de hoje. Seguem algumas falas dos participantes do grupo, que
permitem perceber a riqueza dessas experiências, bem como elencar
alguns aspectos chaves para a nossa reflexão:
“Eu acho que a questão simbólica, o sentimento pela escola
permanece. Os rituais é que são outros. (...) E, talvez, nós
sentimos muita necessidade dessa coisa, do que é visível.
Antigamente, a escola ritualizava mais, marcava: a questão
do hino, a questão do modo como andar, a questão do modo
como se portar. Eu acho que, quando nós voltamos ao passado com o olhar de hoje e fazemos o movimento inverso, nós
percebemos esse amor pelo espaço, só que num outro contexto, num outro tempo e se manifestando de outras maneiras. Vocês falaram das pichações, de algumas coisas que não
são muito legais, mas isso é sinal dos tempos, e a escola reflete a sociedade; mas o ritual, a questão do amor pela escola,
eu acho que isso está muito latente quando eles saem da
escola e voltam, dizendo: Como eu fui feliz aqui! Saudade...”
Diretora
“Para mim essa escola (de ontem) era espaço de brincar, de
aproveitar, da paz, de ler, de encontrar os amigos. Eu faço uma
comparação com a escola hoje, claro que tem escolas bem cuidadas, bem conservadas, mas à custa de muito esforço, muita
batalha. E aí se entra numa discussão profundíssima: os estudantes de agora têm ou não esse espírito de pertencimento,
têm ou não têm esse amor ao espaço? Têm, sem dúvida. Talvez, nós tenhamos algo em comum (em relação aos alunos),
porque só temos a descoberta daquele espaço (é, foi importante) quando saímos. (...). Nós estamos lidando com alunos
que são reflexo dessa sociedade maluca, vendida, presa, calcada nos valores de uma educação bancária. Por que você está
sempre atrasado? Por que as direções estão sempre atrasadas?
Porque se tem sempre que preencher planilhas, cadê o espaço
da escola, para pensar a escola, o desenvolvimento humano
do aluno mesmo? Eu quero saber o seguinte: o que eu posso
fazer de verdade para mudarmos alguma coisa na cabeça dos
nossos alunos que estão ali vivendo, tendo que passar por cima
de cadáveres, cujos pais não têm emprego ou têm subempregos. É isso o que nós queremos, é isso o que nós sonhamos?
Se estamos num projeto chamado Megafone, é o momento de
colocar a boca no mundo. Nós valorizamos os equipamentos,
os números... o que tem importância de verdade, o que é a
educação de verdade? É isso o que interessa.”
Professor
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Esses depoimentos nos trouxeram
algumas reflexões...
•
Como falar da memória, das lembranças de quando éramos estudantes,
sem nostalgia, sem saudosismo, reconhecendo que são tempos-espaços
e condições históricas, culturais, sociais, políticas distintas?
•
Como não fazer comparações e julgamentos entre o tempo de ontem e
o tempo de hoje?
•
Como pensar a escola que construímos hoje como educadores a partir
da escola que vivemos como estudantes?
•
Como estabelecer diálogos e relações entre diferentes experiências e
práticas educativas a partir de tempos e contextos distintos?
É interessante perceber que, nos discursos
dos educadores, a escola e suas práticas foram
sendo desnudadas, e as memórias foram tecidas
e entretecidas a muitas mãos. Observamos
que as experiências presentes dos educadores
parecem sobrepor-se ao rememorar de suas
histórias e experiências como alunos. Nesse
sentido, notamos uma angústia por parte desses
profissionais com uma série de aspectos de suas
práticas pedagógicas, para os quais eles não
encontram muitas saídas e soluções.
Desse modo, nas falas dos educadores são
muitas as perguntas e poucas as respostas...
Apesar dessa situação delicada, os educadores
mostram o comprometimento com os resultados
de seu trabalho, conforme ilustram alguns
questionamentos por eles lançados ao grupo.
Nestas questões, chamam a atenção as tensões
em torno do tema da “participação”:
•
Como construir sentimentos de pertencimento à escola?
•
Quem se sente pertencente à escola?
•
O que nos vincula, faz-nos pertencer, a alguma coisa?
•
Qual o tipo de participação que temos na escola?
•
Posso me sentir parte de alguma coisa da qual eu não participo?
•
O que é participar? Basta frequentar?
•
Participação exige escolha e tomada de decisão?
•
Quem escolhe e decide as coisas na escola? Com quem está o poder de
decisão? Como os estudantes e professores são mobilizados a participar
e decidir, para que possam se sentir parte?
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2.2 Encontro de setembro:
As Escolas dos nossos sonhos /
Questões prioritárias do 2º
segmento do Ensino Fundamental
Atividade 1: Leitura dos textos sobre
“A Escola dos nossos sonhos”
Ela (a escola dos meus sonhos) não briga com a TV,
mas leva-a para a sala de aula: são exibidos vídeos
de anúncios e programas e, em seguida, analisados
criticamente. A publicidade do iogurte é debatida;
o produto adquirido; sua química, analisada e
comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; as
incompatibilidades denunciadas, bem como os fatores
porventura nocivos à saúde. O programa de auditório de
domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente,
a visão de felicidade, a relação animador-platéia, os
tabus e preconceitos reforçados, etc. Em suma, não se
fecham os olhos à realidade, muda-se a ótica de encarála. Há uma integração entre escola, família e sociedade.
A Política, com P maiúsculo, é disciplina obrigatória.
As eleições para o grêmio ou diretório estudantil são
levadas a sério e, um mês por ano, setores não vitais da
instituição são administrados pelos próprios alunos. Os
políticos e candidatos são convidados para debates e seus
discursos analisados e comparados às suas práticas.
Frei Betto7
Foi solicitado aos educadores que realizassem uma enquete na escola
perguntando para alunos, professores, funcionários e famílias: Qual é a
escola dos seus sonhos? O que precisa acontecer para esta escola se tornar
a escola dos seus sonhos? Posteriormente, os educadores em parceria
com outros atores da escola deveriam criar um texto intitulado: “A escola
dos nossos sonhos”.
7
BETTO, Frei. A Escola dos Meus Sonhos. http://www.bancodeescola.com/freibeto.htm
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Neste encontro, realizado em setembro de 2011, convidamos os
educadores para ler o texto produzido na sua escola para o grupo.
Elegemos categorias que permitiram a classificação, organização e análise
dos discursos presentes nesse conjunto de textos. Essas categorias foram:
valores, consciência, participação e ensino-aprendizagem.
Com a voz, os educadores
No que se refere especificamente à categoria “valores”, destacamos
algumas passagens que nos pareceram mais significativas no processo de
trabalho no GT.
“Uma escola que trabalha com os sonhos, com realizações
particulares e gerais possibilita as parcerias, ouve e é ouvida. E, acima de tudo, vence a adversidade com atitudes de
respeito e amor.”
Escola Municipal Emiliano Galdino
“Nessa escola, direção, professores e alunos são mais presentes, o ensino é bom, as pessoas são agradáveis e responsáveis. Há mais educação, mais ocupação, respeito, muito amor,
paz e participação de todos. É uma escola que dá orgulho aos
seus alunos. (...) Os responsáveis são unidos e integrados à
escola, os profissionais, dedicados e os alunos, atenciosos. Há
respeito mútuo porque ele é a base sólida para qualquer relação interpessoal. Há valores morais e éticos.”
Escola Municipal Milton Campos
Identificamos nos discursos dos educadores dois aspectos principais: 1) o
desejo de que o ambiente escolar se torne local de convivência interpessoal
pautada em valores humanos; 2) a perspectiva de a escola ter como missão
a prática de uma educação humanizadora. Nesse sentido, são recorrentes
as palavras: “felicidade”, “amizade”, “união”, “respeito”, “harmonia”,
“amor”, “parceria”, “bem comum”, “moral” e “ética”.
Pela força dos significados que essas palavras carregam, alguns
questionamentos emergiram no GT:
- Como fazer com que esses valores não sejam apenas palavras desejadas,
mas se transformem em atitude concreta no cotidiano das escolas?
- Como trabalhar com esses valores na relação entre estudantes,
professores, familiares e funcionários? É só a escola que é responsável pela
educação de valores?
- Como a escola dialoga com os valores dos contextos sociais, políticos,
históricos e culturais da sociedade contemporânea?
- Como tratar de valores humanos, escola, relações interpessoais e educação
sem refletir sobre os modos como a sociedade vem se organizando e
enfrentando seus desafios e crises?
- Há uma crise nas relações e nos valores humanos na sociedade
contemporânea? E na Educação, há uma crise em relação ao papel e à
missão da escola nessa mesma sociedade? Como enfrentar essas questões?
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Essas questões não foram propriamente respondidas no GT, já que elas
apontam para a necessidade de estudo, reflexão e debate acerca dos
elementos que as constituem e fundamentam. Além disso, percebemos a
necessidade da criação de novos paradigmas que contribuam para a maior
conscientização do papel humanizador da educação e, consequentemente,
para maior clareza das atribuições da escola e dos educadores neste processo.
Reflexões...
Jamais pude pensar a prática educativa intocada pela
questão dos valores, portanto da ética, pela questão
dos sonhos e da utopia, quer dizer, das opções políticas,
pela questão do conhecimento e da boniteza, isto é, da
gnosiologia e da estética.
Paulo Freire8
Paulo Freire provoca em seus leitores a reflexão sobre a inter-relação entre
ética e estética, educação, valores e política, apontando para a necessidade
de se compreender a educação como prática da liberdade. Para tanto,
torna-se necessária a conscientização, por parte dos educadores, acerca
dos seus papéis, responsabilidades e compromissos políticos frente à
construção de uma sociedade pautada em valores humanos, como a
justiça, a solidariedade, a igualdade, a fraternidade e a garantia de direitos
para todos.
Sabemos, no entanto, que o alcance dessa consciência não é simples; exige,
como bem descreve o autor, desenvolvimento crítico da tomada de consciência.
(...) Estou absolutamente convencido de que a educação,
como prática da liberdade, é um ato de conhecimento,
uma aproximação crítica da realidade (...). Ao nível
espontâneo, o homem ao aproximar-se da realidade faz
simplesmente a experiência da realidade na qual está
e procura. Esta tomada de consciência não é ainda a
conscientização, porque esta consiste no desenvolvimento
crítico da tomada de consciência.
Paulo Freire9
Com base nesta fundamentação teórica, elegemos a categoria consciência
como um dos eixos para análise dos textos dos educadores sobre a “escola
dos sonhos”. Não pudemos deixar de considerar, no entanto, outras
categorias empíricas e analíticas que emergiram do processo de trabalho no
GT, tais como “democracia, cidadania, compromisso e responsabilidade”.
Estas diziam respeito tanto ao tema da gestão da escola, ao ensino, ao
espaço físico e as relações interpessoais, quanto à relação das escolas e
educadores com a SME.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:
Editora UNESP, 2000.
9
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Cortez e Moraes, 1980.
8
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“A escola (dos nossos sonhos) é democrática, igualitária, humanitária e prazerosa, onde a educação é a base de todo
o processo. Possui regras construídas pelo grupo e respeitadas por este. Prepara os indivíduos com valores morais e
éticos bem definidos.”
Escola Municipal Argentina
Tais aspectos provocaram nos educadores do GT inúmeras indagações: de
que maneira a escola vivencia os princípios da democracia e igualdade?
Quem constrói as regras de convivência da escola? Quais os princípios e
valores que fundam as relações de convivência na escola? Como a escola
entende e trabalha a relação entre autoridade e liberdade?
Especificamente em relação às dimensões da autoridade e liberdade, tão
bem trabalhadas por Paulo Freire, alguns depoimentos de educadores
mostraram-se reveladores dos valores e sentidos que perpassam a escola
e a prática educativa:
“Na escola dos sonhos desses professores, o pensamento
é único: a Educação é a mola que impulsiona o progresso.
Todos reconhecem a importância e o valor da Educação. Inclusive o governo. É uma escola cidadã, com direitos e deveres organizados pelos agentes envolvidos. Valor social da
educação.”
Escola Municipal Milton Campos
“Há que se fazer do ambiente escolar um local mais prazeroso
possível; com diversas atividades, boas instalações, limpeza,
alimentação saborosa e de qualidade e profissionais dedicados e conscientes de seu papel de educadores. Que essa escola tenha administradores que visem à condição de melhoria
de seus profissionais, de seus educandos e da estrutura do
ambiente escolar, esse microcosmo da sociedade.”
Escola Municipal Emiliano Galdino
Com base nesses discursos, levantamos alguns questionamentos junto
aos educadores do GT: é possível pensar a escola sem o exercício da
cidadania? O que será uma escola cidadã? Quais são os direitos e deveres
a serem exercidos por professores, alunos, funcionários, famílias e gestores
públicos? Qual o valor e sentido da escola na sociedade contemporânea?
Quais as relações entre educação, escola e sociedade? Como contribuir
para que os educadores tomem consciência de seu papel político frente à
transformação da sociedade? Como valorizar os educadores como agentes
de mudança? De que maneiras desenvolver a criticidade dos educadores
frente à tomada de consciência dos seus papéis políticos?
Além dos aspectos anteriormente discutidos, vale dizer que alguns
educadores fizeram referência à importância do papel dos estudantes na
idealização da (e busca pela) “escola dos nossos sonhos”. Concluímos que
esses educadores entendem que eles próprios, tanto quanto os estudantes,
devem estar comprometidos com a práxis pedagógica, inclusive na sua
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dimensão político-pedagógica. Nessa direção, novas perguntas emergiram
no GT: como comprometer os estudantes e motivar os professores? Como
comprometer professores e motivar os estudantes? O que nos leva a estar
comprometido com a prática educativa?
“A Direção sonha... Na escola dos seus sonhos, professores,
funcionários, responsáveis e alunos são mais comprometidos.
Há respeito entre toda a comunidade escolar e funcionários
para todas as funções.”
Escola Municipal Milton Campos
“Na escola dos nossos sonhos, existe parque com brinquedos coloridos; os alunos usam uniformes e o cardápio
alimentar é escolhido por eles; as paredes são grafitadas,
alguns alunos atuam como monitores de turma, onde uns
ajudam os outros; o Grêmio Estudantil é participativo e atuante na comunidade escolar; todos são comprometidos com
o estudo e as tarefas de casa; promovem festas e eventos
de integração. Nesta escola “o aluno é quem faz! Nesta escola os responsáveis são participativos, se preocupam com
o processo de aprendizagem dos filhos, são compreensivos
e respeitosos com os elementos da equipe escolar e se interessam pelo bem-estar físico e moral dos mesmos.”
Escola Municipal Argentina
Essas reflexões também conduziram o grupo a pensar sobre o conceito de
escola cidadã, aquela que, entre outros aspectos, conta com a participação
de todos. Moacir Gadotti10 define alguns pilares da “escola cidadã, pública
e autônoma”: é democrática na sua gestão, democrática quanto ao
acesso e à permanência de todos; não pode ser dependente de órgãos
intermediários que elaboram políticas das quais ela é mera executora;
e cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto pela leitura e pela
produção de textos, escritos ou não, de toda a comunidade: educando,
professores, funcionários e pais.
Ainda sobre a discussão acerca da “escola de nossos sonhos”, a reflexão
sobre o compromisso de estudantes e professores com os processos
de ensino-aprendizagem ganhou particular destaque no GT. Mas como
participar e se sentir parte do processo? De que maneira construir sentidos
e significados nos processos de ensino-aprendizagem? Destacamos a
seguir algumas falas que revelam as ideias que os educadores cultivam em
relação aos processos de ensino-aprendizagem:
10
GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã. São Paulo: Cortez, 2008.
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“É uma escola que ensina a aprender e a agir diante dos desafios de novos caminhos e que não é paternalista. É uma
escola onde os conteúdos são discutidos entre os alunos e
estes apontam suas opiniões.”
Escola Municipal Milton Campos
“É uma escola que inspira o professor de forma poética e ele
escreve:
Na escola dos meus sonhos, a música paira no ar,
o silêncio é eloquente, há paz em toda gente.
Na escola dos meus sonhos, a aprendizagem é verdadeira, é
busca da vida inteira em crescer e se tornar feliz.
Na escola dos meus sonhos, os conteúdos são instigantes
porque a cada novo instante é hora de descobrir.”
Escola Municipal Milton Campos
Notamos nesses discursos a valorização do aprendizado relacionado à experiência
de vida. Isto é, do saber da experiência se dar na relação entre o conhecimento e
a vida humana, sendo a escola o espaço privilegiado para esse processo. A escola
é vista, portanto, como espaço de convivência de muitos, lócus da descoberta e
do desafio, um local de ser, perceber, pertencer, refletir e criar.
Atividade 2: Criação de quatro
subgrupos para definição das
questões prioritárias a serem
trabalhadas pelo GT
Nesta atividade, foi proposta a leitura dos textos sobre a “escola dos nossos
sonhos” de autoria dos educadores com os demais atores das escolas onde
atuam. Em seguida, os educadores foram convidados a escrever palavras chaves
sobre o que foi lido no grupo. Ao final das leituras, foi realizado um jogo com
essas palavras. Cada educador escolheu as palavras que lhe pareceram mais
significativas, e, a partir delas, eles se organizaram em quatro subgrupos.
Os subgrupos foram mobilizados a refletir sobre a relação entre essas palavras
e os princípios e valores que, para eles, norteariam a escola dos seus sonhos. Em
seguida, cada subgrupo recebeu uma síntese dos resultados da (antes referida)
pesquisa Megafone na Escola (2010) e foi desafiado a relacionar esses resultados
às dimensões que cercam o que definem como a “escola dos nossos sonhos”.
Posteriormente, cada subgrupo definiu e escreveu questões prioritárias a
serem trabalhadas pelo GT, a partir de quatro eixos: infraestrutura, ensinoaprendizagem, relacionamentos e gestão. Tais eixos, inclusive, nortearam
a discussão e a nomeação dos subgrupos. Cabe dizer que houve uma intensa
participação dos educadores nos debates.
A nossa expectativa com essa proposta não foi no sentido de que as questões
fossem respondidas ou resolvidas. O mais relevante, para nós, era que os
educadores formulassem questões mobilizadoras do “pensamento inquietante”.
E que nesse processo pudessem emergir as “palavras/pensamento”, como
Hannah Arendt11 se referia à busca de sentido ao que somos, fazemos e
queremos, nosso lugar e comprometimento com o mundo, com os outros.
11
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2005.
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Com essa proposta, os educadores foram confrontados a pensar se estão
assumindo ou não uma educação comprometida com o bem comum. E isso
envolve pensar a sério a respeito de uma educação pública, democrática e
igualitária para todos.
Na tabela a seguir sintetizamos as discussões de cada grupo, bem como os
apontamentos de cada um na direção de futuras mudanças.
Subgrupo Infraestrutura:
Subgrupo Relacionamento:
Falar de Infraestrutura na escola
relaciona-se não apenas a questões
de espaço e estrutura física, mas
também, e sobretudo, aos valores
que compõem esta relação pessoas/
estrutu-ra física.
“Dialogar com a alma” através das
oficinas culturais no contraturno;
Principalmente o compromisso, que
faz com que todos participem da
construção/con-servação do espaço
físico.
Infraestrutura de pessoal
administrativo, que acaba por
comprometer o trabalho nos diversos
setores.
Maior flexibilidade no uso das verbas
municipais.
Maior suporte em materiais de
consumo por parte da SME para que
não haja tanto comprometi-mento
do SDP.
Maior fiscalização e acompanha-mento
do trabalho da COMLURB nas escolas.
Maior agilidade para chegada dos
laboratórios de informática do
PROINFO, com link de internet para os
mesmos e Educopédia.
Espaço para que os professores de
educação física da própria escola
tenham DR para oficinas desportivas
no contraturno e, consequente-mente,
preparação para os Jogos Estudantis
da PCRJ, fazendo com que o esporte
seja mais valorizado nas escolas, sem
necessidade de projetos externos.
Campanhas publicitárias do tipo “Esta
escola é sua, conserve-a”, utilizando
cenas do cotidiano de nossas escolas
para aumentar a autoestima de nossos
alunos, de modo que eles se sintam
parte de toda essa estrutura.
Oportunizar ao aluno
atividades diversas ligadas ao
desenvolvimento de suas aptidões
para a descoberta dos talentos
individuais e seus valores;
Ações conjuntas para
fortalecimento do grupo escolar.
Ex.: atividades culturais para os
professores;
Música ambiente na escola
(músicas que não façam parte da
cultura dos alunos. Ex.: música
clássica);
Gincanas interdisciplinares para,
através do lúdico, desenvolver
conceitos e habilidades;
Priorizar o diálogo e o afeto entre
os elementos da escola;
Estabelecer uma relação de
“pertencimento” do espaço escolar
onde estão inseridos;
Fortalecimento dos segmentos
através do professor como “mola
propulsora” de abertura de canais;
Fortalecimento do grupo através
do exemplo do “gestor” como
“elo” orientador e propulsor;
Subgrupo
Ensino-Aprendizagem:
Subgrupo Gestão:
Gestão
Recursos
Públicos
Direitos e
deveres
Comprometimento
Habilidades
desenvolvidas
Professores
satisfeitos
Avaliação
Qualitativa
Escola Democrática;
Igualitária;
Humanitária e
Prazerosa
Um número maior de
Centro de Estudos, onde os
professores efetivamente
se encontrem para elaborar
um material adequado
que possibilite um ensino
de qualidade. Onde haja
a troca de experiências e
de conhecimento, gerando
a maior capacitação para
a apropriação de novas
tecnologias e metodologias.
Isso tudo para garantir que
a escola seja o espaço de
conhecimento.
Para aulas mais dinâmicas,
o ideal seria ter-se uma
maior relação das políticas
públicas de educação com
outras áreas (parcerias), que
possibilitasse um ensino
atualizado e lúdico (Ex.: aulas
em museus, em centros
culturais, teatros etc.).
Instituição do professortutor, como um orientador,
uma vez que não se
tem assistente social ou
orientador vocacional do
aluno para despertar, no
educando, a necessidade
da aquisição de maior
responsabilidade, de maior
disciplina para a aquisição de
conhecimentos que possam
garantir sua preparação para
o mercado de trabalho.
Valorização profissional,
tanto pedagógica quanto
financeiramente.
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2.3 Encontro de outubro
e novembro: Debate de
perguntas
A construção ou a produção do conhecimento do objeto
implica o exercício da curiosidade, sua capacidade crítica de
“tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá-lo,
de cindi-lo, de “cercar” o objeto ou fazer sua aproximação
metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar.
Paulo Freire12
Atividade: Exibição de vídeo do
encontro anterior acompanhada de
roda de conversa
Nesta atividade foi exibido um vídeo, construído a partir das falas dos
educadores em um encontro anterior, no quadro do GT. Optou-se pela não
linearidade dos depoimentos, pelo agrupamento de depoimentos que
provocassem reflexão sobre o que vínhamos discutindo no GT. O vídeo foi
estruturado em torno das questões desafiadoras entre a “Escola dos sonhos”
e a escola que temos hoje.
Após a exibição do vídeo, foi realizada uma “roda de partilha”, na qual os
educadores teceram comentários. Destacam-se as palavras ressaltadas pelos
educadores: complexidade, aprendizagem, sensibilidade, pertencimento,
interação, respeito, tempo, pesquisa e avaliação.
Destacamos nos discursos dos educadores a necessidade de investir no
Centro de Estudos da escola como espaço privilegiado de reflexão, estudo
e debate. Além disso, eles defenderam a necessidade de a escola ser espaço
de pesquisa de alunos e professores, já que, segundo um dos educadores,
“é preciso pensar mais em como aprender e como ensinar”. Aqui aparece a
dimensão da práxis pedagógica, de como enfrentar o processo de ensinoaprendizagem, a necessidade de se estudar e pesquisar mais maneiras de
como aprender e ensinar.
12
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz
e Terra, 1996. p.95.
SISTEMATIZAÇÃO PROJETO MEGAFONE | 2o SEMESTRE DE 2011
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Nas discussões provocadas pelo vídeo, uma coordenadora chamou a atenção
para o tema do pertencimento, muito recorrente nos depoimentos do grupo
de educadores do GT. Observamos a necessidade, por eles identificada, de que
os diversos atores envolvidos na escola (alunos, familiares, educadores) sintamse pertencentes ao espaço e ao sentido da escola. Ainda nesse debate, foi
ressaltada a importância da gestão democrática da escola, com a participação
de todos e disponibilidade para sugestões e críticas.
Os educadores ainda deram destaque ao tema avaliação. O que se ensina, o que
se aprende, o que se cobra e o que se avalia? Notamos nas falas do educadores
que essas perguntas, que são tão estruturantes do trabalho pedagógico, nem
sempre são formuladas e refletidas por eles com a profundidade merecida.
Finalmente, é interessante pensar no próprio desenho desta atividade por
nós proposta, em como os educadores relacionaram as imagens nas quais
eles mesmos apareceram, falando no vídeo, com a dinâmica do cotidiano
da escola. Em diversas passagens, notamos que o dia a dia da escola dita
um ritmo, por vezes frenético, que dificulta a reflexão e a análise das ações.
Também observamos o desejo de pesquisar, estudar e aprofundar suas
práticas pedagógicas, com destaque para o modo como vêem a escola e se
percebem no emaranhado complexo do cotidiano escolar.
Debate de perguntas
Posteriomente, realizamos um exercício de debate de perguntas. Os
educadores deveriam elaborar perguntas que se relacionassem com
as questões que os subgrupos (infraestrutura, ensino-aprendizagem,
relacionamento e gestão) tinham apontado como prioritárias nos encontros
anteriores. Deste modo, as questões foram feitas e organizadas por blocos,
de acordo com os temas norteadores dos subgrupos.
Vale afirmar que esse trabalho de elaboração de perguntas não tinha um
compromisso com “o dar respostas”. Outrossim, baseava-se na possibilidade
de identificação das “raízes” das situações/problemas do contexto escolar.
Assim, procuramos instigar o “olhar pesquisador” dos educadores, na
direção de refletir sobre as origens das problemáticas. Apostamos, com
isso, no desenho de outras práticas e na construção de novos caminhos
educativos. Portanto, a partir do debate de perguntas, os educadores
foram desafiados, em vez de responder, a criar novos questionamentos
que permitissem uma ampliação do olhar e uma consciência, no sentido
paulofreiriano, dos rumos e direções dos seus fazeres cotidianos.
Ainda como parte desta dinâmica de trabalho, foi entregue para cada
subgrupo um roteiro de questões provocativas em relação aos eixos
prioritários (Infraestrutura, Ensino-aprendizagem, Relacionamento
e Gestão), para que aprofundassem as reflexões. Nesta proposta, os
educadores poderiam acrescentar tópicos e retirar os itens que julgassem
menos estratégicos para a discussão em pauta.
SISTEMATIZAÇÃO PROJETO MEGAFONE | 2o SEMESTRE DE 2011
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REFLEXÕES GERAIS
Subgrupo Infraestrutura
Subgrupo Ensino-Aprendizagem
Subgrupo Relacionamento
Subgrupo Gestão
Ampliação de conhecimento e
consciência sobre o sentido de
pertencimento a uma instituição
pública. De quem é a escola pública?
Quem são os sujeitos responsáveis
pela escola pública? Como
desenvolver compromissos e desejos
de participação no coletivo?
Qual a importância dos Centros de
Estudos para a escola do 2º segmento?
Como criar e integrar uma equipe de
professores horistas? Como discutir
e refletir sobre a prática pedagógica
envolvendo todos os professores?
Como criar projetos multi-inter e
transdisciplinares? Quantos Centros de
Estudos anuais são necessários para isso?
Como garantir esses Centros de Estudos
em 2012? Qual o papel do coordenador
pedagógico nos Centros de Estudos?
A escola é feita de múltiplas
e complexas relações. Como
os diversos atores que
compõem a escola podem
fortalecer suas relações
afetivas, identitárias,
interpessoais? Será que
essas relações podem ser
revisitadas a partir dos
próprios processos de
ensino-aprendizagem?
Afinal, a escola tem como
principal missão se tornar
um espaço educador, onde
todos aprendem e ensinam,
todos estão implicados nos
processos educativos de
ensino-aprendizagem. E não
estamos falando apenas
do ensino curricular, mas
também dos valores, das
culturas, da ética, da estética.
De que maneiras e quem são
os atores responsáveis pela
construção de uma escola
democrática, igualitária,
humanitária e prazerosa?
Neste eixo prioritário
estão levantadas
sugestões de ações
concretas que envolvem
os relacionamentos
interpessoais na comunidade
escolar, prioritariamente
entre alunos e professores.
De que maneira podemos
aprofundar nossas reflexões
não somente sobre esses
relacionamentos, mas
também sobre a relação
interpessoal entre todos
os atores que compõem
a comunidade escolar,
assim como a relação da
comunidade escolar com a
comunidade local.
Quais as instâncias e os canais
de participação do professor na
política de educação vigente?
Como os professores se
relacionam com a CRE e a SME?
Terceirização de pessoal
administrativo nas escolas. Como
criar elos entre servidores públicos e
prestadores de serviço terceirizados
nas escolas?
Qual é a cultura/política de consumo
de materiais nas escolas? Há debate
sobre a dimensão da escola como um
espaço sustentável? Como a escola
lida com o desperdício?
Qual a participação da comunidade
escolar no Projeto Político-Pedagógico
da Escola e na construção de
orçamento participativo?
Quais são os meios de diálogo da
escola com a CRE e a SME?
Quantas escolas do 2º segmento
têm laboratórios de informática
funcionando? Como a escola
reivindica, por exemplo, os
laboratórios de informática à SME?
(informação disponível no sistema de
indicadores)
Como criar campanhas que estejam
em consonância com outras ações
que contribuam para a consciência
do sentido público da escola – de
preservação e cuidado da escola?
Que outros aspectos sobre
infraestrutura gostariam de levantar?
Como garantir a formação continuada
dos professores? Os professores têm uma
formação cultural? Como essa formação
pode ser garantida pela SME? Que
ações a própria escola pode realizar que
contribuam para essa formação?
Que tipo de parcerias a escola gostaria
de estabelecer com outras instituições?
Que instituições seriam essas? Como
a SME poderia se articular com outras
secretarias da cidade? Desenvolvendo
que ações e projetos nas escolas?
Qual seriam o perfil e formação do
professor-tutor? Como ele dialogará com
a equipe de professores? Qual será seu
papel na escola?
Que outros aspectos sobre ensinoaprendizagem gostariam de levantar?
Quais as concepções de ensinoaprendizagem que a SME e a escola
têm atualmente? Como os adolescentes
aprendem hoje em dia? O que a escola
deveria ensinar aos adolescentes
contemporâneos? Quem define o
currículo da escola? Quais são os
conteúdos fundamentais? Como o
currículo da escola dialoga com os PCNs?
Quando se conversa e se reflete sobre o
currículo da escola? Como os professores
se posicionam frente ao currículo da
escola? Como discutir metodologias de
trabalho dos professores nas escolas?
Quem é responsável pela gestão
da escola? Quando se fala em
gestão democrática da escola,
que dimensões estão sendo
consideradas? Que atores
precisam ser mobilizados para a
garantia da gestão democrática
da escola?
De que maneira a formação
política do professor pode ser
desenvolvida?
Quais são os “mitos” que
dificultam o professor a se
posicionar politicamente frente
a seu papel, seus desejos e
competências?
Como os professores podem
ser reconhecidos e valorizados
por suas experiências e
competências?
Como os recursos públicos
devem ser geridos? Quem e
como se participa desta gestão?
De que maneira os professores
se comprometem com a
educação pública?
Como enfrentar os desafios
da avaliação – quantitativa e
qualitativa – na escola hoje?
Após a discussão das questões que lhe eram pertinentes, cada subgrupo
recebeu um quadro contendo duas colunas em branco para que fossem
preenchidas e trazidas no próximo encontro do GT. Na primeira coluna, o
espaço estava reservado para a lista de sugestões de ações para a SME. E,
na segunda coluna, para sugestões de ações que a escola pudesse realizar
enquanto iniciativa própria, independente da SME.
Cada um dos educadores levou o quadro para a escola onde atua, de
forma que pudesse aprofundar as discussões com outros educadores e,
assim, trazer para o encontro de dezembro as “pistas” para a construção
do documento a ser entregue à SME.
SISTEMATIZAÇÃO PROJETO MEGAFONE | 2o SEMESTRE DE 2011
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2.4 Encontro de dezembro:
A construção coletiva do
documento para a SME
As palavras sabem muito mais longe.
Bartolomeu Campos de Queirós13
O objetivo desse encontro foi a elaboração do documento a ser
encaminhado à SME, a partir das reflexões e questões apontadas pelo GT
no percurso do trabalho. Vale destacar que, no início da atividade, foi lido
o planejamento para os educadores, de forma que todos pudessem fazer
parte da efetivação dos pontos priorizados para a reunião, na perspectiva
de corresponsabilização pelo encaminhamento do encontro.
Atividade 1: Sensibilização – nutrição
estética através da leitura do livro
“Correspondência”, de Bartolomeu
Campos de Queiróz, seguida de “roda
de partilha” sobre essa história.
Os educadores foram questionados a respeito da “carta” a que o autor
estava se referindo em seu livro. Segue um depoimento a esse respeito:
“A Constituição. O jogo de palavras que devem ser adormecidas e despertadas é o que nós vemos hoje em dia, que elas não
estão tão adormecidas, elas estão sendo acordadas no lugar errado, na hora errada. Então, eu acho que não é bem despertar
as palavras, elas estão aí, sempre estiveram acordadas. Eu acho
que basta que nós consigamos percebê-las e vivenciá-las. Porque eu acho que nós estamos muito acostumados, as palavras
existem, as coisas existem, todo mundo sabe, mas nós estamos
nos acostumando muito com a mesmice. (...) E, no fundo, ele (o
livro) fala o que nós precisamos colocar em prática para se ter
um livrão que venha contemplar os nossos ideais. Está na hora
13
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Correspondência. Belo Horizonte: RHJ, 2004. O livro é
construído a partir de cartas enviadas de uma pessoa para outra, nas quais são acordadas e
adormecidas palavras. Através dessa simbologia, de maneira poética, o autor refere-se ao
processo de construção democrática da Constituição Brasileira. SISTEMATIZAÇÃO PROJETO MEGAFONE | 2o SEMESTRE DE 2011
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de nós começarmos a lutar para que esses ideais não fiquem só
em ideias. Porque o ideal não vai existir se nós não colocarmos
ele em prática. (...)
É trabalhar política, sim, na escola, todo ser é político. Não
adianta nós dizermos ‘ai, eu não gosto de política, eu não gosto
de me envolver com política’. Você nasceu, você já passou a ser
um ser político. Você tem que encarar a política como sendo
algo sério e não deixar trocar a política por politicagem. A politicagem é o que nós estamos vendo hoje em dia, onde cada
um vê o seu interesse, aonde a lei de Gerson prevalece, e não
a busca por um mundo melhor. E todo mundo diz que temos
que ter um mundo melhor, temos que ter honestidade, e onde
está a prática disso? Então, eu acho que esse livro é importante
para isso, para nós colocarmos para o aluno ou para as pessoas
em si que nós temos que buscar essa prática que nós deixamos
adormecer. Não são as palavras que estão adormecidas, não.
Eu acho que a palavra que tinha que ser acordada é ser humano. “O ser humano é que precisa acordar.”
Professora
Percebemos a partir dessa fala que a leitura do livro cumpriu seu papel de
sensibilização. Ele mobilizou a reflexão sobre a dimensão humana e política da
educação. Alcançou-se no grupo a reflexão de que a práxis educativa exige que
os ideais não sejam apenas ideias, mas se transformem em ações concretas,
reveladas na prática cotidiana. O que pressupõe ousar, deslocar o olhar, não
reproduzir a mesmice, ver por outros ângulos, assumir o compromisso de ser
educador como agente político de transformação da sociedade.
A partir desta atividade percebemos, nas falas dos educadores, a relação entre
a dimensão política e humanizadora da educação. Salta à vista a consciência do
papel político, da dimensão pública, democrática e cidadã da escola, que é feita
de gente e, portanto, de relações, nas quais todo mundo ensina e aprende.
No entanto, percebemos também nos depoimentos que esta articulação real
entre as dimensões política e humanizadora da educação não é praticada e
vivenciada no cotidiano escolar como poderia ser e se desejaria que fosse.
Atividade 2: Escolha das questões
prioritárias para compor o documento
a ser encaminhado à SME
Nesta atividade os educadores foram mobilizados a discutir com o subgrupo
(Ensino-Aprendizagem; Relacionamento; Gestão e Infraestrutura) e
selecionar as questões prioritárias (centrais e sintéticas), que julgavam
fundamentais para compor o documento a ser encaminhado à SME.
A partir daí, iniciou-se a construção coletiva do documento, feita de
maneira colaborativa. No percurso de elaboração do documento, o
grupo reconheceu que as questões mais relevantes relacionavam-se aos
processos de ensino-aprendizagem e à importância da garantia dos espaços
de formação dos professores. Desta forma, esses eixos foram priorizados
na feitura do documento, sem que os outros assuntos que surgiram no
decorrer do encontro deixassem de ser debatidos.
SISTEMATIZAÇÃO PROJETO MEGAFONE | 2o SEMESTRE DE 2011
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Ofertamos uma estrutura geral do documento de forma a facilitar o
trabalho. Cada subgrupo apresentou as questões que escolheu para serem
inseridas na carta. Conforme os educadores integrantes dos subgrupos
expunham seus motes prioritários, os demais avaliavam e argumentavam
acerca dos tópicos. A intenção era que todo o texto do documento fosse
definido em consenso.
Segue o documento criado e assinado por todos os educadores do GT.
Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 2011
À Subsecretaria de Ensino, Sra Helena Bomeny
O Instituto Desiderata trabalha na perspectiva da construção coletiva articulando diferentes atores do processo educacional
para o fortalecimento das políticas públicas de educação. Os princípios de diálogo, autoria, parceria e produção colaborativa
de conhecimentos são as bases do nosso trabalho.
Em 2011, o Instituto Desiderata nos convidou, gestores das escolas do 2º segmento do Ensino Fundamental do Município
do Rio de Janeiro, para participar de um Grupo de Trabalho (GT) que tem como principal objetivo possibilitar a troca de
experiências e a reflexão sobre as demandas específicas deste segmento: 35 escolas aderiram ao convite e 29 educadores
(diretores, coordenadores pedagógicos e professores) participaram dos 5 encontros do GT.
O grupo tem como premissa os quatro pilares da Educação segundo Jaques Delors: aprender a ser, aprender a fazer, aprender
a conviver e aprender a conhecer.
Nos debates sobre a qualidade do ensino público, este Grupo definiu questões prioritárias para o 2º Segmento, criando
um documento que propõe ações concretas a serem desenvolvidas pelas escolas e levanta algumas questões a serem
consideradas pela SME.
- Analisar uma nova grade curricular com 6 tempos de aula diários de 45 min. Sugestão: 6 tempos de Língua Portuguesa e
Matemática e mais 1 tempo de História, Geografia e Ciências em todos os anos.
- Incentivo à realização de oficinas artísticas, culturais e esportivas no contraturno escolar com professores da própria rede.
- Garantir acesso à internet a todas as escolas.
- Garantir suporte técnico periódico para o uso eficiente de toda tecnologia.
- Incluir, na semana de capacitação de fevereiro de 2012, a formação específica presencial com os professores voltadas ao
uso do Educopédia, assim como espaços para troca de experiências, reflexão e análise do conteúdo.
- Realização, em 2012, de Seminários sobre avaliação, discutindo interfaces quantitativas e qualitativas sobre ensinoaprendizagem de alunos e professores. Como estamos avaliando? Diálogo entre avaliação interna e externa.
- Garantir mais clareza nas determinações com relação ao sistema de avaliação.
- Garantir espaço específico para a formação dos coordenadores pedagógicos das escolas.
- Garantir coordenadores pedagógicos considerando número de alunos, por segmento.
- Revisão das gratificações da equipe responsável pela gestão escolar (diretor, adjunto e coordenadores pedagógicos)
- Implementação do Plano de Carreira dos profissionais da educação, conforme previsto na Constituição.
- Maior divulgação sobre as parcerias da SME com outras Secretarias e instituições, solicitando às CRES a difusão e
democratização do acesso às informações.
- Prever verba específica para as escolas, proporcional ao número de alunos, voltada à realização de ações pedagógicas e
culturais externas.
- Revisão de regras para a utilização do SDP, oferecendo maior flexibilidade / ampliação para os recursos serem usados de
acordo com a necessidade de cada Unidade Escolar.
- Rediscutir formas legais de distribuição proporcional ao número de alunos das escolas, em relação ao cargo de agentes
administrativos/educadores nas instituições.
- Garantir sistema único de gerenciamento de dados.
Certos de sua parceria, aguardamos ansiosamente respostas positivas e nos disponibilizamos a contribuir no que for
necessário para tornar tais sugestões viáveis.
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Vale destacar alguns pontos principais e momentos auges do processo de
construção deste documento. Em diálogo com os educadores, a subsecretária
de ensino e a assessora trouxeram alguns esclarecimentos sobre possibilidades
e limites de atuação da Secretaria. Quanto ao transporte, identificou-se
que esse é um problema mais geral da cidade, não podendo ser resolvido
diretamente pela SME.
Entretanto, de acordo com os relatos dos educadores, as verbas destinadas
às escolas não são suficientes para a efetivação de eventos externos. A esse
respeito, a subsecretária de ensino relatou, brevemente, alguns dos projetos
realizados a partir da articulação da SME com outras Secretarias, como exemplo
de algumas alternativas possíveis para a realização de passeios com garantia
de transporte aos estudantes. Sobre essa questão os educadores apontaram
a necessidade de maior divulgação acerca dessas parcerias para as escolas, de
modo que pudessem conhecer e utilizar as possibilidades existentes.
Ainda como parte do processo de produção do documento, os educadores
problematizaram a relação entre as Escolas e as CREs, e das CREs com a
SME. De acordo com eles, parece haver uma “falha na comunicação” entre
essas instâncias, e isso reflete-se negativamente nas escolas. A partir dessa
discussão, indicou-se no documento a necessidade de maior divulgação
dos recursos existentes nas CREs destinados às ações específicas a serem
realizadas pelas escolas.
Os educadores ainda chamaram a atenção para questões de ordem estrutural
que precisam urgentemente ser sanadas. Destaca-se, por exemplo, a
gratificação pequena, pouco atrativa, aos cargos de coordenação pedagógica
e gestão. Situação que, segundo os educadores, acaba levando à desistência
dos profissionais para a ocupação desses cargos, além de dificultar que novos
profissionais se candidatem às vagas.
Merece destaque, também, uma solicitação dos educadores à subsecretária:
a promoção de encontros do nível central e das CREs com as escolas, para
apresentar os projetos em andamento da SME, visto que, segundo os
educadores, muitos desses projetos são implementados sem haver diálogo
direto e permanente com os educadores das escolas.
Um último aspecto importante e significativo na produção deste documento
foi o momento em que os educadores debateram em torno do parágrafo de
conclusão. Como estava sendo endereçado à subsecretária Helena Bomeny,
e a própria estava presente deste o início do GT, participando também
da construção do documento, ela mesma solicitou ao grupo que fosse
modificada a frase final: que substituíssem “certos de sua compreensão”
para “certos de sua parceria”, uma vez que, segundo a própria, ela está no
GT na condição de parceira.
Avaliando...
No último encontro, por meio de um questionário individual, foi realizada
uma avaliação com o grupo de participantes, com a intenção de reconhecer
aspectos significativos do processo de trabalho, fortalezas, fragilidades e
sugestões de continuidade para o GT. A maioria dos educadores reconheceu a
importância do GT como espaço de diálogo, troca de experiências e reflexão sobre
a prática. Destacam-se em anexo algumas opiniões dos educadores (ver no anexo)
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3. Considerações finais
e desdobramentos
Voltado às demandas específicas do 2º segmento do Ensino Fundamental
da rede municipal, o GT consolidou uma estratégia de ação eficaz, no que
diz respeito à mobilização dos educadores para o aprofundamento de suas
reflexões sobre as práticas pedagógicas e a gestão da escola. Esta favorece,
principalmente, o diálogo direto desses educadores com a Secretaria
Municipal de Educação, através da presença efetiva da subsecretária de
ensino e sua assessora nos encontros.
Apostamos que esta iniciativa é de fundamental importância para a
construção de políticas públicas voltadas para esse segmento, visto que a
participação efetiva dos educadores nos debates qualifica a elaboração de
políticas que estejam em consonância com as demandas reais da escola e
de seus educadores.
Acreditamos que estes resultados só se tornaram possíveis a partir das
conquistas dos próprios participantes do GT ao longo dos encontros. Os
educadores:
•
construíram vínculos de confiança e de pertencimento;
•
identificaram causas comuns;
•
disponibilizaram-se para o diálogo plural, ultrapassando hierarquias,
sem desfazer as singularidades e realidades de cada um;
•
tomaram posse de pensamentos próprios para bem fazer educação
como processo coletivo-público, e não particular;
•
apropriaram-se de seus papéis políticos frente ao que julgam importante
para o 2º segmento do Ensino Fundamental, e;
•
criaram uma proposta de ação colaborativa, na sua forma e conteúdo.
Em 2012 o Projeto Megafone:
Manterá o GT com educadores (diretores, coordenadores pedagógicos e
diretores) de toda a rede.
Realizará, por questões estratégicas, um Curso de Formação com
coordenadores pedagógicos e outro com diretores de aproximadamente 30
escolas que atuam com o 2º segmento do Ensino Fundamental, localizadas
na região da Grande Tijuca (zona norte do Rio de Janeiro).
A escolha dessa região justifica-se por suas características específicas,
pois trata-se de uma localidade de grande diversidade, que se apresenta
tanto nas escolas quanto nas condições socioeconômicas do público a que
atendem.
A intenção com este Curso é contribuir com a formação desses
profissionais, criando espaços de troca, estudo, reflexão e debate, bem
como ampliar suas visões e perspectivas de atuação, com foco no trabalho
que eles desenvolvem com os professores nas escolas, o qual, por sua vez,
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está voltado à qualificação dos processos de ensino-aprendizagem dos
adolescentes.
Por fim, com este conjunto de ações, almeja-se fortalecer os espaços
democráticos de construção de políticas públicas educacionais na cidade
do Rio de Janeiro, envolvendo os seus diversos atores: estudantes,
professores, coordenadores e diretores em diálogo com a SME.
Dito isso, para fechar este trabalho escolhemos uma fala de um educador, a
qual sumariza diversos aspectos tocados no GT, como também os desafios
que estão postos por este trabalho que defendemos e apostamos rumo ao
alcance de uma Educação de fato democrática, igualitária e libertadora:
“Eu trago aqui (na atividade) a palavra, a minha palavra –
“corrupto”. Porque nós estamos vivendo, acordando, dormimos e acordamos com essa questão do corrupto. Só que
corrupto, a palavra corrupto quer dizer coração corrompido.
Normalmente, nós pensamos em “corrupção” ligada à parte
material, a recursos, tirar alguma coisa de alguém, já que
nós estamos na questão da Carta Magna, tirar alguma coisa
do que é público, do que é do povo, do que é da nação. A
palavra corrupção é coração rompido de qualquer um, então, eu trago até essa palavra no sentido de nós refletirmos
em que sentido também nós nos deixamos corromper como
educador, como cidadão, em algum momento, para ceder
a outras corrupções. Essa palavra corrupto nos acompanha
de uma outra forma, na construção dos nossos documentos,
dos nossos planejamentos, da nossa carta (documento para
a SME), não é? No sentido de que nós precisamos juntar o
coração. Então, eu acho que tudo o que nós temos construído ao longo dos nossos encontros do Megafone hoje,
principalmente, através das falas, que nós vejamos uma outra perspectiva de juntar esse coração. E que não se abra
mão disso, que nós não nos deixemos corromper mais. Que
nós vejamos esse ensino-aprendizagem numa questão de
aprender a ser Humano. Ensino e aprendizado também do
professor aprender como ensinar. Como aprender para ensinar a si próprio, a como se mover nesse mundo, a como
não romper o seu coração. Então, é por isso que eu estou
trazendo a palavra corrupta porque todos nós temos vivido
isso intensamente. É uma palavra que não dorme, ela está
em vigília permanente”.
Professora
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4. Anexo
A maioria dos educadores reconheceu a importância do GT como espaço de
diálogo, troca de experiências e reflexão sobre a prática. Vejam algumas das
justificativas:
“O GT é importante pela visão que temos de assuntos que afetam
a todos independente da região em que a escola está localizada”;
“Foi um espaço que garantia a liberdade de expressão das angústias, revoltas e que nos fazia perceber que não éramos apenas
mais um”;
“Esse espaço é importante para conhecermos melhor as vivências de cada escola. Ver que todos passam pelos mesmos sofrimentos”;
“Foi um espaço importantíssimo para discutirmos questões importantes do nosso dia a dia”;
“É um momento único que nos oportuniza troca de experiências
e conhecer outras realidades”;
“Extremamente positiva esta troca de comportamentos, valores
e possibilidades de melhorias para a aprendizagem da escola
como um espaço de construções do saber”; “A troca de ideias é
fundamental para a construção de uma melhor prática”;
“Importante para discussão das práticas pertinentes ao nosso
trabalho”;
“Muitas práticas, experiências e reflexões aqui apresentadas fiz
na minha escola”;
“Espaço e tempo muito oportunos para realimentarmos a esperança de uma educação de qualidade”;
“Considero importante todos por ser o somatório de ideias e a
construção de nossas propostas”;
“Excelente. Essa deveria ser uma oportunidade para o maior número de escolas possível”.
No que diz respeito ao papel do GT na formação/atuação dos participantes
como educadores, a maioria ressaltou sua importância:
“A participação no GT traz um ‘novo gás’ para lidar no dia a dia
escolar”;
“Por ter ampliado as perspectivas, por ter proporcionado metodologias e por incentivar a construção coletiva”;
“Me proporcionou momentos de reflexão e ‘escuta’ dos colegas
para que eu pudesse repensar a minha prática pedagógica”;
“Não me ver sozinha nesse caminho”;
“Auxiliou no sentido de ser um facilitador de troca de experiência, angústias e que me fizeram, algumas vezes, repensar a minha situação”;
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“Importante esse espaço de troca de informação e de experiências”;
“Momentos e espaço que possibilitaram a revisão de saberes, conhecimentos e a interação dos profissionais da Educação”;
“Como utilização das experiências dos outros para utilização nas
nossas realidades”;
“Ouvir o depoimento dos colegas de trabalho e suas realidades nos
impulsionam e nos incentivam para uma melhor prática”;
“É importante pela troca e pela diversidade”;
“Levar para a escola as discussões e sugestões de livros e textos
aqui promovidos”;
“O grupo é formado por pessoas inteligentes, questionadoras,
determinadas e trabalhadoras, não fogem dos desafios e derrotas. Assim estimulando todos os presentes a nunca desistir.
A luta continua!”
Outra questão que merece destaque na avaliação diz respeito à relação do GT
com a Secretaria Municipal de Educação:
“A relação é boa porque há uma demonstração de boa vontade dos
representantes da SME com o GT”;
“Creio que foi fundamental a participação das representantes do nível
central (setor educação) para dar vitalidade ao processo”;
“Todas as interferências e solicitações dos representantes da SME pareceram respeitosas, sérias e receptivas”;
“Foi muito bom descobrir que na SME existem pessoas abertas às críticas e a discutir fundamentos para uma escola de qualidade”;
“A representante da SME, Sra. Helena Bomeny, fez com que essa relação fosse bem saudável, estimuladora e agradável”;
“Sempre representado por profissional da SME e que tornou o encontro dinâmico, democrático e eficaz”;
“Me surpreendeu a representatividade da SME em todos os
encontros”;
“Excelente, nunca vi parceira assim”;
“A presença da subsecretária foi importante para algumas respostas
a determinadas situações que surgiram no decorrer dos trabalhos”;
Parceiro técnico:
“Adorei ter a presença de integrantes da SME nos encontros. Pelo menos, na maioria deles. Sua participação para o próximo ano poderá
até aumentar”.
Rua Visconde de Pirajá, 550 | sala 1303
Rio de Janeiro - Brasil
Tel.: 21 25298347
www.desiderata.org.br
[email protected]
O Instituto Desiderata é uma organização sem fins lucrativos que, desde 2003,
trabalha no Rio de Janeiro para o fortalecimento de políticas públicas em saúde
e educação que proporcionem às crianças e adolescentes: diagnóstico precoce
e excelência no tratamento do câncer e ensino fundamental de qualidade.
Para isso, o Desiderata atua em parceria com instituições públicas e privadas
na formulação, implementação e financiamento de programas nessas áreas.
Na área de Educação, o nosso compromisso é com a melhoria da qualidade no
2º segmento do Ensino Fundamental.
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