Estudo exploratório de aplicação de métricas de paisagem na

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Estudo exploratório de aplicação de métricas de paisagem na
Moura, Ana Clara M. Estudo exploratório de aplicação de métricas de paisagem na caracterização da dinâmica
de transformação regional – potenciais de transformação das manchas urbanas. Anais VIII Encontro Nacional da
Associação Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos - ENABER, Juiz de Fora, Brasil, 8-10 set 2010, UFJF.
Estudo exploratório de aplicação de métricas de paisagem na
caracterização da dinâmica de transformação regional – potenciais de
transformação das manchas urbanas
Ana Clara Mourão Moura
Escola de Arquitetura, Depto Urbanismo, UFMG
Rua Paraíba 697, Savassi, Belo Horizonte – MG, CEP 30130-140, [email protected]
Resumo:
Trata-se de estudo exploratório de aplicação de recursos de mensuração, espacialização e
interpretação de métricas da paisagem para ocupações urbanas. O objetivo é identificar e
caracterizar os fragmentos da paisagem composta pelas manchas urbanas segundo seus fatores
de medição da matriz dos fragmentos; efeitos de borda e área nuclear (core); tamanho, forma
e grau de isolamento dos fragmentos. Os estudos visam verificar se as métricas auxiliam para
se identificar características do grau de estabilidade e potencial de expansão das manchas
urbanas, grau de influência entre as manchas através de mensurações de distâncias e
conectividade, grau de isolamento e de heterogeneidade das manchas em função das métricas
de área núcleo e relação perímetro-área, entre outras avaliações. O resultado é a
caracterização da morfologia de ocupação urbana em escala regional, identificando áreas de
potencial de transformação e crescimento espacial, assim como os elementos estruturantes da
paisagem que atuam como atrito à ocupação. Escolhe como área de investigação a o
Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais, em sua porção da Região Metropolitana de Belo
Horizonte. É em estudo exploratório que resulta em algumas previsões de transformação
espaciais urbanas, com vistas a motivar interesses sobre o tema.
Palavras chaves: Análise Espacial, Métricas de Paisagem, Dinâmica Urbana
Abstract:
This is an exploratory study of application resource measurement, spatial and interpretation of
landscape metrics for urban occupations. The aim is to identify and characterize the fragments
of the urban landscape composed of patches according to their factors of measuring the array
of fragments, edge effects and the nuclear (core) size, shape and degree of isolation of the
fragments. The studies aimed to determine whether the metrics to help identify characteristics
of the degree of stability and potential for expansion of urban patches, level of influence
between patches through measurements of distances and connectivity, degree of isolation and
heterogeneity of the spots according to the metric core area and perimeter-area ratio, among
other assessments. The result is a characterization of the morphology of urban occupation in a
region scale, identifying areas of potential growth and spatial processing, as well as key
elements of the landscape that act as friction to the occupation. Choose area of research the
Quadrilátero Ferrífero in Minas Gerais, in its portion in Metropolitan Area of Belo Horizonte.
It is an exploratory study that results in some predictions of urban spatial transformation, in
order to motivate interest on the subject.
Keywords: Spatial Analysis, Landscape Metrics, Urban Dynamics
1
1 INTRODUÇÃO
A modelagem de dados ambientais é vasto campo para emprego das geotecnologias,
sobretudo do geoprocessamento e de processos de álgebra de mapas e mensuração de
ocorrências espaciais com vistas a dar apoio à caracterização da ocupação territorial. Entre os
estudos de modelagem de dados espaciais mais recentes, destacam-se os que visam à
identificação de padrões que possam dar subsídios à compreensão dos motivos que levaram a
uma determinada distribuição espacial, assim como os estudos preditivos das tendências de
expansão da ocupação.
Os modelos de aplicação de métricas da paisagem foram propostos inicialmente pelos
estudos da Ecologia da Paisagem e da Biologia da Conservação. O objetivo era identificar e
caracterizar os fragmentos da paisagem para selecionar as unidades com melhores condições
para a preservação ambiental, assim como dar apoio às escolhas de arranjos espaciais que
poderiam favorecer a biodiversidade, o equilíbrio das espécies, o fluxo gênico entre unidades
e a formação de corredores ecológicos que estariam em equilíbrio com as ocupações
antrópicas do território.
Em virtude da ampla aceitação do tema pelo meio científico, existem softwares que
realizam as medições espaciais dos fragmentos de paisagem, resultando em suas
classificações segundos os fatores de medição da matriz dos fragmentos; efeitos de borda e
área nuclear (core); tamanho, forma e grau de isolamento dos fragmentos; avaliação das
condições de metapopulação (relacionada ao fluxo gênico); conectividade entre os fragmentos
através de corredores e trampolins ecológicos (stepping stones).
A riqueza de respostas que podem ser obtidas através da aplicação dos modelos de
mensuração de métricas de paisagens nos estudos biológicos de avaliação de áreas de
interesse ambiental nos motivou a realizar testes de verificação da aplicabilidade dessas
métricas nos estudos de distribuição da ocupação antrópica no território, mais especificamente
da análise da morfologia das manchas urbanas. São realizadas medições de fatores de forma
nas manchas de ocupação urbana nas regiões do Quadrilátero Ferrífero e Região
Metropolitana de Belo Horizonte (Fig.1), selecionadas devido à concentração e dinâmica de
transformação da ocupação antrópica observada nestas áreas, em função da complexidade de
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fatores que incluem o interesse econômico da mineração e os atrativos oferecidos pela
proximidade à capital do estado.
Fig 1. Quadrilátero Ferrífero e RMBH
O objetivo é testar a viabilidade de aplicação das referidas métricas para identificar
características do grau de estabilidade e potencial de expansão das manchas urbanas, grau de
influência entre as manchas através de mensurações de distâncias e conectividade, grau de
isolamento e de heterogeneidade das manchas em função das métricas de área núcleo e
relação perímetro-área, entre outras avaliações.
O resultado é a caracterização da morfologia de ocupação urbana na área,
identificando áreas de potencial de transformação e crescimento espacial, assim como os
elementos estruturantes da paisagem que atuam como atrito à ocupação. É em estudo
exploratório em análises urbanas, com o aproveitamento e adaptação das teorias e técnicas de
métricas de paisagem no geoprocessamento, apresentando algumas previsões de
transformação espaciais urbanas possibilitadas pelas análises realizadas, com vistas a motivar
interesses sobre o tema. São utilizados dados e softwares livres, eliminando obstáculos para
seus desdobramentos através de outras investigações.
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2 BASE CONCEITUAL – MORFOLOGIA URBANA E MÉTRICAS DE PAISAGEM
A questão da forma das cidades, a morfologia das ocupações urbanas, sempre foi do
interesse do urbanismo desde os primórdios da criação das cidades. As primeiras tentativas de
estabelecer uma ordem para os aglomerados humanos foram traduzidas em formas, em
desenhos geometrizados de espacialização das distribuições das funções e uso para as cidades.
Há vasta bibliografia sobre o tema, mas vamos destacar o trabalho apresentado por Lynch
(2007) em “A boa forma da cidade”, publicado em 1981.
Na obra, o autor defende: “As cidades, tais como os continentes, são simplesmente
enormes fatos da natureza, aos quais temos que nos adaptar. Estudamos a sua origem e função
porque esses aspectos são interessantes e também porque se tornam úteis para se fazerem
previsões.” O autor propõe três ramos de teorias para se explicar a cidade como um fenômeno
espacial: um baseado na teoria do planejamento, que se ocupa das complexas decisões
públicas para o desenvolvimento da cidade; outro baseado na teoria funcional que explica que
elas tomam a forma que têm e como funciona esta forma; e finalmente a teoria normativa, que
aborda as ligações generalizáveis entre os valores humanos e a forma dos aglomerados
populacionais ou de como se reconhece uma boa cidade quando se encontra uma.
Para desenvolver seus argumentos, o autor nos leva a visitar as diferentes
materializações dos pensamentos de modo de ocupação do território, traduzidos em
morfologias de cidades, que traduzem o que seriam as essências de seus funcionamentos,
valores e modos de vida.
Corroborando com o autor, podemos lembrar clássicos exemplos de cidades cuja
forma representa os objetivos a que se destinaram, tais como a “Cidade Jardim” de Ebenezer
Howard (1902), projetada na forma de anéis concêntricos a partir de um ponto focal e
conformando uma rede de cidades muito semelhante ao protótipo proposto por Christaller
(1933). Podemos citar muitos exemplos de ocupações medievais e o caso de Palmanova, na
Itália, construída no final do século XVI para defender as fronteiras da região de Veneza e,
devido a esse objetivo, foi desenhada na forma de estrela de nove pontas, visando ampliar as
condições de visibilidade de defesa sobre o território. Podemos lembrar a cidade linear de
Tony Garnier (1918), que propôs estruturar a ocupação urbana na forma de uma esteira de
produção ao longo do eixo de uma ferrovia ou rodovia, visando otimizar a produção.
Podemos lembrar o caso de Belo Horizonte, desenhada para ocupar uma área definida por um
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anel de contorno; assim como podemos citar o caso de Brasília, desenhada para ocupar um
plano piloto composto por um eixo central e eixos na forma de uma grande asa, que nos
lembra muito a forma de um avião.
A questão da forma urbana é de amplo interesse. Contudo, é nosso objetivo verificar
se os procedimentos metodológicos de medição de métricas da paisagem podem trazer ganhos
para os estudos das dinâmicas de ocupação territorial urbana. Até que ponto a forma da cidade
está relacionada com sua condição de crescimento de expansão? O argumento que
defendemos é que há, sim, relação. Defendemos que as cidades de maior complexidade de
forma apresentam maior dinâmica e são menos estáticas, pois podem ser caracterizadas como
espaços em processo de transformação e de ampliação de suas fronteiras. Por outro lado,
cidades caracterizadas por formas mais nucleadas e menos estreladas, com aspecto
morfológico de massas mais compactas, possuem maior estabilidade, por maior atividade
baseadas em núcleos e centralidades, mas apresentam menor dinâmica de crescimento no
sentido de expansão territorial.
A origem do interesse em métricas da paisagem está relacionada aos estudos da
Ecologia da Paisagem. De acordo com FORMAN e GORDON (1986), ela se baseia “no
estudo da estrutura, função e dinâmica de áreas heterogêneas compostas por ecossistemas
interativos, ou seja, ela possibilita que a paisagem seja avaliada sob diversos pontos de vista,
permitindo que seus processos ecológicos e a influência humana, no contexto geográfico
possam ser estudados em diferentes escalas temporais e espaciais.”
A partir dessa conotação de envolvimento do homem e suas inter-relações com o
ambiente, surge a visão integradora de sistemas, onde se integram a Ecologia da Paisagem e a
Biologia da Conservação. Assim, a Ecologia da Paisagem estuda um sistema onde há relação
entre seus componentes, estudando a composição e a estrutura ecológica. A estrutura
ecológica refere-se à geometria dos componentes da paisagem, tanto biogenéticas como
geológicas. (Nascimento, 2010).
A variação estrutural ocorre em escala na paisagem, tamanho, forma, e relações
espaciais de comunidades, entre outras, daí o interesse em abordar métricas dos componentes
espaciais através de área, perímetro, relação perímetro/área, área núcleo, fator de forma,
distância euclidiana, entre outros. Os estudos são sobre o efeito de borda e a área nuclear;
estudo do tamanho, forma e grau de isolamento dos fragmentos; estudos de conectividade
entre os fragmentos (corredores e trampolins ecológicos).
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3 METODOLOGIA
A metodologia empregada foi estruturada em etapas de trabalho de construção de base
cartográfica de espacialização de manchas de ocupação urbana, no cálculo de métricas de
paisagem das formas urbanas, na elaboração de mapas de distribuição de padrões de métricas
e na análise dos resultados obtidos.
3.1. Construção da base cartográfica de manchas urbanas
A elaboração do mapeamento de manchas urbanas em escala regional, como o
necessário para o trabalho aqui apresentado, é classicamente realizado através de
processamento digital de imagens de satélite de média resolução ou de vetorização a partir de
imagens de melhor resolução. Iniciamos nossos estudos testando essas fontes e os resultados
que poderíamos obter. Contudo, para um estudo de métricas, seria necessário obter
representações espaciais capazes de identificar as nuances de suas morfologias, tais como os
braços de eixos, as formas conformadas pelos agrupamentos, enfim: um nível mais bem
detalhado que o promovido pela generalização das classificações de imagens de satélite.
Assim, optamos por trabalhar com a base de dados pontuais de postes de energia
elétrica da CEMIG, projeto GEMINI, aos quais aplicamos modelos de transformação de
dados pontuais em manchas de agrupamento do serviço, o que conforma a mancha atropizada
na área de estudo, ou seja: a representação mais próxima da real mancha de ocupação urbana
que se pode obter (Fig. 2 e 3).
O nosso argumento se baseia no fato de que o serviço de energia elétrica em Minas
Gerais é muito bem distribuído, chegando onde há ocupação humana do território,
independente de ser área rural ou urbana. Destaca-se que a área de estudo se localiza na
Região Metropolitana de Belo Horizonte, aonde chega eletrificação em praticamente 100% de
onde há ocupação humana. O banco de dados de poste separa o serviço em área rural e
urbana, o que nos permitiu fazer a mancha da área antropizada total, a área antropizada em
espaço rural e a área antropizada em espaço urbano.
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Fig. 2 – Manchas urbanas na área de estudo
Fig. 3 – Grau de detalhamento da forma
3.2. Aplicação do cálculo de métricas da paisagem para estudos das manchas urbanas
Uma vez obtida a camada de manchas urbanas pelo procedimento anteriormente
explicado, o cálculo de métricas foi realizado no software livre Fragstats. Contudo, antes de
sua utilização, a coleção de dados foi preparada em formato grid no software ArcView Spatial
Analyst.
O software Fragstats foi desenvolvido pelo Departamento de Conservação de
Recursos Naturais da Universidade de Massachusetts. Ele quantifica a configuração areal (em
manchas) e espacial de fragmentos em uma paisagem. Os desenvolvedores informam que é
incumbência dos usuários estabelecerem bases para definir os padrões da paisagem, de modo
que, a partir do apoio de uma ferramenta, possam investigar os valores representativos e o que
eles podem significar na caracterização do objeto de investigação. Por exemplo: ele mede a
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área núcleo mediante a definição do que seria uma dimensão mínima para ser considerada
como um núcleo, mas o valor do que se considera núcleo em cada caso só pode ser definido
por conhecimento do especialista que faz a investigação ou por cotejo frente à realidade, em
processo de testes de valores, o que conhecemos por abordagem heurística. Segundo Teixeira
e Christofoletti (1997), a heurística é um método intuitivo de tentativas para abordar um
problema e chegar a uma solução final mediante aproximações sucessivas.
A métrica de area core se baseia na identificação do maior núcleo possível a partir de
uma distância à borda. A métrica de círculo inscrito identifica o maior círculo que pode ser
encaixado na mancha. (Figuras 4 a e b).
(a)
Figura 4 – (a) Relação de area core e
(b)
(b) Relação de círculo inscrito
A métrica de relação perímetro/área tem muita relação com o efeito de borda, pois
quanto maior a relação de perímetro sobre a área maior é a exposição da mancha em relação
ao contexto onde ela está inserida, maior o contato das manchas urbanas com áreas que no
futuro podem ser preenchidas com a ocupação. A relação de conectividade identifica a
proximidade entre os fragmentos, futuras conurbações e o que é relacionado ao grau de
isolamento dos fragmentos, avaliação das condições de metapopulação (intercâmbio entre
fragmentos) e conectividade entre os fragmentos através de corredores e trampolins
ecológicos (stepping stones). (Figura 4 c e d).
(c)
(d)
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No presente trabalho foram calculadas as métricas de área, perímetro, círculo inscrito,
contigüidade, área núcleo (area core), índice de área núcleo e número de áreas núcleo e
relação perímetro/área (Fig 5 a Fig. 12 ).
Fig. 5 – Distribuição de valores de área
Na análise dos fragmentos de manchas urbanas quanto à métrica de área, como já era
esperado, quanto às manchas de maior área, observa-se a predominância da grande área
central, composta pelas ocupações de Belo Horizonte e Contagem, assim como as ocupações
dessas fronteiras, representadas por Ibirité, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e Vespasiano.
São as maiores áreas quando se observa um fragmento compacto, inteiro, de área totalmente
conurbada. Na sequência, com média a alta área, observa-se a área de Betim e sua conurbação
com Contagem. Entre os fragmentos com média área destaca-se a região de Lagoa Santa, o
encontro entre Contagem e Esmeraldas (bairros Nova Contagem e Veneza) na área de
influência da BR 040 e da MG 432, e a região entre Igarapé e São Joaquim de Bicas, no eixo
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da BR 381.
Fig. 6 – Distribuição de valores de contigüidade
O estudo da contigüidade destaca os fragmentos que apresentam maior proximidade a
outros fragmentos, assim como apresentam maior número de fragmentos próximos a si. Em
termos de análise urbana significa potencial de conurbação e proximidade a outras áreas
ocupadas. A grande mancha central, quanto a esta métrica, cai para a posição de média
condição, pois ela não apresenta proximidade, mas sim conurbação já estabelecida. Este mapa
é particularmente interessante para se verificar a localização de manchas urbanas que estão
em condições de boa articulação e que podem funcionar como centralidades. Forma-se um
forte eixo no vetor norte, indicando as condições de dinâmica e de conectividade entre as
manchas. Destaca-se também a mancha de Sabará. Pequenas centralidades marcam posição na
região sudeste-sul-sudoeste. Como de condição média a alta destaca-se a região de Ribeirão
das Neves divisa com Esmeraldas, ao longo do eixo da rodovia BR 040.
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Fig. 7 – Distribuição de valores de área núcleo
A área núcleo é composta por um polígono interno, uma vez retirada a borda da
ocupação, segundo dimensão definida pelo pesquisador. Destaca-se, como já era de se
esperar, a grande área central, onde há expressivo núcleo que domina toda a RMBH. Mas é
também interessante observar o papel da mancha de ocupação entre Betim e Contagem, com
valor médio a alto de área núcleo, seguida pelas manchas de médio valor, representadas por
Lagoa Santa e pelas regiões entre Igarapé e São Joaquim de Bicas (na BR 381) e entre
Contagem e Esmeraldas (bairros Nova Contagem e Veneza) na área de influência da BR 040
e da MG 432.
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Fig. 8 – Distribuição de número de áreas núcleo
A métrica de número de áreas núcleo significa, a partir da definição de uma área de
borda, a identificação de polígonos internos e o número de polígonos internos encontrados.
Destaca-se a grande área central, devido à complexidade e dimensão de sua forma. Na
sequencia, entre a áreas de valor médio a alto, destaca-se Lagoa Santa e a divisa entre
Contagem e Esmeraldas (em Nova Contagem). A região de Betim não está no grupo de alto
ou médio a alto, mas cai para o valor médio, porque a sua morfologia de ocupação é em forma
já mais circular, em mancha contida e não espalhada, o que não favorece a polinucleação do
conjunto. Também estão no valor médio, indicando que a morfologia de ocupação já começa
a apresentar complexidade, as cidades de Nova Lima, Santa Luzia, Mateus Leme e a região
entre Igarapé e São Joaquim de Bicas.
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Fig. 9 – Distribuição de valores de índice de área núcleo
O índice de áreas núcleo é composto pela relação entre valor de área núcleo e número
de áreas núcleo por fragmento. Assim, os fragmentos que apresentam maior índice são
aqueles que, além de apresentarem maior quantidade de núcleos em seu interior, apresentam
também os maiores valores de área nesses núcleos. Pode-se interpretar que são fragmentos de
maior complexidade, o que em ocupações urbanas podem ser caracterizados como cidades
polinucleadas, o que se entende como maior maturidade na ocupação, pois se conformam
cidades dentro de cidades e é possível gerenciar o território por estas centralidades e na forma
de regionais municipais. As áreas onde este índice se destaca são a grande área central e as
ocupações em Ribeirão das Neves, na área central do município e na divisa com Esmeraldas,
na região da BR 040 e MG 432. A observação das áreas de médio a alto valor de índice de
área núcleo nos leva a compreender que praticamente todas as sedes da RMBH já possuem
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esta complexidade, pois o fenômeno é bem distribuído no território. Este estudo dá base para
a identificação de centralidades do ponto de vista da morfologia da ocupação urbana.
Fig. 10 – Distribuição de valores de círculo inscrito
A métrica de círculo inscrito significa a identificação de área circular na mancha
urbana, e os valores indicam onde foram encontrados círculos inscritos nas manchas. Além da
grande área central, destaca-se o eixo Capim Branco, Matozinhos e Pedro Leopoldo, e a
cidade de Rio Acima. Com os valores médio a alto destacam-se Betim, Lagoa Santa, o bairro
Veneza em Ribeirão das Neves, São José da Lapa e Caeté. São cidades ou bairros que
apresentam uma conformação espacial mais próxima de manchas circulares compactas.
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Fig. 11 – Distribuição de valores de perímetro
Os maiores perímetros dos fragmentos encontram-se na grande área central, seguida
das ocupações de Betim e Lagoa Santa, e com valores médios estão as áreas entre Igarapé e
São Joaquim de Bicas (BR 381), em Nova Contagem (BR 040 e MG 432) e em Santa Luzia
(MG 020). Fora estas ocupações, os fragmentos apresentam menor perímetro, o que significa
a existência de muitos fragmentos menores e não conurbados no território.
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Fig. 12 – Distribuição de valores de relação perímetro/área
O estudo da relação perímetro/área significa a condição de, ao mesmo tempo, o
fragmento ser grande (maior área) e apresentar muita borda de contato (maior perímetro). Um
fragmento com maior relação perímetro/área nos estudos de ecologia da paisagem com vistas
à identificação de áreas para a proteção ambiental significa situação mais fragilizada, pois
apresenta maior efeito de borda e maior vulnerabilidade a transformações e perda de
patrimônio natural. Do ponto de vista da ocupação urbana, tendemos a pensar que a métrica
significa maior contato entre área ocupada e não ocupada, ou fragmentos em que há maior
contato entre as áreas urbanas e rurais, como se um se entremeasse no outro. Observa-se, na
RMBH, a identificação desses núcleos ou fragmentos em que a relação rural/urbano ainda é
muito forte.
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3.3 Aplicação de análise multicritérios para integração das métricas para caracterização
das potencialidades das manchas urbanas
A análise de multicritérios é um procedimento de análise espacial para síntese de
varáveis, a partir da definição de valores para o processo de média ponderada, realizada por
álgebra de mapas.
Segundo Moura (2003) a Análise de Multicritérios é um procedimento metodológico
de cruzamento de variáveis amplamente aceito nas análises espaciais. Ela é também
conhecida como Análise Hierárquica de Pesos. O procedimento baseia-se no mapeamento de
variáveis por plano de informação e na definição do grau de pertinência de cada plano de
informação e de cada um de seus componentes de legenda para a construção do resultado
final. A matemática empregada é a simples Média Ponderada.
O emprego da Média Ponderada cria um espaço classificatório, ordinal, que pode ser
também entendido como uma escala de intervalo. Esse processo pode também ser utilizado
em escala nominal, desde que os eventos sejam hierarquizados segundo algum critério de
valor. A ponderação deve ser feita por conhecedores dos fenômenos e das variáveis da
situação avaliada, ou pelo conhecimento prévio de situações semelhantes. Nesse processo, a
possibilidade de se ponderar de modo inadequado uma situação é o inverso do número de
ponderações atribuídas.
No presente estudo foram selecionadas as métricas que respondiam, a nosso juízo, por
condições de estabilidade, dinâmica e fator de influência. Como é um estudo exploratório, nos
reservamos o direito de rever estas combinações e análise a partir de estudos mais
aprofundados, uma vez que a abordagem é inédita e não apresenta pontos de comparação com
bibliografia já publicada. É nosso objetivo verticalizar os estudos e explorar os recursos que, a
nosso ver, são de interesse para a compressão da morfologia das manchas urbanas.
Para o nosso estudo, a condição de estabilidade significa estar em estado de ocupação
já estabelecida, com tradicional centro de atividades e conformação clara. Ela foi medida pelo
tamanho da mancha e sua densidade, obtidos pela combinação das métricas de área, perímetro
e área core (em pesos iguais).
A condição de dinâmica significa star em estado de transformação, com potencial de
expansão caracterizada pelas formas que avançam como tentáculos pelo território e com o
tempo irão provocar adensamentos em volta desses primeiros eixos lançados. É medida pelo
grau de complexidade da forma, obtida pela combinação de Perímetro/área (peso 70%), índice
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área core (peso 30%).
A condição de influenciar e de ser influenciado foi avaliada pelo estudo de fator de
influência. O estudo se justifica porque um estudo de condições de contágio torna-se
interessantes pela interpretação intuitiva de sua probabilidade: probabilidade de uma célula
tomada ao acaso de pertencer a uma dada classe; e probabilidade condicional em que, dado
que a célula pertence a uma classe, uma de suas células vizinhas pertence a outra dada classe.
O produto é a probabilidade de duas células adjacentes, tomadas ao acaso, pertencerem às
duas dadas classes. Varia com o número, o tamanho, a contiguidade e a dispersão dos
fragmentos da paisagem. No presente estudo o fator foi elaborado através da combinação das
métricas de área, perímetro, círculo inscrito e contigüidade (em pesos iguais).
4 RESULTADOS OBTIDOS
A análise dos resultados deve avaliar se é apenas o fator de forma que interfere nas
condições das manchas urbanas, ou se haveriam fatores físicos, geográficos, que
condicionariam suas formas. Para análise desta possível realidade, construímos mapa
altimétrico e nele lançamos as manchas urbanas e a infra-estrutura viária existente, com vistas
a dar apoio à interpretação dos resultados (Fig. 13 e Fig. 14).
Fig 13 – Altimetria da região, manchas urbanas, divisas municipais e infra-estrutura viária.
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Fig. 14 – Manchas urbanas, divisas municipais, infra-estrutura viária.
4.1 Fatores de Dinâmica Morfológica das manchas urbanas
A síntese de identificação das manchas urbanas que mais apresentam condições de
dinâmica da forma, e que estariam mais propensas a ações de expansão e transformação
urbana em virtude de suas condições morfológicas de forma urbana, é apresentada na Fig. 15.
Destaque para as manchas urbanas em cores quentes (amarelo a vermelho). Para avaliação de
possíveis atritos ou impedâncias espaciais, analisados o resultado também a partir da
observação das condições de relevo (Fig 16).
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Fig. 15 – Fatores de Dinâmica Morfológica das manchas urbanas
As áreas menos dinâmicas seriam aquelas que já conformam o conjunto tradicional
central da área (em verde). As áreas mais dinâmicas se desenvolvem ao longo de estradas,
com destaque para regiões de Nova Lima e Brumadindo, e destaque também para o conjunto
formado por Esmeraldas, Betim, Juatuba, Igarapé, Mateus Leme e São Joaquim de Bicas.
Destaque especial para Confins, São José da Lapa e Nova Lima.
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Fig. 16 – Fatores de Dinâmica Morfológica das manchas urbanas e atrito imposto pelo relevo
Quanto ao relevo, apenas Nova Lima e Brumadinho têm que enfrentar atritos espaciais
para suas expansões. A única mancha de significativa estabilidade que não é conurbada com
Belo Horizonte é a mancha urbana de Lagoa Santa.
4.2 Fatores de Estabilidade Morfológica das Manchas Urbanas
A estabilidade morfológica indica áreas que podem ser caracterizadas como já
possuidoras de uma tradição territorial, pois suas manchas já são bem estabelecidas e bem
definidas na paisagem.
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O resultado destaca o grande conjunto central vinculado à capital como a área de
maior estabilidade. Atenção especial deve ser dada também a manchas de média estabilidade,
com vistas a investigar o grau de tradição das ocupações no conjunto, formado por eixos entre
os municípios de Esmeraldas, Contagem e Betim e por conjunto entre Igarapé e São Joaquim
de Bicas. As demais áreas ainda não se tornaram estáveis e tradicionais quanto à morfologia
das manchas urbanas. Verifica-se, por exemplo, as baixas condições de Nova Lima, que tem
ocupação espalhada territorialmente e não estabelece núcleo tradicional. A topografia
conforma um delimitador que direciona para os eixos norte ou paralelos a Serra do Curral e
Rola Moça. (Fig. 16 e 17).
Fig. 16 – Fatores de Estabilidade Morfológica das manchas urbanas
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Fig. 17 – Fatores de Estabilidade Morfológica das Manchas Urbanas e conformações
impostas pelo relevo.
4.3 Fatores de Condições de Influenciar das manchas urbanas
O estudo dos fatores de condições de influenciar resulta na formação de eixos bastante
interessantes ao longo do eixo norte (área de interesse atual dos programas do governo)
seguido do eixo que liga Belo Horizonte a Betim. A grande região conurbada central é sempre
um destaque, devido ao enorme fragmento conformado pela mancha urbana da capital
metropolitana e suas conurbações.
Além das áreas que mais se destacam, devemos observar também as que estão em
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média condição, adquirindo esse status, pois são do interesse para a identificação das
centralidades (Fig 18). Observa-se que a topografia não influencia tanto na conformação
dessas áreas (Fig. 19).
Fig. 18 – Fatores de Capacidade de Influenciar segundo condições morfológicas das manchas
urbanas.
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Fig. 19 – Fatores de Capacidade de Influenciar segundo condições morfológicas das manchas
urbanas e limitações impostas pelo relevo.
5 CONCLUSÕES
Trata-se de investigação inquietantemente intrigante. Há muitas reflexões que ainda
podem ser construídas, com vistas a dar apoio à tomada de decisões para o planejamento
regional da área. Quanto mais apurarmos os olhos na interpretação dos resultados, mais
informações nós conseguiremos construir a partir das métricas de paisagem das manchas
urbanas.
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Existem alguns estudos de aplicação dessa lógica de análise espacial em pesquisas de
cobertura vegetal e análise de áreas de preservação. As investigações são muito desenvolvidas
na questão de biomas, condições mínimas para preservação de espécies animais e vegetais. A
abordagem ainda é nova, mas é possível achar referências sobre o tema.
Contudo, para estudos urbanos é tudo muito novo. Estamos na etapa de verificar a
validade da lógica e de criar referências de valores e métricas que possam ser usadas para
estudos semelhantes, mediante os ajustes necessários para cada realidade espacial da
ocupação antrópica.
Diante do exposto, podemos afirmar que o presente estudo cumpre plenamente seu
papel de comprovar que é possível aplicar métricas de paisagem para análises das morfologias
das ocupações urbanas e seus rebatimentos sobre a ocupação regional.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Prentice-Hall, 1966. (orig. 1933).
Forman, R.T.T., Gordon, M. Landscape Ecology. John Wiley & Sons, New York. 1986
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Hucitec, 2002. (orig. 1898).
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(orig. 1981).
Moura, Ana Clara M. Geoprocessamento na Gestão e Planejamento Urbano. Belo Horizonte,
Ed da autora, 2003.
Nascimento, Jaqueline Serafim. Estudo da paisagem como base para o desenvolvimento e
monitoramento de estratégias de conservação, com uso de análise multicriterial, em
ambiente SIG, no mosaico de unidades de conservação da Serra do Cipó: MG.
Dissertação de Mestrado em Geografia – IGC – UFMG, 2010.
Teixeira, Amandio Luís de Almeida, Christofoletti, Antônio. Sistemas de Informação
Geográfica – Dicionário Ilustrado. São Paulo, Editora Hucitec, 1997, p. 131.
7 Agradecimentos
Agradecemos à valiosa colaboração da CEMIG, pela concessão de dados do projeto GEMINI
para as investigações do PDDI – Plano de Desenvolvimento Integrado da Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
Agradecemos às alunas Jaqueline Serafim Nascimento e Junia Borges pela companhia nas
investigações sobre o uso do software Fragstats.
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