Coaptação por Focinheira de fita em Fratura de Mandíbula
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Coaptação por Focinheira de fita em Fratura de Mandíbula
COAPTAÇÃO POR EM FRATURA DE CORPO E RAMO MANDIBULARES (RELATO DE CASO) Introdução A mandíbula é o único osso móvel da face e participa de funções básicas como mastigação, fonação e deglutição, além de participar na manutenção da oclusão dentária ocupando juntamente com a maxila a maior porção óssea do esqueleto facial (BUSUITO, 1986). Devido a sua topografia, anatomia e projeção no terço inferior da face, é freqüentemente atingida por traumas podendo resultar em fraturas, principalmente em atropelamentos, quedas ou agressões (ZACHARIADES, 1994). Entre as causas mais freqüentes de fratura de mandíbula em cães são os acidentes automobilísticos, quedas de alturas, resultados de brigas (LEONARD, 1995), periodontite grave ou neoplasia (FOSSUM, 2002). As fraturas mandibulares podem levar a deformidades, sejam por deslocamentos ou perdas ósseas não-restauradas, com alterações de oclusão dentária ou da articulação temporomandibular (ATM). Quando não identificadas ou tratadas adequadamente, estas lesões podem levar a seqüelas graves, tanto estéticas como funcionais (BUSUITO, 1986; OLSON, 1982). São caracterizadas por edema, desvio dos segmentos, maloculusão Figura 1: Canino, 2 meses, Poodle, macho, com aspecto de “boca aberta” e exposição da língua características em fraturas mandibulares. ......................................................................... RESUMO Os autores avaliam o tratamento instituído em paciente canino, Poodle, macho, 2 meses de idade com fratura de mandíbula bilateral em região do corpo direito e ramo esquerdo, apresentando sinais clínicos condizentes com o tipo de trauma. Foi instaurado como tratamento neste caso, o uso da técnica conservativa do funil esparadrapado, sendo este um recurso barato, rápido e não invasivo aplicável, também, em animais jovens nas fraturas mandibulares bilaterais. Obtemos bons resultados com total recuperação do animal após 30 dias, não sendo necessário neste caso, outras técnicas invasivas. Palavras-chave: Funil esparadrapado, fratura mandibular, cão. dos dentes, (PIERMATTTEI, 1999) sialorréia, anorexia, e demonstrar dor ao abrir a boca (FOSSUM, 2002); crepitações e instabilidades podem ser sentidas a palpação durante cuidadoso exame oral (PIERMATTTEI, 1999) produzindo evidências para o diagnóstico da fraturas mandibulares, exceto as localizadas no ramo (LEONARD, 1995). O corpo mandibular é o local mais freqüente de fraturas no cão, são frequentemente compostas na superfície lingual e bucal, mas raramente são expostas. Fraturas de ramo são menos frequentemente compostas e produzem um deslocamento menos pronunciado (LEONARD, 1995). Os princípios básicos da reparação de fraturas de mandíbula devem, segundo MARRETA et al. (1990), obedecer aos seguintes fatores para que se estabeleça a consolidação óssea perfeita: alinhamento oclusal, estabilidade adequada, ausência de danos em tecidos moles e duros, preservação da dentição e retorno imediato à função. O objetivo da reparação das fraturas mandibulares é restaurar o alinhamento anatômico permitindo uma oclusão normal e o retorno da função mastigatória (PIERMATTTEI, 1999; TAYLOR, 1996) seguindo os princípios de redução anatômica, fi- xação rígida e oclusão apropriada (KERN et al, 1995). O tratamento pode variar consideravelmente, onde nenhuma técnica em particular é aplicável a todos os tipos de fraturas. Quando o tratamento conservador não é prático, vários métodos de fixação interna podem ser usados, sendo estes caracterizados pela difícil abordagem e execução devido necessidade da preservação da vasta e espessa musculatura do masseter e digástrico, da artéria, veia e nervo facial e a glândulas parótida e seu ducto, além da dificuldade imposta pelo grande número de alvéolos dentários e a fina espessura dos ossos mandibulares; o que interfere na precisão da redução, principalmente em cães de raça Toy ou filhotes (SCHULMAN, 1999). No presente relato, objetivamos demonstrar o uso eficiente da focinheira de fita na reparação de fratura mandibular bilateral em cão. Figura 2: Radiografia de crânio em projeção lateral evidenciando áreas de fratura completa do corpo e ramo mandibulares (setas). toda região da face e pescoço procedendo imobilização da fratura para colocação da focinheira, confeccionada com pedaços de fita adesiva, com os lados aderentes apostos e acomodados dentro de um círculo adaptando-se a face do cão. Um pedaço de fita preparado na mesma forma estendeu-se do circulo ao redor da cabeça e atrás das orelhas. A focinheira permitiu ao cão abrir a boca o suficiente para beber água e ingerir alimentos pastosos durante um período de 30 dias, sendo refeita semanalmente. Como cuidado prescrito, foi indicada alimentação pastosa hipercalórica durante todo o período de imobilização. É importante a utilização do colar elizabetano para prevenção de traumatismo autoinduzido; higiene bucal e facial com Clorexidina 0,12% / TID e Cetoprofeno gotas (1mg/kg/ SID/VO) para controle da dor. Resultados e discussão Material e Métodos Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco, um animal da espécie canina, da raça Poodle Toy com 2 meses de idade, pesando 1.2 Kg. A proprietária relatou que o animal havia sido agredido por outro cão há dois dias, e desde então não conseguia se alimentar. O paciente apresentava sinais de fratura como o desvio mandibular lateral, maloclusão, dor a abertura da boca, dificuldade de ingestão de água e alimento, instabilidade e crepitação mandibular à palpação (Figura 1). Para permitir uma melhor avaliação e diagnóstico adequados, o animal foi anestesiado com Acepromazina (0,1mg/kg/IM) e Ketamina (2mg/ kg/IV), assim a mandíbula foi examinada intra e extraoralmente. Aproveitando-se a anestesia, radiografias também foram realizadas nas projeções dorso-ventral e lateral oblíqua, evidenciando a presença de fraturas em ramo esquerdo e corpo direito da mandíbula (Figuras 2 e 3). Foi realizada então assepsia e tricotomia de Figura 3: Radiografia de crânio em projeção dorso-ventral destacando extenso desvio na relação maxilo-mandibular. Figura 4: Após tricotomia e assepsia da área a ser imobilizada, reposicionamento dos fragmentos mandibulares para redução da fratura com retomada da oclusão normal. No caso aqui relatado, buscou-se utilizar o método de aplicação do funil esparadrapado nas fraturas do sistema estomatognático de maneira simples, rápida e econômica tentando consolidar a fratura eliminando o desconforto do paciente. Pelo método da imobilização das fraturas de mandíbula (corpo e ramo) por meio da estabilização do plano vertical através da simples limitação do movimento com uso de fitas esparadrápicas, todos os princípios básicos para que se obtenha consolidação óssea foram estabelecidos, concordando com os princípios de MARETTA et al. (1990). Dentre as complicações que podem surgir pode-se citar: infecção, união óssea tardia (PIERMATTEI, 1999), intolerância do paciente, queimaduras com esparadrapos (TAYLOR, 1998) e pouca estabilização em raças braquicefálicas (SLATTER, 1999). Conforme SLATTER (1999) descreve, a focinheira de esparadrapo é recomendada em fraturas unilaterais na parte média do corpo mandibular. No caso aqui relatado tratava-se de fraturas bilaterais em corpo e ramo mandibulares, ao contrário do que descreve o autor, esse fator não interferiu para a consolidação das fraturas. Discordamos ainda que a coaptação por focinheira de fita adesiva ou esparadrapo possa ser utilizada somente quando é necessária a estabilização temporária da fratura de mandíbula, como medida auxiliar na fixação interna ou ainda como método primário na reparação de fraturas estáveis com deslocamento mínimo onde uma hemimandíbula oposta intacta é necessária para agir como uma tala para ajudar a estabilização como preconizado por SCHULMAN (1999), HOWARD (2001) e TAYLOR (1998). Acreditamos que em cães jovens e de raças pequenas apresentando fraturas favoráveis em mandíbula, mesmo que diante da ausência de uma hemimandíbula oposta intacta agindo como uma tala para ajudar a estabilização, a técnica da focinheira de fita pode ser um recurso definitivo no tratamento destas afecções atuando na reparação da fratura de corpo e ramo mandibulares. A focinheira apresentou também características de leveza e resistência, que foram importantes no processo de união clínica dos segmentos mandibulares. A sedação e analgesia do paciente, permanecendo-se imóvel, é fundamental para aplicação eficiente da técnica, concordando com PIERMATTEI (1999) quando afirma que as focinheiras são melhor aplicadas no paciente sedado ou anestesiado. O tratamento conservativo substituiu o tratamento cirúrgico com a vantagem da pouca invasão aos delicados e pequenos tecidos do filhote, com rápida execução, simples aplicação, além de se demonstrar um método de baixo custo, comparado a outros meios de osteossíntese. Conclusão A utilização da coaptação por focinheira de fita empregada para re- Thiciane Carvalho de Albuquerque Graduanda de Medicina Veterinária DMV/UFRPE, [email protected] Mariana Ramos da Silva; Grazielle A.S. Aleixo MV, Pós-graduanda DMV/UFRPE, [email protected] Ana Luiza Guimarães M.V., residente do Hospital Veterinário DMV/UFRPE Figura 5: Colocação do funil esparadrapado iniciando-se pela região rostral com leve abertura bucal. Ana Paula M. Tenório Profa. Adjunta DMV/UFRPE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 6: Passagem da fita em volta da cabeça e fixando-se na parte anterior promovendo imobilização do foco de fratura. Figura 7. Aspecto final do paciente após a confecção da focinheira de fita e estabilização da fratura. paração de fraturas de corpo e ramo da mandíbula em filhote de cão representou uma solução rápida, eficiente, barata e de fácil execução, pois manteve a estabilidade no foco da fratura, permitindo sua rápida recuperação em 4 semanas. BUSUITO, M.J., SMITH JR.,D.J., ROBSON, M.C.: Mandibulary fractures in na urban trauma center. J Trauma, 1986;26(9): 826-9. FOSSUM, E.A. Manual de cirurgia de pequenos animais. Manole, 3ed., 2002, p.844866. HOWARD, P.E. Tape muzzle for mandibular fractures. J. Vet. Med./Small An. Clin., 2002; 76(4): 517-9. KERN, D.A.; SMITH, M.M.; STEVENSON, S.; MOON, M.L.; SAUNDERS, G.K.; IRBY, M.H.; DYER, K.R. Evaluation of three fixation techniques for repair of mandibular fractures in dogs. J. Am. Vet. 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