Proliferação e mau uso de armas pequenas a partir da perspectiva
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Proliferação e mau uso de armas pequenas a partir da perspectiva
Pensando Primeiro Pessoas nas Proliferação e mau uso de armas pequenas a partir da perspectiva da segurança humana Um relatório do Centro para o Diálogo Humanitário Agradecimentos O Centro para o Diálogo Humanitário agradece imensamente o apoio dos governos do Canadá, Mali e Suíça neste projeto. As visões aqui expressas são de responsabilidade dos autores. Elas não representam necessariamente as diretrizes dos membros da Rede de Segurança Humana. Qualquer incorreção ou erro editorial é de responsabilidade do Centro para o Diálogo Humanitário. O Centro gostaria de agradecer os muitos ativistas comprometidos, representantes de organizações não governamentais, funcionários governamentais e das Nações Unidas que contribuíram com artigos ou informações para esta publicação. Seu tempo e esforço foram valiosos. Muito obrigado também para Paul Kowal, Mark Gardberg, Lora Lumpe, Flore-Anne Bourgeois, Pete Abel, Nic Marsh, Folade Mutota, Robert Muggah e Mireille Widmer por seus conselhos e auxílio. Cate Buchanan Gerente de Programa, Segurança Humana e Armas pequenas Centro para o Diálogo Humanitário Sumário Prólogo Ministerial: Uma abordagem voltada para o interesse da população sobre a disponibilidade e mau uso de armas pequenas 2 Prefácio por Sérgio Vieira de Mello 4 Introdução 5 Seção I: Avaliando o custo humano de armas pequenas A tensão no serviço de assistência médica 7 7 Desenvolvimento interrompido Na linha de fogo: agentes de ajuda humanitária e a disponibilidade de armas 10 13 Risco triplo: mulheres, armas e violência 15 Pessoas em trânsito Tem sorte de estar vivo? 17 19 Box: Violência armada na República Democrática do Congo (RDC) 22 Seção II: Administrando e reduzindo a disponibilidade de armas pequenas 23 O regulamento de posse e uso civil de armas de fogo Construindo uma proteção contra atrocidades 23 25 Fortalecendo os embargos de armas das Nações Unidas: uma perspectiva na África Ocidental 28 A ‘Moratória ECOWAS’: desafios e oportunidades 30 Problema no paraíso: coleta de armas nas Ilhas Salomão Um mundo justo para nós? Protegendo crianças da violência das armas pequenas 32 34 Box: Um ponto de vista da Eslovênia 37 Seção III: Acabando com o mau uso de armas pequenas 38 O uso da força pela polícia: chamando a atenção para o mau uso de armas pequenas 38 Policiamento comunitário em áreas violentas 41 Rumo a uma agenda de direitos humanos para armas pequenas 43 Seção IV: Conclusões e recomendações 47 Box: Prioridades de Mali na presidência da Rede Box: Pesquisa de ação orientada 48 50 Anexo 1 52 Uma lista de compromissos garantidos pela Rede e um resumo de informações sobre armas. Anexo 2 Informações sobre o processo de diálogo e lista de organizações participantes 59 Prólogo ministerial: Uma abordagem voltada para o interesse da população sobre a disponibilidade e mau uso de armas pequenas Desde o início em 1999, a Rede de Segurança Humana reconheceu que armas pequenas são a principal ameaça para a segurança das pessoas e suas comunidades. A proliferação e mau uso de armas pequenas enfraquecem os esforços que garantem a segurança em todos os níveis; seja em regiões desestabilizadas pela proliferação de armas, em escolas, em campos de refugiados ou cidades arruinadas pela violência criminal. Países que fazem parte da Rede de Segurança Humana têm solicitado de forma consistente à comunidade internacional para “intensificar e coordenar esforços contra proliferação excessiva, desestabilizante e descontrolada de armas pequenas” (Resumo do presidente, Encontro Ministerial do RSH, Bergen 1999). Estamos determinados, como o Programa de Ações das Nações Unidas declara, “em reduzir o sofrimento humano” causado pela proliferação e mau uso de uma arma que “sustenta conflitos, exacerba a violência, contribui para o desalojamento de civis, acaba com o respeito às leis humanitárias internacionais, impede a provisão de assistência humanitária para vítimas de conflitos armados e abastece o crime e o terrorismo”. Solicitamos a implementação total dos acordos e normas existentes – regionais e global – para controlar a disponibilidade das armas e o limite do mau uso das mesmas. Os principais são: o Protocolo de armas de fogo da Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado transnacional; o Programa de ação das Nações Unidas para prevenir, combater e erradicar o comércio ilícito de armas pequenas e leves em todos os seus aspectos; e os princípios básicos do uso da força e armas de fogo por agentes de segurança pública. Estas iniciativas internacionais são realizações marcantes no desafio de reduzir o custo humano da violência causada por armas pequenas. Entretanto, para garantir a segurança humana em face da violência de armas pequenas precisamos fazer mais. Com esta finalidade, a Rede de Segurança Humana encarregou-se, com a ajuda do Centro para o Diálogo Humanitário, de organizar conferências sobre a dimensão humana no desafio das armas pequenas. Estamos felizes em apresentar o resultado destas conferências nesta publicação – “Pensando primeiro nas pessoas: proliferação e mau uso de armas pequenas a partir da perspectiva da segurança humana”. Com base em pesquisa desenvolvida e relatos pessoais de médicos, especialistas em desenvolvimento, funcionários humanitários e pessoas afetadas pelas conseqüências do mau uso de armas pequenas, foram identificados os elementos para uma abordagem voltada ao interesse coletivo sobre armas pequenas. Em conjunto, eles clamam por recursos variados: desde rígidos embargos de armas da ONU à proteção a crianças da violência de um revólver; de intervenções na saúde pública a desafios de violência baseada em sexo; da restrição à transferência de armas à promoção de policiamento comunitário. As páginas seguintes dão uma idéia clara de que as conquistas até agora em relação ao debate sobre armas pequenas são apenas um bom começo. É preciso fazer mais. Esperamos que esta seja uma mensagem a ser ouvida onde aqueles que trabalham com armas pequenas se reúnem – do Primeiro Encontro Bienal de Estados para a Pensando Primeiro nas Pessoas 2 Implementação do Programa de Ação das Nações Unidas, em julho de 2003, às prefeituras das comunidades que lutam em virtude da violência das armas. Controlar a ampla disponibilidade e mau uso de armas pequenas permanece como uma prioridade central para a Rede de Segurança Humana. Nos próximos meses, os países da Rede continuarão a atrair a atenção para o surpreendente custo humano associado à violência de armas pequenas em contextos multilaterais, incluindo a 28ª Conferência Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, em dezembro de 2003. Os países da Rede continuarão a estabelecer diálogo com agências das Nações Unidas e ONGs em uma abordagem voltada para o interesse coletivo sobre este assunto. Será dada ênfase particular a elaboração futura de subcomponentes, tais como a relevância dos direitos humanos e leis humanitárias e opções de aumentar a segurança da comunidade. Também haverá esforços para estender o diálogo a fim de incluir outros parceiros que tenham a mesma opinião. No centro de todo este trabalho, a Rede defenderá a redução da morte e ferimentos como uma referência para o progresso. Com um número estimado de 1300 pessoas mortas todos os dias por causa da violência das armas, devemos continuar o trabalho em direção a um mundo onde os direitos das pessoas, segurança e vidas não sejam ameaçadas pelas armas pequenas. Sem o progresso substancial na redução da disponibilidade e do mau uso de armas pequenas, a segurança humana continuará sendo meta ilusória. Rede de Segurança Humana Julho de 2003 Pensando Primeiro nas Pessoas 3 Prefácio Sociedades arruinadas pela violência armada são também contaminadas por exceções e sérios abusos aos direitos humanos. Tenho visto isto diretamente em uma diversidade de nações divididas pela violência armada, do Camboja ao Kosovo até os Grandes Lagos e, inclusive, no Brasil, meu próprio país. Na minha experiência, está claro que a disponibilidade desmedida de armas pequenas aumenta a letalidade, intensidade e duração de conflitos violentos. Os impactos devastadores do mau uso de armas pequenas ameaçam a segurança humana. Comunidades e nações recém-saídas de conflitos armados, quase sempre se tornam sociedades saturadas com armas, que permanecem voláteis e incapazes de beneficiar-se totalmente dos esforços para promover um desenvolvimento sustentável. Mesmo nas chamadas sociedades pacíficas, o mau uso de armas pequenas antecipam altas taxas de homicídios e suicídios. Eu recomendo esta publicação por sua abordagem inovadora e abrangente e por projetar idéias que avançam neste tema tão complexo. Trata-se de uma rica contribuição para os debates e o desenvolvimento de pensamentos sobre esta crise social evitável, contendo grande quantidade de artigos que salientam os princípios centrais de libertação do medo e da miséria. Ações futuras para evitar a disponibilidade excessiva das armas pequenas e a eliminação do abuso das mesmas precisarão de políticas e práticas decisivas para colocar as pessoas em primeiro lugar. Esperamos trabalhar nos próximos anos com o Centro para o Diálogo Humanitário, a Rede de Segurança Humana e outros estados comprometidos, agências das Nações Unidas e ONGs, para encontrarmos soluções práticas para este problema letal. Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário para Direitos Humanos das Nações Unidas Julho de 2003 Pensando Primeiro nas Pessoas 4 “A crença no desarmamento não procede de idealismo ou ingenuidade. A melhor estratégia para prevenção de conflitos armados é eliminar os recursos da violência.” –Alpha Oumar Konare, Presidente de Mali, 1992-2002 Introdução Em julho de 2003, a comunidade internacional fará sua primeira avaliação do progresso global na implementação do Programa de Ação das Nações Unidas para prevenir, combater e erradicar o comércio ilícito de armas pequenas e armas leves em todos os seus aspectos, negociado pelos estados em 2001.1 O Centro para o Diálogo Humanitário fica feliz em poder contribuir com o Pensando primeiro nas pessoas neste processo de reflexão. Nosso interesse neste tema não é teórico. O principal objetivo do Centro é facilitar o processo de paz em situações de conflito violento. Como parte deste esforço, temos projetos que focam o papel de grupos armados não oficiais, promovendo o controle das leis e investindo em metodologias de negociação humanitária. Nosso trabalho, entretanto, é constantemente enfraquecido devido à disponibilidade e ao mau uso das armas pequenas.2 A dificuldade em negociar a paz em comunidades cheias de armas induziu o Centro a estabelecer um novo programa com o objetivo de gerar idéias e com o desejo de agir na redução da disponibilidade e o mau uso das armas. Aproximadamente 500 mil pessoas morrem anualmente por armas de fogo – tanto em zonas de guerra, como em cidades “pacíficas” ou em suas próprias casas. Inúmeras outras são feridas, física ou emocionalmente, por causa do uso destas armas. Embora geralmente não seja a causa da discussão, a fácil disponibilidade destas armas intensifica a severidade da violência e o número de vítimas. Sua proliferação também aumenta o potencial para que as crianças sejam empurradas para o crime ou o combate armado. E o predomínio do mau uso das armas enfraquece o desenvolvimento sustentável, a boa governança e os direitos humanos. Mesmo após o término da guerra, armamentos abundantes quase sempre deixam pessoas e comunidades reféns de uma espiral de violência. Esta situação trágica desafia de forma urgente a comunidade internacional para que encontre soluções significativas. Entretanto, a complexidade do problema, assim como a sensibilidade política e diplomática sobre as armas, fizeram com que muitos governos evitassem este assunto por muito tempo. Os governos da Rede de Segurança Humana (a Rede) – Áustria, Canadá, Chile, Grécia, Irlanda, Jordânia, Mali, Holanda, Noruega, Eslovênia, África do Sul (Observador), Suíça, Tailândia – são os paladinos ideais de uma resposta abrangente para 1 Daqui por diante referido como o Programa de Ação da ONU. Documento da ONU A/CONF.192/15. Disponível no site: www.disarmament.un.org/cab/poa.html 2 Armas pequenas incluem: revólveres e pistolas semi-automáticas; rifles and carabinas; submetralhadoras; fuzis militares de fogo e metralhadoras leves. Armas leves incluem: metralhadoras pesadas; submetralhadora portátil e lançadores de granadas montados, canhões antiaéreos portáteis, antitanques portáteis e rifles sem coice; lançadores portáteis de mísseis antitanques e sistemas de foguetes; lançadores portáteis de sistemas de mísseis antiaéreos e morteiros de calibres inferiores a 100 mm. A munição inclui: cartuchos (cilindros) para armas pequenas; cartuchos e mísseis para armas leves; recipientes móveis com mísseis ou cartuchos para uma única ação em sistemas antiaéreos e antitanques; granadas de combate e antitanques; minas terrestres; e explosivos. Veja Small Arms Survey (2001), Small Arms Survey 2001: Retratando o Problema, Oxford University Press, Oxford. Os termos “armas” “armas de fogo” e “armas pequenas” são usados de forma intercambiável nesta publicação. Pensando Primeiro nas Pessoas 5 a crise evitável da violência global das armas. 3 A expressão ‘segurança humana’ refere-se à ênfase nos direitos, segurança e vida de indivíduos e da comunidade, bem mais que um simples foco exclusivo no estado. Em agosto de 2002, o Programa de Segurança Humana e Armas Pequenas do Centro – em parceria com os governos do Canadá, Mali e Suíça – iniciou um projeto para encorajar e apoiar a Rede na consolidação de seu compromisso existente de controlar sofrimentos relacionados à armas pequenas. O Centro facilitou dois encontros entre organizações não governamentais, agências das Nações Unidas e representantes da Rede de Genebra, Nova York e várias capitais, bem como muitas conferências informais.4 Este processo confirmou que para a Rede a redução da violência armada é de interesse vital. Pensando primeiro nas pessoas procura registrar as discussões valiosas vigoradas durante este período. O Centro reuniu os destaques destas conferências com contribuições de indivíduos que trabalharam de diversas formas para reduzir a insegurança humana sofrida por meio do cano de uma arma: trabalhadores que desenvolvem ações humanitárias, médicos trabalhando para recolocar vítimas da violência armada na sociedade, governos da Rede e outros motivados pelo desejo de diminuir o sofrimento humano. A publicação resultante serve para conceber o debate sobre armas pequenas e leves com um objetivo simples e claro – dar segurança às pessoas. “Reconhecer que a comunidade internacional tem o dever de lidar com este assunto e admitir que o desafio proposto pelo comércio ilícito de armas pequenas e leves em todos os seus aspectos é multifacetado e envolve, entre outras coisas, segurança, prevenção e resolução de conflitos, prevenção de crimes, dimensões humanitárias, de saúde e de desenvolvimento.” - Preâmbulo do Programa de Ação da ONU Pensando primeiro nas pessoas enfatiza o tributo humano pago por causa da violência armada sob vários pontos de vista: saúde, direitos humanos, desenvolvimento e desarmamento. Ninguém tem a capacidade de dominar o outro. De fato, a vontade de encontrar um caminho para a segurança humana em relação a este problema pode incluir várias perspectivas, enquanto prioriza claramente a proteção e a segurança das pessoas como referência de qualquer esforço de controle. Pensando primeiro nas pessoas está focado em três temas: • O tributo das armas pequenas contraído pelas pessoas em todo o mundo; • Estratégias para reduzir a disponibilidade das armas pequenas; e • Desafios fundamentais para acabar com o mau uso destas armas Esta antologia não é definitiva ou completa, mas uma contribuição para um debate extensivo. As visões e idéias levantadas requerem uma maior investigação, discussão e ação. 3 4 África do Sul é um país observador da Rede Veja apêndice 2 para informações sobre este encontro. Pensando Primeiro nas Pessoas 6 Seção I: O custo humano A tensão no serviço de assistência médica: ‘Você nunca se acostuma com isso – a morte estúpida’ Mark Gardberg y Cate Buchanan Enquanto o custo exato é desconhecido e provavelmente incompreensível, a disponibilidade e o mau uso das armas pequenas e leves têm claramente um espantoso custo humano em todo o mundo. Esta seção destaca alguns dos impactos e dá voz a médicos que trabalham para recompor corpos e vidas danificadas – ou destruídas – pela violência armada. Uma das ironias da violência armada é que independentemente do nível econômico ou história de uma pessoa ou país afetado, as conseqüências destrutivas são as mesmas, e elas são profundas. O que segue é a história de dois médicos vivendo e trabalhando em ambientes dramaticamente diferentes – um na carente Uganda e outro no afluente Estados Unidos. Eles encaram o mesmo dia a dia de dificuldades em lidar com a devastação física causada por ferimentos de tiros. A Dra. Olive Kobusingye é uma cirurgiã do setor de emergência do Hospital Mulago em Kampala, uma cidade de 1,2 milhões de habitantes. Por não haver serviço médico de urgência em Uganda, os pacientes de Olive são normalmente levados para o hospital pela polícia. Apesar dos acidentes de carro serem a maior causa de ferimentos, pacientes feridos a bala têm mais probabilidade de necessitar de cirurgias de emergência e de morrer em conseqüência destes ferimentos. A principal sala de tratamento é dividida em duas, com um total de quatro camas. Raramente não há uma vítima de tiro nesta ala e Olive explicou que isto era muito bom para os outros pacientes. Enquanto tratava de uma menina que havia sido atropelada por um carro com uma tala temporária de cartolina, Olive explicou que a sala de emergência normalmente contém seis camas em vez de quatro. Nestes alojamentos tão pequenos, os médicos e enfermeiras devem ser particularmente vigilantes para evitar a transmissão de infecções entre pacientes e equipe: uma vítima da violência armada perdendo uma grande quantidade de sangue a dois passos de outro paciente ferido é um grande desafio. Dr. Mark Engelstad, um cirurgião especializado em traumas faciais que trabalha em Mineápolis, Minnesota, uma cidade com aproximadamente 3 milhões de habitantes no norte dos Estados Unidos, explicou que as armas são extremamente eficientes em destruir tecidos finos e causam enorme perda de sangue. Como uma bala deixa um rastro de destruição que normalmente cruza todo o corpo, estes ferimentos necessitam de procedimentos diversos e longos. A recuperação demanda muitos dias na unidade intensiva de tratamento e grande quantidade de dinheiro que poderia ser canalizado para outras coisas. Dinheiro sobrando é exatamente o que o sistema de saúde de Uganda não tem. De volta ao corredor com Olive, um parente de um dos pacientes à espera de um tratamento reclama sobre a longa demora para um exame de Raio-X. Uma enfermeira contou que o Raio-X seria impossível porque não havia filme disponível para a máquina há uma semana. Olive menciona que um Raio-X básico ou um exame de ressonância magnética antes da cirurgia fornece um guia útil durante a operação e ajuda no monitoramento pósoperatório do paciente, mas freqüentemente Olive se encarrega das cirurgias sem esta ferramenta padrão. Ela afirma que em um hospital como o Mulago, a presença dos parentes dos pacientes é decisivo para o tratamento dos mesmos. Como a ala de emergência tem habitualmente uma pequena equipe de enfermeiras, os parentes exercem um papel inestimável de monitores dos pacientes. Os parentes também são importantes Pensando Primeiro nas Pessoas 7 na tentativa de levantar fundos, caso o paciente precise de um tratamento especial (como um exame de ressonância magnética, disponível apenas para aqueles que podem pagar. Muitas pessoas em Uganda vivem com menos de um dólar por dia, por isso o custo de um exame de ressonância magnética aproximadamente US$ 80, pode facilmente devastar uma família. Para colocar isto em perspectiva, o gasto com cuidados médicos em Uganda é uma das menores na região, aproximadamente US$ 8 por pessoa anualmente, com uma proporção médico/paciente de um médico para cada 25 mil pessoas. Em torno da metade da população vive num raio de cinco quilômetros de um recurso médico, mas barreiras ao acesso à saúde vão muito além da distância física. Olive enfatiza que o esforço financeiro empregado em Mulago pelas vítimas de tiros é enorme. Quando um paciente chega no hospital necessitando urgentemente de sangue e uma cirurgia de emergência, há uma séria preocupação que os itens essenciais podem se esgotar: luvas, algodão, roupas limpas, sangue testado nos bancos de sangue, desinfetante, bandagens e filmes de Raio-X são os primeiros a acabar. Em situações agudas, Olive e seus colegas fazem decisões sobre vida e morte na sala de ressuscitação. Com um respirador para toda a área de emergência, os pacientes que estão mais aptos a sobreviver são tratados primeiro. Olive descreveu a freqüente dificuldade encontrada ao perguntar: “Você vai tirar uma criança do respirador para colocar um paciente ferido com uma bala?”. Mark, o cirurgião americano, tem, de longe, muito mais recursos à sua disposição, mas reporta as mesmas preocupações. Até mesmo numa cidade como Mineápolis, onde a violência armada é relativamente baixa em comparação a outras cidades nos EUA, Mark atende pessoas que falharam em tentativas de suicídio ou que sejam vítimas de acidentes com armas de fogo ou violência interpessoal. Ele estima que a maioria dos pacientes, talvez três em cada cinco, são homens jovens com ferimentos feitos por eles mesmos. A maioria são tiros acidentais envolvendo crianças que estavam brincando com armas que estão dentro de suas casas. Um custo da proliferação de armas de fogo normalmente negligenciado é o da reabilitação das vítimas de um tiro após a primeira cirurgia. Este custo pode ser enorme, desviando recursos financeiros de outras áreas de assistência médica, tais como prevenção de doenças. Como Mark menciona que a reabilitação das vítimas inclui empenho para tratar com membros amputados, a perda da sensibilidade de vários nervos, incapacidade física permanente, função interna de órgãos interrompida (tais como a perda do baço, que necessita de antibióticos diários permanentemente) e problemas digestivos surgidos devido à perda de partes do intestino, entre outras perdas. A falta de recursos não é a principal preocupação de Olive em relação à violência armada. Ela está mais preocupada com o impacto emocional a longo prazo dos ferimentos a bala em indivíduos, famílias e comunidades. Olive explicou que as famílias de vítimas de armas de fogo se arruínam muito mais do que outras que sofrem tragédias distintas: “Com armas de fogo...há o medo. É muito pessoal... É como se a ameaça não tivesse ido embora”. Mark repercute este sentimento, notando que o trauma psicológico sofrido por vítimas de tiro e sua família é facilmente diagnosticado e requer longos períodos de tratamento: “Acredito que isto acontece por causa da crueldade explícita causada pelas intenções deliberadas de homicídio ou suicídio”. Diferente de outras formas de trauma, os efeitos psicológicos de ser atingido por uma bala tende a permanecer com a vítima e sua família por muitos anos. Pensando Primeiro nas Pessoas 8 “É como se estivéssemos secando o chão com a torneira aberta. Leva-se cinco minutos para descarregar as balas, mas três horas e enormes recursos são necessários para recuperar cada pessoa. Precisamos direcionar toda nossa energia para tentar evitar que esta crise cresça ainda mais”. –Dra. Olive Kobusingye5 A disponibilidade e mau uso das armas são uma preocupação crescente em Uganda por conta da impressão de que possuir uma arma aumenta a proteção pessoal. Olive é também a diretora executiva do Centro de Controle de Ferimentos de Uganda, que conduz uma pesquisa sobre prevenção de ferimentos e implementa os resultados dos esforços de proteção e o desenvolvimento de um programa baseado em provas. “Seria ótimo se pudéssemos cuidar dos pacientes utilizando todos os nossos conhecimentos com os recursos que necessitamos. Ao dizer isto, penso que os recursos precisam ser usados de forma estratégica, para descobrirmos como podemos tirar as armas da sociedade das mãos de civis”. Olive voltou para o centro de emergência cirúrgica e tratou uma menina com um inchaço na cabeça decorrente de uma queda de um beliche e um homem bêbado vomitando com o braço machucado. Imagine o caos se uma vítima de tiro entrasse nesta pequena sala. A violência armada prejudica sistemas de saúde pública. Ao mesmo tempo, em muitos casos, a natureza intencional dessa violência aumenta as cicatrizes permanentes nos sobreviventes, em suas famílias e comunidades. Estas cicatrizes são mais devastadoras que qualquer proteção supostamente proporcionadas pelas armas – indiferentemente se a pessoa ou a comunidade em questão está entre a mais pobre ou a mais rica do mundo. Mark Gardberg, jornalista free-lance, e Cate Buchanan, gerente de Segurança Humana e do Programa de Armas Pequenas do Centro para o Diálogo Humanitário, são co-autores deste artigo.6 Para mais informações sobre este assunto: Baker, Susan P., Brian O’Neill, Marvin J. Ginsburg, e Gvohua Li (1992), The Injury Fact Book, Oxford University Press, Oxford. Cukier, Wendy (2002), “Small Arms and Light Weapons: A Public Health Approach”, Journal of World Affairs, Vol. IX, Issue I. International Physicians for the Prevention of Nuclear War and SAFER-Net (2001), Global Trade in Small Arms: Public Health Effects and Interventions. Disponível no: www.research.ryserson.ca/SAFER-Net Organização Mundial de Saúde (2002), World Report on Violence and Health 2002, WHO, Genebra. Disponível no: www.who.int/violence_injury_prevention Oxfam-GB, Novib, e Intermon Oxfam (2003), The Impact of Small Arms on Health, Human Rights and Development in Medellin: A Case Study, Oxfam-GB, Oxford. Taipale, Ilkka et al. (2002), War or Health? A Reader, Zed Books, Londres. ‘‘Going to the source of the illness’, uma apresentação no Small arms and the humanitarian community: Developing a strategy for action, Nairobi, Novembro 2001. Relatório disponível no website: www.hdcentre.org/Programmes/smallarms/hcsa.htm 6 Kimberly Burns, jornalista freelance, entrevistou a Dra. Olive Kobusingye em fevereiro de 2003. Cate Buchanan entrevistou o Dr. Mark Englestad em março de 2003. 5 Pensando Primeiro nas Pessoas 9 Desenvolvimento interrompido: ‘Por que eles nos vendem armas e ao mesmo tempo nos enviam ajuda em alimentos?’7 Kilfemariam Gebre-Wold Durante as conferências muitos indivíduos, particularmente os representantes do governo de Mali, chamaram a atenção para o vínculo entre a disponibilidade de armas pequenas e o retrocesso no desenvolvimento. Esta perspectiva do Kiflemariam Gebre-Wold realça o debate principal que está em jogo. O progresso em direção ao desenvolvimento é o progresso em direção à paz. Quando as pessoas têm opções de ganhar a vida, preservando seus direitos e sendo beneficiadas pela segurança pública, então os esforços de desenvolvimento podem efetivamente reduzir mais o potencial da violência armada. Entretanto, os programas de desenvolvimento são sempre implementados com um alto ônus econômico e humano e titubeiam devido à interrupção causada pela violência armada – sejam nas favelas do Rio de Janeiro ou na área rural do Sudão. Como um etíope, foco meus esforços no Chifre da África, no nordeste.8 Os países nesta região estão destruídos pelo conflito armado, apesar de variarem em natureza, alcance e intensidade. Estes estados são frágeis; mesmo onde a paz já começou a ocorrer, há perigo que os conflitos armados diretos voltem. Um processo de construção de paz mais amplo ainda precisa ser definido e adquirir um genuíno apoio político. “Se você tem que gastar (uma) grande parte do que você ganha em um trabalho absolutamente pesado com uma pessoa que chega com uma arma, afinal qual é o motivo para trabalhar tanto?” –Bibhuti Sarma de Nalbari, Índia9 Armas não são usadas exclusivamente para promover a guerra. Em mãos não treinadas elas são também instrumentos de violência criminal e insegurança comunitária. O medo da violência armada afasta as crianças da escola, os nômades das pastagens, os mascates dos mercados e assistentes sociais de campos de refugiados. Quando isto acontece tanto a assistência social quanto atividades de desenvolvimento não são possíveis. Vejamos o exemplo da Garissa, no nordeste do Quênia: ali, a insegurança física posiciona-se ao lado da seca como a primeira causa para a miséria humana. A conexão entre as duas é pérfida, resultando em uma dupla desgraça – uma redução de posses de propriedades e uma carência ao seu acesso. Garissa sofre de diversas maneiras com a ampla disponibilidade de armas: banditismo e seqüestro relâmpago nas estradas, pirataria e produtos roubados, furtos e saques, intimidação, ferimentos físicos e mutilação, estupro e morte causada por conflitos entre tribos e bandidos. O impacto mais óbvio destas armas são as pessoas mortas. Muitas nem são informadas. Deslocamento interno é também outra conseqüência do mau uso das armas pequenas. Pessoas – normalmente mulheres e crianças – são forçadas a sair de suas casas, destruindo a real estrutura das sociedades e arruinando os mecanismos existentes para enfrentar a pobreza. Neste caso, é claro que a violência e a instabilidade que acompanham conflitos armados, além de impossibilitarem projetos de desenvolvimento, Pergunta de um jovem engraxate em Addis Ababa ao autor em 2001. Países do Chifre da África incluem Djibuti, Eritréia, Etiópia, Quênia, Uganda, Somália e Sudão. 9 Entrevistado em Banerjee, Dipankar e Robert Muggah (2002), Small Arms and Human Insecurity. Reviewing participatory research in South Asia, Regional Centre for Security Studies and Small Arms Survey. 7 8 Pensando Primeiro nas Pessoas 10 também enfraquecem sistemas de sobrevivência e mecanismos de defesa já existentes. Instabilidade, pobreza e colapso do estado são as conseqüências. Enquanto o desenvolvimento é reprimido pela disponibilidade incontrolável das armas, em alguns casos os países prestam auxílio para o desenvolvimento enquanto ao mesmo tempo proporcionam incentivos para novas vendas de armas. A oferta destas armas freqüentemente precede o seu mau uso e fomenta mais medo e morte. O desenvolvimento – no meio da violência armada – é geralmente pouco mais que um paliativo para as vítimas de armas pequenas e, como já foi documentado, quando um serviço de assistência social é trocado por armas, na verdade agrava a situação. Com o objetivo de fomentar uma consciência crítica e um ponto de entrada para a intervenção, é necessário um esforço maior para registrar as ligações e impactos da disponibilidade de armas pequenas e seu mau uso no desenvolvimento de uma sociedade. Esforços para manter em voga o controle das armas pequenas dentro de programas de desenvolvimento estão encaminhados e precisam ser consolidados. Em particular, a conscientização e o planejamento da redução da violência por armas pequenas deviam ser decompostos na enorme gama de setores que trabalham para promover desenvolvimento sustentável. Programas que focam carência alimentar, reforma do setor de segurança, saúde pública, água e saneamento deviam, por exemplo, levar em consideração a presença e os abusos associados às armas. Uma relevante técnica de controle definitivo de armas que seja imediata e óbvia para uma comunidade em desenvolvimento é a de coleta e destruição das armas. Tirar as armas de circulação pode proporcionar uma oportunidade de abertura necessária para o desenvolvimento a longo prazo e a manutenção de iniciativas de paz se estiverem ligadas a incentivos de desenvolvimento ou contarem com a participação e o envolvimento crescente da comunidade. Kiflemariam Gebre-Wold foi Diretor de Projeto do Bonn International Centre for Convertion, "Armas pequenas e armas leves em países do IGAD” (SALIGAD), 2000-2002. Atualmente está afiliado ao AIDA Consultants Para mais informações sobre este assunto: Batchelor, Peter e Robert Muggah (2002), Development held hostage: Assessing the impacts of small arms on human development, UN Development Programme. Disponível no: www.undp.org/erd/smallarms/docs/development_held_hostage.pdf Bendaña, Alejandro (2001), “Addressing the Demand Dimensions of Small Arms Abuse”, Ploughshares Briefing, 01/6. Disponível no: www.ploughshares.ca Dorn, A. Walter (2000), “Small Arms, Human Security and Development”, Development Express, No. 5. Disponível no: www.acdi-cida.gc.ca/devexpress Eshete, Tibebe e Siobhan O’Reilly-Calthrop (2000), Silent Revolution: The Role of Community Development in Reducing the Demand for Small Arms. Ensaio N° 3, World Vision International. Disponível no website: www.worldvision.ca/publications.cfm?ID=176 Hubert, Don (2001), “Small Arms Demand Reduction and Human Security”, Ploughshares Briefing, 01/5. Disponível no website: www.ploughshares.ca Kingma, Kees (2002), Demobilisation and Reintegration of Ex-combatants in Post-war and Transition Countries: Trends and Challenges of External Support. BICC-GTZ Report, Bonn. Disponível no website: ww.bicc.de/demobil/gtz_studien/demob_gtz.html Quaker United Nations Office (QUNO) informa sobre a redução da demanda de armas. Disponível no website: www.geneva.quno.info/main/publication A edição de 2003 do livro anual de Small Arms Survey tem como tema central: ‘Desenvolvimento negado’. Disponível no website: www.smallarmssurvey.org Pensando Primeiro nas Pessoas 11 Abordando o problema das armas pequenas sob outras perspectivas Uma abordagem de saúde pública oferece para o interesse coletivo uma metodologia de compreensão e ação sobre a violência armada. Se a disponibilidade e mau uso das armas são vistos como uma crise evitável de saúde, esta abordagem oferece um complemento poderoso para os muitos esforços em andamento. Esta disciplina de saúde pública enfatiza prevenção de doenças e promoção da saúde, com um objetivo inequívoco de salvar vidas e reduzir os ferimentos – tanto de ameaças de substâncias tóxicas, acidentes de carro ou violência armada. Para alcançar estes objetivos, os médicos priorizam intervenções baseadas em acontecimentos reais que correspondam a demandas de contextos particulares. Em caso de violência armada, as metodologias de saúde pública reconhecem a natureza multifacetada da violência e contam com abordagens multidisciplinares e colaborativas. “Abordar o problema das armas pequenas desta maneira força o desgaste de algumas barreiras que foram construídas artificialmente por normas e por políticos, garantindo que as soluções apropriadas sejam habilitadas e avaliadas”. 10 Uma abordagem da saúde pública para lidar com ameaças ao bem-estar envolve os seguintes passos: 1. Tendências monitoradas incluem morte e ferimentos, impactos em populações específicas e avaliação de impactos mais amplos; 2. Análise da linha causal, incluindo social, econômico, cultural e ambiental, a vítima e o assaltante, facilitadores (tais como a disponibilidade e mau uso das armas); 3. Intervenções de desenvolvimento que quebram a corrente em seu elo mais fraco, incluindo: - Educar pessoas sobre os riscos e ações preventivas, Mobilizar parcerias comunitárias para desenvolver estratégias colaborativas, Desenvolver políticas e regulamentos que tratem este problema, Desenvolver soluções para reduzir injustiças, Reforçar leis e regulamentos, Proporcionar tratamento adequado e efetivo; 4. Avaliando a efetividade das intervenções, estimulando o aperfeiçoamento das abordagens. Wendy Cukier, Small arms and light weapons: A public health approach, The Brown Journal of World Affairs, primavera de 2002, Vol IX, Tema 1, p. 261 10 Pensando Primeiro nas Pessoas 12 Na linha de fogo: profissionais de ajuda humanitária e a disponibilidade das armas O Centro para Diálogo Humanitário e o Small Arms Survey combinaram forças em 2001 para avaliar o impacto da disponibilidade das armas em operações e em funcionários de operações humanitárias e de desenvolvimento.11 O Estudo sobre Segurança e Risco na Ação Humanitária e no Desenvolvimento foi motivado pela ausência de informação sobre o impacto do uso e abuso de armas naqueles que procuram assistir e proteger populações em risco. 12 O estudo já feito há anos distribuiu agentes de ajuda humanitária em zonas de guerra, em nações em transição da guerra para a paz e nos chamados países pacíficos. As 600 respostas recebidas de 39 países representam a maior amostra até hoje de opiniões desta comunidade sobre armas pequenas.13 Descobertas feitas pela primeira rodada de implementação do levantamento indica que a equipe da agência trabalha constantemente em ambientes inseguros e sentem pessoalmente a ameaça das armas de fogo.14 Além das noções de risco pessoal, muitos entrevistados já experimentaram uma variedade de incidentes de segurança, incluindo intimidação armada, roubo à mão armada, ataque armado e detenção. E muitos entrevistados indicaram que têm conhecidos mortos ou feridos por armas pequenas. Independente do contexto de segurança, quase todos os funcionários relataram uma posse disseminada de armas. Além das forças militares, policiais e de segurança privada, entrevistados notaram taxas alarmantes de posse entre grupos rebeldes e sindicatos de crime organizado. Muitos entrevistados estimaram o nível de posse de armas entre populações civis de ‘moderado’ a ‘altíssimo’. “Com a paz e a desmobilização (na Guatemala), as mesmas montanhas e estradas na selva que viajávamos em relativa segurança tornaram-se cenas de freqüentes ataques de homens armados que não tinham o menor respeito pelo UNHCR. Nossa equipe estava tão vulnerável que quando a população local espalhou o boato de que o objeto grande em frente ao carro (a antena) era uma arma, nós não desmentimos a informação porque pensávamos que isto poderia evitar alguns ataques.”15 De acordo com quase três quartos de entrevistados, a disponibilidade de armas pequenas induz a um freqüente adiamento ou suspensão das operações. Ambientes severamente inseguros – normalmente devido a uma grande prevalência de armas – restringem o acesso a civis necessitados e podem conduzir despejos. Ao atingir civis, as mortes e os ferimentos não intencionais e crimes violentos são mencionadas como as atividades mais comuns. Muitas das mortes e ferimentos por armas entre civis são atribuídas a armas de mão, ainda que em zonas de conflitos os ataques com rifles sejam vistos com a maior ameaça. Para mais informações visite www.hdcentre.org/Programmes/smallarms/sasurvey.htm Em março de 2003, os parceiros incluíam Merlin, Médecins du Monde, Oxfam GB, World Vision, CARE, UNDP e Concern Worldwide. 13 Ênfase particular foi dada a duas regiões: Sudoeste da Ásia (Camboja, Filipinas e Tailândia) e os Balcãs (Kosovo, Macedônia, Albânia e Sérvia Montenegro). 14 O relatório final das descobertas está disponível em: www.hdcentre.org/Programmes/smallarms/sasurvey/lineoffire.htm 15 Robert Mignonne, um funcionário da Alta Comissão para Refugiados da ONU em UNHCR Refugee Magazine (2000), Vol.4, Número 121, p. 26. 11 12 Pensando Primeiro nas Pessoas 13 Percent Reporting Operational Obstacle Operational and the ObstáculosObstacles operacionais e predomínio e mal uso das armasofpequenas Prevalence & Misuse Small Arms 100 90 80 Porcentagem informando obstáculos operacionais Predomínio e mal uso das armas (índice) 70 60 50 Muito baixo Baixo Moderado Alto Muito alto 40 30 20 10 0 Very Low Low Moderate High Very High Small Arms Prevalence & Misuse (index) A maioria dos entrevistados indicou que não recebeu treinamento de segurança da organização em que trabalham no momento. Pior ainda, as respostas também sugeriram que a equipe local provavelmente recebeu apenas metade do treinamento de segurança da equipe estrangeira. Aqueles que receberam treinamento de segurança o viram como ‘útil’ para lidar com armas pequenas, e evidências sugerem que o treinamento está associado a uma tendência crescente em indivíduos que tomam precauções de segurança. Indicações iniciais do estudo pintam um quadro negro dos ambientes onde profissionais de ajuda humanitária operam e de sua habilidade em trabalhar com segurança. Portanto, um objetivo a longo prazo do estudo é o de destacar recomendações práticas relativas à política para agências participantes e de toda a comunidade humanitária e de desenvolvimento mais ampla. Na próxima fase, o projeto continuará com a implementação global, com um foco na região dos Grandes Lagos da África e Oriente Médio, assim como estudos em países como Afeganistão e Angola. Para mais informações sobre este assunto: Danieli, Yael, ed. (2002), Sharing the Front Line and the Back Hills—Peacekeepers, Humanitarian Aid Workers and the Media in the Midst of Crisis, Baywood Publishing Co., Amityville, NY. King, Dennis (2002), Paying the Ultimate Price: An Analysis of Aid-Worker Fatalities, Relatório ODI/HPN. Disponível no: www.odihpn.org Muggah, Robert e Martin Griffiths (2002), Considering the Tools of War: Small Arms and Humanitarian Action, HPN Network Paper No. 38, Overseas Development Institute, Londres. Safety and Security of Humanitarian Personnel and Protection of United Nations Personnel (2001), Relatório do Secretário Geral do Conselho de Segurança da ONU A/52/871-5/1998/318, 18 de abril Pensando Primeiro nas Pessoas 14 Risco triplo: mulheres, armas e violência Vanessa A. Farr Foi reconhecido através do processo de diálogo que é necessário fazer uma análise completa dos impactos diretos e indiretos da violência armada nas mulheres. Neste artigo, Vanessa Farr identifica alguns dos pontos que envolvem mulheres, armas e violência dando uma contribuição para a dimensão pouco explorada do custo humano em relação às armas pequenas. Em um discurso para a ONG Committee on Disarmament, Peace and Security, o SubSecretário Geral para Questões de Desarmamento observou que “medidas práticas de desarmamento, tais como meios para projetos de desenvolvimento, quando reúnem membros de uma comunidade e iniciam um diálogo para decidir prioridades de desenvolvimento, são mais eficientes que recolher armas e construir novas estradas ou iluminação de rua. Elas alimentam vínculos comunitários que são essenciais para a paz permanente”. 16 Estimular vínculos comunitários é realmente essencial para que programas de desarmamento sejam bem sucedidos. Mas tal trabalho não pode ser empreendido com toda a comunidade a menos que medidas sejam colocadas no lugar certo para desenvolver uma abordagem de segurança humana visando ambos os sexos. Precisamos reconhecer que uma comunidade não pode ser segura em face da desenfreada violência baseada em sexo. Tal violência acontece em contextos sociais diferentes e afetam mulheres e crianças de todas as classes sociais, mas é freqüentemente escondida da opinião pública. O desenvolvimento sustentável também exige um compromisso de proteger os direitos humanos das mulheres. E deve também envolver o tratamento dos efeitos das perspectivas de cada sexo quanto à segurança de todos os membros de uma comunidade através de mecanismos que proporcionem oportunidades e acesso iguais. Um compromisso de construção da consciência dos sexos é essencial se quisermos entender totalmente os efeitos das armas pequenas, onde quer que elas sejam usadas. Este compromisso irá assegurar que igual atenção é dada para as necessidades de mulheres e homens que tenham sido vítimas de conflitos e que políticas e programas irão chamar a atenção destas necessidades igualmente e de forma eficiente. “Você me perguntou qual a experiência que tenho com armas pequenas….[Meus filhos] estão lutando…entre si com balas e machetes, deixando rios de sangue, matando-se mutuamente…E minhas filhas? [Elas estão] desalojadas de suas terras e violentadas por seus irmãos. [Eles todos] não são capazes de mostrar à sua prole nada mais do que uma terra cheia de ódio e desesperança.” Dra. Sofia Jaramillo, médica, Colômbia Mesmo em países sem guerra, os homens possuem e usam armas pequenas e morrem por sua causa, em número bem maior que mulheres. Estudos separados por sexo sobre violência relacionada a armas de fogo mostraram, entretanto, que as armas também representam uma parte significativa na perpetração da violência contra as mulheres, tanto em suas casas ou em espaços públicos próximos.17 Além disso, ao terem múltiplos papéis Dhanapala, Jayantha (2002), Making Peace Last: Disarmament as an Essential Element. Um ensaio distribuído durante o Workshop “Paz e Segurança” da ONG Committee on Disarmament, Conferência DPI/NGO, Nações Unidas, Nova York. 17 Wintermute, Garen J., Mona A. Wright and Christiana M. Drake (2003), “Increased Risk of Intimate Partner Homicide Among California Women Who Purchased Handguns.” Annals of Emergency Medicine 41.2: 281-283. 16 Pensando Primeiro nas Pessoas 15 na casa e na comunidade, as mulheres freqüentemente proporcionam a alimentação e o sustento de homens que foram vítimas de violência relacionada à armas de fogo. Estudos mostram que armas são particularmente perigosas se forem mantidas em casa, sejam pertencentes a mulheres ou homens. Ainda assim, de acordo com um estudo recente de mortalidade entre mulheres que adquiriram armas portáteis na Califórnia, houve um aumento de chance destas mulheres serem mortas por seu parceiro íntimo em uma inacreditável marca de 50%.18 Em sociedades violentas, com uma alta prevalência de armas pequenas, seu uso é de natureza entrelaçada com expressões culturalmente aceitas de masculinidade. Isto é particularmente verdadeiro para homens jovens que consideram armas como um significado poderoso para estabelecê-los na hierarquia social. Nas sociedades, caracterizadas pelo machismo, homens jovens podem chegar a acreditar que ‘armas fazem o homem’ e pensam que é possível ‘tornar-se um homem’ através da violência contra suas parceiras. Dado que mulheres e crianças são mais aptas a serem feridas por armas de fogo em países onde armas são amplamente disponíveis, um controle efetivo de armas deveria ser visto como parte vital e urgente de qualquer estratégia para reduzir crimes violentos contra mulheres. “Estudos no Camboja, na metade dos anos 90, indicaram que muitas mulheres – chegando a 75% em um estudo – foram vítimas de violência doméstica, geralmente pelas mãos de homens que mantiveram as armas pequenas e armas leves que usaram durante a guerra.”19 Mas, e quanto às mulheres presas em zonas de combate de larga escala, onde não há leis para proteger civis? A presença de um grande número de armas exercem um papel principal no balanço das guerras contemporâneas, com níveis sem precedentes de brutalidade sendo direcionadas contra mulheres e meninas. Freqüentemente, a intenção dos novos fomentadores da guerra é controlar a região não para liberá-la, mas para saqueá-la. Eles não são aceitos nem pela lei humanitária internacional nem pela ética local, e como resultado, eles infligem prejuízos sem precedentes nos civis. Com a intenção de desenvolver estratégias significativas de redução da violência em lugares desgastados por conflitos, precisamos de uma melhor evidência de quais são os impactos das armas pequenas na vida das mulheres. Por exemplo, qual é o impacto na saúde da mulher? Quais são os custos econômicos das famílias? Como o senso de insegurança afeta as decisões de uma mulher de trabalhar fora de casa? Estatísticas corretas são essenciais se os esforços do controle de armas estejam de acordo com cada sexo e correspondam às necessidades particulares das mulheres apanhadas no fogo cruzado. Em sua avaliação sobre o impacto de conflitos armados nas mulheres, Elisabeth Rehn e Ellen Johnson Sirleaf observaram que as mulheres deram passos concretos para mudarem “de uma cultura de reação para uma cultura de prevenção” através de sistemas estabelecidos de prevenção e reação antecipada.20 Entre outras coisas há a documentação e a publicação das suas preocupações sobre a disponibilidade das armas, o aumento de Wintermute, Wright e Drake (2003); veja também Cukier, Wendy (2002), “Gendered Perspectives on Small Arms Proliferation and Misuse: Effects and Policies.” BICC Brief 24: 25-41; Jewkes, Rachel e Naeema Abrahams (2000), “Comments on the Firearms Control Bill Submitted to the Portfolio Committee on Safety and Security.” Disponível no: www.gca.org.za/bill/submission/jewkes.htm. 19 Rehn, Elisabeth e Ellen Johnson Sirleaf (2002), Progress of the Worlds Women, Volume 1. Women, war, peace. The Independents Expert’s Assessment on the Impact of armed Conflict on Women and Women’s Role in Peace Building, p. 16. 20 Rehn e Sirleaf (2002), p. 111. 18 Pensando Primeiro nas Pessoas 16 sua compreensão e consciência de como as mulheres podem ter um papel ativo na coleta de armas e se capacitando para participarem do processo de tomada das decisões na comunidade e na família, onde os temas de proteção e segurança são discutidos. O papel dos pesquisadores e criadores de políticas em apoiar tais iniciativas é crucial. Novas estruturas e metodologias conceituais para pesquisa do impacto na segurança humana de armas pequenas estão sendo produzidas somente agora. Dado que as experiências de mulheres em tempos de guerra foram historicamente negligenciadas, silenciadas ou rapidamente esquecidas, é imperativo, desde o início, que o trabalho futuro inclua um compromisso de revelar o sofrimento e a capacidade de resistência particularmente de mulheres e meninas. Dra. Vanessa A. Farr é co-editora de um livro a ser publicado que fala sobre os impactos nas mulheres da disponibilidade e mau uso das armas, apoiada pela Universidade das Nações Unidas e o Governo do Canadá. Para mais informações sobre este assunto: Anderlini, Sanam Naraghi (2000), Women at the Peace Table: Making a Difference, UNIFEM, Nova York. Cock, Jacklyn (2001), Closing the Circle: Towards a Gendered Understanding of War and Peace, The African Gender Institute. Disponível no: www.uct.ac.za/org/agi/newslet/vol8/lead.htm. Enloe, Cynthia (2000), Maneuvres: The International Politics of Militarizing Women’s Lives, Universidades da of California, Berkley e Los Angeles. Fafo Institute for Applied Social Science and (NUPI ) Norwegian Institute of International Affairs (2001), Gendering Human Security: From Marginalisation to the Integration of Women in Peace-building. Fafo report 352/NUPI relatório 261, Oslo. Farr, Vanessa and Kiflemariam Gebre-Wold, eds. (2002), Gender Perspectives on Small Arms and Light Weapons: Regional and International Concerns. BICC Brief 24. Bonn International Centre for Conversion. Disponível no: www.bicc.de IANSA Women’s Caucus (2001), The Devastating Impact of Small Arms and Light Weapons on the Lives of Women: A Collection of Testimonies. Disponível no: www.iansa.org Pessoas em trânsito Aproximadamente uma em cada cem pessoas no mundo foram desalojadas – algumas dentro de seus países de origem, outras no exterior. Muitas, nesta população diversa mas vulnerável, estão fugindo da violência armada. Qual fator que a disponibilidade das armas exerce na decisão de fugir de suas casas? Este artigo resume alguns destes temas para consideração. De acordo com o Secretário Geral da ONU, Kofi Annan, “o desalojamento forçado de populações civis é agora muito mais um objetivo direto da guerra do que seu derivado”.21 Estimativas atuais sugerem que há aproximadamente 12 milhões de refugiados e de 20 a 25 milhões pessoas internamente desalojadas de suas casas. Das 20 milhões de ‘pessoas afligidas’ que o Alto Comissariado para Refugiados da ONU (UNHCR) assiste, 8.8 milhões estão na Ásia, 4.8 milhões na Europa e 4.2 milhões na África.22 Pessoas desalojadas sofrem por causa da ampla disponibilidade e mau uso das armas antes, durante e depois de terem sido forçadas a fugir. Por exemplo, em 2001, pessoas desalojadas na nova Iugoslávia eram constantemente ameaçadas por armas deixadas após a guerra, incluindo armas de fogo e explosivos, ambos os quais foram usados em 21 Secretário Geral das NU, Kofi Annan (1998), Report to the Security Council on Protection for Humanitarian Assistance to Refugees and others in Conflict Situations, S/1998/883. 22 Números a partir de 1° de janeiro de 2002. Disponível no: www.unhcr.ch Pensando Primeiro nas Pessoas 17 incidentes de assédio. Mau uso rotineiro de armas freqüentemente ficam impunes.23 O uso e abuso de armas é normalmente o ‘gatilho’ para pessoas que fogem de suas casas e por causa disto é a ‘causa imediata’ de desalojamento. Além disso, enquanto tentam escapar do assédio e da violência perpetrada com armas, pessoas são muitas vezes feridas e psicologicamente marcadas. “Encontrei por acaso um jovem colombiano cujo corpo estava marcado por escoriações. Ele havia sido atingido nove vezes e deixado para a morte. Seu crime? Ele nasceu numa vila conhecida por ser uma fortaleza paramilitar e os guerrilheiros o consideraram um inimigo e tentaram matálo. Foi um milagre ele ter sobrevivido”. 24 Encontrar abrigo em um campo ou área de restabelecimento não é tão seguro como parece. A crescente militarização de campos de refugiados – abrigos supostamente de proteção humanitária – ameaça a segurança das pessoas em cada crise. Gangues armadas dentro dos campos mantém reféns aqueles que fugiram de situações ruins de suas vidas. E os agentes de ajuda humanitária que tentam proporcionar assistência também são sujeitos à intimidação e à violência. A militarização de campos de refugiados é caracterizada pela presença de antigos soldados, milícias e negociadores de armas. Os campos geralmente viram alvos de forças armadas locais e estrangeiras e são usados como bases de recrutamento para agentes não oficiais.25 Os civis nos campos muitas vezes pegam em armas para se defenderem, fortificando a cultura de violência e a demanda por armas. Com os campos perdendo seu caráter civil, algumas organizações escolheram o emprego de segurança particular para recuperar o controle. Esta prática é um recurso de consternação considerável e debate entre a comunidade comunitária. Outras buscaram soluções a longo prazo ao iniciarem policiamento efetivo dentro dos campos. Como um exemplo, em 1999 a UNHCR estabeleceu programas entre os campos de refugiados de Burundi dentro da Tanzânia para lidar com a violência perpetrada contra mulheres. A agência empregou uma equipe especialmente sensibilizada com violência sexual para chamar a atenção de todos os casos de violência contra as mulheres. Também empregou um oficial em segurança internacional para treinar a polícia nos campos.26 Em Guiné uma situação similar foi relatada. Com uma nova ênfase para reagir a casos baseados em violência sexual, houve um crescimento de informações sobre tais crimes e a confiança daquelas que sobreviveram a tais ataques. “Estas mudanças não chegam de um dia para outro. É difícil medir, mas posso ver um progresso”, afirma Margaret Sankoh, oficial do programa do Comitê Internacional de Resgate (the International Rescue Committee). 27 23 Por exemplo, o Global IDP Project nota o contínuo assédio e intimidação das minorias sérvias na Croácia. Veja Global IDP Project (2001), Croatia: Serb minorities continue to be exposed to harassment and intimidation, Disponível no: www.db.idpproject.org/Sites/IdpprojectDb/idpSurvey.nsf 24 Thompson, Larry (2002), Colombia and Displaced People, Refugees International. Disponível no: www.refugeesinternational.org/cgi-bin/ri/other?occ=00500. O Global IDP Project afirma que “de acordo com o governo [colombiano], em 2000, os paramilitares foram responsáveis por 71% de desalojamento forçado”. Disponível no: www.db.idpproject.org. 25 Muggah, Robert (2002), Forced Migration Online Research Guide: Small Arms and Forced Displacement. Disponível no:www.forcedmigration.org/guides/fmo002/ 26 Crisp, Jeff (2001), Lessons Learned from the Implementation of the Tanzania Security Package, Alto Comissário para Refugiados das Nações Unidas, Genebra: Unidade de Avaliação e Política. 27 Notas de campo: Refugee women and the challenge of reintegration (2002). Disponível no:www.refugees.org/news/press_releases/2002/071902.cfm Pensando Primeiro nas Pessoas 18 Com todas essas pessoas percebendo que vivem durante anos e muitas vezes uma geração inteira em campos de refugiados, abordagens futuras para aumentar a segurança nestas comunidades devem ser urgentemente exploradas. Para mais informações sobre este assunto: Cohen, Roberta e Francis M. Deng, eds (1998), The Forsaken People: Case Studies of the Internally Displaced, Brookings Institution, Washington, DC. Crisp, Jeff (2001), Lessons Learned from the Implementation of the Tanzania Security Package, Alto Comissário para Refugiados das Nações Unidas, Unidade de Avaliação e Análise Política, Genebra. Disponível no: www.unhcr.ch Crisp, J. and K. Jacobsen (2000), ‘Security in Refugee Populated Areas’, Refugee Survey Quarterly, Volume 19, No.1, pp. 1-2. Disponível no:www3.oup.co.uk/refqtl/hdb/Volume_19/Issue_01/ Global IDP Project Visite: www.idpproject.org Lawyers Committee for Human Rights (2002), Refugees, Rebels and the Quest for Justice, Nova York. Disponível no: www.lchr.org Muggah, Robert e Eric Berman (2001), Humanitarianism under Threat: The Humanitarian Impacts of Small Arms and Light Weapons, Study for the Inter-Agency Standing Committee Reference Group on Small Arms, Nova York. Muggah, Robert (2002), Small Arms and Forced Displacement, Forced Migration Online Research Guide. Disponível no:www.forcedmigration.org/guides/fmo002/fmo002.pdf Relief Web Visite: www.reliefweb.int Tem sorte de estar vivo? Ninguém sabe quantas pessoas ficam inválidas anualmente por causa da violência armada, mas Coupland e Meddings estimam que o número de pessoas feridas em conflitos é normalmente duas a três vezes maior que o de mortos.28 Este e muitos outros estudos indicam uma necessidade alarmante de investigar a causa e os custos da invalidez relacionada à armas e perceber o que é necessário para ajudar e reabilitar os sobreviventes. Os parágrafos seguintes destacam o caso de um jovem palestino permanentemente inválido por causa do mau uso intencional de armas com uma munição controversa. A pesquisa feita pelo Institute of Community and Public Health da Universidade de Birzeit indica que em torno de 13% dos ferimentos sofridos por palestinos durante a recente Intifada provavelmente resultarão em uma invalidez permanente.29 Desde a explosão da Intifada da al-Aqsa em 29 de setembro de 2000, em torno de 2300 palestinos – incluindo 355 menores de 18 anos - morreram.30 De acordo com a Sociedade Crescente Vermelho da Palestina, mais de 23 mil pessoas foram feridas. A organização de direitos humanos israelense B’Tselem coletou vários testemunhos que ilustram o uso abusivo de armas pequenas por soldados e colonos israelenses. Este é um exemplo de como um israelense relatou um incidente de tiroteio: Coupland, Robin e David Meddings (1999), “Mortality associated with the use of weapons in armed conflict, wartime atrocities and civilian mass shootings: Literature review”, British Medical Journal, Vol 319, p. 407. Em algumas instâncias a proporção pode aumentar para 13. 29 Ferriman, Annabel (2002), “Palestinian territories face huge burden of disability”, British Medical Journal, Vol. 324, p. 320. 30 www.palestinercs.org/injuries_data_analysis.htm 28 Pensando Primeiro nas Pessoas 19 “Você ouve tiroteio, nada real . Você pula e começa a atirar... De certa forma os soldados tomam a iniciativa e atiram em quaisquer coisas suspeitas... Isto foi um incidente que mais tarde foi relatado pela rádio do exército como ‘tiros foram dados nas estufas do assentamento Morag. Nossas forças atiraram mirando a origem do tiros’. Não sei de onde vieram os tiros e eu estava lá”. 31 Muito da violência vem de colonos e soldados israelenses, mas nem todos. Aproximadamente 80 palestinos sob suspeita de colaboração foram mortos por seus companheiros da Palestina desde o começo desta Intifada.32Ao mesmo tempo, mais de 700 israelenses foram mortos, incluindo 224 integrantes da força de segurança de Israel e 92 menores.33 A violência exerce um efeito direto na economia da região, que por sua vez criou uma carência crítica de acesso a cuidados com a saúde e serviços de reabilitação. De acordo com a USAID, a porcentagem de população vivendo abaixo da taxa de pobreza de U$ 2 por pessoa por dia nos territórios palestinos pulou para 46%, com o desemprego subindo de 10 para 38%.34 Hospitais são geralmente inacessíveis para pacientes e funcionários e as instituições têm dificuldade de obter suprimentos médicos. Organizações de direitos humanos relataram muitos casos nos quais pessoas feridas e doentes morreram em postos de controle de fronteira, sendo barrados por soldados ao tentar atravessá-la.35 “Mahmoud Al Medhoun, 15 anos, foi atingido três vezes – na perna, nas costas e no abdômen – por soldados atirando de dentro de um tanque. Uma bala alojou-se na espinha, esmagando três vértebras e comprimindo um nervo. Sua perna direita está paralisada. Médicos removeram parte de seu cólon e remendaram seu fígado, ele está impossibilitado de comer. ‘Se Deus quiser vou andar novamente’, declara Mahmoud. Mas quando seu pai menciona a opinião do médico na qual a paralisia será provavelmente permanente, o garoto se enrola como uma bola, escondendo seu rosto na curva de seu braço e chora”.36 O impacto em homens jovens, em particular, foi destacado em um relatório de fevereiro de 2001 dirigido sob o patrocínio da Universidade da Califórnia.37 Mais de 100 entrevistas foram efetuadas com pacientes, doutores e pessoal médico em 14 hospitais e clínicas na Jordânia e na Margem Ocidental para investigar a reclamação de que as forças de segurança de Israel estavam usando ‘força excessiva’ para subjugar a rebelião palestina. Os pesquisadores descobriram que muitas vezes os tiroteios eram dirigidos a palestinos desarmados e que métodos de controle de desordem sem mortes eram raramente empregados. Munições como projéteis de borracha, geralmente consideradas como benignas, podem ser devastadoras se atiradas em curta distância. Apesar de tudo, há apenas uma Dito a B’Tselem por um soldado israelense, em Trigger Happy – Unjustified Gunfire and the IDF’s Open-Fire Regulations during the al-Aqsa Intifada (Summary), Folheto Informativo, Março de 2002, www.btselem.org 32 Veja Grupo Palestino de Monitoramento dos Direitos Humanos, www.phrmg.org 33 Números de B’Tselem de 13 de abril de 2003, www.btselem.org 34 USAID (2003), Resumo de West Bank e Gaza, www.usaid.gov (Acessado em 23.04.03) 35 Veja por exemplo Médicos para Direitos Humanos-Israel (2002), A Legacy of Injustice: a critique of Israeli approaches to the right to health of Palestinians in the Occupied Territories, PHR, Israel. Veja também B’Tselem (2002), Wounded in the field: Impeding medical treatment and firing at ambulances by IDF soldiers in the Occupied Territories, B’Tselem, Jerusalem. 36 Andoni, Lanis eTolan, Sandy. Shoot to maim. The Village Voice, 21 de fevereiro de 2001. Disponível no : www.villagevoice.com/issues/0108/tolan.php 37 Andoni e Tolan (2001) 31 Pensando Primeiro nas Pessoas 20 fina camada de borracha revestindo um projétil de aço. “Elas são o pesadelo do neurocirurgião. Todas as vezes que o paciente mexe sua cabeça, é como se fosse um mármore se movendo em uma geleia. Não há nada que se possa fazer”.38 Particularmente preocupante é o uso comum pelas forças israelenses de projéteis de fragmentação atiradas por rifles de assalto M16. “Atirar em pessoas com projéteis de alta velocidade para feri-las é uma forma de pena sumária sendo imposta dentro do campo de batalha”. Dr. Robert Kirschner, Médicos para Direitos Humanos39 Esta munição é precisamente o tipo adequado a levar a invalidez permanente.40 O dinamarquês Dr. Peter Knudsen, patologista forense e especialista em direitos balísticos e humanitários, argumenta que a munição M16 normalmente usada pelas forças militares deveria ser banida porque ela pode se estilhaçar. Ele afirma: “Meu país substituiu um rifle 7.62 com projétil de fragmentação por outra de não fragmentação, por causa da preocupação sobre sua ‘legalidade’. A tecnologia que pode mandar o homem à lua não foi ainda hábil em criar um projétil de não fragmentação de 5.56mm [M16] comercialmente viável. Se isto for feito algum dia, a ‘necessidade militar’ por projéteis de fragmentação será colocada em teste”. 41 A produção anual somada de munição para armas pequenas para fins militares de todos os tipos e calibres foi de aproximadamente 16 bilhões de unidades em 2001.42 Em 1995, o governo suíço teve a iniciativa de levar a munição M16 para submissão da Convenção de Haia, que proibiu projéteis de fragmentação. Enquanto a proliferação de armas pequenas é indubitavelmente o elemento principal de morte e ferimentos, é hora de revisitar o assunto de controle de munição, dado ao dramático custo humano de algumas munições de fragmentação e alta velocidade. Para mais informações sobre este assunto: Coupland, Robin, Beat Kneubuehl, David Rowley e Gavin Bowyer (2000), Wound ballistics, surgery and the laws of war, Trauma, Vol. 2 Coupland, Robin e David Meddings (1999), “Mortality Associated with the Use of Weapons in Armed Conflict, Wartime Atrocities and Civilian Mass Shootings: Literature Review”, British Medical Journal, Vol. 319. Comitê Internacional da Cruz Vermelha (2001), Care in the Field for Victims of Weapons of War: A Report from the Workshop Organized by the ICRC on Pre-hospital Care for War and Mine Wounded, ICRC, Genebra. Max, Wendy e Dorothy Rice (1993), “Shooting in the Dark: Estimating the Cost of Firearm Injuries”, Journal of Health Affairs, Vol. 12, N°.4 Stohl, Rachel (1998), Deadly Rounds: Ammunition and Armed Conflict. Pesquisa e Relatório 98.4, British American Security Information Council, Londres e Washington, DC. Dr. Jihad Mashal em Andoni e Tolan (2001) Andoni e Tolan (2001) 40 Ferriman (2002) 41 Correspondência Pessoal entre o Centro e Dr. Knudsen, 28 de abril de 2003 42 Small Arms Survey (2002), p. 14 38 39 Pensando Primeiro nas Pessoas 21 Violência armada leva a milhões de mortes indiretas na República Democrática do Congo (RDC) Conflitos armados têm implicações dramáticas para a saúde pública, até mesmo além das baixas diretas. Entre elas, as principais são as taxas brutas de nascimento e mortalidade, causada por sarampo e mortes por HIV. Nenhum país, nos dias atuais, foi mais sistematicamente atingido pela guerra do que a República Democrática do Congo (RDC). Após três anos de avaliação da mortalidade causada por epidemias na RDC, Les Roberts e seus companheiros declaram que “a taxa de mortalidade por causa da guerra...superou o conflito de Biafra como a maior taxa de mortalidade até hoje atribuída a qualquer guerra na África, ou ainda em qualquer lugar no mundo desde a Segunda Guerra Mundial”. Robert e seus colegas censuram a falta de atenção das organizações de ajuda humanitária e diplomatas para o conflito. Eles relatam que entre 3 a 4.7 milhões de mortes violentas aconteceram entre agosto de 1988 e dezembro de 2002 nas cinco províncias orientais da RDC. Entre 1999 e 2001, eles observaram uma forte correlação entre mortes violentas e mortes por causas indiretas tais como doenças contagiosas. Uma avaliação mais recente relatou uma diminuição significativa de mortes causadas por violência, devido a uma redução na escala da violência armada no leste da RDC – de taxas de 540 por 100 mil pessoas por mês em 2001 para 350 por mês em 2002. Ainda assim, taxas brutas de mortalidade mantêm-se surpreendentemente altas. Mesmo com a diminuição perceptível, a violência armada persiste em áreas específicas. Por exemplo, todas as mortes informadas relativas à violência em Kisangani Ville, um dos locais avaliados, foram atribuídas a ferimentos por armas de fogo. O que é mais extraordinário sobre a crise é a falta de interesse da comunidade internacional. Embora o recente cessar-fogo assinado em Pretória assegure um compromisso, a situação continua precária. Se esta guerra foi finalmente apaziguada em seu quarto ano, Robert e os outros escrevem que “diplomatas fariam bem em examinar o que a fez ser tão mortal e quais as circunstâncias que causaram seu fim”. Este sumário foi escrito por Robert Muggah, Pesquisador Sênior de Small Arms Survey.43 Derivado de uma publicação original de Roberts, Les, Pascal Ngoy, Colleen Mone, Charles Lubula, Luc Mwezse, Mariana Yantop e Michael Despines (2003), Mortality in the Democratic Republic of Congo: Results from a Nationwide Survey. Comitê de Salvamento Internacional, Nova York. 43 Pensando Primeiro nas Pessoas 22 Seção II: Administrando e reduzindo a disponibilidade de armas pequenas Regulamentos vagos sobre armas de fogo e armamento leve permitem a todos o seu fácil acesso, o que acaba levando ao seu mau uso. Muitos itens de consumo letal são temas de leis nacionais e globais sobre produção, transferência e uso. Como então armas de fogo têm sido tão pobremente regularizadas por tanto tempo? Os artigos seguintes destacam o que pode ser feito em níveis nacionais, regionais e global para promover sistemas melhores e leis conciliadoras. Exemplos pertinentes são apresentados para uma maior regulamentação da posse civil de armas de fogo; estabelecendo mundialmente uma estrutura legal para transferência de armas, fortalecendo instrumentos existentes para controlar a disponibilidade de armas (por exemplo, embargos de armas e moratória na importação); e tirar as armas de circulação. Restringir a entrada de novas armas nas sociedade é um componente importante para reduzir sua disponibilidade. Mas apresentar medidas paliativas pode não resolver os problemas por si só. Basicamente, se um mercado de armas existe, sempre haverá a oferta. As condições sociais que induzem a uma demanda de armas devem ser tratadas se for preciso controlar a disponibilidade das armas. Estas condições incluem pobreza difundida, ausência de oportunidades para os jovens, brutalidade policial, insegurança pública e disfunção dos sistemas de justiça criminal. As medidas examinadas abaixo focam tanto oferta quanto demanda. Juntas, estas iniciativas poderiam oferecer mais segurança para pessoas e comunidades. Regulamento de posse e uso civil de armas de fogo Wendy Cukier Nos últimos anos houve um foco crescente em mortes causadas por armas pequenas no contexto de conflitos violentos. Entretanto, um número igual de mortes resultou de armas nas mãos de civis em países ‘pacíficos’. Uma criança morta é uma criança morta, seja um soldado infantil em Uganda, um vítima de crime em Soweto ou um estudante em Columbine, nos EUA. E a ameaça da violência armada para crianças em alguns países considerados em paz é tão grande quanto em zonas de conflito. Além disso, mulheres em todo o mundo correm tanto risco das armas empunhadas por seus parceiros íntimos quanto daquelas usadas por combatentes ou criminosos. Um regulamento público de armas foi identificado como uma medida importante nos esforços para conter a violência contra mulheres. Estimativas conservadoras colocam que há no mínimo 305 milhões de armas possuídas por particulares em todo o mundo. Este número não inclui armas privadas em países como China, Índia, Afeganistão, França, Suíça, Iemen e a maioria das nações africanas, mas apesar disso, mostra claramente que a maioria das armas de fogo no mundo – no mínimo 59% estão em mãos de particulares. A proporção real é provavelmente bem maior.44 A maioria das armas ilegais começam como legais, e sem uma atenção adequada para regulamentar a posse e uso destas armas por civis, os esforços internacionais para combater o comércio ilegal de armas irão falhar. Ao adotar um objetivo geral de reduzir mundialmente mortes, ferimentos e medo associados com a violência armada, devemos 44 Small Arms Survey (2002), p. 79. Pensando Primeiro nas Pessoas 23 repelir dicotomias artificiais – por exemplo, entre ‘armas de fogo’ e ‘armas pequenas’, entre armas ‘lícitas’ e ‘ilícitas’ e entre ‘conflito’ e ‘crime’.45 Uma combinação de estratégias para tratar da ampla disponibilidade e o fim do mau uso destas armas é essencial. Apesar da forte resistência política de alguns países para conter a posse de armas por civis, acordos regionais e internacionais existentes proporcionam um alicerce para ser construído. Uma resolução de 1997 da comissão de Prevenção de Crimes e Justiça Criminal da ONU recomendou que os países deveriam assegurar que os regulamentos de armas estejam adequados ao licenciamento, conservação segura e localizável e que eles possam oferecer anistia periódica para eliminar armas indesejáveis de circulação.46 Um regulamento nacional efetivo de armas pequenas foi confirmado pelas Nações Unidas, incluindo a Resolução 1209 do Conselho de Segurança da ONU em 1988 e o Relatório da Comissão de Desarmamento, cuja Assembléia Geral adotou em 1999.47 A Comissão de Direitos Humanos da ONU também notou a conexão entre regulamentação doméstica de armas de fogo e a proteção e promoção de direitos humanos.48 Em 1996, um Relator Especial sobre Violência contra Mulheres escreveu: “um Estado pode ser considerado cúmplice por falhar sistematicamente em proporcionar proteção de seus agentes particulares que privam quaisquer pessoas de seus direitos humanos”.49 Em um ensaio para a Comissão de Direitos Humanos, Barbara Frey manteve a idéia que “poderia ser debatido que tal atenção para prevenir o abuso de direitos humanos fundamentais, incluindo o direito à vida, requer que o Estado decrete regulamentos razoáveis para limitar a disponibilidade e o mau uso das armas pequenas por indivíduos dentro de sua jurisdição”.50 Uma revisão da legislação nacional existente mostra um grande acordo coletivo em princípios que governam a regulamentação da posse civil de armas de fogo. A maioria dos países, de fato, têm regulamentações que obedecem aos padrões propostos em 1997 pela Comissão das Nações Unidas para Prevenção de Crimes e Justiça Criminal. Além disso, a maioria dos países proibiram a posse de armas militares de assalto por civis, e muitos têm controle restritivo de armas de mão. Governos e organizações não governamentais precisam dar mais atenção aos fóruns internacionais para a regulamentação da posse de armas por civis. Há mais provas empíricas para apoiar a efetividade do controle nacional de armas de fogo do que para muitas outras medidas, às quais se atribui maior prioridade pela comunidade internacional. “A Conferência poderia, entretanto, discordar da necessidade de estabelecer e manter controles sobre propriedade privada de armas pequenas , e a necessidade de impedir a venda de armas pequenas para agentes não estatais. Estes temas requerem grande preocupação na África do Sul e continuamos a acreditar que eles devem ser tratados a nível nacional, regional e global”. Declaração da África do Sul, Primeiro Comitê da ONU, 56ª sessão, 11 de outubro de 2002 Cukier, Wendy (1998), Firearms/Small arms; Finding Common Ground, Canadian Foreign Policy, 6(1) Comissão das nações Unidas para Prevenção de Crimes e Justiça Criminal (1997). International Study on Firearm Regulation, NU, Viena. 47 Cukier, Wendy e Antoine Chapdelaine (2001), Global Trade in Small Arms: Public Health Effects and Interventions, International Physicians for the Prevention of Nuclear War (IPPNW) e SAFER-Net. 48 Frey, Barbara (2002), The question of the trade, carrying and use of small arms and light Weapons in the context of human rights and humanitarian norms. Ensaio oferecido sob concordância das decisões da Sub-Comissão 2001/120 ECOSOC – Outro temas de Direitos Humanos. Nações Unidas, 30 de maio. 49 E/CN.4/1996/53, para. 32. 50 Frey (2002), p.14 45 46 Pensando Primeiro nas Pessoas 24 As medidas fundamentais de uma política nacional efetiva de controle de armas seriam: 51 • Proibir a posse de armas militares de assalto por civis; • Regularizar a venda de armas de fogo; • Licenciar proprietários de armas de fogo e registrá-las; • Estabelecer regulamentações que administrem depósito e uso de armas de fogo; • Apoiar anistias que encorajem a entrega de armas de fogo ilegais, indesejáveis e sem uso; e • Marcar todas as armas de fogo na fabricação e na importação/exportação. Muito se sabe sobre os riscos da posse civil difundida de pistolas e armas leves e sobre as medidas que as autoridades federais devem implementar para minimizar estes riscos. O que se precisa agora é que os estados mais comprometidos na regulamentação da posse civil estimulem e construam uma vontade política global necessária para maior segurança das pessoas em todos os países. Wendy Cukier é professora da Universidade Ryerson em Toronto. Ela coordena a Rede de Educação e Pesquisa em Armas de Fogo (SAFER-Net) e também é fundadora da Coalizão para o Controle de Armas, uma aliança de 350 ONGs no Canadá. Para mais informações sobre este assunto: Centro para o Controle de Doenças, EUA. Visite: www.cdc.gov/ncipc/factsheets/fafacts.htm Coalização para Acabar com a Violência Armada, EUA. Visite: www.gunfree.org/ Cook, Philip e Jens Ludwig (2000), Gun violence: The real costs, Oxford University Press Rede de Educação e Pesquisa de Armas Pequenas/Armas de Fogo. Visite: www.ryerson.ca/SAFER-Net/ Robinson, K.D, J.S. Vernick e S.P. Teret (1997), Firearms Violence: An Annotated Bibliography, John Hopkins Centre for Gun Policy and Research, Baltimore, MD. Sugarmann, Josh (2001), Every Handgun Is Aimed At You. The Case For Banning Handguns. Violence Policy Centre, The New Press, NovaYork. Construindo uma proteção contra atrocidades Michael Crowley y Greg Puley Abril de 2004 marcará o décimo aniversário do genocídio em Ruanda – os 100 dias em 1994 quando centenas de milhares de mulheres, crianças e homens foram massacrados nas ruas, casas e igrejas de Ruanda. Vários pesquisadores, jornalistas investigativos, ONGs e as NaçõesUnidas detalharam como os matadores foram abastecidos com armas pequenas e armas leves antes, depois e durante os massacres. Estas armas foram fornecidas através de rotas ilícitas e por transferências autorizadas pelo governo.52 Um dos mitos sobre o genocídio em Ruanda é o de que machetes, e não armas, foram os principais instrumentos dos assassinatos. Entretanto, testemunhas e especialistas apontaram de forma constante que a presença e uso de armas pequenas criaram a 51 Rifles militares de assalto, por exemplo, podem ser especificados de forma diferenciada: metralhadoras leves, submetralhadoras, totalmente automáticas, ou rifles de fogo seletivo com características, que podem incluir, mas não são limitados, a depósitos de grande capacidade, estoque e suporte de baionetas, são planejados mais para objetivos de combate do que de busca. 52 Para mais informações sobre o armamento da forças de Ruanda, veja entre outras Anistia Internacional (1995), Rwanda: Arming the Perpetrators of the Genocide, Anistia Internacional, Londres; Human Rights Watch (1994), Arming Rwanda: The Arms Trade and Human Rights Abuses in the Rwandan War, Human Rights Watch, Nova York; e Human Rights Watch (1995), Rearming with Impunity: International Support for the Perpetrators of the Rwandan Genocide, Human Rights Watch, Nova York. Pensando Primeiro nas Pessoas 25 garantia de um ambiente onde os atos de assassinato em massa com machetes e outras ferramentas de cultivo fossem possíveis. Apesar da comunidade internacional ter dado alguns passos para remediar a situação – tais como a imposição de um embargo de armas autorizado pelo Conselho de Segurança -, na prática pouco foi feito para parar o fluxo de armas para aqueles que cometeram os abusos. Até hoje, não existe um mecanismo internacional coordenado para impedir a venda de armas para aqueles que as usariam em violações graves das normas mais fundamentais de proteção humana. O povo de Ruanda não é o único que sofreu por causa do comércio descontrolado de armas. Pessoas no Timor Leste, Colômbia, Sudão, República Democrática do Congo, Israel e Palestina – entre outros – convivem diariamente com a violência e o medo que resulta deste fracasso. Em algumas comunidades, armas circulam diretamente para as mãos de forças de estado abusivas, oposição armada ou forças de segurança privada. Em outras, armas de conflitos passados continuam a circular entre a população civil, contribuindo para um círculo vicioso de violência e insegurança, gerando também mais demanda por armas e reivindicando ainda mais vidas. Uma maneira de evitar que este modelo trágico ocorra no futuro é estabelecer um conjunto mínimo de critérios e procedimentos para controlar o comércio de armas.53 Apesar de sistemas de controle nacionais e regionais serem de vital importância para interromper a circulação de armas para aqueles que cometem abusos, o alcance global do comércio de armas indica que estes sistemas não são suficientes. As transferências irresponsáveis de armas rejeitadas por um fornecedor podem cair facilmente nas mãos de outro. A Carta da ONU e leis humanitárias internacionais e de direitos humanos já criaram obrigações em estados relacionadas à transferência de armas. Mas como a aplicação destas restrições ao comércio de armas é de certa forma ambíguo, é necessário codificá-las em um acordo explícito que deixe claro as responsabilidades internacionais de exportadores de armas. Por esta razão, um grupo de ONGs e advogados internacionais estão propondo o estabelecimento de uma Convenção de Transferência Internacional de Armas (o Tratado de Comércio de Armas).54 Este Tratado é um modelo de um acordo internacional legalmente consistente que estabeleceria uma série de regras e procedimentos básicos para regulamentar a transferência internacional de armas convencionais. Ele é baseado no princípio simples que exportadores de armas têm a responsabilidade de assegurar que eles não proporcionarão armas que serão usadas em sérias violações às leis internacionais. Até o momento, este esforço foi endossado por 18 ganhadores do Prêmio Nobel da Paz. O Tratado afirmaria a existência da responsabilidade dos estados com as leis internacionais, esclarecendo-as e proporcionando mecanismos para sua aplicação consistente e efetiva no comércio de armas. Especificamente, ele delimitaria normas de critérios mínimos para transferência internacional de armas e um mecanismo operacional aplicável para a aplicação destes critérios. De acordo com este instrumento, uma transferência não seria autorizada se houvesse um risco de que a arma fosse usada em As únicas normas internacionais legalmente ligadas à armas, fora dos embargos de armas da ONU são encontradas no chamado ‘Protocolo de Viena’, Protocol on the Illicit Manufacturing of and Trafficking in Firearms, Their Parts and Components and Ammunition. É um complemento da Convenção das Nações Unidas contra Crime Organizado Transnacional, adotado em julho de 2001 pela Assembléia Geral na resolução 55/255. Ele tenta harmonizar sistemas de marcação, licenciamento e registro para ajudar o reforço da lei e oficiais de alfândega a distinguir entre remessa legal ou ilegal de armas. Isto não se aplica para transferências de estado para estado. 54 Anistia Internacional, American Friends Service Committee, Arias Foundation for Peace and Human Progress, British American Security Information Council, Federation of American Scientists, Friends Committee on National Legislation, Oxfam, Project Ploughshares e Saferworld. 53 Pensando Primeiro nas Pessoas 26 uma séria violação dos direitos humanos e leis humanitárias internacionais ou o cometimento de crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou genocídio. Na Conferência das Nações Unidas sobre Armas Pequenas em julho de 2001, a comunidade internacional reconheceu a necessidade dos estados membros de “avaliar os mecanismos de autorizações de exportação de acordo com rigorosas regulamentações e procedimentos nacionais que incluam todas as armas pequenas e armas leves e que sejam compatíveis com as responsabilidades existentes dos Estados de acordo com uma lei internacional apropriada”. 55 Uma catástrofe humanitária como a ocorrida em Ruanda poderia acontecer novamente amanhã, já que a comunidade internacional não se esforçou o suficiente para controlar o comércio de armas pequenas. A maioria basicamente não assegurou que a transferência de armas sancionada pelos governos estão de acordo com a lei internacional. Até que este comércio seja controlado dentro das fronteiras de critérios mínimos universalmente aplicáveis, transferências abusivas irão continuar. A contribuição singular da Rede de Segurança Humana e dos estados que apoiam princípios de segurança humana é a sua capacidade de focar o debate internacional no que diz respeito a direitos, segurança e dignidade de pessoas e comunidades. Um papel principal para a Rede deve ser o abastecimento de armas, de qualquer forma, para aqueles que as usam em sérias violações destes princípios. Michael Crowley trabalha para a Arias Foundation for Peace and Human Progress na Costa Rica. Greg Puley trabalha para a Arias Foundation e Project Ploughshares e está baseado no Canadá. Para mais informações sobre este assunto: Anistia Internacional (2001), Human Rights Abuses with Small Arms: Illustrative Cases from Amnesty International Reports 2000-2001. AI Index PO: 34/007/2001, Disponível no: www.amnesty.org Clegg, Elizabeth e Michael Crowley (2001), Combating the Illicit Trade in Small Arms and Light Weapons: Enhancing Controls on Legal Transfers, Resumo 6, British American Security Information Council, International Alert and Saferworld. Disponível no: www.basicint.org Convenção Estrutural de Transferência Internacional de Armas. Disponível no: www.armslaw.org/library.html Gillard, Emanuela. What is legal? What is illegal? Limitations on Transfers of Small Arms under International Law, Lauterpacht Research Centre for International Law, Cambridge. Convenção Estrutural de Transferência Internacional de Armas www.armslaw.org/documentos/armslaw/whatislegal.pdf Lumpe, Lora, ed. (2000), Running Guns: the global black market in small arms. Zed Books, Londres e Nova York. Lumpe, Lora and Jeff Donarski (1998), The Arms Trade Revealed: A Guide for Investigators and Activists. Federação de Cientistas Americanos, Washington, DC. 55 Seção II, Parágrafo 11, Programa de Ação da ONU. Pensando Primeiro nas Pessoas 27 Fortalecendo os embargos de armas da ONU: uma perspectiva na África Ocidental Conmany B. Wesseh Há um forte argumento a ser utilizado para a imposição e sanção rigorosa dos embargos de armas da ONU em um número de países, particularmente na África Ocidental. Quase todos os 16 países da sub-região experimentaram uma forma ou outra de conflito violento incluindo golpes de estado, disputas étnicas, religiosas e políticas, rebeliões separatistas e guerras civis. Isto corre paralelo a uma protuberância de criminalidade violenta se estendendo de roubo armado até transgressões relativas a drogas. Por ter nascido na África Ocidental e vivido as realidades desta sub-região, conheço a resistência, perseverança e esperança das pessoas em face da violência contínua e atrocidades que afetam inúmeras vidas. Isto significou milhões de desalojados internos e refugiados, centenas de milhares de mortes, uma imensurável destruição da infraestrutura econômica e social e prejuízos na harmonia cultural. Exemplos recentes desta violência podem ser encontrados na Libéria, onde uma guerra civil começou em 1989 e continua devastando como um regime internacionalmente condenado que levou à ruína um país antes promissor; em Serra Leoa e Guiné-Bissau, que estão emergindo de guerras civis sangrentas marcadas pela criticada violência contra civis; em Senegal, em uma rebelião separatista; em Gana, que ocasionalmente experimenta revoltas violentas no norte do país; na Nigéria, um canteiro aparentemente interminável de violência étnica, religiosa e política; em Togo, que ainda sofre com uma ditadura militar que mantém um controle ferrenho em todo o país por quase quatro décadas; e finalmente na Costa do Marfim, a novidade nesta saga, com a erupção de rebelião armada em setembro de 2002. Há dois países e um grupo armado sob o embargo de armas na África Ocidental. Em 1992 o Conselho de Segurança astutamente impôs um embargo na Libéria.56 Serra Leoa teve um embargo imposto em 1997, e em 1998 seu notório grupo rebelde, a Frente Revolucionária Unida, sofreu embargo.57 “Embargos de arma foram as imposições mais freqüentes, mas também as sanções visivelmente mais impotentes da ONU durante os anos 90”.58 Estes embargos coincidiram com os esforços feitos por Mali para reduzir a disponibilidade de armas na região. Apesar desta iniciativa e o movimento em direção à paz em Serra Leoa, até mesmo o observador mais otimista concluiria que eles têm conseguido um pequeno efeito. Não apenas os embargos nas entidades da África Ocidental são fracos; mais propriamente, os embargos da ONU nos estados em todo o mundo falharam em diminuir a circulação de armas. De acordo com um observador, “O Conselho de Segurança impôs embargos aproximadamente 15 vezes desde 1965. Violações contra estes embargos são bem documentados e o Conselho de Segurança recentemente começou a tentar aperfeiçoar métodos de supervisão”.59 De acordo com seus críticos, sanções internacionais em geral são ineficazes, difíceis ou impossíveis de serem implantadas, e basicamente prejudicam pessoas que pretendiam proteger. Outra perspectiva sugere que os embargos de armas – se implementados UNSCR 788, Novembro de 1992. UNSCR 1132, Outubro de 1997 e UNSCR 1171, Junho de 1998. 58 Lopez, George A., David Cortright e Julia Wagler. “Learning from the Sanctions Decade,” Fourth Freedom Forum, Disponível no: www.fourthfreedom.org/php/t-si-index.php?hinc=isa.hinc 59 Frey, Barbara (2002), Para 21 56 57 Pensando Primeiro nas Pessoas 28 totalmente – podem ser uma ferramenta efetiva para intensificar e recuperar a segurança das pessoas. Particularmente no caso da Libéria, a Human Rights Watch recorreu ao Conselho de Segurança para manter o embargo de armas contra o governo e facções rebeldes considerando os numerosos abusos aos direitos humanos cometidos por ambas partes, e seus amplos efeitos regionais.60 Uma meta da comunidade internacional deve ser o fortalecimento do sistema de embargo. Pesquisa preliminar mostra que 54 países estão ligados a remessas de armas pequenas violando os embargos internacionais de armas em vigor em 2001.61 É preciso que todos os estados desenvolvam mecanismos para monitorar a implementação e reforços destes embargos. “[Exige-se dos Estados] A tomar medidas apropriadas, incluindo todos recursos legais ou administrativos , contra qualquer atividade que viole os embargos de armas do Conselho de Segurança das Nações Unidas de acordo com a Carta das Nações Unidas”. – Programa de Ação das Nações Unidas, Seção II, parágrafo 15. No caso de estados mentirosos e violadores dos direitos humanos, embargos internacionais de armas e sanções representam um forma real de condenação pública. Onde estados responsáveis declaram para si mesmos embargos ou moratória, eles devem ser apoiados com a promessa e remessa de recursos que serão, por sua vez, aplicados para assistência de desenvolvimento. Com o tempo e com a cooperação rigorosa dos estados membros da ONU, apoiados por uma sociedade civil vigilante, os embargos podem servir ao seu propósito pretendido de limitar o acesso de regimes mentirosos às ferramentas de violência, enquanto promovem paz e desenvolvimento. Conmany B. Wesseh é o Diretor Executivo do Centre for Democratic Empowerment que trabalha na África Ocidental. Ele também é o Presidente do West African Action Network on Small Arms. Para mais informações sobre este assunto: O Processo Bonn-Berlin Process para embargos de armas. Visite: www.smartsanctions.de Clegg, Elizabeth e Michael Crowley (2001), Controlling Arms Brokering and Transport Agents: Time for International Action, Resumo 8. British American Security Information Council, International Alert and Saferworld. Disponível no: www.basicint.org Cortright, David, George A. Lopez, e Linda Gerber (2002), Sanctions Sans Commitment: An Assessment of Arms Embargoes, Ensaio 02-2, Project Ploughshares. Disponível no: www.ploughshares.ca Epps, Ken (2002) International Arms Embargoes, Ensaio 02-4. Project Ploughshares. Disponível no: www.ploughshares.ca Fundo para a Paz (2001), Model Convention on the Registration of Arms Brokers and the Suppression of Unlicensed Arms Brokering. Disponível no: www.fundforpeace.org/publications/reports/model_convention.pdf Peleman, Johan e Brian Wood (1999), The Arms Fixers: Controlling the Brokers and Shipping Agents, International Peace Research Institute (PRIO), Oslo 60 61 Human Rights Watch (2003), Liberia: Maintain U.N. Embargo. Release de imprensa da Human Rights Watch. Small Arms Survey (2002), p.134 Pensando Primeiro nas Pessoas 29 Atingindo o comércio de armas Os governos da Holanda e Noruega uniram-se em uma iniciativa para controlar as atividades de comerciantes de armas. O comércio de armas não é regulado basicamente pelos estados, o que permite indivíduos e companhias sem escrúpulos de desviar armas do comércio legal para o ilegal e enviar armas para zonas de conflito e locais com embargo. Atualmente, apenas 15 países possuem regulamentos domésticos que cobrem atividades de comerciantes e/ou comércio. Como a legislação varia de alcance e compreensão, fica fácil para os comerciantes tirarem vantagens de buracos legais e inconsistências existentes nos regulamentos. No Programa de Ação da ONU, os estados estão comprometidos em agir para assegurar que pequenas atividades de comércio de armas sejam controladas adequadamente. Este documento invoca os estados, “a desenvolver legislação nacional adequada ou procedimentos administrativos que regulem as atividades daqueles que se dedicam ao comércio de armas pequenas e armas leves. Estas legislações ou procedimentos devem incluir medidas tais como registro de comerciantes, licenciamento ou autorização para transações comerciais assim como penalidades apropriadas para todas as atividades comerciais ilícitas dentro da jurisdição e controle do Estado”. 62 Regulamentos e procedimentos administrativos para controlar comerciantes precisam tratar de questões complexas. Para facilitar o desenvolvimento de ações internacionais coordenadas sobre este tema, Holanda e Noruega estão trabalhando em conjunto para identificar sistemas adequados e desenvolver elementos de um regulamento padrão como um recurso para que os estados desenvolvam seus próprios regulamentos/legislações. Há também a proposta para a Convenção sobre o Comércio, sugerido pelo Fundo para a Paz, que pode ser adotado para fornecer uma base para um instrumento legal obrigatório abrangente . A moratória de armas da África Ocidental: desafios e oportunidades Mohamed Coulibaly Em outubro de 1998, Mali conduziu governos na África Ocidental para declararem uma Moratória na importação, exportação e fabricação de armas leves nos Estados Membros do ECOWAS.63 O objetivo fundamental foi a consolidação da paz, segurança e estabilidade em uma região separada à força por conflitos violentos. A declaração visa: • congelar importações, exportações e a produção de armas pequenas; • Intensificar a transparência em iniciativas de controles de armas; • Aperfeiçoar a cooperação entre estados com organizações da sociedade civil; • Transformar setores de segurança não confiáveis ; e • Estabelecer administração efetiva e responsável de estoque, incluindo coleta de armas e programas de destruição. O Programa Regional de Desenvolvimento de Coordenação e Assistência para Segurança e Desenvolvimento das Nações Unidas é responsável por facilitar a 62 Programa de Ação, Seção II parag 14. Veja também Seção II parag. 39, que invoca os estados “a desenvolver entendimento comum nos temas básicos e no alcance dos problemas relacionados ao comércio ilícito de armas pequenas e armas leves com uma visão de prevenir, combater e erradicar as atividades daqueles engajados em tal comércio”. 63 Daqui por diante referida como a Moratória. Estados membros do Economic Community of West African States (ECOWAS) são Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Niger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo. Pensando Primeiro nas Pessoas 30 implementação da Moratória. A Moratória também inclui um Código de Conduta, que defende uma série de obrigações designadas para encorajar um maior componente civil e a consciência em setores de segurança (polícia, exército e agentes alfandegários). Ela solicita aos estados que estabeleçam comissões nacionais para implementá-la. Um dos maiores sucessos da Moratória tem sido a crescente conscientização por toda a África Ocidental entre políticos e organizações da sociedade civil sobre a séria ameaça que a disponibilidade e mau uso das armas apresenta para a segurança humana. Entretanto, o comércio de armas continua e, na verdade, cresceu em muitas partes da região, especialmente em países do Rio Mano (Serra Leoa, Libéria e Guiné), e atualmente na Costa do Marfim. Vários estados usam a desculpa de imperativos internos de segurança para não implementarem e respeitarem totalmente uma Moratória inédita. Ironicamente, segurança é precisamente o que é negado a milhões de pessoas pelo fracasso dos estados em implementar o acordo. O maior desafio é incorporar os princípios da Moratória em sistemas e leis nacionais. Isto é dificultado por uma carência geral de apoio político e capacidade limitada de tecnologia e recursos. Apenas oito países na sub-região (Mali, Niger, Gâmbia, Guiné, Senegal, Nigéria, Serra Leoa e Togo) estabeleceram comissões nacionais, embora poucas sejam inteiramente operacionais. O crescimento da capacidade dentro e entre estados e o apoio técnico para estados, em áreas de fronteiras e controles alfandegários, parecem ser fundamentais. Monitoramento e sanção são desafios significativos em países carentes de recursos. Além disso, a efetividade da Moratória seria intensificada pelo diálogo crescente com os principais estados que fornecem armas. Organizações da sociedade civil estão se mobilizando cada vez mais em temas sobre armas pequenas e são fortes defensores da mudança. O West African Action Network on Small Arms (WAANSA) proporciona uma inestimável avaliação da realidade para governos que negligenciam suas responsabilidades.64 Além do crescimento desta rede, ocorreram um bom número de outros desenvolvimentos positivos. O mais importante é que apesar de seus muitos desafios, a Moratória foi renovada em julho de 2001, proporcionando uma poderosa mensagem simbólica e política para as pessoas na região e também para o resto do mundo. Em segundo lugar, o Secretariado do ECOWAS estabeleceu a ‘Unidade de Armas Pequenas’ para focar mais efetivamente no fortalecimento da Moratória. Como o atual presidente da Rede de Segurança Humana, Mali pode conseguir maior atenção internacional para a Moratória. Uma oportunidade estratégica é apresentada à Rede para reunir-se em torno da Moratória e olhar em suas próprias regiões para ver se um critério similar poderia ser adotado. Mohamed Coulibaly trabalha para o Regional Centre for Peace and Disarmament em Lomé, Togo. 64 O Secretariado temporário da WAANSA está baseado em Gana a/c Afi Yakubu [email protected] ou [email protected] Pensando Primeiro nas Pessoas 31 Problema no paraíso: coleta de armas nas Ilhas Salomão Richard Ponzio y Robert Scharf É importante tirar armas de circulação permanentemente por meio de coleta e destruição de armas. Caso contrário armas voltam a circular pelas mãos de policiais e oficiais de exército corruptos e civis que agem fora da lei. A segurança humana está exposta ao perigo se não houver normas internacionais de destruição de armas excedentes e confiscadas. O armazenamento seguro em todas as fases do processo de coleta a destruição é de suma importância. Há dois tipos distintos de programas de coleta e destruição: • Em cenários de tempos de paz, eles visam reduzir o suprimento de armas disponíveis para uso predominantemente criminal; e • Como conseqüência da guerra, quando o objetivo é reduzir os estoques de guerra para facilitar a construção da paz e desmilitarizar as sociedades embutidas em culturas de violência. Este artigo conta a história dos desafios de coleta de uma quantidade relativamente pequena de armas num ambiente de pós-guerra, onde a confiança é pequena e as instituições de estado estão fracas. De 1998 a 2000, o governo fraco e a pressão da população combinados com a proliferação de armas alimentaram um violento conflito nas Ilhas Salomão, um país do Pacífico, particularmente nas ilhas Malaita e Guadalcanal. A proliferação e mau uso de armas caseiras e algumas armas de alta potência roubadas do arsenal da polícia levaram a uma destruição material real em grande escala e a perda de centenas de vidas. Hoje, a cultura de violência facilitada por esta disponibilidade de armas se mantém como o principal obstáculo para a restauração da lei e da ordem no país. “Dez anos atrás, eu nunca tinha ouvido um tiro em meu país. Agora, temos muitas armas e uma violência enorme”.65 Em abril de 1998, grupos jovens armados de Guadalcanal, indignados com a falta de ação do governo em tratar das queixas de seu povo, forçaram o desalojamento de aproximadamente 20 mil pessoas da Malaita. A crise alcançou seu pico quando a Malaita Eagle Force (MEF), uma milícia étnica que incluía grandes segmentos de forças de segurança, invadiu os arsenais da polícia em junho de 2000. Esta ação transformou uma situação já tensa em um conflito armado declarado com um lado, o MEF, possuindo a maioria das armas pesadas. O Isatabu Freedom Movement (IFM), armado com armas caseiras feitas com restos de armas e munições da Segunda Guerra Mundial, se viu sem contingente e desarmado. Armas adicionais também chegavam no país aos poucos, incluindo fornecimentos relacionados com o conflito de Bougainville, em Papua Nova Guiné. O número total de armas é estimado em aproximadamente três mil, a maioria de uso militar. Após mais de dois de anos de violência gratuita e destruição material em grande escala, o Acordo de Paz de Townsville (TPA) foi assinado em outubro de 2000. A implementação do acordo de paz, apesar de limitado, contribuiu para uma marcante melhoria da lei e da ordem. Com o término da TPA em outubro de 2002, uma paz frágil sobrevive já que muitos 65 Fr. Jack Aitorea, Melanesian Brothers, Ilhas Salomão, contribuição oral no workshop “Curbing the Demand for Small Arms: Focus on Southeast Asia”, Phnom Penh, Camboja, 26-31 de Maio de 2002 Pensando Primeiro nas Pessoas 32 elementos chave do ambicioso acordo exigem atenção contínua, incluindo a coleta de armas, devolução dos poderes às províncias e o apoio para pessoas desalojadas. “[Estados são encorajados] A desenvolver e implementar, quando possível, desarmamento efetivo, programas de desmobilização e reintegração, incluindo uma efetiva coleta, controle, armazenamento e destruição de armas pequenas e armas leves, particularmente em situações de pós-guerra, a menos que outra forma de distribuição ou uso seja devidamente autorizado, que tais armas sejam marcadas e que a forma alternada de distribuição e uso seja registrada; e a incluir, quando aplicável, provisões específicas para estes programas em acordos de paz”. Programa de Ação da ONU, Seção II, parágrafo 21. O conflito resultou em perda de vidas e propriedades, reduzindo completamente os ganhos alcançados pelo programa de reformas. Em particular, o trabalho do serviço civil, a situação de lei e ordem e o resgate da educação, saúde e outros serviços básicos foram severamente interrompidos. Centenas foram mortos nas lutas, muitos mais foram torturados e em torno de 30 mil pessoas foram desalojadas de suas casas. Antes do conflito, as Ilhas Salomão tinham conseguido ganhos significativos na saúde, educação e infra-estrutura pública. Em 1988, o Produto Interno Bruto estimado, incluindo produção de subsistência, foi em torno de U$ 71 milhões.66 Com a atividade econômica suspensa em muitos setores, a economia das Ilhas Salomão entrou praticamente em colapso. Em 2000, o PIB estimado teve um declínio para US$ 57 milhões e ainda caiu mais durante os dois anos seguintes. A taxa de crescimento caiu de um modesto 2% em 1998 para uma taxa projetada de -20% em 2002. Violência indiscriminada, tensão étnica e atividades criminais ainda estão desenfreadas nas províncias, dificultando os esforços para restauração da paz, para promover a reconciliação e para empreender passos sérios em direção a recuperação econômica e social. Um governo nacional fraco, desconfiança difundida e a percepção de grande desigualdade entre pessoas na capital e nas províncias intensificaram os clamores para a sucessão e, em algumas províncias, a secessão. Durante o período de anistia de novembro de 2000 a maio de 2002, 1.857 armas foram entregues para o Conselho de Monitoramento da Paz e para a Equipe Internacional de Monitoramento da Paz. Depois disso, mais 208 armas foram entregues somando um total de 2.065 armas entregues desde o início. Estes números não incluem armas entregues à Polícia Real das Ilhas Salomão e ao Melanesian Brotherhood, cujos números ainda são desconhecidos. Nem todas as armas de alto potência outrora da polícia foram recuperadas, e muitas ainda estão nas mãos de facções militantes. A reação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento à crise concentrou-se basicamente nas áreas de reintegração e reabilitação, prevenção de conflitos e a construção de instituições democráticas. O Projeto de Desmobilização e Reintegração de Guardas Especiais do envolve a libertação, desarmamento voluntário e o restabelecimento de alguns dos 900 antigos combatentes em suas comunidades de origem. O PNUD também apoia ativamente a nova Campanha de Cidades Livres das Armas, do Conselho Nacional de Paz. O projeto com dois anos de duração irá encorajar 1.200 vilas em 18 distritos a aumentar ao máximo a pressão pública para apoiar a retirada total das armas em todas as comunidades. 66 Baseado em preços de 1985 Pensando Primeiro nas Pessoas 33 O fuzilamento recente de Sir Fred Soaki, um conhecido ex-comissário policial das Ilhas Salomão, enquanto servia uma equipe de desmobilização do PNUD em Malaita, lembrou o país do ainda frágil estado do processo de paz.67 Sem uma paz sustentável que salvaguarde todos os aspectos de segurança humana, futuros retrocessos podem ser esperados nos esforços das Ilhas Salomão para restaurar a normalidade e empreender a longa e difícil estrada do desenvolvimento. Richard Ponzio e Robert Scharf trabalham para o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, Divisão de Prevenção de Crises e Restauração. Para mais informações sobre este assunto: Clegg, Elizabeth, Sami Faltas, Glenn McDonald e Camilla Waszink (2001), Reducing the Stock of the Illicit Trade: Promoting Best Practice in Weapons Collection Programmes. Resumo 8. British American Security Information Council, International Alert and Saferworld Disponível no: www.basicint.org Faltas, Sami, Glenn McDonald e Camilla Waszink (2001), Removing Small Arms from Society: a review of weapons collection and destruction programmes. Ensaio ocasional N°. 2, Small Arms Survey, Genebra. Disponível no: www.smallarmssurvey.org/OPapers/OPaper2.pdf Hagman, Lotta e Zoe Nielsen (2002), A Framework for Lasting Disarmament, Demobilization, and Reintegration of Former Combatants in Crisis Situations, International Peace Academy. Disponível no: www.ipacademy.org PNUD, Bureau for Crisis Prevention and Recovery, Small Arms & Demobilisation Visite: www.undp.org/erd/smallarms/ Wulf, Herbert, ed. (2000), Disarmament and Conflict Prevention in Development Cooperation. Proceedings of an International Conference, 30-31 August 1999. Relatório 14, Bonn International Centre for Conversion. Disponível no: www.bicc.de Um mundo justo para nós? Protegendo crianças da violência das armas pequenas Kathy Vandergrift Funcionários de ajuda humanitária e de desenvolvimento tiveram experiências diretas das múltiplas maneiras nas quais os direitos e destinos das crianças são corroídos através do cano de um revólver. Escutar as crianças é a melhor maneira para aprender sobre os impactos das armas pequenas. “Aprendi como atirar e como viver em fuga”, disse um garoto da Somália sobre a vida com o grupo rebelde. “A arma foi um bom negócio”. “Eu troquei uma galinha por ela”, diz outro. Quando o preço de uma arma é menor que livros escolares, é mais fácil se juntar a um grupo armado para sobreviver do que ir para a escola. O Programa de Ação da ONU presta mínima atenção às crianças e jovens tanto como vítimas quanto usuárias de armas pequenas e armas leves. Mais uma vez os impactos são insidiosos, com acesso fácil a armas pequenas maculando a linha entre disputas normais, crimes e guerras – em uma época em que jovens estão moldando seus valores de vida. “[Estados são obrigados] A tratar das necessidades especiais das crianças afetadas por conflitos armados, particularmente a reunificação de suas famílias, sua reintegração na sociedade civil e sua reabilitação apropriada”. Programa de Ação da ONU, Seção II, parágrafo 22. 67 Veja www.abc.net.au/ra/newstories/RANewsStories_781526.htm Pensando Primeiro nas Pessoas 34 Muitos jovens querem ajudar a reduzir o custo humano do comércio de armas pequenas. Na Primeira Conferência Internacional sobre Crianças afetadas pela guerra, ocorrido no Canadá em 2000, a segunda prioridade dos jovens presentes era “parem de vender armas para aqueles que atacam crianças, sejam eles do governo ou forças armadas não oficiais”. E, em A World fit for Us, jovens na Sessão Especial para Crianças da ONU em 2002 incluíram um clamor para a “eliminação do comércio de armas”. Um foco em crianças e jovens vira os holofotes para a prevenção. Estratégias efetivas, de uma perspectiva jovem, incluem um equilíbrio entre controlar o abastecimento e reduzir fatores que levam os jovens a pegarem em armas. Sustento e educação para os jovens são essenciais para proporcionar alternativas à adesão a grupos armados que garantam sua sobrevivência. Zonas livres de armas podem futuramente promover a segurança e proteção de crianças e ser uma convocação para ação comunitária. Jovens podem ser fortes aliados na construção de ajuda comunitária para iniciativas que controlem a disponibilidade de armas pequenas. Um problema se forma quando jovens de 16 anos podem facilmente adquirir e atirar com uma arma, ao mesmo tempo que não existe nenhuma outra voz para formar suas opiniões. Leis nacionais, compatíveis com normas globais rigorosas, precisam declarar ilegal o abastecimento de armas a qualquer pessoa com uma idade mínima e legislar em respeito aos direitos das crianças, como foi universalmente aceito na Convenção dos Direitos das Crianças. Restringir o aceso e exposição de crianças à violência armada deveria ser parte de qualquer Plano Nacional de Ação para Crianças. “Onde está sua mamãe?... Ela está morta. E seu papai? Ele está morto também. Todos mortos. Qual é a sua idade? Tenho idade suficiente para matar um homem”. –‘Double Trouble’, nove anos, na Libéria em 1996 68 Em um nível internacional deveria haver tolerância zero para o abastecimento de armas a grupos armados, oficiais ou não oficiais, que tenham crianças como alvos e/ou queiram usá-las como soldados. Aproximadamente 300 mil crianças estão crescendo como soldados e milhões foram afetadas pelo uso de armas pequenas em conflitos locais e regionais. A Rede de Segurança Humana prioriza este assunto desde o começo e assumiu a liderança em relação a condição das crianças afetadas pela guerra. A resolução mais recente do Conselho de Segurança para Crianças em Conflitos Armados 1460, urge que os estados membros “tomem atitudes efetivas para controlar o comércio ilícito de armas pequenas para facções em conflitos armados que não respeitem totalmente as disposições pertinentes da lei internacional aplicável relacionada aos direitos e a proteção das crianças em conflitos armados”. O Conselho de Segurança está se envolvendo neste manifesto; um pedido de um relatório de implementação para outubro de 2003 solicita especificamente uma atenção detalhada para o “tráfico ilícito de armas pequenas em zonas de conflito”. Relatórios sobre crianças em conflitos armados constantemente exigem o aumento do monitoramento e o acompanhamento de resultados. O Watchlist on Children and Armed Conflict é dedicado a relatar a situação das crianças em conflitos específicos e fazer recomendações sobre o assunto. A disponibilidade e mau uso das armas pequenas é um dos indicadores incluídos na lista, mas é difícil obter informações corretas devido a uma carência de dados, e piorou com a falta de transparência dos relatórios sobre exportações e importações de armas. 68 Dufka, Corinne (1999), Children as killers, Crimes of war – what the public should know, Gutman, Roy e David Reiff eds. W. Norton Company. Pensando Primeiro nas Pessoas 35 Um foco nas crianças coloca como prioridade máxima o desarmamento e a reintegração de jovens imediatamente após um conflito ou antes que ele acabe oficialmente. Programas focados em crianças baseados nas comunidades precisam de maior atenção e recursos de longo prazo do que aqueles feitos para adultos, para estabelecer um envolvimento duradouro da comunidade, educação e apoio familiar. Apenas quando começarmos a investir em um plano de ação abrangente para acabar com o ato de vitimar crianças através do mau uso de armas pequenas, que poderemos dizer com confiança que temos um mundo justo para todos nós. Kathy Vandergrift é uma analista política sênior da World Vision Canada, Co-presidente do Watchlist for Children and Armed Conflict, e membro do conselho do Coalition to Stop the Use of Child Soldiers. Para mais informações sobre este assunto: Coalition to Stop the Use of Child Soldiers. Visite: www.child-soldiers.org Dowdney, Luke (2003), Children of the drug trade: A case study of children in organised armed violence in Rio de Janeiro, 7Letras, Rio de Janeiro Machel, Graca (2001), The Impact of War on Children. Hurst and Company, Londres, publicação da UNICEF. Oxfam-GB (2001), Conflict’s Children: The Human Cost of Small Arms in Kitgum and Kotido, Uganda. Oxfam. Stohl, Rachel (2002), "Under the Gun: Children and Small Arms", African Security Review, Vol. 11, No. 3, Disponível no: www.iss.co.za/PUBS/ASR/11No3/Stohl.html Stohl, Rachel, et al. (2001), Putting Children First: Building a Framework for International Action to Address the Impact of Small Arms on Children. Resumo 11, British American Security Information Council, International Alert and Saferworld. Disponível no: www.basicint.org UNIDIR (2002), “Children and Security”, Disarmament Forum, No. 3, UN Institute for Disarmament Research, Genebra. Disponível no: www.unidir.org Watchlist on Children and Armed Conflict Visite: www.watchlist.org Pensando Primeiro nas Pessoas 36 Um ponto de vista da Eslovênia A Eslovênia também emitiu sua opinião para advertir a comunidade internacional que a acessibilidade de armas pequenas constitui em uma séria ameaça à segurança. O país aceitou os princípios relacionados à uma regulamentação aperfeiçoada do comércio de armas pequenas tal qual a formulada pela União Européia (UE) e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).69 Poucos encontros ou conferências sobre armas pequenas fazem uma conexão entre segurança humana e armas pequenas. A Eslovênia tem constantemente tentado aumentar esta importante dimensão. Em 2000, como parte do Pacto de Estabilidade para o sudeste da Europa, a Eslovênia organizou um workshop que realçou a necessidade de uma abordagem coordenada pelo Pacto de Estabilidade para tratar deste problema e demandou novas iniciativas e idéias que incluiriam programas de assistência efetiva.70 Em 2003, o país buscou consolidar esta liderança ao organizar com a ONU e a OSCE um encontro anterior ao Primeiro Encontro Bienal.71 O governo da Eslovênia descobriu que os numerosos projetos existentes sobre armas pequenas no sudeste da Europa são insuficientemente coordenados e que tais trabalhos são normalmente cópias. Para tratar deste assunto o país lançou uma iniciativa estabelecendo um Ponto de Contato Regional, responsável pela coordenação de projetos existentes. Uma coordenação ampliada ou a fusão de projetos existentes podem trazer resultados mais eficazes. Esta posição chama mais atenção às questões de segurança humana – por exemplo, a necessidade de reabilitação das vítimas de ferimentos por armas pequenas. Outra iniciativa eslovena é o Together Regional Centre for the Psychosocial Well-Being of Children. Ele foi estabelecido em 2002 e sua proposta principal é proteger e aperfeiçoar o bem-estar psicossocial das crianças afetadas pela guerra e crises sociais do sudeste da Europa. Dr. Anica Mikuš Kos, Diretor de Programa do Centro e um grande especialista neste campo refletiu sobre a extensão do problema nesta região ao notar que “o levantamento sobre a violência em escolas elementares e fundamentais feito em 1998, em um dos países que emergiu no território da antiga Iugoslávia, mostrou que 7% de todos os estudantes de escolas secundárias carregavam armas para o colégio, incluindo facas, soco inglês de metal, pistolas e outros tipos de armas pequenas. Os estudantes mais velhos, mais freqüentemente carregam armas para a escola”. Contribuição do governo da Eslovênia O Código de Conduta da UE em Exportações de Armas (1998) e o Documento da OSCE para armas pequenas e armas leves (2000) 70 Workshop em armas pequenas e armas leves - Possible Contribution to the Stability Pact for South Eastern Europe, Ljubljana, 27 de janeiro de 2000. 71 Conferência das NU sobre o Comércio ilícito de armas pequenas e armas leves em todos os aspectos no sudeste da Europa, Brdo pri Kranju, 11-12 de março de 2003. 69 Pensando Primeiro nas Pessoas 37 Seção III: Acabando com o mau uso de armas pequenas A questão das armas pequenas tem sido dominada por esforços para reduzir novas ofertas de armas e, mais recentemente, para chamar a atenção das condições sociais que resultam em demanda por armas. Pouca atenção foi dada, até aqui, para acabar com o mau uso destas armas. O ponto de partida de qualquer discussão sobre mau uso deve ser que as armas de fogo não serão banidas. Nas mãos certas, e em atenção às circunstâncias corretas, a posse e o uso das armas pode ser legítimo. Como sugeriu a discussão prévia sobre posse civil de armas, a questão sobre quem deve possuir armas é controversa. Mas não há dúvida que certos agentes do estado – por exemplo, membros da força policial na maioria dos países – continuarão armados. Como a discussão abaixo sobre o uso legítimo da força irá demonstrar, as circunstâncias nas quais forças letais podem ser usadas são bem menos controversas – pelo menos na teoria. A mudança de foco da disponibilidade de armas vincula a importância das armas para as pessoas. A questão aqui não é reduzir o número de armas, mas antes disso, ter a certeza que as pessoas que as carregam as usam apenas em complacência com normas nacionais e internacionais apropriadas. Os artigos seguintes destacam elementos de pesquisa, políticas e práticas sobre a necessidade de acabar com o mau uso de armas pequenas, se pudermos perceber uma redução significativa no tributo humano pago por causa da violência armada. O uso da força pela polícia: Chamando a atenção para o mau uso de armas pequenas Colin Roberts Até hoje os debates sobre armas foram geralmente caracterizados por sua complexidade e foco em tentativas de controle de armas. Pouco foi dito sobre o uso de centenas de milhares de armas pequenas e armas leves que estão nas mãos de policiais em vários países do mundo. O policiamento é geralmente considerado um serviço de prevenção e investigação de crimes e da manutenção da ordem pública. É diferente da proteção de fronteiras nacionais geralmente mais associada a guardas de fronteira, oficiais de imigração e exército. Enquanto isto é claro na teoria, na prática esta distinção não é nada clara. Mesmo um olhar superficial na situação de policiamento sugere que ele pode e tem um impacto negativo na segurança humana em inúmeros países independente do bem-estar, tamanho da população ou taxas de crimes. Há várias leis de sanção e agências de segurança que efetuam atividades de policiamento e a maioria delas são armadas. Policiamento existe em múltiplas formas, indo de unidades paramilitares fortemente armadas e serviços de segurança, forças policiais civis, guardas de fronteira, e serviços de alfândega, até firmas de segurança particulares e comunidades se auto policiando. A polícia usa e muitas vezes abusa das armas. Ao admitir isto, reconheço o papel vital que a polícia tem na proteção da vida, liberdade e manutenção da segurança pública, e esta crítica tenta apoiar esta abordagem sobre o policiamento. Cento e sessenta anos após a origem do policiamento moderno em Londres, fica claro para mim que a verdade inflexível é que muitas vezes as sociedades precisam ser controladas, muitas vezes precisamos nos proteger uns aos outros e muitas vezes a força deve ser usada. Pessoas são parte essencial da equação relativa ao uso da força: pessoas como vítimas, como agressoras, como espectadoras assustadas e como oficiais de polícia agindo como centro da segurança humana ou trabalhando para enfraquecê-la. É triste o fato que abusos do Pensando Primeiro nas Pessoas 38 uso da força por aqueles que nos policiam significam os mais freqüentes abusos aos direitos humanos. Nos Estados Unidos “houve milhares de denúncias sobre o abuso da polícia durante 2002, incluindo tiroteios injustificados, surras, estrangulamentos e tratamento brutal, porém barreiras opressivas quanto a responsabilidade final continuaram, possibilitando que oficiais responsáveis por violações aos direitos humanos escapassem da punição”. 72 Leis humanitárias internacionais e de direitos humanos procuram codificar sob quais condições a força deve ser usada. Uma distinção é claramente delineada entre uso da força ‘legítimo’ e ‘arbitrário’. A distinção entre os dois é claramente demonstrado em um acordo marcante, mesmo que grandemente ignorado — Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo por agentes executores da lei (os Princípios Básicos).73 Os Princípios Básicos combinam aspectos das leis de guerra com uma abordagem nos direitos humanos baseados em princípios jurídicos em quatro conceitos complementares que definem o uso legítimo da força. Estes conceitos são bem resumidos na palavra PLAN: • Proporcionate (proporcionada)—estar em justo equilíbrio em resposta a ameaça proposta ou força usada; • Lawful (legítima)—o uso da força deve ter uma proposta legítima como de auto defesa, capturar uma pessoa por uma ofensa criminal específica reconhecida como punível pela lei existente, ou a necessidade de proteger a ordem pública; • Accountable (responsável) — estar sujeito à lei e ser responsável por ela. A polícia não está acima da lei e deve ser responsabilizada se agir arbitrariamente, da mesma forma que qualquer outro cidadão; e • Necessary (necessária)— considerar se algo menos poderia ser feito. Isto inclui restrições de danos e infrações no dever de proteção. Este conceito particular requer que a força seja diferenciada para que seu uso apropriado esteja disponível para a polícia. Este diagrama destaca os pontos chave onde violações aos direitos humanos são freqüentes e mostra o potencial que a força pode ser usada arbitrariamente se o PLAN não for aplicado. Human Rights Watch World Report (2003), p.507. Mais de 12000 denúncias foram submetidas ao Departamento de Justiça dos EUA no ano terminado em 30 de setembro de 2001. 56 oficiais foram condenados ou se confessaram culpados pelos crimes. 73 Aceito pelo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Delito e do Tratamento de Prisioneiros, Cuba em 1990. Disponível no: http://193.194.138.190/html/menu3/b/h_comp43.htm 72 Pensando Primeiro nas Pessoas 39 P - proporcionada Uso legítimo da força L - legítima A - responsável Uso da força e de armas de fogo Incidente de ordem público Força excessiva Ato de prender Controle e moderação N - necessária Transporte Detenção Execução arbitrária Castigo e tortura Uso arbitrário da força Ato delitivo Dada a freqüência das violações dos direitos humanos, alguém poderia concluir que a violência chega fácil, enquanto o uso legítimo da força não. Isto requer treinamento, não apenas em salas de aula, mas no mundo real após um treinamento extensivo em campos de tiroteio. Para colocar a coisa mais asperamente: um membro de uma organização policial paramilitar uma vez me disse, “Por que você nos leva a fazer isto? A vida era mais simples antes. Apenas puxávamos o gatilho”. Os Princípios Básicos são divididos entre princípios gerais e especiais no uso da força e no uso da força letal. Força letal pode ser apenas usada em reação a uma ameaça direta à vida. O desafio é assegurar que forças de segurança munidas de armas entendam, detalhadamente, as condições específicas nas quais o uso da força letal pode ser apropriado. O treinamento que possibilita oficiais a avaliar ameaças e aprender a decidir em uma fração de segundos é o componente mais necessário de treinamento com armas de fogo, mas geralmente é o mais ignorado. Minha experiência recente com a missão da ONU no Timor Leste salientou a falta de familiaridade com os Princípios Básicos.74 O novo serviço de polícia do Timor Leste foi equipado com aproximadamente 3.000 armas de mão Austrian Glock 9mm. Por causa da necessidade de ter oficiais em campo o mais rápido possível, o treinamento consistiu em manipulação básica da arma e prática de tiro ao alvo. O treinamento de direitos humanos foi limitado à sala de aula e não incluiu simulações que ilustrassem a aplicação prática dos Princípios Básicos e do PLAN. O resultado foi de aproximadamente 2.500 oficiais armados que sabiam como segurar uma arma de forma (relativamente) segura, como puxar o gatilho e como atingir o que eles apontassem. Mas eles não tinham certeza de quando era legítimo atirar. O que poderia ser pior? Infelizmente não é difícil descobrir muitos outros exemplos bem piores que este. 74 Anistia Internacional (2003), Briefing to Security Council Members on policing and security in Timor-Leste. AI Index: ASA 57/001/2003 Pensando Primeiro nas Pessoas 40 Após doze anos da criação dos Princípios Básicos, o quadro no nível de uma implementação nacional é obscuro e precisa ser esclarecido urgentemente. Alguns serviços policiais têm total consciência dos princípios e deram passos importantes para implementá-los. Entretanto, muitos dos serviços de polícia no mundo ainda precisam implementar os Princípios Básicos. Muitos deles, imagino, nunca sequer ouviram falar deles. Os critérios foram desenvolvidos e examinados. Tristemente ainda temos um longo caminho a percorrer para assegurar que os serviços policiais do mundo utilizem força legitimamente. Colin Roberts foi um oficial de polícia no Reino Unido durante 22 anos. Atualmente ele trabalha meio período como chefe civil das questões comunitárias da Polícia de Surrey, trabalha como consultor de assuntos para reforma do policiamento e está escrevendo uma tese de PhD. Ele escreve em caráter pessoal. Para mais informações sobre este assunto: Anistia Internacional (1998), Ten Basic Human Rights Standards for Law Enforcement Officials, AI Index POL 30/04/98, Londres. Basic Principles on the Use of Force and Firearms by Law Enforcement Officials.Disponível no: http://193.194.138.190/html/menu3/b/h_comp43.htm Code of Conduct for Law Enforcement Officials, adotado pela Resolução 34/169 da Assembléia Geral de 17 de dezembro de 1979. Disponível no: www.unhchr.ch/html/menu3/b/h_comp42.htm De Rover, C (1998), To Serve and to Protect: Human Rights and Humanitarian Law for Police and Security Forces, Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Genebra. Human Rights Watch (2002), The bullets were raining: The January 2001 Attack on Peaceful Demonstrators in Zanzibar, Human Rights Watch, Nova York. Disponível no: www.hrw.org/reports/2002/tanzania Oakley, Robert B., Michael J. Dziedzic e Eliot M. Goldberg, eds (1998), Policing the New World Order: Peace Operations and Public Security. National Defense University Press, Washington, DC Policiamento comunitário em áreas violentas Rubem César Fernandes O Viva Rio foi pioneiro num sistema de segurança humana através de policiamento comunitário. Esta experiência nasceu de uma necessidade urgente de transformar uma área do Rio de Janeiro com altíssimos níveis de violência há quase 20 anos, em grande medida devido ao policiamento brutal e lutas de gangues. Um novo tipo de grupo armado no meio de traficantes de drogas organizou-se informalmente em facções que começaram a lutar pelo controle territorial das favelas. Como conseqüência, a polícia do Rio tornou-se uma das forças não-militares mais experientes do mundo em conflitos armados urbanos e o número de mortes no Rio de Janeiro na última década, relacionadas à armas, ultrapassa aos vistos em zonas de guerra. Um projeto foi criado para proteger as pessoas surpreendidas na linha de fogo desta guerra. A inspiração veio do programa Paz para a Cidade, coordenado pelo Conselho Mundial de Igrejas, que envolve sete cidades, incluindo o Rio de Janeiro e Boston.75 A iniciativa foi planejada pelo Viva Rio em conjunto com a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e foi lançada em julho de 2000. O local escolhido para primeiro experimentá-lo foi o complexo de favelas localizado no coração da cidade. É uma comunidade mediana (aproximadamente 15 mil habitantes), absolutamente isolados dentro do ambiente da classe média. Um tumulto de moradores da favela enfurecidos em Representantes do Viva Rio aprovaram a introdução do programa “Cessar Fogo” da Polícia de Boston, uma parceria com a Bostonian Pentecostal Network, Ten Points Coalition. 75 Pensando Primeiro nas Pessoas 41 maio de 2000, após uma suposta execução de cinco adolescentes por membros da polícia local, contribuiu como um dos principais fatores para a escolha deste local. “Elas (as gangues de rua) nos atacam (polícia) porque querem desmoralizar o estado, mostrar que são poderosas. Há alguns meses eles mataram um policial que estava sozinho em seu carro – como se fizessem aquilo apenas por diversão”. 76 Uma nova divisão foi criada dentro da Polícia Militar do Rio de Janeiro para este projeto, que foi chamado de Grupo de Policiamento de Áreas Especiais (GPAE). Suas atividades são limitadas a esta comunidade bem definida e absolutamente isolada. Cem homens foram recrutados para esta primeira fase. Com isso, os policiais excederam o número de ‘soldados’ do tráfico. A proporção de policiais para cada habitante da favela era de aproximadamente 1:150, o que é três vezes maior que a taxa usual para o estado do Rio. Os oficiais do GPAE foram recrutados dentre as categorias regulares e treinados por três meses em aproximações amigáveis com a comunidade. Inúmeras conferências foram conduzidas com os líderes comunitários para identificar as prioridades para o aperfeiçoamento das condições sociais e econômicas locais, e vários programas paralelos de desenvolvimento comunitário foram instalados para tratar de problemas de abastecimento de água e urbanização, assim como programas para crianças e jovens. Além disso, também foi formada uma unidade de combate de elite para complementar o trabalho do GPAE usando a idéia do ‘policial bom/policial mau’. Em setembro de 2000, a unidade de combate entrou na favela. Tudo foi feito de forma bem aberta, após repetidas notificações, a luz do dia e com homens fortemente armados, para pacificar a área de tal maneira que o GPAE pudesse entrar. A ‘polícia comunitária’ então propôs e fez ampla propaganda de uma lista simples de regras para sua ação: a proibição do uso de armas na comunidade; o fim do envolvimento de crianças em tráfico de drogas; e mais nenhuma corrupção e violência policial. A polícia então tornou-se associada a dois benefícios valiosos: um fim para a violência e a criação de oportunidades sociais. Além disso, para apoiar estas noções e dar a eles um sustento prático, um Conselho Comunitário foi criado com a participação voluntária de vários grupos da comunidade. O impacto deste projeto foi marcante. Nos dois primeiros anos, os homicídios foram reduzidos a zero e as batalhas armadas cessaram. O GPAE honrou sua promessa no que concerne a conduta policial. Setenta oficiais, dentre os 100 que iniciaram, foram punidos por má conduta e removidos do programa. A punição firme devido a má conduta policial, junto com um reconhecimento formal do Conselho Comunitário, realçou muito a credibilidade do programa. O projeto tem sido muito bem sucedido em reduzir os níveis de violência em seu estágio inicial, agora se defronta com o desafio de manter seu sucesso. O GPAE ainda é uma novidade dentro da cultura institucional de forças de segurança e as mudanças na política pública no Rio poderiam afetar sua natureza particular. Ele também foi manchado por rumores de corrupção. Para sobreviver, ele deve desenvolver ainda mais seu esquema anti-corrupção, expandir-se para outras áreas, e se fixar além do curto mandato dos políticos. Porém o mais importante é que este processo abriu um novo capítulo nos sistemas policiais do Brasil. O policiamento corrente é reativo, com oficiais simplesmente Sargento Paixão foi entrevistado por Alex Bellos (2003), Where children rule with guns, The Observer, 19 de janeiro. Disponível no:www.observer.co.uk/international/story/0,6903,877986,00.html 76 Pensando Primeiro nas Pessoas 42 reagindo a atos criminosos. Precisamos de uma aproximação pró-ativa, na qual os policiais vão para as ruas com um programa de trabalho específico para ajudar a resolver problemas que trazem desordem e violência. As favelas trabalhando com o GPAE poderiam finalmente receber melhor policiamento do que as áreas de classe média do Rio de Janeiro, e, pelo menos uma vez, as favelas poderiam tornar-se objeto de ciúme nesta cidade tão bonita – um exemplo para todos. Rubem César Fernandes é o diretor do Viva Rio no Brasil. Para mais informações sobre este asunto: Veja o filme Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles. Alpert, Geoffrey P. e Alex R. Piquero (2000), Community Policing: Contemporary Readings, 2ª edição, Waveland Press, Inc. Prospect Heights, Illinois. Holm, Tor Tanke e Espen Barth Eide (2000), Peacebuilding and Police Reform, Norwegian Institute of International Affairs, The Cass Series on Peacekeeping. Human Rights Watch/Americas (1997), Haiti: The Human Rights Record of the Haitian National Police. National Coalition for Haitian Rights, e Washington Office on Latin America. Nield, Rachel e Melisa Ziegler (2002), From Peace to Governance: Police Reform and the International Community. Relatório baseado em Conferência patrocinada pelo Washington Office on Latin America e por Johns Hopkins Nitze School of Advanced International Studies em 2001. Viva Rio Visite: www.vivario.org.br Rumo a uma agenda de direitos humanos para armas pequenas Iain Levine A comunidade internacional começou a confrontar os sérios desafios apresentados pelas armas pequenas, mas ela geralmente não perde tempo com a dimensão dos direitos humanos. Um foco nos direitos humanos apresenta uma necessidade bem maior de discernimento sobre os flagelos sofridos por causa das armas pequenas e como deve-se lidar com estes problemas. Em áreas de conflito violento, como o Sudão e a Colômbia, forças armadas abusivas – sejam seus governos ou grupos rebeldes, paramilitares ou mercenários – rotineiramente usam armas pequenas para pilhar os civis em violação às proteções fundamentais das leis humanitárias internacionais e de direitos humanos. O custo é dezenas de milhares de vidas todos os anos. Estas armas são geralmente obtidas via fornecedores internacionais através de transferências legais, um mercado negro próspero ou simplesmente em transações ilícitas. Em Burma e em outras partes, forças abusivas freqüentemente usam crianças como combatentes, lhes dando armas e ordens para cometer atrocidades. Em muitos assentamentos pós-conflitos, incluindo o Kosovo, a disponibilidade difundida de armas pequenas tem ameaçado gravemente a segurança, corroendo a crença no respeito às leis e minando esforços de construção da paz. Além disso, como testemunhado no Afeganistão, se as medidas não estão adequadas para desarmar antigos combatentes, proporcionar segurança e garantir a responsabilidade final pelos abusos do passado, as forças militares bem armadas continuarão a impor um reino de terror nos civis.77 Em países não afetados pela guerra, mas onde as armas pequenas são facilmente conseguidas, um colapso similar no respeito às leis pode levar ao aparecimento de grupos 77 Para mais informações, veja por exemplo, Human Rights Watch (2002), “My Gun was as Tall as Me:” Child Soldiers in Burma, Human Rights Watch, Nova York; Human Rights Watch (2002), “All of our hopes are crushed: Violence and repression in Western Afghanistan.” Human Rights Watch Report. Vol. 14, N°. 7 (C). Pensando Primeiro nas Pessoas 43 que efetuam ataques armados com impunidade, como tem sido um padrão na Nigéria. Lá, gangues de jovens usam armas pequenas de forma crescente, não apenas armas tradicionais para disputar o poder, enquanto a polícia é uma mera espectadora ou toma parte das mesmas. Em numerosos casos, as forças governamentais fazem mau uso de suas armas – por exemplo, a polícia do Azerbaijão recentemente atirou em protestantes desarmados em uma transgressão das regras existentes dos Princípios Básicos sobre Uso da Força e Armas de Fogo por Agentes Executores da Lei. Outras vezes, os políticos incitam a violência armada através de milícias étnicas ou recrutam assassinos armados para executar ataques por motivos políticos, uma tática que foi adotada no Quênia.78 Os governos são legalmente obrigados a respeitar e assegurar o respeito às leis humanitárias internacionais e de direitos humanos. Porém os governos freqüentemente perpetram a proliferação e mau uso das armas pequenas ou falham sistematicamente em seu dever de prevenir abusos por agentes de segurança particular e de mantê-los sob sua responsabilidade. Muitos destes temas não estavam nem à mesa durante a Conferência da ONU em 2001; outros foram excluídos do documento final por causa da oposição de uma minoria de governos. O Programa de Ação apenas toca no comércio legal e não trata de como as armas são mal utilizadas. O Programa de Ação, de fato, sequer menciona ‘direitos humanos’ ou ‘mau uso’. Houve alguns desenvolvimentos positivos para que os governos assumissem a responsabilidade sobre o problema das armas pequenas, mas eles raramente fazem uma implementação planejada. Por exemplo, muitos governos exportadores de armas, particularmente na Europa, se comprometeram a não fornecer armas pequenas para aqueles que abusam dos direitos humanos ou em áreas de conflito violento, e alguns estão trabalhando para recrutar futuros partidários destes critérios básicos.79 Na África Ocidental, onde as armas pequenas estimularam uma espiral de conflitos violentos, os governos desistiram da importação de tais armas sob as ordens da Moratória ECOWAS em 1998. Entretanto, estas promessas de restrição e responsabilidade foram quebradas rotineiramente, e a circulação irresponsável de armas continua. As Nações Unidas também divulgam agora os nomes de traficantes de armas que quebram embargos obrigatórios de armas e os funcionários de governo com quem eles se conluiam. No entanto isto é feito, como e quando necessário, monitorando e relatando as sanções fracassadas apenas em países selecionados e por um tempo limitado. A única tentativa de levar um comerciante de armas desmascarado pelas Nações Unidas a julgamento por negociação ilegal de armas, falhou por falta de jurisdição. O interesse popular em projetos sobre armas pequenas, bem como programas abrangentes de desmilitarização, desmobilização e reintegração, iniciativas de política fundamentadas pela comunidade e esforços para reduzir a demanda por armas em regiões voláteis estão em andamento em muitos países. Mas o mau uso das armas e como lidar com isto, tem sido geralmente negligenciado em muitas deliberações governamentais. Uma especialista recentemente nomeada pela ONU foi incumbida de Veja por exemplo, Human Rights Watch (2003), “Testing Democracy: Political violence in Nigeria.” Human Rights Watch Report, Vol. 15, N°. 9 (A); Human Rights Watch (2002), Playing with Fire: Weapons proliferation, political violence, and human rights in Kenya, Human Rights Watch, Nova York. 79 Veja por exemplo, Organisation on Security and Cooperation in Europe (OSCE) Criteria on Conventional Arms Transfers, aprovado em novembro de 1993; Código de Conduta em Exportação de Armas, da União Européia, aprovado em Junho de 1998 (subseqüentemente endossado por países da U.E. e outros); OSCE Document on Small Arms and Light Weapons, aprovado em novembro de 2000; Wassenaar Arrangement Best Practice Guidelines for Exports of Small Arms and Light Weapons, aprovado em dezembro de 2002; Chairman’s Summary from the Lancaster House Conference on Implementing the UN Programme of Action: Strengthening Export Controls, Janeiro de 2003, e; OSCE Revised Draft Best Practice Guide on Export Control of Small Arms and Light Weapons, datado em janeiro de 2003, com lançamento do formato final marcado para julho de 2003. 78 Pensando Primeiro nas Pessoas 44 remediar esta deficiência. Ela foi indicada especialmente para estudar como prevenir abusos cometidos por armas pequenas. Comissão de Direitos Humanos da ONU aprova um Relator Especial em Armas Pequenas Em seu encontro de 2003 em Genebra, a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas aprovou sem voto a decisão de nomear Ms. Barbara Frey como Relatora Especial com o compromisso de preparar um estudo abrangente sobre prevenção da violação de direitos humanos devido a armas pequenas e armas leves. Ms. Frey entregará três relatórios anuais para a Sub-Comissão de Promoção e Proteção dos Direitos Humanos; o primeiro estará disponível na Sub-Comissão no encontro em agosto de 2003. A nomeação dá prosseguimento ao ensaio de Frey que fazia um retrospecto do assunto para a Sub-Comissão (E/CN.4?Sub.2/2002/39). Baseada no ensaio inicial, a Sub-Comissão aprovou a Resolução 2002/25 que encorajava os Estados a adotar leis e políticas de fabricação, transferência e uso de armas pequenas que estejam de acordo com os princípios dos direitos humanos e leis humanitárias. A Sub-Comissão também solicitou àqueles que documentam processos de direitos humanos que procurem informações para relatar abusos aos direitos humanos por causa de armas pequenas e armas leves. Uma análise sobre o problema das armas pequenas nos direitos humanos segue um longo caminho até a sugestão de uma solução. A política global de armas pequenas deve reunir três critérios principais: ela deve lidar tanto com transferência quanto mau uso, manter um foco maior na responsabilidade governamental do que jogar a culpa unicamente nos agentes particulares e ser dirigida para proteger pessoas do mau uso das armas. Os passos principais para cessar o fluxo de armas para aqueles que fazem mau uso delas incluem a ação governamental para: • Não autorizar fornecimentos ‘legais’ de armas para receptadores que fazem mau uso delas. Adotar instrumentos obrigatórios para transferência de armas, que incluam direitos humanos sólidos e critérios humanitários, tal como o Tratado de Comércio de Armas foi proposto internacionalmente, • Fechar brechas legais e fortalecer controles frouxos que permitem a prosperidade do mercado negro, • Intensificar muito a transparência na transferência de armas, incluindo a publicação detalhada de relatórios anuais. Da mesma forma, os governos devem tomar fortes medidas para impedir e prevenir o mau uso de armas; incluindo medidas para: • Cumprir as responsabilidades governamentais existentes para ficarem de acordo com as leis humanitárias internacionais e de direitos humanos, • Assegurar que a polícia governamental e forças armadas preservem rigorosamente os modelos internacionais, por exemplo ao proporcionar treinamento e manter os infratores em julgamento. Em agosto de 2002 a Sub-Comissão de Direitos Humanos da ONU disse que “a proteção dos direitos humanos deve ser fundamental para o desenvolvimento de futuros Pensando Primeiro nas Pessoas 45 princípios e normas relativos à transferência e mau uso das armas pequenas, e que os direitos humanos não estão recebendo a importância devida em outros contextos”.80 Já é tempo que os governos levem a sério esta mensagem ao examinarem o problema das armas pequenas através das lentes dos direitos humanos e procurem trabalhar para resolvê-lo. Iain Levine é Diretor de Programa da Human Rights Watch. Para mais informações sobre este assunto: Chesterman, Simon, ed. (2001), Civilians in War, Lynne Rienner, Boulder, CO. Comitê Internacional da Cruz Vermelha (1999), Arms Availability and the Situation of Civilians in Armed Conflict, ICRC, Genebra. Frey, Barbara (2002), The Question of the Trade, Carrying and Use of Small Arms and Light Weapons in the Context of Human Rights and Humanitarian Norms. Ensaio oferecido sob concordância das decisões da SubComissão 2001/120 ECOSOC - Other Human Rights Issues. Nações Unidas. Disponível no: www.unhchr.ch Gutman, Roy e David Rieff, eds (1999), Crimes of War: What the Public Should Know, W.W. Norton & Company, Nova York. Human Rights Watch, Arms Division. Visite: www.hrw.org/arms/ McRae, Rob e Don Hubert, eds (2001), Human Security and the New Diplomacy: Protecting People and Promoting Peace, McGill-Queen’s University Press, Montreal. Sub-Comissão das nasções Unidas para Promoção e Proteção dos Direitos Humanos, “The prevention of human rights violations caused by the availability and misuse of small arms and light weapons,” Resolução 2002/25, E/CN.4/SUB.2/RES/2002/25, 14 de agosto de 2002. 80 Pensando Primeiro nas Pessoas 46 Seção IV: Conclusões e recomendações O diálogo de um ano entre governos, ONGs e agências da ONU refletido nesta publicação explorou algumas questões difíceis na preparação do primeiro levantamento do Programa de Ação da ONU sobre armas pequenas em 2001. Entre elas, a mais básica: Como saberemos se o Programa de Ação fez alguma diferença? Qual é a referência do sucesso? As conferências revelaram um compromisso real em implementar o Programa de Ação da ONU – e outros acordos e processos relativos à limitação do comércio de armas de fogo e seu mau uso – da forma mais integral possível, dado o alcance dos desafios econômicos e sociais com que se defrontam os estados, a ONU e as ONGs. Dentro da natureza crescente do desarmamento e dos esforços para a redução da violência, era evidente que muitos agentes estivessem se preparando de forma construtiva para o deve ser feito em seguida. Esperamos que este processo de diálogo e publicação contribuam para o processo de desenvolvimento de uma agenda de ação sobre armas pequenas voltada para o interesse das pessoas. Um foco no custo humano por conta da violência armada não comporta soluções fáceis ou de curto prazo. Entretanto, aplicar os termos de segurança humana neste assunto não é apenas um lembrete importante do que está em jogo, mas também deixa claro que a medida para intervenções bem sucedidas é: pessoas mais seguras, comunidades mais seguras. Até hoje, a agenda sobre armas pequenas foi entendida em termos da restrição do fornecimento e/ou redução da demanda. Os governos se fixaram amplamente na primeira, particularmente no comércio ilícito; e as organizações da sociedade civil geralmente avançaram na segunda. Entretanto estas duas dimensões são de fato partes de uma noção mais ampla sobre a disponibilidade de armas, algo que tem três componentes cruciais. Abastecimento Medidas de abastecimento paralelo sempre corresponderam ao controle tradicional de armas. Estas semelhanças foram, até hoje, focadas mais em armas e menos nas pessoas, ainda que saibamos que menos armas nem sempre resultem em pessoas mais seguras. Explorar como os embargos de armas da ONU, ou outros, podem promover a segurança humana é um exemplo de como o controle de armas e um caminho de desarmamento podem deixar as pessoas mais focadas. Esforços para desenvolver uma estrutura normativa que controle a transferência de armas fornece outro exemplo. O Tratado de Comércio de Armas coloca as pessoas dentro dos discursos de desarmamento, buscando limitar a transferência quando armas podem ser usadas em atos de graves violações às leis humanitárias e de direitos humanos. Pensando Primeiro nas Pessoas 47 Aguardar: prioridades de Mali na presidência da Rede Desde maio de 2003, o governo de Mali ocupa a presidência da Rede de Segurança Humana, até maio de 2004. Durante este tempo, Mali focará em três pontos: armas pequenas, educação sobre direitos humanos e operações relacionadas com homens e mulheres e manutenção da paz.. Além do trabalho de representar a Rede em vários processos, Mali estenderá o convite para todos os países da África Ocidental para fazerem parte das atividades da Rede mantidas em Bamako. Este convite aberto será acrescido por um seminário regional sobre a implementação do Protocolo Opcional nos Direitos da Criança no Envolvimento das Crianças em Conflitos Armados. Em dezembro de 2003, em colaboração com o Centro para o Diálogo Humanitário e os governos do Canadá, Noruega, Eslovênia, África do Sul e Suíça, Mali irá co-patrocinar um workshop na Conferência Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho sobre a disponibilidade de armas pequenas e dos impactos humanitários. Demanda Trabalhar para diminuir a demanda por armas se adapta aos desejos de muitos governos – particularmente os que fazem parte da Rede de Segurança Humana – que trabalham ativamente na interseção entre ‘libertar-se do medo’ e ‘libertar-se da necessidade’. Há uma ampla aceitação que certas condições sócio-econômicas aumentam a probabilidade da violência armada e, conseqüentemente, aumenta a demanda por armas. Reagir a estas causas, entretanto, pode ser um desafio, como elementos essenciais desta agenda – pobreza, abrandamento, emprego para jovens e alienação social, entre outros – são objetivos de desenvolvimento ilusórios. Neste momento, portanto, o ponto de vista da demanda da equação tende a abranger um amplo alcance de objetivos estimáveis mas difusos. A falta de especificidade permitiu que uma lista de demandas fosse endossada aos níveis mais amplos por governos, sem resultar em feitos concretos. O desafio do ponto de vista da demanda é estreitar a agenda em uma série de objetivos políticos claros e diferentes, mesmo enquanto se reconhece a interdependência entre eles. Este desafio é talvez mais alcançável ao se enfatizar o nexo entre segurança e desenvolvimento. Proteção particular pode ser dada para a provisão da segurança comunitária – isto é, criar condições de lei e ordem e acesso à justiça que reduzam os sentimentos de insegurança, e por conseqüência, a demanda por armas. Mau uso Os dois elementos anteriores não podem ser bem sucedidos sem que se assegure que armas sejam usadas apropriadamente, de acordo com as leis humanitárias e de direitos humanos existentes. Embora esta conclusão pareça evidente, continua o fato de que pouca atenção foi dada em discussões entre governos sobre as leis humanitárias e de direitos humanos. A expressão ‘direitos humanos’ sequer aparece no Programa de Ação da ONU. Além disso, os Princípios Básicos no Uso da Força e Armas de Fogo são raramente, ou nunca, citados como parte da agenda que trata dos desafios propostos pelas armas pequenas. Enquanto a maioria das armas pequenas do mundo são mantidas mais por indivíduos do que forças de segurança governamentais, é o segundo que precisa estar no foco Pensando Primeiro nas Pessoas 48 principal dos esforços para tratar do mau uso. A crescente noção aceita de reforma do setor de segurança é diretamente pertinente ao problema da mau uso de armas por forças governamentais. De uma perspectiva de violência e redução da demanda, a reforma do setor de segurança pode incluir uma série de ações: de implementar os Princípios Básicos no Uso da Força e Armas de Fogo até iniciar programas de policiamento comunitário, como exemplificado pelo trabalho do Viva Rio entre os mais pobres entre os pobres no Brasil. Esforços feitos até hoje de reforço do setor de segurança tenderam a focar nos militares, incluindo garantir a supervisão civil do exército e educação sobre direitos humanos para eles. Entretanto, é mais provável que um foco no fortalecimento da regra legal e proporcionar acesso à justiça seja relevante por limitar a proliferação e mau uso das armas de fogo. Atenção particular deve ser dada a um apoio cuidadosamente objetivo para reformar a polícia, o judiciário e as prisões. Como parte desta agenda, os estados devem também reduzir e regular cuidadosamente o acesso civil às armas. Vontade Política para tanto realmente existe na maioria dos estados, como evidenciado durante a Conferência da ONU em 2001; entretanto, alguns estados poderosos são resistentes a estas noções. A diversidade regional da Rede de Segurança Humana proporciona oportunidade para que a Rede conduza um diálogo através de arranjos políticos com o objetivo de ajudar a consolidar esta política nos próximos anos. Parceria e liderança Há diferenças claras entre o processo diplomático e político em torno de minas terrestres e armas pequenas. Entretanto, a parceria estreita e efetiva de governos e ONGs que se desenvolveu em resposta à crise das minas terrestres deve ser copiada para armas pequenas, se a comunidade internacional quiser progredir para dar mais segurança às pessoas afligidas pela violência armada. Tal parceria também se aplica igualmente entre governos. O número de funcionários do governo engajados internacionalmente com armas pequenas deve ser estendido; diplomatas com documentos sobre armas pequenas devem representar não apenas uma perspectiva de desarmamento, mas também aquelas de direitos humanos, humanitarismo, desenvolvimento e saúde pública. Igualmente, para se ter um efeito real na criação e implementação das mudanças políticas necessárias, representantes de ministérios do interior, que geralmente têm a responsabilidade de policiar, devem estar envolvidos com o processo entre governos. “…segurança e proteção não acontecem simplesmente: elas são o resultado de um consenso coletivo e investimento público”. Nelson Mandela81 Um grupo de governos com a mesma opinião foi decisivo ao transformar boas idéias sobre minas terrestres em normas e ações internacionais. Um processo similar é preciso para armas pequenas. A Rede de Segurança Humana pode ter um papel chave de liderança ao exibir uma agenda corajosa e voltada para o interesse da população sobre armas pequenas e encorajar outros países para se tornarem defensores. Mandela, Nelson (2003), Foreword, World report on violence and health: summary, Organização Mundial de Saúde. Disponível no: www5.who.int/violence_injury_prevention 81 Pensando Primeiro nas Pessoas 49 Pesquisa de ação orientada O Programa de Ação encoraja estados, sociedade civil e organizações internacionais ‘a desenvolver e apoiar pesquisa de ação orientada visando facilitar uma maior consciência e melhor compreensão da natureza e do âmbito dos problemas...’ Recomendações para pesquisas futuras que apoiariam medidas de controle voltadas para o interesse da população incluem:82 • • • • Acentuada compreensão de todos os aspectos do mau uso das armas, Sondagem da opinião pública e posturas relativas a armas pequenas e violência, Avaliação dos impactos dos programas de coleta de armas, Investigação da ligação entre desenvolvimento e disponibilidade e mau uso de armas pequenas, • Compreensão profunda de como homens e mulheres são atingidos distintamente pelo uso e abuso de armas pequenas, e • Investigação sobre as perspectivas de terminar com a transferência de armas para agentes não oficiais , tais como grupos armados. Políticas voltadas para o interesse da população Em suma, o caminho para a segurança humana sugere que o impacto sobre as pessoas é a razão do nosso trabalho e a norma para nosso sucesso. Os princípios de um programa de trabalho que primeiro pensa nas pessoas que batalham contra a disponibilidade e mau uso das armas pequenas estão surgindo: • • • • • • • • 82 Reforma dos setores institucionais de segurança que não proporcionam a segurança das pessoas – por exemplo, tradições de brutalidade policial ou sistemas legais ineficientes e injustos; Implemento de normas existentes, tais como os Princípios Básicos no Uso da Força e Armas de Fogo e o Código de Conduta das Nações Unidas para Agentes Executores da Lei; para alcançar uma maior adesão mundial ao único tratado global de restrição ao tráfico de armas, o Protocolo de Armas de Fogo da Convenção Transnacional do Crime; Demonstrar um respeito absoluto pelas leis internacionais, incluindo leis humanitárias e de direitos humanos; Focar no sexo em todos os aspectos relacionados a proliferação e mau uso das armas pequenas; Incluir uma perspectiva de desenvolvimento que corresponda aos desafios que as armas pequenas apresentam tanto para as vidas como para a sobrevivência e incorporar um critério de segurança comunitária dentro da assistência de desenvolvimento, com ênfase no crescimento da capacidade Desenvolver caminhos para a saúde pública que proporcionem discernimentos e metodologias valiosos para intervenções de redução da violência; Reduzir a posse civil de armas de fogo; Reprimir o fornecimento de armas transferidas a usuários finais abusivos e inaptos— sejam forças de estados identificados, paramilitares ou grupos rebeldes armados; Seção III Para 18 Programa de Ação das NU. Pensando Primeiro nas Pessoas 50 • • Estabelecer um objetivo global anual para redução de armas– trabalhar com o objetivo de um entendimento que conduza a um acordo para um programa executável de coleta e destruição de armas na Conferência de Revisão em 2006; e Proporcionar assistência às vítimas e sobreviventes da violência armada que ficaram incapacitadas ou traumatizadas. Pensando Primeiro nas Pessoas 51 Anexo 1 Um quadro dos instrumentos e acordos dos quais os estados da Rede de Segurança Humana fazem parte, e informações relacionadas a armas É importante notar que muitas das iniciativas sobre armas pequenas ocorrem a nível regional e a Rede de Segurança Humana é simplesmente uma reunião de estados de diferentes regiões. Entretanto, estas tabelas devem ser lidas de forma proveitosa como uma visão geral da situação de um estado em particular, e não necessariamente como comparação entre os estados da Rede. Todas as informações foram reunidas de fontes disponíveis ao público e não devem ser unicamente um reflexo das mudanças legislativas em processo, ou de regulamentos em negociação dentro de um estado. Grupo Instrumento Objetivos Nações Unidas Código de Condutas da ONU para Leis Oficiais de Sanção Dezembro de 1979 Estabelecer critérios que devem guiar o funcionamento de agentes executores da lei Princípios Básicos da ONU no Uso da Força e Armas de fogo e por agentes executores da lei Setembro de 1990 Visa proporcionar modelos para o uso da força por agentes executores da lei. Para informações veja: www.unhchr.ch/html/menu3/b/h_comp43. htm Protocolo da ONU contra a fabricação ilícita e tráfico de armas de fogo, suas partes, componentes e munição Tenta intensificar a transparência e a cooperação no comércio legal de armas de fogo. Delimita procedimentos de importação, exportação e transferência de armas de fogo incluindo sistemas de autorização governamental e de rastreio e marcação . Assinado por Áustria (Nov. 2001), Canadá (Março 2002), Grécia (Out. 2002), Mali (Julho 2001), Noruega (Maio 2002), Eslovênia (Nov. 2001), África do Sul (Out. 2002), Comunidade Européia (Jan. 2002) Programa da UE para Prevenção e combate ao tráfico ilícito de armas convencionais Junho de 1997 - Programa de Ação para a UE para lidar com o comércio ilícito de armas convencionais, incluindo armas pequenas Áustria, Irlanda, Grécia, Holanda (Nota: Suíça e Noruega não fazem parte da U.E) Comunidade de Desenvolvimento da África do Sul (SADC) e a EU endossaram o Programa de Ação Regional da África do Sul sobre armas leves e tráfico ilícito de armas Novembro de 1998 - Iniciativa que faz parte do esforço para implementar o Programa da UE. O texto dá uma lista de medidas que os países do SADC poderiam tomar para lidar com o problema das armas pequenas e identifica áreas onde a assistência da U.E poderia ser útil De acordo com a Convenção da ONU contra Crime organizado transnacional, Março de 2001 União Européia (UE) Estados Membros e/ou signatários Adotado pela resolução 34/169 da Assembléia Geral de 17 de dezembro de 1979 Decisão unânime aprovada em 1990 pelo 8° Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção de Crimes e o Tratamento de Criminosos Pensando Primeiro nas Pessoas 52 Código de Conduta sobre Exportação de Armas Junho de 1998, instrumento legal não obrigatório UE e Canadá Organização dos Estados Americanos (OEA) MERCOSUL (Mercado Comum da América do Sul) Estabelece critérios e condições operacionais que poderiam controlar a subvenção de licenças de exportação de armas convencionais Para mais informações veja em http://www.basicint.org/ WT/armsexp/codes.htm Ação Conjunta sobre armas pequenas Identifica medidas que Dezembro de 1998 visam lidar com o acúmulo de armas pequenas (especialmente a assistência em países afetados) Declarações Conjuntas Em 1998, a UE e o Canadá Dezembro de 1998 e setembro de 1999 declararam que sobre o problema de armas pequenas compartilharam uma abordagem comum para combater a expansão e o acúmulo desestabilizador de armas pequenas. O Canadá “firmou os princípios e critérios desenvolvidos neste Código de Conduta” Na declaração de 1999 a UE e o Canadá estabeleceram um Grupo de Trabalho conjunto sobre armas pequenas. Convenção Inter-Americana contra a Medidas delineadas para fabricação e tráfico ilícito de armas de fogo, aumentar o controle e munição, explosivos e outros materiais monitoramento legal de relacionados fabricação e transferência Novembro de 1997, instrumento legal de armas de fogo (por obrigatório exemplo marcação, manutenção de registro, sistemas rigorosos de licença) e para aumentar a troca de informações entre estados membros, referentes ao comércio ilícito de armas de fogo. Regulamentos padrões de controle do Conjunto de medidas Movimento Internacional de Armas de Fogo, práticas e procedimentos seus elementos, componentes e munição harmonizados visando Junho de 1998, instrumento legal não controlar os “movimentos de obrigatório adotado em 1998 pela Comissão exportação, importação e Inter-Americana de Abuso de Drogas da OEA trânsito interno”. Medidas projetadas para se Para informações veja Www.cfcassociarem à ccaf.gc.ca/en/international/drug_control.as implementação da p convenção da OEA. Mecanismos Conjuntos Mecanismo de Julho de 1998 compartilhamento de informações sobre pessoas (indivíduos ou organizações) envolvidas com o comércio de armas de fogo e material relacionados. Assinado pelo Canadá e um processo legislativo está em andamento para incluir uma lei doméstica. Assinado pelo Chile e um processo está em andamento para ser ratificado. Expandido para os países associados ao MERCOSUL que inclui o Chile Pensando Primeiro nas Pessoas 53 Comunidade Econômica de Estados da África Ocidental (ECOWAS) Moratória na Importação, Exportação Fabricação de Armas Leves É composto de 3 Mali instrumentos: - Moratória Declaração: acordo formal para restringir importação, exportação e fabricação de armas (Outubro de 1998) - Plano de Ação para a Implementação do Programa de Coordenação e Assistência para o Desenvolvimento da Segurança (PCASED) é operado pelo Programa de Desenvolvimento da ONU e busca facilitar a implementação da Moratória (Março de 1999) - Código de Conduta para a Implementação da Moratória na Importação, Exportação e Fabricação de Armas Leves (Dezembro de 1999) que mais adiante aperfeiçoará os detalhes relacionados a implementação da Moratória. União Africana (AU) que antes era a Organização da União Africana (OAU) Declaração de Bamako sobre uma Posição Comum da África sobre a proliferação, circulação e tráfico ilícito de armas pequenas e armas leves Dezembro de 2000 Posição Comum da África sobre armas pequenas preparada para a Conferência da ONU em 2001 que invoca uma ação concreta em níveis nacionais e regionais. Estabelece uma estrutura para cooperação regional sobre o problema de crime transnacional (incluindo armas pequenas). Resume uma “estratégia coesiva regional para prevenir, controlar e neutralizar o crime transnacional”. Mecanismo de troca de informações e controle de exportação para promover a “transparência e maior responsabilidade na transferência de armas convencionais e mercadorias e tecnologia de uso duplo”. Esboça critérios de exportação de armas pequenas. Associação das Declaração de Crime Transnacional da Nações do Sudeste ASEAN da Ásia (ASEAN) Dezembro de 1997 Plano de Ação da ASEAN para Combater Crime Transnacional Junho de 1999 Para informações veja www.aseansec.org Acordo Wassenaar Acordo Wassenaar Julho de 1996 Para informações veja www.wassenaar.org Diretrizes para Melhores Métodos de Exportação de armas pequenas e armas leves Dezembro de 2002 Para informações veja www.wassenaar.org/docs/best_practice_sal w.htm Mali e África do Sul Tailândia Áustria, Canadá, Grécia, Irlanda, Holanda, Noruega, Suíça Os outros membros são Argentina, Austrália, Bélgica, Bulgária, República Checa, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha Hungria, Itália Japão, Luxemburgo, Nova Zelândia, Polônia e Portugal, República Pensando Primeiro nas Pessoas 54 Declaração de Cooperação sobre Comércio de Armas Dezembro de 2002 Declara-se “de acordo com a da Coréia, Romênia, elaboração contínua e Federação Russa refinamento do critério para Eslováquia, Espanha, uma legislação efetiva sobre Suécia, Turquia, o comércio de armas, e para Ucrânia, Reino Unido continuar a discussão de e Estados Unidos. medidas de sanções, para a proposta de desenvolvimento de uma política Wassenaar sobre comércio de armas”. Organização para Documento sobre armas pequenas e armas Um compromisso político Áustria, Canadá, Segurança e leves que esboça provisões para Noruega, Irlanda, Cooperação na Novembro de 2000 combater o comércio ilícito Holanda, Grécia, Europa de armas pequenas e inclui Eslovênia, Suíça (OSCE) Para informações veja www.osce.org medidas para controlar a exportação, importação e trânsito; identifica critério para controlar exportações; e exige regulamentos no comércio. Também inclui provisões no gerenciamento da coleta e destruição de armas pequenas excedentes. Organização Sistemas de registro de armas e explosivos Um banco de dados do Todos os países da Internacional de da Interpol (IWETS) tráfico ilegal de armas, bem Rede são membros Polícia Criminal como fabricação e armas da Interpol (Interpol) roubadas e recuperadas. Para informações “A Fabricação, Uso e Controle das Armas de Esboça recomendações para veja fogo” que estados atuem contra www.interpol.int Assembléia Geral da Interpol, Resolução N°. “atividades criminais AGN/66/RES/6, 21 de outubro de 1997 internacionais que envolvam o uso de armas de fogo Para informações veja adquiridas ilegalmente” www.interpol.int/public/ICPO/GeneralAssem (adoção de registro efetivo, bly/Agn66/Resolutions/AGN66RES6.asp marcação e sistemas de rastreio, intensificação de troca de informações e cooperação). Também “encoraja países membros a adotar legislações e regulamentos relacionados ao uso de armas de fogo por civis”. Nota: A definição entre armas pequenas e armas leves varia entre documentos. Nem sempre munição é considerada Pensando Primeiro nas Pessoas 55 Esforços transparentes PAÍS Produz um relatório anual sobre suas exportações de armas Áustria Canadá Chile Grécia Irlanda Jordânia Holanda Noruega Eslovênia África do Sul Suíça Tailândia Mali Sim Sim Não Não Sim Não Sim Sim Não Sim Sim Não Não Relatórios SALW dados alfandegários do banco de dados da UN COMTRADE Parcial Sim Sim Parcial Parcial Não Sim Sim Não Sim Sim Parcial Não Apresen-tou um relatório para o Encontro Bienal da ONU em 2003* Sim Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não * A partir da metade de junho de 2003. Fonte: Haug, Langvandslien, Lumpe e Marsh (2002), p.p 30-31, COMTRADE (PC TAS) Países da Rede e Produção de armas pequenas País Áustria Canadá Chile Grécia Irlanda Jordânia Holanda Noruega Eslovênia África do Sul Suíça Tailândia Mali Produtor de armas pequenas e munição Médio Pequeno Pequeno Pequeno Não Não (algumas produções artesanais relatadas) Pequeno Pequeno Pequeno Médio Médio Pequeno Não Nota: As categorias ‘pequeno’ e ‘médio’ correspondem àquelas identificadas pelo Small Arms Survey 2001 em seu ranking de produtores mundiais de armas pequenas e munição. Fonte: Small Arms Survey (2001), p. 16; Small Arms Survey (2002), pp. 20-40 e banco de dados da NISAT. Disponível no: www.nisat.org Exportação de Armas e munição País Áustria Canadá Chile Grécia Irlanda Jordânia Holanda Noruega Eslovênia África do Sul Suíça Tailândia Mali Valor identificado de exportação SALW em 2000 (Milhões de dólares) 71.423 46.152 1.518 4.370 0.018 Não identificado 2.525 8.483 Não identificado 15.696 43.970 0.083 Não identificado Fonte: COMTRADE (PC-TAS) Nota: Nem todas as nações forneceram informações para a COMTRADE, por esta razão há lacunas na informação disponível Pensando Primeiro nas Pessoas 56 Legislação regulando comércio de armas País Áustria Legislação regulando comércio de armas Sim Canadá Sim Chile Grécia Não Sim Irlanda Em processo Jordânia Sim Holanda Sim Noruega Sim Eslovênia Sim África do Sul Sim Suíça Sim Tailândia Mali Não Não Comentários A legislação nacional de importação, exportação e trânsito de material de guerra foi retificada para incluir comércio de materiais de guerra. Legislação que indiretamente trata a atividades de comércio • Proibição de comércio de armas para países sob embargo da ONU (por qualquer pessoa no Canadá ou qualquer canadense) • Na lei de Autorização de Exportação e Importação, proibição de comércio de armas automáticas e outros modelos proibidos (apenas para atividades no Canadá). Legislação que indiretamente trata a atividades de comércio. Nenhuma legislação específica ainda, mas um processo de revisão está em andamento para examinar controles no comércio de armas pequenas. Legislação que indiretamente trata das atividades de comércio • Lei de Armas de Fogo e Munição N°. 34 (1959) • Regimento interno no Comércio e Armas de Fogo e Munição N°. 58 (1975) (regulando importação e exportação na Jordânia mas sem operações na bolsa de valores) • Além disso, comércio de armas de fogo automáticas com intenções malignas é severamente penalizado. O Decreto Real Holandês de 1994 trata de temas relacionados a algumas atividades de comércio. Uma licença é necessária para pessoas financeiramente envolvidas com mercadorias militares, e apenas se aplica a comerciantes baseados na Holanda. Legislação que indiretamente trata das atividades de comércio. Legislação que indiretamente trata das atividades de comércio • Decreto de permissão e liberação de transferência e produção de equipamentos e armas militares • A Lei de Armas • O Código Penal da República da Eslovênia. Regulamento da Lei de Auxílio Militar Estrangeiro (1998) requer autorização do governo para qualquer operação de auxílio militar, incluindo a aquisição de equipamento. Esta lei também serve para atividades comerciais contratadas no exterior por cidadãos sul africanos. Lei federal sobre materiais de guerra (1996) trata diretamente de atividades de intermediários, que precisam autorização para procurar no exterior receptadores de materiais de guerra. Serve apenas para intermediários operando dentro do território suíço. Em processo de desenvolvimento. Fonte: Wood e Peleman (1999), pp 106-115, banco de dados NISAT, comunicação com representantes dos governos (abril-maio 2003). Pensando Primeiro nas Pessoas 57 Países da Rede e mortes por armas de fogo informadas País Áustria Canadá Chile Grécia Irlanda Jordânia Holanda Noruega Eslovênia África do Sul Suíça Tailândia Mali Morte causados por armas de fogo para cada 100.000 >0.53 4.6 >1.9 1.47 0.7 3.0 3.07 >49.8 >6.28 - Número de mortes por armas de fogo Ano 43 1402 >194 55 129 >21,706 >448 - 1995 1998 1995 1997 1994 1998 1994 2000 1999 - Fonte: SAFER-net <http://www.research.ryerson.ca/SAFER-Net/> Estados da Rede e Programa de Ação Central da ONU País Áustria Canadá Chile Grécia Irlanda Jordânia Holanda Noruega Eslovênia África do Sul Suíça Tailândia Mali Centro & Departamento Mr. Andrea Ikic-Boehm, Ministry of Foreign Affairs Department of Disarmament, Arms Control, Non-proliferation National Point of Contact, Small Arms Coordinator Peace-building and Human Security Division (AGP) Department of Foreign Affairs and International Trade D. Julio Fiol, First Secretary, Jefe del Departamento de Desarme y de Seguridad internacional Mr. Nikolaos Kanellos, Counsellor of Embassy Ministry of Foreign Affairs, Department of International Organisations Mr. Eddie Branningan, Department of Foreign Affairs, Disarmament and Non-Proliferation Section Military Intelligence Department, General Headquarters of Armed Forces Ms. Mary-Honor Kloeg, Ministry of Foreign Affairs Security Policy Department, Arms Control and Arms Export Policy Division Ministry of Foreign Affairs, Section for Disarmament Arms Control and Global Security Mr. Igor Jukic, Second Secretary Ministry of Foreign Affairs, Department for Multilateral Affairs Mr. Rob Wensley, Directorate for Disarmament and Non-Proliferation Department of Foreign Affairs Ms. Heidi Grau, Federal Department of Foreign Affairs Political Division for Human Security, Peace Policy and Human Security Peace, Security and Disarmament Division Department of International Organisations, Ministry of Foreign Affairs M. Mahamadou Nimaga Ministère des Affaires Etrangères et des Maliens de l’Extérieur Disponível no: http://disarmament.un.org/cab/docs/trcngexperts/list.pdf Fontes para esta seção: Abel, Pete (2000), “Manufacturing Trends: Globalising the Source”, in Lumpe, ed. Running Guns: The Global Black Market in Small Arms, Zed, Londres, pp 81-105 Wood, Brian and Johan Peleman (1999), The Arms Fixers, PRIO report 3/99, PRIO, Oslo. Small Arms Survey (2001) Small Arms Survey (2002), Haug, Maria, Martin Langvandslien, Lora Lumpe and Nicholas Marsh (2002), Shining a Light on Small Arms Exports: The Record of State Transparency, Occasional Paper 4, Small Arms Survey. Pensando Primeiro nas Pessoas 58 Anexo 2 Informações sobre o processo de conferência Dois encontros formais foram realizados como parte do processo de diálogo, ‘Segurança Humana e armas pequenas: consolidando uma agenda para ação”. Estes encontros aconteceram em Genebra em 08 de novembro de 2002 e em Nova York em 27 de março de 2003. Organizações que participaram dos encontros são: Arias Foundation, Costa Rica Bonn International Centre for Conversion, Alemanha Centre for Democratic Empowerment, Libéria/Cote d’Ivoire Harvard Program on Humanitarian Policy and Conflict Research, EUA Human Rights Watch, EUA International Action Network on Small Arms International Development Research Centre, Canadá International Committee of the Red Cross, Genebra Oxfam GB, Reino Unido Oxfam International, Nova York Project Ploughshares, Canadá Quaker United Nations Office, Genebra United Nations Development Programme United Nations Development Fund for Women United Nations Regional Centre for Peace and Disarmament, Togo Regional Human Security Centre, Jordânia Safer-NET, Canadá Small Arms Survey, Genebra Viva Rio, Brasil World Council of Churches, Genebra World Health Organisation World Vision International, Nova York Os governos da Áustria, Canadá, Chile, Grécia, Irlanda, Jordânia, Mali, Holanda, Noruega, Eslovênia, África do Sul (observador), Suíça, Tailândia. Resumos sobre o encontro estão disponíveis no: www.hdcentre.org/Programmes/smallarms/hsn.htm Pensando Primeiro nas Pessoas 59