áfrica e suas representações: cultura, religião e movimento sociais

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áfrica e suas representações: cultura, religião e movimento sociais
ÁFRICA E SUAS REPRESENTAÇÕES: CULTURA, RELIGIÃO E
MOVIMENTO SOCIAIS - USOS DA HISTÓRIA ORAL.
Coordenadores:

Ivaldo Marciano de França Lima
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade do Estado da Bahia

Aison Barbosa da Silva
Titulação mais alta: Doutor(a)
Filiação institucional: Universidade Estadual do Maranhão
Resumo: A História, apoiada em diferentes áreas, tem mostrado que a África nem de
longe se assemelha as representações e estereotipias que a relegam para o lugar do
atraso, selvageria e barbárie. O continente africano é o berço de grandes civilizações, a
exemplo do Egito, Meroé, Axum, Congo, Monomotapa e Songhay, dentre outras.
Também foi o lugar de líderes de extrema genialidade e grandeza, a exemplo de Numi
a-Lukemi, Sonni Ali ber, Shaka Zulu, SamoryTouré, dentre outros. Os povos deste
continente travaram conflitos violentos, mas também souberam selar a paz, fizeram
comércio e praticaram a escravidão. Inventaram instrumentos e ferramentas para
responder ao quotidiano, assim como souberam enfrentar as adversidades de ambientes
nem sempre sossegados e dotados de calmaria. No entanto, a África não pode apenas ser
pensada nos seus limites territoriais. O continente africano foi objeto de diferentes
representações e ainda hoje se constitui como importante elemento para a constituição
de identidades de vários grupos e segmentos existentes no Brasil. Grosso modo, pode se
afirmar que setores significativos dos movimentos sociais negros, bem como dos
adeptos das religiões de divindades, dispõem de liames diversos com a África.
Constituem-se enquanto comunidades de memórias, possuidoras de diferentes Áfricas e
que mobilizam variadas práticas, discursos e identidades. Neste sentido, este STobjetiva
discutir trabalhos que tenham como foco as tradições orais do continente africano
propriamente dito, bem como as suas representações e ressignificações no Brasil. O ST
acolherá pesquisas que fomentem o debate sobre as manifestações culturais, e que têm
sido apontadas como práticas importantes na constituição de uma sociabilidade que deu
suporte aos movimentos negros, bem como forneceram referenciais para a formação de
uma identidade negra. O ST se propõe a pensar a conjunção entre a memória do
movimento e as práticas de sociabilidade que foram em grande medida responsáveis por
imprimir a este feições próprias e originais, tanto do ponto de vista estético, quanto
religioso e político-cultural.Serão bem vindos trabalhos que versem sobre a África
propriamente dita, ou suas representações, em diferentes áreas do conhecimento,
especialmente da História e das Ciências Sociais.
Justificativa: O continente africano foi (e continua sendo!) o cenário de muitos povos,
reinos, guerras, grandiosos líderes e invenções diversas. Pode ser descrito como palco
de inúmeras línguas, costumes, povos e sociedades, em sua maioria com práticas e
tradições impossíveis de serem descritas por uma só palavra ou conceito. Eis a maior
dificuldade dos estudiosos para com a história da África: sua imensa diversidade:
Homens e mulheres com diferentes tons de pele e tipos de cabelo. Cristãos, islâmicos e
praticantes de religiões tradicionais... Eis a África! Esta diversidade, nesse sentido, nos
permite afirmar que não há nada de universal no continente africano que possa ser
descrito como comum a todos os povos. No entanto, no Brasil a África foi (e é) objeto
de diferentes representações e ressignificações, servindo de base para várias identidades,
além de ter sido tomada como parte das estratégias de grupos, bem como dos
movimentos sociais negros e dos adeptos das religiões de terreiro. A África, nesse
sentido, ganha diferentes contornos, constituindo-se como referência para homens e
mulheres, que lhe atribuem sentidos variados. Eis o que chamamos de representações da
África: variadas leituras e ressignificações que fazem com que discursos e ideias se
corporifiquem, materializando-se em práticas, a partir dos movimentos sociais,
manifestações culturais, religiões, dentre outros. Por outro lado, apesar da diversidade
de movimentos, há uma carência de documentação que abarque estes temas, levando
pesquisadores a se dedicar à história oral. O trabalho com a memória tem permitido
trazer à tona outras versões sobre a história dos movimentos negros e das lutas pela
inserção social de negros e negras, seja através de uma militância, seja através de
movimentos culturais, tomando a África para o estabelecimento de ressignificações
diversas.Nunca é demais lembrar que as questões relacionadas com os movimentos
sociais negros, bem como suas práticas e costumes culturais tem suscitado diferentes
trabalhos entre os historiadores. A lei 10639, dentre outros aspectos, propiciou o
surgimento de um novo campo de estudos entre estes especialistas, além de ter gerado
questões de várias ordens na sociedade em que vivemos, colocando em debate novos
temas, perspectivas teóricas e metodológicas, bem como outras abordagens para os
temas de ensino, patrimônio e memória. Para além de outras modificações no âmbito
escolar, a referida lei trouxe também a necessidade de se repensar as identidades até
então postas como folclore ou marginalizadas, a exemplo das performances trazidas à
tona pelas comunidades de terreiro (candomblé, por exemplo), integrantes de
manifestações culturais e militantes negros em geral. Para os historiadores e a História
propriamente dita são postas questões complexas e de difícil resposta, a exemplo da
ideia de origem dos negros, racismo e discriminação racial, memória, ensino e África.
Como se colocar mediante estas questões? Como o historiador têm pensado seus objetos
de estudo diante dessas demandas sociais e das políticas públicas que os têm envolvido?
As comunidades de memória (terreiros, quilombolas e grupos culturais), que
reivindicam a ancestralidade do continente africano, bem como os movimentos sociais
negros devem ser entendidos como parte da história, e como tal, objetos de estudos que
possibilitem uma compreensão que permita respostas para as questões pautadas com as
relações raciais brasileiras.Estas pesquisas têm utilizado os depoimentos orais como
fontes importantes para avaliar as dinâmicas existentes nos movimentos negros e nas
manifestações culturais e religiosas. Objetiva-se também discutir as principais questões
que têm norteado a historiografia e as pesquisas recentes em torno das manifestações
culturais de negros e negras, dos movimentos negros organizados, e das diversas
religiões de terreiros.
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