desenvolvimento propagado: os anúncios governamentais

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desenvolvimento propagado: os anúncios governamentais
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
Giliane Perin
DESENVOLVIMENTO PROPAGADO: OS ANÚNCIOS
GOVERNAMENTAIS VEICULADOS NO JORNAL TRIBUNA
POPULAR
VILHENA/RO
2011
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR
Giliane Perin
DESENVOLVIMENTO PROPAGADO: OS ANÚNCIOS
GOVERNAMENTAIS VEICULADOS NO JORNAL TRIBUNA
POPULAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso
de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo,
da Universidade Federal de Rondônia/Unir, sob a
orientação da Professora Elizabeth Kimie Kitamura,
como parte da avaliação para obtenção do título de
Bacharel em Jornalismo.
VILHENA/RO
2011
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Giliane Perin
DESENVOLVIMENTO PROPAGADO: OS ANÚNCIOS
GOVERNAMENTAIS VEICULADOS NO JORNAL TRIBUNA
POPULAR
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso
de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo,
da Universidade Federal de Rondônia/Unir, sob a
orientação da Professora Elizabeth Kimie Kitamura,
como parte da avaliação para obtenção do título de
Bacharel em Jornalismo.
Data: ______________________________________________________________________
Resultado: __________________________________________________________________
BANCA EXAMINADORA
Prof. ______________________________________________________________________
Assinatura __________________________________________________________________
Prof. ______________________________________________________________________
Assinatura _________________________________________________________________
Prof. ______________________________________________________________________
Assinatura _________________________________________________________________
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Aos meus pais Adair Antônio Perin e Leane Perin, que
possibilitaram e incentivaram o meu ingresso nos estudos, desde o
jardim de infância no SESI, passando pelo pré-escolar, ensino médio
na Escola Concórdia, até chegar ao curso de Comunicação
Social/Jornalismo na Universidade Federal de Rondônia. Este
trabalho é o símbolo da dedicação de vocês à minha educação. O
diploma que receberei pertence mais a vocês do que propriamente a
mim.
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AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial aos meus pais. À minha mãe, pelo apoio incondicional,
pelas longas conversas e pelos mínimos detalhes. Ao meu pai, por sua determinação, garra e
coragem de fundar um jornal no interior da região amazônica. A sua coragem me motivou a
seguir o seu caminho e a registrar a sua história.
Ao meu querido Tainá. Mesmo que se por ventura, algum dia, o destino nos separe,
você foi essencial para o meu êxito. Você foi o remédio para as minhas dores de cabeça e o
calmante para os meus estresses. Você me aguentou em um momento da minha vida em que
eu mesma não me suportava.
À minha orientadora, Elizabeth Kimie Kitamura. Você me deu um novo ânimo e me
fez chegar até aqui. Os puxões de orelha e a destreza com que me fazia enxergar além dos
horizontes foram fundamentais para a realização deste trabalho.
Agradeço em especial a minha amiga Patrícia Klein, que me acompanha desde o
primeiro ano do ensino fundamental, passando pela graduação, me seguindo ao longo da vida.
E aos meus amigos Sandro Melo, Ellen de Souza e Dhiony e Costa e Silva. Vocês fizeram
Vilhena valer a pena.
Agradeço também aos colegas e demais pessoas que estiveram sempre ao meu lado.
As mais singelas palavras de apoio me fortaleciam a cada momento e foram fundamentais.
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“Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e
humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade.
Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da
vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural
da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não
pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para
isso e esteja disposto a viver para isso poderia persistir numa profissão
tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia,
como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz
enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no
minuto seguinte”.
Gabriel Garcia Marquez
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RESUMO
O presente trabalho analisa 12 propagandas governamentais veiculadas pelo Governo Federal
e Estadual no Jornal Tribuna Popular, da cidade de Cacoal, estado de Rondônia. Esta pesquisa
pretende analisar o ideal desenvolvimentista propagado pelos governos e a experiência vivida
pelos migrantes no início da década de 1980, com a aplicação da metodologia da análise de
conteúdo destas propagandas institucionais. Neste exercício, foi possível perceber a intenção
do Governo Militar em integrar política e economicamente a Amazônia Ocidental aos
principais centros do país. Através da pesquisa bibliográfica foi possível conhecer parte da
realidade vivida pelo colono que veio à Rondônia atraído, principalmente, pela propaganda
governamental. Neste sentido, este trabalho pretende analisar os anúncios governamentais
veiculados pelo Tribuna Popular no período entre 1980 e 1984 e as influências destes ideais
propagados nas frentes de expansão no estado de Rondônia.
PALAVRAS-CHAVE:
Amazônia
Governamental. Jornal Tribuna Popular.
Ocidental.
Rondônia.
Migração.
Propaganda
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ABSTRACT
This research analyzes 12 advertising of the Federal and State Government in the Jornal
Tribuna Popular, from Cacoal City, Rondônia State. This research intends to analyze the
developmental ideal diffused by the governments and experienced in the life by the migrants
in the beginning of 1980’s, with the application of the methodology of content analysis of the
institutional advertising. In this work it was possible to notice the Military Government’s
purpose to integrate politically and economically the Western Amazon to the main centers of
the country. Through the bibliography research it was possible to know a part of the reality
experienced by the settlers who came to Rondônia mainly attracted, by the government
advertising. In this way, this research intends to analyzes the government advertisement
conveyed by Tribuna Popular between 1980 and 1984 and there ideals influences propagated
in the fronts of expansion en Rondônia State.
KEY-WORDS: Amazônia Ocidental. Rondônia. Migração. Propaganda Governamental.
Jornal Tribuna Popular.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Jornal em língua inglesa .............................................................................................. 28
Figura 2 – Gráfico Categorias ...................................................................................................... 45
Figura 3 – Gráfico Subdivisões das categorias ............................................................................. 46
Figura 4 – Gráfico Subdivisões das categorias ............................................................................. 46
Figura 5 – Sefin – Campanha Rondonzinho................................................................................. 50
Figura 6 – Sefin – Campanha Rondonzinho................................................................................. 51
Figura 7 – Sefin – Campanha Rondonzinho................................................................................. 52
Figura 8 - Sefin – Emancipação ................................................................................................... 53
Figura 9 – Codaron – Emancipação ............................................................................................. 54
Figura 10 – Governo do Estado/Emancipação ............................................................................. 55
Figura 11 – Governo Federal – A incrível história ....................................................................... 56
Figura 12 – Governo Federal – Você Poupou .............................................................................. 57
Figura 13 – Governo Federal – Quem produz mais ..................................................................... 58
Figura 14 – Governo Federal – Feijão .......................................................................................... 59
Figura 15 – Governo Federal – ABC da Terra ............................................................................. 60
Figura 16 – Governo Federal – BR – 364 .................................................................................... 61
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
FUNAI
Fundação Nacional do Índio
E.F.M.M.
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré
SUDAM
Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
INCRA
Instituto de Colonização e Reforma Agrária
PROTERRA Programa de Redistribuição de Terras e Estímulo à Agricultura do Norte
PIN
Plano de Integração Nacional
PIC
Projetos Integrados de Colonização
PAD
Projeto de Assentamento Dirigido
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PAR
Projetos de Assentamento Rápido
UNIR
Universidade Federal de Rondônia
PIB
Produto Interno Bruto
PNUD
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PCHS
Pequenas Centrais Hidrelétricas
PT
Partido dos Trabalhadores
PMDB
Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PDS
Partido Democrático Social
FEC
Faculdade de Educação de Cacoal
Unesc
Faculdades Integradas de Cacoal
Facimed
Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal
Unopar
Universidade Norte do Paraná
AM
Amplitude Modulation - Modulação em Amplitude
FM
Frequency Modulation - Modulação da Frequência
SGC
Sistema Gurgacz de Comunicação
SIC
Sistema Imagem de Comunicação
RBN (TV)
Rede Boas Novas
EBC
Empresa Brasil de Comunicação
CODARON Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia
SEFIN
Secretaria Estadual de Finanças – Rondônia
RO
Rondônia
MT
Mato Grosso
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
1 RONDÔNIA E O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO .......................................... 16
1.1 PROJETOS OFICIAIS DE COLONIZAÇÃO .................................................... 19
1.2 RODÔNIA HOJE ................................................................................................ 22
1.3 CACOAL – A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE ............................................. 24
1.3.1 A colonização encorajada pelo governo ........................................................... 25
2 O JORNALISMO IMPRESSO EM RONDÔNIA ................................................ 28
2.1 O INÍCIO DO JORNALISMO IMPRESSO NAS PRINCIPAIS
CIDADES DO INTERIOR DE RONDÔNIA ........................................................... 29
2.2 O CENÁRIO ATUAL DA COMUNICAÇÃO EM RONDÔNIA ...................... 32
2.3 UM BREVE HISTÓRICO DO JORNAL TRIBUNA POPULAR ..................... 15
2.3.1 O Jornal Tribuna Popular passa por algumas mudanças .................................. 35
2.3.2 Tribuna hoje...................................................................................................... 37
3 MÉTODO E CONCEITOS .................................................................................... 39
3.1 METODOLOGIA: A ANÁLISE DE CONTEÚDO ........................................... 39
3.1.1 Afinal, o que é análise de conteúdo? ................................................................ 40
3.1.2 Os caminhos para análise ................................................................................. 41
3.2 OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS
DURANTE 1981 – 1984 .......................................................................................... 43
3.3 PESQUISA: O MATERIAL DE PESQUISA ..................................................... 45
3.3.1 Categorias e subdivisões................................................................................... 45
3.3.2 O que dizem as propagandas? .......................................................................... 46
3.3.2.1 O Governo Federal ........................................................................................ 47
3.3.2.2 O Governo Estadual....................................................................................... 48
3.4 UM OLHAR EM CADA ANÚNCIO ................................................................. 49
3.5 O DIÁLOGO ENTRE O ANÚNCIO E O REAL ............................................... 61
3.5.1 O desenvolvimento que propiciou a devastação............................................... 62
3.5.2 O propagado( pelo Governo) e o vivido (pelos migrantes) ............................. 64
13
3.5.3 A Propaganda que universaliza a ideologia do governo militar ....................... 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 74
APÊNDICES ............................................................................................................. 77
ANEXOS ................................................................................................................... 96
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INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo analisar as propagandas institucionais veiculadas
pelos Governos Federal e Estadual no Jornal Tribuna Popular, da cidade de Cacoal, no estado
de Rondônia.
É notório que a partir da década de 1970, as propagandas divulgadas pelo Governo
Federal, para incentivar o desenvolvimento e a integração da região amazônica ao resto do
país, foram ferramentas importantes como política de comunicação do governo militar para
atrair milhares de migrantes que vieram colonizar a região, inclusive o estado de Rondônia.
Esta estratégia política de ocupação da Amazônia Ocidental, no entanto, dá
continuidade às medidas adotadas nos primeiros anos do governo militar (1964 – 1985)
quando este mostrou o seu interesse em integrar a região amazônica em 1966. O então
presidente na época, o general Castelo Branco lançou a principal campanha para a ocupação
da Amazônia sob o lema “Integrar para não Entregar” e deu início a uma série de propagandas
para auxiliar na colonização do norte do país.
A propaganda do governo foi intensa e parece ter cumprido o seu objetivo de
mobilizar milhares de brasileiros a ocuparem a Amazônia Ocidental, a última região, até então
isolada do resto do país. O crescimento populacional foi enorme e aconteceu de forma rápida,
de acordo com Perdigão e Bassegio (1992, p. 176), no início da década de 1970, Rondônia
tinha 111.064 mil habitantes, dez anos após a implantação do primeiro Projeto Integrado de
Colonização (PIC), em 1980, Rondônia já contava com 493.000 mil habitantes.
Neste contexto, este trabalho pretende analisar 12 propagandas que foram veiculadas
no Jornal Tribuna Popular, entre 1980 e 1984, pelos Governos Federal e Estadual. Segundo
Perdigão e Bassegio (1992, p. 176) apenas neste período da década de 1980, a população do
estado de Rondônia aumentou de 493.000 para 870.000 habitantes. Foram 377.000 mil novos
migrantes em apenas quatro anos, o que confirma o grande fluxo migratório à época da
fundação e dos primeiros anos do jornal Tribuna Popular.
O Jornal Tribuna Popular foi escolhido para ser base deste trabalho por ser o jornal
mais antigo do interior do Estado e o segundo mais antigo de Rondônia, em circulação. Foi
fundado em 1980 e acompanhou, veiculando propagandas e reportagens, o desenvolvimento
de Rondônia.
Durante a execução deste trabalho, foi possível verificar que ainda são poucas as
pesquisas disponíveis em Rondônia que analisam a história da imprensa regional e as
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propagandas que foram veiculadas pelo governo militar sobre a autonomia e o
desenvolvimento de Rondônia.
Para chegar aos resultados pretendidos neste trabalho foi necessário cumprir com
alguns objetivos específicos. No primeiro capítulo a metodologia adotada foi a pesquisa
bibliográfica, que permitiu relatar a história e a colonização de Rondônia, desde a chegada
dos jesuítas, no século XVII, passando pelos ciclos da borracha à colonização encorajada pelo
Governo Federal, até chegar à configuração atual do Estado. Para caracterizar a cidade de
Cacoal, seguiu-se praticamente o mesmo processo, iniciando a partir da colonização através
dos primeiros seringais, da construção da Ponte entre Pimenta Bueno e Cacoal ao longo da
BR 364, à consolidação do PIC Gy-Paraná, bem como seu desenvolvimento ao longo dos
anos.
As fontes que serviram como bases bibliográficas para a execução deste primeiro
capítulo foram: Walfredo Tadeu, Ovídio Amélio Oliveira, João Batista Lopes, Confúcio
Moura, Jacob Binsztok, Francisco Tarcisio Lisboa, Lurdes Kemper, Reginâmio Bonifácio de
Lima, Francisco José Nascimento, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Portal do Governo de Rondônia, Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Prefeitura Municipal de Cacoal, Assembleia
Legislativa de Rondônia, Folha de São Paulo, Francinete Perdigão e Luiz Bassegio.
No segundo capítulo, que aborda o cenário da comunicação no Estado, foi feito um
apanhado geral sobre a comunicação em Rondônia desde os primeiros jornais impressos em
língua inglesa até a configuração atual das mídias em Rondônia. As fontes utilizadas foram o
jornalista Lúcio Albuquerque, o site donosdamidia.com.br, um projeto desenvolvido pelo
jornalista Daniel Herz, que “reúne dados públicos e informações fornecidas pelos grupos de
mídia para montar um panorama completo da mídia no Brasil”, incluindo Rondônia, e o
jornalista e fundador do jornal Tribuna Popular, Adair Antônio Perin.
A partir do terceiro capítulo, tem início a análise dos anúncios. Para isto é apresentada
a metodologia escolhida para a pesquisa, além da apresentação dos conceitos utilizados no
trabalho. Neste capítulo, foram utilizados, principalmente, os autores Laurence Bardin e
Roque Moraes para nortear os processos de análise de conteúdo; J.B. Pinho, Elizabeth Pazito
Brandão, Heloísa Matos e Raquel Cavalcanti Ramos Machado para contextualizar os termos
propaganda e comunicação e Philip Martin Fearnside, Yan Boechat, Martin Coy, W. Belinati
e A. Costa e Silva para contextualizar aspectos econômicos e políticos estudados nesta
pesquisa.
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Por último, através do conteúdo das propagandas governamentais e da pesquisa
bibliografia sobre história regional, é possível constatar que o Governo Federal e o Governo
de Rondônia atraíram milhares de migrantes para a região amazônica. É notório que as
propagandas exerceram importante poder de persuasão nos migrantes que chegaram à
Rondônia a partir da década de 1970. Dessa forma, o objetivo principal é confrontar o que foi
veiculado pelo governo e o que os migrantes realmente encontraram e vivenciaram ao chegar
à nova fronteira agrícola do país.
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1 RONDÔNIA E O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO
Foi durante a segunda metade do século XX, a partir da década de 1960, que a região
amazônica recebeu o seu maior fluxo migratório. A partir de propagandas do Governo Federal
com o slogan “Integrar para não Entregar”, milhares de brasileiros vieram para a Amazônia
para se tornarem donos de suas próprias terras. Mas antes que se chegue a esse período da
história da Amazônia, em especial do Estado de Rondônia, é interessante conhecer as
primeiras tentativas de colonização do “El Dourado” brasileiro.
Segundo Afonso (2008, p. 35), os primeiros relatos de ocupação de Rondônia datam
os séculos XVII e XVIII, com o início da exploração do homem branco em terras amazônicas.
Esse primeiro contato aconteceu por jesuítas, bandeirantes e outros aventureiros que vieram à
região para explorar1 as suas potencialidades, minérios e drogas do sertão. O que surtiu efeito,
uma vez que foi descoberto o ouro em afluentes do rio Guaporé.
De acordo com Teixeira e Fonseca (2001, p. 46), a descoberta do ouro atraiu o
interesse da Corte Portuguesa que fundou, em 1748, a Capitania de Mato Grosso2 como forma
de se fixar na região. Conforme Oliveira (2003, p. 23-25), além da fundação da Capitania, a
Coroa implementou ações de povoamento com o objetivo de garantir a posse da região.
Contudo, devido à intensa exploração de ouro e outros minérios, no final do século XVIII, a
mineração entrou em decadência, fazendo com que a Coroa Portuguesa abandonasse a região
por um período aproximado de 100 anos.
Embora existisse um mercado consumidor, o vale do Guaporé perdera sua
maior fonte de riqueza, o ouro, que não era mais encontrado com facilidade.
1
2
Em busca de riquezas, os primeiros exploradores encontram em Rondônia muitos índios, com os
quais entram em conflito, sobre tudo por usá-los como mão-de-obra escrava. Contudo, pouco se
sabe sobre os indígenas dos séculos XVI, XVII, XIV. O pouco que se encontra são relatos, muitas
vezes literários dos encontros entre índios e homens brancos. É apenas no surgimento do século
XX que surgem referências concretas sobre a realidade indígena no Brasil. De acordo com
estimativas da FUNAI, existiam no Brasil, antes da chegada dos europeus, cerca de 10 milhões de
índios, sendo que, deste total, 5.600.000 habitavam a bacia amazônica. Infelizmente, esses números
diminuíram de maneira drástica. Segundo pesquisas da FUNAI, vivem hoje, no Brasil,
aproximadamente 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, o que não
corresponde a mais de 0,25% da população brasileira. FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO
(S/D). Os índios hoje. Disponível em <www.funai.gov.br/indios/conteudo.htm#HOJE>. Acesso
em 21/01/11.
O território ocupado pela Capitania de Mato Grosso abrangia parte da área onde hoje está o Estado
de Rondônia.
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Isso causou o abandono progressivo da região, uma vez que as fronteiras já
haviam sido demarcadas. (OLIVEIRA, 2003, p. 25).
Apenas no final do século XVIII, a partir de 1877, com a descoberta da borracha,
Rondônia voltou a ser ocupada. Dessa vez, por seringueiros vindos do nordeste brasileiro,
principalmente cearenses que, na época, enfrentavam uma de suas piores secas.
A exploração da borracha teve o seu auge entre os anos de 1879 e 1912, o que foi
chamado o 1º Ciclo da Borracha. Assim como apontam os estudos de Teixeira e Fonseca
(2001, p. 119-124) a mão-de-obra para a extração de látex era proveniente de várias regiões
do Brasil, principalmente nordestinos, e ainda indígenas escravizados e bolivianos que
vinham à Rondônia através dos rios. Estes trabalhadores acabaram por ocupar,
gradativamente, o Vale do Madeira.
Com a desvalorização da borracha no mercado mundial, os seringueiros foram
abandonados à própria sorte nos seringais. Segundo Oliveira (2003, p. 39-40), a região ficou
estagnada por cerca de trinta anos quando, entre 1942 e 1945, a borracha teve sobrevida,
devido à 2ª Guerra Mundial. Os Governos do Brasil e Estados Unidos assinaram o Acordo de
Washington3, que incentivava a extração da borracha nas terras amazônicas e que culminou
com o 2º Ciclo da Borracha4. Nesse novo período de extração do látex, milhares de migrantes
chegaram à Amazônia e se estabeleceram nos seringais remanescentes do Primeiro Ciclo da
Borracha, incluindo os seringais de Rondônia. Contudo, com o final da Segunda Guerra
Mundial, a borracha brasileira perde espaço para a concorrente asiática5 e entra em
decadência. Os seringalistas são novamente abandonados.
3
4
5
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi realizado um acordo entre o Brasil e os Estados Unidos,
Tratado de Washington (1942), cujo objetivo era incentivar a produção do látex brasileiro. Nesse
acordo ficou estabelecido que caberia aos Estados Unidos sanar a malária na região, fornecer os
meios de produção e suporte e financiar 42% do capital inicial para a constituição do Banco da
Borracha. Já ao Brasil caberia financiar 58% do capital inicial para a consolidação do Banco da
Borracha, explorar os seringais e recrutar seringueiros. Foi neste contexto que surgiu o soldado da
borracha, que em sua maioria, era de nordestinos recrutados pelo governo brasileiro por um período
de dois anos para trabalharem na extração do látex. (OLIVEIRA, 2003, p. 39-40).
Foi em 1943, durante o 2º Ciclo da Borracha, que o então Presidente, Getúlio Vargas, assinou o
Decreto-Lei nº 5.812, que definiu, em 13 de setembro, a criação do Território Federal do Guaporé.
Em 1956, o Território passa a ser denominado de Território Federal de Rondônia. (LOPES, 2007,
p. 41)
Em 1876, os ingleses haviam contrabandeado sementes de hevea-brasiliensis da Amazônia para o
Jardim Botânico de Londres. Lá, por meio de enxertos, desenvolvem variedades mais resistentes,
que posteriormente são enviadas para suas colônias na Ásia - Malásia, Ceilão e Cingapura - onde
tem início uma exploração intensiva da borracha natural. A diferença técnica de plantio e extração
do látex no Brasil e na Ásia foi determinante para os resultados da exploração como negócio.
MULTBORR, Larbos. A borracha natural. Disponível em <www.larbosmultborr.com/portal>.
Acesso em 13/10/2010.
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Foi durante os Ciclos da Borracha, especialmente no primeiro, que se iniciou o
projeto da construção de uma estrada de ferro próxima aos Rios Madeira, Mamoré e Guaporé.
Porém, a construção efetiva da ferrovia teve início em 1907 e seu último trecho foi
inaugurado em 1912. A ferrovia tinha como principal objetivo escoar o látex e outros
produtos da região, mas foi prejudicada pela baixa no preço da borracha, pela concorrência
com ferrovias do Chile e da Argentina e, em 1914, pela abertura do Canal do Panamá. Entre
esses e outros fatores, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi sendo parcialmente desativada
a partir de 1930. (LOPES, 2007, p. 35-37).
A construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (E.F.M.M.) foi um marco no
desenvolvimento do estado de Rondônia. Para a construção da ferrovia, muitos migrantes
vieram para a região. Durante este período, 1907 até 1914, as empreiteiras responsáveis pelas
obras encaminharam 21.817 trabalhadores para Rondônia. “Esses trabalhadores tinham como
origem, principalmente, países como Antilhas, Alemanha, Estados Unidos, Portugal, Espanha,
Colômbia e Itália”. (AFONSO 2008, p. 38).
Doenças tropicais, ataques de índios e outros acidentes ceifaram as vidas de milhares
desses trabalhadores. Do restante, parte voltou aos seus países de origem e outra parte se
estabeleceu na região de Porto Velho e Guajará-Mirian, contribuindo na colonização de
Rondônia.
Trabalharam
na
construção
da
Estrada
de
Ferro
Madeira-Mamoré
aproximadamente 21.817 operários, provenientes de diversas nacionalidades. Faleceu um
total de 1.593 operários. (AFONSO, 2008, p. 39).
Outro acontecimento que contribuiu para a integração do estado foi a instalação das
Linhas Telegráficas Estratégicas, no início do século XIX, que propiciou a colonização da
região.
A instalação das Linhas Telegráficas, a partir de 1907, pelo Marechal Cândido
Rondon, ligaria a Amazônia ao estado de Mato Grosso que, por sua vez, já estava interligado
às demais regiões do país. A conclusão da Linha telegráfica aconteceu em 1912. Foi seguindo
as demarcações da Linha Telegráfica de Marechal Rondon, que em 1960, inicia-se a
construção da BR – 364. (TADEU, S/D, p. 108-110). Um fator importante para a
consolidação de Rondônia, uma vez que a estrada ligava, fisicamente, o Estado ao resto do
país. Foi ao longo da BR e nas imediações dos postos instalados ao longo da linha telegráfica
que surgiram as principais cidades de Rondônia.
Traçado esse breve histórico das frentes de colonização do Estado de Rondônia, desde
o século XVI até a abertura da BR-364, é possível analisar agora os primeiros projetos oficiais
do Governo Federal Brasileiro para colonizar a região amazônica, em especial, Rondônia.
20
1.1 PROJETOS OFICIAIS DE COLONIZAÇÃO
A partir da década de 1960 o Governo Federal começou a pensar e desenvolver os
primeiros projetos oficiais de colonização e ocupação da região amazônica. Colonizar a
Região traria soluções para dois problemas: o primeiro era integrar a última região isolada ao
resto do país; o segundo, acabar com os conflitos de terra existentes nas demais regiões do
Brasil, visto que a Amazônia oferecia uma vasta área a ser desbravada.
Para viabilizar a colonização da região, de acordo com Reginâmio Bonifácio de Lima
e Francisco José Nascimento (S/D), o Governo Federal teve que implantar políticas públicas
de suporte. Foi quando surgiu a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
(SUDAM), o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o Programa de
Redistribuição de Terras e Estímulo à Agricultura do Norte (PROTERRA). Tanto o INCRA
quanto o PROTERRA faziam parte das metas do Plano de Integração Nacional (PIN) do
Governo Federal para a ocupação da região amazônica.
O Governo Federal, através do INCRA, desenvolveu dois tipos de projetos de
colonização para a Amazônia, o PIC e o PAD. No primeiro, Projetos Integrados de
Colonização, o INCRA assumia a responsabilidade da distribuição de lotes, de organização
territorial e de instalação da infraestrutura de apoio aos colonos; o segundo, Projeto de
Assentamento Dirigido, era voltado, principalmente, ao profissional liberal/agricultor, em que
o beneficiário da distribuição de terra era mais especializado, com um pouco mais de recursos
e experiência com crédito bancário. Outra diferença entre esses dois tipos de assentamento era
o tamanho da área: nos PICs, 100 hectares e no PAD, lotes de 250, 500 e 1000 hectares.
(LISBOA, 2009).
Em Rondônia, foram os Projetos Integrados de Colonização que guiaram a
colonização do Estado, que teve início com o projeto de assentamento do PIC Ouro Preto em
1970, assim como traz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010):
Em 1970, o INCRA iniciou em Ouro Preto, antiga área de seringais, região
de terra roxa, à 40 km da cidade de Ji-Paraná (antiga Vila de Rondônia), o
assentamento de 500 famílias migrantes através de Projeto Integrado de
Colonização, PIC – Ouro Preto, depois de já iniciada a corrente migratória
para Rondônia. O plano inicial do INCRA previa uma capacidade de
atendimento de 2.000 famílias, mas em 1973 já contava com mais de 3.000
famílias localizadas na área, cada uma com 100 hectares de terra. O total de
21
migrantes que se dirigiram a Ouro Preto, em pouco mais de três anos foi
calculado em cerca de 25.000 pessoas.
Após forte propaganda feita pelo Governo Federal em todo o Brasil, migrantes vieram
de todas as partes do país em busca da terra prometida para se tornarem donos da própria
terra. As facilidades apresentadas pelo Governo para a colonização da Amazônia foram o
maior atrativo da região, como salienta Binsztok (2008, p. 4):
Analisando o processo de colonização implantado pelo INCRA nos anos 70,
verificamos que o Regime Militar utilizou dois instrumentos para viabilizar a
ocupação dos chamados “vazios demográficos” de Rondônia. Inicialmente,
priorizaram a consolidação da BR-364, principalmente no trecho Cuiabá/
Porto Velho, que direcionou o fluxo de camponeses expropriados pela
modernização agrícola ocorrida nas regiões Sul e Sudeste do país.
Posteriormente foram implantados os Projetos Integrados de Colonização
(PIC), que ocuparam uma faixa de 100 km de cada lado da BR-364,
repartindo em lotes de aproximadamente 100 ha, distribuídos pelo INCRA
para atenuar os inúmeros focos de tensão existentes no espaço agrário do sul
e sudeste do país. A BR-364 e o Projeto Integrado de Colonização (PIC)
cumpriram suas finalidades geopolíticas, pois criaram novas esferas de poder
local e contribuíram para a construção de uma nova ordem territorial em
Rondônia.
A implantação dos PICs trouxe para Rondônia migrantes de todos os lugares do país,
principalmente, da Região Sul e Nordeste. De acordo com Perdigão e Bassegio (1992, p. 176),
no início da década de 1970, Rondônia tinha 111.064 mil habitantes. Dez anos após a
implantação do primeiro Projeto Integrado de Colonização, em 1980, Rondônia já contava
com 491.069 mil habitantes. Enquanto o Brasil crescia, nesse período (70/80), 2%, o Estado
de Rondônia tinha um crescimento populacional de 16,01%. As cidades que mais recebiam
migrantes eram: Vilhena, Pimenta Bueno, Cacoal, Ji-Paraná, Ouro Preto, Ariquemes e Porto
Velho.
Rondônia foi sacudida pelo mais espetacular movimento humano. O silêncio
das florestas foi interrompido. A propaganda do governo tinha dado certo.
Mobilizou o país inteiro com comunicação pesada para implantar o maior
projeto de reforma agrária – a colonização da Amazônia. [...] Uma nova
fronteira agrícola. A frase caiu como uma bomba. Mexeu com os interesses e
esperanças de milhares de pobres sem terras de todas as regiões do país.
(MOURA, 2002, p.44).
Entre os anos de 1970 e 1974, foram criados cinco Projetos Integrados de
Colonização. Posteriormente, todos esses cinco projetos deram origem aos municípios de
Ouro Preto do Oeste, Guajará Mirim, Jaru, Cacoal e Colorado d’Oeste. A migração foi tão
intensa que, em pouco tempo, as áreas destinadas para colonização se esgotaram, fazendo
22
surgir novos projetos. Por fim, já na década de 1980, foram desenvolvidos os Projetos de
Assentamento Rápido (PAR), a fim de dar conta do intenso fluxo de migrantes que chegava à
Rondônia. (OLIVEIRA, 2007, p 118-122).
Contudo, a demanda continuava grande e o governo já não conseguia suprir as
necessidades da população. Os migrantes que chegavam à busca de terra fácil não a
encontravam e passaram a entrar em conflito com os migrantes que já haviam conquistado o
direito e possuíam lotes de terra. Os conflitos, mais o fluxo migratório, fizeram com que o
Governo Federal buscasse medidas para solucionar os problemas na colonização. A saída
encontrada foi elevar Rondônia à categoria de Estado.
Assim, em 22 de dezembro de 1981, Rondônia se tornou Estado através da sanção do
Presidente Militar João Batista Figueiredo, pela Lei Complementar 41. O processo de
instalação do Estado aconteceu em quatro de janeiro de 1982, sendo Jorge Teixeira de
Oliveira nomeado primeiro governador do Estado. (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE
RONDÔNIA, 2011).
A instalação do Estado deu-se em 4 de janeiro de 1982, sendo nomeado,
então, o Coronel Jorge Teixeira como o seu primeiro Governador. A posse
do governo deu-se no mesmo dia e dentre seus principais atos destacam-se a
estruturação do judiciário e a criação do Tribunal de Contas do Estado de
Rondônia. Em 7 de junho de 1983, foi aprovada pela comissão de revisão
constitucional da Assembleia Estadual de Rondônia a Constituição do
Estado. (TEIXEIRA; FONSECA, 2001, p. 179).
Após a elevação de Rondônia à categoria de Estado, Jorge Teixeira continuou
trabalhando para melhorar a infraestrutura do estado. Ainda em sua gestão, Teixeira concluiu
a pavimentação da BR-364, a construção do Hospital de Base e de um complexo penitenciário
em Porto Velho, implantou o Banco do Estado de Rondônia, a Universidade Federal de
Rondônia - UNIR, e ainda construiu dezenas de colégios em diversas cidades do estado.
(OLIVEIRA, 2003, P.144).
Como visto anteriormente, todas essas ações foram pensadas e fizeram parte do Plano
de Integração Nacional, uma vez que era necessário oferecer infraestrutura para que os
migrantes se fixassem na região. As políticas desenvolvimentistas, características do regime
Militar, foram o principal instrumento para viabilizar a ocupação de Rondônia. Dessa forma,
foram essas políticas desenvolvimentistas, propagadas ao restante do país, através de
propagandas governamentais, que atraíram milhares de migrantes para Rondônia.
É neste sentido, que nos próximos capítulos, este trabalho pretende analisar as
propagandas governamentais divulgadas entre 1980 e 1984. Mas antes, precisamos entender
23
como se configura, hoje, o Estado de Rondônia, uma vez que o cenário atual é resultado das
políticas que guiaram a ocupação desta região.
1.2 RONDÔNIA HOJE
Atualmente, o Estado de Rondônia é composto por 52 municípios, cuja capital é a
cidade de Porto Velho. As cidades mais populosas são Porto Velho, Ji-Paraná, Ariquemes,
Cacoal e Vilhena, todas ao longo da BR-364. De acordo com o IBGE, em 2009, a população
do Estado era de, aproximadamente, um milhão e meio de habitantes. O que torna Rondônia o
3º estado mais populoso da Região Norte.
A população rondoniense é heterogênea. Destacam-se paranaenses, paulistas,
mineiros, gaúchos, capixabas, baianos e mato-grossenses, que integram, principalmente, o
interior do estado, além da presença marcante de cearenses, maranhenses, amazonenses e
acreanos na capital Porto Velho.
Rondônia é responsável por 11,2% do Produto Interno Bruto (PIB) da Região Norte, o
que o torna o 3º estado mais rico dessa região. Possui ainda o 3º maior Índice de
Desenvolvimento Humano, o 3º maior PIB per capita, a 2ª menor taxa de mortalidade infantil
e a 3ª menor taxa de analfabetismo entre todos os estados das regiões Norte e Nordeste do
país. (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO-PNUD,
2005).
De acordo com o IBGE, em 2006, a população de Rondônia se dividia da seguinte
forma: na religião, 57,5% católicos; 27,8% protestantes; 4,5% espíritas; 4,5% integram outra
religião e os que não possuem nenhuma religião representam 10,2% da população. Em relação
às etnias, 53,8% da população do estado se consideram pardos; 36,8%, brancos; 7,3%, negros;
e 2,2% se consideram amarelos ou indígenas.
A economia do Estado de Rondônia tem como principais atividades a agricultura, a
pecuária, a indústria alimentícia e o extrativismo vegetal e mineral. Rondônia tem se tornado
destaque no setor energético. O estado conta com a Usina Hidrelétrica de Samuel, localizada
no município de Candeias do Jamari e diversas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). Além
disso, estão sendo construídas em Rondônia, duas grandes obras, as usinas hidrelétricas de
Santo Antônio e Jirau.
24
A aprovação da construção dessas usinas, por sua vez, gerou amplas discussões sobre
os possíveis impactos ambientais na região. Estas discussões reverberaram tanto, na mídia
regional, nacional e internacional, que divulgaram conteúdos de diferentes grupos, como
ambientalistas, construtoras, representantes do governo, entre outros.
De acordo com o Governo Federal, as usinas de Santo Antônio e Jirau seriam
importantes para reduzir as deficiências do Brasil no setor energético e também de obras, para
suprir a infraestrutura necessária para que a região possa se alinhar economicamente ao resto
do país. Contudo, com as obras aprovadas e em andamento, os ambientalistas já não são o
foco das atenções. Agora, as discussões giram em torno de centrais sindicais e de pessoas que
não veem as usinas como uma grande obra em benefício dos rondonienses. Na verdade, nem
mesmo os rondonienses ainda entenderam como as Usinas irão beneficiá-los.
No andamento das obras destas usinas emanam os problemas sociais que questionam a
execução de grandes projetos, como aponta a reportagem veiculada na Folha Online (2011).
Após o início das obras no Rio Madeira, a criminalidade em Rondônia aumentou
significativamente, entre os principais crimes estão homicídios e exploração sexual de
crianças e adolescentes.
A região das obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia,
registra uma explosão de criminalidade e de casos de exploração sexual de
crianças e adolescentes. O aumento dos problemas supera o ritmo do
crescimento populacional. [...] As usinas começaram a ser construídas no
segundo semestre de 2008. A população de Porto Velho, onde estão as duas
obras, cresceu 12,5% entre aquele ano e 2010. A expansão populacional de
Rondônia foi de 2,7%. [...] o número de homicídios dolosos na capital
aumentou 44% no mesmo período. [...] O número de estupros em Rondônia
cresceu 76,5% de 2008 a 2010. A quantidade de crianças e adolescentes
vítimas de abuso ou exploração sexual subiu 18% no período.
(FOLHA.COM, 2011).
Outro fato que atraiu a atenção do Brasil para Rondônia foram os conflitos intensos
entre trabalhadores das usinas que reivindicaram melhores condições de trabalho em março de
2011. A precariedade das instalações e a dificuldade em visitar suas famílias, desencadearam
uma série de ações violentas que resultaram em carros e alojamentos incendiados nas
instalações mantidas pelo consórcio de Jirau. A violência dos conflitos levantou uma
polêmica no país inteiro sobre as condições de trabalho oferecidas aos mais de 20 mil
trabalhadores das Usinas do Madeira.
De acordo com o Governo Federal, a construção das Usinas do Madeira são obras que
visam ao desenvolvimento do Estado de Rondônia. Esse discurso atual do governo pode ser
25
visto como uma reedição da política desenvolvimentista da ditadura, que com o objetivo de
integrar o estado ao resto do país, dotou Rondônia de grandes obras de infraestrutura como a
pavimentação da BR-364 e a construção da usina Hidrelétrica de Samuel.
Através destes dois momentos da história de Rondônia, percebe-se que o
desenvolvimento do Estado foi amparado por grandes obras de infraestrutura, e são essas
obras que acabam se tornando os grandes atrativos para Rondônia. Se entre a década de 1970
a 1980, a população de Rondônia aumentou em mais de 300 mil habitantes, nos dois anos
após o início da construção das usinas, o crescimento populacional da cidade de Porto Velho,
girou em torno de 12%.
1.3 CACOAL – A FORMAÇÃO DE UMA CIDADE
Os primeiros registros de ocupação da área que compreende o município de Cacoal
datam o ano de 1920. Foi nessa época que o paraibano Anísio Serrão de Carvalho,
responsável pelos trechos entre as estações telegráficas de Pimenta Bueno e Presidente
Hermes, atualmente Presidente Médici, requereu do Governo uma extensão de terras para
cultivar e extrair borracha. Anísio tomou posse de uma área que, hoje, compreende parte do
município de Pimenta Bueno até o atual centro urbano de Cacoal.
O Coronel Rondon sugeriu ao seu guarda-fios Anízio Serrão de Carvalho
que construísse uma casa às margens do Rio Machado ou Ji-Paraná, nas
proximidades da foz do Igarapé Pirarara, e requeresse o local para instalação
de um seringal. No lugar havia muito cacau nativo, o que levou o Sr. Anízio
Serrão denominar de Cacoal a sede do seringal que se formava. (IBGE,
2010).
Foi a partir da instalação de Anísio Serrão, na área onde hoje está Cacoal, que vários
outros seringueiros se instalaram. Eram basicamente nordestinos vindos, principalmente, da
Paraíba e do Ceará e que deram início à colonização da cidade de Cacoal.
Uma das principais situações, que contribuiu de forma efetiva para a ocupação da
cidade de Cacoal, foi a BR-364. “A partir da construção da rodovia, na década de 1960, várias
famílias se estabeleceram entre Cacoal e Pimenta Bueno para trabalhar na construção de uma
ponte que ligaria as duas cidades”. (KEMPER, 2006, p. 26).
26
Dessa forma, é possível afirmar que os primeiros moradores de Cacoal foram
seringueiros, trabalhadores da BR-364 e, posteriormente, migrantes que chegaram à região
para fornecer subsídios aos que já moravam entre as duas cidades, como aponta Binsztok
(2008):
A expansão da Vila e o aumento do tráfego pela rodovia motivaram alguns
pioneiros para iniciativas inovadoras, como a construção de pequenos
estabelecimentos comerciais destinados ao atendimento do fluxo rodoviário:
restaurantes, postos de gasolina, oficinas de reparos de veículos, hotéis, etc.
1.3.1 - A Colonização Encorajada Pelo Governo
A colonização definitiva de Cacoal, assim como a do restante do Estado de Rondônia,
começa a partir da década de 1970, quando o Governo Federal cria os Projetos de
Colonização para desafogar os grandes centros do país. Foram com os Projetos Integrados de
Colonização que Rondônia e Cacoal receberam milhares de migrantes vindos, principalmente,
das regiões sul e nordeste.
Como já visto anteriormente, a implantação dos PICs em Rondônia teve início com o
PIC – Ouro Preto. Com a consolidação desse PIC, na região das cidades de Ouro Preto
D’Oeste e Ji-Paraná aconteceu, em 1972, a demarcação e distribuição, pelo INCRA, de lotes
do PIC Gy-Paraná.
O Projeto foi implantado na região de Cacoal devido à concentração natural de
migrantes ainda na época dos seringais e da construção da BR-364 na área onde, hoje, se
localiza a cidade. O PIC Gy-Paraná foi implantado com uma área prevista de 486.137 ha e
assentamento de cinco mil famílias por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA- e pela portaria nº 1.443. O Governo instalou em 17 de junho de 1972 a
agência do Projeto Integrado de Colonização – PIC- Gy-Paraná.
Pesquisando as origens das cidades de Rondônia, Silva Filho (1995), relata
os primórdios da cidade de Cacoal, mostrando que, em 1972, à margem da
antiga BR 29 (364), perto do barracão de uma antiga fazenda, acamparam
um razoável número de pioneiros provenientes de vários pontos do país e
ficaram aguardando a demarcação e distribuição pelo INCRA de lotes do
Projeto Integrado de Colonização Ji- Paraná, com uma área prevista de
486.137 ha destinada ao assentamento de 5.000 famílias. (BINSZTOK,
2003, p. 9).
27
Devido à facilidade de adquirir terras e a rapidez do INCRA em assentar os migrantes,
o fluxo de migração em Cacoal foi se tornando cada vez mais intenso e passou a dificultar e
atrasar o serviço do INCRA. Devido a essa situação, o Governo teve que tomar suas primeiras
medidas em relação ao PIC-Gy-Paraná. A primeira foi o envio de uma Guarda Territorial para
conter os conflitos pela aquisição de terras, que haviam se tornado constantes. Em seguida,
houve a nomeação do primeiro administrador do subdistrito de Cacoal, Antônio José de
Araújo Lima. (KEMPER, 2006, p. 54-55). Posteriormente, várias outras medidas foram sendo
tomadas para facilitar e promover a permanência dos migrantes em Cacoal.
Até 1976 o INCRA já havia assentado, aproximadamente, 3 mil famílias, e a
população da Vila de Cacoal, em 4 anos, era formada por, aproximadamente, 10 mil
habitantes. Devido ao crescimento acelerado da região, depois da forte propaganda feita pelo
Governo Federal para a colonização da Amazônia, em 11 de outubro de 1977 foi criado o
município de Cacoal, através da lei sancionada pelo então Presidente, Ernesto Geisel.
Catarino Cardoso dos Santos foi nomeado o primeiro prefeito de Cacoal.
Os procedimentos do INCRA, em consonância com o ordenamento proposto
pelo regime militar, rapidamente elevaram Cacoal à categoria de município.
Assim, o município foi criado pela lei nº 6.448, de 11 de outubro de 1977,
com limites definidos pelo Decreto nº 81.272, de 30 de janeiro de 1978 [...]
Os limites do município foram assim estabelecidos: ao norte com o Estado
de Mato Grosso; ao oeste com o município de Ministro Andreazza; ao sul
com o município de Rolim de Moura; a leste/sudeste com o município de
Pimenta Bueno e a leste/norte com o município de Espigão D’Oeste.
(BINSZTOK, 2001).
Desde a instalação do PIC Gy-Paraná, Cacoal foi colonizada, principalmente, por
migrantes vindos das regiões sul, sudeste e nordeste. Esses últimos, que já ocupavam a região
desde os ciclos da borracha, continuavam encabeçando a ocupação de Rondônia. Vale
lembrar que Cacoal foi emancipada quando Rondônia ainda não havia se tornado estado,
sendo apenas Território Federal. Rondônia se emanciparia apenas em 1981.
É a partir de 1980 que Cacoal começa a se desenvolver. Na política, as primeiras
eleições municipais aconteceram em novembro de 1982. Nessa primeira eleição, a cidade
elegeu prefeito, vice e quinze vereadores. PT, PMDB e PDS foram os três partidos que
concorreram na primeira eleição municipal de Cacoal. (KEMPER, 2006, p. 78).
Em 1983, seis anos após ser elevada à categoria de município, Cacoal atingiu o maior
contingente populacional de sua história, cerca de 120 mil habitantes. Contudo, Rolim de
Moura, que ainda fazia parte do território de Cacoal, foi emancipada em agosto do mesmo ano
e absorveu cerca de 40% da população de Cacoal. (KEMPER, 2006, p. 114).
28
A educação no município de Cacoal começa a ganhar destaque a partir de 1987,
quando se instala na cidade a primeira instituição particular de ensino superior do estado de
Rondônia, a Faculdade de Educação de Cacoal - FEC. Dois anos depois, Cacoal recebe um
Campus da Universidade Federal de Rondônia e a criação da Escola Família Agrícola Padre
Ezequiel Ramim6. Em 2009, de acordo com o IBGE, Cacoal possuía 48 instituições com o
Ensino Fundamental, 15 com o Ensino Médio e 27 com a Pré-Escola. Além disso, Cacoal
possui duas instituições privadas de ensino superior, Unesc e Facimed, além de um campus da
Universidade Federal de Rondônia e uma instituição de Ensino a Distância - Unopar.
O primeiro hospital de Cacoal foi construído ainda em 1974. Funcionava de forma
improvisada e era o único dessa região do estado. Vários outros hospitais surgiram ao longo
dos anos. Em 2010, a cidade contava com 30 instituições de saúde, entre eles o Hospital
Regional, mantido pelo Governo do Estado e o Hospital do Câncer – São Daniel Comboni,
inaugurado em outubro de 2011, um hospital filantrópico através de uma iniciativa da Igreja
Católica. Além disso, a cidade conta com 8 estabelecimentos de saúde mantidos pela
Prefeitura Municipal e 21 instituições privadas de saúde. (IBGE, 2010).
De acordo com o censo do IBGE - 2010, o PIB total da cidade de Cacoal chega a
R$832 milhões. A economia do município gira em torno, principalmente, da agropecuária,
responsável por R$163.034 milhões do PIB, da indústria R$ 122.044 milhões e do setor de
serviço, como saúde e educação, responsável por R$547.689 milhões do PIB do município. A
atividade comercial de Cacoal é diversificada, são cerca de quatro mil empresas ativas.
Conforme o censo do IBGE - 2010, a população de Cacoal é de 78.601 habitantes. A
população é formada, principalmente, por pessoas oriundas dos estados do Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Minas Gerais e dos estados do Nordeste.
6
Padre Ezequiel Ramim foi um missionário italiano assassinado por fazendeiros em Rondolândia MT, a 75 quilômetros de Cacoal, em 1985. Pe. Ezequiel defendia os direitos dos índios, posseiros e
lutava pela dignidade do povo da região, principalmente de Cacoal.
29
2 O JORNALISMO IMPRESSO EM RONDÔNIA
A história do jornalismo em Rondônia surgiu quando Rondônia não era, nem mesmo,
Território Federal. Segundo o jornalista Lúcio Albuquerque (2009, p. 17), “o primeiro jornal
a circular na região onde hoje se situa Rondônia, foi o jornal Humaithense7 em 1891”. O
jornal circulou até pouco depois do fim do primeiro ciclo da borracha. Os primeiros jornais
que foram impressos na região do Estado de Rondônia eram todos em língua inglesa. Isso
porque, eram produzidos pelos construtores da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. O primeiro
jornal a circular em inglês foi o The Porto Velho Times em 1909, com 200 exemplares. O
segundo jornal em língua inglesa foi o The Porto Velho Marconigam que circulou pela
primeira vez em 1911. Outro jornal que circulou também em inglês foi o The Porto Velho
Courier. Todos esses jornais eram impressos na cidade de Porto Velho. (ALBUQUERQUE,
2009, p. 25-27).
Figura 1 – Jornal em língua inglesa
Fonte: Albuquerque, 2009.
7
Em 1891, a área onde se situava a cidade de Humaitá – AM englobava a região onde hoje está a
cidade de Porto Velho – RO. Isso porque até 1943 o território de Rondônia estava dividido entre
Amazonas e Mato Grosso. Foi nesse ano que a área do atual Estado de Rondônia se tornou
Território Federal do Guaporé.
30
Depois do surgimento de jornais em língua inglesa, circulou em Santo Antônio o
primeiro jornal em português de Rondônia, o Extremo Norte. O jornal era semanário e
circulou pela primeira vez em janeiro de 1913. Em Porto Velho, o primeiro jornal em língua
portuguesa circulou em 1915. O Município tinha uma tiragem de 200 exemplares e circulava
aos domingos. O jornal teve vida curta. Em 1917 seu maquinário e todos os equipamentos
foram vendidos para o jornal O Alto Madeira, cuja primeira edição circula em 15 de abril de
1917. O Alto Madeira foi um dos principais jornais de Rondônia e esteve presente em muitos
fatos que marcaram a história do estado, como observa Albuquerque (2009, p. 31-33):
Dentre outros fatos, o AM (Alto Madeira) noticiou o fim da I Guerra
Mundial, os problemas com a quebra da borracha, a nacionalização da
Madeira-Mamoré, a visita do presidente Getúlio Vargas em 1940, a criação
do Território, as primeiras disputas políticas, a descoberta da cassiterita, a
abertura da BR-29 (BR-364), a implantação dos primeiros municípios na
BR-364, a luta pela criação do Estado, as crises políticas, a questão das duas
hidrelétricas do Madeira.
O primeiro órgão oficial do Governo foi o semanário O Guaporé, que circulou pela
primeira vez em 1947. Este veículo de comunicação sobreviveu apenas por um ano e sua
última edição circulou no dia 31 de julho de 1948. O primeiro jornal de Rondônia a ser
impresso em rotativa foi A Tribuna, que surgiu em 1976 e circulou as segundas-feiras. Este
circulou até o final da década de 1980. Em 1980 foi criado então O Estadão do Norte e foi o
primeiro a circular, de forma efetiva, em todas as cidades do Estado. Este jornal foi o primeiro
de Rondônia a implantar um caderno especial sobre política e também com a cobertura diária
de notícias das cidades do interior do estado, foi o primeiro de Rondônia a implantar um
caderno especial sobre política. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 43-50).
2.1 O INÍCIO DO JORNALISMO IMPRESSO NAS PRINCIPAIS CIDADES
DO INTERIOR DE RONDÔNIA
Na década de 1980, dois jornais entraram em circulação em Guajará-Mirim. O
primeiro foi o jornal O Imparcial e sua primeira edição circulou em novembro de 1951, no
inicio da década de 1980, passou a ser impresso na cidade de Porto Velho, mas teve curta
31
duração. Também na década de 1980, surge o jornal Mamoré, que continua circulando em
Guajará-Mirim. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 67-68).
Em Ariquemes, o primeiro jornal foi o semanário O Parceleiro, em 1970. Logo após a
sua criação, o jornal passa a circular diariamente, se tornando o primeiro jornal diário do
interior de Rondônia. Devido a inúmeras dificuldades, O Parceleiro circulou apenas até a
primeira metade da década de 1980. Entre as dificuldades enfrentadas pelo jornal, estavam a
falta de energia, constante em Rondônia, e a não pavimentação da BR-364. Esses problemas
foram enfrentados por muitos jornais do interior do estado, que pela inviabilidade e
dificuldade tiveram vida curta. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 69).
Quando Ji-Paraná ainda era denominada Vila de Rondônia8, surgiu o jornal A Palavra,
que circulou até a década de 1980. Dez anos após a extinção deste jornal, surgiu o jornal
Correio Popular, que circula até hoje nas cidades da região de Ji-Paraná. Já no final da
década de 1990, em 1999, nasceu o jornal Folha de Rondônia, com circulação diária, é
distribuído em todas as cidades do estado e já se tornou um dos maiores jornais de Rondônia.
(ALBUQUERQUE, 2009, p. 71-72) .
O primeiro jornal a surgir na cidade de Pimenta Bueno foi o jornal Voz da Terra, em
1983, que circulou apenas até 1984, quando surgiu o jornal O Povo, também com vida curta.
Atualmente um dos principais jornais de Pimenta Bueno é o Folha Pimentense, que circulou
sua primeira edição na década de 1990. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 73).
A cidade de Vilhena é uma das que mais se destaca em relação ao jornalismo impresso
no interior de Rondônia. A cidade conta com os jornais: Folha do Sul, Correio de Notícias e
Folha de Vilhena. Além destes três principais veículos, Vilhena conta ainda com os jornais
Rondosul e Jornal do Servidor.
Já em Cacoal, o primeiro jornal a ser impresso foi o jornal Tribuna Popular, em 1980.
O jornal é o mais antigo do interior do estado em funcionamento. Ainda em Cacoal, surgiu em
1993, o jornal A Gazeta de Rondônia, que atualmente tem circulação diária em todo o estado.
(ALBUQUERQUE, 2009, p. 70).
8
A atual cidade de Ji-Paraná já foi denominada, sucessivamente, Vila Urupá, Presidente Penna e
Vila de Rondônia. Em 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto Geisel concedeu emancipação
política à Vila de Rondônia, onde surgiu a cidade de Ji-Paraná.
32
2.2 O CENÁRIO ATUAL DA COMUNICAÇÃO EM RONDÔNIA
Um dos poucos estudos sobre a imprensa e os veículos de comunicação no estado de
Rondônia, consta no “Projeto Donos da Mídia”, desenvolvido pelo jornalista Daniel Herz
(2011). Como aponta o próprio site, o donosdamidia.com.br “reúne dados públicos e
informações fornecidas pelos grupos de mídia para montar um panorama completo da mídia
no Brasil”. No site estão detalhadas diversas informações sobre emissoras e retransmissoras
de TV; rádios AM, FM, Comunitárias; operadoras de TV a cabo; canais de TV por assinatura;
e as principais revistas e jornais impressos.
De acordo com o projeto Donos da Mídia, existem em Rondônia, atualmente, noventa
e três (93) veículos de comunicação. O estado recebe o sinal de 14 redes de TVs, através de
seis geradoras de TV e 155 retransmissoras, quatro delas pertencem a grupos religiosos, entre
eles a Igreja Assembleia de Deus. Rondônia ainda possui 18 rádios AMs e 26 FMs, onde se
destaca o Sistema de Rádio e Comunicação/Sistema Meridional de Comunicação, que possui
sete veículos, o Grupo é afiliado a duas redes de televisão, SBT e Band, e possui ainda 5
rádios FM. Outro grupo de grande destaque no estado de Rondônia é o Sistema Gurgacz de
Comunicação (SGC), que atua em vários segmentos, entre eles televisão, através da RedeTV,
e no jornalismo impresso através do jornal Diário da Amazônia.
Outros grupos se destacam no estado, entre eles a Rede Amazônica, afiliada à rede
Globo, o Sistema Imagem de Comunicação (SIC) - afiliado à rede Record, Igreja Evangélica
Assembleia de Deus no Amazonas - que controla a rede RBN (TV) e ainda o grupo Gov. BR,
que controla a rede de televisão EBC.
O site Donos da Mídia registra ainda 11 jornais impressos, sendo três na capital do
estado, Porto Velho: Diário da Amazônia, O Estadão do Norte e O Guaporé. No interior do
estado, os jornais se distribuem por Vilhena, Folha de Vilhena e Folha do Sul; Ariquemes, O
Vale do Jamari; Ji-Paraná, Folha de Rondônia e Correio Popular de Rondônia; Espigão
D’Oeste, O Cone Sul; e Cacoal, A Gazeta de Rondônia e Tribuna Popular.
De acordo com levantamento realizado, entre abril e julho de 2011 não constam no
“Projeto donos da mídia” os jornais: Voz do Povo e Jornal de Rondônia, de Alta Floresta;
Folha do Vale, região do Vale do Guaporé; Jornal Nossa Folha, de Ariquemes; A Notícia, de
Jaru; Alto Madeira, O Observador e O Rondoniense, de Porto Velho; Folha da Mata, de
Rolim de Moura; Vale do Jamari, do Vale do Jamari; Por Dentro da Notícia, de Presidente
33
Médici; Rondosul, Jornal do Servidor e Correio de Notícias, de Vilhena; O Clarim e O
Liberal, de Cacoal.
2.3 UM BREVE HISTÓRICO DO JORNAL TRIBUNA POPULAR
A história do jornal Tribuna Popular está intimamente ligada ao desenvolvimento da
Amazônia. A implantação das políticas desenvolvimentistas do Governo Militar e a
propaganda estatal atraíram, a partir da década de 1970, um grande contingente populacional
para o Estado de Rondônia. Após este auge9 da colonização de Rondônia, surge em 1980, o
primeiro jornal do município de Cacoal.
Adair Antônio Perin nasceu em nove de março de 1953 na cidade de Chapecó, Santa
Catarina. Filho de pais gaúchos, Perin e sua família mudaram para o Paraná, quando ele ainda
era criança. Naquele estado, a família vivia basicamente da agricultura, tendo em curtos
períodos, se dedicado a pequenos comércios, como um pequeno hotel e também um bar.
Foi ainda no Paraná que Perin teve a primeira experiência com o escrever e publicar.
Quando cursa o ensino fundamental em uma escola de Toledo, Perin e um amigo decidiram
publicar um pequeno jornal estudantil. No início O Reflexo era impresso em um mimeógrafo,
com quatro páginas. Este abordava assuntos do ambiente escolar e era custeado por Perin e
seu colega que, muitas vezes, contavam com a colaboração de alunos e professores da escola.
A publicação escolar que era impressa em mimeógrafo foi, posteriormente, reproduzido em
uma gráfica da cidade, como relata Perin (2011):
Nós tivemos acesso a uma gráfica, para fazer um outro material impresso (a
parte), e nós comentamos com a dona da gráfica que nós imprimíamos um
jornalzinho estudantil no mimeógrafo, daí a dona da gráfica sugeriu da gente
imprimir na gráfica. Ela fez um orçamento pra gente e tal, daí sim nós fomos
atrás de patrocinadores para poder imprimir o jornal. Daí nós começamos a
ir atrás de publicidade e o jornal começou até a ser rentável. Nós pagávamos
as despesas e ainda sobra um dinheirinho no caixa. Quando nós
imprimíamos em mimeógrafo, nós distribuíamos uns 200 exemplares pela
9
Assim como visto no capítulo 1 deste trabalho, de acordo com o IBGE (1991, 1995), no início da
década de 1970, Rondônia tinha 111.064 mil habitantes. Dez anos após a implantação do primeiro
Projeto Integrado de Colonização, em 1980, Rondônia já contava com 491.069 mil habitantes.
Enquanto o Brasil crescia, nesse período (70/80), 2,48%, o Estado de Rondônia tinha um crescimento
populacional de 16,03%.
34
escola, mas depois, quando começamos a imprimir na gráfica, passamos a
atender a todo o alunado da escola, passava de 400 exemplares. [sic]
Foi a experiência neste jornal estudantil que ofereceu a Perin a chance de trabalhar em
um jornal da cidade. A gráfica onde Perin imprimia O Reflexo era a dona do jornal Voz do
Oeste, da cidade de Toledo. Assim surgiu a proposta para que o jovem trabalhasse na área
comercial do semanário. Esporadicamente, Perin escrevia matérias sobre assuntos diversos. O
trabalho no jornal Voz do Oeste era feito nos horários vagos de Perin, que também acumulava
a função de contador na prefeitura de Toledo.
Quando ainda trabalhava no jornal e na prefeitura, Perin resolveu visitar alguns
parentes que, em 1972, se mudaram para Rondônia. Esses parentes, pais, irmãos e cunhados,
vieram para Rondônia influenciados pela propaganda do governo federal para colonizar a
região. Em busca da terra fácil, parte da família de Perin e muitas outras famílias do Brasil se
mudaram para o então Território Federal de Rondônia.
Perin conheceu Rondônia em 1979, quando visitou os parentes na cidade de Cacoal. A
sua primeira impressão da nova terra foi boa, como conta o próprio jornalista:
A gente fez uma opção de vir conhecer Rondônia e nos entusiasmamos com
Cacoal, que era na época, aquela vibração toda [...] como todo o pessoal,
tinha o sonho da terra. [...] Era uma cidadezinha pequena, com muita poeira.
Praticamente todas as casas eram de madeira. Mas um movimento muito
grande, muito animador. O pessoal era entusiasmado, alegre e a gente se
envolveu nessa onda aí também, e resolvemos vir pra cá. [...] A minha irmã
que morava aqui sabia que eu trabalhava na prefeitura lá de Toledo e disse
que era fácil arrumar um emprego aqui em Cacoal, e ela foi junto comigo
falar com o prefeito. Aí eu lembro que o prefeito olhava a minha carteira de
trabalho e analisava, ele fez algumas perguntas, [...] aí eu expliquei tudo pra
ele e ele disse: “Pode vir, você está contratado” e para ganhar um pouco
mais do que eu ganhava em Toledo. Não teve como deixar de vir! [sic]
(PERIN, 2011).
Apesar do grande fluxo migratório e das milhares de pessoas que chegavam à Cacoal,
a mão de obra especializada na cidade era pouca. Dessa forma, por possuir certa experiência
na área de contabilidade, Perin foi contratado de imediato, quando fazia apenas uma visita aos
parentes. Com a proposta de trabalho, Perin voltou ao Paraná, convenceu a esposa e se
mudaram para Rondônia, ainda em 1979.
Com menos de um ano morando em Cacoal, Perin notou a ausência de veículos de
comunicação na cidade. As informações que chegavam de fora, geralmente vinham com
atraso, já na cidade, as notícias eram transmitidas apenas por um alto-falante. Neste cenário,
35
Perin decidiu montar um jornal e em 1980, com apoio da prefeitura municipal, o jornalista
fundou o jornal Tribuna Popular:
A ideia (de montar um jornal) foi logo que eu cheguei. Eu estava
acostumado no meio da comunicação e aqui não existia nada. Só existia um
serviço de alto-falante, não tinha jornal. O jornal que vinha de Porto Velho
chegava uns três ou quatro dias atrasado. Na televisão a programação era
toda atrasada. O fantástico de um domingo a gente assistia no outro domingo
e assim por diante. Então a gente viu que tinha essa lacuna e a gente entendia
que com um jornalzinho a gente podia ajudar muito, daí a gente teve a ideia
de começar este trabalho. [sic] (PERIN, 2011).
Com o intuito de publicar o seu jornal, Perin foi à busca de anunciantes para custear a
edição. Os empresários gostaram da novidade e aceitaram investir na veiculação de seus
anúncios. No entanto, a falta de hábito e a falta de confiança ainda persistiam nesta relação
comercial, pois estes empresários só pagariam a Perin quando vissem seus anúncios
devidamente impressos na edição. Para contornar esta dificuldade econômica, Perin conta
como conseguiu publicar a primeira edição com a impressão feita na gráfica do extinto jornal
O Guaporé:
Sem dinheiro a gente tentou fazer o jornal. A ideia minha era que eu
levantasse uma quantidade de anúncios suficiente para pagar o jornal e obter
um pequeno lucro em cima. Eu reuni todas as matérias e anúncios e fui a
Porto Velho para imprimir o jornal. Mas eu fui sem dinheiro, só com o
dinheiro para cobrir as despesas da viagem. Eu entendi que se eu chegasse lá
e desse um cheque, a pessoa esperaria alguns dias até que eu chegasse,
apresentasse a edição do jornal, recebesse o dinheiro da publicidade e
pagasse a edição. Daí, para o meu engano, na hora da edição pronta, o
cidadão, dono da gráfica, seu Hermano Pontes Pinto, que era o dono do
jornal “O Guaporé” onde eu imprimia a edição, não quis liberar a edição pra
mim. Aí eu tive que, no desespero, procurar uma forma de trazer a edição,
para receber e poder pagar. Daí eu contei com o apoio de uma pessoa que era
uma autoridade no estado, ela me ajudou a liberar a edição para eu levar para
Cacoal, mediante a apresentação de um cheque para poucos dias. Quando eu
cheguei a Cacoal recebi as publicidades, daí eu consegui cobrir os cheques e
levantar um lucro para a próxima edição. [sic] (PERIN, 2011).
Foi assim, com todas as dificuldades da época, que Perin conseguiu montar um jornal
em uma região em plena colonização. Com dez páginas e com uma tiragem de 3.000
exemplares, o primeiro número do jornal trazia notícias de novos moradores que chegavam à
região, o anseio da população por instituições de ensino e a implantação de um ônibus entre
Cacoal e a capital, Porto Velho.
Após a distribuição da primeira edição, Perin começou a receber o pagamento dos
anúncios e acertou as contas, o que facilitou as negociações das próximas edições. No início,
36
a circulação do jornal Tribuna Popular era mensal, pois as dificuldades eram grandes,
principalmente, na sua distribuição, pois as estradas que interligavam as cidades do interior de
Rondônia não eram pavimentadas, inclusive, entre Cacoal e Porto Velho.
2.3.1 O Jornal Tribuna Popular passa por algumas mudanças
Após dois anos imprimindo o jornal na gráfica tipográfica do jornal O Guaporé, em
Porto Velho, Perin começou a imprimir o jornal em Manaus, na gráfica do jornal A Crítica. A
mudança aconteceu, porque em Manaus o jornal seria impresso em maquinário Off-set, o que
melhoraria a qualidade da impressão.
O contato com a gráfica de Manaus possibilitou a Perin encontrar máquinas que ele
poderia comprar para formar a sua própria gráfica. Dessa forma, em 1983, Perin conseguiu
inaugurar sua primeira gráfica. A primeira edição, em maquinário próprio, foi produzida em
agosto de 1983, sendo que para isso, o jornal voltou a ser impresso no maquinário em sistema
tipográfico.
Em partes foi bom, pois acabaram as viagens e alguns outros custos, por
outro foi difícil, porque tive que trazer profissionais de fora e quando dava
problema nas máquinas tinha que vir técnicos de outros estados. Só começou
a melhorar quando começamos a investir em profissionais da cidade. [sic]
(PERIN, 2011).
Nos primeiros anos do jornal Tribuna Popular, entre 1980 e 1984, as propagandas
governamentais foram de extrema importância para que Perin pudesse mantê-lo. À época, os
serviços básicos de infraestrutura ainda eram precários, o que dificultava a produção e
impressão do jornal. Entre os fatores que mais dificultavam, estavam as constantes
interrupções de energia e a péssima qualidade das estradas. Apesar de ter contratos privados
de publicidades, eles não eram suficientes para manter o jornal em longo prazo, por isso a
importância das propagandas institucionais do governo.
A prefeitura a gente já contou com o apoio desde o início, antes que o jornal
circulasse. Mediante as publicações, a gente apresentava as faturas e recebia.
Não era tão burocrático quanto é hoje. O governo demorou até um tanto para
começar a anunciar. Depois começaram a desenvolver algumas campanhas,
37
daí a gente começou a divulgar as publicidades que tinham e assim
conseguimos ir mantendo o jornal. [sic] (PERIN, 2011).
Através das propagandas governamentais e também de reportagens sobre Cacoal e o
Estado, divulgadas no início da década de 1980, o jornal Tribuna Popular tem sua parcela de
responsabilidade no desenvolvimento da região. De acordo com Perin, muitas pessoas que
vinham visitar Rondônia levavam consigo exemplares do jornal para mostrar às pessoas das
outras regiões como era o estado de Rondônia, assim dispõe o próprio Perin (2011):
Ah, eu acho que sim (o jornal contribuiu com a divulgação do
desenvolvimento de Rondônia), porque tudo girava em torno de uma
amplitude para divulgar o objetivo de criação do Estado e era aquela
expectativa do povo. Estávamos todos vinculados nos acontecimentos. Era
uma forma de altruísmo, perseverança, então a gente anunciava e o pessoal
prestava atenção mesmo, pegavam, liam. [...] Além disso, muitas pessoas
utilizavam o jornal para poder convencer parentes que não queriam vir para
cá, que temiam pelo futuro. Daí esses anúncios eram mandados pra fora, e o
pessoal se convencia e chegava cada vez mais gente. Isso não só através do
Tribuna Popular, mas de vários veículos também, que utilizavam para poder
divulgar e atrair mais gente para Rondônia. Como a gente falou né, era
considerado o novo El Dourado, então a propaganda era muito grande para
atrair o povo, e a gente acaba sendo seguido pelo povo. Aqui tinha terra,
então faziam a propaganda que o futuro de cada um era vir pra cá. [sic]
São estas propagandas institucionais do governo que pretendemos analisar nesta
pesquisa. Anúncios que propagaram amplamente o potencial e as oportunidades oferecidas
pela região amazônica e que colaboraram para atrair milhares de migrantes para colonizar a
região. É neste contexto que este trabalho pretende analisar a influência exercida pelas
propagandas governamentais utilizadas como persuasão do ideal desenvolvimentista
divulgadas no jornal Tribuna Popular no período entre 1980 e 1984.
Para este trabalho, é também importante conhecer o jornal Tribuna Popular hoje, após
31 anos de sua criação. Este jornal foi criado em 1980 e é um dos poucos jornais que
sobreviveu às dificuldades financeiras da região. É hoje o jornal mais antigo do interior do
estado de Rondônia e o segundo mais antigo do Estado, ficando atrás apenas do Jornal O Alto
Madeira, da capital Porto Velho.
38
2.3.2 Tribuna hoje
Impresso em maquinário offset10 Tribuna Popular tem tiragem de três mil exemplares
e é distribuído, além de Cacoal, nas principais cidades da região central do estado de
Rondônia. Aproximadamente 200 exemplares são distribuídos em Pimenta Bueno, 100 em
Espigão d’Oeste, 200 em Rolim de Moura, 80 em Presidente Médici, 100 em Ministro
Andreazza e ainda 200 exemplares são distribuídos na capital Porto Velho.
Também distribuímos o jornal via Correio, para pessoas que moravam em
Cacoal e se mudaram, mas ainda querem receber o jornal. De vez em quando
também mandamos para Brasília. E às vezes algumas empresas de fora
também solicitam exemplares do nosso jornal. [sic] (PERIN, 2011).
A equipe do jornal Tribuna Popular é composta pelo jornalista Adair Antônio Perin e
por sua filha, Giliane Perin, estudante de jornalismo, contando ainda com Tales Donat Perin,
seu outro filho, o diretor administrativo. Na diagramação do jornal, trabalham Moisés Oliveira
e Tainá Dettmer Dorta, além disso, o jornal conta com o chefe de impressão Edson Artur e a
secretária Maria Suênia. Além do quadro fixo de funcionários, o jornal conta ainda com o
correspondente de Porto Velho, Zé Luiz, os colunistas Jusmar Lustoza e Silvana Lustoza, bem
como com os jornalistas Paulo Henrique e Daniel Paixão.
O jornal é semanal e circula as sextas-feiras. Com tamanho Standart, Tribuna Popular
mantém a impressão em preto e branco, sendo que, apenas o cabeçalho da primeira página é
impresso na cor verde.
A quantidade de páginas nas edições do Tribuna Popular varia entre 12 e 24 páginas.
Além de notícias e propagandas, o jornal veicula as colunas: Boca Maldita (coluna composta
por notas curtas de crítica e humor); Tribuna Livre (espaço aberto aos leitores); Papudiskina
(coluna assinada pelo jornalista Daniel Paixão); De Porto Velho (coluna assinada pelo
jornalista Zé Luiz, com notícias da capital do Estado: Café Society (coluna social assinada
10
Dizem que ela foi fabricada na época da Guerra e os alemães que produziram. Foi produzida na
Alemanha essa máquina né! E ela é para ter toda uma estrutura de alumínio, que era para ser um
material mais leve para poder ser transportada em um avião. Aí eles faziam impressos e distribuíam
onde tinha população, conflitos da guerra. (...) Eu comprei ela em 1994, e a gente instalou ela e
começamos a imprimir em off-set. Eu lembro que foi 18 mil, não lembro bem a moeda da época!
Acho que não era o real ainda, acho que era cruzeiro. A máquina foi comprada com nota fiscal da
gráfica de Brasília, então não teve problema para transportá-la de Brasília pra cá. Essa máquina é
de uma marca com nome bem complicado “Kilckbusch”, é uma marca de origem alemã. Ela data
de 1954. [...] (PERIN, 2011).
39
pela colunista Silvana Lustoza); e Ponto de Encontro (assinada pelo colunista Jusmar Lustoza,
que mescla artigos diversos, sobre saúde, educação e entretenimento).
40
3 MÉTODO E CONCEITOS
3.1 METODOLOGIA: A ANÁLISE DE CONTEÚDO
Com o objetivo de analisar as propagandas institucionais veiculadas no Jornal Tribuna
Popular, no período entre 1980 e 1984, será utilizada como metodologia para esta pesquisa a
Análise de Conteúdo. Antes que se inicie, contudo, é necessário conhecer e entender esta
técnica de análise, proposta por Laurence Bardin.
De acordo com Bardin (1977, p. 15-22), a Análise de Conteúdo surgiu no início do
século passado, desenvolvendo-se nos Estados Unidos. O primeiro estudioso que se destaca
nesta técnica de pesquisa é H. Lasswell, que a partir de 1915 faz análises de imprensa e de
propaganda.
Bardin (1977, p.15-16) aponta que, entre os anos de 1940 e 1950, ainda nos Estados
Unidos, os departamentos de ciências políticas tiveram destaque na Análise de Conteúdo,
contribuindo para o seu desenvolvimento. Estudos sobre a Segunda Guerra Mundial e outros
assuntos relacionados à política contribuíram para o aperfeiçoamento da técnica. Os analistas
desenvolviam um trabalho criterioso na investigação de jornais e periódicos, com o objetivo
de revelar alguma mensagem ou propaganda subversiva dos inimigos do país.
A partir de 1950, a Análise de Conteúdo começa a ser difundida e utilizada em
pesquisas, nas mais diversas áreas e disciplinas. É um período onde acontecem grandes
aperfeiçoamentos técnicos da metodologia. A objetividade torna-se menos rígida, se aceita
melhor a combinação entre análise sistemática e compreensão clínica do material estudado. A
inferência, dedução lógica do analista, passa a ser aceita e tida como um dos recursos para a
análise.
A partir de 1960, com o advento da informática, a Análise de Conteúdo entrou em um
novo momento. O computador ofereceu novas possibilidades à Análise. O tratamento
informático permitiu uma análise mais rápida de quantidades, frequência, e ainda aplicou
fórmulas estatísticas aos dados que iam sendo obtidos. Contudo, com a informática, a Análise
passou a ser mais rigorosa em todas as fases dos procedimentos. Quanto mais recursos, mais
eficiente ela deveria ser.
41
3.1.1 Afinal, o que é Análise de Conteúdo?
A Análise de Conteúdo é uma metodologia de pesquisa que permite ao analista
interpretar o conteúdo de vários tipos de documentos, textos e anúncios. Esta metodologia é
aplicada na análise de qualquer tipo de comunicação.
A Análise de Conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações. Não se trata de um instrumento, mas de um leque de
apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado
por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação
muito vasto: as comunicações. (BARDIN, 1977, p.31).
Conforme Bardin (1977, p. 32), “qualquer comunicação, isto é, qualquer transporte de
significações de um emissor para um receptor controlado ou não por este, deveria poder ser
escrito, decifrado pelas técnicas de análise de conteúdo”.
De acordo com Bardin (1977, p. 30), a Análise de Conteúdo possuiu duas funções, que
na prática podem ou não se dissociar:
Função Heurística: a análise de conteúdo enriquece a tentativa exploratória,
aumenta a propensão à descoberta. É analise de conteúdo <<para ver o que
dá>>. Função de <<administração da prova>>: Hipóteses sob a forma de
questões ou de afirmações provisórias servindo de directrizes apelarão para o
método de análise sistemática para serem verificadas no sentido de uma
confirmação ou de uma infirmação. É análise de conteúdo <<para servir de
prova>>.
Além da definição de Bardin, outro estudioso que conceituou a Análise de Conteúdo
foi B. Berelson. Segundo Berelson, a Análise de Conteúdo é “uma técnica de investigação que
tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto nas
comunicações” (BERELSON apud BARDIN, p. 19).
Para que se cumpra com a objetividade e a rigidez da investigação, em Análise de
Conteúdo é necessário seguir critérios rigorosos na execução das técnicas de análise. Para que
a aplicação da Análise de Conteúdo seja eficiente é necessário cumprir com várias etapas, a
começar pela Organização da Análise, Codificação, Categorização, Inferência e, Tratamento
Informático, definidas por Bardin (1977).
Moraes (1999) definiu as etapas da seguinte forma: 1 – Preparação das Informações; 2
– Unitarização ou transformação dos conteúdos em unidades; 3 – Categorização ou
42
classificação das unidades em categorias; 4 – Descrição; 5 – Interpretação. Através das
definições e dos conceitos de Moraes (1999), percebe-se que a Análise de Conteúdo já não se
restringe apenas ao texto, permitindo ao pesquisador uma interpretação sobre o material
analisado. De acordo com Moraes (1999), “uma boa análise de conteúdo não deve limitar-se à
descrição. É importante que procure ir além, atingir uma compreensão mais aprofundada do conteúdo
das mensagens através da inferência e interpretação”. Por essa visão mais abrangente da
metodologia de Análise de Conteúdo, os estudos de Moraes nortearam esta pesquisa.
3.1.2 Os caminhos para análise
Uma vez de posse de todas as informações que serão analisadas, é preciso, antes de
tudo, submeter estas informações a um processo de preparação. De acordo com Moraes
(1999), este processo consiste em: “Identificar as diferentes amostras de informação a serem
analisadas”. Nesta etapa é necessário realizar uma primeira leitura dos materiais selecionados
e, a partir desta leitura, tomar as primeiras decisões sobre quais informações são realmente
condizentes com o direcionamento da pesquisa a ser realizada. O material deve ser pertinente
ao objetivo que o levou a análise.
Após esta primeira leitura e tomada de decisões, tem-se início o processo de
codificação do material, estabelecendo um código que possibilite identificar rapidamente cada
elemento a ser analisado. “Este código poderá ser constituído de números ou letras que a
partir deste momento orientarão o pesquisador para retornar a um documento específico
quando assim o desejar”. (MORAES, 1999).
Após este primeiro processo de identificação das diferentes informações,
selecionando o material realmente condizente com os objetivos da pesquisa, chega a vez de
transformar os conteúdos de análise em unidades. Para isso, Moraes (1999) aconselha:
Reler cuidadosamente os materiais com a finalidade de definir a unidade de
análise, também denominada “unidade de registro” ou “unidade de
significado. A unidade de análise é o elemento unitário de conteúdo a ser
submetido posteriormente à classificação. [...] Toda categorização ou
classificação necessita definir o elemento ou indivíduo unitário a ser
classificado. Na análise de conteúdo, denominamos este elemento de
unidade de análise. A natureza das unidades de análise necessita ser definida
43
pelo pesquisador. As unidades podem ser tanto as palavras, frases, temas ou
até mesmo os documentos em sua forma integral.
Após identificar e codificar todas as unidades de análises, o pesquisador estará pronto
para desenvolver a próxima etapa da análise de conteúdo, a categorização. “A categorização é
um procedimento responsável por agrupar dados, considerando a parte comum entre eles.
Classifica-se por semelhança ou analogia, segundo critérios previamente estabelecidos ou
definidos no processo”. (MORAES, 1999). Segundo Moraes, estes critérios podem ser
semânticos, categorias, temáticos e sintáticos, categorias a partir de verbos, substantivos e
adjetivos.
Para Olabuenaga e Ispizúa (apud MORAES, 1999), “o processo de categorização deve
ser entendido em sua essência como um processo de redução dos dados. As categorias
representam o resultado de um esforço de síntese de uma comunicação, destacando neste
processo seus aspectos mais importantes”. Desse modo, a construção das categorias precisa
obedecer a uma série de critérios rigorosos. As categorias devem ser válidas, exaustivas e
homogêneas. Ou seja, a classificação de qualquer elemento em uma categoria deve ser
mutuamente exclusiva. Como exemplo, um mesmo elemento não pode fazer parte de duas
categorias diferentes.
A penúltima etapa do processo de análise de conteúdo é a descrição. Onde o
pesquisador, seja por meio de gráficos ou tabelas, ou textos-sínteses, deverá descrever os
resultados encontrados após a categorização do material, assim como explica Moraes (1999):
O momento da descrição é sem dúvida, de extrema importância na análise de
conteúdo. É o momento de expressar os significados captados e intuídos nas
mensagens analisadas. Não adianta investir muito tempo e esforço na
constituição de um conjunto de categorias significativo e válido, se no
momento de apresentar os resultados não se tiver os mesmos cuidados. Será
geralmente através do texto produzido como resultado da análise que se
poderá perceber a validade da pesquisa e de seus resultados.
Por último, assim como afirma Moraes (1999), uma boa análise de conteúdo não deve
se limitar apenas à descrição. Para que se alcance uma compreensão mais profunda do
conteúdo analisado, o pesquisador precisa ir além, através da interpretação e inferência dos
resultados.
De qualquer modo, seja a partir de um fundamento teórico definido a priori,
seja a partir da produção de teoria ou a partir dos materiais em análise, a
interpretação constitui um passo imprescindível em toda a análise de
conteúdo, especialmente naquelas de natureza qualitativa. O termo
44
interpretação está mais associado à pesquisa qualitativa, ainda que não
ausente na abordagem quantitativa. (MORAES, 1999).
3.2 OS ANÚNCIOS GOVERNAMENTAIS VEICULADOS DURANTE 19811984
O material veiculado pelos Governos Federal e Estadual, no Jornal Tribuna Popular,
pode ser conceituado neste trabalho como “o conjunto de técnicas e atividades de informação
e persuasão destinadas a influenciar, num determinado período histórico, as opiniões, os
sentimentos e as atitudes do público receptor”. (SILVA apud PINHO, 1990, p. 22).
Para uma conceituação apropriada sobre estes anúncios veiculados pelo governo
militar, em vigor neste período, recorremos aos apontamentos de Pinho (1990, p. 132):
A propaganda é definida por Laswell como “técnica para influenciar ações
humanas pela manipulação de representações”, para Katz e Schank, “a
propaganda é uma tentativa organizada de manipular as massas para uma
ação determinada, por meios indiretos”. Já Newcomb se refere a ela como
“tentativa sistemática de influenciar atitudes, através dos meios de
comunicação de massa”.
Ao veicular estes anúncios no Jornal Tribuna Popular, a intenção do governo parece
motivar a população de Rondônia a apoiar as políticas econômicas da época. Através de
mensagens como, Plante mais feijão. O preço mínimo é Cr$ 14.400,00, mais correção; Quem
produz mais, paga menos e ganha mais; A incrível história do povo que acreditou. O Brasil
encontrou a saída. Vamos todos crescer; Você poupou, a solução começou; Abc da Terra Leia com atenção e conheça seus direitos e obrigações sobre a propriedade da terra, o
governo parece tentar persuadir o leitor a aderir aos planos e pensamentos do governo.
Vale ressaltar que, o material publicitário utilizado neste trabalho pode ser entendido
como instrumentos da comunicação.
Pela característica de seus conteúdos e da grande parcela de público que
pretende alcançar - a população de um país, de um estado, de um município
ou cidade - a maioria dos instrumentos utilizados pela comunicação feita
pelo Estado ou governo está focada na mídia - campanhas publicitárias,
impressos e produtos em geral de divulgação. (BRANDÃO, 2006. p. 7).
45
Heloísa Matos (1997) reforça ainda mais esta ideia, afirmando que o uso da
propaganda dentro da Comunicação Governamental tem características ideológicas e possui
como “traço distintivo, a persuasão”.
A Comunicação Governamental é mais pontual, e se refere a redes de
comunicação formais inseridas nas organizações públicas, e que têm como
tarefa difundir junto à opinião pública questões ou temas significativos que
ocorrem na esfera governamental – visando ao conhecimento e a
participação do cidadão. Seu traço distintivo é a persuasão, principalmente
através de mecanismos de propaganda ideológica. (MATOS, 1997).
O termo Propaganda é bastante abrangente. Tentando particularizar e detalhar todo e
qualquer tipo de Propaganda, Pinho (1990) listou, em um de seus trabalhos, diversos termos
como: Propaganda Ideológica, Propaganda Política, Propaganda Eleitoral, Propaganda
Governamental, Propaganda Institucional, Propaganda Corporativa; Propaganda legal,
Propaganda Religiosa e Propaganda Social.
Propaganda governamental - tem por objetivo criar, reforçar ou modificar a
imagem de um determinado governo, dentro e fora de suas fronteiras. A
propaganda governamental – feita pelo próprio governo ou por companhias
estatais – representa uma grande parcela do volume total de propaganda
veiculado no Brasil, o que demonstra a preocupação do governo (em seus
três níveis: federal, estadual e municipal) com a opinião pública. (PINHO,
1990, p. 23).
Além disso, as propagandas analisadas neste trabalho foram veiculadas no final do
período da Ditadura Militar pelo qual passou o Brasil entre os anos de 1964 a 1985. Neste
contexto, Raquel Cavalcanti Ramos Machado (2008) enfatiza o uso, pelos governos
ditatoriais, deste tipo de Propaganda, o que reforça a escolha deste conceito para abordar o
material publicitário analisado nesta pesquisa.
É inegável a importância do diálogo entre governantes e governados ao
longo dos tempos, como forma de legitimação do poder. Os recursos
utilizados, evidentemente, foram os mais diversos, mas os propósitos talvez
não se tenham alterado tanto. Ao contrário do que se pode imaginar, não há
governo que se mantenha apenas com o uso da força. Prova disso é que a
propaganda governamental foi e vem sendo usada, sobretudo, em ditaduras,
como forma de conquistar a população na adesão às ideias do chefe do
executivo. (MACHADO, 2008).
46
3.3 PESQUISA: O MATERIAL DE PESQUISA
Nesta pesquisa serão analisadas 12 Propagandas Governamentais veiculadas pelos
Governos, Federal e Estadual, no Jornal Tribuna Popular, da cidade de Cacoal, Rondônia. O
material analisado foi veiculado entre 1980 e 1984.
Para facilitar o estudo do material que será analisado através da metodologia da
Análise de Conteúdo, proposta por Moraes (1999), o material foi dividido em duas categorias
maiores: Governo Federal (6 propagandas) e Governo Estadual (6 propagandas). Estas duas
categorias se subdividem como veremos a seguir.
3.3.1 Categorias e Subdivisões
Dentro da categoria Governo Federal, surgiram as subdivisões em anúncios sobre:
Inflação; Terra/Agricultura e Infraestrutura. Já a categoria Governo Estadual foi subdividia
em anúncios da: Secretaria de Finanças/Campanha Rondonzinho e Emancipação de
Rondônia.
Dessa forma, os 12 anúncios analisados se dividiram em duas categorias, originando 5
subdivisões. Conforme mostram as tabelas abaixo:
Figura 2 – Gráfico Categorias
47
Figura 3 – Gráfico Subdivisões das categorias
Figura 4 – Gráfico Subdivisões das categorias
3.3.2 O que dizem as propagandas?
Todas as propagandas veiculadas, tanto pelo Governo Federal quanto Estadual,
abordam questões relativas ao desenvolvimento do país e do estado11. Entre o período de 1980
11
A partir do Golpe Militar de 1964, o Governo brasileiro se empenhou em buscar saídas para
promover o desenvolvimento acelerado do Brasil. Desta forma começou a promover ativamente,
em vez de limitar, o investimento estrangeiro nas riquezas do país; introduziu uma série de
incentivos fiscais e tributários para promover projetos de pecuária e agroindústria na Bacia
Amazônica; e em 1970, lançou o Plano de Integração Nacional. (DAVIS, 1977. P. 57-69).
48
a 1984, Rondônia passou pelo processo de transição de Território Federal à Estado da
Federação. Desta forma, todas as propagandas veiculadas pelo Governo Estadual, abordavam
questões pertinentes ao avanço em questões como infraestrutura e arrecadação de impostos,
além de outras medidas necessárias para a emancipação política e formação do Estado.
No mesmo período, 1980 a 1984, o Brasil superava uma das piores crises econômicas
de sua história, com a alta da inflação e estrangulamento das contas do país. Assim, o material
propagado pelo Governo Federal, abordava a superação dessa crise, e veiculava propagandas
de incentivo à agricultura, e obras de infraestrutura no país.
3.3.2.1 O Governo Federal
No período analisado, o Governo Federal veiculou, através do Jornal Tribuna Popular,
6 propagandas. Três dela, de incentivo à agricultura, duas sobre a superação da crise
econômica, ocasionada pela crise do petróleo, e uma sobre a construção da Rodovia Marechal
Rondon/BR-364, entre Cuiabá – MT e Porto Velho – RO.
Os anúncios sobre a crise econômica enfatizam alta da inflação, o estrangulamento das
contas externas, o desemprego no setor industrial, a falta de evolução no comércio
internacional e a expectativa de fracasso que havia, em relação às safras nordestinas. Segundo
o anúncio, foi através da contribuição do povo brasileiro, que o país voltou a crescer,
superando os momentos difíceis e os desafios. Desta forma, com a superação da crise, a
inflação baixou, houve a contenção do crescimento da dívida externa, a reanimação da
indústria, o crescimento das exportações industriais e avanço da agricultura no Sul do país,
Região Central e na nova fronteira do Extremo Oeste. As duas propagandas reforçam a
participação do povo brasileiro na solução e superação da crise econômica. Além disso,
enfatiza o desenvolvimento da agricultura, o crescimento industrial, o crescimento da
produção de energia e da produção de petróleo, o saldo comercial positivo, a queda da
inflação e subsequente, o crescimento do país.
O anúncio sobre a Rodovia Marechal Rondon aborda a construção da BR-364, entre
Rondônia e Mato Grosso, desde as dificuldades econômicas enfrentadas até o
desenvolvimento do país. Enfatiza as dificuldades da população antes da construção da
rodovia e as vantagens e benefícios da obra. Além disso, o anúncio enaltece a redução dos
49
gastos e a antecipação do prazo de término da obra, homenageia Marechal Rondon, dando seu
nome à Rodovia, e faz comparações entre as linhas telegráficas de Rondon e a obra de
construção da Rodovia do Presidente Figueiredo. Também enfatiza a expansão agrícola que a
Rodovia irá permitir e o dinamismo e desenvolvimento dos estados de Mato Grosso e
Rondônia.
Os outros três anúncios veiculados pelo Governo Federal são de incentivo à
Agricultura. Um dos anúncios aborda o desenvolvimento da agricultura no país, alcançado
devido ao sucesso de grandes safras. Define ainda, o futuro do país como promissor e aborda
as vantagens da produtividade rural, lançando incentivos aos produtores, com premiações aos
produtores rurais modelos. Um segundo anúncio aborda a valorização do feijão, com a alta do
preço, e também lança incentivos aos produtores, para a plantação do feijão, fornecendo
meios para garantir bons lucros. O terceiro anúncio parece funcionar como uma cartilha,
abordando os direitos e deveres do produtor rural. A propaganda cita a Constituição Federal e
ainda fala sobre o Estatuto da Terra, abordando as funções sociais da terra. Além disso, o
anúncio faz explicações em relação ao Programa Nacional de Política Fundiária e enaltece a
figura do Presidente João Figueiredo, que torna intensas as ações do governo, em relação à
agricultura. O anúncio ainda discorre sobre a distribuição de terra, o progresso e
desenvolvimento do país, alicerçado na agricultura, enfatiza a paz e justiça social. Aborda os
Projetos de Colonização, enfatiza os órgãos de Terra (MEAF, INCRA, GETAT, GEBAM), a
necessidade de acabar com latifúndios improdutivos e minifúndios antieconômicos com a
desapropriação por interesse social, e o direito de Propriedade, impostos, conservação de
propriedade e do respeito aos recursos naturais.
3.3.2.2 O Governo Estadual
Entre o período de 1980 e 1984, o Governo do Estado de Rondônia veiculou 6
propagandas institucionais. Quatro são de autoria da Sefin, Secretaria de Finanças do Estado,
uma da Codaron - Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia, uma do
próprio Governo. Três anúncios, Codaron, Governo e um da Sefin abordam a emancipação
política de Rondônia, e as outras três da Sefin, abordam a campanha de arrecadação de
impostos, desenvolvida pela Secretaria.
50
A Secretaria Estadual de Finança aderiu ao personagem Rondonzinho para divulgar a
campanha de arrecadação de impostos, onde surgiu até mesmo um álbum de figurinhas, como
forma de atrair o cliente. Ao preencher o álbum ou adquirir uma figurinha “carimbada”, o
cliente ganhava uma premiação, que variava desde um carro Zero Km, caderneta de
poupança, bicicleta, geladeira, entre outros. Por cada Cr$ 500,00 em Notas Fiscais, Tíquetes
ou Cupons Especiais, o cliente tinha direito a cinco figurinhas do álbum. Os sorteios eram
realizados com base na extração da Loteria Federal.
Estas três propagandas foram veiculadas entre 1981 e 1982. A campanha tinha como
objetivo atrair o contribuinte para que este pagasse os impostos em dia, o que possibilitaria,
segundo a Secretaria de Finanças, investir em infraestrutura, como construção de escolas,
hospitais, estradas, rede elétrica, entre outros. Duas propagandas enfatizam o álbum de
figurinhas, os prêmios, os locais de troca, como proceder com a troca. A terceira é a
divulgação dos ganhadores dos prêmios.
Os outros três anúncios tratam da emancipação de Rondônia. A propaganda da
Codaron aborda a participação desta Companhia ao fornecer estrutura para a Agricultura no
Estado, fortalecendo a principal atividade econômica da região, possibilitando a elevação à
categoria de Estado.
A propaganda da Sefin segue pela mesma linha do anúncio da Codaron. Aborda a
participação da Secretaria de Finanças, através da arrecadação de impostos, possibilitando a
execução de diversas obras de infraestrutura, como construção de escolas, hospitais e estradas.
Obras necessárias para que o Governo Federal emancipasse Rondônia.
O anúncio do Governo Estadual foi veiculado como uma forma de agradecimento e
exaltação ao povo rondoniense engajado no desejo da emancipação, ao Presidente João
Figueiredo, que sancionou o decreto de elevação de Rondônia à categoria de Estado, aos
ministros envolvidos no processo, aos senadores e deputados federais que aprovaram a
emancipação de Rondônia e ao próprio Governo Estadual, que dotou o estado de
infraestrutura necessária para a sua emancipação política.
3.4 UM OLHAR EM CADA ANÚNCIO
Os três anúncios da Secretaria de Finanças do Estado de Rondônia utilizam o
51
personagem Rondonzinho para ilustrar e tentar, através das crianças, influenciarem os
pais a aderirem à campanha de arrecadação de impostos do Governo de Rondônia.
A SEFIN lança até mesmo um álbum de figurinhas para atrair ainda mais a atenção
das crianças. Além disso, para fortalecer a arrecadação de impostos, a SEFIN lança
premiações como uma forma de estimular o pagamento dos impostos, principalmente nos
prazos certos. Desta forma, a figura infantil de Rondonzinho foi um forte apelo junto às
crianças para que os adultos mantivessem os impostos em dia.
Este anúncio, Muito satisfeito, Rondonzinho estende até setembro o prazo de trocas da
Série Dois, foi veiculado na edição nº 13 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 15 a 30 de
agosto de 1981. O anúncio de 24,5 cm de altura e 32,5 cm de largura foi publicado na página
5 do jornal.
Figura 5 – Sefin – Campanha Rondonzinho
A princípio o olhar recai ao título que ocupa 1/3 do anúncio e está localizado na parte
superior da propaganda. Escrito em letras maiúsculas, o título ocupa três linhas e ainda se
destaca com o fundo preto.
Em seguida, o olhar se direciona a uma linha de apoio, logo abaixo do título. A linha
de apoio explica a “missão” de Rondonzinho que é promover a arrecadação de impostos.
No restante do anúncio, em aproximadamente 2/3 do espaço, o texto da propaganda
foi dividido em sete subtítulos, distribuído em quatro colunas. Cada subtítulo fornece
explicações sobre a campanha de arrecadação e o álbum de figurinhas, como por exemplo:
como participar; como realizar as trocas de figurinhas; os locais de troca; e prazos para troca.
Nesse sentido, o olhar acompanha os subtítulos, seguindo, ao longo das quatro colunas, a
ordem em que foram colocados.
52
O anúncio se encerra no canto inferior direito da página, onde se localizam a
logomarca da arrecadação de impostos, Amigos do Rondonzinho e a logomarca do Governo
Estadual.
O segundo anúncio – Chegou o novo álbum do Rondonzinho. Agora são 6.026
prêmios maravilhosos – foi veiculado pelo Governo de Rondônia, através da Secretaria de
Finanças, na edição nº 16 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 05 a 20 de dezembro de
1981. O anúncio de 28,5 cm de altura e 33,5 cm de largura foi publicado na página 3 do
jornal.
Figura 6 – Sefin – Campanha Rondonzinho
Neste anúncio, o título ocupa ¼ do espaço superior da propaganda. Assim como no
primeiro anúncio, o título foi escrito em três linhas, em letras maiúsculas e houve a utilização
do fundo preto para melhor destacá-lo.
Após perpassar pelo título, o olhar recai no primeiro parágrafo do texto, no canto
esquerdo do anúncio. Seguindo o mesmo padrão da primeira propaganda veiculada pela Sefin,
aqui o texto do anúncio foi dividido em quatro colunas, subdividido em sete subtítulos.
Cada subtítulo fornece explicações sobre a campanha de arrecadação e o álbum de
figurinhas, como por exemplo: como participar; como realizar as trocas de figurinhas; os
locais de troca; e prazos para troca. Nesse sentido, o olhar se direciona ao longo dos
subtítulos, no decorrer das quatro colunas.
53
Diferente do primeiro anúncio, nesta propaganda foi utilizada a imagem do
Rondonzinho. Há uma figura maior do Rondonzinho que parece segurar uma nota fiscal,
objeto de troca pelas figurinhas. Abaixo, há mais três pequenas imagens que mostram
Rondonzinho trocando a nota fiscal pelo álbum. A segunda pequena imagem mostra
Rondonzinho, na companhia de um amigo, preenchendo o álbum. A terceira imagem exibe
Rondonzinho, com o álbum completo, feliz por ter ganhado prêmios.
Neste anúncio, o olhar se encerra no canto inferior direito, onde se localizam a
logomarca da arrecadação de impostos, Amigos do Rondonzinho, e a logomarca do Governo
Estadual.
O anúncio – Aqui estão os ganhadores dos prêmios do Rondonzinho. Agora são 6.026
prêmios maravilhosos – foi veiculado na edição nº 26 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias
23 a 29 de abril de 1982. Ele tem 26 cm de altura e 33,5 cm de largura e foi publicado na
página 3 do jornal.
Figura 7 – Sefin – Campanha Rondonzinho
Neste anúncio são apresentados os ganhadores das premiações da Campanha do
Rondonzinho. Ao todo, são 10 ganhadores que receberam diversas premiações, como um
carro 0 km, caderneta de poupança, TV em cores, geladeiras e bicicletas.
Ao visualizar o anúncio, o olhar recai diretamente ao título, que ocupa 1/3 do espaço
total da propaganda e encontra-se na parte superior do anúncio. Depois disso, o olhar recai
sobre uma pequena linha de apoio, composta por duas linhas, centralizada abaixo e junto ao
título.
54
Em seguida, o texto se divide em três colunas, na primeira estão os números dos
prêmios, na segunda estão os carnês sorteados na promoção e, na terceira estão os prêmios
sorteados.
O anúncio, como um todo está centralizado, e assim o olhar se encerra nas logomarcas
da campanha do Rondonzinho e do Governo de Rondônia, que estão centralizados no espaço
inferior da propaganda.
O quarto anúncio – O Rondonzinho ajudou nesta conquista – foi veiculado na edição
nº 17 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 21/12/1981 a 04/01/1982. O anúncio de 27 cm
de altura e 34 cm de largura foi publicado na página 3 do jornal.
Figura 8 – Sefin – Emancipação
Neste anúncio, inicialmente, o olhar se dirige ao título da publicidade no canto
superior esquerdo: O Rondonzinho ajudou nesta conquista. Após o título, o olhar se direciona
à bandeira do Estado de Rondônia, no canto superior esquerdo, para então, perpassar pela
figura de Rondonzinho (personagem criado pela Secretaria de Finanças do Estado para
popularizar seus anúncios) e para o corpo do texto que ocupa o lado esquerdo e, em seguida,
finalizar este trajeto do olhar com o corpo do texto no lado direito e a logomarca do Governo
do Estado de Rondônia, que encerra o anúncio.
55
O anúncio “O Rondonzinho ajudou nesta conquista” aborda a parcela de contribuição
da Secretaria de Finanças, através do Rondonzinho, para a elevação de Rondônia à categoria
de Estado.
O anúncio da Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia – E da
terra nasceu a estrela. – foi veiculado na edição nº 17 do Jornal Tribuna Popular, entre os
dias 21/12/1981 a 04/01/1982. O anúncio de 27 cm de altura e 34 cm de largura foi publicado
na página 7 do jornal.
Figura 9 – Codaron – Emancipação
Este anúncio aborda a contribuição da Codaron no processo de emancipação do Estado
de Rondônia. Fala sobre os programas voltados para a agropecuária e a tarefa de dotar o
estado de infraestrutura.
O título ocupa 1/3 do espaço superior do anúncio e, para maior destaque, foi utilizado
o fundo preto. Ao lado do título há a figura de uma planta germinando, com o brilho de uma
estrela em destaque, enfatizando o título da notícia.
Ao longo do texto, dividido em quatro colunas, há seis pequenas ilustrações, como
plantas, tratores, um comércio e uma casa de sítio, demonstrando as condições necessárias
para a fixação do homem no campo. As imagens estão inseridas entre os parágrafos,
separando-os um do outro.
56
O texto, intercalado pelas imagens, ocupa 2/3 do anúncio. Após o olhar perpassar pelo
título, ele segue para o início do texto, na primeira coluna à esquerda. O olhar acompanha o
texto, passando pelas quatro colunas e tendo fim na logomarca da Codaron.
Vencemos: Nossa estrela brilha no azul da União, esse anúncio do Governo do Estado
de Rondônia foi veiculado na edição nº 17 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias
21/12/1981 a 04/01/1982. O anúncio de 68 cm de altura e 34 cm de largura foi publicado na
página 11 do jornal.
Figura 10 – Governo do Estado/Emancipação
Ao estabelecer o primeiro contato visual, o olhar se direciona imediatamente ao título
do anúncio, que ocupa um terço da página e é escrito todo com fonte maiúscula. Após o título,
o olhar se recai à imagem de um círculo negro, pela metade, onde da esquerda para a direita,
em sentido de elevação, surge uma estrela, que remete novamente o autor ao título do
anúncio, que por sua vez se refere à elevação de Rondônia à categoria de Estado da
Federação. A imagem ocupa 1/3 do anúncio.
Após a imagem, o olhar é lançado para o texto da publicidade, onde o Governo
Estadual explica os processos que levaram à emancipação do Estado, agradece à Presidência
da República, Ministros, Senadores e Deputados Federais que colaboraram com o processo, e
57
ainda enfatiza o apoio e contribuição do povo rondoniense. Após o texto, o olhar se encerra na
logomarca do Governo de Rondônia – Jorge Teixeira, no canto inferior direito do anúncio.
O anúncio do Governo Federal - A incrível história do povo que acreditou. O Brasil
encontrou a saída. Vamos todos crescer – foi veiculado na edição nº 30 do Jornal Tribuna
Popular, entre os dias 21 a 27 de maio de 1982. O anúncio de 27,5 cm de altura e 20 cm de
largura foi publicado na página 11 do jornal.
Figura 11 – Governo Federal – A incrível história
O anúncio trata da superação da crise econômica enfrentada pelo Brasil, devido à alta
da inflação no início da década de 1980. O texto aborda a união e contribuição do povo
brasileiro, na imagem representado por pessoas sorridentes de diferentes faixas etárias e
profissões, que venceram e conseguiram superar a crise. Além disso, enfatiza as medidas
positivas tomadas pelo governo e os resultados alcançados.
O olhar do leitor neste anúncio recai inicialmente na leitura do título dividido em duas
partes nos cantos superiores direito e esquerdo da página; entre eles, o corpo do texto que
descreve porque o Brasil encontrou a saída. Desta forma, o olhar percorre primeiro as laterais
superiores do anúncio, depois se direciona ao corpo do texto, que lança o olhar para a imagem
de brasileiros. Esta imagem se encontra na parte inferior do anúncio, ocupando 1/3 do
espaço. O anúncio tenta retratar a população do país, através de crianças e pessoas mais
58
velhas, um executivo de terno e gravata e um operário usando um capacete de construção, um
agricultor com chapéu de palha, e ainda homens e mulheres, jovens e adultos.
O próximo anúncio do Governo Federal – Você poupou, a solução começou. – foi
veiculado na edição nº 32 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 13 a 20 de junho de 1982.
O anúncio de 24,5 cm de altura e 17 cm de largura foi publicado na página 5 do jornal.
Figura 12 – Governo Federal – Você Poupou
O título “Você poupou, a solução começou.” foi escrito em quatro linhas, e foi
posicionado no centro e na parte superior do anúncio, atraindo o olhar, que logo após se
direciona à reprodução de uma nota de Cr$ 1.000, que ocupa, praticamente 2/3 do espaço total
da propaganda. O título e o texto ocupam 1/3 do anúncio. O texto do anúncio foi dividido em
dois parágrafos, posicionados um de cada lado do título da propaganda. O texto ocupa os
cantos superiores do anúncio.
Este anúncio também fala da superação da crise econômica, enfatizando, novamente, a
contribuição do povo que poupando, ajudou o país a superar a inflação.
Observe a agora, este anúncio do Governo Federal – Prêmio de Produtividade Rural –
1983 – veiculado na edição nº 41 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 04 a 09 de setembro
59
de 1983. O anúncio de 24 cm de altura e 16 cm de largura foi publicado na página 3 do
jornal.
Figura 13 – Governo Federal – Quem produz mais
Este anúncio discorre sobre o Prêmio de Produtividade Rural – 1983, uma premiação
ao produtor rural modelo, que desenvolveu a agricultura da melhor maneira. A princípio, o
olhar recai diretamente ao título, que enfatiza os ganhos a quem mais produz. Em seguida, o
olhar desce para uma imagem de dois agricultores sobre o trator, circundados pela plantação.
A imagem ocupa um pouco mais da metade do anúncio.
O olhar se encerra abaixo do corpo da mensagem, onde há o selo “Produtor Modelo
1983” e os autores da mensagem: Ministério da Agricultura, Ministério Extraordinário para
Assuntos Fundiários e INCRA.
Veiculado na edição nº 51 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 11 a 01 de
dezembro de 1983, o anúncio do Governo Federal – Plante mais feijão. O preço mínimo é
Cr$ 14.400,00, mais correção. – tem 24 cm de altura e 24 cm de largura e foi publicado na
página 9 do jornal.
60
Figura 14 – Governo Federal – Feijão
O título no canto superior esquerdo é o primeiro a chamar a atenção; posteriormente o
olhar desce para a imagem, que ocupa a maior parte do anúncio, no canto inferior esquerdo.
Após a imagem o olhar se direciona para o texto da publicidade, no canto inferior direito.
O texto fala sobre as garantias que o Governo Federal, através do Ministério da
Agricultura e com o apoio do Banco do Brasil, dá ao produtor que plantar feijão. O texto
pretende fazer com que o produtor, com a garantia de benefícios como seguro e crédito,
“plante mais feijão”, oferecendo um preço mínimo pela sua produção.
No mesmo espaço, o olhar termina em uma pequena logomarca do programa de
agricultura, com os dizeres: “Vamos reconstruir nossa terra plantando”, acompanhado de uma
semente de feijão, germinando.
O anúncio do Governo Federal, “ABC da Terra”, foi veiculado na edição nº 53 do
Jornal Tribuna Popular, entre os dias 14 a 20 de janeiro de 1984. O anúncio de 21 cm de
altura e 16 cm de largura foi publicado na página 9 do jornal.
Neste anúncio, predomina o texto que está subdividido por letras, de “A” a “P”, em
duas colunas, e trata de assuntos referentes à propriedade de terra, constituição e programas
do Governo federal, veja:
61
Figura 15 – Anúncio - Governo Federal – ABC da Terra
O título ocupa o espaço superior do anúncio. Após o título, o olhar acompanha o texto
ao longo das duas colunas e chega ao fim no canto inferior direito, na imagem da cartilha com
o “ABC da Terra”. Este anúncio aborda os direitos e os deveres do agricultor e do dono da
terra. Além da importância da agricultura, enfatizando o Estatuto da Terra.
O último anúncio – Rodovia Marechal Rondon. BR-364 - Cuiabá – Porto Velho – foi
veiculado na edição nº 83 do Jornal Tribuna Popular, entre os dias 15 a 22 de setembro de
1984. O anúncio de 45 cm de altura e 32 cm de largura foi publicado na página 5 do jornal.
Este anúncio contém inúmeros elementos visuais, desde o título, que ocupa
praticamente um quarto do espaço, e imagens complementares inseridas ao longo do anúncio,
intercalando-se com o texto.
O título está centralizado na parte superior do anúncio. O texto do anúncio tem início
na lateral esquerda e ao longo do anúncio é subdividido por tópicos onde, no intervalo de cada
parágrafo, foi inserida uma imagem ilustrativa.
62
Figura 16 – Governo Federal – BR – 364
O anúncio aborda a pavimentação da BR-364, desde a instalação das linhas
telegráficas estratégicas, marcos do traçado da rodovia, até os atoleiros e dificuldades da
construção. Nesse mesmo sentido, as imagens servem como ilustração do texto. Ao todo são
seis imagens, distribuídas no anúncio. O texto foi dividido em quatro colunas. O olhar se
encerra no canto inferior direito, onde leem-se os autores do anúncio: Governo Federal e
Ministério dos Transportes.
3.5 O DIÁLOGO ENTRE O ANÚNCIO E O REAL
As propagandas institucionais veiculadas no jornal Tribuna Popular divulgaram,
indubitavelmente, a visão desenvolvimentista tanto do Governo Federal quanto do Governo
Estadual. A necessidade de colonizar uma nova fronteira agrícola, minimizando os conflitos
por terra em outros estados, por parte do Governo Federal, e a busca pela emancipação de
Rondônia, de Território Federal para Estado da União, por parte do Governo Estadual foram
divulgadas por campanhas publicitárias, de incentivo e motivação, para garantir o
“desenvolvimento” do país.
63
Desta forma, em boa parte dos anúncios veiculados, o discurso desenvolvimentista
pregado pelos governos serviu como uma forma de camuflar, de um lado o desgaste e os
conflitos agrários existentes em outras regiões do país, como no caso do nordeste, a
devastação das florestas de Rondônia, uma vez que tudo era movido e justificado pelo ideal
desenvolvimentista, de outro a contradição entre o anúncio de terras fáceis para todos e os
problemas enfrentados pelos colonos, onde muito deles não conseguiram garantir as suas
terras, apesar das facilidades propagadas pelo Governo.
3.5.1 O desenvolvimento que propiciou a devastação
O anúncio do Governo Federal sobre a Rodovia Marechal Rondon aborda a
construção/pavimentação da BR-364 que liga a capital de Rondônia, Porto Velho à capital
mato-grossense, Cuiabá. A BR-364 se tornou a principal rodovia de Rondônia, cortando o
estado de uma ponta a outra, desde Vilhena até Porto Velho, passando pelas principais e
maiores cidades de Rondônia. O percurso da BR-364 seguiu os traçados das Linhas
Telegráficas Estratégicas, implantadas em Rondônia, no início do século XVI, pelo Marechal
Candido Mariano da Silva Rondon.
Marechal Rondon foi o primeiro desbravador que ligou Rondônia ao resto do país,
através da instalação das linhas. Desta forma, assim como Rondon ligou o território
rondoniense ao Brasil, o Presidente João Figueiredo, através da construção da BR-364, ligou,
definitiva e fisicamente, Rondônia ao resto do país. Essa comparação entre Rondon e
Figueiredo é abordada no anúncio, alem de histórias de homens que trabalharam na
construção da rodovia, as empreiteiras responsáveis pelas obras, e outras curiosidades.
O anúncio aborda, principalmente, a construção da BR-364 como a “última grande
rodovia de integração nacional [...] consolidando a expansão das novas fronteiras agrícolas dos
estados de Mato Grosso e Rondônia e, assegurando condições para a fixação do homem à
terra, numa região que se transformou em símbolo da nossa década, pelo dinamismo do seu
desenvolvimento”.
O dinamismo e o desenvolvimento são as palavras-chave utilizadas pelo Governo para
ilustrar a importância desta rodovia para o então Território Federal de Rondônia,
contribuindo, principalmente, para a sua transformação em Estado.
64
A abertura e consolidação de estradas, construção de hospitais e escolas, entre outras
obras, era uma das principais formas de dotar uma região de infraestrutura para suportar o seu
desenvolvimento, tanto econômico como político.
Acontece que a construção da BR-364 não caracterizou apenas o desenvolvimento da
região de Rondônia, uma vez que foi um dos principais fatores que contribuíram para a
devastação e desmatamento da floresta, dando ao estado, uma característica não tão
desenvolvimentista, uma vez que Rondônia é um dos estados que mais se destaca em relação
à devastação de suas florestas. Desta forma, a BR-364 não só levou o desenvolvimento à
Rondônia, como também contribuiu, de forma intensa, para a elevação dos índices de
desmatamento do estado, assim como apontou Philip Martin Fearnside (1986):
[...] ambos os mapas de quantidades (de florestas) derrubadas em 1978 como
as taxas exponenciais implícitas de derrubadas no intervalo de 1975-1978,
revelam focos de derrubadas intensas ao longo da rodovia Belém-Brasília
(BR-010) e ao longo da rodovia Marechal Rondon (Cuiabá-Porto Velho:
BR-364) Através de Mato Grosso e Rondônia. O asfaltamento da rodovia
Marechal Rondon (Cuiabá-porto Velho: BR-364), completada em setembro
de 1984 com financiamento do empréstimo da POLONOROESTE do Banco
Mundial, removeu um dos maiores empecilhos para os migrantes. A rodovia
Cuiabá-Porto Velho, existente desde 1967, deteriorou dramática e
regularmente entre a primeira vez que viajei por ela em 1973 e os primeiros
anos de 1980.
Em um estudo mais recente, Yan Boechat (2008) explica a devastação da floresta
como uma condição imposta pelo Governo Federal para garantir a posse da terra, assim como
foi visto no primeiro capítulo deste trabalho.
Pelo decreto (decreto lei que instituiu o Plano de Integração Nacional,
assinado pelo presidente Emílio Garrastazu Médici, em julho de 1970) um
raio de 100 quilômetros nas margens das rodovias federais que cortavam a
Amazônia seria destinado à colonização. A cada migrante, um lote de 100
hectares. Por lei, cada um deles deveria desmatar 50% de suas terras para ter
a posse oficial da área, concedida pelo INCRA. Quem não colocasse a
floresta abaixo era considerado um agricultor não-produtivo e perdia as
terras doadas pelo governo. (BOECHAT, 2008).
65
3.5.2 O propagado (pelo Governo) e o vivido (pelos migrantes)
Como visto no capítulo 1 deste trabalho, a partir da década de 1960 o Governo Federal
começou a pensar e desenvolver os primeiros projetos oficiais de colonização e ocupação da
região amazônica, onde surgiram os principais Projetos Integrados de Colonização em
Rondônia, como o PIC Ouro Preto em 1970, PIC Sidney Girão em 1971 e o PIC Gy-Paraná
em 1972.
Colonizar a região traria soluções para dois problemas enfrentados pelo Governo: o
primeiro era integrar a última região isolada do resto do país; o segundo, acabar com os
conflitos de terra existentes nas demais regiões do Brasil, visto que a Amazônia oferecia uma
vasta área a ser desbravada.
Rondônia é parte integrante da região amazônica e é considerada “fronteira
agrícola”. O que se entende por fronteira agrícola? Numa primeira visão, sua
característica é de espaço a princípio “vazio”, para onde são “empurrados”
os contingentes populacionais excedentes dos centros urbanos e do meio
rural. Para este contingente, Rondônia seria a garantia de sobrevivência. [...]
Aparentemente, justifica-se a criação de uma fronteira agrícola para ter uma
função social bastante clara; que é a distribuição de terras para quem não as
tem e quer trabalhá-las. (PERDIGÃO e BASSÉGIO, 1992. p. 149).
Assim, foi a partir da década de 1960, que a região amazônica recebeu o seu maior
fluxo migratório. Através de propagandas do Governo Federal com o slogan “Integrar para
não Entregar”, milhares de brasileiros vieram para a Amazônia para se tornarem donos de
suas próprias terras.
Mas como visto no capítulo 1, o fluxo migratório superou as expectativas do Governo
e o INCRA, órgão responsável pela distribuição de terras, não conseguiu acompanhar o ritmo
da migração.
A propaganda do Governo, que enfatizava a facilidade em adquirir terras, a garantia de
infraestrutura necessária para a fixação do homem, e o incentivo e o apoio ao migrante, logo
passou a ser contrariada, uma vez que as dificuldades encontradas pelos migrantes eram
muitas, e muitos deles acabaram ficando sem os lotes prometidos.
Através da análise de uma propaganda veiculada pelo Governo de Rondônia e do
estudo de dois autores específicos, é possível confrontar a realidade vivida pelos migrantes de
Rondônia e as maravilhas propagadas pelo governo para a colonização do estado:
66
A Codaron, além de cumprir as metas para que fora criada, desenvolvia um
trabalho paralelo de grande valor: ajudava a implantar as bases de um Novo
Estado. Sem produção, não há fixação do homem à terra. Fixando-se o
homem, fixam-se as bases para o desenvolvimento. E, para atender a toda
essa demanda, a Codaron criou o Sistema Agrícola de Rondônia para o
pequeno produtor, com a montagem de núcleos urbanos de apoio rural, com
Escolas, Postos de Saúde, Armazéns, Estradas secundárias, construídas e
conservadas pelas próprias pessoas que as usam. O Governo do Estado,
através da Codaron, fornece tratores e equipamentos, dando condições ao
povo de melhorar as condições de vida. (CODARON – Companhia de
Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia. Anúncio veiculado na Edição
nº 17, entre os dias 21/12/1981 a 04/01/1982, no Jornal Tribuna Popular).
Os anúncios institucionais
Veiculadas
pela Companhia de Desenvolvimento
Agropecuário de Rondônia enfatizam as condições de infraestrutura no Estado de Rondônia
necessárias para fixar o homem à terra, como escolas, postos de saúde, apoio rural, estradas,
entre outros. Martin Coy (1983/84), por sua vez, contraria esta propaganda, em praticamente
todas as questões abordadas:
Interrogando colonos sobre suas condições de vida (pesquisa de campo do
autor no PIC Ouro Preto 1983/84), podemos identificar um conjunto de
problemas sócio-econômicos predominantes dentro do espaço rural
rondoniano [...] mencionamos, sobretudo as consequências sócioeconômicas da malária, perigo permanente para a força de trabalho familiar,
base da economia camponesa. Da mesma forma, outras doenças amazônicas
[...] problemas de agrotóxicos (doenças das principais culturas) e restrições
geográficas (situação topográfica, hidrográfica, variações na distribuição dos
solos, etc.). [...] A insuficiência da infra-estrutura é predominante. Trata-se,
neste caso, da insuficiência da rede rodoviária, da impraticabilidade de
muitas estradas de penetração durante a estação das chuvas, que dura de sete
a oito meses, e, consequentemente, do isolamento de muitos camponeses,
além da falta de entrepostos para a produção agrícola, falta de escolas rurais,
bem como insuficiência de assistência médica. Dentro da terceira categoria,
em primeiro lugar devem ser considerados os problemas de comercialização
e de financiamento da produção agrícola. Tais problemas são fortemente
influenciados pela política econômica enquanto expressão do modelo
brasileiro de desenvolvimento, no qual os problemas dos pequenos
camponeses não são representados senão de forma insuficiente. (COY,
1983/84. p.12).
Além de Coy, Perdigão e Bassegio (1992, p. 177) também apontam as mesmas
contradições:
Nos encontros de migrantes, realizados em 1987 e 1988 [...] os migrantes
apontaram os seguintes motivos que os obrigam a se desfazer dos lotes:
Tratamento de saúde - Muitas famílias são obrigadas a vender os lotes para
se tratar da malária ou faz uma operação, por exemplo; Falta de estradas –
Efetivamente muitas famílias recebem lotes, que às vezes estão a quarenta
67
ou mais quilômetros dentro da mata. Ao migrante restam duas alternativas:
abandonar o lote ou passá-lo adiante para outros companheiros que,
provavelmente, ao ver que a estrada não será aberta logo, fará o mesmo;
Preço dos produtos – Há uma enorme desproporção entre o que o lavrador
ganha com o seu produto e o que ele gasta para adquirir os produtos
industrializados. O quilo de café que o lavrador vendia em 1986 por quarenta
cruzados, em dois anos teve um aumento de apenas 50%; já o fardo de
açúcar que ele adquiriu no comércio, no mesmo período, aumentou 1.400%.
É possível fixar o homem no campo desta forma? Qual é o apoio que o
parceleiro está recebendo do governo?
Através deste confronto entre o que foi propagado pelo Governo e o relato dos
migrantes, através de Coy e Perdigão e Bassegio, é possível afirmar que a propaganda
governamental foi utilizada como uma forma de persuadir o leitor, no caso à migrar para
Rondônia, garantindo-lhes apoio e infraestrutura, condições que, posteriormente, foram
contrariadas pelo próprio migrante.
Ainda neste sentido, um bispo da cidade de Ji-Paraná, D. Antônio Possamai, se viu
tentado em contrastar, não só as propagandas veiculadas em jornais, mas também em redes de
televisão:
Não acreditem em propaganda de TV. A imagem que é projetada no Sul a
respeito de Rondônia não corresponde à realidade. (Assim, não é verdade
que todos que chegam recebem terra, que há escolas para todos, que o
sistema de assistência a saúde é bom, que a terra é das melhores, que os
preços dos produtos são justos e que os financiamentos são melhores que em
outros pontos do país. O povo que vem sem dinheiro é a grande maioria. [...]
aqui só tem vez quem tem dinheiro para comprar terras; pior ainda, para
comprar influências e favores. Para estes as terras existem e até boas e em
bons lugares. Diria, então, a quem ler estas linhas: Não acreditem em
propaganda que é apresentada pela televisão. Esta é enganadora
(POSSAMAI, 1988, apud PERDIGÃO E BASSEGIO, 1992).
3.5.3 A propaganda que universaliza a ideologia do governo militar
Através de duas propagandas sobre a economia brasileira veiculadas no Jornal Tribuna
Popular, o governo federal enfatiza largamente a participação e o apoio da população na
superação da crise econômica, acarretada pelos altos preços do petróleo, vivida pelo país nas
décadas de 1970 e 1980.
68
Nas duas propagandas analisadas neste trabalho: “A incrível história do povo que
acreditou. O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer” e “Você poupou, a solução
começou”, o governo demonstra a intenção de persuadir o leitor para que este se sinta
incluído na vitória contra a crise econômica. Neste sentido, Nélson Jahr Garcia (1999, pág. 7)
afirma que “consegue-se, com isso, que cada um dos que ouvem a mensagem concorde com
ela, por acreditar que diga respeito a si e a seus interesses e necessidades, e acabe apoiando o
sistema econômico e o regime político.”
Esta intenção em incluir o brasileiro nas ações do governo, pode ser comprovada em
vários trechos das propagandas, como por exemplo:
Durante este tempo, cada brasileiro provou que dentro dele há uma semente
de confiança no seu próprio futuro. E muita vontade para superar os
momentos difíceis. Você trabalhou mais, poupou tudo o que foi possível na
vida de cada dia e ajudou o Brasil a encontrar a saída. [...] Você foi muito
importante nesta conquista. Vencemos o desafio. A sua confiança abriu
espaço para o Brasil voltar a crescer. (GOVERNO FEDERAL, Campanha:
O Brasil encontrou a saída – Vamos todos crescer, 1982).
Ou ainda:
No ano passado, o Brasil só tinha problemas e uma grande riqueza: a
vontade de sua gente. Agora ele tem soluções: Poupando e trabalhando mais,
cada um de nós ajudou o Brasil a encontrar uma bela saída. [...]
Economizamos tudo o que foi possível na vida de cada dia. [...] Afastamos
de uma vez por todas o fantasma da inflação sem limite. Ninguém mais
duvida que ela vai continuar caindo. O esforço de cada um superou os
momentos difíceis do ano passado. Você acreditou. O país inteiro ganhou.
Agora ele só tem uma direção: crescer. (GOVERNO FEDERAL, Campanha:
O Brasil encontrou a saída – Vamos todos crescer, 1982).
Neste contexto, Garcia (1999) explica que a universalização é a forma mais utilizada
pelo Governo na elaboração de suas ideologias. Ou seja, as ideias, que neste contexto
histórico refletia o pensamento e interesses do governo militar, são veiculadas como se o
objetivo principal fosse atender e beneficiar a todos os brasileiros. Garcia (1999, p. 13)
conclui que “no Brasil, isto tem sido constantemente feito com relação às medidas
governamentais, apresentadas através de fórmulas do tipo: benefícios para o povo, progresso
do país, desenvolvimento nacional, para o bem de todos, para todos os brasileiros.”
Desta forma, é incontestável que durante todo o período do Regime Militar, o governo
brasileiro veiculou propagandas com altas doses de otimismo, confiança, patriotismo, sempre
baseado em uma mentalidade desenvolvimentista. Ou seja, todas as ações realizadas pelo
Governo eram motivadas visando ao desenvolvimento do país.
69
Neste sentido, o Governo Militar investiu maciçamente em propagandas. Primeiro
para legitimar o Golpe de 196412, que levou os militares ao Governo e depois para justificar
todas as ações que desenvolviam no país. Mesmo assim, Garcia (1999, p. 7) alega que:
Muitos feitos foram exagerados e dramatizados ao extremo, com o objetivo
de sugestionar os ouvintes. Sugeria-se que naquele período se fizera mais
que em toda a história anterior do país; inúmeras construções eram
apresentadas como as maiores do mundo. Afirmava-se que todas as
realizações visavam ao bem estar da população em geral, ocultando-se que
os maiores beneficiados eram os detentores do grande capital.
A estratégia parece ter dado certo, uma vez que o Regime Militar se manteve no poder
ao longo de 21 anos. Incluir o cidadão comum nas ações do governo, mesmo que essas ações
12
Em abril de 1964, alguns militares, com apoio de políticos, empresários e segmentos da classe
média, tomaram o poder através de um golpe de estado. O novo regime político foi redefinido no
sentido de restringir a participação popular, impedindo quaisquer reivindicações, movimentos ou
conflitos. Paralelamente, propunha-se a reorientação do sistema econômico para um modelo de
desenvolvimento que, diferentemente das propostas nacionalistas anteriores, permitiria maior
penetração de capital externo no país. Essas diretrizes eram fixadas em função dos interesses das
empresas multinacionais, dos grandes proprietários de terras, industriais, comerciantes e
banqueiros. Através delas, estimulava-se a acumulação de capital sem os incômodos das tensões
causadas pela luta reivindicatória dos trabalhadores. Mas esses objetivos não poderiam ser
realizados sem o apoio e a colaboração dos trabalhadores em geral e da classe média.
Necessitavam-se dos operários nas fábricas, dos colonos nas fazendas e dos funcionários nas
repartições. Era preciso que todos trabalhassem e se esforçassem o mais possível, sem grandes
exigências, para promover a expansão econômica. É claro que tal apoio não seria conseguido se as
pessoas visadas não estivessem convencidas de que atuavam em função de seus próprios interesses
e benefícios. Para isso o governo promoveu uma intensa campanha de propaganda ideológica, que
se resolveu durante vários anos. Inicialmente improvisada e pouco sistemática, a propaganda logo
passaria a ser orientada por órgãos especialmente criados para coordenar as campanhas. A
Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência de República (AERP) encarregou-se da
propaganda nos governos de Costa e Silva e Médici. Geisel teve a Assessoria de Imprensa e
Relações Públicas (AIRP), depois desmembrada em duas. Figueiredo criou a Secretaria da
Comunidade Social (SECOM), posteriormente substituída pela Secretaria de Imprensa e
Divulgação (SID). Organizou-se, em todo o país, um sistema de censura de tal forma rigoroso que
quase nada podia ser divulgado sem prévia autorização. Qualquer informação ou notícia que não
estivesse de acordo com a ideologia oficial do governo era proibida e podia acarretar a punição do
responsável. Estabelecido, dessa forma, o controle absoluto das informações, a propaganda passava
a desenvolver-se sem nenhum obstáculo. O primeiro passo foi justificar o golpe do estado e o
regime implantado. Explicava-se que os militares haviam tomado o poder porque o Brasil era um
país desorganizado pelas crises econômicas e distúrbios políticos constantes que os governantes e
administradores corruptos não conseguiam solucionar. A dramática ameaça de subversão e guerra
revolucionária, orientada por comunistas portadores de “ideologias exóticas e alienígenas”, era o
pretexto anunciado para justificar o caráter autoritário e repressivo do governo. Procurando
legitimar o regime, a propaganda encarregou-se de enaltecer os presidentes, apresentando-os como
líderes os mais indicados para serem chefes de governo. Com a construção de uma imagem positiva
dos presidentes, esperava-se conseguir despertar a confiança da população para as suas decisões,
explicações e esclarecimentos. Pretendia-se obter, também, a submissão às convocações de
mobilização para o trabalho e apoio ao governo. (GARCIA, 1999, p. 7).
70
eram voltadas para grupos definidos, funcionou. O governo manteve suas estratégias de
persuasão, onde as propagandas governamentais foram as principais delas, desde o início do
Regime Militar, assim como mostra Garcia (1999, p. 7):
Otimismo e confiança passaram a ser a tônica das mensagens. “Chegou a
hora de crescer sem inflação” (Castelo Branco). “Confiamos no Brasil”
(Costa e Silva). “Ninguém segura o Brasil” (Médici). “Este é um país que
vai pra frente” (Geisel). “O Brasil encontrou a saída. Vamos todos crescer”
(Figueiredo). Foram épocas e slogans diferentes, mas sempre o mesmo
sentido.
71
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o período selecionado para esta pesquisa, de 1980 a 1984, foram veiculadas
12 propagandas dos governos Federal e Estadual no Jornal Tribuna Popular da cidade de
Cacoal, no Estado de Rondônia. É importante observar que neste período, o presidente do
Brasil era o general João Batista Figueiredo - o último governante nomeado indiretamente
para o cargo durante o governo militar (1964 – 1985), e no governo do estado de Rondônia,
no cargo de governador nomeado, o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira (1979 – 1985).
As propagandas deste período fornecem um material de pesquisa interessante e
significativo, uma vez que divulga as ações e intenções do governo em relação às políticas
relacionadas com a região Amazônica. Para a efetivação das análises destas propagandas
governamentais, foi preciso seguir passo a passo os processos da análise de conteúdo para
direcionar e restringir as ações que possibilitaram a exploração destes anúncios. A opção
escolhida foi tentar fazer uma análise visual e individual de cada anúncio, para
posteriormente, contrapor o que foi propagado pelos Governos e a realidade vivida pelos
migrantes de Rondônia, através da pesquisa bibliográfica.
Para isso, foi feita uma pesquisa bibliográfica que permitiu contextualizar a história de
Rondônia, desde as primeiras frentes de colonização do século XVII, passando pelos ciclos da
borracha no século XIX, pelos Projetos Oficiais de Colonização implantados pelo Governo
Federal a partir da década de 1970, até chegar à estrutura política, social e econômica atual do
Estado de Rondônia.
Desta forma, foi possível entender como os migrantes chegaram à Rondônia, nas mais
diversas frentes de colonização, incluindo o fluxo migratório que teve início nos primeiros
anos de 1970, continuando ao longo da década de 1980.
Como visto em capítulos anteriores, esse movimento migratório foi densamente
encorajado pelo Governo Federal através de campanhas publicitárias persuasivas e com forte
teor político e ideológico. Colonizar a região Amazônica, inclusive Rondônia, traria soluções
para dois problemas enfrentados pelo governo brasileiro, amenizar os conflitos por terra em
outras regiões do Brasil e integrar a última região, até então isolada, do resto do país. Além
disso, a colonização serviu como uma estratégia para a defesa da Amazônia contra ameaças
externas. Colonizando a Amazônia, o Governo Brasileiro garantia a posse e a proteção do
vasto território amazônico, diante de possíveis ameaças condizentes à região de fronteira.
72
Por esses motivos, a propaganda do Governo Federal foi intensa e amplamente
divulgada pelos veículos de comunicação disponíveis na região, mobilizando milhares de
migrantes que chegavam à Rondônia em busca de sua terra prometida. Como confirma a
entrevista concedida pelo jornalista e fundador do Jornal Tribuna Popular, Adair Antônio
Perin, durante a intensa colonização de Rondônia, ao longo da década de 1980, a maioria dos
veículos de comunicação no Estado divulgava as ações do governo para enaltecer o
desenvolvimento de Rondônia.
Além disso, Perin firma que, no início da década de 1980, muitos migrantes
buscavam os jornais para, através das reportagens e propagandas veiculadas, convencer
parentes de outras regiões do país a virem para Rondônia. Ele ainda destaca que isso era
também recorrente em outros veículos de comunicação, como rádio, televisão e outros jornais
impressos que os migrantes utilizavam para poder divulgar e atrair mais gente para Rondônia.
De acordo com Perin, no início dos anos 1980, a propaganda foi intensa, objetivando atrair
ainda mais migrantes para a região de Rondônia. “Aqui tinha terra, então o Governo fazia a
propaganda que o futuro de cada um era vir pra cá” [sic], concluiu Perin (2011).
Contudo, de acordo com Martin Coy (1984), o Governo não conseguiu acompanhar o
fluxo intenso de migrantes e passou a dificultar e atrasar a distribuição de lotes de terra. Dessa
forma, a maioria dos migrantes que chegavam à Rondônia teve dificuldades em adquirir a
terra prometida e intensamente propagada pelo Governo, e muitos desses migrantes,
impossibilitados de cumprir as inúmeras condições que passavam a ser impostas pelo
Governo (para aquisição de lotes e terrenos), acabaram ficando sem o seu pedaço de terra,
como prometia o governo na época. Coy (1984) afirma que embora Rondônia tenha sido
considerado frequentemente uma fronteira agrícola “bem-sucedida”, constatam-se processos
de diferenciação social no campo, reproduzindo assim as estruturas sociais das regiões de
“expulsão rural” no “centro” sócio-econômico do país. Do mesmo modo, mostra-se um
aumento dos conflitos de terra, sobretudo em função do desequilíbrio cada vez maior entre
demanda e oferta de terras de colonização.
Através desta pesquisa, foi possível perceber que o desenvolvimento pretendido pelo
Governo Militar foi propagado, sem que o mesmo executasse antes ações importantes que
direcionassem adequadamente estas frentes de expansão econômica e humana. Os grandes
73
projetos executados com financiamentos de bancos multilaterais não cumpriram alguns itens
importantes constantes nos contratos firmados entre o governo e estes.13
Buscando conhecer a realidade vivida pelo colono que veio à Rondônia persuadido
pela intensa campanha publicitária veiculada pelo governo, foi possível confrontar o real e o
propagado e, deste confronto, surgiram inúmeras contraposições. Como exemplo, podemos
citar o anúncio veiculado pelo Governo de Rondônia, assinada pela Codaron – Companhia de
Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia.
Neste anúncio, há uma ênfase maior nas condições de infraestrutura oferecidas pelo
Estado, como escolas, estradas, postos de saúde, etc. Em contrapartida, depoimentos de
migrantes encontrados em livros sobre a história regional relatam uma região inóspita, que
não oferece nem mesmo infraestrutura básica para fixar o homem no campo.
A abertura da BR-364, em 1960, e a sua pavimentação, na década de 1980, também
contradizem o que foi propagado pelo Governo Federal através dos impactos reais gerados
pela abertura de uma estrada em meio à floresta amazônica. Para o governo da época, a
abertura de uma rodovia, interligando fisicamente uma parte ainda isolada da Amazônia ao
resto do país, fomentaria positivamente o desenvolvimento econômico da região.
O desenvolvimento econômico, sob esta política econômica desenvolvimentista, gerou
também significativos impactos ambientais. Foram às margens da rodovia BR-364 que
surgiram os principais focos de desmatamento do estado de Rondônia. A abertura de uma
estrada em meio à floresta e a possibilidade de escoar a madeira, grande atrativo econômico
13
O Programa de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste) nasceu com objetivos gerais
de pavimentar a estrada que une Cuiabá – Porto Velho (BR-364), área de considerável potencial de
produção, objeto de rápidos fluxos migratórios, e, ao mesmo tempo, proporcionar os investimentos
necessários ao desenvolvimento sócio-econômico ordenado da área influenciada pela estrada e à
proteção do ambiente físico e da população indígena da Região. [...] O Decreto Presidencial, de 27
de maio de 1981, definiu os objetivos e recursos do Programa, que se basearam em amplos estudos
realizados anteriormente na respectiva área. Consoante o Decreto, os objetivos gerais do
Polonoroeste são os seguintes: a)Integrar as regiões marginais da economia nacional; b)Assegurar o
povoamento ordenado; c)Aumentar a produtividade, renda, saúde e bem-estar social dos migrantes;
d) Proteger as comunidades indígenas, os recursos da terra e do ambiente. O custo total do
Polonoroeste foi estimado, preliminarmente, em US$1,5 bilhões. Destes, cerca de 53% foram
destinados à construção de estradas, 40% ao desenvolvimento rural e assentamentos, e o saldo para
saúde, proteção aos índios, ao ambiente e para administração. Os fundos foram aprovados pelo
Ministério do Planejamento, em coordenação com a Superintendência de Desenvolvimento do
Centro-Oeste – SUDECO, do Ministério do Interior, que coordena e administra todas as atividades
do Programa. A Área do Programa Polonoroeste - Com uma área aproximada de 410.000 km2, a
Região Noroeste do Brasil equivale a cerca de três quartos da superfície da França, embora
corresponda a pouco menos de 5% do território do Brasil. A Região inclui todo o Estado de
Rondônia e 14 municípios do Oeste do Estado de Mato Grosso, todos oficialmente considerados
incluídos na área de influência da rodovia 364. (BELINATI, W.; e COSTA E SILVA, A, 1988).
74
nas décadas de 1970 e 1980, motivou e facilitou a derrubada da floresta. Essa relação entre a
construção de estradas e o desmatamento foi explicada por Fearnside (1982, p. 587) quando
ele afirma que a relação entre desmatamento e construção de estradas não é, provavelmente,
uma simples reação de causa e efeito em qualquer direção, mas uma espécie de coevolução
entre as duas, como um processo de retroalimentação positiva. Na medida em que as estradas
vão sendo construídas ou melhoradas, e as estradas vicinais vão sendo acrescentadas, mais
migrantes vão chegando à região, e os já presentes aumentam dramaticamente os índices de
desmatamento.
Por último, os dois anúncios da Campanha O Brasil encontrou a saída – Vamos todos
crescer veiculados no Jornal Tribuna Popular demonstram as estratégias utilizadas pelo
Governo Militar para atrair o apoio do brasileiro e assim legitimar as suas ações. Em seu
discurso, veiculado através das propagandas, o Governo explana suas ações e intenções
sempre incluindo brasileiro, fazendo com que este se sinta parte dessas ações. Através da
persuasão, o Governo convence o cidadão de que tudo o que está sendo e for feito é
exclusivamente visando o seu beneficio. Garcia afirma que estas estratégias são apresentadas
através de fórmulas do tipo: benefícios para o povo, progresso do país, desenvolvimento
nacional, para o bem de todos, para todos os brasileiros. Ou seja, as ideias, que no contexto
histórico refletia o pensamento e interesses do governo militar, são veiculadas como se o
objetivo principal fosse atender e beneficiar a todos os brasileiros.
75
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VIZEU, Rodrigo; VARGAS, Rodrigo. Usinas hidrelétricas levam criminalidade a
Rondônia. Rondônia: Jornal Folha de São Paulo, 2011. Disponível em: <www.folha.com>.
Acesso em 28 de agosto de 2011.
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APÊNDICES
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APÊNDICE A – História de Adair Antônio Perin e Jornal Tribuna Popular
AUDIO 1 – 6’55’’
Qual a origem de sua família?
De origem italiana. Perin e Maroni, tanto por pai tanto por mãe. Minha mãe é natural
de Bento Gonçalves e o meu pai é de Marau, na época distrito de Passo Fundo. Ambos no Rio
Grande do Sul. Em Santa Catarina, minha família possuía um pequeno hotel, em Guatambu,
distrito de Chapecó. Mas no Rio Grande do Sul eram agricultores. Meus pais eram
semianalfabetos, meu pai não escrevia e não lia. Minha mãe já conseguia ler e escrevia um
pouco.
Como aconteceu a mudança de Santa Catarina para o Paraná?
Em função da vontade e vocação pela terra. Tinha uma grande propaganda em relação
às terras do Paraná, foi onde nos mudamos para a região oeste, em Assis Chateaubriand e
depois Toledo. No Paraná, nós sobrevivíamos da agricultura. Até quando eu atingi uma certa
idade de 14 anos e o pai resolveu mudar para a cidade, tentado a viver na área comercial com
um bar, com jogo de bolão, foi assim que nos estabelecemos.
Como aconteceu o seu primeiro contato com o jornalismo?
Isso foi no Ensino Fundamental, nós tínhamos uma vocação de realizar eventos,
coisas. Até que um amigo falou comigo: “Vamos fazer alguma coisa Perin, Adair, na escola?”
Aí trocamos uma ideia e ele mesmo sugeriu de montarmos um jornalzinho estudantil. Acho
que começou com quatro páginas, impresso no mimeógrafo da prefeitura (Perin e seu amigo
trabalhavam também na prefeitura de Toledo).
Vocês tinham algum custo com o jornal estudantil?
Tínhamos! Nós tínhamos que comprar o estêncil que era como uma chapa para
imprimir e nós tínhamos o custo do papel, era em papel sulfite e a gravação saia do estêncil
que rodávamos no mimeografo. No começo nós custeávamos as edições por conta própria.
Depois nós passamos a pedir colaborações, alguns ajudavam, outros desprezavam. A
colaboração vinha dos alunos, às vezes alguns professores. Isso enquanto nós imprimíamos na
base do mimeógrafo. Mas nós tivemos acesso a uma gráfica, para fazer outro material
impresso (a parte), e nós comentamos com a dona da gráfica que nós imprimíamos um
jornalzinho estudantil no mimeógrafo, daí a dona da gráfica sugeriu da gente imprimir na
gráfica. Ela fez um orçamento pra gente e tal, daí sim nós fomos atrás de patrocinadores para
poder imprimir o jornal. Daí nós começamos a ir atrás de publicidade e o jornal começou até a
ser rentável. Nós pagávamos as despesas e ainda sobrava um dinheirinho no caixa. Quando
nós imprimíamos em mimeógrafo, nós distribuíamos uns 200 exemplares pela escola, mas
depois, quando começamos a imprimir na gráfica passamos a atender a todo o alunado da
escola, passavam de 400 exemplares.
Através do jornal estudantil, surgiu a oportunidade de trabalhar em um jornal de
Toledo, como aconteceu tudo isso?
Quando nós começamos a imprimir o jornal na gráfica, em off-set, essa gráfica
também imprimia um jornal da cidade e a diretora da gráfica propôs para que eu trabalhasse
com ela. Mas mais nas horas de folga e na área comercial. Ela viu que eu vendia propaganda
para manter o jornalzinho estudantil, aí ela propôs para eu fazer isso também para o jornal
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dela. Mas aí, quando eu podia, eu escrevia alguma coisa para o jornal, além da parte
comercial. Onde eu escrevia sobre assuntos quaisquer.
Por quanto tempo você trabalhou neste jornal e no jornal estudantil?
Acho que nesse jornal de Toledo foram uns dois anos. O estudantil durou enquanto
nós estávamos no colégio. Acho que foram uns dois anos também.
AUDIO 2 - 10’20’’
Como surgiu a ideia de vir para Rondônia?
A vinda para Rondônia não teve nada a ver com o jornalismo. A gente fez uma opção
de vir conhecer Rondônia e tal, daí nos entusiasmamos com que Cacoal, que era na época,
aquela vibração toda e como todo o pessoal, tinha o sonho da terra, aí nós decidimos vir pra
cá. Nós tínhamos parentes aqui, aí então nós tivemos apoio dos próprios parentes que
moravam aqui. A minha irmã que morava aqui sabia que eu trabalhava na prefeitura lá de
Toledo e disse que era fácil arrumar um emprego aqui em Cacoal e ela foi junto comigo falar
com o prefeito. Aí eu lembro que o prefeito olhava a minha carteira de trabalho e analisava e
tal, aí ele fez algumas perguntas, o porquê de um aumento por merecimento, aí eu expliquei
tudo pra ele e ele disse: “Pode vir, você está contratado” e para ganhar um pouco mais do que
eu ganhava em Toledo. Não teve como deixar de vir!
Como os seus parentes vieram para Rondônia?
Os parentes vieram vários anos antes que a gente. E vieram em função da terra que era
doada, cedida, para quem viesse para Rondônia, que era considerada o novo El dourado.
Então os parentes se animaram e vieram para cá conhecer, foram se ajeitando, conseguiram
terras para sobreviver e estão até hoje aqui.
A propaganda do governo Federal para colonizar a Amazônia, influenciou a vinda da
sua família?
Exatamente, a propaganda era muito grande, principalmente em cima de Cacoal, e
dessa região aqui. Eu lembro que a revista VEJA até tinha uma reportagem do Dr. Ideval
Munin que dizia que ele suportava uma inflação de mil por cento no tempo em que a inflação
estava alta. E tudo isso ajudou a trazer muita gente pra cá. E assim vieram os meus cunhados,
irmãos, irmãs, sobrinhos, meu pai e minha mãe também vieram. Isso em 1972, depois em
1979 nós também viemos.
Como era Cacoal a primeira vez que você veio?
Era uma cidadezinha pequena, com muita poeira. Praticamente todas as casas eram de
madeira. Mas um movimento muito grande, muito animador. O pessoal era entusiasmado,
alegre e a gente se envolveu nessa onda aí também e resolvemos vir pra cá.
Qual era o clima na cidade? Otimismo, desenvolvimento?
Sem dúvida. Aqui o pessoal vinha, quem não era casado tinha que casar. Eram jovens
namorando e casando para pegar os seus 42 alqueires de terra. E isso era muito normal
acontecer. Era um clima de ânimo, de vontade do povo de alavancar aqui, a localidade. E
assim foi se instalando e é hoje o que é.
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Como era a propaganda do governo na época? Era em cima de fixar povoamentos e
colonizar a região?
Ah sim! O governo era um governo nomeado, governo militar na época. O presidente da
República e o governo federal animavam todos para que viessem pra cá, pegar terra. Podia
desmatar até 50%. Eu mesmo tive condições de pegar uns dois mil hectares de terra, mas não
tive coragem, porque eu não tinha nem como fazer 10 alqueires de derrubada e precisava
fazer 50%. A gente pensava que tinha mesmo que obedecer a lei, que a lei na época era
mesmo isso aí, de desmate de 50%. E nós não tínhamos como fazer. Nós tivemos a
possibilidade de pegar 2000 hectares que terra, a qual foi oferecida pelo próprio INCRA, mas
a gente não tinha como fazer nem 10 alqueires e como é que ia pegar dois mil hectares? Então
a gente desprezou, a gente simplesmente desprezou pegar uma terra dessas. Hoje, no entanto,
é o contrário, quem está com a preservação é quem está certo, quem desmatou é que está
errado, que vai ter que reflorestar, replantar.
Quais foram as principais dificuldades que você e sua família encontraram quando
vieram morar em Cacoal?
Eram muitas né! Principalmente na área de saúde. Tanto é que quando a nossa
primeira filha, a Adriane nasceu, a Leane (esposa) foi para Toledo, no Paraná, para fazer o
parto por lá, por que aqui não confiava. Cacoal estava muito aquém das necessidades, e o
pessoal geralmente saía para fora para fazer tratamento de saúde. Mas tem coisas que
impressionaram a gente, e se for pra comparar, no Paraná demorou muito mais para chegar as
escolas, aqui, na área rural, de 4 em 4 quilômetros tinha uma escolinha. Enquanto que no
Paraná, quando nós chegamos lá, em 1960 por aí, não tinha essa estrutura toda que tinha aqui.
Você disse anteriormente que veio para Rondônia, pois recebeu uma proposta de
trabalho na prefeitura de Cacoal, a mão de obra naquela época, era escassa?
Na época não dependia de concurso e a pessoa, mostrando conhecimento nas áreas,
tinha facilidade em conseguir emprego. Eu cheguei numa época em que estavam precisando
de pessoas com conhecimento e eu trabalhava na contabilidade da prefeitura de Toledo, com
uma experiência de 6 anos e aqui nós conseguimos mostrar que tínhamos conhecimento de
causa, que sabíamos o que era necessário dentro da prefeitura e fomos contratados. Mas não
fiquei, acho que nem um ano na prefeitura. Aí fui me dedicar à causa que eu criei que era o
Jornal Tribuna Popular.
Quando e como surgiu a ideia de montar um jornal?
A ideia foi logo que eu cheguei. Eu estava acostumado no meio da comunicação e aqui
não existia nada. Só existia um serviço de alto-falante, não tinha jornal. O jornal que vinha de
Porto Velho chegava uns três ou quatro dias atrasados. Na televisão a programação era toda
atrasada. O fantástico de um domingo a gente assistia no outro domingo e assim por diante.
Então a gente viu que tinha essa lacuna e a gente entendia que com um jornalzinho a gente
podia ajudar muito, daí a gente teve a ideia de começar este trabalho.
Como você conseguiu montar esse jornal?
Essa é uma história bem longa e até complicada. Sem dinheiro a gente tentou fazer o
jornal. A ideia minha era que eu levantava uma quantidade de anúncio suficiente para pagar o
jornal e obter um pequeno lucro em cima. Eu reuni todas as matérias e anúncios e fui a Porto
Velho para imprimir o jornal. Mas eu fui sem dinheiro, só com o dinheiro para cobrir com as
despesas da viagem. Eu entendi que se eu chegasse lá e desse um cheque a pessoa esperava
alguns dias até que eu chegasse, apresentasse a edição do jornal, recebesse o dinheiro da
publicidade e pagasse a edição. Daí, para o meu engano, na hora da edição pronta, o cidadão,
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dono da gráfica, seu Hermano Pontes Pinto que era o dono do jornal “O Guaporé” onde eu
imprimia a edição não quis liberar a edição pra mim. Aí eu tive que, no desespero, procurar
uma forma de trazer a edição, para receber e poder pagar. Daí eu contei com o apoio de uma
pessoa que era uma autoridade no estado, e ela me ajudou a liberar a edição para eu levar para
Cacoal, mediante a apresentação de um cheque para poucos dias. Quando eu cheguei a Cacoal
eu recebi as publicidades, daí eu consegui cobrir os cheques e levantar um lucro para próxima
edição.
Quem eram os funcionários, colaboradores do jornal nas primeiras edições?
Eu tinha alguns colaboradores que me ajudavam. No caso o Marcos Paraíba me
ajudou, o chefe de gabinete da prefeitura, Ademar Romano também me ajudou, porque ele
tinha uma experiência em redação. Assim eu fui levantando o material para as primeiras
edições do jornal.
AUDIO 3 - 13’46’’
Como você descobriu onde e como imprimir o jornal?
Tinham as gráficas que imprimiam os jornais de Porto Velho. Existia “O Guaporé”,
“O Alto Madeira”, o jornal “A Tribuna”. Daí a gente procurou qual das gráficas que podia
imprimir e aí a gente descobriu a gráfica do jornal “O Guaporé”, que é extinto hoje, mas era
um dos mais antigos jornais. Combinamos o valor e tudo, e como eu já expliquei, fui atrás de
patrocínios para poder pagar a edição e continuar imprimindo o jornal.
E o projeto gráfico do jornal? Era a própria gráfica que fazia?
Sim, a gente levava as matérias e todo o resto e os profissionais do jornal lá nos
ajudavam, dando sugestões de como podia ser feito e tal, e assim a gente fazia.
Quem vendia os anúncios do jornal?
Eu mesmo! No início era tudo a gente que fazia. Depois começaram a aparecer
colaboradores. Para começar, a gente primeiro vendeu as publicidades, foi levantado o valor
para pagar a edição do jornal e a gente começou a reunir o material para ser publicado no
jornal.
Quem eram os primeiros anunciantes do Tribuna Popular?
Lojas, farmácias, supermercados...
E em relação a governo e prefeitura, como eram feitos os contratos?
Bom, prefeitura a gente já contou com o apoio desde o início, antes que o jornal
circulasse. Mediante as publicações a gente apresentava as faturas e recebia. Não era tão
burocrático quanto é hoje. O governo demorou até um tanto para começar a anunciar. Depois
começaram a desenvolver algumas campanhas, daí a gente começou a divulgar as
publicidades que tinham.
Na época, o governo já contava com um departamento, uma equipe para lidar com a
comunicação?
Tinha, tinha! Tinham o setor, departamento de comunicação do Governo que
autorizava, mandava produzir as artes finais para a publicação e mandava pra gente.
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No início, qual foi a receptividade do jornal, por parte da população?
Foi muito boa né! Era uma novidade, não existia nada. Daí surgiu o jornal. Só que o
jornal era só tabloide né! Não deu uma representação como deu quando a gente passou a
editar o jornal em tamanho standart, daí repercutiu melhor. Eu até me lembro de uma pessoa
que disse “Agora Cacoal tem um jornal!” depois que passou a standart.
Na questão financeira, qual era a maior dificuldade do jornal?
Ah, sempre era muito difícil conquistar as coisas. Não era nada fácil. A gente não
podia almejar muito porque Cacoal era uma cidade muito pequena ainda. Havia muitos
comércios até, mas para investir em publicidade era uma dificuldade muito grande. O pessoal
preferia o serviço de alto-falantes que existia na época. Alguns empresários que ajudavam no
jornal. A gente ia também à Pimenta Bueno, atrás de publicidade. Porque Cacoal só não tinha
material suficiente pra gente sobreviver. Quem investia e anunciava gostava, porque via o
jornal circulando de mão em mão, e a publicidade dele estava ali. Então quem anuncia não
tinha dificuldade em continuar anunciando.
Com maquinário próprio, você chegou a trabalhar com as linotipos, como foi isso?
Essas linotipos a gente localizou em Manaus, porque a gente imprimiu o jornal um ano
em Manaus. Aí a gente comprou a impressora tipográfica e a linotipo. A gente negociou e
trouxe para cá em 1983. O transporte foi até fácil né, porque existia a estrada de Porto Velho à
Manaus, na época né! Tinha a estrada com asfalto, tudo. Então o transporte não foi nada
difícil. Foi arrumar um caminhão e trazer.
Esse maquinário que vocês utilizam hoje tem história, qual a história dele?
Dizem que ela foi fabricada na época da Guerra e os alemães que produziram. Foi
produzida na Alemanha essa máquina né! E ela é para ter toda uma estrutura de alumínio, que
era para ser um material mais leve para poder ser transportada em um avião. Aí eles faziam
impressos e distribuíam onde tinha população, conflitos da guerra.
Como você encontrou essa máquina?
Essa máquina foi um amigo da gente, de Brasília, que localizou ela e daí deu a dica de
que havia essa máquina; ele que comprou essa máquina, tudinho pra gente, e veio montar ela
aqui.
O preço que você pagou nesta máquina, na época, você lembra?
Bom, eu comprei ela em 1994, e a gente instalou ela e começamos a imprimir em offset. Eu lembro que foi 18 mil, não lembro bem a moeda da época! Acho que não era o real
ainda, acho que era cruzeiro. A máquina foi comprada com nota fiscal da gráfica de Brasília,
então não teve problema para transportá-la de Brasília pra cá. Essa máquina é de uma marca
com nome bem complicado “Kilckbusch”, é uma marca de origem alemã. Ela data de 1954.
No começo foi bem complicada, porque o cara que veio montar ela aqui montou bem
superficialmente. E daí o pessoal foi ajeitando ela, montando, descobrindo os detalhes dela.
Agora sobre os dias atuais...
Qual a circulação do Tribuna Popular?
São três mil exemplares, com quantidade de páginas variáveis, vai de 12 a 20, 24,
páginas e circula semanalmente as sextas-feiras. A distribuição é em Cacoal e nos municípios
circunvizinhos. Cacoal é a distribuição principal, aí vem Pimenta Bueno, Espigão do Oeste,
Ministro Andreazza, Rolim de Moura, Presidente Médici, e Porto Velho.
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Quanto, aproximadamente, é distribuído em cada município?
Depende do município. A quantidade que vai para Ministro Andreazza é bem menor
da que vai para Pimenta Bueno. Vão uns 100 exemplares para Ministro Andreazza, uns 200
para Pimenta Bueno, 200 para Rolim, uns 100 para Espigão, para Médici vão uns 80
exemplares, para Porto Velho vão uns 200. A distribuição é mais em Cacoal mesmo. Também
tem alguns jornais que distribuímos também via Correio, para pessoas que moravam em
Cacoal e se mudaram, mas ainda querem receber o jornal. De vez em quando mandamos para
Brasília.
O Tribuna Popular é um dos poucos jornais que se mantém em preto e branco, porque
essa opção?
Por causa do financeiro (rs). Por questão financeira. E outra é porque para imprimir o
jornal do tamanho que é o nosso, tamanho standart, vai depender de um investimento em
maquinário que é muito mais caro. Então a gente sempre pesquisa e conversa com amigos da
área, e a gente sempre teve o conselho de manter do jeito que sempre foi, até porque o pessoal
já está habituado.
Você adquiriu um novo maquinário e tem a opção de imprimir o jornal colorido, mas
para isso teria que diminuir o tamanho, o que você pensa sobre isso?
Porque como eu falei antes, quando a gente começou o jornal era tablóide, e quando
lançamos ele standart o pessoal falou, “Agora a gente tem um jornal”. Então a gente leva isso
em consideração. E para condensar tudo o que a gente tem, para publicar no tamanho standart
é mais fácil, enquanto que no tablóide a gente tem que aumentar a quantidade de páginas, que
influencia até mesmo nos custos. Então a gente faz a opção de continuar desta forma.
AUDIO 4 – 7’50’’
Eu estou analisando as propagandas governamentais do período entre 1980 a 1984.
Quem fazia a propaganda do governo estadual?
Era uma agência chamada OANA, de Manaus, que adquiriu o direito de fazer a
publicidade do governo. Esta agência existe até hoje, em Manaus, a Oana Publicidade. Então
os contratos do jornal eram feitos através da Oana.
Você sentia nas propagandas e no discurso do governo, o ideal desenvolvimentista do
governo militar em relação à Amazônia?
O governo tentou fazer a publicidade máxima possível! Porque era um objetivo
transformar Rondônia em Estado, e pra que ele se transformasse em estado, tinha que mostrar
os motivos para isso acontecer. A propaganda era o carro chefe! E onde eles podiam
desenvolver a divulgação, eles procuravam fazer.
O jornal Tribuna Popular conseguiu auxiliar nesta divulgação?
Ah, eu acho que sim, porque tudo girava em torno de uma amplitude para divulgar o
objetivo de criação do estado e era aquela expectativa do povo. Estávamos todos vinculados
nos acontecimentos. Era uma forma de altruísmo, perseverança, então a gente anunciava o
pessoal prestava atenção mesmo, pegavam, liam. E naquela época eram mais textos mesmo,
não tinha muita imagem, era mais texto, o que se ia fazer. Além disso, muitas pessoas
utilizavam o jornal para poder convencer parentes que não queriam vir para cá, que temiam
pelo futuro. Daí esses anúncios eram mandados pra fora, e daí o pessoal se convencia e
chegava cada vez mais gente. Isso não só através de Tribuna Popular, mas de vários veículos
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também, que utilizavam para poder divulgar e atrair mais gente para Rondônia. Como a gente
falou né, era considerado o novo El Dourado, então a propaganda era muito grande para atrair
o povo e a gente acaba sendo seguido pelo povo. Aqui tinha terra, então faziam a propaganda
que o futuro de cada um era vir pra cá.
Você acha que em certos aspectos, essa propaganda exagerada, chegou a ser um pouco
enganosa?
É, propaganda enganosa... Porque a propaganda existia e realmente, muita gente
tentava e não conseguia pegar terra, outros conseguiam. Acho também, por causa da forma
desordenada, muita terra para alguns, pouca terra para muitos. Então teve esse tipo de
problema. Quanto à propaganda de trazer gente pra cá, a gente sentiu mesmo, que teve
propaganda demais e o povo veio mesmo para Rondônia. Aí teve esses problemas todos de
Reforma Agrária. Muitos pensavam que era só chegar e pegar a terra e não conseguiam. Você
vê até hoje aí, grandes fazendas, e muitos ficaram sem terra. Por isso nem tudo o que foi
divulgado era bem o que o povo pensava. Quem tinha dinheiro conseguia mais, quem não
tinha conseguia pouco, e depois quem tinha dinheiro tinha como comprar e como manter, às
vezes da forma, mas alheia, para tentar manter aquela terra toda. Por isso tinha tantas
confusões também, se falava tanto em mortes por causa desse negócio de terra. Aconteciam
muitas tragédias.
Em relação ao governo federal, como você conseguiu os contratos?
Eu acho que o governo se utilizava dos cadastros de veículos que tinha no próprio
governo do estado e daí pegavam o endereço dos jornais e mandavam para gente a
publicação. Partiu deles, vinham direto deles lá, pra gente. Acho que eles descobriram através
da Oana, dos cadastros dos veículos junto ao departamento de comunicação do governo
estadual, e através dessas informações eles mandavam anúncios pra gente publicar. Vinha a
autorização, tudo certinho, pra gente publicar.
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APÊNDICE B – Transcrição das Propagandas em Documento do Word
PROPAGANDA 1 – PLANTE MAIS FEIJÃO. O PREÇO MÍNIMO É Cr$ 14.400,00,
MAIS CORREÇÃO.
Ano passado o preço mínimo garantido do feijão foi de 5.985,00 cruzeiro. Para esta
safra, ele subiu 14.400 cruzeiros. E ainda tem correção, de julho até novembro.
Este é o melhor motivo para você plantar cada vez mais feijão.
Mas têm outros.
Você tem crédito e seguro para cobrir sua produção.
O VBC é de 100% para todos os produtores. Financiamento total.
O seguro agora protege a sua safra e o seu dinheiro.
Você tem a garantia de preços mínimos corrigidos.
Você conta ainda com a assistência técnica e orientação para conseguir bons lucros.
14.400 cruzeiros é o preço garantido do feijão, mais correção.
Com este preço mínimo, você vai poder plantar o máximo.
VAMOS RECONSTRUIR NOSSA TERRA, PLANTANDO.
Procure sua cooperativa, um banco ou um técnico da extensão rural. Você só tem a ganhar.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
APOIO: BANCO DO BRASIL S.A.
Rodovia Marechal Rondon
BR-364
Cuiabá – Porto Velho
Acionando ao máximo a capacidade de conviver com as dificuldades econômicas sem
abrir mão do nosso desenvolvimento, o Governo João Figueiredo, através do Ministério dos
Transportes, inaugura a Rodovia Marechal Rondon, Cuiabá-Porto Velho, com 1.450 km de
extensão, constituindo-se na última grande rodovia de integração nacional.
PROPAGANDA 2 – Conheça a Rodovia Marechal Rondon
Até 1981, as viagens rodoviárias para Porto Velho só eram possíveis com grandes
dificuldades, pois nos períodos chuvosos diversos trechos da rodovia tornavam-se
intransitáveis, acarretando perdas de cargas perecíveis e prejuízos que aumentavam
significatiamente o custo dos transportes e dos gêneros alimentícios.
Esta é uma estrada pontilhada de estórias de aventuras humanas, sacrifícios pessoais,
determinação. De caminhoneiros que passaram meses nos atoleiros, com fome, sendo
obrigados a beber até a água retida na própria estrada para saciar a sede.
De homens como Alberico Oliveira, topógrafo, moço, que, liderando uma equipe de
12 companheiros, abrindo picadas, enfrentou uma onça em seu acampamento. Como Deomar
Gonçalves de Castro, que chefiou 5.000 trabalhadores desbravando a estrada, a machado,
árvore por árvore, seguindo a “linha Rondon”, aberta por aquele outro grande pioneiro. E
como João Veloso ou “João da Pamonha” que ficou rico cozinhando pamonha, dia e noite,
para atender aos caminhoneiros que permaneciam com seus caminhões retidos por cerca de
dois meses em filas de até 10 km de extensão.
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É por causa de homens como esses que a estrada aí está.
1450 Quilômetros de asfalto para você
Seguindo as diéreses de racionalização, sem desperdícios, do Ministério dos
Transportes, pôde o DNER concluir a rodovia no prazo de 1.078 dias, 290 dias antes da data
contratada. E a um custo 30% menor do que o previsto pelo Banco Mundial, que forneceu
parte dos recursos, sem prejuízo da qualidade da obra.
Para isso, o DNER mobilizou as principais empreiteiras do País, que empregaram mais
de seis mil homens, utilizando cerca de 1.400 equipamentos diversos.
Trabalharam na obra as empreiteiras Mendes Júnior, Queiroz Galvão, CCQ, Constran,
EIT, C.R. Almeida, Serveng-Civilsan, Contek, EBEC, Tratex, Convap, ECEX, além dos 5º e
9º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército.
Primeiro Rondon, agora Figueiredo
A BR-364 foi batizada de Rodovia Marechal Rondon em homenagem ao brasileiro
que desbravou a região, ali estendendo a primeira linha telegráfica, a partir de 1912. Agora a
trilha do Marechal Rondon torna-se a maior obra rodoviária do Governo João Figueiredo,
consolidando a expansão das novas fronteiras agrícolas dos estados de Mato Grosso e
Rondônia e assegurando condições para a fixação do homem à terra, numa região que se
transformou em símbolo da nossa década, pelo dinamismo do seu desenvolvimento.
MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES
Departamento Nacional de Estradas e Rodagem – DNER
Governo João Figueiredo
PROPAGANDA 3 – Muito satisfeito, Rondonzinho estende até setembro o prazo de
trocas da Série Dois.
Construir uma vida melhor para todos através da arrecadação do ICM. Essa é a missão
de Rondonzinho e seus amigos. E, ela está sendo tão bem cumprida, que a satisfação de
Rondonzinho não encontra limites.
Assim, o prazo de troca de figurinhas e alguns da série Dois foi estendido, afim de que
os amigos do Rondonzinho tenham a oportunidade de aumentar a intensidade do brilho de sua
Estrela da Sorte. Apresse-se em encher os álbuns da Série Dois. Você não pode ficar de fora.
Continue ajudando o Rondonzinho e continue recebendo muitos prêmios grátis!
Para continuar ajudando o Rondonzinho você já sabe, é só continuar exigindo as Notas
Fiscais, Tiquetes de máquinas registradoras e Cupons especiais. Depois, por cada Cr$ 500,00
em Notas Fiscais, Tiquetes ou Cupons Especiais você recebe 5 figurinhas e, em pouco tempo,
seu álbum de 80 figurinhas estará preenchido, porque são todas fáceis. E ainda existem as
carimbadas.
Carimbadas: É achar e ganhar! Não perca tempo!
São 5.000 figurinhas carimbadas. E já saíram muitas delas. Se você encontrar um
carimbo estampado na frente da marca da Nova Estrela, corra até o posto mais próximo e
receba o prêmio designado no verso. Você é um felizardo.
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Agora os grandes prêmios finais dobram. Álbum completo! Parte para eles.
Se o seu álbum está completo, vá agora mesmo trocá-la por um Cupom Numerado e
concorra pela extração da Loteria Federal de Agosto a estes prêmios sensacionais:
Série Única – Série Dois
1º Prêmio: 1 Caderneta de Poupança – no valor de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros)
2º Prêmio: 1 Aparelho de Som 3 em 1:
3º Prêmio: 1 TV a cores de 20 polegadas;
4º Prêmio: 1 Geladeira Climax;
5º Prêmio: 1 Geladeira Climax;
6º Prêmio: 1 Geladeira Climax;
7º Prêmio: 1 Geladeira Climax;
8º Prêmio: 1 Geladeira Climax;
9º Prêmio: 1 Bicicleta Monark;
10 Prêmio: 1 Bicicleta Monark;
Receber álbuns ou trocar figurinhas é muito fácil:
Basta você se dirigir a qualquer um dos postos da Secretaria de Finanças de Porto
Velho ou no Interior com suas Notas Fiscais, Cupons Especiais ou Tiquetes para receber seu
álbum e figurinhas do Rondonzinho. Levando as figurinhas carimbadas você recebe os
prêmios designados no verso.
Postos de Troca:
Capital
- SEFIN – Av. Faquar
- Divisão de Arrecadação ED EFMM
- CAT – Av. Prudente de Morais, ao lado da Delegacia da Receita Federal;
- Agências Bancárias;
- Supermercados;
- Trailers Volantes.
Interior
- Agências de Rendas da SEFIN-RO;
- Agências Bancárias;
- Supermercados.
Postos de Recebimento de Prêmios
Capital
- Coordenadoria de Administração Tributária – CAT
- ED EFMM
Interior
- Agências de Rendas da SEFIN-RO
Notas ficais que valem para troca:
O Rondonzinho relembra os seus amigos que só serão válidas para troca as Notas
Fiscais, Cupons Especiais ou Tiquetes de máquinas registradoras emitidas a partir de 20 de
89
Abril por firmas sediadas no Território Federal de Rondônia, relativas a vendas ao
consumidor. Não valerão as notas de vendas combustíveis, lubrificantes ou veículos
automotores.
Prazo para os colecionadores do Rondonzinho:
ÁLBUM
SÉRIE ÚNICA
SÉRIE DOIS
NOTAS
FISCAIS POR
FIGURINHAS
Até 13.08.81
Até 13.09.81
ÁLBUM POR
CUPOM
HORA
GRANDE
SORTEIO
Até 16.08.81
Até 16.09.81
12:00hs
12:00hs
19.08.81
19.09.81
AMIGOS DO RONDONZINHO
ICM – ARRECADAR PARA CRESCER
GOVERNO DE RONDÔNIA
Jorge Teixeira de Oliveira
RONDÔNIA
SECRETARIA DE FINANÇAS
PROPAGANDA 4 – Chegou o novo álbum do Rondonzinho. Agora são 6.026 prêmios
maravilhosos.
O Rondonzinho voltou com muito mais prêmios. Além da diversão, cada um de nós
vai aprender uma porção de coisas novas, colecionando o novo álbum. Fazendo isso nós
vamos ajudar a crescer a arrecadação do ICM. Sabemos que com esse dinheiro dos Impostos
o Governo constrói escolas, hospitais, avenidas, redes-elétricas e uma porção de outras coisas
que facilitam a vida da gente.
O Rondonzinho explica o novo sistema de trocas:
Continua fácil colecionar o álbum do Rondonzinho. Basta exigir a Nota Fiscal, o
tíquete de compra das máquinas registradoras, ou ainda o cupom especial, em todas as
compras que você fizer. Em seguida cada Cr$ 1.000,00 destes comprovantes de compra, você
troca por um álbum, ou um envelope contendo 5 figurinhas. O novo álbum tem agora 160
figurinhas, mas nenhuma delas é difícil. Somente a carimbada, mas esta dá prêmio.
Figurinha carimbada: achou, ganhou!
Agora tem 6.016 figurinhas carimbadas. Portanto os prêmios aumentaram em volume
e qualidade. Quando você encontrar a marca da Nova Estrela, com um carimbo em vermelho
estampado na frente, vire rápido e leia no verso o prêmio que você ganhou. Depois é só levar
ao posto de troca e receber o prêmio. Ao completar o álbum, prepare-se para concorrer aos
grandes prêmios!
Quando seu álbum estiver completo, leve ao posto de troca mais próximo e mande
carimbar as figurinhas. Em seguida eles vão destacar a lapelas da última capa. O número que
já está carimbado na lapela do álbum é o seu número da sorte para concorrer pela extração da
Loteria Federal, a estes prêmios incríveis:
1º Prêmio – 1 carro Zero Km – Voyage
2º Prêmio – 1 caderneta de Poupança de Cr$ 200.000,00
90
3º Prêmio – Aparelho de som 3 em 1
4º Prêmio – TV à cores 20”
5º Prêmio – TV à cores de 16”
6º Prêmio – Geladeira
7º Prêmio – Geladeira
8º Prêmio – Geladeira
9º Prêmio – Bicicleta de 10 marchas
10º Prêmio – Bicicleta de 10 marchas
Onde trocar suas figurinhas:
Exigem dezenas de Postos de Troca em toda a cidade de Porto Velho, e ainda nas
cidades do interior, onde existem postos da SEFIN. Basta levar suas Notas Fiscais, tíquetes de
máquinas registradoras ou os cupons especiais a qualquer agência da Secretaria de Finanças, e
você recebe seu álbum e suas figurinhas do Rondonzinho.
Notas Fiscais válidas para troca:
Só valem Notas Fiscais, tíquetes de máquinas registradoras ou os Cupons Especiais
emitidas PR firmas com sede em Rondônia, e com data a partir de 1º de Outubro de 1.981 e
relativas a vendas ao consumidor. Não são válidas notas de venda de combustíveis e
lubrificantes, e notas de vendas de veículos automotores.
Prazo dos colecionadores do Rondonzinho:
Troca de figurinhas:
Até 14 de Abril/82 (18:00hrs)
Recebimento de álbuns completos para destaque dos cupons numerados:
Até 17 de Abril/82 (18:00hrs)
Sorteio pela Loteria Federal:
24 de Abril de 1.982
Postos de troca:
Capital
- SEFIN – Av. Farquar
- Divisão de Arrecadação Ed. EFMM
- CAT – Av. Prudente de Morais ao lado da Delegacia da Receita Federal.
- Agências bancárias
- Traillers volantes.
Interior
- Agência de Rendas SEFIN/RO
- Agências bancárias
- Supermercados
Postos de recebimento de prêmios:
Capital:
Coordenadoria de Administração Tributária – CAT
- Ed. EFMM
91
Interior
- Agência de Rendas da SEFIN/RO.
AMIGOS DO RONDONZINHO
ICM – ARRECADAR PARA CRESCER
GOVERNO DE RONDÔNIA
Jorge Teixeira de Oliveira
RONDÔNIA
SECRETARIA DE FINANÇAS
PROPAGANDA 5 – Aqui estão os ganhadores dos prêmios do Rondonzinho
Estes são os felizardos, que ganharam prêmios do Rondonzinho, no sorteio do dia 24 de abril,
pela Loteria Federal. Veja se o seu nome está na lista e venha buscar o seu prêmio:
1º Prêmio –
2º Prêmio –
3º Prêmio –
4º Prêmio –
5º Prêmio –
6º Prêmio –
7º Prêmio –
8º Prêmio 9º Prêmio –
10º Prêmio –
Carnê Nº 40.854
Carnê Nº 01.761
Carnê Nº 34.425
Carnê Nº 67.729
Carnê Nº 33.200
Carnê Nº 65.878
Carnê Nº 70.949
Carnê Nº 15.123
Carnê Nº 74.284
Carnê Nº 06.297
1 carro Zero Km – Voyage
1 caderneta de Poupança de Cr$ 200.000,00
Aparelho de som 3 em 1
TV à cores 20”
TV à cores de 16”
Geladeira
Geladeira
Geladeira
Bicicleta de 10 marchas
Bicicleta de 10 marchas
AMIGOS DO RONDONZINHO
ICM – ARRECADAR PARA CRESCER
GOVERNO DE RONDÔNIA
Jorge Teixeira de Oliveira
RONDÔNIA
SECRETARIA DE FINANÇAS
PROPAGANDA 6 – E da terra nasceu a estrela.
E, de repente, as mãos se multiplicaram no serviço da terra, que se tornou fértil e
vicejou. De repente, o Estado se cobriu de lavouras e produziu o sustento de muitos.
E o café, o cacau, o arroz, o milho, o feijão, a seringueira, os bois e os búfalos se
espalharam por estas terras, distribuindo riquezas e construindo o futuro. E um futuro calcado
no trabalho, único meio que nos dá riquezas sólidas. E a terra explodiu numa seara iluminada
pelo sol da Amazônia, mostrando a certeza do nosso esforço e sentimo-nos recompensados.
92
A Codaron, além de cumprir as metas para que fora criada, desenvolvia um trabalho
paralelo de grande valor: ajudava a implantar as bases de um Novo Estado. Sem produção,
não há fixação do homem à terra. Fixando-se o homem, fixam-se as bases para o
desenvolvimento.
E, para atender a toda essa demanda, a Codaron criou o Sistema Agrícola de Rondônia
para o pequeno produtor, com a montagem de núcleos urbanos de apoio rural, com Escolas,
Postos de Saúde, Armazéns, Estradas secundárias, construídas e conservadas pelas próprias
pessoas que as usam. O Governo do Estado, através da Codaron, fornece tratores e
equipamentos, dando condições ao povo de melhorar as condições de vida.
Todo este esforço conjunto deu-nos a certeza de que a Estrela seria alcançada.
Criando, através de trabalho sério e continuo condições de sobrevivência, cada vez melhores,
o progresso da agricultura do Estado seria questão apenas de trabalho. E como trabalhou este
povo, sentindo-se amparado. Notou-se sentido progresso em todos os setores de atividade
agrícola e cada vez mais, famílias oriundas de todos os pontos do país, vinham fixar-se entre
nós.
E Rondônia é um exemplo de progresso bem planificado. Seu futuro está assentado em
bases sólidas, pelo trabalho dos braços fortes desses colonos que plantam o amanhã, liderados
pelo incansável Governador Jorge Teixeira.
É assim que Rondônia está colhendo os frutos de seu trabalho sem esmorecimentos. E
a colheita está ultrapassando a mais otimista expectativa. Isto porque, orgulhosamente,
podemos dizer: E DA TERRA NASCEU A ESTRELA.
Willian José Curi – Presidente da Codaron
CODARON – Companhia de Desenvolvimento Agropecuário de Rondônia
PROPAGANDA 7 – O Rondonzinho ajudou nesta conquista.
Arrecadar para crescer, o lema do Rondonzinho foi seguido à risca por todos e
Rondônia cresceu tanto que virou Estado.
Governo e povo irmanados na luta comum conquistaram a estrela.
E, se pensarmos bem, até que foi fácil, com o espírito que sempre norteou o
Rondoniense.
A Secretaria de Finanças se sente gratificada por ter colaborado decisivamente, nesta
empreitada cívica, que colocou Rondônia nas páginas da história e modificou a geografia do
Brasil.
Ora, se nós todos modificamos Rondônia, por completo, transformando-a de Território
em Estado, porque não iríamos ver o reflexo do nosso trabalho em todos os cantos do país.
Antes de tudo, no entanto, o Rondonzinho quer agradecer ao Governo Federal pelo
presente que nos deu, muito maior do que todos aqueles que o Rondonzinho distribuiu até
hoje. E, ao Governo do Estado, pelo apoio às nossas iniciativas, pois sabia que nós todos
visávamos, apenas, a elevação de categoria de nossa terra.
Agora somos uma Estrela e, como tal, temos em mãos problemas de Estrela. Se nós
todos, irmanados, crescemos tanto, temos a obrigação de crescer muito mais. Para valorizar os
votos da Câmara e do Senado e o esforço do Presidente Figueiredo, para nos transformar no
mais novo Estado da Federação. Vamos agradecer crescendo sem parar. E, agora, os nossos
melhores agradecimentos ao povo e, especialmente, as crianças de Rondônia, que dando uma
lição de grandeza e de elevação de alma, nos deu meios de alcançar as metas necessárias, para
a fixação de objetivos. Foi com a arrecadação “RECORDE” que nós construímos Escolas,
93
Estradas, Hospitais, Redes Elétricas e de Esgotos, Armazéns, Postos de Atendimento, o
Terminal Pesqueiro e Ginásio Coberto de Porto Velho e, tantas outras obras de vulto, que
chegaram a influir nos destinos do País. Afinal, o Brasil de apenas 22, agora tem 23 Estados e
o Rondonzinho está muito feliz por ter ajudado nesta conquista.
Governo
Jorge Teixeira de Oliveira
Rondônia
Secretaria de Finanças
PROPAGANDA 8 – Vencemos: Nossa estrela brilha no azul da União
Quando o povo de nosso Estado está em festa pela conquista de sua Estrela e todas as
esperanças se traduzem na mais palpável realidade, o Governo de Rondônia reexamina todos
os momentos de nossa luta e todos os aspectos que a fizeram digna deste final, que nos
emociona. Não faltaram sacrifícios em nossa jornada cívica, mas, em contra-partida, não nos
faltaram apoio e assistência, de parte daqueles órgãos, em cujas decisões se cimentavam
nossas esperanças maiores. Sem essa ajuda, nada poderíamos ter feito, apesar de nossa
constância e nossa fé inquebrantáveis.
O Governo do Estado sente-se grato, em nome de todo o nosso povo, ao Governo
Federal, pelo muito que se realizou em tão pouco tempo, dando estrutura a setores dos mais
importantes, tais como: Transportes, Agricultura, Educação, Saneamento Básico e Assistência
Médica, através da liberação das verbas necessárias, para que pudéssemos alcançar o nosso
objetivo. O nosso Presidente acreditou que estávamos pronto para receber a nossa estrela e vê
agora, que suas expectativas não foram fraudadas. Respondemos com muito trabalho e
organização, a fé que nos foi depositada e fizemos por merecer, desta forma, a transformação
em Novo Estado da Federação.
Não poderíamos deixar de estender nossos agradecimentos aos senhores Ministros de
Estado, por terem cerrado fileiras no objetivo comum: estruturar Rondônia para chegar à
meta tão fortemente almejada. Os Ministros sempre deram sua parcela de atenções nesta luta
de todo o povo e, com sua providencial ajuda, facilitaram a solução de nossos problemas.
Com tanto que recebemos, nestes dois anos, o final não poderia ser diferente: a resposta aí
está: somos um Estado, mercê de muito trabalho e muito progresso, alcançado pela pertinácia
do povo Rondoniense.
Nossos agradecimentos se voltam, finalmente, para a Câmara de Deputados e Senado
que pressentiram ter chegado o momento e, com seus votos, nos deram a dignidade desta
elevação. E, agora, o povo de Rondônia terá que corresponder, com sua parcela de esforço, à
credibilidade depositada pelos senhores Senadores e Deputados Federais no futuro deste
pedaço de nação.
Por último, o Governo de Rondônia não poderia deixar de frizar a ajuda inestimável
que lhe foi prestada por todos os seus assessores. Nos mais variados campos de atividade. E a
todo o povo, que representa a mais viva parcela de trabalho, nesta colmeia em que se
transformou, em tão pouco tempo, o nosso Estado. Aos Agricultores, Criadores,
Seringalistas, Cacaueiros, Técnicos Agrícolas, Empresários, enfim, a todos quantos Rondônia
94
fica a dever esta honra, os melhores agradecimentos do Governo. Afinal, foi pelo esforço
geral que podemos dizer: Vencemos: Nossa Estrela Brilha no Azul da União.
Governo Jorge
Teixeira de Oliveira
Rondônia
PROPAGANDA 9 – Quem produz mais, paga menos e ganha mais.
PRÊMIO PRODUTIVIDADE RURAL – 1983
Pelo quarto ano seguido, o Ministério da Agricultura, através do INCRA, vai premiar quem
está semeando o futuro do País. O homem do campo. Agricultor que este ano deu ao Brasil
outra grande safra.
Os produtores rurais modelo vão ganhar cheques, viagens, devolução de ITR, diplomas e
medalhas de ouro. Participe você também.
Peça informação na Prefeitura de sua cidade, na Secretaria de Agricultura do seu Estado, na
EMATER ou entidade de Crédito Rural que opere no município, no Sindicato Rural ou no
Banco do Brasil.
Quem produz mais, paga menos e ganha mais.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
MINISTÉRIO EXTRAORDINÁRIO PARA ASSUNTOS FUNDIÁRIOS
INCRA- INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA
PROPAGANDA 10 – A incrível história do povo que acreditou. O Brasil encontrou a
saída. Vamos todos crescer.
No ano passado, o Brasil enfrentou alguns dos piores problemas que podem atingir a
economia de um país ao mesmo tempo. A inflação parecia fora de controle. A ameaça de
estrangulamento nas contas externas parecia inevitável. O setor industrial conhecia a enorme
dificuldade em manter o emprego de milhões de brasileiros. O comércio internacional não
evoluía e colocava muitas restrições aos países em desenvolvimento. E ainda havia uma
expectativa de novo fracasso das safras nordestinas pela persistência da seca. Um ano depois,
as soluções foram aparecendo. Durante este tempo, cada brasileiro provou que dentro dele há
uma semente de confiança no seu próprio futuro. E muita vontade para superar os momentos
difíceis. Você trabalhou mais, poupou tudo o que foi possível na vida de cada dia e ajudou o
Brasil a encontrar a saída. A inflação perdeu a velocidade. Ela começou a declinar e já
ninguém duvida que vai cair ainda mais. O crescimento da dívida externa foi controlado. Este
ano vai ser mais fácil amortizá-la.
A indústria já vê os primeiros sinais de reanimação. Ninguém mais fala em demitir
trabalhadores.
As exportações industriais derrubaram as barreiras no exterior e transformaram um
déficit de 2,9 bilhões de dólares em um saldo positivo de 1 bilhão e 200 milhões de dólares. O
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avanço da agricultura no Sul do país, na Região Central e na fronteira do extremo Oeste
afastou de vez o fantasma da escassez de alimentos e agora pode abastecer inclusive o
Nordeste. Você foi muito importante nesta conquista. Vencemos o desafio. A sua confiança
abriu espaço para o Brasil voltar a crescer.
Campanha: O BRASIL ENCONTROU A SAÍDA – VAMOS TODOS CRESCER
GOVERNO FEDERAL
E ainda havia uma expectativa de novo fracasso das safras nordestinas pela persistência da
seca. (...) O avanço da agricultura no Sul do país, na Região Central e na fronteira do extremo
Oeste afastou de vez o fantasma da escassez de alimentos e agora pode abastecer inclusive o
Nordeste.
PROPAGANDA 11 – Você poupou, a solução começou.
No ano passado, o Brasil só tinha problemas e uma grande riqueza: a vontade de sua
gente. Agora ele tem soluções: Poupando e trabalhando mais, cada um de nós ajudou o Brasil
a encontrar uma bela saída. Hoje estamos plantando como nunca. A confiança na terra garante
mais colheita e mais empregos para todos. No campo e nas cidades. A Indústria aumentou as
exportações e abriu espaço para crescer. Produzimos mais energia. Produzimos mais petróleo.
Economizamos tudo o que foi possível na vida de cada dia. Com isso, a balança de
pagamentos pesou para o nosso lado: o saldo comercial do país saiu do vermelho e já
alcançou a soma de 1 bilhão e 200 milhões de dólares positivos. Afastamos de uma vez por
todas o fantasma da inflação sem limite. Ninguém mais dúvida que ela vai continuar caindo.
O esforço de cada um superou os momentos difíceis do ano passado. Você acreditou. O país
inteiro ganhou. Agora ele só tem uma direção: crescer.
Campanha: O BRASIL ENCONTROU A SAÍDA – VAMOS TODOS CRESCER
PROPAGANDA 12 – ABC DA TERRA. Leia com atenção e conheça seus direitos e
obrigações sobre a propriedade da terra.
A O agricultor tem direito à propriedade da terra garantido pela Constituição Federal e
pelo Estatuto da Terra. Mas, para garantir esse direito, ele tem que respeitar a função social da
terra.
B A terra cumpre sua função social quando seu uso proporciona o bem estar de todos
os que dela dependem. Para isso, precisamos cultivar e aproveitar corretamente a terra, fazer a
terra render. A terra deve trazer benefícios ao proprietário e a todos os que nela trabalham.
C O Governo ajuda o homem do campo a ser dono da terra. E, também, procura criar
condições para o aproveitamento da terra: constrói estradas, presta assistência técnica, apóia
com financiamentos, orienta o comércio de produtos agrícolas, cuida da educação e saúde da
população rural.
D Foi para tornar mais intensa a ação do Governo Federal que o Presidente João
Figueiredo criou o Programa Nacional de Política Fundiária, dirigido pelo Ministro
Extraordinário para Assuntos Fundiários.
96
E O trabalho que o Programa Nacional de Política Fundiária coloca em primeiro lugar
é a melhor distribuição da terra, para que o homem do campo tire proveito da sua lavoura ou
criação e o País possa progredir e se desenvolver em clima de paz e justiça social.
F Para os agricultores sem terra o Governo Federal destina parcelas ou lotes em
projetos de colonização. Eles devem se inscrever nos órgãos de terra – MEAF, INCRA,
GETAT, GEBAM e outros. Os agricultores com experiência e com maior número de
dependentes têm preferência.
G Quando uma terra particular encontra-se abandonada pelo seu dono, ela está sujeita
à usucapião especial. Os agricultores que explorarem essa terra por cinco anos, com posse
mansa e pacífica, poderão tornar-se seus legítimos proprietários.
H Para distribuição, o Governo Federal utiliza de preferência terras não ocupadas do
próprio Governo, conhecidas como terras devolutas. O homem do campo com direitos
reconhecidos recebe seu título e sua propriedade é garantida, dentro da lei.
I O Governo está agindo para acabar com o mau uso da terra, como os latifúndios
improdutivos e os minifúndios antieconômicos. Essas terras podem ser desapropriadas por
interesse social e destinadas aos homens do campo que desejam torná-las produtivas. Os
latifúndios estão ainda sujeitos a impostos mais elevados.
J O primeiro passo para manter o acesso a terra deve ser sempre através da inscrição
ou consulta aos órgãos de terra do Governo. O trabalhador rural deve usar somente de meios
legais para garantir a propriedade da terra.
L Se a terra estiver cumprindo a função social, o direito de propriedade pode ser
assegurado mediante uma documentação legítima. Antes de registrar seu direito de
propriedade nos cartórios de registro de imóveis, tire as dúvidas junto aos órgãos de terra.
M As propriedades rurais trabalhadas de maneira adequada e que desempenham sua
função social independente do tamanho, grandes ou pequenas, não estão sujeitas à
desapropriação. Merecem a proteção da lei e pagam impostos menores.
N Quando o homem do campo recebe um título do Governo, ele deve cumprir suas
obrigações explorando corretamente a terra adquirida, conservando sua propriedade e não
negociando com ela. Se passar a terra adiante, o Governo não lhe dará outra nunca mais.
O O agricultor deve cuidar da terra para que não se estrague, evitando erosão,
conservando as matas, os rios e os animais silvestres. Respeitar os recursos naturais é uma
obrigação do homem do campo.
P Como o nosso território é muito grande, existem soluções diferentes para cada
região. Por isso, para ter orientações sobre a terra, consulte os técnicos dos órgãos rurais do
Governo na sua localidade. Ou faça uma consulta direta ao MEAF, INCRA, GETAT ou
GEBAM.
GRÁTIS
Retire grátis o ABC da Terra no INCRA, GETAT, GEBAM, ou outro órgão de terra de sua
localidade.
MEAF
Ministério Extraordinário para Assuntos Fundiários
97
ANEXOS
98
ANEXO A
VIZEU, Rodrigo; VARGAS, Rodrigo. Usinas hidrelétricas levam criminalidade a
Rondônia. Jornal Folha de São Paulo, 2011. Disponível em: <www.folha.com>. Acesso em:
28 de agosto de 2011.
Usinas hidrelétricas levam criminalidade a Rondônia
RODRIGO VIZEU
DE SÃO PAULO
RODRIGO VARGAS
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO
A região das obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, registra
uma explosão de criminalidade e de casos de exploração sexual de crianças e adolescentes.
O aumento dos problemas supera o ritmo do crescimento populacional. A obra de Jirau foi
palco de revolta de trabalhadores na semana passada -- o canteiro foi depredado.
As usinas começaram a ser construídas no segundo semestre de 2008. A população de
Porto Velho, onde estão as duas obras, cresceu 12,5% entre aquele ano e 2010. A expansão
populacional de Rondônia foi de 2,7%.
Já o número de homicídios dolosos na capital aumentou 44% no mesmo período. Para
o promotor Aluildo de Oliveira Leite, que acompanha o impacto das obras, o efeito social das
obras foi "subdimensionado". A ampliação do hospital de base da cidade, que era prevista,
não foi concluída.
Em janeiro, os Ministérios Públicos Estadual e Federal cobraram do governo do
Estado e da prefeitura "ações sociais efetivas" para o distrito de Jaci-Paraná. O objetivo,
segundo o documento, é "reduzir a alarmante prostituição e tráfico de drogas" no local.
Segundo Raiclin Silva, do Juizado da Infância, as áreas próximas aos canteiros tinham
participação mínima nos resgates de menores e agora são metade do total.
O número de estupros em Rondônia cresceu 76,5% de 2008 a 2010. A quantidade de
crianças e adolescentes vítimas de abuso ou exploração sexual subiu 18% no período.
Mais de 37 mil funcionários, na maioria homens vindos de outros Estados, trabalham nas duas
obras. "É como se houvesse um garimpo", diz Silva.
99
ANEXO B
BOECHAT, Yan. Estado está ausente em região que desmata. Fonte: Valor Econômico,
2008. Disponível em: <www.amazonia.org.br>. Acesso em 22/10/201.
Estado está ausente em região que desmata
Yan Boechat
Data: 19/05/2008
Local: São Paulo - SP
Fonte: Valor Econômico
Link: http://www.valoronline.com.br/
O paranaense Ismael Osório Meira já derrubou árvores em toda sorte de lugares em
Rondônia: reservas estaduais de mata nativa, reservas federais, áreas indígenas, propriedades
de pequenos e grandes agricultores, áreas de extração legalizadas pelos órgãos ambientais.
Para ele, nunca fez muita diferença de onde tirava a madeira. "Mata é mata, é tudo igual",
gosta de repetir. Nunca lhe pediram - e ele nunca deu - qualquer tipo de documento das
árvores que pôs abaixo. Toras entregues, dinheiro no bolso, simples assim.
Nos últimos 14 anos ele tem se embrenhado nos restos da floresta amazônica que ainda
existem no Norte de Rondônia em busca das árvores que se tornaram a madeira cobiçada
pelos consumidores da Europa e, principalmente, do Sul e Sudeste do Brasil. A experiência
de mais de uma década percorrendo as ilhas de mata fechada quase na divisa com o Estado do
Amazonas lhe ensinou a identificar com facilidade o que é um ipê, um jequitibá-rosa ou um
tauari, algumas das espécies que conseguem os melhores preços nos grandes centros
consumidores.
A bordo de um antigo trator equipado na dianteira com uma grande pá, Ismael passou
esses anos todos abrindo pequenas "estradas" em meio à floresta até chegar onde estava a
árvore que pretendia derrubar. Após transformada em toras de até cinco metros de
comprimento, a árvore é puxada pelo mesmo trator até a beira da estrada, onde um caminhão
aguarda para fazer o transporte à serraria que está pagando melhor pelo metro cúbico no
momento.
Ismael mora em uma casa de madeira bastante simples, à margem da esburacada
estrada de terra que liga os municípios de Cujubim e Machadinho do Oeste, responsáveis por
quase 50% dos mais de 1 milhão de m3 de madeira extraídos em Rondônia em 2006. Essa
região, que faz divisa com o Amazonas, é considerada uma das 36 áreas que mais desmataram
a floresta amazônica no último ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais, o INPE.
Por conta disso, há mais ou menos dois meses o governo federal enviou para lá
homens da Força Nacional, policiais federais e agentes do IBAMA, sob a Operação Arco de
Fogo, a fim de estancar o que a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva classificou como
a sangria desatada. Ismael, que sempre soube que muitas das árvores não podiam,
legalmente, sair de onde estavam, foi indiciado por crimes ambientais. Para ele, isso nem foi
o pior. Ruim mesmo foi perder o trator e o caminhão. Sem eles não há como puxar tora, diz.
E sem tora não há dinheiro.
100
Para o governo, ambientalistas, ONGs, IBAMA, Ministério Público Federal e para as
leis ambientais brasileiras Ismael Meira é um criminoso. Ele mesmo sabe disso. Mas para
sua companheira de mais de 25 anos, Salete Fiametti e para o filho Cristiano, é um herói.
"São pessoas como ele que construíram esse Estado trabalhando duro, indo para esse mato de
dia, de noite, na chuva para ganhar a vida", diz ela olhando com admiração para o marido, que
mantém o olhar baixo e ensaia um sorriso quase melancólico. Inegavelmente, Ismael não
vive um dos melhores momentos de sua vida. Aos 47 anos de idade, 20 deles em Rondônia,
ele não sabe muito o que fazer agora sem seus instrumentos de trabalho. "Não há mais nada
para fazer aqui, esse é meu trabalho e preciso esperar a poeira baixar, arrumar outro trator e
voltar pra lida, não tem jeito", diz, com o olhar insistentemente voltado para o copo de café
fumegante que Salete acabou de passar.
Para as cerca de 50 mil pessoas que vivem em Machadinho e Cujubim, Ismael não é
nem criminoso nem herói. É apenas um dos muitos elos de uma cadeia produtiva que
responde por quase 100% da economia local e se estende até as casas das famílias de classe
média alta de cidades como Rio, São Paulo ou Frankfurt. Assim como ele, de uma forma ou
de outra, quase 10% das cerca de 1,5 milhão de pessoas que vivem em Rondônia dependem
diretamente da madeira. Se pessoas como Ismael não trabalham, quase ninguém trabalha em
Cujubim, Machadinho ou outras tantas cidades que têm sua produção econômica baseada
quase que exclusivamente na madeira.
Profissionais como Ismael, conhecidos por "toreiros", existem às dezenas nessas duas
cidades que se tornaram o alvo da Operação Arco de Fogo, em Rondônia. Quase todos têm
perfil muito semelhante. Migrantes, principalmente do Sul e do Sudeste do país, que foram
para o Estado por conta das campanhas de colonização do governo federal nas décadas de 70
e 80. Chegaram com a obrigação de colocar abaixo 50% da floresta para começar a produzir
nos lotes de 100 hectares que recebiam do INCRA na época e, só então, ter o título provisório
da área. Muita gente nem se preocupou com a madeira que tinha em suas terras. A lógica era
colocar fogo na mata e começar a plantar o mais rápido possível.
No início da década de 80, famílias de madeireiros do Rio Grande do Sul, Paraná e
Santa Catarina passaram a seguir os rumos dos pequenos agricultores, expulsos por uma
produção agrícola cada vez mais mecanizada. Também apoiados pelo governo federal, foram
para Rondônia, onde a matéria-prima cada vez mais escassa no Sul era abundante.
A família de Nereu Mezzomo fez esse caminho no final da década de 70. Saíram da
catarinense Abelardo Luz e foram parar em Ariquemes, hoje o maior pólo madeireiro de
Rondônia. "Meu Deus, como havia madeira aqui", diz Nereu, que responde alguns processos
por crime ambiental, assim como quase todos os madeireiros de Rondônia. "Me lembro do
pessoal colocar fogo em mogno porque a madeira estava manchada, se jogou muito dinheiro
fora", relembra ele, que hoje é dono de uma das maiores madeireiras de Ariquemes.
Por quase uma década, famílias como a Mezzomo controlaram a economia de
Rondônia, fortemente baseada na extração da madeira. Em 1989, menos de 20 anos atrás,
60% da produção industrial do Estado estava ligada diretamente à madeira. O número de
serrarias cresceu de forma vertiginosa em menos de 30 anos. Enquanto em 1953 havia apenas
quatro delas no então território do Guaporé, nos anos 80 já eram mais de mil.
Essa expansão contou com a bênção do governo federal, principalmente no fim dos
anos 70 e início dos anos 80, por meio de financiamentos, doações de terra e subsídios. "A
estratégia dos militares com a campanha "Integrar para Não Entregar" criou um processo de
colonização muito semelhante ao que os portugueses fizeram no Brasil nos séculos XVII e
XVIII", diz Osvaldo Pittaluga, superintendente do IBAMA em Rondônia.
"A lógica aqui era extrair o máximo possível e ampliar as fronteiras produtivas", diz
ele, um gaúcho que se diz meio Inter meio Grêmio e ocupa uma posição política delicada. Ao
mesmo tempo em que é funcionário de carreira da Secretaria de Desenvolvimento Ambiental
101
do Estado, órgão duramente criticado pelo Ministério Público Federal e organizações
ambientais, ocupa a superintendência do IBAMA por indicação partidária.
O resultado dessa política de ocupação teve efeitos rápidos. Entre 1983 e 1985, a área
desmatada saltou de 5,7% para 11,4% da área total do Estado. Dez anos depois, em 1996, ela
já chegava a 22,5% da área total. Hoje, de acordo com dados do próprio Estado, a área
desmatada já atinge mais de 31% da área total de Rondônia. Nenhum Estado na região
amazônica destruiu a floresta com tanta intensidade e tão rapidamente.
Se depender de Delano Rosevelt Nantes, um agricultor de Cujubim, isso vai
continuar. Dono de um lote de 22 hectares nesse município que vive exclusivamente da
madeira, Delano era um dos participantes mais exaltados na reunião em que representantes do
IBAMA e da Polícia Federal diziam o que os soldados armados com fuzis e metralhadoras da
Operação Arco de Fogo estavam fazendo de fato ali.
O encontro aconteceu no mesmo dia em que o Brasil recebia o grau de investimento
pela agência Standard & Poor"s. Em uma sala quente, abafada, em que o odor exalado pelos
corpos suados era quase palpável, representantes do governo federal tentavam explicar as leis
ambientais vigentes no país. Mais, tentavam convencer dezenas de homens e mulheres de que
tudo o que vinham fazendo há duas décadas estava errado.
No turbilhão de comentários desencontrados, Delano pediu a palavra e fez uma
pergunta quase inocente, quase sarcástica: "O doutor pode explicar como vamos viver da terra
com as árvores em pé?". Não teve resposta. E sem resposta os agricultores chegaram a uma
conclusão unânime e fatídica: "Se não puder mais tirar madeira Cujubim vai desaparecer do
mapa", repetiam, um a um, aqueles que volta e meia buscavam um pouco de ar fresco sob o
sol amazônico no quintal da casa que abriga a Câmara Municipal de Cujubim.
Tirando as 13 mil pessoas que vivem ali, segundo o IBGE, provavelmente pouca gente
ia se dar conta se Cujubim realmente deixasse de existir. Distante quase 100 quilômetros da
estrada asfaltada mais próxima, Cujubim é quase um estereótipo das profundezas do Brasil.
Tem apenas uma rua calçada e meia dúzia de outras que se transformam em lamaçal quase
intransponível na época de chuvas, entre setembro e março. São quatro escolas pequenas, um
posto de saúde, uma dúzia de bares e cerca de 30 serrarias. Luz só por geradores. Localizada
na última fronteira do desmatamento em Rondônia, já quase no Amazonas, Cujubim é uma
cidade esquecida pelo Estado. O único representante do governo federal na cidade é uma
franquia dos Correios, que não tem carteiros no quadro de funcionários.
Apesar das armas, das ameaças e das promessas de que agora haverá, de fato,
fiscalização por ali, Delano e a maior parte dos agricultores que participaram da reunião
parecem não ter se intimidado muito. Os efeitos dos primeiros dias da operação, quando a
economia da cidade praticamente parou por conta da dura fiscalização, só reforçaram a
determinação dos moradores de Cujubim. Como Delano, quase todos plantam café, feijão,
milho e mandioca. A terra não é das melhores e não há quase nenhuma assistência técnica.
Mas a maior dificuldade mesmo é a completa falta de financiamento agrícola. Como o
INCRA nunca concluiu a regularização fundiária dos assentados em Rondônia, quase
ninguém tem a escritura final de suas terras. E, sem ela, não há como acessar os programas de
financiamento da União, como o Pronaf. A estimativa é que apenas 2% dos pequenos
agricultores da região de Machadinho e Cujubim tenham a escritura definitiva dos lotes.
Sem financiamento, com terras pouco produtivas e quase nenhuma tecnologia, poucos
são os agricultores que sobrevivem de suas lavouras. A saída, como vem sendo há muitos
anos, é a madeira. Seja trabalhando nas muitas serrarias da cidade, seja atuando como
"toreiros" ou mesmo retirando as árvores mais valiosas das áreas de reserva de suas
propriedades.
Quando a coisa aperta, Delano faz isso. Contata um dos "toreiros" que conhece,
informa a árvore que tem, negocia o preço e a vende. Tudo sem nota, sem autorização
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ambiental ou fiscalização. O "toreiro" então leva as toras à serraria e a revende por cerca de
R$ 200 o metro cúbico. Uma árvore de Ipê, por exemplo, tem em média de cinco a seis
metros cúbicos e cada metro cúbico é vendido aos distribuidores do Sudeste ou do exterior
por cerca de US$ 900.
Para legalizar a madeira, muitas serrarias se utilizam de um complexo sistema de guias
florestais autênticas, geradas de forma ilegal. Com as guias em mão e depois de serrada, a
árvore, retirada de uma propriedade como a de Delano ou de reservas, se torna legal. "Depois
que corta não tem mais como saber de onde veio, madeira não tem código de barras", diz um
atravessador de madeira de Votuporanga (SP), que garante se chamar João Belini.
Todas as serrarias de Rondônia afirmam que só extraem madeira de áreas autorizadas
pelo órgão ambiental estadual por meio dos chamados planos de manejo. Mas todas também
admitem que há extração ilegal. Pelos cálculos do vice-presidente do Sindicato dos
Madeireiros de Ariquemes, João Daniel Kalsing, o mais forte do Estado, cerca de 50% da
madeira extraída na região é ilegal. O Ministério Público Federal acredita que só 40% é
legalizada. Já o Ibama prefere não fazer uma estimativa. Somente o secretário de
Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, Cleto Muniz de Brito é enfático sobre o volume de
madeira ilegal que é extraída em Rondônia: "Nós podemos garantir com a maior segurança
que nem um metro cúbico de madeira ilegal sai do Estado".
Ismael, Delano e tantos outros pequenos agricultores ou simples trabalhadores da
indústria madeireira não parecem preocupados com as estatísticas. O objetivo deles é simples
e direto: sobreviver da melhor maneira possível. Sem alternativas econômicas viáveis, é
difícil acreditar que, após a saída das forças de repressão do governo federal, eles vão deixar
de buscar na floresta a renda que não vem da agricultura nem da fraca economia
monotemática.
Por mais assustadora que possa parecer para qualquer pessoa com um mínimo de
consciência ambiental, a teoria de Amóz Martins, madeireiro de Ariquemes, talvez traduza da
melhor forma o sentimento de boa parte da população dessas cidades esquecidas no meio da
Amazônia brasileira: "Agora estão querendo fazer com a árvore o que os indianos fazem com
as vacas, torná-las sagradas. Mas eles a gente até entende, porque vaca dá leite e pode virar
um belo churrasco. Mas árvore? O que a gente vai fazer com árvore em pé?".