Revista Frutas e derivados - Edição 09

Transcrição

Revista Frutas e derivados - Edição 09
SUMÁRIO
CAPA
MARÇO 2008
PRODUÇÃO
PerformanceCG
FOTOS
Banco de Imagens do Ibraf
26
07
14
ENTREVISTA
07 DIVERSIFICAÇÃO E INVESTIMENTOS
Presidente da Rasip Agropecuária, Raul Anselmo
Randon, fala sobre a importância da diversificação
e investimentos.
FRUTAS FRESCAS
14 MARKETING NO POMAR
A divulgação de frutas com o uso da ferramenta
marketing pode colaborar para o aumento do
consumo de frutas.
33
SEÇÕES
04
06
10
editorial
espaço do leitor
campo de notícias
Panorama dos principais acontecimentos do trimestre.
IMPORTAÇÃO
12
Maçã para climas quentes, nova variedade para suco
de uva e vinho de mesa, cuidados evitam queima solar no
abacaxi e banana mais resistente.
18 QUEM GANHA, QUEM PERDE
Importação de frutas frescas e vinhos concorre
com o produto nacional, mas favorece consumidor com preços e variedade.
30
MEIO AMBIENTE
33 RESERVA LEGAL, TEM QUE TER
Área preservada com mata nativa é obrigatória, com
benefícios ao fruticultor e à sociedade.
opinião
Artigo de Luiz Borges Júnior, fruticultor, analisa barreiras
técnicas internacionais, que podem prejudicar exportação
de frutas e sucos nacionais.
AGROINDÚSTRIA
Parceria entre Embrapa, ABDI e Ibraf vai desenvolver metodologia para ampliar segurança de polpas
de frutas.
tecnologia
Ital adapta tecnologia de destanização do caqui, que
abre portas à exportação.
36
26 PELA QUALIDADE DAS POLPAS
no pomar
37
agenda
38
eventos
Acontecimentos do trimestre.
Fruit Logística supera expectativas na Alemanha.
41
artigo técnico
Com manejo correto, é possível usar água salina na
irrigação para produção de frutas.
44
45
46
campo & cultura
produtos e serviços
fruta na mesa
Banana, musa brasileira.
editorial
MOVIMENTAÇÃO INTENSA
A movimentação
na fruticultura tem
sido intensa: sobem as exportações e também as
importações. A
entrada de frutas
importadas, com
a pêra liderando o
ranking, acrescenta uma nova dinâmica ao mercado
consumidor. Aumenta a variedade
e algumas frutas,
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
produzidas no
representante do Ibraf, Carlos Alberto Albuquerque
país, tiveram pree Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff
ços de comercialização menores. Se as importações não forem bem conduzidas, o produtor poderá ter problemas, alerta o setor. Em processados, o vinho manteve o cenário
crítico concorrendo com importados, que pagam menos impostos em seus países, além de concorrer com o tabu de que “é importado, é melhor”. Por outro
lado, continua a busca pelo aprimoramento da qualidade e segurança das polpas.
É o que pretende o projeto de pesquisa, em parceria com Embrapa, ABDI e
Ibraf, que desenvolverá metodologia para orientar agroindústrias. No campo, o
movimento é pela valorização e aumento do consumo de frutas com o uso do
marketing, velha e útil ferramenta de comunicação. Associações de produtores de
banana e de maçã mostram os bons resultados na escola e nas comunidades. Enquanto isso, pesquisadores apontam formas de usar águas salinas na irrigação em
regiões com recursos hídricos mais parcos. Difícil, mas possível. Vem da pesquisa
também, em parceria com produtores, a solução para destanizar o caqui “Rama Forte” visando a exportação – a fruta nacional, produzida no outono, tem espaço na
entressafra dos possíveis compradores internacionais. Mas para que tudo continue
sua movimentação, o homem precisa lembrar de cuidar da natureza, de onde extrai
os recursos. A situação piora a cada dia e o fruticultor pode colaborar mantendo
matas ciliares e reserva legal. A implantação revela-se difícil para algumas propriedades, mas a lei também prevê formas de recompô-las. A reserva legal é obrigatória
e traz benefícios a todos. Para finalizar, aqui na Frutas, a movimentação chegou
ao Palácio do Planalto. No final do ano, Carlos Alberto Pereira de Albuquerque,
representante do Ibraf em Brasília, entregou a edição de dezembro, em mãos,
ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o que muito nos honra.
Até a próxima edição em junho, se Deus quiser!
Marlene Simarelli
Editora
[email protected]
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REDAÇÃO
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ASSINATURA
a assinatura é gratuita e para solicitar seu exemplar
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ANUNCIOS
para anunciar na Frutas e Derivados
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Alexandre A. Pasqualini
Peruíbe – SP
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“Sou veterinário e prestes a iniciar
a atividade de fruticultor, assim, a
revista Frutas e Derivados é uma
literatura de muita utilidade, bem
elaborada e abrangente no seu
segmento. Continuem assim.”
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ESCREVA PARA
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Antonio Carlos Ferreira
MusA Agroindustrial Ltda, Itajubá – MG
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Endereço:
Av. Ipiranga, 952 • 12º andar
CEP 01040-906 • São Paulo/SP
Fax:
(11) 3223-8766
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“Tive a oportunidade de conhecer
a publicação “Frutas e Derivados”.
Fiquei muito satisfeita em observar
a qualidade deste material e o
quanto é útil para as atividades
didático-pedagógicas da minha área
de atuação.”
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“R ecebi os últimos exemplares de
Frutas e Derivados. Li todos de
ponta a ponta e me entusiasmei pelo seu conteúdo. Mais do
que parabenizá-los pela iniciativa
e qualidade da revista, gostaria de
dizer que a revista veio preencher a lacuna de informações para
os interessados nesse setor no
Brasil.”
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Gizelda Pedrosa
Docente no Cefet, Área de Alimentos/
Agroindústria, Urutaí – GO
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Rita Maria Devós Ganga
Engenheira Agrônoma, Estudante de
Pós-Graduação na Universidade
Federal de Goiânia – GO
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“ A revista está ótima: é leve,
interessante, agradável e bem
ilustrada, chamando a atenção para
sua leitura. Parabéns!”
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Genesio L. Hubscher
Engenharia Elétrica - Desenvolvimento de Satélites de Sensoriamento
Remoto, São José dos Campos – SP
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“Sou iniciante na área de frutas,
com intenção de começar uma
plantação no Rio Grande do Sul. Foi
grande a satisfação em saber deste instituto e de ter acesso à revista Frutas e Derivados, no portal. Fiz pesquisa sobre literatura
brasileira especializada no cultivo
de frutas, mas o que achei foi muito pouco e deixa a desejar. Por isso,
sugiro incluir em cada edição artigos sobre plantação, cultivo, industrialização e comercialização de
uma ou duas frutas específicas. As
condições no Brasil são muito favoráveis para produção de grande variedade, mas são poucas as
produzidas e comercializadas em
quantidade. Há 15 anos viajei para
a China e, naquela época, frutas lá
eram consideradas artigo de luxo.
Retornei várias vezes nos últimos
anos e fico surpreso com a disponibilidade de muitas variedades de
frutas e com a qualidade (exceto
algumas, como laranja, mamão e
banana); melhor que muitas encontradas em nossos supermercados e
produzidas aqui. Na minha opinião,
no Brasil as condições para cultivo
são muito mais favoráveis que na
China, mas, do jeito que está indo,
em alguns anos estaremos importando até frutas de lá.”
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Valtair Niemeier
Engenheiro Agrícola, Porto Alegre – RS
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esta revista no escritório do Deputado Federal Afonso
Hamm, aqui em Porto Alegre.
Trabalho com fruticultura e gostei
muito das matérias; estão de
parabéns.”
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“Conheci
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ESPAÇO DO LEITOR
E-mail:
[email protected]
ENTREVISTA
MAGRÃO SCALCO
RAUL ANSELMO RANDON
DIVERSIFICAÇÃO E
INVESTIMENTOS
Marlene Simarelli
Presidente da Rasip Agropastoril, do Grupo
Randon, Raul Anselmo Randon, 78, recebeu dos
pais uma educação rígida voltada para o trabalho.
Natural de Tangará, SC, tornou-se um autodidata
bem sucedido. Aos 10 anos, já ajudava o pai na
pequena oficina mecânica de equipamentos agrícolas, em Caxias do Sul (RS), para onde a família
havia se transferido. Ao lado do irmão Hercílio, aos
19 anos, iniciou a trajetória para formação do grupo Randon S.A. - Implementos e Participações,, uma
holding mista, formada por oito empresas e mais
de 7.5 mil funcionários. Em 1979, fundou a Rasip
Agropecuária, em Vacaria (RS). Hoje, a empresa
cultiva maçãs das variedades Gala e Fuji, e uvas
viníferas, além de produzir lácteos, entre eles o
conhecido queijo tipo grana Gran Formaggio. A Rasip
é uma das pioneiras, no segmento do agronegócio,
a abrir seu capital social, passando a ter ações negociadas na Bolsa de Valores, a partir do ano de
1998, sendo ainda uma das primeiras a exportar
maçãs, em 1990. Descendente da segunda geração de imigrantes italianos, Randon participou e ainda participa de diversas atividades associativas empresariais e comunitárias. Ao longo de sua vida,
recebeu 142 medalhas, troféus, diplomas, prêmios, títulos e homenagens outorgados por entidades
governamentais e particulares, nacionais e estrangeiras. Um de seus maiores orgulhos é o Programa
Florescer, ligado ao Instituto Elisabetha Randon Pró
Educação e Cultura, que atende a mais de 350 crianças e adolescentes, entre filhos de funcionários e
alunos das comunidades de escolas próximas das
empresas, em Caxias do Sul. As crianças,
selecionadas dentro do critério de vulnerabilidade
social, freqüentam o Florescer, gratuitamente, em
turno complementar ao da escola formal, praticando atividades pedagógicas, culturais e esportivas
para promover sua formação integral e inclusão
7
ENTREVISTA
JOÃO SAMPAIO
RAUL ANSELMO RANDON
social. A metodologia do Programa Florescer é
disponibilizada como modelo, de forma gratuita, a
companhias interessadas em adotar a iniciativa. Para
Randon, não é difícil administrar um programa desta
natureza porque os benefícios suplantam quaisquer
dificuldades. “O obstáculo maior está na tomada da
decisão. Basta querer fazer.” Nessa entrevista,
Randon fala sobre investimentos e diversificação dos
negócios em fruticultura.
“Diversificar ajuda na sustentabilidade
da empresa, no equilíbrio dos
negócios e diminui riscos.”
Frutas e Derivados - Qual o perfil da Rasip dentro do mercado frutícola: o mercado interno ou o externo? Quais as principais vantagens e desvantagens
de cada mercado?
Raul A. Randon - A Rasip possuiuma área total
de 800 hectares de macieiras e uma área produtiva
de 750 hectares, sendo 70% do grupo Gala e 30%
do grupo Fuji, e compra em torno de 12 a 15 mil
toneladas de frutas de terceiros. Considerada a
quinta maior produtora de maçã do País, no ano
passado foram comercializadas 43 mil toneladas. As
exportações atingem 10% desse total. A área destinada à produção de uvas viníferas é de 50 hectares. A
produção de uvas passou de 78 toneladas, em 2006,
para 106 toneladas na safra de 2007. A comercialização
da maçã é distribuída entre o mercado interno, com
85%, e mercado externo, com cerca de 15%. O
mercado interno consome grande parte da produção
brasileira; já, o mercado externo possui critérios mais
exigentes, como frutas maiores, e também são mais
seletivos em relação à coloração das maçãs. Por ser
um mercado difícil de ser conquistado, é importante
manter o atendimento a esses clientes e continuar
fornecendo fruta brasileira para o exterior.
Frutas e Derivados - Qual o faturamento da Rasip
em cada um destes mercados?
Raul A. Randon - Para maçã, o faturamento
de mercados interno e externo gira em torno de
8
R$ 40 milhões. A uva é comercializada somente no
mercado interno e tem um faturamento de cerca
de R$ 170 mil.
Frutas e Derivados - A Rasip obteve financiamento de R$ 1,2 milhão no final de 2007 para investimento em equipamentos. Quais?
Raul A. Randon - Em 2007, a Rasip investiu em
torno de 8 milhões em infra-estrutura, modernização do parque fabril, ampliação de câmaras
frigoríficas e aquisição de maquinário. Para este ano,
a empresa está investindo em novas câmaras AC
Dinâmica. Esta tecnologia utiliza um método baseado na medição do sinal da fluorescência da clorofila contida na casca da fruta, em tempo real. As
câmaras possuem sensores que monitoram o estágio de maturação, a oscilação das frutas, liberando
oxigênio automaticamente, conforme a necessidade delas. O sistema funciona através de um software
de gestão interligado aos sensores. As novas câmaras aumentarão a capacidade de armazenagem,
passando de 18,5 mil para 30,5 mil toneladas.
Frutas e Derivados - O financiamento também
prevê reconversão de pomares. Quais as vantagens
da reconversão?
Raul A. Randon - A reconversão contínua de
pomares possibilita a atualização tecnológica em
processos, variedades e clones cultivados.
Frutas e Derivados - Como a Rasip conseguiu a
liberação deste financiamento para fruticultura? Em
que bases?
Raul A. Randon - Foi desenvolvido um estudo
sobre as necessidades de investimento e o projeto
foi apresentado ao Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que aprovou e liberou um financiamento de longo prazo.
Frutas e Derivados - Outros produtores podem
ter acesso?
Raul A. Randon - Qualquer pessoa pode solicitar o financiamento, porém, cabe ao BRDE a análise de crédito e liberação dos investimentos.
Frutas e Derivados - A Rasip produz maçãs, uvas
viníferas e mudas, além de lácteos. Quais os benefícios da diversificação?
ENTREVISTA
RAUL ANSELMO RANDON
GILMAR GOMES
trará reflexos negativos em seus projetos de exportação em 2008?
Raul A. Randon - O mercado para a exportação é desafiador, mas é necessário dar continuidade aos negócios já existentes com clientes do exterior, que contam com a fruta da Rasip. A pretensão
da empresa é manter as vendas para o exterior em
até 20% da produção.
Raul A. Randon - A instabilidade é um dos fatores constantes nesse setor; a safra muda a cada ano
e as quantidades disponíveis ao mercado, também,
o que influencia muito nos preços das frutas. Além
disso, o agronegócio ainda depende das condições
climáticas, que também são responsáveis pela qualidade da safra. A diversidade nesse segmento é fundamental para equilibrar os negócios, pois a cada
ano pode haver altas e baixas em cada atividade da
empresa. Ter mais de uma atuação ajuda na
sustentabilidade da empresa, no equilíbrio dos negócios e diminui os riscos.
Frutas e Derivados - Na hora de diversificar, o
que o produtor deve considerar?
Raul A. Randon - É preciso analisar o mercado
e as condições da região onde será produzida a
cultura - clima e terreno são alguns dos fatores.
Frutas e Derivados - A quem se destina a produção das uvas viníferas? Há planos para investir na
produção de vinhos?
Raul A. Randon - Existe uma parceria com a
Vinícola Miolo, de Bento Gonçalves, onde a Rasip
é responsável pelo cultivo das uvas viníferas nas
variedades Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Merlot
e a Mioloproduz e comercializao vinho RAR,
que leva as iniciais do nome Raul Anselmo Randon.
Existe a idéia de, no futuro, a Rasip passar a produzir vinhos.
Frutas e Derivados - A baixa cotação do dólar
Frutas e Derivados - Qual o impacto do aumento do imposto sobre operações financeiras (IOF) para
as atividades frutícolas que desenvolve?
Raul A. Randon - O aumento na alíquota do
IOF encarece a tomada de recursos por parte do
produtor. Este aumento de custo dificilmente poderá ser repassado ao produto. Portanto, se não
acarretar em desestímulo do produtor na tomada
de recursos para investimentos, ocasionará em redução de suas margens. Toda cadeia de produção
envolve tributos que giram em torno de 40% sobre o total.
Frutas e Derivados - O que falta para o consumo de frutas no mercado interno crescer?
Raul A. Randon - É preciso que as pessoas se
conscientizem e criem o hábito do consumo de alimentos saudáveis, aumentando o consumo de frutas. Com esse aumento de consumo, crescem as
vendas no país.
“A reconversão contínua de
pomares atualiza processos,
variedades e clones cultivados.”
Frutas e Derivados - Como analisa a fruticultura
nacional daqui a 10 anos?
Raul A. Randon - O mercado frutícola tende a
crescer com o passar dos anos. Deve haver uma
tendência cada vez maior do consumo de alimentos saudáveis. Já é possível perceber a preocupação das pessoas com a saúde e com alimentos mais
saudáveis e nutritivos. Isso deve ajudar no aumento do consumo e crescimento do mercado.
9
CAMPO DE NOTÍCIAS
Daniela Mattiaso
Projeto para Fruticultura
Irrigada terá Nova Licitação
Com o intuito de alavancar a produção de diversas variedades de frutas
com sistemas de irrigação por aspersão
convencional, microaspersão e gotejamento, um projeto piloto vem sendo
desenvolvido no Estado do Tocantins:
o “Projeto de Irrigação Manuel Alves”.
Segundo o engenheiro agrônomo, da
Secretaria dos Recursos Hídricos do
Estado de Tocantins, Alexandre
Barreto Almeida, o projeto está em
fase avançada. Após a instalação dos
primeiros produtores, contemplados
em fevereiro, haverá a 3a licitação do
projeto, com cerca de 73 lotes para o
pequeno produtor qualificado e dez
lotes empresariais. “A Companhia Elétrica do Tocantins está instalando a
rede elétrica no setor hidráulico 1 e
nos lotes empresariais, atendendo,
assim, os lotes já licitados”, relata
Almeida. O projeto surgiu por conta
da difícil situação socioeconômica na
bacia do Rio Manuel Alves, resultante
das condições climatológicas que restringem a economia a culturas de ciclo
curto, cultivadas durante o período das
chuvas. A situação impede o desenvolvimento da região no mesmo ritmo do
restante do Estado, onde a disponibilidade de recursos hídricos é regular
e abundante.
A iniciativa está inserida no Programa
de Perenização de Rios do Sudeste do
Tocantins (Propertins), executado pela
Secretaria dos Recursos Hídricos e
Meio Ambiente, fruto do convênio entre os governos estadual e federal, incluído no Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). O projeto fica entre os municípios de Porto Alegre e
Dianópolis, Sudeste do Estado de
Tocantins, e recebeu em dezembro de
2007 mais de R$ 20 milhões para
custeio da infra-estrutura hídrica. Duas
estações de bombeamento também
se encontram em obras para suprir as
necessidades das áreas a serem licitadas.
O projeto deve gerar 2.500 empregos
diretos e indiretos. Mais informações
no site: www.manoelalves.com.br
Nova Técnica Nacional para
Dessalinização de Água
Salobra
Um grupo de pesquisadores do Labo-
10
ratório de Referência em Dessalinização (LABDES), da Universidade
Federal de Campina Grande (PB) desenvolveu um tipo de membrana, feita
com fibras ocas, para dessalinização de
águas salobras. A nova membrana
pode substituir as importadas, utilizadas hoje nos laboratórios brasileiros
de dessalinização. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Coordenação dos Programas de Pósgraduação de Engenharia (Coppe), da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq/
MCT). A pesquisa buscou estudos que
favorecessem a situação de emergência para autonomia nacional, em termos dos equipamentos necessários,
principalmente no caso das membranas para dessalinizadores. “Estudamos critérios para viabilizar maior
acesso e redução do custo das soluções técnicas já postas em vigor para
fornecimento de água potável às
comunidades do semi-árido brasileiro”, explicou o coordenador do projeto e responsável pelo LABDES,
Professor Kepler Borges França. A produção das membranas ocas, para a
dessalinização de águas salobras e
salinas, encontra-se em fase de consolidação para atingir o patamar de escala industrial. “O principal objetivo foi
aumentar a oferta de água potável com
a maior eficiência na dessalinização de
águas salobras por osmose inversa. Para atingir os resultados, unimos competências e experiências complementares dos pesquisadores da
Paraíba e do Rio de Janeiro, na solução de um sério problema nacional,
que há anos causa flagelo em grande
parte da população do Semi-Árido. A
escassez de água potável traz diversas
seqüelas, como aumento da taxa de
mortalidade infantil e baixo nível de
desenvolvimento social e econômico
da região”, finalizou. Mais informações
pelo telefone (83) 3310-1116 ou
e-mail: [email protected]
Orgânicos têm Novas Regras
para Comércio e Produção
A agricultura orgânica no Brasil tem novos critérios para funcionamento do
sistema de produção, da propriedade
rural ao ponto de venda. As regras
estão no Decreto no 6.323, publicado
no final de 2007, no “Diário Oficial
da União”. A legislação, que regulamenta a Lei no 10.831/2003, inclui
produção, armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização dos produtos.
O decreto cria o Sistema Brasileiro
de Avaliação da Conformidade
Orgânica. A elaboração envolveu a
participação de técnicos e especialistas de entidades públicas e
privadas. Para facilitar a relação
comercial internacional foram utilizadas também como base as diretrizes
de produção e os regulamentos do
Codex Alimentarius, já adotados nos
Estados Unidos, na União Européia
e no Japão.
Está permitida a produção paralela de
produtos orgânicos e não-orgânicos
na mesma propriedade, desde que
haja uma separação do processo
produtivo, sem que haja contato com
materiais e substâncias não autorizados para a agricultura orgânica.
Conforme a legislação, não poderão
ser comercializados como orgânicos
no mercado interno os produtos destinados à exportação, em que as exigências do país de destino ou do importador impliquem utilização de
componentes ou processos proibidos
na regulamentação brasileira. O
decreto autoriza agricultores familiares a realizar vendas diretas ao
consumidor, desde que tenham
cadastro no órgão fiscalizador.
Atualmente, 15 mil produtores atuam
na agricultura orgânica numa área
estimada de 800 mil hectares. Os
segmentos envolvidos na rede de
produção orgânica terão prazo de
dois anos para se adequarem às
regras do decreto. Mais informações
no site do Ministério da Agricultura:
www.agricultura.gov.br ou e-mail:
[email protected]
RS Implanta mais de 5 mil
Hectares de Pomares
Em 2007, o Programa Estadual de
Fruticultura do Rio Grande do Sul
(Profruta/RS), executado pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural Emater/RS, bateu novo
recorde na implantação de pomares.
Foram implantados 5.088 hectares
por meio de 4.172 projetos,
elaborados pela Instituição, com
5.029 beneficiários, a maioria de
agricultores familiares. O investimento
total foi de R$ 54.812.862,66, grande
parte com recursos do Programa
Nacional de Agricultura Familiar
(Pronaf). A área implantada aumentou
em 10% e os recursos investidos em
18%, em comparação a 2006. As
culturas com maior incremento de
área foram a laranja, com 2.204
hectares, que pela primeira vez em
12 anos superou a videira, que
alcançou 1.441 hectares. Destaque,
também, para banana, com 274
hectares; bergamotas, com 217
hectares; e pêssegos, com 206
hectares de novos pomares. Ao todo,
23 espécies de frutas foram implantadas. As culturas da nogueira pecã e
da oliveira, que estão ressurgindo no
Estado, aumentaram 156 hectares e
89 hectares, respectivamente, em
especial nos municípios de Cachoeira
do Sul e de Caçapava do Sul. As
pequenas frutas (amora-preta, mirtilo
e morango) continuam crescendo na
Serra Gaúcha, bem como o abacaxi
e a banana, no Litoral Norte. Com a
expansão da venda para outros
estados, o Vale do Caí se consolidou
como principal pólo de bergamotas
e outros cítricos para consumo in
natura. Pela primeira vez, a maior expansão da fruticultura ocorreu no Alto
Uruguai, com 2.161 hectares, onde
predomina a cultura da laranja. As
regiões da Fronteira Oeste e da Campanha tiveram aumento de 345
hectares, principalmente com projetos de uvas e de citros sem sementes. A região da Serra, maior pólo
brasileiro de frutas de clima temperado, continua se especializando com
a qualificação da produção e introdução de novas variedades, garantindo a expansão do comércio das
frutas para todo o País. O Programa
Estadual de Fruticultura, executado
pela Emater/RS-Ascar, em parceria
com mais de 30 instituições públicas
e privadas, é desenvolvido por meio
dos Subprogramas Implantação de
Pomares, Mudas de Qualidade,
Assistência Técnica e Capacitação e
Mercado e Comercialização.
Seguro Cobre Danos
Causados por Granizo
A Porto Seguro lançou o ‘Porto Seguro Agrícola’ para cobrir danos causados pelo granizo às safras de frutas
como ameixa, caqui, figo, goiaba,
maçã, nectarina, pêra, pêssego e uva,
no Estado de São Paulo. A ocorrência
de granizo é comum a partir do início
da primavera, época que está começando a fase da floração, e se estende
até o término do verão, abrangendo
todo o ciclo de desenvolvimento das
frutas até a colheita. Segundo Adilson
Neri Pereira, diretor de Ramos Elementares, Transportes e Aluguel da
companhia, “a idéia é proteger as safras de frutas principalmente dos pequenos e médios produtores; assim,
podemos contribuir também para a
estabilidade da atividade agrícola”.
Tecnologia para a Quebra
do Coco Babaçu
Estão chegando ao mercado até o
final do ano dois equipamentos destinados à quebra do coco babaçu
(Orbgnyaspeciosa), comum na região amazônica: o “Corta Coco” e o
“Hamster”. Os equipamentos foram
desenvolvidos por meio do Programa Institucional de Iniciação Científica
(Pibic), pela pesquisadora do Grupo
de Engenharia e Pós-Colheita, do
Instituto de Tecnologia de Alimentos
(Ital-Apta), em Campinas, SP, Márcia
Paisano Soler, e o estudante de Engenharia de Alimentos, Eric F. Muto. “Na
quebra manual, as amêndoas saíam,
muitas vezes, bastante danificadas, o
que prejudicava sua utilização. Tentamos desenvolver uma tecnologia de
quebra que possibilitasse o aproveitamento das amêndoas para que
pudesse diminuir o custo da matériaprima e aumentar a ‘produção’ das
quebradeiras”, conta Márcia. O Corta
Coco é composto pelo suporte e pela
base. Em primeiro lugar, o epicarpo
e o mesocarpo são retirados por um
descascador abrasivo depois de um
tratamento térmico. Depois, dois
‘cocos pelados’ - como é chamado o
conjunto composto pelo mesocarpo
e amêndoa do fruto – são colocados
na máquina, que os corta em duas
partes. Já, o “Hamster” é um agitador
acionado por manivela que separa a
amêndoa do mesocarpo. Os dois
equipamentos foram fabricados com
a junção de materiais simples e o
objetivo de melhorar o aproveitamento foi atingido. Aproximadamente
três de cada quatro amêndoas existentes no fruto eram extraídas inteiras, o que corresponde a aproximadamente 75% do total. Por fim, o
rendimento também sofreu um grande impulso: com as máquinas, a média de cocos cortados por minuto é
de 7,88. Já, a média das quebradeiras
é 1,85 cocos/minuto. O projeto ganhou o segundo lugar na categoria de
tecnologia da oitava edição do Prêmio
von Martius, na qual concorreram 34
projetos. O prêmio é oferecido pelo
Departamento de Meio Ambiente e
Sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.
Maiores informações: Márcia Paisano
Soler, telefone (19) 3743-1833 ou
e-mail [email protected]
Programa Capacitará
Técnicos em Boas Práticas
de Fabricação na
Agroindústria
Cerca de 300 técnicos da extensão
rural, vinculados ao Programa de
Agroindústria Familiar, serão capacitados em Boas Práticas de Fabricação (BPF) para garantir a qualidade
e a segurança de alimentos processados em agroindústrias de pequeno
e médio porte. A iniciativa faz parte
de programa firmado entre Embrapa
Agroindústria de Alimentos do Rio de
Janeiro (RJ), Secretaria de Agricultura
Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), prefeituras
e órgãos de extensão rural de 17
Estados e o Distrito Federal. A capacitação abrange teoria e prática,
com visitas monitoradas às empresas locais. Os cursos acontecerão
em São Paulo, Espírito Santo,
Ceará, Pernambuco, Paraíba,
Sergipe, Alagoas, Piauí, Tocantins,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Goiás, Pará, Acre, Amazonas,
Amapá e Maranhão. Os interessados podem entrar em contato
com a Extensão Rural do seu estado
ou com o coordenador do curso,
Fenelon do Nascimento Neto, email: [email protected] telefone: (21) 2410-9500.
11
NO POMAR
Daniela Mattiaso
IAPAR
MAÇÃ
PARA CLIMAS QUENTES
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) desenvolveu uma nova
variedade de maçã mais adaptada às regiões de climas quentes:
a Julieta. Com exigência de 200 a 300 horas de frio para
desenvolvimento, o pesquisador Roberto Hauagge, que
trabalhou no desenvolvimento da fruta, ressalta que a cultivar
precisa de inverno seco ou temperaturas abaixo de 7o.C. A
nova cultivar pode ser plantada nas regiões Sul e Sudeste do
País, onde o inverno não oferece frio suficiente para viabilizar
produção das demais cultivares. Hauagge acrescenta que “a
Julieta também é mais resistente à mancha-foliar-da-macieira e
sofre pouco ataque de oídio, sarna e ácaros.” Segundo ele, é
uma maçã com sabor doce, levemente acidulado e tamanho
médio acima de 150 gramas, com produção que pode superar
35 toneladas por hectare.
Esta é a segunda cultivar desenvolvida pelo Iapar para plantio
em climas subtropicais. Em 1999, o Instituto desenvolveu a
Maçã Julieta precisa de 200 a 300 horas de frio e inverno seco
variedade Eva, também indicada para regiões de climas mais
quentes, como a Bahia, onde é plantada atualmente.
Mais informações com o pesquisador Roberto Hauagge, Iapar em Curitiba (PR), telefone (41) 3356-7349 ou e-mail
[email protected].
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NOVA VARIEDADE PARA SUCO
DE UVA E VINHO DE MESA
EMBRAPA UVA E VINHO
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Nova uva tem sabor típico de Vitis labrusca e boa
resistência a doenças fúngicas
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Uma nova variedade para produção de suco de uva e vinho de mesa
já está disponível para o produtor, a ‘BRS Carmem’. A variedade tem
ciclo tardio, com brotação em setembro e colheita em março na Serra
Gaúcha. No Norte do do Paraná, a colheita ocorre em fevereiro. A
nova uva surge como mais uma alternativa para ampliação do período
de processamento. Resultante do Programa de Melhoramento
Genético da Videira da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves-RS),
destaca-se pelo sabor típico de Vitis labrusca, produzindo suco e vinho
de cor violácea intensa, com características de aroma e sabor
lembrando framboesa, similar ao obtido com a cultivar ‘Bordô’.
Umberto Camargo, coordenador do Programa de Melhoramento
Genético, explica que a cultivar tem bom teor de açúcar, excelente
coloração e boa resistência às doenças fúngicas. A BRS Carmem poderá
ser utilizada sozinha ou em conjunto com outras na fabricação de sucos
e vinhos. O material de propagação - as chamadas “gemas” –estão à
disposição na Embrapa Transferência de Tecnologia - Escritório de
Negócios de Campinas (SP), Av. André Tosello, 209, Cidade Universitária,
Caixa Postal 6062, CEP 13.083-970. Mais informações pelo telefone
(19) 3749-8888 ou pelo e-mail [email protected].
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Segundo os engenheiros agrônomos e pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura
Tropical, Getúlio Augusto Pinto da Cunha e Domingo Haroldo Reinhardt, alguns cuidados
são essenciais durante o cultivo do abacaxi. Entre eles, o desbaste das mudas e a proteção
dos frutos contra a queima solar. Eles explicam que “as plantas da variedade Pérola
produzem um número de mudas do tipo filhote muito maior do que o produtor precisa
para novos plantios. A eliminação do excesso delas tem aumentado o peso médio do fruto
e o vigor das que permanecem na planta”. A recomendação deles é desbastar as mudas,
deixando apenas de quatro a seis filhotes mais vigorosos por planta. “O desbaste deve ser
feito com leve pressão manual sobre o broto, depois de 90 a 100 dias após a indução da
floração, que corresponde à semana posterior ao fechamento das últimas flores da
inflorescência. De preferência, deve-se eliminar as mudas do lado do sol nascente,
favorecendo o crescimento das mudas do lado do sol poente, o que pode ajudar na
proteção dos frutos contra a queima-solar”, explicam eles. A queima-solar ou escaldadura
do fruto do abacaxizeiro é uma anomalia de causa não-parasitária ou não-biológica, que
pode causar perdas de até 70% na produção, a depender da época de colheita. Eles
É necessário protegê-los, sobretudo
explicam que durante o período de maturação (60 dias antes da colheita) os frutos são
em épocas de altas temperaturas
muito sensíveis à queima.“É necessário protegê-los, sobretudo em épocas de altas
e alta radiação solar
temperaturas e alta radiação solar.” A proteção dos frutos do lado do sol poente pode
ser feita de várias formas, conforme descrevem os pesquisadores:
1) Direcionar o plantio, pois plantas posicionadas no sentido Leste-Oeste têm menor intensidade de queima-solar do que as plantadas
no sentido Norte-Sul;
2) Estabelecer programa de indução da floração para que o desenvolvimento da inflorescência e do fruto seja em épocas desfavoráveis
à ocorrência da queima-solar;
3) Adubar de acordo com a análise do solo, para diminuir o tombamento das plantas;
4) Proteger os frutos com o uso de materiais vegetais (capim seco, palha de bananeira, mudas de abacaxi, etc.), sacos de papel, etc.
No caso de papel de jornal, estudos ainda devem ser feitos para confirmar se a tinta da impressão é fator de contaminação do fruto
por chumbo, por isso seu uso deve ser evitado;
5) Amarrar as próprias folhas do abacaxizeiro sobre os frutos das seguintes formas:
a) levantar as folhas mais compridas em volta do fruto, amarrando-as acima dele;
b) fincar piquetes ao longo das linhas de plantio, distantes 2,50 a 3,00 metros, por onde são passados e atados cordões paralelos
(entrecruzados ou em ziguezague), que servem para suspender e sustentar as folhas, em volta dos frutos, protegendo-os
coletivamente;
c) rasgar a maior folha do abacaxizeiro ao meio até metade de seu comprimento, sem destacá-la da planta. Com as duas partes
envolver as demais folhas, que são levantadas em volta do fruto e amarradas acima da coroa.
Segundo os pesquisadores, a proteção com as próprias folhas do abacaxizeiro tem se revelado o método mais econômico.
Maiores informações com pesquisadores Getúlio Augusto Pinto da Cunha ([email protected]) e Domingo Haroldo
([email protected]), Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, telefone (75) 3621-8000, Caixa Postal 007, Cruz das
Almas (BA), CEP 44380-000.
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PROJETO FRUTA PAULISTA
CUIDADOS PARA EVITAR QUEIMA
SOLAR NO ABACAXI
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BANANA MAIS RESISTENTE
A Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus – AM) está lançando no mercado uma nova variedade de banana resistente à Sigatokaamarela, ao Mal-do-panamá e à Sigatoka-negra. A nova cultivar, batizada como BRS Conquista, apresenta produtividade de 40
toneladas por hectare ao ano, conforme os pesquisadores José Clério Pereira e Luadir Gasparotto, fitopatologistas da Embrapa.
A planta tem porte de médio a alto e a polpa dos frutos apresenta sabor adocicado, coloração creme, com bom equilíbrio entre
açúcares e ácidos. Uma das características marcantes dos frutos maduros é seu agradável e proeminente aroma. Mais informações
no site: www.cpaa.embrapa.br ou pelo telefone (92) 3621-0300. A Embrapa Amazônia Ocidental está sediada em Manaus
(AM), na Rodovia AM-10, Km 29.
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13
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RENAR MAÇÃS
FRUTAS FRESCAS
MARKETING NO
POMAR
Diferentes experiências na fruticultura revelam estratégias de
marketing para aumentar o consumo interno, que tem a união
e o público infantil como elementos fundamentais para a
colheita de resultados
Layza Portes
UB
RIC
14
H
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Para alguns pensadores ele identifica e satisfaz
as necessidades humanas e sociais. Para outros, trata-se da arte de vender produtos. Definições à parte, a ferramenta marketing tem essas e outras interpretações, mas sua essência é trabalhar com desejos, anseios e vontades do consumidor. Entender e
despertar esse sentimento, na hora da compra, é
um grande desafio para toda cadeia da
fruticultura nacional: para o produtor,
passando pela agroindústria, distribuidor e, principalmente, para
quem estabelece contato direto
com o cliente.
Criar diferenciais e agregar
valor aos produtos, trazer vantagens a quem os utiliza e, assim, fidelizar o cliente. Para
Richard Jakubaszko, especialista em comunicação no
agronegócio e autor dos li-
Richard Jakubaszko, autor dos livros Marketing
da Terra e Marketing
Rural - Como se comunicar com o homem que
fala com Deus
vros Marketing da Terra e Marketing Rural - Como se
comunicar com o homem que fala com Deus, essa é
a importância da ferramenta.
No ponto de venda, Richard acredita que a fruta
deve destacar três diferenciais: a aparência, o sabor
e as suas vantagens nutricionais ou terapêuticas.
“Conforme o aspecto mais forte em termos de diferencial é o que se deve valorizar na comunicação
e no marketing”, diz. “Algumas frutas permitem
acoplar diferenciais de marketing para uso culinário,
como a manga, uva, maracujá, laranja, kiwi, pêssego, figo, entre outros”, destaca.
Já, com as crianças, o especialista afirma que o
sabor e a aparência são os aspectos que devem ser
trabalhados. Ele destaca que nos Estados Unidos foram estabelecidos diferenciais para o amendoim, o
espinafre e a cenoura, vendendo-os conceitualmente
ao público infantil. “Funciona mesmo e fideliza o cliente, a longo prazo, com a conivência das mães.
Mas é investimento de marketing a médio e longo
prazos”, lembra.
Richard diz que o principal desafio do marketing
no agronegócio para os produtores é reunir
esforços. “Este é o primeiro passo, se não houver a
união nada vai em frente, vai faltar dinheiro e consenso”, completa.
FRUTAS FRESCAS
A FORÇA DA UNIÃO
ABANORTE
Unir esporte, saúde e a banana prata. Foi a partir desses três elementos que os afiliados da Associação dos Fruticultores do Norte de Minas Gerais
(Abanorte), em Janaúba (MG), pensaram em ações
de marketing para promover e estimular o consumo. Desde 2004, desenvolvem uma série de atividades com a fruta, que é responsável por 90% do
volume da produção da entidade.
A primeira das várias atividades foi o patrocínio de
uma equipe de ciclismo de Belo Horizonte. “Foi uma
novidade. E chamou a atenção de todos”, lembra Dirceu Colares, presidente da Associação. Depois, veio
a Copa Abanorte de Futebol de Salão que envolveu
as escolas municipais de Janaúba. Foram 68 equipes e
mais de 680 atletas participantes. Durante o evento
foram divulgados panfletos e folders que destacavam a
importância da alimentação à base de frutas.
A criação de uma mascote foi fundamental para
fortalecer a imagem da banana prata na mente do
consumidor por meio de camisetas, outdoors (cartazes), adesivos e outros materiais promocionais.
Com slogans como “Consuma 1 banana ao dia e
leve uma vida saudável” e “Dê uma banana para a
sua ressaca” - essa última ganhou até uma vitamina,
com receita publicada no jornal, para curar o excesso de bebidas alcoólicas: banana + leite + açúcar
–, a Abanorte foi ganhando força e sendo reconhecida
regionalmente e expandindo suas fronteiras.
Depois foi a vez do concurso para a melhor torta e pratos derivados da banana prata com prêmio
de R$ 300,00. Com júri formado por profissionais do Senac, Senai, um especialista nesta culinária e o mais exigen-
te de todos os jurados, o próprio público; a prova
já está em sua 5ª edição e as melhores receitas são
publicadas nos jornais e na rádio da cidade.
Com o tema “Pratique esportes e consuma frutas”, a entidade patrocinou também a ida do time
juvenil do Cruzeiro para um jogo com a Seleção de
Janaúba no final de 2007.
As ações de marketing da Abanorte não param
por aí: em todas as reuniões da Associação e de
suas 14 afiliadas, no lugar do tradicional cafezinho,
são servidos sucos e frutas. Todas essas promoções
são bancadas pelos 3 mil produtores da Associação
que contribuem de forma voluntária com R$ 0,02
por caixa da fruta produzida. “A ação tem adesão
de 80% dos produtores. Neste ano, queremos atingir 90% deles”, destaca Dirceu, que vê nesse
percentual a recepção positiva por parte dos produtores em relação às ações de marketing. “Tanto
que eles continuam colaborando e esse índice de
contribuição é alto”, diz. Ele salienta ainda que os
recursos arrecadados ainda são baixos para custear
todas as atividades.
Para 2008, está em desenvolvimento um selo
da Abanorte que traz a identificação da origem do
produto. “Queremos expandir esse projeto em nível
nacional”, revela Dirceu. Os principais mercados para
os produtores da Associação estão concentrados nos
estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Nossa idéia
é despertar não só a atenção do consumidor, mas fazer o produtor sentir força na Associação”, comenta
ele. Com todas as afiliadas, a Abanorte reúne uma
produção de 246 mil toneladas da banana prata vindas de áreas que juntas somam 8 mil hectares.
Camisetas, leques e adesivos para carro são algumas das ações para divulgar a banana, feitas pela Abanorte
15
FRUTAS FRESCAS
Há 56 anos no mercado, a Benassi tem muita
tradição e referência não só em produção de frutas
em terras brasileiras - como a uva, o caqui e a
poncan, mas também na produção do kiwi, em terras chilenas - atuando ainda na distribuição e venda
desses alimentos.
Em 1998, o grupo descobriu que poderia melhorar muito a relação com o consumidor e explorar melhor o atendimento no Ponto de Venda (PDV)
por meio de uma figura-chave: o promotor.
Antes, era a própria rede de supermercados ou
o estabelecimento que contratava esses profissionais para atuar no ponto da venda com os produtos
da Benassi. A diretora comercial do grupo, Luci
Benassi, lembra que os promotores recebiam informação, mas não conheciam, na prática, questões
que influenciam diretamente as vendas, como o processo de produção da fruta, a importância da reposição do alimento e a distribuição nas prateleiras.
Foi nesta etapa decisiva, a compra, que a Benassi
identificou a lacuna e passou a treinar e orientar diretamente seus promotores. “O setor tinha pouco
conhecimento desse cuidado no PDV. Os supermercados não davam atenção para o setor de hortifrutis,
porque dava pouco lucro. Mas depois começaram a
ver com outros olhos. Juntos, nós, a concorrência e
todo o setor fomos nos aprimorando”, recorda Luci.
Na abordagem com o consumidor, o promotor
da Benassi - devidamente uniformizado - interage
com o cliente, questiona qual sua necessidade diária e mostra as frutas em exposição mais adequadas
para consumo. “Com a fruta, você tem que trabalhar muito a questão do sabor. De repente, o cliente leva um produto com característica alterada, já
passado ou verde, consome em casa e não gosta.
Depois, fica difícil ele comprar novamente em um
curto período. Esse único produto pode condenar
a próxima compra”, destaca Luci.
O promotor também pode ser a porta de entrada para apresentar novos sabores ao cliente e
estimular a degustação de frutas pouco conhecidas,
como o mangostin e a atemóia. “O segredo é a
degustação”, revela Luci, que acrescenta: “O cliente também compra com os olhos.”
Hoje, o grupo conta com mais de 1.000 promotores espalhados por todo o Brasil. São fornecedores
de grandes hipermercados, como o grupo Walmart,
Pão de Açúcar e Carrefour. Com essas ações no Ponto de Venda há uma década, a Benassi registrou um
crescimento médio de 30% nas vendas. Para o grupo, esse diferencial refletiu em toda a cadeia, pois com
o crescimento das vendas, mais se exigiu de todos os
parceiros envolvidos, principalmente na qualidade da
matéria-prima fornecida pelo produtor.
16
ABPM
AÇÕES NO PONTO DE VENDA
Moisés Albuquerque: projeto atingiu 60% das
escolas, isto é, 280 mil alunos, em 2007. Objetivo
é chegar a 100% este ano
A Benassi também terceiriza todo o setor de
hortifrutis de supermercados de pequeno e médio
portes. “Em alguns estabelecimentos, onde atuamos,
praticamente dobramos a venda. Isso acontece, pois
em um mercado o dono tem que entender um
pouco de tudo e como entendemos de frutas e legumes, só focamos nessa área, que é a nossa especialidade: o resultado vem”, enfatiza.
Com todo este portfólio e conhecimento, a
Benassi atende a todos os públicos e identifica uma
necessidade comum a todos eles. “Ninguém quer
comprar uma fruta e ter que jogá-la fora depois.”
PÚBLICO INFANTIL,
RESULTADO CERTO
Com o objetivo de implantar novos hábitos alimentares no dia-a-dia das crianças, a Associação
Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), com
sede em Fraiburgo (SC), teve a idéia de levar para
a rede de escolas estaduais o projeto Mais Frutas
na Escola, baseado no projeto The National School
Fruit Scheme (Programa Nacional Frutas na Escola),
da Inglaterra.
Na primeira fase, em 2006, a Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina e a ABPM, atingiram cinco regionais, 134 mil alunos do ensino
fundamental, de 5ª a 8ª série, de 275 escolas. No
segundo ano, em 2007, o Mais Frutas na Escola atingiu 11 regionais, 471 escolas, 280 mil alunos, cerca
de 60% do Estado. A meta da ABPM é chegar a
100% da rede em 2008.
As frutas foram fornecidas pelas empresas associadas da ABPM por meio de uma licitação rígida para
a alimentação escolar feita pela Secretaria Estadual. “A
nossa primeira preocupação foi com a qualidade desse produto e todo serviço ligado a ele”, explica Moisés
Lopes de Albuquerque, gerente executivo da ABPM
e um dos responsáveis pelo projeto. A APBM investiu R$ 40 mil na produção de material de divulgação e outras ações de apoio ao projeto.
A cada três semanas, todo aluno dessas escolas
ABPM
Maçãs conquistaram crianças em
projeto conduzido pela ABPM, em
Santa Catarina
ABPM
recebia uma maçã. Folhetos educativos entre os estudantes foram distribuídos para falar da importância da boa alimentação. As merendeiras ganharam
um livreto com orientações de como manipular a
fruta. À escola também foi fornecido um DVD
educativo.
O projeto pedagógico recebeu uma adequação
para que cada disciplina relacionasse o tema ao conteúdo. Em casa, os pais receberam cartas para
orientá-los sobre o projeto e a importância de uma
alimentação saudável. Todo o trabalho também teve
o acompanhamento de nutricionistas.
No programa da Inglaterra, especialistas identificaram que a escola pode ser um caminho para
implantar novos hábitos alimentares e aumentar o
consumo de frutas e verduras. Em 2007, a pesquisa mostrou que 65% das crianças passaram a comer frutas diariamente. Contra 46% em 2002, no
início do programa. O número de porções praticamente dobrou: de 7,5 para 14 porções de frutas
semanais por aluno. “No Brasil, a reflexão em termos de consumo vai levar alguns anos. Mas precisamos nos basear nesses bons resultados”, defende
o gerente executivo da ABPM. “É importante que
os produtores olhem com muita atenção a essa tendência”, destaca.
Implantar bons hábitos alimentares desde cedo
parece ser um caminho para colher bons resultados. As crianças recebem bem essas e outras novidades. Foi acreditando no potencial do público infantil que o grupo Fischer – Citrosuco -trabalha com
o licenciamento da maçã Turma da Mônica desde
1998, quando adquiriu a empresa Pomelle, que era
detentora dos direitos da marca desde 1994. Degustação, distribuição de brindes, gibis, imãs de geladeira e livros de receitas com os personagens de
Maurício de Souza são algumas das ações no PV.
Segundo o supervisor de vendas da Fischer,
Ronaldo Carneiro Walter, desde o lançamento do
produto, a empresa viu a necessidade de investir
nessas ações de marketing, já que a maçã Turma da
Mônica deixou de ser uma commodity, com forte identificação pelo público infantil. “Com qualidade reconhecida pelo consumidor”, lembra. A maçã Turma da
Mônica é um dos principais produtos da empresa e
representa 15% do volume de produção da Fischer.
Além dessas ações, a Fischer também co-patrocina atividades esportivas, como os 10 Km da Tribuna de Santos (2005),
a Triathlon Nissan (2006)
e anuncia em revistas
especializadas.
Plano para consumo interno
Desenvolver estratégias de marketing para estimular o consumo interno de frutas é uma tarefa que há mais de uma década
o Ibraf tem se empenhado e levado adiante para outros parceiros. O objetivo é mobilizar diferentes públicos sobre a importância de se unir esforços para mudar a cultura do brasileiro em relação ao consumo de frutas.
Trata-se de um plano de marketing para consumo interno, que
envolve órgãos, entidades, profissionais das áreas da saúde,
nutrição e educação, para disseminar bons hábitos alimentares e estimular o consumo de frutas. Para cada público-alvo,
uma ação específica. Um médico pediatra, por exemplo, pode
informar à mãe, quais os benefícios de determinada fruta para
o bom desenvolvimento da criança. As ações estão relacionadas ao cotidiano desses profissionais.
O diretor do Ibraf, Jean Paul Gayet, explica que um dos problemas para se trabalhar essas ações de marketing, é mobilizar a estrutura das agroindústrias. No outro lado da cadeia, o
consumidor tem muito conhecimento sobre os valores
nutricionais desses alimentos, sabe a sua importância, mas na
prática, não incorpora a fruta na alimentação. “A maioria dos
consumidores já teve alguma experiência negativa ao adquirir
uma fruta – seja por ter comprado um alimento passado ou
que não estava maduro – e isso provocou um bloqueio, uma
frustração”, comenta Gayet.
Ainda, segundo o diretor do Ibraf, as condições que esses
alimentos chegam aos supermercados, muitas vezes se devem
à grande concorrência, principalmente no começo e no fim da
safra. É a corrida do produto para chegar antes na prateleira e
ganhar o consumidor, e ainda, a lei da pouca oferta para vender a fruta a preços mais altos no fim da temporada.
Produtores, empresas privadas e órgãos governamentais interessados nesta parceria podem obter mais informações na página do Ibraf (www.ibraf.org.br) ou entrar em contato com o
Instituto pelo [email protected].
17
A variação cambial facilitou a entrada de frutas frescas importadas,
aumentando a variedade para o consumidor, mas a tendência de
crescimento pode vir a afetar a produção nacional
Beth Pereira
18
IMPORTAÇÃO
Com a desvalorização do dólar, as importações
de frutas frescas e processadas aumentaram, concorrendo com o produto nacional. Para se ter uma
idéia deste crescimento, em 2003, os gastos do País
com essas compras totalizaram US$ 68 milhões e
saltaram para US$ 212 milhões no ano passado, um
aumento de 211% em 5 anos, conforme estatísticas da Secex (Secretaria do Comércio Exterior)/
Datafruta-Ibraf. Vantagem principalmente para o
consumidor, em termos de variedades e preços baixos. Na outra ponta do mercado, quem exportou também sentiu os efeitos do afrouxamento do câmbio. A situação
não freou as exportações brasileiras de frutas frescas, que têm
apresentado um aumento gradual
ano a ano, porém menor do que
as importações. As mesmas fontes revelam que de 2003 a 2007
ocorreu um aumento de 90%
nas vendas externas de frutas, que
subiram de US$ 337 milhões para
US$ 642 milhões.
Para o coordenador do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial
(Pensa), da Universidade de São
Paulo de Ribeirão Preto (SP),
professor Marcos Fava Neves,
o aumento das importações tem dois aspectos distintos: o consumo e a produção. “Por um lado é bom
para o consumidor final, pois tem acesso a produtos
de outros países e ajuda a controlar preços; por outro
lado, realmente preocupa a produção nacional, no caso
de algumas frutas produzidas no País, como maçã, uva,
pêssego, entre outras. Com a situação cambial atual,
Neves acredita que as importações continuarão aumentando. “Essa é uma tendência e uma ameaça aos
produtores nacionais”, alerta. “É necessário olhar com
carinho como esta produção é feita lá fora, se é subsidiada, se atende aos padrões de sanidade e segurança, e buscar alternativas para aumentar a
competitividade brasileira”, recomenda.
Já, o aumento das exportações de frutas reflete
o resultado de alguns fatores combinados, na análise do coordenador do Pensa: “Do amplo trabalho
estratégico de marketing internacional, feito pelo
Ibraf, Apex e outros órgãos do Brasil, a uma maior
competitividade empresarial e orientação mais forte para a demanda, produzindo cada vez mais o
que o consumidor final quer, principalmente no
Nordeste, com destaque para o Vale do São Francisco e o trabalho da Codevasf”, detalha.
Neves também credita o aumento das exportações à presença de grandes multinacionais, produtoras de frutas no Brasil, casos da Del Monte,
Chiquita, entre outras, fazendo com que os canais
de distribuição estejam garantidos para o produto
brasileiro. “Daí o crescimento vigoroso das nossas
exportações, quem sabe a caminho de US$ 1 bilhão num futuro próximo, mas ainda muito, muito
aquém, daquilo que podemos”, destaca. “Creio ser
possível, em dez anos, alcançarmos US$ 4 ou US$
5 bilhões”, prevê.
Fonte: Secex/Datafruta/Ibraf
O superintendente da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), Alberto
Sabino Santiago Galvão, afirma que hoje o produtor também está buscando alternativas para a
comercialização da safra e o mercado interno é uma
opção bastante interessante, pois absorve mais de
95% da produção nacional de frutas in natura. “Os
fruticultores estão conscientes de que as exportações não são favoráveis, por causa do câmbio, e
estão realizando investimentos para ampliar os canais de comercialização no mercado interno”, observa e acrescenta que o maior empecilho é a falta
de motivação por causa do preço. Galvão faz questão de ressaltar a qualidade da fruta brasileira
direcionada ao consumo interno. “Os produtos que
vão para o Sul, Sudeste e para as capitais do Nordeste são de alta qualidade”, argumenta.
SITUAÇÕES DIFERENTES
“Para quem produz frutas vermelhas,, a situação
do mercado ficou um tanto complicada. Com a
desvalorização do dólar, a indústria importou muita
fruta, deixando o produtor brasileiro sem saída,
19
IMPORTAÇÃO
ÍCOL
A FR
A
IBUR
GO
Walmir Varela,
Agrícola Fraiburgo
AGR
obrigando-o, em certas ocasiões, a vender o seu
produto abaixo do custo.” A análise é de Roque Valcir
Casett, sócio-gerente da Italbraz, empresa de Vacaria
(RS), que importa e exporta frutas vermelhas.
Do total comercializado pela empresa, 90%
corresponde às exportações e 10% às importações.
Cassett acredita que “todo exportador foi afetado
pela desvalorização do dólar, porém, quem vende
para a Europa não tem tanto problema, pois opera
em euro”. Além de sua produção, para atender ao
mercado interno, a Italbraz importa mirtilo, framboesa e morango. “Ainda não dominamos a produção dessas frutas, que são muito exigentes. Não é
só uma questão de quantidade, temos muito o que
aprender para produzi-las com qualidade, que é o
grande diferencial”, diz.
Quanto ao setor vitivinícola, o cenário continua
crítico para o vinho nacional, que há duas décadas
sofre pressão da concorrência com os produtos
chileno e argentino. Tanto que, para enxugar os
estoques das vinícolas do Rio Grande do Sul, no
ano passado, o governo realizou leilão de vinhos
finos, o qual foi comercializado a granel e adicionado ao vinho de mesa pelos engarrafadores (veja box
página 25). No entanto, a situação é bem diferente
Fonte: CEAGESP
20
para os produtores de frutas de caroço de São Paulo. Timotheus Johannes
Van de Laar, sócio-diretor da Holantec, empresa de Paranapanema (SP),
que presta consultoria em frutas de caroços (pêssego, ameixa, nectarina,
entre outras), afirma que não houve pressão dos produtos importados
no período da safra paulista dessas frutas, de setembro até 15 de novembro de 2007. “Os produtores venderam bem a safra, os preços foram bons”, garante. “Não sei o que ocorreu na Europa com relação às
frutas de caroços no ano passado, mas o certo é que as importações não
afetaram o fruticultor brasileiro.”
CONCORRÊNCIA NA MAÇÃ
O supervisor de Vendas da Agrícola Fraiburgo S/A, Walmir Varela,
avalia a concorrência com a fruta importada como o maior problema
dos produtores de maçãs. “Em 2007, os custos de produção mantiveram-se altos, em reais, enquanto a fruta importada teve seu preço reduzido com a desvalorização do dólar”, explica.
Em contrapartida, Varela diz que o produto importado pressionou
o preço da maçã nacional, que alcançou patamares muito baixos, não
cobrindo, em alguns casos, os custos de produção. “Não temos como
calcular, mas sabe-se que as perdas foram grandes”, avalia.
No ano passado, o Brasil importou 77.741 toneladas de maçãs, ante
68.574 toneladas em 2006, um aumento de 12%, conforme dados da
Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM). “O mercado brasileiro é muito bem ofertado pela fruta nacional, mas um aumento significativo nesse volume poderia trazer sérios prejuízos aos produtores
e mesmo aos importadores”, afirma Pierre Nicolas Pérès, presidente
da ABPM e da Associação Mundial dos Produtores de Maçã e de Pêra.
Ele aponta tendência, ainda que lenta, de aumento no volume importado. “O volume, que chegou a pouco mais de 40 mil toneladas em
2003 e 2004, alcançou 60 mil toneladas, superando a média dos últimos dez anos”, ilustra. Segundo Pérès, o volume das importações só
não foi maior porque a Argentina enfrenta sérios problemas
fitossanitários, causados pela praga Cydia pomonella, e porque o brasileiro não aprecia a maçã Red Delicious, principal variedade importada
daquele país. “Em geral, o brasileiro não gosta da Red Delicious. É uma
maçã senescente (fofa), sem suco, farinhenta.A única vantagem que a
fruta importada pode ter hoje é em relação ao preço”, salienta.
AMEAÇA FITOSSANITÁRIA
Por essa razão, Pérès afirma que a maior preocupação brasileira
não é com a importação, mas com a condição fitossanitária do produto
importado. “A Argentina é uma grande ameaça em relação à Cydia
pomonella, até porque foi responsável pela inserção da praga no Brasil,
no passado, e graças a um programa de erradicação, estamos quase
exterminando-a em nosso País”, observa.
Embora o controle feito por fiscais brasileiros na Argentina tenha
rechaçado muitas cargas, no ano passado, a imprensa do Paraná noticiou a descoberta de rotas de contrabando de maçãs naquele Estado.
“Essa é a nossa maior preocupação, no que se refere à importação,
por enquanto.”
A expectativa de Pérès é que o governo e a Polícia
Federal tomem providências em relação às constatações
de contrabando e que o Ministério da Agricultura mantenha rigor na Análise de Risco de Pragas de países que têm
21
CEAGESP
se candidatado a exportar maçãs para o Brasil. “O segmento da maçã gera mais de 150 mil empregos e esta
riqueza socioeconômica precisa ser preservada. Situações que permitam a introdução de pragas temíveis,
como foi o caso da Cydia pomonella, jamais devem
tornar a acontecer”, enfatiza.
Com relação à produção nacional, o volume não
tem sido diretamente afetado, pelo menos de maneira imediata, já que se trata de uma cultura perene, na avaliação do presidente da ABPM. “O ponto
sensível é que as exportações perderam muito a
competitividade”, argumenta.
ACEITAÇÃO INTERNACIONAL
Mesmo assim, o volume exportado tem crescido, graças à aceitação e à qualidade da fruta nacional. Segundo o presidente da ABPM, a desvalorização do real no passado criou um atrativo sobre o
preço, o que estimulou os europeus a consumirem
a maçã brasileira. “Quando se permitiram degustar
a maçã brasileira, os europeus foram conquistados
pela boca, afinal, a Gala e a Fuji, por sofrerem influência tropical, além de muito suculentas, são bastante doces. Essas qualidades de consumo elevaram muito o conceito da maçã brasileira no exterior e a fez ganhar mercado.”
Mas faz uma ressalva: “Enquanto o governo não
reduzir o custo Brasil, esse diferencial da fruta brasileira é prejudicado em termos de competitividade
e ficamos dependentes de um câmbio mais
favorável para exportarmos com a rentabilidade mínima necessária.”
Em linhas gerais, Pérès considerou 2007 um ano
difícil para o setor, que enfrentou aumento de custos, valorização do real, volume importante de safra (cerca de um milhão de toneladas) e sérios problemas com tempestades de granizo, que penalizaram a qualidade do produto. Em 2008, a expectativa é de queda do volume de produção, de 10% e
15% em relação a 2007, e alta qualidade de frutos,
o que, em sua opinião, contribuirá para maior equilíbrio entre oferta e demanda.
COCO TEM SALVAGUARDA
O câmbio não chegou a prejudicar a indústria e
o produtor brasileiro de coco, pois existe o Acordo
de Salvaguarda Comercial, por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC), que protege a
cultura e limita as importações. A cota de importação está fixada em torno de 5.000 toneladas/ano,
segundo o diretor-presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco do Brasil (Sindicoco),
Francisco de Paula Domingues Porto. “A quota dá
um certo conforto ao produtor”, diz.
22
Pera é a líder entre frutas importadas, que, por enquanto,
não prejudicam mercado produtor nacional
Porto considera que o limite de importação previsto na salvaguarda não afeta o setor, uma vez que
as indústrias brasileiras utilizam, atualmente, de 30%
a 40% do total estabelecido. “Isso demonstra que a
oferta de coco no mercado interno é suficiente para
atender ao consumo. Na contramão da legalidade,
porém, tem ocorrido o aumento das importações,
motivado por contrabando e fraudes realizadas por
alguns importadores, o que foi devidamente comunicado às autoridades competentes pelo Sindicoco”,
denuncia Porto.
Ele conta que o sindicato já tomou várias medidas para proteger o produto brasileiro, tais como
Direitos Compensatórios, há dez anos; aumento da
Tabela da Tarifa Externa Comum (TEC) para 55%,
há oito anos; além do Processo de Salvaguarda, há
sete anos e em vigor.
Embora o setor esteja protegido, o presidente
do Sindicoco aponta outro problema. “Por receberem fortes subsídios nos países de origem (em torno de 42 tipos diferentes), o preço do produto
importado é três a quatro vezes inferior ao custo
de produção do nacional”, diz.
FALTA MARACUJÁ
Embora ostente a posição de maior produtor e
consumidor de maracujá do mundo, atualmente o
Brasil – que no passado também foi um grande exportador de suco da fruta – tem de realizar importações para atender à demanda interna de suco da
fruta. O problema reflete a quebra da produção
brasileira, causada pela ocorrência de doenças, principalmente a virose PWV (vírus que provoca o en-
IMPORTAÇÃO
durecimento dos frutos e aniquilam a planta), de
acordo com o presidente da Associação dos Fruticultores da Região de Vera Cruz (SP) (Afruvec) e
do Fundo Passiflora, Ângelo Domingos Rossi.
Segundo Rossi, que também é agricultor e consultor em Economia Agrícola, a importação de suco
de maracujá tem papel importante na formação do
preço pago ao produtor pela matéria-prima (fruto).
“Em razão da vantagem cambial, se indústrias importarem suco em grande quantidade, evidentemente haverá diminuição da demanda de frutas para
o processamento e, em caso de safra cheia, poderá sobrar fruta no mercado interno, levando os preços para baixo”, analisa. “De certa forma, esse fato
já ocorreu em outras ocasiões, pressionando a oferta
de maracujá para o consumo in natura, refletindo nos
preços das frutas frescas, que foram deprimidos.”
Mas, de modo geral, no caso específico do maracujá para consumo in natura, ele afirma que não
há concorrência externa. A produção ocorre praticamente o ano todo, com maior oferta entre dezembro e julho. Na entressafra, de agosto a no-
vembro, o mercado é abastecido pela produção das
regiões Norte e Nordeste.
O mercado interno do maracujá se subdivide em
dois grandes segmentos: o de consumo in natura e o
industrial. No consumo in natura, cujos preços são mais
favoráveis para o produtor, o consumidor define sua
preferência pela aparência dos frutos, valorizados pela
ausência de defeitos na casca (fruta lisa e sem manchas) e calibre. “Quanto maior, melhor”, explica Rossi.
Por sua vez, a demanda industrial, para a produção de sucos, tem como foco o rendimento (relação peso da polpa ao peso total), brix e acidez, fatores fundamentais e diferenciais da matéria-prima.
O maracujá tem como característica ser uma
cultura de caráter nômade, ou seja, migra de uma
região para outra, por causa da existência de pragas
e doenças, que exigem qualificação profissional para
o manejo, bem como o desenvolvimento de pesquisas para a solução de gargalos em relação às variedades existentes. Segundo Rossi, atualmente as
pesquisas estão buscando uma planta transgênica.
De mais concreto, porém, ele cita a criação de três
23
FRUGAL IMPORTADORA E EXPORTADORA
IMPORTAÇÃO
híbridos de maracujá que, em tese, são tolerantes
ao PWV, atualmente em testes a campo, para comprovar a tolerância.
Segundo o presidente da Afruvec, entre as indústrias processadoras de suco de maracujá, apenas a Maguary, de Araguari (MG), tem um esquema
de integração com 900 produtores. As demais empresas do setor preferem comprar a fruta no mercado para o processamento. O País importa suco
de maracujá para suprir a demanda quando a situação cambial facilita. “Quando a importação do suco
não é vantajosa, a indústria acaba pagando mais pela
matéria-prima, competindo pela fruta no mercado
in natura, cujo preço é mais vantajoso”, afirma.
VAREJO: VARIEDADE E
QUALIDADE
Embora não possua dados estatísticos, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) sentiu os
efeitos da desvalorização do dólar no aumento
do volume de frutas importadas em São Paulo, maior mercado consumidor do País. “Em termos de
custo-benefício, as maiores vantagens da fruta importada comparada à brasileira são variedade e
qualidade, em alguns produtos, como kiwi, pêra e
frutas de caroço (pêssego, ameixa e nectarina)”, argumenta o vice-presidente de Comunicação da entidade, Martinho Paiva Moreira.
“Outra grande influência nesse mercado, que é
a busca cada vez maior dos brasileiros por
uma alimentação mais saudável, tem incentivado o
consumo maior de frutas e produtos com mais qualidade”, observa. Segundo Moreira, as frutas mencionadas e alguns tipos diferenciados de laranjas lideram a comercialização entre as importadas. Procurada pela reportagem para falar sobre a situação
nacional, a Associação Brasileira de Supermercados
(Abras) não se manifestou.
CONCORRÊNCIA SAUDÁVEL
O aumento das importações trouxe benefícios
não apenas para a população, mas para todo o
mercado, pois os preços mais acessíveis aumentaram a concorrência saudável entre as empresas. A
análise é de Gilson Martins, gerente da Frugal Importadora e Exportadora Ltda., que comercializa,
entre outras frutas, pêra, ameixa, pêssego e maçã,
sendo esta última importada e nacional.
“Com a desvalorização do dólar, os produtos
importados se tornaram mais baratos, incentivando
o aumento do consumo. A concorrência ampliou a
variedade das frutas”, pondera.
Na opinião de Martins, o consumidor foi o grande beneficiado com o aumento das importações.
24
Importações trouxeram benefícios à população e a todo mercado,
Gilson Martins
“Todas as frutas importadas pressionam o mercado, seja pela variedade, preço ou qualidade. O incremento do consumo de frutas também teve reflexos positivos nas vendas, no faturamento e no crescimento das empresas”, avalia.
“Os produtores tiveram de se adequar e melhorar a produção de suas frutas; as empresas passaram a ter mais opções de fornecedores com produtos de melhor qualidade”, detalha.
No ano passado, a Companhia de Entrepostos
e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp)
comercializou 196.280 toneladas de frutas frescas
importadas, ante 191.780 toneladas em 2006, confirmando um aumento no volume das importações,
favorecidas pela queda do dólar, além de maior diversificação dos produtos ofertados (veja tabela
página 20).
No entanto, o assistente-executivo da Seção de
Economia e Desenvolvimento da empresa, Josmar
Macedo, considera que a entrada de frutas estrangeiras não afetou as vendas dos produtos nacionais porque o volume não foi tão significativo. “O aumento no
volume de comercialização é até positivo, uma vez
que acaba gerando mais emprego”, afirma.
Entre as importadas, Macedo cita a pêra como
líder em volume e vendas, com movimentação de
R$ 190,8 milhões, em 2007, ante R$ 183,7 milhões,
em 2006. Aliás, ocupa a quarta posição na lista das
frutas comercializadas pela Ceagesp, atrás apenas
do tomate, da maçã e da laranja, que são as três
primeiras do ranking, pela ordem.
A Ceagesp registrou queda no volume de
algumas frutas importadas, caso da maçã, do
damasco e marmelo, o que reflete a produção e a
demanda nacional.
Vinhos, concorrência dos estrangeiros
GILMAR GOMES VINOTECH 2008
O vinho é hoje um dos produtos mais globalizados. Os Excedente mundial e leilão nacional
produtores nacionais estão aprendendo que é preciso “Considerando a conjuntura internacional, com excedente
competir, interna ou externamente, com produtos de de estoque mundial na faixa de 5 bilhões de litros de
todo o mundo. “O que prejudica é, ainda, a imagem que vinho, na média dos três últimos anos, os resultados do
o consumidor atribui, como melhor, ao produto impor- setor foram satisfatórios para o Brasil.
tado e, por outro lado, a facilidade com que o comércio O excedente mundial acabou repercutindo no País, agrailegal de vinhos (descaminho) ocorre nas regiões de fron- vado pela entrada anual de 12 milhões a 15 milhões de
teiras do País e, daí, atingindo grandes mercados”, sa- litros em descaminho (contrabando)”, de acordo com o
lienta o diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho presidente Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viti(Ibravin), Carlos Raimundo Paviani.
cultura, Vinhos e Derivados, Hermes Zaneti, que tam“No curto prazo, há necessidade de desmistificar a idéia bém é diretor-superintendente da Vinícola Aurora.
de que basta ser importado para ser vinho bom. É urgente Segundo ele, no ano passado, o Brasil comercializou 19
a necessidade de uma forte campanha, que evidencie milhões de litros de vinho, volume muito próximo ao
a grande evolução qualitativa dos vinhos nacionais e a que entrou de forma ilegal.
sua boa relação preço-qualidade”, sugere o economista
“De cada quatro litros comercializados, três são
José Fernando da Silva Protas, da Embrapa Uva e Vinho, importados. Nenhum país faz isso”, reclama. E
de Bento Gonçalves (RS).
mais: somente do Chile, foram 15 milhões de
As importações de
litros, favorecivinho cresceram
do pelo acordo
19% em 2007, em
bilateral, seguncomparação
a
do o qual o
2006. “Isto é poBrasil permite
o ingresso, sem
sitivo, pois denota
um mercado em extributação, dos
pansão, entretanvinhos chileto, a produção nanos. “Além do
cional não está se
câmbio, outro fabeneficiando”, extor que favorece
plica Paviani. Ele
as importações
acrescenta que a
e o contrabando
desvalorização do
de vinhos é a
dólar tem facilitatributação, que
do a entrada de
nos países do
Investimentos para expansão da área cultivada de uvas aumentou produção de
vinhos importados vinhos finos e estoques
Mercosul gira em
e prejudicado os
torno de 25%,
esforços para exportar. “Para as indústrias, o impacto é enquanto no País chega a 53%”, ressalta Zaneti.
negativo e pressiona pela redução das margens. Por ou- Em 2007, também ocorreram quedas nas vendas, tanto
tro lado, obriga as empresas a buscarem outras formas no segmento dos vinhos finos quanto no dos vinhos de
de distribuição e outros mercados.”
mesa, embora nos finos as estatísticas apontem cresciO setor vitivinícola nacional vem sendo afetado pela mento. Isto porque foi registrado o volume de vinhos
política cambial desde meados da década de 90. “Foi a finos comercializados a granel por meio de leilão propartir da paridade estabelecida pelo Plano Real, em 1994, movido pela Companhia Nacional de Abastecimento
que se iniciou esta verdadeira invasão de vinhos es- (Conab), ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
trangeiros, um processo que se tem mostrado inexorável”, Abastecimento, por meio do mecanismo Prêmio para Esreclama Protas. O mais grave, em sua opinião, é que nos coamento da Produção (PEP).
últimos anos estão sendo realizados investimentos para De acordo com o técnico da Conab, Paulo Morceli, o
a expansão da área cultivada de uvas finas, aumentan- leilão foi uma forma de escoar o excedente de vinho
do a produção de vinhos nesse segmento, sem que haja vinífero a granel do Rio Grande do Sul. “O produto não
espaço no mercado para colocação do produto, refletin- foi absorvido completamente no mercado por causa da
concorrência de similares do Mercosul”, justifica.
do em estoques crescentes, anualmente.
No período de 2002 a 2007, os volumes evoluíram de O setor está trabalhando sob a coordenação da Câmara
26,5 milhões de litros para 60,8 milhões de litros, um Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, Vinhos e
aumento de 129% nas compras externas. Segundo Protas, Derivados, para a realização de leilão de PEP, novamenno ano passado, 70% dos vinhos finos eram importados.
te alterando a destinação do produto para destilação.
25
AGROINDÚSTRIA
PELA QUALIDADE DAS
POLPAS
Projeto de pesquisa, em parceria entre Embrapa, ABDI e Ibraf,
desenvolverá metodologia para orientar agroindústrias a
ampliar qualidade e segurança de polpas de frutas
AMAURI ROSENTHAL
Layza Portes
Apenas processo
da pasteurização
não garante
qualidade do
produto - Amauri
Rosenthal, da
Embrapa
A Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio
de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf)
desenvolvem neste começo de 2008 um projeto
de Segurança e Qualidade de Polpas de Frutas, que
faz parte do Plano de Desenvolvimento Setorial PDS, da Agência Brasileira de Desenvolvimento
Industrial (ABDI), com o objetivo de identificar e
quantificar os perigos microbiológicos e os fatores
que afetam a qualidade nutricional e sensorial (rela26
tivos à aparência, sabor, aroma, entre outros) associados ao processamento térmico de polpas de frutas.
Juntos, Ibraf e ABDI investiram R$ 120 mil no projeto.
A Embrapa deverá desembolsar recursos orçamentários próprios, em valor equivalente, para outras ações
institucionais complementares ao projeto.
No momento, os pesquisadores da Embrapa
estão dando início à coleta de amostras nas empresas produtoras de polpa de frutas das regiões Norte (açaí e cupuaçu), Nordeste (mamão, manga e
caju) e Sudeste (manga). O pesquisador e chefe geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio
de Janeiro, Amauri Rosenthal, explica que alguns aspectos influenciaram na definição desse grupo de
frutas que participariam desta etapa. Foram levadas
em conta a relevância econômica e o potencial futuro desses alimentos, conforme avaliação conjunta
com o Ibraf. “O mamão, por exemplo, é uma fruta
menos ácida, mais suscetível à contaminação e exige
um processo de pasteurização mais rigoroso, porém
sem prejudicar a qualidade”. A manga, pelo seu valor
nutricional, com a riqueza de carotenóides, pró-vitamina A. Já o caju, igualmente pela importância para a
região Nordeste, destacando-se pelo conteúdo de vitamina C”, argumenta. “Há possibilidade de estendermos a pesquisa para outras frutas”, completa.
O pesquisador explica ainda que muitas vezes a
pasteurização desenvolvida por algumas empresas, não
leva em conta as características específicas de cada fruta.
Por mais adequado que seja o processo, o objetivo é
AGROINDÚSTRIA
(PA), Embrapa Agroindústria Tropical de Fortaleza
(CE), Embrapa Mandioca e Fruticultura de Cruz das
Almas (BA), Universidade de Feira de Santana (BA),
Universidade de Marília (SP) e Universidade Federal Rural da Amazônia de Belém (PA).
Com processamento anual de quase 12 mil toneladas de frutas e produção mensal de cerca de
350 toneladas de polpas, a Fruteza Sucos Naturais,
localizada em Dracena (SP), trabalha com a extração de polpas de frutas de maracujá, abacaxi,
acerola, goiaba e manga. Olívio Zanatta Senciato,
proprietário da empresa, também compartilha da
opinião de que a pasteurização em si não elimina qualquer risco de contaminação, por isso, é preciso estar
adequado ao sistema de Análise de Perigos e Pontos
Críticos de Controle (APPCC), como a empresa vem
seguindo em todos os processos realizados.
“A segurança do consumidor deve ser prioridade. A pasteurização não é um processo milagroso:
é a etapa somatória de maior grandeza na garantia
da qualidade do produto final. Embora tenha objetivo de redução da carga microbiana patogênica,
deve estar associada a procedimentos de Boas Práticas de Fabricação (BPF). Este passo representa desde a colheita, seleção, armazenamento, higienização
da matéria prima até a forma como o produto final
é armazenado”, diz. “A produção de alimentos exige atenção aos procedimentos e às diversas fases
da cadeia produtiva. Com certeza, nos faremos presente no projeto do Ibraf e da Embrapa, que deve
organizar o sistema no Brasil para criarmos
credibilidade maior junto aos outros mercados que
FRUTEZA
orientar as agroindústrias para possíveis melhorias. “Em
muitos casos, a inadequação do tempo ou da temperatura pode alterar a qualidade sensorial e
nutricional do alimento”, comenta Rosenthal.
Para ele, apenas o processo da pasteurização
não garante a qualidade do produto. O chefe geral
da Embrapa chama a atenção para as boas práticas
em todas as etapas da produção, desde o início,
ainda na colheita da matéria-prima, passando pelo
transporte, processamento e distribuição, para eliminar qualquer tipo de contaminação. “Há várias
operações, e a pasteurização é a mais importante delas. Porém, é preciso eliminar os perigos nas fases anteriores: é necessário rigor em todas elas. Só a pasteurização, em si, não elimina o risco de contaminação e não assegura a qualidade adequada”, informa.
Ele lembra ainda que este projeto é similar ao
desenvolvido anteriormente, dentro do Projeto de
Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias
Agropecuárias para o Brasil (Prodetab), concentrado em segurança e qualidade de néctares e dos sucos de frutas. Na época, foi apontado pelo Banco
Mundial, co-financiador do Projeto, como um modelo exemplar envolvendo parcerias com o setor
privado. A idéia é que o atual Projeto de Segurança
e Qualidade de Polpas de Frutas tenha o mesmo
reconhecimento e força.
No ano passado, o Ibraf e a Embrapa estiveram
reunidos com a Associação das Indústrias
Processadoras do Açaí, em Belém (PA) para divulgar a ação. As empresas interessadas somente tiveram que assinar um termo de adesão ao projeto,
para receberem futuramente as informações técnicas resultantes dos estudos. Quanto à escolha das
empresas que participarão das coletas de amostras,
foram consideradas aquelas que primeiro se
prontificaram para o projeto, considerando seu patamar ou potencial de qualidade e segurança para
desenvolvimento das ações, ou ainda, aquelas que
têm importância regional e que possam servir de
exemplo na disseminação dessa tecnologia para as
demais agroindústrias locais. “Todas as processadoras
que aderirem ao projeto também receberão as informações técnicas captadas durante o estudo, ou seja,
não só aquelas que servirem de piloto pelo fornecimento das amostras”, pontua ele. Somente serão preservadas eventuais solicitações de sigilo de condições
operacionais específicas das indústrias-piloto. As empresas que quiserem participar, poderão solicitar o
termo de adesão via Ibraf pelo (11) 3223-8766, email [email protected]. Os resultados serão amplamente divulgados pelo Ibraf, Embrapa e ABDI.
O projeto de qualidade das polpas conta também com a participação de pesquisadores e laboratórios da Embrapa Amazônia Oriental de Belém
Segurança do
consumidor deve
ser prioridade:
além da
pasteurização deve
haver adequação ao
sistema APPCC
27
AGROINDÚSTRIA
estão cada vez mais exigentes, a exemplo da União
Européia”, completa Senciato.
TERMO DE AJUSTAMENTO DE
CONDUTA PARA O AÇAÍ
RAJA FRUTAS
Garantir a segurança para a comercialização
e impedir que qualquer barreira atrapalhe o
desenvolvimento da cadeia produtiva do açaí.
Com esses e outros propósitos, os produtores
e empresários da região de Belém (PA) e o Ministério Público firmaram recentemente um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC), em razão da suspeita da transmissão da Doença de Chagas
(Trypanosoma cruzi), por provável consumo da
polpa da fruta produzida artesanalmente. No
documento, estão contidas as orientações que devem ser seguidas pelos processadores, em todas as
etapas, inclusive na pasteurização.
dos e, após a pasteurização, o mesmo é imediatamente congelado”, explica ela.
Os pesquisadores defendem também que apenas esta etapa – a da pasteurização - não é suficiente para garantir a qualidade do produto: a orientação é para que toda a cadeia produtiva fique atenta
às questões de higiene e de boas práticas.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos orienta
que no campo, é importante que o açaí, após ser
colhido, não seja colocado diretamente na terra. O
produto deve ser disposto sobre lonas ou plásticos,
que possam ser lavados. Nesta etapa, deve ser feita a debulha e posterior colocação em engradados
plásticos. Durante todo o armazenamento
e transporte, as caixas devem ser mantidas em ambiente limpo, ventilado, longe de insetos e animais.
“A atenção do consumidor ou dos distribuidores de
açaí em outros estados deve ser a de adquirir o
produto de um processador idôneo, que atenda ao
Açai é pré-lavado antes de entrar na área limpa da fábrica e antes do processamento
Esse processo consiste em um aquecimento da
polpa do açaí a uma determinada temperatura, seguido de um resfriamento, com o objetivo de eliminar os microorganismos patogênicos ao homem.
A pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Gisele Anne Camargo – que atua no
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Frutas e
Hortaliças (Fruthotec) –, afirma que todos os empresários que processam a fruta devem se adaptar
ao termo de conduta. “Esse já era um procedimento padrão de quem tinha qualidade no
processamento da polpa. Há a necessidade de aplicação de outros métodos de preservação, após a
pasteurização, tais como a refrigeração e o congelamento. As indústrias costumam empregar temperaturas em torno de 80ºC a 85 ºC, por 10 segun28
estabelecido nos Termos de Conduta”, comenta a
engenheira química e pesquisadora da Embrapa
Agroindústria de Alimentos, Virgínia Martins da Matta.
“Há uma preocupação maior com os consumidores
que estão junto aos locais de produção, que ‘batem’ o
açaí para consumo próprio. Estes devem tomar muito
cuidado na seleção e lavagem dos frutos, assim como
na lavagem dos ‘batedores’”, orienta.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), em
parceria com a Embrapa Amazônia Oriental (PA),
desenvolveu um projeto de implementação de Boas
Práticas na Cadeia do Açaí, cujo objetivo foi, exatamente, orientar produtores e agroindústrias para a
questão das Boas Práticas Agrícolas e de Fabricação.
“A Embrapa Amazônia Oriental elaborou um
documento, disponível na sua página na web
(www.cpatu.embrapa.br), sobre o sistema de produção do açaí, onde todas as recomendações para
produzir com qualidade estão descritas. Neste momento, a Embrapa está iniciando este outro projeto, sobre Qualidade e Segurança de Polpas de Frutas, em parceria com o Ibraf, que também abordará diretamente estas questões, visando, sempre, a
qualidade do produto e a segurança do consumidor”, comenta Virginia.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é responsável pela inspeção dos
estabelecimentos processadores de açaí industrializado (polpas e refrescos). Segundo o Mapa, até o
momento não foi comprovada a contaminação da
Doença de Chagas por meio dos alimentos produzidos nessas empresas. O órgão fiscaliza apenas as
agroindústrias que produzem a polpa e o suco de
açaí. A fiscalização de ambulantes que atuam em
barracas é de competência da Vigilância Sanitária.
O SETOR SE MOBILIZA
Segundo informações do Sindicato das Indústrias
de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas),
em 2007, cerca de 2 milhões de toneladas da polpa
do açaí foram produzidas no estado contra 1,5 milhão de toneladas, em 2006. Desse total, cerca de
25% da polpa foi destinada à exportação. A
comercialização no mercado interno foi de 60%, sendo o estado do Rio de Janeiro o maior comprador.
De acordo com Ana Clara Rodrigues Boralli Dias,
presidente do Sindfrutas e proprietária da Rajá Frutas, localizada em Santa Bárbara (PA), em 2007, a venda da polpa teve uma queda de 15%. “Todo ano, de
junho a agosto, há uma retratação natural pelo período de inverno da região Sul, que é a nossa maior compradora. Mas, não sabemos atribuir se essa queda foi
em função dos rumores da doença”, comenta.
O Sindicato conta com 25 empresas associadas.
De acordo com a presidente da entidade, 15 já contam com o pasteurizador. “Os produtores da polpa
de açaí estão se adequando, cada um está investindo com recursos próprios. Não foi a Doença de
Chagas que estimulou isso, o Mapa já havia alertado
sobre a pasteurização”, lembra.
Ana Clara também defende que um produto pasteurizado não está livre de contaminação. Para ela, a
preocupação não deve ser apenas em relação à transmissão da Doença de Chagas. “A pasteurização é uma
fase, há ainda a colheita e todo o processo. O barbeiro não faz parte da cadeia produtiva do açaí, se aconteceu foi um acidente”, diz. “Foi um mal que veio para
o bem. O mundo está conhecendo o açaí e a pasteurização colabora”, comenta ela.
As agroindústrias, associadas à Cooperativa Agrí-
SINDFRUTAS
AGROINDÚSTRIA
Ana Clara
Rodrigues Boralli
Dias, presidente do
Sindfrutas e
proprietária da Rajá
Frutas, Santa
Bárbara (PA)
cola Mista de Tomé-Açú - Camta - (PA), não sentiram grande impacto para se adequar ao TAC, pois
já estavam adaptadas a esse padrão devido à exportação da polpa da fruta para Japão, Estados Unidos e União Européia. Há cerca de sete anos, a
Camta começou a pasteurização para o mercado
interno. Neste período, ficaram alguns anos sem
desenvolver o processo e retomaram há dois anos.
Já para a exportação, o produto vem sendo pasteurizado há seis anos. “Quanto ao mercado, do
lado internacional foi normal, não houve nenhum
grande impacto, pois desde o início nosso produto
era pasteurizado. Portanto, não foi nenhuma novidade para os nossos produtores”, comenta o diretor-presidente da entidade, Francisco Sakagushi.
“Porém o mercado nacional sofreu grande impacto, porque não estava habituado ao produto pasteurizado, que tem um sabor diferente. Podemos
dizer que, momentaneamente, houve uma diminuição na procura do produto e isso fez com que o
preço da matéria prima desse uma parada em sua
escalada, chegando até a diminuir momentaneamente”, completa.
Para Ivan Hitoshi Saiki, gerente da Camta, até o
tema vir à tona, muita gente desconhecia o que era
um produto pasteurizado. “Para nós, foi até bom
vir essa questão no último ano. O TAC veio de maneira positiva, até para tirar esses maus empresários, que sempre prejudicam quem trabalha bem”,
diz. E completa: “Há 10 anos, nossos agricultores
não tinham conhecimento da importância dessa
adequação no processo de produção da fruta. Assim começamos a plantar essa semente. E, agora,
eles têm a consciência de que isso é necessário para
conquistar o mercado externo.”
29
TECNOLOGIA
CAQUI
INTERNACIONAL
Ital adapta tecnologia, que agiliza processo de destanização
do caqui às condições brasileiras, facilitando exportação e
mantendo a fruta mais firme por mais tempo
ARTCOM A.C.
Daniela Mattiaso
Os pesquisadores do Ital, Eliane Benato e José Maria Monteiro Sigrist,
adaptaram tecnologia de destanização às condições brasileiras
30
O Brasil produz cerca de 170 mil toneladas de
caqui ao ano. O Estado de São Paulo é o maior
produtor do País, responsável por 58% da produção nacional, com destaque para as variedades Fuyu
e Rama Forte, sendo que esta atinge cerca de 50%
da comercialização e é pertencente ao grupo dos
caquis taninosos – frutas com adstringência –, afirma a pesquisadora Eliane Benato, do Grupo de
Engenharia e Pós-Colheita (GEPC), do Instituto de
Tecnologia de Alimentos (Ital). O sul do País também tem uma significativa produção de caqui, porém produz mais variedades não-taninosas do que
as taninosas.
Os caquis, do tipo taninoso, apresentam polpa
adstringente, mesmo quando maduros, por isso
precisam passar por um processo chamado
destanização. “É um processo artificial para transformar o tanino solúvel na fruta para insolúvel, retirando dele a adstringência, ou seja, a sensação de
‘amarrar a boca’ que as pessoas sentem ao consumir a fruta”, explica a pesquisadora. Existem vários
TECNOLOGIA
quisa (Fapesp) e pelo Progex/Finep. As pesquisas começaram com base em processo desenvolvido no
Japão, na década de 70, que estudou o efeito das altas concentrações de CO2 em câmaras, na faixa de
90/95%, por 24 horas, e o resultado foi um caqui
destanizado, que se manteve firme por mais tempo método que, atualmente, é utilizado para destanização
das principais variedades no Japão, em Israel e na
Espanha. Segundo os pesquisadores, o novo processo possibilitou a disponibilização de mais caquis nestes mercados. “Com o projeto de destanização e conservação do caqui Rama Forte, começamos a adequar a tecnologia para o Brasil”, conta Eliane. “As
condições de cultivo, o clima e o solo de cada país
influem no comportamento da fruta, mesmo se tratando da mesma variedade”, explica José Maria. O
estudo trabalhou com a adequação da concentração
do gás, da temperatura, da umidade relativa da câmara e várias formas de aplicação para que a tecnologia
fosse facilmente transferida ao produtor brasileiro.
A NOVA TÉCNICA
ITAL
Na maioria dos processos utilizados pelos países que já fazem a destanização por meio de altas
concentrações de CO2, o gás é aplicado em câmara com boa vedação a gases. O Ital adequou essa
técnica com aplicação não só em câmaras, como
também em paletes e em embalagens plásticas. “A
câmara é um ambiente estático, onde você tem que
destanizar a fruta para, só depois do processo realizado, enviar ao exterior. A vantagem da
destanização no palete revestido com o filme plástico ou com o fruto dentro de embalagens plásticas
é que a destanização pode ser feita em trânsito.
Ou seja, a destanização vai ocorrendo durante a
ITAL
meios de eliminar a adstringência do caqui. Entre
os métodos mais usados pelos produtores estão o
carbureto de cálcio, etanol e etileno. A escolha depende muito da tecnologia, da disponibilidade e do
custo que cada um tem para fazer este processo.
“Estes métodos removem a adstringência, mas paralelamente, promovem o seu amadurecimento.
Para o mercado interno isto é comum, pois o consumidor brasileiro relaciona a fruta mole ao fato de
não estar adstringente. Fora do Brasil, ou nos países do hemisfério norte, há preferência pela fruta
crocante. Além disso, para um armazenamento prolongado e transporte a longa distância, por exemplo, não se consegue manter esta fruta o suficientemente firme para chegar até o consumidor com
qualidade”, conta Eliane. “Lembrando também que
quando se utiliza o carbureto de cálcio, ele pode
emprestar sabor à fruta, o que limita a
comercialização. Se não for bem ventilada após a
remoção do carbureto, a fruta fica com sabor estranho”, completa o pesquisador José Maria
Monteiro Sigrist, do GEPC/Ital.
Pensando em solucionar este entrave para a
exportação da fruta, desde 1998, os pesquisadores
do Ital, juntamente com uma equipe multidisciplinar
formada por profissionais do Instituto de Economia
Agrícola (IEA), da Universidade Estadual de Campinas (Feagri/Unicamp), Instituto Agronômico (IAC),
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
(Esalq), Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Air Liquide e
empresas de filmes plásticos, desenvolveram o “Projeto de destanização e conservação do caqui Rama
Forte”, apoiados pela Fundação de Amparo à Pes-
Paletes com filmes plásticos agilizam destanização, que
pode ser feita durante transporte das frutas para exterior
Pequenas embalagens podem ser
usadas para aplicação da tecnologia
31
TECNOLOGIA
viagem, economizando muito tempo. Quando a fruta chega ao local de destino, está pronta para a
comercialização”, detalha Eliane. No método adequado pelos pesquisadores, recomenda-se injetar
CO2 na câmara até 70%, manter por 18 a 24 horas, depois proceder a exaustão. Frutos de início de
safra são destanizados mais facilmente do que os
frutos de final de safra. Pode-se também injetar uma
mistura gasosa de 70% de CO2, com auxílio de uma
seladora, em embalagens plásticas com caqui, que
em seguida são selados. “Essas formas de aplicar o
CO2 e destanizar o caqui, atendem aos diferentes
níveis de produtores, tanto os mais tecnificados
quanto os com recursos limitados, pois são completamente acessíveis, além de agregarem valor ao
produto”, ressalta Eliane. Apesar do CO2 ainda ser
um pouco mais caro do que o etileno, a redução das
perdas compensa o método. “Só de ter a garantia de
uma perda menor, o produtor acaba ganhando no final”, afirma o pesquisador José Maria.
Tecnologia com uso de CO2 atende a
pequenos e grandes produtores
As principais regiões produtoras de caqui do Estado de São Paulo participaram do projeto e estão
otimistas com os resultados. Orlando Steck Filho,
presidente da Cooperativa Agrícola Nossa Senhora
das Vitórias (NSV), em Jundiaí (SP), acredita que a
tecnologia abriu uma nova possibilidade de
comercialização da fruta. “Vimos que há demanda
para exportação e queremos investir. Temos um
número de plantas muito jovens ainda e a previsão
é que, no médio prazo, tenhamos a necessidade
de atuar em outro mercado também”, diz Orlando.
“Temos muito interesse em aprimorar a técnica, pois
é rápida e deixa a fruta crocante, do modo como é
exigido pelo mercado externo”, afirma Adilson
Tadeo Facchini, engenheiro agrônomo e gerente
administrativo da Fazenda Santa Catarina, no município de São Miguel Arcanjo (SP).
Segundo Eliane, há um mercado muito bom para
o caqui brasileiro no Canadá, na França, Inglaterra,
Holanda e Alemanha. “A demanda para exportação
só tende a crescer, já que a safra do caqui no Brasil
coincide com a entressafra de outros países produtores. Há um bom mercado para o caqui brasileiro
na Europa durante os meses de março, abril e
maio,” ressalta. “Os importadores têm pedido mais
frutas, mas falta ainda a adequação total e a implantação dessa tecnologia para aumentar o volume
exportado com qualidade. Acreditamos que o uso
32
do CO2 poderá ajudar muito a alavancar a exportação e esse foi o objetivo da pesquisa”, complementa
o pesquisador. Eles acreditam que a técnica também pode ser interessante para a venda no mercado interno. “Com a técnica, o produtor vai ganhar
em tempo e aproveitamento, porque a fruta vai ficar destanizada de forma mais rápida e vai permanecer firme por mais tempo, com menos perdas,
por ser mais resistente aos impactos, ao transporte
e ao manuseio nas gôndolas de supermercado.” Mas
avisam que “é preciso deixar claro para o consumidor brasileiro que a fruta já está destanizada, por
conta do hábito de esperar a fruta amolecer para
consumir”. A dica é fazer como alguns produtores,
que estão colocando na embalagem o aviso: “Fruta
firme, destanizada”, para que o consumidor brasileiro se acostume a consumir o caqui desta forma.
SERVIÇO
Mais informações podem ser obtidas com os pesquisadores do Grupo de Engenharia e Pós-Colheita (GEPC), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). A sede fica na Avenida Brasil, 2.880,
Jardim Brasil, em Campinas (SP). O telefone para
contato é o (19) 3743-1336 ou 3743-1837.
DICA IMPORTANTE
Vale ressaltar que toda tecnologia é extremamente importante desde que você tenha uma matéria-prima muito boa, alerta
a pesquisadora, Eliane Benato. “Recomendamos esse processo apenas para frutas de
alta qualidade e muito padronizadas, porque o lote que não estiver padronizado,
corre-se o risco de não obter bons resultados. Não em função do processo, mas da
matéria-prima que não veio com qualidade já do campo.” Eliane ressalta que “o
primeiro passo é ter uma excelente produção e uma pós-colheita com todo o manuseio adequado, boas práticas agrícolas, e,
aí sim, ir adequando toda a tecnologia de
destanização, de refrigeração – que é muito
importante para manter a cadeia do frio –
e manter as condições ótimas de transporte, senão corre-se o risco de gastar muito
com a tecnologia e ter pouco retorno, já
que ela não vai ter alta qualidade na hora
de ser apresentada ao consumidor”.
KATIA PICHELLI
RESERVA
LEGAL:
TEM QUE TER
Área preservada com mata
nativa é obrigatória e traz
benefícios para o fruticultor
e toda a sociedade
Daniela Mattiaso
Poucos sabem, mas todo produtor rural é obrigado a manter 20% de sua propriedade com o
ecossistema original ou o mais próximo possível
disso. “No caso da propriedade estar situada no
território da Amazônia Legal, essa obrigatoriedade
passa para 80%”, alerta o engenheiro florestal da
Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP),
Laerte Scanavaca Junior.
A Reserva Legal é a área no interior de uma
propriedade ou posse rural, destinada à preservação da fauna e flora nativas. “Quando amplamente praticada, contribui para a conservação da
natureza e traz benefícios, como redução do aquecimento global, manutenção da boa qualidade da
água, polinização de culturas e controle biológico
de pragas, tão importantes para a fruticultura, por
33
EMBRAPA MEIO AMBIENTE
MEIO AMBIENTE
exemplo”, afirmam os pesquisadores Antonio Aparecido Carpanezzi e Vanderlei Porfírio-da-Silva, da
Embrapa Florestas, em Colombo (PR). O órgão responsável por fiscalizar estas áreas em cada Estado é o
Departamento Estadual de Proteção de Recursos
Naturais (DEPRN), da Secretaria do Meio Ambiente,
que legisla com base nos critérios técnicos estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama). A obrigação explícita para o produtor refazer a Reserva Legal em sua propriedade foi fixada por
lei em 1991.
Proprietários rurais devem se
conscientizar sobre a importância
ambiental e econômica da
Reserva Legal
Segundo o engenheiro florestal da Embrapa Meio
Ambiente, Scavanaca Júnior, existe uma falsa impressão que ele estaria perdendo 20% de sua propriedade para o governo. “Estes proprietários ainda não enxergaram a importância ecológica e econômica da
Reserva Legal. Quando eles descobrirem que cumprir a legislação dá lucro, aumenta a fertilidade e conserva o solo da propriedade, com menor ataque de
pragas e doenças, em função do controle biológico
natural, proporcionando aumento da produtividade,
valorização da paisagem e, conseqüentemente, da propriedade, toda a sociedade ganhará”, afirma ele.
Para Carpanezzi, da Embrapa Florestas, outro pon34
to importante que o
produtor deve considerar é que a situação
ambiental da propriedade influencia também
nos negócios do dia-adia, devido a dois fatores, a certificação e o
licenciamento ambiental,
que estão se tornando
mais importantes. “A
certificação é uma exigência que cresce no
mundo inteiro, principalmente em atividades ligadas à exportação; veja
o caso do Programa de
Produção Integrada de
Frutas (PIF). A certificação vai ser, cada vez
mais, de toda a propriedade, e não apenas do produto. Para ser certificada, a propriedade rural tem que
estar totalmente dentro das normas legais, e isto inclui
o lado ambiental, com as áreas de preservação permanentes (APPs) e a Reserva Legal. Elas precisam ser
protegidas ou recuperadas, senão o negócio rural pode
ser prejudicado no futuro, impedindo a venda para
grandes compradores e consumidores, cada dia mais
preocupados com a questão ambiental. Há tendência
crescente de o licenciamento ambiental da propriedade ser exigido em qualquer negócio que envolva a
propriedade, como financiamento bancário, venda, recebimento de subsídios ou construção de uma pequena agroindústria. Isto significa que as APPs e a Reserva
Legal vão ter que estar em dia. A manutenção ou a
recuperação dessas áreas traz, como um dos benefícios, a valorização da propriedade”, afirma.
Há duas maneiras de recompor as áreas que devem ser destinadas para a Reserva Legal. Uma é por
meio da Servidão Florestal, que são terras em outras
propriedades, de preferência com o mesmo tipo de
vegetação natural, isto é, no mesmo ecossistema, que
possuam excedente de mata nativa e sirvam como
substitutas para pagar a “dívida ambiental” do produtor ou de quem tenha a posse rural. Já, a outra maneira é em sua própria propriedade. “Acredito que esta
última é a melhor opção, pois ele usufruirá diretamente
dos benefícios e mesmo que opte por fazer a recomposição a longo prazo, antes do processo terminar,
ele já perceberá as vantagens que a Reserva Legal
proporcionará”, diz o engenheiro florestal da
Embrapa Meio Ambiente, que acredita também que
o único ponto negativo da legislação é justamente a
possibilidade de flexibi-lização por meio da ServiLaerte Scanavaca
Junior, engenheiro
florestal da
Embrapa Meio
Ambiente - reserva
legal traz
benefícios para a
fruticultura
EMBRAPA FLORESTAS
Como
dão Florestal.
“Acho que esta
possibilidade
pode levar proprietários mais
afortunados, que
se julgam acima
da lei, a acreditarem que basta
comprar uma terra com mata nativa preservada
para cumprir a
exigência estadual, mas isto é um
Antonio Aparecido Carpanezzi, da
grave erro e esEmbrapa Florestas - há tendência
pero que ninde licenciamento ambiental ser
exigido em qualquer negócio
guém o cometa.”
que envolva a propriedade
A reconstituição envolve
dezenas de milhões de hectares no Brasil, uma situação que ainda
é um grande desafio para todos, observa
Carpanezzi. Ele acredita que “muitos setores da
sociedade precisam participar desse esforço, como
pesquisadores, educadores, assistências técnicas
rurais, agências ambientais e de desenvolvimento,
Ministério Público, empresas de silvicultura e organizações de produtores. Eles ainda não estão suficientemente despertados para o assunto ou equipados em recursos humanos e materiais, e uma base
técnica é essencial para se obter sucesso no desenvolvimento da silvicultura de espécies nativas, a tal
ponto que ela possa ser aplicada em grande escala,
de forma segura e descomplicada”.
Por enquanto, ainda não estão previstas multas
aos proprietários rurais que não possuem uma área
de Reserva Legal, segundo o engenheiro florestal
da Embrapa Meio Ambiente, Scavanaca Júnior. “A
intenção é conscientizar o produtor rural que ele
precisa fazer isso. Se ele está em débito, isto é, se
sua reserva não atinge os 20% requeridos, ele terá
até 30 anos para corrigir isso, sendo um décimo a
cada três anos, com espécies nativas da região.” É
importante lembrar que a Reserva Legal, ou o planejamento de como será recomposta a área, deve
ser averbada pelo proprietário ou por quem tiver a
posse rural em um Cartório de Registro de Imóveis, conforme estipula a nova redação do artigo 16
do Código Florestal, a ser fiscalizada e acompanhada pelo órgão competente do Estado. Para o procedimento é preciso ter em mãos a inscrição da
matrícula imobiliária. Vale salientar também que a
Reserva Legal não paga imposto (ITR-Rural) e pode
ser averbada gratuitamente.
otimizar uma
Reserva
Legal?
Segundo o biólogo Márcio Silveira Armando, da
Embrapa Transferência de Tecnologia, em Brasília
(DF), há uma opção interessante para o produtor
rural, dono de uma pequena propriedade ou sem
recursos para comprar uma área de Servidão Florestal e que não pode despender de 20% de seu terreno, utilizando a própria Reserva Legal.
“A saída para este produtor é a utilização de sistemas agroflorestais biodiversos, por meio de um plano
de manejo, onde ele vai incluir espécies nativas
combinadas com culturas anuais e medicinais de
ciclo curto, frutíferas e forrageiras lenhosas, sendo
cada uma plantada no espaçamento adequado ao
seu desenvolvimento. O cultivo simultâneo dessas
espécies permite uma renda extra ao agricultor, sendo um aproveitamento ideal para áreas de Reserva
Legal”, explica ele.
O Plano de Manejo da Reserva Legal deve ter o auxilio de um biólogo, engenheiro florestal ou agrônomo, que auxilie na elaboração do desenho dos
sistemas agroflorestais e do Plano de Manejo para
que seja aprovado pelo órgão ambiental do Estado.
“Quanto mais rico em espécies, com maior uso de
nativas, a chance é maior de ele ter sucesso”, ensina
o biólogo. A Reserva Legal projetada com esse sistema auxilia também na preservação da mata ciliar e
dos recursos hídricos, principalmente, se ela estiver
contígua à área de preservação permanente.
Outro ponto fundamental, segundo o especialista,
é que os órgãos de extensão rural acompanhem e
facilitem todo este processo para o produtor, dando assistência técnica, ensinando e permitindo o
acesso às informações para a implantação dos sistemas agroflorestais biodiversos. “A exploração da
Reserva Legal depende de Plano de Manejo aprovado pelo órgão ambiental de cada Estado. Uma boa
opção é por produtos florestais não-madeireiros que
não implicam em desmatamento, isso facilita a aprovação pelo órgão. Até mesmo porque é melhor ele
estar lá colhendo e manejando o sistema que auxilia na restauração ambiental do que deixar a área
desmatada ou entregue para as formigas e para o
fogo. Além disto, este sistema é muito interessante, pois alia o geração de renda para o agricultor
com a restauração ambiental”, conclui o biólogo.
35
OPINIÃO
ABPM
BARREIRAS TÉCNICAS PARA EXPORTAÇÃO
Luiz Borges Júnior
Engenheiro Agrônomo e Fruticultor
No final da Segunda Guerra, o mercado mundial estava desorganizado. Visando
o estabelecimento de novas políticas aduaneiras, a Organização das Nações Unidas, por pressão dos Estados Unidos, convocou, em 1947, uma reunião em Cuba
com o objetivo de estruturar a Organização Internacional do Comércio (OIT) e,
dentro dela, o Acordo Geral de Tarifas e
Comércio (Gatt). O Congresso americano vetou a OIT e somente o Gatt ficou em
vigência. Nos anos seguintes, diversas rodadas de negociações ocorreram, procurando adaptar o acordo às mudanças de
mercado. As normas vigentes permitiam
aplicar, unilateralmente, barreiras comerciais, como cotas, tarifas e subsídios, e o Gatt
não previa nenhuma medida punitiva.
Por pressão dos países em desenvolvimento, em 1986, o Gatt iniciou a Rodada
do Uruguai. Após dez anos, o chamado
Grupo dos 20, liderado por Brasil e China,
conseguiu o compromisso de mudança nas
regras internacionais. As cotas foram substituídas por cláusulas de salvaguardas temporárias e preços de entrada; as tarifas devem ser negociadas e os subsídios limitados ao mercado interno. Foi criada a Organização Mundial do Comércio (OMC),
cujo papel é mediar as contendas comerciais internacionais como as ocorridas entre Brasil x Estados Unidos (algodão) e Brasil
x União Européia (açúcar). Subsídios a produtores ainda estão em discussão, após tentativa fracassada de solução na Rodada de
36
Doha. Com a queda das cotas e barreiras
tarifárias protegendo os produtos agrícolas
da concorrência dos países em desenvolvimento, os desenvolvidos publicaram legislações para dificultar o acesso a seus mercados. A União Européia foi pioneira, seguida por Estados Unidos e Japão. Os mecanismos são:
• Anexo III - LMRs harmonizados - válido para países da UE. As listas nacionais perdem validade e deverão constar aproximadamente 500 princípios
ativos. A lista deverá estar concluída
no primeiro semestre de 2008.
• Anexo IV - LMRs não-estabelecidos referem-se a produtos de baixo risco.
a) Regulamento (CE) No 178 de 2002
- Determina princípios e normas gerais
de legislação alimentar e cria a Autoridade Européia de Segurança Alimentar, unindo, num único organismo, a
legislação dos países-membros, simplificando a aplicação de normas e facilitando a fiscalização e o controle.
A Lei Alimentar estabelece alto nível
de proteção aos consumidores, sistemas de análise de riscos e sistemas
rápidos de alerta e total responsabilidade dos distribuidores (importadores)
quanto à qualidade do produto oferecido ao consumidor.
b) Regulamento (CE) No 882 de 2004
- Determina princípios de controle de
alimentos e gêneros alimentícios e estabelece plano de controle multianual,
relatórios obrigatórios, laboratórios
oficiais e laboratórios comunitários de
referência e métodos de análises e
amostragem. Estabelece ainda exigências aos exportadores para União Européia, como sistemas de controle
locais, verificação na pré-exportação
(análise de resíduos, etc.), certificação
e rastreabilidade.
c) Regulamento (CE) No 852 de 2004
- Determina princípios de higiene alimentar e estabelece obrigação de registro de operadores (fornecedores) e
Guias para Boas Práticas (APPCC).
d) Regulamento(CE) No 396 de 2005
- Relativo a Limites Máximos de Resíduos (LMRs) de pesticidas permitidos
em gêneros alimentícios de origens vegetal e animal, e alimentos para animais. Consiste de quatro anexos:
• Anexo I - lista de commodities com
380 produtos alimentícios;
• Anexo II - LMRs em uso na União Européia, com 755 princípios ativos;
O limite será de 0,01 ppm para produtos que não constam nos anexos. O regulamento entrará em vigor seis meses
após publicação do Anexo II, prevista para
ocorrer até meados do ano, que também
será enviado à OMC como lista oficial permitida na UE. Este regulamento praticamente proíbe o uso de genéricos em produtos destinados àqueles mercados. Os
produtos não-constantes do Anexo I só serão permitidos, se os países interessados
apresentarem estudos científicos dentro de
tecnologias aprovadas pela UE, provando
a ausência de risco aos consumidores e ao
meio ambiente (estudo deste tipo custa em
torno de 200 mil euros).
União Européia, Estados Unidos e Japão informaram à OMC que não aceitam
mais as normas estabelecidas pelo Codex
Alimentarius, determinando produtos e níveis de resíduos. Informaram que suas legislações nacionais devem ser respeitadas
pelos exportadores. Até dezembro de
2007, a coordenação do Codex era de
um país desenvolvido (Holanda coordenou
até o final do ano). Os países desenvolvidos informaram, em novembro de 2007,
que não estavam mais interessados na coordenação e ficariam como observadores
no Codex. Ofereceram o posto ao Brasil,
que recusou a missão. A China aceitou e
assumiu o cargo em janeiro de 2008.
Os mecanismos e as posições adotadas
geram uma situação que não é boa para o
Brasil, pois tem o Hemisfério Norte como
principal cliente. A barreira de resíduos é a
mais eficiente que existe e de difícil contestação. Os exportadores brasileiros de
sucos e frutas frescas tropicais necessitam,
urgentemente, de contar com o registro
de novos defensivos agrícolas para não terem sua entrada no mercado europeu impedida, como aconteceu com a carne.
AGENDA
02 a 06 • 30ª SEMANA DA CITRICULTURA (Centro Apta Citros
Sylvio Moreira - IAC)
Centro Centro Apta Citros Sylvio Moreira (Cordeirópolis/SP)
Info: Centro Apta Citros (19) 3546-1399
[email protected] • www.centrodecitricultura.br
nacionais
02 a 04 • I SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE UMBU, CAJÁ E
ESPÉCIES AFINS - SIBUC (Embrapa/IPA)
Onda Mar Hotel (Recife/PE)
Info: Helena Barros (81) 2122-7203 e 2122-7202 • [email protected]
www.cpatc.embrapa.br/eventos/sibuc
17 a 21 • 1ª AGROIND FAMILIAR - FEIRA NACIONAL DE MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS, PRODUTOS E SERVIÇOS PARA A
AGROINDÚSTRIA FAMILIAR (Famurs, CIC Vale do Taquari e
Centro Universitário Univates)
Parque do Imigrante (Lajeado/RS)
Info: Acil - Associação Comercial e Industrial de Lajeado (51) 30116900 • [email protected] • www.agroindfamiliar.com.br
23 a 24 • SEMINÁRIO PRODUTOS DE FRUTAS E BEBIDAS DIET
E LIGHT: INGREDIENTES E APLICAÇÕES (Fruthotec / Ital)
Auditório Décio Dias Alvim (Campinas/SP)
Info: Sílvia Cristina S. R. Moura (19) 3743-1840
[email protected] • www.ital.sp.gov.br/fruthotec
24 e 25 • SALÃO DE NOVOS PRODUTOS E SERVIÇOS EM ALIMENTAÇÃO (Marketing Nutricional)
Rua Pamplona, 518 (São Paulo/SP)
Info: (11) 3262-5061 • [email protected]
www.marketingnutricional.com.br
jun
08
08 a 11 • V ENCONTRO NACIONAL SOBRE PROCESSAMENTO
MÍNIMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS - EPM (Ufla - Universidade Federal de Lavras)
Universidade federal de Lavras (Lavras/MG)
Info: Ufla (35) 3829-1393 • [email protected]
www.vepm.com.br
25 a 28 • 3ª FRUTAL AMAZÔNIA E VIII FLOR PARÁ (Instituto
Frutal e Governo do Pará)
Hangar do Centro de Convenções e Feiras da Amazônia (Belém/PA)
Info: Organização do Evento (85) 3246-8126 • [email protected]
www.frutal.org.br
internacionais
17 a 19 • MACFRUT (Cesena Fiera)
Centro de Exposições de Cesena (Cesena/Itália)
Info: Ibraf (11) 3223-8766 • [email protected]
www.macfrut.com
29 a 31 • AGROTECFRUTICULTURA 2008 - FEIRA DE PROJETOS E PRODUTOS (Cati , IAC, Apta, Secretaria de Agricultura
e Abastecimento e Governo do Estado de SP )
Centro de Fruticultura - IAC Jundiaí (Jundiaí/SP)
Info: Roseli de Morais (19) 33429829 • [email protected]
14 a 17 • SEOUL FOOD & HOTEL 2008 (Férias Alimentarias)
Kintex (Seoul/Coréia do Sul)
Info: Valeria Greco (54) 11- 4554-7455
[email protected] • www.seulfood.or.kr
mai
08
mai
08
22 a 25 • FHA - FOOD AND HOTEL ASIA (Overseas Exhibition)
Singapure Expo (Singapura/Singapura)
Info: Cristopher Mccuin • www.foodnhotelasia.com
23 a 25 • SIAL MONTREAL (Promosalons Brasil)
Expo Canada France (Montreal/Canadá)
Info: Marie-Ange Joarlette (11) 3168-1868
[email protected] • www.sialmontreal.com
07 e 08 • JUICE LATIN AMERICA (IBC)
Hotel Sofitel (São Paulo/SP)
Info: IBC (11) 3017-6843 • [email protected]
www.ibcbrasil.com.br
07 a 09 • CURSO DE DESIDRATAÇÃO DE FRUTAS E HORTALIÇAS (Fruthotec / Ital )
Ital (Campinas/SP)
Info: Ital (19) 3743-1840 • [email protected]
www.ital.sp.gov.br/fruthotec
05 a 08 • BIONAT EXPO (Produtores Sem Fronteiras)
Armazéns do Cais do Porto (Porto Alegre/RS)
Info: Vera Marsicano (51) 3228-8692 e (51) 9117- 5018
[email protected] • http://bionat-expo.blogspot.com
11 a 13 • 15ª HORTITEC - EXPOSIÇÃO TÉCNICA DE HORTICULTURA, CULTIVO PROTEGIDO E CULTURAS INTENSIVAS
(RBB Promoções & Eventos)
Recinto de Exposições de Holambra (Holambra/SP)
Info: RBB Promoções & Eventos (19) 3802-4196
[email protected] • www.hortitec.com.br
abr
08
abr
08
08 a 11 • VINOTECH, MERCOSUL BEBIDAS E MULTIAGRO 2008
(New Trade)
Parque de Eventos de Bento Gonçalves (Bento Gonçalves/RS)
Info: Osmar Bottega (54) 3452-9135 • [email protected]
www.vinotech.com.br
04 a 06 • EXPOFRUIT 2008 - FEIRA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA IRRIGADA (Coex - Comissão Executiva de Fitossanidade)
Sede da UFERSA (Mossoró/RN)
Info: João Manoel e Laura (84) 3312-6939
[email protected] • www.expofruit.com.br
18 a 22 • FOOD AND HOTEL ARABIA
Jeddah International Exhibiton & Convention Centre (Jeddah/
Árabia Saudita)
Info: Simona Kersyte (44) 207-228-4229
[email protected] • www.acexpos.com
19 a 21 • IFE POLAND
Expo XXI (Warsaw/Polonia)
Info: Montgomery Intenational (44) 20-7886-3108
[email protected] • www.ifepoland.com
37
EVENTOS
SUPERANDO
expectativas
Além do público recorde, a Fruit Logística 2008, maior feira
mundial do setor hortifruti, também apresentou números
positivos em negócios para o Brasil
Luciana Pacheco / Fotos Ibraf
Novas tendências de consumo, segurança alimentar, aumento
de consumo de frutas pelas crianças, potencial do mercado russo, entre outros assuntos, foram discutidos no maior e mais importante evento do setor de frutas e vegetais: a Fruit Logística.
Realizada em fevereiro na cidade de Berlim, na Alemanha, o
evento recebeu 50 mil visitantes de 125 países e contou com
2.110 expositores, divididos em 81.000 m². Segundo Christian
Göke, gerente da Messe Berlin, empresa organizadora da feira,
“a Fruit Logística 2008 superou as altas expectativas que tínhamos e se transformou em um produto premium. A visão global
do mercado de toda a cadeia produtiva e do comércio
hortifrutícola foi apresentada com uma qualidade tão alta e de
maneira tão completa, como nunca antes se havia visto”.
38
EVENTOS
ções brasileiras são enviadas para Holanda, porém grande parte deste volume tem como destino outros países da Europa, principalmente a Alemanha”. Valeska salienta que “faz parte dos nossos esforços expandir as exportações direto para
os mercados de destino. Assim, o exportador pode
ampliar seu market share (fatia de mercado), além
de poder conhecer melhor o perfil do consumidor de cada país e com isso incrementar as ações
de marketing para aumento das vendas”.
CONSUMO NA ALEMANHA
Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do
Ibraf, e Marcos Soares, gestor de
agronegócios da Apex-Brasil
Segundo resultados da pesquisa realizada em
2007 pela Sociedade de Pesquisa de Consumo Gesellschaft für Konsumforschung (GfK) - , apresentados na Fruit Logística, cada cidadão alemão
consome 207,5 kg de frutas e hortaliças ao ano,
sendo 122,5 kg de frutas e 85 kg de vegetais. A
GfK também analisou as compras e os gastos de
frutas frescas pelas famílias na Alemanha no ano
O Brasil esteve representado por 52 empresas, expositoras de diversas regiões do País, que
ficaram reunidas no Pavilhão Brasil, coordenado
pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), em parceria com Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O Ibraf
participa deste evento desde 2003 e a cada ano é
crescente o número de empresas participantes e
de negócios. Nesta edição, os empresários brasileiros realizaram mais de 1,8 mil contatos, que
geraram US$ 29 milhões em negócios durante o
evento, um aumento de 4% no volume comparado com o ano anterior – US$ 27,9 milhões. A
previsão dos empresários para os próximos 12
meses é efetivar mais US$ 39,8 milhões, 38% a
mais que no ano anterior – US$ 28,8 milhões.
Estes negócios foram realizados com países tradicionais, como: Estados Unidos, França, Espanha,
Holanda, Itália, Reino Unido, Portugal, Alemanha,
Inglaterra; e também com países não-tradicionais,
como: Escandinávia, Finlândia, Suécia, Rússia, Suíça, Líbia, países do Leste Europeu, da África do
Norte, entre outros.
As exportações brasileiras de frutas frescas diretamente para a Alemanha vêm crescendo gradualmente: em 2007 foram exportadas 42 mil toneladas contra 31 mil em 2006, um aumento de
36%; em valor, passou de US$ 16 milhões, em
2006, para US$ 30 milhões em 2007, representando um crescimento de 90%. No ranking de
países importadores, a Alemanha passou de 6º
para 5º lugar. Valeska Oliveira, gerente executiva
do Ibraf, explica que “cerca de 40% das exporta39
Produtores do projeto Fruta Paulista participaram do
evento pela primeira vez
as tendências nos pontos de venda”, o consumidor não está interessado apenas em preço, mas
também nos fatores sociais, éticos e ambientais,
ou seja, qual a procedência da fruta, como foi cultivada, transportada, manuseada, etc.
Como em todo o mundo, cresce também na
Europa o número de crianças obesas. Segundo
Margherita Caroli, médica responsável pelo
European Childhood Obesity Group (Grupo Europeu de Obesidade Infantil), o número de crianças
européias afetadas pela obesidade cresce cerca de
1,2 milhão por ano. Caroli estima que em 2010, mais
que 26 milhões de crianças serão afetadas. Para tentar reverter este quadro, em 2007 teve início a campanha Mr. Fruitness que, em três anos, espera mostrar para crianças da Alemanha, Áustria, Reino Unido, Polônia e Suíça, uma alternativa saudável para a
convencional “junk food” (alimentos não saudáveis,
mas de fácil preparo ou consumo), utilizando a figura
divertida de um super-herói verde, cuja força advém
do consumo de frutas. Atualmente 3.169 lojas de supermercados no cinco países já fazem parte desta
promoção e o website www.fruitness.eu já foi visitado por mais de 350.000 vezes.
MINIMAMENTE PROCESSADOS
NA FRESHCONEX
Produtos minimamente processados foram apresentados
na Freshconex: criatividade para incentivar consumo
de 2007 e concluiu que cada uma comprou frutas
frescas por um preço médio de 1,49 euros por
quilo. A maçã foi a fruta fresca preferida, com 20,7
kg por família, seguida da banana, com 16,9 kg.
Laranja é a terceira na preferência, com 10,0 kg;
tangerina, 6,1 kg, e uvas, 4,8 kg.
Além dos números de consumo, foi discutido
também no evento o comportamento do consumidor perante os produtos frescos. De acordo com
o fórum “As novas exigências dos consumidores –
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Paralelamente à Fruit Logística, foi realizada pela
primeira vez a Freshconex, nova feira para atender a grande tendência dos produtos minimamente processados ou de quarta gama, como é conhecido na Europa. Os últimos números da GFK
indicam que, devido à conveniência, estes produtos estão se tornando uma grande tendência na
Alemanha. Conforme a pesquisa da GfK, 30% de
todas as casas alemãs já experimentaram estes produto pelo menos uma vez no ano passado, sendo
que o segmento tem crescimento superior a 40%.
Quando se refere às frutas minimamente processadas, o setor continua em desenvolvimento na Alemanha, pois o nível de interesse industrial é baixo.
As taxas de crescimento deste setor de conveniência
são de 11% ao ano, motivadas pelo crescente número de pessoas que moram sozinhas e maior rapidez no consumo. Apesar do crescimento, questões,
como qualidade e adaptação de variedades, foram
discutidas no Congresso Freshconex, realizado durante a feira. Bill Davies, da rede de varejo britânica
Marks and Spencer, comentou sobre a adaptação do
produto para o setor. Segundo ele, “os produtores
de frutas e hortaliças têm que começar pelas sementes e criar variedades próprias para o setor de produtos de quarta gama”.
ARTIGO TÉCNICO
ÁGUA SALINA
NA PRODUÇÃO DE
FRUTAS
A aplicação da técnica correta no manejo da água salina de
irrigação para produção de frutas permite incorporar áreas
abandonadas ao processo produtivo
Fotos e Texto: Flávio Blanco/CPAMN Embrapa
A água utilizada na irrigação sempre contém sais
dissolvidos, em maior ou menor quantidade, mas
os sais sempre estão presentes. Nas regiões áridas
e semi-áridas, a evapotranspiração elevada contribui muito para aumentar o risco de salinização dos
solos, pois as plantas absorvem a água do solo e os
sais são deixados para trás e se acumulam. Nessas
regiões, a água de irrigação, principalmente a proveniente de poços e açudes, pode apresentar elevada concentração de sais, exigindo que o manejo
da irrigação seja conduzido adequadamente para
evitar a elevação excessiva da concentração de sais
no solo. Só assim será possível obter boa produtividade ao longo dos anos.
No Brasil, as regiões que apresentam maiores
riscos de salinização do solo ocorrem principalmente
no semi-árido nordestino, que abrange parcialmente
todos os estados do Nordeste. Esta região passa
por um processo intensivo de desenvolvimento e
modernização da agricultura, a exemplo dos perímetros irrigados que são pólos de produção e exportação de diferentes frutas para os mercados norte-americano e europeu, onde a quase totalidade
das áreas é irrigada por sistemas de irrigação localizada (gotejamento e microaspersão). Parte desta
produção é obtida em condições de irrigação com
água não-salina, porém parte dela é obtida irrigando-se com água salina e efetuando-se um manejo
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ARTIGO TÉCNICO
da irrigação que visa evitar o aumento excessivo da
concentração de sais no solo (Figura 1)
pode-se utilizar a Figura 2 para estimar a necessidade de lixiviação, embora haja necessidade de ajustes para cada condição específica de cultivo. Com
base nessa figura, podemos ver que culturas tolerantes exigem menor fração de lixiviação e podem
ser irrigadas com águas de maior salinidade, sem
sofrer perdas na produção, quando comparadas às
culturas mais sensíveis.
Figura 1. Manchas de sais localizadas na periferia do
bulbo molhado na irrigação por gotejamento na cultura
do maracujá
Como a presença de sais na água aumenta a
capacidade de transmissão de corrente elétrica,
então a salinidade é geralmente medida em termos
da condutividade elétrica (CE), que é de determinação fácil e de baixo custo. Uma água é considerada ligeiramente salina quando sua CE é acima de
0,7 dS/m (dS/m = deciSiemens por metro, é a unidade de medida da CE), moderadamente salina para
CE maior que 2,0 dS/m e altamente salina para CE
maior que 10 dS/m. Com o aumento da sa-linidade,
as plantas passam a absorver menor quantidade de
água do solo, isso porque os sais, no solo, exercem
um efeito semelhante ao efeito da seca, que é o de
reter água com maior intensidade, exigindo grande
esforço das raízes para que consigam absorver a
água; então, mesmo havendo água em quantidade
suficiente no solo, as plantas não conseguem
absorvê-la na quantidade necessária para atender
às suas necessidades. Para que isso seja evitado, o
manejo da irrigação, quando se utiliza água salina,
deve ser feito com uma quantidade maior de água,
além daquela necessária para repor a quantidade
consumida pelas plantas. Essa fração de água em excesso é chamada “fração de lixiviação” (FL), pois sua
função será a de promover a lixiviação (ou lavagem)
dos sais para camadas mais profundas do solo, longe
do alcance das raízes. A FL a ser utilizada depende da
salinidade da água de irrigação e da cultura que está
sendo irrigada; quanto maior a salinidade e quanto mais
sensível for a cultura, maior será a FL (ver Figura 2).
Geralmente a FL varia de 10% a 25%, ou seja,
aplica-se em torno de 10% a 25% a mais de água
para garantir a manutenção de uma salinidade adequada no solo para que a planta possa se desenvolver e produzir satisfatoriamente. De forma prática,
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Figura 2. Relação entre a condutividade elétrica do solo
(CEe) e a condutividade elétrica da água de irrigação (CEi)
em condições de equilíbrio dinâmico, para diferentes frações
de lixiviação (FL) adotada nas irrigações
Na Tabela 1 é apresentada a classe de tolerância à salinidade para algumas fruteiras. Vale lembrar
que estes valores servem apenas como indicativo
da tolerância, pois a tolerância real depende também do clima, das condições do solo, do tipo de
sais e das práticas culturais.
TABELA 1. SALINIDADE MÁXIMA DO SOLO (CEE) E
DA Á G UA D E I R R I GA Ç Ã O ( C E I ) TO L E R A D A P O R
ALGUMAS FRUTEIRAS E SUA RESPECTIVA CLASSE
DE TOLERÂNCIA
* MT – moderadamente tolerante; MS – moderadamente
sensível; S – sensível
#
Classes de tolerância com # são apenas estimativas, sem
comprovação científica
ARTIGO TÉCNICO
Mesmo se tomando todos os cuidados é necessário realizar o mo-nitoramento periódico da
salinidade do solo para verificar a adequação do
manejo. Para isso, utilizam-se extratores da solução
do solo (Figura 3), a partir dos quais a salinidade da
solução do solo pode ser medida facilmente no campo, sem a necessidade de encaminhar amostras de
solo ao laboratório. Se ficar constatado que a
salinidade da solução está aumentando ao longo do
tempo, então se aumenta a fração de lixiviação. Por
outro lado, se a salinidade da solução estiver reduzindo, ficando abaixo da faixa esperada, então, provavelmente, a fração de lixiviação está sendo excessiva, devendo ser diminuída.
Figura 3. Aplicação de vácuo em um extrator instalado na
cultura da melancia
Outra característica da água que necessita de
cuidados é a sodicidade. Uma água é sódica quando apresenta alta proporção de sais de sódio em
relação aos sais que contêm cálcio e magnésio. A
relação entre a concentração de sódio e as concentrações de cálcio e magnésio é chamada de Razão
de Adsorção de Sódio (RAS). A utilização de águas
sódicas (águas com alto valor de RAS) na irrigação
pode resultar na sodificação do solo e isso pode
levar a problemas de redução da permeabilidade
do solo, isto é, o solo torna-se encrostado, com
redução da infiltração de água e dificuldade de penetração das raízes. Pela Figura 4, verifica-se que a
sodicidade oferece maiores problemas quando a
salinidade da água de irrigação é baixa, ocasionando redução severa da infiltração de água no solo.
Em alguns casos, a água de irrigação pode ser
classificada como salino-sódica, ou seja, apresenta
alta salinidade e alta sodicidade. Esta situação exige
atenção redobrada no manejo, com aplicação de
lâminas de lixiviação adequadas e, se necessário,
aplicações periódicas de gesso agrícola para permitir a remoção do excesso de sódio do solo.
Figura 4. Redução da infiltração do solo provocada pela
relação de adsorção de sódio (RAS), em função da
salinidade da água de irrigação
Um problema na utilização de águas salinas é
quando o solo apresenta lençol freático muito raso.
Neste caso, como as irrigações terão que ser feitas
com água em excesso, pode ocorrer a elevação do
nível do lençol, que se torna ainda mais superficial e
isso, ao invés de amenizar o problema, acelera o
processo de salinização do solo.Para isto, não existe alternativa senão a instalação de um sistema de
drenagem para manter o lençol freático em um nível que não comprometa o desenvolvimento da
cultura. A água aplicada na lixiviação é drenada para
fora da área, carregando consigo o excesso de sais
que foram lavados do perfil do solo.
Existem outras práticas que, associadas ao manejo adequado da irrigação, garantem a boa convivência com a salinidade, como a manutenção da matéria orgânica do solo, aração profunda, plantio de
culturas mais tolerantes, aplicação de corretivos químicos, escolha dos fertilizantes, adubação verde,
dentre outras. A decisão em utilizar ou não uma
água salina para irrigação depende de vários fatores, sendo o principal deles o econômico, visto que
esta prática exige certo investimento. A aplicação
da técnica correta no manejo da água salina evitaria
que milhões de hectares de terra fossem abandonados anualmente no mundo, devido à salinização,
e outros milhões de hectares, hoje improdutivos,
poderiam ser incorporados ao processo produtivo,
contribuindo para diminuir a abertura de novas áreas
agrícolas, evitando-se desmatamento e produzindo
alimentos de forma sustentável.
Flávio Favaro Blanco
Engenheiro Agrônomo,
Dr. Pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Teresina (Piauí)
E-mail: [email protected]
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artigos técnicos podem ser enviados para [email protected]
CAMPO E CULTURA
MANUAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR –
BOAS PRÁTICAS PARA SERVIÇOS DE
ALIMENTAÇÃO
Com o objetivo de informar a respeito das práticas
adequadas aos serviços de alimentação, bem com
assegurar a qualidade e segurança dos alimentos
preparados, foi lançado o Manual de Segurança Alimentar – Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Segundo o autor, “os profissionais que trabalham com a preparação e o manuseio de alimentos
têm papel importantíssimo na manutenção ou não
da saúde das pessoas, visto que os alimentos podem tanto promover a saúde dos consumidores
como transmitir doenças. Desse modo, manipular
alimentos pode ser definido como uma atividade
de promoção de saúde ou doença para aqueles que
consomem os alimentos”.
A publicação aborda temas práticos e situações do
dia-a-dia dos profissionais que trabalham com
segurança alimentar, visando auxiliá-los no processo
de implantação das boas práticas, baseado nos
requisitos sanitários aplicáveis aos serviços de
alimentação, estabelecidos na Resolução RDC no
216, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), e harmonizado com a legislação vigente
para todo o Estado de São Paulo, a Portaria CVS no
06 e a Portaria no 1210, de 03 de agosto de 2006,
da Secretaria da Saúde do Município de São Paulo.
Autor: Clever Jucene
Editora: Rubio
Páginas: 241
Preço: R$ 49,00
Onde encontrar: www.rubio.com.br
Telefone: (21) 2262-7623 / 2262-7949
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COLEÇÕES EMBRAPA PARA A
FRUTICULTURA
Para expandir o conhecimento adquirido por meio da
pesquisa, a Embrapa Informação Tecnológica edita e
publica informações tecnológicas geradas e/ou adaptadas
pela Embrapa. Para a fruticultura, foi publicada uma série
de manuais técnicos de produção, fitossanidade e
procedimentos de colheita e pós-colheita das principais
frutas produzidas.
A Coleção Frupex aborda aspectos relativos à produção,
colheita e pós-colheita de frutas para exportação, além
do Manual de Exportação de Frutas, que apresenta
informações essenciais para o exportador de frutas, como:
aspectos da produção e comercialização de frutas no Brasil;
mercados internacionais de frutas frescas e processadas;
agrotóxicos, produtos registrados e resíduos; embalagem
e armazenagem refrigerada de frutas para exportação; e
transporte internacional.
A Coleção Frutas do Brasil traz as instruções dos
cuidados e procedimentos indispensáveis na colheita e no
manuseio pós-colheita, como: armazenamento,
transporte, embalagem e normas de qualidade. Enfatiza
a exportação do produto, trazendo todos os dados
necessários para os produtores que querem ingressar na
atividade. Aborda, ainda, a preocupação com o meio
ambiente e a segurança alimentar.
Autor: vários
Editora: Embrapa
Preço: A partir de R$ 9,00 (Coleção Frupex). Variável
de acordo com a cultura e a coleção
Onde encontrar:
Site da Livraria Virtual da Embrapa Informação
Tecnológica www.sct.embrapa.br/liv ou pelos
telefones (61) 3340-9999 / (61) 3448-4326 ou fax
(61) 3340-2753 ou e-mail [email protected]
PRODUTOS E SERVIÇOS
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FRUTA NA MESA
Daniela Mattiaso
A banana é uma das frutas mais populares do Brasil e leva o
título de “musa” até no nome – cientificamente é chamada
de Musa spp. Perfumada, de polpa firme e muito saborosa,
ficou ainda mais conhecida nas décadas de 30 e 40, quando
virou adorno principal do chapéu de frutas tropicais da
cantora Carmem Miranda, tornando ambas, referências
nacionais. A fruta na cabeça de Carmem virou marca
registrada e se transformou em nome de filme (“Banana da
Terra”), música (“Chiquita Banana”) e documentário
(“Banana is my business”) sobre a cantora. Apesar disto, o
que muitos não sabem é que a banana não é uma fruta
nacional. “O principal centro de origem das cultivares de
banana é o Continente Asiático, embora existam centros
secundários de origem na África Oriental e nas ilhas do
Pacífico, além de um importante centro de diversidade na
África Ocidental”, explica o pesquisador de Manejo
Fitotécnico da Bananeira da Embrapa Mandioca e
Fruticultura Tropical, Marcelo Bezerra Lima. No Brasil, as
variedades mais cultivadas são a Prata, Pacovan, Prata Anã,
Maçã, Mysore, Terra e D’angola; e as variedades do
subgrupo Cavendish - Nanica, Nanicão e Grande Naine.
A Ouro, Figo Cinza e Figo Vermelho, Caru Verde e Caru
Roxa são plantadas em menor escala. Em 2006, segundo o
pesquisador, o País exportou muito pouco: apenas 2,80%
da produção nacional de 6,96 milhões de toneladas. O
consumo interno médio foi de 25 quilos por habitante.
Apenas sete estados respondem por 70% da produção:
Bahia, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Pará, Ceará
e Pernambuco.
A banana também possui elevado valor nutricional, segundo
Bezerra Lima, sendo fonte de energia, com alto teor de
carboidratos – amidos e açúcares. Possui vitaminas A, B1,
B2, e C, além de sais minerais, como potássio, fósforo,
cálcio, sódio e magnésio. A fruta pode auxiliar em doenças,
como anemia, úlcera, azia, estresse, entre outras, afirma o
pesquisador. Uma nova tendência para o mercado de
bananas é o cultivo orgânico da bananeira. “Este tipo de
cultivo tem se mostrado promissor, com bastante demanda
em vários estados, e visa a obtenção de um fruto de melhor
qualidade, sem agressão ao meio ambiente, uma vez que
dispensa o uso de produtos químicos e de outras origens,
senão os naturais e/ou orgânicos, recomendados para o
manejo da cultura”, explica.
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RECEITAS DO PRODUTOR
JOSÉ DE PAULA TEIXEIRA
BANANA FRITA
Ingredientes: 6 bananas bem verdes (de qualquer
variedade), óleo vegetal e sal.
Modo de preparo: Corte as bananas verdes, sem
casca, em rodelas bem finas – como se fossem batatas
chips - e frite em óleo quente até ficarem levemente
douradas e crocantes. Depois coloque sal a gosto. As
bananas fritas servem como aperitivo ou
acompanhamento para outros pratos.
BANANA GRELHADA COM SORVETE
Ingredientes: 1 banana, 1 colher (chá) de margarina ou 1 colher (café) de azeite, 1 bola de sorvete de
creme, calda de chocolate e canela.
Modo de Preparo: Corte a banana ao meio, no
sentido do comprimento. Pincele a frigideira com a
margarina ou o azeite e grelhe, dourando os dois lados
da banana. Sirva as fatias de banana com uma bola de
sorvete em cima e decore com calda de chocolate e
canela a gosto.
Desde 1968, o produtor José de Paula Teixeira vive da produção
de bananas em sua propriedade, localizada na margem direita do
Rio Ribeira, no município de Registro, interior do Estado de São
Paulo. São 25 hectares de bananais, onde três variedades diferentes
são cultivadas: Nanica, Nanicão e Prata. Ele conta que o Vale do
Ribeira tem um clima muito favorável para o desenvolvimento das
bananas. “O inverno é curto, chove bastante e faz muito calor. Aqui
a bananeira produz o ano todo, sendo que no verão a safra é ainda
maior”, diz ele. A venda das bananas é feita no próprio sítio e é
voltada totalmente para o mercado interno. “Nossos principais
compradores, em sua maioria, são do Rio de Janeiro, São Paulo
e Campinas.”