Observatório de Política Externa Brasileira - Nº 41 04/03
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Observatório de Política Externa Brasileira - Nº 41 04/03
OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA - Observatório de Política Externa Brasileira Nº 41 04/03/05 a 10/03/05 José Dirceu se encontra com Condoleeza Rice O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, em visita aos Estados Unidos, se reuniu com a Secretária de Estado, Condoleeza Rice e com o Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Steven Hadley. Para Dirceu os encontros, foram uma “afirmação das boas relações entre Brasil e Estados Unidos e do bom entendimento entre os presidentes Bush e Lula". Em um relato sobre sua visita, Dirceu disse que houve uma compreensão, por parte do governo americano, de que a integração sul-americana, tão defendida pelo presidente Lula, não se trata de um projeto antiamericano. Dirceu salientou aos seus interlocutores que a integração econômica da América do Sul seria vantajosa para o EUA, uma vez que, este possui forte presença econômica na região. O ministro ressaltou que, em suas conversas em Nova York e Washington, encontrou bons sinais para a retomada das negociações da Área de Livre Comercio das Américas (ALCA). Condoleeza Rice afirmou que os EUA vêem com bons olhos a realização da reunião de cúpula entre os países do Mercosul e as nações árabes. Por fim, José Dirceu reiterou a expectativa do presidente Lula em receber, no Brasil, o presidente norte-americano George W. Bush. (O Estado de S. Paulo - Nacional 04/03/05; O Globo - O País - 04/03/05). Brasil obtém vitória definitiva na OMC A Organização Mundial do Comércio (OMC) deu ganho de causa, em definitivo, ao Brasil no contencioso contra os subsídios pagos à produção e exportação de algodão nos EUA. A OMC reconheceu ainda que são distorcidos os subsídios embutidos no financiamento aos produtores americanos de soja, milho e arroz. Segundo Roberto Carvalho de Azevedo, coordenador-geral de contenciosos do Itamaraty, a decisão favorece outros países produtores de algodão, como os africanos, fortemente afetados pelos subsídios, além de ter importante impacto nas discussões da Rodada Doha, pois trará melhor “entendimento as partes das disciplinas protecionistas”. Até agora, os Estados Unidos e a União Européia têm alegado que cumprem as restrições ao protecionismo determinadas pela OMC. Os Estados Unidos manifestaram o desejo de debater o corte do subsídio, mas o governo brasileiro afirmou que conversará apenas sobre a realização da implementação e não sobre a aplicação do resultado. Quanto à distorção relacionada à soja, o governo brasileiro reunirá, nas próximas semanas, as partes interessadas e os principais especialistas em disputas comerciais do Itamaraty a fim de avaliar a possibilidade de um novo painel contra os norte-americanos. Nas disputas com a UE referentes aos subsídios ao açúcar, a OMC reuniu, entre os dias 06 e 07 de março, as partes envolvidas a fim de finalizar o contento. Em OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA primeira instância, toda a argumentação do Brasil foi acatada, apesar da alegação de “equívoco” da arbitragem, expressada pela UE. Como medida de segurança, o Brasil pediu então que o caso fosse analisado a partir do Acordo de Subsídios e Medidas Compensatórias. (Folha de S. Paulo – Brasil – 04/03/05; O Estado de S. Paulo – Economia – 04/03/05; O Estado de S. Paulo – Economia – 07/03/05; O Estado de S. Paulo – Economia – 08/03/05; O Globo – Economia – 04/03/05; O Globo – Economia – 05/03/05). Impasse na preparação para a retomada das negociações da Rodada Doha Em reunião preparatória para a retomada das negociações da rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), que será realizada na próxima semana, o Brasil foi acusado de ter sido, em parte, responsável pelo desentendimento no primeiro dia de reuniões. As acusações se devem ao fato do país negar avanços nas concessões para a liberalização comercial de produtos industriais e de serviços, sem que se obtenha avanço no setor agrícola. Para o chefe da delegação brasileira, o embaixador Clodoaldo Hugueney, o Brasil apenas defendeu sua tradicional linha diplomática, que condiciona os avanço na liberalização do setor industrial e de serviços aos avanços na agricultura. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, analisou a reunião como positiva devido a superação de divergências técnicas no setor agrícola da Rodada de Doha, e como momento propício para apresentação de novas propostas. (O Estado de S. Paulo – Economia – 04/03/05; O Estado de S. Paulo – Economia – 05/03/05). Ministro Celso Amorim quer mais tropas no Haiti O chanceler Celso Amorim pretende propor a ampliação do número de soldados das forças de paz no Haiti para garantir maior segurança no período de preparação das eleições. Um diplomata brasileiro foi enviado a Porto Príncipe para obter a certificação dos governos locais de que as eleições ocorram de maneira democrática, com participação da oposição. Amorim acredita que, se a ampliação do contingente for aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil terá de enviar mais tropas. O governo federal enviou quinta-feira ao Haiti 21 toneladas de alimentos doados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e 4,5 toneladas de medicamentos doados pelo Ministério da Saúde e pelo governo do Estado de Goiás. (Folha de S. Paulo – Brasil – 10/03/05; O Estado de S. Paulo – Internacional – 05/03/05). Brasil quer posicionamento do Uruguai O governo brasileiro quer coerência por parte do Uruguai no que se refere à campanha para a direção da Organização Mundial do Comércio. Ambos, mais outros dois países, que indicaram candidatos ao cargo máximo do comércio OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA internacional, não firmaram acordo sobre um nome único para a candidatura. A Argentina revelou estar suspendendo o apoio que prometera ao uruguaio. (O Estado de S. Paulo – Economia – 05/03/05). Estados Unidos rejeitam direitos da mulher Durante conferência em Nova Iorque, ministras de diversos países votaram contra a intenção dos Estados Unidos de reabrir a discussão sobre direitos sexuais e reprodutivos da mulher, reconhecidos há dez anos em Pequim. A delegação norteamericana queria aprovar uma emenda que afirmava não ter sido criado um novo direito internacional na China e que a ONU não recomenda a legalização do aborto. O Brasil, como Mercosul e associados, ficaram contra a decisão dos EUA, assim como países da África, União Européia, Cuba, entre outros. Após os EUA terem retirado a proposta, foi aprovada uma declaração de que a plataforma de Pequim foi aprovada por consenso. Segundo a ministra Nilcéia Freire, representante do Brasil na conferência, a declaração diz que as suas recomendações devem ser implementadas dentro das normas legais de cada país e os assuntos mais polêmicos serão tratados na Reunião do Milênio em setembro. (O Globo – o Mundo – 05/03/05). Mercosul e UE voltam a negociar no fim do mês O chanceler brasileiro, Celso Amorim e o comissário do Comércio da União Européia, Peter Mandelson, acertaram que os debates entre técnicos da UE e do Mercosul continuarão no fim de março e que terão como base as melhores ofertas de liberalização já realizadas entre os dois blocos. Mandelson, porém, deixou claro que não pretende fazer uma nova proposta de abertura no setor agrícola. (O Estado de S. Paulo – Economia – 05/03/05). Financiamento de terror no Brasil preocupa Estados Unidos O último relatório anual dos Estados Unidos sobre o controle internacional de narcóticos criticou o Brasil por não criar uma legislação contra o financiamento do terrorismo e pela frágil proteção da fronteira, qualificando o país como corredor de drogas. Em contrapartida, afirmou que a cooperação entre os dois países para combate ao narcotráfico caminha de maneira eficaz. O governo norte-americano também disse que o Brasil deveria tornar-se membro da Convenção das Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo e da Convenção da Organização dos Estados Americanos sobre o Terrorismo. No entanto grande parte dos países, inclusive os Estados Unidos, ainda não ratificaram esses acordos. O Itamaraty informou que as duas convenções foram assinadas pelo Brasil e tramitam no Congresso para ratificação. Washington voltou a lançar suspeitas de atividade terrorista na Tríplice Fronteira, mas o Brasil insistiu em que OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA não há provas da existência deste tipo de atividade na região. (Folha de S. Paulo – Brasil – 05/03/05; O Globo – O País – 05/03/05). Proposta australiana ameaça acordo do Mercosul A Austrália apresentou, dia 07 de março, à Organização Mundial do Comércio (OMC) uma proposta que visa aumentar de 85% para 95% o nível de intercâmbio comercial entre países que assinam acordos bilaterais. Segunda a proposta, a OMC passaria a considerar um acordo comercial como válido somente quando essa margem fosse ultrapassada, num prazo de dez anos após a entrada em vigor do tratado. A idéia, no caso, é garantir que os acordos regionais que estão sendo assinados criem novos fluxos de comércio, e não apenas desviem oportunidades de negócios. O governo brasileiro demonstrou sua temeridade, pois acredita que esse volume de comércio não seja atingido nos acordos assinados pelo país, mesmo nos que dizem respeito ao Mercosul. Segundo o mesmo, a taxa fixa para países em desenvolvimento deveria ser diferenciada. (O Estado de S. Paulo – Economia – 08/03/05). Brasil propõe que ONU redija relatório sobre Direitos Humanos O Brasil, no intuito de enfraquecer os relatórios produzidos pelos Estados Unidos e pela União Européia, sugeriu que uma avaliação anual sobre a situação dos Direitos Humanos no mundo fosse elaborada por uma comissão de funcionários da ONU. Objetivando despolitizar a avaliação e evitar a seletividade dos relatórios contra apenas um grupo de nações, o Brasil propõe que a ONU estude a situação internacional e publique seus próprios resultados. Há duas semanas, Washington anunciou sua avaliação e não poupou críticas ao Brasil. O relatório do Departamento de Estado acusou o país de ter uma polícia responsável por detenções arbitrárias e assassinatos e de ter um sistema judiciário pouco confiável. (O Estado de S. Paulo – Nacional – 08/03/05). Brasil perdeu vaga no Comitê dos Direitos da Criança Há duas semanas, o Brasil perdeu sua representação no Comitê dos Direitos da Criança, na Organização das Nações Unidas (ONU). Composto por especialistas independentes, que monitoram a implementação da Convenção dos Direitos da Criança, o comitê tem 18 integrantes e, desde sua criação, em 1993, mantinha um representante do Brasil, a diplomata Marília Sardenberg. No último dia 25, no entanto, durante a Assembléia dos Países Membros, em Nova York, a diplomata não foi reeleita – restringindo a participação latino-americana no comitê a apenas três países: Argentina, Paraguai e Jamaica. (O Estado de S. Paulo – Nacional – 08/03/05). OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA Argentina questionará proposta brasileira O governo argentino apresentará, nos próximos dias, uma série de objeções a contraproposta brasileira no caso da aplicação de mecanismos que evitem assimetrias comercias entre os membros do Mercosul. A contraproposta brasileira estabelece um sistema temporário de salvaguardas, de aplicação não-automática e que precisaria de uma decisão compartilhada das partes conflitantes. O governo argentino não parece satisfeito, pois exigirá que o mecanismo seja permanente e automático, não necessitando de consulta prévia ao outro interessado. A idéia brasileira de compartilhamento tem a intenção de evitar que uma medida protecionista tomada por um país-sócio do Mercosul seja vista no exterior como um sinal de desunião no bloco. (O Estado de S. Paulo – Economia – 09/03/05; O Estado de S. Paulo – Economia – 10/03/05). Brasil poderá ajudar missão de paz em Darfur Em visita oficial a Etiópia, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou que o Brasil está disposto a cooperar – logisticamente – com a União Africana (UA), em sua missão de paz em Darfur – região oeste do Sudão imersa em uma guerra civil que já deixou 70 mil mortos. (O Estado de S. Paulo – Internacional – 09/03/05). Brasil restringirá comércio de vinhos, arroz e farinha com a Argentina O Brasil prepara-se para tomar mediadas contra a Argentina com o objetivo de proteger os produtores nacionais de três produtos da pauta comercial dos dois países: vinhos, arroz e farinha de trigo. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento já examina a possibilidade de adotar salvaguardas para arroz e vinhos. E o Ministério da Agricultura está criando normas mais rígidas para impedir que entre no Brasil farinha de trigo com sal — tratada de forma irregular pelos argentinos como mistura para preparar pães e massas. O governo brasileiro também está estimulando acordos entre empresários dos dois países. Houve entendimento para fogões, televisores produzidos na Zona Franca de Manaus, geladeiras, alguns tipos de tecidos e suínos, mas há impasse em áreas como máquinas de lavar e calçados. A Argentina também aguarda resposta ao pedido de salvaguardas automáticas, encaminhado ao governo brasileiro pelo ministro da Economia argentino, Roberto Lavagna, em 2003.(O Globo – Economia – 10/03/05). OBSERVATÓRIO DE POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA Mesa agradece a Lula e assegura fornecimento de gás O presidente boliviano, Carlos Mesa, destacou ontem a solidariedade do colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na recente crise institucional boliviana e assegurou o cumprimento do contrato com o Brasil para fornecimento de gás. O presidente boliviano ressaltou que, apesar dos problemas ocorridos nos últimos dias, não houve nenhuma alteração nem houve um único momento de dúvida sobre o fornecimento (de gás) e o cumprimento das obrigações que a Bolívia tem com o Brasil. Marco Aurélio Garcia, assessor de política externa de Lula, disse que o Mercosul vai colaborar para reforçar a posição do presidente Mesa. Garcia reuniu-se com o chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, para debater questões bilaterais, a situação na Bolívia e o pedido de Cuba para associar-se ao Mercosul. (O Estado de S. Paulo – Internacional – 10/03/05).