Cris Cyborg - Combat Sport
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Cris Cyborg - Combat Sport
Texto: Xicão Joly [email protected] Fone: (41) 84128224 Com duas vitórias importantíssimas no EliteXC dos Estados Unidos - a primeira em 26 de julho de 2008 contra Shayna Baszler por KO, e a segunda em 4 de outubro de 2008 contra Yoko Takahashi, por pontos - Cris Cyborg se posiciona forte como o mais recente destaque feminino da Chuteboxe de Curitiba - PR e do cenário brasileiro em geral do MMA feminino. Confira as resposta que nos deu, na entrevista que segue. Cris, seus dados pessoais Cristiane Venâncio Justino, mais conhecida como Cris Cyborg. Tenho 23 anos, luto no peso 140 pounds e tenho 1m73 de altura. Treino desde os 19 anos, portanto há 4 anos. fiz Boxe também, e aí o mestre Rudimar tinha fechado uma luta pra mim, de Vale Tudo, no Show Fight em São Paulo, e eu comecei a treinar firme, mas fui pra minha primeira luta com seis meses de treino! Fale um pouco de sua infância. Comecei a fazer atividade física aos 12 anos, como handball, atletismo e sempre fui muito dedicada, me destacando nos esportes que praticava. Também sempre fui controlada na alimentação. Por fim, conheci a luta e estou vivendo disso agora. E como foi essa sua primeira experiência no ringue competitivo? Eu estava preparada, não fiquei nervosa... agora fico mais nervosa, mais ansiosa, acho que a primeira vez a gente não sabe como vai ser, por isso vai tranquila. Eu estava ganhando a luta, mas deloquei o cotovelo. Não pude continuar, mas continuei batendo com uma só mão, o cotovelo saiu mais ainda porque a menina tentava dar um leg lock em mim, eu bati bem na hora. Aí cobriram meu braço pra não mostrar na TV o cotovelo fora, sabe essa imagem de violência... Então perdi por desistência. Mas dei a volta por cima, pedi minha revanche e nas minhas próximas lutas foi só vitória. Você é filha única? Tenho um irmão por parte de pai e mãe e outro por parte de pai. Como foi seu começo nas artes marciais? Eu estava participando de um torneio amistoso de handball entre homens e mulheres e um dos rapazes, chamado Jorginho, era amigo de mestre Rafael e de mestre Rudimar. Ele me viu treinando handball e me perguntou se eu gostava de luta. Respondi que achava legal, mas nunca tinha feito. Ele me convidou pra fazer uma aula de Muay Thai e eu gostei! Sei lá, bati nuns moleques lá, eu era agressiva e disse pra mim mesma: ”Quero lutar, quero ver como é isso!”. Sempre competia no handball e no atletismo, a luta era uma coisa nova. Me dediquei mais, lutei, gostei e agora larguei tudo e fiquei só na luta. Comecei pelo Muay Thai, 24 - Então a estréia no mundo das lutas não lhe deu tanta adrenalina quanto a responsabilidade que você tem hoje lhe dá? Na verdade, quando eu comecei eu não era ninguém. Era a Cris. Me chamavam de Cris Chuteboxe. Agora realmente tenho mais responsabilidade, levo o nome da Chuteboxe mesmo, tenho um time pra levar nas costas e, mais ainda, o nome Cyborg junto! Você disse que trancou a faculdade. E agora, estudo ou lutas? Eu tranquei pra fazer Educação Física, mas eu gosto mesmo é de treinar, não sou muito de estudar para treinar. Voltar a estudar agora no momento não, eu só quero focar na minha carreira, ter mais tempo pra treinar, sei que vou ser recompensada por isso. No que vou investir também é no inglês. O inglês é essencial, estou estudando porque acho que lá fora o mínimo que a gente pode fazer pra corresponder à gentileza deles é falar uma língua que eles entendem. Eles gostam do nosso trabalho, tem que haver comunicação! Você teve algum ídolo no início da carreira, que lhe influenciou... ou tem agora? Não... na verdade eu comecei a treinar do nada. Eu jogava handball, futebol, basquete, fazia atletismo... sempre pedia a Deus que conseguisse ser uma atleta não importava o esporte. Aliás, nem pensava em luta aos 19 anos! Não sabia quem era Wanderley Silva, pra você ter uma idéia... Aí eu vi uma luta do Cyborg, me impressionei muito, “nossa, como ele faz isso!”, mas fui conhecendo os expoentes do meio depois... Nem tinha evento feminino, eu comecei a treinar porque sabia que minha hora ia chegar! Mas um ídolo... eu não tive. É claro que hoje o Cyborg é um exemplo pra mim! Ele treina o dia inteiro, levanta a poeira, vai em frente! A gente vive 24 horas juntos, ele é um exemplo pra mim também dentro de casa. Hoje também admiro Wanderley Silva porque ele fez muito pela Chuteboxe, pena que ele saiu... mas cada um segue seu caminho e eu torço pra todo mundo que se esforça no mundo das lutas! Foto: Tom Casino / Cortesia EliteXC De Cris Chuteboxe você agora é Cris Cyborg. Como aconteceu isso tudo? Quando entrei na Chuteboxe treinava só Thai e só à tarde. Tranquei a faculdade e passei a treinar também de manhã. Foi assim que conheci o Evangelista Cyborg, hoje meu marido. Nós éramos só amigos... ele tinha namorada em Uberlândia e eu respeitava isso. No dia em que ele embarcou pra lutar na Inglaterra, a galera ficou zoando pra eu dar um beijinho de boa sorte, eu disse que éramos só amigos, muito amigos. Quando ele voltou me trouxe um presente e quando eu voltei do Show Fight nós acabamos ficando um tempão juntos e vimos que tinha tudo a ver um com o outro, ele me ajuda na carreira, eu ajudo na carreira dele e a gente assumiu! Na próxima luta minha, o mestre Rafael já me chamou de Cris Cyborg e assim ficou! Qual sua maior dificuldade como lutadora e qual sua maior qualidade? Não tem dificuldade, eu gosto de treino forte, faço com prazer, o que vier tá valendo! sempre treinei com marmanjos... - 25 quando chega uma menina nova eu nem quero treinar com ela porque eu machuco e as meninas são todas delicadas, não posso bater forte, com homem já acostumei a bater pra valer e acho muito melhor. Agora, qualidade... bom eu sou muito dedicada, teve uma época em que eu treinei dois anos sem parar: manhã, tarde e noite e evoluí muito assim. Existe uma história de que você já nocauteou alguém em treino... nem precisa falar o nome do cara! É, foi, foi... a gente estava trocando soltinho, sem querer eu virei, entrou o meu calcanhar no queixo dele, coisa de treino... Mas nocauteou? É... nocauteei! Você dá aula, faz personal ou só treina? Hoje eu só treino. Cheguei a dar aula, mas é o único momento que você tem pra descansar, se quiser render mais! Claro que sou casada com Cyborg, o que me permite só treinar, senão tinha que dar aula pra me virar, né? Hoje no Brasil quais são as lutadoras que lhe chamam mais a atenção? A Vanessa Porto foi a adversária mais dura com quem eu lutei. Acho que ela tem tudo pra ir pra frente. Não é mais da minha categoria, mas torço por ela, é guerreira também, é só se dedicar! Foi a única que conseguiu aguentar três rounds com você... Eu lembraria ainda a Ana Maria, da BTT; a Índia, da Macaco Gold Team; a Carina Damm; a Michele Tavares... todas fazendo o Vale Tudo nacional crescer. Que recado você daria pra elas? É seguir seu sonho pra se realizar, não desistir nunca, persistir com sacrifício, que a vitória vem! Na verdade, eu torço pra todas, brasileiras que estão batalhando num país difícil, sem patrocínio... tem menina que tem filho, tem que trabalhar, tem que treinar. Tecnicamente quem vai levar o nome do Brasil longe é a Vanessa Porto, mas sempre vou torcer pras meninas do Brasil. Quais os principais eventos em que você lutou? O Storm de Curitiba, em que lutei com a Vanessa, foi um evento que chamou bastante atenção por ter uma luta principal feminina. Não foram muitos eventos... essas duas vitórias que tive no EliteXC foram muito importantes pra mim. Com quem você treina Muay Thai, Jiu-jitsu, Wrestling e Boxe? Muay Thai treino com o Nilson de Castro, o Osmarzinho e o Daniel Lima; Jiu jitsu treino com o Cristiano Marcelo; Wrestling com o Fabiano e Boxe também com o Osmarzinho. Tem alguém especial que você gostaria de enfrentar? Tem, tem... eu quero tomar o cinturão da Gina Carano! estou batalhando pra isso! tenho mais duas lutas no contrato, que eu vou ganhar se Deus quiser e vai chegar a hora de eu pegar a Gina Carano! Estão pedindo! Acabou minha última luta, o pessoal gritava “Gina, Gina” e eu pedindo junto! Vou trazer esse cinturão pra Chuteboxe. O público já reconhece você, tira foto, pede autógrafo, é isso? É... no começo ninguém me deu moral, mas depois das minhas lutas no Elite, a galera queria me abraçar, dei tanto autógrafo! A galera ficou fanzona e era isso que que queria mostrar, que as mulheres têm capacidade de mostrar técnica de luta como os homens. Eu fiz isso e digo que podem esperar muito mais! Foto: Andrey Klagenberg Com o crescimento do Vale Tudo no Brasil e no mundo, você e Cyborg foram capa de uma revista alemã. Isso contribui pra patrocínio ou é só mídia? Ajuda tudo, sim. A Chuteboxe é uma fábrica de campeões e não será só de homens. Estar na mídia é bom pra qualquer lutador. Uma das lutas mais duras de Cris Cyborg, contra Vanessa Porto no ano de 2005 26 - Falando de Brasil, você acha que as meninas vão obter um patamar maior no futuro ou por enquanto é só lá fora? Agora, o que eu vejo de oportunidade é lá fora. Se no Brasil Foto: Andrey Klagenberg ...eu quero tomar o cinturão da Gina Carano! estou batalhando pra isso! surgirem pessoas interessadas em promover eventos de lutas femininas, vai ter atleta, sim. Está faltando gente que acredite em nosso potencial, como se acredita lá fora! Lá são profissionais, vistas como tal: a atleta tem que treinar, ter disciplina, mostrar dedicação... é preciso que isso seja reconhecido aqui também. E a nossa mídia precisa ver isso, nem masculino eles vêem ainda! Minha luta nos EUA passou num canal aberto... quando vai passar no canal aberto daqui? A gente espera que aqui aconteça um crescimento maior e que alguém visualize o Vale Tudo tanto masculino quanto feminino como profissão mesmo, sobrevivência! Foto: Andrey Klagenberg Qual seu cartel de lutas no Vale Tudo e no Muay Thai? Estou com sete lutas de Vale Tudo, minha estréia perdi por desistência, já contei. Depois foram seis vitórias (duas de MMA, nos Estados Unidos), quatro no primeiro round, exceto com a Vanessa Porto, que foram três rounds e agora com a japonesa Yoko Takahashi. No Muay Thai tenho uma luta. Tenho uns campeonatos de Wrestling, de Jiu-jitsu também. Lutar fora ou no Brasil? Só nos Estados Unidos ou em outros países, como o Japão? Quais seus planos? Se surgir oportunidade de lutar aqui, vou lutar! é gratificante ter pessoas torcendo pela gente. Se vier adversária de fora e se mestre Rudimar concordar, estou disposta pro que der e vier. Luto em qualquer lugar do mundo em que houver oportunidade, dos Estados Unidos ao Japão! Por enquanto quero lutar e lutar pra ganhar, pra pegar cinturão e manter esse cinturão por muito tempo, se Deus quiser. Nos Estados Unidos já venci dois Elite XC MMA! Isso foi muito importante pra minha carreira! Algum recado pra revista Combat Sport, para os seus fãs... fique à vontade. Quero agradecer o pessoal da Combat Sport pela oportundiade de mostrar meu trabalho. Aos meus fãs, podem ter certeza de que sempre estarei treinando pra dar show nas minhas lutas, buscando o nocaute ou a finalização. Pras meninas que querem treinar posso dizer que a luta é a maior adrenalida, no começo você fica descoordenada, tem menina com medo de se machucar, mas depois vai pegando o jeito, vai gostando porque a emoção é muito grande! Cris Cyborg por Evangelista Cyborg “A carreira da Cris, minha esposa, sempre foi muito promissora, desde o momento em que ela começou a treinar, eu sabia que no momento certo ela ia mostrar os resultados positivos do trabalho dela e conquistar seus fãs com o estilo agressivo e técnico que ela tem. É um trabalho que estou acompanhando todo dia, ficamos 24 horas juntos, ela é muito determinada, me serve de motivação como eu sirvo de motivação pra ela, ela contribuiu pra minha carreira, como eu contribuo para a carreira dela. Só somou, só acrescentou! Ela tem uma característica que eu também tenho: somos a cara da escola Chuteboxe. Com certeza ela vai trazer um cinturão logo. E ela ainda é faixa colorida com quatro anos de treino! Imaginem quando tiver sete, oito anos de treinamento e experiência! Que venham as adversárias, que façam fila! Ela é uma grande motivação pra todos na academia!” Evangelista Cyborg - 27