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grande árvore muitas histórias maurício camargo panella GRECOM Grupo de Estudos da Complexidade Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Sociais Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Educação www.ufrn.br/grecom Coordenador da Coleção Metamorfose: Maria da Conceição de Almeida Editor Responsável: Iran Abreu Mendes Co-editor: Carlos Aldemir Farias Supervisão Editorial: Andréia Mousinho Conselho Editorial: Edgard de Assis Carvalho Elizeu Clementino de Souza Emilio Roger Ciurana João de Jesus Paes Loureiro José Willington Germano Juremir Machado da Silva Luiz Carvalho de Assunção Raul Domingo Mota Ubiratan D’Ambrosio Editora Flecha do Tempo E-mail:[email protected] grande árvore muitas histórias maurício camargo panella Copyright ©mauriciomuli, 2010 Pesquisa Maurício Camargo Panella Fotos e texto Maurício Muli Projeto Gráfico Muli / Zé Frota Capa Maurício Panella / Ed Soares Revisão de texto português M. Fernanda Cardoso Santos Revisão texto espanhol Eleonora Flores Ramírez Diagramação Zé Frota Impressão e acabamento Neoband Gráfica Catalogação da Publicação na Fonte, UFRN/ Biblioteca Setorial do CCSA Divisão de Serviços Técnicos Panella, Maurício Camargo: Grande Árvore, Muitas Histórias - Natal: Flecha do Tempo, 2010. 96 p. il: (Coleção Metamorfose, v.9) ISBN 978-85-906080-9-7 1. História. 2.Educação Intercultural. 3. Fotografia. 4. Arte. RN/BS/CCSA Todos os direitos desta edição são reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora e ou do autor. Para Lora e Ceição, Guardiãs de cantos, saberes e alegrias. Detrás da casa delas minha filha nasceu. No alpendre da casa delas este livro foi gerado. a todos os sábios e sábias, anciões que me convocam a ouvir, compartilhar e parir histórias. Apresentação Nosso lugar, nossas histórias Vivemos de uma herança muito especial. Essa herança é fruto de uma história muito longa que nos antecedeu no tempo: a história do universo que se desdobrou na história da matéria, que se desdobrou na história dos seres vivos, que se desdobrou na história da espécie humana e que, por fim, se desdobrou na nossa história pessoal – a mais singular de todas as histórias. Tudo o que somos hoje foi sendo construído ao longo de muitos e muitos anos. Desde que surgiram os primeiros homens e mulheres no planeta Terra nossa história foi sendo tecida, ampliada. Nada de duradouro nasce de um estalar de dedos, nem da noite para o dia. Quando cada um de nós nasceu muita coisa já havia acontecido, muitas experiências já haviam sido consolidadas. Uma mulher sentada diante de sua almofada, trocando bilros entre seus dedos, prendendo com alfinetes as linhas que são entrelaçadas é uma boa imagem para nos fazer compreender que nossa vida e nossa história foram tecidas aos poucos, com calma, arte, paciência e criatividade! Para responder aos desafios da vida e garantir nossa permanência na Terra, homens e mulheres de todos os tempos e de todos os lugares construíram conhecimentos que foram se transformando e chegaram até nós como uma dádiva, um presente. Nem sempre nos lembramos disso. Quase sempre esquecemos que o tempo presente é um presente que recebemos como lembra o educador indígena Daniel Munduruku. Esse presente, no entanto, não está pronto e acabado. Precisamos todo dia cuidar dele, remodelá-lo no que for necessário, mas também manter o que ele tem do perfume do passado para garantir nossas lembranças e cultivar a gratidão com tudo que foi construído antes de nós. Nenhuma cultura, nenhuma sociedade se edifica sem o alicerce, o solo e a argamassa do passado. O substrato de anterioridade na cultura é, entretanto, apenas uma das faces da questão, e podemos dizer que esse processo se encontra razoavelmente descrito nos livros de história, de antropologia, de ciências e de matemática. Mas, é necessário assinalar também as características de permanência e atualidade dos saberes e conhecimentos das populações que vivem distantes da cultura científica e dos progressos da ciência. Fortalecidos pela adequação estreita com o meio ecológico os conhecimentos repassados de forma oral e experimental, são responsáveis pela manutenção de centenas de grupos culturais espalhados pelos lugares ainda não cooptados pela lógica do sistema mercadológico que tudo nivela, padroniza. O conhecimento das qualidades medicinais dos animais, pelos habitantes da Sibéria; a ciência botânica utilizada por numerosas populações brasileiras para curar suas doenças; os métodos de medir volume e área que se distinguem da geometria euclidiana e permitem calcular extensão de terra e quantidade de água; a construção de artefatos e técnicas capazes de permitir a coleta de frutos em espaços de difícil acesso – como é o caso da coleta do açaí, na Amazônia, e do corte da palha da carnaúba, no Nordeste do Brasil – são algumas das referências que atestam a exuberância do pensamento criativo e a destreza de uma ciência perto da natureza, “uma ciência primeira”, como chama o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Os saberes da tradição são pois anteriores à ciência e permanecem como uma herança importante. Tal fato traz consigo duas conseqüências desejáveis: a) compreender sua anterioridade requer reconhecer a importância inestimável desses saberes para a consolidação da cultura contemporânea e, em particular, para a construção da ciência. Nesse sentido, não reconhecer a importância dos saberes da tradição, ou tomá-los como um saber menor é cuspir no próprio prato da aventura humana na Terra; b) compreender sua permanência é estar informado sobre inúmeras populações do planeta que operam a criatividade necessária para não sucumbir aos desafios vividos. Se é assim, cabe perguntar sobre as condições de manutenção dessas sabedorias ecológicas, ou mesmo, se é necessário e desejável a inclusão delas na correnteza perversa de um rio caudaloso, chamado globalização, hábil em transportar riqueza para o mar dos soberbos da civilização, e mestre em dispensar, nas suas extensas margens, os que vão cada vez mais se despossuindo dos bens da vida e dos valores ancestrais. A física e filósofa Vandana Shiva discute a perversidade que tem sido levada a efeito por uma civilização ocidental que se pauta no que ela chama de monocultura da mente. A redução da diversidade das culturas de subsistência, das técnicas de plantio e, sobretudo a biopirataria e pilhagem dos conhecimentos tradicionais fortalecem, cada vez mais, um mundo dividido entre poucos que têm em excesso e uma multidão que fica às margens dos bens materiais e espirituais da cultura. Reconhecer os saberes da tradição é mais que um artifício acadêmico ou um argumento de retórica. Trata-se de afirmá-los como conhecimento pertinente, aquele que está inserido em um contexto, conforme Edgar Morin. Trata-se, também, de uma atitude ética a ser definitivamente assumida por uma ciência aberta, capaz de dialogar com outras narrativas sobre o mundo, em direção a uma ecologia das idéias. Mas nem sempre o reconhecimento e o elogio desses saberes estão presentes na educação formal. Desde o ensino fundamental, passando pelo ensino médio, e chegando ao ensino universitário temos escutado e aprendido conhecimentos acumulados por uma cultura científica que vira as costas ou desclassificam sabedorias vivas que alimentam o dia-a-dia de tantas populações humanas espalhadas pelo nosso planeta. Voltemos a figura da rendeira. Ela pode confeccionar sua renda com fio um só? Com um só bilro? Claro que não! Assim é também com o conhecimento. O conhecimento que se torna sabedoria para bem viver se assemelha a uma renda que precisa de várias linhas, se possível linhas de muitas cores, desenhos diferentes. É a partir de várias sabedorias e compreensões do mundo que poderemos construir um conhecimento para a vida e não só para passar no vestibular! As escolas de qualquer nível precisam, além de transmitir o conteúdo das disciplinas, ensinar valores que formem um cidadão inteiro. O famoso físico Albert Einstein, no livro Como vejo o mundo expressa muito bem essa idéia. “Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. É necessário que adquira um sentimento, um senso prático daquilo que vale a pena ser empreendido, daquilo que é belo, do que é moralmente correto. A não ser assim, ele se assemelhará, com seus conhecimentos profissionais, mais a um cão ensinado do que a uma criatura harmoniosamente desenvolvida. Deve aprender a compreender as motivações dos homens, suas quimeras e suas angústias para determinar com exatidão seu lugar exato em relação a seus próximos e à comunidade”. Para compreender bem o nosso lugar em relação aos que nos são próximos temos que contar nossas histórias que são sempre histórias no plural e histórias do nosso lugar. Essas histórias precisam ‘comparecer’ às escolas; precisam ser compartilhadas com pessoas de outros lugares que as apreciem, respeitem e gostem delas. Esse livro conta as histórias dos moradores de Pirangi do Norte por meio de muitas imagens e poucas palavras. Olhando essas imagens, crianças e adolescentes poderão, nas escolas, se reconhecer como parte de uma história maior, que começou bem antes deles chegarem ao mundo. A depender da criatividade dos professores, esse livro pode ser usado como alimento e material de várias disciplinas. E, criatividade é o que não falta aos professores que exercem a honrosa missão de ensinar para viver bem num mundo com tanta incerteza. Os criadores da Coleção Metamorfose se sentem felizes por acolher esse livro porque sabem que, com o apoio da Fundação Parnamirim de Cultura, ele chegará as salas de aula. Para que esse livro fosse construído foi necessário o carinho e o respeito de Maurício Camargo Panella pelos moradores do litoral de Parnamirim. Mais do que isso, foi necessário Maurício se tornar uma mulher rendeira para tecer uma renda viva por meio de imagens e palavras que, para ele, são como bilros nas mãos de um paulista-potiguar. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro que precisa ser regado com a água da criatividade. Isso nas Escolas, mas também nos Alpendres das casas, nos Centros Comunitários, nas Quadras de Esporte e nas Praças do nosso lugar e do mundo afora. Maria da Conceição de Almeida Apresentación Nuestro lugar, nuestras histórias. Vivimos de una herencia muy especial. Esa herencia es fruto de una historia muy larga que nos antecedió en el tiempo: la historia del universo que se desdobló en la historia de la materia, que se desdobló en la historia de los seres vivos, que se desdobló en la historia de la especie humana y que, por fin, se desdobló en nuestra historia personal – la más singular de todas las historias. Todo lo que somos actualmente ha sido construido a lo largo de muchos y muchos años. Desde que surgieron los primeros hombres y mujeres en el planeta Tierra nuestra historia ha sido tejida, ampliada. Nada de duradero nace de un tronar de dedos, ni de la noche a la mañana. Cuando cada uno de nosotros nació muchas cosas ya habían ocurrido, muchas experiencias ya habían sido consolidadas. Una mujer sentada delante de su bastidor de tejer encaje de bolillos, jugando hilos entre sus dedos, prendiendo con alfileres las líneas que son entrelazadas es una perfecta imagen que nos hace comprender que nuestra vida y nuestra historia fueron tejidas poco a poco, ¡con calma, arte, paciencia y creatividad! Para responder a los desafíos de la vida y garantizar nuestra permanencia en la Tierra, hombres y mujeres de todos los tiempos y de todos los lugares construyeron conocimientos que se fueron transformando y llegaron hasta nosotros como una dádiva, un regalo. No siempre nos acordamos de esto. Casi siempre olvidamos que el tiempo presente es un presente que recibimos como nos hace recordar el educador indígena Daniel Munduruku. Sin embargo ese regalo no está todo hecho y acabado. Necesitamos cuidarlo todos los días, remodelarlo en lo que sea necesario, pero también mantener lo que él tiene del perfume del pasado para garantizar nuestros recuerdos y cultivar la gratitud con todo lo que fue construido antes de nosotros. Ninguna cultura, ninguna sociedad se edifica sin el cimiento, el suelo y la argamasa del pasado. El substrato de anterioridad en la cultura es, sin embargo, apenas una de las fases de la cuestión, y podemos decir que ese proceso se encuentra razonablemente descrito en los libros de historia, de antropología, de ciencias y de matemáticas. Pero, también es necesario señalar las características de permanencia y actualidad de los saberes y conocimientos de las poblaciones que viven distantes de la cultura científica y de los progresos de la ciencia. Fortalecidos por el acoplamiento estrecho con el medio ecológico los conocimientos pasados de forma oral y experimental son responsables del mantenimiento de centenas de grupos culturales distribuidos por los lugares aún no cooptados por la lógica del sistema mercadológico que todo nivela, padroniza. El conocimiento de las cualidades medicinales de los animales, por los habitantes de Siberia; la ciencia botánica utilizada por numerosas poblaciones brasileñas para curar sus enfermedades; los métodos de volumen y área que se distinguen de la geometría euclidiana y permiten calcular extensión de la tierra y cantidad de agua; la construcción de artefactos y técnicas capaces de permitir la colecta de frutos en espacios de difícil acceso –como es el caso de la coleta del fruto de açaí, en el Amazonas, y del corte de la paja de la palma de carnaúba, en el Noreste de Brasil– son algunas de las referencias que atestiguan la exuberancia del pensamiento creativo y la destreza de una ciencia cercana a la naturaleza, “una ciencia primera”, como la llama el antropólogo Claude Lévi-Strauss. Los saberes de la tradición son pues anteriores a la ciencia y permanecen como una herencia importante. Tal hecho trae consigo dos consecuencias deseables: a) comprender su anterioridad requiriere reconocer la importancia inestimable de esos saberes para la consolidación de la cultura contemporánea y, en particular, para la construcción de la ciencia. En ese sentido, no reconocer la importancia de los saberes de la tradición, o tomarlos como un saber menor es escupir en el proprio plato de la aventura humana en la Tierra; b) comprender su permanencia es estar informado sobre innumerables poblaciones del planeta que operan la creatividad necesaria para no sucumbir a los desafíos vividos. Si es así, cabe preguntarnos sobre las condiciones de mantenimiento de esas sabidurías ecológicas, o hasta si es necesario y deseable la inclusión de ellas en la corriente perversa de un río caudaloso, llamado globalización, hábil en transportar riqueza para el mar de los soberbios de la civilización, y maestro en dejar, en sus extensas márgenes, a los que cada vez más van siendo desposeídos de los bienes de la vida y de los valores ancestrales. La física y filósofa Vandana Shiva discute la perversidad que ha sido llevada a efecto por una civilización occidental que se basa en lo que ella llama monocultura de la mente. La reducción de la diversidad de las culturas de subsistencia, de las técnicas de plantío y, sobretodo la biopiratería y el saqueo de los conocimientos tradicionales fortalecen, cada vez más, un mundo dividido entre pocos que tienen en exceso y una multitud que queda a las márgenes de los bienes materiales y espirituales de la cultura. Reconocer los saberes de la tradición es más que un artificio académico o un argumento de retórica. Se trata de afirmarlo como conocimiento pertinente, aquél que está inserto en un contexto, según Edgar Morin. Se trata, también, de una actitud ética que debe ser (definitivamente) asumida por una ciencia abierta, capaz de dialogar con otras narrativas sobre el mundo, en dirección a una ecología de la ideas. Pero no siempre el reconocimiento y el elogio de esos saberes están presentes en la educación formal. Desde la primaria, pasando por la secundaria, y llegando a la enseñanza universitaria hemos venido escuchando y adquiriendo conocimientos acumulados por una cultura científica que da la espalda o menosprecia sabidurías vivas que alimentan el día-a-día de tantas poblaciones humanas distribuidas por nuestro planeta. Regresemos a la figura de la bordadora de encaje de bolillos. ¿Ella puede confeccionar su bordado con un solo hilo? Con uno solo bolillo? ¡Claro que no! Así pasa también con el conocimiento. El conocimiento que se vuelve sabiduría para vivir bien se asemeja a un bordado que necesita de varias líneas, si es posible líneas de muchos colores, diseños diferentes. Es desde de la multiplicidad de varias sabidurías y comprensiones del mundo que podremos construir un conocimiento para la vida ¡y no sólo para pasar en el examen de aptitud para entrar en la Universidad! Las escuelas de cualquier nivel necesitan, además de trasmitir el contenido de sus asignaturas, enseñar valores que formen un ciudadano entero. El famoso físico Albert Einstein, en el libro Cómo veo el mundo expresa muy bien esa idea. “No basta enseñar al hombre una especialidad. Porque se volverá así una maquina utilizable, pero no una personalidad. Es necesario que adquiera un sentimiento, un sentido práctico de aquello que vale la pena ser emprendido, de aquello que es bello, de lo que es moralmente correcto. De no ser así él se asemejará con sus conocimientos profesionales más a un perro entrenado que a una criatura armoniosamente desarrollada. Debe aprender a comprender las motivaciones de los hombres, sus quimeras y sus angustias para determinar con exactitud su lugar en relación a sus prójimos y a su comunidad”. Para comprender bien nuestro lugar en relación a los que nos son próximos tenemos que contar nuestras historias que son siempre historias en plural e historias de nuestro lugar. Esas historias necesitan ‘comparecer’ en las escuelas; necesitan ser compartidas con personas de otros lugares que las aprecien, que las respeten y que gusten de ellas. Este libro cuenta las historias de los habitantes de Pirangi do Norte, Brasil, por medio de muchas imágenes y pocas palabras. Al observar esas imágenes niños y adolecentes en las escuelas podrán reconocerse como parte de una historia mayor, que comenzó mucho antes de que ellos llegaran al mundo. Al depender de la creatividad de los profesores, este libro podrá ser usado como alimento y material de varias asignaturas, y creatividad es lo que no falta a los profesores que ejercen la honrosa misión de enseñar para vivir bien en un mundo con tanta incertidumbre. Los creadores de la Colección Metamorfose se sienten felices por acoger este libro porque saben que, con el apoyo de la Fundación Parnamirim de Cultura, llegará a los salones de clase. Para que este libro fuese construido fue necesario el cariño y el respeto de Maurício Camargo Panella por los moradores del litoral de Parnamirim. Más que eso, fue necesario que Maurício se volviera un bordador para tejer un bordado vivo por medio de imágenes y palabras que, para él, son como bolillos en las manos de un paulista-potiguar . Grande Árvore, Muitas Histórias es un libro que necesita ser regado con el agua de la creatividad. Esto en las escuelas, pero también en los barandales de las casas, en los centros comunitarios, en los centros de deporte y en las plazas de nuestro lugar y del mundo exterior. Maria da Conceição de Almeida Das imagens às palavras, das palavras às imagens Histórias de outra árvore de conhecimento... Era uma vez..., 2003! Nos meses junho-agosto, me transportei para Pium. Na mala um convite do descobridor, andarilho, visionário Maurício Panella. Não era um simples convite, mas um desafio: redescobrir com professores, alunos da E.E. Maria Araújo e moradores dali, fios soltos das histórias do lugar. E o mapa? Planejar a semana de cultura para agosto, no contexto do dia do folclore. Era a oportunidade de experimentar naquela escola parte do ideário do projeto “Museu, Educação, Patrimônio”, iniciado por mim no Museu Câmara Cascudo/ UFRN (1999). Nele sonhava “tentar salvar o mundo”, ao incentivar e implementar ações pedagógicas, estimulando uma consciência da preservação dos patrimônios em geral (a vida, a natureza, a história), na construção de uma cultura, ética e cidadania planetárias. Era a bagagem que trazia na mala para Pium. E ali me contaminei num curto espaço de tempo de redescobertas. Ao andar pelas dunas do Pium, aprendi com os alunos de Suely1 : história (haveria ali rastros de nossos ancestrais comedores de camarões?) e ecologia (sabem que há bichos que rastejam, ocupam troncos, galhos e copas de árvores, outros que voam e que as árvores servem para pensar, experimentar, orientar espacialmente, feito uma bússola?). Foi uma mangueira a escolhida como ponto de partida e de chegada 1 Suely Nascimento, professora da E.E. Maria Araújo dessa pequena-grande expedição de descobrimentos. Foi o começo de uma navegação pelas águas salgadas de Pirangype até Alcaçuz, desbravando imagens, cheiros, sons, cores, palavras e etimologias, narrativas guardadas no baú-memória. Esse é o baú que se abre neste livro. Nele lemos que o nome Pium era o do mosquito morador antigo dos mangues da região; que Paranamirim é língua tupi-gurani e significa pequeno parente do mar ou pequeno rio veloz, rio ainda tão pouco conhecido e que corre risco de vida; que Pirangype, ou Pirangi, com seus cardumes de sardinhas, exportou muitas conchas para a Mãe África; que Alcaçuz, nome de uma raiz agri-doce, viajou da Europa e da Ásia, deu nome ao lugar e tornou-se guardiã das antigas artes de tecer rendas de almofadas. Testemunhamos também naquele momento um processo brutal de mais um desmatamento em nome da “ordem e do progresso”, como foi mostrado no documentário Memórias de um Pequeno Parente do Mar. Até quando vamos nos render a essa ganância, esse apetite voraz dos monstros metálicos, dos apelos e ações que destroem nossa história natural? Relembrando aquele trágico episódio, me veio à memória um aforismo muito caro à Claude Lévi-Strauss - o leitmotiv da antropologia: preservar antes que acabe!! Eis aqui uma incerteza, pergunta que remonta aos tempos imemoriais: como decidir sobre o que preservar? Foi essa a dúvida que serviu de alerta e reflexão posta pela “Convenção Geral para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural”, Unesco (1972). Diz o comentador relator: “talvez a resposta esteja na sabedoria de um rabino que, no bar-mitsvá, a cerimônia de passagem à vida adulta entre os judeus, disse a Lawrence Rosen: ‘o que você quer manter de sua infância na vida adulta? Escolha agora.’”. Quem já fez essa pergunta, levante a mão! Quiçá nossas crianças (pequenas ou grandes) tenham uma resposta apropriada para nos doar. E para além da ordem classificatória que se queira dar: ‘alfabetização cultural’, ‘ecológica’, ‘educação patrimonial’, não haveremos de desistir, de “descobrir alunos que queiram salvar o mundo!”, como queria o personagem Ismael Um romance da condição humana. Resistir é a palavra de ordem que, transformada num elixir, nos anime a sonhar nossas utopias; construí-las para nelas viver. Ao me reconhecer um dos personagens dessa utopia realista, expresso aqui um desejo: que esse livro de sabedorias Grande Árvore, muitas histórias, transforme-se num talismã e sob sua sombra, se contem e se ouçam histórias, se criem laços afetivos e se experimentem troca de saberes. Que ela germine sementes, reproduza brotos, torne-se Grande-Mãe de Guardiões do Patrimônio do Pium, Paranamirim, Alcaçuz, Pirangi, Natal, de nossa Terra-Pátria. E como o processo de aprendizagem requer um grau de repetição (daí a eficácia de contar histórias!), transcrevo um trecho do diálogo entre o Pequeno Príncipe e a raposa: a gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo para coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se queres um amigo, cativa-me! Ou dito de um outro jeito também por Exupéry: Em tudo na vida a perfeição é finalmente atingida, não quando nada mais existe para acrescentar, mas quando não há mais nada para retirar... Essa deveria ser também uma lição a ser aprendida-ensinada nas escolas de vida e da vida! Wani Pereira De las imágenes a las palabras, de las palabras a las imágenes Historias de otro árbol de conocimiento... Era una vez…, 2003! En los meses junio-agosto, me transporté hacia Pium. En la maleta, una invitación del descubridor, andariego, visionario Mauricio Panella. No era una invitación sencilla, sino un desafío: redescubrir con profesores, alumnos de la E.E. María Araujo y habitantes de ahí, hilos sueltos de las historias del lugar. ¿Y el mapa? Planear la semana de la cultura para agosto, en el contexto del día del folclore. Era la oportunidad de experimentar en aquella escuela, parte del ideario del proyecto “Museo, Educación, Patrimonio”, iniciado por mí en el Museo Câmara Cascudo de la Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN en 1999. En él soñaba “intentar salvar el mundo” al incentivar e implementar acciones pedagógicas, estimulando la consciencia sobre la preservación del patrimonio en general (la vida, la naturaleza, la historia), en la construcción de una cultura, ética y ciudadanía planetaria. Era el equipaje que traía en la maleta para Pium. Y ahí me contaminé en un corto espacio de tiempo de redescubrimientos. Al andar por las dunas de Pium, aprendí con los alumnos de Suely1: historia (¿habría allí rastros de nuestros ancestrales Comedores de Camarones?) y ecología (¿saben que hay animales que rastrean, ocupan troncos, ramas e copas de árboles, otros que vuelan y que los árboles sirven para pensar, vivenciar y 1 Suely Nascimento, profesora de la E.E Maria Araujo orientar espacialmente como una brújula?). Fue un árbol de mango el escogido como punto de partida y de llegada de esa pequeña gran expedición de descubrimientos. Fue el comienzo de una navegación por las aguas de Pirangype hasta Alcaçuz, explorando imágenes, olores, sonidos, colores, palabras y etimologías, narrativas guardadas en el baúl-memoria. Este es el baúl que se abre en este libro. En él leemos que el nombre de Pium era el nombre del mosquito morador antiguo de los mangles de la región; que Paranamirim es lengua tupi-gurani y que significa pequeño pariente del mar o pequeño rio veloz, rio todavía tan poco conocido y que corre riesgo de vida; que Pirangype o Pirangi (como sus cardumes y sardinas) exportó muchas conchas para la Madre Africa; que Alcaçuz, nombre de una raíz agridulce, llegó de Europa y de Asia, dio su nombre al lugar y se tornó guardián de las antiguas artes de tejidos de rendas de almohadones. Fuimos testigos también en aquel momento, de un proceso brutal, de una deforestación más, en nombre del “orden y del progreso”, como fue mostrado en el documental Memórias de um Pequeño Parente do Mar. Hasta cuándo nos vamos a rendir a esa ambición, ese apetito voraz de monstruos metálicos, de los apelos que destruyen nuestra historia natural. Recordando aquel trágico episodio, me vino a la cabeza un aforismo muy elevado de Claude Lévi-Strauss - o leitmotiv de la antropología: ¡preservar antes que se acabe! He aquí una incertidumbre, pregunta que se remonta a los tiempos inmemoriales: ¿cómo decidir sobre qué debe ser preservado? Fue esta duda la que sirvió de alerta y reflexión, puesta en la Convención General para la Protección del Patrimonio Mundial, Cultural e Natural” UNESCO (1972). Dice el expositor: “tal vez la respuesta esté en la sabiduría de un rabino en el bar-mitsvá, la ceremonia de paso a la vida adulta entre los judíos, dice Lawrence Rosen: “¿qué quieres mantener de tu infancia para la vida adulta?, escoge ahora”. Quien ya se hizo esa pregunta, ¡que levante la mano!. Quizá nuestros niños (pequeños y grandes) tengan una respuesta apropiada para donarnos. Y más allá de la denominación que se le quiera dar: “alfabetización cultural”, “ecológica”, “educación patrimonial”, no desistiremos de “descubrir alumnos que quieran ¡salvar el mundo!”, como quería el personaje de Ismael Un Romance de la Condición Humana. Resistir es la palabra que transformada en un elixir, nos anima a soñar nuestras utopías, construirlas para en ellas vivir. Al reconocerme en uno de los personajes de esa utopía realista, expreso aquí un deseo: que ese libro de sabidurías Gran Árbol, muchas historias, se transforme en un talismán y bajo su sombra, se cuenten y se oigan historias, se creen lazos afectivos y se vivan intercambios de saberes. Que germinen semillas, se reproduzcan brotes, que se convierta en Gran Madre de los Guardianes del Patrimonio de Pium, Paranamirim, Alcaçuz, Natal, de nuestra Tierra Patria. Y como el proceso de aprendizaje requiere un grado de repetición (de ahí la eficacia de contar historias), transcribo un trecho del diálogo entre el Pequeño Príncipe y la raposa: Nosotros sólo conocemos bien las cosas que capturamos, dijo la raposa. Los hombres no tienen ya tiempo para nada. Compran todo listo en las tiendas. Pero como no existen tiendas de amigos, los hombres no tienen amigos. Si quieres un amigo, ¡captúrame! O dicho de otra forma también por Exupéry: En toda la vida, la perfección es finalmente lograda, no cuando no existe nada más para agregar, sino cuando no hay nada más que retirar. Esa debería ser también una lección para ser aprendida y enseñada en las escuelas en la vida y de la vida. Wani Pereira Memórias de um Pequeno Parente do Mar Quando do alto vi pulsar o mar em mim, o sol amanheceu cantando tons de amarelo sabiá. E a imagem oceânica dourada pelo sol fertilizou um caminho muito mais longo e enraizado do que eu poderia imaginar. Revelada, a imagem se fixou silenciosamente esperando ser contada como um conto que espera seu contador. No ano de 1997 aterrissei no litoral de Parnamirim para aqui viver e deixar sementes. A comunidade de Pium me acolheu como um filho. E a comunidade de Pirangi do Norte é e para sempre será a terra onde minha filha nasceu. Renasci aqui eu, nasceu minha filha neste litoral. E este é um fato que enche meu coração de ternura e agradecimento por esta terra e por aqueles que já antes aqui viviam. Em 2003 começo a tocar, a ouvir e a registrar a ancestralidade da comunidade de Pium. Em 2004 Pirangi do Norte me chama para que eu ouvisse também suas histórias. Conhecida mundialmente por sua Grande Árvore, esta comunidade foi revelando-me pouco a pouco algumas de suas Muitas Histórias. No ano de 2005 estas tomaram formas atuais, audiovisuais, e criaram asas para que pudessem voar para lugares longínquos. E o documentário Memórias de um Pequeno Parente do Mar começou a ser projetado em outras terras. Em 2006 elas quiseram ser impressas em papel, mas as folhas de uma árvore trocam seus cabelos somente quando a primavera se anuncia. Primavera que enfim chegou; treze anos após minha chegada ao litoral, sete anos que se cumprem que minha filha em Pirangi aterrissou. Apresenta-se então o dia em que algumas das histórias vividas, ouvidas e imaginadas já não podem ser só nossas, nunca só nossas, e então pedem permissão para que cumpram sua missão: serem compartilhadas. As histórias que me chegaram sobre Pirangi do Norte já não poderiam ficar somente em mim. Tudo a seu tempo chega e seu tempo leva. Dentro do tempo tudo se abre, se desvenda e revela. E ocorre assim o oferecimento de um alimento que só esperava o tempo preciso de seu cozimento. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro de histórias. Nele há escritos e dados pesquisados por grandes pensadores da história norteriograndense; nele há histórias contadas pelos habitantes de Pirangi do Norte. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro imagético. É composto por algumas imagens fotográficas e vídeográficas que compõe o acervo do Memorial do Litoral. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro-roteiro, sua narrativa é o corpo textual do documentário Memórias de um Pequeno Parente do Mar. Isso lhe dá um espectro de filme. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livrotecido, pois é feito de distintos fios que compõe uma só peça. Grande Árvore, Muitas Histórias é um livro-árvore, pois dentro dele habitam raízes, troncos, ramos, folhas, flores e frutos distintos.