Apreciação da obra de Timothy Gallagher O Discernimento dos

Transcrição

Apreciação da obra de Timothy Gallagher O Discernimento dos
Apreciação da obra de Timothy Gallagher
O Discernimento dos Espíritos
«Graças à apresentação permeada de fé que Gallagher faz das regras
para o discernimento, a linguagem despida e lacónica de Inácio aparece transformada. No seu lugar, emerge o potencial vivificador das
regras, que desperta os indivíduos para um entendimento mais profundo das suas experiências espirituais, e permite responder-lhes com
maior prudência».
– Gill K. Goulding, I.B.V.M., Professora Assistente de Teologia
Sistemática e Espiritualidade, Regis College, Escola Superior
de Teologia Jesuíta, Universidade de Toronto
«Recomendo O Discernimento dos Espíritos. Trata-se de um contributo preciso e consistente para a literatura acerca do discernimento
dos espíritos. O autor revela possuir um entendimento profundo das
regras de Inácio para o discernimento e recorre a bons exemplos para
as ilustrar».
– William A. Barry, S.J.
«Um renovado interesse pela espiritualidade e misticismo inacianos
– especialmente pelo seu foco no discernimento dos espíritos – despertou por alturas do Concílio Vaticano II. Podemos encontrar longos
e detalhados estudos acerca destas regras – de grande ajuda para os
especialistas, mas não para a pessoa comum. Há também alguns estudos populares e superficiais, que não fazem jus nem a Inácio, nem
às suas regras ou àqueles que lêem tais estudos. A prosa cristalina, a
leitura meticulosa das regras, a hábil exposição do material, as úteis
citações ilustrativas e o pertinente uso de exemplos do Padre Timothy Gallagher fizeram muito para remediar esta situação. O seu livro
apresenta as regras para o discernimento dos espíritos da “Primeira
Semana” de um modo relativamente completo e, no entanto, bastante
simples quanto ao estilo e ao conteúdo, permitindo que os cristãos
com conhecimentos limitados nesta área possam absorver o material.
… Ao proporcionar uma compreensão fundamentada dos princípios
inacianos, e pela sua aplicação de modo hábil à vida quotidiana, o
Padre Gallagher responde às necessidades prementes dos directores de
retiros, retirantes, estudantes de teologia espiritual, e de quem procura
aprofundar a sua vida espiritual. Não conheço nenhuma obra comparável que seja tão útil».
– Harvey D. Egan, S.J., Professor de Teologia Sistemática e
Mística, Boston College (do prefácio do livro)
O DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
Um Guia Inaciano para a Vida Quotidiana
Colecção MANRESA
Autoconhecimento e Discernimento Cristão
Domingos Terra, S.J.
Espiritualidade Inaciana – 1ª Semana de Estudos de Espiritualidade Inaciana
AA.VV.
Deus e o Homem segundo Santo Inácio – 2ª Semana de Estudos de
Espiritualidade Inaciana
AA. VV.
Jesus Cristo na Espiritualidade Inaciana – 3ª Semana de Estudos de
Espiritualidade Inaciana
AA.VV.
A Trindade na Espiritualidade Inaciana – 4ª Semana de Estudos de
Espiritualidade Inaciana
AA.VV.
Exercícios Espirituais de Libertação Pessoal
José Alves Martins, S.J.
Ordenar a Vida – Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola
Dário Pedroso, S.J.
Manual do Peregrino – Caminhando com os Exercícios Espirituais de Inácio
de Loyola
António Vaz Pinto, S.I.
São Francisco Xavier – 450 Anos da sua morte (1552-2002) – 5ª Semana
de Estudos de Espiritualidade Inaciana
AA.VV.
Mistério Pascal e Mundo Contemporâneo – 6ª Semana de Estudos de
Espiritualidade Inaciana
AA.VV.
Companhia de Jesus: Ontem, Hoje, Amanhã – 7ª Semana de Estudos de
Espiritualidade Inaciana
AA. VV.
Crer na Fronteira: Habitar Novas Fronteiras – Actas da VIII Semana de
Estudos de Espiritualidade Inaciana
AA. VV.
Vontade de Deus, Caminhos de Felicidade – Actas da 9.ª Semana de Estudos
de Espiritualidade Inaciana
AA. VV.
O Discernimento dos Espíritos – Um Guia Inaciano para a Vida Quotidiana
Timothy M. Gallagher, O.M.V.
TIMOTHY M. GALLAGHER, O.M.V.
O DISCERNIMENTO
DOS ESPÍRITOS
Um Guia Inaciano
para a Vida Quotidiana
Editorial A. O.
Título original
The discernment of spirits:
an Ignatian guide for everyday living
The Crossroad Publishing Company
New York
ISBN 0-8245-2291-1
Tradução
Mário José Galvão de Almeida
Ilustração da Capa
João Sarmento
Capa
Virgílio Cunha
(Editorial A. O.)
Paginação
Editorial A. O.
Impressão e Acabamentos
Sersilito – Empresa Gráfica, Lda
Depósito Legal nº
???????????????
ISBN
978-972-39-0775-9
Novembro de 2013
Com todas as licenças necessárias
©
SECRETARIADO NACIONAL
DO APOSTOLADO DA ORAÇÃO
Rua S. Barnabé, 32 – 4710-309 BRAGA
Tel.: 253 689 440 * Fax: 253 689 441
www.apostoladodaoracao.pt/[email protected]
Agradecimentos
Sinto-me profundamente grato às inúmeras pessoas cujo auxílio e apoio tornaram este livro possível. Exprimo a minha gratidão ao P. William Brown, O.M.V., provincial, pelo seu alento
que me conduziu a desenvolver este projecto, e por proporcionar as circunstâncias concretas que me permitiram escrever. A
minha profunda gratidão estende-se ainda a David Beauregard,
O.M.V., pelo auxílio permanente durante a escrita deste livro,
a Harvey Egan, S.J., por ter lido o manuscrito e ter escrito o
prefácio ao livro, e a Claire-Marie Hart, pela sua leitura, pelo
generoso auxílio na própria escrita e pela ajuda na preparação
final do manuscrito.
O meu cordial agradecimento dirige-se também a quantos
me acompanharam no processo de escrita, pela sua leitura, comentários ao manuscrito e apoio pessoal: Rose Blake, Claire
Callahan, S.N.D., Susan Dumas, James Gallagher, Gill Goulding, I.B.V.M., Elizabeth Koessler, Ed O’Flaherty, S.J., Gertrude
Mahoney, S.N.D., Germana Santos, F.S.P., Ernest Sherstone,
O.M.V. e Mary Rose Sullivan.
Exprimo também um sincero agradecimento a Bernadette
Reis, F.S.P., pela sua muito competente ajuda com as questões
técnicas respeitantes à publicação, e a Carol McGuinness pela
assistência inestimável com competências informáticas e na preparação do manuscrito para a publicação.
Por fim, sinto-me profundamente agradecido a muitas pessoas que, pelo seu ensino, escrita e experiência, me permitiram
aprender acerca do discernimento inaciano dos espíritos duran7
Prefácio à Edição Portuguesa
Sinto grande contentamento por poder apresentar esta edição de O Discernimento dos Espíritos: Um Guia Inaciano para a
Vida Quotidiana em língua portuguesa. A doutrina espiritual de
Santo Inácio, nascida numa época de mudanças radicais, constitui uma ajuda perene para a vida espiritual, mas mais ainda em
tempos como os nossos. Aprender os ensinamentos de Santo
Inácio equivale a crescer, de acordo com a clássica frase inaciana,
na capacidade de «encontrar a Deus em todas as coisas» na nossa
vida quotidiana.
O ensinamento de Santo Inácio acerca do discernimento dos
espíritos, tema deste livro, ajuda-nos a entender os tempos de
energia espiritual (consolação) e de desânimo (desolação) que se
alternam na vida espiritual. Esta nova percepção liberta-nos da
confusão, e torna mais claro diante de nós o caminho para Deus.
Este ensinamento irá ajudar todos quantos dão e fazem os
Exercícios Espirituais. Dará energia aos membros das Comunidades de Vida Cristã e dos institutos religiosos de inspiração inaciana. As «Regras» para o discernimento dos espíritos de Inácio serão
fonte de bênçãos para quantos buscam amar e seguir o Senhor.
Neste livro, procurei tornar esse ensinamento claro e acessível. Fi-lo por meio do exame das próprias palavras de Santo Inácio, e oferecendo muitos exemplos práticos desse ensinamento.
Espero que este volume possa servir a quantos aspiram por um
entendimento mais profundo da sua experiência espiritual ao
caminharem para Deus.
Timothy M. Gallagher, O.M.V.
11
Prefácio
Inácio de Loiola. Ainda hoje, o seu nome raramente evoca neutralidade ou indiferença. Desde que surgiu no panorama
cristão, muitos o consideraram como seu herói ou seu adversário. Mesmo dentro da Igreja que o canonizou, há quem mencione com dificuldade o seu nome, e ele é olhado com suspeita.
Não obstante, Inácio atrai temor e respeito – ainda que, por
vezes, com relutância – por parte da maioria dos que sabem
alguma coisa acerca das suas extraordinárias realizações.
O nome «Inácio de Loiola» suscita uma variedade de imagens: fundador da controversa Companhia de Jesus, cujos membros são por vezes conhecidos como «os comandos do Papa»; pai
da guarda avançada da Contra-Reforma, que alegadamente ensinou que os fins justificam os meios; o primeiro «Papa Negro»,
que afirmava não dever obediência a ninguém neste mundo a
não ser ao Papa e que ensinou aos seus seguidores a obediência cega ao pontífice. O próprio nome «Jesuíta» é, para muitos,
sinónimo de casuística, astúcia e intriga. Não foi a imagem de
Inácio de Loiola que se ergueu por detrás do retrato de Dos­
toievski do infame Grande Inquisidor em Os Irmãos Karamazov,
e de Camus do desagradável jesuíta de A Peste?
Os comentadores contemporâneos – mais próximos da realidade – descrevem amiúde Inácio como um cortesão, cavalheiro
e soldado. Depois de ter passado por uma profunda conversão
religiosa, tornou-se um errante peregrino por amor de Cristo e
alcançou uma santidade heróica. Por motivos apostólicos, «para
ajudar as almas», decidiu estudar para vir a ser padre. Reuniu um
13
O Discernimento dos Espíritos
grupo de companheiros em Cristo, fundou uma célebre família
religiosa, estabeleceu colégios, universidades e instituições de assistência, e manteve sempre contacto com a actividade pastoral.
Presidiu a uma vasta rede missionária e efectuou delicadas nomeações diplomáticas. Além disso, foi o autor de uma obra com
muitas repercussões, os Exercícios Espirituais, das Constituições
dos jesuítas, e de milhares de cartas que deixam transparecer o
seu envolvimento sociopolítico de grande alcance. Estar com o
Cristo trinitário para servir a Igreja bem pode ser o resumo do
objectivo que pretendia atingir este complexo santo.
Os seus Exercícios Espirituais mudaram a história da espiritualidade desde o séc. XVI até aos nossos dias. É ainda uma
opinião demasiado comum considerar este clássico como um
minucioso livro de receitas que ensina um ascetismo da vontade,
um voluntarismo que se alcança de modo técnico, e uma espiritualidade pragmática quase exclusivamente centrada em resoluções práticas. Há quem, de facto, sustente que estes Exercícios
apenas ensinam métodos de oração intensamente discursivos,
vinculados à imagem, e de algum modo mecânicos, úteis unicamente para iniciantes, e uma autêntica barreira para níveis de
oração
mais profundos e mais místicos.
O facto de os primeiros ataques sérios aos Exercícios terem
sido dirigidos à sua suposta sobrevalorização da dimensão mística da oração não é certamente uma refutação ligeira desta
distorcida caricatura. Estudos recentes têm mostrado que estes
Exercícios contêm nada menos do que vinte métodos diferentes
de oração e que a dinâmica subjacente a cada dia dos Exercícios
é o gradual aprofundamento e simplificação da oração. Nos primeiros anos da Companhia de Jesus, houve muitos a fazer estes
Exercícios que acabaram por entrar em ordens contemplativas.
A primeira crise na nascente ordem jesuíta deu-se devido à solicitação de muitos jesuítas a favor de períodos de oração mais
14
Prefácio
prolongados – um pedido a que Inácio se opôs com todas as
energias. Se se usar a espiritualidade e o misticismo do próprio
Inácio como a chave hermenêutica para os Exercícios, a sua dimensão mística torna-se evidente.
Em resumo, os Exercícios inacianos podem conduzir pes­soas
de um quase qualquer estádio de desenvolvimento espiritual
até domínios cada vez mais profundos da vida espiritual – até
mesmo à vida mística. A sua espiritualidade e misticismo intensamente encarnacionais e icónicos visam encontrar a Deus
em todas as coisas e todas as coisas em Deus. Nunca separam o
amor a Deus, ao próximo e ao mundo. Uma espiritualidade e
um misticismo da alegria no mundo, uma espiritualidade pascal que ama o mundo porque o Deus trinitário o cria, redime,
ama e transforma. A espiritualidade e o misticismo trinitários e
cristocêntricos de Inácio fundaram uma comunidade de amor
para um serviço apostólico efectivo – um serviço que abarca
dimensões sociais e políticas.
Quando se lê a Autobiografia de Inácio, descobre-se que as
primeiras percepções quanto ao discernimento dos espíritos
ocorreram quase simultaneamente com a sua conversão religiosa. A sua experiência fundacional de iluminação junto às margens do Rio Cardoner, em Manresa, Espanha, transformou-o
num homem novo com uma nova compreensão em matérias de
fé e entendimento. No decurso de uma visão tida numa pequena
capela em La Storta, junto a Roma, ele sentiu que o Pai Eterno o
punha com o seu Filho que carregava a cruz. O Pai imprimiu interiormente no coração de Inácio estas palavras «Eu vos [plural]
serei propício em Roma» e disse ao Filho «Quero que tomes este
por teu servidor». E depois Cristo disse a Inácio: «Quero que tu
[singular] nos sirvas [ao Pai e ao Filho]». As graças recebidas em
La Storta confirmaram o serviço trinitário e centrado em Cristo de Inácio e o seu misticismo eclesial. A autobiografia regista
15
O Discernimento dos Espíritos
também outras intensas experiências místicas, incluindo a sua
progressiva habilidade mística para discernir espíritos.
O outro importante texto de Inácio, o Diário Espiritual, é
talvez o documento mais notável jamais escrito acerca de um
misticismo trinitário e cristocêntrico. Oferece um relato surpreendente da intimidade mística de Inácio com cada pessoa
da Trindade, a Divina Essência, o Deus-Homem, e Maria. Este
curto documento é permeado de lágrimas místicas, visões e iluminações trinitárias, vários tipos de locuções, profundas consolações místicas, toques místicos, experiências de amor reverencial,
repouso místico, e melódicas vozes interiores. Estas experiências
permitiram-lhe discernir a variedade de espíritos que o agitavam,
para descobrir a vontade particular de Deus para si.
Os sucessos apostólicos de Inácio e aqueles dos jesuítas, desde
o seu tempo até ao presente, parecem ter ofuscado a importância
do seu misticismo – um misticismo nunca por ele procurado para
o seu próprio bem, mas sobretudo pela sua capacidade de ensinar
e confirmar a vontade de Deus. Comprova-o o modo como Inácio encerrava habitualmente as suas quase sete mil cartas, com palavras semelhantes a estas: «Cristo, nosso Senhor, pela sua infinita
e suma bondade, queira dar-nos a sua graça abundante, para que
sintamos a sua santíssima vontade e inteiramente a cumpramos».
Estes mesmos sucessos apostólicos têm também obscurecido a
centralidade do discernimento dos espíritos na espiritualidade e
no misticismo de Inácio. A correcta compreensão das suas regras
para o discernimento dos espíritos requer que se entenda a sua
vida como a procura e o pôr em prática da vontade de Deus.
Apelidei certa vez Inácio de «místico das disposições e dos
pensamentos». Estas palavras simplificam em excesso o carácter
deste santo que tomou em consideração quase tudo o que influencia a vida cristã e as decisões dos cristãos: o Espírito Santo,
os anjos bons, os demónios, aquilo que flui da estrutura racional
16
Prefácio
e volitiva do espírito humano, o produto da própria imaginação,
a memória, as emoções, a natureza pecaminosa e desordenada
de cada um, aquilo que comemos e bebemos, a luz e as trevas, e
até mesmo as estações do ano.
O discernimento dos espíritos não pode ser visto como uma
raridade na tradição judaico-cristã. Os textos bíblicos mostram
claramente que Deus guia a pessoa recta. Adão e Eva aprenderam da pior forma que as grandes promessas podem ser enganosas. Jeremias tinha uma consciência aguda dos emaranhados do
coração humano. Deus instruiu o povo judaico para que pudesse discernir entre os falsos e os autênticos profetas.
A primitiva comunidade cristã também sabia que tinha de
discernir e submeter a teste as diversas influências a que estava
sujeita. S. Paulo compreendeu que só por meio do Espírito poderia a comunidade distinguir as autênticas afirmações proféticas
das falsas e os fenómenos carismáticos. Até mesmo quem ocupava a liderança tinha de passar pelo teste do Espírito, pois podia
por vezes ser um dos «mestres falsos e enganosos». As «obras da
carne» provinham claramente do mau espírito; os frutos do Espírito eram evidentes. Para o amor, a alegria, a paz, a paciência, a
generosidade, o domínio de si mesmo e a bondade, «não há lei».
Os primeiros cristãos eram, pois, exortados a seguir o Espírito, a viver no Espírito, e a ser guiados pelo Espírito. O Espírito
haveria de rezar neles, permitindo-lhes dizer «Abbá, ó Pai» e «Jesus é o Senhor». O Espírito habilitou-os a discernir a sabedoria
misteriosa e escondida de Deus: o próprio Cristo, a norma de
qualquer discernimento, a «consolação de Israel».
Nos inícios da tradição cristã, Orígenes ensinou que os pensamentos podem provir de Deus, dos anjos, dos demónios, ou
de nós mesmos. Muitos Padres da Igreja aconselharam, depois
dele, a que se dedicasse uma cuidadosa atenção aos pensamentos
que brotam do coração e aos pensamentos que entram no cora17
O Discernimento dos Espíritos
ção, analisando com cautela as marcas por eles deixadas. Com o
passar do tempo, o discernimento dos espíritos incluiu a análise
meticulosa de todos os factores que influenciam a vida cristã,
especialmente aqueles relacionados com a decisão e a escolha.
Os estados afectivos de consolação e desolação, os processos de
argumentação, pensamentos, imaginações, fantasias, sonhos, visões, locuções, e coisas semelhantes, deviam ser submetidos à
questão: provêm de Deus, dos anjos, dos demónios, ou apenas
de nós mesmos? Um dos mais citados ditos apócrifos atribuídos
a Jesus, «tornar-se um astuto cambista», referia-se à habilidade
para discernir o ouro puro dos metais comuns, ou seja, a capacidade de discernir os espíritos.
A ênfase colocada por Inácio na caridade discreta bem pode
ser considerada como a marca distintiva da sua espiritualidade e
do seu misticismo. Ele é o paradigma daquele «astuto cambista»
tão admirado na tradição cristã. Não importa quão intensas fossem as experiências religiosas de Inácio, ele sujeitava-as sempre a
discernimento, reflexão crítica e avaliação segundo os conteúdos
da fé cristã.
Karl Rahner, o famoso teólogo alemão e admirador de Santo
Inácio, afirmou que as relativamente breves regras inacianas
para o discernimento dos espíritos proporcionaram um método
sistemático prático e formal para que qualquer indivíduo possa
descobrir a vontade de Deus. Rahner sustentou ainda que estas
regras foram a primeira e a única tentativa detalhada para obter
um tal método sistemático na história da espiritualidade cristã.
Alguns jesuítas da primeira geração – especialistas na herança
espiritual cristã – diziam das regras de Inácio para o discernimento dos espíritos que elas continham «muitos elementos que
são novos e de que até agora não se tinha ouvido falar».
Estas regras representam a codificação formal de percepções
e respostas que surgiram e encontraram justificação na própria
18
Prefácio
vida espiritual e experiência pastoral de Inácio. Embora se inserisse sem qualquer dúvida na tradição do discernimento dos
espíritos, Inácio era estranhamente desconhecedor de tal património. O que ele aprendeu proveio sobretudo da sua própria
experiência espiritual, como vem referido na sua Autobiografia
e no Diário Espiritual. O seu modo de esquematizar, a codificação concisa e a estrutura interna das regras contribuíram para a
herança da espiritualidade cristã de uma forma inigualada por
qualquer outro autor, antes ou depois dele. Elas são sui generis.
Karl Rahner sustentou a existência não apenas de uma história do dogma cristão, mas também uma da santidade cristã. Os
santos personificam formas de ser um cristão autêntico no seu
próprio período histórico, e Rahner olhava para Inácio também
a esse título. Mas Rahner encontrou ainda em Inácio alguém
que explicou e codificou a lógica sobrenatural dos santos. Ele
considerava que Inácio era tão importante para a Igreja como
Aristóteles o era para o campo da filosofia. Por meio de Aristóteles, a lógica veio a ser a primeira ciência da filosofia; por meio
de Inácio, a lógica da decisão existencial, o discernimento dos
espíritos, veio a ser a ciência dos santos.
Rahner, no entanto, falou de Inácio como sendo mais um
mestre da concisão do que da clareza. A sóbria simplicidade e,
por vezes, a imprecisa escolha de palavras das suas regras para o
discernimento dos espíritos podem ser enganadoras. Só se começa a penetrar a profundidade espiritual das regras esboçadas
por este titã místico quando se apropria o espírito inaciano que
deseja conhecer a Cristo mais profundamente, para O amar
de modo mais ardente e O seguir com maior fidelidade – bem
como através de uma leitura meticulosa dos textos.
Um renovado interesse pela espiritualidade e misticismo inacianos – especialmente pelo seu foco no discernimento dos espíritos – despertou por alturas do Concílio Vaticano II. Podemos
19
O Discernimento dos Espíritos
encontrar longos e detalhados estudos acerca destas regras – de
grande ajuda para os especialistas, mas não para a pessoa comum. Há também alguns estudos populares e superficiais, que
não fazem jus nem a Inácio, nem às suas regras ou àqueles que
lêem tais estudos.
A prosa cristalina, a leitura meticulosa das regras, a hábil exposição do material, as úteis citações ilustrativas e o pertinente
uso de exemplos do Padre Timothy Gallagher fizeram muito
para remediar esta situação. O seu livro apresenta as regras para
o discernimento dos espíritos da «Primeira Semana» de um
modo relativamente completo e, no entanto, bastante simples
quanto ao estilo e ao conteúdo, permitindo que os cristãos com
conhecimentos limitados nesta área possam absorver o material.
É óbvio que não existe nenhum livro definitivo acerca destas regras. O Padre Gallagher cumpre de modo consistente, no
entanto, aquilo que Inácio desejava: ou seja, que os cristãos de
boa vontade – não importa quais fossem os seus antecedentes
– adquirissem a habilidade «para de alguma maneira sentir e
conhecer as várias moções que se causam na alma: as boas para
as aceitar e as más para as rejeitar». Ao proporcionar uma compreensão
fundamentada dos princípios inacianos, e pela sua
aplicação de modo hábil à vida quotidiana, o Padre Gallagher
responde às necessidades prementes dos directores de retiros,
retirantes, estudantes de teologia espiritual, e de quem procura
aprofundar a sua vida espiritual. Não conheço nenhuma obra
comparável que seja tão útil.
Harvey D. Egan, S.J.
Professor de Teologia Sistemática e Mística
Boston College
20
INTRODUÇÃO
No Âmago da Vida Espiritual
Na obra Ana Karenina, de Leão Tolstoi, uma das principais
personagens da história, de nome Levin, acabou de encontrar
Deus numa experiência de intensa alegria1. Levin viu aberto o
caminho para a lucidez espiritual por meio do testemunho de
um homem íntegro. As lágrimas que derramou exprimiram a
profunda felicidade que o seu coração encontrou no Senhor. A
sua fé fortaleceu-se, e abriu-se diante dele uma nova vida espiritual. Levin espera que a riqueza espiritual que recebeu venha
a consolidar e aprofundar a sua relação com a família. Porém,
fica desapontado quando descobre que o ter de interagir com
diversas pessoas do seu núcleo familiar continua a ser uma luta.
Quando, por fim, se encontra a sós por um momento, Levin
reflecte na sua recente experiência espiritual:
Sentiu-se contente pela oportunidade de estar a sós para
poder recuperar do impacto da presente vida comum, que
já conseguira deprimir a sua disposição alegre. Pensou que
o tempo já fora suficiente para conseguir perder a calma
1 Como regra, reproduziremos o conteúdo das notas da autoria de Timothy Gallagher, que no original surgem numa lista única no final do livro, a
não ser que o contrário seja explicitamente mencionado [Nota do tradutor].
LEÃO TOLSTOI, Ana Karenina, trad. de Constance Garnett, Garden City,
N.Y., Nelson Doubleday, 1944, pp. 717-721.
21
O Discernimento dos Espíritos
com Ivan, para se mostrar frio com o seu irmão, e para
conversar de modo irreverente com Katavasov.
«Será que não se tratou afinal senão de uma disposição momentânea, que vai passar sem deixar vestígios?», perguntou
a si mesmo. Mas, no mesmo instante, ao recordar-se da sua
disposição, sentiu com agrado que algo de novo e importante se tinha passado com ele. A vida real tinha apenas por
uns instantes toldado a paz espiritual que encontrara, mas
ela achava-se ainda intacta dentro dele2.
Alegria em Deus – e, depois, o entristecimento dessa alegria.
Uma disposição alegre – e, depois, relacionamentos que desencorajam e levantam dúvidas acerca de um autêntico progresso
espiritual. Ansiedade porque aquilo que parecia ser uma fé forte
pode não ter passado de uma disposição passageira – e, depois,
de novo o contentamento. A paz espiritual – e, depois, o ofuscar
dessa paz. Por fim, uma paz intacta em Deus. … Nesta descrição
dos pensamentos e emoções de Levin, Tolstoi exemplifica algo
de fundamental em qualquer vida de fé: as alternâncias de alegria e medo, paz e ansiedade, esperança e desânimo, pelas quais
passa
o coração humano na sua caminhada para Deus.
Estas alternâncias têm importância. A alegria de se experimentar a proximidade de Deus incute nova energia ao esforço
de amar e de servir. As trevas do desânimo e do medo colocam
essa busca em causa e podem ofuscá-la por completo. Todos os
fiéis de qualquer género de vida sentem alguma forma destas
flutuações espirituais interiores: tempos de dinamismo e de anseio pelas coisas de Deus, e outros tempos em que a energia e
atracção por elas se desvanecem. Será que estamos indefesos perante tais movimentos contrastantes do coração? Será que existe
2
Ibidem, p. 725.
22
Introdução
alguma forma de compreendermos essa complexa experiência
espiritual? Poderemos aprender a dar uma resposta sensata a tais
mudanças nos nossos corações? Se algum ensinamento puder
responder a estas questões, é certo que iremos beneficiar imenso com a aprendizagem desse ensinamento. Uma tal sabedoria
encontra-se, literalmente, no âmago da vida espiritual.
Inácio de Loiola
Todos quantos nos precederam na caminhada da fé experimentaram estas moções do coração, e, tal como nós, fizeram
escolhas em resposta a essas moções, aceitando-as ou rejeitando-as. Desde a experiência dos primeiros seres humanos, descrita
no livro do Génesis, e no decurso de todo o Antigo e Novo
Testamentos, encontramos pessoas que têm de distinguir entre
determinadas atracções que provêm de Deus e outras que não.
Pelos séculos fora, encontram-se exemplos de santidade que ajudaram as pessoas dedicadas a entenderem e a responderem a estas agitações do coração: Orígenes, Antão do Egipto, Agostinho,
João Cassiano, Bernardo de Claraval e Catarina de Sena, para
nomear apenas alguns3.
Entre eles, há, porém, um que se distingue: Inácio de Loiola
(1491-1556), o guia espiritual cujos ensinamentos quanto ao
discernimento serão o tema deste livro. Como veremos, Inácio
encontrou, de uma forma muito sua, uma linguagem prática
para explicar estes movimentos contrastantes do coração e ensinou formas efectivas de lhes dar resposta.
3 Cf. Ir. Innocentia Richards (trad.), Discernment of Spirits, Collegeville,
Minn., Liturgical Press, 1970; tradução para Inglês do artigo de JACQUES
GUILLET et al., «Discernement des Esprits» in Dictionnaire de Spiritualité
Ascetique et Mystique, III, cols. 1222-1291.
23
O Discernimento dos Espíritos
A vida interior do próprio Inácio caracterizou-se por uma rica
afectividade e uma notável autoconsciência espiritual. Abundam
as referências a esta perspicaz consciência espiritual nos escritos
daqueles que o conheceram pessoalmente e são considerados
como autores clássicos da tradição inaciana. Jerónimo Nadal, um
dos mais íntimos de Inácio, afirma que a sua graça especial consistia em «ver e contemplar a presença de Deus em todas as coisas,
acções e conversações, e o amor pelas coisas espirituais, permanecendo um contemplativo mesmo no meio da acção»4. Inúmeras
outras testemunhas exprimem opiniões semelhantes 5.
Na sua vida e escritos, e pela palavra das testemunhas, Inácio
surge como uma pessoa em profunda sintonia com as moções
espirituais do seu coração, sensível a essas agitações e cuidadoso
quanto a distinguir o que nelas provinha ou não de Deus. Esta
4 Citado a partir de JOSEPH DE GUIBERT, The Jesuits: Their Spiritual
Doctrine and Practice. A Historical Study, St. Louis, Institute of Jesuit Sources,
1986, p. 45.
5 Pedro Ribadeneira escreve: «É inacreditável a facilidade com que o nosso Padre se recolhia no meio de um fluxo contínuo de assuntos, tendo aparentemente ao seu dispor e debaixo da sua mão, por assim dizer, o espírito
de devoção e torrentes de lágrimas» (ibidem, p. 45). Diego Laínez acrescenta
que Inácio «tinha tanto cuidado com a sua consciência que todos os dias
comparava semana a semana, mês a mês, dia a dia, procurando progredir
diariamente» (ibidem, pp. 39-40). Luís Gonçalves da Câmara descreve a
sensação de Inácio, nos seus últimos anos, de «ter continuamente crescido
em devoção, isto é, em facilidade de encontrar a Deus, e agora mais do
que nunca antes em toda a sua vida passada. E sempre, e a qualquer hora,
que ele desejasse encontrar a Deus, ele o encontrava» (ibidem, p. 41). Uma
descrição completa da vida e da personalidade de Inácio excede a finalidade
deste livro, que tem como foco específico um único aspecto dos seus ensinamentos espirituais. Estes detalhes podem ser encontrados nas suas diversas
biografias; entre elas está a de CÁNDIDO DE DALMASES, Ignatius of
Loyola, Founder of the Jesuits: His Life and Work, St. Louis, Institute of Jesuit
Sources, 1985; JOSÉ IGNACIO TELLECHEA IDÍGORAS, Ignatius of
Loyola: The Pilgrim Saint, Chicago, Loyola University Press, 1994.
24
Introdução
consciência espiritual era, para Inácio, imensamente importante, e ele cuidava de a manter durante as diversas horas do dia; ela
estava no centro de toda a sua vida espiritual e dos seus escritos.
Uma tal consciência dos movimentos espirituais contrastantes
do coração, associada com o esforço de os perceber e de lhes
dar uma resposta prudente, é conhecida como discernimento dos
espíritos, o tema deste livro.
Discernimento, no sentido aqui pretendido, significa o processo de distinguir uma coisa ou ideia de uma outra. Discernir
(do latim discernere – separar as coisas de acordo com as suas
qualidades, distinguir entre uma coisa e outra) é identificar uma
realidade espiritual enquanto diferente de uma outra6. A expressão dos espíritos descreve aquilo que deve ser discernido, isto é,
quais realidades espirituais devem ser distinguidas, uma da outra.
A palavra espíritos, tal como Inácio a usa neste contexto, indica
aquelas agitações afectivas do coração – alegria, tristeza, esperança, medo, paz, ansiedade e sentimentos similares – que, com os
pensamentos que lhes estão relacionados, influenciam a nossa
vida de fé e o nosso progresso para Deus.
Neste ponto, podemos, por conseguinte, dizer que, para Inácio, o discernimento dos espíritos descreve o processo pelo qual
procuramos distinguir entre diversos tipos de movimentos espirituais nos nossos corações, identificando aqueles que são de
Deus e aqueles que não o são, para se aceitarem os primeiros
e rejeitarem os segundos7. Este livro preocupa-se com explicar,
6 Quanto ao significado da palavra «discernimento», ver também THOMAS GREEN, S.J., Weeds among the Wheat. Discernment: Where Prayer &
Action Meet, Notre Dame, Ind., Ave Maria Press, 1984, p. 22.
7 O discernimento dos espíritos não é o único tipo de discernimento em
questões espirituais. Manuel Ruiz Jurado elenca uma série de formas adicionais de discernimento espiritual: discernimento dos «sinais dos tempos», de
grupos e movimentos eclesiais, de fenómenos carismáticos, do verdadeiro
sentido de Igreja, discernimento na comunidade e discernimento da própria
25
O Discernimento dos Espíritos
ilustrar e aplicar o «discernimento dos espíritos» à experiência
espiritual ordinária e diária de pessoas dedicadas.
O nosso texto de base de entre os escritos de Inácio será o das
regras do discernimento dos espíritos, por ele incluído nos seus
Exercícios Espirituais8. Estas regras constituem o ensinamento
mais claro e mais concreto acerca do discernimento dos espíritos
contido na nossa tradição espiritual. Tal como escreve Green a
propósito da prática do discernimento dos espíritos:
As Regras para o Discernimento dos Espíritos nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola são a fonte clássica. Estas regras, escritas há 450 anos, são, mesmo nos nossos
dias, o locus canónico da Igreja quanto ao discernimento. O
que Santo Agostinho fez para o problema do mal, ou Santa
Teresa de Ávila e S. João da Cruz para a fenomenologia da
oração, Santo Inácio, pela graça de Deus, fê-lo para a arte
do discernimento9.
vocação. Cf. El Discernimiento Espiritual: Teología. Historia. Práctica, Madrid,
BAC, 1994, pp. IX-XI. JULES TONER, em A Commentary on Saint Ignatius’
Rules for the Discernment of Spirits: A Guide to the Principles and Practice, St.
Louis, Institute of Jesuit Sources, 1982, pp. 12-15, distingue entre discernimento dos espíritos e discernimento da vontade de Deus. Neste livro, foco-me
apenas no discernimento dos espíritos, ou seja, na distinção entre os movimentos
dos nossos corações que vêm de Deus e os que não vêm, e em como responder
a estes movimentos. Giovanni Battista Scaramelli, S.J., autor clássico do séc.
XVIII quanto ao discernimento dos espíritos, escreve: «Entendemos aqui por
“espírito” um impulso, um movimento ou uma inclinação interna da nossa
alma para algo particular» (Dottrina di S. Giovanni della Croce e Discernimento
degli spiriti, Roma, Pia Società S. Paolo, 1946, p. 230).
8 Nos. 313-327, regras da Primeira Semana para o discernimento. A partir daqui, o livro Exercícios Espirituais será abreviado como EE.
9 GREEN, Weeds among the Wheat, p. 14. TONER (Commentary,
p. XVI) afirma que «as regras de Santo Inácio de Loiola têm demonstrado
ser, pelos séculos fora, o conjunto de directivas para o discernimento dos
espíritos mais completo e útil na prática que foi até agora formulado».
26
Introdução
Uma Nota Pessoal
A minha atenção foi pela primeira vez dirigida de um modo
particular para o discernimento dos espíritos há vinte anos, em
virtude do meu trabalho nos retiros e na direcção espiritual. Comecei a referir-me a estas regras nos retiros e, mais tarde, nos
cursos sobre discernimento. A resposta entusiasta a este ensinamento que encontrei de modo habitual veio a convencer-me de
que, nestas regras, Inácio tinha tocado em algo de fundamental
na experiência de quem procura com sinceridade o Senhor. Caí
na conta de que Inácio oferece aqui um recurso sem paralelo
para vencer o maior obstáculo com que, de modo geral, são confrontados os fiéis nos seus esforços por progredir espiritualmente: desânimo, medo, perda de esperança e outras moções que
perturbam o coração.
Chamou-me a atenção a frequência com que, no final de um
retiro ou de um curso, tais pessoas afirmavam que Inácio lhes
tinha oferecido um conjunto inestimável de ferramentas espirituais para vencer o desânimo e o medo. Sentiam que Inácio
as tinha ajudado nas lutas do presente e lhes tinha fornecido os
meios espirituais para ultrapassar desafios similares no futuro.
Esta descoberta faz brotar uma renovada esperança.
Com o decurso dos anos, desenvolvi o método de apresentar
estas regras que sigo neste livro. Este método baseia-se em duas
convicções. A primeira é que o modo mais eficaz de transmitir o
ensinamento completo destas regras consiste em examinar com
atenção aquilo que Inácio de facto nelas diz: explorar as regras,
frase por frase, por vezes palavra por palavra, tal como ele as
escreveu10. Isto ainda se torna mais necessário tendo em conta
10 Aprendi pela primeira vez a riqueza desta abordagem a partir de
Daniel Gil, S.J., que a adopta no seu Discernimiento según San Ignacio,
Roma, Centrum Ignatianum Spiritualitatis, 1983.
27
O Discernimento dos Espíritos
que o estilo de Inácio é, nas palavras de De Guibert, árduo,
complicado e difícil11. Pude, com efeito, comprovar que, por vezes, as pessoas se sentem desiludidas na ocasião do seu primeiro
confronto com o texto das regras. Depois de serem lidas pela
primeira vez, é possível que as regras pareçam dizer pouco, ou
então pouco que não se saiba já. A sua riqueza plena e vital só
emerge quando elas são examinadas frase por frase, e se explora
com cuidado a sua densa formulação.
A segunda convicção corresponde a dizer que estas regras podem ser melhor explicadas fazendo uma referência constante à
experiência, já que elas foram formuladas a partir da experiência. Inácio escreveu as regras como resultado da sua assimilação
da experiência espiritual – sua e de muitos outros por ele acompanhados. Por essa razão, escolhi apresentar estas regras não tanto por meio de considerações abstractas, mas à luz de exemplos
recolhidos da experiência espiritual. Cada uma das regras será
comentada por meio de exemplos tirados da vida de diversas
pessoas, algumas bem conhecidas na nossa tradição espiritual,
outras nem tanto. O comentário que faremos a esses exemplos
revelará o significado da própria regra.
As regras tornam-se, desta forma, vivas. Tenho com frequência observado que as regras de Inácio são, num certo sentido, transformadas quando são relacionadas com a experiência espiritual. Esta abordagem situa as regras no seu contexto
próprio e original, e algo de eléctrico acontece. A linguagem
lacónica e despida aparece a uma nova luz, e as pessoas empenhadas caem na conta, com uma sensação de deslumbramento, que Inácio percebe e descreve em profundidade a sua
própria experiência espiritual, ajudando-as com habilidade a
dar-lhe uma resposta sábia. Espero que o exame a que as regras
11
The Jesuits, p. 71.
28
Introdução
serão sujeitas neste livro possa gerar sentimentos semelhantes
em quem o ler.
A Finalidade deste Livro
O meu objectivo é, pois, oferecer uma apresentação baseada
na experiência das regras de Inácio para o discernimento dos
espíritos, para facilitar a sua contínua aplicação à vida espiri­tual.
De acordo com a natureza das próprias regras, mantive esta finalidade prática sempre em mente. Este é um livro acerca de como
viver a vida espiritual12.
Nos seus Exercícios Espirituais, Inácio apresenta dois conjuntos de regras para o discernimento13. Irei comentar neste livro o primeiro conjunto, composto por catorze regras. É minha
intenção vir também a comentar o segundo conjunto de regras,
num volume separado. O próprio Inácio afirma, de facto, que
Há diversos autores que têm proposto comentários a estas regras, ainda
que sob diferentes perspectivas. Sinto-me particularmente devedor de três desses autores: Jules Toner, S.J., Daniel Gil, S.J., e Miguel Angel Fiorito, S.J. As
suas principais obras acerca destas regras são as seguintes: JULES TONER, A
Commentary on Saint Ignatius’ Rules for the Discernment of Spirits: A Guide to
the Principles and Practice, St. Louis, Institute of Jesuit Sources, 1982; irei citar
ainda a obra posterior de TONER, Spirit of Light or Darkness? A Casebook for
Studying Discernment of Spirits, St. Louis, Institute of Jesuit Sources, 1995;
DANIEL GIL, Discernimiento según San Ignacio, Roma, Centrum Ignatianum
Spiritualitatis, 1983; e MIGUEL ANGEL FIORITO, Discernimiento y Lucha
Espiritual, Buenos Aires, Ediciones Diego de Torres, 1985.
13 Um conjunto de regras é mais conveniente para a Primeira Semana
(EE, 313-327) e o outro para a Segunda Semana (EE 328-336). Por «Primeira Semana» e «Segunda Semana» quer-se indicar aqui não tanto uma série
específica de dias nos Exercícios Espirituais, mas antes duas tácticas diversas de
tentação, uma por meio da desolação espiritual (regras da Primeira Semana) e
outra por meio da consolação espiritual (regras da Segunda Semana). Cf. GIL,
Discernimiento, pp. 26-27, 51; FIORITO, Discernimiento y Lucha, pp. 35-37.
12
29
O Discernimento dos Espíritos
o segundo conjunto de regras não deveria ser comentado em simultâneo com o primeiro, e que fazê-lo seria prejudicial às pessoas empenhadas na aplicação do primeiro conjunto de regras
(EE, 9). Como teremos ocasião de comprovar, o crescimento
implicado na assimilação do primeiro conjunto de regras é já
grande. Dado que as nossas reflexões estarão focadas neste livro
no primeiro conjunto de regras, o material permanecerá fácil de
manejar, e será mais facilmente compreendido e aplicado nas
nossas vidas14.
Inácio compôs estas regras para quem guia outras pessoas
nos Exercícios Espirituais, um tempo de oração e de busca da
vontade de Deus. Ele presume que estes guias conhecerão bem
as regras e as explicarão aos retirantes de acordo com as suas
necessidades espirituais (EE, 8). Com esta pedagogia, Inácio
pretende que, com a ajuda dos seus orientadores, os retirantes
possam progressivamente desenvolver uma capacidade pessoal
de aplicar estas regras à sua própria experiência, uma capacidade a que irão dar continuidade assim que terminarem os dias
do retiro15.
Fiorito (Discernimiento y Lucha, pp. 7-11) sugere ainda outras razões
para um tratamento separado do primeiro conjunto de regras: estas regras
servem de introdução geral às outras regras para o discernimento; elas tratam
especificamente da desolação; e elas chamam a atenção para a luta espiritual
que faz parte de uma vida de fé.
15 «Inácio expressamente deseja que os retirantes continuem, ao regressarem à sua vida quotidiana após os Exercícios Espirituais, a viver de acordo
com o que neles aprenderam» (FIORITO, Discernimiento y Lucha, p. 10),
referindo-se às catorze regras para o discernimento de que aqui nos ocupamos.
MANUEL RUIZ JURADO, S.J., em El Discernimiento Espiritual: Teología.
Historia. Práctica, Madrid, Biblioteca de Autores Cristianos, 1994, p. 125, afirma: «A experiência espiritual condensada do tempo dos Exercícios serve como
um treino intensivo para o que deve ser posto em prática na própria vida» [a
partir da tradução de Timothy Gallagher desta citação, tal como acontecerá nas
citações que se seguirão deste livro de Ruiz Jurado – Nota do tradutor].
14
30
Introdução
Estas regras para o discernimento não se aplicam, por conseguinte, apenas ao tempo formal de retiro, mas também à experiência espiritual permanente de quem procura o Senhor. Assim
que elas são apreendidas, e com o apoio contínuo de um orientador espiritual competente, as pessoas empenhadas concluirão
que estas regras são insubstituíveis para compreenderem e responderem às moções espirituais quotidianas dos seus corações.
Este livro destina-se a quantos anseiam por uma compreensão mais profunda das regras para o discernimento de Inácio,
tendo em vista que sejam aplicadas nas suas vidas espirituais. Foi
escrito para quem dá e para quem recebe orientação espiritual,
e pode servir-lhes de recurso na transmissão e na recepção dos
ensinamentos de Inácio quanto ao discernimento. Quem se esforça por viver estas regras pode encontrar-se tanto no contexto
dos Exercícios Espirituais como da vida quotidiana. Este livro
pode servir como uma introdução sistemática às catorze regras
ou pode ser usado, consoante as necessidades, como um relembrar de determinada regra em concreto. Como ficará demonstrado pela escolha dos exemplos, o ensinamento contido neste
livro aplica-se a pessoas de todos os estados de vida e vocações.
Os mesmos exemplos também indicam que este livro não trata
de fenómenos espirituais remotos, mas da experiência espiritual
ordinária de todos os fiéis.
Já existe uma excelente literatura acerca das regras para o
discernimento. Continua, porém, a existir um vazio nessa literatura, um vazio que, em parte, explica a razão pela qual as
regras para o discernimento continuam a ser demasiadamente
pouco conhecidas e tão raramente utilizadas. Alguns dos escritos são extensos, minuciosos e conceptualmente ricos, mas, por
esse mesmo facto, inacessíveis excepto a especialistas. Há outros
escritos que simplificam de modo útil e tornam as regras mais
acessíveis a muitos leitores, mas não podem, em poucas páginas,
31
O Discernimento dos Espíritos
descrevê-las adequadamente. A apresentação das regras neste livro procura combinar a acessibilidade e a completude essencial.
Cada regra é tema de um capítulo separado e é comentada em
profundidade. Ao examinar aquilo que de facto Inácio escreve
em cada regra, sem procurar explorar assuntos e complexidades adicionais, respeitamos as escolhas pedagógicas do próprio
Inácio e proporcionamos um comentário inteligível e substancial de cada uma das regras, sem uma desnecessária extensão ou
dificuldade de exposição16. A explicação das regras por meio do
uso de exemplos ilumina a leitura, coloca o ensinamento no seu
contexto experiencial original, e clarifica as próprias regras.
Nas catorze regras, como se tornará evidente, Inácio instrui-nos primeiro acerca da natureza do discernimento e, depois,
quando já apreendemos isso, oferece linhas práticas de orientação para se viver de acordo com o discernimento que acabámos
de entender. A maioria dos leitores concluirá que, a partir do terceiro capítulo, este livro se aplica directamente à sua experiência
pessoal e oferece linhas práticas de orientação para a acção espiritual. Os dois primeiros capítulos, em linha com o sólido sentido
pedagógico de Inácio, colocam os fundamentos necessários para
uma
compreensão proveitosa do que se vai seguir.
A mensagem básica das catorze regras de Inácio para o discernimento é a libertação do cativeiro do desânimo e da desilusão na vida espiritual. Uma das minhas mais felizes experiências
ao trabalhar com estas regras tem sido a de testemunhar constantemente o modo como elas despertam uma nova esperança
naqueles com quem são partilhadas. As pessoas empenhadas,
por vezes sujeitas desde há muito ao desânimo espiritual acima
mencionado, encontram nas regras de Inácio um ensinamento
16 O Commentary, de Jules Toner, é um excelente recurso para investigar
complexidades adicionais do discernimento dos espíritos.
32
Introdução
que começa a libertá-las. As palavras que Jesus proclamou na sinagoga de Nazaré como um resumo de toda a sua missão redentora expressam também o tema central deste livro: «O Espírito
do Senhor está sobre mim, / porque me ungiu / para anunciar a
Boa-Nova aos pobres; / enviou-me a proclamar a libertação aos
cativos… / a mandar em liberdade os oprimidos» (Lc 4, 18; itálico acrescentado). Este livro trata da libertação dos cativos. Cada
uma das regras, tal como veremos nos capítulos que se seguem,
guiar-nos-á um passo mais à frente rumo a essa liberdade.
33
ÍNDICE GERAL
Agradecimentos ...................................................................... 7
Prefácio à Edição Portuguesa .................................................. 11
Prefácio ................................................................................. 13
Introdução: No Âmago da Vida Espiritual ............................. 21
Inácio de Loiola .............................................................. 23
Uma Nota Pessoal ........................................................... 27
A Finalidade deste Livro .................................................. 29
O Texto das Regras ............................................................. 35
Prólogo: O que é o Discernimento dos Espíritos? .................. 41
«Até Que Uma Vez Se Lhe Abriram Um Pouco os Olhos» 41
O Título das Regras ......................................................... 49
Um Tríplice Paradigma .................................................... 51
«Sentir» ........................................................................... 52
A Coragem de Estar Espiritualmente Desperto ............... 54
Uma Consciência Especificamente Espiritual ................. 59
«Conhecer» ..................................................................... 64
«Agir (Aceitar/Rejeitar)» .................................................. 66
As Moções do Coração .................................................... 67
1. Quando Alguém se Afasta de Deus (Regra 1) ............... 71
Uma Experiência de Libertação Espiritual ....................... 71
Duas Direcções Fundamentais de Vida ............................ 79
A Pessoa que Se Afasta de Deus ....................................... 80
O «Inimigo» do Nosso Progresso Espiritual ..................... 82
A Acção do Inimigo: Fortalecendo o Afastamento de Deus 86
361
O Discernimento dos Espíritos
O Bom Espírito .............................................................. 87
A Acção do Bom Espírito: Enfraquecendo o Afastamento
de Deus .......................................................................... 88
2. Quando Alguém se Aproxima de Deus (Regra 2) ......... 92
«Subindo de Bem em Melhor» ........................................ 92
A Acção do Inimigo: Enfraquecendo o Movimento em
Direcção a Deus .............................................................. 93
Um «Morder» que Perturba ......................................... 94
Tristeza ....................................................................... 96
Impedimentos .............................................................. 97
«Falsas Razões» que Inquietam ..................................... 98
A Acção do Bom Espírito: Fortalecendo o Movimento em
Direcção a Deus .............................................................. 101
Ânimo e Forças ............................................................ 103
Consolações e Lágrimas ................................................ 103
Inspirações ................................................................... 104
Uma «Quietude» que Fortalece o Coração ..................... 104
«Tirando Todos os Impedimentos» ................................. 105
3. Consolação Espiritual (Regra 3) ................................... 108
Uma Experiência Visível do Amor de Deus ..................... 108
Uma Consolação Especificamente Espiritual ................... 110
Formas de Consolação Espiritual ..................................... 116
«Quando Vem a Alma a Inflamar-se no Amor de Seu
Criador e Senhor» .....................................................117
«E Quando, Consequentemente, Nenhuma Coisa Criada
Sobre a Face da Terra Pode Amar em Si Mesma, a Não Ser
no Criador de Todas Elas» .............................................. 119
«Quando Derrama Lágrimas Que a Movem ao Amor do
Seu Senhor» ................................................................ 120
«Finalmente, Chamo Consolação Todo o Aumento de Es perança, Fé e Caridade» ............................................... 122
362
Índice Geral
«E Toda a Alegria Interior Que Chama e Atrai às Coisas
Celestiais» ................................................................... 124
4. Desolação Espiritual (Regra 4) ..................................... 129
O Tempo da Provação ..................................................... 129
Uma Desolação Especificamente Espiritual ..................... 132
Formas de Desolação Espiritual ....................................... 135
«Obscuridade da alma» ............................................... 136
«Perturbação» ............................................................. 137
«Inclinação a Coisas Baixas e Terrenas» ......................... 137
«Inquietação Proveniente de Várias Agitações e Tentações» 139
«Que Levam a Falta de Fé, de Esperança e de Amor» ..... 139
«Achando-se [a Alma] Toda Preguiçosa, Tíbia, Triste» .... 142
«E Como Que Separada de Seu Criador e Senhor» ......... 144
«Os Pensamentos que Provêm» da Consolação e da Desolação ................................................................................ 147
5. Desolação Espiritual: Um Tempo para a Fidelidade
(Regra 5) ........................................................................ 153
Linhas de Orientação para a Acção .................................. 153
Em Tempo de Desolação, Nunca Fazer Mudanças ........... 157
«Nunca»: Uma Norma Categórica ................................... 164
Inácio em Desolação ....................................................... 168
A Razão Para Esta Norma ............................................... 174
6. Desolação Espiritual: Um Tempo para a Iniciativa
(Regra 6) ........................................................................ 177
As Mudanças que Devemos Fazer .................................... 177
Meios Espirituais Para Uma Luta Espiritual .................... 180
Oração ........................................................................ 181
Meditação ................................................................... 183
Examinar-se Muito ..................................................... 185
«Alargar-nos Nalgum Modo Conveniente de Fazer Penitência» 189
363
O Discernimento dos Espíritos
O Fruto da Iniciativa Espiritual ....................................... 192
7. Desolação Espiritual: Um Tempo para a Resistência
(Regra 7) ........................................................................ 194
O Pensamento Que Fortalece a Nossa Resolução ............. 194
Uma Prova ...................................................................... 195
A Natureza da Prova ........................................................ 200
A Finalidade da Prova ...................................................... 202
Quando o «Tu Não Podes» Se Torna Em «Eu Posso» ....... 205
«Recordando» e «Esquecendo» ......................................... 208
8. Desolação Espiritual: Um Tempo para a Paciência
(Regra 8) ........................................................................ 211
A Constância no Tempo da Prova .................................... 211
Paciência: A Virtude Principal na Desolação Espiritual .... 214
O Pensamento que Edifica a Paciência ............................ 216
Consolação Espiritual e Desolação Espiritual: Uma Alter nância Normal ................................................................ 221
9. Por Que é Que Deus Permite a Desolação Espiritual?
(Regra 9) ........................................................................ 226
«É Melhor Para Vós Que Eu Vá» (João 16,7) .................... 226
«Três São as Causas Principais» ........................................ 229
As Nossas Faltas e o Dom da Conversão .......................... 231
Uma Prova e o Dom do Conhecimento .......................... 237
A Pobreza e o Dom de um Coração Humilde .................. 243
Uma Norma Implícita ..................................................... 246
10. Consolação Espiritual: Um Tempo para Preparar
(Regra 10) ...................................................................... 249
Antes de a Prova Ter Início .............................................. 249
«As Duas Horas Tão Apreciadas» ..................................... 251
O Pensamento que Prepara ............................................. 255
364
Índice Geral
Se Não Estivermos Preparados ...................................... 257
Se Estivermos Preparados ............................................. 258
«Tome Novas Forças Para Então» .................................... 261
Oração de Petição por Força numa Futura Desolação Espiritual ....................................................................... 263
Meditação acerca de Verdades que Darão Sustento na De solação Espiritual ........................................................ 263
Consideração do Valor da Desolação Espiritual para o Crescimento ....................................................................... 264
Reflexão acerca do Crescimento Pessoal Passado por Meio
da Desolação Espiritual .............................................. 264
Resolução de Não Fazer Mudanças em Tempo de Desola ção Espiritual ...........................................................265
Revisão Destas Regras Inacianas .................................... 266
Planeando para as Situações Específicas de Desolação Espiritual ....................................................................... 267
Um Retrato da Décima Regra ......................................... 268
11. Consolação Espiritual e Desolação Espiritual:
Encontrar o Nosso Equilíbrio (Regra 11) ..................... 270
As Duas Moções Espirituais Numa Mesma Regra ........... 270
Na Consolação Espiritual: Um Coração Humilde ........... 271
Na Desolação Espiritual: Um Coração Confiante ............ 276
Nem Ingenuamente «Por Cima» Nem Desesperadamen te «Em Baixo» ................................................................. 279
Manter o Equilíbrio Espiritual: Uma Experiência ............ 280
12. Permanecer Firme nos Inícios (Regra 12) .................... 289
Uma Nova Fase nas Regras .............................................. 289
A Metáfora da Regra Doze .............................................. 291
A Aplicação da Metáfora ................................................. 295
A Fraqueza Fundamental do Inimigo .............................. 296
«Ele Venceu a Tentação e Ficou Tranquilo» ...................... 299
365
O Discernimento dos Espíritos
13. Romper o Silêncio Espiritual (Regra 13) ..................... 307
Comunicação e Liberdade Espiritual ............................... 307
Uma Orientação de Importância Crucial ......................... 310
«Abandonei por Completo as Minhas Dúvidas Assim que
Acabei de Falar» .............................................................. 315
«Esse Foi o Fim de Toda a Minha Ansiedade, de Toda a
Minha Hesitação» ........................................................... 323
«Com Uma Nova Esperança no Seu Coração» ................. 328
14. Fortalecer o Ponto Fraco (Regra 14) ............................ 330
Um Ataque Dirigido com Astúcia ................................... 330
Uma Resposta: Preparar-se com Antecedência ................. 335
Uma Necessidade Particular ............................................ 340
Conhece-te a Ti Mesmo! ................................................. 346
A Décima Quarta Regra e as Regras Precedentes ............. 348
Conclusão: A Libertação dos Cativos ..................................... 351
Bibliografia ........................................................................... 356
Índice de Nomes .................................................................... 359
Índice Geral ........................................................................ 361
366

Documentos relacionados