Boletim Oficial

Transcrição

Boletim Oficial
Instituto Missões Consolata
Boletim Oficial
dos Atos da Direção Geral
151
Dezembro de 2015
Sumário
Beata Irene Stefani Protectora Anual para 2016
Mensagem do Superior Geral para o Natal de 2015
Missionários Idosos em renovação .
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Carta da Direcção Geral aos missionários da Ásia
Actos da Direcção Geral
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Jubileus de 2016 .
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Qui Nos Praecesserunt:
- Irmão Francesco Guglielmin Mugion .
- P. Paul Stefanowich .
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- P. Giuseppe Villa
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- P. José Oscar Aguilar .
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- P. Giuseppe Fusaroli .
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- Irmão Roberto Zanchettin .
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- P. Alessandro Busnello
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- P. Franco Cellana
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Redator:
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P. Tobias de Oliveira, IMC
Secretário Geral
Viale delle Mura Aurelie, 11
00165 Roma
PROTECTORA ANUAL PARA 2016
COM A BEATA IRMÃ IRENE NYAATHA:
FACE DA CONSOLATA,
ÍCONE DA MISERICÓRDIA!
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Roma – Nepi, 08.12.2015
Festa da Imaculada Conceição,
Início do Jubileu extraordinário da misericórdia!
Caríssimas Missionárias e Missionários,
Neste novo ano dedicado à misericórdia queremos continuar a rezar e a olhar
para a Beata Irene como nossa protetora anual.
Papa Francisco ao apresentar o ano Jubilar da misericórdia explicou: «Uma
pergunta está presente e inquieta o coração de muita gente: porquê um Jubileu da
Misericórdia hoje? Simplesmente porque a Igreja, neste momento de grandes
transformações epocais, é chamada a oferecer mais fortemente os sinais da presença e
da proximidade de Deus. Este não é o tempo para a distração, mas pelo contrário para
permanecermos vigilantes e despertar em nós a capacidade de olhar para o essencial.
É o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no
dia de Páscoa: ser sinal e instrumento da misericórdia do Pai (cf. Jo. 20,21-23). É por
este motivo que o Ano Santo deverá manter vivo em nós o desejo de saber colher os
muitos e variados sinais da ternura que Deus oferece ao mundo inteiro e sobretudo a
quantos estão a sofrer, estão sozinhos e abandonados, e também sem a esperança de
ser perdoados e de se sentirem amados pelo Pai. Um Ano Santo para sentir forte em
nós a alegria de termos sido reencontrados por Jesus, que como Bom Pastor veio para
nos procurar porque estávamos perdidos. Um Jubileu para sentir o calor do seu amor
quando nos carrega aos ombros para nos reconduzir à casa do Pai. Um Ano para
sermos tocados pelo Senhor Jesus e sermos transformados pela sua misericórdia, para
que nos tornemos também nós testemunhas da misericórdia. Eis o porque do Jubileu:
porque este é o tempo da misericórdia. É o tempo favorável para sarar as feridas, para
não nos cansarmos de encontrar quantos vivem na esperança de ver e tocar
diretamente os sinais da proximidade de Deus, para oferecer a todos, a todos, a via do
perdão e da reconciliação.
A Mãe da Divina Misericórdia abra os nossos olhos, para que compreendamos o
empenho a que somos chamados; e nos obtenha a graça de viver este Jubileu da
Misericórdia com um testemunho fiel e fecundo.» (Homilia de Papa Francisco
durante as Primeiras Vésperas do domingo da Divina Misericórdia, na basílica de S.
Pedro, em ocasião da entrega e da leitura da bula de proclamação «Misericordiae
vultus», Roma 11.04.2015).
Não encontramos palavras mais bonitas e importantes do que estas para colher o
grande ligame que une a misericórdia a Irene, «mãe toda misericórdia!». Queremos ir
às aulas da Irene para aprender precisamente a misericórdia, pedimos-lhe para que
nos guie até Jesus para viver a misericórdia.
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A Beata Irene, ícone da Misericórdia
A Beata Irene Stefani carateriza-se exatamente pela sua misericórdia. É o epíteto
que sem que ela se apercebesse lhe atribuíram as pessoas de Gikondi: Nyaatha, e
ainda hoje é chamada assim. Foi o que se constatou na Beatificação. Palavra que
indica a «mãe toda misericórdia», a «misericórdia personificada». Assim a explicou
Mons. Gatimo, bispo de Nyeri. E para Mons. Nicodemus Kirima, seu sucessor,
Nyaatha «é mais que um nome; é um programa, um projeto de vida plenamente e
intensamente vivida». E sobre a Irmã Irene acrescenta: «Esta Missionaria da
Consolata era cheia de bondade, amabilidade, mansidão e gentileza, como o era
Cristo e a Beata Virgem Maria. Desta maneira se tornou mulher, mãe, criatura de
misericordioso amor».
A sua caridade vinha de bem longe. Imediatamente após a profissão religiosa
feita nas mãos do Allamano, no dia 29 de janeiro de 1914 escrevia num caderno de
apontamentos o seu programa de vida: «Só Jesus. Toda com Jesus. Nada de mim.
Toda de Jesus. Nada de mim. Toda para Jesus. Nada para mim. Amarei a caridade
mais do que a mim mesma».
É a proclamação para nós de como o amor vivo de Jesus e dos irmãos e irmãs
possam soldar-se na unidade e tornar-se carne na nossa vida, até a transformar.
Maravilhados, os médicos do hospital militar de Dar-es-Salaam diziam: «Aquela
criatura não é uma mulher, é um anjo» e a população de Gikondi o confirma: «Era
mware mwendi ando, a Irmã que quer bem a todos».
«Visitar os doentes, os pobres, batizar os doentes e curá-los, era o seu trabalho
quotidiano. De facto, ela percorria habitualmente longas distâncias subindo e
descendo por carreiros íngremes indo à procura destes pobrezinhos. Ela não
descansava nem sequer um minuto, porque se tinha dedicado totalmente a este povo»
(testemunho de Joseph Macharia de Gichuru).
De fato, a Irmã Irene perante as necessidades dos outros não sabia resistir: um
instinto interior a impelia a ir, a correr com o calor e o frio, o bom tempo e a chuva,
na robustez física ou no cansaço, ou até mesmo na enfermidade, sem se poupar a
sacrifícios e impedimentos, ofensas ou recusas, a fim de socorrer as pessoas com
necessidades. Nada a detinha. As pessoas lembram-se dela «valente como uma
mola», para ir onde quer que fosse mesmo muitíssimo longe, rapidamente; e a todos,
quase sempre a correr. E comenta: «vê-se que era o amor que a impelia». À sua morte
afirmaram: «Não foi a doença a matá-la, mas o amor».
A população de Gikondi continuou a considerá-la: «boa mãe que quer bem a
todos», «secretária dos pobres», «anjo de caridade». É como uma repetida ladainha
que sintetiza a viva lembrança dela, as suas caraterísticas, o seu coração, a realização
da sua convicção que a missionária «tem coração para amar, mãos para ajudar» e
deve fazê-lo com sentimentos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e
paciência.
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O seu ser mãe de misericórdia foi também o seu principio inspirador de
metodologia missionaria, e também o pode ser para nós hoje, num mundo que
necessita de ternura e de proximidade. «Quando via alguém a sofrer, era presa de
compaixão, chorava e tentava fazer tudo aquilo que podia para poder ajudar esse ser
humano. Muitos vinham à missão para lhe confiar as penas deles, porque ela era a
mãe de todos» (Bernard Mugambi).
Misericórdia e consolação eram a via usada por ela para conduzir a Jesus e
testemunhar o seu Evangelho. É do conhecimento de todos como ela dava muita
importância à catequese, o ensinamento cristão e sobretudo a administração do
batismo, considerado como o dom maior que o missionário e a missionária podiam
dar. «Quando nascia uma criança ia logo felicitar a família ou assistia ela mesma as
parturientes. Lembro quanto a Marta passou para ter aqueles dois filhos gémeos, ela
assistiu-a, e quando nasceram, pegou neles ao colo e dizia contente e cheia de alegria:
"Agradeçamos a Deus que me escolheu para ver estas criaturas que serão batizadas e
se tornarão filhos de Deus"» (Martino Wang’Ondu).
A Irmã Irene consolava com a sua presença, curava os doentes, ia à procura e ao
encontro dos pobres, sempre próxima de quem chorava, oferecendo-se a si mesma em
sacrifício agradável a Deus. «Participava das alegrias, da vida e das dores da gente»
(Martino Wang’Ondu) e conhecia bem a sua língua.
«Era muito boa, rezava muito a Deus, amava o próximo, era uma mulher que
não se poupava aos sacrifícios, considerando que caminhávamos a pé todo o dia,
voltando para casa só à noite. Não desprezava ninguém, amava a todos» (Pancrazio
Gathirwa).
Era uma mulher forte, de trato delicado. Numerosos testemunhos lembram-se
dela como sendo uma mulher forte e generosa, constante, sem medo e determinada,
decidida, zelante no seu trabalho. Era mansa, caminhava a passo rápido para não
perder tempo, fiável quando falava com as pessoas, continuamente pronta para as
fazer participantes do maior dos bens, a salvação eterna, grande evangelizadora,
verdadeira Missionária como nos quer o Beato Giuseppe Allamano: santos e
missionários, unindo a mais íntima comunhão com Deus à mais intensa atividade
apostólica, com fiel misericórdia.
A Irmã Irene também é para nós modelo no momento supremo da vida, quando
a morte se aproxima e o regresso à casa do Pai se faz próximo. Morrer por amor,
como Jesus, é o seu ensinamento para nós.
Uma testemunha recorda: «Eu, Pancrazio Gathirwa, conheci bem a irmã Irene
Stefani na missão de Gikondi nos anos 1920-1930. Quando ela veio para cá, eu
estava aqui, e quando faleceu ainda estava aqui: ou seja, estivemos com ela até ao seu
falecimento. Procurou-se a doença mortal no bairro Mbari ya Ndumbe, aqui em
Gikondi, onde tinha ido curar Julius Ngari, doente da peste».
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Curou-o com amor, este professor que lhe tinha criado problemas sérios na
escola e morreu contagiada pelo seu mesmo mal, transformando como Jesus a sua
morte num ato de amor. Tinha somente 39 anos.
O evento da Beatificação da irmã Irene Stefani foi um momento de graça
particular para toda a Família da Consolata! Acolhamos às mãos cheias a Graça que
através da Irmã Irene vem derramada sobre cada um de nós e quer transfigurar na
alegria a nossa vida pessoal e comunitária, quer regenerar-nos à missão de anúncio e
consolação, quer-nos envolver na torrente da Misericórdia de Deus. Sim, a nossa irmã
Nyaatha chama-nos para que nos mergulhemos com ela no fluxo do Amor forte e
tenro de Deus e a deixarmos-nos conduzir por Ele. Olhemos então para a irmã Irene
com os olhos do coração; deixemos que o olhar interior penetre através da porta que
ela nos abriu no coração de Deus e deixemos que, através dela, a Misericórdia de
Deus nos toque, nos console e nos torne pessoas de misericórdia.
A Beata Irene, autêntica filha do Allamano
Queremos sublinhar também que Irene é a expressão límpida do espírito do
Beato Giuseppe Allamano, missionária da Consolata plenamente realizada, sinal da
visão e do método missionário que nos deixou o nosso Fundador. A Beata Irene,
Nyaatha, ícone da misericórdia é dom da Consolata e do Fundador aos seus filhos e
filhas.
«É mesmo necessário que vivamos, respiremos, nos deixemos perder em Deus.
Os meus olhos estão sempre voltados para o Senhor. Gosto muito desta frase e deveis
memorizá-la. Tenhamos sempre os olhos voltados para Deus, como os seus olhos
estão continuamente voltados sobre nós», dizia o Allamano (cf. VE 554). É uma
recomendação que ecoa particularmente significativa para nós no ano da
misericórdia. De maneira sintética o Fundador reafirmava às nossas missionárias para
terem «um coração largo para os irmãos», um «coração grande e generoso»,
«magnânimo para todas as misérias humanas», «cheio de amor por Deus»
(Conferências às Missionárias, I, 86, 156; II, 143-144). E nos exortava a ser
«Missionários da bondade», que agem com ternura, paciência, humildade, mansidão,
fiabilidade, «sem asperezas», mas com a «máxima doçura», «bel garbo e caridade».
Entre as exortações aos que partiam para a Missão, recomendava sempre a
«mansidão», única virtude da qual Jesus diz em modo específico de o imitar. O Beato
Allamano considerava-a indispensável para quem anuncia o Evangelho. E convidava
a fazer dela um propósito que se devia renovar em cada dia.
Os testemunhos sublinham que a mansidão era no Allamano algo que se vê no
seu comportamento que tinha com cada pessoa individualmente e nas suas atividades.
Como formador no seminário, os seminaristas lembram-se dele como: «boa mãe»,
«anjo consolador». Conseguia obter tudo com a persuasão, a afabilidade, a doçura.
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«A tempo oportuno sabia fazer também a correção severa, mas terminava-a sempre
com a palavra benévola, toda sua, que consolava» (Mons. Nepote).
Na Consolata prestava atenção aos religiosos responsáveis pelo santuário e aos
sacerdotes mais idosos. Quando não os via, ia visitá-los ao quarto, levava-lhes a
comida, arrumava o quarto, «fazendo de enfermeiro e um pouco de tudo».
O mesmo comportamento teve com os missionários e as missionárias, e também
de modo mais desenvolvido porque o bem das pessoas está entre as motivações da
Fundação dos Institutos.
«Preocupava-se das mínimas necessidades materiais e espirituais de cada um.
Interessava-se grandemente pelos parentes dos membros do Instituto, especialmente
das mães deles. E quando percebia a existência de alguma necessidade, sem que lhe
fosse pedido, tomava medidas com larga generosidade» (G. Barlassina).
Quando a família missionária se tornou maior, soube seguir igualmente cada um
dos seus membros a nível pessoal, mesmo de longe, ultrapassando a distância física
através da correspondência epistolar. Informava-se dos sucessos, das necessidades,
cansaços, desilusões, da saúde e das doenças. Também por isso ordenou a escritura
dos diários, para se dar conta das atividades missionárias e das situações pessoais. No
saber ser paciente, sofrer com quem sofre, chamar à atenção com doçura, curar o
contato pessoal, propor ideais para estar à altura da própria missão, eis o segredo da
sua paternidade. Recomendava aos superiores e às superioras que tivessem muita
paciência e que dessem coragem, que fizessem de tudo para consolar, suportar,
corrigir, mas sempre com grande caridade.
Esta abordagem atenta à relação com o outro também tem um reflexo na
atividade missionária, impressa na presença e na atenção às pessoas com relações
diretas de interesse, preocupação, ajuda, encorajamento.
Allamano aproveitava a ocasião da partida para a missão para recomendar:
«espalhai o perfume do amor»; «fazei as pessoas felizes», porque «queremos levarlhes a consolação».
Caríssimas e caríssimos, deixemos-nos guiar pelos nossos santos da
misericórdia. Vivamos quanto eles nos transmitiram, eles que viveram plenamente a
amizade com Jesus, o Senhor, o mestre misericordioso.
A Misericórdia de Deus «não é uma ideia abstrata, mas uma realidade concreta
com a qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem
até do profundo das vísceras pelo próprio filho. É verdadeiramente o caso de dizer
que é um amor “visceral”. Deriva do íntimo como um sentimento profundo, natural,
feito de ternura e de compaixão, de indulgência e de perdão». (FRANCESCO,
Misericordiae Vultus, Bula de proclamação do Jubileu Extraordinário da
Misericórdia, Roma, 11 de abril de 2015, n. 6).
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É este tipo de Amor que vemos habitar e agir na Irmã Irene, que impulsionou o
Allamano a fundar os nossos Institutos Missionários. É deste tipo de amor que todas e
todos nós temos necessidade e é a este tipo de Amor que queremos abrir o coração
para que seja preenchido!
3. A Beata Irene e o milagre de Nipepe
O milagre que conduziu Irene à Beatificação aconteceu em Nipepe, em
Moçambique, em 1989, em plena guerra civil, quando, durante um ataque da
guerrilha ao lugar onde se desenvolvia um curso de formação para catequistas, Irene
salvou aproximadamente 270 pessoas da morte. Naqueles dias dramáticos de ataque,
o pároco da Missão, Padre Giuseppe Frizzi, Missionário da Consolata, rezou à Irmã
Irene juntamente com os catequistas, utilizando uma forma de oração típica da
espiritualidade do povo Macua, a Makeya, pedindo-lhe com confiança que salvasse
os próprios catequistas e as suas famílias. E Irene interveio, multiplicando a água da
fonte batismal da igreja para matar a sede às pessoas e protegendo a todos da
violência da guerra.
O milagre, ou melhor, os milagres que se deram em Nipepe por intercessão da
Irmã Irene merecem uma reflexão e um aprofundamento sérios. Que mensagens Irene
nos deixa através destes acontecimentos? Quais percursos nos indica? O que é que
nos dizem os factos de Nipepe a respeito do nosso caminho missionário e ao nosso
estilo de missão? Que sentido têm estes acontecimentos de graça para os Institutos e
para a Igreja? Trata-se de acontecimentos cheios de bênçãos para nós, e queremos
manter os olhos bem abertos e o coração perante estes dons de Deus! Pensando
naquilo que sucedeu em Nipepe no mês de janeiro de 1989, já a uma primeiríssima
análise emergem alguns elementos que nos questionam de maneira particular, e
queremos partilhá-los com simplicidade.
Os personagens envolvidos nos acontecimentos: Irmã Irene Stefani (MC), P.
Giuseppe Frizzi (IMC) e os catequistas. Representam as três pedras da lareira
consolatina: as missionárias, os missionários e os leigos/animadores/catequistas,
assim como era também nos inícios da nossa missão no Quénia, por exemplo em
Gikondi no tempo da irmã Irene. A nascente metodologia missionária consolatina
compreendia estes três indiscutíveis elementos, em sinergia, comunhão,
complementaridade. Acreditamos que não é por acaso que a Irmã Irene escolhe de
responder à invocação de um seu confrade Missionário da Consolata e dos
catequistas, completando assim a tríade. E isto tem muito para nos dizer também
hoje.
As circunstâncias: a guerra tinha “privado” os missionários e as missionárias
de muitas coisas, mas não da sua identidade, que parece, pelo contrário, ter-se
reforçado naquelas circunstâncias dificílimas e dramáticas, quando não possuíam
meios económicos, mas viviam o núcleo da missionariedade consolatina como
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testemunho de consolação na humildade, na pobreza, na proximidade às pessoas, na
partilha de tudo, na oração, na comunhão.
A água batismal: com tudo isso que o batismo significou para Irene e que
significa hoje para nós, como sinal eminentemente cristológico, como chamada às
fontes do nosso carisma ad gentes, a mergulhar-se e a ”mergulhar” em Cristo, a matar
a sede em Cristo a quem ainda O não conhece.
A fonte batismal: frágil tronco, se bem com rachaduras e atualmente também
com buracos, em suma um pouco como todos nós, criaturas humanas, um pouco
como Irene, frágil criatura, frágil vaso de argila no qual habita a água da Vida. Mas
também um tronco trabalhado, esculpido e pintado com símbolos tomados não só da
tradição cristã clássica, mas também da “tradição” que o Espírito plasmou no ânimo
Macua. De novo, um pouco como Irene e como nós, chamados a ser habitados por
Cristo água viva e alegre inesgotável, mas também a deixar-nos trabalhar, esculpir e
colorir pelo movimento do Espírito nos povos que nos acolhem.
A invocação através da Makeya. Irene escolhe responder a uma invocação
feita através de uma expressão orante típica de uma tradição religiosa “diferente”
daquela ocidental. É estupefaciente ver como, depois de um percurso de reflexão e de
estudo sério que conheceu resistências, bloqueios, etc., agora a Makeya chegou a uma
comissão teológica vaticana que aprovou o milagre obtido através da própria Makeya.
O que é que nos quer dizer Irene recorrendo à invocação feita através da Makeya e
levando a Makeya até ao Vaticano, ou seja, ao exame e à confirmação da igreja
universal? O que é que tem para nos dizer tudo isto sobre a nossa metodologia
missionaria, sobre os percursos de evangelização inculturada, de interculturalidade,
de contacto com as raízes da pessoa e do povo, de séria, em profundidade e corajosa
reflexão “no campo” que deveria caraterizar o nosso ser missionários e missionárias
ad gentes e da Consolata?
Estes são só alguns dos elementos que numa primeira abordagem emergem dos
fatos de Nipepe. E quem sabe quantos outros poderiam emergir dali na reflexão, na
oração, na partilha e no aprofundamento! Esperamos verdadeiramente que a
beatificação de Irene e os fatos de Nipepe constituam para nós um estímulo à reflexão
e à atividade missionária conjunta, no prosseguimento da misericórdia e da
consolação. Queremos acolher a Graça que esta Beatificação traz consigo e responder
à chamada ínsita nos fatos de Nipepe. Irene falou! Deus falou-nos através dela. Agora
toca a nós receber e fazer frutificar a Palavra que nos foi doada.
PERGUNTAS PARA A REFLEXÃO E A ORAÇÃO
O que é para mim a misericórdia? Fiz experiência da misericórdia de Deus?
Ponho-a em prática no confronto com os outros? Recebi-a dos outros? Como?
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Lendo o Evangelho, quais caraterísticas da misericórdia de Jesus me chamam
mais à atenção?
Sinto e vejo na minha comunidade, no Instituto, a misericórdia? Através de que
sinais?
Como se exprime a misericórdia na nossa metodologia missionária, hoje?
PROPOSTAS DE CAMINHO
Celebrar onde for possível todos juntos MC-IMC-LMC a festa litúrgica da irmã
Irene preferivelmente precedida de um tríduo.
As Direções de circunscrição desenvolvam iniciativas e momentos de reflexão,
possivelmente conjuntas, sobre a figura da Beata Irene e a sua mensagem para o dia
de hoje.
Neste Ano da Misericórdia propomos a figura da Beata Irene, ícone de
Misericórdia, à nossa gente.
Outras iniciativas e propostas inspiradas à Beata Irene e à misericórdia, que
possam ajudar no caminho espiritual e fraterno deste ano jubilar.
Oração à Beata Irene
Beata Irene, Nyaatha, irmã nossa,
intercede por nós o dom da Misericórdia!
Padre Stefano Camerlengo, IMC
Padre Geral
Irmã Simona Brambilla, MC
Madre Geral
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MENSAGEM DO SUPERIOR GERAL
PARA O NATAL DE 2015
ACREDITAR COMPROMETE-NOS!
08 de dezembro de 2015, festa da Imaculada!
“Uma lição importante foi-nos dada pelo menino Santo que venceu
as três concupiscências humanas: os prazeres, as riquezas, as honras,
para nos ensinar também a nós a vencê-las. Nascendo assim tão
pobre, o Senhor consagrou a pobreza!” Beato Giuseppe Allamano
Caríssimos missionários, amigos, familiares,
Um Natal autêntico!
O primeiro Natal não foi celebrado nos templos, nas sinagogas, nem nas igrejas
que, naquele tempo, não existiam. Naquela época, nenhuma comunidade religiosa se
reuniu à volta de um rito qualquer, nenhum sacerdote acendeu velas ou proferiu
homilias. Nenhuma sociedade humana interrompeu o seu ritmo de trabalho
quotidiano, a ninguém veio em mente de adornar as estradas, pendurar e acender as
luzes, nem preparar ceias especiais. Ninguém perdeu um só instante sequer para
reunir a família ou trocar presentes.
Era uma noite silenciosa e escura. Como narra o evangelho (de S. Lucas), um
casal jovem tinha-se deslocado de uma cidade da Galileia a um pequeno centro
(Belém) nas vizinhanças de Jerusalém, por banais motivos burocráticos. Diz-se o
evangelho que César Augusto ordenou que se fizesse um recenseamento em todo o
império romano e por conseguinte todos eram obrigados a registarem-se, cada um na
sua própria cidade.
Não eram dois personagens notáveis. Ele era carpinteiro, ela uma moça doméstica
como tantas outras. Guardavam no próprio coração, provavelmente com uma certa
timidez, espécie de pudor, o segredo do próximo nascimento de um filho. Mais de mil
pontos de interrogação, nenhuma resposta humanamente compreensível. José e Maria
eram certamente um casal com poucas possibilidades económicas. Quando chegaram
a Belém, a cidade da família de David, não encontraram um lugar na hospedaria.
Foram reencaminhados à porta, mandados embora, se bem que Maria estava não só
grávida, mas mesmo próxima do parto. Quando começaram as dores da maternidade
alguma alma piedosa indicou-lhes um estábulo. Assim quando, pouco depois, veio ao
mundo, o menino pôde ser envolvido em panos e deitado numa manjedoura de
animais.
Ninguém se preocupou com o sucedido. Só alguns pastores, personagens
considerados impuros pela mentalidade da época, se aproximaram surpreendidos da
gruta. Ouviram uma mensagem do Céu transmitida por um anjo: “anuncio-vos uma
grande alegria, que será para todo o povo”. O sinal da realização desta promessa
seria, segundo o mensageiro, “encontrarem um menino envolvido em panos, deitado
numa manjedoura”.
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Melhor ainda, a nós homens “iluminados” do terceiro milénio esta história
deveria aparecer, pelo contrário, absurda. Nada mais que uma lenda como existem
tantas outras. Pelo contrário há mais de dois mil anos que nos obstinamos em
recordar admirados aquele momento, aquele nascimento que de todas as maneiras era
insignificante, normal, banal na sua moldura de miséria e fragilidade.
O nosso apego ao mistério do Natal tem com certeza razões que historiadores,
sociólogos e psicólogos saberiam explicar excelentemente. O Natal convida-nos a
colher o alcance revolucionário de uma mensagem que anuncia a paz de uma posição
de total desapego e que exalta a pobreza, em vez da riqueza e do sucesso, a renúncia a
todo o tipo de exibicionismo e a qualquer tipo de violência, em vez de um
protagonismo estéril ou uma fé integralista toda voltada em afirmar-se socialmente e
religiosamente.
Maria, a moça que se encontrou naquela aventura, foi com certeza a intérprete
mais autêntica daquele acontecimento assim tão longínquo e tão atual. Tinha
compreendido que existe um Deus que se faz homem, Ele não pode ser o Deus de
quem se deleita na sua saciedade, de quem não tem escrúpulos em explorar, oprimir
os outros e de quem é escravo da própria soberba. O Deus de Maria, o Deus do Natal,
é aquele que “dispersou os soberbos, derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou
os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias”. Por
isso que o seu “sinal” não é uma exibição de potência, mas simplesmente e
surpreendentemente “um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
É necessário dirigir o olhar do nosso coração para Deus para aprender a acreditar,
a esperar e a amar. O Natal lembra-nos, afinal de contas, três coisas fundamentais.
Primeiro que é a festa de quem tem boa vontade e tende assim a construir à sua
volta o bem comum porque se deixa guiar pelos valores da paz, da solidariedade e da
misericórdia. E lembro aqui as palavras de santo Agostinho que dizem que “A Cidade
do Homem e a Cidade de Deus se combatem interiormente em cada homem porque
as fronteiras que dividem a Cidade do Homem da Cidade de Deus estão dentro do
coração e da consciência dos homens”. Deixemo-nos educar pelo Natal para vencer
os egoísmos e as divisões.
Em segundo lugar, o Natal também é o tempo para compreender quanto é
necessário servir, estar unidos e, portanto, viver a dimensão do dom gratuito,
sobretudo nos confrontos de todos aqueles que viverão as festas natalícias em
condições precárias e de pobreza.
Por fim, a força que nos pode erguer da crise, do medo e de todas as dificuldades
consiste em nos reconhecermos antes de mais necessitados de Deus e que temos em
nós um princípio invencível e eterno: a sua presença na história, o seu chegar até nós
para nos levantar novamente e conduzir-nos ao encontro pleno com o seu amor.
E neste Natal, tudo tem o sabor do coração aberto que acolhe e se doa com
alegria.
Feliz Natal!
"Empenhemo-nos também nós a descer…
Não para reordenar o mundo,
não para o refazer por medida, mas para o amar;
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para amar também aquilo que não podemos aceitar,
também aquilo que não é amável,
porque por detrás de cada rosto e em cada coração
existe, juntamente com uma grande sede de amor,
o rosto e o coração do amor.
Empenhemo-nos, porque nós acreditamos no amor,
a única certeza que não teme confrontos,
a única que chega para nos empenharmos perpetuamente"
(Don Primo Mazzolari)
Bom Natal, muitas felicidades, muita fé, muito empenho!
Coragem e em frente in Domino!
Padre Stefano Camerlengo, IMC
Padre Geral
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MISSIONÁRIOS IDOSOS EM RENOVAÇÃO
No mês de setembro de 2015 reuniram-se em Roma para um tempo de renovação
uma vintena dos nossos confrades já mais avançados na idade. O Superior Geral
acompanhou-os com uma mensagem de boas-vindas na qual os convidava a preparar-se
para o curso considerando-o como um tempo de graça e uma reflexão sobre a
Formação Continua da qual nenhum missionário, idosos incluídos, pode considerar-se
dispensado. Apresentamos aqui a seguir o texto destas duas intervenções:
I - Mensagem fraterna aos Missionários Idosos
«Ensina-nos a contar os nossos dias para podermos chegar ao coração da
sabedoria»
(Salmo 90,12)
Caríssimos missionários,
que a paz e a força do Senhor estejam sempre convosco! Com alegria e
fraternidade dou-vos as boas-vindas a esta casa que é a vossa casa, para este Curso de
Formação Continua. Aproveito desta oportunidade para agradecer cada um de vós
pela sua vida, pelo testemunho, pelo amor ao Instituto e à missão, pela participação
neste Curso. O meu agradecimento também vai para quem se disponibilizou e
continua a disponibilizar-se a fim de que o Curso tenha sucesso e seja um verdadeiro
momento de graça. Refiro-me em particular aos missionários: padre Dietrich
Penwazima, Vice-Geral responsável pela DG, padre Ronco Giuseppe, responsável
pelo Secretariado para a Missão, grande cabeça e coração do Curso; padre Renzo
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Marcolongo, superior da comunidade da Casa Geral: acolhimento, serenidade e
sabedoria do Curso. Quero, com espírito fraterno partilhar convosco alguns tópicos
de reflexão que, espero, possam guiar os vossos dias.
Mc 6, 30-32. Os Apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham
feito e ensinado. Disse-lhes então: “Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e
descansai um pouco.” Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham
tempo para comer. Foram pois na barca para um lugar isolado, sem mais ninguém.
Todos conhecemos este episódio evangélico. A cena é-nos familiar. Jesus convidanos a abrandar o nosso ritmo de trabalho. Porquê não colocar-nos também hoje esta
questão e tomar o nosso tempo para poder decidir como e quando seguir este
conselho?
Temos os nossos hábitos e costumes, a nossa maneira de integrar na vida períodos
de repouso e de lazer. Adotamos um ritmo de oração quotidiana, os retiros e os
exercícios espirituais anuais; reservamos para nós períodos de férias regulares, lemos
livros e vemos filmes, fazemos desporto e arranjamos tempo para um passeio a pé e
outras distrações. Todas estas atividades contribuem para uma vida missionária
equilibrada.
Mas também é possível que façamos resistência a uma renovação interior, um
exame profundo da nossa vida, um período sabático sério. Esta iniciativa não é um
luxo. Pelo contrário, aqueles que nunca sentiram a exigência de “se retirar para
descansar um pouco”, deveriam perguntar-se se não têm algum problema.
O X Capítulo Geral dizia: “A DG no seu plano de trabalho, e as Circunscrições nas
suas Conferências, promovam uma energética ação de renovação de todos os
missionários, através da formação contínua, que não se limite à atualização, mas a
remotivar as pessoas através do aprofundamento e a assimilação do carisma, do
espírito do Fundador, dos ideais da consagração, da comunhão e da missão” ( XCG,
p.47)
E o seguinte XI Capítulo corrobora: “Considerado que o primeiro bem do Instituto
são as pessoas (conf. Const. 30), o seu dever irrenunciável é a atenção a cada
missionário e à sua renovação, para melhorar a sua qualidade de vida física, psíquica,
afetiva e espiritual. Este dever atua-se através de um programa integral, que abraça o
ser, o compreender e o agir das pessoas”. O desenvolvimento do Instituto “depende
da renovação de cada um dos seus missionários e da qualidade das comunidades” (n.
92, p. 74).
Enfim, o último Capítulo Geral XII afirma: “A nossa formação tem como critério
fundamental a evangelização das gentes, na vida religiosa, segundo o espírito do
Fundador e as nossas características.”
“O processo de formação para a missão, mesmo que tenha tempos privilegiados,
dura toda a vida. A nossa identidade e o nosso ideal de missionários da Consolata,
nunca totalmente alcançado, exigem fidelidade e ao mesmo tempo capacidade de
caminho, de conversão, de criatividade.” (XII CG n.º 56, pág.24)
A vida é caminho!
O tema da viagem condensa uma multiplicidade de significados. Tem que ver com
o próprio sentido da existência, na busca perene de uma plenitude de vida que ainda
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não se tem, de uma felicidade como sonho que arde sempre no coração, mesmo
quando parece que está tudo debaixo dos escombros.
O impulso a viajar diz que a vida não é "status", mas processo; não é paragem, mas
andar; que é mais partida do que chegada. O termo "existir", do latim, significa
exatamente passar de um lugar para o outro, de uma situação para a outra, ou seja:
caminhar. Quem não faz da vida um caminho, deixa de existir, no sentido mais
verdadeiro e existencial do termo.
O homem é por sua natureza caminhante porque tem necessidade de encontrar
noutro lugar a sua completude, fora e acima de si mesmo, no encontro com os outros
e com o Outro, o Absoluto, seu Criador.
Tudo isto pode parecer óbvio; na realidade hoje não é assim. Um exasperado
individualismo ameaça o caminhante fazendo do homem um vagabundo sem meta, se
não aquela de si mesmo, reduzindo a vida, que é caminho, a uma paragem. Um
vagabundo infeliz, que já não sabe de onde vem e não sabe para onde ir porque, todo
concentrado sobre si, não tem mais nenhum sonho que o leve longe, assim como bem
descreve o psiquiatra V. Andreoli:
«Concentrados num aqui e agora puramente corpóreos, matamos todos os deuses e
tornado a beleza o único fim da nossa religião. Já não temos mais sonhos, não
cultivamos projetos, não suportamos o silêncio, fazemos barulho para vencer a
solidão, desenraizados como somos das nossas origens, incapazes de amar, de ensinar
os nossos filhos e de aprender dos nossos pais. E estamos cheios de medo».
É uma realidade que nos desafia, discípulos de Jesus, chamados a seguir Um que,
deixando a sua condição divina, fez-se Ele mesmo um caminhante por amor, para nos
encontrar a nós homens e ajudar-nos a recuperar aquela dimensão humana que
sozinhos somos assim incapazes de viver. Mas, para além de cada credo, é um desafio
para todos aqueles que têm a vontade e a decisão de “ser e permanecer humanos”,
num mundo em que ”a humanidade”, parece, que se quer destruir.
No meio de tantas obscuridades do nosso tempo, uma luz de esperança continua a
brilhar enquanto existirem pessoas que, saindo de si mesmas, continuam a viajar ao
encontro do outro, amando verdadeiramente. A salvação para este nosso mundo assim
atormentado está exatamente nesta direção. Desejamos e esperamos que sejam
sempre e cada vez mais aqueles que, abrindo os olhos para a realidade e sacudindo o
sentido da indiferença e da apatia, estejam dispostos a persegui-la.
O desejo é que também nós possamos continuar a viajar com o Espirito do
missionário, caminhantes como Jesus!
A velhice
Os entendidos falam de três maneiras de envelhecer que variam pelo seu resultado
final.
Existe um primeiro modo ideal que todos sonham que seja o seu. São as pessoas
que envelhecem bem, aquelas com as quais todos estão dispostos a viver. A sua
maneira de ser idosos é declarada invejável por todos: são idosos que vivem serenos,
reconhecidos, cheios de confiança e de sentimento, lúcidos e responsáveis, sem
excessivos temores da morte; são pessoas que sofrem, mas que não pretendem que
todos pensem neles, que não fazem pesar o próprio sofrimento, antes pelo contrário,
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são eles que se preocupam com os outros. Infelizmente não se deve acreditar que esta
seja a norma, bem longe disso! É o sonho de muitos, mas não é certamente a norma.
Existe um segundo modo, o mais comum, de envelhecer, que consiste no sofrer o
envelhecimento. Muitos não conseguem aceitar a realidade de uma vida marcada pelo
handicap ou pela diminuição das próprias capacidades de trabalho, de relações, de
sobrevivência. Estão traumatizados pela chegada da reforma e sentem como uma
ameaça terrível a ideia do fim. Passaram uma vida de trabalho e nunca encontraram o
tempo para si mesmos, para refletir, para descansar em paz. Agora são obrigados a
passar do trabalho como uma turbina à inatividade forçada e não são capazes de
aceitar. Para eles a reforma é um sofrimento, não sabem que fazer, é um repouso
forçado e doloroso. Vivem na rebelião constante ou na depressão. As tentativas
autolesionáveis não são raras, sobretudo se a inatividade é combinada com a solidão;
fecham-se no seu sofrimento, agarram-se a pequenas coisas que funcionam como
droga ou evasão, tornam-se duros, ácidos, hostis a tudo, e todos procuram esquivar-se
deles.
Existe também uma terceira maneira de envelhecer que é própria de quem nega ou
então recusa o processo de envelhecimento, fazendo de conta, se possível, que não
chegaram à velhice. Essa é própria daqueles que não querem acreditar no
envelhecimento e por isso escondem a si mesmos e aos outros o seu decair
“mascarando-se”, vestindo-se e vivendo como se ainda fossem jovens. Satisfazem-se
com os elogios que recebem, não dão desconto às expressões de conveniência: «Não
se diria que você tem oitenta anos! Como está bem conservado! Não os demonstra
mesmo!». Acreditam e por um pouco dão-se corda, mas depois quando colocam os
pés no chão, sentem-se mal e acumulam feridas e frustrações sempre mais dolorosas
e profundas. São pessoas que, sem querer, caiem no ridículo. Seria evidentemente um
erro consolidar esta maneira de fazer, que pretende ignorar ou recusar a própria
condição. É muito melhor aceitar a própria realidade e procurar deixar-se interpelar
na verdade e pela verdade, para obter assim novos estímulos para viver e continuar a
crescer, para aceitar a velhice como alguma coisa de novo e de válido.
Caríssimo confrade, é coisa boa confrontar-se com esta descrição da velhice e com
os seus modos de a acolher. É bom que cada um se leia na profundidade de si mesmo,
aceitando a própria situação, condição indispensável para continuar a ser feliz na
própria vida que nos é oferecida.
A missão
O Concílio Vaticano II afirma, sem hesitação, que «a Igreja durante a sua
peregrinação sobre a terra é por sua natureza missionária» (Ad gentes 2). O termo
“natureza” significa “essência”. A missão, antes de ser “dever”, é “essência”: é o
aspeto mais central, a característica mais importante que confere à Igreja uma
identidade, um caráter distintivo. Desta essência, continua o decreto Ad gentes
«deriva a própria origem da missão do Filho e da missão do Espírito Santo, segundo
o plano de Deus Pai» (conf. AG, 2). A missão vem de Deus porque Deus é amor, um
amor que não se contém, que se expande, que se comunica e que vem de si. A missão
é essência de Deus que faz referência àquilo que Deus “é” e só em última análise
àquilo que Deus “faz”. Indiretamente, para a Igreja a missão torna-se impulso
gratuito, a partir de dentro para fora, e tem como origem e fim a participação na vida
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divina. Por isso, não é a Igreja que “tem” uma missão, mas, pelo contrário, é a missão
que tem uma Igreja: Deus realiza a sua missão através da ação do seu Espírito,
chamando a igreja a participar. Eis a mudança de paradigma: a Igreja deixa de ser
“missionante” (aquela que envia) para se tornar “missionária” (enviada), não mais
como “patroa”, mas como humilde “serva” da missão. Neste modo, Deus
participando na missão, o ser enviada aos povos, ela participa diretamente da vida de
Deus, que é vida plena, vida eterna. Compreender a missão não como uma atividade
ou necessidade histórica, mas como essência gratuita de Deus-amor, é o primeiro
passo para uma profunda renovação da nossa vida de consagrados para a missão.
Trata-se de transferir a missão da afirmação da pessoa ou da Instituição à
transparência do testemunho sem reivindicações, imitando o exemplo de Jesus na sua
proximidade aos outros e sobretudo aos pobres, aos últimos, para comunicar vida em
termos de humanidade, compaixão e fraternidade sem fronteiras.
A missão é sempre a mesma: anunciar Jesus Cristo ao mundo! Mas, o que muda é
a sua realização, o modo e o estilo de a propor e de a partilhar. Se calhar sentes-te
perplexo e ultrapassado por estas mudanças, o novo é sempre desestabilizante, não
temas, entrega-te ao Senhor e à Consolata, confia n’Ele e continua a caminhar como
servo e peregrino do Reino.
Conclusão
A vida mesmo na sua estação final pode continuar a ser fecunda e o idoso pode e
deve sentir-se, como diz o salmista, um velho que passou por muitas lutas e infinitas
contradições, e cujo corpo já se tornou resistente e duro como um tronco de cedro ou
de uma palmeira, mas que dentro se sente ainda «a seiva e o frescor», capaz ainda de
«florescer nos átrios do nosso Deus», sempre pronto a «anunciar que o Senhor é
justo» (Sal 92,14-16).
Saudações fraternas e que a Consolata guie os teus passos pelos caminhos da vida.
Bom Curso, coragem e sempre em frente in Domino!
Perguntas para o aprofundamento
Como me sinto neste momento da minha vida: comigo mesmo, com o meu Instituto,
com a minha missão?
Qual o ícone evangélico que, nesta etapa da maturidade, sinto mais próximo da
minha vida missionária? Qual página do Evangelho reflete melhor o meu ser e
o meu viver?
A nível da vida consagrada, como vivo a minha consagração à missão?(Alegria,
esperanças, dificuldades, fragilidades...)
O que é que desejaria comunicar ao meu Instituto depois de tanta vida doada no
serviço à missão?
Estou disponível para escrever, aproveitando deste momento de formação contínua, a
história da minha vida missionária, para ajudar a minha reflexão pessoal e
também o Instituto?!!!!
Sugere outros aspetos importantes, para ti mesmo, que gostarias de partilhar com os
outros neste caminho...
O que é que pensas e como vês o caminho atual do Instituto? Olhas para o futuro
com confiança ou então com preocupação? E porquê?
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Para refletir e rezar!
Em caminho... faz-te ao largo!
Dá-nos, Senhor, a coragem para deixar de lado as amarras das nossas seguranças,
dos nossos hábitos para iniciar a pôr-nos em caminho.
Não temos nada a temer, Senhor: lançaremos as redes sobre a Tua Palavra. Até
agora, as nossas fadigas foram vãs, confiando só nas nossas forças.
Chamas-nos para nos pormos em caminho para seguir as Tuas pegadas. Passos que
por vezes são difíceis, mas seguros. Tranquiliza os nossos corações, para que a
Tua Palavra chegue até nós e possa iluminar os nossos passos.
Dá-nos mais fé, Senhor, e a coragem de saber ousar mesmo quando tudo à nossa
volta trava os dinamismos entusiásticos do anúncio.
Pedimos-te, Senhor, a tua ajuda para que a Igreja esteja sempre em mar aberto e não
em águas tranquilas que cheiram a morte.
Agradecemos-Te porque nos escolhestes e confiastes em nós. Manda ainda, Senhor,
homens e mulheres que abandonam tudo para se colocarem em caminho em
direção a terras desconhecidas.
Muitos derramam o seu sangue nos passos dos felizes anúncios. Suplicamos-Te por
eles, Senhor. Dá-nos também a mesma coragem.
Senhor, companheiro do nosso caminho, coloca em nós a impaciência para alongar
o passo e atingir os solitários da estrada.
Remete-nos em caminho, quando os nossos passos se cansam e nos encontras
desiludidos à margem da estrada por não ter pescado nada. Continua a ser o
nosso bom Samaritano, derramando o azeite da esperança.
No nosso ser peregrinos, enche ainda os nossos alforges com o Pão do caminho e o
Vinho dos salvados.
Acompanha os passos dos "pescadores de homens" que escolheram partilhar o pão
duro dos pobres da Terra.
Enfim, Senhor nosso Deus, faz de nós anunciadores de paz, lá onde tudo fala de
vingança e de ódio, de guerra e de violência. Sejam as nossas vidas a falar,
seguros que nada é impossível Contigo e por Ti.
“A oração é o respiro da fé”, “o diálogo da alma com Deus. Todos conhecemos
pessoas simples, humildes, mas com uma fé fortíssima que verdadeiramente arrasa
montanhas. Pensamos por exemplo em tantas mães e pais que enfrentam situações
muito pesadas. Em certos doentes mesmo gravíssimos que transmitem serenidade a
quem os vai visitar. Estas pessoas, como é próprio da fé não se vangloriam pelo que
fazem, antes pelo contrário, como pede Jesus no Evangelho dizem: “somos servos
inúteis. Fizemos o que devíamos fazer”. Quanta gente que vive entre nós têm esta
fé!” (O Papa Francisco na recitação do Anjo)
II - A FORMAÇÃO CONTÍNUA É UMA EXIGÊNCIA DO NOSSO TEMPO
No processo de aceleração da história da qual fomos e somos todavia espetadores
e protagonistas, um dos fenómenos que emergiu e se afirmou foi a necessidade da
formação contínua. Hoje é normal e bastante frequente, depois da primeira formação,
sentir-se incapazes de responder aos novos desafios e por conseguinte impreparados
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quando não inúteis. Isto foi descoberto muito antes de nós pelos profissionais
seculares (médicos, engenheiros, técnicos, professores) e pelas empresas que
destinaram recursos e tempo para renovar o próprio pessoal. Após a viragem conciliar
(GS 5) também os homens da Igreja sentiram a necessidade de agarrar pela mão a
formação para a prolongar no tempo, acrescentando mais tempo àquele previsto para
a primeira formação. Esta exigência foi reconhecida e codificada em vários modos.
Nos Capítulos gerais dos Institutos religiosos e nas dioceses foram tomadas decisões
sobre esta matéria, inicialmente de tipo maximalista, com perspetivas irrealizáveis;
depois, uma vez feita a experiência da impraticabilidade das mesmas, chegou-se a
medidas mais verdadeiras. Até o magistério da Igreja ressentiu estas novas
perspetivas e deu indicações em tal sentido: gostaria de lembrar aqui os parágrafos da
Exortação Apostólica sobre a Vida Consagrada (1996), dos Pastores dabo vobis
(1992) e as indicações da Instrução da Congregação para a Vida Consagrada sobre a
formação nos Institutos religiosos de 1990.
PARA NÓS MISSIONÁRIOS
Nós, missionários ad gentes, nestas últimas décadas fomos envolvidos neste
movimento da sociedade: “O próprio movimento da história torna-se assim tão rápido
e difícil para poder ser seguido pelos homens a nível individual. Torna-se o único
sistema, o destino da sociedade humana ou sem se diversificar mais em tantas
histórias separadas. Assim o género humano passa de uma conceção da ordem das
coisas, que em vez de ser estática passa a ser uma conceção mais dinâmica e
evolutiva. Isto favorece o surgir de um formidável conjunto de novos problemas, que
estimula a fazer análises e sínteses novas” (GS 5).
A nova situação produziu notáveis mudanças do contexto sociocultural e político
para além de teológico da missão, com a consequente urgência de nos adaptarmos a
ele.
- A nível de mundo uma série de fenómenos, entre os quais o fim do colonialismo,
os movimentos de libertação, a independência política, as novas formas de
dependência neocolonialistas e, hoje, a globalização, mostram-nos um mundo em
contínua transformação.
- A nível da teologia o acontecimento Concílio Vaticano II produziu uma nova
eclesiologia, uma nova visão mais positiva das realidades seculares, promoveu a
liberdade religiosa, a teologia das religiões, o diálogo inter-religioso, todos os
elementos que determinam uma nova perceção da missão com novos acentos e novos
desafios.
- A nível de Institutos missionários todos os elementos anteriores conduziram
quase à criação de uma nova identidade missionária, determinada pelas novidades
teológicas acima aludidas, do novo protagonismo missionário da Igreja local, dos
novos agentes missionários (a partir dos missionários fidei donum aos movimentos de
voluntariado), da diminuição numérica do pessoal “tradicional” dos Institutos, do
fenómeno da internacionalização ou multiculturalidade dos Institutos missionários e
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da consequente nova composição das comunidades, fenómeno complexo que investiu
os Institutos missionários ad gentes.
- Além disso, para aqueles que não são propriamente surdos, as vozes do clero
local falam muito claramente, fazendo-nos compreender que a época dos
missionários de profissão, responsáveis pela missão ad gentes acabou. Que fique
esclarecido: a missão ad gentes não acabou, mas ela aguarda um novo tipo de
missionários e um novo tipo de Institutos missionários coerente com os tempos
atuais.
A necessidade de mudar existe e é sentida. Tentou-se também alguma mudança e
produziu os seus efeitos, mesmo se em geral se tratou de mudanças estruturais ou
institucionais. Mas sempre mais nos demos conta que a esta mudança epocal
devemos em primeiro lugar enfrentar uma profunda mudança de comportamentos
interiores aos quais seguirão as mudanças estruturais, como uma agitação que
lentamente mexe e modifica toda a identidade do missionário nas suas componentes
humanas, espirituais, intelectuais e apostólicas, postulando a seguir, ou no máximo
contextualmente, as mudanças estruturais e institucionais.
TRÊS TIPOS DE INTERVENÇÃO
Já a partir dos anos ’70-80 os Institutos missionários puseram em ação um
programa de formação contínua para responder, na medida do possível, às
solicitações da história. Mas parece que os tipos de intervenção foram
substancialmente dois, enquanto se lhe está perfilando um terceiro.
I. Num primeiro tempo, depois do Concílio e nos anos ’70, pôs-se o acento à frente
das mudanças epocais de vário tipo e a diversos níveis. Enfrentar as mudanças em
primeiro lugar com diversas atitudes interiores. Cursos de renovação
“profissional”. Cursos de renovação, multiplicados pelas disciplinas sérias. Sem
escapar ao perigo de confundir a formação contínua com a atualização, chamandolhe assim profissional. Viu-se muito cedo que isto não era suficiente. Eram as
pessoas que deviam ser não só objeto, mas também sujeito da sua formação
pessoal. A renovação só “profissional” não resolvia os problemas de adaptação à
nova realidade. Certamente a moral na década pós Concílio tinha conhecido uma
profunda evolução. Ainda mais a exegese, a pastoral. . ., mas um curso de
atualização deste tipo atingia só um aspeto exterior da pessoa, o seu fazer, sem
tocar o seu ser.
2. Passou-se então a cursos de renovação da pessoa, de renovação do eu do
missionário, da sua maneira de viver as várias dimensões: humana, espiritual e
missionária, não esquecendo mas relativizando muito a atualização profissional,
que vinha delegada (não excluída nem minimizada) a sedes diferentes, como as
faculdades teológicas. Sem sermos psicólogos, era fácil dar-se conta que a pessoa
depois de um certo tempo de empenho nas atividades perde a sua vivacidade, se
apoquenta na rotina, vê as motivações que a suportaram até agora, que aos poucos
se apagam e corre o risco de enveredar pela estrada da mediocridade. Era portanto
necessário oferecer aos missionários períodos de reflexão e de análise do que
viveram para dar novamente estímulo, força à pessoa. Tais períodos revelam-se de
insubstituível importância: permitem rever a própria experiência, de a analisar nos
seus momentos bons e menos bons, para lhe procurar as causas; permitem renovar
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as energias humanas e espirituais da pessoa, ajudam a atualizar as motivações da
própria consagração, dão novo entusiasmo, dinamismo para retomar o caminho. Se
bem que úteis e necessários, estes períodos sabáticos apresentam um dúplice
limite: são intervenções como um fontanário e não permitem um crescimento
comunitário. Quando um confrade após este período reentra no seu ambiente, não
consegue viver aquilo que aprendeu e o benefício recebido perde-se como um
riacho no deserto. O segundo limite está ligado à concreta viabilidade destes
períodos: num ambiente humano como aquele missionário em que a atividade é
privilegiada, uma paragem de algum tempo (que, pelo menos deveria ser em linha
de princípio repetida após um certo período) é na prática e frequentemente difícil,
se não quase impossível. Ainda não existe uma suficiente convicção, nos
missionários e nem sequer nos seus próprios responsáveis - que tais períodos
sabáticos são importantes como o trabalho e, sem tal convicção, dificilmente se
podem praticar.
3. Esta insuficiência dos cursos sabáticos fez-nos refletir ulteriormente sobre a
natureza da formação permanente e por isso chegamos hoje à convicção que se
deve mudar radicalmente a abordagem dela. De uma configuração da formação
permanente que vê a pessoa objeto de intervenções e de solicitações por parte do
Instituto ou de outras instituições, através da oferta de cursos de vário tipo,
chegamos à compreensão que a formação permanente é um empenho confiado
diretamente à pessoa, a qual é o sujeito de cada programa e o responsável pela
própria formação. Esta nova configuração está ainda nos seus inícios e por
conseguinte muito enfraquecida seja na sua compreensão quer na sua execução.
a) Ela supõe uma nova visão da formação que não seja só integral nas suas
componentes comuns (não só intelectual, mas também humana e espiritual e
pastoral), mas compreenda também a componente temporal. É o tempo que deve
ser integrado na formação. Por este motivo que já ao início do processo de
formação deve ser inoculado no formando o “vírus” da durabilidade. Noutras
palavras, é necessário convencer o missionário que a sua formação nunca chegará
a uma conclusão, mas que este processo será permanente, que haverá períodos, por
assim dizer, concentrados, como a primeira formação, os cursos de renovação
pessoal, profissional e espiritual etc., mas que a formação, como tal, deve
prolongar-se no arco da vida toda, utilizando todos os momentos da vida
missionária.
b) É a vida missionária o lugar e o instrumento da formação do missionário e tudo
aquilo que diz respeito e tem relevância na nossa missão é um meio para a
formação permanente: em primeiro lugar o ministério, que o missionário
desenvolve, a comunidade em que vive, os confrades com quem vive, a
comunidade cristã que serve, o mundo sociopolítico e cultural em que se encontra,
com as suas instâncias. Neste empenho de formação contínua são meios para usar
e privilegiar também aqueles relativos à própria santificação (oração quotidiana,
estudo, atividade pastoral), os encontros, as exigências da pastoral, da missão em
geral, sem subestimar a importância das dificuldades que se encontram: tudo tem
sentido e incidência na formação integral e permanente da pessoa do missionário.
22
c) Esta nova configuração exige, porém, uma profunda renovação da visão da nossa
vida missionária, da vida comunitária e do modelo do missionário. Enquanto nós
formos guiados pelo modelo elaborado na época colonial, ou seja aquele do
missionário que vai para as missões para levar a fé e a civilidade a quem não tem
nada, do missionário caracterizado pelo dar e ao fim muitas coisas e que vive uma
relação de inconsciente (por vezes também consciente) superioridade, enquanto o
missionário se sentir o patrão da missão, enquanto será o missionário heroico de
sempre... à formação permanente faltará o ponto de chegada e a mudança
permanecerá um sonho, um projeto escrito nos nossos documentos capitulares,
mas que não poderá entrar na vida. Daqui vem a urgência que os Institutos
missionários elaborem um programa de renovação e de atualização deles mesmos!
Certamente o indivíduo tem uma grande responsabilidade, mas também os
Institutos devem dar-se uma nova visão da sua participação à missão da Igreja e
uma formação coerente. A missão não acabou, nunca acabará, mas um certo
modelo de missionário sim, esse acabou e deve ser atualizado, se os Institutos não
quiserem desaparecer, como aconteceu a tantas instituições de vida consagrada ao
longo dos tempos.
PARA NÓS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA …
PERGUNTAS PARA O APROFUNDAMENTO
Qual é a dificuldade ou quais são as dificuldades maiores que encontramos e que
impedem de nos abrirmos à formação contínua numa forma mais permanente?
Como podemos ajudar a nossa Circunscrição e as nossas comunidades de pertença a
valorizar a Formação Contínua?
Quais propostas-orientações posso levar para casa do Curso a que participei? Como
penso de continuar esta formação?
“…Padres assim não se improvisam: forja-os o precioso trabalho formativo do
Seminário e a Ordenação consagra-os homens de Deus para sempre e servidores do seu
povo. Mas pode acontecer que o tempo torne morna a generosa dedicação dos inícios e,
então, é coser em vão remendos novos num vestido velho: a identidade do presbítero,
próprio porque vem do alto, exige dele um caminho quotidiano de reapropriação, a
partir daquilo que fez dele um ministro de Jesus Cristo. A formação de que falamos é
uma experiência de discipulado permanente, que aproxima Cristo e permite de
conformar-se sempre mais a Ele. Então ela não tem um termo, porque os sacerdotes
nunca deixam de ser discípulos de Jesus, de O seguir. Em seguida, a formação como
discipulado acompanha toda a vida do ministro ordenado e diz respeito integralmente à
sua pessoa e ao seu ministério. A formação inicial e aquela permanente são dois
momentos de uma única realidade: o caminho do discípulo presbítero, apaixonado pelo
seu Senhor e que persegue constantemente as suas pegadas.”
(conf. Discurso à Plenária da Congregação para o Clero, 3 de outubro de 2014)
Coragem e sempre em frente, in Domino! Boa Formação.
Padre Stefano Camerlengo, IMC
Padre Geral
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Carta da Direção Geral aos Missionários da Ásia
após a visita Canónica
(Agosto de 2015)
(A missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento
que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da
minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir.
Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. (Papa Francisco,
Evangelii Gaudium, 273)
Eis, eu faço novas todas as coisas. (Apocalipse 21, 5))
Caríssimos,
Ao fim da visita canónica, pensamos enviar a todos vós uma única mensagem
que resuma os temas principais e, ao mesmo tempo, indique algumas linhas para o
futuro. À luz do caminho continental que estamos levando por diante no Instituto e
considerando que em menos de um mês visitamos todas as comunidades, falando
com cada um dos missionários do Continente, pensámos e achámos por bem enviar
uma única mensagem a todos vós. De resto, em cada um dos nossos encontros,
contámos-vos as alegrias e dificuldades de cada comunidade do continente, insistindo
no fato de começar a pensar numa ótica de conjunto. De fato queremos aproximarnos da conceção da Ásia como uma única realidade à qual devemos dar uma
definição jurídica.
Em primeiro lugar, nós desejamos agradecer-vos. Pois, efetivamente, sentimonos verdadeiramente como se estivéssemos na nossa própria casa, fomos acolhidos
por irmãos que partilharam connosco e com muito prazer parte da sua própria missão.
As alegrias e as dificuldades de todos entraram na memória do nosso coração e no
arquivo relativo à mesma visita. Unido a um sentimento de agradecimento, enviamos
24
também e esperamos que aceitem as nossas desculpas no caso em que a nossa
presença não tenha satisfeito em cheio as vossas expectativas.
Nestes anos, a Direção Geral procurou acompanhar de perto a vossa missão, em
obediência às diretivas do Capítulo Geral que pedia para se abrir com decisão à Ásia
como uma das opções principais do Instituto nos próximos anos. Tentamos sempre
envolver-vos a todos no processo de avaliação e programação, assim como em todas
as decisões mais importantes que fomos tomando, in primis a abertura da nova
comunidade de Hsinchu, em Taiwan. Nisto tivemos a vantagem do estilo de
assembleia que sempre utilizastes desde os inícios da vossa presença, primeiro na
Coreia, em seguida envolvendo os missionários e as missionárias da Mongólia num
bianual momento formativo de partilha e de renovação espiritual. Hoje, também a
nossa pequena presença taiwanese entrou a fazer parte deste experimentado exercício
de continentalidade.
Como conscientizar o Instituto sobre a realidade asiática e a missão que já
levamos por diante há 27 anos, no continente permanece uma das prioridades, se não
a prioridade absoluta para estes e os próximos anos. Falámos disso em todas as
assembleias que se realizaram durante a visita canónica. Não é fácil intuir como
proceder; sabemos, porém, que alguma coisa tem que ser feita se queremos dar vida
ao desejo do Capítulo de responder à oração/pedido que a igreja nos faz há muito
tempo: ide lá onde a grande maioria das pessoas ainda não ouviu pronunciar o nome
de Cristo.
O pessoal
No mês passado todos juntos pudemos constatar a presença de comunidades
bem motivadas, serenas, operosas. Na Coreia, a recente inserção dos três jovens
missionários está a evoluir bem, lentamente por causa da aprendizagem da língua,
mas com perseverança. As comunidades são interculturais, sinal da riqueza humana
do nosso Instituto de que fazemos dom aos países onde trabalhamos. O valor da
comunidade foi mais uma vez sublinhado em todos os encontros: ser, viver e
trabalhar em conjunto é já por si só uma forma visível de anúncio, mas não só.
Também é um instrumento de ajuda e de apoio para o missionário. Ajuda-o a inserirse gradualmente num contexto completamente diferente daquele do qual provém ou
no qual trabalhou anteriormente, apoia-o nos momentos de aridez ou de dificuldade.
Eis os motivos porque queremos potenciar o mais rapidamente possível a nossa
comunidade de Taiwan, hoje reduzida a dois missionários, enviando para lá mais dois
confrades que começam a estudar a língua chinesa.
Um discurso à parte merece-o a Mongólia. Hoje como ontem (esperando numa
mudança mais positiva para o futuro próximo) a dificuldade em conseguir o VISA na
Prefeitura de Ulaan Baatar cria grandes problemas de gestão, tanto a nós como aos
outros Institutos religiosos presentes no território. Com a Direção Geral das
Missionárias da Consolata pedimos ao Bispo para nos dar qualquer garantia a mais
25
para conseguir formar pelo menos duas comunidades com um número de
missionários que possa satisfazer as exigências de ambos os Institutos. Infelizmente a
situação não permite ao Bispo satisfazer esta nossa exigência e assim nós próprios
decidimos mexer-nos por outras vias, interpelando o Núncio Apostólico, Propaganda
Fide e a Secretaria de Estado, para tentar perceber se num futuro próximo se poderão
abrir algumas oportunidades a mais e enviar assim algum confrade. Estamos muito
gratos a ambos os missionários que, não obstante as dificuldades, levam por diante
com coragem e determinação a sua missão, qualificando a presença do Instituto na
Mongólia com um trabalho criativo e de responsabilidade.
A missão
Se bem que com um número insignificante de missionários presentes no
continente, o Instituto leva para a frente na Ásia uma missão muito variada, que nos
põe características e problemáticas próprias de cada lugar no qual nos encontramos
hoje a trabalhar. Na Coreia os esforços estão voltados para a animação missionária da
igreja local, ao diálogo inter-religioso e à pastoral de consolação, voltada
prevalentemente para os trabalhadores migrantes. Apreciamos os esforços feitos
nestes anos para nos fazermos conhecer numa igreja estruturada e organizada, que
ganhou credibilidade e respeito interno do país, mas que é tradicionalmente relutante
em conceder espaços a forças missionárias e a institutos religiosos que chegam de
fora. O regresso à própria pátria de padre Han Pedro permitiu-nos a possibilidade de
tomar em consideração outros possíveis e interessantes campos de ação, não o último
daquela pastoral dos prófugos norte-coreanos. Pedimos ainda e mais uma vez aos
nossos confrades que trabalham na Coreia para colocarem todo o empenho possível
na animação vocacional. A experiência dos missionários coreanos que já fazem parte
do Instituto encoraja-nos a prosseguir nesta atividade que é vital para a continuação
da missão IMC na Ásia. Hoje, o tempo da promoção vocacional não é tão favorável
como o de outrora, mas pedimos-vos que insistam a fim que, se for a vontade do
Senhor, possamos dar as boas-vindas a mais missionários provenientes da Coreia ao
nosso Instituto.
Na Mongólia ambos os missionários trabalham, se bem que em contextos
diferentes, numa missão de primeira evangelização. Os serviços desenvolvidos junto
da prefeitura apostólica de Ulaan Baatar e a paróquia de Arvaiheer são prestados por
uma igreja jovem, aos primeiros passos, que qualifica de maneira determinante a
nossa missão à luz do nosso carisma. Perspetivas interessantes para a missão futura
são representadas pela possível inserção na cidadezinha de Kharkhorin, ex capital do
Império mongol, com um projeto cultural e de diálogo inter-religioso e da
propriedade que comprámos em Ulaan Baatar na aldeia periférica de Chinguiltey.
Em Taiwan, a missão é, por agora em grande parte, limitada ao estudo da língua
chinesa. Os contactos de animação missionária empreendidos com um grupo de
jovens universitários de Hsinchu e o apoio litúrgico dado à pastoral dos migrantes de
26
língua inglesa criam boas esperanças para um futuro próximo de plena atividade
missionária.
A formação
Uma das inquietações que partilhamos com todos vós durante estes dias é
relativa ao tema da formação. Como fazer de maneira que nos possamos preparar
adequadamente para a missão neste Continente? A pergunta acompanha-nos há muito
tempo. O longo período de inserção devido ao estudo da língua, o facto de trabalhar
em países onde se falam idiomas diferentes e de difícil aprendizagem, não só mas
também a impossibilidade de estudar teologia em inglês nos países onde estamos
atualmente presentes, aconselhou-nos até agora abrir comunidades formativas para o
estudo contextualizado da teologia. Sentimos ao mesmo tempo, que a missão na Ásia
tem características particulares às quais os outros centros formativos do Instituto
respondem somente em parte. Que critérios adotar para melhorar a abordagem dos
nossos futuros missionários à evangelização do continente Ásia? Se calhar um dos
caminhos, já o dissemos, poderia prever a rotação de algum missionário atualmente
presente na Ásia e o seu consequente empenho na formação. Mais que as revistas e os
dossiês, conta muito o testemunho direto e a vontade de se identificar com um tipo
particular de missão. Com certeza que este é um dos pontos sobre os quais se deverão
concentrar quer seja o Projeto missionário continental como aquele do Instituto.
A economia
Até agora, a providência ofereceu-nos amigos e benfeitores que suportaram a
nossa missão no Continente. Na Coreia, um grupo de leigos apoiou-se a nós para a
formação missionária e o acompanhamento espiritual, suportando-nos nas nossas
necessidades e do Instituto. Também variados projetos de cooperação internacional
foram financiados por estes nossos amigos. Graças a estas ajudas e a uma gestão
escrupulosa dos nossos recursos, hoje a Coreia é também capaz de prover às despesas
extraordinárias da nossa comunidade de Taiwan. Esta última iniciou uma presença de
baixo custo, na qual a diocese de Hsinchu participa com generosidade nas despesas
de mantimento e estudo. Porém, é fácil prever que aumentando o número do pessoal
será necessário ter um fundo capaz de garantir a cobertura das despesas da
comunidade. A nossa missão na Mongólia, graças a Deus, conta com a ajuda de
numerosos benfeitores ocidentais que até agora lhe garantiram uma gestão tranquila.
Porém, a visita canónica quis instilar também na Ásia a preocupação de fundo
que vem do Capítulo Geral dirigida a todo o Instituto, chamado a uma missão o mais
sustentável possível em todas as suas presenças. Não é difícil prever que os
benfeitores envelhecerão e, tanto no Ocidente como no Oriente, não é dito que as
novas gerações sejam capazes de contribuir de maneira assim tão generosa como
aquelas que as antecederam. Por conseguinte é importante parar e refletir sobre como
responder antecipadamente a possíveis momentos de maiores dificuldades
económicas que nos podem esperar no futuro próximo. Não é desconfiar da divina
27
providência, o facto de planificarmos com um discernimento sério e profundo os anos
que temos pela frente, sobretudo se o Instituto for, segundo as indicações capitulares,
com maior decisão ao encontro da Ásia.
Começar a explorar possíveis formas de investimento e de autofinanciamento, é
o nosso dever. Sobretudo a Coreia poderia extrair benefício revendo os termos de
colaboração com as Dioceses nas quais nos encontramos e onde a quase totalidade
dos serviços e das colaborações é oferecida a título gratuito. Também um maior
envolvimento dos leigos benfeitores nas atividades de animação missionária poderia
produzir frutos, dando-lhes, para além da formação, também maior visibilidade.
As perspetivas futuras
Nova estrutura de governo
Dever da visita canónica foi também aquele de apresentar o documento da
Direção Geral sobre revitalização e reestruturação. Em princípio pareceu-nos que
encontramos interesse tanto sobre o discurso de renovação espiritual, orientado a
reencontrar entusiasmo e zelo missionário, quanto nos percursos de reorganização
estrutural que o Instituto prevê implementar nos próximos meses. As nossas
comunidades da Ásia contam/narram uma missão particular, feita de silêncio,
embebida de espiritualidade, baseada na sobriedade, muitas vezes submetida à
insignificância, ao sentir-se uma minoria que ninguém escuta. Fazer nascer a missão a
partir de dentro, no espírito do continente, poderia ajudar a tornar mais concreta a
investigação do Instituto neste sentido. O convite que fizemos é aquele de poder
estudar as modalidades de confirmar uma Região Ásia que, em base às experiências
de comunhão já em ato, seja capaz de ter uma sua originalidade de pensamento,
maior coordenação entre as presenças, mais responsabilidade em promover tanto ad
intra (no Instituto) como ad extra a própria missão e possa por fim ter maior
representação na sede do Capítulo.
Potenciamento da comunidade de Taiwan
Na esperança de poder resolver os problemas burocráticos que nos impedem de
aumentar a nossa presença na Mongólia, desejamos dar maior consistência à
Comunidade de Taiwan, hoje infelizmente formada, após brevíssimo tempo, somente
por dois missionários. De acordo com o Bispo que nos hospeda considerámos
oportuno destinar outros dois jovens que, com os três recentemente enviados para a
Coreia, representam um investimento de pessoal voltado para o futuro.
Estágio missionário
Sempre nesta perspetiva, o último Conselho autorizou uma experiência de
estágio missionário na Ásia de um dos nossos jovens confrades proveniente do
seminário de S. Paulo (Brasil).
Visitas e novas aberturas
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Acreditamos que a melhor estratégia para aumentar a sensibilização do Instituto
às temáticas asiáticas seja aquela de tornar o Instituto presente, enviando
missionários, fazendo a missão. Todavia, neste preciso momento histórico, pensamos
que é necessário consolidar as presenças que temos e não efetuar novas aberturas
antes do próximo Capítulo Geral. Ao mesmo tempo não podemos abster-nos de
continuar a procurar com constância novas saídas para a nossa missão no continente.
Algumas indicações que emergiram no ano passado durante a Assembleia Asiática
que se realizou em Arvaiheer (Mongólia) e corroboradas posteriormente durante a
visita canónica, ajudar-nos-ão no discernimento:
Não perder a finalidade ad gentes e de primeira evangelização.
Ao mesmo tempo, explorar destinações que possam ter alguma saída
vocacional;
Inspiraram-se também a estes critérios visitas que efetuamos noutros países do
mesmo Continente. Precisamente, no fim da visita canónica os padres Pedro Louro e
Marcos Coelho, da Coreia, foram a Timor Leste, para uma visita com objetivos bem
definidos, que aproximasse o Instituto à realidade do Arquipélago da Indonésia. O
Padre Ernesto Viscardi, já protagonista o ano passado de uma visita ao Camboja,
acabou de terminar uma outra exploração por conta da Direção Geral em Myanmar. A
divulgação destes relatórios poderá ajudar o discernimento do Continente antes e
durante a Assembleia pré-capitular, em programa na Coreia desde o dia 10 até ao dia
12 de outubro de 2016.
Comunhão e colaboração com as irmãs
Em sede de visita canónica falou-se também da relação de comunhão e
colaboração com as irmãs. Na Mongólia a visita foi feita em conjunto, assim como as
decisões que deveriam levar, assim se espera, a um envio de mais pessoal, seja
masculino e feminino, no país. Pelo contrário, no que diz respeito a outros passos a
dar conjuntamente no continente, o discernimento conjunto dos próximos Capítulos
Gerais indicará o caminho a seguir no futuro.
Conclusão
Caros confrades, temos à nossa frente um tempo especial, para dedicar à
renovação das nossas vidas. A redação desta carta coincide de fato com o período de
Advento, espera febril da novidade do Evangelho que se faz carne na pessoa de Jesus.
À importância de abrir-se à novidade, se bem vos lembrais, tínhamos dedicado a
nossa primeira mensagem dirigida aos missionários da Ásia e a todo o Instituto:
“Vinho novo em odres novos”. Era uma mensagem que retomava e ampliava, à luz de
uma realidade que também nós como direção Geral estávamos a descobrir muito
lentamente, o mandato do Capítulo Geral que pedia ao Instituto para ter um olhar
particular para a Ásia. Hoje, viajando para mais um encontro capitular, queremos
partilhar convosco o mesmo espírito de então. Todos os dias nos é pedindo um
exercício de abertura à interculturalidade, de ductilidade na aplicação dos nossos
29
projetos, de análise séria e profunda daquela que é a nossa vida religiosa e
missionária na realização do Projeto comunitário missionário, mas também da
realidade na qual vivemos.
Esta abertura pressupõe um estudo sério, feito de aplicação (em primeiro lugar
no estudo da língua), mas também de simpatia para com as culturas e tradições que
na maior parte dos casos têm raízes milenárias, bem mais antigas do que as nossas.
Dizemo-lo em particular àqueles que se aproximaram há pouco tempo a este
Continente. Sois vós que tendes o amanhã da nossa presença na Ásia nas próprias
mãos, vós sois missão, como nos lembra o papa Francisco no Evangelii Gaudium e
de vós dependerá amanhã a fertilidade do encontro entre este imenso continente e o
nosso pequeno Instituto. Entregai-vos com paixão, procurando compreender e
conhecer porque só se for conhecida em profundidade uma determinada realidade é
que a mesmo poderá ser verdadeiramente amada.
Pe. Stefano Camerlengo
Pe. Dietrich Pendawazima
Pe. Ugo Pozzoli
Pe. Salvador Medina
Pe. Marco Marini
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ACTOS DA DIRECÇÃO GERAL
A – Admissões ao Sacerdócio
Admitidos pela Delegação da Costa do Marfim:
Ndirangu Diac Raphael Njoroge
Odunga Diac Jean Baptist Ominde
B – Admissões à Profissão Perpétua
e à Ordem do Diaconato
Admitido pela Delegação da África do Sul:
Kaney Std Obadia Paraboy Ole Kaney
Muriithi Std Peterson Mwangi
Admitido pela Região Brasil:
Auma Std Paul Okoth
Mbeyela Std Heradius Germanus
Ochieng Std Gabriel Oloo
Oiye Std Joseph Onyango
Admitidos pela Região Itália:
Balayangaki Std Danstan Mushobolozi
Menya Std Geoffrey Omondi
Musyoka Std Gregory Nzau
Admitidos pela Região do Quénia:
De Brito Std Luiz Antonio
Kaibe Std Wilfred Gikondi
Kariuki Fratel John Gachoki
Odhiambo Std Stephen Alfred Otieno
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C – Destinações
Destinação dos Noviços de Martín Coronado, Argentina
A Direção Geral destinou os 5 noviços do Noviciado de Martin Coronado, Argentina às
Comunidades Apostólicas Formativas de Cacém e de Cali como a seguir elencado:
NOME
PAÍS DE
ORIGEM
Baseggio Nov Leandro Augusto
Erazo Giraldo Nov Carlos Andrés
Cândido Pereira Nov Sandrio
Hernandez Martinez Nov Oscar Mauricio
Pelaez Epitacio Nov Elmer
DESTINAÇÃO
Brasil
Colômbia
Brasil
Colômbia
México
CAF do Cacém - Portugal
CAF do Cacém - Portugal
CAF de Cali - Colômbia
CAF de Cali - Colômbia
CAF de Cali - Colômbia
Destinação de Estudantes
Estudante
Residência
Ong'era Std Geoffrey Boriga
Brasil (seminário)
Restrepo Eusse Std. Luis Andrés Quénia (Seminário)
Destinação
Coreia (Estágio de dois anos)
Colômbia (Seminário)
Primeira Destinação dos Diáconos admitidos ao Sacerdócio
Diácono
Ndirangu Diac Raphael Njoroge
Odunga Diac Jean Baptist Ominde
Residência
Costa do Marfim
(estudos)
Costa do Marfim
(estudos)
Destinação
Costa do Marfim
Costa do Marfim
Destinação dos Diáconos confiados ao Continente Americano
Missionário
Nyawach Diac. Domnick Otieno
Kasba Nsontien Diac. Bienvenu
Mugeira Diac. Joseph
Waiganjo Diac. Patrick Murunga
Residência
Quénia (Seminário)
Itália (Seminário)
Brasil (Seminário)
Brasil (Seminário)
Destinação
Venezuela
Amazónia
Amazónia
DG (Grupo México)
Outras Destinações
Missionário
Residência
Agalo P. Fredrick Oluoch
Moçambique
Aiardi P. Rino
Cobalchini P. Claudio
De França Pinto P. Ronildo
DG (USA)
Brasil
DG (México)
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Destinação
África do Sul – Diretor dos
Professos
Região Itália
Amazónia
Brasil
Kalima P. Cassiano R. J. G.
Kirimi P. Jasper Njuki
Mazzotti P. Giacomo
Murillo Sepulveda Irmão Nelson
Oduor P. Chrtispine Okello
Prinelli P. Felice
Rodrigues da Silva P. Gilberto
Sucato P. Osmar
África do Sul
DG (para a Ásia)
DG (Congo-Isiro)
Colômbia
Quénia
Colômbia
DG (para a Ásia)
Amazónia
Moçambique
DG (Grupo Taiwan)
DG (Casa Geral)
Quénia
Venezuela
Itália
DG (Grupo Taiwan)
Brasil
D – Diretor dos Professos no Cacém, Portugal
I Conselho Geral nomeia Diretor dos Professos na Comunidade Apostólica Formativa do
Cacém, Portugal o confrade Pe. Ermanno Savarino.
E – Diretor dos Professos em Cali, Colômbia
O Conselho Geral nome Diretor dos Professos na Comunidade Apostólica Formativa de
Cali, Colômbia o confrade M'nthaka Pe. Kennedy Kimathi.
F – Novos Encargos nos Grupos Congo-Kinshasa e Congo Isiro
O Superior Geral com a aprovação do seu Conselho nomeou:
- Padre Matthieu Kasinzi Mbuta, como coordenador do grupo Congo-Kinshasa
em substituição do Pe. Symphorien Fumwasendji Kapumba. P. Matthieu será
também o representante do Instituto junto das autoridades eclesiásticas e civis do
país.
- Padre Cyrille Kayembe Asagnion, como pároco da Paróquia de Mater Dei em
substituição de Pe. Antonello Rossi.
- Padre Dieudonné Nesapongo Ambinikosi, como coordenador do grupo CongoIsiro em substituição de P. Flavio Pante.
- Padre David Bambilikpinga-Moke, como administrador do Hospital de Neisu
em substituição do Pe. Richard Larose.
G – Conselhos de Grupo no Congo-Kinshasa e Congo Isiro
O Superior Geral com a aprovação do seu Conselho confirmou os membros dos
Conselhos de Grupo que são:
A – Congo-Kinshasa:
Superior: Pe. Matthieu Kasinzi Mbuta
Conselheiros: Pe. Cyrille Kayembe Assagnon e Irmão Benoit Katula Makiong.
B – Congo-Isiro:
Superior: Pe. Dieudonné Nesapongo Ambinikosi
Conselheiros: Pe. David Bambilikpinga-Moke e Pe. Flavio Pante
H – Coordenador, Administrador e Formador no Grupo México
O Superior Geral com a aprovação do seu Conselho nomeou:
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Superior e Coordenador: Pe. Daniel Wolde Sugamo
Administrador e Formador: Pe. Alessandro Conti
I – Criação da Comunidade Formativa em Abidjan, Costa do Marfim
Em resposta ao pedido da Delegação da Costa do Marfim o Conselho Geral cria uma
Comunidade IMC que será sede do Centro de Formação/Seminário Filosófico Beata
Irene Stefani com sede em Cocodi, Extension Agre, Djogorobité 2, Abidjan.
J – Encerramento e criação da Comunidade local - Brasil
O Superior Geral tendo obtido o parecer favorável do seu Conselho aprova a decisão do
Conselho Regional do Brasil de transferir a comunidade local do Seminário Filosófico
de Curitiba da presente sede que se encontra na Rua Nossa Senhora Consolata, 12 a uma
nova sede situada na Rua Ângelo Mazzaroto, 333, CEP 82320-170, Curitiba.
K – Criação da Comunidade em Mamelodi, África do Sul
Em resposta ao pedido da Delegação da África do Sul o Conselho Geral cria uma
comunidade IMC em Mamelodi, St. Peter's Catholic Church, Skhosana-Xaba Drive n.
19543, Mamelodi East.
L – Encerramento da Comunidade de Madadeni – África do Sul
Em resposta ao pedido da Delegação África do Sul o Conselho Geral suprime a
comunidade IMC de Madadeni. A Paróquia é entregue à diocese de Dundee.
M – Exclaustrações
1. Pe. Carlos Escobar Gómez
Com indulto de 09 de julho de 2015 a Santa Sé concede a P. Carlos Escobar Gomez a
exclaustração permanente em vista de uma encardinação definitiva na Arquidiocese
de Londrina, Brasil.
2. Pe. Mario León Parra García
Com decreto de 11 de julho o Superior Geral concede a Pe. Mario León Parra García
o indulto de exclaustração por três anos, afim que possa exercitar o seu ministério
sacerdotal na diocese de Cádiz y Ceuta (Espanha).
3. Pe. Francis Njoroge Gichui
Com decreto de 28 de julho o Superior Geral concede a P. Francis Njoroge Gichui o
indulto de exclaustração por três anos, afim que possa exercitar o seu ministério
sacerdotal na diocese de Botucatu (Brasil).
Este indulto interrompe também a execução do decreto 058/2015 de 31 março com o
qual P. Francis tinha sido destinado à Região do Quénia.
4. Pe. Enrique Antonio Cortés Diaz
Com carta datada 29 de setembro de 2015 a Santa Sé concede a Pe. Enrique Antonio
Cortés Diaz a prorroga do indulto de exclaustração por três anos afim que possa
exercitar o seu ministério sacerdotal na diocese de Almería (Espanha).
34
5. Pe. Gerald Ssuna Kaggwa
Com carta datada 29 de setembro de 2015 a Santa Sé concede a Pe. Gerald Ssuna
Kaggwa a prorroga do indulto de exclaustração por três anos afim que possa exercitar
o seu ministério sacerdotal na diocese de Richmond (USA).
N – Demissões
Pe. Sosimi Atandi Nyakenyanya,
Em data 20 de julho de 2015 o Santo Padre confirmou o Decreto de Demissão do
Instituto nos termos dos cc. 696-700 de P. Sosimi Atandi Nyakenyanya.
Pe. Jacques William Otieno
Em data 18 de agosto de 2015 o Santo Padre confirmou o Decreto de Demissão do
Instituto nos termos dos cc. 696-700 de P. Jacques William Otieno.
O - Dispensa dos Votos e do Diaconado
Com decreto do dia 10 de setembro de 2015 a Santa Sé concede a Salazar, Diac.
Julián Andrés o pedido de dispensa do Diaconado e das obrigações derivantes da
Profissão Religiosa.
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JUBILEUS 2016
PROFISSÃO RELIGIOSA
25° Aniversário
Bonifácio P.Helder António da Rosa
Ishengoma P.Thomas
Kota Mukpekpe. P.Victor
López Buriticá P. Adalberto
Mbae Ir. Severino
Ngaba Ir. Ndala Rombaut
Njuguna Ir. Nahashon
Nkulu P.Nestor Iland'a
Oliveira P. Domingos Francisco Forte
Patiño Gaviria P. Luis Fernando
Pinzón Güiza BIS Joaquín Humberto
Torres P. Casimiro Nuno Oliveira
Tshiani P. Simon Tshimbombo
25/08/1991
06/08/1991
06/08/1991
06/01/1991
06/08/1991
06/08/1991
06/08/1991
06/08/1991
25/08/1991
06/01/1991
06/01/1991
25/08/1991
06/08/1991
50° Aniversário
Abdoo P. Louis
Barbero P. Tommaso
Bernardi Ir. Mario
Bertoni Ir. Pietro
Bignotti P. Andrea
Bonelli P. Carlo
Civalleri P. Giovanni
Dias P. Manuel Henriques
Discepoli P. Francesco
Gritti BIS Carillo
Hager P. Van Allen
Lerma Martínez BIS Francisco
Mariga P. Sabino
Pante BIS Virgilio
Paré P. Jean
Scaccia P. Luciano
Venturini P. Giovanni
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
02/10/1966
16/02/1966
02/10/1966
02/07/1966
02/10/1966
02/10/1966
60° Aniversário
Afonso Ir. José Nunes
Casiraghi P. Giampietro
Crippa P. Giulio
Dalzocchio P. Cornelio
Gavosto P. Emanuele
Gorini P. Giuliano
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
36
Milone P. Bartolomeo
Moratelli P. Vidal
Parodi P. Aldo
Rossi P. Primo Giancarlo
Rota Ir. Paolino Battista
Sottocorna P. Tommaso
Viscardi P. Mario
02/10/1956
02/03/1956
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
02/10/1956
70° Aniversário
Ceschia P. Romano
Fantacci P. Angelo
Gobatti P. Lorenzo
Valli P. Mario
Vettori P. Silvio
Zanotti P. Lodovico
02/10/1946
02/10/1946
02/10/1946
02/10/1946
02/10/1946
02/10/1946
75° Aniversário
Bianchi P. Antonio
02/10/1941
PROFISSÃO PERPÉTUA (só Irmãos)
50° Aniversário
Ferrari Ir. Paolo
02/10/1966
60° Aniversário
Argese Ir. Giuseppe
Gonçalves Ir. António dos Reis
Henriques Ir. Albino
01/11/1956
01/11/1956
27/03/1956
ORDENAÇÃO SACERDOTAL
25° Aniversário
Casadei P. Angelo
Clavijo Serna.P. Oscar Alberto
Kazibwe P. Anthony Kiwanuka
Lima Mendes P. Olivaldo
Rocha P. Fernando Vitorino Moreira
Villa P. Pietro
05/01/1991
27/07/1991
21/09/1991
31/08/1991
21/07/1991
22/06/1991
50° Aniversário
Assunção P. Elísio Ferreira
Baruffi P. Angelo
Bordin P. Bruno
Brualdi P. Claudio
Callegari P. Pio Vittorio
Canzian P. Fiorenzo
17/12/1966
18/12/1966
23/12/1966
18/12/1966
17/12/1966
18/12/1966
37
Ferrari P. Eugenio
Gaiero P. Pierino
Girardi P. Lírio
Giuliani P. Aldo
Guazzotti P. Gian Carlo
Mattei P. Luciano
Mazzucchi P. Orazio
Monteiro da Felícia P. João
Pedenzini P. Egidio
Peyron P. Francesco
Pizzaia P. Angelo
Prado P. Adriano
Ravera P. Dario Sante
Trabucco P. Pietro
Viada P. Ettore
Zamuner P. Lino Angelo
Zucchetti P Luciano Felice
17/12/1966
17/12/1966
7/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
23/12/1966
17/12/1966
18/12/1966
17/12/1966
17/12/1966
19/12/1966
17/12/1966
75° Aniversário
Demichelis P. Giovanni Battista
29/06/1941
38
QUI NOS PRAECESSERUNT
IRMÃO FRANCESCO GUGLIELMETTI MUGION
(1930-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
15-09-1930: nasceu em Cirié (Turim)
1936- 1941: frequentou a escola primária em Cirié
1942- 1945: frequentou o instituto comercial "Tommaso D'Oria" em Cirié
1946- 1950: trabalhou como operário em Cirié
1951- 1952: cumpriu o serviço militar em Turim
1953- 1959: estudante e trabalhador na estação ferroviária de Cirié
1960- 1963: frequentou o seminário de Giaveno e Rivoli
1964- 1973: foi empregado de escritório na empresa SAIAG de Cirié
1974- 0000: fez o Postulantado em Rosignano Monferrato
14-09-1975: fez a Profissão temporária na Certosa de Pesio
1976- 1978: foi administrador na Certosa de Pesio
14-09-1978: fez a Profissão perpétua em Cirié
1979- 1988: trabalhou no grande armazém de Alpignano e Turim
1989- 1990: foi contabilista no escritório Administrativo Geral em Roma
1991- 1992: foi ajudante na enfermaria de Alpignano
1993- 2007: fez a contabilidade na Casa de Alpignano
2008- 2015: foi hóspede na enfermaria de Alpignano
27-06-2015: faleceu em Alpignano
30-06-2015: foi sepultado no cemitério de Ciré
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Missionário prestável, bom e de muita oração
O Irmão Guglielmetti entrou no Instituto já com quarenta e quatro anos de
idade. Quando o seu próprio pároco o apresentou ao Superior Regional da Itália,
descrevia-o assim: "Conheço o Sr. Franco (N.d.T. Franco é uma abreviatura de
Francesco) Guglielmetti há 18 anos; acompanhei de perto o percurso de todos os seus
estudos, do seu trabalho e da sua vida conjugal. Mas conheci-o ainda melhor, porque
esteve aqui em casa comigo nestes últimos dez meses.
Fui o seu diretor espiritual e posso responder pela sua reta intenção em querer
abraçar a vida religiosa, tendo toda a boa vontade de uma obediência pronta, de uma
pureza vivida e de uma pobreza que aceitou de boamente. Portanto, penso que deva
ser admitido, na certeza de que a vida religiosa será para ele de grande ajuda no
caminho de aperfeiçoamento espiritual e moral e para o bem dos Irmãos aos quais a
obediência o enviará. Em fé. Pe. Pietro Orsello - Pievano de S. Giovanni em Cirié"
(Cirié, 24 maio de 1974).
O Irmão Franco Guglielmetti Mugion nasceu em Ciriè (TO) no dia 15 de
setembro de 1930 numa família de agricultores. Tinha três irmãs. Ele era o único
filho rapaz. A seguir à escola primária começou a frequentar o Instituto Comercial de
Cirié, até 1945. Tinha terminado a guerra, começa a procurar emprego e não o
encontra. Alterna-se na ajuda ao tio no trabalho do campo e na pequena empresa
familiar. Inscreve-se na Ação Católica.
Em 1948 encontra finalmente um emprego na tinturaria Casalegno de Ciriè. Nos
anos 51-52 cumpre o serviço militar em Turim e frequenta os Padres Jesuítas através
dos Exercícios Espirituais.
Em 1954 conheceu o Pe. Davide Condotta, missionário da Consolata, com quem
começa a dialogar sobre o seu futuro e do próprio desejo de se consagrar ao Senhor.
Visita a Casa Mãe, passa as férias em Varallo Sesia e em Rosignano Monferrato onde
era superior o Pe. Redighieri. Da parte deste último recebe a luz verde para iniciar um
caminho vocacional missionário. Porém, a família não vê essa decisão com bons
olhos e opõe-se com determinação sobretudo pelo fato de ele ser o único filho rapaz
na família. Desiste e encontra trabalho na estação dos comboios. Porém, ele continua
a sonhar sempre com a vocação de uma consagração ao Senhor. Vendo o seu
persistente desejo de se tornar sacerdote, a família dá o próprio consentimento e o
Pároco encaminha-o para o seminário menor da própria diocese. Estamos em 1960 e
Franco já tem 30 anos de idade. Porém, não o aceitam no Seminário de Rivoli pelo
fato de não ter estudado latim. Começa a estudá-lo em particular e no ano seguinte foi
aceite no seminário de Rivoli e aí fez a vestidura.
Os estudos exigem dele demasiado esforço o que lhe comprometeu a própria
saúde. Os médicos aconselham-no então a desistir dos estudos, pelo menos por um
período de tempo. Encontra um novo trabalho e em 1964 conhece Piera, uma rapariga
com 30 anos de idade. Dão-se bem, estão bem juntos e assim decidem pelo
matrimónio. Após um breve período de namoro, casam-se em 1964. O matrimónio é
feliz, porém não têm filhos, então pensam e decidem começar um processo para uma
adoção. Mas de repente a esposa adoece de cancro e ele fica viúvo em 1973.
Franco lê tal acontecimento como um “desígnio de Deus” e retoma o diálogo de
discernimento com o Pe. Condotta, que já se encontra em Turim, após vários anos
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vividos nas missões do Quénia. Reza, dialoga e depois de uma convivência em
comunidade, faz o pedido para entrar no Instituto. Obtém um parecer favorável da
parte do Conselho Regional, para iniciar assim o seu caminho e vir a ser Irmão
missionário. Encontrámo-lo na Certosa a frequentar o noviciado em 1974, foi
admitido à profissão religiosa no ano seguinte, e no dia 15 de setembro de 1978 fez a
profissão perpétua.
O prosseguimento da sua vida como missionário da Consolata é bastante
simples. O seu serviço missionário no Instituto foi sobretudo no âmbito da
administração. Durante um ano na Certosa, dois anos em Alpignano na comunidade
dos Irmãos, sete anos no grande armazém de Alpignano, dois em Roma
desempenhando a função de secretário do Ecónomo Geral. Regressa a Alpignano
onde permanece até ao fim da sua vida terrena: como ajudante na enfermaria, fazendo
contabilidade, como membro da comunidade dos idosos por causa do progressivo
agravar-se da sua doença.
Pensando na sua pessoa, quem foi o Irmão Franco para nós seus confrades que o
conhecemos, sinto poder defini-lo em três palavras.
Serviço
O Irmão Franco era uma pessoa disponível. Consciente dos seus limites de idade
quando entrou no Instituto, o Irmão Franco descobriu imediatamente que a sua
função no Instituto e o seu contributo à missão seria no serviço humilde, quotidiano,
constante e regular à comunidade em que se encontrava e nas tarefas que lhe fossem
confiadas, trabalhar sobretudo no âmbito administrativo.
Soube encarnar o espírito do Pe. Fundador que tinha assimilado bem, aprendido
a amar muitos anos antes de sua entrada no Instituto, procurando tornar-se útil aos
outros de todas as maneiras possíveis. A sua pessoa e os seus gostos vinham em
segundo lugar. Lembro-me bem dele, nos dois anos que vivemos juntos em Roma:
sempre pontual e atento, primoroso e gentil, incapaz de dizer “não” a quem quer que
lhe pedisse alguma coisa. Receoso de não exprimir ao máximo o seu serviço
missionário, aproveitava o tempo livre das horas de escritório para ir visitar e ajudar
os doentes do Cottolengo.
Bondade
O sorriso, a gentileza, a paciência eram traços característicos que tornavam a sua
bondade natural ainda mais preciosa. Não é que tudo lhe andasse sempre ao seu génio
ou lhe resultasse sempre fácil: às vezes sofria devido às dificuldades no seu trabalho,
de contrariedades na vida comunitária. Preferia esconder as suas cruzes, ou melhor
ainda, carregava-as com delicadeza quase como se fossem de pouco peso. Mesmo as
dificuldades de saúde nunca abatiam o seu sorriso e a sua dedicação aos outros.
Nos últimos anos da sua vida, quando a saúde se deteriorava fazia para si
mesmo um propósito, que era oferecer os seus sofrimentos pelo Instituto e pela
missão, por acontecimentos eclesiais, por pessoas em crise… tinha a certeza de que a
sua vida e o seu sofrimento físico eram moedas preciosas, se fossem oferecidos a
Deus com fé.
41
Piedade
Por piedade entendo referir-me à vida de oração, ao espírito de fé simples e
profundo, o fato de procurar viver tudo sem nunca esquecer a orientação
sobrenatural. Assim, o Irmão Franco soube encarnar aquele espírito de fé que o Beato
Allamano pretendia de cada um de nós missionários, quando dizia: “Um missionário
ou uma missionária que não tenha uma fé simples e íntegra, para encontrar ao
anoitecer a sua consolação aos pés de Jesus Sacramentado, o que é que fará? Quando
não existe esta fé humilde, simples e íntegra, não existe nada” (CVV 89).
Amava a Palavra de Deus, esforçando-se por fazer de maneira que a mesma se
tornasse vida e tentando ao mesmo tempo partilhá-la com os demais. Jesus Eucaristia,
devoção à Consolata e meditação, sempre foram o alimento quotidiano da sua
“piedade”. Bagagem, que com o passar dos anos, se foi enriquecendo com a cruz da
saúde.
Agra, o nosso Irmão Franco, alcançou a plenitude daquele ideal de vida e de
consagração que sempre o acompanharam durante a vida e o sustentaram nos
momentos difíceis da doença: Deus e a sua vontade, o amor a todos, com aquele
comportamento que o Papa Francisco chamaria “ternura”. Temos a certeza que lá do
Céu continua ao nosso lado e a interceder por nós.
Pe. Pietro Trabucco, IMC
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PADRE PAUL STEFANOWICH
(1927-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
14-07-1927: nasceu em Wibaux - Montana (USA)
1933- 1940: frequentou a escola primária em Wibaux
1941- 1945: frequentou o ciclo preparatório em Wibaux e Long Beach
1962- 1965: frequentou o liceu no Seminary - Cromwell
1966- 1968: estudou filosofia na Universidade Católica de Washington
08-09-1967: fez a Profissão temporária em Buffalo
08-11-1970: fez a Profissão perpétua em Somerset
1969- 1972: estudou teologia em Somerset
03-06-1972: foi ordenado sacerdote
1973- 1974: foi diretor do seminário em Somerset
1975- 1981: foi superior e animador missionário em Milford CT.
1982- 1983: foi superior em Pittsburgh PA.
1984- 1999: foi ecónomo e promotor vocacional em Somerset
2000- 2002: fez animação missionária em Buffalo
2003- 2015: fez pastoral em Somerset
24-07-2015: faleceu em New Brunswick, N.J.
29-07-2015: foi sepultado no cemitério de S. Pedro e Paulo em Williamsville, N.Y.
Pastor bom e fiel
O Padre Paul nasceu em Wibaux, Montana, no dia 14 de julho de 1927. Os
pais, de origem polaca, eram Clementine e Jerry Stefanowich. Cresce na Montana,
terra que Paul nunca mais esqueceu e que marcou profundamente a sua atividade e as
suas relações humanas. Permaneceu naquela região antes de se transferir para a
Califórnia até à idade de 17 anos, para frequentar o último ano do liceu na Saint
Anthony High School de Long Beach, Ca. Depois do liceu, cumpriu o serviço militar
na United States Air Force. Eram os primeiros anos após a segunda guerra mundial.
Como membro da aviação, deslocou-se até à França e à Alemanha. Trazia à memória
com admiração, a tenacidade e a capacidade dos alemães para reconstruir o próprio
país dos escombros dos bombardeamentos. Depois de ter servido o Estado com
fidelidade durante quatro anos, foi dispensado com o grau de Sergeant Staff.
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Foi membro dos veteranos de guerra católicos dos Estados Unidos da América.
Ligado às suas raízes familiares, após o serviço militar padre Paul foi trabalhar como
guardador de ovelhas e bois, ou seja guardador de rebanhos no Wyoming. Ficou
durante muitos anos na fazenda do irmão, Joseph. Desenvolvia assim tão bem esta
profissão, que acabou por merecer o título de cowboy. Era um pastor perfeito:
dedicava-se totalmente à guarda do rebanho, chamava as ovelhas por nome, vivia
uma vida simples, enfrentou corajosamente neve, gelo, chuva, tempestades, secas e o
calor do verão.
Uma vida muito dura.
Com esta experiência amadureceu a decisão de se tornar Missionário da
Consolata. Frequentou o Holy Apostles College em Cromwell, Connecticut. A seguir
matriculou-se na Universidade Católica de Washington, DC onde concluiu o
bacharelado em filosofia.
Paul fez a profissão perpétua no dia 8 de janeiro de 1970 em Somerset, NJ. Foi
ordenado sacerdote no dia 3 de junho de 1972 na paróquia de S. Agostinho de
Canterbury em Kendall Park, NJ.
Nos relatórios para a admissão à profissão e à Ordenação, os formadores
descrevem Paul como uma pessoa honesta consigo mesma e com os outros. Decidido
a tornar-se padre e religioso. Dizem expressamente: "Entre todos os nossos
estudantes, Paul é aquele que sente mais profundamente o orgulho de ser membro do
Instituto que ama grandemente. Desenvolveu uma vida espiritual profunda. O que lhe
servirá de ajuda e conforto, ou seja de suporte nas dificuldades da sua vida futura.
Vive profundamente a sua união com Deus e tem uma especial devoção a S. José. No
que diz respeito à sua vida religiosa, Paul é um modelo para os confrades. Tem uma
certa maturidade intelectual e é determinado no estudo porque quer ser padre
missionário. Para Paul o trabalho é um valor religioso e um ideal. No trabalho
encontra satisfação e alegria; com o trabalho a sua vida corre sem sobressaltos, plana,
sem trabalho torna-se mais nervoso; com o trabalho mesmo a sua vida espiritual
parece mais fácil. No futuro poderá harmonizar a atividade pastoral com o trabalho
material".
Tornou-se sacerdote com quarenta e quatro anos e realizou o seu ministério
missionário sempre na sua pátria. Durante os seus anos de generoso serviço
sacerdotal e missionário, padre Paul residiu nas comunidades IMC de Milford, CT,
desde 1974 até 1975 e desde 1977 até 1982 respetivamente; naquela de Buffalo, NY,
em 1976 e depois desde 1995 até 2001; em Pittsburgh, PA, desde 1982 até 1983; e a
Somerset, NJ, desde 1984 até 1994 e depois desde 2002 até à sua morte. Serviu as
comunidades como Superior e como Administrador Regional. Como sacerdote
missionário, Padre Paul teve também a oportunidade de visitar algumas das nossas
missões no Quénia durante dois meses juntamente com o seu companheiro de
Seminário p. John Reuther. Recordava aquela visita às missões como uma graça
especial do Senhor e ficava admirado pelo grande trabalho desenvolvido pelos nossos
Missionários naquele País.
Além disso ele exerceu o ministério de capelão dos Cavaleiros de Colombo
(Mons. O'Grady - Council Number 664)
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Mesmo nos anos da idade avançada, continuou a difundir a alegria de Cristo
Ressuscitado celebrando no Missionary Center e nas Paróquias locais. Padre Paul era
dotado de um maravilhoso sentido de humor e de uma extraordinária capacidade de
confortar as pessoas, especialmente através das suas homílias, muito bem preparadas
e atentamente seguidas pelos ouvintes, e o sacramento da reconciliação.
Estava sempre disponível para ouvir a confissão de todos, sacerdotes e leigos
que se dirigiam a ele e a qualquer hora do dia.
Pe. Stefanowich apagou-se na sexta-feira, 24 de julho de 2015, no Saint Peter's
University Hospital em New Brunswick, N.J.
Padre Paul era o mais jovem dos oito filhos de Clementine e Jerry. Antes dele
tinham falecido os seus irmãos: Peter e Joseph; e as suas irmãs: Mary, Rose, Victoria
e Gertrude. Deixou uma irmã, Florence Johnson que mora em Seal Beach, CA.
O Funeral ocorreu no dia 29 de julho de 2015 na igreja paroquial de Santo
Agostinho de Canterbury, em Kendall Park, onde padre Stefanowich tinha sido
ordenado padre 41 anos antes. Agora repousa no cemitério de S. Pedro e Paulo em
Williamsville, NY, onde estão também sepultados os confrades: Pe. Giuseppe Prina,
Pe. Giuseppe Moncher, Pe. Charles Fogarty, Irmão Mario Petrino, Pe. Roberto
Viscardi, Pe. George Hickey, e Pe. Robert Rezac.
Os vários testemunhos que nos chegaram são concordes em recordar os
diferentes aspetos da vida de Pe. Paul: "Nunca perdeu o amor pelo lugar da sua
juventude, a Montana; falava frequentemente da Montana, a sua proximidade à
natureza, a aspereza dos lugares, os amplos espaços abertos e a atmosfera do
cowboy". (Pe. Lenny De Pasquale).
"Pe. Paul possuía verdadeiramente um grande coração, mesmo sem o
exteriorizar. Para o encontrar devia-se ultrapassar uma camada de rudeza e deixar
para trás algumas asperezas à volta das bordas. Mas posta de lado a sua falsa crueza,
uma pessoa encontrava-se perante um homem humilde e generoso que mudou a vida
de muita gente, forjou amizades, traçou um sinal, deixou recordações nos corações,
consolou jovens e idosos, e serviu verdadeiramente e bem o Senhor" (Pe. Michele
Brizio).
"Quando Paul passava à frente da capela dizia: "Saudemos o Chefe". Entrava e
recitava uma breve oração em silêncio, ajoelhando-se. Cada vez que chegava de fora,
abria somente a porta da capela e exclamava: "Obrigado Jesus porque me proteges".
Falava a Jesus como uma criança fala à sua mãe. Rezou sempre o Breviário. Estava
sempre disponível para o sacramento da reconciliação e muita gente procurava Pe.
Paul para receber dele a absolvição. Gostaria de dizer muitas coisas sobre Pe. Paul,
mas sintetizo tudo dizendo somente que como sacerdote missionário da Consolata era
fiel em tudo, ficou muito próximo a Jesus no Santíssimo Sacramento e foi
profundamente devoto e amante de nossa Senhora da Consolata" (Pe. Peter
Ssekajugo).
P. Ernesto, Tomei, imc
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PADRE VILLA GIUSEPPE
(1919-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
22-05-1919: nasceu em Milão
1925- 1930: frequentou a escola primária em Milão
1931- 1941: frequentou o ciclo preparatório e o liceu no seminário da Catedral de
Milão
01-01-1942: fez a Profissão temporária em Caselette (Turim)
18-06-1944: foi Ordenado sacerdote em Rosignano Monferrato
1940- 1944: estudou Teologia em Venegono (Milão) e Rosignano
01-01-1945: fez a Profissão perpétua
1945- 1049: foi Professor e Assistente em Varallo Sesia-Rosignano e Vittorio Veneto
1950- 1957: foi Assistente Oratório em Martina Franca
1958- 1970: foi Animador Miss., Superior e Reitor a Rovereto
1971- 1974: foi Vice Sup. Reg. e Diretor AMV a Turim
1975- 1981: foi Conselheiro Geral e Diretor AVM a Roma
1981- 1987: foi Superior da Região Itália
1988- 1996: foi Superior a Rovereto, Bevera e Alpignano
1997- 2015: foi Ajudante e hóspede da Casa Beato Allamano em Alpignano
31-07-2015: faleceu em Alpignano
04-08-2015: foi sepultado no cemitério de Alpignano
Servidor fiel
"Rev.mo Padre Superior, eu abaixo assinado Villa Giuseppe ouso apresentar a
V.Ex. Rev.ma o pedido de aceitação neste Instituto Missionário, para poder seguir a
vocação ao apostolado entre os infiéis. Dita vocação foi o anseio dos meus anos de
juventude. Nunca o pude levar à prática pela falta de autorização dos meus pais.
Hoje, que a obtive, peço insistentemente para ser aceite. Já fiz os estudos liceais e
este ano frequentei o segundo curso teológico. Realizei os estudos liceais no
seminário da Catedral de Milão, enquanto efetuei os estudos teológicos no seminário
de Milão (Venegono Inferior). Refiro, entretanto, que não recebi ainda qualquer
Ordem sagrada.
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Com a viva esperança que o meu pedido seja aceite, antecipadamente agradeço
e despeço-me de V. Ex.cia Rev.ma, humilde e agradecido Giuseppe Villa" (Milão 31
de agosto de 1940).
Tal carta de pedido de admissão era acompanhada com as informações do
pároco e dos Reitores dos dois seminários, todos concordes em declarar que o Clérigo
Villa era um jovem de conduta exemplar por comportamento, seriedade e espírito de
oração e que o Instituto teria tido um elemento válido para o futuro.
No mês de outubro de 1940 entra no Instituto e após três meses de postulantado
inicia o noviciado, no fim do qual o Mestre o apresenta para a profissão religiosa
como "um elemento que ama o Instituto e que estava interessado em entusiasmar os
seus companheiros do seminário diocesano do qual provinha; de fácil convivência,
adapta-se bem a tudo, não ama o individualismo, é laborioso e astuto, ama o trabalho
manual e sai-lhe bem. Tem uma piedade sentida e vive-a na realidade. Está cheio de
boa vontade, é uma excelente pessoa, que pode atrair outras boas vocações do
seminário de Venegono donde vem. No noviciado portou-se sempre bem e foi fiel a
todas as suas mansões e práticas". Parece uma projeção de quanto acontecerá na vida
de Pe. Villa.
Depois da Ordenação sacerdotal começa a sua atividade como assistente e
professor nas nossas casas apostólicas de Varallo Sesia, Rosignano Monferrato e
Vittorio Veneto. Passa sete anos em Martina Franca como vice-pároco e responsável
pelo Salão paroquial de S. Francisco. Neste período Pe. Villa revela os seus dotes de
educador e animador. O seu entusiasmo e a sua imaginação nas iniciativas criam um
clima de intensa participação e colaboração não só com os jovens do Salão Paroquial,
mas sabe envolver também as respetivas famílias. A sua atividade deixou
verdadeiramente um sinal nas pessoas que, mesmo com a passagem dos anos,
demonstraram sempre gratidão e simpatia por ele.
Depois da experiencia pastoral positiva, para Pe. Villa começa a do serviço ao
interno do Instituto, desempenhando vários encargos de governo a diversos níveis.
Por doze anos desenvolve a sua atividade na casa apostólica de Rovereto como
animador missionário, superior e reitor da escola. Neste período faz o pedido para
que o deixem partir para as missões, mas concedem-lhe somente ir visitar aquelas do
Quénia. Durante a visita, foi dando informações ao Superior Geral; entre outras
coisas escreve: "Depois de ter visitado Nairobi e Meru e ter passado por outras
missões e sobretudo depois de ter assistido à celebração na catedral, sinto-me na
obrigação de lhe exprimir o meu profundo reconhecimento. Convicto que uma coisa é
ouvir falar e outra bem mais importante é ver com os próprios olhos, e surge
espontâneo o sentido de admiração pelos tantos sacrifícios que os missionários fazem
e uma pontinha de sã inveja pela posição que eles ocupam, pois estão na primeira
linha".
A confiança dos confrades exprime-se com a eleição de Pe. Villa como
Conselheiro da Região Itália, com o encargo de Diretor Regional para a animação
missionária e vocacional. Sucessivamente torna-se Vice-Superior Regional.
O Capítulo Geral de 1975 elege-o Conselheiro Geral. Este serviço permite-lhe
visitar as várias Missões e de dar o seu contributo como Diretor Geral da animação
missionária e vocacional.
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Desde 1981 e por seis anos é Superior da Região Itália. Foi um período intenso
de iniciativas e de atividades nos diversos setores; formação, animação, estudo e
atuação das decisões capitulares, administração etc. Mas simultaneamente, na Região,
começam a vir ao de cima problemas de diminuição das vocações, problemas para
reorganização, compromissos e atividades de algumas comunidades, problemas por
casos particulares pessoais de vária natureza. Não existem dúvidas que este tenha
sido um dos períodos mais empenhativos para o Superior Regional.
Nos anos seguintes, desde 1988 até 2000, Pe. Villa é o superior em Rovereto,
depois em Bevera e por fim em Alpignano.
Em ocasião do seu 60° aniversário da Profissão religiosa, o Superior Geral
congratulava-se e felicitava-o pela grande carga de entusiasmo missionário que ainda
trazia no coração e da vontade de fazer o bem, agradeciam-lhe todo o bem difundido
por onde quer que tenha trabalhado. Pe. Villa, respondendo, entre outras coisas
escreveu: "Completei os 60 anos como filho da Consolata. Deo gratias et Mariae. A
tua mensagem-oração acompanhou-me na preparação e celebração jubilar. Com
grande alegria recordo as maravilhas que o Senhor realizou em mim como filho do
Allamano. Agradeci-lhe infinitamente e supliquei-lhe que perdoasse todas as minhas
faltas na sua infinita misericórdia".
No dia 18 de junho de 2014 celebrou o septuagenário da sua Ordenação
sacerdotal. As suas forças iam diminuindo gradualmente, mas ele continuou a
oferecer sempre o seu sofrimento e a oração pelas Missões a que tinha dedicado todas
as suas energias, toda a vida e que tinha intensificado especialmente nos últimos anos
vividos na Casa Beato Allamano em Alpignano.
O Senhor chamou-o a receber o prémio reservado aos servos fiéis no dia 31 de
julho de 2015.
O seu corpo repousa no cemitério de Alpignano.
P. Ernesto Tomei, imc
________________________
TESTEMUNHO
«Pai, quero que onde Eu estiver estejam também comigo aqueles que Tu me
confiaste, para que contemplem a minha glória, a glória que me deste, por me teres
amado antes da criação do mundo.
Eu dei-lhes a conhecer que Tu és e continuarei a dar-te a conhecer, a fim de que
o amor que me tiveste esteja neles e Eu esteja neles também». Jo 17, 24-26).
Esta oração de Jesus ao Pai que acabamos de escutar do Evangelho de S. João,
nós acreditamos que Jesus hoje a pronuncia em favor de Pe. Villa, porque quer que
esteja com ele, porque acreditou que foi enviado ao mundo, e porque quer fazer-lhe
conhecer plenamente o Pai. O Pe. Villa vê Deus assim como Ele é! Esta é a nossa fé e
a nossa oração.
Se o Pe. Villa soubesse que eu diria algumas palavras durante o seu funeral,
certamente que me teria pedido que não falasse dele. Gostaria de seguir este seu
desejo, mas não me posso proibir de louvar e agradecer a Deus pelo dom deste nosso
irmão. Não é possível não falar dele.
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O Pe. Villa viveu a sua vocação missionária de maneira “especial” e “própria”.
Tendo entrado no Instituto jovem e entusiasta para ir para as missões, passou todos os
seus longos anos de vida na Itália. Não foi fácil para ele, mas preferiu dar a
precedência ao projeto de Deus mais do que ao seu. E foi um verdadeiro missionário,
mesmo sem nunca ter ido para a África. Estes longos anos na Itália tiveram
determinadas características: o Pe. Villa foi um missionário “simples” (nunca deu um
passo a mais em frente, para se fazer notar; foram os confrades a notá-lo e a indicá-lo
para determinadas responsabilidades); sempre “disponível” (obedeceu sempre sem se
perguntar o “porquê” de certas destinações); “generoso” (disse tantos “sim” sem o
fazer hesitar).
Hoje, para nós fica a sua recordação e o seu exemplo. Foi uma honra para o
nosso Instituto!
Sim, foi para nós uma honra desde o início do seu sacerdócio, desde 1944 para a
frente, empenhado no ensinamento e na assistência nos nossos seminários com os
rapazes e com os clérigos (Varallo Sesia, Vittorio Veneto, Rosignano Monferrato).
Exatamente naqueles anos, durante a segunda guerra mundial, viveu um momento
forte da sua vida. Em Varallo, quantas noites passadas sem pegar sono para ajudar os
Hebreus a fazer embrulhos e malas para fugir e não serem capturados pelas SS. Foi
um período heroico, porque se expôs seriamente ao perigo, mas nunca se gabou deste
seu heroísmo! Se calhar nem sequer se apercebeu disso, considerado que era uma
virtude que lhe vinha mesmo espontânea.
Os sete anos que passou em Martina Franca (1950-1957), como assistente dos
rapazes, foram inesquecíveis para ele e para toda aquela gente. Ainda hoje as pessoas
daquela zona recordam Pe. Giuseppe. Tinha uma capacidade especial para atrair os
rapazes, mantê-los unidos e educá-los.
Também na animação missionária, com a promoção vocacional, foi uma
atividade na qual se envaidecer, começando em Rovereto (1964-1970). Pode-se dizer
que todas as paróquias do Trentino viram-no transitar.
E depois finalmente em Turim (1970-1975): foi diretor da AMV da Região;
conselheiro regional, Vice-Superior Regional. Trabalhei com ele durante estes anos.
Foi um período não só de colaboração, mas de total entendimento, entre dois
confrades, que se tornaram desde então irmãos e amigos. Era fácil trabalhar com ele,
porque tinha as ideias claras, sabia propô-las, mesmo com tenacidade, mas depois
sabia também integrar-se no projeto comum sem discussões. Desde quando nos
deixamos, ao fim do nosso serviço, ai de nós, se nos esquecíamos de nos darmos os
parabéns pelo nosso onomástico. Ele era sempre o primeiro a pegar na corneta e fazer
com que o telefone tocasse.
O Capítulo de 1975 chamou-o a ser Conselheiro Geral. A brincar dizíamos-lhe:
assim podes visitar as missões que sempre sonhastes desde criança! Durante estes
seis anos não se limitou a visitar só as missões.
Por fim, após o serviço na Direção Geral, ainda mais trabalho e
responsabilidades:
Superior Regional da Itália (então com sede a Bedizzole - 1981-1987), superior
em diversas casas (Rovereto, Bevera, também em Alpignano - 1992-1995), sempre
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com a mesma simplicidade e generosidade. Não se impunha, mas mantinha viva a
comunidade e sobretudo servia e orientava!
Foi neste período que P. Villa viveu um outro momento forte e difícil da sua
vida, quando teve que sofrer a operação à garganta por uma daquelas doenças que
parecem incuráveis. Tinham medo de o perder. Ele mesmo, que conhecia bem a sua
situação, não se iludia. Confidenciou a alguém que se tinha preparado para responder
“sim” se Deus o tivesse chamado. Afortunadamente Deus ainda o deixou entre nós
por muito tempo, até à tardia idade de 96 anos.
Durante o ultimo período nesta casa de Alpignano, ofereceu a colaboração que
as forças lhe permitiam. Tinha-o visitado aproximadamente há um mês atrás. Estava
de cama, todo coberto com os lençóis. Descobrindo-o, disse-lhe que parecia uma
“múmia”. Largou uma gargalhada com gosto. Continuamos a falar disto e daquilo.
Ainda o vi, juntamente com outros confrades, poucas horas antes de morrer. Rezamos
alto e bom som a Avé Maria aos pés da sua cama. Se calhar não nos reconheceu.
Antes de o deixar, ainda me aproximei, chamando-o pelo nome. Os seus olhos
ficaram bem abertos sem dar sinais de atenção. Com a pena no coração, fiz-lhe uma
carícia de irmão que o apreciava muito e que lhe queria tanto bem.
Agora entregamos o seu corpo à mãe terra, mas sabemos que o seu espírito está
com Deus. Certo, a sua partida enche-nos o coração de tristeza, mas também estamos
felizes porque ele alcançou a eternidade.
Tinhas direito, caro P. Villa, a encontrar Jesus, no qual acreditaste durante toda a
tua vida. Tinhas direito que fosse o mesmo Jesus, como prometeu após a Última ceia,
a fazer-te conhecer o Pai. Agora contemplas Deus “assim como Ele é”, já sem os véus
da fé, mas “face a face” Tens sorte! A Santíssima Virgem da Consolata, juntamente
com o nosso Fundador, os nossos confrades e Irmãs te acolham com alegria. A nossa
família no Paraíso continua a crescer. Encontrar-nos-emos lá, onde agora tu vives
feliz.
(Homília do Pe. Francesco Pavese, imc – 04-08-2015).
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PADRE JOSÉ OSCAR AGUILAR
(1972-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
09-11-1972: Nasceu em Concepción - Corrientes (Argentina)
1978- 1986: Frequentou a escola primária n.º 29 - Padre Pio
1989- 1994: Frequentou o ciclo preparatório no Colégio do Bicentenário
1995- 1998: Estudou filosofia no Seminário filosófico de Buenos Aires
02-01-2000: Fez a Profissão temporária em Martin Coronado
20-06-2003: Fez a Profissão perpétua em S. Paulo (Brasil)
2000- 2004: Estudou teologia em S. Paulo (Brasil)
14-02-2004: Foi Ordenado sacerdote em Corrientes
2005- 0000: Fez Pastoral em Caracas (Venezuela)
2006- 2015: Foi Superior e fez pastoral em Carapita (Venezuela)
01-08-2015: Faleceu na Argentina
04-08-2015: Foi Sepultado em Concepción-Corrientes
Sofredor, semeou consolação
Padre Oscar vinha de uma família modesta, composta de pai, mãe e cinco
filhos. Como ele mesmo narra, por complicações durante o seu nascimento,
sobreviveu por milagre, assim como a sua mãe. Depois das escolas primárias, durante
a adolescência viveu muito fora de casa por motivos de estudo e empenhando-se ao
mesmo tempo em ocupações ocasionais: empregado de balcão, padeiro, responsável
por encomendas, trabalhos domésticos, cozinheiro, etc. Este período para ele tinha
sido muito importante porque tinha tido a possibilidade de encontrar muita gente e de
fazer amizade com os jovens da sua idade. Com estes companheiros tinha formado
um Grupo que se reunia para encontros formativos, de oração e iam frequentemente
em peregrinação até ao santuário mariano de Itati. O Grupo empenhado no contexto
paroquial confluiu na Ação Católica. Esta inserção ofereceu-lhes ocasiões de
participar em retiros espirituais onde se meditavam temáticas sobre Jesus Cristo,
sobre Nossa Senhora e sobre a realidade dos jovens como a esperança do futuro. Esta
pertença à Ação Católica também a considerou providencial na escolha da sua
vocação. Foi exatamente durante um dos encontros formativos que lhe calhou pelas
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mãos uma revista dos Missionários da Consolata que falava do Instituto, da atividade
missionária desenvolvida na África, América Latina e Ásia.
Este conhecimento do Instituto suscitava nele um forte desejo de dedicar a sua
vida aos mais pobres a nível material e espiritualmente. Desejo que se tornou numa
decisão de empenhar a sua existência à causa missionária.
Tinha vinte e cinco anos quando iniciou os estudos de filosofia no nosso
seminário filosófico de Buenos Aires. Fez o noviciado em Martin Coronado e no
relatório para a admissão à Profissão religiosa, o Mestre descrevia detalhadamente os
vários aspetos da personalidade de Oscar, a começar pela saúde. Sofria de anemia, a
qual não tinha sido curada corretamente e que depois desencadeou os diabetes.
Estes distúrbios tinham impedido que Oscar desempenhasse as tarefas normais e isto
para ele constituía um grande desgosto.
O mestre continua a referir que Oscar é uma pessoa sensível, humilde e muito
disponível para qualquer serviço, sempre pronto a intervir para satisfazer as
necessidades dos outros; tem muita facilidade em tecer amizades com as pessoas,
gosta de conversar e de se entreter com a gente, especialmente com as pessoas mais
simples.
Era intelectualmente limitado, custava-lhe muito estudar, mas aplicava-se com
seriedade. Preferia servir e executar trabalhos úteis à comunidade. Foi bem acolhido
pelos seus companheiros e com os quais sabia relacionar-se agradavelmente. Sob este
ponto de vista empenhou-se muito e valorizou da melhor maneira este período
particular da sua vida.
Oscar continuou este empenho ao longo dos anos da teologia. Os seus
formadores são concordes em descrever a sua generosidade na assimilação do espírito
do Instituto.
Ao apresentá-lo para o presbiterado, os formadores descrevem-no como uma pessoa
de ótimos sentimentos, atenta e delicada perante as necessidades dos outros. Sofre de
anemia e diabetes, o que o obrigam a uma certa dose de insulina. É consciente das
suas capacidades e dos seus limites. Não dramatiza a sua condição e enfrenta com
serenidade as realidades quotidianas. É muito sociável, sabe criar amizades com as
pessoas simples e faz de tudo para as apresentar aos outros membros da comunidade.
Interessava-se por eles especialmente e quando estivam doentes. Está bem inserido na
comunidade e tem boas relações com todos, aceita bem a diversidade dos outros e é
bem acolhido por eles devido à sua simplicidade e generosidade.
Nas atividades comunitárias, sente-se muito empenhado, realiza-as com
criatividade e bom gosto, para além de ter sempre bem presente o sentido de
responsabilidade. Está aberto às exigências derivantes da internacionalidade, assim
como está sempre pronto ao diálogo.
Vive a sua experiência com Deus na simplicidade, é fiel à oração pessoal e
comunitária, assíduo na vida sacramental. Cultiva muito uma espiritualidade
missionária. Como religioso identificou-se na vida de consagração e respondeu bem
às sugestões e indicações dos seus formadores.
Sobre o plano pastoral Oscar tem bem esclarecido que o dever principal de um
missionário é o anúncio do Evangelho e demonstrou isso na prática durante o período
do diaconato. Possuía grande capacidade para trabalhar entre os pobres. Soube
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inserir-se muito bem nas comunidades cristãs onde trabalhava. Era muito estimado e
apreciado pela gente que ele visitava com frequência no seio das próprias famílias,
que também orientava e animava nas várias celebrações.
Os formadores concluem, afirmando que Oscar percorreu um caminho
formativo grandemente positivo. A experiência religiosa, missionária e ministerial
vivida, demonstrou que o candidato estava bem preparado e isso dava-lhes
tranquilidade para que o apresentassem ao sacerdócio porque com certeza serviria a
Igreja com generosidade.
Nos seus onze anos de sacerdócio, Pe. Oscar serviu verdadeiramente a igreja
venezuelana, primeiro em Caracas, em seguida como superior e pároco da
comunidade de Carapita. Empenhou realmente todos os seus recursos físicos e
espirituais em fazer crescer o povo de Deus que lhe tinha sido confiado.
Proclamou e ofereceu abundantemente a Palavra de Deus, a graça dos
sacramentos, interessou-se constantemente por quem sofria, pelos pobres e pelos
mais necessitados: não obstante as suas muitas precárias condições de saúde que o
atormentaram por toda a vida e especialmente neste último período.
No dia 22 de junho de 2015 reentrou em Buenos Aires onde podia continuar as
diálises, mas os médicos quiseram proceder a uma série de análises e controlos
porque Pe. Oscar estava espantosamente magro. Não obstante este estado das coisas,
em meados do mês de julho quis ir até casa para festejar em família os oitenta anos
do seu pai. Regressado a Buenos Aires retomou o tratamento da diálise. Desmaiou
após a sessão do dia 30 de julho. Foi internado de urgência no hospital, a médica de
turno declarou que a situação era extremamente grave e, de facto, às 12.30 do dia 01
de agosto de 2015, o Pe. Oscar deixou de viver entre nós.
Por vontade do pai idoso e doente e dos outros familiares, o corpo foi
transferido para Concepción, sua cidade natal, para lá celebrar o funeral e a sepultura.
Apenas recebida a notícia da sua morte, o Superior Geral enviou a seguinte
mensagem: "Caríssimos, uno-me a todos vós da Delegação da Venezuela e da Região
Argentina, juntamente com todos os confrades, pela morte do Padre Oscar. Estou na
Coreia, ainda me tenho de habituar ao fuso horário e durante a noite chegou-me esta
triste notícia da morte do Pe. Oscar: por um lado é uma surpresa de como chegou
assim inesperada, e por outro lado um desfecho previsto porque todos conheciam a
sua situação de saúde. Que a vontade de Deus seja feita!
Temos mais um anjo lá no céu que nos protege e acompanha. A todos vós, à
família e a todos os seus amigos, as minhas mais sentidas e solidárias condolências.
Agradecido pelo dom que foi para o nosso Instituto; ensinou-nos que mesmo com o
sofrimento e doente se pode ser missionário e portadores de consolação para os
outros. Obrigado, Oscar, estarás sempre connosco; um saudoso abraço e uma
gargalhada como só tu sabias oferecer. A vós e a todos um saudoso e fraterno abraço
e uma oração. Padre Stefano".
P. Ernesto Tomei, imc
*
**
53
PADRE GIUSEPPE FUSAROLI
(1927-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
28-02-1927: nasceu em Cesena (Forlì)
1933- 1938: frequentou a escola primária em Cesena
1939- 1943: frequentou o ciclo preparatório no seminário de Cesena
1944- 1946: frequentou o liceu no Pont. Seminário Regional de Fano
02-10-1947: fez a profissão temporária na Certosa de Pesio
02-10-1950: fez a profissão perpétua na Certosa de Pesio
1947- 1951: estudou Teologia no Seminário IMC de Turim
29-06-1951: foi ordenado sacerdote em Turim
30-10-1951: fez trabalho pastoral em Florencia-Belèn-Tocaima-Cartagena-Chaguani
(Colômbia)
1995- 1996: fez pastoral em Cavi de Lavagna
1997- 2000: fez animação em Porto S. Giorgio
2001- 2007: fez pastoral em Gambettola
2008- 2015: esteve na Casa Beato Allamano em Alpignano
08-08-2015: faleceu em Cesena
11-08-2015: foi sepultado no cemitério de Cesena
"Sentia o cheiro das ovelhas"
O P. Giuseppe Fusaroli, após ter completado o terceiro ano do liceu no Pontifício
Seminário Regional de Fano, numa carta ao Superior dos Missionários da Consolata de
Turim, escreve: "Vim a Turim, acompanhado do Vice-reitor do meu seminário no dia 15
de julho e expressei-lhe o meu desejo de entrar no Instituto para me consagrar ao
apostolado entre os infiéis. Mas os meus familiares desejavam que esperasse mais um
ano ainda, e parecendo-lhes que eu tomaria esta decisão, isto é de vir já este ano,
decidindo só pela minha cabeça, escrevo-lhe fazendo de maneira que também eles leiam
esta carta e onde exponho também as razões deles, para lhes fazer ver que procuro fazer
somente aquilo que o Senhor quer de mim.
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Não tenho pais: a minha mãe faleceu quando tinha quatro anos, e o meu pai
faleceu há quatro meses. Ficamos só três irmãos, um dos quais eu, o mais novo, tenho
dezanove anos, o meu irmão faz vinte e um anos no próximo mês de outubro; ele
também está no seminário, terminou este ano já o segundo curso teológico, e a minha
irmã com vinte e três anos, que está em casa, pois é solteira. Moramos numa pobre casa
de campo a cerca de um quilómetro de Cesena e a minha irmã ficaria só com uma tia.
Estamos a pensar como havemos de resolver o problema da minha irmã, de maneira que
possa viver com alguma serenidade. O meu primo é o administrador dos nossos bens e
nós escolhemo-lo como tutor.
Aqui estou eu a pedir-lhe que me diga o que é que devo fazer para a maior glória
de Deus, para o bem da minha alma e consequentemente de toda a Igreja.
Também lhe peço a quem, não tendo um tutor legal, devo fazer assinar o pedido
de admissão para entrar no Instituto. Por último, mas não menos importante, peço-lhe
que reze por mim à Santíssima Virgem da Consolata para que me ajude a seguir o mais
rápido possível o chamamento do seu Filho.
Seu devotíssimo filho em Jesus Cristo, Sem. Fusaroli Giuseppe" (18-08-1946).
Um mês depois chega a Certosa de Pesio onde faz o noviciado. Ao fim do ano
canónico de noviciado o Mestre de noviços apresenta-o para que seja admitido à
Profissão religiosa como sendo um "bom elemento, muito agarrado à vocação e ao
Instituto, de piedade sólida, fácil e agradável na convivência, obediente, dócil, cordial, e
de boa saúde. Vem do seminário regional de Fano. Adaptou-se bem ao nosso modo de
viver. Não tendo tido exercício em precedência, não tem iniciativa no trabalho, pouco
prático e parco nas tarefas. Todavia nota-se um esforço constante em melhorar. Tem
também momentos de fleuma, quase abulia, mas também sobre esta vertente foi sempre
constante aplicando toda a sua força de vontade. Penso que se for ajudado nos anos de
formação, ainda se pode tornar num missionário precioso".
Completou a sua formação religiosa e teológica no nosso seminário de Turim
onde no dia 29 de junho de 1951 foi ordenado sacerdote.
Quatro meses mais tarde já estava no Vicariato Apostólico da Florencia
(Colômbia)
Fez a sua primeira experiência missionária em Torasso. O clima húmido da zona tinhalhe provocado uma forma de reumatismo que, como ele escreve: "atormenta-me e
queixo-me como se fosse um velhinho de setenta anos, porque me dói num lado e me
passa no outro, dói-me no outro lado e repercute-se neste". Por isso após seis anos, fui
transferido para Bogotá onde pelo menos o clima seco fez desaparecer todos os achaques
e dores.
Mas o Caquetá que tinha deixado com as lágrimas nos olhos tinha-lhe ficado no
coração. Sabia que a população tinha aumentado de maneira impressionante e parecialhe que estava a atraiçoar a sua vocação se permanecesse longe daquela gente. Portanto,
dois anos depois, pedia ao Superior Geral para voltar para Caquetá. Foi destinado a
Belén, uma missão densamente populada e com um território muito vasto. Pe. Fusaroli
gastou ali todas as suas energias com uma intensa atividade pastoral: catequese, escolas,
doentes, visita às várias capelas. A gente reconheceu e apreciou o zelo com que este
missionário se dedicou à sua missão. Uma paróquia de Belèn, quando faleceu o Pe.
Giuseppe enviou um belíssimo testemunho ao Superior Regional da Colômbia, no qual
entre outras coisas escreve: "Hoje, a notícia da morte do Pe. Fusaroli abriu em todos nós,
e em mim em particular, uma profunda ferida no coração: foi meu pároco em Belèn,
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como um pai durante a minha infância e a minha juventude. Era um verdadeiro
sacerdote, digno, fervoroso nas celebrações litúrgicas, exemplar para os seus
paroquianos, assíduo nas visitas às famílias, descuidado na fadiga pelas suas longas
viagens a cavalo por estradas acidentadas. Era uma pessoa alegre, entusiasta da sua
vocação, tinha assimilado a nossa cultura e existia um entendimento profundo entre nós.
Sabia inventar muitas iniciativas que nos enchiam de alegria. Era um pastor que "sentia
o cheiro das ovelhas", como sugere Papa Francisco, era um sacerdote contemplativo,
irmão, amigo, pai, estrada que conduzia a Deus. Tudo isto foi Pe. Fusaroli em Belèn. Eu
estou feliz por ter sido sua colaboradora na pastoral paroquial. Agradeço a Pe. Fusaroli,
pai, amigo e autêntico testemunho de Jesus. A ele, pelo seu empenho missionário, é
reservada uma feliz eternidade, porque as suas obras o acompanham".
O Pe. Fusaroli pagou caro este fecundo período de atividade. Revela-o numa carta
ao Superior Geral, onde entre outras coisas escreve: "Passei pelo menos vinte anos
sozinho. Sinto as consequências desta longa solidão e eu não sou o único responsável.
Por isso, peço que não me deixe sozinho. Sei que este meu pedido pode complicar um
pouco as coisas para a destinação do pessoal e também por ter que estar atrás de todas as
necessidades, mas para mim a maior necessidade é a salvação da minha alma. Tenho a
certeza que você, Padre, me irá ajudar para que me enviem um confrade. Agradeço-lhe
desde já com o coração à frente do Senhor" (Belén, 10-10-75). O pedido foi prontamente
aceite e Pe. Giuseppe, com a mesma rapidez agradecia e confessava candidamente: "é
belo sentir que o Superior me quer bem!".
De Belèn passa a Tocaima, Bogotá e Cartagena para substituir confrades que
vinham rodados ou se concediam um período de repouso. Em 1981 também ele foi
mudado e durante cinco anos empenhou-se na animação missionária e vocacional em
Martina Franca e Gambettola.
De 1986 até 1991 retomou a sua atividade na Colômbia, em Chaguani, primeiro e,
em seguida, em Solano. Os distúrbios reumáticos e as suas condições gerais de saúde
que então eram precárias, levaram os Superiores a chamá-lo à Itália onde, pelo período
de três anos, colaborou com o próprio irmão que era pároco em Cesena, dado que podia
recuperar, tratar da sua saúde num contexto familiar.
A sua longa experiência missionária foi-lhe preciosa nos doze anos de animação,
nos encontros juvenis e no ministério pastoral desenvolvido nas várias comunidades da
Região Itália, especialmente em Martina Franca, Marina Palmense, Cavi de Lavagna e
Gambettola.
Os anos passavam e as suas condições de saúde agravavam-se gradualmente e, por
conseguinte, em 2008, entrou a fazer parte da comunidade Beato Allamano em
Alpignano. Passou os últimos anos interessando-se sempre pela Colômbia, mantendo
contactos epistolares e procurando ajudas para as missões do Caquetá e sobretudo
oferecendo ao Senhor o seu sofrimento e a sua oração por aquelas populações que desde
sempre trouxe no seu coração.
Nos últimos meses o seu estado de saúde começava a agravar-se cada vez mais e
foi transferido para um longo internamento na clínica S. Lorenzo de Cesena onde no dia
08 de agosto de 2015 regressou à Casa do Pai.
Os seus restos mortais repousam no cemitério de Cesena.
P. Ernesto Tomei, imc
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IRMÃO ROBERTO ZANCHETTIN
(1950-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
30-09-1950: nasceu em Verzuolo (Cuneo)
1956- 1961: frequentou a escola primária em Verzuolo
1962- 1968: frequentou o 2.º ciclo liceal em Saluzzo. Turim, Montebelluna
15-09-1969: fez a Profissão temporária em Certosa de Pesio
1970- 1975: frequentou o curso e obteve o Diploma de Agrimensor em Turim
14-08-1975: fez a Profissão perpétua em Turim
1976- 1985: dedicou-se a construções e à manutenção das estruturas em Bafvabaka,
Isiro, Kisangnani, Bangadi, Wamba,
1986- 1991: trabalhou como ajudante do Departamento legal em Turim
1992- 1997: foi encarregado de obras e da marcenaria em Mujwa
1998- 2013: prestou vários serviços na Casa Mãe - Turim
2014- 2015: esteve na Casa Beato Allamano - Alpignano
09-08-2015: faleceu em Alpignano
11-08-2015: foi sepultado no cemitério de Alpignano
Servidor humilde e fiel
Roberto entrou na Casa dos Irmãos em Alpignano, depois de ter frequentado
três anos o Instituto Técnico-Profissional. Após a primeira profissão religiosa,
prosseguiu a sua formação no nosso seminário teológico de Turim e simultaneamente
obtém o Diploma de Agrimensor. Os seus formadores descrevem-no como um jovem
que sente fortemente a necessidade da honestidade e da coerência, tem ideias pessoais
e esclarecidas, embora nem sempre tivesse a força necessária para as expôr. Teve
muito o sentido da responsabilidade e do dever próprio. O seu empenho no estudo era
muito e, por conseguinte, teve sempre resultados muito satisfatórios. Na formação
espiritual demonstrou empenho embora por vezes encontrasse dificuldades em
compreender a importância da vida de oração. Entende ser consequente mesmo na
doação de si à vida religiosa e é colaborante sobretudo no que toca à obediência.
Esforça-se por compreender a sua maneira de estar na vida comunitária, sendo
positivo e construtivo. No plano pastoral, mesmo que não tenha tido compromissos
precisos, participou sempre na vida e nas atividades da paróquia; disponibiliza-se
generosamente quando é preciso para algumas atividades pastorais ou para encontros
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com os jovens em ocasião das jornadas missionárias ou na animação missionária.
Tem um verdadeiro interesse pelas missões e um desejo ardente de ser enviado para o
trabalho missionário. Mostrava-se predisposto para a atualização e a alternância,
como fazendo parte da sua vida missionária.
Quando a Direção Geral lhe fez a proposta de o destinar ao Grupo do Zaire, o
Irmão Roberto retorquiu: "Posso responder-lhe já e agora, afirmando que a sua
proposta sobre uma minha possível ida para o Zaire me satisfaz plenamente, estou de
acordo e disposto a partir imediatamente. Já há muito tempo que queria pedir se era
possível uma destinação para mim; deteve-me só o fato que estou para concluir um
período de prática no escritório de um profissional para adquirir alguma experiência e
o mesmo terminará já no próximo mês de setembro. No que concerne a minha partida
para a missão, permita-me só que lhe proponha o meu programa: lá para o fim do mês
de junho partirei para a Bélgica com o propósito de aperfeiçoar o meu francês; em
setembro farei a Profissão perpétua, um breve período de férias e em seguida o exame
de idoneidade para me inscrever no Registo dos agrimensores e no início do próximo
ano, partida para o Zaire" (19-05-1975).
Chega a Kinshasa em fevereiro do ano seguinte e permanece no Zaire quase
dez anos. Passa os primeiros seis meses em Wamba para o estudo da língua, enquanto
se torna útil também para os vários serviços da missão. A primeira experiência como
agrimensor foi realizada em Bafvabaka, onde se empenha na direção das obras,
construção de estruturas várias. Praticamente foi sempre esta a atividade principal nas
outras missões: o arranjo e restauro da casa em Isiro, a construção do seminário de
Kisangani, foi o responsável pelas obras em Bangadi, em Wamba, em Bunia para o
seminário, mecânico e responsável pela casa de Isiro. Para além de dirigir as obras,
em muitos casos também era o responsável pela gestão económica. Para ele foram
anos intensos, sobrecarregados pela escassez de meios técnicos e de problemas
devidos à pouca experiência do pessoal. Mas o Irmão Roberto não arredava pé
perante as dificuldades. As estruturas realizadas ou restauradas contribuíram, e não
foi pouco, para o desenvolvimento de muitas obras missionárias no Zaire.
Aqueles anos marcaram duramente a saúde do Irmão Roberto: a humidade do
clima minou-lhe os ossos, danificando-os e que o fizeram sofrer até ao fim da sua
vida.
Uma vez regressado a Itália pôs-se à disposição do departamento legal em
Turim, entregando ou levantando documentos ou despachando questões burocráticas
que exigiam confidencialidade e atenção.
Em 1992 regressa a África, exatamente ao Quénia, e durante seis anos
acompanha trabalhos de construção e dirige a marcenaria na missão de Mujwa. Não
obstante o seu desejo de permanecer na linha da frente, as suas condições de saúde
convenceram os superiores de o chamar novamente à Itália.
Durante quinze anos desenvolveu serviços preciosos na Casa Mãe. Em
particular ofereceu-se para colaborar na reorganização radical da Biblioteca geral sob
a orientação do Pe. Antonio Giordano que descreve o contributo dado pelo Irmão
Roberto da seguinte maneira:
"Quando em 1998 iniciei o trabalho da Biblioteca Geral, foi o primeiro a oferecer-se
para colaborar comigo, se calhar porque tinha tempo para dedicar a esta tarefa, ou
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provavelmente porque amava muito os livros, ou se calhar porque tinha alguma
esperança de se poder treinar um pouco no uso do computador. Qualquer que fosse o
motivo, para mim foi um alívio: partilhei logo com ele o trabalho e dei-lhe cópia de
todas as chaves da Biblioteca. Aceitou de boa vontade este ato de confiança e
colocou-se à disposição para qualquer tipo de trabalho para que fosse solicitado.
Aqui, na Biblioteca Geral, colocou as etiquetas que referiam o nome e a posição do
livro pelo menos em 90 mil volumes, sobre os 105 mil que a Biblioteca conta no
momento presente; um trabalho escondido e silencioso, feito com a maior precisão
possível.
Foi ele também que se encarregou de encher as bacias de água, colocadas em cerca
de quarenta radiadores da Biblioteca. Isto sobretudo durante o inverno, para que o
calor do aquecimento mantivesse a quantidade de humidade exata para os livros. Um
trabalho fatigante que tinha que ser feito necessariamente pelo menos duas vezes por
semana.
O nosso querido Roberto deixou na Biblioteca geral do Instituto o seu cunho pessoal
e inesquecível, feito de bondade, sorriso, trabalho e tanta paciência, seja consigo
mesmo (nunca se aborrecia se alguma tarefa não lhe vinha a feição, prometia-se
simplesmente tentar mais uma vez), e com os outros que sempre deixava serenos,
com um sorriso nos lábios e com os votos: “Verás que amanhã conseguirás”.
A tudo isto, o Irmão Roberto somou outros serviços na Casa Mãe: pontual e
preciso em separar jornais, revistas e cartas que depois entregava nos respetivos
escritórios ou colocava nas caixas pessoais que se encontravam no refeitório, por isso
tinha-se tornado o carteiro da comunidade.
Durante vários anos fez a limpeza dos quinteiros da Casa Mãe e transportava
os contentores do lixo até à rua Cialdini para serem descarregados depois no camião
da Amiat, conquistando assim o título de cantoneiro de limpeza da comunidade.
Em 2013 a saúde do Irmão Roberto dava sinais preocupantes, ele já não era o
mesmo, as forças não eram as de antes. Retirou-se para a Casa Beato Allamano de
Alpignano onde ofereceu o seu sofrimento e a sua oração pela Missão à qual tinha
dedicado toda a sua vida.
No dia 09 de agosto de 2015 o Senhor chamou-o para receber o prémio
reservado aos seus servidores fiéis.
Os seus restos mortais repousam no cemitério de Alpignano.
A vida do Irmão Roberto deve ensinar-nos muitas coisas. Entre elas, a grande
lição que a missão não é ter medo de sujar as próprias mãos, é, isso sim, dedicação e
trabalho manual, é feita de pequenos serviços feitos com perfeição, com dedicação e
amor, sem dar nas vistas e com discrição. É a tradução prática do ensinamento de
Jesus (Mc 9, 35).
P. Ernesto Tomei, im
Irmão ROBERTO ZANCHETTIN
Encontrei o Irmão Roberto no Quénia, várias vezes, embora nunca tivéssemos a
oportunidade de trabalhar juntos, mas a sua primeira confidência recebi-a em Fiumicino,
no aeroporto nacional enquanto estávamos à espera da partida para Turim. Naquela
altura eu trabalhava na Casa Geral, como redator da revista “Da Casa Madre” e ele
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acabava de chegar de Nairobi. O Vice-Superior Geral pediu-me que o acompanhasse a
Turim, partilhando com ela a viagem de avião porque não era conveniente deixá-lo ir
sozinho. Assim, enquanto nos encontrávamos na sala de espera reservada aos voos
nacionais com uma hora de antecedência, iniciei o diálogo com ele sobre as missões do
Congo, onde sabia que tinha trabalhado durante alguns anos … aos pouquinhos vim a
saber a sua íntima convicção de que o clima do Congo lhe tinha prejudicado a saúde para
sempre. Olhei-o com uma cara de espanto, mas ao mesmo tempo com um sorriso e
disse-lhe: “Ainda não tens 40 anos de idade, tens à tua frente todo o tempo que quiseres
para reconstruir a tua saúde, suposto que aquilo que dizes é verdade”. Olhou-me
esboçando um sorriso que sabia ser forçado e quase sentenciou: “A humidade do clima
do Congo penetrou-me nos ossos e tê-la-ei comigo até à minha morte que também será
em breve”. Não percebendo nada de medicina, mudei de assunto, orientando o tema da
nossa conversa sobre o futuro: “Em Saluzzo o clima nativo te dará uma vida nova”.
Assim, chegamos a Caselle onde nos esperava o Irmão Volpato Guerino, que nos levou a
ocupar os dois quartos que o Superior da Casa Mãe tinha preparado para nós.
Quando eu também regressei do Quénia, pois tinha sido destinado a trabalhar na Casa
Mãe, eis que encontrei Roberto com muito prazer. Ele tinha chegado há pouco tempo à
Casa Mãe, ou seja havia poucos meses e vi que desenvolvia a tarefa de “Cooperador
ecológico” que ele bondosamente chamava de “cantoneiro de limpeza”, levando os
caixotes do lixo até à estrada para que fossem despejados na manhã seguinte pelo
camião dos serviços de limpeza municipais. Via-o da janela do escritório da secretaria, e
eu não era visto por ele, que se esforçava com o máximo empenho a empurrá-los na leve
subida que conduz à passagem do pórtico que separa os dois pátios, para depois descer
até à cancela de saída na rua Bruino.
Além disso era ele que pontualmente levava o papel, as revistas duplas, alguns livros
duplos e inúteis que encontrava na sala “Cartesio” no dia em que se sabia que a
camioneta passava a recolher o papel. Excelente Roberto, quantos passeios fizeste para
cima e para baixo naquelas escadas de quatro lanços e sem elevador!
Para além deste trabalho tinha aprendido a usar o programa Excel que nós utilizávamos
para fazer a lista dos artigos das revistas missionárias, para uma possível e fácil pesquisa
de material. Ele tinha-se oferecido prontamente para fazer a lista dos artigos das três
revistas em língua francesa: Pentecote sur le monde, Peuples du monde e Lumen vitae.
Tinha aprendido a língua francesa no Congo e vinha-lhe espontaneamente. E foi fiel a
este seu empenho até ao fim.
Era ele ainda que se encarregava de fazer encomendas e compras para a Biblioteca, e
não só, mas para todos os Padres que lhe pedissem este serviço. Quantas vezes saiu
radiante a comprar cordéis para atar os números anuais das revistas, papel adesivo e fitas
adesivas para coser os livros que se iam desfazendo, não só mas também comprava
marcadores, lápis de madeira e esferográficas e sabia encontrar sempre a mais adequada
para aquela situação. Também ia frequentemente à farmácia comprar medicamentos para
os missionários que estavam de passagem, ou acompanhava-os à feira para comprar
vestuário e sapatos.
Pessoalmente lembrei-o ma Missa e recordo-o com tanto nostálgico afeto com o seu
próprio encorajamento: “Verás que pela bondade do Senhor, conseguirás entrar no
Paraíso”.
P. Antonio Giordano, imc
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PADRE ALESSANDRO BUSNELLO
(1942-2015)
Dados biográficos e atividades desempenhadas
08-05-1942: nasceu em Pederobba (Treviso)
1948- 1953: frequentou a escola primária em Pederobba
1953- 1958: frequentou o ciclo preparatório em Biadene (Treviso)
1959- 1961: frequentou o liceu em Varallo Sesia (Vercelli)
02-10-1962: fez a profissão temporária em Rosignano Monferrato
1963- 1967: estudou Teologia em Turim
02-10-1966: fez a profissão perpétua em Turim
31-12-1967: foi ordenado sacerdote em Pederobba
1968- 1974: foi vice-pároco - Diretor clérigos e Superior em Milão
1974- 1975: foi vice-pároco em S. Francisco (Argentina)
1976- 1978: foi mestre do Noviciado em Pirané
1979- 1984: foi superior Regional da Argentina
1985- 1986: foi superior na Casa de Bevera (Itália)
1987- 1995: foi pároco em Pirané (Argentina)
1996- 1998: foi Superior da Casa regional em Buenos Aires
1999- 2002: fez pastoral em S. Francisco, Merlo e foi também Conselheiro regional
2003- 2008: foi ecónomo e pároco em S. Salvador de Jujuy
2009- 2014: fez vários serviços em Martin Coronado - Mendoza - Buenos Aires
13-08-2015: faleceu em Buenos Aires
15-08-2015: o seu corpo repousa no cemitério (Jardìn de paz) de Buenos Aires
"Um grande Missionário"
O Pe. Alessandro entrou o nosso seminário de Biadene no dia 20 de setembro
de 1953, onde frequentou o ciclo preparatório e completou depois o seu curriculum
formativo nos nossos diversos seminários. Os companheiros de curso recordam-se
sempre dele, como um estudante que amava muito a leitura, dotado de capacidades
artísticas e musicais que para além de o tornar particularmente útil à comunidade, era
agradável na convivência.
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A seguir à Ordenação sacerdotal foi destinado a Milão como superior e
formador de uma pequena comunidade dos nossos estudantes de teologia e
desempenhava simultaneamente um intenso trabalho pastoral, também para contribuir
para as despesas económicas da casa. Tinha conseguido criar um círculo de amigos e
simpatizantes das missões; em conclusão, foi uma primeira experiência pastoral
muito positiva.
Três anos depois foi-lhe proposta a destinação para o Quénia e pôs-se
imediatamente no trabalho de aprendizagem da língua e do conhecimento da cultura
daquele País, mas pouco depois teve que se resignar e permanecer em Milão porque
não se encontrava ninguém que o substituísse.
No mês de agosto de 1973 exprimia ao Superior Geral o desejo de ir trabalhar
em Doruma (Zaire), especificando os motivos da sua escolha: a novidade do campo,
o conhecimento dos confrades que trabalhavam lá e a língua francesa que sabia
razoavelmente. Infelizmente o pedido não pôde ser satisfeito porque havia mais de
dois anos que o P. Alessandro sofria de uma bruta úlcera no estômago.
Pôde realizar o seu sonho missionário um ano depois. Começou a sua atividade
na Argentina como vice-pároco em S. Francisco. Após quatro meses agradecendo ao
Superior Geral pela destinação recebida, declarava-se feliz e que "estava queimando
as etapas para uma completa inserção na vida da Região". Tinha entrado tão bem na
vida da Região, que apenas um ano depois pôde assumir o encargo de Pároco e
aquele ainda mais delicado de Mestre do Noviciado em Pirané. Viveu três anos
intensos de atividade. Em Pirané deixou verdadeiramente um pedaço do coração:
educava os jovens transmitindo-lhe as suas capacidades de cantor e artísticas. Na
realidade, o Pe. Alessandro revelou as suas qualidades de imaginação logo desde os
primeiros anos de seminário: tinha o sentido artístico seja no sagrado ou no profano.
Desde 1978 até 1984 foi Superior da Região Argentina. Os confrades
apreciaram muito o seu serviço realizado com muita diligência e atenção para com os
missionários e as suas atividades, pela sua capacidade de enfrentar, resolver os
problemas e recompor a fraternidade quando podiam surgir conflitos.
A grande experiência feita no campo formativo, obtida em dois continentes, a
permanência positiva de dez anos na Argentina, juntamente com a capacidade de
diálogo, demonstrada sobretudo durante o seu serviço como Superior Regional,
constituíam uma clara garantia para que pudesse desenvolver o seu dever de superior
e formador na Região Itália. Em seguida foi destinado ao seminário de Bevera onde
por dois anos guiou aquela comunidade. Mas o seu coração continuava a bater pela
Argentina.
Tornando àquele País, foi-lhe confiado o encargo de pároco em Pirané, terra
muito amada por ele e onde pôde realizar um intenso ministério durante dez anos.
Aquela destinação para ele foi como uma medicina que o reanimou, encheu de novas
energias dedicadas ao desenvolvimento humano e espiritual das crianças, dos jovens,
ao empenho pastoral com os doentes, com a colaboração das Irmãs Missionárias da
Consolata. Teve sobretudo a alegria de cultivar uma profunda e fraterna amizade com
o Pe. Domenico Viola.
Continuou os seus empenhos como superior da casa regional em Buenos Aires,
na atividade pastoral em S. Francisco e Merlo, vigário paroquial em Jujuy,
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colaborador no seminário de S. Miguel, na paróquia de Mendoza, e, a partir de 2014,
como vice-superior regional.
Há algum tempo que o P. Alessandro acusava enormes distúrbios que lhe
tornavam qualquer tipo de trabalho muito cansativo e por isso era visível o seu
desconforto. No início de 2015 complicava-se a diagnosticada próstata que da biopsia
resultava atingida por um carcinoma. Simultaneamente começou a sentir fortes dores
ao braço e na omoplata direita. O médico mandou fazer uma tomografia ao tórax que
revelou a existência de manchas nos pulmões e na coluna vertebral. É-lhe recitado
um tratamento particular com fortes analgésicos.
No mês de julho as suas condições evoluíram assustadoramente: cancro na
próstata e metástases ósseas e pulmonar. Foi submetido a terapia intensiva e à
utilização de respiração artificial. Todas as tentativas resultavam ineficazes e, no dia
13 de agosto, o P. Alessandro regressou à Casa do Pai.
Comunicando a triste notícia aos confrades, o Superior Regional da Argentina,
P. Antonio Gabrieli, entre outras coisas escrevia: "Todos lhe queriam bem e o
apreciavam. Muitíssimos são os testemunhos de afeto e gratidão que me chegaram às
mãos nestes dias, vindas das comunidades paroquiais em que ele tinha trabalhado:
Pirané (Formosa), Alto Comedero (Jujuy), Mendoza... quis morrer aqui na Argentina,
ao lado das pessoas a quem queria bem e pelas quais gastou a vida. Somos
missionários “ad vitam”. Aqui estávamos também nós, os seus amigos, os confrades
missionários que o estimaram e que com o trabalho missionário partilhamos as horas
felizes e tristes da vida fraterna. Dele recebemos muito. O Pe. Alessandro esteve
sempre muito atento a todos nós, seus confrades. É verdade que ele gostava de
cozinhar, porém fazia-o também com espírito de serviço e creio também com o
desejo de que todos se sentissem bem. Conhecia os gostos de cada um de nós e
aproveitava da mesa para o encontro e a fraternidade; porque o confrade que vinha
cansado dos compromissos, do trabalho ou dos encontros, encontrasse conforto e
acolhimento. E não só com comidas apetitosas e preparadas com muito detalhe, como
um verdadeiro chef, mas falando sobre a missão, recordando de maneira simpática as
coisas que aconteciam nas missões. E assim os momentos das refeições
prolongavam-se na escuta de tantos episódios ricos de vida missionária vivida, e dava
a conhecer também aos jovens a história da Região e a vida dos missionários. Era o
seu modo de ensinar a missão também aos jovens. Algumas vezes repreendia quem,
para o elogiar, lhe dizia que era um bom cozinheiro; ele corrigia imediatamente
dizendo que preferia que lhe dissessem que era um bom missionário. E era de
verdade. Entre as outras coisas escreveu uma síntese da nossa história na Argentina.
Um trabalho histórico apreciado por todos e que todos os anos partilhava com os
noviços para que conhecessem a Região Argentina e pudessem apreciar assim o
trabalho desenvolvido por tantos fervorosos missionários. Muitos lembram-se dele
pelos seus sermões. Mesmo no dia do seu funeral, após a missa, aproximou-se de
mim uma pessoa para me dizer que dele, se lembrava sobretudo dos seus belos
sermões: simples e profundos, fruto de uma longa experiência de vida missionária.
Foi certamente um grande missionário.
Pessoalmente devo agradecer-lhe porque me esteve sempre próximo. Foi ele que me
recebeu aqui na Argentina e me introduziu na missão. Com ele partilhei os meus
63
anos de trabalho pastoral na Paróquia da Medaglia Miracolosa de Alto Comedero, na
paróquia da Misericórdia de Mendoza, no serviço à Região. Pude desfrutar dos seus
conselhos e dos momentos de discernimento importantes. Mas sobretudo da sua
amizade.
Pude acompanhá-lo nos seus últimos dias. Quando já não estava à cabeceira da sua
cama, disseram-me que chamava por mim. Renato, que em alguns momentos o
assistiu, recolheu da sua boca uma frase que me ficou impressa "António, a vida é
bela!”.
O seu corpo repousa no cemitério (Jardìn de paz) de Buenos Aires.
P. Ernesto Tomei, imc
TESTEMUNHO
Pe. Alessandro foi um missionário que amou a terra dos horizontes infinitos.
Na Argentina viveu e cultivou o carisma de Allamano na formação dos jovens. Com a
sua presença humilde e amiga sabia dialogar com todos, especialmente com as
pessoas que se aproximavam dele para um conselho ou até uma ajuda material.
Era um sacerdote e religioso exemplar, missionário jovial. Possuía uma arte
especial na convivência com os confrades, com o povo e sobretudo com os jovens.
Como Superior Regional nunca impunha as coisas, mas dialogava,
aconselhava, comunicava uma disposição que primeiro aplicava a si mesmo e
desejava que se realizasse para o bem de todos. Era o servidor, o colaborador mesmo
nas pequenas coisas. Fazia-se querer bem mesmo se sabia que o confrade era de
parecer contrário. Não era homem de grandes discursos, mas a sua caridade chegava
onde era preciso.
Um longo período de vida missionária viveu-o em Pirané juntamente com o Pe.
Domenico Viola, homem justo perante Deus e os homens. Nesta comunhão de vida
soube exprimir o melhor de si mesmo. Pastor sempre presente, atento, que se
alegrava em estar com as pessoas, ouvindo, analisando os seus problemas, consciente
que o tempo dedicado aos pobres era um dom que oferecia a Deus. A casa paroquial
era um verdadeiro salão. Estar com os jovens, acompanhá-los, divertir-se com eles,
ler e comentar o Evangelho, trabalhar com eles, era a convivência mais agradável e
divertida. Sabia que algumas vezes os gritos, os barulhos, os instrumentos musicais, o
volume no máximo dos nossos jovens, criavam algum desconforto à comunidade
religiosa, mas ele sabia recompor a serenidade. Visitava as famílias, preparava
encontros de formação cristã, era assíduo na visita às capelas partilhando o Pão da
Palavra e da Eucaristia e fazendo-se próximo dos mais pobres, necessitados
espiritualmente e materialmente.
Amava o Instituto como uma verdadeira família que lhe tinha dado tudo para
que realizasse a sua vida, consciente de que na missão tinha amadurecido o que tinha
recebido na formação.
Para o Pe. Alessandro, conhecer uma nova cultura e vivê-la com a população,
era dar glória a Deus para o bem dos irmãos.
Pe. Silvio Lorenzini, IMC
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PADRE FRANCO CELLANA
(1942-2015)
Dados biográficos e atividades desenvolvidas
01-10-1942: nasceu em Tiarno de Sopra (Trento)
1948- 1953: frequentou a escola primária em Tiarno de Sopra
1954- 1958: frequentou o ciclo preparatório em Rovereto e Biadene
1959- 1961: fez o liceu em Varallo Sesia
02-10-1962: fez a Profissão temporária em Rosignano Monferrato
02-10-1965: fez a Profissão perpétua em Turim
1963 -1967: estudou Teologia em Turim e Madrid
17-12-1967: foi Ordenado sacerdote em Madrid
1968- 1972: foi administrador e vice-formador em Madrid
1973- 1974: foi superior e animador em Valladolid
1975- 1977: foi ecónomo regional em Madrid
1978- 0000: estudante em Londres e Kipalapala
1979- 1981: vice-pároco em Matembwe (Tanzânia)
1982- 1988: foi administrador regional na Tanzânia)
1989- 1990: foi pároco em Igwachanya
1991- 1993: foi diretor CAM em Turim
1883- 1999: foi conselheiro geral
2000- 2006: fez Pastoral na Paróquia da Consolata em Nairobi
2007- 2011: foi superior regional do Quénia
2012-2013: foi pároco em Wamba
2014- 2015: internamentos periódicos no hospital de Milão
24-09-2015: faleceu em Milão
27-09-2015: foi sepultado no cemitério de Tiarno de Sopra
Missionário vulcânico
Padre Cellana era um missionário "vulcânico", afirmam quantos tiveram a
sorte de o conhecer e de trabalhar com ele. Descrevem-no já assim os formadores que
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o acompanharam até à Ordenação sacerdotal: "Grande espírito missionário, aberto,
cordial, ativo e muito comunicativo, portado a mergulhar-se na ação; é uma pessoa de
muito valor seja pelas dotes que pelas predisposições pessoais".
Concluídos os estudos filosóficos e três anos de teologia no nosso Seminário de
Turim, completou a sua formação na Pontifícia Universidade Comillas de Madrid
onde obteve a Licenciatura em Teologia.
Em Espanha, onde foi ordenado sacerdote, iniciou a sua atividade que se
prolongou por oito anos. Foi formador no nosso seminário, durante quatro anos
esteve ocupado na animação missionária e foi administrador da Delegação de então.
Demonstrou imediatamente a sua generosidade no desenvolvimento dos seus
compromissos: deu vitalidade ao setor da animação missionária através de uma
renovação da revista Antena Misionera e à sua difusão, promovendo encontros com
os outros centros missionários para avaliar e programar as atividades e partilhar as
várias experiências. Deu vida à exposição missionária "volante" e permanente para
ilustrar a atividade missionária do Instituto.
Trabalhava intensamente mas sentia o forte desejo de gastar as suas energias na
linha da frente, e por isso escreveu uma carta ao Superior Geral, onde invocava uma
destinação, exprimindo também algumas preferências e declarando-se em todo o
caso, disponível para qualquer tipo de decisão da parte dos Superiores. Especificava
assim as suas escolhas: A Etiópia pela situação ambiental, pastoral, ecuménica etc. Marsabit porque o tinha visitado e visto antes, pelo trabalho, pobreza, clima Tanzânia, Caquetà, Argentina.
Em 1977 foi destinado para a Tanzânia onde permaneceu por treze anos. Foi
vice-pároco em Matembwe, administrador regional e pároco em Igwachanya. Como
administrador, num encontro a nível regional, apresentou uma síntese das atividades
desenvolvidas e que de alguma forma reentravam nas suas competências. Tendo em
conta que nos 30 centros missionários nunca tinha vindo a faltar o estímulo
apostólico e pastoral, sublinhava o empenho e a atenção colocados para sustentar
também economicamente, catequistas, a formação dos jovens e das mulheres, não
esquecendo as crianças, a organização do armazém central, a instalação de uma petrol
station central, a compra de dois camiões e respetivos reboques para o transporte dos
materiais na Região. Acrescentam-se a abertura e o desenvolvimento dos
dispensários/creches, escolas técnicas e de costura. Um trabalho imponente!
Compreende-se assim o elogio expresso pelo secretário do partido da revolução
da região de Njombe, no discurso de saudação que fez ao P. Franco quando foi
destinado a Itália. O Secretário, dirigindo-se à comunidade de Igwachanya, onde P.
Franco era pároco há três anos, perguntou-lhes: "Quem é para vocês o P. Franco
Cellana?" As respostas multiplicaram-se:
"Padre Franco é o nosso baba (padre) que quer bem a todos: crianças, jovens,
adultos, velhos, é o baba que não faz distinção de cor, raça e religião, ... é aquele que
está ao nosso serviço no corpo e no espírito, ...Baba Franco é humilde, simples,
alegre e bom, ...é o homem de todos onde quer que esteja e em qualquer momento, ...
é o bom samaritano para aqueles que estão em dificuldade,... é o consolador de quem
está triste e dos doentes, dos pobres,... um trabalhador incansável que odeia a
preguiça, o roubo e os outros pecados,... é uma bandeira, um exemplo a imitar".
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Depois de ter lembrado detalhadamente as realizações levadas a cabo pelo P.
Franco, o secretário do partido revolucionário concluía: "Caro Baba Franco, obrigado
por quanto fizeste por nós. Tu és testemunho de como as pessoas mudaram para
melhor quer no corpo, que no espírito. Tu foste como as virgens do Evangelho, que
encheram as próprias lâmpadas de azeite para participarem nas núpcias. A tua
lâmpada ficou para sempre acesa no lampadário. Continuaremos a ser amigos.
Estamos-te profundamente gratos. Dada a nossa humilde e precária condição,
deixamos a Deus a tarefa de te abençoar e de te proteger. Que Deus te encha de
alegria também na Itália".
Durante dois anos foi diretor do Centro de Animação Missionária em Turim e,
em 1993, o Capítulo Geral elege-o Conselheiro Geral do Instituto. Também neste
papel desenvolveu atividades de animação missionária com o seu característico
entusiasmo, até ao momento em que aconteceu o episódio dramático que interrompeu
temporariamente os seus programas e o seu dinamismo.
No dia 04 de abril de 1994, na casa da sua irmã em Trento, enquanto tomava
banho, foi atingido por uma crise epilética; permaneceu desmaiado por quase uma
hora debaixo da água muito quente que lhe causou graves queimaduras numa ampla
superfície do corpo. Começou assim um verdadeiro calvário para P. Franco, que no
espaço de dois anos teve que ser submetido a dezasseis intervenções de cirurgia
plástica. Continuou a fazer terapias apropriadas durante o resto da sua vida. Neste
doloroso episódio demonstrou uma força de alma excecional: soube aceitar com fé
esta dura prova e retomou as atividades.
Quase no fim de 1999, concluído o seu mandato de Conselheiro Geral, trabalha
como colaborador na nossa paróquia da Consolata em Nairobi. Empenhou-se, na
batalha da terra pelos mais pobres, num movimento que une praticamente todos os
slums. Reflete, consulta, dá azo à fantasia, decide e empenha-se em concretizar
alguma obra que verdadeiramente dê uma reviravolta à condição daquela pobre
gente. Entre os projetos sonhados e realizados, destaca-se o do hospital para os
pobres na capital Queniana. Trata-se de uma estrutura sanitária aberta aos mais
necessitados, construída numa zona estratégica na periferia norte de Nairobi, dotada
de ambulatórios e pronto-socorro, de um departamento de maternidade e de sala
operatória, para além de espaços úteis para cerca de trinta camas para internamento
de doentes. Uma estrutura que nasceu para acolher os pobres das favelas e dos
aglomerados que são autênticas ruínas das metrópoles e para tratar as doenças mais
graves, entre as quais a malária e a filaria, as doenças contagiosas e pulmonares, os
vírus intestinais e, por fim, também o HIV/Aids.
Em 2007 foi eleito superior da Região do Quénia. Foram cinco anos intensos
para o P. Franco: iniciativas pastorais, relações com as autoridades civis e religiosas,
encontros com os confrades e com a gente nas suas visitas às missões, para além do
empenho na formação dos nossos candidatos ao sacerdócio.
O último campo de trabalho foi a missão de Wamba onde nos dois anos de
permanência arrancou com vários projetos, não obstante sentir um enfraquecimento
relevante das energias físicas e distúrbios notáveis, por isso foi aconselhado
insistentemente para que regressasse a Itália para os oportunos diagnósticos.
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No início de 2014, no Centro de câncer de Milão diagnosticaram-lhe um
cancro no esófago e fígado. Após seis meses de quimioterapia, as metástases do
fígado tinham-se reduzido, enquanto a massa do esófago tinha permanecido estável.
Durante o internamento no hospital compôs uma oração filial à Consolata,
densa de confiança e de afeto, na qual entre outras coisas implora: "Oh Virgem
Santíssima, tu que, como Mãe, oferecestes ao mundo, a verdadeira consolação, Jesus
Cristo, escuta hoje a oração e a súplica que quero dirigir a ti que veneramos com o
suave título de "Consolata". Consola o Papa, os Bispos, os sacerdotes, os
missionários e todos os religiosos, para que possam levar luz à sociedade moderna....
Consola as nações, os povos e tantas famílias que te amam e te veneram... Consola
aqueles que estão doentes, as multidões dos emigrados, dos desempregados, dos que
sofrem, daqueles que trazem no corpo e na alma as feridas causadas pelas guerras,
das opressões e das injustiças, Mãe da consolação, ouve hoje a minha humilde oração
que elevo a ti com todo o coração, enquanto te peço de bendizer, de visitar e de tocar,
com a tua mão materna, a pessoa, a família, o doente que te recomendo. Santíssima
Virgem da Consolata, dá-me a capacidade de escutar, a serenidade, a tua fé aos pés da
cruz, para que eu possa seguir fielmente, com amor e alegria o teu Filho Jesus.
Ámen".
Em dezembro de 2014, a equipa dos Médicos apresentou-lhe uma nova
proposta de tratamentos experimentais de quimioterapia. Depois de consultar vários
especialistas de Turim, Florença, Bolzano, Trento e Nairobi, tendo obtido parecer
favorável por parte dos familiares, assinou a proposta da nova terapia e iniciou os
tratamentos programados.
Não obstante as suas precárias condições, com a autorização dos Médicos
especialistas, em julho de 2015, regressou a Wamba, por três semanas, para controlar
uma série de novas obras em execução, passar as tarefas ao seu sucessor e saudar a
população, que nunca deixou de lhe reservar um acolhimento caloroso. Em agosto, a
última visita ao seu amado vale trentino para entusiasmar e saudar ainda os familiares
e os muitíssimos amigos que por muitos anos colaboraram concretamente nas
inumeráveis iniciativas a favor dos mais pobres e marginalizados.
Em setembro, reentrou no Instituto Nacional de Milão para o estudo dos seus
tumores, pois as suas condições de saúde pioravam gradualmente e onde, ao
amanhecer do dia 24 de setembro de 2015, o P. Franco regressava à Casa do Pai.
Um dos expoentes das duas associações "Amigos de Padre Franco" e "África
Rafiki", anunciando a triste notícia da sua morte escreveu: "Apagou-se um dos
missionários mais ativos e históricos do Instituto Missões Consolata na África, onde
trabalhou por mais de trinta anos. Personagem de grande carisma que gastou a
própria vida no mundo dos deserdados. O seu carisma arrastou tantos a trabalhar em
África ou pela África. O seu carisma conquistou-nos a todos".
Os seus restos mortais repousam no cemitério de Tiarno de Sopra.
P. Ernesto Tomei, imc
Nota: Para evitar tornar demasiadamente voluminoso o presente Boletim
Oficial, a memória dos confrades falecidos depois de 1 de outubro
será apresentada no próximo Boletim Oficial nº 152.
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