Avenida Getúlio Vargas

Transcrição

Avenida Getúlio Vargas
Avenida Getúlio Vargas
Berço da cultura, espaço da memória e história
de Feira de Santana.
Autor: Leonardo Pedreira (Historiador e Pesquisador)
Colaboradores: Cloves Pedreira e Carlos Melo (Arquivista do Jornal
Folha do Norte)
"O patrimônio histórico pertence a nós e é nosso dever proteger tudo
que nos pertence"
A maior Avenida de Feira de Santana também é a mais utilizada e mais
arborizada. Considerada uma das mais arborizadas avenidas da Bahia e do
Brasil.
É a que possui também em seu asfaltamento os maiores elementos
orgânicos e práticos que compõem a história da formação e do desenvolvimento
de Feira e o principal palco da memória feirense.
Sua história data como muito bem pode provar a edição de número 549
do Jornal Folha do Norte publicado em 15 de outubro de 1920 (Documento 01
e 02). Ou seja, 95 anos de beijos de partidas e abraços de quem vai chegando.
A nova Avenida projetada pelo Srº Drº Accioli Ferreira que na época era
o engenheiro do município nascia com aspecto grandioso e majestoso e se
esperava que proporcionasse um novo e verdadeiro encanto ao aspecto
urbanístico da crescente cidade.
Levando em consideração o seu aspecto verdadeiramente majestoso
que alimentaria a cidade com duas grandes “artérias” não podia ter em suas
extremidades habitações que não demonstrassem traços modernos e de
arquitetura singela.
A imponente Avenida surgia como o nome de Avenida Central por estar
no coração da cidade.
Voltando um pouco mais no tempo para a edição de número 541 do dia
28 de Agosto de 1920 também do Jornal Folha do Norte (Documento 03 e 04)
é identificado que as intenções políticas da época com a implantação do que era
chamado de “grande avenida” eram de que a mesma pudesse transmitir – e ao
mesmo tempo dar conta – os traços de modernidade e atingir o esperado
progresso material da cidade a um elevadíssimo ponto que pudesse ser cada
vez mais vivenciado através das notórias construções de particulares estéticas
figurando a emergente e moderna cidade em ascensão a um primeiro plano na
região.
À medida que a grande avenida surgia, a cidade de Feira de Sant’Anna
aparecia para todo o Estado e escrevia sua história. De fato, no mesmo passo
em que era traçada a história do município assim também era com a “grande
avenida”.
Umas das provas que servem de exemplo de sua importância histórica
e de aspecto moderno é o surgimento da “grande avenida” no mesmo momento
em que surgia o novo paço municipal para uso da edilidade que pudesse também
ser um edifício de grande porte em estrutura e modernidade, levando-se em
consideração as exigências feitas para as construções erguidas na avenida e
que assim como a mesma erguesse a imagem de imponente e moderníssima
cidade conforme foto abaixo:
Paço Municipal Maria Quitéria teve sua construção iniciada em 1921 pelo
Intendente de então Coronel Bernardino Bahia. Foi concluído e inaugurado em
1926 pelo Intendente Arnold Ferreira da Silva. Custou cerca de 400 contos de
reis. No início, funcionava ao mesmo tempo a Intendência e o Conselho (mais
tarde a Prefeitura e a Câmara), além do Fórum, Biblioteca, Posto de Higiene e
demais órgãos administrativos municipais. Foi restaurado em 2007. Na foto
acima o Paço Municipal na beira da “Grande Avenida”.
Na foto acima registro de cerimônia cívica, na década de 60.
Segundo pode ser bem acessado no referido arquivo do Jornal Folha do
Norte a legislação utilizada para as devidas desapropriações foram as do artigo
06 da Resolução de número 16 de 15 de Dezembro de 1893, que além de outras
medidas, diz: “Nas desapropriações para a abertura de ruas e praças serão
compreendidos terrenos suficientes para edificação de ambos os lados”. Uma
Lei que faria 122 anos em 2015.
É incontestável o valor histórico que abriga tal espaço em nossa cidade.
Levando-se em conta o ano em que a legislação utilizada para dar conta dos
trabalhos de construção da avenida e o ano em que Feira de Santana foi elevada
a categoria de cidade (1873) a distancia marca apenas 20 anos e de cidade para
a construção da Avenida apenas 47 anos.
Quantas memórias, sentimentos, e trajetórias de vida poderiam ser
abrigadas neste espaço em todo este tempo? Quantas famílias tiveram seus dias
escritos neste espaço? E se a cidade pudesse expressar o valor biológico que a
Avenida teve e tem de sustentação orgânica de sua própria história? Poderia
imaginar os retratos, cartas e poemas que se escreveriam?
Na foto abaixo registro da Avenida Getúlio Vargas na década de 30.
A importância da imponente e majestosa avenida não perdeu o brilho
nem mesmo em um avanço de 37 anos como prova a edição do dia 21 de
Setembro de 1957 do Jornal Folha do Norte (Documento 05) sob a chefia do
redator Edgard Erudilho Suzarte. No mesmo ano foi iniciado pelo prefeito João
Marinho Falcão o projeto de melhoramento, pavimentação e de aformoseamento
da “grande Avenida” que se chamava em seu início de Avenida Central e que
agora em homenagem ao Presidente Getúlio Vargas carregaria o seu nome até
os dias atuais.
Hoje a história de brilho, majestade e imponência arquitetônica e
modernista e também de importância histórica, de memória e cultura parece não
ter mais valor para a Avenida Getúlio Vargas.
Além de estar em processo de descaracterização de todo o seu espaço
também se ver ameaçada em lhe arrancar no sentido mais brutal da palavra 165
árvores que além de embelezar a cidade com uma imensa e bela linha verde
contribui para um clima mais agradável e menos carregado diante do crescente
e desordenado avanço imobiliário de Feira de Santana.
E tudo isto para implantação de um corredor de ônibus chamado BRT.
Destruir o maior palco de manifestação artística como a Micareta de Feira de
Santana - que teve sua primeira edição na avenida a partir da implantação do
trio elétrico na festa a partir do ano de 1954 (Anexo 01) - hoje em novo circuito
na Av. Presidente Dutra que também vem sendo alvo de discussões de
transferência de local (Anexo 02 e 03); O desfile cívico de 07 de Setembro que
aconteceu tradicionalmente na Avenida Getúlio Vargas e foi transferido para
Avenida Presidente Dutra. Nas fotos abaixo o desfile de 07 de setembro na
Avenida Getúlio Vargas chegando a Praça João Pedreira na década de 30.
Hoje suas maiores manifestações artísticas, culturais e históricas são: A
Caminhada do Folclore que desde sua primeira edição acontece na Avenida
Getúlio Vargas atraindo toda comunidade feirense e movimentando toda cidade
pela arvorada avenida desde 1999, ou seja, 16 anos de história conforme
anexos 04, 05 e 06; O tradicional desfile cívico-militar que acontece no dia 18
de Setembro em comemoração ao dia da emancipação política de Feira de
Santana que aconteceu no ano de 1873 – Dia da Cidade – marcado pela
massiva presença de estudantes das escolas públicas bem como das habituais
fanfarras e do 35º Batalhão de Infantaria com os pavilhões, seguidos do Corpo
de Bombeiros, Polícia Militar e da Guarda Municipal (Anexo 07, 08, 09, 10, 11,
12 e 13); A Caminhada Pela Paz que esse ano completará 23 anos e sendo
nacionalmente conhecido por buscar a estruturação entre paz ambiental, paz
social e paz interior, visando promover na sociedade o desenvolvimento de uma
cultura de paz. O evento por ser amplamente conhecido acabou sendo aderido
por diversos artistas como: Nando Cordel, Márcia Porto Belchior, Gilberto Gil,
Dominguinhos, Santana “O Cantador”, Elba Ramalho, Silvério Pessoa,
Wanderléia, Joanna, Geraldo Azevedo, Marines, Edson Cordeiro, Carlos Pitta,
Flávio José, Eliane Chagas, Robson Miguel, Waldonys, Dorival Dantas, Marlon
Rossi, Tunai dentre outros conforme o anexo 14; A Marcha para Jesus que
acontece
a
22
anos
sendo
organizado
pela
Associação dos Ministros Evangélicos estabelecendo-se como um evento que
supera a classe evangélica da cidade atingido a toda comunidade
indiscriminadamente. (Anexo 15); A Parada do Orgulho Gay evento, que chega
a sua 14ª edição promovendo o estímulo à cultura da tolerância e da não
violência, faz parte do calendário oficial de eventos do Município por meio da Lei
2.895/08 (Anexo 16). Ou seja, um verdadeiro e gigantesco espaço de memória
e história que pode ser destruído para a construção de um projeto que segundo
pesquisa do IPEX – Instituto de Pesquisas Exatas possui uma rejeição
esmagadora de 94,5%. (Documento 06)
Estamos falando de um espaço que se confunde com a própria história
da cidade bem como de todos os feirenses e até mesmo daqueles que não são
feirenses por naturalidade, mas que se consideram assim pelo sentimento de
pertença que os longos anos de habitação puderam lhe proporcionar.
Destruir, descaracterizar, modificar, deformar tal espaço implica em
querer reescrever uma história tão majestosa quanto a que foi pensada lá em
sua formação. Porém e, sobretudo, não implica na descaracterização e
deformação apenas do espaço da Avenida Getúlio Vargas e sim na própria
história de toda cidade visto que a cidade foi projetada para crescer e se fazer
constituir como tal sobe o impulsionamento das artérias da avenida que está
alojada no coração da própria cidade. De fato, a mesma poderia ser vista como
sendo o próprio coração e artérias de Feira de Santana.
Querer deformar tal espaço implica modificar também não só no dia a
dia dos feirenses, mas também destruir o que ela abriga de memória feirense,
de cultura feirense e do fazer e ser feirense.
Um dos momentos mais célebres de importância do espaço enquanto
lugar de preservação de memória e história não tão somente local, mas também
nacional, foi a Missa em comemoração a vitória dos aliados na Segunda Guerra
Mundial, em 13 de maio de 1945. Visão de uma das sacadas do prédio do Paço
Municipal Maria Quitéria. conforme foto abaixo:
Nas fotos abaixo podemos notar alguns registros da ainda tradicional
feira livre que acontecia na Av. Getúlio Vargas que foi extinta em 07 de
Novembro de 1976 com o Projeto “Cabana”, que deu origem ao Centro de
Abastecimento de Feria de Santana. Neste mesmo ano começaram a remoção
dos feirantes para o novo local, onde a tradicional feira livre de Feira de Santana
iria ganhar novos traços. (Anexo 17).
Segue também alguns registros da Avenida entre os períodos das
décadas de 60 e 80.
Uma matéria singular que trata da importância da beleza e recreação
que representa esta avenida como um verdadeiro monumento a vida através de
seu espaço amplamente e historicamente arborizado foi publicado no Jornal
Folha do Norte em 22 de Abril de 1967 com o título “As Árvores, nossas amigas”
em um artigo com quase toda a primeira folha do jornal conforme pode ser
comprovado no Documento 07 em anexo chamando atenção de toda a cidade
e do poder público para se fazer presente na defesa a todo custo das árvores da
avenida e do espaço em que está plantada.
Neste sentindo solicitamos ao IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional sua intervenção levando em consideração tais argumentos
históricos, bem como seus registros e manifestação de interesse dos próprios
feirenses em preservar sua história e memória através do espaço que representa
tais aspectos como a Avenida Getúlio Vargas conforme documento em anexo
(Documento 06) iniciando o processo de avaliação e investigação de tais
valores de importância histórica do espaço da Avenida para que por fim a mesma
venha a ser tombada pelo referido e respeitado instituto como o maior e mais
valioso patrimônio histórico, artístico e cultural de Feira de Santana.
Documentos
1. Jornal Folha do Norte de 16 de Outubro de 1920, número 549. (Parte I)
2. Jornal Folha do Norte de 16 de Outubro de 1920, número 549. (Parte II)
3. Jornal Folha do Norte de 28 de Agosto de 1920, número 541. (Parte I)
4. Jornal Folha do Norte de 28 de Agosto de 1920, número 541. (Parte II)
5. Jornal Folha do Norte de 21 de Setembro de 1957, Ano XLVII.
6. Pesquisa de avaliação do IPEX – Instituto de Pesquisas Exatas sobre
opinião popular a respeito da descaracterização da Avenida Getúlio
Vargas.
7. Jornal Folha do Norte de 22 de abril de 1967.
Anexos
1. http://www.albertopeixoto.com.br/index.php/textos/68-a-micareta-defeira-de-santana
2. http://www.feiradesantana.ba.leg.br/vereador-solicita-mudanca-de-localda-micareta-de-feira-de-santana/
3. http://www.valtervieira.com.br/noticia/micareta/44036/vereador-solicitamudanca-de-local-da-micareta
4. http://blogdokuelho.bk2.com.br/noticia/6387/caminhada-do-folcloreinundou-feira-de-cultura-e-alegria
5. http://reporterneysilva.blogspot.com.br/2010/08/cultura-popular-em-altacaminhada-do.html
6. http://www.avozdocampo.com/entretenimento/cultura/atracoesaracienses-sao-destaques-na-15a-caminhada-do-folclore-em-feira-desantana
7. http://www.acordacidade.com.br/noticias/80690/aniversario-de-feira-desantana-confira-a-programacao.html
8. http://www.jornalfolhadoestado.com/noticias/5431/escolas-municipaisdesfilam-na-avenida-getulio-vargas-
9. http://reporterneysilva.blogspot.com.br/2010/09/mulheres-comandaramo-desfile-civico-de.html
10. http://colbertmartins.blogspot.com.br/2010/09/missa-e-desfiles-fazemparte-das.html
11. http://www.blogbahiageral.com.br/site/municipios/2012/09/atividadescomemorativas-marcam-os-179-anos-de-emancipacao-politica-de-feirade-santana
12. http://porsimas.blogspot.com.br/2012/09/dia-da-cidade-desfile-deescolas-na.html
13. http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/feira-de-santana-comemora-179anos-de-emancipacao-politica-nesta-terca18/?cHash=7d55f4a009cc116db7df85594ce49e37
14. http://www.jornalgrandebahia.com.br/2011/05/19%C2%AA-caminhadapela-paz-acontece-neste-domingo-em-feira-de-santana.html
15. http://www.acordacidade.com.br/noticias/107857/marcha-para-jesusacontece-no-dia-2-de-julho.html
16. http://www.acordacidade.com.br/noticias/94550/parada-do-orgulho-gaysera-realizada-no-proximo-dia-26-em-feira-de-santana.html
17. https://bahia3ucsal.wordpress.com/temas/a-extincao-da-antiga-feira%E2%80%93-livre-de-feira-de-santana-%E2%80%93-no-centro-dacidade-1975/

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