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Profª Drª Camila Pasqual
Disciplina: Literatura
ENEM —Dicas de Literatura: Texto Poético, Texto Literário, Estilos de Época, Poesia, Modernismo.
Literatura é arte da palavra, sendo, portanto, um instrumento de comunicação e de interação, por
isso, faz parte da prova de Linguagens e Códigos do ENEM. Sua abordagem segue o estilo da prova, ou
seja, é contextualizada e exige bastante interpretação.
O ENEM privilegia alguns verbos e dentre eles está o relacionar. É importante que essa ação
seja praticada nessa prova, logo, não estude a Literatura de forma fragmentada, contextualize-a,
relacione o contexto histórico com a escola literária e com as manifestações artísticas da época. Não
se esquecendo de estudar os autores que são considerados ícones dentro daquela escola.
A Literatura desde os primórdios é influenciada pelo momento histórico, pois está veiculada à
sociedade, logo se torna difícil entender uma sem ter conhecimento do outro.
É importante lembrar que os alunos devem se preparar para responder questões sobre autores
modernistas, como Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Cecília
Meireles.
As perguntas incidem sobre aspectos sociais ou sobre a relevância do cotidiano para o
modernismo. Além disso, é importante ter em mente que Drummond é um autor "quase sempre presente
nessa prova".
Outro aspecto relevante para a prova de Literatura do ENEM é o conhecimento da cronologia
da Literatura Brasileira, ou seja, a ordem em que as escolas literárias aparecem e como se dá sua
classificação, pelo estilo e época (correntes literárias).
COMPARAÇÃO ENTRE TIPOS DE TEXTO
Nas últimas edições, o Enem cobrou a comparação entre textos visuais e textos verbais. Ou seja,
os estudantes precisaram estabelecer um paralelo, encontrar um eixo entre ambos os modos de expressão
textual.
"Um exemplo desse tipo de exercício é a correlação entre o painel de Candido Portinari 'Descobrimento
do Brasil' e um excerto da carta de Pero Vaz de Caminha (sobre a chegada dos primeiros colonizadores
europeus à América portuguesa)".
QUESTÕES DE PROVAS DO ENEM
1) Enem 2011
TEXTO I
Onde está a honestidade?
Você tem palacete reluzente
Tem joias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança ou parente
Só anda de automóvel na cidade...
E o povo pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?
O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e felicidade...
Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
1
Em nome de qualquer defunto ausente....
ROSA, N. Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.
TEXTO II
Um vulto da história da música popular, reconhecido nacionalmente, é Noel Rosa. Ele nasceu em 1910,
no Rio de Janeiro; portanto, se estivesse vivo, estaria completando 100 anos. Mas faleceu aos 26 anos de
idade, vítima de tuberculose, deixando um acervo de grande valor para o patrimônio cultural brasileiro.
Muitas de suas letras representam a sociedade contemporânea, como se tivessem sido escritas no século
XXI.
Disponível em: http://www.mpbnet.com.br. Acesso em: abr. 2010.
Um texto pertencente ao patrimônio literário-cultural brasileiro é atualizável, na medida em que ele
se refere a valores e situações de um povo. A atualidade da canção Onde está a honestidade?, de Noel
Rosa, evidencia-se por meio:
a) da ironia, ao se referir ao enriquecimento de origem duvidosa de alguns.
b) da crítica aos ricos que possuem joias, mas não têm herança.
c) da maldade do povo a perguntar sobre a honestidade.
d) do privilégio de alguns em clamar pela honestidade.
e) da inexistência em promover eventos beneficentes.
Comentário da questão
Alternativa A. O título da poesia musicada de Noel Rosa já adverte para uma situação irregular de
procedimentos de vida que uma tal pessoa consegue benefícios e bens de forma duvidosa e, de forma
maldosa, quem a conhece pergunta: "Onde está a honestidade?" É por esta forma jocosa, irônica, que
Noel procura fazer com que as pessoas reflitam para a conquista de patrimônio e de sucesso, apenas, de
forma honesta, decente e objetiva, sem precisar do uso de artifícios duvidosos para tanto.
Vale lembrar também que, na canção de Noel Rosa, o eu lírico contrapõe a riqueza de um sujeito (“Você
tem palacete reluzente/tem joias e criados à vontade”) à origem obscura dos bens, revelando ironia ao
afirmar, por exemplo, que “o seu dinheiro nasce de repente”. A denúncia do enriquecimento ilícito
garante a atualidade do texto.
2)Enem 2010
Não tem tradução
[...] Lá no morro, se eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
[...] Essa gente hoje em dia que tem mania de exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês.
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone
ROSA, N. In: SOBRAL, João J. V. A tradução dos bambas. Revista Língua Portuguesa. Ano 4, nº 54. São Paulo: Segmento, abr. 2010 (fragmento).
As canções de Noel Rosa, compositor brasileiro de Vila Isabel, apesar de revelarem uma aguçada
preocupação do artista com seu tempo e com as mudanças político-culturais no Brasil, no início dos anos
1920, ainda são modernas. Nesse fragmento do samba Não tem tradução, por meio do recurso da
metalinguagem, o poeta propõe
a) incorporar novos costumes de origem francesa e americana, juntamente com vocábulos estrangeiros.
b) respeitar e preservar o português padrão como forma de fortalecimento do idioma do Brasil.
c) valorizar a fala popular brasileira como patrimônio linguístico e forma legítima de identidade nacional.
d) mudar os valores sociais vigentes à época, com o advento do novo e quente ritmo da música
popular brasileira.
e) ironizar a malandragem carioca, aculturada pela invasão de valores étnicos de sociedades
mais desenvolvidas.
2
Comentário da questão
Alternativa “C”. A música de Noel Rosa combate as influências francesas e inglesas, estas últimas com
muito tempo de domínio em nosso país, pela condição de serem consideradas símbolos da cultura, da
internacionalidade, da importância de saber mais sobre as culturas, costumes e vocabulários dos dois
idiomas. Esta era a moda da época do Noel Rosa - a preocupação em se saber mais sobre culturas
externas e esquecimento de nossas origens. Noel Rosa procurou satirizar aquelas interferências,
compondo música popular brasileira, com grande influência de costumes cariocas, o povo, a fala deste
povo, a moradia, a felicidade acompanhada da simplicidade. Procurou ironizar camadas sociais
preocupadas em comunicar-se em francês e inglês, considerando-se cultas para a época.
3) Enem 2013
Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil, para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958 (fragmento).
O conflito de gerações e de grupos étnicos reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado
por:
a) modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos brancos.
b) preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural dos brancos.
c) superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos colonizados.
d) nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela condição de pobreza.
e) antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de hereditariedade.
Comentário da questão:
Alternativa “ B”. Fica explícito, no poema de Jorge de Lima, o engajamento social do escritor ao
escolher um tema que dialoga com a realidade dos negros no Brasil. É possível observar grande
preocupação com a questão da discriminação racial, oriunda de um triste episódio de nossa História: a
escravidão e o tráfico negreiro. Jorge defende em seu poema a preservação da identidade cultural dos
negros, sobretudo no verso “não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!”, que aponta para a ideia de
resistência negra à apatia cultural dos brancos.
4) Enem 2013
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a
vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre
houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
[...] Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar
pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história já havia os monstros
apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois
juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida,
inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.
3
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e
meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais
tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que
justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos
antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector,
culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se
essa peculiaridade porque o narrador
a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às
personagens.
b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a
compõem.
c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.
d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras
exatas.
e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
Comentário da questão:
Alternativa “C”. O romance A hora da estrela apresenta um narrador onisciente intruso, interferindo no
destino da personagem e funcionando como uma espécie de alter ego de Clarice Lispector. A narrativa é
construída em uma fragmentação ternária com as histórias interligadas — a da personagem, a do narrador
e a própria história. No fragmento apresentado, o narrador promove uma reflexão existencial que se
debruça sobre o fazer artístico por meio da metalinguagem do texto e trabalha a palavra como uma
tentativa de resposta às suas próprias perguntas. O narrador do trecho, Rodrigo S.M., de A hora da
estrela, não se limita a narrar os fatos. Ele reflete sobre questões existenciais, como mostra o trecho
“Pensar é um ato. Sentir é um fato”, bem como sobre a própria escrita, como evidencia”.Enquanto eu
tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever.”
5) Enem 2011
TEXTO I
O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias,
mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a vossas senhorias?
MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio de Janeiro, Aguilar, 1994 (fragmento)
TEXTO II
João Cabral, que já emprestara sua voz ao rio, transfere-a, aqui, ao retirante Severino, que, como o
Capibaribe, também segue no caminho do Recife. A autoapresentação do personagem, na fala inicial do
texto, nos mostra um Severino que, quanto mais se define, menos se individualiza, pois seus traços
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biográficos são sempre partilhados por outros homens.
SECCHIN, A. C. João Cabral: a poesia do menos. Rio de Janeiro,
Topbooks, 1999 (fragmentos)
Com base no trecho de Morte e Vida Severina (Texto I) e na análise crítica (Texto II), observa-se que
a relação entre o texto poético e o contexto social a que ele faz referência aponta para um problema social
expresso literariamente pela pergunta: "Como então dizer quem fala/ ora a vossas senhorias?". A
resposta à pergunta expressa no poema é dada por meio da
a) descrição minuciosa dos traços biográficos do personagem-narrador.
b) construção da figura do retirante nordestino com um homem resignado com a sua situação.
c) representação, na figura do personagem-narrador, de outros Severinos que compartilham sua condição.
d) apresentação do personagem-narrador como uma projeção do próprio poeta em sua crise existencial.
e) descrição de Severino, que, apesar de humilde, orgulha-se de ser descendente do coronel Zacarias.
Comentário da questão
Alternativa C. Por mais que quisesse identificar-se e caracterizar-se, mais distante de sua identidade
ficava Severino, o retirante, protagonista do poema e da encenação em "Morte e Vida Severina".
Conhecido o poema, na sua totalidade e pelo próprio título, deduz-se mais um entre muitos ''Severinos'',
sem rumo e conhecedor de seu infortúnio e de seu destino, incapaz de ser reconhecido como um
particular ser, pois muitos e tantos outros tinham o mesmo destino que ele: a miséria, o sertão e a falta de
oportunidades. Finaliza, então, com um questionamento: como querer e poder identificar-se se há tantos
outros com a mesma sina? Se todos a quem se apresenta também são outros severinos? Sofredores,
conformados pela falta de recursos, de condições de trabalho e infelizes com uma sobrevivência
miserável.
Letra A errada. No trecho há referência apenas ao processo de nomeação, que aponta para a
generalização e não para a minúcia.
Letra B errada. Ao questionar a maneira de se apresentar, Severino mostra consciência de sua condição
social, estendida a tantos outros, sugerindo certo incômodo e não resignação.
Letra C certa. No texto selecionado, a personagem Severino se apresenta a partir de traços que são
comuns a outras pessoas que partilham sua condição social; possui um nome comum a sua identificação,
relacionada aos pais, cujos nomes também são comuns a muitos nordestinos.
Letra D errada. Nada no texto permite afirmar que o personagem-narrador é uma projeção do poeta,
nem identificar no discurso uma “crise” existêncial”. O questionamento tem base na questão social.
Letra E errada. Severino não descende do coronel Zacarias; seu pai recebeu esse nome em homenagem
a um antigo senhor da sesmaria.
6) Enem 2011
Quem é pobre, pouco se apega, é um giro-o-giro no vago dos gerais, que nem os pássaros de rios e lagoas.
O senhor vê: o Zé-Zim o melhor meeiro meu aqui, risonho e habilidoso. Pergunto: - Zé-Zim, por que é
que você não cria galinhas-d'angola, como todo mundo faz? - Quero criar nada não... - me deu resposta: Eu gosto muito de mudar... [...] Belo um dia, ele tora. Ninguém discrepa. Eu, tantas, mesmo digo. Eu dou
proteção. [...] Essa não faltou também à minha mãe, quando eu era menino, no sertãozinho de minha
terra. [...] Gente melhor do lugar eram todos dessa família Guedes, Jidião Guedes; quando saíram de lá,
nos trouxeram junto, minha mãe e eu. Ficamos existindo em território baixio da Sirga, da outra banda, ali
onde o de-Janeiro vai no São Francisco, o senhor sabe. ROSA, J. G. Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeiro: José Olympio
(fragmento).
Na passagem citada, Riobaldo expõe uma situação decorrente de uma desigualdade social típica das
áreas rurais brasileiras marcadas pela concentração de terras e pela relação de dependência entre
agregados e fazendeiros. No texto, destaca-se essa relação porque o personagem-narrador
a) relata a seu interlocutor a história de Zé-Zim, demonstrando sua pouca disposição em ajudar
seus agregados, uma vez que superou essa condição graças à sua força de trabalho.
b) descreve o processo de transformação de um meeiro — espécie de agregado — em proprietário de
terra.
c) denuncia a falta de compromisso e a desocupação dos moradores, que pouco se envolvem no
trabalho da terra.
d) mostra como a condição material da vida do sertanejo é dificultada pela sua dupla condição de homem
livre e, ao mesmo tempo, dependente.
e) mantém o distanciamento narrativo condizente com sua posição social, de proprietário de terras.
Comentário da questão
5
Alernativa D
Pela condição de pobreza, de extrema miséria, os sertanejos tornam-se errantes, em busca de melhores
condições e não se apegam à sua terra, são conformados por demais e não veem oportunidades; para
muitos faltam-lhes iniciativas, pela mesmice de vida. Embora livres para ir e vir, mantêm-se dependentes
para decidir por algo a melhorar, arranjam ‘’servicim’’ aqui, ‘’servicim’’ ali e aceitam o que lhes é dado.
Caso típico de Riobaldo, protagonista de "Grande Sertão: Veredas". Através da fala do narrador, percebese a relação paternalista (“Eu dou proteção”) e exploradora na relação proprietários e trabalhadores das
áreas rurais brasileiras. Zé-Zim é “meeiro”, trabalhador de terra alheia que reparte o rendimento com o
dono da terra, o que o coloca numa relação de servilismo e dependência, semelhante ao do agregado que
deve atender às exigências do seu protetor para poder sobreviver. Assim, a sua condição de vida é
dificultada pelo duplo estado de homem livre e, ao mesmo tempo, dependente, como se afirma em “D”.
7) Enem 2012
Miguilim
“De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim
saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com
um chapéu diferente, mesmo.
— Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome?
— Miguilim. Eu sou irmão do Dito.
— E o seu irmão Dito é o dono daqui?
— Não, meu senhor. O Ditinho está em glória.
O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro.
Redizia:
— Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda...Mas que é que há, Miguilim? Miguilim queria ver se
o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava. — Por que você aperta os olhos
assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa?
— É Mãe, e os meninos…
Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos.
O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à
Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo:— ‘Miguilim, espia daí: quantos dedos
da minha mão você está enxergando? E agora?”
ROSA, João Guimarães. Manuelzão e Miguilim.9ªed.Rio de Janeiro:Nova Fronteira,1984.
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de
Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica
explicitado em:
a)“O homem trouxe o cavalo cá bem junto.”
b)“Ele era de óculos ,corado, alto (…)”
c)“O homem esbarrava o avanço do cavalo,(…)”
d)“Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele,(…)”
e)“Estava Mãe, estava tio Terez, estavam todos”
Comentário da questão
Alernativa A. A explicitação de que o ponto de vista do narrador da novela “Campo Geral”,de
Guimarães Rosa, tem o protagonista Miguilim por “referência, inclusive espacial” está na expressão “cá
bem junto”, em que o advérbio “cá”, marcador de espaço próximo de quem fala, mostra que o narrador
está posicionado próximo a Miguilim. É preciso fazer um reparo à afirmação de que a novela “Campo
Geral” apresenta um “narrador observador em terceira pessoa”. De fato, o narrador conta a história em
terceira pessoa: seu âmbito de visão descortina os movimentos de todas as personagens, com capacidade
de revelar detalhes miúdos e aparentemente insignificantes. O foco aguça-se mais, no entanto, em relação
ao protagonista, Miguilim; nesse caso, o narrador comporta-se de modo onisciente, desvelando os
sentimentos mais íntimos do menino, suas fantasias secretas e sonhos. Trata-se, pois, do recurso chamado,
com propriedade, onisciência seletiva.
8)Enem 2013
No decênio de 1870, Franklin Távora defendeu a tese de que no Brasil havia duas literaturas
independentes dentro da mesma língua: uma do Norte e outra do Sul, regiões segundo ele muito
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diferentes por formação histórica, composição étnica, costumes, modismos linguísticos etc. Por isso, deu
aos romances regionais que publicou o título geral de Literatura do Norte. Em nossos dias, um escritor
gaúcho, Viana Moog, procurou mostrar com bastante engenho que no Brasil há, em verdade, literaturas
setoriais diversas, refletindo as características locais. CANDIDO, A. A nova narrativa. A educação pela noite e outros ensaios. São
Paulo: Ática, 2003.
Com relação à valorização, no romance regionalista brasileiro, do homem e da paisagem de determinadas
regiões nacionais, sabe-se que:
a) o romance do Sul do Brasil se caracteriza pela temática essencialmente urbana, colocando em relevo a
formação do homem por meio da mescla de características locais e dos aspectos culturais trazidos de fora
pela imigração europeia.
b) José de Alencar, representante, sobretudo, do romance urbano, retrata a temática da urbanização das
cidades brasileiras e das relações conflituosas entre as raças.
c) o romance do Nordeste caracteriza-se pelo acentuado realismo no uso do vocabulário, pelo temário
local, expressando a vida do homem em face da natureza agreste, e assume frequentemente o ponto de
vista dos menos favorecidos.
d) a literatura urbana brasileira, da qual um dos expoentes é Machado de Assis, põe em relevo a formação
do homem brasileiro, o sincretismo religioso, as raízes africanas e indígenas que caracterizam o nosso
povo.
e) Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Simões Lopes Neto e Jorge Amado são romancistas das décadas
de 1930 e1940 do século XX, cuja obra retrata a problemática do homem urbano em confronto com a
modernização do país promovida pelo Estado Novo.
Comentário da questão
Alternativa “C”.
O regionalismo aparece na literatura brasileira em diversos momentos, com várias propostas estilísticas e
temáticas. O romance nordestino se caracteriza pela exploração de regionalismos linguísticos e pelo
registro realista da luta do homem contra a natureza inóspita.
Letra A errada. O romance do sul do país não foca essencialmente o espaço urbano. Vários deles
retomam a história da formação da região, centrando-se no espaço rural.
Letra B errada. Os romances de José de Alencar são urbanos, regionais, indianistas e históricos. Nos
romances urbanos, o foco está na abordagem de comportamentos sociais, sobretudo da elite. Não há
abordagem de conflitos entre raças.
Letra C certa. O romance do Nordeste tem como foco as questões que afligem o homem comum,
principalmente os menos favorecidos, em sua relação com a natureza hostil do sertão. Os autores
denunciam as relações sociais e a ausência do Estado, em textos desprovidos de idealismo.
Letra D errada. A literatura de Machado de Assis, embora aponte para o contexto de época, procura o
universalismo. O autor enfatiza os comportamentos humanos, sem os atrelar a discussões específicas
sobre a formação cultural do brasileiro.
Letra E errada. Simões Lopes Neto é um autor da passagem do século XIX para o XX. Além disso, o
foco dos demais autores mencionados não é necessariamente ou predominantemente, o homem urbano,
mas sim o morador de áreas periféricas, que enfrenta dificuldades criadas pelas desigualdades regionais.
9) Enem 2013
7
MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set.2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof. Gráfica. 2012. (Foto:
Reprodução)
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto
à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética
e) Lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais.
Comentário da questão
Alternativa A.
As anotações junto aos versos ao longo do poema possibilitam direcionamentos possíveis para uma
leitura crítica de dados histórico-culturais por parte dos leitores, como a que explica que Brasil é o país do
futebol, ou que Cette não é um número, mas sim um time. Além disso, o todo do poema explicita a
supremacia do futebol como marca de brasilidade. O eu lírico associa os placares de vitórias obtidas pelo
time do Clube Paulistano em jogos contra equipes estrangeiras como forma de imposição do Brasil sobre
a Europa. Deve-se reconhecer o tom jocoso que preside a apresentação do Brasil como “país do Futebol”,
o qual remete às propostas de revisão crítica da identidade brasileira apresentadas por Oswald de Andrade
desde os primeiros tempos do Modernismo.
10) Enem 2012
8
ARGAN, G. C. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. (Foto: Reprodução/Enem)
O quadro Les Demoiselles d’Avignon (1907), de Pablo Picasso, representa o rompimento com a estética
clássica e a revolução da arte no início do século XX. Essa nova tendência se caracteriza pela
a) pintura de modelos em planos irregulares.
b) Mulher como temática central da obra.
c) cena representada por vários modelos.
d) oposição entre tons claros e escuros.
e) nudez explorada como objeto de arte.
Comentário da questão
Alternativa A.
Observando o quadro de Pablo Picasso percebemos a pintura de uma mesma figura em planos irregulares,
característicos do Cubismo. Essa inovação permitiu a ruptura com o modelo clássico revolucionando a
arte no início do século XX. Para os artistas de vanguarda, a representação do mundo passava a não ter
compromisso com a imitação do real. As demais características mencionadas fazem parte da tradição
artística, não contendo aspectos estéticos revolucionários.
11) Enem 2012
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que
lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade saber
o nome dos heróis do Brasil? Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se
das coisas do tupi, do folk-lore, das suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma
satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a
agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção.
E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de
nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra
decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. BARRETO, L.
Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.
9
O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento
destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que
a)a dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza brasileira levou-o a estudar
inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país.
b) a curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de prosperidade e democracia que
o personagem encontra no contexto republicano.
c) a construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do
solo e a pureza linguística, conduz à frustração ideológica.
d) a propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo
Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete.
e) a certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto ideológico
salvacionista, tal como foi difundido na época do autor.
Comentário da questão
Alternativa C.
O personagem do romance Triste fim de Policarpo Quaresma ao pôr em prática suas ações patrióticas
torna claro que a construção de uma pátria a partir de elementos míticos - cordialidade do povo, a riqueza
do solo e a pureza linguística, conduz a uma frustração ideológica. O segundo parágrafo do fragmento
confirma, não só essa ideia como a opção C sendo a resposta certa.
Letra A errada: Policarpo próximo do final da vida, repensa sua trajetória e percebe que seus estudos
foram inúteis e que impossibilitaram uma visão real do Brasil e de seu povo.
Letra B errada. A obra de Lima Barreto crítica o contexto republicano pela ausência de democracia;
Policarpo Quaresma conclui que a pátria que imaginara se converteu em um “fantasma no silêncio do seu
quarto”.
Letra D errada. Policarpo enfrentou as zombarias dos colegas quando se dispôs a seguir a cultura
indígena, mas isso não o levou a se resguardar em um gabinete. Ao longo da vida, procurou efetivar
outras ações para beneficiar o Brasil e, no final dela, foi preso por ter sido considerado um traidor da
pátria.
Letra E errada. O romance destaca a dificuldade em cultivar terras que não eram “ferazes” (“férteis,
“fecundas”).
12) Enem
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995.
10
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de
Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na
concepção do eu lírico, esse julgamento revela que
a) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
b) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
c) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
d) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
e) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.
Comentário da questão
Alternativa A.
O poema de Raimundo Correia revela um olhar poético sobre a máscara social do ser humano. Cada
indivíduo cria uma fortaleza interior em uma tentativa de ocultar suas fraquezas. O íntimo e a aparência
formam uma oposição semântica que percorre todo o texto em uma espécie de metafísica Ser × Parecer.
Letra B errada. O eu lírico acusa os homens de dissimularem suas dores, ocultando-as do grupo social,
incapaz de se solidarizar com uma condição individual de vulnerabilidade.
Letras C e D erradas. Segundo o poema, os indivíduos preocupam-se em construir uma imagem de
felicidade perante o grupo social, não mostrando nenhuma disposição para um convívio mais verdadeiro
ou solidário.
Letra E errada. O texto não fala em “ transfiguração! (“transformação”), mas em “dissimulação”. Esta
tem sido colocada como regra que permite o convívio social.
13) Enem
Cárcere das almas
Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,
Soluçando nas trevas, entre as grades
Do calabouço olhando imensidades,
Mares, estrelas, tardes, natureza.
Tudo se veste de uma igual grandeza
Quando a alma entre grilhões as liberdades
Sonha e, sonhando, as imortalidades
Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.
Ó almas presas, mudas e fechadas
Nas prisões colossais e abandonadas,
Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!
Nesses silêncios solitários, graves,
que chaveiro do Céu possui as chaves
para abrir-vos as portas do Mistério?!
CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura / Fundação Banco do Brasil, 1993.
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no
poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são:
a) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
b) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
c) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.
d) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras.
e) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas
do cotidiano.
Comentário da questão
Alternativa C.
11
O texto de Cruz e Sousa explora um tema universal — o do sofrimento humano — de forma abstrata e
metafísica: apresenta a alma humana como encarcerada em “prisões da Dor”.(A universalidade do tema é
provada pela alusão ao desejo de libertação do mundo material e ascensão ao plano dos espíritos) A
forma poética escolhida pelo autor também demonstra refinamento, já que o soneto é uma forma
consagrada pela literatura clássica. O caráter vago e o uso de maiúsculas sem necessidade gramatical
também apontam para aspectos típicos do Simbolismo, estética a que o poema pode ser associado.
Letra A errada. Ao contrário do que afirma a alternativa, o poema vale-se de linguagem sofisticada e
ambígua, típica do Simbolismo.
Letra B errada. O tema do poema é a morte como possibilidade de libertação da alma, e não o
nacionalismo expresso em tom intimista.
Letra D errada. Não há qualquer referência à realidade social do período; o incômodo do eu lírico a
situações do contexto histórico em que se insere.
Letra E errada. O tema da morte com a espiritualização não pode ser considerado cotidiano. Além disso,
o poema organiza-se em forma fixa (soneto), com métrica regular ( versos decassílabos) e rígido
esquema de rimas.
14) Enem 2011
Abatidos pelo fadinho harmonioso e nostálgico dos desterrados, iam todos, até mesmo os brasileiros, se
concentrando e caindo em tristeza; mas, de repente, o cavaquinho de Porfiro, acompanhado pelo violão
do Firmo, romperam vibrantemente com um chorado baiano. Nada mais que os primeiros acordes da
música crioula para que o sangue de toda aquela gente despertasse logo, como se alguém lhe fustigasse o
corpo com urtigas bravas. E seguiram-se outras notas, e outras, cada vez mais ardentes e mais delirantes.
Já não eram dois instrumentos que soavam, eram lúbricos gemidos e suspiros soltos em torrente, a
correrem serpenteando, como cobras numa floresta incendiada; eram ais convulsos, chorados em frenesi
de amor música feita de beijos e soluços gostosos; carícia de fera, carícia de doer, fazendo estalar de
gozo.
AZEVEDO, A. O cortiço. São Paulo: Ática, 1983 (fragmento).
No romance O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, as personagens são observadas como elementos
coletivos caracterizados por condicionantes de origem social, sexo e etnia. Na passagem transcrita, o
confronto entre brasileiros e portugueses revela prevalência do elemento brasileiro, pois
a) destaca o nome de personagens brasileiras e omite o de personagens portuguesas.
b) exalta a força do cenário natural brasileiro e considera o do português inexpressivo.
c) mostra o poder envolvente da música brasileira, que cala o fado português.
d) destaca o sentimentalismo brasileiro, contrário à tristeza dos portugueses.
e) atribui aos brasileiros uma habilidade maior com instrumentos musicais.
Comentário da questão
Alternativa C.
No excerto de O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, descreve-se a mudança de postura do grupo que se
reunia para ouvir o som melancólico do cavaquinho de Porfiro e que, de repente, é surpreendido pelo
ritmo vibrante do violão de Firmo. A nostalgia do fado é substituída pelo som envolvente e pleno de
luxúria de um chorado baiano que contagia o grupo.
Letra A errada. A referência aos dois músicos não é suficiente para revelar o confronto entre os grupos.
Letra B errada. Não há referência aos cenários do Brasil e de Portugal.
Letra D errada. A tristeza dos portugueses tem como elemento de contraposição a sensualidade
brasileira e não o sentimentalismo.
Letra E errada. Não há referência ao uso dos instrumentos pelos portugueses, logo não se pode
identificar uma comparação.
15) (Enem 2011)
Lépida e leve
Língua do meu Amor velosa e doce,
que me convences de que sou frase,
que me contornas, que me vestes quase,
como se o corpo meu de ti vindo me fosse.
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Língua que me cativas, que me enleias
os surtos de ave estranha,
em linhas longas de invisíveis teias,
de que és, há tanto, habilidosa aranha...
[...]
Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,
amo-te como todas as mulheres
te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,
pela carne de som que à ideia emprestas
e pelas frases mudas que proferes
nos silêncios de Amor!...
MACHADO. G. In: MORICONI, I. (org). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
A poesia de Gilka Machado identifica-se com as concepções artísticas simbolistas. Entretanto, o texto
selecionado incorpora referências temáticas e formais modernistas, já que, nele, a poeta:
a) procura desconstruir a visão metafórica do amor e abandona o cuidado formal.
b) concebe a mulher como um ser sem linguagem e questiona o poder da palavra.
c) questiona o trabalho intelectual da mulher e antecipa a construção do verso livre.
d) propõe um modelo novo de erotização na lírica amorosa e propõe a simplificação verbal.
e) explora a construção da essência feminina, a partir da polissemia de “língua”, e inova o léxico.
Comentário da questão
Alternativa E
No poema “Lépida e Leve”, o eu lírico estabelece aproximações sugestivas entre o exercício erótico e o
fazer poético ("carícias supremas","formosos poemas"). Assim, o elemento-imagem “língua” é explorado
polissemicamente no sentido de fonte de prazer e ideia, expressando o total envolvimento do criador com
a obra criada (“Língua que me cativas, que me enleias /os surtos de ave estranha, /em linhas longas de
invisíveis teias, /de que és, há tanto, habilidosa aranha...”). O eu lírico, feminino, projeta-se como “frase”
e une-se ao discurso de todas as mulheres (“amo-te como todas as mulheres”), expressando o direito de
desfrutar inteiramente do prazer.
Gilka Machado (1893-1980) – VOLUME
Século xix. Estado RJ. Atividade: ativista política e dos movimentos sociais. Poetisa, sufragista e
feminista carioca, pioneira na utilização do erotismo na poesia feminina brasileira. Fez parte do
grupo que fundou o Partido Republicano Feminino, em 1910. Publicou vários livros de poesia,
como Mulher Nua e Sublimação. Em 1979, recebeu o prêmio Machado de Assis, concedido pela
Academia Brasileira de Letras. A biografia completa pode ser apreciada na obra Dicionário
Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade (biográfico e ilustrado), de Schuma Schumaher e
Érico Vital Brasil, Editora Zahar, 2000.
16) (Enem 2011)
Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um
bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz
13
dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar 1967.
A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do
cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para:
a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com
relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
c) opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua
juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.
Comentário da questão
Alternativa B
Os dois últimos versos do poema (“Que a vida passa! que a vida passa! /E que a mocidade vai acabar“)
enfatizam a efemeridade da vida, o caráter transitório do momento percebido na paisagem bucólica e
propícia à meditação em que o eu lírico está imerso (“E tudo tem aquele caráter impressivo que faz
meditar: /Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um /bodezinho manhoso”).
17) ENEM 2013
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo). Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto
a) caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet.
b) cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas.
c) tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
d) espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
e) originalidade, pela concisão da linguagem.
Comentário da questão
Alternativa D
A letra A errada. Embora a letra apresente caráter atual, não são identificados termos específicos da
linguagem utilizada na internet. A Letra B está incorreta porque, apesar de existirem imagens
metafóricas na letra, não são elas as responsáveis pelo cunho apelativo (e sim o uso da interlocução). Já a
letra C está incorreta porque, apesar de termos um tom de diálogo (também causado pela interlocução),
não há tantas gírias. Logo, a alternativa correta é a D, já que se trata de um rap, escrito em linguagem
informal. e/ou linguagem coloquial. Letra E errada, O texto apresenta repetição de uma ideia central,
por isso, não se pode falar em concisão.
14
18) Capítulo III
Um criado trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente
mirando a bandeja, que era de prata lavrada. Prata, ouro, eram os metais que amava de coração; não
gostava de bronze, mas o amigo Palha disse-lhe que era matéria de preço, e assim se explica este par de
figuras que aqui está na sala: um Mefistófeles e um Fausto. Tivesse, porém, de escolher, escolheria a
bandeja, — primor de argentaria, execução fina e acabada. O criado esperava teso e sério. Era espanhol; e
não foi sem resistência que Rubião o aceitou das mãos de Cristiano; por mais que lhe dissesse que estava
acostumado aos seus crioulos de Minas, e não queria línguas estrangeiras em casa, o amigo Palha insistiu,
demonstrando-lhe a necessidade de ter criados brancos. Rubião cedeu com pena. O seu bom pajem, que
ele queria pôr na sala, como um pedaço da província, nem o pôde deixar na cozinha, onde reinava um
francês, Jean; foi degradado a outros serviços.
ASSIS, M. Quincas Borba. In: Obra completa. V.1. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993 (fragmento).
Mefistófeles :é o nome de uma entidade diabólica nascida durante a Era Medieval, e apresentada como
uma das manifestações do mal, companheiro de Lúcifer, seu assessor na apreensão de almas
aparentemente puras. Em muitas tradições culturais este ser é associado ao próprio Diabo. Ao longo do
período renascentista ele era chamado de Mefistófeles. Na literatura esta personagem está presente nas
várias interpretações do mito de Fausto, principalmente na versão imortal do alemão Johann Wolfgang
von Goethe.
Teso: tenso, rígido, duro,etc.
Quincas Borba situa-se entre as obras-primas do autor e da literatura brasileira. No fragmento
apresentado, a peculiaridade do texto que garante a universalização de sua abordagem reside:
a) no conflito entre o passado pobre e o presente rico, que simboliza o triunfo da aparência sobre a
essência.
b) no sentimento de nostalgia do passado devido à substituição da mão de obra escrava pela dos
imigrantes.
c) na referência a Fausto e Mefistófeles, que representam o desejo de eternização de Rubião.
d) na admiração dos metais por parte de Rubião, que metaforicamente representam a durabilidade dos
bens produzidos pelo trabalho.
e) na resistência de Rubião aos criados estrangeiros, que reproduz o sentimento de xenofobia.
Comentário da questão
Alternativa A
No trecho extraído de Quincas Borba, nota-se um jogo de contrários construído sobre as qualidades dos
objetos domésticos (ouro e prata versos bronze, estatuetas artísticas versos. utensílios) e dos criados (livre
versos. escravo, negro versos.. branco, estrangeiro versos. nacional). Tais antíteses expressam as tensões
entre aparência e essência que levam Rubião, cioso de seu estado de novo rico, a preferir sempre a
primeira à segunda, como se nota na dileção pela prata (em desprezo ao do bronze, figurado em temas
universais da literatura) e na opção pelo criado espanhol (em desfavor do crioulo, por quem Rubião sentia
afetividade).
19)Enem 2010
Quincas Borba mal podia encobrir a satisfação do triunfo. Tinha uma asa de frango no prato, e
trincava-a com filosófica serenidade. Eu fiz-lhe ainda algumas objeções, mas tão frouxas, que ele não
gastou muito tempo em destruí-las.
— Para entender bem o meu sistema, concluiu ele, importa não esquecer nunca o princípio universal,
repartido e resumido em cada homem. Olha: a guerra, que parece uma calamidade, é uma operação
conveniente, como se disséssemos o estalar dos dedos de Humanitas; a fome (e ele chupava
filosoficamente a asa do frango), a fome é uma prova a que a Humanitas submete a própria víscera. Mas
eu não quero outro documento da sublimidade do meu sistema, senão este mesmo frango. Nutriu-se de
milho, que foi plantado por um africano, suponhamos, importado de Angola. Nasceu esse africano,
cresceu, foi vendido; um navio o trouxe, um navio construído de madeira cortada no mato por dez ou
doze homens, levado por velas, que oito ou dez homens teceram, sem contar a cordoalha e outras partes
do aparelho náutico. Assim, este frango, que eu almocei agora mesmo, é o resultado de uma multidão de
esforços e lutas, executadas com o único fim de dar mate ao meu apetite.
15
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Civilização Brasiliense, 1975.
A filosofia de Quincas Borba — a Humanitas — contém princípios que, conforme a explanação do
personagem, consideram a cooperação entre as pessoas uma forma de
a) lutar pelo bem da coletividade
b) atender a interesses pessoais
c) erradicar a desigualdade social
d) minimizar as diferenças individuais
e) estabelecer vínculos sociais profundos
Comentário da questão
Alternativa B. Para explicar a Brás Cubas a filosofia da Humanitas, Quincas Borba valeu-se do
frango, que pôde consumir graças a um processo de produção que envolveu o esforço e mesmo o
sofrimento de inúmeras pessoas. Essa exposição evidencia que os princípios da Humanitas
mostram a cooperação como um processo que visa atender a interesses pessoais.
20) Enem 2012
BARDI, P. M. Em torno da escultura no Brasil. São Paulo: Banco Sudameris Brasil, 1989. (Foto: Reprodução/Enem)
Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Brasil
tem forte influência do rococó europeu e está representada aqui por um dos profetas do pátio do Santuário
do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho.
Profundamente religiosa, sua obra revela:
a)liberdade, representando a vida de mineiros à procura da salvação.
b)credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de Minas Gerais.
c)simplicidade, demonstrando compromisso com a contemplação do divino.
d)personalidade, modelando uma imagem sacra com feições populares.
e)singularidade, esculpindo personalidades do reinado nas obras divinas.
Comentário da questão
Alternativa D
As esculturas barrocas no Brasil têm forte influência do rococó europeu. As obras sacras de Aleijadinho
distinguem-se das demais por apresentar características particulares das esculturas inspiradas nas pessoas
16
do povo. Além disso, as obras de Aleijadinho são marcadas por forte apelo religioso e seguem a tradição
da escultura sacra europeia, contudo, o escultor apresentava como singularidade as feições de suas
esculturas, modeladas com base no aspecto das pessoas do povo.
21) Enem 2013
TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me
que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam arcos e
flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. […] Andavam todos tão
bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam.
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela, 199 x 169 cm Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013. (Foto:
Reprodução)
Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de Portinari
retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da leitura dos textos, constata-se que:
a)a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras manifestações artísticas dos portugueses
em terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética literária.
b)a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a afirmação da
arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem moderna.
c) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a
pintura destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.
d) as duas produções, embora usem linguagens diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma
função social e artística.
e) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos diferentes, produzidas em um
mesmo momentos histórico, retratando a colonização.
Comentário da questão
Alternativa C
A carta de Caminha é um documento histórico e político, que descreve, sob o olhar de cunho otimista do
colonizador, os nativos que aqui os receberam. Por outro lado, a pintura de Portinari destaca esses nativos
em primeiro plano, transmitindo suas inquietações e espanto com as embarcações portuguesas que se
aproximam. Em outras palavras, A carta de Caminha destaca a visão otimista do colonizador,
evidenciada, por exemplo, na informação de que trocaram suas armas por outros objetos, revelando,
17
portanto, a aceitação da chegada dos portugueses; já a pintura de Portinari revela a inquietação dos
indígenas diante dos desconhecidos.
22) Enem 2012
LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Leda serenidade deleitosa,
Que representa em terra um paraíso;
Entre rubis e perlas doce riso;
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso
Que se pode por arte e por aviso,
Como por natureza, ser fermosa;
Fala de quem a morte e a vida pende,
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa;
Repouso nela alegre e comedido:
Estas as armas são com que me rende
E me cativa Amor; mas não que possa
Despojar-me da glória de rendido.
CAMÕES, L. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2008
SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio. Roma, Galleria Borghese
Disponível em: www.arquipelagos.pt. Acesso em: 29 fev. 2012.
A pintura e o poema, embora sendo produtos de duas linguagens artísticas diferentes, participaram do
mesmo contexto social e cultural de produção pelo fato de ambos:
a) apresentarem um retrato realista, evidenciado pelo unicórnio presente na pintura e pelos adjetivos
usados no poema.
b) valorizarem o excesso de enfeites na apresentação pessoal e na variação de atitudes da mulher,
evidenciadas pelos adjetivos do poema.
c) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela sobriedade e o equilíbrio, evidenciados pela
postura, expressão e vestimenta da moça e os adjetivos usados no poema.
d) desprezarem o conceito medieval da idealização da mulher como base da produção artística,
evidenciado pelos adjetivos usados no poema.
e) apresentarem um retrato ideal de mulher marcado pela emotividade e o conflito interior, evidenciados
pela expressão da moça e pelos adjetivos do poema.
Comentário da questão
Alternativa C
Os versos de Camões criam uma imagem idealizada da figura feminina, composta por expressões como
“Leda serenidade”, “doce riso”, “presença moderada e graciosa”, etc. Enquanto tela de Rafael Sanzio,
destaca o equilíbrio e a proporcionalidade, que se estendem da postura da moça para o espaço ao fundo.
Letra A errada. Não se pode atribuir realismo à pintura de um animal mitológico nem a uma descrição
que supervaloriza a beleza da amada.
Letra B errada. Os enfeites mencionados devem ser entendidos metaforicamente. Os rubis e as
perlas(“pérolas”) remetem aos lábios e dentes, e o ouro, aos cabelos que caem sobre a pele rosada.
Letra D errada. Mantém-se a idealização da mulher, embora a postura assumida pelo eu lírico seja
diversa. Substitui-se a coita de amor pelo discurso contido de exaltação das virtudes.
18
Letra E errada. Tanto o poema quanto a expressão revelam serenidade e não tumulto inferior.
23) Enem 2009
Gênero dramático é aquele em que o artista usa como intermediária entre si e o público a representação. A
palavra vem do grego drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral é, pois, uma composição literária
destinada à apresentação por atores em um palco, atuando e dialogando entre si. O texto dramático é
complementado pela atuação dos atores no espetáculo teatral e possui uma estrutura específica,
caracterizada: 1) pela presença de personagens que devem estar ligados com lógica uns aos outros e à
ação; 2) pela ação dramática (trama, enredo), que é o conjunto de atos dramáticos, maneiras de ser e de
agir das personagens encadeadas à unidade do efeito e segundo uma ordem composta de exposição,
conflito, complicação, clímax e desfecho; 3) pela situação ou ambiente, que é o conjunto de
circunstâncias físicas, sociais, espirituais em que se situa a ação; 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor
(dramaturgo) deseja expor, ou sua interpretação real por meio da representação.
COUTINHO, A. Notas de teoria literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973 (adaptado).
Considerando o texto e analisando os elementos que constituem um espetáculo teatral, conclui-se que:
a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se como um fenômeno de ordem individual, pois não é
possível sua concepção de forma coletiva.
b) o cenário onde se desenrola a ação cênica é concebido e construído pelo cenógrafo de modo autônomo
e independente do tema da peça e do trabalho interpretativo dos atores.
c) o texto cênico pode originar-se dos mais variados gêneros textuais, como contos, lendas, romances,
poesias, crônicas, notícias, imagens e fragmentos textuais, entre outros.
d) o corpo do ator na cena tem pouca importância na comunicação teatral, visto que o mais importante é a
expressão verbal, base da comunicação cênica em toda a trajetória do teatro até os dias atuais.
e) a iluminação e o som de um espetáculo cênico independem do processo de produção/recepção do
espetáculo teatral, já que se trata de linguagens artísticas diferentes, agregadas posteriormente à cena
teatral.
Comentário da questão
Alternativa C
A construção de um texto teatral proposta pelo crítico pode se desenvolver a partir das mais variadas
fontes, tanto uma lenda folclórica como uma notícia de jornal. A definição do gênero dramático refere-se
à forma utilizada para se contar uma história — diálogo entre as personagens sem a intermediação de um
narrador —, e não ao seu conteúdo. Vale lembrar que o texto teatral pode ter como base produções de
outros gêneros.
Letra A errada. Nada no texto permite concluir que o espetáculo dramático resulta de uma ação
individual. Ele envolve diversos profissionais, como autor(autores), atores, cenógrafos, diretores,
iluminadores ,etc.
Letras B e E erradas. Em um esptéculo teatral, o cenário, bem como os recursos de iluminação e som,
são fundamentais para criar a realidade a ser instaurada diante do público, por isso, devem dialogar
intimamente entre si, com o tema da peça e com as ações interpretadas pelos atores.
Letra D errada. Nem texto nem o conhecimento sobre o teatro permitem afirmar que a expressão verbal
suplanta a expressão do corpo do ator.
24) enem 2010
A diva
Vamos ao teatro, maria josé?
Quem me dera,
Desmanchei em rosca quinze kilos de farinha
Tou podre. Outro dia a gente vamos
Falou meio triste, culpada,
E um pouco alegre por recusar com orgulho
Teatro! Disse no espelho.
19
Teatro! Mais alto, desgrenhada.
Teatro! E os cacos voaram sem nenhum aplauso.
Perfeita.
Prado, a. Oráculos de maio. São paulo: siciliano, 1999.
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas reconhecidas pelo leitor com base
em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o
texto a diva
A)narra um fato real vivido por Maria José.
B) surpreende o leitor pelo seu efeito poético.
C)relata uma experiência teatral profissional.
D)descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.
E) defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.
Comentário da questão
Alternativa B
O texto “A diva” é um poema narrativo, de modo que o leitor se deixa levar pela cena descrita,
imaginando-a em uma experiência teatral, pelo diálogo nela existente. No entanto, como aponta a
alternativa B, ao chegar ao final do poema, a função poética surpreende o leitor, ao transformar a simples
Maria José em uma diva, por sua atuação dramática de ordem espontânea (ao que parece).
“A diva” é um poema narrativo em que uma mulher comum imagina-se no lugar de uma artista de teatro (
diva), imitando sua atuação dramática. Os recursos empregados na composição do texto buscam a
estranhamento pela contraposição entre um universo familiar, marcado pela linguagem popular (“ou
podre”) e pelas ações cotidianas, e o universo grandioso do teatro, indicado pela impostação da voz e
pelos gestos grandiloquentes. Com tais recursos, o poema constrói uma realidade psicológica intensa,
surpreendendo o leitor por seu efeito poético.
25)enem 2009
Querô
DELEGADO — Então desce ele. Vê o que arrancam desse sacana.
SARARÁ — Só que tem um porém. Ele é menor.
DELEGADO — Então vai com jeito. Depois a gente entrega pro juiz.
(Luz apaga no delegado e acende no repórter, que se dirige ao público.)
REPÓRTER — E o Querô foi espremido, empilhado, esmagado de corpo e alma num cubículo imundo,
com outros meninos. Meninos todos espremidos, empilhados, esmagados de corpo e alma, alucinados
pelos seus desesperos, cegados por muitas aflições. Muitos meninos, com seus desesperos e seus ódios,
empilhados, espremidos, esmagados de corpo e alma no imundo cubículo do reformatório. E foi lá que o
Querô cresceu.
MARCOS, P. Melhor teatro. São Paulo: Global, 2003 (fragmento).
No discurso do repórter, a repetição causa um efeito de sentido de intensificação, construindo a ideia de
a) opressão física e moral, que gera rancor nos meninos.
b) repressão policial e social, que gera apatia nos meninos.
c) polêmica judicial e midiática, que gera confusão entre os meninos.
d) concepção educacional e carcerária, que gera comoção nos meninos.
e) informação crítica e jornalística, que gera indignação entre os meninos.
Comentário da questão
Alternativa A
O trecho da peça Querô, de Plínio Marcos, volta sua atenção à violência da polícia e da sociedade no
tratamento dos meninos aprisionados. Ao repetir palavras e expressões, a fala do repórter intensifica a
condição de humilhação dos garotos (“com seus desesperos e seus ódios”), sugerindo ser a geradora do
rancor que ostentam. A expressão “de corpo e alma”, que se repete associada aos adjetivos “espremido”,
“empilhado” e “esmagado”, só pode sugerir que a opressão em questão é de natureza física (“corpo”) e
moral (“alma”).
26) Enem
20
Própria dos festejos juninos, a quadrilha nasceu como dança aristocrática. oriunda dos salões franceses,
depois difundida por toda a Europa. No Brasil, foi introduzida como dança de salão e, por sua vez,
apropriada e adaptada pelo gosto popular. Para sua ocorrência, é importante a presença de um mestre
“marcante” ou “marcador”, pois é quem determina as figurações diversas que os dançadores
desenvolvem. Observa-se a constância das seguintes marcações: “Tour”, “En avant”, “Chez des dames”,
“Chez des cheveliê”, “Cestinha de flor”, “Balancê”, “Caminho da roça”, “Olha a chuva”,
“Garranchê”, “Passeio”, “Coroa de flores”, “Coroa de espinhos” etc.
No Rio de Janeiro, em contexto urbano, apresenta transformações: surgem novas figurações, o francês
aportuguesado inexiste, o uso de gravações substitui a música ao vivo, além do aspecto de competição,
que sustenta os festivais de quadrilha, promovidos por órgãos de turismo. CASCUDO. L.C. Dicionário do folclore
brasileiro. Rio de Janeiro: Melhoramentos. 1976
.
As diversas formas de dança são demonstrações da diversidade cultural do nosso país. Entre elas, a
quadrilha é considerada uma dança folclórica por
a) possuir como característica principal os atributos divinos e religiosos e, por isso, identificar uma nação
ou região.
b) abordar as tradições e costumes de determinados povo ou regiões distintas de uma mesma nação.
c) apresentar cunho artístico e técnicas apuradas, sendo também, considerada dança-espetáculo.
d) necessitar de vestuário específico para a sua prática, o qual define seu país de origem.
e) acontecer em salões e festas e ser influenciada por diversos gêneros musicais.
Comentário da questão
Alternativa B
A quadrilha pode ser considerada uma dança folclórica porque ela carrega tradições e costumes de
determinados povos ou regiões. Segundo o texto, a dança quadrilha teve origem nos salões franceses,
sendo posteriormente difundida por toda a Europa e chegando também ao Brasil. Aqui, porém, perdeu-se
o caráter aristocrático e a quadrilha ganhou popularidade, sofrendo adaptações regionais.
27) Enem 2014
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra! (ANJOS, A. Obra completa. Rio de
Janeiro: Nova Aguilar, 1994 )
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos de uma literatura de transição designada como prémodernista. Com relação à poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas
dessa literatura de transição, como:
(A) a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas, o vocabulário requintado, além do
ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
(B) o empenho do eu lírico pelo resgate da poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro
de escuridão e rutilância” e “Influência má dos signos do zodíaco”.
(C) a seleção lexical emprestada do cientificismo, como se lê em “carbono e amoníaco”, “epigênesis da
infância”, “frialdade inorgânica”, que restitui a visão naturalista do homem.
(D) a manutenção de elementos formais vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo,
dimensionada pela inovação na expressividade poética e o desconcerto existencial.
21
(E) a ênfase no processo de construção de uma poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que
incorpora valores morais e científicos mais tarde renovados pelos modernistas.
Gabarito oficial: D
Competência:
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando
textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de
acordo com as condições de produção e recepção.
Habilidades:
H15 – Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do
contexto histórico, social e político.
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto
literário.
Comentário:
Augusto dos Anjos é, como já está afirmado pelo enunciado da questão, um poeta de transição. Sua
obra caracteriza-se pela influência dos movimentos literários anteriores. Do Parnasianismo, o poema
Psicologia de um vencido mantém a métrica rigorosa dos sonetos e as rimas opostas (A-B-B-A); do
Simbolismo, aproveita a espiritualidade expressa no trecho “A influência má dos signos do zodíaco”.
Embora a questão não considere a influência do Naturalismo, podemos observar uma aproximação
com esse período por meio do vocabulário científico.
28) Enem 2014
O negócio
Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abasteçam de pão e banana:
– Como é o negócio?
De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa:
– Deus me livre, não! Hoje não…
Abílio interpelou a velha:
– Como é o negócio?
Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim.
Ele se chegou:
– Como é o negócio?
Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal
combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os
filhos. Ele trazia a capa da viagem, estendida na grama orvalhada.
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas
pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era de dia do Abílio. Desconfiada, a moça
chegou à janela e o vizinho repetiu:
– Como é o negócio?
Diante da recusa, ele ameaçou:
– Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!
(TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba. Rio de Janeiro: Record, 1979 (fragmento)).
Quanto à abordagem do tema e aos recursos expressivos, essa crônica tem um caráter
A) filosófico, pois reflete sobre as mazelas sofridas pelos vizinhos.
B) lírico, pois relata com nostalgia o relacionamento da vizinhança.
C) irônico, pois apresenta com malícia a convivência entre vizinhos.
D) crítico, pois deprecia o que acontece nas relações de vizinhança.
E) didático, pois expõe uma conduta ser evitada na relação entre vizinhos.
Gabarito oficial: C
Competência:
Competência de área 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando
textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de
acordo com as condições de produção e recepção.
Habilidade:
H16 – Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto
literário.
22
Comentário: O estudante deve observar que o conteúdo cobrado pela questão são as figuras de
linguagem (recursos expressivos). O fragmento utilizado pela banca é construído com base na ironia,
o que se observa por meio da frase recorrente “Como é o negócio?”.
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