Revista Frutas e derivados - Edição 09
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Revista Frutas e derivados - Edição 09
SUMÁRIO CAPA MARÇO 2008 PRODUÇÃO PerformanceCG FOTOS Banco de Imagens do Ibraf 26 07 14 ENTREVISTA 07 DIVERSIFICAÇÃO E INVESTIMENTOS Presidente da Rasip Agropecuária, Raul Anselmo Randon, fala sobre a importância da diversificação e investimentos. FRUTAS FRESCAS 14 MARKETING NO POMAR A divulgação de frutas com o uso da ferramenta marketing pode colaborar para o aumento do consumo de frutas. 33 SEÇÕES 04 06 10 editorial espaço do leitor campo de notícias Panorama dos principais acontecimentos do trimestre. IMPORTAÇÃO 12 Maçã para climas quentes, nova variedade para suco de uva e vinho de mesa, cuidados evitam queima solar no abacaxi e banana mais resistente. 18 QUEM GANHA, QUEM PERDE Importação de frutas frescas e vinhos concorre com o produto nacional, mas favorece consumidor com preços e variedade. 30 MEIO AMBIENTE 33 RESERVA LEGAL, TEM QUE TER Área preservada com mata nativa é obrigatória, com benefícios ao fruticultor e à sociedade. opinião Artigo de Luiz Borges Júnior, fruticultor, analisa barreiras técnicas internacionais, que podem prejudicar exportação de frutas e sucos nacionais. AGROINDÚSTRIA Parceria entre Embrapa, ABDI e Ibraf vai desenvolver metodologia para ampliar segurança de polpas de frutas. tecnologia Ital adapta tecnologia de destanização do caqui, que abre portas à exportação. 36 26 PELA QUALIDADE DAS POLPAS no pomar 37 agenda 38 eventos Acontecimentos do trimestre. Fruit Logística supera expectativas na Alemanha. 41 artigo técnico Com manejo correto, é possível usar água salina na irrigação para produção de frutas. 44 45 46 campo & cultura produtos e serviços fruta na mesa Banana, musa brasileira. editorial MOVIMENTAÇÃO INTENSA A movimentação na fruticultura tem sido intensa: sobem as exportações e também as importações. A entrada de frutas importadas, com a pêra liderando o ranking, acrescenta uma nova dinâmica ao mercado consumidor. Aumenta a variedade e algumas frutas, Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, produzidas no representante do Ibraf, Carlos Alberto Albuquerque país, tiveram pree Ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff ços de comercialização menores. Se as importações não forem bem conduzidas, o produtor poderá ter problemas, alerta o setor. Em processados, o vinho manteve o cenário crítico concorrendo com importados, que pagam menos impostos em seus países, além de concorrer com o tabu de que “é importado, é melhor”. Por outro lado, continua a busca pelo aprimoramento da qualidade e segurança das polpas. É o que pretende o projeto de pesquisa, em parceria com Embrapa, ABDI e Ibraf, que desenvolverá metodologia para orientar agroindústrias. No campo, o movimento é pela valorização e aumento do consumo de frutas com o uso do marketing, velha e útil ferramenta de comunicação. Associações de produtores de banana e de maçã mostram os bons resultados na escola e nas comunidades. Enquanto isso, pesquisadores apontam formas de usar águas salinas na irrigação em regiões com recursos hídricos mais parcos. Difícil, mas possível. Vem da pesquisa também, em parceria com produtores, a solução para destanizar o caqui “Rama Forte” visando a exportação – a fruta nacional, produzida no outono, tem espaço na entressafra dos possíveis compradores internacionais. Mas para que tudo continue sua movimentação, o homem precisa lembrar de cuidar da natureza, de onde extrai os recursos. A situação piora a cada dia e o fruticultor pode colaborar mantendo matas ciliares e reserva legal. A implantação revela-se difícil para algumas propriedades, mas a lei também prevê formas de recompô-las. A reserva legal é obrigatória e traz benefícios a todos. Para finalizar, aqui na Frutas, a movimentação chegou ao Palácio do Planalto. No final do ano, Carlos Alberto Pereira de Albuquerque, representante do Ibraf em Brasília, entregou a edição de dezembro, em mãos, ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, o que muito nos honra. Até a próxima edição em junho, se Deus quiser! Marlene Simarelli Editora [email protected] fale conosco REDAÇÃO para enviar sugestões, comentários, críticas e dúvidas [email protected] ASSINATURA a assinatura é gratuita e para solicitar seu exemplar [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 ANUNCIOS para anunciar na Frutas e Derivados [email protected] ou pelo telefone (11) 3223-8766 6 Alexandre A. Pasqualini Peruíbe – SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Sou veterinário e prestes a iniciar a atividade de fruticultor, assim, a revista Frutas e Derivados é uma literatura de muita utilidade, bem elaborada e abrangente no seu segmento. Continuem assim.” ○ ○ ESCREVA PARA ○ Antonio Carlos Ferreira MusA Agroindustrial Ltda, Itajubá – MG ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Endereço: Av. Ipiranga, 952 • 12º andar CEP 01040-906 • São Paulo/SP Fax: (11) 3223-8766 ○ “Tive a oportunidade de conhecer a publicação “Frutas e Derivados”. Fiquei muito satisfeita em observar a qualidade deste material e o quanto é útil para as atividades didático-pedagógicas da minha área de atuação.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “R ecebi os últimos exemplares de Frutas e Derivados. Li todos de ponta a ponta e me entusiasmei pelo seu conteúdo. Mais do que parabenizá-los pela iniciativa e qualidade da revista, gostaria de dizer que a revista veio preencher a lacuna de informações para os interessados nesse setor no Brasil.” ○ ○ ○ Gizelda Pedrosa Docente no Cefet, Área de Alimentos/ Agroindústria, Urutaí – GO ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Rita Maria Devós Ganga Engenheira Agrônoma, Estudante de Pós-Graduação na Universidade Federal de Goiânia – GO ○ ○ “ A revista está ótima: é leve, interessante, agradável e bem ilustrada, chamando a atenção para sua leitura. Parabéns!” ○ ○ ○ Genesio L. Hubscher Engenharia Elétrica - Desenvolvimento de Satélites de Sensoriamento Remoto, São José dos Campos – SP ○ ○ “Sou iniciante na área de frutas, com intenção de começar uma plantação no Rio Grande do Sul. Foi grande a satisfação em saber deste instituto e de ter acesso à revista Frutas e Derivados, no portal. Fiz pesquisa sobre literatura brasileira especializada no cultivo de frutas, mas o que achei foi muito pouco e deixa a desejar. Por isso, sugiro incluir em cada edição artigos sobre plantação, cultivo, industrialização e comercialização de uma ou duas frutas específicas. As condições no Brasil são muito favoráveis para produção de grande variedade, mas são poucas as produzidas e comercializadas em quantidade. Há 15 anos viajei para a China e, naquela época, frutas lá eram consideradas artigo de luxo. Retornei várias vezes nos últimos anos e fico surpreso com a disponibilidade de muitas variedades de frutas e com a qualidade (exceto algumas, como laranja, mamão e banana); melhor que muitas encontradas em nossos supermercados e produzidas aqui. Na minha opinião, no Brasil as condições para cultivo são muito mais favoráveis que na China, mas, do jeito que está indo, em alguns anos estaremos importando até frutas de lá.” ○ ○ ○ Valtair Niemeier Engenheiro Agrícola, Porto Alegre – RS ○ ○ esta revista no escritório do Deputado Federal Afonso Hamm, aqui em Porto Alegre. Trabalho com fruticultura e gostei muito das matérias; estão de parabéns.” ○ “Conheci ○ ESPAÇO DO LEITOR E-mail: [email protected] ENTREVISTA MAGRÃO SCALCO RAUL ANSELMO RANDON DIVERSIFICAÇÃO E INVESTIMENTOS Marlene Simarelli Presidente da Rasip Agropastoril, do Grupo Randon, Raul Anselmo Randon, 78, recebeu dos pais uma educação rígida voltada para o trabalho. Natural de Tangará, SC, tornou-se um autodidata bem sucedido. Aos 10 anos, já ajudava o pai na pequena oficina mecânica de equipamentos agrícolas, em Caxias do Sul (RS), para onde a família havia se transferido. Ao lado do irmão Hercílio, aos 19 anos, iniciou a trajetória para formação do grupo Randon S.A. - Implementos e Participações,, uma holding mista, formada por oito empresas e mais de 7.5 mil funcionários. Em 1979, fundou a Rasip Agropecuária, em Vacaria (RS). Hoje, a empresa cultiva maçãs das variedades Gala e Fuji, e uvas viníferas, além de produzir lácteos, entre eles o conhecido queijo tipo grana Gran Formaggio. A Rasip é uma das pioneiras, no segmento do agronegócio, a abrir seu capital social, passando a ter ações negociadas na Bolsa de Valores, a partir do ano de 1998, sendo ainda uma das primeiras a exportar maçãs, em 1990. Descendente da segunda geração de imigrantes italianos, Randon participou e ainda participa de diversas atividades associativas empresariais e comunitárias. Ao longo de sua vida, recebeu 142 medalhas, troféus, diplomas, prêmios, títulos e homenagens outorgados por entidades governamentais e particulares, nacionais e estrangeiras. Um de seus maiores orgulhos é o Programa Florescer, ligado ao Instituto Elisabetha Randon Pró Educação e Cultura, que atende a mais de 350 crianças e adolescentes, entre filhos de funcionários e alunos das comunidades de escolas próximas das empresas, em Caxias do Sul. As crianças, selecionadas dentro do critério de vulnerabilidade social, freqüentam o Florescer, gratuitamente, em turno complementar ao da escola formal, praticando atividades pedagógicas, culturais e esportivas para promover sua formação integral e inclusão 7 ENTREVISTA JOÃO SAMPAIO RAUL ANSELMO RANDON social. A metodologia do Programa Florescer é disponibilizada como modelo, de forma gratuita, a companhias interessadas em adotar a iniciativa. Para Randon, não é difícil administrar um programa desta natureza porque os benefícios suplantam quaisquer dificuldades. “O obstáculo maior está na tomada da decisão. Basta querer fazer.” Nessa entrevista, Randon fala sobre investimentos e diversificação dos negócios em fruticultura. “Diversificar ajuda na sustentabilidade da empresa, no equilíbrio dos negócios e diminui riscos.” Frutas e Derivados - Qual o perfil da Rasip dentro do mercado frutícola: o mercado interno ou o externo? Quais as principais vantagens e desvantagens de cada mercado? Raul A. Randon - A Rasip possuiuma área total de 800 hectares de macieiras e uma área produtiva de 750 hectares, sendo 70% do grupo Gala e 30% do grupo Fuji, e compra em torno de 12 a 15 mil toneladas de frutas de terceiros. Considerada a quinta maior produtora de maçã do País, no ano passado foram comercializadas 43 mil toneladas. As exportações atingem 10% desse total. A área destinada à produção de uvas viníferas é de 50 hectares. A produção de uvas passou de 78 toneladas, em 2006, para 106 toneladas na safra de 2007. A comercialização da maçã é distribuída entre o mercado interno, com 85%, e mercado externo, com cerca de 15%. O mercado interno consome grande parte da produção brasileira; já, o mercado externo possui critérios mais exigentes, como frutas maiores, e também são mais seletivos em relação à coloração das maçãs. Por ser um mercado difícil de ser conquistado, é importante manter o atendimento a esses clientes e continuar fornecendo fruta brasileira para o exterior. Frutas e Derivados - Qual o faturamento da Rasip em cada um destes mercados? Raul A. Randon - Para maçã, o faturamento de mercados interno e externo gira em torno de 8 R$ 40 milhões. A uva é comercializada somente no mercado interno e tem um faturamento de cerca de R$ 170 mil. Frutas e Derivados - A Rasip obteve financiamento de R$ 1,2 milhão no final de 2007 para investimento em equipamentos. Quais? Raul A. Randon - Em 2007, a Rasip investiu em torno de 8 milhões em infra-estrutura, modernização do parque fabril, ampliação de câmaras frigoríficas e aquisição de maquinário. Para este ano, a empresa está investindo em novas câmaras AC Dinâmica. Esta tecnologia utiliza um método baseado na medição do sinal da fluorescência da clorofila contida na casca da fruta, em tempo real. As câmaras possuem sensores que monitoram o estágio de maturação, a oscilação das frutas, liberando oxigênio automaticamente, conforme a necessidade delas. O sistema funciona através de um software de gestão interligado aos sensores. As novas câmaras aumentarão a capacidade de armazenagem, passando de 18,5 mil para 30,5 mil toneladas. Frutas e Derivados - O financiamento também prevê reconversão de pomares. Quais as vantagens da reconversão? Raul A. Randon - A reconversão contínua de pomares possibilita a atualização tecnológica em processos, variedades e clones cultivados. Frutas e Derivados - Como a Rasip conseguiu a liberação deste financiamento para fruticultura? Em que bases? Raul A. Randon - Foi desenvolvido um estudo sobre as necessidades de investimento e o projeto foi apresentado ao Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que aprovou e liberou um financiamento de longo prazo. Frutas e Derivados - Outros produtores podem ter acesso? Raul A. Randon - Qualquer pessoa pode solicitar o financiamento, porém, cabe ao BRDE a análise de crédito e liberação dos investimentos. Frutas e Derivados - A Rasip produz maçãs, uvas viníferas e mudas, além de lácteos. Quais os benefícios da diversificação? ENTREVISTA RAUL ANSELMO RANDON GILMAR GOMES trará reflexos negativos em seus projetos de exportação em 2008? Raul A. Randon - O mercado para a exportação é desafiador, mas é necessário dar continuidade aos negócios já existentes com clientes do exterior, que contam com a fruta da Rasip. A pretensão da empresa é manter as vendas para o exterior em até 20% da produção. Raul A. Randon - A instabilidade é um dos fatores constantes nesse setor; a safra muda a cada ano e as quantidades disponíveis ao mercado, também, o que influencia muito nos preços das frutas. Além disso, o agronegócio ainda depende das condições climáticas, que também são responsáveis pela qualidade da safra. A diversidade nesse segmento é fundamental para equilibrar os negócios, pois a cada ano pode haver altas e baixas em cada atividade da empresa. Ter mais de uma atuação ajuda na sustentabilidade da empresa, no equilíbrio dos negócios e diminui os riscos. Frutas e Derivados - Na hora de diversificar, o que o produtor deve considerar? Raul A. Randon - É preciso analisar o mercado e as condições da região onde será produzida a cultura - clima e terreno são alguns dos fatores. Frutas e Derivados - A quem se destina a produção das uvas viníferas? Há planos para investir na produção de vinhos? Raul A. Randon - Existe uma parceria com a Vinícola Miolo, de Bento Gonçalves, onde a Rasip é responsável pelo cultivo das uvas viníferas nas variedades Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Merlot e a Mioloproduz e comercializao vinho RAR, que leva as iniciais do nome Raul Anselmo Randon. Existe a idéia de, no futuro, a Rasip passar a produzir vinhos. Frutas e Derivados - A baixa cotação do dólar Frutas e Derivados - Qual o impacto do aumento do imposto sobre operações financeiras (IOF) para as atividades frutícolas que desenvolve? Raul A. Randon - O aumento na alíquota do IOF encarece a tomada de recursos por parte do produtor. Este aumento de custo dificilmente poderá ser repassado ao produto. Portanto, se não acarretar em desestímulo do produtor na tomada de recursos para investimentos, ocasionará em redução de suas margens. Toda cadeia de produção envolve tributos que giram em torno de 40% sobre o total. Frutas e Derivados - O que falta para o consumo de frutas no mercado interno crescer? Raul A. Randon - É preciso que as pessoas se conscientizem e criem o hábito do consumo de alimentos saudáveis, aumentando o consumo de frutas. Com esse aumento de consumo, crescem as vendas no país. “A reconversão contínua de pomares atualiza processos, variedades e clones cultivados.” Frutas e Derivados - Como analisa a fruticultura nacional daqui a 10 anos? Raul A. Randon - O mercado frutícola tende a crescer com o passar dos anos. Deve haver uma tendência cada vez maior do consumo de alimentos saudáveis. Já é possível perceber a preocupação das pessoas com a saúde e com alimentos mais saudáveis e nutritivos. Isso deve ajudar no aumento do consumo e crescimento do mercado. 9 CAMPO DE NOTÍCIAS Daniela Mattiaso Projeto para Fruticultura Irrigada terá Nova Licitação Com o intuito de alavancar a produção de diversas variedades de frutas com sistemas de irrigação por aspersão convencional, microaspersão e gotejamento, um projeto piloto vem sendo desenvolvido no Estado do Tocantins: o “Projeto de Irrigação Manuel Alves”. Segundo o engenheiro agrônomo, da Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado de Tocantins, Alexandre Barreto Almeida, o projeto está em fase avançada. Após a instalação dos primeiros produtores, contemplados em fevereiro, haverá a 3a licitação do projeto, com cerca de 73 lotes para o pequeno produtor qualificado e dez lotes empresariais. “A Companhia Elétrica do Tocantins está instalando a rede elétrica no setor hidráulico 1 e nos lotes empresariais, atendendo, assim, os lotes já licitados”, relata Almeida. O projeto surgiu por conta da difícil situação socioeconômica na bacia do Rio Manuel Alves, resultante das condições climatológicas que restringem a economia a culturas de ciclo curto, cultivadas durante o período das chuvas. A situação impede o desenvolvimento da região no mesmo ritmo do restante do Estado, onde a disponibilidade de recursos hídricos é regular e abundante. A iniciativa está inserida no Programa de Perenização de Rios do Sudeste do Tocantins (Propertins), executado pela Secretaria dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente, fruto do convênio entre os governos estadual e federal, incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O projeto fica entre os municípios de Porto Alegre e Dianópolis, Sudeste do Estado de Tocantins, e recebeu em dezembro de 2007 mais de R$ 20 milhões para custeio da infra-estrutura hídrica. Duas estações de bombeamento também se encontram em obras para suprir as necessidades das áreas a serem licitadas. O projeto deve gerar 2.500 empregos diretos e indiretos. Mais informações no site: www.manoelalves.com.br Nova Técnica Nacional para Dessalinização de Água Salobra Um grupo de pesquisadores do Labo- 10 ratório de Referência em Dessalinização (LABDES), da Universidade Federal de Campina Grande (PB) desenvolveu um tipo de membrana, feita com fibras ocas, para dessalinização de águas salobras. A nova membrana pode substituir as importadas, utilizadas hoje nos laboratórios brasileiros de dessalinização. O projeto foi desenvolvido em parceria com a Coordenação dos Programas de Pósgraduação de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/ MCT). A pesquisa buscou estudos que favorecessem a situação de emergência para autonomia nacional, em termos dos equipamentos necessários, principalmente no caso das membranas para dessalinizadores. “Estudamos critérios para viabilizar maior acesso e redução do custo das soluções técnicas já postas em vigor para fornecimento de água potável às comunidades do semi-árido brasileiro”, explicou o coordenador do projeto e responsável pelo LABDES, Professor Kepler Borges França. A produção das membranas ocas, para a dessalinização de águas salobras e salinas, encontra-se em fase de consolidação para atingir o patamar de escala industrial. “O principal objetivo foi aumentar a oferta de água potável com a maior eficiência na dessalinização de águas salobras por osmose inversa. Para atingir os resultados, unimos competências e experiências complementares dos pesquisadores da Paraíba e do Rio de Janeiro, na solução de um sério problema nacional, que há anos causa flagelo em grande parte da população do Semi-Árido. A escassez de água potável traz diversas seqüelas, como aumento da taxa de mortalidade infantil e baixo nível de desenvolvimento social e econômico da região”, finalizou. Mais informações pelo telefone (83) 3310-1116 ou e-mail: [email protected] Orgânicos têm Novas Regras para Comércio e Produção A agricultura orgânica no Brasil tem novos critérios para funcionamento do sistema de produção, da propriedade rural ao ponto de venda. As regras estão no Decreto no 6.323, publicado no final de 2007, no “Diário Oficial da União”. A legislação, que regulamenta a Lei no 10.831/2003, inclui produção, armazenamento, rotulagem, transporte, certificação, comercialização e fiscalização dos produtos. O decreto cria o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. A elaboração envolveu a participação de técnicos e especialistas de entidades públicas e privadas. Para facilitar a relação comercial internacional foram utilizadas também como base as diretrizes de produção e os regulamentos do Codex Alimentarius, já adotados nos Estados Unidos, na União Européia e no Japão. Está permitida a produção paralela de produtos orgânicos e não-orgânicos na mesma propriedade, desde que haja uma separação do processo produtivo, sem que haja contato com materiais e substâncias não autorizados para a agricultura orgânica. Conforme a legislação, não poderão ser comercializados como orgânicos no mercado interno os produtos destinados à exportação, em que as exigências do país de destino ou do importador impliquem utilização de componentes ou processos proibidos na regulamentação brasileira. O decreto autoriza agricultores familiares a realizar vendas diretas ao consumidor, desde que tenham cadastro no órgão fiscalizador. Atualmente, 15 mil produtores atuam na agricultura orgânica numa área estimada de 800 mil hectares. Os segmentos envolvidos na rede de produção orgânica terão prazo de dois anos para se adequarem às regras do decreto. Mais informações no site do Ministério da Agricultura: www.agricultura.gov.br ou e-mail: [email protected] RS Implanta mais de 5 mil Hectares de Pomares Em 2007, o Programa Estadual de Fruticultura do Rio Grande do Sul (Profruta/RS), executado pela Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural Emater/RS, bateu novo recorde na implantação de pomares. Foram implantados 5.088 hectares por meio de 4.172 projetos, elaborados pela Instituição, com 5.029 beneficiários, a maioria de agricultores familiares. O investimento total foi de R$ 54.812.862,66, grande parte com recursos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). A área implantada aumentou em 10% e os recursos investidos em 18%, em comparação a 2006. As culturas com maior incremento de área foram a laranja, com 2.204 hectares, que pela primeira vez em 12 anos superou a videira, que alcançou 1.441 hectares. Destaque, também, para banana, com 274 hectares; bergamotas, com 217 hectares; e pêssegos, com 206 hectares de novos pomares. Ao todo, 23 espécies de frutas foram implantadas. As culturas da nogueira pecã e da oliveira, que estão ressurgindo no Estado, aumentaram 156 hectares e 89 hectares, respectivamente, em especial nos municípios de Cachoeira do Sul e de Caçapava do Sul. As pequenas frutas (amora-preta, mirtilo e morango) continuam crescendo na Serra Gaúcha, bem como o abacaxi e a banana, no Litoral Norte. Com a expansão da venda para outros estados, o Vale do Caí se consolidou como principal pólo de bergamotas e outros cítricos para consumo in natura. Pela primeira vez, a maior expansão da fruticultura ocorreu no Alto Uruguai, com 2.161 hectares, onde predomina a cultura da laranja. As regiões da Fronteira Oeste e da Campanha tiveram aumento de 345 hectares, principalmente com projetos de uvas e de citros sem sementes. A região da Serra, maior pólo brasileiro de frutas de clima temperado, continua se especializando com a qualificação da produção e introdução de novas variedades, garantindo a expansão do comércio das frutas para todo o País. O Programa Estadual de Fruticultura, executado pela Emater/RS-Ascar, em parceria com mais de 30 instituições públicas e privadas, é desenvolvido por meio dos Subprogramas Implantação de Pomares, Mudas de Qualidade, Assistência Técnica e Capacitação e Mercado e Comercialização. Seguro Cobre Danos Causados por Granizo A Porto Seguro lançou o ‘Porto Seguro Agrícola’ para cobrir danos causados pelo granizo às safras de frutas como ameixa, caqui, figo, goiaba, maçã, nectarina, pêra, pêssego e uva, no Estado de São Paulo. A ocorrência de granizo é comum a partir do início da primavera, época que está começando a fase da floração, e se estende até o término do verão, abrangendo todo o ciclo de desenvolvimento das frutas até a colheita. Segundo Adilson Neri Pereira, diretor de Ramos Elementares, Transportes e Aluguel da companhia, “a idéia é proteger as safras de frutas principalmente dos pequenos e médios produtores; assim, podemos contribuir também para a estabilidade da atividade agrícola”. Tecnologia para a Quebra do Coco Babaçu Estão chegando ao mercado até o final do ano dois equipamentos destinados à quebra do coco babaçu (Orbgnyaspeciosa), comum na região amazônica: o “Corta Coco” e o “Hamster”. Os equipamentos foram desenvolvidos por meio do Programa Institucional de Iniciação Científica (Pibic), pela pesquisadora do Grupo de Engenharia e Pós-Colheita, do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital-Apta), em Campinas, SP, Márcia Paisano Soler, e o estudante de Engenharia de Alimentos, Eric F. Muto. “Na quebra manual, as amêndoas saíam, muitas vezes, bastante danificadas, o que prejudicava sua utilização. Tentamos desenvolver uma tecnologia de quebra que possibilitasse o aproveitamento das amêndoas para que pudesse diminuir o custo da matériaprima e aumentar a ‘produção’ das quebradeiras”, conta Márcia. O Corta Coco é composto pelo suporte e pela base. Em primeiro lugar, o epicarpo e o mesocarpo são retirados por um descascador abrasivo depois de um tratamento térmico. Depois, dois ‘cocos pelados’ - como é chamado o conjunto composto pelo mesocarpo e amêndoa do fruto – são colocados na máquina, que os corta em duas partes. Já, o “Hamster” é um agitador acionado por manivela que separa a amêndoa do mesocarpo. Os dois equipamentos foram fabricados com a junção de materiais simples e o objetivo de melhorar o aproveitamento foi atingido. Aproximadamente três de cada quatro amêndoas existentes no fruto eram extraídas inteiras, o que corresponde a aproximadamente 75% do total. Por fim, o rendimento também sofreu um grande impulso: com as máquinas, a média de cocos cortados por minuto é de 7,88. Já, a média das quebradeiras é 1,85 cocos/minuto. O projeto ganhou o segundo lugar na categoria de tecnologia da oitava edição do Prêmio von Martius, na qual concorreram 34 projetos. O prêmio é oferecido pelo Departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha. Maiores informações: Márcia Paisano Soler, telefone (19) 3743-1833 ou e-mail [email protected] Programa Capacitará Técnicos em Boas Práticas de Fabricação na Agroindústria Cerca de 300 técnicos da extensão rural, vinculados ao Programa de Agroindústria Familiar, serão capacitados em Boas Práticas de Fabricação (BPF) para garantir a qualidade e a segurança de alimentos processados em agroindústrias de pequeno e médio porte. A iniciativa faz parte de programa firmado entre Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio de Janeiro (RJ), Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), prefeituras e órgãos de extensão rural de 17 Estados e o Distrito Federal. A capacitação abrange teoria e prática, com visitas monitoradas às empresas locais. Os cursos acontecerão em São Paulo, Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Piauí, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará, Acre, Amazonas, Amapá e Maranhão. Os interessados podem entrar em contato com a Extensão Rural do seu estado ou com o coordenador do curso, Fenelon do Nascimento Neto, email: [email protected] telefone: (21) 2410-9500. 11 NO POMAR Daniela Mattiaso IAPAR MAÇÃ PARA CLIMAS QUENTES O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) desenvolveu uma nova variedade de maçã mais adaptada às regiões de climas quentes: a Julieta. Com exigência de 200 a 300 horas de frio para desenvolvimento, o pesquisador Roberto Hauagge, que trabalhou no desenvolvimento da fruta, ressalta que a cultivar precisa de inverno seco ou temperaturas abaixo de 7o.C. A nova cultivar pode ser plantada nas regiões Sul e Sudeste do País, onde o inverno não oferece frio suficiente para viabilizar produção das demais cultivares. Hauagge acrescenta que “a Julieta também é mais resistente à mancha-foliar-da-macieira e sofre pouco ataque de oídio, sarna e ácaros.” Segundo ele, é uma maçã com sabor doce, levemente acidulado e tamanho médio acima de 150 gramas, com produção que pode superar 35 toneladas por hectare. Esta é a segunda cultivar desenvolvida pelo Iapar para plantio em climas subtropicais. Em 1999, o Instituto desenvolveu a Maçã Julieta precisa de 200 a 300 horas de frio e inverno seco variedade Eva, também indicada para regiões de climas mais quentes, como a Bahia, onde é plantada atualmente. Mais informações com o pesquisador Roberto Hauagge, Iapar em Curitiba (PR), telefone (41) 3356-7349 ou e-mail [email protected]. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ NOVA VARIEDADE PARA SUCO DE UVA E VINHO DE MESA EMBRAPA UVA E VINHO ○ Nova uva tem sabor típico de Vitis labrusca e boa resistência a doenças fúngicas 12 Uma nova variedade para produção de suco de uva e vinho de mesa já está disponível para o produtor, a ‘BRS Carmem’. A variedade tem ciclo tardio, com brotação em setembro e colheita em março na Serra Gaúcha. No Norte do do Paraná, a colheita ocorre em fevereiro. A nova uva surge como mais uma alternativa para ampliação do período de processamento. Resultante do Programa de Melhoramento Genético da Videira da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves-RS), destaca-se pelo sabor típico de Vitis labrusca, produzindo suco e vinho de cor violácea intensa, com características de aroma e sabor lembrando framboesa, similar ao obtido com a cultivar ‘Bordô’. Umberto Camargo, coordenador do Programa de Melhoramento Genético, explica que a cultivar tem bom teor de açúcar, excelente coloração e boa resistência às doenças fúngicas. A BRS Carmem poderá ser utilizada sozinha ou em conjunto com outras na fabricação de sucos e vinhos. O material de propagação - as chamadas “gemas” –estão à disposição na Embrapa Transferência de Tecnologia - Escritório de Negócios de Campinas (SP), Av. André Tosello, 209, Cidade Universitária, Caixa Postal 6062, CEP 13.083-970. Mais informações pelo telefone (19) 3749-8888 ou pelo e-mail [email protected]. ○ ○ ○ ○ ○ Segundo os engenheiros agrônomos e pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Getúlio Augusto Pinto da Cunha e Domingo Haroldo Reinhardt, alguns cuidados são essenciais durante o cultivo do abacaxi. Entre eles, o desbaste das mudas e a proteção dos frutos contra a queima solar. Eles explicam que “as plantas da variedade Pérola produzem um número de mudas do tipo filhote muito maior do que o produtor precisa para novos plantios. A eliminação do excesso delas tem aumentado o peso médio do fruto e o vigor das que permanecem na planta”. A recomendação deles é desbastar as mudas, deixando apenas de quatro a seis filhotes mais vigorosos por planta. “O desbaste deve ser feito com leve pressão manual sobre o broto, depois de 90 a 100 dias após a indução da floração, que corresponde à semana posterior ao fechamento das últimas flores da inflorescência. De preferência, deve-se eliminar as mudas do lado do sol nascente, favorecendo o crescimento das mudas do lado do sol poente, o que pode ajudar na proteção dos frutos contra a queima-solar”, explicam eles. A queima-solar ou escaldadura do fruto do abacaxizeiro é uma anomalia de causa não-parasitária ou não-biológica, que pode causar perdas de até 70% na produção, a depender da época de colheita. Eles É necessário protegê-los, sobretudo explicam que durante o período de maturação (60 dias antes da colheita) os frutos são em épocas de altas temperaturas muito sensíveis à queima.“É necessário protegê-los, sobretudo em épocas de altas e alta radiação solar temperaturas e alta radiação solar.” A proteção dos frutos do lado do sol poente pode ser feita de várias formas, conforme descrevem os pesquisadores: 1) Direcionar o plantio, pois plantas posicionadas no sentido Leste-Oeste têm menor intensidade de queima-solar do que as plantadas no sentido Norte-Sul; 2) Estabelecer programa de indução da floração para que o desenvolvimento da inflorescência e do fruto seja em épocas desfavoráveis à ocorrência da queima-solar; 3) Adubar de acordo com a análise do solo, para diminuir o tombamento das plantas; 4) Proteger os frutos com o uso de materiais vegetais (capim seco, palha de bananeira, mudas de abacaxi, etc.), sacos de papel, etc. No caso de papel de jornal, estudos ainda devem ser feitos para confirmar se a tinta da impressão é fator de contaminação do fruto por chumbo, por isso seu uso deve ser evitado; 5) Amarrar as próprias folhas do abacaxizeiro sobre os frutos das seguintes formas: a) levantar as folhas mais compridas em volta do fruto, amarrando-as acima dele; b) fincar piquetes ao longo das linhas de plantio, distantes 2,50 a 3,00 metros, por onde são passados e atados cordões paralelos (entrecruzados ou em ziguezague), que servem para suspender e sustentar as folhas, em volta dos frutos, protegendo-os coletivamente; c) rasgar a maior folha do abacaxizeiro ao meio até metade de seu comprimento, sem destacá-la da planta. Com as duas partes envolver as demais folhas, que são levantadas em volta do fruto e amarradas acima da coroa. Segundo os pesquisadores, a proteção com as próprias folhas do abacaxizeiro tem se revelado o método mais econômico. Maiores informações com pesquisadores Getúlio Augusto Pinto da Cunha ([email protected]) e Domingo Haroldo ([email protected]), Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, telefone (75) 3621-8000, Caixa Postal 007, Cruz das Almas (BA), CEP 44380-000. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PROJETO FRUTA PAULISTA CUIDADOS PARA EVITAR QUEIMA SOLAR NO ABACAXI ○ ○ ○ BANANA MAIS RESISTENTE A Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus – AM) está lançando no mercado uma nova variedade de banana resistente à Sigatokaamarela, ao Mal-do-panamá e à Sigatoka-negra. A nova cultivar, batizada como BRS Conquista, apresenta produtividade de 40 toneladas por hectare ao ano, conforme os pesquisadores José Clério Pereira e Luadir Gasparotto, fitopatologistas da Embrapa. A planta tem porte de médio a alto e a polpa dos frutos apresenta sabor adocicado, coloração creme, com bom equilíbrio entre açúcares e ácidos. Uma das características marcantes dos frutos maduros é seu agradável e proeminente aroma. Mais informações no site: www.cpaa.embrapa.br ou pelo telefone (92) 3621-0300. A Embrapa Amazônia Ocidental está sediada em Manaus (AM), na Rodovia AM-10, Km 29. 13 13 ○ ○ ○ ○ RENAR MAÇÃS FRUTAS FRESCAS MARKETING NO POMAR Diferentes experiências na fruticultura revelam estratégias de marketing para aumentar o consumo interno, que tem a união e o público infantil como elementos fundamentais para a colheita de resultados Layza Portes UB RIC 14 H D AR JAK AS ZKO Para alguns pensadores ele identifica e satisfaz as necessidades humanas e sociais. Para outros, trata-se da arte de vender produtos. Definições à parte, a ferramenta marketing tem essas e outras interpretações, mas sua essência é trabalhar com desejos, anseios e vontades do consumidor. Entender e despertar esse sentimento, na hora da compra, é um grande desafio para toda cadeia da fruticultura nacional: para o produtor, passando pela agroindústria, distribuidor e, principalmente, para quem estabelece contato direto com o cliente. Criar diferenciais e agregar valor aos produtos, trazer vantagens a quem os utiliza e, assim, fidelizar o cliente. Para Richard Jakubaszko, especialista em comunicação no agronegócio e autor dos li- Richard Jakubaszko, autor dos livros Marketing da Terra e Marketing Rural - Como se comunicar com o homem que fala com Deus vros Marketing da Terra e Marketing Rural - Como se comunicar com o homem que fala com Deus, essa é a importância da ferramenta. No ponto de venda, Richard acredita que a fruta deve destacar três diferenciais: a aparência, o sabor e as suas vantagens nutricionais ou terapêuticas. “Conforme o aspecto mais forte em termos de diferencial é o que se deve valorizar na comunicação e no marketing”, diz. “Algumas frutas permitem acoplar diferenciais de marketing para uso culinário, como a manga, uva, maracujá, laranja, kiwi, pêssego, figo, entre outros”, destaca. Já, com as crianças, o especialista afirma que o sabor e a aparência são os aspectos que devem ser trabalhados. Ele destaca que nos Estados Unidos foram estabelecidos diferenciais para o amendoim, o espinafre e a cenoura, vendendo-os conceitualmente ao público infantil. “Funciona mesmo e fideliza o cliente, a longo prazo, com a conivência das mães. Mas é investimento de marketing a médio e longo prazos”, lembra. Richard diz que o principal desafio do marketing no agronegócio para os produtores é reunir esforços. “Este é o primeiro passo, se não houver a união nada vai em frente, vai faltar dinheiro e consenso”, completa. FRUTAS FRESCAS A FORÇA DA UNIÃO ABANORTE Unir esporte, saúde e a banana prata. Foi a partir desses três elementos que os afiliados da Associação dos Fruticultores do Norte de Minas Gerais (Abanorte), em Janaúba (MG), pensaram em ações de marketing para promover e estimular o consumo. Desde 2004, desenvolvem uma série de atividades com a fruta, que é responsável por 90% do volume da produção da entidade. A primeira das várias atividades foi o patrocínio de uma equipe de ciclismo de Belo Horizonte. “Foi uma novidade. E chamou a atenção de todos”, lembra Dirceu Colares, presidente da Associação. Depois, veio a Copa Abanorte de Futebol de Salão que envolveu as escolas municipais de Janaúba. Foram 68 equipes e mais de 680 atletas participantes. Durante o evento foram divulgados panfletos e folders que destacavam a importância da alimentação à base de frutas. A criação de uma mascote foi fundamental para fortalecer a imagem da banana prata na mente do consumidor por meio de camisetas, outdoors (cartazes), adesivos e outros materiais promocionais. Com slogans como “Consuma 1 banana ao dia e leve uma vida saudável” e “Dê uma banana para a sua ressaca” - essa última ganhou até uma vitamina, com receita publicada no jornal, para curar o excesso de bebidas alcoólicas: banana + leite + açúcar –, a Abanorte foi ganhando força e sendo reconhecida regionalmente e expandindo suas fronteiras. Depois foi a vez do concurso para a melhor torta e pratos derivados da banana prata com prêmio de R$ 300,00. Com júri formado por profissionais do Senac, Senai, um especialista nesta culinária e o mais exigen- te de todos os jurados, o próprio público; a prova já está em sua 5ª edição e as melhores receitas são publicadas nos jornais e na rádio da cidade. Com o tema “Pratique esportes e consuma frutas”, a entidade patrocinou também a ida do time juvenil do Cruzeiro para um jogo com a Seleção de Janaúba no final de 2007. As ações de marketing da Abanorte não param por aí: em todas as reuniões da Associação e de suas 14 afiliadas, no lugar do tradicional cafezinho, são servidos sucos e frutas. Todas essas promoções são bancadas pelos 3 mil produtores da Associação que contribuem de forma voluntária com R$ 0,02 por caixa da fruta produzida. “A ação tem adesão de 80% dos produtores. Neste ano, queremos atingir 90% deles”, destaca Dirceu, que vê nesse percentual a recepção positiva por parte dos produtores em relação às ações de marketing. “Tanto que eles continuam colaborando e esse índice de contribuição é alto”, diz. Ele salienta ainda que os recursos arrecadados ainda são baixos para custear todas as atividades. Para 2008, está em desenvolvimento um selo da Abanorte que traz a identificação da origem do produto. “Queremos expandir esse projeto em nível nacional”, revela Dirceu. Os principais mercados para os produtores da Associação estão concentrados nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Nossa idéia é despertar não só a atenção do consumidor, mas fazer o produtor sentir força na Associação”, comenta ele. Com todas as afiliadas, a Abanorte reúne uma produção de 246 mil toneladas da banana prata vindas de áreas que juntas somam 8 mil hectares. Camisetas, leques e adesivos para carro são algumas das ações para divulgar a banana, feitas pela Abanorte 15 FRUTAS FRESCAS Há 56 anos no mercado, a Benassi tem muita tradição e referência não só em produção de frutas em terras brasileiras - como a uva, o caqui e a poncan, mas também na produção do kiwi, em terras chilenas - atuando ainda na distribuição e venda desses alimentos. Em 1998, o grupo descobriu que poderia melhorar muito a relação com o consumidor e explorar melhor o atendimento no Ponto de Venda (PDV) por meio de uma figura-chave: o promotor. Antes, era a própria rede de supermercados ou o estabelecimento que contratava esses profissionais para atuar no ponto da venda com os produtos da Benassi. A diretora comercial do grupo, Luci Benassi, lembra que os promotores recebiam informação, mas não conheciam, na prática, questões que influenciam diretamente as vendas, como o processo de produção da fruta, a importância da reposição do alimento e a distribuição nas prateleiras. Foi nesta etapa decisiva, a compra, que a Benassi identificou a lacuna e passou a treinar e orientar diretamente seus promotores. “O setor tinha pouco conhecimento desse cuidado no PDV. Os supermercados não davam atenção para o setor de hortifrutis, porque dava pouco lucro. Mas depois começaram a ver com outros olhos. Juntos, nós, a concorrência e todo o setor fomos nos aprimorando”, recorda Luci. Na abordagem com o consumidor, o promotor da Benassi - devidamente uniformizado - interage com o cliente, questiona qual sua necessidade diária e mostra as frutas em exposição mais adequadas para consumo. “Com a fruta, você tem que trabalhar muito a questão do sabor. De repente, o cliente leva um produto com característica alterada, já passado ou verde, consome em casa e não gosta. Depois, fica difícil ele comprar novamente em um curto período. Esse único produto pode condenar a próxima compra”, destaca Luci. O promotor também pode ser a porta de entrada para apresentar novos sabores ao cliente e estimular a degustação de frutas pouco conhecidas, como o mangostin e a atemóia. “O segredo é a degustação”, revela Luci, que acrescenta: “O cliente também compra com os olhos.” Hoje, o grupo conta com mais de 1.000 promotores espalhados por todo o Brasil. São fornecedores de grandes hipermercados, como o grupo Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour. Com essas ações no Ponto de Venda há uma década, a Benassi registrou um crescimento médio de 30% nas vendas. Para o grupo, esse diferencial refletiu em toda a cadeia, pois com o crescimento das vendas, mais se exigiu de todos os parceiros envolvidos, principalmente na qualidade da matéria-prima fornecida pelo produtor. 16 ABPM AÇÕES NO PONTO DE VENDA Moisés Albuquerque: projeto atingiu 60% das escolas, isto é, 280 mil alunos, em 2007. Objetivo é chegar a 100% este ano A Benassi também terceiriza todo o setor de hortifrutis de supermercados de pequeno e médio portes. “Em alguns estabelecimentos, onde atuamos, praticamente dobramos a venda. Isso acontece, pois em um mercado o dono tem que entender um pouco de tudo e como entendemos de frutas e legumes, só focamos nessa área, que é a nossa especialidade: o resultado vem”, enfatiza. Com todo este portfólio e conhecimento, a Benassi atende a todos os públicos e identifica uma necessidade comum a todos eles. “Ninguém quer comprar uma fruta e ter que jogá-la fora depois.” PÚBLICO INFANTIL, RESULTADO CERTO Com o objetivo de implantar novos hábitos alimentares no dia-a-dia das crianças, a Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), com sede em Fraiburgo (SC), teve a idéia de levar para a rede de escolas estaduais o projeto Mais Frutas na Escola, baseado no projeto The National School Fruit Scheme (Programa Nacional Frutas na Escola), da Inglaterra. Na primeira fase, em 2006, a Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina e a ABPM, atingiram cinco regionais, 134 mil alunos do ensino fundamental, de 5ª a 8ª série, de 275 escolas. No segundo ano, em 2007, o Mais Frutas na Escola atingiu 11 regionais, 471 escolas, 280 mil alunos, cerca de 60% do Estado. A meta da ABPM é chegar a 100% da rede em 2008. As frutas foram fornecidas pelas empresas associadas da ABPM por meio de uma licitação rígida para a alimentação escolar feita pela Secretaria Estadual. “A nossa primeira preocupação foi com a qualidade desse produto e todo serviço ligado a ele”, explica Moisés Lopes de Albuquerque, gerente executivo da ABPM e um dos responsáveis pelo projeto. A APBM investiu R$ 40 mil na produção de material de divulgação e outras ações de apoio ao projeto. A cada três semanas, todo aluno dessas escolas ABPM Maçãs conquistaram crianças em projeto conduzido pela ABPM, em Santa Catarina ABPM recebia uma maçã. Folhetos educativos entre os estudantes foram distribuídos para falar da importância da boa alimentação. As merendeiras ganharam um livreto com orientações de como manipular a fruta. À escola também foi fornecido um DVD educativo. O projeto pedagógico recebeu uma adequação para que cada disciplina relacionasse o tema ao conteúdo. Em casa, os pais receberam cartas para orientá-los sobre o projeto e a importância de uma alimentação saudável. Todo o trabalho também teve o acompanhamento de nutricionistas. No programa da Inglaterra, especialistas identificaram que a escola pode ser um caminho para implantar novos hábitos alimentares e aumentar o consumo de frutas e verduras. Em 2007, a pesquisa mostrou que 65% das crianças passaram a comer frutas diariamente. Contra 46% em 2002, no início do programa. O número de porções praticamente dobrou: de 7,5 para 14 porções de frutas semanais por aluno. “No Brasil, a reflexão em termos de consumo vai levar alguns anos. Mas precisamos nos basear nesses bons resultados”, defende o gerente executivo da ABPM. “É importante que os produtores olhem com muita atenção a essa tendência”, destaca. Implantar bons hábitos alimentares desde cedo parece ser um caminho para colher bons resultados. As crianças recebem bem essas e outras novidades. Foi acreditando no potencial do público infantil que o grupo Fischer – Citrosuco -trabalha com o licenciamento da maçã Turma da Mônica desde 1998, quando adquiriu a empresa Pomelle, que era detentora dos direitos da marca desde 1994. Degustação, distribuição de brindes, gibis, imãs de geladeira e livros de receitas com os personagens de Maurício de Souza são algumas das ações no PV. Segundo o supervisor de vendas da Fischer, Ronaldo Carneiro Walter, desde o lançamento do produto, a empresa viu a necessidade de investir nessas ações de marketing, já que a maçã Turma da Mônica deixou de ser uma commodity, com forte identificação pelo público infantil. “Com qualidade reconhecida pelo consumidor”, lembra. A maçã Turma da Mônica é um dos principais produtos da empresa e representa 15% do volume de produção da Fischer. Além dessas ações, a Fischer também co-patrocina atividades esportivas, como os 10 Km da Tribuna de Santos (2005), a Triathlon Nissan (2006) e anuncia em revistas especializadas. Plano para consumo interno Desenvolver estratégias de marketing para estimular o consumo interno de frutas é uma tarefa que há mais de uma década o Ibraf tem se empenhado e levado adiante para outros parceiros. O objetivo é mobilizar diferentes públicos sobre a importância de se unir esforços para mudar a cultura do brasileiro em relação ao consumo de frutas. Trata-se de um plano de marketing para consumo interno, que envolve órgãos, entidades, profissionais das áreas da saúde, nutrição e educação, para disseminar bons hábitos alimentares e estimular o consumo de frutas. Para cada público-alvo, uma ação específica. Um médico pediatra, por exemplo, pode informar à mãe, quais os benefícios de determinada fruta para o bom desenvolvimento da criança. As ações estão relacionadas ao cotidiano desses profissionais. O diretor do Ibraf, Jean Paul Gayet, explica que um dos problemas para se trabalhar essas ações de marketing, é mobilizar a estrutura das agroindústrias. No outro lado da cadeia, o consumidor tem muito conhecimento sobre os valores nutricionais desses alimentos, sabe a sua importância, mas na prática, não incorpora a fruta na alimentação. “A maioria dos consumidores já teve alguma experiência negativa ao adquirir uma fruta – seja por ter comprado um alimento passado ou que não estava maduro – e isso provocou um bloqueio, uma frustração”, comenta Gayet. Ainda, segundo o diretor do Ibraf, as condições que esses alimentos chegam aos supermercados, muitas vezes se devem à grande concorrência, principalmente no começo e no fim da safra. É a corrida do produto para chegar antes na prateleira e ganhar o consumidor, e ainda, a lei da pouca oferta para vender a fruta a preços mais altos no fim da temporada. Produtores, empresas privadas e órgãos governamentais interessados nesta parceria podem obter mais informações na página do Ibraf (www.ibraf.org.br) ou entrar em contato com o Instituto pelo [email protected]. 17 A variação cambial facilitou a entrada de frutas frescas importadas, aumentando a variedade para o consumidor, mas a tendência de crescimento pode vir a afetar a produção nacional Beth Pereira 18 IMPORTAÇÃO Com a desvalorização do dólar, as importações de frutas frescas e processadas aumentaram, concorrendo com o produto nacional. Para se ter uma idéia deste crescimento, em 2003, os gastos do País com essas compras totalizaram US$ 68 milhões e saltaram para US$ 212 milhões no ano passado, um aumento de 211% em 5 anos, conforme estatísticas da Secex (Secretaria do Comércio Exterior)/ Datafruta-Ibraf. Vantagem principalmente para o consumidor, em termos de variedades e preços baixos. Na outra ponta do mercado, quem exportou também sentiu os efeitos do afrouxamento do câmbio. A situação não freou as exportações brasileiras de frutas frescas, que têm apresentado um aumento gradual ano a ano, porém menor do que as importações. As mesmas fontes revelam que de 2003 a 2007 ocorreu um aumento de 90% nas vendas externas de frutas, que subiram de US$ 337 milhões para US$ 642 milhões. Para o coordenador do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial (Pensa), da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto (SP), professor Marcos Fava Neves, o aumento das importações tem dois aspectos distintos: o consumo e a produção. “Por um lado é bom para o consumidor final, pois tem acesso a produtos de outros países e ajuda a controlar preços; por outro lado, realmente preocupa a produção nacional, no caso de algumas frutas produzidas no País, como maçã, uva, pêssego, entre outras. Com a situação cambial atual, Neves acredita que as importações continuarão aumentando. “Essa é uma tendência e uma ameaça aos produtores nacionais”, alerta. “É necessário olhar com carinho como esta produção é feita lá fora, se é subsidiada, se atende aos padrões de sanidade e segurança, e buscar alternativas para aumentar a competitividade brasileira”, recomenda. Já, o aumento das exportações de frutas reflete o resultado de alguns fatores combinados, na análise do coordenador do Pensa: “Do amplo trabalho estratégico de marketing internacional, feito pelo Ibraf, Apex e outros órgãos do Brasil, a uma maior competitividade empresarial e orientação mais forte para a demanda, produzindo cada vez mais o que o consumidor final quer, principalmente no Nordeste, com destaque para o Vale do São Francisco e o trabalho da Codevasf”, detalha. Neves também credita o aumento das exportações à presença de grandes multinacionais, produtoras de frutas no Brasil, casos da Del Monte, Chiquita, entre outras, fazendo com que os canais de distribuição estejam garantidos para o produto brasileiro. “Daí o crescimento vigoroso das nossas exportações, quem sabe a caminho de US$ 1 bilhão num futuro próximo, mas ainda muito, muito aquém, daquilo que podemos”, destaca. “Creio ser possível, em dez anos, alcançarmos US$ 4 ou US$ 5 bilhões”, prevê. Fonte: Secex/Datafruta/Ibraf O superintendente da Associação dos Produtores e Exportadores de Hortifrutigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), Alberto Sabino Santiago Galvão, afirma que hoje o produtor também está buscando alternativas para a comercialização da safra e o mercado interno é uma opção bastante interessante, pois absorve mais de 95% da produção nacional de frutas in natura. “Os fruticultores estão conscientes de que as exportações não são favoráveis, por causa do câmbio, e estão realizando investimentos para ampliar os canais de comercialização no mercado interno”, observa e acrescenta que o maior empecilho é a falta de motivação por causa do preço. Galvão faz questão de ressaltar a qualidade da fruta brasileira direcionada ao consumo interno. “Os produtos que vão para o Sul, Sudeste e para as capitais do Nordeste são de alta qualidade”, argumenta. SITUAÇÕES DIFERENTES “Para quem produz frutas vermelhas,, a situação do mercado ficou um tanto complicada. Com a desvalorização do dólar, a indústria importou muita fruta, deixando o produtor brasileiro sem saída, 19 IMPORTAÇÃO ÍCOL A FR A IBUR GO Walmir Varela, Agrícola Fraiburgo AGR obrigando-o, em certas ocasiões, a vender o seu produto abaixo do custo.” A análise é de Roque Valcir Casett, sócio-gerente da Italbraz, empresa de Vacaria (RS), que importa e exporta frutas vermelhas. Do total comercializado pela empresa, 90% corresponde às exportações e 10% às importações. Cassett acredita que “todo exportador foi afetado pela desvalorização do dólar, porém, quem vende para a Europa não tem tanto problema, pois opera em euro”. Além de sua produção, para atender ao mercado interno, a Italbraz importa mirtilo, framboesa e morango. “Ainda não dominamos a produção dessas frutas, que são muito exigentes. Não é só uma questão de quantidade, temos muito o que aprender para produzi-las com qualidade, que é o grande diferencial”, diz. Quanto ao setor vitivinícola, o cenário continua crítico para o vinho nacional, que há duas décadas sofre pressão da concorrência com os produtos chileno e argentino. Tanto que, para enxugar os estoques das vinícolas do Rio Grande do Sul, no ano passado, o governo realizou leilão de vinhos finos, o qual foi comercializado a granel e adicionado ao vinho de mesa pelos engarrafadores (veja box página 25). No entanto, a situação é bem diferente Fonte: CEAGESP 20 para os produtores de frutas de caroço de São Paulo. Timotheus Johannes Van de Laar, sócio-diretor da Holantec, empresa de Paranapanema (SP), que presta consultoria em frutas de caroços (pêssego, ameixa, nectarina, entre outras), afirma que não houve pressão dos produtos importados no período da safra paulista dessas frutas, de setembro até 15 de novembro de 2007. “Os produtores venderam bem a safra, os preços foram bons”, garante. “Não sei o que ocorreu na Europa com relação às frutas de caroços no ano passado, mas o certo é que as importações não afetaram o fruticultor brasileiro.” CONCORRÊNCIA NA MAÇÃ O supervisor de Vendas da Agrícola Fraiburgo S/A, Walmir Varela, avalia a concorrência com a fruta importada como o maior problema dos produtores de maçãs. “Em 2007, os custos de produção mantiveram-se altos, em reais, enquanto a fruta importada teve seu preço reduzido com a desvalorização do dólar”, explica. Em contrapartida, Varela diz que o produto importado pressionou o preço da maçã nacional, que alcançou patamares muito baixos, não cobrindo, em alguns casos, os custos de produção. “Não temos como calcular, mas sabe-se que as perdas foram grandes”, avalia. No ano passado, o Brasil importou 77.741 toneladas de maçãs, ante 68.574 toneladas em 2006, um aumento de 12%, conforme dados da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM). “O mercado brasileiro é muito bem ofertado pela fruta nacional, mas um aumento significativo nesse volume poderia trazer sérios prejuízos aos produtores e mesmo aos importadores”, afirma Pierre Nicolas Pérès, presidente da ABPM e da Associação Mundial dos Produtores de Maçã e de Pêra. Ele aponta tendência, ainda que lenta, de aumento no volume importado. “O volume, que chegou a pouco mais de 40 mil toneladas em 2003 e 2004, alcançou 60 mil toneladas, superando a média dos últimos dez anos”, ilustra. Segundo Pérès, o volume das importações só não foi maior porque a Argentina enfrenta sérios problemas fitossanitários, causados pela praga Cydia pomonella, e porque o brasileiro não aprecia a maçã Red Delicious, principal variedade importada daquele país. “Em geral, o brasileiro não gosta da Red Delicious. É uma maçã senescente (fofa), sem suco, farinhenta.A única vantagem que a fruta importada pode ter hoje é em relação ao preço”, salienta. AMEAÇA FITOSSANITÁRIA Por essa razão, Pérès afirma que a maior preocupação brasileira não é com a importação, mas com a condição fitossanitária do produto importado. “A Argentina é uma grande ameaça em relação à Cydia pomonella, até porque foi responsável pela inserção da praga no Brasil, no passado, e graças a um programa de erradicação, estamos quase exterminando-a em nosso País”, observa. Embora o controle feito por fiscais brasileiros na Argentina tenha rechaçado muitas cargas, no ano passado, a imprensa do Paraná noticiou a descoberta de rotas de contrabando de maçãs naquele Estado. “Essa é a nossa maior preocupação, no que se refere à importação, por enquanto.” A expectativa de Pérès é que o governo e a Polícia Federal tomem providências em relação às constatações de contrabando e que o Ministério da Agricultura mantenha rigor na Análise de Risco de Pragas de países que têm 21 CEAGESP se candidatado a exportar maçãs para o Brasil. “O segmento da maçã gera mais de 150 mil empregos e esta riqueza socioeconômica precisa ser preservada. Situações que permitam a introdução de pragas temíveis, como foi o caso da Cydia pomonella, jamais devem tornar a acontecer”, enfatiza. Com relação à produção nacional, o volume não tem sido diretamente afetado, pelo menos de maneira imediata, já que se trata de uma cultura perene, na avaliação do presidente da ABPM. “O ponto sensível é que as exportações perderam muito a competitividade”, argumenta. ACEITAÇÃO INTERNACIONAL Mesmo assim, o volume exportado tem crescido, graças à aceitação e à qualidade da fruta nacional. Segundo o presidente da ABPM, a desvalorização do real no passado criou um atrativo sobre o preço, o que estimulou os europeus a consumirem a maçã brasileira. “Quando se permitiram degustar a maçã brasileira, os europeus foram conquistados pela boca, afinal, a Gala e a Fuji, por sofrerem influência tropical, além de muito suculentas, são bastante doces. Essas qualidades de consumo elevaram muito o conceito da maçã brasileira no exterior e a fez ganhar mercado.” Mas faz uma ressalva: “Enquanto o governo não reduzir o custo Brasil, esse diferencial da fruta brasileira é prejudicado em termos de competitividade e ficamos dependentes de um câmbio mais favorável para exportarmos com a rentabilidade mínima necessária.” Em linhas gerais, Pérès considerou 2007 um ano difícil para o setor, que enfrentou aumento de custos, valorização do real, volume importante de safra (cerca de um milhão de toneladas) e sérios problemas com tempestades de granizo, que penalizaram a qualidade do produto. Em 2008, a expectativa é de queda do volume de produção, de 10% e 15% em relação a 2007, e alta qualidade de frutos, o que, em sua opinião, contribuirá para maior equilíbrio entre oferta e demanda. COCO TEM SALVAGUARDA O câmbio não chegou a prejudicar a indústria e o produtor brasileiro de coco, pois existe o Acordo de Salvaguarda Comercial, por meio da Organização Mundial do Comércio (OMC), que protege a cultura e limita as importações. A cota de importação está fixada em torno de 5.000 toneladas/ano, segundo o diretor-presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco do Brasil (Sindicoco), Francisco de Paula Domingues Porto. “A quota dá um certo conforto ao produtor”, diz. 22 Pera é a líder entre frutas importadas, que, por enquanto, não prejudicam mercado produtor nacional Porto considera que o limite de importação previsto na salvaguarda não afeta o setor, uma vez que as indústrias brasileiras utilizam, atualmente, de 30% a 40% do total estabelecido. “Isso demonstra que a oferta de coco no mercado interno é suficiente para atender ao consumo. Na contramão da legalidade, porém, tem ocorrido o aumento das importações, motivado por contrabando e fraudes realizadas por alguns importadores, o que foi devidamente comunicado às autoridades competentes pelo Sindicoco”, denuncia Porto. Ele conta que o sindicato já tomou várias medidas para proteger o produto brasileiro, tais como Direitos Compensatórios, há dez anos; aumento da Tabela da Tarifa Externa Comum (TEC) para 55%, há oito anos; além do Processo de Salvaguarda, há sete anos e em vigor. Embora o setor esteja protegido, o presidente do Sindicoco aponta outro problema. “Por receberem fortes subsídios nos países de origem (em torno de 42 tipos diferentes), o preço do produto importado é três a quatro vezes inferior ao custo de produção do nacional”, diz. FALTA MARACUJÁ Embora ostente a posição de maior produtor e consumidor de maracujá do mundo, atualmente o Brasil – que no passado também foi um grande exportador de suco da fruta – tem de realizar importações para atender à demanda interna de suco da fruta. O problema reflete a quebra da produção brasileira, causada pela ocorrência de doenças, principalmente a virose PWV (vírus que provoca o en- IMPORTAÇÃO durecimento dos frutos e aniquilam a planta), de acordo com o presidente da Associação dos Fruticultores da Região de Vera Cruz (SP) (Afruvec) e do Fundo Passiflora, Ângelo Domingos Rossi. Segundo Rossi, que também é agricultor e consultor em Economia Agrícola, a importação de suco de maracujá tem papel importante na formação do preço pago ao produtor pela matéria-prima (fruto). “Em razão da vantagem cambial, se indústrias importarem suco em grande quantidade, evidentemente haverá diminuição da demanda de frutas para o processamento e, em caso de safra cheia, poderá sobrar fruta no mercado interno, levando os preços para baixo”, analisa. “De certa forma, esse fato já ocorreu em outras ocasiões, pressionando a oferta de maracujá para o consumo in natura, refletindo nos preços das frutas frescas, que foram deprimidos.” Mas, de modo geral, no caso específico do maracujá para consumo in natura, ele afirma que não há concorrência externa. A produção ocorre praticamente o ano todo, com maior oferta entre dezembro e julho. Na entressafra, de agosto a no- vembro, o mercado é abastecido pela produção das regiões Norte e Nordeste. O mercado interno do maracujá se subdivide em dois grandes segmentos: o de consumo in natura e o industrial. No consumo in natura, cujos preços são mais favoráveis para o produtor, o consumidor define sua preferência pela aparência dos frutos, valorizados pela ausência de defeitos na casca (fruta lisa e sem manchas) e calibre. “Quanto maior, melhor”, explica Rossi. Por sua vez, a demanda industrial, para a produção de sucos, tem como foco o rendimento (relação peso da polpa ao peso total), brix e acidez, fatores fundamentais e diferenciais da matéria-prima. O maracujá tem como característica ser uma cultura de caráter nômade, ou seja, migra de uma região para outra, por causa da existência de pragas e doenças, que exigem qualificação profissional para o manejo, bem como o desenvolvimento de pesquisas para a solução de gargalos em relação às variedades existentes. Segundo Rossi, atualmente as pesquisas estão buscando uma planta transgênica. De mais concreto, porém, ele cita a criação de três 23 FRUGAL IMPORTADORA E EXPORTADORA IMPORTAÇÃO híbridos de maracujá que, em tese, são tolerantes ao PWV, atualmente em testes a campo, para comprovar a tolerância. Segundo o presidente da Afruvec, entre as indústrias processadoras de suco de maracujá, apenas a Maguary, de Araguari (MG), tem um esquema de integração com 900 produtores. As demais empresas do setor preferem comprar a fruta no mercado para o processamento. O País importa suco de maracujá para suprir a demanda quando a situação cambial facilita. “Quando a importação do suco não é vantajosa, a indústria acaba pagando mais pela matéria-prima, competindo pela fruta no mercado in natura, cujo preço é mais vantajoso”, afirma. VAREJO: VARIEDADE E QUALIDADE Embora não possua dados estatísticos, a Associação Paulista de Supermercados (Apas) sentiu os efeitos da desvalorização do dólar no aumento do volume de frutas importadas em São Paulo, maior mercado consumidor do País. “Em termos de custo-benefício, as maiores vantagens da fruta importada comparada à brasileira são variedade e qualidade, em alguns produtos, como kiwi, pêra e frutas de caroço (pêssego, ameixa e nectarina)”, argumenta o vice-presidente de Comunicação da entidade, Martinho Paiva Moreira. “Outra grande influência nesse mercado, que é a busca cada vez maior dos brasileiros por uma alimentação mais saudável, tem incentivado o consumo maior de frutas e produtos com mais qualidade”, observa. Segundo Moreira, as frutas mencionadas e alguns tipos diferenciados de laranjas lideram a comercialização entre as importadas. Procurada pela reportagem para falar sobre a situação nacional, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) não se manifestou. CONCORRÊNCIA SAUDÁVEL O aumento das importações trouxe benefícios não apenas para a população, mas para todo o mercado, pois os preços mais acessíveis aumentaram a concorrência saudável entre as empresas. A análise é de Gilson Martins, gerente da Frugal Importadora e Exportadora Ltda., que comercializa, entre outras frutas, pêra, ameixa, pêssego e maçã, sendo esta última importada e nacional. “Com a desvalorização do dólar, os produtos importados se tornaram mais baratos, incentivando o aumento do consumo. A concorrência ampliou a variedade das frutas”, pondera. Na opinião de Martins, o consumidor foi o grande beneficiado com o aumento das importações. 24 Importações trouxeram benefícios à população e a todo mercado, Gilson Martins “Todas as frutas importadas pressionam o mercado, seja pela variedade, preço ou qualidade. O incremento do consumo de frutas também teve reflexos positivos nas vendas, no faturamento e no crescimento das empresas”, avalia. “Os produtores tiveram de se adequar e melhorar a produção de suas frutas; as empresas passaram a ter mais opções de fornecedores com produtos de melhor qualidade”, detalha. No ano passado, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) comercializou 196.280 toneladas de frutas frescas importadas, ante 191.780 toneladas em 2006, confirmando um aumento no volume das importações, favorecidas pela queda do dólar, além de maior diversificação dos produtos ofertados (veja tabela página 20). No entanto, o assistente-executivo da Seção de Economia e Desenvolvimento da empresa, Josmar Macedo, considera que a entrada de frutas estrangeiras não afetou as vendas dos produtos nacionais porque o volume não foi tão significativo. “O aumento no volume de comercialização é até positivo, uma vez que acaba gerando mais emprego”, afirma. Entre as importadas, Macedo cita a pêra como líder em volume e vendas, com movimentação de R$ 190,8 milhões, em 2007, ante R$ 183,7 milhões, em 2006. Aliás, ocupa a quarta posição na lista das frutas comercializadas pela Ceagesp, atrás apenas do tomate, da maçã e da laranja, que são as três primeiras do ranking, pela ordem. A Ceagesp registrou queda no volume de algumas frutas importadas, caso da maçã, do damasco e marmelo, o que reflete a produção e a demanda nacional. Vinhos, concorrência dos estrangeiros GILMAR GOMES VINOTECH 2008 O vinho é hoje um dos produtos mais globalizados. Os Excedente mundial e leilão nacional produtores nacionais estão aprendendo que é preciso “Considerando a conjuntura internacional, com excedente competir, interna ou externamente, com produtos de de estoque mundial na faixa de 5 bilhões de litros de todo o mundo. “O que prejudica é, ainda, a imagem que vinho, na média dos três últimos anos, os resultados do o consumidor atribui, como melhor, ao produto impor- setor foram satisfatórios para o Brasil. tado e, por outro lado, a facilidade com que o comércio O excedente mundial acabou repercutindo no País, agrailegal de vinhos (descaminho) ocorre nas regiões de fron- vado pela entrada anual de 12 milhões a 15 milhões de teiras do País e, daí, atingindo grandes mercados”, sa- litros em descaminho (contrabando)”, de acordo com o lienta o diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho presidente Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Viti(Ibravin), Carlos Raimundo Paviani. cultura, Vinhos e Derivados, Hermes Zaneti, que tam“No curto prazo, há necessidade de desmistificar a idéia bém é diretor-superintendente da Vinícola Aurora. de que basta ser importado para ser vinho bom. É urgente Segundo ele, no ano passado, o Brasil comercializou 19 a necessidade de uma forte campanha, que evidencie milhões de litros de vinho, volume muito próximo ao a grande evolução qualitativa dos vinhos nacionais e a que entrou de forma ilegal. sua boa relação preço-qualidade”, sugere o economista “De cada quatro litros comercializados, três são José Fernando da Silva Protas, da Embrapa Uva e Vinho, importados. Nenhum país faz isso”, reclama. E de Bento Gonçalves (RS). mais: somente do Chile, foram 15 milhões de As importações de litros, favorecivinho cresceram do pelo acordo 19% em 2007, em bilateral, seguncomparação a do o qual o 2006. “Isto é poBrasil permite o ingresso, sem sitivo, pois denota um mercado em extributação, dos pansão, entretanvinhos chileto, a produção nanos. “Além do cional não está se câmbio, outro fabeneficiando”, extor que favorece plica Paviani. Ele as importações acrescenta que a e o contrabando desvalorização do de vinhos é a dólar tem facilitatributação, que do a entrada de nos países do Investimentos para expansão da área cultivada de uvas aumentou produção de vinhos importados vinhos finos e estoques Mercosul gira em e prejudicado os torno de 25%, esforços para exportar. “Para as indústrias, o impacto é enquanto no País chega a 53%”, ressalta Zaneti. negativo e pressiona pela redução das margens. Por ou- Em 2007, também ocorreram quedas nas vendas, tanto tro lado, obriga as empresas a buscarem outras formas no segmento dos vinhos finos quanto no dos vinhos de de distribuição e outros mercados.” mesa, embora nos finos as estatísticas apontem cresciO setor vitivinícola nacional vem sendo afetado pela mento. Isto porque foi registrado o volume de vinhos política cambial desde meados da década de 90. “Foi a finos comercializados a granel por meio de leilão propartir da paridade estabelecida pelo Plano Real, em 1994, movido pela Companhia Nacional de Abastecimento que se iniciou esta verdadeira invasão de vinhos es- (Conab), ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e trangeiros, um processo que se tem mostrado inexorável”, Abastecimento, por meio do mecanismo Prêmio para Esreclama Protas. O mais grave, em sua opinião, é que nos coamento da Produção (PEP). últimos anos estão sendo realizados investimentos para De acordo com o técnico da Conab, Paulo Morceli, o a expansão da área cultivada de uvas finas, aumentan- leilão foi uma forma de escoar o excedente de vinho do a produção de vinhos nesse segmento, sem que haja vinífero a granel do Rio Grande do Sul. “O produto não espaço no mercado para colocação do produto, refletin- foi absorvido completamente no mercado por causa da concorrência de similares do Mercosul”, justifica. do em estoques crescentes, anualmente. No período de 2002 a 2007, os volumes evoluíram de O setor está trabalhando sob a coordenação da Câmara 26,5 milhões de litros para 60,8 milhões de litros, um Setorial da Cadeia Produtiva da Viticultura, Vinhos e aumento de 129% nas compras externas. Segundo Protas, Derivados, para a realização de leilão de PEP, novamenno ano passado, 70% dos vinhos finos eram importados. te alterando a destinação do produto para destilação. 25 AGROINDÚSTRIA PELA QUALIDADE DAS POLPAS Projeto de pesquisa, em parceria entre Embrapa, ABDI e Ibraf, desenvolverá metodologia para orientar agroindústrias a ampliar qualidade e segurança de polpas de frutas AMAURI ROSENTHAL Layza Portes Apenas processo da pasteurização não garante qualidade do produto - Amauri Rosenthal, da Embrapa A Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio de Janeiro e o Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) desenvolvem neste começo de 2008 um projeto de Segurança e Qualidade de Polpas de Frutas, que faz parte do Plano de Desenvolvimento Setorial PDS, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), com o objetivo de identificar e quantificar os perigos microbiológicos e os fatores que afetam a qualidade nutricional e sensorial (rela26 tivos à aparência, sabor, aroma, entre outros) associados ao processamento térmico de polpas de frutas. Juntos, Ibraf e ABDI investiram R$ 120 mil no projeto. A Embrapa deverá desembolsar recursos orçamentários próprios, em valor equivalente, para outras ações institucionais complementares ao projeto. No momento, os pesquisadores da Embrapa estão dando início à coleta de amostras nas empresas produtoras de polpa de frutas das regiões Norte (açaí e cupuaçu), Nordeste (mamão, manga e caju) e Sudeste (manga). O pesquisador e chefe geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos do Rio de Janeiro, Amauri Rosenthal, explica que alguns aspectos influenciaram na definição desse grupo de frutas que participariam desta etapa. Foram levadas em conta a relevância econômica e o potencial futuro desses alimentos, conforme avaliação conjunta com o Ibraf. “O mamão, por exemplo, é uma fruta menos ácida, mais suscetível à contaminação e exige um processo de pasteurização mais rigoroso, porém sem prejudicar a qualidade”. A manga, pelo seu valor nutricional, com a riqueza de carotenóides, pró-vitamina A. Já o caju, igualmente pela importância para a região Nordeste, destacando-se pelo conteúdo de vitamina C”, argumenta. “Há possibilidade de estendermos a pesquisa para outras frutas”, completa. O pesquisador explica ainda que muitas vezes a pasteurização desenvolvida por algumas empresas, não leva em conta as características específicas de cada fruta. Por mais adequado que seja o processo, o objetivo é AGROINDÚSTRIA (PA), Embrapa Agroindústria Tropical de Fortaleza (CE), Embrapa Mandioca e Fruticultura de Cruz das Almas (BA), Universidade de Feira de Santana (BA), Universidade de Marília (SP) e Universidade Federal Rural da Amazônia de Belém (PA). Com processamento anual de quase 12 mil toneladas de frutas e produção mensal de cerca de 350 toneladas de polpas, a Fruteza Sucos Naturais, localizada em Dracena (SP), trabalha com a extração de polpas de frutas de maracujá, abacaxi, acerola, goiaba e manga. Olívio Zanatta Senciato, proprietário da empresa, também compartilha da opinião de que a pasteurização em si não elimina qualquer risco de contaminação, por isso, é preciso estar adequado ao sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), como a empresa vem seguindo em todos os processos realizados. “A segurança do consumidor deve ser prioridade. A pasteurização não é um processo milagroso: é a etapa somatória de maior grandeza na garantia da qualidade do produto final. Embora tenha objetivo de redução da carga microbiana patogênica, deve estar associada a procedimentos de Boas Práticas de Fabricação (BPF). Este passo representa desde a colheita, seleção, armazenamento, higienização da matéria prima até a forma como o produto final é armazenado”, diz. “A produção de alimentos exige atenção aos procedimentos e às diversas fases da cadeia produtiva. Com certeza, nos faremos presente no projeto do Ibraf e da Embrapa, que deve organizar o sistema no Brasil para criarmos credibilidade maior junto aos outros mercados que FRUTEZA orientar as agroindústrias para possíveis melhorias. “Em muitos casos, a inadequação do tempo ou da temperatura pode alterar a qualidade sensorial e nutricional do alimento”, comenta Rosenthal. Para ele, apenas o processo da pasteurização não garante a qualidade do produto. O chefe geral da Embrapa chama a atenção para as boas práticas em todas as etapas da produção, desde o início, ainda na colheita da matéria-prima, passando pelo transporte, processamento e distribuição, para eliminar qualquer tipo de contaminação. “Há várias operações, e a pasteurização é a mais importante delas. Porém, é preciso eliminar os perigos nas fases anteriores: é necessário rigor em todas elas. Só a pasteurização, em si, não elimina o risco de contaminação e não assegura a qualidade adequada”, informa. Ele lembra ainda que este projeto é similar ao desenvolvido anteriormente, dentro do Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologias Agropecuárias para o Brasil (Prodetab), concentrado em segurança e qualidade de néctares e dos sucos de frutas. Na época, foi apontado pelo Banco Mundial, co-financiador do Projeto, como um modelo exemplar envolvendo parcerias com o setor privado. A idéia é que o atual Projeto de Segurança e Qualidade de Polpas de Frutas tenha o mesmo reconhecimento e força. No ano passado, o Ibraf e a Embrapa estiveram reunidos com a Associação das Indústrias Processadoras do Açaí, em Belém (PA) para divulgar a ação. As empresas interessadas somente tiveram que assinar um termo de adesão ao projeto, para receberem futuramente as informações técnicas resultantes dos estudos. Quanto à escolha das empresas que participarão das coletas de amostras, foram consideradas aquelas que primeiro se prontificaram para o projeto, considerando seu patamar ou potencial de qualidade e segurança para desenvolvimento das ações, ou ainda, aquelas que têm importância regional e que possam servir de exemplo na disseminação dessa tecnologia para as demais agroindústrias locais. “Todas as processadoras que aderirem ao projeto também receberão as informações técnicas captadas durante o estudo, ou seja, não só aquelas que servirem de piloto pelo fornecimento das amostras”, pontua ele. Somente serão preservadas eventuais solicitações de sigilo de condições operacionais específicas das indústrias-piloto. As empresas que quiserem participar, poderão solicitar o termo de adesão via Ibraf pelo (11) 3223-8766, email [email protected]. Os resultados serão amplamente divulgados pelo Ibraf, Embrapa e ABDI. O projeto de qualidade das polpas conta também com a participação de pesquisadores e laboratórios da Embrapa Amazônia Oriental de Belém Segurança do consumidor deve ser prioridade: além da pasteurização deve haver adequação ao sistema APPCC 27 AGROINDÚSTRIA estão cada vez mais exigentes, a exemplo da União Européia”, completa Senciato. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA PARA O AÇAÍ RAJA FRUTAS Garantir a segurança para a comercialização e impedir que qualquer barreira atrapalhe o desenvolvimento da cadeia produtiva do açaí. Com esses e outros propósitos, os produtores e empresários da região de Belém (PA) e o Ministério Público firmaram recentemente um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), em razão da suspeita da transmissão da Doença de Chagas (Trypanosoma cruzi), por provável consumo da polpa da fruta produzida artesanalmente. No documento, estão contidas as orientações que devem ser seguidas pelos processadores, em todas as etapas, inclusive na pasteurização. dos e, após a pasteurização, o mesmo é imediatamente congelado”, explica ela. Os pesquisadores defendem também que apenas esta etapa – a da pasteurização - não é suficiente para garantir a qualidade do produto: a orientação é para que toda a cadeia produtiva fique atenta às questões de higiene e de boas práticas. A Embrapa Agroindústria de Alimentos orienta que no campo, é importante que o açaí, após ser colhido, não seja colocado diretamente na terra. O produto deve ser disposto sobre lonas ou plásticos, que possam ser lavados. Nesta etapa, deve ser feita a debulha e posterior colocação em engradados plásticos. Durante todo o armazenamento e transporte, as caixas devem ser mantidas em ambiente limpo, ventilado, longe de insetos e animais. “A atenção do consumidor ou dos distribuidores de açaí em outros estados deve ser a de adquirir o produto de um processador idôneo, que atenda ao Açai é pré-lavado antes de entrar na área limpa da fábrica e antes do processamento Esse processo consiste em um aquecimento da polpa do açaí a uma determinada temperatura, seguido de um resfriamento, com o objetivo de eliminar os microorganismos patogênicos ao homem. A pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), Gisele Anne Camargo – que atua no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Frutas e Hortaliças (Fruthotec) –, afirma que todos os empresários que processam a fruta devem se adaptar ao termo de conduta. “Esse já era um procedimento padrão de quem tinha qualidade no processamento da polpa. Há a necessidade de aplicação de outros métodos de preservação, após a pasteurização, tais como a refrigeração e o congelamento. As indústrias costumam empregar temperaturas em torno de 80ºC a 85 ºC, por 10 segun28 estabelecido nos Termos de Conduta”, comenta a engenheira química e pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Virgínia Martins da Matta. “Há uma preocupação maior com os consumidores que estão junto aos locais de produção, que ‘batem’ o açaí para consumo próprio. Estes devem tomar muito cuidado na seleção e lavagem dos frutos, assim como na lavagem dos ‘batedores’”, orienta. A Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ), em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental (PA), desenvolveu um projeto de implementação de Boas Práticas na Cadeia do Açaí, cujo objetivo foi, exatamente, orientar produtores e agroindústrias para a questão das Boas Práticas Agrícolas e de Fabricação. “A Embrapa Amazônia Oriental elaborou um documento, disponível na sua página na web (www.cpatu.embrapa.br), sobre o sistema de produção do açaí, onde todas as recomendações para produzir com qualidade estão descritas. Neste momento, a Embrapa está iniciando este outro projeto, sobre Qualidade e Segurança de Polpas de Frutas, em parceria com o Ibraf, que também abordará diretamente estas questões, visando, sempre, a qualidade do produto e a segurança do consumidor”, comenta Virginia. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é responsável pela inspeção dos estabelecimentos processadores de açaí industrializado (polpas e refrescos). Segundo o Mapa, até o momento não foi comprovada a contaminação da Doença de Chagas por meio dos alimentos produzidos nessas empresas. O órgão fiscaliza apenas as agroindústrias que produzem a polpa e o suco de açaí. A fiscalização de ambulantes que atuam em barracas é de competência da Vigilância Sanitária. O SETOR SE MOBILIZA Segundo informações do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas), em 2007, cerca de 2 milhões de toneladas da polpa do açaí foram produzidas no estado contra 1,5 milhão de toneladas, em 2006. Desse total, cerca de 25% da polpa foi destinada à exportação. A comercialização no mercado interno foi de 60%, sendo o estado do Rio de Janeiro o maior comprador. De acordo com Ana Clara Rodrigues Boralli Dias, presidente do Sindfrutas e proprietária da Rajá Frutas, localizada em Santa Bárbara (PA), em 2007, a venda da polpa teve uma queda de 15%. “Todo ano, de junho a agosto, há uma retratação natural pelo período de inverno da região Sul, que é a nossa maior compradora. Mas, não sabemos atribuir se essa queda foi em função dos rumores da doença”, comenta. O Sindicato conta com 25 empresas associadas. De acordo com a presidente da entidade, 15 já contam com o pasteurizador. “Os produtores da polpa de açaí estão se adequando, cada um está investindo com recursos próprios. Não foi a Doença de Chagas que estimulou isso, o Mapa já havia alertado sobre a pasteurização”, lembra. Ana Clara também defende que um produto pasteurizado não está livre de contaminação. Para ela, a preocupação não deve ser apenas em relação à transmissão da Doença de Chagas. “A pasteurização é uma fase, há ainda a colheita e todo o processo. O barbeiro não faz parte da cadeia produtiva do açaí, se aconteceu foi um acidente”, diz. “Foi um mal que veio para o bem. O mundo está conhecendo o açaí e a pasteurização colabora”, comenta ela. As agroindústrias, associadas à Cooperativa Agrí- SINDFRUTAS AGROINDÚSTRIA Ana Clara Rodrigues Boralli Dias, presidente do Sindfrutas e proprietária da Rajá Frutas, Santa Bárbara (PA) cola Mista de Tomé-Açú - Camta - (PA), não sentiram grande impacto para se adequar ao TAC, pois já estavam adaptadas a esse padrão devido à exportação da polpa da fruta para Japão, Estados Unidos e União Européia. Há cerca de sete anos, a Camta começou a pasteurização para o mercado interno. Neste período, ficaram alguns anos sem desenvolver o processo e retomaram há dois anos. Já para a exportação, o produto vem sendo pasteurizado há seis anos. “Quanto ao mercado, do lado internacional foi normal, não houve nenhum grande impacto, pois desde o início nosso produto era pasteurizado. Portanto, não foi nenhuma novidade para os nossos produtores”, comenta o diretor-presidente da entidade, Francisco Sakagushi. “Porém o mercado nacional sofreu grande impacto, porque não estava habituado ao produto pasteurizado, que tem um sabor diferente. Podemos dizer que, momentaneamente, houve uma diminuição na procura do produto e isso fez com que o preço da matéria prima desse uma parada em sua escalada, chegando até a diminuir momentaneamente”, completa. Para Ivan Hitoshi Saiki, gerente da Camta, até o tema vir à tona, muita gente desconhecia o que era um produto pasteurizado. “Para nós, foi até bom vir essa questão no último ano. O TAC veio de maneira positiva, até para tirar esses maus empresários, que sempre prejudicam quem trabalha bem”, diz. E completa: “Há 10 anos, nossos agricultores não tinham conhecimento da importância dessa adequação no processo de produção da fruta. Assim começamos a plantar essa semente. E, agora, eles têm a consciência de que isso é necessário para conquistar o mercado externo.” 29 TECNOLOGIA CAQUI INTERNACIONAL Ital adapta tecnologia, que agiliza processo de destanização do caqui às condições brasileiras, facilitando exportação e mantendo a fruta mais firme por mais tempo ARTCOM A.C. Daniela Mattiaso Os pesquisadores do Ital, Eliane Benato e José Maria Monteiro Sigrist, adaptaram tecnologia de destanização às condições brasileiras 30 O Brasil produz cerca de 170 mil toneladas de caqui ao ano. O Estado de São Paulo é o maior produtor do País, responsável por 58% da produção nacional, com destaque para as variedades Fuyu e Rama Forte, sendo que esta atinge cerca de 50% da comercialização e é pertencente ao grupo dos caquis taninosos – frutas com adstringência –, afirma a pesquisadora Eliane Benato, do Grupo de Engenharia e Pós-Colheita (GEPC), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). O sul do País também tem uma significativa produção de caqui, porém produz mais variedades não-taninosas do que as taninosas. Os caquis, do tipo taninoso, apresentam polpa adstringente, mesmo quando maduros, por isso precisam passar por um processo chamado destanização. “É um processo artificial para transformar o tanino solúvel na fruta para insolúvel, retirando dele a adstringência, ou seja, a sensação de ‘amarrar a boca’ que as pessoas sentem ao consumir a fruta”, explica a pesquisadora. Existem vários TECNOLOGIA quisa (Fapesp) e pelo Progex/Finep. As pesquisas começaram com base em processo desenvolvido no Japão, na década de 70, que estudou o efeito das altas concentrações de CO2 em câmaras, na faixa de 90/95%, por 24 horas, e o resultado foi um caqui destanizado, que se manteve firme por mais tempo método que, atualmente, é utilizado para destanização das principais variedades no Japão, em Israel e na Espanha. Segundo os pesquisadores, o novo processo possibilitou a disponibilização de mais caquis nestes mercados. “Com o projeto de destanização e conservação do caqui Rama Forte, começamos a adequar a tecnologia para o Brasil”, conta Eliane. “As condições de cultivo, o clima e o solo de cada país influem no comportamento da fruta, mesmo se tratando da mesma variedade”, explica José Maria. O estudo trabalhou com a adequação da concentração do gás, da temperatura, da umidade relativa da câmara e várias formas de aplicação para que a tecnologia fosse facilmente transferida ao produtor brasileiro. A NOVA TÉCNICA ITAL Na maioria dos processos utilizados pelos países que já fazem a destanização por meio de altas concentrações de CO2, o gás é aplicado em câmara com boa vedação a gases. O Ital adequou essa técnica com aplicação não só em câmaras, como também em paletes e em embalagens plásticas. “A câmara é um ambiente estático, onde você tem que destanizar a fruta para, só depois do processo realizado, enviar ao exterior. A vantagem da destanização no palete revestido com o filme plástico ou com o fruto dentro de embalagens plásticas é que a destanização pode ser feita em trânsito. Ou seja, a destanização vai ocorrendo durante a ITAL meios de eliminar a adstringência do caqui. Entre os métodos mais usados pelos produtores estão o carbureto de cálcio, etanol e etileno. A escolha depende muito da tecnologia, da disponibilidade e do custo que cada um tem para fazer este processo. “Estes métodos removem a adstringência, mas paralelamente, promovem o seu amadurecimento. Para o mercado interno isto é comum, pois o consumidor brasileiro relaciona a fruta mole ao fato de não estar adstringente. Fora do Brasil, ou nos países do hemisfério norte, há preferência pela fruta crocante. Além disso, para um armazenamento prolongado e transporte a longa distância, por exemplo, não se consegue manter esta fruta o suficientemente firme para chegar até o consumidor com qualidade”, conta Eliane. “Lembrando também que quando se utiliza o carbureto de cálcio, ele pode emprestar sabor à fruta, o que limita a comercialização. Se não for bem ventilada após a remoção do carbureto, a fruta fica com sabor estranho”, completa o pesquisador José Maria Monteiro Sigrist, do GEPC/Ital. Pensando em solucionar este entrave para a exportação da fruta, desde 1998, os pesquisadores do Ital, juntamente com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Universidade Estadual de Campinas (Feagri/Unicamp), Instituto Agronômico (IAC), Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Air Liquide e empresas de filmes plásticos, desenvolveram o “Projeto de destanização e conservação do caqui Rama Forte”, apoiados pela Fundação de Amparo à Pes- Paletes com filmes plásticos agilizam destanização, que pode ser feita durante transporte das frutas para exterior Pequenas embalagens podem ser usadas para aplicação da tecnologia 31 TECNOLOGIA viagem, economizando muito tempo. Quando a fruta chega ao local de destino, está pronta para a comercialização”, detalha Eliane. No método adequado pelos pesquisadores, recomenda-se injetar CO2 na câmara até 70%, manter por 18 a 24 horas, depois proceder a exaustão. Frutos de início de safra são destanizados mais facilmente do que os frutos de final de safra. Pode-se também injetar uma mistura gasosa de 70% de CO2, com auxílio de uma seladora, em embalagens plásticas com caqui, que em seguida são selados. “Essas formas de aplicar o CO2 e destanizar o caqui, atendem aos diferentes níveis de produtores, tanto os mais tecnificados quanto os com recursos limitados, pois são completamente acessíveis, além de agregarem valor ao produto”, ressalta Eliane. Apesar do CO2 ainda ser um pouco mais caro do que o etileno, a redução das perdas compensa o método. “Só de ter a garantia de uma perda menor, o produtor acaba ganhando no final”, afirma o pesquisador José Maria. Tecnologia com uso de CO2 atende a pequenos e grandes produtores As principais regiões produtoras de caqui do Estado de São Paulo participaram do projeto e estão otimistas com os resultados. Orlando Steck Filho, presidente da Cooperativa Agrícola Nossa Senhora das Vitórias (NSV), em Jundiaí (SP), acredita que a tecnologia abriu uma nova possibilidade de comercialização da fruta. “Vimos que há demanda para exportação e queremos investir. Temos um número de plantas muito jovens ainda e a previsão é que, no médio prazo, tenhamos a necessidade de atuar em outro mercado também”, diz Orlando. “Temos muito interesse em aprimorar a técnica, pois é rápida e deixa a fruta crocante, do modo como é exigido pelo mercado externo”, afirma Adilson Tadeo Facchini, engenheiro agrônomo e gerente administrativo da Fazenda Santa Catarina, no município de São Miguel Arcanjo (SP). Segundo Eliane, há um mercado muito bom para o caqui brasileiro no Canadá, na França, Inglaterra, Holanda e Alemanha. “A demanda para exportação só tende a crescer, já que a safra do caqui no Brasil coincide com a entressafra de outros países produtores. Há um bom mercado para o caqui brasileiro na Europa durante os meses de março, abril e maio,” ressalta. “Os importadores têm pedido mais frutas, mas falta ainda a adequação total e a implantação dessa tecnologia para aumentar o volume exportado com qualidade. Acreditamos que o uso 32 do CO2 poderá ajudar muito a alavancar a exportação e esse foi o objetivo da pesquisa”, complementa o pesquisador. Eles acreditam que a técnica também pode ser interessante para a venda no mercado interno. “Com a técnica, o produtor vai ganhar em tempo e aproveitamento, porque a fruta vai ficar destanizada de forma mais rápida e vai permanecer firme por mais tempo, com menos perdas, por ser mais resistente aos impactos, ao transporte e ao manuseio nas gôndolas de supermercado.” Mas avisam que “é preciso deixar claro para o consumidor brasileiro que a fruta já está destanizada, por conta do hábito de esperar a fruta amolecer para consumir”. A dica é fazer como alguns produtores, que estão colocando na embalagem o aviso: “Fruta firme, destanizada”, para que o consumidor brasileiro se acostume a consumir o caqui desta forma. SERVIÇO Mais informações podem ser obtidas com os pesquisadores do Grupo de Engenharia e Pós-Colheita (GEPC), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). A sede fica na Avenida Brasil, 2.880, Jardim Brasil, em Campinas (SP). O telefone para contato é o (19) 3743-1336 ou 3743-1837. DICA IMPORTANTE Vale ressaltar que toda tecnologia é extremamente importante desde que você tenha uma matéria-prima muito boa, alerta a pesquisadora, Eliane Benato. “Recomendamos esse processo apenas para frutas de alta qualidade e muito padronizadas, porque o lote que não estiver padronizado, corre-se o risco de não obter bons resultados. Não em função do processo, mas da matéria-prima que não veio com qualidade já do campo.” Eliane ressalta que “o primeiro passo é ter uma excelente produção e uma pós-colheita com todo o manuseio adequado, boas práticas agrícolas, e, aí sim, ir adequando toda a tecnologia de destanização, de refrigeração – que é muito importante para manter a cadeia do frio – e manter as condições ótimas de transporte, senão corre-se o risco de gastar muito com a tecnologia e ter pouco retorno, já que ela não vai ter alta qualidade na hora de ser apresentada ao consumidor”. KATIA PICHELLI RESERVA LEGAL: TEM QUE TER Área preservada com mata nativa é obrigatória e traz benefícios para o fruticultor e toda a sociedade Daniela Mattiaso Poucos sabem, mas todo produtor rural é obrigado a manter 20% de sua propriedade com o ecossistema original ou o mais próximo possível disso. “No caso da propriedade estar situada no território da Amazônia Legal, essa obrigatoriedade passa para 80%”, alerta o engenheiro florestal da Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), Laerte Scanavaca Junior. A Reserva Legal é a área no interior de uma propriedade ou posse rural, destinada à preservação da fauna e flora nativas. “Quando amplamente praticada, contribui para a conservação da natureza e traz benefícios, como redução do aquecimento global, manutenção da boa qualidade da água, polinização de culturas e controle biológico de pragas, tão importantes para a fruticultura, por 33 EMBRAPA MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE exemplo”, afirmam os pesquisadores Antonio Aparecido Carpanezzi e Vanderlei Porfírio-da-Silva, da Embrapa Florestas, em Colombo (PR). O órgão responsável por fiscalizar estas áreas em cada Estado é o Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais (DEPRN), da Secretaria do Meio Ambiente, que legisla com base nos critérios técnicos estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A obrigação explícita para o produtor refazer a Reserva Legal em sua propriedade foi fixada por lei em 1991. Proprietários rurais devem se conscientizar sobre a importância ambiental e econômica da Reserva Legal Segundo o engenheiro florestal da Embrapa Meio Ambiente, Scavanaca Júnior, existe uma falsa impressão que ele estaria perdendo 20% de sua propriedade para o governo. “Estes proprietários ainda não enxergaram a importância ecológica e econômica da Reserva Legal. Quando eles descobrirem que cumprir a legislação dá lucro, aumenta a fertilidade e conserva o solo da propriedade, com menor ataque de pragas e doenças, em função do controle biológico natural, proporcionando aumento da produtividade, valorização da paisagem e, conseqüentemente, da propriedade, toda a sociedade ganhará”, afirma ele. Para Carpanezzi, da Embrapa Florestas, outro pon34 to importante que o produtor deve considerar é que a situação ambiental da propriedade influencia também nos negócios do dia-adia, devido a dois fatores, a certificação e o licenciamento ambiental, que estão se tornando mais importantes. “A certificação é uma exigência que cresce no mundo inteiro, principalmente em atividades ligadas à exportação; veja o caso do Programa de Produção Integrada de Frutas (PIF). A certificação vai ser, cada vez mais, de toda a propriedade, e não apenas do produto. Para ser certificada, a propriedade rural tem que estar totalmente dentro das normas legais, e isto inclui o lado ambiental, com as áreas de preservação permanentes (APPs) e a Reserva Legal. Elas precisam ser protegidas ou recuperadas, senão o negócio rural pode ser prejudicado no futuro, impedindo a venda para grandes compradores e consumidores, cada dia mais preocupados com a questão ambiental. Há tendência crescente de o licenciamento ambiental da propriedade ser exigido em qualquer negócio que envolva a propriedade, como financiamento bancário, venda, recebimento de subsídios ou construção de uma pequena agroindústria. Isto significa que as APPs e a Reserva Legal vão ter que estar em dia. A manutenção ou a recuperação dessas áreas traz, como um dos benefícios, a valorização da propriedade”, afirma. Há duas maneiras de recompor as áreas que devem ser destinadas para a Reserva Legal. Uma é por meio da Servidão Florestal, que são terras em outras propriedades, de preferência com o mesmo tipo de vegetação natural, isto é, no mesmo ecossistema, que possuam excedente de mata nativa e sirvam como substitutas para pagar a “dívida ambiental” do produtor ou de quem tenha a posse rural. Já, a outra maneira é em sua própria propriedade. “Acredito que esta última é a melhor opção, pois ele usufruirá diretamente dos benefícios e mesmo que opte por fazer a recomposição a longo prazo, antes do processo terminar, ele já perceberá as vantagens que a Reserva Legal proporcionará”, diz o engenheiro florestal da Embrapa Meio Ambiente, que acredita também que o único ponto negativo da legislação é justamente a possibilidade de flexibi-lização por meio da ServiLaerte Scanavaca Junior, engenheiro florestal da Embrapa Meio Ambiente - reserva legal traz benefícios para a fruticultura EMBRAPA FLORESTAS Como dão Florestal. “Acho que esta possibilidade pode levar proprietários mais afortunados, que se julgam acima da lei, a acreditarem que basta comprar uma terra com mata nativa preservada para cumprir a exigência estadual, mas isto é um Antonio Aparecido Carpanezzi, da grave erro e esEmbrapa Florestas - há tendência pero que ninde licenciamento ambiental ser exigido em qualquer negócio guém o cometa.” que envolva a propriedade A reconstituição envolve dezenas de milhões de hectares no Brasil, uma situação que ainda é um grande desafio para todos, observa Carpanezzi. Ele acredita que “muitos setores da sociedade precisam participar desse esforço, como pesquisadores, educadores, assistências técnicas rurais, agências ambientais e de desenvolvimento, Ministério Público, empresas de silvicultura e organizações de produtores. Eles ainda não estão suficientemente despertados para o assunto ou equipados em recursos humanos e materiais, e uma base técnica é essencial para se obter sucesso no desenvolvimento da silvicultura de espécies nativas, a tal ponto que ela possa ser aplicada em grande escala, de forma segura e descomplicada”. Por enquanto, ainda não estão previstas multas aos proprietários rurais que não possuem uma área de Reserva Legal, segundo o engenheiro florestal da Embrapa Meio Ambiente, Scavanaca Júnior. “A intenção é conscientizar o produtor rural que ele precisa fazer isso. Se ele está em débito, isto é, se sua reserva não atinge os 20% requeridos, ele terá até 30 anos para corrigir isso, sendo um décimo a cada três anos, com espécies nativas da região.” É importante lembrar que a Reserva Legal, ou o planejamento de como será recomposta a área, deve ser averbada pelo proprietário ou por quem tiver a posse rural em um Cartório de Registro de Imóveis, conforme estipula a nova redação do artigo 16 do Código Florestal, a ser fiscalizada e acompanhada pelo órgão competente do Estado. Para o procedimento é preciso ter em mãos a inscrição da matrícula imobiliária. Vale salientar também que a Reserva Legal não paga imposto (ITR-Rural) e pode ser averbada gratuitamente. otimizar uma Reserva Legal? Segundo o biólogo Márcio Silveira Armando, da Embrapa Transferência de Tecnologia, em Brasília (DF), há uma opção interessante para o produtor rural, dono de uma pequena propriedade ou sem recursos para comprar uma área de Servidão Florestal e que não pode despender de 20% de seu terreno, utilizando a própria Reserva Legal. “A saída para este produtor é a utilização de sistemas agroflorestais biodiversos, por meio de um plano de manejo, onde ele vai incluir espécies nativas combinadas com culturas anuais e medicinais de ciclo curto, frutíferas e forrageiras lenhosas, sendo cada uma plantada no espaçamento adequado ao seu desenvolvimento. O cultivo simultâneo dessas espécies permite uma renda extra ao agricultor, sendo um aproveitamento ideal para áreas de Reserva Legal”, explica ele. O Plano de Manejo da Reserva Legal deve ter o auxilio de um biólogo, engenheiro florestal ou agrônomo, que auxilie na elaboração do desenho dos sistemas agroflorestais e do Plano de Manejo para que seja aprovado pelo órgão ambiental do Estado. “Quanto mais rico em espécies, com maior uso de nativas, a chance é maior de ele ter sucesso”, ensina o biólogo. A Reserva Legal projetada com esse sistema auxilia também na preservação da mata ciliar e dos recursos hídricos, principalmente, se ela estiver contígua à área de preservação permanente. Outro ponto fundamental, segundo o especialista, é que os órgãos de extensão rural acompanhem e facilitem todo este processo para o produtor, dando assistência técnica, ensinando e permitindo o acesso às informações para a implantação dos sistemas agroflorestais biodiversos. “A exploração da Reserva Legal depende de Plano de Manejo aprovado pelo órgão ambiental de cada Estado. Uma boa opção é por produtos florestais não-madeireiros que não implicam em desmatamento, isso facilita a aprovação pelo órgão. Até mesmo porque é melhor ele estar lá colhendo e manejando o sistema que auxilia na restauração ambiental do que deixar a área desmatada ou entregue para as formigas e para o fogo. Além disto, este sistema é muito interessante, pois alia o geração de renda para o agricultor com a restauração ambiental”, conclui o biólogo. 35 OPINIÃO ABPM BARREIRAS TÉCNICAS PARA EXPORTAÇÃO Luiz Borges Júnior Engenheiro Agrônomo e Fruticultor No final da Segunda Guerra, o mercado mundial estava desorganizado. Visando o estabelecimento de novas políticas aduaneiras, a Organização das Nações Unidas, por pressão dos Estados Unidos, convocou, em 1947, uma reunião em Cuba com o objetivo de estruturar a Organização Internacional do Comércio (OIT) e, dentro dela, o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (Gatt). O Congresso americano vetou a OIT e somente o Gatt ficou em vigência. Nos anos seguintes, diversas rodadas de negociações ocorreram, procurando adaptar o acordo às mudanças de mercado. As normas vigentes permitiam aplicar, unilateralmente, barreiras comerciais, como cotas, tarifas e subsídios, e o Gatt não previa nenhuma medida punitiva. Por pressão dos países em desenvolvimento, em 1986, o Gatt iniciou a Rodada do Uruguai. Após dez anos, o chamado Grupo dos 20, liderado por Brasil e China, conseguiu o compromisso de mudança nas regras internacionais. As cotas foram substituídas por cláusulas de salvaguardas temporárias e preços de entrada; as tarifas devem ser negociadas e os subsídios limitados ao mercado interno. Foi criada a Organização Mundial do Comércio (OMC), cujo papel é mediar as contendas comerciais internacionais como as ocorridas entre Brasil x Estados Unidos (algodão) e Brasil x União Européia (açúcar). Subsídios a produtores ainda estão em discussão, após tentativa fracassada de solução na Rodada de 36 Doha. Com a queda das cotas e barreiras tarifárias protegendo os produtos agrícolas da concorrência dos países em desenvolvimento, os desenvolvidos publicaram legislações para dificultar o acesso a seus mercados. A União Européia foi pioneira, seguida por Estados Unidos e Japão. Os mecanismos são: • Anexo III - LMRs harmonizados - válido para países da UE. As listas nacionais perdem validade e deverão constar aproximadamente 500 princípios ativos. A lista deverá estar concluída no primeiro semestre de 2008. • Anexo IV - LMRs não-estabelecidos referem-se a produtos de baixo risco. a) Regulamento (CE) No 178 de 2002 - Determina princípios e normas gerais de legislação alimentar e cria a Autoridade Européia de Segurança Alimentar, unindo, num único organismo, a legislação dos países-membros, simplificando a aplicação de normas e facilitando a fiscalização e o controle. A Lei Alimentar estabelece alto nível de proteção aos consumidores, sistemas de análise de riscos e sistemas rápidos de alerta e total responsabilidade dos distribuidores (importadores) quanto à qualidade do produto oferecido ao consumidor. b) Regulamento (CE) No 882 de 2004 - Determina princípios de controle de alimentos e gêneros alimentícios e estabelece plano de controle multianual, relatórios obrigatórios, laboratórios oficiais e laboratórios comunitários de referência e métodos de análises e amostragem. Estabelece ainda exigências aos exportadores para União Européia, como sistemas de controle locais, verificação na pré-exportação (análise de resíduos, etc.), certificação e rastreabilidade. c) Regulamento (CE) No 852 de 2004 - Determina princípios de higiene alimentar e estabelece obrigação de registro de operadores (fornecedores) e Guias para Boas Práticas (APPCC). d) Regulamento(CE) No 396 de 2005 - Relativo a Limites Máximos de Resíduos (LMRs) de pesticidas permitidos em gêneros alimentícios de origens vegetal e animal, e alimentos para animais. Consiste de quatro anexos: • Anexo I - lista de commodities com 380 produtos alimentícios; • Anexo II - LMRs em uso na União Européia, com 755 princípios ativos; O limite será de 0,01 ppm para produtos que não constam nos anexos. O regulamento entrará em vigor seis meses após publicação do Anexo II, prevista para ocorrer até meados do ano, que também será enviado à OMC como lista oficial permitida na UE. Este regulamento praticamente proíbe o uso de genéricos em produtos destinados àqueles mercados. Os produtos não-constantes do Anexo I só serão permitidos, se os países interessados apresentarem estudos científicos dentro de tecnologias aprovadas pela UE, provando a ausência de risco aos consumidores e ao meio ambiente (estudo deste tipo custa em torno de 200 mil euros). União Européia, Estados Unidos e Japão informaram à OMC que não aceitam mais as normas estabelecidas pelo Codex Alimentarius, determinando produtos e níveis de resíduos. Informaram que suas legislações nacionais devem ser respeitadas pelos exportadores. Até dezembro de 2007, a coordenação do Codex era de um país desenvolvido (Holanda coordenou até o final do ano). Os países desenvolvidos informaram, em novembro de 2007, que não estavam mais interessados na coordenação e ficariam como observadores no Codex. Ofereceram o posto ao Brasil, que recusou a missão. A China aceitou e assumiu o cargo em janeiro de 2008. Os mecanismos e as posições adotadas geram uma situação que não é boa para o Brasil, pois tem o Hemisfério Norte como principal cliente. A barreira de resíduos é a mais eficiente que existe e de difícil contestação. Os exportadores brasileiros de sucos e frutas frescas tropicais necessitam, urgentemente, de contar com o registro de novos defensivos agrícolas para não terem sua entrada no mercado europeu impedida, como aconteceu com a carne. AGENDA 02 a 06 • 30ª SEMANA DA CITRICULTURA (Centro Apta Citros Sylvio Moreira - IAC) Centro Centro Apta Citros Sylvio Moreira (Cordeirópolis/SP) Info: Centro Apta Citros (19) 3546-1399 [email protected] • www.centrodecitricultura.br nacionais 02 a 04 • I SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE UMBU, CAJÁ E ESPÉCIES AFINS - SIBUC (Embrapa/IPA) Onda Mar Hotel (Recife/PE) Info: Helena Barros (81) 2122-7203 e 2122-7202 • [email protected] www.cpatc.embrapa.br/eventos/sibuc 17 a 21 • 1ª AGROIND FAMILIAR - FEIRA NACIONAL DE MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS, PRODUTOS E SERVIÇOS PARA A AGROINDÚSTRIA FAMILIAR (Famurs, CIC Vale do Taquari e Centro Universitário Univates) Parque do Imigrante (Lajeado/RS) Info: Acil - Associação Comercial e Industrial de Lajeado (51) 30116900 • [email protected] • www.agroindfamiliar.com.br 23 a 24 • SEMINÁRIO PRODUTOS DE FRUTAS E BEBIDAS DIET E LIGHT: INGREDIENTES E APLICAÇÕES (Fruthotec / Ital) Auditório Décio Dias Alvim (Campinas/SP) Info: Sílvia Cristina S. R. Moura (19) 3743-1840 [email protected] • www.ital.sp.gov.br/fruthotec 24 e 25 • SALÃO DE NOVOS PRODUTOS E SERVIÇOS EM ALIMENTAÇÃO (Marketing Nutricional) Rua Pamplona, 518 (São Paulo/SP) Info: (11) 3262-5061 • [email protected] www.marketingnutricional.com.br jun 08 08 a 11 • V ENCONTRO NACIONAL SOBRE PROCESSAMENTO MÍNIMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS - EPM (Ufla - Universidade Federal de Lavras) Universidade federal de Lavras (Lavras/MG) Info: Ufla (35) 3829-1393 • [email protected] www.vepm.com.br 25 a 28 • 3ª FRUTAL AMAZÔNIA E VIII FLOR PARÁ (Instituto Frutal e Governo do Pará) Hangar do Centro de Convenções e Feiras da Amazônia (Belém/PA) Info: Organização do Evento (85) 3246-8126 • [email protected] www.frutal.org.br internacionais 17 a 19 • MACFRUT (Cesena Fiera) Centro de Exposições de Cesena (Cesena/Itália) Info: Ibraf (11) 3223-8766 • [email protected] www.macfrut.com 29 a 31 • AGROTECFRUTICULTURA 2008 - FEIRA DE PROJETOS E PRODUTOS (Cati , IAC, Apta, Secretaria de Agricultura e Abastecimento e Governo do Estado de SP ) Centro de Fruticultura - IAC Jundiaí (Jundiaí/SP) Info: Roseli de Morais (19) 33429829 • [email protected] 14 a 17 • SEOUL FOOD & HOTEL 2008 (Férias Alimentarias) Kintex (Seoul/Coréia do Sul) Info: Valeria Greco (54) 11- 4554-7455 [email protected] • www.seulfood.or.kr mai 08 mai 08 22 a 25 • FHA - FOOD AND HOTEL ASIA (Overseas Exhibition) Singapure Expo (Singapura/Singapura) Info: Cristopher Mccuin • www.foodnhotelasia.com 23 a 25 • SIAL MONTREAL (Promosalons Brasil) Expo Canada France (Montreal/Canadá) Info: Marie-Ange Joarlette (11) 3168-1868 [email protected] • www.sialmontreal.com 07 e 08 • JUICE LATIN AMERICA (IBC) Hotel Sofitel (São Paulo/SP) Info: IBC (11) 3017-6843 • [email protected] www.ibcbrasil.com.br 07 a 09 • CURSO DE DESIDRATAÇÃO DE FRUTAS E HORTALIÇAS (Fruthotec / Ital ) Ital (Campinas/SP) Info: Ital (19) 3743-1840 • [email protected] www.ital.sp.gov.br/fruthotec 05 a 08 • BIONAT EXPO (Produtores Sem Fronteiras) Armazéns do Cais do Porto (Porto Alegre/RS) Info: Vera Marsicano (51) 3228-8692 e (51) 9117- 5018 [email protected] • http://bionat-expo.blogspot.com 11 a 13 • 15ª HORTITEC - EXPOSIÇÃO TÉCNICA DE HORTICULTURA, CULTIVO PROTEGIDO E CULTURAS INTENSIVAS (RBB Promoções & Eventos) Recinto de Exposições de Holambra (Holambra/SP) Info: RBB Promoções & Eventos (19) 3802-4196 [email protected] • www.hortitec.com.br abr 08 abr 08 08 a 11 • VINOTECH, MERCOSUL BEBIDAS E MULTIAGRO 2008 (New Trade) Parque de Eventos de Bento Gonçalves (Bento Gonçalves/RS) Info: Osmar Bottega (54) 3452-9135 • [email protected] www.vinotech.com.br 04 a 06 • EXPOFRUIT 2008 - FEIRA INTERNACIONAL DA FRUTICULTURA IRRIGADA (Coex - Comissão Executiva de Fitossanidade) Sede da UFERSA (Mossoró/RN) Info: João Manoel e Laura (84) 3312-6939 [email protected] • www.expofruit.com.br 18 a 22 • FOOD AND HOTEL ARABIA Jeddah International Exhibiton & Convention Centre (Jeddah/ Árabia Saudita) Info: Simona Kersyte (44) 207-228-4229 [email protected] • www.acexpos.com 19 a 21 • IFE POLAND Expo XXI (Warsaw/Polonia) Info: Montgomery Intenational (44) 20-7886-3108 [email protected] • www.ifepoland.com 37 EVENTOS SUPERANDO expectativas Além do público recorde, a Fruit Logística 2008, maior feira mundial do setor hortifruti, também apresentou números positivos em negócios para o Brasil Luciana Pacheco / Fotos Ibraf Novas tendências de consumo, segurança alimentar, aumento de consumo de frutas pelas crianças, potencial do mercado russo, entre outros assuntos, foram discutidos no maior e mais importante evento do setor de frutas e vegetais: a Fruit Logística. Realizada em fevereiro na cidade de Berlim, na Alemanha, o evento recebeu 50 mil visitantes de 125 países e contou com 2.110 expositores, divididos em 81.000 m². Segundo Christian Göke, gerente da Messe Berlin, empresa organizadora da feira, “a Fruit Logística 2008 superou as altas expectativas que tínhamos e se transformou em um produto premium. A visão global do mercado de toda a cadeia produtiva e do comércio hortifrutícola foi apresentada com uma qualidade tão alta e de maneira tão completa, como nunca antes se havia visto”. 38 EVENTOS ções brasileiras são enviadas para Holanda, porém grande parte deste volume tem como destino outros países da Europa, principalmente a Alemanha”. Valeska salienta que “faz parte dos nossos esforços expandir as exportações direto para os mercados de destino. Assim, o exportador pode ampliar seu market share (fatia de mercado), além de poder conhecer melhor o perfil do consumidor de cada país e com isso incrementar as ações de marketing para aumento das vendas”. CONSUMO NA ALEMANHA Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do Ibraf, e Marcos Soares, gestor de agronegócios da Apex-Brasil Segundo resultados da pesquisa realizada em 2007 pela Sociedade de Pesquisa de Consumo Gesellschaft für Konsumforschung (GfK) - , apresentados na Fruit Logística, cada cidadão alemão consome 207,5 kg de frutas e hortaliças ao ano, sendo 122,5 kg de frutas e 85 kg de vegetais. A GfK também analisou as compras e os gastos de frutas frescas pelas famílias na Alemanha no ano O Brasil esteve representado por 52 empresas, expositoras de diversas regiões do País, que ficaram reunidas no Pavilhão Brasil, coordenado pelo Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf), em parceria com Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O Ibraf participa deste evento desde 2003 e a cada ano é crescente o número de empresas participantes e de negócios. Nesta edição, os empresários brasileiros realizaram mais de 1,8 mil contatos, que geraram US$ 29 milhões em negócios durante o evento, um aumento de 4% no volume comparado com o ano anterior – US$ 27,9 milhões. A previsão dos empresários para os próximos 12 meses é efetivar mais US$ 39,8 milhões, 38% a mais que no ano anterior – US$ 28,8 milhões. Estes negócios foram realizados com países tradicionais, como: Estados Unidos, França, Espanha, Holanda, Itália, Reino Unido, Portugal, Alemanha, Inglaterra; e também com países não-tradicionais, como: Escandinávia, Finlândia, Suécia, Rússia, Suíça, Líbia, países do Leste Europeu, da África do Norte, entre outros. As exportações brasileiras de frutas frescas diretamente para a Alemanha vêm crescendo gradualmente: em 2007 foram exportadas 42 mil toneladas contra 31 mil em 2006, um aumento de 36%; em valor, passou de US$ 16 milhões, em 2006, para US$ 30 milhões em 2007, representando um crescimento de 90%. No ranking de países importadores, a Alemanha passou de 6º para 5º lugar. Valeska Oliveira, gerente executiva do Ibraf, explica que “cerca de 40% das exporta39 Produtores do projeto Fruta Paulista participaram do evento pela primeira vez as tendências nos pontos de venda”, o consumidor não está interessado apenas em preço, mas também nos fatores sociais, éticos e ambientais, ou seja, qual a procedência da fruta, como foi cultivada, transportada, manuseada, etc. Como em todo o mundo, cresce também na Europa o número de crianças obesas. Segundo Margherita Caroli, médica responsável pelo European Childhood Obesity Group (Grupo Europeu de Obesidade Infantil), o número de crianças européias afetadas pela obesidade cresce cerca de 1,2 milhão por ano. Caroli estima que em 2010, mais que 26 milhões de crianças serão afetadas. Para tentar reverter este quadro, em 2007 teve início a campanha Mr. Fruitness que, em três anos, espera mostrar para crianças da Alemanha, Áustria, Reino Unido, Polônia e Suíça, uma alternativa saudável para a convencional “junk food” (alimentos não saudáveis, mas de fácil preparo ou consumo), utilizando a figura divertida de um super-herói verde, cuja força advém do consumo de frutas. Atualmente 3.169 lojas de supermercados no cinco países já fazem parte desta promoção e o website www.fruitness.eu já foi visitado por mais de 350.000 vezes. MINIMAMENTE PROCESSADOS NA FRESHCONEX Produtos minimamente processados foram apresentados na Freshconex: criatividade para incentivar consumo de 2007 e concluiu que cada uma comprou frutas frescas por um preço médio de 1,49 euros por quilo. A maçã foi a fruta fresca preferida, com 20,7 kg por família, seguida da banana, com 16,9 kg. Laranja é a terceira na preferência, com 10,0 kg; tangerina, 6,1 kg, e uvas, 4,8 kg. Além dos números de consumo, foi discutido também no evento o comportamento do consumidor perante os produtos frescos. De acordo com o fórum “As novas exigências dos consumidores – 40 Paralelamente à Fruit Logística, foi realizada pela primeira vez a Freshconex, nova feira para atender a grande tendência dos produtos minimamente processados ou de quarta gama, como é conhecido na Europa. Os últimos números da GFK indicam que, devido à conveniência, estes produtos estão se tornando uma grande tendência na Alemanha. Conforme a pesquisa da GfK, 30% de todas as casas alemãs já experimentaram estes produto pelo menos uma vez no ano passado, sendo que o segmento tem crescimento superior a 40%. Quando se refere às frutas minimamente processadas, o setor continua em desenvolvimento na Alemanha, pois o nível de interesse industrial é baixo. As taxas de crescimento deste setor de conveniência são de 11% ao ano, motivadas pelo crescente número de pessoas que moram sozinhas e maior rapidez no consumo. Apesar do crescimento, questões, como qualidade e adaptação de variedades, foram discutidas no Congresso Freshconex, realizado durante a feira. Bill Davies, da rede de varejo britânica Marks and Spencer, comentou sobre a adaptação do produto para o setor. Segundo ele, “os produtores de frutas e hortaliças têm que começar pelas sementes e criar variedades próprias para o setor de produtos de quarta gama”. ARTIGO TÉCNICO ÁGUA SALINA NA PRODUÇÃO DE FRUTAS A aplicação da técnica correta no manejo da água salina de irrigação para produção de frutas permite incorporar áreas abandonadas ao processo produtivo Fotos e Texto: Flávio Blanco/CPAMN Embrapa A água utilizada na irrigação sempre contém sais dissolvidos, em maior ou menor quantidade, mas os sais sempre estão presentes. Nas regiões áridas e semi-áridas, a evapotranspiração elevada contribui muito para aumentar o risco de salinização dos solos, pois as plantas absorvem a água do solo e os sais são deixados para trás e se acumulam. Nessas regiões, a água de irrigação, principalmente a proveniente de poços e açudes, pode apresentar elevada concentração de sais, exigindo que o manejo da irrigação seja conduzido adequadamente para evitar a elevação excessiva da concentração de sais no solo. Só assim será possível obter boa produtividade ao longo dos anos. No Brasil, as regiões que apresentam maiores riscos de salinização do solo ocorrem principalmente no semi-árido nordestino, que abrange parcialmente todos os estados do Nordeste. Esta região passa por um processo intensivo de desenvolvimento e modernização da agricultura, a exemplo dos perímetros irrigados que são pólos de produção e exportação de diferentes frutas para os mercados norte-americano e europeu, onde a quase totalidade das áreas é irrigada por sistemas de irrigação localizada (gotejamento e microaspersão). Parte desta produção é obtida em condições de irrigação com água não-salina, porém parte dela é obtida irrigando-se com água salina e efetuando-se um manejo 41 ARTIGO TÉCNICO da irrigação que visa evitar o aumento excessivo da concentração de sais no solo (Figura 1) pode-se utilizar a Figura 2 para estimar a necessidade de lixiviação, embora haja necessidade de ajustes para cada condição específica de cultivo. Com base nessa figura, podemos ver que culturas tolerantes exigem menor fração de lixiviação e podem ser irrigadas com águas de maior salinidade, sem sofrer perdas na produção, quando comparadas às culturas mais sensíveis. Figura 1. Manchas de sais localizadas na periferia do bulbo molhado na irrigação por gotejamento na cultura do maracujá Como a presença de sais na água aumenta a capacidade de transmissão de corrente elétrica, então a salinidade é geralmente medida em termos da condutividade elétrica (CE), que é de determinação fácil e de baixo custo. Uma água é considerada ligeiramente salina quando sua CE é acima de 0,7 dS/m (dS/m = deciSiemens por metro, é a unidade de medida da CE), moderadamente salina para CE maior que 2,0 dS/m e altamente salina para CE maior que 10 dS/m. Com o aumento da sa-linidade, as plantas passam a absorver menor quantidade de água do solo, isso porque os sais, no solo, exercem um efeito semelhante ao efeito da seca, que é o de reter água com maior intensidade, exigindo grande esforço das raízes para que consigam absorver a água; então, mesmo havendo água em quantidade suficiente no solo, as plantas não conseguem absorvê-la na quantidade necessária para atender às suas necessidades. Para que isso seja evitado, o manejo da irrigação, quando se utiliza água salina, deve ser feito com uma quantidade maior de água, além daquela necessária para repor a quantidade consumida pelas plantas. Essa fração de água em excesso é chamada “fração de lixiviação” (FL), pois sua função será a de promover a lixiviação (ou lavagem) dos sais para camadas mais profundas do solo, longe do alcance das raízes. A FL a ser utilizada depende da salinidade da água de irrigação e da cultura que está sendo irrigada; quanto maior a salinidade e quanto mais sensível for a cultura, maior será a FL (ver Figura 2). Geralmente a FL varia de 10% a 25%, ou seja, aplica-se em torno de 10% a 25% a mais de água para garantir a manutenção de uma salinidade adequada no solo para que a planta possa se desenvolver e produzir satisfatoriamente. De forma prática, 42 Figura 2. Relação entre a condutividade elétrica do solo (CEe) e a condutividade elétrica da água de irrigação (CEi) em condições de equilíbrio dinâmico, para diferentes frações de lixiviação (FL) adotada nas irrigações Na Tabela 1 é apresentada a classe de tolerância à salinidade para algumas fruteiras. Vale lembrar que estes valores servem apenas como indicativo da tolerância, pois a tolerância real depende também do clima, das condições do solo, do tipo de sais e das práticas culturais. TABELA 1. SALINIDADE MÁXIMA DO SOLO (CEE) E DA Á G UA D E I R R I GA Ç Ã O ( C E I ) TO L E R A D A P O R ALGUMAS FRUTEIRAS E SUA RESPECTIVA CLASSE DE TOLERÂNCIA * MT – moderadamente tolerante; MS – moderadamente sensível; S – sensível # Classes de tolerância com # são apenas estimativas, sem comprovação científica ARTIGO TÉCNICO Mesmo se tomando todos os cuidados é necessário realizar o mo-nitoramento periódico da salinidade do solo para verificar a adequação do manejo. Para isso, utilizam-se extratores da solução do solo (Figura 3), a partir dos quais a salinidade da solução do solo pode ser medida facilmente no campo, sem a necessidade de encaminhar amostras de solo ao laboratório. Se ficar constatado que a salinidade da solução está aumentando ao longo do tempo, então se aumenta a fração de lixiviação. Por outro lado, se a salinidade da solução estiver reduzindo, ficando abaixo da faixa esperada, então, provavelmente, a fração de lixiviação está sendo excessiva, devendo ser diminuída. Figura 3. Aplicação de vácuo em um extrator instalado na cultura da melancia Outra característica da água que necessita de cuidados é a sodicidade. Uma água é sódica quando apresenta alta proporção de sais de sódio em relação aos sais que contêm cálcio e magnésio. A relação entre a concentração de sódio e as concentrações de cálcio e magnésio é chamada de Razão de Adsorção de Sódio (RAS). A utilização de águas sódicas (águas com alto valor de RAS) na irrigação pode resultar na sodificação do solo e isso pode levar a problemas de redução da permeabilidade do solo, isto é, o solo torna-se encrostado, com redução da infiltração de água e dificuldade de penetração das raízes. Pela Figura 4, verifica-se que a sodicidade oferece maiores problemas quando a salinidade da água de irrigação é baixa, ocasionando redução severa da infiltração de água no solo. Em alguns casos, a água de irrigação pode ser classificada como salino-sódica, ou seja, apresenta alta salinidade e alta sodicidade. Esta situação exige atenção redobrada no manejo, com aplicação de lâminas de lixiviação adequadas e, se necessário, aplicações periódicas de gesso agrícola para permitir a remoção do excesso de sódio do solo. Figura 4. Redução da infiltração do solo provocada pela relação de adsorção de sódio (RAS), em função da salinidade da água de irrigação Um problema na utilização de águas salinas é quando o solo apresenta lençol freático muito raso. Neste caso, como as irrigações terão que ser feitas com água em excesso, pode ocorrer a elevação do nível do lençol, que se torna ainda mais superficial e isso, ao invés de amenizar o problema, acelera o processo de salinização do solo.Para isto, não existe alternativa senão a instalação de um sistema de drenagem para manter o lençol freático em um nível que não comprometa o desenvolvimento da cultura. A água aplicada na lixiviação é drenada para fora da área, carregando consigo o excesso de sais que foram lavados do perfil do solo. Existem outras práticas que, associadas ao manejo adequado da irrigação, garantem a boa convivência com a salinidade, como a manutenção da matéria orgânica do solo, aração profunda, plantio de culturas mais tolerantes, aplicação de corretivos químicos, escolha dos fertilizantes, adubação verde, dentre outras. A decisão em utilizar ou não uma água salina para irrigação depende de vários fatores, sendo o principal deles o econômico, visto que esta prática exige certo investimento. A aplicação da técnica correta no manejo da água salina evitaria que milhões de hectares de terra fossem abandonados anualmente no mundo, devido à salinização, e outros milhões de hectares, hoje improdutivos, poderiam ser incorporados ao processo produtivo, contribuindo para diminuir a abertura de novas áreas agrícolas, evitando-se desmatamento e produzindo alimentos de forma sustentável. Flávio Favaro Blanco Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador da Embrapa Meio-Norte, Teresina (Piauí) E-mail: [email protected] 43 artigos técnicos podem ser enviados para [email protected] CAMPO E CULTURA MANUAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR – BOAS PRÁTICAS PARA SERVIÇOS DE ALIMENTAÇÃO Com o objetivo de informar a respeito das práticas adequadas aos serviços de alimentação, bem com assegurar a qualidade e segurança dos alimentos preparados, foi lançado o Manual de Segurança Alimentar – Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Segundo o autor, “os profissionais que trabalham com a preparação e o manuseio de alimentos têm papel importantíssimo na manutenção ou não da saúde das pessoas, visto que os alimentos podem tanto promover a saúde dos consumidores como transmitir doenças. Desse modo, manipular alimentos pode ser definido como uma atividade de promoção de saúde ou doença para aqueles que consomem os alimentos”. A publicação aborda temas práticos e situações do dia-a-dia dos profissionais que trabalham com segurança alimentar, visando auxiliá-los no processo de implantação das boas práticas, baseado nos requisitos sanitários aplicáveis aos serviços de alimentação, estabelecidos na Resolução RDC no 216, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e harmonizado com a legislação vigente para todo o Estado de São Paulo, a Portaria CVS no 06 e a Portaria no 1210, de 03 de agosto de 2006, da Secretaria da Saúde do Município de São Paulo. Autor: Clever Jucene Editora: Rubio Páginas: 241 Preço: R$ 49,00 Onde encontrar: www.rubio.com.br Telefone: (21) 2262-7623 / 2262-7949 44 COLEÇÕES EMBRAPA PARA A FRUTICULTURA Para expandir o conhecimento adquirido por meio da pesquisa, a Embrapa Informação Tecnológica edita e publica informações tecnológicas geradas e/ou adaptadas pela Embrapa. Para a fruticultura, foi publicada uma série de manuais técnicos de produção, fitossanidade e procedimentos de colheita e pós-colheita das principais frutas produzidas. A Coleção Frupex aborda aspectos relativos à produção, colheita e pós-colheita de frutas para exportação, além do Manual de Exportação de Frutas, que apresenta informações essenciais para o exportador de frutas, como: aspectos da produção e comercialização de frutas no Brasil; mercados internacionais de frutas frescas e processadas; agrotóxicos, produtos registrados e resíduos; embalagem e armazenagem refrigerada de frutas para exportação; e transporte internacional. A Coleção Frutas do Brasil traz as instruções dos cuidados e procedimentos indispensáveis na colheita e no manuseio pós-colheita, como: armazenamento, transporte, embalagem e normas de qualidade. Enfatiza a exportação do produto, trazendo todos os dados necessários para os produtores que querem ingressar na atividade. Aborda, ainda, a preocupação com o meio ambiente e a segurança alimentar. Autor: vários Editora: Embrapa Preço: A partir de R$ 9,00 (Coleção Frupex). Variável de acordo com a cultura e a coleção Onde encontrar: Site da Livraria Virtual da Embrapa Informação Tecnológica www.sct.embrapa.br/liv ou pelos telefones (61) 3340-9999 / (61) 3448-4326 ou fax (61) 3340-2753 ou e-mail [email protected] PRODUTOS E SERVIÇOS 45 FRUTA NA MESA Daniela Mattiaso A banana é uma das frutas mais populares do Brasil e leva o título de “musa” até no nome – cientificamente é chamada de Musa spp. Perfumada, de polpa firme e muito saborosa, ficou ainda mais conhecida nas décadas de 30 e 40, quando virou adorno principal do chapéu de frutas tropicais da cantora Carmem Miranda, tornando ambas, referências nacionais. A fruta na cabeça de Carmem virou marca registrada e se transformou em nome de filme (“Banana da Terra”), música (“Chiquita Banana”) e documentário (“Banana is my business”) sobre a cantora. Apesar disto, o que muitos não sabem é que a banana não é uma fruta nacional. “O principal centro de origem das cultivares de banana é o Continente Asiático, embora existam centros secundários de origem na África Oriental e nas ilhas do Pacífico, além de um importante centro de diversidade na África Ocidental”, explica o pesquisador de Manejo Fitotécnico da Bananeira da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, Marcelo Bezerra Lima. No Brasil, as variedades mais cultivadas são a Prata, Pacovan, Prata Anã, Maçã, Mysore, Terra e D’angola; e as variedades do subgrupo Cavendish - Nanica, Nanicão e Grande Naine. A Ouro, Figo Cinza e Figo Vermelho, Caru Verde e Caru Roxa são plantadas em menor escala. Em 2006, segundo o pesquisador, o País exportou muito pouco: apenas 2,80% da produção nacional de 6,96 milhões de toneladas. O consumo interno médio foi de 25 quilos por habitante. Apenas sete estados respondem por 70% da produção: Bahia, São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Pará, Ceará e Pernambuco. A banana também possui elevado valor nutricional, segundo Bezerra Lima, sendo fonte de energia, com alto teor de carboidratos – amidos e açúcares. Possui vitaminas A, B1, B2, e C, além de sais minerais, como potássio, fósforo, cálcio, sódio e magnésio. A fruta pode auxiliar em doenças, como anemia, úlcera, azia, estresse, entre outras, afirma o pesquisador. Uma nova tendência para o mercado de bananas é o cultivo orgânico da bananeira. “Este tipo de cultivo tem se mostrado promissor, com bastante demanda em vários estados, e visa a obtenção de um fruto de melhor qualidade, sem agressão ao meio ambiente, uma vez que dispensa o uso de produtos químicos e de outras origens, senão os naturais e/ou orgânicos, recomendados para o manejo da cultura”, explica. 46 RECEITAS DO PRODUTOR JOSÉ DE PAULA TEIXEIRA BANANA FRITA Ingredientes: 6 bananas bem verdes (de qualquer variedade), óleo vegetal e sal. Modo de preparo: Corte as bananas verdes, sem casca, em rodelas bem finas – como se fossem batatas chips - e frite em óleo quente até ficarem levemente douradas e crocantes. Depois coloque sal a gosto. As bananas fritas servem como aperitivo ou acompanhamento para outros pratos. BANANA GRELHADA COM SORVETE Ingredientes: 1 banana, 1 colher (chá) de margarina ou 1 colher (café) de azeite, 1 bola de sorvete de creme, calda de chocolate e canela. Modo de Preparo: Corte a banana ao meio, no sentido do comprimento. Pincele a frigideira com a margarina ou o azeite e grelhe, dourando os dois lados da banana. Sirva as fatias de banana com uma bola de sorvete em cima e decore com calda de chocolate e canela a gosto. Desde 1968, o produtor José de Paula Teixeira vive da produção de bananas em sua propriedade, localizada na margem direita do Rio Ribeira, no município de Registro, interior do Estado de São Paulo. São 25 hectares de bananais, onde três variedades diferentes são cultivadas: Nanica, Nanicão e Prata. Ele conta que o Vale do Ribeira tem um clima muito favorável para o desenvolvimento das bananas. “O inverno é curto, chove bastante e faz muito calor. Aqui a bananeira produz o ano todo, sendo que no verão a safra é ainda maior”, diz ele. A venda das bananas é feita no próprio sítio e é voltada totalmente para o mercado interno. “Nossos principais compradores, em sua maioria, são do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas.”