artigo - Instituto Histórico da Ilha Terceira
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VÁRIA Escola Régia de meninas do ensino mútuo No ano lectivo de 1836 – 1837 contribuía a confraria do Santíssimo Sacramento da Sé Catedral de Angra com dois mil e quinhentos réis para ajuda de papel, penas e tinta, à Escola Régia de Meninas de Ensino Mútuo, de que era directora D. Isabel Emília de Meneses Ameno. É quanto se lê de uma quitação passada pela directora da escola ao tesoureiro da confraria Jacinto Cândido da Silva. V. M. Relação das Pensões a Dinheiro (Misericórdia da Vila da Praia da Ilha Terceira) A Álvaro Camelo, como tesoureiro do Capitão António do Couto, foro de uma casa e quintal que havia pegado ao cemitério no canto ao Norte da nova Entrada do Hospital, a qual se comprou para acrescentar o mesmo cemitério, mas que por ora está só metido no quintal do Hospital. Vendedor Simão José Borges Toledo no preço de 120$000 réis por escritura de 2 de Junho de 1806.Tabelião José Borges Toledo. Oitocentos réis. Á sobredita Confraria do Santíssimo da Matriz, decidindo-se a questão do moio de trigo a favor da mesma confraria, pois que só se lhe paga por encontro em um moio e trinta alqueires que ela devia pagar à Misericórdia, dois mil e quatrocentos réis que por hora (sic) se não pagam até à dita decisão. Legados de Mor de Alvarenga1: 1 Mor de Alvarenga foi mulher de João Correia, tabelião, que fez deixas à Misericórdia. 336 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO Cem réis a fl. 54 De D. Catarina mil réis a fl. 141 Do Reverendo Sebastião Alves Rebolo quatrocentos réis a fl. 67 De Belchior Gonçalves Ávila quatrocentos réis a fl. 70. De Iria Fernandes 100 réis a fl. 143. De Diogo de Barcelos Machado quatrocentos réis a fl. 81 O que tudo faz a sobredita quantia V. M. Parecer Cinco maneiras ortográficas de escrever Nossa Senhora da Conceição Em 20. 3. 1990, pediu-me o meu bom amigo reverendo Padre Adão Teixeira, já falecido, pároco da igreja da Conceição desta cidade, alguns elementos sobre a seguinte matéria, que, logo que pude, os enviei, com a seguinte nota de antecedência: Na sequência da conversa, havida entre nós, no sentido de ser encontrada uma solução gráfica do século XVII, que servisse os desígnios histórico -arquitecturais a uma inscrição mariana de “Nossa Senhora da Conceição”, permito-me vir indicar-lhe alguns exemplos colhidos em documentos e autores do século Dezassete. 1. nossa snora da Conçepcão 2. Nossa S.ª da Concepsão 3. N. Snra da Concepção 4. N. S. da Concepção 5. Nosa Sr.ª da Conçepção (a) (b) (c) (d) (e) Notas documentais: a) Registo de Baptismos, Conceição, ano 1626, Arquivo e Biblioteca de Angra do Heroísmo. b) Idem, 1630. c) Idem, 1638. DA ILHA TERCEIRA 337 d) Idem, (termo de abertura, assinado pelo Vigário Simão Roiz Fagundes) ano 1638. e) Registo de Casamentos (termo de abertura), Conceição, ano 1654. O nominativo Conçepção, no exemplo apontado em 4, é a forma usada por João Hugo de Linschoot na planta da cidade de Angra, nos fins do séc.XVI. A mesma grafia, apenas sem a cedilha na segunda sílaba, ou seja Concepção (exemplos 3. e 5.) é muito usual durante o séc. XVII nos registos paroquiais da própria freguesia da Conceição desta cidade, como se viu acima, e dela nos fornece dois exemplos ( anos de 1644 e 1646 ) o “Álbum de Paleografia” , referenciado na nota bibliográfica que apresento na parte final desta carta. Por outro lado, o historiador Padre Manuel Luís Maldonado, no seu manuscrito seiscentista recentemente impresso, utiliza a grafia Conceipção. Outro autor, o Padre António Cordeiro, insigne jesuíta, professor e historiador da mesma época, escreve Conceyção. O “Álbum de Paleografia”, já citado, apresenta também esta grafia, que nos aparece ainda no séc. XVIII, referente a registos paroquiais não respeitantes embora à Região dos Açores. Finalmente, dos cinco exemplos retro-indicados da abreviatura de “ Nossa Senhora “, acrescente-se mais este: – N.S.ra Esta forma de abreviatura, também curiosa, foi perfilhada mais de uma vez na obra do Padre Leonardo de Sá Soto Mayor, que descreveu o cerco ao Castelo então designado de São Filipe do Monte Brasil, aquando da Restauração de 1640, autor este que foi coevo de tais acontecimentos. Bibliografia consultada: Pe. Manuel Luís Maldonado, Fénix Angrense, Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1989. Pe. António Cordeiro História Insulana, edição fracsimilada de 1717, Secretaria Regional da Educação e Cultura, Angra do Heroísmo, 1981. João José Alves Dias, A. H. de Oliveira Marques, Teresa F. Rodrigues, Álbum de Paleografia, Editorial Estampa, Lisboa, 1987. 338 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO Pe. Leonardo de Saa Soto Mayor, Alegrias de Portugal ou Lágrimas dos castelhanos, publicação do original com introdução e apêndice pelo Dr. Manuel C. Baptista de Lima, Lisboa 1947. São estes os elementos de que dispomos e que espero lhe possam ser úteis. Com eles, se poderão formar interessantes conjugações, que não deixarão de ser genuínas, baseadas nas várias formas ortográficas de escrever as mesmas palavras, abreviadas ou por extenso, no séc. Dezassete. V. M. Costumes Isto de costumes tem muito que se lhe diga. Num periódico local1 de 1895 ainda se assinalava uma antiga costumeira nas celebrações matrimoniais ocorridas na freguesia dos Biscoitos, freguesia que se prezava não só nos verdelhos como também nos vinhateiros, pois foi essencialmente e ainda é dos lugares mais apreciados de vinho verdelho que adquiriu justa fama. Conta-se então que por volta de 1860 «ninguém se casava de entre os principais do lugar que não fosse de sobrecasaca de pano fino azul e chapéu alto; mas um fato assim era caro e não havia meios para o obter: tudo se remediava, porém, pedindo-se emprestada a sobrecasaca e o chapéu alto de uso de certo indivíduo da freguesia, que de boa vontade emprestava esses aprestos dos noivos. De sorte que raro era o noivo em que não servisse aquela sobrecasaca e aquele chapéu. Era engraçado, caricato mesmo, mas não ofendia». Para tal traje masculino só não encontrámos ainda notícia de como seria o da noiva, naturalmente mais castiço e gracioso, mas, duvida-se, que emprestado!... V. M. 1 A União, 1895. DA ILHA TERCEIRA 339 Carreiras Tal como em Angra existia noutro tempo, de que ficaram lembranças na toponímia citadina – cf. Carreira dos Cavalos – no título Carreira do Portugal Restaurado, por D. Gregório de Almeida, diz-se que neste dia à tarde saíram a cavalo muitos fidalgos vestidos de cor e deram muitas carreiras no terreiro da universidade e praças da cidade. V. M. Praça de toiros de Nossa Senhora dos Remédios, na antiga freguesia das Lajes Existiu esta praça na freguesia do Arcanjo – Miguel das Lajes, na Ilha Terceira, por volta de 1886 a 1893, em terrenos da canada do Lopes, antiga canada da Pedreira. Foi construída a expensas de uma sociedade, formada pelos aficionados José do Canto Pinto de Meneses, Padre Agostinho Vieira da Areia e Júlio Augusto de Ávila, pelo prazo de 18 anos, a contar desde 1 de Dezembro de 1885 e com término em 30 de Novembro de1903. Foi esta praça, para mal da festa brava, de uma duração bastante exígua, pois logo adiante, em 1893, aqueles terrenos eram já propriedade da Nova Empresa Angrense de Destilação, que os ía utilizar para chão de uma fábrica de álcool de batata doce, que ali se manteve por alguns anos, até à expropriação do terreno e unidade fabril que integrou o aeródromo das Lajes ao tempo da II Guerra Mundial. No ouvido das gentes ficou apenas o chiar dos carros de bois que íam chegando de todo o Ramo Grande, carregados daquele doce tubérculo para ser destilado e transformado em álcool puro e ali formavam intermináveis filas, P aguardando vez, e que se estendiam, quantas vezes, até bem longe, passante a Ribeira da Areia1. V. M. 1 Notas extraídas de uma escritura antiga do ano de 1886. 340 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO Luís Ribeiro e o seu tempo com Francisco de Lacerda Por Valdemar Mota Talvez não seja de todo despropositado neste cinquentenário do falecimento do dr. Luís da Silva Ribeiro, o grande mestre do conhecimento, fundador do Instituto Histórico da Ilha Terceira e seu presidente durante muitos anos, apreciar o modo como ele falava dos seus contemporâneos, neste caso de um açoriano que veio a tornar-se um nome de grande referência no mundo da Música, o maestro Francisco de Lacerda, eminente director de orquestras e compositor. Luís Ribeiro também fora músico amador e conheceu quando estudante liceal, em casa de familiar seu, o célebre Francisco de Lacerda que em França fazia o percurso da sua actividade musical e da sua inolvidável inspiração, estudando com grandes nomes como Vincent d’Indy. Para Lacerda Paris foi a grande oportunidade da sua vida, depois de haver estudado no Porto com António Maria Soler, professor de piano e compositor, e mais tarde com o grande maestro e concertista, também seu professor, e depois com uma grande figura da música portuguesa Bernardo Moreira de Sá já no Conservatório Nacional de Lisboa e com outros nomes de enorme craveira musical como José António Vieira, insigne pianista e professor do Conservatório, Francisco de Freitas Gasul e Frederico Guimarães, maestro e compositor, 1º violino da orquestra do Teatro Nacional de São Carlos e músico da real câmara. Passados anos, Luís Ribeiro volta a vê-lo outra vez na cidade de Angra num camarote da Praça de Toiros e inquirindo quem era aquela personagem com ares a estrangeiro, lhe disseram logo: É o Francisco de Lacerda que vem doente de França e vai passar algum tempo a São Jorge (L.R. Obras III, Vária – recordações do grande desaparecido). Mais tarde teve Luís Ribeiro muitas ocasiões na Terceira, S. Miguel e Lisboa de conversar com esse génio jorgense. Era tal a sua admiração pelo famoso maestro, que o adjectivava de poliglota, pelo vasto conhecimento que tinha das línguas francesa, inglesa e alemã e dizia-se surpreendido com os conhecimentos literários dele e do seu versejar com extrema facilidade, fazendo ainda como que um depoimento da sua “cultura especializada“, toda ela colhida naquela verdadeira cátedra musical, que foi a Schola Cantorum de Paris, genial criação para o ensino da música, nascida da vocação e do génio de Vincent d’Indy. Esta famosa instituição daria ao músico das ilhas o cultural convívio com figuras da qualidade de um DA ILHA TERCEIRA 341 Charles Border, Pierre Aubri e Romain Rolland, ao mesmo tempo proporcionando uma íntima relação com jovens músicos como Louis Lealoy. A vocação musical de Lacerda não se cinge apenas e só aos autores clássicos, mas insere-se na música da sua contemporaneidade exercida já por nomes como Fauré, Chauson, Debussy e tantos outros, incluindo o próprio d’Indy, seu mestre e amigo. Os conhecimentos de música de Lacerda na opinião ribeiriana eram tais que se estendiam às obras-primas de todos os tempos e de todos os países, o que lhe permitiu mais de quinhentos programas de concertos da orquestra (Obras). Não admira esta admiração pelo maestro de S. Jorge, porque também outro genial músico e compositor, um terceirense, o Padre Tomás de Borba, não teve dúvidas algumas em apoiar musicalmente Lacerda perante os seus compatrícios e outro ainda, este, o famoso romancista, Eça de Queirós, que o tinha na conta de “artista de elevado espírito que concebeu a restauração da música religiosa em Portugal e dela quer fazer a obra da sua vida.” E, na verdade, Lacerda bastante se dedicou à pesquisa folclórica e ao estudo das raízes da música religiosa em Portugal e nos Açores, quando por aqui estadeava. Conta o dr. Luís Ribeiro alguns episódios ocorridos com Lacerda, referindo ele que “uma vez em Angra, falava das Beatitudes de César Frank com grande entusiasmo, salientando as belezas da obra. Como alguém lhe disse que nenhum dos presentes as conhecia, sentou-se ao piano e foi acompanhando os seus comentários pela execução quase integral de toda a peça”. Em outra ocasião, mas agora em Lisboa e na casa que lhe servia de residência, na Rua Bernardino Ribeiro, regressando Luís Ribeiro da Alemanha, confidenciou este que tinha tido a boa sorte de ouvir em Leipzig a Hohe Messe de João Sebastião Bach. Então Lacerda perguntou-lhe quais as suas impressões, ao que respondeu com a maior franqueza que, numa única audição, lhe tinham passado despercebidas muitas das suas belezas, mas que o triunfal Hosana lhe tinha impressionado, a ele Luís Ribeiro, tão vivamente pela sua grandeza, ao mesmo tempo que o encantara o contraponto admirável a três partes, tenor, violino e contrabaixo de Sanclus. De repente, como que transportado pelas próprias recordações, o famoso maestro correu ao piano e de memória fez-lhe ouvir não só aquele como outros trechos da obra-prima do universal Bach. Diga-se ainda, porque tem real interesse para a avaliação da forte personalidade do eminente maestro, esta outra passagem das recordações tra- 342 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO zidas a lume pela memória do grande etnógrafo Luís Ribeiro. Dizia este: “Contou-me alguém que, presenciou o caso, que numa noite de Natal, na Urzelina, Francisco de Lacerda, fez executar um coro, para crianças, pequenos cânticos que para esse fim escrevera e depois se sentou ao velho órgão da igreja da freguesia, que ele por suas mãos consertara, a improvisar. Era tão grande o seu entusiasmo, que, terminada a Missa do Galo, sem ele dar por isso, continuou a improvisação, com grande pasmo de toda a gente que se deixou ficar na igreja para a ouvir”. Não há dúvida de que Lacerda tinha um verdadeiro entusiasmo, uma propensão mesmo, para a arte musical popular na sua ingenuidade, agradava-lhe ouvir as filarmónicas de aldeia e o empenho que recomendava para Angra sobre um “ ignorado mestre de música de S. Jorge “ que ele dizia tocava pela música, pois sem nada saber, tudo adivinhava e tudo compreendia (Obras). Estando o maestro em S. Jorge por lá apareceu um certo Francisco Ceguinho com a sua viola. Não foi preciso mais nada, este homem popular, foi hóspede de Lacerda que se regalava a ouvi-lo entoar as canções regionais da Terceira. Para Angra escreveu no desejo de possuir uma viola de arame e invocava o Ceguinho e as suas canções populares e a sua música. Por vezes, os grandes astros, como era Lacerda, descem às pequenas estrelas, como era o caso do Francisco Ceguinho e a sua admiração pelo simples e popular parece não ter limites. Estou-me a lembrar de outro grande e refulgente astro da literatura não só insular, mas internacional, Vitorino Nemésio, que também admirava o Zé da Lata, cantador de modas e pastor de gado bravo e por força queria dedilhar a viola regional de arame. Luís Ribeiro, aprendiz de música e senhor do conhecimento, também como tal se comprazia com aquilo que era genuinamente popular e os três – Luís Ribeiro, Francisco de Lacerda e Vitorino Nemésio – foram na verdade uma das muitas trindades de excepcional grandeza e brilho que, através das suas obras, muito contribuíram para o prestígio açoriano. DA ILHA TERCEIRA 343 A Expedição de Drake aos Açores nos “Anais da Ilha Terceira” Por Manuel Faria Ferreira Drummond, no I volume dos “Anais da Ilha Terceira”, página 378 e 379, escreve que no ano de 1589, após o fracasso da tomada de Lisboa, de volta para Inglaterra, quiz Francisco Drak tentar um desembarque na ilha Terceira, no sentido de se apoderar della, ou pelo menos saquear o porto, no qual se achavam alguns navios carregados d’importantes drogas, vindas das possessões ultramarinas. Todavia apparecendo em frente da ilha, sentiu nella tocar a rebate com muita força; e vendo os grandes preparativos que o governador João d’Horbina tinha feito para o receber, principalmente na bahia do porto d’Angra, onde estava o castello de S. Sebastião, resolveu dar as costas á empreza, antes que acabasse de perder todo o conceito que no corso e com gente desarmada tinha por vezes alcançado. Provavelmente a partir desta informação, alguns anos depois, Alfredo Sampaio refere-se a este episódio na sua “Memória sobre a Ilha Terceira”, página 498: voltaram para a Inglaterra, á excepção de Drake que aproou á ilha Terceira com o fim de a conquistar. Eu próprio, nos textos que publiquei na vã tentativa de valorizar o Castelinho como memória material estruturante da Cidade Património Mundial, face ao projecto, entretanto concretizado, de nele instalar uma unidade hoteleira que pressupunha a construção no seu interior de edifícios que o descaracterizariam gravemente, como descaracterizaram, invoquei o nome do célebre corsário, internacionalmente conhecido como um dois mais relevantes vultos da criação do Império Britânico. Ferreira Dummond foi buscar a sua informação ao Livro do Tombo do Concelho da Vila da Praia (página 229 da edição que dele acaba de fazer o Instituto), como confessa expressamente. Um recente trabalho que fiz para o Boletim do Núcleo Cultural da Horta sobre o saque da Horta, no mesmo ano de 1589, pelo conde de Cumberland, levou-me a confrontar o que rezava a historiografia terceirense sobre Drake, com a documentação sobre o episódio que investigava. Assim: A documentação desta época existente no Arquivo Geral de Simancas, publicada pelo consócio Avelino Meneses em “Os Açores e o Domínio Filipino (1580 – 1590), II Volume, Apêndice Documental”, edição do 344 BOLETIM DO INSTITUTO HISTÓRICO Instituto Histórico da Ilha Terceira, não refere a vinda aos Açores de Francis Drake; A mesma documentação testemunha a presença de corsários ingleses em frente da baía de Angra, em 1589, sob o comando do conde de Cumberland; Lischoten, em 1589, chegou a Angra num navio da Carreira da Índia, acossado, precisamente, pelos navios corsários do conde de Cumberland. No capítulo 10.º do seu “Itinerário”, publicado no nosso primeiro Boletim, em que relata este impressionante e paradigmático episódio das actividades do corso nos mares açorianos, não cita, como seria natural, na sua preocupação de registar informação diversa sobre as Ilhas, a presença nelas, de Drake; Uma breve pesquisa sobre a vida do famoso corsário, não confirma a sua passagem pelos Açores, após o fracasso do desembarque de Peniche. O nome de Drake surge no Livro do Tombo do Concelho da Vila da Praia, na relação dos serviços prestados pelos angrenses à coroa – entre outros, a protecção aos navios da Carreira da Índia, em 1589, perseguidos pelos corsários, comandados por aquele corsário –, para fundamentar uma contestação redigida pela câmara de Angra, datada de 1615, em que procura escusar-se às imposições lançadas sobre todas as ilhas dos Açores para financiarem a reconstrução da Praia, após o terramoto de 1614. Vinte e seis anos mais tarde! Perante todas as fontes que citei, só posso concluir que, em 1589, Drake não esteve com os seus navios em frente a Angra. A câmara de Angra citou-o erradamente, usando do prestígio do seu nome (também ela!), provavelmente fundada em tradição corrompida. Não sei se esta reflexão já foi, por outros, feita. Mas aqui fica, que mais não seja para explicar a origem das afirmações indevidas que, a propósito do Castelinho, fiz no passado.