a exploração sexual comercial na america latina e caribe
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a exploração sexual comercial na america latina e caribe
CECRIA Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes A EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NA AMÉRICA LATINA E CARIBE (RELATÓRIO FINAL – BRASIL) 2ª EDIÇÃO CONSULTORA: MARIA LÚCIA PINTO LEAL Brasília 1999 A Exploração Sexual Comercial de Meninos, Meninas e Adolescentes na América Latina e Caribe (Relatório Final – Brasil) 2ª Edição – Julho/1999 Realização CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes Elaboração do Relatório Final Maria Lúcia Pinto Leal Pesquisadoras Maria Lúcia Pinto Leal - Consultora Maria de Fátima Pinto Leal Márcia Roberta Matos Karina Figueiredo Auxiliares de Pesquisa Shirley Brasil Borthy Bochi Taiama Mamede Barbosa Solecki Miriam Caetana de Souza Ferreira Organização da Publicação Maria Lúcia Pinto Leal Maria de Fátima Pinto Leal Diagramação Gráfica Isabel Cristina Valadares Lins Revisão Final Maria de Fátima Pinto Leal Ozanira Ferreira da Costa Capa Telma Bezerra Vanderlei Schelbauer Exploração Sexual Comercial de Meninos, Meninas e Adolescentes na América Latina e Caribe (Relatório Final - Brasil) LEAL, Maria Lúcia Pinto. A Exploração Sexual Comercial de Meninos, Meninas e Adolescentes na América Latina e Caribe (Relatório Final – Brasil). Brasília: CECRIA, IIN, Ministério da Justiça, UNICEF, CESE, 1999. 2 Agradecimentos Especiais Agradecemos a todas as Organizações e Especialistas que contribuíram com esta pesquisa, disponibilizando informações valiosas através de entrevistas, consultas, publicações, dados de denúncia e sugestões Agradecemos ainda à Equipe Técnica e Administrativa do CECRIA que colaborou de forma eficiente na coleta e refinamento dos dados 3 ÍNDICE INTRODUÇÃO I PARTE 1. A SITUAÇÃO DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL EM SUAS DIVERSAS MODALIDADES NO BRASIL 1.1. Aspectos conceituais da exploração sexual comercial de meninas, meninos e adolescentes.......................................................................................... 1.2. Definição teórica das modalidades de exploração sexual e suas formas de expressão na realidade Brasileira........................................................................................... 1.2.1. EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL................................................................................................. 1.2.2. PROSTITUIÇÃO INFANTIL................................................................................................................ 1.2.3. PORNOGRAFIA INFANTIL................................................................................................................ 1.2.4. TURISMO SEXUAL........................................................................................................................... 1.2.5. TRÁFICO (PROSTITUIÇÃO)............................................................................................................... 1.3. ESTUDOS DAS DIMENSÕES PARA COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO DO FENÔMENO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENINOS; MENINAS E ADOLESCENTES.. 1.4. FORMAS DE EXPRESSÃO DAS MODALIDADES DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NA REALIDADE BRASILEIRA.. II PARTE 2. RESPOSTAS INSTITUCIONAIS: AÇÕES IMPLEMENTADAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E AGÊNCIAS INTERNACIONAIS PELO ESTADO, 2.1. CONCEITO E DEFINIÇÃO DE RESPOSTAS INSTITUCIONAIS.................................................... 2.2. OS DISCURSOS DAS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS................................................................... 2.2.1. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA................................................................................................................. 2.2.2. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E AÇÃO SOCIAL / SECRETÁRIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL...................... 2.2.3. VARA DE EXECUÇÕES CRIMINAIS.................................................................................................... 2.2.4. VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE................................................................................................... 2.2.5. AGÊNCIAS INTERNACIONAIS........................................................................................................... 2.2.6. INTERPOL.................................................................................................................................. 2.2.7. ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS........................................................................................ 2.2.8. MÍDIA........................................................................................................................................... 2.3. ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS IMPLEMENTADAS PELO ESTADO PARA O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL..................................... 2.3.1. AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PODER EXECUTIVO............................................................................... 2.3.2. AÇÕES ESTRATÉGICAS DO LEGISLATIVO: CPIS E PROJETOS DE LEI................................................ 2.4. ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS IMPLEMENTADAS PELAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS PARA O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO 4 SEXUAL COMERCIAL..................................................................................................................... 2.4.1. MAPEAMENTO DAS REDES REGIONAIS DE ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NO BRASIL – AÇÕES DESENVOLVIDAS ............. 2.4.2. PROJETOS E PROGRAMAS PARA O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES 2.5. AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL........................................................................................ 2.6. A OPINIÃO PÚBLICA SOBRE O TEMA.......................................................................................... 2.7. A OPINIÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS................................................................ 3. DIFICULDADES ENCONTRADAS PARA O ENFRENTAMENTO DO FENÔMENO. DA EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NO BRASIL.. 4. RECOMENDAÇÕES.............................................................................................................................. 5. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................................... 6. ANEXOS I. Mapa Político do Brasil........................................................................................................................... II Mapa de Projetos e Programas para o Enfrentamento da Exploração Sexual Comercial de Meninos, Meninas e Adolescentes no Brasil III. Mapa das Campanhas contra a Exploração e o Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes no Brasil. IV Violência e Exploração Sexual contra Meninos, Meninas e Adolescentes na América Latina e Caribe Declaração Final (Uruguai) V. Declaração de Plano de Ação sobre a Exploração de Crianças e Jovens - (Canadá). VI Declaração sobre o combate ao Abuso Sexual, Pornografia Infanto-Juvenil e Pedofilia na Internet – (França) VII Projetos em tramitação na Comissão de Constituição e Justiça – CCJR VII. Legislação............................................................................................................................................ 5 INTRODUÇÃO O CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes firmou uma parceria com o Instituto Interamericano del Niño, organismo especializado da OEA (Organização dos Estados Americanos) para a realização de uma pesquisa no Brasil sobre a situação da exploração sexual comercial de meninos, meninas e de adolescentes e as respostas institucionais para o enfrentamento desta problemática, a partir de 1996. Desenvolver esta pesquisa, em parceria com o IIN, possibilitou a integração/intercâmbio de informações sobre a temática na América Latina e Caribe, resultando numa agenda de ações, estratégias e conteúdos para o enfretamento do fenômeno. A sistematização dos dados deu visibilidade da situação no Brasil, mostrou a fragilidade das respostas institucionais para o enfrentamento do fenômeno e a necessidade de uma avaliação do impacto das políticas públicas, com vistas ao redimensionamento da ação governamental e não governamental. Tendo em vista a extensão territorial do Brasil, esta pesquisa não representa um mapeamento de todos os Estados, Municípios e Distrito Federal, mas, uma amostra das cidades e regiões, onde governo e sociedade civil estão mobilizados, permitindo a visibilidade do fenômeno e o seu nível de enfrentamento. Esta pesquisa foi desenvolvida no período de agosto a dezembro de 1998, e enquanto procedimentos metodológicos, realizou vasta pesquisa bibliográfica, coleta e análise de informações do seu Banco de Dados, análise de dados fornecidos pelas redes informais regionalizadas (sul, sudeste, centro-oeste, norte e nordeste), pesquisa documental em relatórios das oficinas, encontros e seminários realizados no Brasil sobre a temática e entrevistas com representantes de órgãos públicos. Uma versão preliminar foi enviada às organizações não governamentais – ONGs, organizações governamentais – OGs e Agências Internacionais para análise e sugestões de conteúdo. Em função da complexidade do fenômeno e das ações, é possível que alguns dados tenham sofrido alterações e necessitam de complementação. Na primeira parte, o relatório analisa a situação de meninas, meninos e de adolescentes vítimas de violência sexual em suas diversas modalidades, enfatizando aspectos conceituais da exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes, as dimensões que explicam o fenômeno, bem como a definição teórica das modalidades de exploração sexual e suas formas de expressão na realidade brasileira. Na segunda, apresenta as respostas institucionais, mediante as ações de promoção, atendimento e responsabilização das organizações não governamentais, governamentais e das agências internacionais, apontando as dificuldades encontradas para o enfrentamento do fenômeno, as recomendações, a bibliografia e os anexos. A pesquisa representa, portanto, um esforço para organizar o conhecimento sobre a temática no Brasil, cujos os resultados demonstraram que há muito para se conhecer, atualizar, trocar e realizar. 6 1. A SITUAÇÃO DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NO CONTEXTO DA VIOLÊNCIA SEXUAL EM SUAS DIVERSAS MODALIDADES NO BRASIL 1.1. ASPECTOS CONCEITUAIS DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES A análise1 da violência contra crianças e adolescentes, no Brasil, deve ter como referência as questões histórico-estrutural e cultural para compreensão do fenômeno. Deve, ainda, considerar a dimensão territorial, a densidade demográfica e a diversidade cultural, econômica e social, em função de o fenômeno apresentar-se de diferentes formas em cada região. O Brasil é uma República Federativa com 05 macro-regiões (norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste), contendo 26 Estados e 01 Distrito Federal; tem aproximadamente 5.507 Municípios. O levantamento de 1995, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, revela uma população de 157,0 milhões: Norte 11,2; Nordeste 44,7; Sudeste 66,9; sul 23,5; e Centro-Oeste 10,5. A projeção preliminar do IBGE para o ano 2000 é de uma população de 165,7 milhões, sendo que a percentagem de crianças e adolescentes de até 19 anos de idade representa 40% ou seja 64,0 milhões de habitantes. 2 De acordo com os Anais do Seminário sobre a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Américas, em 1996, a realidade brasileira é que “a idade das crianças e adolescentes submetidos a exploração sexual, oscila entre 10 a 19 anos e tanto podem ser do sexo feminino quanto do masculino, de todas as classes sociais e etnias. A grande incidência ocorre entre adolescente mulheres, provenientes das classes populares de baixa renda que vivem na periferia dos centros urbanos, nos garimpos e outros locais similares”. Do total da população brasileira, 59,4% é de jovens na faixa etária 10-24 anos, constituindose na maior densidade demográfica. Na faixa etária de 7-14 anos temos 27,4% de meninas e na faixa etária de 15-17 anos temos 9,9%, conforme dados do IBGE, em 1996. Essa população jovem tem sofrido o impacto das transformações sociais, econômicas, políticas e culturais no contexto da sociedade contemporânea. As crianças e adolescentes, principalmente aquelas em situação de pobreza, são inseridas no mercado de trabalho precocemente, conforme podemos observar no quadro3 abaixo: SEXO 1 MENINAS MENINOS TOTAL Faixa Etária Nº % Nº % Nº % 10 – 14 934.996 24,7 2.027.652 27,9 2.962.648 26,6 15 – 19 2.950.075 75,3 5.227.892 72,1 8.177.967 73,4 TOTAL 3.885.071 100,0 7.255.544 100,0 11.140.615 100,0 Esta pesquisa assume como referência o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente em seu Art. 2º, o qual considera- criança, a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes aquela entre 12 e 18 anos de idade. Por ser um termo bastante recorrente, também utiliza-se meninas, meninos e adolescentes. 2 Texto extraído do Relatório da Consulta Nacional BICE/CECRIA/1998. 3 OIT/IBGE, Brasil/1988. De 30.497.062 crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos, 36,53% trabalham ou seja 11.140.576. 7 Estudos e pesquisas4 têm demonstrado que o trabalho doméstico e a exploração sexual comercial absorvem principalmente a mão-de-obra feminina. Também têm revelado que essas relações de trabalho expõem as meninas a situações de exploração, riscos e danos pessoais (moral, físico, psicológico, sexual). De acordo com dados do IBGE (1996), de 822 mil crianças e adolescentes trabalhadores domésticos 12,7 % são da faixa etária de 15-17 anos e 7,9% de 10-17 anos. Com relação a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes existem 1 milhão de crianças inseridas no comércio sexual e na pornografia, no mundo inteiro. (OMT-Cairo/95) Os indicadores sociais levantados pelo referido Instituto, em 1996, revela que 41.5% das pessoas estão na categoria de sem rendimentos mensais; 15.3% têm rendimentos de até 01 salário mínimo mensal e 12.9% têm rendimentos de 01 a 02 salários mínimos mensais. Estes dados são da média nacional, embora sejam bastante acentuadas as diferenças entre as 05 macro-regiões do país. O salário mínimo atual é de aproximadamente US$7500. Por se tratar de diferenças estruturais, a pobreza e a indigência estão vinculadas às relações sociais concentradoras de renda e às relações culturais desiguais de gênero e de raça. Nesta perspectiva, faz-se necessário, para melhor compreensão da violência sexual de meninos, meninas e de adolescentes no Brasil, demonstrar o campo teórico multifacetado da violência sexual, tendo como objeto de análise a exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes. Por sua extrema complexidade, o tema da violência sexual, em suas diferentes formas de manifestações e danos provocados em crianças e adolescentes tem despertado as Ciências Sociais, a Psicologia e o Direito para questões que levem a compreensão do fenômeno nas suas diferentes facetas. A violência é um fenômeno antigo, produto de relações sociais construídas de forma desigual e geralmente materializada contra aquela pessoa que se encontra em alguma desvantagem física, emocional e social. Historicamente, a violência tem sido denunciada no ambiente doméstico/familiar contra mulheres, crianças e adolescentes de ambos os sexos, sendo que as pesquisas5 têm confirmado que a incidência é maior entre meninas e mulheres, daí a questão de gênero ser compreendida como um conceito estratégico na análise do fenômeno. Também tem sido denunciada em outros lugares socialmente construídos: na rua, no ambiente institucional e nas redes de prostituição (tanto nas mais economicamente poderosas, quanto naquelas mais domésticas). Dada a complexidade que envolve o tema da violência sexual ela deve ser compreendida nos seus aspectos sociais, culturais, políticos, econômicos e jurídicos. A violência sexual pode ocorrer no ambiente intrafamiliar, quando há relação de parentesco entre vítima e agressor e extrafamiliar, quando não há uma relação de convivência familiar entre agressor e vítima. A exploração sexual comercial ocorre em redes de prostituição, pornografia, redes de tráfico e turismo sexual. A violência intrafamiliar e extrafamiliar não são, em si, 4 5 VAZ, Marlene. A menina e a casa – a identidade coletiva da menina empregada doméstica. 1998. Vide Pesquisa sobre Vítimas de Homicídios (1996) In Banco de Dados do Movimento de Direitos Humanos – Brasil (1998) e "Uma Vida Sem Violência é um Direito Nosso" – Nações Unidas/SNDH/1998. 8 determinantes do ingresso da criança e do adolescente nas redes de exploração sexual comercial, mas se constituem em fatores de vulnerabilização. A situação de pobreza, a violência doméstica intrafamiliar e extrafamiliar têm sido condição fundamental para que milhares de crianças e de adolescentes se transformem em grupos vulneráveis à exploração sexual comercial e outros tipos de violência. Neste sentido, a pobreza não somente indica exclusão social, mas possibilita a inclusão de crianças e de adolescentes na prostituição. Aponta a necessidade de uma política redistributiva de renda e de promoção de políticas sociais de proteção. É inegável que a pobreza vem não só criando espaços apropriados à exploração sexual comercial e à exploração do trabalho infantil, mas propiciando a violência em suas múltiplas facetas. A desigualdade estrutural da sociedade brasileira é constituída não só pela dominação de classes, como de gênero e de raça. É também marcada pelo autoritarismo nas relações adulto/criança. A criança e o adolescente não têm sido considerados sujeitos, mas objeto da dominação dos adultos, tanto através da exploração de seu corpo no trabalho, quanto de seu sexo e da sua submissão. As relações dominantes de gênero e de raça, por sua vez, se evidenciam pelo fato de que a grande maioria das vítimas de exploração sexual é do sexo feminino, negras e mulatas. A exploração sexual comercial é uma violência sexual sistemática que se apropria comercialmente do corpo, como mercadoria para auferir lucro. Mesmo inscrito como “autônomo" sem intermediários, o uso (abuso) do corpo, em troca de dinheiro, configura uma mercantilização do sexo e reforça os processos simbólicos, imaginários e culturais machistas, patriarcais, discriminatórios e autoritários. Essa "imagem de marca", parafraseando o moderno marketing, não é só característica das zonas de garimpo, mas de modernas redes que oferecem nos anúncios "corpinho de adolescente", "cara de criança", "loirinha", "moreninha". (FALEIROS, 1998) Com a CPI da prostituição Infanto-Juvenil no Brasil, em 1993, houve um avanço na concepção desta temática, na qual a prostituição infantil passa a ser compreendida como Exploração Sexual Infanto-Juvenil, em consonância com as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei Federal nº 8.089/96), que diz em seu artigo 5º: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Nesta perspectiva, as organizações não governamentais, o governo e as agências internacionais optaram pelo termo "exploração e violência sexual contra crianças e adolescentes", e não "prostituição infanto-juvenil", por considerar a prostituição um modo de vida que abrange determinado segmento social. Só o adulto pode optar por este modo de vida. Uma criança, com menos de 12 anos de idade, e um adolescente com menos de 18 anos, não optam por se prostituírem, mas são induzidos pela prática delituosa do adulto. De acordo com os documentos da Campanha Nacional6 faz-se necessário considerar que: 6 Texto síntese do documento da Campanha Nacional Pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual Contra Crianças e Adolescentes – Secretaria Executiva (Casa Renascer) – Natal – RN - 1997. 9 - a palavra PROSTITUIÇÃO oculta a natureza do comportamento sexualmente abusado, desviando o enfoque e dando uma idéia de consentimento informado, isto coloca as crianças e os adolescentes em situação de infratores em lugar de vítimas; - o caráter substantivo da exploração sexual está dado pelo caráter de "dominação”, na relação social e invisível que se estabelece entre explorado e explorador. A relação de poder muitas vezes se baseia na violência individual mas, em geral, responde a uma construção social que sustenta essa desigualdade, fazendo socialmente aceitável a condição de gênero e de estratificação sócio-econômica. São estes sistemas de estratificação social que fazem com que a desigualdade seja aceita naturalmente; a exploração sexual não se dá exclusivamente nos setores mais pobres – ela perpassa todas as classes sociais. O que é diferente por extratos é o controle social e a visibilidade dessas formas cotidianas de exploração. De acordo com este marco, o conceito de exploração sexual inclui o abuso sexual, as diversas formas de prostituição, o tráfico e venda de pessoas, todo tipo de intermediação e lucro com base na oferta/demanda de serviços sexuais das pessoas, turismo sexual e pornografia infantil. A exploração sexual pode ser explicada a partir de quatro eixos fundamentais: classe social, gênero, etnia e relação adultocêntrica. (SAFFIOTI - 1995) O Congresso de Estocolmo, em 1996, marca um novo momento da historia no combate a Exploração Sexual Comercial de Crianças, no mundo, e teve como preocupação central construir um referencial que, estrategicamente, colocasse o fenômeno numa dimensão dialética, o qual deverá ser analisado do ponto de vista histórico, cultural, econômico, social e jurídico. A Agenda de Ação de Estocolmo (1996) define que a exploração sexual comercial infantil é todo tipo de atividade em que as redes, usuários e pessoas usam o corpo de um menino, menina ou de adolescente para tirar vantagem ou proveito de caráter sexual com base numa relação de exploração comercial e poder e declara que a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é um crime contra a humanidade. 1.2. DEFINIÇÃO TEÓRICA DAS MODALIDADES DE EXPLORAÇÃO SEXUAL E SUAS FORMAS DE EXPRESSÃO NA REALIDADE BRASILEIRA A exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes, é compreendida neste estudo através de quatro modalidades: Prostituição Infantil, Pornografia, Turismo Sexual e Tráfico. 1.2.1. EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL7 A exploração sexual se define como uma violência contra crianças e adolescentes, que se contextualiza em função da cultura (do uso do corpo), do padrão ético e legal, do trabalho e do mercado. Operacionalmente, a exploração sexual se traduz em múltiplas e variadas situações que permitem visualizar as relações nelas imbricadas e as dimensões que as 7 Leal, Maria de Fátima P. e César, Maria Auxiliadora. (orgs.) Indicadores de Violência Intrafamiliar e Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes. (Relatório Final da Oficina). CESE – MJ/SNDH/DCA – FCC –CECRIA. BRASÍLIA, 1998. 10 contextualizam. A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma relação de poder e de sexualidade, mercantilizada, que visa a obtenção de proveitos por adultos, que causa danos bio-psico-sociais aos explorados que são pessoas em processo de desenvolvimento. Implica o envolvimento de crianças e adolescentes em práticas sexuais, através do comércio de seus corpos, por meios coercitivos ou persuasivos, o que configura uma transgressão legal e a violação de direitos e liberdades individuais da população infanto-juvenil. Deve-se também considerar o fascínio que esta atividade exerce sobre alguns ou algumas adolescentes. A atividade sexual comercial, além de se apresentar como alternativa de sobrevivência, implica relações psicossociais e culturais destas crianças e adolescentes no meio familiar e social em que estão inseridas. Diante da complexidade do fenômeno os pesquisadores e profissionais devem fazer um esforço para dar à análise e à intervenção, direções mais claras, incluindo os vários aspectos da problemática, pois a questão da exploração sexual de crianças e adolescentes não se coloca apenas como um problema econômico, mas como uma questão cultural e política da sociedade, ou seja, sua visão e exercício da sexualidade. Nesta relação estão implicados os valores e desejos de indivíduos, socialmente construídos, numa sociedade machista e consumista de imagens do corpo da mulher como objeto sexual. 1.2.2. PROSTITUIÇÃO INFANTIL A prostituição é uma forma de exploração sexual comercial, ainda que seja uma opção voluntária da pessoa que está nesta situação. A prostituição feminina, no mundo adulto, abre um campo para o debate sobre a sua natureza, onde intervêm diversas disciplinas (Filosofia, Ética, Psicologia, Sociologia e aspectos jurídicos). As crianças e adolescentes por estarem submetidos às condições de vulnerabilidade e risco social são consideradas prostituídas(os) e não prostitutas(os). A prostituição consiste numa relação de sexo e mercantilização e num processo de transgressão. CEDECA/BA 1995. Também considerada uma forma de escravidão moderna e socialmente aceita, e há quem sustente que esta profissão padece das mesmas condições de subordinação e dependência que qualquer outro trabalho e por isso que deve ser garantido em suas formas. (Associação Nacional de Prostitutas do Brasil – GABRIELA LEITE) De acordo com o BICE8, 1996, quando se trata de crianças e adolescentes, de pessoas em processo de crescimento e desenvolvimentos, a prostituição não pode ser entendida como qualquer outro trabalho, porque implica em deteriorização física e psicológica da pessoa, afeta sua individualidade, sua satisfação sexual e sua integridade moral. A prostituição pode ser concebida como uma construção social reveladora de práticas, idéias, comportamentos e atitudes que desconhecem os mais elementares direitos humanos e perpetua a dominação do homem sobre a mulher e dos mais poderosos sobre os mais despossuídos. Esta forma de troca de favores sexuais converte a pessoa prostituída em produto de consumo, organizado em função dos princípios econômicos de oferta e da demanda. 8 BICE:- Bureau Internacional Catholique de l'enfant. 11 De acordo com o IIN – Instituto Interamericano del Niño a prostituição infantil é um tipo específico de exploração sexual, de caráter sexual comercial, que se relaciona com o grupo familiar, com os "protetores" e os clientes. Geralmente tem antecedentes prévios de abuso sexual não comercial; é um fenômeno multicausal mais não são fatores determinantes. É a idéia de processo, no qual as crianças convivem com diversos espaços sociais: a família e suas características, a rua e o próprio ambiente de exercício da prostituição; é a que onde se vai produzindo as mudanças e as formas de relacionar com os espaços e a percepção deles/delas mesmas. O contexto maior é o que facilita ou dificulta este processo, tais como a legislação, o perfil dos clientes, as oportunidades escolares, etc, assim como a dimensão de gênero e de poder que estão facilitando transformar as meninas em objeto de prazer, de violência e abuso de poder por parte dos homens adultos. O art.227, parágrafo 4º, da Constituição Federal, afirma que a lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual de criança e adolescente, embora ainda não exista uma lei regulamentando esse dispositivo que possa realmente "punir severamente" a exploração sexual 1.2.3. PORNOGRAFIA INFANTIL9 Definir pornografia infantil é difícil, porque os conceitos de criança e pornografia diferem de país para país e referenciam convicções morais, culturais, sexuais, sociais e religiosas que nem sempre se traduzem nas respectivas legislações. Atualmente, a pornografia infantil é definida como "todo material áudio-visual utilizando crianças num contexto sexual", ou, segundo a INTERPOL a "representação visual da exploração sexual de uma criança, concentrada na atividade sexual e nas partes genitais dessa criança" Para os especialistas participantes do Encontro sobre Pornografia Infantil na Internet, realizado em maio desse ano, em Lyon/França, significa: "uma exposição sexual de imagens de crianças incluindo fotografias de sexo explícito, negativos, projeções, revistas, filmes, vídeos e discos de computadores". Segundo o Projeto de Protocolo Facultativo à Convenção dos Direitos da Criança "Por utilização de crianças na pornografia se entende comercialização/tráfico ou difusão, ou a produção ou posse(para fins de comercialização/tráfico, difusão ou outro fim ilícito)de quaisquer materiais que constituam uma representação de uma criança realizando atos sexuais explícitos ou representando como participante neles (ou utilizando) em uma atividade sexual (explícita) ou qualquer representação (ilícita) do corpo ou de parte de uma criança, cujo caráter dominante seja a exibição com fins sexuais (entre outras coisas, incentivar a prostituição infantil e a utilização de crianças na pornografia, inclusive no contexto do turismo sexual que afeta às crianças)". A produção pornográfica utilizando crianças e adolescentes constitui exploração sexual e são considerados exploradores os produtores (fotógrafos, videomakers), os intermediários (aliciadores e pessoas de apoio), os difusores (anunciantes, comerciantes, publicitários) e os colecionadores ou consumidores do produto final. A maioria desses envolvidos são 9 Texto extraído do artigo: Adolescentes e a Maioridade Penal – Inimputabilidade. Hélia Barbosa, Coordenadora do CEDECA-BA, 1999 12 pedófilos. Mas, entre os consumidores encontram-se também aqueles que, por já terem acesso a toda a gama de pornografia adulta, buscam material mais estimulante na produção que utiliza crianças e adolescentes. A pornografia infanto-juvenil causa danos às vítimas por exposição, situação que leva crianças e adolescentes a acreditarem, quando seduzidas, que essa atividade é "normal". As crianças e adolescentes utilizados na produção de material pornográfico passam a associar o ato sexual à violência, à força e à exploração e distorcem seu comportamento diante das questões sexuais, tornando-se adultos incapazes de se relacionarem afetiva e sexualmente. Outro risco muito grande, é que as vítimas de abuso e exploração sexual poderão se transformar em autores dos mesmos atos sofridos. A criminalização da pornografia é contemplada no art.234 do Código Penal: "fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio ou distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno.". Os arts. 240 e 24l do Estatuto da Criança e do Adolescente se referem à pornografia: "produzir ou dirigir representação teatral, televisiva ou película cinematográfica utilizando-se de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica" e "fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou pornográfica" são crimes passíveis de reclusão de um a quatro anos. Ainda assim, trata-se de penas relativamente brandas. 1.2.4. TURISMO SEXUAL Turismo sexual é a exploração de crianças e adolescentes por visitantes, em geral, procedentes de países desenvolvidos ou mesmo turistas do próprio país, envolvendo a cumplicidade, por ação direta ou omissão de agências de viagem e guias turísticos, hotéis, bares, lanchonetes, restaurantes e barracas de praia, garçons e porteiros, postos de gasolina, caminhoneiros e taxistas, prostíbulos e casas de massagens, além da tradicional cafetinagem (Banco de Dados – CECRIA, 1996) Não se pode reduzir a exploração sexual ao sexo-turismo que estigmatiza o “outro”, o estrangeiro como único agressor, colocando-nos de fora da questão, quando sabemos que nem todos os turistas estrangeiros são abusadores sexuais, que nem todos os turistas abusadores são estrangeiros. (...) É preciso, ainda, situar o conceito de exploração sexual em diferentes contextos culturais, ou seja, onde e como a sexualidade é concebida e exercida. Por exemplo, o turismo sexual, apesar de sempre perverso é vivenciado diferentemente segundo a cultura do agressor e mesmo a da(o) jovem explorada(o).10 1.2.5. TRÁFICO (PROSTITUIÇÃO) De acordo com o Código Penal Brasileiro, o tráfico é a promoção da saída ou entrada de crianças/adolescentes do Território Nacional para fins de prostituição. (CP 231, ECA, 83, 84, 85, 251) 10 LEAL, Maria de Fátima P. e CÉSAR, Maria Auxiliadora (Orgs). Indicadores de Violência Intrafamiliar e Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes. Relatório Final da Oficina, CESE/MJ/SNDH/DCA/FCC/CECRIA, Brasília, 1998. 13 As pesquisas, recentemente realizadas, sobre exploração sexual comercial, abuso sexual e violência doméstica possibilitam listar algumas palavras chaves que ganham importância na compreensão do fenômeno e dos conceitos . As palavras chaves mais importantes identificadas no conjunto dos conceitos foram: direitos, poder, dominação, danos, gênero, classe social, etnia, violência, patriarcalismo, preconceito, seqüelas, transgressão, controle, valor de troca e de uso, vitima/vitimizado, agredido/agressor, violado/violador, abusada/abusador, cliente/usuário, dentre outros. Estas palavras podem transformar-se em categorias ontológicas, ou seja, em mediações concretas de análise e intervenção da realidade em diferentes setores ou áreas do conhecimento teórico-científico, por exemplo, adotando algumas destas categorias numa perspectiva clínica, psicossocial, sócio-antropológica, cultural, etc. No entanto, o objetivo aqui não é traduzir a erudição acadêmica que requer tais conceitos, mas, de acordo com o Congresso de Estocolmo, estabelecer um conceito ético e normativo que possibilite uma mediação concreta da teoria com a realidade histórica, isto é, um conceito teórico/metodológico/operativo, aplicável e reativo ao fenômeno da violência sexual, numa perspectiva dos direitos humanos. O conceito sobre violência sexual não poderia ser construído com base apenas na noção simples e particularizada do crime, do ato que provocou o dano à criança e ao adolescente. Faz-se necessário compreender e explicar o fenômeno através das complexas relações que são determinadas no conjunto da sociedade. A concepção adotada é a de que a criança e o adolescente são sujeitos de direitos, desta forma, se considera a lei o instrumento de combate à violação de direitos, através da regulação e coibição à violência praticada pelo violador e pela sociedade. Entende-se que a lei oferece condições objetivas para que a sociedade possa avaliar a efetividade ou a impunidade da ação legal e governamental, em relação ao enfrentamento, combate e prevenção da violência sexual. Nestes termos, articular a noção de direitos x violação sexual possibilita a delimitação do público alvo das políticas sociais para a viabilização da prevenção, proteção, defesa e atendimento à criança e ao adolescente, conforme prevê o ECA e a legislação internacional, através da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Portanto, construir o conceito sobre violência sexual requer uma análise articulada das dimensões abaixo relacionadas. 1.3. ESTUDO DAS DIMENSÕES PARA COMPREENSÃO E EXPLICAÇÃO DO FENÔMENO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES Neste estudo, a violência, e em particular, a exploração sexual comercial, é considerada uma violação de direitos de crianças e adolescentes, e se manifesta de forma complexa, com inúmeras interfaces que, para melhor compreensão, deverá ser analisada em suas diferentes dimensões, de forma articulada. 14 Histórico Estruturais (Capitalismo / Globalização) Culturais (Multiculturais) Dimensões Psicossociais (Comportamento) Legal Valores (Ética) Política (Políticas Públicas) − Pobreza − Trabalho − Exclusão − Mercado − Classe Social − Gênero − Etnia − Violência − Sexualidade − Identidade / Representação − Estigma − Vínculo − Repressão − Responsabilização − Legislação (mecanismos) − Sociedade Capitalista (reprodução social) − Imaginário (cultura/mídia) – Estado (direito/liberal) – Sociedade Civil (ONG’s/Redes/Comissões) – Democracia (Direitos Civis, Políticos) – Cidadania (Representação / Participação) Trata-se de um problema mundial e conforme mencionado, anteriormente, está presente em todas as classes sociais. Por ser ilegal e clandestino é um fenômeno ainda com pouca visibilidade e difícil de ser quantificado. No entanto, informações, depoimentos, denúncias, pesquisas e estudos permitem, por um lado, uma descrição qualitativa e preliminar da dinâmica do problema e, por outro, um aprofundamento de sua compreensão para desencadeamento de ações governamentais e não governamentais com vistas ao enfrentamento do fenômeno, em nível nacional. O estudo da dimensão histórico estrutural, a partir da análise do capitalismo contemporâneo, impõe compreender o impacto da crise do capitalismo, no contexto da globalização, e seus efeitos nas relações de trabalho, na organização dos blocos econômicos, na geração de novas pobrezas, agudização das desigualdades sociais, exclusão social e de novas formas de trabalho (flexibilização da mão-de-obra). No processo de globalização, a violação de direitos não se dá apenas na relação de trabalho, isto é, na venda e troca da força de trabalho, mas envolve outras categorias como gênero, etnia, sexualidade e violência. 15 Neste contexto, quando a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é explicada através das relações de mercado, ela são consideradas como objetos e mercadorias exploradas pelas redes comerciais de sexo (redes hoteleiras, taxistas, etc.). Este é um fenômeno que está diretamente relacionado com a obtenção de lucro. A inserção de crianças e adolescentes nessas redes, para alguns pesquisadores, ocorre em função da pobreza, isto é, as condições econômicas são determinantes. Por outro lado, existem pesquisas que ampliam essa discussão, indicando a violência doméstica como importante fator de inserção de crianças e adolescentes na prostituição. Outras correntes associam questões relacionadas com a sexualidade como mediadoras dessa inserção. Por exemplo, a experiência de ONGs tem apontado que determinadas meninas também sentem prazer nessa relação, enquanto prática sexual, identificada no lugar cultural e particular de sua experiência, enquanto ser histórico e social. De acordo com pesquisas realizadas na América latina e Caribe11, muitas meninas afirmam que não gostariam de sair da prostituição, mas, sobretudo, terem seus direitos "trabalhista" garantidos. Outro dado importante é a cultura de consumo ou a cultura de massa, frente a indústria cultural que impõe valores, padrões e estilos de comportamentos massificados, produzindo nos sujeitos, grupos e classes sociais, desejos de inclusão social, a partir do consumo. Nas trocas de experiências junto as ONGs especialistas12 na área do turismo sexual tem evidenciado, nas falas das meninas, a necessidade de consumo (roupas de marca, etc.) e acesso a lugares de lazer e diversão aos quais normalmente não têm acesso, em função de seu padrão sócio-econômico, o que demonstra que a categoria de exclusão social se dá, não apenas na relação de mercado, mas também nas relações de gênero, etnia, raça (aspectos culturais) e pobreza. A dimensão cultural/multicultural13 (gênero/etnia/raça) tem sido debatida amplamente pelos movimentos feministas, que têm considerado a relação de poder e de gênero como uma forma histórica e temporal da relação de dominação entre os sexos, que situa a mulher num plano inferior ao homem e estabelece o controle de sua sexualidade em função da família, da procriação e da reprodução (ROMANI, 1981). Para GAULE RUBIN14 a perspectiva é descontruir o conceito de gênero a partir de uma noção andrógina, sem gênero, mas com sexo, para o refinamento do entendimento da violência em 11 Vide documento IIN – 1999 nos anexos. Oficina de Indicadores de Violência Intrafamiliar e Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, CECRIA, Brasília, 1998 e Encontro de Especialistas em Programas contra a Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, Pirinópolis, 1997. 13 Multiculturalismo designa a formação e os processos simbólicos que estão nas origens das identidades; segundo Charles Taylor a identidade seria formada pelo reconhecimento (HEGEL), ou seja, o reconhecimento entre iguais o que significa nas sociedades modernas dignidade/autenticidade em oposição à honra ( que representava nas sociedade tradicionais a identidade). O pertencimento cultural na sociedade moderna é um pressuposto absoluto pois remete ao conteúdo universalista da democracia liberal. SOUZA, Gesse – Multiculturalismo, racismo e democracia pg 23 a 35 in: Multiculturalismo e Racismo uma Comparação Brasil e USA – Brasília, Palelo 15, 1997. No contexto da sociedade contemporânea o multiculturalismo pode ser compreendido a partir das categorias de gênero, etnia, violência e outros fenômenos socioculturais resultado das mudanças sócio-estruturais. 12 14 RUBIN, G – The Traffic in Women: notes for a Political Ecomony office Sex in REITER, R. (org) Towards en Anthopology of Women – Nova York: Colombia Universty Press. Versão em português 1993. 16 todas as suas formas (violência Intrafamiliar, extrafamiliar, as relações homossexuais, violência entre meninos/meninas e a violência adultocêntrica). No contexto das relações/vínculos, estabelecidos pelos sujeitos prostituídos, existem diferentes formas de a violência se materializar. Umas são permanentes, outras provisórias. Por exemplo, no fenômeno da exploração sexual comercial, em qualquer contexto, a violência é permanente. No contexto da dimensão psicossocial, que se traduz pelo comportamento mediado pelos vínculos e identidade desse grupo social. As crianças e os adolescentes são fragilizados pelo não prestígio e não legitimação de seu grupo, em função do que a sociedade considera como aceito. A reposta da sociedade a esses grupos se dá pela estigmatização e exclusão. Segundo ERIKSON, o permanente estado de estigmatização de um grupo social o leva a crer que ele é exatamente como está sendo rotulado, gerando um apartheid sócio/urbano, onde se constrói e são constituídas lógicas distintas em territórios diversificados, em que a relação de poder se manifesta numa clara relação de conflito, seja entre policiais, gigolôs, colegas, etc. Nesta perspectiva, trabalhar a questão da violência enquanto fator de conflito é fundamental. Para compreender a dimensão dos valores/ética cabe remetê-la à análise do processo cultural de mercantilização das relações sociais, em quase todas as sociedades, prevalecendo a lógica do mercado e a valorização do consumo. Neste contexto, o corpo infanto juvenil é mais um produto colocado no mercado globalizado do sexo, onde o marketing e a publicidade, de um modo geral, se encarregam de fabricar a imagem da mulher jovem e mulata, direcionada ao turismo sexual. Geralmente a imagem produzida, cristaliza a erotização de forma explicita ou subliminar, através de ícones e símbolos que representam uma ingenuidade ou pureza da infância e juventude, nos programas de televisão, outdoor, internet, etc. A erotização, segundo GIDDENS15, pode fortalecer nas sociedades machistas desejos que vão se internalizando de tal maneira, que é preciso descarregar esta energia erótica numa dada prática sexual, o que historicamente era realizada em prostíbulos, hoje existem outros estabelecimentos e formas sofisticadas , envolvendo crianças e adolescentes, como: a pornografia na internet; o turismo sexual (folders, books, etc.); os classificados de jornais e outros meios de comunicação, ligados em redes globalizadas do sexo, os quais se constituem em verdadeiros espaços de busca sexual e erotismo. Há, portanto, um processo de sofisticação da produção da imagem infanto-juvenil erotizada, através de peças publicitárias, distribuídas no meio turístico e nas redes de diversão, conforme denunciou/demonstrou a ECPAT no Congresso de Estocolmo, em 1996. Nesta direção, pensar a dimensão dos valores/ética significa descontruir o discurso/imagem do abuso e da exploração sexual/erótica de crianças e adolescentes, veiculados e cristalizados transculturalmente pela massmídia, que favorece a formação de um imaginário 15 GIDDENS, Antony – Para Além da Esquerda e da Direita – São Paulo, UNESP, 1996. 17 que fortalece a idéia da sexualidade e sensualidade infanto-juvenil para fins de exploração comercial (pornografia e pedofilia). Discutir as questões de valores/ética, no conjunto da sociedade capitalista, para entender a emergência da exploração sexual comercial, exige a compreensão de como esta sociedade contemporânea reproduz as relações sociais, contraditórias no campo da relação capital e trabalho e no campo da sua própria subjetividade. Para LEAL e CÉSAR, nas relações capitalistas, o sexo é, ao mesmo tempo, um valor de uso e um valor de troca e passa a ser um bem mercantilizado, um intercâmbio comercial. De forma globalizada, isso só poderia existir, se não houvesse um imaginário que o legitimasse mesmo de forma contraditória. Neste sentido, cabe salientar os estudos sobre o processo da globalização da sociedade capitalista salientam o surgimento da globalização16 de mercados da contravenção ou subculturies: o mercado de drogas, sexo, tráfico de crianças e mulheres, remédios, e de armas, dentre outros, fundamentados na lógica de lucro, poder e exploração do capitalismo contemporâneo, ferindo os princípios soberanos da ética do direitos humanos. A dimensão legal, constitui-se em uma noção/instrumento fundamental para estabelecer estratégias de repressão e responsabilização dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes. Sabe-se que é histórico, no imaginário da sociedade, a importância da responsabilização do agressor ou violador dos direitos das crianças e dos adolescentes, frente ao crime que cometeram. No entanto, as instituições jurídicas têm demonstrado muitas contradições e falhas no seu sistema de repressão e responsabilização, em função do autoritarismo e da burocracia, sendo a mais grave - a impunidade -, a exemplo do massacre das crianças de Cuiu Cuiu no Pará, os massacres de Carandirum e Vigário Geral e os massacres dos trabalhadores sem terra, em Curumbiará/RO. Todos impunes! Acrescente-se à questão da legislação a cultura da corrupção, impregnada no sistema burocrático da Instituição, pela existência de profissionais ligados às redes de contravenção, favorecendo a impunidade dos crimes, como os já citados anteriormente, a exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes, dentre outros. Se por um lado esta instituição sofre com a existência de micro-poderes, envolvidos com a corrupção, também coexistem setores que lutam pelo estabelecimento da justiça. Tem-se, inclusive, conhecimento da existência de um grupo de legisladores que está estudando mudanças para o Código Penal, a própria promulgação do ECA e de outras normativas nacionais e internacionais que se constituíram como discurso hegemônico (legitimador dos direitos humanos) no combate a exploração sexual comercial e abuso de crianças e adolescentes. (vide legislação Anexo 7) A sociedade tem se mobilizado no sentido de que o discurso legal não se constitua apenas na repressão, mas em um conjunto de medidas preventivas e de desmobilização da ação do 16 VIERIA; LISZT, Cidadania e Globalização – Rio de Janeiro: Record, 1997; DOWBOR, Ladslau, IANNI; Otavio – Desafios da Globalização – Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1997; IANNI, Otavio – A Sociedade Global, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999; KURZ, Robert – O Colapso da Modernização: da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial, 1993; HOBSBAW, Erik – A Era dos Extremos – São Paulo – Companhia das Letras – 1995. 18 agressor, nos locais onde se estabelece o conflito (família, comunidade, escola, trabalho, rua) para o enfrentamento do abuso e da exploração comercial de crianças e adolescentes. A violência não pode ser entendida como uma ação localizada, como ato puro do crime.Ela deve ser vista como um processo, ou conjunto de ações encadeadas em redes que se articula de forma permanente e temporária. Por isso, entendê-la a partir da idéia de ciclo/rede possibilita traçar o desmoronamento das redes de exploração sexual comercial e negociar os conflitos, a partir da identificação dos focos e dos diferentes sujeitos e instituições (formais ou não) envolvidos. Os órgãos de segurança pública, responsáveis pela execução da lei, têm atuado como "protetor", mas sobretudo, têm sido impotentes frente a desconstrução da violência na sociedade. Existem situações onde o cidadão é desrespeitado duplamente, pela instituição policial/judiciária que o atende e pelo próprio agressor. A dimensão das Políticas Públicas, para o entendimento do fenômeno da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, se situa na capacidade de o governo e a sociedade civil promoverem a prevenção, o atendimento e a defesa de crianças e adolescentes, no âmbito da política de garantia e defesa de direitos. Este é um grande desafio, tendo em vista que as respostas governamentais são muito frágeis, frente a complexidade do fenômeno. As pesquisas demonstram que a hegemonia das ações de enfrentamento tem como protagonista as ONGs, que se mobilizaram, historicamente, para a inclusão da temática na agenda do governo. Isso aconteceu em função de uma articulação nacional, ampliada por setores da sociedade civil, e pelos parlamentares, visando o fortalecimento de uma gestão pública/privada voltada para o enfrentamento da problemática. A questão de fundo é que o processo de incorporação das necessidades sociais e culturais das crianças e dos adolescentes, ainda são respondidas pelas instituições através de programas e projetos isolados, não se constituindo em políticas públicas, onde recursos financeiros, capacitação, controle e desempenho são considerados no planejamento das políticas sociais do governo e municípios. A dimensão das políticas públicas, na discussão teórica da exploração sexual comercial, é de grande importância, porque representa estrategicamente, o enfrentamento do fenômeno pelo Governo, possibilitando a superação das dificuldades encontradas na gestão das políticas públicas para a garantia e defesa dos direitos de crianças e adolescentes. As categorias participação, parceria, autonomia e descentralização das ações do governo e da sociedade constituem-se em estratégias para a democratização do espaço societário e o combate à violação dos direitos da criança e do adolescente. Entretanto, faz-se necessário um exame profundo destas estratégias, tendo em vista que o fenômeno da exploração sexual comercial está sendo enfrentado enquanto política focal, numa estrutura estatal que não administrou, ainda, as reformas para consolidar o processo de municipalização/ descentralização das políticas, o que compromete, em muito, a implementação da política de defesa e garantia dos direitos da criança e do adolescente. 19 Nesta direção, em algumas regiões brasileiras, em especial na região Centro-Oeste e Nordeste, as ONGs e setores governamentais têm desenvolvido como estratégia, organizarse em redes para uma articulação local, no sentido de inserir o fenômeno, com a especificidade que lhe é inerente, no sistema de atendimento das políticas públicas. Eis aí um grande desafio que estas organizações têm pela frente, haja visto que o sistema capitalista contemporâneo, não possibilita (pelas desigualdades sociais, causada pela elevada concentração de renda e a lógica de mercado) a garantia de políticas sociais com direitos. Geralmente, o que ocorre é um excesso de controle sobre a sociedade, pela máquina estatal, ao invés de um processo claro de distribuição de bem sociais sob a fiscalização permanente dos mecanismos de participação da sociedade. Nesta perspectiva, a cidadania é um conceito importante na construção da garantia de direitos, enquanto instrumento de ampliação da participação da sociedade e de instrumento de devolução da condição de sujeito, ao legitimar a fala dos violados através do fortalecimento de sua participação na sociedade organizada. Neste sentido, a criança e o adolescente, violados sexualmente, devem ser mobilizados para construir junto com sociedade e o governo, o espaço de sua cidadania. 1.4. FORMAS DE EXPRESSÃO DAS MODALIDADES DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REALIDADE BRASILEIRA A exploração sexual comercial é um fenômeno que se apresenta de forma diversificada e particularizada dentro de uma mesma região e também apresenta diferenças entre as regiões, conforme mostra o mapa, abaixo. Norte Exploração sexual (garimpos, prostíbulos, portuária, cárcere privado – fazendas e garimpos); prostituição em estradas e nas ruas, leilões de virgens. Centro-Oeste Exploração sexual comercial em prostíbulos Exploração sexual comercial nas fronteiras/ redes de narcotráfico (Bolívia, Brasília, Cuiabá e municípios do Mato Grosso) Prostituição de meninas e meninos de rua Rede de prostituição (hotéis, etc.) Prostituição através de anúncios de jornais Turismo sexual, ecológico e náutico Prostituição nas estradas Sudeste Pornoturismo Exploração sexual comercial em prostíbulos/ cárcere privado Exploração sexual comercial de meninos e meninas de rua Prostituição nas estradas Nordeste Turismo sexual Exploração sexual comercial em prostíbulos Pornoturismo Prostituição de meninas e meninos de rua Prostituição nas estradas Sul Exploração sexual comercial de meninos e meninas de rua/ redes de narcotráfico Denúncia de tráfico de crianças Prostituição nas estradas 20 A seguir apresentaremos algumas das formas de como este fenômeno se manifesta no Brasil, as atividades econômicas a que estão relacionadas e como são formadas as redes de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. A primeira forma de expressão da exploração sexual de crianças e adolescentes é através de prostíbulos fechados, principalmente onde há um mercado regionalizado com atividades econômicas extrativistas em garimpos e que se apresenta sob formas bárbaras, como cárcere privado, venda, tráfico, leilões de virgens, mutilações e desaparecimento. Prostituição nas estradas (postos de gasolina) e portos marítimos. A segunda assinala a violência sofrida por crianças e adolescentes em situação de rua. Geralmente saem de casa, onde foram vítimas de violência física e/ou sexual ou foram submetidas a situações de extrema miséria ou negligência e passam a sobreviver nas ruas usando o corpo como mercadoria para obter afeto e sustento. Trata-se, principalmente, de adolescentes do sexo feminino, sendo comum também, entre jovens do sexo masculino. Esta é uma situação observada nos grandes centros urbanos e em cidades de porte médio. A terceira inclui o turismo sexual e a pornografia, principalmente nas regiões litorâneas de intenso turismo, como as capitais da Região Nordeste do país. É marcadamente comercial, organizada numa rede de aliciamento que inclui agências de turismo nacionais e estrangeiras, hotéis, comércio de pornografia, taxistas e outros. Trata-se de exploração sexual, principalmente de adolescentes do sexo feminino, pobres, negras ou mulatas. Inclui o tráfico para países estrangeiros. A quarta é o “turismo portuário e de fronteiras, que acontece em regiões banhadas por rios navegáveis da Região Norte, fronteiras nacionais e internacionais da Região Centro-Oeste e zonas portuárias. Essa prática está voltada para a comercialização do corpo infanto-juvenil e começa a desenvolver-se para atender aos turistas estrangeiros. Mas é a própria população local a principal usuária da prostituição de crianças e adolescentes, nas regiões ribeirinhas. Nos portos, destina-se, principalmente, à tripulação de navios cargueiros. As pesquisas realizadas no Brasil17, confirmam que exploração sexual de crianças e adolescentes apresenta características diversificadas e particularizada de acordo com a 17 Fontes Secundárias • Levantamento da situação da exploração sexual infanto-juvenil na Amazônia legal Centro de Defesa do Menor/ Movimento República de Emaús e Estação Direito/Manaus, 1997. • Prostituição e adolescência – Prostituição juvenil no interior do Pará “Trombetas e os Garimpos do Vale Tapajós”, Centro de Defesa do Menor, Movimento República de Emaús, 1997. • Abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes na região metropolitana de Goiânia (1992-1996). Fórum Goiano pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual, 1997. • Exploração infanto-juvenil no Estado do Mato Grosso. PROSOL - Secretaria de Promoção Social do Estado de Mato Grosso. OIT - Organização Internacional do Trabalho/UFMT, 1998. • Exploração sexual infanto-juvenil em Mato Grosso do Sul. IBISS Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde Social, 1997. • Exploração sexual de meninas e adolescentes, visibilidade do problema Unidades Federadas Brasília/DF, CBIA/CECRIA, 1994. • Exploração sexual infanto-juvenil em Salvador - CEDECA/1995. • Exploração sexual de meninas/adolescentes, visibilidade do problema Unidades Federadas Minas Gerais, CBIA, 1995. • Criança Infeliz – Exploração sexual de crianças e adolescentes de ambos os sexos em Fortaleza/Pacto de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes/Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes, 1998. • Situação do Abuso Sexual e Prostituição Infanto-Juvenil no Brasil, UNICEF, 1996. 21 realidade sóci)o-cultural e econômica de cada região. Se dá através da comercialização do corpo, com base numa relação de poder, e/ou coerção física e psicológica. Essas pesquisas demonstram que, embora as meninas sejam as maiores vítimas da exploração sexual (DF,PA,BA,MG,MT,RJ) a presença de meninos explorados sexualmente tem aumentado. A faixa etária das meninas varia de acordo com as cidades pesquisadas, conforme quadro abaixo: CIDADES/ESTADOS FAIXA ETÁRIA/GÊNERO MASCULINO FEMININO Distrito Federal -- 10 – 17 Belém/PA -- 07 – 18 Várzea Grande/MT -- Acima de 12 Cuiabá/MT -- -- Poconé -- 12 Salvador/BA -- 05 – 12 Obs.: As pesquisas demonstram que nas cidades de Poconé, Várzea Grande e Cuiabá /MT foi identificada a presença de meninos em situação de exploração sexual, porém não especifica a faixa etária. A pesquisa de Mato Grosso também não apresenta a faixa etária das meninas. • Consulta ao Banco de Dados da Rede de Informações sobre Violência, Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes – RECRIA (MJ/SEDH/DCA/CECRIA/UNICEF). Dados Pesquisados: Organizações Governamentais (35); Organizações não governamentais (68); Publicações (132); CPI's (06); Projetos/Programas (43). • Consulta ao IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal, ABRAPIA/RJ – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência, ANDI – Agência de Notícias dos Direitos à Infância, Frente Parlamentar pelo Fim da Violência contra Crianças e Adolescentes e a Campanha Nacional pelo Fim da Violência, Exploração e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes; • 13 Relatórios de Pesquisa na área de exploração sexual comercial e abuso. Sendo uma pesquisa em nível nacional (UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância/1996); • Entrevistas com 17 Agências Internacionais; • Entrevista com a Vara da Infância e de Execuções Criminais; • Entrevista com a INTERPOL. 22 Quanto às atividades econômicas, que facilitam a inserção de meninas (os) na exploração sexual comercial, as pesquisas apontam: CIDADE ATIVIDADE ECONÔMICA18 SALVADOR Prostíbulos Casa de massagem Turismo Postos de gasolina Comércio – bares/lanchonete/hotéis etc. Rede de prostituição no centro da cidade (Cafezeira, Sapateiro, Garçons) FORTALEZA Rede de agenciamento – complexo de produção de prostituição – Beira-mar (turismo sexual) Prostíbulos / Bordéis Boates Rodoviária BELO HORIZONTE Hotéis Narcotráfico Casa de massagens Bares Turismo Bares Boates Prostíbulos DISTRITO FEDERAL Casa de massagens Hotéis Restaurantes Salão de Beleza Prostituição de anúncio de jornais (sistema de acompanhamento) Casas de prostituição Bares MUNICÍPIOS DO ESTADO DO PARÁ (08 municípios) Boates Centro de lazer Hotéis Áreas de Garimpo Postos de gasolina Bares MUNICÍPIOS DO ESTADO DO Anúncio nos Jornais Mato Grosso e Mato Grosso Boates do Sul Tráfico de drogas Lazer (pescaria) 18 Dados retirados das pesquisas relacionadas na página 28. 23 Além dos locais já listados no quadro anterior, a ABRAPIA aponta outros, conforme gráfico abaixo: (Universo Considerado: todo o Brasil – 114 denúncias19) Residência 29,72% Casa de Massagem 6,03% Boite 8,48% Praia 0,96% Bar 10,66% * Outros 22,55% Outros: Não informado 0,09% Ponto de concentração de crianças e/ou adolescentes 21,50% locadora de carros, mineradora, escritório, INTERNET, agência de aluguel de bugres, casa de eventos, quiosque, agência de turismo, restaurante, mercearia, loja de autopeças, oficina mecânica, posto de gasolina, fazenda, disque-sexo, abrigo evangélico, delegacia, agência matrimonial, clube, academia, agência de modelos, apart-hotel, padaria, fliperama, igreja, hospital, locadora de vídeo, agência de turismo, colégio, cassino, banca de jornal, asilo, abrigo de menores, teatro, fliperama, açougue, consultório médico, cinema, sauna, seminário abandonado, clinica médica, parque de exposições, fábrica de brinquedos, boliche, produtora de cinema, salão de cabeleireiros; agência de publicidade; cais do porto e teatro. O quadro abaixo mostra como estão formadas as redes de exploração sexual de meninas: 24 REDE DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENINAS NO BRASIL. Boates 1. REDE DE EXPLORAÇÃO SEXUAL Hotéis Prostíbulos/bordéis Sexo-turismo Gerentes/donos de hotéis/ prostíbulos Garimpo Estações rodoviárias, ferroviárias Rede de motéis Narcotráfico Casas de massagem Motoristas de táxi Caminhoneiro 2. EXPLORADOR SEXUAL Gigolôs Patrão/patroa (AGRESSOR) Cafetinas Dono de loja Policial Parentes Tortura 3. VIOLÊNCIA / DELITOS Espancamento (VINCULADOS À EXPLORAÇÃO SEXUAL) Tentativa de assassinato Estupro Cárcere privado Seqüestro Mutilação Maus-tratos Morte Confinamento Tráfico/venda de meninas 4. SAÚDE AIDS (VINCULADOS A Doenças sexualmente transmissíveis EXPLORAÇÃO SEXUAL) Aborto 5. AÇÃO DA POLÍCIA/JUSTIÇA (AÇÃO Batidas, blitz Inquéritos policiais DE REPRESSÃO A Prisões Processos judiciais Denúncias Atuação das ONG’s Eventos Ação do Legislativo Movimentos Ação da(s) Igreja(s) EXPLORAÇÃO SEXUAL) 6. AÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL 7. RELATOS DE MENINA(S) EXPLORADA(S) Individual Meninas de rua Suicídio Dependência Química (Drogas) Institucionalizadas Fonte: Contribuição de Lúcia Luís Pinto para a Oficina de Indicadores - Brasília dezembro/ 1997. 19 ABRAPIA. Campanha Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil. Período: fevereiro/97 a janeiro/99. 25 2. RESPOSTAS INSTITUCIONAIS: AÇÕES IMPLEMENTADAS PELO ESTADO, ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E AGÊNCIAS INTERNACIONAIS 2.1. CONCEITO E DEFINIÇÃO DE RESPOSTAS INSTITUCIONAIS As respostas institucionais para o combate à violência e exploração sexual comercial de crianças e de adolescentes constituem-se em uma experiência recente no Brasil. Podemos inferir que as respostas institucionais para o enfrentamento do fenômeno fundamentam-se em dois momentos interrelacionados: o primeiro diz respeito à institucionalização do paradigma de direitos, baseado nas normativas nacionais e internacionais; e o segundo diz respeito ao fortalecimento da política de garantia e defesa de direitos da criança/adolescente e da família, baseado em instrumentos jurídicos nacionais como o Estatuto da Criança e do Adolescente - 1989, Lei Orgânica da Assistência Social 1993, Lei de Diretrizes e Bases - 1996, a Constituição Brasileira de 1988, a Carta de Brasília e Internacionais (Declaração dos Direitos Humanos, a Agenda de Estocolmo, a Declaração de Beijing e outros). Para a garantia e defesa de direitos da criança e do adolescente cabe ao Estado, a família e a sociedade discutirem e trabalharem contra a violência sexual, não aceitando espaços onde ela seja praticada. Ao Estado, cabe ainda, punir os traficantes e intermediadores da exploração sexual de crianças e adolescentes, articular-se internacionalmente para a desmobilização das redes de exploração; a proteção e atendimento às pessoas vitimizadas. A inserção profissional e social é tarefa da sociedade, do Estado e das organizações não governamentais.20 Estrategicamente, o Estado de Direito constituído em 1988 tem por finalidade fortalecer o processo de representatividade do governo, através da parceria e cooperação da sociedade civil (organizações não governamentais, fóruns, movimentos sociais, associações, fundações etc.), ampliando a participação da sociedade no controle, fiscalização e execução das políticas sociais voltadas para a promoção e defesa de crianças e de adolescentes em situação de risco, com vistas à implantação da política de garantia e defesa de direitos. A política de promoção e defesa de direitos da criança e do adolescente, além de contemplar uma rede de serviços para atender as necessidades desta população, através de políticas sociais básicas, necessita estruturar um conjunto de ações preventivas, de atendimento e responsabilização. É importante ressaltar que se trata de uma política pública e não uma política de governo, rompendo a dualidade entre o público e o privado. (CECRIA 1996) A implementação da política de garantia e defesa de direitos, tem como eixos estratégicos a prevenção, atendimento e defesa (responsabilização), num contexto de articulação integral e intregada das ações governamentais e não governamentais (vide quadro a seguir). 20 Metodologia de Trabalho com Crianças e Adolescentes Vitimizados pela Exploração Sexual e Violência Intrafamiliar – CECRIA - 1997 26 Política de Garantia e Defesa de Direitos Eixos CONCEITO JURÍDICO ECA Lei 8.069 de 1990 DESCRIÇÃO Art. 70 – É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente. Entende-se como prevenção simplesmente garantir direitos a crianças e adolescentes, principalmente o direito a educação com qualidade, através da Qual toda e qualquer criança e adolescente possa se conhecer, conhecer o mundo, perceber-se como Dar visibilidade ao cidadão e atuar como tal. A prevenção não deve privilegiar fenômeno através públicos específicos sob o risco de tornar-se estigmatizante e de denúncias/ preconceituosa com as camadas populares, com as meninas mobilização/ Art. 3º- A criança negras, com homossexuais, com trabalhadores domésticos e capacitação/ Prevenção outros segmentos discriminados na sociedade. A educação pesquisa/ e o adolescente sexual, o desenvolvimento da auto-estima, o atendimento, enfim, publicações/ dos direitos básicos da população infato-juvenil é sempre válido, campanhas e gozam de todos não só na prevenção como no tratamento direto daqueles que se sensibilização da os direitos encontram em situação de exploração sexual. (HAZEU e sociedade, família FONSECA apud BULGARELLI, 1997) e instituições. fundamentais O acesso à educação com qualidade e atendimento médico/hospitalar, uma base financeira estável, espaços de lazer inerentes a e de informação, garantem, sem dúvida, uma diminuição do fluxo de crianças e adolescentes em direção à prostituição (HAZEU e pessoa humana, FONSECA, 1997). sem prejuízo da Art. 86 – A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações proteção integral governamentais e não governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e Municípios. de que trata esta A criança e o adolescente vítimas de violência ou exploração precisam de atenção especial: ao receber uma denúncia, precisaLei, assegurandose, imediatamente, verificar se a vítima necessita de tratamento se-lhes, por lei ou médico. Em seguida, o tratamento psicossocial contínuo por entidade especializada deve ser iniciado. Os dados do agressor por outros meios, precisam ser registrados para providenciar a responsabilização e tratamento psicossocial. todas as A intervenção e atendimento podem ser pensados em forma de sistema. (...) Este tipo de intervenção presume uma ação oportunidades e imediata, “retirando” a vítima da situação de exploração e facilidades, afim Inclusão da responsabilizando o agressor. Além deste sistema há de se criança e do pensar outras estratégias que visem uma intervenção junto às de lhes facultar o Atendimento crianças e adolescentes, sua família e os outros atores no adolescente na espaço de exploração e violência sexual, como fiscalização, arterede de serviços desenvolvimento pública e privada. educação, organização, etc. físico, mental, O sistema é composto por quatro momentos: a denúncia, a recepção da denúncia, a intervenção e o encaminhamento moral e espiritual posterior. Logo, precisamos diferenciar dois sujeitos diferentes, alvo da nossa intervenção: a vítima e o agressor. Muitas e social, em intervenções privilegiam só um dos sujeitos, o que, geralmente, tem um efeito contraprodutivo: repressão contra os agressores, condições de que recai sobre as vítimas; atendimento às vítimas, sem liberdade e responsabilizar o agressor, reforçando a cultura da impunidade, por exemplo. dignidade. Qualquer intervenção direta tem que considerar tanto a vítima quanto o agressor, o que significa que as intervenções sempre devem ser articulados: ação policial articulada com o Conselho Tutelar, trabalho de educação de rua articulado com a polícia militar e civil etc. (HAZEU e FONSECA, 1997) Responsabilizaçã o do violador, em Defesa Art. 98 – As medidas de proteção à criança e ao adolescente são face da lei e em (responsabi- aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nessa lei forem função de suas ameaçados ou violados. práticas ilegais e lização) proteção jurídico social da vítima. 27 Para estabelecer a garantia e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, violados sexualmente, faz-se necessário entender a relação entre explorado e explorador, as conseqüências dessa relação em termos de danos (físico, moral, psicológico e etc.), e em termos da violação dos direitos da criança e do adolescente. (vide quadro abaixo) A Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes Agressor (explorador) Redes de comercialização, família, usuário Sujeito Agredido (explorado) estupro, sedução, incesto, abuso Sexual, maustratos, negligência, escravidão A ação integrada em rede, dos atores públicos e privados, é fundamental para a desmobilização das redes de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, conforme demonstra o quadro abaixo. A rede de desmobilização da exploração sexual comercial No âmbito público e privado População/Instituições /Família DEAM's DCA's22 DPCA23 Denúncia 21 Encaminhamento Notificação ABRAPIA24 SOS–Criança CRAMI's25 Conselhos ONG's Encaminhamento Ministério Público Produto − Famílias − Abrigos provisórios − Programas e Projetos Sócio-Cultural − Profissionalização/Esporte e Lazer/Saúde e Educação − Outras alternativas Produto 21 DEAM's - Delegacias de Atendimento a Mulher DCA's - Delegacias da Criança e do Adolescente 23 DPCA – Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente 24 ABRAPIA- Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência. 25 CRAMI'S - Centro de Registro e Atenção aos Maus-Tratos na Infância 22 28 Garantia e Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes 2.2. OS DISCURSOS DAS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS 2.2.1. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA Com atribuição de coordenar nacionalmente a Política de Promoção e Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes, está o Departamento da Criança e do Adolescente– DCA comprometido, enquanto sua missão central, com o fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos voltado para esse segmento populacional. No que concerne a atenção à criança e ao adolescente com direitos ameaçados ou violados, com foco nas questões de abuso sexual intrafamiliar, exploração laboral e sexual, essa se expressa por meio do fomento e apoio às ações específicas de prevenção e combate, mediante a cooperação técnico-financeira com entidades e órgãos, a partir de linhas programáticas que envolvem a advocacia política e articulação de ações integradas, a sensibilização e mobilização social, o desenvolvimento de estudos/pesquisas e documentação, a formação continuada de multiplicadores de capacitação dos agentes operadores do sistema de garantias de direitos (Segurança Pública, Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Conselhos de Direitos e Tutelares, Entidades de Proteção Jurídico-Social), a implementação de sistemas de informação e banco de dados, e a viabilização de programas e serviços de atendimento. A ação do Departamento da Criança e do Adolescente se expressa por meio de três estratégias principais: o estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento de ações de alcance nacional e de interesse estratégico do Ministério da Justiça; o apoio às ações de prevenção e combate à exploração sexual comercial, priorizadas em âmbito das Unidades Federadas, constantes dos planos estaduais de promoção e defesa dos direitos da criança e do adolescente; a advocacia política e a articulação de planos específicos de ações integradas de combate à exploração sexual comercial, nas áreas críticas. 1. Ações de advocacia política e de articulação de planos específicos de ações integradas de combate à exploração sexual comercial, nas áreas críticas: − 1997, Pará, Amazonas, Pernambuco − 1998, Rio de Janeiro 2. Ações desenvolvidas em parceria com as unidades da federação, no período de 1996 a 1998, envolvendo organizações não-governamentais. (Vide relação das ações desenvolvidas páginas 38 a 43; vide quadro de projetos e programas, páginas 71 a 77) 2.2.2. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL/SECRETARIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL No Brasil, a política de Assistência Social é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Esse instrumento legal define a família como eixo estratégico. Em seu artigo 2º a proteção da família é um dos objetivos da Assistência Social; em seu artigo 4º o direito à convivência familiar é um dos princípios desta política; os artigos 20º e 22º definem que os benefícios a serem 29 concedidos dependem da renda familiar; e o artigo 23º afirma que os serviços de assistência, dentre outros, devem priorizar a infância. Nesta perspectiva a política de Assistência Social incorporou o conceito de cidadania como direito à vida, à satisfação das necessidades humanas, à inserção social e profissional, à informação, à vida familiar e comunitária e ao acesso às políticas sociais básicas. Ela não se limita apenas ao previsto na LOAS, mas perpassa outras políticas sociais e se constitui, entre outros, em um importante instrumento de articulação das ações especializadas no combate à exploração, abuso sexual e maus-tratos de crianças e adolescentes na família. Neste contexto, a ação do Governo para o enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, tem como eixo central a família, numa perspectiva de prevenção de situações sociais de risco, considerando sobretudo, que a instituição família passa hoje por um processo de mudança, tanto em sua identidade (tipos de famílias, grupos domésticos, estrutura), como em suas estratégias de sobrevivência (desemprego, trabalho precário, familiar, informal e outros), mudando suas bases psicológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas. Os aspectos considerados no trabalho com as famílias levam em conta a realidade econômica (o impacto das transformações capitalistas na estrutura e dinâmica familiares, tais como a tecnologia, o desemprego, o trabalho precário, o consumismo); cultural (a crise da identidade da família, papéis, representações, relações de gênero); sócio-políticas (relações de poder no interior da família, acesso aos direitos e políticas sociais, participação sócio-política de seus membros, convivência comunitária); psicossocial (as relações afetivas, de violência, solidariedade, apoio, proteção, comunicação, intimidade); jurídica (direitos e deveres previstos na legislação em relação a mulher, aos filhos, aos pais). Estas categorias têm permitido dimensionar a complexidade da relação entre família e exploração, abuso sexual e maus-tratos de crianças e adolescentes, e têm servido como referência para o planejamento e definição de políticas públicas de combate a estes problemas. Tendo como perspectiva a prevenção de situações sociais de risco, a política preventiva do MPAS/SAS constitui-se na conscientização e mobilização da sociedade em relação à proteção integral a que têm direito as crianças e adolescentes brasileiros (garantida na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente) e seu dever de "protetora". Está, ainda, articulada com o atendimento às vítimas e aos agressores, numa tentativa de acabar com a impunidade e com as redes de exploração sexual de jovens. O atendimento passa pela articulação de ações estratégicas e táticas repressivas, informadoras, capacitadoras e participativas. A intervenção em redes tem sido o eixo central da política de atendimento, considerando-se a formação e articulação de redes como um processo de convencimento, aproximação, interação, concertação, responsabilização e organização dos diferentes atores, governamentais e não governamentais, implicados em ações contra a violência física e sexual da qual são vítimas crianças e adolescentes. A intervenção em redes tem permitido, a convergência de ações integradas em cada uma e/ou em algumas das políticas sociais (Assistência Social, Saúde, Educação, Trabalho, 30 Cultura, Desporto e outras), e favorecido o fortalecimento da família em suas diferentes formas, como eixo das ações assistências preventivas e terapêuticas, com vistas à superação da problemática da violência física e sexual contra crianças e adolescentes. 2.2.3. VARA DE EXECUÇÕES CRIMINAIS26 Ao abordar-se a questão da responsabilização e punibilidade do abusador e explorador sexual de crianças e adolescentes, devemos considerar que, sob a ótica da Polícia Judiciária, nos permitimos, ante a prática de cinco (05) anos de existência da Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente - DPCA, Polícia Civil de Pernambuco, analisar o abuso, que define os crimes contra os costumes, para nós, crimes contra a pessoa ou mesmo contra a vida (estupros ou atentados contra o pudor de crianças com 03 meses ou mesmo de 01 a 10 anos). O Código Penal Brasileiro - 1940, nosso velho código, já estabelecia a diferença entre abuso e exploração por caracterizar-se, esta última, pelo comércio, onde há sempre alguém que obtém lucro ou vantagem pecuniária. Já no abuso, não há qualquer tipo de vantagem financeira a não ser o prazer mórbido do exercício do poder do macho sobre alguém indefeso. Caracterizam-se tais crimes como um problema METASSISTÊMICO, criando em alguns a falsa crença de que é possível encontrar soluções MONODISCIPLINARES, mas pela prática percebemos que há apenas um único caminho ou seja, encarar o problema como uma questão multidisciplinar, respeitando-se é lógico, a perícia, a capacidade e as responsabilidades de todos os profissionais, sem conivência com erros ou falhas técnicas, mas com a observância do caso como um todo, pois se um profissional falha, toda a equipe falhará, e só a vitima sofrerá as conseqüências. Embora haja uma grande mobilização nacional, apoiada pelo Ministério da Justiça, para responsabilização e punibilidade do ABUSADOR ou EXPLORADOR sexual de crianças e adolescentes, detecta-se que os resultados alcançados ainda não atendem aos números de identificados, por não haver, ainda, apesar de todas as campanhas, uma consciência coletiva no tocante ao reaparelhamento do Sistema de Segurança e Justiça, bem como da sociedade em detectá-las e denunciá-las. O Estado tem o dever de responsabilizá-los, instaurando o devido inquérito e o competente processo na justiça e para que tais providências sejam adotadas com maior envolvimento e compromisso, deve-se perseguir o objetivo da instalação em todos os Estados da União de Delegacias de Proteção a Crianças e Adolescentes, bem como de Varas Privativas de Crimes contra a Infância e Juventude, de outra forma é malhar em ferro frio. Na identificação de casos de abuso ou exploração sexual, policiais e técnicos devem ser sempre orientados para, ao tomarem conhecimento do caso (através de denúncias anônimas), queixa, representações ou ocorrências, não se deixarem envolver como parte, fluindo o emocional, assumindo o papel de julgador numa ação punitiva imediata, transformando o agressor em vítima. Procedimento Legal 26 Texto elaborado pela DELEGADA OLGA CÂMARA, Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente, Recife, PE. 31 No procedimento legal a ação policial nos casos de abuso onde estão envolvidos a família, quando por trás da violência doméstica, uma das vertentes é o abuso sexual, a equipe multidisciplinar da delegacia deve adotar uma postura profissional, de intervenção investigativa, nos lembrando sempre que o abusador, na maioria dos casos, é alguém com comportamento patológico e que além da intervenção policial que visa impedir a revitimização de crianças e/ou adolescentes abusados ou mesmo a vitimização de outras crianças que façam parte da família incestogênica, faz-se necessário um tratamento individual ou familiar, afastando-se, é lógico, o agressor. Nos casos de exploração sexual, o profissional, seja policial ou técnico (equipe multiprofissional) ao ouvir da criança ou adolescente a acusação, identificando "o" ou "os" explorador(es) não deve deixar-se levar pelo primeiro impulso de indignação, procurando de imediato, sem uma investigação apurada, responsabilizar o agressor direto (abusador ou explorador) e indiretos: familiares permissivos ou os proprietários de hotéis, motéis e congêneres, vez que toda ação policial mal planejada, mal executada poderá por a perder um brilhante trabalho, impossibilitando que os verdadeiros culpados sejam punidos, como por exemplo, desarticulação de uma rede, por querer-se resultados imediatos. O trabalho policial para a responsabilização de abusadores e, principalmente de exploradores, é como um jogo de xadrez, exige paciência, inteligência, competência e perspicácia. A abordagem ao explorador requer muita perícia porque normalmente são pessoas acima de qualquer suspeita, contam com uma rede de proteção que atua "ato imediato" a sua identificação. Aqui a investigação policial exige muito mais do profissional, vez que para a desarticulação do explorador e de toda a sua "quadrilha", que nunca age sozinho, vai do conhecimento total da situação, deixando o explorador sem nenhuma condição de burlar a ação da polícia e consequentemente cobrir-se com o manto da impunidade. 2.2.4. VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE27 O combate à exploração sexual de crianças e adolescentes exige que a sociedade e o poder público se utilizem de todos os meios possíveis para combater essa forma cruel e covarde de violência contra pessoas em desenvolvimento. Uma das fórmulas possíveis e que atende à política atual de substituição das penas privativas de liberdade por outras mais eficazes e ressocializantes é a de apenar os proprietários de estabelecimentos comerciais, onde notadamente existe maior tolerância ao mercado do sexo, assim como os agentes da prática de delitos de menores danos à pessoa, como: os delitos capitulados nos artigos 240 e 241 do ECA; os praticados por internautas ou através das redes informatizadas; os delitos administrativos capitulados na Lei nº 8069/90. Através da substituição das penas privativas de liberdade ou alternativamente às penas pecuniárias, por obrigação de reparar os danos, através da promoção de programas de desenvolvimento social, cultural e educativo das vítimas desses delitos, envolvendo crianças e/ou adolescentes. 27 SIRO DARLAN DE OLIVEIRA, Juiz da 1ª Vara da Infância e da Juventude, Rio de Janeiro/RJ. 32 A obrigação de financiar os estudos de uma criança ou adolescente vitimizada pela exploração sexual, através da promoção de programas de apoio às famílias das vítimas, como bolsas de alimentos, tratamento por alcoolismo ou drogadição também podem ser financiados por fundos cujas receitas sejam originárias de condenações de abusadores e violadores de crianças e adolescentes. A mola que impulsiona a exploração sexual de crianças e adolescentes é o lucro que se atinge com a comercialização do corpo dessas vítimas, e, muitas vezes o que impede que saiam desse processo de exploração é a necessidade de prover sua própria subsistência e/ ou de seus familiares. Quando houver possibilidade de promoção social da vítima e de sua família através de assistência social, psicológica e financeira ficará mais fácil seduzir essas pequenas vítimas para procedimentos de valorização de sua auto-estima, uma vez que não haverá perda financeira e sim uma substituição da fonte de renda, notando-se ainda que a pena a ser cumprida pelo infrator será mais eficaz para reparar o dano provocado e mais ressocializante para o violentador, que será obrigado a reparar o dano com uma boa ação. 2.2.5. AGÊNCIAS INTERNACIONAIS As Agências Internacionais que têm participado ativamente no combate à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes no Brasil apresentam um discurso centrado na noção dos direitos humanos, baseado nas normativas internacionais e nacionais voltadas para a defesa da criança e do adolescente, vitimas da violência sexual. O discurso estratégico dessas agências tem sido o de fortalecer as parcerias entre governos e sociedade civil, apoiando projetos e programas desenvolvidos por esses sujeitos, numa perspectiva de prevenção, atendimento e responsabilização. Cabe ressaltar a importância dessas Agências no processo de mobilização e sensibilização da opinião pública sobre a temática da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes e da visibilidade do tema, em nível nacional. Essas Agências têm priorizado projetos e programas nas áreas de capacitação e atendimento direto às crianças e aos adolescentes, vítimas da exploração sexual comercial e têm destinado poucos recursos para a área de pesquisas. Em linhas gerais, essas Agências têm fortalecido a articulação entre as organizações governamentais e não governamentais, na medida em que têm apoiado as ações em redes, como estratégias de enfrentamento, dessas instituições, em relação ao fenômeno da violência sexual. 2.2.6. INTERPOL A Divisão de Polícia Criminal Internacional, do Departamento de Polícia Federal, tem como prioridade a investigação, repressão e a prevenção de delitos cometidos contra o menor, através de uma rede de informações que combate à exploração sexual comercial, ao abuso sexual, à produção e difusão de pornografia e ao tráfico, envolvendo crianças e adolescentes. Tais delitos têm abrangência e repercussão transnacional e vêm, a cada dia, preocupando e mobilizando a comunidade internacional. 33 Essa rede tem permitido uma troca de informação, mais rápida e confiável, estendendo o alcance do trabalho a todo território nacional e tornando mais eficaz a interação com a Rede Internacional da Interpol. Este trabalho tem apurado inúmeros casos de crimes cometidos contra crianças e adolescentes, permitindo a incriminação dos responsáveis e sua punição, conforme quadro abaixo: Estatísticas dos dados referentes a atuação do DPCI no combate à difusão de Pornografia Infantil via Internet 28 Casos denunciados ............................................................................. Denúncias apuradas ............................................................................ Representações judiciais para interceptação de fluxo de comunicações telemáticas................................................................... Flagrantes ............................................................................................ Auto de infração .................................................................................. Pessoas indiciadas .............................................................................. Inquéritos instaurados ......................................................................... - Por auto de prisão em flagrante: ................. 02 - Por portaria: ................................................. 07 30 29 13 (todas deferidas) 02 01 05 09 O fortalecimento das redes de informação vem acontecendo através de encontros nacionais e internacionais, ampliando parcerias e acordos de cooperação técnica, política e financeira com organizações governamentais e não governamentais. 2.2.7. ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS O discurso das organizações não governamentais tem enfatizado as questões relativas à pobreza e sobretudo às questões das minorias (mulher, criança e adolescente) e tem contribuído para uma participação efetiva na implementação da Política de garantia e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, e na releitura da legislação para desmobilização da ação do agressor, do usuário e das redes de comercialização. Têm contribuído também para mobilização da sociedade e a formação da opinião pública, dando visibilidade ao fenômeno, o que tem propiciado a "quebra" do silêncio, estratégia da desmobilização da exploração de crianças e adolescentes na família, na rua, nas redes de comercialização e na mídia. 2.2.8. MÍDIA29 A exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes é um tema permanente na mídia brasileira, e foi, sem dúvida, o primeiro a ser investigado pelos jornalistas quando a infância e juventude passou a ocupar o centro do noticiário. O que ocorreu a partir do paradígma de direitos instituídos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, no Brasil, nos anos 90 e pelas denúncias da CPI do Extermínio de Meninos(as) (1995), CPI da Violência Contra Mulher (1992) e pela CPI da Prostituição Infanto-Juvenil em 1993. 28 Estimativa baseada nas informações constantes nesta DCPI – Divisão de Polícia Criminal Internacional e naquelas fornecidas pelas Representações Regionais /Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente/RS/RN/PR, março/1999. 29 Texto resultado de uma consulta feita pela ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância de abrangência nacional e internacional cujo objetivo é a pesquisa, mobilização e defesa de direitos da criança e do adolescente. 34 Há três anos a ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância desenvolveu a pesquisa "Infância e Mídia", publicação semestral (inicialmente trimestral), em parceria com o Instituto Ayrton Senna e o apoio do UNICEF, na qual a questão da violência sexual contra crianças e adolescentes é o principal foco da denúncia jornalística. A prática da violência sexual contra crianças e adolescentes: as campanhas de prevenção, o trabalho de entidades de proteção, pedofilia via internet, o aliciamento de meninos e meninas para prática da prostituição, foram alguns dos assuntos tratados ao longo das pesquisas (a primeira pesquisa foi editada em julho de 1996, referente ao trimestre abril junho/96). O jornalista Gilberto Dimenstein (Folha de S. Paulo) pode ser considerado o precursor da investigação sobre o tema e o resultado do seu trabalho jornalístico está no livro "Meninas da Noite", onde mostra a rede de prostituição infanto-juvenil no Norte do país. A prostituição de crianças e adolescentes, mantida por comerciantes e empresários na Amazônia brasileira, também gerou a série "Disneylândia do Sexo", desvendada pelo jornalista Amaury Ribeiro Júnior que teve o cuidado de retornar à região, tempos depois da denúncia, para verificar as providências que as autoridades da região haviam tomado na resolução do problema. A série deu vários prêmios ao seu autor, inclusive o prêmio "Esso Jornalismo", o mais significativo da imprensa brasileira. Dois eventos ajudaram a chamar, ainda mais, a atenção da mídia: "O Seminário Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Américas", realizado em Brasília (DF) pelo CECRIA, em abril de 1996, e o "Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes", em Estocolmo (Suécia), em agosto do mesmo ano. Na primeira Pesquisa ANDI, incentivada pelo Seminário, o assunto atingiu a primeira colocação entre os mais abordados. 14,92% das inserções de matérias e reportagens sobre crianças, naquele trimestre, trataram da exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Nas edições seguintes, o tema se manteve entre os 15 primeiros colocados, segundo a pesquisa referente ao primeiro trimestre de 1997. O outro fato deu impulso às reportagens: o lançamento da "Campanha Contra Turismo Sexual e Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes", organizado pela EMBRATUR, contando com o apoio de diversas entidades, inclusive da ANDI. Os discursos da organizações, acima citados, demonstram que estas instituições estão mobilizadas para a temática da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, no entanto, não apresentam programas e projetos articulados e sistematizados de forma a constituirem uma política especializada no enfrentamento do fenômeno em níveis federal, estadual e municipal. 35 2.3. ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS IMPLEMENTADAS PELO ESTADO PARA O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL 2.3.1. AÇÕES ESTRATÉGICAS DO PODER EXECUTIVO As estratégias de enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, no âmbito do Estado, são implementadas através do estabelecimento de uma política focal de combate a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes; da gestão descentralizada e em rede dos programas e projetos (fortalecimento da municipalização); do estabelecimento de parcerias e cooperação entre governos e organizações não governamentais e da definição orçamentária para apoio a projetos e programas. Neste contexto, coube ao Ministério da Justiça e ao CONANDA o monitoramento destas estratégias em nível institucional. A estratégia fundamental adotada pelos governos para realizar uma política descentralizada de combate à Exploração Sexual Comercial foi a de estabelecer parcerias com as ONG's para viabilização de projetos e programas, haja visto que basicamente as ações de enfrentamento são desenvolvidas no âmbito privado, porém público30. O enfrentamento da exploração sexual comercial, no Brasil, tem sido uma experiência exitosa em algumas regiões (Salvador, Recife, Natal, Belém, Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Brasília e outras). Esse enfrentamento por organismos públicos e privados se expressa como instrumento de mobilização política e de garantia de direitos, quando as instituições se articulam na sua localidade para traçar um programa comum de combate a exploração sexual, a exemplo do Programa Brasília Diz Não a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes - 1996. No âmbito geral, tem sido as organizações não governamentais que vêm apresentando maior número de experiências exitosas nas áreas de prevenção, atendimento e defesa de crianças e adolescentes, vítimas de violência sexual, no Brasil. A defesa tem sido desempenhada pelos Conselhos, Ministério Público e Justiça, com apoio concreto das organizações não governamentais. De acordo com o mapeamento31 de Programas e Projetos para o enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, realizado pelo CONANDA, nos municípios brasileiros, existem mais propostas de políticas públicas para o enfrentamento do fenômeno, do que propriamente projetos em execução. A prevenção (capacitação, mobilização, educação e campanhas) é uma das preocupações centrais das propostas de programas e projetos, seguida do atendimento (abrigos, profissionalização, esporte, lazer, cultura, e outros) e da defesa (responsabilização e repressão). No âmbito geral, o processo de mobilização e sensibilização do fenômeno, em nível nacional, tem se fortalecido pelas diversas manifestações da sociedade civil e governo via CPI’s e campanhas de prevenção do fenômeno. 30 31 Vide quadro, item c, págs. 64-66. Relatórios das Conferências Estaduais dos Direitos da Criança e do Adolescentes realizados em 27 estados brasileiros – CONANDA – 1997. 36 Ministério da Justiça Em 1996, a ação do Ministério da Justiça foi ampliada, Pós-Seminário contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Américas, promovido pelo CECRIA, em Brasília, e o Congresso de Estocolmo. Esta ampliação deu-se, fundamentalmente, em articulação com o CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), o qual propõe que a questão da exploração e abuso sexual seja uma prioridade de sua atuação, estimulando a discussão do problema no sistema de atenção integral à criança e ao adolescente previsto no ECA, envolvendo Estado, sociedade e família, conforme o documento “Proteção Jurídico-Social a Crianças e Adolescentes em Situações de Abuso e Exploração Sexual” - Departamento da Criança e do Adolescente - 1996. Nesta perspectiva, o Ministério da Justiça vem apoiando programas específicos, voltados para a questão da exploração sexual comercial, tanto em relação aos agressores como às vítimas, conforme atividades relacionadas, abaixo: Atividades desenvolvidas Pós -1996: Implantação/implementação dos Conselhos Tutelares e do SIPIA – Sistema de Informação para Infância e Adolescência (sistematização das notificações relativas às violações de direitos de crianças e adolescentes). Financiamento de projetos e programas para o enfrentamento da exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes nas áreas de prevenção e defesa, desenvolvidos pelas ONG's. Apoio ao lançamento da Campanha Nacional de Combate à Exploração Sexual InfantoJuvenil em parceria com a ABRAPIA e apoio às Campanhas realizadas em diferentes estados brasileiros. Implantação/implementação da Rede de Informações sobre Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes em parceria com o CECRIA e o UNICEF. PERÍODO 1996/1997 IEPAM – Instituto Estadual de Proteção à Criança e o Adolescente do Amazonas/AM: • Intervenção nas situações de violência e exploração sexual infanto-juvenil; Realização de Campanha educativa e de sensibilização social, permanente, sobre violência e exploração sexual, sob a responsabilidade do Conselho Estadual em parceria com os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente. • Mobilização Social pelos Direitos da Criança e do Adolescente. Prevê ações de Combate a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, com a realização de campanha de mobilização e sensibilização, preparação de material para a campanha e realização de um encontro regional; realização de uma Pesquisa em nível estadual sobre violência e exploração sexual infanto-juvenil. Fundação do Serviço Social/DF: • Apoio a unidade de proteção a crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual. FIA – Fundação para a Infância e Adolescência/RJ: 37 • Pesquisa/diagnóstico sobre as seis principais situações de violação de direitos da criança e do adolescente, nos dez maiores municípios do Estado, dentre elas a exploração sexual comercial. Secretaria de Estado de Justiça/AL: • Apoio ao Estudo Diagnóstico da Exploração Sexual em Maceió. • Apoio para efetividade de encontros e seminários no combate a exploração sexual infanto-juvenil. PROMOSUL – Fundação de Promoção Social de Mato Grosso do Sul/MS: • Apoio a pesquisa de Mapeamento da Situação de Exploração Sexual em Municípios de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e apoio a Campanha Contra Exploração Sexual Infanto-Juvenil. • Criação de uma central de denúncias pertinentes a exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes (Rede Ação); • Implementação do plano Estadual de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes, e das comissões municipais de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes em nove municípios; • Realização de Seminários de sensibilização dos setores de segurança, turismo e transporte; • Publicação de relatório do mapeamento sobre a exploração sexual em Mato Grosso do Sul; • Dia de mobilização para combate à exploração sexual infanto-juvenil, em parceria com Prefeitura, CMDCA, Conselhos Tutelares, CEDCA, ONG's, Sec. Estadual, Municipais e comunidade em geral. Tribunal de Justiça/AP: • Pesquisa sobre a Violência e a exploração sexual de crianças e adolescentes, com a finalidade de criar um banco de dados que concentre as informações sobre os focos de incidência a fim de subsidiar a elaboração de programas e projetos para o enfrentamento da questão. FUNDAC – Fundação da Criança e do Adolescente/RN: • Implantação do Programa de Atenção a Vítimas de Abuso e Exploração Sexual nos municípios de Natal e Mossoró. • Apoio a eventos de mobilização de opinião pública e campanha contra exploração sexual infanto-juvenil realizadas pela Secretaria de Segurança Pública; • Combate à violência e exploração comercial, envolvendo diversos órgãos do Executivo, Prefeitura e Centro de Defesa. FEBEM – Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor/RS: • Campanha pelo Fim da Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social/RO • Campanha educativa de combate ao trabalho infantil, à exploração sexual e maus tratos a crianças e adolescente. Procuradoria Geral de Justiça/SC. 38 • Pesquisa sobre exploração sexual de crianças e adolescentes. Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social/CE • Apoio a eventos de mobilização e sensibilização de opinião pública e Campanha contra Exploração Sexual com material de divulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente. • Apoio ao levantamento da situação de Exploração Sexual Infanto-Juvenil. • Implantação de um Banco de Dados sobre Violência e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes do Estado do Ceará. Fundação da Criança e do Adolescente do Estado/PB. • Pesquisa "Corpo e Mercadoria: Exploração Sexual de Meninas e Adolescentes em João Pessoa. Fundação da Criança, do Adolescente e da Integração do Deficiente do Estado/GO. • Realização de 10 (dez) cursos e 9 (nove) Seminários Regionais para Intervenção no quadro de Violência e Exploração Sexual Infanto-Juvenil e da Drogadição; • Apoio ao Fórum Estadual de combate à Exploração e Abuso Sexual. Período 1998 Procuradoria Geral de Justiça/CE. • Regionalização de dez Centros Operacionais/Promotorias da Infância e da juventude nos municípios de Sobral, Crato, Itapipoca, Cratéus, Baturité, Quixadá, Limoeiro do Norte, Iguatu, Aracati e São Benedito. Participação de 500 profissionais, no processo de capacitação, através de encontros. Os conteúdos incluem temas sobre a exploração laboral e sexual de crianças e adolescentes. IEPAM – Instituto Estadual de Proteção à Criança e o Adolescente do Amazonas/AM. • Mobilização Social pelos Direitos da Criança e do Adolescente, prevendo-se ações de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes; com a realização de campanhas e um encontro regional sobre o tema, e preparação de documento para a campanha. UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros/MG. • Pesquisa sobre a Prostituição Infanto-Juvenil no Norte de Minas Gerais e Vale do Jequitinhonha/Minas Gerais. FIA – Fundação para a Infância e Adolescência/RJ • Realização de Curso de Formação de Policiais Civis, Militares, Guarda Municipais e outros operadores do sistema de garantia de direitos, nas questões da exploração sexual de crianças e adolescente. Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania/MT • Mobilização e sensibilização contra ás situações de vitimização com campanha de combate a violência e exploração sexual. Procuradoria Geral de Justiça/PE. 39 • Apoio à realização de Seminário sobre estratégias para o Combate à Prostituição e Trabalho Infanto-Juvenil Promotorias de Justiça e Conselhos Municipais de Direitos (produto final: Anais do Seminário). Ações estratégicas de âmbito nacional • 1996/97 – Implementação de "rede nacional" de proteção júridico-social a crianças e adolescentes vitimados, envolvendo 35 (trinta e cinco) entidades de defesa, especialmente Centros de Defesa da Criança e do Adolescente (Projeto ADVOGA CRIANÇA – Associação Nacional dos Centros de Defesa – ANCED). • 1996/97/98 – Desenvolvimento, implantação e implementação do Sistema de Informações para a Infância e a Adolescência – SIPIA. Desse Sistema, o seu módulo 1 (para o monitoramento da violação dos direitos fundamentais da criança e do adolescente e o ressarcimento desses direitos por meio de programas e serviços), deverá estar com cobertura nacional até o final de 1999. • 1997/98 – Campanha Nacional de Combate à Exploração Sexual Comercial e implantação de programa de Recebimento de Denúncias, em âmbito nacional, sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes ("Disque Denúncia", em parceria com a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência – ABRAPIA). • 1997/98 – Implantação da Rede de Informações sobre Violência, Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes – RECRIA, por meio da Internet, em parceria com o Centro de Referência Estudos e Ações Sobre Crianças e Adolescentes – CECRIA. - 1996/97/98 – Produção de documentos em parceria com, o Centro de Referência, Estudos e Ações Sobre Crianças e Adolescentes – CECRIA. - 1996 – anais do Seminário contra Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Américas. - 1997 – Fundamentos e Políticas Contra a Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes. - 1998 – Políticas Públicas e Estratégias Contra a Exploração Sexual Comercial e o Abuso Sexual Intrafamiliar de Crianças e Adolescentes. - 1998 – Indicadores de Violência Intrafamiliar e Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes. Ministério da Previdência e Assistência Social Existem projetos específicos para o combate à exploração, abuso sexual e maus-tratos de crianças e adolescentes, através da erradicação do trabalho infantil e proteção às vítimas. O “Projeto de erradicação do trabalho infantil na área da assistência social para o ano de 1996 e 1997", da Secretaria de Assistência Social, destina apoio financeiro à família brasileira, preferencialmente, da área rural, vulnerabilizada com a pobreza, o que obriga seus filhos a se submeterem ao trabalho precoce. A Secretaria de Assistência tem apoiado as organizações governamentais e não governamentais, localizadas nos municípios brasileiros, 40 através da concessão da Bolsa de Desenvolvimento, cujo objetivo é recriar as condições materiais para a família prover suas necessidades básicas, assegurando condições mínimas para o regresso das crianças trabalhadoras à escola. O referido projeto é parte integrante do “Programa Brasil Criança Cidadã”, dessa Secretaria, iniciado em 1996, cuja primeira experiência deu-se nas carvoarias do Estado de Mato Grosso do Sul, em seguida estendendo sua ação à região sisaleira da Bahia e aos canaviais fluminense e pernambucano. Ainda no âmbito deste Ministério, em “Brasil Criança Cidadã - Fomento a Programas de Atenção à Criança de 7 a 14 anos”, de 1996, publicado pelo IEE - Instituto de Estudos Especiais - PUC/SP, a Secretaria de Assistência Social apoia e otimiza as redes locais de atenção à criança e ao adolescente entre 7 e 14 anos, no período complementar da escola. Busca somar esforços para garantir à criança e ao adolescente, vulnerabilizado pela pobreza, a permanência e o êxito escolar. Além disso, a Secretaria de Assistência Social apoia programas de atenção às crianças e aos adolescentes de 7 a 14 anos através de aportes técnicos e financeiros aos Conselhos e Governos Municipais. O Governo Federal, através do Ministério da Previdência e Assistência Social tem repassado recursos financeiros de acordo com as demandas e prioridades estabelecidas conjuntamente com os governos estaduais e municipais. O Ministério da Previdência e Assistência Social/Secretaria de Assistência Social implantou, em setembro de 1997, juntamente com o Governo do Amazonas o "Projeto Cunhantã e Curumin", que vem viabilizando, na prática, o seu discurso para a prevenção e combate à exploração sexual de crianças e adolescentes em 29 municípios daquele Estado, cuja meta é o atendimento de 10.000 crianças/adolescentes em situação social de risco. As estratégias desse Projeto têm sido o estabelecimento de parcerias (redes), a gestão descentralizada (municipalização) dos recursos financeiros e humanos e a multidisciplinaridade. Ministério do Trabalho No “Programa Nacional de Centros Públicos de Educação Profissional” da Secretaria de Formação e Desenvolvimento do Profissional - SEFOR, encontramos ações voltadas para capacitação profissional do adolescente. Esse Programa tem como metas: diversificar e ampliar a oferta de cursos em 50% das escolas técnicas existentes; investir na adequação do processo pedagógico de estágio em todas as unidades de ensino técnico identificadas como Centros Públicos de Educação Profissional; oferecer cursos de curta e média duração a 100 mil trabalhadores que não tiveram oportunidade de ingressar nas escolas profissionalizantes; implantar unidades produtivas em todas as escolas, oportunizando experiências de gestão do seu próprio negócio e/ou de trabalho associativo e cooperativo; encaminhar para o trabalho assalariado ou autônomo todos os egressos dos cursos. Ainda no Ministério do Trabalho, o “Programa Nacional de Formação Profissional para Jovens em Situação de Risco Total”, de 1996, vinculado à Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional – SEFOR, visa, até 1998 e em articulação entre Estado e 41 iniciativa privada: oferecer cursos de habilidades básicas, específicas e de gestão; apoiar financeiramente, em média, 200 instituições executoras/ano, pretendendo encaminhar para o Sistema Nacional de Emprego e para o Programa de Geração de Emprego e Renda os jovens e adolescentes qualificados. Esse programa tem um alvo específico: dar oportunidade de inserção econômica e social para adolescentes e jovens, entre 14 e 21 anos, e que vivem em situação de risco (pobreza crítica, carência de vínculos familiares, sem escolaridade de 1º e/ou 2º graus concluídos, sem acesso aos serviços de saúde e sem formação para o trabalho), oferecendo educação profissional e acesso ao mundo de trabalho. No Ministério do Trabalho é preciso destacar que a Educação Profissional também se estende ao campo, através do “Programa Nacional de Educação Profissional para Assentamentos e Comunidades Rurais”, para apoiar técnica e financeiramente instituições executoras de educação profissional rural em todos os estados com assentamento. Busca incrementar anualmente, em 15%, o número de matrículas oferecidas; oferecer 100 mil matrículas a trabalhadores rurais com idade acima dos 14 anos; atender 20% dos trabalhadores de assentamentos rurais dos Estados da região Norte, Nordeste e CentroOeste e 10% das demais, priorizando os que estão na fase de consolidação. Ministério da Saúde Destaca-se o “Programa de Saúde do Adolescente - PROSAD”, vinculado à Secretaria de Assistência à Saúde/Departamento de Assistência e Promoção/Coordenação MaternoInfantil que visa oferecer um atendimento especializado ao adolescente, abrangendo a população entre 10 e 19 anos, em especial: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento; desenvolvimento psicológico do adolescente; saúde mental; sexualidade na adolescência; planejamento familiar. Esse programa tem como objetivos divulgar e assegurar o cumprimento das normas propostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990). No que tange a violência doméstica, os artigos 13º, 47º e o 245º, estabelecem a obrigatoriedade do médico em comunicar casos suspeitos ou confirmados às autoridades competentes, e em especial ao Conselho Tutelar, cabendo ao setor saúde a prevenção e o atendimento médico e psicossocial. Tem com objetivo ainda, propor linhas de ação, nas áreas de ensino, pesquisa, assistência e extensão de serviços à comunidade que propiciem a prevenção e a atuação na área da violência doméstica contra a criança e o adolescente. São previstas as seguintes linhas de ação: 1) - ensino Considera-se que é estratégico o papel de 1º e 2º graus na prevenção e identificação dos casos, e que é obrigatória a notificação por parte dos profissionais de educação, nos casos envolvendo suspeita ou confirmação de maus-tratos (ECA, art. 245). Dessa forma, apontase a necessidade de se incluir, como conteúdo programático nos cursos de formação e reciclagem de professores, o tema da violência contra crianças e adolescentes, possibilitando enfrentar adequadamente o problema. 42 Ressalta-se a importância da inclusão do tema nos currículos escolares, viabilizando aos alunos a conscientização dos seus direitos, a prevenção e a identificação de situações de violência. 2) - pesquisa Tendo em vista que o ensino e a pesquisa estão indissociavelmente ligados e que os estudos na área da violência são acordo com os artigos que regulam a conduta dos profissionais de saúde. ainda pouco realizados, caberá à coordenação Materno-Infantil do Ministério da Saúde: - garantir como linha prioritária de investigação o tema da violência; possibilitar a formalização de um centro de documentação que constitua um acesso de publicações, pesquisas e outros trabalhos sobre o tema. 3) - assistência A atuação em casos de violência contra crianças e adolescentes envolve um trabalho multiprofissional dos níveis superior, médio e elementar (médico, enfermeira, psicólogo, assistente social, auxiliar de enfermagem, agente de saúde, entre outros) e inter-setorial devido à complexibilidade das situações. 4) - extensão dos serviços à comunidade Reconhece-se como prioridade a mobilização social em torno da defesa dos direitos da criança e do adolescente, em especial, no que se refere à violência. Por isso, recomenda-se: • a divulgação do problema nos meios de comunicação de massa; • realização de seminários sobre o tema junto aos vários setores da sociedade; • promoção de campanhas sistemáticas e seqüência sob orientação de especialistas no tema; • incentivos a lideranças comunitárias para a notificação e o acompanhamento dos casos identificados. Ministério da Educação Podemos caracterizar as propostas do Ministério da Educação como sendo diretrizes para a população jovem, em geral. Os principais documentos dizem respeito à orientação curricular. No texto “Parâmetros Curriculares Nacionais - Convívio Social e Ética-Pluralidade Cultural de 1996”, o MEC, através da Secretaria de Educação Fundamental, se propõe, por meio da escola, desenvolver um trabalho educativo voltado para a cidadania e a valorização cultural. Em “Parâmetros Curriculares Nacionais-Convívio Social e Ética-Saúde de 1995”, propõe a inclusão do tema “Educação para a Saúde” no currículo escolar, e que tem por objetivo desenvolver nos alunos a consciência do direito à saúde e o conhecimento de seus determinantes e capacitá-los para a utilização de medidas práticas de promoção, proteção e recuperação da saúde ao seu alcance. Considerando-se a questão da integridade e da dignidade do corpo em função dos direitos humanos. No documento “Parâmetros Curriculares Nacionais - Convívio Social e Ética de 1995”, o MEC visa incluir no currículo escolar o tema - “Ética”, - entendendo que é a ética que norteia e exige de todos e da escola e, educadores em particular, que proponham e desenvolvam iniciativas de superação do preconceito e da discriminação. A contribuição da escola na 43 construção da democracia significa promover os princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito mútuo, justiça e eqüidade, solidariedade e diálogo no cotidiano. O “Projeto Conscientização e Iniciação Escolar para o Turismo” do Departamento de Programas Nacionais do MEC, para ser aplicado em nível de 1º e 2º graus, na rede pública e privada tem como objetivo mostrar que o turismo traz benefícios a toda a comunidade quando realizado de modo profissional, além de ser acessível às camadas da população de baixa renda, e identificar os cuidados que a comunidade deve ter em relação ao seu produto turístico. Em 1996 o MEC introduziu nos currículos escolares a disciplina “Educação Sexual”. Ministério da Indústria e Comércio - EMBRATUR O projeto publicitário da EMBRATUR da campanha “Exploração do Turismo Sexual Infantil Cuidado o Brasil está de Olho” foi lançado no dia 05 de fevereiro de 1997, pelo Presidente da República. Essa campanha teve abrangência nacional e internacional. Contou com o apoio o Ministério da Justiça, INFRAERO, ANDI (Agência Nacional dos Direitos da Infância), ABAV (Associação Brasileira de Agentes de Viagem), ABIH (Associação Brasileira da Indústria Hoteleira) e teve como objetivo a mobilização, a sensibilização da sociedade brasileira e dos turistas estrangeiros contra o fenômeno no Brasil. Além da campanha, a EMBRATUR apoiou o CECRIA na implantação da RECRIA (Rede de Informações sobre Exploração Sexual e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes), em 1997. (anexo mapa) Legislação32 A base internacional de toda a legislação específica tem como referência os seguintes documentos: Declaração sobre os Direitos da Criança ratificada em 26/9/1923 em Genebra, Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU em 1948, Segunda Declaração Universal dos Direitos da Criança, aprovada em 1959, Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989, Declaração de Viena de 1993. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu plenas garantias do Estado de Direito, definindo proteção à família e estabeleceu que as crianças e adolescentes são sujeitos de direito (artigos 226 e 227). O ECA (Lei 8.069, de 13 de julho de 1990) detalha os direitos da criança e do adolescente como sujeitos de direitos, estabelecendo todo um sistema de garantia de seus direitos e de sua proteção integral e integrada. O ECA, define em seu artigo 263, algumas alterações no Código Penal (Lei nº 2.848 de 07/12/1940) nos casos de penas impostas aos crimes de estupro e atentado violento ao pudor, quando ofendido for menor de 14 anos. Posteriormente a Lei 8.072 (25/07/1990) definiu como crimes hediondos, entre outros, estupro e atentado violento ao pudor e alterou as penas impostas a estes crimes criando uma causa de aumento de pena, exasperando-a de metade quando praticado o crime contra menores de catorze anos de idade, conforme mostra o quadro abaixo elaborado pela Secretaria dos Direitos da Cidadania, que traz a legislação relativa à exploração, abuso sexual e maus-tratos de crianças e adolescentes. 32 Texto extraído dos livros: Fundamentos e Políticas contra a Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes, CECRIA, 1997. Indicadores de Violência Intrafamiliar e Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, CECRIA, 1998. A situação da Criança e do Adolescente no Congresso Nacional, INESC, 1998. 44 AGRESSOR T IPO PENAL CAPITULAÇÃO PENA Estupro Atentado violento ao pudor Posse sexual mediante fraude Sedução Corrupção de menores Rapto consensual Formas qualificadas aplicadas aos arts. 213 e 214 CP- art. 213, Lei 8072/90, art. 9° Presunção de violência CP- art. 224, “a” Atentado ao pudor mediante fraude CP- art. 216, § único CP- art. 214, Lei 8072/90, art. 9° CP- art. 215, § único CP- art. 217 CP- art. 218 CP- art. 220 CP- art. 223, § único EXPLORADOR T IPO PENAL CAPITULAÇÃO Mediação para servir à lascívia de outrem Favorecimento da prostituição Casa de Prostituição Rufianismo Tráfico de mulheres Produção de representação pornográfica, utilizando criança ou adolescente Fotografar ou publicar cena de sexo envolvendo criança ou adolescente PAIS OU RESPONSÁVEIS33 T IPO PENAL Maus-Tratos, opressão ou abuso sexual. Reclusão de 10 a 14 anos Reclusão de 10 a 14 anos Reclusão de 2 a 6 anos Reclusão de 2 a 4 anos Reclusão de 2 a 4 anos Detenção de 1 a 3 anos reclusão de 8 a 12 anos (resultando lesão corporal grave e 12 a 25 anos (resultando morte) presume-se a violência quando a vítima não é maior de 14 anos reclusão de 2 a 4 anos PENA CP- art. 227, 1 CP- art. 228,1 CP- art. 229 CP- art. 230,1 CP- art. 231,1 reclusão de 2 a 5 anos reclusão de 3 a 8 anos reclusão de 2 a 5 anos reclusão de 3 a 6 anos, além da multa reclusão de 4 a 10 anos ECA, art. 240 reclusão de 1 a 4 anos e multa ECA, art. 241 reclusão de 1 a 4 anos CAPITULAÇÃO ECA, art. 130 PENA Afastamento do agressor da moradia comum. Gráfico do Retorno das ações desenvolvidas pelos estados de São Paulo, Ceará, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Amapá após o encaminhamento das notificações pela ABRAPIA (dados relativos ao período de fev./97 a jan./99) 33 HAZEU, Marcel, FONSECA, Simone. Direitos Sexuais da Criança e do Adolescente: Leitura social e jurídica da violência e exploração sexual. 3ª ed. Belém: Salesiana, 1997. 45 Denúncias repassadas para os sete Estados acima referidos: 722 Retornos: 394 PROCESSOS Investigações avançadas / aguardando flagrante 2,28% Encaminhamento à Polícia Federal 1,02% Estabelecimento advertido pela presença de menores 3,81% Ainda sem retorno/encaminhados para outra delegacia 9,50% Adolescentes encaminhados ao Conselho Tutelar 0,5% Aguardando diligência 2,03% Prisões 4,57% Seguem em investigação 13,20% Dados inuficientes 2,03% Inquérito instaurado sem prisão em flagrante 9,64% Envolvidos não localizados 6,09% Casos na justiça por denúncia anterior à Campanha 2,54% Nada constatado 41,37% Endereço nexistente 5,08% Ainda falta retorno de cerca de 65% das denúncias, já foram contabilizados 44 aliciadores presos (dois inclusive já cumprem pena após julgamento – Pernambuco) e mais de 66 respondem processos a partir de Inquérito Instaurados.34 2.3.2. AÇÕES ESTRATÉGICAS DO LEGISLATIVO: CPI'S E PROJETOS DE LEI As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI's) realizadas no Brasil para investigar a prostituição infantil, foram instauradas pós-1993, sendo um marco no combate a exploração sexual no Brasil, pois foi a partir destas iniciativas e do fortalecimento das ações da sociedade civil e dos setores governamentais que esta temática foi inserida na agenda do governo. 34 Ibid. pág. 18. 46 - CPI da Prostituição Infanto-Juvenil (Câmara Federal) Brasília, 1993. - CPI da Prostituição Infantil – Norte de Minas Gerais, 1995. - Comissão Especial de Inquérito sobre a Prostituição Infanto-Juvenil do Município de Goiânia/GO, 1998. - CPI da Prostituição Infantil – Paraná. - CPI da Exploração Sexual, Prostituição, Abuso Sexual e Maus-Tratos de Crianças e Adolescentes no DF – Brasília, 1996. (Câmara Legislativa) CPI da Prostituição Infanto-Juvenil – Natal, 1995. Formação da Frente Parlamentar contra o Fim da Violência, Exploração de Turismo Sexual de Crianças e Adolescentes – 1996. (Câmara Federal) Tramitam na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR) – Sub-comissão de Matéria Penal -18 projetos de lei que apresentam propostas de reformulação ao Código Penal, relacionados com a violência sexual cometida contra crianças e adolescentes e 04 projetos de Lei que apresentam proposta de reformulação do Estatuto da Criança e do Adolescente nessa temática – INESC/1998 – Vide Anexo VIII 2.4. ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS IMPLEMENTADAS PELAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS PARA O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL As ONG’s que atuam na área da exploração sexual de crianças e adolescentes têm se articulado através de redes, como estratégia de mediação entre o universo do público não estatal e estatal. Redes de movimento, redes sociais e redes de solidariedade são 47 expressões vinculadas a estudos efetuados no campo dos movimentos sociais. Nesse caso, a rede corresponde as articulações/interações vinculadas às ações/movimentos reivindicatórios, visando a mobilização de recursos, intercâmbio de dados e experiências e a formulação de projetos e políticas. (LOIOLA, MOURA - 1996) As redes que compõem o movimento de combate à exploração sexual de crianças e adolescentes têm se baseado nas seguintes dimensões: Política - estabelecimento de correlação de forças; Educação - construção de conhecimento e competência histórica; Informação - mobilização através da sistematização de dados, experiências e denúncias; Parceria - cooperação autônoma e conflituosa para a reformulação e implantação de projetos e políticas públicas. As ações desenvolvidas para o enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes no Brasil têm se constituído em Redes que articulam as ONG’s, organismos governamentais e internacionais a partir de informações/denúncias, criando laços de solidariedade, de projetos políticos e culturais, compartilhados em identidades e valores coletivos. (LOIOLA, MOURA - 1996) Essas redes têm transformado o conteúdo de denúncias, em conteúdos propositivos, capazes de produzir insumos que contribuam na formulação das políticas públicas, voltadas para uma política de desenvolvimento de qualidade de vida, que articule medidas sociais e econômicas (ampliação de emprego, de inserção em programas de renda mínima, de seguro desemprego, de apoio às micro empresas informais, de profissionalização para o mercado de políticas de tributação fiscal, para obter orçamento que viabilize a implantação de políticas públicas, importantes na redistribuição de renda das famílias e das crianças e adolescentes). Vide mapeamento abaixo: 2.4.1. MAPEAMENTO DAS REDES REGIONAIS DE ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES NO BRASIL – AÇÕES DESENVOLVIDAS A característica da sociedade civil no contexto da luta pelo enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, nas regiões brasileiras, se manifestou através de um tecido social/político diversificados e multifacetado onde ONGs, fundações privadas, empresários, Conselhos, Centros de Pesquisas, Centros de Defesa de Crianças e Adolescentes se organizam em redes/comissões para estabelecer articulação e parceria 48 com os governos locais e municipais, com vistas a uma gestão descentralizada e participativa das políticas públicas locais. Esta estratégia de articulação da sociedade civil/governo acontece de forma diferenciada e particular de acordo com as regiões, tendo em vista o nível de mobilização, interesse político e correlação de forças da sociedade civil. REGIÃO NORTE Características (Exploração sexual nos garimpos, prostíbulos; portuária; cárcere privado (fazendas e garimpos); do fenômeno prostituição em estradas, ruas; leilões de virgens). Redes Conselhos, Organizações Não Governamentais, Delegacias, Secretarias (Assistência, Saúde, Educação e Segurança) Ações Desenvolvidas Acompanhamento da legislação - Capacitação da Polícia Civil – EMAÚS e Secretaria de Segurança - Desenvolvimento de pesquisa/denúncia das meninas exploradas sexualmente em garimpos– CEDECA/EMAÚS - Formação de redes – Projeto TXAI - Mapeamento do fenômeno em 08 municípios do Pará – EMAÚS - Prevenção/atendimento/responsabilização/mobilização – EMAÚS, GEMPAC, FUNPAPA, MNMMR, Delegacias - Publicações sobre o tema – EMAÚS ONGs - Casa Mamãe Margarida/AM - CDM – Centro de Defesa do Menor – Movimento República de Emaús/ PA - Centro de Defesa da Criança e do Adolescente / RO - Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular / AC - Comunidade São João Batista / TO - Estação Direito / AM - Estação Direito Assessoria de Consultoria / AM - Fórum DCA / RR - GEMPAC – Grupo de Mulheres Prostitutas da Área Central - MOPROM – Movimento de Promoção da Mulher / PA - Pastoral do Menor / AP Projetos e Programas Programa de Atendimento a Adolescentes Grávidas Projeto Ação Integrada de Atenção às Crianças e Adolescentes em Situação de Exploração Sexual Projeto Adolescer Pará Projeto Cunhantã e Curumim Projeto de Implantação de Serviços de Polícia Judiciária para Apuração de Crimes contra Crianças e Adolescentes - Projeto Educação de Rua - Projeto Escola Circo - Projeto Mulheres Meninas - Projeto TXAI – Rede Amazônica pelos Direitos da Criança e Adolescente em Situação de Exploração Sexual - REGIÃO NORDESTE Características (Turismo sexual, exploração Sexual comercial em prostíbulos, pornoturismo, prostituição de meninas e do fenômeno meninos de rua e prostituição nas estradas). Redes Conselhos, ONG's, Delegacias, Universidade, Projeto POMMAR/USAID, Secretarias (Assistência, Saúde, Criança e Adolescente, Educação e Segurança). Ações Desenvolvidas - Capacitação de profissionais que trabalham com a temática - Formação de redes e desenvolvimento de campanha sobre o tema - Instalação da CPI contra Exploração Infanto Juvenil – Câmara Legislativa/Natal 49 Instalação da CPI contra Exploração Infanto Juvenil – Câmara Legislativa/Fortaleza Instalação da CPI contra Exploração Infanto Juvenil – Câmara Legislativa/João Pessoa Instalação da CPI contra Exploração Infanto Juvenil – Câmara Legislativa/RN Prevenção/atendimento em casa abrigo de meninas exploradas e abusadas Sexualmente (metodologia), com destaque para Coletivo Mulher Vida, Casa de Passagem, Casa Renascer e outros. - Prevenção/atendimento na área de educação, saúde e assistência social – com destaque para Conselho Municipal Padre Marcos Passerini e o Ministério Público - Publicação de um Boletim da Campanha e textos sobre a temática - Publicação de um Boletim da Campanha e textos sobre a temática - Publicações sobre a temática e evento realizados - Realização de mapeamento sobre o fenômeno em 11 municípios do Maranhão - Secretaria executiva da Campanha Nacional pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes: Casa Renascer (até maio/98) - Secretaria Executiva do ECPAT/Brasil – CEDECA/BA - ONGs Projetos e Programas - AMCU – Associação dos Moradores do Campo/PE AMMV – Associação Maria Mãe da Vida/BA AMUNAN – Associação das Mulheres de Nazaré da Mata/PE Associação Curumins/CE Casa de Passagem/PE Casa Renascer/RN CCLF – Centro de Cultura Luiz Freire/PE CEDECA/MA – Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passarini CEDECA /AL– Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente – Zumbi dos Palmares CEDECA/BA – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente da Bahia/BA CEDECA/CE – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente de Fortaleza CENDHEC – Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social/PE Centro das Mulheres do Cabo/PE Centro de Estudos da Família/Fortaleza Centro Projeto Axé de Defesa e Proteção a Criança e ao Adolescente/BA CHAME – Centro Humanitário de apoio à Mulher/BA CM8 – Centro da Mulher 8 de Março/PB CMM – Casa Menina Mulher/PE CMV – Coletivo Mulher Vida/PE GAJOP – Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares/BA GAPA-BA – Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS/BA Instituto Bom Pastor/Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes Instituto Irmãs da Redenção/CE Lar São Domingos/AL MDF/PE – Movimento de Defesa dos Favelados e Áreas Carentes de Pernambuco/PE Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Salvador Sociedade Baiana de Pediatria Fundação Cidade Mãe-Prefeitura de Salvador Meninada, Geração de Emprego e Ação Comunitária/PB Pacto da Cidade de Fortaleza/ Polícia Especializada – DPCA/PE Programas é Pra Crescer, é Pra Morar, é Pra morar, é Pra Produzir, é Prá comer/PB Projeto Axé/Salvador/BA Projeto Casa Renascer-RN Projeto CEDECA/BA Projeto EDISCA-Fortaleza/CE Projeto Zabelê/PB Rede Estadual de combate ao abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes Uma Experiência de Saúde Mental Comunitária - Fortaleza/CE REGIÃO SUDESTE 50 Características (Exploração Sexual de Meninas(os) de rua e em prostíbulos/cárceres privados; pornoturismo; do Fenômeno prostituição nas estradas, pornografia na Internet) Redes Conselhos, Delegacias, Universidade, Secretarias (Assistência, Saúde, Educação e Segurança) e ONG’s Ações Desenvolvidas - Atendimento às crianças e adolescentes, vítimas de exploração sexual – Casa Meninas de Santos/SP - Atendimento às vítimas de abuso sexual – CEARAS/SP; Instituto SAPIENTAE/SP; CRAMI-ABC/SP; Núcleo de Violência /RJ; ABRAPIA/RJ, FIA/RJ - Coordenação da Campanha Nacional pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual de Crianças e Adolescente – Fundação Travessia/SP - Formação de comissões contra a violência doméstica – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – Belo Horizonte, Minas Gerais - Instalação da Frente Parlamentar Estadual Pelo Fim de Todo Tipo de Violência e Exploração Contra Crianças e Adolescentes - Prevenção/atendimento/defesa/sensibilização/mobilização/ mapeamento - Programas de Disque Denúncia: ABRAPIA-RJ; Conselho Estadual do Rio de Janeiro; SOS-SP; CRAMIS-ABC/SP (11); Delegacias (da Mulher e da Criança) - Publicações sobre o tema – FIA/RJ; ABRAPIA/RJ; LACRI/SP e outros - Realização de pesquisas e capacitação sobre o tema: CLAVES/ENSP/ FIOCRUZ – RJ e LACRI – USP/SP ONGs ABRAPIA – Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e a Adolescência/RJ ABRINQ – Fundação ABRINQ pelos Direitos da Criança/SP AMAS – Associação Municipal de Assistência Social/BHZ/MG AMENCAR/BHZ – Amparo ao Menor Carente – Regional II/MG AMEPPE – Associação Movimento de Educação Popular Integral Paulo Englert Vinculada à Fundação Fé e Alegria do Brasil/MG - CCPO – Centro Colaborativo de Pesquisa Odontológica/RJ - CDDCA – Centro de Defesa Dom Luciano Mendes/RJ - CEARAS – Centro de Estudo e Atendimento Relativos ao Abuso Sexual./SP - CEDECA/MG – Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente/MG - CEDECA-RIO PRETO/SP – Centro Regional de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente/SP. - CEPREV – Centro de Estudos de Prevenção da Violência/SP - CRAMI’s – Centro de Registro e Atenção aos Maus-Tratos na Infância/SP - CRAMI-CAMPINAS/SP – Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância/SP - Creche Ninho/MG - CRIA- Centro de Referência da Criança e do Adolescente/SP - ECOS – Estudos e Comunicação em Sexualidade e Reprodução Humana/SP - Ex-Cola – Centro de Estudos e Ações em Atenção à Infância e às Drogas/SP - Fundação Fé e Alegria do Brasil – Regional São Paulo/SP Projetos e Programas - - Disque-Denúncia ABRAPIA/RJ Disque-Denúncia/SOS – São Paulo Programa Niguelem Projeto Travessia/SP REGIÃO SUL Características (Exploração sexual comercial de menino(as) de rua/estradas; redes de narcotráfico; denúncia de tráfico do Fenômeno de criança; prostituição nas estradas) Redes: Conselhos, ONG’s, Delegacias, Universidade, Ministério Público e Secretarias (Assistência, Saúde, Educação e Segurança) Ações - Constituição do Fórum Catarinense Pelo Fim da Violência, Exploração E Turismo Sexual de Crianças Desenvolvidas: e Adolescentes - Notificação de violação de direitos – Conselhos - Prevenção/atendimento/defesa–Conselhos/Delegacias/Secretarias/Universidade - Realização da CPI sobre o tema na Câmara Legislativa do Paraná 51 - Realização da Jornada de Integração da Região Sul contra a Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes - Realização de pesquisa sobre abuso sexual – Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Realização de um fórum sobre o tema, envolvendo vários municípios do rio Grande do Sul, na Campanha, e definição de estratégias de combate ao fenômeno naqueles municípios - Sensibilização/mobilização/mapeamento – Campanha pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes/RS ONGs - AJURIS- Associação dos Juizes do Rio Grande do Sul/RS AMENCAR – Amparo ao Menor Carente/RS CEDCECA Bertholdo Weber – PROAME/RS COPCA- Centro Ocupacional para Crianças e Adolescentes/RS Projetos e Programas - Pastoral da Criança – Organismo de Ação Social da CNBB/PR Programa de Apoio a Meninos e Meninas/RS Projeto da Rua para a Escola Projeto de Atendimento à Vítima do Crime – CEVIC/SC Projeto Preparando para o Amanhã/SC Projetos Piá no Ofício Casa de Passagem para Crianças e Adolescentes/RS REGIÃO CENTRO-OESTE Características (Exploração Sexual comercial em prostíbulos / fronteiras / redes de narcotráfico; prostituição de meninos do Fenômeno (a) de rua; redes de prostituição (hotéis, etc.); prostituição através de anúncios de jornais; turismo sexual – ecológico e náutico) Redes Ações Desenvolvidas Conselhos, ONG’s, Delegacias, Universidade, Secretarias (Segurança, Assistência, Educação e Saúde) ONGs - ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância / DF - C.O.D.C.A. - MT – Centro de Organização e Defesa das Crianças e Adolescentes / MT - Capacitação de Profissionais – CECRIA/IBISS/ PROSOL/Fórum Goiano - Desenvolvimento de pesquisas sobre o fenômeno no Brasil “Exploração Sexual de Meninos e Meninas na América Latina e Caribe – Relatório - Brasil” – CECRIA/IIN-OEA - Formação da Comissão Interestadual para Enfrentamento do Fenômeno da Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes - Formação de Comissões Municipais de combate a exploração sexual nos estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás - Instalação da da CEI – Comissão Especial de Investigação sobre Exploração Sexual Infanto-Juvenil – Câmara Municipal de Goiânia - Mapeamento do fenômeno da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e na Região Metropolitana de Goiânia - Monitoramento da legislação sobre o tema – INESC - Monitoramento da temática na mídia – ANDI - Publicações sobre a temática – CECRIA/IBISS/ MNMMR-GO/INESC - Realização da CPI contra a Exploração Infanto-Juvenil – Câmara Federal - Realização da CPI contra a Exploração Infanto-Juvenil – Câmara Legislativa/DF - Realização de Campanhas Estaduais MS/MT/GO/DF - Realização de seminários em níveis nacional – “Exploração Sexual de Meninas e Adolescentes no Brasil – 1995” e internacional “ Seminário contra a Exploração de Crianças e Adolescentes nas Ámericas – 1996”– CECRIA / DF - Realização de workshops (conceitos/indicadores/metodologias/políticas sociais) CECRIA / DF - Realização do I Fórum Goiano Pelo fim da Violência, Exploração e Turismo sexual de crianças e adolescentes - Realização do l Seminário da Região Centro Oeste contra a Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes - Sensibilização/mobilização – CECRIA-DF/MNMMR – Nacional/Fórum Goiano pelo Fim da Exploração Sexual/IBISS-MS/INESC/ANDI 52 - Projetos e Programas CDDH – Centro de Defesa da Cidadania e dos Direitos Humanos Marçal de Souza Tupã / MS CECRIA – Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes / DF Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Tocantins / TO CFÊMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria / DF CIFICA – Centro de Integração e Formação Integral da Criança e Adolescente / MT Fórum Nacional DCA IBISS – Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social / MS INESC – Instituto de Estudos Sócio-Econômicos / DF MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua NATEX – Núcleo de Estudos e Atenção à Exclusão Social / DF Abrigo Cantinho do Girassol / DF Orientação Sexual Integrada aos programas de atendimento / GO Programas Direitos Humanos Vai as Escolas e Justiça Educacional / GO Programas Disque-Denúncias / SOSs Crianças / DF, MT, GO Projeto SIMININA/Prefeitura Municipal de Cuiabá / MT Projetos Escola Sem Drogas / GO Projetos do IBISS – Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde Social/MT Projetos da Secretaria Assistência Social e do Trabalho em Mato Grosso do Sul / MS RECRIA – Rede de Informações sobre Violência e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes – CECRIA/Ministério da Justiça/UNICEF - Sistema de Informação para Infância e Adolescência/Ministério da Justiça/DF/GO/MT/MS - Viver Sem Violência / GO - Nesta perspectiva, como trabalho de articulação em rede, destacamos a formação da Comissão de Combate a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes na Região Centro-Oeste35 A Comissão Interestadual de Combate a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Região Centro Oeste surge como uma resposta política e técnica, dos setores não governamentais e governamentais durante a realização do "I Seminário da Região CentroOeste sobre Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes", realizado em Campo Grande MS 1998. A região centro oeste tem se mobilizado através de campanhas de combate a exploração sexual de crianças e adolescentes em todos os seus Estados. Em Mato Grosso já são 19 municípios pólos trabalhando na campanha; em Mato Grosso do Sul 13 municípios já se envolveram na campanha, organizado em comissões locais. No estado de Goiás a campanha já abrange 10 municípios; e no Distrito Federal a campanha "Brasília Diz não a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes já está articulada nas administrações locais. A avaliação da Comissão Interestadual é de que, durante esse período a constituição de uma rede de articulação entre governo e sociedade civil na região centro-oeste, foi fundamental para os avanços conquistados, sobretudo com o engajamento dos Conselhos Tutelares locais e dos setores governamentais, para efetivar os procedimentos de denúncia 35 Texto extraído do histórico da Comissão Interestadual de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Região Centro Oeste – 1999. 53 sobre exploração sexual, criar programas de prevenção e manter constante a mobilização da sociedade em torno do fenômeno, conforme apresentado no quadro acima. Nesta perspectiva a Comissão Interestadual da Região Centro Oeste, se constitui como uma estratégia de fortalecimento da correlação de forças da sociedade civil ampliada, para o estabelecimento de um canal de comunicação com os governos estaduais, tendo os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente como locus privilegiado de negociação e interlocução, para assegurar programas de enfrentamento do fenômeno na ótica das políticas públicas e da cidadania. 2.4.2. PROJETOS E PROGRAMAS PARA O ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL DE MENINOS, MENINAS E ADOLESCENTES Embora existam outros projetos/programas, em andamento nas regiões, conforme já enfatizado anteriormente, consta nesta relação somente as informações recebidas durante a realização desta pesquisa. Nome do Projeto / Programa Pacto em Defesa da Criança e do Adolescente Descrição do O Pacto é uma parceria entre organizações governamentais e não-governamentais para a Projeto/Programa prevenção e combate à exploração sexual comercial de crianças e adolescentes Natureza da Organização Organizações governamentais e não-governamentais 54 Período 1995-1998 Localização/Abrangência Fortaleza/Ceará (Municipal) Articulação Atuação em rede Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Campanhas, capacitação, publicações (cartilhas, folder), encontros/seminários(Internacional Tribunal For Children's Rights) Casas-Abrigo (Instituto Irmãs da Redenção), Escola de Dança EDISCA. - Atuação junto às delegacias para a desmobilização das redes de exploração. - Encontro de capacitação para as policias civil e militar. - Disque-Denúncia. Recursos Humanos * _____ Recursos Financeiros * _____ Cobertura * _____ Fonte de Financiamento * _____ Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos * Recursos Financeiros * Cobertura * Fonte de Financiamento * Rede Estadual de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes É uma parceria política entre instituições e pessoas para a promoção, defesa e pesquisa de crianças e adolescentes em situação de risco. Organizações governamentais e não-governamentais 1997-1998 Recife/Pernambuco (Estadual) Atuação em rede articulada com os conselhos estadual, municipal e tutelares de defesa dos direitos de crianças e adolescentes Campanhas, capacitação, publicações (cartilhas, folders), pesquisas e formação de redes. Casas-Abrigo (Casa de Passagem e Coletivo Mulher Vida) - Criação da Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente da Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco. - Encontro de capacitação da polícia civil, Disque-Denúncia. _____ _____ _____ _____ * Dados não fornecidos. Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Brasília Diz Não à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes Programa de prevenção, atendimento e repressão à exploração sexual de crianças e adolescentes, através das políticas públicas desenvolvidas pelo governo do Distrito Federal Vinculado à Secretaria da Criança e Assistência Social do Distrito Federal (Governamental) 1996 – 1998 Brasília/Distrito Federal (Distrital) Atuação em rede através de parcerias com organizações não governamentais e conselhos. Campanhas, capacitação, publicações(cartilhas, folders, cartões e calendário), concurso "O Direito é Nosso" da Fundação Educacional do DF. Casa-Abrigo (Cantinho do Girassol) - Encontro de capacitação para policiais civis e militares- Desmobilização das redes de exploração através do fechamento de casas noturnas - Disque-Denúncia. Educadores / Assistentes Sociais / Pedagogos / Psicólogos / Advogados e outros. 55 Cobertura Fonte de Financiamento Alunos da rede oficial de ensino do DF. Ministério da Justiça / UNICEF Nome do Projeto / Programa Sistema de Informação e Proteção à Infância e Adolescência SIPIA Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Programa de monitoramento da violência contra crianças e adolescentes sendo os conselhos tutelares a fonte alimentora das notificações de violação de direitos. Ministério da Justiça / Governo Federal 1996 – 1999 Sede: Brasília/ Distrito Federal. Abrangência (nacional) Atuação articulada com os conselhos tutelares _____ _____ Notificação de violação e encaminhamento para investigação. _____ _____ Nacional Ministério da Justiça Nome do Projeto / Programa Projeto TXAI – Rede Amazônica pelos Direitos da Criança e Adolescente em situação de Exploração Sexual Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento É um grupo de trabalho interinstitucional com o objetivo de atuar na área da infância e adolescência, vítimas da violência e da exploração e abuso sexual. Organização não-governamental 1996 – 1998 Região Amazônica (Regional) Atuação em rede articulada com os conselhos estaduais, municipais e tutelares de defesa dos direitos de crianças e adolescentes Mapeamento da exploração sexual na região Amazônica, campanhas, publicações (cartilhas, livros), encontros/seminários, capacitação e formação de comissões Não desenvolve como TXAI Denúncia e acompanhamento jurídico Assistentes / Professores / Psicólogos / outros. UNICEF, Kinderen in de Knel _____ _____ * Dados não fornecidos. Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Fundação Cidade Mãe É um projeto de prevenção e atendimento às crianças e aos adolescentes de 07-18 anos que sobrevivem nas ruas ou que em suas comunidades não contam com equipamentos e serviços básicos. Prefeitura Municipal de Salvador 1995 – 1998 Salvador/ Bahia (Municipal) Em rede _____ 02 Casas-Abrigo: 01 para meninos e 01 para meninas. 06 empresas educativas que oferecem cursos e atividades de iniciação profissional, cultural e esportiva. _____ Professores / Psicólogos / Advogados / Pedagogos / Outros _____ 56 Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Atualmente atendem cerca de 2.500 crianças e adolescentes. _____ RECRIA – Rede de Informações sobre Violência, Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes È um sistema de informação, via internet, constituído de cadastros de organizações, pessoas físicas, publicações, campanhas, conceitos, programas/projetos/propostas de políticas sociais e SOS's. Organizações Governamentais/Não Governamentais/Agências Internacionais/Universidades 1997 – 1999 Sede: Brasília / Distrito Federal (Nacional) Ministério da Justiça/CECRIA/UNICEF - pesquisa, publicações, mapeamentos, sistematização de dados e subsídios para políticas públicas e organizações não governamentais _____ _____ Professor/Assistentes Sociais/Advogados/Psicólogos/Educadores _____ Nacional Ministério da Justiça e UNICEF Projeto SIMININA Parceria entre Secretaria de Bem-Estar Social, secretarias municipais, universidades e lideranças comunitárias para atuar com meninas de 07-14 anos em situação de risco. Governamental - Prefeitura Municipal de Cuiabá 01 ano Cuiabá/ Mato Grosso – Municipal Atuação em rede _____ Atendimento nas áreas de arte, educação, lazer e cultura visando o fortalecimento da autoestima e da cidadania. _____ _____ _____ _____ _____ Programas Disque-Denúncias /SOS's Crianças São programas especializados em notificação de casos de violação de direitos de crianças e adolescentes e o respectivo encaminhamento para as diferentes redes de serviços sociais. Esses programas permitem a quebra do silêncio, responsável pela perpetuação da violência contra crianças adolescentes. Organizações governamentais e não-governamentais _____ Rio de Janeiro (Disque-Denúncia nacional – ABRAPIA), Recife, Fortaleza, Salvador, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Curitiba, Natal Cuiabá, Campo Grande, Foz do Iguaçu e Goiânia. Atuação através da parceria entre organizações não governamentais, conselhos e delegacias. Notificação. _____ _____ _____ 57 Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento _____ Nacional Ministério da Justiça, outros. CASA RENASCER O projeto da Casa Renascer se constitui em atendimento a crianças e adolescentes do sexo feminino com idade de 7 a 18 anos em situação de risco pessoal e social, meninas submetidas ao abandono das ruas e/ou a exploração sexual. Organização não-governamental 1991 – 1998 Natal – RN (Municipal) Atuação articulada em rede (OG, Agências Internacionais e ONG's) - Campanhas ,capacitação, alfabetização, reforço escolar e iniciação a língua estrangeira, atividades de artes, cultura e esportes - Atendimento psicossocial - Profissionalização: de jovens (curso de informática, auxiliar de escritório, outros) e de jovens e família (fábrica-escola - tecelagem) - Serviços jurídico-social (vigilância sobre o poder legislativo sugerindo leis, em níveis estadual e municipal) - Atendimento jurídico (denúncia, encaminhamento e acompanhamento) Educadores, psicólogos, assistentes sociais, médicos e outros _____ 300 crianças e adolescentes Agências Internacionais e Governo. Nome do Projeto / Programa PROJETO EDISCA Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Utilizar a dança como instrumento de crescimento e de influencia na auto-estima de meninas e adolescentes em situação de risco. Não governamental _____ Fortaleza/CE (Municipal) Intervenção em rede Aulas de dança clássica e moderna e atividades de artes plásticas Atendimento psicológico. _____ Educadores, coreógrafo, psicólogo. _____ O Projeto atende 238 meninas da periferia de Fortaleza. Projeto POMMAR. Nome do Projeto / Programa POLÍCIA ESPECIALIZADA Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros A Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente é formada por dois departamentos: Deptº de Repressão a Crimes contra Crianças e Adolescentes e Deptº de Atos Infracionais Praticados por Adolescente. O atendimento funciona 24 horas. Quando chega à DPCA, seja como vítima ou infrator, a criança e ou o adolescente é imediatamente levada até a equipe técnica multidisciplinar. Governamental Recife/PE (Estadual) Articulação em rede com todos as Delegacias do Estado. Campanhas e capacitação _____ Notificação, encaminhamento e acompanhamento de processos. Psicólogos, Assistentes Sociais, Pedagogos, Advogados, Sociólogos, Relações Públicas e outros técnicos. _____ 58 Cobertura Fonte de Financiamento Estadual Governo Estadual, Ministério da Justiça, UNICEF, Projeto Pommar, outros Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de atendimento/ Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Repressão CUNHANTÃ E CURUMIN É um projeto que envolve a participação de entidades governamentais e não governamentais nas áreas de assistência social, saúde, trabalho, educação, cultura, desporto, cidadania e justiça para através de uma ação integrada atuar junto aos adolescentes em situação de risco social, dando ênfase à prevenção da exploração sexual infanto-juvenil. Ministério da Previdência e Assistência Social/Secretaria de Assistência Social Setembro de 1997 a Junho de 1999 29 municípios do Estado do Amazonas Em rede, através de parcerias entre OG's e ONG's, univ., rede de hotelaria, conselhos municipais e estaduais de assistência social e dos direitos da criança e do adolescente. _____ Jovens: desenv. De atividades artísticas e culturais; acomp. e apoio às atividades escolares; palestras; desenv. atividades esportivas e profissionalizantes; enc. Médico (promoção saúde) Famílias: cursos profissionalizantes e atividades geradoras de renda; orientação para acompanhamento das crianças e adolescentes em todas as fases do projeto. _____ Profs. secretarias de saúde, educação, segurança, conselhos e Assistência Social e outros. R$ 1.250.000,00 (Setembro de 1997 a Setembro de 1998) R$ 1.500.000,00 (Setembro de 1998 a Junho de 1999) 10.000 crianças e adolescentes em situação de risco em 29 municípios do Estado do AM. MPAS/SAS, UNICEF, secretarias de estado, prefeituras e outros UMA EXPERIÊNCIA DE SAÚDE MENTAL COMUNITÁRIA Projeto de terapia comunitária que visa o desenvolvimento da auto-estima e a geração de emprego e renda às famílias de baixa renda. Centro defesa da vida / ONG e centro de saúde mental comunitária Ignácio Martin Baró / OG 1998/1999 Favela do Pantanal, Fortaleza/CE Atuação em rede Organização de um curso de formação de terapeutas comunitários; realização de oficinas de relaxamento, respiração; musicoterapia e combate ao alcoolismo. Atendimento psicoterapêutico individual e terapia de massagem Não tem Terapeutas comunitários _____ 80 famílias de baixa renda da Favela do Pantanal, Fortaleza/CE. Terre des Hommes PROJETO CEDECA/BA Informar o público das atividades que foram realizadas após o recebimento de denúncias feitas sobre crimes cometidos contra crianças e adolescentes; analisar as dificuldades encontradas tanto pela polícias quanto pela justiça nos atrasos das resoluções dos casos; compilar indicadores qualitativos/quantitativos/definição do perfil das vítimas e dos agressores/tipos de crimes, sentenças e seus efeitos/benefícios. Centro de Defesa dos Diretos da Criança e do Adolescente da Bahia 1995 – 1999 Salvador/BA (Municipal) Articulação em rede Campanhas Capacitação Publicações Folder Notificação, encaminhamento e acompanhamento de processos. 59 Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento Nome do Projeto / Programa Descrição do Projeto/Programa Natureza da Organização Período Localização/Abrangência Articulação Atividades de Prevenção Atividades de Reabilitação Atividades de Repressão Recursos Humanos Recursos Financeiros Cobertura Fonte de Financiamento 2.5. Advogados / Psicólogos / Pedagogos / outros _____ Municipal Ministério da Justiça, UNICEF, Projeto POMMAR, outros. PROJETO AXÉ O Projeto Axé nasceu em 1990, é de educação para jovens excluídos. O eixo central é o processo de Educação de Rua, que estimula a saída das crianças e jovens do ambiente de risco para que ingressem em unidades educativas do Axé Não governamental 1990 – 1998 Região Metropolitana da cidade de Salvador Através da parceria entre organizações não governamentais, conselhos e delegacias. Orientação sobre prevenção de DST/AIDS Programas Projeto Axé: cursos de profissionalização; atendimento de meninos e meninas de rua explorados sexualmente; cursos sobre DST/AIDS; orientação às famílias para reintegração das crianças e adolescentes; levantamento de dados sobre abuso e exploração sexual. _____ Professores / Psicólogos / Pedagogos / outros _____ _____ _____ AÇÕES DE SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO PARA O ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA E EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL No âmbito da sociedade civil organizada, a articulação e a mobilização das organizações de âmbito nacional ou de referência nacional, possibilitaram um processo de comunicação e interação, que mesmo na informalidade, surtiu efeito em relação ao fortalecimento do poder da sociedade civil. Neste aspecto, podemos assinalar o papel das campanhas de combate a violência sexual de crianças e adolescentes e dos Conselhos, dos eventos, seminários, oficinas, publicações e pesquisas. Várias campanhas foram realizadas pelo governo e ONG’s, com destaque para a “Campanha Nacional pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes” (ONG’s e movimentos sociais), a “Campanha Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil” (Disque Denúncia), Ministério da Justiça/SNDH/DCA/ 60 ABRAPIA, e a Campanha de Combate ao Turismo Sexual Infantil, realizada pela EMBRATUR, em nível nacional e internacional. Podemos afirmar que, no Brasil, o processo de sensibilização e mobilização da sociedade, enquanto ação preventiva, teve nas campanhas seu locus de maior aproveitamento. Conforme (Mapa de Adesões - ANEXOS) da Campanha Nacional pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual Criança e Adolescente é possível verificar a dimensão política e geográfica das Campanhas, em níveis nacional, estadual e municipal, o que possibilitou a inserção do tema nas políticas sociais locais, para uma gestão descentralizada do fenômeno, e o fortalecimento das redes de atendimento/prevenção/defesa de crianças e adolescentes, em situação de risco ou exploradas sexualmente. A Campanha Nacional36 pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescente é resultado de uma estratégia de articulação dos movimentos sociais que teve como objetivo dar visibilidade ao fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil e inseri-lo na Agenda Política Governamental. Constituise em um exemplo de diversidade e pluralidade. Entidades participantes: Centros de Defesa da Criança e do Adolescente; Centros de Defesa dos Direitos Humanos; Comunicação Social; Conselhos dos Direitos da Criança e Adolescente; Conselhos Tutelares; Entidades Eclesiais; Entidades de Atendimento a Criança, Adolescente e Mulheres; Entidades de Assessoria; Governos no âmbito municipal e estadual; Juízes/Juizado; Movimentos e Fóruns de Mulheres; OAB - Subseções; Estudantes Universitários e Secundaristas; Parlamentares no âmbito federal, estadual e municipal; Pessoas Físicas; Profissionais Liberais; Associações; Promotores; Procuradores; Empresas da Área do Turismo; Universidades e Centros de Pesquisas.37 (vide Mapa de Adesões por Região – ANEXO 3) Em abril de 1996, o CECRIA realizou o "Seminário Contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nas Américas", em preparação ao "Congresso Mundial contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes", realizado em agosto, de 1996, em Estocolmo, o qual foi uma proposta da IV Conferência da Mulher, em Beijim, 1995. Na perspectiva de fortalecer a articulação entre Sociedade Civil, Governos, Organismos Internacionais o Seminário das Américas apresentou, através da Carta de Brasília, propostas concretas na linha de políticas públicas, legislação, mídia e pesquisa e sugeriu o fortalecimento da articulação nacional e internacional para o combate da exploração, abuso sexual e maus-tratos de crianças e adolescentes. A partir do Seminário das Américas foram realizados vários eventos com o intuito de sensibilizar e fortalecer a articulação nacional para o combate da exploração sexual de crianças e adolescentes, dos quais destacamos: - 36 Workshop sobre Assistência e Família para o Combate da Exploração Sexual e Maus-Tratos de Crianças e Adolescentes, O Papel da Assistência Social, CECRIA/MPAS/SAS, Brasília, dez/1996; A Campanha Nacional pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescente foi articulada em 1993, Pós CPI da Prostituição Infanto-Juvenil pelo CEBRAIOS/Casa Renascer - Secretaria Executiva. Atualmente a articulação nacional é representada pelas seguintes organizações: ABONG, MST, CÁRITAS, MNMMR, MNDH, INESC, SERPAJ, CUT, VISÃO MUNDIAL E FÓRUM DCA (Secretaria Executiva). 37 Trecho síntese do Documento nº 02 da Campanha Nacional Pelo Fim da Exploração, Violência e Turismo Sexual contra Crianças e Adolescentes - Pluralidade e Diversidade - Característica da Campanha Nacional, 1997. 61 - Encontro de Especialistas em Programas contra a Violência Sexual de Crianças e Adolescentes, POMMAR/PARTNES/USAID/UNICEF/CECRIA, Pirenópolis/GO, maio/1997; I Encontro do ECPAT/Brasil, CEDECA-BA, Salvador/BA, agosto/1997; - Oficina de Políticas Públicas e de Estratégias contra a Exploração Sexual Comercial e o Abuso Sexual Intrafamiliar de Crianças e Adolescentes, CECRIA/Minist. da Justiça, Brasília, out/1997; - Oficina de Indicadores de Violência Intrafamiliar e de Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, CECRIA, Brasília, dez/1997; - I Jornada de Integração da Região Sul contra o Tráfico e A Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, Porto Alegre/RS, dez/1997; - I Seminário da Região Centro Oeste contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes, Campo Grande/MS, maio/1998; - II Audiência do Tribunal Internacional dos Direitos da Criança: "Brasil: além da Prostituição Infantil e do Turismo Sexual", Fortaleza/CE, maio/1998; - Reunião de Intercâmbio de Experiências sobre Programas de Atendimento a Crianças e Adolescentes nos Países do MERCOSUL – MPAS/SAS, Rio de Janeiro/RJ, maio/1998; - Projeto de Promoção de Recursos Humanos em Prevenção de Situações de Violência com ênfase no Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes, Consulta Nacional, Brasil, BICE/CECRIA/ UNICEF, Brasília, set./1998. 2.6. A OPINIÃO PÚBLICA SOBRE O TEMA A opinião pública sobre violência sexual contra crianças e adolescentes se revela de forma heterogênea e contraditória no contexto da sociedade brasileira e o processo de construção de uma nova concepção sobre a temática, envolve valores éticos, morais, religiosos, sociais, culturais e civilizatórios. A opinião pública sobre o fenômeno da violência sexual é contraditória porque ora se apresenta de forma conservadora, responsabilizando duplamente a criança ou o adolescente, vítimas da condição de violência às quais foram submetidos, ora procura defender e garantir os seus direitos violados. A idéia, no imaginário popular, de fazer os sujeitos violados co-responsáveis em alguma medida, pela consecução de uma violência, transforma o violado co-partícipe do crime38. A desconstrução desta concepção, no contexto da opinião pública e do imaginário, requer estratégias que fortaleçam a superação das barreiras sociais, do preconceito, do estigma, da naturalização da violência, da impunidade e da desarticulação das oportunidades de ocorrência da violência sexual. Nesta direção, podemos apontar algumas estratégias da sociedade civil organizada e setores governamentais no sentido de implementar ações que sensibilizem e mobilizem a opinião pública para uma nova concepção sobre o fenômeno da violência sexual contra crianças e adolescentes. 38 Vide pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas da Mulher – NEPEM/UnB – sobre crimes sexuais – 1996. 62 As estratégias que levaram a opinião pública a debater a temática da exploração sexual de crianças e adolescentes, pós-1996, foram a ampla cobertura da mídia sobre o fenômeno, a mobilização e a sensibilização da sociedade civil e a "disponibilização" de programas e projetos de notificação de denúncias sobre violência sexual. Essas estratégias levaram a temática da exploração sexual para a agenda pública, possibilitando uma ampliação da discussão deste fenômeno, no contexto da sociedade em geral, permitindo uma pressão por parte de diferentes setores e um posicionamento das OG's, das ONG's, da própria imprensa e do público em geral, em relação a problemática. A mídia e as organizações governamentais e não governamentais tiveram um papel importantíssimo na construção da opinião pública, na medida em que o enfoque sensacionalista dos fatos denunciados sobre a exploração sexual foi sendo "substituído" pelo processo de sensibilização da sociedade, demandando atenção para a necessidade de: - defender e garantir os direitos da infância e da adolescência; reprimir as ações do agressor e das redes de exploração sexual comercial de crianças e adolescentes; - promover as famílias; - reduzir a miséria; - permitir uma maior visibilidade da temática (principalmente, através de dados quantitativos). A mídia, a sociedade organizada e setores governamentais vêm dando visibilidade ao fenômeno da violência sexual, no contexto da sociedade, mobilizando a opinião pública através de campanhas, seminários, congressos, eventos, oficinas, debates públicos e reportagens de conteúdo pedagógico. O resultado tem sido o aumento de denúncias de violência sexual nos programas de Disque-Denúncias no Brasil, a partir de 1997, possibilitando o processo de "rompimento" do silêncio, conforme dados fornecidos pela ABRAPIA. Ao mesmo tempo que a mídia tem facilitado a inserção desta temática no debate público, reconhecendo o direito da criança de não ser violada sexualmente, tem permitido também, a permanência de serviços sexuais envolvendo adolescentes nos anúncios de classificados, na publicidade, na erotização dos meios de comunicação (televisão), no mercado paralelo de vídeos pornográficos e na internet. O processo de formação da opinião pública sobre a temática da exploração sexual está em construção e necessita de sensibilização e de mobilização constante da sociedade e das instituições para não desmobilizar a opinião pública e evitar a banalização do fenômeno da violência sexual, no Brasil. A opinião pública tem expressado um certo grau de consciência em relação a existência do fenômeno, na sociedade brasileira, e, ainda que não tenha conhecimento real das políticas sociais e da legislação que promovem e defendem as crianças e adolescentes violadas, tem criticado as respostas institucionais, por serem frágeis, diante das redes de exploração sexual comercial existentes em níveis local, regional e global, e principalmente, tem criticado 63 a impunidade de casos, a exemplo da emasculação de crianças, em Cuiu Cuiu, denunciada em 1993. 2.7. A OPINIÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS As Agências Internacionais têm enfrentado a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes no Brasil, pós 1996, através de cooperação técnica e financeira a projetos e programas desenvolvidos, sobretudo, por ONG's em parceria com redes locais de combate ao fenômeno. Essas agências têm priorizado projetos e programas na linha preventiva, apoiando campanhas, mobilizações, seminários nacionais e internacionais, oficinas, capacitação e formação de redes, em nível nacional. Em relação ao atendimento direto às crianças e aos adolescentes, essas organizações têm apoiado ações na área de profissionalização e abrigos. Quanto às ações repressivas, a INTERPOL, via rede internacional de informação para investigação, repressão e prevenção de delitos cometidos contra crianças e adolescentes, tem se articulado com a segurança pública, centros de defesa e ONG's no Brasil, para a desmobilização das redes de exploração sexual e de pornografia. Nesta pesquisa foram contactadas dezessetes agências39 internacionais, sendo que somente oito estabelecem cooperação financeira a projetos de enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes. Para melhor visualizar o sistema de cooperação das agências internacionais aos projetos e programas sobre esta temática, em nível nacional, apresentamos o quadro a seguir: Agências de Cooperação Internacional Nome da Agência Estratégias Natureza Jurídica Área de Risco Apoio a Prevenção Apoio a Reabilitação Apoio a Repressão Apoio a Pesquisa Início Recursos Financeiros Organismos Executores Impacto Esperado 39 CIDA Bilateral Exploração Sexual Comercial , Abuso Sexual Apoio financeiro a instituições brasileiras que desenvolvem atendimento direto a crianças e adolescentes exploradas sexualmente Promoção/Defesa/Capacitação, (Projeto Axé: transformação de um ônibus para atendimento de crianças e adolescentes exploradas sexualmente) — — 1995 U$ 105.598,33 Cebraios, Casa de Passagem, Associação dos Conselheiros Tutelares de Belo Horizonte, Projeto Axé e MNMMR de Brasília — PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância; FNUAP – Fundo de população das Nações Unidas; OIT – Organização Internacional do Trabalho; FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação; UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura; OMS/OPAS – Organização Mundial da Saúde / Organização Pan-Americana da Saúde; UNIFEM – Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para os Refugiados; USAID – Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional; BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento; CIDA – Agência Canadense para o Desenvolvimento Internacional; OMT – Organização Mundial do Turismo; Banco Mundial / FMI – Fundo Monetário Internacional; INTERPOL – Divisão de Polícia Criminal Internacional; ECPAT – End Child Prostitution Child Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purposes – Visão Mundial. 64 UNICEF Nome da Agência Estratégias Natureza Jurídica Área de Risco Apoio a Prevenção Apoio a Reabilitação Apoio a Repressão Apoio a Pesquisa Início Recursos Financeiros Organismos Executores Impacto Esperado ONU Prostituição, Turismo, Pornografia; Tráfico Mobilização institucionais; capacitação de recursos humanos - Atendimento direto - Defesa e orientação às vítimas e famílias e capacitação de policiais Exploração e abuso sexual (áreas de saúde, educação, segurança, políticas sociais de lazer) 1993 U$ 500.000 ECPAT, CECRIA, Bureau Internacional dos Direitos da Criança, Interpol, Coletivo Mulher Vida, LACRI, Núcleo de Referência de Vítimas do Sede Sapientae CEDECA/BA, Terre des Homens, SIPIA, TXAI, Cidade Mãe, EDISCA,, AXÉ e Casa Renascer Algumas ONG's estão exportando metodologia. Os governos e agências estão interessados no assunto e as Redes estão se organizando. OPAS/OMS Nome da Agência ONU Área de Risco Prostituição, Turismo Sexual, Pornografia e Tráfico Estratégias Natureza Jurídica Apoio a Prevenção Campanhas; eventos; publicações e programas audiovisuais; diagnóstico da situação. Apoio a Reabilitação — Apoio a Repressão — Apoio a Pesquisa Início Promoção da saúde sobre o tema "violência intrafamiliar" 1998 Recursos Financeiros — Organismos Executores As demais agências das ONU Impacto Esperado A inclusão freqüente de novos parceiros Visão Mundial Nome da Agência ONG Área de Risco Exploração Sexual Comercial Estratégias Natureza Jurídica Apoio a Prevenção Campanhas; eventos; publicações. Apoio a Reabilitação — Apoio a Repressão — Apoio a Pesquisa Início Denúncia 1993 Recursos Financeiros — Organismos Executores Visão Mundial; ONG's Impacto Esperado Maior articulação entre as diversas organizações e maior pressão para alteração de políticas públicas. 65 USAID Nome da Agência Bilateral Área de Risco Exploração sexual comercial de crianças e adolescentes Estratégias Natureza Jurídica Apoio a Prevenção Capacitação; Mobilização; Campanhas; Eventos; Publicações; Formação de redes. Apoio a Reabilitação Atendimento direto Apoio a Repressão Defesa; Orientação jurídica; Denúncia. Apoio a Pesquisa — Início 1995 Recursos Financeiros U$ 1.000.000 Organismos Executores USAID/ Projeto POMMAR/ ONG's Impacto Esperado Estímulos às parcerias; Novas metodologias; Ampliação de atendimento jurídico; Estabelecimento de rede e assistência técnica OIT Nome da Agência Natureza Jurídica Estratégias Área de Risco ONU Pedofilia; exploração sexual comercial Apoio a Prevenção Pesquisa; capacitação; promoção e defesa; campanhas; eventos Apoio a Reabilitação Educação; assistência; políticas sociais. Apoio a Repressão Publicações; denúncias. Apoio a Pesquisa — Início 1994 Recursos Financeiros U$ 162.653,00 Organismos Executores CEDECA/BA, PROSOL/Mato Grosso, CNI (SESI e SENAI) Delegacias Regionais da Bahia e de Pernambuco Impacto Esperado Adesão total aos princípios norteadores do programa IPEC; construção de planos e programas de erradicação do trabalho infantil; políticas públicas e sociais. DCPI / INTERPOL Nome da Agência Natureza Jurídica Multilateral Área de Risco Prostituição, turismo sexual, pornografia e tráfico Estratégias Apoio a Prevenção Apoio a Reabilitação Apoio a Repressão Apoio a Pesquisa Realização de eventos; capacitação de recursos humanos; parceria com o INC – Instituto Nacional de Criminalística do DPF na investigação de casos envolvendo difusão de pornografia infantil, troca de informações em nível nacional e internacional; a participação em um grupo de trabalho internacional, exclusivamente voltado para o tratamento de questões envolvendo crianças e adolescentes, que se reúne duas vezes por ano e mantém contato permanente através da rede de computadores da Interpol; há formação/especialização de policiais para o trabalho com estas questões; cooperação com outros órgãos de segurança pública e com ONG's. Criação de um grupo de trabalho destinado exclusivamente ao tratamento de informações e ao planejamento e execução de operações de caráter internacional voltadas para investigação, repressão e prevenção de delitos cometidos contra o menor, com enfoque no tráfico de menores e na difusão, inclusive via internet, de pornografia infantil, o que além de constituir um registro do abuso sexual, tem se apresentado como mais uma forma de exploração sexual. Resolução de crimes sexuais. — 66 Início 1996 — Recursos Financeiros Organismos Executores Impacto Esperado Polícia Civil e Militar; CEDECA/BA; SICREDE; DPC/PR; ABRAPIA; ECPAT Reunir informação e produzir conhecimento de relevante interesse para a questão da proteção do menor; crescimento e fortalecimento da cooperação policial, tanto em nível nacional como internacional. Inúmeros casos de crimes cometidos contra menores têm sido apurados, permitindo a incriminação dos responsáveis e sua punição. ECPAT Nome da Agência Natureza Jurídica Estratégias Área de Risco Apoio a Prevenção ONG Exploração Sexual Comercial e Pornografia Formação de redes; campanhas; eventos; mobilização; publicação. Apoio a Reabilitação Apoio a Repressão — Defesa; orientação jurídica; denúncia Apoio a Pesquisa Início — 1993 Recursos Financeiros — Organismos Executores ECPAT e ONG's Impacto Esperado Fortalecimento de redes nacionais para o enfrentamento da exploração sexual comercial e pornografia de crianças e adolescentes. O ECPAT40 – End Child Prostitution, Children Pornography and Trafficking of Children For Sexual Purposes - se define como um grupo de pessoas que se indignaram com a exploração sexual e comercial de crianças e resolveram lançar uma campanha global para combater o problema, cuja maior incidência ocorre em países da Ásia e na América Latina. O movimento, originado na Tailândia, tornou-se uma organização não governamental internacional com representações em mais de 40 países. O principal objetivo do ECPAT é erradicar a exploração sexual de crianças e adolescentes, em todas as suas manifestações, através da articulação e mobilização do maior número possível de pessoas, organizações e governos, estimulando o desenvolvimento de ações nacionais. O Congresso Mundial de Estocolmo realizado pelo ECPAT em 1996, representa um marco na luta contra a exploração sexual de crianças tendo reunido 122 países que se comprometeram em cumprir a Agenda para Ação extraída do Encontro. O ECPAT chegou ao Brasil em 1995, quando a então Secretária Executiva, Amihan Abueva, percorreu sete estados buscando identificar ações de prevenção e combate à exploração sexual de crianças e adolescentes. O Brasil estava em pleno processo de mobilização para o enfrentamento da questão, várias Campanhas estavam sendo lançadas, a exemplo da Campanha Nacional contra a Exploração Sexual Infanto-Juvenil/CDECA-Ba e a Campanha Nacional pelo Fim da Violência, Exploração e Turismo Sexual de Crianças e Adolescentes/Casa RenascerMovimentos Sociais e diversos encontros, eventos e seminários sobre a temática. 40 Resumo do texto elaborado pela Secretaria Executiva do ECPAT-Brasil/CEDECA-BA, Hélia Barbosa e Eleonora Ramos – 1999. 67 Iniciou-se então uma parceria que se consolidou em agosto de 1997 com a realização em Salvador, do I Encontro do ECPAT no Brasil superando as dificuldades iniciais decorrentes da fragilidade da articulação entre as instituições, fortalecendo a mobilização nacional. Neste I Encontro decidiu-se pela a criação de grupos de mobilização regionais (Região Norte – Movimento República de Emaús/Belém, Região Nordeste – Rede Estadual de Combate à Exploração e Abuso Sexual de Crianças e Adolescentes/PE e Pacto da Cidade de Fortaleza/CE; Regiões Centro-Oeste/Sul/Sudeste – Campanha Nacional Pelo Fim da Violência, Exploração e Turismo Sexual de Crianças e Adolescentes), com o apoio de instituições de âmbito nacional (INESC-Assessoria Parlamentar, CECRIA/CEDECA/BA/ABRAPIA-Banco de Dados; ANDI-Acompanhamento da mídia, INTERPOL-Responsabilização e elegeu-se o CEDECA/BA como Secretaria Executiva do ECPAT/Brasil. No ano seguinte, em dezembro de 1988, o CEDECA/BA realizou o II Encontro Nacional do ECPAT/Brasil que reuniu mais de 60 organizações governamentais e não governamentais, representantes do Poder Judiciário e das polícias, agentes financiadores nacionais e internacionais e o Ministério da Justiça. Esse segundo encontro, tentou, ainda estabelecer uma articulação mais eficaz entre os parceiros do Brasil, utilizou uma metodologia que permitiu traçar amplo perfil do trabalho de prevenção e combate ao abuso e exploração de crianças e adolescentes. Contou com a participação de especialistas e instituições que atuam na área e de informações enviadas acerca das ações que vêm desenvolvendo. A partir das deliberações do II Encontro Nacional, o ECPAT-Brasil ficou assim constituído: • Região Norte: coordenada pelo Movimento República de Emaús (Belém) • Região Nordeste(Maranhão, Piauí, Ceará): coordenada pelo CEDECA/Ceará • Região Nordeste (Paraíba, Pernambuco, Rio Grande. do Norte): coordenada pela Rede Estadual de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil de Pernambuco • Região Nordeste (Bahia, Alagoas e Sergipe):coordenada pelo Centro de Apoio à Promotoria da Infância e Juventude de Alagoas • Região Sudeste coordenada pela ABRAPIA (Rio de Janeiro),Visão Mundial (Belo Horizonte)e CRAMI (São Paulo) • Região Centro-Oeste: coordenada pelo Fórum DCA/Nacional (Brasília) • Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul): coordenada pelo Centro de Apoio à Promotoria de Santa Catarina O Encontro aprovou em plenária a criação de um Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual, a ser comemorado todos os anos no dia 18 de maio, projeto em tramitação no Congresso Nacional, com apoio do Ministério da Justiça/Departamento da Criança e do Adolescente, que tem por objetivo sensibilizar a sociedade e chamar a atenção da mídia para a questão das violências sexuais e da impunidade que caracterizam esses crimes. 68 O grande número de ações de prevenção e combate à exploração sexual desenvolvidas em território brasileiro, o caráter pioneiro de muitas delas e a parceria com órgãos oficiais fazem de nosso país um dos colaboradores mais ativos do ECPAT Por esse motivo tem sido convidado para participar de todos os eventos promovidos pelo ECPAT Internacional, levando experiências bem sucedidas para serem socializadas com outros países, como foi o caso do recente Encontro de El Salvador, que reuniu o ECPAT América Latina e Caribe, onde participaram além de representantes da Secretaria ExecutivaECPAT-Brasil, representantes do Coletivo Mulher Vida e do Fórum-DCA. A partir dos encontros do ECPAT, os grupos regionais, têm desenvolvido ações de enfrentamento do fenômeno da exploração sexual de crianças e de adolescentes mobilizado-se através de redes, fóruns e comissões estaduais articulando governo e sociedade. No ano 2000, o ECPAT, tendo em vista a sua meta de estimular o protagonismo juvenil, no enfrentamento da exploração sexual infanto-juvenil, realizará o I Encontro Internacional de Jovens, para o qual estão convidados adolescentes brasileiros, alguns dos quais já participaram do Congresso de Estocolmo. 3. DIFICULDADES ENCONTRADAS PARA O ENFRENTAMENTO DO PROBLEMA Dar visibilidade ao fenômeno da exploração sexual comercial, no contexto brasileiro, tem sido uma tarefa complexa, em decorrência a fragilidade e da ausência de dados qualitativos/ quantitativos, em função do sistema precário de notificação, falta de sistematização das informações, de pesquisas em nível nacional, sobre a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes (pornografia/prostituição/tráfico e sexo turismo) e além disso falta de mapeamento das atividades econômicas onde se notificam tal fenômeno. Nas pesquisas/documentos/estudos realizados em algumas regiões do Brasil foi constatada a necessidade de construção de conceitos e indicadores: de desenvolvimento de experiências e metodologias para a compreensão do fenômeno, de capacitação dos profissionais e de subsídios para as políticas públicas. Como essa temática é recente na agenda do governo brasileiro, as políticas públicas não contemplam programas/projetos sistemáticos e específicos para esta área. As crianças/ adolescentes, submetidos a exploração sexual comercial, são atendidos pelas redes de serviços sociais, em nível geral, e são as ONG's que executam projetos e programas, articuladas com governos e agências internacionais. 69 As estratégias dos governos e ONG's para o enfrentamento do fenômeno têm como eixo o estabelecimento de parcerias para articulação de recursos, capacitação, pesquisa, mapeamento, metodologia e gestão local de programas/projetos. Entretanto, esse processo ainda está em fase de construção, sendo que o nível de mobilização para essas parcerias varia de acordo com a região e a realidade sócio/econômica/política e cultural. O enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, embora esteja na agenda política do Estado, não se constitue, ainda, em prioridade no contexto das políticas públicas. As respostas institucionais, apesar da mobilização e visibilidade do fenômeno no Brasil, não têm garantido o orçamento para implementação de programas/ projetos nesta área. Quem tem financiado a maioria dos projetos/programas, nessa área, são as agências internacionais, mesmo que de forma limitada, em parceria com as ONG's. O governo tem participado de algumas parcerias, só que não atende as demandas do fenômeno. As dificuldades apontadas pelas agências internacionais para o enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes são as seguintes: pouca articulação entre as organizações; falta destinação de recursos financeiros e políticas de enfrentamento; precária qualificação dos recursos humanos; e faltam dados confiáveis para melhor compreender o fenômeno. Para efetivamente ocorrer a implementação dos projetos/programas de prevenção/ reabilitação/responsabilização de crianças e adolescentes, faz-se necessário uma política de garantia e defesa de direitos, onde Estado e Sociedade compartilhem responsabilidades e cumpram as normativas nacionais e internacionais. Outra dificuldade apontada pelas organizações de repressão e responsabilização é a de materializar a prova do crime denunciado, já que a maioria das delegacias não tem recursos humanos suficientes e qualificados, e as testemunhas, na sua maioria, não contam com proteção policial, o que resulta na interrupção do inquérito. Atualmente existe uma demanda para os temas relacionados com a violência doméstica, intrafamiliar, extrafamiliar e abuso sexual, através das ONG's, OG's e Agências Internacionais para a realização de cursos de capacitação, encontros e seminários. A hipótese atual é que está havendo um refluxo da implantação da política e de recursos para o enfrentamento da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, em nível nacional. 70 4. RECOMENDAÇÕES41 – Construção de paradigmas valorativos, éticos e jurídicos, tendo como eixo central os direitos humanos e a política de proteção integral e integrada à criança e ao adolescente; – fortalecimento e avaliação das redes de enfrentamento da exploração e abuso sexual de crianças e adolescentes, em níveis federal, estadual e municipal, nas áreas de promoção e defesa, considerando as particularidades regionais, culturais, sociais e políticas; – mapeamento dos programas, projetos e ações em níveis governamental e não governamental para adequá-los às especificidades de uma política de enfrentamento da exploração e abuso sexual, de acordo com o ECA e as Normativas Internacionais; – capacitação dos profissionais que atuam nas redes de enfrentamento do fenômeno; – articulação das redes locais com as internacionais para a fiscalização do tráfico de crianças e adolescentes; 41 Texto das agendas regionais, elaboradas por ocasião das articulações e mobilizações da Campanha pelo Fim da Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, 1998; dos documentos produzidos pelo Governo e ONG's desde 1996 e das normativas internacionais. 71 – implantação e fortalecimento dos Conselhos de Direitos e Tutelares, para o monitoramento, controle e fiscalização da violação de direitos; – fortalecimento das redes de informações sobre violação de direitos de crianças e adolescentes, como o SIPIA, a REBIDIA, o Banco de Dados do CECRIA/RECRIA e a INTERPOL, articulando-as com o BICE e o Instituto Interamericano del Niño e outras instituições internacionais (NGO, ECPAT, outros); – redefinição de recursos para os projetos destinados ao combate da exploração sexual comercial de crianças e adolescentes, pelo Governo e Agências Internacionais, levando em consideração o corte orçamentário que vem sofrendo a área social no Brasil; – mapeamento das atividades econômicas que facilitam a inserção de crianças e adolescentes nas redes de exploração sexual comercial. 5. 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