1 o deslocamento do eixo econômico mundial do atlantico
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1 o deslocamento do eixo econômico mundial do atlantico
O DESLOCAMENTO DO EIXO ECONÔMICO MUNDIAL DO ATLANTICO PARA O PACÍFICO COM A EMERGÊNCIA ECONÔMICA DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NO COMEÇO DO SÉCULO XXI1 DR. MARCOS CORDEIRO PIRES DOCENTE – FFC – UNESP-Marília Resumo O objetivo deste trabalho é o de levantar elementos econômicos com vistas a identificar as mudanças estruturais na economia e no poder mundiais, neste começo de século XXI, decorrente do papel preponderante que os países da bacia do Pacífico têm assumido nas últimas décadas no sentido de suplantar o comércio e a produção antes centrados no Atlântico, particularmente a República Popular da China. Para tanto, além de realizar uma breve reflexão teórica sobre as causas por detrás desta situação, analisará os dados agregados disponíveis de forma a identificar esta nova tendência. Palavras-chave: Ásia-Pacífico; China, nova hegemonia econômica. Abstract The aim of this paper is to find economics elements to identify structural changes in the international economy in this beginning of 21st. Century, to understand the replacement the global hegemony from Atlantic Rim to the countries of the Pacific Rim, particularly People Republic of China. Thus, beyond carrying through one brief theoretical reflection on the causes behind this situation, we will analyze the available aggregate data to identify this new trend. Keywords: Asia-Pacific, China; new economic hegemony. INTRODUÇÃO Historicamente, a incorporação de novos espaços à economia mundial tem levado à decadência dos eixos econômicos tradicionais e o surgimento de novos pólos econômicos e de poder. Até o século XVI, o mundo mediterrânico era o centro da civilização ocidental. Em torno de suas águas se concentrava o comércio, a cultura e o poderio político e militar. Desde a Antiguidade Clássica, a bacia do Mar Mediterrâneo abrigou as civilizações egípcias, helênica, cartaginesa, romana, árabe e os modernos povos cristãos que se valiam dele para efetuar o comércio com os povos “orientais”. Do 1 Publicado originalmente na Revista PUC VIVA Revista PUC Viva, número 32, A Crise Mundial, julho de 2008. 1 outro lado do mundo, civilizações como a chinesa, árabe e hindu organizavam cada uma em seu entorno sistemas econômicos independentes de proporções maiores daquela verificada na Europa. A hegemonia do Mediterrâneo, no Ocidente, caiu por terra no momento em que as navegações atlânticas permitiram o acesso aos mercados orientais por meio do contorno marítimo do continente africano, sem passar pelos intermediários que se concentravam nos Orientes Próximo e Médio. Tal fato também inaugurou o longo declínio econômico do Oriente, decorrente da integração econômica mundial por meio da força, já que os povos europeus podiam contar com uma potente artilharia acoplada a uma eficiente marinha. Naquela época, particularmente no que tange ao Ocidente, as antigas rotas de comércio que passavam pelo Mar Mediterrâneo e pelo Oriente Próximo entraram em declínio. Tradicionais cidades comerciais como Gênova, Veneza, Barcelona e Marselha, no ocidente, e Istambul, Antioquia, Beirute e Damasco, no lado oriental, sofreram com a concorrência do sistema comercial montado a partir de Lisboa, Sevilha, Cádiz, Antuérpia, Amsterdã ou Londres. Mesmo poderosas organizações comerciais, como a Liga Hanseática, perderam espaço para as modernas Companhias das Índias, Orientais ou Ocidentais, que passaram a dar as cartas no complexo sistema internacional de comércio que então tomava forma. É importante lembrar que o início da hegemonia européia ocorreu num momento em que o continente era pouco expressivo em termos de desenvolvimento material e econômico. Conforme estudo do historiador britânico Angus Maddison, a Europa representava, em 1500, apenas 17% do PIB mundial, enquanto que a China, da dinastia Ming, representava 24%, e a Índia outros 24%2. Nesse sentido, cabe se perguntar o que explicou esta virada na economia mundial. Por que não foram os chineses ou indianos que se deslocaram para a Europa, e não o contrário? Um fator importante para isto foi o domínio de técnicas náuticas, que colocou os europeus na frente do progresso técnico e possibilitou as navegações de alto-mar. Mas, ainda assim, continua o problema, pois as técnicas apropriadas pelos europeus que viabilizaram as navegações oceânicas eram, em grande parte, técnicas orientais. Creio que o fator que permitiu a utilização prática de conhecimentos técnicos (bússola, astrolábio, caravela) e de conhecimentos científicos (Astronomia e Cartografia) foi a lógica da acumulação privada de riquezas. A isto, Fernand Braudel traz um enfoque adicional: “China e o Islã são, nessa época, sociedades providas, como chamaríamos hoje, com colônias. Ao lado delas, o Ocidente é ainda um ‘proletário’. Mas o importante, é a partir do século XIII a tensão da longa duração que levanta a sua vida material e transforma toda a psicologia do mundo ocidental. O que os historiadores chamaram uma fome do ouro, ou uma fome do mundo, ou uma fome de especiarias, acompanha-se no domínio técnico de uma procura constante de novidades e de aplicações utilitárias, isto é ao serviço dos homens, para assegurar ao mesmo tempo a diminuição e a maior eficácia de seu trabalho. A acumulação de descobertas práticas e reveladoras de uma vontade consciente de dominar o mundo, um interesse cada vez maior por tudo o que é 2 Angus Maddison. Historical Statistics for the World Economy: 1-2003 AD. Disponível em: http://www.ggdc.net/Maddison/Historical_Statistics/horizontal-file_03-2007.xls 2 fonte de energia, dão à Europa, muito antes de seu êxito, o seu verdadeiro aspecto e a promessa da sua permanência”3. Dessa forma, o eixo Atlântico levou à ascensão econômica e política dos países ibéricos, da Inglaterra, da Holanda e da França e permitiu o acesso direto às riquezas do Oriente, à captura de africanos para serem escravizadas na América, além de incorporar o fluxo de mercadorias produzidas no continente americano. Nem mesmo a construção do Canal de Suez, no século XIX, o caminho mais curto para as “Índias Orientais”, fez com que o Mediterrâneo revivesse os tempos áureos. O surgimento da grande potência econômica da América do Norte ofuscou um possível reerguimento do outrora chamado “Mare Nostrum” romano. Atualmente, o eixo Atlântico de comércio, cultura e poder - assentado sobre a “Aliança Atlântica”, cujo expoente mais expressivo é a OTAN, mas também ancorado nos fluxos comerciais da União Européia, Estados Unidos e América Latina - está sob a ameaça de um eixo emergente na bacia do Oceano Pacífico, decorrente da predominância assumida pelo o comércio entre os países da APEC – Asia-Pacific Economic Cooperation, particularmente no eixo China e Estados Unidos4. A CHINA NA ECONOMIA MUNDIAL APÓS A CRISE DOS ANOS (19)70 As transformações econômicas ocorridas desde o começo dos anos (19)80 possibilitaram a emergência de novos países industrializados na Ásia, como a Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, além da incorporação de países da Association of Southeast Asian Nations - ASEAN às cadeias produtivas regionais. O motor desse crescimento foi o processo de terceirização5 e deslocalização6 produtiva iniciado pelas multinacionais norte-americanas, européias e japonesas para fugir dos custos fixos elevados dos países de alto rendimento per capita. Consequentemente, um novo eixo hegemônico começava a tomar corpo. Essas transformações foram uma resposta à crise dos anos (19)70. A contração do mercado mundial e a crise energética forçaram as economias a se adaptarem a ambiente caracterizado por maior concorrência e menores taxas de lucro. Do ponto de 3 Fernand Braudel. Civilização material e capitalismo – séculos XV-XVIII. Rio de Janeiro. Livraria LusoEspanhola e Brasileira, 1970. p. 341.(grifos do autor). 4 A APEC foi criada em 1989, por iniciativa do governo da Austrália, com vistas a promover a cooperação econômica entre os países da bacia do Oceano Pacífico. Num primeiro momento, 12 países aderiram à nova organização, destacando-se os EUA, Japão, Canadá, Austrália, Indonésia e demais países da Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN. De lá para cá, países latino-americanos como o México, o Peru e o Chile também ingressaram na organização, além de China, Rússia e Vietnam. 5 “Terceirização”, ou outsourcing, é a estratégia de desmobilizar parte dos trabalhadores de uma grande empresa quando se determina que sua tarefa não é “central” no processo de produção de uma certa mercadoria. Geralmente esses trabalhadores são empregados em pequenas empresas e contratados por salários inferiores e sem as garantias sociais daqueles da “empresa-mãe”. Também se refere ao processo de direcionar parte da produção de determinado bem para terceiras empresas. 6 O processo conhecido como deslocalização diz respeito à transferência de plantas industriais dos países com maiores custos produtivos para aqueles onde tais custos sejam menores. Este processo se intensificou nos anos (19)80 à medida que as políticas de globalização se intensificaram, particularmente sob os auspícios do ex-GATT e atual OMC. 3 vista das grandes corporações multinacionais, as regras do jogo até então prevalecentes já não serviam mais. A aliança implícita que existia entre estas e os trabalhadores organizados dos países centrais, que ajudava a impedir o avanço do comunismo, tornara-se obsoleta nos anos (19)80, quando o bloco socialista apresentava sinais de exaustão. Além disso, por conta dos elevados custos sociais, a lucratividade do sistema como um todo estava comprometida. À época, o economista Milton Friedman chamava atenção de que o “almoço grátis” dos trabalhadores estava sendo pago com a redução dos lucros empresariais7. Desse ponto de vista, os “subornos sociais” que foram necessários para minimizar a luta de classes nos países centrais já não deveriam ser tão generosos. Do ponto de vista microeconômico, as empresas passaram a adotar estratégias para um mercado cada vez mais restrito e sujeito a fortes flutuações, decorrentes de ciclos de crescimento cada vez mais curtos, verificados após a crise iniciada em 1973. Dois ou três anos de crescimento e outros dois ou três anos de contração. Por conta disso, na visão dos economistas liberais, a economia deveria se tornar mais “flexível” para se estabilizar de maneira mais rápida. As garantias sociais que protegiam em o trabalhador, por exemplo, deveriam ser liquidadas, pois a grande empresa privada necessitava de margem de manobra para enfrentar uma concorrência mais acirrada. Como decorrência dessa situação, as grandes plantas industriais de padrão “fordista” foram fragmentadas a partir de estratégias de “terceirização”. Também o modelo japonês de gestão, baseado no “estoque zero”8 e na produção “just-in-time”9 passou a ser adotado nos Estados Unidos e na Europa. O “mercado de massa” foi substituído pelo mercado de “nichos” e de “segmentos”. Artigos que demandavam muita matéria-prima foram miniaturizados. O chip de computador passou a figurar como peça-chave em quase todos os dispositivos industrializados. Reduzindo custos com a eletrônica, foram disseminados os computadores pessoais, as placas de faxmodem, a comunicação por cabos de fibra ótica e o satélite de telecomunicações. A concorrência inter-monopolística levou também ao referido processo de deslocalização. As grandes empresas iniciaram um processo de deslocamento de parte de suas atividades industriais para os países periféricos. A principal explicação para este fenômeno estava na busca por “fatores produtivos” mais baratos, como matéria-prima e trabalho, ou ainda outras vantagens, como menor carga tributária, incentivos fiscais, câmbio desvalorizado etc. Comparativamente ao similar norte-americano, um operário médio na China, na Indonésia, na Malásia ou no México recebe pequena fração do salário daquele, forçando para baixo os custos trabalhistas. A gestão de unidades tão distantes das matrizes foi facilitada pelo barateamento nos preços das telecomunicações. “Softwares” cada vez mais complexos tornaram as tarefas administrativas padronizadas e o cálculo financeiro adequado para apurar, no tempo real, os ganhos e perdas 7 Milton Friedman. There's No Such Thing as a Free Lunch. La Salle (USA-IL). Open Court Pub.Co., 1977. 8 Levando-se em consideração as pequenas dimensões físicas de boa parte das empresas japonesas, estas optaram por não possuir grandes estoques de suprimentos e de produtos acabados, daí a expressão “estoque zero”. 9 “Just-in-time” significa literalmente produzir só na hora em que o mercado demandar. Para tanto, faz-se necessário o estabelecimento de grande sincronia entre as empresas terceirizadas e a empresa-mãe, de tal forma que no mesmo momento em que é feito um pedido para uma montadora, por exemplo, as empresas de autopeças produzam a quantidade de componentes necessárias para a produção de automóveis. Vale destacar que este tipo de operação industrial faz parte do chamado “toyotismo”, em contraposição ao “fordismo”. A este respeito ver: Thomas GOUNET. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo, 1999. 4 decorrentes de modificações abruptas nas taxas de câmbio dos diferentes países em que operam aquelas corporações. É em meio desse processo que emerge o rápido crescimento da República Popular da China, fato este decorrente de suas políticas de reforma e modernização, iniciadas em 1978, que souberam aproveitar os ventos da reestruturação produtiva mundial. Em princípio, a produção chinesa repetia os caminhos das economias mais pobres da Ásia no sentido de se organizar para a produção de mercadorias de baixo valor agregado e grande intensidade do fator trabalho. A estratégia chinesa, no entanto, era mais abrangente, pois tinha por objetivo a constituição de uma moderna economia que pudesse, em médio e longo prazos, recolocar o país entre as potências mundiais. A modernização visava a aumentar a produtividade agrícola, dotar o parque industrial de tecnologias de ponta, aprimorar o acervo científico e tecnológico do país e estruturar forças armadas modernas e preparadas. Para atingir esses objetivos, uma das táticas adotadas foi atração de empresas multinacionais, com o intuito de atrair investimentos e tecnologia, para formar internamente um poderoso e diversificado parque industrial. Ademais, à medida que o país crescia a taxas médias de 10% a.a., o seu mercado de consumo se expandia, tornando-o atrativo para novos investimentos locais e estrangeiros. Como conseqüência, dessa estratégia, a China se transformou num grande pólo exportador e, simultaneamente, num grande importador, tanto de tecnologia como de matérias-primas e alimentos. Somente entre 1995 e 2006 o volume do comércio exterior chinês cresceu 6 vezes10, e a participação da China no comércio mundial subiu de 1,4%, em 1986, para 8,0% em 2006, e esta tendência continua em ascensão. A produção na China é essencial nas estratégias de gestão das principais empresas multinacionais do mundo. A partir da China, por meio de terceirizações, subcontratações ou joint-ventures, as multinacionais produzem grande parte dos bens de consumo adquiridos no mundo. A participação das exportações das multinacionais no volume chinês se aproxima de 60% do total. Também é significativo o fato de que a economia chinesa é bastante aberta se considerada sua dimensão continental. A soma das exportações e das importações alcança quase 65% do seu produto anual, diferentemente de economias de forte capacidade exportadora, como Japão, Taiwan e Coréia do Sul, e de pequena absorção relativa de bens importados. Desde épocas remotas, quando o gigante chinês se move, arrasta consigo a economia de todo o Extremo Oriente. É dessa experiência chinesa que deriva grande parte das transformações no comércio mundial e esta mudança de eixo econômico que queremos salientar. A seguir apresentaremos o desempenho da APEC e da China, nesse contexto. 10 Ver. UNCTAD. Handbook of Statistics, 2006: disponível em: http://stats.unctad.org/Handbook/TableViewer/tableView.aspx?ReportId=1688 5 AS EVIDÊNCIAS DO DESLOCAMENTO DO EIXO: A APEC, A CHINA E A ECONOMIA MUNDIAL Quando se analisa o volume do PIB dos países da APEC na economia mundial, nota-se que sua participação se situa próxima dos 56%, com um crescimento médio anual, desde 1989 até 2006, da ordem de 4,9% a.a., enquanto que os demais países do mundo em 4,3% a.a. Em relação comércio mundial, a participação daqueles países em 2006 significava aproximadamente 44% do total mundial, apesar de uma diminuição da participação mundial dos Estados Unidos e do Japão. O Gráfico 1, a seguir, descreve a trajetória da participação dos países da APEC no produto mundial, entre 1989 e 2006. 65,0 60,0 55,0 50,0 45,0 40,0 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 US$ PPP Gráfico 1. Participação dos países da APEC no PIB Mundial – 1989-2006. Fonte: Elaborado pelo autor a partir de FMI. World Economic Outlook Database, 2007. Séries extraídas de: Australian Government. Department of Foreign Affairs and Trade. The APEC Region –Trade and Investiment, 2007. É interessante notar que o bloco, desde o começo da série, já possuía um PIB maior do que o resto do mundo. De fato, a presença dos Estados Unidos em qualquer estatísticas sempre tende a distorcer as informações. Porém, ao longo deste período podemos verificar uma diminuição do PIB em termos de dólares correntes e um aumento em termos de paridade de poder de compra (em inglês, Purchase Parity Power – PPP). Isto se deve principalmente ao aumento da renda da China, que durantes este período e teve seu PIB multiplicado por 4. O indicador é importante para se apurar o real poder de compra dos indivíduos de um determinado país, pois o poder de compra de US$ 1,00 varia bastante de país a país. Com este valor, por exemplo, não se compra uma lata de refrigerante nos EUA, mas podem-se adquirir quatro latas na China. O PIB da China, em dólares correntes se situava, em 2007, próximo a US$ 3.200 bilhões, enquanto que em PPP, o valor chega próximo do US$ 7.000 bilhões. De forma similar a 6 Indonésia, com um PIB de US$ 430 bilhões em dólares correntes e US$840 bilhões em PPP. 16.500 14.500 12.500 10.500 8.500 6.500 4.500 2.500 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 MUNDO APEC NÃO APEC Gráfico 2. Renda Per Capita. Mundo, APEC e NÃO-APEC. – 1989-2006. Fonte: Elaborado pelo autor a partir de FMI. World Economic Outlook Database, 2007. Séries extraídas de Australian Government. Department of Foreign Affairs and Trade. The APEC Region –Trade and Investiment, 2007. 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 TOTAL 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 INTRA-APEC Gráfico 3. Participação da APEC no Fluxo Mundial Comércio. 1989-2006. Fonte: FMI. World Economic Outlook Database, 2007. Séries extraídas de: Australian Government. Department of Foreign Affairs and Trade. The APEC Region –Trade and Investiment, 2007. A tendência à predominância dos países da APEC também pode ser vista no Gráfico 2, que trata da evolução do PIB. Não só a renda per capita da região é maior do 7 que a do resto do mundo, como também sua tendência é aumentar a distancia em relação a outras regiões. O Gráfico 3 e a Tabela 1, tratam da participação dos países da APEC no volume mundial de comércio. Antes de tudo, cabe um esclarecimento. Os dados do comércio intra-APEC, no gráfico 3, estão subestimados porque dizem respeito apenas ao comércio de bens, enquanto que nos dados da participação no comércio mundial estão incluídos os serviços. 20 M aiores Exportad ores e Im portadores do M undo (2006) * Rank. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 M aiores Im portadores Im ports. bilhões € % M undo Rank. M aiores Im portadores M aiores Parceiros Com erciais Exports. bilhões € % M undo Rank. Im p.+Exp. bilhões € % M undo M un do M un do EUA U.Européia China Japão Canada Hong Kong Coréia do Sul M exico Singapura India Suiça Australia Turquia Rússia Tailândia M alásia Em ir. Ár. Unidos Brasil Indonésia África do Sul % sobre o total 7.501 1491,6 1350,5 559,2 443,2 301,4 245,8 244,5 190,7 177,4 149,1 138,3 113,3 107,5 104,6 98,0 97,9 89,8 80,8 70,5 58,5 100 19,9 18,0 7,5 5,9 4,0 3,3 3,3 2,5 2,4 2,0 1,8 1,5 1,4 1,4 1,3 1,3 1,2 1,1 0,9 0,8 81,5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 U.Européia EUA China Japão Canada Coréia do Sul Hong Kong Rússia Singapura M exico Arábia Saudita M alásia Brasil Suiça Tailândia Noruega Índia Austrália Indonésia Em ir. Ár. Unidos % sobre o total 7177 1166,1 804,8 752,8 478,3 308,2 251,6 246,1 230,5 208,4 183,7 144,7 124,0 112,2 111,6 101,1 96,4 94,9 93,0 87,9 86,8 100 16,2 11,2 10,5 6,7 4,3 3,5 3,4 3,2 2,9 2,6 2,0 1,7 1,6 1,6 1,4 1,3 1,3 1,3 1,2 1,2 79,2 M u ndo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 U.Européia EUA China Japão Canada Coréia do Sul Hong Kong Singapura M exico Rússia Suiça India M alásia Australia Arábia Saudita Tailândia Brasil Em ir. Ár. Unidos Turquia Indonésia % sobre o total 14678 100 2516,6 2296,5 1312,1 921,5 609,6 496,1 491,9 385,8 374,4 335,0 249,8 243,9 221,9 206,3 200,3 199,1 193,0 176,7 175,0 158,4 17,1 15,6 8,9 6,3 4,2 3,4 3,4 2,6 2,6 2,3 1,7 1,7 1,5 1,4 1,4 1,4 1,3 1,2 1,2 1,1 80,1 Tabela 1 - 20 Maiores Exportadores e Importadores do Mundo. 2006 – em € bilhões. Fonte: União Européia. DG TRADE SLG/CG/DS, 2007. Quando se observa a Tabela 1, em que estão excluídos os dados do comércio interno pertinentes aos 25 países da União Européia, nota-se uma grande predominância dos países da costa do Pacífico. Entre os 20 maiores traders estão 13 países da APEC, que perfazem 54,7% do total. Pode-se argumentar que os dados distorcem a realidade, pois existem países que são bi-oceânicos, como EUA, México, Canadá e Rússia, e poderiam estar negociando mais fora do que dentro da APEC. Tal argumento é perfeitamente válido para a Rússia, já que a maior parte de seu comércio se dá com a União Européia (50,3%). Também poderíamos relativizar os dados dos países do Acordo de Livre Comércio da América do Norte – NAFTA, já que Canadá e México representam cada um, em média, 15% do intercâmbio dos Estados Unidos. Enquanto que este representa 68% do comércio exterior mexicano e 68,2% do canadense. De resto, nota-se a predominância de um forte eixo econômico na Ásia e na Oceania, evidenciando o deslocamento de que chamamos atenção. 8 Comércio Intra-APEC nos países selecionados- 2006 - % do Total ESTADOS UNIDOS 63,0 CHINA 65,4 JAPÃO 70,2 CANADÁ 83,6 CORÉIA DO SUL 67,0 HONG KONG 83,0 SINGAPURA 66,8 MÉXICO 85,8 RÚSSIA 20,3 MALÁSIA 77,8 AUSTRÁLIA 71,8 TAILÂNDIA 69,4 INDONÉSIA 74,3 Tabela 2 – Participação do comércio intra-APEC no comércio total dos países selecionados. 2006. Fonte. Elaborada pelo autor a partir de OMC - World Trade Atlas. Séries extraídas de: Australian Government. Department of Foreign Affairs and Trade. The APEC Region –Trade and Investiment, 2007. 36,0 30,0 31,0 28,8 26,0 24,2 21,0 16,0 10,6 11,0 11,6 9,9 8,0 7,6 8,6 5,4 6,0 2,8 1,4 1,0 1986 China 1996 EUA 2006 Japão Europa* Gráfico 4 – Países Selecionados. Evolução Percentual da Participação no Comércio Mundial. 1986,1996 e 2006. em %. Fonte. Elaborado pelo autor a partir de WTO online satatistics database. Séries extraídas de: Australian Government. Department of Foreign Affairs and Trade. The APEC Region –Trade and Investiment, 2007. * Alemanha, França, Holanda, RU e Itália. Ainda sobre o comércio, o gráfico 4 trata da participação dos países selecionados nos fluxos internacionais nos anos de 1986, 1996 e 2006. Enquanto que Estados Unidos, Japão e os maiores exportadores da Europa declinaram sua participação de 50,5%, em 1986, para 38,2%, em 2006, o que significa uma queda de 25% em 20 anos, a presença da China passou de 1,4% para 8%, entre 1986 e 2006, um salto de 470%,! Se analisarmos os dados da Europa de maneira desagregada, poderemos constatar que as exportações chinesas somente perdem para as dos EUA (8,6%) e da Alemanha (9,2%), 9 desbancando a França (4,1%), a Holanda (3,8%), o Reino Unido (3,7%) e a Itália (3,4%)11. 35 30 25 20 15 10 5 0 1700 1820 1952 1978 2003 2030 China 22,3 32,9 5,2 Europa Ocidental 21,9 23 25,9 4,9 15,1 23,1 24,2 19,2 Estados Unidos 0,1 1,8 27,5 21,6 13 20,6 17,3 Gráfico 5. Países Selecionados. Participação no PIB Mundial – 1700 a 2003. 2030 - Projeção Fonte: Angus Maddison. Chinese Economic. Performance in Long Run. Paris. OECD, 2007. Um último dado merece destaque, apresentado no Gráfico 5, que são as estimativas e estatísticas históricas coletadas por Angus Maddison, acerca da contribuição ao PIB mundial de China, Europa Ocidental e Estados Unidos. Entre 1700 e 1952, nota-se uma forte queda na participação da China no PIB mundial e a ascensão da Europa e dos Estados Unidos. As invasões sofridas pela China, a partir de 1842, quando ocorreu a Guerra do Ópio, até 1949, quando é criada a República Popular da China, aliada à desestruturação social delas decorrentes, contribuíram para a decadência do milenar Império do Meio. Em contrapartida, este movimento foi refreado com a instalação de um governo popular e de forte conotação nacionalista, como é o caso da liderança do Partido Comunista Chinês. No intervalo de 1978 a 2003, a participação da China se elevou três vezes, enquanto que Estados Unidos e Europa viram sua participação diminuir. Chamanos atenção a tendência apresentada por Maddison, que estima que em 2030 a China retorne à condição de maior economia do planeta, posição em que ela se encontrava antes da primeira Guerra do Ópio. Considerações Finais 11 É preciso esclarecer que os dados da tabela 1 e do gráfico 4 não são contraditórios. Isto porque, quando do cálculo da participação da União Européia, na primeira tabela, desconsiderou-se o comércio intra-EU, já que as economias daqueles países são fortemente integradas. Mesmo assim, ao se considerar cada estado membro isoladamente e agregar suas trocas com o exterior, inclusive entre os parceiros da EU, pode-se chegar aos dados contidos no gráfico 4. 10 Ao longo deste breve texto buscamos reunir informações para constatar uma mudança estrutural na economia mundial, que é o deslocamento do eixo econômico do Atlântico, cuja criação remota ao século XV com as Grandes Navegações européias, para um novo eixo centrado na Bacia do Pacífico, decorrente da ascensão econômica dos países da APEC, capitaneada pela República Popular da China. Tal situação faz com que se estanque um longo período de decadência da região da Ásia-Pacífico, decorrente da influência do colonialismo europeu. Ao se analisar as estatísticas numa perspectiva histórica, estamos diante de uma predominância da Ásia na economia mundial, não apenas pela ascensão chinesa, mas também de outras milenares civilizações, como a indiana. Referências Bibliográficas e Fontes AUSTRALIAN GOVERNMENT. Department of Foreign Affairs and Trade. The APEC Region –Trade and Investiment. Canberra, 2007 BRAUDEL, Fernand. Civilização material e capitalismo – séculos XV-XVIII. Rio de Janeiro. Livraria Luso-Espanhola e Brasileira, 1970. p. 341.(grifos do autor). FRIEDMAN, Milton. There's No Such Thing as a Free Lunch. La Salle (USA-IL). Open Court Pub.Co., 1977. GOUNET, Thomas. Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel. São Paulo: Boitempo, 1999. MADDISON, Angus. Historical Statistics for the World Economy: 1-2003 AD. Disponível em: http://www.ggdc.net/Maddison/Historical_Statistics/horizontal-file_03-2007.xls ____________. Chinese Economic. Performance in Long Run. Paris. OECD, 2007 MAURO, Frederic. La expasion europea. Barcelona: Ed. Labor, 1975. UNCTAD. Handbook of Statistics, 2006: disponível http://stats.unctad.org/Handbook/TableViewer/tableView.aspx?ReportId=1688 em: 11