Isabela Fernandes Pereira
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Isabela Fernandes Pereira
COLÉGIO OFÉLIA FONSECA SEGREGAÇÃO RACIAL NO SUL DOS ESTADOS UNIDOS Isabela Fernandes Pereira São Paulo 2012 Isabela Fernandes Pereira SEGREGAÇÃO RACIAL NO SUL DOS ESTADOS UNIDOS Trabalho realizado e apresentado sob a orientação do Professor Luis Fernando Massagardi, da disciplina de História. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus queridos pais, José Otávio e Maria de Fátima, pela paciência ao longo desse caminho. Agradeço ao meu professor orientador, Luis Fernando Massagardi, por ter sido de extrema ajuda e me escutado e orientado em todos os momentos necessários. Agradeço aos meus amigos que foram fundamentais nos últimos meses. E também, agradeço a todas as outras pessoas que leram e contribuíram de alguma forma com esse trabalho. ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................5 1.1. Divisões sociais..........................................................................................................5 1.2. Segregação.................................................................................................................5 1.3. Contexto Histórico.....................................................................................................8 1.3.1. Colonização...........................................................................................................8 1.3.2. Independência.......................................................................................................8 1.3.3. Onda abolicionista e Segunda Revolução Industrial............................................9 1.3.4. Guerra de Secessão..............................................................................................10 1.4. Consequências..........................................................................................................11 2. CAPÍTULO I..........................................................................................................12 2.1. Sul pós-abolição.......................................................................................................12 2.2. A luta pelos Direitos Civis.......................................................................................16 2.3. Os resquícios da segregação racial...........................................................................20 3. CONCLUSÃO..........................................................................................................26 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................30 INTRODUÇÃO 1.1. DIVISÕES SOCIAIS Desde os primórdios das civilizações, podemos apontar divisões sociais nas quais um grupo era considerado superior ao outro. Imperadores na Roma Antiga, senhores no feudalismo, nobres até o século XIX, donos de escravos na época da colonização... Estes colocavam a si mesmos como superiores do que os outros e os tratavam com esta diferença. A sociedade se organizava em torno dessa superioridade. Vassalos eram submissos a suseranos, escravos punidos quando desobedeciam a seus senhores e gladiadores eram jogados em uma arena para lutar até a morte com o objetivo de entreter e satisfazer seu imperador. Poucas pessoas tentavam mudar essa ideologia e, os que faziam, geralmente eram punidos de alguma forma. Nos dias de hoje, ainda vemos relações sociais que diferem as pessoas como “melhor” ou “pior”. Em muitos casos, estas ideologias estão escondida para os indivíduos continuarem vivendo no “politicamente correto”1, mas é impossível deixar de enxergar a relação de superioridade e inferioridade que a sociedade impõe entre um poderoso dono de indústria que mora em um grande condomínio de luxo e um empregado que mora em um bairro mais desfavorecido da cidade. Há diferenças sociais entre os mais diversos grupos. Neste trabalho iremos discutir uma época nos Estados Unidos no século XX na qual a relação entre negros e brancos passou do nível de diferença social e chegou a um nível de segregação racial, graças a mentalidade que impôs a superioridade branca. Mas o que é segregação? Qual a diferença de segregação racial e preconceito? 1.2. SEGREGAÇÃO A palavra segregação nos remete a termos como isolamento e separação. Segundo o dicionário Houaiss, o ato de segregar é “ato ou efeito de segregar(-se); afastamento, separação, segregamento (...) ato ou processo de separar(-se), de isolar ou ser isolado de outros ou de um corpo principal ou grupo; discriminação”. Quando relacionada ao termo 1 Politicamente correto foi um termo que surgiu no final do século passado nos Estados Unidos e acabou se espalhando para grande parte do mundo. Consiste em “condenar” algumas práticas consideradas preconceituosas, injustos e ofensivos pela moral e ética da sociedade. A expressão “afro-americano” começou a ser espalhada principalmente nessa época. 5 racial, segregação significa isolar uma parte da população que tem uma etnia considerada diferente ou inferior por um preconceito da sociedade. “Modalidade subjetiva de separação em que a minoria racial julgada inferior é apartada do convívio da maioria, que se considera etnicamente superior; discriminação racial”, ainda segundo o Houaiss. A base da segregação é impor um grupo de pessoas como melhor e, consequentemente, inferiorizar o outro, os separando e diferenciando de alguma forma. Se formos seguir a linha de pensamento do grande filósofo inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679), o ser humano nasce egoísta e é incapaz de reconhecer o outro como igual. Pensamos que somos melhores que os outros e, por isso, merecemos o melhor. Já Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) acredita que o indivíduo nasce livre de pensamentos ruins, a sociedade é a grande culpada por corrompê-lo. No livro o Contrato Social publicado em 1762, ele diz: "O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe." Sabemos que o preconceito é um conceito formado sem um conhecimento profundo, mas é a sociedade ou a natureza humana que o forma? Rousseau e Hobbes não chegaram a um consenso sobre esse assunto. Preconceito é uma ideia intolerante sobre algo baseada em alguma opinião alheia e sem ter um conhecimento prévio profundo. Ao contrário da segregação, o racismo e preconceito não são ligados, necessariamente, a uma separação física. Pelo contrário, muitos preconceituosos tentam esconder as opiniões para viver dentro do “politicamente correto” dos dias atuais. Podemos dizer que existem níveis de preconceito, desde algo mais profundo como um preconceito racial - que tem base em uma mentalidade histórica tão antiga que seria impossível datar com precisão -, até coisas mais banais e atuais como um preconceito contra uma banda que toca algum tipo de música. Não podemos diminuir a gravidade de nenhum tipo já que ambos são graves problemas da sociedade e partem da mesma ideia de “préconceito”, mas podemos ver diferenças. Os conceitos de preconceito e segregação estão dentro de uma mentalidade fechada que pode nascer com o indivíduo graças a sua natureza, como dizia Hobbes ou ser imposta pela sociedade, como já dizia Rousseau. Quando pequenos, não conhecemos o mundo e por isso queremos desbravá-lo, mas a sociedade já conhece. Essa influência pode ser fundamental para o indivíduo começar a formar sua mentalidade, que ele irá considerar como “própria”, mas que na verdade foi direcionada para ele. 6 Uma separação segregacionista nasce dessa mentalidade preconceituosa que pode ser feita e influenciada pela sociedade, imposta pelo Estado ou uma mistura de ambos. Um exemplo de separação feita pela própria sociedade é o que alguns chegam a chamar de segregação urbana. Em grandes cidades como São Paulo, podemos ver limites urbanos onde a classe alta e baixa não se misturam. Condomínios fechados, que impedem a entrada de pessoas que não foram convidadas, e shoppings que dificultam a entrada de pedestres e facilitam a entrada de carros são apenas o começo de uma cidade cheia de “bolhas”, onde apenas uma parte da população tem acesso a tudo e a desculpa utilizada é a “segurança”. A segregação por parte do Estado é uma segregação legalizada na qual leis são feitas para oficializar esse preconceito, além de proteger as pessoas que estão cometendo essa separação, já que se torna algo legal, e poder punir de forma pública quem desobedece a ideologia. Ao instituir leis que segregam, o Estado passa a colocar a mentalidade preconceituosa como certa já que a legislação costuma prezar pelo correto. A legislação coloca que quem mata e rouba deve ser punidos e, por isso, consideramos as duas atitudes erradas, mas, e quando a legislação coloca leis que legalizam o racismo? Um famoso exemplo disto foi o Apartheid (significa separação, em africâner) que aconteceu na África do Sul entre os anos de 1948 a 1994. O Estado colocou leis radicais para separar as etnias. O mundo conheceu diversas formas de separação de grupos sociais ao longo de sua história que envolviam desde religião até etnia. No sul dos Estados Unidos ocorreu uma segregação racial que repercutiu em grandes proporções no país inteiro. A grande desigualdade social entre negros e brancos foi um dos fatores que começou um grande movimento pelos Direitos Civis nos anos 60, marcando irreversivelmente a história sulista. Vimos que segregação é um sistema complexo e sério de separação que envolve aspectos sociais e ideológicos de um local. Por que isso existiu nos Estados Unidos? É difícil datar o início de uma ideologia, mas em que momento histórico essas ideias se reforçaram? Qual foi o estopim para isto? 7 1.3. CONTEXTO HISTÓRICO 1.3.1. Colonização Os primeiros europeus que chegaram a América do Norte foram os ingleses, no século XVII. Foram criadas duas empresas para explorar o território que hoje é chamado de Estados Unidos da América: a Companhia de Londres, que ficou com a parte norte, e a de Plymouth, que ficou com a parte sul. Desde seus primórdios o Sul e o Norte eram considerados distintos: no Norte, com seu clima parecido com o da Europa, se estabeleceram as chamadas colônias de povoamento – nas quais a mão de obra era familiar em minifúndios que cultivavam a policultura – já no Sul, graças a seu clima mais quente e solo fértil, foram criadas as colônias de exploração de produtos tropicais – nas quais a mão de obra era escrava em latifúndios e cultivavam a monocultura. O Norte, graças ao seu sistema mais familiar, tinha uma certa independência da metrópole, ao contrário do Sul, que era uma colônia de exploração e, portanto, mais ligada a metrópole. A Companhia de Plymouth investiu na plantação de tabaco e algodão nas terras conquistadas, produtos que eram de grande valor para a Europa naquela época. Já a Companhia de Londres cuidava de pessoas que queriam fugir da turbulenta Europa do século XVI e suas guerras religiosas. Os que não se transferiam por conta própria, assinavam um contrato de comprometimento com a Companhia para trabalhar para um empregador no Novo Mundo durante cinco a sete anos. Depois disso, sua recompensa seria a terra própria. Para quem não tinha nada, isto era um ótimo negócio e aos poucos a cultura do Norte foi se formando. O Sul, ao contrário, era um local voltado totalmente para a produção, onde a mão de obra era obrigatoriamente escrava graças à demanda de produto. 1.3.2. Independência Com o tempo, as terras do Norte e do Sul começaram a se desenvolver e o primeiro formou relações comerciais fora da metrópole. Os colonos começaram a fazer negócios com a Antilha, África, Portugal e Espanha em triângulos comerciais que nem sempre envolviam a Inglaterra. As leis de navegações inglesas não impediam o desenvolvimento dessa região, mas quando os produtos da colônia começaram a competir com os da metrópole, novos impostos e 8 taxas foram criados para as Treze Colônias, além de uma força militar que visava aumentar o controle sobre elas. Leis como a Lei do Açúcar em 1764 – novas taxas alfandegárias sobre esse produto que era fundamental para os colonos -, Lei do Selo em 1765 – obrigava os colonos a usarem selos em tudo –, as Leis Townshend – exigia que os colonos pagassem impostos sobre produtos importados – e as Leis Intoleráveis – que exigiam o fechamento do porto de Boston, a ocupação militar de Massachusetts e o pagamento de indenizações - fizeram com que o povo começasse a se rebelar e boicotar a metrópole, que reviu algumas dessas leis. Essas atitudes somadas as ideias iluministas, que estavam contagiando os colonos, fizeram com que eles começassem a se unir e se organizar militarmente em busca da independência. A chamada Guerra da Independência começou em março de 1775 e, com o apoio decisivo dos franceses – que firmaram um acordo no qual prometeram apoio em homens, armas e dinheiro – a Inglaterra reconheceu a independência americana depois de oito anos com o Tratado de Versalhes. 1.3.3. Onda abolicionista e Segunda Revolução Industrial Com as ideias iluministas se espalhando pelo mundo e causando diversas revoluções, a maioria dos países já industrializados ou em processo, começaram campanhas a favor do abolicionismo. A aceleração nos processos de produção e o aumento da industrialização em grande parte do mundo – inclusive no Norte dos Estados Unidos – graças às novas descobertas no ramo tecnológico, também foram um grande impulso para isto acontecer, já que o mundo necessitaria de novos mercados consumidores para dar conta da demanda. Em 1789, foi fundada na Inglaterra o Society for Effecting the Abolition of Slavery (Sociedade para efetivar a abolição da escravidão, em tradução livre) e o New England AntiSlavery Society (Sociedade anti escravidão da Nova Inglaterra, em tradução livre) nos Estados Unidos em 1831. No Norte, a campanha contra a escravidão crescia cada vez mais graças às ideias iluministas que já estavam bem disseminadas, ao jornal O Libertador de William Garrison e ao livro Uncle Tom’s Cabin de Harriet Beecher Stowe. Grande parte do mundo estava se preparando para a abolição desse antigo regime. Em 1833, o Reino Unido assinou o Slavery Abolition Act (Ato de Abolição da Escravidão, em 9 tradução livre), a França assinou a lei em 1848 e o Chile, que foi um dos primeiros a abolir oficialmente, assinou seu ato em 1823. Nos Estados Unidos, a abolição total só aconteceu no dia 31 de janeiro de 1865, mas os estados ao norte de Maryland aboliram entre 1789 e 1830. Vimos durante esta pesquisa que o Norte do país já estava industrializado e conseguiria sobreviver sem a mão de obra escrava, mas e o Sul? Que desde o princípio dependeu dessa mão de obra para sobreviver? O que iria acontecer? 1.3.4. Guerra de Secessão Mesmo depois da independência dos Estados Unidos, o Sul do país continuou sendo um grande latifúndio no qual a mão de obra escrava prevalecia. O lugar continuou se desenvolvendo graças ao aumento das exportações de algodão para a Europa, mas o Norte industrializado estava tomando à frente. Com dois desenvolvimentos tão diferentes, era de se imaginar que as mentalidades dos locais fossem igualmente distintas. Os sulistas queriam abaixar a taxa de importação e exportação enquanto os nortistas queriam uma proteção tarifária para que seus produtos não tivessem que competir de igual para igual com os produtos de fora; os nortistas defendiam que os novos territórios deviam ser explorados por imigrantes enquanto os sulistas ainda defendiam a escravidão; os abolicionistas do Norte começaram a ajudar os escravos que estavam nas regiões que permitiam a prática da escravidão graças ao Acordo do Mississipi a fugirem para as regiões livre. Com a onda abolicionista crescendo cada vez mais dentro do território americano, os estados do Sul começaram a se preocupar. O Compromisso de Clay, assinado em 1850, era um acordo que afirmava o Acordo do Mississipi e dava o direito para cada estado decidir se era a favor ou contra a abolição, mas com a pressão popular, logo os partidos políticos abraçaram a causa e, antes que Abraham Lincoln assumisse em 1861, os estados sulistas começaram a se rebelar contra a União. O primeiro estado escravista a se desligar da União foi a Carolina do Norte, seguido por mais 10. Estes formaram os Estados Confederados da América. 10 Estados Confederados (11) Estados da União (23) Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Virgínia ocidental, Maryland, Delaware, Sul, Geórgia, Flórida, Alabama, Nova Jérsei, Connecticut, Rhode Island, Mississipi, Louisiana, Arkansas, Texas e Massachusetts, Tennessee. Maine, Nova Iorque, Vermont, Pensilvânia, Ohio, Indiana, Kentucky, Illinois, Missouri, Iowa, Wisconsin, Michigan, Minnesota, Kansas, Oregon e Califórnia. O Sul estava em menor número de pessoas e armamento – o Norte tinha várias indústrias de armas enquanto o Sul só contava com uma. Eles tentaram invadir um parque industrial para pegar material bélico vindo da Europa, mas não obtiveram sucesso. Em 22 de setembro de 1862, o governo aboliu a escravidão nos Estados Confederados com o objetivo de atrapalhar suas estratégias e negócios comerciais. A abolição oficial foi feita em Janeiro de 1865. Alguns meses depois disso, no dia 9 de abril, o general Lee, que comandava o exército do Sul, aceitou a derrota e assinou a rendição. O Sul havia perdido a guerra. 1.4. CONSEQUÊNCIAS A abolição da escravidão nos Estados Unidos foi feita sem preparação alguma, em meio a uma guerra civil. Os estados do Norte já estavam com uma mentalidade à frente daquela que considerava a escravidão uma coisa fundamental e, por isso, para eles, foi um processo natural. Os estados do Sul estavam em uma situação diferente. Eles tinham grandes latifúndios que precisavam de uma grande mão de obra e não conheciam outra forma de trabalho, apenas aquela. Seus antepassados haviam transmitido aquela mentalidade e cultura e seus filhos, provavelmente, teriam os mesmos pensamentos. Uma mentalidade não muda da noite para o dia por causa de uma lei. O que aconteceu depois da abolição? Como o Sul lidou com a perda de seus escravos? Eles foram aceitos na sociedade? Há consequências disso hoje em dia? 11 CAPÍTULO I Os anos consecutivos a abolição da escravidão em 1865 foram seguidos de muitas revoltas por parte dos sulistas. Estes não queriam aceitar que aquele regime que havia funcionado por mais de 100 anos em terras americanas acabara oficialmente. O até então presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln, foi assassinado com um tiro na nuca durante a exibição de uma peça de teatro em Washington no dia 14 de abril de 1865, exatamente 5 dias depois que o general Robert Lee se rendeu e a derrota do sul foi oficializada. Quem cometeu o crime foi o ator dramático John Wilkes Booth, um sulista radical que decidira se vingar da derrota de sua região. Ele não fora o único neste plano de vingança; havia sido arquitetado uma ação simultânea contra outras autoridades americanas – entre elas, o vice presidente do país – mas apenas Booth fora bem sucedido. O que ocorreu nos anos seguintes foi um aumento entre a rivalidade sul e norte, acompanhado de uma intensa segregação racial por partes dos brancos, que chegou a estar registrada nas leis com Jim Crow2. 2.1. SUL PÓS-ABOLIÇÃO Com a abolição da escravidão no século XIX, os agora antigos escravos conseguiram sua alforria: ganharam sua liberdade e foram em busca de suas vidas. Mas, aqueles que lutaram tanto para a abolição continuar e não queriam outra forma de trabalho, iriam ser a favor dessa liberdade? Iriam tratar estes ex escravos como iguais? Os negros eram colocados como inferior tanto pelo aspecto religioso, como pelo aspecto “científico” e social. Muitos ministros sulistas cristãos diziam que os brancos eram os escolhidos por Deus, enquanto os negros eram amaldiçoados e, por isso, Deus apoiava a segregação. Médicos e Darwinistas Sociais que acreditavam nessa segregação, diziam que os negros tinham uma intelectualidade inferior a dos brancos. Os estados americanos tem uma grande autonomia em relação ao governo federal; e, com isso, os estados sulistas formularam leis segregacionistas para manter a diferença entre brancos e negros. As leis, que inicialmente eram apenas algumas normas usadas por alguns estados, como a medida que proibia negros de dirigirem carros pertencentes a brancos, foram 2 “Jim Crow” era o apelido dado aos negros norte americano. Esse apelido foi imortalizado por uma canção de Thomas “Daddy” Rice, um “ator” que retratava os negros de uma maneira estereotipada e discriminatória. O apelido espalhou-se rapidamente pelos Estados Unidos e virou o nome do conjunto de leis contra eles. 12 transformadas em algo mais oficial com as leis chamadas de Jim Crow, que entrou em vigor oficialmente em 1876, pouco mais de 10 anos da derrota oficial do sul. Um exemplo era a lei da miscigenação, que declarava como criminosos negros que se casassem com brancos. Esse conjunto de leis chamado Jim Crow defendia a tese “Separate, but equal” (“Separado, mas igual”). Os defensores dessas leis e membros de organizações criadas para manter e divulgar a segregação racial diziam que era direito dos negros e brancos manterem suas raças separadas, desde que fossem tratadas igualmente, o que comprovadamente não aconteceu. Ao longo do tempo, essas medidas ficaram cada vez mais restritivas; em 1880 era considerado não-branco aquele que tinha um quarto de sangue negro, mas a partir de 1890 se o indivíduo tivesse um oitavo desse sangue, ele já seria classificado como negro e deveria seguir as medidas. Muitas vezes os próprios estados não entravam em acordo e, com tal autonomia entre eles, era comum as leis variarem de um local para outro, assim como também era comum haver algumas mudanças entre as penalidades. Isso mostra outro lado do sistema: a instabilidade. Por mais que aparentasse poder, o sistema era frágil e muito suscetível. A única base política deles era o preconceito. A lei da Miscigenação era uma lei antes mesmo de Jim Crow, mas em 1868 foi omitido do estatuto de Missisippi, só voltando em 1880, já dentro do conjunto de leis oficiais e com uma mudança na pena.3 Como um sistema que mudava suas leis frequentemente poderia tornar-se absoluto e irrevogável por muito tempo? 1865: Miscigenação Era declarado crime para qualquer negro livre ou mulato casar-se com uma mulher branca. Pena: Prisão perpétua. 1868: Barrada a anti miscigenação Omitido o estatuto de miscigenação ou casamento inter-racial. 3 http://www.jimcrowhistory.org/scripts/jimcrow/insidesouth.cgi?state=Mississippi (Acessado em: 23/05/12) 13 1880: Miscigenação Revisado o código de estado que declara o casamento entre pessoas brancas e negras, mulatos, com um quarto ou mais de sangue negro como “incestuoso e inválido.” Penalidade: Multa de $500, prisão por mais de 10 anos ou ambos. Para todos terem acesso a essas leis, existia no estado do Mississippi o ‘The Laws Governing the Conduct of Nonwhites and Other Minorities’ (‘As leis que governam a conduta dos não-brancos e outras minorias’, em tradução livre) que era uma compilação das leis Jim Crow que vigoravam no estado. “Ninguém pode solicitar que uma mulher branca amamente em alas ou quartos onde haja homens negros. Será considerado ilegal que um branco se case com qualquer pessoa que não seja branca. Qualquer casamento que viole esta seção será considerado nulo. Figura 1. Placas de banheiro “só para brancos”. Nenhum barbeiro de cor poderá trabalhar para mulheres ou meninas brancas. O oficial encarregado não poderá enterrar qualquer pessoa de cor no solo usado para o enterro de pessoas brancas. Livros não deverão ser trocados entre escolas de brancos e escolas de gente de cor, mas deverão continuar sendo usados pela raça que primeiro os utilizou.”4 Para separar os locais públicos dos negros e dos brancos eram colocadas placas acima de fontes de água, entradas, saídas e banheiros. Não era apenas por meio destas que poderíamos distinguir um bebedouro voltado para negros de um bebedouro branco; em geral, os espaços Figura 1. “Sem cachorros, negros e mexicanos.” públicos dos brancos eram extremamente mais conservados e bem construídos, o que fere o princípio básico das leis (“separado, mas igual”). À medida que o tempo passava, as leis ficavam cada vez mais inerentes a sociedade e menos discutidas. Não era necessário estudar ou falar sobre isso já que parecia algo permanente. Os negros sabiam os seus lugares na sociedade e os brancos sabiam os seus 4 STOCKETT, Kathryn. A Resposta. 2ª edição, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 574p. (Página 228) 14 direitos perante a isso. Se no mundo atual, ser racista declarado é algo incomum, nos estados do sul a discriminação contra negros era aceitável e os brancos que não se aproveitavam disso eram exceções. Os negros que ousavam sair dessas regras eram frequentemente punidos com linchamentos – muitas vezes em lugares públicos para amedrontar a população – ou com atitudes ainda mais radicais como incêndios em bairros negros. “Muitos brancos disseram que apesar dos linchamentos serem desagradáveis, eles eram necessários para o sistema de justiça porque negros tem tendência a crimes violentos, especialmente o estupro de mulheres brancas.” 5 Por mais que a maioria dos linchamentos fossem feitos por civis passivos de julgamento, raramente estes eram condenados. O sistema Jim Crow era inteiramente branco: policiais, juízes, oficiais, promotores, jurados. Eles se protegiam, como no assassinato do ativista Medgar Evers. Depois de ter chego de um encontro da NAACP (National Association for the Advancement of Colored People), Evers foi assassinado na frente de sua casa. A arma do crime foi encontrada com as digitais de Byron De La Beckwith - membro do Mississippi Citizens Council - , que também foi colocado perto do local do crime por testemunhas oculares. Segundo documentos vazados da Missisippi Sovereignty Commission6, um membro da comissão conseguiu informações pessoais sobre os jurados do julgamento e entregou para o advogado de De La Beckwith, que conseguiu excluir alguns que tinham pensamentos “impróprios”, fazendo com que seu cliente fosse considerado inocente no julgamento de 1964. A infame KKK (Ku Klux Klan), cuja ideologia era manter a supremacia branca a qualquer custo, foi a principal responsável pela maioria dos grandes crimes contra negros, como o caso de James Chaney, um ativista que estava nos arredores de Mississippi durante o Freedom Summer de 1964, acompanhado de dois Figura 2. Membros do Ku Klux Klan com o “uniforme” brancos e foi morto e brutalmente torturado. 5 Myrdal, 1994, página 561. Retirado do artigo: http://www.ferris.edu/htmls/news/jimcrow/what.htm (Acessado em 06/09/12) 6 http://www.ajr.org/article.asp?id=1311 (Acessado em 29/04/12) 15 Os responsáveis por abafar casos polêmicos como estes eram jornais do estado que muitas vezes publicavam notícias falsas sobre os negros e a Mississippi State Sovereignty Commission. O jornal Clarion-Ledger, aliado dos segregacionistas na era Jim Crow, foi uma das testemunhas para a reabertura do caso de Beckwith, anos depois, quando este fora considerado culpado. A campanha para a reabertura do caso começou em 1 de outubro de 1989, quando o jornal revelou algumas irregularidades nos primeiros julgamentos. A família que estava no comando na época segregacionista era a favor desse sistema e, por isso, ajudava a comissão, mas, quando novos editores e donos entraram, eles fizeram inúmeras matérias, expondo grande parte do que o jornal escondeu naquela época.7 A famosa comissão citada acima – e também grupo de espionagem - foi criada em 1956 e tinha membros poderosos, entre eles pessoas do governo e legisladores. Estas pessoas tinham grandes recursos e faziam investimentos nesse grupo, com o objetivo de manter a segregação. Segundo o historiador Robby Luckett8, a Sovereignty Commission “tinha suas mãos em cada evento que tinha alguma coisa a ver com os direitos civis em Mississippi.” (Tradução livre) A comissão foi criada no final da era Jim Crow, onde todos poderiam ser suspeitos de alguma coisa, por isso, o grupo mantinha informantes negros e brancos, vigiando ambos os lados ainda com o objetivo de manter a “época de ouro”, como era chamada a fase da segregação por seus membros. Há rumores que haja cerca de 87000 nomes em seus documentos de investigação, inclusive dos próprios que controlavam a comissão. Após o fechamento oficial do grupo, os documentos foram selados. Selando os documentos, aqueles que apoiavam e “faziam” a segregação, estão protegidos. Seus nomes e ações foram selados até 2027, quando grande parte já não poderá ser punida pela lei ou pela reação pública. 2.2. A LUTA PELOS DIREITOS CIVIS Após tantos anos de submissão e maus tratos - sem contar os anos da escravidão negros e até mesmo brancos se revoltaram com a situação. Poderíamos dizer que isso “era de se esperar”. O mundo já havia passado por duas guerras mundiais, a ONU e os Direitos Humanos haviam sido criados, a mentalidade mundial estava mudando, assim como os conceitos de certo e errado. Os negros que tinham acesso a essas notícias, viam que essa não era a única forma de vida e os brancos das regiões mais desenvolvidas começaram a se 7 8 http://www.ajr.org/article.asp?id=1311 (Acessado em 29/04/12) http://americanradioworks.publicradio.org/features/mississippi/index.html (Acessado em 23/06/12) 16 envolver nessa luta. Protestos pequenos começaram a ganhar força; pequenas reclamações entre amigos começaram a ganhar repercussão; patrões começaram a perceber mudanças nas atitudes de empregados e, principalmente, os negros começaram a perceber que a situação não mudaria se eles não começassem a reagir. Mesmo com toda a repressão, isso começou a acontecer. As coisas começaram a mudar de fato na década de 50, mais precisamente em 1954, quando a Suprema Corte americana acabou com a segregação nas escolas após analisar o ensino voltado para o negro e o ensino voltado para o branco com o caso Brown v. Board of Education of Topeka, Kansas.9 Isso somado com as pressões externas, fez com que o governo federal declarasse a situação inconstitucional e insustentável, abolindo assim a lei que permitia tal ato. No dia 1 de dezembro de 1955, Rosa Parks, uma costureira negra, recusou-se a sair de seu lugar quando brancos entraram. Segundo a lei, brancos e negros não podiam ocupar a mesma fileira, então o motorista pediu para todos os quatro negros sentados na quinta fileira cederem seus lugares. Os três concordaram, mas Parks negou, sendo presa e, logo se tornando um dos símbolos da luta pelos direitos civis. Boicotes a ônibus em Montgomery, Alabama, começaram com o objetivo de conseguir chamar a atenção e abolir a lei que segregava o transporte público. Negros negavam-se a usar os ônibus, causando um grande déficit às empresas. Para divulgar o boicote, foram distribuídos folhetos anônimos e fiéis negros foram avisados em missas. Martin Luther King, um dos maiores nomes dessa luta, disse que “se conseguirmos 60% de cooperação, o protesto será um sucesso” (Em tradução livre) e ficou extremamente surpreso quando ônibus vazio atrás de ônibus vazio começaram a passar na frente de sua casa, escrevendo depois que “Um milagre aconteceu. A uma vez dormente e aquiescente comunidade negra está agora acordada” (Em tradução livre). Depois de muito esforço dos negros em relação ao boicote, a corte americana declarou a segregação em ônibus em Alabama como inconstitucional. Essa era a segunda batalha vencida na justiça durante a luta pelos direitos civis. Em 1960, quatro negros entraram em uma loja em Greensboro, Carolina do Norte, para comprar alguns materiais e almoçar. Eles imaginavam que não seriam servidos já que o restaurante era segregado e eles, negros. Expulsos dali, sem serem servidos, os jovens não 9 Foi um processo feito por treze pais em nome de seus vinte filhos contra a Board of Education of the City of Topeka, Kansas, dizendo que o tratamento de negros e brancos não era igual, o que feria o lema das leis Jim Crow (“Separado, mas igual”.) 17 causaram muita preocupação ao dono do estabelecimento, mas no outro dia uma maior quantidade de estudantes negros apareceu para protestar, sentando no lugar dos brancos, começando assim os “sit-ins”. Organizações que batalhavam pelos direitos civis começaram a divulgar o movimento e logo estudantes de outras cidades também estavam organizando esses protestos. James Baldwin, um famoso escritor negro, disse “Toda a África será livre antes de nós conseguirmos um copo de café” (Em tradução livre). Alguns estudantes brancos do norte que ouviram sobre esses protestos resolveram ajudar, também promovendo os “sit-ins”. Negros foram presos e um grupo de brancos tentou usar da violência para acabar com isso, mas não afetou o andamento dos protestos, que continuaram com força máxima até o Ato dos Direitos Civis em 1964 declarar inconstitucional a segregação em restaurantes. Em 1962, foi admitido o primeiro negro na Universidade de Mississippi. James Meredith conseguiu seu lugar na faculdade depois de muita batalha, ao lado do governo federal. Kennedy, presidente da época, ordenou a admissão de Meredith e mandou uma tropa para protegê-lo durantes seus anos no local. Em seu primeiro dia, os guardas tiveram que o cercar para evitar acidentes por causa dos protestos radicais dos brancos, que estavam extremamente revoltados com a atitude do governo federal. Um jornal da época narrou o episódio: “A multidão está tombando um veículo. Não tenho certeza se é uma unidade da guarda nacional ou não. Tem uma grande violência aqui nesse momento... É bem possível que a maioria dessa multidão não seja apenas composta por alunos”10 (Em tradução livre). Kennedy chegou a chamar o exército para controlar a situação e Meredith conseguiu se registrar com louvores em Ole Miss. Grande parte da população de Mississippi não entrava nas lutas pelos direitos civis, mas o episódio de James Meredith marcou o final do lado dos “acomodados” e fez surgir uma divisão sólida entre governo federal e governo estadual. À medida que as reivindicações ficaram mais sérias, era impossível permanecer em cima do muro. Ou você era segregacionista e estava ao lado da comissão ou estava contra. Esta mantinha certo controle da população para saber quem a apoiava e a ajudaria a manter a segregação e quem estava do “outro lado”, indo contra o sistema. De 1963 até 1964, inúmeros tumultos aconteceram entre brancos e negros, assim como incêndios em comunidades negras que, geralmente, deixavam pessoas mortas. A Ku Klux 10 http://americanradioworks.publicradio.org/features/mississippi/index.html (Acessado em 23/06/12) 18 Klan ficara mais violenta para tentar controlar a situação que estava ganhando cada vez mais apoio e força. Ainda em 63, Martin Luther King fez seu famoso discurso “Eu tenho um sonho” na marcha de Washington para milhares de pessoas, encorajando-as a continuar lutando por seus direitos. “Volte para Mississippi, volte para Alabama, volte para a Carolina do Norte, volte para a Georgia, volte para a Louisiana, volte para as favelas e para os guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira essa situação pode e será mudada. Não nos deixe afundar no vale do desespero. Eu digo a vocês hoje, meus amigos, que mesmo que nós estejamos enfrentando as dificuldades de hoje e de amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado nos sonhos dos americanos. Eu sonho que um dia essa nação crescerá e viverá o verdadeiro significado de seu credo.” Mais de 250000 pessoas de todo o país estavam em Washington no dia 28 de agosto para ouvir o reverendo. Ele foi um grande nome dessa luta – inclusive, morreu em nome dela. Martin foi um dos líderes do boicote de Montgomery em 1955, tornando-se presidente da Conferência da Liderança Cristã do Sul um pouco depois. Figura 3. Martin Luther King em seu famoso discurso. Durante cerca de 13 anos, foi um ativista político que promovia marchas e protestos, buscando a igualdade racial nos Estados Unidos. Ainda em seu famoso discurso, Luther King disse: "Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados pelo caráter, e não pela cor da pele." Chegou a receber o Prêmio Nobel da Paz pela sua luta, três anos antes de seu assassinato. Em Mississippi, em 1964, aconteceu o famoso Freedom Summer. Na década de 50, o estado tinha cerca de 45% de negros e apenas 5% dos que tinham idade para votar, eram registrados. Isso acontecia porque muitos tinham medo de perder seus empregos, caso o empregador ficasse sabendo. Em 1962, foi organizado o Freedom Vote que tinha como objetivo mostrar para os brancos que os negros também queriam votar e treiná-los com as 19 cédulas, até que em 1964, ano de eleição presidencial, foi organizada uma campanha maior que tinha como objetivo, além de aumentar os votos deles, estabilizar as escolas voltadas para eles, abrir centros comunitários onde essa população pudesse obter ajuda médica, entre outras medidas que lutavam pelos direitos dos negros. O resultado da luta pelos Direitos Civis aconteceu após uma verdadeira batalha contra o sistema conservador, que chegou a deixar muitos negros mortos e feridos e, ao final de tudo, mudou consideravelmente a vida de inúmeras pessoas, como da família Evers. Medgar, o chefe da família, disse que amava incondicionalmente seus filhos e faria de tudo, inclusive morrer, para tentar melhorar a vida deles; cinco dias depois, ele foi baleado na frente de sua casa por defender os direitos civis. Estes sabiam do risco que estavam correndo ao lutar pelos seus direitos, mas não pararam, mesmo com inúmeras ameaças da KKK e outros grupos isolados. Fizeram inúmeros protestos, passaram a ideia de estado para estado até conseguir o apoio do governo federal e dos habitantes do Norte. O Ato dos Direitos Civis de 64 foi aprovado pela Suprema Corte que declarou a segregação como algo inconstitucional. 2.3. OS RESQUÍCIOS DA SEGREGAÇÃO RACIAL Com a abolição das Leis Jim Crow em 1954 e a criação do Ato dos Direitos Civis em 1964, inúmeros direitos foram outorgados àqueles colocados como inferior perante a lei durante quase um século no sul do país. Assim como a Guerra de Secessão, a batalha pelos Direitos Civis, de seu próprio modo, mexeu com a estrutura do país e marcou a história, além de confrontar distintas mentalidades. Nos anos 60, o país não tinha mais a mesma evidente delimitação de pensamentos do século passado; com o passar dos anos, muitos sulistas também passaram a questionar se aquele sistema estava certo, mas ainda assim, os mais poderosos tentaram segurar a “filosofia” Jim Crow até o final, utilizando-se da força física e da intimidação. Modernizando e adaptando o contexto da Guerra de Secessão para a luta pelos Direitos Civis, estes seriam os mesmos que carregaram a bandeira dos Confederados e se negaram a incluir o negro na sociedade – ainda hoje, em Mississippi, há uma bandeira dos confederados embaixo da bandeira do país em uma praça da cidade. 20 A grande questão é: Será que com o Ato dos Direitos Civis eles iriam deixar a mentalidade de lado e acatar a nova emenda da constituição? Por mais que os tempos tenham mudado desde a guerra civil até a década de 60, essa mentalidade, pode ser passada para seus filhos e talvez netos. Bastaria a eles decidir se defenderiam um Estado com leis consideradas ultrapassadas perante a mentalidade mundial ou se contribuiriam para uma mudança de história no sul. Podemos dizer que, com a abolição de Crow e a criação do Ato dos Direitos Civis a situação melhorou por completo no sul dos Estados Unidos? Ainda existem resquícios dessa época tão perturbadora para boa parte da população? Não precisamos ir apenas aos estados sulistas durante ou depois da segregação para achar evidências de preconceito. Aliás, não precisamos sair do país para observar essa discriminação. O negro ainda é colocado como uma etnia inferior por quase todas as sociedades que tiveram um regime abolicionista. A era “politicamente correta” está tentando esconder esse lado, mas isso acontece em nosso dia a dia, sem que paremos para pensar sobre o que nos leva a coisas como essa. Se um negro está dirigindo um carro, a primeira coisa que se passa pela cabeça é que ele é um motorista de família; em filmes, o negro ainda é o estereótipo para criminoso; no esporte, eles ainda são discriminados e chamados de macacos, como aconteceu recentemente; na rua, podemos observar o medo das pessoas quando um negro se aproxima durante a madrugada... Quando discutimos sobre preconceito o senso comum chega à conclusão que: “Ainda há, mas a sociedade está melhorando muito”. Será que a sociedade está melhorando ou o preconceito está sendo escondido por nós? Rir e espalhar piadas que ridicularizam o negro é um exemplo disso. Grande parte dos humoristas discordariam ao ouvir que isso é um preconceito, mas é. A grande defesa da maioria é que as piadas são apenas brincadeiras, coisas que fazem a população rir, não pode ser considerado preconceito já que não é algo sério ou pessoal. Alguns dizem que brincam com si mesmo, levando na “esportiva”. Por que piadas com os negros e não com os brancos? Por que piadas com as mulheres e não com os homens? Porque essas são as partes da sociedade que foram submissas por muito tempo e a cultura permanece em nossa essência. Não podemos negar que as coisas melhoraram, mas também podemos dizer que ainda temos muito que evoluir. 21 Existem formas diferentes de lidar com o preconceito; o Sul dos Estados Unidos foi radicalista ao extremo quando se trata desse assunto e, até hoje, podemos ver grandes resquícios disso. Resquícios até mesmo da própria segregação racial, que agora não mais tem o apoio das leis Jim Crow, mas sim de uma parcela da população. É de se esperar que uma área tão radical sofra mais para transformar uma mentalidade que acabou fazendo sua história. A luta pelos Direitos Civis ainda não completaram cem anos; é algo extremamente recente. Muitos segregacionistas ainda estão vivos, passando suas ideias para a frente – de forma pública ou não - , como é o caso de Horace Harned. Em uma entrevista após o fim da Mississippi Sovereignty Commission e após a luta dos direitos civis ter acabado, Harned – um dos principais membros – mostrou que ainda permanecia com a ideologia de antes. Segundo ele, “A maioria dos cidadãos negros desse país devem ter um débito de gratidão com o fazendeiro sulista por tê-los trazido para cá. Do contrário, eles estariam na América do Sul ou na África.”11 (Em tradução livre) Ele também diz que isso é o que muitos brancos em Mississippi ainda pensam e, são com esses pensamentos, que podemos ver os resquícios – talvez não tão pequenos assim – de uma mentalidade ultrapassada. Mesmo com a Suprema Corte americana ordenando em 1954 a integração das escolas segregadas, ainda podemos ver a separação. A cidade de Charleston, em Mississippi, só permitiu alunos negros em suas escolas 16 anos depois da ordem oficial e, até 2008, promoviam bailes segregados de formatura; em lugares diferentes e rainhas diferentes. A cidade, cujo slogan é, ironicamente, “um bom lugar para viver”, é apenas um exemplo de como o passado ainda está presente nos dias de hoje. Em 1997, o ator Morgan Freeman12 ofereceu financiar o baile, se fosse integrado, mas a direção do colégio e os pais negaram veemente, sem dar mais explicações. Os alunos disseram que isso era um desejo dos pais e não deles. Onze anos depois, em 2008, outra oferta foi feita e dessa vez aceita pelo conselho do colégio. Morgan foi ao colégio Charleston High School fazer a oferta pessoalmente aos alunos e estes concordaram. Na frente das câmeras, não houve manifestação alguma contra, mas logo 11 12 http://americanradioworks.publicradio.org/features/mississippi/index.html (Acessado em 23/06/12) Documentário Prom Night in Mississippi (2008) 22 começaram a aparecer alunos brancos que diziam que não iriam comparecer ao baile integrado e os pais destes também ofereceram financiar o baile segregado. Ameaçados de serem processados, os pais contrataram um advogado. A defesa foi dizer que isso era apenas uma festa que eles gostariam de dar aos seus filhos que, “por coincidência”, são brancos. A diferença dos anos atuais para os anos da segregação oficial é que parte das pessoas segregacionistas não tem a mesma coragem de aparecer em frente das câmeras ou um grande número de pessoas dizendo orgulhosamente sua ideologia. O mundo condena o preconceito e eles sabem disso, apesar de não aceitar - ser racista hoje em dia pode dar cadeia, em alguns lugares do mundo. Por isso alguns ficam escondidos, repassando o preconceito com pequenas atitudes. O colégio de Charleston foi aceitar a proposta de Morgan, apenas em 2008 quando, por coincidência ou não, ele chegou com uma câmera para fazer um documentário. Será que há uma relação? A população, principalmente a branca, não gosta de discutir esse assunto. Os manuais de conduta para não negros de Mississippi foram desaparecendo com o tempo; aqueles que defendem a segregação não mais aparecem para divulgar sua ideologia como antigamente; o pensamento do mundo mudou. Olhando em termos gerais, essa ideologia é passada de pai para filho. Os pais da maioria dos brancos – e também, de alguns negros – não aprovam a interação social entre as duas etnias. A mãe de uma das meninas brancas do documentário de Freeman, declarou que sua vó sempre dizia “fomos colocados na Terra diferentes e se começássemos a integrar, não teria mais individualidade e nós todos seríamos iguais e se Deus quisesse isso, ele teria feito todos nós iguais no começo.” (Em tradução livre) O menino, que teve seu rosto escondido e seu nome modificado, disse: “Meus pais falaram para mim sobre racismo. Se você é branco, Deus gostaria que branco ficasse com branco. Se você é negro, Deus gostaria que ficasse com negro. (...) Você não pode tentar muda-los. Não alguém que é de uma geração totalmente diferente.” (Em tradução livre) O único casal inter-racial do colégio disse que perdeu muitos amigos por essa interação e uma menina cujo melhor amigo é negro, disse ter dificuldade de arranjar um trabalho, pois a cidade ainda carrega esse grande preconceito, mesmo não assumindo abertamente. 23 Ainda existe uma separação praticamente sólida entre os dois grupos étnicos. Apesar de essa nova geração estar interagindo mais entre si, os alunos podiam contar nos dedos os amigos e colegas da outra etnia. Ainda em 2010, casos peculiares de transferências de alunos chamaram a atenção do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que acusou a Walthall County School de maquiar um sistema de segregação. Segundo o departamento, a escola transferiu mais de 300 alunos, sendo a maioria branca, para outra instituição. Com isso, as classes dos colégios acabariam sendo brancas ou negras, com poucas exceções. Essas transferências foram uma forma que o colégio rural de Mississippi achou para continuar a segregação, sem ferir as leis. Segundo eles, essas medidas foram tomadas por motivos exclusivamente técnicos e não raciais. Até hoje nos Estados Unidos, existem faculdades voltadas principalmente para o público negro. A pioneira foi a Cheyney University, criada na Pensilvânia no ano de 1837, ainda no regime da escravidão. Completando 175 anos com inúmeras comemorações e chamando-se de “um tesouro nacional”, a faculdade ainda é voltada principalmente para os negros. Mesmo que carregue certo tom de separação, faculdades como esta ainda são necessárias devido ao contexto histórico-social recente que, se compararmos com a grande história de preconceito da humanidade, podemos chamar de “ontem”. O equivalente em nosso país a essas faculdades é a Faculdade Zumbi dos Palmares que, segundo o reitor em um editorial para a Folha de São Paulo13 ainda esse ano, disse que a instituição é “a primeira instituição de Ensino Superior comunitária do país, criada para inclusão do negro no Ensino Superior de qualidade no mercado de trabalho qualificado (...)”Além de “criar protagonismo e oportunidade social para o jovem negro”, ainda segundo José Vicente. Essas faculdades, involuntariamente, mostram a diferença em nossa sociedade, mas a grande questão é: Será que a população está pronta para uma sociedade totalmente igual e sem preconceito? Uma sociedade onde o negro não precise de cotas ou faculdades separadas para ter a mesma vida dos brancos? 13 VICENTE, José. Tendências/Debates: Negros e o direito. Folha de São Paulo, São Paulo, 11/set/2012. 24 A eleição do presidente Obama em 2008 reacendeu a discussão sobre preconceito nos Estados Unidos. Ele liderou as eleições em quase todos os estados, mas Hilary Clinton se deu melhor em alguns estados mais ao sul, como a Pensilvânia. Até a última boca de urna, poucos dias antes da votação, Hilary estava com 3% a mais que Obama, mas no dia de fato ela ficou com cerca de 10%, um número consideravelmente maior do que a margem de erro indica. Será que as pessoas não gostam de admitir na boca de urna que votariam em Hilary para não serem confundidas – ou descobertas – como preconceituosas? Ainda na Pensilvânia, 12% da população branca disse que a raça era fundamental na escolha de um presidente e destes, 75% votaram em Hilary. Apesar de ter conseguido uma boa votação em Kansas – um dos estados ex-segregacionistas – Obama não conseguiu em Mississippi e na própria Pensilvânia, apesar de ter sido eleito pelos Democratas. Além disso, 52% dos votantes de Mississippi dizem que Obama é muçulmano. São votações como essas que ainda mostram grande diferença entre a mentalidade das regiões dos Estados Unidos. O Norte também carrega um preconceito, mas o Sul tem uma carga histórica muito maior que ainda causa uma enorme influência na vida tanto de negros, como de brancos. Podemos classificar isso como algum tipo de segregação racial? E, ainda mais importante, as coisas irão melhorar? 25 CONCLUSÃO Como pudemos ver ao longo da discussão da questão principal, ainda há, nos estados chamados sulistas, consequências da infame segregação racial que se iniciou no século XIX e perdurou até mais da metade do século XX. Segundo o dicionário Houaiss, mentalidade pode ser explicada como “conjuntos de manifestações de ordem mental”, uma maneira de pensar. São conjuntos de ideias que ficam em nossa mente e formam nossas opiniões, controlando nossas decisões e até mesmo o que achamos certo e errado porque é a nossa maneira de pensar. Cada cultura e sociedade carregam diferentes características graças as peculiaridades de cada um e isso pode resultar em mentalidades diferentes. Até os anos 60 era correto para os que seguiam a segregação pensar de uma maneira que hoje condenamos. Era correto para eles porque havia leis que os protegiam e afirmava o que acontecia. Era uma mentalidade diferente de uma época diferente. Essa época aconteceu há cerca de 50 anos, pouco tempo se compararmos com a história mundial. Algumas pessoas que viveram durante esses anos e eram a favor do “separado, mas igual” ainda vivem e estas, olhando de uma maneira geral, não deixaram sua opinião de lado apenas porque o governo aboliu as leis e Martin Luther King conseguiu a atenção do mundo. Estas pessoas continuam passando essa “maneira de pensar” para as gerações posteriores, como o caso de Horace Harned, citado no segundo capítulo do trabalho; mesmo nos dias de hoje, ele ainda acredita que os negros deveriam ser agradecidos aos brancos por tê-los trazido da África e defende firmemente o que aconteceu em Mississippi e em outros estados do país. "Isto aqui é o Mississippi. Essa história vem da escravidão, e tem gente aqui que ainda pensa com a mentalidade antiga, não quer mudança (...). É por isso que ainda se usa a bandeira rebelde [a bandeira dos Estados escravagistas da Guerra Civil é parte da bandeira estadual]. (...)” Diz Wayne Walker, um operário da região que integra o movimento sindical. 14 Um tema da atualidade que pode servir como um exemplo para mostrar a grande diferença na mentalidade entre os estados do país é a eleição de 2012, que ocorreu na primeira terça de novembro, dia 6. Barack Obama, democrata, e Mitt Romney, republicano, batalharam 14 http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/71886-mississippi-continua-pobre-apos-obama.shtml (Acessado em: 07/11/12) 26 até o último estado para conseguir votos. O resultado final foi a vitória de Obama e, com isso, olhando em um panorama geral, conseguimos ver uma divisão de opinião entre as regiões. Os estados que eram os chamados “estados da União” e outros mais liberais, votaram em Obama. Já todos os estados que fizeram parte dos Confederados na Guerra de Secessão, menos a Flórida, que foi o estado que trouxe a definição e onde a apuração foi extremamente dramática e apertada, tiveram maioria republicana, assim como nas últimas eleições. Antes da luta pelos Direitos Civis, os sulistas eram contra o partido republicano, pois foi este que colocou Abraham Lincoln no poder, mas, depois da luta dos Direitos Civis, os sulistas preferiram a plataforma conservadora dos republicanos e os apoiam desde então. Nas duas últimas eleições, 2008 e 2012, o apoio foi mais significativo pelo fato de o candidato democrata ser negro. Figura 4. Representação dos estados americanos quando a apuração acabou, com as cores do partido democrata e republicano. Obama está sendo representado pelo tom de azul e Romney pelo tom vermelho. Disponível em: http://elections.huffingtonpost.com/2012/results Depois da vitória de Obama, estudantes na Universidade de Mississippi protestaram contra a eleição, queimando placas do presidente reeleito e bloqueando ruas até que a polícia conseguiu controlar a violenta manifestação. Uma história de uma diferença social tão profunda entre etnias que chegou a se tornar oficializada pelo Estado perdura na mente e no coração das pessoas que fizeram e sofreram 27 esse preconceito. Essa segregação chegou ao ponto de entrar na cultura e fazer parte da rotina. A mentalidade preconceituosa foi passando de geração para geração e, apesar de hoje em dia o mundo ser extremamente diferente daquela época, algo assim não é tão suscetível a mudanças; é necessário um processo. Afinal, a história é algo vivo, está sempre mudando. Governos entram e caem, guerras acontecem e terminam, novas formas de pensar são criadas e mentalidades vão sendo modeladas a nossa atualidade. Assim como a Primeira Guerra Mundial gerou um revanchismo por parte da Alemanha, assim como a China e o Japão tem uma história de mágoa entre si, toda atitude gera uma consequência. A segregação racial que aconteceu por mais de 50 anos no sul dos Estados Unidos deixou marcas permanentes na história americana e na vida de diversas famílias negras que sofreram na pele o ódio branco. Uma história assim não é deixada de lado facilmente, tampouco deixa de existir, mas é melhorada. E, para isso, é necessário um grande esforço de todas as partes. Não era a abolição oficial das leis que iria acabar com essa diferença social de imediato, assim como a abolição da escravidão não acabou com a diferença de antes. A sociedade é composta por indivíduos e, para ela mudar, é necessário também mudar a mentalidade dos formadores dela e, para isso, é necessário um processo. Um grande erro da maioria dos países é esconder algumas partes de sua história e tornar o assunto tabu. Em alguns estados dos Estados Unidos a segregação não é ensinada de uma maneira equivalente com o que realmente aconteceu; Martin Luther King, por ser um grande líder, é mostrado, mas e as consequências de tudo o que aconteceu? E as histórias verídicas? Como poderíamos mudar e, acima de tudo, melhorar uma sociedade sem uma discussão? Apesar da influência dos mais velhos e da dificuldade de realmente conhecer essa parte da história, a geração atual está se mostrando mais desvinculada ao passado. Justamente por serem jovens e ainda estarem estruturando sua opinião, esse processo está acontecendo. Há pessoas que digam que Mississippi parou no tempo; sua economia não evolui – é o estado mais pobre dos Estados Unidos -, o conservadorismo ainda é muito grande, as paisagens ainda são as mesmas dos anos 60 e o passado ainda é muito presente, mas é notável para todos que os valores mundiais mudaram irreversivelmente, sendo transmitido pela sociedade tanto no dia a dia, como em programas e documentários e isso está conseguindo fazer efeito nos mais jovens. Essa mudança de valores faz parte de um caminho que toda sociedade passa ao longo dos tempos, tanto economicamente como psicologicamente. 28 Não podemos negar que as relações inter-raciais nesses estados melhoraram muito comparativamente com os anos antes de 60, mas, ao mesmo tempo, não podemos negar que ainda há muito para ser feito. Ainda existem escolas que praticam uma segregação disfarçada - para se manter no politicamente correto, ainda existem aqueles que dizem que os negros deviam se sentir agradecidos pelos sulistas e, principalmente, aqueles que concordam com os antepassados, mas não expõe seus pensamentos por medo da reação social. Isso não é algo compatível com o mundo em que vivemos e o país justo que os Estados Unidos clama ser. Ainda em 2012 o negro precisa de programas especiais para ter uma chance na sociedade. Muitas faculdades americanas apenas admitem alunos com uma entrevista e quem garantirá que o entrevistador, principalmente dessas regiões, será imparcial? Algumas pessoas dizem que isso é injusto com os brancos, mas a questão é: Os negros teriam essa chance se não houvesse uma faculdade ou programa especial para eles? Por mais que as coisas estejam melhorando, nós não podemos nos clamar 100% iguais. Todos evitam expor a verdade, mas ainda há diferenças e as divergências de salários e de oportunidades comprovam isso. Outro exemplo para isso são as piadas que sempre atingem os mais discriminados como negros e mulheres. Não podemos generalizar, mas isso é uma forma de mostrar a verdadeira face de uma sociedade. Quando rimos de uma piada maldosa contra loiras ou contra negros, apenas estamos mostrando que a cultura da nossa sociedade é diferenciar esses dois grupos e, por mais que em um ambiente sério ninguém fale isso, essa é a nossa realidade. O fato é: Os negros conseguiram seus direitos na luta da década de 60, mas ainda não conseguiram ser tratados igualmente em uma sociedade que clama ser igualitária. Aos poucos, as coisas estão melhorando, mas ainda há muito para ser feito, principalmente em locais onde os negros foram submetidos ao domínio branco. Podemos dizer que o processo está sendo feito, mas longe de ser completo. 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS STOCKETT, Kathryn. A Resposta. 2ª edição, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. 574 p. PILETTI, Nelson e ARRUDA, José. Toda a História: História Geral e História do Brasil. 13ª edição, São Paulo: Editora Ática, 2009. 728 p. IZECKSOHN, Vitor. Escravidão, federalismo e democracia: a luta pelo controle do Estado nacional norte-americano antes da Secessão. Revista Topoi, Rio de Janeiro, n. 6, p. 47-81, 2003. TEIXEIRA, Heitor. O outro lado do American Way of Life: o retrato da desilusão através da literatura norte-americana do século XX. Universos da história, Rio de Janeiro, v. 1, p. 32-51, 2008. MAASS, Peter. The Secrets of Mississippi. Peter Mass. Disponível em: http://www.petermaass.com/articles/the_secrets_of_mississippi/. Acesso em: 17 maio 2012 DUFRESNE, Marcel. Exposing the Secrets of Mississippi Racism. American Journalism Review. Disponível em: http://www.ajr.org/article.asp?id=1311. Acesso em: 29 abr. 2012 GARBER, Megan. See 116 years of NYT electoral infographics. The Atlantic. 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