Classification and adaptations of muscle fibers: a review
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Classification and adaptations of muscle fibers: a review
I S S N : 1809-2950 FISIOTERAPIA^, PESQUISA REVISTA DO CURSO DE FISIOTERAPIA DA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Volume 12 - número 3 Setembro - Dezembro 2005 Fisioterapia e Pesquisa em continuação a Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo. P u b l i c a ç ã o quadrimestrall d o C u r s o d e F i s i o t e r a p i a da F a c u l d a d e d e M e d i c i n a da U S P Fisioterapia e Pesquisa visa disseminar conhecimento científico rigoroso de modo a subsidiar tanto a docência e pesquisa na área quanto a fisioterapia clínica. Publica, além de artigos de pesquisa originais, revisões de literatura, relatos de caso/s, bem como cartas ao Editor. I N D E X A D A E M : LILACS - Latin American and Caribbean Health Sciences; LATINDEX - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Cientificas de Américas; e C I N A H L - Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature. Tiragem: 1.000 exemplares EDITORA CHEFE CORPO Profa. Dra. A m é l i a Pasqual Marques EDITORIAL Alberto Carlos Amadio EEFE/USP Antonio Fernando Brunetto EDITORAS ASSOCIADAS DFisio/ U E L Profa. D r a . Isabel de C a m a r g o N e v e s S a c c o Armèle Dornelas de Andrade Profa. D r a . Sílvia M a r i a A m a d o J o ã o Augusto Cesinando de Carvalho CONSELHO CONSULTIVO (FOFITO/FM/USP) DFisio/ U F P e Prof. Dr. C a r l o s R o b e r t o R. d e C a r v a l h o C a r m e n Silvia B e n e v i d e s Fellippa Profa. M s . Carolina Fu C l á u d i a R. F u r q u i m d e A n d r a d e Profa. Dra. C e l i s a T i e m i N . Sera Débora Beviláqua Grossi P r o f . D r . C e l s o R i c a r d o F. d e C a r v a l h o Dirceu Costa Profa. D r a . C l a r i c e T a n a k a Profa. Dra. Fátima Aparecida Profa. Dra. Raquel Aparecida DFisio/ U N E S P Pres.Prudente CCS/ UFSM FM/USP F M Ribeirão Preto/ U S P FACIS/UNIMEP Gil Lúcio Almeida DFisio/UNAERP Caromano Helenice Jane Cote Gil Coury Casarotto Profa. D r a . M a r i a Elisa P i m e n t e l Piemonte J o ã o C a r l o s Ferrari C o r r ê a José Rubens Rebelatto SECRETARIA Marcos Duarte Ana Assumpção DCS/ UNINOVE DFisio/ UFScar EEFE/ U S P Maria IgnêzZanetti EDIÇÃO DE TEXTO DFisio / UFSCar Feltrim Neide Maria Lucena INCOR/FMUSP DFisio/UFPB Tina A m a d o O s w a l d o Crivello Junior NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA E INDEXAÇÃO S e r v i ç o d e B i b l i o t e c a e D o c u m e n t a ç ã o da F M U S P e-mail: [email protected] Patricia C a s t e l u c c i FO/USP ICB/USP Fátima Corrêa Oliver TO/ FMUSP Rinaldo Roberto de J. Guirro PROJETO GRÁFICO Rosângela Corrêa Dias Alba A . G . Cerdeira Rodrigues S é r g i o L. D o m i n g u e s C r a v o DIAGRAMAÇÃO Sérgio Teixeira da Fonseca Simone Dal Corso Daniel Carvalho Vera Maria Rocha DFisiolog/ U N I F E S P EEFFTO/ U F M G DCS/UNINOVE Tânia de Fátima Salvini IMPRESSÃO Gráfica U N I N O V E FACIS/ U N I M E P EEFFTO/ U F M G DFisio/ UFSCar CCS/UFRN Curso de Fisioterapia Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia O c u p a c i o n a l - F O F I T O / F M / U S P R. Cipotânea 51 Cidade Universitária 05360-160 São Paulo S P e-mail: [email protected] http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php APOIO SI Bi INSTITUIÇÕES C O L A B O R A D O R A S M Itl^í Ü CREFITO-3 FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO P R E T O / U S P SUMÁRIO CONTENTS Editorial 5 Editorial PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH Interferência de ondas curtas pulsadas na adesividade e na fagocitose de macrófagos em ratos com desnutrição neonatal 6 Interference of pulse short waves on macrophage adhesion and phagocytosis in rats with neonatal malnutrition Eduardo J. N. Montenegro, Paula Roberta T. Hirakawa, Maria D. Costa, Márcio B. Pedroza, Ana Carine M. Gouveia, Raul M. de Castro, Célia M. M. B. de Castro Análise morfométrica de tecido muscular de coelhos submetido a ultra-som pulsado e contínuo de 1 MHz 15 Morphometric analysis of rabbit muscle tissues submitted to pulse and continuous 1 MHz ultrasound Lara G. Lopes, Sônia M.M.G.Bertolini, Eguimar E. R, Martins, Pedro M. Gewehr, Mário S. Lopes A contribuição da extensão comunitária para a formação acadêmica em Fisioterapia 22 Contribution of community extension to the academic training of physiotherapists Kátia Suely Q. S. Ribeiro Fisioterapia e complicações físico-funcionais após tratamento cirúrgico do câncer de mama 30 Physical therapy and physical-functional complications after breast cancer surgical treatment Adriane P. Batiston, Silvia M. Santiago Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço de indivíduos com tuberculose pulmonar Effects of a physical exercise program in the effort tolerance by patients with pulmonary tuberculosis 34 Viviane V. Reck, Daisy Bervig, Lenice F. Rodrigues, Cristiano Sanches, Roberto Frota RELATO DE CASOS CASE REPORT Mobilização pelo método Maitland para correção da discrepância de membros inferiores: estudo de caso Mobilization by the Maitland method to correct lower limb length discrepancy: a case study 41 Daniela B. Gonzalez, Danielli Cristina B. Tótora, Elaine L. Mendes Fisioterapia respiratória na doença de Parkinson idiopática: relato de caso 46 Respiratory physical therapy in idiopathic Parkinson's disease: case report Luiz Antonio Alves, Ana Cláudia Coelho, Antonio Fernando Brunetto REVISÃO REVIEW Classificação e adaptações das fibras musculares: uma revisão 50 Classification and adaptations of muscle fibers: a review Viviane B. Minamoto Instruções para autores 56 Ficha de assinatura 59 EDITORIAL EDITORIAL Este foi u m a n o i m p o r t a n t e para a revista Fisioterapia projeto no início de 2005 transformou-se e Pesquisa. em realidade: O q u e era u m novo título, q u a d r i m e s t r a l i d a d e , p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o da e d i ç ã o d e texto, p a r c e r i a s e t c . G r a ç a s a o a u x í l i o f i n a n c e i r o d o Crefito-3 e d o S i s t e m a Integrado d e B i b l i o t e c a s ( S I B i ) , b e m c o m o à parceria c o m U N I N O V E - Centro Universitário N o v e de Julho - que d i s p o n i b i l i z o u os s e r v i ç o s gráficos, foi possível t e r m i n a r o a n o c o m a s e n s a ç ã o d e dever cumprido. A parceria c o m o Crefito-3 t a m b é m viabilizou p u b l i c a ç ã o na internet ( e m w w w . c r e f i t o 3 . o r g . b r , o acesso à "revistas"). Para os fisioterapeutas brasileiros, 2 0 0 5 foi a i n d a o a n o d o X V I C O B R A F - C o n g r e s s o B r a s i l e i r o d e Fisioterapia - q u e a g r e g o u u m n ú m e r o inédito d e participantes, c u j o s r e s u m o s d o s t r a b a l h o s c o n s t i t u í r a m o v o l u m o s o s u p l e m e n t o d e Fisioterapia Pesquisa e n.2 d e 2 0 0 5 . H o j e nossa revista é i n d e x a d a nas bases d e d a d o s L I L A C S - Latin A m e r i c a n a n d C a r i b b e a n H e a l t h S c i e n c e s , L A T I N D E X - S i s t e m a R e g i o n a l d e I n f o r m a c i ó n e n Línea para Revistas C i e n t í f i c a s d e A m é r i c a s e C I N A H L - C u m u l a t i v e Index to N u r s i n g a n d A l l i e d H e a l t h Literature. D e s s a f o r m a , na c l a s s i f i c a ç ã o d e p e r i ó d i c o s científicos da C A P E S , na á r e a 2 1 ( E d u c a ç ã o Física, o n d e a Fisioterapia está inserida), a revista passou para a categoria I n t e r n a c i o n a l C . O s p l a n o s para 2 0 0 6 , p o r é m , n ã o p a r a m . N o p r ó x i m o a n o p r e t e n d e m o s apresentála a o u t r a s b a s e s d e d a d o s , i n f o r m a t i z a r t o d o o p r o c e s s a m e n t o d o s o r i g i n a i s s u b m e t i d o s e p r e p a r á - l a para a p e r i o d i c i d a d e trimestral. Este é o m o m e n t o d e a g r a d e c e r a todos os q u e , neste a n o , c o l a b o r a r a m d e diversas formas c o m a revista e c o n t r i b u í r a m para q u e as m u d a n ç a s fossem i m p l e m e n t a d a s c o m sucesso. Profa. D r a . A m é l i a Pasqual M a r q u e s Editora-Chefe Interferência de ondas curtas pulsadas na adesividade e na fagocitose de macrófagos em ratos com desnutrição neonatal Interference ofpulse short waves on macrophage adhesion and phagocytosis in rats with neonatal malnutrition 1 2 3 4 Eduardo J. N. Montenegro , Paula Roberta T. Hirakawa , Maria D. Costa , Márcio B. Pedroza , Ana Carine M. 5 6 Gouveia , Raul M de Castro ' Célia M. M. B. de Castro 1 Fisioterapeuta; Prof, do Depto. de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) 2 4 5 Alunos do Curso de Fisioterapia da U F P E 3 Aluna do Curso de Medicina da U F P E 6 M é d i c o ; Prof, do Depto. de Nutrição da UFPE Médica; Profa. do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (LIKA) do Depto. de Medicina Tropical da U F P E ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Célia M . M . B. de Castro Hospital das Clínicas bl. A Av. Moraes Rego s/n Cidade Universitária 53670-910 Recife PE e-mail: [email protected] ACEITO PARA PUBLICAÇÃO mar. 2005 7 RESUMO: Tendo em vista a relação estabelecida entre desnutrição neonatal e atividade celular ligada ao sistema imune, macrófagos peritoniais de ratos Wistar machos, desnutridos e recuperados, foram expostos à diatermia de ondas curtas pulsadas ( D O C P ) e a campo magnético ( C M ) alternado em freqüência ultrabaixa para verificar in vitro as possíveis alterações no índice de a d e r ê n c i a e na a t i v i d a d e fagocítica. Foram submetidos a D O C P modulada em 30 H z , 50 H z e 430 H z na técnica de Schliephake e na técnica convencional em paralelo, e a um C M de 60 H z . Foi constatado aumento no índice de aderência celular nos grupos experimentais de 30 Hz e 50 H z na técnica de Schliephake e ao C M de 60 H z em relação ao controle (p<0,05). A atividade fagocítica diminuiu apenas nos grupos de 30 H z e 50 H z na técnica de Schliephake e ao C M de 60 H z em relação ao controle (p<0,05). Assim, a D O C P de 30 H z e 50 H z na técnica de Schliephake e o C M aumentaram o índice de aderência e diminuíram a atividade fagocítica, o que pode ter aplicações em processos traumáticos agudos. Como macrófagos de animais desnutridos e recuperados mostraram responder a essas irradiações, e como estas são largamente utilizadas em fisioterapia, esses achados auxiliarão na escolha da modulação da D O C P durante o procedimento terapêutico, particularmente em casos que tenham sofrido desnutrição pregressa. DESCRITORES: Desnutrição; Doenças imunológicas; Fagocitose; Ondas de rádio; Eletromagnetismo; Fatores ativadores de macrófagos A B S T R A C T : In v i e w of the established relationships between neonatal malnutrition and the immuno system, peritoneal macrophages of male W i s t a r rats w e r e exposed to diatermic pulsate short w a v e s ( D P S W ) and to alternated magnetic field on extreme low frequency, in order to verify in vitro adhesion index and phagocytic activity. The rats w e r e submitted to malnutrition during the nursing period and to a recovery diet after w e a n i n g . The extracted peritoneal macrophages w e r e exposed to D P S W modulated at 30 H z , 50 H z and 430 H z by using the Schliephake and conventional techniques in parallel, and to a magnetic filed of 60 H z . Results show increased adhesion index only with the 30 H z and 50 H z experimental groups using S c h l i e p h a k e t e c h n i q u e a n d C M 60 H z ; phagocytic activity w a s reduced with 30 H z and 50 H z using Schliephake technique and C M 60 H z , as compared to the control group (p<0,05). S i n c e macrophages of malnourished and recovered animals responded to such irradiations, and since these are largely used in physical therapy, present results could be used to choose correct D P S W modulation in therapeutic process, particularly in cases w h o have previously suffered malnutrition. K E Y WORDS: Malnutrition; Immunologic diseases; Phagocytosis; Radio waves; Electromagnetics; Macrophage-activating factors acarretar danos no d e s e n v o l v i mento e f u n c i o n a m e n t o das funções do sistema i m u n e . As interações entre o encéfalo, a hipófise e o timo em estágios precoces de desenvolvimento têm sido estudadas e os resultados demonstram uma relação clara entre o encéfalo, a hipófise e o timo na fase embrionária, ou seja, entre o sistema nervoso, o sistema endócrino e o sistema i m u n e . A maioria dos estudos a respeito é realizada em animais desnutridos, mas que não foram recuperados totalmente o u parcialmente da desnutrição, deixando c o m isso lacunas no e s c l a r e c i m e n t o do comportamento do sistema imune após recuperação total ou parcial do quadro d e desnutrição promovido durante esse período. 7 A desnutrição é um dos problemas mais importantes de saúde pública no mundo. Estima-se que cerca de metade da população mundial sofra de algum tipo de desnutrição . A prevalência d e moléstia infecto-contagiosa em áreas onde a fome é endêmica torna a situação mais agravante, uma vez que a resistência a infecções nessas populações apresenta-se reduzida. C o m o c o n seqüência, a severidade dos processos infecciosos e a mortalidade na população malnutrida são maiores do q u e na p o p u l a ç ã o hígida . 1 8 2 Dados epidemiológicos e clínicos demonstram que a deficiência nutricional altera o comportamento do sistema imune , promovendo enfraquecimento na imunidade mediada pelas células, na função fagocítica, na concentração de anticorpos nos líquidos orgânicos, na produção de citocinas; altera-se t a m b é m o sistema complemento, aumentando com isso o risco de infecção . Progressos recentes e m imunologia enfatizam o papel dos macrófagos no sistema i m u n e , como reguladores da homeostase ou como células efetoras nas infecções, tumores e ferimentos . A desnutrição neonatal acarreta no rato adulto seqüela duradoura na atividade funcional do macrófago alveolar . A desnutrição, mesmo após recuperação nutricional, parece deixar seqüelas irreversíveis sobre os elementos do sistema i m u n e , a e x e m p l o dos m a c r ó fagos . 3 hospitais públicos atende-se diariamente, no setor de Fisioterapia, um grande número de pacientes que utilizam esse recurso. A pergunta que surge então na atividade da clinica diária é: os "renutridos" respondem às terapêuticas vigentes, que em geral não levam em conta eventual desnutrição pregressa? O objetivo deste estudo é investigar a influência da diatermia de ondas curtas pulsadas ( D O C P ) e do campo magnético ( C M ) de freqüência ultrabaixa sobre a atividade fagocítica e o índice de aderência (mecanismos básicos das c é l u l a s fagocíticas) de macrófagos peritoniais de ratos desnutridos durante o período de desenvolvimento do sistema imune e posteriormente submetidos a recuperação nutricional. METODOLOGIA 9 4 10 A deficiência de nutrientes simples, como zinco, selênio, ferro, cobre, vitaminas A , E, C, B-6 e ácido fólico, resulta em alteração da resposta imune, mesmo quando o estado de deficiência é relativamente pequeno . Esses nutrientes estão envolvidos nos efeitos regulatórios da f u n ç ã o i m u n e adaptativa, principalmente quando mediados por citocinas . H á indícios de que a desnutrição durante o período crítico de desenv o l v i m e n t o do e n c é f a l o p o d e 10 O s macrófagos são influenciados também pela ação dos campos eletromagnéticos, alterando-se sua capacidade de resposta diante de antígenos . N a Fisioterapia, tem aumentado o emprego das irradiações eletromagnéticas em diversos tipos de tratamento. Nos 5 11 6 Obtenção das células Foram utilizados 24 ratos machos Wistar com idade entre 60 e 90 dias (nessa idade os animais são considerados adultos), desnutridos, aleitados por mães submetidas a dieta nutricional deficiente* durante o período de lactação, aproximadamente 24 dias pós-natal. Após o desmame os animais foram mantidos no biotério sob temperatura de 23± 2 ° C e ciclo claro/escuro de 12 horas, recebendo a dieta padrão do biotério ( L A B I N A ) e água ad libitum até o sacrifício. Quatro dias antes do experimento, os animais foram es- * A dieta insuficiente das mães foi calculada com base na Dieta Básica Regional (DBR), modelo dietético da alimentação consumida por comunidades do Nordeste do Brasil, que comprovadamente causa desnutrição (Tabela 1). Tabela 1 C o m p o s i ç ã o centesimal da D B R Ingredientes g % Proteína C a rbo id ratos Lipídeos Cinzas Fibras Feijão c o z i d o e seco 18,34 i 99 10,66 0,24 0,57 1,09 Farinha d e m a n d i o c a 64,81 0,84 48,59 0,12 0,43 5,64 0,06 0,06 3,74 C a r n e seca salgada G o r d u r a da c a r n e salgada e seca Batata d o c e Total Adaptado de Teodósio et u al. 2,74 .- - Kcal 60,76 198,8 11,50 - 0,35 12,76 0,30 9,99 0,03 0,20 0,48 41,43 100,00 7,87 69,24 0,80 1,26 7,21 315,64 0,35 - - - 3,15 t i m u l a d o s c o m i n j e ç ã o intraperitonial de 5 ml de caseinato de sódio a 6% estéril (substância indutora de diferenciação de monócitos em macrófagos). Após pesagem e sedação, os animais foram sacrificados por secção medular para realização do lavado peritonial (método utilizado pelo laboratório e aceito pelo Comitê de Ética). Fez-se a l i m p e z a da á r e a c o m á l c o o l iodado, incisão da pele na porção mediana do abdome e injeção de 10 ml de solução salina estéril. Após massagem digital, realizouse a incisão na membrana peritonial e aspiração de todo o líquido. Todo volume do exudate recuperado foi quantificado e centrifugado a 1500 rpm por 10 minutos. As c é l u l a s f o r a m ressuspendidas em 2 ml de NaCI 0,2% estéril para lisar as hemácias, por dois minutos, e o volume final do lavado recuperado com NaCI 0 , 9 % estéril para nova c e n trifugação (10 minutos/1500 rpm). As células foram ressuspendidas em meio de cultura R P M I 1640 completo (penicilina 100U/ml e estreptomicina 100|ig/ml - Sigma) c o m o v o l u m e e q u i v a l e n t e ao volume final do lavado, para contagem. Para cada animal obtevese e m m é d i a 4 0 m i l h õ e s d e macrófagos, dos quais 9 5 % eram células morfologicamente aceitas pelas técnicas de c o l o r a ç ã o de G i e m s a , no qual se utiliza um reagente no 1 que contém eosina e azul de metileno e o reagente no 2 contendo azul II (80mg/dl) e eosinato de azul II (100 mg/dl). A v i a b i l i d a d e testada foi sempre maior que 9 5 % pela exclusão com azul tripan. Equipamentos e irradiação das células Para obtenção das culturas de macrófagos irradiados, parte da suspensão das células provenientes de cada animal (em triplicata), a p ó s o l a v a d o p e r i t o n i a l , foi submetida a um campo magnético senoidal de freqüência ultrabaixa (60 Hz) com densidade de campo magnético de 1 O u J (microTesla) e a um emissor de D O C P (Diatermax L M 9006 da KLD) com onda portadora senoidal modulada em freqüência ultrabaixa em bursts (pulsos), com os parâmetros de exposição que constam do Quadro 1 , com emissão de 4 0 % de sua potência total, c o m o i n d i c a d o pelo f a b r i c a n t e utilizando a técnica de Schliephake (que consiste em um distanciamento dos eletrodos da área tratada de 10 a 20 cm) e a técnica c o n vencional em paralelo (que c o n siste em um distanciamento dos eletrodos da área tratada de 2 a 4 cm). Note-se que os campos elétricos gerados foram dependentes da potência emitida, da distância da fonte emissora (eletrodos) e da modulação da freqüência. A densidade de potência do campo foi medida fora do meio de cultura R P M I 1640 onde se encontra a amostra. A condutividade do meio RPMI-1640 é de 7,64 mSiemens (~164 ohm) e a resistência do ar é aproximadamente 377 ohm. C o m esses valores verificou-se que a resistividade do meio não interfere na potência do campo medido. 13 As amostras irradiadas foram colocadas a 15 cm de distância dos eletrodos da D O C P na técnica de Schliephake (valor médio das distâncias de 10 a 20 cm) e na técnica convencional em paralelo foram colocadas a 3 c m de distância do eletrodo (valor médio das distâncias de 2 a 4 cm) que, nesse local, gerou uma ten- são de campo elétrico alternado. A tensão do campo elétrico gerado pela D O C P foi medida por osciloscópio digital (marca Hewlett Packard 54600B) acoplado a uma bobina indutora de campo eletromagnético proveniente de um multímetro {Logger Multimeter) no local onde o tubo de vidro estava com a amostra. Esse procedimento teve como objetivo garantir que qualquer elevação em termos de energia fornecida ao sistema (células) fosse exclusivamente dependente da freqüência e não do aumento de tensão. A distância entre os eletrodos foi de 30 c m . As amostras foram coloc a d a s e m e s t a n t e d e isopor (poliestireno expandido, 2 % de poliestireno e 9 8 % de ar) durante a exposição. O s eletrodos emissores da D O C P também foram fixados em suportes de isopor. As amostras que serviram de controle foram colocadas em ambiente seguro, afastado da emissão do campo. Foi efetuada no ambiente, antes da exposição, uma varredura para mapear qualquer campo que pudesse interferir com o campo experimental. O equipamento utilizado foi o Trifield Natural E M Meter e o referido osciloscópio digital. N ã o foi identificado qualquer campo com intensidade suficiente para interferir no experimento (o campo elétrico alternado ambiental foi de 47,8 mV). A densidade da potência do campo foi medida pelo equipamento Anritsu Power Meter M L 4803A. Quadro 1 Esquema de irradiação para D O C P com 40% de potência de sua emissão total Tratamento Tempo Freqüência (minutos) (Hz) Vp-p D.P.C Controle 0 0 0 0 Schliephake 15 30 7,8 V 0,381 u W / c m Schliephake 15 50 7,8 V 0,65uW/cm 2 Schliephake 15 430 7,8 V 6,35uW/cm 2 Convencional 15 30 32 V 6,36|iW/cm 2 Convencional 15 50 32V 11uW/cm Convencional 15 430 32 V 91,37|iW/cm 2 2 2 Hertz (Hz): número de ciclos por segundo; Vp-p: Voltagem pico a pico da onda eletromagnética (burst); D.P.C: Densidade de potência do campo em microWatts/centímetro quadrado Para obtenção dos macrófagos irradiados com o campo magnético senoidal de freqüência ultrabaixa (60 Hz) com densidade de fluxo magnético de 10uT, foi utilizado um autotransformador ATS Line de 500 V A . As amostras foram colocadas em uma estante de Poliestireno expandido a uma distância de 11,5 c m em sentido vertical da fonte emissora do campo por um período de 1 hora. O c a m po magnético foi mensurado através do e q u i p a m e n t o T r i f i e l d Broadband Meter. O mesmo procedimento de segurança utilizado para a D O C P foi tomado em relação à exposição à baixa freqüência. As células (macrófagos e fungos) irradiadas ou não foram distribuídas em lâmina para microscopia óptica e incubadas a 3 7 ° C , em atmosfera úmida, por um período de uma hora. Após esse período as lâminas foram lavadas com H B S S , secadas à temperatura ambiente e coradas com DiffQuik set (Baxter Dade, Düdinen, Switzerland). A leitura foi feita em microscópio óptico, com objetiva de 100X sob imersão. A taxa de fagocitose foi obtida, em percentual, pela contagem de macrófagos que fagocitaram o fungo, em um total de 200 células. ultrabaixa de 30 Hz (2), 50 Hz (3), 430 Hz (4) e campo magnético de 60 H z (5). Aumento significativo no índice de aderência foi detectado nos grupos experimentais na técnica de Schliephake de 30 Hz e 50 Hz e no C M de 60 Hz após um período de exposição de 15 minutos para a D O C P e 60 minutos para o C M . O grupo experimental de 430 Hz não apresentou aumento no índice de aderência. A média e o desvio padrão do IA no controle foi de 54,13 ± 4,86 em relação a 71,7 ± 9,54 para D O C P de 30 H z , 68,86 ± 6,64 para D O C P de 50 Hz, 64,28 Análise estatística ± 16,09 para D O C P de 430 Hz e 73,86 ± 13,56 para C M de 60 Hz (p<0,05). índice de aderência Para o experimento, macrófagos provenientes do lavado peritonial irradiados ou não e divididos em triplicata foram transferidos para poços de 35 mm d e diâmetro em placas de culturas com 6 poços cada, em uma densidade de 2 X 106células/ml com total de 2 ml por poço. As placas foram mantidas em estufa a 37°C, sob atmosfera úmida com 5 % de C 0 por 60 minutos. Em seguida, alíquotas de 10uJ da amostra foram retiradas para contagem das células não-aderidas, em diluição de 1/10 em azul tripan na câmara de Neubauer. 2 O cálculo do índice de aderência foi realizado empregandose a fórmula de Segura et al. : u IA=100 - células não aderidas X 100 n° iniciai de células/ml Atividade fagocítica Macrófagos recuperados do lavado peritonial foram divididos em triplicata, como descrito acima. Para se a v a l i a r a taxa d e fagocitose, foram utilizados fungos Saccharomyces sp. O s fungos foram lavados três vezes com S o lução Salina B a l a n c e a d a de Hanks' ( H B S S ) . Em seguida, 10 fungos/ml foram misturados em suspensão, contendo 10 macrófagos/ml de meio R P M I 1640. 8 6 Para análise comparativa entre o grupo controle e o grupo experimental, tanto para a fagocitose quanto para o índice de aderência, foi u t i l i z a d o o Teste-t de S t u d e n t c o m n í v e l de significância de p<0,05. RESULTADOS O índice de aderência (IA) foi avaliado pela contagem de células que aderiram, ou não, à superfície dos poços nas placas de cultura. Apresentam-se na Figura 1 o IA dos macrófagos controle (1) e expostos a D O C P na técnica de Schliephake com modulação A atividade fagocítica foi med i d a a partir d o c o n t a t o d e macrófagos peritoniais de ratos com Saccharomyces sp na presença ou na ausência da D O C P na técnica de Schliephake com modulação ultrabaixa de 30 H z , 50 H z , 430 Hz e C M de 60 Hz (Figura 2). O c o r r e u diminuição em termos estatísticos na atividade fagocítica nos grupos da D O C P em 30 Hz e 50 Hz e no C M de 60 H z , mas não ocorreu diminuição no grupo de 430 Hz após um período de exposição de 15 minutos para a D O C P . A mé- dia e o desvio padrão da atividade fagocítica no controle foi de 22,75 ± 2,18 em relação a 11,83 ±2,16 para D O C P de 30 Hz, 11,75 ±2,40 para D O C P de 50 Hz, 21,83 ± 0,98 para D O C P de 430 Hz e 9,75 ± 1,4 para C M de 60 H z (p<0,05). São apresentados na Figura 3 o IA dos macrófagos controle (1) e expostos a D O C P na técnica convencional em paralelo com modulação ultrabaixa de 30 Hz (2), 50 Hz (3) e 430 Hz (4). Nenhum efeito significativo foi observado no índice de aderência nos grupos experimentais de 30Hz, 50 Hz e 430 Hz após um período de exposição de 15 minutos. A média e o desvio padrão do IA no controle foi de 52,14 ± 3,93 em relação a 56,07 ± 10,59 para D O C P de 30 H z , 57,85 ± 9,06 para D O C P de 50 H z , 56,42 ± 6,26 para D O C P de 430 Hz (p>0,05). Tampouco qualquer efeito significativo foi observado na atividade fagocítica nos grupos da D O C P na técnica convencional em p a r a l e l o c o m m o d u l a ç ã o ultrabaixa de 30 H z , 50 H z e 430 Hz, após um período de exposição de 15 minutos (Fig.4). A média e o desvio padrão da atividade fagocítica no controle foi de 22,57 ± 3,59 em relação a 20,85 ± 4,59 para D O C P de 30 Hz, 22,28 ±3,19 para D O C P de 50 Hz, 22,71 ± 4,99 para D O C P de 430 Hz (p>0,05). DISCUSSÃO Neste estudo a a d e s i v i d a d e celular de macrófagos peritoniais de ratos foi avaliada por meio do índice de aderência (IA), após a exposição das células dos animais desnutridos e recuperados da desnutrição aos campos de D O C P e C M de 60 H z . Foi observado a u mento da adesividade celular após um tempo de exposição de 15 minutos para as freqüências moduladas em ultrabaixa freqüência de 30 H z e 50 Hz na técnica de Schliephake e de 60 minutos para os C M de 60 Hz, cujos parâmetros são utilizados na prática fisioterápica e encontrados em ambientes de trabalho respectivamente. O s campos de D O C P modulados em freqüência ultrabaixa de 30 Hz, 50 Hz e 430 H z na técnica convencional em paralelo e de 430 Hz na técnica de Schliephake não alteraram a adesividade c e lular. A desnutrição energética proteica modifica tanto a resistência específica como a não-específica do organismo para agentes infecciosos . 1 O s macrófagos são reconhecidos por sua atuação na defesa contra a invasão do organismo por antígenos estranhos. Essas células podem migrar para o interstício do foco de reação após aderir às c é lulas endoteliais . A desnutrição energética protéica altera esse mecanismo reduzindo a expressão de moléculas de adesão e a ativação de m a c r ó f a g o s , podendo assim interferir de forma negativa no mecanismo de sinalização celular dos macrófagos, como o fluxo de cálcio e a fosforilação das proteínas quinases . Além disso, a atividade da cadeia transportadora de elétrons é drasticamente reduzida na desnutrição, ocorrendo menor produção de ATP para as células . O ATP tem como principal função fornecer energia para o equilíbrio entre o processo de fosforilação e desfosforilação de proteína específica na sinalização celular . 14 1416 16 16 17 A interação adesiva é mediada por moléculas proteicas transmembranares dependentes ou não dos íons cálcio. As moléculas adesivas dependentes de cálcio apresentam fortalecimento na adesão quando em presença desse í o n . Moléculas independentes de cálc i o são eletronegativas ( á c i d o siálico) e quanto maior for essa eletronegatividade, menor será a força de adesão. Caso essas moléculas se tornem m e n o s e l e tronegativas, o processo de adesão é f o r t a l e c i d o . Estudos da d i n â m i c a de adesão c e l u l a r demonstraram que esse tipo de 18 19 interação responde pelas leis que regem as atividades enzimáticas tendo sua velocidade diminuída na presença de baixas temperaturas . 20 O s campos eletromagnéticos alteram não só a concentração do cálcio intracelular como também interferem na atividade enzimática das células i m u n e s . Esse efeito pode interferir na sinalização e no comportamento celular, mecanismo ainda não totalmente c o m p r e e n d i d o . 21 2123 Pelos resultados deste trabalho, sugere-se que a D O C P com a potência e a freqüência modulada de 30 H z e 50 H z na técnica de Schliephake, bem como o C M de 60 H z entraram em ressonância c o m o sistema (células), deflagrando aumento da adesividade celular e interferindo no c o m portamento do cálcio. Neste trabalho os animais foram submetidos a uma desnutrição severa durante o período de formação do sistema i m u n e e f o r a m r e c u perados após essa fase. Apesar de a literatura indicar que a desnutrição energética proteica promov e eventos c o m o desarranjo na expressão de moléculas de adesão , redução da ativação de macrófagos, interferência na sinalização intracelular dos macrófagos , no presente estudo os campos eletromagnéticos a u mentaram o índice de aderência que, em parte, está diretamente relacionado com os íons cálcio, fortalecendo esse fenômeno celular. O mecanismo pelo qual isso ocorre ainda não é conhecido. 1 4 1 6 17 A adesividade celular não sofreu influência da D O C P na técnica convencional em paralelo na modulação de freqüências ultrabaixas de 30 Hz, 50 Hz e 430 Hz, como também não sofreu influência na técnica de Schliephake na freqüência ultrabaixa de 430 H z . Isso sugere que a potência de densidade do campo, que em parte foi dependente da freqüência modulada, não se encontra na faixa de janela específica do sistema celular. D e v e ser observado que a D O C P de 430 H z na técni- ca de S c h l i e p h a k e gerou uma densidade de potência no local das amostras de 6,35uA/V/cm , coincidente com a potência gerada na D O C P de 30 Hz com a técnica convencional em paralelo ( 6 , 3 6 u W / c m ) . Neste trabalho, o que podemos observar é que o campo eletromagnético com os parâmetros utilizados não foi eficaz em alterar o comportamento das moléculas de adesão celular. 2 2 O processo de ativação celular promovido puramente pelos campos não-ionizantes é muito discutido. Alguns resultados demonstram que esse processo só é possível caso a célula já tenha sido pré-estimulada c o m alguma substância . Resultados recentes apresentam e v i d ê n c i a s de que esses c a m p o s p o d e m ativar a célula de forma d i r e t a mas, como já comentado, o mecanismo exato dessa ativação permanece desconhecido . Hipóteses existem; uma delas é que a cadeia de s i n a l i z a ç ã o q u e e n v o l v e o inositol trifosfato (IP3) é potencializada pelos campos nãoionizantes. O IP3 abre os canais de cálcio no retículo endoplasmático, elevando a concentração desse íon no interior da célula e d e f l a g r a n d o a s s i m t o d o s os processos de sinalização celular p r o m o v i d o s pelo c á l c i o . N o momento em que o macrófago entrou em contato com o plástico da placa, a exposição prévia aos campos agiu c o m o um co-estímulo, aumentando a afinidade pela interferência nos íons cálcio. 24 2526 2 0 2 3 2 7 A provável aplicação clínica deste c o n h e c i m e n t o é q u e a D O C P pode ser utilizada em processo inflamatório onde células necessitam de adesão para migrar ao foco inflamatório (lesões traumáticas agudas e crônicas). Já foi demonstrado c l i n i c a m e n t e em idosos, q u e apresentam naturalmente aumento da adesão de macrófagos, que esse fenômeno, quando instalado crônicamente, não é benéfico para o organismo, pois está ligado à formação de aterosclerose . A utilização desse tipo de irradiação ( D O C P ) deve 28 ser por tempo relativamente curto e a análise foi efetuada após uma hora da irradiação in vitro, não se sabendo então como esse processo se comporta após tempo mais longo. C o m o C M de 60 Hz, o período de exposição de 60 minutos foi suficiente para deflagrar o mesmo processo. A preocupação inicial com esse tipo de irradiação é que ela é encontrada em ambientes de trabalho industrial que utilizam equipamentos elétricos, onde pessoas permanecem por períodos de até oito horas diárias . 29 A atividade fagocítica demonstrou uma redução após a exposição a D O C P modulada em freqüência ultrabaixa na técnica de Schliephake de 30 Hz e 50 H z e ao C M de 60 Hz. A ativação fisiológica do macrófago está associada à fagocitose e aumenta a formação de espécies reativas de oxigênio. Caso contrário, se a atividade fagocítica é reduzida, a formação de espécies reativas de oxigênio d e c a i . A a t i v a ç ã o é deflagrada por estímulos na membrana celular, que é transduzida para o interior citoplasmático pelas cascatas de sinalização celular . No caso particular deste estudo, foi utilizada a levedura Saccharomyces sp para ativar a resposta fagocitária dos macrófagos. 2 2 30 Macrófagos obtidos de animais com deficiência energética proteica, de vitamina D3 e A apresentaram baixa atividade fagocítica e antitumoral . A associação entre deficiência nutricional e aumento na susceptibilidade às doenças infecciosas já é bem con h e c i d a . U m a d i m i n u i ç ã o na atividade fagocítica com aumento nos níveis de cálcio intracelular 3133 34 foi conseguida com campo magnético contínuo e com microondas de baixíssima intensidade . 35 36 As variações nos níveis do íon cálcio intracelular promovem alterações tanto estimulatórias como inibitórias nas células do sistema i m u n e . O s dados experimentais levam a crer que campos eletromagnéticos aumentam a permeabilidade da m e m b r a n a c i t o p l a s mática para íons cálcio pelos canais de cálcio, podendo também inibir o efluxo desse íon para o exterior da célula. A reserva de cálcio no retículo endoplasmático é liberada por mensageiros celulares e a própria captação para o interior do retículo endoplasmático pode ser alterada pelos campos eletromagnéticos, com isso mantendo as concentrações do íon elevadas no citosol . 37 38 Cations divalentes como o cálcio foram identificados como dos fatores mais importantes para influenciar a fagocitose. O aumento intracelular está associado com a d i m i n u i ç ã o da fagocitose de partículas e s t r a n h a s . 3940 A dificuldade para entender a resposta celular aos campos nãoionizantes é que ele se apresenta de forma não-linear e não-limiar, ou seja, pequenas intensidades podem apresentar grandes efeitos, altas intensidades podem passar despercebidas pela c é l u l a . A adesividade celular e a atividade fagocítica dos macrófagos dos animais desnutridos e r e c u p e rados, estudados neste trabalho, foram alteradas com campos que apresentaram menor densidade de potência de energia (30 H z e 50 H z na técnica de Schliephake e C M de 60 Hz) em relação a c a m 35 pos com maiores densidades (430 H z na técnica de Schliephake e 30 Hz, 50 H z e 430 Hz na técnica convencional em paralelo). O s macrófagos residentes dos tecidos conjuntivos representam a primeira linha de defesa contra processos infecciosos . Caso o sistema tenha sua atividade diminuída, agentes externos e internos podem proliferar-se c o m maior facilidade, pois encontrariam pouca resistência a seu avanço; isso traz preocupação quanto à exposição do terapeuta e do trabalhador a campos dessa ordem, por tempo indeterminado. Pacientes que sofreram desnutrição durante a fase crítica de desenvolvimento do sistema imune poderão naturalmente apresentar diminuição na atividade fagocítica, que poderá ser potencializada pela aplicação da D O C P ou da exposição ao C M de 60 Hz. 9 CONCLUSÃO A D O C P modulada em ultrabaixa freqüência de 430 H z na técnica de Schliephake e de 30 Hz, 50 Hz e 430 Hz na técnica c o n v e n c i o n a l em paralelo não interfere no índice de aderência e na atividade fagocítica dos ratos desnutridos e recuperados. A D O C P modulada em ultrabaixa freqüência de 30 Hz e 50 Hz na técnica de Schliephake e o C M de 60 Hz aumentam o índice de aderência (IA) e reduzem a atividade fagocítica dos macrófagos dos ratos desnutridos e recuperados, podendo ter aplicações práticas em processos traumáticos agudos que necessitem de interferência na adesividade celular e na atividade fagocítica. REFERÊNCIAS 1 Keusch GT. The history of nutrition: malnutrition, infection and immunity. J Nutri. 2003;133:S336-40. 2 M o o r e SE, Goldblatt D, Bates C J , Prentice A M . Impact of nutritional status on antibody responses to different v a c c i n e s in undernourished G a m b i a n children. Acta Paediatr. 2003;92:170-6. 3 Chandra R K . Nutrition, immunity and infection: from basic knowledge of dietary manipulation of immune responses to practical application of ameliorating suffering and improving survival. Proc Natl A c a d S c i U S A . 1996;93:14304-7. 4 Chandra R K . 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Lopes Fisioterapeuta; Prof, do Curso de Fisioterapiada Universidade Para na ens e (UNIPAR) e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Informática Industrial (CPGEI) do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (CEFET-PR) 5 RESUMO: Visando estabelecer uma relação entre os efeitos do ultra-som e a variação da área da célula muscular, este estudo analisou os efeitos do ultra-som ( U S ) de 1 M H z , pulsado e c o n t í n u o , utilizado c o m a intensidade máxima d e 3 W / c m 2 , e m tecido muscular sadio do músculo vasto lateral de c o e l h o s (Oryctolagus Cuniculus) m a c h o s adultos. Utilizaram-se dois grupos, cada um c o m 5 coelhos, sendo um para o U S pulsado e o outro para o U S contínuo. Utilizou-se a coxa esquerda dos coelhos c o m o antímero experimental, sendo a direita o controle. Em ambos os grupos foram realizadas 10 sessões consecutivas de U S de 1 M H z , c o m intensidade de 3 W / c m 2 durante 12 minutos. A o término das 10 sessões os coelhos foram sacrificados, retirando-se o músculo vasto l a t e r a l , b i l a t e r a l m e n t e , para p r e p a r a ç ã o das l â m i n a s , q u e f o r a m analisadas histomorfometricamente. Consideraram-se sempre 10 células musculares em cada extremidade da lâmina analisada - superior, inferior, direita e esquerda. Obtiveram-se assim 40 células analisadas, em cada antímero de cada c o e l h o . Pela análise estatística (teste t-Student) da média das áreas destas células, verificou-se que não houve diferença significativa entre o antímero experimental e o controle em ambos os grupos. C o n c l u i - s e que, c o m a metodologia empregada nesta pesquisa, o U S não produz efeitos morfométricos no tecido muscular sadio de coelhos. / Fisioterapeuta; Prof, da Universidade Estadual de Maringá ( U E M ) Graduando em Fisioterapia na U N I P A R Engenheiro e I é I: r i c; o ; P r o l do C P G E I do CEFET-PR Fisioterapeuta; Prof, do Curso de Fisioterapia da UNIPAR DESCRITORES: Engenharia b i o m é d i c a ; T é c n i c a s de fisioterapia; M ú s c u l o s / ultrasonografia; Coelhos ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Lara Guérios Lopes Av. Duque de Caxias 4410 87504-040 Umuarama PR e-mail: [email protected] Dissertação desenvolvida no Programa de PósGraduação C P G E I do CEFET-PR para obtenção do título de Mestre em Ciências. ACEITO PARA PUBLICAÇÃO março 2005 ABSTRACT: In order to seek a relation between applied ultrasound ( U S ) and variation of muscle cell area, this study analysed the effects of 1 M H z U S , in pulsed and continuous mode, at the maximum intensity of 3 W / c m 2 , in healthy muscle tissue of adult male rabbits' (Oryctolagus Cuniculus) vast lateral muscle. Rabbits' left thighs w e r e tested in the experiment, the right ones being taken as control. Two groups of 5 rabbits each w e r e formed, o n e for pulsed U S and the other for continuous U S . In both groups w e r e applied 10 consecutive sessions of 1 M H z U S with intensity of 3 W / c m 2 during 12 minutes. At the end of the 10 sessions the rabbits w e r e sacrificed and both thighs lateral muscles w e r e excised, prepared and fixed to slides for microscopic analysis of the cells area. Ten cells w e r e considered at each slide sector (upper, lower, right and left), thus a total of 40 cells w e r e analysed from each thigh. The mean area of cells for e a c h slide sector w a s compared to control thigh cells area by means of t-Student test. N o statistical I ly significant differences w e r e f o u n d b e t w e e n the t w o sides in both groups, leading to the conclusion that, with the described methodology, U S does not produce any effect in the cell size of rabbits healthy muscles. KEY WORDS B i o m e d i c a l engineering; Physical therapy techniques; M u s c l e s / ultrasonography; Rabbits Na prática clínica, em fisioterapia, vários são os recursos eletroterapêuticos e termoterapêuticos utilizados na reabilitação das diversas desordens do sistema musculoesquelético, porém faltam estudos sobre os reais efeitos biológicos que estes recursos podem provocar no organismo tratado. U m dos equipamentos termoterapêuticos utilizados para a produção de calor é o que utiliza ultra-som ( U S ) , produzindo calor profundo pela propagação de suas ondas mecânicas. O U S terapêutico é freqüentemente utilizado em fisioterapia com o objetivo de diminuir sintomas e manifestações inflamatórias de diversas patologias ortopédicas e reumatológicas. Entretanto, existem poucos trabalhos científicos que suportam ou demonstram a eficácia do U S utilizado em baixas intensidades ou do U S pulsado (onde o efeito térmico é minimizado) e sua atuação nas manifestações do processo inflamatório . 1 O U S é um recurso terapêutico muito utilizado no tratamento das lesões musculares, geralmente associado a outras terapias como mobilizações ativas e passivas, massagens e resfriamento c o m bolsas de gelo. A incidência dessas lesões é maior no âmbito esportivo, onde é comum os atletas serem submetidos a tratamento com U S , que tem tido, aparentemente, resultados eficientes . 2 A terapia por U S tem várias indicações, tanto nos processos agudos como nos crônicos; seus efeitos fisiológicos têm sido investigados há mais de 50 anos e vêm sendo descritos de maneira e m pírica através dos tempos e da prática clínica de cada terapeuta . 36 Experimentos realizados com o U S demonstram que a interação deste com os tecidos biológicos provoca alterações fisiológicas, que podem ser benéficas ou provocar danos. O s primeiros efeitos biológicos causados pelo U S , nos tecidos submetidos a terapia, fo- ram reportados em 192 7 por W o o d e Loom is em The physical and biological effects of high frequency waves of great intensity, demonstrando que altas freqüências (300 kHz) e intensidades de U S causavam lise e diminuição da mobilidade das células vermelhas do sangue . Vários estudos controlados têm demonstrado a efetividade da terapia com U S para cicatrização de úlceras varicosas e úlceras de p r e s s ã o . Porém, numa revisão de literatura feita em 293 artigos publicados desde 1950, sobre os efeitos do U S em desordens do sistema musculoesquelético, observou-se que seu uso era baseado em empirismo, faltando evidências científicas de seus reais efeitos . O s efeitos do U S c i tados em vários trabalhos científicos não justificam seu uso e prov a v e l m e n t e não são benéficos. Essas conclusões basearam-se na falta de evidências biológicas da sua eficácia descritas nos artigos . N o estudo de 35 artigos publicados no período de 1975 a 1999, sobre a eficácia do U S no tratamento de diversas patologias, somente 10 foram considerados tendo uma metodologia adequada, contendo todas as informações necessárias, desde equipamento utilizado até a justificativa da dose de tratamento. 7 811 12 13 Conclui-se que as opiniões sobre as dosagens utilizadas para o tratamento diferem significativamente e que existem poucas evidências dos efeitos clínicos do U S , daí a necessidade de importante e sistemática investigação de seus efeitos clínicos e estudo da relação entre doses e respostas biológicas . 14 Ultra-som e terapia Geradores de U S de alta freqüência, 3 M H z , são empregados para o tratamento de tecidos superficiais, pois a energia é absorvida na superfície. O gerador mais utilizado, o de 1 M H z , oferece um ajuste entre a penetração profunda e um aquecimento adequado, em função da freqüência relativamente baixa empregada . 15 O s efeitos do U S dependem de muitos fatores físicos e biológicos, tais como a intensidade, o tempo de exposição, a estrutura espacial e temporal do campo ultra-sônico e o estado fisiológico da estrutura a ser tratada. Esse grande número de v a r i á v e i s c o m p l i c a a c o m preensão exata do mecanismo de ação do U S na interação com os tecidos biológicos . 16 A freqüência de saída, em um equipamento de U S , determina a profundidade de penetração da energia, com uma relação linear entre a freqüência do \JS e a profundidade na qual a energia é absorvida pelo tecido. A taxa de absorção e, conseqüentemente, a atenuação aumentam conforme a freqüência do U S aumenta, devido à fricção entre as moléculas que as ondas sonoras devem superar para passar através dos tecid o s . O aumento de temperatura nos tecidos, causado pelas ondas de U S , depende da intensidade de saída ( W / c m ) do equipamento e da duração do tratamento. Embora esse método de determinação da dosagem do tratamento tenha sido tradicionalmente utilizado, é, na melhor das hipóteses, uma técnica imprecisa . 17 2 18 Os efeitos do U S são divididos em térmicos e não-térmicos. O s efeitos térmicos são produzidos por ondas de U S contínuas, ou pulsadas com alta intensidade, e levam a uma alteração dos tecidos, como um resultado direto da e l e v a ç ã o de sua temperatura, provocada pelo U S . O s efeitos não-térmicos produzidos pelo U S pulsado causam alterações resultantes do efeito mecânico da energia de U S - " . 5 1 8 2 0 O efeito térmico do U S é considerado de grande importância. O som atenua-se à medida que atravessa um meio ou diminui sua intensidade durante esse trajeto. Parte dessa atenuação é causada pela conversão da energia em calor por absorção e o restante, pela reflexão e refração do feixe . O U S pode e l e v a r a temperatura tecidual a 5 c m ou mais de profundidade. A resposta fisiológica atri20 buída a esse efeito inclui o a u mento da extensibilidade do colágeno, alterações no fluxo sangüíneo, mudanças na velocidade de condução nervosa, aumento da atividade enzimática e mudanças na atividade contrátil dos músculos esqueléticos . 18 A vasodilatação, em resposta ao aumento do fluxo sangüíneo causado pelo uso do U S , pode ser considerada, em parte, como um fenômeno protetor, destinado a manter a temperatura corporal dentro dos limites da normalidade, 36 a 3 7 ° C . As causas que levam à vasodilatação podem ser consideradas como: liberação de estimulantes tissulares em conseq ü ê n c i a da a g r e s s ã o c e l u l a r causada pela vibração mecânica das ondas ultra-sônicas; estimulação, possivelmente direta, das fibras nervosas aferentes, o que conduz à depressão pós-excitatória da atividade ortossimpática, levando a uma redução do tônus muscular . O s efeitos combinados de vasodilatação, vasoconstrição e edema podem ocorrer na célula após a aplicação de U S . 2 0 4 Dada a falta de comprovação dos reais efeitos do U S e de este ser dosado de maneira empírica, este trabalho teve como objetivo estudar os efeitos produzidos pelo ultra-som de 1 M H z , pulsado e contínuo, quando utilizado com a intensidade máxima de 3 W / c m , em tecido muscular sadio - no caso, músculo vasto lateral de coelhos (Oryctolagus Cuniculus) machos adultos - buscando estabelecer relação entre a ação do ultra-som e os efeitos causados na variação da área da célula muscular. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização do presente estudo foram utilizados 10 coelhos da raça Nova Zelândia, adultos, com aproximadamente 4 meses de vida, machos, com uma média de peso corporal de 2,7kg, fornecidos pelo Instituto de Pesqui- sa Acadêmica, sendo todo o procedimento metodológico previamente submetido à apreciação e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Animais da UNIPAR. O s dez coelhos foram divididos em dois grupos de cinco, sendo denominados grupo 1 - de U S pulsado - e grupo 2 , de U S contínuo. O grupo 1 foi submetido a uma intensidade ultra-sônica de 3 W / c m no modo pulsátil, enquanto o grupo 2 foi submetido à mesma intensidade no modo contínuo. O s grupos eram seus próprios autocontroles, sendo a coxa esquerda a experimental e a direita o c o n t r o l e . O s a n i m a i s foram tricotomizados na região do músculo vasto lateral bilateralmente e, antes da aplicação do U S , fazia-se a assepsia da região com á l c o o l 7 0 % . C o m o meio de acoplamento da interface transd u t o r - p e l e , u t i l i z o u - s e gel d e carbocol à base de água da K L D Biosistemas. Cada grupo foi submetido a sessões diárias de U S durante 12 minutos num período de 10 dias. O tempo utilizado foi o sugerido no manual do equipamento, que propunha 1 minuto por c m de área tratada. A dose utilizada foi a máxima recomendada no m a n u a l e sugerida por autores já citados. 2 2 21 O equipamento utilizado foi o ultra-som Avatar I - 1 M H z T U S 0 1 0 1 da K L D Biosistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda, fornecido pela própria empresa . O cabeçote transdutor foi c o n feccionado especialmente para o experimento, com dimensão de 1 c m , facilitando sua adaptação e a c o p l a m e n t o aos animais. Seu diafragma metálico foi feito num diâmetro menor que o c o n v e n cional utilizado para tratar humanos. Antes do início do experimento o equipamento foi verificado através de uma balança para ultra-som modelo O H M I C - U P M DT-10, na própria K L D , onde a potência de saída do transdutor o b t e v e um d e s v i o m á x i m o de 20%, sendo esse valor tolerável pela norma N B R IEC 60601 - 2 - 5 . 21 2 22 N o décimo dia os coelhos foram sacrificados para a coleta do material para a análise. Para a realização da eutanásia todas as cobaias foram anestesiadas pela associação de xilazina (10 mg/kg) e cloridrato de cetamina (100 mg/kg), administrada por via intramuscular no músculo triceps braquial. Tais doses são duas vezes maiores que as usualmente empregadas para anestesia cirúrgica de leporinos, e visaram estabelecer uma garantia plena de anestesia profunda. U m a vez anestesiado, c a d a a n i m a l r e c e b e u , por via intracardíaca, uma dose letal de pentabarbital sódico, equivalente a cerca de 30-35 mg/kg. A coleta do material para confecção das lâminas era feita logo após o sacrifício, num intervalo menor que 1 hora. Retirava-se o m ú s c u l o v a s t o lateral b i l a t e ralmente, desde sua origem até sua inserção, que era fixado por imersão em formol a 10% durante 5 dias até o início da preparação das lâminas. Passado o período de 5 dias, os músculos eram retirados do Formol e submetidos a cortes, com bisturi cirúrgico, na região central do ventre muscular, da f a c e mais externa do músculo para a mais interna, formando pequenos blocos de 1 c m . Iniciava-se então a inclusão desses blocos em uma série ascendente de álcoois a 70, 80 e 9 0 % de concentração e álcool absoluto por um período de 24 horas, após o que os blocos eram mergulhados durante 20 minutos em clorofórmio e banhados três vezes em parafina derretida para fazer o emblocamento e posterior corte no micrótomo. 2 O s cortes foram feitos transversalmente à fibra muscular, com uma espessura de 6|im formando finas lâminas de tecido. Após este processo, realizava-se a hidratação da peça e desparafinação em uma estufa. Iniciava-se então a montagem das lâminas q u e , quando prontas, eram coradas com eosina hematoxilina (HE) e fixadas com resina Permot® para posterior análise em microscopia de luz, c o m a u m e n t o de 400x, e analisador de imagens, para medida do tamanho da área absoluta das c é l u l a s m u s c u l a r e s . O microscópio utilizado foi da marca Olympus BX50 com câmara de captura 3 C C D pró-series. O programa de captura de imagens foi o Image Próplus versão 4.5 da Cybermetics. tremidade analisada isoladamente (média das áreas das 10 células da e x t r e m i d a d e superior ( E S ) , média das áreas das 10 células da extremidade inferior (El), depois da extremidade direita (ED) e esquerda (EE), sucessivamente). Depois, para cada grupo de 5 coelhos, obtiveram-se as médias gerais das extremidades superior, inferior, direita e esquerda tanto do antímero experimental como do controle em questão. A essas médias gerais aplicou-se o teste t de Student. Para a análise histomorfométrica das lâminas o parâmetro utilizado foi a morfometria da célula muscular, comparando-se sempre o antímero experimental c o m o controle. A escolha dos campos para observação foi feita considerando-se sempre 10 células musculares em cada extremidade da lâmina analisada - superior, inferior, direita e esquerda. Dessa maneira, obtiveram-se 40 células analisadas em cada antímero de cada cobaia. RESULTADOS C o m os valores calculados das áreas médias das células de cada extremidade das lâminas dos 5 coelhos, fez-se a comparação estatística para cada grupo. Para essa c o m p a r a ç ã o estatística levantaram-se duas hipóteses: H =u (média) do antímero experimental = u do antímero controle; e H ^ u do antímero experimental ^ u do antímero controle. Para essas duas hipóteses considerou-se Para a análise estatística utilizou-se o teste t de Student, presumindo variâncias diferentes e n tre os grupos. Considerou-se em cada lâmina a média aritmética das áreas das células de cada ex- Tabela 1 0 um nível de significância (p) de 5%. Por meio do teste t-Student, observaram-se as amostras presumindo variâncias diferentes. Verificou-se que para o grupo dos cinco coelhos submetidos ao U S contínuo (Tabela 1) e para o grupo dos 5 coelhos submetidos ao U S pulsado (Tabela 2), de 1 M H z , durante 12 minutos, com intensidade de 3 W / c m , num período de 10 dias, não houve diferença estatíst i c a s i g n i f i c a t i v a nas e x t r e midades superior, direita e esquerda do grupo do U S contínuo e em nenhuma extremidade no grupo do U S pulsado, portanto não houv e alteração na área das células do músculo vasto lateral dos coelhos. Desse modo, aceitou-se H para os dois grupos, isto é, não houve diferença significativa e n tre as médias do antímero experimental e do controle. 2 0 Na extremidade inferior do grupo do U S contínuo houve uma diferença significativa, onde p=3%, R e s u l t a d o s d a a n á l i s e estatística (teste t - S t u d e n t p a r a m é t r i c o ) d a á r e a m é d i a d a s c é l u l a s das e x t r e m i d a d e s das l â m i n a s dos m ú s c u l o s submetidos a U S c o n t í n u o Segmento Área média das extremidades (um ) Desvio padrão (um ) ES-C 684,89 ES-E 566,86 2 Variância p(T<=t) b i c a u d a l (%) t crítico b i caudal Correlação de P e a r s o n (%) 295,80 87498,78 31 2,77 64 149,72 22418,76 3 2,77 98 30 2,77 10 24 2,77 -78 2 El-C 525,92 134,37 18056,71 El-E 465,96 93,74 8787,67 ED-C 449,36 106,96 11441,36 ED-E 545,36 157,81 24906,56 EE-C 541,85 160,84 25871,22 EE-E 426,73 37,00 1369,64 ES - e x t r e m i d a d e superior; El - e x t r e m i d a d e inferior; E D - e x t r e m i d a d e direita; EE - e x t r e m i d a d e e s q u e r d a ; C - c o n t r o l e ; E Tabela 2 experimental Resultados d a a n á l i s e estatística (teste t - S t u d e n t p a r a m é t r i c o ) da á r e a m é d i a d a s c é l u l a s d a s e x t r e m i d a d e s d a s l â m i n a s dos m ú s c u l o s s u b m e t i d o s a U S p u l s a d o Segmento Área média das extremidades (um ) Desvio padrão (um ) Variância p(T<=t) b i caudal (%) t crítico bicaudal Correlação de Pearson (%) ES-C 761,31 42,31 1789,75 20 2,77 -0,17 ES-E 848,15 114,29 13061,56 83 2,77 0,83 74 2,77 0,74 85 2,77 0,65 2 2 El-C 825,91 247,13 61075,6 El-E 842,05 289,85 84012,45 ED-C 821,37 147,73 21825,19 ED-E 844,90 228,98 52432,93 EE-C 785,62 185,22 34306,5 EE-E 798,20 142,98 20442,38 ES - e x t r e m i d a d e superior; El - e x t r e m i d a d e inferior; E D - e x t r e m i d a d e direita; EE - e x t r e m i d a d e e s q u e r d a ; C - c o n t r o l e ; E - experimental menor que 5 % , portanto deve-se aceitar H Porém a correlação de Pearson, nesse ponto de observação, resultou em 0,98 (98%), muito próximo de 1 (100%). Nesse caso, quanto mais próximo de 100% for a correlação, mais semelhante foi a variação nos dois antímeros observados, El-C e El-E; portanto, se houve uma modificação na área das células musculares do antímero experimental, essa mod i f i c a ç ã o t a m b é m o c o r r e u no antímero controle, fazendo, dessa forma com que se aceite a hipótese H , pois os dois antímeros não poderiam se alterar na mesma proporção. r 0 DISCUSSÃO Embora se tenha procurado referências na literatura sobre o emprego de U S pulsado e contínuo em tecido muscular esquelético sadio de coelhos, não se encontrou trabalho onde, eventualmente, se pudessem estabelecer comparações diretas com esta pesquisa. Optou-se pois por discutir aqui, à luz da literatura pertinente, a dosimetria do equipamento e a técnica empregada, bem como comentar aspectos importantes que devem ser analisados em novos experimentos que utilizem o U S como proposta terapêutica. Equipamento Q u a n d o se realiza a aplicação de U S , alguns cuidados são indispensáveis. P r i m e i r o há n e c e s sidade de garantir que o aparelho esteja f u n c i o n a n d o a d e q u a d a mente . Para garantir isso, o equipamento utilizado para este exp e r i m e n t o foi v e r i f i c a d o p r e viamente pela empresa K L D . S e gundo, é necessário garantir que as ondas sejam transmitidas adequadamente do transdutor para o a n i m a l . D e v i d o ao a n i m a l e s colhido ser o coelho, e este ter um porte físico muito menor que o ser humano, optou-se por reduzir a área do cabeçote transdutor de U S para garantir o acoplamento adequado. O p t o u - s e também pela técnica de aplicação direta com uso de gel não iônico, por ser a 23 t é c n i c a mais utilizada e m clínica. N a aplicação do U S foi utilizada a freqüência de 1 M H z para atingir tecidos mais p r o f u n d o s . 4715 Devido à grande controvérsia entre os autores citados com relação à intensidade e a patologia a ser tratada, optou-se pela intensidade máxima emitida pelo equipamento, de 3 W / c m , também proposta para tratamentos com U S ' . 2 4 1 7 2 4 2 6 O tratamento foi realizado durante 12 minutos conforme indicado pelo manual do e q u i pamento , que preconizava 1 minuto por c m de área submetida ao U S . O período de 10 dias consecutivos de tratamento foi escolhido para simular condições clínicas. 21 2 É pertinente lembrar q u e os parâmetros utilizados neste experimento levam a um aumento da temperatura local, tanto para o U S pulsado como para o contínuo. O U S pulsado, dependendo do ciclo de trabalho utilizado, também produz um efeito térmico, mesmo que de forma reduzida5. Experimento A opção de se trabalhar com uma musculatura sadia foi feita para ser possível avaliar o eventual efeito morfométrico real do U S sobre as células musculares, independente das reações inflamatórias que pudessem vir a acontecer sob a influência do processo cicatricial causado por lesões externas. Q u a n t o à escolha do m ú s c u l o , p a r e c e u mais interessante utilizar o músculo vasto lateral por ser mais fusiforme e espesso, assemelhando-se, morfologicamente, à musculatura humana. Essa característica também favoreceu a dissecação desse músculo em relação aos demais, tornando assim as etapas de processamento das peças mais segura. Menciona-se em muitas publicações a possibilidade de favorecer a circulação sangüínea mediante o uso do U S . A absorção da energia do U S produz um efeito térmico e o organismo responde a isso com vasodilatação. 4 1 8 2 5 Pode-se concluir que o efeito primário do U S , por produzir calor local, é o inflamatório. O processo inflamatório, que pode ser produzido pelo calor, caracteriza-se por: vasodilatação local, com conseqüente excesso de fluxo sangüíneo; aumento da permeabilidade dos capilares, permitindo o extravasamento da grande quantidade de líquido nos espaços intersticiais; com freqüência, coagulação do líquido nos espaços intersticiais, devido à quantidade excessiva de fibrogênio e de outras proteínas que extravasam dos capilares; migração de inúmeros granulócitos e monócitos para o tecido; e edema. Alguns dos inúmeros produtos teciduais que causam essas r e a ç õ e s i n c l u e m histamina, bradicinina, serotonina e prostaglandinas . 27 Por se produzir um processo inflamatório local, devido ao a u mento da temperatura com conseqüente vasodilatação e liberação de histamina, levando a um edema como resposta fisiológica, poderia se esperar que houvesse aumento do tamanho da área das células musculares tratadas pelo U S . Porém, o que pôde ser observado neste estudo, conforme os resultados, é que não houve diferença estatisticamente significante, do ponto de vista morfométrico, entre as células musculares tratadas com U S quando c o m paradas às não-tratadas. Alguns fatores fisiológicos, relacionados aos efeitos do U S , poderiam promover o aumento do fluxo sangüíneo. A alteração da p e r m e a b i l i d a d e da m e m b r a n a celular (um resultado da correnteza acústica) poderia causar diminuição do tônus vascular levando, dessa forma, à dilatação dos vasos. A liberação de histamina na área tratada também poderia produzir vasodilatação, elevando ainda mais o fluxo sangüíneo. A histamina é liberada em praticamente todos os tecidos do corpo quando eles são lesados ou sofrem inflamação ou reação alérgica. A maior parte da histamina provém dos mastócitos nos tecidos lesaF I S I O T E R A P I A E PESQUISA 2005; 12(3) 19 dos e basófilos no sangue. A histamina tem potente efeito vasodilatador sobre as arteríolas e, como a bradicinina, tem a capacidade de aumentar acentuadamente a porosidade capilar, permitindo o extravasamento de líquido e de proteínas plasmáticas nos tecidos . 27 estatística), no grupo do U S contínuo a diferença entre as médias das áreas calculadas obtidas teria sido de 49,27um ; e, ainda, o grupo experimental foi o que apresentou as menores médias. Para o grupo do U S pulsado a diferença entre as médias simples foi de 34,77 u m , porém neste caso a média maior foi do grupo experimental. Esses valores não foram expostos nos resultados, pois estatisticamente não apresentaram significância. 2 2 Considera-se razoável esperarse que o fluxo sangüíneo aumente durante e após a aplicação do U S , simplesmente devido a seus efeitos térmicos . Em um estudo experimental em 10 coelhos da raça Nova Zelândia , analisou-se o efeito terapêutico do U S na vascularização do músculo reto femoral pós-lesão por esmagamento, concluindo-se que o U S pulsado de 1 M H z , com intensidade de 0,5 W / c m , utilizado durante 10 dias consecutivos, não provoca mudanças no padrão da vascularização (arteríolas e artérias) muscular. 18 2 2 Pôde-se notar, nos experimentos aqui descritos, que a variação do tamanho das áreas celulares entre o lado controle e experimental não foi significante. O nível de significância (p) ideal, mostrado nas Tabelas 1 e 2, seria o de 5 % , porém este variou numa média de 65,5% para o U S pulsado e em 2 2 % para o U S contínuo. Na leitura feita na extremidade inferior das lâminas do U S contínuo, observou-se uma diferença significativa de 3 % , porém, como mencionado, a correlação de Pearson nesse ponto de observ a ç ã o foi muito próxima de 1 , mostrando que existe correlação entre a variação dos dois lados, que variaram na mesma proporção. Se a análise dos resultados considerasse somente as médias aritméticas simples (sem a análise Hipóteses interpretativas Para interpretar os resultados obtidos podem ser aventadas outras hipóteses. U m a delas é que o método de avaliação poderia não ter apresentado sensibilidade necessária para detectar possíveis alterações, pois a técnica utilizada analisa a célula c o m o um todo, não avaliando assim possíveis alterações nos componentes celulares, como as organelas e a membrana celular. As membranas celulares tornam-se mais permeáveis, devido aos movimentos unidirecionais do fluido em campo ultra-sônico, e as organelas podem se alterar devido às forças produzidas pelo U S . 2 8 Outra hipótese que se pode levantar é que, por mais que o material tenha sido colhido logo após a morte dos coelhos, a rigidez cadavérica e/ou o espasmo muscular pós-morte podem ter influenciado o resultado final. E ainda, depois de colhido o material, o mesmo ficava submerso em formol, o que poderia causar modificação estrutural na peça colhida. Nesta investigação a análise qualitativa dos resultados foi realizada por ser o usual no estudo histológico; na literatura consul- tada, outros autores também utilizaram a mesma técnica. Há 20 anos, havia desconhecimento dos efeitos do U S . Ainda hoje, todos esses efeitos atribuídos ao tratamento ultra-sônico são dependentes de mediadores químicos e mecanismos moleculares, os quais não são bem conhecidos. Enquanto se procura associar os efeitos do U S aos mecanismos celulares e moleculares, muitas divergências são encontradas na literatura em r e l a ç ã o à microcirculação, mediadores inflamatórios, infiltração celular e na reparação tecidual aguda e crônica . 2 Diante dessas considerações e dos resultados apresentados, fica evidente a necessidade de mais investigações para determinar como o U S pode atuar nos diferentes tecidos biológicos, principalmente o muscular, por ser o mais submetido aos tratamentos ultra-sônicos. CONCLUSÃO O s resultados obtidos mostraram que o músculo estriado e s q u e l é t i c o sadio de c o e l h o s , quando submetido aos efeitos do U S de 1 M H z , pulsado ou contínuo, com intensidade de 3 W / c m , durante 12 minutos, num período de 10 dias consecutivos, utilizandose a metodologia proposta, não apresentou modificações na área da célula muscular. Ressalta-se porém a importância de dar continuidade aos estudos relacionados com os efeitos do U S para que se possa estabelecer protocolos de tratamento sabendo-se dos reais efeitos que as diferentes intensidades e potências de U S poderão causar nos tecidos biológicos. 2 REFERENCIAS 16 Bassoli DA. Avaliação dos efeitos do ultra-som pulsado de baixa intensidade na regeneração de músculos esqueléticos com vistas à aplicabilidade em clínica fisioterapêutica [dissert]. São Paulo: Escola de Engenharia de São Carlos; Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2 0 0 1 . 1 Mcdiarmid X Ziskin M C , Michlovitz SL. Therapeutic ultrasound. In: Michlovitz SL, W o l f SL, editors. Thermal agents in rehabilitation. 3rd ed. Philadelphia: F.A. Davis; 1996. Cap.7, p.168-212. 2 Dionísio V C , Volpon J B . A ç ã o do ultra-som terapêutico sobre a vascularização pós-lesão muscular experimental em coelhos. Rev Bras Fisioter. 1999;4:19-25. 17 Webster J G . 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Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2 0 0 1 . 27 Guyton A C , Hall JE. Tratado de fisiologia médica. 10a ed. São Paulo: Guanabara Koogan; 2002. 28 Crisci A R . Estudo experimental dos efeitos do ultra-som pulsado de baixa intensidade sobre a regeneração do nervo ciático de ratos após neurotomia, mediante avaliações morfológicas e morfométricas [dissert]. São Paulo: Escola de Engenharia de São Carlos; Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2 0 0 1 . 9 10 Callam M J , Harper D R , D a l e J J . A controlled trial of weekly ultrasound therapy in chronic leg ulceration. Lancet. 1987;2:204-6. 11 McdiarmidT, Burns P N , Lewith GT. Ultrasound and treatment of pressure sores. Physiotherapy. 1985;71:66-70. 12 G a m A N , Johannsen F. Ultrasound therapy in musculoskeletal disorders: a meta-analysis. Elsevier Science. 1995;63:85-91. 13 14 Baker K G , Robertson V J , Duck FA. A review of therapeutic ultrasound: biophysical effects. PhysTher. 2001;81 (7):13519. Robertson V J , Baker K G . A review of therapeutic ultrasound: effectiveness studies. PhysTher. 2001 ;81 (7):1339-50. 15 Ter Haar G . Basic physics of therapeutic ultrasound. Physiotherapy. 1987;73:110-3. A contribuição da extensão comunitária para a formação acadêmica em fisioterapia Contribution of community extension to the academic training of physiotherapists Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro Fisioterapeuta; Profa. M s Assistente do Depto. de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPb) ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Avenida Umbuzeiro 91 Manaíra 58038-180 João Pessoa PB e-mail: [email protected] RESUMO: A formação acadêmica em Fisioterapia é em geral voltada à atuação na reabilitação, desenvolvida em níveis de atenção à saúde secundário e terciário, com uma abordagem dos problemas de saúde restrita aos aspectos biológicos. Partindo da experiência em um projeto de extensão universitária denominado Fisioterapia na C o m u n i d a d e , foi realizada uma pesquisa qualitativa visando analisar a potencial contribuição dessa experiência para a formação do fisioterapeuta. Evidenciou-se que a possibilidade de vivenciar a atuação fisioterapêutica no nível de atenção primária, ao longo da formação universitária, proporciona ao acadêmico uma visão diferenciada do adoecimento humano e da intervenção profissional, possibilitando uma atuação mais contextualizada e relações mais humanizadas. DESCRITORES: Fisioterapia/educação; Integração docente-assistencial; Saúde pública ACEITO PARA PUBLICAÇÃO abril 2005 ABSTRACT: Physical therapy training in universities is usually focussed on rehabilitation processes developed in second and third health-attention levels; the approach to health problems is generally restricted to biological aspects. Based on the experience of a university extension project called Physical Therapy in the Community, this paper presents a qualitative analysis of that experience to assess its potential contribution to physiotherapists training. It became evident that the opportunity of providing physical therapy at first-level health services during school years may give the student a better perception of both human illness and professional intervention, thus enabling a more adjusted performance and more humanized relationships. KEYWORDS: Physical therapy/education; Teaching care integration; Public health A necessidade de mudanças na f o r m a ç ã o dos profissionais de saúde visando sua adequação a um modelo assistencial que tem como pressupostos principais a humanização do atendimento, a integral idade do ser humano, a promoção da saúde e a necessidade da i n t e r l o c u ç ã o c o m o u t r o s saberes, inclusive o saber popular, vem sendo objeto de muitos debates e propostas. O fato de que essas p r o p o s t a s d e m u d a n ç a estejam anunciadas nas diretrizes c u r r i c u l a r e s n a c i o n a i s e nos programas assistenciais não assegura q u e elas o c o r r a m , a menos q u e sejam debatidas e vivenciadas entre os profissionais e acadêmicos. A Rede U N I D A * discute a i m p o r t â n c i a d e m u d a n ç a na formação profissional como parte do processo de transformação do modelo assistencial, propondo um trabalho articulado entre universidades, serviços de saúde e organizações comunitárias como uma das p r i n c i p a i s e s t r a t é g i a s d e mudança . 1 Todavia, a realidade atual da formação acadêmica dos profissionais de saúde ainda se caracteriza pela ênfase à prática curativa desenvolvida prioritariamente em ambientes hospitalares, preparando os futuros profissionais para atuar, em geral, na rede privada de serviços de saúde. O curso de Fisioterapia não é e x c e ç ã o . As condições de surgimento e evolução da profissão, que ocorreram sempre em função da necessidade de promover a reabilitação, influenciaram sobremaneira a formação acadêmica na direção da a t u a ç ã o muito v o l t a d a para o tratamento de seqüelas, realizado em serviços de atenção s e c u n dária e terciária. Assim, caracterizou-se a formação de um profissional de função eminentemente reabilitadora, voltado para questões 1 individuais de saúde, mais direc i o n a d o às d o e n ç a s e suas seqüelas, atuando primordialmente em serviços concentrados em centros de reabilitação e hospitais. A organização curricular de Fisioterapia v e m direcionando a a b o r d a g e m para determinados problemas de saúde, com predomínio do estudo das doenças que d e i x a m seqüelas reabilitáveis, excluindo da discussão um leque de problemas de saúde comuns à população. Isso, somado ao fato de q u e a disciplina de E p i d e miologia nem sempre é obrigatória, vem ocasionando ao fisioterapeuta dificuldade na abordagem de questões mais gerais de saúde, comprometendo a interlocução desse profissional com o restante da equipe no que tange ao debate em saúde c o l e t i v a e a sua inserção nas ações de promoção e manutenção da saúde. básica com uma intervenção que também vise à promoção e manutenção da saúde, possibilitando u m a r e o r i e n t a ç ã o da p r á t i c a profissional. É essa vivência que a participação no projeto de extensão Fisioterapia na C o m u n i dade v e m proporcionando aos acadêmicos do curso de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba ( U F P B ) . Esse projeto é d e s e n v o l v i d o em um trabalho conjunto c o m outro projeto de extensão da U F P B , denominado E d u c a ç ã o Popular e Atenção à Saúde da Família que, baseandose na estratégia saúde da família, propõe a participação dos estudantes, assumindo a responsabilidade de fazer o acompanhamento à saúde das famílias, tendo c o m o referencial a e d u c a ç ã o popular. Participam desse projeto estudantes de vários cursos da UFPB. A discussão a c e r c a da prevenção de doenças e a atuação em serviços de atenção básica, em geral, têm ficado restritas à disciplina de Fisioterapia Preventiva, sendo esta, na maioria dos currículos, oferecida aos estudantes no final do curso. Essa estrutura não favorece ao a c a d ê m i c o de Fisioterapia uma a p r o x i m a ç ã o com a realidade social da população pobre, com o conhecimento concreto acerca do adoecimento dessa população e das estratégias que adota para enfrentar seus problemas. Em decorrência dessa formação, existe um certo despreparo do fisioterapeuta para atuar em serviços de atenção básica, cuja simplificação tecnológica exige m a i o r c r i a t i v i d a d e para execução do tratamento, fazendose necessária uma adaptação dos procedimentos à realidade social onde o trabalho é desenvolvido. As atividades são realizadas em duas comunidades da periferia de João Pessoa e consistem em acompanhamento à saúde das famílias por meio de visitas semanais, atendimento fisioterapêutico domiciliar, participação em grupos de coluna, gestantes, idosos, pessoas com diabetes e hipertensão, além de outras atividades educativas coletivas. S ã o realizadas, também, reuniões de estudo e planejamento. Em vista desse quadro, destacase a importância da participação dos acadêmicos de Fisioterapia em experiências que lhes permitam vivenciar a atuação na atenção A experiência nas atividades desse projeto, especialmente no a c o m p a n h a m e n t o às f a m í l i a s , tem sido muito relevante para os estudantes, pois, habituados durante o curso a desenvolver atividades de reabilitação, precisam aí redirecionar seu olhar da seqüela a ser reabilitada para as condições de vida que comprometem a saúde. A dificuldade demonstrada pelos estudantes que já cursavam os períodos mais avançados em se situar nessa lógica de atuação e intervir em situações em que não havia seqüelas a serem reabilitadas revelou a importância de que * A Rede UNIDA foi criada pela associação entre a Rede de Integração Docente Assistencial (IDA) e os projetos UNI (nova iniciativa na educação de profissionais de saúde - união com a comunidade), financiados pela Fundação Kellogg. o acadêmico pudesse experimentar uma atuação visando à promoção e manutenção da saúde antes de direcionar sua intervenção para a reabilitação. Foi a partir dessa percepção que os critérios de admissão no projeto foram mudados, permitindo a participação de estudantes a partir do 3° período do curso, sob a condição de que esses alunos seriam direcionados, exclusivamente, para as atividades de visitas às famílias, a c o m p a n h a n d o estudantes d e outros cursos. tanto, foi elaborado um roteiro que A "caça ao currículo" serviu de guia para o entrevistador. Eu estava naquela... caçando, assim, algum projeto, alguma pesquisa, alguma coisa que tivesse na universidade... (estudante 1) O s dados foram organizados em categorias definidas a partir das dimensões da análise pelos temas emergentes em torno dos quais circularam os conteúdos pesquisados , sendo que algumas foram propostas com base nos objetivos traçados, enquanto outras emergiram durante a leitura do material. Para análise do material coletado no diário de pesquisa foi realizada, inicialmente, uma leitura flutuante que, de acordo com M i n a y o , consiste em tomar contato exaustivo com o material deixando-se impregnar pelo seu conteúdo para, em uma segunda leitura, iniciar a categorização. 3 4 Alguns questionamentos que foram surgindo nesse processo deram origem à pesquisa de mestrado intitulada Fisioterapia na comunidade: buscando caminhos na atenção primária à saúde a partir de um projeto de extensão universitária. Esta pesquisa teve duas dimensões: as possibilidades e limites de atuação da Fisioterapia na atenção básica e a importância dessa experiência para a formação acadêmica em Fisioterapia. A discussão referente a esta segunda dimensão é o objeto de análise neste artigo. METODOLOGIA A pesquisa qualitativa do tipo observação participante foi desenvolvida nas comunidades do Grotão e Maria de Nazaré, em João Pessoa (PB), no período de março de 1998 a julho de 2000. A l é m de pesquisa bibliográfica, foram utilizadas na coleta de dados a n o t a ç õ e s no diário de pesquisa e entrevistas realizadas com estudantes que participaram do projeto Fisioterapia na C o m u nidade. Foram entrevistados 26 estudantes de Fisioterapia q u e participaram desde 1997 até o momento da coleta de dados. A escolha recaiu nas entrevistas do tipo semi-estruturada, uma v e z que permitem partir de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, podendo ser ampliados no decorrer da entrevista de acordo com as respostas dadas pelo entrevistado . Para 2 RESULTADOS E DISCUSSÃO O s resultados referentes à importância da experiência para a formação acadêmica em Fisioterapia foram obtidos da análise das seguintes categorias: motivação, aprendizado e dificuldades i n e r e n t e s a o t r a b a l h o nesse projeto de extensão. Motivação N o meio acadêmico da saúde, é predominante a preferência por estágios, cursos e projetos de pesquisa e extensão voltados ao aprofundamento do conhecimento e da experiência na área técnica. N a experiência em trabalhos desenvolvidos na atenção básica, como é o caso deste projeto, a situação é bastante diferente. O trabalho é realizado em uma c o m u n i d a d e pobre de periferia da cidade, numa forma de atuação em que o con h e c i m e n t o t é c n i c o se mostra i n s u f i c i e n t e para e n t e n d e r os problemas de saúde e intervir, de modo que os interesses muitas vezes são diferentes dos que estimulam a busca por experiências em serviços de atenção secundária e terciária à saúde. O s estudantes que participaram das fases iniciais do projeto F i sioterapia na Comunidade fizeram referência ao interesse por um certificado para o currículo como motivação para participar. Naquele momento, havia uma oferta muito reduzida e m termos de projetos de extensão e pesquisa para os estudantes de Fisioterapia, em contraste com sua ansiedade em enriquecer o currículo. Outros estudantes admitidos posteriormente no Projeto também mencionaram esse interesse, com a diferença, porém, de que referiam interesse específico pela extensão, e que a esse interesse se somavam outros, como por exemplo o interesse em participar de um trabalho comunitário. A possibilidade de participar de um trabalho comunitário O fato de saberem, por intermédio dos colegas, que se tratava de um trabalho em comunidade cuja atuação não se restringia ao atendimento fisioterapêutico atraía os estudantes, pois indicava uma vivência muito diferente da que tinham na universidade. O interesse em fazer um trabalho comunitário pode ser motivado por questões políticas, religiosas ou afetivas, mas geralmente traduz uma preocupação c o m o sofrimento h u m a n o , um desejo ou sentimento de obrigação de ajudar o outro. Muitos participantes têm uma visão desse trabalho é ligada ao aspecto de caridade, da ajuda a pessoas carentes, uma ajuda de mão única. Outros participantes têm uma visão mais voltada para os aspectos socioeconômicos da população pobre, atuando numa perspectiva mais política. A participação de estudantes universitários brasileiros em programas de Medicina Comunitária ocorreu entre o final da déca- da de 1960 e início dos anos 1970, em setores estudantis politizados, insatisfeitos com sua formação e com as perspectivas profissionais, que procuravam formas de v i n cular-se à população e seus problemas. Esses estudantes passaram a dar consultas, promover ações educativas, participar de m o v i mentos nas comunidades e a debater nas universidades essa prática e a realidade social. Inicialmente, esses p r o g r a m a s o b j e t i v a r a m propiciar ao estudante uma visão extramuros, extra-hospitalar, mais integral, mas também representavam espaços de luta. Posteriormente, promoveram mudanças na saúde pública gerando uma reorientação da prática dos serviços de saúde, da participação da p o p u l a ç ã o na construção e o p e r a ç ã o desses s e r v i ç o s . A participação dos estudantes nesses trabalhos foi principalmente motivada por uma consciência política mais aguçada, que impelia a um envolvimento com as classes subalternas em busca de mudanças na política de saúde. Esses estudantes, que têm uma preocupação mais acentuada com a saúde das coletividades, costumam, até a atualidade, ser os que também se envolvem com o movimento estudantil por representar um espaço de exercício político no meio acadêmico. 5 A possibilidade de ter maior contato com as pessoas da c o m u nidade, conhecendo seu modo de vida e aprendendo c o m elas, é alegada por alguns estudantes como os tendo motivado a participar do trabalho, pois é uma experiência que não conseguem ter nos espaços da universidade. Essa atuação propicia uma mudança de perspectiva, passando a perceber o trabalho não mais como uma "ajuda aos carentes", mas c o m o um e s p a ç o d e luta por transformações sociais. Envolvimento afetivo U m a questão muito presente na maioria das falas foi o e n v o l v i - mento emocional com as famílias a c o m p a n h a d a s . Ficou evidente que essa experiência possibilita a construção de uma afetividade que não é característica nem incentivada entre os profissionais de saúde e seus pacientes. Freqüentemente o f isioterapeuta, devido ao contato sistemático e contínuo que tem com o cliente, envolve-se com seus problemas. N o entanto, o trabalho na comunidade aprofunda esse envolvimento na medida em que a inserção do profissional é maior e ele passa a conviver c o m os problemas de forma muito próxima e real, não c o n s e g u i n d o d e i x a r d e se angustiar com eles. Entretanto, se a ligação afetiva é um fator que prende o aluno a esse trabalho, a angústia que muitas vezes acarreta p o d e afastá-lo. Remen , analisando o modo como os profissionais de saúde lidam com as perdas em seu trabalho, observa que, na tentativa de se p r o t e g e r do s o f r i m e n t o q u e acarreta, muitos se distanciam da vida, tornando-se apáticos, e que essa apatia não a c o n t e c e por insensibilidade, mas por conta da tristeza a c u m u l a d a . É c o m u m encontrarmos profissionais que consideramos frios, insensíveis ao sofrimento alheio. Muitas vezes essa a p a r e n t e f r i e z a é u m a estratégia adotada para não se deixar abater pelo sofrimento com que convive no cotidiano do seu trabalho e, assim, seguir adiante. M a s , c o m o sugere essa autora, para que possamos seguir adiante m a n t e n d o nossa i n t e g r i d a d e humana, é necessário dar vazão à t r i s t e z a . N e s s e s e n t i d o , os profissionais de saúde precisam encontrar meios de trabalhar a tristeza, as angústias e frustrações que emergem em seu trabalho. 6 A necessidade de assistência fisioterapêutica por parte da população Eu via casos muito graves lá, de pessoas que nunca foram tratadas com a Fisioterapia e com problemas muito graves em relação à parte motora. Isso me deixou muito triste. Vi pessoas com problemas neurológicos (...), que podiam ser tratadas e não foram, e em que estado podiam ficar se tivessem sido tratadas. É quando a gente vê a nossa importância maior. (estudante 2) O fato de existirem pessoas precisando de tratamento fisioterapêutico também foi relatado pelos estudantes c o m o sendo motivador de sua atuação. Nesse trabalho, encontramos pessoas acamadas ou c o m grande dificuldade de se locomover para um posto de saúde, que vão ficando com a capacidade de moviment a ç ã o c a d a v e z mais limitada d e v i d o à falta d e tratamento. Saber que podemos oportunizar a essas p e s s o a s o a t e n d i m e n t o fisioterapêutico, melhorando com isso sua funcionalidade e, conseq ü e n t e m e n t e , f a c i l i t a n d o sua vida, é realmente uma motivação importante para todo profissional que se preocupa com o outro ser humano. Dificuldades As dificuldades que surgem em um trabalho podem se apresentar sob a forma de obstáculos que i m p e d e m a sua e f e t i v a ç ã o ou podem proporcionar um aprendizado e um incentivo à busca de n o v a s p o s s i b i l i d a d e s . A s dificuldades aqui expostas refletem a segunda perspectiva. A falta de experiência e de embasamento teórico dificultando a atuação Na Fisioterapia, a gente deveria aprender a prevenir no começo do curso. É mais difícil aprender a prevenir depois que aprendeu a reabilitar, (estudante 3) A possibilidade de desenvolver um t r a b a l h o q u e p r o p õ e um enfoque preventivo geralmente representa um atrativo para os estudantes, mas a lógica dessa atividade difere de tal modo da prática convencional da Fisioterapia q u e os faz se s e n t i r e m inseguros quanto à capacidade de realizar a tarefa. H á , no entanto, um aspecto que não está ligado especificamente à Fisioterapia, mas que também interfere em sua forma de a t u a ç ã o . N a o r g a n i zação da política de saúde do Brasil, no século X X , estabeleceuse uma dicotomia entre prevenção e cura, na medida em que as ações preventivas ficavam a cargo do setor público, por meio de campanhas sanitárias, e a atenção curativa ficava a cargo da esfera privada. Essa lógica dicotomizada persistiu mesmo quando o setor p ú b l i c o assumiu a assistência médica individual, pressionado pela demanda por esse atendimento, pois e l e r e p r o d u z i u o modelo assistencial já existente, não fazendo uma integração entre práticas curativas e preventivas . Para uma profissão que se estruturou na atenção curativa e sempre transitou nela, como é o caso da Fisioterapia, fica mais difícil ainda superar essa dicotomia. 7 Em função de se reconhecer como profissional de reabilitação, o fisioterapeuta acredita que o c o n h e c i m e n t o a respeito das doenças c o m que não trabalha diretamente não lhe é pertinente. Rebelatto e Botomé reconhecem q u e o o b j e t o d e t r a b a l h o da Fisioterapia é totalmente voltado para a doença. Teríamos de acrescentar a essa afirmação que é voltado às doenças diretamente relacionadas à reabilitação. É nesse sentido que os currículos dão ênfase às doenças que tradicionalmente são passíveis de reabilitação, em detrimento de outras que, mesmo sendo comuns, não costumam deixar seqüelas que necessitem de reabilitação. Rebelatto investigou junto a fisioterapeutas a c o n c e p ç ã o do que seja prevenção em Fisioterapia. A maioria das respostas dos profissionais entrevistados indica uma atuação geral, sem especificar intervenção própria do fisioterapeuta, e apenas três caracterizaram essa atividade, definindo-a 8 9 como uma intervenção que objetiva prevenir a ocorrência de problemas no m o v i m e n t o h u m a n o - e m consonância com o entendimento atual acerca do objeto de atenção do fisioterapeuta e m todos os níveis de prevenção. Esse autor relata que, quando solicitou aos fisioterapeutas entrevistados que citassem exemplos concretos de intervenção preventiva em Fisioterapia, 5 0 % disseram não conhecer nenhum exemplo, o que o levou à conclusão de que ainda não há uma c o n c e p ç ã o precisa do que seja prevenção em Fisioterapia. A falta de recursos comprometendo o desenvolvimento das atividades A única coisa do projeto que até hoje me deixa espantada é a situação das pessoas que a gente Jenta resolver, e é difícil. Às vezes até me pergunto, 'meu Deus, será que estou fazendo alguma coisa?' (estudante 4) M u i t o s estudantes citaram a falta de recursos materiais como uma grande dificuldade para a realização do atendimento fisioterapêutico, em função das condições bastante precárias, tanto na Unidade de Saúde quanto no domicílio. Essa falta de recursos determina a necessidade de adaptar o programa de tratamento às c o n dições do local onde está sendo realizado. A escassez também os leva a questionarem a eficácia de sua intervenção. N o entanto, a maioria relata que isso resultou em aprendizado. O desconhecimento da Fisioterapia pela população retardando o tratamento Considerando que a Fisioterapia é uma profissão relativamente nova e que seu acesso ainda é limitado a pequena parte da população, o conhecimento do que seja sua atuação é restrito, principalmente a pessoas que já necessitaram alguma v e z do tratamento fisioterapêutico para si mesmo ou a l g u m familiar. A l g u n s a l u n o s referiram esse desconhecimento como uma dificuldade e opinaram que caberia a eles próprios esclarecer a população a esse respeito. U m certo desconhecimento do campo de atuação da Fisioterapia também foi registrado entre os agentes comunitários de saúde. Aprendizado Uma compreensão diferenciada do ser humano doente, da doença e da intervenção A aproximação com a realidade social das classes populares e a convivência com o cotidiano desses sujeitos permite aos estudantes uma compreensão sobre o processo saúde-doença e o ser humano com quem estabelecem a relação terapêutica diferente da que ele constrói ao longo da vida acadêmica. Costumeiramente, entre os profissionais de saúde, o ser humano doente é transformado em doença, tendo sua dimensão h u m a n a negada e sendo visto como um quadro clínico. O s estudantes entrevistados mostram que essa experiência proporciona uma reorientação do olhar, resgatando a condição humana do ser que costumamos denominar paciente. O termo paciente tem sempre a ver com doença, restringe a pessoa a um quadro clínico, a algo passível de ser tratado, um problema a ser resolvido pela Medicina. Desse modo, não se fala em pessoa, em ser humano, que é muito mais que uma doença, é alguém q u e é c a p a z d e e n t e n d e r seu problema e agir sobre ele. Conhecendo de perto os problemas que se apresentam aos sujeitos das classes populares, derivados das precárias condições materiais a que estão submetidos, os estudantes demonstram, também, alargar o entendimento sobre o fenômeno de adoecimento humano, superando a visão estritamente presa ao biológico que ainda é hegemônica na área de saúde. Esse conhecimento também orienta a atuação do profissional para uma intervenção mais contextualiza- da, mais adequada àquela realidade. U m dos estudantes entrevistados relata que a vivência na c o m u n i d a d e lhe permitiu uma visão do ser humano inserido em seu contexto social e cultural, superando a visão fragmentada que enxerga a p e n a s uma parte d e corpo doente. Conforme alerta Boff , quando adoecemos não é um segmento do nosso corpo que está enfermo, é nossa totalidade existencial que sofre, é a vida que adoece em suas várias dimensões, em relação a nós mesmos, em relação à sociedade e ao sentido global da vida. mento e um menor contato do fisioterapeuta com o cliente. E m bora a escassez de recursos tecnológicos tenha sido relatada como uma dificuldade, constatou-se que ela estimulou a criatividade, a revalorização da cinesioterapia e uma reaproximação com a pessoa em tratamento. 10 A inserção na realidade social também promove mudanças na forma de atuação profissional, fazendo com que se busque intervir nessa realidade. Q u a n d o , nos serviços de fisioterapia, orientamos que a pessoa siga alguns cuidados domiciliares, muitas v e zes indicamos procedimentos que elas não conseguem realizar, pelo fato de não conhecermos a realidade em que ela vive. O confronto com essa realidade fez com que os participantes desse projeto sentissem a n e c e s s i d a d e de adaptar a orientação de acordo com as possibilidades de ser realizada, ao contrário do que acontece na maioria dos serviços de saúde, onde o distanciamento da realidade do indivíduo em tratamento não possibilita essa adequação. Aprendendo a trabalhar com escassez de recursos A falta de recursos foi uma das principais dificuldades relatadas pelos estudantes nas entrevistas, mas foi t a m b é m apontada por muitos deles como um aprendizado no que diz respeito ao atendimento fisioterapêutico. A variedade de recursos tecnológicos de que dispõe a Fisioterapia na atualidade tem contribuído bastante com o tratamento fisioterapêutico. Esses recursos, coadjuvantes no tratamento, têm sido encarados por muitos profissionais c o m o um substituto de outros procedimentos. Disso resulta uma mecanização do atendi- É importante ressaltar que não há qualquer pretensão de fazer aqui uma apologia ao empobrecimento dos serviços de fisioterapia na rede pública mas, sim, de analisar a possibilidade de um aprendizado que, ao revalorizar a c i n e s i o t e r a p i a , torne possível a atuação na rede básica de saúde. As c o n d i ç õ e s em que o tratamento fisioterapêutico é realizado nos serviços básicos de saúde e x i g e m muita c r i a t i v i d a d e no sentido de adequá-lo a essa sit u a ç ã o e às n e c e s s i d a d e s do cliente, tornando-o eficaz. Embora isso represente um desafio, os estudantes que mencionam essa dificuldade c o m o aprendizado p a r e c e m conseguir enfrentá-lo bem. A fala de uma dos entrevistados ilustra bem isso: Outra coisa foi aprender a criar num ambiente que não tem muita condição, você saber adaptar, criar recursos para fazer um tratamento como se estivesse numa clínica, efetivo da mesma forma, (estudante 5) O fato de obter resultado no tratamento mesmo em condições materiais tão precárias surpreende esses alunos, pois, acostumados c o m ambientes e recursos mais apropriados, supunham não ser possível conseguir melhoras naquelas condições. Essa estudante expõe que a dificuldade oferecida pelas limitações do atendimento na comunidade resultou em um aprendizado, pois percebeu as possibilidades de realizar o tratamento nessas c i r c u n s t â n c i a s e obter bons resultados. A experiência em equipe multidisciplinar e a possibilidade de interdisciplinaridade £ outra coisa também que a gente não vê durante o curso: a interação com outras profissões. E lá tivemos a oportunidade de vivenciar o atendimento à comunidade junto com outros profissionais. (estudante 6) A forma departamental izada como as disciplinas se organizam na Universidade não favorece a c o n v i v ê n c i a entre as diversas áreas do conhecimento, que ao se encontrarem nas atividades práticas, continuam a funcionar com a mesma lógica fragmentada da disciplina. Esta lógica, que surgiu como uma estratégia de organiz a ç ã o histórico-institucional, é b a s e a d a na f r a g m e n t a ç ã o do objeto e numa crescente especialização do sujeito científico . Nos serviços onde é exercitada a prática de saúde, cada profissional faz a sua parte independente do outro. Na experiência deste projeto, os participantes têm a oportunidade de c o n v i v e r de m a n e i r a mais próxima com a diversidade de conhecimentos e práticas, havendo um espaço para a troca de saberes. Essa c o n v i v ê n c i a entre as profissões é vista pelos estudantes sob três aspectos: como uma forma de proporcionar um atendimento mais integral ao cliente; como um aprendizado para o profissional, a partir da troca de conhecimentos entre as disciplinas; e como uma oportunidade de divulgar a Fisioterapia em meio às outras profissões. 11 Da experiência em trabalho na comunidade ao aprendizado com a comunidade E você chega com aquela técnica, achando que você sabe muita coisa, vai passar muita coisa, na realidade você aprende muito mais com eles, assim, coisas simples, (estudante 7) A o deslocar o campo de exerc í c i o da prática profissional da universidade para a comunidade, o a c a d ê m i c o pretende adquirir experiência extramuros. O trabalho comunitário representa uma oportunidade diferenciada devido às condições de vida de seus moradores, resultando num aprendi- zado que pode facilitar ao futuro profissional de saúde a atuação nos espaços de atenção básica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Além do interesse em adquirir experiência no trabalho com comunidade, o estudante leva c o n sigo a intenção de mudar as condições de saúde daquelas pessoas, pelas orientações que lhes fornecerem. Com o tempo, ele aprende que os problemas são bem maiores do que seus ensinamentos são capazes de dar conta e que as pessoas que ele pensava serem ignorantes também têm muito a lhe ensinar. É possível, assim, reconhecer que o saber popular é bastante e l a b o r a d o , c o m suas estratégias de s o b r e v i v ê n c i a e grande c a p a c i d a d e de explicar parte da realidade . O aprendizado que resulta do diálogo com as pessoas das camadas pobres não se limita ao conhecimento dos tratamentos caseiros e sua validade. A forma como essas pessoas percebem seus problemas e lidam c o m eles também é um aprendizado importante, pois há nelas uma sabedoria proporcionada pela convivência cotidiana com a pobreza e tudo que ela carrega de escassez e de risco. Nessa perspectiva, aprende-se também com a solidariedade e as estratégias e formas de organização que esses sujeitos constróem para enfrentar seus problemas. Esta pesquisa possibilitou uma reflexão sobre a importância de e x p e r i ê n c i a s em projetos de extensão comunitária no sentido de uma mudança na concepção de saúde e na perspectiva de atuação dos acadêmicos e futuros fisioterapeutas. Considerando ser o fisioterapeuta um profissional de saúde que tem a formação excessivamente voltada para a reabilitação, é muito enriquecedora a oportunidade de acompanhar as condições de vida e de saúde das pessoas inseridas em sua realidade, antes de tratar de seqüelas. Essa v i v ê n c i a permite-lhes um alargamento na visão de profissional de saúde, ao vivenciar uma forma de a t u a ç ã o q u e não se restringe à tradicional atuação da fisioterapia na reabilitação. Sem pretender desvalorizar o papel reabilitador no qual a Fisioterapia foi gestada e se desenvolveu, percebe-se que, ao ampliar a proposta de atuação, por um lado, alargamse as possibilidades de atuação do fisioterapeuta e, por outro, investese numa proposta de intervenção q u e possa c o n t r i b u i r c o m as pessoas na luta pela saúde. 12 Essa v i v ê n c i a possibilita aos participantes uma visão que vai além da doença, permitindo ver o ser humano na sua integralidadee contribuindo para a superação da visão biologicista. Isso lhe proporciona um alargamento da compreensão do processo saúde-doença e seus c o n d i c i o n a n t e s e t a m b é m da perspectiva de atuação profissional, indicando o desenvolvimento de ações direcionadas ao contexto em que são realizadas e sem perder de vista os aspectos mais gerais relativos à saúde. A participação dos estudantes em projetos de extensão que permitam essa vivência pode ser um ponto de partida para uma mudança na formação do fisioterapeuta. Contudo, essas experiências pontuais não oportunizam uma reflexão e uma participação que envolva a todos os docentes e discentes, de modo que, c o m o argumenta F e u e r w e k e r , dificilmente uma idéia apropriada apenas por um fragmento da instituição chega a ganhar força para converter-se em alternativa de mudança ou de poder transformador. No entanto, mesmo sendo uma ação localizada, seus efeitos podem se irradiar, impulsionando mudanças necessárias à construção de uma atuação profissional em Fisioterapia mais alargada, reforçando a necessidade de uma mudança de paradigma na formação acadêmica, que permita uma visão mais integral do ser humano e uma postura profissional mais humanizada e mais voltada para a realidade social onde os sujeitos estão inseridos. 13 REFERÊNCIAS 7 Cohn A, et al. 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Fisioterapia e complicações físico-funcionais após tratamento cirúrgico do câncer de mama Physical therapy and physical-functional complications after breast cancer surgical treatment 1 Adriane Pires Batiston , Silvia Maria Santiago Fisioterapeuta; Mestre em Saúde Coletiva pela Unicamp; Profa. do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica Dom Bosco ( U C D B ) Profa. Dra. do Depto. de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Ciências Médicas ( F C M ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) (orientadora) ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Adriane P. Batiston R. Robert Spengler 42 Jardim Monte Líbano 79004-070 Campo Grande M S e-ma/7: [email protected]; [email protected] Artigo extraído da dissertação de mestrado em saúde coletiva apresentada por Adriane P. Batiston ao Depto. de Medicina Preventiva e Social da F C M da Unicamp em 7 maio 2003. Trabalho apresentado sob forma de pôster e destacado com menção honrosa no V I Congresso Brasileiro de Epidemiologia realizado em Recife, 19-23 jun. 2004. ACEITO PARA PUBLICAÇÃO maio 2005 2 RESUMO: Sabe-se que o tratamento cirúrgico do câncer de mama ( C M ) pode propiciar o surgimento d e c o m p l i c a ç õ e s físico-funcionais no braço homolateral, devido à dissecção dos linfonodos axilares. O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre a freqüência de tais complicações e o momento do encaminhamento para programa de recuperação fisioterápica. Foram estudadas as fichas de avaliação fisioterapêutica de 160 pacientes encaminhadas ao Setor de Fisioterapia pelo Serviço de Oncologia do Hospital Universitário da U F M S entre janeiro de 1998 e dezembro de 2 0 0 1 , verificando-se o momento do encaminhamento ao fisioterapeuta e sua relação com as complicações observadas; os dados foram submetidos a estatística descritiva, com significância de 5 % . As complicações observadas foram: limitação do movimento do ombro (61,9%), dor (32,5%), linfedema (29,4%), aderência cicatricial (3,1%) e alterações sensitivas (2,5%); 19,4% das mulheres não apresentavam c o m p l i c a ç õ e s . O s encaminhamentos médicos foram em maioria para tratamento de complicações instaladas ( 7 6 , 9 % ) , mais d o q u e para p r e v e n ç ã o ( 2 3 , 1 % ) . A a s s o c i a ç ã o entre complicação e encaminhamento tardio foi significativa para limitação do m o v i m e n t o , dor e l i n f e d e m a . E n t r e as m u l h e r e s e n c a m i n h a d a s precocemente, a maioria não apresentava complicação. Embora sejam sabidos os riscos de complicações em decorrência da cirurgia para o tratamento do C M , muitas mulheres só são encaminhadas à fisioterapia quando já apresentam complicação instalada, diminuindo as possibilidades de uma completa recuperação fisico-funcional. DESCRITORES: N e o p l a s i a s m a m á r i a s / c i r u r g i a ; N e o p l a s i a s m a m á r i a s / complicações; Técnicas de fisioterapia; Neoplasias ABSTRACT: Breast cancer (BC) surgical treatment is knowingly liable to bring about physical-functional complications at the homolateral arm/shoulder, as a result of axillary lymph node dissection. This study aimed at examining the relationship between frequency of such complications and the moment of patients' referral to physical therapy. The physiotherapeutic records of 160 patients referred to the Physical Therapy Sector by the Oncology Service of the University Hospital between January, 1998 and December, 2001 were analysed in order to check the moment of referral and its relation to observed complications, the data being submitted to descriptive statistics with significance set at 5 % . Observed complications w e r e shoulder motion limitation (61,9%), pain (32,5%), lymphedema (29,4%), scar adherence (3,1 % ) and sensitive alterations (2,5%); 19,4% of the w o m e n didn't present any complication. In most cases patients were referred after complications took place (76,9%) rather than to prevent them (23,1 % ) . Association between delayed referral and complication w a s significant for shoulder motion limitation, pain, and lymphedema. Amongst the early-referred w o m e n , most did not present any complication. Although the risks of complications following B C surgery are well known, many w o m e n are only referred to physical therapy after complication is installed, thus reducing chances of full physical-functional recovery. K E Y WORDS-. Breast neoplasms/surgery; Breast neoplasms/complications; Physical therapy techniques; Neoplasms Complicações físico-funcionais após cirurgia da mama Batiston& Santiago O câncer de mama apresentase como um grave problema de saúde pública em todo o mundo e no Brasil é a neoplasia maligna mais incidente na população feminina . N o Mato Grosso do Sul o Instituto N a c i o n a l d e C â n c e r ( I N C A ) estimou que, em 2003, seriam diagnosticados 460 novos casos da doença, sendo 240 na capital . 1 2 U m importante fator prognóstico do câncer de mama é o diagnóstico precoce. Q u a n d o detectado em estádio inicial, o tumor apresenta altos índices de cura; e n tretanto, no Brasil, cerca de 6 0 % dos diagnósticos iniciais do c â n cer de mama são realizados em estádios avançados , sendo a abordagem cirúrgica inevitável para o tratamento da doença. 1 Avanços significativos foram observados nas últimas décadas no que se refere ao tratamento cirúrgico do câncer de mama, a partir da mastectomia clássica descrita por Halsted em 1894. Modificações das técnicas cirúrgicas foram realizadas com métodos que preservam o músculo grande peitoral (Patey e Dyson) ou ambos os peitorais (Madden), que passaram a ser conhecidas como mastectomia radical modificada , chegando até as cirurgias conservadoras, mais conhecidas como quadrantectomia e tumorectomia, sendo as técnicas radicais então substituídas por procedimentos menos mutilantes, que proporcionam melhores resultados estéticos e psicológicos. 3 Independente da técnica radical ou conservadora, a dissecção axilar tem sido um tratamento c i rúrgico padrão para o câncer de mama. Esse procedimento, quando realizado de forma isolada, mas principalmente em conjunto com a radioterapia pós-operatória, pode causar morbidade severa no membro superior homolateral à cirurgia . Problemas como linfedema, dor, parestesias, diminuição da força muscular e redução da amplitude de movimento ( A D M ) 46 do membro envolvido são freqüentemente observados e relatados p e l a s m u l h e r e s o p e r a d a s da m a m a ' ' , e são considerados as mais difíceis conseqüências do tratamento do câncer de mama, já que interferem na qualidade de vida das m u l h e r e s . 4 5 79 410 Além da reabilitação física, a fisioterapia desempenha um importante papel na recuperação da mulher operada da mama, fornecendo informações e suporte de forma a ajudar a paciente a atingir um sentimento de controle, numa situação que ameaça seu mundo emocional e físico . 14 O desenvolvimento de c o m plicações físicas no membro superior homolateral após a cirurgia pode ser reduzido se as mulheres tiverem um suporte pós-operatório. U m programa fisioterapêutico iniciado precocemente reduz o risco de aparecimento dessas c o m p l i c a ç õ e s ' . Camargo e M a r x enfatizam que avanços significativos foram observados na terapêutica do câncer de mama, sinalizando para a necessidade da abordagem interdisciplinar das pacientes, visando não somente a cura do câncer mas sua completa reabilitação, nos âmbitos físico, psicológico, social e profissional. 11 12 13 14 Segundo Shea, Kleban e Knauer , o objetivo da reabilitação física deve ser a restauração da faixa pré-morbida de movimento do ombro, manutenção da função da extremidade envolvida e retorno à postura pré-operatória. A mobilização do ombro, quando realizada precocemente, auxilia no restabelecimento da função do membro e desperta na mulher o sentimento de i n d e p e n d ê n c i a , além de estimular sua percepção em relação a importância da qualidade de vida no processo de tratamento do câncer de mama. Diversos autores c o n c o r d a m que o tratamento fisioterapêutico pós-operatório é decisivo na prevenção das complicações decorrentes da dissecção axilar para tratamento do câncer de m a m a . A atuação fisioterápica deve começar o mais precocemente possível, sendo que a introdução da cinesioterapia nos primeiros dias após a cirurgia pode trazer inúmeras vantagens para a paciente, como prevenção do linfedema, de retrações miotendíneas, dor e dim i n u i ç ã o funcional do ombro, além do encorajamento ao retorno precoce de suas a t i v i d a d e s . 1 1 1 2 1516 A partir da década de 70, surgiu um maior interesse nos programas de reabilitação que utilizam exercícios. Esses programas, com o passar do tempo, tiveram seu caráter reabilitativo substituído pelo preventivo, visando a minim i z a ç ã o do a p a r e c i m e n t o de c o m p l i c a ç õ e s , resultando e m melhoria da qualidade de vida das pacientes . 16 Embora a necessidade do acompanhamento fisioterapêutico após a cirurgia da mama seja amplamente c o n h e c i d a , muitas m u lheres são encaminhadas ao fisioterapeuta tardiamente, quando já apresentam complicações instaladas, diminuindo as chances de uma completa recuperação físicofuncional. O objetivo deste estudo foi v e r i f i c a r a r e l a ç ã o e n t r e a freqüência de complicações físicofuncionais decorrentes do tratamento cirúrgico do c â n c e r de mama e o momento de encaminhamento de pacientes à fisioterapia, com base na hipótese do papel do início precoce da reabilitação fisioterápica na prevenção de tais complicações. METODOLOGIA Foram estudados os prontuários médicos e fichas de a v a l i a ç ã o fisioterapêutica de 160 mulheres submetidas a tratamento cirúrgico de câncer de mama, atendidas no Ambulatório de Fisioterapia do Serviço de Oncologia do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Tratase de um estudo epidemiológico descritivo do tipo transversal, onde foram coletadas informações referentes às m u l h e r e s e n c a m i nhadas ao setor de fisioterapia no período entre janeiro de 1998 e dezembro de 2 0 0 1 . Para coleta sistemática dos dados, foi elaborada uma ficha onde foram registradas as informações necessárias, tais como: idade no momento do diagnóstico, estadiamento clínico do câncer de mama, tipo de cirurgia realizada, momento do e n c a m i n h a m e n t o ao acompanhamento fisioterápico; e presença de complicações físicofuncionais avaliadas pelo fisioterapeuta e relatadas pela própria paciente em caso de subjetividade, como dor e parestesia. O projeto de pesquisa foi aprov a d o pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas. Tabela 1 Distribuição das pacientes atendidas segundo a c o m p l i c a ç ã o desenvolvida Complicação Freqüência Percentual Limitação da A D M 99 61,9 Dor 52 32,5 47 29,4 5 3,1 A l t e r a ç õ e s sensitivas 2,6 3,3 Nenhuma 31 19,4 Linfedema Aderência cicatricial Tabela 2 Distribuição das pacientes atendidas segundo a c o m p l i c a ç ã o desenvolvida e o tipo d e cirurgia r e a l i z a d a ~ ,. ~ c. . r • i C o m p l i c a ç ã o fisico-funcional T i p o d e cirurgia ° R a d i c a l (%) r C o n s e r v a d o r a (%) p-valor Limitação de movimento 87,2 72,2 Dor 41,0 40,0 0,91 Linfedema 28,2 40,0 0,20 0,0 5,5 0,13 2,6 3,3 0,82 22,0 18,2 0,57 Aderência cicatricial A l t e r a ç õ e s sensitivas Nenhuma 0,07 T a b e l a 3 D i s t r i b u i ç ã o d a s p a c i e n t e s a t e n d i d a s se£^undo a c o m p l i c a ç ã o e m o m e n t o O s dados c o m p i l a d o s foram submetidos à análise estatística descritiva e testes não-paramétricos como o Qui-quadrado e o teste exato de Fisher, com nível de significância de 5 % . d o e n c a m i n h a m e n t o a o fisioterapeuta Precoce Tardio p-valor Limitação de A D M 13,5 76,4 < 0,0001* Dor 8,1 39,8 < 0,0001 * 2,7 37,4 < 0,0001 * 0,0 4,1 0,26 A l t e r a ç õ e s sensitivas 2,7 2,4 0,43 Nenhuma 78,4 1,6 <0,0001* Linfedema Aderência RESULTADOS A idade média das mulheres e s t u d a d a s no m o m e n t o do diagnóstico do câncer de mama foi de 52,3 anos de idade (28-85). Em relação à forma de detecção da doença, 78,8% dos tumores foram detectados pela própria paciente, 17,5% pelo exame clínico das mamas realizado por médico ou profissional de saúde habilitado, e 3,7% dos casos foram d i a g n o s t i c a d o s por m e i o d e mamografia. A grande maioria dos tumores foi diagnosticada em estádios II e III ( 8 6 , 1 % ) , s e n d o 11,9% detectados precocemente (estádio I); 1,9% das mulheres apresentavam a doença já disseminada (estádio I V ) . O tratamento cirúrgico radical foi realizado em 68,8% das mulheres e 3 1 , 2 % foram submetidas a procedimento cirúrgico conservador. A radioterapia pós-operatória foi realizada em 86,2% das pacientes. Entre as complicações físicofuncionais o b s e r v a d a s , a l i m i tação da A D M estava presente em 61,9% das mulheres; 3 2 , 5 % re- Momento do encaminhamento C o m p l i c a ç ã o físico-funcional cicatricial lataram dor e 29,4% apresentav a m linfedema. Já a aderência c i c a t r i c i a l estava presente em 3 , 1 % das mulheres; 2 , 5 % apresentavam alterações sensitivas e 19,4% das mulheres não apresentavam complicações (Tabela 1). O tipo de cirurgia não esteve relacionado ao desenvolvimento de c o m p l i c a ç õ e s físico-funcionais (Tabela 2). Em relação ao momento d o e n c a m i n h a m e n t o d a s pacientes à intervenção fisioterapêutica, os encaminhamentos por parte dos médicos foram em maioria realizados objetivando o tratamento de complicações instaladas (76,9%), quando comparados aos encaminhamentos para prevenção das mesmas (23,1%) (p<0.0001). vamente com a ausência de c o m plicações (p<0,0001), como descrito na Tabela 3. N ã o foi observada relação entre uso da radioterapia e d e s e n v o l v i m e n t o de linfedema (p=0,45) ou de limitação da A D M (p=0,84). DISCUSSÃO Q u a n d o submetidas à dissecção axilar para tratamento do câncer de mama, as mulheres operadas aumentam o risco de desenvolver complicações físico-funcionais no membro superior homolateral à cirurgia. O desenvolvimento de complicações pósoperatórias pode variar de acordo com a técnica empregada, mas seu aparecimento independe da técnica cirúrgica utilizada . 6 O encaminhamento tardio apresentou associação significativa com a presença da limitação da A D M (p<0,0001), dor (p<0,0001) e linfedema (p<0,0001), e o início precoce da reabilitação fisioterápica a s s o c i o u - s e significati- Nas pacientes incluídas no presente estudo, observou-se que grande parte das mulheres apresentaram limitação da A D M do ombro homolateral. Essa complic a ç ã o tem sido descrita c o m o bastante comum entre as submetidas à cirurgia, e parece ser influenciada por fatores como a extensão da abordagem cirúrgica axilar, a realização da radioterapia pós-operatória e infecções . A dor e o medo ao realizar cinesioterapia no período pós-operatório imediato podem contribuir para a instalação dessa complicação, que pode evoluir para uma deformidade permanente quando não tratada . 45 517 17 Em seu estudo, Tengrup ef a / . relatam que 4 9 % das pacientes avaliadas desenvolveram problemas na mobilidade do ombro após a cirurgia. A radioterapia pode ocasionar diversas complicações imediatas e tardias, sendo a fibrose juncional do ombro intimamente ligada ao déficit de movimento do ombro envolvido . Conforme já descrito, a grande maioria das pacientes estudadas foi submetida à radioterapia; no entanto, não foi encontrada associação significativa entre o uso da terapêutica e limitação da A D M . 18 A informação quanto à extensão da abordagem cirúrgica axilar (número de linfonodos e níveis retirados) não estava disponível, não sendo possível associar qualquer tipo de complicação à dissecção axilar. A limitação da A D M é a c o m plicação pós-cirúrgica que mais justifica o encaminhamento para o fisioterapeuta, na opinião de médicos e das próprias pacientes, principalmente naquelas mulheres que serão submetidas à radioterapia, pois a posição ideal para a irradiação é uma abdução c o m binada com uma rotação externa do ombro a 9 0 ° . Para alcançar em tempo hábil essa postura aprop r i a d a p a r a a r e a l i z a ç ã o da radioterapia, é imprescindível que os encaminhamentos sejam realizados precocemente. Outras três complicações e n contradas neste estudo foram dor, alterações sensitivas e aderência cicatricial. As duas primeiras condições freqüentemente têm início no período pós-operatório e podem ser agravadas com a imobilidade do ombro acometido. O linfedema foi observado em 29,4% das pacientes deste estudo. N ã o há consenso na literatura quanto à incidência dessa c o n dição. Brennan, Depompolo e G a r d e m relatam que a incidência do linfedema varia de 5,5% a 80%; para Petrek e H e e l a n , essa incidência varia entre 15 e 20%; e M o n d r y acredita que 6 % a 3 0 % das mulheres irão desenvolver um linfedema em algum momento de sua vida após a cirurgia para câncer de mama. Diante do exposto, é i m p o r t a n t e ressaltar q u e o linfedema é uma condição crônica e pode aparecer a qualquer momento após a dissecção axilar . 19 10 20 21 Alguns fatores influenciam o aparecimento do linfedema, tais como extensão da abordagem c i rúrgica axilar, infecções e a radio t e r a p i a ' . C o m o já descrito, a extensão da abordagem axilar não foi a v a l i a d a , i m p o s s i b i l i t a n d o comprovar a associação c o m o desenvolvimento do linfedema; e, quanto à radioterapia, não foi observada maior p r e v a l ê n c i a de linfedema nas mulheres a ela submetidas, quando comparadas com mulheres que não realizaram essa terapêutica. Deve-se considerar que o linfedema é uma condição bastante complexa, sendo necessário um estudo específico para melhor compreender o comportamento dessa patologia. Brennan, Depompolo e G a r d e m enfatizam que o aparecimento de um leve aumento do volume do membro nos primeiros dias após a cirurgia é inevitável, e pode ser minimizado com elevação do membro e cinesioterapia precoce. 4 522 19 A ausência de qualquer uma das complicações investigadas foi observada em um número reduzido de pacientes. O tipo de cirurgia não apresentou relação c o m desenvolvimento de complicações, visto que as mesmas foram observadas tanto nas mulheres submetidas à c i rurgia r a d i c a l , c o m o nas q u e conservaram a mama. Nesse sentido, a extensão da abordagem cirúrgica axilar pode estar relacionada com o desenvolvimento das complicações descritas. O principal fator investigado foi o momento do encaminhamento das m u l h e r e s à r e a b i l i t a ç ã o fisioterápica. O ideal é que o programa de reabilitação fisioterápica tenha início o mais precocemente possível, visando prevenir o aparecimento de tais complicações. N o entanto, esta pesquisa evidenciou que, no serviço estudado, a maior parte das pacientes é encaminhada para o tratamento com complicações já instaladas. Foi constatado que as mulheres que apresentaram limitação de A D M , dor e l i n f e d e m a foram e n c a m i n h a d a s tardiamente, ou seja, para tratamento de complicações, sendo estas passíveis de s e r e m p r e v e n i d a s c o m intervenção fisioterapêutica precoce. A forte associação entre o início p r e c o c e da abordagem fisioterápica e a ausência de complicações físico-funcionais reforça a efetividade dessa a ç ã o na prevenção de tais complicações. Deve-se considerar que o atendimento fisioterapêutico no setor de Oncologia do Hospital Universitário da U F M S teve início em janeiro de 1998, não sendo possível, anteriormente a este período, um acompanhamento preventivo. Entretanto, evidencia-se a necessidade de disseminação de informações em relação à importância do acompanhamento fisioterapêutico após a cirurgia por câncer de mama entre os demais profissionais de saúde do setor, pacientes e seus familiares e, principalmente, entre os médicos responsáveis pelos tratamentos cirúrgico e clínico das pacientes, pois a proporção de encaminhamentos médicos é significativamente maior para tratamento de complicações instaladas do que para a prevenção das mesmas. CONCLUSÃO Embora sejam conhecidos os riscos de d e s e n v o l v i m e n t o de complicações em decorrência da cirurgia para o tratamento do câncer de mama, muitas mulheres são encaminhadas ao fisioterapeuta quando já apresentam uma c o m plicação instalada, diminuindo as possibilidades de uma completa recuperação fisico-funcional. A alta freqüência de complicações físico-funcionais entre as mulheres estudadas está associada ao momento do início do programa de reabilitação fisioterápica. Desta forma, muitas das c o m p l i c a ções observadas poderiam ter sido prevenidas mediante a intervenção precoce do fisioterapeuta. C o m o d e s e n v o l v i m e n t o de novas técnicas diagnosticas e te- rapêuticas, grande parte das mulheres irão sobreviver ao câncer de mama. N o entanto, é importante que essa sobrevivência seja plena, ou seja, que a mulher operada da m a m a tenha acesso a uma completa reabilitação clínica, física, psicológica e social. REFERENCIAS 1 Abreu E, Koifman S. 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Efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço de indivíduos com tuberculose pulmonar Effects of a physical exercise program in the effort tolerance by patients with pulmonary tuberculosis l i t / 1 2 2, 2 Viviane Viegas Rech , Daisy Bervig , Lenice Ferreira Rodrigues Cristiano Sanches , Roberto Frota 1 Fisioterapeuta; Espec. em Ciências do Esporte e em Fisioterapia Pneumofuncional; Profa. do Curso de Fisioterapia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) 2 Graduandos em Fisioterapia na ULBRA, vinculados ao Serviço de Fisioterapia do Hospital Sanatório Partenon, da Secretaria Estadual de Saúde, Porto Alegre (RS) ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Viviane Viegas Rech Av. João Wallig, 857/301 Bairro Passo da Areia 91340-000 Porto Alegre RS e-mail: [email protected] [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] 2 RESUMO: A tuberculose (TB) pulmonar é uma doença infecto-contagiosa que apresenta sintomas respiratórios c o m o tosse, expectoração purulenta, hemoptise, dispnéia e dor torácica. Poucos estudos têm considerado a limitação da capacidade de realizar exercícios na presença de doença pulmonar não-obstrutiva. Este estudo visou comparar a sensação de dispnéia, a saturação de oxigênio e a distância percorrida durante o teste de caminhada de seis minutos em indivíduos com TB pulmonar hospitalizados. Participaram 50 indivíduos, 27 no grupo controle e 23 no grupo tratamento. A avaliação foi realizada pelo teste de caminhada dos 6 minutos quanto à distância percorrida, a freqüência respiratória e cardíaca, a saturação de oxigênio e a percepção de dispnéia. O grupo tratamento foi submetido a um programa de exercícios físicos (de 22 a 24 atendimentos), após o que foi realizada a r e a v a l i a ç ã o de ambos os grupos. Q u a n t o à distância percorrida, o grupo tratamento apresentou diferença estatisticamente significativa entre as duas avaliações, utilizando-se o teste t de Student, com uma média de 347,7m na avaliação para 414,2m na reavaliação, e n q u a n t o no grupo c o n t r o l e não h o u v e d i f e r e n ç a estatisticamente significativa. Quanto à dispnéia percebida, o grupo tratamento também apresentou diferença significativa. Conclui-se que indivíduos hospitalizados com T B pulmonar ativa melhoram seu condicionamento físico, quanto à distância percorrida na caminhada e à sensação de esforço percebido. DESCRITORES: Tuberculose pulmonar/reabilitação; Dispnéia; Teste de esforço; Terapia por exercício ACEITO PARA PUBLICAÇÃO iul. 2005 ABSTRACT: Pulmonary tuberculosis (TB) is an infectious, contagious disease with respiratory symptoms such as cough, purulent expectoration, hemoptysis, dyspnea, and thoracic pain. Few studies have considered the limitation of capacity to make exercises in the presence of non-obstructive pulmonary disease. The aim of this study was to compare dyspnea index, oxygen saturation and w a l k e d distance by pulmonary T B inpatients. Fifty patients w e r e distributed into two groups, 27 in the control group and 23 in the treatment group. The evaluation was made by the 6-minute walking test as to walked distance, respiratory and cardiac frequency, oxygen saturation and dyspnea index. The treatment group was submitted to a physical exercise program (from 22 to 24 days), after which patients of both groups were again submitted to evaluation. Following comparative statistical analysis (by means of the tStudent test) between the two evaluations for both groups, the treatment group showed significant difference in the walked distance (mean 347,7m at the first evaluation and 414,2m at the second one), whereas the control group showed no significant difference. As to dyspnea, the treatment group also presented statistically significant difference. Thus it may be said that pulmonary TB inpatients improved their physical condition, having increased walk distance and perceived less dyspnea after the exercise program. KEYWORDS: Pulmonary tuberculosis/rehabilitation; D y s p n e a ; Exercise test; Exercise therapy A prevalência mundial de infecção por tuberculose (TB) é de 3 2 % . Estima-se que ela cause 7% de todas as mortes e 2 6 % das mortes preveníveis no mundo, a maioria ocorrendo em indivíduos jovens. O Brasil ocupa o primeiro lugar em número de casos de T B na América Latina . Atualmente, em todo o mundo, é a principal causa de morte entre as mulheres e, entre os homens, é a segunda maior causa, seguindo-se a acidentes de trânsito. Em países em desenvolvimento, a TB mata mais q u e todas as d e m a i s d o e n ç a s infecto-contagiosas juntas, incluindo a A I D S . 1 2 Como alteração da função pulmonar, a T B pode ser classificada como distúrbio ventilatório misto ou combinado ( D V C ) , tanto como doença granulomatosa única quanto associada com doença pulmonar obstrutiva crônica, ou seja, associação de seqüela de TB e doença pulmonar obstrutiva crônica . 3 Com esse distúrbio ventilatório caracterizado, os indivíduos com T B podem apresentar manifestações clínicas variadas, havendo inclusive pacientes completamente assintomáticos, em que a doença é diagnosticada por acaso. A maioria apresenta sintomas moderados, que lhes permitem prosseguir desempenhando suas atividades usuais, sendo tratados em regime ambulatorial. U m a minoria apresenta más condições clínicas, eventualmente necessitando internação hospitalar. O s sintomas respiratórios que esses pacientes apresentam são tosse, expectoração purulenta, hemoptise, dispnéia e dor torácica, e os sintomas gerais são astenia, a n o rexia, emagrecimento, febre e sudorese noturna . 4 Embora a capacidade de realizar exercícios em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica ( D P O C ) seja limitada primariamente pela c o n d i ç ã o v e n t i latória e descondicionamento físico, também estão associados ao estilo de vida sedentário desses pacientes, o que afeta sua capacidade de exercício. Sabe-se que na T B é importante que o sistema de transporte de oxigênio seja estimulado com exercício para evitar os efeitos deletérios do desc o n d i c i o n a m e n t o e um maior comprometimento de todo o sistema. Isso se evidencia em pacientes pós-tuberculose, que podem apresentar limitada tolerância ao exercício e incapacidades significativas que afetam as atividades de vida diária, tal como em pacientes c o m D P O C . P o r é m , a o contrário do que tem acontecido com a utilização de exercícios em indivíduos c o m D P O C , poucos estudos têm sido feitos nesse sentido considerando especificamente a T B . N o entanto, já foram demonstradas incapacidades similares entre pacientes com D P O C e seqüela de tuberculose pulmonar, quando a idade e o volume expiratório forçado em 1 segundo (VEF1) foi corrigido . 5 , 6 6 Dessa forma, este estudo se justifica para verificar se, por meio do condicionamento físico de indivíduos hospitalizados com tuberculose pulmonar, haveria aumento de sua tolerância ao esforço. O aumento da capacidade de tolerar exercícios ocorre quando o treinamento possibilita menor consumo de oxigênio para uma mesma atividade. Caso isso ocorra na T B pulmonar, os pacientes diminuirão os sinais e sintomas respiratórios, adquirindo maiores possibilidades de realizar atividades de vida diária e também diminuirão a limitação ao esforço, devido à dispnéia, durante a hospitalização, com a melhora da q u a l i d a d e de vida nesse período. A l é m disso, nos casos em que a alta do paciente depende do alívio dos sinais e sintomas respiratórios, poderá ocorrer redução no período de internação. O objetivo deste trabalho foi verificar os efeitos de um programa de exercícios físicos na tolerância ao esforço em indivíduos hospitalizados c o m tuberculose pulmonar, por meio da comparação da sensação de dispnéia, da distância percorrida e da saturação de oxigênio durante o teste de caminhada de seis minutos nos períodos pré e pós-programa. METODOLOGIA Esta investigação caracterizouse como prospectiva com grupo controle. A composição da amostra foi realizada de forma aleatória, com pacientes hospitalizados com diagnóstico de tuberculose pulmonar ativa (verificado pela presença de bacilo-álcool-ácido-resistente - BAAR - positivo no exame de escarro), no Hospital Sanatório Partenon, em Porto Alegre, com idades entre 20 e 50 anos, de ambos os sexos, no período de maio de 2003 até abril de 2004. Pela verificação do prontuário, foram excluídos do estudo pacientes que apresentavam alterações n e u r o l ó g i c a s , psiquiátricas ou ortopédicas, que impediam a realização do teste de caminhada dos 6 minutos ou o programa de exerc í c i o proposto. Também foram excluídos os que se recusaram a participar do trabalho. Quanto aos procedimentos de coleta de dados, após a inclusão dos pacientes a avaliadora entrava e m c o n t a t o c o m eles para explicação do trabalho e autorização, tendo eles assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. O teste de caminhada de 6 minutos era realizado se o paciente estivesse em condições de fazer exercício, bem como trajado adequadamente; se estivesse em uso de 0 contínuo, deveriam ser anotados os dados referentes (fluxo e maneira de transporte). 2 Imediatamente antes de iniciar o e x e r c í c i o eram coletados os dados basais com o indivíduo em pé: freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), escore de dispnéia pela escala de Borg (category-ratio 10 - C R I O ) , saturação de oxigênio ( S a t 0 ) por meio do oxímetro de dedo da marca O n y x - 2 0 0 1 , e avaliação de dor em membros inferiores também pela escala de Borg. Iniciava-se a c a m i n h a d a de esforço 7 2 máximo, c o m estimuação pelo responsável em tom constante e, a cada minuto frases prontas, conforme critérios estabelecidos pela A m e r i c a n Thoracic S o c i e t y . O teste era encerrado quando o paciente completava os 6 minutos propostos, ou caso necessitasse ser interrompido pelos critérios dor no peito, dispnéia intolerável, câimbras nas pernas, tontura, diaforese, palidez. 8 O paciente deveria classificar sua dispnéia basal e fadiga geral pela escala de Borg CR10, após o término do teste, e deveria permanecer em repouso até normalização da S a t 0 . 2 No segundo momento, os pacientes eram sorteados para saber em qual grupo seriam incluídos. Este s o r t e i o era r e a l i z a d o pelo pesquisador responsável pelos atendimentos. Aqueles sorteados para o grupo tratamento realizav a m o programa de exercícios, que era de 22 a 24 atendimentos. E o grupo controle foi acompanhado somente quanto aos sinais v i tais diariamente, pelos componentes da equipe. A o final desse período de atendimentos e verificações, os pacientes de ambos os grupos foram reavaliados. O programa de exercícios incluía inicialmente 5-10 minutos de exercícios ativos para aquecimento dos membros superiores e inferiores, como dorsiflexão e plantiflexão de tornozelos, flexão de quadris e joelhos, flexão e extensão horizontal de ombros . 9 O treinamento dos membros superiores foi realizado sem suporte, elevando as extremidades superiores por dois minutos (por movimentos em diagonal), com uma repetição para cada respiração ( r e a l i z a n d o a e x p i r a ç ã o durante o esforço), dividido em duas séries e intercalando o membro superior direito e esquerdo. A progressão foi realizada com a u mento de tempo de e x e c u ç ã o , com intervalos de repouso de dois minutos (depois de dois minutos de e x e r c í c i o ) , até a l c a n ç a r 32 minutos, utilizando inicialmente halteres de 250 gramas, evoluindo a cada c i n c o atendimentos conforme t o l e r a d o . Seguia-se um período de resfriamento de 5 a 10 minutos com exercícios de auto-alongamentos bilaterais, com manutenção de 30 segundos . 1011 12 Para os membros inferiores utilizou-se a bicicleta ergométrica inicialmente com carga igual a zero e evoluindo em watts até alcançar o índice-alvo de trabalho, progredindo até alcançar 20 minutos de exercício . A linearidade entre a freqüência cardíaca e CR10 facilitou a escolha de um bom nível alto de C R 1 0 , sem a necessidade de basear-se na freqüência cardíaca em todos os momentos: no início dos exercícios a intensidade deveria ser mantida baixa (entre 1,0 e 3,5) e, à medida que o indivíduo se acostumava com a atividade, ia sendo aumentada a intensidade para algo entre 2,0 e 5 , 5 . 0 período de resfriamento era de 5 a 10 minutos com exercícios de autoalongamentos bilaterais, com manutenção de 30 segundos . Oxigênio suplementar podia ser providenciado se houvesse dessaturação durante o treinamento . 1013 7 1 4 12 15 As atividades foram divididas entre os dias da semana: segundas, quartas e sextas-feiras eram feitos exercícios e alongamentos específicos para membros inferiores e terça e quinta-feira exercícios e alongamentos específicos para os membros superiores. Foram completados 24 atendimentos, sendo que cada um desses teve duração de no máximo 60 minutos e o programa foi iniciado dentro do tolerado pelo paciente. Além disso, nenhuma carga adicional foi colocada até que 30 minutos pudessem ser completados . 16 A análise estatística foi realizada no Núcleo de Estatística da Universidade Luterana do Brasil. Foi utilizado o teste t de Student para comparar as médias dos dados contínuos dos grupos e foram considerados resultados com diferença estatisticamente significativa aqueles que apresentaram p<0,05. Além disso, os dados nominais foram descritos em termos de freqüência e porcentagens na amostra e os dados contínuos apresentados em tabelas e em gráficos . 17 Este estudo, bem como o termo de consentimento livre e esclarecido, integram o projeto de pesquisa "Efeitos de um programa de condicionamento físico em indivíduos com T B pulmonar hospitalizados", que foi aprovado pelos comitês de Ética em Pesquisa da U L B R A e da Escola de Saúde Pública, da Secretaria Estadual de Saúde, do Rio Grande do Sul (sob os protocolos de número 098-2002 e 046-03, respectivamente). RESULTADOS N o período de estudo, c o m preendido entre maio de 2003 e abril de 2004, participaram 50 pacientes, divididos em 27 no grupo controle (18 homens e 9 mulheres) e 23 pacientes no grupo tratamento (15 homens e 8 mulheres). A média e desvio padrão (DP) de idade foi de 36,74 (±8,44) anos no grupo t r a t a m e n t o e 37,04 (±7,51) anos no grupo controle. N o grupo tratamento, ao teste de escarro 39,1 % pacientes apresentavam B A A R + , 2 6 , 1 % tinham BAAR++ e 34,8%, BAAR+++. E> no grupo controle, 61,5% dos pacientes a p r e s e n t a v a m B A A R + , 19,3% BAAR++ e 19,2% BAAR+++. Quanto ao tabagismo, 78,3% do grupo experimental e 63% do grupo controle eram tabagistas. Seis pacientes (33,3%) do grupo tratamento e 12 pacientes (66,75%) do grupo controle eram H I V positivo. Na comparação feita pelo teste t Student da distância percorrida (Figura 1) no teste de caminhada de 6 minutos (TC6), observouse no grupo tratamento uma média de 347,75m (±80,51 m) na primeira a v a l i a ç ã o e de 414,25m (±92,72m) na reavaliação após aplicação do programa de exercício físico (p=0,002), com diferença estatisticamente significativa no nível de 5 % . Já no grupo controle, as médias de distância percorrida na avaliação e reavaliação foram respectivamente 361,64m (±117,22m) e 381,57m (±84,34m), com p=0,451. Durante as avaliações e reavaliações no período pós-teste, a dispnéia foi mensurada pela escala de esforço percebido de Borg. Na avaliação, a mensuração da dispnéia antes e depois da caminhada n o T C 6 não apresentou diferença significativa no nível de 5 % em ambos os grupos. Q u a n d o foi realizada a c o m p a r a ç ã o da dispnéia referida antes e após o TC6 em cada grupo no período de reavaliação (ou seja, após o programa de exercícios ou controle), observou-se que no grupo tratamento houve uma queda estatisticamente significativa na dispnéia referida (3,09 para 1,58; p=0,005), enquanto no grupo controle não se observou essa diferença estatística (3,78 para 3,36). Pode-se verificar que a dispnéia percebida no grupo controle após a c a m i nhada foi maior que no grupo tratamento. Durante o TC6 também foram mensuradas a S a t 0 , FC e FR. Na avaliação e reavaliação da S a t 0 , antes e depois do teste, não ocorreram diferenças estatísticas nos grupos. A média de S a t 0 (%) na reavaliação pós-teste no grupo controle foi de 89,43% (±8,16) e, no grupo tratamento, de 9 5 % (+5,91), conforme apresentado no Quadro 1 . Nenhum paciente necessitou do uso de oxigênio complementar durante a realização do programa de exercícios ou durante as avaliações e reavaliações. 2 2 As variáveis de FC e FR, verificadas antes e após o teste de c a m i n h a d a , não apresentaram diferença estatisticamente significativa na c o m p a r a ç ã o entre os grupos pelo teste t Student. Nos Quadros 2 e 3 podem ser observadas as médias e desvio padrão em cada grupo da FC pré e pós-TC6, na avaliação e na reavaliação. DISCUSSÃO Na amostra estudada, 33,3% do grupo experimental e 66,7% do grupo controle eram H I V positivo. De acordo com Ribeiro e Matsui', relata-se que, no mundo, 8% dos casos de T B têm H I V positivo. O Brasil é considerado país de médio risco para infecção pelo H I V e infecção pelo Mycobacterium tuberculosis. Dentre o total de casos de A I D S notificados em pessoas com 13 ou mais anos de idade, a T B representava 26,9% das infecções oportunistas, sendo em 1996 a segunda mais freqüente infecção oportunista notificada após a candidíase oral. Assim, os resultados encontrados superam o que é relatado na bibliografia. Isso pode ser reflexo das características do Hospital Sanatório Rartenon, que tem como principal causa de internação tuberculose pulmonar por problemas psicossociais. Q u a d r o 1 C o m p a r a ç ã o por g r u p o da v a r i á v e l m é d i a e d e s v i o p a d r ã o ( D P ) da s a t u r a ç ã o d e o x i g ê n i o ( S a t 0 ) n o s p e r í o d o s p r é e pós-teste 2 Média (DP) Valor de p SatCv, pré-teste ( A V ) 9 5 , 5 2 (4,67) 0,949 Sat0 95,61 (4,32) Grupo 2 experimental pós-teste ( A V ) S a t O , pré-teste ( R E ) 95,17(3,64) S a t O , pós-teste (RE) 95,00(3,91) G r u p o controle Média (DP) S a t O , pré-teste ( A V ) 9 4 , 6 3 (4,37) Sat0 9 3 , 6 3 (7,00) 2 pós-teste ( A V ) SatO., pré-teste (RE) 92,57(7,50) S a t O , pós-teste (RE) 8 9 , 4 3 (8,16) 0,890 Valor de p 0,202 0,098 * D i f e r e n ç a e s t a t i s t i c a m e n t e s i g n i f i c a t i v a a o n í v e l d e 5 % p e l o teste d e t S t u d e n t Q u a d r o 2 M é d i a e desvio padrão ( D P ) da freqüência cardíaca (FC) n o T C 6 e m a m b o s os grupos, na a v a l i a ç ã o ( A V ) e r e a v a l i a ç ã o ( R E ) Freqüência cardíaca (FC) Méd a (DP) Experimental Controle F C pré-teste ( A V ) 100,26(22,15) 110,11 (22,20) F C pós-teste ( A V ) 112,39(25,32) 119,22 (30,65) F C pré-teste ( R E ) 115,08 (24,59) 124,43 (27,90) F C pós-teste (RE) 116,42 (21,41) 116,79(26,92) 2 Q u a d r o 3 M é d i a e d e s v i o p a d r ã o ( D P ) da f r e q ü ê n c i a respiratória (FR) n o T C 6 e m a m b o s g r u p o s , na a v a l i a ç ã o ( A V ) e r e a v a l i a ç ã o ( R E ) Freqüência respiratória Média (DP) (FR) Experimental Controle FR pré-teste ( A V ) 2 3 , 0 0 (4,78) 2 3 , 1 3 (3,95) F R pós-teste ( A V ) 2 6 , 6 1 (3,94) 27,15(4,04) F R pré-teste ( R E ) 2 5 , 9 2 (6,68) 28,15(6,54) F R pós-teste ( R E ) 28,08(6,01) 30,15(5,93) A média de idade era de 36,74 anos no grupo experimental e 37,04 anos no grupo controle. Segundo o Ministério da Saúde , a TB é uma doença que atinge em geral as pessoas na idade produtiva, entre 15 e 59 anos. 2 Trabalhos anteriores, como o de O ' D o n n e l l et a l . , comparam a dispnéia, na distância percorrida no teste de caminhada dos 6 minutos e no trabalho no cicloergômetro, entre dois grupos combinados por idade de pacientes com D P O C moderado. O grupo treinado com exercícios de resistência reduziu significativamente seu escore de dispnéia e aumentou a distância percorrida e o trabalho ergométrico, quando comparado ao grupo controle. Paralelamente, no presente estudo, a dispnéia do grupo tratamento diminuiu significativamente em relação ao grupo controle, enquanto que a distância percorrida aumentou. Sabe-se que mudanças na distânc i a p e r c o r r i d a no T C 6 c o r r e lacionam-se bem com modificações na percepção de dispnéia em pacientes com D P O C . É possível que isso também possa ocorrer em outros distúrbios respiratórios crônicos. 18 1 9 Pacientes com D P O C apresentam reduzida tolerância ao exercício, associada à dispnéia, que ocorre primariamente devido à obstrução das vias aéreas, mas também pela combinação de o u tros fatores . Indivíduos com T B ativa em muitos casos também apresentam secreção brônquica, a l é m d e outros fatores c o m o d i s f u n ç ã o m u s c u l a r periférica (pelo emagrecimento importante, quando não ocorre diagnóstico precoce e tratamento adequado). Dessa forma, é provável que em indivíduos com T B os programas de reabilitação que incluem treinamento com exercícios são capazes de reduzir dispnéia e melhorar a tolerância ao exercício, como tem sido proposto em alguns estudos sobre a D P O C . 20 Em um programa de reabilitação pulmonar de pacientes com D P O C , considera-se que a mínima diferença, entre um teste de caminhada de 6 minutos em uma prim e i r a a v a l i a ç ã o e o teste d e reavaliação, deve ser de 54 metros para que o paciente perceba uma melhora clinicamente significante . Neste estudo, os pacientes portadores de T B que realizaram o tratamento tiveram uma diferença entre as médias da avaliaç ã o e da r e a v a l i a ç ã o de 66,5 metros, enquanto aqueles do grupo c o n t r o l e s o m e n t e d e 29,9 metros. Dessa forma, provavelmente o programa de exercícios realizado trouxe benefícios clínicos perceptíveis a esses indivíduos. 21 ao exercício dinâmico, o qual se associa, entre outros, à diminuição da dispnéia nas atividades cotidianas, redução do nível de dep e n d ê n c i a do paciente em relação aos cuidados médicos e atitude positiva frente à d o e n ç a . 22 Quanto ao teste de caminhada de 6 minutos, utilizado no presente estudo para avaliar a tolerância ao esforço, tem sido proposto que ele consegue equilibrar reprodutibilidade e poder de discriminação. Além disso, correlacionase bem com pico de consumo de oxigênio e com saúde, relatada em questionários de qualidade de vida, sendo altamente sensível em detectar mudanças após tratamento como, por exemplo, treinamento f í s i c o . A p r o x i m a d a m e n t e 8 0 % dos programas de reabilitação pulmonar utilizam esse test e , portanto, justifica-se sua utilização para avaliar programas de exercícios aplicados a outras doenças respiratórias. 2 3 O tratamento fisioterapêutico tem sido integrado à reabilitação do paciente hospitalizado c o m T B p u l m o n a r ativa r e c e n t e m e n t e , apesar de as normas de biossegurança no a t e n d i m e n t o a esses pacientes, bem como a atuação dos tuberculostáticos, já serem bem conhecidas. U m estudo que considerou o exercício em indivíduos já curados da tuberculose foi realizado em duas etapas: a primeira c o n sistia e m c o m p a r a r o grau d e incapacidade entre pacientes com seqüela d e T B pulmonar e paciente com D P O C - e os resultados mostraram que os graus de incapacidade foram semelhantes quanto aos valores de VEF1 e também na distância percorrida no T C 6 . N a segunda etapa, foram comparados os efeitos da reabilitação pulmonar entre os dois grupos, em um período de nove semanas; os resultados avaliados pelo teste de caminhada de seis minutos também se apresentaram semelhantes . 6 Programas estruturados e multidisciplinares de reabilitação pulmonar têm apresentado considerável impacto na qualidade de vida de pacientes com diversas doenças respiratórias. Entre os objetivos de tais programas, destaca-se o aumento da tolerância 23 14 Segundo Frontera eí a/. , uma vez que a cessação do exercício resulta em perda do efeito de treinamento, o plano ideal deve envolver uma fase de treinamento intenso e uma fase de manutenção. Além disso, acredita-se que esses pacientes obteriam maior aproveitamento se o programa tivesse um tempo de duração de seis a oito semanas, conforme preconizado em outros protocolos formais de treinamento com exercícios para doentes pulmonares , ao invés de vinte e quatro atendimentos (5 vezes na semana, por 1 mês), como realizado neste trabalho. 13 CONCLUSÃO D e acordo com os resultados obtidos nesse estudo, pode-se afirmar que o condicionamento físico pode ser efetivo em pacientes com tuberculose pulmonar ativa por aumentar a distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos e diminuir a dispnéia, como relatado em trabalhos semelhantes realizados com pacientes portadores de D P O C . REFERÊNCIAS 1 Ribeiro SA, Matsui T N . Hospitalização por tuberculose em hospital universitário. J Pneumol. 2003;29(1 ):9-14. 14 Frontera W R , Dawson D M , Stovik D M . Exercício físico e reabilitação. Porto Alegre: Artmed; 2 0 0 1 . 2 Brasil. Ministério da Saúde. Controle da tuberculose: uma proposta de integração ensino-serviço. Brasília; 2002. 15 3 Pereira CAS. Espirometria: diretrizes para testes de função pulmonar. J Pneumol. 2002;28(supl 3):1-82. British Thoracic Society Standard of Care Subcommittee on Pulmonary Rehabilitation. BTS statement: pulmonary rehabilitation. Thorax. 2001;56:827-34. 16 Pryor JA, W e b b e r B A . Fisioterapia para problemas respiratórios e cardíacos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 4 5 6 Silva LCC. Condutas em pneumologia. Rio de Janeiro: Revinter; 2 0 0 1 . Frownfelter D, Dean E. Fisioterapia cardiopulmonar: princípios e prática. Rio de Janeiro: Revinter; 2004. Ando M , Mori A, Esaki H , Shiraki T, Uemura H , Okazawa M , et al. The effect of pulmonary rehabilitation in patients with post-tuberculosis lung disorder. Chest. 2003;123(6):1988-95. 7 Borg G . Escalas de Borg para dor e esforço percebido. São Paulo: Manole; 2000. 8 American Thoracic Society. ATS Statement: guidelines for the six-minute walk test. A m J Respir Crit Care M e d . 2002;166(1 ):111 -7. 9 Morgan M , Singh S. Practical pulmonary rehabilitation. London: Chapman & Hall Medical; 1997. 10 Rodrigues SL. Reabilitação pulmonar: conceitos básicos. São Paulo: Manole; 2003. 11 Rebelatto JR, Morei li J G S . Fisioterapia geriátrica: a prática da assistência ao idoso. São Paulo: Manole; 2004. 12 Rosário JLR, Marques AP, Maluf A S . Aspectos clínicos do alongamento: uma revisão da literatura. Rev Bras Fisioter. 2004;8(1 ):83-8. 13 American College of Sports Medicine. Diretrizes do A C S M para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;2003. 17 Callegari-Jacques S. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Artmed; 2004. 18 O ' D o n n e l l D E , W e b b KA, M c G u i r e M A . Older patients with C O P D : benefits of exercise training. Geriatrics. 1993;48(1 ):59-66. 19 Niederman M S , Clemante P H , Fein A M , Feinsilver S H , Robinson DA, Howite J S , et al. Benefits of a multidisciplinary pulmonary rehabilitation program: improvements are independent of lung function. Chest. 1991;99:798-804. 20 Poulain M , Durand F, Palomba B, Ceugniet F, Desplan J , Varray A, et al. 6-minute walk testing is more sensitive than maximal incremental cycle testing for detecting oxygen desaturation in patients with C O P D . Chest. 2003;123:1401-7. 21 Redelmeier DA, Bayoumi A M , Goldstein R S , Guyatt G H . Interpreting small differences in functional status: the six minute walk test in chronic lung disease patients. A m J Respir Crit Care M e d . 1997; 155:1278-82. 22 Neder JA, Nery LE, Cendon SPF, Ferreira M l , Jardim RJ. Reabilitação pulmonar: fatores relacionados ao ganho aeróbio de pacientes com D P O C . J Pneumol. 1997;23(3):115-23. 23 Rabinovich RA, Vilaró J , Roca J . Evaluation of exercise tolerance in C O P D patients: the 6minute walking test. Arch Bronconeumol. 2004;40(2):80-5. Mobilização pelo método maitland para correção da discrepância de membros inferiores: estudo de caso Mobilization by the maitland method to correct lower limb length discrepancy: a case study I U 1 t / v 2 Daniela Biasotto Gonzalez , Danielli Cristina Borges Tótora , Elaine Layber Mendes 1 2 Fisioterapeuta; Profa. Dra. em Biologia e Patologia Buco-Dental pela F O P / U N I C A M P ; Profa. do Curso de Fisioterapia da Universidade de Mogi das Cruzes) Fisioterapeutas ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Danielli C. B. Tótora R. Alves Guimarães 623 apto. 163 Pinheiros 05410-001 São Paulo SP e-ma/7: [email protected] ACEITO PARA PUBLICAÇÃO ago. 2004 2 RESUMO: Este estudo visou avaliar o efeito imediato da mobilização articular pelo método M a i t l a n d e m p a c i e n t e (58 anos) c o m discrepância do comprimento de membro inferior ( D C M I ) devido a seqüela de acidente automobilístico. O paciente, com o membro direito menor, foi avaliado em uma sessão, apresentando diferença entre as medidas do comprimento dos membros inferiores real e aparente de 3 c m , diferença de comprimento de pernas de 1 c m e, ainda, distância calcâneo D-solo de 7,5 c m . N a mesma e única sessão, foi tratado por mobilização articular pelo método Maitland, um procedimento de mobilização articular geralmente usado p a r a a u m e n t a r a m o b i l i d a d e e m á r e a s restritas d o s i s t e m a musculoesquelético, que pode favorecer a alteração postural. Foram aplicadas duas técnicas - volante pélvico posterior e volante pélvico anterior - durante 1 minuto cada, repetidas três vezes, num total de 6 minutos, sendo o paciente reavaliado previamente a cada execução. Após os dois primeiros minutos, foi constatada diminuição de 3 cm da medida calcâneo D-solo. Após o segundo e terceiro procedimentos não houve alteração, mantendo-se o ganho anterior. O s resultados mostram que as técnicas utilizadas do método Maitland foram eficazes, diminuindo a D C M I . DESCRITORES: Técnicas de fisioterapia/métodos; Extremidade inferior; Reabilitação A B S T R A C T : This study e v a l u a t e d t h e i m m e d i a t e effect of a r t i c u l a r mobilization by the M a i t l a n d method in a patient (58 years old) with discrepancy of lower extremity length ( L L D ) due to sequels of a car accident. The patient, with shorter right leg, was evaluated in one session presenting a 3 c m difference between real and apparent lower limb measures, a 1 c m difference in legs length and a 7,5 c m right c a l c a n e u m to-ground distance. In the same and sole session, the patient w a s treated by articular mobilization using the Maitland method, a procedure mainly used to increase mobility of the muscular-skeletal system that may favour posture alteration. Two techniques w e r e used - posterior pelvis rotation and anterior pelvis rotation - during 1 minute e a c h , being the procedures r e p e a t e d three t i m e s , thus t o t a l l i n g 6 m i n u t e s . The d i s t a n c e right calcaneum-to-ground w a s remeasured previously to each procedure. After the t w o first minutes, a d e c r e a s e of 3 c m w a s noticed in the right calcaneum-ground distance. After the second and third procedures there was no alteration, previous gain being kept. Results show that the used techniques of the M a i t l a n d method w e r e effective in reducing L L D . KEYWORDS: Physical therapy techniques/methods; Lower extremity; Rehabilitation Constata-se discrepância do comprimento dos membros inferiores ( D C M I ) quando há diferença entre os comprimentos das pernas ou encurtamento verdadeiro causado por alteração anatômica ou estrutural do membro inferior ( M l ) , podendo ser decorrência de um defeito congênito do desenvolvimento (coxa vara), de displasia congênita do quadril, de anormalidades ósseas ou de trauma . Segundo M a g e e , para identificar se a discrepância é verdadeira ou funcional (aparente), devem ser realizadas medidas dos comprimentos reais e aparentes dos membros inferiores ( M M I I ) , com fita métrica. D e acordo com Bhave eí a/. , a D C M I leva a um desequilíbrio musculoesquelético em todo o corpo, acarretando alterações posturais, inclusive padrões de marcha. A D C M I verdadeira pode ser causada por anormalidades que fazem com que um dos ossos do M l seja mais curto ou mais longo que o osso c o n tralateral. A discrepância aparente pode ser causada por contraturas na junção lombo-sacra devido a escoliose, deformidades póstraumáticas, contraturas do quadril ou outros . 1 1 2 3 4 Para B r a c e i a 11 i , O l i v e r e Middleditch , a postura é definida como a posição do corpo no espaço que exija menor esforço, evitando fadiga desnecessária, sendo mantida ou adaptada como resultado de coordenação neuromuscular, regulada por um complexo mecanismo reflexo. A coluna vertebral, por ser o suporte do corpo, é a mais prejudicada com s o b r e c a r g a s q u e r e s u l t a m no aumento significativo de problemas posturais da população mundial, tanto em adultos quanto em crianças. Para que o corpo esteja em condições de equilíbrio, qualquer d e s e q u i l í b r i o d e v e r á ser compensado por um desequilíbrio inverso, de mesmo valor e mesmo plano, estando em posição ortostática, não existindo desequilíbrio segmentar sem compensação . 5 4 Toda alteração postural manifesta-se de duas formas: ou ocorre um desequilíbrio ântero-posterior ou um desequilíbrio látero-lateral. C o m o o corpo, em sua estática e dinâmica, se manifesta de forma tridimensional, qualquer desequilíbrio, seja no plano frontal ou sagital, causará uma rotação c o m pensatória no plano transversal . 6 7 Song et al. realizaram uma pesquisa c o m 35 sujeitos c o m D C M I variando entre 0,8 e 1 5 , 8 % do comprimento do M l . O s autores constataram que as discrepâncias com menos de 3 % não foram associadas a compensações; e, quando as discrepâncias eram iguais ou maiores que 5,5%, havia um deslocamento do centro de massa do corpo. Esse grau de discrepância era manifestado pelo caminhar na ponta dos pés como estratégia compensatória. Indivíduos com menor discrepância usaram uma combinação de estratégias compensatórias para normalizar o trabalho m e c â n i c o executado pelos M M I I . 6 Young eí al. constataram que a desigualdade dos comprimentos dos membros inferiores c a u s a obliqüidade pélvica e um aumento da flexão lateral do tronco em direção ao lado do membro de menor comprimento. O século X X foi palco de renovado interesse pela terapia manual no campo médico tradicional. Dentre os responsáveis pela introdução da mobilização articular na comunidade médica destaca-se o inglês James Cyriax, considerado o pai da medicina ortopédica que, na década de 1940, preconizou a manipulação ósseo-articular . N a fisioterapia, os procedimentos de mobilização articular são usados primordialmente para aumentar a mobilidade em áreas restritas do sistema musculoesquelético que podem favorecer a alteração postural . G r e e n m a n , em uma definição abrangente, ressalta que o objetivo da mobilização articular é restaurar ao máximo o movimento do sistema musculoesquelético no equilíbrio postural. O r a , na discrepância de membros in9 9 10 feriores há necessariamente um desequilíbrio postural; e sabe-se que esse desequilíbrio afeta também a deambulação do indivíduo. 9 Segundo Maitland eí al. , o fisioterapeuta deve pesquisar para estabelecer uma série de achados relevantes que surgem na articulação sacroilíaca. O deslocamento sacroilíaco local freqüentemente resulta em dificuldade na transferência de peso, na postura ereta e na marcha, sendo difícil distinguir os problemas sacroilíacos funcionais daqueles da coluna, quadril e de estruturas neurais. Porém, pode haver estágios bem consistentes que fazem com que o fisioterapeuta suspeite da articulação sacroilíaca. Como há evidências de que alterações nessa região comprometem a funcionalidade da marcha, essa região também deve estar envolvida na diferença do comprimento de membros inferiores. Embora não tenha sido encontrado nenhum trabalho sobre o uso do volante pélvico, proposto por Maitland eí al. , para tratamento de discrepância de membros, justifica-se a idéia de realizar a mobilização na região do quadril para melhora dessa discrepância. 9 Este estudo visou pois verificar a eficácia da mobilização articular do sacroilíaco, com o uso da técnica do volante pélvico, para diminuir a D C M I de um paciente. METODOLOGIA O estudo de caso foi realizado com o paciente S . R . S . , 58 anos, c o m seqüela no M l direito (D) decorrente de um acidente automobilístico ocorrido há 18 anos, no qual apresentou fratura exposta de tíbia e fibula. Após o acidente, o paciente foi submetido a uma cirurgia de redução de tíbia e fibula e enxerto em compartimento posterior da perna direita por perda de tecido cutâneo e muscular na região. H á dois anos, o paciente sofreu um acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico que resultou em hemiparesia à esquerda, com predomínio braquial, sem comprometimento da A D M no M l esquerdo (E) e hipertonia leve no mesmo (escala de Ashword 1 + ) . Avaliação do paciente Como o objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da mobilização articular em paciente com D C M I , observou-se apenas a ausência do toque de c a l c â n e o D no solo (paciente andava sobre o antepé D) e a presença de báscula na pelve D. O paciente foi avaliado em uma única sessão, sendo submetido a uma a v a l i a ç ã o postural, m e n surações do c o m p r i m e n t o dos M M I I , distância calcâneo D-solo e testes de encurtamento muscular. Na a v a l i a ç ã o p o s t u r a l , o paciente permaneceu em posição ortostática para que fosse observada a simetria dos seguintes pontos de reparo anatômicos: ombros, mamilos, espinhas ilíacas ânterosuperiores (EIAS), joelhos e maléolos mediais (vista anterior); ângulos inferiores das escapulas, espinhas ilíacas póstero-superiores (EIPS) e linhas poplíteas (vista posterior). O s pontos de reparo do hemicorpo D do paciente apresentaram-se mais altos em relação aos do hemicorpo E, revelando uma assimetria significativa. As Figuras 1 e 2 mostram a assimetria das EIAS e EIPS (demarcadas com ponto branco), permitindo visualizar o desvio postural causado pela diferença dos membros inferiores. É importante destacar que não houve mensuração específica da angulação das EIAS e EIPS; esta foi a p e n a s d e m a r c a d a para visualização da postura adotada pelo paciente no início da avaliação, já que o objetivo principal do trabalho não era c o m p a r a r d e t a l h a d a m e n t e cada m e d i d a , mas o resultado final da diferença do comprimento dos membros inferiores. Os comprimentos dos M M I I foram mensurados com o paciente em decúbito dorsal ( D D ) e membros estendidos em posição neutra. A medida se dividiu em dois lipos, real c aparente, segundo Sanlili cl dl.". Para a medida real, foi mensurada, com fita métrica, a distância das EIAS ao maléolo mediai, bilateralmente. Já para a medida aparente, foi mensurada a distância da c i c a t r i z u m b i l i c a l a o maléolo mediai, também bilateralmente. Foi verificada uma diferença de 3 centímetros entre as medidas dos dois membros, sendo a medida do M l D menor. Obteve-se ainda a medida do comprimento das tíbias, também com fita métrica, considerando-se c o m o pontos d e r e f e r ê n c i a a tuberosidade da tíbia e o maléolo mediai. O paciente apresentou 1 cm de diferença entre os comprimentos das pernas, sendo a perna D de tamanho menor. A distância calcâneo D-solo foi mensurada com fita métrica, com o paciente em posição ortostática, encontrando-se a distância de 7,5 cm (Figura 3). Foram realizados, ainda, dois testes de encurtamento muscular para os m ú s c u l o s p i r i f o r m e e iliopsoas. O s testes foram realizados bilateralmente, sendo o teste do piriforme positivo no quadril D e o teste de iliopsoas positivo bilateralmente, porém mais acentuado no quadril D. O Q u a dro 1 mostra os valores obtidos na avaliação do paciente. O paciente foi tratado em uma única sessão, na mesma em que foi avaliado. O método usado foi o Maitland, de mobilização articular. Especificamente foram usadas duas técnicas: volante pélvico posterior e volante pélvico a n terior, segundo Maitland et ai. . 9 O volante pélvico posterior foi aplicado na pelve mais elevada do Q u a d r o 1 Valores obtidos dos comprimentos dos M M I I do paciente na avaliação em centímetros; M l D (membro inferior direito); M l E (membro inferior esquerdo) Medida real Medida aparente Comprimento da perna MI D Ml E Ml D Ml E Perna D Perna E 88 c m 89 cm 83 cm 86 c m 30 cm 31 cm Distância calcâneo D-solo 7,5 c m paciente (pelve D). O paciente foi orientado a deitar na maca, em lateral, sobre o seu lado E, com os quadris e joelhos confortável mente fletidos em pouco menos de 90°. U m dos fisioterapeutas ficou em pé, de frente para os quadris do paciente e colocou a parte inferior da mão D sobre a superfície posterior da tuberosidade isquiática, com os dedos e os antebraços sobre os quadris do paciente apontando em direção a sua própria face. O fisioterapeuta colocou a parte inferior da mão esquerda sobre a parte anterior da espinha ilíaca do paciente, com os dedos e os antebraços sobre a pelve do paciente, apontando para sua outra mão. A seguir, executou uma tensão rotatória sobre a articulação sacroilíaca, balançando a parte superior da pelve para a frente com o movimento do seu corpo. O volante pélvico anterior foi u s a d o na p e l v e c o n t r a l a t e r a l (pelve E). As posições do paciente e fisioterapeuta foram praticamente as mesmas, c o m a exceção de que o paciente deitou sobre o seu lado direito e o fisioterapeuta esteve virado para os pés do paciente, sendo o sentido do movimento de balanço da parte superior da pelve para trás. As técnicas foram realizadas durante 1 minuto cada. Após os dois m i n u t o s o p a c i e n t e era reavaliado quanto à distância calcâneo D-solo. O procedimento foi realizado três vezes, num total de Quadro 2 Valores da distância calcâneo D-solo (em cm) na avaliação inicial e nas reavaliações do paciente após tratamento com o método Maitland Procedimentos Distância calcâneo D-solo Avaliação pré- tratamento 7,5 cm I a Reavaliação 4,5 c m 2 a Reavaliação 4,5 cm 3 a Reavaliação 4,5 cm 6 minutos, sendo o paciente reavaliado três vezes. A o final dos seis minutos, foram novamente tiradas fotografias (Figuras 4 a 6). RESULTADOS O s resultados são mostrados no Quadro 2, que apresenta os valores da distância calcâneo D-solo na avaliação inicial e nas reavaliações após cada 2 minutos do uso das técnicas volante pélvico anterior e volante pélvico posterior. Após os 2 primeiros minutos, notou-se uma diminuição de 3 c m da medida feita na avaliação inicial (Figura 6). Já após o segundo e terceiro procedimentos não houve alteração da medida obtida inicialmente. DISCUSSÃO O presente estudo procurou analisar o efeito imediato do método Maitland de mobilização articular em paciente c o m D C M I . D u r a n t e a a v a l i a ç ã o , para se mensurar a distância calcâneo D- solo a fim de se obter a valor da D C M I , o paciente foi colocado em posição ortostática. Santili eí a/. relatam que o posicionamento ortostático do paciente (posição de carga) é fundamental para avaliar a verdadeira discrepância funcional do M l . 11 N o presente estudo o paciente apresentou na medida calcâneo D-solo de 7,5 c m ; nas medidas real e aparente, 3 cm de diferença e, nos comprimentos das pernas, 1 cm de diferença. Pressupõese que essas diferenças, além de serem de origem óssea pelo menor tamanho da perna D, sejam também de origem muscular e postural, pois os testes de encurtamento realizados no paciente foram positivos no M l E; isso confirma que os encurtamentos pod e m f a v o r e c e r a a l t e r a ç ã o da marcha, visto que contribuem para a diminuição do comprimento do M l e obliqüidade pélvica. 2 Segundo G u r n e y ' , a D C M I é um impedimento biomecânico e um fator predisponente de desordens m u s c u l o e s q u e l é t i c a s a s - sociadas, implicando afecções da m e c â n i c a da m a r c h a , postura compensada, aumento da incidência de escoliose, bem como prejuízos estéticos. Nos resultados, nota-se que na primeira reavaliação h o u v e d i minuição da distância calcâneo D-solo de 3 c m , bem c o m o da assimetria da obliqüidade pélvica, demonstrada pelos pontos d e marcados das EIAS e EIPS, confirmando a eficácia do método aplicado no paciente. Porém, observase q u e na segunda e terceira reavaliações não houve diferença, mantendo-se os mesmos valores (4,5 cm). E s t u d o s mostram que 1113 a mobilização articular é capaz de gerar resultados em um minuto para cada procedimento. Neste caso, nos primeiros dois minutos já se o b t e v e r e s u l t a d o satisfatório, não tendo h a v i d o avanços nas duas avaliações posteriores. da região do quadril possibilitou a melhora funcional da marcha, pois o paciente teve a báscula diminuída - além de grande satisfação pessoal com o resultado. CONCLUSÃO 11 Segundo Santili eí a / . , se as articulações do quadril, joelho, tornozelo e pé forem estáveis, porém móveis, os membros, equalizados no mesmo tamanho, poderão desenvolver a marcha com elegância e menor desgaste mecânico. N o presente trabalho, embora não se t e n h a m e q u a l i z a d o os membros, apenas a mobilização Pode-se c o n c l u i r q u e , neste caso, a mobilização articular em região sacroilíaca com a técnica do volante pélvico se mostrou eficaz na melhora da discrepância dos membros inferiores, levando a uma marcha muito mais funcional e com menos desgaste para o paciente. REFERÊNCIAS 1 Magee D J . Avaliação musculoesquelética. 3a ed. São Paulo: Manole; 2002. 2 Bhave A, Paley D, Herzenberg JE. Improvement in gait parameters after lengthening for the treatment of limblength discrepancy. J Bone Joint Surg. 1999;81:529-34. 3 4 Saudek CE. O quadril. In Gould J A . Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. São Paulo: Manole; 1993. p.345-92. Bradai li LMP, Vilarta R. Postura corporal: reflexões teóricas. Fisioter Movimento. 2001 ;1 (14):65-71. 8 Young RS, Andrew P D , Cummings G S . Effect of simulation leg length inequality on pelvic torsion and trunk mobility. 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São Paulo: Manole; 1995. v . 1 , p.27-33: Discrepância no comprimento do membro. 7 Fisioterapia respiratória na doença de parkinson idiopática: relato de caso Respiratory physiotherapy in idiopathic disease: case report 1 Parkinsons 2 Luiz Antonio Alves , Ana Cláudia Coelho , Antonio Fernando Brunette' Fisioterapeuta pela U E L ; Residente em Fisioterapia Pulmonar na Universidade Estadual de Londrina (UEL) Fisioterapeuta pela U D E S C ; Residente em Fisioterapia Pulmonar na UEL Fisioterapeuta pela P U C C A M P ; Prof. Dr. (em Fisiologia) do Curso de Graduação em Fisioterapia da UEL e da Universidade Norte do Paraná ( U N O P A R ) ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Luiz Antonio Alves Depto. Fisioterapia/UEL Hospital Univers. Reg. Norte do Paraná Av. Robert Kock 60 86038-440 Londrina PR e-mail: [email protected] ACEITO PARA PUBLICAÇÃO jun. 2005 RESUMO: Disfunções respiratórias ocorrem na maioria dos pacientes com Doença de Parkinson Idiopática em estágios avançados, levando a elevados índices de morbimortalidade. O objetivo deste estudo foi relatar a evolução do caso de um paciente parkinsoniano no estágio IV da Escala de Hoehn e Yahr em que a intervenção fisioterapêutica foi especificamente direcionada às disfunções respiratórias. O paciente realizou fisioterapia respiratória durante c i n c o meses. Foram realizadas provas de f u n ç ã o pulmonar (espirometria e manovacuometria) antes e após o período de tratamento. H o u v e melhora da função respiratória c o m aumento nos valores de capacidade vital forçada, volume expiratório forçado no 1o segundo, pico de fluxo expiratório, pressão inspiratória e expiratória máximas e ventilação voluntária máxima. Pode-se concluir que o paciente apresentou melhora importante dos sintomas respiratórios e da prova de função pulmonar após tratamento fisioterapêutico direcionado às disfunções respiratórias. DESCRITORES: Exercícios respiratórios; Doença de Parkinson/patologia; Testes de função respiratória; Doenças respiratórias/reabilitação ABSTRACT: Respiratory dysfunctions occur in great part of patients with Idiopathic Parkinson's Disease (IPD) in advanced stages, leading to a high incidence of morbidity and mortality. The main goal in this study was to present the evolution of a patient with I P D in the IV stage of Hoehn and Yahr scale, in which physical therapy w a s specifically directed to respiratory disfunctions. The patient has undergone respiratory physiotherapy during five months. H e was submitted to pulmonary function tests (spirometry and maximal respiratory pressures assessment) before and after the treatment period. There was improvement of the respiratory function with better values of forced vital capacity, forced expiratory volume in 1 second, expiratory flow peak, maximal inspiratory and expiratory pressures and maximal voluntary ventilation. The patient showed great improvement in respiratory symptoms and function tests after physiotherapy directed to respiratory dysfunctions. KEY WORDS: Breathing exercises; Parkinson disease/pathology; Respiratory function tests; Respiratory tract diseases/rehabilitation Disfunções respiratórias ocorrem na maioria dos pacientes com Doença de Parkinson Idiopática (DPI) em estágios a v a n ç a d o s e são responsáveis por substancial mortalidade e m o r b i d a d e . O b s trução de vias aéreas superiores, diminuição da complacência da caixa torácica e discinesias musculares produzidas pela terapia com levodopa podem produzir dispnéia, h i p o v e n t i l a ç ã o , atelectasias e retenção de secreções pulmonares, anormalidades associadas, principalmente, a uma maior predisposição às infecções respiratórias . 12 5 12 Em geral, o tratamento fisioterapêutico da D P I visa a m a n u tenção das habilidades motoras prejudicadas pela doença e responsáveis por uma maior independência nas atividades de vida diá r i a , sem preocupação específica c o m as disfunções respiratórias. Kõseoglu e r a / . aplicaram exercícios diafragmáticos, de inspiração profunda e hiperpnéia voluntária, tendo mostrado efetividade em casos não-avançados e sem sintomatologia respiratória. M o r r i s p r o p õ e manter a permeabilidade das vias aéreas e a capacidade vital como alguns dos o b j e t i v o s do t r a t a m e n t o do paciente em estágio avançado. 45 6 4 A fisioterapia respiratória é conhecida por sua efetividade na melhora dos sintomas e prevenç ã o de c o m p l i c a ç õ e s respiratórias. Este trabalho teve como objetivo relatar o caso de um paciente portador de D o e n ç a de Parkinson Idiopática em estágio avançado em que a intervenção fisioterapêutica foi especificamente direcionada às disfunções respiratórias. CASUÍSTICA E MÉTODOS Homem de 47 anos, branco, casado, funcionário público aposentado, ex-tabagista (34 anos, 1 maço/ dia), hipertenso (160/120 mmHg), c o m antecedentes familiares de doença de Parkinson idiopática (primo de 3 ° grau e tio). Apresentou diagnóstico de doença de Parkinson idiopática há 1 7 anos, fazendo tratamento regular com levodopa e anticolinérgicos; submetido a talamotomia há seis anos. Referia dispnéia aos médios esforços, d i f i c u l d a d e na mobilização de tronco durante mudanças de postura e pouca mobilidade do gradil costal, principalmente na expiração. Apresentava fenômeno on-off, freezing q u a n d o e m off e apnéia obstrutiva do sono. A o exame físico apresentava marcha festinada e face inexpressiva, tórax normolíneo e abdômen globoso, eupnéia c o m padrão ventilatório de predomínio diafragmático e pouca expansibilidade torácica. Mostrava, ainda, postura cifótica, com protusão de ombros e de cabeça, e ausculta pulmonar c o m murmúrio vesicular diminuído difusamente. Classificado no estágio IV da Escala de Hoehn eYahr quando em on. 6 0 paciente foi tratado durante cinco meses, totalizando 40 sessões. C a d a sessão perfazia 50 minutos de d u ração, iniciando-se cerca de 1,5 h após administração vespertina dos m e d i c a m e n t o s ; este, segundo o paciente, era o período e m que se apresentava em sua melhor condição motora (em on). Cada sessão era composta das seguintes atividades: 1 R e s p i r a ç ã o diafragmática: com o objetivo de diminuir a dispnéia e aumentar a eficiência dos músculos respiratórios (Figura 1). 7 2 Respiração costal: ação proprioceptiva para melhora do padrão respiratório e maior expansão torácica (Figura 2). 8 3 Mobilizações e alongamentos em tronco e região cerv i c a l : relaxamento de musculatura hipertônica e maior expansão torácica (Figura 2). 5 4 Alongamento de intercostais externos: r e l a x a m e n t o de musculatura hipertônica e maior expansão torácica (Figura 3). 5 Exercícios de inspiração profunda e espirometria de inc e n t i v o : maior e x p a n s ã o torácica. 8 9 A prova de função p u l m o n a r e a medida da força muscular respiratória (Pressão Inspiratória M á x i m a , Plmax, e Pressão Expiratória M á x i m a , P E m a x ) ' foram realizadas antes e imediatamente após o período de tratamento. 1 0 1 DISCUSSÃO RESULTADOS Os resultados da prova de função pulmonar e da avaliação da Plmax e da PEmax são descritos no G r á f i c o 1 . N o t a - s e q u e o paciente manteve seu índice de Tiffeneau ( V E F 1 / C V F ) , não e v i denciando quadro obstrutivo, mas melhorou de maneira expressiva a Capacidade Vital Forçada (CVF, aumentando de 3,41 I para 4,03 I), 0 Volume Expiratório Forçado no 1 ° segundo (VEF1, passando de 2,73 I para 3,26 I), o Pico de Fluxo Expiratório (PEF, passando de 5,23 l/s para 6,30 l/s) e, conseqüentemente, a Ventilação Voluntária Máxima ( V V M , aumentando de 92 I/ min para 108 l/min). A força dos músculos inspiratórios e expiratórios também aumentou expres- O paciente apresentou melhora importante dos sintomas f i n a l do t r a t a m e n t o . D e v e - s e salientar que o PFE é a principal variável espirométrica relacionada com a progressão da severidade da D P I . Assim, sua melhora com o tratamento, passando de 70% para 8 4 % do previsto, indica uma evolução mais lenta das disfunções respiratórias e, c o n seqüente, melhor prognóstico. 1 5 respiratórios e da prova de função pulmonar após tratamento fisioterapêutico direcionado às disfunções respiratórias. O s aumentos dos valores de CVF, VEF1 e PFE de, em média, 19% evidenciam a melhora da expansão torácica c o m conseqüente aumento dos volumes e fluxos pulmonares. As pressões respiratórias máximas (Plmax e PEmax) e a V V M encontravam-se moderadamente dim i n u í d a s na a v a l i a ç ã o inicial (53%, 57% e 67% do previsto, respectivamente) e tiveram um aumento importante na avaliação final (77%, 39% e 17% de aumento, res- Após pesquisa bibliográfica, foi encontrado apenas um estudo que aplicou exercícios respiratórios em pacientes c o m D o e n ç a de Parkinson. Kõseoglu e r a / . utilizaram e x e r c í c i o s r e s p i r a t ó r i o s diafragmáticos, de inspiração profunda, hiperpnéia voluntária e fortalecimento de membros superiores e encontraram melhora semelhante na espirometria, índice de dispnéia e capacidade de exercício. N o entanto, deve-se salientar que seus pacientes se encontravam nos estágios I e II da escala de Hoehn eYahr', portanto provavelmente ainda sem sintomatologia respiratória. Além disso, os autores não se preocuparam em fundamentar suas condutas, partindo simplesmente do pressuposto do benefício. 6 A terapêutica aqui aplicada baseia-se nos seguintes achados: Stenne mostrou, por meio de análise eletromiográfica, que o diafragma do paciente parkinsoniano possui ativação normal, enquanto outros músculos inspiratórios (intercostais externos e escalenos) estão continuamente ativados, mesmo na e x p i r a ç ã o . Esse fato, aliado à constatação da maior ativação tônica (e, conseqüentemente, maior participação na manutenção da postura) dos músculos intercostais externos explicam a rigidez de caixa torácica característica do parkinsoniano, juntamente com um padrão respiratório predominantemente diafragmático. Assim, os movimentos torácicos inspiratórios e, principalmente, expiratórios são realizados de maneira ineficiente , o que explica os distúrbios respiratórios restritivos comumente encontrados . Valores anormais para a V V M e para as pressões respiratórias máximas podem ser explicados pela dific u l d a d e de c o o r d e n a ç ã o mus16 17 17 s i v a m e n t e na a v a l i a ç ã o f i n a l (Plmax inicial de -62 c m H 0 e final de -110 c m H 0 ; PEmax inicial de 72 c m H 0 e final de 100 cmH,0). 2 2 2 Com o término do período de tratamento, o paciente referia a u sência de dispnéia aos esforços e de a p n é i a s noturnas, a l é m de melhora da expansibilidade do gradil costal e da postura. pectivamente) provavelmente em função da maior capacidade vital e coordenação muscular ao realizar as manobras da avaliação' . 4 Pode-se dizer que esses novos valores e n c o n t r a d o s traduzem maior capacidade de ventilação, principalmente durante médios e grandes esforços, explicando o fato de ausência de dispnéia aos esforços referida pelo paciente no 18 19 cular para a realização de movimentos rápidos e repetitivos, presente nos parkinsonianos . 14 A ausência de avaliação objetiva dos sintomas respiratórios é uma limitação deste estudo. A dispnéia ao esforço poderia ter sido avaliada por um teste cardiopulmonar, o distúrbio obstrutivo do sono por uma polissonografia e a restrição da expansibilidade torácica por meio da pletismografia de indutância. N o entanto, a melhora da função pulmonar e da força dos músculos respiratórios indica uma maior eficiência do sistema respiratório, tanto durante situações de esforço quanto durante o repouso. CONCLUSÃO U m maior aprofundamento sobre a eficiência da fisioterapia respiratória no tratamento da D P I em estágios avançados deve ser realizado. Fica clara, porém, a necessidade da indicação dessa abordagem terapêutica ao lado das terapias motoras convencionais c o m o forma de amenizar a sintomatologia respiratória e, talvez, prolongar a independência e a sobrevida dos pacientes com D o e n ç a de Parkinson Idiopática. REFERÊNCIAS 1 Hoehn M M , Yahr M O . Parkinson: onset, progression and mortality. Neurology. 1967;17:427-42. 2 Wermuth L, Stenager E N , Stenager E, Boldsen J . 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J Pneumol. 2003;29:208-12. 12 Knudson RJ, Slatin R C , Lebowitz M D , Burrows B. The maximal expiratory flow-volume curve. Normal standarts, variability and effects of age. A m Rev Respir Dis. 1976;113:587-600. 13 Neder JA, Andreoni S, Lerario M C , Nery LE. Reference values for lung function tests II: maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Braz J M e d Biol Res. 1999;32:719-27. 14 Tzelepis G E , McCool FD, Friedman J H , Hoppin F G . Respiratory muscle dysfunction in Parkinson's disease. A m Rev Respir Dis. 1988;138:266-71. 15 Bogaard J M , Hovestadt A, Meerwaldt J , M e c h é F G A , Stigt J . Maximal expiratory and inspiratory flow-volume curves in Parkinson's disease. A m Rev Respir Dis. 1989;139:610-4. 7 Kõseoglu F, Tomruk S. Rehabilitation of the respiratory dysfunctions in Parkinson's disease. Funct Neurol. 2001 ;16(3):267-76. 16 Stenne M . Respiratory muscle involvement in Parkinson's disease. 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Classificação e adaptações das fibras musculares: uma revisão Classification and adaptations of muscle fibers: a review Viviane Balisardo Minamoto Fisioterapeuta; Profa. do Curso de Mestrado em Fisioterapia da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Viviane Balisardo Minamoto Rodovia do Açúcar, Km 156 Taquaral 13400-911 Piracicaba SP e-mail: [email protected] ACEITO PARA PUBLICAÇÃO dez. 2004 RESUMO: Este artigo de revisão tem o o b j e t i v o de c o n t r i b u i r para o esclarecimento de questões referentes aos diversos tipos de fibras musculares que compõem o músculo esquelético. Especificamente, são abordados aspectos como o uso de diferentes terminologias para a classificação dos tipos de fibras, fatores determinantes do fenótipo das mesmas, a alteração ou interconversão de um tipo de fibra para outro e a inter-relação entre interconversão do tipo de fibra e alteração da função muscular. São também abordadas implicações da alteração dos tipos de fibras para a fisioterapia. DESCRITORES: Sistema musculosquelético; Fibras musculares/classificação ABSTRACT: This review aims to contribute to the understanding of issues related to the various fiber types that make up the skeletal muscle. Specifically, it focusses on aspects like the use of different terminology for muscle fiber classification, determinant factors to muscle fiber phenotypes, transition or conversion from one type to another and the inter-relation between muscle fiber c h a n g e a n d m u s c l e f u n c t i o n alteration. A l s o c o m m e n t e d are implications of fiber type changes to the physical therapy practice. KEY WORDS: Musculoskeletal system; Muscle fibers/classification A complexidade do tecido muscular pode ser observada na diversidade dos tipos de fibras que compõem os músculos esqueléticos. As fibras musculares, classificadas por vários métodos, são unidades dinâmicas que respondem à alteração de demanda funcional, o que acarreta, por sua vez, alguma alteração da performance do indivíduo. Persiste atualmente certa confusão em relação aos tipos de fibras, como as várias terminologias utilizadas para sua classificação e sua grande diversidade, os fatores determinantes do fenótipo da fibra muscular, a alteração do tipo de fibra em resposta a estímulos específicos e a alteração funcional das fibras decorrente desses estímulos. Este artigo visa esclarecer resumidamente esses itens, com base na revisão de 73 artigos e livros publicados no período de 1990 a 2003, indexados na base de dados M E D L I N E e recuperados por m e i o das p a l a v r a s - c h a v e muscle fiber type e transition muscle fiber, complementada pela consulta a estudos citados nas obras localizadas. TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES As diferentes terminologias usadas para a classificação das fibras musculares são o resultado da grande variedade de procedimentos existentes para sua classificação. A terminologia adotada deverá depender do método empregado para sua análise. A utilização criteriosa da terminologia utilizada é importante, uma vez que nem sempre há correlação entre as classificações das fibras musculares por diferentes técnicas. O u seja, fibras musculares que são agrupadas em uma mesma categoria por determinada t é c n i c a podem ser colocadas em outra categoria quando utilizado um o u tro procedimento de classificação. U m dos primeiros relatos do- cumentados sobre a classificação das fibras musculares foi produzido em 1873, quando foi utilizada a coloração do músculo : as fibras foram classificadas como brancas ou vermelhas. A coloração vermelha do músculo está ligada à alta concentração de enzimas de metabolismo aeróbio, de mioglobina, e com a densidade de vascularização . 1 23 Posteriormente, outros métodos foram utilizados para a identificação das fibras musculares (para uma revisão, ver Pette & Staron ). Pela a n á l i s e da r e a ç ã o para a enzima succinato dehidrogenase ( S D H ) as fibras foram classificadas como oxidativas ou glicolíticas, de acordo com o metabolismo apresentado. A atividade da S D H indica o metabolismo aeróbio, uma vez que esta se encontra na mitocôndria, tendo um importante papel no ciclo de Krebs . 4 5 6 O limiar de fadiga apresentado pela fibra muscular também foi objeto de estudo. Em 1968 foi utilizado um método de depleção de glicogênio em determinada unidade motora e foi demonstrado que as fibras podem ser altamente fatigáveis, ou apresentar moderada ou grande resistência à fadiga . 7 U m a outra maneira de agrupar os tipos de fibras é pelo método histoquímico, que permite classificá-las nos tipos I ou II, com seus diversos subtipos (MA, IIB, IIX). Essa classificação depende das diferentes intensidades de coloração das fibras, devido a suas diferenças próprias na sensitividade ao p H . D e um modo geral, as fibras do tipo I apresentam grande atividade quando colocadas em meio ácido, sendo que as fibras do tipo II são ativadas quando colocadas em meio b á s i c o . glicolítico e oxidativo) e S O (slowoxidative - fibras de contração lenta e metabolismo oxidativo) . Embora exista uma boa correlação entre as fibras do tipo I e as fibras S O , a correlação existente entre as fibras do tipo IIA e F O G e tipo MB e F G são mais variadas . 10 311 A identificação das diferentes isoformas da cadeia pesada da miosina (myosin h e a v y c h a i n , M H C ) pela análise imunohistoquímica, utilizando anticorpos antiomiosina, também permite uma outra classificação das fib r a s . A M H C é a porção da cabeça da molécula de miosina que determina a velocidade da reação das pontes cruzadas da miosina c o m os filamentos de actina e, conseqüentemente, a velocidade de contração muscular . As diferentes fibras classificadas segundo a atividade ATPásica da miosina correspondem às diferentes isoformas da M H C . 1213 14 O Quadro 1 sintetiza os diferentes métodos utilizados para a classificação das fibras musculares, com as respectivas terminologias. É importante ressaltar que as fibras musculares só poderão ser classificadas de acordo c o m o método utilizado para tal classific a ç ã o . Por exemplo: através do método de coloração, podemos classificar as fibras somente como v e r m e l h a s o u b r a n c a s , e não como de contração lenta ou rápida, mesmo sabendo-se que existe, em algumas espécies, especialmente em pássaros , uma alta correlação entre fibras vermelhas e velocidade lenta de contração, de um lado, e fibras brancas e velocidade rápida de contração, de outro. 3 89 Pelo método bioquímico, investigou-se a distribuição das enzimas oxidativas e glicolíticas em fibras dos tipos I e II, que foram então classificadas e m : F G (fastglicolitic - fibras de contração rápida e metabolismo glicolítico); F O G (fast-oxidative glicolitic - fibras de contração rápida e metabolismo Diversidade dos tipos de fibras musculares Observando o Quadro, pode-se pensar que existem somente dois tipos de fibras musculares: vermelhas ou brancas, de contração lenta ou rápida e oxidativas ou glicolíticas. N a verdade, quando utilizado o método imunohistoquí- Quadro 1 Terminologia utilizada para a classificação dos diferentes tipos de fibras musculares Métodos de classificação das fibras Terminolo gia da classificação das fibras Coloração Branca SO FG/ FOG Tipo I Tipo II Contração lenta Contração rápida Oxidativo Glicolítico Alta resistência à fadiga Baixa/moderada resistência à fadiga MHCI MHCII Histoquímico Fisiológico Metabolismo Limiar de fadiga 2 7 Vermelha Bioquímico Imunohistoquímico mico para a classificação dos tipos de fibras, observa-se uma diversidade muito grande da M H C , o que faz com que os músculos de vertebrados sejam compostos por diferentes populações de fibras musculares . fibra muscular compondo um determinado músculo. O s músculos são compostos por diferentes tipos de fibras, mas com predomínio de um tipo específico. 15 DETERMINAÇÃO DO FENÓTIPO DAS FIBRAS MUSCULARES 16 Trabalho recente mostra que, de modo geral, existem as fibras "puras" e as "híbridas". As primeiras são classificadas como as dos tipos I, MA, MB e MX ou MD. Esta última foi recentemente identificada e denominada tipo I I X ou I I D devido à sua abundante presença no músculo diafragma de ratos. 17 18 Já as fibras híbridas, cuja particularidade é a presença de duas M H C , são fibras mistas, ou seja, fibras dos tipos IIBD, HAD, IC, MC. A presença dessas fibras no músculo sugere a transformação de um tipo de fibra para outro , mas a grande porcentagem delas em mamíferos sedentários normais, como ratos , humanos e cavalos , levanta a dúvida de se essas fibras representam mesmo uma transição de um tipo histoquímico para outro, ou se são fibras estáveis c o m c o m p o s i ç ã o de diferentes MHC . 19 20 21 22 2 2 Essa grande diversidade nos tipos de fibras forma um mosaico na anatomia dos músculos esqueléticos. A s s i m , não existe um músculo composto exclusivamente de fibras dos tipos I ou II (com seus vários subtipos), isto é, não existe somente um único tipo de com que suas fibras sejam ativadas durante 9 0 % do tempo, enquanto os músculos fásicos ou rápidos são ativados somente durante 5 % . O que faz com que um músculo apresente predominantemente um ou outro tipo de fibra muscular? O que determina o fenótipo muscular é a demanda funcional à qual o músculo é submetido. S a b e - s e q u e todas as fibras musculares teriam um fenótipo de fibra rápida, a não ser que as mesmas sejam submetidas a c o n d i ções de alongamento ou tensão isométrica . Esses dados podem ser confirmados por estudos onde o músculo sóleo (predominantemente lento) , quando imobilizado em posição de encurtamento ou exposto à c o n d i ç ã o de hipogravidade , apresentou c a racterística de músculo rápido, c o m a expressão de genes de miosina rápida. D e modo c o n trário, o músculo tibial anterior (músculo predominantemente rápido) apresentou expressão de miosina lenta após eletroestimulação e alongamento . Assim, o músculo sóleo apresenta predomínio de fibras de contração lenta, pois sua demanda funcional faz 15 23 24 25 23 26 Desse modo, os músculos posturais ou tônicos, responsáveis pela manutenção do corpo contra a gravidade, apresentam um predomínio de fibras de contração lenta, e os músculos fásicos, responsáveis pela produção de força muscular, são compostos, predominantemente, por fibras de contração rápida. Verifica-se maior predisposição de as fibras lentas se apresentarem encurtadas. Isso ocorre por esses músculos tônicos estarem quase sempre em estado de contração, portanto em posição de encurtamento, o q u e provoca, a l é m da perda do n ú m e r o de sarcômeros em série, encurtamento da fibra muscular, maior proliferação de tecido conjuntivo (para uma revisão ver Salvini ). 28 A diminuição do número de sarcômeros em série e a proliferação do tecido conjuntivo acarreta maior rigidez muscular, o que torna o músculo mais resistente a uma força de alongamento. Este é um dos motivos que justificam o fato de diferentes músculos responderem de forma diferenciada a um mesmo protocolo de alongamento uma vez que, conforme a demanda funcional, os componentes, número de sarcômeros em série e quantidade de tecido conjuntivo, que interferem na força de resistência imposta pelo músculo frente a um estímulo de alongamento, diferem entre os vários músculos. É importante ressaltar que não somente os músculos tônicos, por apresentarem constante atividade muscular, são susceptíveis aos encurtamentos. O s músculos fásicos ou dinâmicos também podem apresentar-se encurtados, pois o que determina o encurtamento muscular é a posição predominante na qual o mesmo permanece. Desse modo, deve-se dar maior ênfase ao alongamento de mús- culos posturais ou de músculos que permanecem em posição predominante de encurtamento, devido à diminuição de sarcômeros em série e à proliferação de tecido conjuntivo observadas nesses músculos. ALTERAÇÕES DOS TIPOS DE FIBRAS MUSCULARES A porcentagem das fibras musculares que compõem um músculo é a mesma durante toda a vida do indivíduo? O tecido muscular esquelético tem a c a p a c i dade de adaptar-se frente aos estímulos recebidos, e essa adaptação também é observada em relação aos tipos de fibras musculares. Assim, um músculo pode tornar-se mais lento ou mais rápido conforme sua demanda funcional, ou seja, o fenótipo da fibra muscular pode ser alterado conforme o estímulo recebido. de fibras lentas para fibras rápidas . 29 Esses resultados mostram que músculos submetidos ao desuso tendem a apresentar maior incidência de fibras r á p i d a s . 1929 D e modo contrário, atividades de sobrecarga ou aumento da atividade neuromuscular predispõe mudança das fibras no sentido rápida para lenta, c o m o pode ser observado em modelos de eletroestimulação crônica, hipertrofia compensatória ou a l o n g a m e n t o . 1929 2 Envelhecimento A alteração na porcentagem dos tipos de fibras pode ser observada em músculos antigravitacionais de ratos que, após permaneceram por algum tempo em condições de hipogravidade, tornaram-se rápidos devido à ausência dos estímulos posturais . O s músculos de indivíduos com lesão medular ou que estão submetidos a qualquer tipo de imobilização também irão sofrer uma transformação no sentido É questionado se as alterações observadas no envelhecimento são decorrentes de conversões entre os tipos de fibras ou refletem apenas a perda particular 29 19 29,30 Vários fatores podem ser responsáveis pela alteração dos tipos de fibras. Entre eles, podemos citar: 1 Alteração da demanda funcional 25 1932 Isso reforça a necessidade de realização de exercícios de força em indivíduos idosos, pois a sarcopenia , associada com a maior incidência de fibras lentas nessa população, é a responsável pelo declínio das funções musculares durante o e n velhecimento. 33 O envelhecimento é, em geral, acompanhado por uma pronunciada diminuição da atividade física, o que causa uma mudança no tipo de fibra no sentido rápida para lenta. Esse resultado pode parecer contraditório, uma vez que, conforme exposto, a diminuição da atividade neuromuscular promove uma transição do tipo de fibra no sentido oposto . Entretanto, alguns fatores devem ser considerados nessa situação, uma vez que o envelhecimento leva não somente à redução da atividade contrátil, mas também à perda seletiva e r e m o d e lamento de unidades motoras ( U M ) . Assim, o maior número de fibras lentas ocorre devido à atrofia das U M de fibras rápidas, uma vez que atividades de força muscular não são muito praticadas por essa população . Outro mecanismo relacionado a esse aumento do número de fibras lentas no idoso é a diminuição do número de motoneurônios alfa, o que também reduz o número de U M . Essas fibras "órfãs", principalmente do tipo II, receberão brotamentos colaterais, preferencialmente de motoneurônios do tipo I30, aumentando portanto a incidência de fibras lentas. A alteração na incidência dos tipos de fibras musculares q u e compõem um determinado músculo pode ocorrer, por exemplo, devido à alteração na M H C , que altera o tipo histoquímico da fibra muscular, ou também devido a atrofia de determinada população de unidade motora (para revisão v e r ' ). de um determinado tipo de fib r a . Independente do mecanismo envolvido, o número de fibras lentas nessa população aumentará, resultando não somente em músculos mais lentos, mas também em diminuição de sua função, evidenciada pela deficiência de controle motor (devido ao aumento do número de fibras por U M ) e pela diminuição da capacidade de produção de força. 1 9 31 31 3 Exercícios O s exercícios podem ser divididos entre os que aumentam a resistência à fadiga, aumentam a velocidade e aqueles que aumentam a força muscular. É bem documentado na literatura que o treinamento que exige uma alta demanda metabólica aumentará a capacidade oxidativa de todos os tipos de fibras do músculo , havendo uma transformação de fibras no sentido rápida para lenta . É importante ressaltar que essas alterações de fibras de rápida para lenta ocorrem, preferencialmente, dentro da população de fibras rápidas: mudanças de fibras do tipo IIB para tipo MA. Entretanto, a intensidade a u mentada de treinamento pode promover mudanças além da população de fibras rápidas, isto é, promove a transição de fibras tipo II para I . 34 29 1 9 3 2 A maioria dos relatos da literatura mostra que a alteração de fibras no sentido rápida para lenta ocorre não somente na atividade de resistência, mas também nas atividades de v e locidade ou força . Entretanto, resultados contraditórios, mostrando uma alteração de fibras no sentido oposto tanto 35 3 7 após treino de velocidade ou força, também são documentados . 19 4 Hormônios mento e insulina também estão relacionados com as alterações observadas na incidência dos tipos de fibras . 19,32 meio de exercícios físicos, pode afetar os tipos de fibras musculares, podendo trazer uma contribuição para a melhora da performance muscular . 29 V á r i o s h o r m ô n i o s estão relacionados com a mudança nos tipos de fibras, sendo relato com u m a i n f l u ê n c i a dos hormônios da tireóide nessas conversões. D e modo geral, situação de hipotiroidismo causa transformação de fibras no sentido rápida-lenta , enquanto hipertiroidismo leva a transição no sentido oposto . 3839 39 IMPLICAÇÕES CLÍNICAS A plasticidade muscular, observada nas propriedades contrateis, metabólicas e morfológicas das fibras em resposta a um determinado estímulo, permite ao indivíduo adaptar-se a diferentes demandas funcionais , o que altera o tamanho ou a composição dos tipos de fibras. Desse modo, a int e r v e n ç ã o fisioterapêutica, por 19 Outros hormônios, como testosterona, catecolaminas, glicocorticóide, hormônio do cresci- C o n h e c e n d o as respostas de adaptações musculares, o fisioterapeuta pode ter melhor condiç ã o para propor i n t e r v e n ç õ e s fisioterapêuticas, como os exercícios de resistência e de força, que podem alterar a incidência dos tipos de fibras musculares ou seu tamanho. Além disso, o conhecimento dessas adaptações é importante para direcionar um programa de reabilitação c o m ênfase nos comprometimentos morfológico e fisiológico do músculo. REFERÊNCIAS 1 2 Ranvier L, 1873 apud Pette D, Staron RS. Cellular and molecular diversities of mammalian skeletal muscle fibers. Rev Physiol Biochem Pharmacol. 1990;116:1-76. Kelly A M , Rubistein N A . The diversity of muscle fiber types and its origin during development. In: Engel A G , Franzini-Armstrong C. Myology. 2nd ed. N e w York: M c G r a w - H i l l ; 1994. p.119-33. 8 Guth L, Samaha FL. Qualitative differences between actomyosin ATPase of slow and fast mammalian muscle. Exp Neurol. 1969;25:138-52. 9 Brooke M H , Kaiser KK. Muscle fiber types: how many and what kind? Arch Neurol. 1970;23:369-97. 10 Peter J B , Barnard RJ, Edgerton V R , Gillespie CA, Stempel KE. Metabolic profiles of three fiber types of skeletal muscle in guinea pigs and rabbits. Biochemistry. 1972;11:2627-33. Hamalainen N, Pette D. 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O s manuscritos apresentados à revista devem ser originais. Caso uma versão semelhante, em qualquer língua, já tenha sido publicada ou enviada a outro veículo, essa informação deve constar da folha de rosto, para que o Conselho Editorial possa ponderar sobre a pertinência de sua publicação. Processo de julgamento O s manuscritos recebidos são examinados pelo Conselho Editorial, para consideração de sua adequação às normas e à política editorial da revista. Aqueles que não estiverem de acordo com as normas abaixo serão devolvidos aos autores para revisão antes de serem submetidos à apreciação dos pares. Para o julgamento, são indicados dois revisores de notório saber na temática abordada, garantindose o anonimato de autores e pareceristas. U m a vez aceitos para publicação, os manuscritos poderão ser devolvidos aos autores para ajustes e serão publicados na ordem cronológica de cadastramento do aceite na secretaria da revista. O s trabalhos recusados ficam à disposição dos autores para retirada. Autoria A ordem de indicação de autoria é decisão conjunta dos co-autores. Sugere-se que o autor principal seja o primeiro incluído, sendo o eventual orientador ou coordenador o último a ser listado. O s autores devem ter em mente que, segundo a norma adotada pelos periódicos em saúde (Vancouver), na futura referência bibliográfica do artigo apenas os seis primeiros serão listados (seguindo-se a indicação et ai). O I C M J E (International Committee of Medical Journal Editors, Comitê Internacional dos Editores de Periódicos M é d i c o s ) recomenda distinguir entre autores e colaboradores. O crédito de autoria deve ser atribuído a quem preencher três requisitos: (1) ter dado contribuição substantiva à concepção, desenho ou coleta de dados da pesquisa, ou à análise e interpretação dos dados; (2) ter redigido ou procedido à revisão crítica do conteúdo intelectual; e (3) ter dado sua aprovação final à versão a ser publicada. N o caso de trabalho realizado por grupo ou em vários centros, d e v e m ser indicados c o m o autores os indivíduos que assumem inteira responsabilidade pelo manuscrito (seguindo os três critérios acima), sendo os demais integrantes dp grupo listados como colaboradores. Em qualquer caso, deve ser fornecido o endereço para correspondência apenas do autor p r i n c i p a l . A carta que a c o m p a n h a o e n v i o dos manuscritos deve ser assinada por todos os autores, tal como acima definidos. Formato Responsabilidade e ética O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsabilidade dos autores. Textos relatando estudos que envolvem sujeitos humanos devem indicar o devido consentimento livre e esclarecido dos participantes (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde), bem como a expressa aprovação pela Comissão de Ética da instituição responsável. Estudos envolvendo animais devem estar de acordo com as diretrizes do Committee for Research and Ethical Issues of the International Association for the Study of Pain (Pain 1983;16:109-10). A menção a instrumentos, materiais ou substâncias de propriedade privada deve ser acompanhada da indicação de seus fabricantes. A reprodução de imagens ou outros elementos de autoria de terceiros, que já tiverem sido publicados, deve vir a c o m panhada da indicação da permissão pelos detentores dos direitos autorais; se não acompanhados dessa indicação, tais elementos serão considerados originais do autor do manuscrito. O texto deve ser digitado em processador de texto W o r d ou c o m p a t í v e l , e m t a m a n h o A 4 , c o m espaçamento de linhas e tamanho de letra que permitam plena legibilidade. O texto completo, incluindo páginas de rosto e de referências, deve conter cerca de 30 mil caracteres com espaços, sendo o máximo aceitável de 40 mil caracteres com espaços. Página de rosto D e v e conter: a) título do trabalho (preciso e c o n ciso) e sua versão para o inglês; b) nome completo dos autores com indicação (apenas a principal) de profissão, titulação a c a d ê m i c a e inserção institucional; quando for o caso, nomes dos colabor a d o r e s ; c) título c o n d e n s a d o ( m á x i m o de 50 caracteres); d) endereços para correspondência e eletrônico do autor principal; e) indicação de órgão financiador de parte ou todo o projeto de estudo, se for o caso; f) indicação de apresentação de versão do original em eventos científicos ou em outro meio; se for o c a s o , d e v e r á ser i n d i c a d o t a m b é m o orientador. Resumos A segunda página deve conter os resumos do c o n teúdo em português e inglês. Recomenda-se seguir a norma N B R - 6 8 , da A B N T (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para redação e apresentação dos resumos: quanto à extensão, com o máximo de 1.500 caracteres com espaços (cerca de 240 palavras), em um único parágrafo; quanto ao conteúdo, seguindo a estrutura formal do texto, ou seja, indicando objetivo, procedimentos básicos, resultados mais importantes e principais conclusões; quanto à redação, buscar o máximo de precisão e concisão, evitando adjetivos e expressões como "o autor descreve". O resumo e o abstract devem ser seguidos, respectivamente, da lista de até cinco descritores e key words (sugere-se a consulta aos D e C S - Descritores em Ciências da Saúde do LILACS (http://decs.bvp.br) e ao M E S H - Medical Subject Headings do M E D L I N E (http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html). Tabelas, quadros, figuras, ilustrações Só serão apreciados manuscritos contendo no máximo cinco desses elementos. Recomenda-se especial cuidado em sua seleção e pertinência, bem como rigor e precisão nos títulos. Todos devem ser fornecidos em folhas à parte, no final do texto, mantendo-se neste marcas indicando os pontos de sua inserção ideal. As tabelas (títulos na parte superior) devem ser montadas no próprio processador de texto e numeradas (em arábicos) na ordem de menção no texto; decimais são separados por vírgula; eventuais abreviações devem ser explicitadas por extenso, em legenda. Figuras, gráficos, fotografias e diagramas trazem os títulos na parte inferior, devendo ser igualmente numerados (em arábicos) na ordem de inserção. Abreviações e outras informações vêm em legenda, abaixo do título. Agradecimentos Q u a n d o pertinentes, dirigidos a pessoas ou instituições que contribuíram para a elaboração do trabalho, são apresentados ao final das referências. Envio dos originais O s textos devem ser encaminhados a Fisioterapia e Pesquisa na forma impressa em três vias, duas das quais "cegas" (sem indicação de autoria, instituição ou outra informação que permita identificar autores), acompanhados de carta ao Editor, endereçados a Fisioterapia e Pesquisa Editora chefe FOFITO / FMUSP Rua Cipotânea 51 - Cidade Universitária 05360-160 São Paulo SP. A revista está se organizando para futuro recebimento dos manuscritos apenas por via eletrônica. Apresentação eletrônica da versão final Após a comunicação do aceite do artigo, o autor deverá proceder aos eventuais ajustes sugeridos pelos pareceristas, para o quê terá o prazo de cinco semanas (findo esse prazo, se a versão final não tiver sido enviada à revista, será considerada desistência). A versão final será ainda editada, ocasião em que o editor poderá solicitar novos ajustes e esclarecimentos - e, nesse caso, o prazo para os ajustes será de apenas duas semanas. • • não use a barra de espaço para recuos, mas a tecla "tab" ou outros recursos de formatação; • não separe parágrafos com sinal de parágrafo adicional; • use o próprio processador de texto (e não planilhas) para elaborar tabelas; • use o próprio processador de texto (recurso "Desenho") para elaborar diagramas simples, organogramas etc. (não insira figuras ou organogramas do Microsoft® PowerPoint); • inversamente, use programa apropriado (como Microsoft® Excel) para elaborar gráficos, e não o recurso "Gráficos" do processador de texto; • no caso de gráficos ou diagramas elaborados por softwares específicos, devem ser convertidos (exportados) em formatos que possam ser abertos por programas de uso comum (verifique os tipos de arquivos que podem ser abertos no Adobe Photoshop®, para figuras em escala de cinza, no C o r e l D r a w ® , para desenhos, ou no Excel®, para gráficos), para permitir eventuais ajustes, adequação de fonte e t c ; Remissões e referências bibliográficas Para as remissões no texto a obras de outros autores adota-se o sistema de numeração seqüencial. Visando adequar-se a padrões internacionais de indexação, a revista adota a norma de Vancouver para apresentação das referências. Alguns exemplos: Simões MJS, Farache Filho A. Consumo de medicamentos em região do Estado de São Paulo (Brasil), 1988. Rev. Saúde Pública 1988;32:71-8. Forattini O P . Ecologia, epidemiologia e sociedade. São Paulo: Edusp; 1992. Laurenti R. A medida das doenças. In: Forattini OP. Epidemiologia geral. São Paulo: Artes Médicas; 1996. p.64-85. Rocha JSY, Simões B J G , Guedes G L M . Assistência hospitalar como indicador da desigualdade social. Rev Saúde Pública [periódico on-line] 1997; 31(5). Disponível em <http://www.fsp. usp.br/~rsp> [1998 Mar 23]. (A última indicação é da data de acesso ao sítio indicado.) Solicita-se que, na preparação da versão final, o autor: use fonte comum, simples; use itálico apenas para títulos de obras e palavras em língua estrangeira; o negrito é reservado a títulos e intertítulos, claramente diferenciados; • • forneça fotografias ou outras ilustrações com resolução mínima de 300 dpi, e em tamanho compatível com a resolução; sugere-se que os nomes dos arquivos sejam curtos e permitam rápida identificação (por exemplo, "sobrenome do autor fig1...."). em qualquer caso, forneça simultaneamente Serão enviados ao autor principal dois exemplares do número da revista em que seu artigo for publicado, mais um exemplar para cada co-autor. um arquivo em TIFF do elemento gráfico, para permitir visualização e conferência. Envio dos arquivos O s dados de texto (em W o r d ou compatível) e de ilustrações devem ser enviados em arquivos separados, em disquete ou C D . Preferencialmente, pode ser adicionada uma cópia reunindo texto e ilustrações em um arquivo .pdf. O s dados devem ser acompanhados da informação precisa de todos os programas utilizados, inclusive de compressão, se for o caso; *** N o bojo do processo de aprimoramento de Fisioterapia e Pesquisa, estas normas estão em construção, podendo sofrer alterações. Para informação atualizada, sugere-se a consulta às instruções do último número publicado. Assinatura Para assinar Fisioterapia e Pesquisa, preencha o cupom abaixo e envie-o à revista (ver endereço à página 2), junto com um cheque nominal à Fundação Faculdade de Medicina no valor de R$ 48,00 ou recibo de depósito no Banespa (banco 033), agência 0 2 0 1 , c c 13004086-7. A ficha de assinatura está disponível no site da revista: <http://medicina.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php>. Números anteriores solicitar à revista. Valor unitário: R$ 16,00. 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