a percepção dos colaboradores de um supermercado em

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a percepção dos colaboradores de um supermercado em
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
INSTITUCIONAL
DIREÇÃO DA MANTENEDORA
Diretoria Gestão 2013 - 2015
Presidente: Ernani Carlos Boeck
Vice-presidente: Ronaldo Fredolino Wendland
Secretária: Dalva Lenz de Souza
Vice-secretária: Telci Krause
Tesoureiro: Hordi Núbio Felten
Vice-tesoureiro: Flávio Huber
Conselho Fiscal:
Waldemar Blum
Nelson de Oliveira
Mario Tesche
Ivo Novotny
Arnaldo Schmitt
Conselho Deliberativo:
Marisa Sandra Allenbrandt
Lori Cecatto
Kedy Lopez
Diretor geral: Flávio Magedanz
Vice-diretor Faculdade Três de Maio: Sandro Ergang
Vice-diretora Administrativa: Quedi Sônia Schmidt
Vice-diretora Educação Básica e Ensino Médio:
Marilei Assini
Vice-diretora Educação Infantil: Dagma Heinkel
Conselho Editorial: Ms Adalberto Lovato; Ms Alexandre
Chapoval Neto; Dra Cinei Teresinha Riffel; Ms Douglas
Faoro; Drdo Fauzi de Moraes Shubeita; Ms Gilberto Souto
Caramão; Ms Jorge Antonio Rambo; Ms Lilian Winter; Ms
Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms Sandro Ergang; Ms
Valsenio Gaelzer, Ms Vera Beatriz Pinto Zimmermann
Weber; Ms Vera Lúcia Lorenset Benedetti.
Comissão Científica Interna (avaliadores - sistema
blindedrewiew): Ms Alexandre Chapoval Neto; Dra Cinei
Teresinha Riffel; Ms Cláudia Verdun Viegas; Ms Evandir
Bueno Barasuol; Drdo Fauzi Shubeita; Ms Gilberto
Caramão; Ms Jeane Borges; Ms Lilian Winter; Ms Luciomar
de Carvalho; Ms Márcia Stein; Ms Marcos Caraffa; Ms Paulo
Pereira; Ms Sandro Ergang; Ms Valsenio Gaelzer; Ms Vera
Lúcia Lorenset Benedetti; Ms Vera Pinto Zimermann Weber;
Comissão Científica Externa (avaliadores – sistema
blindedrewiew): Dra Cristiane Koehler – SENAC (RS); Dr
Cristiano Henrique da Veiga – UFSM (RS); Dr João Bosco
Sobral – UFSC (SC): Dr João Leonardo Pires – EMBRAPA
(RS); Dr Jorge Luis da Cunha - UFSM (RS); Dr José Antonio
Martinelli – UFRGS (RS); Dr Luciano Bedin da Costa - UFRGS
(RS); Prof Drdo Luis Carlos Zucatto – (UFSM); Dra Márcia
Soares Chaves – EMBRAPA (RS); Dr Mário Luis Santos
Evangelista - UFSM (RS); Dra Marlene Gomes Terra –UFSM
(RS); Dr Miguel Vicente Sellitto - UNISINOS (RS); Dr Rafael
Marcelo Soder – UFFS (SC); Dr Roque da Costa GüllichUFFS (RS); Dr Sedinei Nardelli Beber – PUC (RS); Dra Soraia
Napoleão Freitas - UFSM (RS); Drdo Valmir Heckler – FURG
(RS); Ms Vera Lúcia Fortunato Fortes – UPF (RS).
Capa: Assessoria de Comunicação SETREM
Diagramação: Gráfica SR
Revisão: Carla Matzembacher
Ano XIII nº22 JAN/JUN 2013 - ISSN 1678-1252
Revista SETREM: Revista de Ensino e Pesquisa
Sociedade Educacional Três de Maio
Três de Maio: SETREM Publicação Semestral
EDITORIAL
A REVISTA SETREM, tem como objetivo estimular
a produção científica e o debate acadêmico
visando fomentar a disseminação e o
aprimoramento de conhecimento nas áreas de
Administração, Agronomia, Design de Moda,
Enfermagem, Engenharia de Produção,
Pedagogia, Psicologia, Sistemas de Informação e
Redes de Computadores.
A REVISTA SETREM, com periodicidade
semestral, esta comprometida em divulgar os
resultados das pesquisas desenvolvidas por
discentes, docentes e profissionais da área, desta
instituição bem como de outras instituições de
ensino e pesquisa, estimulando uma das
experiências necessárias à formação de futuros
pesquisadores e de profissionais habilitados para
atuarem em suas respectivas áreas.
Acreditamos que a publicação científica quando
da apresentação de referencial bibliográfico,
métodos de pesquisa e resultados (teóricos e
práticos) contribuem não apenas para o
amadurecimento intelectual dos autores, mas
também para o desenvolvimento profissional, das
organizações e da sociedade em geral.
Nossos leitores, constituídos por pesquisadores,
professores, acadêmicos de graduação,
programas de pós-graduação, empresários e
profissionais atuantes nas áreas
supramencionadas e em outras correlatas, tem a
sua disposição esta revista que permite a difusão
do saber científico, tecnológico e cultural.
É com imensa satisfação que apresentamos a
REVISTA SETREM, N° 22. Nesta edição,
contamos com 15 publicações, frutos de um
trabalho conjunto entre professores e
acadêmicos, envolvendo as áreas de ensino,
pesquisa e extensão.
Esperamos que a confiança depositada na
REVISTA SETREM, como um dos meios para a
socialização desses resultados de pesquisa, se
renove, propiciando uma maior visibilidade à
produção acadêmica.
Gostaríamos de agradecer a contribuição da
comissão científica interna e externa que
contribuem para a consolidação desta revista.
Agradecemos, em especial, aos nossos leitores e
leitoras. Afinal, sem esta interação, nosso
trabalho não teria razão de ser.
Uma boa leitura a todos!
Prof Msc Sandro Ergang
Vice-Diretor de Ensino Superior e Ensino
Técnico
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
SUMÁRIO
A INTERFERÊNCIA DOS CONFLITOS PROFISSIONAIS NA QUALIDADE DE
VIDA DO TRABALHADOR PELO ATUAL SISTEMA DE TRABALHO....................5
Andreas Laurence Hirt
Cecília Smaneoto
Robson Weiss Machado
SETREM
A UTILIZAÇÃO DO CUSTEIO POR ABSORÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE PREÇO
DE UMA INDÚSTRIA DE ESQUADRIAS METÁLICAS.....................................17
Plínio Fredolino Unfer
Yara Heck
Alexandre Chapoval Neto
SETREM
COMPOSTAGEM DE DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS..................................32
Nelson José Fonseca Smola
Edileusa Kersting da Rocha
Marcelo Rigo
SETREM
IMAGENS E REFLEXOS DA CAMINHADA ESCOLAR: O OLHAR DO
ESTUDANTE SOBRE O/A PROFESSOR/A......................................................44
Cristiane Kirch Fritzen
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
SETREM
INTERLOCUÇÕES SOBRE A PRESENÇA DO GÊNERO MASCULINO
NO ESPAÇO ESCOLAR...................................................................................54
João Ricardo Prestes Froes
Silvia Natália de Mello
SETREM
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAR LETRANDO A PARTIR DA
LITERATURA INFANTIL...............................................................................68
João Ricardo Prestes Froes
Silvia Natália de Mello
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
SETREM
ANÁLISE DO SISTEMA DE MEDIÇÃO EM UMA
INDÚSTRIA METALÚRGICA.........................................................................77
Lucinéia Carla Loeblein, PPGEP, UFSM
Leoni Pentiado Godoy, PPGEP, UFSM
Adalberto Lovato, SETREM
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM e Programa de PósGraduação em Engenharia de Produção - PPGEP
SETREM
A PERCEPÇÃO DOS COLABORADORES DE UM SUPERMERCADO EM
RELAÇÃO AO COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL..............................84
Andréia Ziegler
Lilian Ester Winter
SETREM
O FANTASMA DA ÓPERA SOB UMA VISÃO GESTÁLTICA..............................98
Arlete Salante
Carlene Maria Dias Tenório
Instituto de Gestalt-terapia de Brasília
CLIMA ORGANIZACIONAL E SATISFAÇÃO DO COLABORADOR NO
AMBIENTE DE TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO
EM UMA EMPRESA DE CONFECÇÕES.........................................................107
Joseline da Silva
Lilian Ester Winter
SETREM
PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DE UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA
FAMÍLIA SOBRE O PROCESSO TERAPÊUTICO...........................................120
Gabriela Fagundes Trentini
Jacinta Spies
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
SETREM
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HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE COMO AÇÃO TERAPÊUTICA: ANÁLISE DE UM
SERVIÇO DE ONCOLOGIA DO NOROESTE GAÚCHO ..................................131
Aline Josiele Follmann
Paulo Fábio Pereira
SETREM
A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO ACOLHIMENTO
DO PACIENTE EM DEPRESSÃO..................................................................142
Annelise Hübscher Trentini
Maria Zoé H. Zimpel
Solange de Castro Schorn
Beatriz de Carvalho Cavalheiro
SETREM
O PESO ELEVADO AO NASCER INFLUENCIA NAS COMPLICAÇÕES DE
SAÚDE NA INFÂNCIA.................................................................................153
Sofia Bronstrup Gisch
Carlice Maria Sherer
Beatriz Carvalho Cavalheiro
SETREM
ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM: UM DESAFIO
DA ATENÇÃO PRIMÁRIA............................................................................164
Aline Eduarda Maders
Caroline Silveira Viana
Carlice Maria Scherer
Estela Maris Rossato
SETREM
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
A INTERFERÊNCIA DOS CONFLITOS PROFISSIONAIS NA QUALIDADE DE
VIDA DO TRABALHADOR PELO ATUAL SISTEMA DE TRABALHO
Andreas Laurence Hirt 1
Cecília Smaneoto 2
Robson Weiss Machado 3
SETREM 4
RESUMO
ABSTRACT
O presente estudo considera, através de uma
abordagem qualitativa, o envolvimento dos
conflitos com o cotidiano das relações
humanas de trabalho, considerando o modelo
de sistema trabalhista em que estão
inseridos, podendo estes, os conflitos, serem
classificados como elementos que, se por um
lado contribuem com o desenvolvimento das
pessoas e organizações; por outro, podem
também lhes causar sérios danos. Como a
força que move as empresas é humana, o
artigo buscou através da pesquisa
bibliográfica e descritiva identificar as
responsabilidades pela promoção,
manutenção ou perda da qualidade de vida no
trabalho. Sabe-se que qualquer
transformação social apresenta passagens
marcantes em algum momento da história,
assim, também são exploradas as origens que
levaram as relações humanas de trabalho ao
cenário em que se encontram atualmente,
identificados pela inovação e pelo capitalismo
globalizado.
This study considers, through a qualitative
approach, the involvement of conflicts in
human relations at work in the everyday life,
considering the working system model in
which they are inserted, so these conflicts
could be classified as elements which, on the
one hand, contribute to the development of
people and organizations, on the other hand,
they may also cause several damages. As the
power which makes the company goes on is
human, the paper aims at identifying the
responsibilities by promotion, maintenance or
life quality loss at work. It is known that any
social transformation shows outstanding
moments in any moment in history, thus, it is
also explored the origins which guided the
working human relations to the scenario
where they are today, identified by the
innovation and by the globalized capitalism.
Keywords: Interpersonal conflicts. Working
system and quality of life.
Palavras-chave: Conflitos interpessoais.
Sistemas de trabalho e qualidade de vida.
1
Bacharel em Educação Física da UNIJUÍ, pós -graduando do MBA em Gestão de Pessoas e
Desenvolvimento de Talentos da SETREM. [email protected]
2
Mestra em Desenvolvimento pela UNIJUÍ, Administradora, Consultora, Professora e Coach,
Orientadora do MBA em Gestão de Pessoas e Desenvolvimento de Talentos da SETREM.
cissa@set rem.com.br
3
Mestra ndo em Desenvolvimento pela UNIJUÍ, Analista de Sistemas, Professor, INSF e Coach,
[email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – Três de Maio – SETREM - Av. Santa Rosa, 2405 - Três de Maio - RS E-mail: [email protected]
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atualmente.
Os relacionamentos ocorrem mais
intensamente nos locais nos quais as pessoas
passam a maior parte do dia: empresas,
organizações ou instituições. Do “nascimento”
ao “túmulo”, a trajetória de existência dos
conflitos profissionais provenientes das
relações humanas ocorre nestes ambientes e
vincula-se a um grande modelo de sistema de
trabalho que interfere continuamente na
qualidade de vida dos indivíduos que o
compõe.
Para compreender este sistema e os
conflitos que através dele são gerados, é
importante que se conheça suas origens e, se
possível, seus limites, caso estes existam.
Dessa forma, talvez seja possível descobrir se
este modelo de sistema de trabalho ainda
permite qualidade de vida, considerando que
dentro dele tudo o que se faz ainda é pouco e
deve-se fazer mais, sem que se considere o
preço a pagar tendo em vista seu caráter
aparentemente ilimitado de exigências. Neste
âmbito, encontra-se o objetivo desta
pesquisa: compreender quais e como
acontecem os conflitos profissionais nas
organizações, mensurando sua interferência
na qualidade de vida do trabalhador. Para
tanto, estará em voga o estudo das teorias
sobre conflitos profissionais, qualidade de vida
e sistemas de trabalho. Como resultado,
almeja-se compreender os tipos de conflitos,
sua forma de ocorrência e sua interferência na
qualidade de vida dos trabalhadores. Por fim,
pretende-se, através das teorias estudadas,
explorar como o modelo de trabalho atual,
pelos sistemas existentes, causam os conflitos
e interferem na qualidade de vida.
Por observação, percebe-se que não é
mais somente o ambiente industrial de
trabalho que vem sendo afetado pela
necessidade de grande produtividade do
trabalhador em seu turno laboral, também os
indivíduos que exercem suas profissões em
áreas educacionais e acadêmicas, de saúde,
de prestação de serviços e diversas outras, são
contínua e progressivamente exigidos a atingir
seu desempenho. No entanto, o máximo
parece não ser o suficiente, não se fala mais
em “dar” tudo, e sim, em “dar” além, superarse. No intuito de encontrar estas respostas,
propõe-se uma análise do atual modelo de
sistema de trabalho e, para tanto, faz-se
necessária uma revisão histórica para
entender como se chega até aqui.
INTRODUÇÃO
O artigo buscou a compreensão dos
conflitos organizacionais através de autores
como Stephen Robbins (2002), o qual aborda
a visão histórica de como os mesmos foram
percebidos ao passar das décadas e como são
vistos atualmente, estabelecendo uma
classificação quanto a sua funcionalidade ou
disfuncionalidade para o desenvolvimento do
trabalho. Edina Bom Sucesso (2002) traz
abordagem da qualidade de vida no trabalho a
partir da corresponsabilidade de organizações
e trabalhadores em busca da qualidade
almejada.
Atualmente, conflitos e qualidade de
vida no trabalho estão intimamente ligados ao
sistema de trabalho norteado pela inovação, o
qual constantemente está presente a busca
por novos, melhores e mais eficazes métodos
de produção. Neste contexto, tarefas e
processos (com forte contribuição dos
avanços tecnológicos e pressão do capitalismo
globalizado) elevam a competitividade a tal
nível em que as questões humanísticas se
tornam consideravelmente desvalorizadas. Tal
enredo é descrito pelos autores Alan Cohen;
Stephen Fink (2003), Jacob Gorender (1997),
Isleide Fontenelle (2012) e Idalberto
Chiavenato (2010) referenciados neste artigo.
O artigo contempla um estudo teórico,
privilegiando a pesquisa bibliográfica
referente ao assunto. A interferência dos
conflitos profissionais na qualidade de vida do
trabalhador pelo atual sistema de trabalho
pode ser percebida através de diversos
modelos apresentados pelos autores
consultados, os quais constituem a base de
pesquisa para os autores deste trabalho.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Ao transcorrer dos séculos pode-se
observar mudanças significativas na estrutura
das relações sociais e de trabalho. A evolução
destas, por via dos esforços nos estudos
c i e n t í f i c o s , n o d e s e nvo l v i m e n t o d a s
tecnologias e não obstante a criação e
adequação de leis que regem as relações
humanas fez surgir um cenário no qual uma
gigantesca porção da população precisa
trabalhar ou estudar em locais de convivência
com outras pessoas. Relacionamento é tudo!
Qualidade de vida através de interações com
outros indivíduos constitui interessante e
desafiador momento da sociedade
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foi feita através da leitura e análise de estudos
já publicados anteriormente em artigos,
dissertações, livros e outra publicações,
buscando “conhecer e analisar as
contribuições culturais ou científicas do
passado sobre determinado assunto, tema ou
problema” (CERVO; BERVIAN; DA SILVA,
2007, p. 60).
Como já mencionado acima, este
estudo procura informações sobre assuntos já
descritos anteriormente, sendo também por
isso considerado pesquisa descritiva, definida
por Cervo; Bervian; Da Silva (2007) da
seguinte forma:
1.1 CAMINHO METODOLÓGICO
Constituem os métodos utilizados para
realização do presente estudo, caracterizados
pelos seguintes elementos: abordagem,
procedimentos e técnicas utilizadas.
1.1.1 Abordagem qualitativa
Neves (1996, p. 1) orienta algumas
características que julga essenciais para
identificar este tipo de pesquisa:
(1) Ambiente natural como
fonte direta de dados e o
pesquisador como
instrumento fundamental.
(2) O caráter descritivo. (3)
O significado que as pessoas
dão às coisas e a sua vida
como preocupação do
investigador. (4) Enfoque
indutivo (NEVES, 1996, p.
1).
A pesquisa descritiva
observa, registra, analisa e
correlaciona fatos ou
fenômenos (variáveis) sem
manipulá-los. Procura
descobrir, com a maior
precisão possível, a
frequência com que um
fenômeno ocorre, sua
relação e conexão com
outros, sua natureza e suas
características. Busca
conhecer as diversas
situações e relações que
ocorrem na vida social,
política, econômica e demais
aspectos do comportamento
humano, tanto do indivíduo
tomado isoladamente como
de grupos e comunidades
mais complexas (CERVO;
BERVIAN; DA SILVA, 2007, p.
61).
O tratamento metodológico do
presente estudo recebeu a abordagem
qualitativa. Para Neves (1996. p. 1), este tipo
de abordagem “tem por objetivo traduzir e
expressar o sentido dos fenômenos do mundo
social”.
1.1.2 Procedimentos
Movido pela busca do entendimento de
um cenário de relações, pretende, o autor
deste artigo, valer-se da pesquisa científica
para tal. Cervo; Bervian; Da Silva (2007, p. 60)
afirmam que “O interesse e a curiosidade do
homem pelo saber levam-no a investigar a
realidade sob os mais diversos aspectos e
dimensões”.
Dentre todos os aspectos possíveis de
serem abordados pela pesquisa, cabe aqui
ressaltar dois modelos muito utilizados; a
pesquisa pura e a pesquisa aplicada. A
primeira, utilizada nesta obra, visa à aquisição
do conhecimento sobre determinado assunto
para obtenção de um reposicionamento sobre
o mesmo. Já a segunda, citada apenas para
fins de diferenciação, procura através de
ações práticas modificar algo baseado no
resultado de sua pesquisa (CERVO; BERVIAN;
DA SILVA, 2007, p. 60).
Para Cervo; Bervian; Da Silva (2007, p.
60) “Qualquer espécie de pesquisa, em
qualquer área, supõe e exige uma pesquisa
bibliográfica prévia”. Assim, este artigo
também se caracteriza como pesquisa do tipo
bibliográfica, sendo que sua fundamentação
Por último, o artigo é classificado ainda
como pesquisa exploratória, considerando que
não foram traçadas hipóteses; mas sim,
estabelecidos objetivos e realizada a busca de
informações sobre o assunto abordado,
culminando com o estreitamento da relação e
conhecimento acerca do mesmo,
possibilitando assim, uma nova percepção do
tema e dos fatos correlacionadas a ele
(CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007).
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O tema qualidade de vida do
trabalhador possui sua amplitude significativa
substancialmente disseminada nas diferentes
interpretações decorrentes do olhar aguçado e
da realidade de cada pesquisador ou estudioso
do assunto. Em se tratando da interferência
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dos conflitos profissionais oriundos dos
relacionamentos profissionais e moldados no
modelo de sistema de trabalho, faz-se
necessária a elaboração teórica
argumentativa a fim de contemplar a
complexidade envolta no tema em estudo.
2 . 1 I N O VA Ç Ã O E A N O VA FA S E D O
CAPITALISMO
Atualmente o meio organizacional tem
seu discurso fortemente direcionado ao tema
inovação. Os indivíduos estão
constantemente sendo estimulados a fazer de
forma diferente, sendo inerente ao ser
humano o gosto pelo reconhecimento e pela
valorização, fazendo-se necessário sair da
mesmice, como afirma Fontenelle (2012): “as
organizações estão vivendo o fenômeno da
neofilia, o culto ao novo”. Tal tendência tem
respaldo na evolução dos meios de produção
e busca pela lucratividade, como relata o
mesmo autor: “como os meios tradicionais de
transformação organizacional e de
maximização do lucro têm se mostrado
insuficientes ou falhado completamente, o
capitalismo se voltou para a ideia de que o
velho é ruim, sendo o novo sempre melhor”.
Fontenelle (2012) faz uso das ideias de
Schumpeter (1982) quando este afirmou que
a invenção se diferencia da inovação;
“enquanto a primeira é a criação de ideias, e a
segunda é a que permite que tais ideias sejam
postas em funcionamento”, sendo que inovar
sempre foi de grande importância para a
afirmação e manutenção do sistema
capitalista. No entanto, o cenário
socioeconômico atual elevou o modelo
capitalista a outro patamar:
em constante mudança. Dentro deste
contexto, gerado pelo modelo capitalista, fezs e n e c e s s á r i a a c r i a ç ã o d e d i ve r s o s
mecanismos de controle humano, como
argumenta Fontenelle (2012, p. 102 apud
DIAS-ISENRATH, 2008): “os redutos das
diferentes profissões passaram a ser
atravessados por técnicas destinadas a exercer
um controle da autoridade, notadamente as
técnicas orçamentárias, de contabilidade e
auditoria”. Observa-se que os elementos que
tornam a questão do controle das ações do
trabalhador tão complexas, podem estar na
dificuldade de sua delimitação. Os elementos
de controle (cálculo, monitoramento,
avaliação) podem ser utilizados
concomitantemente desde que a situação exija
como é o caso de um procedimento médico ou
a viabilidade de um departamento universitário
(FONTENELLE, 2012 apud ROSE, 1996). Neste
ínterim, surge o questionamento em relação a
quais cenários devem ser aplicados, bem como
o grau de necessidade, importância e
possibilidade de execução do controle de ações
em detrimento ao rendimento do trabalhador.
2.2 O PAPEL DA GLOBALIZAÇÃO
Quando Alexander Graham Bell obteve
a patente pela criação do telefone há mais de
um século, talvez não imaginasse as inúmeras
possibilidades e o impacto de sua invenção. O
surgimento do computador em meados do
século XX e logo após o aparecimento da
Internet na década de 1960 – em meio às
necessidades e a desafios militares instigados
pela Guerra Fria entre Estados Unidos e a
antiga União Soviética – causaram grandes
transformações mundiais. Ao invés de meses,
semanas ou dias para saber no Brasil o que
acontece no Japão ou em qualquer outro lugar
do mundo, bastam alguns segundos, quando
não em tempo real, para visualizar ou ouvir
sobre qualquer assunto que tenha ocorrido no
Planeta, ou até mesmo fora dele
(INFOESCOLA, 2012).
Este processo de criação de ferramentas
que facilitam a comunicação e a organização
de pessoas e instituições do mundo todo foi
chamado de revolução tecnológica, e seu papel
foi determinante nas transformações sofridas
pelo sistema capitalista mundial a tal ponto que
houve a necessidade de se criar um conceito
para a melhor aplicação e entendimento deste
processo, surgindo assim, a chamada
globalização.
[...] a inovação continua
sendo vital para o
capitalismo contemporâneo
e que estamos diante de
uma nova etapa do
desenvolvimento capitalista,
produto da terceira
revolução tecnológica que
transformou o trabalho do
conhecimento na principal
f o r ç a p r o d u t i va
(FONTENELLE, 2012, p.
101).
A administração do trabalho e dos
trabalhadores, ainda mais quando este está
voltado para processos de inovação, parece
não ser tarefa simples, já que o cenário está
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Para Gorender (1997 apud SCHAFF,
1993 e COUTINHO, 1995):
Este quadro foi agravado nos anos 80, quando
os microprocessadores e a automação
eletrônica foram inseridos nas linhas de
montagem, tornando o fordismo inadequado
para acompanhar o modelo de produção da
época, sendo necessária sua substituição por
um sistema mais compatível com as
necessidades das indústrias (GORENDER,
1997, p. 313).
No período pós 2ª Guerra Mundial,
muitas indústrias no Japão estavam
desestruturadas e sem condições de efetuar
investimentos em matéria-prima para reativar
a produção. Como alternativa de solução,
e n g e n h e i r o s d a To y o t a ( e m p r e s a
automobilística) visitaram as montadoras
norte-americanas para analisar o sistema de
produção. Perceberam elevado nível de
desperdício e de estoque de matéria-prima e
desenvolveram um sistema produtivo que
viria a ser chamado de “produção enxuta”:
surge o sistema Just in Time (JIT). Esta
“alternativa japonesa” chama a atenção de
outros países como meio de organização do
t ra b a l h o . L e va n d o e m c o n t a q u e a
substituição de um modelo por outro acarreta
mudanças, Gorender (1997) adverte sobre as
consequências da transformação do sistema
capitalista mundial no âmbito social, afetando
as ideologias, estilos de vida e
comportamentos individuais, bem como a
luta de classes. Tais mudanças provenientes
do estudo científico e das inovações
tecnológicas modificam e intensificam as
relações do comércio mundial.
O cenário de relações mercantis
japonês apresentava uma diferença bastante
acentuada em relação ao americano, com um
mercado consumidor ainda mais limitado.
Para tanto, foi necessário que se pensasse um
modelo inverso ao de produção em larga
escala, como acontecia no fordismo, e que se
enquadrasse em custos baixos sem perder a
qualidade do produto. Assim, o modelo de
produção enxuta estimulava e exigia que os
trabalhadores tivessem um perfil diferenciado
do vigente, o qual apresentava funcionários
nas esteiras de montagem ditos “tarefeiros”
que exerciam encargos repetitivos em que
não eram estimulados a pensar. Para o bom
andamento do sistema japonês, o perfil dos
trabalhadores deveria ser dinâmico, com
domínio de várias competências e
desenvolvimento de habilidades polivalentes.
Desta forma, o trabalho se torna mais
[...] as transformações no
sistema capitalista mundial
decorrem da recente
revolução tecnológica em
vários âmbitos, mas,
sobretudo, na informática e
telecomunicações. Seus
efeitos são observados na
organização das empresas,
nos métodos de produção,
nas relações de trabalho e
na política financeira dos
governos (GORENDER,
1997, p. 311).
Para entender o presente e ter
capacidade de projetar o futuro faz-se
necessária a análise do passado. O
“fordismo”, desenvolvido por Henry Ford nos
Estados Unidos no começo do século XX, traz
grandes contribuições para a compreensão do
atual sistema de produção, pois buscou
(dentro da indústria automobilística) a
substituição do sistema de produção
artesanal pelo método científico de trabalho
que visava à produção em massa com o
menor custo possível. Contudo, para seu
melhor ajustamento, foi necessária sua
associação ao princípio “taylorista” (Taylor –
administração científica) para distinguir o
trabalho intelectual do trabalho manual. Com
isso, foi possível manter a produção em larga
escala a custos baixos, já que a maior parte
d o s t ra b a l h a d o re s p o d i a s e r m e n o s
qualificada; consequentemente, com mão de
obra mais barata. No entanto, mesmo com a
intervenção do Estado norte-americano, a
crescente produção não foi acompanhada
pela incapacidade de absorção dos produtos
em um mercado consumidor com dimensões
limitadas. A saída encontrada foi de abrir
indústrias em outros países com mercado
capaz de absorver a demanda produtiva.
Associada â questão de limitação do mercado
interno, havia outros entraves: a
desmotivação dos operários, altos índices de
abandono de trabalho, elevada rotatividade
nos empregos, absenteísmo elevado,
alcoolismo, fraco empenho nas tarefas e
d i f i c u l d a d e d e a d a p t a ç ã o à s n o va s
tecnologias. Esta última vinha na contramão
da evolução da tecnologia (década de 70)
representada por robustas máquinas
necessárias à produção de um novo produto.
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Elementos negativos para os
trabalhadores também estão presentes neste
novo sistema de produção. A redução dos
custos de produção oriunda do JIT trouxe
como consequência a diminuição do número
de empregados e aumento no volume de
tarefas dos que continuavam trabalhando.
Como se não bastasse, o JIT exigia ainda uma
sincronia na execução das tarefas em um
determinado intervalo de tempo não apenas
entre os funcionários e setores da empresa,
mas também entre fábrica e fornecedores. O
enfoque proposto por Gorender (1997)
destaca que o JIT exige uma readequação dos
fornecimentos de matéria prima, solução de
problemas de logística e de rigoroso ajuste
entre fábrica e fornecedores. A interconexão
entre os elementos de produção
(fornecedores – fábrica – clientes) tornava-se
ainda mais necessária e precisa.
Revisada a questão histórica, volta-se o
o l h a r p a ra o p e r í o d o a t u a l e d u ra s
constatações podem ser feitas em relação ao
mundo capitalista globalizado. A tecnologia e
inovação podem aproximar pessoas que se
encontram a longas distâncias e ao mesmo
tempo afastar quem está ao lado. Tal fato
pode ser percebido em “relações familiares
modernas” em que cada indivíduo fica horas
conectado a seu notebook, ocorrendo a
redução massiva do diálogo familiar. Outra
perspectiva negativa do avanço tecnológico
está na redução da necessidade de se ter o
trabalhador, na medida em que o trabalho é
dinamizado pela tecnologia. O trabalhador
não é mais senhor de si, é um produto
moldado pelas empresas que estão cada vez
mais poderosas, migrando de lugar para
outro, sem se importar com os que ficam e
como ficam, sendo que o importante é o lucro.
Logo, este processo globaliza as empresas,
m a s n ã o g l o b a l i z a o t r a b a l h a d o r,
principalmente os empregados de classes
economicamente inferiores que passam a ser
mais pobres enquanto que os de classe alta se
tornam ainda mais ricos (SMANEOTO;
DOCKHORN, 2010).
Considera-se ainda que não há mais a
necessidade dos mandatários, executivos e
diretores estarem presentes no ambiente de
trabalho, já que as decisões podem ser
tomadas em qualquer lugar e informadas aos
funcionários encarregados de administrar os
processos das empresas no formato on-line de
tomada de decisão. Neste contexto, destaca-
interessante na medida em que o trabalhador
se sente como importante integrante do
processo de produção, estimulando o trabalho
em equipe e permitindo que cada trabalhador
operasse várias máquinas ao mesmo tempo
(GORENDER, 1997).
Dentre as mudanças oriundas do JIT,
destaca-se a extinção ou redução de pessoal
em alguns setores, como o de reparos, já que
não era preciso profissionais especializados
para a função enquanto a própria equipe seria
responsável pela qualidade da produção. A
pluralidade de funções e de tarefas realizadas
por um único trabalhador teve como
consequência a redução de pessoal e acúmulo
de funções. O JIT traz como características:
autoinspeção, inspeção automatizada e
Empowerment na linha de produção. O
Empowerment visa dar poder às pessoas, ou
seja, compartilhar o poder dentro da empresa
tornando cada pessoa responsável pelas
decisões e pelo resultado. Como o próprio
conceito da palavra ( Empowerment =
empoderamento) “empoderar” é dar poder e
autonomia aos funcionários para aproveitar ao
máximo o seu talento coletivo. Bem mais do
que um sistema de produção diferenciado, o
JIT constitui uma filosofia global de produção
que trata desde a conservação do ambiente
até a produção final, iniciando com a
arrumação, limpeza, asseio e distribuição das
decisões entre a equipe. Dentre as
contribuições dos JIT, pode-se destacar: o
maior cuidado e responsabilidade de cada
trabalhador com o ambiente de trabalho, a
mudança da lógica convencional (produzir
para despois vender – produção empurrada)
para a lógica da “produção puxada” (vender
para depois produzir), dar poder às pessoas,
motivar os colaboradores, desenvolver
habilidades e treinar a liderança
( C H I AV E N AT O , 2 0 1 0 ) . C o m o f a t o r
significativo, percebe-se o foco na qualidade,
pois a redução do estoque exige maior
qualidade das matérias primas existente. Para
viabilidade da produção deve-se trabalhar com
uma programação mensal firme de produção,
pois não significa trabalhar sem estoque, mas
sim trabalhar com estoques mínimos,
reduzindo custos e desperdício de matéria
prima. No JIT deve-se produzir o que é
necessário, quando é necessário, nada mais. A
partir destes elementos, o JIT tem como um
d o s p r i n c i p a i s o b j e t i vo s a u m e n t a r a
competitividade da empresa.
10
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se o processo analítico on-line (OLAP) que se
caracteriza por um conjunto de ferramentas
de software que permitem a gerentes e
analistas avaliar e manipular grandes
volumes de dados consolidados e avaliados
de várias perspectivas. Sem esta
interatividade, ficam relegadas as
preocupações e compromissos com o social,
com o bem estar e qualidade de vida da
comunidade local no qual a empresa está
inserida, pois, decisões a distância são fáceis
de serem tomadas e seus mentores estão
isentos da pressão ou comoção social direta
gerada por suas decisões.
Smaneoto; Dockhorn (apud SANTOS
2010, p. 1) sugerem que para uma melhor
compreensão do processo de globalização é
preciso que se pensem três mundos em um
só: “(1) O mundo tal como nos fazem crer: A
globalização como fábula; (2) O mundo como
é: A globalização como perversidade; (3) O
mundo como pode ser: Outra globalização”.
A primeira concepção seria de um
mundo em que o discurso de que a
globalização é necessária, inevitável, de que é
preciso adaptar-se a ela e de que as relações
evoluem, seria apenas uma ilusão em
benefício dos interesses do império
capitalista. A segunda percepção traz a
globalização como causa e agravante dos
problemas sociais no âmbito das
necessidades e relações humanas. Por
último, a terceira consideração atenta para
que uma possível mudança nos objetivos
inicialmente propostos pela globalização
possa fazer que se desencadeie, pela união
das massas populacionais, a utilização dos
processos globais em benefício da
humanidade, priorizando a valorização dos
s e re s h u m a n o s e m s e u s c a ra c t e re s
emocionais e físicos, dando o valor adequado
e não exagerado à lucratividade econômica
(SMANEOTO; DOCKHORN, 2010).
2.3 SISTEMAS DE TRABALHO
Quando abordado o conceito de
sistema, é possível se chegar a uma definição
simplista ao dizer que o mesmo é a junção de
elementos que se correlacionam entre si e
que determinam as diretrizes de certas ações;
no entanto, sua aplicação é abrangente e sua
compreensão ainda mais difícil. Fernandes
(2003, p.1) destaca que: “[...] um sistema
pode ser definido com um conjunto de
elementos inter-relacionados que interagem
no desempenho de uma função”. Diz ainda
que sua “definição é tão abrangente que pode
ser usada em uma grande variedade de
contextos, como por exemplo: sistema
econômico, sistema solar, sistema digestivo,
etc” (FERNANDES, 2003, p. 1).
O desafio das relações dentro de um
sistema qualquer pode ter suas origens nas
decisões e atitudes geradas pelos indivíduos
que o constituem, já que, dentro deste,
qualquer ação que se tome irá incidir sobre
todos, seja de forma mais ou menos
contundente, podendo ainda se manifestar
em forma de ganhos ou de perdas. No
entendimento de Cohen; Fink (2003) a
interligação de elementos mutuamente
interdependentes constitui um sistema, ou
seja, o agente que deu origem a uma ação
qualquer não apenas será o autor da mesma
como também será afetado por ela. Além
disso, a interdependência mútua determina
que uma alteração em um ou em todos os
elementos provoca alguma mudança
correspondente nos demais. Estes, por sua
vez, terão impacto no elemento
originalmente alterado. Dentro de um
contexto profissional, pode-se tomar, por
exemplo, um empresário que decide pela
demissão de um funcionário. Sua decisão
poderá sobrecarregar os demais empregados
que terão que assumir as funções do colega
desligado. Ao assumir mais funções, estes
trabalhadores podem ainda comprometer o
melhor rendimento em suas atividades
diárias, impactando sobre o desempenho e
resultados da empresa a qual pertence ao
próprio empresário - agente causador da
situação.
2.4 SISTEMAS DE TRABALHOS NOS DIAS
ATUAIS
A lógica do atual modelo de sistema de
trabalho parece estar voltada para a maior
produtividade do trabalhador no menor
tempo possível – com implicações diretas no
gradativo aumento do volume de funções
e/ou tarefas a serem realizadas por um grupo
cada vez menor de pessoas. Chiavenato
(2010, p. 200) explica que “[...] a década de
1990 trouxe uma série de imposições
externas que pressionaram as empresas a
serem mais leves, ágeis e enxutas”. Ainda,
segundo o autor, a globalização seria a causa
mais impactante no desenvolvimento deste
quadro, já que, para as empresas se
manterem competitivas no mercado, houve a
11
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
indivíduos no seu ambiente de trabalho.
2.5 CONFLITOS ORGANIZACIONAIS
A complexidade de um sistema de
trabalho, com suas mais diversas formas de
execução, controle e inovação de processos,
juntamente com as atitudes e percepções dos
trabalhadores que integram este sistema,
torna-o terreno fértil para o aparecimento de
conflitos. Neste ínterim, existem diversos
tipos de conflitos; no entanto, para manter o
foco nos objetivos inicialmente propostos,
será apresentada apenas a dimensão que
envolve conflitos oriundos da interação entre
indivíduos ou instituições, estando o campo
dos conflitos íntimos e pessoais relegados a
uma possível futura abordagem.
Para que um conflito exista, é
necessário que haja interação entre duas
partes envolvidas. Além disso, ambas
precisam divergir sobre alguma posição ou
entendimento qualquer quando uma delas
sente que está sendo ou que poderá ser
afetada de maneira negativa pela outra em
algo considerado importante. Também é
necessário que esse contraponto seja
percebido por ambos, do contrário, ou
quando apenas uma das partes está ciente do
desacordo, pode-se afirmar que o conflito
não se estabeleceu ou ainda que não exista.
No entendimento de Robbins (2002) a
definição de conflito possui alguns elementos
determinantes:
necessidade de unificação ou extinção de
departamentos, diminuindo assim o número
de colaboradores e ainda a redução de níveis
hierárquicos.
Em outro direcionamento, Chiavenato
(apud DRUCKER 2010, p. 200), alerta que
“[...] cada nível adicional de gerência tende a
cortar pela metade a possibilidade de as
informações serem transmitidas
corretamente”, o que explicaria parte da
redução de pessoal em nível gerencial de
forma coerente. Este argumento é reforçado
quando se considera fundamental que a
gerência saiba o que cada colaborador faz –
dentro de suas funções – para agregar valor à
empresa, o que se torna mais viável em um
modelo de gerência aberto; para tanto, um
número elevado de áreas, cada uma com seu
gerente, estaria na contramão deste
processo. Neste contexto, surge uma
tendência empresarial de reforçar os
programas de treinamento dos colaboradores
a fim de desenvolver habilidades necessárias
ao trabalho, além de modificar a habitual
gerência estreita e fechada por uma nova
modalidade de gestão, alicerçada em uma
cultura forte e compartilhada.
Outro aspecto importante vinculado
ao sistema de trabalho nos dias atuais diz
respeito ao uso da tecnologia e layout para a
i n t e ra t i v i d a d e d o s t ra b a l h a d o re s . A
tecnologia estaria associada à forma pela
qual o trabalho é realizado envolvendo suas
mais diversas funções e etapas, seus
processos, sua sequência, seu ritmo, seus
prazos, o funcionamento e desempenho das
máquinas, o controle dos estoques, etc. Já o
layout referencia sobre a disposição dos
objetos, pessoas e espaços para fins de
eficácia do trabalho. Cohen; Fink (2003)
defendem um posicionamento de influência
tanto da tecnologia quanto do layout no
comportamento dos trabalhadores dentro de
uma empresa. Tais argumentos têm como
premissa o fato de que esta influência
(tecnologia e layout) determinam mudanças
na quantidade de atenção individual, grau de
interação, comunicação e cooperação
exigidas para um trabalho moderno. Desta
forma, as restrições impostas por este
modelo afetam três elementos importantes:
quem pode, quem deve ou quem não tem de
interagir com quem e quando. Assim, tanto a
tecnologia quanto o layout colocam limites às
interações sociais e ao comportamento dos
Engloba um amplo escopo
de conflitos experimentados
pelas pessoas nas
o r g a n i z a ç õ e s –
incompatibilidade de
objetivos, diferenças de
interpretações dos fatos,
desacordos baseados em
expectativas de
comportamento e assim por
diante. Finalmente nossa
definição é suficientemente
flexível para incluir todos os
níveis de conflitos – dos atos
explícitos e violentos até as
formas mais sutis de
desacordo (ROBBINS,
2002, p. 374).
Historicamente existem conceituações
diferentes de conflito. Por volta das décadas
de 30 e 40 a chamada visão tradicional
afirmava que os conflitos nas organizações
eram sempre ruins e deveriam ser evitados,
12
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2.6 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
A exemplo da globalização, dos
sistemas e dos conflitos, falar em qualidade
de vida é tão complexo quanto, já que sua
manifestação se dá em diversos âmbitos,
podendo ser atribuída ao relacionamento no
seio familiar e ambiente profissional, a forma
de alimentação, a maneira como acontecem
as relações em sociedade, as atividades
físicas que são praticadas ou expectadas, ao
acesso ou não a médicos e medicamentos, a
possibilidade de viajar e conhecer outros
lugares, participar ou não de eventos
culturais e de lazer, o acesso à educação, a
forma como se lida com conquistas e
decepções, expectativas e objetivos. A partir
desta base, Sucesso (2002, p. 30) revela sua
concepção “[...] as diversas configurações da
qualidade de vida mostram a complexidade
de sua promoção. Viver com qualidade
envolve a integração de enorme rede de
atores sociais, com múltiplas demandas, de
difícil equacionamento”.
A orientação de Cavassani; Cavassani;
Biazin (2006, p. 3 apud VASCONCELOS) para
o contexto profissional é no sentido de que da
qualidade de vida no trabalho ocorre a partir
do momento em que se olha a empresa e as
pessoas como um todo (enfoque
biopsicossocial). Nos tempos
contemporâneos, percebe-se claramente que
as organizações estão cada vez mais
preocupadas com a qualidade de vida de seus
trabalhadores que passam mais tempo nas
empresas do que com as próprias famílias. No
entanto, o sistema de dependência mútua
trazido pela globalização, e já mencionado
anteriormente, também fez com que as
tarefas e os processos de um trabalhador
tenham que ser concluídos para que o
próximo possa dar continuidade a seu
trabalho; junte-se a isso o avanço tecnológico
e obtém-se um cenário no qual se algo não
pode ser concluído durante a jornada de
trabalho, certamente poderá e deverá ser
terminado em casa ou em qualquer lugar em
que se esteja desde que haja um computador
ou telefone celular à mão, o que pode ser um
entrave para a promoção da qualidade de
vida (CAVASSANI; CAVASSANI; BIAZIN,
2006).
As empresas têm buscado
mecanismos de promover a qualidade de vida
através da tentativa de uma melhor
organização com a divulgação de seus
objetivos e missão de forma clara,
pois seriam frutos da falta de confiança, falta
de comunicação, falhas dos métodos de
controle dos administradores, falta de atenção
e menosprezo ou desconsideração entre os
indivíduos nas organizações. Ao final da
década de 40 até meados de 70, a visão
tradicional foi substituída pela visão das
relações humanas em que se preconizava que
os conflitos são elementos naturais das
relações humanas e que por isso não
poderiam nem deveriam ser eliminados. Por
fim, eis que surge a visão interacionista
estabelecendo que o conflito devesse ser
estimulado pelas gerências das organizações,
já que sua ausência poderia criar um ambiente
de trabalho pouco dinâmico, com
trabalhadores acomodados, o que viria de
encontro aos processos de inovação exigidos
pelo modelo capitalista globalizado
(ROBBINS, 2002). Para o mesmo autor “[...]
fica evidente que dizer que todos os conflitos
são bons ou ruins é uma afirmação ingênua e
inapropriada. O que torna um conflito bom ou
ruim é sua natureza.” Ainda dentro da visão
interacionista, encontra-se outra subdivisão
dos conflitos entre aqueles que são
prejudiciais às relações dos grupos de
trabalho; vindo assim em prejuízo de seu
desempenho e os que, por outro lado, seriam
capazes de estimular a capacidade produtiva
dos grupos. Ao primeiro chamou-se conflito
disfuncional, sendo o segundo definido como
conflito funcional. A distinção entre um
conflito funcional ou disfuncional, vincula-se a
sua natureza, preexistindo três dipos:“O
conflito de tarefa está relacionado com o
conteúdo e os objetivos do trabalho. O conflito
de relacionamento se refere às relações
interpessoais. O conflito de processo
relaciona-se à maneira como o trabalho é
realizado” (ROBBINS, 2002, p. 375).
De modo geral, apenas os conflitos de
relacionamentos parecem estar dentro do
grupo disfuncional, sendo que estes
dificilmente trarão algum benefício para as
empresas e seus colaboradores dentro de seu
sistema de trabalho interdependente em que
os indivíduos precisam cooperar uns com os
outros para a obtenção dos melhores
resultados em favor das organizações. Já os
conflitos de tarefas e de processos, quando
situados a patamares moderados, são
considerados de ordem funcional, pois
possibilitam a discussão de ideias e favorecem
assim a inovação do trabalho.
13
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CONCLUSÃO
Diante do tema abordado e das
contribuições dos autores consultados julgase que os objetivos foram alcançados, na
medida em que foi possível, através do estudo
das origens históricas que ajudaram a
estabelecer o atual modelo de sistema de
trabalho, caracterizado como capitalista
globalizado e baseado nos processos de
inovação contínua compreender quais os
tipos de conflitos, sejam eles de tarefa, de
processo ou de relacionamento e ainda como
acontecem atualmente, de forma claramente
identificada na visão interacionista em que
estes podem, inclusive, ser estimulados para
que os trabalhadores não entrem em uma
zona de conforto que poderia prejudicar o
desempenho do trabalho, como mencionado
no capítulo 2.
No que tange à questão da qualidade
de vida no trabalho, parece estar cada vez
mais difícil, mas, por enquanto, ainda é
possível tê-la, pois as empresas têm se
mostrado interessadas no bem estar de seus
funcionários, mesmo que o móvel destas não
esteja totalmente claro, seja por realmente
querer o bem do ser humano ou querer o ser
humano bem para aumentar o lucro da
empresa, com uma maior propensão atual
para a segunda afirmativa. Pode-se dizer que
ambos são vítimas do atual modelo de
sistema de trabalho, com a empresa tendo
que se adaptar para sobreviver em um
mercado cada vez mais competitivo e
impiedoso, e o trabalhador necessitando do
emprego para suprir adequadamente suas
necessidades de vida em sociedade.
A manutenção da qualidade de vida
deve ser uma responsabilidade dividida,
sendo que muitas empresas procuram fazer
sua parte oferecendo programas de
desenvolvimento pessoal e profissional. O
trabalhador, por sua vez, deve estar disposto
também a fazer seu papel, participando com
interesse e afinco dos programas
disponibilizados.
Ao final deste artigo, verifica-se que foi
possível a compreensão do atual modelo de
sistema de trabalho, baseado nos sistemas de
inovação que tem facilitado muitas tarefas e
processos no dia a dia de trabalho, e que, em
c o n t ra p a r t i d a , t a m b é m t ro u xe ra m o
crescimento de volume do mesmo, já que
houve o aumento substantivo das
responsabilidades e funções de cada
empregado; contudo, o tempo para a
treinamento para que seus trabalhadores se
desenvolvam, buscando a melhoria dos
processos, permitindo mais responsabilidade
e autonomia aos funcionários, ofertando
promoções de cargo, investindo em
tecnologia, dispensando de forma ética os
funcionários que não se adaptam ao
andamento da mesma, remunerando de
forma adequada e diminuindo as diferenças
salariais excessivas entre os cargos. Isto
tudo, e mais, se dá principalmente através de
palestras, cursos, debates, reuniões, vídeos,
etc. Mesmo assim, diante das mais diversas
expectativas de cada trabalhador, talvez os
interesses individuais possam não ser
contemplados (SUCESSO, 2003). Neste caso,
as atribuições devem ser divididas, já que o
indivíduo tem grande responsabilidade por
sua própria qualidade de vida, já que a
conquista da almejada qualidade de vida, em
sua intimidade, depende do próprio
indivíduo, a partir de elementos por ele
determinados: valor que atribui à vida,
autoestima e autoimagem, engajamento
profissional, político e social. Dentro desta
concepção, em que trabalhador e empresa
são coautores do desenvolvimento da
qualidade de vida, Sucesso (2003) orienta
que:
A empresa contrata a força
de trabalho e pede
resultados, lealdade e
envolvimento. O homem
busca remuneração justa e
adequada, espera
convivência sadia e
oportunidade de
crescimento. Essas
expectativas afetam
diretamente a análise da
qualidade de vida nas
organizações (SUCESSO,
2003, p. 34).
Apesar de tudo, é válido mencionar
que ainda existem muitas empresas que não
foram “iluminadas” por esta ideologia de
melhorar a qualidade de vida de seus
trabalhadores e um grande número ainda
mantém estes avanços apenas no campo
discursivo. Por outro lado, parte considerável
de trabalhadores não aproveitam as
oportunidades oferecidas pelas empresas
para seu desenvolvimento pessoal e
profissional.
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interessados em melhor compreender de que
forma os conflitos profissionais interferem na
qualidade de vida dos trabalhadores para
que, através da reflexão argumentativa,
possam ser propostas novas alternativas para
solucionar os conflitos prementes,
melhorando a qualidade de vida a despeito de
toda a interferência proveniente dos avanços
tecnológicos e novos modelos de gestão.
execução permanece inalterado, isto é, como
os processos são realizados mais
rapidamente, o trabalhador deve agora fazer
muitas atividades no mesmo tempo que se
dispunha anteriormente. A dificuldade está
em estabelecer um limite para o volume de
trabalho realizado já que a inovação parece
ser contínua.
A pesquisa bibliográfica possibilitou
ainda uma localização histórica e percepção
das origens dos conflitos profissionais atuais
que estão associados diretamente com o
capitalismo globalizado em que as empresas
rapidamente se transferem para locais nos
quais as possibilidades de lucro são maiores,
não se importando mais com as pessoas que
não poderão acompanhar a mudança.
Também consequência dos processos
globais e seus avanços tecnológicos, as
fusões de empresas, com as grandes
instituições absorvendo as de menor porte,
contribuíram para a criação de um cenário em
que as decisões empresariais não são mais
presenciais, os empresários não conhecem e
nem convivem com seus funcionários,
administram de longe acompanhando e
avaliando o trabalhador apenas pela frieza
dos números descritos em seus relatórios de
produção. Isto faz lembrar a história do
cavalo e do porco, na qual o cavalo estava
doente em sua baia e por recomendação do
veterinário ao seu dono, deveria ser
sacrificado caso não melhorasse em três dias.
Ao lado de sua baia ficava o chiqueiro do
porco que ouviu a conversa do fazendeiro
com o veterinário. Por três dias o porco foi o
maior motivador e incentivador do cavalo,
sem o qual, não se recuperaria. Passado o
prazo indicado pelo veterinário, graças ao
porco, o cavalo estava de pé e bem, o
fazendeiro feliz pela recuperação de seu
valioso animal que lhe traria muitos lucros,
resolveu fazer uma festa e mandou matar o
porco. Através das análises acima associadas
a esta fábula, ficam evidentes os riscos e
também as injustiças que nascem do
processo de globalização e, por
consequência, os possíveis conflitos que são
gerados através dele (PLANETA EDUCAÇÃO,
2012).
Diante da complexidade, dinamismo e
necessidade de constante atualização acerca
dos temas tratados, sugere-se que no
momento oportuno mais pesquisas possam
ser feitas por acadêmicos e profissionais
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trabalho. – Rio de Janeiro: Qualitymark,
2002.
16
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
A UTILIZAÇÃO DO CUSTEIO POR ABSORÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE PREÇO
DE UMA INDÚSTRIA DE ESQUADRIAS METÁLICAS
Plínio Fredolino Unfer
Yara Heck
Alexandre Chapoval Neto
SETREM
1
2
3
4
RESUMO
ABSTRACT
Diante das diversas teorias pesquisadas, identificou-se
que muitas empresas não apuram seus custos e
despesas de maneira precisa e os preços de venda são
obtidos empiricamente. Ao conhecer a realidade da
empresa em estudo foi possível confirmar tais teorias.
Por essas razões este trabalho de conclusão de curso
realizado em uma empresa de esquadrias em alumínio
situada no município de Boa Vista do Buricá – RS teve
como objetivo apurar e analisar o preço de custo e os
tipos de custos de determinados produtos de alumínio,
para propor um sistema científico de custeio para
formação de preço de custo do produto, visando o
seguinte problema de pesquisa: qual a interferência
dos custos e despesas no preço final dos produtos?
Quanto ao caminho metodológico, optou-se pelas
abordagens dedutiva, quantitativa e qualitativa. Sendo
dedutivo, o embasamento teórico de estudos já
realizados, utilizando as principais teorias referentes
ao tema proposto com os objetivos específicos.
Quantitativa, estão nos valores levantados e
identificados como responsáveis pela formação do
preço. E qualitativa, as interpretações e discussão dos
resultados obtidos. Quanto aos procedimentos, é uma
pesquisa exploratória, sendo também um estudo de
caso. Na coleta de dados foram utilizadas algumas
técnicas sendo: ferramenta da qualidade diagrama de
Pareto para identificar os três produtos principais de
industrialização e usá-los no desenvolvimento da
pesquisa; como também o fluxograma de processo
para melhores explicações, inclusive visitas à empresa
realizando entrevistas. Os objetivos traçados foram
todos alcançados, resultando na sugestão para os
gestores da empresa o uso do sistema de custeio por
absorção para a formação do preço de custo dos
produtos, tendo em vista sustentar de forma saudável
a gestão financeira da mesma. Acredita-se que por
meio deste, como nova forma de apurar o preço de
custo dos produtos fabricados, serão os primeiro
passos de evolução na gestão empresarial, referindose da importância de controles e registros de custos
para adotar um método de custeio na formação dos
preços.
In front of a lot of theories surveyed, it was identified
that many companies do not report their costs and
expenses accurately and selling prices are obtained
empirically. By knowing the reality of the company
under study it was possible to confirm these theories.
For these reasons this conclusion course work
conducted in a company of aluminum frames in the
city of Boa Vista do Buricá - RS aimed to determine and
analyze the cost price and the costs of certain types of
aluminum products, to propose a scientific system of
funding for training cost price of the product, targeting
the following research problem: what is the
interference of the costs and expenses in the final price
of products As for the methodological approach, it
was opted for deductive, quantitative and qualitative
approaches. It is being deductive, the theoretical basis
of previous studies, using the main theories concerning
the proposed topic with specific objectives.
Quantitative, the values are obtained and identified as
responsible for the pricing. And qualitative, the
interpretations and discussion of the results obtained.
As for the procedures, it is an exploratory research and it
is also a study case. In the data collection some
techniques were used as: quality tool Pareto chart to
identify the three main products of industrialization
and use them in the development of research, also with
the process flowchart for better explanations, including
visits to the company conducting interviews. The
objectives were all achieved, resulting in the suggestion
to the managers of the company using the system of
absorption costing for the formation of the cost price of
products in order to sustain a healthy financial
management of the same. It is believed that through
this, as a new way of determining the cost price of the
products produced are the first steps of evolution in
corporate management, referring to the importance of
cost controls and records to adopt a costing method in
training prices.
Palavras-chave: Formação do preço de custo.
Custeio por absorção. Gerenciamento dos custos.
Keywords: Training cost. Absorption costing. Cost
management.
1
Acadêmico do curso de Bacharelado em Administração. E-mail: [email protected]
Acadêmica do curso de Bacharelado em Administração. E-mail: [email protected]
3
Professor Ms orientador do trabalho de conclusão do curso de Bacharelado em Administração.
E-mail: [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM; Av. Santa Rosa, 2405, Três de Maio – RS. E -mail:
E-mail: [email protected]
2
17
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo trata da utilização
do custeio por absorção para a formação de
preço de custo adaptado a uma indústria de
esquadrias metálicas (alumínio) situada no
município de Boa Vista do Buricá – RS, com o
intuito de responder à seguinte
problemática: qual a interferência dos custos
e despesas no preço final dos produtos?
Tendo como objetivo apurar e analisar o
preço de custo e os tipos de custos de
determinados produtos, estes foram
identificados através de uma ferramenta da
qualidade chamada Diagrama de Pareto.
De acordo com diversos autores
utilizados nas pesquisas bibliográficas, entre
eles: Cogan (2002), Bornia (2002), Bruni e
Famá (2008), Marques (2010), nota-se que
muitas empresas não apuram seus custos e
despesas de maneira precisa e os preços de
venda são obtidos empiricamente. Essa
prática mascara os custos e lucros da
empresa, acarretando diversos problemas
como preço de venda abaixo do real, o que
diminui os lucros da empresa; preço de
venda acima do real, o que dificulta as
vendas; dificuldades para identificar e fixar
ações para redução de custos e despesas, o
que poderá levar a empresa a operar com
custos e despesas mais altos do que deveria.
Como consequências de um ou mais desses
problemas, a empresa terá um lucro e uma
rentabilidade menor, constituindo-se numa
ameaça ao seu crescimento e até a sua
própria estabilidade econômico-financeira.
Diante deste fato, justifica-se o trabalho
proposto.
Relacionando este assunto com o
ramo de atividade da empresa em estudo,
nota-se através de entrevistas com diversos
empresários, realizada pela revista Alumínio
(2011), e pela própria experiência da
empresa, que no mercado brasileiro de
esquadrias existem muitos nichos potenciais
por conta da soma de benefícios que os
produtos fabricados em alumínio oferecem
como segurança, isolamento térmico e
acústico, design e praticidade em relação à
manutenção. Deste modo, teve-se um
diferencial no assunto proposto pela
oportunidade de expor como são esses
produtos e o que uma empresa neste ramo
necessita ter para um bom gerenciamento
de seus custos e formar adequadamente
seus preços nos produtos.
2. METODOLOGIA
A metodologia científica, para
Güllich; Lovato e Evangelista (2007), tem por
finalidade estudar os métodos que
identificam os caminhos percorridos para
alcançar os objetivos propostos pelo plano de
pesquisa. E, de acordo com Lakatos e
Marconi (2007), a metodologia deve
explicitar “o que”, “como”, “quando” e “onde”
vai ser realizada.
O método de abordagem para
Andrade (2002) são os métodos que
possuem caráter mais geral. São
responsáveis pelo raciocínio utilizado no
desenvolvimento da pesquisa, ou seja,
procedimentos gerais, que norteiam o
desenvolvimento das etapas fundamentais
de uma pesquisa científica. Para a realização
desde estudo foi utilizada a abordagem
dedutiva, pois, a pesquisa também
dependeu de embasamento teórico de
estudos já realizados, utilizando as principais
teorias referentes ao tema e objetivos
específicos; também a abordagem
quantitativa que foi utilizada para identificar
os valores responsáveis na formação dos
preços como os custos fixos e variáveis,
diretos e indiretos, e determinar
estatisticamente a influência dos mesmos na
formação do preço básico dos produtos em
estudo; e a abordagem qualitativa que está
presente no levantamento das informações,
com também nas análises e discussão dos
resultados obtidos através da base de
estudo.
Os métodos de procedimento,
segundo Lakatos e Marconi (2007),
constituem etapas mais concretas da
investigação, com finalidade mais restrita em
termos de explicação geral dos fenômenos
menos abstratos. Para a elaboração da
presente pesquisa foi utilizado o método
exploratório, com a finalidade de buscar as
informações de aspectos gerais focando os
dados envolvidos na formação de preço
básico dos produtos em estudo, como os
tipos de custos e despesas. Sendo também
um estudo de caso.
Toda ciência utiliza inúmeras técnicas
na obtenção de seus propósitos. Para
Andrade (2002), técnica é a instrumentação
específica de coleta de dados para o tipo de
pesquisa. Na coleta dos dados qualitativos
utilizaram-se entrevistas não estruturadas
com os gestores e colaboradores da
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
empresa, e nos dados quantitativos os
documentos cedidos pelos gestores como
orçamentos, notas fiscais e recibos de
pagamentos. Para analisar os dados
quantitativos, utilizou-se do Digrama de
Pareto a fim de identificar os principais
produtos de um período e usá-los como
referência e, na análise qualitativa, elaborous e u m f l u xo g ra m a d o p r o c e s s o d e
negociação de compra e venda dos produtos
da empresa.
são também, hoje, compatíveis com obras
destinadas a quaisquer públicos incluindo as
moradias mais populares como a do
programa Minha Casa, Minha Vida. Observa
que muitos fabricantes de esquadrias já
desenvolvem produtos específicos para esse
segmento, esses são indícios que o alumínio
é um material acessível e indicado para todos
os padrões de obras. Por esses fatos, Magda
Reis prevê o uso mais intenso de alumínio
como matéria-prima de esquadrias. Também
por mais uma vantagem que esse material
oferece de praticamente não requerer
manutenção, por ser compatível com o
p o d e r d e c o n s u m o d o b ra s i l e i r o e
esteticamente muito apreciado.
Maurício Bianchi, diretor da
construtora BKO, e o arquiteto Sidônio Porto,
também destacam as diversas vantagens
características do alumínio como:
durabilidade, leveza, possibilidade de
reciclagem, beleza, facilidade de montagem,
facilidade de instalação do alumínio,
capacidade de moldagem nas mais diversas
formas. Sendo essas características
diferenciadas é o que impulsiona a crescer a
demanda de esquadrias de alumínio.
Segundo o Diretor comercial da
empresa Ebel, Homero Martinelli da Silva
revela o resultado de Pesquisas internas
mostrando que, na classe A, a decisão de
compra fica na maioria das vezes a cargo das
mulheres. Por isso, existe a preocupação em
desenvolver um design diferenciado para
encantar o público feminino. A preferência
recai sobre a cor branca e as dimensões são
dadas por engenheiros e arquitetos. A faixa
média de consumo B também prefere o
branco, que é uma tendência de mercado
devido a sua beleza e qualidade. No entanto,
a opção anodizado natural também tem
grande procura. Os produtos devem ser mais
robustos e o cliente possui o hábito de
procurar a orientação do lojista. A adaptação
da construção ao material e os preços
promocionais definem a compra da classe C,
que, por essa razão, consome esquadrias da
cor anodizado natural. Por fim, os
consumidores com menor poder de compra
sempre pesquisam a relação custo-benefício
e não abrem mão de qualidade e garantia.
3.2 CUSTOS
Segundo Ribeiro (1999) e Bornia
(2002), o estudo da contabilidade de custos
ou contabilidade industrial é grande
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. ESQUADRIAS EM ALUMÍNIO
Pesquisas recentemente publicadas
pela revista Alumínio (2011), revelam dados
relevantes sobre a aceleração da expansão
no que se trata de indústrias cujo ramo de
fabricação de esquadrias metálicas em
alumínio por conta da intensa movimentação
do mercado imobiliário e da construção civil.
O presidente da Associação Nacional
dos Fabricantes de Esquadrias de Alumínio
(AFEAL), Roberto Papaiz, estima que os
produtos confeccionados em alumínio
respondam atualmente a cerca de 20% dos
n e g ó c i o s d o m e rc a d o b ra s i l e i ro d e
esquadrias; o restante cabendo aos produtos
fabricados com aço, madeira e cloreto de
polivinila, popularmente chamado de PVC.
Essas informações referentes à
expansão da área fabril se materializam em
empresas como a companhia de origem
italiana Giesse, fabricante de sistemas e
acessórios para esquadrias de alumínio, que
agora conclui a instalação de sua primeira
fábrica brasileira. Segundo o Diretor
comercial da mesma, Luis Rosas, o Brasil tem
aumentado a sua capacidade de produção.
Percebe que no mercado brasileiro de
esquadrias existem muitos nichos potenciais
por conta da soma de benefícios que os
produtos confeccionados em alumínio
oferecem como: segurança, isolamento
térmico e acústico, design, entre outras.
Ressalta, ainda, que já são itens (portas e
janelas, por exemplo) de luxo, o público
brasileiro deixou de enxergá-los como
apenas serviços de fechamento de vãos.
Magda Reis, arquiteta e responsável
pela área de marketing da Votorantim Metais
– CBA, também concorda que não são mais
avaliadas apenas por critérios funcionais,
porém lembra que as esquadrias de alumínio
19
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
3.2.2. Custos Indiretos
Para Ribeiro (1999) e Leone (2009), os custos
indiretos compreendem os gastos como os
materiais, mão de obra e gastos gerais de
fabricação aplicados indiretamente no
produto, já que não é possível uma segura
identificação de seus valores e quantidades
em relação a um produto, esses custos
precisam de um parâmetro para serem
identificados e debitados ao produto ou
objeto do custeio. Também são debitados
indiretamente por meio de taxas de rateio ou
critérios de alocação de custo.
ferramenta para as tomadas de decisões das
empresas, pois quando se fala em custo
industrial se refere aos procedimentos
contábeis e aos extra contábeis desprendidos
para se conhecer o custo para a empresa na
fabricação dos produtos. O objetivo de
calcular o custo dos produtos surgiu com a
revolução industrial; até então somente era
usado a contabilidade financeira basicamente
para avaliação do patrimônio e apurar o
resultado do período.
Para Bornia (2002), o resultado é
obtido subtraindo das vendas o custo das
mercadorias vendidas ou produtos vendidos,
apurando o lucro bruto e do lucro bruto
desconta-se as despesas administrativas, as
despesas comerciais e as despesas
financeiras apurando assim o lucro líquido.
Com o início da industrialização, os produtos
passaram a não ser totalmente comprados,
mas foram produzidos a partir de vários
industrializados dificultando, assim, o cálculo
dos produtos vendidos, surgindo desta forma
a contabilidade de custos voltada inicialmente
para a avaliação dos inventários. Desta
maneira, o valor dos insumos consumidos
para produção dos produtos vendidos se
equivalia ao custo dos produtos vendidos.
Entre os conceitos que são usados para
diferenciar custos pode se destacar o custo
unitário que nada mais é do que o custo total
da produção dividido pela produção total,
permitindo visualizar o montante despendido
para se fabricar uma unidade de produto.
3.2.1. Custos Diretos
Para Ribeiro (1999), Bornia (2002) e
Leone (2009), os custos diretos
compreendem os gastos com materiais, mão
de obra diretamente ligada ao produto e
gastos gerais de fabricação aplicados
diretamente no produto desde que estejam
especificados, bem como os custos indiretos
que serão incorridos no produto a fim de
facilitar a formação do custo total, ou seja,
todo item de custo que é identificado
naturalmente ao objeto do custeio é
denominado de custo direto. Para Ribeiro
(1999), e considerando uma fábrica de
esquadrias, o alumínio é a matéria prima. Para
Cogan (2002), preço ideal é aquele que cobre
todos os custos de produção e
comercialização do produto ou serviço,
contendo ainda um percentual de lucro
e s p e ra d o q u e m a n t e n h a a e m p r e s a
competitiva no mercado.
A classificação dos gastos
como custos indiretos são
dados tanto àqueles
impossibilitados uma
segurança e objetiva
identificação com o produto
também aqueles, mesmo
integrados o produto (como
corre com certos materiais
secundários), pelo pequeno
valor que representa em
relação ao custo total, não
compensa a relação dos
cálculos para considerá-los
como custo direto.
(RIBEIRO, 1999, p. 28).
No trabalho os custos indiretos foram
identificados e coletados e distribuídos aos
produtos, A, B e C obedecendo a um critério
de rateio pré-estabelecido para facilitar a
aplicação sistema de custeio escolhido.
3.2.4. Custo da Matéria Prima
Para Ribeiro (1999) e Bornia (2002), e
trazendo para uma fábrica de esquadrias
metálicas, o alumínio é a principal matéria
prima, e o vidro, parafusos e demais vedações
entre outros componentes de uma janela ou
porta são considerados como secundários.
Conforme os mesmos, o custo da matériaprima pode ser determinado pela seguinte
equação:
Matéria prima = quantidade a ser
consumida x preço unitário padrão.
No presente estudo, a quantidade do
alumínio é consumida em quilogramas, de
acordo com as medidas das esquadrias
especificadas pelo cliente.
3.3. CÁLCULO DO CUSTO DOS PRODUTOS
Para Cogan (2002), a margem de
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
associados a cada produto e pela quantidade
produzida. Identificar os custos diretos e
indiretos se torna importante para a correta
formação dos custos de produção.
Considerando a análise dos custos diretos, ela
é simples de ser feita, pois os custos estão
diretamente ligados aos produtos fabricados,
enquanto nos custos indiretos demanda
procedimentos mais complexos para
determinar a distribuição no custo dos
produtos fabricados. A diferenciação dos
custos fixos e variáveis e a separação dos
desperdícios da parcela ideal do custo serão
utilizadas para identificação dos princípios de
custeio. De modo geral, deve ser decidida
primeiramente qual informação é mais
importante e de que forma essa informarão
será operacionalizada.
3.3.2. Custeio por Absorção
Segundo Bornia (2002), custeio por
Absorção (também chamado “custeio
integral”) é o método derivado da aplicação
dos Princípios Fundamentais de
Contabilidade. Consiste na apropriação de
todos os custos (diretos e indiretos, fixos e
variáveis) causados pelo uso de recursos da
produção aos bens elaborados, e só os de
produção, isto dentro do ciclo operacional
interno. Todos os gastos relativos ao esforço
de fabricação são distribuídos para todos os
produtos feitos. Os estoques são levados em
conta na hora de apurar os custos com o uso
da contabilidade de custos servindo como
apêndice para a contabilidade financeira.
Pode-se identificar esse princípio com o
atendimento das exigências da contabilidade
financeira para avaliação de estoques e
também para fins gerenciais.
3.4. O SISTEMA DE CUSTEIO DIRETO E
CUSTEIO POR ABSORÇÃO: SUAS VANTAGENS
E DESVANTAGENS
3.4.1. Custeio Direto (Variável) X
Custeio por Absorção
Segundo Bruni e Famá (2008) e Leone
(1996), o sistema de custeio variável ou direto
é um método que considera apenas os custos
variáveis de apropriação direta como custo do
produto ou serviço. Para Bruni e Famá (2008)
muitas dúvidas surgem quando o objeto do
sistema de custeio é um produto e, nesses
casos, muitos custos diretos também são
variáveis devido às demandas de produção,
como por exemplo, matéria e embalagem são
custos diretos e variáveis; por outro lado,
custo como depreciação, seguros fabris e
contribuição mostra-se útil quando se trata
de simulações referentes ao estabelecimento
da quantidade a ser produzida e preço de
venda visando aumentar a lucratividade
empresarial para determinada situação. Já o
Custeio Baseado em Atividade – ABC se difere
do custeio tradicional pela forma que os
custos são acumulados. No tradicional os
custos são acumulados por departamentos e
depois rateados por um fator volumétrico de
medição, tendo o foco nos produtos como
geradores de custos. No ABC tem como foco
os recursos e as atividades como geradora
dos custos. Segundo Cogan (2002),o sistema
ABC é fundamentado sobre seis hipóteses.
- As atividades consumem recursos: e os
recursos adquiridos criam custos.
- Os produtos ou clientes consomem
atividades.
- No modelo ABC consomem ao invés de
gastar.
Existem numerosas causas para o consumo
de recursos.
- Os centros de acumulação dos custos em
atividades são homogêneos.
- Todos os custos em cada centro de atividade
funcionam como se fossem variáveis
mantendo a proporcionalidade com a
respectiva atividade.
Para Cogan (2002), o método ABC
pretende principalmente ser utilizado como
ferramenta de longo prazo, já que no curto
prazo os custos modificam-se muito pouco.
Somente no longo prazo é possível construir
um alinhamento de uso /consumo e gastos.
Segundo Nakagawa (2001) o principal papel
do custo ABC é espelhar com maior facilidade
e clareza as operações da empresa, de modo
que as pessoas tenham acesso às causas e
taxas de consumo de recursos em seus
principais processos de negocio.
3.3.1. Princípios e métodos de custeio
Segundo Bornia (2002), para efetuar a
análise de um sistema de custos pode-se
partir de dois pontos de vista. No primeiro
princípio de custeio determina-se se o tipo de
informações geradas é adequado às
necessidades da empresa; no segundo
método de custeio levam em consideração a
parte operacional, ou seja, como os dados
são processados para obtenção das
informações; de maneira geral, o custo dos
produtos é obtido pela divisão dos custos
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
aluguéis são custos indiretos e também são
fixos. Contudo, nem sempre o gasto direto é
variável ou vice-versa, e nem todo gasto
indireto é fixo ou vice-versa. O uso deste
sistema exige a clara distinção entre custos
diretos e indiretos, o que pode gerar o uso da
arbitrariedade.
Na Figura 1, podem-se visualizar
melhor as semelhanças e diferenças
existentes entre o custeio direto ou variável e
o custeio por absorção.
Custeamento direto ou variável
1. Classifica os custos em fixos e variáveis.
2. Classificação dos custos em direto e indireto.
3. Debit a ao seguimento, cujo custo está sendo
apurados , apenas os custos que são diretos ao
segmento e as variáveis em relação ao parâmetro
escolhido como base.
4. Os resultados apresentados sofrem influência direta
do volume de vendas.
5. É um critério administrativo, gerencial, interno.
6. Aparentemente sua filosofia básica contraria os
preceitos geralmente aceitos da Contabilidade,
principalmente os fundamentos do regime de
competência.
7. Apresenta a Contribuição Marginal - diferença entre
as receitas e custos diretos e variáveis do segmento
estudado.
8. O custeamento variável destina se a -auxiliar,
sobretudo, a gerência no processo de planejamento e
de tomada de decisões.
9. Como o custeamento variável trata dos custos
diretos e variáveis de determinado segmento, o
controle da absorção dos custos da capacidade ociosa
não é bem explorado.
Custeamento por absorção
1. Não há preocupação por essa classificação.
2. Também classifica os custos em direto e indireto.
3. Debita ao segmento cujo custo esta sendo
apurados aos seus custos diretos e também os
custos indiretos através de uma taxa de absorção.
4. Os resultados apresentados sofrem influência
direta do volume de produção.
5. É um critério legal, fiscal, externo.
6. Aparentemente sua filosofia básica alia -se aos
preceitos contábeis geralmente aceitos,
principalmente aos fundamentos do regime de
competências.
7. Apresen ta a Margem Operacional – diferença
entre as receitas e os custos diretos e indiretos do
segmento estudado.
8. O custeamento por ab sorção destina -se a auxiliar
a gerência no processo de determinação da
rentabilidade e da avaliação patrimonial.
9. Como o custeamento por absorção o trata dos
custos diretos e indiretos de determinado segmento,
se cogitar de perquirir se os custos são variáveis ou
fixos, apresentando melhor visão para controle da
absorção dos custos e da c apacidade ociosa.
Fonte: Leone (2009).
Figura 1: Diferenças e semelhanças entre dois critérios de custeio .
básicas convivem ainda. Na formação de
preço, várias estratégias podem ser levadas
em consideração na hora de fixar o preço final
ou de vendas.
Estratégia de preços distintos ou
variáveis são aquelas em que diferentes
preços são aplicados a diferentes clientes,
considerando um mesmo produto. Desconto
em um segundo mercado basicamente é a
venda de uma marca em um mercado alvo
por um determinado preço, e em outro
segmento do mercado vender a um preço
reduzido, entre outras estratégias que podem
ser usadas como desnatação de preço, na
qual um produto inicia com um preço
relativamente alto e é reduzido com o passar
do tempo.
No estudo presente, a
fundamentação teórica atribuiu credibilidade
ao trabalho, pois permitiu a prévia reflexão
sobre o assunto em questão amparando-se
nos conhecimentos já construídos e
Para Bruni e Famá (2008), no sistema
de custeio variável apenas os custos
variáveis são atribuídos aos produtos
elaborados, que juntamente com as
despesas variáveis, serão subtraídos da
receita, gerando um valor que é denominado
de margem de contribuição e os custos e
despesas fixas serão abatidos na margem de
contribuição do período. Enquanto no
custeio por absorção, os custos fixos são
rateados aos produtos e/ou serviços,
tomando como base todos os custos da
produção, quer sejam fixos ou variáveis,
diretos ou indiretos, são absorvidos pelos
produtos.
3.5. FORMAÇÃO DE PREÇO
Para Cogan (2002), os preços
historicamente foram formados somando os
lucros aos custos, ou como no atual
paradigma rumo à competição perfeita em
que o preço é determinado pelo mercado.
Mas, na realidade, essas duas condições
22
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
à empresa e praticados pelos gestores da
mesma. Ao conhecer o processo de
comercialização de esquadrias, foi possível
observar as principais etapas que são:
- Venda.
- Análise do pedido e orçamento.
- Negociação.
- Efetivação da negociação e assinatura do
contrato.
- Compra da matéria-prima.
- Pintura do alumínio.
- Recepção e separação do material.
- Industrialização.
- Expedição.
- Instalação das esquadrias na obra.
Todo esse processo necessita de no
mínimo trinta dias, podendo ser mais tempo,
pois, para a fabricação das esquadrias,
depende de vários fatores como a forma de
pagamento e entrega das mesmas, decididos
no item negociação do contrato,
disponibilidade de material junto aos
fornecedores e também da disponibilidade
de priorizações na fabricação. Deixando claro
que os gestores da empresa, sabendo do
tempo desse processo, comunicam ao cliente
do prazo mínimo para o início da fabricação.
4.1.1 Principais produtos da Empresa
Após conhecer os processos que
envolvem as necessidades da empresa, foi
determinante identificar os principais
produtos de venda da empresa em estudo,
pois estes serviram como base para a
realização do estudo proposto. Para
identificá-los foi elaborada uma planilha
contendo a quantidade, a tipologia e o valor
em reais das esquadrias no período de
janeiro a setembro de 2011, que eram as
informações armazenadas pelos gestores em
forma de orçamentos e nota fiscais. Logo
após, aplicou-se sobre esta planilha o
diagrama de Pareto.
Segundo Mark et al (2001) diagrama
de Pareto são gráficos de barras
especializados. A frequência da ocorrência
de itens é organizada em ordem decrescente
e, geralmente, adiciona-se uma linha de
percentual acumulado, a fim de facilitar a
determinação de como as categorias se
acumulam. Os Diagramas de Pareto podem
auxiliar no estabelecimento de prioridades
publicados de diversos autores. A partir de
agora, serão apresentados os resultados
obtidos em virtude de ferramentas utilizadas,
pesquisadas nos autores que estão dando
base para a realização do mesmo.
4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.
Neste momento da pesquisa, busca-se
apresentar os dados coletados e analisados,
procurando responder o problema da
pesquisa através dos objetivos específicos
levantados para a realização do mesmo. Será
demonstrado em três etapas: apresentação
dos resultados, discussão e análise dos
resultados e a contribuição dos acadêmicos.
4.1. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O estudo foi realizado em uma
empresa com oito anos de experiência em
fabricação de esquadrias em alumínio. A
mesma situa-se no município de Boa Vista do
Buricá, região noroeste do estado do Rio
Grande do Sul. Atualmente atendem a obras
da região da grande Porte Alegre pelas
Construtoras como: Bolognesi
Empreendimentos, Cádiz Construções.
Também atendem a própria região na qual se
situa a empresa em estudo e que, segundo a
mesma, encontra-se em boa expansão. A sua
matéria-prima, perfis de alumínio e principais
acessórios específicos para esquadrias em
alumínio são adquiridos de empresa como:
Aluita Alumínio Porto Alegra Ltda; Alumiconte
Componentes de Alumínio Ltda.; Alcont
Alumínio Ltda.; Alcoa Alumínio e Cia;
Belmetal, todas da região Porto Alegre. O
processo de pintura e anodização passam
respectivamente pela: Magecolor Pintura a Pó
Ltda e Oxicolor Comércio e Beneficiamento de
Metais. As esquadrias são vendidas
completas; isto é, já com o vidro de
preferência do cliente. O vidro também é uma
matéria-prima nesse processo que é
fornecido atualmente pela Real Vidros
Distribuidoras Ltda., Tempermed Indústria e
Comércio de Vidros Ltda.; e Templex Vidro
Forte; estes se localizam respectivamente nos
Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio
Grande do Sul.
Durante um período de seis meses
foram levantadas e coletadas algumas
informações pertinentes para ser possível o
alcance dos objetivos propostos para este
estudo. Como a proposta principal se tratava
de formação de preço, era necessário
conhecer todos os processos que pertenciam
23
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
variáveis que ocorrem com maior frequência.
O mesmo ilustra-se na figura 2.
para a ação gerencial, focando a atenção
naquelas categorias que se acumulam de
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 2: Principais esquadrias vendidas de janeiro a setembro de 2011.
Dentre as desessete esquadrias
vendidas no período de janeiro a setembro de
2011, o diagrama de Pareto ordenou de
forma decrescente os três principais
produtos, sendo eles: janela de correr
(produto A); janela de correr com persiana de
PVC (produto B) e janela maxim ar (produto
C). Estes, portanto, foram usados como base
para o desenvolvimento da pesquisa.
4.1.2 Formação do preço atual
Utilizando-se desses produtos, o
JANELA DE CORRER 2 FLS PERS. PVC
140x120.
próximo passo foi analisar como ocorre a
formação de preço atual praticado pelos
gestores da empresa. Observou-se que a
realização do orçamento ocorre em duas
etapas: a primeira sendo o levantamento do
material necessário para a industrialização e
montagem das esquadrias e a segunda etapa
a formulação do preço final para o cliente já
com a margem de contribuição. Na figura 3
está ilustrada a primeira etapa do orçamento
que é o preço de custo das três esquadrias.
JANELA DE CORRER 2 FLS
120 x 120
JANELA MAXIM AR 1 FL
0,70x0,60
CUSTOS
TOTAL R$
CUSTOS
TOTAL R$
CUSTOS
TOTAL R$
Alumínio
302,00
Alumínio
149,00
Alumínio
80,00
Acessório
95,00
Acessório
55,00
Acessório
30,00
Vidro
14.80
Vidro
14,79
Vidro
21,00
Talas PVC
Colocação do contra marco
(Col. CM).
TOTAL
60,00
Col. CM
23,00
Col. CM
7,00
TOTAL
241,79
TOTAL
138,00
27,00
498,80
Fonte: Heck, Unfer, 2012
Figura 3: Preço de custo unitário atual
24
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Após o levantamento dos materiais
necessários e seu custo para fabricar tais
esquadrias, ainda têm-se a segunda etapa do
Quant.
1
1
1
Descrição
Janela de Correr, 1,20 x 1,20
e vidro incolor3mm
Janela de Correr
2fls
c/persiana de PVC,
1,40 x
1,20 e vidro incolor 3mm
Janela Maxim ar, 0,70 x 0,60
e vidrominiboreal3mm
Valor Total Do Vidro
orçamento, no qual se calcula o preço final
com a margem de contribuição escolhida pelo
gestor. O preço final de venda pode ser
analisado na figura 4.
Valor
unitário
vidro
R$
Valor
Total
vidro
R$
Valor
unitário
esquadria
s/vidro
R$
Valor
unitário
esquadria
c/vidro
R$
Valor Total
esquadrias
c/vidro
R$
61,92
61,92
392,00
453,92
453,92
72,24
72,24
849,60
921,84
921,84
20,58
20,58
205,00
225,58
225,58
92,82
Valor Total Das Esquadrias
Valor Total Das Esquadrias C/
Vidro
1.508,52
1.601,34
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 4: Orçamento final das esquadrias.
4.1.3 Levantamento e classificação dos
custos
Para atender o objetivo da pesquisa,
também é importante compreender os
gastos que a empresa possui; esses foram
possíveis classificar em custos fixos e
variáveis, diretos e indiretos. Contanto com
a disponibilidade dos gestores em fornecer
as informações foi acessível em um período
de dois meses, março e abril de 2012.
Verificando através deste que, atualmente, a
empresa está em falta com software que
possa armazenar dados para melhor gestão
da empresa.
Na figura 5 demonstra o resumo da
classificação dos custos no período de dois
meses e seus respectivos valores em totais de
reais.
Nos produtos A, B, C, foi considerada
uma margem média de 80%, informada pelo
gestor da empresa, podendo variar para mais
ou para menos, de acordo com a quantidade
vendida, com a linha do alumínio escolhido
pelos clientes e até mesmo pela forma de
pagamento. Atualmente, a margem de lucro
é acrescida empiricamente, deixando, assim,
dúvidas se há ou não lucro em suas
industrializações, ou seja, não se utiliza de
nenhum método de custeio que justifique o
levantamento dos custos. A partir deste
ponto, inicia-se o propósito do presente
estudo, a fim de revelar a maneira ideal para
este tipo de empresa na formulação de seus
preços com base em seus custos de produção
e analisar demais custos que se encontram
atualmente na empresa.
CLASSIFICAÇÃO TOTAL DOS CUSTOS DE MARÇO E ABRIL DE 2012
DESPESAS
TOTAL EM R$
TOTAL DE DESPESAS
32.765,48
DESPESA FIXA
TOTAL DE DESPESA FIXA
280,00
CUSTOS VARIÁVEIS
TOTAL DOS CUSTOS VARIÁVEIS
492.602,01
CUSTOS FIXOS
TOTAL DOS CUSTOS FIXOS
8.957,20
INVESTIMENTOS
TOTAL DE INVESTIMENTOS
3.535,92
TOTAL DO TOTAL
538.140,61
Fonte: Empresa de Esquadrias Metálicas 2012.
Figura 5: Classificação dos custos e despesas do período de março e abril de 2012.
25
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Após a classificação dos custos,
também é necessário separá-los em diretos e
indiretos, pois, estes são custos que
compõem a formação do preço de custo
quando utilizado o método de custeio por
absorção, conforme pode ser observada a
classificação na figura 6. Para facilitar a
utilização dos mesmos, os custos diretos
devem ser apropriados adequadamente a
cada produto de maneira que as distorções
na formação do preço sejam minimizadas. Os
custos indiretos, por sua vez, devem ser
rateados nos produtos de acordo com sua
representatividade.
CUSTOS DIRETOS EM R$
CUSTOS
INDIRETOS EM R$
TOTAL EM R$
Produto A
Produto B
Produto C
Outros
-
-
124.094,03
247.545,22
73.776,12
47.036,63
42.152,68
534.604,68
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 6: Apuração dos Custos Diretos e Indiretos.
podendo assim analisar o posicionamento
dos seus produtos frente aos concorrentes,
conforme ilustra a figura 7, e auxilia na
tomada de decisões e aplicação de ações
para minimizar seus custos e maximizar os
lucros.
Através destes dados numéricos,
chegou-se ao preço unitário pelo custeio por
absorção. O preço de custo unitário apurado
após aplicação do método de custeio por
absorção permite ao empresário ter com mais
clareza o custo real de seus produtos e
Produto A
CUSTO TOTAL
PERÍODO R$
134.012,31
QUANTIDADE
UNIDADE
327
CUSTO UNITÁRIO
R$
409,92
Produto B
262.422,64
322
814,77
Produto C
83.694,40
306
273,49
145
375,74
PRODUTO
54.475,34
Outros
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 7: Preço unitário pelo custeio por absorção
Os próximos passos será a
comparação entre o método adotado pelos
gestores da empresa com o método científico
de custeio.
4.2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
4.2.1. Comparação entre a formação de
preço atual com a formação proposta
Na atualidade, a empresa realiza sua
formação de preço de custo e preço final sem
a sustentação de um sistema de custeio,
valendo apenas do empirismo. Essa formação
de preço possui duas etapas básicas, sendo a
primeira o levantamento do material
necessário para a industrialização e
montagem das esquadrias; e a segunda
etapa a formulação do preço de custo e final
para o cliente.
Na primeira etapa é feito o
levantamento de todo os materiais que
c o m p õ e m a e s q u a d r i a e m q u e s t ã o,
considerando o preço de custo total de
alumínio consumido em cada produto, mais
os acessórios necessários para a fabricação
do produto final e colocação de contramarco
na obra.
Na segunda e última etapa da
formação do preço de custo forma-se um
somatório do preço final de todas as
esquadrias encomendadas pelo cliente. No
orçamento considera-se: instalação do
contramarco e das esquadrias na obra;
silicone para vedação; arremates internos em
Alumínio; vidros e guarnições em EPDM para
fixação dos vidros. É orçado conforme as
escolhas feitas pelo cliente, como a linha do
alumínio e tipos de vidros. Nesta etapa
também é o momento da identificação da
margem de lucro para fazer parte do cálculo.
No cálculo é considerada uma margem que
deve cobrir os custos e garantir lucros. Esta
margem pode sofrer variação dependendo
das negociações, prazos e formas de
pagamento.
Atualmente a margem de lucro é
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
diretos e indiretos aos produtos, bem como
as despesas administrativas, de vendas e
financeiras, sendo como do período.
Para Martins (1998) pouco adianta
para a empresa saber que seus custos
aumentaram de um valor para outro se esse
valor não possuir quantificações paralelas
que informem volume físico consumido e
produção realizada no período. A
sistematização criada para registro dessas
informações permite fazer uma análise mais
exata dos custos e despesas da empresa
permitindo tomadas de decisões mais
assertivas.
De posse dos custos e despesas da
empresa e baseando-se na literatura, como
mostra a figura 8, em forma de fluxograma, o
esquema de custeio por absorção sem
departamentalização visualizando os passos
que devem ser seguidos para a correta
aplicação do mesmo, em um primeiro
momento é necessário identificar os custos e
separá-los em custos diretos e indiretos. Os
custos indiretos devem ser rateados através
de um critério que seja o mais adequado para
distribuir esses custos aos produtos
manufaturados. Os custos diretos são
diretamente aplicados aos produtos.
acrescida empiricamente, deixando dúvidas
sobre o real percentual de lucro aplicado pela
empresa em suas industrializações, já que
nesse cálculo não são levados em conta nem
todos os custos diretos, os custos indiretos
também ficam fora do cálculo de formação de
preço. Na formação atual do preço de custo,
aplica-se um percentual estipulado pelo
responsável pelo orçamento. Esse percentual
deve cobrir o restante dos custos e garantir
uma margem de lucro para o empresário.
A partir deste ponto se inicia o
propósito do presente estudo, a fim de
revelar uma proposta para este tipo de
empresa na formulação de seus preços com
base em seus custos de produção e analisar
demais custos que se encontram atualmente
na empresa. Buscando obras como Ribeiro
(1999), Leone (2009), Bornia (2002), Cogan
(2002), Nakagawa (2001), Martins (1998),
Bruni e Famá (2008) e Leone (1996), os tipos
os tipos de custeio analisados foram: sistema
de custeio por custo unitário, sistema de
custeio por absorção e sistema de custeio
direto (variável). Estes sistemas foram
estudados e analisados a fim de identificar o
sistema de custeio adequado para se aplicar
em uma indústria de esquadrias de alumínio e
elaborar a formação do preço de custo pelos
métodos científicos garantindo assim uma
visualização mais real dos custos e despesas
envolvidos na produção das esquadrias de
alumínio, almejando dar à empresa uma
ferramenta que a torne cada vez mais
eficiente no concorrido mercado de alumínio.
O sistema de custeio por absorção
sem departamentalização foi a opção
escolhida por tratar-se de um ambiente
empresarial no qual os custos não são
departamentalizados. A falta de tempo hábil
para fazer tal classificação foi um dos fatores
determinantes para a escolha do sistema de
custeio por absorção sem
departamentalização. No sistema de custeio
por absorção são apropriados todos os custos
Fonte: Martins, 1998.
Figura 8: Esquema básico do custeio por absorção
Através da aplicação do sistema de custeio por absorção ficou visível a diferença entre a
formação de preço empírica e a formação de preço baseado na literatura. As diferenças entre o
as duas formações de preço podem ser visualizadas nas figuras 9 que apresentam, em valores,
os resultados obtidos em cada modelo de formação de preço permitindo comparar e analisar os
resultados.
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Valor
custeio
atual R$
Classificação
Produto
A
B
C
Janela de correr 2fls, 1.20 x 1.20.
Janela de correr 2fls c/ pers. PVC 1.40 x 1.20.
Janela maxim ar 1fl 0,70 x 0,60.
Média %
241,79
498,8
138
Valor
custeio
por
absorção
R$
409,92
814,77
273,49
Diferença
em %
69,54
63,35
98,18
77,02
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 9: Comparação entre a formação de preço empírico e cientifica.
No produto A, percebeu-se uma
variação de 69,54% do preço empírico para o
preço baseado no método científico; no
produto B, a diferença de valor foi de 63,35%
e no produto C de 98,18%. Com uma média
de 77,02% de variação entre o preço
empírico e o preço baseado no método
científico de custeio, que leva em conta todos
os custos diretos e indiretos na sua formação.
Para Martins (1998) é fácil visualizar
onde começam os custos de produção, mas é
bem mais difícil de perceber onde eles
terminam. Kotler (1999) em sua obra diz que
o preço de custos é quem define o piso, mas o
teto do preço é definido pela percepção do
cliente em relação ao produto. É de grande
importância, além de conhecer seus custos e
despesas, onde eles começam e onde eles
terminam, para que o empresário tenha um
bom conhecimento da estrutura do mercado
em que atua, a fim de identificar quais
valores percebidos pelos clientes, formas de
competição dos mercados e a posição
ocupada pela empresa nesse mercado. A
partir daí é possível estruturar suas metas de
manutenção, crescimento e lucratividade.
Como percebido durante o
desenvolvimento da pesquisa e a construção
do trabalho, a empresa objeto de estudo,
preocupa-se somente em agregar ao preço
de custo dos produtos, os custos de matéria
prima e componentes diretamente ligados à
fabricação dos produtos, e de modo empírico
aplica uma margem que supostamente cubra
o restante dos custos e ainda possa garantir
uma lucratividade sobre a venda do produto.
Com esta maneira de formar o preço de
custo, fica difícil de o empresário perceber
algum tipo de desperdício, atividades que
não agregam e até mesmo oportunidades de
melhoria para o negócio.
Para a formação de preço através do
sistema de custeio por absorção na empresa
e baseando-se em Martins (1998), este
método que consiste na aplicação de todos os
custos de produção aos produtos produzidos,
neste sistema de custeio todos os gastos
relativos aos esforços de fabricação são
distribuídos de modo adequado a todos os
produtos feitos. Para a aplicação do mesmo
na empresa foi necessário fazer um
levantamento de todos os custos e despesas,
classificá-los em diretos e indiretos. A partir
desse ponto, determinar que porcentagem
destes custos que pertencem a cada produto,
sendo para os custos indiretos é determinada
um critério de rateio que altera o custo dos
produtos fabricados e, para distribuir os
custos aos produtos fabricados, sempre
haverá uma subjetividade na escolha do
critério de rateio, o que pode ser minimizado
quando feito uma analise detalhada da
natureza dos custos indiretos antes de aplicar
o critério de rateio.
Após a aplicação do sistema de
custeio por absorção, o empresário tem em
suas mãos de forma mais detalhada os custos
e as despesas que incorrem na determinação
dos custos de produção e pode tomar
decisões mais sensatas na hora de
determinar seus objetivos e metas. O
empresário pode comparar os dois sistemas
de custeio e analisar de forma detalhada os
aspectos positivos e negativos entre os
sistemas de custeio, baseados no
conhecimento empírico e no método
cientifico, no caso, o sistema de custeio por
absorção. Essa análise permitirá a construção
de um planejamento mais assertivo que
permitirá nortear suas decisões de maneira
mais estruturada a fim de melhorar o
desempenho e o faturamento e tornar-se
mais competitiva no mercado das esquadrias
de alumínio.
4.2.2. Demonstração do Resultado do
Exercício (DRE) projetado
No DRE projetado permite visualizar as
receitas e os custos dos dois sistemas de
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
custeios e entender as particularidades de
cada um. O mesmo pode ser observado na
figura 10. No primeiro momento têm-se os
resultados levantados de acordo com o
sistema atual de custeio praticado pelos
gestores da empresa em estudo, sendo os
custos considerados na hora da formação de
preço os da matéria prima envolvidos na
fabricação dos produtos em um determinado
período e os demais custos são cobertos pela
margem aplicada sobre os custos de
produção, a qual visa cobrir os demais custos
e garantir o lucro planejado.
No segundo momento têm-se os
resultados obtidos de acordo com o sistema
de custeio por absorção, ou seja, todos os
custos, tantos diretos como os indiretos são
contabilizados na formação do preço de
custos permitindo agregar a cada produto os
seus custos de maneira adequada evitando
onerar um produto com despesas incorridas
em outro produto. Os custos indiretos são
agregados aos produtos obedecendo a um
critério de rateio para distribuir os mesmos
em todos os produtos fabricados no período.
DRE / CUSTEIO ATUAL
DESCRIÇÃO
VALOR EM R$
Receita de Vendas
514.291,80
(-) Custos
(281.906,93)
Resultado Operacional Bruto
232.384,87
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 10: Demonstração do Resultado do Exercício
DRE / CUSTEIO POR ABSORÇÃO
DESCRIÇÃO
VALOR EM R$
Receita de Vendas
514.291,80
(-) Custos
(480.129,35)
Resultado Operacional Bruto
34.162,45
projetado.
De acordo com o mesmo, mudar significa
reunir todas as forças e habilidades param,
com racionalidade e inteligência, buscar sair
de uma situação atual, podendo ser
inadequada, inconveniente ou ruim, para ir
ao encontro de outra situação futura
desejada; isto é, mais adequada,
conveniente, boa. Algumas das questões a
serem repensadas são: políticas, processos,
tecnologia da informação, pessoas, modelo
de gestão, entre vários fatores que podem
ser melhorados em uma organização.
Visando a possibilidade de melhorias
à empresa em estudo, colocam-se algumas
sugestões, como:
- o método de custeio por absorção na
formação do preço de custo dos produtos
fabricados.
- Software ou para de imediato uma
tabela de depreciação elabora do Office
Excel.
Um dos itens necessários para o
custeio por absorção é a depreciação, lembra
Martins (1998). Com a falta desta atividade
na empresa, sugere-se uma tabela para
depreciação que permite adaptações à
realidade da empresa, dando à empresa toda
a evolução do seu imobilizado e custos. Basta
preencher corretamente os campos da
tabela, conforme ilustra a figura 11.
Para Martins (1998) é fácil visualizar
onde começam os custos de produção, mas é
bem mais difícil perceber onde eles terminam.
Na DRE, representada na Figura 10, percebese uma grande diferença entre os dois
sistemas de custeio, mas como já foi
demonstrado anteriormente, no sistema de
custeio atual somente utiliza a matéria prima
em sua formação. Já o custeio por absorção
engloba em sua formação todos os custos do
período.
Tendo o conhecimento do custeio por
absorção e podendo comparar os resultados
com o custeio atual praticado na formação do
preço dos produtos, os gestores da empresa
podem analisar se há vantagens em adotar
um sistema de custeio e quais seus benefícios
que melhor ofereça segurança e
confiabilidade na hora da formação do preço
de custo dos seus produtos e serviços.
4.3. SUGESTÕES DE MELHORIAS PARA A
EMPRESA
Mudanças são necessárias, salienta
Germano (2012), e é fundamental vê-la como
um processo dinâmico, o qual deve ser
planejado, organizado e conduzido com muito
cuidado para produzir resultados claramente
definidos a curto, médio e longo prazo.
Quanto mais se retarda a decisão de mudar,
mais complicado e difícil se torna o processo.
29
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Imobilizados - Ativo Não Circulante Data Atual
Itens - Descrição dos bens
Direito de Uso Linhas Telefônicas
Telefone 1
Telefone 2
Telefone 3
Telefone 4
Edifícios e Construções
Edifício 1
Data Inicial
Data Final Compra (moeda reais) Período (mês) Depreciação Depreciação
dd/mm/aa dd/mm/aaaadd/mm/aaaa
01/03/2012
01/03/2012
01/03/2012
01/03/2012
01/03/2017
01/03/2017
01/03/2017
01/03/2017
valor
635,00
150,00
95,00
340,00
50,00
20/06/2012 01/03/2012
01/03/2037
800.000,00
800.000,00
20/06/2012
20/06/2012
20/06/2012
20/06/2012
quant.
atual
total
1
1
1
1
3
3
3
3
1
3
Valor
60
60
60
60
Mensal
10,61
2,51
1,59
5,68
0,84
Acumulada
28,64
6,77
4,28
15,33
2,26
Residual
606,36
143,23
90,72
324,67
47,74
300
2.663,41
2.663,41
7.191,21
7.191,21
792.808,79
792.808,79
Fonte: Heck, Unfer, 2012.
Figura 11: Tabela de depreciação.
Para a aplicação do sistema de custeio
por absorção é importante que a empresa
utilize a tabela oferecida, como também
providencie um software de controle e
armazenagem de dados, facilitando assim
aplicação do sistema de custeio. Sem o auxilio
de ferramentas é muito demorada e
trabalhosa a obtenção das informações
necessárias para a correta formação do preço
de custo usando o sistema de custeio por
absorção
objetivos específicos que, por sua vez, foram
todos alcançados.
Além disso, observado que para a
utilização do sistema de custeio por absorção
necessita o armazenamento de dados,
principalmente de todos os custos e
despesas que pertencem à empresa, foi
pertinente sugerir para a empresa a
aquisição de um software para auxiliar no
armazenamento dessas informações, para
que possam analisar seus custos, tomar
decisões, planejar e, principalmente, para
utilizar no sistema de custeio por absorção
para a formação do preço de custo de seus
produtos fabricados.
Acredita-se que por meio deste, como
nova forma de sugestão de apurar o preço de
custo dos produtos fabricados, agora
cientificamente comprovado, pois sempre se
partia do empirismo, serão os primeiro
passos de evolução na gestão empresarial,
referindo-se da importância de controles e
registros de custos para adotar um método
de custeio. No caso presente, fica a
ilustração do método de custeio por
absorção, ficando a critério da empresa em
adotá-lo ou não conforme o estudo realizado.
5. CONCLUSÃO
Por meio deste, foi possível verificar
que é essencial a clareza e os registros de
todos os custos que pertencem a uma
empresa podendo, inclusive, classificá-los e
distinguindo o que são de fato as despesas,
para que a formação do preço de custo na
fabricação de um produto realmente seja o
suficiente para sustentar de forma saudável a
gestão financeira da mesma, ainda quando se
tratando do sistema de custeio por absorção.
O sistema de custeio por absorção tem
como um de seus objetivos auxiliar os
gestores no processo da rentabilidade e da
avaliação patrimonial, pois, avalia os estoques
e desperdícios da empresa e ajuda nas
decisões de preço para os produtos e serviços,
como também auxilia na distribuição dos
custos aos produtos, conhecido como rateio.
Para que isso seja possível, exige-se o
levantamento de dados como, todos os custos
e despesas de uma empresa, sendo
classificados em custos variáveis e fixos,
indiretos e diretos.
Portanto, procurou-se responder ao
seguinte problema de pesquisa: qual a
interferência dos custos e despesas no preço
final dos produtos? Para buscar a solução do
problema proposto, tem-se como objetivo
geral: apurar e analisar o preço de custo e os
tipos de custos de determinados produtos de
alumínio em uma empresa de esquadrias
metálicas. Foi possível atendê-los através dos
REFERÊNCIAS
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Nacional. Disponível em:
<http://www.revistaaluminio.com.br/recicla
-inovacao/24/artigo210787-1.asp>. Acesso
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Preparar Trabalhos para Cursos de PósGraduação. 5° ed. São Paulo: ATLAS, 2002.
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com aplicações na calculadora HP 12C e
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BORNIA, Antônio Cezar. Análise gerencial
de custos em empresas modernas. Porto
30
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preço de vendas para micro e pequena
empresa, utilizando análise de custos e
métodos de tempos e movimentos. 1°
ed. 2010. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=3gF
NEiF3wsMC&printsec=frontcover&dq=forma
%C3%A7%C3%A3o+de+pre%C3%A7o&hl
=ptBR&ei=c_iJTu_ZM8fKgQe29MjXDQ&sa=
X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ve
d=0CDEQ6AEwAA#v=onepage&q&=false>.
Acesso em: 01 out 2011.
MARTINS, Eliseu. Contabilidade de
Custos. 6° ed. São Paulo. Atlas: 1998.
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baseado em atividades. 2° ed. São Paulo:
ATLAS, 2001.
RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade de
custos: Fácil. 6° ed. São Paulo: saraiva 1999.
31
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
COMPOSTAGEM DE DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS
Nelson José Fonseca Smola 1
Edileusa Kersting da Rocha 2
Marcelo Rigo 3
SETREM 4
RESUMO
ABSTRACT
A suinocultura é uma atividade de grande
importância social e econômica no Brasil,
especialmente na região Sul. No entanto, os
dejetos gerados por esta atividade são
importantes poluentes ambientais,
impactando fortemente o agroecosistema da
região. A compostagem dos dejetos suínos
pode ser uma alternativa como destino mais
adequado deste material. Neste processo, os
dejetos sofrem a ação de microorganismos
que quebram e transformam as substâncias
com efeito contaminante em substâncias
mais simples que podem melhorar a
fertilidade do solo. Assim, com o objetivo de
buscar alternativas para o destino dos
dejetos, foi realizada uma revisão
bibliográfica sobre a compostagem de dejetos
líquidos de suínos. Esta revisão abrange o
processo e os tipos de compostagem, como a
Compostagem Estática, a Compostagem
Estática com Injeção de Ar, a Compostagem
com Revolvimento e a Compostagem
Automatizada, os princípios do processo e os
microorganismos envolvidos, as emissões de
gases de efeito estufa e seus possíveis
controles, além das características do produto
final da compostagem e o seu uso na
agricultura.
Pig farming is an activity of great social and
economic importance in Brazil especially in
the southern region. However the wastes
generated by this activity are important
environmental pollutants strongly impacting
the agroecosystems this region. Composting
of pig manure can be an alternative more
appropriate as the destination of this material.
In this process the waste products are the
action of microorganisms that break down
and transform the contaminant substances
into simpler substances that can improve soil
fertility. So in order to seek alternatives to the
destination of the waste a literature review
was carried out on the liquid pig manure
composting. This review covers the process
and the types of composting as the Static
Composting, Static Composting with Air
I n j e c t i o n , R e vo l ve d Co m p o s t i n g a n d
Automated Composting, the principles of the
process and involved microorganisms,
greenhouse gas emissions ant their possible
controls, in addition to the features of the final
product of composting and its use in
agriculture.
Keywords: Liquid Waste. Composting
Methods. Pig Farming
Palavras Chave: Dejetos Líquidos. Métodos
de Compostagem. Suinocultura.
1
Mestrando em Ciências do Solo pela UFSM; Professor da Faculdade Três de Maio - SETREM, e mail: nelsonsmola@gmail. com.
2
Mestre em Agronomia pela UFSM; Professora da Faculdade Três de Maio - SETREM, e -mail:
[email protected] .
3
Mestre em Zootecnia pela UFSM ; Professor da Faculdade Três de Maio - SETREM, e -mail:
[email protected] .
4
Sociedade Educacional Três de Maio –SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio –RS, e -mail:
[email protected] .br.
32
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1 INTRODUÇÃO
A compostagem pode ser definida como
um processo de transformação biológica e
aeróbica de materiais orgânicos sob
condições que propiciem o desenvolvimento
da atividade biológica (BUDZIAK et al., 2004;
BUENO et al., 2008 ) . Devido a esses
aspectos, a compostagem pode ser uma
alternativa para o destino dos resíduos
urbanos, industriais e da agropecuária
(HUBBE et al., 2010).
Dentre os principais objetivos da
compostagem de materiais orgânicos está a
diminuição do volume e da umidade desses
materiais e, consequentemente, a
diminuição do risco de manuseio e do efeito
contaminante, facilitando seu transporte e
obtendo um produto que proporciona maior
fertilidade ao solo (SOUZA, 2003; ZALESKI et
al. 2005; OLIVEIRA & HIGARASHI, 2006).
Devido às características benéficas da
compostagem no tratamento de resíduos, a
técnica pode ser uma alternativa para o
destino mais apropriado dos dejetos gerados
na suinocultura. Esses dejetos, por estarem
na forma líquida na maioria dos sistemas de
criação, tornam-se um importante poluente
ambiental, principalmente na região Sul do
Brasil, que concentra em torno de 55 % de
um rebanho nacional de 31,2 milhões de
cabeças (IBGE, 2006).
Objetivou-se revisar o estado da arte da
compostagem de dejetos líquidos de suínos
abrangendo processo e tipos de
compostagem, princípios, emissões de gases
de efeito estufa e seu controle e as
características do produto final e seu uso
agrícola.
2 DESCRIÇÃO GERAL DE
COMPOSTAGEM
A compostagem consiste na mistura de
materiais dos mais diversos tipos em
unidades de compostagem constituídas por
leitos, podendo ser definida como o processo
de reciclagem onde há degradação biológica
aeróbia ou anaeróbia de resíduos orgânicos
de modo a proceder a sua estabilização,
produzindo uma substância húmica, utilizável
em algumas circunstâncias como
condicionador do solo (RUSSO, 2003).
A compostagem é um processo flexível,
podendo ser realizada em sistemas abertos
ou em sistemas fechados. No sistema aberto,
o material orgânico é amontoado em leiras,
as quais são revolvidas em intervalos de
tempo para promover a aeração do meio. Já o
sistema fechado envolve o uso de reatores,
que permitem melhor controle das condições
de aeração, temperatura e umidade, mas
apresenta custos mais elevados (BALL, 1997;
CAMPOS & BLUNDI 1998; SEDIYAMA et al.
2000; HUBBE et al. 2010).
Durante a compostagem, a
temperatura varia e podem-se definir três
fases devido à atividade biológica, a mesófila,
a termófila e a maturação. Estas fases não
são estáticas, possuindo pontos de transição
e variabilidades conforme as condições de
umidade, oxigênio e resíduos (ANDREOLI,
2001). Portanto, no processo de
compostagem há uma série de parâmetros
que precisam ser controlados e é da
eficiência deste controle que se obtém um
composto de qualidade.
3 COMPOSTAGEM DE DEJETOS
LÍQUIDOS DE SUÍNOS
Dentre os países que desenvolvem a
técnica de compostagem com dejetos
líquidos de suínos destaca-se a China, cuja
atividade suinícola contribui com
aproximadamente 50 % da produção
mundial de suínos com um rebanho estimado
em 689 milhões de animais (HUAITALLA et.
al., 2010; INDEX MUNDI 2011). No Brasil,
onde o rebanho é de 38,45 milhões de
animais, o uso da compostagem ainda é
incipiente, bem como os estudos na área.
Contudo, o país apresenta grande potencial
de expansão da técnica de compostagem
com vistas a destinar adequadamente o
grande volume de dejetos gerados, que é de
3
aproximadamente 27 mil m por dia
(KONSEN, 1993; INDEX MUNDI, 2011).
No Brasil, a região Sul concentra a
maior produção de suínos do país (IBGE,
2006), e é no Sul que a compostagem de
dejetos líquidos de suínos vem sendo
estudada e adotada principalmente na forma
automatizada. Nesta região, a compostagem
é ainda mais importante, já que o dejeto
l í q u i d o s e c o n c e n t ra e m p e q u e n a s
propriedades suinícolas e apresenta grande
potencial poluidor, principalmente pela falta
de áreas para destinação do resíduo e
dificuldade de transporte (CERETTA et al.
2005; OLIVEIRA & HIGARASHI, 2006).
Embora os trabalhos sobre
compostagem de dejetos líquidos de suínos
33
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
encontrados na literatura apresentem
variações quanto aos métodos, algumas
etapas são semelhantes, tais como aeração e
formação das pilhas. Os diferentes métodos
também proporcionam variações nas
características do composto final (ZHU et al.,
2004; ROS et al., 2006).
revolvimento realizado duas vezes por
semana (KUNTZ et al., 2008), podendo-se
utilizar o revolvimento manual ou mecânico.
A incorporação do dejeto pode ser
realizada de diversas maneiras, como por
exemplo, a aplicação com aproximadamente
80% da quantidade total de dejeto e mais
duas aplicações posteriores para corrigir a
umidade, mantendo-a próxima a 70% (KUNZ
et al. 2004). Outra maneira é a aplicação de
40% do dejeto total na primeira aplicação,
30% na segunda, 20% na terceira e 10% na
última. Nesses casos, o intervalo entre as
aplicações é de uma semana e a relação
dejeto/substrato apresenta comportamentos
distintos para ambos os manejos (SARDÁ et
al. 2010).
4.4 COMPOSTAGEM AUTOMATIZADA
Recentemente implantada na região
Sul do Brasil, a compostagem automatizada
de dejetos líquidos de suínos apresenta
algumas particularidades, como a gradual e
constante incorporação de materiais através
de máquinas (KUNTZ et al., 2008). Neste
caso, a aplicação e o revolvimento do dejeto
são simultâneos.
A compostagem automatizada é o
sistema preconizado atualmente nas
pesquisas de países como China, Canadá,
Estados Unidos e Brasil, caracterizando-se
pela baixa demanda de mão-de-obra.
4 MÉTODOS DE COMPOSTAGEM DE
DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS
Os diferentes manejos, formas de
disposição e tipos de materiais a serem
compostados influenciam o processo (KUNZ
et al., 2008; HUBBE et al., 2010). De modo
geral, para a compostagem de dejetos
líquidos de suínos são construídas leiras, que
se diferenciam principalmente pela
frequência em que são incorporados os
materiais e pela maneira como são aeradas e
revolvidas. Existem leiras estáticas, leiras com
aeração e leiras com revolvimento (DAI PRA,
2006; KUNZ et al., 2008; HUBBE et al., 2010).
4.1 COMPOSTAGEM ESTÁTICA
Na compostagem estática, a aeração na
massa a ser compostada ocorre
naturalmente, com controle rigoroso de
temperatura, umidade e teor de oxigênio. O
processo proporciona várias vantagens, tais
como desenvolvimento de uma população
microbiana diversificada, diminuição da área
física para a compostagem, eliminação de
máquinas pesadas, diminuição de mão-deobra, melhoria na qualidade do material do
produto final e diminuição do tempo de
oxidação da matéria orgânica de 160 para até
30 dias (KUNZ et al., 2008). Esse método não
é recomendado para a compostagem de
resíduos com granulometria homogênea.
4.2 COMPOSTAGEM ESTÁTICA COM INJEÇÃO
DE AR
Na compostagem realizada com injeção de ar,
a mistura é colocada sobre tubulação
perfurada que aspira ou injeta ar na massa do
composto sem revolvimento mecânico das
leiras. Na fase de maturação as necessidades
de oxigenação são baixas e o composto pode
ficar em leiras sem aeração, sendo revolvido
em maiores intervalos de tempo (KIEHL,
1998).
4.3 COMPOSTAGEM COM REVOLVIMENTO
Na compostagem com revolvimento, a
incorporação do dejeto é realizada por
aspersão semanalmente durante um mês e o
5 PRINCÍPIOS DA COMPOSTAGEM DE
DEJETOS LÍQUIDOS DE SUÍNOS
O processo de compostagem de
dejetos líquidos de suínos se desenvolve em
duas fases, sendo a primeira a incorporação
fracionada dos dejetos líquidos aos resíduos
sólidos até a obtenção de uma biomassa com
umidade e relação C/N adequadas; enquanto
a segunda se caracteriza por uma aceleração
do processo de degradação microbiológica da
matéria orgânica (OLIVEIRA & HIGARASHI,
2006).
O pleno desenvolvimento do processo
de compostagem é dependente de diferentes
fa t o r e s , t a i s c o m o a a t i v i d a d e d o s
microorganismos (KIEHL, 1985), umidade
(OLIVEIRA & HIGARASHI, 2006), aeração,
pH (PEREIRA NETO, 1996), temperatura
(ZALESKI et al., 2005), relação C/N e matéria
prima (MARAGNO et al., 2007; HUBBE et al.,
2010).
34
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
5.1 MICROORGANISMOS
A compostagem é um processo
microbiológico, sendo realizada por bactérias,
fungos e actinomicetos em função da
temperatura do substrato (Tabela 1). Além
da temperatura, a atividade dos
microorganismos depende da umidade, da
relação C/N, do oxigênio e do pH.
Tabela 1. Microorganismos encontrados no processo de compostagem.
Bactérias
Fungos
Cellumonas folia
Fusarium sp.
Chondrococcus exiguus
Coprinus sp.
Myxococcus virescens
Aspergillus sp.
Myxococcus fulvus
Talaromy ces variable
Thiobacillus thiooxidans
Helminthosporium sativum
Mesófilos
Thiobaccilus denitrificans Oospora variabilis
Aerobacter sp.
Mucor sp.
Proteus sp.
Glomerularia sp.
Pseudomonas sp.
Fisidium sp.
Aspergillus fumigatus
Humicola sp.
Mucor pussillus
Termófilos ou
Bacillus stearothermophilis Talaromyces sp.
termotolerantes
Sporotrichum sp.
Actinomicetos
Micromonospora vulgaris
Nocardia brasiliensis
Pseudonocardia
thermophila
Streptomyces sp.
Thermoactinomyces
vulgaris
Chaetomium thermophile Thermonospora sp.
Byssochlamys ehrmophila Thermopolyspora polyspora
Fonte: KIEHL, 1985.
A partir de uma relação
carbono/nitrogênio ótima dos materiais ocorre
um aumento da população e um
desenvolvimento do metabolismo dos
microorganismos, que por sua vez aumenta
sua atividade e assim a temperatura. No início
da decomposição (fase mesófila < 45 °C),
predominam bactérias e fungos mesófilos
produtores de ácidos. Com a elevação da
temperatura (fase termófila), a população
dominante se torna a de bactérias, fungos e
actinomicetos termófilos ou termotolerantes
(45-60 °C). Os fungos termófilos ou
termotolerantes geralmente se desenvolvem a
partir do 10º ou 15º dia, enquanto os
actinomicetos predominam nas últimas fases
da compostagem. Passada a fase termófila, o
composto retorna a uma fase mesófila mais
longa com outra composição química,
reaparecendo fungos e bactérias mesófilos
(KIEHL, 1985; HUANG, 2006; CAMPOS &
BLUNDI, 2010).
As bactérias termófilas realizam seu
principal papel decompondo açúcares, amido,
proteínas e demais compostos orgânicos,
enquanto fungos e actinomicetos
desempenham importante papel na
decomposição da celulose e lignina (PEREIRA
NETO, 1996), embora muitas bactérias
também ataquem a celulose (KIEHL, 1985).
Esses microrganismos possuem uma faixa de
temperatura ótima, na qual a atividade
metabólica é maximizada (HERBETS et al.,
2005).
Segundo LI et al. (2011), a combinação
de diversas espécies de microrganismos na
compostagem de dejeto de suínos com
serragem aumenta a temperatura da
compostagem e o conteúdo de nutrientes
disponíveis no composto final.
5.2 UMIDADE
A presença de água é imprescindível
para as necessidades fisiológicas dos
organismos no processo de compostagem. A
faixa adequada de umidade é entre 40 e 60%,
sendo ótima de 50 a 55% (KIEHL, 1985;
PEREIRA NETO, 1996). Teores de água
inferiores a 35-40% inibem a atividade
microbiana na compostagem,
comprometendo a qualidade final do
composto, sendo que abaixo de 12% a
atividade microbiana cessa (KIEHL, 1985).
Valores baixos de umidade causam a
desidratação no interior da pilha de
compostagem, enquanto umidade superior a
35
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
6% promove condições de anaerobiose no
sistema e a liberação de maus odores
(OLIVEIRA & HIGARASHI, 2006;
MASSUKADO, 2008).
Na compostagem de dejetos líquidos de
suínos o elevado teor de água é observado
pelo odor do gás sulfídrico liberado na
anaerobiose, podendo ser facilmente
corrigido por meio de revolvimentos
(OLIVEIRA & HIGARASHI, 2006; MARAGNO
et al., 2007), injeção de ar ou adição material
seco nas pilhas (MASSUKADO, 2008).
5.3 AERAÇÃO
A aeração tem por finalidade básica
suprir a demanda de oxigênio requerida pela
atividade microbiana e atuar como agente de
controle da temperatura e umidade. A
demanda de oxigênio situa-se entre 0,3 e 0,6
3
m de ar por quilograma de sólidos voláteis
por dia (PEREIRA NETO, 1996; BUENO et al.,
2008). Na fase termófila, o conteúdo mínimo
de oxigênio deve ser de 5% para garantir a
decomposição aeróbia. Materiais de
consistência firme e granulometria grosseira
garantem melhor aeração pelo fato de não se
compactarem pela pressão das camadas
superiores (KIEHL, 1985).
5.4 TEMPERATURA
A temperatura é considerada um
importante indicador da eficiência do
p ro c e s s o d e c o m p o s t a g e m , e s t a n d o
intimamente relacionada com a atividade dos
microrganismos alterada pela taxa de aeração
(KIEHL, 1985; ZALESKI et al., 2005). O
metabolismo dos microrganismos é
exotérmico e, na decomposição aeróbia,
d e s e n v o l v e - s e u m n a t u ra l e r á p i d o
aquecimento da massa com a multiplicação
da população microbiana, produzindo
temperaturas acima de 70ºC (KIEHL, 1985;
OLIVEIRA & HIGARASHI, 2006). O calor da
oxidação biológica da matéria orgânica é
retido na leira devido às características
isolante-térmicas dos materiais e durante o
revolvimento, o calor é liberado na forma de
vapor de água (PEREIRA NETO, 1996).
Durante a compostagem a temperatura
varia, podendo-se definir três fases: mesófila,
termófila e maturação. Estas fases não são
estáticas possuindo pontos de transição e
variabilidades conforme as condições de
umidade, oxigênio, resíduos, etc.
(ANDREOLI, 2001). De modo geral, o
composto passa rapidamente por uma fase de
temperatura mesófila (25-40 °C), criando
c o n d i ç õ e s p a ra o s m i c r o o r g a n i s m o s
termófilos. Na sequência, tem-se uma fase
termófila (45-65 °C), que é caracterizada pelo
alto consumo de oxigênio e pela intensa
atividade microbiológica que degrada a
matéria orgânica. A transição ocorre quando o
substrato orgânico é, em sua maior parte,
transformado, a temperatura diminui
restringindo a população termófila, a
atividade biológica global se reduz de maneira
significativa e os mesófilos se instalam
novamente (nova fase mesófila). Nessa fase
termina a bioestabilização e inicia-se o
processo de humificação e maturação da
matéria orgânica (ANDREOLI, 2001), que
ocorre após aproximadamente 100 a 120 dias.
Na maturação, na qual a exigência de oxigênio
é menor e a atividade biológica é lenta, a
temperatura do composto diminui para
próximo da temperatura ambiente (fase
criófila).
Temperaturas acima de 65°C restringem
o número de microorganismos (PEREIRA
NETO, 1996), e além de insolubilizar proteínas
hidrossolúveis, provocam alterações químicas
e desprendimento de amônia (KIEHL, 1985).
Por outro lado, temperaturas baixas podem
ocorrer em função da baixa umidade do
composto e baixas concentrações de
nutrientes no substrato, proporcionando
maior perda de calor para o ambiente e risco
da permanência de patógenos e de sementes
de plantas daninhas no composto final
(KIEHL, 1985; OLIVEIRA & HIGARASHI,
2006).
5.5 RELAÇÃO CARBONO/NITROGÊNIO
A relação carbono/nitrogênio (C/N) é um
dos parâmetros essenciais para o crescimento
das células microbianas, sendo de
importância fundamental durante todo o
processo de compostagem (MARAGNO et al.,
2007), pois o carbono (C) é fonte de energia e
o nitrogênio (N) é fundamental para a síntese
das proteínas (HUBBE et al., 2010).
A relação C/N inicial mais favorável para
a compostagem é em torno de 30/1, e a
relação C/N ideal do produto final humificado
deve ser em torno de 12/1 (PEREIRA NETO,
1986; KIEHL, 2002). Durante a
compostagem, a degradação da matéria
orgânica leva a uma redução do carbono
orgânico e o nitrogênio orgânico aumenta em
virtude da mineralização (KIEHL, 1985;
MARAGNO et al., 2007). Consequentemente,
ocorre diminuição da relação C/N. Os
36
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
microorganismos absorvem os elementos C e
N em uma proporção de 30 partes de C para
cada parte de N, onde o C é utilizado como
fonte de energia, e o N é assimilado na
estrutura do microrganismo na proporção de
JUN partes de C para uma de N. Daí a razão
do húmus, que é produto resultante
exclusivamente da ação desses
microrganismos, ter a mesma relação C/N
igual a 10/1 (KIEHL, 1985).
5.6 pH
Durante a compostagem, o pH pode
variar de 3,0 a 11,0, mas o ideal é mantê-lo
entre 5,5 e 8,0. É importante, que o pH inicial
esteja entre 5,0 e 6,0, pois pH baixo inibe
atividade microbiológica e pH alto provoca
deficiência de fósforo e perda de nitrogênio
por volatização (MASSUKADO, 2008).
Os microorganismos regulam o pH por
meio da degradação de compostos que irão
produzir subprodutos ácidos ou básicos
(PEREIRA NETO, 1996). No Início da
decomposição ocorre a formação de ácidos
orgânicos que tornam o meio mais ácido do
que o da própria matéria prima original.
Entretanto, esses ácidos orgânicos e os
traços de ácidos minerais que se formam,
reagem com bases liberadas da matéria
orgânica gerando compostos de reação
alcalina (KIEHL, 1985). Como consequência,
o pH do composto se eleva à medida que o
processo se desenvolve, passando pelo pH
7,0 (neutro) e alcançando pH superior a 8,0
( a l c a l i n o ) . ( M A R A G N O e t a l ., 2 0 0 7 ) .
Geralmente a compostagem se caracteriza
por produzir um composto final com pH entre
7, 5 e 9 , 0 ( P E R E I R A N E TO , 1 9 9 6 ) ,
permanecendo neste nível enquanto houver
nitrogênio amoniacal e baixando um pouco
quando este passar para a forma de nitrato
(KIEHL, 2002).
5.7 MATERIAIS
O tratamento dos dejetos via sistema
de compostagem consiste na mistura dos
dejetos de suínos em unidades de
compostagem constituídas por leitos
formados por maravalha, serragem, palha
(IMBEAH, 1998; OLIVEIRA & HIGARASHI,
2006), bagaço de cana-de-açúcar, capim
(SEDIYAMA et al., 2000), entre outros. A
serragem e a maravalha são materiais
palhosos ideais para serem utilizados na
compostagem de dejetos de suínos, devido
às suas características de absorver umidade
e fornecer porosidade adequada para o
processo (MARAGNO et al., 2007; KUNTZ et
al., 2008). A intensidade da decomposição da
matéria-orgânica está ligada à área de
exposição apresentada pelo material, sendo
que na prática, o tamanho de partículas da
massa de compostagem deve situar-se entre
1 e 5 cm (PEREIRA NETO, 1996).
Materiais celulósicos derivados de
plantas desempenham um papel
fundamental quando os resíduos orgânicos
são compostados (HUBBE et al., 2010).
Materiais lignocelulósicos também
contribuem para a permeabilidade ao ar,
volume e retenção de água durante o
processo de compostagem, além de ser o
principal material para a formação de húmus
(HUBBE et al., 2010). São várias as enzimas
envolvidas na quebra da celulose dos grupos
das endocelulases, exocelulases e celobiases.
Já as hemiceluloses e ligninas, devido às suas
características estruturais e heterogeneidade
têm uma degradação mais difícil, sendo as
precursoras da humificação do composto
orgânico.
O dejeto de suínos é composto
basicamente de fezes e de urina, mais ou
menos diluído segundo o tipo de manejo de
água adotado nos sistemas de produção,
sendo um produto líquido complexo com altas
concentrações de matéria orgânica e
nutrientes (KUNZ et al., 2008), cujo teor de
matéria seca situa-se entre 50 e 80 g/L
(OLIVEIRA, 2002). Portanto, devido à
necessidade de remoção da umidade do
dejeto, o manejo evaporativo do processo
deve ser privilegiado de tal forma que se
consiga incorporar um grande volume de
dejetos ao substrato. Na utilização de
maravalha e de serragem para a
compostagem de dejetos de suínos têm sido
alcançadas relações superiores a 1:8
(substrato/dejeto) (NUNES, 2003).
6 EFEITO SANITIZANTE DA
COMPOSTAGEM
A compostagem adequada elimina
patógenos e sementes de ervas daninhas
através da alta temperatura, em função do
calor metabólico gerado pelos
microorganismos (HANAJIMA et al., 2006).
Para a inativação de microorganismos
patogênicos presentes na biomassa de pilhas
estáticas de compostagem são necessários
37
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
et al. (2010) encontraram uma redução de
sete vezes na emissão de CH4 no processo de
compostagem em relação à esterqueira, e a
emissão de H2S, responsável pelo mau cheiro,
foi inexpressiva comparada ao manejo dos
dejetos na forma líquida.
Embora a compostagem de dejetos
líquidos de suínos promova a mitigação da
emissão de gases, nesse processo também
ocorrem importantes perdas de nitrogênio
principalmente na forma de NH3 que podem
atingir de 16 a 74% dependendo do processo
(REN et al., 2010). Durante a compostagem
ocorre a elevação da temperatura e do pH,
que concomitantemente com o revolvimento
ou aeração das pilhas, proporcionam a
transformação do N-mineral em NH3, que é
volatilizada (SANTOS, 2008; FUKUMOTO &
INUBUCHI, 2009; HUBBE et al., 2010). A
volatilização de NH3, além de representar uma
significativa perda de nitrogênio, produz
chuva ácida que pode acarretar sérios danos
ambientais (DIESEL et al., 2002).
Ainda que a NH3 seja o gás mais emitido
na maioria dos sistemas de compostagem,
outros gases como os GEE (N2O, CH4 e CO2)
também são emitidos (CALDERÓN et al.
2004; FUKUMOTO & INUBUCHI, 2009;
SARDÁ et al. 2010). Segundo o estudo de
PAILLAT et al. (2005), as emissões de GEE em
sistemas de compostagem de dejetos de
suínos representam perdas de 57% do
carbono inicial emitido sob a forma de CO2,
6% na forma de CH4 e 6% do nitrogênio inicial
na forma de N2O.
Devido à importância ambiental e
econômica das emissões de gases produzidos
nos sistemas de compostagem, trabalhos
focados na mitigação desse problema vêm
sendo desenvolvidos em vários países como o
Brasil, China, Estados Unidos e Canadá. A
redução nas emissões de GEE pode ser
realizada com diferentes estratégias,
interferindo-se em aspectos químicos, físicos
e microbiológicos do processo (FERNANDES &
SILVA, 2009; HABART et al., 2010).
No controle da emissão de NH3, os
trabalhos desenvolvidos focam
principalmente o controle com uso de aditivos
químicos e métodos físicos. BUENO et al.
(2008) constataram que as perdas do N-NH3
podem ser evitadas significativamente com o
manejo nas características físicas da
compostagem, utilizando partículas de menor
tamanho e com nível médio abaixo de aeração
nas pilhas. Já o controle da emissão de NH3
três dias sob temperaturas acima de 55°C
(ZALESKI et al., 2005). Já para os compostos
produzidos em pilhas revolvidas, é necessário
manter um mínimo de 55ºC por 15 dias
consecutivos, revolvendo o material pelo
menos cinco vezes neste período (OLIVEIRA
& HIGARASHI, 2006). A elevação da
temperatura é um indicativo do equilíbrio
microbiológico nas pilhas (VALENTE et al.,
2009).
Contudo, além da temperatura, outros
fatores que podem influenciar a inativação de
organismos patogênicos são o tipo de
matéria-prima e sua umidade, sendo
necessário o monitoramento das condições
das pilhas de compostagem para comprovar a
eficácia do tratamento (TURNER et al., 2002).
No processo de compostagem ocorre a
diminuição de emissão de odores,
desidratação dos resíduos, tornando-os mais
seguros de manusear e transportar (LISKA &
KIK, 2011). A aplicação de resíduos de origem
animal em culturas destinadas à alimentação
humana pode ser um risco para a saúde e
higiene, se forem aplicados sem tratamento,
devido à alta carga viral, bacteriana e
patogênica (HANAJIMA et al., 2006).
7 EMISSÃO DE GASES DO EFEITO
ESTUFA E SEU CONTROLE
A geração e o uso irracional dos
dejetos da atividade pecuária têm ocasionado
a poluição e a degradação da atmosfera,
principalmente pela emissão de amônia
(NH3), dióxido de carbono (CO2), metano
(CH4), óxido nitroso (N2O) e gás sulfídrico
(H2S) (CALDERÓN et al., 2004; KUNZ et al.,
2008; SARDÁ et al., 2010). No Brasil, segundo
o Ministério da Ciência e Tecnologia (2009), a
emissão de gases do efeito estufa (GEE) foi
de 2,2 bilhões de toneladas. A contribuição da
agricultura nas emissões desses gases no
Brasil é estimada em 75% das emissões de
CO2, 91% das emissões de CH4 e 94% das
emissões de N2O (CERRI & CERRI, 2007).
Com vista a mitigar a emissão de gases
pelos dejetos da suinocultura, a
compostagem pode ser eficiente em
comparação aos sistemas de armazenagem
de dejetos em esterqueiras, ou quando
aplicados diretamente no solo. Assim, a
técnica reduz os impactos ambientais pela
mitigação do efeito estufa e pela redução de
odores. (CALDERÓN et al., 2004; FUKUMOTO
& INUBUCHI, 2009). Como exemplo, SARDÁ
38
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
com uso de métodos químicos pode ser feito
com a diminuição do pH, por meio da adição
de substâncias acidificantes no dejeto
(VANDERZAAG et al., 2011). Segundo KAI et
al. (2008) a redução do pH de 7,5 para 6,3
proporciona uma diminuição de 65 % na
emissão de amônia quando esses dejetos são
aplicados no solo. Porém, com redução do pH
para 6,0, esta redução chega a 82 %
(STEVENS et al., 2009). Em sistemas de
compostagem, os aditivos para redução do
pH podem ser aplicados diretamente nas
pilhas. WANG et al. (2006) obtiveram
redução de 11,9% na emissão de N com uso
de vinagre de bambu na proporção de 1:1000
em compostagem de dejeto de suínos.
A adição de gesso e fosfatos na
compostagem também diminui a emissão de
NH3. Conforme PROCHNOW et al. (2001),
essa diminuição na emissão de NH 3 é
atribuída principalmente à aciJUN residual e à
produzida pela decomposição desses
aditivos.
Outros métodos empregados na
emissão da NH 3 utilizam materiais que
adsorvem ou reagem com o amônio. Um
destes é a zeólita, um aluminosilicato
hidratado que possui a capacidade de
absorver gases e cátions, podendo ser
utilizada de maneira isolada ou juntamente a
outros sais, como o alúmen, no controle das
perdas de NH3, possibilitando a redução na
emissão desse gás em até 90% durante a
compostagem (SARDÁ 2006; BAUTISTA et
al., 2011). Outros materiais utilizados são o
hidróxido de magnésio e o ácido fosfórico,
que adicionados à compostagem de dejetos
de suínos reagem com o amônio formando o
cristal estruvita, diminuindo a emissão de
amônia em até 35 % (REN et al., 2010).
A emissão de N2O durante a
compostagem é menor que a emissão em
esterqueiras; no entanto, ainda ocorre
emissão durante o processo de
compostagem. No sentido de mitigar essa
emissão, FUKUMOTO & INUBUCHI (2009)
adicionaram bactérias oxidantes de nitrato
durante o processo de compostagem de
dejetos de suínos e constataram a redução da
concentração de NO2 e, consequentemente, a
diminuição de 70 % da emissão de N2O
comparado com a testemunha.
O controle na emissão do CH4 pode ser
eficiente aplicando o manejo adequado de
revolvimento ou aeração, já que a formação
do metano se dá em condições anaeróbicas
(PARK et al., 2011). Esses autores
verificaram emissões de CH4 em sistemas de
compostagem com ar forçado, com
revolvimento e sem revolvimento, na ordem
de 1,6; 7,9; e 11,4, respectivamente.
SZANTO et al. (2007) verificaram em
sistemas de compostagem, emissões de CH4
variando entre 12,6 e 0,4% do volume sólido
degradado em pilhas estáticas e revolvidas,
respectivamente.
A emissão de H2S, responsável pelo
mau cheiro dos dejetos suínos depositados
em esterqueiras é reduzida no processo de
compostagem com aeração controlada
(SARDÁ et al., 2010).
Os métodos para controle de emissão
de gases podem ser realizados de maneira
integrada. Como exemplo, FUKUMOTO et al.
(2010) constataram que o uso de estruvita
associado a bactérias oxidantes de nitrito
reduzem em até 43 % a emissão de NH3 e até
80 % da emissão de N2O.
8 USO DO COMPOSTO ORGÂNICO NA
AGRICULTURA
A aplicação de resíduos de origem
animal, sem nenhum tratamento, em
culturas para a alimentação humana, pode
ser um risco em função da alta carga
patogênica (HANAJIMA et al., 2006).
Portanto, a qualidade do produto final da
compostagem deve ser normatizada por
legislações específicas, e sua qualidade
depende dos resíduos orgânicos e dos
processos empregados (VALENTE et al.,
2009).
No Brasil, a legislação em vigor para
alimentos é regulamentada pela RDC nº 12,
de 02 de Janeiro de 2001. Para hortaliças
frescas, in natura, selecionadas ou não,
estabelece-se apenas a ausência de
Salmonella spp. em 25 gramas de produto
(BRASIL, 2001). Entretanto, a utilização de
dejeto na forma líquida em hortaliças para o
consumo in natura, especialmente as
folhosas, não é recomendado em função do
alto risco de contaminação (SEDIYAMA et al.,
2000). BAUMGARTNER et al. (2007)
observaram contaminações com coliformes
fecais e totais, em folhas de alface, em
função da utilização de água residuária da
suinocultura.
A compostagem é uma forma segura e
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
eficaz de utilização de resíduos (OLIVEIRA &
HIGARASHI, 2006), pois durante o processo,
há destruição de patógenos e sementes de
plantas daninhas através da alta temperatura
(HANAJIMA et al., 2006). Assim, o produto
final da compostagem pode obter alto valor
agronômico pela sanitização e pela
concentração de nutrientes (KUNZ et al.,
2009), pois além de eliminar microorganismos
patogênicos da matéria orgânica, o composto
orgânico é um produto parcialmente
mineralizado e de grande potencial na
nutrição de plantas (ABREU JUNIOR et al.,
2005).
O composto orgânico proveniente da
compostagem de dejeto líquido de suínos
pode ser utilizando em pequenas (OLIVEIRA &
HIGARASHI, 2006) e grandes áreas agrícolas
(KUNZ et al., 2009). Dentre os principais usos,
tem-se sua utilização em hortaliças tais como
cebola (VIDIGAL et al., 2010), alface (SILVA et
al., 2010) e pepino (NADDAF et al., 2011); em
grandes culturas como o milho (KUNZ et al.,
2009); no cultivo de flores (ATIYEH et al.,
2002); e na área florestal, para a produção de
mudas de diversas espécies (MAEDA et al.,
2007).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compostagem proporciona a
conversão de dejetos líquidos de suínos em
uma matriz sólida, com concentração dos
nutrientes e que pode ser facilmente
exportada de áreas com elevada densidade de
suínos e concentração de dejetos para áreas
menos impactadas.
A técnica de compostagem para dejetos
líquidos de suínos é uma importante
alternativa como destino para os dejetos da
suinocultura, que são um grande passivo
ambiental.
Embora a compostagem automatizada
apresente grande potencial de crescimento na
região Sul do Brasil, ainda são raros os
trabalhos que tratam de seus processos, tipos
e misturas de materiais e controle na emissão
de gases.
40
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IMAGENS E REFLEXOS DA CAMINHADA ESCOLAR: O OLHAR DO
ESTUDANTE SOBRE O/A PROFESSOR/A
Cristiane Kirch Fritzen 1
Vera Beatriz Pinto Zim mermann Weber 2
SETREM 3
RESUMO
ABSTRACT
O estudo “Imagens e reflexos da caminhada escolar: o
olhar do estudante sobre o professor” teve como
objetivo investigar e analisar as imagens docentes
percebidas pelos estudantes de 8ª série do Ensino
Fundamental com relação a seus/suas professores/as
e as implicações destas no processo de ensinar e de
aprender. Foi uma pesquisa de abordagem qualitativa.
A coleta de dados se deu a partir de uma intervenção
com a produção de desenhos feitos pelos sujeitos de
pesquisa e com um questionário organizado com
questões abertas, o que permitiu ao/a entrevistado/a
transcorrer livremente sobre o tema e também que
todos eles/elas sejam comparados com o mesmo
conjunto de perguntas. Muito tem se questionado
sobre a relação professor/estudante e as implicações
desta relação no processo de ensinar e de aprender.
Oportunizar o/a estudante a expressar-se sobre a
imagem que tem de seu/sua professor/a possibilitou a
reflexão e análise acerca dessa imagem e perceber que
ela interfere no processo de ensinar e de aprender.
Pesquisar e refletir sobre a imagem que o/a estudante
tem de seus/suas professore/as, com o intuito de
produzir possibilidades de aprendizagem para todos.
Esse trabalho poderá ainda contribuir com a escola,
promovendo a reflexão e a superação das dificuldades
vivenciadas pelos estudantes e professores/as,
possibilitando mudança e transformação. No decorrer
desse estudo, percebi que os estudantes raramente
têm oportunidade de se expressarem em relação à
escola e aos professores/as. Os resultados dessa
pesquisa mostram ainda que são várias as imagens
que os estudantes têm de seus/ suas professores/as,
Imagens de professores/as despreparados, fechados
em suas metodologias e repetitivos discursos. Outras
imagens que os estudantes têm são de professores/as
amigos/as, dinâmicos, qualificados e preocupados com
os estudantes. O estudo foi embasado em teóricos
como: Tardif (2005), Oliveira, Bossa (1998), Oliveira
(2004) e Arroyo (2000).
The study Images and reflexes about the school way:
the student look about the teacher aimed to
investigate and analyze the teachers images realized
by students at th grade of Elementary School in
relation to their teachers and their implications in the
process of teaching and learning. It was a research of
qualitative approach, data collection occurred from
an intervention with the production of drawings
made by research subjects and a questionnaire
organized with open questions that allowed the
interviewee elapse freely on the subject and they are
all compared with the same set of questions too. Much
has been asked about the teacher student
relationship and its implications in the process of
teaching and learning. Giving the opportunity of the
student to express himself about the image he has of
his teacher allowed reflection and analysis about this
image and realization that it interferes in the process
of teaching and learning. The objective is also
searching and thinking about the image that the
student has of his teachers, in order to produce
learning opportunities for all. This work can also
contribute to the school, promoting reflection and
overcoming the difficulties experienced by students
and teachers, enabling change and transformation.
During this survey, I realized that students rarely have
the opportunity to express themselves in relation to
school and to teachers. The results also show that
there are several images that students have of their
teachers, Images of unprepared teachers, closed on
their methodologies and repetitive speeches. Other
images that students have are of friend, dynamic,
qualified and concerned about the students. The study
was based on theoretician as Tardif
, Oliveira,
Bossa
, Oliveira
and Arroyo
.
Palavras-chave: Imagem. Estudante. Professor.
Keywords: Image. Student. Teacher.
1
Pedagoga Egressa do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia
SETREM;[email protected]
2
Professora orientadora deste estudo, Mestre em Educação nas Ciências, professora da
Faculdade Três de Maio – SETREM . Coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Educação
NUED e-mail: [email protected].
3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Santa Rosa, 2405; Três de Maio - RS,
[email protected]
44
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1. INTRODUÇÃO
2. ADOLESCÊNCIA E O PROCESSO DE
ENSINAR E APRENDER
Muito tem se questionado sobre a
relação professor/estudante e as implicações
desta relação no processo de ensinar e de
a p r e n d e r. E s t u d o s d i r e c i o n a d o s a
compreender o/a professor/a, ou então, a
identificar qual a imagem que o/a professor/a
tem de si próprio/a ou qual a imagem que a
sociedade tem dos/as professores/as se
inserem no contexto da Educação, discutindo
a relação professor/estudante.
Para entender a origem da
adolescência, cabe ressaltar inicialmente que
a infância é uma invenção do século XVII.
Segundo Áries (1978), é a partir daí que
infância começa a ter importância na
sociedade e a família passa a se preocupar
com a mesma. Essa temática passa a ter
grande importância para a sociedade que
antes não se preocupava com ela.
To r n a - s e , p o r t a n t o , r e l e v a n t e
investigar qual é a imagem que o estudante
tem de seu/sua professor/a. Muitas reflexões,
estudos buscando entender o/a professor
diante de sua prática, voltando o olhar para si
próprio/a, ou então, é o olhar da sociedade
que se direciona para o/a professor/a em
busca de compreensão. O estudante, inserido
no contexto direto com o/a professo/a, não é,
muitas vezes, questionado sobre o que
pensa.
A adolescência, por sua vez, é um
tema ou invenção da contemporaneidade.
Como diz Caligarris (2000), faz apenas um
século que a adolescência se torna um tema a
ser estudado, antes, porém, não era um fato
social reconhecido. Era uma faixa etária, mas
não por isso um grupo social. Ainda menos
um estado de espírito e um ideal da cultura.
A origem e o significado da palavra
adolescência dão uma ideia de quem são
esses sujeitos. Há algum tempo atrás a
adolescência era considerada apenas uma
etapa de transição entre a infância e a idade
adulta. No entanto, segundo Osório (1989):
Nesse sentido, busquei proporcionar
aos estudantes um momento para se
expressarem sobre a imagem que têm de
seu/sua professor/a para que, a partir dessa
investigação, pudessem refletir e analisar se
essa imagem interfere no processo de ensinar
e de aprender.
Nas últimas décadas,
contudo, a adolescência
vem sendo considerada o
momento crucial do
desenvolvimento do
i n d i v í d u o, a q u e l e q u e
marca não só a aquisição da
imagem corporal definitiva
c o m o t a m b é m a
estruturação final da
personalidade. É uma idade
não só com características
biológicas próprias, mas
como uma psicologia e até
mesmo uma sociologia
peculiar (OSÓRIO, 1989,
p.10).
Para este estudo, foi realizada uma
pesquisa de campo com abordagem
qualitativa e os sujeitos da pesquisa foram
estudantes da 8ª série/ano do Ensino
Fundamental de duas escolas, uma de
Educação Básica e outra de Ensino
Fundamental do município de Boa Vista do
Buricá.
A coleta de dados se deu a partir de
uma intervenção com a produção de
desenhos. Também foi realizada entrevista
semiestruturada e a observação
assistemática, que, segundo Marconi e
Lakatos(2006), consiste em recolher e
registrar os fatos sem que o pesquisador
necessite fazer perguntas diretas
Cada vez mais vem sendo realizados
estudos sobre a adolescência a fim de
conhecer e entender essa fase de
transformações físicas e comportamentais,
biopsicossociais. Segundo Calligaris (2000),
o sujeito se torna adolescente quando:
A partir dessa coleta de dados foi feita
a discussão e a interpretação dos dados, na
qual, tornou-se relevante conhecer e
entender os sujeitos da pesquisa: os
adolescentes. Conceituando alguns termos,
trazendo também a historicidade dos
mesmos.
apesar de seu corpo e seu
espírito estarem prontos
para a competição, não é
reconhecido como adulto.
Aprende que, por volta de
mais JUN anos, ficará sob a
45
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
tutela dos adultos,
preparando-se para o sexo,
o amor e o trabalho, sem
produzir, ganhar ou amar;
o u e n t ã o, p r o d u z i n d o,
ganhando e amando, só que
m a r g i n a l m e n t e
(CALLIGARIS, 2000, p.15)
O adolescente, por sua vez, encontrase em uma luta em busca de identidade.
Nessa busca, as angústias, as inseguranças e
os medos são companhias constantes. É por
isso que os amigos são considerados tão
importantes e mais procurados que os pais.
Portanto, a relação que os pais e as
mães têm com seus filhos é muito importante.
É preciso ter compreensão, paciência, apoiar
dialogar e amar, mas acima de tudo, dar
limites e não superproteger o/a filho/a, para
que tenham a capacidade de se tornarem
autocríticos, seguros e autônomos. Segundo
Outeiral (1994):
Portanto, nessa fase surgem conflitos
entre os adolescentes, seus familiares e a
escola. Eles buscam compreensão e atenção.
Cabe ao adulto mediar esse processo difícil
para ambos.
Sendo a adolescência, denominada
como uma fase de transição entre ser criança
e se tornar adulto, ou melhor, a etapa em que
o indivíduo se desenvolve tanto física como
psicologicamente, algumas características
são comuns entre os mesmos, ou mudam
dependendo do meio cultural em que vivem
como afirma Zagury (1996):
É necessário
enfatizar que as crianças e
os adolescentes “pedem
limites” e que o “limite” os
a j u d a a o rg a n i z a r s u a
mente. Os adultos, às vezes,
não colocam limites porque
assim será mais “cômodo”.
Colocar limites significa
envolvimento, “conter” o
adolescente, suportar suas
reclamações e protestos,
enfim enfrentar dificuldades
(OUTEIRAL, 1994, p. 35).
A adolescência caracterizase por uma fase de transição
entre a infância e a
juventude. É uma etapa
extremamente importante
do desenvolvimento, com
características muito
próprias, que levará a
criança a tornar-se um ser
adulto, acrescida da
capacidade de reprodução.
As mudanças corporais que
ocorrem nesta fase são
universais, com algumas
variações, enquanto as
psicológicas e de relações
variam de cultura para
cultura, de grupo para grupo
e até entre indivíduos de um
mesmo grupo (ZAGURY,
1996, p.24).
Dar limites é muito mais do que impor
algo. É preparar para vida. A falta de limites
poderá prejudicar o adolescente no convívio
em sociedade e até mesmo dificultar o
aprendizado escolar.
O olhar das pessoas que fazem parte
da vida dos adolescentes, em relação aos
estudos, à escola e ao saber, direciona o olhar
do adolescente. A escola faz parte e, na
maioria das vezes, é o primeiro contato da
vida social, tanto das crianças quanto dos
adolescentes. A escola é muito importante no
processo de socialização do adolescente,
segundo Outeiral (1994):
Nessa fase do desenvolvimento
intelectual se destacam a compreensão e o
raciocínio rápido, que levam o adolescente a
ter certa independência intelectual, maior
capacidade para refletir, questionar. Os
adolescentes não aceitam mais as coisas ditas
como verdades, eles discutem, criticam e
t i ra m a s p r ó p r i a s c o n c l u s õ e s . E s s e
comportamento traz insegurança aos pais e
às mães, que são frequentemente
questionados e de certa maneira afrontados,
percebem a súbita independência do/a
filho/a. Acostumados a ser referência para
os/as filhos/as, essa nova postura assusta e
exige um preparo que muitos pais e mães não
têm, pois ainda consideram o/a filho/a uma
criança.
O que confere à escola
importância vital no
p r o c e s s o
d e
desenvolvimento do
adolescente é o fato dela ter
a característica de ser uma
simulação da vida, na qual
existem regras a serem
seguidas, mas que se pode
transgredi-las sem sofrer as
consequências impostas
pela sociedade, e ser esta
uma oportunidade de
a p r e n d e r c o m a
transgressão (OUTEIRAL,
1994, p.38).
46
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Possibilitando, desta forma, uma
relação de socialização, na qual o adolescente
vai em busca de sua identidade, segundo
Outeiral (1994):
filhos/filhas, transmitem valores para que o/a
adolescente perceba a importância dos
estudos e da escola em sua vida.
O processo de ensinar e de aprender,
na escola, envolve professores/as e
estudantes. Juntos se tornam sujeitos deste
processo, que passa por várias situações, seja
de amizade e companheirismo ou de conflito,
mesmo quando estes estudantes são
adolescentes, que se encontram numa fase
conturbada em busca de sua identidade.
[...] encontra na micro
sociedade da escola um
sistema de forças que atuam
sobre ele, onde, entre outras
coisas, reedita seu ciúme
fraterno, compete, divide,
rivaliza, oprime e é
reprimido, ou seja, reproduz
o sistema social. É por esta
razão que a escola, muitas
vezes, pode detectar
dificuldades no processo de
desenvolvimento do aluno,
que aparece por inteiro na
busca de si mesmo, e seu
olhar sobre o que ele é, em
geral, menos comprometido
emocionalmente do que
acontece com os pais
(OUTEIRAL, 1994, p.39).
A ecola nessa fase tem importância
considerável para o/a estudante adolescente.
Segundo Outeiral (1994, p.39) “a escola não
oportuniza somente a relação com o saber, e
como uma atividade eminente grupal, tem
também funções de socialização”.
Os estudantes, muitas vezes, passam a
maior parte do dia na escola. Como as
mudanças sociais acontecem de forma muito
rápida em relação ao contexto escolar, o
estudante busca informações e sabe que a
escola não é o único lugar no qual ele
aprende. O/a professor se vê diante de
situações em que o estudante tem muitas
informações sobre muitas coisas, mas não
tem o conhecimento. Diante disso, Tardif e
Lessard (2005, p.143) afirmam que: “[...]
toda a relação dos professores com seus
alunos/as se transforma, atualmente”.
Neste processo, a escola se torna
caminho para as descobertas da vida em
sociedade e da busca pela identidade, pela
qual o adolescente procura. Conforme
Outeiral (1994, p.36):
a função da escola é educar,
isto é, conforme o conceito
etimológico da palavra,
“colocar para fora” o
potencial do indivíduo, ao
contrário de ensinar, que é in
+ signo, ou seja, colocar
“signos para dentro do
indivíduo”. Evidentemente,
quando a criança (e o
adolescente) chega na
escola ela tem, além de seus
aspectos constitucionais,
suas vivências familiares,
mas o ambiente escolar será
também uma peça
fundamental em seu
desenvolvimento. Estes três
elementos – aspectos
constitucionais, vínculos
familiares e ambiente
escolar – constituirão o tripé
do processo educacional
(OUTEIRAL, 1994, p.36).
A r e l a ç ã o e n t r e p r o fe s s o r / a e
estudantes é muito mais do que a relação
ensino/aprendizagem. A afetividade interfere
nesse processo, podendo contribuir ou não
para a boa convivência em sala de aula. Se for
uma relação afetiva boa, ajudarão ambos a
alcançarem seus objetivos. Mas nem sempre
a relação afetiva é positiva. Vários fatores
podem ser considerados. Ao nos referirmos à
afetividade na relação professor/estudante,
se torna relevante destacar que o/a
professor/a deverá ter cuidado e tentar
o fe r e c e r t ra t a m e n t o i g u a l a o s s e u s
estudantes, como explica Tardif e Lessard
(2005):
A escola é constituída por
professores/as, coordenadores/as,
diretores/as, enfim, por pessoas, capazes de
erros e acertos, atitudes adequadas ou não,
em relação a determinadas circunstâncias.
Por isso, é fundamental que haja uma relação
de confiança entre pais/mães e
professores/as. Os pais e as mães, ao
participarem da vida escolar dos/as
outro dilema central de sua
tarefa diz respeito à
equidade do tratamento que
os professores devem
garantir a todos os alunos,
apesar de suas diferenças
individuais, sociais e
culturais. Esse dilema é a
consequência permanente e
inevitável de um trabalho
dirigido a uma coletividade,
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
mas que para ser eficaz,
deve dizer respeito aos
indivíduos e considerar suas
diferenças para fazê-los
progredirem (TARDIF e
LESSARD, 2005, p.161).
vez, quer estabelecer sua autonomia, sua
identidade, em busca de objetivos que se
difere em seus conceitos.
Proporcionar aos/as professores/as e aos
estudantes recursos para que possam sempre
estar em busca de novos conhecimentos,
novos saberes que os constituam, segundo
Oliveira (2004):
Portanto, o/a professor/a, na sua
prática, com estudantes, cada qual com a sua
singularidade, se veem diante de um desafio:
trabalhar com a diferença sem que os/as
estudantes se sintam diferentes.
Os docentes devem buscar,
construir e transformar seus
ensinamentos, levando em
consideração que se
aprende e se ensina em
qualquer lugar, lembrando
também que cada aluno traz
consigo uma bagagem
muito rica, pois cada um
vem de uma realidade
cultural distinta, podendo,
dessa forma, favorecer o
processo de formação do
conhecimento (OLIVEIRA,
2004, p.75).
A escola tem responsabilidades sobre a
aprendizagem dos estudantes, o/a
professor/a deve auxiliá-los, ou seja, “a escola
f i c a re s p o n s á ve l p o r s i s t e m a t i z a r o
conhecimento cotidiano do/a aluno/a,
auxiliando-o na elaboração e sistematização
desse saber que, por hora, encontra-se
fragmentado, necessitando de elaboração”
(OLIVEIRA, 2004, p. 65).
Sob a óptica do trabalho da escola e
do/a professor/a, estão os interesses do
estudante. O ensino nesse contexto consiste
em alcançar alguns objetivos, sendo
necessária a socialização e a interação entre
professores e estudantes. Conforme Tardif e
Lessard (2005):
É necessário estar em constante busca
de conhecimento e considerar o que o/a
estudante já sabe, pois o/a professor/a não é
dono do saber. O/a estudante quando está
envolvido no processo de ensinar e de
aprender, se torna mais atento e muito mais
motivado a buscar e pesquisar.
[...] a docência é o que se
chama uma atividade
instrumental, ou seja, uma
atividade estruturada e
orientada para objetivos a
partir dos quais o ensino
compreende, planeja e
executa sua própria tarefa,
utilizando e coordenando
vários meios adequados
para realizá-la. Em suma,
ensinar é agir em função de
objetivos no contexto de um
t ra b a l h o re l a t i va m e n t e
planejado no seio de uma
organização escolar
b u ro c r á t i c a ( TA R D I F e
LESSARD, 2005, p.196).
3. O OLHAR DO ESTUDANTE SOBRE O/A
PROFESSOR/A
Tantos olhares se direcionam aos
professore/as, críticas, opiniões, da
sociedade e dos/as próprios/as
professore/as. O que realmente me intriga é
que os estudantes, sujeitos do fazer
pedagógico dos/as professores/as, raramente
têm a oportunidade de se expressarem sobre
seu olhar referente à seus/suas
professore/as. Nesse sentido, busco
compreender as imagens docentes
percebidas pelos estudantes de 8ª série do
Ensino Fundamental com relação a seus/suas
professores/as e as implicações destas no
processo de ensinar e aprender.
Ensinar, portanto, é considerar o
estudante como foco, em busca de objetivos
que são estruturados e orientados, mas que
ao mesmo tempo, buscam envolver o sujeito
desse processo. São seguidos os
pressupostos estabelecidos, mas os objetivos
que professores/as e estudantes buscam,
podem não ser os mesmos. Cada qual na sua
singularidade procura alcançar suas metas,
o/a professor/a quer que o estudante
aprenda, adquira conhecimento. Este por sua
Para melhor organização das falas dos
estudantes, foram usados a letra “E”, e os
números de 1 a 40 para denominar os
estudantes e, para as escolas, foram usadas
as letras “A” e “B”.
Para que este estudo se tornasse
realidade, foi fundamental o consentimento
das escolas, as quais foram campo de
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
com a prática cotidiana da sala de
aula (CUNHA, 1989, p.71).
pesquisa, e a participação dos estudantes,
que se dispuseram a responder os meus
questionamentos, e sem os quais esta
pesquisa não poderia se tornar realidade.
A forma como professor/a e estudante
se relacionam perpassa o conteúdo de ensino.
A afetividade, o interesse que o/a professor/a
demonstra pelos estudantes, faz com que eles
se sintam acolhidos e confiantes para que
possam se expressar e participar das aulas. O
E8 da escola A, diz que: “Gostaria que os
professores fossem mais amigos dos alunos”.
Demonstrando, dessa forma, que os laços de
afetividade são considerados importantes
para os estudantes, na relação com o/a
professor/a na sala de aula.
Investigando as imagens que o
estudante tem de seus/suas professores/as,
ressalto a importância de considerar que,
segundo Cunha (1989):
Não há dúvida de que existe
entre o aluno e o professor
um jogo de expectativas
relacionadas aos respectivos
desempenhos. A escola
como instituição social
determina aos seus próprios
i n t e g r a n t e s o s
comportamentos que deles
se espera. Por outro lado,
como instituição social, ela é
determinada pelo conjunto
de expectativas que a
sociedade faz sobre ela
(CUNHA, 1989, P.65).
Os estudantes adolescentes
demonstram em suas respostas, que já não
aceitam mais qualquer discurso, eles
questionam, exigem qualificação dos
professores, conforme diz o E10 da escola A,
“Gostaria que os professores fossem
qualificados e capacitados, para que possam
nos mostrar um bom aprendizado, mas
também que respeitem todos os seus alunos.”
Segundo Outeiral (1994, p. 18) “ o processo
de estabelecimento de novos vínculos com a
família e a sociedade, não mais em termos
infantis e sim dentro de um modelo mais
adulto, é uma das tarefas da adolescência.”
Ta n t o p r o fe s s o r e s / a s c o m o o s
estudantes seguem padrões e normas
instituídas pela escola e pela sociedade, que
determinam os valores, o que é certo ou
errado e, principalmente, o que se espera de
cada um em seu papel social como
professor/a e estudante.
Portanto, o estudante adolescente vê
seus/suas professores/as de modo
diferenciado, e também quer que ele próprio
seja visto pelos/as professores/as não mais
como criança, mas como alguém que tem
suas ideias e opiniões, e quer ser respeitado,
como diz o E19 (escola A): “Gostaria que
entendessem os alunos, que não fossem tão
rigorosos (alguns), que fossem legais.” E
ainda segundo o E25 (escola A): “Que
pensassem mais antes de falar as coisas, às
vezes, porque um aluno desobedece, todos
sofrem as consequências.” Cabe ressaltar o
que Osório (1989) diz:
Analisando as respostas dos
estudantes, percebi diferentes olhares sobre
o/a professor/a que gostariam de ter em sala
de aula. O E1 da escola B diz que: “eu gostaria
que os meus professores fossem mais
exigentes nos trabalhos, mas no mais tudo
bem.”
Os estudantes adolescentes que falam
que os/as professores/as devem ser mais
exigentes demonstram a necessidade de
serem cobrados, terem limites, características
típicas da fase em que se encontram:
adolescência. Muitas vezes o/a professor/a ou
outro adulto que convive com o adolescente,
não consegue impor limites. Mesmo que o
estudante diga que prefira os/as
professores/as “bonzinhos”, ele sabe da
importância de ser cobrado, do/a professor/a
impor responsabilidades a ele. Segundo
Cunha (1989):
Com demasiada frequência,
tanto os pais como os
professores caem no vezo
de entupir as cabeças dos
jovens com dados sobre o
conhecimento humano, em
lugar de ensinar-lhes a
i n o va r. Tr a t a m o s s e u s
intelectos como depósitos a
serem preenchidos com
informações e não como
instrumentos a serem
usados na aquisição de
novos conhecimentos
(OSÓRIO, 1989, p.93).
É importante dizer que os alunos
não apontam como melhores
professores os chamados
“bonzinhos”. Ao contrário. O aluno
valoriza o professor exigente, que
cobra participação e tarefas. Ele
percebe que esta é também uma
forma de interesse e se articula
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
você gosta? Por quê? Relate um pouco as
diferentes formas do seu comportamento.
Nesse aspecto, é interessante ressaltar que
dos 45 estudantes das escolas A e B, 32
responderam que se comportam de modo
diferenciado nas aulas que gostam e das que
não gostam. Conforme Cunha (1989):
Dessa forma, o/a professor/a, na visão
dos estudantes, muitas vezes, não
conseguem satisfazer seus anseios, em busca
do conhecimento.
Demonstram
claramente que estão constituindo suas
opiniões, e começam a analisar o que lhes é
posto. Ao mesmo tempo, percebo que eles se
tornam cuidadosos e atentos, mais seguros
em relação àquilo que desejam. O E36 da
escola A diz: “Eu gosto como eles são, todos
tentam dar o máximo para que nós possamos
a p r e n d e r.” D i fe r e n t e s o p i n i õ e s , q u e
demonstram que entendem a importância
dos estudos e do/da professor/a. Conforme
Osório (1989, p.93): “O gosto pelo estudo só
se desperta em um clima de liberdade e
respeito ao desejo inato dos seres humanos
de conhecer e compreender tudo que está a
sua volta ou no seu próprio interior.”
A forma como o professor se
relaciona com a sua área de
c o n h e c i m e n t o é
fundamental, assim como
sua percepção de ciência e
d e p r o d u ç ã o d o
conhecimento. E isto é
passado para o aluno e
interfere na relação
professor-aluno; é parte
dessa relação (CUNHA,
1989, p.71).
Portanto, a forma como o/a professor
se relaciona com o conteúdo, influencia no
relacionamento professor/a estudante,
fazendo com que gostem mais das aulas e
dos/das professores/as. O E2 da escola A diz:
“Nas aulas que eu gosto eu tento me
comportar, porque eu gosto das aulas. Nas
aulas ruins, dá sono, já nas aulas boas nós
ficamos atentos.” E12 diz: “Sim, pois há aulas
chatas, sempre a mesma coisa, e como se
torna enjoativo e não presto muita atenção.”
O/a professor/a lida com uma classe com
estudantes diferentes, cada qual com suas
características próprias; portanto, nem
sempre conseguem interagir da mesma forma
com todos. Segundo Cunha (1989, p.71)
“Parece consequência natural para o
professor que tem boa relação com os alunos,
preocupar-se com os métodos de
aprendizagem e procurar formas dialógicas
de interação.” São geralmente professore/as
com esse diferencial que conseguem maior
atenção por parte dos estudantes.
Po r t a n t o, q u a n d o o e s t u d a n t e
adolescente se sente seguro e tem liberdade
para se expressar, ele poderá discutir, criticar
e manifestar sua opinião, mantendo uma
relação tranquila com a escola e com os/as
professores/as.
A fim de analisar se a imagem que os
estudantes têm de seus/suas professores
interfere na aprendizagem, foram feitas as
seguintes perguntas: você gosta de todos os
professores? Por quê?
Na escola A e na escola B, totalizando
45 estudantes, 23 responderam que sim, e
destacam que percebem que os/as
professores/as estão preocupados com o
futuro deles, e têm qualificação e interesse
em ensinar, sendo amigos e proporcionando
aulas boas. Nesse sentido, concordo quando
Cunha (1989) diz que: “[...] as atitudes e
valores dos professores que estabelecem
relação afetiva com os alunos, repetem-se e
intrincam-se na forma como eles tratam o
conteúdo e nas habilidades de ensino que
desenvolvem (CUNHA, 1989, p. 70)”.
Ainda com referência à questão acima
mencionada, 13 dos estudantes, das duas
escolas, dizem que não mudam seu
comportamento, que é sempre o mesmo. O
E17 da escola A diz: “Não. Em todas meu
comportamento é igual, converso muito em
todas as aulas.” Já o E31(escola A) diz: “Não,
sempre antenada nos estudos e prestando
muita atenção. Não tem diferentes formas de
meu comportamento.” Percebo que alguns
estudantes parecem ter atitudes mais sérias,
até mesmo mais responsáveis, não veem
os/as professores/as como culpados pelo
comportamento dos estudante; pelo
contrário, responsabilizam-se pelo que
Pois é no convívio que o estudante
poderá definir uma imagem de seus/suas
professores/as, do envolvimento com o
ensino/aprendizado, e nas relações em sala
de aula. Do total de estudantes, 21
responderam que não gostam, por que alguns
não explicam a matéria, ou por que não
deixam fazer o que querem e por ser muito
exigentes.
Para complementar, os estudantes
responderam à última questão: Você se
comporta de forma diferente nas aulas que
50
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
dos/das próprios/as professores/as. Percebi,
nesta pesquisa, que os estudantes não se
deixaram influenciar. Expuseram a sua
opinião, clara e objetiva, demonstrando a real
imagem que tem de seus/suas
professores/as.
acontece em sala de aula. Valorizam o/a
professor/a que exige e cobram
conhecimento dos estudantes.
A quarta e última questão era:
represente através de um desenho, uma aula
que você considera boa e uma aula que você
considera ruim. Segundo Bossa e Oliveira
(1998), o desenho livre costuma ser um
recurso útil para despertar a possível
estruturação da forma verbal de se expressar
com facilidade, a partir do desenho. Por isso, o
desenho se tornou instrumento de análise
para interpretar as imagens que os
estudantes têm de seus/suas professores/as.
Alguns desenhos mostram que os
estudantes consideram boas as aulas que eles
mais gostam como Educação Física por
exemplo. Mas a grande maioria dos
estudantes demonstrou que, independente da
matéria, todas as aulas poderão ser boas,
dependendo da metodologia que o/a
professor/a usar.
Os estudantes querem professores/as
que os desafiem a buscar, a superar seus
limites, segundo Cunha (1989, p.158): “o que
e l e s q u e r e m é u m / u m a p r o fe s s o r / a
intelectualmente capaz e afetivamente
maduro.” Afinal, são estudantes adolescentes,
que estão em formação e transformação
psicológica, e precisa de orientação para que
possam se sentir parte do contexto social.
Segundo Weber (1999):
Foram analisados 45 desenhos, todos
diferentes um do outro. Somente num
aspecto notei grande semelhança: os
estudantes estão cientes do que querem e
precisam. Eles mostram claramente o que pra
eles é uma aula ruim, e o que é uma aula boa.
Demonstram também, que gostam e
precisam ser desafiados a buscar o
conhecimento. O estudante espera ser
desafiado, que o/a professor o instigue a
pesquisar, trabalhar em grupo e com
dinâmicas diferenciadas. Eles demonstram
que não se motivam com metodologias
rígidas, monótonas e pesadas.
A aprendizagem é
responsável pela inserção da
pessoa no mundo da cultura.
Mediante a aprendizagem o
sujeito se incorpora ao
mundo cultural, com uma
participação ativa, ao se
apropriar de conhecimentos
e técnicas, construindo em
sua interioridade um
universo de representações
simbólicas (WEBER, 1999,
p.53).
As imagens relacionadas aos
professores/as, muitas vezes são aquelas que
a mídia ou a sociedade nos mostram e
influenciam nossas próprias opiniões.
Segundo Oliveira (2004):
A imagem do magistério que
a mídia veiculou nos últimos
anos mostra como o
professor ocupou o lugar
social dos diferentes, dos
heterogêneos, dos
sagrados, ainda que não
tenha sido esta a única
imagem encontrada
(OLIVEIRA, 2004, p.115).
Portanto, o estudante adolescente tem
na escola, nos/nas professores/as e até
mesmo nas questões metodológicas um
vínculo para se tornar adulto. Ele busca na
escola e nos/nas professores/as espaço e
liberdade para se expressar e mostrar quem
ele é.
O/a professor/a já teve muito prestígio
e a mídia veiculou um status aos
professores/as que durante muito tempo
tornavam-nos heróis, inatingíveis.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Definir as imagens de professor/a não
é fácil. Todos se acham no direito de opinar, de
dizer o que pensam quando falamos do
magistério. A mídia, a sociedade e os/as
próprios/as professores/as, definem qual é a
imagem de professor/a. Arroyo (2000, p.30)
me faz pensar quando diz: “o desencontro
entre imagens sociais e imagens pretendidas
pela categoria e autoimagens pretendidas por
cada um cria uma tensão, um mal-estar que
Mas, segundo Oliveira (2004, p.116):
“[...] os textos que antes exaltavam o
magistério, colaborando na constituição de
uma imagem de prestígio, passaram, a partir
dos anos 60, a noticiar as mazelas, as
dificuldades da categoria.”
Hoje, a imagem do/da professor/a,
tem influência da mídia, da sociedade e
51
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
professores/as, por vezes são imagens em
que eles representam com crítica, apontam
falhas, por outra, muito além disso,
mostraram que a imagem que prevalece é a
de professores/as preocupados/as com a
aprendizagem e o crescimento deles/as.
mantém sempre a pergunta: quem somos?”
Portanto, é fundamental dar voz
àqueles que são os sujeitos do fazer
pedagógico dos/das professores/as: os
estudantes. Analisando os questionários, os
desenhos, pude perceber que a opinião deles
não teve influência. Observei durante a
realização da pesquisa, grande interesse por
parte dos estudantes para participar desse
estudo, por terem a oportunidade de serem
ouvidos. Tiveram muita tranquilidade na hora
de responderem às questões propostas.
Percebi que raramente os estudantes
têm oportunidade para se expressarem
livremente sobre a escola e os/as
professores/as. Se os/as professores/as
soubessem o que de fato eles pensam de sua
ação em sala de aula, poderiam fazer muito
mais e melhor o seu trabalho, pois muitas
vezes os/as professores/as não fazem ideia
do quanto são importantes, e a diferença que
um gesto de confiança direcionado ao
estudante poderá fazer na vida deles.
Várias são as imagens que os
estudantes têm dos/das professores/as,
algumas positivas e outras nem tanto.
Imagens de professores/as despreparados,
fechados em suas metodologias e repetitivos
em seus discursos. Outras imagens que os
estudantes têm, são de professores/as
amigos/as, dinâmicos, qualificados e
preocupados com os estudantes.
Este trabalho proporcionou um outro
olhar em direção aos/as professores/as e me
fez perceber que a prática em sala de aula vai
muito além dos conteúdos. É importante que
professores/as e estudantes tenham respeito
uns pelos outros, para que haja trocas entre
ambas as partes. Enfim, para que o processo
de ensinar e de aprender se torne prazeroso e
possa atender aos objetivos de
professores/as e de estudantes.
Posso concluir que as respostas da
primeira pergunta da entrevista demonstram
que os estudantes adolescentes são
exigentes e preocupados com seus estudos e
com a relação professor/estudante. Ao
mesmo tempo, reconhecem que os/as
professores/as são importantes no processo
de ensinar e de aprender.
Percebi, com esse estudo, que a
relação afetiva entre professor/a e estudante,
está diretamente ligada na aprendizagem.
Professores que não demonstram
preocupação e que não têm uma relação de
amizade com os estudantes, não despertam o
mesmo interesse dos estudantes no conteúdo
e nas aulas, fazendo com que ele se distraia
facilmente com outras coisas, segundo ele,
mais interessantes.
REFERÊNCIAS
ÁRIES, Philippe, História social da criança
e da família, Rio de Janeiro: Zahar Editores,
Rio de Janeiro, 1978.
CALLIGARIS, Contardo. A adolescência.
São Paulo: Publifolha, 2000.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor
e sua prática. Campinas – São Paulo:
Papirus, 1989.
Já, os/as professores/as que mantêm
uma relação de amizade com seus
estudantes, conseguem maior interação e
participação em suas aulas. Os estudantes
valorizam muito a dinamicidade dos/das
professores/as, pois eles querem ser ouvidos
e questionados. Sentem-se mais confiantes
quando o/a professor/a os instiga à pesquisa
e acredita no seu potencial.
MARCONI, Mariana de Andrade; LAKATOS,
Eva Maria. Fundamentos de metodologia
científica. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
OLIVEIRA, Valeska Fortes de. Imagens de
professor: significações do trabalho
docente. 2ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004.
OUTEIRAL, José Ottoni. Adolescer: um
estudo sobre adolescência. Porto Alegre:
ARTES Médicas Sul, 1994.
Ao concluir esse trabalho, posso
afirmar que os resultados me surpreenderam
em alguns aspectos. Os/as professores/as
sempre tão criticados pela mídia e pela
sociedade, aos olhos dos sujeitos do fazer
pedagógico, dos estudantes, sobre os/as
OSORIO, Luiz Carlos. Adolescente hoje. Porto
Alegre: Artes médicas, 1989.
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O
trabalho docente: elementos para uma
teoria da docência como profissão de
interações humanas. Petrópolis, RJ: Vozes,
2005.
WEBER, Vera Beatriz Pinto Zimermmann. Um
olhar psicopedagógico sobre o processo
ensino- aprendizagem e as relações
afetivas do adolescente na escola. Santo
Ângelo: 1999. ____ O olhar dos
estudantes do ensino médio sobre a
biologia: possibilidades e dificuldades a
partir do currículo vigente. Ijuí, 2004.
ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele
mesmo. Rio de Janeiro: Record. 1996.
53
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
INTERLOCUÇÕES SOBRE A PRESENÇA DO GÊNERO MASCULINO NO
ESPAÇO ESCOLAR
João Ricardo Prestes Froes1
Silvia Natália de Mello 2
SETREM 3
RESUMO
ABSTRACT
A história da educação nos mostra que num
determinado período o espaço escolar tinha
uma representatividade grande de sujeitos
masculinos. A partir deste fato, me propus a
pesquisar e a investigar os fatores que estão
contribuindo para o afastamento da figura
masculina no Ensino Fundamental de escolas
privadas e da rede pública, municipal e
estadual. Ainda, o que aconteceu no percurso
da história da Educação, na formação de
professores que fez e ainda faz com que a
figura masculina já não esteja tão presente no
contexto escolar? Qual é o sentimento destes
professores em relação ao abandono dos
sujeitos masculinos das salas de aulas? A
pesquisa de cunho qualitativo se desenvolveu
no município de Três de Maio; região noroeste
do estado do Rio Grande do Sul. Foi
desenvolvida com professores que atuam no
Ensino Fundamental de escolas privadas e
públicas da rede municipal e estadual.
Totalizando a participação de sujeitos de duas
escolas estaduais, duas particulares e duas
municipais. Para a coleta de dados foi utilizado
questionário semiestruturado. Percebi que há
resquícios dos discursos que são reforçados
pela sociedade, o meu sentimento sobre estes
sujeitos é que eles se expressam estimulando
uma narrativa já existente e que está presente
no cotidiano, nas ações dos sujeitos e que
parecem estar muito bem alicerçadas às
questões referentes à desvalorização do
p r o f e s s o r, s a l á r i o s e o a s p e c t o
paternal/afetividade. Os principais autores
utilizados na discussão teórica são: COLLING
(2004), FOUCAULT (2012), LOURO (1997),
PERROT (2005), PRIORE (2000), SCOTT
(1995), VEIGA-NETO (2003).
The history of education shows that in a
certain period the school had a large
representation of male subjects. From this
fact, I set out to research and investigate the
factors that are contributing to the removal of
the male figure of private, public or municipal
Elementary School. Also, what happened in
the course of the history of education, in the
teachers formation that did and still does with
the male figure is not so present in the school
context What is the sense of these teachers in
relation to the abandonment of the male
subjects of the classrooms The qualitative
research was developed in the city of Três de
Maio; northwest region of Rio Grande do Sul
state. It was developed with teachers working
in Elementar y Education from public
municipal and state and private schools. The
participation of subjects is from two state
schools, two private and two municipalities.
For data collection it was used a semi
structured questionnaire. I realized that there
are remainders of the speeches that are
reinforced by society, my feeling about these
guys is that they express stimulating a
narrative existing and is present in everyday
life, in the actions of individuals and that
appear to be well grounded questions
concerning devaluation teachers, salaries and
paternal affectivity aspect. The main authors
of this theoretical discussion are: COLLING
, FOUCAULT
, LOURO
,
PERROT
, PRIORE
, SCOTT
,
VEIGA-NETO
.
Keywords: Gender. Magisterium. Poststructuralism.
Palavras-chave: Gênero. Magistério. Pósestruturalismo.
1
Pedagogo egresso do Curso de Pedagogia da SETREM, e -mail: [email protected]
Professora do Curso de Pedagogia da SETREM, Pedagoga, Mestre em Educação, e -mail:
[email protected]
3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Sa nta Rosa, 2405; Três de Maio - RS,
[email protected]
2
54
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INTRODUÇÃO
1 O TERMO “GÊNERO” E A CONSTRUÇÃO
SOCIAL
Em meados do século XXI ainda nos
deparamos com questões culturais que
habitam e transformam a realidade em que
estamos inseridos. Questões ligadas ao
estudo de Gênero no contexto escolar que se
manifestam de forma oculta nos mais
variados tipos de discursos e que ainda
tendem a gerar segregação e conceitos
equivocados em diferentes tipos de
interpretações. O estudo de Gênero continua
em pauta nos debates de temáticas atuais,
apesar de ser pesquisado há algumas
décadas.
Primeiramente abordo, neste tópico,
uma tentativa de definição do termo “Gênero”
e sua historicidade. Durante o percurso da
caminhada acadêmica, muitas questões me
inquietaram. A que com mais veemência
chamou minha atenção, como pode ter tão
poucos professores de currículo do gênero
masculino atuando no Ensino Fundamental?
O que aconteceu ao longo da história da
Educação e o que contribuiu para o
afastamento da figura masculina da sala de
aula? Também a falta de compreensão do
termo gênero contribuiu para que eu me
aproximasse ainda mais desta temática.
Sabemos de antemão que no princípio
da educação brasileira os homens ocupavam
em grande maioria os espaços de salas de
a u l a e n q u a n t o p r o f e s s o r e s . Fe z - s e
necessário compreender o processo de
feminização do magistério, desde o princípio
até os dias atuais, as representações do novo
profissional da educação e a busca de
subsídios no movimento pós-estruturalista.
Gênero é uma terminologia nova,
usada a partir da segunda metade do século
passado. Conforme Scott (1995), “o termo
gênero faz parte da tentativa empreendida
pelas feministas contemporâneas para
reivindicar um certo terreno de definição,
para sublinhar a incapacidade das teorias
existentes para explicar as persistentes
desigualdades entre as mulheres e homens”
(p. 85). Mais precisamente na década de 70
do século XX. Anteriormente a este período,
muitas das teorias sociais não conseguiram
designar e produzir um termo que
conseguisse traduzir as diferenças e conflitos
entre gênero masculino e gênero feminino. As
mulheres, principalmente do velho continente
e estadunidense, buscam e propõem novos
estudos etimológicos do termo gênero. Louro
(1997), diz que “é através das feministas
anglo-saxãs que Gender passa a ser usado
como distinto de sex” (p.15). A palavra sexo
que até então era usado para definir o
substantivo masculino e feminino é
substituído por gênero. Lembrando que
Gender é uma versão de gênero na língua
inglesa.
Busquei, através da coleta de dados,
analisar e compreender os dados subjetivos
dos sujeitos referentes à temática que me
propus investigar. Como os professores
percebiam a participação do gênero
masculino e feminino no Ensino Fundamental
enquanto professor das diversas áreas do
conhecimento? Considerando as estatísticas
atuais que apontam números restritos de
professores homens atuando na Educação
Básica, principalmente na Educação Infantil e
Ensino Fundamental, quais os fatores estão
contribuindo para o afastamento da figura
masculina deste espaço? Qual o sentimento,
enquanto professor, em relação ao abandono
dos sujeitos masculinos das salas de aula? É
importante termos professores do gênero
masculino atuando nas séries iniciais do
Ensino Fundamental?
Gênero foi utilizado durante muito
tempo para designar os diferentes tipos de
seres vivos, era mais uma nomenclatura
utilizada para selecionar os grupos da Ciência.
Com o advento da modernidade “surge o
conceito de gênero, referindo-se à construção
social e histórica dos sexos, ou seja, buscando
acentuar o caráter social das distinções
baseadas no sexo” (LOURO, 1995, p.103). No
entanto, faço referência neste estudo para
gênero, não enquanto categoria biológica,
mas sim como o resultado de um produto
social.
A pesquisa realizada foi de abordagem
qualitativa, com procedimento de pesquisa
explicativa. Utilizei a técnica de questionário
aberto (semiestruturado) como instrumento
de investigação, apresentado por escrito aos
sujeitos, composto por quatro questões.
Foram selecionados três (3) professores da
rede privada, oito (8) professores da rede
municipal e estadual para responder ao
questionário. Pontuo que vários destes
professores atuam em duas redes de ensino
simultaneamente.
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
O significado da palavra gênero (na
versão cientificista) seria o nome dos seres
agrupados pelo sexo, isto é, todos os
indivíduos (animais e vegetais) que exibem ou
mostram qualidades semelhantes.
A autora enfatiza que a questão da
construção do poder perpassa na percepção
dos gêneros (feminino e masculino) a partir
da discussão sobre as variáveis que o levam
a conhecer a realidade do espaço em que
habitam. “Poder” que pode aqui ser
especificado como a dominação de um
gênero sobre outro.
Em meados do século XXI, o tema
gênero é pesquisado, servindo de reflexões
para especialistas e estudiosos em Educação,
pois se trata de uma questão não tão
contemporânea; posso afirmar que gênero é
como um vulcão em erupção, o seu centro
está cheio de lavas efervescentes que estão
em constante movimento (se formando,
construindo e desconstruindo), mesmo que
sua aparência esteja em estado de
dormência. É sim um tema polêmico e capaz
de provocar questionamentos, produtor de
novas concepções.
Na sociedade brasileira existem
alguns grupos e qualidades que se
sobressaem em relação aos outros. Louro
(1997), afirma que “devido à hegemonia
branca, masculina, heterossexual e cristã,
têm sido nomeados e nomeadas como
diferentes aqueles e aquelas que não
compartilham desses atributos” (p.49).
Embora estejamos no século XXI, com forte
inserção de campanhas e publicidade para
terminar com a descriminação e com a
exclusão de pessoas, ainda existem grupos
conservadores que tentam cultivar algumas
características hegemônicas de diferenças.
Cito o exemplo da questão da orientação
sexual (principalmente a cultura gaúcha),
em que o sujeito que não se comporta com
as características de forte e valentão, pode
vir a ser considerado um “fracote”, gay e
outros.
Atualmente falar da atuação de
sujeitos masculinos nos espaços escolares
nos remete imediatamente a questões de
gênero. Por isso, torna-se importantíssimo
compreender esta terminologia. “O termo
'gênero' torna-se uma forma de indicar
'construções culturais', a criação inteiramente
social de ideias sobre os papéis adequados
aos homens e às mulheres” (SCOTT, 1995,
p.75). O conceito nos remete a pensar sobre
os fatores que constituem/iram as
concepções de gênero, isto é, compreensões
construídas historicamente, socialmente e
culturalmente.
A sociedade brasileira desde os
princípios de sua colonização tem
organizado os papéis de descriminação, de
exclusão dos indivíduos que tentam não
obedecer aos ideais machistas e
dominantes. Os homens pensam serem os
detentores do poder nas relações sociais e
pessoais. Percebi esta questão nos diálogos
entre os homens com os quais convivo
diariamente em relação ao curso de
Pedagogia. –Isto é coisa de mulher! Outro
ponto é a questão da escolha da profissão, as
pessoas que se aproximam de mim indagam
constantemente: - O que te levou a fazer
Pedagogia! Como se dissessem que ser
pedagogo é estar fadado à miséria
econômica e de status social. Os discursos se
tornam tentadores e em muitas situações
humilhantes.
Ouvi muitas vezes de cidadãos,
afirmações e exclamações de rotulação
(qualificação simplista) e descriminação sobre
os gêneros. - Ah, isto é coisa de mulher! - Isto
é coisa pra homem fazer! Estas paráfrases
denotam o prelúdio de um discurso rotineiro
que habita grande parte dos grupos sociais.
Esta relação de subjugação (ter sob domínio)
discursiva entre os gêneros masculino e
feminino é o que infere no reconhecimento de
suas personalidades.
Ser do gênero feminino ou
do gênero masculino leva a
perceber o mundo
diferentemente, a estar no
mundo de modos diferentes
– e, em tudo isso, há
diferenças quanto à
distribuição de poder, o que
vai significar que o gênero
está implicado na concepção
e na construção do poder
(LOURO, 2005, p.106).
Durante a elaboração deste estudo,
deparei com um assunto até então inédito;
por isso, tem se tornado um pouco confuso e
em alguns momentos complexo. Encontrei
em Pereira (2004) certo conforto: “na
complexidade dessas abordagens de
gênero, o que importa é o espaço em aberto
para elaborarmos e reelaborarmos nossos
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
papéis, posições, atribuições sociais em que
expressamos que assumimos, rejeitamos,
reinterpretamos, reinventamos nossas
relações” (p.196). A autora traz uma ideia
pertinente. O mais importante é buscar
compreensão e esclarecimento das nossas
dúvidas que, às vezes, são traidoras e nos
levam ao lado obscuro dos sentimentos e
ideias.
sempre um homem; na verdade é um
religioso” (LOURO, 1997, p. 92). Estes
homens religiosos tinham o objetivo de
expandir o sistema da igreja (os
descendentes e adeptos destes religiosos
continuam em pleno século XXI expandindo,
acumulando grandes fortunas e explorando a
população ingênua) e conquistar assim novos
fiéis nos países colonizados.
Encontrar os sujeitos masculinos para
o desenvolvimento do estudo não foi uma
tarefa fácil. Estes professores circulam de
uma escola pra outra; às vezes chegam a
atuar nas três esferas: privada, pública
municipal e estadual. A busca árdua em
escolas da rede pública, estaduais e
municipais tornou-se uma tarefa desafiadora
em determinados momentos. Colling (2004)
descreve que “situar o sujeito é reconhecer
como este foi construído e, a partir daí,
sugerir noções alternativas de subjetividade”
(p. 14). Precisa-se conhecer o ambiente em
que atuam estes professores, o que fazem e o
que sentem; mais do que sentir é permiti-los
falar do que pensam sobre suas atuações
nestes espaços escolares.
Com a vinda de sujeitos masculinos
em grande escala para o Brasil e que
abrangiam uma enorme diversidade de
profissões (artistas, músicos, escultores e
outros), entre estes estavam os primeiros
professores. Então, conforme Louro (1997),
descreve que no “Brasil a instituição escolar
é, primeiramente, masculina e religiosa” (p.
94). Este fator começa por delinear o que
seria o espaço educacional por longos
séculos.
Sejam eles pastores, padres
ou irmãos, esses religiosos
acabam por constituir uma
das primeiras e
f u n d a m e n t a i s
representações do
magistério. Modelos de
virtudes, disciplinados,
disciplinadores, guias
espirituais, conhecedoras
das matérias e técnicas de
ensino, esses primeiros
mestres devem viver a
docência como um
sacerdócio, como uma
missão que exige doação.
Afeição e autoridade, bom
senso, firmeza e bondade,
piedade e saber profissional
são algumas das qualidades
que lhes são exigidas. Seu
papel de educador combina
o exercício de uma
“paternidade, uma
magistratura, um
apostolado e uma luta”
(LOURO, 1997, p. 93).
A procura por sujeitos masculinos que
atuam no espaço escolar do Ensino
Fundamental tem o objetivo de buscar a
compreensão de alguns fenômenos dados e
que parece não ter muita significância. “O
modo mais eficiente para desconstruir algo
que parece evidente, sempre dado, imutável,
é demonstrar como esse algo se produziu,
como foi construído” (COLLING, 2004, p.14).
Com esta pesquisa pretendi ir além de
conceitos já construídos, buscar a
historicidades dos fatos, como eles
germinaram, como atuaram e que/como
continuam se desenvolvendo.
2 FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO: O
PRINCÍPIO
Estes professores jesuítas eram
homens que dominavam muitas áreas do
conhecimento, eram imbuídos de realizar
diversas funções nas quais atuavam (as
mulheres assumiram essas diversas funções
sem muitas dificuldades, pois os discursos se
ajeitaram e se acomodaram tranquilamente).
Não era apenas uma profissão, eram
considerados vocacionados para o cargo que
exerciam e ideologizados pelas intenções da
Igreja e principalmente do Estado.
Desde o período da era Antiga as
instituições de ensino vêm sofrendo
mudanças em vários segmentos que
abrangem seu campo de atuação. O
descobrimento do Brasil em 1500 impactou
as ordens religiosas que estavam em conflito
na Europa. Os Jesuítas foram os primeiros
mestres/professores a chegarem ao espaço
brasileiro e permaneceram de 1549 e 1759,
até sua expulsão do país. “O mestre que
inaugura a instituição escolar moderna é
Com o passar do tempo, o Brasil foi se
57
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
instituições de ensino foram fundadas, uma
herança da colonização lusitana.
desenvolvendo e “os discursos que se
constituem pela construção da ordem e do
progresso, pela modernização da sociedade,
pela higienização da família e pela formação
dos jovens cidadãos implicam a educação das
mulheres - das mães” (LOURO, 1997, p. 96).
Estas mães começaram a ter a oportunidade
de sair do enclausuramento em que se
encontravam em seus lares; pois até então
eram tidas como domésticas e reprodutoras.
Para a surpresa dos tradicionais e
conservadores do espaço escolar, o aumento
de inscrição das mulheres começava a
superar a dos homens, tão logo as novas
escolas formadoras começaram a funcionar.
“Em 1784, por exemplo, relata o diretor geral
da instrução que a Escola Normal da
província do Rio Grande do Sul vinha
registrando “um número crescente de
alunas, a par da diminuição de alunos””
(LOURO, 2000, p. 449). O novo público
feminino que começava a predominar no
magistério logo deu sinais de adaptação a
este espaço educacional; por isto, continuou
aumentando.
Os homens professores começavam a
abandonar as salas de aula para ir trabalhar
em outros espaços, faltavam professores
qualificados para substituir os que saíam e a
educação começa a perder/regredir em
q u a l i d a d e ( i s t o n a p e r s p e c t i va d o s
pensadores em educação naquele
determinado momento). Louro (2000) retrata
que “o abandono da educação nas províncias
brasileiras, denunciado desde o início do
Império, vinculava-se na opinião de muitos, à
falta de mestres e mestras com boa
formação. Reclamavam, então, por escolas
de preparação de professores e professoras”
(p. 448). Esta carência por escolas que
formavam professores começa a se expandir
pelo país, sendo que estas se localizavam nas
capitais e cidades maiores.
Em algumas regiões de
forma mais marcante,
noutras menos, os homens
estavam abandonando as
salas de aula. Esse
movimento daria origem a
uma “feminização do
magistério” – também
observado em outros
países- fato provavelmente
vinculado ao processo de
u r b a n i z a ç ã o e
industrialização que
ampliava as oportunidades
de trabalho para os homens
(LOURO, 2000, p. 449).
Com a chegada massiva de novos
imigrantes advindos do velho continente, as
cidades e vilas se desenvolvem rapidamente
ao século XIX. E esta nova população que
está se estabelecendo precisa de educação, a
reclamatória por novas escolas e professores
se desenvolve e dissemina rapidamente. “Em
meados do século XIX, algumas medidas
foram tomadas em resposta a tais reclamos e,
em algumas cidades do país, logo começaram
a ser criadas as primeiras escolas normais
para formação de docentes” (LOURO, 2000,
p. 448). A atitude de construir escolas
formadoras de professores contribui de
maneira significativa no desenvolvimento da
educação brasileira, pois não precisaria sair
do país pra estudar.
Setores como a cafeicultura e a
criação de gado não davam conta de
empregar a população que crescia
rapidamente. O consumo de bens e serviços
avançava, obrigando a abertura de novas
fábricas e postos de trabalhos. Todos estes
fatores citados foram contribuindo para que o
homem se afastasse das salas de aula
lentamente.
Fiquei surpreso ao começar as leituras
sobre esta nova figura do professor. A
primeira imagem é cruel, “é possível
compreender que a moça que se considerava
feia e retraída percebia-se, de algum modo,
como que chamada para o magistério”
(LOURO, 2000, p.465). Que frase forte, como
se estas mulheres não tivessem lugar na
sociedade e a partir de agora seriam um
“quebra galho”; e ainda com a enorme
responsabilidade do nobre ato de educar.
Com o intuito de atender às
reclamatórias e às demandas sociais as “tais
instituições foram abertas para ambos os
sexos, embora o regulamento estabelecesse
que moças e rapazes devessem estudar em
classes separadas, preferentemente em
turnos ou até escolas diferentes” (LOURO,
2000, p. 449). Podemos perceber que
questões de gênero se construíram e já
ficaram explícitas logo que as primeiras
As fotografias antigas
também permitem
reencontrar essas figuras
austeras, elas com vestidos
abotoados até o pescoço,
58
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nem sempre seriam professoras, mas o curso
era, de qualquer modo, valorizado. Isso fazia
com que, para muitas, ele fosse percebido
como um curso de espera marido” (LOURO,
2000, p.471). Mas algumas mulheres
aproveitaram a oportunidade para lograrem
êxito em vantagens pessoais, constituindo
status a partir da profissão docente.
cabelos presos e... óculos...
Essa “secura”, produzida e
demonstrada pela aparência
física e pelo controle dos
gestos, poderia esconder (e
os contos e crônicas
exploraram muitas vezes
esse tema) um “enorme
coração”, uma “infinita
bondade” (LOURO, 1997,
p.105).
Um fato que tenho que considerar e
que é algo um tanto meio estranho, é a
questão de buscarem refúgio nas mulheres
que não tinham vínculo com família. “As
mulheres que vão se dedicar ao magistério
serão, a princípio, principalmente as
solteiras, as órfãs e as viúvas. Nos primeiros
tempos, quem vai, efetivamente, exercer a
profissão são as mulheres “sós”” (LOURO,
1997, p.105). Mas por que as mulheres sós?
Seria o fato de tornar produtivas para a
sociedade as mulheres consideradas ociosas
para com deveres domésticos?
Assim se constituíam as primeiras
i m a g e n s d a r e p r e s e n t a ç ã o d o n o vo
profissional da educação. Feia por fora e bela
por dentro. Deveriam se parecer com os
antigos mestres homens.
Observa-se que os menos favorecidos
pelos adjetivos idealizados da sociedade não
tivessem capacidade de se tornar um
profissional no mercado de trabalho (que
exigissem uma melhor qualificação); isto
refletiu na profissão docente.
Essa representação de
professora solteirona é,
então, muito adequada para
fabricar e justificar a
completa entrega das
mulheres à atividade
docente, serve para reforçar
o caráter de doação e para
desprofissionalizar a
atividade. A boa professora
estaria muito pouco
preocupada com seu salário,
já que toda a sua energia
seria colocada na formação
de seus alunos e alunas.
Esses constituiriam sua
família; a escola seria o seu
lar e, como se sabe, as
tarefas do lar são feitas
gratuitamente, apenas por
amor. De certa forma essa
mulher deixa de viver sua
própria vida e vive através
de seus alunos e alunas; ela
esquece de si (LOURO,
2000, p.466).
Para que o magistério se feminizasse
fez-se necessário “tomar de empréstimo
a t r i b u t o s q u e s ã o t ra d i c i o n a l m e n t e
associadas às mulheres, como o amor, a
sensibilidade, o cuidado, etc. para que possa
ser reconhecida como uma profissão
admissível ou conveniente” (LOURO, 1997,
p. 9 7 ) . A l g u n s d o s p r o fe s s o r e s q u e
responderam ao questionário desta pesquisa
citam a importância do amor paternal (que
lembra a proteção e o carinho de pai) no ato
de educar.
Com a conquista das mulheres no
segmento escolar “as escolas de formação
docente se enchem de moças, e esses cursos
passam a constituir seus currículos, normas e
práticas de acordo com as concepções
hegemônicas do feminino” (LOURO, 1997,
p.97). A partir de então, fez-se necessário
organizar o espaço existente conforme as
necessidades deste novo sujeito feminino,
que ora foi considerado um “quebra galho”,
ora foi tomado como substituto da atuação
masculina.
Esta visão de trabalho caritativo,
realizado de forma gratuita, sem muito
investimento, cria corpo e é aceita na
sociedade brasileira, que ainda jovem é
dependente de cópias de outros modelos
sociais e civis. O que houve foi uma
descaracterização da figura da mulher e dos
profissionais da educação.
E assim, com o passar do tempo,
variando de uma região para outra, os
homens foram abandonando as salas de
aula. Esta ação “daria origem a uma
“feminização do magistério” também
o b s e r va n d o e m o u t ro s p a í s e s , fa t o
provavelmente vinculado ao processo de
urbanização e industrialização que ampliava
as oportunidades de trabalho para os
homens” (LOURO, 2000, p.449). À luz da
A expectativa de fazer das mulheres
uma substituta para ocupar o lugar dos
homens na educação estava vinculado a um
discurso de temporalidade. “As normalistas
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teoria, compreendo que a Revolução
Industrial do século XVIII foi um marco para
uma nova era na Educação.
A sociedade recebeu muito bem as
mulheres no âmbito escolar. “A concepção do
magistério como uma extensão da
maternidade, como um exercício de doação
e de amor como uma atividade que exigia
uma entrega, vai constituí-la como a grande
alternativa” (LOURO, 1997, p. 104). As
questões referentes à afetividade, ternura e à
própria natureza de reprodução foram dando
sentido aos discursos, que rapidamente se
propagaram sem muita resistência; pois eram
a oportunidade das mulheres sair do espaço
familiar e alcançar outras dimensões.
O discurso sobre vocação auxiliou
para “a saída dos homens das salas de aula dedicados agora a outras ocupações, muitas
vezes mais rendosas - e legitimava a entrada
das mulheres nas escolas - ansiosas para
ampliar seu universo -, restrito ao lar e à
igreja” (LOURO, 2000, p.450). Compreendo
que este processo de feminização do
magistério contribuiu para que as mulheres
saíssem da situação de enclausuramento em
que se encontravam.
E assim as mulheres vão construindo
uma nova figura e um novo rosto para o
profissional da educação, combinando
“elementos religiosos e “atributos” femininos,
construindo o magistério como uma atividade
que implica doação, dedicação, amor,
vigilância” (LOURO, 1997, p.104). E esta
ideologia sobrevive até os dias atuais, talvez
alguns discursos mude na forma como é
explicitado.
Nesta nova representação da mulher
na sala de aula, a questão salarial começa a
ser dialogada. “Não há dúvida de que esse
caráter provisório ou transitório do trabalho
também acabaria contribuindo para que os
seus salários se mantivessem baixos”
(LOURO, 2000, p.453). Este fator parece ter
sido determinante para que os discursos
sobre remuneração se desenvolvessem.
Com o homem trabalhando em
setores industriais com longas jornadas de
trabalho, coube às mulheres cuidar da
educação e da família. “Dizia-se, ainda, que o
magistério era próprio para mulheres porque
era um trabalho de “um só turno”, o que
permitia que elas atendessem suas
“obrigações domésticas” no outro período”
(LOURO, 2000, p.453). Os discursos sobre as
mulheres na sala de aula firmaram a ideia
disseminada pelos demais setores da
sociedade e se apropriaram deste espaço
sem muita resistência.
3 GÊNERO NO CONTEXTO ESCOLAR
Analisando o contexto histórico das
relações que perpassam o espaço escolar,
estou conseguindo perceber que a temática
'Gênero' está implícita nas ações de sua
constituição. A busca para compreender o
q u e o c o r re u n o e s p a ç o e s c o l a r, d a
feminização da Educação até ao fator
contribuinte para o afastamento da presença
masculina em sala de aula, além da
subjetividade dos olhares destes sujeitos
(que participaram da pesquisa) sobre a
importância dos professores de currículo do
gênero masculino na Educação Fundamental.
Assim, a partir de algumas inquietações,
propus-me a pesquisar este tema neste
espaço. Como a questão da atuação do
gênero masculino é percebida no espaço
escolar? Deste questionamento surgiu o tema
Interlocuções sobre a presença do gênero
masculino no espaço escolar.
O que era pra ser um processo
transitório e provisório, de a mulher ocupar
as salas de aula, acabaria criando corpo e
tornando uma marca de mudança para o
novo modelo educacional da educação.
As escolas normais se
enchem de moças. A
princípio são algumas,
depois muitas; por fim os
cursos normais tornam-se
escolas de mulheres. Seus
currículos, suas normas, os
uniformes, o prédio, os
corredores, os quadros, as
mestras e mestres, tudo faz
desse um espaço destinado
a transformar meninas,
mulheres em professoras
(LOURO, 2000, p.454).
A pesquisa se desenvolveu no
município de Três de Maio; região noroeste
do estado do Rio Grande do Sul. Foi
desenvolvida com professores que atuam no
Ensino Fundamental de escolas privadas
(particulares) e públicas da rede municipal e
da estadual. Totalizando a participação de
sujeitos de duas escolas estaduais, duas
particulares e duas municipais.
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
(sujeito A); “Vejo que o
gênero feminino está em
maioria nas diversas áreas
de ensino, mas há uma
grande importância da
participação do gênero
masculinos nas diversas
áreas de ensino” (sujeito C);
“Percebo que o número de
professores do gênero
masculino é bem menor que
o feminino, mas a sua
participação e objetividade
em buscar qualificação no
Ensino fundamental é maior
do que no gênero feminino”
(sujeito E); “Acredito que a
mescla, mesmo como o
reduzido número de
homens, é muito positiva,
pois diversifica esta
“presença” em sala de aula”
(sujeito F); “Percebo que já
se incorporou a cultura de
que a educação, no ensino
fundamental, se dá
fundamentalmente pelo
gênero feminino. Os alunos
e s tranham a pre s e nça
masculina. O homem
parece dispensável ou até
incompetente para atuar no
processo educacional”
(sujeito G); “É importante
pela contribuição que cada
um pode dar ao aluno como
figura masculina e
feminina” (sujeito K).
Com a escassez de professores do
gênero masculino no espaço escolar do
Ensino Fundamental, não consegui definir os
sujeitos por tempo de atuação, idade ou
outros critérios de escolha. A grande maioria
destes sujeitos circula entre estes espaços
escolares, chegando a atuarem em até duas e
três escolas das redes de ensino pesquisadas.
Considerando as minhas intenções
iniciais e os objetivos definidos, elaborei um
questionário com perguntas
semiestruturadas, acreditando que os
sujeitos participantes pudessem ir além de
respostas diretas. As perguntas foram
produzidas com o intuito de recolher dados,
opiniões e sentimentos sobre a temática, o
abandono do professor da sala de aula. Foi
um desafio analisar as respostas, pois as
respostas se assemelham em muitos sujeitos,
dando um sentido homogêneo ao discurso
sobre a atuação destes profissionais no
município de Três de Maio.
Mesmo algumas respostas sendo
parecidas, outras carecem de um
conhecimento etimológico, não só de
p a l a v ra s , m a s t a m b é m d a fa l t a d e
aprofundamento sobre a temática. As
respostas se enquadram em categorias como
desvalorização do professor, salários e o
aspecto paternal/afetividade. Na sequência,
serão apresentados os dados coletados e
organizados conforme as categorias de
análise que me propus fazer.
Neste primeiro momento, analisei que
o s s u j e i t o s m a s c u l i n o s p e rc e b e m a
significativa diminuição dos homens das salas
de aula e que as mulheres são a maioria nas
novas vagas ocupadas e que ambos os
gêneros contribuem na formação dos alunos.
Um dos sujeitos descreve que algumas
pessoas têm a visão de que o homem é
incompetente para gerir o processo
educacional. Outro já vê a importância de
mesclar e diversificar a presença de ambos os
gêneros na sala de aula.
3.1 PERCEPÇÃO SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO
GÊNERO MASCULINO E FEMININO NO
ENSINO FUNDAMENTAL
Percebendo que os sujeitos da
pesquisa poderiam desenvolver diversas
compreensões sobre a temática “Gênero”,
delimitei a questão para uma
conceitualização mais ampla. Como você
percebe a participação do gênero masculino e
feminino no Ensino fundamental enquanto
professor das diversas áreas do
conhecimento? Os sujeitos serão
representados por letras do alfabeto.
Uma afirmação de que o homem é
mais participativo e objetivo em relação à
preocupação com sua qualificação e de que é
importante ter professores do gênero
masculino (mas não a descrevem), isto faz
com que o discurso não tenha sentido, pois
não se fundamenta. Conforme Veiga-Neto
“tem-se de cuidar para não embarcar na
ingenuidade de pensar que tudo já está ali no
texto, independentemente daquele que lê.
Visível e apreensível diretamente por aquele
que lê” (2003, p.127). Desconfiar da falta de
“Ao longo dos 20 anos que
leciono, observei que houve
uma diminuição significativa
dos homens, muitos se
aposentando e as
nomeações e contratos
novos são quase que sua
maioria de mulheres”
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
coerência e dos elementos postos nos
discursos auxilia no processo da ação de ler e
de interpretar.
apontam números restritos de professores
homens atuando na Educação Básica,
principalmente na Educação Infantil e Ensino
Fundamental, na sua opinião, quais são os
fatores estão contribuindo para o
afastamento da figura masculina deste
espaço?”
Outro grupo percebe a participação do
gênero masculino como inferior em
quantidade, mas vê estes como um exemplo,
de que os alunos o veem como a
representação do pai e de que as mulheres
têm mais amabilidade no trato com crianças e
jovens. “O gênero feminino está em grande
maioria, mas a presença do professor
“homem” é tido muitas vezes como um
exemplo” (sujeito B).
“O fator salarial deve ser um
dos principais, o fato de
“relacionamento”, quando
jovem na hora de optar pela
formação também influi educar está muito
relacionado a trocar
conhecimento e desde a
formação familiar, já está
mais “destinado” à figura
materna” (sujeito A); “A
profissão exige muito, como
planejamento e correção de
atividades fora do horário
(em casa). - O descrédito e
a fal ta de valorização
financeira. - Opções de
trabalho mais rentável e
menos estressantes”
(sujeito B); “As várias
opções que o mercado de
t ra b a l h o o f e r e c e . - O
comprometimento que a
profissão exige. - O
descrédito da profissão. Valorização financeira”
(sujeito C); “Salários baixos.
- Facilidades para fazer
outros cursos superiores. Não fazem magistério”
(sujeito D). -“Quanto menor
são os níveis, menos
professores masculinos. A
grande maioria se encontra
no nível superior. Vejo que a
participação masculina na
educação, tem-se como
uma pouco, pelo salário
recebido” (sujeito D já
afirmava está questão
salarial na primeira
pergunta); “A falta de
respeito com o profissional,
que começa com a
remuneração, com a
desvalorização do Estado
com a categoria, chegando
até a retirada da autoridade
da pessoa professor na sala
de aula, onde os alunos
podem abusar do professor
sem aconteça nada”
(sujeito F); “A falta de uma
remuneração mais
condizente em detrimento
de uma formação cada vez
maior” (sujeito I); “Criou-se
uma cultura de ligação do
papel da professora à figura
“ Pe r c e b o q u e h á u m a
presença maior do gênero
feminino, e ouço
comentários afirmando que
a presença masculina
interfere no cumprimento
de normas disciplinares,
principalmente porque os
alunos veem no professor a
representação do pai.
Acredito que a atuação
profissional independe de
gênero” (sujeito H); “Em
sua grande maioria, o
magistério encontra-se nas
mãos das mulheres, talvez,
por uma questão histórica,
as mulheres possuem maior
amabilidade com crianças e
jovens, embora a figura
paterna seja essencial. O
homem saiu a dedicar-se a
outros a fazeres” (sujeito I).
Este discurso de que o homem é o
exemplo, cumpridor de normas disciplinares,
da importância da figura do pai retrata um
sentimento machista, de que existem
relações de poder explícitas. “Poder este que
intervém materialmente, atingindo a
realidade mais concreta dos indivíduos - o seu
corpo - e que o situa ao nível do próprio corpo
social, e não acima dele, penetrando na vida
cotidiana” (FOUCAULT, 2004, p.XII). Percebo
que estes discursos estão presentes no
cotidiano, nas ações dos sujeitos e que
parecem estar muito bem alicerçadas.
3.2 FATORES QUE ESTÃO CONTRIBUINDO
PA R A O A FA S TA M E N TO D A F I G U R A
MASCULINA DO ESPAÇO ESCOLAR
Nesta questão busco a opinião pessoal
de cada um, partindo de um pressuposto
enunciado pelas estatísticas atuais.
“Considerando as estatísticas atuais que
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
de mãe (não sei quem e
porque aconteceu); Podem não ter tido boas
experiências como alunos, e
consequentemente não
querem trabalhar na escola;
- Algumas pessoas pensam
que não terão paciência de
trabalhar com crianças e
adolescentes; - O homem
geralmente estuda menos
anos e entra antes no
mercado de trabalho,
inclusive no mercado
informal; - Os salários
pouco atrativos, para uma
formação superior” (sujeito
H); “O espaço que as
mulheres conquistaram
atualmente e o homem
procurando atividades no
setor terciário mais exigido
fisicamente do que
intelectualmente” (sujeito
J). -“Percebo desvalorizado
pelos governantes
Professor fazendo “bico”
nas escolas. Procurando
o u t ro s e m p re g o s p a ra
sobreviver. Mas, acima de
tudo, é uma profissão
digna, de respeito e
responsável pelo futuro da
nação” (sujeito J descreve
na primeira pergunta esta
preocupação); “Acredito
que os homens acabassem
optando por outras
profissões, que no
momento tem um retorno
econômico maior” (sujeito
K).
comportamento, enfim, fabrica o tipo de
homem necessário ao funcionamento e
manutenção da sociedade industrial,
capitalista” (FOUCAULT, 2004, p.VXII).
Compreendo que antes da Revolução
Industrial os professores nem eram
remunerados, mas que, a partir desta, criase todo este enredo em torno de um
assalariamento, que se tornou necessário
para a sobrevivência destes sujeitos.
Situações de preconceito relacionado
à figura masculina que é considerado até
incapaz de educar, de ter qualidades que a
sociedade designou às mulheres. “Percebo
que na educação infantil o número de
professores é bem menor pelo motivo do préconceito que somente professoras teriam
capacidade de cuidar de crianças (afeto
materno)” (sujeito E). Qualidades como
afeto, amor, carinho, sensibilidade e outros;
entendo que o homem pode sim desenvolver
estes adjetivos.
A sociedade delimitou as qualidades
para os gêneros masculino e feminino. “O
feminino caracterizado como natureza,
emoção, amor, intuição, é destinado ao
espaço privado; ao masculino – cultura
política, razão, justiça, poder, o público”
(COLLING, 2004, p.22). Por este discurso
estar tão enraizado é que aparece como um
denominador de verdades.
Percebo no discurso deste sujeito uma
dicotomia: se viam situações de machismo
na educação de tempos passados, como
pode citar que a figura materna é a mais
apropriada pra educar? “Antigamente a
educação estava nas mãos dos homens,
porque se entendia que a disciplina e a
racionalidade eram fundamentais para a
educação. Também não existia a Educação
Infantil. Ora, essas características eram
próprias do homem e não da mulher. Nisso
está presente também uma boa dose de
machismo. Hoje se entende que a figura
maternal é mais apropriada para a Educação.
A mulher também é racional e disciplinadora,
mas de um jeito próprio da feminilidade”
(sujeito G). Nota-se que há questões de
machismo disfarçado no discurso, por mais
que se tente explicar, mesmo querendo
delegar a questão para outros, está implícito
também uma dose de machismo, assim como
o descreve.
São muitos os fatores que estão
contribuindo para o afastamento da figura
masculina do espaço escolar, mas cabe
ressaltar o enorme percentual destes sujeitos
que aderiram à questão salarial, relações com
trabalho excessivo que demanda a profissão
professor, falta de valorização financeira
(salários baixos), opções de trabalho mais
rentáveis e menos estressantes, o descrédito
e a falta de incentivo. A questão de o homem
entrar antes no mercado de trabalho, as
experiências enquanto aluno às vezes podem
não ter sido boas também contribuem para o
afastamento da sala de aula.
Todo este discurso em prol de um
melhor rendimento salarial se volta na figura
do homem como sujeito do capitalismo. “É o
diagrama de um poder que não atua do
exterior, mas trabalha o corpo dos homens,
manipula seus elementos, produz seu
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complicada devido ao pouco
estímulo recebido pela
categoria, o que leva a essa
falta de professores homens
na sala de aula. É muito
triste mesmo” (sujeito K).
3 . 3 S E N T I M E N TO E M R E LA Ç Ã O A O
ABANDONO DOS SUJEITOS MASCULINOS
DAS SALAS DE AULA
Busquei nesta pergunta perceber algo
relacionado à subjetividade de cada sujeito.
Qual é o teu sentimento, como professor, em
relação ao abandono dos sujeitos masculinos
das salas de aula?
São muitos os sentimentos de
abandono dos sujeitos masculinos das salas
de aula que os sujeitos evidenciam. Entre eles
cabe destacar o sentimento de
desvalorização, de descrédito, de falta de
incentivo, de um sentimento machista,
sentem-se sozinhos e isolados, pouco
estímulo pela categoria e veem com tristeza o
desaparecimento de seus colegas desta
atividade tão brilhante que é o ato de educar.
“Isso acontece devido à
pouca valorização do
profissional da educação,
enquanto temos outras
alternativas mais rentáveis”
(sujeito B); “O descrédito e
a falta de incentivo levou a
muitos a procurarem novas
alternativas” (sujeito C);
“Apesar de vivermos em
país livre. O pensamento
machista ainda é forte, e
vejo que mulheres recebem
menores salários. Isso faz
que a remuneração seja
baixa. Razão pela qual vejo
poucas figuras masculinas
nas salas de crianças
pequenas (educação
básica)” (sujeito D);
“Gostaria que o número de
professores fosse muito
maio r, po is e m ce r to s
momentos nos sentimos
sozinhos e isolados, mas
imagino que pelos baixos
salários e a necessidade de
sustentar a família,
busquem áreas que tenham
maior rentabilidade”
(sujeito E); “Acredito que
seja o mesmo que escrevi
na pergunta acima.
Ta m b é m a c r e s c e n t o a
facilidade remunerável em
outras profissões, o que faz
da nossa categoria a última
em questão” (sujeito F);
"Não percebo que o
professor sofra um
abandono em relação ao
gênero, portanto não
consigo sentir nada a esta
questão” (sujeito H); “Meu
maior sentimento é de que o
sujeito masculino está
desaparecendo desta
atividade tão brilhante de
estar ligado com o ser
humano, educando-o e
preparando para a vida
ativa. A desvalorização do
professor também afasta o
homem da educação”
(sujeito J); “É uma situação
Nas respostas seguintes, nota-se o
sentimento de perda nas ações que
demandam a Educação, mas sobre uma visão
paternalista, não enquanto profissional
professor. De novo se reforça a questão da
sensibilidade, que segundo os sujeitos da
pesquisa, é característica fundamental das
mulheres, falta do poder disciplinador do
homem nas mulheres e a perda da figura
paterna.
“O meu sentimento é de que
há uma perda no processo
educacional; a perda da
figura paterna. Assim como
na família o pai e a mãe são
figuras indispensáveis para
uma boa educação, assim
também na escola não
podemos dispensar
nenhuma das duas figuras”
(sujeito G); “As mulheres
têm plena condição de
serem educadas, até
melhor que os homens, por
terem maior sensibilidade e
espontaneidade, mas
muitas vezes falta “pulso”
que os alunos “procuram”
(as famílias delegam muitas
ações à escola)” (sujeito A);
“É uma pena, porque em
algumas funções em
específico, a escola e o
próprio estudante se
ressente da falta do
professor homem” (sujeito
I).
Observando os argumentos sobre os
sentimentos descritos acima percebi que há
resquícios dos discursos que são reforçados
pela sociedade, o meu sentimento sobre
estes sujeitos é que eles se expressam
estimulando uma narrativa já existente,
porque as respostas se parecem.
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temos que ter profissionais,
independentemente de
gênero. Acredito que
qualquer profissão tem a
ver com uma opção e não é
uma questão de gênero.
Acredi to que a escola
contrata os profissionais
independentemente do
gênero e que isso não deve
i n t e r fe r i r
n o s
procedimentos didáticos e
pedagógicos” (sujeito H);
“Sem dúvida somos iguais”
(sujeito J).
É preciso pôr em
questão, novamente,
essas sínteses
acabadas, esses
agrupamentos que, na
maioria das vezes, são
aceitos antes de
qualquer exame, esses
laços cuja validade é
reconhecida desde o
início; é preciso
desalojar essas formas
e essas forças obscuras
pelas quais se tem o
hábito de interligar os
discursos dos homens;
é preciso expulsá-las
da sombra onde reinam
( F O U C A U LT, 2 0 1 2 ,
p.26).
Os sujeitos acreditam que tendo
professores homens atuando nas séries
iniciais do Ensino Fundamental manteria o
equilíbrio, mas não descrevem que tipo de
equilíbrio, o que querem dizer? O outro
sujeito demonstra ingenuidade em relação ao
tema gênero, pois usa o termo “Acha” e
“Acredito”, isto quer dizer que não tem
certeza do que está descrevendo; assim
como o sujeito J que afirma que somos todos
iguais, mas até onde? Que igualdade é essa?
Conforme os descritos de Foucault é
preciso colocar em suspensão as ideias e
opiniões existentes, retirando-as da
escuridão e colocando-as sob a luz de novas
análises.
A grande maioria dos que
responderam a esta pergunta se direcionam à
importância da atuação do professor pela
questão da disciplina, da ordem, de modelo
de sujeito, em que se lembra da proteção e do
carinho do pai:
3.4 É IMPORTANTE TERMOS PROFESSORES
DO GÊNERO MASCULINO ATUANDO NAS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL?
“Sim, pois o professor
relembra a figura paterna,
tornando-se em exemplo
para os alunos” (sujeito B);
“Sim. Como em qualquer
etapa. Há muitas crianças
que falta a figura paterna.
Assim se identificaria com
essa pessoa. Pra muitos a
figura masculina é sinal de
respeito” (sujeito D);
“Considero que a presença
do homem, representando
a figura paterna, é muito
importante. Ele representa,
pelo menos em parte, a
d i m e n s ã o
d o
comportamento regrado e a
perseguição de um objetivo
claro. Ela (feminina)
representa o espaço do
aconchego e acolhimento.
O s
d o i s
s ã o
complementares” (sujeito
G); “Porque não, não vejo
nenhum problema, eu sou
um deles e nem por isso
penso que meu trabalho
valha menos, muito pelo
contrário” (sujeito I); “Sim.
Pra dar uma relação mais
Referencio nesta questão se é
pertinente na visão dos sujeitos da pesquisa
de se ter professores homens trabalhando
com alunos menores, sendo o caso dos anos
iniciais. Você considera importante termos
professores do gênero masculino atuando
nas séries iniciais do Ensino Fundamental?
“O equilíbrio sempre foi e é
melhor receita para
q u a l q u e r o r g a n i z a ç ã o,
assim, a figura masculina
não pode “desaparecer”,
deste contexto educacional”
(sujeito A); “Sim é
importante a figura
masculina dentro da escola,
atuando no Ensino
Fundamental, pois dá um
maior equilíbrio e uma
melhor força de ação”
(sujeito C); “Acredito que
sim, pois no ambiente de
trabalho possibilita a troca
de experiências entre os
professores e ajuda as
crianças a terem o contato
com o gênero masculino”
(sujeito E); “Acho que
65
REVISTASETREM
REVISTA
SETREM- Ano
- AnoXII
X nº
nº 20
22 -JAN/JUN
JAN/JUN2013
2013 ISSN
ISSN 1678/1252
1678-1252
paternal ao aluno” (sujeito
K); “Seria interessante, se
bem que as mulheres
possuam o lado “mãe”,
muito importante nesta
fase” (sujeito F).
senti-me perdido em meio a um turbilhão de
sentimentos, por muitas vezes larguei os
l i v r o s e f i c a v a a d e v a n e a r. E s t a
desestruturação de conceitos fez-se
necessária, despir-se de algumas carapuças e
vestir-se de outras para, a partir daí, permitirse a viver novas aprendizagens. Muito
dolorido. Uma sensação de que estava sendo
espionado, de estar em alguns momentos
tateando no escuro.
Muitas crianças convivem poucas
horas com seus pais, devido à carga horária
dos mesmos. Veem o homem como um sinal
de respeito, do cumprimento de regras, de
uma figura disciplinadora. Outros acham
interessante ter mais homens atuando nas
séries iniciais e ainda o que não vê nenhum
problema, pois esta questão não o afeta.
Todos estes discursos referentes a esta
questão não se pautam em uma teoria
determinada, é aparente e não se
fundamenta numa linha de pensamento.
Os meus objetivos específicos foram
alcançados com êxito. O objetivo geral a que
me propus pesquisar estava baseado na
questão dos fatores que estão contribuindo
para o afastamento da figura masculina no
Ensino Fundamental de escolas privadas e da
rede pública, municipal e estadual. Entre os
fatores descritos a que a grande maioria
respondeu foram: a desvalorização do
p r o f e s s o r, s a l á r i o s e o a s p e c t o
paternal/afetividade. Penso que as práticas
discursivas moldam nossos saberes e práticas
sociais. Os discursos se fundamentam em
crenças diversas.
O discurso é o caminho de
uma contradição à outra: se
dá lugar às que vemos, é
que obedece à que oculta.
Analisar o discurso é fazer
com que desapareçam e
r e a p a r e ç a m a s
contradições; é mostrar o
jogo que nele elas
desempenham; é
manifestar como ele pode
exprimi-las, dar-lhes corpo,
ou emprestar-lhes uma
fugidia aparência
(FOUCAULT, 2012, p.186).
Percebi que é preciso colocar em
suspensão as ideias e opiniões existentes,
retirando-as da escuridão e colocando-as sob
a luz de novas análises. Existe um sentimento
machista, cito a questão em que um dos
sujeitos respondeu de que o “homem é o
exemplo, cumpridor de normas
disciplinares”; nota-se que existem relações
de poder explícitas.
O corpo visível e invisível do discurso
pode ser analisado a partir da observação e
da experimentação para decidir ou destruir o
que pode ser considerado verdadeiro;
construindo assim novos saberes. Posso
afirmar que os sujeitos são frutos dos saberes
e as diversas formas que compõem a
essência de um sujeito podem e devem ser
destruídas para que possamos ver o lado
opressor dos discursos.
Posso afirmar que os sujeitos são
frutos dos saberes, poderes e de uma ética
dominante. E que as diversas formas que
compõem o sujeito que podem e devem ser
destruídas para que possamos ver o lado
opressor dos discursos. Os discursos eram
muito genéricos, superficiais, sem
conhecimento sobre a temática em pauta,
respostas generalizantes são burras. O que
tem por detrás destes discursos? Por que são
tão homogêneos? Qual a dinâmica social que
se pretende desenvolver nestas redes de
mecanismos e a quem servem?
ASPECTOS RELEVANTES
Considero relevante este trabalho para
minha caminhada acadêmica, mas o
aprendizado que tive no percurso desta
pesquisa para a minha formação humana se
sobressai sobre qualquer outro dado que se
tenha criado expectativas em demasia
relacionadas a trabalhos de conclusão de
curso. Comecei a trabalhar um assunto no
qual tinha informações superficiais e isto
exigiu alguns sacrifícios, a cada passo que
dava era necessário muitas leituras.
REFERÊNCIAS
CABEDA, Sonia T. Lisboa; PREHN, Denise
Rodrigues; STREY, Marlene Neves (Orgs.).
Gênero e cultura: questões
c o n t e m p o r â n e a s . – Po r t o A l e g r e :
EDIPUCRS, 2004.
Confesso que por muitos momentos
5
66
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
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apresentação de trabalhos: redação,
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67
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
POSSIBILIDADE DE ALFABETIZAR LETRANDO A PARTIR DA
LITERATURA INFANTIL
João Ricardo Prestes Froes
Silvia Natália de Mello
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
SETREM
1
2
3
4
RESUMO
ABSTRACT
Vivemos numa sociedade com variadas práticas
sociais de leitura e de escrita. A literatura infantil é
importante no processo de alfabetização e de
letramento. É fundamental que a família e a
escola (principalmente na Educação Infantil),
durante a infância proporcione momentos e
práticas de leitura para que as crianças tenham
possibilidades de adquirir o gosto e o hábito pela
mesma, além de oportunizar a formação de
autores através da exploração de escrita e de
gêneros textuais. Esta produção textual se
desenvolveu a partir do projeto sobre a
Possibilidade de alfabetizar letrando a partir da
literatura infantil e foi desenvolvido numa
Instituição de Ensino localizada no município de
Três de Maio, com uma turma de Segundo ano do
Ensino de Nove anos, composta por treze
crianças. A pesquisa foi de abordagem
qualitativa, procedimento descritivo, pesquisaação, fundamentação teórica e a técnica de
observação. A elaboração do projeto e
planejamento das situações de aprendizagens foi
desenvolvida no decorrer das quarenta horas de
intervenção pedagógica e oito horas de
observação. Neste estudo objetivou-se analisar e
realizar práticas de alfabetização e letramento, as
relações de ensino-aprendizagem na matemática
e do trabalho em grupo, e a literatura infantil
como recurso fundamental no processo de
alfabetização e letramento. A literatura infantil é
um instrumento de apoio fundamental no
processo de alfabetização e letramento; dar-se-á
continuidade neste estudo em outra
oportunidade. Os principais autores utilizados a
discussão teórica são: Colello (2004), Grossi
(2005/6), Soares (1998).
We live in a society with different social practices
of reading and writing. Children s literature is
important in the process of literacy. It is important
that family and school especially in kindergarten
during childhood provides moments and reading
practices for children to have opportunities to
acquire the like and habit of reading, besides to
nurture the formation of authors through the
exploration of writing and textual genres. This text
production developed from the project on the
Possibility of literacy from children s literature and
developed in an educational institution located in
the city of Três de Maio, with a class of second
school year of nine years teaching, consisting of
thirteen children. The research was a qualitative
approach, descriptive procedure, action research,
theoretical and technical observation. The project
design and planning of learning situations was
developed in the course of the forty hours of
pedagogical intervention and eight hours of
observation. This study aimed to analyze and
conduct literacy practices, the relationship of
teaching and learning in mathematics and group
work, and children s literature as a key resource in
the process of literacy. Children s literature is a tool
of key support in the process of literacy; this study
will be continued on another occasion. The main
authors of the theoretical discussion are: Colello
, Grossi
, Soares
.
Keywords: Literacy. Children s Literature.
Palavras-chave: Alfabetização. Letramento.
Literatura Infantil.
1
Pedagogo egresso do curso de Pedagogia da SETREM, e -mail: [email protected].
Professora do Curso de Pedagogia da SETREM, Pedagoga, Mestre em Educação, e -mail:
[email protected].
3
Professora orientadora deste estudo, Bióloga, Mestre em Educação nas Ciências e do Curso de
Pedagogia da SETREM, e -mail: [email protected].
4
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Santa Rosa, 2405; Três de Maio - RS,
[email protected]
2
68
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1 INTRODUÇÃO
Não há uma resposta concreta, porque não é
uma simples questão. Durante a organização
do projeto para a devida intervenção
pedagógica, a preocupação com o alfabetizar
letrando tornou-se uma problemática a mais
na produção e organização das atividades.
Como contribuir no processo de letramento
das crianças abrangendo os propósitos da
alfabetização: semântica, sintaxe e fonética?
Esta produção textual se desenvolveu
a partir do projeto sobre a “Possibilidade de
alfabetizar letrando a partir da literatura
infantil” e foi desenvolvido numa Instituição
de Ensino localizada no município de Três de
Maio, com uma turma de 2° ano do Ensino
Fundamental de Nove anos, composta por
treze crianças. A pesquisa foi de abordagem
qualitativa, procedimento descritivo,
pesquisa-ação, fundamentação teórica e a
técnica de observação. A elaboração do
projeto e o planejamento das situações de
aprendizagens foram desenvolvidos no
decorrer das quarenta horas de intervenção
pedagógica e oito horas de observação.
As crianças estão cansadas de saber
que o “lobo mau” devorou a vovozinha, que
os sapos viram príncipes e as bruxas castigam
os meninos desobedientes. A partir do
pretexto de que literatura não é só “ler
sempre as mesmas histórias”, proporcionei
para as crianças dois momentos de leitura
com revistas e jornais com datas atuais.
Fantástico! No primeiro instante as crianças
correram para o “gavetão” das tesouras
(gaveta no armário da escola na qual estão
guardadas as tesouras), então expliquei que
não haveria recortes e sim um momento de
leitura livre, que poderiam folhear, ler,
escolher uma reportagem e, em seguida, a
respectiva socialização com os colegas.
A ênfase da prática pedagógica
desenvolvida e aplicada foi proporcionar
situações de aprendizagens que pudessem
contribuir e desenvolver o processo de
apropriação e outras habilidades da língua
escrita e da leitura.
A literatura infantil é importante no
processo de alfabetização e letramento.
Através da literatura infantil podem-se
desenvolver estratégias necessárias para a
compreensão e produção de textos. Foi
desenvolvida a escrita através da produção
compartilhada de textos, de palavras e frases.
Também foram promovidas situações de
leituras em voz alta e silenciosa de palavras e
frases dos mais diversos gêneros textuais.
Além de ter oportunizado a formação de
leitores e a constituição de autores através da
exploração de escrita e de gêneros textuais.
Conforme Soares, “letramento é
informar-se através da leitura, é buscar
notícias e lazer nos jornais, é interagir com a
imprensa diária, fazer uso dela, selecionando
o que desperta interesse...” (1998, p.42). As
crianças até então não tinham tido contato
com as revistas e jornais, pois tinham
dificuldade em ler as letras gráficas
impressas, somente usavam as revistas para
r e c o r t a r. A a t i v i d a d e f o i b a s t a n t e
emocionante e produtiva, pois a grande
maioria já está alfabetizada e os colegas no
processo silábico-alfabético tinham o auxílio
do alfabeto móvel,5 confeccionado e utilizado
durante a intervenção pedagógica. Os níveis
de escrita são cinco:
Estamos inseridos numa sociedade
com variadas práticas sociais de leitura e de
escrita. A criança antes do nascimento já
entra em contato com a literatura infantil e
que permeia toda a sua infância a
disponibilidade de materiais de escrita e de
leitura. Por isso é fundamental que a família e
a escola - principalmente na Educação
Infantil -, durante a infância proporcione
momentos e práticas de leitura, para que as
crianças tenham possibilidades de adquirir o
gosto e o hábito pela leitura.
A escrita pré-silábica é
produzida por crianças que
ainda não compreendem o
caráter fonético do
sistema... escrita com letras
inventadas, com letras
convencionais, mas sem
valor sonoro convencional:
pode aparecer com ou sem
variação figural. ...com
variação de símbolos numa
mesma palavra. A escrita
silábica... nessa fase, a
criança compreendeu que o
2 PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO
No processo de alfabetização e
letramento o docente se depara com algumas
inquietações, “Como alfabetizar letrando?”.
5
Alfabetos confeccionados com materiais de diferentes texturas e
letras de modelos diferentes (cursiva, script, gráfica).
69
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
s i s t e m a é u m a
representação da fala. Na
tentativa de fazer
compreender “partes da
fala” com “partes da
escrita”, ela faz valer uma
letra pra cada sílaba... as
variações da escrita silábica
podem ocorrer pela
presença de letras
convencionais ou
inventadas, usadas com ou
sem o valor fonético
convencional. A escrita
silábico-alfabética é
marcada por um momento
de transição, no qual o
indivíduo já percebeu a
ineficácia do sistema
alfabético, mas ainda não
domina o sistema
alfabético. Na tentativa de
acrescentar letras, ela
acaba usando, numa
mesma palavra, os dois
critérios, podendo se
aproximar do silábico ou do
alfabético. O resultado disso
é u m a e s c r i t a
aparentemente caótica,
nem sempre legível. A
escrita alfabética... quando
a criança compreende o
valor sonoro de cada letra,
ela pode ainda estar
distante da escrita
convencional, na medida
em que não domine as
regras e as particularidades
do sistema (COLELLO,
2004, p. 27/28).
segundo momento, com leituras de poesias,
que depois de lidas eram trocadas entre as
crianças e o terceiro momento foi feito leitura
de parlendas que também depois de lidas
eram trocadas entre as crianças.
O docente poderá produzir momentos
e condições de letramento, com todos os
tipos de textos, nos mais diversos temas e
gêneros; e este processo começa na
Educação Infantil e no Ensino Fundamental.
“Como não basta a capacidade de copiar
palavras ou frases, a alfabetização traz
implícito o desafio de escrever textos
inteligentes, pessoais e criativos” (COLELLO,
2004, p. 90). O professor poderá produzir
exercícios que provoque a curiosidade dos
estudantes, que desafie os/as alunos/as a ler
livros e textos de diversas épocas, além de
tornar autores de suas escritas.
Não é centrar-se em estudar algumas
classes de palavras e sílabas apenas.
Alfabetização e Letramento são indissociáveis
e que pode trazer para dentro da escola a
leitura do mundo real. Trabalhar os fatos,
notícias, folders, painéis, outdoor e
especialmente a literatura infantil no
processo da aquisição da escrita e de leitura.
Durante o momento de leituras de
jornal, revistas e livros de diferentes gêneros
textuais percebi que as crianças levantavam
de seus assentos e iam até seus colegas
mostrar as figuras e palavras que tinham
descoberto. Palavras de diferentes contextos,
como nome de carros, artistas, cidades foram
socializadas nos debates posteriores ao
momento da leitura.
São níveis de escrita desenvolvidos
por Emília Ferreiro (1999, Psicogênese da
Língua Escrita) e que neste estudo são
referenciados por Collelo; e que auxiliam os
docentes a direcionar as suas práticas
educativas. Pode-se encontrar numa mesma
turma vários níveis de escrita. Na turma que
foi realizada esta intervenção pedagógica
pode-se presenciar a escrita silábicoalfabética e a escrita alfabética. A confecção
do alfabeto móvel auxiliou na produção de
palavras e frases, além das atividades
específicas e dirigidas, mas com o mesmo
conteúdo, abrangendo assim toda a turma de
crianças.
Não há um termo específico para
traduzir o termo “Letramento”. Soares traz
em sua perspectiva que “letramento é
resultado da ação de ensinar e aprender as
práticas sociais de leitura e escrita; o estado
ou condição que adquire um grupo social ou
um indivíduo como consequência de ter-se
apropriado da escrita e de suas práticas
sociais” (2006, p. 39). Não é a pura
decodificação de letras, palavras e sílabas,
ser letrado é usar socialmente a escrita e a
leitura. Conforme a Resolução n° 7, de 14 de
JUNembro de 2010, Art. 7º e em
conformidade com o art. 22 e o art. 32 da Lei
nº 9.394/96 (LDB/1996), tem como base “O
desenvolvimento da capacidade de aprender,
tendo como meios básicos o pleno domínio da
leitura, da escrita e do cálculo”. São direitos e
Foram realizados três momentos
distintos de leitura com gêneros textuais: o
primeiro, com a leitura de trava-línguas e a
respectiva montagem, num banner, de um
trava-línguas selecionado, ordenando as
sequências produzidas em tiras gigantes; o
70
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
deveres do educando e do docente
assegurados nas resoluções da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
no processo de alfabetização.
Muitos jogos de formação de palavras,
sílabas, sons foram levados até as crianças,
sempre acompanhados do alfabeto móvel
para aqueles no estágio silábico-alfabético.
Foi realizada a escrita do nome, em que foram
exploradas as letras do nome de cada criança,
pois tinham que formar palavras que
iniciavam e que continham as letras de seus
nomes com auxílio do alfabeto móvel. E,
assim, o alfabeto móvel se constituía num
aliado importante durante as atividades de
formação de palavras, nos ditados de
verificação, em ditados interativos, nos autoditados com imagens significativas, nas
janelas de figuras significativas. A cada
descoberta de uma nova palavra, esta era
socializada para os colegas, o que instigava
os outros a formar outra palavra para
socializar também. Em muitas situações a
palavra era socializada no quadro de giz da
sala de aula.
Ser letrado é desenvolver habilidades,
conhecimentos e demonstrar acima de tudo
estar apto a fazer uso destes aspectos para
exercer a cidadania, fazendo uso de seus
ideais e valores, independente da função
social que exerce. A escola precisa dar
condições para que a criança se torne letrada
na Educação Básica. Aumentar a
disponibilidade e a distribuição de livros entre
a população. Isto é, criar condições para o
letramento.
Alfabetização é a ação de alfabetizar e
alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e
de escrever (Dicionário Aurélio. 2003). Colello
(2004) aborda que o processo de
alfabetização precisa estar amparado pelo
tripé: aluno, escola e alfabetização. Trabalhar
com o aluno, principalmente a questão
corporal “que tem sido desconsiderado em
sala de aula” (p. 15). É fundamental para a
escola fazer reflexões acerca de suas práticas
pedagógicas, se realmente estão sendo
gerados resultados capazes de transformar a
sua realidade e a do aluno ou apenas um ato
mecânico, privando o indivíduo de ter
criticidade e autonomia.
Respeitar as ideias e o conhecimento
que o aluno traz em sua bagagem cultural é
importantíssimo na construção da prática
pedagógica. Trabalhar a linguagem coloquial
das crianças numa perspectiva de
ressignificação dos termos e palavras sem
perder a riqueza dos conteúdos, e sim apenas
fazendo as devidas correções. “Levar em
consideração os conhecimentos, valores e as
necessidades infantis significa atender o
aluno como um todo, garantindo a ele a
possibilidade da autêntica expressão, da
manifestação de si e do intercâmbio com os
outros” (COLELLO, 2004, p. 122). Esta
diversidade cultural auxilia na construção das
aprendizagens e saberes, dependerá da
atitude do profissional docente em relação ao
estabelecimento de um canal de
comunicação e conhecimento entre a escola
e a sociedade.
A alfabetização pode ser considerada
como um processo de construção da
consciência metalinguística. Utilizando das
dimensões sociais, psicológicas,
psicomotoras, cognitiva e afetiva. “Alfabetizar
é construir um sistema graças ao qual se pode
combinar letras de diferentes modos,
produzindo sílabas, palavras, sentenças ou
períodos” (COLELLO, 2004, p. 37). Colocar a
criança em contato com a leitura, palavras o
mais cedo possível é fundamental para o bom
desenvolvimento da leitura e da escrita. Uma
das questões centrais é tornar o aluno um
indivíduo autor de suas escritas e leitor dos
mais diversos gêneros textuais.
As crianças tinham o problema de
copiar as respostas das atividades
proporcionadas pelos colegas, percebi esta
atitude no primeiro dia da intervenção e
resolvi mudar os exercícios, trocava as
figuras, as palavras e os números. As crianças
reclamaram bastante no início, e isto até
ajudou na união do grupo, pois uma queria
ver o que a outra tinha e simultaneamente se
ajudavam. Jogos de sequência lógica com
gravuras e palavras diferentes para evitar a
cópia e consequentemente desenvolverem a
autonomia. Foi produzida uma caixa com
Retomando a perspectiva de ensinar
alfabetizar letrando “é fazer o aluno descobrir
a escrita, usar a escrita e que aprenda a
escrita” (COLELLO, 2004, p.113). O aluno
precisa ser provocado durante o processo de
alfabetização e nos diferentes níveis
psicogenéticos. Um excelente provocador é o
jogo, que depois de todo o estudo realizado
em torno de determinado conteúdo pode ser
usado como um complemento fundamental
71
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
fichas de sílabas de diversas letras e palavras,
que consistia na retirada de uma ficha por
criança e a consequente formação de uma
palavra no quadro de giz, a turma era
instigada posteriormente na coleta e registro
das novas palavras. Durante a realização
desta atividade produziram-se JUNenas de
palavras formadas e com pleno êxito, pois as
crianças adoravam contribuir e ajudar os
colegas.
crianças, elas ainda não tinham tido contato
com as operações de multiplicação e divisão;
demandaria mais alguns dias de prática
pedagógica para abranger com qualidade as
atividades e seus conteúdos deixados para
trás.
Percebi que as crianças tinham
dificuldades em resolver os cálculos
matemáticos que eram oferecidos,
especificamente as operações matemáticas
de adição e de subtração. “Compreende-se
cada vez mais claramente que aprender não é
memorizar, pedaço por pedaço, o conteúdo,
mas construir um sistema de conceitos
operatórios, com os quais se tenha condições
de enfrentar e resolver novos problemas.”
(GROSSI, 2006, p. 75). Então, elaborar
atividades que fizessem as crianças aprender
a fazer e não um fazer por fazer
mecanicamente. Trabalhar com grãos de
cereais e objetos torna a atividade atraente e
concreta, em que as crianças vão elaborando
suas concepções e aprendizagens.
O/A aluno/a pode vir a desenvolver a
capacidade de expressar-se, por isso é
fundamental que a escrita e a leitura sejam
trabalhadas na relação ensino aprendizagem
“a compreensão a respeito das diferentes
modalidades de escrita” (COLELLO, 2004, p.
51). Fazer com que o/a aluno/a se torne um/a
pesquisador/a, é dar condições para buscar,
interpretar, descobrir, explorar os conteúdos
para que se possa produzir o senso crítico.
3 RELAÇÕES DE ENSINOAPRENDIZAGEM NA MATEMÁTICA E DO
TRABALHO EM GRUPO
Tra b a l h a r a m a t e m á t i c a n e s t a
intervenção pedagógica era um desafio, foi
preciso construir e reconstruir conceitos e
paradigmas. No primeiro instante a ideia de
como significar a aprendizagem matemática
na vida das crianças, utilizando o saber que as
crianças já tinham aprendido. Concordo com
Grossi que diz:
No decorrer do Estágio
Supervisionado II foi realizado o estudo dos
números de 0 a 20 e das operações de adição
e de subtração com o auxilio do baralho de
números, jogo do dodecaedro, bingo de
números, utilização de copos, sementes,
botões e pinturas. Conforme Kamii, “...Piaget
e seus colaboradores demonstraram que o
número é alguma coisa que cada ser humano
constrói através da criação e coordenação de
relações.” (1988, p. 26). A utilização de copos
e sementes foi fantástica; ao final da
atividade restavam poucos grãos em cima
das mesas, as crianças não estavam
habituadas a trabalhar desta maneira, até
uns alunos reclamaram da bagunça e quando
instigados sobre o porquê da reclamação,
afirmaram categoricamente ao fato de não
terem trabalhado com grãos.
É impressionante como se
ensina e como se aprende
pouca matemática e como
isso, politicamente, é grave.
Surrupiamos da população
um de seus mais
elementares direitos, o de
aprender a articular
múltiplos elementos para
sair do mero campo das
familiaridades, das
habilidades e das
informações, para a
fecunda esfera das
conceituações, ou seja, do
imenso e poderoso universo
das ideias que movem o
mundo (GROSSI, 2006, p.
81).
Algumas atividades não foram
possíveis realizar devido à falta de tempo. A
atividade de produção textual na escrita de
carta, jogos com dígrafos e o jogo com copos
para trabalhar as operações matemáticas de
multiplicação e divisão. “Ensinar matemática
não é nem explicar detalhadamente (de fora
para dentro) para os/as alunosas e nem
esperar que eles/elas tenham a estrutura
pronta, para então ensiná-la.” (KOCH, 2006,
p. 35). É preciso respeitar o tempo das
Trazer para o ambiente da sala de aula
elementos e materiais que as crianças
utilizam no dia-a-dia estabelece um diálogo
entre a sociedade e a escola. Algumas
crianças, durante a realização das atividades,
citavam quantidades e valores de alguns
alimentos (cereais e grãos) consumidos por
suas famílias. A Matemática está implícita na
72
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
vida das crianças, a função enquanto docente
foi ressignificar e reelaborar os conteúdos
matemáticos.
ambiente de sala de aula, precisam interagir
com seus colegas e o docente também sobre
os assuntos e conteúdos do cotidiano. Grossi
afirma que “numa sala de aula, a organização
dos alunos em pequenos grupos é uma forma
de operacionalizar a interação entre eles, a
qual é fundamental numa situação de ensino
e aprendizagem”. (2005, p. 69). É preciso dar
vez e voz às crianças; isto é, desenvolver
autonomia, ética, respeito pelo próximo,
cidadania, oportunidade de compartilhar
valores e acima de tudo a humanização de si e
do próximo.
A sala foi organizada em grupos,
duplas, trios, quartetos, semicírculo durante
o período de intervenção pedagógica. No
começo, houve algumas resistências das
crianças que não queriam realizar as
atividades em grupo ou que ficavam
escolhendo os colegas, mas esta resistência
durou pouco tempo, pois foram trabalhadas,
organizadas, agrupadas as crianças
conforme a necessidade de aprendizagem,
mesclando os que tinham mais facilidade com
os que tinham mais dificuldades nas
realizações das tarefas.
4 A LITERATURA INFANTIL COMO
RECURSO FUNDAMENTAL NO
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO
A turma, conforme relatos das
próprias crianças, raras vezes se organizavam
em grupos. A dificuldade inicial para formar
os grupos acabou gerando mais subsídios
(materiais didáticos) e motivação para levar a
ideia do trabalho em grupo para o restante de
intervenção pedagógica. Freire fala que “um
grupo se constrói na organização
sistematizada de encaminhamentos,
intervenções por parte do educador, para a
sistematização do conteúdo em estudo”.
(2000, p. 65). A função do docente é
desenvolver a interação entre os indivíduos,
promovendo a interlocução de saberes entre
as crianças, fazendo com que as
aprendizagens sejam significativas e possam
ser compartilhadas entre as crianças.
É fundamental utilizar recursos da
literatura infantil nos Anos Iniciais e Infantis,
no processo de alfabetização das crianças, o
contato com as histórias perpassa desde a
leitura até a ascensão da escrita, a
codificação e a posse do alfabeto. Não
obstante, leva o leitor a vivenciar outras
realidades. “A literatura realiza seu papel
social porque propicia um tipo de leitura que
produz uma ruptura no interior das vivências
do sujeito, apontando-lhe as possibilidades
de outro universo e alargando suas
oportunidades de compreensão do mundo”
(ZILBERMAN, 2001, p. 55). O leitor pode
descobrir e viajar por lugares nunca antes
habitados por seu imaginário, conhecimento
do mundo e de si.
No início da intervenção pedagógica
uma criança recusou-se a sentar com os
grupos organizados. A decisão tomada foi de
conversar com esta criança, tranquilizá-la,
sem bajulação, explicar para ela que o seu
lugar no grupo estava reservado e que
quando se sentisse bem poderia sentar-se
com seus colegas; e que ela era importante e
que o grupo precisava dela. Passaram-se três
dias e a criança não se sentou nos grupos
organizados diariamente, no quarto dia
durante a organização de um determinado
grupo esta criança sentou-se tranquilamente
sem o docente se dirigir a ela e não foi feito
nenhum comentário a respeito de sua
decisão para que não gerasse aborrecimento
para a criança; e assim até o final da
intervenção pedagógica a criança realizou
com tranquilidade as atividades de grupos
propostas.
Durante a intervenção pedagógica
foram desenvolvidas duas histórias infantis:
primeira história “Galinha Ruiva” de Jaci José
Dela e a segunda história “Festa no Céu” de
Sandra Esteves de Souza. Na primeira, logo
após o momento do conto, as crianças
realizaram um desenho livre sobre a história
e, em seguida, com o auxílio do alfabeto
móvel, produziram um pequeno texto com os
personagens da história da “Galinha Ruiva”.
Em outro momento foi realizado o
conto da segunda história “Festa no Céu”.
Depois do conto, foi realizada a formação de
palavras com nomes de animais, com o
auxílio do alfabeto móvel e figuras de
animais. Em seguida as crianças tiveram que
dar continuidade à história e tiveram que
representar, através do desenho e da escrita,
como se sucedeu a história no céu. Atividade
As crianças precisam se sentir bem no
73
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com êxito, pois cada uma criou a sua história,
momento riquíssimo de trocas de
informações, tanto de histórias de festas que
as próprias crianças já viveram, como de
palavras novas.
com os livros, mediando o processo de
escolha dos livros e as situações de
aprendizagens das crianças.
Conforme citado anteriormente, o
cuidado nas escolhas com as obras literárias é
fundamental no desenvolvimento de valores
e concepções pessoais. Qualquer texto “pode
penetrar impunemente na privacidade e no
mundo íntimo do leitor” (Zilberman, 2003, p.
54). Assim como o texto pode suscitar nas
crianças a imaginação, pode também
provocar conflitos e danos na personalidade
das crianças.
Desenvolver a imaginação, a
autonomia, criticidade nas crianças,
constitui-se particularmente em desafio para
os docentes. Zilberman descreve que a
literatura pode suscitar o “desnudamento da
interioridade do eu, ela suscita a participação,
bem como a identificação com seres fictícios”
(2001, p. 118). Além da fantasia da realidade,
mescla o lúdico com a realidade, sendo a
infância um período no qual as crianças se
identificam com outras personalidades,
período de resolução dos dilemas pessoais e
sociais, emancipação de personalidade.
As crianças antes de adentrarem no
sistema escolar estão sendo estimuladas
através da diversidade de gêneros textuais
que os segmentos da mídia oferecem. “O
contato com a literatura infantil se faz
inicialmente por seu ângulo sonoro: a criança
ouve histórias narradas, podendo
eventualmente acompanhá-las com os olhos
na ilustração” (Zilberman, 2003, p. 170).
Muitos pais e mães contam histórias para a
criança durante o período de gestação, a
criança neste período pode ouvir. Depois do
nascimento, o contato ocorrerá visualmente
através das representações gráficas nas
roupas, brinquedos, toalhas, paredes e
principalmente nos livros de histórias infantis.
Ao professor cabe a seleção das obras
literárias infantis de boa qualidade para
trabalhar com suas crianças. Além de utilizar
corretamente os estilos literários, não
retirando a riqueza destes textos.
O professor que se utiliza do
livro em sala de aula não
pode ser igualmente um
redutor, transformando o
sentido do texto num
número limitado de
observações tidas como
corretas (procedimento que
encontra seu limiar nas
fichas de leitura, cujas
respostas devem ser
uniformizadas, a fim de que
possam passar pelo crivo do
certo e do errado. Ao
professor cabe o
desencadear das múltiplas
visões que cada criação
literária sugere, enfatizando
as variadas interpretações
pessoais, porque decorrem
da compreensão que o leitor
alcançou do objeto artístico,
em razão de sua percepção
singular do universo
representado (ZILBERMAN,
2003, p. 28).
É importante ressaltar que a literatura
se desenvolveu com a elite, pois ela é que
comandava e, por isso, para a elite era
oferecido o contato com as obras literárias.
“Sendo a literatura infantil um dos tantos
produtos culturais oriundos da ascensão da
camada burguês, sua instalação na sociedade
brasileira teve de aguardar a emergência das
classes médias urbanas” (Zilberman, 2003, p.
204). Nos países colonizados, o processo de
democratização da literatura foi mais lento;
para tanto, no Brasil, este processo se deu na
passagem da monarquia à república e ainda a
literatura com caráter moralizante.
A Instituição no qual foi realizada a
intervenção pedagógica possui com a turma o
projeto “Sacola Mágica” no qual, a cada
semana, uma criança leva a sacola com
algumas obras literárias infantis para ler em
casa. A realização da “Hora Cívica” uma vez
por semana estimula as crianças a apresentar
leituras como músicas, poesias, versos e
rimas. Foi gratificante assistir as crianças
declamando as poesias e parlendas que
foram trabalhadas em sala de aula e que
O texto tem que desenvolver o
imaginário das crianças, não desprovê-la das
p o s s i b i l i d a d e s d e d e s e n v o l v i m e n t o,
padronizando-as a um modelo idealizado pelo
sistema social ou escolar. A diversidade dos
gêneros textuais permite a abertura de
múltiplas possibilidades de aprendizagens e
tem função formadora de ideias e conceitos
próprios pela criança; cabe ao professor
conduzir e orientar a crianças neste contato
74
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
foram declamadas no espaço externo da
escola (pátio) durante a “hora cívica”.
conhecerem e alargarem seus universos
pessoais e sociais, em busca de novos
significados, de maneira a compreenderem a
realidade, em suas múltiplas dimensões.
Logo nos primeiros encontros foi
percebi que as crianças no nível
psicogenético alfabético terminavam as
atividades primeiroi, porque conseguiam ler
sem auxílio do alfabeto móvel ou de alguém
ajudando. A cada atividade terminada, eram
oferecidos pequenos textos, poesias, travalínguas e parlendas para as crianças irem
lendo enquanto o restante da turma
terminava as atividades. Esta prática de
oferecer materiais para ler foi aprovada pelas
próprias crianças, que pegavam um livro de
história ou o material disponível para leitura.
Além de estimular a leitura, retirava as
crianças da ociosidade, das algazarras e
alguns conflitos que podiam ser gerados
entre as crianças.
No momento histórico em que a
sociedade se encontra, saber ler e escrever
não basta. É necessário que as crianças se
apropriem do sistema da escrita e da leitura,
compreendam seus usos e funções e a
utilizem de maneira crítica, autônoma e
criativa. Numa sociedade marcada pela
escrita e imagem, propiciar situações efetivas
de letramento é condição imprescindível para
o aprendizado no exercício da cidadania, nas
suas dimensões prática, política e ética.
Pretendo dar continuidade neste
estudo em outra intervenção pedagógica,
pois vejo a literatura infantil como um
instrumento de apoio fundamental no
processo de alfabetização e letramento.
Então, cabe utilizar-se de recursos literários
didáticos selecionados e qualificados, sendo
que a literatura infantil traz implícita e
explicitamente a interdisciplinaridade de
conteúdos, capacitando as crianças para a
inserção no contexto social de um mundo,
cada vez mais apoiado na leitura e na escrita.
A literatura infantil deve permitir à criança
sonhar, viajar, amar, sofrer, entender o
mundo, resolver seus conflitos, criar ilusões,
ter devaneios e controlar as sensações
interiores pessoais.
O sucesso de uma intervenção
pedagógica começa pelo vínculo afetivo que o
docente estabelece com a turma das
crianças. Pesquisar como as crianças
gostariam de trabalhar determinada
atividade proposta, respeitar as crianças e
seu tempo de aprendizagem, quando se
comunicar com elas, deve-se tratá-las de
forma a abranger todas com o mesmo nível
de tratamento. Conversar sobre assuntos que
estão na mídia, auxiliar na resolução dos
problemas cotidianos pessoais e o mais
importante dar feedback às crianças; pois
muitas vezes elas só querem conversar,
trocar ideias. Êxito pleno em relação ao
processo de comunicação e relações
interpessoais; vínculos afetivos, confiança,
empatia, respeito mútuo e proximidade com
as crianças, possibilitando uma
aprendizagem significativa e a construção de
novos saberes.
REFERÊNCIAS
BORDIN, Jussara; GROSSI, Esther Pillar.
(organizadoras). Paixão de Aprender. 11°
Edição, Editora Vozes; Petrópolis, RJ: 2000.
________. FREIRE, Madalena. O que é um
grupo?
COLELLO, Silvia Mattos Gasparian.
Alfabetização em questão. 2° Edição
revista e ampliada; Rio de Janeiro: Paz e
Terra. 2004.
ASPECTOS RELEVANTES, PARA NÃO
CONCLUIR..
Neste breve estudo realizado sobre a
intervenção pedagógica “possibilidade de
alfabetizar letrando a partir da literatura
infantil”, verificou-se a importância do uso da
literatura infantil no processo de
alfabetização e letramento. A prática
educativa oportunizou a formação de leitores,
a constituição de autores através da
exploração de escrita e de gêneros textuais.
Por isso, alfabetizar letrando é um dos
requisitos básicos possíveis para as crianças
GEEMPA, 2005. Grupos Áulicos: A
Interação Social na Sala de Aula. /
Organizado por Ana Luiza Carvalho da Rocha.
Porto Alegre, setembro 2005.
________. GROSSI, Esther Pillar. A
formação dos pequenos grupos nas
salas de aula geempianas.
75
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
GEEMPA, 2006. Fórum Social pelas
aprendizagens 2006: Por onde começar
o ensino da matemática?
________. GROSSI, Esther Pillar. Como
ensinar, de verdade, matemática?
________. GROSSI, Esther Pillar. O papel
político do professor de matemática.
________. KOCH, Maria Celeste M. E com a
matemática, como é que se faz.
GÜLLICH, Roque Ismael da Costa; LOVATO,
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Metodologia da Pesquisa: normas para
apresentação de trabalhos: redação,
formatação e editoração. Três de Maio:
SETREM, 2007.
KAMII, Constance. A criança e o número:
implicações educacionais da teoria de
Piaget para a atuação junto a escolares
de 4 a 6 anos. (Tradução: Regina A. de
Assis). 9° Edição; Campinas: Papirus, 1988.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em
três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica,
1998.
ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil
na Escola. 11° Edição revista, atualizada e
ampliada. São Paulo: Editora Global, 2003.
ZILBERMAN, Regina. Fim do Livro, Fim dos
Leitores. São Paulo: Editora Senac, 2001.
76
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
ANÁLISE DO SISTEMA DE MEDIÇÃO EM UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA
Lucinéia Carla Loeblein, PPGEP, UFSM 1
Leoni Pentiado Godoy, PPGEP, UFSM 2
Adalberto Lovato, SETREM 3
Universidade Federal de Santa Maria – UFSM e Programa de Pós – Graduação em
Engenharia de Produção –PPGEP 4
SETREM 5
RESUMO
ABSTRACT
A necessidade de atender os requisitos dos
clientes e garantir a precisão nas medidas nas
indústrias fornecedoras de peças para
montadoras é algo estritamente necessário
para a permanência das mesmas no
mercado. Este trabalho tem por objetivo a
Análise do Sistema de Medição, através dos
estudos de Repetitividade e
Reprodutibilidade (R&R) em uma indústria
metalúrgica fornecedora de peças para
montadoras automotivas. De acordo com os
métodos empregados na pesquisa, esta se
classifica em pesquisa bibliográfica e estudo
de caso, estudaram-se os procedimentos
estabelecidos pelas entidades de
normatização de qualidade e as teorias
relacionadas à pesquisa. As etapas do estudo
de caso consistiram na preparação das
amostras, definição dos colaboradores e
orientação, medição, coleta de dados,
aplicação dos estudos estatísticos e análise
dos dados. O valor de R&R encontrado foi de
42,07%, com este resultado o sistema de
medição não é aceitável, necessitando de
melhorias. A variação entre os operadores foi
superior à variação entre os equipamentos, o
que indica que as causas podem estar
relacionadas com os operadores.
The need to meet customer requirements and
ensure accurac y in measurements in
industries that supply parts for automakers is
something absolutely necessary, to stay in the
same market. This paper aims to
Measurement System Analysis, through the
Repeatability and Reproducibility studies R
R in a metalworking industry supplier of
automotive parts to automakers. According to
the methods used in the research, this is
classified as a bibliographic research and
study case, studied the procedures established
by the standardization of quality and theories
related to research. The steps of the study case
consisted of sample preparation, definition
and orientation of employees, measurement
data collection, application of statistical
studies and data analysis. The R R found was
.
, with the result that the measurement
system is not acceptable as needing
improvement. The variation between
operators was greater than the variation
between devices, which indicates that the
causes may be related to the operators.
Keyworks: Quality control. Measurement
System Analyser. Repeatability and
Reproducibility.
Palavras-chaves: Controle de qualidade.
Análise do Sistema de Medição.
Repetitividade e Reprodutibilidade.
1
Mestranda em Engenharia de Produção, UFSM. Estudante Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas em Enge nharia de
Produção – NUPEP da UFSM. [email protected] .
2
Drª. Professora do Programa de Pós graduação em Engenharia de Produção, PPGEP. Pesquisadora responsável pelo
Núcleo de Pesquisas em Engenharia de Produção – NUPEP da UFSM. [email protected] .
3
Msc. Professor do Curso de Graduação em Engenharia de Produção da Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM.
[email protected] .
4
Universidade Federal de Sant a Maria – UFSM, Programa de Pós - G raduação em Engenharia de Produção – PPGEP - Faixa
de Camobi, Km 9 – Campus Universitário, Santa Maria, RS – 97.105-900.
5
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM . Av. Santa Rosa, 2405 Três de Maio - RS - CEP 98910 -000
[email protected]
77
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1. INTRODUÇÃO
2. REVISÃO DA LITERATURA
As empresas nacionais têm a
necessidade de atender padrões
internacionais de qualidade e inovação, pois é
comum que o processo produtivo de um
produto ocorra em diversos países. Esta
habilidade das indústrias nacionais em
atender padrões internacionais permite que
elas participem das redes globais de
suprimento. Dentro destes requisitos a serem
atendidos estão a garantia da qualidade dos
produtos que depende da normalização e do
controle metrológico (SALGADO, 2010).
O ramo automotivo possui norma
específica de qualidade baseada na ISO
9000. Essa norma específica leva o nome de
ISO/TS 16949, onde acrônimo TS vem de
Technical Specification – Especificação
Técnica. É, portanto uma particularização de
uma norma maior de qualidade.
A TS 16949, que leva a chancela da
ISO, é elaborada pela AIAG (Automotive
Industries Action Group), uma equipe de
especialistas formada por representantes das
principais indústrias automotivas dos Estados
Unidos, da Europa e do Japão. Essa norma
fornece requisitos precisos para cada um dos
tópicos apresentados pela ISO 9000.
Devido às necessidades da utilização
mais frequente dos dados de medição, temse buscado a melhoria dos valores de
medição, sendo de fundamental importância
o uso da Análise do Sistema de Medição
(MSA). Um sistema de medição precisa
garantir que os resultados estejam corretos;
por isso a necessidade do controle e
monitoramento do processo de medição.
Realizar a Análise do Sistema de Medição é
necessária, pois garante à empresa que o seu
processo de medição é eficaz, garantido a
qualidade dos produtos, ou seja, que as
especificações do cliente sejam atendidas.
Segundo a ISO/TS 16949:2009, a
Análise do Sistema de Medição deve ser
realizada para verificar a variação existente
em cada sistema de medição e a empresa
deve estabelecer processos para garantir que
a medição e o monitoramento possam ser
realizados de uma maneira coerente. No caso
da Análise do Sistema de Medição, deve ser
assegurada a repetitividade e a
reprodutibilidade das medições, que é
alcançada através da elaboração de estudos
de R&R (Repetitividade e Reprodutibilidade).
O requisito 7.6 da norma ISO TS
16949:2009 trata do controle de dispositivos
de medição e monitoramento e o subitem
7.6.1 Análise do Sistema de Medição,
estabelece que estudos estatísticos devem
ser realizados para analisar a variação
existente em cada sistema de medição e
ensaio. Os métodos analíticos e os critérios de
aceitação devem ser seguidos conforme os
critérios do cliente. Os métodos estatísticos
definidos na norma ISO/TS 16949: 2009 são
abordados neste trabalho, enfatizando o
estudo Repetitividade e Reprodutibilidade
(R&R).
A utilização dos estudos estatísticos e
a análise correta dos mesmos permitem o
aperfeiçoamento da qualidade e o aumento
da produtividade, oportunizando a melhoria
dos processos. Este artigo apresenta uma
aplicação de métodos estatísticos definidos
pela norma ISO/TS 16949:2009 e pelos
requisitos dos clientes.
2.1 Análise do Sistema de Medição
(MSA)
O INMETRO (2000) denomina a
medição como “conjunto de operações que
tem por objetivo determinar um valor de uma
granJUNa” (INMETRO, 2000, p. 23), e “a
metrologia abrange todos os aspectos
teóricos e práticos relativos às medições,
qualquer que seja a incerteza, em quaisquer
campos da ciência ou tecnologia” (INMETRO,
2000, p. 23).
O presente trabalho apresenta um
estudo de caso realizado em uma indústria
metalúrgica, fornecedora de peças para
montadoras do ramo automotivo. Esta,
empresa visando atender aos requisitos da
norma ISO TS 16949, precisa realizar os
estudos estatísticos e, de acordo com os seus
clientes, estes estudos devem ser os de
Repetitividade e Reprodutibilidade. Portanto,
este trabalho tem por objetivo aplicação dos
estudos R&R em indústria metalúrgica a fim
de verificar se o sistema de medição da
empresa está adequado ao uso.
A medição é utilizada como uma
ferramenta para monitorar e acompanhar a
produção, controlar ou investigar um
processo, garantir a qualidade de produtos e
processos de fabricação e a classificação das
peças em conformes e não conformes
78
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
(ALBUQUERQUE, apud SALGADO, 2010).
Determinar a capacidade de um sistema de
medição é de suma importância para a
melhoria da qualidade, pois nos processos de
medição surgirão variabilidades que podem
ocorrer em virtude do instrumento ou então
do operador (BURDICK et al., 2003).
de e s tudo : e s tabi l idade , te ndê ncia,
linearidade, repetitividade e
reprodutibilidade. Neste trabalho serão
abordados os estudos de Repetitividade e
Reprodutibilidade (R&R), pois são estes os
exigidos pelo cliente da indústria metalúrgica.
2.2 Repetitividade
De acordo com Pedott (2010), a
Engenharia da Qualidade possibilitou a
expansão do uso de técnicas e ferramentas
da qualidade, as quais servem para evitar
perdas e desperdícios nos processos fabris.
Deste modo, a MSA é uma ferramenta da
qualidade que contribui para a melhoria dos
processos produtivos, através da garantia
que a medição realizada está correta, ou seja,
“determina a variação do sistema de medição
proporcionalmente à variação do processo
e/ou à tolerância permitida. É o processo pelo
qual um sistema de medição é analisado para
avaliar se a qualidade deste sistema está
adequada ao uso” (AIAG, 2006, p. 141).
A repetitividade pode ser definida
como sendo a variabilidade de um único
operador. É o resultado da variação das
medições com um único equipamento de
medição, o qual foi usado diversas vezes por
apenas um operador, medindo uma
determinada característica. É a variação
própria do instrumento ou a sua capabilidade
(AIAG, 2004). Ou seja, é a variação das
medições obtidas através da utilização do
mesmo equipamento de medição, utilizado
várias vezes e medindo a mesma
característica de diversas peças.
Portanto, a repetitividade é uma
variação casual proveniente de repetidas
medições realizadas sob condições fixas e
definidas. As causas que podem originar
variações na repetitividade, segundo AIAG
(2004), são:
A MSA é um conjunto de operações,
procedimentos, dispositivos de medição,
equipamentos e pessoal usado para atribuir
um número à característica que está sendo
medida. E a MSA tem por objetivo conhecer
as fontes de variação que podem afetar os
resultados obtidos pelo sistema de medição
(operador + instrumento + características).
São as propriedades estatísticas dos
resultados que definem a qualidade de um
sistema de medição (AIAG, 2004). Pode ser
usado para verificar o que está causando
variações nas medições; estas variações
podem ser relacionadas às pessoas, às peças
ou mesmo ao próprio sistema de medição
(AIAG, 2006).
a) Variação dentro da peça: forma,
posição, acabamento.
b) Variação dentro do instrumento de
medição: desgaste, falha do equipamento,
manutenção precária.
c) Variação dentro do padrão:
qualidade, classe e desgaste.
d) Variação dentro do método: no
ajuste, na técnica, na fixação da peça.
e) Variação do avaliador: falta de
experiência, posição, treinamento,
habilidade.
Em relação aos benefícios da aplicação
da Análise do Sistema de Medição pode-se
dizer que a mesma, quando bem aplicada,
proporciona confiança do sistema de medição
e no equipamento que está sendo usado,
além de proporcionar informações referentes
às causas das deficiências do processo de
medição (AIAG, 2006). Estas causas podem
ser trabalhadas para que o sistema de
medição possa ser melhorado.
f) Variação dentro do ambiente:
temperatura, umidade, luminosidade.
g) Violação de alguma premissa:
estabilidade, operação apropriada.
h) Projeto do instrumento não robusto
ou método não robusto, uniformidade
precária.
Canossa (2011) afirma que todo
resultado de uma medição possui erros e
desvios. Essa diferença dos valores de
medição de uma peça é atribuída ao operador
ou ao instrumento. A Análise do Sistema de
Medição pode ser feita através de cinco tipos
i) Dispositivo de medição errado para
aquela aplicação.
j) Deformação/ distorção da peça ou
do dispositivo de medição.
k) Aplicação: tamanho da peça,
79
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
posição, erro de observação.
sistema de medição pode ser aceito.
2.3 Reprodutibilidade
Erro acima de 30%, o sistema
de medição não é aceitável, sendo necessário
medidas para melhorá-lo.
---
A reprodutibilidade é a variação entre
as médias das medidas realizadas por
diversos operadores, usando o mesmo
equipamento de medição e medindo igual
característica da peça (AIAG, 2004). Isto
ocorre muitas vezes devido à habilidade de
cada operador em manipular o instrumento.
Conforme AIAG (2004), as possíveis causas
para o erro de reprodutibilidade são:
Existem vários métodos a serem
empregados para a análise dos estudos de
R&R, os quais de acordo com o AIAG (2006)
podem ser:
a) Contínuo.
b) Método da Amplitude.
a) Variação entre peças.
c) Estimativa de Variância.
b) Variação entre instrumentos.
d) Porcentagem de Tolerância.
c) Variação entre padrões.
e) Método da Média e Amplitude.
d) Variação entre métodos.
f) Análise da Variância (ANOVA).
g) Porcentagem de Tolerância da
Análise da Variância (ANOVA).
e) Variação entre avaliadores.
f) Variação entre ambientes.
Em virtude do objetivo do trabalho e o
número de amostras, foi utilizado o método
da Média e Amplitude, sendo este um dos
sistemas mais empregados. “Neste método é
possível quantificar os componentes de
repetitividade e reprodutibilidade das
variabilidades” (PEDOTT, 2010, p. 27).
g) Violação de alguma premissa no
estudo.
h) Eficácia do treinamento do
operador.
i) Aplicação - tamanho da peça,
posição, erro de observação.
Em relação aos resultados referentes à
aplicação dos estudos de Repetitividade e
Re p r o d u t i b i l i d a d e , c a s o o va l o r d a
repetitividade seja maior quando comparada
com a reprodutibilidade, as causas podem ser
em virtude do equipamento de medição
necessitar de manutenção, ou o instrumento
deveria ser reprojetado para uma maior
robustez, ou o local para a realização da
medição é inadequado, ou ainda pode haver
uma grande variação na peça. E, no caso da
reprodutibilidade ser alta quando comparada
com a repetitividade, as causas podem estar
relacionadas com o operador, o qual necessita
ser melhor treinado em como ler e usar o
equipamento de medição, ou existe a
necessidade de um dispositivo para ajudar o
operador na utilização do instrumento de
medição (AIAG,1997).
3. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
De acordo com os métodos
empregados na pesquisa, esta se classifica
em pesquisa bibliográfica e estudo de caso.
Em pesquisa bibliográfica, pois
primeiramente realizou-se um estudo em
livros, normas, revistas, dissertações, anais
de congressos referente ao assunto abordado
na pesquisa, para após realizar o estudo de
caso (GIL, 2010). Também estudou-se os
procedimentos estabelecidos pelas entidades
de normatização de qualidade e teorias
subjacentes aos procedimentos
estabelecidos.
O estudo de caso foi realizado em uma
indústria metalúrgica de baixo volume de
produção, fornecedora de peças para o ramo
automotivo. Para crescer e manter–se entre
os fornecedores dessas montadoras, tem-se
a necessidade de melhorar os processos,
numa busca contínua de melhorias, dando
ênfase à satisfação do cliente e ao
atendimento dos requisitos exigidos.
Para AIAG (1997), em sistemas de
medição cuja finalidade seja a análise do
processo de produção, é necessário seguir a
seguinte regra prática para sua aceitação:
Erro menor que 10%, o sistema
de medição é aceitável.
---
---
Este trabalho tem por objetivo a
Análise do Sistema de Medição da indústria,
Erro entre 10% e 30%, o
80
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
buscando atender os requisitos do cliente e
também os requisitos da ISO TS 16949:2009.
Neste caso, a exigência do cliente para
assegurar este requisito da norma é que
devem ser desenvolvidos estudos estatísticos
q u e g a ra n t a m a r e p e t i t i v i d a d e e a
reprodutibilidade das medições, a qual é
controlada através da elaboração de estudos
de R&R (Repetitividade e Reprodutibilidade).
A figura 2 apresenta a média de cada
peça, calculada após a efetivação de todas as
medições pelos colaboradores.
As etapas do estudo de caso
consistiram na preparação das amostras,
definição dos colaboradores e orientação,
medição, coleta de dados, aplicação dos
estudos estatísticos e análise dos dados.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Fonte: Dados da pesquisa
Para a determinação do R&R foram
selecionados todos os operados envolvidos
com o processo de medição de peças na
f á b r i c a , t o t a l i z a n d o 1 0 o p e ra d o re s .
Instruíram-se os operadores em relação ao
objetivo do desenvolvimento da atividade e o
modo de execução da mesma.
Figura 2: Média de cada peça
Desse modo , a amplitude das médias das
medidas dos operadores é:
X dif = Max (Xa, Xb, X c...X j) – Min (X a, Xb, Xc...Xj) = 0,07
A média das amplitudes dos JUN operadores é:
Foram selecionadas aleatoriamente 10
peças iguais, que foram numeradas de 1 a 10.
A cota a ser medida para análise estatística é
de 81,9 mm, com tolerância de ±2mm. O
instrumento de medição utilizado foi o
mesmo para todos os colaboradores, sendo
este um paquímetro com resolução 0,02mm.
R= (R a + Rb + Rc...Rj)/10 = 0,025
E a amplitude das médias das peças é:
R p= Max (X1, X2, X3...X10) – Min (X 1, X2, X3…X 10) = 0,27
Após a obtenção destes dados, seguese para a análise da repetitividade e
reprodutibilidade. Para fazer o cálculo da
variação do equipamento (VE), ou seja a
repetitividade da operação, faz-se a
multiplicação da média das amplitudes
médias (R) pela constante K1, que varia de
acordo com o número de repetições das
medidas dos operadores e, para este caso em
que há três repetições, o valor é 0,5908.
Cada operador mediu as 10 peças ao
acaso e os resultados foram anotados em
uma planilha, repetindo a operação por mais
duas vezes, até cada operador ter medido
três vezes cada peça.
Na figura 01, apresenta-se os
resultados da medição, cada operador foi
classificado como A, B, C e assim
sucessivamente. Calculou-se a média das
medidas dos operadores e a média das
amplitudes (maior medida - menor medida)
de cada operador.
VE= R x K1
VE= 0,025 x 0,5908
VE = 0,01477
A variação entre operadores (VO),
considerada a reprodutibilidade é calculada
pela seguinte fórmula:
VO = ( X dif ´ K 2 ) 2 - (VE 2 ¸ n ´ r )
Fonte: Dados da pesquisa
Figura 1: Média e amplitude das medições
81
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
O valor de K2 é determinado através do
número de operadores. Neste trabalho são 10
operadores; portanto, o valor de K2 é 1,67, n é
considerado o número de operadores e r o
número de replicações.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na indústria em que foi realizado o
estudo de caso existe a necessidade da
percepção da importância da Análise do
Sistema de Medição e da utilização dos dados
para a melhoria dos processos de produção.
Atualmente a visão existente é de que o
e s t u d o d e ve s e r fe i t o a p e n a s p a ra
cumprimento de requisitos do cliente. Além
da tabulação dos dados, é necessária a
realização das análises, a tomada de decisão
para ações corretivas ou melhoria do
processo e acompanhamento dos resultados.
VO = (0,07 ´ 0,5231) 2 - (0,01477 2 ) ¸ (10 ´ 3)
VO = 0,0365
A variação entre repetitividade e
reprodutibilidade é calculada através da
fórmula:
R & R = VE 2 + VO 2
R & R = 0,01477 2 + 0,0365 2
R & R = 0,0393
Na Análise do Sistema de Medição
obteve-se um resultado no estudo de R&R de
42,07%, o que demonstra que o sistema de
medição necessita de melhoria. Analisandose os dados, percebe-se que o problema se
encontra na variação do operador e não peça
a peça, pois o índice de reprodutibilidade do
operador foi maior que o índice de
repetitividade das peças.
A variação da peça é calculada por:
VP = R p ´ K 3
onde K3, refere-se ao número de
peças, neste caso são 10 peças e o valor
portanto 0,3146.
VP = 0,27 ´ 0,3146
VP = 0,085
Deste modo, deve-se realizar um
processo de melhoria no sistema de medição
para que o mesmo se torne eficaz, pois, além
da empresa não estar atendendo aos
requisitos da ISO TS e os requisitos do
cliente, também não está garantindo a
qualidade dos seus produtos, pois o processo
de medição não é eficaz, não garantindo que
o resultado da medição efetuada pelo
operador esteja correto. Sugere-se que seja
aberta uma não conformidade interna para
verificar a causa raiz do problema e ações
para a resolução do problema. Para que após
a implantação das melhorias seja realizada
novamente a MSA, verificando se o problema
foi solucionado.
A variação total calcula-se:
VT = R & R 2 + VP 2
VT = 0,0393 2 + 0,085 2
VT = 0,0936
A partir destes resultados pode se
calcular em percentual os valores de VE, VA e
R&R.
% VE = 100 ´ (VE VT )
VE = 15,7%
% VA = 100 ´ (VA VT )
VA = 39%
% R & R = 100 ´ ( R & R VT )
R & R = 42,07%
A MSA precisa ser bem entendida para
que possa ser uma ferramenta que contribua
para melhoria dos processos e do produto.
Embora seja de complexidade técnica para
quem seleciona e aplica a MSA, a
compreensão de sua análise por parte de
gestores é necessária para efetivar ações
adequadas na correção do processo.
Analisando-se os valores deste
percentual pode-se determinar se o processo
de medição é aceitável ou não. Determinado
o resultado do R&R obteve-se um resultado
de 42,07%, com este resultado o sistema de
medição não é aceitável, pois de acordo com
AIAG (1997) acima de 30% ele precisa ser
melhorado. Além disso, a reprodutibilidade é
superior à repetitividade, o que indica que as
causas podem estar relacionadas com o
operador.
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M S A . Tra d . I n s t i t u t o d a Q u a l i d a d e
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Mestrado, UFSC, 2010.
83
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
A PERCEPÇÃO DOS COLABORADORES DE UM SUPERMERCADO EM
RELAÇÃO AO COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
Andréia Ziegler 1
Lilian Ester Winter 2
SETREM 3
RESUMO
ABSTRACT
O objetivo desta pesquisa foi investigar quais
as bases do comprometimento que mais se
destacam entre os membros da organização
em estudo. Esta pesquisa ocorreu num
supermercado de uma cidade do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul, no período de
setembro a outubro de 2012. Quanto à
abordagem, essa pesquisa foi quantitativa e,
quanto aos procedimentos, um estudo de
caso, uma pesquisa de campo e estatística.
Conforme Medeiros (2003) são três os
enfoques que mais são analisados no
comprometimento organizacional: o enfoque
afetivo, o enfoque instrumental e o enfoque
normativo. Neste trabalho apresentam-se
esses três enfoques em apenas um, que é o
multidimensional. Para coleta dos dados,
utilizou-se a Escala de Bases do
Comprometimento Organizacional (EBACO),
bem como foi empregada a pesquisa
bibliográfica sobre o comprometimento. A
pesquisa aponta que as bases do
comprometimento que mais se destacam
entre os trabalhadores da empresa em
estudo são “a base afetiva”, em que os
colaboradores se identificam com os valores e
objetivos da organização; “a base obrigação
pelo desempenho”, em que os trabalhadores
devem se esforçar em benefício da
organização; e, “a base linha consistente de
atividade”, em que os funcionários acreditam
que devem manter certas atitudes e regras da
organização com o objetivo de se manter na
mesma.
The objective of this research was to
investigate the involvement of bases that
stand out among the members of the
organization under study. This research took
place at a supermarket in a town northwest of
the state of Rio Grande do Sul, in the period
September-October
. A approach
statistics. As Medeiros
three are the
approaches that are analyzed in more
organizational this research was quantitative,
as well as a study case, a field survey and
commitment: the affective approach, the
instrumental approach and the third
approach is normative. This paper presents
these three approaches in on, which is
multidimensional. For data collection, the
Scale Bases of Organizational Commitment
EBACO were used as well as the bibliographic
research search about commitment. The
research shows that the bases of commitment
that stand out among the company s workers
in the study are the base affective , in which
employees identify with the values and goals
of the organization, the basic requirement for
performance, in which workers must strive for
the benefit of the organization and the
consistent base line of activity in which
bases employees believe they should
maintain certain attitudes and rules of the
organization with the goal of maintaining the
same.
Palavras-chaves: Comprometimento
organizacional. Enfoque multidimensional.
Keywords: Organizational commitment.
Multidimensional approach.
1
Acadêmica de Bacharelado em Psicologia, SETREM, e -mail: [email protected]
Psicóloga, Mestre em Desenvolvimento, Coordenadora do Curso de Psicologia e professora da SETREM, e -mail:
[email protected]
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, e -mail: [email protected]
2
84
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1. INTRODUÇÃO
O presente estudo é um trabalho
realizado no período de agosto de 2011 a
outubro de 2012. O tema abordado é o
comprometimento no trabalho em que foram
investigadas quais as bases do
comprometimento organizacional que mais
se destacam em um supermercado situado
em uma cidade na região noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul.
As pesquisas apontam que muito se
tem investigado sobre comprometimento
organizacional, como também sobre a
relação entre o comprometimento
organizacional com alguns comportamentos
do sujeito. A atenção está voltada para o fato
de que o comprometimento é um importante
construto em pesquisar, gerenciar e conduzir
o comportamento do funcionário nas
organizações, ou seja, estar sempre
aperfeiçoando, ajustando e analisando este
comportamento. De acordo com Meyer e
Allen (1997 apud MEDEIROS, 2003), o
comprometimento tem se transformado
muito conceitualmente nos últimos tempos e
assim incitado muitas discussões referente à
natureza das ligações entre trabalhador e
organização.
O novo panorama vivenciado na
atualidade exige transformações das crenças
e valores da organização e desencadeia uma
intensa busca das organizações por
colaboradores cada vez mais comprometidos
com seu trabalho, pois nesse novo cenário,
ser comprometido não é algo desejável e sim
indispensável, ou seja, busca-se
trabalhadores que se identifiquem com os
objetivos da organização e que trabalhem na
mesma como sendo seu próprio negócio.
Bastos e Costa (2000 apud COSTA, 2005)
destacam que o comprometimento no
trabalho atualmente é percebido como uma
condição para apresentar um adequado
desempenho desejado pela organização,
estabelecendo bons relacionamentos no
ambiente de trabalho.
Conforme Davis (1992 apud
VALADARES, 2009) o comportamento das
pessoas surge das necessidades do sujeito e
de seus princípios, valores e, por isso,
compreende-se que o comportamento não é
algo estável, modifica-se, está sempre em
transformação.
Este artigo é constituído dos aspectos
metodológicos da pesquisa, em que se
encontram os métodos utilizados e os passos
percorridos para atingir os objetivos da
pesquisa. Em seguida, apresenta-se a
fundamentação teórica, embasada por
alguns autores sobre o tema discorrido.
Posteriormente, faz referência à análise e
discussão dos dados, em que serão expostos
os resultados da pesquisa, e, em sequência,
apresentam-se as considerações finais.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 O UNIVERSO ORGANIZACIONAL
As organizações representam um
ambiente social como qualquer outro, apesar
de que estas possuem suas próprias
particularidades e especificidades e assim
intercedem relações sociais entre atores
sociais e têm seus mundos simbólicos e
culturais exclusivos, frisando que as mesmas
sempre estão diretamente atreladas ao
contexto social. Constata-se que as
modificações sociais provocam impactos nos
padrões de gestão e nas políticas de recursos
humanos, ressaltando que essas políticas
fazem interface entre os aspectos da
sociedade e o quadro interno das
organizações (VELOSO, 2010).
Motta e Vasconcelos (2006) explicam
que é a partir das interações sociais que são
construídas e institucionalizadas as regras, as
normas e valores de uma organização, sendo
que os que vivem nela são influenciados por
esses valores e normas.
Zanelli e Silva (2008) chamam a
atenção ao fato de que a cultura de uma
organização pode ser vista
inconscientemente como sendo a única coisa
certa e inquestionável nas organizações de
trabalho.
A partir desta base, a orientação de
Zanelli e Silva (2008) é no sentido de que uma
organização possui uma cultura, que os
membros desta organização compartilham
dos mesmos valores e normas, que nela há
uma produção de elementos culturais, a
criação de uma linguagem própria, de
significados que são compartilhados e que
orientam os comportamentos, os
pensamentos e sentimentos no ambiente de
trabalho. Nesse sentido, pode-se perceber
uma organização como sendo algo
socialmente construído.
85
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
As organizações, segundo Watson
(2005), apresentam duas lógicas de
funcionamento: a sistêmica controladora,
que possui uma visão mecanicista de sujeito e
de trabalho, na qual há um controle sobre os
trabalhadores, e a processual-relacional, na
qual valorizam mais as pessoas, todos que
fazem parte da organização, procuram dar
sentido ao que fazem, trabalhando com mais
ânimo, podendo assim estar contribuindo
para o desenvolvimento do
comprometimento. Watson (2005) destaca,
ainda, que essas duas perspectivas de
funcionamento das organizações são formas
básicas de falar, de atuar, de se expressar em
relação à organização e à gestão.
Dessa forma, este estudo considera
uma organização como algo socialmente
construído, que influencia os trabalhadores e
vice-versa, estando relacionada com a forma
que a gestão ocorre, a cultura, os valores e
normas da organização. Estes são aspectos
que influenciam as relações e interações no
universo organizacional.
requisito de bom desempenho, relações
interpessoais adequadas, eficiência e eficácia
individuais e organizacionais”
Dentre tantas concepções
encontradas para o comprometimento,
percebe-se que todas possuem em comum,
ter um vínculo ou ligação do indivíduo com a
organização (MATHIEU; ZAJAC, 1990 apud
GARCIA, 2007).
Na mesma linha de pensamento, Allen
e Meyer (1996, 2000 apud REGO; CUNHA;
SOUTO, 2007, p.7), afirmam que “o
comprometimento organizacional é o estado
psicológico que caracteriza a ligação do
indivíduo à organização, tendo implicações
na sua decisão de nela continuar”. Portanto, o
comprometimento é o diferencial, é a
condição para a permanência do trabalhador
na organização.
Para os autores Zanelli e Silva (2008),
comprometimento quer dizer o quanto uma
pessoa está identificada com os valores e
objetivos da organização e disposta a
colaborar com a mesma.
Brown (1996 apud Kuabara e Sachuk,
2010) chama a atenção para o fato de que
todo o comprometimento está associado a
algo, pode ser tanto a uma pessoa ou a um
grupo, uma organização, uma opinião ou
causa e, sendo assim, tem-se a necessidade
de compreender como alimentar o
comprometimento dos membros
interessados.
Para Flauzino e Borges-Andrade
(2008) comprometimento organizacional é a
identificação do indivíduo com os valores da
organização, desde que esses valores e
objetivos da mesma estejam bem
esclarecidos e que os mesmos sejam
conhecidos por todos os membros da
organização. Porém, mesmo assim podem
ser entendidas de outra maneira pelos
indivíduos.
No entendimento de Spector (2006), o
comprometimento se refere à relação dos
trabalhadores com a organização,
apresentando intensa ligação com a
satisfação no trabalho, porém
conceitualmente diferente. O
comprometimento organizacional também
exibe várias correlações contendo
características do trabalho, variáveis de
função, como rotatividade, ausência e idade.
De acordo com Rego, Cunha e Souto
2.2 COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
No passar das décadas, alguns
estudos foram realizados com a intenção de
explicar as bases do vínculo que se constitui
entre um empregado e a organização em que
trabalha. Esse vínculo foi então nomeado de
comprometimento organizacional
(SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2004).
Com as transformações no ambiente
de trabalho, com o aumento da concorrência
e do uso do conhecimento como um
dispositivo a mais entre as organizações,
percebe-se a necessidade de fortificar o
comprometimento. Portanto, a implicação
dos trabalhadores é fundamental para
alcançar os objetivos almejados pela
organização (ZANELLI; SILVA, 2008). Mas,
para que a organização tenha um funcionário
comprometido, é importante que a mesma
permita que o indivíduo alcance seus
objetivos pessoais (MÜLLER et al, 2005).
D e m a n e i r a p o p u l a r, o
comprometimento é usado para referir-se ao
relacionamento de uma pessoa com outra,
com um grupo ou com uma organização
(SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2004). De
acordo com Bastos e Costa (2000 apud
COSTA, 2005, p. 6), “o comprometimento no
trabalho vem sendo concebido como um
86
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
(2007), quando as organizações criam um
espaço espiritualmente rico a seus
colaboradores, em que lhes proporcionam
um ambiente com mais motivação, fazendo
com que as pessoas se sintam mais
valorizadas, asseguradas emocionalmente,
sentindo-se mais alegres, recebem em troca
desses recursos oferecidos, o sentimento de
lealdade e o aumento da produtividade
acabam prevalecendo na organização em que
estão inseridos.
Nessa mesma linha de pensamento,
no sentido de explicar a espiritualidade nas
organizações como sendo algo diferente de
religião, apresenta-se o conceito dado pelos
autores Rego, Cunha e Souto (2007, p.3), em
que espiritualidade nas organizações seria “a
existência de oportunidades na organização
para realizar trabalho com significado no
contexto de uma comunidade, com um
sentido de alegria e respeito pela vida
interior”, ou seja, espiritualidade é dar um
sentido, significado ao trabalho.
Nesta perspectiva Rego, Cunha e
Souto (2007) apontam que muitas ênfases
teóricas e experiências práticas têm indicado
que as pessoas com uma espiritualidade forte
levam uma vida mais saudável, no sentido de
que estas apresentam menos problemas de
saúde relacionados ao estresse, menores
chances de transtornos depressivos,
possuem confiança em si próprio, ou seja,
acreditam no seu potencial e estão mais
satisfeitos com a vida que levam. A partir
desta base, entende-se que as pessoas com
espiritualidade forte, ou seja, que gostam do
que fazem e, principalmente, por esse
trabalho representar algum sentido, estão
propensas a ser mais comprometidos.
enfoque é o normativo, apresentado nos
estudos de Wiener (1982 apud MEDEIROS,
2003), caracterizado pelas forças normativas,
em que o indivíduo se sente na obrigação em
permanecer.
Neste trabalho, apresentam-se os três
enfoques: o afetivo, instrumental e
normativo, bem como o enfoque
multidimensional, os quais serão descritos a
seguir.
2.2.1.1 Enfoque Afetivo
Por volta dos anos 1980 em um dos
estudos de Mowday, Porter e Steers (1982 e
apud BASTOS et al, 2008) nomeia-se de
afetiva, apesar de os mesmos chamarem de
atitudinal o método de identificação do
trabalhador com os objetivos e valores da
organização. Esses estudos se utilizam de
três fatores para definir o comprometimento
organizacional numa noção de identificação
que são: “a) forte crença, aceitação dos
valores e objetivos da organização; b) o forte
desejo de manter o vínculo com a
organização e c) a intenção de se esforçar em
prol da organização” (MOWDAY, PORTER,
STEERS apud BASTOS et al, 2008, p.50).
Nesta perspectiva, entende-se que o
comprometimento afetivo acontece quando o
trabalhador se envolve e adota os valores da
organização para si. E isso é possível de ser
adquirido quando o indivíduo se sente
respeitado e apoiado pela organização, confia
na mesma, percebe a organização como um
sistema humanizado, ou seja, que valoriza as
pessoas, quando existe harmonia entre os
seus objetivos e os da organização e quando
esta se mostra responsável com seus
compromissos (ALLEN e MEYER, 1996, 2000;
MEYER, 1997 apud REGO; CUNHA; SOUTO,
2007).
No entendimento de Organ e Paine
(2000 apud REGO; CUNHA; SOUTO, 2007),
supõe-se que os indivíduos mais
afetivamente envolvidos com a organização
sejam mais motivados para colaborar com o
desempenho da mesma, apresentem menor
turnover, menor absenteísmo e sigam mais
condutas compatíveis com as
organizacionais. Em contrapartida, as
consequências negativas quando há um
baixo comprometimento afetivo, segundo
Siqueira e Gomide Júnior (2004), são os
atrasos, o fraco desempenho e a diminuição
2.2.1 Tipos de Comprometimento
Conforme Medeiros (2003) são três os
enfoques que mais são analisados no
comprometimento organizacional. Os
mesmos são o enfoque afetivo, baseado nos
trabalhos de Mowday, Porter e Steers (1982
apud MEDEIROS, 2003), que aponta a
identificação, o envolvimento do trabalhador
com os objetivos da organização e um desejo
em continuar na organização. O enfoque
instrumental, baseado nos estudos de Becker
(1960 apud MEDEIROS, 2003), no qual surge
o comprometimento devido à necessidade
em continuar na empresa. E o terceiro
87
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
do esforço para o trabalho.
Siqueira (2003 apud SIQUEIRA,
GOMIDE JÚNIOR, 2004) em um de seus
estudos analisou que quando os
trabalhadores percebem que a empresa está
comprometida, preocupando-se com o bem
estar dos seus colaboradores, a ligação
afetiva deles para com a organização pode se
fortalecer.
à organização quando percebe que pode
confiar em seus líderes, que é apoiado, e
quando é valorizado como ser humano e não
como uma máquina.
Meyer e Allen (1984 apud Kuabara e
Sachuk, 2010) falam do comprometimento
instrumental, ou como chama em um de seus
trabalhos de “continuance commitment”,
como algo importante que o trabalhador
investe na organização, como seu tempo e
empenho, assim como a experiência
adquirida durante esse tempo na empresa,na
qual o mesmo não acha conveniente perder
se deixar a organização.
2.2.1.2 Enfoque instrumental
O enfoque instrumental de avaliação
do comprometimento organizacional provém
dos estudos de B ecker (1960 apud
MEDEIROS et al, 2003), em que o autor
ressalta o enfoque instrumental como uma
tendência do trabalhador em assumir “linhas
consistentes de atividade”. Destaca também
que o indivíduo se compromete com a
organização devido aos custos e aos
benefícios ligados a sua saída. Esse
comprometimento é denominado de “side
bet” ou pode ser chamado de trocas laterais
entre o trabalhador e a empresa (MEDEIROS
et al, 2003).
Hrebiniak e Alutto (1972 apud
Medeiros, 2003), definem o
c o m p ro m e t i m e n t o c o m o s e n d o u m a
consequência das ligações entre o indivíduo e
a organização, e dos investimentos feitos pelo
trabalhador em seu local de trabalho ao longo
do tempo. Portanto, a noção de linhas
consistentes de atividades provoca uma
escolha, na qual o trabalhador tem que optar
entre várias alternativas por uma que melhor
acata suas finalidades.
No comprometimento instrumental,
conforme Siqueira e Gomide Júnior (2004),
supõe-se que há um processo cognitivo
avaliativo em que o indivíduo faz um cálculo
de tudo o que ele investiu na organização, os
objetivos alcançados e o que ele perderia
deixando a mesma, o que por sua vez
determinaria a permanência ou não na
organização.
A orientação de Rego, Cunha e Souto
(2007), é no sentido de que é possível que
aqueles com um vínculo instrumental mais
intenso não sintam qualquer obrigação em
fornecerem à organização mais do que já
estão forçadas a oferecer.
Rego, Cunha e Souto (2007) sugerem
que é provável que o colaborador se torne leal
2.2.1.3 Enfoque normativo
Wiener (1982 apud Medeiros, 2003)
descreve o comprometimento como “a
t o t a l i d a d e d a s p re s s õ e s n o r m a t i va s
internalizadas para agir num caminho que
encontre os objetivos e interesses
organizacionais” (p.38). Wiener (1982 apud
Kuabara e Sachuk, 2010) expressa que o
intenso comprometimento está relacionado
com uma predisposição do indivíduo de ser
conduzido em seus atos. Assim, o trabalhador
opera de determinada maneira, pois acredita
que seja apropriado e moral agir assim.
Na visão de Siqueira (2002 apud
SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR, 2004), o
comprometimento normativo há quando o
trabalhador acredita que possui uma dívida
com a organização, ou que ele deve retribuir
um favor que a mesma lhe proporcionou, e
isso acaba fazendo com que ele permaneça
na organização. Nessa mesma linha de
pensamento, quando o colaborador infringe
alguma norma, isso o leva a se sentir culpado,
e esses sentimentos de culpa conduzem o
comportamento das pessoas a agir conforme
as normas, valores que é considerado correto
para a organização.
Ao pensar em deixar a organização em
que trabalha, o indivíduo sente presente os
sentimentos de culpa, porém não são
somente estes sentimentos que aparecem,
eles vêm acompanhados do reconhecimento
de obrigações e deveres para com a
organização, o que muitas vezes demanda
sacrifícios pessoais, insistência, gerando
incômodo, ansiedade, nervosismo e
preocupação (SIQUEIRA; GOMIDE JÚNIOR,
2004).
A internalização das pressões
88
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normativas tem como consequência um
modelo de comportamento que pode adotar
diversas medidas em relação ao
comprometimento (WIENER, 1982 apud
KUABARA e SACHUK, 2010). A cultura da
organização tem grande influência nas
pressões normativas, pois na maioria das
vezes estas pressões provêm da cultura
(MEDEIROS et al, 2003).
Rego, Cunha e Souto (2007) destacam
que aqueles com sentimento de dever de
lealdade junto à organização apresentam
uma tendência em adotar comportamentos
positivos para com a organização. Porém
estas condutas podem não ser tão percebidas
por ela.
Marques e Siqueira (2003 apud Medeiros,
Albuquerque e Marques, 2005), no qual,
através da união de dois instrumentos
utilizados para medir o comprometimento
organizacional, foi possível identificar sete
dimensões para o comprometimento
organizacional. Um instrumento utilizado é o
de Meyer, Allen e Smith (1993 apud Medeiros,
Albuquerque e Marques, 2005), e o outro é o
de O'Reilly e Chatman (1986 apud Medeiros,
Albuquerque e Marques, 2005).
Nessa perspectiva, Medeiros et al
(2003 apud Medeiros, Albuquerque e
Marques, 2005) expõem que o
comprometimento organizacional é formado
por sete dimensões ocultas que são: a)
identificação com os valores e objetivos da
organização; b) crença de que tem obrigação
em continuar na organização; c) sentimento
de que deve se esforçar em benefício da
organização; d) sentimento de que é
reconhecido como membro do grupo pelos
colegas; e) sentimento de fal ta de
recompensas e oportunidades; f) acredita
que deve manter certas atitudes e regras
para se manter na organização; e, g) poucas
alternativas de trabalho.
No entendimento de Meyer e Allen
(1991 apud Kuabara e Sachuk, 2010), os três
tipos de comprometimento fazem menção ao
estado psicológico do trabalhador, como este
sendo marcado pelo relacionamento do
indivíduo com a organização e a decisão em
continuar na empresa. Conforme cada forma
e intensidade de comprometimento que o
trabalhador conhece provocam diversas
formas de comportamento no trabalho.
Na visão de Bastos (1995 apud COSTA,
2005), diversos focos podem funcionar como
alvos da ligação do trabalhador, mesmo que
estes possuem fronteiras de investigação
adequadas e próprias, é preciso integrá-los.
A partir desta linha de pensamento,
em que os elementos unidimensionais fazem
parte do vínculo psicológico, que se
atravessam e podem estar inseridos numa
visão multidimensional dos elementos que
contribuem para o comprometimento entre o
trabalhador e a organização influenciando
dinamicamente o comprometimento que se
desenvolveu esta pesquisa.
2.2.1.4 Enfoque multidimensional
Após alguns pesquisadores
entenderem que os enfoques
unidimensionais eram elementos presentes
na ligação psicológica entre o trabalhador e a
organização, passaram então a analisar os
modelos multidimensionais (MEDEIROS,
2003).
O modelo multidimensional mais
aceito é o modelo de Meyer e Allen (1991
apud Medeiros, 2003), segundo o qual os
autores definem o comprometimento em três
elementos: o afetivo, no qual o
comprometimento acontece através de um
apego à organização; o instrumental, em que
os custos e benefícios ligados em deixar a
organização influenciam no
comprometimento e o normativo, em que o
sentimento de obrigação em continuar na
organização contribui para o
comprometimento.
Conforme Medeiros et al (2002 apud
COSTA, 2005), no Brasil as pesquisas sobre
múltiplos focos do comprometimento não são
amplas, porém são de grande profundidade e
qualidade, estando representadas por
estudos realizados por Bastos e
colaboradores, que enfatizaram focos como
carreira, sindicato e organização. Vale
ressaltar que foco pode funcionar como alvos
das relações formadas pelo sujeito, e difere
de bases que são os motivos pelo qual o
colaborador se vincula a organização,
podendo ser estas bases afetiva,
instrumental e normativa.
Em decorrência de um trabalho
desenvolvido por Medeiros, Albuquerque,
3. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
Foi realizado um estudo de caso em
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
um supermercado da região noroeste do Rio
Grande do Sul, com 38 amostras numa
população de 119 colaboradores, no período
de setembro a outubro de 2012, com a
aplicação de uma escala (Escala de Bases do
Comprometimento Organizacional), que
avalia sete dimensões do comprometimento.
Quanto à abordagem, essa pesquisa
foi quantitativa, em que, segundo Güllich et al
(2007), os resultados podem ser
demonstrados em números. Em relação aos
procedimentos, essa pesquisa foi do tipo
descritiva, pois teve como objetivo investigar
quais as bases de comprometimento mais
s ig n i f ica tiva s e n tre o s m e m b ro s d a
organização em estudo, bem como foi
realizada uma pesquisa de campo, estudo de
caso e estatística.
Para a coleta dos dados foi utilizada a
pesquisa bibliográfica, que consiste em fazer
uma consulta em bibliografias já divulgadas
sobre o assunto referente à pesquisa
(LAKATOS; MARCONI, 1987) e a aplicação de
uma escala com perguntas fechadas
(GÜLLICH; LOVATO; EVANGELISTA, 2007),
empregando o instrumento Escala de Bases
do Comprometimento Organizacional
(EBACO). A escala foi entregue pela
responsável do RH da empresa a cada
trabalhador e, em uma data previamente
marcada, foram recolhidas pela pesquisadora
junto ao RH da empresa as escalas
respondidas.
A Escala de B ases do
Comprometimento Organizacional foi
projetada para mensurar sete bases do
mesmo, sendo que elas possuem alguns
fatores que as definem. Elas são
apresentadas a seguir com seus respectivos
fatores: a) obrigação em permanecer (crença
de que tem uma obrigação em permanecer;
de que se sentiria culpado em deixar; de que
não seria certo deixar; e de que tem uma
obrigação moral com as pessoas da
o r g a n i z a ç ã o ) ; b ) a f e t i va ( c r e n ç a e
identificação com a filosofia, os valores e os
objetivos organizacionais); c) afiliativa
(crença que é reconhecido pelos colegas
como membro do grupo e da organização); d)
escassez de alternativas (crença de que
possui poucas alternativas de trabalho se
deixar a organização); e) obrigação pelo
desempenho (crença de que deve se esforçar
em benefício da organização e que deve
buscar cumprir suas tarefas e atingir os
o b j e t i vo s o r g a n i z a c i o n a i s ) ; f ) l i n h a
consistente de atividades (crença de que
deve manter certas atitudes e regras da
organização com o objetivo de se manter na
organização); e g) falta de recompensas e
oportunidades (crença de que o esforço extra
em benefício da organização deve ser
recompensado e de que a organização deve
lhe dar mais oportunidade). A EBACO foi
aplicada pela primeira vez por Medeiros
(2003). É composta de 28 itens, sendo 04
para cada uma das 07 bases.
Os dados foram coletados pela
pesquisadora no período de setembro a
outubro de 2012. A EBACO foi aplicada
individualmente, mas os resultados foram
interpretados coletivamente. A proposta foi
de uma avaliação de todo o universo de
colaboradores (119), porém retornaram 38
escalas respondidas.
Para a análise dos dados foi utilizada a
técnica de análise estatística na tabulação
d a s r e s p o s t a s ( G Ü L L I C H ; L O VATO ;
EVANGELISTA, 2007). Para chegar aos
valores dos resultados, primeiramente
calculou-se a média que os respondentes
deram para cada item da escala;
posteriormente, multiplicou-se a média
encontrada pelo peso de cada indicador que
se encontra na interpretação da escala.
Alguns indicadores possuem um coeficiente
de correlação maior com a base do que
outros, daí a necessidade de se realizar o
procedimento de multiplicação pelos pesos,
de modo que o escore obtido em cada base
de comprometimento reflita a importância de
cada item na definição do fator. A avaliação de
cada base do comprometimento
organizacional deve considerar, portanto, os
quatro indicadores correspondentes que
permaneceram na escala após as análises
fatoriais. Em seguida, soma-se o resultado
dos quatro indicadores multiplicados por seus
respectivos pesos para avaliar cada base.
Para a avaliação deve-se considerar como os
resultados se encontram em relação a cada
uma das bases do comprometimento, a partir
dos níveis que se encontram na interpretação
da escala.
Nas bases afetiva, afiliativa, obrigação
em permanecer e obrigação pelo
desempenho é importante um alto
comprometimento, já nas bases
instrumentais, escassez de alternativas, linha
consistente de atividade e falta de
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
objetivos da mesma, há um desejo dos
trabalhadores em permanecer neste local.
recompensas e oportunidades deseja-se que
o indicador do comprometimento seja baixo
(BASTOS et al, 2008).
Quanto às questões éticas foi utilizado
um termo de consentimento livre e
esclarecido, em que a pesquisa aconteceu de
forma espontânea, bem como foi utilizado um
termo de concordância, em que o gestor da
instituição autorizou a pesquisa.
Nas bases obrigação em permanecer e
na afiliativa, obteve-se um resultado abaixo
da média, o que não indica um resultado
bom, pois nestas bases, assim como na
afetiva e na obrigação pelo desempenho, é
importante que o comprometimento seja
alto. Constata-se que os colaboradores não
se sentiriam culpados em deixar a
organização e não acreditam que tenham
uma obrigação moral com as pessoas da
organização, bem como o reconhecimento
dos colegas como este sendo membro do
grupo e da organização também não é fonte
de comprometimento.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para melhor compreensão dos dados é
importante mencionar que as bases afetiva,
obrigação em permanecer, obrigação pelo
desempenho e afiliativa para os autores
Bastos et al (2008), devem aparecer com um
índice de alto comprometimento. Já as bases
falta de recompensas e oportunidades, linha
consistente de atividade e escassez de
alternativas é importante um indicador de
baixo comprometimento.
Em seguida, apresenta-se a média
geral dos colaborados do supermercado em
estudo, que apresentaram os seguintes
resultados:
Destaca-se que a base obrigação pelo
desempenho obteve um alto
comprometimento, ou seja, os trabalhadores
se comprometem, pois acreditam que devem
se esforçar em benefício da organização,
cumprindo tarefas e buscam atingir os
objetivos organizacionais.
Gráfico1: Média Geral Escala de Bases do
Comprometimento Organizacional.
Já nas bases instrumentais como falta
de recompensas e oportunidades, escassez
de alternativas e linha consistente de
atividade é importante que o
comprometimento seja baixo, porém
observa-se que a base linha consistente de
atividade obteve um resultado acima da
média, o que não sugere ser um bom
resultado. Nesse sentido, constata-se que os
sujeitos da amostra acreditam que devem
manter certas atitudes e regras da
organização para continuarem na mesma.
A partir dos resultados da escala podese verificar que na base falta de recompensas
e oportunidades o comprometimento está
abaixo da média, significando que não
acreditam que o esforço extra em benefício
da organização deva ser recompensado e de
que a organização deva lhe dar mais
oportunidade.
Fonte: Winter; Ziegler, 2012
Após a análise e tabulação da Escala
de Bases do Comprometimento
Organizacional, pôde-se constatar que, na
média geral, a base afetiva obteve resultado
acima da média, sendo que esse resultado
indica que os colaboradores do
supermercado se identificam com os valores,
crenças da organização, acreditam nos
Em relação ao fator escassez de
alternativas, os resultados apontam que o
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
comprometimento é baixo, expressando que
não acreditam que tenham poucas
alternativas de trabalho se deixar a
organização.
civil, homens e estado civil, mulheres casadas
e homens casados, mulheres solteiras e
homens solteiros, mulheres união estável e
homens união estável, tempo de serviço,
idade e escolaridade, porém serão
apresentados os que se destacaram.
Além da média geral também foram
feitas análise de gênero, estado civil, o
cruzamento dos dados entre mulher e estado
Figura 2: Mulheres Casadas X Homens Casados
Fonte: Winter; Ziegler, 2012
Os dados revelam que as mulheres
casadas se encontram menos comprometidas
no fator obrigação em permanecer, pois estas
demonstram um índice abaixo da média,
indicando que não se sentiriam culpadas em
deixar a organização e não possuem uma
obrigação moral com as pessoas da
organização. Os homens neste fator têm um
índice acima da média.
Na base afiliativa, tanto as mulheres
casadas como os homens casados,
demonstraram-se comprometidos abaixo da
média, evidenciando que o reconhecimento
pelos colegas como sendo membro do grupo
e da organização não é fonte de
comprometimento.
No fator linha consistente de atividade
os homens casados e as mulheres casadas
exibiram um resultado acima da média, o que
representa que eles acreditam que devem
manter certas atitudes e regras da
organização para continuarem na mesma.
Os fatores com alto comprometimento
para as mulheres são afetivo, obrigação pelo
desempenho e linha consistente de atividade.
Já para os homens os fatores com alto
comprometimento são afetivo, obrigação em
permanecer, obrigação pelo desempenho e
linha consistente de atividade. Tanto para os
homens casados como para as mulheres
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casadas os fatores falta de recompensas e
oportunidades e escassez de alternativas
ficaram com índices baixos, sendo um bom
resultado.
Figura 3: Mulheres União Estável X Homens União Estável
Fonte: Winter; Ziegler, 2012
união estável apresentaram um baixo
comprometimento e os homens com união
estável exibiram um comprometimento
abaixo da média, demonstrando que o
reconhecimento pelos colegas como estes
sendo membro do grupo e da organização
não é fonte de comprometimento para
ambos.
N o fa t o r l i n h a c o n s i s t e n t e d e
atividade, ambos indicaram estarem
comprometidos acima da média, significando
que eles acreditam que devem manter certas
atitudes e regras da organização para se
manterem na mesma.
As bases que indicam um alto
comprometimento para as mulheres com
união estável são obrigação pelo
Constata-se que as mulheres com
união estável estão menos comprometidas
afetivamente que os homens com união
estável, apresentando um resultado abaixo
da média que indica que elas não acreditam e
não se identificam com a filosofia, os valores
e os objetivos organizacionais. No gênero
masculino na base afetiva apresentam uma
pontuação acima da média demonstrando
estarem comprometidos afetivamente.
No fator obrigação em permanecer,
ambos obtiveram um baixo
comprometimento, evidenciando que não se
sentiriam culpados em deixar a organização e
não possuem uma obrigação moral com as
pessoas da organização.
Na base afiliativa, as mulheres com
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desempenho e linha consistente de atividade.
Já para os homens com união estável as
bases com alto comprometimento são
afetiva, obrigação pelo desempenho e linha
consistente de atividade. Os fatores falta de
recompensas e oportunidades e escassez de
alternativas obtiveram resultado baixo tanto
para as mulheres com união estável como
para os homens com união estável, sendo
considerado um bom resultado.
Figura 4: Escolaridade
Fonte: Winter; Ziegler, 2012
pessoas da organização. Já os que possuem
ensino superior incompleto estão
comprometidos acima da média na base
obrigação em permanecer.
Na base afiliativa verificou-se que os
trabalhadores com ensino fundamental
completo e ensino superior incompleto estão
comprometidos abaixo da média e os que têm
ensino médio incompleto e ensino médio
completo demonstram estar com um baixo
comprometimento, ou seja, o
Em relação à escolaridade, os
resultados apontam que os colaboradores
que possuem o ensino fundamental
incompleto, ensino médio incompleto, ensino
médio completo estão comprometidos abaixo
da média, os que têm ensino fundamental
completo estão com um baixo
comprometimento no fator obrigação em
permanecer; portanto, eles não se sentiriam
culpados em deixar a organização e não
possuem uma obrigação moral com as
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reconhecimento pelos colegas como estes
sendo membro do grupo e da organização
não é fonte de comprometimento. Já os que
têm ensino fundamental incompleto estão
comprometidos acima da média neste fator.
No fator falta de recompensas e
oportunidades somente os que possuem
ensino fundamental incompleto
apresentaram um resultado acima da média,
significando que os trabalhadores acreditam
que o esforço extra em benefício da
organização deve ser recompensado e que a
organização deve oferecer-lhes mais
o p o r t u n i d a d e . O s d e m a i s n í ve i s d e
escolaridade obtiveram um resultado abaixo
da média neste fator.
No que diz respeito à base linha
consistente de atividade, as pessoas com
ensino fundamental incompleto, ensino
fundamental completo, ensino médio
incompleto, ensino médio completo e ensino
superior incompleto encontram-se
comprometidos acima da média, não
indicando um bom resultado, pois eles
acreditam que devem manter certas atitudes
e regras da organização com o objetivo de se
manterem na mesma.
Os fatores com alto índice de
comprometimento para os que têm ensino
fundamental incompleto são afetivo,
obrigação pelo desempenho, afiliativo, falta
de recompensas e oportunidades e linha
consistente de atividade. Já para os que têm
ensino fundamental completo, ensino médio
incompleto e ensino médio completo as bases
com alto comprometimento são afetiva,
obrigação pelo desempenho e linha
consistente de atividade. Os que possuem
ensino superior incompleto estão
comprometidos com um alto índice pelas
bases afetiva, obrigação em permanecer,
obrigação pelo desempenho e linha
consistente de atividade. A base escassez de
alternativa ficou com resultado baixo para
todos os níveis de escolaridade, sendo
considerado um bom resultado.
d e f o r m a m e n o s e x p r e s s i va , e s t ã o
comprometidos pelas bases obrigação em
p e r m a n e c e r, s e n d o q u e o s q u e s e
apresentam comprometidos por essa base
são os trabalhadores com idade entre 31 a 45
anos, os que possuem ensino superior
incompleto e os homens casados. As outras
bases que também apontam
comprometimento, com uma amostra de
sujeitos que tem ensino fundamental
incompleto, são a afiliativa e a base falta de
recompensas e oportunidades. Dessa forma,
pode-se assegurar que os objetivos da
pesquisa foram atingidos, uma vez que foi
possível observar as bases de
comprometimento que mais se destacam
entre os membros da organização em estudo.
Sugere-se que este estudo sirva como
uma ferramenta de gestão, no qual a
empresa possa verificar os aspectos positivos
que interferem no comprometimento dos
trabalhadores, bem como conhecer as
lacunas em relação às bases do
comprometimento e, desta forma, criar
estratégias para desenvolvê-las.
O contexto revelado na pesquisa
permite associar à lógica de funcionamento
dessa organização, no qual o reforço da
lógica sistêmico-controladora (que vê o
sujeito como máquina e que há um controle
sobre os trabalhadores) está associada à
base linha consistente de atividade que o
trabalhador sente que precisa seguir normas
e regras para permanecer na organização. Já
a perspectiva processual-relacional é
revelada por meio da base afetiva, ou seja, os
trabalhadores se identificam com os valores,
filosofia e objetivos da organização. Também
é fundamental destacar a importância de
criar estratégias para desenvolver a base
afiliativa para que a perspectiva processualrelacional se fortaleça, pois é mediante a
aceitação do outro enquanto sujeito no grupo
de trabalho que as relações se fortalecem e a
organização se torna mais humanizada.
Sugere-se para as próximas pesquisas
sobre esse tema que se utilize, juntamente
com a Escala do Comprometimento
Organizacional, uma pesquisa qualitativa,
para averiguar de maneira mais aprofundada
cada base medida nesta escala, no sentido de
investigar os fenômenos que interferem nas
bases de comprometimento que mais se
destacam na empresa pesquisada.
CONCLUSÃO
Os resultados apontam que as bases
que fazem com que os colaboradores se
comprometam com a organização de maneira
mais expressiva são a afetiva, obrigação pelo
desempenho e linha consistente de atividade.
Verifica-se, também, que os trabalhadores,
95
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
O FANTASMA DA ÓPERA SOB UMA VISÃO GESTÁLTICA
Arlete Salante 1
Carlene Maria Dias Tenório 2
Instituto de Gestalt-terapia de Brasília 3
ABSTRACT
Movies thrill by identifications that their
characters and stories cause consciously and
unconsciously to the audience. The plots reveal
parts of people s lives, everyday, of childhood
memories, family b eliefs, religious and
ideological, social conflicts, the loving dramas
and the plethora of stereotypes that affect the day
to day. The Phantom of the Opera, film analyzed,
represents the dilemma of a life choosing. The
character Christine must decide between the
Phantom and Raoul, between vocation for music
or wedding. From some concepts and
assumptions of the theory of Sartre, Rollo May,
Maslow and Fritz Perls an analysis of the
subjective process by which human beings make
choices is proposed. Revisit these humanists and
existentialists theorists allowed some reflections
on the place of human choices before their
existential dilemmas.
RESUMO
Os filmes emocionam pelas identificações
que seus personagens e histórias causam de
modo consciente e inconsciente a quem os
assiste. As tramas revelam partes da vida das
pessoas, do cotidiano, das memórias de
infância, das crenças familiares, religiosas e
ideológicas, dos conflitos sociais, os dramas
amorosos e a infinidade de estereótipos que
condicionam o dia a dia. O Fantasma da
Ópera, filme analisado, representa o dilema
de uma escolha de vida. A personagem
Christine precisa decidir-se entre o Fantasma
e Raoul, entre a vocação para música ou o
casamento. A partir de alguns conceitos e
pressupostos da teoria de Sartre, Rollo May,
Maslow e Fritz Perls propõem-se uma análise
do processo subjetivo pelo qual o ser humano
faz suas escolhas. Revisitar esses teóricos
humanistas e existencialistas possibilitou
algumas reflexões sobre o lugar das escolhas
humanas diante de seus dilemas existenciais.
Keywords: Being. Existence. Creative adjustment.
P a l a v r a s - c h a v e : S e r. E x i s t ê n c i a .
Ajustamento criativo.
1
Psicóloga, Psicoterapeuta, Especialista em Psicologia Clínica na Perspectiva da GestaltTerapia.
IBTB , [email protected]
2
Terapia
Prof.ª Drª. Orientadora em Curso de Especialização em Psicologia Clínica na Perspectiva da Gestalt
–, IGTB., [email protected]
3
Instituto de Gestalt-Terapia de Brasília – IGTB – SBN Qd.02 Bl.J Lj.01 Ed.Engº Paulo Maurício
– Brasília,
DF.
98
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1. INTRODUÇÃO
não é. Enganar-se que age quando na
verdade não o faz. Em outras palavras, o
indivíduo mascara e dissimula a verdade para
si, a fim de não assumir a liberdade.
Neste sentido, compreende-se a
máxima de Sartre (ABBGNANO, 1960/1982)
“o homem é condenado à liberdade”. Muitas
vezes é mais cômodo ver a si mesmo pelos
olhos dos outros e agir de acordo com o que
esperam, do que encarar a consciência de ser
livre e responsável pelas próprias escolhas.
A existência humana no mundo
consiste no projeto que Sartre considera
continuamente modificável. Para ele, a
angústia revelada manifesta à consciência
sobre a liberdade que o homem tem e, por
isso, é possível modificar o projeto inicial
(ABBGNANO, 1960/1982).
O psicanalista existencialista Rollo May
(1983/1991) também abordou o ser e o nãoser. Para May, o ser se configura na
autorrealização, a realização do projeto da
alma e traz a característica da
transcendência. A transcendência é
compreendida pelos pensadores
existencialistas como capacidade que cada
pessoa tem de superar seus obstáculos rumo
à realização do projeto existencial.
O não-ser se relaciona ao
conformismo, a adaptação do indivíduo ao
meio em que se encontra. Nesta posição
reina a homeostase, tudo em nome do
equilíbrio, nada de mudança.
Conforme Maslow (1962), a condição
para a acomodação se forma mediante um
contexto específico que tornará o indivíduo
propenso a minimizar atrativos de vida,
maximizando medos e perigos. As situações
de impacto como perigo, ameaça, abandono,
f ra c a s s o, f r u s t ra ç ã o o u t e n s ã o s ã o
facilitadores de regressão ou fixação. Maslow
aponta estes fatores intervenientes que
favorecem o sujeito preferir a segurança em
detrimento do desenvolvimento.
A partir de Sartre e de May sobre a
compreensão da condição do ser e do não-ser
torna-se mais claro perceber que a intenção
das escolhas parte de origens diferentes.
Pode-se dizer que uma vem de uma cadeia
complexual e atua para homeostase, outra
vem de uma natureza humana que coloca o
indivíduo na sua totalidade.
Maslow (1962) distinguiu esses dois
conjuntos de forças entre segurança e
O dilema das escolhas humanas é
questão estudada desde a filosofia à
psicologia e expressa por diversas linguagens
artísticas. Do cinema à poesia temos
elementos de constante reflexão. É uma
temática sempre atual, embora com
diferentes linguagens.
O Fantasma da Ópera é um filme que
nos confirma que a arte imita a vida, é um
musical que conta uma história. Digo história
porque segundo extras do DVD do filme a
obra foi escrita por Andrew Webber para sua
amada Sara Brigtmann quando ela já dava
sinais de deixá-lo. Ele compositor e, como seu
companheiro, por anos compôs apenas para
ela, para a elevação da sua voz, contribuindo
enormemente para o seu sucesso. Porém,
não se pretende aqui uma análise da história
real de Andrew e Sara. O trabalho está
pautado na discussão do filme com
personagens fictícios.
As possibilidades de trabalho a partir
desta obra são várias. O amplo olhar da
Gestal-terapia possibilitou compreender
melhor o ser humano e o contexto que ele
mesmo cria para sua vida. A partir desta
perspectiva e através da analise das cenas e
das letras do musical correlacionando com os
conceitos de Sartre, Rollo May, Maslow e Fritz
Perls, foi possível identificar e demonstrar o
lugar subjetivo no qual o ser humano faz suas
escolhas.
2. REVISÃO DA LITERATURA
A Questão do Ser e da Existência
Humana na Perspectiva de Sartre, Rollo
May e Maslow
A intencionalidade da consciência
pode vir de dimensões diferentes de uma
mesma pessoa. Jean-Paul Sartre, filósofo
existencialista, afirmou que a consciência se
divide entre ser e não-ser (PENHA, 1982).
Para Sartre, o indivíduo acredita na mentira
que diz, mas nem por isso desconhece a
verdade que procura ocultar. Apenas se
esconde numa máscara para não assumir sua
liberdade. A liberdade traz a angústia da
escolha e, por consequência, significa
assumir a responsabilidade por alguma
decisão. Sartre (PENHA, 1982) nomeia de
má-fé este autoengano do indivíduo ser o que
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
crescimento: o Eu apegado à segurança faz
regressão e coloca o sujeito na defensiva,
receoso de independência, liberdade e
separação; o Eu saudável empreende com
espontaneidade e confiança, funcionando
plenamente com suas capacidades.
May (1983/1991) também
compreendia que do lugar do ser, da natureza
humana saudável, a consciência, as escolhas
e atitudes são pouco convencionais para os
padrões sociais e familiares.
Inúmeros são os conflitos trabalhados
no espaço psicoterapêutico que refletem
vários estereótipos internalizados através da
educação e da reprodução de crenças
familiares e sociais. Estereótipos são modelos
externos passados de geração a geração
influenciando e reforçando escolhas
complexuais. Ou seja, o não-ser, orientado
pelo medo e pela mensagem que para haver
aceitação de fato é preciso cumprir a ordem
vigente. Cumpre o papel de uma adaptação
ao meio em que vive.
Assim, compreende-se que a fixação
n a s c o nve n ç õ e s p o d e i nv i a b i l i z a r a
autorrealização, afastando a existência de
seu projeto original. O projeto é inerente ao
humano. É pelo projeto existencial que nos
tornamos humanos, nos realizamos,
evoluímos e humanizamos o planeta. Remete
a autenticidade da pessoa para realizar a
vida.
O Existencialismo na Gestalt-terapia
permite uma profunda reflexão sobre o
h o m e m e a e x i s t ê n c i a . Fa c i l i t a o
desvelamento do ser, no sentido de encontrar
sua individualidade. A partir daí, o homem
tem a opção de definir o que pretende ser.
Conforme Ribeiro (1985, p.37):
dos talentos do indivíduo, tudo depende de
suas escolhas até a fase adulta.
“Em geral, somente uma criança que
se sente segura se atreve a progredir
saudavelmente (...) as necessidades de
segurança insatisfeitas permanecerão para
sempre subjacentes, exigindo sempre a sua
satisfação” (MASLOW, 1962, p.76-7).
É a subjetividade que dá o critério
original de motivação (Maslow, 1962). A luta
entre o medo e coragem permeia o conflito da
individuação, ambos trazem angústias e
prazeres. Compreende-se em Maslow (1962)
individuação como vocação, processo de
realização de potenciais, capacidades e
talentos; refere-se à aceitação da própria
natureza intrínseca que leva à integração.
A ansiedade, segundo May
(1977/1980), vem do medo dos próprios
poderes e dos conflitos advindos desse medo.
Forma-se com isso o caráter definidor da
personalidade do neurótico: “o homem
voltado para fora”. O resultado disso é um
esvaziamento pela dispersão e as tentativas
de adaptação à frustração. Mesmo assim, é
dado ao indivíduo passar boa parte da sua
existência buscando o sentido da vida que, ao
encontrar, nem sempre se apropria. Mas,
mesmo não se apropriando, a existência no
mundo consiste num projeto continuamente
modificável, renovando assim o sentido da
vida.
Os fatores que aumentam o medo
sufocam o impulso para o saber e até o
impulso criativo. O conflito entre ser e nãoser, entre medo do conhecimento e
crescimento, conhecimento e ignorância de
si, são paradoxos do mundo interno do
homem que, ao se adaptar às constantes
frustrações, serve para alimentar a própria
psicopatologia no humano.
Maslow (1962) aponta para a estreita
ligação entre o saber e o fazer como causa do
medo de saber pelo receio de ter que fazer. O
saber traz a responsabilidade de fazer, é aí
que o comodismo fica ameaçado e a batalha
entre o medo e a coragem se instala.
Coragem e Medo no Processo de
Ajustamento Criativo e Conservativo
Compreende-se que o conflito entre
medo e coragem se instala porque a posição
cômoda foi provocada pela consciência do
saber de si, e este saber pede uma ação, ou
seja, o saber de si responsabiliza o indivíduo
E x i s t ê n c i a ,
etimologicamente, vem de
ex-sistire: começar a ser, vir
de alguma coisa e, neste
sentido, o homem é o único
que pode sair de si para
projetar a si mesmo, pode
fazer um projeto de si
próprio, ele próprio é um
projeto, realizando-se. O
homem é uma existência
porque ele é um projeto,
isto é, o homem é um ser se
fazendo.
Compreende-se que a capacidade
existe, porém fatores anteriores à fase adulta
são determinantes para a realização ou não
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
para o crescimento. Sendo assim, temos
ainda que compreender esta batalha a partir
do contato da pessoa com o meio ambiente,
pois é neste espaço vital que ela se depara
com as soluções disponíveis.
Pa ra Ku r t L e w i n ( 1 9 6 6 / 1 9 7 1 ) ,
psicólogo alemão que desenvolveu a Teoria
de Campo, ao estudar um indivíduo, deve-se
compreender o funcionamento de seu espaço
vital, que é tudo que existe psicologicamente
para ele. Esse espaço vital vai além das
dimensões do espaço físico e do tempo
cronológico. Nele estão o que poderia
influenciar ou ser influenciado pelo indivíduo.
Percebe-se aqui que a experiência de
contato que se dá na fronteira entre o
organismo e o meio resulta do modo de ser ou
n ã o - s e r, c o n f o r m e p o s t u l a d a p e l o
existencialista Rollo May em outras palavras.
É na forma como se estabelece o contato com
o meio que o ser tenta se realizar através de
ajustamentos criativos ou de ajustamentos
conservativos. O ajustamento conservativo
se refere a fixações em necessidades de
segurança insatisfeitas e as formas de buscar
essas satisfações, ainda que sejam pela
repetição. A preservação vem de um self
diminuído ou “as áreas de contato podem ser
restritas, como nas neuroses” (PERLS,
HEFFERLINE & GOODMAN, 1951/1997,
p.180).
No verbete 'ajustamento criativo' do
Dicionário de Gestalt-terapia - Gestaltês
encontramos:
causou, ou seja, a forma de reação frente aos
fatos é mais importante que o conteúdo. O
comportamento é entendido não somente
como resultado da realidade interna da
pessoa, mas passa a ser analisado em função
do campo que existe quando ele ocorre.
Perls et al. (1951/1997) postularam o
fenômeno contato a partir da experiência na
fronteira entre o organismo e o ambiente.
Ribeiro (1997) define o contato como uma
elaboração, um fenômeno, dado pela relação
dinâmica que há na interação pessoa mundo,
entre a pessoa e o meio. Essa interação passa
por processos que modificam as relações e
permite que essas pessoas continuem sua
existência, seu desenvolvimento e
autorrealização. Contato é uma das forças
atuantes que define o campo.
Há entre o homem e o mundo uma
relação que influencia, modifica e transforma.
É onde o meio psicológico pode alterar o
mundo físico e vice-versa. Para que os fatos
do meio físico se tornem realidade para a
pessoa é preciso que estes sejam vivenciados
por ela, ou seja, que se torne parte do meio
psicológico assumindo um significado
subjetivo e particular para ela, determinando
assim, a forma pela qual a pessoa vai lidar
com a situação ou ajustar-se a ela, de forma
criativa ou conservativa.
A forma criativa de lidar com os fatos
do meio psicológico é definida como
ajustamento criativo em Gestal-terapia. O
ajustamento criativo a partir das funções do
ego possibilita as escolhas existenciais, a
forma de viver a vida diante dos contextos
que se apresentam para cada pessoa.
O ajustamento criativo se refere à
sabedoria de administrar a situação
instrumentalizando os recursos disponíveis
para obter soluções favoráveis ao
desenvolvimento próprio, por mais adversas
que sejam as situações enfrentadas.
O ajustamento promove mudança e
crescimento quando possível, mas também
conservação e preservação. Para Philippi
(2004, p.72): “...o self fica entre a
necessidade de preservação e a de mudança.
Isso porque, para que o organismo cresça,
t a m b é m t e m q u e s e c o n s e r va r.” O
crescimento vem a partir daquele ponto em
que se chegou, ou seja, existe crescimento a
partir do que já se alcançou.
Spangenberg (2007) compreende que
...os ajustamentos na
fronteira podem, contudo,
se cristalizar assumindo
formas crônicas de reação
em determinado âmbito de
vivência, ou seja, formas
alienadas das condições
presentes e atuais. Sendo
este o caso, o ciclo de
autorregulação está
interrompido neste
p a r t i c u l a r, f i c a n d o o
indivíduo incapaz de
s a t i s f a z e r s u a s
necessidades e em
permanente estado de
desequilíbrio e tensão
temporária ou permanente
da capacidade de ajustar-se
de forma nova num campo
sempre novo. (D'ACRI &
ORGLER, 2007, p.21)
A questão básica é a de como o
comportamento se deu, e nem tanto do que o
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
é a tensão entre mudança e conservação o
fator responsável por manter a integridade da
identidade ao longo da vida. Assim, para cada
movimento de mudança é preciso um de
conservação e este processo não se completa
até que ambos tenham uma nova síntese.
Porém, exceto este aspecto em que a
conservação tem sua função, é a conservação
o mecanismo responsável pela formação da
neurose, quando a conservação se torna
cristalizada. Assim, fazendo repetir o que deu
certo em algum momento, ela paralisa o
processo de crescimento.
A resistência é o resultado do conflito
entre forças paradoxais, de um lado a
necessidade de mudança, de outro a
conservação que garante certa estabilidade.
O conflito entre medo e coragem
provoca os mecanismos de ajustamento
conservativo e ajustamento criativo. Caso as
forças preservativas vençam em nome da
acomodação, o indivíduo se fixa ao modelo
que um dia deu certo resultado, repetindo,
atuando por uma memória e não pelas
oportunidades do momento para realização,
a partir da sabedoria do ajustamento criativo.
dia a dia. Enfim, o cinema retrata histórias
humanas e seus dilemas.
A vida imita a arte, ou será que é a arte
que imita a vida no cinema? O Fantasma da
Ópera, além de apontar que é a arte que imita
a vida, pela história que influencia o enredo,
trouxe o questionamento sobre o lugar
subjetivo no qual o ser humano faz suas
escolhas.
Opta-se, neste trabalho, por uma
análise global da obra em perspectiva com
visão gestáltica. Para isso, diversas cenas,
trechos de falas e letras do musical são
transcritas do próprio filme O Fantasma da
Ópera (2004) e correlacionados com os
conceitos, a fim de identificar e demonstrar o
lugar subjetivo no qual o ser humano faz suas
escolhas.
Desejo e vontade de dar certo na vida,
de uma maneira geral, todas as pessoas têm.
Ninguém acorda e diz: “hoje vou fazer tudo
errado para me dar mal”; no máximo, no
máximo o sujeito diz: “mais um dia para
enfrentar” ou “hoje vai ser difícil”. Pode-se
dizer que até aquelas pessoas que
escolheram e aprenderam enfrentar a vida na
transgressão da lei buscam o reconhecimento
e desejam acertar e vencer de alguma forma.
Porém, para além da linguagem
verbal, o desconhecimento de si promove
escolhas sem resultado de realização efetiva
e é assim que muitas escolhas são feitas. A
falta do discernimento sobre a origem da
motivação para escolher pode deixar o
indivíduo cego diante de si mesmo e da vida.
Assim, bons filmes, além de recreativos, são
pedagógicos, quando compreendidos.
Tornam-se vasto material de pesquisa a partir
da comoção causada no telespectador, e num
trabalho terapêutico, revelam à consciência
do indivíduo a sua própria intencionalidade
complexual ou existencial.
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
A Arte Cinematográfica como Reflexão
da Existência Humana
Os filmes nos emocionam, fazem-nos
rir, chorar, assustar, criticar... Identificamonos com seus personagens e histórias.
Encontramos “pedacinhos” da nossa vida, do
cotidiano, das memórias de infância, das
crenças familiares e religiosas, dos conflitos
sociais, os dramas amorosos e a infinidade de
estereótipos aos quais nos condicionamos no
Síntese do Filme
A história se passa num teatro de Paris
em 1870. Christine faz uma triangulação
amorosa com o Fantasma e Raoul. Christine,
cujo pai era um famoso maestro, ficou órfã e
foi para este teatro onde teve o Fantasma
como seu mestre secreto na arte da música.
Na noite oportunizada pelo Fantasma para
Chistine estrear, Raoul reconhece em
Christine a menina das brincadeiras de
infância. A partir deste encontro, ela é
As forças para mudança
(Fm) e as forças para a
preservação (Fp), em sua
inter-relação são as que
garantem o nosso
crescimento. É a relação
específica, a esta dança
entre opostos, que
d e n o m i n a m o s
RESISTÊNCIA. Em alguns
casos – na maior parte do
que chamamos de Neurose
– e n c o n t ra r e m o s e s t a
relação num processo de
estagnação, ao qual
chamamos de IMPASSE,
dentro da Gestalt.
( S PA N G E N B E R G , p . 5 1 ,
2007).
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
agora e deixe a sua alma
começar a se elevar e
você viverá como nunca
viveu antes, suave
primorosamente a
música vai acariciá-la,
ouça-a, sinta-a acariciála suavemente. Abra a
sua mente, liberte as
suas fantasias, nesta
escuridão que você não
pode combater (...) Deixe
a sua mente iniciar uma
viagem através de um
mundo novo e estranho.
(...) deixe que o seu lado
sombrio seja vencido
pelo poder da música que
eu componho (...) A
noite aguça e acentua as
sensações. A escuridão
agita e desperta a
i m a g i n a ç ã o ,
silenciosamente os
sentidos abandonam as
defesas (...) Esconda o
seu rosto da ostensiva luz
do dia, esconda os seus
pensamentos da fria e
insensível luz e ouça a
música da noite, feche os
olhos e se entregue aos
seus mais obscuros
sonhos. (O Fantasma da
Ópera, 2004)
disputada por dois amores, fica dividida e
obrigada a fazer sua escolha.
O Fantasma da Ópera é um espetáculo
que mobiliza o público pela estória que conta.
Há uma sequência de temas com efeitos
dramáticos, contrastes sonoros e realidade
exagerada. No filme, o mundo da ópera
acontece no palco do teatro e também nos
bastidores. No início do filme um senhor de
cadeira de rodas arremata em um leilão
realizado em um teatro um objeto que lhe
fora descrito. Ao final do filme este mesmo
senhor, no cemitério com o objeto em mãos, o
deposita no túmulo de sua esposa, este
senhor é Raoul.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO
A Questão do Ser e do Não-Ser da
Coragem e do Medo na Obra “O
Fantasma da Ópera”
Apesar da temática romântica,
percebe-se que esta ópera pode ir além de
um drama entre dois amores se
compreendermos que cada um deles
representa uma escolha. Os interesses são
conflitantes, como numa realidade existencial
do dilema humano sobre a maneira de viver a
vida, nos momentos em que a escolha de um
caminho exclui outras possibilidades.
O mundo íntimo de Christine que
encontra o mundo do Fantasma traz cenas de
erotismo e vitalidade. O olhar de Christine é
hipnótico diante de seu mestre. É um olhar
que passa transcendência, parece estar em
outro estado de consciência, parece que ela
enxerga além; enfim, é uma cena que traz a
representação de um encontro sublime. Ao
seu Anjo da Música ela pede:
Christine compreende, porém vê-se
que ela teme este mundo novo e
desconhecido. Desta forma o Fantasma, o
próprio dom, representa terror. De fato, ele é
implacável, não tolera desobediência. Isso é
assustador e pouco comum para uma jovem
romântica que se emociona ao reencontrar
seu amor de infância, Raoul. Para Christine a
escolha é bloquear o contato com o seu dom,
em vez de apropriar-se dele. Talvez seja um
tipo de ajustamento, ainda que esse dom
tenha se desenvolvido por anos
secretamente, ou seja, não era estranho a
ela. Bloquear o contato ou entrar em
resistência àquelas pessoas que propiciam a
autorrealização para muitas pessoas é o
caminho escolhido. Raoul representa uma
escolha mais adaptada às suas crenças
familiares e sociais. Ele é jovem, bonito,
poderá ser um bom protetor para a órfã, que
mesmo já adulta, ainda lamenta a morte do
pai. Christine está diante de um paradoxo que
nos coloca a questão: terá ela coragem de
permitir sua autorrealização unida a este
'Conceda-me a sua glória' e
canta ao descer ao espaço
subterrâneo: 'Aqueles que
viram o seu rosto se
retiraram com medo, eu sou
a máscara que você usa e é
por mim que eles ouvem. O
seu espírito e a minha voz, o
meu espírito e a sua voz,
misturados num só. O
Fantasma da Ópera está
dentro da minha mente' (O
Fantasma da Ópera, 2004).
E o Fantasma leva Christine ao seu
mundo secreto:
...afaste os pensamentos
da vida que conheceu até
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
homem que eleva seu talento e ao mesmo
tempo a assusta: o Fantasma, ou o medo fará
com que opte pela segurança de um
casamento com Raoul?
Christine, então, diante de Raoul
percebe o Fantasma de forma contraditória e
até, ameaçadora:
crescimento. Ele cobra o preço da dedicação
contínua. Sabe-se que cada escolha pede que
se abra mão de tantas outras.
Faz-se necessário o ajustamento
criativo para contemplar o dom e escolher
uma forma de vida pouco convencional, onde
Christine ficaria essencialmente
comprometida com seu talento e o
aprimoramento contínuo dele. Porém,
Chistine abre mão do seu talento musical e da
sua carreira na ópera. Ela escolhe ser uma
“ADORADA ESPOSA E MÃE” conforme está
escrito na lápide do seu túmulo que revela
seus anos de vida: 1854-1917. Na cena final,
seu esposo Raoul deposita um mimo
pertencente ao Fantasma que ele arrematou
no leilão em 1919, cena que dá início ao filme.
Em outras palavras o filme que teve nas suas
cenas iniciais, em um teatro abandonado
termina em um cemitério. As cenas iniciais e
finais são em preto e branco contrastando
com a rosa vermelha de laço preto deixada
pelo fantasma no túmulo de Chistine.
Além da trama principal, outros
contrastes com mundos e personalidades
diferentes são articulados nesta obra. Num
processo gradual o filme evolui e insere
realidades paralelas ao drama principal.
Existem os administradores do teatro, a
plateia lota o espetáculo, a mídia que vibra as
notícias, a personalidade difícil da diva,
dentre outros.
A música do Baile de Máscaras nos fala
de um contexto social que Christine e todos
nós estamos inseridos. A representação de
papéis ao se viver em sociedade conforme
suas normas, costumes, farsas, enfim, uma
busca estereotipada, um tipo de ajustamento
ou adaptação.
O mundo dele é de noite
infinita, num mundo onde a
luz do dia se dissolve na
escuridão (...) Será que
conseguirei esquecer
aquela imagem?
Conseguirei escapar
daquele rosto? Mas a voz
dele preenchia a minha
alma com um som estranho
e suave. Naquela noite
havia música na minha
mente, e através da música,
a minha alma começou a se
elevar (O Fantasma da
Ópera, 2004).
Percebe-se neste trecho da letra o
conflito de Christine entre o medo e a
coragem de assumir a posição do
crescimento, mesmo reconhecendo que sua
alma se eleva.
O Fantasma considera Raoul um jovem
insolente que quer participar de seu triunfo. O
Fantasma foi por anos professor de Christine
sem deixar sua imagem aparecer. Raoul
desconsidera a existência do Fantasma ao
dizer a Christine:
O que ouvi foi apenas um
sonho e nada mais (...)
Chega de falar de escuridão.
Esqueça todos os temores,
eu estou aqui, nada pode
machucá-la. As minhas
palavras acalentarão e
acalmarão você. Deixe que
eu seja a sua liberdade.
Deixe a luz do dia secar as
suas lágrimas. Eu estou aqui
com você ao seu lado para
protegê-la e guiá-la... (O
Fantasma da Ópera, 2004).
Rostos de papel desfilando.
Esconda o rosto, para que o
mundo nunca o descubra
(...) cada rosto uma sombra
diferente (...) No carrossel
numa corrida desumana
(..). O verdadeiro é falso,
quem é quem?(...) Bebam,
bebam tudo até se
afogarem. Na luz, no som,
mas quem sabe dizer o
nome? Mascarados!
Amarelos dissimulados,
vermelhos vibrantes (...)
Escolha o seu e deixe o
espetáculo maravilhar você
(...) Sombra sem ebulição,
mentiras sussurradas (...)
você pode enganar mesmo
A música da noite não é compatível
com a luz do dia. Aqui temos uma das várias
polaridades que a obra apresenta. Raoul
representa a realização de um romantismo da
menina Christine, um casamento, um
protetor, algo da ilusão feminina que se
transforma em necessidade. Raoul é a
segurança, a preservação de um modelo
recebido. O Fantasma, como elemento da
psique, é o dom, o talento, o potencial, o
grande promotor da mudança em nome do
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o amigo que o conheça
(...)Corra e esconda-se,
m a s u m r o s t o o
perseguirá... (O Fantasma
da Ópera, 2004).
da própria trajetória da civilização na
sociedade, na família, na religião, no
governo, etc. Os estereótipos, as máscaras e
os papéis desempenhados jamais podem
sobrepor-se ao ser e a sua autorrealização.
Esse dilema da humanidade é dito por
diversas linguagens artísticas, do cinema à
poesia, como se pode ler no fragmento da
poesia “Tabacaria”:
Enquanto o Baile de Máscaras
acontece, também há festa para os que
trabalham atrás do palco. De forma
caricaturada estão presentes elementos de
crítica às desigualdades sociais, aos papéis
impostos, à forma de se apresentar à
sociedade com objetivo de ser aceito. Os
administradores do Teatro vieram do negócio
da sucata e na posição de administradores
conseguem mais status social, são vistos e
convidados pela elite de Paris. A obra
apresenta nesta parte a “sociedade de
espetáculo”, a necessidade construída pelo
sistema em ter algum status para ser alguém
reconhecido.
Conforme Ribeiro: “Somos pessoas,
máscaras vivas, porque vivemos uma
totalidade precária e porque somente a
totalidade é autêntica” (2006, p.167-8).
O dilema da existência humana
consiste no conflito entre as polaridades: ser
e não-ser, medo e coragem, ajustamento
criativo e ajustamento conservativo.
...Fiz de mim o que não
soube,
E o que podia fazer de mim
não o fiz.
O dominó que vesti era
errado.
Conheceram-me logo por
q u e m n ã o e r a
e não desmenti, me perdi.
Quando quis tirar a
máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao
espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia
vestir o dominó
que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e
dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela
gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história
para provar que sou
sublime.
(PESSOA, 1888-1935/1992,
p.217-218)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O meio social constrói formas e
estabelece os padrões, a sociedade reproduz
o que está pronto por comodidade,
adaptação ou medo. Assim, desprivilegia os
talentos ao impor estes modelos
estereotipados, ou seja, privilegia a forma
desconsiderando o conteúdo de cada
existência. Ao mesmo tempo em que
escraviza provocando a normose, no sentido
de uma normalidade doentia e, também, a
própria neurose. É o paradoxo da existência:
nesta mesma sociedade que impõe como se
deve ser é o lugar onde o ser pode encontrar
sua autorrealização vencendo as
inseguranças.
É na relação com o meio que as
máscaras e os papéis aparecem. O grande
perigo para o indivíduo é acreditar ser o que
representa ou perder-se dentro do papel que
desempenha.
É preciso lembrar que o projeto
existencial que traz autorrealização é anterior
a tudo que constitui conceitos e normas, pois
estes são resultantes dos convívios sociais e
REFERÊNCIAS
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In:_____ existencialismo. Tradução
Alfredo Bosi. São Paulo: Mestre Jou, 1982
(Trabalho original publicado em 1960).
ABRÃO, Bernadette S. (Org.) A História da
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D'ACRI, Gladys; LIMA, Patricia; ORGLER,
Sheila (Orgs.). Dicionário de Gestalt-terapia:
gestaltês. In:_____ ajustamento
criativo. São Paulo: Editora: Summus,
2007.
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106
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
CLIMA ORGANIZACIONAL E SATISFAÇÃO DO COLABORADOR NO AMBIENTE
DE TRABALHO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DE CONFECÇÕES
Joseline da Silva 1
Lilian Ester Winter 2
SETREM 3
RESUMO
ABSTRACT
A presente pesquisa foi realizada com a
finalidade de verificar a percepção dos
c o l a b o ra d o re s e m re l a ç ã o a o c l i m a
organizacional e à satisfação dos
trabalhadores em relação a seu trabalho. O
estudo ocorreu em uma empresa de
confecções de roupas de uma cidade do
Noroeste do R/S. Os dados foram obtidos
mediante aplicação de duas escalas em 28
colaboradores. As escalas aplicadas foram:
ECO – Escala de Clima Organizacional e EST –
Escala de Satisfação no Trabalho. A pesquisa
aponta um indicador de clima organizacional
com nível mediano, considerado nem bom
nem ruim. Para ser considerado um clima
bom, a pesquisa deve pontuar acima de 4. O
estudo revela que o maior nível concentrouse no item conforto físico com 3,67 e no fator
controle/pressão que apontou 3,55 (que
deveria ser inferior a 2,9 já que esse indicador
deve ser analisado inversamente, ou seja, o
resultado indica a existência de controle e
pressão no trabalho), o item coesão entre
colegas teve índice de 3,56, apoio da chefia e
da organização marcou 3,37. Já o fator
recompensa teve o menor índice com 3,21.
Na escala de satisfação no trabalho o índice
geral das dimensões foi de insatisfação,
destacando-se os fatores satisfação com as
promoções com índice de 3,33 e satisfação
com o salário com 3,09 que estão sinalizando
insatisfação convergindo com o resultado do
fator de recompensa na pesquisa de clima.
Nesta escala para indicar satisfação as
dimensões deveriam apresentar pontuação
entre 5 e 7 e insatisfação entre 1 e 3,9.
This research was conducted in order to
ascertain the perceptions of employees with
regard to organizational climate and
satisfaction of workers in relation to their
work. The study took place in a clothing
company clothing in a city in Northwest R S.
The data were obtained by applying two
scales at
employees. The scales applied
were: ECO OCS - Organizational Climate
Scale and EST JSS - Job Satisfaction Scale. The
research shows an indicator of organizational
climate in a median level, which can not be
considered good or bad. To be considered a
good climate, research must score above .
The study reveals that the highest
concentrated on physical comfort with .
item, the score should be higher on items
and bad weather less than . , the factor
being inverted control pressure, the item was
peer cohesion index of . , the control factor
pressure showed . , supporting the
organization s leadership and scored , . The
reward factor had the lowest rate with . .
On the scale of job satisfaction dimensions of
the overall index was dissatisfaction,
highlighting the factors satisfaction with
promotions .
and satisfaction .
earnings are signaling dissatisfaction,
converging with the result of factor reward in
organizational climate research. On this scale
to indicate the dimensions should provide
satisfaction score between and and
dissatisfaction between and . .
Palavras-chaves: Clima organizacional.
Satisfação no trabalho.
Keywords: Organizational Climate. Job
Satisfaction.
1
Acadêmica de Bacharelado em Psicologia, SETREM
Psicóloga, Mestre em Desenvolvimento, Coordenadora do Curso de Psicologia e professora da SETREM, e -mail:
[email protected]
3
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de Maio – RS, e -mail: [email protected]
2
107
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1.INTRODUÇÃO
O cenário empresarial atual exige que
as empresas mantenham bons resultados
para sua sobrevivência no mercado, os quais
passam pela colaboração e desempenho de
seus trabalhadores.
A presente pesquisa tem como
objetivo conhecer os aspectos que a empresa
de confecções pesquisada busca
cultivar/melhorar no dia-a-dia de seus
colaboradores para criar um ambiente
saudável e agradável no trabalho. Assim, foi
definido como tema do estudo “Clima
Organizacional e Satisfação no Trabalho”,
buscando investigar qual a percepção dos
colaboradores em relação ao clima da
empresa e a satisfação em relação ao seu
trabalho. A pesquisa foi desenvolvida em uma
empresa de confecção de roupas, situada em
uma cidade do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul, durante o período de
JUNembro de 2011 a janeiro de 2012.
A pesquisa de Clima Organizacional e
Satisfação no Trabalho pode ser considerada
como ferramenta importante para analisar o
ambiente da empresa, permitindo a partir daí
traçar estratégias para a melhoria da
organização. Deve-se desconsiderar que o
mercado empresarial está cada vez mais
competitivo, impondo que as empresas
estejam voltadas à captação de novos
clientes. Desse modo, o problema definido
para a monografia foi: “Como o clima
organizacional influencia no nível de
satisfação dos funcionários?”
A resposta a essa indagação poderá
contribuir para uma reflexão e o debate sobre
f a t o r e s r e l e va n t e s e d e c i s i v o s q u e
influenciam positiva ou negativamente no
clima organizacional, oportunizando um
espaço para os trabalhadores trazerem suas
percepções e visões sobre o ambiente, as
relações, o controle, o trabalho em equipe,
entre outros e a organização, rever
processos, a gestão, os incentivos e
recompensas etc.
Martins (2008) afirma que, em
consequência das aceleradas mudanças
constatadas, as empresas demonstram
interesse em perceber melhor a vida
organizacional, procurando descobrir quais
as percepções similares e com significados
idênticos quanto aos aspectos da dinâmica
organizacional responsáveis pela base do
clima organizacional.
2.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 CLIMA ORGANIZACIONAL
O estudo de clima tem o objetivo de contribuir
com a organização para essa aumentar o
desempenho e a eficiência a partir do
comportamento do individuo. Segundo
Gasparetto (2008), a melhoria no ambiente e
nas condições de trabalho aumenta a
p r o d u t i v i d a d e d e m a n e i ra b a s t a n t e
acentuada.
Para Martins (2008, p. 29), clima
organizacional “é o modo como o contexto do
trabalho afeta o comportamento e as atitudes
das pessoas neste ambiente, sua qualidade e
o desempenho da organização”.
Ainda segundo Alvarez, (1992); Toro,
(2001), apud Martins (2008), o clima
organizacional pode influenciar a satisfação e
o rendimento no trabalho.
Martins (2008) diferencia clima
organizacional do clima psicológico. Para a
autora, o clima organizacional é constituído
por elementos cognitivos e se refere a
percepções ligadas a um aspecto particular
do trabalho, partilhada pelos trabalhadores.
Já clima psicológico se constitui de elementos
afetivos e se refere a uma ligação individual
no contexto do trabalho. Sendo assim, o clima
psicológico apresenta relação entre o
ambiente de trabalho e as relações afetivas a
este ambiente.
Nesse contexto, Martins (2008) afirma
que o clima organizacional é formado pela
percepção conjunta dos funcionários. Na
satisfação quanto ao trabalho o que é
avaliado é se o empregado gosta ou não de
determinados aspectos da organização.
[...] precisamos de espaço
para que as pessoas falem e
pensem o negócio da
maneira descontraída, mas
interessadas com
entusiasmo e conforto –
conforto em dizer ou
perguntar abertamente e
facilmente o que pensam
sobre o negócio. (BOOG,
2001, p. 263).
Chiavenato (2008) explicita o
conceito, dizendo que “o Clima organizacional
é a qualidade ou propriedade do ambiente
organizacional que é percebida ou
108
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
experimentada pelos membros da
organização e que influencia o seu
comportamento”. Portanto, sabendo-se qual
é a percepção que o funcionário tem da
empresa, como se sente e o que pensa, a
empresa pode assim buscar novas formas de
gestão. A participação em uma pesquisa de
clima organizacional deve ser espontânea e
deve ser preservada a identidade de quem
responder à pesquisa, para assim haver
validade e mais verdade nos resultados dos
funcionários em relação à empresa.
Portanto, clima organizacional tem
influência nos comportamentos, na
motivação, na produtividade e na satisfação
dos colaboradores. Segundo Luz (2001), “O
clima retrata o grau de satisfação material e
emocional das pessoas no trabalho. Observase que este clima influencia profundamente a
produtividade do indivíduo e,
consequentemente, da empresa. Assim
sendo, o mesmo deve ser favorável e
proporcionar motivação e interesse nos
colaboradores, além de uma boa relação
entre os funcionários e a empresa.”
No clima organizacional identifica-se
o ambiente físico, controle e pressão,
liderança, trabalho coletivo, reconhecimento
e remuneração. Portanto, com o grau de
motivação elevado, o clima entre os
colaboradores se traduz em satisfação,
animação, interesse e colaboração, o que
vem a ser um ponto positivo para a
organização, pois é maior produtividade e
menos rotatividade. Mas, quando há uma
motivação baixa entre os colaboradores, por
alguma situação como frustração ou uma
dificuldade na satisfação das necessidades, o
clima se torna negativo, podendo ser
caracterizado por estados de depressão,
desinteresse, apatia, insatisfação, podendo
chegar a casos extremos como tumulto e
greves. Fischer et al. (2009) sugere que
os gestores utilizem uma ferramenta
objetiva e segura para avaliar o clima
organizacional como, por exemplo, uma
pesquisa estruturada de clima
organizacional.
trabalhadores no seu local de trabalho.
Segundo Spector (2005), a satisfação
no trabalho é uma variável de atitude que
mostra como as pessoas se sentem em
relação ao trabalho que têm, seja no todo,
seja em relação a alguns de seus aspectos. A
satisfação no trabalho é avaliada
perguntando-se às pessoas como elas se
sentem em relação ao seu trabalho.
De acordo com Bezerra (2009), o
papel da qualidade de vida torna-se marcante
quando se deseja o crescimento da
produtividade e do bem-estar dos
profissionais, considerando a obtenção de
resultados crescentes pela organização como
fundamental para que a busca de melhorias
nas condições, organização, relações de
trabalho e a satisfação dos funcionários
ocorra permanentemente.
Existem vários fatores que
influenciam para a satisfação no trabalho.
Dentre eles, pode-se destacar a atuação do
líder na satisfação do trabalhador dentro das
organizações. O líder deverá buscar não
somente o resultado, mas também o lado
humano do trabalho.
De acordo com Macedo e Matos
(2008), frequentemente são identificados
nas organizações algumas manifestações de
satisfação e insatisfação com algumas
variáveis relacionadas ao trabalho, sendo que
estas variáveis tendem a fortalecer ou
enfraquecer a qualidade de vida, causando
influência direta na produção do funcionário.
Acredita-se que certos
comportamentos importantes no trabalho
sejam resultado da satisfação ou da
insatisfação no trabalho. Quando o trabalho é
interessante e agradável, as pessoas
gostarão dele, estarão motivadas e terão um
bom desempenho.
De acordo com Spector (2005), as
características do trabalho induzem aos três
estados psicológicos que levam à satisfação,
à motivação e ao desempenho. São estes:
- va r i e d a d e d a s h a b i l i d a d e s ,
identidade da tarefa e importância da tarefa:
fatores que levam à experiência do
significado do trabalho;
- autonomia: que leva ao sentimento
de responsabilidade;
- feedback: que leva ao
conhecimento dos resultados.
2.2 SATISFAÇÃO NO TRABALHO
Satisfação no trabalho é um tema que
tem suscitado discussões no campo de
pesquisa, visto que procura-se compreender
os sentimentos que mobilizam os
109
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
no contexto de cada fator.
Na escala de satisfação no trabalho EST foram verificados os itens: Satisfação
com os colegas – Contentamento com a
colaboração, a amizade, a confiança e o
relacionamento mantido com os colegas de
trabalho. É composta por 25 itens em 5
componentes: satisfação com os colegas de
trabalho (fator 1, com 5 itens), satisfação
com o salário (fator 2, com 5 itens), satisfação
com a chefia (fator 3, com 5 itens), satisfação
com a natureza do trabalho (fator 4, com 5
itens) e satisfação com as promoções (fator
5, com 5 itens).
A interpretação dos resultados na
escala EST deverá considerar que quanto
maior for o valor do escore médio, maior será
o grau de contentamento ou satisfação do
empregado com aquela dimensão de seu
trabalho. Assim, valores entre 5 e 7 tendem a
indicar satisfação. Por outro lado, valores
entre 1 e 3,9 tendem a sinalizar insatisfação,
enquanto valores entre 4 e 4,9 informam um
estado de indiferença, ou seja, nem
satisfeito, nem insatisfeito.
Quanto à abordagem, essa pesquisa é
quantitativa, que expressou através de
números os resultados.
No que se refere aos objetivos, a
pesquisa foi descritiva, pois teve como
objetivo descrever as percepções que os
colaboradores têm em relação à empresa e
de sua satisfação no trabalho (GIL 2002).
Quanto aos procedimentos, este estudo
classificou-se como de campo, revisão
bibliográfica, documental e estudo de caso.
Os dados sociodemográficos
apresentam os sujeitos da pesquisa dos quais
a maioria (92,8%) é do gênero feminino e
7,14% do gênero masculino. A faixa etária
dos entrevistados varia de 18 a 50 anos,
sendo o predomínio com idade entre 21 a 35
anos perfazendo um total de 74,97% dos
trabalhadores. Em relação à escolaridade boa
parte dos colaboradores estudou até o final
do Ensino Fundamental e Ensino Médio
completo, atingindo um percentual de
71,42%. O tempo de serviço que prevalece
entre os entrevistados é de 2 a 8 anos num
percentual de 82,13%.
A participação nesta pesquisa foi
espontânea, sendo que as respostas foram
tratadas de forma sigilosa, sem identificação
nas folhas/resposta. Essas informações
Spector (2005), afirma que esses
fatores psicológicos são importantes para
satisfação e motivação dos funcionários.
“Quando o trabalho os induz, os indivíduos,
se motivados e satisfeitos, têm um
desempenho melhor”.
Fernandes e Tófani (2008) apontam
que valorizar o funcionário é o que as
empresas devem ter em mente, além de a
empresa estar em constante atualização
ouvindo os funcionários, desenvolvendo
estratégias de melhoria.
Enfim, é no trabalho que se passa a
maior parte do tempo, e esse espaço é de
trocas, vínculos e busca de objetivos.
Portanto, oportunizando um ambiente
saudável com um clima organizacional
positivo, possibilita-se ao trabalhador
qualidade de vida e saúde.
3. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA
Foi realizado um estudo de caso em uma
empresa de confecções da região noroeste do
Rio Grande do Sul, numa população
participante de 28 colaboradores, no período
de JUNembro de 2011 a janeiro de 2012, com
a aplicação de duas escalas ECO- Escala de
clima organizacional e EST- Escala de
satisfação no trabalho. Para a coleta de
dados, a pesquisadora utilizou-se da
observação e de ferramentas de diagnóstico.
A escala ECO- Escala de clima
organizacional é composta por 63 itens
agrupados em 5 fatores, denominados: apoio
da chefia e da organização (fator 1, com 21
itens), recompensa (fator 2, com 13 itens),
conforto físico (fator 3, com 13 itens),
controle/pressão (fator 4, com 9 itens) e
coesão entre colegas (fator 5, com 7 itens).
Para interpretar esta escala, deve-se
considerar que quanto maior for o valor da
média fatorial, melhor é o clima
organizacional. Além disso, valores maiores
que 4 tendem a indicar bom clima e menores
que 2,9 a apontar clima ruim. Porém, isso é
inverso no caso do Fator 4, controle/pressão.
Neste caso, quanto maior o resultado, pior
será o clima porque maior será o controle e a
pressão exercidos sobre os empregados. Para
o Fator 4, os valores maiores que 4 apontam
clima ruim (porque existe muita pressão e
controle excessivo). E os menores que 2,9,
bom clima (existe pouca pressão e baixo
controle). Isso deve ser considerado sempre
110
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
foram esclarecidas junto aos participantes,
como também foi entregue a cada sujeito de
pesquisa um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido sobre os objetivos da pesquisa,
que foi assinado pelos participantes. O
proprietário da empresa investigada assinou
um termo de autorização da empresa.
Segundo Alvarez (1992) e Toro
(2001) (apud MARTINS, 2008) o clima
organizacional pode influenciar a satisfação e
o rendimento no trabalho. Em relação ao
clima organizacional na empresa, as variáveis
pesquisadas foram as seguintes: apoio da
chefia e organização, recompensa, conforto
físico, controle/pressão e coesão entre
colegas. A figura ilustra os resultados obtidos,
constatando-se o índice mais elevado na
variável conforto físico (3,67) e o mais baixo
na variável recompensa (3,21).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. - ESCALA DE CLIMA ORGANIZACIONAL
Figura 1: Índice de Clima Organizacional
Índice de Clima Organizacional
3,7
3,6
3,5
3,4
3,3
3,2
3,1
3
2,9
CONFOR COSÃO CONTRO APOIO RECOM
TO
ENTRE LE/PRES
DA
PENSA
FÍSICO COLEGA
SÃO
CHEFIA
S
E DA
ORGANI
ZAÇÃO
Índice de Clima Organizacional 3,67
3,56
3,55
3,37
3,21
colegas apresentou o índice de 3,56, o índice
controle/pressão alcançou 3,55. O item apoio
da chefia e da organização 3,37 e a
recompensa apresentou um índice de 3,21.
Pode-se observar que o clima
organizacional da empresa se encontra com
um nível mediano, pois para ser bom deveria
ter alcançado 4, porém não pode ser
considerado ruim, para isto deveria estar a
baixo de 2,9.
4.1.1 - Conforto Físico
A figura ilustra a pesquisa de clima
organizacional respondida pelos
colaboradores da organização estudada, no
qual o nível de clima organizacional
apresenta uma média geral 3,47
representando a média de todos os itens
apurados na escala. Esse índice aponta para
um clima mediano, nem bom e nem ruim.
Observa-se que o item conforto físico teve o
índice maior de 3,67, já o item coesão entre
Figura 2: Fator Conforto Físico
20
15
10
5
0
35
Discordo Totalmente
3
Discordo
0
Não Concordo Nem Discordo 5
Concordo
15
Concordo Totalmente
5
36
1
1
5
15
6
37
4
11
7
6
0
111
38
0
3
5
19
1
39
1
2
5
15
5
40
0
2
4
15
7
41
0
2
10
12
4
42
0
2
1
18
7
43
0
3
4
15
6
44
1
1
3
16
7
45
0
1
9
13
5
46
5
2
6
10
5
47
0
3
6
16
3
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A pesquisa aponta que o maior nível se
concentrou no item conforto físico com 3,67
em sua média, sendo que grande parte dos
trabalhadores pontuou nas questões 38
(71,42%), 42 (89,28%), 44 (82,14%) e 47
(67,85%) que abarcam o espaço físico, a
iluminação e a limpeza, facilitando o
desempenho das tarefas como aspectos
positivos. Da mesma forma, destacou-se de
forma negativa a questão 37 (53,57%) que
aborda sobre a facilidade da mobilidade das
pessoas com alguma deficiência física.
Conforme Magalhães (1990), se no
ambiente físico os elementos forem
precários, as pessoas não irão trabalhar com
moral elevado; conforme a natureza do
trabalho, é necessária uma luminosidade,
uma temperatura, um grau de umidade
diferente, o que também deverá estar de
acordo com a região na qual se trabalha e a
época do ano.
De acordo com a observação da
pesquisadora, o que influenciou este
resultado pode estar vinculado ao fato de a
empresa possuir ambiente climatizado e
oferecer os equipamentos de proteção
necessários para preservar a segurança dos
trabalhadores, bem como a utilização de
cadeiras ergonômicas. Quanto à
acessibilidade aos deficientes físicos, a
empresa não possui estrutura adequada,
como rampas de acesso para receber
trabalhadores com necessidades especiais.
4.1.2 - Coesão Entre Colegas
Figura 3: Fator Coesão entre colegas
20
15
10
5
Figura 3: Fator Coesão entre colegas
0
57
58
59
60
61
62
63
Discordo Totalmente
4
2
2
2
3
3
6
Discordo
2
3
0
3
0
1
2
Não Concordo Nem Discordo
5
5
2
6
6
9
9
Concordo
6
14
16
14
10
11
6
Concordo Totalmente
11
4
8
3
9
4
5
Fonte Silva, Winter, 2012.
O fator coesão entre colegas
apresentou um nível de 3,54 apontando para
a questão de vínculos e colaboração entre
colegas como mediano no ambiente de
trabalho constituindo-se o segundo mais
elevado da escala. As questões que abordam
esse fator encontram-se da questão 57 à 63
como apresentado no gráfico acima. Podemse destacar as questões 58 (64,28%), 59
(82,14%), 60 (60,71%) em que mais da
metade dos funcionários afirmou que há
acolhimento e auxilio em relação as
dificuldades de um novo funcionário, ajuda
entre colegas quando se cometem erros e
cooperação nas atividades. Também
aparecem como pontos a serem verificados
pela organização o baixo índice de relações
de amizade, a pouca receptividade na
chegada de um colega novo e a pouca
a b e r t u ra q u e a s p e s s o a s t ê m p a ra
conversarem sobre seus problemas com
colegas.
112
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
4.1.3 - Controle/Pressão
Figura 4: Fator Controle/Pressão
16
14
12
10
8
Figura 4: Fator Controle/Pressão
6
4
2
0
Discordo Totalmente
48
1
49
4
50
1
51
1
52
1
53
1
54
4
Discordo
7
2
1
Não Concordo Nem Discordo
4
8
3
Concordo
10
10
Concordo Totalmente
6
4
55
2
56
1
2
6
3
5
10
2
7
2
3
6
10
16
13
6
8
15
4
7
7
7
5
8
7
7
7
8
que os funcionários indicaram que a empresa
exige que as tarefas sejam feitas dentro do
prazo previsto, e os horários também são
cobrados com rigor. Quanto à questão 56 que
foi questionado se na empresa existe uma
fiscalização permanente do chefe, pôde-se
verificar que há uma divisão de opiniões: 8
pessoas não concordam e nem discordam, 8
pessoas concordam e 8 pessoas concordam
totalmente. Aparece como ponto de
investigação e atenção da organização o
controle exagerado sobre os funcionários,
bem como a fiscalização e a necessidade
constante da autorização da chefia para
qualquer mudança.
4.1.4 - Apoio Da Chefia E Da
Organização
No fator controle/pressão observa-se
que o índice encontrado foi de 3,55, sendo
que Siqueira e Martins (2008) afirmam que,
neste caso, quanto menor a média, melhor o
clima. A análise dos questionários permitiu
observar que existe controle significativo
sobre as atividades realizadas pelos
funcionários, bem como a partir da
observação da pesquisadora, verificou-se que
o controle de tempo de realização das tarefas
e horários também ocorre de forma
constante. As questões que abordam esse
fator encontram-se da questão 48 a 56, como
apresentado no gráfico acima.
Podem-se destacar as questões 50
(82,14%), 51 (71,42%) e 53 (78,57%) em
Figura 5:Fator Apoio da chefia e da organização
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1
2
3
Discordo Totalmente
2
0
0
Discordo
5
9
0
4
8
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
1
1
1
0
1
3
0
2
1
0
0
3
1
0
0
3
21
1
3
6
4
6
3
4
7
10
9
8
8
9
2
3
2
8
2
Não Concordo Nem Discordo
5
5
0
7
5
9
5
8
9
8
5
3
16
9
11
8
3
3
4
8
4
Concordo
15
14
20
10
15
9
16
13
14
11
11
11
2
9
9
8
14
16
18
9
15
Concordo Totalmente
1
0
8
3
4
3
2
1
1
2
5
2
0
2
0
0
8
6
4
0
6
Fonte Silva, Winter, 2012.
113
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
No fator apoio da chefia e da
organização que aborda aspectos como
suporte afetivo, estrutural e operacional, o
nível encontrado foi de 3,37, permanecendo
dentro do aceitável, porém próximo ao nível
ruim. Na sua observação participativa, a
pesquisadora obteve dados que corroboram
com o resultado desse fator quando
trabalhadoras narram fatos nos quais a chefia
se mostra pouco flexível a mudanças e a
inovações na empresa, já que em outras
oportunidades houve outras pesquisas de
clima em que elas trouxeram várias
sugestões e não obtiveram retorno em
relação a essas questões. As questões que
abordam esse fator se encontram da questão
1 a 21 como apresentado no gráfico acima.
Pode-se destacar as questões 3 (100%)
7(60,71%), 18 (71,42%) e 19 (78,57%) em
que os funcionários responderam que
recebem orientação do supervisor (ou chefe)
para executar as tarefas. As mudanças que
ocorrem na empresa são acompanhadas
pelos supervisores (ou chefes), como
também o chefe ajuda o funcionário quando
ele precisa e colabora com a produtividade de
seus funcionários. Merece atenção os
aspectos que apresentaram índices baixos
como: a baixa participação do funcionário nas
mudanças, a falta de autonomia dos
trabalhadores ao realizarem suas atividades e
sugerirem melhorias, bem como a visão em
relação à colaboração da chefia na
produtividade dos funcionários.
4.1.5 - Recompensa
Figura 6: Fator Recompensa
20
15
10
5
0
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
Discordo Totalmente
1
0
2
0
1
4
2
6
1
3
4
1
4
Discordo
7
8
4
7
4
6
7
6
8
10
3
1
0
Não Concordo Nem Discordo
13
13
6
2
3
8
8
12
9
7
6
9
2
Concordo
6
5
11
12
15
7
10
3
9
7
8
14
17
Concordo Totalmente
1
2
5
7
5
3
1
1
1
1
7
3
5
Fonte Silva, Winter, 2012.
O fator recompensa apresentou o
nível menor de clima, com um nível de 3,21.
Este fator apresentou um nível baixo porque
boa parte dos respondentes discorda
totalmente que a empresa valoriza seu
trabalho; demonstrando não se sentirem
recompensados, discordando de que a
quantidade de trabalho influencia no salário,
bem como a quantidade de tarefas e a sua
produtividade.
As questões que abordam esse fator
se encontram da questão 22 a 34, como
apresentado no gráfico acima. Podem-se
destacar as questões 26 (71,42%), 33
(60,71%) e 34 (78,57%) os funcionários
apontaram que sabem por que estão sendo
recompensados, concordaram também que a
qualidade do trabalho influencia no salário do
empregado e responderam que, para premiar
o funcionário, a empresa considera a
qualidade do que ele produz. Já nas questões
22 (46,42%), 23 (46,42%) e 29 (42,85%) os
respondentes não concordam e nem
discordam quando perguntados se realizam
suas tarefas com satisfação, se o chefe
valoriza os funcionários e as recompensas
que recebem estão dentro de suas
expectativas. A questão 31 apresenta que 10
dos 28 funcionários discordam que o salário
dos funcionários depende da qualidade de
suas tarefas.
Para Chiavenato (2004), a
recompensa é a retribuição dada ao
funcionário de acordo com o seu trabalho,
dedicação e esforço pessoal, através de seus
conhecimentos e habilidades; portanto, o
funcionário precisa receber essa valorização
para sentir-se bem no trabalho, pois a
recompensa é fonte de prazer que possibilita
ao trabalhador ser reconhecido diante da
sociedade. O funcionário, ao entrar em uma
empresa, cria expectativas e dedica-se
114
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
esperando ser reconhecido, no momento em
que ele não percebe essa valorização,
sentindo-se desvalorizado, isto irá influenciar
no seu comportamento e satisfação no
trabalho.
4.2 - ESCALA DE SATISFAÇÃO NO TRABALHO
– EST
Através da Escala de Satisfação no
Trabalho, foi possível avaliar a percepção dos
colaboradores sobre a sua satisfação em
relação ao seu trabalho, sendo que os fatores
que permitiram essa análise foram:
satisfação com os colegas, com o salário, com
a chefia, com a natureza do trabalho e com as
promoções.
Figura 7: Índice de Satisfação no Trabalho
ÍNDICE DE SATISFAÇÃO NO TRABALHO
5,00
4,50
4,00
3,50
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
SATISFAÇÃO SATISFAÇÃO SATISFAÇÃO SATISFAÇÃO SATISFAÇÃO
COM A
COM OS
COM A
COM AS
COM O
CHEFIA
COLEGAS
NATUREZA PROMOÇÕES SALÁRIO
DE
DO
TRABALHO TRABALHO
ÍNDICE DE SATISFAÇÃO NO
TRABALHO
4,67
4,43
4,21
3,33
3,09
Fonte Silva, Winter, 2012.
A média geral da escala de satisfação
no trabalho apresenta um índice de 3,94;
apontando insatisfação em relação ao
trabalho. Observa-se que o fator satisfação
com a chefia teve o índice maior 4,67; o item
satisfação com os colegas de trabalho, com
indicador de 4,43; o item satisfação com a
natureza do trabalho apresentou um índice
de 4,21; o índice satisfação com as
promoções teve índice de 3,33 e o índice
satisfação com o salário apresentou 3,09
como índice. Segundo Siqueira et al (2008),
valores entre 5 e 7 indicam satisfação, valores
entre 4 e 4,99 indicam estado de indiferença e
valores entre 1 e 3,99 indicam insatisfação.
Observa-se que o nível de satisfação
dos respondentes se encontra entre os
estados de indiferença e insatisfação,
mostrando que a maioria não está satisfeita
com o seu trabalho, pois nenhum se encontra
acima de 5.
4.2.1 - Satisfação Com A Chefia
Figura 8: Fator Satisfação com a chefia
20
15
10
5
0
Totalmente Insatisfeito
Muito Insatisfeito
Insatisfeito
Indiferente
Satisfeito
Muito Satisfeito
2
0
1
4
6
14
2
9
3
0
4
8
11
2
Fonte Silva, Winter, 2012.
115
19
0
0
2
2
17
3
22
3
0
0
4
15
3
25
3
0
1
7
9
0
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O maior índice encontrado está na satisfação
com a chefia, este fator apresentou um índice
4,67 apontando que o colaborador se sente
indiferente com a organização e a capacidade
profissional do chefe, com o interesse do
chefe sobre o que os funcionários estão
desenvolvendo e o entendimento entre chefe
e funcionário. As questões que abordam esse
fator são a 2,9,19,22,25 como apresentado
no gráfico acima. Podem-se destacar as
questões 2 (60,71%), 19 (85,71%) e 22
(75,00%) em que os funcionários afirmaram
que estão satisfeitos com o modo como o
chefe organiza o trabalho do setor, com o
entendimento entre funcionário e chefe, e
com a maneira em que o chefe trata o
funcionário. Também merece atenção,
devido à baixa satisfação, o item 9 (39,28%)
que diz respeito à percepção relativa ao
interesse do chefe em relação ao trabalho dos
trabalhadores.
4.2.2 - Satisfação Com Os Colegas De
Trabalho
Figura 9: Fator Satisfação com os colegas de trabalho
20
15
10
5
0
1
6
14
17
24
Totalmente Insatisfeito
1
3
2
1
3
Muito Insatisfeito
0
0
1
1
2
Insatisfeito
3
1
0
3
6
Indiferente
8
5
3
2
7
Satisfeito
15
15
16
16
6
Muito Satisfeito
1
3
5
2
4
Fonte Silva, Winter, 2012.
Em relação à satisfação com os
colegas de trabalho, o nível encontrado foi de
4,43, destacando-se que a maioria se sente
indiferente com a colaboração, com a
amizade, com a confiança e com o
relacionamento mantido com os colegas de
trabalho.
As questões que abordam esse fator
são 1, 6, 14, 17 e 24 como apresentado no
gráfico acima. Podem-se destacar as
questões 14 (78,57 %) e 17 (75,00%) em que
boa parte dos funcionários respondeu que
estão satisfeitos com a maneira de
relacionamento entre si e os demais colegas
e com a quantidade de amigos que têm entre
os seus colegas de trabalho. Quanto à
questão 24 aparecem percepções variadas e
contrárias em relação à confiança que
podem ter em seus colegas de trabalho.
4.2.3 - Satisfação Com A Natureza Do
Trabalho
Figura 10: Fator Satisfação com a natureza do trabalho
15
10
5
0
7
11
13
18
23
Totalmente Insatisfeito
3
3
2
5
3
Muito Insatisfeito
0
2
0
0
0
Insatisfeito
1
1
1
3
2
Indiferente
3
15
8
8
8
Satisfeito
15
6
12
10
12
Muito Satisfeito
4
1
5
1
3
Fonte Silva, Winter, 2012.
116
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
No fator satisfação com a natureza
do trabalho o índice encontrado foi de 4,21,
s e n d o c o n s i d e ra d o c o m o í n d i c e d e
indiferença em relação com o interesse
despertado pelas tarefas, com a capacidade
de elas absorverem o trabalhador e com a
variedade das mesmas.
As questões que abordam esse fator
são 7, 11, 13, 18, 23 como apresentado no
gráfico anterior. Pode-se destacar as
questões 7 (75,00%) que boa parte dos
funcionários afirmaram que estão satisfeitos
com o interesse que suas tarefas lhe
despertam. Já na questão 11 (53,57%), os
funcionários estão indiferentes com a
capacidade de como o seu trabalho lhe
absorve. O aspecto que é investigado na
questão 18 e que complementa a questão 11
remete a satisfação em relação à
preocupação exigida pelo trabalho, no qual
um baixo número de respondentes está
satisfeito e os outros se mostraram
indiferentes ou insatisfeitos.
4.2.4 - Satisfação Com As Promoções
Figura 11: Fator Satisfação com as promoções
12
10
8
6
4
2
0
3
4
10
16
20
Totalmente Insatisfeito
6
4
6
6
6
Muito Insatisfeito
0
2
1
1
3
Insatisfeito
7
7
5
6
6
Indiferente
6
5
12
12
11
Satisfeito
5
9
2
2
2
Muito Satisfeito
2
1
1
1
0
Fonte Silva, Winter, 2012.
ficaram com maior índice em que o
funcionário se sente indiferente como sua
empresa realiza promoções de seu pessoal e
com as oportunidades de ser promovido na
sua empresa. Já na questão 3 as respostas
foram diversas e (25,00%) indica que os
colaboradores estão insatisfeitos quanto ao
número de vezes em que já foram
promovidos na sua empresa, bem como 25%
demonstram estar satisfeitas ou muito
satisfeitas em relação a esse aspecto.
4.2.5 - Satisfação Com O Salário
Em relação à satisfação com as
promoções, o índice 3,33 indica que os
colaboradores se sentem insatisfeitos em
relação ao número de vezes que já receberam
promoções, com as garantias oferecidas a
quem é promovido, com a maneira de a
empresa realizar promoções e com o tempo
de espera pela promoção.
As questões que abordam esse fator
são 3, 4, 10. 16 e 20 como apresentados no
gráfico acima. Podem-se destacar as
questões 10 (42,85%) e 16 (42,85%) que
Figura 12: Fator Satisfação com o salário
14
12
10
8
6
4
2
0
5
8
12
15
21
Totalmente Insatisfeito
5
6
11
5
7
Muito Insatisfeito
2
2
1
0
0
Insatisfeito
8
11
10
11
13
Indiferente
5
4
3
4
5
Satisfeito
8
5
3
7
3
Muito Satisfeito
0
0
0
0
0
Fonte Silva, Winter, 2012.
117
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Quanto à satisfação com o salário, a
pesquisa aponta como sendo o aspecto de
maior insatisfação na escala, que revela uma
média de 3,08 onde os funcionários estão
insatisfeitos com o que recebem comparando
o salário com o quanto trabalham, com sua
capacidade profissional, com o custo de vida
e com os esforços feitos na realização do
trabalho.
As questões que abordam esse fator
são 5, 8, 12, 15 e 21 como apresentadas no
gráfico acima. Pode-se destacar a questão 21
(46,42%) em que 13 funcionários afirmaram
que estão insatisfeitos com seu salário
comparado com os esforços que
desempenham dentro da organização. A
questão 12 (75,00%) aponta que a maioria
dos respondentes está insatisfeita e
indiferente com o salário que recebem
comparados com o custo de vida. Nas demais
questões a resposta de insatisfação também
aparece de forma significativa.
recompensa, e esta apresentou um índice
3,21 considerado nem bom e nem ruim. Na
Escala de Satisfação - EST, a satisfação com
as promoções apresentou índice de 3,03 e
satisfação com o salário obteve índice 3,09.
Complementando o item recompensa da
escala de clima, a pesquisa aponta que os
funcionários estão insatisfeitos com a forma
de recompensa usada pela empresa,
descontentes com o que recebem como
salário comparado ao quanto trabalham.
O item coesão entre colegas da
escala de Clima Organizacional - ECO com um
índice de 3,56 e satisfação com os colegas de
trabalho da Escala de Satisfação no Trabalho EST com um indicador de 4,43 apontam um
resultado mediano. As pontuações nas
escalas que abordam as questões que
envolvem união, vínculo, colaboração,
amizade e confiança com os colegas de
trabalho, aparecem como indiferentes, ou
nem bom e nem ruim para os participantes.
O aspecto do conforto físico na escala
de Clima Organizacional - ECO pesquisou se a
empresa oferece segurança e conforto aos
empregados e que apresentou o índice 3,67,
ficando com a melhor pontuação da escala,
porém não aponta que há um conforto físico
bom, sendo necessário esse índice estar
acima de 4 pontos.
O fator controle/pressão na escala de
Clima Organizacional - ECO teve como índice
3,55 (acima de 2,9 para ser considerado
como um fator positivo), diz respeito de como
a empresa e os supervisores controlam e
pressionam o comportamento e desempenho
dos empregados. Esse índice aponta para um
controle significativo quanto ao trabalho, a
horários e para atingir as metas. O resultado
deste fator traz novamente uma avaliação
mediana, nem boa e nem ruim, pelos
funcionários quanto ao controle/pressão.
Na Escala de Satisfação EST, a
satisfação com a natureza do trabalho,
definida como o contentamento com o
interesse despertado pelas tarefas, com a
capacidade de elas absorverem o trabalhador
e a variedade das mesmas teve como índice
4,21, informando que existe um estado de
indiferença, ou seja, nem satisfeitos, nem
insatisfeitos.
4.3 - RELAÇÃO ENTRE CLIMA
ORGANIZACIONAL E SATISFAÇÃO NO
TRABALHO
Observou-se que a escala de clima
organizacional apresentou um indicador geral
mediano, o que aponta um clima nem bom e
nem ruim. Já a escala de satisfação no
trabalho apresentou índice geral que remete
à insatisfação no trabalho, demonstrando
haver uma coerência entre os resultados das
escalas aplicadas, ou seja, se os funcionários
não estão satisfeitos com o trabalho, o clima
de trabalho não é positivo e vice-versa.
Na escala de Clima Organizacional ECO encontra-se o item: apoio da chefia e da
organização, o qual apresentou índice 3,37,
representando um resultado nem positivo e
nem ruim quanto ao clima e que pode ser
analisado conjuntamente com o item
satisfação com a chefia com índice de 4,67 na
Escala de Satisfação no Trabalho – EST. Esta
dimensão avalia o contentamento com a
organização, a capacidade profissional do
chefe, o seu interesse pelo trabalho dos
subordinados e entendimento entre eles, o
qual apresenta um resultado semelhante e
complementar, ou seja, grande parte dos
funcionários está indiferente ou insatisfeito
em relação à chefia.
A escala de Clima Organizacional ECO apresenta o item de análise da
CONCLUSÃO
O presente estudo procurou investigar a
118
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
percepção dos colaboradores em relação ao
clima da organização e a sua satisfação no
trabalho. Sendo que a coleta de dados trouxe
informações relevantes quanto ao nível de
satisfação do trabalhador com o trabalho, as
percepções dos trabalhadores sobre os
indicadores do clima organizacional, as
potencialidades e aspectos da organização a
serem melhorados.
A pesquisa aponta de forma geral
que na empresa pesquisada se faz necessária
a gestão do clima organizacional, pois esta é
uma importante ferramenta gerencial, que
possibilita a abertura de um espaço de fala e
escuta dos trabalhadores que, por intermédio
da sua participação, poderão desenvolver um
maior envolvimento com relação ao seu
trabalho e ambiente de trabalho. Também
auxilia na pró-atividade da gerência,
antecipando e solucionando problemas
relativos ao contexto do trabalho, prevenindo
o surgimento de situações críticas que
normalmente influenciam negativamente o
fluxo normal de atividade das equipes.
Da mesma forma, a satisfação dos
trabalhadores em relação ao seu trabalho é
fundamental, pois é por meio de um
sentimento positivo com o trabalho que os
colaboradores terão interesse em se manter
na empresa, comprometer-se com a
organização, bem como auxiliar a empresa
em suas dificuldades e na melhoria produtiva.
Como proposta de estratégias de
intervenção e melhoria dos aspectos
investigados, recomenda-se um trabalho
referente à área de gestão de pessoas,
melhorando aspectos relacionais entre
c o l e g a s , c h e f i a e t ra b a l h a d o r e s , o
desenvolvimento de uma política de carreira,
cargos e salário, bem como a preparação dos
líderes a trabalharem em equipe,
desenvolvendo os trabalhadores e permitindo
uma maior autonomia em sua atividade.
Diante do estudo sobre “Clima
Organizacional e Satisfação do
Colaborador no Ambiente de Trabalho:
um Estudo de Caso em uma Empresa de
Confecções” é possível concluir que a
presente pesquisa representou um esforço de
compreensão dos incontáveis fatores que
influenciam o comportamento humano nas
organizações, por intermédio da aplicação e
análise das escalas. Sugere- se, para futuros
estudos nessa organização, um estudo
qualitativo com o objetivo de desmembrar
cada aspecto medido nessas escalas
procurando desenvolver e aprofundar
estratégias e ações de melhoria.
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Trabalho. Portal da Administração, São Paulo,
17 Jun. 2009. Disponível em :
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119
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
PERCEPÇÃO DOS USUÁRIOS DE UNIDADES BÁSICAS DESAÚDE DA
FAMÍLIA SOBRE O PROCESSO TERAPÊUTICO
1
Gabriela Fagundes Trentini
Jacinta Spies²
3
Vera Beatriz Pinto Zimmermann Weber
4
SETREM
ABSTRACT
RESUMO
O presente estudo partiu do interesse em investigar
sobre o processo terapêutico na percepção dos
usuários em duas ESFs, da Região Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul – RS, destacando a relação e a
comunicação dos profissionais de saúde para com os
usuários e como esta relação interfere no processo
terapêutico. Trata-se de um estudo com abordagem
qualitativa, do tipo exploratório descritivo. A coleta se
deu por meio de uma entrevista com 12 questões
abertas acerca do tema proposto. Para a análise dos
dados recorreu-se à técnica de análise de conteúdo,
proposta por Gomes (2004). Alguns dos principais
autores que deram fidedignidade ao trabalho foram:
Pessini; Bertachini (2004); Vasconcelos (2009);
Schimith; Lima (2004); Rizzoto (2002) e Solla (2005).
Participaram da coleta 25 usuários do serviço público
de saúde. Através da análise dos dados coletados
evidenciou-se que alguns usuários, participantes da
pesquisa revelaram em suas falas que o atendimento
médico muitas vezes deixa a desejar, mais
especificamente no que se refere ao diálogo,
acolhimento e vínculo. Por outro lado, percebeu-se
satisfação na totalidade dos participantes quanto ao
atendimento dispensado pelos profissionais de
Enfermagem e Odontólogos. Quanto ao atendimento
geral dos demais profissionais, alguns participantes se
manifestaram satisfeitos; outros citaram a demora no
atendimento, criticando as filas e as poucas fichas de
atendimento dos diferentes profissionais disponíveis
ao público. Outros ainda mencionaram a falta de
empatia no atendimento, o estresse e a indiferença
dos funcionários do fichário para com o público. Dentre
os usuários participantes, raros souberam mencionar
as atividades que o Enfermeiro realiza dentro da ESF,
demonstrando na maioria das falas que veem o
trabalho do Enfermeiro como um subsídio ao trabalho
do Médico dentro das Unidades Básicas de Saúde da
Família. Almeja-se que este estudo auxilie no processo
terapêutico que envolve a equipe multiprofissional,
fortalecendo os vínculos existentes entre equipe e
usuários do Serviço Público de Saúde acerca da real
necessidade para o desenvolvimento de uma
assistência qualificada.
This study was based on the interest in investigating
the therapeutic process as perceived by users in two
ESFs, the Northwest Region of the State of Rio Grande
do Sul - RS, highlighting the relationship and
communication with health professionals to users and
how this relationship interferes in the therapeutic
process. This is a study of qualitative approach, of
exploratory and descriptive type. The collection was
made by an interview with opened questions about
the proposed theme. For data analysis the technique of
subject analysis was used, proposed by Gomes
.
Some of the authors who gave trust to work were:
Pessini; Bertachini
; Vasconcelos
;
Schimith; Lima
; Rizzoto
and Sola
.
users participated in the collection of public health.
Through the analysis of the data collected it was
showed that some users, research participants
revealed in their speeches that health care often leaves
something to be desired, specifically with regard to
dialogue, acceptance and bond. Furthermore it was
realized the full satisfaction of the participants
regarding the care dispensed by Nursing Professionals
and Dentists. As for the general care of other
professionals, some par ticipants expressed
satisfaction; others cited the delay in treatment,
criticizing the queues and the few healthcare records
of different professionals available to the public.
Others mentioned the lack of empathy in care, stress
and indifference of officials of the reception to the
public. Among the participating users, just a few of
them mention the activities that the nurse performs
within the ESF. They think the nurse s work is only a
help for the doctors within the Medical Basic Health
Units of the Family. A goal of this study is to help in the
therapeutic process that involves a multidisciplinary
team, strengthening the links between users and staff
of the Public Health Service about the real need for the
development of a qualified assistance.
Keywords: User. Health professionals.
Communication.
Palavras-chave: Usuário. Profissionais de saúde.
Comunicação.
1
Acadêmica de Enfermagem – [email protected]
Professora Co -orientadora- [email protected] om.br
3
Professora Orientadora - [email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Santa Rosa, 2405; Três de Maio - RS,
[email protected]
2
120
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1. INTRODUÇÃO
O processo terapêutico, bem como a
comunicação entre profissionais de saúde e
usuários, tem como finalidade identificar e
atender as necessidades de saúde do usuário
e contribuir para melhorar a prática do serviço
dos profissionais desta área, possibilitando
também, despertar-lhes sentimentos de
confiança, para que se sintam satisfeitos e
seguros. Assim, o objetivo deste estudo
consistiu em analisar a percepção dos
usuários do serviço de saúde em relação à
assistência dispensada pela equipe de
profissionais de ESF.
A comunicação é um processo pelo
qual a equipe de profissionais oferece e
recebe informações do indivíduo
cliente/paciente¹ para planejar, executar,
avaliar e participar com os demais membros
da equipe de saúde, da assistência prestada
no processo saúde/doença. Entretanto,
nessa relação, existem influências como a
cultura, a visão pessoal, as crenças, entre
outros, que podem interferir de forma
positiva ou negativa no processo terapêutico.
O vínculo e a comunicação são
fatores que proporcionam segurança, tanto
para o cuidador, quanto para quem é
beneficiado através do cuidado. Essa relação,
quando franca e aberta, os auxilia a
enfrentarem momentos de incerteza e
ansiedade durante a realização de cuidados.¹
desenvolvido dentro dos parâmetros da
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS) do Ministério da Saúde (MS),
que preconiza os padrões éticos, conforme as
normas e diretrizes regulamentadoras de
uma pesquisa envolvendo seres humanos
(BRASIL, 1996). O projeto de pesquisa
obteve parecer favorável do Comitê de Ética e
Pesquisa (CEP) de uma Instituição de Ensino
Superior (IES) da região.
Para a escolha da população a ser
pesquisada seguiu-se o modelo de
amostragem definida pelo princípio da
intencionalidade ou propositalidade. Como
critérios de inclusão para participar desta
pesquisa foram considerados os usuários de
duas ESFs, de um município da Região
Noroeste do RS, nas respectivas ESFs. Para
participar da pesquisa foi necessário que o
sujeito fosse maior de 18 anos, de ambos os
sexos, que receberam atendimento na data e
horário da coleta de dados e que consentiram
participar da pesquisa.
Nesta pesquisa a amostragem seguiu
o critério da saturação de dados, sendo que
uma categoria é considerada saturada
quando parece não surgir nenhuma nova
informação durante a codificação, ou seja,
quando não se vê novas propriedades,
dimensões, condições, ações/interações ou
consequências nos dados (STRAUSS;
CORBIN, 2008).
Os sujeitos participantes da pesquisa
receberam um Termo de Consentimento e
Livre Esclarecido (TCLE), que foi assinado em
duas vias, pelos que aceitaram participar do
estudo, sendo uma via destinada ao
entrevistado e outra, à autora do estudo. Para
preservar a identidade dos sujeitos
pesquisados, estes foram identificados no
interior da pesquisa pelo termo “participante”
(P), seguido de um numeral cardinal, de
acordo com a sequência da aplicação das
entrevistas e do ano da realização da
pesquisa.
Foi encaminhado ao Secretário
Municipal da Saúde do respectivo município
um pedido, solicitando autorização para
realizar a coleta dos dados necessários nas
duas ESFs, para análise e discussão posterior.
Para analisar e interpretar as
informações coletadas foi utilizado o método
2. MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa é de caráter qualitativo,
do tipo exploratório descritivo, que refletiu
sobre a percepção dos usuários do serviço
público de saúde que foram submetidos a
algum tipo de atendimento Médico, de
Enfermagem e Odontológico, sobre o
processo terapêutico em duas ESFs, situada
na Região Noroeste do estado do Rio Grande
do Sul – RS, abordando-os ao final do
atendimento.
O método adotado para coletar os
dados que fundamentaram a pesquisa, foi
através de uma entrevista, baseada em um
roteiro previamente estruturado, com 12
questões abertas sobre a temática em
questão.
Cabe salientar que este estudo foi
¹ Salienta-se que, neste estudo, as palavras cliente, paciente e usuário têm o mesmo significado.
121
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
de análise de conteúdo, proposto por Minayo
(2004), que tem por finalidade encontrar
respostas para as questões formuladas e
também confirmar ou não as hipóteses
elencadas antes do trabalho de investigação.
Salienta-se que a análise dos dados não foi
separada porESFs, mas sim pelas falas dos
entrevistados.
comunicação está presente em todos os
momentos e em todas as atividades.
Existe a comunicação verbal e a não
verbal. Para Souza (2006), a comunicação
verbal é aquela que se refere às palavras
faladas ou escritas. Já a comunicação não
verbal se refere àquela que inclui gestos,
silêncio, expressões faciais, postura
corporal e até os objetos e adornos de uso
pessoal.
A comunicação franca e aberta
auxilia qualquer pessoa, usuária ou não dos
serviços de saúde, a enfrentar momentos de
incerteza e ansiedade durante a superação de
alguma doença ou não. Para Souza (2005), as
estratégias que os profissionais de saúde
adotam, mesmo que inconscientemente,
podem afetar significativamente o quadro do
paciente, seu estado geral e sua adesão ao
tratamento.
3.3 O estabelecimento de vínculos
Schimith; Lima (2004) comenta que
o vínculo pode ser identificado no encontro
do trabalhador com o usuário durante o
trabalho em ação que está em processo de
construção. Durante o trabalho, o profissional
pode ser criativo e autônomo quanto aos
instrumentos e a sua disposição, dentro de
um objetivo que se pretende atingir.
O mesmo afirma que Campos (1997) apud
Schimidt; Lima (2004):
3.O PROCESSO TERAPÊUTICO E A
INTERAÇÃO COM O USUÁRIO
3.1 O processo terapêutico
Segundo Pessini; Bertachini (2004), a
relação terapêutica é estabelecida entre uma
pessoa que sofre, buscando um auxílio em
alguém que supostamente pode aliviá-la. Ela
pressupõe o tratamento de uma disfunção,
de um distúrbio, com vistas ao
restabelecimento de um estado anterior,
considerado mais equilibrado.
Faz parte do processo terapêutico o
aprimoramento das relações humanas, algo
essencial para a produção da saúde. É preciso
existir interação com a comunidade para que
o profissional também seja acolhido, pois
esse acolhimento garante a resolubilidade do
problema do usuário, que é o objetivo final do
trabalho terapêutico (VASCONCELOS, 2009).
A capacidade de escutar o usuário
deve ser considerada elemento fundamental
na trajetória do processo terapêutico. Pois
assim, fica evidente ao usuário que o
profissional que está atendendo se preocupa
com ele, com sua família e com a comunidade
com a qual se relaciona, gerando bons
resultados para o trabalho terapêutico.
3.2 A comunicação no processo
terapêutico
Através da comunicação que, se
estabelecida com o usuário dos serviços de
saúde, é possível perceber sua visão de
mundo, ou seja, seu modo de pensar, sentir
ou agir. Apenas assim podem-se identificar os
problemas sentidos por ele, e então tentar
ajudá-lo a manter ou recuperar a saúde. O
atendimento das necessidades humanas
depende, em várias circunstâncias, do
processo de comunicação que ocorre entre
ambos.
Para Kurcgant, et al. (1991), sem
comunicação não existe trabalho, não existe
relacionamento humano e, portanto, não há
g r u p o, o r g a n i z a ç ã o e s o c i e d a d e . A
o vínculo com os usuários
do serviço de saúde amplia
a eficácia das ações de
saúde e favorece a
participação do usuário
durante a prestação do
serviço. Esse espaço deve
ser utilizado para a
construção de sujeitos
autônomos, tanto
profissionais quanto
pacientes, pois não há
criação de vínculo sem que
o usuário seja reconhecido
na condição de sujeito que
fala, julga e deseja (p.
1.488).
Rizzoto (2002) afirma que, no âmbito
da saúde, criar vínculos requer o
estabelecimento de relações próximas e
claras, de forma que o sofrimento do outro
seja sensibilizador. Visa estabelecer processo
que busca a autonomia do paciente, bem
como o compartilhamento da
responsabilidade por sua vida ou morte.
122
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
O profissional da área da saúde deve
vincular-se ao usuário, para lhe transmitir
todas as informações possíveis, tanto no
d i a g n ó s t i c o, c o m o c o m p r e e n d e r a s
peculiaridades de sua deficiência. Seguindo
tal recomendação, poderá ocorrer melhor
aceitação e adesão do usuário à terapia a ser
implementada. Desta maneira, o usuário
deposita confiança na relação com o
profissional, além de sentir-se aceito e
próximo dos que se responsabilizaram pelo
seu bem-estar.
As relações de vínculo em muito
podem cooperar para o processo de adesão
terapêutica do paciente, uma vez que este
passa a entender a significância de seu
tratamento, a confiar nas orientações e nas
recomendações prescritas pelos profissionais
que o atendem.
3.4 A equipe da ESF no processo
terapêutico
Segundo Silva (2011), em 1994, a
ESF foi implementada como uma estratégia
de reorganização do Sistema Único de Saúde
(SUS) e implantação de seus princípios de
universalização, equidade, integralidade,
descentralização, hierarquização e
participação da comunidade.
Sendo assim, o mesmo afirma que “a
equipe de ESF precisa estabelecer uma
relação de parceria, confiança, comunicação
regular e transparência, bem como
cooperação para atender as necessidades da
família” (p.1.251).
A equipe da ESF deve trabalhar com a
clientela, enfocando na família o
estabelecimento de vínculos por meio da
equipe multiprofissional. A equipe básica ou
nuclear preconizada pela ESF é composta por
um Médico generalista, um Enfermeiro, dois
Técnico-Auxiliares de Enfermagem e cinco ou
seis Agentes Comunitários de Saúde.
Dependendo do município, conta também
com o apoio de profissionais da equipe de
saúde bucal, saúde mental e de reabilitação
(MARQUI, 2010).
3.5 Atuações do Enfermeiro/a no
processo terapêutico
A ESF tem o/a Enfermeiro/a como um
importante membro da equipe
multidisciplinar, o que representa um campo
de crescimento e de reconhecimento social
deste profissional. O/A Enfermeiro/a tem o
dever de executar suas práticas assistenciais
com integralidade, percebendo o usuário
como um todo, exercendo seu trabalho de
forma humanizada e colaborativa.
Por meio da consulta de Enfermagem
que o usuário entra em contato com o/a
Enfermeiro/a e tem a oportunidade de
mencionar todas as queixas sobre o problema
q u e e s t á l h e a g o n i a n d o. A s v i s i t a s
domiciliárias fazem parte da prática do/a
Enfermeiro/a, a qual é utilizada pelas equipes
como forma de conhecer as condições de vida
e saúde da população. É a partir do
conhecimento da realidade em que vivem as
famílias que as atividades da ESF são
planejadas (BICCA; TAVARES, 2006).
As mesmas autoras comentam sobre
a prática de educação em saúde como uma
técnica que tem muito valor, pois, através
dessa atividade, informações sobre o
processo saúde/doença são repassadas às
famílias como forma de despertar a
consciência para uma vida mais saudável,
sendo esta uma atividade também
mencionada pelo/a Enfermeiro/a.
3.6 Atuação do usuário na ESF
Todo usuário do serviço de saúde tem
direito a atendimento humano, atencioso e
respeitoso por parte dos profissionais da
saúde. Conforme Franco; Júnior (2004) a ESF
tem responsabilidades sobre o cuidado. É ela
que deve ser gestora do projeto terapêutico,
garantindo o acesso aos outros níveis de
assistência, assim como a
“contratransferência” para que o vínculo
continue com a equipe básica, que tem a
missão de dar continuidade aos cuidados ao
usuário.
B ra s i l ( 2 0 0 6 ) a p r e s e n t a s e i s
princípios básicos da cidadania, os quais,
juntos, garantem ao usuário o direito de
acesso no sistema de saúde. São eles:
a) todo cidadão tem direito ao
acesso ordenado e organizado aos sistemas
de saúde;
b) todo cidadão tem direito a
tratamento adequado e efetivo para seu
problema;
c) todo cidadão tem direito ao
atendimento humanizado, acolhedor e livre
de qualquer discriminação;
d) todo cidadão tem direito ao
atendimento que respeite a sua pessoa, seus
123
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
valores e seus direitos;
e) todo cidadão também tem
responsabilidades para que seu tratamento
aconteça da forma adequada;
f) todo cidadão tem direito ao
comprometimento dos gestores da saúde
para que os princípios anteriores sejam
cumpridos.
participante procurou o atendimento por
lesão no pé.
Anversa; B astos; et al (2012)
comentam que estudos realizados no Brasil
revelaram que mulheres com menor renda
familiar, menor escolaridade e não brancas
são as que ingressam tardiamente no prénatal e, quando o realizam, este é o de mais
baixa qualidade, revelando iniquidades
sociais presentes na assistência.
Em relação ao primeiro contato com
equipe e acolhimento ao chegar à unidade,
percebeu-se que 18 participantes,
representando a maioria, declararam ser bem
recebidos na unidade, evidenciado através da
fala de P6 (2012): “Fui bem acolhida, sempre
muito queridos e atenciosos com a gente”. Já
através da fala de alguns participantes
verificaram-se queixas, assim verbalizada na
fala de P.5 (2012): “Não tem muito olho no
olho”. P18 (2012) comenta: “Poderia ser
melhor; às vezes parece que ficam com raiva
quando a gente chega ao fichário”.
Ve r i f i c a - s e q u e o a c o l h i m e n t o
encontra dificuldades na apreensão de seus
conceitos por parte dos trabalhadores em
saúde, existindo diferenças na recepção com
os usuários nas ESFs, embora a grande
maioria tenha referido pontos positivos, há
comentários relevantes do restante dos
participantes.
Solla, (2005), aponta que o
acolhimento significa a humanização do
atendimento, o que pressupõe a garantia de
acesso a todas as pessoas. Diz respeito ainda
à escuta de problemas de saúde do usuário,
de forma qualificada, dando-lhe sempre uma
resposta positiva.
Para o mesmo autor, trabalhar o
acolhimento pressupõe postura e uma
atitude da equipe de saúde que permita
receber bem os usuários e escutar de forma
adequada e humanizada as suas demandas,
inclusive solidarizando-se com o seu
sofrimento. Dessa maneira, é possível
construir relações de confiança e de apoio
entre trabalhadores e usuários.
A seguir, no quadro abaixo, é
representada a frequência com que os
usuários entrevistados utilizam a Unidade
Básica de Saúde.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O questionário foi aplicado a 25
usuários oriundos de duas ESFs de um
município da região Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul. É importante salientar que
a análise não será feita separadamente por
cada ESF, mas serão consideradas as falas
dos 25 sujeitos de pesquisa.
Ao analisar os dados de
caracterização dos sujeitos participantes,
observa-se que a maioria é do sexo feminino.
Quando verificada a faixa etária dos
participantes, esta variou entre 18 e 72 anos,
sendo a maioria entre 20 e 54 anos, e apenas
a minoria entre a faixa dos 52 e 72 anos.
Quanto à escolaridade dos
participantes nas ESFs em questão,
constatou-se que, dos 25 pesquisados,
apenas 4 haviam concluído o Ensino
Fundamental e 4 o Ensino Médio. Os demais
informaram não ter concluído nenhuma
destas etapas de escolaridade.
Observando os profissionais que
p r e s t a ra m a t e n d i m e n t o a o u s u á r i o,
participante da pesquisa, pôde-se perceber
que a maioria dos atendimentos realizados foi
do profissional Enfermeiro (12), seguido
pelos atendimentos médicos (10) e por último
o atendimento Odontológico, com menor
procura, pois apenas (3) usuários
entrevistados tinham sido submetidos ao
atendimento odontológico.
A seguir se analisou o motivo que
levou os usuários a procurarem atendimento
na ESF. Constatou-se que a maioria, ou seja,
6 participantes haviam sido submetidas a
consultas de pré-natal. Outros 3 usuários
procuraram atendimento odontológico; 4
para realização de exame Papanicolau; 4 por
inflamação das vias aeras superiores; 3 por
processo alérgico e náuseas; 4 para
apresentar exames e requerer outros; e um
124
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
PARTICIPANTES
FREQUÊNCIA COM QUE UTILIZA
A UNIDADE
Toda semana
P1; P2; P3; P4.
P5; P11; P19; P24.
Cada 2 ou 3 meses
P6; P7; P14; P17.
Cada mês
P8; P9; P10; P12; P13; P15; P16;
De 2 a 3 vezes por ano
P18; P20; P21; P22; P23; P25.
Fonte: Trentini; Weber;Spies, 2012.
Observa-se que as pessoas mais
jovens reclamaram mais da assistência
prestada pelo atendimento médico, enquanto
a maioria com idade mais elevada considera o
atendimento bom. Percebe-se que as
pessoas mais jovens sentem maior liberdade
para expor o que sentem, sendo que as
pessoas com mais idade, parece sentirem-se
mais acanhadas para falarem o que pensam.
Cabe salientar que as falas queixosas pelo
atendimento médico foram registradas em
apenas uma das ESFs, evidenciando que em
uma das unidades o atendimento médico é
mais humanizado do que na outra unidade.
É fundamental que o médico valide a
história do paciente, é importante dar
atenção à história dele, isso irá contribuir
para a interação e pode ajudar no
diagnóstico, com a construção conjunta da
doença e do seu tratamento.
Através desse quadro, é possível
perceber que os usuários são assíduos em
suas visitas ao ESF, visto que algumas
frequentam a unidade todas as semanas,
lembrando que essas usuárias são as
gestantes em fase final de pré-natal.
Destacando, ainda, que essa frequência foi
constatada somente em uma das unidades.
Já a grande maioria dos sujeitos
entrevistados revela que usam a ESF em
torno de 2 ou 3 vezes por ano. Destes, grande
parcela demonstrou que apenas procuram
atendimento quando realmente necessitam e
que não se sentem confortáveis em
ambientes como Postos de saúde e hospitais.
3.1 AVALIAÇÃO DO ATENDIMENTO DOS
PROFISSIONAIS
3.1.1 Profissional Médico
A maioria dos participantes
atendidos pelo profissional médico relata
considerar o desempenho do atendimento
m é d i c o c o m o b o m , c o n s i d e ra n d o o
profissional competente em sua profissão, P1
(2012) diz: “Me atendeu super bem, ele é
bastante competente no que faz”. Já os
demais declaram que o atendimento médico
deixou a desejar o que pode ser evidenciado
nas falas do P5 (2012) quando diz: “o Médico
interagiu pouco comigo, não explicou bem
minhas dúvidas, acabei saindo de lá mais
assustada do que quando cheguei”; Já o P11
(2012) comenta que: “Sequer olhou na minha
cara, me deixou com várias dúvidas e não
explicou bem o que eu perguntei”.
3.1.2 Profissional Enfermeiro/a
Analisando as respostas,
constata-se que todos os usuários
participantes da pesquisa que foram
submetidos a atendimentos de
enfermagem, relatam estar satisfeitos
com o atendimento deste profissional.
Isso pode ser identificado na fala da
participante p8 (2012): “a enfermeira me
atendeu super bem, se mostrou bastante
preocupada comigo, conversou bastante
e me orientou”.
Essas afirmações vêm de encontro
125
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Os relatos de queixas dos usuários a
respeito do diálogo durante o atendimento
médico demostram apreensão, como se
verifica nestas falas de P5(2012): “Não houve
diálogo, apenas recebi as respostas das
minhas perguntas com “sim” e “não”. P11
(2012): “Teve muito pouco diálogo, porque
ela igual não deu muita bola pra mim e pro
meu problema”.
Talvez, devida à sobrecarga e ao
estresse que o profissional enfrenta dentro do
seu trabalho, pode não apresentar uma
comunicação satisfatória com as pessoas
submetidas aos seus cuidados, passando
assim a tratá-los como se fossem objetos e
não sujeitos, esquecendo-se da humanização
que obrigatoriamente deveriam possuir, pelo
fato de estarem trabalhando com pessoas
possuidoras de sentimentos e opiniões
próprias.
Cabe lembrar que na comunicação
existem barreiras que tornam ineficiente o
processo comunicativo, tais como, a falta de
capacidade de concentração, a
pressuposição de entendimento, a ausência
de significação comum, a influência de
mecanismos inconscientes e as limitações do
emissor/receptor (SILVA, 2002).
Assim como alguns participantes
desqualificaram o atendimento recebido pelo
médico, outros o elogiaram, sentindo-se
satisfeitos com o diálogo e vínculo criados
durante os atendimentos de Enfermagem e
Odontológicos. Isto pode ser constatado em
algumas das falas dos usuários participantes
da pesquisa, P12 (2012), a usuária submetida
ao atendimento médico: “Conversamos
bastante, a doutora explicou tudo o que eu
queria saber”; P17 (2012): “A conversa foi
boa, me tratou bem, e sempre faz uma
brincadeira comigo pra descontrair”.
Sobre o atendimento Odontológico e
de Enfermagem, as declarações dos usuários
foram semelhantes. Conforme P18 (2012),
usuária atendida pela Enfermeira, assim se
manifesta em relação ao atendimento
recebido:
“[...] Nossa, foi muito
bom, conversou
bastante comigo,
queria saber como eu
estava, e ainda
lembrava-se de mim da
outra vez que
com as afirmações de costa (200?), que
fala que o atendimento não deve ser
fragmentado durante o tempo em que o
enfermeiro está de serviço. A totalidade
dos cuidados deve ser prestada pela
enfermeira afeta ao doente, embora não
possa ser coordenado de um turno para o
outro, ou de um dia para o outro, por
ocorrerem alterações nas designações
das tarefas e porque o número de doentes
atendidos por um enfermeiro pode variar.
3.1.3 Profissional em Odontologia
Nos relatos dos participantes
verificou-se satisfação a respeito do
desempenho do profissional, os informantes
declararam terem tido um atendimento
respeitoso e atencioso. P6 (2012): “Me
atendeu muito bem, sempre muito atenciosa
e dedicada”. Relatos importantes foram
averiguados, como no caso da fala de P9
(2012): “Eu gosto do jeito que ela atende,
porque sempre explica tudo antes de algum
procedimento”.
Frente às falas dos participantes
apresentadas, pode-se perceber que os
usuários reconhecem o trabalho odontológico
e sentem-se satisfeitos com ele. Verifica-se,
então, que nas ESFs ocorre atendimento
humanizado sobre a odontologia.
Emmi; Barroso (2008), afirmam que
a saúde bucal é parte integrante e
inseparável da saúde geral do indivíduo e está
diretamente relacionada às condições de
alimentação, moradia, trabalho, renda,
transporte, lazer, acesso aos serviços de
saúde e à informação.
3.1.4 Diálogo e formação de vínculo
entre profissional e usuário
A seguir são apresentados os
comentários dos usuários acerca do diálogo
durante a consulta atendimento. Frente às
falas dos participantes pode-se constatar que
apenas no atendimento médico há queixas a
respeito do diálogo durante a consulta,
identificando que os mesmos usuários que
expuseram queixas sobre o desempenho do
profissional, relataram também o diálogo
como insuficiente e pouco esclarecedor,
lembrando que estas queixas surgiram em
apenas uma das ESFs pesquisadas.
126
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
consultei; ela explica
tudo, não quer que eu
fique com nenhuma
dúvida” (P18; 2012).
O participante P6 (2012), submetido
ao atendimento odontológico, comenta que:
“O diálogo foi bom, porque durante ele, ela
esclareceu as minhas dúvidas, e ela sempre
explica o que vai fazer e o que eu vou sentir
antes de algum procedimento”.
Com ênfase na humanização em
saúde, ambos, profissional e paciente, se
beneficiariam, pois tanto o profissional torna
o seu trabalho mais prazeroso e gratificante,
quando o paciente obtém mais segurança em
ter por cuidador alguém que possa confiar em
sua experiência de dor devido à doença.
Lucena; Goes (1999) comentam que
tudo que acontece com o paciente deve ser
levado em conta, a comunicação é essencial,
principalmente nos casos em que o paciente
está mais vulnerável, para que seja possível
tê-lo como aliado do seu tratamento.
Segundo Cecílio (1994), o vínculo é
algo que reflete na responsabilidade e no
compromisso que a equipe tem com cada
usuário da sua área de abrangência e com os
tipos de problemas que eles apresentam,
implica em ter relações tão próximas e tão
claras que sensibilizam o sofrimento do outro.
É sentir-se responsável pela vida do paciente.
É ter relação e integrar-se com a comunidade
em seu território, no serviço, no consultório,
nos grupos e tornar-se referência para o
usuário, individual ou coletiva.
saúde está ligado às condições de vida,
nutrição, habitação, poder aquisitivo e
educação, englobando a acessibilidade aos
serviços, abrangendo também o aspecto
econômico, relativo aos gastos diretos ou
indiretos do usuário com o serviço.
Conforme a fala dos informantes,
observa-se a falta de reconhecimento técnico
sobre a perspectiva do usuário quando se
aborda sobre a qualidade de serviços de
saúde, pois os usuários participantes
mencionaram a necessidade de haver mais
fichas a disposição, já que a população é
relativamente grande nas ESFs. Dessa
maneira, as pessoas acabam por buscar as
emergências e o problema da superlotação
seguirá existindo.
As informações dos participantes
vêm de encontro a Franco; Magalhães Júnior
(2004), quando mencionam que a
integralidade começa pela organização dos
processos de trabalho na atenção básica, em
que a assistência deve ser multiprofissional,
operando através de diretrizes como a do
acolhimento e da vinculação de clientela, na
qual a equipe se responsabiliza pelo seu
cuidado.
Já outros participantes entrevistados
relatam estarem satisfeitos com a
a s s i s t ê n c i a , t a l ve z p o r s e s e n t i re m
constrangidos ou inseguros de exporem suas
manifestações; participante P6 (2012): “Não
tenho queixas, todos me tratam bem, são
bem atenciosos”. Outro participante ressalta:
“Por parte dos outros que trabalham aqui,
acho a assistência boa” (P11; 2012).
A integralidade de atenção à saúde
deve ser vista sob o aspecto não apenas de
organização dos recursos disponíveis, mas
especialmente do fluxo do usuário para o
acesso aos mesmos. Para garantir a
integralidade, é necessário operar mudanças
na produção do cuidado, a partir da rede
básica, secundária, atenção à urgência e
todos os outros níveis assistenciais (FRANCO;
MAGALHÃES JÚNIOR, 2004).
3.2 SOBRE A ASSISTÊNCIA DAS ESFs
Os participantes relatam sobre a
assistência prestada pelos demais
profissionais das ESFs.O que chama a
atenção nos depoimentos é o fato de que a
maioria dos participantes que declararam
algum tipo de queixa, ao se expressarem
insatisfeitos por motivos de longa espera e
por ter poucas fichas para consultas,
evidenciando em suas falas, “[...] perdemos
muito tempo na fila esperando para conseguir
uma ficha, e aí quando 'vê' elas já acabaram,
e o tempo que esperamos foi de 'varde' ” (P3;
2012). Outro informante relata: “Podiam
abrir mais fichas” (P16; 2012).
Frente às afirmações Ramos; Lima
(2003), os quais mencionam que o acesso à
3.3 PERCEPÇÕES SOBRE O TRABALHO DO
ENFERMEIRO/A
A seguir são expostas as declarações dos
participantes da pesquisa, expressando suas
percepções sobre o trabalho do Enfermeiro/a na
equipe das ESFs.
Analisando as respostas dos entrevistados no
127
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PARTICIPANTES
PERCEPÇÃO DOSPARTICIPANTES
P1; P4; P7; P13; P14; P16; P17; P21.
“Dá uma boa assistência, pois quando
o médico falta, a Enfermeira nos
atende.”
P2; P6; P10; P12; P23; P25.
“Faz um bom trabalho.”
P3; P5; P8; P18; P20.
“[...] É o profissional que mais se
comunica com a população.”
P9; P11; P15; P19; P22; P24.
“[...] Identifica os casos graves e
encaminha ao médico.”
Fonte: Trentini; Weber;Spies, 2012.
saúde comunitários. A enfermagem tem a
possibilidade de operar, de forma criativa e
autônoma, nos diferentes níveis de atenção à
saúde, seja através da educação em saúde,
seja na promoção ou na reabilitação da saúde
dos indivíduos.
Logo, o participante P5 (2012) faz
uma distinção entre os demais profissionais
que os atendem, verbalizando assim sua
percepção: “A Enfermeira é quem faz a
diferença, porque é a profissional que mais se
conversa com a população e a que explica
melhor que os outros profissionais”.
A comunicação no relacionamento
entre usuário e profissional de enfermagem é
um instrumento básico na construção de
estratégias que anseiam um cuidado
humanizado.
Para Morais; Costa; et al (2009), a
comunicação em enfermagem vem
exercendo um importante papel no que tange
a um cuidado competente humanitário. Deve
atingir um sentido mais amplo que privilegie o
paciente por meio de um relacionamento
terapêutico, entendido como um processo
interativo e personalizado, envolvendo
afinidade e compreensão.
Os demais participantes da pesquisa
demonstram entrosamento com o trabalho
quadro anterior, percebe-se, assim, que esta
maioria vê o trabalho do Enfermeiro/a como
sendo um subsídio ao trabalho do Médico. É
pertinente que a equipe da enfermagem
realize um trabalho diferenciado para ser
notado tanto na presença como na ausência
do profissional médico e não somente na sua
ausência como manifestado na fala.
Mesmo pouco conhecida pelos
usuários, Fernandes et al (2010), comenta
que a enfermagem é uma das categorias da
saúde mais mobilizadas para o
gerenciamento das unidades básicas de
saúde e cabe a essa o compromisso, junto
aos demais profissionais, da viabilização do
SUS, incentivando a participação da equipe
na organização e produção de serviços de
saúde para atender às reais necessidades dos
usuários, trabalhadores e instituição.
Já outros participantes consideram
que a Enfermeira faz um bom trabalho dentro
da equipe das ESFs, porém não sabem
identificar exatamente as atividades da
Enfermeira dentro das ESFs.
Backes; Backes; et al (2012),
comentam as evidências internacionais que
acenam para a importância do papel
profissional do enfermeiro na saúde coletiva,
tanto no ambiente domiciliar quanto no
ambiente comunitário ou nos centros de
128
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
da Enfermeira dentro das ESFs. Através desta
percepção nota-se o entendimento dos
usuários a respeito do serviço de
enfermagem das ESFs. Compreende-se que
assim o trabalho do Enfermeiro/a na saúde
coletiva está tendo uma maior visibilidade.
Backes; Backes; et al (2012)
articulam que o papel do Enfermeiro/a é
reconhecido, em suma, pela capacidade e
habilidade de compreender o ser humano
como um todo, pela integralidade da
assistência à saúde, pela capacidade de
acolher e identificar-se com as necessidades
e expectativas dos indivíduos e famílias, pela
capacidade de promover a interação e a
associação entre os usuários e a comunidade.
A participante P5 (2012) verbaliza
assim: “Sim eu retornaria, porque aqui é o
postinho mais perto da minha casa e gosto do
atendimento”. Já P9 (2012): “Se eu tivesse
outra opção, eu não viria mais aqui”.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desta pesquisa observouse, nos diversos relatos, que há diferenças de
atendimento por parte dos profissionais com
os clientes/usuários dos serviços públicos de
saúde. O estudo possibilitou interagir com
inúmeras informações fornecidas pelos
sujeitos participantes, o que possibilitou um
olhar diferenciado sobre a atuação dos
profissionais que atuam nas ESFs.
Averiguou-se, através das falas dos
participantes, que o atendimento Médico foi o
único que demonstrou queixas no que se
refere ao diálogo, acolhimento e vínculo. Em
virtude da grande satisfação demostrada pelo
atendimento da Enfermeira, mesmo existindo
carência e conhecimento a respeito das
atividades que a Enfermeira realiza dentro da
equipe das ESFs.
Quanto às hipóteses elencadas no
início deste trabalho, pode-se afirmar que
foram confirmadas, pois se concluiu que a
maioria dos usuários das Unidades Básicas de
Saúde, dá valor à atenção e às informações
que lhes são prestadas pelo profissional de
saúde, apesar de que estes nem sempre são
bem acolhidos e esclarecidos sobre suas
dúvidas e angústias.
Ao finalizar esta pesquisa, pode-se
afirmar que os objetivos propostos foram
alcançados, dando a oportunidade aos
usuários dos serviços públicos de saúde de
expressarem seus sentimentos e suas
percepções a respeito da temática. Vale
ressaltar que ficam comprovados pontos
importantes para a pesquisadora no que se
refere à produção do conhecimento sobre o
tema da pesquisa, bem como o crescimento
pessoal/acadêmico e experiências
vivenciadas pela autora no decorrer da
produção do trabalho.
Diante de tudo que foi exposto,
conclui-se que a comunicação é essencial
para todos os momentos da nossa existência
e especialmente para o estabelecimento do
relacionamento interpessoal profissionalusuário.
3.4 CONCLUSÕES DOS USUÁRIOS SOBRE
AS ESFS
Os participantes relataram em relação
ao esclarecimento do profissional que lhe
atendeu a respeito de sua doença/problema,
dos cuidados com o tratamento e
medicamentos. Percebeu-se nas falas dos
participantes que a maioria considerou que
foi bem esclarecido durante a
consulta/atendimento, como se pode
constatar na fala de P2 (2012): “Sim, fui
esclarecida”. Já na fala de P11 pode ser
percebido que o mesmo não foi devidamente
esclarecido sobre tais cuidados, “Fui pouco
esclarecida, sobre a doença e o tratamento”
(P11; 2012).
Em seguida, os participantes
relataram se consideram a busca pelo
atendimento resolvido, e significativamente
todos os participantes declararam que foi sim
resolvida. Destacando que apenas um
participante relatou: “hoje sim, mas nem
sempre é”(P14; 2012).
Neste momento, a terminologia
utilizada pelo profissional, suas habilidades
pessoais de simpatia, compreensão, ouvir
com atenção, transmitir respeito e prover
esperança são condições importantes para o
entendimento do usuário a respeito do que
ele deve saber.
A seguir, os participantes foram
questionados se retornariam a esta Unidade
de Saúde. Frente aos relatos, percebe-se que
a grande maioria retornaria à Unidade de
Saúde. Outros apenas 4 relatam que não
re t o r n a r i a m p o rq u e c o n s i d e ra ra m o
atendimento insuficiente, ou comentam que
se tivessem outra opção de Unidade de Saúde
que fosse de fácil acesso, não retornariam a
esta mesma.
129
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
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130
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE COMO AÇÃO TERAPÊUTICA: ANÁLISE DE UM
SERVIÇO DE ONCOLOGIA DO NOROESTE GAÚCHO
Aline Josiele Follmann
Paulo Fábio Pereira
SETREM
1
2
3
ABSTRACT
RESUMO
O conceito de saúde e de doença tem sofrido
desdobramentos que estão sendo
acompanhados por mudanças de conceitos e
com isso tem produzido alterações em
práticas terapêuticas em ambientes
hospitalares. Um fator muito importante
refere-se à necessidade de construir vínculos
humanos e afetivos entre usuários e
profissionais. Frente a isso, o presente estudo
objetiva compreender o impacto e as
potencialidades de um ambiente humanizado
na recuperação de pacientes oncológicos em
um serviço de quimioterapia do noroeste
gaúcho. Para o proposto, foi investigado um
serviço reconhecido por seu ambiente
humanizado. Para alcançar estes objetivos, o
presente estudo adotou como linha
metodológica a pesquisa qualitativa do tipo
exploratório descritivo. Os dados foram
obtidos através de observação e entrevista
gravada realizada com usuários oncológicos
da unidade sede da pesquisa. Para análise
dos resultados utilizou-se a sistemática da
análise de conteúdo. A pesquisa seguiu todos
os preceitos éticos contidos na Resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Com
a categorização e análise dos dados obtidos
no campo empírico foi possível perceber que
os pacientes reconhecem o bom atendimento
prestado a eles no qual acolhimento é uma
ferramenta que estrutura a relação entre a
equipe e a população e se define pela
capacidade de solidariedade de uma equipe
com as demandas do usuário, resultando
numa relação humanizada. Observa-se que o
ambiente humanizado tem ação terapêutica.
The conception of health and disease has
passed by improvements that are being
followed by changes of concepts and this way
has produced alterations in therapeutics
practices in hospital environments. A very
important factor refers to the necessity of
constructing human and affective
entailments between users and professionals.
Due to this the present study aims to
understand the impact and potentialities of a
humanized environment in the recovering of
oncological patients in a service of chemical
therapy from the northwest region. For the
proposed it was investigated a service avowed
by its humanized environment. In order to
obtain these objectives the present study
a d o p te d a s m e t h o d o l o g i ca l l i n e t h e
qualitative research of exploratory descriptive
type. The data were obtained through the
observation and recorded interview, carried
out with the oncological patients of the unit
seat of the research. For the analysis of the
results the systematic of analysis of contents
was used. The research followed all the ethic
precepts enclosed in the Resolution
of
the National Council of Health. With the
categorization and analysis of the data
obtained in the empirical field, it was possible
to realize that the patients recognize the good
serving given to them where welcoming is a
tool that structures the relation between the
staff and the population and defines itself by
the capacity of solidarity of a staff with the
demands of the user resulting in a humanized
relation. It is observed that the humanized
environment has therapeutic action.
Palavras–chave: Enfermagem.
Humanização da Assistência. Quimioterapia.
Keywords: Nursing. Humanization of the
Assistance. Chemical Therapy.
1
Enfermeira – SETREM;
Enfermeiro, Mestre em Enfermagem.
3
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Av. Santa Rosa, 2405; Três de Maio - RS,
[email protected]
2
131
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento científico e
tecnológico tem trazido uma série de
benefícios, mas muitas vezes tem como efeito
adverso a desumanização. Um hospital pode
ser considerado o melhor em tecnologia, mas
se não tiver um atendimento humanizado se
torna incapaz de prestar um serviço de
qualidade.
Ao longo da história brasileira, o câncer
foi visto de diversas formas. De tumor
maligno e incurável à neoplasia, de tragédia
individual a problema de saúde pública, sua
história foi marcada pelo incessante esforço
da medicina em controlá-lo pela via da
prevenção, aliada ao uso das mais modernas
tecnologias médicas de tratamento.
No entanto, as dificuldades técnicas
para a cura de muitas de suas formas, o alto
custo das tecnologias empregadas com esse
objetivo e seu caráter individual mostram-se
como limitadores da ação terapêutica,
fazendo com que a doença se vincule cada
vez mais ao campo da prevenção e da saúde
pública (TEIXEIRA, FONSECA, 2007).
Frente a isso, tem-se hoje no país um
cenário múltiplo, marcado por distintos
programas, distintas políticas e
funcionamento. Em especial quando se fala
em Humanização de pacientes oncológicos,
pois são pessoas em situação de fragilidade
devido a seu estado de saúde. Portanto,
configuram-se como uma parcela que
necessita de ações humanizadas. E, como já
posto anteriormente, o cenário é marcado
por uma multiplicidade de práticas que
transitam entre aquelas que são exitosas e
aquelas que ainda necessitam de
desenvolvimento no tocante à humanização.
Desta forma, o estudo tem como
objetivo primordial compreender as ações
voltadas à humanização de um serviço de
quimioterapia a partir das vivências de
usuários.
Para tal, pesquisou-se um serviço de
quimioterapia sabidamente exemplar nos
aspectos que tangem as ações de
humanização, focando na perspectiva dos
usuários e quais ações desenvolvidas no
serviço conferem qualidade de vida aos
mesmos.
uma série de sentimentos lesivos para a sua
saúde. O estigma que a doença carrega vem
de muitos anos atrás e ainda hoje causa
prejuízos a quem recebe esse diagnóstico. Se
o paciente não tiver uma boa cultura, um
forte apoio e um tratamento humanizado,
essa doença pode vir a acarretar uma série de
fatores ainda mais danosos em sua vida,
provocando sentimentos, desequilíbrios e
conflitos internos, além de causar um
sofrimento tão intenso, capaz de resultar em
desorganização psíquica a esses pacientes.
Transformar práticas de saúde exigem
mudanças no processo de construção dos
sujeitos dessas práticas. Somente com
trabalhadores e usuários protagonistas e
corresponsáveis é possível efetivar a aposta
que o SUS faz na Universalidade do acesso,
na integralidade do cuidado e na equidade
das ofertas em saúde. Por isso, fala-se da
'Humanização' do SUS (Humaniza SUS) como
processo de subjetivação que se efetiva com
a alteração dos modelos de atenção e de
gestão em saúde, isto é, novos sujeitos
implicados em novas práticas de saúde.
Define-se, assim, 'Humanização' como a
valorização dos processos de mudanças dos
sujeitos na produção de saúde (PEREIRA,
2008).
Para Deslandes (2008), humanização
parte de que os seres humanos são
produtores de necessidades fisiológicas e
psicológicas e o cuidado que se preocupa em
provê-las pode ser entendido como
humanizado. A autora chama a atenção
quando caracteriza três guias como
referência na prática de cuidado: o intrínseco
valor da vida humana, a insubstituibilidade de
cada ser humano e as pessoas consideradas
em sua integralidade.
De acordo com Pereira 2008, a Xl
Conferência Nacional de Saúde, CNS (2000),
que tinha como título “Acesso, qualidade e
humanização na atenção à saúde como
controle social”, procura interferir nas
agendas das políticas públicas de saúde. De
2000 a 2002, o Programa Nacional de
Humanização da Atenção Hospitalar
(PNHAH) iniciou ações em hospitais com o
intuito de criar comitês de 'Humanização'
voltados para a melhoria na qualidade da
atenção ao usuário e, mais tarde,
trabalhadores. Tais iniciativas encontraram
um cenário ambíguo em que a humanização
era reivindicada pelos usuários e alguns
trabalhadores. Por um lado, os usuários
reivindicavam o que é de direito: atenção com
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O câncer no ser humano desencadeia
132
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
acolhimento e de modo resolutivo.
O programa Nacional de Humanização
da Assistência Hospitalar (PNHAH) foi criado
no ano de 1999, pela Secretaria da
Assistência à Saúde do Ministério da Saúde,
com os objetivos de melhorar a qualidade e a
eficácia da atenção dispensada aos usuários
da rede hospitalar; recuperar a imagem dos
hospitais entre a comunidade; capacitar os
profissionais dos hospitais para um conceito
de atenção à saúde baseado na valorização
da vida humana e da cidadania; conceber e
implantar novas iniciativas de humanização
beneficiando tanto os usuários como os
profissionais da saúde; estimular a realização
de parcerias e trocas de conhecimento;
desenvolver um conjunto de
indicadores/parâmetros de resultados e
sistemas de incentivos ao tratamento
humanizado (DESLANDES, 2008).
Fazer com que o paciente se sinta bem
acolhido, apoiado e rodeado de pessoas que
lhe fazem bem, em um ambiente confortável,
fará com que o paciente sinta mais
valorização, conseguindo enfrentar melhor o
seu estado saúde/doença, mantendo uma
autoestima elevada, trazendo uma série de
benefícios a sua saúde e ao seu tratamento.
Deslandes (2008), afirma que o cuidador está
firmemente comprometido com o objetivo de
apoiá-lo na resolução de seus problemas de
saúde. Mais do que isso, que o cuidador
segue o objetivo de ajudar a promover uma
dinâmica de multiplicação dos apoios, de
modo que o usuário possa,
progressivamente, apoiar a si mesmo e
buscar apoio no seu próprio contexto vital.
2008), a construção da Política Nacional de
Humanização da Atenção e Gestão à Saúde
(PNH) partiu de uma análise do processo de
construção do SUS, na qual se confrontaram
o já instituído e as novas forças instituintes –
“do SUS que temos ao SUS que queremos”,
valorizando, tanto dentro como fora do
Estado, as instâncias coletivas mais
intimamente ligadas à experiência concreta
de invenção de novos modos de existência, a
partir dos desafios de produzir saúde, e
sujeitos nas diferentes instâncias da rede
pública de saúde. Foi possível, dessa forma,
não apenas formular uma política transversal
às diversas ações e instâncias gestoras do
S U S , i n t e g ra n d o o b j e t i v o s e a ç õ e s
fragmentadas e setorizadas em programas,
como exercitar um novo modo de construir e
de praticar políticas públicas de saúde, em
que o público não diz respeito apenas ao
Governo ou ao Estado, mas implica “a
experiência concreta dos coletivos”, na qual
“a saúde se apresenta como uma questão
pública”, e, em sua relação com o SUS,
envolve a participação dos diferentes atores:
usuários, trabalhadores e gestores.
Humanizar refere-se à possibilidade
de uma modificação cultural da gestão e
principalmente das práticas desenvolvidas
nas instituições de saúde. Sonha-se com um
SUS mais humanizado, com uma política mais
humanizada, em que os usuários do SUS
possam ser mais valorizados e escutados.
Todos querem ser reconhecidos não só
como consumidores de serviços de saúde,
mas como cidadãos de bem no qual, por um
motivo, estão mais necessitados da ajuda
alheia e esperam que essa ajuda seja
prestada com qualidade e principalmente
equidade para todos. Segundo Rosa (2009),
Humanizar na atenção à saúde é entender
cada pessoa em sua singularidade, tendo
necessidades específicas e, assim, criando
c o n d i ç õ e s p a ra q u e t e n h a m a i o r e s
possibilidades para exercer sua vontade de
forma autônoma.
2.2 A PNH na Formação dos
Profissionais de Enfermagem na
Atenção Oncológica
Segundo o Ministério da Saúde
(BRASIL, 2008), a nova Política Nacional de
Atenção oncológica, instituída em JUNembro
de 2005, em consonância com as diretrizes e
as estratégias de democratização
institucional, instituídas no âmbito da
construção do SUS, promove a
2.1 Políticas Públicas de Saúde
As mudanças no Sistema Único de
Saúde (SUS) continuam passando por um
processo de organização, inovando e
adotando medidas relevantes para o
crescimento do país. Muito já se fez pela
política de humanização, mas espera-se que
muita coisa mude, para que a Humanização
seja tratada de forma igual para todas as
classes (DESLANDES, 2008).
A temática de Humanização vem
sendo apontada desde a criação do SUS. No
começo era vista com desconfiança pelas
forças políticas, mas com o tempo e a reforma
sanitária foi, progressivamente, afirmando-se
nos Serviços de Atenção a Saúde do SUS.
Segundo o Ministério da saúde (BRASIL,
133
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
descentralização e a valorização da
corresponsabilidade entre a rede de serviços
e as equipes profissionais, visando à
integralidade da atenção em oncologia.
Qualificar a assistência e promover a
educação permanente dos profissionais de
saúde envolvidos com a implantação e a
implementação da Política de Atenção
Oncológica, em acordo com os princípios da
integralidade e da Humanização. (BRASIL,
2008).
A gravidade do adoecimento e a alta
complexidade do tratamento dos diversos
tipos de câncer, assim como o impacto da
experiência para os profissionais envolvidos,
expõem claramente a necessidade de
cooperação de saberes e disponibilidades e,
também, a importância de laços solidários
entre a equipe e a rede social dos usuários
(BRASIL, 2008).
Assim, há que se considerar que a
humanização da assistência nesse contexto
pressupõe o cuidado com e realização
pessoal e profissional dos trabalhadores de
enfermagem. Deve existir um projeto
coletivo, em que toda a organização se
reconheça e se valorize, resgatando as
relações entre profissional de saúde e
usuários, entre os próprios profissionais,
entre esses profissionais e a instituição e
entre a instituição e a comunidade
(MENEZES, 2006).
bem estar do paciente, vendo ele como um
ser que necessita de uma atenção especial.
Cabe aos profissionais da saúde saber
desenvolver essa sensibilidade maior com
tais pacientes, visto que o câncer ainda é uma
doença que causa muita dor, medo e temor
da morte.
Não se faz necessário grandes
tecnologias no setor de oncologia. Muitas
vezes a única coisa que o usuário espera é um
pouco de atenção, um ambiente confortável,
visto que este tratamento é muito demorado
(na maioria das vezes a aplicação
quimioterápica leva de 3 a 6 horas), o uso de
camas e poltronas confortáveis,
equipamentos audiovisuais, música,
conversas, a possibilidade de poder estar
sempre acompanhado de seus parentes
queridos, tudo isso corrobora para um
tratamento mais eficaz e menos dolente ao
paciente oncológico.
3 METODOLOGIA
A presente pesquisa foi desenvolvida
com pacientes oncológicos de uma unidade
de quimioterapia de um hospital de médio
porte, localizado no Noroeste do Estado do
Rio Grande de Sul. Para que pudesse produzir
informações relevantes e fidedignas, seguiu
um roteiro metodológico compatível com seu
problema de estudo. De acordo com Minayo
(2002, p.16), “metodologia é o caminho do
pensamento e a prática exercida na
abordagem da realidade que ocupa um lugar
central no interior das teorias e está sempre
referida a elas”.
Ainda, para Minayo (2003, p.17), a
pesquisa se configura em “a atividade básica
da Ciência na sua indagação e construção da
realidade. É a pesquisa que alimenta a
atividade de ensino e atualiza frente à
realidade do mundo. Portanto, embora seja
uma prática teórica, a pesquisa vincula
p e n s a m e n t o
e
a ç ã o ” .
Já para Polit; Beck; Hungler (2004, p. 20), a
pesquisa é a investigação sistemática que usa
métodos para responder às questões ou
resolver os problemas. A meta final da
pesquisa é desenvolver, refinar e expandir um
corpo de conhecimentos. A partir disso, o
presente projeto de pesquisa seguiu uma
abordagem de cunho qualitativo que,
segundo Minayo (2003), responde a questões
muito particulares.
Ela se preocupa, nas
ciências sociais, com um nível de realidade
que não pode ser quantificado. Ou seja, ela
2.3 O uso de tecnologias leves na
Atenção Oncológica
Na reflexão acerca de humanização
torna-se como referência um eixo principal o
das tecnologias da relação ou tecnologias
leves. Conforme MERHY (2006), esse é um
território marcado pelo encontro que se
estabelece entre duas pessoas em um
contexto de intersubjetividade, cumplicidade
e responsabilização diante de um dado
problema. Ao problematizar o encontro com o
usuário interessa focalizar três categorias que
propõem o autor ao descrever as tecnologias
leves: acolhimento, vínculo e autonomia.
Assim, na unidade de quimioterapia,
os encontros com usuários deste serviço são
mais frequentes e contínuos, devido ao
tratamento com quimioterápicos serem de
longo prazo. Este espaço favorece na
construção de um vínculo entre o paciente e o
seu cuidador, bem como um acolhimento
mais prestativo, mais humanizado, voltado ao
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trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e
dos fenômenos que não podem ser reduzidos
à operacionalização de variáveis (p.21)
Estudos descritivos procuram
especificar as propriedades, as características
e os perfis importantes de pessoas, grupos,
comunidades ou qualquer outro fenômeno
que se submeta à análise. [...] Em um estudo
descritivo, seleciona-se uma série de
questões e mede-se ou coleta-se informação
sobre cada uma delas, para assim (vale a
redundância) descrever o que se pesquisa
(COLLADO; LUCIO; SAMPIERI; apud
DANHKE, 2006, p.101).
As informações produzidas foram
analisadas a partir da técnica de analise de
conteúdo, descrita por Minayo (2002),
“através da análise de conteúdo, podemos
encontrar respostas para as questões
formuladas e também podemos confirmar ou
não as afirmações estabelecidas antes do
trabalho de investigação “hipótese”” (p 74).
A pesquisa foi desenvolvida seguindo
as normas contidas na Resolução 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da
Saúde, que dispõe sobre as diretrizes legais
da pesquisa que envolve seres humanos
(BRASIL, 1996). A referida resolução visa
assegurar os direitos e deveres que dizem
respeito à comunidade científica, aos sujeitos
da pesquisa e ao Estado.
Minayo (20002) ressalta a importância
da interação entre pesquisador e sujeitos
pesquisados, sendo isso essencial para o
desenvolvimento da pesquisa qualitativa.
“Sua preocupação é de que todo o corpo e
sangue da vida real componham o esqueleto
das construções abstratas” (MINAYO, 1999,
p. 105). Para isso, foi utilizada a técnica de
entrevista e a observação participante, como
meio de articulação da coleta de dados.
Para o estudo em questão, a
entrevista foi construída em torno de
perguntas semiestruturadas relevantes ao
tema proposto sendo que as falas dos
informantes foram gravadas e
posteriormente digitalizadas e, em seguida,
foram transcritas na íntegra, utilizando as
informações coletadas, exclusivamente, para
fins de análise.
3.1 População em Amostra
Para Polit; Beck; Hungle (2004), a
amostragem é o processo de seleção de uma
porção da população. Uma amostra, então, é
um subconjunto dessa população. As
entidades que formam as amostras e as
populações são os elementos. Na pesquisa de
Enfermagem, os elementos são geralmente
os seres humanos (p. 237). A população que
foi parte deste estudo foi composta por
pacientes em tratamento quimioterápico de
uma Unidade Hospitalar localizada no
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
O tamanho da amostra foi
estabelecido a partir do método de saturação
de dados que, segundo as autoras Polit;
Beck; Hungler (2004), é amostrar até o
ponto em que não é obtida nenhuma
informação nova e é atingida a redundância.
Normalmente é possível chegar à
redundância com um número relativamente
pequeno de casos, se a informação de cada
um tiver profundidade suficiente. Chegou-se
a essa população através de um questionário
semiestruturado elaborado no decorrer do
projeto de pesquisa.
Os usuários do serviço de oncologia
responderam a este formulário com o intuito
de relatar a vivência do câncer em suas vidas.
A referente pesquisa entrevistou nove
pessoas que faziam uso de tratamento
quimioterápico no mês de agosto de 2010,
em uma clínica oncológica do Noroeste
gaúcho. Para preservar as identidades dos
entrevistados foram usados as palavras
informante 1, informante 2, e assim
sucessivamente.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No perfil apresentado destaca-se que
9 pessoas fizeram parte desta pesquisa,
sendo que a idade dos informantes variou
entre 30 e 58 anos; 7 são do sexo feminino e 2
do sexo masculino. Suas profissões são todas
de nível médio, nenhum possuindo curso
superior. O tempo de tratamento dos
informantes variou de uma semana a um ano.
Isso também fez com que as respostas
sofressem influências, como o estágio da
doença, reações adversas aos fármacos
quimioterápicos e ao psicológico dos
informantes. Destaca-se que estes fatores de
variação foram observados no momento de
análise das informações.
Segundo o INCA 2009, no Brasil, as
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estimativas para o ano de 2010, serão válidas
também para o ano de 2011, e apontam para
a ocorrência de 489.270 casos novos de
câncer. Os tipos mais incidentes, à exceção do
câncer de pele do tipo não melanoma, serão
os cânceres de próstata e de pulmão no sexo
masculino e os cânceres de mama e do colo
do útero no sexo feminino, acompanhando o
mesmo perfil da magnitude observada para a
América Latina.
Descobrir-se com câncer talvez seja
um dos maiores desafios para os seres
humanos, principalmente pelo estigma que
essa patologia carrega consigo. Quando
começam a surgir os primeiros
sintomas/sinais dessa doença, as pessoas,
muitas vezes, preferem ignorar tais
acontecimentos, acreditando que vai passar
ou não é nada. Aí que começa ficar perigoso.
O câncer diagnosticado logo em seu início
tem praticamente 100% de cura, mas para
isso é necessário que as pessoas procurem as
unidades de saúde e atendimento
especializados.
Quando perguntado como a maioria
descobriu estar com câncer, quatro das nove
informantes responderam que, pelo
autoexame, o que prova a importância do
cuidado domiciliar com o corpo. O cuidado
com o corpo é fundamental, mas o
autoexame feito em casa não substitui o que
deve ser realizado anualmente por um
profissional da saúde, médico ou enfermeiro.
Três dos nove informantes relataram
que descobriram a doença pelos sintomas,
sendo assim a doença um pouco mais
e vo l u í d a d o s q u e d e s c o b r i ra m p e l o
autoexame.
Às vezes as pessoas acabam sendo
omissas com a própria saúde, deixando para
depois exames e cuidados que devem ter com
o corpo. Isso pode ocasionar avanços de
doenças muito sérias e, às vezes,
irreversíveis. Muito se fala em prevenção de
doenças e grupos de riscos, são várias as
políticas públicas nesse sentido, sendo que as
pessoas devem estar atentas ao seu estilo de
vida, procurando assistência ao menor aviso
que o corpo der.
O vínculo com o serviço foi o relato por
dois dos nove informantes, sendo que
sempre procuravam o profissional enfermeiro
de suas unidades de saúde, relatando a eles o
que estava acontecendo.
A informante 3 afirmou que tinha
“fisgadas”, dor, sangramento durante a
relação, aí foi para fazer o preventivo e
voltou normal, aí a enfermeira encaminhou
para o médico para fazer tratamento com
pomadas e comprimidos.
Para Schimith; Lima, 2004,
acolhimento e vínculo dependem do modo de
produção do trabalho em saúde. O
acolhimento possibilita regular o acesso por
meio da oferta de ações e serviços mais
adequados, contribuindo para a satisfação do
usuário. O vínculo entre profissional/paciente
estimula a autonomia e a cidadania,
promovendo sua participação durante a
prestação de serviço.
A informante 4 revelou:
“eu tava trabalhando e
senti que meu seio
esquerdo saiu fora do
sutiã e nisso levei a mão
no seio e peguei e
apalpei, os dois seios
tinham nódulos, aí
peguei e larguei tudo e
fui no vestiário e liguei
para a enfermeira do
meu posto e marquei
uma consulta, ela me
olhava daquele jeito,
mas dizia que não era
c â n c e r , a í m e
encaminhou para fazer
uma mamografia e
ecografia.”
O vínculo com os usuários do serviço
de saúde amplia a eficácia das ações de
saúde e favorece a participação do usuário
durante a prestação do serviço. Esse espaço
deve ser utilizado para a construção de
sujeitos autônomos, tanto profissionais
quanto pacientes, pois não há construção de
vínculo, sem que o usuário seja reconhecido
na condição de sujeito que fala, julga e
deseja. Merhy afirma que a relação
humanizada da assistência que promove a
acolhida, dá-se sob dois enfoques: o do
usuário e o do trabalhador (SCHIMITH, LIMA
2004).
Quando perguntado aos entrevistados
os primeiros sentimentos vividos por eles
quando descobriram estar com essa doença,
o que mais foi relatado foi em como contar a
família/filhos e os sentimentos de pavor,
pânico, choque, tristeza e fracasso na vida.
São vários os sentimentos que surgem
quando a pessoa descobre que têm câncer; o
medo da morte, de sofrer com as aplicações
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quimioterápicas, de perder o cabelo, de não
conseguir vencer essa doença tão temida.
Isso tudo se deve a uma crença que essa
doença não tem cura, de que ela, como
diziam os antigos, era castigo dos deuses, e
assim, jamais as pessoas conseguiriam
sobreviver. Mas com a evolução das
tecnologias tudo foi se tornando possível.
Hoje em dia com tantas modernidades e
acontecimentos, o câncer deixou de ser um
castigo dos deuses e se tornou uma doença
curável, ou pelo menos quando descoberta
em seu inicio, na grande maioria dos casos.
Segundo Bergamasco, Angelo (2001),
o período de diagnóstico pode ser traumático,
principalmente se é prolongado ou termina
com a confirmação de uma doença que é
ameaçadora à vida. A incerteza sobre a
duração ou qualidade de vida no futuro
requer da mulher um aprendizado, seja
através da experiência ou de outra maneira,
não somente sobre o que o diagnóstico
significa em termos de sua vida, mas o que
ela deve fazer para manter algum controle
sobre ela.
Uma das informantes referiu-se como
um fracasso de sua vida o descobrimento
dessa doença.
Todos os informantes relataram com grande
aviJUN a vivência da fé.
Desde a antiguidade a fé é discutida
pelos pesquisadores sobre a influência que
esta provoca na vida cotidiana do ser humano.
Conforme Matos (2004), diante de situações de
angústia, solidão e sofrimento, o homem tende
a questionar-se sobre o sentido da sua
existência. Procura buscar respostas lógicas
para compreender o que está acontecendo ou
o que já ocorreu e, muitas vezes, não encontra
respostas satisfatórias. Com isso, o ser humano
passa a sentir-se frágil e inseguro. É nesse
momento que ele busca algo confortante e
transcendental, que forneça segurança e
proteção. Esse ser superior, experimentado
como transcendente vai além do seu existir.
Essa experiência de proteção, embora não
possa ser explicada, pode ser sentida e
penetrada na existência humana, em inúmeras
circunstâncias da vida cotidiana. Essa
experiência de entrega ao transcendental é
vivida como atitude de fé.
A religião ocupa um importante espaço
na vida das pessoas, e a religiosidade pode
ajudar a encontrar o significado e a coerência
no mundo. A função da religiosidade e da
crença espiritual, no enfrentamento do câncer,
destaca que a fé religiosa e a espiritualidade
contribuem, de forma ativa, na luta cognitiva
dos pacientes e as suas convicções religiosas
fornecem significado e perspectiva, permitindo
acumular experiências para o enfrentamento
da doença. A religião é epidemiologicamente
um fator de proteção (TEIXEIRA, LEFEVRE,
2008).
Foi questionado aos entrevistados como
eles foram acolhidos pelos profissionais de
saúde, quando chegaram para fazer o
tratamento quimioterápico e por unanimidade
todos responderam que foram muito bem
atendidos e acolhidos.
Segundo o Ministério da Saúde (Brasil,
2009), a humanização e a qualidade da
atenção em saúde são condições essenciais
para que as ações de saúde se traduzam na
resolução dos problemas identificados, na
satisfação dos usuários, no fortalecimento da
capacidade das pessoas frente à identificação
de suas demandas, no reconhecimento e
reivindicação de seus direitos e na promoção
do autocuidado.
A partir disso, pode-se determinar uma
característica fundamental do trabalho em
saúde, a de que esta é permeada de processos
relacionais, isto é, acontece mediante a relação
“Eu não sou mais a
mesma pessoa (chora e
se emociona), eu era
uma mulher saudável,
agora nem durmo mais
direito, o meu braço dói,
o sentimento de saber
que tenho uma doença,
u m f r a c a s s o ”
(informante 1).
Embora vários aspectos sobre os
efeitos psicossociais do câncer sejam
conhecidos, compreende-se que a
experiência do câncer é ampla e envolve
diferentes momentos com significados
distintos e com implicações na vida diária e
nas relações entre as pessoas do seu
contexto social (BERGAMASCO, ANGELO,
2001).
Quando questionado aos
entrevistados como eles superam essa fase
da vida, todos indicam a vivência da fé e o
apoio da família como principal força para
enfrentar esse momento.
Embora a fé não seja reconhecida pelo
conhecimento científico baseados no modelo
das ciências naturais e exatas, ela possui uma
forte influência na vida dessas pessoas.
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
de um espaço intercessor, constituído
interseção como intervenção, ou seja, não se
caracteriza como um somatório de um com o
outro (usuário e profissional), mas sim,
designa o que se produz nas relações entre
sujeitos (usuário e profissional), no espaço de
suas “interseções”, que é um produto que
existe para “dois” em ato e não tem existência
sem o momento da relação em processo, e na
qual os interventores se colocam como
instituintes na busca de novos processos.
Cabe a ressalva de que este momento de
e n c o n t ro e n e g o c i a ç ã o e m a t o d a s
necessidades do usuário vale também para
ações coletivas em saúde. Com isso tenta-se
apagar a imagem de um processo
estritamente individualizado (MERHY, 2006).
aconchegantes e acolhedores os múltiplos
ambientes coletivos se constituírem, tanto
mais próximas poderão ser as relações
afetivas e humanas.
Para Miranda 2009, a Enfermagem,
como ciência, é a arte e cuidar deve atentar
para a qualidade de vida dos seres humanos
por meio da percepção das reais
necessidades humanas básicas afetadas,
d e ve n d o o c u i d a r / c u i d a d o s e r u m a
experiência vivida por meio de uma interrelação ser humano com ser humano,
lembrando que tão importante quanto o
cuidar, é estar atendo aos efeitos que o
cuidado traz aos clientes.
“tentam fazer o melhor
possível para não
machucar na hora de
achar as veias”
(informante 2).
“As gurias são
atenciosas, fazem
perguntas, se tem dor, o
que sente (se tem dor
elas logo passam para o
médico)” (informante
2).
Ainda, para a mesma autora, o cuidar é
a essência da atuação do profissional
enfermeiro e, para uma atuação satisfatória,
é necessário saber identificar essas reais
necessidades do cliente e de sua família, ou
seja, atender tanto os comprometimentos
emocionais, psicológicos e sociais, quanto os
comprometimentos físicos decorrentes do
progresso e/ou tratamento da doença.
Quando o profissional da saúde
demonstra preocupação e afeto para seus
clientes ele acaba conquistando o carinho e a
confiança destes, e isso na relação entre
cuidado e cuidador é muito importante, pois
faz com que as pessoas se aproximem mais
umas das outras.
“sorriso que cativa, eu
acho que isso também é
importante, nenhuma
sisuda, isso também
agracia um pouco”
(informante 9).
“Muito bem, até o
normal é que as pessoas
tenham queixas do SUS,
mas eu posso dizer que
desde a minha primeira
consulta foi 100%”
(informante 5).
Compreender as emoções do cliente e
o que ela acarreta é acolhê-lo de maneira
colaborativa, ajudando-o a modificar uma
conduta ou criar estratégias para romper um
costume que lhe esteja impedindo de
relacionar-se consigo mesma ou com os
outros. É um desafio alcançado através da
capacidade da escuta sensível, que permite
perceber as emoções dos clientes (BACKES,
LUNARDI, LUNARDI, 2006).
Muitas vezes profissionais de saúde
não observam a importância de prestar um
atendimento humanizado em um ambiente
confortável e aconchegante. Quando
questionado aos entrevistados o que eles
tinham a dizer sobre o ambiente em que
obtinham o tratamento, foi por unanimidade
que todos responderam com muita convicção
que era muito confortável.
Ao longo de sua história o SUS foi
sempre alvo de grandes criticas, nem sempre
ele se preocupou em atender bem seus
clientes, talvez por ser um serviço “gratuito”.
As pessoas o desvalorizam, mas elas
esquecem que ele é pago por todos os
contribuintes através de impostos. Através de
programas como a PNHAH, os hospitais vêm
prestando um serviço muito eficiente,
valorizando mais clientes e funcionários.
Segundo Backes; Lunardi Filho;
Lunardi, (2006), por ser um tratamento longo
e cansativo, o hospital é um local em que os
pacientes permanecem a cada dia de
tratamento grande parte do seu tempo. Passa
a ser considerado por muitos, como a sua
segunda casa/família. Logo, quanto mais
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Para a obtenção do conforto, faz-se
necessária a construção de um ambiente
externo favorável: caloroso, atencioso,
amoroso, que propicie crescimento, alívio,
segurança, proteção, bem-estar, que inclua a
presença de profissionais que transmitam
segurança e empatia. Isto significa cuidado
humano levando à sensação de conforto. Já o
conforto oriundo do ambiente interno
depende de cada ser e pode ser resultante do
cuidado que favorece a ocorrência de
integração, liberdade, melhor, segurança,
proteção e comodidade (RODALM, SANTOS,
RADÜNZ, 2008).
“eu prefiro as poltronas,
porque aí tem conversa,
tem a TV, revistas,
outras coisas para olha,
você se distrai e não
pensa no tratamento de
quimioterapia”.
Informante 2.
cuidador deve compreender e valorizar o ser
humano como sujeito histórico e social; para
isso, não são necessários grandes
investimento ou adaptações nos espaços
físicos hospitalares.
Esta pesquisa teve como por objetivo
perceber se as ações humanizadas da equipe
de saúde faziam diferença, ou mais, se eram
reconhecidas pelos usuários desse serviço.
Quando perguntado aos entrevistados se
havia algo para ser mudado ou melhorado,
todos responderam que estava tudo ótimo,
que nada precisava ser mudado ou
melhorado.
Reconhecer que um serviço prestado à
comunidade está dando certo, às vezes
parece muito difícil. Um acolhimento
humanizado, um ambiente agradável no qual
p o s s a m r e c e b e r o t ra t a m e n t o c o m
tranquilidade e serem vistos com dignidade e
respeito, é tudo que as pessoas, que
possuem qualquer tipo de doença, pedem e
valorizam.
Quando perguntado sobre o acesso ao
serviço, foi por unanimidade que todos os
informantes responderam que não podem se
queixar de nada, pois são acolhidos e
atendidos 100%. Reconhecem o esforço da
equipe de enfermagem em lhes proporcionar
aconchego e tranquilidade nas horas que
fazem o tratamento nessa clínica oncológica.
O reconhecimento a esse serviço
prestado foi um dos motivos que instigou o
desenvolvimento deste trabalho, pois, às
vezes, é muito fácil criticar um serviço
prestado gratuitamente às pessoas. A
importância de se acolher as pessoas,
proporcionando-lhes um ambiente
h u m a n i z a d o, c o r r o b o ra p a ra q u e o
tratamento seja menos penoso, aumentando
a auto-estima dessas pessoas e,
consequentemente, fazendo com que
tenham uma maior esperança na sua cura.
Quando as pessoas reconhecem um
bom atendimento prestado, a equipe de
saúde toda sente este reconhecimento, e se
sente mais valorizada em seu ambiente de
trabalho. Isso também é humanização com a
equipe, pois humanização envolve a todas as
pessoas, não somente os clientes que são
atendidos, mas também a equipe que
trabalha para que isso aconteça.
Miranda 2009 argumenta que a
humanização do cuidado indica que o
“aqui elas animam a
gente, e não colocam
para baixo, lá na minha
cidade, tão sempre de
“Imagina se a cadeira
fosse dura, como ia ser”
informante 3.
Na visão do paciente, o conforto é
ressaltado pela sensação de apoio, ajuda,
confiança, simpatia e pela perspectiva de
recuperação da saúde, assim, associado ao
bem-estar físico e mental e à diminuição do
sofrimento (ROSA, MERCÊS, SANTOS,
RADÜNZ, 2008).
Para Fontes e Alvim 2008, na medida
em que o conforto adquire significados
diferentes para as pessoas, de acordo com as
realidades experienciadas, há necessidade de
se refletir acerca de suas diversas faces.
Acredita-se que reconhecer os determinantes
desse fenômeno pelos sujeitos que o
vivenciam seja fundamental para que ocorra
a interação entre os mesmos e as práticas
profissionais que o proporcionam.
Ainda, para as mesmas autoras, o ato
de confortar tem valor para quem cuida e é
cuidado oferecendo oportunidade de
crescimento e de realização. A
conscientização a respeito desse processo
promove novas percepções do ser/estar,
como cuidador ou ser-cuidado, permitindo o
desenvolvimento mútuo em direção a uma
condição de vida mais saudável e integrada.
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mau humor. É 100% de
diferença” informante 7.
“na verdade o que faz
bem é o sorriso no rosto,
isso é fundamental, não
precisa falar nada, é um
negócio que te cativa,
você tem segurança,
carinho e amor”
informante 9.
vai melhorar seu estado de saúde, mas
também, o acolhimento humanizado que vai
ao encontro do bem estar dessas pessoas,
fazendo com que se sintam mais valorizados
e assistidos.
Através desta pesquisa, provou-se
que, quando a equipe de saúde é unida e
trabalha em prol do bem estar dos outros, ela
também se realiza profissionalmente, sentese mais valorizada, mais humana.
Profissionais procuram mudar a realidade,
muitas vezes triste, do local no qual
trabalham, fazendo com que pessoas sejam
vistas como pessoas na sua integralidade e
equidade.
Evidenciou-se ainda a importância das
tecnologias leves no estabelecimento de
vínculos entre a equipe profissional e os/as
usuários/as; ressalta-se que as informantes
demonstraram que têm fortes vínculos com
profissionais de equipe de enfermagem.
Pressupõe-se que esta seja uma valiosa
ferramenta para a resposta aos atuais
desafios às necessidades de saúde da
população.
É importante, também, salientar que
todos responderam que na visão deles nada
precisa ser melhorado. O que fortalece ainda
mais o reconhecimento do bom serviço
prestado.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tratar câncer não é simples; é
necessário preocupar-se com o paciente, com
a família, acompanhando de perto todos os
problemas, sinais e sintomas existentes,
controlando a doença e mantendo a pessoa
confiante e segura. E isso talvez seja um dos
maiores desafios na atuação da equipe de
enfermagem a essas pessoas. O olhar da
equipe deve ser direcionado no sentido de
auxiliá-los no enfrentamento, fornecendolhes mais informações sobre o câncer, as
modalidades de tratamento disponíveis,
como serão realizados os procedimentos, os
efeitos colaterais que podem advir dos
tratamentos ministrados, dentre outros.
Foi identificado, através dessa
pesquisa que, ao enfrentar o câncer e o
tratamento, as pessoas que sofrem com essa
e n fe r m i d a d e e l a b o ra ra m fo r m a s d e
enfrentamento baseadas na doença. Alguns a
percebem como algo ruim e se sentem
infelizes, desanimados, podendo dificultar a
melhora; já outros a encaram de forma
positiva, com otimismo e confiança na cura,
guiados pela emoção e pela crença.
Humanizar e qualificar a atenção em
saúde é aprender a compartilhar saberes e
reconhecer direitos. A atenção humanizada e
de boa qualidade implica no estabelecimento
de relações entre sujeitos, seres
semelhantes, ainda que possam apresentarse muitos distintos, conforme suas condições
sociais, raciais, étnicas, culturais e de gênero
(FONTES, ALVIN, 2008).
É de fundamental importância que
profissionais de saúde se preocupem no bem
estar e no acolhimento das pessoas, pois não
é somente o tratamento farmacológico que
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141
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
A ATUAÇÃO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NO ACOLHIMENTO DO PACIENTE
EM DEPRESSÃO
Annelise Hübscher Trentini 1
Maria Zoé H. Zimpel 2
Solange de C astro Schorn 3
Beatriz de Carvalho Cavalheiro 4
SETREM 5
RESUMO
A presente proposta de investigação teve como
objetivo principal identificar as dificuldades da equipe
de Enfermagem no acolhimento e cuidado
ambulatorial e integral ao paciente em depressão,
esclarecendo aspectos relevantes sobre a pessoa em
depressão e identificando a realidade do preparo dos
profissionais. Buscou-se ainda investigar qual a
concepção sobre depressão destes profissionais,
características de sua formação, atitude, sentimentos,
visão quanto ao paciente, melhorias necessárias no
atendimento ao sujeito com depressão. A pesquisa foi
desenvolvida em um hospital geral de médio porte.
Utilizou-se a abordagem qualitativa, do tipo
exploratório descritivo. Lançou-se mão de um roteiro
semiestruturado para a realização das entrevistas. A
amostra foi composta por doze profissionais de
Enfermagem, sendo eles técnicos e Enfermeiros, dos
quais JUN eram do sexo feminino e dois do sexo
masculino. Para análise e interpretação dos dados foi
utilizada a técnica de análise de conteúdo. Desta
análise emergiram JUN núcleos. Ao interpretar as
informações coletadas, evidenciou-se que os
profissionais de Enfermagem têm noção de que não
estão adequadamente preparados para atender
pacientes em depressão, que sua formação é
deficiente, afirmam deixar as questões emocionais em
segundo plano, afirmam também que o número muito
reduzido de colaboradores dificulta o trabalho. Para a
melhora do atendimento, sugeriram a realização de
capacitação em saúde mental, educação em saúde,
melhorias no ambiente abordando o tema e aumento
do quadro de colaboradores.
ABSTRACT
This investigation had as main objective to identify the
difficulties of the nurse team on reception and on
ambulatory and integral care of the clinically
depressive patient, identifying the relevant aspects
about the patient and about the reality of the
professionals preparation. The conception about
depression of these professionals, formation
categories, attitude, sentimentalism, opinion about
the patient, needed improvements at the service to the
clinical depressive patient were also investigated. The
research was developed at a mid-sized hospital. The
qualitative approach of the descriptive exploration
type was used. A semistructured itinerary to make the
interviews has been used. The sample was composed
by twelve nursing professionals, among technicians
and nurses, ten of them were females and two were
males. For the data analyzes and interpretation it was
used the technique to analyze the content. Ten nucleus
emerged from this analyzes. The interpretation of the
collected information showed that the nursing
professionals have the perception that they are not
prepared to take care of clinical depressive patients,
that their formation is deficient, they claim that they
lay emotional questions aside, they also claim that a
very reduced number of collaborators makes the work
difficult. To the service improvement, they suggested
the mental health qualifying, the health education
about the subject, working improvement and the raise
of the collaborators board.
Palavras-chave: Depressão. Equipe de
enfermagem. Cuidados de enfermagem.
Keywords: Depression. Nursing team. Nursing care.
1
Enfermeira formada pelo curso de Bacharelado em Enfermagem da Sociedade Educacional Três de
Maio – SETREM. E-mail: [email protected]
2
Enfermeira Esp ecialista em Enfermagem Psiquiátrica. Enfermeira do Centro de Atenção Psicossocial
da cidade de Horizontina. Professora do Curso Bacharelado em Enfermagem da Sociedade
Educacional Três de Maio – SETREM, [email protected]
3
Mestre em Educação nas Ciên cias, especialista em Psicanálise na Cultura: Saber e Ética e
Psicologia .
4
Mestre em Enfermagem pela Fundação Universidade de Rio Grande – FURG. Professora do curso
de Bacharelado em Enfermagem da SETREM. E-mail: [email protected]
5
Sociedade Educacional Três de Maio - SETREM, Avenida Santa Rosa, 2405. Três de Maio – RS,
[email protected]
142
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
1 INTRODUÇÃO
Para suprir as necessidades de saúde
do paciente, os profissionais da Enfermagem
buscam, em uma série de tecnologias,
arsenais terapêuticos e, numa gama de
saberes, as melhores formas de oferecer
cuidado. Precisam usar de sua própria
pessoa; porém, como instrumento
terapêutico em busca de ir além da ciência,
humanizando o atendimento.
Em vista da crescente demanda de
pacientes em sofrimento emocional no
Hospital Geral, torna-se importante
mencionar sobre a atuação da equipe de
Enfermagem no acolhimento e cuidado do
paciente em depressão. Ainda neste
contexto, melhorar o trabalho das equipes de
Enfermagem, ampliar sua capacidade de
visão integrada das várias dimensões da vida
do indivíduo.
Pensando neste aumento da demanda
de pacientes em sofrimento e observando no
dia-a-dia a dificuldades que algumas pessoas
apresentam em lidar com este tipo de agravo,
intencionando oferecer subsídios para futuras
discussões sobre a melhoria do atendimento
de Enfermagem, este estudo foi delineado.
Este trabalho teve como proposta de
investigação analisar e compreender a
atuação da equipe de Enfermagem no
acolhimento ao paciente em depressão. A
partir de busca bibliográfica, estudo de
campo e análise de entrevistas foram
investigadas as possíveis dificuldades
presentes na equipe de Enfermagem quanto
ao acolhimento do paciente em depressão. A
pesquisa seguiu a abordagem qualitativa do
tipo exploratório descritivo.
Para coletar as informações
necessárias foi utilizado um roteiro
semiestruturado para a realização das
entrevistas, aplicado aos profissionais
componentes das diferentes equipes de
Enfermagem da instituição, sendo eles
técnicos em Enfermagem e Enfermeiros,
após o consentimento livre e esclarecido dos
participantes da pesquisa, baseado na
resolução 196/96.
intensidade. Muitas pessoas encontram-se
ocasionalmente tristes, mas este sentimento
tem curta duração e não resulta em
desempenho prejudicado. Pessoas com
depressão geralmente exibem sinais de um
humor deprimido ou de um interesse
diminuído em atividades agradáveis durante,
pelo menos, duas semanas (SMELTZER;
BARE, 2012).
Os sintomas específicos da depressão
incluem os sentimentos de tristeza,
inutilidade, fadiga, culpa e dificuldade em se
concentrar ou tomar decisões. Alterações no
apetite, ganho ou perda de peso, distúrbios
do sono e retardo psicomotor e agitação são
comuns. Com frequência, os pacientes
apresentam pensamentos recorrentes sobre
a morte e o suicídio ou empreenderam
tentativas de suicídio. É feito um diagnóstico
de depressão quando uma pessoa apresenta,
pelo menos, cinco dos nove critérios
diagnósticos para a depressão (SMELTZER;
BARE, 2012).
Nos episódios típicos de depressão é
possível identificar três graus, sendo eles:
leve, moderado ou grave. Em ambos os graus
visualiza-se no paciente um rebaixamento no
humor, redução da energia e diminuição da
atividade. Ocorre alteração da capacidade de
experimentar o prazer, perda de interesse,
diminuição da capacidade de concentração,
associadas em geral à fadiga acentuada,
mesmo após um esforço mínimo. Observamse problemas de sono, despertar matinal
precoce, horas antes da hora habitual de
despertar, diminuição do apetite, diminuição
da autoestima e autoconfiança, ideias de
culpabilidade e indignidade, agravamento
matinal da depressão, lentidão psicomotora
acentuada, agitação, perda de peso e libido
(CID-10, 1998).
No episódio depressivo leve, o
paciente sofre com a presença dos sintomas,
mas é capaz de realizar a maior parte das
suas atividades. No episódio depressivo
moderado, estão presentes quatro ou mais
sintomas e aparentemente o paciente tem
m u i t a d i f i c u l d a d e p a ra c o n t i n u a r a
desempenhar as atividades de rotina. No
episódio depressivo grave sem sintomas
psicóticos, vários dos sintomas são
acentuados e angustiantes, tipicamente a
perda de autoestima e ideias de desvalia e
culpa. As ideias e atos suicidas são comuns e
observam-se em geral uma série de sintomas
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 O QUE É DEPRESSÃO
A depressão distingue-se dos sentimentos
cotidianos de tristeza por sua duração e
143
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
a pessoa tenha suficientes
recursos físicos, boas
relações interpessoais com
adequadas vinculações
emocionais, numa
sociedade estável, que
tenha mais instrumentos
perceptivos, mais
habilidades para resolver
problemas e valores que a
orientarão na luta pela vida.
somáticos (CID-10, 1998).
Já o episódio depressivo grave com
sintomas psicóticos,
[...] é o episódio
correspondente à descrição
de um episódio grave, mas
acompanhado de
alucinações, ideias
delirantes de uma lentidão
psicomotora ou de estupor
de tal gravidade que todas
as atividades sociais
normais tornam-se
impossíveis; pode existir o
risco de morrer por suicídio,
de desidratação ou de
desnutrição (CID-10, 1998,
p. 328).
Stahl (2003), explica que a depressão
é uma emoção universalmente sentida por
quase todas as pessoas em algum momento
da vida. O entendimento da diferença entre a
emoção “normal” de depressão e uma
doença que requer tratamento médico com
frequência é problemático para pessoas sem
capacitação em saúde mental.
Com uma equipe que possui sintonia
como orquestra, é possível criar um plano
terapêutico construído e executado pela
equipe multiprofissional, em que se visa a
promoção da saúde do indivíduo.
A depressão tem reflexos na escola e
no trabalho, aumenta as taxas de mau
desempenho e absenteísmo. Ela pode
acontecer em qualquer idade, sendo mais
comum entre mulheres.
Para compreender o sujeito em
depressão, é importante ter conhecimento de
sua história pregressa e atual. Um os
aspectos a ser beneficiado é poder identificar
a possibilidade do fator de geniticidade.
2.2.1 Atenção à pessoa em sofrimento
emocional
Torna-se necessário que a equipe
conheça a pessoa de forma individualizada,
para ser capaz de compreender como ela se
sente na situação em que está. Para que o
profissional atinja essa compreensão de
como a outra pessoa se sente, é necessário
que haja empatia.
Para Souza (2006), empatia é a
capacidade de tentar ver o mundo como
outra pessoa o vê. Dá-se em nível consciente,
sendo um espaço dirigido para a
compreensão do outro. Por meio de
sentimento empático, a equipe transmite a
sensação de que o paciente é aceito.
Na busca do profissional por uma
atenção integral e qualificada ao paciente em
depressão, ele necessita desenvolver sua
capacidade de visão integrada das várias
dimensões da vida do indivíduo. Dedicar-se
aos múltiplos âmbitos de intervenção, sendo
eles educativo, assistencial, reabilitação e
reinserção social, quando necessário.
2.2 CONHECENDO O SUJEITO EM
SOFRIMENTO PSÍQUICO
Para Souza (2006) saúde mental se
caracteriza por um estado no qual o indivíduo
integra suas tendências de maneira
satisfatória para si mesmo, refletida em sua
alegria de viver, na sua sensação de
autorrealização, de adaptação ao ambiente
social e na satisfação de relações
interpessoais.
Rodrigues (2006) relata os itens que
são os suportes dos quais a pessoa necessita
para crescer e desenvolver-se sadiamente.
São recursos físicos como alimentação e
moradia; os recursos psicossociais como
estímulo ao desenvolvimento intelectual e
afetivo, por meio de inter-relações pessoais,
da família e da escola; os recursos sócioculturais como influência de costumes,
valores, cultura e estruturas sociais sobre a
personalidade do indivíduo.
Ainda em Rodrigues (2006, p. 11),
2.3 ABORDAGEM DA PESSOA EM CRISE
As emergências em saúde mental exigem um
cuidadoso diagnóstico que possibilita à
[...] assim, o esperado é que
144
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
equipe uma intervenção rápida, decisiva para
a preservação da vida do paciente.
Segundo Souza (2006, p. 147),
Tentativa de suicídio é a falha do ato
suicida, situação em que o paciente não
morre em decorrência do ato. Risco de
suicídio é a probabilidade de que a ação
suicida leve ao ato suicida e tenha como
desfecho a morte auto-induzida. A presença
de uma ideação suicida constitui um risco de
suicídio que deve obrigatoriamente ser
avaliado e quantificado (KAPCZINSCKI et al.,
2001).
Independente da doença psiquiátrica
de base, o comportamento suicida tem
determinantes neurobiológicos, sendo a
depressão a mais vulnerável a impulsos
suicidas. Esta vulnerabilidade resulta da
interação entre “gatilhos” ou precipitantes e o
desencadeamento do ato suicida. Pode,
ainda, o sujeito possuir suscetibilidade
genética, mas esta apenas se manifestara na
presença de estresse intenso ou durante a
manifestação de uma doença psiquiátrica
(KAPCZINSCKI et al., 2001).
Contudo, é muito importante frisar
que o sujeito está em estado depressivo e não
deve ser identificado como deprimido, é
como rotulá-lo e por fim formatá-lo.
[...] as perturbações das
emoções, dos sentimentos,
do pensamento, do humor e
da percepção podem
colocar em risco a
integridade do indivíduo, de
sua família e de todos que
estão a sua volta.
Disponibilizar os cuidados
necessários em um
ambiente confiável, seguro
e protetor pode ser decisivo
para o sucesso das ações
nos momentos de crise.
O que impede que isso aconteça é a
desatualização dos profissionais disponíveis
a c e rc a d a s q u e s t õ e s q u e e nvo l ve m
sofrimento psíquico.
O momento da crise é um instante de
fragilidade emocional para o paciente e seus
acompanhantes. Todos eles devem ser
tratados com a habilidade necessária, em
busca de uma solução para a crise, levandose em conta o encaminhamento posterior
para o tratamento de manutenção, que quase
sempre é imprescindível (SOUZA, 2006).
O fator relevante é a construção de um
vínculo de confiança e aliança com o
paciente, alcançado a partir de uma
linguagem franca, atenta, interessada, sem
qualquer tipo de ameaça. Assegura-se que o
que foi combinado pela equipe com a pessoa
e sua família serão cumpridos em todos os
momentos do tratamento.
A meta é ter paciência, disponibilidade
e procurar acalmar o paciente, sua família e
amigos. Em vista disso, torna-se possível
perceber a grande relevância do ato de
compreender e respeitar o paciente da
maneira que ele é. Não prometer o que não
possa ser cumprido e sim esclarecer os
recursos disponíveis a ajudá-lo.
2.3.2 Papel da Enfermagem na
reabilitação psicossocial
Desde criança estamos rodeados de outras
pessoas, muitas vezes dependendo delas. É
fácil perceber que é impossível sobreviver
sozinho, precisamos estar com outros para
crescer e nos relacionarmos. Assim, para o
sucesso de um tratamento, temos que levar
em conta o contexto social do indivíduo no
qual está inserido (ESCOLA POLITÉCNICA DE
SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO, 2003).
O homem é um ser social, relaciona-se
com outras pessoas na família, no trabalho,
na igreja e na escola vivemos em grupos. A
depressão, por ser uma doença que altera a
afetividade e o humor, aparece de forma
significativa no grupo em que o indivíduo está
inserido, sendo então necessário, juntamente
com os demais passos do tratamento, auxiliar
o paciente na (re)inserção do mesmo em seu
grupo (ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE
JOAQUIM VENÂNCIO, 2003).
Para compreender o paciente a ser
cuidado, precisamos compreender o contexto
no qual vive, ou seja, o grupo ao qual ele
pertence. Lembrar-se que tem ideias,
valores, costumes, concepções sobre a vida,
2.3.1 Suicídio
O suicídio é o resultado da interação
de uma alteração no conteúdo do
pensamento (ideação suicida) com uma
alteração na conduta do paciente (ato
suicida) que tem como resultado final a morte
(KAPCZINSCKI et al., 2001).
145
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
saúde e doença que nem sempre são iguais
as nossas.
Com uma aliança entre a equipe de
saúde/paciente e família, o trabalho torna-se
efetivo. Incentivar a família para que seja
participativa no tratamento, no cuidado e nas
decisões referentes a seu familiar, talvez seja
o principal passo na (re)inserção social, visto
que o paciente, em seu estado de depressão,
pode ter afetado ou rompido laços familiares.
TE 7, TE 8), e na forma de Enf. 1 (Enfermeiro
1) e assim sucessivamente (Enf 2, Enf 3, Enf
4).
Entrevistado Sexo
Faixa Etária Escolaridade Tempo na
Instituição
TE 1
Fem.
44 anos
Téc. Enf.
28 anos
TE 2
Masc.
25 anos
Téc. Enf.
2 – 4 anos
TE 3
Fem.
33 anos
Téc. Enf.
- de 1 ano
TE 4
Fem.
28 anos
Téc. Enf.
- de 1 ano
TE 5
Fem.
19 anos
Téc. Enf.
- de 1 ano
TE 6
Fem.
30 anos
Téc. Enf.
6 anos
TE 7
Masc.
38 anos
Téc. Enf.
4 – 8 anos
TE 8
Fem.
39 anos
Téc. Enf.
8+
ENF 1
Fem.
30 anos
Aux. e Enf. 8 +
ENF 2
Fem.
28 anos
Enf.
2 – 4 anos
ENF 3
Fem.
24 anos
Enf.
- de 1 ano
ENF 4
Fem.
28 anos
Enf.
- de 1 ano
Fonte: Trentini; Zimpel; Schorn; Cavalheiro, 2012.
3 METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste estudo optouse pela abordagem qualitativa, do tipo
exploratório descritiva, tendo como objetivo
identificar as dificuldades da equipe de
Enfermagem no acolhimento e cuidado
ambulatorial e integral ao paciente em
depressão.
O método de coleta dos dados
utilizado foi à entrevista guiada por um
roteiro semiestruturado. Foram entrevistados
12 profissionais componentes das equipes de
Enfermagem, sendo eles técnicos e
Enfermeiros de uma instituição hospitalar de
médio porte, localizado na Região Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul. O presente
estudo foi elaborado conforme a resolução nº
196/96 do Conselho Nacional de Saúde que
regulamenta a pesquisa com seres humanos.
Tempo de
Experiência
10 +
4-6
1
4-6
1
10 +
8
10 +
6-8
4
2-4
1
Quadro 1: Perfil dos entrevistados.
Com o intuito de compreender melhor
o universo de significados presentes nas falas
dos entrevistados, foi necessário desprender
grande esforço para captar nas falas as
diferentes concepções sobre a atuação da
equipe de enfermagem na abordagem do
paciente em depressão. As informações
coletadas são estruturadas a partir das
questões do roteiro de entrevistas, o qual
contempla JUN questões semiestruturadas,
que serão apresentadas, fundamentadas e
comentadas separadamente como segue.
4.1 CONHECIMENTOS SOBRE A DEPRESSÃO
Neste núcleo são apresentados os
depoimentos dos profissionais da equipe de
Enfermagem participantes da pesquisa,
expressando sua concepção em relação à
patologia depressão, de acordo com sua
formação e vivência do dia-a-dia.
Conforme Hyman, Tesar (1994), a
depressão se refere a uma síndrome
psiquiátrica caracterizada por humor
deprimido e sintomas neurovegetativos e
sinais de duração significativa.
Apresentamos os dados coletados a
seguir.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
O capítulo aborda a discussão dos resultados
da pesquisa após a análise dos dados
coletados a partir de entrevistas guiadas por
um roteiro semiestruturado, que foi realizado
com componentes das equipes de
enfermagem da instituição. A análise se dá
abordando os conceitos de vários autores já
apresentados no referencial teórico.
Foram entrevistados doze
profissionais, sendo eles técnicos e
Enfermeiros, dos diferentes setores. Com o
roteiro utilizado na entrevista foi possível
coletar dados sobre o perfil do entrevistado e
importantes informações sobre o contexto do
estudo.
Para fins de análise, os entrevistados
fo ra m e n u m e ra d o s p e l a o r d e m d a s
entrevistas, em forma de TE 1 (Técnico de
Enfermagem 1), e assim os demais
sucessivamente (TE 2, TE 3, TE 4, TE 5, TE 6,
Tem tanta coisa que daria
para dizer, mas o que a
gente observa no paciente.
Depressão é quando o
paciente vem que ele está
muitas vezes sem vontade
de viver, não tem vontade
de se alimentar, de fazer sua
própria higiene, a pessoa
fica para baixo, não tem
vontade muitas vezes para
nada, como também tem os
pacientes depressivos que
são agressivos, mas eu
atendo quase mais os
pacientes que ficam
146
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
depressivos sem vontade de
viver, que perdem o sentido
da vida pra eles (TE 1).
Depressão ao meu ver é o
estado que a pessoa precisa
de certos cuidados (TE 2).
percepção e atenção, que são qualidades
pessoais, influenciem no aprendizado do
aluno que cursa o Técnico em Enfermagem.
Já três dos profissionais Enfermeiros
entrevistados informaram que os aspectos
emocionais foram sim valorizados tanto
quanto os aspectos técnicos, Enf 1, Enf 2 e
Enf 4. O entrevistado Enf 3 relata que achou
insuficiente o preparo oferecido em sua
formação, como seguem suas falas:
Os entrevistados TE 1 e TE 2 trazem
muito em suas explanações aspectos
r e f e r e n t e s a o c u i d a d o, s e n d o e s s a
preocupação de grande importância, pois
m o s t ra q u e , m e s m o s e m t e r m u i t o
conhecimento sobre a patologia, os
profissionais têm preocupação em oferecer
um cuidado eficaz.
Isso é uma questão bem
confusa na verdade, por
que nem sempre os
aspectos técnicos e
emocionais estão juntos,
tudo depende de cada caso,
mas eu acho que eles
precisam ser valorizados e
levados em conta os dois
juntos. Acredito que na
minha formação os
aspectos emocionais foram
s i m l e v a d o s e m
c o n s i d e ra ç ã o . P r o c u r o
sempre levar em conta o
lado emocional (ENF 1).
Acho que sim (ENF 2).
Infelizmente não somos
suficientemente preparados
para trabalhar com
pacientes em depressão.
Muitas vezes os aspectos
técnicos são mais
priorizados, para
posteriormente analisarmos
os aspectos emocionais,
para então propormos um
planejamento de
enfrentamento e ajuda a
esses pacientes (ENF 3).
Depressão a gente vê como
uma pessoa que se
comporta triste,
desamparada, solitária, sem
estímulo para vida (ENF 1).
Percebe-se no relato do entrevistado
Enf 1 que há um entendimento dos sintomas
da depressão como comportamento, ou seja,
relaciona a depressão como forma
comportamental.
4. 2 FORMAÇÃO: ASPECTOS EMOCIONAIS E
TÉCNICOS
Neste núcleo está sendo enfocada a
formação dos profissionais, em que se
questionou a importância dada pelo curso em
trabalhar os aspectos emocionais assim como
os técnicos.
Os emocionais não são
valorizados, mais os
aspectos práticos (TE 2).
Acho que são mais
valorizados os técnicos do
que os emocionais (TE 3).
Eu acho que no meu curso
teve muito sobre a questão
do psicológico da pessoa, foi
muito bem trabalhada essa
parte. Eu gostei muito disso,
de que não é só o físico e foi
posto muito em evidência o
psicológico e emocional da
pessoa, não só a doença em
si, mas também que a
pessoa pode estar
psicologicamente abalada
devido à doença (TE 6).
O enunciado de Enf 3 divulga
claramente como se segue o atendimento na
instituição, a falta de preparo técnico,
humano e emocional adequados, deixando
clara a lacuna dos serviços de saúde no
tocante aos cuidados com os pacientes em
sofrimento psíquico.
4.3 ATITUDE AO CUIDAR DE UM PACIENTE
EM DEPRESSÃO
Neste núcleo são enfocadas as
atitudes dos profissionais ao se depararem
com uma pessoa com depressão a ser
cuidada na instituição que trabalha. A partir
das falas dos entrevistados, estas podem
estar relacionadas ao preparo do profissional,
ao seu potencial empático e sua estabilidade
emocional, conforme consta nas falas abaixo:
Visualiza-se, a partir dos relatos dos
entrevistados com formação técnica em
Enfermagem, que apenas um, TE 6, relata
terem sido trabalhadas as questões
emocionais do paciente no seu curso. É
possível que os fatores sensibilidade,
147
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A gente sente que precisa
dar um cuidado mais
intensivo para ela, não tem
muita diferença, mas a
gente sente que precisa dar
um cuidado a mais para ela
(TE 2).
A atitude minha é que o
ponto de vista que a gente
vê é que precisa dar mais
atenção pra ela, que ela
precisa de certos cuidados
específicos que outros
pacientes não necessitam
tanto desses cuidados (TE
2).
A gente sempre tenta levar
em conta o estado desta
pessoa respeitando ela e
seus problemas, também a
gente leva em conta o lado
de a gente trabalhar este
ser humano para motivá-lo
à vida que é importante
fazer o tratamento, envolver
os familiares (ENF 1).
Entende-se no dizer de TE 2 o
conhecimento da importância de oferecer um
cuidado diferenciado e mais humano ao
paciente com depressão.
Um pouco com medo (TE
3).
Eu não gosto muito, pois é
uma pessoa bastante
chorosa, queixosa, eles já
vêm pra internar por causa
disso (TE 4).
Sinto pena porque já passei
por isso e sei como é e, ao
mesmo temp,o eu me sinto
motivada, pois vou lá,
converso com a pessoa e
tento passar a minha
experiência a ela. E também
acho que a pessoa com
depressão não consegue se
livrar dela sozinha, sempre
vai precisar de ajuda (ENF
2).
Nos relatos de TE 2 e Enf 1 é possível
visualizar o entendimento dos mesmos
quanto à importância da atenção, do respeito
e da presença constante dos familiares junto
ao paciente.
Acho que precisa ter muita
paciência com uma pessoa
depressiva, para quem não
convive com isso parece que
ela está brincando, está se
fazendo, não é uma pessoa
fácil de lidar, uma doença
bem complicada e bem forte
(TE 6).
Durante a realização das entrevistas,
percebeu-se que a maior parte dos
entrevistados desviou a questão sentimento,
respondiam com falas relacionadas a
assuntos diversos sobre a patologia, e apenas
TE 3, TE 4 e Enf 2 citaram sentimentos como
medo, pena e desgosto pelos sintomas da
depressão.
No enunciado de TE 6 está presente
um ponto muito importante a ser discutido,
referente à compreensão dos sintomas e à
relação dos mesmos com o caráter do
paciente, os quais são seguidamente
confundidos. Para Stahl (2003, p. 2),
“estigma e desinformação na nossa cultura
criam uma concepção errônea popular de que
a depressão não é doença mental e, sim,
deficiência do caráter, que pode ser debelada
com força de vontade”.
4.5 ASPECTOS MAIS IMPORTANTES NO
CUIDADO
Neste núcleo estão inseridos os relatos
dos profissionais entrevistados referentes ao
que consideram mais importantes no cuidado
de um paciente em sofrimento emocional.
Conforme Smeltzer; Bare, (2006), um
importante aspecto do cuidado consiste em
explicar aos pacientes que a depressão é uma
doença clínica e não um sinal de fraqueza
pessoal, e que o tratamento efetivo
possibilitará que eles se sintam melhor e
permaneçam emocionalmente saudáveis.
4.4 SENTIMENTO DO PROFISSIONAL
Neste núcleo estão incluídas as
informações coletadas referentes ao
sentimento do profissional ao desprender
cuidados a um paciente com sofrimento
psíquico. Este núcleo, juntamente com o
núcleo anterior, traz diferentes discursos,
mas com os mesmos sentidos. Conforme as
falas abaixo:
Eu acho que tu deve sempre
dizer o valor da vida, tentar
explicar para ele que aqui
148
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no hospital às vezes tem
pessoas com uma doença
grave incurável, que a
depressão, se ele fizer o
tratamento pode ter cura, e
sempre tentar ajudar ele e
dizer que ele é uma pessoa
importante, que todo
mundo conta com ele (TE
1).
atitudes que a pessoa faz,
faz com que a gente
perceba que ela está
abalada emocionalmente.
Isso a gente consegue
perceber na crise, mas
claro, tem pessoas que
demonstram de forma mais
agressiva, outros já ficam
mais calados. Então a gente
consegue perceber
tranquilamente (ENF 1).
O lugar acho que tem que
ter um lugar específico e
pessoal preparado porque
precisa ter preparo pra lidar
com esse tipo de pacientes
(TE 3).
Acho que sim, acho que
toda pessoa que trabalha na
saúde consegue identificar
quando uma pessoa está
emocionalmente abalada
(TE 7).
Tentar ter a maior calma
com eles, ser bem
compreensivo com eles, pra
eles não ficarem o tempo
inteiro naquela emoção
deles, tentar mudar de
assunto, tentar botar outras
conversas no meio, não
ficar só naquela sensação
deles (TE 4).
Evidencia-se, nos relatos
apresentados, que os entrevistados afirmam
ter conhecimento da crise emocional.
Reconhecer uma crise emocional não
depende apenas de preparo e conhecimento,
mas em especial da capacidade de ouvir, de
ser empático, sensível e de saber respeitar o
paciente.
Compreende-se, a partir das palavras
dos entrevistados, a presença de sua
preocupação em oferecer no seu cuidado
aconchego e conforto, tanto ao paciente
quanto aos seus familiares. Também é muito
presente em suas falas o reconhecimento da
necessidade de preparo específico para que o
cuidado seja eficiente.
4.7 PACIENTE QUE PLANEJA E TENTA O
SUICÍDIO
No presente núcleo serão
apresentadas as explanações dos
profissionais entrevistados quanto a sua
visão do paciente que planeja e tenta o
suicídio. Conforme as falas evidencia-se certo
desprezo ao paciente suicida. Relatam vários
aspectos, mas desconhecem a relação do
suicídio com o sofrimento e a busca pela
libertação da dor psíquica.
4.6 RECONHECENDO UMA CRISE
Neste núcleo estão apresentados os
dizeres dos profissionais entrevistados ao
serem questionados se sabem reconhecer
um paciente que se encontra em crise
emocional.
A nossa visão é quanto à
falta de atitudes do cliente
que tenta ou até mesmo
pratica o suicídio (ENF 4).
Deve ser porque eles têm
aquele pensamento
negativo que já têm o
demônio com eles, é
quando o diabo fala mais
forte, por isso a pessoa se
mata. E acho que quando a
pessoa já está naquele
fundo é difícil tu conseguir
tirar ele de lá. Também não
sei, às vezes é só uma
depressão, ou a mente
deles que está tão
contaminada (TE 4).
Não sei, acho que, não sei
como falar, pois acho muito
complicado e forte para o
paciente, acho que ele
encontra seus motivos, às
vezes coisas que seriam
Mendes (1995) define crise como uma
súbita desorganização do indivíduo, em nível
de comportamento, humor ou pensamento,
levando à incapacidade, mesmo que
momentânea, de controlar e desempenhar
suas atividades usuais pessoais, laboratoriais
e sociais.
Isso a gente vê
frequentemente, pessoas
que estão no dia-a-dia
colegas que às vezes estão
com problemas, a gente
percebe que a pessoa está
com crise emocional. A
gente vê que não é um caso
de depressão, às vezes a
pessoa não está bem, está
um pouco deprimida, as
149
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n a t u r a l m e n t e
insignificantes se tornam
motivos para a busca do
suicídio (TE 6).
conversar entender o que
realmente este paciente
tem (TE 6).
Os entrevistados TE 2, TE 5 e TE 6
abordam uma preocupação com o número de
colaboradores, que é muito reduzido na
instituição para a demanda de pacientes,
também trazem o treinamento como
necessário, mas no momento ausente.
C o m o é p o s s í ve l p e r c e b e r, o s
entrevistados demonstram grande confusão
em relação ao suicídio, realmente
desconhecem sua importância e sua origem.
Suas falas trazem certo preconceito à pessoa
que planeja e tenta o suicídio. Realmente
desconhecem sua relação com o sofrimento
emocional.
4. 9 A S P E C TO S N E G AT I V O S N O
AT E N D I M E N TO A O PA C I E N T E E M
DEPRESSÃO
No presente núcleo, são descritas as
opiniões dos profissionais da enfermagem
quanto aos aspectos negativos no
atendimento ao paciente em depressão. As
respostas recebidas englobam vários
aspectos além do atendimento, tais como:
número reduzido de colaboradores, ambiente
inadequado para internação, despreparo,
entre outros.
4.8 EM BUSCA DE MELHORAR O
ATENDIMENTO
No presente núcleo serão
apresentados os dizeres dos profissionais
componentes das equipes de Enfermagem
quanto à busca de melhorias no atendimento
ao paciente em sofrimento psíquico.
Acho que a carga de
funcionários precisa ser
maior pra ter como dar um
atendimento melhor, que o
número de funcionários é
muito pouco e acabamos
por não dar a devida
atenção. A carga de
trabalho é muito grande
para o número de pessoal,
isso eu acho que deveria
mudar. Também acho que
deveria ser feito um
treinamento com o pessoal,
para aprender mais sobre
como lidar com o
emocional, pois isso não é
muito abordado, o que mais
contam aqui é a parte mais
técnica (TE 2).
Se tivéssemos mais
profissionais da área, para
que nosso trabalho fosse
mais tranquilo, não fosse
tanta correria, tanto
trabalho, tantos pacientes
para poucas pessoas
cuidarem, porque a gente
acaba não tendo tempo pra
dar uma atenção específica,
uma atenção maior pra esse
tipo de paciente (TE 5).
Acho que tem pouco
profissional preparado pra
lidar com doenças
psicológicas. Vejo que estas
pessoas muitas vezes
precisam apenas de um
apoio moral, um carinho e
atenção e não só
medicação. Acho também
que falta tempo, poder
A correria, o número de
profissionais é pequeno (TE
6).
Acho que nós como equipe
não temos muito tempo
para prestar o atendimento
adequado a esse tipo de
paciente, não temos
instalações adequadas,
quartos com grades, um
exemplo é pacientes que
tentam suicídio ficam no
terceiro andar do hospital.
Totalmente errado, falta
muita coisa (ENF 2).
Não tem local adequado
para alojar estes pacientes,
mas enquanto não tiver,
precisamos pelo menos dar
suporte básico para estas
pessoas em sofrimento
emocional (ENF 4).
E v ide ncia - s e , na s e x pla na çõ e s
transcritas, a consciência dos colaboradores
perante a necessidade de treinamento. Este
pode ser realizado por Enfermeiros
juntamente com psicólogo e psiquiatra do
hospital, como forma de garantir uma
segurança aos profissionais de que estão
fazendo a coisa certa e assim alcançar níveis
mais altos na qualidade do atendimento ao
paciente em sofrimento psíquico.
150
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
4.10 INTERNAÇÃO DE PACIENTE
PSIQUIÁTRICO EM HOSPITAL GERAL
Neste núcleo estão expostas as
respostas dos profissionais entrevistados ao
serem questionados se concordam com a
internação psiquiátrica em hospital geral.
Entende-se, ao estudar suas respostas, que
os Enfermeiros têm conhecimento quanto à
reforma psiquiátrica e todos concordam com
a internação, dos profissionais técnicos,
apenas dois concordam.
depressão pudesse interferir na melhora
daqueles. Outro ponto importante
apresentado é o medo; estes dois fatores são
oriundos da falta de conhecimento referente
à depressão e à falta de compreensão do
paciente em sofrimento psíquico.
Observa-se ainda muito
desconhecimento e preconceitos em relação
aos pacientes em sofrimento psíquico. Apesar
dos esforços praticados na conscientização
dos trabalhadores e população em geral,
sobre a internação em hospital geral e o fim
dos hospitais psiquiátricos, muito ainda
precisa ser feito.
Sim, é uma doença como
outra qualquer e o paciente
não pode ser discriminado
ou isolado porque está em
depressão, acredito que
isso a deixaria mais
deprimida (TE 7).
Eu concordo, mas precisa
ter uma ala psiquiátrica (TE
8).
Não, não concordo. Eu acho
que tem paciente com
depressão e problemas
psíquicos que precisam ser
internados em hospital
psiquiátrico onde os
médicos são preparados e a
equipe de enfermagem
também é preparada,
porque é difícil, a gente não
vê muitos casos aqui, e
poucos casos de internação
por causa disso. Então no
caso eu particularmente
tenho muito medo de lidar
com esse tipo de paciente
(TE 3).
Acho que não, deveria ter
um hospital especial pra
eles, porque às vezes aqui
te mos vár ios tipos de
doentes internados e esses
assim psiquicamente
começam a gritar e agitar
então descontrola todo o
ambiente em que você
trabalha, acho que deveria
ter uma ala especial para
aqueles pacientes (TE 4).
Eu acho que deveria ter uma
ala só pra eles, por que
muitas vezes, em todos os
casos, aqui na unidade tem
desde crianças até idosos,
quem sabe em uma unidade
só pra eles se sentiriam mais
acolhidos (TE 5).
CONCLUSÃO
A atuação da equipe de Enfermagem
no acolhimento ao paciente em depressão é
um fator muito marcante para quem busca
cuidados no hospital. Um paciente em
depressão precisa receber muito mais do que
o cuidado propriamente dito, ele precisa
encontrar a sua pessoa, a sua imagem, a sua
autoestima, ele precisa voltar a se sentir
necessário e especial.
Durante a análise das informações
coletadas para fundamentar a pesquisa,
o b s e r v o u - s e q u e a g ra n d e m a i o r i a
desconhece a patologia depressão, relatando
quase que exclusivamente falta de preparo
na sua formação e falta de educação em
saúde que poderia ser realizada dentro da
instituição.
Constatou-se, através das
explanações de todos profissionais
entrevistados, que o número de
colaboradores da instituição é insuficiente
para a demanda, e os mesmos referiram
negligenciarem o fator psicológico e
emocional do paciente por falta de tempo.
Em diversos relatos dos participantes
do estudo pôde-se perceber a preocupação
em oferecer conforto, segurança e cuidado
integral. Mas esta preocupação não é
suficiente para desenvolver o cuidado na sua
totalidade, o conhecimento e a informação
são as chaves para o sucesso no cuidado de
um paciente em depressão.
Evidenciou-se, nos relatos dos
p r o f i s s i o n a i s e n t r e v i s t a d o s , g ra n d e
insegurança em lidar com pessoas que
sofrem com a depressão. Esta insegurança
vem acompanhada de medo e desgosto por
Os entrevistados TE 3, TE 4 e TE 5
apresentam em suas falas uma preocupação
com os outros pacientes internados por
outros motivos, como se o paciente em
151
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
cuidar deste tipo de paciente. Em alguns
casos foi possível perceber certa
discriminação ao doente mental, vendo este
como ameaça à equipe e aos demais
pacientes internados.
Em relação a sua visão do paciente
que planeja e tenta o suicídio, a totalidade
desconhece a origem da busca pelo suicídio
como única saída para o paciente quando se
encontra em um estado extremamente grave
da doença. Os pensamentos suicidas são
fortes indicativos da gravidade do estado
psicológico da pessoa, os participantes
evidenciam vários fatores como
desencadeantes de uma atitude suicida,
entre estes a disfunção de caráter. Fato que
evidencia sua falta de informação quanto à
gravidade da depressão.
Referente à importância da família no
cuidado e tratamento do paciente em
depressão, os entrevistados apresentavamse bem informados. Salientam não se doarem
mais aos familiares e pacientes pela falta de
conhecimento e tempo para atender toda
demanda de trabalho diário.
Ressalta-se, no entanto, que a
pesquisa demonstra o quanto o fator humano
e os trabalhos de educação em saúde são
importantes e trazem inúmeras melhorias
para o trabalho das equipes de Enfermagem.
Com isto, os profissionais trabalham mais
tranquilos e conscientes de que estão
alcançando os objetivos do cuidado.
Por fim, pode-se afirmar que, além do
conhecimento específico adquirido sobre o
tema, encontraram-se conhecimentos além
do esperado. As hipóteses levantadas no
início da pesquisa foram confirmadas, bem
como os objetivos propostos
satisfatoriamente alcançados.
MENDES, Afrânio de Carvalho. Serviço de
saúde mental no Hospital Geral.
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152
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
O PESO ELEVADO AO NASCER INFLUENCIA NAS COMPLICAÇÕES DE
SAÚDE NA INFÂNCIA
Sofia Bronstrup Gisch 1
Carlice Maria Sherer 2
Beatriz Carvalho Cavalheiro 3
S ETREM 4
ABSTRACT
Fetal growth is associated with weight at the
moment of birth and the gestational age, which
are used to rate newborns. The study has as the
objective to verify the growth of babies born Large
for Gestational Age LGA in the year
, under
the health analysis, having as a methodological
focus the research of documental analysis with a
quantitative and qualitative approach. The LGA
newborns in
were firstly identified in medical
records from a Hospital Institution in the
Northwest region of Rio Grande do Sul. From the
newborns LGA found in the medical records,
were located in their houses. Afterwards, a house
visit was performed for data collection, occurred
through an interview with structured form with
closed questions, applied to parents or responsible
ones for the newborns. The ethical principles were
respected according to the resolution
from
National Health Council in Portuguese CNS ,
which discusses the legal guidelines which
regulate the research with human beings. For
data analysis, the computer software Epi Info and
Microsoft Office Excel
were used, and the
results are presented under the form of charts and
graphs. It was possible to observe that in the
research and in bibliographies that for the birth of
a LGA many factors are associated, such as
mother s age, weight increasing during
pregnancy, multiparity, qualified prenatal care, to
mention a few ones. It is possible to conclude that
the exaggerated weight at birth along with
sedentarism, lifestyle, genetics, all these lead the
child to childhood and adolescence with
overweight or obesity. It can be highlighted the
importance of follow-ups of LGA newborns in their
growth by the health team in order to avoid
disorders like obesity throughout their life.
Keywords: Newborns. Prenatal. Nursing.
RESUMO
O crescimento fetal está associado ao peso no
momento do nascimento e a idade gestacional
utilizado para classificar os recém-nascidos. O
estudo tem como objetivo verificar o crescimento
de crianças nascidas Grandes para a Idade
Gestacional (GIG) no ano de 2002, sob a ótica da
saúde, tendo como foco metodológico a pesquisa
de análise documental com abordagem
quantitativo-descritiva. Os recém-nascidos (RN)
GIG do ano de 2002 foram identificados nos
prontuários de uma Instituição Hospitalar da
região Noroeste Gaúcha, dos 14 RNs GIG
encontrados nos prontuários, 7 foram localizados
em sua residência; após realizou-se visita
domiciliar para a coleta de dados que ocorreu
através de uma entrevista com formulário
estruturado com perguntas fechadas, aplicado
aos pais ou responsáveis. Os princípios éticos
foram respeitados. Para análise dos dados
utilizou-se o Epi Info e o Exel 2007 e os resultados
estão apresentados sob forma de tabelas e
gráficos. Evidenciou-se na pesquisa e em
bibliografias que para o nascimento do RN GIG
vários fatores estão associados, tais como a idade
da mãe, aumento de peso na gestação,
multipariedade, acompanhamento com pré-natal
qualificado, entre outros. Conclui-se que o peso
e x a g e ra d o a o n a s c e r a c o m p a n h a d o d e
sedentarismo, estilo de vida, genética, leva a
criança à infância e adolescência com sobrepeso
ou obesidade. Podemos ressaltar da importância
do acompanhamento dos RNs GIG no seu
crescimento pela equipe de saúde para evitar
transtornos como a obesidade no decorrer de sua
vida.
Palavras-chave: Recém-nascidos. Pré-Natal.
Enfermagem.
1
Enfermeira da maternidade do Hospital São Vicente de Paulo da cidade de Três de Maio/RS.
Mestre em Educação nas Ciências, Professora do Bacharelado em Enfermagem SETREM.
E -mail: [email protected]
3
Mestre em Enfermagem, Professora do Bacharelado em Enfermagem SETREM. E -mail:
[email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio (SETREM), Avenida Avaí, nº 370, Três de Maio,
Centro, Cep. 98910 -000, RS, Brasil. E -mail: [email protected]
2
153
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1. INTRODUÇÃO
O crescimento fetal está ligado ao
peso ao nascer e à idade gestacional, sendo
usados como padrão em neonatologia para
classificar os recém-nascidos (RN). O peso ao
nascer poderá influenciar no quadro de saúde
do mesmo, pois quando é grande para idade
gestacional (GIG) torna-se preocupante, pois
são mais suscetíveis aos riscos associados. As
gestantes que estão predispostas a dar a luz
ao RN GIG, deverão ser acompanhadas com
um pré-natal (PN) mais complexo, evitando
que o feto ou a gestante desenvolvam alguma
patologia que possa interferir ou prejudicar a
gestação, sendo que em muitas ocasiões isso
não é possível.
O aumento da obesidade infantil nos
últimos anos no Brasil tem sido associado a
vários fatores como, diferentes condições de
v i d a f a m i l i a r, h á b i t o s a l i m e n t a r e s ,
sedentarismo na infância e o peso ao nascer;
também podem estar ligados ao sobrepeso,
podendo acarretar em problemas de saúde
mais sérios na idade adulta e tendo um
impacto significativo na vida da criança
(CABALLERO, 2005 apud MENEZES et
al.,2011).
O tema em questão torna-se relevante
devido à deficiência de conhecimento na
área, sendo uma temática envolvente que faz
pensar em relação ao peso no momento do
nascimento. Nas primeiras horas de vida os
RNs GIG necessitam de assistência da equipe
de saúde contínua para evitar complicações
associadas.
O presente estudo teve como objetivo
verificar, na atualidade, o crescimento de
crianças nascidas GIG no ano de 2002, sob a
ótica da saúde. Objetivos específicos:
Identificar e localizar os RNs GIG de 2002 nos
prontuário de uma Instituição Hospitalar;
Investigar se durante a gestação destes RNs
houve alguma intercorrência ou doença
associada; investigar a possível existência de
doenças, obesidade ou outro transtorno nas
crianças nascidas em 2002; traçar um
paralelo entre os dados antropométricos dos
RNs GIG e a situação dos mesmos na
atualidade.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 ASSISTÊNCIA AO PRÉ-NATAL DURANTE
A GESTAÇÃO
Para ter um pré-natal com maior
qualidade, estruturado e organizado, foi
disponibilizado pelo Departamento de
Informática do Sistema de Único de Saúde
(DATASUS) o Sistema de Informação sobre o
Programa de Humanização no Pré-Natal e
Nascimento (SISPRENATAL), sendo um
programa de uso indispensável nas unidades
de saúde, facilitando a avaliação e
acompanhamento de todas as gestantes
(BRASIL, 2006).
Segundo Koffman; Bonadio (2005)
apud Carmo (2006) a assistência ao PN
adequado, torna-se importante durante a
gestação e para o crescimento do feto,
identificando possíveis complicações que
possam surgir nesse período, minimizando
assim os fatores de riscos associados. O PN é
um momento oportuno em que a gestante
pode esclarecer suas dúvidas e receber
orientações da equipe de saúde.
Torna-se extremamente importante
que durante o PN sejam adotadas as medidas
preventivas para prevenir o crescimento fetal
exagerado, controlando o ganho de peso
materno, realizar exames de glicemia para
controlar a glicose e evitar diabetes melito
gestacional, evitando complicações durante o
parto e pós-parto, os fetos macrossômicos
são identificados pelo exame físico e pela
ecografia obstétrica (BITTAR; RAMOS;
LEONE, 2003).
As Unidades Básicas de Saúde e as
Unidades Hospitalares precisam ter uma
continuidade na assistência à saúde integral,
uma complementando a outra para que o
serviço em saúde seja mais eficiente, sendo
que durante o PN é o período ideal para a
preparação ao parto e a detecção de possíveis
alterações na gestação, prevenindo doenças
como a hipertensão e diabetes gestacional,
entre outras complicações (BRASIL, 2001).
2.2 ASSISTÊNCIA A FAMÍLIA DO RN
EM RISCO
Com o nascimento de um RN de risco,
os pais ficam desamparados, deprimidos,
sem forças para seguir em frente, pois
sonharam durante toda gestação no filho
perfeito. Muitas vezes os RNs de risco ficam
internados com cuidados intensivos por
algum período, isso também se pode tornar
um sofrimento para a família (KENNER,
2001).
O nascimento de um recémnascido de alto risco pode
parecer uma tragédia para a
família que, durante o
154
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transcurso da graviJUN,
criou expectativas de um
filho cujas características
iriam refletir as suas, cuja
capacidade eles poderiam
adestrar e cujos interesses
eles iriam compartilhar. Com
o nascimento da criança a
família experimenta a perda
do filho “perfeito” dos seus
sonhos (KENNER, 2001, p.
260).
(KENNER, 2001).
A adequada avaliação da idade
gestacional e do peso ao nascer é importante,
devido à forte associação sobre a morbidade
e a mortalidade de RNs e o seu
desenvolvimento durante a infância. Com a
moderna tecnologia de equipamentos e
profissionais capacitados, isso contribuiu
positivamente na saúde e na sobrevivência
em geral de todos os neonatos em risco
(LOWDERMILK; PERRY; BOBAK, 2002).
2.4 FATORES QUE INFLUENCIAM
PARA O NASCIMENTO GIG
Inúmeros fatores são determinantes
para o crescimento do feto. Podem interferir
tanto negativamente quanto positivamente e
têm influência direta com o peso ao nascer,
tais como genética, ambiente, estado
nutricional da gestante, desenvolvimento da
placenta, doenças endócrinas, tabagismo,
fontes de estresse que a gestante está
exposta, idade da gestante, deficiência na
assistência do PN e, em últimos casos, as
condições socioeconômicas também poderão
i n f l u e n c i a r ( M O N T E I R O, 2 0 0 0 a p u d
CONTESINI;SINHORINI; TAKIUCHI, 2006).
O estado nutricional materno no início
da gestação e o ganho de peso gestacional se
tornam muito importantes, e vêm sendo
observados atualmente por vários estudos,
pois seu papel é determinante sobre o
desfecho gestacional. Dentre estes,
destacam-se o crescimento fetal e o peso ao
nascer, que podem trazer implicações para a
saúde do indivíduo ao longo de sua vida
(MELO et al., 2006).
2.5 COMPLICAÇÕES DECORRENTES
DA CONDIÇÃO DE RN GIG.
Os neonatos considerados GIG estão
mais expostos a risco e problemas intraútero
e perinatais, podendo romper a membrana
uterina, acarretar em prolapso do cordão
umbilical, distócia de ombro, fratura clavícula,
paralisia facial e do plexo braquial, angústia
respiratória devido à aspiração de mecônio,
hipoglicemia, hiperbilirrubinemia neonatal,
eritroblastose fetal, anomalias congênitas
como transposição dos grandes vasos,
elevado índice de morte intrauterina e outras
doenças relacionadas à prematuridade
(KENNER, 2001).
Segundo Galvani (2003) os RNs com
macrossomia, devido a sua condição, estão
mais predispostos a desenvolver taquipneia
O RN de risco é separado de sua mãe
logo após o nascimento e transferido
geralmente a um berço aquecido e/ou
incubadora, para receber cuidados intensivos
com equipamentos de suporte. Essa
separação poderá interferir no processo de
ligação normal de mãe-filho, o vínculo
materno tem início antes da concepção,
sendo fortalecido durante a gestação e
completado no contato no período neonatal.
Na primeira visita dos pais ao RN internado
com cuidados intensivos deverá ser
informado o estado clínico do RN e os
equipamentos utilizados para tranquilizar os
pais (WHALEY; WONG, 1999).
2.3 CRESCIMENTO FETAL E A
CLASSIFICAÇÃO DOS RN
Segundo Kenner (2001) os neonatos
nascidos GIG são aqueles em que o peso está
acima do percentil 90 no gráfico de
crescimento intrauterino, independente da
idade gestacional, geralmente pesando
acima de 4.000 kg, tendo um aumento nas
taxas de mortalidade, devido aos riscos e
complicações que poderão ocorrer.
A avaliação e a classificação dos
neonatos têm como parâmetros iniciais o
peso e a IG, que possa ser de baixo, médio ou
alto risco. Como método de avaliação do RN
existe o capurro, que por meio dele se
avaliam aspectos somático e neurológico,
sendo realizado entre 24 a 48 horas de vida. É
avaliada a textura da pele, forma da orelha,
glândula mamária, prega plantar e formação
do mamilo (PIRES; MELLO, 2000).
Os RNs GIG eram considerados
saudáveis pelos indivíduos tradicionais e
alguns acreditam nesta crença até os dias de
hoje, mas clinicamente o crescimento
acelerado do feto pode colocar em risco a vida
do mesmo e da mãe ao longo da gestação e,
no momento do parto, aumentando as
complicações, o que pode levar à morte do
neonato nas primeiras horas de vida
155
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
transitória. Outros fatores que podem estar
associados são: sexo masculino, sedação
excessiva, trabalho de parto prolongado. A
taquipneia é uma síndrome de desconforto
respiratória devido ao retardo na reabsorção
do líquido pulmonar.
Os neonatos GIG apresentam risco
para hipoglicemia, mesmo os que não são
filhos de mães diabéticas. A hiperinsulina
aparece em alguns dos RN, os mecanismos
ainda parecem desconhecidos (HARO; LYRA,
2003).
Conforme os autores Parsons et al.,
(1999) apud Martins; Carvalho (2006)
estudos realizados apontaram evidências que
existe alguma influência entre o peso ao
nascer com a obesidade infantil, sendo que os
RNs de baixo peso também têm risco, mas os
que nascem com o peso elevado o risco em
desenvolver obesidade se torna ainda maior.
Segundo Martins; Carvalho, (2006):
“associação positiva na qual as crianças que
nascem com peso elevado têm maior
probabilidade de apresentar obesidade na
infância; portanto, o baixo peso ao nascer
atuaria como um fator protetor” (p. 2282).
Torna-se interessante ressaltar que
desde a geração, crescimento e
desenvolvimento do indivíduo têm inúmeros
fatores que possam estar envolvidos. Sabe-se
que hoje a desnutrição está diminuindo e vem
surgindo o sobrepeso e a obesidade, cabendo
aos profissionais da saúde ter um olhar
voltado ao RN GIG e acompanhá-lo no
crescimento e desenvolvimento e não deixar
que este passe despercebido.
3. METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa de análise
documental com abordagem quantitativodescritiva, realizada durante o primeiro e
segundo semestres de 2012, em uma
Instituição Hospitalar de médio porte
localizado na Região do Noroeste Gaúcho e
nas residências dos entrevistados.
Conforme Marconi; Lakatos (2008)
pesquisa de análise documental é uma fonte
d e c o l e t a d e d a d o s r e s e r va d o s e m
documentos escritos ou não, compondo o
que é denominado de fontes primárias. Essas
fontes podem ser coletadas no tempo em que
o fato ou fenômeno aconteceu ou depois de
algum tempo. A abordagem quantitativa
descritiva compreende uma investigação de
pesquisa empírica, tendo como finalidade o
delineamento ou análise das características
de fatos ou fenômenos, a avaliação de
programas, ou o isolamento de variáveis
principais ou chave.
Para a coleta dos dados da pesquisa
documental realizou-se um pedido de
solicitação para autorização formal à
Instituição Hospitalar, na qual se recebeu a
autorização para a pesquisa. Por meio do
endereço encontrado no prontuário efetuouse uma busca ativa nas residências das
crianças nascidas GIG no ano de 2002. No
momento em que as crianças foram
encontradas em suas residências, realizou-se
uma visita domiciliar para a coleta dos dados
antropométricos atuais e informações
relacionadas à gestação e hábitos de vida da
criança. Estes foram coletados com os pais ou
responsáveis da criança, através de
entrevista com formulário estruturado, com
perguntas fechadas.
Para traçar esses dados tem-se como
base a curva de crescimento do MS de 2009
de uma criança com 10 anos, que consta na
caderneta de vacina da criança e também se
utilizou o cálculo de IMC para avaliar se a
criança se encontra com peso adequado para
a idade. Para a realização dessa pesquisa
foram levados em conta os preceitos éticos da
Resolução 196/96 de 10 de outubro de 1996
do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que
dispõe sobre as diretrizes legais que
regulamentam a pesquisa com seres
humanos (BRASIL, 1996).
Elaborou-se também um Termo de
Consentimento Livre Esclarecido, por meio
desse realizou-se a exposição dos objetivos e
o caráter sigiloso da pesquisa. Os indivíduos
foram devidamente esclarecidos sobre a
pesquisa e o emprego das informações
prestadas, tendo o direito de desistir de
participar a qualquer momento da pesquisa.
Os sujeitos que aceitaram a participar da
pesquisa assinaram o documento acima
citado em duas vias, permanecendo um via
consigo e outra com o pesquisador. Para a
análise dos dados, utilizou-se o software
informatizado Epi Info 2005e também
Microsoft Office Excel2007, para apresentar
os resultados sob forma de tabelas e gráficos.
A população alvo dessa pesquisa é
constituída pelos pais ou responsáveis e os
RNs GIG nascidos em uma Instituição
Hospitalar do Noroeste Gaúcho. A população
que compôs a amostra deu-se seguindo o
156
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
modelo de amostragem, foram encontrados
14 casos de RNs GIG nascidos no ano de
2002; o endereço foi extraído do prontuário.
Mas, somente sete crianças foram
encontradas nos endereços do prontuário e
essas foram pesquisadas.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Para a análise dos dados coletados da
pesquisa 14 RN GIG que foram localizados
nos prontuários da Instituição Hospitalar,
somente sete foram localizados; portanto, a
amostragem se compôs das sete crianças
GIG encontradas, JUN anos após o
nascimento.
4.1 DADOS ENCONTRADOS NOS
PRONTUÁRIOS
Dados encontrados nos prontuários
dos sete RNs GIG do ano de 2002 da
Instituição Hospitalar. A seguir, descreveu-se
o sexo, o peso, os perímetros e o
comprimento dos RNs pesquisados.
4.1.1 Sexo dos RNs GIG
pesquisados
A maioria das crianças nascidas GIG
entrevistadas são do sexo masculino com
71% e 29% são do sexo feminino. Conforme
Rudge; Calderon, (1997) apud Kerche et
al.,(2005) a macrossomia normalmente se
desenvolve mais nos fetos de sexo masculino,
mulheres multíparas, IMC e estatura elevada,
diabéticas, idade mínima de 30 anos, nos
pós-datismo, entre outros fatores que
interferem.
4.1.2 Peso e a Idade Gestacional
dos RNs GIG pesquisados
Peso
4000 a 4100 Kg
4100 a 4200 Kg
4200 a 4400 Kg
Idade Gestacional
38 semanas
40 semanas
Frequência
2
1
4
Porcentagem
29%
14%
57%
5
2
72%
28%
foi de 38 semanas e dois nasceram com IG de
40 semanas que equivale a 28%.
O peso e a IG são usados para
classificar os neonatos. É um método seguro
e satisfatório, sendo traçado em um gráfico
padronizado com o peso, o comprimento e a
circunferência cefálica que identifica a idade
gestacional do RN (LOWDERMILK; PERRY;
BOBAK, 2002).
4.1.3 Relação dos perímetros cefálico,
torácico, circunferência abdominal e
comprimento dos RNs GIG
participantes da pesquisa
Perímetro cefálico:
34 a 35 cm
36 a 38 cm
Perímetro torácico:
34 a 35 cm
36 a 37 cm
Circunferência abdominal:
33 a 34 cm
35 a 36 cm
Comprimento ao nascer
52 a 53 cm
53 a 55 cm
55 a 56 cm
Frequência
2
5
Frequência
4
3
Frequência
3
4
Frequência
4
2
1
Porcentagem
29%
71%
Porcentagem
57%
43%
Porcentagem
43%
57%
Porcentagem
57%
29%
14%
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
Ao analisar a tabela acima, observa-se
que o perímetro cefálico de dois
participantes,ou seja, 29% estão entre 34 a
35 cm e os outros cinco o perímetro está entre
36 a 38 cm; portanto, 71%. O perímetro
torácico de quatro RNs está entre 34 a 35 cm
que equivale a 57% e os demais 43% ou três
RNs estão na faixa de 36 a 37 cm. A
circunferência abdominal geralmente é a
menor medida; no entanto, três RNs ou 43%
estão entre 33 a 34 cm e os outros 57% a
circunferência é de 35 a 36 cm, ou seja,
quatro RNs. No comprimento, percebe-se
que a medida está em torno de 52 a 56 cm,
prevalecendo quatro RNs, ou seja, 57% com
52 a 53 cm de comprimento, 53 a 55 cm dois
RNs ou 29% e de 55 a 56 cm somente um RN
que equivale a 14%.
Conforme os autores Whaley; Wong
(1999) diversas mensurações têm significado
importante para o RN, sendo que a termo a
medida normal do perímetro cefálico
permanece em média de 33 a 33,5 cm.
Normalmente pode ser menor logo após o
nascimento, devido ao parto; se o mesmo for
vaginal, geralmente é 2 a 3 cm maior do que o
perímetro torácico, que fica em torno de 30,5
a 33 cm. O comprimento normal dos RN fica
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
A tabela que representa o peso dos
RNs prevalece entre 4.000 Kg a 4.400 Kg,
sendo que dois, ou seja, 29% dos RNs
pesaram entre 4.000 Kg a 4.100 Kg, um RN,
14% pesaram 4.100 Kg a 4.200 Kg e quatro
dos RNs pesaram 4.200 Kg a 4.400 Kg, que
equivale a 57%, porém são classificados
como RNs grandes para a idade gestacional
ou macrossomicos. A IG está em torno de 38
e 40 semanas, cinco RNs, ou seja, 72% a IG
157
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
seu pré-natal.
Ao responder a pergunta sobre o
estado civil, as entrevistadas responderam
que cinco são casadas, ou seja, 72%; uma é
solteira 14% e uma tem uma união estável
que equivale a 14%.
4.2.3 Problema de saúde antes da
graviJUN
Ao questionar as mães se elas tiveram
algum problema de saúde antes de
engravidar, das sete participantes, ou seja,
100% responderam que não apresentavam
nenhuma doença e que estavam bem de
saúde.
A avaliação pré-gestacional é eficaz
para identificar ou controlar doenças prévias
que possam oferecem riscos à gestante e ao
feto. As doenças crônicas são as que podem
levar a maiores riscos como a DMG
descompensada, hipertensão arterial,
epilepsia, infecções HIV, situações como
anemias, carcinomas do colo uterino e de
mama (BRASIL, 2006).
4.2.4 Número de gestações
em média é de 48 a 53 cm.
4 . 2 E N T R E V I S TA C O M A M Ã E O U
RESPONSÁVEL
4.2.1 Idade da mãe na gestação
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
O gráfico acima representa a idade da
mãe durante a gestação, percebe-se que
57% das mulheres entrevistadas estavam
com mais de 35 anos de idade, 15% estavam
com 30 a 35 anos, na faixa de 25 a 30 anos
são 14% e os demais 14% estavam entre 20 a
25 anos, sendo idade um fator que pode
interferir na gestação.
Conforme afirma Andrade et al.
(2004), as gestantes com mais de 35 anos
têdem maior risco a complicações maternas e
perinatais, como aumento de ganho de peso
exagerado, DM, HAS, anormalidades
cromossômicas, macrossomia, mecônio
intraparto, restrição no crescimento fetal,
sofrimento fetal, entre outras alterações.
4.2.2 A cor/raça, estado civil e
escolardade da mãe
De acordo com a cor/raça 100% das
mães dos RNs GIG participantes são cor/raça
brancas, tornando-se um fator de risco para o
nascimento de GIG. Conforme Andrade;
Duarte (sem ano) a cor/raças influencia no
peso ao nascer do RN. As mães de cor/raça
parda e negra têm maior risco em
desenvolver RN de baixo peso.
Ao questionar sobre a escolaridade
das mães, quatro responderam que têm o
Ensino Fundamental incompleto, ou seja,
57% das pesquisadas e três responderam
que têm o Ensino Fundamental completo;
portanto, 43%. As mães com pouca
escolaridade podem ter influência no
entendimento das informações orientadas
pelos profissionais da saúde que realizaram o
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
A maioria das participantes respondeu
que o neonato GIG foi seu primeiro filho, ou
seja, 43%, 14% afirmam ser sua segunda
gestação e outros 14% relatam que foi sua
terceira gestação e sendo 29% o quarto filho.
Conforme afirma Rudge; Calderom (2006), as
gestantes multíparas estão predispostas a
dar a luz ao neonato GIG, sendo que o IMC da
mãe e a diabete gestacional também tem
grande influência.
4.2.5 Consultas durante a
gestação
Questionadas as mães sobre as
consultas durante a gestação e uma delas, ou
seja, 15% realizaram de quatro a seis
consultas e as outras seis, 85% realizaram
158
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
mais de sete consultas na graviJUN.
Conforme preconiza o Ministério da Saúde
toda a gestante tem direito de ser
acompanhada no PN com no mínimo seis
consultas, uma no primeiro trimestre que
condiz até 12 semanas de gestação, duas
consultas no segundo trimestre e no mínimo
três no terceiro trimestre (BRASIL, 2006).
4.2.6 Intercorrências durante a
gestação
Ao questionar sobre as intercorrências
na gestação, 57% das mães tiveram alguma
complicação. Conforme o relato das mães, as
complicações mencionadas foram ameaça de
aborto, sangramento e contrações. O
restante, 43% afirmam que foi uma gestação
tranquila sem nenhum problema com ela ou
com o bebê.
De acordo com Melson et al. (2002)
várias alterações podem ser percebidas na
gestante, tanto anatômicas como fisiológicas
e bioquímicas, sendo essas normais ou
anormais, podem ser identificadas durante o
acompanhamento do PN e diagnosticadas
precocemente, medidas poderão ser
implementadas para garantir uma gestação
com o mínimo de intercorrências.
4.2.7 Aumento de peso durante a
gestação
mulheres que aumentam 16 kg ou mais na
gestação.
4.2.8 Uso de Medicação
Ao perguntar se fizeram uso de
medicação, 57% das mães disseram que sim,
mas somente uma delas soube identificar o
motivo para o uso de tal medicação, o qual foi
devido às contrações prematuras e 43% das
entrevistadas responderam que não fizeram
uso de medicação. Para Gomes et al., (1999)
a gestante está sujeita a uma série de
intercorrências de saúde, e faz com que use
medicamentos prescritos pelo médico no PN.
4.2.9 Tipo de parto
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
No gráfico acima, observa-se que 29%
das entrevistadas tiveram parto cesárea,
57% responderam parto normal e os 14%
restantes relataram que foi um parto normal
com fórceps. Conforme os dados do MS em
2010, o Brasil registrou mais cesarianas do
que partos normais, sendo que a taxa
aumentou para 52%. Na rede privada, o
índice de parto cesáreo chegou a 82% e na
rede pública está com 37% (BRASIL, 2012).
Nessa análise é importante resaltar
que os dados coletados nos prontuários sobre
os pesquisados ocorreram há JUN anos, no
ano de 2002; portanto, no passar desses anos
obteve-se modificações da porcentagem de
parto normal para cesárea. Na instituição
pesquisada no ano de 2011, a porcentagem
de cesárea foi de 78%.
4.2.10 Alojamento conjunto e
amamentação
Ao questionar as mães se o bebê foi
logo ao quarto após o nascimento, 100%
responderam que depois de realizado os
primeiros procedimentos com o bebê, o
mesmo foi encaminhado ao quarto sem
intercorrências e sugou ao seio materno.
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
Quando as entrevistadas foram
questionadas sobre qual foi o aumento de
peso durante a gestação, 28% responderam
que aumentaram até 8 kg, 29% afirmam que
engordaram de 9 a 12 kg, 14% contam que
foi de 13 a 18 kg e 29% relatam que
aumentaram 19 kg ou mais, que foi o ganho
de peso da mãe na gestação.
De acordo com Ficak (2002) o ganho
de peso na gestação é muito importante,
sendo acompanhado durante o PN, com o
aumento de peso exagerado o qual pode
desenvolver RN GIG, principalmente nas
159
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Conforme o Ministério de Saúde, o
alojamento conjunto é fundamental para o
incentivo do aleitamento materno e a
interação entre mãe e o bebê, uma vez que a
mãe poderá oferecer o seu leite sempre que
ela achar necessário. Além disso, o
alojamento conjunto coletivo dá a puérpera a
oportunidade de observar outras mães no
cuidado do RN (BRASIL, 2001).
O tempo que as mães amamentaram é
de um mês a 18 meses ou mais. Duas mães
amamentaram somente de um a quatro
m e s e s , o u s e j a , 2 8 % , o u t ra s d u a s
responderam de cinco a doze meses que
equivale a 29%, e as demais que somam 42%
relatam que amamentaram mais de 18 meses
o seu filho. Ressalta-se a importância da
amamentação no crescimento e
desenvolvimento do neonato.
De acordo com as orientações do MS o
leite materno exclusivo é recomendado até os
seis meses. Após, o bebê deve receber
alimentos complementares, sendo
importante que ele seja amamentado até os
dois anos ou mais. Verifico-se que 72% das
entrevistadas amamentaram o tempo
preconizado pelo MS (BRASIL, 2009).
4.2.11 Idade que introduziu os
alimentos
Questionou-se a mãe sobre a idade
que introduziu os alimentos, 86%
responderam que começaram a oferecer
alimentos a seu filho entre cinco a seis meses
de idade e 14% relata que iniciou antes dos
quatro meses. Conforme a preconização do
MS (2009), crianças com mais de seis meses a
amamentação deve ser complementada com
outros alimentos, no mínimo duas vezes ao
dia e, a partir dos nove meses, no mínimo três
vezes ao dia.
4.2.12 Seu filho já esteve
internado no hospital
Dos sete entrevistados na pesquisa
seis responderam que já internaram alguma
vez, ou seja, 86%, e um deles 14% diz que
nunca esteve internado. Os motivos de
internação são problemas respiratórios,
digestivos e outros motivos como cirurgias.
Segundo a Secretaria Estadual da
Saúde (BRASIL, 2010) as causas mais
comuns de internações ocorridas em crianças
de zero a JUN anos em 2008 foram as
doenças respiratórias, com 39,8%, as
doenças parasitárias com 18% e afecções
originadas no período perinatal com 12,3%
de internações e as principais causas de
morte são as causas externas, neoplasias e
doenças do sistema nervoso.
4.2.13 Peso atual de seu filho
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
Observou-se no gráfico que das sete crianças
pesquisadas, duas pesaram de 35 a 45 kg
sendo 29%, outras três pesaram de 45 a 55
kg, ou seja, 43%, de 55 a 65 kg somente um,
ou 14% e de 85 kg também é o peso de uma
criança ou 14%.
De acordo com o MS (2009) o peso
adequado para meninas de 10 anos de idade
conforme o gráfico da caderneta de saúde da
criança está entre 24 a 47 kg. Para os
meninos, o peso adequado está entre 31 a 45
kg. Observando o gráfico dos pesquisados em
torno de 70% está acima do peso
recomendado.
Segundo Caballero (2005) apud
Menezes (2011) que traz sobre o aumento do
peso na infância que está associada a vários
fatores, como o estilo de vida, sedentarismo,
consumo de dieta inadequada, renda e
escolaridade dos pais, peso ao nascer entre
outros.
4.2.14 Altura atual de seu filho
. Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
Ao analisar a altura dos participantes no
gráfico, percebe-se que duas crianças têm
altura de 1,40 cm a 1,45 cm, sendo 28%,
outras duas mediram de 1,45 cm a 1,50 cm,
ou seja, 29% e três a altura é de 1,50 cm a
1,60 cm.
Ao considerar a altura adequada para
as meninas com 10 anos, conforme a
caderneta de saúde da criança (2009) fica
entre 1,26 cm a 1,52 cm, e, para os meninos,
altura adequada é entre 1,38 cm a 1,51cm.
160
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Observando o gráfico acima se percebe que
43% dos pesquisados estão acima da altura
adequada.
4.2.15 Índice de Massa Corporal
das crianças participantes
GIG 1
GIG 2
IMC das meninas
Frequência
19,67
26,66
IMC dos meninos
1
1
GIG 3
GIG 4
16,32
21,28
1
1
GIG 5
22,38
1
GIG 6
24,65
1
GIG 7
33,2
1
bibliografia, este pode ser um parto de risco,
devido à desproporção céfalo-pélvica.
Quanto à amamentação, 72% das
participantes amamentaram durante o
período recomendado pelo MS, verificando
que a amamentação é muito importante para
o crescimento e desenvolvimento do
neonato.
Pôde-se ressaltar que todas as
gestantes foram acompanhadas no pré-natal
e as consultas estão dentro do indicado pelo
MS, pois o PN com qualidade traz inúmeros
benefícios, sendo que qualquer
intercorrência pode ser identificada
p re v ia m e n te . Po ré m , o cre s cim e n to
exagerado não foi identificado. O ganho de
peso durante a gestação é muito importante,
pois das mães pesquisadas 43% estava
acima do peso; isso poderá ter contribuído
para o nascimento do RN GIG.
Cerca de 70% das crianças
pesquisadas estão acima do peso
preconizado pelo MS, podendo se considerar
que o fato deles terem nascido GIG contribuiu
com que o peso da maioria que é superior ao
esperado para a idade. Considerando o IMC,
pode-se identificar que das sete crianças
pesquisadas, somente uma está dentro do
peso adequado para a idade, sendo que as
demais estão com sobrepeso, obesidade e
obesidade grave.
Observou-se e analisou-se que vários
fatores possam estar envolvidos com o peso
elevado, como sedentarismo, genética, estilo
de vida, perfil socioeconômico, peso ao
nascer, entre outros, contribuindo assim com
o peso que está acima do recomendado.
Pode-se ressaltar da importância do
acompanhamento dos RNs GIG no seu
crescimento pela equipe multiprofissional e
principalmente pela Enfermagem, fazer uso
da referência e contra referência do Hospital
à Rede Básica de Saúde, para evitar
transtornos como a obesidade no decorrer de
sua vida.
Ao término da pesquisa, num contexto
mais amplo, que oportunizou ao pesquisador
o amadurecimento profissional e
enriquecimento dos conhecimentos a
respeito do tema pesquisado, tendo poucos
trabalhos nessa área. Pode-se afirmar que os
objetivos propostos no início do estudo foram
satisfatoriamente alcançados e as hipóteses
confirmadas.
Fonte: Gisch; Scherer; Cavalheiro, 2012.
O índice de massa corporal das
crianças participantes foi calculado utilizando
uma fórmula matemática, sendo usado o
peso dividido pela altura ao quadrado
(BRASIL, 2006).
Ao traçar os dados do IMC, com o
recomendado pelo MS que consta na
caderneta de saúde da criança. Pode-se
observar que o GIG 3 é a única criança que
está com o IMC adequado, sendo que o GIG 1
e 4 estão com sobrepeso, o GIG 2, 5 e 6 na
faixa da obesidade e o GIG 7 encontra-se com
obesidade grave.
Considerando os dados do IMC acima
pode-se avaliar que a grande maioria das
crianças pesquisadas estão acima do peso
recomendado, sendo que poderá levá-las a
adolescentes e jovens com sobrepeso. Um
dos fatores que pode contribuir com o peso
na atualidade é o peso ao nascer dessas
crianças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a realização desta pesquisa
contou-se com a participação de sete das
catorze crianças nascidas GIG no ano de 2002
na Instituição Hospitalar pesquisada. Após a
localização dos RNs, realizou-se uma visita
domiciliar e as mães e/ou responsáveis que
responderam o formulário.
No texto exposto anteriormente tornase importante ressaltar que grande número
dos RNs são do sexo masculino, trazendo com
base na bibliografia que condiz que o sexo
masculino está mais predispostos a nascer
GIG. Ressalta-se que a taxa do parto normal,
na pesquisa, foi de 71%. Conforme a
161
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
Esta é uma temática que pode trazer
muitas contribuições às discussões ligadas à
obesidade, tema atual e de grande
preocupação dos pesquisadores e
trabalhadores da área da saúde, haja vista
que as raízes deste mal, que assola o mundo
todo, podem estar relacionadas com a
genética, condições de gestações e parto e o
peso do RN ao nascimento.
FICAK, L. B. O Recém-Nascido de Risco:
Problemas Relacionados com a Idade
Gestacional. In: LOWDERMILK, D. L.; PERRY,
S. E.; BOBAK, I. M. O cuidado em
Enfermagem Materna. 5ª ed. Editora
Artmed. Porto Alegre, 2002. p.775-810.
GALVANI, A. L. S. Taquipnéia Transitória de
Recém-Nascido. In: MARCONDES, E. et
al.Pediatria Básica: Pediatria Geral e
Neonatal. 9º ed. Editora Savier. São Paulo,
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GOMES, K. R. O.; et al. Prevalência do uso de
medicamentos na graviJUN e relação com as
características maternas. Revista Saúde
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REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM: UM DESAFIO DA ATENÇÃO
PRIMÁRIA ¹
Aline Eduarda Maders
Caroline Silveira Viana
Carlice Maria Scherer
Estela Maris Rossato
SETREM
2
2
3
3
4
ABSTRACT
Knowing the importance that the men should give
to their health emerged the motivation to study
this population group, with the purpose of
contributing to the implementation of Public
Policy for Men s Health . It s a qualitative research
of descriptive and exploratory approach that
presents the major diseases of morbidity and
mortality in men. An interview with a patient with
testicular cancer was also conducted using a semi
structured questionnaire. Through this interview
with the participant it was possible to observe that
the men feel difficulty to look for health service, by
being inserted culturally in a society which the
man is a provider and disease causes weakness. In
the patient speech it was possible to notice a delay
in looking for for health service, demonstrating
denial for being sick. From the data analyzed
confirming the statistics, most men don t look for
health services, don t subject to preventive exams
and when the look for services the disease is
already installed and aggravated. Mobilizing the
male population by fighting and granting their
right to health is a social challenge of that policy. It
intends to make men protagonists of their
demands, fulfilling their citizenship rights.
Therefore the results of this study affirm the
disadvantage about the health programs to be
targeted for all men.
Keywords: Primary Attention. Health Program of
the Man. Cancer.
RESUMO
Sabendo da importância que os homens devem
dar a sua saúde, surgiu a motivação de estudar
este grupo populacional, com o objetivo de
contribuir para a efetivação da Política Pública de
Saúde do Homem. É uma pesquisa qualitativa do
tipo exploratória e descritiva que apresenta as
principais doenças de morbidade e mortalidade
nos homens. Também foi realizada uma
entrevista com um paciente com câncer de
testículo, usando um questionário
semiestruturado. Através da entrevista com o
participante pôde-se observar que os homens
sentem dificuldade de procurar os serviços de
saúde, por estarem inseridos culturalmente em
uma sociedade em que o homem é o provedor, e o
adoecimento acarreta fraqueza. No discurso do
paciente entrevistado pôde-se perceber uma
demora na procura pelos serviços de saúde,
demonstrando uma negação ao adoecer. A partir
dos dados analisados confirmando as estatísticas,
a maioria dos homens não procuram os serviços
de saúde, não se sujeitam aos exames
preventivos e quando procuram os serviços a
doença já está instalada e agravada. Mobilizar a
população masculina pela luta e garantia de seu
direito social à saúde é um dos desafios dessa
política. Ela pretende tornar os homens
protagonistas de suas demandas, concretizando
seus direitos de cidadania. Portanto, os
resultados deste trabalho afirmam o
desfavorecimento, quanto a programas de saúde
direcionados para os homens.
Palavras-Chave: Atenção Primária. Programa
Saúde Homem. Câncer.
¹ Artigo do Projeto Interdisciplinar do ano 2012 do curso de Bacharelado em Enfermagem da
Faculdade Três de Maio (SETREM).
2
Acadêmicas de Enfermagem. Sociedade Educacional de Três de Maio – SETREM.
[email protected]; [email protected] .
3
Mestres em Bacharelado em Enfermagem da SETREM. e-mail: [email protected] ;
[email protected]
4
Sociedade Educacional Três de Maio – SETREM, Av. Santa Rosa, 2504, Três de M aio –
RS, e -mail: [email protected]
164
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1. INTRODUÇÃO
Em 2009, o Ministério da Saúde lançou
a Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde do Homem (PNAISH), e um dos
principais objetivos desta política é promover
ações de saúde que contribuam
expressivamente para a compreensão da
realidade singular masculina nos seus
diversos contextos socioculturais e políticoeconômicos; outro é o respeito aos diferentes
níveis de desenvolvimento e organização dos
sistemas locais de saúde e tipos de gestão.
Este conjunto permite o aumento da
expectativa de vida e a redução dos índices de
morbimortalidade por causas preveníveis e
evitáveis nessa população (BRASIL, 2009).
Atualmente, a atenção primária
encontra grande desafio: prestar assistência
à saúde do homem. A proposição da PNAISH
visa qualificar a saúde da população
masculina na perspectiva de linhas de
cuidado que protejam a integralidade da
atenção (BRASIL, 2009).
O reconhecimento de que os homens
entram no sistema de saúde por meio da
atenção especializada tem como
consequência o agravo da morbidade pelo
demora na atenção e maior custo para o
Sistema Único de Saúde (SUS). É necessário
fortalecer e qualificar a atenção primária
garantindo, assim, a promoção da saúde e a
prevenção aos agravos evitáveis (BRASIL,
2008).
A pesquisa teve como eixo principal a
discussão da saúde do homem em um
município da Região Noroeste do Rio Grande
do Sul, buscando conhecer as principais
causas de morbidade e mortalidade que
ocorrem na população masculina.
Sabendo da importância que os
homens devem dar a sua saúde surgiu a
motivação de estudar este grupo
populacional, com o objetivo de contribuir
para a efetivação da Política Pública de Saúde
do Homem, buscando-se conhecer o quanto
os homens estão se preocupando com a
prevenção, se estão seguindo os tratamentos
recomendados, quando procuram o serviço
de saúde, e como estão sendo atendidos nas
unidades de saúde.
Mobilizar a população masculina
brasileira pela luta e garantia de seu direito
social à saúde são os desafios dessa Política.
Ela pretende tornar os homens protagonistas
de suas demandas, concretizando seus
direitos de cidadania. Dessa forma, o trabalho
contribui para a produção de um sistema de
saúde mais eficaz, com maior equidade entre
as ações propostas para o homem.
2. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste estudo
adotou-se a fundamentação a partir na
Política de Atenção Integral à Saúde do
Homem. Através de uma pesquisa qualitativa
do tipo exploratória e descritiva que
apresenta as principais doenças que matam o
homem.
Segundo Minayo (2007, p. 21):
A abordagem qualitativa
permite compreender o
universo de significados,
motivações, aspirações,
crenças, valores e atitudes
correspondentes ao espaço
mais profundo das relações,
dos processos e dos
fenômenos, que podem ser
aprendidos através do
cotidiano, da vivência e da
explicação do senso comum
(MINAYO, 2007, p.21).
As pesquisas exploratórias têm como
finalidade o aprimoramento de ideias ou a
descoberta de intuições, enquanto as
pesquisas descritivas salientam-se pela
descrição das características de um
determinado grupo. O método é uma forma
de chegar a conhecimentos válidos, que
neste estudo, acontecem de informações de
pessoas diretamente vinculadas com a
experiência estudada. (GIL, ANTÔNIO
CARLOS; 2002 apud JULIÃO, GÉSICA G.;
2011).
Os dados foram obtidos do site do
DATASUS e Instituto Nacional do Câncer
(INCA) através do sistema de informação. Os
dados pesquisados de mortalidade e
morbidade, apresentados em forma de
tabelas da população de escolha, o sexo
masculino, no período de 2010 a 2012.
Dentre estes, a segunda opção de escolha foi
doenças que mais acometem o sexo
masculino e os principais tipos de morbidade
das neoplasias, seguindo de uma análise dos
quadros e, a partir deles, formando os
gráficos em amostra.
Para a formulação dos gráficos e o
desenvolvimento do trabalho, utilizou-se
também artigos científicos relacionados à
165
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temática e bibliografias para buscar a
aproximação da realidade da implementação
dessa política de saúde em um município da
região noroeste do estado do Rio Grande do
Sul.
Além disso, realizou-se entrevista com
paciente acometido pelo câncer de testículo,
que na sua trajetória de diagnóstico e
tratamento aceitou gentilmente responder às
questões formuladas pelas autoras com a
intenção de identificar como ocorreu o
diagnóstico, o que o pesquisado pensa sobre
a implantação de política pública de saúde do
homem, e assim enriquecer a necessidade da
construção do programa voltado à saúde do
homem. A pesquisa se desenvolveu dentro
dos parâmetros da Resolução nº 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde que dispõe
sobre a pesquisa que envolve seres humanos
(BRASIL, 1996). Elaborou-se o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, no qual se
informa ao entrevistado a forma de
participação, com o consentimento de
participação ou não da pesquisa e, assim,
preservada a identidade do sujeito em
questão.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A saúde do homem não era
considerada uma preferência das políticas
públicas de saúde; mas, com a necessidade
de uma maior atenção à população
masculina, esta passou a ser uma das
prioridades do governo nos últimos anos.
Sendo assim, o Ministério da Saúde elaborou
a Política de Atenção Integral a Saúde do
Homem com o intuito de atingir todos os
aspectos da saúde masculina.
A década de 70 do século passado é
considerada como o marco dos estudos norte
americanos acerca da temática "homem e
saúde". A partir dos anos 90 do século XX, a
temática em questão começou a ser
abordada sob uma perspectiva diferenciada.
A discussão passou a refletir, dentre outros
aspectos, a singularidade do ser saudável e
do ser doente entre segmentos masculinos.
Essa abordagem veio enfocar, sobretudo, a
significação do masculino para buscar-se
uma saúde mais integral do homem. (GOMES
ROMEU; NASCIMENTO ELIANE FERREIRA
DO; 2006 apud JULIÃO, GÉSICA G.; 2011).
A política de atenção integral à saúde
do homem é regida pelos seguintes
princípios: universalidade e equidade nas
ações e serviços, humanização e qualificação
da atenção à saúde garantindo a promoção e
proteção dos seus direitos, coresponsabilidade quanto à saúde e à
qualidade de vida desta população,
orientação à população masculina, aos
familiares e à comunidade sobre a promoção,
a prevenção, a proteção, o tratamento e a
recuperação dos agravos das enfermidades
masculinas (BRASIL, 2008).
Além disso, a mesma orienta-se pelas
diretrizes da integralidade, da organização
dos serviços públicos de saúde de modo a
acolher e fazer com que o homem sinta-se
integrado, da implementação hierarquizada
da política com foco na Estratégia de Saúde
da Família, de reorganização das ações de
saúde e integração da execução da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem às demais políticas, programas,
estratégias e ações do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2008).
Uma situação alarmante para o
governo brasileiro é os altos índices de
morbimortalidade entre a população
masculina em relação à feminina, que
apontam o reconhecimento de
determinantes sociais que resultam na
vulnerabilidade da população masculina aos
agravos à saúde. Considerando que aspectos
sociais sobre a masculinidade comprometem
o acesso à atenção integral, isso pode refletir
de modo crítico na vulnerabilidade dessa
população a situações de violência e de risco
para a saúde. As principais causas destes
índices são a violência, o alcoolismo, o
tabagismo, as neoplasias, a hipertensão, a
diabete e a obesidade (BRASIL, 2008).
Em 27 de agosto de 2009 criou-se a
Portaria nº 1.944/GM que instituiu a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde do
Homem e considerando a Portaria nº
1.945/GM, de 27 de agosto de 2009, que
reformula os procedimentos urológicos da
tabela de procedimentos, medicamentos,
órteses/próteses e materiais especiais do
SUS.
Suas ações estarão concentradas nos
homens na faixa etária de 25 a 59 anos, o que
corresponde a 41,3% da população
masculina ou a 20% do total da população do
Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 2005.
Além disso, a política estará também
integrada às outras políticas de saúde do país,
166
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
sobretudo à Política Nacional de Atenção
Básica, em harmonia com o Programa de
Saúde da Família, priorizando o serviço da
Atenção Primária do SUS (BRASIL, 2009).
No entanto, a política, na maioria dos
casos, ainda está restrita no âmbito teórico e
com poucas aplicações práticas. De acordo
com a proposta apresentada pelo Ministério
da Saúde para a Política da Saúde do Homem,
as justificativas apresentadas centram-se nos
dados dos sistemas de informações do SUS,
os quais informam que, devido a sua
vulnerabilidade, os homens apresentam
custo maior para o sistema de saúde, devido
ao fato de que são mais suscetíveis às
doenças, acidentes de trânsito, enfermidades
graves e crônicas. Tais dados apontam para a
menor expectativa de vida dessa população
com relação às mulheres. Outra questão
apontada pelos homens para a não procura
pelos serviços de saúde está atrelada a sua
posição de provedor, alegando que o horário
do funcionamento dos serviços coincide com
a carga horária do trabalho (BRASIL, 2009).
Figueiredo (2005) aponta que o modo
de atendimento e a dificuldade de acesso às
Unidades Básicas de Saúde (UBS) fortalece
que o homem se distancie do serviço de
saúde. O tempo de espera pela consulta
também atrapalha a realidade masculina.
Esse afastamento, a ausência de programas
ou estratégias direcionadas aos homens,
beneficiando a maior dificuldade de interação
entre a população masculina e os serviços de
saúde.
Outro problema é em relação ao
preconceito em relação ao homem, pois a
saúde do homem ao longo dos anos foi pouco
discutida e abordada, implicando ao mesmo
de não ser assistido e o não cuidado (BRAZ,
2005). Sendo necessário que os serviços de
saúde enfrentem esta situação identificando
as necessidades de saúde dos homens e
intervindo com ações preventivas e de
promoção à saúde (FIGUEIREDO, 2005).
De acordo com Gomes, Nascimento e
Araújo (2007), Braz (2005) os serviços de
saúde têm uma falha em absorver a demanda
apresentada pelos homens, proporcionada
pela não estimulação ao acesso destes
homens nos serviços de saúde e pelo fato das
campanhas de saúde pública não se voltarem
p a r a e s t a p o p u l a ç ã o . To r n a m - s e
imprescindíveis mudanças nas táticas dos
serviços de saúde e na abordagem
relacionadas aos homens.
Na organização dos serviços de saúde
pode ser evidenciada uma complexa teia de
relações que envolvem três dimensões que
interagem entre si, a saber: 1) os homens na
qualidade de sujeitos confrontados com as
diferentes dimensões da vida; 2) os serviços
na maneira como eles se organizam para
atender os usuários considerando suas
particularidades; e 3) os vínculos
estabelecidos entre os homens e os serviços e
vice-versa (BRASIL, 2009).
As causas do aumento das taxas de
morbidade masculina poderiam ser
controladas através de práticas cotidianas de
promoção à saúde, destaca Figueiredo
(2005). Essa atenção mais específica
produziria melhor conhecimento das
necessidades masculinas, tanto por parte dos
profissionais quanto dos próprios homens
(GOMES, 2003).
Segundo dados do Ministério da
Saúde, 68% das mortes registradas são
acometidas na faixa etária de 20 e 59 anos no
Brasil, ou seja, a cada três óbitos de pessoas
em idade adulta, aproximadamente dois são
de homens (incluindo aí as mortes por causas
externas, como as causadas pela violência).
Além disso, estatísticas do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) mostram
que a expectativa de vida dos homens (69,8
anos em média) é 7,6 anos menor do que a
das mulheres.
Para Carrara, Russo e Faro (2009), os
homens não são captados pelos serviços de
atenção primária, como ocorre com as
mulheres, idosos e crianças. Sua entrada no
sistema de saúde se daria principalmente
pela atenção ambulatorial e hospitalar de
médias e altas complexidades, configurando
um perfil que favorece o agravo da morbidade
pela busca tardia ao atendimento. Isto
confirma que culturalmente, os homens
buscam por serviços de saúde quando o
problema já está instalado, perpetuando a
visão curativa do processo saúde-doença e
deixando de lado as medidas de prevenção e
de promoção da saúde disponíveis na
atenção primária.
Dentre os serviços oferecidos nas UBS,
as únicas ações voltadas especificamente à
população masculina são as de prevenção do
câncer de próstata, atingindo principalmente
homens com idade igual ou superior a 40
167
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
anos. Isto significa que não há serviços
oferecidos à população masculina, exceto a
dosagem de Antígeno Prostático Específico
(PSA), exame de sangue que pode detectar o
câncer de próstata. Os programas de
acompanhamento de hipertensos e
diabéticos que conseguem captar a
disponibilidade dos homens acabam atraindo
somente os idosos, principalmente por conta
do horário que são desenvolvidos.
Públicas de Saúde do Homem,
aproximadamente 75% das enfermidades e
agravos dessa população estão concentradas
em cinco grandes áreas especializadas:
cardiologia, urologia, saúde mental,
gastrenterologia e pneumologia.
Conforme dados do DATASUS, em
2010 no RS, na área de cardiologia houve um
total de 11.445 óbitos, e as patologias que se
destacaram foram de doenças isquêmicas do
coração com 4.232 óbitos, logo em seguida
vêm doenças cerebrovasculares com 3.800
óbitos e infarto agudo do miocárdio com
3.152 óbitos. Prevalecendo em homens com
idade maior de 70 a 79 anos. Nessa faixa
etária há maior incidência de fatores de risco
(tabagismo, sedentarismo, obesidade, etc.),
bem como de doenças crônicas (Diabetes
Mellitus, Hipertensão Arterial Sistêmica,
Dislipidemias, associadas ao nível de
Colesterol).
Entre as doenças do aparelho
respiratório houve 4.994 óbitos. Os maiores
índices que apareceram foram doenças
crônicas das vias aéreas inferiores com 2.602
óbitos e pneumonia com 1.519 óbitos. O
tabagismo é conhecido fator de risco para
doenças do aparelho respiratório.
As patologias do aparelho digestivo
que se destacaram foram doenças do fígado
com 1.160 óbitos, fibrose e cirrose com 447
óbitos. Sendo maior em homens com idades
entre 50 a 59 anos, e o risco aumenta com o
aumento da idade. As doenças alcoólicas,
hepáticas (Cirrose, Fibrose) afetam
consideravelmente os homens mais velhos.
Doenças do aparelho geniturinário
aparecem a insuficiência renal com 470
óbitos. E, por fim, os transtornos mentais e
comportamentais aparecem no uso de
substâncias psicoativas com 479 óbitos, e
transtornos devido ao uso de álcool 371
óbitos. Os maiores índices aparecem na faixa
etária de 50 a 59 anos.
No quadro a seguir, encontram-se as
principais causas de Morbidade Hospitalar do
SUS, no estado do Rio Grande do Sul, 2011 e
2012.
QUADRO 1: Morbidade Hospitalar em
um Município do RS – jan. 2011 a set. 2012
A presente Política enfatiza
a necessidade de mudanças
de paradigmas no que
concerne à percepção da
população masculina em
relação ao cuidado com a
sua saúde e a saúde de sua
família. Considera essencial
que, além dos aspectos
educacionais, entre outras
ações, os serviços públicos
de saúde sejam organizados
de modo a acolher e fazer
com que o homem sinta-se
parte integrante deles
(BRASIL, 2009, sp.).
Em detrimento disso, é necessário que
os profissionais de saúde, em relação à saúde
do homem, adotem formas diferentes de
pensar; rompam com atitudes, crenças e
valores cristalizados ao longo de sua
formação profissional e social e incorporem
novos conceitos pertencentes à saúde do
homem para, consequentemente, agirem de
uma nova maneira, estimulando este homem
para que ele se incorpore ao serviço de saúde
(ALVARENGA, WILLYANE A; SILVA, SIMONE
SANTOS E; 2010).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
No que diz respeito à implementação
dessa política na área de abrangência da
Coordenadoria Regional de Saúde (CRS),
essa ainda se encontra restrita à construção
conceitual proposta em concepção. As
justificativas sobre a não execução da política
recaem sobre a falta de ações e informações
para que a mesma seja efetivada, bem como
a capacitação da equipe de saúde.
Desse modo, foram levantadas várias
inquietações relacionadas aos motivos para a
existência dessas lacunas bem como a baixa
participação masculina nas ações de
promoção da saúde.
Segundo o manual de Políticas
168
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
.
Fonte: Maders, Scherer, Viana, 2012.
No terceiro lugar estão os transtornos
mentais e comportamentais (565 casos). Nas
ocorrências de transtornos mentais,
aparecem transtornos mentais e
comportamentais devido ao uso de álcool e
transtornos mental e comportamental devido
ao uso outras de substâncias psicoativas.
Em seguida, doenças do aparelho
circulatório (471 casos). Nos casos de
doenças do aparelho circulatório, destacamse insuficiência cardíaca; logo em seguida,
vêm outras doenças isquêmicas do coração e
acidente vascular cerebral não específico
hemorrágico ou isquêmico.
Em quinto estão as doenças do
aparelho geniturinário (330 casos). Nos casos
de doenças do aparelho geniturinário
aparecem insuficiência renal, urolitíase e
hiperplasia da próstata.
Posteriormente, algumas doenças
infecciosas e parasitárias (324 casos). Nas
ocorrências de doenças infecciosas e
parasitárias está a septicemia. Por último
estão as neoplasias (262 casos), os casos de
neoplasias serão apresentados no quadro
abaixo.
QUADRO 2: Morbidade Hospitalar das
Neoplasias em um Município do RS – Jan
2011 a Set. 2012.
Quadro 01: Mortalidade hospitalar em
um município no estão do Rio Grande do Sul –
Jan 2011 a Set 2012.
Os dados analisados são do período de
janeiro 2011 a setembro de 2012 e traz as
principais causas de morbidade hospitalar na
população masculina em um município do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
A maior porcentagem de ocorrências
observada deu-se em doenças do aparelho
respiratório (1.103 casos). Entre os casos de
doenças do aparelho respiratório, as que se
destacam são as pneumonias; logo em
seguida vêm as bronquites, enfisema e outras
doenças pulmonares obstrutivas crônicas.
Em segundo lugar está as doenças do
aparelho digestivo com (600 casos). Nos
casos de doenças do aparelho digestivo, as
que se sobressaem são doenças do apêndice,
hérnia inguinal e, também, colelitíase e
colecistite.
Também em segundo lugar estão
lesões de envenenamento e algumas outras
consequências, causas externas (600 casos).
Nos casos de lesões, envenenamento e
algumas outras consequências, causas
externas aparecem, fratura de outros ossos
dos membros e traumatismo intracraniano.
169
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quanto mais precocemente a doença for
detectada, aumenta as chances de cura.
Conforme observado, as neoplasias de
esôfago ocupam o terceiro lugar na lista de
morbidade. Por ser a análise do noroeste do
RS, está relacionada à tradição gaúcha, ouso
do chimarrão é preparado na cuia à base de
erva-mate e o líquido que se ingere é o
preparo de água fervente, sugado através de
uma bomba metálica.
Segundo FAGUNDES (2005) "Entre os
que fumam e tomam chimarrão, o índice era
ainda maior".
Fonte: Maders, Scherer, Viana, 2012.
Quadro 02: Mortalidade hospitalar da
Neoplasia em um município no estado do Rio
Grande do Sul – Jan 2011 a Set 2012.
Os dados analisados do período de
janeiro 2011 a setembro de 2012, com as
causas de morbidade hospitalar das
neoplasias por local de internação na
população masculina em um município do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
As maiores ocorrências de morte por
neoplasias observadas no quadro acima são
as neoplasias maligna de reto, ânus e canal
anal (31 casos); em segundo lugar está
neoplasia maligna de traqueia, brônquios e
pulmão (26 casos); em terceiro lugar, está
neoplasia maligna do esôfago (22 casos); em
quarto lugar esta as neoplasias malignas do
lábio, cavidade oral e faringe (18 casos); mais
abaixo está neoplasia maligna de próstata
(17 casos); e na mesma posição estão as
outras neoplasias malignas em locais não
definidos ou não especificados.
Entre os casos de neoplasias, as de
maior incidência são as de reto, ânus e canal
anal. Devido as maiores causas do homem
não realizarem os preventivos, a falta de
informação e o preconceito, sendo o maior
inimigo da prevenção, mas isso vem
evoluindo, devido à criação de alternativas
para diagnóstico, como o exame de sangue e,
além disso, ao aumento do risco de outras
doenças e o receio ao câncer vem levando os
pacientes a buscarem os serviços de saúde,
O câncer de esôfago é a
sexta causa de morte por
doença no mundo. Se forem
considerados somente os
p a í s e s
e m
desenvolvimento, este tipo
de câncer aparece como a
quarta causa de óbito. O Rio
Grande do Sul, onde muitas
pessoas mantêm o hábito
de tomar chimarrão, é o
estado com os maiores
índices de câncer de
esôfago no Brasil (BARROS;
et al., 2000, p. 25).
Também foram analisados dados da
morbidade no mesmo período dos dados
anteriores que mostram a faixa etária dos
homens que mais são acometidas. Os
maiores índices são de neoplasias malignas
dos brônquios e pulmões, da idade entre 60 a
79 anos com total de 13 casos, neoplasia
maligna de reto, ânus e canal anal entre 50 a
69 anos com 10 casos, neoplasias maligna da
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confundido por orquiepididimites, que são
inflamações dos testículos e dos epidídimos,
geralmente transmitidas sexualmente
(INCA). A baixa incidência o câncer de
testículo é pouco trabalhado nas UBS, pode
ser um dos fatores que prejudica na
identificação precoce da patologia.
Os principais fatores de risco para o
desenvolvimento de câncer de testículo são:
histórico familiar, lesões e traumas na bolsa
escrotal e a criptorquidia. Na infância, é
importante a realização do exame para
verificar se ocorreu normalmente a descida
dos testículos para a bolsa escrotal.
Participou deste estudo um homem de
28 anos acometido pelo Câncer de Testículo
em metástase retro peritoneal, que na
trajetória de tratamento aceitou responder às
questões formuladas pelas autoras com a
intenção de entender os anseios frente à
enfermidade e enriquecer a necessidade da
construção do programa voltado à saúde dos
homens. Estava presente também sua
esposa que prontamente o ajudou a
responder.
Questionado o porquê de ter adiado a
procura médica, ele respondeu que um
pouco foi devido à vergonha, ao desleixo e
também à falta de informação.
“Faltou isso pra mim, orientação.
Se eu tivesse tido informação não teria
esperado tanto tempo e não estaria
nesse estado” (2012).
próstata entre 70 a 79 anos, total de 7 casos e
as neoplasias malignas de esôfago, entre 50
a 69 anos, total de 3 casos. Portanto, pode-se
perceber que as neoplasias atingem
principalmente homens mais velhos, devido
aos fatores de risco e também a não
orientação a estes homens para a prevenção,
que precisaria ser realizada nas UBS.
Segundo dados do Ministério da
Saúde, o câncer de próstata no Brasil aparece
em segundo lugar em causador de mortes,
atrás de tumores ligados ao aparelho
respiratório (traqueia, brônquios e pulmão).
Quanto ao registro de novos casos, o
câncer de próstata também é vice, desta vez
atrás de tumores de pele, não melanoma.
Dados do Instituto Nacional de Câncer
(INCA) revelam que, em 2009, cerca de 12
mil homens morreram vítimas do câncer de
próstata. Para este ano, a estimativa é de 60
mil novos casos da doença. Sendo possível
afirmar que o câncer de próstata nos homens
se equivale ao câncer de mama em mulheres,
quando se considera o número de casos.
Igualmente as neoplasias de pênis e
testículo também ganham grande
repercussão ao sistema público de saúde. O
primeiro caso corresponde a 2% das
neoplasias detectadas no público masculino,
e o segundo, a 5%. Infelizmente, o Brasil é o
campeão mundial do câncer de pênis e
aparece como o país com maior incidência da
d o e n ç a , s e g u n d o l e va n t a m e n t o d a
Sociedade Brasileira de Urologia. O tumor de
testículo avança dramaticamente na
população jovem. É a neoplasia sólida mais
frequente nos homens entre 15 e 35 anos
(VIEIRA, SÉRGIO; 2012).
Quando criança morava no interior
com seus pais, o que para ele é um dos
motivos que o fez procurar muito pouco os
serviços de saúde, pois foi educado a usar
métodos alternativos, como chás, ervas, etc.,
quando adoecia.
5. ENTREVISTA
Segundo o Instituto Nacional do
Câncer, dentre os tumores malignos do
homem, 5% ocorrem nos testículos. O
câncer de testículo atinge principalmente
homens entre 15 e 50 anos de idade,
considerando-se casos raros. Sua incidência
é de três a cinco casos para cada grupo de
100 mil indivíduos.
Comparando com outros cânceres que
atinge o homem, como o de próstata, o
câncer de testículo apresenta baixo índice de
mortalidade. Devido à maior incidência em
pessoas jovens e sexualmente ativas
possibilita a chance do câncer de testículo ser
De modo geral, a formação
cultural influencia muitos
aspectos da vida das
pessoas, inclusive suas
crenças, comportamentos,
percepções, emoções,
linguagem, religião, rituais,
estrutura familiar, dieta,
modo de vestir, imagem
corporal, conceitos de
tempo e espaço e atitudes
frente à doença, à dor e a
outras formas de infortúnio
– podendo, todos, terem
importantes implicações
para a saúde e para a sua
assistência ( HELMAN,
171
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
2003, p.13).
e estimula a auto cura do
organismo para que o corpo
inicie o processo de
eliminação. Através do
micro palpação o
fisioterapeuta procura no
corpo onde estas memórias
se instalaram e então realiza
manualmente atos que
simulam a agressão e
estimulem o corpo a
eliminar a doença
promovendo a saúde
(ROCHA, VIVIANE; 2012,
sp.).
O participante relatou também que
após a realizar umas das cirurgias, muitos
homens, amigos, colegas de trabalhos,
conhecidos, procuraram-no para tirar
dúvidas, contaram-lhe que também tinham
suspeitas.
Gomes et al. (2008) indicam ações que
sensibilizem os homens sobre a detecção
precoce de neoplasias, além de explicar sobre
as formas de detecção, estimulando a
procura pela atenção primária. O enfermeiro
pode desenvolver o papel importante na
educação para a saúde através de ações
educativas de promoção da saúde e
prevenção de doenças, esclarecendo dúvidas
e incentivando os homens a se cuidarem,
assim como é desenvolvido com crianças,
mulheres e idosos através de programas e
outras atividades (ALBANO E BASÍLIO, 2010).
Referente às políticas voltadas para a
Saúde do homem, o participante acredita que
seria de muito valor, pois assim incentivaria o
homem a procura mais os serviços de saúde,
evitaria que chegasse ao extremo da doença,
para só então começar a tratá-la e, muitas
vezes, evitariam passar por todo o sofrimento
que ele passou e esta passando.
“Deveria ter um trabalho de
conscientização em todas as empresas
para os homens em particular” (2012).
Também o participante relatou que
procurou ajuda espírita, o Reiki, e até fez
algumas sessões de microfisioterapia.
Po r t a n t o , f a z - s e n e c e s s á r i a a
realização de discussões mais amplas de todo
o contexto no qual o homem está inserido,
uma vez que o maior desafio das políticas
públicas não é somente incluir o homem nos
serviços de atenção primária, mas também
sensibilizá-los sobre a importância do cuidado
e da inexistência de invulnerabilidade. Nas
situações em que o homem procura os
serviços de saúde, aproveite-a de diferentes
maneiras para garantir que o homem crie o
hábito de utilizar os serviços existentes de
forma rotineira e que diferentes meios sejam
utilizados para alcançá-los através de ações
de educação para a saúde dentro e fora do
dos serviços de saúde.
6. CONCLUSÃO
A introdução de políticas pública para
os homens não teve o mesmo percurso como
ocorreu com as crianças, mulheres e idosos,
os indicadores sustentam a mortalidade por
doenças preveníveis ao público masculino
que não adere segundo as estatísticas à
consciência da prevenção (LEDUR, 2009).
Assim sendo, muitos agravos
poderiam ser evitados caso os homens
realizassem, com regularidade, as medidas
de prevenção primária. A resistência
masculina à atenção primária aumenta não
somente a sobrecarga financeira da
sociedade, mas também, o sofrimento físico e
emocional do paciente e seus familiares na
luta pela conservação da saúde e da
qualidade de vida dessas pessoas (FREITAS;
BIAGOLINI, 2011).
A compreensão das barreiras
socioculturais e institucionais é importante
para a proposição estratégica de medidas que
venham a promover o acesso dos homens aos
serviços de atenção primária, a fim de
proteger a prevenção e a promoção de
Reiki pode ser então
definido como “a arte e a
ciência da ativação, do
direcionamento e da
aplicação da energia vital
universal, para promover o
completo equilíbrio
energético, para prevenção
das disfunções e para
possibilitar as condições
necessárias a um completo
bem estar” (Espaço ABR,
2012, sp.).
Os cuidados alternativos são um
conjunto de técnicas e produtos que fogem
da medicina convencional, e vêm cada vez
mais conquistando pessoas.
A microfisioterapia é uma
técnica manual que
identifica a causa primária
de uma doença ou sintoma
172
REVISTA SETREM - Ano XII nº 22 - JAN/JUN 2013 ISSN 1678-1252
formas necessárias e fundamentais de
intervenção (FREITAS; BIAGOLINI, 2011).
Mobilizar a população dos homens
pela luta e garantia de seu direito social à
saúde é um dos desafios dessa Política. Ela
pretende tornar os homens protagonistas de
suas demandas, consolidando seus direitos
de cidadania.
Segundo os dados epidemiológicos
apontados no presente estudo, os homens
morrem mais cedo que as mulheres, sendo
um dos motivos principais, a pouca procura
pelo serviço de saúde. Foi possível verificar
também que o homem está vulnerável diante
das patologias ditas masculinas, ainda mais
as que envolvem a sua masculinidade.
Pôde-se perceber que 75% das
enfermidades e agravos dessa população
estão concentradas em cinco grandes áreas
especializadas: cardiologia, urologia, saúde
mental, gastrenterologia e pneumologia.
Sendo que no município analisado no
período indicado, os casos de mortalidade
apresentaram na área de cardiologia um total
de 11.445 óbitos, nas doenças do aparelho
respiratório houve 4.994 óbitos, no aparelho
digestivo que se destacaram foram doenças
do fígado com 1.160 óbitos, doenças do
aparelho geniturinário aparecem a
insuficiência renal com 470 óbitos. E, por fim,
os transtornos mentais e comportamentais
aparecem: uso de substâncias psicoativas
com 479 óbitos, e transtornos devido ao uso
de álcool, 371 óbitos.
Nos casos de morbidade prevaleceram
as doenças do aparelho respiratório com
1.103 casos; logo em seguida vêm doenças
do aparelho digestivo, 600 casos, igualmente
esta, lesões de envenenamento e algumas
outras consequências, causas externas;
transtornos mentais e comportamentais
apresentam 565 casos; doenças do aparelho
circulatório, 471 casos; doenças do aparelho
geniturinário, 330 casos; doenças infecciosas
e parasitárias, 324 casos.
Nas neoplasias houve um total de 262
casos, entre as que prevaleceram foram
neoplasias malignas de reto, anus e canal
anal, 31 casos; neoplasia maligna de
traqueia, brônquios e pulmão, 26 casos;
neoplasia maligna do esôfago, 22 casos;
neoplasias malignas do lábio, cavidade oral e
faringe, 18 casos; neoplasia maligna de
próstata, 17 casos; igualmente estão as
neoplasias malignas em locais não definidos
ou não especificados.
Os resultados deste trabalho afirmam
o desfavorecimento quanto a programas de
saúde direcionados para os homens. Através
da entrevista com o participante, pôde-se
observar que os homens sentem dificuldades
de procurar os serviços de saúde por estarem
inseridos culturalmente na sociedade em que
o homem é o provedor e o adoecimento
acarreta fraqueza. No discurso do
participante foi possível perceber a demora na
procura pelos serviços de saúde,
demonstrando uma negação ao adoecer.
Po r t a n t o, p r e c i s a - s e a d i c i o n a r
qualidade de vida à população masculina, no
aspecto do cuidado com a saúde, sendo a
criação de programas de saúde voltados para
atender os homens, a forma de alcançar a
qualidade de vida, atendendo assim as suas
necessidades em um contexto igualitário
tanto para homens, quanto para mulheres
(KOGLER, 2007).
Segundo Braz (2005, p.103) “A mulher
paga com a desvalorização de seu papel
social, e o homem paga com sua vida”.
Atualmente, os homens também são
oprimidos pela sociedade. E necessário
repensar sobre as questões levantadas em
relação à saúde do homem, mudando o seu
enfoque, que não beneficie apenas um dos
lados.
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