Marcello Ramos rompendo barreiras do tempo

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Marcello Ramos rompendo barreiras do tempo
Internacional
Avalanches no Himalaia, Ondra manda 5.14d aos 13
anos, Houlding e Potter no Half Dome, mais um 8c
para Koyamada...
ELISEU FRECHOU | SP
5.14d aos 13 anos
No início de novembro, o checo Adam Ondra de apenas
13 anos mandou a terceira repetição de Martin Krpan um
link de três rotas com graduação 5.14d em Misja Pec,
Eslovênia. Ondra tentou a rota por pouco tempo, e está
bastante feliz com o resultado de seu esforço. Não poderia ser diferente!
Escaladores desaparecidos no Himalaia
Mais de dez escaladores estão perdidos em picos
nepaleses devido a condições atmosféricas extremas
que causaram uma série de nevascas e avalanches nas
últimas semanas. Uma das avalanches, no campo III do
Ama Dablam, arrastou seis membros de dois times: um
inglês, dois suecos e três guias sherpas. As buscas estão sendo feitas por helicóptero e por escaladores. Em outro extremo da cadeia, quatro franceses estão
desaparecidos perto do Ganesh Himal, ao norte de Kathmandu. O time estava tentando o Paldor Peak, e deveria ter retornado a três semanas à Kathmandu.
Americanos no Marrocos
Uma equipe americana formada por Conrad Anker, Kris Erickson, Renan Ozturk,
Kevin Thaw e Heidi Wirtz conquistou uma nova rota no Tagoujimt n’Tsouiant na região do Taghia Cirque, Montanhas Atlas no Marrocos. A nova rota tem 12 enfiadas
na maioria protegida em móvel em um calcário de excelente qualidade, chegando a
graduação 5.12a. Após a conquista, os escaladores aproveitaram para refazer o
telhado da escola na vila logo abaixo da falésia, numa ação que ajudará as crianças do vilarejo na época das chuvas.
Face sul do Half Dome em livre
Leo Houlding e Dean Potter realizaram a segunda repetição em livre de Southern
Belle, no Half Dome. A rota de 5.12d (9a brasileiro) foi aberta em 87 por Dave
Schultz e Walt Shipley, no ano seguinte, Dave voltou à via com Scott Cosgrove e
liberou a linha, que além de ter uma dificuldade constante (nunca inferior a 6sup), é
muito exposta e pouco protegida, o que ajudou a mantê-la por 18 anos na espera
por uma segunda ascensão em livre.
Morre Todd Skinner
Todd Skinner, um dos pioneiros da escalada livre em grandes paredes, morreu no
final de outubro na Leaning Tower, decorrente de um acidente durante o rapel na via
Jesus Built My Hot Rod . Seu mosquetão e seu freio estavam na cadeirinha. Skinner
realizou mais de 300 ascensões importantes em 26 países, e suas escaladas,
como a primeira em livre do El Capitan
(pela Salathé Wall com Paul Piana em
88), e a Direct Northwest Face do Half
Dome também em livre, foram marcos da
escalada mundial.
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Após seis semanas de escalada em
Fontainebleau, o japonês Dai Koyamada
criou um novo problema de 8c. Angama é
um problema extremo com uma saída
sentada, que atravessa outro projeto de
Dai, Fata I Helvete que este mandou
alguns anos atrás. Apesar de ter
permanecido em Bleau por bastante
tempo, as chuvas atrapalharam bastante
as condições de escalada, permitindo
apenas 6 dias de trabalho na nova linha,
que felizmente para Dai, foram o
suficiente para resolver o boulder.
Koyamada em Angama
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Koyamada manda mais um 8c
em Fountainebleau
03
Método preventivo de lesões na pele
Corte pedaços de 2cm x 6cm e grude-as no sentido longitudinal nos dedos que desejar proteger (não vale para o dedão). Corte agora pedaços de
2cm x 10cm e grude um deles entre as segunda de cada dedo (note que você deve grudar entre e não sobre a articulação). Grude outro pedaço na
terceira articulação. Corte o excesso da fita longitudinal. A pressão deve ser feita de modo que você não consiga fechar a mão até o final, pois com
o uso a fita se acomodará e ficará mais frouxa. Cada vez que a pressão diminuir, desenrole a fita e ajuste-a novamente.
Reforço em X
Corte tiras de 2cm x 20 cm e grude-a no dedo fazendo uma volta completa na terceira articulação (a que fica na base da mão. Deixe o dedo levemente
dobrado para dentro (em forma de C) e passe o esparadrapo no sentido transversal até a segunda articulação. Faça uma volta completa na segunda
articulação. Retorne à terceira articulação em transversal e faça outra volta completa para fechar o esparadrapo.
Diogo precisa de ajuda
Comunidade de montanha do PR se mobiliza para ajudar o
escalador Diogo Ratacheski
KLAUS MINK | PR
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Oi pessoal, como todos sabem, esse último mês
não foi fácil para nenhum de nós... sofremos,
choramos, sentimos na pele o significado das
palavras dor, desespero, tristeza. O acidente
do Dioguinho chocou a todos nós, pois ele é
uma pessoa sem palavras, única, com um brilho, um carisma, uma força, uma luz, que não
encontramos tão facilmente e, até mesmo por
isso, ele se torna uma pessoa querida por todos, inesquecível.
Mas, agora, graças a Deus, também estamos
conhecendo o significado das palavras determinação, superação, esperança, força. O
Dioguinho está se recuperando com uma forma
e rapidez inexplicáveis, que só nos mostra cada
vez mais como ele é uma pessoa iluminada,
forte e com um pensamento positivo admirável.
Não tem preço ver o sorriso dele novamente.
Por isso, queria agradecer a todos que, seja
por um telefonema, um abraço, uma visita, um
sorisso, deram força e apoio a ele, o fortalecendo para superar todas as batalhas difíceis
pelas quais ele está passando.
Mas, ainda, existe uma batalha grande a ser
vencida e venho pedir, em nome do pessoal da
Campo Base, mais uma vez o apoio de vocês: o
Diogo agora precisa de um tratamento adequado em Brasília para que possa melhorar mais
rápido. Por isso, peço que participem das ações
que estão sendo promovidas pela Academia
Campo Base, que está realizando uma rifa em
prol do seu tratamento, ou até mesmo colaborem com alguma quantia que possam, pois mes-
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mo que pareça insignificante, com certeza fará
a diferença!
Assim, auxiliaremos para que não falte nenhum
recurso para ele e, logo, logo, possamos o ver
dando aulas de escalada de novo.
Caso vocês tenham alguma dúvida em como ajudar, não exitem em ligar para a Campo Base (41)
3013-0897, ou Mink (41) 9995-1909
Mais uma vez obrigado! E contamos com todos
para mais essa etapa!
Marcello Ramos rompendo barreiras do tempo
DIOGO MARASSI | SP
Marcello Ramos faz parte de uma geração espetacular de escaladores. Escaladores que elevaram ao máximo a escalada na época e ainda
fazem muita história no Brasil. Escaladores que
no inicio da década de 80 seguindo uma tendência mundial de tentar sempre que possível
passar em livre os lances de uma escalada, desafiavam as escaladas tradicionais tentando eliminar todos os pontos de apoio. Desafio de liberar
os lances de A0 das vias escalando totalmente
em livre, foi uma época onde começou um maior intercâmbio com escaladores de fora, com a
conseqüente introdução de novos conceitos e
técnicas, a disseminação da escalada em móvel, a introdução do conceito de boulder como
treinamento e fim em si, o surgimento da escalada esportiva como modalidade diferenciada, o
aprendizado das modernas técnicas de big wall
e todo um universo de novas possibilidades que
se apresentavam naquele momento para esta
nova geração de escaladores, entre estes destacamos: André Ilha, Alexandre Portela, Dário dos
Santos, Geovani Tartari, Sérgio Bruno, Sérgio
Poyares , Sérgio Tartari , Marcelo Braga e claro
Marcello Ramos.
Em 1983 Marcello Ramos e Marcelo Braga conquistaram o que alguns consideram que foi a
primeira via esportiva de importância do Brasil,
devido à extensão dos lances em inclinação negativa o Ácido Lático, 7a. Seu papel foi fundamental para a definição e fortalecimento do
estilo esportivo entre os escaladores. Em 1986
conquistou Andrômeda, 8c, considerada a via
em livre mais difícil da época, em 1987, inaugurou o Campo Escola 2000 que é um dos
principais points de escalada esportiva do Rio
com a via Pedrita, 8a, hoje este Bloco conta
com várias vias exigentes.
Figura assídua das montanhas, conquistou vias
clássicas em Salinas – Parque Estadual dos Três
Picos entre outras a Fata Morgana em 1986 ,
Sólidas Ilusões 5º V E5, em 1988 e El Kabong
em 2005. Além das inúmeras conquistas no estado do Rio como: Baba Roga 1984, Magia Vertical , Solitude 1983, Via das Dúvidas, Sinfonia
do Delírio, Pássaros Esperneantes, VIIIa, 1990.
Regatta de Blanc, Fissura, VIIa 1987 entre outras.
Em meados dos anos 80 fundou a Extrem e em
1992 a Equinox que com quase 15 anos é referência para escaladores no Brasil. Hoje Marcello
se dedica inteiramente a escalada em rocha,
conquistas e ao desenvolvimento de equipamentos para atividades em montanha.
Você tem responsabilidades com uma marca
de equipamentos, apesar disso, é totalmente
despreocupado com a fama e o reconhecimento
da mídia. Por que esta postura?
Simplesmente por que eu nunca procurei a fama
e muito menos o reconhecimento da mídia.
Desde cedo aprendi um ensinamento muito importante que os esportes proporcionam e o
montanhismo ainda mais, que é o pragmatismo,
agir, fazer, produzir e não: falar, discutir, criticar e
aparecer.
Prefiro o prazer das realizações pessoais e o reconhecimento dos meus pares.
O mesmo acontece com a Equinox, o sucesso da
marca se deve exatamente pela autenticidade
de quem produz e de quem consome, a qualidade e a adequação dos produtos já promovem a
divulgação da marca, os produtos são desenvolvidos por escaladores autênticos para um público de autênticos montanhistas com tudo o que
esta relação representa, confiança.
Em geral eu desprezo a mídia dos esportes ao ar
livre que temos no Brasil, com raras exceções
como os periódicos produzidos por montanhistas,
o que temos são colchas de retalhos sem conteúdo, produzido por gente que desconhece o assunto, recheados de adrenalina, voltados para
um público que os editores fazem parecer medíocres que se enganam achando que são americanos e que praticam aventura. Não conseguem
enxergar a realidade do mercado e das condições dos esportes ao ar livre no Brasil.
Durante esses anos você escalou muitas vias
interessantes e expostas, alguma situação já
fez você repensar?
Inúmeras, já passei muito perrengue, como qualquer um que já está a algum tempo na estrada.
O importante é a cada uma delas você tirar lições para evitar outras roubadas, quando você
sai vivo, é claro.
Neste processo concluí que procurar o perigo é
uma burrice, o risco sempre existe é inerente aos
esportes ao ar livre, mas se colocar em uma situação perigosa ou fazer com que outros se coloquem é um contra censo. Vias perigosas ou mal
protegidas são equivocadamente tidas como difíceis, existe uma deturpação do conceito de dificuldade, onde alguns acham que o perigo ajuda a aumentar a dificuldade intrínseca de uma
via, quando na verdade o grau deveria ser conseqüência única e exclusivamente do relevo e dos
movimentos. Não estou defendendo a super proteção, mas tentando definir o conceito de proteção. Proteção é o que protege inequivocamente, não o que “parece” que vai proteger e muito
menos o que pode até proteger. Uma via bem
protegida não necessariamente é cheia de proteções, façamos uso do bom senso.
Nestas reflexões diante da roubada descobri que
a pergunta chave para a definição de estilo é o
porquê se vai a montanha? Nem todos vão pelos
mesmos motivos, uns procuram fama, outros o
desafio, outros se ligam na técnica, uns gostam
dos equipamentos, outros querem apenas fotos
iradas, cada um com seus motivos e os motivos
mudam com as pessoas, com a idade e são das
mais variadas naturezas, a diversidade de motivos é o fundamento da diversidade de estilos. A
essência da escalada é a LIBERDADE, é preciso,
é absolutamente necessário que se respeite toda
e qualquer motivação para se escalar e estar na
montanha o que se traduz em estilo individual,
estilo para conquistar, estilo para ascender, cada
um tem o seu, não existe um único estilo ou o
bom estilo, a motivação de uns e suas regrinhas
do jogo não devem prevalecer sobre a dos outros, assim como não se deve criticar os esforços
alheios.
Escalo por absoluto prazer, busco a sanidade que
este esporte proporciona, o bem estar físico, busco a beleza estética em uma linha, movimentos
interessantes, um cenário deslumbrante, a companhia dos amigos a liberdade e o distanciamento
do caos.
Gosto de poder permitir o acesso ao maior número possível de pessoas às minhas vias, dividir com
elas o prazer que é escalar uma bela linha esculpida pelos elementos e poder pensar que todos
voltarão bem e ilesos.
Encaro a necessidade de adotarmos o conceito
de prática esportiva na escalada, e que em última análise é do que se trata a nossa atividade,
uma atividade esportiva. O termo não se refere
exclusivamente a competição e sim a um
enfoque esportivo, técnico e saudável na gestão
e organização das atividades de escalada, já temos muitas discussões e definições sobre ética,
filosofia e um tanto mais de ecologia, acho que
é chegada a hora de prestarmos mais atenção ao
esporte de escalar montanhas e unir toda esta
comunidade de escaladores em torno de objetivos práticos comuns. Todos os demais esportes
que conseguiram se organizar e evoluir no Brasil
o fizeram partindo desta premissa.
Você marcou época com a conquista do primeiro sétimo grau nacional, ajudou a estabelecer um estilo novo no Brasil o que te atraiu
para esta linha? Qual foi a história da Via História sem Fim, 10A ainda hoje considerada uma
das vias mais difíceis do Brasil?
Pois é, o Ácido Lático tem uma estória singular,
era mais ou menos um projeto de muitos, muita
gente estava tentando passar no primeiro lance
até o dia que o Marcelinho conseguiu e bateu o
primeiro grampo, depois disso passou-se um tem-
Arquivo Marcello Ramos
A colocação de esparadrapos nos dedos é uma técnica que se usada corretamente, lhe ajudará a prevenir lesões no treinamento e preservar a pele na escalada em rocha muito agressiva. Em alguns casos,
se seu dedo já está lesionado com algum tipo de tendinite ou machucado na pele, o esparadrapo vai
lhe oferecer uma certa ajuda, mas é óbvio que lesões em tendões e músculos devem ser tratadas no
médico e não com métodos como os citados neste artigo.
Marcello na Magia Vertical.
po e havia o segundo negativo para ser vencido,
num belo domingo avistei duas pessoas na via
tentando passar o tal lance, eu estava de bobeira
pela Urca e resolvi ir até lá para a social, chegando vi que eram o André Ilha e o Marcelinho que
estavam tentando, em um determinado momento me ofereceram a oportunidade de tentar o
lance, fui meio sem esperança, apenas experimentar e quando vi estava no meio do negativo,
longe do grampo e sem vontade nenhuma de
cair dali, então tive que subir com todas as minhas forças, cheguei na parada assustado,
adrenado, sem saber ainda como eu tinha ido
parar ali e como premio ainda tinha que bater o
grampo, assim foi vencido o segundo negativo
que completava a dificuldade do primeiro, produzindo o primeiro sétimo grau brasileiro.
Na História Sem Fim já foi uma coisa mais planejada, tinha acabado de abrir a Pedrita logo ao
lado e víamos com ganância um diedro evidente
no meio da parede mais negativa à esquerda
com uma seqüência linda de agarras tipo européia, mas o começo não tinha agarras, não como
eu considero chamar de agarra, então resolvemos colocar duas agarras de plástico para
viabilizar o projeto e assim fizemos. A via ficou
espetacular, de uma beleza gestual e plástica
ímpar, a galera começou a tentar e isso motivou
a abertura de novas vias na parede o que contribuiu de forma decisiva para a melhora do nível
da rapaziada, alguns anos mais tarde o incrível
Helmut me perguntou se podia retirar as agarras
pois achava que ele conseguiria encadenar sem
elas, o que prontamente deixei, o objetivo já
tinha sido alcançado, a galera já tinha evoluído
e agora ele dava os próximos passos, esta seqüência de eventos foi muito gratificante.
Sabemos que você é freqüentador assíduo de
Salinas na região serrana do Rio, reconhecida
por suas longas paredes de granito, o que faz
por lá atualmente?
Salinas é um lugar mágico, as mais belas paredes que temos por aqui, cenário de calendário
suíço, o mais perto que temos das vias alpinas.
Gosto de poder estar por lá sempre que possível.
Terminamos o El Kabong em 2005 e a reabertura da Sólidas Ilusões em 2004, estamos atualmente abrindo mais uma via no capacete na
região que apelidamos de bunda do capacete,
fica mais virado para o vale dos Frades. Fizemos
umas melhorias na Fata Morgana, tenho re-visitado as vias clássicas e conhecido as mais recentes que eu ainda me arrisco a fazer.
É um privilégio poder escalar em Salinas e uma
benção ter condições de escalar alguma coisa
por lá.
Você fez parte de uma geração muito arrojada
de escaladores montanhistas. Hoje observa-
mos em alguns lugares do Brasil o
distanciamento dos escaladores da própria
montanha. A escalada de competição e a escalada esportiva cresceram muito e fixaram raízes.
O que você pensa sobre este panorama atual?
Existe alguma coisa que você gostaria de dizer
para os escaladores mais jovens?
O que vejo no panorama atual é uma conseqüência natural do desenvolvimento das diversas modalidades da escalada, em todas estas modalidades vejo crescimento no número de escaladores,
vejo muita gente no boulder e na esportiva mas
tenho visto também muita gente em parede e em
big wall, cada dia mais. Acho que todas são formas válidas, mesmo com os modismos cada uma
delas serve de porta de entrada para o esporte e
que naturalmente a curiosidade leva a que se
experimente as demais variantes deste incrível
universo que é nossa atividade. Alguns ignorantes, com argumentos ecológicos, pregam que deveríamos tentar frear o crescimento das atividades
de escalada como se isto fosse possível, como se
fosse possível a alguém frear a curiosidade infantil, os impulsos juvenis ou as paixões maduras que
este esporte suscita em cada um. Antes disso que
tal usarmos a educação e o respeito ao ambiente,
que cada montanhista desenvolve naturalmente,
para ajudar a melhorar a vida neste país. Que tal
organizarmos o esporte para aproveitarmos melhor o potencial desta comunidade, antes fossemos
todos montanhistas.
Tenho visto também, com certo temor, o
surgimento de restrições por parte dos próprios
escaladores proibindo escalada em certas áreas,
conquistas em outras e a introdução de recomendações restritivas diversas, muitas vezes sem fundamentos, tolhendo as liberdades dos demais
escaladores. Temos que ter muita atenção para
estes fatos pois não podemos incorrer no ato de
estarmos semeando o fim da liberdade dos
escaladores e matando a própria alma do esporte
nós mesmos. Temos que pensar nas futuras gerações e garantir que terão os mesmos direitos que
tivemos de explorar seus limites e enfrentar seus
desafios.
O que eu tenho a dizer para a rapaziada mais
jovem é:
Se vocês foram fisgados pelo universo das montanhas então agradeçam este presente do destino e
aproveitem a viagem, experimentem todas as
modalidades, sigam seus instintos, escalem muito, ousem, aprendam tudo o que puderem, abram
vias novas, maiores, mais difíceis ou mais bonitas,
sejam criativos, não deixem que te digam como
vocês tem que escalar ou fazer determinada via,
não permitam que críticas possam interferir com
seu estilo ou a sua vontade, expandam os limites
do possível e acima de tudo voltem vivos, nunca
deixem de tentar mas se não deu desta vez na
outra dará.
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Proteja seus dedos com esparadrapo
05
iniciante + especial
06
Montanhas virgens
Localizada à 200 km de La Paz, Quinsa
Cruz ou Cordilheira Três Cruzes, está
na região das minas Caracoles,onde
se explora estanho, desde o período
colonial.
Região muito selvagem, sem infra-estrutura, com estradas precárias onde só
circulam veículos de transporte dos trabalhadores, com pouca ou sem nenhuma manutenção. Sem dúvida essa é a
parte da viagem mais perigosa.
O campo base do Umbicado no Vale
Larancota, com 4.600m já tinha sido visitado por mim ano passado, onde subi
três montanhas e abri uma nova rota com
meu amigo Maxi, da Argentina.
Esse ano queria explorar as últimas duas
montanhas do vale com 5.400m, possivelmente virgens, com amigos brasileiros de Minas Gerais.
Uma semana na cidade de La Paz, Fábio e Nandão já estavam preparados pra
enfrentar a desgastante e perigosa viagem de 9h em estradas de terra. Nosso
primeiro dia foi só pra chegar no campo
base, nas margens da laguna Larancota,
Lagoa Azul na língua indígena, no outro
dia preparamos os equipamentos e planejamos nossa escalada, no terceiro dia
transportamos tudo montanha acima e
treinamos técnicas de resgate e escalada em gelo.
avalanche
No quarto dia, atacamos duas montanhas pelo meio, nos dividimos em duas
duplas, Fábio foi pro cume da esquerda
com o inglês Maike, eu e Nandão subimos o da direita, depois nos reunimos
todos no topo.
Nossa rota com 300m em gelo de 60º
graus e lances em rocha pra proteger,
com friends, fitas e parafuso de gelo tornou-se uma escalada bem delicada e
nos obrigou a bater um grampo no topo
pra descida. Nessas altitudes, 5.400m
um descuido pode ser fatal, ainda mais
quando o topo da montanha tem muitas
rochas soltas e placas de gelo prestes
a cair. Só as 7:00h chegamos no acampamento, fracos e felizes, fomos a primeira equipe brasileira a realizar uma
exploração nessa cordilheira.
Passamos o outro dia sem comemorar,
Nandão com dores de barriga teve que
descer depressa, numa caminhonete de
mineiros, nós com muita sorte, só depois de um dia conseguimos espaço no
teto do ônibus até La Paz.
Uma verdadeira roubada, os transportes
passavam lotados e quase ficamos por
lá....
Com o problema do Nandão, eles voltaram pro Brasil, eu tinha uma semana
sozinho até a chegada de outros
amigos,resolvi escalar uma montanha
em solitário.
6.088m em solitário
Minha primeira experiência só no gelo,
uma montanha a 25 km de La Paz com
rota fácil, segura e aproximação simples feita até mesmo de táxi.
O Huayna Potosi é a montanha mais
visitada de toda Cordilheira Real, seu
1º acampamento, Las Pedras tem
5.250m e cheguei em apenas 3h caminhando, mais 1h acima fica o acampamento avançado Argentino, a 5.390m.
Escolhi atacar o cume direto do primeiro acampamento, estava aclimatado e
teria maior descanso antes da escalada. Acordei às 2:00h da madrugada, sai
uma hora depois com lua cheia, clima
perfeito, depois de horas caminhando,
avistei a cidade de La Paz, toda iluminada, uma visão maravilhosa, sozinho
na montanha o único ruído era meus
pés quebrando o gelo, às 4:00h escalei
uma parede de 30m, ao passar pro outro lado, um forte vento tirou minha paz.
Muito tempo depois exposto ao vento
minhas mãos já congelando, não tive
opção a não ser procurar um abrigo, na
última parte da escalada uma rampa de
gelo de 300m é o último desafio pra
chegar ao cume. Uma pequena saliência na base da rampa, formada por uma
enorme greta serviu de abrigo, passei
2h nessa cova de gelo, até meus pés
congelaram, as mãos eu só sentia com
golpes na parede da cova, às 7:00h os
primeiros raios do sol penetraram acima da minha cabeça, sai ao encontro
da luz e o calor da superfície.
O maldito vento não passou, mas a temperatura foi subindo e às 8:00h eu já
estava no topo, suado e com muito calor, uma experiência maluca, o melhor
foi poder movimentar todos os dedos,
alguns risos e girei 360º graus, eu era o
único no topo, foi incrível. Na descida
passei por vários escaladores indo ao
cume, às 3:00h da tarde cheguei ao
campo Las Pedras, mais 2h até a base
e de táxi cheguei em La Paz.
Comer pizza no centro da cidade foi ótimo, sujo e com fome de leão, todas as
pessoas me olhavam, o pior de tudo foi
não ter ninguém pra dividir as alegrias
do dia, essa é a verdadeira escalada
em solitário!
O maior desafio
Depois de três dias na cidade, meus
amigos argentinos Maxi e Laura chegaram, fomos pra região do Condoriri.
A adaptação de Maxi não foi muito boa
e passados dois dias no acampamento, eu queria muito escalar. Depois de
muita conversa Maxi me convenceu de
ir só ao Pequeno Alpamayo. Ao meiodia sai do campo base e em apenas 3h
subi todo o glaciar da montanha Tarija e
atingi o cume pela rota normal, não satisfeito e com pouco tempo, subi todo o
lada lenta, só às 2:00h subi o cume,
não acreditei na visão linda de todas as
montanhas que escalei e da majestosa
Hilimani, lagos e outros vales surgem
atrás da ala esquerda e uma enorme
rampa de gelo desce ao encontro das
duas montanhas, fazê-la seria um sonho, não perdi tempo, estava muito confiante, resolvi descer entre as duas montanhas, por uma canaleta de rochas e
neve, afundei pelo terreno virgem até a
linha da cintura, achei que ia ficar enterrado várias vezes, ao tocar a outra montanha, nuvens tampavam o cume principal, mas logo passavam. Na rampa da
ala esquerda o gelo duro facilitou a escalada, pude parar muitas vezes e admirar todas as montanhas, sai no cume
em meio a uma virada de tempo, flocos
de neve caiam, avistava o campo base
e o glaciar logo abaixo com uma greta
pra saltar. Na descida perdi muito tempo, ao falar pra mim mesmo, que faltavam alguns metrinhos e só a greta pra
saltar, e estou salvo, não dei conta do
horário, às 6:00h da tarde cheguei no
glaciar, agradeci mas não comemorei,
ao saltar a greta, voei como um pássaro, tive o momento mais leve em minha
vida e o frio na barriga mais forte, já a
noite e cansado, cheguei em terra firme, a neve não parava de cair, com pressa e sem saber bem o caminho da volta, fui pela primeira canaleta de rochas,
acabei no caminho errado e mais exposto, muito inclinado e com uma descida de 600m, lá embaixo no glaciar da
ala sul, quase chorei, tudo feito as três
montanhas e errei na trilha de cascalho, 300m de rochas e areia pra subir
até a trilha principal. Coloquei meus
grampons, só assim conseguia subir a
rampa , no cascalho rasguei minha calça de Gore Tex e esfolei as mãos, quebrei um bastão de caminhada em outro
tombo, sair daquele maldito vale, foi um
sufoco, com muita sorte ainda tinha
energia e pouca neve acumulou no caminho durante aquelas horas perdidas,
duas horas mais e o chão estaria todo
encoberto. No acampamento meus
amigos e outros guias acompanhavam
a luz da minha lanterna, essa foi uma
escalada marcante pra toda vida, depois
dela a temporada terminou pra mim, não
sei quando vai começar a próxima, espero que em janeiro na Patagônia .
La paz
A temporada de 2006 na Bolívia foi espetacular, La Paz capital mais alta do mundo
com 3.700m estava repleta de turistas e
escaladores. Ao desembarcar no aeroporto, no bairro de El Alto 4.200m o aventureiro deve tomar mate de coca, ajuda
muito na aclimatação das altitudes, não
é alucinógeno, você ainda pode mergulhar de cabeça na cultura local, visitando
os mercados de La Paz, feiras de artesanato e desfrutar os vários roteiros turísticos, uma dica é visitar as ruínas de
Tihuanaco, povo pré-inca que viveu às
margens do lago Titicaca, a viagem dura
1:30h e tem 70km.Vá na janela do lado
direito, pois tem uma bela vista da Cordilheira Real, com cerca de 800km e nevados com mais de 6.000m.
Nessa parte central você pode avistar os
nevados Huayna Potossi, conjunto
Condoriri e Chachakumani.
Em La Paz os hotéis podem custar entre 16 e 45 bolivianos, 1 dólar são 8 bolivianos, na calle Sagarnaga, região central da cidade há vários hotéis e agências de turismo, além do famoso mercado
das Brujas, vale a pena visitar.
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GUSTAVO SILVANO | RJ
filo do Tarija e conectei com o Diente,
outra montanha, uma região mais rochosa e exposta e com pedras soltas, a volta seria mais perigosa, já na roubada e
sem corda, resolvi escalar e desescalar
até a Pirâmide Blanca, só às 5:00h cheguei no seu cume, preocupado com a
descida e horário, tratei de baixar o mais
rápido possível, no glaciar mais abaixo,
muitas gretas complicavam mais ainda
minha descida e o medo virou um companheiro constante, passei por uma ponte
de gelo, depois de muita reza, quando
finalmente toquei terra firme, de joelhos
beijei o chão, sai pulando pelo resto do
caminho, e gritando no final da trilha. Maxi
e Laura me aguardavam, rindo, eles
acompanharam tudo por binóculos, comemorei com eles e achei aquele dia
muito, muito especial.
Mais um dia na base pra descanso, Maxi
já melhor foi com Laura ao pequeno
Alpamayo. Passei o dia todo sozinho e
pensando no Condoriri. Às 10:00h do
outro dia sozinho, parti pra uma escalada bem mais arriscada, a diretíssima do
Pequeno Alpamayo, com gelo de 70º
graus, sem corda e uma única saída, o
topo da montanha, às 4:00h da tarde e
sem olhar pra baixo, cheguei outra vez
no seu cume, essa escalada não deu
medo, deu muito medo... No final da rota
na parte mais exposta já estava com dor
nos pés e braços, uma escalada muito
técnica e de resistência, cheguei no
acampamento acabado e demorei muito
na descida, uma prova de como foi
desgastante.
Outro dia de descanso no campo base,
Maxi e Laura foram pro Diente, eu fiquei
admirando o Condoriri a montanha mais
técnica de todo o vale.
Último dia, a montanha mais complexa
e longa, ao olhar pro relógio já eram
11:00h, estava no glaciar aos pés do
Condoriri, subi bem rápido a trilha, troquei os bastões por piolet, e ataquei a
ala direita da montanha, às 12:00h cheguei ao cume, avistei nuvens no horizonte e vi que o tempo iria mudar, resolvi
atacar o cume principal o mais rápido
possível e aproveitar aquele dia, bem mais
exposto a rota normal toda em aresta,
tem lances em rocha, que torna a esca-
07
Eliseu e Guinho no topo do Whitney.
08
on the rocks
A noite chegou e com ela um frio insano. Já passei
por algumas roubadas na Pedra do Baú e em
Itatiaia, mas frio como aquele confesso que nunca
havia sentido, meu corpo tremia involuntariamente.
Como não levamos a barraca tivemos que bivacar
no pé de um grande bloco de pedra e improvisar
uma parede com pedras empilhadas para contar o
vento, ainda bem que nenhuma delas resolveu cair
na minha cabeça durante a noite. Antes de dormir
combinamos de sair bem cedo, antes do sol, por
volta das 05:30h da manhã, enchemos as garrafas
com água do lago e jantamos uma lata fria de ravióli,
só de lembrar me dá ânsia. Mesmo com o céu estrelado sobre nós nossas acomodações passavam longe de um hotel 5 estrelas, o chão era tão
duro que acordava de meia em meia hora pra trocar de lado e o meu travesseiro de pedra só tinha
uma posição boa.
Às 05:30h da manhã escuto Eliseu chamando de
dentro de seu saco de dormir: -E aí Guinho? Já deu
a hora, vamos levantar?
Com o frio que estava fazendo é claro que a resposta era uma só. - Acho melhor esperarmos mais
uma hora, pelo menos até o sol sair! O que na verdade acabou levando umas duas horas.
Quando finalmente tomamos coragem pra sair do
bivaque recebemos a primeira surpresa do dia, o
sereno que caía sobre nós congelou, criando uma
fina camada de gelo sobre os sacos de dormir.
Engolimos um pedaço de queijo, um punhado de
granola e quando fomos procurar a água recebemos a segunda surpresa do dia, as garrafas haviam congelado e cheias de gelo, nem tínhamos
como esvaziá-las para encher novamente no lago,
o jeito foi levá-las e ir bebendo conforme o gelo
derretia.
Prontos, partimos pro tudo ou nada, a localização
do começo da via parecia ser complicada, com tantas opções a nossa frente, imaginei estar na
Fendolândia o paraíso dos escaladores, contudo,
através das indicações que possuíamos logo encontramos o início.
Como as bases teriam que ser armadas em equipamento móvel, pois não haviam proteções fixas,
resolvemos ir esticando a corda até onde desse
pra tentar reduzir o número de enfiadas e ganhar
tempo com isto, pois estávamos preocupados em
voltar ainda com luz natural.
Lá pela terceira enfiada encontramos o único vestígio de que estávamos no traçado correto da via, um
píton cravado na rocha na ocasião da conquista.
Não é a toa que esta via foi classificada com 5 estrelas no Guia Super Topo de Escalada. O visual que
se tem da parede é alucinante, com o lago verde
escuro ao fundo, as montanhas vizinhas coladas ao
lado e um horizonte plano a perder de vista.
Na quinta enfiada encontramos um platô de patrão
e resolvemos parar pra fazer uma boquinha, uma
daquelas barras energéticas. O problema foi que
assim como a água, elas também congelaram e
ficaram mais dura que rapadura, não sabia se mordia ou se chupava.
Mais acima, sobre outro platô encontro mais uma
surpresa, contrastando com a rocha amarelada um
enorme bloco de pedra branca, mais conhecida
como gelo!!! Fiquei imaginando o perrengue que
seria passar uma noite ali. Enquanto estávamos
sobre o sol era só alegria, quando entrávamos nas
áreas de sombra o negócio era ligar o turbo pra não
congelar as mãos na rocha. Era como andar descalço na brasa, só que neste caso, no gelo.
Aos poucos os pontões ao lado começam a ser superados e percebemos que estamos próximos do
cume. Imaginávamos repetir a via em 10 enfiadas, o
que faltou pouco! Logo depois de iniciar a 11 enfiada, ultrapassando um bloco que ocultava nossa visão acima, escuto Eliseu falar: – Pode desfazer a
segurança, já estamos no cume! Esperava que aquela fosse a última surpresa do dia.
A chegada ao cume foi um mix de euforia, satisfação, cansaço e preocupação com a volta. Não sabia
se comemorava, tirava umas fotos pros amigos descrentes, comia ou arrumava tudo pra me mandar,
pois a esta altura algumas nuvens estranhas começavam a se formar sobre o Whitney.
Fotos tiradas, livro de cume assinado, damos aquela última olhada do adeus e começamos a descida,
ou pelo menos tentamos. Sabíamos que era em
algum lugar à direita, mas olhando de cima tudo
parecia arriscado demais. Por sorte encontramos
dois gringos que conheciam o caminho e iriam descer pelo mesmo lugar, aproveitamos e fomos no
vácuo. Esperava mesmo que aqueles caras conhecessem o caminho, porque eu preferia escalar de
novo do que ter que descer por ali. A descida era
bem íngrime e seguia paralela a uma grande
moraina, mais abaixo o gelo dava lugar à várias pedras soltas o que gerou uma certa preocupação pois
a medida que andávamos as pedras iam se desprendendo e rolando pra baixo. Como era impossível de evitar que as pedras rolassem, fomos em
zig–zag e aguardando cada um completar uma passada para o outro prosseguir.
Na base da montanha de volta ao local do bivaque
nos jogamos no chão e admirando nosso feito devoramos o último pedaço de queijo que sobrou. Recolhemos os sacos de dormir, arrumamos a mochila e tomamos o caminho da roça preocupados em
chegarmos até o portal do parque ainda com luz. Se
por um lado foi preciso muita motivação pra chegar,
pra voltar foi preciso muita resistência, nessas horas a saudade da família e do conforto de casa ajuda muito, parecíamos dois combatentes voltando
do campo de batalha, à quatro dias sem tomar banho já estava com nojo de mim mesmo, contudo
não me arrependo, pois isto ainda era melhor do
que congelar tomando banho no Iceberg Lake. A visão do portal do parque pareceu uma miragem,
agora era só pegar o carro e voltar para casa com a
sensação de dever cumprido.
Agradecimentos
Existem no mundo dois tipos de pessoas,as que te põe pra
baixo e as que te põe pra cima. Gostaria de deixar aqui uma
referência a este último grupo. Obrigado a toda equipe da
Montanhismus, minha família e amigos por serem fonte da minha motivação e inspiração em explorar a vida.
E um agradecimento sincero a Gutenberg Máquinas e Materiais Gráficos Ltda, não por terem financiado parte desta
aventura, mas por terem acreditado em nosso potencial e
embarcado conosco neste projeto. Também agradecemos
as roupas Solo, sapatilhas e calçados Snake e câmeras
digitais Mirage. Mais fotos e detalhes desta viagem, no site
www.montanhismus.com.br/eua2006
www.mountainvoices.com.br
vras trocadas com um inglês meia – boca e a resposta era sempre a mesma, -Yes.
Após meio dia caminhando chegamos a um lago
com algumas pessoas acampadas, onde acreditamos ser o tal Iceberg Lake, porém a paisagem não
tinha nada a ver com nosso mapa. Foi quando cruzamos um grupo descendo o enorme zig-zag a nossa frente, ao checarmos nossa posição o gringo
puxa um mega, master, ultra, plus mapa e nos dá a
má notícia de que tínhamos errado a trilha e fomos
parar num vale ao lado do Whitney e que aquela era
uma trilha que também levava ao cume só que caminhando por trás da montanha, daí o motivo de
todos confirmarem que aquela trilha levava ao
Whitney.
M... feita, não restava outra opção a não ser voltar. O
gringo se oferece para nos mostrar a entrada da
trilha correta, contudo teríamos que segui-los até
onde a trilha bifurcava, ou seja, lá no começo. Grupo
extremamente leve só com camelbacks e um anorak
cada um, tivemos que praticamente correr com as
pesadas mochilas nas costas para acompanhá-los.
Percorremos todo o caminho de volta sem descanso até chegarmos na maldita bifurcação, que se não
fosse pela indicação do gringo jamais encontraríamos, pois além de ser relativamente fechada não
tem nenhuma identificação ou totem como no restante da trilha. Eliseu sugere prosseguirmos, porém a esta altura, talvez pelo esforço prolongado
sem alimentação e hidratação adequada, insolação, altitude elevada ou tudo isso junto, meu corpo
começa a apresentar sinais de desgaste, fortes
dores de cabeça, enjôo e fraqueza. Decidimos então retornarmos a barraca no portal do parque.
No dia seguinte acordamos mais tarde para dar uma
oportunidade, mesmo que pouca, para o corpo descansar. Já cientes do que tínhamos pela frente, tomamos a decisão de deixar todo peso extra para
trás, ou seja, barraca, fogareiro equipamentos repetidos e com isso, o resto de conforto que nos restava.
A trilha não foi nada amistosa, mas objetiva, sem
muitos zig–zags o que a tornava ainda mais íngrime,
era um campo de provas pra professor de step nenhum botar defeito. Com o corpo já todo arrebentado do dia anterior, mal conseguia andar. Perto do
final da tarde chegamos ao Iceberg Lake, exausto,
só tive forças pra abrir o isolante antes de cair no
chão e aproveitar por alguns minutos o resto de calor do sol.
Eliseu Frechou
www.mountainvoices.com.br
já inventaram guard-rails.
Final de tarde chegamos no portal do parque, de
onde saem algumas trilhas para o vale. Lá alguns
bolsões de estacionamento, uma loja de conveniência com preços nada convenientes, pelo menos
não para meu bolso e uma área demarcada para as
barracas, onde o inquilino têm que por livre e espontânea vontade preencher um cadastro, anexar
U$ 8 por dia e colocar tudo isso dentro de uma urna.
Confesso que a tentação de brasileiro foi enorme,
mas não foi desta vez que demos calote nos caras.
Barraca pronta e janta feita é hora do banho, Epa !!!
Cadê os chuveiros? Tava bom demais pra ser verdade. Banheiros ecológicos, já ouviu falar? Não têm
água, bom saber, jamais vou namorar uma ecologista. Sem solução para o problema, guardamos o
resto da comida num daqueles armários a prova de
ursos e fomos dormir sujos mesmo.
Dia seguinte, saímos bem cedo da barraca, tomamos um café made USA, cá entre nós, ruim que dói
e partimos para a trilha rumo ao Iceberg Lake, um
lago na base no Mount Whitney, onde passaríamos
mais uma noite antes da escalada ao cume. Logo
no começo, parada para tirar a segunda calça e blusas que a esta altura já estavam fervendo, não me
lembro de nenhum trecho plano desta trilha, era só
ladeira acima, nesta etapa saímos de 2.700m e vamos até 3.650m de altitude num percurso de aproximadamente 10Km. Trilha bem marcada, ânimos
inabaláveis tocamos em frente sem parar, no começo atravessamos por uma floresta de pinheiros e
começamos a encontrar os primeiros riachos e junto deles as primeiras formações de gelo. Cara o
que foi aquilo!!! Pra quem nunca viu neve na vida ver
aquilo no meio do mato foi muito estranho. Por onde
a água corria formavam-se cortinas e até colunas
de gelo, era possível ver alguns pequenos pedaços
desprendendo-se das paredes e caindo junto com
a água que escorria. Mais pra frente uma cachoeira
em pleno final de outono ainda parcialmente congelada. Aos poucos fomos deixando o abrigo das árvores e entrando num vale aberto, onde o sol castigava sem dó entre paredes rochosas e um chão de
cascalho, areia e pedras soltas, a esta altura o otimismo já não estava tão inabalado e cada passo
tinha que ser bem calculado pra não torcemos o pé
ou voltarmos dois passos pra trás.
Durante a trilha cruzávamos com algumas pessoas
voltando e sempre aproveitamos para confirmar se
estávamos no caminho correto. Meia dúzia de pala-
Tom Van De Vyvere
WAGNER PAHL | SP
Depois de uma curta passagem por Yosemite,
Califórnia - USA, Eliseu Frechou e eu, seguimos
viagem para o oeste através da Road 120, rumo a
mais um de nossos objetivos: Mount Whitney, 4.419m
de altitude, o ponto mais alto da América do Norte
Ocidental. Nossa intenção era escalar o mais alto
dos três pontões através da Rota East Butress, uma
via de 11 enfiadas, 100% tradicional, toda em proteções móveis e que até onde tínhamos informações
nunca antes repetida por brasileiros.
O contraste da viagem chega a chocar a quem não
está acostumado com o lugar, como quem cruza
uma porta, saímos de um vale repleto de pinheiros
e montanhas e fomos para num planalto desértico
onde se pode avistar a Sierra Nevada ao fundo e se
não fosse pelo gelo perene que vemos em alguns
pontos das montanhas jamais poderíamos acreditar que no inverno aquilo é uma badalada estação
de esqui.
Depois de 4 horas de viagem chegamos a Lone
Pine, uma cidade de primeira, pois se você engatar
a segunda, te prendem por excesso de velocidade.
Um lugar com ar de faroeste e não é a toa, pois lá
foram gravados os velhos clássicos do gênero e
você não vai mesmo querer sair da linha, pois acreditem ou não, lá existe eleição até pra xerife e os
caras querem mostrar trabalho.
Como qualquer terreno baldio nos EUA vira parque
nacional, claro que o Mount Whitney não poderia ser
diferente, porisso como forasteiros ajuizados que
somos, fomos ao U.S. Forest Service pedir o famoso wilderness permit para acamparmos no portal
do parque. Rangers simpáticos, permisso rápido e
de graça, pelo visto ninguém vai lá. Só pra não perderem o hábito aquela velha observação sobre os
ursos, acho que esses bichos devem estar espalhados pelo país inteiro, pois onde você vai é sempre a mesma historinha, só espero não encontrar
nenhum ranger fantasiado de urso quebrando o vidro do meu carro pra roubar meus cds ou querendo
garantir o emprego.
Tudo resolvido na cidade, subimos a pequena porém íngrime serra por uma estradinha sinuosa e
estreita que contornava imensos blocos de pedras
prontos pra rolarem morro abaixo. Eliseu de passageiro era só alegria curtindo a paisagem, eu já estava pingando colírio nos olhos pra não ter que piscar.
Alguém deve avisar o departamento de estradas que
09
O Direito Ambiental e o Montanhismo - II
As montanhas e topos de morros como Áreas de Preservação Permanente e como os montanhistas
podem ajudar a preservá-las se cientes de como identificá-las.
www.mountainvoices.com.br
THIAGO BALEN | RS
Falar hoje em dia da evolução das vias de alto
nível no Rio grande do Sul significa na verdade
falar da evolução do Brasil nesta modalidade.
Este fenômeno despontou em meados de 2004,
quando foi realizada por Vinícius Todero (Vini)
a primeira ascensão da via Insustentável Leveza do Ser 10a, localizada na Gruta da Terceira
Légua, em Caxias do Sul. Esta via consiste na
emenda de partes de três vias: O Herege 9a,
A Profecia 9b e Vertigem 9b. A linha desta via
torna-se uma das linhas mais bonitas e longas
da Gruta.
No ano de 2005 a coisa começou a esquentar
ainda mais com a Sombra e Escuridão Karma,
que é a extensão da Sombra e Escuridão 9c.
Na época em que Vini realizou a primeira ascensão e eu a primeira repetição sugerimos um
10c, tal graduação foi confirmada pelas outras
ascensões: André Berezoski (Belê) e Jimersom
Martta. Hoje em dia esta via teve uma agarra
chave quebrada e tem nova proposta de grau.
Desenvolverei mais sobre assunto em seguida.
A Sombra e Escuridão Karma foi um marco
para o RS, que a pouco tempo não possuía
nenhuma via de décimo grau, então contava
com uma via da graduação máxima encontrada
no Brasil, tratava-se de um 10c.
Neste mesmo ano Iuberê, escalador local de
Caçapava do Sul, conquistava mais duas vias
na Pedra da Abelha e que viriam a se tornar
mais dois projetos de décimo grau. Ainda no
final de 2005 Vini e Andres desencantaram mais
pérolas da Gruta, conquistando duas vias com
a mesma saída, localizadas no teto à esquerda
da igreja: Valhaala 10a e Globins 10b.
Este upgrade na Gruta refletia a evolução da
escalada e conseqüentemente dos escaladores
brasileiros.
Por volta de março de 2005 começou a se desenvolver um novo sitio de escalada em Caxias
do Sul, localizado perto de Santa Lúcia. Este
local se caracteriza pelas vias altas e levemente negativas (inferior a 30º). Foram equipados
10
dois projetos neste local. Um deles, Sexto Sentido, acredito estar por volta de 10a/b, porém
não houve ascensão. O outro não chegou a ser
trabalhado. Este lugar acabou caindo no esquecimento, com todas as novidades da Gruta,
mas acho que em breve as atenções voltarão
para ele.
O ano de 2006 já iniciou prometendo mais ainda.
Após voltarmos da Argentina, completamente
motivados com a escalada e com a evolução,
eu e Vini equipamos mais duas variantes na
Gruta: Redes Neurais 10b e Disciplina não ter
Jedi nunca será 11a (projeto). Sobre este
projeto, o depoimento do Vini, que a adotou como
projeto desde aquela época, tendo que parar
de tentá-la no inverno, devido a um corrimento
de água que se forma no final da via neste período.
“A primeira parte da via, onde se localiza um
primeiro crux, é o mesmo início de outras três
vias, todas de 10º grau. O restante da via segue em uma diagonal negativa para a direita,
com agarras boas, até chegar em um último
descanso onde a via segue reta para cima e
onde o verdadeiro grau se mostra”.
São 55 movimentos de força e resistência ao
melhor estilo da Gruta da 3ª Légua. Onde os 23
movimentos da parte inicial alcançam um 9b e
os 32 restantes 10a, sendo que os últimos 15
movimentos são um 9c. Como um agravante,
exatamente atrás deste crux final existe uma
árvore, onde o escalador pode cair em cima se
o segurador não estiver atento.
Atualmente acredito que esta seja a via mais
difícil que entrei e malhei, para mim é consideravelmente mais difícil que a Sombra e Escuridão
Karma, que era graduada em 10c, porém depois da quebra de uma agarra importante talvez
tenha aumentado o seu grau para 10c/11a. Considerando que a Disciplina é mais difícil que a
Karma, o grau sugerido é 11a, porém não tenho
referencias para afirmar isto.
A via ainda é projeto, mas não por muito tempo
(espero!!!!). Atualmente estou caindo a 5 passa-
das do final, em uma passada que isolada não é
difícil mas na seqüência está dando trabalho.
Além destas duas vias que podem ser 11a, existem outros três projetos que provavelmente alcancem este grau. Portanto fica o convite para
a galera que tá na pressão para chegar aqui na
serra gaúcha e provar as vias e projetos.
Obs: A via Sombra e Escuridão Karma, já foi
encadenada depois da quebra de uma agarra
importante e ao seu final foram acrescidos 10
metros, que fazem parte do final de uma via a
direita. Para quem não conhece esta via, se
trata do primeiro 10c do Rio Grande Do Sul. O
grau ainda é uma dúvida, só as repetições de
escaladores mais experientes poderão ratificar ou retificar o seu grau, como 10c, 10c/11a
ou finalmente o primeiro 11a do Brasil.
Neste mesmo período, em março de 2006, comecei a trabalhar um outro projeto que se encontrava adormecido no Salto Ventoso, Cólera. Conquistada em maio de 2005 por Leo
Zavaschi, Duca e Henrique Hassmann, a via
estava esquecida devida a sua grande dificuldade já em isolar as passadas. Ela consiste
praticamente num teto e tem aproximadamente
15 proteções, que variam devido ao fato de
algumas serem usadas apenas para trabalhar
e não na hora de colocar na seqüência os movimentos. Esta via é algo impressionante. Deparei-me diante de algo que percebo ser possível, porém muito distante. A evolução na via é
algo muito demorado e trabalhoso. Para ser mais
claro, é um boulder em cima de outro sem descanso. Caso não existisse a necessidade lógica de costurar passaria todas as proteções
batido. Não arrisco em sugerir grau ainda, pois
ainda estou longe de encadená-la e me parece
algo a longo prazo.
Ainda falando do Salto Ventoso, recentemente
Dioni Capelari realizou a primeira ascensão de
mais um décimo, La Conosci del Puti Club 10a.
O Salto é um lugar incrível, com um potencial de
vias em teto e negativos gigantescos. Creio que
em breve muitas outras vias do calibre da Cólera surgirão para continuar impulsionando a escalada esportiva no Brasil.
Este fenômeno que vem acontecendo no RS é
de enorme importância para esta modalidade.
Vejo por aqui um movimento que proporcionará
expandirmos nossos horizontes, com a conquista de novos projetos e com a dedicação de
encadená-los. Por muito tempo uma grande quantidade de vias no limite e até mesmo superior
aos até hoje alcançados no país não eram equipadas com tal freqüência. Espero que isto venha a acrescentar e colaborar para que os
escaladores brasileiros, principalmente as próximas gerações tenham condições de evoluir a
ponto de se tornarem referências mundiais na
modalidade, igualando e até superando o nível
até hoje alcançado no mundo.
Sobre a Gruta da Terceira Légua:
· Insustentável Leveza do Ser, 10a
· Sombra e Escuridão Karma, 10c/11a?
· Valhaala, 10a
· Redes Neurais, 10b
· Globins, 10b
· Perigoso é a Ervilha, projeto
· Universo Paralelo, projeto
· Disciplina Não ter Jedi Nunca Será, 11a?
· Sem Nome, projeto
Sobre o Salto Ventoso:
· La Conosci del Puti Club, 10a
· Cólera, 11? projeto
· Pneumonia Asiática, projeto
· Pentelho Rastafari, projeto
Sobre Caçapava do Sul:
· Zona Pelúcida, 10a?
· Rosa Tatuada, projeto
Sobre Santa Lúcia:
· Sexto Sentido 10a/b
· Projeto
· Projeto
OBS: Todos os projetos aqui citados acredita-se
ser no mínimo décimo grau.
Roni Endres escalando na
Gruta da Terceira Légua.
Na edição de maio/junho de 2006 do Mountain
Voices, fiz breves comentários a respeito das
principais leis brasileiras destinadas à proteção
do meio ambiente.
Naquela oportunidade, salientei que o Direito
Ambiental Brasileiro é considerado um dos mais
modernos do mundo, mas que, “no terreno da
realidade”, não tem alcançado seus objetivos,
notadamente no que diz respeito à
compatibilização do crescimento econômico com
a proteção ambiental (MILARÉ, Edis, Direito do
Ambiente, 3ª ed., São Paulo: Editora RT, 2004, p.
121).
Ressaltei ainda, que o montanhista, assim como
qualquer pessoa, pode contribuir para melhorar
a eficácia da legislação ambiental brasileira, participando de ONG´s que defendam a natureza,
atuando em reuniões dos Comitês de Bacias
Hidrográficas ou dos Conselhos de Meio Ambiente, levando ao conhecimento do Ministério
Público os atos lesivos à natureza, dentre outras atividades.
Dessa vez, falarei sobre alguns aspectos relacionados às montanhas e aos topos de morro
considerados como áreas de preservação permanente.
Para entender um pouco desse tema, proponho
uma caminhada por etapas. Primeiramente, cumpre discutir o que são áreas de preservação
permanente, conhecidas pela sigla “APP”.
Não há dúvidas que a agropecuária é uma das
principais causas do desmatamento mundial. No
Brasil, o processo de colonização foi regido pela
exploração predatória dos recursos naturais e
pela supressão de vastas extensões de florestas, que deram lugar à agricultura, à pecuária e
à mineração e que resultaram num quadro de
total degradação (RIBEIRO, Carlos Antonio Alvares Soares; SOARES, Vicente Paulo; OLIVEIRA,
Angelo Marcos Santos; GLERIANI, José
Marinaldo, O desafio da delimitação de áreas
de preservação permanente, Revista Árvore,
volume 29, nº 2, Viçosa, mar./abr. 2005).
Objetivando limitar as interferências antrópicas
sobre o meio ambiente, o Código Florestal (Lei
Federal nº 4.771/1965), considerou como áreas
de preservação permanente (APPs) aquelas vinculadas à “função ambiental de preservar os
recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
ecológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da
fauna e da flora, proteger o solo e assegurar o
bem-estar das populações humanas” (art. 1º, §
2º, II).
Em termos práticos, as áreas de preservação
permanente são aquelas que possuem determinados acidentes geográficos de relevante importância ambiental e que podem estar localizados tanto em propriedades privadas como públicas.
De forma genérica, as APPs compreendem as
margens dos cursos d´água, os espaços ao
redor de lagos, reservatórios (naturais ou artificiais) e nascentes, os topos de morro, montanhas e serras, as bordas dos tabuleiros ou
chapadas, bem como outros acidentes geográficas (art. 2º, do Código Florestal).
Nas APPs não são permitidas quaisquer atividades antrópicas e a vegetação não pode ser
modificada. Vale dizer que o local é considerado
de preservação permanente mesmo que não
estiver coberto por vegetação nativa. Nesses
casos, o proprietário da terra deve proceder ao
reflorestamento da APP, mesmo que o imóvel
tenha sido adquirido sem cobertura vegetal.
O grau de proteção das áreas de preservação
permanente é bem severo, tendo em vista as
funções ambientais por elas desempenhas, não
havendo possibilidade do corte raso de sua vegetação ou de utilização direta de seus recursos naturais (LEUZINGER, Márcia Dieguez. Áreas de Preservação Permanente Rurais. Revista de Direitos Difusos, S. Paulo: APRODAB, IBAP,
jul./ago. 2005, volume 32, p. 33). Todavia, o Código Florestal permite o acesso de pessoas e
animais às referidas áreas para obtenção de
água, desde que não haja a supressão e não
comprometa a regeneração e a manutenção da
vegetação nativa.
Por outro lado, existe possibilidade de supressão total ou parcial da vegetação situada em
APP, nos casos de utilidade pública ou interesse social e quando inexistir alternativa técnica e
locacional ao empreendimento proposto. Mas
isso depende de autorização do órgão ambiental
competente (art. 4º, do Código Florestal).
Depois de conhecer algumas generalidades
sobre as APPs, a próxima etapa de nossa caminhada consiste em saber como as regiões de
montanhas e topos de morro se enquadram
nessa proteção legal.
O artigo 2º, do Código Florestal, considera de
preservação permanente as áreas situadas
“nos topos dos morros, montes, montanhas e
serras” (alínea “d”), “nas encostas ou partes
destas com declividade superior a 45º, equivalente a 100% na linha de maior declive” (alínea
“e”) e “em altitude superior a 1.800 metros, em
qualquer que seja a vegetação“ (aliena “h”).
A Resolução nº 303, do Conselho Nacional do
Meio Ambiente - CONAMA, estabelece
parâmetros e limites relativos as APPs e, no tocante às montanhas e morros, adota as seguintes definições:
- Morro: elevação do terreno com cota do topo
em relação à base entre 50 e 300 metros e
encostas com declividade superior a 30% (aproximadamente 17º) na linha de maior declividade.
- Montanha: grande elevação de terreno, com
cota do topo em relação à base superior a 300
metros.
- Base de morro ou montanha: plano horizontal
definido por planície ou superfície de lençol
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados,
pela cota da depressão mais baixa ao seu redor.
- Linha de cumeada: linha que une os pontos
mais altos de uma seqüência de morros ou de
montanhas, constituindo-se no divisor de águas.
- Serra: vocábulo usado de maneira mais ampla
para terrenos acidentados com fortes desníveis, freqüentemente aplicada a escarpas
assimétricas, possuindo uma vertente abrupta
e outra menos inclinada.
No topo de morros, montes, montanhas e serras, as áreas consideradas como de preservação permanente são aquelas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 (dois
terços) da altura mínima de elevação em relação à base. Melhor explicando, a APP em topo
de morros, montes, montanhas e serras
corresponde ao terço superior da encosta.
Nestes casos, o processo manual de delimitação das APPs deve considerar sempre duas
referências, a saber: uma superior (o divisor de
águas ou a linha cumeada) e outra inferior (a
base do morro ou o curso d’água), para somente então poder identificar onde situar-se-á a li-
nha do terço superior da encosta. Além disso, há
que se garantir que os três pontos considerados
estejam ao longo do mesmo trajeto de escoamento superficial, conforme mostra a figura a
seguir (RIBEIRO, SOARES, OLIVEIRA e GLERIANI,
obra mencionada):
CONAMA, é complexo o procedimento de demarcação das áreas de preservação permanente
situadas nos topo dos morros, montes, montanhas e serras, ao longo dos divisores d’água e
nas encostas, até porque a lei privilegia o reconhecimento em campo. Isso dificulta a já deficiente fiscalização por parte do Estado, bem como
o cumprimento da legislação.
Tradicionalmente, mapas topográficos e levantamentos de campo são usados na execução
dessa complexa tarefa. Entretanto, novas
metodologias consistentes no uso de modelos
digitais de elevação, a partir da utilização de dados de satélites, viabilizam a delimitação automática das áreas de preservação permanente, o
que pode melhorar a eficácia da Lei Florestal no
Brasil.
As Áreas de Preservação Permanente, bem
como outros instrumentos previstos no Código
Florestal, são de extrema importância na manutenção e na ampliação da cobertura vegetal existente em território nacional. Com planejamento
adequado, tais áreas podem e devem ser usadas para a conexão de fragmentos florestais
que se encontram separados, possibilitando a
formação de verdadeiros corredores ecológicos
(nesse sentido, ver MAIA SANTOS, J. S., Análise da paisagem de um corredor ecológico na
Serra da Mantiqueira, São José dos Campos:
INPE, 2002, dissertação de mestrado que propõe
a aplicação do Código Florestal para a formação
de um corredor ecológico na crista da Serra da
Mantiqueira, numa região localizada entre o Parque Estadual de Campos do Jordão e o Parque
Nacional do Itatiaia).
Nesse contexto, a bacia hidrográfica, considerada unidade natural de planejamento ambiental,
deve ser adotada no processo de demarcação
das APPs, cabendo ao órgão ambiental e ao comitê da respectiva bacia hidrográfica trabalharem em regime de parceria.
Nas altitudes acima de 1.800 metros, nos topos
de morro, montes, montanhas e serras e nas
encostas, a manutenção e recuperação da vegetação é de extrema importância, pois inúmeras nascentes ficarão protegidas, o solo estará
livre dos processos erosivos e os rios deixarão
de receber grande carga de terra proveniente
de deslizamentos. Isso sem falar na proteção da
fauna e flora.
Assim, o cumprimento da legislação florestal e o
resguardo das APPs do livre-arbítrio dos proprietários das terras são medidas imperativas e
urgentes, afinal estão intimamente ligadas com a
melhoria da qualidade de vida de todos. Vale a
pena brigar por isso.
Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas, cujos cumes estejam separados entre si
por distâncias inferiores a 500 metros, a área
considerada de preservação permanente abrangerá o conjunto de morros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível correspondente a
dois terços da altura em relação à base do morro
ou montanha de menor altura do conjunto. Nesses casos, a Resolução CONAMA nº 303 fornece os seguintes passos: primeiramente, agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até 500 metros entre seus topos;
depois, identifica-se o menor morro ou montanha
e então traça-se uma linha na curva de nível
correspondente a dois terços deste. A área de
preservação permanente será toda aquela que
estiver acima deste nível, ou seja, todo terço
superior delimitado a partir do menor morro ou
montanha.
Nas linhas de cumeada, as APPs são delimitadas
a partir da curva de nível correspondente a dois
terços da altura, em relação à base, do pico mais
baixo da cumeada, fixando-se a curva de nível
para cada segmento da linha de cumeada equivalente a mil metros.
Com relação às regiões situadas em altitude superior a 1.800 metros, a Resolução 303 do
CONAMA apenas repete as determinações do
Código Florestal, considerando-as como de preservação permanente. Todavia, referida resolução acrescenta que nos Estados onde não existam tais elevações, o órgão ambiental competente poderá fixar outras altitudes para efeitos de
demarcação de APPs. Vale destacar que a terminologia utilizada - “poderá” - se traduz apenas
Paulo Roberto Cunha - Advogado em São Paulo
numa faculdade do órgão ambiental.
e especialista em Direito Ambiental pela USP –
Apesar dos parâmetros fornecidos pelo [email protected]
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Eliseu Frechou
PAULO ROBERTO CUNHA | SP
11
on the rocks
ALBERTO ORTENBLAD | SP
Belas Pedras XXI
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Este artigo é uma continuação de dois anteriores, onde escrevi sobre o Papagaio e
o Bandeira. Pertence à série das Belas
Pedras, sobre montanhas com acesso e
subida fáceis. O Pinhal fica em Aiuruoca,
cidadezinha próxima a Caxambu, a mais
de 300 km do Rio e de 400 km de Belo
Horizonte e São Paulo por asfalto.
O Vale do Matutu
Este vale pode ser acessado a partir da
estrada de terra que liga Aiuruoca a Alagoa.
Suba à direita após quase 7 km e percorra
mais 10 km bem precários até o Casarão,
onde você deve deixar seu carro. Esta construção foi sede de fazenda, então pertencente a Geraldo Sena, como você poderá
ver no mapa do IBGE.
Matutu significa cabeceira das águas, em
reconhecimento às dezenas de nascentes da região. Elas formam o Ribeirão da
Água Preta, afluente do Rio Aiuruoca, cuja
origem está próxima ao Agulhas Negras.
É um vale muito bonito, encerrado por
montanhas cujas cristas variam de 1.600
a 2.000 m de altitude, respectivamente a
leste e oeste.
O Vale fica a uma altitude de 1.200 metros.
Do Casarão até o fim, ele mede cerca de 2
km. Ele é fechado pela interessante Cachoeira do Fundo, cujo risco branco decora belamente suas verdes encostas e pode
ser visto de longas distâncias. Curiosamente, a vegetação original está se regenerando, com a mata voltando a ocupar
áreas de pasto.
O Santo Daime
Por volta de 1920, começou no Acre o culto
do Santo Daime, a partir das visões que
um caboclo chamado Irineu teve. Ele pregava o amor pela floresta e a ingestão
durante os rituais de uma bebida chamada ayahuasca, mistura de uma folha com
um cipó. Esta bebida produz uma expan-
12
trekking
O Pico
O Pinhal é uma elevação que você verá à
esquerda, quando estiver chegando ao
Vale. Com 1.624 m de altitude, é o ponto
culminante de uma serrinha de 4 km de
extensão, que corre vagamente no rumo
norte-sul.
Ele em nada parece com
um leão, a menos que você
o veja dos altos da serra
oposta, quando terá a impressão de um imponente
leão de costas. Convém
lembrar que o verdadeiro
Cabeça de Leão (ou Leoa)
fica no Parque Nacional de
Itatiaia, como prosseguimento da formação do
Maromba.
O Pinhal é a mais acessível das montanhas da região, pois sua localização
e altitude permitem que
você atinja o cume em menos de 1 ½ horas, numa
ascensão de cerca de 400
metros.
A Trilha
A trilha sai do Casarão
rumo leste e sobe depois na direção norte, ao longo da crista da montanha. Depois de passar pelos pastos do vale e
pela floresta de encosta, você cruzará uma
colina coberta por gramíneas e subirá até
a corcova do cume. Não é uma ascensão
difícil ou íngreme.
Não pare na primeira laje rochosa, vá até
a terceira, onde terminará sua caminhada. Deste local, você terá ao norte uma
vista esplêndida da parede rochosa do
Pico do Papagaio, a mais conhecida pedra da região, parecendo ameaçadora e
imponente do alto dos seus mais de 2.000
metros.
Olhando a sul, você verá o vale e o pico do
Cangalha a meio caminho da cidadezinha de Alagoa. Na direção oeste, o Vale
do Matutu, com as casinhas da Comunidade lindamente espalhadas ao longo de
muito verde. E o belo risco branco da Cachoeira do Fundo, dividindo as duas encostas do vale.
Atrações
Aiuruoca é uma região privilegiada, pois
dispõe de dois locais maravilhosos: os
altos da Serra do Papagaio e o Vale do
Matutu. São espaços muito diferentes, a
Serra sendo mais ampla e panorâmica e
o vale, mais fechado e delicado.
Existem mais de 30 poços e cachoeiras,
das quais eu visitei ou avistei apenas
umas dez. A que mais me impressionou
foi a Cachoeira dos Garcias, uma queda
delicada que surge acima das rochas
estratificadas e que verte suas águas
numa esplêndida piscina de águas fundas e transparentes. Nela é possível praticar o canyoinig ao longo de seus 30
metros.
Na região do Matutu, existem as Cachoeiras das Fadas, do Fundo, do Cacique e do
Macaco. No trutário logo no início do vale
ficam as Três Marias, cujas três quedas
fundem-se no verão numa única corrente.
Ao longo dos caminhos que você percorrer, estão quedas como a do Batuque, Deus
Me Livre e Laje.
Outra atração é o Carnaval, que é celebrado na semana anterior à data oficial. No
passado, o padre local proibiu esta celebração e os foliões resolveram antecipála para escapar da proibição. Dizem (com
evidente exagero) que a festa atrai algo
como 20 mil pessoas, ou o triplo da população local.
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De volta à região de Aiuruoca no sul de
Minas, repleta de altas montanhas e belas cachoeiras, para conhecer um de seus
mais simpáticos picos.
são da consciência que leva a estados
de vidência.
Após sua morte em 1971, Irineu foi substituído por um seringalista, seu discípulo
Sebastião. Hoje é Alfredo, filho de Sebastião, quem lidera a seita. Aparentemente,
foi Sebastião quem desenvolveu o conceito de uma comunidade sustentável e
solidária. O Daime é uma seita eclética,
mistura de espiritismo com catolicismo.
Seguindo seus preceitos, começou no
Matutu, em meados da década de 80, uma
comunidade praticante de uma vivência
cooperada. Ela fica logo à direita do Casarão, onde você poderá conhecer o artesanato de que vivem. Visite o belo local
do Templo, lá você encontrará lado a lado
os impressionantes retratos de Irineu e
Sebastião. Verá também o cênico Pico da
Cangalha, cujo vulto abaulado decora o
horizonte a leste.
Arquivo Alberto Ortenblad
ALBERTO ORTENBLAD | SP
13
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Índice dos Números Anteriores
1. Será que o alpinismo já atingiu o seu cume?, O
guia de montanha e a experiência européia, Cuidado
com a hipotermia, O que é mesmo espeleologia?
2. Conjunto Pedra do Baú, Expedição Brasil-Everest
91, Pitons, Alimentação natural, Meditação na
escalada, Cordas e camelos, Apuane.
3. Urca, Quedas e ejaculação precoce, Solo e sonho,
Montanhismo apolítico, Caparaó, II Sul-americano
de escalada, Asas de nylon.
4. Anhangava, Montanhismo e neurolinguística,
Escaladores x meio-ambiente, Lesões nos dedos,
Cerro Tolosa, Publicações da SBE, Caraça.
5. Prateleiras, Porque o montanhismo ainda não se
organizou?, Expresso Paraná, E o vento levou, Ética,
Travessia Garrafão-Papagaio.
6. Conjunto Marumbi, Quanto vale o Pão de Açúcar?,
Excursionismo consciente, Bóia-cross, Troglobionts?!,
Half Dome clean, Ecologia e política, Cho-Oyo,
Canastra.
7. Serra do Lenheiro, Atalhos, Táticas esportivas,
Crianças na trilha, Peruaçu, Dicas para dias frios,
Canoagem, Sua própria aventura.
8. Pico do Jaraguá, O caminho não percorrido,
Ecoturismo, Caminhos da mantiqueira, Agudo do
Cotia, Pão de Açúcar face norte, Mergulho na Santana,
Kilimanjaro.
9. Brasília, Guia Ecológico, Ancoragens, Gruta do
Janelão, Congelamento, Caatinga.
10. Rio Grande do Sul, Segurança americana, Vale
do Peruaçú, Branco total, Petrópolis-Teresópolis.
11. Chapada Diamantina, Manual do Montanhista, El
Capitan, A escalada do Lanin, Topografia em cavernas
I, Minas Gerais.
12. Dedo de Deus, Associação Carioca de
Escaladores, Topografia II, Duas antenas e uma
parede, Europa, Conquista do Annapurna,
Itaimbezinho, Raio na Montanha.
13. Serra da Capivara, Acima da neve, Face norte
da Pedra do Baú, Toca da Boa Vista, Serra Fina.
14. Pico das Agulhas Negras, Carrapato, Alpes,
Grampear ou não grampear, Monte Roraima.
15. Morro de Pedreira, Ibitirati em solo, Pelo mundo
afora, Fotografia, Canoagem, Espectro de Brocken.
16. Bragança Paulista, Cachoeira da Fumaça,
Canoagem, Orientação.
17. Florianópolis, Itararé, Paraglider, Aventura nas
veias, Nepal, Curso UIAA.
18. Pico Paraná, Curso UIAA, I Congresso Brasileiro
de Montanhismo, Nepal.
19. Pão de Açúcar, Alain Renaud, Trango Tower,
Treinamento esportivo I, Serra do Cipó.
20. Visual das Águas, Nas encostas não tão solitárias
do Everest, Treinamento esportivo II, GPS, Proibir
ou pagar?
21. Lapinha, Bernd Arnold e Kurt Albert no Brasil,
Retrospectiva 93, Marins-Itaguaré, Dinossauros no
Anhangava, Bolívia.
22. Buraco do Padre, Canyoning no Cipó, Bito solitário
no Baú, Para que morrer?, Aventuras no Garrafão,
Crazy Muzungus, Pedra Branca de Pocinhos.
23. Sertão de Pernambuco, Os Descaminhos da
escalada no Brasil, Cipó x 5.13, Salathé free, Pedra
Selada de Mauá.
24. Ana Chata, K2, Quedas de guia, Ibitirati, Serra da
Bocaina.
25. Bahia, Bolívia, Half Dome, Gullich, Morro da MeiaLua.
26. Pedralva, El Capitan, Los Gigantes, Criar e reciclar,
Itajubá.
27. Pedra do Segredo, Guarujá, Serra da Guarita,
Canyoning, Bolts from the blue, A maior rota de Minas.
28. Itacoatiara, Patagônia, Cerro Torre, Meteorologia,
Medo de cair, Morro do Tira-Chapéu.
29. Pico do Papagaio, Everest pirata, Mal de altitude,
Acidentes em campeonatos, Serra do Caraça.
30. Espirito Santo, Graduação artificial, Normas para
equipamentos, Santa Rita do Jacutinga, Trilha Inca.
31. Guaraiúva, Na linha de fogo, Pequenas notáveis I,
Illimani, 6000 metros na Bolívia, Itambé.
32. Arenito gaúcho, Montanhismo e Internet, Estilo alpino
no Himalaia, Pequenas notáveis II.
33. Nova rota no Marumbi, Solução Suicída, Huayna
Potosi, Morro da Formiga, Trekking na Canastra, Monte
Verde.
34. Morro do Cuscuzeiro, Torres del Paine, Face sul do
Corcovado, As maiores montanhas do Brasil, Perú.
35. Salinas, Escalando nas cavernas, Solitárias na
Pedra do Baú, Sites de montanhismo na WEB, Tour na
Europa, Serra da Cangalha.
36. Santa Catarina, Reformas no Anhangava, Monte
Vinson, Campeonato Panamericano, Guaraú, Carta aos
Montanhistas.
37. As agulhas do Espírito Santo, Conquista dos Cinco
Pontões, Fator de Queda, Aventuras no Equador, Agarras
e Ética, Rapel - um grande equívoco.
38. Jardim botânico do Rio, Projeto Sete Cumes, Serra
Fina, Bragança Paulista, Jordânia, Corpo de Socorro
em Montanha
39. Pedreira do Dib, Eiger, Ilha Bela, Pedra do Moitão,
Guaraiúva, Campo-escola 2000.
40. Pedra da Divisa, Monte Elbrus, Fator humano,
Escaladas em rocha no Chile, Trekking do Everest,
Convite à Aventura.
41. São Luís do Purunã, Bolívia, Sintonizando a cordada,
Nosso futuro comum, Federações?
42. Vista Aérea, Travessia Marins/Itaguaré, Dedo de
Deus, Face Sul do Aconcágua.
43. Pedra do Índio, Trekking no Kilimanjaro, Apagando
uma luz falsa, Realidade Vertical, Espanha, Acidente
no Aconcágua.
44. Big Wall na Serra dos Órgãos, Torres del Paine,
Rocha e gelo nos Andes, Pico do Baiano -nova rota de
1000m, Trekking ao Focinho D’Anta.
45. Calcário em Minas Gerais, Projetos de escalada,
Perigos do Gelo, Terra de Gigantes, Patagônia, Pedralva,
Pedra do André,
Corcovado de Ubatuba.
46. Torres de Bonsucesso, Elbsandstein, Illimani,
repetição da Eco-xiitas, novos clubes de montanhismo.
47. Falésias do Quilombo, El Capitan, Pico do
Cuscuzeiro, Terra Brasileira (Pedra do Sino), Resgate
na Ouro Grosso, Como são as competições esportivas.
48. Conquista no Corcovado, Cerro Plata, Dedo de
Deus, Treinamento Esportivo, Montanha e mau tempo,
As Pedras esquecidas do Rio de Janeiro, Castleton
Tower, Morro do Carmo.
49.
Camboriú,
Conquistas
Brasileiras
em
Cochamo,Garrafão, Aconcágua, Pico do Trabijú.
50. Morro do Camelo, Tipos de Mosquetão, Imprudência
Rapeleira, Pico do Baiano, Patagônia, Superagüi.
51. Falésias do Serrano, Avaliação Física, Europa,
Íbis em Solitário, Mont Blanc, Rapel, Chapadão da
Babilônia.
52. Anhangava, The Diamond, Blocantes, Guia de
Montanha, Caraça, Marins-Itaguaré.
53. Guaratiba, Mulheres no Marumbí, Nordeste do
Itabira, Costa Rica, Caderno Indoor
54. Rotas Piratas, Pedra da Boca, Baudrier e Loop,
Patagônia, Bagé, Caderno Indoor.
55. Salinas, Big Wall no Garrafão, Monte Roraima,
Shipton, Pico União, Entalando-se Fácil, Caderno
Indoor.
56. Serra do Cipó, Conquista do Castelão-PNSO,
Trekking no Vale do Paraíba, Gruta dos Três Lagos,
Caderno Indoor.
57. Pão de Açúcar, Trekking na Serra da Bocaina,
Pedra do Sino, Caderno Indoor.
58. Florianópolis, Big Wall no Ibitirati, Trekking na
Bolívia, Caderno Indoor.
59. Morro do Cuscuzeiro, Creatina e potência, novos
points no Rio Grande do Sul, Anti-inflamatórios,
Travessia da Serra Fina, Internacional, Indoor.
60. São Luis do Purunã, Serra da Capivara - PI, Maria
Comprida, Dor na Escalada, Trekking ao Pico da
Neblina - I, Internacional, Indoor.
61. Escalada Tradicional, Os Segundos Sete Cumes,
Slack Line, El Chorro - Espanha, Eclipse Oculto - Pedra
do Sino, Trekking ao Pico da Neblina - II, Internacional,
Indoor.
62. Salto Ventoso, Novas rotas na Paraíba, Copa do
Mundo de Escalada, Campos Gerais - PR, Crazy
Muzungus, Trekking à Pedra do Sino, Internacional,
Indoor.
63. Falésia dos Olhos, Festivais de Escalada, Espírito
Santo, Conquistas na Bahia, Travessia da Serra Fina,
Internacional, Indoor.
64. Cachoeira do Tabuleiro, Quixadá - CE, Boulders em
Sorocaba, Grand Teton, Internacional, Indoor.
65. Blocos dos Serranos, Diogo Ratacheski x Mr. Bill,
vias do Dedo de Deus, Calcário do PR, Corda Dupla I,
Internacional, Indoor.
66. Pedra do Segredo, Seminário de Impacto, Patagônia
- Saint Exupéry, Graduação Brasileira, Corda Dupla II,
Internacional, Indoor.
67. Campo-Escola 2000, Serra do Lenheiro, Workshop
de resgate no Baú, Projeto Paredes de Minas, Técnica
e Ética de Mínimo Impacto I, Internacional, Indoor.
68. Pedra do Sino, Bouldering no Sul do Brasil, André
Ilha e Antônio C. Magalhães, Novas rotas: Nefelibatas
e Taxi Lunar - Pedra do Sino, Técnica e Ética de Mínimo
Impacto II, Internacional, Indoor.
69. Morro dos Cabritos - RJ, Maria Comprida, Points
Secretos, O Caminho do Sol, Forum Pró Serra Fina,
Internacional.
70. Edgar Kittelmann, Sulamericano de Boulder, Do
kichute à sapatilha, Pedra do Itamaraem, Como ajudar
os seguranças, Info Femerj, Internacional
71. Paraíba, Pedra Riscada-MG, Resmont, Paradas,
Minas do Camaquã, To bolt or not to be, Info Femerj,
Internacional.
72. As super vias de Escalada, Tadeusz Hollup, Tempestades, Montanha de valores, Paulista 2003, Adote
uma montanha, Info Femerj, Internacional.
73. Araçatuba-PR, Cerro Branco-RS, Bivaque forçado, Amazônia, Leaning Tower-EUA, Cordilheira
Huayhuash, Info Femerj, Internacional.
74. Prateleiras, Los Encardidos, Erwin Gröger,
Trekking no Caraça, Padrão brasileiro de classificação de escaladas, Info Femerj, Internacional.
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dos Marins, Terra de Gigantes, Caminhadas em
Campos do Jordão, via Abuso - Escalavrado, Ética, Internacional.
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na Groenlândia, Atibaia, Pedra Baiana-ES, Escalada Solo, Controle mental, Pico da Bandeira-ES,
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77. Falésia do Lagarto, Ancoragens, Conquistar ou
equipar?, Ceará, Cachoeira do Tabuleiro-MG, Pico
das Almas, Internacional.
78. Chapada Diamantina-BA, Preservando nossa
memória, Dicas sobre a Escalada Tradicional,
Pedra do Elefante-MG, Exercícios Pliométricos para
melhorar a potência, Trekking ao Pico do Barbado,
Itacolomi protegido, Internacional.
79. Itajubá-MG, Paulista 2004, Equipar ou pré-equipar?, Segurança em Top Rope, Tipos de agarras de
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81. Tradicional em Jacinto-MG, Baturité-CE,
Chapada Diamantina-BA, Aconcágua Invernal,
Cantagalo-RJ, Comunicação Silenciosa, Internacional.
82. Quixadá-CE, Nick em Yosemite, Brasileiro 2004,
Potrero Chico-México, Escale rápido, Federações,
Internacional.
83. Pico do Itapeva, Cerro Torre, Dicas Aquecimento, Controlando quedas de guia, A casa do
pânico.
84. São Chico, Controle seu medo de cair, Manutenção de Equipamentos, Falésia do Zé Vermelho,
Pedra do Picu.
85. Salto São Jorge, Araxá, Cuidados com a sapatilha, Fazendo segurança, Decifrando o grau de
exposição, Mais rotas no Picu de Itamonte, Internacional.
86. Garrafão do ES, Building, Site Segurança em
Montanha, Campeonatos, Bolívia, Grau de exposição, Comunicação via rádio, Internacional.
87. Os Impermeáveis, Torres de Santa Maria, Ana
Boscarioli no Cho Oyo, Blox 2005, Mudanças climáticas, Trekking na Cordilheira Blanca.
88. Novas escaladas em Santa Catarina, filmes
de montanhismo e escalada, Fernando de Noronha,
tipos de baudriers, Internacional.
89. Novos points no Espírito Santo, Ascensão
brasileira no Fitz Roy, Los Arenales, Escaladas na
Paraíba, Internacional.
90. Anhangava, Nick na Tempest, Direito
ambiental, Big wall no Ceará, Red ou pink point?,
internacional.
91. Chapada das Perdizes, Torres del Paine,
Trekking ao Pico do Papagaio, Escalada no Mali,
Freios mecânicos, Internacional

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